revista querubim letras ciências humanas ciências sociais ano 9

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Revista Querubim revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE EDUCAÇÃO 2013 2013 2013 2013 REVISTA QUERUBIM Letras Ciências Humanas Ciências Sociais Ano 09 Número 20 Volume 1 ISSN 1809-3264 REVISTA QUERUBIM NITERÓI RIO DE JANEIRO 2013 N ITERÓI RJ

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    UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE EDUCAO

    2013 2013

    2013 2013

    REVISTA QUERUBIM

    Letras Cincias Humanas Cincias

    Sociais

    Ano 09 Nmero 20 Volume 1

    ISSN 1809-3264

    REVISTA QUERUBIM

    NITERI RIO DE JANEIRO

    2013

    N I T E R I R J

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    Revista Querubim 2013 Ano 09 n 20 vol.1 116 p. (junho 2013) Rio de Janeiro: Querubim, 2013 1. Linguagem 2. Cincias Humanas 3. Cincias Sociais Peridicos. I - Titulo: Revista Querubim Digital Conselho Cientfico Alessio Surian (Universidade de Padova - Italia) Carlos Walter Porto-Goncalves (UFF - Brasil) Darcilia Simoes (UERJ Brasil) Evarina Deulofeu (Universidade de Havana Cuba) Madalena Mendes (Universidade de Lisboa - Portugal) Vicente Manzano (Universidade de Sevilla Espanha) Virginia Fontes (UFF Brasil) Conselho Editorial Presidente e Editor Aroldo Magno de Oliveira Consultores Alice Akemi Yamasaki Andre Silva Martins Elanir Frana Carvalho Enas Farias Tavares Guilherme Wyllie Janete Silva dos Santos Joo Carlos de Carvalho Jos Carlos de Freitas Jussara Bittencourt de S Luiza Helena Oliveira da Silva Marcos Pinheiro Barreto Paolo Vittoria Ruth Luz dos Santos Silva Shirley Gomes de Souza Carreira Vanderlei Mendes de Oliveira Vencio da Cunha Fernandes

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    Sumrio

    01 Identidade de gnero e formao de professores da rea de lnguas: um olhar crtico a partir da teoria dos multiletramentos Andria Fernanda Orlando e Aparecida de Jesus Ferreira

    04

    02 A importncia do planejamento para se pensar o turismo sustentvel: discutindo conceitos e contextos Aylana Laissa Medeiros Borges, Gilmara Barros da Silva e Francisco Fransualdo de Azevedo

    10

    03 Pesquisa em educao: reflexes sobre formao de educadores Dbora Ferrari Martinez

    20

    04 Algumas consideraes acerca do texto, sua expanso e domnio em lingustica textual Ederson Henrique de Souza Machado

    26

    05 A educao e a pedagogia na transio da modernidade para contemporaneidade: da escola cartesiana escola criativa Edna Maria Cruz Pinho e Maria Jos de Pinho

    31

    06 Violncia na escola, um problema crnico Edneide Cosme da Silva, Mayane Ferreira de Farias, Janaina Luciana de Medeiros e Mayara Ferreira de Farias

    37

    07 RESENHA ROJO. Roxane Helena R. & MOURA, Eduardo. (orgs.) Multiletramentos na escola. So Paulo: Parbola Editorial, 2012. 264p. Eliziane de Paula Silveira Barbosa

    40

    08 Produo de material didtico para o desenvolvimento da oralidade em lngua estrangeira no ensino a distncia Emanuele Coimbra Padilha

    42

    09 O conceito de reproduo interpretativa como uma alternativa metodolgica para pesquisas sobre desenhos infantis - Francine Borges Bordin e Denise Bussoletti

    49

    10 O curso de Letras pelos seus graduandos: uma leitura discursiva Francisco Vieira da Silva

    55

    11 O trabalho do tutor em Lngua Espanhola/LE na EAD Glauber Lima Moreira 62

    12 To prximo e to distante: um estudo comparado do ensino secundrio nas cidades de Pelotas e Rio Grande /RS (Dcadas de 1870 a 1910) Hardalla Santos do Valle e Giana Lange do Amaral

    67

    13 Refletindo sobre a noo de anfora nos quadros tericos da lingustica textual e da gramtica gerativa Hlder Sousa Santos

    77

    14 Perspectivas sobre a violncia escolar Jane Cleide V. B. Silva, Mayane Ferreira de Farias, Janaina Luciana de Medeiros e Mayara Ferreira de Farias

    89

    15 Educao globalizada e a diversidade cultural: uma reflexo ao termo multiculturalismo, significados e abordagens Joo Andr Tavares Fernandes

    93

    16 O poder transformador da leitura nas series iniciais Jose Fabio Moura da Silva, Mayane Ferreira de Farias, Janaina Luciana de Medeiros e Mayara Ferreira de Farias

    102

    17 Algumas consideraes sobre a teoria da estruturao: um dilogo possvel entre Giddens, Goffman e Simmel Leandro Haerter

    111

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    IDENTIDADE DE GNERO E FORMAO DE PROFESSORES DA REA DE

    LNGUAS: UM OLHAR CRTICO A PARTIR DA TEORIA DOS MULTILETRAMENTOS

    Andria Fernanda Orlando1 Aparecida de Jesus Ferreira2

    Resumo Neste artigo se objetiva discutir sobre identidade de gnero e formao crtica de professores da rea de lnguas com base na teoria dos multiletramentos. Utilizamos como aporte terico autores como Auad (2006; 2003), Hall (2002), Louro (2008; 2007), Cope e Kalantzis (2006), Rojo (2012). A metodologia empregada a bibliogrfica, pois busca trazer algumas reflexes acerca da temtica. Como resultados, tem-se que os multiletramentos permitem a formao de um cidado mais interativo e crtico, levando concluso de que os multiletramentos fazem do ensino de lnguas mais significativo porque possibilita que os aspectos sociais e culturais possam ser contextualizados. Palavras-chave: Identidade de gnero. Ensino. Teoria dos multiletramentos. Abstract This article aims to discuss gender identity and critical teacher education in the field of languages based on the theory of multiliteracies. We use as a theoretical framework authors such as Auad (2006, 2003), Hall (2002) Blonde (2008, 2007), Cope and Kalantzis (2006), Rojo (2012). The methodology is bibliographic because we will make some reflections about the theme. As a result, we found out that the multiliteracies allow the formation of a more interactive and critical citizen. We conclude that the multiliteracies make language learning more meaningful because it is possible to notice that teaching can be more contextualized with the social and cultural aspects. key-words: gender identity. Teaching. Multiliteracies theory. Introduo

    O ambiente escolar um reflexo da sociedade, logo nele se encontra uma variedade de indivduos com experincias e realidades especficas, de modo que compreender, aceitar e saber como lidar com esta diversidade fundamental para a construo de uma educao que se pretenda justa e democrtica. Com base nisso, este artigo busca propor algumas reflexes sobre a identidade de gnero em sala de aula de lngua portuguesa, por ser a escola uma instituio normalizadora da era moderna, em que as masculinidades e as feminilidades so construdas e lapidadas cotidianamente.

    A principal, e muitas vezes primeira, esfera social de estmulo criticidade e socializao

    da criana e do adolescente a escola, na qual se tem a responsabilidade de formar cidados, desnaturalizar e desconstruir diferenas de gnero, questionando as desigualdades a fim de se construir igualitariamente identidades de gnero, portanto, ela partilha dessa ideologia quando apresenta e institui sujeitos a partir de um modelo, modelo este que branco, masculino e heterossexual, sendo todos os demais que no se encaixam nesse padro, o outro, o inferior, o

    1 Mestranda do Programa de Ps-graduao Stricto Sensu em Letras da Universidade Estadual do Oeste do Paran/UNIOESTE 2 Doutora em Lingustica Aplicada. Professora do Programa de Ps-graduao em Letras da Universidade Estadual do Oeste do Paran e Professora do Programa de Ps-Graduao em Linguagem Identidade e Subjetividade da Universidade Estadual de Ponta Grossa

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    diferente. Seria este modo de olhar e tratar a questo que dissemina a desigualdade (CARRARA, 2009).

    Estigmatizar uma prtica que atinge diversos grupos da sociedade, aqueles marginalizados

    por questes culturais e histricas que os fazem serem vistos como inferiores aos demais grupos. Dentre os grupos marginalizados socialmente est o feminino, tendo em vista que, conforme Carrara (2009), h ainda socialmente certa hegemonia masculina, em que as mulheres no tm a mesma valorizao profissional ou a participao na vida pblica com metas preponderantes assim como os homens, por exemplo, dados do ano de 2007 revelam que enquanto a mdia de anos de estudo entre homens com mais de 15 anos era de 7,1, entre as mulheres a mdia passava para 7,4 e mesmo assim, sendo mais escolarizadas, a classe feminina continua recebendo no Brasil salrios mais baixos do que a classe masculina (SOUZA, 2011).

    Alm disso, tambm retratando uma realidade machista e patriarcal esto os dados

    divulgados no ltimo balano semestral do ano de 2012 pela Secretaria de Polticas para as Mulheres, foram registrados nos primeiros seis meses do ano passado, por meio do disque denncia (180), cerca de 400.000 atendimentos s mulheres, sendo que desse total aproximadamente 90% denunciaram algum tipo de violncia sofrida (fsica, moral, psicolgica, sexual e patrimonial), ou seja, mais de 2000 denncias de agresso foram feitas por dia isso sem levar em conta aquelas mulheres que sofrem caladas por medo ou em razo de proteger os filhos mantendo o casamento.

    Entendemos neste trabalho que as questes de gnero tm sido discutidas sobre

    homem/mulher, gays, lsbicas, travestis, transexuais e bissexuais, ou seja, abrange diversas categorizaes, no entanto aqui ser abordada apenas a identidade de gnero que envolve homem/mulher. Neste artigo responderemos a seguinte pergunta: Como as teorias dos novos letramentos e multiletramentos podem colaborar para o entendimento das questes de identidade de gnero no contexto de formao crtica de professores? Para responder a essa pergunta na primeira seo discutiremos sobre as concepes de identidade e gnero, traando um breve percurso histrico de estigmatizao feminina a partir de autores como Auad (2006), Gonalves e Pinto (2011), Hall (2002), Louro (2008), para, na segunda seo, pontuarmos as principais contribuies da teoria dos multiletramentos formao de professores com vistas questo da identidade de gnero, tendo como aporte terico, principalmente, Cope e Kalantzis (2006), Rocha (2010) e Rojo (2012). Por ltimo, faremos as nossas consideraes finais.

