intervenções em monumentos - gecorpa · pedra & cal nº 13 janeiro . fevereiro . março 2002...

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Intervenções em Monumentos de PEDRA Entrevista: Prof. Luís Aires-Barros Opinião: Paulo Pereira Caso de estudo: Museu da Guarda Intervenções em Monumentos de PEDRA Ano IV- N.º 13 Janeiro/Fevereiro/Março 2002 - Publicação trimestral - Preço 4,48 (IVA incluído) 5 601073 013673 3 1 0 0 0

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Page 1: Intervenções em Monumentos - GECoRPA · Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002 1 Tema de Capa: INTERVENÇÕES EM MONUMENTOS DE PEDRA Reconhecida pelo Ministério da

Intervençõesem Monumentos

de PEDRA

Entrevista:Prof. Luís Aires-Barros

Opinião:Paulo Pereira

Caso de estudo:Museu da Guarda

Intervençõesem Monumentos

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Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002 1

Tema de Capa:INTERVENÇÕES EM MONUMENTOS DE PEDRA

Reconhecida pelo Ministério daCultura como “publicação de ma-nifesto interesse cultural”, ao abri-go da Lei do Mecenato.

Nº13 - Janeiro/Fevereiro/Março 2002

Propriedade e edição: GECoRPA - Grémio das Empresas deConservação e Restauro do PatrimónioArquitectónicoRua Pedro Nunes, 27 - 1º Esqº1050 - 170 LisboaTel.: 213 542 336, Fax: 213 157 996http://www.gecorpa.ptE-mail: [email protected]: 503980820Director: Vítor Cóias e SilvaCoordenadora: Alexandra Antunes e AdriãoConselho Redactorial: João Appleton, JoãoMascarenhas Mateus, José Aguiar, TeresaCampos CoelhoSecretariado: Elsa FonsecaColaboram neste número: Albano Fernandes, Alexandra Antunes eAdrião, Ana Cristina de Freitas, DanielaPenazzi, Inês Carolina Silva, Isabel Alçada,João Mascarenhas Mateus, João Massano,Jorge de Brito, José Maria Lobo de Carvalho, J.Pina Henriques, Luís Aires-Barros, MargaridaBraz Pinto, Nuno Teotónio Pereira, PauloAires, Paulo Pereira, V. Cóias e SilvaDesign gráfico e Produção:Aldeia Gráfica - Serviços Gráficos Integrados, Ld.ª Rua Morais Soares, 91 - 2º Dir.º 1900-342 LisboaTel.: 218 162 249, Fax: 218 162 315E-mail: [email protected]:Aldeia Gráfica - Departamento de MeiosSilvia Garcia - [email protected].: 218 162 249 Impressão: SOARTES - artes gráficas, ld.ªDistribuição: Aldeia Gráfica - Serviços Gráficos Integrados, Ld.ª

Depósito legal: 128444/98Registo na DGCS: 122548Tiragem: 2000 exemplaresPeriodicidade: Trimestral

Os textos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.

1

Ficha Técnica

49ASSOCIADOS GECoRPA

52PERSPECTIVASReabilitar em vez de construir - finalmente na ordem do dia(Nuno Teotónio Pereira)

44ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIOMuseu do Ar(Albano Fernandes)

26TECNOLOGIA

Caracterização das secções de alvenaria de pedra em Itália(J. Pina Henriques, Daniela Penazzi)

28TECNOLOGIA

Melhorar o desempenho das construções em alvenaria de pedra

(Ana Cristina de Freitas, Jorge de Brito)

31E-PEDRA & CALSites sobre Pedra

(J. M. Lobo de Carvalho)

33DIVULGAÇÃOCICOP - Centro Internacional deConservação do Património

46LIVRARIA

39NOTÍCIAS

40AGENDA

41VIDA ASSOCIATIVA

2EDITORIAL

4CASO DE ESTUDO

Museu da Guarda: levantamento, diagnóstico e tratamento das

várias anomalias(João Mascarenhas Mateus, Paulo Aires)

11TECNOLOGIA

Património Cultural Construído: algumas notas para o

seu estudo e preservação(Luís Aires-Barros)

15OPINIÃO

Conservação da Torre de Belém: reflexões sobre uma pedagogia

(V. Cóias e Silva)

18OPINIÃO

Intervenções em Monumentos(Paulo Pereira)

21ENTREVISTA

Entrevista ao Prof. Luís Aires-Barros(por Alexandra Antunes e Adrião)

Sé de Lisboa.Agua

rela: C

arl - 1

996

Capa

8CASO DE ESTUDO

Salvaguarda de Jardins Históricos Intervenções em Elementos de Pedra

(Margarida Braz Pinto)

32EntrevistaGaël de Guichen: Um balanço sobre a conservação preventiva

34PATRIMÓNIO PARA MIÚDOSA fascinante viagem ao mundo das marionetas(por Alexandra Antunes e Adrião)

38AS LEIS DO PATRIMÓNIOA contratação de trabalhadoresestrangeiros(João Massano)

35ESCOLASCurso técnico de revitalização dopatrimónio da Casa Pia de Lisboa(Isabel Alçada, Inês Carolina Silva)

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EDITORIAL

Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 20022

Tesouros de PedraDesde o sólido e durável Liós da região de Lisboa até à porosa e friável Pedra deAnçã, o material de construção por excelência dos monumentos portugueses é apedra. A primeira ajudou a criar estruturas quase indestrutíveis, como a Torre deBelém, capazes de suportar airosamente a passagem dos séculos; com a segundaesculpiram-se jóias de precária durabilidade, como a Porta Especiosa, que se

dissolvem lentamente no ambiente poluído da cidade.

Por vezes apenas com papel decorativo, mas muitas vezes com função estrutural,é a pedra que dá a forma e solidez aos nossos monumentos. Conservar opatrimónio arquitectónico do país é, em grande parte, conservar obra depedra, pois foi ela - a par da madeira - o material de eleição dos nossos mestresconstrutores durante quase dois milénios. Mesmo depois da vulgarização do betão armado, invenção com que François Hennebique revolucionou a tecnologia construtiva no fim do século XIX, os arquitectos revestem de pedraas suas estruturas quando lhes querem conferir nobreza e durabilidade.

Muitos são, no entanto, os males que afectam os edifícios de pedra, em particular quando esta é, já de si, débil e vulnerável. Para coarctar, nestes casos, o avanço da deterioração, há que conhecer a construção a salvaguardar e há quesaber caracterizar as anomalias em presença, delimitar as áreas por elas afectadas,determinar as suas causas e mecanismos. E estes são só os primeiros passos de uma caminhada muitas vezes longa e penosa, que nunca se poderá considerar verdadeiramente concluída, visando a conservação do património arquitectónico.

Por estas razões, resolveu a "Pedra & Cal" dedicar um número ao nobre material que é a pedra, às obras que com ela fizeram sucessivas gerações de construtores portugueses, àqueles que, hoje em dia, contribuem para a sua salvaguarda e aos seus esforços para transmitir aos vindouros esta herança de valor inestimável que são os nossos monumentos e edifícios históricos.

Lisboa, Fevereiro de 2002

V. Cóias e Silva

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Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002

GECoRPA

3

Do número apreciável de empresas

que têm manifestado interesse na

conservação do património arquitec-

tónico português e nas actividades do

GECoRPA, foi seleccionado um gru-

po restrito de patrocinadores da re-

vista Pedra & Cal.

Para distinguir essas empresas, par-

ticularmente empenhadas no sucesso

da revista, foi criado o presente

“Quadro de Honra”.

A Direcção do GECoRPA

a sua empresa

a sua empresa

a sua empresa

Do número apreciável de empresas que têm manifestado inter-esse na conservação do património arquitectónico português enas actividades do GECoRPA, foi seleccionado um grupo restri-to de patrocinadores da revista Pedra & Cal.Para distinguir essas empresas, particularmente empenhadasno sucesso da revista, foi criado o presente “Quadro de Honra”.

A Direcção do GECoRPA

A representatividade e a ac-tuação do GECoRPA assentanos seus associados.Não basta que sejamos bons,é preciso que sejamos muitos!O GECoRPA pretende agre-gar empresas de conservação,restauro e reabilitação do pa-trimónio construído. Não sóda construção, mas tambémdo projecto, consultoria, ins-talações especiais...Associe-se ao GECoRPA, ou,no caso de já pertencer ao nos-so Grémio, traga um novo as-sociado e contribua para o for-talecimento desta associaçãoempresarial.

Contacte-nos!Tel: 21 354 23 36 Fax: 21 315 79 96

E-mail: [email protected]

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CASO DE ESTUDO Tema de Capa

4 Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002

O estudo realizado pela Oz a pedidoda DGEMN teve como objectivo apre-sentar os resultados de uma primeiraavaliação do estado de conservaçãodos paramentos de alvenaria de pedraque constituem as fachadas do edifíciodo Museu Municipal da Guarda, cons-trução datada do séc. XVII, tendo emvista a definição de uma estratégia deintervenção que permita eliminar osprincipais processos de degradaçãoque actualmente se observam e estabe-lecer as directivas a que deverá obede-cer o projecto de limpeza, tratamento econservação.

Nesse sentido, desenvolveram-se asseguintes acções:. Observação pericial in situ das diver-sas fachadas;

. Análise comparativa dos estudosdisponíveis sobre a génese e a degra-dação de granitos da região da Guarda;. Mapeamentos das soluções que sepropõem como modelo a seguir noprojecto e execução.

Uma primeira e breve análise históri-ca, combinada com uma observaçãovisual do edifício do antigoSeminário Episcopal daGuarda, permitiram detec-tar fases distintas de cons-trução dos diversos corposque compõem o edifício,que explicam a ausência degárgulas em alguns troçosna cimalha superior. Asdeficiências de concepçãodos dois sistemas de dre-

nagem das águas pluviais dos telha-dos, estão na origem do principal me-canismo de deterioração da pedra detodas as fachadas do edifício.

Associado a este fenómeno encontra--se a infiltração da água do telhado emlocais do beirado onde há telhas ourotura no algeroz. Esta infiltração é acausa da lavagem das juntas de ligaçãodos blocos de coroamento da cimalha,de infiltrações na espessura das pare-des e de novos escorrimentos localiza-dos ao longo das fachadas.

A estas deficiências juntam-se os fenó-menos localizados de lavagem e erosãode juntas e paramentos provocados pelodesaprumo de diversos blocos.

Para além destes mecanismos de dete-rioração é de referir a ausência de ac-ções sistemáticas e periódicas de re-fechamento de juntas, com a conse-quente existência de uma grande per-centagem de juntas abertas e lavadasou, ainda, de acções localizadas, re-centes, em que as juntas foram fecha-das com argamassas de cimento, quese vão descolando progressivamente.

Museu da Guarda: levantamento, diagnóstico e tratamento das várias anomalias

Paulo Aires**J. Mascarenhas Mateus*

Fig.1 - Hipóteses quanto à sequência de construção do edifício.

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Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002

CASO DE ESTUDO

Definição da Estratégia de Intervenção

A conservação das fachadas do edifí-cio do Museu Municipal da Guardadeverá obedecer a uma estratégia ori-entada em diversas frentes, destinadaà resolução, o mais completa possível,dos vários problemas que afectam oedifício.

A intervenção a levar a cabo deverácontemplar:. Eliminação das causas de degra-dação;. Limpeza dos paramentos de pedra;. Refechamento das juntas de arga-massa;.Execução de alterações que permitama manutenção e o bom comporta-mento das fachadas, depois da lim-peza;. Valorização do aspecto de apresen-tação das fachadas restauradas.

Anteprojecto de Conservação

O anteprojecto de conservação tevecomo objectivo estabelecer as princi-pais soluções a adoptar no projecto deexecução e fornecer, como modelo, asacções de completamento de avaliação

a levar a cabo em detalhe para todo oedifício.

Eliminação das causas de degradação

A primeira acção proposta para corri-gir, de forma permanente, o sistema dealgerozes e gárgulas, consiste na cria-ção de um novo sistema de algerozes,externo, que será invisível da rua. Estesistema (fig. 4) apresenta as seguintesvantagens:.necessita somente de um tubo de que-da na extremidade de cada uma dasfachadas;. não é visível da rua;. não está limitado pela posição poucosistemática e desregrada das gárgulas; . garante menores problemas de ma-nutenção.

5

Limpeza dos paramentos de alvenaria de granito

A limpeza dos paramentos de granitoconsistirá na combinação de váriosmétodos de diferentes graus de in-trusividade, dependentes da tenaci-dade e da aderência dos depósitos.Para além de ciclos de nebulização eescovagem, no caso de crostas de di-fícil remoção prevêem-se ainda trêsmétodos de agressividade crescente:compressas, microaeroabrasão hú-mida e de precisão. Não é preconiza-da à partida a aplicação de biocidaspara a eliminação de algas e líquenes.É suposto que a eliminação das cau-sas de infiltração de água contribuiráde forma decisiva para um decrésci-mo significativo das colonizaçõesbiológicas.

Fig.2 - Aspectos da fachada Oeste e da fachada Norte com e sem algerozes e gárgulas.

Fig.3 - Mapeamento das anomalias detectadas no alçado lateral direito (Sul).

Depósitos superficiais e manchas

Desintegração granular

Juntas abertas

Exemplo de mapeamento de algumas anomalias detectadas:

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CASO DE ESTUDO

Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002

Tema de Capa

6

No caso dos blocos de grão grosseirosão previstas reintegrações com gra-nitos idênticos usando argamassas àbase de pasta de cal aérea, pó de gra-nito, areia fina e pigmentos. O enchimento das lacunas existentesnas juntas de assentamento e o refe-chamento das juntas de paramentoconstituem acções fundamentais doprocesso de conservação.As argamassas a usar no preenchi-mento dos diversos tipos de juntasbasear-se-ão no estudo dos traços e dasgranulometrias das argamassas usa-das no assentamento e no refechamen-to, que se considerem como tradicio-nalmente usadas na manutenção doedifício.Uma vez conhecidas ou estimadas demodo fundamentado, as composiçõese os traços destas diferentes argamas-sas, adoptar-se-ão como argamassasde restauro.

Valorização da leitura das fachadasAs acções de valorização da leitura dasfachadas incluem:. a correcção dos revestimentos dospasseios perimetrais existentes;. a realização de novos passeios ao lon-go das fachadas secundárias;. fornecimento e a instalação de projec-tores de encaixe ao longo dos passeiosdas fachadas principais Oeste e Sul;. fornecimento e a instalação de lam-piões com postes metálicos afastadospelo menos 0.50m das fachadas;. a estucagem e pintura das caixilhariasde madeira;. tratamento e pintura dos elementosmetálicos;. a catalogação, limpeza e acondiciona-mento das lápides em depósito nospátios do edifício;O revestimento de todos os passeiosperimetrais do edifício, será executadocom blocos de granito e segundo de-senho de calçada da região.

Referências Bibliográficas

ALVES C. A., Estudo da deterioração demateriais graníticos aplicados em mo-numentos da cidade de Braga, Univer-sidade de Braga, 1997, Tese de Dou-toramento, 291p.BEGONHA Arlindo, BRAGA MariaAmélia Sequeira - Deterioração doClaustro do Mosteiro de Grijó. Pro-ceedings of the 9th International Con-gress on Deterioration and Conservationof Stone, 2000, Vol. I, pp. 689-696.CASTRO E., DELGADO-RODRI-GUES J., CRAVO M.R.T. - Étude dunettoyage d'un monument en grani-te, Proceedings of the 6th Internationalon Deeterioration and Conservation ofStone, Torun, 1988.DELGADO RODRIGUES J., CASTROElda - Considerações sobre eficácia e no-cividade de métodos de limpeza de pedra,Lisboa, Laboratório Nacional de En-genharia Civil, Memória 739, 7p.INSTITUTO Português de Museus - OMuseu da Guarda e o Seminário Episcopal.Instituto Português de Museus, Pu-blicação do Ministério da Cultura, 2p.SCHIAVON N. - Granite buildingsdecay in urban environment: A caseof antigenic Kaolinite formation byheterogeneous sulphur dioxide at-tack. Proceedings of the 9th InternationalCongress on Deterioration and Conser-vation of Stone, Vol.I, pp. 411-419.MAGALHÃES S. Leite, BRAGA M.A. Sequeira - Biological colonisationfeatures on a granite monument fromBraga. Proceedings of the 9th Internatio-nal Congress on Deterioration andConservation of Stone, 2000, Vol. I, pp.521-529.TEIXEIRA Carlos, MARTINS J. Avila,MEDEIROS A.C. de, PILAR L., MES-QUITA L. Pinto de, FERRO M. Neves,FERNANDES A.P., ROCHA A:, CartaGeológica de Portugal: Notícia Explica-tiva da Folha 18-C "Guarda", Lisboa,Serviços Geológicos de Portugal, 1969,23 p.

* Doutor em Eng. Civil, Mestre em Arquitectura. Especialista em Conservação de Edifíciose Sítios Históricos.

** Arquitecto.

Fig. 4 - Algerozes externos das fachadas Oeste e Sul, e das fachadas do pátio interior - solução proposta

Novo algeroz em cobre ou zinco (inclinação de 1.5%)

Respiga oblíquaVara nova

Acréscimo com blocos de granito ou alvenaria tradicional

Encaixe do novo bloco

Telhas do beiral todas conservadas completas e seladas

Tubo de queda com curva e contracurva em cobre ou zinco. 0 min. = 0.15m

Todas as gárgulas conservadas, mas inoperacionais

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ElementosIdentificação de problemas conservação

CASO DE ESTUDO

Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002

Tema de Capa

8

Salvaguarda de Jardins HistóricosIntervenções em Elementos de Pedra

Margarida Braz Pinto*

O percurso das intervenções efectua-das ao longo do tempo num jardimhistórico marca, de forma indelével, asua estrutura, constituindo essas inter-venções parte integrante dos mesmos.As estratégias de intervenção nestesespaços devem portanto visar a sua re-cuperação e conservação e a sua valo-rização, de modo a deixarem um lega-do ainda com maior significado, tantoem termos estéticos e culturais, comoem termos técnicos e lúdicos. Os jardins históricos e as paisagenscom valor cultural (todas as que con-têm elementos, vistas, memórias, ma-teriais ou técnicas de construção per-tencentes a uma zona geográfica es-pecífica ou a uma tradição) têm sidoactualmente objecto das mais diversasintervenções.

No âmbito de um Trabalho de Fim deCurso foram seleccionados para análisede intervenção dez elementos de pedra,um elemento de metal, um de terracota,um painel de azulejos e pinturas deco-rativas, dos Jardins de Fonteira, JardimBotânico da Ajuda e Jardim da Cascata,na Quinta Real de Caxias.Um dos exemplos mais relevantes paraeste artigo é a intervenção nos Jardinsdo Palácio Fronteira, que fazem partedos espaços verdes de Lisboa. Os jardins do Palácio Fronteira datamda segunda metade do séc. XVII e sãoreconhecidos pelo seu grande valorhistórico. Património das Casas deFronteira e Alorna, situado no Vale deBenfica, o Palácio está classificado co-mo monumento nacional (Decreto-Leinº. 28/82, de 26 de Fevereiro). Os jar-

dins possuem uma variedade imensade elementos construídos, incluindopainéis de azulejos, elementos de águaem pedra, balaustradas, escadarias eestatuária em metal e pedra. Os ele-mentos em pedra são:a - fonte do jardim de Vénus (videFig. a);b - estátua de D. João VI (vide Fig. b).

Fachada este do Palácio Fronteira, virada para o Jardim.

Estado de conservação dos elementos em estudo.

Problema de conservação anterior à intervençãoProblema de conservação actual

Balanço

HumidadeFalta de pintura

Fissuras, fendas, fracturasElementos perdidos

RemendosMau estado das juntas

Concreções calcáriasEflorescências

PátinaCrostas negras

Sujidades várias

BactériasFungos

LíquenesMusgo

Plantas infestantesLodo

MicrofloraFuligem das árvores

GuanoOxidação el. metálicos

Falta de estanquicidade

Total de problemas do estado conservação anterior à intervençãoTotal de problemas do

estado conservação actual

a bX

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X

X

X

X

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X

XX

X

XX

XX

X

1 12

5 13

4 1

X

X

QUADRO I

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Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002

CASO DE ESTUDOTema de Capa

9

Nestes dois elementos as interven-ções foram positivas, considerando obalanço entre os problemas de con-servação anterior e posteriormente àintervenção. O elemento com balan-ço mais positivo é o elemento “b”,que era o que se encontrava em piorestado de conservação. Evidente-mente o tempo que decorre após aintervenção é uma variável muitopreponderante nesta análise, tornan-do-se ambígua a avaliação da inter-venção em si - é natural que umaintervenção mais recente apresentemelhores resultados:a - intervenção em 1999,b - intervenção em 1996.

