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INTERTEXTUALIDADE Professor: Flávio Brito Os dicionários definem intertextualidade como sendo a superposição de um texto a outro; a influência de um texto sobre outro que o toma como modelo ou ponto de partida, e que gera a atualização do texto citado. Verificamos dessa forma que o conceito de intertextualidade, como o próprio nome indica, diz respeito à relação que se estabelece entre textos. Na verdade, todo texto é absorção e transformação de uma multiplicidade de outros textos, o que vale dizer que não existe um texto que seja totalmente original. Dessa forma, basicamente, a intertextualidade nada mais é do que a influência de um texto sobre outro. Todo texto, em maior ou menor grau, é um intertexto, pois é normal que durante o processo da escrita aconteçam relações dialógicas entre o que estamos escrevendo e outros textos previamente lidos por nós. A intertextualidade pode acontecer de maneira proposital ou não, mas é certo que cada texto faz parte de uma corrente de produções verbais e, conscientemente ou não, retomamos, oucontestamos, os chamados textos-fonte, fundamentais na memória coletiva de uma sociedade. Posto isso, passemos à análise dos tipos de intertextualidade. A intertextualidade pode ser construída de maneira explícita ou implícita. Na intertextualidade explícita, ficam claras as fontes nas quais o texto baseou-se e acontece, obrigatoriamente, de maneira intencional. Pode ser encontrada em textos do tipo resumo, resenhas, citações e traduções. Podemos dizer que, por nos fornecer diversos elementos que nos remetem a um texto- fonte, a intertextualidade explícita exige de nós mais compreensão do que dedução. Poema de sete faces Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada. O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode. Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus, se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo. Carlos Drummond de Andrade Até o fim Quando nasci veio um anjo safado O chato do querubim E decretou que eu estava predestinado A ser errado assim Já de saída a minha estrada entortou Mas vou até o fim "inda" garoto deixei de ir à escola Cassaram meu boletim Não sou ladrão, eu não sou bom de bola Nem posso ouvir clarim Um bom futuro é o que jamais me esperou Mas vou até o fim Eu bem que tenho ensaiado um progresso Virei cantor de festim Mamãe contou que eu faço um bruto sucesso Em quixeramobim Não sei como o maracatu começou Mas vou até o fim Por conta de umas questões paralelas Quebraram meu bandolim Não querem mais ouvir as minhas mazelas E a minha voz chinfrim Criei barriga, a minha mula empacou Mas vou até o fim Não tem cigarro acabou minha renda Deu praga no meu capim Minha mulher fugiu com o dono da venda O que será de mim ? Eu já nem lembro "pronde" mesmo que eu vou Mas vou até o fim Como já disse era um anjo safado O chato dum querubim Que decretou que eu estava predestinado A ser todo ruim Já de saída a minha estrada entortou Mas vou até o fim Chico Buarque de Holanda

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INTERTEXTUALIDADE

Professor: Flávio Brito

Os dicionários definem intertextualidade como sendo a superposição de um texto a outro; a influência de um texto sobre

outro que o toma como modelo ou ponto de partida, e que gera a atualização do texto citado. Verificamos dessa forma que o

conceito de intertextualidade, como o próprio nome indica, diz respeito à relação que se estabelece entre textos. Na verdade, todo

texto é absorção e transformação de uma multiplicidade de outros textos, o que vale dizer que não existe um texto que seja

totalmente original.

Dessa forma, basicamente, a intertextualidade nada mais é do que a influência de um texto sobre outro. Todo texto, em

maior ou menor grau, é um intertexto, pois é normal que durante o processo da escrita aconteçam relações dialógicas entre o que

estamos escrevendo e outros textos previamente lidos por nós. A intertextualidade pode acontecer de maneira proposital ou não,

mas é certo que cada texto faz parte de uma corrente de produções verbais e, conscientemente ou não, retomamos, oucontestamos,

os chamados textos-fonte, fundamentais na memória coletiva de uma sociedade. Posto isso, passemos à análise dos tipos de

intertextualidade.