    Identidade de gnero: concepo e levantamento histrico de depreciao feminina

    Pensar a questo de gnero no contexto da ps-modernidade relevante por se tratar de um tema delicado, pertencente a um contexto marcado pelas crises identitrias e pelas reformulaes do que seriam os limites ou fronteiras identitrias (HALL, 2002) ou, ainda, por ser atravs do discurso que se obtm a primeira designao do que se perante o olhar do outro: uma menina ou um menino. Falamos em crises e fronteiras identitrias porque compreendemos que ns possumos vrias identidades, pois no podemos delimitar nosso ser a apenas uma identidade rgida e homognea, mas a diversas identidades que so construdas e reconstrudas a todo momento no contato com o social (HALL, 2002). A identidade, dessa maneira, multifacetada, uma vez que ela se transforma, ou se adqua, a cada situao em que o sujeito se coloque, isso a configura como algo que no fixo, nem permanente, mas sim formada e transformada continuamente em relao s situaes que so representadas ou interpeladas ao sujeito nos sistemas culturais (HALL, 2002). Por conseguinte, a identidade (re)construda na interao e pelo jogo de interesse, abrangendo questes ideolgicas que nos permeiam enquanto seres sociais.

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    As identidades, ento, envolvem relaes de poder em que as categorizaes mais

    privilegiadas socialmente devido a questes histricas e sociais, organizam e dividem hierarquicamente a sociedade entre ns e eles (WOODWARD, 2004). O sujeito ps-moderno assume identidades diferentes em momentos distintos e que no so unificadas em torno de um eu coerente, mas contraditrio. Essa contradio , muitas vezes, causada pela sociedade moderna, pela globalizao, pela competio e conflito entre as diferentes identidades, porque estes fatores causam um distanciamento entre o individuo, sua comunidade e sua cultura reforando a crise desse sujeito no mundo contemporneo (WOODWARD, 2004).

    Tambm nesse contexto ps-moderno, ainda perceptvel uma designao de ser mulher

    carregada de esteretipos provenientes de uma herana scio histrica, uma vez que, de Aristteles a Darwin, a mulher foi vista como uma verso incompleta do homem, um desvio, noes estas que serviram como fundamento da viso ocidental sobre diferena sexual: para o homem a fora fsica e a intelectual faziam parte de seu gene de controlador, para a mulher o direito de reproduzir a levava desvalorizao do poder feminino (CARRARA, 2009). A respeito disso, Nye (1995) complementa que, hoje, embora haja mulheres ocupando posies de poder na sociedade atualmente, a grande maioria ainda permanece em profisses mal pagas e subordinadas, atestando a resistncia do preconceito e a necessidade de sua desconstruo.

    Mas o que vem a ser gnero? Compreende-se, neste artigo, que gnero no o mesmo que

    sexo, pois enquanto este uma construo biolgica, que vem com fatores genticos, aquele pode ser entendido como um conjunto que corresponde aos significados, smbolos e atributos que, construdos histrica e socialmente, caracterizam e diferenciam, opondo, o feminino e o masculino (AUAD, 2003, p. 142). A autora (2003) assegura ainda que gnero pode ser utilizado para entender as relaes sociais entre os sujeitos, bem como as representaes sociais de masculino e feminino aplicado s instituies. Nessa perspectiva, a criana tem delimitado, ao nascer, se pertence ao sexo feminino ou ao masculino, contudo, ao ser submetida ao convvio social, o gnero vai sendo construdo podendo diferenciar-se do sexo, ou seja, ser do gnero masculino, feminino, homossexual, transexual, bissexual, etc. Logo, gnero no algo que se possui, mas que se faz e se desempenha por meio da linguagem (OSTERMANN; FONTANA, 2010).

    O conceito de gnero, desse modo, refere-se construo social do sexo anatmico,

    criado, ento, para distinguir a dimenso biolgica da dimenso social, havendo, portanto, machos e fmeas na espcie humana, no entanto, a maneira de ser homem e ser mulher realizada pela cultura (CARRARA, 2009). Portanto, no so as caractersticas sexuais que determinam o que feminino e o que masculino em uma dada sociedade e momento histrico, mas a maneira como essas caractersticas so representadas, o que socialmente se construiu sobre os sexos, ressaltando que no se trata de negar a biologia humana, mas de enfatizar a construo social e histrica realizada sobre as diferenas biolgicas de modo tal que se lance no campo do social a questo porque nele que so construdas e reproduzidas as relaes entre os sujeitos (LOURO, 2007).

    Gnero e ensino: contribuies da teoria dos novos letramentos

    O sistema de ensino tal qual como o conhecemos surgiu na Europa em meados do sculo XVIII, em que era permitido o acesso de meninas s escolas, exceto aos estudos mdio e superior, com a ressalva de que o ensino para elas seria diferenciado do dos homens. Para elas, o ensino era voltado para a aprendizagem de trabalhos domsticos, pois se defendia que elas no precisavam aprender, nem ter cultura porque isso as desviaria das funes de me e esposa. Ao final deste mesmo sculo, algumas mulheres pertencentes aristocracia alegavam a necessidade de instruir de melhor modo as meninas, j que elas seriam as educadoras das futuras famlias, em suma, pensavam mais no benefcio que os prximos homens da famlia teriam do que nas mulheres em si (AUAD, 2006).

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    No sculo seguinte, os primeiros movimentos de emancipao feminina em algumas

    regies europeias debatiam pela primeira vez a adoo da escola mista como um estmulo emancipao da mulher e ao desenvolvimento civil e econmico da sociedade. Assim, a escola mista ganhou espao nos sistemas pblicos de instruo dos pases democrticos ocidentais de todo o mundo (AUAD, 2006, p. 62), no entanto a percepo igualitria que caberia com a implantao desse sistema no foi alcanado plenamente at hoje, tendo como causa maior as diferentes especificidades religiosas e polticas dos pases. Em relao ao Brasil, no h material publicado suficiente sobre a questo, mesmo assim, pelos poucos registros, verifica-se que ele tambm no escapou da polmica causada entre escola mista e separada. Do perodo colonial ao rompimento com Portugal em 1822, o sistema social exclua as mulheres, privando-as do acesso educao escolar ou cultural, temendo que isso resultasse em desonra para as famlias. Nesse cenrio, uma nica instituio social permitia o aprendizado da leitura, da escrita e da msica pelas meninas: o convento (AUAD, 2006).

    Quando D. Joo VI e sua corte vieram ao Brasil, no sculo XIX, as mulheres obtiveram

    algumas oportunidades educacionais, sem ligao com a religio, por meio das reformas joaninas. Entretanto, essas classes eram pouco frequentadas em razo do forte preconceito das famlias acerca da instruo feminina, o fundamental a elas era se casar. Em 1827, props-se a criao de escolas pblicas de primeiras letras em que o magistrio deveria ser exercido apenas por mulheres, ficando a cargo masculino os nveis mais elevados de ensino. Louro (2007) explica que mulher eram destinadas as classes de primeiras letras pelo fato de este exigir doao, amor e cuidado s crianas aproximando o trabalho realizado por elas fora do lar s atividades em casa e que a representao do homem enquanto professor homem esteve ou esteja mais ligada autoridade e ao conhecimento, j a da professora mulher se relaciona mais ao cuidado e ao apoio "maternal" aos(s) alunos(as).

    Somente no perodo republicano que a autonomia feminina ganhou impulso sensibilizando

    diferentes setores sociais, conciliando valores tradicionais s novas oportunidades, como a conquista do voto em 1934. Com a Repblica, em especial nas escolas particulares, meninos e meninas foram liberados da tutela da educao catlica responsvel em grande parte pela diferenciao entre o feminino e o masculino. Tambm nesse perodo surgiu o movimento escolanovista, o qual props um projeto pedaggico baseado no ideal do ensino misto, leigo e gratuito com vistas universalidade dos direitos humanos, embora mantivesse ainda a percepo de proteo das mulheres em uma redoma de bom comportamento (AUAD, 2006).

    Com esse apanhado histrico, entendemos que da forma como foi implantada a escola

    mista no Brasil as representaes tradicionais sobre o feminino e o masculino no foram alteradas, utilizando dessas diferenas para organizar sua rotina at os dias atuais como por ser comprovado com um estudo recente dessa mesma autora (2006 ver tambm ORLANDO; FERREIRA, 2012) a qual revela que no intervalo, em uma escola de sries iniciais, os jogos barulhentos e agitados so propostos e realizados predominantemente pelos meninos, como o futebol, e outros mais discretos e limitados no espao so realizados por meninas, como pular elstico, geralmente brincado em trios, configurando uma demarcao do que masculino e do que feminino, em que se alude ao espao mais amplo, pblico, como territrio do homem, e do restrito, privado, mulher.

