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INTERNATIONAL JOURNAL ON WORKING CONDITIONS ISSN 2182-9535 Publicação editada pela RICOT (Rede de Investigação sobre Condições de Trabalho) Instituto de Sociologia da Universidade do Porto Publication edited by RICOT (Working Conditions Research Network) Institute of Sociology, University of Porto http://ricot.com.pt Avaliação ergonômica em uma empresa produtora de plantas ornamentais no Brasil Vanessa Marques Camargo, Paula Karina Hembecker, Inês Alessandra Xavier Lima, Antônio Renato Pereira Moro, Leila Amaral Gontijo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, E-mail: [email protected]. Ergonomic assessment in a producer of ornamental plants in Brazil Abstract: The present study is an ergonomic assessment in a company that produces and commercializes ornamental plants which is located in Brazil. The company headquarters and two producing units were analyzed. Thirteen workers participated in the study that acted in the role of general services. The analysis of the activities involved in gathering information at the time of the effective exercise of work and direct observations. The evaluation of postural load was carried out based on the Rapid Entire Body Assessment (REBA) protocol. According to biomechanical analysis, the application of the method resulted in medium risk, REBA scores between 4 to 7, to development of musculoskeletal injuries in most activities performed. It was possible to identify movements and postures that offer to employees’ health risks with a possibility to modify the work situation, including the layout and organization of work. The recommendations proposed will be implemented and validated in conjunction with the workers. It is intended that the improvements generated by the ergonomic intervention contribute to the reduction of human costs in the work. Keywords: ergonomics, workload, agriculture, ornamental plants. Resumo: O presente estudo trata de uma avaliação ergonômica do trabalho em uma empresa de produção e comercialização de plantas ornamentais localizada no Brasil. Foram analisadas a matriz da empresa e duas unidades produtoras. Participaram do estudo treze trabalhadores que atuavam na função de serviços gerais. A análise das atividades implicou na coleta de informações no momento do exercício efetivo do trabalho e de observações diretas. A avaliação da carga postural foi realizada com base no protocolo do método Rapid Entire Body Assessment (REBA). De acordo com a análise biomecânica, a aplicação do método REBA resultou em risco médio, escores entre 4 a 7, para o desenvolvimento de lesões musculoesqueléticas na maioria das atividades executadas. Foi possível identificar posturas e movimentos que oferecem riscos à saúde dos funcionários com vistas à modificar a situação de trabalho, incluindo o layout e a organização do trabalho. As recomendações propostas serão implementadas e validadas em conjunto com os trabalhadores. Pretende-se que as melhorias geradas pela intervenção ergonômica contribuam para a redução dos custos humanos no trabalho. Palavras-chave: ergonomia, carga de trabalho, agricultura, plantas ornamentais.

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INTERNATIONAL JOURNAL ON WORKING CONDITIONS

ISSN 2182-9535

Publicação editada pela RICOT (Rede de Investigação sobre Condições de Trabalho) Instituto de Sociologia da Universidade do Porto Publication edited by RICOT (Working Conditions Research Network) Institute of Sociology, University of Porto

http://ricot.com.pt

Publicação editada pela RICOT (Rede de Investigação sobre Condições de Trabalho) Instituto de Sociologia da Universidade do Porto

Publication edited by RICOT (Working Conditions Research Network) Institute of Sociology, University of Porto

http://ricot.com.pt

Avaliação ergonômica em uma empresa produtora de plantas ornamentais no Brasil

Vanessa Marques Camargo, Paula Karina Hembecker, Inês Alessandra Xavier Lima, Antônio Renato Pereira Moro, Leila Amaral Gontijo

Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, E-mail: [email protected].

Ergonomic assessment in a producer of ornamental plants in Brazil

Abstract: The present study is an ergonomic assessment in a company that produces and commercializes ornamental plants which is located in Brazil. The company headquarters and two producing units were analyzed. Thirteen workers participated in the study that acted in the role of general services. The analysis of the activities involved in gathering information at the time of the effective exercise of work and direct observations. The evaluation of postural load was carried out based on the Rapid Entire Body Assessment (REBA) protocol. According to biomechanical analysis,

the application of the method resulted in medium risk, REBA scores between 4 to 7, to development of musculoskeletal injuries in most activities performed. It was possible to identify movements and postures that offer to employees’ health risks with a possibility to modify the work situation, including the layout and organization of work. The recommendations proposed will be implemented and validated in conjunction with the workers. It is intended that the improvements generated by the ergonomic intervention contribute to the reduction of human costs in the work. Keywords: ergonomics, workload, agriculture, ornamental plants.

