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Miséria, violência e exclusão para os trabalhadores Oriente Médio: lutas demonstram que a História não morreu Entrevista com Virgínia Fontes inaugura seção Comunistas lutarão por reaglutinação da Intersindical AS CIDADES NO CAPITALISMO Páginas 6 e 7 Página 5 Página 12 Página 11 Internacional Frente Anticapitalista Trabalho ENCARTE ESPECIAL 89 ANOS DO PCB Imprensa Imprensa Jornal do Partido Comunista Brasileiro . www.pcb.org.br . Ano VI . n° 33 . Março 2011 Popular

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Page 1: Internacional - PCB · 2015. 4. 13. · Março 2011 ImprensaPopular 3 Nos estados Política Em 2011, o PCB decidiu homenagear com a Medalha Dinarco Reis os camaradas Octávio Brandão,

Miséria, violência e exclusão para os trabalhadores

Oriente Médio: lutas demonstram que a História não morreu

Entrevista com Virgínia Fontes inaugura seção

Comunistas lutarão por reaglutinação da Intersindical

AS CIDADES NO CAPITALISMO

Páginas 6 e 7

Página 5

Página 12

Página 11

Internacional

Frente Anticapitalista

Trabalho

ENCARTE ESPECIAL

89 ANOS DO PCB

ImprensaImprensaJornal do Partido Comunista Brasileiro . www.pcb.org.br . Ano VI . n° 33 . Março 2011

Popular

Page 2: Internacional - PCB · 2015. 4. 13. · Março 2011 ImprensaPopular 3 Nos estados Política Em 2011, o PCB decidiu homenagear com a Medalha Dinarco Reis os camaradas Octávio Brandão,

2 Março 2011ImprensaImprensaPopularPopular

[email protected] . Fundado por Pedro Motta Lima .Diretores Responsáveis Eduardo Serra, Edmilson Costa e Ivan Pinheiro Edição Paulo Schueler (MT 28.923/RJ). Diagramação Daniel de AzevedoÉ permitida a reprodução, desde que citada a fonte

Miséria, violência e exclusão para os trabalhadores

Oriente Médio: lutas demonstram que a História não morreu

Entrevista com Virgínia Fontes inaugura seção

Comunistas lutarão por reaglutinação da Intersindical

AS CIDADES NO CAPITALISMO

Páginas 6 e 7

Página 5

Página 12

Página 11

Internacional

Frente Anticapitalista

Trabalho

ENCARTE ESPECIAL

89 ANOS DO PCB

ImprensaImprensaJornal do Partido Comunista Brasileiro . www.pcb.org.br . Ano VI . n° 33 . Março 2011

Popular

http://www.facebook.com/pages/Partido-Comunista-Brasileiro/109377222413963 http://www.youtube.com/user/TVPCB Twitter - http://twitter.com/#!/partidao

E X P E D I E N T E

EditorialPCB nos estados

Os 89 anos de vida e luta do PCB

Desde sua criação, em 25 de março de 1922, o Partido Comunista Brasilei-ro (PCB) quer e luta pelo socialismo. Essa é a razão de sua existência e tena-cidade, que superou dois regimes dita-toriais e uma tentativa de liquidação.

Filiado desde os primeiros tempos ao Movimento Comunista Internacio-nal, o PCB, com seus erros e acertos, sempre esteve atento ao internacio-nalismo proletário e à luta dos povos por sua autodeterminação.

Suas proposições tá-ticas e estratégicas, sua compreensão da reali-dade, sempre se pauta-ram pela razão de sua existência: a denúncia do capitalismo e da exploração do homem pelo homem, a constru-ção social desigual que promove a segregação das classes e opõe cla-ramente a opulência crescente dos donos dos meios de produção – obtida com a exploração da classe trabalhadora e o desemprego – e a vida difícil de quem trabalha.

Trata-sede um partido firmemente contrário aos valores do egoísmo e de cobiça. Não à toa, o PCB sempre difun-diu os ideais da sociedade comunista, igualitária, onde todos, vivendo sem opressões de nenhum tipo e apoiados por uma base material igualitária, po-derão ser donos de seu destino, dar va-zão plena às suas potencialidades de se-

res humanos. O PCB sempre lutou pela ruptura revolucionária com o capitalis-mo, organizando os trabalhadores.

Nesses 89 anos, o Partido viu diver-sos experimentos de construções so-cialistas, suas vitórias, acertos, erros e derrotas. Aprendeu e continua a apren-der com elas. Para manter a chama e organizar os trabalhadores brasileiros para a revolução, cujo caráter é socia-

lista.Nesses 89 anos,

lutamos pela cons-trução da contra-he-gemonia socialista e comunista, organi-zamos os trabalha-dores, atuamos no campo da disputa de idéias e em fren-tes de luta diversas, com destaque para o movimento de massas, para criar as condições para a ruptura revolucio-nária.

É com alegria, altivez e sentido de responsabilidade que pretendemos levar esse projeto adiante. Queremos ajudar a construir uma frente políti-ca anticapitalista e antiimperialista, composta de partidos, organizações e pessoas de esquerda, socialistas, comu-nistas.

Para seguir lutando. Para que, daqui a 89 anos, os trabalhadores do mundo estejam vivendo em outra sociedade, justa, igualitária, socialista. Construin-do o comunismo.

dicas Novos Temas - Volume 2

A revista teórica do Instituto Caio Prado Jr. traz em sua segunda edição entrevista exclusiva do sociólogo Michel Löwy e o pouco conhecido texto do “jovem” Marx Glosas críticas marginais ao artigo da rei da Prússia e a Reforma Social: de um prussiano.

DVD Roda Vida - José SaramagoEntrevista do programa de TV Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, com o falecido escritor comunista português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura de 1998. Debate-se a obra o pensamento do romancista e ácido crítico do capitalismo.

Quilapayún Canta a Victor Jara & Violeta ParraO CD do grupo chileno Quilapayún, palavra em língua mapuche que significa “Três Barbas”, relembra as obras de Víctor Jara, que logo após o golpe militar de 11 de setembro de 1973 foi preso, torturado e fuzilado; e Violeta Parra, autora de clássicos como La Carta, que tem entre os seus versos o que diz “Os famintos pedem pão; chumbo lhes dá a polícia”.

“O PCB sempre difundiu os ideais da sociedade comunista, igualitária,

onde todos, vivendo sem opressões de nenhum tipo e apoiados por uma base

material igualitária, poderão ser donos de seu destino”

BRASILIA – DF SDS. Bloco “R” – Edifício Venâncio V 3º Andar – Sala 311 – Asa Sul Brasília – DF – CEP.: 70.393 – 904 Telefax.: (61) 3323 – 2226 [email protected]

RIO DE JANEIRO–RJ Rua da Lapa, 180 – Gr. 801 – Centro Rio de Janeiro – RJ – CEP.: 20.021–180 Telefax.: (21) 2262 – 0855 / 2509 – 3843 [email protected]

CONTATOS ESTADUAIS

PCB – ALAGOAS Rua do Comércio, 436, sala 0403 (4º andar) Ed. Lobão Barreto Centro – Maceió – AL – CEP. : 57.020 – 000 (82) 3032 – 6125/9962 – 6323/8805 – 5636 [email protected] PCB – AMAPÁ Av. Maria Quitéria, 387 – Bairro do Trem Macapá – AL CEP: 68.900 – 280 Tel.: (96) 8119 – 2268

PCB – AMAZONAS Av. Tarumã nº 1109 – Casa 10 – Pça. 14 de Janeiro Manaus – AM – CEP.: 69.020 – 000 Tel.: (92) 3635 – 6999

PCB – BAHIAContato (71) 9609-3219 (Sandro )

PCB – CEARÁ Av. da Universidade nº 2090 – Centro Fortaleza – CE – CEP.: 60.020 – 180 Tel.: (85) 3292 – 4103 / 8801 – 6492 – Carlinhos