    Para pensar esses e outros esteretipos e que propomos uma reflexo sobre a prtica

    escolar a partir da teoria dos multiletramentos, em que o(a) aluno(a) deve ser transformado(a) nas aulas, no no sentido de mudar de classe social ou cultural, mas de lugar social, pois o seu modo de viver socialmente e de se inserir na cultura se tornam diferentes (SOARES, 2000). justamente desse ponto que partem os tericos da pedagogia dos novos letramentos, uma vez que o papel da pedagogia deve ser redimensionado na sociedade contempornea, na medida em que somente alcanar ser transformadora nesse novo contexto caso desenvolva uma epistemologia do pluralismo, que viabiliza acesso, sem que as pessoas precisem apagar ou deixar para trs suas

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    diferentes subjetividades (COPE; KALANTZIS, 2006, p. 18), isto , essa pedagogia, assim como esclarece Rocha (2010), procura redesenhar caminhos de preparar o aluno para agir protagonisticamente no mundo.

    com base nesses princpios que, em 1994, o centro de comunicao e cultura da

    Universidade de Queensland, na Austrlia, iniciou um projeto internacional com alguns tericos da pedagogia crtica em que se discutiu o futuro do letramento considerando a rpida mudana pela qual passa o mundo em questes tecnolgicas e da informao (COPE; KALANTZIS, 2006), propondo uma nova pedagogia: a dos multiletramentos. Pedagogia por caracterizar a escola como o espao responsvel pelos novos letramentos existentes na sociedade moderna e dos multiletramentos por incluir e considerar nos currculos as culturas presentes em sala de aula de um mundo globalizado e intolerante quanto convivncia com a diversidade, assim, com a multiculturalidade caracterstica das sociedades globalizadas e a multimodalidade dos textos por meio dos quais a multiculturalidade se comunica e informa, o grupo cunhou [...] um conceito novo: multiletramentos (ROJO, 2012, p. 13, grifo do autor).

    Segundo Cope e Kalantzis (2006), o objetivo do referido encontro foi reunir os

    questionamentos que conferem pedagogia dos novos letramentos status de base das diferentes experincias nacionais e culturais, focando, assim, um mundo em efervescente mudana, a qual perpassa a nossa vida em sociedade. O termo multiletramentos surgiu ento no intuito de englobar todas essas discusses referentes s novas pedagogias do letramento. Os novos estudos sobre o letramento no vieram apenas criar novas teorias, mas ressignificar as teorias anteriores, tidas como antigas e ultrapassadas, as quais consideravam o aluno como um mero receptor de contedos para, ento, ser visto como um ser pensante que j tem seus conhecimentos empricos sobre o mundo social, um sujeito que pode tambm ser agente da sociedade e na sociedade em que vive, sendo ele proprietrio de diferentes identidades que passeiam por contextos diferentes (STREET, 2003).

    O termo multiletramentos difere do conceito de letramentos por este se referir

    multiplicidade e variedade das prticas letradas da nossa sociedade e aquela fazer referncia tanto multiplicidade cultural quanto semitica de constituio dos textos (ROJO, 2012). Portanto, possibilitar reflexes como estas acreditar que, por meio da teoria dos multiletramentos, hoje preciso que os (as) alunos(as) sejam criadores e questionadores de sentidos, enfim, analistas crticos dos discursos e significaes seus e dos outros, alm de representar a defesa da igualdade e a explicitao das relaes de poder que hostilizam as mulheres discursivamente.

    Consideraes finais

    Gnero uma construo social que representa e reproduz relaes de poder, em que os papis e/ou funes atribudas a homens e mulheres variam dependendo da sociedade em que estes se inserem, assim a escola precisa estar ciente de que sua atuao no neutra, que recai sobre ela a responsabilidade de no contribuir para o aumento da discriminao e dos preconceitos contra as mulheres e contra todos aqueles que no correspondem a um ideal dominante (CARRARA, 2009). Considerando o que foi abordado por Carrara (2009) e o que foi discutido nas sees anteriores, respondemos a seguir a pergunta trazida no incio deste artigo Como as teorias dos novos letramentos e multiletramentos podem colaborar para o entendimento das questes de identidade de gnero no contexto de formao de professores?.

    O contexto atual em que se insere o ensino exige de ns, professores(as), (re)pensar sempre quais

    caminhos percorrer para garantir a aprendizagem de uma lngua de modo plural. A pedagogia dos novos letramentos e multiletramentos visam a tornar o ensino mais significativo para o aluno, aproximando a escola vida (ROJO, 2012; ROCHA, 2010). Nesse contexto, a prtica pedaggica no pode se restringir ao ponto puramente terico, deve, portanto, voltar-se tambm s desigualdades sociais, a problemas cotidianos de gnero, cultura, etc. (BORBA; ARAGO, 2009; FERREIRA; FERREIRA, 2011).

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    Para atuar nessa perspectiva, os(as) professores(as) tm de partir de uma viso sobre o espao das

    aulas de lnguas como um lugar de ressignificao, de reconstruo e de reflexo numa constncia permanente, sendo eles(as) imbudos de valores e princpios nas suas prprias aes para o bem-estar da sociedade, para tanto o(a) docente deve se dotar de uma postura crtica e reflexiva sobre a sua prpria formao, pois tais valores e princpios podem influenciar na formao do alunado de maneira significativa (BORBA; ARAGO, 2009), uma vez que parte das culturas de referncia do(a) aluno(a). Referncias AUAD, Daniela. Relaes de gnero na sala de aula: educar para a submisso ou para a transformao. In: ______. Feminismo: que histria essa? Rio de Janeiro: DP&A, 2003. Disponvel em: . Acesso em: 3 jul. 2007. ______. A co-educao como poltica pblica: a manuteno da escola mista com o advento da igualdade de gnero. Caderno Espao Feminino, v.16, n.19, Jul./Dez. 2006. BORBA, Marlia dos Santos; ARAGO, Rodrigo Camargo. Multiletramento e os novos desafios na formao do professor de ingls. In: Anais do I Congresso Nacional de Linguagens e Representaes: Linguagens e Leituras. UESC - Ilhes-BA. 2009. Disponvel em: .Acesso em: 15 de ago. de 2012. BRASIL. Secretaria de Polticas para as Mulheres. Balano semestral janeiro a junho de 2012. Braslia, 2012. CARRARA, Srgio. Gnero. In: BARRETO, Andreia; ARAJO, Leila; PEREIRA, Maria Elisabete (orgs). Gnero e diversidade na escola: formao de professoras/es em Gnero, Orientao Sexual e Relaes tnico-Raciais. Livro de contedo. Verso 2009. Rio de Janeiro : CEPESC; Braslia: SPM, 2009. p.39-106. COPE, Bill; KALANTZIS, Mary (orgs.). Multiliteracies: Literacy Learning and the Design of Social Futures. New York: Routledge, 2006. FLIX, Robson Gonalves; PALAFOX, Gabriel Humberto Munoz. Relaes de gnero na escola: s no v quem no quer. Disponvel em: . Acesso em: 12 de jun. de 2011. FERREIRA, Aparecida de Jesus; FERREIRA, Susana Aparecida. Raa/etnia, gnero e suas implicaes na construo das identidades sociais em sala de aula de lnguas. RevLet Revista Virtual de Letras, v. 3, 2011. p. 114-129. GONALVES, Eliane. PINTO, Joana Plaza. Reflexes e problemas da transmisso intergeracional no feminismo brasileiro. Cadernos Pagu (36), janeiro-junho de 2011: 25-46. HALL, Stuart. A identidade cultural na ps-modernidade. Trad. SILVA, Tomaz Tadeu da; LOURO, Guacira Lopes. 7. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. LOURO, Guacira Lopes. Gnero e sexualidade: pedagogias contemporneas. Pro-Posies. v. 19, n. 2 (56) - maio/ago. 2008. p. 17-23. ______. Gnero, sexualidade e educao: das afinidades polticas s tenses terico-metodolgicas. Educao em Revista. Belo Horizonte. V. 2. n. 46. dez. 2007. p. 201-218. MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Identidades fragmentadas: a construo discursiva de raa, gnero e sexualidade em sala de aula. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2002. NYE, Andrea. Teoria feminista e as filosofias do homem. Rio de Janeiro: Record/Rosa dos Tempos, 1995. ORLANDO, Andreia. Fernanda; FERREIRA, Aparecida de Jesus. SNEL - Diversidade de gnero: representaes do feminino e do masculino em materiais e prticas pedaggicas. In: Anais do I SNEL Seminrio Internacional de Estudos da Linguagem: Polticas Lingusticas: Dilogos, identidades e fronteiras, 2012, Cascavel. Cascavel: Unioeste, p. 1-13, 2012. OSTERMANN; Ana Cristina; FONTANA, Beatriz. Linguagem, gnero, sexualidade: uma introduo. In: _______ (orgs.). Linguagem, gnero, sexualidade: clssicos traduzidos. So Paulo: Parbola Editorial, 2010. p. 9-12. ROCHA, Cludia Hilsdorf. Propostas para o ingls no ensino fundamental I pblico: plurilinguismo, multiculturalidade e multiletramento. Campinas, 2010. 243f. Tese. Instituto de Estudos da Linguagem. Universidade Estadual de Campinas, So Paulo, 2010. SOARES, Magda. Letramento: um tema em trs gneros. Belo Horizonte: Autntica, 2000. SOUSA, Renata Maria Rodrigues Quirino de. Multiletramento em aulas de LI no ensino pblico: transposies e desafios. So Paulo, 2011. 192f. Tese. Programa de ps-graduao em Estudos Lingusticos e Literrios em Ingls. Universidade de So Paulo, So Paulo, 2011. STREET, Brian. What's "new" in New Literacy Studies? Critical approaches to literacy in theory and practice. Current Issues in Comparative Education, v.5, n.2, p.77-91. 2003. WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferena: uma introduo terica e conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Identidade & diferena. Petrpolis, RJ: Vozes, 2004.