Resumo: O presente estudo trata de uma avaliação ergonômica do trabalho em uma empresa de produção e comercialização de plantas ornamentais localizada no Brasil. Foram analisadas a matriz da empresa e duas unidades produtoras. Participaram do estudo treze trabalhadores que atuavam na função de serviços gerais. A análise das atividades implicou na coleta de informações no momento do exercício efetivo do trabalho e de observações diretas. A avaliação da carga postural foi realizada com base no protocolo do método Rapid Entire Body Assessment (REBA). De acordo com a análise biomecânica, a aplicação do método REBA resultou em risco médio, escores entre 4 a 7, para o desenvolvimento de lesões musculoesqueléticas na maioria das atividades executadas. Foi possível identificar posturas e movimentos que oferecem riscos à saúde dos funcionários com vistas à modificar a situação de trabalho, incluindo o layout e a organização do trabalho. As recomendações propostas serão implementadas e validadas em conjunto com os trabalhadores. Pretende-se que as melhorias geradas pela intervenção ergonômica contribuam para a redução dos custos humanos no trabalho. Palavras-chave: ergonomia, carga de trabalho, agricultura, plantas ornamentais.

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1. Introdução O setor agrícola é frequentemente considerado como um dos mais perigosos quando

comparado com outros setores industriais. A ampla variedade de fatores de risco e de

problemas de saúde prevalentes no trabalho agrícola indicam a complexidade da prática e

do ambiente ocupacional (Chisholm, Bottoms, Dwyer, Lines & Whyte, 1992; ILO, 2011).

Estima-se que 1.3 bilhão de trabalhadores dependam da agricultura e que cerca de 500

milhões destes estejam empregados em plantações. A força de trabalho brasileira é

estimada em 96 milhões, dos quais 14.5% são ocupados na agricultura, 22.6% na

indústria e 62.9% no setor de serviços (ILO, 2015). No Brasil, o setor agrícola

desempenha um papel importante no desempenho econômico e contribui para a balança

comercial. Em 2013, as exportações totalizaram mais de US$ 86 bilhões, sendo

responsável por 36% do total. Nesse período, as exportações agrícolas compensaram o

déficit de outros setores (FAO, 2015).

As plantas ornamentais são cultivadas em todo o mundo, a demanda se dá

principalmente em razão de serem muito utilizadas na arquitetura de ambientes interiores

e no paisagismo de espaços externos. A floricultura comercial, entendida como a

atividade profissional e empresarial de produção, comércio e de distribuição de flores e

plantas cultivadas com finalidade ornamental, representa um dos mais promissores

segmentos do agronegócio brasileiro contemporâneo. Enquanto a atividade rural

geralmente está vinculada a produtos para atender às necessidades básicas e

fisiológicas, o mercado de flores e plantas ornamentais se desenvolve num contexto

relacionado ao bem-estar (Smorigo, 1999; Junqueira & Peetz, 2013).

É uma alternativa técnica viável economicamente para a geração de emprego e

renda no Brasil, onde clima e os solos de todas as regiões são apropriados para o cultivo

das espécies comercializadas nos principais mercados. O processo de produção

apresenta diferenças em função das condições climáticas, do solo e a das espécies

cultivadas. O cultivo é realizado com técnicas apropriadas para atender ao padrão de

qualidade do mercado (Tombolato & Costa, 1998). Tem como característica marcante a

possibilidade de retorno econômico a curto prazo em pequenas áreas, sendo uma

atividade típica da agricultura familiar. Apresenta grande impacto econômico-social como

geradora de postos de trabalho, superando a marca de 10 empregos/ha, o que contribui

para a fixação do homem no campo e para a ocupação de áreas com aptidão agrícola em

torno das grandes cidades (Rooijen & Gedaken, 2012).

Contudo, as taxas de acidentes de trabalho entre os agricultores são altas

(Rautiainen et al, 2008). O trabalho na agricultura é uma das principais causas de

doenças profissionais incluindo distúrbios osteomusculares, doenças respiratórias, perdas

auditivas e doenças relacionadas com exposição à agrotóxicos e à produtos químicos

(Villarejo & Baron, 1999; Kirkhorn & Schenker, 2002). Distúrbios osteomusculares são as

lesões mais frequentemente relacionadas com atividades que exigem consideráveis

cargas físicas dos trabalhadores agrícolas (Gallagher, 2005; Kirkhorn, Earle-Richardson &

Banks, 2010). Especificamente no cultivo de mudas e produtos hortículas, Meyers e

colaboradores (1997) identificaram que as lesões mais prevalentes foram entorese e

distensões com 48,9% do total, acima da proporção do setor agricultura como um todo.

Lesões na região da coluna vertebral são um problema reconhecidamente significativo

tanto sob a perspectiva de incidência quanto de custos.

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As condições de trabalho têm múltiplas incidências sobre a vida social e profissional

dos trabalhadores, que podem ser diretas ou decorrentes de efeitos intermediários. Muitos

acontecimentos ligados ou não às condições de trabalho têm consequências a longo

prazo para os trabalhadores, dentre elas, sequelas de um acidente de trabalho e doenças

ocupacionais crônicas ou incapacitantes (Guérin, Laville, Daniellou & Duraffourg, 2001).