PCB – DISTRITO FEDERALSDS. Bloco “R” – Edifício Venâncio V 3º Andar – Sala 312 – Asa SulBrasília – DF – CEP.: 70.393 – 904 Telefax.: (61) 3323 – 2226

PCB – GOIÁS Rua 233, nº 203 Qd. 52 Lt. 21. Setor Universitário Goiânia – GO – CEP.: 74.605–120 Tel.: (62) 3626 0893

PCB – MARANHÃO Rua do Alecrim nº 546, sala 07 – Altos Centro – São Luís – MA – CEP.: 65.010 – 020 Tel.: (98) 3221 – 3635

PCB – MINAS GERAIS Rua Curitiba nº 656 – sala 66 – Centro Belo Horizonte – MG – CEP.: 30.170 – 090 Telefax.: (31) 3201 – 6478 [email protected]

PCB – PARÁ Rua dos Timbiras, 709 – Jurunas Belém – PA – CEP.: 66.030 – 610 Tel.: (91) 3081 – 5762 [email protected]

PCB – PARAIBA Rua Profra. Rejane Inácia R. de Alencar nº 139 Mangabeira II - João Pessoa – PB CEP. : 58.057 – 112 Tel.: (83) 3236 – 6849 / (83) 8887 – 4600

PCB – PARANÁ Av. Luiz Xavier nº 68 Conj. 808 – 8º Gal. Tijuca – Centro – Curitiba – PR CEP. : 80.020–020 Tel. : (41) 3322 – 8193 [email protected]

PCB – PERNAMBUCO Rua do Príncipe, 720 – Sala 102 – Boa Vista Recife – PE – CEP.: 50.050 – 900 Telefax (81) 3423 – 1394PCB – PIAUÍ Rua Jorge Cury nº 389 – Acarape Teresina – PI – CEP. : 64.003 – 820 Tel. : (86) 3213 – 1305 – Rogaciano Veloso [email protected]

PCB – RIO DE JANEIRO Rua Teotônio Regadas, 26 – Sala 402 – Centro Rio de Janeiro – RJ – CEP.: 20.021 – 360 Telefax.: (21) 2509 – 2056 [email protected]

PCB – RIO GRANDE DO NORTE Rua Gal. Couto Magalhães, 71 – Pitimbú Natal – RN – CEP.: 59.069 – 510 Tel.: (84) 8845 – 4872

PCB – RIO GRANDE DO SUL Rua Jerônimo Coelho, 281, sala 401 – Centro Porto Alegre – RS – CEP. : 90.010 – 241 Tel. : (51) 3062-4141 [email protected] PCB – SANTA CATARINA Rua José do Patrocínio nº 301 – Centro Criciúma – SC – CEP.: 88.801 – 680 Tel.: (48) 3433 – 0843 FAX (48) 3437 – 1338 [email protected]

PCB – SÃO PAULO Rua Francisca Miquelina, 94 – Bela Vista São Paulo – SP – CEP.: 01.316 – 000 Tel.: (11) 3106 – 8461 pcb@pcb–sp.org.brPCB – SERGIPERua Gararu, 424 – Getúlio Vargas Aracaju – SE CEP.: 49.055 – 300 Tel. : (79) 8802 – 1037

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3Março 2011 ImprensaImprensaPopularPopular

Nos estados

Política

Em 2011, o PCB decidiu homenagear com a Medalha Dinarco Reis os camaradas Octávio Brandão, Ana Montenegro e David Capistrano (in memoriam), Amadeu Hercílio da Luz e Dalva do Nascimento.Os eventos de entrega desta singela e merecida homenagem do PCB aos revolucionários ocorrerão no Rio de Janeiro, Bahia e Santa Catarina, em local e data que serão divulgados no site do partido (www.pcb.org.br).A imensa contribuição destes cinco militantes para a libertação dos trabalhadores merecerá uma matéria especial na próxima edição desse periódico. A eles, a eterna gratidão do PCB.

Os dois primeiros meses do Governo Dilma só vêm demonstrar a correção da tática proposta pelo PCB no segundo turno das eleições presidenciais de 2010: após a derrota de Serra nas urnas, será preciso organizar e mobilizar os trabalhadores brasileiros para derrotar Dilma nas ruas.

No lugar do “Brasil para Todos” do governo Lula, Dilma adotou o lema “País rico é país sem

miséria”. Mera propaganda, já que a política econômica posta em prá-tica é a do franco favorecimento às atividades do agronegócio, grandes indústrias e bancos, visando à con-tinuidade da integração brasileira à ordem capital-imperialista mundial.

Sem a providencial ajuda do Estado brasileiro, principalmente através do BNDES, não seria possí-vel alavancar o capitalismo nacio-nal, cuja burguesia estreita cada vez mais seus laços com as empresas multinacionais.

Ao contrário do que alguns arti-culistas de esquerda apregoaram, não há uma inversão da política de-senvolvida antes por Lula, como se Dilma estivesse voltando a adotar “práticas neoliberais” que teriam sido abandonadas pelo antecessor. Nem uma coisa nem outra. Lula deu continuidade à política macro-econômica da era FHC, aplicando apenas uma política compensatória mais agressiva.

Dilma segue a mesma cartilha, com a piora de que porá o pé no freio em relação aos gastos sociais. Mas isto não é novidade alguma: Lula fez o mesmo em 2003, desaceleran-do o plano de crescimento, para fa-zer caixa e depois abrir o cofre nos últimos anos de seu mandato.

É fato que novos ataques virão sobre os direitos dos trabalhadores. O ministério de Dilma é quase uma repetição do gabinete de Lula, man-tidas as disputas fisiológicas entre os partidos da base aliada, com des-taque para as representações do PT e do PMDB e, secundariamente, as

do PCdoB, PDT, PSB e PP.Serviços públicos devem piorar

Não haverá mudanças, pois, em relação à tendência de privatização dos serviços públicos, como a Saúde, a Seguridade Social e a Educação. É revelador da primazia dos interes-ses de mercado sobre os interesses públicos o anúncio da suspensão de concursos públicos para contratação de novos servidores e do adiamento da nomeação de 40 mil servidores já selecionados.

No setor do petróleo, o eterno mi-nistro Edison Lobão (do PMDB do Maranhão), capacho de Sarney, já anunciou a retomada dos leilões dos campos de petróleo e de áreas de exploração no pré-sal, mantendo a política de dilapidação dos recursos naturais brasileiros, no momento da visita do presidente Barack Obama.

E é exatamente no âmbito da po-lítica externa que o governo Dilma parece ter promovido uma inflexão à direita em relação a Lula, de que é sintomática a clara atitude de voltar a priorizar as relações com os EUA, em detrimento do inter-câmbio privilegiado (mesmo que marcado por interesses dos gran-des capitalistas brasileiros) com os governos mais progressistas da América Latina. A decisão do pre-sidente do Supremo Tribunal Fe-deral, Antônio Cezar Peluso, não contestada por Dilma, da recusa em libertar Cesare Battisti após decisão de Lula pela não extradi-ção do militante revolucionário italiano, demonstra com precisão a tendência mais conservadora deste governo. Este ainda preserva, sem nenhuma indicação de que tal po-

lítica será alterada, a presença das tropas brasileiras no Haiti.Momento exige unidade e luta

Crescem, portanto, os desafios da classe trabalhadora neste ano de 2011. Para o PCB, é hora de dar um salto de qualidade na busca da uni-dade dos movimentos populares, das forças de esquerda e entidades re-presentativas dos trabalhadores, no caminho da formação de um bloco proletário capaz de contrapor à hege-monia burguesa uma real alternativa de poder popular em nosso país. A criação de uma Frente Anticapitalis-ta e Anti-imperialista, com vistas à construção de um poderoso sistema de alianças capaz de dar vez e voz aos produtores da riqueza, é um dos ca-minhos para a luta contra os impera-tivos do capital e pela edificação da sociedade socialista em nosso país.

