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I INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DO INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE ÁGUA DOCE E PESCA INTERIOR INTERAÇÃO DOS GOLFINHOS DA AMAZÔNIA COM A PESCA NO MÉDIO SOLIMÕES SANNIE MUNIZ BRUM Manaus, Amazonas Agosto/2011

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I

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DO INPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE ÁGUA DOCE E PESCA

INTERIOR

INTERAÇÃO DOS GOLFINHOS DA AMAZÔNIA COM

A PESCA NO MÉDIO SOLIMÕES

SANNIE MUNIZ BRUM

Manaus, Amazonas

Agosto/2011

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II

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DO INPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE ÁGUA DOCE E PESCA

INTERIOR

INTERAÇÃO DOS GOLFINHOS DA AMAZÔNIA COM A PESCA NO

MÉDIO SOLIMÕES

SANNIE MUNIZ BRUM

Orientadora: Dra. Vera Maria Ferreira da Silva

Dissertação apresentado ao Programa de Pós-

Graduação do INPA, como parte dos requisitos para

obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas, área

de concentração em Biologia de Água Doce e Pesca

Interior.

Manaus, Amazonas

Agosto/2011

Fontes financiadoras: CNPq e Fundação O Boticário de Proteção à Natureza

Apoio: INPA, AMPA, Colônia de Pescadores Z-04 de Tefé

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III

BANCA JULGADORA

Membros

Dr. Geraldo Mendes dos Santos

Examinador interno

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/ INPA

Dr. Carlos Edwar de Carvalho Freitas

Examinador interno

Universidade Federal do Amazonas/ UFAM

Dr. Renato Azevedo Matias Silvano

Examinador externo

Universidade Federal do Rio Grande do Sul/ UFRGS

Manaus, Agosto de 2011

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IV

Dedico esta dissertação à minha família, Bill, Lu, Winnie e Lírie; com quem aprendi de

todas as formas.

“Tudo vale à pena se a alma não é pequena”

“O grande barato da vida é a paisagem, e ela só muda pra quem está andando”.

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V

FICHA CATALOGRÁFICA

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

SINOPSE

Estudou-se as interações do boto-vermelho (Inia geoffrensis) e do tucuxi (Sotalia fluviatilis)

com as atividades de pesca na região de Tefé, Amazonas. Além de definir as principais

características destas interações, espécie mais atingida, apetrechos mais recorrentes e

sazonalidade, o presente trabalho discute a respeito da pesca da piracatinga e da utilização dos

golfinhos nesta modalidade de pesca e indicou estimativas de mortalidade para as duas

espécies, apresentando também um limite de mortalidade capaz de orientar as ações de

conservação na região.

Palavras-chave: boto-vermelho, tucuxi, interações operacionais, pesca da piracatinga, limite de

mortalidade

B893 Brum, Sannie Muniz

Interação dos golfinhos da Amazônia com a pesca no Médio

Solimões / Sannie Muniz Brum. --- Manaus : [s.n.], 2011.

xvi, 114 f. : il. (algumas color.)

Dissertação (Mestrado em Biologia de Água Doce e Pesca Interior)-

-INPA, Manaus, 2011.

Orientadora: Dra. Vera Maria Ferreira da Silva

Área de concentração: Biologia de Água Doce e Pesca Interior

1.Boto (Mamífero aquático) – Captura 2.Boto (Mamífero aquático)

– Ecologia 3.Boto (Mamífero aquático) – Conservação 4.Boto

(Mamífero aquático) – Populações 5.Piracatinga - Pesca I.Título

CDD 19ª ed. 599.53045

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VI

“O homem é o maior de todos os predadores. Muitas vezes matando muito além das suas

necessidades, ele tende a condenar todos os outros predadores, especialmente se estes capturam

espécies que ele mesmo quer abater” (Odum, 1975)

“... até mesmo animais carismáticos e legalmente protegidos correm grande risco de extinção;

espécies não podem se salvar por si próprias, e as intervenções devem ser imediatas e decisivas”

(Turvey, 2007)

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VII

AGRADECIMENTOS

Agradeço desde já a todos que participaram da minha vida durante todas as etapas deste

projeto: cada um de vocês foi especial em cada momento.

Agradeço a minha orientadora, Dra Vera da Silva, primeiramente pela oportunidade de vir

para Amazônia e me apaixonar pela pesquisa e pelos golfinhos da Amazônia. Os primeiros anos no

Projeto Boto mudaram para sempre minha vida. Agradeço também por toda contribuição intelectual

e paciência com minhas urgências sempre atrasadas.

Agradeço ao Dr. Tony Martin, também pela oportunidade de atuar no Projeto Boto, onde

aprimorei meu inglês e visão científica no lugar mais inusitado possível.

Não posso deixar de agradecer à equipe do Projeto Boto 2007/2008, pela contribuição no

nascimento do projeto, pelos momentos mágicos e aventuras pela Amazônia. Obrigada Edinho,

Helen e Jane! E obrigada também aos pescadores da captura e todos os ribeirinhos de Mamirauá,

especialmente ao Sarney e equipe da Pousada Uakari: o que vocês me ensinaram vai bem além dos

bancos de salas de aula.

Agradeço a todos os professores do BADPI pelo conhecimento adquirido, ao INPA pela

oportunidade de cursar a pós-graduação e a Elany e Carminha pela ajuda com a burocracia.

Agradeço à Fundação Grupo O Boticário de Proteção à Natureza por financiar o projeto e ao

CNPq pela concessão da bolsa de mestrado.

Agradeço ao Dr. Celso Morato pela ajuda na estatística e aos membros da banca julgadora,

Dr. Geraldo Mendes, Dr. Carlos Edwar e Dr. Renato Silvano pelas críticas e colaboração ao

trabalho.

Agradeço demais à turma BADPI 2009! Sei que tivemos poucos momentos juntos, mas

foram todos muito especiais e me ajudaram muito com a rotina dura de Manaus. Muito obrigada!

Especialmente os que dividiram comigo boas risadas e muitas conversas (algumas sérias, outras

nem tanto): Alan (Mestre dos Magos), Alberto (Ministro), Bruno (Burnz), Bruninho, Chico Mário,

Carol, Gra, Larissa, Luiza, Paulinha, Virgínia e Zu! “E assim se passaram os melhores e mais

quentes anos das nossas vidas...”

Agradeço à AMPA e LMA pelos poucos, mas importantes, momentos em Manaus e pelas

críticas e sugestões em todas as etapas do trabalho: Dr. Fernando, Bel, Bruninho (de novo),

Claryana, Dani, Gabriel, Gália, Gi, Louzinha, Márcia, Nívia, Pat e Rodrigo. Um agradecimento

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VIII

especialíssimo ao Diogo, por ter quebrado muitos e muitos “galhos”. E à equipe “executiva”, Jone,

Lili e Séfora, pela super ajuda com o projeto.

Agradeço imensamente a todos os pescadores que contribuíram com o estudo. O projeto não

seria possível sem a paciência de vocês e todo aprendizado que me proporcionaram.

Um agradecimento mais que especial à Colônia Z-04 de Tefé, principalmente Jonas, Dona

Sabá e Seu Dodó. Além da incontável contribuição para o projeto, vocês fizeram com que os dias

exaustivos de trabalho fossem verdadeiros dias em família. Muitíssimo obrigada! E agradeço

também à equipe da Expedição para a FLONA Tefé pela inesquecível viagem regada a açaí.

Outro agradecimento muitíssimo especial aos pescadores do Acordo de Pesca do Capivara

pelas entrevistas, hospedagens, tambaquis e bate-papos à toa nas tardes no flutuante. Obrigada

especialmente para Alcione, Seu Arlindo, Seu Batalha, Cláudio, Seu Edvaldo, Seu Moacir, Seu

Rosa e Seu Sílvio.

Agradeço também a meus assistentes de campo Rômulo, Oquimar e Nêgo. O que faria sem

vocês?

Um especial agradecimento ao Nêgo, por não me deixar sozinha no “riozão” consertando

motor de barco, encalhando nas praias ou “alagando” nas tempestades e escuridão. Duvido muito

que estivesse aqui escrevendo estes agradecimentos sem você... rs

Agradeço a todos os meus amigos que tiveram que aceitar minha ausência, mas sabendo que

eu estava feliz, sempre me recebiam de volta como se tivéssemos nos visto na última semana... Eu

amo vocês de verdade Marília, Milla, Erick, Leo e Doido!

Agradeço muito ao amigo Cristiano (Doido) pela noite com fórmulas indecifráveis. A

dissertação não ficaria pronta sem você! Muito obrigada!

Agradeço a toda minha família: primos, avós, tios, meu padrinho, por aceitarem a distância e

a ausência em tantas datas especiais.

O agradecimento mais especial, sempre, à minha família querida demais: papito, mãe,

Winnie e Lírie. Devo todas as minhas conquistas à excêntrica e perfeita Família Brum! Amo vocês

sempre, em qualquer lugar...

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IX

RESUMO

Os golfinhos da Amazônia foram, durante muitos anos, protegidos por lendas e superstições. No

entanto, com a popularização das redes e a exploração de novos recursos pesqueiros, os conflitos

com as atividades de pesca têm sido crescentes. Os golfinhos da Amazônia no Médio Solimões

(Tefé, AM e arredores) estão ameaçados por duas principais fontes antrópicas: a mortalidade

acidental decorrente de interações operacionais com atividades de pesca e a captura para utilização,

principalmente do boto-vermelho, como isca para a pesca da piracatinga. Apesar de não haver

evidências de que esses golfinhos estejam ameaçados em toda sua distribuição, muitos impactos

antrópicos podem ameaçar populações locais. As populações dos golfinhos da Amazônia no Médio

Solimões enfrentam reduções, provavelmente devido aos impactos causados pelas atividades de

pesca e, apesar da dificuldade de se determinar níveis seguros para declínio de uma população, o

limite de mortalidade (ML) aplicado neste estudo pode ser uma ferramenta muito útil no manejo

dessas populações. O objetivo deste trabalho foi descrever a interação do boto-vermelho e do tucuxi

com a pesca na região e possíveis implicações para sua conservação. Entre os meses de fevereiro a

dezembro de 2010 foram entrevistados 180 pescadores por meio de questionários mistos;

acompanhadas 432 atividades de pesca nas cidades de Tefé, Alvarães e Uarini e comunidades

próximas por meio de entrevistas de desembarque e atividades de embarque; entrevistados 17

pescadores de piracatinga e levantadas produções pesqueiras de sete frigoríficos. As tramalhas são

os apetrechos mais utilizados e há supremacia da utilização de redes de cerco e de emalhar.

Segundo os pescadores, são frequentes as interações com botos-vermelhos, jacarés, ariranhas e

tucuxis, sendo o boto-vermelho muito comum. Em 90,28% das atividades de pesca monitoradas

houve interação operacional com alguma espécie que não a espécie-alvo. Interações com os

golfinhos ocorreram em 78,47% das atividades com diferença quanto às duas espécies, sendo as

interações com botos-vermelhos muito mais frequentes. Para esta espécie, a interação mais

frequente foi “tocaia”, com a tramalha. Observou-se também prevalência de interações negativas

aos pescadores relacionadas às interações operacionais com os botos. As épocas de cheia e seca

foram significativas quanto à ocorrência de interações operacionais e há também prevalência de

interações em locais de águas calmas. Foram registrados 24 golfinhos envolvidos em interações

negativas para os mesmos, sendo 21 botos-vermelhos e três tucuxis. Durante este estudo, foi

estimado em 176 botos-vermelhos e 26 tucuxis o número total de golfinhos envolvidos em

interações negativas. Os golfinhos não são consumidos ou têm partes utilizadas em superstições na

região, sendo o uso do boto-vermelho como isca para a pesca da piracatinga a única utilização

reportada. Pescadores de piracatinga entrevistados não identificam este pescado como principal

espécie-alvo e sim uma alternativa de rápido retorno financeiro. O procedimento para essa pesca

utiliza o artefato conhecido como “caixa”. A isca utilizada pode ser carne de jacarés, botos ou

vísceras de bagres, com preferência pelo boto-vermelho. São comuns relatos de pescadores já

especializados na captura de botos ou jacarés para fornecimento de isca. A produção anual de

piracatinga dos frigoríficos estabelecidos na região fica em torno de 420 toneladas. A produtividade

da pesca da piracatinga é de cerca de 250 kg por pescador por hora de pescaria. Não foi evidenciado

uso do tucuxi para esta atividade. Para a utilização do boto-vermelho, obtivemos razão de 1 kg de

isca para 3,2 kg de pescado, estimando em 170 o número de botos mortos por ano para utilização

como isca nesta região. A mortalidade foi estimada em 346 botos-vermelhos e 26 tucuxis mortos

por ano em decorrência de interações com atividades de pesca e o limite de mortalidade

estabelecido indicou como sustentável a mortalidade de apenas 48 botos-vermelhos e 43 tucuxis.

Concluiu-se que os golfinhos da Amazônia interagem de maneira diferente com a pesca, tanto na

visão dos pescadores quanto em interações operacionais, extremamente frequentes na região de

estudo. Essa prevalência culmina nos conflitos observados entre pescadores e botos-vermelhos e

deve estar contribuindo fortemente para a atual redução desta espécie na área de estudo. O boto-

vermelho está seriamente ameaçado e medidas para sua conservação devem ser rápidas e decisivas.

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X

ABSTRACT

For many years, Amazon dolphins remained protected by legends and superstitions. However, with

the popularization of nets and the exploitation of new fishery resources, the conflicts are constantly

increasing. The dolphins in the medium Solimões river (Tefé, AM and surroundings) are threatened

mainly by two antropic sources: accidental mortality in fishery and the use, especially of boto, as

bait to piracatinga´s fishery. Although we have no evidences that Amazon dolphins are threatened

in all its distribution, antropic impacts can threaten local populations. The populations of botos and

tucuxis in the medium Solimões river are facing reductions, probably due to the impacts caused by

fisheries activities. Despite the difficulty on establishing safe levels to populations’ decline, the

mortality limit (ML) applied in this study can be a usefull tool in the handling of dolphin’s

populations. The objective of this study was to describe the interactions between these dolphins and

fisheries in the region and the possible implication for its conservation. During 11 months, from

February to December of 2010, 180 fishermen and 17 piracatinga`s fishermen were interviewed

using mixed questionnaries, 432 fisheries operations were followed, one Fishing Association and

seven cold storages were surveyed in the cities of Tefé, Alvarães, Uarini and its near communities.

“Tramalha” (gillnets) is the gear most used and there is supremacy in the use of nets. According to

fishermen, interactions with botos, alligators, giant otters and tucuxis are frequent, with boto being

the most common. 90,28% of the fisheries activities monitored had operational interaction with

some species other than targeted ones. Interactions with dolphins occurred in 78,47% of the

activities and were observed a difference between the two species: interactions with botos are more

common. To the boto the most frequent interaction was “tocaia” (ambush), and the gear most

involved were gillnets. Prevalence of negative interactions afffecting the fishermen were also

observed. Flooded and Dry seasons were significant in the occurrence of operational interactions

and also had prevalence of interactions in calm water locations. We registered 24 dolphins involved

in negative interactions for them, being 21 botos and three tucuxis. We estimated 176 botos and 26

tucuxis as the total number of dolphins killed in negative interactions. The dolphins are not

consumed nor used on mystical activities in the region and the inclusion of boto as bait for

piracatinga´s fisheries was the only reported use. Piracatinga´s fishers did not identificated this fish

as main targeted species but as an alternative of fast money return. The procedure for this fishery

includes the device known as “box”. The bait used can be meat of alligators, botos or catfish´s guts,

with preference for boto. Stories about fishermen already specialized in the boto´s or alligator´s

capture for bait supply are common. The annual piracatinga´s production of cold storages in the

region is around 420 tons. The productivity of piracatinga´s fishery is about 250 kg per fisherman

per hour. The use of tucuxi for this activity was not evidenced. To boto, we got a rate on 1 kg of

bait to attain 3,2 kg of piracatinga and estimated that 170 botos die per year due to this activity in

the region. The estimatives of mortality had been defined in 346 botos and 26 tucuxis per year as a

result of fisheries interactions and we established 48 botos and 43 tucuxis as the sustainable death

rate for each animal. We conclude that, both on fishermen´s mind and in true operational

interactions, the Amazon dolphins interact in different ways with fishery. The operational

interactions with dolphins are extremely frequent in the studied region and its prevalence generates

the conflicts observed between fishers and botos, therefore, this must be the reason to the current

reduction of boto´s population in the studied area. The boto is seriously threatened and

conservation´s interventions need to be swift and decisive.

KEYWORDS: boto; tucuxi; operational interactions; piracatinga; mortality limit

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XI

SUMÁRIO

RESUMO ......................................................................................................................................... IX

ABSTRACT ........................................................................................... Erro! Indicador não definido.

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................... XIV

LISTA DE TABELAS ................................................................................................................ XVII

INTRODUÇÃO GERAL ................................................................................................................... 1

OBJETIVO GERAL ........................................................................................................................ 6

OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................................................... 6

ÁREA DE ESTUDO ........................................................................................................................ 6

CAPÍTULO I – Atividades de pesca e interações operacionais com os golfinhos da Amazônia

no Médio Solimões ............................................................................................................................. 9

RESUMO ....................................................................................................................................... 10

ABSTRACT ................................................................................................................................... 11

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 12

MÉTODOS .................................................................................................................................... 13

RESULTADOS .............................................................................................................................. 17

Embarcações de pesca ............................................................................................................... 17

Pescadores e apetrechos de pesca ............................................................................................. 18

Caracterização do desembarque ............................................................................................... 22

Relações dos pescadores com os golfinhos da Amazônia ......................................................... 24

Utilização dos golfinhos ............................................................................................................ 26

Carcaças encontradas ............................................................................................................... 26

Interações operacionais ............................................................................................................. 27

Interações negativas para os golfinhos ..................................................................................... 30

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XII

Estimativas de mortalidade dos golfinhos ................................................................................. 33

DISCUSSÃO ................................................................................................................................. 35

Embarcações de pesca ............................................................................................................... 35

Pescadores e apetrechos de pesca e caracterização do desembarque ...................................... 36

Relações dos pescadores com os golfinhos da Amazônia e interações operacionais ............... 39

Interações negativas para os golfinhos e estimativas de mortalidade ...................................... 46

CAPÍTULO II – A pesca da piracatinga e a utilização dos golfinhos da Amazônia no Médio

Solimões, Amazonas ......................................................................................................................... 49

RESUMO ....................................................................................................................................... 50

ABSTRACT ................................................................................................................................... 50

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 51

MÉTODOS .................................................................................................................................... 52

RESULTADOS .............................................................................................................................. 53

DISCUSSÃO ................................................................................................................................. 60

CAPÍTULO III – Potenciais limites à mortalidade dos golfinhos da Amazônia decorrentes de

atividades de pesca no Médio Solimões e implicações para sua conservação ............................. 66

RESUMO ....................................................................................................................................... 67

ABSTRACT ................................................................................................................................... 67

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 68

MÉTODOS .................................................................................................................................... 70

Área de estudo ............................................................................................................................ 70

Estimativas de abundância ........................................................................................................ 70

Estimativas de mortalidade dos golfinhos da Amazônia ........................................................... 71

Limites de mortalidade .............................................................................................................. 72

RESULTADOS .............................................................................................................................. 73

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XIII

DISCUSSÃO ................................................................................................................................. 74

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................... 78

SÍNTESE ........................................................................................................................................ 78

MEDIDAS MITIGATÓRIAS ........................................................................................................ 78

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 83

ANEXOS ......................................................................................................................................... 101

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XIV

LISTA DE FIGURAS

INTRODUÇÃO GERAL

Figura 1: O boto-vermelho (Inia geoffrensis) ......................................................................... 2

Figura 2: O tucuxi (Sotalia fluviatilis) ..................................................................................... 3

Figura 3: Mapa da área de estudo ............................................................................................ 9

CAPÍTULO I

Figura 1: A. Barco pesqueiro, com canoa movida a remo ao lado; B. Canoa-rabeta ............ 19

Figura 2: A. Esquema do apetrecho “malhadeira”, segundo Petrere Jr., 1977; B. Apetrecho

tramalha; C. Apetrecho malhadeira ................................................................................................... 21

Figura 3: Apetrecho redinha .................................................................................................. 22

Figura 4: A. Apetrecho arrastão evidenciando a chumbada diferenciada; B. Apetrecho

arrastão em uso................................................................................................................................... 22

Figura 5: Entreposto de Pesca de Tefé ................................................................................... 23

Figura 6: Frequência de utilização e efetividade na produção total dos apetrechos

identificados no desembarque das atividades de pesca na região de Tefé ......................................... 24

Figura 7: Número de citações a respeito das espécies não-alvo que mais interagem com as

atividades de pesca na região de Tefé ................................................................................................ 26

Figura 8: Número de citações dos pescadores relacionada as principais interações com

apetrechos e as espécies de golfinhos da Amazônia na região de Tefé ............................................. 26

Figura 9: Categorias de interações operacionais registradas entre botos-vermelhos e

atividades de pesca na região de Tefé ................................................................................................ 30

Figura 10: Grupos de interações operacionais registradas com botos-vermelhos e atividades

de pesca na região de Tefé ................................................................................................................. 30

Figura 11: Número de ocorrências de interações operacionais com botos-vermelhos para

cada apetrecho de pesca e observações esperadas caso houvesse homogeneidade ........................... 31

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Figura 12: Número de ocorrências de interações operacionais entre botos-vermelhos e

atividades de pesca por mês na região de Tefé .................................................................................. 31

Figura 13: Número de ocorrências observadas e esperadas (em caso de homogeneidade) de

interações operacionais com botos-vermelhos de acordo com a sazonalidade hidrológica .............. 32

Figura 14: Interação de “emalhe” com boto-vermelho .......................................................... 33

Figura 15: Filhote de boto-vermelho morto após interação de “arpoamento” ....................... 33

Figura 16: Filhote de boto-vermelho emalhado no Lago Pantaleão e posteriormente liberado

por pescadores .................................................................................................................................... 35

CAPÍTULO II

Figura 1: A piracatinga ou urubu da água (Calophysus macropterus) .................................. 52

Figura 2: Quantidade (em kg) de piracatinga declarada por pescadores registrados

comercializada na região de Tefé entre os anos de 2003 a 2010 (de acordo com dados da Colônia de

Pesca Z-04 de Tefé) ........................................................................................................................... 55

Figura 3: Quantidade (em kg) de piracatinga declarada por pescadores registrados

comercializada por mês na região de Tefé de acordo com os anos (conforme dados da Colônia de

Pesca Z-04 de Tefé) ........................................................................................................................... 55

Figura 4: Processo resumido para a pesca de piracatinga ...................................................... 57

Figura 5: Artefato utilizado para pesca da piracatinga - a "caixa" ......................................... 58

Figura 6: Parte da produção de piracatinga sendo eviscerada ............................................... 58

Figura 7: Cabeça de boto-vermelho (Inia geoffrensis) descartada após utilização do animal

como isca para a pesca da piracatinga ............................................................................................... 59

CAPÍTULO III

Figura 1: Polígonos representativos dos principais corpos de água e pesqueiros da região

utilizados para cálculo de estimativas de abundância na área de influência das atividades de pesca

das proximidades de Tefé, Amazonas ................................................................................................ 72

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XVI

Figura 2: Gráfico comparativo entre as diferentes mortalidades encontradas para os

golfinhos da Amazônia e o limite definido (ML) .............................................................................. 75

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XVII

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO I

Tabela 1: Métodos utilizados durante o estudo ...................................................................... 15

Tabela 2: Interações operacionais passíveis de ocorrer comos golfinhos da Amazônia ....... 17

Tabela 3: Número total de entrevistas/atividades .................................................................. 18

Tabela 4: Número total de interações operacionais ............................................................... 28

Tabela 5: Interações operacionais com tucuxis ...................................................................... 29

Tabela 6: Interações operacionais com botos-vermelhos ...................................................... 29

Tabela 7: Teste de qui-quadrado para interações operacionais por apetrecho para o boto-

vermelho............................................................................................................................................. 31

Tabela 8: Teste de qui-quadrado para interações operacionais por sazonalidade para o boto-

vermelho............................................................................................................................................. 32

Tabela 9: Número de interações por estações com tucuxis ................................................... 32

Tabela 10: Número de golfinhos envolvidos em interações negativas para os mesmos ....... 34

CAPÍTULO IV

Tabela 1: Estimativas de abundância no Médio Solimões, de acordo com Martin e

colaboradores (2004).......................................................................................................................... 71

Tabela 2: Estimativas de mortalidade para os golfinhos da Amazônia, de acordo com os

capítulos I (estimativas de mortalidade acidental) e II (estimativas de captura direta) desta

dissertação .......................................................................................................................................... 73

Tabela 3: Nmin e ML calculados para cada espécie na área de estudo ................................... 74

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INTRODUÇÃO GERAL

Na Amazônia existem duas espécies de cetáceos odontocetos: o boto-vermelho (Inia

geoffrensis Blainville, 1817) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis Gervais & Deville, 1853). Estes golfinhos

pertencem a duas famílias distintas, Iniidae (superfamília Platanistoidae – os golfinhos fluviais) e

Delphinidae (superfamília Delphinoidea), respectivamente. São simpátricos, mas apresentam

diferenças marcantes entre si quanto à dieta, preferência de habitat e história natural (da Silva,

1994; da Silva & Best, 1994; Martin et al., 2004; Faustino & da Silva, 2006).