A análise comparativa dos métodosutilizados e todas as informações re-colhidas para o Trabalho Final deCurso suportam a sugestão de umaestratégia de intervenção em jardinshistóricos (vide Quadro II).Esta estrutura integra estratégias quetêm sido defendidas por vários espe-cialistas em jardins históricos e emrecuperação de elementos construí-dos. Importa desenvolver sistemati-camente o conteúdo desta estrutura:

AnáliseNuma intervenção em jardim históri-co, o primeiro passo será a análise dosítio, com especial rigor no que res-peita à fundamentação histórica, aqual inclui consulta de documentosfiáveis e válidos recolha de provas "insitu". Na posse de todas as informa-ções concretas há que olhar e viver oespaço para entendê-lo como um to-do. Após a análise do local deverá pro-ceder-se à avaliação crítica do pro-grama de intervenção para garantir apossibilidade de o cumprir sem des-valorizar o local e, desde logo, pre-venir a manutenção adequada.

Concepção do projectoA segunda fase será a tentativa deconjugar o espaço existente com osnovos usos pretendidos sem o desca-racterizar e contribuindo para a suavalorização. Para cumprir este objec-tivo devem ser garantidas as seguin-tes etapas:. conservação de todos os elementoscom valor histórico e cultural. análise das interacções dos elemen-tos existentes e destes com os elemen-

tos a introduzir, visando a sua mútuavalorização. atribuição de usos/funções às dife-rentes zonas do jardim, no sentido decontribuir para a sua existência comsustentabilidade

Desenvolvimento do projecto de execução

PreexistênciasNa abordagem dos elementos exis-tentes deverá assumir-se uma postu-ra de restauro ou reparação, deven-do promover-se a colaboração deespecialistas de cada matéria. É ne-cessário possuir o levantamento ri-

Fig. b - Estátua de D. João VI, após intervenção.

Fig. a - Fonte do jardim de Vénus, após intervenção.

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CASO DE ESTUDO

Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002

Tema de Capa

10

goroso e detalhado de cada ele-mento, efectuado por especialistas,tanto a nível histórico como técni-co. Após a análise dos dados reco-lhidos deverá proceder-se à esco-lha dos processos e produtos detratamento, que podem compro-meter o sucesso da intervenção,contando uma vez mais com a aju-da dos especialistas nas diversasáreas, nomeadamente engenhariacivil, pedras naturais, material pé-treo artificial, metais e ligas, madei-ra e derivados, tintas, produtos ani-mais e novos materiais.Para propôr um processo de trata-mento é essencial ter sempre pre-sente que uma intervenção numelemento inerte aumenta a vulne-rabilidade do material à deterio-ração, pelo que é importante con-siderar os seguintes processos nu-ma metodologia de intervenção:

. utilizar os processos de limpezamenos agressivos ao material. consolidar o material. repôr a geometria do elemento uti-lizando materiais o mais semelhantepossível ao original. proteger o materialA reversibilidade dos processos deintervenção deverá ser uma condiçãoa respeitar, já que o constante desen-volvimento de técnicas e materiaisnesta área poderá provar que os pro-cessos utilizados actualmente nãosão os mais indicados.

Novos elementosOs parâmetros a considerar são osmesmos de um projecto de raíz, sen-

do de salientar que a implantação dosnovos elementos não poderá pôr emrisco as existências.

Plano de acçãoÉ aconselhável elaborar um plano deactuação que dará prioridade ao tra-tamento dos elementos construídosem maior risco (de segurança para osfruidores do espaço ou para os outroselementos, ou de conservação do pró-prio elemento).

Acompanhamento da obraMais do que num projecto de raíz, o

acompanhamento da obra por par-te de um responsável qualificado éfundamental para garantir o cum-primento dos processos de trata-mento previstos em Caderno deEncargos. Os tratamentos menosagressivos são normalmente maismorosos e dispendiosos.

ManutençãoNuma intervenção em jardins his-tóricos a manutenção é tão relevan-te quanto a execução. Só uma ma-nutenção continuada e bem pro-gramada fará rentabilizar o traba-lho em toda a intervenção. Para is-so é necessário considerar os se-guintes aspectos:. previsão correcta da capaciade decarga dos espaço. análise conscenciosa dos recursosdisponíveis para a manutenção. proposta de manutenção exequívele adequada aos pontos anteriores. jardineiros com formação profis-sional e experiência

É importante referir que as conclu-sões apresentadas resultam tanto deum esforço organizado e sistemáticocomo de um encantamento de explo-ração de uma nova área para um ar-quitecto paisagista.

* Arquitecta paisagista, Instituto Supe-rior de Agronomia, Universidade Téc-nica de Lisboa.

1 Análise

1.1. Levantamento rigoroso dasexistências1.2. Pesquisa histórica1.3. Análise global do espaço1.4. Análise crítica do programa de intervenção

2 Concepção do Projecto

4 Acompanhamento da Obra

5 Manutenção

3 Desenvolvimento do Projectode Execução

3.1. PreexistênciasElementos construídosVegetação3.2. Novos elementos3.3. Plano de Acção

QUADRO II

Estratégia de intervenção.

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Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002

TECNOLOGIATema de Capa

11

Introdução

O património cultural que hoje temose de que usufruimos não é mais doque um empréstimo que nos foi con-cedido pelas gerações vindouras. Orespeito que devemos aos que aindanão chegaram, mas que estão a che-gar, impõe-nos que não lhes deixe-mos um mundo deteriorado: dete-rioração do nosso património cultu-ral e do nosso património natural.Os monumentos do património cul-tural construído são entidades comcaracterísticas próprias dos mate-riais que os constituem. Estes degra-dam-se ao longo do tempo e em fun-ção das condições climáticas. Decor-re daqui que os monumentos se mo-dificam com a idade, mostram asmarcas do tempo e podem deixar deter valor dada a sua degradaçãoavançada.Então é urgente e imperioso preser-var e conservar as mensagens e os va-lores intrínsecos dos monumentos.Há hoje princípios, universalmenteaceites, que devem presidir às ope-rações de conservação e restauro(v.g. princípios da autenticidade, daintervenção mínima, da reversibili-dade, da consciência profissionalmáxima dos interventores). Impõe--se, ainda, o uso e prática de lingua-gem comum e adequada ao domínioda Conservação e Restauro.Especificamente quanto ao patrimó-nio cultural construído em pedra, anoção quase mítica de que a rocha éalgo de duro, durável e difícil de do-minar, face ao tempo e à acção do Ho-mem, perde o seu poder em relação a

esse mesmo tempo, aos elementosque têm definido tradicionalmente oclima: o sol, a água, o ar e o fogo e aosagentes antropogénicos.As rochas têm um passado anteriorao seu uso nos monumentos e todoum trajecto durante a vida da suaaplicação na obra de arte. Daqui anecessidade imperiosa de conhecer,em pormenor, os materiais pétreos,de caracterizar os ambientes onde"vivem" (rurais ou urbanos, mais lim-pos ou poluídos, secos ou húmidos,sujeitos à acção do aerossol marinho,ou a grandes amplitudes térmicasdos meios áridos, etc.). Por fim há quesaber diagnosticar as patologias queexibem e, sempre que possível, pro-pôr remediação adequada.Tudo o que se refere, supõe colabo-ração estreita de vários interventoresdesde os historiadores da arte aoscientistas dos materiais, passandopelos tecnólogos dos tratamentos dapedra e pelos teóricos das metodolo-gias da conservação e restauro.

Factores de decaimento das rochas de um monumento

Os monumentos, as igrejas e outrasconstruções históricas, têm resistidodurante largo lapso de tempo, algunsséculos, à acção da intempérie. To-davia, o desgaste sofrido na últimacentúria, digamos com o advento daindustrialização, tem sido galopante.Este facto é consequência da forte al-teração do ambiente promovido pelapoluição atmosférica.Recordemos que o intemperismo ac-tua sobre as rochas provocando a sua

meteorização que se traduz pela suadegradação físico-química.Mas, para definir o ambiente em quedeterminado monumento se encon-tra, há que caracterizar adequada-mente o microclima da área pelo con-junto de factos metereológicos quecaracteriza o estádio médio da at-mosfera, tendo particular cuidadocom os seus contaminantes. São osfactores extrínsecos, que tipificam oambiente em que o monumento seencontra.Para além dos factores ambienciaisque condicionam a evolução de umarocha a eles submetida, há que con-siderar os factores intrínsecos quesão específicos de cada tipo litológi-co (v.g. granito, calcário, grés, etc.).Podíamos deter-nos na consideraçãodestes dois grandes grupos de fac-tores, relevantes na análise do decai-mento das rochas dos monumentos.No entanto, no caso específico dosmonumentos é conveniente particu-larizar um pouco mais, pois é muitoimportante a forma, a geometria domonumento e a configuração das su-perfícies expostas, o lavrado das suassuperfícies.Por fim, há que considerar a vidavivida pelo monumento e no monu-mento. Um convento durante sécu-los, hoje transformado em um mu-seu, teve determinada vida para aqual foi concebido e desempenha ho-je função diversa. Com efeito, no casoem questão, partes relevantes domonumento podem hoje ser fruídas,visitadas, actuadas e vandalizadasem um ano, no equivalente ao que so-freram, no passado, em séculos.

Património Cultural Construído: algumas notas para o seu estudo e preservação

Luís Aires-Barros*

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TECNOLOGIA

Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002

Tema de Capa

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Então, podemos afirmar que o decaí-mento das rochas de um monumen-to depende de:

i) Factores intrínsecos - a rocha (ourochas) do monumento.ii) Factores extrínsecos - o ambiente

(microclima e nanoclima) em que omonumento (e suas partes relevan-tes) se encontra.iii) Factores impostos - a forma (ageometria do monumento, a sua ori-entação geográfica e o lavrado dassuas superfícies.

iv) Factores antropológicos - a funçãodo monumento ao longo da História,a incultura das gentes, o vandalismo.Procurando pormenorizar os facto-res actuantes nas acções de decai-mento dos monumentos, apresenta--se o esquema seguinte:

O decaimento das rochas de um monumento depende de:

Factores intrínsecos, endógenos relacionados com as rochas do monumento

. Composição mineralógica

. Textura e estrutura

. Porosidade

. Permeabilidade aos gases e à água

. Dureza e abrasidade

. Tensão e rotura

. Pressão atmosférica

. Temperatura do ar

. Humidade relativa do ar

. Energia radiante

. Regime pluviométrico

. Conteúdo da atmosfera

Quantidade de Precipitaçãoatmosférica, seu pH, s, e composicão química

. Tráfego

. Sinos

. Concertos musicais

. ao regime pluviométrico

. ao regime eólico

. ao tipo de insolação

. Fenómenos de escorrênciapelas superfícies expostas. Secagem / Molhagem

. A função do monumento ao longo da História

. A invasão turística

. O vandalismo

. Oxidações

. Dissoluções e recristalizações

. Hidrólise dos silicatos

. Acções epilíticas e endolíticasde micro e macro-organismos

. Vapor de água

. Gases (SO2, CO,, O3, Cl2)

. Partículas sólidas (tipo e quantidade)Factores extrínsecos,

exógenos relacionados com o ambiente em que se encontra o monumento

Factores constantes,definidores do microlima

Factores aleatórios

Orientação do monumento face

Configuração das superfícies expostas (lisas, rugosas, lavradas, etc.)

Físicos Vibrações

Sismos

Químicos

Bioquímicos

Factores impostos,decorrentes da geometriado monumento e da suaorientação geográfica

Factores antropológicos

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TECNOLOGIATema de Capa

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Mecanismos e agentes promotores do decaimento

das rochas dos monumentos

A meteorização das rochas pode serpreferencialmente mecânica, ou se-ja, as rochas quebram ligações entreos seus componentes minerais poracção de mecanismos físicos. Ela po-de ser predominantemente químicaquando os constituintes das rochassofrem modificações de índole quí-mica que conduzem à decomposição.A juntar a estes processos temos ain-da a decomposição biológica.No Quadro I procura-se sintetizar asrelações estreitas entre os vários me-canismos com os principais agentespromotores.

Embora se tratem de modo esque-mático os mecanismos e agentes dameteorização e mesmo separada-mente, na realidade todas as reacçõesfísicas, químicas e biológicas que sedão à superfície da Terra actuam si-multânea e concorrentemente, po-dendo os seus efeitos sinergéticos serrelevantes.

Metodologia para o estudo da alteração de um monumento

A metodologia a adoptar para a de-terminação das causas do decaimen-to das pedras dos monumentos, paraa sua correcta avaliação e controlo epara perspectivar medidas adequa-das de conservação, do restauro oude preservação está sintetizada noQuadro II.

. por ataque químico e por erosão promovida porassociações simbióticas e por plantas que penetramnas descontinuidades da rocha

. por ataque químico promovido por bactérias químico-litotróficas

Actividade biológica

. por reacção pedra-partículas ácidas deaerossóis argilosos

. por reacção pedra-SO2

. por dissolução das chuvas

. por dissolução por ácidos formados sobre paredes

Dissolução ou reacção química da pedra

. por oxidação de materiais

. por cristalização de sais

. por hidratação de impurezas

. por expansão da água de embebição dos minerais

. por fixação de água sob pressão quando a superfície congela

. por aquecimento da água pelo sol

. por congelamento da águaVariação do volume nos capilares e interstícios

. por expansão diferencial de material das juntas

. por expansão diferencial devido a desigual conteúdo de humidade

. por expansão diferencial devido a aquecimento desigual

. por dilatação diferencial dos mineraisVariação do volume da pedra

. por acção dos ventos

. por acção da chuva

. por acção do ventoAbrasão

Mecanismo

Agentes promotores

X agente atmosférico principal O agente atmosférico secundário

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QUADRO I

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TECNOLOGIA

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Tema de Capa

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Quando pretendemos avaliar o esta-do de alteração de um monumento éimportante saber responder às trêsseguintes questões:i) que aconteceu ao monumento nopassado?ii) que lhe está a acontecer agora?iii) como posso prevenir maior decai-mento no futuro?

A resolução desta tripla interrogaçãopassa por realizar o estudo da alte-ração das pedras do monumento deacordo com o esquema do Quadro III.

Neste dealbar de um novo milénio, aHumanidade dá-se conta do enormeesforço financeiro que terá de fazerpara conservar e restaurar a sua he-rança cultural.

Não é de admitir que o Homemquando atinge uma época em queencurta as distâncias intercontinen-tais, leva a informação instantanea-mente aos locais mais recônditos daTerra, chega aos outros planetas, nãoseja capaz de salvar e preservar a suaherança cultural. Não pode haverantinomia entre progresso técnico econservação da herança cultural.Apresentou-se nestas notas um "cor-pus" do enfoque holístico que podeconduzir ao estudo adequado daspatologias dos monumentos cons-truídos em pedra e da metodologia aseguir para obviar a tais problemasde decaimento.

Avaliação do estado de alteraçãodas pedras de um monumento

Materiais usados ecolheita de amostras

Estudos laboratoriais de envelhecimento de materiais

com e sem tratamentos

Mecanismos passados e presentes de alteração

e problemas relacionados

Estudo de novos materiais (de pedreiras)

Análises

Conservação Restauro Preservação

Análises

Análises

Colheita de amostras

O fenómeno de alterações detectados

A história e o ambiente da área do monumento

Colheita de dados e Banco de dados

Modelização e simulação dascondições se alteração

Avaliação dos tratamentos possíveis

Estabelecimento de regras para evitar a alteração

O microclima do monumento e nanoclimas de suas partes (túmulos, portais, etc) e os

agentes agressivos actuando sobre o monumento

1 Estudo histórico e arqueológico . Origem e situação dos materiais do monumento

2 Estudo arquitectural. Localização e morfologia dasdegradações. Relações com aspectos arquitecturaisparticulares

5 Caracterização do microclima. Temperatura do ar e das paredes,humidade do ar, ponto de orvalho,escorrência nas paredes. Regimes pluvial, eólico e solar

3 Conhecimento da pedra . Geologia, petrografia, propriedadesfísicas, mecânicas e químicas

6 Simulação e modelagem . Tratamento de dados. Funções de decaímento

4 Estudos das alterações. Mineralogia e propriedades físico-químicas. Acções biológicas

QUADRO II

QUADRO III

* Professor catedrático do I.S.T.

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OPINIÃOTema de Capa

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Na sequência de recentes intervençõesde limpeza de monumentos e edifícioshistóricos na cidade de Lisboa, houvequem pretendesse crucificar os execu-tantes. Outras intervenções, por outrosexecutantes, são cercadas de uma au-réola de excelência inquestionável eapontadas como exemplo. É o caso daintervenção de conservação levada acabo pelo World Monuments Fund naTorre de Belém, cujo relatório final veioa público há algum tempo. Em contra-ponto ao auto-proclamado valor peda-gógico da intervenção, importa anali-sar alguns aspectos em que essa pe-dagogia merece, claramente, reflexão.

I. Definição do objectivo e âmbito da intervenção

Várias questões relacionadas com oobjectivo e o âmbito da intervençãolevada a cabo na Torre de Belém susci-tam, desde logo, dúvidas importantes.Citam-se as seguintes:

A Torre e a água: tratando-se de umaintervenção de conservação exterior,compreende-se mal porque não foi fei-to o tratamento de nenhum dos terra-ços que constituem a sua cobertura.Esta observação faz tanto mais senti-do, quanto é certo que em vários pon-tos do relatório se faz referência à pre-sença de água no interior da cons-trução e, concretamente, das paredes.É sabido que a água é o principalagente de deterioração das edificações,e que a melhor forma de evitar essadeterioração é impedir que a águanelas penetre. É reconhecido, logo noinício, que as argamassas interiores dasparedes da Torre podem ser dissolvi-das pela água, comprometendo a re-sistência global do monumento.Aspectos estruturais: no texto inicial,da autoria de Elena Charola, em quesão apresentados os principais proble-mas da Torre, colocam-se, logo em pri-meiro lugar, os problemas estruturais.Chama-se a atenção para o facto de en-

tre 1994 e 1997 se terem notado movi-mentos estruturais na varanda sul. Re-ferem-se, mais adiante, fracturas emseis colunas da arcaria. As recomen-dações para o plano de manutenção su-blinham de novo, embora tardiamen-te, as preocupações de natureza es-trutural.Porquê, então, circunscrever a inter-venção aos aspectos "estéticos"? Além disso, quer as inspecções pre-paratórias, quer a intervenção propria-mente dita, incidiram apenas na parte"seca" da construção. Nada se procu-rou saber sobre o estado da parte queestá em contacto com a água nem sobrea natureza e os estado das fundações.Não se aproveitou para fazer um sim-ples reconhecimento geotécnico, mui-to menos uma modelação estruturaldo monumento. E, decorrendo a inter-venção ao longo de cinco ou seis anos,tendo surgido preocupações de natu-reza estrutural, compreende-se malque não tenham sido tomadas medi-das para acompanhar o comportamen-to da Torre, através de um sistema demonitoragem. A deficiência da intervenção em ter-mos estruturais transparece, desde lo-go, no facto de, entre o elevado númerode técnicos que a acompanharam, nãoser mencionado um engenheiro deestruturas com currículo adequado.

II. Opções

Na execução propriamente dita da in-tervenção sobressaem algumas opçõessurpreendentes, que são claramentequestionáveis:Uso de resinas de epóxido: o uso des-

Conservação da Torre de Belém: reflexões sobre uma pedagogia

V. Cóias e Silva*

A Torre de Belém, após a intervenção de 1994-98.

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OPINIÃO

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tes materiais na conservação de monu-mentos é, geralmente, encarado pelosespecialistas com grande reserva. Tra-ta-se de materiais sintéticos, descober-tos há poucas décadas, pouco afins aosmateriais pétreos originais e cuja esta-bilidade à escala temporal da Torre édesconhecida. Surpreende, portanto, ouso copioso que deles é feito, em apli-cações irreversíveis.Alteração da pátina: a remoção da pá-tina natural é desaconselhada pelamaioria dos metodólogos da conser-vação. A limpeza profunda levada acabo alterou substancialmente a per-cepção ou "leitura" do monumento eacabou por pôr a descoberto diferençascromáticas importantes, resultantesdos diferentes tipos de pedra utilizada.Como recurso de última hora, achou-se por bem aplicar uma velatura ba-seada em cal. Resultado: o monumen-to acabou por ficar com um aspectoexcessivamente uniforme e "novo de-mais".Manutenção de argamassas de ci-mento portland: as argamassas pre-existentes, de refechamento de jun-tas, baseadas no vulgar cimentoportland, foram geralmente manti-das, fazendo-se apenas o seu rebaixa-mento e ocultação cosmética comargamassa de ligante baseado na cal.Sendo sabido que o cimento portlandconfere resistência exagerada às arga-massas, o que tem, frequentemente,provocado danos na pedra dos mon-umentos, e que, associado à presençade água, origina facilmente eflores-cências salinas e depósitos calcários,seria preferível ter-se aproveitadopara as remover.

III. Gestão e garantia da qualidade

As intervenções de conservação do pa-trimónio arquitectónico envolvem umaelevada especificidade, pressupondouma adequada consciencialização eformação dos vários intervenientes.Revestem-se, também, de uma grandecomplexidade, quer ao nível estratégi-co e metodológico, quer ao nível opera-cional e tecnológico. A especificidade ea complexidade desta área resultam,basicamente:

a) De uma filosofia e métodos especia-lizados de estudo, avaliação e inter-venção, capazes de se adaptarem a ca-da monumento ou edifício histórico;b) De uma necessidade de trabalho emequipas multidisciplinares, envolven-do arquitectos, engenheiros, histori-adores, conservadores-restauradores,químicos, mineralogistas…;c) Da necessidade de conhecimentostécnicos de materiais e sistemas cons-trutivos tradicionais e contemporâ-neos.