A intertextualidade pode ser construída de maneira explícita ou implícita. Na intertextualidade explícita, ficam claras as

fontes nas quais o texto baseou-se e acontece, obrigatoriamente, de maneira intencional. Pode ser encontrada em textos do tipo

resumo, resenhas, citações e traduções. Podemos dizer que, por nos fornecer diversos elementos que nos remetem a um texto-

fonte, a intertextualidade explícita exige de nós mais compreensão do que dedução.

Poema de sete faces Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens

que correm atrás de mulheres.

A tarde talvez fosse azul,

não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:

pernas brancas pretas amarelas.

Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.

Porém meus olhos

não perguntam nada.

O homem atrás do bigode

é sério, simples e forte.

Quase não conversa.

Tem poucos, raros amigos

o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste

se sabias que eu não era Deus, se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo

se eu me chamasse Raimundo

seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo,

mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer

mas essa lua

mas esse conhaque

botam a gente comovido como o diabo.

Carlos Drummond de Andrade

Até o fim Quando nasci veio um anjo safado

O chato do querubim

E decretou que eu estava predestinado

A ser errado assim

Já de saída a minha estrada entortou

Mas vou até o fim

"inda" garoto deixei de ir à escola

Cassaram meu boletim Não sou ladrão, eu não sou bom de bola

Nem posso ouvir clarim

Um bom futuro é o que jamais me esperou

Mas vou até o fim

Eu bem que tenho ensaiado um progresso

Virei cantor de festim

Mamãe contou que eu faço um bruto sucesso Em quixeramobim

Não sei como o maracatu começou

Mas vou até o fim

Por conta de umas questões paralelas

Quebraram meu bandolim

Não querem mais ouvir as minhas mazelas

E a minha voz chinfrim

Criei barriga, a minha mula empacou Mas vou até o fim

Não tem cigarro acabou minha renda

Deu praga no meu capim

Minha mulher fugiu com o dono da venda

O que será de mim ?

Eu já nem lembro "pronde" mesmo que eu vou

Mas vou até o fim

Como já disse era um anjo safado O chato dum querubim

Que decretou que eu estava predestinado

A ser todo ruim

Já de saída a minha estrada entortou

Mas vou até o fim

Chico Buarque de Holanda

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A intertextualidade implícita demanda de nós um pouco mais de atenção e análise. Como o próprio nome diz, esse tipo de

intertexto não se encontra na superfície textual, visto que não fornece para o leitor elementos que possam ser imediatamente

relacionados com algum outro tipo de texto-fonte. Sendo assim, pedem de nós uma maior capacidade de realizar analogias e

inferências, fazendo com que o leitor reative conhecimentos preservados em sua memória para então compreender integralmente o

texto lido. A intertextualidade implícita é muito comum em textos parodísticos, irônicos e em apropriações.

SAMPA – Caetano Veloso

Alguma coisa acontece no meu coração

Que só quando cruza a Ipiranga e Av. São João

É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi

Da dura poesia concreta de tuas esquinas

Da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee

A tua mais completa tradução

Alguma coisa acontece no meu coração

Que só quando cruza a Ipiranga e avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente e não vi o meu rosto

Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto

É que Narciso acha feio o que não é espelho

E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho

Nada do que não era antes quando não somos mutantes

E foste um difícil começo

Afasto o que não conheço

E quem vem de outro sonho feliz de cidade

Aprende depressa a chamar-te de realidade

Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas

Da força da grana que ergue e destrói coisas belas

Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas

Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços

Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba

Mas possível novo quilombo de Zumbi

E os Novos Baianos passeiam na tua garoa

E novos baianos te podem curtir numa boa

PARÁFRASE

Proveniente do grego “para-phrasis”, a paráfrase caracteriza-se como sendo uma reafirmação de um texto pré-existente. Neste tipo

de intertexto, há uma repetição do conteúdo ou um fragmento dele em outros termos, a ideia inicial é preservada. Em resumo,

podemos afirmar que parafrasear um texto significa recriá-lo com outras palavras, mantendo a sua essência.

EXEMPLO 01

Coríntios c1 v13 - Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou

como o sino que tine.