No entanto, são escassas as evidências científicas que consideram a aplicação da

ergonomia na melhoria das condições de trabalho nos sistemas de produção agrícolas

(Meyers, Miles, Faucett, Janowitz, Tejeda & Kabashima, 1997). A aplicação da ergonomia

no setor agrícola e recente quando comparada com outros setores da economia, grande

parte dos estudos é focada na indústria e poucos concentram-se na agricultura de

pequena escala (Jafry & O’Neill, 2000). Ao considerar que a maioria da população nos

países em desenvolvimento vive ou trabalha em áreas agrícolas, maior atenção deve ser

dirigida para esse setor (Fathallah, 2010).

Existe um campo em ascensão de pesquisas no âmbito da ergonomia na agricultura,

que dispõem de grande potencial de contribuição tanto na concepção de produtos quanto

nos sistemas de trabalho. Cerf e Sagory (2007) sustentam que as demandas dirigidas aos

ergonomistas estão relacionadas em torno de três grandes finalidades: a busca de

melhoria das condições e/ou da organização do trabalho, o auxílio na compreensão das

consequências da introdução de novas técnicas de produção e a concepção de futura

organização do trabalho ou de novas edificações.

Desde a sua origem, a ergonomia é orientada para a adaptação do trabalho ao

homem e pretende associar a saúde dos trabalhadores e a eficácia do trabalho. A eficácia

da intervenção ergonômica consiste em gerar resultados positivos nas situações de

trabalho para se tornarem mais apropriado para os trabalhadores que neles operam

(Daniellou, 2007; Montmollin e Darses, 2011). Todavia, a proposta de ações só é possível

mediante a compreensão das atividades e das pressões que pesam sobre os agricultores.

Leva em consideração a atividade do trabalhador numa situação que não se limita ao

posto de trabalho, mas considera o conjunto das condições de trabalho (Cerf & Sagory,

2007).

As condições de trabalho insatisfatórias causam altos índices de erros, incidentes,

acidentes, doenças, redução da motivação e de produtividade, absenteísmo, retrabalho e

diminuição da qualidade de vida (Iida, 2005; Kroemer & Grandjean, 2005). A ergonomia

contribui decisivamente para que os trabalhadores agrícolas tenham condições

satisfatoriamente adequadas para executar as atividades. Doenças musculoesqueléticas

relacionadas ao trabalho podem ser reduzidas se os postos de trabalho forem projetados

com ênfase no conforto e na segurança (Eklund, 1997; Silverstein & Clark, 2004).

Nesse contexto, a demanda inicial desse estudo teve origem na solicitação da

equipe médica responsável pela saúde ocupacional de uma empresa produtora de plantas

ornamentais, em decorrência das frequentes queixas de desconforto musculoesquelético

em membros superiores e na região lombar de trabalhadores que atuam na função de

serviços gerais. Os pesquisadores optaram pela aplicação do método da Análise

Ergonômica do Trabalho por considerarem como prioritária a identificação e análise dos

principais fatores de risco biomecânicos com objetivo de propor ações de melhorias para

minimizar os riscos para a saúde desses trabalhadores.

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2. Materiais e Métodos

A presente pesquisa, de natureza aplicada e de caráter exploratório-descritivo,

utilizou a metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) para a compreensão das

atividades realizadas pelos trabalhadores que exercem função de serviços gerais em uma

empresa produtora de plantas ornamentais localizada. A AET constitui-se em um conjunto

estruturado de análises sistêmica e integrada dos determinantes da atividade de trabalho

de pessoas em uma organização (Guérin, Laville, Daniellou & Duraffourg, 2001). Os

pesquisadores basearam-se na análise da atividade de trabalho, ou seja, na compreensão

da natureza dos problemas da forma como são tratados pelos operadores.

O ergonomista busca identificar a rede das exigências e de constrangimentos que

envolvem o trabalho dos operadores a partir de uma perspectiva global. A constituição

dos problemas a tratar é um componente permanente de toda atividade de trabalho

(Wisner, 1995). A exploração pelo ergonomista da distância entre o trabalho prescrito e o

real o leva a contribuir na concepção ou reconcepção dos meios de trabalho em

referência à dinâmica global e ao contexto global no qual se inserem (Daniellou, 2007).

2.1 Local do estudo

A empresa estudada atua na produção e comercialização de plantas ornamentais há

vinte e cinco anos e está localizada na região sul do Brasil. O perfil econômico da região

centra-se na produção agrícola familiar, destacando-se a fruticultura e a produção de

plantas ornamentais.

A matriz está instalada em uma área de 9.000m2 com galpão de plantio, viveiro e

terminal de cargas. As duas unidades produtoras analisadas possuem, respectivamente,

184.000 e 17.000m2. Trabalham na empresa um total de quarenta e um funcionários nas

funções de aplicador de inseticida, motorista, serviços gerais, operador de empilhadeira,

arrancador de plantas e tratorista.

2.2 Coleta e tratamento dos dados

Treze trabalhadores que atuam na função de serviços gerais participaram do

estudo, entre eles, cinco mulheres e oito homens. Todos possuíam, pelo menos, um ano

de experiência na função analisada. As avaliações foram realizadas durante o mês de

julho de 2015.