Estas intervenções exigem, portanto,minúcia e rigor na definição dos objec-tivos, na concepção, na recolha de in-formação, no projecto, no planeamen-to, na execução, na fiscalização e namanutenção. Neste tipo de intervenção os serviçossão prestados, pelas empresas inter-venientes, simultaneamente, a duasentidades: uma com personalidadejurídica, que é o Dono da Obra, e ou-tra juridicamente impessoal, mas nãomenos importante, que é a Sociedade.Relativamente à primeira, Qualidade

significa fornecer serviços e produtosadequados ao fim em vista, de acordocom os requisitos, ao preço e no prazoacordados. Relativamente à segunda,significa respeitar, ao longo de toda aintervenção, os princípios universaisda salvaguarda do património arqui-tectónico, assegurando a sua trans-missão, sem desvalorização, às futu-ras gerações.Sendo a concepção e a execução dasintervenções de conservação do patri-mónio arquitectónico actividades mui-to específicas, complexas e que envol-vem grande responsabilidade perantea Sociedade, é muito difícil, se não im-possível, levá-las a cabo em condiçõessatisfatórias sem a adopção, por todosos agentes, de uma Política da Qua-lidade clara. No que concerne as empresas execu-tantes, a especificidade e a complexi-dade desta área traduz-se em que mui-tas das actividades nela desenvolvidasse podem considerar processos especi-ais, isto é, processos em que a verifi-cação da conformidade do resultado éparticularmente difícil. Estes proces-sos devem ser objecto de um tratamen-to específico, para assegurar que os re-quisitos são cumpridos, e são execu-tados exclusivamente por operadoresqualificados, submetidos a procedi-mentos de certificação. Os processos especiais devem encon-trar-se exaustivamente documentadosno SGQ da empresa, reportando-se taldocumentação às instruções do pro-cesso, definindo o respectivo conteú-do, os cuidados a ter na sua execução,enumerando os pontos críticos e a for-ma de os tratar, os objectivos da certifi-

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OPINIÃOTema de Capa

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cação dos operadores, osmanuais de aplicação e bi-bliografia técnica de su-porte, os procedimentos deselecção e qualificação dosmesmos operadores, in-cluindo definição do perío-do de estudo, a constitui-ção das respectivas provasde avaliação, o método deavaliação da provas pres-tadas e, finalmente, a res-pectiva periodicidade.A forma de garantir o efi-ciente desempenho e durabilidade dasintervenções é a elaboração e imple-mentação de Planos da Qualidade(PQ). O PQ é um dos requisitos essen-ciais do sistema de gestão da quali-dade, tendo por objectivo definir clara-mente "como", "quando", "onde", "oquê" e "quem", no ciclo da prestação doserviço, e permitir a comprovação daconformidade das diferentes opera-ções com os requisitos aplicáveis. Paratal, deve, entre outras coisas, localizar edescrever, no ciclo da prestação doserviço, os pontos de controlo, as ac-ções de inspecção e ensaio (I&E) a efec-tuar pelo executante, de forma pla-neada e sistemática, incidindo sobretodas as fases do ciclo de realização. OPQ poderá, ainda, ter seguimento nu-ma fase posterior, acompanhando amanutenção do monumento.O estabelecimento e manutenção, pe-las empresas intervenientes, de Sis-temas de Gestão da Qualidade, deacordo com as normas NP EN ISO9000, é um passo indispensável para seatingirem, de forma sustentada, naárea da conservação e restauro do pa-

trimónio arquitectónico, os objectivosde excelência que nela encontram totaljustificação. Tal não se verificou no ca-so da Torre de Belém. Se bem que te-nha havido uma preocupação quantoà gestão da qualidade, do relatório fi-nal transparece que as exigências des-sa gestão foram atendidas de formaavulsa e sem uma estrutura organiza-tiva capaz de garantir o seu cumpri-mento.

IV. Conclusão

A intervenção de conservação da Torrede Belém deslumbra-nos pela varie-dade e erudição dos cientistas e técni-cos que compuseram as várias equipasmobilizadas, pela multiplicidade demétodos laboratoriais empregues, pe-la profusão da farmacopeia dos muitosprodutos utilizados, pelo vasto mos-truário de técnicas de conservação e demicro-ferramentas a que se recorreu.Deslumbra-nos, também, pela maes-tria com que foi montada toda a ope-ração: bom "fund raising", excelente vi-sibilidade para os vários mecenas e

para o WMF, perfeita mobi-lização dos meios de infor-mação. E a culminar todo oprocesso, a atribuição doprémio da Europa Nostra.Esse deslumbramento, nãodeve, no entanto, impedir--nos de ver as insuficiên-cias, pois elas também en-cerram uma pedagogia. Ummonumento é, ao mesmotempo, um bem cultural euma construção. As inter-venções nele realizadas de-

vem atender, simultaneamente, a umae outra destas vertentes. Enquantobem cultural, essas intervenções de-vem respeitar os princípios da conser-vação. Enquanto construção, pressu-põem conhecimentos técnicos profun-dos dos materiais, sistemas constru-tivos e comportamentos estruturais.Sendo os monumentos obra dos anti-gos mestres construtores, a realizaçãodas intervenções necessárias para a suaconservação e restauro não pode serfeita ao arrepio do saber dos seus suces-sores, os construtores de hoje, desdeque organizados em empresas devida-mente estruturadas e para tal voca-cionadas. A excelência na conservaçãodo património arquitectónico - objecti-vo por que todos nos devemos bater -só é possível se conservadores e cons-trutores trabalharem juntos.

* Presidente do GECoRPA, Grémio dasEmpresas de Conservação e Restaurodo Património Arquitectónico(www.gecorpa.pt)

A Torre de Belém, após a intervenção de 1994-98. Pormenor.

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OPINIÃO

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Tema de Capa

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Paulo Pereira*

Intervenções em Monumentos

Actualmente pretende-se dar respos-ta a novos critérios de intervenção oua novas alternativas de trabalho, quetendem a ser mais contidas e regradas.Trata-se, num primeiro momento, detrazer para primeiro plano a pura esimples salvaguarda do monumento,atendendo ao estado em que o vamosencontrar antes de qualquer acção deobra. São cada vez mais utilizadas (apar da prevenção) as estratégias deconsolidação (embora não exclusiva-mente, porque o tema é complexo eavesso a certezas). Torna-se assim ca-da vez mais importante a relação mín-ima com o objecto a intervencionar.Assim, do mesmo modo, a restituiçãoà configuração primitiva, associada àintrodução de materiais de alta tec-nologia, recém-aplicados e reversí-veis, ganha foros de importância e defactor crítico. No quadro dos monumentos ondeexistem instalados serviços depen-dentes do IPPAR leva-se a cabo umaestratégia de valorização e actualiza-ção sistemática. Tratando-se de monu-mentos extremamente sensíveis e de-tentores de um espólio muitas vezesvalioso, a sua conservação reveste-sede cautelas especiais. Se por um lado asua rendibilização constitui uma rea-lidade óbvia, tem-se vindo a procederà instalação sistemática de lojas e o seupreenchimento por "merchandising"de qualidade, além de variantes even-tuais, como cafetarias e restaurantes.Tal acto visa não apenas correspondera um padrão de intervenção, mas so-bretudo à criação de áreas de acolhi-mento onde elas não existam e de áreasnecessárias para a descompressão e re-

tenção temporária de público. De fac-to, alguns destes monumentos, aten-dendo ao fluxo de visitantes diário (àsvezes mais de 3000!), devem possuiráreas de filtragem de público. Não sepode transformar o património con-struído em explosivas e potenciais"altamiras", carecendo constantemen-te de restauro, atendendo ao seu des-gaste diário. Proteger e valorizar opatrimónio passa por estas acções deprojecto. O tratamento desta questãoapresenta-se também sob a forma derearranjo e redefinição de trajectos ecircuitos de visita, com áreas reser-vadas ou inacessíveis. O trabalho sobre o existente decorreigualmente de uma tarefa de políticasde comunicação e divulgação, em queos aspectos de acesso à informação de-verão ser limitados (dentro da medi-da do possível), constituindo-se basesfotográficas, videográficas e telemáti-cas, tornadas acessíveis ao públicoutente em lugares próprios ou através

de arquivos. Criam-se assim os cha-mados centros explicativos ou centrosinterpretativos quando não mesmosistemas musealizados ou "museo-grafados" de perfil mais tradicional,que compreenderão uma vertente depedagogia avançada.Quer isto dizer que mais do que umamusealização pura e simples dospalácios e monumentos afectos aoIPPAR se têm realizado intervençõesde caracter multimodal. A aparenteou (nalguns casos) real musealizaçãoou "museografismo" dos monumen-tos destina-se a preservar o seu es-pólio incluso, recuperando-o para olugar mais próximo possível da suaárea de antiga afectação e usufruto (ese possível para o seu lugar mesmo depertença ritual ou simbólica). Assimse poderá revestir o monumento deuma renovada capacidade de inter-acção antropológica. Trata-se, enfim,de dar expressão às necessidades dereafectação de usos1.

Mosteiro de Alcobaça.

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OPINIÃOTema de Capa

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em muitos dos casos a degradaçãocompleta do monumento (como acon-teceu no Mosteiro beneditino de Ti-bães, por exemplo), noutros introdu-ziram factores de distorção que so-mente nos finais do século XX se co-meçam a corrigir através da negoci-ação da saída destas entidades "dis-persivas" ou a sua rearrumação de for-ma racional, quando o espaço é su-ficiente ou francamente sobrante,pautadas embora por critérios deintervenção arquitectónica de quali-dade e obedecendo a um plano deordenamento racional, coerente e es-tabilizador da função final da moleconstruída. Em Mafra, o maior Convento portu-guês - um dos maiores da PenínsulaIbérica, fundado em 1717 por D. JoãoV, desenvolve-se um plano de revita-lização da autoria dos arquitectosNuno Portas, Nuno Teotónio Pereira

e associados. Para lhe dar cumpri-mento, naturalmente faseado, oIPPAR procedeu, para já, à cele-bração de um protocolo com a Es-cola Prática de Infantaria que par-cialmente o ocupa, no sentido delibertar uma grande área situadana Ala Sul e que impedia a circu-lação continuada do público quetinha que percorrer caminhos emreverso. A reafectação dessa áreaao público permite a implantaçãode um circuito de visita coerente,bem como a reinstalação dos ser-viços do monumento, a criação dezonas de lazer e pequenos locais deapoio para os serviços educativos -ou seja, para a interpretação doconjunto -, bem como demais com-

ponentes associadas à grande riquezaarquitectónica daquele monumentobarroco, como uma eventual escola deorganaria.

Tibães

O objectivo final da intervenção nestemonumento (fundado no século IX,mas remodelado sucessivamente atéatingir a sua máxima expressão nosséculos XVII-XVIII), que foi adquiri-do pelo Estado em 1986 parcialmenteem ruínas, é dotá-lo de um enquadra-mento global que integre todo o con-junto e o devolva à comunidade, ex-plorando as diversas potencialidadesde reutilização que lhe subjazem: a) aIgreja, aberta ao culto, com o respecti-vo espólio integrado devidamenterestaurado - ainda que não na sua to-talidade; b) a Casa Paroquial, com asua vertente social e de serviço, para

Alcobaça

Na Abadia de Santa Maria de Alco-baça, para além dos trabalhos per-manentes de recuperação e restau-ro, encontra-se em execução umplano global de revitalização e va-lorização. Este plano, levado a cabopelo IPPAR em conjugação com oatelier de Gonçalo Byrne, leva acabo a musealização e disponibi-lização para a fruição pública (emregime multiuso) das duas alasprincipais da fachada do Mosteiro,instalando-se no piso térreo da AlaSul o primeiro local de acolhimentodo conjunto, enquanto que o pisosuperior recebeu os serviços da pa-róquia, libertando-se definitiva-mente a Ala Norte para os serviços deapoio à estrutura cultural. Em 1997, oIPPAR chegou a acordo com a tutelado Lar de Idosos que desde o séculoXIX se encontrava instalado nas de-pendências que rodeiam os dois claus-tros quinhentistas do Mosteiro. Liber-tados estes a partir de finais do ano de2001, este vastíssimo núcleo será rea-fectado a funções culturais.

Mafra

Eis um dos problemas mais sensíveisque enfrentam os grandes monumen-tos portugueses, fruto de vicissitudeshistóricas. Depois da extinção das or-dens religiosas em 1834, neles apenasse mantiveram serviços paroquiais,ficando grande parte dos conjuntosdesafectos ou ocupados por serviçosde Estado ou do Exército. Estas ocu-pações, se por um lado, impediram

Torre da Igreja do Convento, depois dos trabalhosde limpeza das cantarias

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xos que presidiam à lógica existencialdos monumentos polarizadores.A musealização do património cons-truído passa, portanto, por um con-junto de operações que não se cingem,hoje em, dia, à simples disposição (oudeposição...) de acervos, nem sequer àorganização de circuitos de visita oude disponibilização corrente de infor-mação. Pelo contrário, aliando estesaspectos da musealização clássica de"espaços" - porque é de espaços quetratamos, alguns possuidores de acer-vos riquíssimo, tais os casos do Pa-lácio da Ajuda ou do Palácio da Pena -o que se pretende atingir é a requalifi-cação espacial total, do monumento eenvolvente, de uma forma que recon-duza o público ao entendimento dosentido pretérito dessas estruturassem perder a qualidade de fruição quea sociedade do terceiro milénio exigeno encontro harmonioso do difícil bi-nómio consumo-cultura.

OPINIÃO

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acompanhamento das actividadesreligiosas; c) a prevista (e eventual)refundação da comunidade monásti-ca, com a realização de obra no antigonoviciado, que enquadrará a recepçãoe acolhimento da ordem; d) o "Mu-seu", que deve ser entendido comoum percurso por espaços preservadose outros em ruína - estes consolidadose organizados do ponto de vista inter-pretativo -, devidamente equipados eestruturados do ponto de vista da va-lorização e reintegração do espólioalienado ou "de substituição"; e) a via-bilização do Centro de Estudos, tendoem conta a importância do mosteirona "rota beneditina" portuguesa; f) aCerca, que detém funções profiláticase ambientais, bem como produtivas,além de se inscrever no entendimentoda relação da comunidade religiosaali instalada com a natureza (tendo otrabalho ali efectuado sido recente-mente galardoado com o prestigiadoprémio Carlo Scarpa per il Giardinoda Fondazione Benneton).

Trata-se, assim, de um projecto que in-tegra a vivência do "natural" e do"construído", o encontro da paisageme da arquitectura, o fomento da uti-lização do espaço em si com os interi-ores reafectados a funções monásticasou litúrgicas articulando o percurso"exterior" com o percurso "interior",tudo isto no quadro de um Museu"aberto" onde a percepção da sedi-mentação temporal se poderá teste-munhar e interpretar.De resto, o problema das cercas mo-násticas, tais como os mosteiros ouconventos que os integram desde hámuito alienadas é uma das políticasde intervenção do IPPAR que procedeà sua paulatina aquisição com vista àsua reintegração museológica "leve".É o que acontece com o Mosteiro deTarouca, em curso de revitalização, oMosteiro de Pombeiro ou o Mosteirode Grijó, para citar apenas algunsexemplos. Trata-se da única maneirade conferir unidade (ou de "restau-rar", no sentido literal) os antigos ne-

Licenciado em História e mestre em História de Arte. É autor de diversos artigos em revistas da especialidade, tendo sido conferencistaconvidado para vários colóquios e encontros em Portugal, Espanha, França, Brasil e EUA. Organizou várias exposições, tendo sidoassessor da Europália ’91 Portugal (Bruxelas) e Lisboa ‘94 - Capital Cultural da Europa - nessa área. É autor do ensaio “A Obra Silvestree a Esfera do Rei”, Coimbra, 1991 (prémio D. João de Castro, 1991) e dirigiu a obra “História de Arte em Portugal”, 3 vols., Lisboa, 1995.Foi Chefe de Divisão de Museus da Câmara Municipal de Lisboa, desempenhando actualmente a função de Vice-Presidente doInstituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR).

1 Carecendo, naturalmente, muitos monumentos de condições de conservação absolutas "in situ" do seu património móvel de origem (trans-feridos para os museus nacionais e municipais), a reintegração do espólio disponível é essencial para o entendimento da orgânica edificada.Note-se que não nos encontramos em presença de museus na mais pura acepção da palavra, mas sim de lugares de explicação que estendem acapacidade de relacionamento do monumento, do património construido (quase sempre, um tanto despido), com a comunidade científica,escolar e com o público em geral. Além disso, a realidade "museu", tal como a realidade "monumento", é uma realidade criada na IdadeContemporânea. Nos tempos pré-modernos e pré-contemporâneos, semelhante realidade não existia. isto revela que os museus são, também,um quadro convencionado e dinâmico, em permanente alteração (caso contrário, perante a especificidade da arte contemporânea, jamais teri-am surgido os "centros de arte", de grande flexibilidade. Os museus, tais como os monumentos com as suas áreas museografadas ou centrosexplicativos/interpretativos devem ser encarados como uma rede de lugares qualificados no território, que sinalizam a paisagem; e sinalizam-na por intermédio da história e dos objectos, integrando (no caso dos monumentos), o imóvel e o móvel associados, sem conflito com os museus(isto é, sem reivindicar as obras-primas ou espólios móveis de relevância programática, que são sumuladas nos museus).

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ENTREVISTA Tema de Capa

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conservação e restauro, dar-lhes umapanorâmica razoável e alargada dasciências dos materiais pétreos. Creioque no domínio da engenharia, daarquitectura e da história da arte estasbases são fundamentais - há um aspec-to propedêutico, nestas bases. O jo-vem tem depois a hipótese de comple-mentar a sua formação com um cursode mestrado, de acordo com os seusinteresses ou com a sua vida prática.Se os estudantes destes três cursostiverem uma base propedêutica ra-zoável os cursos de mestrado po-dem apoiar-se bem nesses conheci-mentos.

P&C: Lecciona em diversos cursos demestrado vocacionados para o patrimónioconstruído.

LAB: Sim, eu dou aulas nos seguintescursos de mestrado: mestrado em Re-cuperação do Património Arquitectó-nico e Paisagístico, da Universidadede Évora; mestrado em Arte, Patrimó-nio e Restauro, da Faculdade de Letrasda Universidade de Lisboa; mestradoem Cultura e Formação Autárquica,também da Faculdade de Letras daUniversidade de Lisboa mas com oapoio da C.M. de Cascais; mestradoem Reabilitação da Arquitectura e Nú-cleos Urbanos, da Faculdade de Ar-quitectura da Universidade Técnicade Lisboa; master en Rehabilitacióndel Patrimonio Edificado, do CICOP,Canárias; e no curso de especializaçãoem Recuperação e Valorização de Edi-fícios e Conjuntos Históricos, no Insti-tuto Superior Técnico, curso que con-ta com o apoio da Fundec.

Pedra & Cal: Como professor univer-sitário, acha que os actuais curricula dasescolas de arquitectura e de engenharia ci-vil se adaptam bem às necessidades da rea-bilitação do parque construído, em geral, eda conservação do património arquitec-tónico em particular?

Luís Aires-Barros:Eu creio que o fun-damental, para uns e para outros, eraque em disciplinas de Materiais deConstrução ou de Ciências dos Mate-riais, em qualquer um destes dois do-mínios, fosse dada ênfase razoável aoestudo das rochas. É por isso que noprimeiro volume da obra editadapelo IPPAR no ano passado (ver cai-xa) há um relativo desenvolvimentonesse domínio - dos minerais e dasrochas. A ideia foi, pensando nos en-genheiros civis, nos arquitectos, noshistoriadores da arte e nos cursos de

Entrevista ao Prof. Luís Aires-Barros

Professor catedrático do IST e presi-dente da Sociedade de Geografia de Lis-boa, foi neste emblemático edifício, naRua das Portas de Santo Antão, que nasoalheira tarde de quarta-feira de cin-zas o conceituado Professor Luís Aires-Barros recebeu a Pedra & Cal. De resto,nos 45 anos de carreira docente pela suacátedra têm passado gerações de alunos,como são os casos quer do Director querda Coordenadora desta publicação. Lec-ciona nos principais cursos de mestradovocacionados para o Património Cul-tural Construído, do nosso país, sendoainda professor em universidades es-trangeiras.Sócio da Sociedade de Geografia desdehá 38 anos, facto do qual irreprimivel-mente se orgulha, pertence à sua direc-ção há 20 anos, é seu Presidente desde oano 2000.

Por Alexandra Antunes e Adrião

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Tenho ainda feito algumas conferên-cias na Universidade Portucalense ena Faculdade de Letras do Porto.Ora, se os alunos dos cursos de licen-ciatura tiverem uma boa preparaçãode base na área dos materiais pétreos,estes cursos de mestrado podem de-senvolver-se bem. O que eu tenho sen-tido nos cursos de mestrado em quelecciono, é que nos cursos de engen-haria civil e de arquitectura, não édada a máxima ênfase possível ao pro-blema dos materiais pétreos - comomaterial de construção, não só históri-co como actual. É essa a razão pelaqual, praticamente metade das mi-nhas aulas, naqueles cursos, são dedi-cadas aos fundamentos científicos dapetrologia e da petrografia.Nos cursos da Faculdade de Letras émais difícil estar a exigir que os alunostenham esta base propedêutica. Tere-mos que, ao gizar um curso de pós-graduação, ter em atenção a formaçãode base dos alunos.Julgo que poderão ser ainda criadosmais dois ou três cursos de especiali-zação, no entanto, é fundamental quenos cursos de licenciatura seja dadauma base propedêutica mais sólida.