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EXEMPLO 02

Soneto - Luís Vaz de Camões

Amor é um fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói, e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;

É um andar solitário entre a gente;

É nunca contentar-se e contente;

É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

EXEMPLO 03

Monte Castelo - Legião Urbana

Ainda que eu falasse

A língua dos homens

E falasse a língua dos anjos

Sem amor eu nada seria

É só o amor! É só o amor

Que conhece o que é verdade

O amor é bom, não quer o mal

Não sente inveja ou se envaidece

O amor é o fogo que arde sem se ver

É ferida que dói e não se sente

É um contentamento descontente

É dor que desatina sem doer

PARÓDIA

Neste caso, também há uma apropriação do texto de outro, porém, não o endossa, mas sim subverte-o, satirizando o próprio

tema do texto ou utilizando-o para satirizar um outro contexto. Em outras palavras, a paródia é uma imitação, e normalmente

possui intenção crítica ou humorística.

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No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.

Carlos Drummond Andrade

Contramão

Eu tropecei agora numa casca de banana.

Numa casca de banana!

Numa casca de banana eu tropecei agora.

Caí para trás desamparadamente,

E rasguei os fundilhos das calças!

Numa casca de banana eu tropecei agora.

Numa casca de banana!

Eu tropecei agora numa casca de banana!

Gondim da Fonseca.

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

(...)

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar sozinho, à noite

Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá. Gonçalves Dias

Nova Canção do Exílio (fragmento)

Nossas várzeas têm mais flores

nossas flores mais pesticidas.

Só se banham em nossos rios

desinformados e suicidas.

Nossos bosques têm mais vida

porque nas cidades se morre.

Quando não é assaltante ou vizinho

é um motorista de porre.

Nossos bancos têm mais juros

nossos corruptos mais favores

nossos pobres mais desgraças

nossa vida mais amores.

Luís Fernando Veríssimo

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EPÍGRAFE

Epígrafe é um título ou frase que serve de tema ou introdução de assunto. O termo tem origem no Grego "epigrafhé" que

significa "inscrição", "título".Em uma obra literária, epígrafe é uma curta citação colocada em uma página no início da obra ou em

destaque na abertura de um capítulo. Funciona como um resumo do que se vai ler em seguida.

Uma epígrafe tinha o objetivo de recordar acontecimentos e pessoas, ou prestar homenagem a deuses, figuras míticas ou

personagens históricos de grande relevância. A tradição romana indicava que a epígrafe era feita somente em letras maiúsculas e

com algumas abreviaturas.É impossível encontrar epígrafes em edifícios e monumentos. Alguns exemplos de epígrafe são

citações da Bíblia, versos de uma poesia, provérbios ou pensamentos de grandes autores.

Na Grécia Clássica, as epígrafes eram gravadas em monumentos, pedras, medalhas ou estátuas, como uma referência ao

momento histórico ou pessoa homenageada.É frequente a gravação de uma epígrafe em túmulos, sendo que neste caso a epígrafe

costuma ser uma homenagem da família para a pessoa que morreu.

Mysterium (fragmento)

“Eu vi ainda debaixo do sol que a corrida não é para os mais ligeiros, nem a batalha para os mais fortes, nem o pão para os

mais sábios, nem as riquezas para os mais inteligentes, mas tudo depende do tempo e do acaso.”

Eclesiastes

Ao tempo e ao acaso eu acrescento o grão de imprevisto. E o grão da loucura, a razoável loucura que é infinita na nossa finitude.

Vejo minha vida e obra seguindo assim por trilhos paralelos e tão próximos, trilhos que podem se juntar (ou não) lá adiante, mas

tudo sem explicação, não tem explicação.

(TELLES, Lygia Fagundes. Durante aquele estranho chá: perdidos e achados. Rio de Janeiro: Rocco, 2002.)

REFERÊNCIA OU ALUSÃO

Trata-se da rememoração de algum fato, imagem, obra, autor, personagem ou personalidade anterior. Em Dom Casmurro,

por exemplo, a leitura dá-se por meio de várias referências ao mundo da ópera, da poesia, do romance, do teatro Shakespereano e

também da Bíblia.

Bom Conselho

Ouça um bom conselho

Que eu lhe dou de graça

Inútil dormir que a dor não passa

Espere sentado

Ou você se cansa

Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo

Deixe esse regaço

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faça como eu digo

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Faça como eu faço

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempo

Vim de não sei onde

Devagar é que não se vai longe

Eu semeio o vento

Na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

Chico Buarque

CITAÇÃO

É a transcrição do texto alheio, marcado por aspas. As citações - na produção textual - são feitas para apoiar uma hipótese,

sustentar uma ideia ou ilustrar um raciocínio. Sua função é oferecer ao leitor o respaldo necessário para que ele possa comprovar a

veracidade das informações fornecidas e possibilitar o seu aprofundamento.