    Enviado em 10/04/2013 e Avaliado em 10/06/2013

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    A IMPORTNCIA DO PLANEJAMENTO PARA SE PENSAR O TURISMO

    SUSTENTVEL: DISCUTINDO CONCEITOS E CONTEXTOS

    Aylana Laissa Medeiros Borges3 Gilmara Barros da Silva4

    Francisco Fransualdo de Azevedo5 Resumo Este artigo tem como objetivo discutir a importncia de um planejamento integrado para se pensar o turismo sustentvel. A metodologia utilizada foi pesquisa bibliogrfica com a consulta de livros e artigos de revistas indexadas, que deram suporte conceituao e discusso sobre desenvolvimento, crescimento, sustentabilidade, planejamento e turismo. Destaca-se importncia e a necessidade de planejar a expanso da atividade turstica de forma que haja articulao e participao de todos os atores envolvidos com a mesma. Conclui-se que relevante a criao de planos e polticas que direcionem essa expanso, a partir das dimenses econmica, social, cultural e ambiental. Palavras-chaves: Desenvolvimento. Crescimento. Sustentabilidade. Planejamento. Turismo. Abstract This article aims to discuss the importance of integrated planning to sustainable tourism. The utilized methodology was the bibliography search with the consultation of books and journals articles indexed, which supported the conceptualization and discussion on development, growth, sustainability, planning and tourism. Highlighting the importance and the need to plan the expansion of tourism so that there is coordination and participation of all actors involved. Concluding that it is important to create plans and policies that drive this expansion, from the economic, social, cultural and environmental dimensions. Keywords: Development. Growth. Sustainability. Planning. Tourism. Introduo

    O turismo um fenmeno social que se caracteriza pela interao e pela troca de experincias entre o turista e a comunidade do destino visitado. Mas, tambm uma atividade econmica que pode gerar benefcios como: emprego e renda, melhorias na infraestrutura bsica, dentre outros, para o destino. Nesse sentido, ressalta-se a necessidade de um planejamento no qual os atores (poder pblico e privado, terceiro setor e comunidade) que compem a atividade turstica estejam envolvidos no processo de planejamento e crescimento da mesma.

    pertinente destacar ainda, que o turismo tem o meio ambiente como o seu principal

    objeto de consumo e dele utiliza os recursos naturais necessrios para a prtica das suas atividades. Assim, a forma como sero utilizados os recursos naturais e a existncia ou no de um

    3 Mestranda em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Bacharel em Turismo pela UFRN. E-mail: [email protected]. 4 Mestranda em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Bacharel em Turismo pela UFRN. E-mail: [email protected]. 5 Doutor em Geografia pela Universidade Federal de Uberlndia. Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe. Bacharel em Cincias Econmicas e Licenciado em Geografia. Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected].

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]

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    planejamento ou gerenciamento desses, indicaro se os impactos a serem gerados pela atividade turstica sero em sua maioria positivos ou negativos em uma determinada localidade.

    Nesse contexto, este artigo teve como objetivo enaltecer a importncia do planejamento

    integrado para se pensar o turismo sustentvel. Trazendo a esta discusso definies e conceitos sobre desenvolvimento, crescimento, sustentabilidade e turismo, e destacando o planejamento como elemento importante para a sustentabilidade da atividade turstica. Para tanto, utilizou-se pesquisa bibliogrfica com a consulta de livros e artigos de revistas indexadas referentes temtica abordada.

    No decorrer desse artigo sero apresentados os seguintes tpicos: Desenvolvimento,

    crescimento e sustentabilidade: revisitando conceitos e contextos; Turismo: um breve histrico e contextualizao; e o tpico de discusso que trata sobre A importncia de um planejamento integrado para se pensar o turismo sustentvel, e em seguida sero apresentadas as consideraes finais e as referncias. Desenvolvimento, crescimento e sustentabilidade: revisitando conceitos e contextos

    Antes de se referir ao desenvolvimento, ao crescimento e a sustentabilidade na atividade turstica, destacando o uso do meio ambiente para este fim, faz-se necessrio apresentar um breve histrico em que esses elementos esto inseridos, a fim de compreender um processo que j vem de muito tempo.

    Desse modo, para entender o desenvolvimento preciso saber que anteriormente se

    utilizava o termo progresso como sendo as possveis mudanas ocorridas em um determinado perodo em um pas, estado ou outros, no que se refere ao crescimento econmico desse, por exemplo. Assim, levando em considerao a ideia de progresso, segundo Hegel (apud FURTADO, 1980, p. 2) esse foi o momento em que a humanidade assume o papel de sujeito. A humanidade passa a ser uma entidade que se reproduz segundo uma lgica que aponta na direo do progresso.

    Isso significa dizer que a humanidade passou a buscar por transformaes que a

    conduzissem a uma sociedade mais produtiva, tendo em vista o acumulo de capital e, por conseguinte seu crescimento econmico.

    Nesse contexto, segundo Furtado (1980, p.2) o progresso est inscrito no horizonte das

    possibilidades do homem, e o caminho para alcan-lo perceptvel com base no sentido comum. Entende-se, ento, que o progresso seria a possibilidade de utilizar as potencialidades dos homens em busca de mudanas que atingissem tanto a forma de organizao social (interao entre grupos) de uma sociedade quanto s estruturas sociais (posio dos indivduos dentro de um sistema) dessa.

    Assim, pertinente esclarecer que de acordo com Corra et al. (2009, p.7)

    O mito do progresso constitui na crena, hegemnica, de que o conhecimento cientfico e tecnolgico colocado a servio da transformao da natureza em benefcio da espcie humana resultava em um processo evolutivo, que levaria a humanidade a patamares cada vez mais elevados de satisfao das suas necessidades, pelo menos as de ordem material.

    Vale salientar que os autores consideram-no um mito, pois com o passar do tempo notou-

    se que o progresso, a partir do desenvolvimento cientfico e tecnolgico, poderia sim significar um avano para a humanidade, mas poderia causar tambm a sua destruio e das diferentes espcies existentes.

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    Alm disso, Furtado (1980, p. 9) apresenta tambm a tecnologia na reproduo da

    sociedade capitalista e, destaca que por trs do que chamamos de progresso tcnico enfileiram-se complexas modificaes sociais que devemos tentar compreender como passo preliminar em todo estudo do desenvolvimento. Ressalta-se, portanto, que esse progresso tcnico estaria relacionado s transformaes sociais que conduzem a acumulao de capital.

    J no que se refere ao desenvolvimento propriamente dito, destaca-se duas correntes que

    dividem as conceituaes mais usuais, referente palavra. Tm-se as conceituaes que identificam desenvolvimento como crescimento econmico e, as que distinguem desenvolvimento de crescimento. Neste caso, no primeiro conceito, desenvolvimento seria apenas outro nome dado ao crescimento econmico, enquanto que no segundo conceito, crescimento seria encarado como um processo quantitativo e, desenvolvimento seria, ento, um processo de expanso qualitativa (SINGER, 1976).

    Nota-se, com isso, que a palavra crescimento estaria relacionada ao crescimento em

    nmeros, ou seja, so dados quantificveis; ao passo que o desenvolvimento estaria ligado a questes de melhorias e/ou mudanas nos sistemas econmicos, ou ainda, de melhorias no bem-estar da populao e, no caso do turismo, melhoria da qualidade de vida da comunidade dos destinos tursticos (gerao de emprego e renda, melhoria das infraestruturas bsica e de apoio, por exemplo).

    Assim, tendo em vista uma melhor compreenso dos conceitos atribudos ao

    desenvolvimento e ao crescimento, tornou-se importante representar por meio de alguns dados secundrios a expanso do turismo nacional. Ou seja, tornou-se possvel relacionar tais conceitos a expanso do turismo como atividade social e econmica.

    Nesse sentido, ressalta-se primeiramente a existncia da Pesquisa Anual de Conjuntura

    Econmica do Turismo PACET que dentre seus objetivos est o de monitorar o desempenho da atividade turstica no pas, com base nas respostas das 80 maiores empresas do setor (NCLEO DE TURISMO, 2013).

    Vale destacar que a pesquisa foi realizada em nove segmentos do setor turstico, estando

    entre eles: as agncias de viagens, locadoras de automveis, meios de hospedagem, operadoras de turismo, transportes areo e rodovirio, e dentre outros, o turismo receptivo. De tal modo, por meio dessa pode-se identificar um aumento de 18,3%, a mais que no ano de 2010, no faturamento mdio das empresas do setor turstico, alm de uma ampliao de 5,7% em seu quadro de funcionrios, no ano de 2011; e a expectativa de cerca de 87% dos empresrios de estarem expandido seus negcios no ano de 2012 (MINISTRIO DO TURISMO, 2013).

    Nesse caso, a pesquisa revela que houve um crescimento mdio de faturamento das

    empresas do setor turstico no ano de 2011, mas tambm destaca a existncia de variaes mdias de crescimento de custo e preo para o consumidor. Com isso, possvel observar a existncia de pontos positivos e negativos para os que esto envolvidos com a atividade turstica.

    Relacionando, portanto, os dados anteriormente apresentados com os termos

    desenvolvimento e crescimento, nota-se que o crescimento estaria voltado para o aumento no faturamento das empresas do setor turstico, enquanto o desenvolvimento estaria atrelado possibilidade de gerao de emprego, podendo ser visto com o aumento do quadro de funcionrios das empresas e que se evidncia como sendo um processo qualitativo.

    Desse modo, com a revisitao e contextualizao dos conceitos de desenvolvimento e

    crescimento, torna-se pertinente discutir a sustentabilidade vinculada a estes processos, em uma sociedade. J que as transformaes sofridas pela sociedade e as consequncias dos impactos no

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    meio ambiente em virtude do crescimento da atividade turstica, passaram a ser repensada com o intuito de proporcionar as pessoas uma melhor qualidade de vida a partir da utilizao racional dos recursos naturais.

    De acordo com Corra et al. (2009, p. 7) a sustentabilidade vista como um atributo da

    atividade humana que leva em conta a sobrevivncia do planeta terra e das geraes futuras, no plano da produo de bens e servios com a utilizao dos conhecimentos cientficos e tecnolgicos, em vigor com a industrializao. Destaca-se que os autores ainda esclarecem que a sustentabilidade se contrape a noo de progresso e de uma economia regida pelo mercado.

    Entende-se que o progresso sem levar em considerao os impactos negativos possveis de

    serem gerados no meio ambiente e na sociedade, e a sustentabilidade, que leva em considerao o uso equilibrado dos recursos naturais tendo em vista sua manuteno e futura utilizao pelas prximas geraes, so dois extremos. Diante disso, preciso pensar em uma expanso turstica que considere e trabalhe a sustentabilidade em todas as dimenses (econmica, social, cultural e ambiental).

    Assim, considerando o contexto histrico dos acontecimentos e a busca constante pelo

    desenvolvimento ressalta-se que a preocupao com o meio ambiente deu-se na dcada de 70 quando foram iniciados os questionamentos sobre a possibilidade de haver esgotamento dos recursos naturais devido ao seu uso desordenado (DIAS, 2010). Vale salientar ainda que o desenvolvimento industrial da poca trouxe alguns impactos negativos ao meio ambiente, o que de certa forma acabou comprometendo a qualidade de vida das pessoas.