O boto-vermelho, ou boto, é endêmico de águas continentais do norte da América do Sul e

habita lagos e rios das bacias Amazônica, Araguaia-Tocantins (Best e da Silva, 1989) e do Orinoco

(Best e da Silva, 1993). Taxonomicamente, três subespécies são reconhecidas: I. g. geoffrensis da

bacia Amazônica (Brasil, Colômbia, Peru e Equador); I. g. bolivienses no Brasil (acima das

cachoeiras do Rio Madeira) e na Bolívia (Aliaga-Rossel et al., 2006); e I. g. humboldtiana na bacia

do Orinoco, na Venezuela e Colômbia (da Silva, 1994; Best e da Silva, 1993; Hamilton et al.,

2001). Estudos genéticos (Banguera-Hinestroza et al., 2002; Martínez-Agüero et al., 2006;

Hamilton et al., 2001) reforçaram evidências morfológicas consideradas por da Silva (1994)

sugerindo que os botos dos rios da Bolívia são uma unidade evolucionária distinta dos botos das

bacias do Amazonas e do Orinoco e Inia boliviensis deve ser reconhecida como uma nova espécie.

No Brasil, Inia geoffrensis é a única espécie reconhecida da família (da Silva e Martin, 2010).

Os botos (figura 1) têm como característica física uma longa e baixa nadadeira dorsal;

nadadeiras peitorais grandes, largas e capazes de efetuar movimentos em diversas direções; um

rosto estreito e longo; e grande flexibilidade do pescoço e do corpo devido a não-fusão de suas

vértebras cervicais. Essas características permitem que eles nadem em locais de menor

profundidade e em ambientes de floresta alagada (Best e da Silva, 1993). Entre outras

características, o boto difere dos outros golfinhos de água doce por ter o maior tamanho corporal e

por possuir dentição heterodonte, com dois tipos de dentes: cônicos na região anterior e com

depressão mediana na série posterior (da Silva, 1983).

A variação da coloração corporal dos botos está relacionada, aparentemente, com a idade.

Os neonatos e juvenis possuem coloração cinza-escuro e tornam-se mais claros ao longo do

crescimento; machos adultos são mais rosados, devido à despigmentação da superfície do corpo

causada por abrasão e cicatrizes (Martin e da Silva, 2006). Os botos apresentam alto grau de

dimorfismo sexual, com machos adultos mais rosados, maiores e mais robustos que as fêmeas e que

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apresentam comportamento agressivo em relação a outros machos (Martin e da Silva, 2006; Martin

et al., 2008).

Figura 1: O boto-vermelho (Inia geoffrensis)

Os botos normalmente são solitários e não formam grupos sociais estáveis, com exceção da

relação mãe/filhote. No entanto, grandes agregações podem ocorrer especialmente em áreas de

alimentação e durante o período reprodutivo (Martin e da Silva, 2006).

A gestação dura cerca de 11 meses. Os filhotes nascem pesando, aproximadamente, sete

quilos e medindo 80 centímetros (Best e da Silva, 1993) e permanecem com a mãe entre dois e

quatro anos. Na fase adulta, os machos podem alcançar 255 cm de comprimento e pesar 185 kg, e

as fêmeas em torno de 216 cm e 142 kg (da Silva 1994; Martin e da Silva, 2006).

O tucuxi (figura 2) ocorre apenas na bacia Amazônica e é considerado o único delfinídeo

exclusivamente fluvial (Cunha et al., 2005). Até recentemente, a taxonomia do gênero Sotalia era

incerta. Alguns autores consideravam uma única espécie com duas subespécies distintas, Sotalia

fluviatilis fluviatilis com ocorrência fluvial e Sotalia fluviatilis guianensis para animais marinhos

(Rice, 1998) e outros autores consideravam apenas uma espécie, Sotalia fluviatilis, com 2 ecótipos

distintos em ambientes marinhos e de água doce (da Silva e Best, 1994). Com base em morfometria

Projeto Boto

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geométrica e características da história natural destes animais, Monteiro-Filho e colaboradores

(2002) sugeriram o restabelecimento do uso do nome Sotalia guianensis para as populações

marinhas (boto-cinza) e Sotalia fluviatilis para as fluviais (tucuxi), corroborado por estudos

genéticos (Cunha et al., 2005; Caballero et al., 2007). Atualmente, outros estudos morfométricos

confirmaram o estabelecimento das duas espécies (Fettuccia, 2006; Fettuccia et al., 2009; Fettuccia,

2010).

Figura 2: O tucuxi (Sotalia fluviatilis)

O tucuxi é facilmente diferenciado do boto-vermelho. É um golfinho pequeno, medindo no

máximo 160 cm, com nadadeira dorsal proeminente e triangular. Geralmente é cinza escuro na

região dorsal e nadadeiras. A região ventral é mais clara, variando entre branco e cor-de-rosa,

enquanto a região lateral possui uma coloração cinza claro atrás das nadadeiras peitorais e outra

localizada no meio do corpo próximo ao ânus (da Silva e Best, 1996b). Como todos os delfinídeos,

o tucuxi possui vértebras cervicais fundidas e o corpo mais rígido que o boto, assim alcança

velocidades maiores em ambientes abertos, mas o impede de explorar a floresta alagada (da Silva et

al., 2008).

Poucos estudos sobre tucuxis foram realizados em cativeiro ou na natureza e,

consequentemente, o conhecimento sobre história natural desta espécie é limitado. Não se observa

dimorfismo sexual e a estratégia reprodutiva é do tipo promíscuo, com competição dos

Projeto Boto

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espermatozóides dentro da fêmea. A gestação é de cerca de 10 meses e os nascimentos ocorrem

durante a estação de águas baixas (da Silva et al., 2008).

Até 2007, o boto-vermelho estava classificado como “Vulnerável” na Lista Vermelha de

Espécies Ameaçadas da IUCN1, especialmente devido a projetos de desenvolvimento em sua área

de ocorrência, com a consequente destruição de seu habitat. No entanto, em 2008, a espécie foi

reavaliada e classificada como “Dados Insuficientes” (IUCN, 2011) por ser relativamente pouco

conhecida quanto às questões populacionais ao longo da sua distribuição. O tucuxi está classificado

como “Dados Insuficentes” devido ao reduzido conhecimento sobre a espécie.

A recente classificação da IUCN, no entanto, não significa que essas espécies não sejam

alvos de ameaças, podendo mascarar os reais riscos e de certa forma prejudicar as medidas de

conservação requeridas aos órgãos públicos de meio ambiente e à sociedade (Araújo, 2010).

De acordo com a Lei Federal 7643 de 18 de dezembro de 1987, e complementada pelas

portarias 117 de 26 de dezembro de 1996, e 24 de oito de fevereiro de 2002, do IBAMA2, é crime o

molestamento e a captura intencional de cetáceos em águas jurisdicionais brasileiras. Apesar de

protegidos por lei, os golfinhos da Amazônia estão ameaçados pelo turismo desordenado

(Romagnoli, 2009; de Sá Alves et al., 2009); represamento de rios para fins hidrelétricos e poluição

por organoclorados e metais pesados (da Silva, 2002; Reeves et al., 1999; Torres et al., 2009); além

da mortalidade decorrente de interações com a pesca (Best e da Silva, 1993; da Silva e Martin, 2007;

Serrano et al., 2007; da Silva et al., 2008;da Silva e Martin, 2010).

Os golfinhos que habitam ambientes fluviais são considerados os cetáceos mais ameaçados,

já que ocorrem em áreas de elevada ocupação humana e, por conseguinte, os conflitos e pressão

antrópicos sobre os recursos naturais são mais intensos (Araújo, 2010). Todas as outras espécies da

superfamília Platanistoidea – formada pelos golfinhos de rio, encontram-se em alguma categoria de

ameaça (IUCN, 2011). Platanista gangetica, que ocorre no sudeste asiático, encontra-se na

categoria “ameaçada”; Lipotes vexillifer, no rio Yang-Tse, na China, é classificada como

“criticamente ameaçada” e possivelmente extinta; e Pontoporia blainville, espécie que habita

ambientes costeiros, está classificada como “vulnerável” (IUCN, 2011). Acredita-se que a

diminuição das populações destes golfinhos tenha se dado devido à degradação do habitat

(principalmente com a construção de barragens para os golfinhos fluviais) e às interações com a

pesca (Northridge, 1985; Rocha-Campo et al., 2010; IUCN, 2011).

1 International Union for Conservation of Nature and Natural Resources.

2 Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.

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Os golfinhos da Amazônia foram, por muitos anos, protegidos por lendas e superstições (da

Silva e Best, 1996a; Slater, 2001). No entanto, com a introdução de novos materiais que

popularizaram redes de emalhe (Batista, 1998) e a exploração de novos recursos pesqueiros, os

conflitos com as atividades de pesca têm sido crescentes (Northridge, 1985; da Silva e Martin,

2010). A mortalidade decorrente de interações com atividades de pesca parece ser a maior ameaça

em toda distribuição de ambas as espécies (da Silva e Martin, 2007), apesar de não ter sido estudada

sistematicamente. Como para outros odontocetos, botos-vermelhos e tucuxis são vulneráveis ao

emalhe em uma variedade de redes e a morte acidental em apetrechos de pesca parece ocorrer em

toda Amazônia (e.g. Trujillo et al., 2010a). Isto constitui um problema tanto para os animais quanto

para os pescadores, que reclamam dos prejuízos causados a seus artefatos de pesca (da Silva e Best,

1996a; Barbosa, 2001; Fernandes, 2006).

Desde o ano de 2000, os golfinhos da Amazônia têm sido mortos também para utilização

como isca na pesca da piracatinga (Calophysus macropterus) (Estupiñan et al., 2003; da Silva e

Martin, 2007). Apesar de recente, esta atividade apresenta preocupantes números relativos à

mortalidade dos botos (e.g. Serrano et al., 2007; de Sá Alves et al., 2010; da Silva et al., 2011) e

parece estar se expandindo.

O boto-vermelho e o tucuxi são importantes para a identidade do povo amazônico;

personagens do folclore regional (Slater, 2001; Fraxe, 2004); e predadores de topo de cadeia,

apresentando assim importante papel na manutenção dos ecossistemas fluviais amazônicos. No

entanto, golfinhos e pescadores estão em constante conflito, e entender como estes animais estão

sendo afetados pela pesca torna-se crítico para a conservação da Amazônia e seus recursos

pesqueiros.

Estudos relacionados às interações de espécies não-alvo com artes de pesca usam diferentes

métodos, mas tipicamente buscam responder questões similares: onde e quando as interações

acontecem; quais tipos de pesca estão envolvidos; quais espécies não-alvo são afetadas; quantos

indivíduos estão sendo mortos; o quanto esta mortalidade representa no contexto populacional; e o

que pode ser feito para reduzir os efeitos não desejáveis das atividades de pesca (Zydelis et al.,

2009). Neste contexto, o objetivo do presente estudo foi descrever os conflitos entre pescadores e os

golfinhos no Médio Solimões e avaliar suas implicações para a conservação dessas espécies nessa

região.

Este trabalho está dividido em três capítulos que serão submetidos a revistas especializadas.

No primeiro capítulo, descrevemos a atividade de pesca na região de Tefé, a relação dos pescadores

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com os golfinhos da Amazônia e suas interações com as atividades de pesca. No segundo capítulo,

tratamos da questão da pesca da piracatinga e uso dos golfinhos nesta atividade; e o terceiro

capítulo, discute possíveis impactos às populações de golfinhos em decorrência das interações com

a pesca. Ao final, relacionamos medidas mitigatórias para os problemas encontrados.

OBJETIVO GERAL

Descrever a interação dos golfinhos da Amazônia com a pesca na região do Médio Solimões

e implicações para sua conservação.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Descrever pesqueiros, embarcações e apetrechos utilizados pelos pescadores de três cidades

na região do Médio Solimões, bem como a relação dos pescadores com os golfinhos;

2. Definir o tipo de interação, época do ano, local e apetrechos mais frequentes em interações

operacionais da pesca com os golfinhos de rio na região de estudo;

3. Mensurar a captura acidental nas diferentes artes de pesca das duas espécies de golfinhos

presentes na região;

4. Caracterizar a pesca da piracatinga e sua interação com os golfinhos na região de estudo;

5. Avaliar o impacto das capturas, tanto acidental como intencional, para as populações de

golfinhos da Amazônia;

6. Propor medidas mitigatórias que visem diminuir as interações, trazendo benefícios para os

golfinhos e para os pescadores.

ÁREA DE ESTUDO

O estudo se concentrou nos pescadores de três cidades do Médio Rio Solimões, na

Amazônia Central, Brasil: Tefé (03°20’S/ 64°54’W), Alvarães (03º13’S/ 64º48’W) e Uarini

(02º59’S/ 65º06’W); e nas áreas por eles utilizadas em suas pescarias, que incluíam áreas de outros

municípios próximos (figura 3).

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Distanciando-se em linha reta a 516 km de Manaus, Tefé é um dos mais importantes

municípios do Médio Solimões e considerado um pólo comercial e financeiro desta região (Sousa,

2007), com área de 23.074 km² e 61.399 habitantes. As cidades de Alvarães e Uarini são bem

menores, com 5.912 km2

e 14.080 habitantes e 10.246 km2

e 11.906 habitantes, respectivamente

(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, 2011).

Na região inserem-se a maior área de conservação de várzea do Brasil, a Reserva de

Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá (Mamirauá, 1996), onde os golfinhos da Amazônia

vêm sendo estudados desde 1994 (da Silva e Martin, 2000); a Floresta Nacional (FLONA) de Tefé;

e a RDS Amanã. A pesca é predominantemente artesanal, do tipo de subsistência e comercial,

porém intensa (Barthem et. al, 1997), representando a maior atividade extrativista da população

local (Sousa, 2007). Os entrepostos de pesca abastecem principalmente o mercado local (Barthem,

1994), mas têm-se observado uma expansão para novos mercados (Estupiñan et al., 2003).

A frota pesqueira de Tefé é bem diversificada e atua principalmente em dois pesqueiros3: o

Lago de Tefé e o Paranã do Capivara (Barbosa, 2001). Com a recente implantação de Acordos de

Pesca4, novos pesqueiros, mais distantes, têm sido explorados. Estes locais apresentam

características hidrológicas semelhantes, com a subida de água lenta durante os meses de dezembro

a junho ou julho, e uma descida rápida, durante os meses de agosto a novembro (Ayres, 1995).

Os pescadores da região estão organizados em três instituições: a Colônia de Pesca Z-04 de

Tefé, a Colônia de Pesca Z-23 de Alvarães, e a Associação de Pescadores Profissionais Artesanais

do Uarini. As Colônias de Pesca são órgãos de classe dos trabalhadores do setor artesanal da pesca5

e têm a intenção de fortalecer os pescadores. Além dos pescadores organizados nas Colônias,

pescadores de subsistência e também comerciais não vinculados a estas organizações encontram-se

nas comunidades próximas.

As comunidades da região são principalmente agrícolas, mas praticam a pesca para obtenção

de alimento (R. Romaine6, comunicação pessoal). Durante o estudo, 31 comunidades (anexo VII)

foram visitadas, mas as atividades foram focadas naquelas que praticavam a pesca comercial, em

especial as comunidades do Paraná do Capivara, área com forte exploração comercial dos grandes

bagres migradores e onde um Acordo de Pesca está em andamento desde o ano de 2007.

3 Denominação dada às áreas utilizadas pelos pescadores para a atividade pesqueira. Segundo Begossi (2004b),

os pesqueiros são manchas de pescado, ou locais onde determinadas espécies são encontradas. São partes das áreas de

uso, ou do espaço aquático usado por pescadores. As áreas de uso podem ser comparadas ao home range. 4 Estratégias de co-manejo de recursos pesqueiros nas quais regras de uso dos recursos são pactuadas em áreas

compartilhadas por diferentes usuários (C.E. Freitas, comunicação pessoal). 5 De acordo com a Lei Federal nº 11699, de 13 de junho de 2008.

6 Chefe da fiscalização do IBAMA Tefé.

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Figura 3: Mapa da área de estudo

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CAPÍTULO I

ATIVIDADES DE PESCA E INTERAÇÕES OPERACIONAIS COM OS

GOLFINHOS DA AMAZÔNIA NO MÉDIO SOLIMÕES

Sannie M. Brum ∙ Vera M. F. da Silva

S. M. Brum

V.M.F. da Silva

Laboratório de Mamíferos Aquáticos, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, CP 478,

69011-790 Manaus, Amazonas, Brazil

Email: [email protected]

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RESUMO

A pesca na Amazônia é uma importante atividade econômica, fornecendo renda e alimento à

população. Com as inovações tecnológicas, as redes de emalhar e de cerco se popularizaram,

aumentando as interações entre os golfinhos e a pesca. O objetivo deste trabalho foi caracterizar

sucintamente a pesca na região, descrever a relação dos pescadores locais com os golfinhos da

Amazônia e as interações operacionais existentes. Utilizando questionários mistos para

levantamento de informações de desembarque e atividades de embarque, entrevistamos 180

pescadores e acompanhamos 432 atividades de pesca nas cidades de Tefé, Alvarães e Uarini e

comunidades próximas, entre os meses de fevereiro a dezembro de 2010. As embarcações

comumente utilizadas na região são barcos pesqueiros e canoas-rabeta. Dos 13 diferentes

apetrechos identificados, as tramalhas são os mais utilizados. Foram registradas 37 espécies de

pescado comercializadas nos entrepostos da região, com destaque para o jaraqui e supremacia da

utilização de redes de emalhar. Segundo os pescadores, são frequentes as interações entre botos-

vermelhos, jacarés, ariranhas e tucuxis; o boto-vermelho esteve presente em 86,1% das citações em

entrevistas e o tucuxi em apenas 20,5% das citações. Para o boto-vermelho, a principal interação é

“dano de artefato” com o apetrecho tramalha e para o tucuxi é “cooperação”. Em 90,28% das

atividades de pesca monitoradas houve interação operacional com alguma espécie que não a

espécie-alvo. Interações com golfinhos ocorreram em 78,47% das atividades, e existe diferença

significativa quanto às duas espécies, com interações com botos-vermelhos sendo muito mais

frequentes. Poucas interações ocorrem com o tucuxi, sendo a mais registrada “tocaia”, com o

apetrecho cerco e na época de cheia. Para o boto-vermelho, foi também “tocaia”, com a tramalha.

Observou-se prevalência de interações negativas aos pescadores relacionadas às interações com os

botos. O mês de novembro e o período de seca foram quando se registrou maior número de

interações para esta espécie. Há também prevalência de interações em locais de águas calmas, como

lagos e remansos. Foram registrados durante os desembarques 24 golfinhos envolvidos em

interações negativas, sendo 21 botos e três tucuxis, e estimado em 202 o número total de golfinhos

envolvidos nestas interações ao ano, sendo 176 botos e 26 tucuxis. Os golfinhos da Amazônia não

são consumidos nem têm partes utilizadas em superstições na região de estudo, sendo o uso do

boto-vermelho como isca para a pesca da piracatinga a única utilização reportada. Concluiu-se que

as duas espécies de golfinhos da Amazônia interagem de maneira diferente com a pesca, tanto na

visão dos pescadores quanto em interações operacionais. As interações operacionais com estes

golfinhos são extremamente frequentes na região, tanto considerando as interações como um todo

quanto apenas aquelas prejudiciais aos golfinhos. Essa prevalência culmina nos conflitos

observados entre pescadores e botos-vermelhos e deve estar contribuindo fortemente para a atual

diminuição desta população no Médio Solimões.

PALAVRAS-CHAVE: Boto-vermelho; tucuxi; pescadores comerciais; interações operacionais;

conflitos.

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ABSTRACT

Fishery in Amazon is an important economic activity, supplying income and food to local

populations. With technological innovations, nets were popularized and interactions between fluvial

dolphins and fisheries activities increased. The aim of this work was to characterize fisheries

activities and describe the relationship between local fishermen and Amazon dolphins, as well as

the operational interactions between them in medium Solimões River. Using standard

questionnaires with open-ended questions to survey fishing landings and boarding activities, we

interviewed 180 fishermen and accompanied 432 fishing landings along the cities of Tefé, Alvarães,

Uarini and its near communities between February and December of 2010. The most common boats

in the region are “fishing boats” and the “rabetas canoes”. Tramalha (gillnet) is the most common

gear used, but we identified 13 different types of gear. Were registered 37 species commercialized

in the local markets, with majority for jaraqui and supremacy in the use of nets. According to

interviews, interactions between dolphins, caimans and giant river otters are common. The boto

were cited in 86,1% of interviews and tucuxi in only 20.5%. For boto, the main interaction is

“damage of device” with “tramalha” and for tucuxi is “cooperation”. In 90,28% of fisheries

activities monitored occurred operational interactions with some animal. Interactions with Amazon

river dolphins occurred in 78,47% of the activities, and there is a significant difference between the

two species, with operational interactions involving the boto being much more frequent. Fewer

interactions occur with tucuxi and “ambush” with the gear “cerco” was the most common, mainly at

high water season. For the boto, was “ambush”, with gill nets also. A Prevalence of negative

interactions for the fishermen related with operational interactions involving botos was also

observed. During November and low water season was when most interactions with boto were

registered, with significative differences between flooded and low water seasons. There was also

prevalence of interactions in places with calm waters, such as lakes and “remansos”. A total of 24

dolphins were recorded being involved on negative interactions (“entanglement” and “arpooned”),

being 21 botos and 3 tucuxis. The total estimate number of dolphins involved on negative

interactions was 202, being 176 botos and 26 tucuxis. Amazon dolphins aren´t consumed in the

region and the hunt of boto to become bait for piracatinga´s fishery was the only use reported. We

concluded that Amazon river dolphins interacts in different ways according to both fishermen´s

mind and operational interactions. The operational interactions with Amazon dolphins are

extremely frequent in the region. Those frequent interactions have probably led to the conflicts

observed between fishermen and botos and must be contributing strongly to the current reduction of

this animal population in the study area.

KEYWORDS: Pink river dolphin, tucuxi, commercial fishermen; operational interactions; conflicts

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INTRODUÇÃO

A pesca na Amazônia é uma importante atividade econômica, social e cultural (Bayley e

Petrere, 1989), fornecendo renda e alimento à população (Santos et al., 2006). O pescado é a

principal fonte de proteína animal de boa qualidade e de custo acessível para os centros urbanos da

região amazônica (Cardoso, 2005). Até a década de 60, era uma atividade predominantemente de

subsistência, utilizada para alimentação dos moradores das comunidades ribeirinhas (Furtado, 1993;

Fraxe, 2000). A partir desta época, a inovação tecnológica por qual passou o setor pesqueiro com a

implantação do náilon nos materiais de pesca, uso de motores a diesel nas embarcações e facilidade

na obtenção de gelo impulsionou a atividade (Marrul Filho, 2003) que movimenta, anualmente, de

100 a 200 milhões de dólares apenas com a venda direta do pescado (Santos et al., 2006).

Na Amazônia Central, as redes de emalhar e de cerco se popularizaram e ficaram mais

numerosas e resistentes (Batista, 1998; Santos et al., 2006), aumentando as interações entre os

golfinhos e a pesca. Isto constitui um problema tanto para os animais quanto para os pescadores (da

Silva e Best, 1996a; Barbosa, 2001; Fernandes, 2006) e observa-se um crescente conflito entre estes

atores. Reduções populacionais dos golfinhos têm sido documentadas no Médio Solimões e

atribuídas às interações com pesca (da Silva e Martin, 2007).

O rápido e constante crescimento populacional humano, associado ao uso intensificado dos

recursos naturais, tem tornado os conflitos entre populações humanas e espécies da fauna silvestre

cada vez mais frequentes (Rosas-Ribeiro, 2009). Os conflitos mais bem documentados são os

relacionados aos felinos e a letalidade em relação a humanos ou depredação de rebanhos comerciais

(e.g. Goodrich et al., 2011; Garcia-Alaniz et al., 2010; Gurung et al., 2008). Em comunidades

ribeirinhas, onde o peixe é a principal fonte de proteína animal da dieta (Batista, 1998), são

recorrentes os conflitos entre pescadores e grandes animais piscívoros, como ariranhas (Rosas-

Ribeiro, 2009), jacarés (Peres e Carkeek, 1993) e golfinhos (Silva e Best, 1996a; Loch et al., 2009).

