intervenÇÃo do serviÇo social junto Á famÍlia

Upload: emfurtado

Post on 30-May-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    1/25

    INTERVENO DO SERVIO SOCIAL JUNTO FAMLIA DO ALCOOLISTA

    NEIDA SILVA CASTRO

    RESUMO: O presente artigo tem o objetivo de focalizar a questo do alcoolismo como um dos motivos

    de queixa apresentada por familiares atendidos pelo Servio Social, no Servio de Orientao Famlia

    (SOF) Aparecida. Evidencia como o Servio Social centra a sua orientao a partir de manifestao da

    famlia do alcoolista. A entrevista dialogada serviu para a coleta de informaes do caso analisado.

    Torna-se importante discutir alguns aspectos que marcam a expressoalcoolismo na sociedade brasileira, na medida que a mdia publicitria reala

    enfaticamente o estmulo ao consumo de bebidas alcolicas.

    Nos ltimos 30 anos do sculo XX foram muitas as tentativas cientficas do

    entendimento etiolgico do alcoolismo, por meio de pesquisas sobre o metabolismo

    (heptico cerebral), e sobre aspectos sociolgicos as mais destacadas. Nessa viso da

    sndrome da dependncia do lcool a frase tem problemas porque bebe mais aceitaatualmente do que a antiga bebe porque tem problema(RAMOS, 1997, p. 224).

    Entretanto no podemos esquecer os efeitos provocados pelo lcool,

    afetando o corpo e a mente do ser humano, pois no apenas um conjunto de ossos,

    msculos e pele, mas possui uma mente que o centro das funes vitais.

    Milhes de pessoas incapacitadas pelo efeito do lcool enfrentam problemas

    devido ao consumo excessivo de bebidas alcolicas, envolvidas em acidentes de

    trnsito, situaes diversas de violncia, perda de emprego, conflitos familiares e

    outros.

    Existem fatores que podem influenciar o adolescente a experimentao de

    bebidas alcolicas: o modelo dos adultos; curiosidade e experimentao; presso dos

    colegas; prazer, problemas emocionais(FISHMAN, 1988: p. 47-48).

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    2/25

    2

    Em relao a esses fatores FISHMAN coloca que podem influenciar a

    entrada do adolescente, por isso importante que a preveno ocorra na famlia, no

    relacionamento saudvel entre os pais, assim o adolescente ter grandes chances de

    no enveredar pelo caminho das drogas.

    O objetivo deste trabalho entender que fatores podem influenciar a

    experimentao de bebidas alcolicas? Como o Servio Social dar conta do alcoolismo

    como doena da famlia no SOF?

    Desse modo, a proposta de estudo que ora apresentamos resulta da

    experincia realizada com familiares de alcolatras, moradores no Bairro de Pedreira e

    usurio do Servio Social na Igreja Nossa Senhora da Aparecida SOF-Servio de

    Orientao Famlia. Meu interesse na abordagem deste tema verificar as causas e

    conseqncias que podem levar uma pessoa a se tornar alcoolista, considerando que o

    alcoolismo.

    1. CONSIDERAES ACERCA DA DOENA DO ALCOOLISMO

    Na sociedade brasileira o lcool, parece est perfeitamente integrado a

    grande parte dos ambientes e situaes do cotidiano das pessoas, principalmente nos

    finais de semana e momentos de lazer, onde se mistura as atividades esportivas,

    viagens, trabalho (almoos de negcios) regadas a copiosas doses de usque, cerveja,

    caipirinha e outras mais, o alcoolismo considerado uma doena de evoluo crnica

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    3/25

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    4/25

    4

    relaes pessoais e desempenho no trabalho. Pois o alcoolista poder desenvolver

    vrios quadros clnicos, como doenas no estmago, intestino, fgado e pncreas,

    sintomas esses que iro comprometer a disposio para viver e trabalhar. Essa

    indisposio prejudica o relacionamento com a famlia e diminui a produtividade,

    podendo levar desagregao familiar e at ao desemprego asmedidas de Poltica

    Social, discriminando as populaes alvo por critrios de idade ou de normalidade /

    anormalidade, transformaram esses mesmos grupos em anormais, em fracassados,

    em desaptados (FALEIROS, 2001. p 63).