    Na dcada de 80 reflexes sobre as questes ambientais passaram a ser mais frequentes.

    Logo, foi criada a Comisso Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) que tinha por objetivo criar uma agenda global para a mudana; e divulgado o Relatrio Brundtland, documento que trata sobre um novo modelo de desenvolvimento, levando em considerao as questes ambientais e destacando a sustentabilidade como fator importante (DIAS, 2010).

    nesse contexto que surge a ideia de um desenvolvimento sustentvel, esse que segundo

    Dias (2008, p. 47) e como consta no Relatrio Bruntland (Nosso Futuro Comum-1987), procura estabelecer uma relao harmnica do homem com a natureza, como centro de um processo de desenvolvimento que deve satisfazer s necessidades e s aspiraes humanas.

    Nota-se que o desenvolvimento sustentvel pressupe que as mudanas aconteam de

    forma harmnica entre o homem e a natureza. Sendo assim, ao se utilizar os recursos naturais os homens devem realizar medidas compensatrias ou mesmo proporcionar um tempo considervel para a recuperao daquele ambiente ao qual se fez uso para a execuo de uma determinada atividade.

    J na dcada de 90 o meio ambiente tornou-se assunto - foco de conferncias, fruns e

    reunies. Nesse perodo, teve-se a realizao da Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), e foram assinados documentos como a Agenda 21, a Rio 92, e dentre outros, que buscavam, de um modo geral, discutir formas de desenvolvimento levando em considerao o uso equilibrado do meio ambiente (DIAS, 2008).

    Nesse contexto, em 1972, houve a Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente

    Humano, ocorrida em Estocolmo, que colocou em pauta a discusso sobre o meio ambiente (SACHS, 1986). Nessa conferncia, foram discutidos os problemas ambientais dos pases, bem como se discutiu a relao entre o desenvolvimento e o meio ambiente.

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    vlido salientar ainda que durante a preparao para conferncia de Estocolmo duas

    posies contrapostas foram assumidas, sendo que: a primeira posio estaria relacionada busca pelo crescimento econmico a qualquer custo, ou seja, sem se preocupar com as consequncias presentes e futuras trazidas ao meio ambiente e a sociedade, enquanto que a segunda posio estaria relacionada s consequncias e aos impactos negativos trazidos para a sociedade, de um modo geral, em virtude do uso exagerado e desequilibrado dos recursos naturais (SACHS, 1986).

    No final do sculo XX teve-se uma maior preocupao com o desenvolvimento

    sustentvel, assim como com a criao de medidas ambientais a serem aplicadas em empresas e indstrias com o objetivo de minimizar os impactos negativos ocasionados pelas suas atividades. Tambm nesse perodo teve-se o crescimento do nmero das Organizaes No Governamentais ONGs, essas que tinham o intuito de informar a sociedade sobre as questes envolvendo o meio ambiente diante do modelo de desenvolvimento vigente na poca (DIAS, 2010).

    Percebe-se que ao se considerar o uso dos recursos naturais e a preocupao em mant-los

    em bom estado para as geraes futuras, que se pensa o desenvolvimento sustentvel. Dias (2008) destaca que para alguns, alcanar o desenvolvimento sustentvel alcanar o

    crescimento econmico (utilizando de forma racional dos recursos naturais, bem como das tecnologias mais eficientes e menos poluentes). E que para outros, o desenvolvimento sustentvel antes de tudo um projeto social e poltico cujo objetivo diminuir a pobreza, elevar a qualidade de vida e satisfazer s necessidades bsicas da humanidade com o intuito de obter o desenvolvimento harmnico da sociedade com o meio ambiente.

    Ainda nesse sentido, segundo Cardoso Jr. (2009, p. 117), o desenvolvimento sustentvel

    entendido como um processo de desenvolvimento que no promove a exausto dos recursos naturais, comprometendo o futuro. Entende-se que para haver tal desenvolvimento as relaes entre a sociedade e a natureza devem ser observadas e melhor trabalhadas. Ou seja, importante que as dimenses (econmica, social, cultural e ambiental) que compem uma sociedade sejam consideradas durante o processo de implantao de qualquer atividade, a fim de que essa seja sustentvel.

    Em sntese, o desenvolvimento tem que ser global, o que significa dizer que se deve ter um

    desenvolvimento e crescimento sustentado, ou seja, ao longo do tempo; que inclua a sociedade; que possua uma poltica moderna e que seja ambientalmente sustentvel (CARDOSO JR., 2009).

    V-se, portanto, que ao se pensar no desenvolvimento e no crescimento turstico preciso

    considerar as dimenses (econmico, social, cultural, ambiental) que sero afetadas e/ou prejudicadas em virtude do no planejamento das atividades. Logo, isso revela a importncia do planejamento no processo de expanso da atividade turstica e mostra a necessidade do envolvimento e/ou interao das esferas (poder pblico, poder privado, terceiro setor - ONGs, comunidade, e outros) que compem a atividade para que essa considere e priorize a sustentabilidade.

    Sendo assim, antes de discutir sobre a importncia do planejamento para se pensar o

    turismo sustentvel, no tpico a seguir ser apresentado o contexto histrico do turismo, relatando acontecimentos que marcaram o incio das viagens. Turismo: um breve histrico e contextualizao

    O contexto histrico ao qual o turismo se insere, inclui a existncia e a realizao de viagens na Antiguidade, Idade Mdia, Idade Moderna, dentre outros. Assim, as viagens realizadas na antiguidade tinham por motivao o comrcio (troca e venda de produtos), a busca pela sade

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    (tratamentos para vrios tipos de enfermidades em fontes termais), a prtica de esportes e/ou a inteno em prestigia-los (jogos olmpicos e outros.), dentre outras razes. Diante disso, destaca-se que foi no perodo da Idade Mdia que as pessoas comearam a deslocar-se com mais segurana e quando os nobres comearam a encaminhar seus filhos para estudar em diferentes lugares (IGNARRA, 2003).

    Em se tratando da Idade Moderna, tinha-se a concepo de que a realizao de grandes

    viagens para diferentes lugares eram necessrias aos filhos homens dos nobres burgueses e comerciantes, pois por meio dessas era possvel se adquirir conhecimento sobre diferentes culturas. Assim sendo, o Grand Tour, como ficaram conhecidas essas viagens passaram a ser realizadas com o propsito educacional, ou seja, visava proporcionar conhecimentos sobre governo, cultura, histria, dentre outros, costumes de lugares diferentes do seu entorno habitual, preparando assim os homens para serem membros da classe dominante da poca (BARBOSA, 2002).

    J na Idade Contempornea, as viagens deixaram de ser restritas aos nobres e burgueses,

    em sua maioria, pois classes sociais diferenciadas tambm passaram a viajar, fato que ocorreu devido ao aumento no tempo livre (frias) das pessoas e em virtude de melhorias na condio financeira dessas (CAMPOS; SANTANA; LUZ, 2008).

    Com a organizao do trabalho e o direito as frias as pessoas comearam a utilizar seu

    tempo livre para realizar viagens, seja para visitar parentes, a lazer, ou outros. Ainda neste perodo, Badar (2008, p. 26) afirma que

    Com a Revoluo Industrial e a formao da classe mdia, que ento dispunham de melhores salrios, cresceu o interesse por atividades de lazer. Logicamente, devido alta procura surgiu uma massificao do turismo gerando preos acessveis para que a classe mdia pudesse viajar.

    Assim, comea-se a investir no turismo de massa (nmero significativo de pessoas se deslocando de um lugar para outro) e mais tarde, considerando os impactos desse tipo de turismo nos destinos, passa-se a haver uma preocupao com a sustentabilidade da atividade turstica.

    Nesse sentido, considerando o contexto histrico que se inclui as viagens possvel

    perceber que essas e, por conseguinte, o turismo com o passar dos tempos foi se moldando como uma atividade social e econmica. Pois, alm de envolver o contato e interao do turista/visitante com a comunidade do destino turstico, trouxe benefcios econmicos a esse, tais como: emprego e renda, melhorias nas infraestruturas, investimentos em empreendimentos tursticos, dentre outros.

    Dessa forma, segundo a Organizao Mundial do Turismo (OMT, 2001, p. 28) o turismo

    compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um perodo consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negcios ou outras.

    Nota-se que o turismo alm de pressupor o movimento de pessoas do seu lugar de origem

    a um destino a ser visitado, tambm inclui o tempo em que essas pessoas permaneceram no destino a motivao a qual realizam a viagem e, por conseguinte a utilizao de infraestruturas e servios nas destinaes. Vale destacar que a essas pessoas se atribui o termo turista, como sendo os consumidores da atividade turstica.

    Atualmente, cada vez mais, as pessoas praticam o turismo, e em virtude desse fato, que se

    faz necessrio o planejamento da atividade turstica visando sua sustentabilidade no somente econmica, mas tambm social, cultural, e ambiental nos destinos tursticos. Bem como, a participao dos vrios atores (poder pblico, iniciativa privada, terceiro setor e comunidade)

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    envolvidos com a atividade. Desse modo, a seguir ser apresentado o tpico de discusso desse artigo. A importncia de um planejamento integrado para se pensar o turismo sustentvel

    O turismo como atividade social e econmica capaz de modificar a vida das pessoas, de gerar impactos positivos e negativos tanto ao meio ambiente quanto nas relaes sociais, necessita de um planejamento integrado. Hall (2001) destaca que por meio do planejamento possvel minimizar impactos negativos, maximizar retornos econmicos e, assim, estimular uma resposta positiva por parte da comunidade local com relao ao turismo no longo prazo. Desse modo, beneficiando a todos os envolvidos com a atividade turstica.

    Dias (2008) ressalta que o planejamento consiste em orientar aes e atividades no

    presente, visando um determinado resultado no futuro. E esse planejamento ainda possui certa abrangncia j que pode ser desenvolvido em uma perspectiva nacional, regional e local por meio da elaborao de planos.