Durante os primeiros contatos com os trabalhadores, os pesquisadores realizaram

observações livre e assistemáticas das situações de trabalho em sua globalidade. Nessa

fase, procurou-se compreender o processo técnico, as tarefas incumbidas aos operadores

e as estratégias adotadas por eles. Essa fase de observação permite aos pesquisadores

a elaboração de uma representação partilhada com os trabalhadores sobre a situação de

trabalho, em concordância com os critérios especificados na demanda (Montmollin &

Darses, 2011).

A partir das hipóteses formuladas no pré-diagnóstico optou-se por focalizar as

observações e estabelecer um plano de observação. Tal fase de coleta de dados foi

realizada em duas etapas: (1) entrevistas semi-estruturadas com os trabalhadores sobre o

desempenho das tarefas, dificuldades operacionais e a percepção de desconforto

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musculoesquelético; (2) avaliação biomecânica do trabalho manual nos postos

selecionados pelos pesquisadores.

A avaliação da carga postural foi realizada com base no protocolo do método Rapid

Entire Body Assessment (REBA), proposto por Hignett e McAtamney (2000). É um dos

métodos mais comumente aplicados em estudos de avaliação de postura em ergonomia

(Hermawati, Lawson & Sutarto, 2014). Foram registrados os movimentos e as amplitudes

de seis segmentos corporais (tronco, coluna cervical, membros inferiores, ombros,

cotovelos e punhos) nas diversas etapas das atividades. Para a obtenção do escore final,

também foram levados em consideração a força utilizada e a repetitividade do movimento.

A análise biomecânica constituiu-se na coleta de informações no momento do

exercício efetivo do trabalho e de observações diretas. Cada trabalhador foi filmado por

curtos períodos de 10 a 15 minutos de forma aleatória. As atividades foram analisadas e

registradas a partir dos planos sagital e posterior e os segmentos de vídeo foram

revisados e avaliados por dois pesquisadores treinados. Tal abordagem permitiu uma

identificação mais precisa dos fatores de risco estudados.

3. Apresentação dos Resultados

3.1 Caracterização das situações de trabalho

A jornada de trabalho dos trabalhadores na função de serviços gerais é de oito horas

diárias, quarenta e quatro horas semanais, com intervalos de uma hora para descanso e

alimentação. Entre as tarefas prescritas para os trabalhadores constam: poda, plantação,

adubação, roça e limpeza das áreas plantadas, carregamento e descarregamento de

plantas e de mercadorias, acondicionamento, controle e organização dos vasos de

plantas no viveiro.

A configuração dos postos de trabalho permite que as atividades sejam realizadas

tanto na posição ortostática quanto sentada. Quanto ao mobiliário, bancadas de trabalho

móveis (1,20 x 2,00m) com alturas da superfície de trabalho variando entre 0,77 e 0,97

metros em relação ao piso e bancadas fixas em madeira (1,10 x 2,80 x 0,80m) são

utilizadas durante o plantio de mudas em vasos. Bancos em madeira (0,20 x 0,26m) são

utilizados para apoio durante as pausas e nas atividades de extração de vegetação não

cultivada (mato e ervas-daninhas) (Figura 1).

Ferramentas manuais como facão e tesoura de poda são utilizadas nos postos de

trabalho. Dispositivos para auxílio nas atividades de manuseio e transporte de cargas

como carrinhos de mão, empilhadeira hidráulica manual, paletizadoras e carrinhos tipo

plataforma são disponibilizados para os trabalhadores (figura 1). Devido à dificuldade de

encontrar no mercado ferramentas e equipamentos apropriados às atividades

desenvolvidas, os próprios trabalhadores realizam adaptações e ajustes conforme a

necessidade e, por muitas vezes, a saúde e a segurança dos agricultores é colocada em

risco. Tal condição, também, foi identificada em estudo realizado em uma propriedade

agrícola familiar de produção orgânica de frutas (Gemma, Abrahão & Sznelwar, 2004). O

risco de acidentes no setor agrícola é aumentado devido à fadiga, uso de ferramentas

inadequadas, plantações em terrenos irregulares e exposição às condições

meteorológicas extremas (ILO, 2011).

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Figura 1. Materiais, ferramentas e equipamentos utilizados pelos trabalhadores no

desempenho das atividades agrícolas analisadas.

Embora a análise das atividades seja a principal ferramenta do ergonomista,

conforme a situação a ser avaliada, pode ser necessário a análise das ambiências físicas

para complementar a análise ergonômica (Millanvoye, 2007). Os níveis de iluminação

mensurados nos postos de trabalho estavam adequados à natureza das atividades. Os

níveis de ruído encontravam-se abaixo do limite de tolerância e do nível de ação definidos

pela legislação vigente no Brasil, ou seja, inferior a 80 dB(A). Algumas atividades

relacionadas ao plantio, ao cultivo e à extração de vegetação não cultivada (ervas

daninhas) são realizadas a céu aberto e os trabalhadores permanecem expostos à

radiação não ionizante (sol). A empresa fornece chapéus de palha, bonés e protetor solar

para os funcionários.