    A ideologia da normalidade pressupe que o indivduo possa trabalhar,

    produzir, para poder normalmente, com o salrio obtido, satisfazer as suas

    necessidades de subsistncia e as de sua famlia. E quando no consegue, com sua

    renda, obter essa vida normal, discriminado, inclusive pelas polticas sociais,

    repassando ao indivduo o seu fracasso atravs da excluso.

    Desde que Magnus Huss conceituou alcoolismo como doena, os

    cientistas buscam formas eficazes de trat-las (apud RAMOS, 1997 p. 199). As formas

    de tratamento do alcoolismo so as mais diversas, desde a internao em clnicas

    especializadas em desintoxicao, como a terapia de grupo como AA Alcolicos

    Annimos formada por ex-alcoolistas.

    Nesse aspecto da preveno, a Igreja Adventista do Stimo Dia, tambm

    realiza expressivo trabalho com esse pblico alcoolista por meio de uma rede de

    aproximadamente, 200 escolas de recuperao de alcolicos e fumantes. A maioria

    destas escolas est concentrada no Estado de So Paulo, onde o trabalho teve incio,

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    5/25

    5

    em outubro de 1958. A idia partiu do Dr. Ajax Walter Silveira mdico de renome

    internacional por sua dedicao recuperao de viciados, e posteriormente, com o

    apoio dos Drs. Benedito Reis, Geraldo Leitzke, Gideon de Oliveira e outros. (SILVEIRA,

    1997. p. 23)

    O objetivo da criao dessas escolas foi, prioritariamente, combater o

    alcoolismo e o tabagismo os quais segundo afirma Dr. Ajax Silveira, so, assim, a porta

    de entrada para outras toxicomanias, pois estudos tm demonstrado que quase a

    totalidade dos viciados em drogas experimentam antes o lcool e o fumo. Os

    alcoolistas so pessoas que necessitam de lcool numa sociedade que estimula o seu

    consumo(RAMOS, 1997: p. 222).

    Sendo o lcool, uma droga legalizada, consumido e comercializado

    livremente em nossa sociedade, quer seja em casa, entre amigos e reunio social,

    permeia a lgica de ser agradvel incluir o lcool para animaras pessoas, a bebida

    alcolica estimulaa diverso e prazer.

    Entretanto, trata-se de um vis cultural que identifica o lcool

    equivocadamente, pois a maioria dos prazeres e alegrias parece ser usufrudo de

    forma mais intensa, sem os efeitos do lcool.

    Cerca de 15% da populao brasileira alcolatra, de acordo com o

    levantamento realizado pelo grupo interdisciplinar de Estudos de lcool e Drogas

    (GREC), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clnicas, em So Paulo.

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    6/25

    6

    Este dado preocupante, dada a possibilidade de crescimento de alcoolistas

    e os problemas decorrentes do uso de lcool. Alm de outros dados que merecem ser

    apresentados e discutidos relacionados ao alcoolismo:

    no Brasil 45% dos jovens entre 13 e 19 anos envolvidos em acidentes,

    haviam ingerido bebida alcolica;

    os motoristas alcoolizados so responsveis por 65% dos acidentes

    fatais em So Paulo;

    o alcoolismo a terceira doena que mais mata no mundo;

    o abuso do lcool causa 350 doenas fsicas e psquicas;

    no Brasil, 90% das internaes em hospitais psiquitricos por

    dependncia de drogas, acontecem devido ao lcool;

    em geral, o fgado leva uma hora para processar 30 gramas de lcool.

    (aproximadamente uma lata de cerveja);

    um, entre dez usurios de lcool, se torna dependente da droga;

    o uso de lcool aumenta as chances da pessoa ter comportamento de

    risco para a AIDS, (transar sem camisinha);

    o lcool a droga que mais detona o corpo (tanto como cocana e crack),

    a que mais faz vtimas e a mais consumida entre os jovens no Brasil

    (alcoolismo, 2001).