P&C: Foi Director da Escola Superiorde Conservação e Restauro de Lisboa(ESCR). O que pensa dos cursos de Con-servação e Restauro?

LAB: É verdade, fui Director da ESCRdurante 10 anos, de 1989 a 1999, a qua-se totalidade da sua existência, poislogo a seguir o Curso de Conservaçãoe Restauro foi integrado na Universi-dade Nova de Lisboa. Foi um curso

pioneiro, que formou muita e boa gen-te. É curioso que todos os alunos for-mados pela ESCR têm hoje trabalho, oque quer dizer que foi um curso im-portante. No final dos três anos do ba-charelato, os alunos tinham um ano deestágio ao fim do qual entregavamuma tese, sob a forma de relatóriofinal, defendido em provas públicas.No jurí estava não só o orientador deestágio, como o director dos estágiosda Escola, o presidente da Escola e umrelator.

Durante esses 10 anos, o curso de Con-servação e Restauro teve três cadeirasde materiais - Materiais I, Materiais IIe materiais III - sendo um desses se-mestres especificamente sobre mate-riais pétreos. Havia também semes-tres sobre vidros, metais, madeiras,materiais gráficos, têxteis, etc.. Mas osmateriais pétreos e cerâmicos exigemum semeste, proporcionando assimum conhecimento razoavelmenteaprofundado destes materiais. Nos actuais cursos de Conservação eRestauro, tem que haver pelo menosum semestre dedicado aos materiaispétreos, visto que são cursos que po-dem dar acesso imediato à profissão.As técnicas instrumentais de análisedevem merecer uma atenção muitoespecial.

P&C: Qual deverá ser a composição da"equipa ideal", que se exige pluridiscipli-nar, de intervenção num monumento? Equal a formação e o papel de cada um dosintervenientes?

LAB: A melhor forma de abordarmosa questão da "equipa ideal" é passar-mos a um caso real, por exemplo alimpeza exterior da Torre de Belém oua limpeza dos claustros dos Jeróni-mos. A intervenção da Torre de Belém,como sabe, ganhou o Prémio EuropaNostra de 1999.A equipa deverá ser formada por umgestor das operações e uma empresaexecutora, na sua maioria compostapor técnicos especialistas em conser-vação e restauro de materiais pétreos.O gestor vai gerir a execução das ope-rações da empresa que está a fazer oestudo preliminar, ou que está a fazeras operações de limpeza, conservaçãoe restauro. Terá que gerir, para contro-lo de tempos e de custos, tendo que re-portar à Comissão Científica e Téc-nica, que deverá ouvir. À empresa executora cabe a execuçãodos estudos preliminares - levanta-mento das patologias, quantificação delacunas e fendas abertas, tipos de arga-massas e tipos de infestação biológicapresentes. Deverá fazer um mapea-mento das patologias e das deficiênciasestruturais e suas intensidades. Essaempresa terá o seu corpo técnico. Essaou outra empresa da especialidadedeverá, depois, executar o programaestabelecido e aprovado pela Comis-são Científica e Técnica.Esta Comissão, composta por quatroou cinco peritos incluirá o gestor, um

“A melhor forma de abordarmosa questão da "equipa ideal" épassarmos a um caso real, porexemplo a limpeza exterior daTorre de Belém ou a limpeza dosclaustros dos Jerónimos.”

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Historiador da Arte, um responsávelpela caracterização petrográfica edas patologias, um responsável peloconhecimento da estrutura do edifí-cio e seu comportamento estrutural eum ou dois técnicos ligados a arga-massas e produtos consolidantes ede limpeza.No caso da Torre de Belém havia pes-soas da história da arte, que nos da-vam informações sobre os vários pe-ríodos de construção ou de recons-trução do monumento, dos restauros,da proveniência dos materiais ou dosperíodos de modificações do pontode vista estilístico. Toda esta impor-tante informação é coligida pelos His-toriadores da Arte. Aparecem depoisas pessoas que estão ligadas à carac-terização das rochas e suas patolo-gias. Nós, no Instituto Superior Téc-nico, no Laboratório de Mineralogia ePetrologia, temos intervindo neste enoutros trabalhos. A nossa parte temsido, acompanhando a empresa quefaz os trabalhos ou mesmo em visitaspreliminares, caracterizar as diferen-tes patologias. Fazemos todo o estudoda caracterização do materiais e daspatologias. É também necessário al-guém com formação em geomecânicados materiais. É importante saber co-mo está estruturalmente o monumen-to. O comportamento do edifício, a re-sistências dos materiais, a sua estabi-lidade, a colecção das águas e seu es-coamento devem ser bem conhecidos.É importante haver uma ou duas pes-soas que saibam de argamassas e detratamentos de consolidação e pre-venção, de biocidas e de produtos delimpeza e conservação para pensar no

tipo de argamassas a usar, quais osrebocos a utilizar, se as juntas estãoabertas ou fechadas - que argamassasescolher, quais os processos de remo-ção da infestação liquénica a empre-gar, etc., etc..

P&C: Qual deverá ser o perfil académicodo gestor de projecto?

LAB: Poderá ser engenheiro, arquitec-to, conservador-restaurador ou histori-ador da arte, mas fundamentalmentedeverá ser detentor de formação pós-graduada específica na área do Patri-mónio Cultural Construído, e ter práti-ca relevante de trabalhos de gestão deobras do tipo que estamos a considerar.

P&C: Foi recentemente aprovado, peloMinistério da Cultura, um programa deintervenção na Sé de Lisboa. Qual a im-portância do IST neste programa?

LAB: O estudo realizado foi feito aoabrigo de um convénio entre o IPPAR,o IST e o Instituto de História da Arteda Faculdade de Letras de Lisboa. No que nos diz respeito, foi feito oestudo das rochas utilizadas neste

monumento - construído com diver-sos tipos de rocha calcária -, foi feitauma cartografia da fachada. Foramlevantadas ainda um número razoá-vel das abóbadas do claustro. Oclaustro da Sé de Lisboa deverá servisto com muito cuidado, pois apre-senta larga série de patologias. Te-mos uma boa meia dúzia de abó-badas, em que, bloco a bloco, foramestudadas (vide Fig. 1), quer por me-dição de velocidade de ondas sono-ras, quer por espectrocolorometria,quer tomando amostras para estu-dos laboratoriais. Especialmente nocanto sudeste, onde o incêndio aseguir ao terramoto de 1755 foi maisintenso, há modificações cromáti-cas, daí que aí tenham sido usadastécnicas espectrocolorométricas e

análises endoscópicas.Neste momento está entregue, aguar-dando discussão pública uma tese dedoutoramento sobre a litologia e aspatologias da Sé de Lisboa, da Eng.ªAmélia Dionísio, com o título "Degra-dação da pedra em edifícios históri-cos: o caso da Sé de Lisboa". Possui-se,já, um adequado estudo que possibili-ta o lançamento de um projecto derecuperação e conservação deste mo-numento.

P&C: Tem sido referido que a conservaçãodo património arquitectónico em Portugalse faz "a duas velocidades": Monumentos

Fig. 1 - Sé de Lisboa,esquema da abóbada nº 14 (décimaquarta abódada contada a partir da entrada do claus-tro), com indicação dos diferentes materiais que aí seobservam.

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ENTREVISTA

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emblemáticos, de grande notoriedade, quebeneficiam de intervenções caras, ao mes-mo tempo que monumentos igualmentevaliosos, mas com menos visibilidade, sãodescurados. Como comenta?

LAB: Eu creio que o estudo, conserva-ção e restauro do património culturalconstruído é um problema nacional ecomo tal tem que interessar a estruturada sua gestão a vários níveis - a nívelautárquico, a nível regional e a nívelnacional. É um facto que os monu-mentos emblemáticos, como a Torrede Belém, os Jerónimos ou a Igrejade Santa Cruz em Coimbra têm tidoum tratamento privilegiado, masexistem outros monumentos quetêm estado sob a DGEMN, que tam-bém têm tido estudos e intervençõesmuito valiosas. É necessário que aonível autárquico existam tambémessas preocupações. Muitas das intervenções são casosde bom senso. É necessário que nãochova dentro dos edifícios históri-cos, para tal é importante que os al-gerozes nao estejam entupidos, eque os vidros das janelas não este-jam partidos ou ausentes, que as te-lhas não estejam partidas, são coisastão simples como estas. Por isso digoque, muitas vezes, a vários níveis dedecisão, sem se gastarem grandessomas de dinheiro, podemos resolverpequnos/grandes problemas.

P&C: As grandes obras são da respons-abilidade do IPPAR ou da DGEMN.

LAB: Claro. Para os grandes monu-mentos há sempre facilidade em ar-

ranjar mecenas. Nas obras não tãograndes as câmaras municipais têmum papel importante, por isso o cursode mestrado em Cultura e FormaçãoAutárquica, de que falámos, é funda-mental, porque são as próprias autar-quias que têm de estar cônscias paraisso, para serem elas próprias a fazerobras de conservação e restauro, recor-rendo a empresas idóneas, ou a alertarquem de direito, para isso.

Estamos a apostar muito no CICOP, oCentro Internacional de Conservaçãodo Património, sediado em instalaçõesda C.M. de Cascais, de que o Prof. Ten-garrinha é presidente e eu e o Prof.Vítor Serrão somos vice-presidentes.Temos o exemplo espanhol, em que oCICOP das Canárias está sediado eminstalações da Câmara de La Laguna, eesta Câmara não toma decisões sobrepatrimónio cultural sem ouvir o CICOP.

É importante que os gestores autár-quicos de câmaras ricas em patrimó-nio cultural construído, tenham cons-ciência destes problemas. Uma das ideias era fazer, em Cascais,funcionar o CICOP de forma exte-rior à Câmara de Cascais, dando-lheapoio, e mantendo ligações à Facul-dade de Letras e ao Instituto SuperiorTécnico.

P&C: O facto de alguns dos principaismonumentos de Lisboa serem construí-dos em calcário lioz, uma pedra de gran-de durabilidade e resistência ao agentesde deterioração, traduz-se, de modo sen-sível, em menores exigências, logo, me-nores encargos, com a sua conservação?

LAB: Temos que ter em atenção ofacto de os monumentos mais anti-gos de Lisboa, visto que a cidadenasceu na actual parte oriental, nãoserem em regra, de lioz. À medidaque a cidade foi crescendo, para oTejo e para a parte ocidental, come-çaram a ser usados os calcários cretá-cicos. O lioz provém de um conjuntode bancadas com cerca de seis me-tros de espessura dentro deste con-junto cretácico da região de Lisboa.

Nem todos os monumentos são rigo-rosamente em lioz, por exemplo naTorre de Belém foram usadas rochasquer de níveis abaixo do do lioz queracima. Acima do nível do lioz começaa aparecer um calcário com nódulos desílex. Os calcários que estão para baixo,mais cinzentos, constituem o chamado"calcário apinhoado" (vide Fig. 2). As-sim, nem tudo o que nos possa parecerlioz o é, no estrito significado do termo.

Fig. 2 - Torre de Belém. Baluarte, lado sul. Calcário api-nhoado - pormenor.

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No nível do lioz aparecem ainda oencarnadão e o amarelo de Negrais,que são calcários da mesma idade,mas que têm essas colorações, servin-do para a construção de jogos cromáti-cos. Outras rochas utilizadas para essejogo cromático são o azul de Sintra,que já é um mármore, ou o negro deMem Martins.Digamos que boa parte de Lisboa éconstruída em calcários cretácicos daregião de Lisboa (s.l.), mas em que sóuma parte desses calcários é lioz, ha-vendo calcários apinhoados ou cal-cários com colorações. O lioz é em si uma pedra maravilhosa.No entanto, há que ter em atenção queo lioz é usado em contacto com muitasoutras rochas, por exemplo nos jogoscromáticos, sendo as zonas de contac-to entre rochas diferentes sempre zo-nas delicadas. Acresce que o lioz não éuma formação homogénea do pontode vista estrutural.

P&C: Qual a sua opinião sobre a actual"dicotomia institucional" ao nível do Es-tado, na conservação do património arqui-tectónico, isto é, a existência em paralelode duas entidades: a DGEMN e o IPPAR?

LAB: A DGEMN tem um historial, etem desenvolvido, desde 1929, a datada sua criação, uma actividade extre-mamente relevante na defesa, preser-vação e conservação do patrimóniocultural construído. A DGEMN pos-sui um corpo técnico e uma estrutura,espalhada pelo país, que são extrema-mente importantes, até imprescindí-veis. Eu posso entender que o poderpolítico tenha necessidade de querer

fazer a gestão político-cultural do pa-trimónio, via uma instituição - tipoIPPAR -, e ter para a execução dessapolítica cultural, uma outra institui-ção, eminentemente técnica - a DGE-MN. O que me preocupa é se as duasentidades vão duplicar estruturas. Aí,

penso que, do ponto de vista económi-co, assim como dos pontos de vista téc-nico, científico ou cultural, a situaçãonão é defensável. Como é que estadualidade de funções se vai coorde-nar, se vai ligar entre si, isso é difícil.Mas sejamos optimistas.

PUB

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TECNOLOGIA

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1. Informação genérica sobre o edifícioe seu enquadramento no centro ur-bano.2. Levantamento geométrico da estru-tura e, eventualmente, do seu padrãode fendilhação.3. Caracterização da secção (número

de panos e respectiva ligação,quantidade de pedra, arga-massa e vazios, estado geralde conservação, etc.).4. Ensaios laboratoriais dosmateriais. Análise física, quí-mica e petrográfica das pe-dras e da argamassa, análisegranulométrica dos agrega-dos e, apenas no caso das pe-dras, testes mecânicos.

5. Ensaios "in situ", nomeadamente,macacos planos simples ou duplos eensaios sónicos.Apresenta-se nas figs. 1, 3 e 4 e na tabe-la 1 parte da informação recolhida e na

fig. 2 a execução de umensaio com macacos

planos duplo.

A diversidade de materiais e sobretu-do de técnicas construtivas utilizadasna construção de alvenaria de pedra étal que é discutível falar do comporta-mento mecânico da "alvenaria". A for-ma e dimensão das pedras, a espes-sura das juntas de argamassa, onúmero de panos no caso desecções compostas e, ainda, adimensão e a ligação entre ospanos, são factores que, com-plementados com as carac-terísticas dos materiais, deter-minam o comportamento lo-cal e global da alvenaria. Nocaso de intervenção e se a téc-nica adoptada for a consoli-dação por injecção, torna-seainda importante conhecer a percen-tagem de vazios e a sua distribuição.Com o objectivo de definir tipologiasfrequentes de secções de alvenaria quepossam servir de suporte à definiçãode modelos de cálculo e técnicas deintervenção adequadas face a eventossísmicos , foi levado a cabo um estudopor um grupo de investigadores do

Departamento de Engenharia Estru-tural do Politecnico di Milano, ondeforam analisadas mais de 250 secçõesem centros históricos de várias regiõesde Itália (Binda et al. 1999, 2000a e2000b). A informação recolhida é rele-vante para o caso português dadas as

semelhanças entre os materiais e téc-nicas utilizados nos dois países.As informações foram armazenadasnuma base de dados com um formatostandard, por forma a facilitar a inter-pretação da informação. As fichas re-lativas a cada secção encontram-se di-vididas nas seguintes cinco compo-ponentes:

Caracterização das secções de alvenaria de pedra em Itália

Daniela Penazzi **J. Pina Henriques*

Fig. 1 - Representação da morfologia das secções mais frequentes entre asanalisadas. Da esquerda para a direita: parede de um único pano, parede dedois panos encostados, parede de dois panos parcialmente ligados, parede detrês panos (Binda et al., 2000a).

Fig. 2 - Execução de um ensaio com macacos planos duplos. Fig. 3 - Características da ligação entre os panos nas secções compostas analisadas (Binda etal., 1999).

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TECNOLOGIATema de Capa

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Tabela 1 - Frequência relativa do número de panosnas secções analisadas e valores da espessura médiadas secções (Binda et al., 1999).

LombardiaFriuliTrentinoVenetoLiguriaE. RomagnaToscanaUmbriaSicilia

Secção

Número de panosRegião Espessuramédia [cm]1

2080001038

9696841009440588344

2480660411719

55.281.548.681.5N.R.N.R.51.764.151.5

2 3

Os ensaios laboratoriais seleccionadospermitem, nomeadamente, a produ-ção de argamassas de reparação com-patíveis com as originais e a avaliaçãoda durabilidade dos materiais exis-tentes. As características mecânicas daalvenaria (estado de tensão, deforma-bilidade e resistência à compressão)devem ser obtidas através de ensaios"in situ" uma vez que as característicasmecânicas dos seus componentes nãosão facilmente correlacionáveis comas suas características globais devido àgrande diversidade de tipologias. Co-mo exemplo refere-se o ensaio commacacos planos. O segundo tipo deensaios "in situ" referido (ensaios sóni-cos) permite uma avaliação qualitati-va da morfologia da secção, por exem-

plo, em termos da presença de vazios,defeitos ou lesões. No caso de inter-venção os ensaios "in situ" devem serrealizados antes e depois desta paraavaliar a eficácia da técnica utilizada.As cinco componentes da ficha apre-sentada correspondem a uma meto-dologia de abordagem de edifícioshistóricos em zonas sísmicas que per-mite conhecer a sua condição de riscoe, simultaneamente, reunir as infor-mações necessárias ao reforço adequa-do da estrutura. O conhecimento dassecções de alvenaria mais frequentesem função da localização geográficapode, também, ser uma importanteinformação complementar aos ensaiosque se venham a fazer durante ins-pecções a edifícios antigos.

* Engenheiro Civil. Encontra-se a realizar o doutoramento em Engenharia Civil na Universidade do Minho e no Politecnico di Milano.** Arquitecta. Encontra-se a realizar o doutoramento em Engenharia Sísmica no Politecnico di Milano.

1 Na sequência da definição das tipologias frequentes foram já desenvolvidos trabalhos, de cariz essencialmente experimental, com vista ao estudo do compor-tamento mecânico de paredes compostas (Anzani et al. 1998; Binda et al. 1994 e 2002) e, também, com vista à avaliação da eficácia do reforço por injecção de grouts(Binda, 1998).

Referências Bibliográficas

Anzani, A., Baronio, G., Binda, L. 1998. Mul-tiple leaf stone masonry as a composite: the role ofmaterials on its behaviour and repair.Binda, L., Fontana, A., Mirabella, G. 1994.Mechanical behaviour and stress distribution inmultiple-leaf stone walls.Binda, L. 1998. Preservation of multiple leafstone masonry: diagnosis and control ofstrengthening techniques.Binda, L., Baronio, G., Penazzi, D., Palma,M., Tiraboschi, C. 1999. Caratterizzazione dimurature in pietra in zona sismica: data-basesulle sezioni murarie e indagini sui materiali.Binda, L., Baronio, G., Palma, M., Penazzi D.2000a. Indagini sulle caratteristiche delle strut-ture, dei materiali di edifici in muratura di pietrae mattoni, per la diagnosi ed il controllo delle tec-niche di consolidamento.Binda, L., Penazzi, D., Tiraboschi, C, Baro-nio, Cardani, G. 2000b. Caratterizzazionemurature in pietra con rilievo critico di dannisubiti in seguito agli ultimi eventi sismici damurature riparate con varie tecniche.Binda, L., Penazzi 2002. Classification of ma-sonry cross sections and typologies of historicbuildings.

Fig. 4 - Frequência relativa das quantidades de pedra, argamassa e vaziosnas secções analisadas (Binda et al., 1999).