Memórias Póstumas de Brás Cubas - Óbito do Autor

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu

nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar

diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro

berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no

intróito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco.

Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi.

Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério

por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia — peneirava — uma chuvinha

miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no

discurso que proferiu à beira de minha cova: — "Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza

parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas

gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza

as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado."

Machado de Assis

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PASTICHE

Pastiche é definido como obra literária ou artística em que se imita abertamente o estilo de outros escritores, pintores, músicos

etc.Não tem, contudo, função de satirizar, criticar a obra de origem, diferindo, assim, da paródia.Modernamente, o pastiche pode

ser visto como uma espécie de colagem ou montagem, tornando-se retalhos de vários textos.

HIPERTEXTO

Trata-se de uma escritura não sequencial e não linear, que se bifurca e permite ao leitor o acesso a um número

praticamente ilimitado de outros textos a partir de escolhas locais e sucessivas, em tempo real. É uma forma de estruturação

textual que faz do leitor simultaneamente coautor do texto final.

São exemplos de hipertexto índices de enciclopédia, links, etc..

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EXERCÍCIOS PARA VERIFICAÇÃO DE CONHECIMENTO

QUESTÃO 01

Quem não passou pela experiência de estar lendo um texto e defrontar-se com passagens já lidas em outros? Os textos conversam

entre si em um diálogo constante. Esse fenômeno tem a denominação de intertextualidade. Leia os seguintes textos:

I. Quando nasci, um anjo torto Desses que vivem na sombra Disse: Vai Carlos! Ser “gauche” na vida

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964)

II. Quando nasci veio um anjo safado O chato dum querubim E decretou que eu tava predestinado A ser errado assim Já de saída a

minha estrada entortou Mas vou até o fim.

(BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia das Letras, 1989)

III. Quando nasci um anjo esbelto Desses que tocam trombeta, anunciou: Vai carregar bandeira. Carga muito pesada pra mulher

Esta espécie ainda envergonhada.

(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986)

Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem intertextualidade, em relação a Carlos Drummond de Andrade, por:

(A) reiteração de imagens.

(B) oposição de ideias.

(C) falta de criatividade.

(D) negação dos versos.

(E) ausência de recursos.

QUESTÃO 02

As novas tecnologias de comunicação utilizam o hipertexto, que é uma espécie de “supertexto”: um texto maior que contém vários

níveis textuais lidos em múltiplas direções. Antes mesmo do computador, já podíamos encontrar exemplos de hipertexto, como

verbetes de enciclopédia, índices analíticos e notas de rodapé.

Esta prova de múltipla escolha também pode ser caracterizada como hipertextual, pela seguinte razão:

(A) fornece uma alternativa verdadeira e três falsas, para a solução da questão

(B) requer conhecimento prévio dos assuntos, para a articulação com outros textos

(C) inclui textos, questões e opções em diversas línguas, para a ampliação da compreensão

(D) exige leitura dos enunciados e das alternativas em diferentes ordens, para a identificação da resposta

QUESTÃO 03

Diferentemente do texto escrito, que em geral compele os leitores a lerem numa onda linear – da esquerda para a direita e de cima

para baixo, na página impressa – hipertextos encorajam os leitores a moverem-se de um bloco de texto a outro, rapidamente e não

sequencialmente. Considerando que o hipertexto oferece uma multiplicidade de caminhos a seguir, podendo ainda o leitor

incorporar seus caminhos e suas decisões como novos caminhos, inserindo informações novas, o leitor- navegador passa a ter um

papel mais ativo e uma oportunidade diferente da de um leitor de texto impresso. Dificilmente dois leitores de hipertextos farão os

mesmos caminhos e tomarão as mesmas decisões.

MARCUSCHI, L. A. Cognição, linguagem e práticas interacionais. Rio: Lucerna, 2007.

No que diz respeito à relação entre o hipertexto e o conhecimento por ele produzido, o texto apresentado deixa claro que o

hipertexto muda a noção tradicional de autoria, porque.