    Nesse sentido, tem-se como exemplo a existncia do Programa de Desenvolvimento do

    Turismo PRODETUR/NE que visa o desenvolvimento socioeconmico, cultural e ambiental da rea costeira do Estado do Rio Grande do Norte, bem como o Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentvel PDTIS/RN que focaliza investimentos nos municpios que compem o Polo Costa das Dunas (BANCO DO NORDESTE DO BRASIL, 2013).

    Nota-se que importante se ter um planejamento para que a atividade turstica possa se

    desenvolver de forma sustentvel, pois ao se planejar estar-se- tomando decises e definindo aes possveis de serem realizadas em determinado local, bem como executando atividades que so prioridade naquele momento.

    A partir do planejamento que surgem os planos. Esses que descrevem as atividades a

    serem realizadas em uma localidade; apresentam o tempo estimado para execuo dessas; e que ainda as coloca em uma hierarquia de prioridades. pertinente saber que na atividade turstica tem-se o Plano de Desenvolvimento Turstico, que segundo a OMT (2001, p. 175)

    muito utilizado quando faz referncia ao planejamento turstico. Em geral traduz-se num plano estratgico que integra todos os aspectos do desenvolvimento turstico incluindo os recursos humanos, o meio ambiente e os aspectos socioculturais. Este plano parte de uma determinao geral ao mais especfico com diferentes nveis de detalhamento.

    Percebe-se que o Plano de Desenvolvimento Turstico apresenta as atividades que sero

    desenvolvidas, as metas, estratgias e outros, levando em considerao as pessoas que podem vir a trabalhar com o turismo, as belezas naturais locais, a cultura e a forma como se organiza e se relaciona a comunidade residente do destino turstico.

    Diante do exposto, entende-se que a atividade turstica por envolver as dimenses social,

    econmica, cultural e ambiental, deve ser planejada, orientada e articulada visando relao sustentvel dessas dimenses, para que seja possvel obter resultados positivos. O planejamento do turismo segundo Molina (2005, p. 46)

    um processo racional cujo objetivo maior consiste em assegurar o crescimento e o desenvolvimento turstico. Esse processo implica vincular os aspectos relacionados com a oferta, a demanda e, em suma, todos os subsistemas tursticos, em concordncia com as orientaes dos demais setores de um pas.

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    possvel perceber que o planejamento do turismo, assim como o planejamento de outras atividades, pressupe a execuo de algumas aes em um determinado local e tempo. Desse modo, o planejamento do turismo deve ser integrado e considerar e respeitar as dimenses social, econmica, cultural e ambiental fazendo com que a atividade turstica seja sustentvel.

    Alm da criao de planos para o desenvolvimento do turismo, tenso em vista sua

    sustentabilidade, faz-se necessria criao e implantao de polticas pblicas de turismo. Essas que de acordo com Dye (1992, p.2 apud HALL, 2001, p. 26) podem ser entendidas como tudo o que o governo decide ou no fazer. Nesse sentido, cabe ao governo criar e implantar polticas pblicas que proporcionem a expanso da atividade turstica considerando e enaltecendo a sustentabilidade em todas as dimenses.

    Dessa forma, entende-se que as polticas pblicas de turismo so as aes determinadas

    pelo governo nas suas varias instncias (federal, estadual, municipal e regional) para a expanso do turismo em um determinado destino. Tais aes esto dispostas em um plano Plano Nacional do Turismo, onde alm das metas, objetivos, estratgias, dentre outros, deve-se dar ateno s vrias dimenses e setores que se relacionam com o turismo, visando assim sustentabilidade.

    No que se refere relao existente entre o turismo e o meio ambiente (dimenso

    ambiental), percebe-se que essa indissocivel, pois o turismo necessita dos recursos naturais para desenvolver suas atividades. Devendo assim, ser planejado para que utilize os recursos naturais com parcimnia.

    Nessa perspectiva, segundo Dias (2008, p. 21) o impacto do turismo no meio ambiente

    inevitvel. Nota-se que essa questo da existncia de impactos negativos se deve a procura pela constante e desenfreada produo industrial capitalista da contemporaneidade que acaba por alienar o trabalhador em funo de uma busca por progresso. Alienao essa que de acordo com Oliveira (2009, p. 78) destri as bases do ser humano naquilo que ele como protagonista, agente, sujeito, tornando menos sustentveis as inter-relaes ao longo do tempo entre ele enquanto ser e o ambiente.

    O que acontece, o uso desequilibrado do meio ambiente em funo de um crescimento a

    qualquer custo, haja vista a pretenso que se tem de desenvolver e implantar atividades que gerem benefcios meramente econmicos para um determinado destino.

    Assim, deve-se estar ciente que a sustentabilidade segundo Irving et al. (2005, p. 3)

    consequncia da responsabilidade de todos os segmentos nele envolvidos, embora seja evidente e necessrio o papel de liderana dos governos neste processo. Isso significa dizer que, para alcanar a sustentabilidade importante que os atores (governos, empresas, comunidades, dentre outros) envolvidos no processo trabalhem de forma conjunta, ou seja, com a inteno de atingir a um mesmo objetivo a expanso do turismo de forma sustentvel.

    Nesse sentido, percebe-se que o planejamento do turismo, tendo em vista a

    sustentabilidade em todas as dimenses importante para que a atividade turstica seja harmoniosa e equilibrada em todos os sentidos, ou seja, com equilbrio na utilizao dos recursos naturais, equilbrio nos benefcios sociais e econmicos, e com respeito s diferentes culturas dos destinos com potencial para a implantao da atividade. Consideraes finais

    importante considerar que neste estudo foi possvel tecer algumas consideraes sobre a ideia de desenvolvimento, crescimento, progresso, sustentabilidade e desenvolvimento sustentvel.

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    Tambm foi possvel conhecer brevemente o contexto histrico ao qual se insere o turismo e explanar a importncia do seu planejamento de forma integrada e sustentvel.

    Notou-se que o termo desenvolvimento relacionado ao processo turstico traz a ideia da

    busca por melhorias nos sistemas que regem uma determinada localidade, ou ainda, melhorias na qualidade de vida das pessoas que ali residem. Logo, a expanso do turismo a partir de um planejamento pensado de forma integrada, ou seja, levando em considerao os aspectos sociais, culturais, ambientais e econmicos de uma localidade podem beneficiar a todos os envolvidos com prtica da atividade.

    Sendo assim, a realizao desta pesquisa proporcionou ainda mais conhecimento s

    pesquisadoras acerca de desenvolvimento e da busca pela sustentabilidade da atividade turstica. Tendo proporcionado tambm o entendimento da importncia de um planejamento considerando as dimenses com as quais o turismo se relaciona, bem como a necessidade do envolvendo dos atores (poder pblico e privado, terceiro setor e comunidade) no processo de planejamento e na tomada das decises. Referncias BADAR, Rui Aurlio de Lacerda. Direito internacional do turismo: o papel das organizaes internacionais no turismo. So Paulo: SENAC, 2008. Disponvel em: . Acesso em: 07 mai. 2012. BARBOSA, Ycarim Melgao. Histria das viagens e do turismo. So Paulo: Aleph, 2002. BRASIL, BANCO DO NORDESTE DO. PRODETUR - I/NE. Disponvel em: . Acesso em: 20 fev. 2013. BRASIL, MINISTRIO DO TURISMO. Crescimento e otimismo no setor turstico. Disponvel em: . Acesso em: 21 jan. 2013. CAMPOS, Ariane de; SANTANA, Dyane dos Santos; LUZ, Viviane. Turismo em unidades de conservao: propostas para o Parque Estadual do Monge Lapa/ PR. 2008. Monografia apresentada ao Curso de Turismo das Faculdades Integradas Santa Cruz de Curitiba. Disponvel em: . Acesso em: 07 mai. 2012. CARDOSO JR., Jos Celso. (Org.). Desafios ao Desenvolvimento Brasileiro: contribuies do conselho de orientao do Ipea. Braslia: Ipea, 2009. CORRA, Maria Laetitia; PIMENTA, Solange Maria; ARNDT, Jorge Renato Lacerda. Racionalidades e mitos no contexto do turismo, sustentabilidade e meio ambiente. In: CORRA, Maria Laetitia; PIMENTA, Solange Maria; ARNDT, Jorge Renato Lacerda. (Org.). Turismo, Sustentabilidade e Meio Ambiente: contradies e convergncias. Belo Horizonte: Autntica, 2009. DIAS, Reinaldo. Gesto Ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. So Paulo: Atlas, 2010. _____. Turismo Sustentvel e Meio Ambiente. So Paulo: Atlas, 2008. FURTADO, C. Pequena introduo ao desenvolvimento: enfoque interdisciplinar. So Paulo: Ed. Nacional, 1980. HALL, C. M. Planejamento Turstico: polticas, processos e relacionamentos. So Paulo: Contexto, 2001.

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    http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php?journal=caderno&page=article&op=view&path%5b%5d=98&path%5b%5d=93http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php?journal=caderno&page=article&op=view&path%5b%5d=98&path%5b%5d=93http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php?journal=caderno&page=article&op=view&path%5b%5d=98&path%5b%5d=93http://app.ebape.fgv.br/academico/asp/dsp_pe_tur_pesquisa.asp

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    PESQUISA EM EDUCAO: REFLEXES SOBRE FORMAO DE EDUCADORES

    Dbora Ferrari Martinez6 Resumo O presente artigo debate questes sobre pesquisa em educao, especialmente sobre a formao docente no Brasil. Tais temas foram problematizados em uma disciplina de Ps-Graduao em Educao da UFSC. Salienta-se a importncia das reflexes acerca da cincia no campo educacional, bem como a postura do pesquisador frente ao objeto de pesquisa. O estado da arte considerado fundamental no entendimento de um problema de pesquisa, quando se apresenta uma experincia prtica desenvolvida na disciplina. No que diz respeito formao docente, ressalta-se a importncia do pesquisador definir o que entende como formao ao longo de sua pesquisa. Palavras-chave: pesquisa em educao, estado da arte, formao docente Resumen Este artculo aborda los problemas de la investigacin en la educacin, especialmente en la formacin de profesores en Brasil. Estas cuestiones fueron problematizadas en una disciplina de Postgrado en Educacin de la UFSC. Destaca la importancia de las reflexiones sobre la ciencia en el campo educativo, as como la postura del investigador en contra del objeto de la investigacin, cuando se presenta una experiencia prctica desarrollada en la disciplina. Con respecto a la formacin del profesorado, destaca la importancia de definir el investigador que sabe cmo entrenar a travs de su bsqueda. Palavras-Clave: investigacin em la educacin; estadode la arte; formacin de profesores O campo de pesquisa em educao: algumas reflexes necessrias

    Na disciplina Seminrio de Dissertao7, ministrada pelos professores Eliane Debus e

    Juares Thiesen, no segundo semestre de 2012, foi proposto um debate a respeito do campo da pesquisa em educao, especialmente quanto ao tema formao de educadores. As atividades propostas, assim como os dilogos entre professores e alunos, suscitaram uma srie de reflexes que se tornam importantes na construo de uma pesquisa em educao, no caso especfico a construo de dissertao.