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    7/25

    7

    Como percebemos pelos dados apresentados, o alcoolismo uma

    doena caracterizada por 4 fases:

    Fase Social, sem dependncia fsica, apenas dependncia emocional.

    Inicia-se na primeira vez que se bebe lembrando-se que dois fatores so fundamentais:

    predisposio orgnica e benefcios, do contrrio a doena no se desenvolve.

    Fase Social, sem dependncia fsica e emocional, o organismo modifica-se:

    tem-se a tolerncia aumentada, bebe-se mais que na fase social, no h problemas em

    conseqncia na ingesto de lcool.

    Fase problemtica com dependncia fsica e emocional, nesta fase o

    indivduo bebe mais, apresenta muitos problemas emocionais, ressacas constantes,

    problemas em decorrncia de bebida, problemas familiares; problemas de

    relacionamento. H o incio da sndrome da abstinncia, comeam as paradas

    estratgicas, pode haver internaes. H boas expectativas de recuperao fsica, h

    muitas perdas.

    Fase problemtica, com dependncia fsica e emocional, o indivduo Bebe-

    se muito pouco, menos que na fase 1, inicia-se a atrofia do crebro. Pode ter delrios,

    mos trmulas por perodos excessivamente longos. Problemas fsicos e emocionais

    extremos pode-se ter esquizofrenia, muitas vezes confunde-se com PMB (Psicose

    Manaca Depressiva). H poucas expectativas de recuperao fsica, perdas extremas.

    (alcoolismo, 2001)

    A ingesto de lcool como vimos, comprovada em pesquisas e estudos, se

    utilizado com freqncia e em grande quantidade vai comprometer de forma perigosa o

    organismo do ser humano, levando at mesmo a desenvolver vrias doenas.

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    8/25

    8

    O alcoolista ao mesmo tempo em que marginalizado pela sociedade,

    contraditoriamente, estimulado a potencializar o consumo de lcool, com implicaes

    srias no descontrole emocional, muitas vezes com perda de emprego, de amigos e

    desagregao familiar.

    De posse de algumas informaes sobre o alcoolismo, percebo cada vez

    mais est aumentando a quantidade de alcoolistas no Brasil, principalmente jovens

    entre 13 e 19 anos, conforme pesquisa realizada nas principais capitais do pas, o

    alcoolismo um problema muito srio que precisa ser revisto pelo governo e sociedade.

    2. ALCOOLISMO: UMA DOENA FAMILIAR

    A dependncia qumica se caracteriza por ser uma doena familiar: no

    somente o dependente sofre, mas todas as pessoas a ele chegadas. Dificilmente, deixa

    de ocorrer, repercusses do comportamento do alcoolista nos familiares mais

    prximos, constituindo-se uma verdadeira doena emocional.

    a dependncia qumica pode ser um transtorno do controle do impulso, diz Dartin, doPROAD, do que se sabe, este transtorno est relacionado alterao do comportamentode duas substncias cerebrais: a dopamina, ligada s sensaes de prazer e a sertominaque regula as emoes. As drogas modificariam o funcionamento e a quantidade dessas

    substncias no crebro (VOMERO, 2001: p 52)

    Nessa circunstncia o alcoolista no se d conta de que seu hbito vai se

    ajustando a sua condio de dependente. As relaes de amizade tambm se

    modificam e com o passar dos anos, o alcoolista vai selecionando, para o seu convvio

    amigos tambm dependentes.

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    9/25

    9

    Dificilmente encontramos algum que no tenha um parente alcoolista na

    famlia provocador de sofrimentos freqentes nos familiares, os quais reclamam do

    nervosismo, preocupao e insegurana advindo geralmente do comportamento do

    dependente qumico.