Muitos tipos distintos de interação entre as atividades de pesca e os golfinhos são

documentados em todo mundo (Northridge, 1985; Monteiro-Filho, 1995; Di Beneditto et al., 2001;

Alarcon, 2006; Read, 2008). Neste contexto, podemos distinguir dois grandes grupos: as interações

biológicas, que incluem a predação dos cetáceos sobre recursos pesqueiros, competição por estes

recursos com pescadores (Roche et al., 2007) e a transmissão de parasitas; e as interações

operacionais (Northridge, 1985), este último, foco deste estudo.

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13

Interações operacionais são aquelas em que os cetáceos se envolvem diretamente com os

apetrechos ou com as manobras de pesca (Northridge, 1985), e os efeitos dessas interações podem

ser negativos ou positivos para golfinhos, pescadores ou ambos (Di Beneditto, 2004). Efeitos

positivos entre cetáceos e atividades pesqueiras podem ser descritos como interações ecológicas

comensais ou mutualísticas (Monteiro-Filho, 1995), onde podemos citar a pesca cooperativa da

tainha que ocorre em Laguna (Santa Catarina, Brasil) com Tursiops truncatus (da Rosa et al.,

2010). Os efeitos negativos, mais comuns, normalmente estão relacionados às capturas acidentais

dos cetáceos, que podem causar injúria ou morte dos animais, e danos ao artefato de pesca e ao

pescado capturado (Di Beneditto et al., 2001).

Os efeitos das interações operacionais negativas têm sido exaustivamente estudados em todo

mundo, evidenciando uma relação com declínio populacional de várias espécies de golfinhos

(Archer et al., 2001; Beltrán-Pedreros, 1998; Berggren et al., 2002; D´Agrosa et al., 2000; Di

Beneditto, 2003; Di Beneditto, 2004; Freitas Netto, 2003; Rojas-Bracho et al., 2006; López, 2006),

aves marinhas (Dietrich et al., 2009) e tartarugas marinhas (Pupo et al., 2006; Gilman et al., 2007).

Os estudos são principalmente focados em atividades de pesca industriais, mais organizadas

e com melhor logística para obtenção de dados (Read, 2008; Mangel et al., 2010). No entanto,

atividades de pesca artesanais e de menor escala são frequentes, principalmente em países em

desenvolvimento, empregando mais de 80% dos pescadores em todo mundo e fornecendo cerca de

metade de toda produção pesqueira consumida (Béné, 2005). Tamanha importância econômica

reflete-se em elevada frequência de interações operacionais, não apenas prejudiciais aos golfinhos

(Amir et al., 2002; Iñiguez et al., 2003, Mangel et al., 2010), mas também aos pescadores, que têm

prejuízos com danos aos artefatos de pesca e perda do pescado ou de qualidade do mesmo (Brotons

et al., 2008; Read, 2008; Bearzi et al., 2011).

O objetivo do presente estudo foi caracterizar apetrechos e embarcações de pesca na região

de Tefé (AM), relatar as impressões dos pescadores quanto às interações dos golfinhos da

Amazônia com esta atividade e registrar tipos, quantidade, sazonalidade e locais das interações

operacionais entre os golfinhos e as atividades de pesca no Médio Solimões.

MÉTODOS

Os dados foram coletados no período de fevereiro a dezembro de 2010. Durante este

período, as três Colônias de Pesca da região e as áreas de pesca foram visitadas para realização de

entrevistas com pescadores; foram realizadas atividades de desembarque no principal porto em Tefé

e ocasionalmente nos demais portos de Alvarães, Uarini e comunidades ribeirinhas próximas;

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14

algumas atividades de pesca foram acompanhadas in loco7; e a área foi monitorada para registro de

carcaças de golfinhos8.

Diferentes abordagens foram utilizadas para as entrevistas, mas apenas homens maiores de

18 anos foram entrevistados. Um resumo dos métodos utilizados encontra-se na tabela 1.

Tabela 1: Métodos utilizados durante o estudo

ATIVIDADE AÇÃO LOCAL MÉTODO PERÍODO

Levantamento de

informações

Aplicação de

questionários semi-

estruturados

Comunidades Snow Ball9

Fevereiro a dezembro de

2010 – quando possível

Colônias de

pesca

Todos os pescadores que

concordavam em participar do

estudo eram entrevistados

Fevereiro e março de

2010 – 1 semana em

cada Colônia

Desembarque

Aplicação de

questionários semi-

estruturados

Entrepostos de

pesca

Todos os pescadores que

traziam pescado para

comercialização eram

entrevistados

Fevereiro e março de

2010 – coletas

esporádicas

Abril a novembro de

2010 – 2 semanas por

mês no Entreposto de

Tefé

Dezembro de 2010 – 1

semana

Embarque Observação in loco Pesqueiros Abordagens de pesca10

Fevereiro a dezembro de

2010

Os questionários de levantamento de informações e desembarque eram semi-estruturados

(e.g. Di Beneditto, 2004; Begossi, 2004a), com algumas questões fechadas (com respostas já pré-

definidas) e outras questões abertas (de livre resposta) (anexo I e II). As entrevistas de levantamento

de informações eram feitas por S. Brum, de maneira informal, e as respostas anotadas em caderno

de campo e posteriormente digitalizadas.

As entrevistas de desembarque (anexo II) eram feitas por S. Brum, com ajuda de dois

coletores, moradores da região previamente treinados. Apesar da discussão de Silvano (2004) sobre

o rigor nas entrevistas ser apenas conseguido pelo pesquisador, o auxílio de coletores foi requerido

7 Conforme atividades do projeto aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos (CEP-INPA),

processo nº 225/2009. 8 Conforme atividades do projeto aprovado no Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade

(SISBIO), processo nº 21532. 9 Método em que potenciais entrevistados (pessoas que possuem reputação de conhecer o assunto em questão)

são apontadas pelos próprios membros da comunidade, e após cada entrevista é solicitado ao entrevistado que aponte

outras pessoas (Bailey, 1982). 10

Método no qual uma determinada rota é previamente determinada e os pescadores em atividade são

abordados (Begossi, 2004b). Neste método, as atividades de pesca eram acompanhadas durante toda a operação.

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15

devido à grande quantidade de atividades de desembarque e à percepção de que os pescadores se

identificam mais com entrevistadores do local e tendem a fornecer respostas mais confiáveis. As

entrevistas transcorriam de maneira informal, com o pescador relatando como havia sido a atividade

de pesca e o entrevistador fazendo anotações, que depois eram utilizadas para o preenchimento das

respostas pré-definidas.

As atividades de pesca acompanhadas in loco foram consideradas como atividades de

embarque11

. Devido à complexidade da pesca amazônica, com pesqueiros e apetrechos de pesca

muito variados, este monitoramento não era feito periodicamente, e sim quando identificada uma

área em que a pesca estivesse ocorrendo com intensidade, com apetrechos relevantes (identificados

previamente nas entrevistas de levantamento de informações) e onde os pescadores concordassem

em participar da amostragem. Durante os embarques, eram registrados: posição geográfica, tempo

de esforço de pesca (em geral, quanto tempo a rede ficou na água), número de pescadores

participantes, espécies capturadas, total de captura, tipo de apetrecho, características dos apetrechos

(malha, fio e comprimento no caso de redes), ocorrência de interações operacionais, espécies em

interação e, quando possível, informações de grupo de golfinhos em interação, como número de

animais e classes de tamanho.

Os tipos de interação foram previamente adaptados de Freitas Netto (2003), Di Beneditto

(2004) e Alarcon (2006) e divididos em nove categorias e cinco grupos (tabela 2). Observamos que

algumas interações são positivas ou negativas para mais de um ator. Nestes casos, consideramos

quem seria mais atingido, positiva ou negativamente, para classificar o grupo da interação. Esses

grupos, no entanto, encontram dificuldades em avaliar a real interação para os golfinhos, pois é

difícil medir quando um dano de artefato, por exemplo, causa também dano aos golfinhos (como a

ingestão de um pedaço do artefato que pode causar a morte do animal).

A procura por carcaças de golfinhos acontecia sempre que a equipe estava se movimentando

pelo rio, mas sem monitoramento periódico. Quando carcaças eram encontradas, anotava-se a

espécie, o sexo, medidas pertinentes (e.g. da Silva, 1994) e provável causa mortis. As amostras

biológicas coletadas foram depositadas na Coleção de Mamíferos do INPA.

Marcação dos pontos de pesca (quando informantes qualificados informam pontos de pesca)

(Begossi, 2004b) foi utilizada para informações complementares sobre pontos e métodos de pesca.

11

Os embarques eram acompanhamentos da atividade de pesca no momento em que as mesmas aconteciam.

Eram feitos, no entanto, em embarcação própria e não como convencionalmente nas embarcações dos pescadores. As

embarcações utilizadas pelos pescadores são geralmente muito pequenas e este procedimento era necessário para evitar

atrapalhar a operação de pesca.

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16

Tabela 2: Interações operacionais passíveis de ocorrer com os golfinhos da Amazônia. “+” significa um benefício, “-“

algum prejuízo e “0” significa neutralidade

GRUPOS DE

INTERAÇÕES

CATEGORIAS

DE

INTERAÇÕES

DESCRIÇÃO PESCADORES GOLFINHOS

NEGATIVAS

PESCADORES Dano de

artefato

Animal ou grupo de animais provoca dano ao

artefato ao soltar-se do mesmo ou ao tentar

retirar pescado - 0

Roubo de

pescado

É caracterizado quando um animal ou grupo

de animais retira do artefato de pesca o

pescado que está emalhado ou fisgado - +

Espantamento Animal ou grupo de animais atrapalha a

pescaria espantando a espécie-alvo - 0

Troca de

pesqueiro

A presença de um animal ou grupo de

animais obriga o pescador a mudar de lugar

de pesca por acreditar que não terá sucesso no

local ou os artefatos serão danificados pelos

animais

- 0

POSITIVAS

PESCADORES Cooperação

Animal ou grupo de animais direciona ou

encurrala o pescado para próximo do artefato

de pesca + +

NEGATIVAS

GOLFINHOS Emalhe

Um animal ou grupo de animais fica preso

nas malhas do artefato - -

Arpoamento Quando um animal é ferido ou morto

propositadamente, normalmente com arpão 0 -

NEUTRAS

Afugentamento

Animal ou grupo de animais se aproxima da

embarcação ou artefato de pesca e são

afugentados pelos pescadores com barulhos

ou outros meios

0 0

POSITIVAS

GOLFINHOS Tocaia

Animal ou grupo de animais acompanha a

operação de pesca, perseguindo e capturando

(ou tentando capturar) o pescado que escapa

do artefato

0 +

Após a coleta dos dados, estatística descritiva para caracterização da pesca e testes não-

paramétricos relacionados às interações operacionais foram obtidos com o programa BioEstat 5.0.

Para descrição das embarcações foi realizada estatística descritiva que forneceu média, desvio

padrão e amplitude das variáveis para comprimento total da embarcação e capacidade de

armazenagem das caixas de gelo. O teste t foi utilizado para comparação entre as variáveis por

estrato (canoa-rabeta12

e barco pesqueiro13

). Testes não-paramétricos foram tuilizados para testar

espécie de golfinho, época, local e apetrecho mais frequente nas interações operacionais.

12

Canoa de casco de madeira que é movida por um motor de popa conhecido na região como rabeta (Barthem,

1999).

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17

A partir do número de golfinhos envolvidos em interações negativas para os mesmos e a

produção pesqueira anual da região, foi estimado o número total de animais envolvidos em

interações negativas durante um ano de pesca.

RESULTADOS

A tabela 3 mostra o número total de entrevistas/atividades realizados em cada método.

Dependendo do objetivo/resultado desejado foram utilizadas menos entrevistas, mas isto foi

determinado conforme o caso no texto.

Tabela 3: Número total de entrevistas/atividades

ATIVIDADE Nº ENTREVISTAS/ATIVIDADES

Levantamento de informações 180

Desembarque 412

Embarque 20

Embarcações de pesca

Durante os levantamentos de informações junto às Colônias de Pesca da região e entrevistas

com os pescadores foram identificadas 80 embarcações registradas. Apenas a Colônia de Tefé

mantém os registros exigidos pela Capitania dos Portos sobre os barcos pesqueiros. A maior parte

da frota pesqueira da região, no entanto, é composta por canoas-rabeta, cuja documentação não é

exigida pela Capitania dos Portos o que torna muito difícil determinar a quantidade destas

embarcações operando na área. Praticamente todos os pescadores possuem canoas-rabeta, que são

também o meio de transporte comum na região, seja para transportar pescado ou produção agrícola.

Quase todos os pescadores declaram também possuir canoa a remo14

.

Para amostragem das canoas-rabeta foram utilizadas as descrições de 36 embarcações

fornecidas pelos pescadores entrevistados nas Colônias. Para amostragem dos barcos de pequeno e

médio porte (definidos aqui como barcos pesqueiros) foram utilizados 20 barcos registrados na

Colônia de Tefé e identificados em operação.

Os barcos pesqueiros (figura 1A) têm comprimento médio de 12,3m (± 1,65), variando de

8,6 a 14,6 metros. A capacidade de armazenagem de pescado destas embarcações varia de 2,4 a 16

toneladas, com média de oito toneladas (± 3,19). As caixas de armazenagem de pescado são fixas à

13

Embarcações com caixa de gelo fixa (urna) e com pescadores profissionais (Barthem, 1999). 14

Canoa de casco de madeira movida a remo (ibid.).

A

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18

embarcação e não possuem refrigeração, sendo necessária a utilização de gelo para estocagem do

pescado. Todos possuem motor de centro, de marcas diversas, variando de quatro a 52 hp15

.

Já as canoas-rabeta (figura 1B) variam de cinco a 11 m de comprimento, sendo o

comprimento médio de 8,3 m (± 1,41) e capacidade de armazenagem média de 0,6 t (± 3,48),

variando de 0,1 a 1,7 t. Todas estas embarcações possuem motores de popa variando de 5,5 hp

(moda) a 13 hp, normalmente da marca Honda. A capacidade de armazenamento de pescado destas

embarcações geralmente está relacionada a caixas de isopor não-fixas. Apenas uma canoa deste tipo

tinha caixa fixa de gelo, com capacidade de 1,7 t.

Além de se diferenciarem pelos comprimentos (t0,05(2)56=-9,7026, p<0,0001), estas

embarcações se diferenciam principalmente por sua capacidade de armazenagem (dados

normalizados, t0,05(2)54=16,6326, p<0,0001).

Pescadores e apetrechos de pesca

Foram entrevistados 180 pescadores quanto as interações dos golfinhos com a pesca nas

cidades de Tefé, Alvarães e Uarini. Quanto às outras questões, como atividade principal e tipos de

aparelhos de pesca, obtivemos respostas de um número menor de pescadores. As idades dos

pescadores variaram de 26 a 79 anos; e 117 entrevistados moravam em comunidades, enquanto 63

moravam nas cidades.

No total, 175 pescadores responderam sobre sua principal fonte de renda e, apesar de 53,1%

dos entrevistados afirmarem ser a pesca, outras atividades complementares são praticadas por

60,8% deles, sendo a mais frequente a agricultura.

Uma tabela com os apetrechos relacionados pelos pescadores, medidas (e médias) e

descrições encontra-se no anexo VI.

As tramalhas ou malhadeiras-tramalha (figura 2B) são os apetrechos mais frequentes

utilizados pelos pescadores. As tramalhas são, em geral, utilizadas para a captura dos chamados

“peixes miúdos”, como tucunarés, pirapitingas, aruanãs e carás. Estes apetrechos podem ser

comprados já prontos em lojas de pesca ou confeccionados pelo próprio pescador. Neste trabalho

optamos por diferenciar as tramalhas das malhadeiras, enquanto outros autores (e.g. Petrere Jr.,

1977; Barthem, 1999) utilizam o termo “malhadeira” (figura 2A) para ambos os apetrechos. Redes

confeccionadas com náilon multifilamento e que são muito utilizadas para captura de tambaquis e

outros pescados de maior porte foram denominadas malhadeiras (figura 2C); enquanto foram

15

“Horse Power”, medida de potência.

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19

denominadas tramalhas os mesmos tipos de redes, mas que eram confeccionadas com

monofilamento, mais frágil, e amplamente utilizado para captura de peixes menores. Essa distinção

era feita pelos próprios pescadores: a malhadeira é um apetrecho mais forte e caro, que nem todos

os pescadores possuem, enquanto a tramalha, mais barata e acessível, é amplamente utilizada.

Figura 1: A. Barco pesqueiro, com canoa movida a remo ao lado; B. Canoa-rabeta com caixa para armazenamento de

pescado

Outros apetrechos relacionados foram: outras redes de emalhar (malhadeira e arrastão) ou de

cerco (redinha e cerco); apetrechos com linha (espinhéis, linha de mão e caniços); apetrechos

tradicionais (zagaia, flecha e arpão); e tarrafas. As redes, de maneira geral, são os apetrechos mais

frequentes nas atividades de pesca e responsáveis pela produção comercial. Com exceção das

tramalhas, são todas confeccionadas com fio multifilamento extremamente resistente. Os apetrechos

tradicionais são utilizados principalmente para a pesca de subsistência.

B

Arquivo Pessoal

A

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20

Figura 2: A. Esquema do apetrecho “malhadeira”, segundo Petrere Jr., 1977; B. Apetrecho tramalha; C. Apetrecho

malhadeira

O cerco e a redinha (figura 3) são, normalmente, o mesmo apetrecho, mas utilizado de

maneiras diferentes. Em certas épocas alguns pescadores limpam uma área e utilizam o apetrecho

fixo nesta área (cerco); ou de maneira nômade pelo pesqueiro, sendo usado quando se observa um

cardume (redinha). Assim, a redinha é menor, em geral um ou dois “panos”16

, e o cerco é feito de

16

Termo usado pelos pescadores para identificar o tamanho do apetrecho. O “pano” é a unidade medida que

pode ser comprada na loja ou usada como termo referência para a confecção do apetrecho.

Arquivo Pessoal

A

B C

Arquivo Pessoal

Fonte: Petrere Jr., 1977

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21

vários “panos”. Estes apetrechos são utilizados para a captura de peixes que formam grandes

cardumes, como jaraqui, jatuarana e matrinxã.

Figura 3: Apetrecho redinha

O arrastão (figura 4) é um apetrecho relativamente caro, usado exclusivamente para captura

dos chamados “peixes lisos” ou bagres.

Figura 4: A. Apetrecho arrastão evidenciando a chumbada diferenciada; B. Apetrecho arrastão em uso

Quando perguntados sobre os ambientes de pesca, os pescadores em geral comentavam

sobre pesqueiros tradicionais (Lago Tefé e rios Solimões e Japurá), bem como áreas próximas às

suas residências (lagos das comunidades). Observa-se que, na seca, 85,4% dos entrevistados

Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal

A B

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22

concentram seus esforços de pesca em rios ou tributários e na cheia, lagos e igapós são mais

explorados por 79% dos mesmos entrevistados, indicando uma mudança sazonal de pesqueiro

conforme o nível da água.

Caracterização do desembarque

Para caracterização do desembarque pesqueiro da região de estudo foram analisadas 403

atividades de pesca. A maior parte das informações foi proveniente de entrevistas de desembarque

nos entrepostos de pesca ou comunidades, mas algumas informações foram provenientes de

atividades de embarque ou entrevistas nas Colônias. A amostragem se concentrou nos pescadores

de “peixes de escamas”. Não tivemos uma boa amostragem para os pescadores de “peixe liso”,

parte importante da pesca na região. Estes pescadores não possuem um horário de desembarque fixo

e vendem sua produção exclusivamente nos frigoríficos da região, sendo necessária logística

diferenciada, não possível neste trabalho.

Das atividades monitoradas pelas entrevistas de desembarque (total de 371 atividades), 342

foram provenientes do entreposto de pesca localizado em Tefé (figura 5), 28 do porto de

desembarque localizado em Alvarães e apenas uma do mercado municipal de Uarini. No início

deste estudo, o esforço de amostragem foi dividido igualmente entre as três cidades, mas devido a

maior dificuldade em se conseguir entrevistas em Alvarães e Uarini pela falta de um local

específico para desembarque de pescado (a produção destas cidades é mais comercializada nos

frigoríficos ou com atravessadores17

) e fraco mercado consumidor destas regiões, decidiu-se pelo

esforço somente em Tefé.

O restante das atividades foi monitorado por meio de embarques (total de 12 atividades) e

comunicados recebidos nas visitas às Colônias, comunidades e pesqueiros (total de 20 atividades).

A amostragem de atividades de pesca foi composta em sua grande maioria pelas atividades

de pesca comerciais18

, sendo 384 atividades deste tipo e apenas 19 atividades de pescaria de

subsistência19

.

Os pesqueiros explorados pelas pescarias comerciais relatados eram pesqueiros conhecidos,

como o Lago Tefé, Rios Copeá e Cubuá, Complexos de Lagos de Lauriana e Moura e os Rios

17

Compradores de pescado que abordam os pescadores, comprando grandes quantidades para revenda. 18

Pesca praticada por pescadores profissionais, com fins econômicos (Barthem et al., 1997). 19

Praticada principalmente pelos ribeirinhos, com finalidade de prover alimentação á família, com venda do

excedente (ibid.)

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Solimões e Japurá. Já as pescarias de subsistência exploraram lagos, ressacas e remansos próximos

às comunidades.

Figura 5: Entreposto de Pesca de Tefé

A tramalha foi o apetrecho mais utilizado, respondendo por 77,4% da frequência de uso nas

atividades de pesca (figura 6). As redes em geral (malhadeiras, cerco, redinhas e tramalhas)

respondem por 94,2% das atividades de pesca amostradas, enquanto os 5,8% restantes são

representados por espinhéis, zagaias, arpões, tarrafas, flechas e caniços. Flechas e caniços foram

sempre utilizados em conjunto, normalmente com redes de emalhar.

Considerando a participação de cada apetrecho na quantidade de pescado desembarcado, a

tramalha se mantém como o apetrecho mais importante (responsável por 50,44% do total), no

entanto os apetrechos redinha e cerco, relativamente pouco utilizados, passam a ter mais

importância, com 23,87% e 21,88% do total, respectivamente (figura 6). A supremacia das redes

fica ainda mais evidente quando consideramos a quantidade de pescado desembarcado,

respondendo por 97,4% do total.

A identificação das espécies de pescado se baseou nas informações dos pescadores, que

forneciam os nomes populares dos peixes e estes depois eram utilizados para procura dos nomes

científicos, no banco de dados Fishbase e Santos e colaboradores (2006). Era registrado o total das

capturas por atividade de pesca e quais espécies envolvidas, mas não a captura separadamente por

espécie. Assim, não temos a biomassa de cada espécie, apenas a frequência com a qual apareciam

nas capturas.

Foram registradas capturas de apenas 37 espécies, sendo a mais frequente a do jaraqui. O

jaraqui é uma espécie intensamente explorada no Lago Tefé, principalmente na época do “peixe

Arquivo Pessoal

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24

gordo”20

, quando passa a ser a espécie quase exclusivamente desembarcada no entreposto da região.

De um total de quase 146,9 toneladas de pescado amostrados nas pescarias, 52,8% (77,6 t)

corresponderam a capturas exclusivas de jaraqui. As outras espécies exploradas encontram-se no

anexo III.

Figura 6: Frequência de utilização e efetividade na produção total dos apetrechos identificados no desembarque das

atividades de pesca na região de Tefé

Relações dos pescadores com os golfinhos da Amazônia

Admitiram ocorrer interações entre espécies não-alvo e suas atividades de pesca 177

pescadores. O boto-vermelho esteve presente em 86,1% das citações; seguido pelo jacaré, presente

em 61,1%; a ariranha, em 27,8%; o tucuxi em apenas 20,5%; e outros animais21

em 5% das citações

(figura 7).

De acordo com as entrevistas, o boto-vermelho é o animal mais frequente nas interações

operacionais, por meio de “dano de artefato” e com o apetrecho tramalha. Para o tucuxi, a interação

mais citada foi “cooperação”. As demais interações citadas, bem como apetrechos, encontram-se na

figura 8.

Além de serem frequentes nas interações, os botos-vermelhos atrapalham a pesca segundo

74,4% dos pescadores, enquanto apenas um pescador (0,5%) acredita que o tucuxi também

20

Época em que os peixes estão saindo dos lagos onde estavam se alimentando, entre março e maio. 21

Em geral outras espécies de peixes carnívoros, como piranhas e piracatingas.

0.20%

0.12%

0.04%

0.11%

0.06%

0.02%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

Tramalha

Redinha

Cerco

Malhadeira

Associação apetrechos

Arrastão

Espinhel

Tarrafa

Arpão

Zagaia

Porcentagem de utilização

Ap

etr

ech

os

Efetividade na produção Frequência de utilização

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atrapalhe; 38,9% dos pescadores acreditam que as populações de botos estão aumentando assim

como a de tucuxi (21,1%). Entre todos os entrevistados, apenas um afirmou que as populações

destes golfinhos estão diminuindo.