3.2 Análise biomecânica e da carga postural

Os trabalhadores agrícolas envolvidos em regimes intensos de trabalho são

expostos a uma multiplicidade de fatores de risco para o desenvolvimento de doenças

musculoesqueléticas que afetam a região de tronco, as extremidades superiores e

inferiores. A natureza manual do trabalho agrícola resulta, principalmente, em entorses,

distensões e lesões na coluna vertebral e em membros superiores (Osorio et al., 1998;

Villarejo & Baron, 1999). Elevação e transporte de cargas acima de 23 quilogramas,

postura sustentada ou repetida de flexão anterior de corpo inteiro e trabalho manual

altamente repetitivos são os principais fatores de risco evidenciados na literatura (Meyers

et al., 2001; Fathallah, 2010).

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A organização das observações sistemáticas da presente pesquisa se deu em

função das hipóteses que guiaram a análise e das limitações das situações de trabalho

específicas. Foram objeto de análise as seguintes atividades: plantação das mudas em

vasos; extração manual da vegetação não cultivada (ervas daninhas); preparação das

plantas ornamentais e transplante dessas plantas em vasos; movimentação e organização

dos vasos nas estufas e viveiros (Figura 2).

As regiões articulares dos ombros e da coluna lombar foram apontadas como

regiões de maior desconforto pelos trabalhadores. A avaliação biomecânica das principais

atividades de trabalho permitiu identificar os gestos e posturas adotadas pelos

trabalhadores que atuam na função de serviços gerais, bem como os esforços físicos

envolvidos.

Alguns movimentos específicos que podem representar risco de sobrecarga

biomecânica foram identificados pelos pesquisadores. Movimentos de flexão anterior em

grandes amplitudes combinados com rotação e inclinação de tronco foram identificados.

Durante o processo de extração de ervas daninhas os agricultores modificam

frequentemente as posturas entre curvada anteriormente (com joelhos estendidos e flexão

completa do tronco), agachada (flexão completa de joelhos e tronco semi-flexionado) e

ajoelhada (joelhos flexionados posicionados no chão e tronco semi-flexionado). Tal

processo resultou em ângulos de flexão de tronco acima de 40 quando realizado na

posição sentada e em ângulos acima de 60 em postura em pé inclinada.

Figura 2. Visualização das principais atividades realizadas pelos trabalhadores avaliados.

Conforme relatado pelos trabalhadores, a estratégia de alternância postural é

adotada para obtenção de alívio do desconforto ocasionado pelos esforços musculares

estáticos em diversas regiões do corpo, principalmente durante atividades que requerem

que a execução seja realizada próxima ao nível do solo durante longos períodos de

tempo. Posturas de flexão anterior de tronco são relacionadas com disfunções lombares,

existindo associação entre o aumento da amplitude de flexão com o nível de desconforto,

assim como movimentos de lateralização e de rotação quando repetidos podem se

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constituir em fator de risco para a coluna (Chaffin, Anderson & Martin, 1991; Bernard,

1997).

O ritmo de trabalho não é imposto aos trabalhadores e o tempo de ciclo padrão varia

conforme a diversidade de plantas produzidas. O planejamento das atividades e a

realização de pausas são determinados pelos trabalhadores. O rodízio de atividades

ocorre informalmente entre as equipes de trabalhadores alocadas na matriz e nas

unidades produtoras.

De acordo com a análise da carga postural realizada mediante aplicação do

protocolo REBA (Hignett & McAtamney, 2000) as atividades de extração de vegetação

não cultivada resultaram em alto risco para desenvolvimento de lesões

musculoesqueléticas tanto na postura em pé inclinada quanto na sentada (figura 3). Esses

resultados corroboram com o estudo de Dieën, Jansen e Housheer (1997) que

demonstraram que a postura sentada não pode ser considerada ideal, apesar da carga de

trabalho ser relativamente menor quando comparada com a posição dos joelhos

flexionados. A posição sentada se reflete em considerável esforço e desconforto muscular

para o trabalhador e, portanto, a utilização de um banco ou de uma cadeira nessas

atividades não poderia ser recomendada como opção para permitir a variação de postura

com o método de trabalho convencional.

Figura 3. Resultados da aplicação do método REBA nas etapas dos processos analisados.

PROCESSO ATIVIDADES ANALISADAS

ESCORE REBA

GRUPO A

GRUPO B

ESCORE FINAL

Plantar mudas em vaso

- coletar planta e vaso; - colocar substrato no vaso; - inserir muda no vaso; - completar vaso com substrato; - acondicionar muda em carrinho.

2 3 3 3 5

4 3 3 3 4

4 3 3 3 5

Extrair vegetação não cultivada (ervas-daninhas) das plantas - posição sentada

- extrair e retirar mato; - descartar mato retirado em baldes / carrinho de mão.