    Diante desses motivos a famlia juntamente com o alcoolista, precisam de

    tratamento, pois a qualidade de vida familiar que est em jogo. O tratamento

    controlado permite o alcoolista ter maiores possibilidades de reencontrar a alegria de

    conviver com lucidez em ambiente familiar e no trabalho.

    o que se designa atualmente como famlia, a famlia chamada nuclear, ou conjugal,formada pelo par andrgino e seus filhos, se buscarmos na histria os vrios tipos grupaisque j receberam essa designao, vemos que ela se aplica basicamente ao grupoconsangneo, originado da aliana entre homem e mulher, o que tem variado a extensodo grupo. Podendo abranger mais de duas geraes, agregar membros sem vnculo desangue, ser monogmica ou poligmica, tem variado tambm as funes do crculo familiar ea estrutura da relao de parentesco (CUNHA, 1985: p: 9).

    Sabemos que o ser humano ao nascer, e durante um perodo de tempo,

    necessita de dedicao, ateno e cuidado afetivo para crescer em condies

    saudveis. A criana bem apoiada pelos pais ter grandes chances de no enveredar

    pelo caminho das drogas.

    Entretanto necessrio que os pais, fiquem atentos no crescimento dos

    filhos, procurando saber quem so seus amigos, se assduo na escola quais

    atividades realiza fora do ambiente familiar. A participao, sem dvida fortalece a

    relao entre pais e filhos.

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    10/25

    10

    O alerta sobre o perigo da droga na adolescncia tem sido objeto de

    discusso.

    O perigo maior na fase da adolescncia, o perodo problema, uma fase

    da vida em que a criana que est comeando a se tornar adulta est passando por

    uma srie de transformaes que a torna, muitas vezes, um ser incompreendido

    principalmente, na famlia. Nesta fase da vida o desenvolvimento biolgico, incluindo

    aspectos fsicos no tm acompanhamento psicolgico, ou seja, o adolescente tem

    corpo de adulto, mas, ainda imaturo. considera-se criana, para os efeitos desta lei,

    a pessoa at doze anos de idade incompletos, e adolescentes aquela entre doze e

    dezoito anos (ECA, artigo 2 , 1990, p 5).

    De maneira geral o adolescente possui um sentimento de onipotncia, para

    ele tudo possvel, permitido, gosta de esportes perigosos e tudo que representa risco,

    alm de gostar de desafiar as autoridades dos pais, avs, e professores. justamente

    nesta fase que o adolescente poder experimentar drogas. existem fatores que podem

    influenciar a experimentao de bebidas, alcolicas: o modelo dos adultos; curiosidade

    e experimentao; presso dos colegas; prazer; problemas emocionais. (FISHMAN,

    1988, p: 47-48).

    Em relao ao entendimento FISHMAN sobre os fatores que podem

    influenciar a experimentao de bebidas alcolicas, vemos a importncia de aprofundar

    essa compreenso, pautada nos cinco itens destacados pelo autor como o modelo dos

    adultos; curiosidade e experimentao; presso dos colegas; prazer e problemas

    emocionais.

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    11/25

    11

    - Modelo dos adultos: como os adolescentes querem ser adultos, eles imitam

    os mais velhos e do especial ateno s formas pelas quais eles obtm prazeres, que

    lhes parecem mais intensos, do que os jogos e brincadeiras das crianas. O prazer dos

    adultos mais pesado e inclui sexo e bebidas proibidas s crianas. Por isso os

    adolescentes so inclinados a imitar os adultos, os pais e outros parentes. comum

    um adolescente dizer que comeou a beber porque viu que isso era um hbito de

    algum que ele admira.

    - Curiosidade e Experimentao: as crianas, em geral, vem as bebidas

    alcolicas sendo consumidas pelos adultos em eventos sociais ou festas familiares.

    Muitos adolescentes sentem curiosidade de experimentar o sabor da bebida, alm de

    experimentar o sabor, os adolescentes so curiosos e querem explorar os efeitos da

    bebida e saber como estar embriagado ou intoxicado.

    - Presso dos colegas: todos os grupos humanos so suscetveis a presso

    social, que determina os padres de comportamento de seus membros. Mas, os

    adolescentes formam grupos especialmente suscetveis a esse tipo de presso. Para

    muitos garotos e garotas seguir a modapode ser uma necessidade, assim como gostar

    de certos tipos de msica ou mesmo de uma comida preferida. Nesse estgio os

    adolescentes se encontram psicologicamente imaturos para exercer o senso crtico e

    capacidade de julgamento, absorvendo influncias externas sem refletir sobre elas. Se

    beber est na moda entre determinado grupo de adolescente, poucos adolescentes

    provavelmente, sero dotados de segurana e senso crtico suficiente para recusar a

    bebida alcolica.