Figura 7: Número de citações a respeito das espécies não-alvo que mais interagem com as atividades de pesca na região

de Tefé

Figura 8: Número de citações dos pescadores relacionando as principais interações com apetrechos e as espécies de

golfinhos da Amazônia na região de Tefé

Quando perguntados sobre a necessidade de um programa para conservação dos golfinhos,

84,5% dos entrevistados não souberem responder, 8,3% acham que não se deve protegê-los e 7,2%

que eles devem ser protegidos. Dos entrevistados, 16,1% afirmaram ainda que os golfinhos devem

ser estudados.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

BOTO TUCUXI JACARÉ ARIRANHA OUTROS

de

cita

ções

Espécies não-alvo

0 20 40 60 80 100

ARRASTÃO

MALHADEIRA

TRAMALHA

CERCO

ARRASTÃO

MALHADEIRA

ESPINHEL

TRAMALHA

CERCO

REDINHA

TUC

UX

I B

OTO

Número de citações

Go

lfin

ho

s e

apet

rech

os

Dano de artefato

Afugentamento

Emalhe

Espantamento

Roubo de pescado

Arpoamento

Troca de pesqueiro

Tocaia

Cooperação

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26

O boto-vermelho provoca medo em 5% dos entrevistados, enquanto 28,3% não têm medo e

66,7% não responderam. Apenas 48 entrevistados responderam quando perguntados se já haviam

matado botos e destes, 15 (8,3% do total de pescadores entrevistados) admitiram já ter matado

propositadamente estes golfinhos. Dos 3,9% de entrevistados que responderam sobre medo de

tucuxis, nenhum deles têm medo.

Utilização dos golfinhos

Dos 180 pescadores entrevistados durante o levantamento de informações, apenas três destes

(1,7%) afirmaram utilizar a carcaça de botos-vermelhos mortos em interação com suas atividades de

pesca; e afirmaram também utilizá-las para fornecimento de isca para a pesca da piracatinga.

O consumo da carne dos golfinhos da Amazônia foi rejeitado nas entrevistas e os

pouquíssimos pescadores que admitiram terem comido a carne destes animais foram repudiados

pelos demais. Era comum a citação de que “botos não servem pra comer” quando perguntados sobre

a necessidade de proteção aos golfinhos.

Nos mercados locais também não observamos venda de carne de golfinhos, mas observamos

a comercialização ilegal de carne do peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis). É ainda mais

comum a comercialização de outras espécies proibidas, porém apreciadas na alimentação local,

como anta e quelônios. Então, devido a não observação de venda de carne de golfinhos e nenhuma

evidência de consumo destes ter sido declarada nas entrevistas, podemos descartar a existência

deste mercado para os golfinhos na região de estudo.

Também não foi observado mercado para venda de órgãos de golfinhos e nenhum

comentário foi feito sobre esta possível utilização.

Carcaças encontradas

Foram encontradas apenas três carcaças de golfinhos, todas de Inia geoffrensis (boto-

vermelho).

Duas carcaças foram encontradas no período de cheia (maio) no Lago Tefé. Eram dois

machos, sendo um subadulto (aproximadamente 2 m de comprimento total) e outro jovem (1,81 m

de comprimento total). A terceira carcaça foi encontrada no período de seca (outubro), no Rio

Solimões. Era uma fêmea adulta, da qual não foi possível realizar biometria devido ao avançado

estado de decomposição.

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27

Todos os exemplares apresentavam evidências de interações negativas com atividades de

pesca, como marcas de rede ou ferimentos por arpão, e que provavelmente foram a causa mortis.

Pela pequena quantidade de animais, não foi executada análise estatística.

Interações operacionais

As espécies não-alvo envolvidas em interações operacionais na região de estudo foram:

jacarés (provavelmente Melanosuchus niger e Caiman crocodilus, os mais comuns na região);

outros peixes como piranhas (Serrasalmus sp.) e piracatingas (Calophysus macropterus);

mamíferos aquáticos como ariranhas (Pteronura brasiliensis), peixes-bois (T. inunguis), botos-

vermelhos e tucuxis. Do total de 432 atividades de pesca monitoradas em apenas 9,72% não houve

nenhum tipo de interação, como mostrado na tabela 4.

Tabela 4: Número total de interações operacionais

Boto-vermelho Tucuxi Ariranha Jacaré Outros peixes

Pares de

interação

(boto/tucuxi;

boto/jacaré;

boto/peixe-boi)

Sem interação

320 5 1 44 3 17 42

Assim, evidenciamos a prevalência da ocorrência de interações operacionais com atividades

de pesca nesta área. Apesar de o jacaré ser a segunda espécie mais registrada, esta não está inserida

nos objetivos do trabalho e foi desconsiderada das análises, que se concentraram nos golfinhos.

Interações com golfinhos da Amazônia ocorreram em 79,17% (n=342) das atividades

monitoradas. Há uma prevalência de ocorrência de interações com os botos-vermelhos,

evidenciando heterogeneidade entre a ocorrência de interações operacionais quanto às duas espécies

de golfinhos (X2

0,05(2)2=569,15, p<0,0001).

A baixíssima taxa de ocorrência de interações operacionais envolvendo tucuxis desencoraja

análises estatísticas. Portanto, apresentaremos na tabela 5 um quadro geral considerando todas as

interações com tucuxis (considerando inclusive pares de interações com boto-vermelho). Todas as

análises a seguir se concentraram nas interações operacionais que ocorreram com botos-vermelhos.

Das categorias de interação que poderiam ocorrer, todas foram registradas neste estudo. Em

uma mesma atividade de pesca mais de uma categoria pode ocorrer e “cooperação” e “troca de

pesqueiro” só foram registradas em associação com alguma outra categoria (tabela 6).

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28

Tabela 5: Interações operacionais com tucuxis.

INTERAÇÕES OPERACIONAIS COM TUCUXIS

APETRECHOS DE PESCA

TOTAL

Tramalha Cerco Redinha Malhadeira Arrastão

INTERAÇÕES NEGATIVAS PARA OS

GOLFINHOS

3

Emalhe 1 1 1

INTERAÇÕES POSITIVAS PARA OS

GOLFINHOS

8

Tocaia 2 2 4

INTERAÇÕES NEUTRAS 3

Afugentamento 1 2

INTERAÇÕES NEGATIVAS PARA OS

PESCADORES

3

Dano de artefato 1

Roubo de pescado 1 1

TOTAL 6 2 7 1 1 17

Tabela 6: Interações operacionais com botos-vermelhos

Emalhe Dano de

artefato

Arpoamento Roubo de

pescado

Afugentamento Tocaia Espantamento Mais de

um tipo de

interação

7 26 2 21 22 41 26 187

Considerando o número total de vezes que cada interação poderia ocorrer, mesmo com

outros tipos de interação, “tocaia” foi a mais recorrente (40,71%), seguida por “roubo de pescado”

(35,30%). “Cooperação” foi a menos frequente, ocorrendo apenas uma vez. As demais interações

podem ser observadas na figura 9. Já na figura 10, podemos observar a distribuição quanto aos

grupos de interação, com prevalência de interações negativas aos pescadores (55%).

Apesar de existir um variado número de apetrechos utilizados na pesca na Amazônia, as

atividades de pesca comercial utilizam em sua maioria redes de emalhar e de cerco e estes

apetrechos foram os únicos envolvidos em interações operacionais. Dentre as redes de emalhar,

existe uma prevalência do uso da “tramalha” na região, e este foi o apetrecho em destaque de

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interações operacionais com botos-vermelhos. Observou-se heterogeneidade para os apetrechos

“tramalha” e “redinha”, de acordo com a tabela 7 e a figura 11.

Figura 9: Categorias de interações operacionais registradas entre botos-vermelhos e atividades de pesca na região de

Tefé

Figura 10: Grupos de interações operacionais registradas entre botos-vermelhos e atividades de pesca na região de Tefé

Redes com malhas menores têm maior probabilidade de ocorrências de interações

operacionais (R2=0.02, p=0.003), assim como o tipo de fio (R

2=0.92, p=0.0002), cuja maior

probabilidade de ocorrer interações é com fios do tipo monofilamento.

Em relação à sazonalidade, novembro (baixo nível dos rios) foi o mês em que mais se

registrou interações (figura 12). Analisando por estações (enchente, cheia, vazante e seca),

0

20

40

60

80

100

120

140

de

oco

rrên

cias

Categorias de interações

0

50

100

150

200

250

300

350

Interações Negativas aos

botos

Interações Positivas aos

botos

Interações Neutras

Interações negativas aos pescadores

Interações positivas aos pescadores

de

oco

rrên

cias

Grupos de interações

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30

encontramos diferenças significativas nas estações “cheia” e “seca” para o boto-vermelho,

conforme a tabela 8 e figura 13. Maio (alto nível dos rios) foi o mês com maior número de

interações com o tucuxi, mas o pequeno número de eventos não permite análises estatísticas (tabela

9).

Tabela 7: Teste de Qui-quadrado para interações operacionais por apetrecho para o boto-vermelho

APETRECHO X20.05 p g.l

Cerco 3.226 0.0725 1

Malhadeira 2.118 0.1456 1

Redinha 24.324 <0.0001 1

Tramalha 134.862 <0.0001 1

Figura 11: Número de ocorrências de interações operacionais com botos-vermelhos para cada apetrecho de pesca e

observações esperadas caso houvesse homogeneidade

Encontramos heterogeneidade também em relação às localidades onde as interações

operacionais ocorrem (X2

0,05(2)1=25,256, p<0,0001), com maior prevalência em áreas de águas

calmas, como lagos e remansos.

Interações negativas para os golfinhos

Com relação aos danos para os golfinhos, devemos nos ater a duas das categorias de

interação registradas: “emalhe” (figura 14) e “arpoamento” (figura 15). Durante o estudo, foram

registradas 11 interações de “emalhe” e sete interações de “arpoamento”, sendo três interações de

0

50

100

150

200

250

300

Arrastão Cerco Malhadeira Redinha Tramalha

de

oco

rrên

cias

Apetrechos

Observado Esperado

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“emalhe” com tucuxis e oito com botos-vermelhos, e sete interações de “arpoamento” com botos-

vermelhos.

Figura 12: Número de ocorrências de interações operacionais entre botos-vermelhos e atividades de pesca por mês na

região de Tefé

Tabela 8: Teste de Qui-quadrado para interações operacionais por sazonalidade para o boto-vermelho

ESTAÇÃO X20.05 p g.l

Enchente 0.173 0.6774 1

Cheia 7.224 0.0072 1

Vazante 3.765 0.0523 1

Seca 146.658 <0.0001 1

Figura 13: Número de ocorrências observadas e esperadas (em caso de homogeneidade) de interações operacionais com

botos-vermelhos de acordo com a sazonalidade hidrológica

0

20

40

60

80

100

120

140

Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

de

oco

rrê

nci

as

Meses

0

50

100

150

200

250

300

Enchente Cheia Vazante Seca

de

oco

rrên

cias

Sazonalidade hidrológica

Observado Esperado

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32

Tabela 9: Número de interações por estações com tucuxis

Enchente Cheia Vazante Seca

Abril 4 Maio 6

Julho 1 Outubro 2

Agosto 1 Novembro 1

TOTAL 4 6 2 3

Figura 14: Interação de "emalhe" com a espécie Inia geoffrensis (boto-vermelho)

Figura 15: Filhote de boto-vermelho morto após interação de "arpoamento"

Novembro foi o mês com maior registro de interações negativas aos golfinhos. Houve

também diferença significativa (X2

0,05(2)1=8, p=0,0095) em relação às estações de águas altas (cheia

e enchente) e baixas (seca e vazante), com maior incidência de interações nos meses de águas

baixas.

Arquivo Pessoal

Projeto Boto

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Os números de registros de interações equivalem a eventos de interação, mas o número total

de animais envolvidos com estas categorias de interações é maior e pode ser mensurado. Podemos

adicionar mais dois botos-vermelhos em “emalhe” (procedentes de um evento em que foram

emalhados três botos-vermelhos), elevando para 11 o número mínimo de botos-vermelhos

envolvidos nesta categoria de interação.

Durante as atividades de campo foram realizadas três necrópsias de botos-vermelhos. Um

dos animais tinha uma marca de arpão no dorso, caracterizando a interação de “arpoamento”; o

outro tinha evidentes marcas de redes e um ferimento profundo no rosto, também indicando um

possível emalhe seguido de lesão para soltar o animal da rede; e o um boto-vermelho jovem foi

encontrado com marcas de rede, e “emalhe” foi considerada a provável causa mortis. Podemos

adicionar estes animais às interações, elevando para 13 o número de botos-vermelhos em “emalhe”

e para oito em “arpoamento”.

Assim, o total de animais envolvidos em interações de “emalhe” e “arpoamento” foi de 24

golfinhos, sendo 21 botos e três tucuxis (tabela 10). Todos os tucuxis emalhados vieram a óbito e

apenas três botos-vermelhos foram soltos com vida22

(figura 16). Botos-vermelhos são mortos

propositalmente quando encontrados emalhados ainda vivos. Portanto, apesar de alguns botos terem

sido soltos, consideraremos estes números como o total de animais mortos em interações

operacionais negativas aos golfinhos durante o estudo por acreditar que, em uma situação normal

sem a presença de pesquisadores, os animais em interação seriam mortos pelos pescadores.

Tabela 10: Número de golfinhos envolvidos em interações negativas para os mesmos

Nº de animais

Emalhe Arpoamento TOTAL

BOTO 13 8 21

TUCUXI 3 0 3

Estimativas de mortalidade dos golfinhos

Para as estimativas de mortalidade, consideraremos três tucuxis e 20 botos-vermelhos

mortos. O boto-vermelho encontrado morto devido à arpoamento será retirado da contagem por não

ter sido relacionado às atividades de pesca monitoradas. Os outros botos-vermelhos encontrados

22

Os botos-vermelhos soltos com vida foram emalhados no Lago Pantaleão, onde ocorre um Acordo de Pesca.

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34

mortos devido à emalhes serão considerados pois, apesar de não terem sido indicados pelos

pescadores em suas atividades de pesca, as necrópsias foram realizadas durante um

acompanhamento das pescarias de cinco dias, quando todas as atividades foram monitoradas,

fossem por meio de embarques ou desembarques; como as carcaças encontradas não estavam em

processo de decomposição avançado, podemos inferir que foram provenientes das atividades

monitoradas e estas interações foram omitidas pelos pescadores.

Figura 16: Filhote de boto-vermelho emalhado no Lago Pantaleão e posteriormente liberado por pescadores

Neste estudo, não foi possível obter a taxa de captura de golfinhos por lance de pesca ou

metragem de redes como é realizado em outros trabalhos (e.g. Crespo et al., 1997; Hamer et al.,

2008; Mangel et al., 2010). As informações necessárias a respeito das dimensões das redes

utilizadas, número de redes e tempo na água obtidas com os pescadores não são muito confiáveis

(e.g. Petrere Jr., 1978) e a captura por unidade de esforço obtida desta forma seria de difícil

comparação com os dados de pesca disponíveis. A abordagem utilizada, então, para estimativa dos

golfinhos mortos em interações negativas com atividades de pesca foi feita relacionando a

quantidade de pescado monitorada durante o estudo e a estimativa total para a área do estudo.

Este estudo acompanhou as atividades de pesca que resultaram em 146,8 toneladas de

pescado, correspondendo a aproximadamente 10% das 1500 toneladas estimadas no desembarque

anual da cidade de Tefé (da Silva & Martin, 2010). Assim, extrapolando a ocorrência de interações

negativas para os golfinhos em 10% da produção para a produção total, obtivemos uma estimativa

bruta de 238 golfinhos (IC95%=141 – 327) por ano, sendo 208 botos-vermelhos (IC95%=115 – 291) e

Colônia de Pescadores Z-04

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35

30 tucuxis (IC95%=7 – 55). Esta estimativa, no entanto, baseia-se no número de animais e captura

total do apetrecho, ao invés de considerar apetrechos envolvidos.

Quase a totalidade de interações negativas para os golfinhos ocorrem com redes, mesmo os

arpoamentos normalmente ocorrem durantes atividades de pesca com estes apetrechos. As redes de

emalhar são responsáveis por 85% da produção pesqueira na região (ProVárzea/IBAMA, 2005) e

utilizaremos o montante de 1275 toneladas23

de pescado capturado anualmente com redes de

emalhar para as estimativas. Estimamos em 202 (IC95%=120 – 278) o número de golfinhos em

interação negativa com atividades de pesca na área de estudo por ano, dos quais 176 são botos-

vermelhos (IC95%=98 – 248) e 26 são tucuxis (IC95%=6 – 47).

DISCUSSÃO

Embarcações de pesca

Quando perguntados sobre suas embarcações, os pescadores identificam dois estratos de

embarcação na região, canoas-rabeta e barcos pesqueiros. Estes são relatados também em outros

estudos de caracterização da pesca na Amazônia (e.g. Cardoso, 2005; Gonçalves e Batista, 2008;

Cardoso et al., 2004; Isaac et al., 2004; Batista, 2004; Viana, 2004). Seis categorias de embarcação

foram identificadas por Barthem (1999) na mesma região, sendo os barcos pesqueiros, barcos sem

caixa24

e canoas-rabeta os responsáveis por mais de 90% do pescado desembarcado em Tefé.

Os barcos pesqueiros são uma categoria bem distinta, por serem principalmente utilizados

para armazenagem de pescado e transporte de material de pesca e não na pesca propriamente dita.

Todos os barcos pesqueiros saem para as expedições de pesca com canoas-rabeta ou a remo e estas

são efetivamente utilizadas nas operações de pesca enquanto o barco pesqueiro funciona como uma

base, armazenando a produção e para acomodação da tripulação. Esta função dá maior autonomia

aos donos deste tipo de embarcação, podendo estes permanecer mais tempo no pesqueiro. Viagens

com canoas-rabeta tem duração máxima de cinco dias, enquanto os barcos pesqueiros permitem aos

pescadores permanecerem até três meses nos locais de pesca25

. Na região, eles são muito utilizados

na época do “peixe gordo”, que ocorre entre março e maio, quando uma grande produção de jaraqui

é explorada no Lago Tefé. Durante esta época, muitos pescadores tripularão estes barcos, voltando a

serem autônomos com suas canoas-rabeta quando a temporada acaba. Ao término desta temporada,

poucos barcos pesqueiros se dedicam à atividade de pesca, sendo mais comum observá-los

23

Valor referente a 85% da produção estimada para a cidade de Tefé. 24

Barcos com motores de centro, mas sem caixa fixa de armazenagem (Barthem, 1999). 25

Os barcos pesqueiros fazem várias viagens aos locias de desembarque neste período para venda de pescado e

aquisição de gelo, mas a tripulação continua no pesqueiro e em atividade de pesca.

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36

comprando peixes de outros pescadores e revendendo. Na época da seca, os custos de viagens ficam

proibitivos, principalmente pelo longo tempo necessário para chegar ao pesqueiro e à alta

produtividade dos pescadores com canoas-rabeta, reduzindo o preço do pescado.

As canoas-rabeta envolvem pouco custo de manutenção e são ideais para as condições

locais, sendo por isso as embarcações mais utilizadas.

Em atividades de pesca marinhas e na pescaria industrial o tamanho da embarcação

influenciará os métodos de pesca empregados (e.g. Barthem, 2004; Béltran-Pedreros, 1998),

geralmente com embarcações maiores comportando maiores tamanhos de rede. Não observamos

esta diferença na pescaria fluvial na região de Tefé, com muitos pescadores de canoas-rabeta

utilizando os mesmos tipos de redes que os barcos pesqueiros. Observamos diferença apenas na

utilização de apetrechos tradicionais, ainda muito utilizados pelos pescadores de canoas-rabeta, mas

não utilizados pelos barcos pesqueiros. O grande diferencial entre os dois tipos de embarcação é a

capacidade de armazenagem. Enquanto as canoas-rabeta comportam apenas caixas de isopor, os

barcos pesqueiros possuem caixas de gelo fixas, com capacidade de até 16 toneladas, o que fará

variar o esforço de pesca entre os dois estratos.

Pescadores e apetrechos de pesca e caracterização do desembarque

Neste estudo, tanto durante as entrevistas com os pescadores, como no monitoramento das

atividades de pesca, pudemos perceber a supremacia do uso das redes em relação a qualquer outro

método. Além dos apetrechos tradicionais, apetrechos de linha e anzol também são utilizados,

principalmente por pescadores de subsistência. Na Amazônia, após a colonização, métodos

indígenas e europeus de obtenção de pescado se misturaram e, por muitos séculos, a pesca foi

dominada por apetrechos tradicionais (Santos et al., 2006). Alguns destes apetrechos continuam

sendo utilizados pelos pescadores nos dias de hoje, mas desde o século passado a pesca vem

passando por modificações cruciais. Na década de 30 foram introduzidas as redes de cerco, e a

partir da década de 60, os fios de náilon passaram a ser utilizados, tornando as redes mais

resistentes e baratas e as transformando nos principais métodos de captura de peixes da região

(Batista, 1998; Santos et al., 2006; Barthem e Goulding, 2007).

Barthem (1999) identificou 15 diferentes tipos de apetrechos de pesca na mesma região.

Neste estudo, pudemos identificar 12 diferentes tipos de apetrechos, sendo que alguns foram

agrupados na mesma categoria de linha e anzol, enquanto o referido autor as discrimina. Além desta

diferença, utilizamos neste trabalho uma distinção entre as malhadeiras. Observamos que, tanto em

termos de frequência de desembarque quanto em representatividade na quantidade de pescado

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37

desembarcado, as tramalhas são os apetrechos mais representativos no entreposto de Tefé. As redes

têm grande prevalência no desembarque de pescado na Amazônia Central e Médio Solimões.

Batista (2004) relatou que as redes isoladamente (redinha e malhadeira) foram responsáveis por

97,9% do desembarque de pescado em Manaus nos anos de 1994 a 1996. Também Viana (2004),

relaciona as redes (cerco, redinha, arrastão e malhadeira) como as mais importantes para o

desembarque no Médio Solimões entre 1994 e 1996. Malhadeiras e tramalhas são adequadas para

uso em sistemas multiespecíficos, típicos de ambientes tropicais como a Amazônia, por apresentar

elevada seletividade determinada por suas características físicas e operacionais (Hamley, 1975 apud

Fernandes et al., 2009), embora a alta diversidade dos ambientes de várzea reduza a eficácia desta

seleção.

Os pesqueiros reportados nas entrevistas concordam com Barthem (1999) e Barbosa (2001),

que mostram as áreas do Rio Solimões adjacentes a Tefé e o Lago Tefé como pesqueiros

importantes. A área do Paranã do Capivara, especificamente o Complexo de Lagos do Paranã do

Jacaré, foi por muitos anos um dos mais importantes pesqueiros da região, mas com o

estabelecimento do Acordo de Pesca do Capivara a pesca comercial está agora regulamentada por

regras do acordo e os pescadores têm procurado novos pesqueiros, mais distantes, como os Rios

Copeá e Cubuá.

Chama atenção a intensa exploração do Lago Tefé no período do “peixe gordo”, a safra de

peixes que formam grandes cardumes migratórios, como o jaraqui e o matrinxã. Nesta época,

praticamente todos os barcos pesqueiros e canoas-rabeta de Tefé se dedicam à pesca nesta

localidade. Existe um Acordo de Pesca em planejamento para este lago, que desde 1989 tem parte

de sua área protegida pela criação da Floresta Nacional (FLONA) de Tefé e a produção deste local é

constantemente monitorada pela Colônia de Pesca Z-04 de Tefé. Pela importância para a pesca na

região, facilidade de logística e monitoramento já existente, este lago deve ser prioridade nos

acompanhamentos de pesca referentes às interações com golfinhos da Amazônia.

Uma característica importante da pesca na região é que podemos dividir os pescadores em

dois grupos: pescadores comerciais e de subsistência. Barthem e colaboradores (1997) dividem os

pescadores em pescador citadino, pescador interiorano, pescador indígena, pescador esportivo e

pescador ornamental.