6 6

3 3

8 8

Extrair vegetação não cultivada (ervas-daninhas) das plantas - posição em pé inclinada

- extrair e retirar mato; - descartar mato retirado em baldes / carrinho de mão.

6 6

3 3

8 8

Preparar plantas ornamentais para transplantá-las em vasos

- realizar inspeção visual; - cortar galhos, ramos e folhas com auxílio de tesoura; - descartar ramos e galhos cortados em balde; - cortar raízes excedentes com auxílio de facão.

4 4

4

4

3 5

3

5

5 7

5

6

Plantar plantas ornamentais em vasos

- coletar vaso e inserir substrato; - coletar planta e posicioná-la no vaso; - completar vaso com substrato; - socar terra em volta das mudas transplantadas; - posicionar vasos com plantas em paletes.

4 4 5 4

4

4 4 4 5

4

4 4 5 5

4

Transportar e acondicionar vasos

- transportar paletes com plantas para expedição com auxílio de paletizadora.

1 4 4

Organizar estufa/viveiro - guardar vasos com plantas. 3 5 6

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Outro potencial fator de risco para os trabalhadores rurais são as lesões em

membros superiores resultantes de atividades com posturas inadequadas de punhos e

mãos, movimentos de preensão repetitivos e de aplicação de forças associados a

movimentos de pinça (Meyers et al, 1997). Os procedimentos de preparação das mudas e

das plantas resultaram em escores entre 5 a 7, considerados como médio risco (figura 3).

As atividades constituem-se em coletar a planta manualmente, cortar ramos e folhas

deterioradas com auxílio de tesoura de poda e cortar raízes excedentes com auxílio de

facão. São executadas predominantemente na posição sentada em bancos de madeira

com altura fixa.

Foram registrados movimentos dos ombros com amplitudes que variavam de 20 a

60 de flexão associados à abdução e dos cotovelos com angulação acima de 100.

Alguns autores recomendam amplitudes de movimentos reduzidas para os ombros, de até

25 para flexão e abdução (Chaffin, Anderson & Martin, 1991). O aumento da sobrecarga

nas estruturas da região causa compressão tendinosa dos músculos supra-espinhal e

porção longa do bíceps braquial e instabilidade na região posterior da cavidade glenóidea

(Hammil & Knutzen, 2000). De acordo com a literatura, a faixa entre 85 e 110 para os

cotovelos é a de maior vantagem biomecânica para os flexores dos braços e antebraços

(Kroemer & Grandjean, 2005).

Atividades que envolvem desvios de punho e movimentos de abdução dos ombros

em conjunto com ação de preensão manual são fatores de risco para doenças

musculoesqueléticas em mãos, punhos, cotovelos e ombros (Armstrong, Chaffin & Foulke,

1979). Foi identificada flexão dos punhos de leve a moderada, associado a desvio ulnar,

presente em todo o ciclo de corte das mudas. O facão e tesoura de poda são as

ferramentas utilizadas pelos trabalhadores. O trabalhador normalmente utiliza a tesoura

de poda com a mão dominante, apoiando a pega da ferramenta na base do polegar e a

pressionando mediante flexão dos dedos.

O uso de ferramentas como tesouras para atividades de corte é comum na

agricultura, principalmente durante a fase de cultivo de mudas de plantas em berçários ou

viveiros, o que expõe os trabalhadores a riscos graves de lesões musculoesqueléticas em

mãos e punhos (Fathallah, 2010). A atividade de poda impõe altas cargas biomecânicas

na região de punhos e mãos tendo em vista a repetitividade da tarefa e tem sido

associada com distúrbios osteomusculares em membro superior dominante. Esta requer

movimentos de preensão da mão e de flexão dos punhos repetidos associados ao esforço

estático de braços e membros superiores (Meyers, Miles, Faucett, Janowitz, Tejeda &

Kabashima, 1997; Roquelaure, Dano, Dusolier, Fanello & Penneau-Fontbonne, 2002).

Outros fatores de risco para ocorrência de distúrbios osteomusculares como uso de

instrumentos vibrantes, compressões localizadas sobre estruturas anatômicas das mãos

ou antebraços, exposição a temperaturas ambientais ou de contato muito frias e uso de

luvas que interferem na habilidade manual não foram identificados durante as etapas do

estudo.

Em relação às questões de manuseio de cargas, durante o período de análise não

foi verificada a elevação ou transporte manual de plantas ou de matérias-primas acima de

10 quilogramas (figura 4).

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Figura 4. Produtividade e peso dos vasos de plantas ornamentais mais frequentemente produzidas na

empresa.