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A porosidade da pedra natural origi-na absorção de água (da atmosfera oupor ascensão capilar) que conduz àformação de tensões internas e desa-gregação da pedra e à formação de saissolúveis (acção de humedecimentos esecagens). Para colmatar/evitar estassituações (agressões químicas, absor-ção de água, formação de gelo, bolo-res, microorganismos e sujidade), po-de-se recorrer à pintura do paramentocom um revestimento protector do ti-po verniz com propriedades hidrófu-gas e impermeabilizantes.A fissuração pode ser devida a causasintrínsecas (retracções e reacções quí-micas) e/ou extrínsecas (movimentosdiferenciais de origem térmica, assen-tamento de fundações, deformaçõesdos suportes, acções dinâmicas e car-gas concentradas)Para colmatar fissuras nas juntas deassentamento entre os blocos da pe-dra e/ou no revestimento, usa-se umaargamassa tixotrópica. As fissuras demaiores dimensões são analisadasmais detalhadamente e a sua repa-ração é variável consoante a origem.A degradação das argamassas dasjuntas da alvenaria, principalmente anão revestida, e de revestimento naalvenaria ordinária pode ser devida auma argamassa mal proporcionada,com reduzida resistência mecânica edurabilidade, ou a reacções químicascom os agentes atmosféricos em ambi-entes agressivos (urbanos muito po-luídos, marítimos e industriais). Estascausas são potenciadas pela presençade humidade nas paredes.Para colmatar as deficiências decor-rentes da má utilização e desempenho

TECNOLOGIA Tema de Capa

28 Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002

1. Sumário

A alvenaria de pedra natural continuaa fazer parte integrante de construçõesde grande valor arquitectónico e cul-tural. As zonas históricas devem serpreservadas, devendo os novos edifí-cios manter a traça existente. É precisoconstruir/reabilitar utilizando proces-sos construtivos compatíveis com osexistentes, materiais de qualidade emão-de-obra especializada.As principais exigências funcionais aeste tipo de construção para satisfazeras necessidades actuais dos utentessão idênticas às das construções cor-rentes: segurança (resistência mecâni-ca, ao fogo, na ocupação e no uso), es-tanqueidade ao ar e à água, confortotérmico e acústico, durabilidade, con-forto visual e táctil e requisitos de ven-tilação e de iluminação.Os principais factores de não quali-dade estão relacionados com a pene-

tração de água, a durabilidade e o maudesempenho estrutural.A tecnologia actual e a adopção desoluções construtivas adequadas acada caso permitem minimizar e/ouresolver as insuficiências.O principal objectivo deste artigo édemonstrar que tecnicamente não háobstáculos inultrapassáveis à cons-trução de raíz e/ou reabilitação deedificações em alvenaria de pedra.

2. Factores de nãoQualidade/Resolução

de Insuficiências

As paredes de alvenaria de pedra na-tural apresentam vantagens e incon-venientes do ponto de vista compor-tamental. Antes de iniciar qualquerconstrução e/ou reabilitação, há queefectuar uma análise e ter em consi-deração os pontos fortes e fracos dasolução adoptada.

Melhorar o desempenho das construções em alvenaria de pedra

Jorge de Brito**Ana Cristina de Freitas *

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TECNOLOGIATema de Capa

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Tema de Capa

das argamassas, são-lhe aditiva-dos vários produtos que confe-rem impermeabilização (hidró-fugos), aderência ao suporte,trabalhabilidade (plastificantes)e aceleradores de presa (endure-cedor, anticongelante, etc.).A alvenaria de pedra natural,quando devidamente aparelha-da e construída formando umaestrutura ortogonal em planta,apresenta bom comportamentoestrutural (não devendo excederos três pisos em altura, sem re-forços adicionais). A estruturaortogonal em planta melhora ocomportamento em relação àsacções horizontais (em Portugal,a acção sísmica). A limitação emelevação à grande massa destasconstruções (paredes espessas)o que é gravoso para as acçõesgravíticas (peso próprio).Nas construções novas, o reforçocom betão armado (travessas e mon-tantes) é uma solução de fácil exe-cução e economicamente vantajosa.Têm que ser resolvidas as limitaçõesrelacionadas com as diferenças com-portamentais dos materiais.Em reabilitação, soluções menos tra-dicionais, como ligadores metálicosou de madeira e materiais compósitos(fibras de vidro e de carbono), ga-nham relevância crescente devido àsua grande resistência mecânica ebaixo peso.O comportamento estrutural destasparedes pode ser simulado pelo méto-do dos elementos finitos e pela teoriada plasticidade (para representaçãodo comportamento do material). O

modelo deve simular o comportamen-to dos blocos de pedra, a argamassa ea interface entre os dois materiais.Em relação à segurança contra riscosde incêndio, a pedra natural é incom-bustível (classe M0) e não facilita apropagação do fogo.As paredes de pedra natural argamas-sada exercem de forma satisfatória asexigências de estanqueidade (água ear), sobretudo se bem ventiladas.As características térmicas destas pa-redes são inferiores às das de tijolofurado devido à sua grande massa eelevada inércia térmica. O isolamentotérmico das paredes e coberturas, complacas de poliestireno expandido,extrudido ou lã de rocha, ultrapassa

esta insuficiência. Nas paredes,o isolamento térmico pode sercolocado pelo exterior ou pelointerior, fixado directamente aosuporte. Estas soluções exigemum revestimento adicional e nãose aplicam à alvenaria de pedracom paramentos à vista.Numa parede dupla, com caixa--de-ar onde é introduzido o iso-lamento térmico, para aprovei-tamento de área, o pano interiorpode ser em alvenaria de tijolode barro vermelho. As placas deisolamento térmico são semprefixas ao pano interior.O aquecimento centralizado (ra-diadores ou pavimento radian-te) é hoje muito usual. No aca-bamento do pavimento radiantedevem ser preconizados mate-riais com elevados coeficientesde condutividade térmica quepermitam a passagem do calor

(mais aconselháveis as pedras natu-rais e a tijoleira do que a alcatifa ou amadeira).Nas construções com estas paredes, oisolamento aos ruídos aéreos, origina-dos no exterior ou em algum dos com-partimentos, é bastante bom, devido àsua elevada massa. Têm pois boas car-acterísticas de conforto acústico.Nos edifícios com lajes maciças de be-tão armado, o isolamento a sons aére-os entre pisos está ab initio assegura-do. Nos soalhos sobre estrutura demadeira, é necessário assegurar o iso-lamento a sons aéreos e de conduçãoestrutural (instalação de pisos flutu-antes e/ou tectos falsos isolantes so-noros).

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TECNOLOGIA

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Tema de Capa

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Tema de Capa

As paredes de alvenaria de pedra na-tural são mais duráveis do que as dealvenaria corrente e apresentam me-nores custos de manutenção.Para o conforto táctil, limitam-se assuperfícies rugosas, pegajosas ou vis-cosas e garante-se temperatura e hu-midade superficial adequadas. Dasexigências de conforto visual,destacam-se o aspecto geral daparede (rectilinearidade das ares-tas, planeza da superfície, homo-geneidade da cor e brilho).As exigências de ventilação e deiluminação estão asseguradas setodos os gases/fumos forem ra-pidamente evacuados através donúmero de renovações de ar pos-sibilitadas pela ventilação. Tam-bém para estas paredes deve sergarantida uma ventilação ade-quada do ar no interior das ha-bitações, através da abertura deum número suficiente de vãos,sem prejuízo do conforto térmi-co. Nas "paredes-mestras" quedesempenham funções estrutu-rais, a abertura de vãos tem queser feita com algumas limitações(dar continuidade ao travamentoe à rigidez do conjunto, consi-derar que a fraca resistência daspedras a esforços de flexão obriga aoreforço das vergas que transferem ascargas actuantes para os apoios, etc.).A abertura de vãos ao nível do telha-do afigura-se muito eficaz para res-olução do problema da ventilação eda iluminação.Nas instalações sanitárias e nas cozi-nhas, a ventilação pode ser facilitadaatravés da instalação de um sistema

de admissão de ar pelo exterior e desaída de ar através de uma chaminédotada de um ventilador estático.

3. Conclusões

Foram abordadas algumas soluçõestécnicas, com recurso a tecnologias e

processos construtivos correntes, pa-ra colmatar as insuficiências da cons-trução tradicional (alvenaria de pedranatural), e que lhe conferem níveis deconforto semelhantes aos exigidos àconstrução corrente.Verifica-se que, neste domínio, as so-luções adoptadas na construção e/oureabilitação são-no no local da obra àmedida que as situações ocorrem. A

experiência mostra que os principaisfactores humanos de mau desempen-ho deste tipo de construção são: errosde projecto (inexistente ou muito ge-neralista), deficiências no processoconstrutivo (poucos elementos depormenorização construtiva, má exe-cução, etc.) e inadequada selecção de

materiais e/ou sua utilização in-correcta.Para aliar as qualidades estéti-cas, arquitectónicas, culturais ehistóricas das construções tradi-cionais em alvenaria de pedraaos níveis de conforto e habi-tabilidade das construções ac-tuais, há que melhorar toda a suaperformance (desde a fase doprojecto). O tipo de construçãovaria com os hábitos, costumes emão-de-obra existentes em cadaregião. Há que pensar de umaforma global mas agir com asdevidas adaptações locais, isto é,analisar o comportamento decada tipo de pedra (no Norte ogranito, no Sul o calcário e nasIlhas o basalto), quantificar emodelar os esforços sísmicos,apurar as características térmi-cas e acústicas de cada tipo depedra, preconizar soluções pre-

ventivas da presença da água, anali-sar a mão de obra especializada dis-ponível, etc..

*Eng.ª Civil, Mestre em Construção, IST.

** Professor Associado, IST.

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E-PEDRA & CALTema de Capa

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Na Idade da Pedra não existiam com-putadores (nem Internet), mas exis-tia muita pedra... até aqui dirá o leitorque nem La Palisse diria melhor. Bom,na verdade referia-me à Arte rupes-tre e aos inúmeros monumentos me-galíticos que nos chegaram até hoje,que em alguns casos estão represen-tados no ciberespaço. Um dos casosmais interessantes é Stonehenge, quese encontra visitável em www.save-stonehenge.org. uk, onde o leitor po-derá conhecer as últimas notícias so-bre a campanha para salvar o célebremonumento do projecto de constru-ção da A303, uma auto-estrada de 4faixas, em túnel, a passar por baixodo perímetro do famoso círculo depedra! Mas, retomando o (mais pací-fico) tema proposto, aqui ficam ou-tras sugestões:

1. Em www.brookes.ac.uk/geolo-gy/stoneroof, o site da Stone RoofingAssociation, encontra-se uma origi-nal página recheada de informaçãosobre telhas de pedra (stone slates)na arquitectura vernacular inglesa.

O site apresenta um bem elaboradoconjunto de textos sobre as cober-turas tradicionais, desde as suas ca-racterísticas geológicas, distribuiçãogeográfica, métodos de construção,bibliografia, glossário, associaçõesde defesa, escolas de património, youname it... Para além da qualidade equantidade de textos e bom apoiográfico de mapas, tabelas e fotogra-fias, possui ainda uma vasta listagemde links a várias instituições inglesasque vale a pena conhecer.

2. O Laboratoire de Recherche desMonuments Historiques (LRMH), éuma instituição governamental doMinistério da Cultura Francês, com amissão de estudar os materiais cons-tituintes do Património Arquitec-tónico, os fenómenos de degradaçãoe estudo de técnicas de intervençãocom a finalidade de auxiliar os profis-sionais na conservação do Patrimó-nio Francês. Em www.culture.fr/culture/conservation/fr, podem-seconsultar breves textos sobre os pro-jectos actualmente em curso, comdestaque para o estudo e monitoriza-ção das Grutas de Lascaux, avaliaçãodo impacto de processos de limpezaa laser em superfícies policromas,pesquisa microbiológica e estudo demateriais consolidantes para pedra.O grafismo é de parca elaboração,mas para cada projecto está disponí-vel um endereço URL com informa-ção mais detalhada.

3. Para quem se interesse sobre a Pe-dra dos Açores, encontrará um bomtexto técnico no site da Zona Clas-sificada de Angra do Heroísmo, emwww.gzcah.pt/album, de grafis-mo simples mas apelativo, encon-tra-se bem organizado e com boasfotografias.

4. Já anteriormente foi referido nesteespaço (v. Pedra&Cal nº 9) o site doMosteiro dos Jerónimos, em www.mosteirojeronimos.pt., onde encon-trará informação sobre a intervençãode conservação exterior na Torre deBelém e claustro do Jerónimos.

Por fim (em jeito de património in-tangível), não resisto a recomendar afamosa Sopa de Pedra. No site daCâmara Municipal de Almeirim, emwww.cm-almeirim.pt/sopa.htmlpoderá conhecer a sua peculiar his-tória e em http://gastronomia.mad-info.pt/sopas/sopadepedra.htmlpoderá encontrar a famosa receita.Bom proveito!

* Arquitecto, Mestre em Conservação do Património pela Universidade de York, Inglaterra. Colabora actualmene na DGEMN, nosprojectos da Carta de Risco do Património Arquitectónico e Inventário dos Conjuntos Urbanos. ([email protected])

Sites sobre Pedra

José Maria Lobode Carvalho*

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ENTREVISTA

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ma formou quatro centenas de pro-fissionais e teve como resultado a cria-ção de duas novas instituições espe-cializadas, ambos geridos maiorita-riamente por pessoal africano: a Es-cola do Património Africano (EPA)em Porto Novo, Benim, e o Programapara o Desenvolvimento de Museusem África, com sede em Mombaça,Quénia. Estes novos organismos sãodedicados não só ao património mó-vel como imobiliário. Para sustentar estas escolas o ICCROMlançou recentemente uma campanhainternacional de recolha de fundosde cuja Comissão de Honra fazemparte, entre outras individualidades,a Dra. Maria Barroso Soares, o Presi-dente Jacques Chirac e o ex- Secre-tário Geral das Nações Unidas, JavierPerez de Cuellar. Para este fundo,que se espera atinja os 2.500.000 dedólares, já foram recolhidos 800. 000dólares a partir de doações recolhi-das em instituições governamentaise privadas de diversos países como aFrança, a Itália e a Tunísia. Espera-mos naturalmente obter no futuro acontribuição portuguesa. A salva-guarda dos museus em África deveser vista como uma opção global enão limitada ou localizada.

Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002

Devido a uma falha técnica, foiomitida uma pergunta e sua res-posta na entrevista apresenta-da no último número da nossarevista, a Gaël de Guichen. Pe-dimos desculpa ao entrevista-do, ao entrevistador e a todos osleitores. Apresentamos, agora,a questão inadvertidamente omi-tida, assim como aquela que aprecedia no documento original.

João Mateus: Quais foram os resultados práti-cos que se seguiram à formação do núcleo inicialde profissionais por parte do ICCROM?

Gaël de Guichen: A Conservação Pre-ventiva é um pouco como a Medicina Pre-ventiva. No que se refere ao Património, sejaele museológico, arquitectónico ou paisa-gístico, a aplicação desta metodologia apre-senta um problema: não se vê ou é poucovisível à primeira vista. Lavar as mãos, de-sinfectar-se, vacinar-se não se vê, mas evitaas doenças. Por estas razões esta metodo-logia teve essencialmente um primeiro im-pacto relativamente "silencioso", mas eficaznas colecções e museus que o puseram emprática e na qualidade da conservação eapresentação de exposições permanentes etemporárias.No que se refere a sinais mais evidentes daprogressão na sua implantação os resulta-dos da monitorização que tem sido levada acabo, permitem constatar que o conceito éensinado em todas as escolas de conserva-ção do património, assim como nos cursosde actualização e reciclagem do pessoal dos

museus. Dos artigos pontuais passou-se àorganização periódica de conferências a ní-vel internacional e nacional e à publicaçãode toda uma série de monografias comple-tas dedicadas especificamente à Conser-vação Preventiva. Diversos doutoramentostêm vindo a ser desenvolvidos neste campode investigação. Na maioria dos paísescomeçam a ser criados postos para os quaisse exige a formação especializada nestametodologia. Recentemente, por exemplo,o Museu de Lyon lançou um concurso paraum lugar de arquitecto em que era exigida aespecialização em Conservação Preventiva.No aspecto associativo, algumas organiza-ções internacionais, como o ICOM, orga-nizaram já os seus próprios grupos de tra-balho especializados, para a pesquisa ediscussão neste domínio. Diversas associ-ações profissionais actualizaram os seusestatutos de forma a incluir a ConservaçãoPreventiva como seu objectivo prioritário.

J.M.: Estes resultados influenciaramnaturalmente a evolução da política leva-da a cabo pelo próprio ICCROM. Podeexplicar como?

G. de G.: Depois dos primeiros cur-sos realizados nas suas próprias ins-talações em Roma, o ICCROM lan-çou em 1986 o programa PREMA(Prevention in Museums in Africa)que englobou quarenta e seis paísesda África a Sul do Sahara, (vintefrancófonos, vinte anglófonos, cincolusófonos, um hispânico). O progra-

Gaël de Guichen*: Um balançosobre a Conservação Preventiva

* Gaël de Guichen - Licenciado em Engenharia Química pela Escola Politécnica de Lausanne, iniciou a sua carreira como engenheiroresponsável pela conservação da Cave de Lascaux em França. Desde 1970, no seio do ICCROM, coordenou diversos grupos de investi-gação científica no campo da conservação preventiva do património móvel, sendo autor de inúmeras monografias e artigos traduzidosem 12 línguas, relativos a acondicionamento, climatização, iluminação e conservação de materiais em museus. Autor e responsávelpelo lançamento dos programas internacionais de formação e integração de projectos: PREMA - que envolve os responsáveis de profis-sionais de museus de 46 países na África a Sul do Sara e PREMO, com 40 parceiros na Oceânia.

** João Mascarenhas Mateus - Doutor em Eng. Civil, Mestre em Arquitectura. Especialista em Conservação de Edifícios e Sítios Históricos.

Por João Mascarenhas Mateus**

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DIVULGAÇÃO

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. Conservação e Restauro (Profª Doutora Maria João Baptista Neto e Prof. Engenheiro Luís Aires--Barros). Introdução à Museologia (Profª Doutora Raquel Henriques da Silva )

Actividades em projecto. Projecto de colaboração com diversasAutarquias do país na área de inven-tariação e preservação do patrimóniolocal, através do estabelecimento deprotocolos específicos.. Participação no Congresso Interna-cional Paraguai/Bolívia. Apoio à criação no Brasil de um Cen-tro CICOP. Preparação de reunião intercalar daFederação Internacional em Cascais. Solicitou-se colaboração à CâmaraMunicipal de Oeiras para desenvolverum projecto comum de identificação eformas de intervenção da arquitecturade veraneio nos dois concelhos. Está em vias de ser assinado um Pro-tocolo de Cooperação entre o CICOP-Portugal e a Universidade Portucalen-se Infante D. Henrique, com vista adesenvolver acções comuns nos do-mínios da informação, formação, in-vestigação, desenvolvimento e co-operação internacional na área do pa-trimónio.

CICOP PortugalTravessa da Conceição, nº 6

2750 Cascaistel.: 21.482.53.30

O CICOP-PORTUGAL

Definição e objectivosNascido com o objectivo de suprir la-cunas e de congregar esforços na áreado estudo e da salvaguarda patrimo-nial, o CICOP-Portugal está integradona Federação Internacional para aConservação do Património e procura,através de acções concertadas de tra-balho (congressos, intervenções públi-cas, seminários, contratos-programa,reforço das relações com a Universi-dade), dar maior visibilidade ao pa-trimónio cultural português na cenainternacional. Urge saber estudar osmonumentos e obras de arte, analisá-las formal e esteticamente, situá-las notempo e no espaço, abraçar a sua inter-pretação enquanto objectos detentoresde funções e significados.Esta missão precisa de ser articuladacom conhecimentos sólidos nas áreasda Conservação Preventiva, da His-tória do Restauro, dos Métodos Labo-ratoriais usados nos Monumentos, daMuseologia, da História da Arte, daGestão do Património Cultural, do Di-reito Internacional que rege a vida dosmonumentos classificados, etc.São três as vertentes essenciais de tra-balho do CICOP: . reforço do conhecimento da nossamemória patrimonial, à luz do estudodos processos construtivos que secu-larmente a afeiçoaram no espaço geo-gráfico e no tempo histórico;. salvaguarda das identidades sui ge-neris que dão corpo a um país, enquan-to região autonomizada de valores, àluz do seu estudo histórico-artístico eda sua preservação.

. Promover e estimular o intercâmbio ea cooperação na área da conservaçãodo património

CriaçãoO CICOP-Portugal foi criado em Abrilde 1999 e apresentado publicamenteno dia 16 de Setembro desse ano, noedifício dos Paços do Concelho, numacerimónia que contou com a represen-tação do executivo autárquico e comuma delegação constituída pelo Pre-sidente e outros dirigentes da Fede-ração Internacional de Centros CICOP,no qual está filiado.Nesta sessão fez-se o lançamento a ní-vel europeu do Programa de Tecno-logia Digital de Inventário de BensCulturais, uma base de dados transna-cional já instalada em vários países.De entre os seus órgãos destaca-se oConselho Consultivo, cujos membros,oriundos de todo o país, são especialis-tas das mais diversas áreas do patri-mónio, desde o campo do restauro aodo estudo da patologia da pedra, etc.

Ensino e Formação.Participação do Prof. Engenheiro LuísAires-Barros como docente convidadono Curso de Mestrado de Rehabili-tación del Patrimonio Edificado, rea-lizado nas Ilhas Canárias, na sede doCICOP-Espanha (21/27 de Novembrode 1999);. Participação de membros do CICOPno Mestrado em Cultura e FormaçãoAutárquica (Cascais, 1998/2000; 2000/2002) em seminários específicos:

. História da Arte em Portugal (Prof. Doutor Vítor Serrão e ProfªDoutora Maria João Baptista Neto)

CICOP - Centro Internacional de Conservação do Património

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PATRIMÓNIO PARA MIÚDOS

Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 200234

O Museu das Marionetas foi criadoem 1987 pela Companhia de Mario-netas de S. Lourenço que, através dasua actividade, deu continuidade auma tradição portuguesa de teatro eópera de marionetas.

Recentemente, o Museu foi instala-do no antigo Convento das Bernar-das, em Lisboa, reunindo assim o es-pólio da Companhia de S. Lourenço,um universo de pequenos bonecosde pano e madeira, cheios de fios quese manuseiam e nos encaminhampara o universo da fantasia.