Os pescadores comerciais são aqueles que se dedicam quase ou totalmente à atividade de

pesca, tendo a venda de pescado como única fonte de renda. A pescaria comercial utiliza, em geral,

redes de emalhar de elevado valor. Além de ser a principal atividade responsável pelo

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38

abastecimento de pescado no entreposto de Tefé, a pescaria comercial cumpre importante papel

social ao absorver parte da mão-de-obra ativa das cidades (Barthem, 1999). Na região, além da

divisão desta pescaria em pequena ou média escala conforme os barcos utilizados para

armazenagem de pescado, os pescadores comerciais podem ser divididos ainda em pescadores de

“peixes de escamas” e pescadores de “peixe liso”. Os pescadores de “peixes de escama” foram os

efetivamente monitorados neste estudo. Por venderem sua produção geralmente no mercado ou para

atravessadores que atuam no entreposto com horários de desembarque bem definidos, as

amostragens desse grupo são mais fáceis. Os pescadores de “peixe liso”, no entanto, não possuem

um horário de desembarque fixo e vendem sua produção exclusivamente nos frigoríficos da região,

sendo assim mais difíceis de amostrar. Estes pescadores têm alto investimento em seus apetrechos

de pesca e também elevado esforço de captura, muitas vezes com a pesca (lanço) realizada várias

vezes em um mesmo dia, aumentando as chances de interações com os golfinhos. As redes

utilizadas pela pescaria comercial e o elevado esforço de pesca destes pescadores fazem deles não

apenas um grupo que deve ser monitorado constantemente, como também um grupo prioritário para

parcerias no que concerne aos estudos dos golfinhos, seja para estudos de etnoecologia ou obtenção

de amostras para estudos genéticos e de biologia básica.

Os pescadores de subsistência são, principalmente, os pescadores moradores de

comunidades ou ribeirinhos. O termo ribeirinho é usado na Amazônia para designar as populações

humanas que moram à margem dos rios e que vivem da extração e manejo de recursos florestal-

aquáticos e da agricultura familiar (Furtado et al., 1993). A pesca de subsistência é desenvolvida

próximo às residências e os pescadores geralmente capturam somente o necessário para a

alimentação de seus familiares, vendendo um possível excedente. Também é característica desta

pescaria a utilização de um elevado número de apetrechos (Barbosa, 2001), principalmente

apetrechos tradicionais como arpões, flechas e zagaias, e também as tramalhas. Os pescadores

ribeirinhos mostram também maior diversidade relacionada a habitats e peixes capturados (Halwass

et al., 2011). Da produção total de pescado na Amazônia, 60% é proveniente desta categoria de

pescadores (Bayley e Petrere, 1989), ressaltando sua alta prevalência.

As características diferenciadas da pesca quanto às embarcações, espécies exploradas e

locais de desembarque necessitam ser consideradas nos estudos sobre interações dos golfinhos com

a pesca, pois elas parecem influenciar também a relação dos pescadores quanto às espécies. As

abordagens a cada setor devem ser diferenciadas e barcos pesqueiros e pescadores de “peixe liso”

devem ser priorizados em futuros estudos. Também a observação de uma sazonalidade no uso dos

pesqueiros favorece o monitoramento das atividades em cada local dependendo da época de maior

atividade. Silvano (2004) alerta para a necessidade de se estudar e descrever o conhecimento e as

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39

estratégias de pesca das comunidades de pescadores artesanais, antes que elas desapareçam em

virtude dos impactos ambientais e mudanças socioeconômicas que alteram as práticas de pesca.

Relações dos pescadores com os golfinhos da Amazônia e interações operacionais

Os golfinhos da Amazônia foram, por muitos anos, protegidos por lendas e superstições (da

Silva e Best, 1996a; Slater, 2001; Fraxe, 2004). Hoje em dia muitas das tradições orais foram

perdidas, contribuindo para o surgimento de conflitos entre pescadores e golfinhos e novos usos

para os botos.

A grande prevalência de interações operacionais nas atividades de pesca na região do Médio

Solimões chama atenção. Diferentemente de atividades pesqueiras marinhas, as atividades de pesca

fluvial se processam em ambientes mais restritos, como lagos e paranãs, usualmente mais próximos

de outras espécies com potencial para interagir com a atividade. Em atividades de pesca marinhas,

são documentadas interações operacionais com quelônios (Pupo et al., 2006; Gilman et al., 2007),

aves (Cocking et al., 2008; Dietrich et al., 2009; Zydelis et al., 2009) e mamíferos (Berggren et al.,

2002; Goldsworthy e Page, 2007; Hamer et al., 2008).

No Mar Mediterrâneo, a ocorrência de interações operacionais negativas entre Tursiops

truncatus e barcos de pesca ocorreu em 68,7% dos dias amostrados (López, 2006); Tursiops

truncatus foi responsável também por depredação de redes em 13% das atividades de pesca

monitoradas em ilhas espanholas (Brotons et al., 2009) e depredação de 12,4% das redes

monitoradas na Corsega (Itália) (Rocklin et al., 2009). No Canadá, 36,8% das atividades de pesca

monitoradas por Karpouzli e Leaper (2004) foram acompanhadas por cachalotes. No Peru, em uma

área considerada prioritária para estudos de redução de interações operacionais negativas aos

golfinhos, em 80% das atividades monitoradas em 18 meses houve captura acidental de pequenos

cetáceos (Mangel et al., 2010). Apesar das diferentes metodologias utilizadas nestes estudos, e a

maioria em ambientes marinhos, confirmamos neste trabalho que a ocorrência de interações em

78,5% das atividades de pesca é realmente de alta prevalência e pode estar contribuindo para os

conflitos estabelecidos entre golfinhos e pescadores na região.

Os pescadores de Tefé não vêem os golfinhos como competidores26

, mas a alta prevalência

de interações pode ser sinal da existência de uma competição por recursos cada vez mais escassos,

frente à sobrepesca de algumas espécies de pescado (e.g. Barthem e Goulding, 2007). Kelkar e

colaboradores (2009) discutem interações biológicas entre pescadores artesanais e os golfinhos

26

A palavra “competidor” neste contexto não está sendo usada em seu sentido ecológico, mas sim na maneira

como os pescadores observam a relação deles com os golfinhos, onde os botos não precisariam procurar o mesmo

recurso que o pescador e apenas o fazem por comodidade ou até mesmo implicância.

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fluviais na Índia, onde a forte sobreposição espacial entre áreas de pesca e áreas de concentrações

de golfinhos e sobreposição de presas confirma a existência de um alto nível de competição entre

pescadores e golfinhos. Read (2008) argumenta que as atividades de pesca marinhas podem trazer

profundas mudanças ecológicas à estrutura e função dos ecossistemas; e estas mudanças devem ter

consequências adversas para as populações de mamíferos marinhos (DeMaster et al., 2001).

O boto-vermelho foi mais relacionado a interações negativas aos pescadores e com mais

frequência do que o tucuxi, tanto nas análises do desembarque quanto nas percepções dos

pescadores. O boto-vermelho e o tucuxi são espécies simpátricas e forrageiam na mesma área de

uso dos pescadores (Martin et al., 2004), no entanto utilizam diferentes itens alimentares27

e

apresentam diferentes características comportamentais (da Silva et al., 2008). Como as interações

operacionais dependem do tipo de apetrecho utilizado, da ecologia das espécies-alvo, e da ecologia

e comportamento dos golfinhos (Di Beneditto, 2004), esta distinção entre botos-vermelhos e tucuxis

era esperada.

Os tucuxis costumam evitar as redes de pesca (da Silva et al., 2008), motivo pelo qual

dificilmente estão relacionados às interações operacionais e, segundo os pescadores, estão mais

relacionados a interações positivas como cooperação na pesca, e atrai a simpatia dos habitantes

locais. Podemos ver esta relação nas citações de seu Grasciomar, pescador da cidade de Alvarães e

de seu Alolilde, pescador de Tefé. Seu Grasciomar diz que “acho lindo aquele golfinho (tucuxi)

pulando” e seu Alolilde acha que “o tucuxi até ajuda, às vezes a rede não dá pra cercar e os tucuxis

vêm naquele cardume e ajuda a gente a cercar”. Tucuxis, no entanto, podem ser vítimas de emalhe

acidental nas redes armadas e, como morrem rapidamente nesta situação, a maioria destas

interações é fatal embora os pescadores mostrem predisposição a libertá-lo quando possível.

Já o boto-vermelho parece ter desenvolvido um comportamento de espreita às redes (da

Silva et al., 2008), forrageando sobre os peixes já emalhados, causando prejuízos financeiros com

danos aos artefatos ou diminuição da qualidade do pescado e criando uma atmosfera negativa para a

espécie. Apesar de apenas uma pequena porcentagem ter adimitido matar propositadamente os

golfinhos, a maioria dos entrevistados se negou a responder a esta pergunta e acreditamos que

nossos dados estejam subestimados, principalmente pelo receio dos pescadores em comentarem

atos/atividades que eles sabem ser ilegais. A depredação nas atividades de pesca passa a ser um

problema à conservação das espécies quando os pescadores tomam medidas retaliatórias quanto aos

27

O tucuxi é um predador mais especializado. Ataca peixes em cardumes e precisa capturar o maior número de

presas, não só para assegurar seu alimento até encontrar outro cardume, mas também para manter seu alto metabolismo.

O boto-vermelho é mais oportunista, explorando um maior número de hábitats. Ele captura presas que formam

cardumes, mas principalmente presas de hábitos solitários, em geral portadores de estruturas rígidas e de grande porte,

não necessitando estocar grande quantidade de alimento (da Silva, 1983).

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golfinhos para proteger a pescaria ou quando o ato de depredar as redes em busca de alimento

aumenta a probabilidade dos golfinhos serem presos no apetrecho de pesca (Read, 2008). A

depredação pode também ter sério impacto nos golfinhos modificando seus hábitos alimentares e

balanço energético, pois facilita a captura de presas não comumente acessíveis ou que não faziam

parte da dieta ususal (Roche et al., 2007).

A aversão dos pescadores quanto ao boto-vermelho, associada também às lendas locais28

,

provavelmente é passada as futuras gerações (Rodrigues, 2008), acentuando e perpetualizando o

conflito.

A soma desses conflitos parece culminar no novo e, no caso da região de estudo, único uso

para os botos-vermelhos: a utilização de sua carne como isca na pesca da piracatinga (ver capítulo

II). Essa utilização, proibida pela legislação, parece ser justificada para os pescadores justamente

pelos prejuízos que o boto causa à pesca e pelo rápido retorno financeiro com a atividade de pesca

de piracatinga.

É comum que competição por recursos e letalidade de alguns animais culminem em

conflitos que justificam atitudes ilegais por parte dos seres humanos (e.g. Garcia-Alaniz et al.,

2010; Gurung et al., 2008; Goodrich et al., 2011; Liu et al., 2011), mas Johnson e colaboradores

(2006) relacionam o retorno financeiro como sendo o verdadeiro motivo para a caça aos animais.

Alguns estudos focam o conflito financeiro entre atividades de pesca e os mamíferos

aquáticos (Read, 2008; Bearzi et al., 2011). Rosas-Ribeiro (2009) estudou o conflito entre ariranhas

(Pteronura brasiliensis) e pescadores na RDS Uacari (alto Amazonas) e encontrou baixa

sobreposição entre a dieta das ariranhas e ribeirinhos e baixa presença das mesmas em pescarias

experimentais, não justificando as reclamações dos pescadores de prejuízos à sua alimentação ou

atividade pesqueira. Brotons e colaboradores (2008) também encontraram baixa perda financeira

estudando as interações entre os golfinhos nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) em ilhas

espanholas. Na Amazônia, apesar de haver certa sobreposição entre espécies comercialmente

exploradas desembarcadas no mercado de Manaus e preferencialmente consumidas pelos golfinhos,

esta sobreposição é baixa (43%) e os golfinhos não competem com a pesca comercial, explorando

28 De acordo com a lenda, o boto-vermelho pode transformar-se em um homem elegante ou em uma mulher

atraente, irresistíveis ao sexo oposto. Mulheres que foram encantadas pelo boto dão à luz filhos normais, fazendo com

que se atribua ao boto muitos filhos sem paternidade reconhecida. Esta lenda gera um incômodo em relação ao boto,

que é visto sempre como uma criatura “malina”. Também outros atributos dos botos são negativos: eles moram em

cidades subaquáticas, para onde levam humanos encantados ou que realizaram algum mal à sua comunidade -

populações de botos ou outros animais aquáticos por eles protegidos, como o peixe-boi. Em alguns locais, olhos e

genitais tornam-se amuletos para atrair a pessoa amada (Slater, 2001).

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uma faixa alimentar muito maior que os peixes comercializados (da Silva e Best, 1996a; da Silva,

1983). Na região do estudo, entretanto, a frequência de interações operacionais é bastante alta e

também as espécies exploradas pela pesca comercial e de subsistência diferem em relação à Manaus

(e.g. Barthem, 1999) e estudos relacionando estas interações com perdas financeiras devem ser

realizados para se compreender melhor esta relação.

Inicialmente, os estudos referentes as interações entre mamíferos aquáticos e a pesca

focavam-se em interações biológicas, principalmente predação sobre os recursos pesqueiros (e.g.

Beddington et al., 1985), mas atualmente os prejuízos financeiros causados pelos golfinhos (Bearzi

et al., 2001) e consequentes conflitos com pescadores têm recebido atenção. Na região de estudo,

esses prejuízos têm estabelecido uma relação de conflito entre pescadores e golfinhos. Há

evidências (e.g. Loch et al., 2009) e relatos de pescadores indicando que os botos são

propositadamente mortos devido a este conflito (da Silva e Martin, 2010) e numerosos trabalhos a

respeito dos golfinhos fluviais têm chamado atenção para esta temática (e.g. Trujillo et al., 2010a).

Os ganhos financeiros através da caça e outros benefícios parecem ser grandes motivadores

para a matança de botos que vêm ocorrendo na região. Apesar de não ter sido evidenciado o uso de

carcaças de animais em feitiçaria ou consumo, tem se formado um mercado em que pescadores são

solicitados a vender botos-vermelhos para a pesca da piracatinga e a própria pescaria parece ser

muito rentosa (ver capítulo II). Begossi e colaboradores (2004) discutem a influência da abordagem

êmica das Ciências Sociais para evitar conclusões simplistas acerca da relação homem/ambiente.

Neste contexto, recomendamos estudos de etnobiologia29

a fim de desenvolver novas estratégias

para conservação da espécie.

A maioria dos estudos com relação às interações de golfinhos com a pesca discute apenas os

efeitos negativos para os golfinhos (e.g. Archer et al., 2001; Freitas Netto, 2003; D´Agrosa et al.,

2000; Rojas-Bracho et al., 2006; Iñíguez et al., 2003; Amir et al., 2002; Béltran-Pedreiros, 1998),

mas a depredação causada às atividades de pesca é um fenômeno comum em muitas pescarias

costeiras (Read, 2008). Brotons e colaboradores (2008) encontraram, em ilhas espanholas, uma

perda causada por golfinhos de apenas 6,5% do montante gerado pela pesca, concluindo que as

interações negativas aos golfinhos são mais significativas do que os prejuízos aos pescadores. Para

este tipo de assertiva, seriam necessários dados não obtidos neste trabalho, mas sugere-se que,

apesar da alta prevalência de interações entre cetáceos e a pesca na Amazônia central, elas não são

29

Definida como a ciência que estuda o conhecimento que as comunidades humanas possuem acerca dos

recursos naturais e ecossistemas dos quais dependem para as suas atividades comerciais ou de subsistência (Berlin,

1992). Para os pesquisadores, a etnobiologia pode fornecer novas informações e diretrizes para pesquisa, além de

auxiliar no desenvolvimento de medidas de manejo condizentes com a realidade dos pescadores (Silvano, 2004).

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tão representativas quanto aos prejuízos financeiros. Na Itália, no entanto, as estimativas de

prejuízos causados pelos golfinhos chegam a €2561 por barco de pesca (Bearzi et al., 2011). E nas

Ilhas Crozet, no Oceano Índico, orcas e cachalotes reduzem em 40% a eficiência de captura dos

espinhéis, com prejuízos estimados em cinco milhões de dólares por ano (Roche et al., 2007).

Como esperado, apenas as redes registraram interações com os golfinhos da Amazônia.

Redes são também as principais responsáveis pelas capturas acidentais de golfinhos em todo o

mundo (Northridge, 1985; Dawson, 1991; Trippel et al., 1996; Julian e Beeson, 1997; Béltran-

Pedreros, 1998; Di Beneditto et al., 2001; Berggren et al., 2002; Majluf et al., 2002; Hamer et al.,

2008; Read, 2008; Mangel et al., 2010).

Até a década de 60, a pesca na Amazônia era basicamente de subsistência (Furtado, 1993;

Fraxe, 2000), utilizava apetrechos construídos artesanalmente e quase não envolviam interações

danosas, principalmente captura acidental. No entanto, o elevado esforço de pesca atual necessário

para suprir um mercado consumidor cada vez mais numeroso e o uso mais intenso de redes

afetaram também a maneira como os golfinhos de rio interagem com a pesca, ocasionando um

aumento em interações negativas para os pescadores e capturas acidentais (da Silva e Best, 1990; da

Silva e Best, 1996a).

A tramalha foi o apetrecho mais relacionado a interações operacionais e também constitui a

maior frequência de uso nas atividades de pesca amostradas. As redes têm grande prevalência no

desembarque de pescado na Amazônia Central e Médio Solimões (Barthem, 1999; Batista, 2004;

Viana, 2004) e esta relação era esperada.

Chamou atenção a diferença significativa quanto ao apetrecho “redinha”, devido aos

apetrechos “redinha” e “cerco” serem essencialmente os mesmos apetrechos, tendo a principal

diferença na forma de utilização. É comum a reclamação de que os golfinhos estariam perseguindo

as redes dos pescadores, no entanto se isto ocorresse realmente era de se esperar que o cerco

também fosse significativamente diferente, já que fica fixo em uma mesma área por cerca de três

meses e os golfinhos rapidamente aprenderiam onde conseguir alimento fácil. No entanto, a

diferença observada apenas para a redinha pode estar indicando que os golfinhos estão predando

sobre os cardumes também procurados pelos pescadores e as interações ocorrem pela procura e

exploração do mesmo recurso.

As menores malhas das tramalhas e também redinhas favorecem as interações entre

golfinhos e estes apetrechos. Embora Fernandes e colaboradores (2009) não tenham relacionado um

padrão definido de tamanho de malha com a espécie capturada, observaram que malhadeiras de

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malha menor de 80 mm são mais relacionadas a capturas de caraciformes migradores de pequeno e

médio porte e malhadeiras com malha maior de 80 mm para espécies e espécimes de maior porte.

Assim, malhas menores capturam peixes de menor tamanho e favorecem as interações operacionais,

pois estes são também os tamanhos de presas preferidos pelos golfinhos, que ingerem peixes que

variam de 47 a 800 mm com prevalência de peixes na faixa de 200 a 400 mm (da Silva, 1983).

Com relação a todas as interações com botos-vermelhos, foi verificada uma diferença

significativa relacionada à sazonalidade: as interações ocorrem mais durante a estação seca. Em

áreas de várzea, como a área de estudo, o pulso de inundação é um fator determinante dos processos

ecológicos (Junk et al., 1989; Ramalho et al., 2009) e na Amazônia Central a amplitude média

anual da variação do nível da água chega a ultrapassar os 10 metros (Junk, 1989). Durante a seca, os

peixes ficam mais concentrados e fáceis de capturar (Batista, 1998; Cardoso, 2005) e neste período

é comum observar botos se alimentando em áreas de praia, onde também a exploração pesqueira

passa a ser mais intensa. Os espaços estão mais reduzidos e as áreas de pesca são intensamente

disputadas por golfinhos e pescadores. A facilidade de captura de pescado e, consequentemente, o

bom rendimento com poucas horas de pesca, atrai pescadores ocasionais ou de subsistência para a

atividade comercial e observa-se um aumento na utilização das redes (principalmente tramalhas)

nas inúmeras praias e enseadas. Pescadores de subsistência intensificam o uso das redes durante a

estação seca (Hallwass et al., 2011), em substituição aos apetrechos tradicionais e também os

pescadores de “peixe liso” utilizam as redes do tipo arrastão com mais intensidade. Este aumento na

quantidade de redes em operação, somada ao espaço reduzido para forrageio dos golfinhos,

favorecem a ocorrência de interações operacionais.

Durante a estação seca, os pescadores também se concentram mais na exploração dos lagos

que agora se encontram isolados. Isso é verdade principalmente nas áreas com Acordos de Pesca,

onde os pescadores procuram por tambaquis e pirarucus manejados e, em geral, os golfinhos

abandonam estes lagos antes de ficarem isolados. Estas atividades de pesca, no entanto, dificilmente

compõem os desembarques nos portos da região, pois em geral já possuem um comprador fixo para

a produção e não é possível entrevistar os pescadores.

Na estação cheia também foi encontrada diferença significativa, provavelmente pela

exploração do jaraqui no Lago Tefé. Durante a cheia os pescadores comerciais aumentam o esforço

de pesca para manter a produção (Halwass et al., 2011) e assim favorecem também o aumento das

interações. Os pescadores de subsistência, na época de cheia, utilizam apetrechos de linha e anzol e

tradicionais (ibid), que não envolvem interações operacionais.

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Em relação ao tucuxi, registram-se mais interações na época da cheia. A maioria das

interações foi “tocaia” na época do “peixe gordo” no Lago Tefé. Isto se deve, provavelmente, pelo

hábito dos tucuxis forragearem sobre peixes que formam cardumes (da Silva et al., 2008) que estão

sendo intensamente explorados nesta época.

A heterogeneidade em relação aos habitats onde ocorrem interações operacionais deve-se

provavelmente aos aspectos de distribuição dos golfinhos. A preferência dos golfinhos por hábitats

com águas calmas é bem registrada (e.g. Araújo, 2010; Martin et al., 2004; Vidal et al., 1997).

Martin e colaboradores observaram diferenças entre botos-vermelhos e tucuxis quanto a alguns

elementos de escolha de habitat, mas afirmam que eles compartilham a preferência por aqueles de

pouca correnteza. Habitats de pouca correnteza permitem aos golfinhos menor gasto energético na

atividade de forrageio (Araújo, 2010, Martin et al., 2004). São áreas também preferenciais para as

fêmeas de botos-vermelhos, que encontram condições ideais para amamentar, ensinar e proteger

seus filhotes (Martin e da Silva, 2004). Da mesma forma, estes habitats são áreas conhecidas pela

alta densidade de pescado e são intensamente exploradas pelos pescadores no Médio Solimões

(Viana, 2004). Apesar da maioria dos lagos secarem no período de águas baixas, alguns mais

profundos e extensos, permanecem alagados e são importantes refúgio para botos e peixes-bois e os

pescadores aproveitam este período para despesca do pirarucu (Arapaima gigas).

Martin e colaboradores (2004) argumentam que, devido a seletividade de habitat dos

golfinhos que ocorrem em áreas que favorecem o uso das redes pelos pescadores, o emalhe em

redes de pesca é aparentemente uma causa de mortalidade comum para estes animais. A agregação

de fêmeas e filhotes nestes locais é outro fator de preocupação, pois interações operacionais

negativas aos golfinhos podem acabar se concentrando em um segmento muito sensível da

população, como fêmeas reprodutivas e filhotes (recrutamento) (e.g. Hamer et al., 2008). Indivíduos

jovens e filhotes parecem ser particularmente sensíveis às interações de emalhe em redes, assim

como observado para outros cetáceos (e.g. Vidal et al., 1999, Archer et al., 2001). Outros estudos

sobre quais segmentos das populações dos golfinhos estão sendo afetados pela pesca devem ser

priorizados.

Com base na seletividade de habitats dos botos no rio Araguaia, Araújo (2010) sugere a

criação de refúgios ecológicos para a espécie em sua área de estudo. Estes refúgios poderiam

proteger áreas importantes de reprodução, alimentação e aprendizado de filhotes, mas também

influenciariam de forma significativa a dinâmica da pesca na região. No entanto, mais estudos que

subsidiem tais propostas, tanto focados nos golfinhos quanto nos pescadores são necessários.

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Interações negativas para os golfinhos e estimativas de mortalidade

Mortalidade acidental por meio de interações operacionais, principalmente de emalhe, são

comumente registradas em estudos com cetáceos (e.g. Rojas-Bracho e Taylor, 1999; D’Agrosa et

al., 2000; Rojas-Bracho et al., 2006). O “arpoamento” foi também registrado por Alarcon (2006) na

Bahia, mas muito menos frequente do que na região desse estudo. A prevalência das redes nas

atividades de pesca ao redor do mundo favorece o emalhe dos cetáceos e, para a região de estudo,

esperávamos também a ocorrência de arpoamento. O apetrecho arpão é amplamente utilizado pelos

pescadores na Amazônia, especialmente para proteção contra predadores aquáticos, como jacarés e

botos-vermelhos, e captura de pescado de grande porte como o pirarucu. Quando os golfinhos,

principalmente botos-vermelhos, se aproximam das redes, os pescadores rapidamente utilizam o

arpão para espantar os animais e estes podem ser ocasionalmente feridos.

Como mostrado pela alta frequência de interações em períodos de águas baixas, as

interações negativas também são mais frequentes neste período e provavelmente pelos mesmos

motivos expostos anteriormente. O período de seca do ano 2010 foi extremamente atípico, sendo

uma das maiores secas já registradas para o Rio Solimões (Marengo et al., 2011). Assim, observou-

se um intenso esforço de pesca realizado principalmente nas praias formadas e uma grande

concentração de golfinhos nestas áreas. No Lago Tefé, houve registros de matanças de dezenas de

botos-vermelhos, provavelmente por conflitos gerados pela concentração de peixes, pescadores e

golfinhos na mesma área.