VARIEDADES DE PLANTAS ORNAMENTAIS PRODUZIDAS

› Liriope muscari 1,5 kg cada vaso / produção diária de 1.200 vasos

› Dietes bicolor 2,0 kg cada vaso / produção diária de 1.000 vasos

› Arundina bambusifolia 2,5 kg cada vaso / produção diária de 800 vasos

› Cycas revoluta 3,0 a 4,0 kg cada vaso / produção diária de 800 vasos

› Rhapis excelsa 4,0 kg cada vaso / produção diária de 500 vasos

› Podocarpos macrophylos 5,0 kg cada vaso / produção diária de 350 vasos

› Eugenia spreengelli 5,0 kg cada vaso / produção diária de 700 vasos

Fonte: dados do estudo.

Em média, são produzidas diariamente de 800 a 1.200 plantas de menor porte. A

produção diária de plantas de médio porte (peso de cada vaso entre 3 e 5 quilogramas) é

de 500 a 800 vasos por dia. A empresa disponibiliza dispositivos como carrinhos de mão,

empilhadeira hidráulica manual, paletizadoras e carrinhos tipo plataforma para auxiliar no

transporte de cargas, produtos e paletes.

3.3 Recomendações ergonômicas

A ergonomia pretende compreender o trabalho para, progressivamente, definir vias

possíveis para a sua transformação (Guérin, Laville, Daniellou & Duraffourg, 2001). Nesse

sentido, a partir da análise dos aspectos físicos do trabalho dos funcionários que atuam

na função de serviços gerais de uma empresa produtora de plantas ornamentais e da

identificação dos principais fatores de risco biomecânicos envolvidos nas atividades

avaliadas optou-se pelo direcionamento de algumas propostas de adequação. Conforme a

identificação de alguns fatores de riscos para lesões musculoesqueléticas, existem várias

oportunidades para o desenvolvimento e implementação de intervenções ergonômicas

que visam o controle dessas exposições.

Trabalhar ao nível do solo em postura inclinada e ajoelhada constitui claramente um

risco para saúde do agricultor. De acordo com a avaliação da carga postural realizada no

estudo as atividades de extração das ervas daninhas foram consideradas críticas. Como

tentativa de melhorar essas situações de trabalho algumas ações foram propostas em

conjunto com as equipes de saúde ocupacional, de recursos humanos e diretoria da

empresa.

Diversas estratégias podem ser utilizadas para minimizar o desconforto

musculoesquelético dos agricultores que executam suas atividades ao nível do solo.

Protetores de joelho oferecem proteção parcial, geralmente são considerados como

desconfortáveis e não promovem a alteração da postura crítica da região. A opção de

utilizar um banco ou uma cadeira não pode ser considerada ideal, ainda que a carga de

trabalho seja menor quando comparada com a posição ajoelhada (Dieën, Jansen &

Housheer, 1997). Ressalta-se que a redução do pico de intensidade da carga física de

trabalho tem produzido melhores resultados (Dieën & Vrielink, 1994).

Dessa forma, optou-se por sugerir o desenvolvimento de alguma ferramenta manual

para auxiliar na extração das ervas daninhas ou da adaptação de um extrator mecânico já

existente no mercado. Considera-se que a utilização de ferramentas ou de dispositivos

mecânicos auxiliares podem reduzir a necessidade de adoção de posturas inadequadas

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ou podem reduzir as tensões e os desconfortos associados à manutenção de tais

posturas (Gallagher, 2005).

Estudos demonstram que a implementação de melhorias ergonômicas no projeto de

ferramentas manuais utilizadas na agricultura é eficaz tanto em termos de aumento de

produtividade quanto, indiretamente, em diminuição dos custos de operação. As

ferramentas manuais adaptadas para as atividades requerem menos energia do

trabalhador e, consequentemente, conduzem à melhor eficiência no trabalho (Jafry &

O'Neill, 2000).

Recomendou-se, ainda, a adequação antropométrica dos postos de trabalho

existentes com características dimensionais de forma garantir o espaço necessário à

execução das atividades. As estações de trabalho devem ser adequadas para uso nas

posições ortostática e sentada com cadeiras ajustáveis. O dimensionamento foi baseado

nas características dos usuários, na natureza das atividades e nas limitações físicas e

mecânicas envolvidas. Os percentis extremos (5 e 95) foram utilizados como referências

antropométricas (Kroemer & Grandjean, 2005). Dispositivos de ajuste de regulagem de

altura foram considerados. Os assentos de trabalho reguláveis atendem aos requisitos de

conforto preconizados pela Norma Regulamentadora (NR) vigente no Brasil.

Quanto aos aspectos ambientais, a empresa fornece chapéus de palha, bonés e

protetor solar como meio de controle existente. Recomendou-se a organização das

planilhas de trabalho para reduzir e evitar a exposição solar ou ao frio intenso. O trabalho

deve, portanto, ser planejado de modo diferente nas diversas épocas do ano para evitar

altos índices de carga térmica.