    A educao tem sido compreendida como um campo de pesquisa que se articula com

    outras reas do conhecimento e tem possibilitado a utilizao das mais variadas matrizes tericas e metodolgicas ao longo dos ltimos anos. Contudo, tal pluralismo que, possibilita contrapontos importantes, estabelece um claro risco que assumimos ao tratarmos com elementos epistemolgicos, polticos e metodolgicos durante a construo de uma pesquisa. O debate pode se esvaziar frente a tantos elementos complexos e no apresentar a coerncia necessria a um processo que necessariamente deve passar pelo rigor do pesquisador.

    Um primeiro elemento que deve ser destacado como necessrio para as escolhas que o/a pesquisador/a far ao longo de seu trabalho tentar compreender que lugar ele/ela ocupa no

    6 Dbora Ferrari Martinez mestranda em Educao pela Universidade Federal de Santa Catarina, na linha de pesquisa Ensino e Formao de Educadores. Tambm professora efetiva da rea Anos Iniciais, do Colgio de Aplicao da UFSC. 7 Disciplina obrigatria do mestrado na linha de pesquisa Ensino e Formao de Educadores no Programa de Ps-Graduao em Educao da UFSC.

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    campo da educao. No falamos apenas daqueles que esto diariamente trabalhando como professores, mas daqueles que se propem a pensar o processo educativo: de onde falam, para quem falam e como falam. A forma como construmos a pesquisa passa tambm pelo conjunto de posies que j assimilamos em experincias acadmicas e profissionais vividas anteriormente. Tal reflexo permite que possamos buscar referenciais que suportem ou que contraponham aquilo que pensamos, especialmente no que se refere ao que entendemos como cincia. Trata-se de nosso posicionamento poltico frente ao objeto de pesquisa, que vai permeando todo o texto e amarrando, linha a linha, a coerncia.

    Os debates sobre o carter da cincia no campo da pesquisa em educao necessitam serem revisitados pelo/a pesquisador/a para determinar as possibilidades de sua pesquisa. Quando, por exemplo, reconhecemos a existncia de um pluralismo epistemolgico e metodolgico , estamos caminhando por uma direo onde a cincia no neutra e as escolhas dos referenciais epistemolgicos, ideolgicos e polticos orientam as abordagens da pesquisa. Nessa perspectiva, a relao do pesquisador com seu objeto est muito mais no sentido de entender a complexidade dos fenmenos da educao, do que encontrar uma verdade nica que responda s suas questes iniciais.

    Para Severino8, o pluralismo epistemolgico, no significa ecletismo. O autor prope ao pesquisador em educao trs atitudes dialgicas na construo da pesquisa: recorte a partir de um contexto problematizador, dilogo com a comunidade acadmica e mergulho na cultura humana.

    O pluralismo deve ser explorado em sua riqueza, analisando cuidadosamente os diversos pontos de vista a respeito do campo do conhecimento abordado e, ao longo da pesquisa, delimitando territrios para que as concluses apresentadas tenham clareza e coerncia com o restante do processo. Isso passa, portanto, pelo estudo ampliado das referncias atuais em educao e uma compreenso profunda do objeto de pesquisa para que possam encontrar-se ao longo do texto do pesquisador.

    Estar imerso no contexto problematizador, como prope Severino, nos permite alcanar um elemento importante da pesquisa em educao que a relevncia social. Em uma inteno de pesquisa que permite a relao entre os aspectos polticos, sociais e cientficos, especialmente no que se refere ao contexto scio-histrico em que nos encontramos, h maior possibilidade de legitimar os debates e contrapontos apresentados.

    Severino segue colocando que

    no basta fornecer um certo domnio de tcnicas de pesquisa, preciso toda uma imerso num universo terico e conceitual, onde se encontrem coordenadas epistemolgicas, polticas e antropolgicas de toda discusso relevante e crtica da rea. Trata-se de gerar uma proposta provocadora de reflexo e de pesquisa, mediante um processo contnuo de problematizao das temticas, em permanente interao com a produo acumulada da rea. (p. 12)

    Na tentativa de apontar um elemento do processo de pesquisa que colabore na discusso proposta por Severino, temos os estudos chamados estado da arte que vem sendo desenvolvidos por diversos pesquisadores no Brasil a fim de compreender os aportes significativos para cada rea, auxiliando, assim, na delimitao dos problemas de pesquisa. As principais fontes para a construo de um estado da arte de qualquer tema so eventos, teses, dissertaes, revistas e peridicos e banco

    8 SEVERINO, Antnio Joaquim. Premissas e desafios da pesquisa na ps-graduao em educao: da

    relevncia social ao cuidado epistemolgico. Feusp. Disponvel em:

    http://www.uninove.br/PDFs/Mestrados/Educa%C3%A7%C3%A3o/eventos/CONFER%C3%8ANCIA.

    pdf >. Acessado em:15 de dezembro de 2012.

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    de dados em geral que permitam a visualizao dos referenciais utilizados pelos pesquisadores. Os estudos de estado da arte tm permitido que o pesquisador elabore suas categorias de trabalho conforme a temtica e os substratos tericos mais adequados quele objeto de pesquisa.

    Uma pesquisa que tenha relevncia em seu contexto demanda uma anlise do estado da arte do seu problema de pesquisa. O objeto de pesquisa pode ser especfico de uma realidade ou mais amplo, mas ambos necessitaro desse dilogo que tornara o trabalho mais coerente com sua realidade scio-histrica.

    O exerccio da pesquisa em bancos de dados: as revistas sobre educao no Brasil

    Para um exerccio deste tipo de estudo, tivemos a oportunidade de entrar em contato com as principais revistas brasileiras indexadas da rea da Educao, atravs de uma atividade de pesquisa que buscava fazer o levantamento/mapeamento de artigos que pudessem contribuir com nosso tema de pesquisa.

    A atividade partiu do levantamento feito em aula, por professores e alunos, de quais revistas seriam mapeadas. Chegamos ao nmero de doze revistas, a sua maioria vinculada s principais Universidades ou Programas de Ps-Graduao em Educao no contexto brasileiro atual. Cada aluno ficou responsvel pela pesquisa em uma destas revistas, no perodo de 2000 a 2012, tendo como foco de anlise os resumos dos artigos. Para facilitar a visualizao dos temas de pesquisa a serem mapeados, construmos uma tabela onde cada um inseriu algumas palavras-chave para orientar o colega em suas leituras dos resumos. Na mesma tabela, devamos inserir as referncias da revista como titulo do artigo, data de publicao e autor.

    O fato de cada aluno aprofundar-se em uma revista possibilitou uma viso mais profunda sobre os temas tratados, suas abordagens, bem como as interlocues da educao com outras reas do conhecimento. Aqui apresentamos o resultado da pesquisa em uma dessas revistas.

    A Revista de Educao Brasileira9 uma publicao quadrimestral da ANPEd (Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Educao), voltada divulgao da produo cientfica, fomentando e facilitando seu intercmbio no mbito nacional e internacional. Sua publicao quadrimestral e dividida em sees como editorial, artigos, entrevista, depoimentos, resenhas, notas de leitura. O corpo editorial formado por um editor, seis integrantes da comisso editorial, um secretrio de redao e um coordenador editorial.

    Quanto s temticas desenvolvidas na revista podemos apontar que em grande maioria os artigos visam debater o campo educacional brasileiro de uma forma ampla, articulando-se com autores internacionais, especialmente Portugal. O debate sobre o campo educacional em outros pases fortalecido atravs da traduo de artigos em lngua estrangeira ou mesmo a publicao em espanhol. Alm disso, observa-se um debate terico sobre autores relevantes ao campo educacional brasileiro. A publicao de debates dos grupos de trabalho da ANPEd (GTs) tambm aparece como uma publicao relevante rea da educao. Na seo documentos, existem cartas comunidade e s autoridades, documentos que remontam a histria da ANPEd, ou que se referem a eventos, como Frum Mundial de Educao

    De uma maneira bastante inicial, dado o pouco tempo para uma anlise mais profunda, consideramos alguns aspectos relevantes para pensarmos o processo de pesquisa. O primeiro deles seria apontar a relevncia de conhecermos o posicionamento poltico, metodolgico e epistemolgico das fontes nas quais buscamos aprofundar o estado da arte de um determinado

    9 Os dados aqui apresentados foram levantados a partir da pesquisa nos sites http://www.anped.org.br/rbe/rbe/rbe.htm e http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1413-2478&lng=pt&nrm=iso%22 em outubro de 2012.

    http://www.anped.org.br/rbe/rbe/rbe.htmhttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1413-2478&lng=pt&nrm=iso%22http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1413-2478&lng=pt&nrm=iso%22

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    tema. Na revista em questo, percebe-se que o fato de ser vinculada a uma associao de pesquisadores configura seus artigos de forma a trazer informaes mais gerais e menos especificas de cada problema. O vis terico se sobrepe discusso da prtica e encontramos um dilogo permanente com a realidade educacional brasileira. A presena de autores estrangeiros tambm um ponto que explicita qual a posio da revista a respeito do dilogo com outras realidades.