Os números mínimos de animais em interação e as estimativas de mortalidade desse estudo

concordam com outros estudos, que confirmam ser alta a mortalidade acidental de cetáceos em

atividades de pesca ao redor do mundo. Na Argentina, Iñíguez e colaboradores (2003) encontraram

37 golfinhos (Cephalorhynchus commersonii) mortos em redes de pesca e estimaram a captura

incidental de 179 animais em um ano. Na Tanzânia, Amir e colaboradores (2002) verificaram,

também em um ano, o mínimo de 46 golfinhos de várias espécies mortos incidentalmente e

extrapolaram para 96 o número para todas as atividades de pesca. Na costa peruana, em 16 meses

de estudo, 253 golfinhos de várias espécies foram mortos acidentalmente em redes de pesca, com

estimativas de 2412 animais por ano (Mangel et al., 2010).

As estimativas de golfinhos mortos em interações operacionais neste estudo devem ser

discutidas com cautela. Nossa amostragem, apesar de observar diferentes modalidades de pesca,

concentrou-se em apenas um segmento da pesca: a que desembarca o pescado nos portos. Muitos

pescadores concentram-se apenas na produção de “peixe-liso”, que é comprado diretamente nas

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47

comunidades ou desembarcado em frigoríficos. As redes de pesca destas atividades são compridas e

com grandes malhas, características encontradas em redes de emalhar prejudiciais a outras espécies

de golfinhos (Iñíguez et al., 2003; Rojas-Bracho e Taylor, 1999), podendo ser também a interação

com este segmento da pesca significativa. Novos estudos devem ampliar os esforços de coleta para

contemplar de forma mais efetiva este segmento e verificar como as interações operacionais

negativas aos golfinhos ocorrem.

Outro fator de preocupação diz respeito às extrapolações para todas as atividades de pesca.

A maioria dos trabalhos utiliza dados de CPUE30

para as estimativas do número de golfinhos

mortos em uma mesma área (e.g. Iñíguez et al., 2003; López, 2006). Dados de CPUE, no entanto,

não estão facilmente disponíveis para as atividades de pesca de Tefé e são de difícil coleta em

campo. As variadas embarcações em atividade na região e que utilizam diferentes apetrechos em

diferentes momentos (Barthem, 1999; Batista, 1998) e a falta de confiabilidade das respostas dadas

pelos pescadores (Petrere Jr., 1978) dificultam a tomada de dados precisos necessários ao cálculo de

CPUE tais como o tamanho de rede, tempo real de rede na água e número de pescadores. Estes

dados são mais facilmente obtidos quando se trabalha com observadores de bordo. Para futuros

trabalhos, esta metodologia deve ser também considerada, apesar das dificuldades impostas a esta

prática na Amazônia. Amir e colaboradores (2002) utilizaram em suas estimativas para a Tanzânia

apenas o número de embarcações em operação. Esse número também é difícil de obter para a pesca

na região, onde apenas um pescador em uma canoa a remo pode utilizar uma malhadeira

potencialmente danosa aos golfinhos.

Nossa abordagem, utilizando número total de pescado capturado, encontra dificuldades

como a grande variação de quantidade de captura por apetrecho e por época na região (Viana,

2004), mas ainda parece ser a abordagem de mais fácil comparação com os dados disponíveis. À

medida que grupos de pesquisa voltados à avaliação das atividades de pesca na Amazônia

obtiverem dados mais realísticos, também as estimativas referentes às capturas de cetáceos serão

mais precisas.

As estimativas de mortalidade também podem conter erros relativos a “efeitos do

observador”, onde o comportamento do pescador pode ser diferente quando há um observador ou

entrevistador na área (Wade, 1998). Este efeito foi considerado na contagem do número mínimo de

golfinhos em interação, mas também pode ser observado com os pescadores evitando áreas de

possível ocorrência de interações por medo de problemas com os observadores ou simplesmente

30

Captura por unidade de esforço. Na Amazônia, Petrere Jr. (1978) sugere utilizar quilo de pescado capturado

dividido por número de pescadores e dias de pesca.

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48

omitindo a informação aos entrevistadores. Tentamos diminuir esses efeitos utilizando pessoas da

região como entrevistadores e palestras que previamente explicavam aos pescadores a importância

do estudo e, principalmente, que não se tratava de nenhuma atividade de fiscalização (os pescadores

são muito bem informados sobre as leis de proteção aos golfinhos e temem ações do órgão

fiscalizador).

Wade (1998) argumenta que, baseado nos vários fatores indutores de erro nas estimativas de

mortalidade, é plausível que estas estimativas sejam subestimadas em até 50%. Então, mesmo

diante destes fatores, podemos concluir que as interações operacionais negativas aos golfinhos da

Amazônia são extremamente altas na região de estudo e podem significar uma séria ameaça à

conservação destas espécies. A ameaça da mortalidade acidental em redes de pesca é

particularmente crítica para pequenos cetáceos, que tem ciclo de vida longo e limitado potencial de

aumento populacional (Read, 2008).

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CAPÍTULO II

A PESCA DA PIRACATINGA E A UTILIZAÇÃO DOS GOLFINHOS DA

AMAZÔNIA NO MÉDIO SOLIMÕES, AMAZONAS

Sannie M. Brum ∙ Vera M. F. da Silva

S. M. Brum

V.M.F. da Silva

Laboratório de Mamíferos Aquáticos, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, CP 478,

69011-790 Manaus, Amazonas, Brazil

Email: [email protected]

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50

RESUMO

Desde o ano 2000 a pesca da piracatinga exerce pressão sobre as populações dos golfinhos da

Amazônia no Médio Solimões, onde têm sido utilizadas como isca nesta atividade. O presente

estudo descreve a pesca da piracatinga na região e a utilização dos golfinhos como isca. Entre

fevereiro e dezembro de 2010, foram realizados censo junto à Colônia de Pescadores de Tefé;

entrevistas com 17 pescadores; e levantamentos para informações sobre produção nos frigoríficos

da região de Tefé. De maio de 2003 a março de 2010, registrou-se uma produção total de mais de

81 toneladas de piracatinga, sendo observado o aumento na produção no decorrer dos anos.

Identificou-se 23 pontos de venda na região de estudo, onde o preço por quilo da piracatinga fica

em torno de R$ 1,00. Os pescadores entrevistados não identificam a piracatinga como principal

espécie-alvo e sim uma alternativa de rápido retorno financeiro. O procedimento para a essa pesca

utiliza o artefato conhecido como “caixa” e normalmente a melhor época para prática dessa

atividade é a enchente, preferencialmente executada à noite. A isca utilizada pode ser carne de

jacarés, botos ou vísceras de bagres, com preferência pelo boto-vermelho. No entanto, a carne de

jacarés é utilizada mais frequentemente por ser mais fácil de se obter. São comuns relatos de

pescadores já especializados na captura de botos ou jacarés para fornecimento de isca. A produção

anual de piracatinga dos frigoríficos da região de Tefé fica em torno de 420 toneladas. A

produtividade da pesca da piracatinga é alta, com cerca de 250 kg por pescador por hora de

pescaria, mas esta produção é muito variada. Não foi evidenciado o uso do tucuxi para esta

atividade neste estudo. Para a utilização do boto-vermelho, obtivemos razão de 1 kg de isca para 3,2

kg de pescado, estimando em 170 o número de animais mortos por ano para utilização nesta

atividade na região de Tefé. É muito preocupante a alta retirada anual desta espécie símbolo da

Amazônia, principalmente pela aparente expansão deste comércio e a diminuição atual da

população desse golfinho observada na região do estudo.

PALAVRAS-CHAVE: boto-vermelho; isca; piracatinga; exploração comercial

ABSTRACT

Since the year of 2000 piracatinga´s fishery have been pressuring Amazon dolphin´s populations in

the medium Solimões River: the dolphins are used as bait in this activity. The present study

described piracatinga´s fishery in this region and the use of river dolphins as bait. Between February

and December of 2010, we carried out a census in the main Fishing Association of the region,

performing interviews using standard questionnaires with open-ended questions with 17 fishermen,

and surveying Freeze Plants of the region. Between May of 2003 and March of 2010, a total

production of 81 tons of piracatinga was registered, observing an increase on the production

throughout the years. 23 points of sale in the region were identified and the price for a kg of

piracatinga is around R$ 1,00. The interviewed fishermen do not identify piracatinga as main

targeted species but as an alternative for fast income. The procedure to that fishery type includes the

device known as “box” and it is preferentially executed at night. Bait used can be meat of alligators,

botos or catfish’s guts, with a preference for the pink river dolphin. However, the meat of alligators

is used more frequent because it is easier to obtain. There are mentions about specialized fishermen

in capture botos or alligators for bait supply. The annual piracatinga´s production of the Freeze

Plants in the region is around 420 tons. The productivity of piracatinga´s fishery is high, reaching

around 250 kg per fisherman per hour, but it changes greatly. The use of tucuxi in this activity was

not evidenced on this study. When using pink river dolphin, we estimate that we need 1 kg of bait to

catch 3,2 kg of piracatinga, and that 170 is the number of animals killed per year to be used in this

activity in the region. It worries this high annual mortality of an Amazon symbol protected by law,

mainly due to the apparent expansion of this activity followed by current reduction of this animal

population on studied area.

KEYWORDS: Pink river dolphin; bait; piracatinga; commercial explotation

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INTRODUÇÃO

Os golfinhos da Amazônia foram, por muitos anos, protegidos por lendas e superstições (da

Silva e Best, 1996; Slater, 2001; Fraxe, 2004). No entanto, com a introdução de novos materiais que

popularizaram as redes (Batista, 1998) e a exploração de novos recursos pesqueiros, os conflitos

com as atividades de pesca têm sido constantes (Northridge, 1985; da Silva e Best, 1996a; da Silva

e Martin, 2007; da Silva e Martin, 2010).

Desde o ano 2000 a pesca da piracatinga exerce pressão sobre as populações dos golfinhos

da Amazônia no Médio Solimões. As duas espécies têm sido utilizadas como isca nesta atividade,

assim como o jacaré, espécie de mais fácil obtenção (Estupiñan et al., 2003; da Silva e Martin,

2007; Botero-Arias et al., 2008).

A piracatinga (Calophysus macropterus) (figura 1), também conhecida como mota ou urubu

d’água, é um siluriforme de porte médio (alcançando até 40 cm e 1 kg) muito comum em águas

brancas em toda Amazônia (Barthem e Goulding, 2007). É extremamente voraz, oportunista e

necrófaga, consumindo restos de peixes e outros animais mortos, causando também problemas às

atividades de pesca por danos ao pescado (Santos et al., 2006). A piracatinga não é apreciada para

alimentação local, no entanto a comercialização desse pescado adquiriu força em muitas áreas nos

últimos anos (Botero-Arias et al., 2008), principalmente com a demanda de exportação para a

Colômbia, onde substitui o capaz (Pimelodus grosskopfii), espécie sobrexplorada que enfrenta

drástica diminuição populacional (Trujillo et al., 2010).

Figura 1: A piracatinga ou urubu d’água (Calophysus macropterus)

A piracatinga vem sendo explorada em muitas partes da Amazônia, mas em especial no

Médio e Alto Solimões (Barthem e Goulding, 2007), onde os frigoríficos da região vendem o

pescado diretamente para o centro consumidor, no caso a Colômbia.

Fishbase.org

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Embora recente, a pesca da piracatinga apresenta números preocupantes em relação à

mortalidade, princiapalmente, do boto-vermelho (Estupiñan et al., 2003; da Silva e Martin, 2007;

Serrano et al., 2007; Botero-Arias et al., 2008; de Sá Alves et al., 2010; da Silva et al., 2011).

Mesmo ilegal, a exploração, principalmente do boto-vermelho, vem tomando moldes

comerciais, à medida que existem até mesmo pescadores especializados na captura desses animais.

Na região do Médio Solimões, esta parece ser a primeira exploração comercial dos golfinhos da

Amazônia, já que sua carne não é apreciada para alimentação e até mesmo sua utilização em

práticas de crendice popular não é em grande escala (da Silva e Martin, 2010).

O presente estudo caracterizou a pesca da piracatinga, identificando os principais locais e

épocas de atividade; e a produção e utilização dos golfinhos da Amazônia como isca no Médio

Solimões.

MÉTODOS

Durante todo o período de fevereiro a dezembro de 2010 realizou-se esforços de coleta junto

aos pescadores de duas cidades do Médio Solimões: Tefé e Alvarães.

Primeiramente, foi realizado um levantamento dos manifestos de pesca31

arquivados desde

2003 pela Colônia de Pesca Z-04 de Tefé, quando foi feito um minucioso censo e identificados os

pescadores e a produção pesqueira.

Após este primeiro censo os pescadores foram procurados para conceder entrevistas. No

entanto, apesar de terem sido identificados como pescadores de piracatinga, se negaram a participar

do estudo alegando não praticarem a pesca desse peixe. A pesca da piracatinga não é uma atividade

ilegal, mas a utilização de animais protegidos como golfinhos e jacarés como isca faz com que os

pescadores sejam esquivos sobre o assunto, dificilmente assumindo esta prática e tornando os dados

sobre esta atividade de difícil obtenção.

Os pescadores que vivem em comunidades fora das cidades de Alvarães e Tefé foram mais

receptivos, e duas comunidades concordaram em participar do estudo: a comunidade de Santa Rosa

do Capivara (03º12’S/64º35’W) e a comunidade do Canariá (03º05’S/64º57’W)32

. Nem todos os

pescadores dessas comunidades são registrados nas Colônias de Pesca, assim, a partir de alguns

pescadores identificados em nosso censo, utilizamos o método “bola de neve” (snow-ball), no qual

potenciais entrevistados (pessoas que possuem reputação de conhecer o assunto em questão) são

31

Documentos exigidos pelas Colônias de Pesca para comprovar a produção mensal do pescador 32

Ver Mapa da área de estudo, figura 3 em Introdução Geral

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apontados pelos próprios membros da comunidade, e após cada entrevista é solicitado ao

entrevistado que aponte outras pessoas (Bailey, 1982). Dessa forma, entrevistamos todos os

pescadores identificados nas comunidades por meio de questionários semi-estruturados (e.g. Di

Beneditto, 2004; Begossi, 2004), com algumas questões fechadas (com respostas já pré-definidas) e

outras questões abertas (de livre resposta) (anexo IV). As entrevistas eram feitas pela pesquisadora

S. Brum, e as respostas anotadas em caderno de campo e posteriormente digitalizadas.

Frigoríficos da região foram também visitados para obtenção de dados sobre produção total

(anexo V) e estes dados utilizados nas estimativas de mortalidade.

A estimativa de mortalidade seguiu a metodologia utilizada por Serrano e colaboradores

(2007), relacionando a quantidade em peso de isca necessária para capturar a espécie-alvo com a

produção total de piracatinga e a proporção dos golfinhos utilizada, segundo a equação:

onde Pt é a produção total de piracatinga, ri é a razão de produtividade da isca e %u é a frequência

de uso de botos definida em 20%.

RESULTADOS

O levantamento realizado na Colônia de Pescadores identificou 413 pescadores registrados

com produção de piracatinga, esta variando de 1 a 3571 kg entre maio de 2003 a março de 2010.

Cada pescador possuía número variado de manifestos. Em geral, eles apresentam ao menos um

manifesto a cada mês, mas podem apresentar um número maior. O total de manifestos de cada

pescador não foi contabilizado.

Dentre estes pescadores, as idades variaram de 21 a 64 anos, com média de 41,4 anos (±

9,9), e dos quais 82 são mulheres. Na maioria são pescadores citadinos, sendo 273 morando em

áreas urbanas e 140 em comunidades ribeirinhas. Os pescadores de piracatinga são ocasionais,

normalmente se dedicam a outras atividades de pesca durante o ano e pescam piracatinga apenas em

condições favoráveis, como a entresafra das espécies comerciais tradicionais.

Com base no manifesto dos pescadores, registrou-se uma produção total de 81,6 toneladas

de piracatinga. O ano mais produtivo foi 2009, com produção de aproximadamente 23 t. Com o

decorrer dos anos verifica-se um aumento na produção de piracatinga, já que em 2003 registrou-se

apenas 865 kg, em 2004 a produção chegou a 8 t, e em todos os anos seguintes produziu-se acima

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de 10 t, sendo que nos primeiros três meses de 2010 já registrou-se produção superior que todo o

ano de 2003 (figura 2). Existe imensa variação da produção dos meses em relação aos anos (figura

3), mas agosto, outubro e maio aparecem com especial destaque.

Figura 2: Quantidade (em kg) de piracatinga declarada por pescadores registrados comercializada na região de Tefé

entre os anos de 2003 a 2010 (de acordo com dados da Colônia de Pesca Z-04 de Tefé)

Figura 3: Quantidade (em kg) de piracatinga comercializada por mês, de acordo com os anos e declarada pelos

pescadores registrados conforme dados da Colônia de Pesca Z-04 de Tefé.

Ainda com base nos manifestos, foram identificados 23 pontos de venda de piracatinga, em

geral frigoríficos, nas cidades de Tefé, Alvarães, Juruá e Fonte Boa, além de notas fiscais emitidas

por frigoríficos de Manacapuru e Tabatinga, provavelmente representados por barcos frigoríficos

que esperam pela produção nas comunidades. O preço mais comum pago ao pescador por quilo de

piracatinga foi de R$ 1,00, mas os preços variaram de R$ 0,50 a R$ 2,50. Em supermercados de

Manaus, a piracatinga filetiada chega a custar R$ 14,00 o quilo, vendida como “filé de douradinha”.

0 5000 10000 15000 20000 25000

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010 (apenas 3 meses)

kg piracatinga

An

os

0

1000

2000

3000

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

An

os

kg p

irac

atin

ga

Meses

2004

2005

2006

2007

2008

2009

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Nas duas comunidades que concordaram em participar do estudo foram entrevistados 16

pescadores e na cidade de Alvarães foi possível entrevistar também um pescador, totalizando 17

entrevistados.

O procedimento para a pesca da piracatinga é relativamente simples, sem utilização dos

apetrechos de pesca comumente usados. Este procedimento (figura 4) é descrito a seguir:

Primeiramente, forma-se um grupo de pescadores para a atividade,

normalmente de dois a quatro pescadores. Este grupo, formado na própria comunidade e

normalmente por parentes, irá dividir o investimento necessário e as atividades (construção

da caixa, obtenção da isca, pescaria e evisceração do peixe), dividindo depois o lucro. O

investimento financeiro é apenas para a construção da caixa de madeira utilizada (em torno

de R$ 100,00 a R$ 150,00). Depois há apenas pequenos gastos de combustível caso a

pescaria não seja feita na própria comunidade. O maior gasto de combustível é feito para

transportar o pescado para os frigoríficos, mas esta despesa pode ser evitada com a venda da

produção diretamente para um atravessador na comunidade;

Com a caixa pronta, um dia antes ou mesmo no dia da pesca, é necessário

obter a isca. A isca deve ser uma carne com gordura e cheiro forte (pitiú) para atrair a

piracatinga e obter melhor rendimento. A isca pode ser conseguida por captura direta (caça),

pela compra com algum fornecedor ou então por coleta oportunística (algum animal

encontrado já morto). A isca é então “tratada” e deixada ao sol ou em água para apodrecer e

ser utilizada na noite da pescaria;

A pescaria propriamente dita pode variar de acordo com as comunidades. Na

comunidade de Santa Rosa, por exemplo, a pescaria ocorre no próprio porto da comunidade,

com a utilização efetiva da caixa (figura 5) para a captura. Os pescadores amarram a isca

apodrecida em varas ou então seguram com a mão e com os peixes agarrados à carne a

arrastam até a caixa, que tem uma portinhola por onde passam os peixes. Após a entrada dos

peixes, a portinhola é então fechada. Geralmente existem aberturas laterais ou um espaço

entre as tábuas na caixa para que as piracatingas pequenas possam escapar. Na comunidade

de Canariá a pesca era feita também na frente da comunidade, no entanto, devido a

reclamação por parte dos demais moradores, esta foi transferida para uma área de “remanso”

oposta à comunidade. No Canariá a caixa não necessariamente possui uma porta, pois ela

não é usada como artefato da pesca, mas apenas para armazenagem, e então pode ser

totalmente fechada. Os pescadores do Canariá posicionam a isca entre suas pernas na água e

esperam a aproximação das piracatingas, apanhando com as mãos as de maior tamanho e as

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jogando na caixa. Em ambas as comunidades, então, a caixa com a produção é mantida na

água até a manhã seguinte;

Na manhã seguinte, as piracatingas serão evisceradas (figura 6) e

conservadas em gelo. Os peixes devem ser mantidos vivos em água até a evisceração, antes

de acomodados no gelo para a venda, caso contrário a carne escurece e perde seu valor

comercial.

Figura 4: Processo resumido para a pesca de piracatinga

Todos os pescadores entrevistados afirmaram que a piracatinga não é sua espécie-alvo

principal. Eles optam por esta atividade devido ao rápido retorno financeiro quando a pesca fica

difícil ou é época do defeso33

. O tempo em que esses pescadores se dedicam a esta atividade varia

de um a nove anos. Todos afirmaram utilizar canoas-rabeta na pescaria, mas apenas para captura da

isca e deslocamento para o pesqueiro.

Todos também afirmaram empregar a “caixa” na pesca da piracatinga, mas de maneira

diferente como descrito acima. As entrevistas não ocorreram em época de pesca e não foi possível

observar caixas novas ou em construção e apenas uma caixa já bem deteriorada pôde ser

examinada. O tamanho das caixas varia, mas em média têm capacidade para 350 kg de pescado.

33

Período de paralisação obrigatória da pesca sobre um determinado recurso pesqueiro, normalmente para

proteger alguma época importante do ciclo de vida da espécie, como período reprodutivo.

Venda

Venda para atravessadores na comunidade, barcos pesqueiros ou frigoríficos das cidades próximas

Evisceração do pescado

Evisceração realizada na manhã seguinte à pescaria, antes de acomodação no gelo

Pesca da Piracatinga

Comunidade Santa Rosa do Capivara - utilização do apetrecho para atração e armazenamento do pescado

Comunidade Canariá - utilização da "caixa" apenas para armazenagem; captura do pescado com as mãos

Obtenção da isca

Carne com cheiro forte (normalmente botos ou jacarés) conseguida por captura direta (forma mais comum), coleta ou compra com algum fornecedor

Construção do artefato de pesca, a "caixa"

Investimento Inicial; confecção própria

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São artefatos simples, retangulares ou quadrados, construídos com madeira obtida na região e que

podem conter ou não uma portinhola do tipo vai e vem. A confecção da caixa é feita pelos próprios

pescadores, no início da temporada de pesca, normalmente no fim da estação seca, quando as águas

começam a subir novamente (enchente).

Figura 5: Artefato utilizado para pesca da piracatinga - a "caixa"

Figura 6: Parte da produção de piracatinga sendo eviscerada

Apesar da enchente ter sido confirmada como a melhor época para a pesca de piracatinga

por todos os pescadores entrevistados, eles informaram que a pescaria pode ser feita em qualquer

época do ano e preferencialmente à noite.

Projeto Boto

Nívia do Carmo

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Todos os pescadores entrevistados declararam capturar suas próprias iscas e que as

comumente utilizadas são carne de boto-vermelho (figura 7) e jacaré. São comuns relatos da

existência de pescadores já especializados na captura de botos e jacarés para fornecimento da isca

(um boto pode custar de R$ 30,00 a R$ 100,00), no entanto este mercado parece ser mais intenso

para os pescadores citadinos, com os comunitários fornecendo as iscas. Em uma das comunidades

visitadas foi identificado um destes fornecedores, mas este se negou a participar do estudo. Apenas

o pescador citadino comentou a possibilidade de utilizar animais mortos em redes de pesca ou

comprar com algum fornecedor.

Figura 7: Cabeça de boto-vermelho (Inia geoffrensis) descartada após utilização do animal como isca para a pesca da

piracatinga

Apesar de reconhecerem a melhor produtividade da pesca utilizando as mãos, onde apenas

os peixes de maior tamanho e maior valor comercial são capturados, os pescadores de Santa Rosa

consideram este método muito perigoso, podendo atrair outros animais como piranhas e jacarés.

A piracatinga é comercializada eviscerada e refrigerada em gelo. A comercialização é local,

vendida aos frigoríficos das cidades de Tefé e Alvarães (53% dos entrevistados) ou a um

atravessador na comunidade (47% dos entrevistados). O atravessador também venderá aos

frigoríficos. Apesar de eventualmente comerem a piracatinga, os pescadores não a identificam como

uma espécie apreciada e não é comum que ela seja utilizada na alimentação da família ou da

comunidade e também não é vendida ou encontrada nos mercados da cidade. A produção é

Nívia do Carmo

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exclusiva para os frigoríficos, que irão distribuí-la em outros mercados (principalmente para a

Colômbia) e outras regiões do Brasil.