VISITE O SITE DO PCB.OS COMUNISTAS REVOLUCIONANDO A GRANDE REDE!

www.pcb.org.br

UM GOVERNO A SERVIÇO DO CAPITAL

ao agronegócio, grandes indústrias e bancos

Três meses de Dilma:

favorecimento

“Lula deu continuidade à política macro-econômica da era FHC, aplicando apenas uma política compensatória mais agressiva. Dilma segue a mesma cartilha, com a piora de que porá o pé no freio em relação aos gastos sociais.”

Dilma entrega anéis e dedos para os poderosos

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4 Março 2011ImprensaImprensaPopularPopular

A condução econômica do novo gover-no começou com o anúncio de cortes no Orçamento. O arrocho anunciado

pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, não especifica o que vai ser retirado de cada área. Mas quem já saiu perdendo é a maio-ria da população que depende de serviços públicos de qualidade: os concursos públi-cos estão suspensos, bem como a convocação dos já aprovados. No total, foram canceladas 40 mil vagas no setor público.

O Ministério da Educação vai sofrer corte de pelo menos R$ 1 bilhão, e o da Ciência e Tecnologia de R$ 1,3 bilhão. Para quem durante a campanha colocou a educação e a inovação como prioridades, Dilma está se saindo uma boa mentirosa.

Logo depois, como afirma nota divul-gada pelo PCB, “os trabalhadores brasi-leiros assistiram desapontados, mais uma

vez, o anúncio do novo salário mínimo de 545 reais. A presidenta Dilma, durante a campanha eleitoral, como num samba de uma nota só, não cansou de propagandear, a exemplo de Lula, o crescimento econô-mico do país como sendo o jamais visto na história. O aumento de 510 para 545 reais (6,87%), foi uma verdadeira bofeta-da na cara do povo brasileiro”. Só para re-gistrar: em dezembro, o DIEESE calculou em R$ 2.227,53 o valor mínimo a garantir dignidade para os trabalhadores.

A banca comemoraComo não houve redução dos impostos,

para quem estão indo os recursos retira-dos do Estado e trabalhadores? Para ban-queiros e rentistas. Na primeira reunião do Conselho de Política Monetária (Co-pom), em 2011, o Banco Central elevou

a taxa de juros para 11,25%, fazendo au-mentar uma dívida pública que em 2010 já somava R$ 1,69 trilhão.

Para garantir seu pagamento é utilizado o superávit primário, estimado em 3,1% (R$ 60 bilhões) em 2011. E quem são os credo-res que vão receber tais recursos? O capital financeiro. Em 2010, de um Orçamento de R$ 1,848 trilhões, a ele estavam destinados R$ 777 bilhões. Outros R$ 138 bilhões servi-riam para o pagamento de juros e encargos.

Para alterar essa realidade, e fazer com que os recursos públicos estejam à serviço da maioria da população, o PCB afirma ser fundamental organizar os trabalhadores. “Na guerra entre o capital e trabalho não pode haver trégua. O fogo concentrado dos inimigos está direcionado para os direitos e a rede de proteção social do povo que traba-lha ou está desempregado ou aposentado”.

Anúncio do pacote de cortes de R$ 50 bilhões, cerca de quatro vezes o que o governo gasta anualmente no Bolsa Família e R$ 10 bilhões a mais que todos os custos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) em 2011. Política de desvalorização do salário mínimo. Dois aumentos na Taxa Selic em duas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Assim, o novo governo escancara queestá ao lado de banqueiros e rentistas

Economia

ricosGoverno opta

pelos

O “espetáculo do crescimento” de Lula só pode ser espetáculo de ilusionismo. Em seu governo, o país cresceu abaixo da mé-dia do século XX (4,0% contra 4,5% ao ano) e também ficou aquém da média global no período 2003-2010 (4,5%). O resultado não poderia ser outro: ao contrário do falatório lulista, o país não aumentou sua força na economia mundial.

Estudo do economista Reinaldo Gonçalves, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), demonstra que entre os 29 presidentes que o país já teve, Lula ocupa a 19ª posição em desempenho econômico.

Gonçalves é taxativo em suas conclu-sões:

• Fraco desempenho pelos padrões históri-cos do país;• Muito fraco desempenho quando com-

parado com outros presidentes;• Retrocesso relativo no conjunto da econo-mia mundial;• País fortemente atingido pela crise global em 2009; e• O processo de ajuste frente à crise global foi influenciado significativamente pelo ci-clo eleitoral e oportunismo político em 2010 e não se sustenta em 2011-12

De forma resumida, os números pra o pe-ríodo de Lula no Planalto em comparação com o resto do mundo são estes:

• Taxa de variação real do PIB: o Brasil ocu-pa a 96ª posição entre 181 países.• A posição do Brasil no PIB per capita pio-rou: o país passou da 66ª para a 71ª posição.• O passivo externo bruto ultrapassou US$ 1.292 bilhões.

7,5% do PIB não esconde: crescimento se arrastou nos últimos anosNO GOVERNO LULA, PAíS CRESCEU ABAIxO DA MéDIA MUNDIAL

Explicando os 7,5%Muito se disse sobre os 7,5% de crescimento registrado em 2010. É preciso, porém, olhar esse número de forma mais atenta: esse índice se compara ao de 2009, quando o país foi atingido pela crise e sofreu uma queda de 0,6% no PIB.Mesmo assim esse crescimento não deve se repetir. “O forte crescimen-to econômico em 2010 permitiu a reversão da recessão provocada pela crise global ao mesmo tem-po em que foi funcional para os grupos políticos dirigentes tendo em vista o ciclo eleitoral. Por outro lado, há o agravamento dos dese-quilíbrios macroeconômicos. Além da pressão inflacionária, verifica-se a forte deterioração das contas externas”, explica o economista.

Salário mínimo de R$ 545 foi ‘bofetada’ na cara do povo

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5Março 2011 ImprensaImprensaPopularPopular

A Internacional

As revoltas populares que varrem o Oriente Médio e o Norte da Áfri-ca representam o esgotamento dos

velhos esquemas de poder montado pe-los Estados Unidos e pelos antigos paí-ses colonizadores para controlar a região, suas riquezas minerais, bem como para apoiar Israel.

Além disso, mantém uma característi-ca singular, que é a participação massiva dos jovens como protagonistas das lutas. No entanto, a grande debilidade desses movimentos é a falta de uma vanguarda organizada com capacidade de galvani-zar a revolta para a realização de trans-formações sociais e políticas na região.

Iniciado na Tunísia, o quadro pôs abaixo em menos de três semanas uma ditadura que já durava décadas. Logo a seguir a população do Egito realizou in-tensa luta contra o regime de Mubarak, aliado dos EUA e de Israel, e também o velho regime caiu. As ondas de protestos se espalharam por vários países como o Iêmem, Bahein, Jordânia, Argélia, Sudão, Emirados e agora já atinge a Arábia Sau-dita, monarquia absolutista que cumpre o papel de gendarme de Washington na região. E na Líbia os protestos assumi-ram a forma de guerra civil.

Alguns desses governos, como o Egito no período de Gamal Abdel Nasser, e a Líbia, logo após a queda da monarquia, cumpriram um papel progressistas e an-tiimperialista no passado. Nasser foi o inspirador do panarabismo, nacionalizou o Canal de Suez e manteve postura na-cionalista. Mas com o advento de Anwar Sadat ocorreu uma reviravolta: ele assi-nou os Acordos de Camp David com Is-rael, pelo qual o País reconhecia Israel em troca da restituição dos territórios ocupados.

Por esse ato de traição ao movimento árabe, Sadat foi assassinado por mili-tantes islâmicos e substituído por Hosni Mubarak, que seguiu a mesma política, chegando a fechar a fronteira com Gaza para favorecer Tel Aviv.