A combinação de estressores físicos em conjunto com o tempo limitado e

insuficiente para recuperação da fadiga muscular acrescenta risco considerável para o

desenvolvimento de transtornos musculoesqueléticos em trabalhadores rurais (Faucett,

Meyers, Miles, Janowitz, & Fathallah, 2007). Portanto, outra estratégia adotada pelos

pesquisadores foi a de sugerir a introdução de breves e frequentes pausas de descanso

para trabalhadores envolvidos em atividades extenuantes. Recomendou-se a concessão

de pausas de 5 minutos de descanso a cada hora de trabalho, além dos intervalos já

existentes.

Porém, ainda que as pausas para descanso e a rotatividade das atividades de

trabalho sejam métodos considerados eficazes para redução da fadiga e da tensão

muscular associada ao trabalho, o redesign do trabalho deve ser levado em consideração.

O cultivo, a colheita e o manuseio manual de produtos agrícolas são reconhecidamente

considerados como extenuantes e, apesar disso, poucas melhorias têm sido

implementadas em ferramentas ou nas práticas de trabalho agrícolas (Faucett, Meyers,

Miles, Janowitz, & Fathallah, 2007).

Propostas referentes à melhorias ergonômicas nos projetos das ferramentas

manuais de corte devem ser priorizadas com vistas à redução de movimentos de flexão

do punho associado a desvio ulnar nas atividades de preparação das plantas

ornamentais. O projeto adequado de ferramentas manuais e das estações de trabalho

requer a aplicação de aspectos fisiológicos, anatômicos, cinesiológicos, antropométricos e

de segurança (Tichauer & Gage, 1977).

Pretende-se que as ações propostas promovam melhorias na eficiência do trabalho

e na redução da exposição a fatores de risco osteomusculares sobre os métodos

tradicionais. Ressalta-se ainda, que a participação dos trabalhadores é fundamental no

desenvolvimento e implantação das intervenções ergonômicas na agricultura (Fathallah,

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2010). As melhorias das condições de trabalho não dependem unicamente dos

conhecimentos técnicos e científicos, exigem igualmente a cooperação dos atores

envolvidos (Wisner, 1994). Qualquer intervenção ergonômica bem sucedida em setores

agrícolas exige ampla comunicação e colaboração entre pesquisadores, produtores e

trabalhadores (Fathallah, 2010). Portanto, foi proposto que após a fase de reprojeto dos

postos de trabalho e das ferramentas de trabalho sejam instalados protótipos nos setores

para determinar os efeitos das modificações no conforto dos trabalhadores e na

usabilidade dos equipamentos. Ao trabalhador deverá ser fornecida a oportunidade de

opinar e de contribuir para o sucessivo desenvolvimento dos projetos.

4. Conclusão

Os resultados da avaliação ergonômica realizada na função de serviços gerais da

empresa produtora de plantas ornamentais estudada forneceram uma visão geral sobre

as situações de trabalho. Os dados coletados contribuíram para a compreensão a respeito

dos potenciais fatores de risco que envolvem a atividade e serviram de base para as

recomendações e propostas de melhorias na tentativa de redução da carga de trabalho e

prevenção de doenças musculoesqueléticas.

O foco desse estudo foi a análise e identificação dos fatores de risco físicos

relacionados com lesões musculoesqueléticas entre trabalhadores de uma empresa

produtora de plantas ornamentais. A avaliação do nível de exposição de fatores de risco

musculoesqueléticos foi útil em termos de esforços na prevenção e os dados resultantes

poderão ser utilizados por profissionais de saúde e ergonomistas para a priorização de

intervenções e para o planejamento de programas de ergonomia com vistas à melhorias

na saúde e na segurança do trabalho agrícola.

De acordo com os resultados da avaliação postural evidenciados nesse estudo, a

carga física exigida nas atividades manuais realizadas na produção de plantas

ornamentais é relevante e os trabalhadores encontram-se expostos à uma variedade de

fatores de risco ergonômicos. Dessa forma, períodos frequentes de pausas para

descanso e utilização de ferramentas e equipamentos adequados para as atividades

agrícolas são consideradas estratégias essenciais na redução da carga de trabalho e de

desconfortos ocasionados por posturas inadequadas.

Embora reconhecidamente os riscos físicos sejam importantes contribuintes para o

desenvolvimento de distúrbios osteomusculares, os riscos psicossociais, organizacionais

e socioeconômicos, também, devem ser considerados na prevenção das doenças

ocupacionais. Tais fatores podem representam uma série de barreiras para o sucesso da

implementação de medidas de intervenção.

Essa é uma pesquisa preliminar acerca dos riscos físicos que afetam o trabalho de

produtores de plantas ornamentais, no entanto, é um passo essencial para sugestões de

melhorias ergonômicas nas situações de trabalho avaliadas. Os avanços nas condições

de trabalho nesse setor dependerão de ação conjunta e da colaboração dos trabalhadores

e dos empregadores. Pesquisas futuras são necessárias para esclarecimento de alguns

aspectos analisados no presente estudo, sendo imprescindível focar em medidas

preventivas e intervenções apropriadas que possam auxiliar na redução da prevalência de

doenças musculoesqueléticas entre os trabalhadores agrícolas desse setor específico da

agricultura.

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