Foram identificados, nas cidades de Tefé e Alvarães, nove frigoríficos com câmaras

frigoríficas. Destes, dois se recusaram a participar do estudo, e então sete frigoríficos foram

entrevistados. Apenas um frigorífico em Tefé possui selo do SIF34

, certificado obrigatório para

exportação de produtos alimentícios. Por não possuírem esse selo, é comum que os frigoríficos de

Tefé vendam sua produção a barcos frigoríficos de outros estabelecimentos, principalmente de

frigoríficos em Tabatinga. Manaus também é destino de parte da produção de piracatinga, e o maior

frigorífico da região vende esse produto diretamente em Manaus e apenas para esta cidade.

A produção destes frigoríficos se baseia nos bagres ou “peixes lisos”, como são localmente

conhecidos. O tamanho das câmaras frigoríficas variou de 10 a 1500 toneladas, com média de 230,7

toneladas (± 559,8) e total de 1627 t de armazenagem. A produção anual média de cada frigorífico

variou de 80 a 2000 t, sendo 3030 t a produção total anual média deste setor. Em 2010, a produção

foi relativamente baixa e a produção total foi de 2020 t. A piracatinga representou parte importante

da produção destes frigoríficos. Segundo as informações obtidas, a produção anual média deste

pescado fica em torno de 420 t e no ano de 2010 a produção foi de 396 t.

A produtividade da pesca da piracatinga é alta. Em uma noite, durante 2 horas, um único

pescador pode conseguir até 250 kg de pescado, ou seja, uma taxa de produção de 125 kg por hora

por pescador. Mas segundo os próprios pescadores, esta produtividade irá variar de acordo com a

experiência do pescador, a época de pesca e a isca utilizada.

Todos os pescadores declararam utilizar boto-vermelho ou jacaré como isca na pesca, com

cinco pescadores declarando também a utilização de vísceras de dourada. Todos foram unânimes

em afirmar que a carne de boto-vermelho é a melhor isca para essa pescaria, mas a escolha em usar

boto ou jacaré depende da facilidade de captura e difere entre as comunidades. Os pescadores de

Santa Rosa usam mais o boto, enquantos os de Canariá o jacaré.

Neste estudo estávamos interessados em conhecer a produtividade da isca. Este número,

porém, é difícil de ser estimado, pois a produtividade da pescaria parece estar mais relacionada à

disponibilidade da piracatinga no local e à experiência do pescador, observando-se diferença em

relação às duas comunidades. O rendimento médio calculado com a utilização de um boto-vermelho

foi de aproximadamente 475 kg (± 450,69) e de jacaré foi de aproximadamente 249 kg (± 201,92).

34

Serviço de Inspeção Federal

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Para o boto-vermelho35

, portanto, temos uma razão de 1 kg de isca para obter 3,2 kg de pescado, ou

seja, 0,3125. Apenas um pescador forneceu sua produtividade com vísceras de peixe, que seria de

cerca de 90 kg de vísceras para obtenção de 300 kg de pescado. A utilização de tucuxi para isca de

piracatinga não foi reportada por nenhum pescador.

De acordo com a fórmula apresentada, estimou-se uma mortalidade de aproximadamente 34

botos-vermelhos para a produção declarada pelos pescadores da Colônia de Tefé entre 2003 e 2010.

Com base em uma produção média por ano de 420 t declaradas pelos frigoríficos de Tefé e

Alvarães, estima-se em, aproximadamente, 175 o número de botos-vermelhos mortos por ano nesta

região para uso como isca. Em 2010, a produção destes frigoríficos foi um pouco menor, ficando

em 396 t, e a estimativa de botos-vermelhos mortos para uso como isca foi de 165 animais. A

estimativa para número de botos mortos por ano na região de Tefé levou em conta então a média

geral dos dois cenários, sendo de 170 animais.

DISCUSSÃO

Pouca informação está disponível sobre a pesca da piracatinga. As informações voltadas

para os aspectos técnicos desta pescaria na Amazônia brasileira provem de relatórios e resumos

publicados por pesquisadores preocupados com o impacto desta atividade nas populações de

golfinhos da Amazônia e jacarés.

A pesca da piracatinga é praticada ocasionalmente pelos pescadores. Em geral, eles

trabalham em outras atividades de pesca e agricultura e pescam a piracatinga apenas em momentos

propícios, como em épocas de entresafra de pesca e defeso das espécies comerciais mais

importantes, embora se observe o comércio de piracatinga durante todo ano. O defeso de espécies

de importância comercial na região – a saber: tambaqui (Colossoma macropomum), período de

defeso entre 01/10 a 31/03; pirapitinga (Piaractus brachypomus), mapará (Hypophthalmus spp.),

sardinha (Triportheus spp.), pacu (Mylossoma spp.), aruanã (Osteoglossum bicirrhosum) e matrinxã

(Brycon spp.), que entram no defeso de 15/11 a 15/03 – é regulamentado pela portaria 48 de 2007

do IBAMA. Durante este período os pescadores cadastrados na Colônia de Pesca e regulamentados

com as obrigações exigidas pelo Ministério da Pesca recebem um salário mínimo por mês. No

entanto, além do seguro defeso ser recebido em parcelas e depois dos meses críticos, muitos

pescadores, principalmente das comunidades, não recebem o seguro e precisam explorar outras

espécies. Nessa época, a piracatinga surge como uma excelente opção.

35

Utilizando peso médio de 150 kg (Martin e da Silva, 2006).

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Os pescadores citadinos foram mais importantes no censo realizado, no entanto, observamos

que pescadores das comunidades dificilmente se associam às Colônias e não foram bem

representados. Durante visitas às comunidades e monitoramentos é comum observar caixas de

piracatinga nos portos em frente às mesmas, indicando que a produção nessas áreas é relevante.

No censo, identificamos todos os pescadores que declararam vender piracatinga, inclusive

àqueles com produção de 1 kg; no entanto pequenas produções (até 50 kg) podem ser pescadas com

uso de linha e anzol, sem utilizar botos ou jacarés. Assim, a fiscalização e monitoramento deve se

concentrar em pescadores que comercializam altas quantidades de piracatinga.

O uso dos manifestos de pesca para obtenção de dados traz benefícios, mas também

problemas. Como os manifestos são vinculados às fichas dos pescadores nas Colônias de Pesca,

obtemos informações sócio-econômicas, métodos de pesca, idade e endereço. No entanto, os

manifestos são documentos exigidos para comprovar a produção de cada pescador e contabilizar um

imposto cobrado sobre os mesmos. Assim, os pescadores geralmente apresentam poucos

manifestos, com declaração de produção muito inferior a produção real, para pagar menos impostos.

Dessa forma, temos apenas a produção mínima de piracatinga na região. Serrano e colaboradores

(2007) obtiveram informação de 400 t de piracatinga comercializadas por apenas um frigorífico no

ano de 2006 e por meio dos manifestos obtivemos 81,6 t em quase sete anos. Em nossos

levantamentos com os frigoríficos a produção anual ficou em torno de 400 t. Neste sentido, destaca-

se a iniciativa da Colônia de Pesca de Tefé em cobrar um valor fixo de imposto anual sobre os

manifestos e os pescadores se comprometerem a declarar toda produção. Provavelmente a partir de

2010 poderemos conseguir melhores informações. Outro ponto que nos chamou a atenção quanto

aos manifestos foi a relevante presença de mulheres como pescadoras de piracatinga.

Provavelmente, para receber o seguro defeso, as mulheres declaram produções que foram pescadas

por seus maridos ou filhos. A pesca da piracatinga é considerada uma atividade perigosa e

dificilmente as mulheres se envolveriam, ficando limitadas à evisceração do pescado ou pequenas

produções com linha e anzol.

A variação sazonal na produção era esperada, mas não os meses em destaque. Pelas

entrevistas, a enchente é a melhor época para pesca da piracatinga, então os meses de dezembro e

janeiro deveriam se destacar. No entanto, os meses de destaque são agosto (vazante), outubro e

maio (seca e cheia, respectivamente). O mês de outubro caracteriza-se pelo início do defeso do

tambaqui, um dos peixes de melhor retorno financeiro para o pescador. Assim, provavelmente o

destaque deste mês para a produção da piracatinga pode estar relacionada realmente ao início do

período de defeso, como relatado anteriormente. Já o destaque para o mês de maio, quando o nível

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62

das águas está em seu máximo, pode ser explicado pela dificuldade na obtenção de pescado como

os grandes bagres, podendo justificar a mudança dos pescadores para a piracatinga e justificando a

prática desta atividade em época de entresafra. As observações dos manifestos de pesca parecem

indicar que os pescadores de grandes bagres migradores são também os mais propensos a pescar a

piracatinga.

A abrangência dos locais de comércio, presença de atravessadores e barcos frigoríficos que

compram a produção diretamente do pescador, e a proximidade da região com o centro exportador

(Colômbia), dificultam boas estimativas sobre a produção desse peixe. Muito da produção,

principalmente das comunidades, é comprada por barcos frigoríficos que levam o pescado direto

para Tabatinga, na fronteira com a Colômbia, onde a piracatinga é o terceiro peixe mais

comercializado (ProVárzea/IBAMA, 2005), e Letícia, cidade colombiana mais próxima. Os

frigoríficos não possuem as licenças necessárias à exportação e realizam esta atividade de forma

ilegal, sendo, portanto esquivos com informações sobre esta atividade. Outra dificuldade é que

outras espécies de bagres acabam sendo comercializadas como piracatinga ou a própria piracatinga

é comercializada como outra espécie. Na região desse estudo, este problema foi evidenciado pelo

menos para duas outras espécies: o barba-chata (Pinirampus pirinampu) e o pirabutão

(Brachyplatystoma vaillantii).

A piracatinga representa parte importante da produção dos frigoríficos, principalmente os de

menor porte, evidenciando o crescimento da pesca desta espécie na região de estudo. Embora as

espécies de grandes bagres não possuam período de defeso, a sobrepesca destes peixes de

importantíssimo valor comercial (Alonso e Pirker, 2005) dificulta as pescarias, sendo necessário

grande esforço de pesca para um efetivo retorno financeiro. Dessa forma, a piracatinga tem se

tornado importante também para complementar a renda das famílias. Os donos de frigoríficos

parecem muito satisfeitos com o retorno financeiro da piracatinga, comentando que é um peixe que

pode ser comercializado o ano todo, enquanto que os grandes bagres, por serem migradores, têm

épocas de produção mais definidas.

Apesar da pesca da piracatinga não ser ilegal, os pescadores tem muito receio em comentar

sobre esta atividade e é difícil coletar informações. Há também grande variação na prática desta

pescaria de acordo com a localidade e a experiência do pescador. Assim, devemos sempre

considerar as proporções aqui estimadas como subestimativas. Observamos grande variação nas

estimativas feitas por Serrano e colaboradores (2007), que estimaram em 600 o número de botos-

vermelhos mortos na área da RDS Mamirauá; por da Silva e colaboradores (2011) que estimaram

em 1650 o número de botos mortos para abastecer a produção dos frigoríficos de Tefé; e nossa

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63

estimativa neste estudo. Estas variações estão certamente relacionadas às incertezas quanto à

produtividade da isca e, principalmente, a proporção de golfinhos utilizada para a atividade. Se

elevarmos nossa proporção definida de 20%, por exemplo, para 50% aumentaríamos as estimativas

de botos mortos para 438 animais. Estas dificuldades agravam ainda mais o problema que esta

atividade traz à conservação das populações de golfinhos da Amazônia, principalmente o boto-

vermelho, e maiores esforços para caracterização desta atividade, com melhores estimativas de

esforço de pesca e produtividade da isca, devem ser priorizados.

Neste trabalho, não evidenciamos a captura do tucuxi para isca. O tucuxi tem muito mais

carisma do que o boto-vermelho entre os pescadores e isto influencia suas reações quanto a esta

espécie (ver capítulo I). O tucuxi, além de ser menor (e, portanto, fornecer menos carne para isca)

(da Silva et al., 2008), é também um alvo de captura mais difícil do que o boto-vermelho (da Silva e

Martin, 2010) e os pescadores não vêem motivos para retaliação à esta espécie. Carcaças de tucuxis

encontradas pelo rio ou de animais que tenham morrido em redes de emalhar podem ser utilizadas,

mas esse uso é certamente esporádico.

Infelizmente, apenas um pescador forneceu o rendimento de piracatinga utilizando vísceras

de bagres, mas estas parecem bem produtivas. As vísceras de grandes bagres, normalmente

descartadas pelos pescadores, têm grande potencial como isca para a pesca da piracatinga. No

entanto, a dificuldade de armazenagem de uma grande quantidade de vísceras é um empecilho para

seu uso em comunidades afastadas.

Na época colonial, o boto-vermelho foi capturado para utilização do óleo de sua gordura

para iluminação (Best e da Silva, 1989), no entanto, a captura para utilização como isca na pesca da

piracatinga parece ser a primeira exploração comercial desta espécie. O uso de cetáceos para

alimentação e outros fins é bem documentado em outras culturas (e.g. Tyrrel, 2007; Aguilar e

Borrel, 2007; Culik, 2004; Cawthorn, 1997; Siciliano, 1994), mas os amazônidas não apreciam os

golfinhos como alimento e até mesmo o uso de partes destes animais em supertições populares

parece ser tabu (Gravena et al., 2008), apesar de relatos de usos místicos e medicinais em alguns

lugares da Amazônia (Alves e Rosa, 2008; Silva, 2008).

O sentimento de aversão e retaliações ao boto-vermelho pelos prejuízos causados às

atividades de pesca pode justificar para os pescadores o ato de utilizá-lo como isca. Com a

piracatinga se tornando um pescado altamente rentável, este uso começa a tomar moldes

comerciais.

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Em algumas atividades de pesca, os mamíferos aquáticos primeiramente são capturados

acidentalmente e descartados36

; à medida que os pescadores descobrem seu valor como alimento ou

isca, os animais acidentalmente capturados são então mantidos como espécies não-alvo capturadas;

e finalmente tornam-se o alvo da atividade de pesca. Essa transição é facilitada pela pobreza e a

rápida dispersão das comunidades humanas modernas (Read, 2008). Essa transição pôde ser

observada no Peru onde, após o colapso da pescaria industrial de anchoveta, várias espécies de

golfinhos passaram a ser diretamente exploradas pelos pescadores, que procuravam uma nova fonte

de renda (Read et al., 1988). As proibições, no entanto sem fiscalização rígida, feitas pelo governo

peruano não tiveram sucesso e tornaram ainda mais difícil o monitoramento da magnitude do

impacto sobre as populações exploradas (Read, 2008), tornando a costa peruana, hoje, uma das

principais áreas de preocupação quanto à conservação de pequenos cetáceos (Mangel et al., 2010).

O efeito negativo da exploração comercial indiscriminada sobre os cetáceos é bem

conhecido e levou muitas populações, principalmente de baleias, ao declínio (Clapham et al., 2008;

Springer et al., 2008). Apesar de ser difícil definir o real impacto das estimativas de mortalidade

para uma população sem modelagem adequada, as altas taxas de mortalidade intencional são

preocupantes para predadores de topo de vida longa e baixa taxa reprodutiva, como é o caso do

boto-vermelho (Best e da Silva, 1993) e somam-se às taxas de mortalidade acidental (ver capítulo

I).

O uso de botos-vermelhos como isca parece estar se expandindo na Amazônia. Foram

registradas matanças destes animais para tal uso em áreas do rio Purus (AM) (da Silva,

comunicação pessoal); adjacências da cidade de Manacapuru, AM (de Sá Alves et al., 2010); e ao

longo do Rio Solimões, de Tefé a Tabatinga (AM). Existem também relatos sobre esta prática nos

rios Juruá e Japurá. Martins e colaboradores (2010) comentam também o uso do boto-vermelho

como isca para espinhel no estuário paraense. A utilização de golfinhos como isca ou atrativos para

peixes ocorre com várias espécies ao redor do mundo, sendo esta prática considerada uma séria

ameaça à conservação dos pequenos cetáceos (Culik, 2004).

Os golfinhos de rio parecem ser particularmente afetados por impactos antrópicos,

provavelmente pela íntima relação quanto aos espaços utilizados pelas populações humanas (Kelkar

et al., 2009). Outras duas espécies de golfinhos restritas a ambientes fluviais estão experimentando

reduções populacionais, como Platanista gangetica, classificada como “em perigo” e também

utilizada como isca em pescarias; e Lipotes vexillifer, classificada como “criticamente ameaçada”

36

Quando isto acontece, a espécie é normalmente referida como descarte ou “bycatch” de uma determinada

atividade de pesca (Hall, 1996).

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65

(IUCN, 2008), mas considerada tecnicamente extinta (Pyenson, 2009). A população de boto-

vermelho estudada na RDS Mamirauá vem diminuindo a uma taxa de 10% ao ano e os prováveis

motivos para tal redução são a utilização destes animais na pesca da piracatinga e as interações

negativas com as outras atividades de pesca (da Silva e Martin, 2007; da Silva et al., 2011).

A oportunidade de explorar um novo mercado é importante para os pescadores, mas a

utilização de animais protegidos por lei como isca e na quantidade estimada torna esta prática

predatória. A possibilidade de utilização de vísceras de grandes bagres como isca para a pesca da

piracatinga deve ser incentivada, bem como estudos para elaboração de iscas artificiais tão

eficientes quanto a carne do boto-vermelho. A priori deve-se incentivar atividades de educação

ambiental e fiscalização, concentradas em comunidades onde se observa a presença da caixa para a

pesca da piracatinga.

A proibição dessa pesca predatória pode ser considerada. No entanto, para uma área como a

Amazônia, de dimensões continentais, a rígida fiscalização necessária à proibição de uma prática é

de difícil execução e deve ser evitada, podendo ter como efeito colateral tornar ainda mais difícil as

estimativas sobre a magnitude do problema, a exemplo do caso do Peru.

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66

CAPÍTULO III

POTENCIAIS LIMITES À MORTALIDADE DOS GOLFINHOS DA

AMAZÔNIA DECORRENTES DE ATIVIDADES DE PESCA NO MÉDIO

SOLIMÕES E IMPLICAÇÕES PARA SUA CONSERVAÇÃO

Sannie M. Brum ∙ Vera M. F. da Silva

S. M. Brum

V.M.F. da Silva

Laboratório de Mamíferos Aquáticos, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, CP 478,

69011-790 Manaus, Amazonas, Brazil

Email: [email protected]

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RESUMO

Embora não haja evidências de que os golfinhos da Amazônia estejam ameaçados em toda sua

distribuição, muitos impactos antrópicos podem ameaçar populações locais. As populações do boto-

vermelho e do tucuxi no Médio Solimões enfrentam reduções, provavelmente devido aos impactos

causados pelas atividades de pesca. É difícil se determinar níveis seguros para declínio de uma

população e modelos matemáticos adequados são necessários, mas o limite de mortalidade (ML)

pode ser uma ferramenta muito útil no manejo de populações de mamíferos aquáticos. O objetivo

do presente estudo foi aplicar este limite de mortalidade para as populações dos golfinhos no Médio

Solimões. Para calcular o ML, utilizamos estimativas de abundância expandidas do trabalho de

Martin e colaboradores (2004) para as áreas de pesca utilizadas pelos pescadores das cidades de

Tefé, Alvarães e Uarini; polígonos representativos dos pesqueiros para cálculo da área efetivamente

utilizada; taxa de crescimento intrínseco padrão para cetáceos; e fator de incerteza conforme Wade

(1998). As estimativas de mortalidade foram obtidas nos capítulos I e II da presente dissertação e

foram definidas como 346 botos-vermelhos e 26 tucuxis mortos por ano em decorrência de

interações com atividades de pesca. As estimativas de abundância foram calculadas em 5987

(CV=0.26) botos-vermelhos e 5208 (CV=0.24) tucuxis, gerando Nmin de 4827 e 4267 golfinhos e

limites de mortalidade de 48 e 43 animais, respectivamente. Para o tucuxi, a mortalidade estimada

está bem abaixo do limite de mortalidade. Para o boto-vermelho, no entanto, a mortalidade estimada

excede em sete vezes o limite definido. A aplicação do limite de mortalidade sugere que a retirada

atual de botos-vermelhos é insustentável e explica as reduções populacionais observadas na região.

PALAVRAS-CHAVE: Golfinhos da Amazônia; limite de mortalidade; mortalidade antrópica

ABSTRACT

Although we do not have evidences supporting that Amazon dolphins are threatened in all its

distribution, many human impacts can threaten local populations. The populations of boto and

tucuxi in the medium Solimões River are facing reductions, probably due to the impacts caused by

fisheries activities. It is difficult to determinate safe levels for population´s decline and adjusted

mathematical models are necessary, but the mortality limit (ML) can be a very useful tool in the

handling of aquatic mammals´ populations. The objective of the present study was to apply this

limit of mortality to river dolphins´s populations of the medium Solimões River. The mortality limit

was applied using expanded estimatives of abundance according to Martin et al (2004) for the

fishing´s areas of the cities of Tefé, Alvarães and Uarini; representative polygons of those areas to

calculate the area effectively used; tax of intrinsic growth standard for whales; and uncertainty

factor as defined by Wade (1998). The estimates of mortality were already given in chapters I and II

of the present thesis and it has been defined on 346 botos and 26 tucuxis dead per year as a result of

interactions with fisheries activities. The estimatives of abundance were calculated in 5987

(CV=0.26) botos and 5208 (CV=0.24) tucuxis, generating Nmin of 4827 and 4267 animals and

mortality limits of 48 and 43 animals, respectively. For tucuxi, estimated mortality is below of the

mortality limit. For boto, however, estimated mortality exceeds seven times the established limit.

The application of ML suggests that the current withdrawal of botos is unsustainable and explains

the observed population decline in the region.

KEYWORDS: Amazon river dolphins; mortality limit; anthropogenic mortality

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INTRODUÇÃO

O boto-vermelho e o tucuxi são importantes para a identidade do povo amazônico e

personagens do folclore regional (Slater, 2001; Fraxe, 2004). Estes animais, essencialmente sociais

e de comportamento curioso (da Silva, 1996), são facilmente avistados na região utilizando as

mesmas áreas de pesca que as pessoas, e a influência antrópica sobre eles pode ser considerável.

Os conflitos entre interesses conservacionistas e a pesca são mundiais e altamente debatidos

(e.g. Beverton, 1985; Lowry e Frost, 1985; Northridge, 1985; Julian e Beeson, 1997; Crespo et al.,

1997; Fertl e Leatherwood, 1997; Johnson et al., 2005; Goldsworthy e Page, 2007; Schiavon, 2007;

Hamer et al., 2008; Dimech et al., 2009; Zydelis et al., 2009; Pierre et al., 2010; Mangel et al.,

2010; Bearzi et al., 2011). A pesca, principalmente industrial, causa consideráveis danos a

populações de quelônios marinhos (Brum, 2006; Pupo et al., 2006), aves marinhas (Dietrich et al.,

2009) e cetáceos (Archer et al., 2001; Freitas Netto, 2003; Di Beneditto, 2004).

Muita atenção é dada às interações dos mamíferos marinhos com a pesca (Katakeyama et

al., 1994; Trippel et al., 1996; Tregenza et al., 1997; Morizur et al., 1999; Bearzi, 2002; Garrison,

2007; Underwood et al., 2008; Read, 2008). A vaquita (Phocoena sinus), por exemplo, tem uma

taxa de mortalidade anual estimada, apenas para interações com a pesca, em 15% de sua população;

e também por peculiaridades de sua população endêmica e restrita a uma área de Golfo, é o cetáceo

mais ameaçado de extinção hoje em dia (Jaramillo-Legorreta et al., 1999; D´Agrosa et al., 2000;

Rojas-Bracho et al., 2006; IUCN, 2011). Iñíguez e colaboradores (2003) estimaram que pelo menos

179 golfinhos Cephalorhynchus commersonii morreram em redes de emalhe na pesca artesanal

argentina.

No Brasil, os números são também preocupantes. No norte do estado do Rio de Janeiro,

entre 2001 e 2002, foram capturadas 110 franciscanas (Pontoporia blainvillei) (Di Beneditto, 2003).

Franciscanas são também capturadas em redes de pesca do litoral norte do Rio Grande do Sul, com

registros de 99 animais mortos entre 2002 e 2004 e estimativas que variam entre 353 e 429

franciscanas (Schiavon, 2007). Beltrán-Pedreros (1998) registrou 1063 Sotalia fluviatilis mortas em

apenas cinco meses de amostragem no estuário amazônico. Na Amazônia Central, nas proximidades

de Manaus, mesmo sem monitoramento contínuo, da Silva e Best (1990) comunicaram a captura

acidental de 33 botos-vermelhos em redes de pesca em cinco anos.