Na Líbia, Kadafi derrubou a velha e corrupta monarquia comandada pelo rei Idris e nacionalizou o petróleo, fez um conjunto de reformas progressistas e modernizou o País, chegando a alcançar

Internacional

‘ ’Grande debilidade desses movimentos é a falta de uma vanguarda organizada com capacidade de galvanizar a revolta para a realização de transformações

A HIPOCRISIA DOS PAíSES IMPERIALISTAS é PROFUNDA

revoltas populares

no Oriente Médio e Norte da África

As

Comunistas gregos organizam encontro de PCs dos Bálcãs

O Partido Comunista Grego (KKE) organizou, Thessaloniki, encontro de PCs dos Bálcãs com o objetivo de reforçar as organizações comunistas na região. Entre os encaminhamentos foram aprovados o apoio para a Federação Sindical Mundial (FSM), que fará seu congresso na Grécia, e também para outras organizações antiimperialistas. Outro ponto importante foi a instituição de um calendário de atividades conjuntas contra a OTAN, a UE e agressão imperialista; inclusive com o reforço do centro anti-OTAN dos Bálcãs.Além disso, o KKE apontou, através de Giorgios Marinos, membro do Birô Político do Comitê Central, que “os partidos comunistas e de trabalhadores dos Bálcãs podem ter sua própria contribuição positiva para o sucesso tanto do Encontro Europeu de PCs, quanto do 13º Encontro Internacional de Partidos Comunistas e de Trabalhadores”. O evento acontecerá em Atenas.

7,5% do PIB não esconde: crescimento se arrastou nos últimos anos

o maior IDH (Indice de Desenvolvimento Humano) da África, enfrentou o imperia-lismo e apoiou os movimentos revolucio-nários e nacionalista em várias partes do mundo. Mas Kadafi se acomodou no poder, não prossegui as reformas progressistas e, nos últimos anos, buscou um acordo com o imperialismo, desistindo da construção de armas nucleares e assumindo responsabili-dade e indenização pelo atentado na Escó-cia que matou 270 pessoas.

Mas não foi apenas no campo política que Kadafi fez um giro à direita: seu governo abriu a exploração das imensas reservas de petróleo às empresas inglesas e italianas. Por essas concessão, o agora arrependido lutador antiimperialista passou a ser aceito como uma liderança junto a governos como o de Tony Blair, Sarkozy, Silvio Berlusconi e Bush.

A história não chegou ao fimMerece destaque a profunda hipocrisia

dos países imperialistas, especialmen-

te os EUA – que ao lado de seus aliados manteve ao longo das décadas as dita-duras mais reacionárias do planeta, res-ponsáveis por permanentes violações dos direitos humanos. No Oriente Médio essa foi a marca dos EUA, principal apoiador das monarquias absolutistas e dos gover-nos reacionários.

As manifestações em toda a região con-firmam mais uma vez que a luta de classes continua sendo o elemento principal para o desenvolvimento da sociedade. As lutas po-pulares estão abrindo um novo capítulo na região. Mas elas possuem grande debilida-de, em função de anos de repressão contra o movimento popular. Trata-se da ausência de uma vanguarda organizada, com capaci-dade de conduzir as lutas sociais e políticas para um processo de transformações so-ciais. Com uma organização política ainda frágil, sem partidos proletários organiza-dos, os trabalhadores participam como po-dem desse processo e terão pela frente um duro aprendizado nas batalhas de classe.

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6 Março 2011ImprensaImprensaPopularPopular

A consolidação do capitalismo foi também a da urbanização. Em seu período comercial, a cidade voltou a ser o centro de trocas. Ela voltou a ter ainda o poder

político, com as monarquias absolutistas e a centralização das decisões. Retomou seu status cultural, para satisfazer a nobreza e a burguesia ascendente.

Já na Revolução Industrial, a necessida-de de concentrar a produção deu mais im-pulso à urbanização. Como o capitalismo precisou concentrar pessoas em espaços re-duzidos para reduzir os custos de produção, deveria planejar o como fazê-lo garantindo bem-estar às pessoas. Deveria, se não se chamasse capitalismo...

Não à toa, a favelização, a especulação imobiliária, os péssimos serviços de trans-portes, a concentração de recursos públi-cos e serviços do estado em áreas nobres, a concentração da violência em áreas popu-lares e os cada vez mais dramáticos desas-tres “causados” por eventos climáticos, com perdas de grandes contingentes de vidas humanas.

A falácia das “causas naturais” é facil-mente desmentida pelo exemplo de Cuba, cuja população enfrente inúmeros furacões com número reduzido de vítimas. O motivo disso é seu regime socialista.

Seguindo o exemplo da ilha caribenha, é urgente que o planeta tenha uma nova polí-tica de ocupação do solo urbano, o que virá através da luta principal é por uma socieda-de justa e igualitária.

Afinal de contas, trata-se de uma questão que afeta a maioria da população mundial, que vive em cidades cada vez mais despro-vidas de condições para oferecer condições dignas de existência: a população das favelas cresce cerca de 25 milhões de pessoas a cada ano, segundo dados da UN-Habitat (ONU).

O livro Planeta favela, do urbanista nor-te-americano Mike Davis, investiga esse crescimento na América Latina, África, Ásia e nos ex-países socialistas da Europa. Na obra, ele indica como as políticas capi-talistas estão relacioandas com o cresci-mento das gecekondus (Istambul, Turquia), desakotas (Accra, Gana) e barrios (Caracas, Venezuela), alguns dos nomes dados às cer-ca de 200 mil favelas existentes no planeta.

Ilhas de riqueza e as ‘guerras do futuro’

As cidades estão divididas em “ilhas de riqueza”, que atendem aos interesses e gostos burgueses, com torres de escritó-rio e condomínios fortificados que imitam os bairros do subúrbio norte-americano, e a crescente população que não dispõe de condições dignas de moradia e serviços pú-blicos.

Davis chega a citar Alphaville, em São Paulo, como exemplo de “parques temá-ticos” deslocados da realidade social, nos quais os moradores deixam de ser cidadãos para serem “patriotas da riqueza, naciona-lista de um afluente e dourado lugar-ne-nhum”.

Nessa realidade se opera o conflito de classes, que já mereceu a atenção do Pen-tágono. Estudos do stablishment militar norte-americano já se preparam para o que batizaram de guerra do “futuro” nas mega-favelas do Terceiro Mundo.

Cidade,

populações sofrem com falta de planejamento urbano

UMA INVENÇãO

DA BURGUESIA

PARA A BURGUESIA

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7Março 2011 ImprensaImprensaPopularPopular

Cidade, Brasil possui a terceira maior população favelada do mundo

Em Nova Friburgo, PCB defende desapropriações para construção de moradias

De acordo com Planeta Favela, o Bra-sil possui a terceira maior população favelada do mundo. Segundo o IBGE, a população que vive em favelas cresceu 45% entre 1991 e 2000, três vezes aci-ma da média de crescimento demográ-fico do país.

Tendo como critérios o acesso ao sa-neamento e a precariedade da moradia, existiam naquele ano 6,5 milhões de fa-velados no Brasil. Ao se considerar itens como a irregularidade de posse, o total sobe para 51,7 milhões, tornando o Bra-sil o país com a terceira maior popula-ção favelada do mundo, atrás apenas de Índia e China.

Não basta fazer ações cosméticas. É preciso que os governos ofereçam so-luções de transportes, geração e dis-tribuição de renda, além de reforço em setores como saúde e educação. A prova é que dois projetos nas maiores cidades do país – o Favela-Bairro, no Rio de Janeiro; e o Cingapura, em São

Paulo – não conseguiram incluir as populações que vivem nesses locais. O Rio de Janeiro chega a ter favelas estratificadas, divididas em regiões pobres e outras “não tão pobres”.