    - Prazer: a crena de que uma reunio social possa no ser agradvel sem

    que inclua consumo de lcool comum na nossa sociedade. Muitos adolescentes

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    12/25

    12

    acham que beber os estimulapara a diverso e para o namoro, isto , para os prazeres

    da vida.

    - Problemas Emocionais: um dos efeitos imediatos do lcool o

    tranqilizante, causador de euforia e bem-estar. Um adolescente que esteja

    enfrentando momentos de tenso, nervosismo e conflitos com a famlia ou com amigos

    pode entregar-se ao lcool para suprimir temporariamente a depresso, a ansiedade e

    os sentimentos de medo.

    Percebemos atravs destes cinco fatores tratados por FISHMAN (1988)

    como um referencial de alerta para a famlia e adolescente, a preveno de bebidas

    alcolicas dever acontecer na famlia, no relacionamento saudvel entre os pais,

    baseado no amor e compreenso, na aceitao e na expectativa dos pais em relao

    aos seus filhos e dos filhos em relao a sua prpria vida.

    3. O SERVIO SOCIAL JUNTO FAMLIA DO ALCOOLISTA NO SOF

    O Servio Social da Igreja de Nossa Senhora de Aparecida localizada na Av.

    Pedro Miranda n 1566, no bairro da Pedreira, atravs do Servio de Orientao

    Famlia-SOF vem sendo procurado por familiares os quais apresentam queixas

    relacionada ao alcoolismo de pessoas na famlia, cujas conseqncias so as mais

    diversas , como agresso verbal, fsica e psicolgica.

    Conforme levantamento que realizamos nas fichas de pessoas atendidas

    relacionadas ao alcoolismo pelo Servio Social nos anos de 2000 e 2001 (at o ms de

    setembro) foi de 40 casos.

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    13/25

    13

    Quando os familiares, geralmente as esposas de alcoolistas procuram o

    SOF para obter ajuda, esto completamente transtornados, e na maioria dos casos o

    alcoolista o chefe de famlia. O SOF em resposta a essa problemtica orienta os

    familiares no sentido de amenizar o relacionamento familiar, enfraquecido pela questo

    alcolica.

    O SOF como um processo extensionista conjuga trs eixos bsicos: Servio,

    Formao Profissional e Produtos Acadmicos. Vamos tentar situar o SOF por tais

    parmetros. O primeiro deles sua condio de servio, atendendo questes de

    conflito familiar; o segundo um campo de estgio, podendo incluir alunos em sistema

    extracurricular e o terceiro o Servio um meio para que se construa produtos

    acadmicos, permitindo elaborar dados e textos referentes :

    aspectos antropolgicos que permeiam situao de conflito no contexto

    familiar;

    aspectos concernentes a questo da habitao e conflitos familiares;

    reconfigurao do papel do idoso no contexto da famlia;

    processos e tcnicas de entrevista.

    Existem atualmente trs frentes de ao: ETAJJ (Escritrio Tcnico de

    Assistncia Jurdica e Judiciria; CLIFA (Clnica de Fonoaudiologia) e Igreja Nossa

    Senhora Aparecida. H um cronograma de atividades a ser seguido pelos discentes. O

    programa ISSO um detalhe importante, toda extenso conta com professores e no

    com tcnico fixo. A ao do professor de natureza pedaggica, sobretudo centrando

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    14/25

    14

    ateno nos produtos acadmicos, possivelmente haja atividades extensionistas

    descaracterizadas, centradas somente no Servio. Entretanto, o SOF no pretende

    enveredar por esse desvio.

    Os objetivos do SOF so prestar atendimento famlia em situao de

    conflito como meio bsico para obter conhecimentos sobre famlia e construir produtos

    acadmicos elegidos pela universidade.