    Contudo, quando analisamos revistas e artigos temos que reconhecer o quanto, atualmente, elas so influenciadas pelos elementos reguladores e programas governamentais. Especialmente os critrios da CAPES (Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior) que estabelecem o Qualis orientam as revistas quanto a periodicidade, presena de autores estrangeiros e indexao em bases de dados internacionais10.

    Outro ponto a ser considerado no decorrer de um estudo de estado da arte em revistas se trata da especificidade do problema. Como o campo da educao tem mltiplas interfaces, podemos encontrar temas relevantes em revistas de reas como Psicologia, Lingstica, Sociologia e nas reas onde temos formao de professores (licenciaturas). Em nossas pesquisas durante o semestre alguns temas de pesquisa revelaram um debate escasso em revistas de educao. Por outro lado, percebia-se a presena de artigos relevantes em revistas de outros segmentos.

    Por fim, salientamos a importncia para uma pesquisa como essa a disponibilidade dos artigos em banco de dados organizados e que permitam o acesso aos resumos para tornar mais rpida e efetiva a pesquisa. Quanto mais organizado o banco de dados mais dados precisos o pesquisador consegue retirar dali para o seu trabalho. A falta de resumos, de indicaes por data ou de acesso ao trabalho completo so elementos que dificultam o processo.

    Caminhos de um/uma pesquisador/a: formao de professores

    No caso da formao de educadores, tema central dos debates nesta linha de pesquisa, podemos utilizar os estudos de alguns autores a respeito do estado da arte deste campo temtico como problematizador das pesquisas propostas. Primeiramente, interessante destacar o que se entende como formao de professores. Brzezinski e Garrido11, ao analisarem a produo acadmica no GT Formao de Professores da ANPEd, entendem que cinco descritores poderiam explicitar os tipos de trabalho que hoje encontramos sobre o tema: formao inicial de professores, formao continuada, prticas pedaggicas, profissionalizao docente e reviso de literatura. As autoras observam um maior debate acerca dos dois primeiros pontos. As discusses sobre as modalidades de cursos de formao inicial e continuada, seus currculos e prticas apontam para uma crtica aos cursos massivos e rpidos, assim como os que no valorizam os saberes dos professores:

    Atividades articuladoras entre teoria e prtica passaram a integrar vrios programas de estgio supervisionado e de metodologia da prtica de ensino adquirindo diferentes nuances conceituais. (...) Em face do que analisamos nos trabalhos, possvel concluir que eles oferecem perspectivas par uma nova concepo de formao do profissional da educao. As relaes entre referenciais tericos e prtica neles expressas permitiram constatar que o saber articula-se ao saber fazer e saber ser. (Brzezinski e Garrido,1998, p. 85-86)

    10 Dados retirados de documentos que tratam dos Critrios Qualis por rea, no site http://qualis.capes.gov.br/webqualis/publico/documentosDeArea.seam . Acesso em 17 de dezembro de 2012. 11 BRZEZINSKI, Iris e GARRIDO, Elza. Anlise dos trabalhos do GT Formao de Professores: 1992

    1998. In: Revista de Educao Brasileira. Nmero 18, set./Out./Nov./Dez. 1998, p. 82 100.

    http://qualis.capes.gov.br/webqualis/publico/documentosDeArea.seam

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    Deste modo, a prtica de sala de aula tambm passou a ser entendida como um processo

    de formao do professor, onde sua interao com os alunos promove desafios que permitem o aperfeioamento de sua ao pedaggica.

    Laffin12 traz dados mais recentes, localizados no estado de Santa Catarina a respeito dos mesmos descritores apontados anteriormente. Os bancos de dados utilizados foram de teses e dissertaes elaboradas em cursos de ps-graduao deste estado, envolvendo as reas de educao, cultura, sade pblica, cincias da linguagem e engenharia de produo. Suas anlises apontam para uma preocupao para temas como saberes constitutivos da docncia, condies de trabalho, atendimento s diferenas e diversidade cultural, papel da tecnologia e da informtica na formao docente. Para autora, o professor aparece na maioria dos trabalhos analisados como sujeito da construo da teoria pedaggica. Percebeu-se tambm uma grande necessidade de maior fundamentao nos estudos a respeito de formao continuada.

    Tais breves referncias de dois estudos no campo da formao de professores, nos permitem observar o quo amplo pode ser o processo de formao docente. As interfaces e possibilidades de debate surgem de vrios tipos de objetos de pesquisa e, ao longo do tempo, foram adquirindo perspectivas terico-metodolgicas diversas. Deve ficar claro qual a perspectiva de formao pretende-se assumir ao longo da pesquisa. Os descritores utilizados pelas autoras citadas so possveis orientaes para esclarecer o que entendemos por formao e de que forma a atividade docente pode ser estudada atravs da pesquisa. A delimitao proposta por elas nos permite buscar referenciais adequados ao trabalho e conduzir o debate. No se trata de um engessamento, at porque tais temas se cruzam ao longo do texto, mas de uma orientao terica que fundamenta as concepes que temos a respeito do tema.

    Alm disso, o entendimento que temos respeito do papel do professor no processo pedaggico uma concepo que atravessa um trabalho, discutidos atravs da categoria de saberes docentes. A postura do professor frente s teorias pedaggicas, aos programas e projetos de formao e a prtica de sala de aula pode ser compreendida a partir de vrias perspectivas. Podemos citar aqui uma abordagem positivista, no considera saberes e existncia do professor e concentra-se no mtodo; uma viso crtica em uma abordagem do materialismo histrico-dialtico, buscando compreender a historicidade do processo e uma concepo dialtica da realidade natural e social ou ento uma abordagem ps-moderna, que identifica modos e possibilidades de construo do ser professor, buscando, sobretudo, a processualidade. Inclusive metodologia de pesquisa demonstra uma concepo a respeito do sujeito professor em processo de formao docente. Nossas concepes podem ser confirmadas atravs da pesquisa ou contrapontos podem ser encontrados na anlise do problema.

    A partir das reflexes colocadas nesse texto, buscamos dar um panorama breve do processo de pesquisa a respeito de formao de professores, partindo da experincia na disciplina j citada. Atividade necessria, no sentido de fundamentar a relao entre teoria e objeto de pesquisa, bem como contribuir com as demandas da formao docente que encontramos atualmente. Ao ampliarmos o debate a esse respeito, consideramos a possibilidade de trazer consistncia e coerncia terica aos complexos temas vinculados formao de professores no Brasil.

    12 LAFFIN, Maria Hermnia. Perspectivas terico-metodolgicas dos estudos sobre a formao inicial

    e continuada de professores em Santa Catarina. In: LAFFIN, Maria Hermnia, RAUPP, Marilene,

    DURLI, Zenilde (orgs.). Professores para escola catarinense: contribuies tericas e processos de formao.

    Florianopolis, Editora da UFSC, 2005, p. 139 a 164

  • Revista Querubim revista eletrnica de trabalhos cientficos nas reas de Letras, Cincias Humanas e Cincias Sociais Ano 09 N20 2013 ISSN 1809-3264

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    Referncias Bibliogrficas BREZINSKI, Iris e GARRIDO, Elza. Anlise dos trabalhos do GT Formao de Professores: 1992 1998. In: Revista de Educao Brasileira. Nmero 18, set./Out./Nov./Dez. 1998, p. 82 100. LAFFIN, Maria Hermnia. Perspectivas terico-metodolgicas dos estudos sobre a formao inicial e continuada de professores em Santa Catarina. In: LAFFIN, Maria Hermnia, RAUPP, Marilene, DURLI, Zenilde (orgs.). Professores para escola catarinense: contribuies tericas e processos de formao. Florianopolis, Editora da UFSC, 2005, p. 139 a 164. SEVERINO, Antnio Joaquim. Premissas e desafios da pesquisa na ps-graduao em educao: da relevncia social ao cuidado epistemolgico. Feusp.Disponvel em: http://www.uninove.br/PDFs/Mestrados/Educa%C3%A7%C3%A3o/eventos/CONFER%C3%8ANCIA.pdf >. Acessado em:15 de dezembro de 2012. Enviado em 10/04/2013 Avaliado em 10/06/2013

  • Revista Querubim revista eletrnica de trabalhos cientficos nas reas de Letras, Cincias Humanas e Cincias Sociais Ano 09 N20 2013 ISSN 1809-3264

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    ALGUMAS CONSIDERAES ACERCA DO TEXTO, SUA EXPANSO E

    DOMNIO EM LINGUSTICA TEXTUAL

    Ederson Henrique de Souza Machado13 Resumo O presente trabalho debrua-se sobre os principais aspectos da Lingustica Textual, buscando apresentar alguns dos seus conceitos chaves relacionados ao estudo do texto. perceptvel que o desenvolvimento terico da disciplina contribui para a compreenso do texto no apenas em suas caractersticas formais, mas na interface dos fenmenos contextuais, isto , em meio s dinmicas sociais, culturais e cognitivas. Portanto, a Lingustica Textual abre um dilogo com as demais disciplinas das cincias humanas no que tange ao tratamento dos fenmenos textuais. Palavras-chaves: Texto, Lingustica Textual e Linguagem Abstract The present work focuses on the main aspects of the Textual Linguistic, aiming to present some of its key concepts related to the texts study. It is perceivable that the theoretical development of this subject contributes to the comprehension of text, not only in its formal features, but into the interface of the contextual phenomena, this means, among the social, cultural and cognitive dynamics. Therefore, the Textual Linguistic opens a dialogue with other subjects of human sciences related to the treatment of textual phenomena. Keywords: Text, Textual Linguistic and Language Introduo

    Os fenmenos textuais ingressam essencialmente no mbito epistemolgico das cincias humanas na constituio de seus aspectos tericos e metodolgicos. Apresentamos neste artigo algumas consideraes sobre a concepo de texto, e seu domnio dentro do escopo terico da Lingustica Textual. Percebe-se, para tanto, que a compreenso de texto e estende-se, a partir de contribuies de carter pragmtico e cognitivo, de um campo estritamente lingustico