Favelização se agravou com neoliberalismo

O proceso de favelização começou a se agravar em meados da década de 1970, resultado das crises do petróleo e das políticas impostas pelo FMI e o Ban-co Mundial.

O Brasil, que entre 1940 e 1970 cres-cia 7% ao ano, viu sua economia patinar para 1,3% de crescimento médio nos anos 1980 e 2,1% nos 1990. O baixo cres-cimento e a não incorporação dos jovens que chegavam ao mercado de trabalho agravou a crise urbana. O desemprego e a pobreza fizeram com que as cidades passassem a apresentar cada vez mais crianças abandonadas, epidemias, en-chentes, desmoronamentos e violência.

Passados dois meses após a tragédia provocada pelas chuvas, Nova Friburgo vive ainda sob o signo do medo e da in-segurança. Toda chuva mais forte causa apreensão: o trânsito não anda, bueiros e galerias entupidas despejam água e lama, inundando as ruas, novos desliza-mentos ocorrem, a população não dor-me direito, apavorada com a possibilida-de de se repetir a tragédia de 12 de janeiro.

Para o PCB, a classe trabalha-dora tem o di-reito à moradia digna em local seguro, com to-dos os equipa-mentos urbanos e sociais que o Estado tem a obrigação de oferecer: pavi-mentação, ilu-minação públi-ca, saneamento básico, energia elétrica, telefonia, transporte público, saúde, educação, cultura e lazer.

O Fórum do Movimento Sindical e Popular de Nova Friburgo, do qual o partido participa, apresentou aos re-presentantes do governo estadual alter-nativas de espaços já urbanizados para a construção de habitações dignas. A desapropriação destes locais permitiria manter as populações em seus bairros

de origem, ao invés de encaminhá-las para áreas distantes, que carecem de todo tipo de infraestrutura e que ten-dem a se transformar em grandes gue-tos.

Os problemas se avolumam: obras re-alizadas pelas empreiteiras contratadas pelo governo do Estado já começaram a cair; os abrigos são paulatinamente

desat ivados , forçando as fa-mílias a voltar para as casas em área de ris-co ou a viver sem teto; filas imensas na Pre-feitura aguar-dam inscrição para o aluguel social que não sai, medida pa-liativa que não supre a real ne-cessidade dos desabrigados.

De acordo com nota divul-

gada pelos comunistas, “é hora de ir à luta de forma organizada. Somente a mobilização dos trabalhadores e das po-pulações atingidas pela tragédia pode garantir que sejamos ouvidos e aten-didos em nossas reivindicações. Vamos construir comitês populares nos bairros e locais de trabalho para lutar em defe-sa dos nossos direitos! Vamos ocupar as praças e as ruas!”.

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8 Março 2011ImprensaImprensaPopularPopular

fundamentalO 18 BRUMÁRIO DE LUIS BONAPARTE

Uma leitura

Obra de Marx denuncia o oportunismo burguês

TeoriaLuís Felipe Oiticica

Fevereiro de 1848. Na segunda Revolução Francesa, a aliança entre correntes burguesas re-

publicanas e o proletariado derruba Luis Filipe de Orléans e reintroduz a República. Três anos e meio depois, a 2 de dezembro de 1851, Luis Bona-parte – sobrinho de Napoleão e pre-sidente em final de mandato – apoia-do pela burguesia e pelos militares, dissolve a Assembleia Legislativa, manipula um plebiscito que ratifica o Golpe de Estado e afoga em san-gue a insurreição popular, em Paris. No ano seguinte, outro plebiscito proclama-o Imperador da França, sob o nome de Napoleão III. Serão seis anos de poder absoluto e mais 13, à base de concessões políticas.

O sobrinho imitava o tio, 52 anos depois! Em referência tanto ao Gol-pe de Estado com que Napoleão, em 9 de novembro de 1799 – 18 de brumário, pelo Calendário Revolu-cionário francês – evitou a ascenção das massas ao poder, quanto às di-ferenças de grandeza entre as figu-ras chaves dos dois momentos, Karl Marx aprofunda Hegel e afirma que os fatos e personagens importantes da História ocorrem, sim, duas ve-zes, “mas a primeira como tragédia e a segunda como farsa”. E chama ironicamente o Golpe de 1851 de o 18 de brumário de Luís Bonaparte.

Exatamente com este título, Marx publicou, em 1852, um de seus mais brilhantes textos teóri-co/políticos, que forma ao lado de O Capital e do Manifesto do Parti-do Comunista (este escrito com En-gels) a base do Materialismo His-tórico Dialético. O 18 Brumário de Luís Bonaparte é exatamente a teo-ria aplicada à prática, que, por sua vez, realimenta e ilumina a teoria. O livro não apenas narra, mas in-vestiga por dentro os acontecimen-tos e relaciona, dialeticamente, os choques entre classes e frações de classes, e o papel das lideranças.

Em sua análise, ainda no res-caldo dos acontecimentos, Marx divide-os em três períodos: o revo-lucionário, a partir da revolução de fevereiro de 1848; o da Assembleia Constituinte, de maio de 1848 a maio de 1849; e o da Assembleia Nacional Legislativa, de maio de 1849 ao Golpe de Estado.

O primeiro é um período de in-decisão entre as forças momenta-neamente aliadas. Ao objetivo bur-guês limitado de reforma eleitoral que amplie o círculo privilegiado do poder, contrapõe-se a vontade do proletariado, que levantara as barri-cadas contra a monarquia e a fizera debandar. Entretanto, a vontade do proletariado – uma república social que chegou a ser proclamada – não correspondia à real correlação de forças. O grau de politização das massas, a força material disponível,

os apoios possíveis, nenhuma das circunstâncias indispensáveis eram suficientes para a revolução proletá-ria, naquele momento.

Daí a famosa e aguda observa-ção de Marx de que “os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, lega-das e transmitidas pelo passado”.

Começa o segundo período, o da república burguesa. A burguesia in-dustrial governará em nome do povo. Seus aliados: aristocracia financeira, pequena burguesia, camadas mé-dias, intelectuais de prestígio, cam-pesinato, exército, clero – e, como tropa de choque, o lumpen-proleta-riado. As reivindicações proletárias são barradas. A insurreição de junho de 1848 é violentamente reprimida: 3 mil mortos e 15 mil deportados. O proletariado tenta, em diversos momentos, retomar a ofensiva, mas cada vez com menos força.

Paris fica sob estado de sítio, o

que influirá na reda-ção da Constituição. Em 10 de dezem-bro, Luis Bonaparte é eleito presidente. Em maio de 1849, a Assembleia Consti-tuinte é dissolvida antes do prazo, por pressão dos setores mais conserva-dores da aliança burguesa.

No terceiro período, todas as for-ças se enfrentarão na Assembleia Legislativa. Luis Bonaparte mano-bra habilmente para aumentar seu poder, apoiado na reacionária So-ciedade 10 de Dezembro. Ele rou-ba 25 milhões do Banco da França, compra generais, organiza seus asseclas, dissolve a Assembleia e encarcera os poucos resistentes. O proletariado já não tem nem força nem interesse em defender uma instituição desmoralizada. Luis Bonaparte assume o poder ditato-rial. É um golpe sem grandeza e sem coragem. Marx o ironiza im-piedosamente, na comparação com

os golpes anteriores de Cromwell, na Inglaterra, e do primeiro Napo-leão.

A derrota da República é a der-rocada da burguesia como classe dominante. A ditadura apoia-se no lumpen e no campesinato – embora se pretenda defensora da “ordem burguesa”. A contradição provoca confusão na economia, anarquia em nome da ordem. Os ideais de 1848 estão jogados na lama.

O extraordinário texto de O 18 Brumário de Luis Bonaparte é ao mesmo tempo uma aula de análise histórica dialética e denúncia polí-tica do oportunismo burguês. Luis Bonaparte morreu exilado em 1873, mas a glória tardia de ter o nome ligado a uma obra prima do mar-xismo pode servir de consolo à sua triste memória.