O núcleo museológico é apresentadoatravés de um percurso constituídopor marionetas (de todos os tipos detécnica de manipulação) e por más-caras, provenientes das mais diver-sas culturas e países, de todos os con-tinentes. Este percurso atravessa seisnúcleos, entre os quais encontras: oda "Máscara", o da "Marioneta Por-tuguesa" ou o da "Marioneta e os Me-dia", este último consagrado às novasformas de expressão da marioneta.

Numa das salas de exposição estãodois palcos improvisados onde, dan-

do largas à tua imaginação, podescriar o teu próprio teatro de mario-netas, manipulando os bonecos dis-poníveis para esse efeito.

Depois de veres a exposição não dei-xes de passar pelo "Espaço Criança",onde podes participar em ateliersdiversos, criar marionetas ou fazerali a tua festa de aniversário.

A abertura do "Centro de Documen-tação", onde será possível consultarpublicações temáticas, o banco deimagens ou o arquivo videográfico,está prevista para o segundo semes-tre deste ano. Poderás recorrer a esteCentro sempre que queiras sabermais sobre as marionetas, por exem-plo para um trabalho da escola.

Museu da MarionetaConvento das BernardasRua da Esperança, n.º 1461200 - 660 LisboaTel.: 21 394 28 10Fax: 21 394 28 19E-mail:museudamarioneta@ebahl. ptHorário: de 4ª Feira a Domingo, das10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00Preço: 2,5 � (501$00)

Encerra nos dias: 1 de Janeiro, 1 deMaio e 25 de DezembroTransportes: comboio - estação deSantos; autocarros - carreiras: 6, 13,27, 49, 60 e eléctrico - carreira 25.

Por Alexandra Antunes e Adrião

A fascinante viagem ao mundo das marionetas

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ESCOLAS

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nio Urbano e Arquitectónico, Dese-nho, História da Cultura Artística,Geometria Descritiva, Informática/CAD, Tecnologias de Recuperaçãode Espaços, Museologia e Museo-grafia e Prática Projectual.

Tanto a introdução da educação dasensibilidade num sistema educati-vo predominantemente racional,como a própria preparação para avia artística de Vida - "Arte como ofí-cio", são preocupações de hoje. Im-plícita ou explicitamente, pensadasou apenas percebidas numa preocu-pação comum pela desumanizaçãoa que nos tem levado todo o desen-volvimento sem sentido de Vida.A educação do sensível será difícil

definir e não nos caberá neste curtoespaço estabelecer esses conceitos. Noentanto, digamos que tal como a práti-ca do raciocínio produz conclusões ló-gicas, soluções racionais, a vivência deexperiências em cuja base esteja a sensi-bilidade produzirá relações de harmo-nia, equilíbrio, expressividade, relacio-namento com a forma, o som, a cor, aluz, o movimento… não como análiseintelectual mas como forma vivencial.Para haver expressão tendencialmenteartística há que criar uma "unidade"consigo próprio, com o ambiente, comos outros…A prática das expressões artísticas é avia possível para a sua integraçãopedagógica.O curso apresenta ao nosso jovem ou-tra visão do mundo - aquela que nor-malmente era fechada em elites maisou menos enigmáticas - apresenta-lhe aArte como aprendizagem para a sua

O Curso

Destinado a jovens com o 3º Ciclo doEnsino Básico, inserido no contextodos Cursos Técnico Profissionais deNível 3, este curso, enquadrado noensino especial para alunos surdos eouvintes, visa, no entanto, a via artís-tica do ensino na Casa Pia de Lisboa.Conferindo a equivalência final ao12º ano do Ensino Secundário, o seuobjectivo é sensibilizar os alunos pa-ra aspectos culturais e essenciais aoconhecimento integral.Defendemos, nesta experiência pe-dagógica, o princípio da enfatizaçãoda educação da sensibilidade atra-vés de dois factores fundamentais:. a unidade do objectivo, quer daárea curricular, quer tecnológica. Teo-ria e prática serão o educar na arteatravés da arte;. um entendimento sempre aberto dasquestões relacionadas com a arte, o pa-trimónio, o ambiente e a cultura, no ge-ral, relacionadas com o futuro dosjovens.Serão estes objectivos básicos que da-rão a tónica a todas as disciplinas, semnunca perder de vista o objectivo glo-bal do curso.O constante apelo à originalidade cria-dora, despoletante das potencialidadesindividuais e orientação na procura dodelicado equilíbrio entre sensibilidadee crescimento intelectual, projecta-nosnum processo educativo e renovadorcujo método poderemos sintetizar emalguns itens:. contacto constante com várias formasde arte e participação, sempre que pos-sível, em acontecimentos culturais;

. análise do património artístico e cul-tural do país, alargado ao entendi-mento de "tradição";.estruturação da comunicação e signifi-cado em arte;. sensibilização e entendimento do"meio" com vista a proporcionar fu-turas soluções válidas e inovadoras;.análise da ciência e tecnologias de hojecomo geradoras de novos processoscriativos.Culminará todo o processo numa cons-tante vivência das expressões artísticasque, implicitamente, imbuirá toda avida do jovem de humanismo e univer-salidade - "Uma visão humanizada dascoisas".

Preconizamos uma formação com ascomponentes Sócio-cultural, Científicae Técnica, abarcando as disciplinas:Português, Língua Estrangeira, Áreade Integração, Matemática, Patrimó-

Curso técnico de revitalização do património da Casa Pia de LisboaIsabel Alçada*, Inês Carolina Silva**

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vida-ofício, mas acima de tudo, outraabertura para um mundo que se pre-tende "belo" e reconhecido.Nem todos serão Artistas "de letramaiúscula" - como aqueles de que aCasa Pia tanto se orgulha - mas se tor-narmos esses jovens homens criativos,capazes de uma adaptação a quaisquercircunstâncias, capazes de transformarcoisas, e ambientes… então cumpri-mos a nossa missão. E se algum sobres-

sair no seu potencial Artístico, seremosos primeiros a orientá-lo, estimulando--o e apoiando-o. A arte é, ao contrário do hermetismoque se lhe atribui, uma comunicação,uma dádiva, uma constante da obraaberta, aberta a sentidos e a diálogos.

A Disciplina de Museologia

Imaginemos que nos propunham aconcepção de uma sala de aula ino-vadora para alunos de todas as idades.Levar-nos-ia a idealizar um espaçoatraente, acessível, multifacetado econfortável para os seus utilizadores.Variadíssimos colaboradores especiali-zados e uma colecção de materiais, ob-

jectos, livros e documentos seriam inte-grados para estimular os alunos. Estasala de aula que imaginamos seria ummuseu.Tratando-se, a museologia, de umaárea de estudo recente nos currículosescolares, este corpo de conteúdos quese concentra no funcionamento dosmuseus, revela-se fundamental quan-do associado às práticas de revitaliza-ção cultural (entendam-se os materiais,os edifícios, as peças de colecção e osconceitos artísticos). Sendo a conservação do patrimóniouma premissa, que parte do próprioedifício e afecta as colecções, é na aná-lise atenta de todos os aspectos que re-gulam as operações desenvolvidas pe-los profissionais dos museus, a inves-tigação, o programa, as exposições, oespaço, a comunicação disseminadacom suportes audiovisuais, que apren-demos a expandir a capacidade de usu-fruir os bens que nos são legados.Os conteúdos transmitidos são abran-gentes, remetendo-nos para a históriado museu, as tipologias, a arquitec-tura, a museografia, a natureza esté-tica da linguagem visual, o estudo dosvisitantes, o serviço educativo, a práti-ca de documentação de peças e en-saios de exposições de pequenas pro-porções.Incentivam-se o trabalho de volunta-riado e as parcerias entre a escola e osmuseus, pois não pretendemos confi-nar as actividades ao espaço escolar,cuja população é constituída por jovensdeficientes auditivos integrados comjovens ouvintes, para os quais a expe-riência participativa em projectos ex-positivos é fundamental.

Proposta para a Prova de Aptidão Profissional

à Disciplina de Museologia

A recente proliferação em número eprogramas de museus concede um es-pecial relevo ao panorama destas insti-tuições vocacionadas para a difusão doconhecimento e para a fruição culturalde uma comunidade.O interesse pela museologia intensifi-cou-se com a comunhão de diferentesdisciplinas, desde as Artes Plásticas, aArquitectura, o Design, a Sociologia,passando pela Antropologia até à Psi-cologia e à Pedagogia, vindo a solidi-ficar formas de revitalizar bens patri-moniais, quando fazendo parte de umacervo ou de uma colecção em trânsito,ou quando se instala no edifício de re-conhecido valor histórico e cultural.A evolução do museu, no que respei-ta ao seu significado e à sua função,leva-nos a reconsiderar métodos, cri-térios e valores aplicados à sua pro-gramação, domínios em que a actualpercepção do património permitiuaceder a uma grande diversidade detemas de estudo.O museu, que, em muitos casos, resultade um espaço transformado e revita-lizado, cumpre, actualmente um vastoleque de funções: necessita de áreaspara conservação e restauro, assim co-mo de espaço para reservas e para aadministração. Cúmplice da estrutura de marketing, omuseu reserva também áreas para ousufruto directo dos visitantes: bar, lo-ja, espaços de descontracção e de con-vívio e, não menos relevante, salas deexposições temporárias, que fidelizam

ESCOLAS

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Diciplina de Desenho. Desenho de “gessos”.

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ESCOLAS

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o público e atraem potenciais visitantesa estes edifícios culturais.Desde a sua criação, os museus revesti-ram-se de funções múltiplas: depósitode tesouros artísticos, gabinetes deciências naturais, galerias de pintura,jardins botânicos e arqueológicos, co-lecções privadas. Actualmente, adap-tam-se nas suas vertentes temática,tecnológica, social e comunicativa,exprimindo a oferta de espaços eprodutos que mais nenhuma outrainstituição iguala. Na sua vertente museográfica, sãoplaneados visando futuras refor-mulações em todos os seus aspectos:desde a colecção ao espaço de inves-tigação e ao espaço expositivo.Por isso, um organismo arquitectó-nico que albergue um museu devemanter viável essa possibilidade deadaptação.

O ProjectoA propósito da Prova de Aptidão Pro-fissional, que avalia as competênciasadquiridas com o Curso de Revitali-zação do Património, propõe-se a ela-boração de um projecto que integre ummuseu num edifício revitalizado. Pro-cedimento comum a muitos museusque transpuseram as suas funções paraespaços recuperados, a adaptação deuma estrutura a um programa com

funções museológicas (museográfica,estética, social, pedagógica e cultu-ral…) incentiva o espírito criativo doindivíduo que se habilita tecnológica - eprofissionalmente.O projecto em causa integra um edifíciorevitalizado e um museu artístico: oMuseu do Retrato, cuja formulação do

programa se concretizará como parteintegrante da Prova, mas com direc-trizes prévias, uma vez que o edifícioestudado apresenta características deinteresse para o currículo do curso.Sendo datado do século XVIII, e es-tando a ser actualmente mantido para ainstalação de eventos culturais, esteedifício que se apresenta seriamentedegradado e condicionado nos seusaspectos funcionais (luz, água, aces-sos…) é propício para a experimen-tação de um novo núcleo museológicoe expositivo.

Não existindo em Lisboa um museucom características de programaçãosemelhantes, o estudo do retrato nahistória das artes visuais exerce umenorme fascínio em todas as culturas eépocas artísticas, tanto quanto os ele-mentos estilísticos como a composição,a cor, a técnica, os suportes, a simbolo-

gia e a função.Para isso, o espaço será adaptadocom áreas vitais ao pleno fun-cionamento do museu, e após aorganização concebida, será ma-quetizado.

Actividades previstasCada aluno que participe encar-regar-se-á de aspectos distintos damuseologia e da museografia:.museografia de sala de exposição

permanente (desenhos e maquete). museografia de salas de exposiçãotemporária (desenhos e maquete).inventariação simbólica do acervo idea-lizado (por exemplo, 20 peças cedidas). documentação visual e escrita para assalas (suporte gráfico e escrito). imagem corporativa que identifique omuseu (suporte gráfico e interactivo)Considera-se ainda a possibilidade derealizar uma exposição.No caso de uma impossibilidade, umaexposição virtual, na internet, é a so-lução viável…

* Mestre Arquitecta em Recuperação da Arquitectura e Núcleos Urbanos na FA-UTL. Doutoranda em Reabilitação Arquitectónica naUniversidade de Sevilha. Responsável pela implementação da Área de Artes e Design na Casa Pia de Lisboa. Professora de Conceitose Tecnologia de Recuperação de Espaços no Instituto Superior de Artes e Design (IADE)

** Pintora, licenciada pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Pós-graduada em Museologia pela UniversidadeLusíada. Professora de Museologia no Curso Técnico de Revitalização do Património da Casa Pia de Lisboa

Disciplina de Maquetismo. Construção de maquetes.

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AS LEIS DO PATRIMÓNIO

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Numa altura em que são reconhecidas,de modo praticamente unânime, asnecessidades de mão-de-obra nos di-versos sectores da actividade económi-ca portuguesa, revela-se particular-mente relevante o conhecimento domodo como se pode processar a con-tratação de trabalhadores estrangeiros.A contratação de trabalhadores estran-geiros comunitários deve observar asregras aplicáveis à contratação de tra-balhadores portugueses, por força doprincípio da liberdade de circulação detrabalhadores no território comunitá-rio (art. 39º do Tratado que institui aComunidade Europeia).Os problemas começam quando umaempresa pretende contratar um traba-lhador extra-comunitário. Primeiro,haverá que apurar se esse trabalhadortem algum título válido de permanên-cia em Portugal (como, por exemplo,uma autorização de permanência ouuma autorização de residência).Caso o trabalhador extra-comunitáriopossua o referido título, pode celebrarum contrato de trabalho nas mesmascondições que os trabalhadores por-tugueses. No entanto, a execução docontrato de trabalho só deve ter início(ou seja, o trabalhador só deve começara trabalhar) após a entidade empre-gadora ter promovido o depósito dessecontrato no Instituto de Desenvol-vimento e Inspecção das Condições deTrabalho (IDICT).O incumprimento da obrigação dedepósito prévio constitui contra-orde-nação grave, à qual poderá ser aplicadacoima, cujo valor variará entre � 399,04e � 7.232,57. A empresa poderá aindaser privada (por um período de 6 a 12

meses), nomeadamente, do direito departicipar em concursos públicos quetenham por objecto a empreitada ou aconcessão de obras públicas (art. 7º, n.º1, da Lei n.º 20/98, de 12 de Maio). Acelebração de um contrato de trabalhocom um trabalhador extra-comunitá-rio, sem título válido de permanência,deve obrigatoriamente ser precedidada obtenção pelo trabalhador de títuloque lhe permita exercer uma actividadeprofissional em território português.O trabalhador pode procurar obter umvisto de trabalho ou, em situações ex-cepcionais, uma autorização de perma-nência. O visto de trabalho pode ser so-licitado pelo trabalhador junto do con-sulado português do seu país de ori-gem e será (ou não) concedido de acor-do com as necessidades do mercado detrabalho português.Para assegurar que "a oferta de em-prego é prioritariamente satisfeita portrabalhadores comunitários, bem co-mo por trabalhadores não comunitá-rios com residência legal no País" (art.41º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 244/98, de8 de Agosto), encontra-se estabelecidoum processo, extremamente comple-xo, prévio à concessão do visto de tra-balho. Tal processo engloba as seguin-tes três fases:. comunicação prévia ao Instituto doEmprego e da Formação Profissional;. parecer favorável da Inspecção-Geraldo Trabalho (IGT);. consulta prévia ao Serviço de Estran-geiros e Fronteiras.A autorização de permanência pode serconcedida, em situações devidamentefundamentadas, a trabalhadores quenão tenham o visto adequado para en-

trada em Portugal, mas possuam umaproposta de contrato de trabalho, cominformação favorável da IGT.A mencionada informação favorável sóserá prestada, nomeadamente, se a en-tidade empregadora tiver certificado,alvará ou licença para o exercício daactividade empresarial que desenvol-ve. Esta exigência tem como um dosseus principais objectivos, a exclusãoda actividade económica de empresasque realizam empreitadas, sem qual-quer certificado para o exercício dessaactividade.A empresa que empregar um traba-lhador que não possua título válido depermanência em Portugal, pode sercondenada ao pagamento de uma coi-ma, cujo valor poderá oscilar entre1.496,39 � e 24.441,10 � (assim como ajá referida possibilidade de privação dodireito de participação em concursospúblicos). Saliente-se ainda que, quem auxiliar àimigração ilegal, aliciar ou angariarmão-de-obra ilegal, pode ser punidocom penas de prisão entre 1 a 4 anos(arts. 134º e 136º do citado Decreto-Lein.º 244/98). Como conclusão, refira-se que a con-tratação de trabalhadores extra-comu-nitários deve ser rodeada das maiorescautelas e só deverá ser realizada apósa apresentação pelo trabalhador de do-cumento comprovativo da legalidadeda sua permanência em território por-tuguês.

A contratação de trabalhadoresestrangeiros

João Massano*

* Advogado de Alcides Martins &Associados. Mestrando em Direito doTrabalho na FDUL

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NOTÍCIAS

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Programa de intervençãopara a Sé de Lisboa

Em cerimónia que contou com a presençado ministro da Cultura, Augusto SantosSilva, e do cardeal patriarca de Lisboa, D.José Policarpo, foi apresentado o pro-grama de intervenção para a Sé lisboeta,com base no protocolo assinado entre oIPPAR (Instituto Português do Patrimó-nio Arquitectónico) e o Cabido da Sé deLisboa. O programa compreende o res-tauro do claustro, a recuperação das es-truturas de pedra, a criação de uma redede águas e esgotos, que resolvam os ac-tuais problemas de infiltrações, e culmi-na com a constituição de um núcleo mu-seológico. Segundo o ministro, para aelaboração deste projecto foram de pri-mordial importância os contributos dosestudos realizados quer pela Faculdadede Letras de Lisboa quer pelo InstitutoSuperior Técnico (vide entrevista ao Prof.Luís Aires-Barros, p. 21).

Sé de Lisboa, fachada nascente da Torre Norte: cartografia de épocas de restauro, de litologias e depatologias. In: Luís Aires-Barros, As rochas dos monumentos portugueses: tipologias e patologias, IPPAR,Lisboa, 1991, vol. II, p. 477.

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AGENDA

40 Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002

Ateliers et Depots du Materiel Ferroviaire: Deux Siecles d'Histoire10e Colloque de l'AHICF (AssociationPour L'Histoire des Chemins de Feren France)Local: Arles, FranceData: 25 a 27 de Abril de 2002 Organização:Association Pour L’His-toire des Chemins de Fer en France ;Université de Provence; AssociationMIP Provence - Mémoire, Industrie,Patrimoine en Provence Informações: AHICF - 19, rue d'Amsterdam - 75008 Paris - FRANCE Tel: +331 42 82 71 70 Fax: +331 42 82 71 72 Web site: http://www.trains-fr.org/ahicf/coll2002.htm E-mail: [email protected]

Estruturas 2002 - CongressoNacional - Os Novos Desafios na Qualidade das ObrasLocal: Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa Data: 10 a 13 de Julho de 2002A actividade da engenharia de estru-turas passa actualmente por grandesdesenvolvimentos que irão ter refle-xos marcantes na melhoria da quali-dade das obras. Refere-se, nomeada-mente, a preparação e adopção de no-vas normas e regulamentos, a utiliza-ção de novos materiais estruturais, aadopção de novas técnicas de cons-trução, bem como a utilização de no-vas tecnologias no apoio ao projecto eao controlo de segurança das obras.Neste congresso serão debatidas estase outras questões, de modo a permitirperspectivar respostas adequadas a es-

tes novos desafios por parte dos profis-sionais envolvidos nestas actividades.Será considerada a realização de obrasde estruturas de todos os tipos, tantonovas como de reabilitação, nomeada-mente, de edifícios, pontes e viadutos,instalações industriais, túneis, reser-vatórios, barragens e obras hidráuli-cas, com a utilização dos diversos tiposde materiais estruturais: betão, aço,alvenaria, madeira, compósitos, etc. Organização: APEE - Associação Por-tuguesa de Engenharia de Estruturas(ex GPEE)Informações: ESTRUTURAS 2002 -Comissão OrganizadoraLNEC - Av. Brasil, 101, 1700-066 LisboaTel.: + 351 21 844 32 85Fax: + 351 21 844 30 25E-mail: [email protected]

Paper as a Bearer of CulturalHeritage. The Archaeologyand Conservation of Paper -26th Congress of TheInternational Association ofPaper HistoriansLocal: Rome, Verona, Italy Data: 30 de Agosto a 6 deSetembro de 2002 Organização: IPH-InternationalAssociation of Paper Historians Informações: IPH Secretary -Ludwig Ritterpusch -Wehrdaer Strasse 135 - D-35041Marburg/Lahn - GERMANY Tel/Fax: +49-6421.81758 Web site:http://www.assiph.com/ E-mail: [email protected]

Colloque InternationalPatrimoine Mondial -Patrimoine IndustrielsLocal: Arc Et Senans, France Data: 19 - 21 Setembro 2002 Organização: Royal SaltWorks of Arc Et Senans/France Informações: Franck Gautré Tel: +33-03 81 54 45 36 Fax: +33-03 81 57 45 01 Web site: http://patri-moine.saline.free.fr E-mail:[email protected]

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Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002

VIDA ASSOCIATIVA

Câmaras de Cascais, Porto e Lis-boa, mas há, felizmente, muitasoutras onde prevalecem o mes-mo tipo de preocupações.O GECoRPA, não podia, porconsequência, deixar de expres-sar o seu total apoio aos novosgestores daquelas autarquias edirigir, daqui, a todos os que sepropõem mudar, palavras deencorajamento e de estímulo,manifestando-lhes o seu apoio edesejando-lhes o maior sucessona implementação dessas novasorientações na prática.