A) só o autor conhece o que eletronicamente se dispõe para o leitor.

B) o autor detém o controle absoluto do que escreve.

C) os limites entre o leitor e o autor.

D) propicia um evento textual-interativo em que apenas o autor é ativo.

E) é o leitor que constrói a versão final do texto

QUESTÃO 04

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O hipertexto permite – ou, de certo modo, em alguns casos, até mesmo exige – a participação de diversos autores na sua

construção, a redefinição dos papéis de autor e leitor e a revisão dos modelos tradicionais de leitura e de escrita. Por seu enorme

potencial para se estabelecerem conexões, ele facilita o desenvolvimento de trabalhos coletivamente, o estabelecimento da

comunicação e a aquisição de informação de maneira cooperativa. .

Embora haja quem identifique o hipertexto exclusiva - mente com os textos eletrônicos, produzidos em determinado tipo de

meio ou de tecnologia, ele não deve ser limitado a isso, já que consiste numa forma organizacional que tanto pode ser concebida

para o papel como para os ambientes digitais. É claro que o texto virtual permite concretizar certos aspectos que, no papel, são

praticamente inviáveis: a conexãoimediata, a comparação de trechos de textos na mesma tela, o “mergulho” nos diversos

aprofundamentos de um tema, como se o texto tivesse camadas, dimensões ou planos. .

RAMAL, A. C. Educação na cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita e aprendizagem. 2002.

Considerando-se a linguagem específica de cada sistema de comunicação, como rádio, jornal, TV, internet, segundo o texto, a

hipertextualidade configura-se como um(a).

.

A) elemento originário dos textos eletrônicos.

B) conexão imediata e reduzida ao texto digital.

C) modelo de leitura baseado nas informações da superfície do texto.

D) de manutenção do papel do leitor com perfil definido.

E) novo modo de leitura e de organização da escrita.

QUESTÃO 05

Texto Bíblico

Pai, se queres, afasta de mim este cálice! Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita! (Lucas, 22)

(in: Bíblia de Jerusalém. 7ª impressão. São Paulo: Paulus, 1995)

Trecho de Canção

Pai, afasta de mim esse cálice!

Pai, afasta de mim esse cálice!

Pai, afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue.

Um texto pode se revelar, na forma e/ou no conteúdo, como absorção e transformação de um ou mais textos. Por isto, quando ele

é lido, algumas de suas partes podem lembrar o que já foi lido em outro(s) texto(s). A essa relação de semelhança e superposição

de um texto a outro dá-se o nome de intertextualidade. Inúmeros autores extraem desse procedimento interessantes efeitos

artísticos. Comparando-se a primeira estrofe de “Cálice” com o texto bíblico, pode-se afirmar corretamente que

A) não há intertextualidade porque a estrofe transforma, semanticamente, a passagem evangélica, dando-lhe uma conotação

política.

B) não há intertextualidade porque, na estrofe, foi omitida a outra frase atribuída a Jesus.

C) não há intertextualidade porque, na estrofe, não há menção ao sentido condicional presente na primeira frase atribuí- da a

Jesus.

D) ocorre intertextualidade, mas apenas quanto aos elementos morfossintáticos da frase atribuída a Jesus.

E) ocorre intertextualidade porque a estrofe contém, na forma e no conteúdo, parte da passagem evangélica.

EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO

QUESTÃO 01

(Uff 2011) Modinha do exílio

Os moinhos têm palmeiras

Onde canta o sabiá.

Não são artes feiticeiras!

Por toda parte onde eu vá,

Mar e terras estrangeiras,

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Posso ver mesmo as palmeiras

Em que ele cantando está.

Meu sabiá das palmeiras

Canta aqui melhor que lá.

Mas, em terras estrangeiras,

E por tristezas de cá,

Só à noite e às sextas-feiras.

Nada mais simples não há!

Canta modas brasileiras.

Canta – e que pena me dá!