    O SOF um servio e pode ser demandado, como a CLIFA-Clinica de

    Fonoaudiologia e o ETAJJ - Escritrio Tcnico de Assistncia Jurdica e Judiciria.

    Trata-se de uma parceria entre o Laboratrio de Servio Social e as respectivas Clnica

    e Escritrios. Nesse contexto o SOF funciona como uma atividade meio e apoio

    disponibilizado a quem dele necessitar.

    A clientela alvo do SOF varia de conformidade com o setor vinculado. No

    ETAJJ as situaes apresentadas so de conflito de natureza civil ou criminal; na

    CLIFA so relacionados negligncia com atendimento das crianas e/ou

    adolescncia. Na Aparecida atende todas as situaes de conflito encaminhadas pela

    Pastoral.

    O instrumental tcnico utilizado no ETAJJ e na CLIFA so principalmente, a

    entrevista dialogada, tcnicas de reflexo a partir do contedo veiculado pelas pessoas

    sob atendimento. Na Aparecida so trabalhados encontros com responsveis de

    adolescentes e grupos de idosos, nesse particular outros instrumentos e tcnicas de

    experincias, de dinmica de grupo, recursos audiovisuais e visitas domiciliares.

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    15/25

    15

    A funo do professor orientador no ETAJJ civil e no ETAJJ criminal

    discutir situaes em funo dos produtos acadmicos, como auxiliar os estagirios a

    obterem maior rendimento tcnico acadmico a partir das experincias. Nas quartas-

    feiras s 18 h acontece o encontro de todos os estagirios do SOF para estudo de

    temticas pertinentes ao trabalho, tendo com eixo a famlia e os produtos acadmicos.

    O atendimento no Servio Orientao a Famlia-SOF supervisionado e

    realizado por estagirios de Servio Social e Psicologia, as teras, quartas e sextas

    feira, nos horrios da tarde e noite. Os procedimentos tcnicos do Servio de

    Orientao Famlia-SOF no atendimento aos familiares, no primeiro momento,

    apenas para ouvir as queixas do familiar. Em seguida fazemos alguns questionamentos

    e as respostas do queixoso so registradas constando nome, idade, endereo telefone

    e ocupao alm do motivo da queixa apresentada.

    No atendimento que realizamos, utilizamos alguns procedimentos e tcnicas,

    com meio de nos ajudar na obteno de informaes junto aos usurios como a

    observao, entrevista, dilogo, abordagem e debates.

    Por ocasio dos atendimentos refletimos em conjunto com o familiar, sobre

    os aspectos de vida do alcoolista, seu relacionamento no trabalho e dentro de casa,

    alterados devido questo alcolica. Importante evidenciar por causa desta

    problemtica o indivduo pode ser excludo da sociedade, caso fique desempregado e

    com dificuldades de produzir; o lar deixa de ser um refgio, o alcoolista prefere utilizar a

    bebida como meio para fugir da realidade. Na condio de alcoolista, alguns

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    16/25

    16

    consideram-se mais predispostosa realizar aes as quais no fariam em condies

    sbria.

    Os encaminhamentos realizados pelo Servio Social, caso o alcoolista aceite

    o tratamento so direcionados aos Alcolicos Annimos-AA, irmandade formada por ex

    alcoolistas; o AL- ANON (lcool Annimo), grupo de ajuda formada por familiares de

    alcoolistas, onde discutem seus problemas entre si e tentam se ajudar mutuamente.

    Esses grupos podem ser procurados tambm na igreja Nossa Senhora Aparecida, em

    reunies realizadas semanalmente, as teras-feiras, no horrio s 20 h.

    Dependendo tambm de cada caso, o Servio Social encaminha os

    familiares para serem acompanhados por psiclogos, que prestam servio voluntrio

    na Igreja Nossa Senhora Aparecida.

    Os acompanhamentos dos cursos so feitos diariamente pelos estagirios

    do Servio de Orientao Famlia-SOF, assim como, o atendimento a quem procura,

    para desabafar e informar a situao de seu familiar. O alcoolista, geralmente resiste

    em procurar diretamente ajuda, a qual feita por familiar.