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O GECoRPA acredita que atra-vés da reabilitação dos edifícios eestruturas existentes é possívelsalvaguardar o carácter e atmos-

fera das nossas cidades, gerir me-lhor os recurosos disponíveis,reduzir substancialmente o im-pacto da construção sobre o pa-trimónio natural e melhorar aqualidade de vida das pessoas.As posições que têm vindo a sertomadas por alguns dos novospresidentes de câmaras são ex-tremamente positivas deste pon-to de vista e, se foram postas emprática, traduzir-se-ão em me-lhorias substanciais. Essas posi-ções têm tido particular exposi-ção e divulgação no casos das

O GECORPA escreve aos novos presidentes

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VIDA ASSOCIATIVA

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No início de cada ano e após um le-vantamento das necessidades, são ela-borados na Monumenta (e para asoutras empresas do grupo), planos deformação com acções destinadas aosdiversos escalões do seu pessoal, des-de os operários até aos quadros supe-riores. Essas acções visam manter ou

melhorar a capacidade da empresa deprestar aos seus Clientes um serviçode qualidade.

Neste contexto, cita-se, como exem-plo, a acção levada a cabo em 2 de Fe-vereiro, no armazém da empresa naAbóboda, S. Domingos de Rana, sobreo tema “Consolidação e conservaçãode paredes de edifícios antigos”.

Esta acção consistiu, como nor-malmente acontece, numa par-te "teórica", de formação em sa-la e numa parte "prática", emsimulação (noutros casos subs-tituída por trabalho em obra).

a) Formação "teórica"Na parte teórica desta acção deformação, apresentaram-se as-pectos relacionados com a con-servação das estruturas de alve-

narias de pedra. Focaram-se as técni-cas de diagnóstico mais correntes eapresentaram-se dois casos de estudo(Muralha Islâmica de Tavira e Muralhade Castro Verde), mostrando-se as téc-nicas utilizadas pela OZ (uma empre-sa pertencente ao mesmo grupo) paracaracterização das alvenarias.

b) Formação "prática"Foi posteriormente realizada umapequena demonstração sobre aexecução de pregagens. Utilizan-do um modelo de uma parede dealvenaria de pedra, foram de-monstrados dois tipos de prega-gens: tradicionais, com varão deaço nervurado e do tipo Cintec. Foi, de início, demonstrada a exe-cução do furo, utilizando um equi-

pamento dotado de coroa diamanta-da. Foram discutidos pormenores daexecução, como a inclinação da má-quina, a velocidade de avanço, etc..Foi, em seguida, demonstrada a colo-cação a pregagem do tipo Cintec, apreparação da calda de injecção: comose faz a mistura, tempo de mistura(incluiu a quantidade de água) e re-pouso da calda, passagem da calda

para a bomba de injecção. Foi, posteri-ormente, selada uma pregagem destetipo, explicitando os cuidados a ter.Por fim, foi executada uma pregagemcorrente (com varão nervurado), dis-cutindo-se aspectos como tipos deespaçadores, tipos de mangueira deinjecção, pressão de injecção, etc..

Esta acção de formação teve comodestinatários os Directores de Obra daMonumenta, Responsáveis de Obraque realizem obras deste tipo e De-partamento de Orçamentação. Dadoo interesse deste tema, estiveram pre-sentes colaboradores de outras em-presas do grupo.

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Monumenta em formação - Consolidação e conservação de paredes de edifícios antigos

Fig. 1 - Formação em sala.

Fig. 2- Execução do furo para colocação da pregagem.

Fig. 4 - Explicações no local.

Fig. 3 - Injecção da ancoragem Cintec

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VIDA ASSOCIATIVA

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Para o ano de 2002, o GECoRPA temcomo principais objectivos: aumen-tar o número de associados, alcançara sua estabilidade financeira e con-solidar e reforçar o seu reconheci-mento institucional.

Para tal, assumindo um regime decontenção de custos e de rentabiliza-ção dos meios e condições disponíveis,durante o ano de 2002, propõe-se a:

a) Manter os serviços aos associados: · Apoio na implementação de sites;· Apoio na implementação de Siste-mas de Garantia de Qualidade;· Apoio jurídico;· Contratação de estagiários do cursode "Técnicos de Conservação e Res-tauro de Edificações" do CENFIC;· Contratação de jovens EngenheirosCivis, na qualidade de estagiários, aoabrigo do protocolo com a Ordemdos Engenheiros;· Informação períodica das alterações

ao nível da legislação, para a activi-dade de conservação e restauro depatrimónio arquitectónico.

b) Implementar novos serviços paraos associados:· Disponibilização de autocolantesde carrinha "Associado GECoRPA" apreços especiais;· Consultoria para apoio a candida-turas a projectos de investimento noâmbito do IIIQCA.

c) Rentabilizar a revista Pedra & Cal,reduzindo os seus custos de edição,produção e distribuição; e tornando--a uma fonte de receita através davenda de inserções de publicidade, eda venda de assinaturas e de exem-plares em bancas seleccionadas.

d) Manter o site, tornando-o ummeio privilegiados de divulgação doGECoRPA, dos seus associados, edas suas actividades.

e) Manter a venda de publicações doGECoRPA, e de outros editores, aoabrigo dos protocolos existentes.

f) Editar as obras: " Manual de Edu-cação Patrimonial", "Glossário deAnomalias em Construções" e as Ac-tas do Encontro Internacional da Ar-rábida "Património Cultural e Na-tural: Reabilitar em vez de Construir"e do Encontro "Baixa Pombalina: QueFuturo?". Deverá contar-se com pa-trocinadores para estas edições. Edi-tar em CD-Rom a "Súmula Legisla-tiva aplicável ao sector da constru-ção, da reabilitação e do património".

g) Colocar à venda alguns produ-tos de merchandising, da "LinhaGECoRPA", através do site, e daPedra & Cal.

h) Promover o Seminário "Técnicas deEnsaio e Meios de Diagnóstico aplica-dos ao Património Arquitectónico".

i) Proceder à recepção e avaliação decandidaturas ao Prémio GECoRPA2002. Divulgar o Prémio, tendo emvista a obtenção de patrocínios.

j) Dar continuidade aos protoco-los existentes, por exemplo com oCENFIC, e a Ordem dos Engenhei-ros; e procurar estabelecer novoscontactos com entidades estatais,associativas, de ensino, ou outrasrelacio-na- das com a área de activi-dade dos associados.

Programa de Actividades para 2002

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ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIO

44 Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002

O Museu do Ar está localizado emAlverca, junto à estação de caminhode ferro da cidade, numa área deinstalações aeronáuticas que com-preende igualmente a OGMA - In-dústria Aeronáutica, S.A. e o Depó-sito Geral de Material da Força Aérea.O Museu abriu ao público a 1 de Ju-lho de 1971 num antigo hangar dasOficinas Gerais de Material Aero-náutico, que abriga um interessanteacervo de elevado valor histórico, ar-tístico e documental.A área de exposição do museu temaproximadamente 3000 m2 divididospela nave central, duas salas lateraise a cerca exterior. Nela estão expos-tos 20 aviões, motores, hélices e umamiríade de outros objectos de valorassinalável que incluem equipamen-tos de voo, painéis de instrumentos,simuladores, armamento aéreo, car-tas aeronáuticas, equipamentos denavegação, comunicações e fotogra-

fias, quadros, medalhas, fardas, tro-féus e cerca de 600 modelos reduzi-dos de aviões (kits) e algumas ma-quetas de maior escala, bem como,um sem número de objectos pessoaisdos pioneiros da aviação.

Das aeronaves expostas, destacam--se o célebre caça britânico Spitfire, oTiger Moth, biplano de treino ele-mentar e acrobacia e o Widgeon, umanfíbio bimotor. Existem algumas ré-plicas que representam aviões céle-bres dos primeiros tempos da avia-ção, sendo de realçar o Blériot XI querepresenta o primeiro avião a voar emPortugal, o hidroavião Fairey III D"Santa Cruz" da Travessia do Atlân-tico por Gago Coutinho e o CaudronG III, o primeiro avião a ser construí-do em Portugal (nas OGMA).

Além dos aviões, o Museu do Ar pos-sui uma das melhores colecções demotores aeronáuticos da Europa queinclui o motor rotativo Gnôme queequipou o avião Blériot XI de Ale-xandre Sallés, que voou em Portugalem 1913, e um motor Renault do aviãoBreguet XVI Pátria da 1ª Viagem Por-tugal a Macau, em 1924. Muito inte-

Museu do Ar

Anfíbio Widgeon, Piper Cub, Bébé Jodel e Tiger Moth. Painéis de Instrumentos.

Demoiselle XX (réplica)de Santos Dumont.

Albano Fernandes*

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Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002

ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIO

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ressante é também a colecçãode armamento aeronáutico.Podem, ainda, ver-se várioshélices em madeira e metal,uma maqueta e fotografias ti-radas pelo satélite PortuguêsPOSAT I, um conjunto de far-das e bandeiras antigas.Na sala Edgar Cardoso recor-dam-se em vitrinas persona-lizadas os pioneiros da Avia-ção Portuguesa através dosseus troféus, documentos, con-decorações, fotografias, etc.O Museu possui também umasala de exposições temporáriastendo-se já realizado algumascom assinalável êxito. Entre 25de Fevereiro e 17 de Março de-corre uma exposição sobre in-sígnias militares de todo omundo, a que se seguirá outracom postais e selos de temáticaaeronáutica.

Na base aérea nº. 1, em Sintra,existe um polo do Museu doAr, onde se encontram os aviõesda sua Esquadrilha de vooconstituída por uma dezena deaparelhos, sendo de destacaros Tiger Moth, T6 e DO-27 que,ocasionalmente, fazem voosde exibição em festivais aero-náuticos. Podem, ainda, admi-rar-se: um Dakota, um P2-V5,um raríssimo Horueth Mothou ainda um Dragon Rapide.Este polo podo ser visitado aosfins de semana das 10h às 17h.O Museu tem numerosas pe-ças em reserva, nomeadamen-te alguns aviões no DepósitoGeral de Material da Força Aé-rea, num hangar do Centro deFormação da Força Aérea naOta e ainda num hangar da BAII, em Beja. Finalmente, umapalavra para o Avro 631 Cadet

que se encontra no Estado Maior da ForçaAérea, o qual é um dos poucos exemplaresexistentes no mundo.

Museu do Ar2615-174 AlvercaTel.: 21 958 27 82E-mail: [email protected]ário: de 3ª Feira a Domingo, das 10 às 17horasPreçário: adultos - 1,5 �; seniores - 0,75 �;jovens e estudantes - 0,50 �; menores de 12anos e grupos com acordo prévio - grátis.

Tiger Moth,avião construído nas OGMA - Alverca - e usado pelo às de acrobacia Costa Macedo.

Motor OGMA/Gnôme & Rhône,"Titan" de 230 HP,equipava o"Morane 233".

* Coronel, Director do Museu do Ar.

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Diálogos da Edificação - Estudo de TécnicasTradicionais de Construção

Gabriela de Barbosa Teixeira, Marga-rida da Cunha BelémEdição CRAT, 1998, 205 pp.Manual de consulta sobre as maissignificativas técnicas tradicionais deconstrução detectadas no espaço conti-nental português. Essencialmente prá-tico, apresenta uma primeira parte emque são abordados aspectos ligadosaos materiais tradicionais, uma se-gunda parte que sistematiza as técni-cas sob a forma de fichas e uma terceiraparte em que se reúnem opiniões detécnicos ligados a esta área. Preço: 32.42 euros - Código: CRAT.E.1

LIVRARIA

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Historical Constructions 2001Coordenação e Edição: Paulo B. Lourenço e Pere RocaGuimarães, 2001, pp.1200, edição integralmente em inglês.Reúnem-se as comunicações do 3º Seminário sobre Construções Históricas, realizado em Guimarães, emNovembro de 2001. Inclui 10 comunicações de oradores convidados, com o estado de conhecimento actual, emais de 100 comunicações nacionais e internacionais sobre os temas: Aspectos Históricos e MetodologiaGeral; Materiais de Construção; Técnicas de Inspecção e de Experimentação; Técnicas de Análise; EstruturasHistóricas de Madeira; Comportamento e Reforço Sísmico; Técnicas de Consolidação e Reforço; Casos deEstudo. A obra é dirigida a engenheiros, arquitectos e outros técnicos interessados na conservação, reabili-tação e restauro de construções antigas, representando uma contribuição valiosa para a resolução dosdesafios associados às intervenções no património construído. Preço: 70 euros - Código: PL.A.1

Património: Balanço e Perspectivas (2000-2006)Coordenação: Luís Ferreira Calado, Paulo Pereira e Joaquim Passos LeiteLisboa, IPPAR, 2000, pp. 331.Na sequência de um outro estudo previamente realizado pelo IPPAR, em 1997, intitulado, “Intervenções noPatrimónio. 1995-2000. Nova Política”, surge este novo estudo que pretende fazer o balanço dos trabalhosrealizados entre 1996 e 1999, dando conta das metas atingidas. Também nos é apresentado o plano de trabal-hos para o período compreendido entre 2000 e 2006, conjugando o que se fez, como se fez e por que se fez comas perspectivas para os próximos anos.Preço: 12.47 euros - Código: IP.E.1

Mapa de Arquitectura do PortoLisboa, ARGUMENTUM, 2001, 25x10 cm. Edição trilingue Português/Inglês/Espanhol.Mapa desdobrável contendo 136 obras (edifícios, conjuntos, sítios) e 10 espaços urbanos localizados sobre aplanta geral da cidade, ou sobre enfoque do centro histórico, com uma numeração cronológica e um códigode cor indicador da época de construção, apoiada por 50 fotografias originais.Na lista das obras referem-se os autores, a data de projecto e de construção, a sua morada, transformaçõesposteriores e uso actual.Preço: 5.99 euros - Código: AR.M.1

O Porto Visto do CéuLisboa, ARGUMENTUM, 2000, pp. 130. Edição em Português e edição emInglês.30 imagens antigas e 130 actuais, pro-porcionam uma viagem aérea emo-cionante, que se inicia com o relem-brar das largadas de balões do séculopassado e avança num percurso deolhares cruzados sobre as 15 fregue-sias da cidade, oferecendo uma nar-rativa visual da sua história e identi-dade. O Porto Visto do Céu é um teste-munho inédito e actual, um docu-mento indispensável para conhecer eadmirar a Cidade Invicta.Preço: 41.90 euros - Código: AR.E.1

Paredes de Edifícios Antigos em PortugalFernando F. S. PinhoLisboa, LNEC, 2000, pp. 317.A presente publicação, dividida em quatro partes, aborda as técnicas construtivas da generalidade das pare-des de edifícios antigos de habitação em Portugal, a partir de meados do século XVIII, tendo-se, para o efeito,procedido a pesquisa bibliográfica e à visita a diversos edifícios com a correspondente recolha de imagens.Tendo em vista o enquadramento legal do tema, referem-se alguns dos principais diplomas regulamentaresaplicáveis à actividade construtiva em Portugal desde o final do século XIX. O estudo é finalizado com aanálise de 340 processos de obras consultados em três câmaras municipais.Preço: 47.39 euros - Código: LN.E.5

Os Dez Livros de Arquitectura de VitrúvioTradução de Helena RuaEdição IST, 1993, 354 pp. Trata-se da primeira versão portuguesa desta obra de referência, baseada na 2ª edição de Os Dez Livros deArquitectura de Vitrúvio de Perralt, de 1684, corrigida e aumentada, apoiada por 68 gravuras e 87 desenhos,descritivos da tecnologia do mais belo estilo romano. Marco Vitrúvio Polião, arquitecto romano presumivel-mente do século I a.C., para além de se dedicar à construção, procurou registar por escrito, ao longo da suavida, os preceitos desta arte, compilando-os, já perto do fim da sua vida, nestes 10 livros, marco incontornáv-el da arquitectura e da história da arte ocidentais.Preço: 34.91 euros - Código: IST.E.1

As rochas dos monumentos portugueses. Tipologias e patologias.Luís Aires-BarrosLisboa, IPPAR, 2001, 2 vol., pp. 535.A obra organiza-se em dois volumes. No primeiro é feita uma abordagem dos princípios da mineralogia e dapetrografia. É estudada a alteração das rochas sistematizando-se as suas patologias - de forma profusamenteilustrada com exemplos de monumentos portugueses. São abordadas as técnicas físico-químicas de análise.No segundo volume são apresentados alguns "estudos de casos" que tiveram lugar no LAMPIST (Laboratóriode Mineralogia e petrologia do instituto Superior Técnico), tais como o Mosteiro dos Jerónimos, a Basílica daEstrela, a Torre de Belém, entre muitos outros.Preço: 52.37 euros - Código: IP.E.5

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Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002

LIVRARIA

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Nº 0, Out/Nov/Dez 1998Tema de Capa:

Prática da Conservação eRestauro do Património

Preço: 3.74 eurosCódigo: P&C.0 - esgotado

Nº3, Jul/Ago/Set 1999Tema de Capa:

Património e EconomiaPreço: 3.74 eurosCódigo: P&C.3

Nº4, Out/Nov/Dez 1999Tema de Capa:

Património Arquitectónico Industrial

Preço: 4.48 eurosCódigo: P&C.4

Nº5, Jan/Fev/Mar 2000Tema de Capa:

Qualificação Profissional ePatrimónio Arquitectónico

Preço: 4.48 eurosCódigo: P&C.5 - esgotado

Nº6, Abr/Mai/Jun 2000Tema de Capa:

Arqueologia UrbanaPreço: 4.48 eurosCódigo: P&C.6

Nº7, Jul/Ago/Set 2000Tema de Capa:

Património Cultural e NaturalPreço: 4.48 eurosCódigo: P&C.7

Nº8, Out/Nov/Dez 2000Tema de Capa:

Sismos e PatrimónioArquitectónico

Preço: 4.48 eurosCódigo: P&C.8

Nº1, Jan/Fev/Mar 1999Tema de Capa:

Centros Históricos -Recuperar e Revitalizar

Preço: 3.74 eurosCódigo: P&C.1 - esgotado

Nº2, Abr/Mai/Jun 1999Tema de Capa:

Reabilitação Urbana.Lisboa é um laboratório.

Preço: 3.74 eurosCódigo: P&C.2 - esgotado

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LIVRARIA

Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 200248

Consulte a Livraria Virtual do GECoRPA em www.gecorpa.ptonde poderá encontrar estes e outros livros

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(*) Os associados do GECoRPA ou assinantes da Revista têm direito a 10% de desconto sobre o valor de cada obra encomendada. Os descontos não são acumuláveis, nem aplicáveis aos números da Pedra&Cal já publicados.(**) Ao valor de cada livro deverão ser acrescentados 2,49 euros para portes de correio. Quando a encomenda ultrapasse as duas obras, os portes de correio fixam-se nos 4,99 euros.Quanto aos números da Pedra&Cal já publicados, são acrescidos de 0,90 euros por exemplar, para portes de correio.FORMA DE PAGAMENTO: o pagamento deverá ser efectuado através de cheque à ordem de GECoRPA, enviado juntamente com a nota de encomenda para Rua Pedro Nunes , 27, 1.º Esqº. 1050-170 Lisboa.

Nº10, Abr/Mai/Jun 2001Tema de Capa:

Património de BetãoPreço: 4.48 eurosCódigo: P&C.10

Nº12, Out/Nov/Dez 2001Tema de Capa:

Intervenções em MuseusPreço: 4.48 eurosCódigo: P&C.12

Nº11, Jul/Ago/Set 2001Tema de Capa:

Baixa Pombalina: Que Futuro?Preço: 4.48 eurosCódigo: P&C.11

Nº9, Jan/Fev/Mar 2001Tema de Capa:

Salvaguarda de RevestimentosArquitectónicosPreço: 4.48 eurosCódigo: P&C.9

Associado do GECoRPA (10% de desconto)Assinante da “Pedra&Cal” (10% de desconto)

Actividade / Profissão

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ASSOCIADOS

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E-mail: [email protected]ável: Arq.º José LamasActividade: Projecto de arquitectura e engenhariae estudos de planeamento.

Humberto Vieira Arquitecto, Ld.ªRua Joaquim Kopke, 113, r/c Dto.4200-346 PortoTeL: 22 502 11 05Fax: 22 508 90 22E-mail: [email protected] Responsável: Arq.º Humberto VieiraActividade: Projectos e consultoria na área daconservação e restauro do património construído.