(Ribeiro Couto)

Os versos dos poetas modernistas e românticos apresentam relação de intertextualidade com o poema de Ribeiro Couto,

EXCETO em uma alternativa. Assinale-a.

a) “Vou-me embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei / Lá tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei” (Manuel

Bandeira)

b) “Dá-me os sítios gentis onde eu brincava / Lá na quadra infantil; / Dá que eu veja uma vez o céu da pátria, / O céu do meu

Brasil!” (Casimiro de Abreu)

c) “Minha terra tem macieiras da Califórnia / onde cantam gaturamos de Veneza. / Os poetas da minha terra / são pretos que

vivem em torres de ametista,” (Murilo Mendes)

d) “Ouro terra amor e rosas / Eu quero tudo de lá / Não permita Deus que eu morra / Sem que volte para lá” (Oswald de Andrade)

e) “Em cismar, sozinho, à noite, / Mais prazer eu encontro lá; / Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o Sabiá.” (Gonçalves

Dias)

QUESTÃO 02

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem

Uma quentura, um querer bem, um bem

Um “libertas quaeseratamen”*

Que um dia traduzi num exame escrito:

“Liberta que serás também”

E repito!

(Vinícius de Moraes, “Pátria minha”, Antologia poética.)

*A frase em latim traduz-se, comumente, por “liberdade ainda que tardia”.

Considere as seguintes afirmações:

I. O diálogo com outros textos (intertextualidade) é procedimento central na composição da estrofe.

II. O espírito de contradição manifesto nos versos indica que o amor da pátria que eles expressam não é oficial nem conformista.

III. O apego do eu lírico à tradição da poesia clássica patenteia-se na escolha de um verso latino como núcleo da estrofe.

Está correto o que se afirma em

a) I, apenas.

b) II, apenas.

c) I e II, apenas.

d) II e III, apenas.

e) I, II e III.

QUESTÃO 03

Você sabia que com pouco esforço é possível ajudar o planeta e o seu bolso?

Ao usarmos a energia elétrica para aparelhos eletrônicos e lâmpadas também emitimos gás carbônico, um dos principais gases

do efeito estufa. Atitudes simples como trocar lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes e puxar da tomada os aparelhos que

não estão em uso reduzirão a sua conta de luz e as nossas emissões de CO2 na atmosfera.

(Planeta sustentável: conhecimento por um mundo melhor)

(Mackenzie 2010) Assinale a alternativa que indica recurso empregado no texto.

a) Intertextualidade, já que se pode notar apropriação explícita e marcada, por meio de citações, de trechos de outros textos.

b) Conotação, uma vez que o texto emprega em toda a sua extensão uma linguagem que adota tom pessoal e subjetivo.

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c) Ironia, observada no emprego de expressões que conduzem o leitor a outra possibilidade de interpretação, sempre crítica.

d) Denotação, pois há a utilização objetiva de palavras e expressões que destacam a presença da função referencial.

e) Metalinguagem, uma vez que a linguagem adotada serve exclusivamente para tratar da própria linguagem.

QUESTÃO 04

Ideologia

Meu partido

É um coração partido

E as ilusões estão todas perdidas

Os meus sonhos foram todos vendidos

Tão barato que eu nem acredito

Eu nem acredito

Que aquele garoto que ia mudar o mundo

(Mudar o mundo)

Frequenta agora as festas do “Grand Monde”

Meus heróis morreram de overdose

Meus inimigos estão no poder

Ideologia

Eu quero uma pra viver

Ideologia

Eu quero uma pra viver

O meu prazer

Agora é risco de vida

Meu sex anddrugs não tem nenhum rock ‘n’ roll

Eu vou pagar a conta do analista

Pra nunca mais ter que saber quem eu sou

Pois aquele garoto que ia mudar o mundo

(Mudar o mundo)

Agora assiste a tudo em cima do muro

Meus heróis morreram de overdose

Meus inimigos estão no poder

Ideologia

Eu quero uma pra viver

Ideologia

Eu quero uma pra viver

(CAZUZA e ROBERTO FREJAT - 1988)

E as ilusões estão todas perdidas (v. 3)

Esse verso pode ser lido como uma alusão a um livro intitulado Ilusões perdidas, de Honoré de Balzac.

Tal procedimento constitui o que se chama de:

a) metáfora

b) pertinência

c) pressuposição

d) intertextualidade

QUESTÃO 05

Pai, afasta de mim esse cálice

Pai, afasta de mim esse cálice

Pai, afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga

Tragar a dor, engolir a labuta

Mesmo calada a boca, resta o peito

Silêncio na cidade não se escuta.