“O 18 Brumário de Luís Bonaparte é exatamente a

teoria aplicada à prática, que, por sua vez, realimenta e ilumina

a teoria. O livro não apenas narra, mas investiga por dentro os acontecimentos e relaciona,

dialeticamente, os choques entre classes e frações de classes,

e o papel das lideranças”

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9Março 2011 ImprensaImprensaPopularPopular

O 18 BRUMÁRIO DE LUIS BONAPARTE

A POLíTICA DE COMUNICAÇãO DO PCB

Construindo a

ComunistArte

A comunicação é, sem dúvida, uma esfera essencial na luta de classes. O poder da grande mídia se coloca, em geral, a serviço dos interesses do grande capital e dos países capitalistas mais desenvolvidos.O grau de concentração da mídia é impressionante: um reduzido número de famílias é detentor de mais de 80% das ações dos grandes grupos de comunicação mundiais, que englobam as principais agências internacionais de notícias e os grandes conglomerados de rádios, TVs e jornais impressos, muitos dos quais atuando em configurações próximas ao monopólio, como é o caso, na mídia impressa, do grupo “Globo”, no Estado do Rio de Janeiro.

Com o enredo “Cuba sim! Em nome da verdade”, a União da Ilha da Magia foi a campeã do Carnaval 2011 de Florianópolis. A escola fez um desfile impecável e conquistou 264,8 pontos. A médica cubana Aleida Guevara foi destaque e participou da apuração na arquibancada ao lado da comunidade.É a primeira vez que a revolução cubana é homenageada em desfile de samba. “Este enredo quer mostrar a saga de um povo que sonhou revolução e lutou para conquistar sua independência. A fibra de pessoas simples, alegres, cheias de sonhos e desejos que valorizam o social, o trabalho, a educação, a cultura e o esporte. Um lugar onde se vive sem miséria ou fome e que mantém acesa a chama dos ideais de liberdade, mesmo com todo o sofrimento do bloqueio que lhes é imposto pela “nação” à qual eles tiveram a ousadia de dizer não”, dizia a sinopse do enredo.Na comemoração cantaram-se palavras de ordem como “Cuba sim, yankees não. Viva Fidel e a revolução” também foram ecoadas. O destaque na pontuação foi para a Comissão de Frente, que trouxe um mosaico com o rosto de Che Guevara; e para a bateria, cujos integrantes estavam fantasiados vestidos de guerrilheiros revolucionários.

União da Ilha da Magia ganha Carnaval de Florianópolis

A relação entre a mídia e os in-teresses do capital começa pelo caráter de mercadoria

das notícias e informações: crimes vendem mais do que denúncias quanto ao desemprego e à pobreza dominante ou às ações políticas e militares do imperialismo; a grande mídia é recheada com a ideologia burguesa, revelada na linguagem, na promoção dos valores e “virtu-des” da “livre concorrência”, da so-ciedade de classes e dos “méritos” que justificam a divisão social entre ricos e pobres. O padrão de vida das camadas de alta renda é o que pre-domina nas novelas da TV, fazendo com que este, subliminarmente, se torne o objetivo de todos.

No plano político, a mídia cons-trói fatos e versões, criando “con-sensos” artificiais. Como justificar

os bilhões pagos aos grandes bancos e não investidos na área social, a fa-lência do sistema público de saúde, a falta de moradia para os trabalha-dores? As respostas passam pela re-petição e pela defesa de concepções burguesas e de políticas precárias, como a das UPAs, do combate mili-tarizado ao crime, da acusação feita aos pobres de serem eles próprios os responsáveis por morar em áreas precárias e de risco.

Os comunistas buscam atuar, in-tensamente, desde os primeiros mo-mentos de sua existência, na esfera da comunicação: os jornais comu-nistas reúnem as funções de organi-zadores da militância, de difusores de denúncias e informações para municiar a luta dos trabalhadores, trazendo, também, as reflexões e aportes teóricos do Marxismo, em

combate direto com a ideologia burguesa. Contando, hoje, com ou-tras mídias, o PCB busca, pela com-binação de instrumentos e ações, atuar fortemente nesse campo. Te-mos uma homepage, voltada para um público amplo, cuja função é divulgar, com atualizações diárias, os posicionamentos e ações do Par-tido, trazer informações nacionais e internacionais que não constam da pauta dos grandes jornais, divulgar estudos de referência marxista; te-mos um boletim eletrônico, voltado para a militância, para municiá-la para a ação no dia-a-dia da luta; te-mos notas políticas, divulgadas por meios impressos e em listas eletrô-nicas; usamos o Youtube e outras formas de comunicação.

Em nova versão, volta a circu-lar o jornal Imprensa Popular,

destinado a ser um instrumento de apoio ao trabalho do Partido nas suas áreas de atuação, volta-do para os simpatizantes, amigos, eleitores, pessoas interessadas na opinião e nos posicionamentos do PCB, pessoas com quem queremos dialogar e lutar em conjunto.

O “Imprensa Popular” trará in-formações que não constam das pautas dos jornais burgueses, po-sicionamentos partidários, análi-ses e reflexões, nas diversas áreas e esferas sociais em que se trava a luta de classes. Será um elo forte com o movimento comunista in-ternacional e se propõe a ser um forte instrumento na luta pelo construção de uma contra-hege-monia socialista e comunista, no caminho da superação revolucio-nária do capitalismo.

contra-hegemoniasocialista

Jornal mantém tradição de luta e organização da imprensa comunista

Cultura

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10 Março 2011ImprensaImprensaPopularPopular

Movimentos

Na lutaUJC convoca seminário

Na luta por um projeto de Universidade Popular, a União da Juventude Comunista (UJC) está convocando organizações, coletivos, partidos e indivíduos a se somarem na preparação e realização do I Seminário Nacional sobre Universidade Popular, no segundo semestre de 2011. “Após a primeira reunião de organização, construímos junto a diversos coletivos e entidades o texto “Rumo ao 1° Seminário Nacional sobre Universidade Popular”, com os primeiros apontamentos consensuais. Essa será uma grande oportunidade para potencializarmos e qualificarmos nossa atuação como força progressista na disputa por uma universidade para além dos marcos do capital”, afirma a organização dos jovens comunistas. De acordo com a UJC, a idéia é difundir o ideal de uma universidade “crítica, criadora de ciência e tecnologia para a superação das mazelas sociais e para a emancipação humana; e popular, em sua forma – sendo aberta a todos que hoje não tem acesso a uma educação superior pública e de qualidade – e em seu conteúdo – no sentido de se identificar com os anseios dos explorados e oprimidos de nossa terra, e solidária a todos os povos em luta por transformações sociais”.

saúde‘A

O Imprensa Popular entrevistou Maria Inês Bravo, organizadora da Frente Nacional contra a Privatização da Saúde. Nela, a assistente social lembra a mobilização peo Projeto de Reforma Sanitária, nos anos 1980, como exemplo de mobilização para a

defesa da saúde concebida como melhores condições de vida e de trabalho.

IMPRENSA POPULAR - Como você avalia a situação do sistema de saúde / seguridade social, hoje, no Brasil? O SUS está funcionando a contento?

MARIA INÊS BRAVO - A propos-ta do SUS apesar de sua importância histórica, tendo como marco o Movi-mento da Reforma Sanitária, não foi implementada na sua totalidade face ao avanço do Projeto Privatista nos anos 1990. O que temos na atua-lidade é o SUS para os pobres e não o SUS de direito, previsto na Consti-tuição de 1988.

IP - O sistema privado de saúde, onde os “planos” tem grande partici-pação, vem se expandindo cada vez mais e já domina muitos segmentos. É possível resolver os problemas de saúde da maioria da população com empresas privadas?

MIB - Claro que não. A saúde e as demais políticas públicas não po-dem ser privatizadas, mercantiliza-das. A política de saúde tem que ser atribuição do Estado e com controle democrático da população.