    E com esse entendimento, que, no contexto deste estudo, analisamos a

    situao de um caso de uma famlia, que possui alcoolista e recebeu orientao do

    profissional de Servio Social no SOF Aparecida.

    Na poca da realizao das entrevistas em agosto/setembro/(2001), caso

    de (RM) chamou a minha ateno por ter sido a famlia do alcoolista (RM) que procurou

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    17/25

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    18/25

    18

    Sim, ele j fez parte da AA- Alcolicos Annimos de 1996 a 1998. Foi uma tima fase,

    pois naqueles momentos ramos felizes com o pai se ajudando e melhorando a relao

    familiar (Entrevistada L e filhos).

    O que aconteceu com (RM) no AA-Alcolicos Annimos.Depois que ele saiu no voltou na AA Alcolicos Annimos freqento o ALANON

    Associao dos familiares de alcolatras, participo de reunies as teras feiras, tento

    incentivar RM voltar para a AA, mas at agora, ele ainda no quis voltar (Entrevistada L).

    Percebemos por meio da entrevista dialogada que estabelecemos com (L) a

    esposa de (RM) o papel explcito da me na educao do filho, confirmando as

    colocaes de FISCHMAN (1998) sobre os fatores que podem influenciar a

    experimentao de bebidas alcolicas. Neste caso, identificamos os fatores

    relacionados diretamente com o modelo dos adultos, porque quando RM era criana

    viu algum que ele admirava, a prpria me, consumindo lcool.

    Relacionado com outro fator, provavelmente a curiosidade de experimentaro

    sabor da bebida que aps algum tempo ele no pode mais controlar.

    O desejo de ter possudo uma famlia constituda de pai e me, frustrou a

    sua aspirao de criana e adolescente, refletindo, provavelmente, no seu

    comportamento de adulto no relacionamento com os familiares (esposa e filhos).

    E como (RM) abandonou o tratamento de desintoxicao no AA, retornou as

    agresses fsicas com os familiares, contribuindo para o clima de difcil relacionamento.

    O desdobramento deste caso foi conduzido pelo ETAJJ em virtude do respaldo jurdico

    que oferece para os usurios.

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    19/25

    19

    Consideramos que o SOF constitui-se um espao privilegiado ao exerccio

    da prtica profissional, do assistente social, devido permitir aproximao com as

    famlias, entender o que se passa com elas e no compromisso tico de buscar

    alternativas de soluo junto a rede de servios sociais locais.

    Temos, tambm, neste estudo de caso no depoimento de (L) o

    conhecimento do alcoolismo como doena, evidenciando que o alcoolista, no um

    indivduo isolado, j que est inserido numa realidade social, econmica, cultural e

    familiar.

    Conforme VECCHIA (1999) os familiares de alcoolistas vivem geralmente

    uma contradio, quando se deparam com este problema, pois, querem auxiliar o

    alcoolista, mas no sabem como, e muitas vezes, reproduzem o estigma que a

    sociedade lhe impinge. E assim, h uma tripla estigmatizao: o alcoolista pela

    sociedade, da famlia do alcoolista pela sociedade e do alcoolista pela sua prpria

    famlia.

    Sendo assim, a famlia emerge como uma representao reprodutora e

    estigmatizante da doena do alcoolismo.

    Ao mesmo tempo em que o alcoolismo considerado uma doena da

    famlia, por envolver o bem estar dos familiares, afetado emocional e fisicamente.

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    20/25

    20

    Com o propsito de dar um apoio a estes familiares o Servio Social, no

    SOF tem a responsabilidade de prestar orientao e encaminhamento, utilizando a

    rede de servios.

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    21/25

    21

    CONSIDERAES FINAIS

    Vimos neste estudo, que o alcoolismo considerado uma forma de privao,

    devido em parte, a influncia que o alcoolista recebe da famlia e da sociedade para

    continuar nessa condio, ocasionando conseqncias, como transtornos fsicos,

    emocionais, psicolgicos, que iro afetar o alcoolista e seus familiares.