(Disponível em: Acesso em: 19 set. 2007.)

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Durante a Ditadura Militar, a censura política funcionou como uma mordaça à liberdade de expressão no Brasil. Em função disso,

artistas de diversas tendências usaram a sua criatividade na produção de obras de forte apelo político, mas que, ao mesmo tempo,

preservavam a beleza estética. Um exemplo é a canção "Cálice", composta por Chico Buarque e Gilberto Gil, em 1973. Sobre a

expressividade poética e política dessa canção, é INCORRETO afirmar:

a) Ela explora o duplo sentido que se pode verificar na leitura do vocábulo "cálice", em razão da identidade fônica entre esta

palavra e a forma verbal do verbo "calar", na terceira pessoa do imperativo.

b) Percebe-se a manifestação de uma intertextualidade entre os três primeiros versos e o contexto bíblico da crucificação de

Cristo.

c) "Bebida amarga", no contexto da canção, metaforiza o contexto sócio-histórico em que ela foi composta.

d) A canção é um exemplo da bossa nova, um gênero musical que tentou extirpar qualquer influência norte-americana na música

popular brasileira.

QUESTÃO 06

A modernidade tem-se utilizado de meios expressionais que dialogam com diversas linguagens, produzindo pela intertextualidade

novos sentidos e novos diálogos. Identifique o comentário pertinente sobre a ressignificação promovida pela intertextualidade dos

fragmentos que se seguem.

a) Amor é fogo que arde sem se ver.

É ferida que dói e não se sente.

É um contentamento descontente.

É dor que desatina sem doer.

Luís Vaz de Camões

O amor é o fogo que arde sem se ver.

É ferida que dói e não se sente.

É um contentamento descontente.

É dor que desatina sem doer.

Ainda que eu falasse a língua dos homens.

E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.

Legião Urbana, "Monte Castelo"

Os versos de "Monte Castelo" retomam três fontes distintas que remetem ao local de resistência (título da canção), à necessidade

imperiosa do sentimento fraterno (Apóstolo Paulo) e ao caráter contemplativo e dócil da vivência amorosa (Camões).

b) Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

Disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

Carlos Drummond de Andrade, "Poema das sete faces"

Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Adélia Prado, "Com licença poética"

Os versos de Adélia Prado retomam a imagem do "anjo", reproduzindo o caráter de aceitação do papel da mulher no contexto

social.

c) Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

Gonçalves Dias

Nossas várzeas têm mais flores

nossas flores mais pesticidas.

Só se banham em nossos rios

Desinformados e suicidas.

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Luiz FernandoVeríssimo

O fragmento retomado por Veríssimo - versos de "Canção do Exílio" - situa a realidade em que se insere, sob o ponto de vista

crítico, confrontando-se à visão ufanista do Romantismo.

d) Conselho se fosse bom, as pessoas

não dariam, venderiam.

Vá dormir que a dor passa.

Quem espera sempre alcança.

Provérbios e ditos populares.

Ouça um bom conselho

Que eu lhe dou de graça

Inútil dormir que a dor não passa

Espere sentado

Ou você se cansa

Está provado, quem espera nunca alcança.

Chico Buarque, "Bom conselho"

O fragmento de "Bom conselho" reforça pela linguagem poética o caráter moralista e educativo desses provérbios.

e) A feição deles é serem pardos, maneira d'avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma

cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como

também em mostrar o rosto Trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha a el-rei d. Manuel

Senhor: Escrevo esta carta para vos dar conta dos sucessos da terra de Vera Cruz desde o dia de seu achamento até a

construção desta Brasília onde agora me encontro. Eu a tenho, Senhor, por derradeiro feito e última louçania da gente de cepa e

me empenharei em bem descrevê-la, nada pondo ou tirando para aformosear nem para enfear, mas só praticando do que vi, ouvi

ou me pareceu.

Segunda Carta de Pero Vaz de Caminha, a El Rei, escrita da Novel Cidade de Brasília com a data de 21 de abril de

1960. (Por Darcy Ribeiro)

O fragmento da carta de Darcy Ribeiro retoma o estilo detalhista e inventivo de Pero Vaz de Caminha, ao construir a imagem do

Brasil segundo o olhar europeu.