IP - Os últimos governos vêm apontando para propostas de trans-formação de hospitais públicos em “Organizações Sociais”. Na sua opi-nião, esta não é uma forma de disfar-çada de privatização?

MIB - As Organizações Sociais são formas de privatização e não são disfarçadas.Todas as propostas de modelos de gestão que surgiram a partir dos anos 1990, são frutos da contra-reforma do Estado iniciada no primeiro governo FHC, com o Plano Diretor da Reforma do Apa-relho de Estado (1995), coordenado por Bresser Pereira. As Organiza-ções Sociais (OS) e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Pú-blico (OSCIP) foram previstas neste período. Ambas privatizam as polí-ticas públicas através de parcerias com o setor privado, não valorizam a participação popular e os funcio-nários podem ser contratados sem concurso púbico. As mesmas podem adquirir bens e serviços sem proces-sos licitatórios e não prestar contas a órgãos de controle interno e exter-no da administração pública.

e as demaispolíticas públicas não podem ser privatizadas’

Maria Inês Souza Bravo é assistente social e coordenadora dos projetos “Políticas Públicas de Saúde: o potencial dos conselhos e dos movimentos sociais do Rio de Janeiro” e “Saúde, Serviço Social e Movimentos Sociais”.

IP - Qual é a sua opinião sobre o papel dos Hospitais Universitários? Como você vê a possibilidade de uma empresa controlar a contratação de servidores para estes hospitais, como aponta a MP 520?

MIB - Os Hospitais Universitários têm papel fundamental na formação de recursos humanos, na pesquisa e no atendimento, ou seja, na articu-lação ensino, pesquisa e extensão. A criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, pela MP 520/2010, assinada por Lula, em 31/12/2010, tem, entre outras atribui-ções, a de contratar servidores para os hospitais. A contratação seria por CLT e por contrato temporário de até 02 anos, tendo como conseqüências o governo desobrigar-se de fazer novos concursos na área da saúde e aca-bar com a estabilidade, que foi uma conquista dos servidores públicos na Constituição de 1988.Outras ques-tões com relação à política de pes-soal é a implementação da lógica da

rotatividade, típica do setor privado, no setor público o que compromete a continuidade e qualidade do aten-dimento. Prevê também a criação da previdência privada fechada para os funcionários.

IP - O Movimento contra a Privati-zação da Saúde foi lançado, recente-mente, no Rio, pelo Fórum de Defe-sa da Saúde Pública, foi um grande sucesso. Quais são as características desse movimento, e quais são as suas perspectivas?

MIB- A Frente Nacional contra a Privatização da Saúde surgiu como desdobramento do Seminário Nacio-nal “20 Anos do SUS: Lutas Sociais contra a Privatização e em Defesa da Saúde Pública Estatal” que ocorreu na UERJ/RJ, em novembro de 2010, organizado pelos Fóruns de Saúde do Rio de Janeiro, Alagoas, Paraná, São Paulo e Londrina, com a presença de 400 participantes. O Seminário teve como objetivo fortalecer a articulação

nacional entre diversas entidades, mo-vimentos sociais, sindicatos, centrais sindicais, partidos políticos, fóruns de saúde de estados e municípios, profes-sores e estudantes vinculados à saúde com a intenção de defender a saúde pública estatal e mobilizar lutas cole-tivas. Na plenária final do seminário, foi formada a coordenação nacional da Frente composta por diversas enti-dades. Considera-se fundamental, na atual conjuntura, o fortalecimento da Frente Nacional através da articula-ção entre diversos movimentos sociais e entidades com vistas à construção de resistência às medidas regressi-vas quanto aos direitos sociais e de mercantilização das políticas sociais. A mobilização em torno da viabiliza-ção do Projeto de Reforma Sanitária, construído nos anos oitenta no Brasil, é uma estratégia para a defesa da saúde concebida como melhores condições de vida e de trabalho bem como para construção da democracia econômica, social e política.

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11Março 2011 ImprensaImprensaPopularPopular

Trabalho

A votação do salário mínimo, em meados de fevereiro, demonstrou que o novo governo está sedento para demonstrar

às forças da burguesia a disposição por um grande arrocho nas contas públicas. O cená-rio para os trabalhadores está ainda pior que no governo Lula. É o que atesta o secretário Sindical do PCB, Sidney Moura, que conce-deu entrevista ao Imprensa Popular.

IMPRENSA POPULAR - - Sidney, qual o cenário atual para os trabalhadores?

SIDNEY MOURA - Nos primeiros momen-tos da crise, os estados injetaram bilhões de dólares para alavancar a economia. No Bra-sil não foi diferente. No entanto, a crise não foi superada, ainda está em curso. Estamos assistindo países da Comunidade Européia enfrentando graves problemas econômicos Só que agora os estados têm enormes difi-culdades para injetar recursos. A alternativa então é cortar na carne da classe trabalha-dora.

Estou convencido que manual de cabe-ceira Dilma é O Príncipe, de Maquiavel, em edição revisitada: O mal todo de uma vez, de-pois o mal aos poucos. Ela adotará medidas duras. È só ver como iniciou seu governo faz cortes no orçamento que atingiram impor-tantes programas sociais. Prepara também ataque as conquistas históricas dos trabalha-dores visando atender as exigências do capi-tal para desonerar folha de pagamentos.

Devemos nos preparar para enfrentar ar-rocho salarial e contra-reforma na previdên-cia reafirmando a pauta de lutas que con-tinuaremos levando às ruas e que no nosso entendimento deverão animar as atividades do 1º de maio que se aproxima. Greve geral não deixou de existir no vocabulário da UC (Unidade Classista, corrente do movimento sindical que aglutina os comunistas brasilei-ros), nem da INTERSINDICAL.

IP - A tentativa de flexibilização dos di-reitos trabalhistas nas pequenas e médias empresas atingiria um grande número de trabalhadores, por todo o país. Como travar a luta contra isso com pessoas que em sua maioria não tem nenhum histórico de orga-nização, e cujos sindicatos em sua maioria são apenas cartoriais?

SM - Os sindicatos comprometidos com a classe trabalhadora terão que redobrar a sua ação juntos as bases onde o sindicalis-mo de colaboração e resultados pro-capi-talista atua. A tarefa é usar toda a herança organizativa e de formação para desvelar as armadilhas que as sutilezas do capitalismo embutem quando introduzem novas tecno-logias e novas formas de gerenciamentos da produção. O objetivo de tais medidas é arre-fecer o processo de alienação e dar aos tra-balhadores a falsa impressão de que podem intervir nos processos produtivos recebendo como prêmio pelo comprometimento com o aumento da produtividade, participação nos lucros das empresas. Para que tais mudan-ças alienantes sejam introduzidas o melhor cenário são as crises. É nessa hora que ocor-rem as grandes mudanças. Os capitalistas se aproveitam dos temores da recessão por par-te dos trabalhadores e procuram convencê-los de que a saída só será possível se houver sacrifícios de “todos”. Nessas oportunidades,

os sindicatos de carimbo funcionam como verdadeiros RHs das empresas ou bombei-ros do movimento social.

A única forma de se enfrentar essa suti-leza das classes auxiliares capitalista é uti-lizando todos os recursos de comunicação sindical e dialogar diretamente com as ba-ses nos seus locais de trabalho e moradia. Este último é onde o trabalhador tem menos medos de se aproximar das lideranças com-bativas. Neste diálogo direto com os traba-lhadores devemos denunciar o peleguismo e a exploração propondo formas de enfren-tamentos que só se cristalizam com luta e atividades de formação.

IP - Temas como o poder normativo da Justiça do Trabalho, a PLR e a unicidade sindical por vezes nos afastam de nossos atu-ais parceiros no movimento. Como lidar com isso?