LEB - Consultoria em Betões e Estruturas, Ld.ªRotunda das Palmeiras Edifício Cascais Office, 1º piso, sala I2645-091 AlcabidecheTel.: 21 033 11 25/6Fax: 21 033 11 27E-mail: [email protected]ável: Eng.º Thomaz RipperActividade: Projecto, consultoria e fiscalização na área da reabilitação do património construído.

João Castro - ArquitectoRua Godinho de Faria, 165 - 2º E/T4465 S. Mamede de InfestaTel: 22 902 82 55Fax: 22 902 82 55Responsável: Arq.º João CastroActividade: Projectos de conservação e reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas. Estudos especiais.

Grupo II Levantamentos, inspecções e ensaios

OZ - Diagnóstico, Levantamento e Controlo de Qualidade de Estruturas e Fundações, Ld.ªRua Pedro Nunes, 45 - 1º E 1050-170 LisboaTel.: 21 356 33 71Fax: 21 315 35 50E-mail: [email protected] Site: www.oz-diagnostico.ptResponsável: Eng.º Carlos Garrido MesquitaActividade: Levantamentos. Inspecções e ensaiosnão destrutivos. Estudo e diagnóstico.

ERA - Arqueologia - Conservação e Gestão do Património, Ld.ªCalçada da Picheleira, 46-E1900-372 LisboaTel.: 21 846 11 75Fax: 21 846 13 42Responsáveis: Dr. Pedro Simões Braga, Dr. Miguel Lago

Grupo I Projecto, fiscalização e consultoria

ETECLDA - Escritório Técnico de EngenhariaCivil, Ld.ªRua Júlio Dinis, 911 - 6º E4050-327 PortoTel.: 22 600 71 07Fax: 22 609 55 53E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Manuel Batista BarrosActividade: Fiscalização de obras e projectos.Gestão e coordenação de empreendimentos.

MC Arquitectos, Ld.ªPraça Príncipe Real, 25 - 3º1250-184 LisboaTel.: 21 321 99 50 Fax: 21 346 79 95E-mail: [email protected] Responsável: Arq.º Gastão da Cunha FerreiraActividade: Projectos de arquitectura.Levantamentos, estudos e diagnóstico.

Consulmar Açores - Projectistas e Consultores, Ld.ªAvenida Infante D. Henrique, bloco 1-5ºE9500-150 Ponta DelgadaTel.: 296 62 95 90Fax: 296 62 96 68E-mail: [email protected] Responsável: Arq.º Jorge Kol de CarvalhoActividade: Projecto, consultoria e fiscalização.

Enge-Consult - Consultores de Engenharia Civil, Ld.ªAvenida de Berna, 5 - 2º1050-036 LisboaTel.: 21 799 99 10Fax: 21 799 99 17E-mail: [email protected] Responsável: Dr.ª Maria Luísa Ribeiro GomesActividade: Elaboração de projectos de estruturase fundações, na área do património construído.

J.L. Câncio Martins - Projectos de Estruturas, Ld.ªRua General Ferreira Martins, 10 - 3ºA1495-137 AlgésTel.: 21 412 30 10 Fax: 21 412 30 11E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Luís CâncioActividade: Projectos de edifícios e pontes ereabilitação estrutural.

José Lamas e Associados, Estudos dePlaneamento e Arquitectura, Ld.ªLargo de Santos, 1-1º Dto.1200-808 LisboaTel: 21 396 84 84Fax: 21 397 49 46

Actividade: Conservação e restauro de estruturasarqueológicas e do património arquitectónico.Inspecções e ensaios. Levantamentos.

Grupo III Execução dos trabalhos

Empreiteiros e Subempreiteiros

STAP - Reparação, Consolidação e Modificação de Estruturas, S.A.Rua Marquês de Fronteira, nº 8 - 3º D1070-296 LisboaTel.: 21 371 25 80Fax:21 385 49 80E-mail: [email protected] Site: www.stap.pt Responsável: Eng.º José Paulo CostaActividade: Reabilitação de estruturas de betão.Consolidação de fundações. Consolidação estrutural.

Edicon - Construções Civis e Obras Públicas, Ld.ªRua do Poder Local, 2 s/l Dtª1675-156 PontinhaTel.: 21 478 24 17Fax: 21 478 24 68Responsável: Sr. Carlos BatistaActividade: Consolidação estrutural. Reparaçõesde coberturas. Impermeabilizações.

Quinagre - Estudos e Construções, SARua Hermano Neves, 22 - 4º A1600-477 LisboaTel.: 21 756 75 70Fax: 21 756 75 79E-mail: [email protected]ável: Eng.º Joaquim Quintas.Actividade: Construção de edifícios. Reabilitação. Consolidação estrutural.

CVF - Construtora de Vila Franca, Ld.ªEstrada Nacional nº 10, k/ 137,522695 STª. Iria de AzóiaTel.: 21 953 32 30Fax: 21 953 32 39E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Álvaro Reis PereiraActividade: Conservação de rebocos e estuques.Consolidação estrutural. Carpintarias. Reparação de coberturas.

L.N. Ribeiro Construções, Ld.ªRua Paulo Renato, 3 r/c C/D2795-147 Linda-a-VelhaTel.: 21 415 35 20Fax: 21 415 35 28Responsável: Eng.º Luís RibeiroActividade: Construção e reabilitação de edifícios.Consolidação de fundações.

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ASSOCIADOS

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Actividade: Construção e reabilitação de edifícios. Serralharias e pinturas.

Junqueira 220 - Sociedade de Conservação,Restauro e Arte, Ld.ªRua da Junqueira, 2201300-346 LisboaTel.: 21 363 91 63Fax: 21 363 38 03Responsável: Sr. Luís Figueira Actividade: Conservação e restauro de pinturas e talha dourada.

A. Ludgero Castro, Ld.ªRua Recarei, 8604465-727 Leça do BalioTel.: 22 951 11 16Fax: 22 951 75 17E-mail: [email protected] Responsável: Dr. Paulo Ludgero CastroActividade: Consolidação estrutural. Construçãoe reabilitação de edifícios. Conservação e restaurode pintura mural.

Listorres - Sociedade de Construção Civil e Comércio, Ld.ªRua Brigadeiro Lino Dias Valente, 82330-103 EntroncamentoTel.: 249 72 00 30Fax: 249 72 00 39E-mail: [email protected] Responsável: Prof. Vasco DuarteActividade: Construção e reabilitação de edifícios.

Certar - Sociedade de Construções, S.A.Rua Filipe Folque, 7-1ºD1050-110 LisboaTel.: 21 352 28 49Fax: 21 352 31 77E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Fernando Llach CorreiaActividade: Conservação e reabilitação de edifícios.

MIU - Gabinete Técnico de Engenharia, Ld.ªRua do Vale de Santo António, 46 - 2º Dto1170-381 LisboaTel.: 21 816 16 20Fax: 21 816 16 29E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Artur Correia da SilvaActividade: Construção, conservação e reabilitaçãode edifícios. Conservação de rebocos e estuques.Pinturas.

Ocre - Sociedade Comercial de Arte e Restauro, Ld.ªTravessa da Pereira, 16 A, letra F-C1170-313 LisboaTel.: 21 888 11 08Fax: 21 888 10 87E-mail: [email protected] Responsável: Dr.ª Nazaré Tojal

José Neto & Filhos, Ld.ªZona Industrial de Loulé, lote 278100-272 LouléTel.: 289 41 09 60Fax: 289 41 09 79E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º José Carlos NetoActividade: Construção de edifícios.Conservação e restauro de rebocos e estuques.Carpintarias.

Monumenta - Conservação e Restauro do Património Arquitectónico, Ld.ªRua Pedro Nunes, 27 - 1ºD1050-170 LisboaTel.: 21 359 33 61Fax: 21 315 36 39E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º João VarandasActividade: Conservação e reabilitação de edifícios. Consolidação estrutural.Conservação de cantarias e alvenarias.

Lourenço, Simões & Reis, Ld.ªRua Luciano Cordeiro, 49 - 1º1169-135 LisboaTel.: 21 354 21 37Fax: 21 357 00 01E-mail: [email protected]ável: Eng. Carlos Manuel GranateActividade: Consolidação estrutural.

Brera - Sociedade de Construções e Representações, Ld.ªRua Miguel Torga, 2C - escritório 4.6 - Alfragide2720-292 AmadoraTel.: 21 472 54 70Fax: 21 472 54 71E-mail: [email protected] Responsáveis: Eng.º Amílcar Beringuilho e Sr. Paulo RaimundoActividade: Construção, conservação reabilitaçãode edifícios.

Arnaldo Moisão - Dourador, Pinturas e Decorações, Ld.ªRua Borges Carneiro, 42 c/v1200-016 LisboaTel.: 21 983 48 93Fax: 21 397 90 49Responsável: Sr. Rui MoisãoActividade: Conservação e restauro de talhadourada e pintura mural.

Poliobra - Construções Civis, Ldª.Rua Afonso de Albuquerque, 8 BSerra do Casal de Cambra2605-192 BelasTel.: 21 980 97 70Fax: 21 980 97 79E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Vítor António Farinha

Actividade: Conservação e restauro de pintura decavalete, pintura mural, talha dourada e esculturapolicromada. Levantamentos e diagnóstico.

Augusto de Oliveira Ferreira & Cª., Ld.ªLargo João Penha, 356 - 1º D4710-245 BragaTel.: 253 26 36 14Fax: 253 61 86 16E-mail: [email protected] Responsável: Dr.ª Maria José CarrilhoActividade: Conservação reabilitação de edifícios.Cantarias e alvenarias. Pinturas. Carpintarias.

Pintanova - Pinturas na Contrução Civil, Ld.ªRua Amílcar Cabral, 21 B1750-018 LisboaTel.: 21 757 28 56Fax: 21 757 74 72E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Vasco PaulinoActividade: Conservação e restauro de rebocos,estuques e cantarias. Pinturas.

Rodrigues, Cardoso & Sousa, S.A.Portela do Gove - Gove4640 BaiãoTel.: 255 55 13 15Fax: 255 55 17 23E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Joaquim da Silva SousaActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios.

Somafre - Construções, Ld.ªRua Manuel Rodrigues da Silva, 7C-esc.61600-503 LisboaTel.: 21 711 23 70Fax: 21 711 23 89 E-mail: [email protected]ável: Eng.º Carlos FreireActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios. Serralharias.Carpintarias. Pinturas.

Cruzeta - Escultura e Cantarias, Restauro, Ld.ªRua da República da Bolívia, 97 - 4º Dto1500-545 LisboaTel.: 21 715 03 70Fax: 21 982 41 88E-mail: [email protected]ável: Sr. Eduardo Roberto Morezo Telemóvel: 96 709 41 30Actividade: Conservação e reabilitação de construções antigas. Limpeza e restauro de cantarias, alvenarias e estruturas.

Gilberto Ferreira "Arte Sacra"Rua do Amorim, 479500-020 Ponta DelgadaTel.: 296 65 29 49Fax: 296 65 42 04

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ASSOCIADOS

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E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Gilberto FerreiraActividade: Conservação e restauro de talhadourada, pintura mural, rebocos e estuques.

Ensul - Empreendimentos Norte Sul, S.A.Rua do Facho, 262829-509 Monte da CaparicaTel.: 21 255 89 00Fax: 21 255 89 76E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Pedro AraújoActividade: Construção de edifícios. Conservaçãoe reabilitação de construções antigas. Carpintarias.

DST - Domingos da Silva Teixeira, S.A.Lugar de PitancinhosPalmeira4703-767 BragaTel.: 253 307 200/1Telemóvel: 96 59 89 300Fax: 253 307 210E-mail: [email protected] Responsável: Eng.ºJosé TeixeiraActividade: Construção e conservação de edifícios. Infraestruturas. Arranjos exteriores.

COPC - Construção Civil, Ld.ªRua Cidade de Bafatá, 181800-060 LisboaTel.: 21 853 71 22Fax: 21 853 71 62E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Carlos OliveiraActividade: Construção de edifícios.Conservação e reabilitação de construções antigas. Recuperação e consolidação estrutural.

AMADOR, Ld.ªAvenida das Escolas, 292520-204 PenicheTel.: 262 78 29 64Fax: 262 78 18 73E-mail: [email protected]: www.amadorlda.pt Responsável: Eng.ª Catarina Amador RegoActividade: Conservação , restauro e reabilitaçãodo património construído e instalações especiais.

Sociedade de Construções José Moreira, Ld.ªAvenida Manuel Alpedrinha, nº 15Reboleira2720-352 AmadoraTel: 21 499 86 50Fax: 21 495 97 80E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º José Moreira dos SantosActividade: Execução de trabalhos especializados na área do património construído e instalações especiais.

Azularte, Ld.ªRua José Santos Pereira, 12 A1500-380 LisboaTel.: 21 774 10 16Fax: 21 778 99 73Responsável: Sr. José Lúcio AntunesActividade: Conservação e restauro de azulejos.

Alvenobra - Sociedade de Construções, Ld.ªRua Professor Orlando Ribeiro, 3 - loja A1600 - 796 LisboaTel: 21 758 47 34Fax: 21 758 47 38E-mail: [email protected]ável: Eng.º Jorge Rodrigues TeixeiraActividade: Reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas.

ENGIBUILT - Construções, Ld.ª Rua Diamantino Freitas Brás, nº 24 r/c Dto.2615 - 070 Alverca do RibatejoTel.: 219 582 582Fax: 219 577 627E-mail: [email protected]áveis: Eng.º José A. Martins e Eng. Mário CunhaActividade: Reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas.

GALERIA N.E.T., Ld.ªRua Cândido de Oliveira, 13 -A, Brandoa2700 AmadoraTel: 21 476 02 67Fax: 21 476 02 67Responsável: Sr. Eduardo da Silva RamosActividade: Conservação e restauro de douradosem obras de arte, mobiliário antigo, molduras, etc.

MELIOBRA - Construção Civil e Obras Públicas, Ld.ªRua das Fontainhas, 33-C 2700-391 AmadoraTel.: 21 475 90 00Fax: 21 475 30 10E-mail: [email protected]ável: Sr. José Pedro Pires CoelhoActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios.

Gecolix - Gabinete de Estudos e Construções, Ld.ª (NOVO ASSOCIADO)Rua Serpa Pinto, lote 4 - cave2070-116 CartaxoTel.: 243 770 045Fax: 243 770 098E-mail: [email protected]ável: Dr. Carlos Abel da Silva DamasActividade: Conservação e restauro depatrimónio arquitectónico. Reabilitação, recuper-ação e renovação de construções antigas.Instalações especiais em património arquitectóni-co e construções antigas.

Grupo IVFabrico e/ou distribuição de

produtos e materiais

BLEU LINE - Conservação e Restauro de Obras de Arte, Ld.ªRua do Alecrim, 111 - 1º Esq1200-016 LisboaTel.: 21 322 44 61Fax: 21 322 44 69E-mail: [email protected] Responsável: Dr. José Luís Marques PereiraActividade: Materiais para intervenções de conservação e restauro em construções antigas.Conservação de cantarias.

Optiroc Portugal, Cimentos e Argamassas, Ld.ªZona Industrial de Ourém2435-661 SeiçaTel: 249 54 01 90Fax: 249 54 01 99E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Rui VieiraActividade: Produção e comercialização de argamassas de colagem e revestimento.

Tecnocrete - Materiais e Tecnologias de Reabilitação Estrutural, Ld.ªRua 25 de Abril, 4 - 2º2795-580 CarnaxideTel.: 21 424 61 60Fax: 21 416 11 98Responsável: Eng.º Brazão FarinhaActividade: Produção e comercialização de materiais para construção.

Secil-Martingança - Aglomerantes e NovosMateriais p/ a Construção, Ld.ªApartado 2 - LRA2405-999 MaceiraTel.: 244 770 220Fax: 244 777 997E-mail: [email protected]ável: Eng.º Carlos DuarteActividade: Fabrico e distribuição de produtos emateriais vocacionados para o património arqui-tectónico e construções antigas.

Para mais informações acerca dos associadosGECoRPA, e as suas actividades, visite a rubrica "associados" no nosso site em www.gecorpa.pt

Page 52: Intervenções em Monumentos - GECoRPA · Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 2002 1 Tema de Capa: INTERVENÇÕES EM MONUMENTOS DE PEDRA Reconhecida pelo Ministério da

PERSPECTIVAS

Pedra & Cal Nº 13 Janeiro . Fevereiro . Março 200252

Vai para três anos, quando no nº 2 da"Pedra & Cal", iniciei a minha colabo-ração na revista sob a rubrica "Patrimó-nio em Perigo", chamei a atenção para aexistência de mais de 30 mil fogos devo-lutos em Lisboa e para a necessidade defazer inverter a corrida para o abismo aque conduzia o esvaziamento das cida-des com o seu reverso na desenfreadaexpansão das periferias. Clamava entãopor leis e práticas que acabassem com estahecatombe anti-social, anti-económica,anti-patrimonial e até anti-ecológica. Otema da capa era o da reabilitação urbana.Passado um ano, no n.º 7, a propósito deimportantes medidas da Secretaria deEstado da Habitação visando a amplia-ção e a flexibilização dos incentivos fi-nanceiros para a reabilitação do parquehabitacional, voltava ao assunto, defen-dendo que, sem legislação adequada,tais medidas não teriam o desejado aco-lhimento por parte dos proprietários. Econcluía que, face a uma situação queassumia proporções de catástrofe urba-na, o governo olhava para o lado.Mais recentemente, há justamente umano (n.º 9), sob o título "Reabilitar emvez de construir - vontade política, pre-cisa--se", e constatando que "começavaa despontar uma consciência nova acer-ca dos problemas do ambiente e dasustentabilidade dos sistemas urba-nos", propunha uma série de medidasconcretas de natureza legal que me pa-reciam indispensáveis para fazer in-verter a situação. E afirmava: medidascomo estas não são uma utopia - elas sãointeiramente viáveis - dependendo ape-nas da vontade política de resolver osproblemas e de afrontar alguns inte-resses instalados.

De então para cá, novos dados publica-dos foram dando conta da gravidade dasituação.Duas das escolas secundárias de Lisboacom melhores tradições, boas instala-ções e um corpo docente estabilizadoforam mandadas encerrar. Isto, enquan-to escasseiam os equipamentos esco-lares em muitas zonas de construçãorecente, como em Camarate, onde a es-cola foi fechada a cadeado pelos alunose país, por falta de condições. A baixa danatalidade não justifica por si só a re-dução galopante da população escolarnos centros urbanos - esta é fortementeacentuada pela migração de jovens ca-sais para os subúrbios à custa do esvazia-mento dos tecidos consolidados dacidade e não apenas das suas áreas cen-trais. Porque, se na freguesia de S.Nicolau, situada na Baixa lisboeta, háquinhentas casas abandonadas, na deS. Jorge de Arroios, bem longe do cen-tro, há trezentas.Entretanto, o número apontado para osfogos devolutos na capital é agora de 50mil. E no Porto, só nas ruas das Flores eMousinho da Silveira, há 250 andaresdesocupados, 13 edifícios desertos e 39com apenas lojas no r/chão. É precisocorrigir a ideia, que frequentemente sefaz passar, de que as casas estão devolu-tas por estarem degradadas. O que sepassa é quase sempre o contrário - estãodegradadas por terem sido desocupa-das. É verdade que a grande maioria de-las não dispõe dos equipamentos que avida actual exige, mas são muitas vezesde boa construção e susceptíveis de umasatisfatória modernização. Que o digamos prémios RECRIA atribuídos nos últi-mos anos.

No reverso da medalha, os protestoscontra a contínua expansão das perife-rias foram crescendo, a ponto de se tor-narem num autêntico clamor público,não só em Cascais e em Sintra, mas umpouco por todo o lado, como em Faro.Tudo isto e muito mais foi tornado pú-blico no quadro da campanha para aseleições autárquicas de Dezembro. E detal forma que, nas áreas metropolitanas,a prioridade ao combate a esta situaçãose tornou o tema dominante, acabandopor suscitar consensos entre todas asforças políticas.Santana Lopes, vitorioso em Lisboa, fezdeste problema a sua grande bandeirade campanha, tendo tomado medidasconcretas logo após a posse da nova ve-reação. Mas todos sabemos que, por simesmas, as Câmaras não podem fazer oprincipal, que é do domínio da Admi-nistração Central - parlamento e gover-no. Como, por exemplo, aquilo que RuiRio exige como medida indispensável: apenalização dos senhorios que deixamas suas casas abandonadas e em proces-so de degradação.Finalmente, a palavra de ordem doGECORPA - reabilitar em vez de cons-truir, foi colocada na ordem do dia. Restaesperar e pressionar para que os poderesque saírem das próximas eleições nãofaçam orelhas moucas ao clamor que selevantou. A verdade é que um dos can-didatos a 1º Ministro já colocou no seuprograma "incentivar a requalificação ur-bana e conter a expansão", prometendomesmo a penalização fiscal dos fogosdevolutos e degradados. Será desta?

Reabilitar em vez de construir - finalmente na ordem do dia

Nuno Teotónio Pereira*

* Arquitecto

Foto em fundo: Janelas abertas, vidros partidos, telhas levantadas, anos e até décadas a fio - impunemente. Até quando?