QUESTÃO 07

Leia o poema:

podem ficar com a realidade

esse baixo astral

em que tudo entra pelo cano

eu quero viver de verdade

eu fico com o cinema americano

O poeta Paulo Leminski neste poema usa de procedimento redundante em sua obra. Assinale a alternativa que identifica esse

procedimento:

a) intertextualidade.

b) ironia.

c) crítica à sociedade de massa.

d) fuga à realidade.

e) desejo de viver intensamente.

QUESTÃO 08

Clonagem

Parabenizo o jornalista Marcelo Leite pelo artigo "O conto das células de cordão" (Mais!, pag. 18,18/7).

A tecnologia de congelamento de células de cordão é muito bem dominada por alguns serviços médicos no Brasil há vários anos.

Logo, seria natural que migrássemos para esse campo. Mas, mesmo sendo factível a sua introdução, ficamos convencidos de que

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essa seria uma área que só deveria ser implantada por instituições (preferencialmente públicas) responsáveis pelo tratamento de

um grande contingente de pacientes, pois só com um cadastro nacional abrangente poderiam ser atendidos aqueles com indicação

de transplante de medula óssea que não tivessem doadores relacionados disponíveis.

Infelizmente, foi com muito pesar que vi a proliferação de bancos de cordão voltados ao possível atendimento dos próprios

doadores do cordão (crianças saudáveis e provenientes de famílias com bons recursos financeiros), uma prática totalmente

desnecessária com pouca repercussão do ponto de vista da saúde pública.

Foi por esse motivo que nunca nos aventuramos nessa área.

Silvano Wendel, diretor médico do banco de sangue do Hospital Sírio-Libanês (São Paulo-SP)

FOLHA DE S. PAULO, São Paulo, 23 jul. 2004, p. A3, Painel do Leitor.

O título do artigo de Marcelo Leite "O conto das células de cordão" resume a tese de que a prática de doação de cordão umbilical

não tem favorecido aqueles que realmente necessitam de transplante de medula. O sentido construído no título é alcançado pelo

recurso de:

a) inversão, construída pelo emprego das palavras "células" e "conto".

b) oposição, provocada pelo uso da palavra "cordão" que tem duplo sentido.

c) paródia, construída pela explicação do que vêm a ser as células de cordão.

d) intertextualidade, marcada pelo uso de termos que recuperam elementos dos contos de fadas.

e) contradição, provocada pelo uso dos termos "cordão" e "células" que remetem a domínios diferentes.

QUESTÃO 09

Leia os versos abaixo, parte do "Poema de Sete Faces", de "Alguma Poesia":

"Mundo mundo vasto mundo,

mais vasto é meu coração."

Se considerarmos que Tomás Antônio Gonzaga é autor do verso "Eu tenho um coração maior que o mundo", podemos afirmar

que, nos dois versos de Drummond acima transcritos, existe:

a) mera cópia do verso de Tomás Antônio Gonzaga.

b) plágio visível do verso de Tomás Antônio Gonzaga.

c) intertextualidade flagrante com o verso de Tomás Antônio Gonzaga.

d) apropriação indevida do verso de Tomás Antônio Gonzaga.

QUESTÃO 10

Chega!

Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.

Minha boca procura a "Canção do Exílio".

Como era mesmo a "Canção do Exílio"?

Eu tão esquecido de minha terra...

Ai terra que tem palmeiras

onde canta o sabiá!

(Carlos Drummond de Andrade, "Europa, França e Bahia", ALGUMA POESIA)

Neste excerto, a citação e a presença de trechos..............constituem um caso de..............

Os espaços pontilhados da frase acima deverão ser preenchidos, respectivamente, com o que está em:

a) do famoso poema de Álvares de Azevedo / discurso indireto.

b) da conhecida canção de Noel Rosa / paródia.

c) do célebre poema de Gonçalves Dias/ intertextualidade.

d) da célebre composição de Villa-Lobos/ ironia.

e) do famoso poema de Mário de Andrade / metalinguagem.

Gabarito: 1) a / 2) c / 3) d / 4) d / 5) d / 6) c / 7) b / 8) d / 9) c / 10) c