    O SOF Servio de Orientao Famlia o espao onde os membros da

    famlia encontram oportunidades de receber ajuda e orientao para tratamento e

    recuperao de seu alcoolista.

    Verificamos na experincia/prtica o que nos ensinou a teoria apreendida no

    Curso de Servio Social em FISHMAN sobre a orientao da famlia que a criana e o

    adolescente tem menor possibilidade de dissabores no futuro. O papel da famlia

    relevante na preveno, tratamento e recuperao do alcoolista com motivaes para

    solues e equilbrio no relacionamento da famlia.

    No caso objeto de anlise deste estudo observamos que h uma tendncia a

    conceituar a famlia a partir da meno dos papis desempenhados pelos seus

    membros. A famlia o grupo social responsvel pela pessoa como cidado, embora

    seja constituda pela famlia monoparental, com chefia feminina, no caso estudado.

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    22/25

    22

    A convivncia do alcoolista, quando criana com pais alcoolistas em

    ambiente permissivo, facilitador e motivador ao consumo de lcool contribuiu para os

    filhos tornarem-se um alcoolista no futuro.

    Consideramos o alcoolismo uma doena da famlia, sob dois aspectos:

    primeiro, porque o adolescente recebe incentivo na prpria famlia, no exemplo de pais

    e outros parentes e segundo, devido o contgio que o alcoolista repassa para sua

    famlia na forma de conflitos.

    Neste sentido, acreditamos que conseguimos entender os motivos que

    levam as pessoas a experimentao do lcool e como o Servio Social no SOF

    intervm com a questo do alcoolismo em famlia, merecendo ser percebido como tal

    pelo prprio indivduo (includo na sociedade), especialmente da preveno e

    tratamento.

    Melhor seria se as pessoas no fossem estimuladas ao consumo de lcool,

    certamente seramos uma sociedade sbria, justa e humana.

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    23/25

    23

    BIBLIOGRAFIA

    ALCOOLISMO: [online]. Disponvel em: http:// www.alcoolismo.com.br/ a doena. html

    [capturado em 21.set.2001]

    ALCOOLISMO: [online]. Disponvel em: http:// www.alcoolismo.com.br/ fases. html

    [capturado em 21.set.2001]

    ALCOOLISMO: [online]. Disponvel em: http:// www.alcoolismo.com.br/ nmeros. html

    [capturado em 21.set.2001].

    BARROS, Carlos Alberto Sampaio Martins. Alcoolismo, obesidade, consultoria

    psiquitrica. Porto Alegre: Movimento, 1994.

    BRASIL, Lei n 8.069/90. Estatuto da Criana e do Adolescente, 1990.

    CUNHA, Srgio da. Direito de Famlia: Mudanas. So Paulo: Revista dos Tribunais,

    1985.

    FALEIROS, Vicente de Paula. A Poltica Social do Estado Capitalista. So Paulo:

    Cortz, 2000.

    FISHMAN, Ross. Tudo sobre Drogas. So Paulo: Nova Cultura, 1988: p. 72.

    RAMOS, Srgio de Paula. Grupoterapia para alcoolistas. In: Como trabalhar com

    grupos. Porto Alegre. Artes Mdicas, 1997.

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    24/25

    24

    SILVEIRA, Ajax C. Como vencer o alcoolismo. In: Deciso, ed. Casa Publicadora

    Brasileira. n. 07, ano 15, 1997. v. II.

    SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do Trabalho Cientfico. Ed. Cortz, 21

    edio revista e ampliada. So Paulo: 2000.

    VECHIA, Maria Jos de Souza Gerlack. O imigrante e o capital cafeeiro:

    mentalidades e responsabilidades. In: Sociabilidade Espao e Sociedade (org. D

    IRAO, Maria Angela). So Paulo; grupo Editores. 1999.

    VOMERO, Maria Fernanda. Independncia ou Morte. In: Super Interessante, ed. abril,

    n. 3, Ano 15, 2001.

  • 8/14/2019 Interveno Do Servio Social Junto Famlia

    25/25

    25