SM - Sei que vou falar o que para muitos pode parecer uma heresia. Mas pela fero-cidade com que o capital tem avançados sobre direitos e conquistas da classe tra-balhadora, a CLT é um verdadeiro guarda-chuva. Imagine o negociado prevalecer sobre o legislado, só para exemplificar. Acho que suprindo o que existe de tutela autoritária, devemos defender a amplia-ção de direitos dos trabalhadores na lei já consolidada. A PLR é uma tremenda en-ganação, pois condiciona o seu pagamento a metas inatingíveis No final acaba se tor-nando apenas uma gratificação que tenta embaçar a luta pelo salário digno, não con-tribuindo, portanto, para efetivação do sa-lário digno que todos esperamos obter no momento das aposentadorias. A unicidade deve ser perseguida, pois o paralelismo e fragmentação na organização da classe trabalhadora historicamente só favorecem os interesses do capital.

IP - Que saltos organizativos a Unidade Classista, corrente sindical ligada ao PCB, precisa dar? Há prioridade por alguma questão em específico?

SM - Realizaremos ainda neste primeiro semestre um ativo sindical onde faremos ajuste no planejamento e nas metas estra-tégicas para maior inserção da UC nos gran-des pontos de concentração industrial e de serviços públicos. Precisamos reforçar a nos-sa comunicação junto aos locais de trabalho, além de dar maior celeridade nas atividades de formação sindical para as novas lideran-ças que estão se aproximando da nossa se-ção sindical.

IP - Em pouco mais de um mês teremos o 1º de maio. Quais as bandeiras o PCB pre-tende levar aos trabalhadores?

SM - Mais e melhores empregos; fim do fator previdenciário; aposentadoria por tem-po de contribuição: não à aposentadoria aos 65 anos que quebra a solidariedade de clas-se entre as gerações de trabalhadores. Salá-rio mínimo do DIESSE. Salário não é renda: fim do imposto de renda sobre os salários dos trabalhadores que não tem a tarefa de demitir outros trabalhadores. Redução da jornada de trabalho, sem redução de salário. Enfim, nenhum direito a menos, avançar em novas conquistas.

OLHO: “

ENTREVISTA COM SIDNEY MOURA, SECRETÁRIO SINDICAL DO PCB

Para PCB, sindicatos terão que redobrar

Dirigente comunista anuncia ativo da Unidade Classista

Os capitalistas se aproveitam dos temores da

recessão por parte dos trabalhadores e procuram convencê-los de que a saída só será possível se houver sacrifícios

de ‘todos’

ação

‘’

a sua

Sidney Moura é professor e secretário sindical do PCB.

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12 Março 2011ImprensaImprensaPopularPopular

Frente Anticapitalista

VIRGÍNIA FONTES

“A luta dos trabalhadores contra o

capital-imperialismo deve tornar-se a luta de toda a humanidade”

Para intelectual, há crescimento da ação imperialista por novos atores

O Partido Comunista Brasileiro, a partir de sua análise do desenvolvimento do capitalismo em geral e da formação social brasileira, em

particular, entende que o processo revolucionário brasileiro é de caráter socialista. Para levar avan-te esta a construção, o PCB propõe, em seu XIV Congresso, uma frente política anticapitalista e an-tiimperialista, composta de partidos, organizações, movimentos sociais, grupos e ativistas políticos, de esquerda, socialistas e comunistas.

Para inaugurar, ouvimos as colocações e aná-lises da professora Virgínia Fontes, intelectual de prestígio e ativista política que, entre outras contribuições extremamente relevantes para o entendimento das condições em que se dá a luta de classes e dos rumos que esta luta deve seguir para a superação do capitalismo e a cons-trução do socialismo, publicou, em 2010, o livro “O Brasil e o capital-imperialismo”, pela Editora EPSJV/Fiocruz e Editora UFRJ.

IMPRENSA POPULAR - Virgínia, você aca-ba de publicar um excelente livro sobre a atu-alidade do capitalismo. Como você vê a crise atual do sistema? Há chances de reversão da crise “por dentro” da aplicação das políticas neoliberais?

VIRGÍNIA FONTES - A crise tem duas caras: a do capital e a da sociedade e uma alimenta a

outra. A crise do capital é de superacumulação. Ela não atingiu todos os países e é forte nos EUA e Europa, onde se concentra a riqueza. Essa as-simetria internacional da crise prenuncia reor-denamento importante, como o crescimento da importância da China e de outros países capital-imperialistas. Como toda a crise do capital, ela se torna uma crise social: os países centrais vêm piorando a vida dos trabalhadores, expropriando direitos e conquistas, principalmente na Europa. Mesmo países que não experimentaram a crise - Alemanha e o Brasil – estão aproveitando para expropriar direitos. Para alguns, a interferência explícita do Estado seria o fim do tal neolibera-lismo: esquecem que o Estado só ‘encolheu’ para os setores populares, os trabalhadores, mas nun-ca para o capital. Não há nenhuma reversão ‘por dentro’ das medidas neoliberais.

IP - Há uma retomada da mobilização e das lu-tas dos trabalhadores em muitos países, como a Grécia, a França e outros. É possível que, a partir desses movimentos, suja uma nova configuração política, com a retomada, por exemplo de direitos sociais perdidos nas últimas décadas?

VF - As lutas movem a história! Com certeza, a heróica luta dos povos grego, espanhol, português e francês tem papel central, expressando graus di-versos de descontentamento. A essas se agregam

as lutas na Tunísia, no Egito, na Arábia Saudita, na Palestina e a complexa guerra que vem sendo travada na Líbia. Olhem para o mapa: são lutas mediterrâneas, se expandindo em todo o contorno daquele mar europeu. O povo ali quer decidir o seu destino e ter vida digna.

IP - Como você vê a questão do imperialismo, hoje?

VF - As tensões inter-imperialistas tendem a crescer em condições de crise, sobretudo sendo a crise assimétrica. Há um crescimento da ação capital-imperialista por parte de outros países, como a China, mas também de grandes grupos brasileiros, que vem se transnacionalizando com apoio do BNDES. A intervenção dos EUA e da Eu-ropa na atual reconfiguração política do Oriente Médio pode levar a uma catástrofe mundial.

IP - O PCB propõe uma frente anticapitalista e antiimperialista para levar adiante a luta pelo socialismo. Como você avalia esta proposta?

VF - A vida humana vem sendo ameaçada pelo capital-imperialismo, que expropria as águas, a própria biologia humana e envenena a alimenta-ção e os ares. A luta dos trabalhadores contra o capital-imperialismo deve tornar-se a luta de toda a humanidade por sua emancipação da tragédia social que representa o capitalismo.

O Brasil e o capital-imperialismo: Teoria e História faz parte da coleção “Pensamento Crítico”, da Editora UFRJ. A obra propõe o retorno às obras clássicas para compreender o papel desempenhado pelo Brasil nas formas contemporâneas do imperialismo capitalista.Referenciada no marxismo, Virgínia revisita as interpretações de Lênin sobre o imperialismo e utiliza os referenciais de Gramsci para entender a sociedade civil brasileira e o papel da burguesia brasileira.Para Mauro Iasi, do Comitê Central do PCB, “a originalidade deste trabalho — que é o culminar de uma extensa pesquisa e fruto do longo amadurecer de um debate que parte das reflexões acadêmicas da autora, mas que se tempera no profícuo debate político com a militância e resistência da classe trabalhadora diante das manifestações inquietantes de ‘apassivamento’ da rebeldia que marcou os anos 1970 e 1980 — consiste no paciente trabalho de articular as dimensões da determinação econômica próprias da essencialidade do capital e de seu irresistível processo de valorização do valor, com as diversas manifestações que passam a incidir em todo o tecido da vida social, cultural, ideológica e política da sociabilidade subsumida ao capital”.

A mais recente contribuição de Virgínia para a revolução

Virgínia participou dos debates preparatórios ao XIV Congresso do PCB