Apesar desta constatação, poucos estudos têm relacionado a mortalidade decorrente de

interações com a pesca com impactos às populações atingidas, principalmente porque modelos

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adequados aos pequenos cetáceos requerem longa série de informações (Taylor, 1993; Wade, 1998;

Berggren et al., 2002). Por outro lado, ignorar as altas taxas de mortalidade antrópica até que dados

mais precisos estejam disponíveis parece inviável (Jaramillo-Legorreta et al., 2007; Zydelis et al.,

2009). Neste contexto, limites de mortalidade antrópica podem ser boas ferramentas de manejo,

indicando níveis excessivos de mortalidade antrópica que podem estar levando determinadas

populações ao declínio (Wade, 1998).

É difícil se determinar níveis seguros para declínio de uma população e o ideal seria reduzir

a zero a mortalidade decorrente de interações com pesca. No entanto, devido à importância

econômica e social das atividades de pesca no mundo, é mais realístico definirmos uma taxa

aceitável de mortalidade, que ao menos não afete negativamente as populações (Wade, 1998;

Zydelis et al., 2009). O conceito de limite de mortalidade ou “Nível Potencial de Remoção

Biológica” (PBR37

) tem sido usado para guiar medidas de conservação de aves (Zydelis et al.,

2009) e mamíferos marinhos (e.g. Taylor et al., 2000; Marsh et al., 2004) com altos índices de

interação operacional com artes de pesca. Por basear-se em estimativas de abundância (Taylor,

1993) pode ser de útil aplicação aos golfinhos da Amazônia, espécies para as quais significativos

esforços a respeito destas estimativas têm sido desenvolvidos (e.g. Vidal et al., 1997; Martin et al.,

2004; Araújo, 2010; Gomez-Salazar et al., 2011).

No Médio Solimões, os golfinhos encontram-se ameaçados pela mortalidade acidental em

apetrechos de pesca e pela utilização de sua carne como isca na pesca da piracatinga (da Silva e

Martin, 2010). Apesar de não haver evidências de que os golfinhos da Amazônia estejam

ameaçados em toda sua distribuição (IUCN, 2011), muitos impactos antrópicos podem ameaçar

populações locais (Currey et al., 2009). Da Silva e Martin (2007) afirmaram que as populações do

boto-vermelho e do tucuxi por eles estudada desde 1994 na RDS Mamirauá enfrentam taxas de

redução de 10% ao ano.

O boto-vermelho e o tucuxi são predadores de topo da cadeia alimentar, com importante

papel na manutenção dos ecossistemas38

fluviais amazônicos. Predadores de topo têm sido descritos

como espécies-chave, com seu declínio ou aumento relacionados a extinções secundárias e

restaurações ecológicas, respectivamente (Wallach et al., 2009). Estes golfinhos possuem também o

carisma necessário para atuarem como espécies-bandeira (Currey et al., 2009) e entender como eles

37

“Potencial Biological Removal Level”, conceito utilizado como objetivo de manejo do Ato de Proteção aos

Mamíferos Marinhos Americanos. 38

A predação tem forte parcela na estruturação das comunidades biológicas através da influência no resultado

das interações de competição entre as espécies de presas e estabilidade nas interações predador-presa (Ricklefs, 1993;

Begon et al., 2006).

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estão sendo afetados pela pesca torna-se crítico para a conservação da biodiversidade da Amazônia

e seus recursos pesqueiros.

O objetivo do presente estudo foi aplicar o limite de mortalidade para as populações de

golfinhos da Amazônia no Médio Solimões e avaliar o impacto das interações com a pesca nestas

espécies.

MÉTODOS

Área de estudo

O trabalho concentrou-se nos pesqueiros39

utilizados por pescadores de três cidades do

médio Rio Solimões: Tefé, Alvarães e Uarini.

Estimativas de abundância

Esstimativas populacionais para as espécies estão disponíveis em partes de sua área de

distribuição na região amazônica, com mais frequência para o boto-vermelho (e.g. Magnusson et

al., 1980; Leatherwood, 1996; McGuirre e Winemiller, 1998; McGuire, 2002; Aliaga-Rossel,

2002). Os principais trabalhos acerca de estimativas de densidade e abundância para as espécies

foram na Amazônia colombiana (Vidal et al., 1997); na Amazônia brasileira (Martin et al., 2004); e

um recente esforço cobrindo diferentes áreas da bacia Amazônica e do Orinoco na Colômbia,

Equador e Peru (Gomez-Salazar et al., 2011).

Neste trabalho, utilizamos as estimativas de abundância do boto-vermelho e do tucuxi

relacionadas em Martin e colaboradores (2004). Esta referência é indicada por ter sido realizada em

uma área que se sobrepõe à área de estudo. As estimativas referentes ao número de animais por km2

(botos/km2 e tcx/km

2) (tabela 1) foram utilizadas para estimar a abundância das duas espécies na

área de pesca utilizada pelos pescadores neste estudo.

Tabela 1: Estimativas de abundância no Médio Solimões, de acordo com Martin e colaboradores (2004)

Botos Tucuxis

Distância (km) Área (km2) Nº total Botos/km Botos/km

2 Nº total Tcx/km Tcx/km

2

1319,7 220,2 815 0.6 3.7 709 0.5 3.2

O cálculo da área de pesca utilizada pelos pescadores na região foi feito com o programa de

georreferenciamento gvSIG OADE. Primeiramente, os pesqueiros visitados foram marcados com

39

Áreas utilizadas pelos pescadores para suas atividades de pesca

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71

aparelho GPS, e outros pesqueiros relevantes foram identificados em mapa40

da área de estudo por

S. Brum ou pescadores-referência41

. As coordenadas geográficas dos pesqueiros foram então

sobrepostas aos polígonos representativos da hidrografia principal da região42

e a área efetivamente

utilizada pelos pescadores foi definida para cálculo de área (figura 1).

Figura 1: Polígonos representativos dos principais corpos de água e pesqueiros da região utilizados para cálculo de

estimativas de abundância na área de influência das atividades de pesca das proximidades de Tefé, Amazonas

Após o cálculo da área utilizada para as atividades de pesca na região, expandiu-se a

estimativa realizada por Martin e colaboradores (2004) para a população de botos-vermelhos e

tucuxis para a área de pesca amostrada utilizando o programa BioStat 5.0.

Estimativas de mortalidade dos golfinhos da Amazônia

Na região de estudo, as ameaças antrópicas aos golfinhos da Amazônia provém

principalmente de duas fontes: os altos níveis de mortalidade acidental em atividades de pesca e a

caça desses animais para uso como isca na pesca de piracatinga (da Silva e Martin, 2010). Apesar

desta constatação, não existem estudos conclusivos de estimativas de mortalidade acidental nem de

40

Mapa do programa LANDSAT_GeoCover, projeção UTM 20S. 41

Pescadores indicados pelos demais como importantes conhecedores da área de pesca 42

Shapefile “Hidrografia Amazônia Principal Polígonos” do programa PROBIO2001, projeção GCS_SAD69.

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72

estimativas sobre a caça ilegal para a área de estudo. Neste trabalho, utilizaremos então as

estimativas de mortalidade realizadas nos capítulos I (estimativas de mortalidade acidental) e II

(estimativas de caça ilegal) desta dissertação, conforme a tabela 2.

Tabela 2: Estimativas de mortalidade para os golfinhos da Amazônia, de acordo com os capítulos I (estimativas de

mortalidade acidental) e II (estimativas de captura direta) desta dissertação

Nº de animais

Estimativas de mortalidade acidental (IC95%) Estimativas de captura direta TOTAL

Boto 176 (115 – 291) 170 346

Tucuxi 26 (6 – 47) 0 26

Limites de mortalidade

Devido à indisponibilidade de uma modelagem adequada (e.g. Goldsworthy e Page, 2007)

para as populações dos golfinhos da Amazônia utilizaremos a abordagem de cálculo de PBR. Esta é

uma estimativa para o número máximo de animais, não incluindo a mortalidade natural, que pode

ser retirado de uma população de mamíferos aquáticos permitindo esta população alcançar ou

manter sua população sustentável ótima43

, com um mínimo de informações populacionais (Wade,

1998; Marsh et al., 2004; Zydelis, 2009).

Utilizaremos o modelo proposto por Wade (1998) de limite de mortalidade (ML), que indica

um limite de mortalidade antrópica sustentável com base no tamanho populacional das espécies e

incertezas incorporadas a estas estimativas.

O limite de mortalidade define que:

onde ML é o limite de mortalidade; Nmin é uma estimativa de abundância mínima da população

(definida como 20% de uma distribuição log-normal baseada na estimativa absoluta do número de

indivíduos da população); Rmax é a taxa máxima de aumento da população e UF um fator de

incerteza associado, que varia de 0.1 a 1, de acordo com as incertezas e possíveis erros nas

estimativas de tamanho populacional e taxas de aumento do estoque.

43

Definida como um nível populacional entre a capacidade suporte e o tamanho populacional a taxa máxima

de produtividade (MNPL) (Wade, 1998).

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73

Nmin foi calculado utilizando as estimativas de abundância conforme a seção 2.2; foi usado

Rmax padrão de cetáceos; e fator de incerteza (UF) de 0.5 que, de acordo com Wade (1998), é o

adequado para manter populações com determinados graus de incerteza relativos ao seu real status a

50% de sua capacidade suporte.

RESULTADOS

A área calculada para os pesqueiros utilizados pelos pescadores na área de estudo foi de

1616 km2. Assim, para o boto-vermelho, estimou-se uma população de 5987 animais (CV=0.26,

IC95%= 5568 – 6406) e para o tucuxi a população estimada foi de 5208 animais (CV=0.24,

IC95%=4817 – 5599). Os respectivos Nmin e ML calculados estão descritos na tabela 3.

Tabela 3: Nmin e ML calculados para cada espécie na área de estudo

Espécie Área (km2) Abundância CV Nmin ML

Boto-vermelho 1616 5987 0.26 4827 48

Tucuxi 1616 5208 0.24 4267 43

Comparando os ML definidos com os números de mortalidade estimada indicados na tabela

2, observamos que, para o tucuxi, a retirada estimada não excede o limite definido. Para o boto-

vermelho, no entanto, tanto a mortalidade acidental quanto a captura direta excedem o limite

definido pelo modelo (figura 2) e somando mortalidade acidental e captura direta, a retirada

estimada de botos-vermelhos fica sete vezes superior ao modelo definido, indicando que a taxa de

retirada atual não é sustentável.

Figura 2: Gráfico comparativo entre as diferentes mortalidades encontradas para os golfinhos da Amazônia e o limite

definido (ML). “Retirada total” representa o somatório das duas fontes de mortalidade antrópica (mortalidade acidental

e captura direta)

0

100

200

300

400

Boto Tucuxi

de

anim

ais

esti

mad

os

Golfinhos da Amazônia

Mortalidade acidental Captura direta ML Retirada total

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74

DISCUSSÃO

A mortalidade acidental em artes de pesca tem sido descrita como principal ameaça à

conservação do tucuxi na Colômbia (Trujillo et al., 2010b) e no Brasil (da Silva et al., 2008).

Nossos resultados, no entanto, sugerem que esta mortalidade não está ameaçando a população de

tucuxis na área de estudo. Apesar de um declínio de 17% ter sido registrado por da Silva e Martin

(2007) na mesma área entre 1996 e 2007, os autores sugerem que ela tenha sido causada por

distúrbios ambientais e competição, e não interações com a pesca. Wade (1998) argumenta que

outra aplicabilidade interessante do modelo de limite de mortalidade é confirmar se as interações

com pesca são realmente a causa de declínios populacionais.

Os tucuxis são extremamente carismáticos para a população local, apesar de haver registros

de lesões provavelmente feitas por pescadores a estes golfinhos na área de estudo (Loch et al.,

2009). O uso de partes do tucuxi como amuleto foi relatado para a região de Belém (PA), no baixo

Amazonas (Alves e Rosa, 2008), mas este uso também não foi evidenciado na região de estudo.

Não existem informações a respeito da mortalidade natural desta espécie (da Silva et al., 2008), mas

efeitos do tráfico de embarcações; poluição e biomagnificação (da Silva e Martin, 2010); e

competição com outros grandes predadores (da Silva e Martin, 2007), como pirarucus e jacarés,

cujas populações vêm aumentando na região de estudo, podem estar influenciando o declínio

observado. Por outro lado, o intervalo de confiança para as estimativas de mortalidade do tucuxi é

muito amplo e o intervalo superior supera o limite definido. Podemos, então, estar subestimando a

mortalidade de tucuxis nas atividades de pesca.

O tucuxi é um golfinho difícil de ser estudado, já que sua captura para marcação dos

indivíduos e fotoidentificação são procedimentos complicados para a espécie (da Silva,

comunicação pessoal). O tucuxi é, portanto, ainda pouco conhecido quanto às questões ecológicas e

mais estudos são necessários para analisar o declínio relatado.

Para o boto-vermelho, os cenários são alarmantes. Somando as duas fontes antrópicas de

mortalidade (interações operacionais com atividades de pesca e captura direta) obtivemos um

número sete vezes maior do que o limite definido neste estudo. Como a maioria dos grandes

mamíferos, o boto-vermelho tem vida longa e taxa reprodutiva baixa, com a fêmea parindo apenas

um filhote a cada dois ou três anos (da Silva et al., 2008), e assim o crescimento populacional é

também lento. Esta altíssima mortalidade derivada das interações com a pesca deve ser a principal

causa do declínio populacional observado na área. Da Silva e Martin (2007) afirmaram que a

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população de boto-vermelho na RDS Mamirauá foi reduzida cerca de 50% desde o início de seus

estudos em 1994 e vêm diminuindo a uma taxa de 10% ao ano (da Silva et al., 2011).

A mortalidade devido a interações com atividades de pesca (sejam conflitos com pescadores,

mortalidade acidental ou captura direta para uso como isca) foi considerada a maior ameaça à

conservação do boto-vermelho em toda sua distribuição no Plano de Ação para Golfinhos Fluviais

da América do Sul publicado em 2010 (Trujillo et al., 2010a).

Apesar da dificuldade em relacionar declínio populacional com interações com atividades de

pesca, alguns estudos evidenciam esta relação (e.g. Dawson, 1991; Trippel et al., 1996; Majluf et

al., 2002; Underwood et al., 2008; Zydelis et al., 2009) . No Brasil, por exemplo, as toninhas

(Pontoporia blainville) ainda carecem de estimativas de abundância em áreas de sua distribuição e

não há muitas séries temporais onde as estimativas estão disponíveis, mas a alta taxa de captura

acidental tem preocupado pesquisadores (Rocha-Campo et al., 2010). Em outros países, onde a

pesca é mais regulamentada, fiscalizada e estudada, o declínio populacional também está

relacionado com altas taxas de mortalidades em redes de pesca. Análises de viabilidade

populacional de pinípedes australianos indicam que mesmo um pequeno índice de mortalidade em

redes de pesca é suficiente para aumentar consideravelmente o risco de extinção de subpopulações.

Neophoca cinerea, por exemplo, aumenta em pelo menos 50% seu risco de extinção mesmo com

baixos níveis de interação com pesca (Goldsworthy e Page, 2007). No Mar Báltico, a não

recuperação das populações de Phocoena phocoena está relacionada às altas taxas de mortalidade

acidental (Berggren et al., 2002). E no Golfo da Califórnia, o número de vaquitas (Phocoena sinus)

foi reduzido a tal ponto devido às atividades pesqueiras que, para salvar a espécie, é necessário

parar toda atividade de pesca em sua área de distribuição (Jaramillo-Legorreta et al., 2007).

As espécies costeiras, bem como os golfinhos fluviais, parecem ser particularmente

propensas aos efeitos dos impactos antrópicos sobre suas populações, provavelmente devido à

proximidade com as atividades humanas. Além das espécies do gênero Phocoena e Pontoporia

supracitados, outra espécie de hábitat costeiros e fluviais, endêmica das regiões do médio e baixo

Rio Amarelo ou Yang-Tse, na China, Neophocaena phocaenoides asiaeorientalis, encontra-se

ameaçada de extinção (Zhao et al., 2008). Também Platanista gangetica (o golfinho do Ganges),

encontra-se na categoria ameaçada da IUCN (Smith e Braulik, 2008); e o baiji (Lipotes vexillifer)

foi considerado tecnicamente extinto (Pyenson, 2009). Acredita-se que a diminuição das populações

destes animais tenha se dado devido à degradação do habitat e a interações com a pesca

(Northridge, 1985; Turvey et al., 2007; IUCN, 2008).

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Nesse estudo alguns fatores devem ser levados em consideração quando se aplica o limite de

mortalidade. A extrapolação da densidade populacional é um procedimento arriscado, pois pode

mascarar certas peculiaridades de uma área. Martin e colaboradores (2004) evidenciaram a

preferência de habitat para as espécies, padrão também observado no Rio Araguaia (GO) (Araújo,

2010) e em outras áreas da distribuição dos botos (Gomes-Salazar et al., 2011). Embora a área

amostrada no estudo de Martin e colaboradores (2004) sobreponha-se à área desse estudo, as

estimativas aqui consideradas devem ser analisadas com cautela pois na área utilizada pelos

pescadores da região diferentes habitats estão disponíveis e ambas as espécies podem se dispersar

com padrões distintos e diferentes abundâncias. Contando com prováveis incertezas em suas

estimativas populacionais, Zydelis e colaboradores (2009) propõem utilizar um coeficiente de

variação de 0.5 para os cálculos do Nmin. Este ajuste pode ser feito em nosso modelo, mas boas

estimativas de abundância são fundamentais para o refinamento do índice de limite de mortalidade

(Taylor, 1993) e recomendam-se esforços na realização de estimativas de abundância nos

pesqueiros da região, como o Lago Tefé e o Paranã do Capivara.

Outro fator a ser considerado é a utilização da taxa padrão de aumento para cetáceos. O

limite de mortalidade utilizando esta taxa pode desconsiderar peculiaridades de botos e tucuxis,

mascarando os reais limites. A incorporação de estimativas de mortalidade antrópica em análises de

viabilidade populacional dos golfinhos da Amazônia é mais recomendada, visto que certos setores

da população podem ser mais afetados que outros (como fêmeas em idade reprodutiva),

aumentando o impacto desta mortalidade no risco de extinção da espécie (Archer et al., 2001;

Goldsworthy e Page, 2007; Hamer et al., 2008).

Ainda assim, o limite de mortalidade nos moldes propostos por Wade (1998) pode ser útil,

definindo um número relativamente seguro de mortalidade por fatores antrópicos para os golfinhos

e mostrando metas realísticas de redução de mortalidade para as populações se manterem saudáveis.

A determinação de níveis seguros de declínio de uma população é complicada,

principalmente para populações em que taxas importantes como mortalidade natural e migração são

difíceis de estimar como é o caso das populações dos golfinhos da Amazônia. Algumas

determinações, no entanto, são necessárias para medidas de manejo das espécies e das atividades de

pesca. Para a ASCOBANS (Acordo para Conservação de Pequenos Cetáceos nos Mares Báltico e

Norte) as populações naturais devem manter-se pelo menos a 80% dos seus níveis originais de

capacidade suporte (Berggren et al., 2002). Para as regulamentações do governo americano,

populações de mamíferos marinhos encontram-se depreciadas se estiverem entre 50% e 85% abaixo

de sua capacidade suporte (Wade, 1998). Quando estas condições não são cumpridas (i.e, a

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mortalidade estimada está acima do PBR definido), as populações são definidas como

“estratégicas” e forma-se um grupo com pesquisadores e pescadores para definições de novas

resoluções44

ou diretrizes45

para a prática da atividade pesqueira, bem como investimentos em

pesquisa e tecnologia para redução das interações (Taylor et al., 2000; Cox et al., 2001; Barlow e

Cameron, 2003; Hamer et al., 2008).

Os golfinhos da Amazônia, principalmente o boto-vermelho, encontram-se seriamente

ameaçados pelas interações com a pesca na região do Médio Solimões. Esta ameaça se torna ainda

mais evidente frente à recente extinção do Baiji (Lipotes vexillifer). A extinção desta espécie se deu,

em parte, pela mortalidade acidental em atividades de pesca (Turvey et al., 2007). O baiji encarou

uma longa lista de ameaças, como modificação de hábitat, redução de presas, e mortalidade

acidental; e qualquer destas ou todas essas ameaças podem levar uma população de mamíferos

aquáticos à extinção (Read, 2008). A extinção do baiji nos mostra que até mesmo espécies

carismáticas e protegidas estão em grande risco; espécies não podem se salvar sozinhas e medidas

de conservação devem ser rápidas e decisivas (Turvey et al., 2007).

Apesar de não existirem medidas de manejo relacionadas aos golfinhos e atividades de pesca

na Amazônia, as atuais taxas de mortalidade antrópica consideradas neste trabalho e a comprovação

que as mesmas estão bem acima de limites aceitáveis pelo menos para o boto-vermelho justificam

medidas de ordenamento pesqueiro na região, principalmente de fiscalização voltada à pesca da

piracatinga e atividades de esclarecimento e pesquisa voltadas para redução dessas interações.

44

Como limitações de áreas, apetrechos e épocas de pesca. 45

Como implementando normas de conduta para os pescadores (Hamer et al., 2008).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

SÍNTESE

O presente trabalho indicou importantes características no que concerne às interações dos

golfinhos da Amazônia com a pesca no Médio Solimões. Estas características devem ser

consideradas na elaboração de futuros estudos sobre o tema e em decisões quanto à conservação

destas espécies na área.

O boto-vermelho, nesta região, está ameaçado por duas fontes principais de impactos

antrópicos: a mortalidade acidental e conflitos com atividades de pesca; e a utilização como isca

para a pesca da piracatinga. A mortalidade estimada para ambas as ameaças ultrapassa o limite

considerado sustentável e estas acontecem juntas, agravando ainda mais o problema para a

conservação destes golfinhos.

Os pescadores são também prejudicados pelas interações operacionais com os golfinhos, que

causam prejuízos financeiros e acarretam conflitos entre os atores.

Os tucuxis, muito mais carismáticos para a população local, morrem ocasionalmente nas

redes de pesca, mas isto não parece estar prejudicando a espécie na região.

MEDIDAS MITIGATÓRIAS

Durante o estudo, foram realizadas seis reuniões com a participação dos pescadores em

conjunto com as atividades da Colônia Z-04. Os pescadores, então, eram perguntados sobre sua

relação com os golfinhos e falavam sobre o que achavam que deveria ser feito a respeito.

As sugestões foram:

Pagar pelos danos que os botos fazem às redes e produção;

Aumentar o tempo e valor do seguro defeso;

Distribuir redes de proteção contra os botos;

Pesquisar maneiras de afastá-los das redes.

Essas foram todas as sugestões dadas, enquanto outros pescadores afirmaram ainda que nada

poderia ser feito.

Baseado nas informações obtidas, contatos com pescadores, entrevistas e observações das

práticas de pesca na área de estudo, podemos sugerir as medidas mitigatórias consideradas a seguir:

1. Intensificação de programas de educação ambiental

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A visão negativa dos pescadores quanto ao boto fortalecem as relações de conflito e

impedem que os animais sejam soltos com vida quando emalhados. Esse comportamento tem

muitos motivos, desde os prejuízos causados à pesca até o misticismo que envolve estes animais e

ao pouco conhecimento dos pescadores quanto aos aspectos biológicos e ecológicos da espécie.

Durante as reuniões e palestras proferidas era evidente o interesse não apenas dos

pescadores como de seus familiares pelos golfinhos. Programas de Educação Ambiental voltados

para a conscientização da conservação de espécies devem ser de longo prazo e envolver várias

questões do ambiente local. Estes programas poderiam ter o apoio das prefeituras e professores,

com a capacitação dos mesmos para atuar como agentes multiplicadores.

É necessário valorizar a imagem dos golfinhos, principalmente do boto-vermelho, e

aproveitar seu potencial como espécie-bandeira. O boto-vermelho e o tucuxi são importantes para a

identidade do povo amazônico e personagens do folclore regional. Durante o estudo, um boto-

vermelho filhote foi libertado por um pescador a pedido de seu filho. A criança tinha medo de que,

como era um boto filhote, a “ira” dos demais botos se voltasse para ela, o filho do pescador. É

evidente a influência mística destes animais na população local e que esta relação deve ser

fortalecida. Existe também um evento folclórico na cidade de Maraã, próxima da região de estudo,

onde grupos de dança se confrontam pela disputa do título e são representadas pelos golfinhos da

Amazônia: um grupo é denominado tucuxi e o outro, boto-vermelho.

Com a inserção das Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) de Mamirauá e

Amanã, Floresta Nacional (FLONA) de Tefé e a implantação de Acordos de Pesca na região, a

população está mais consciente sobre a legislação e sua relação com os recursos naturais. Assim,

atividades de Educação Ambiental não só são bem aceitas como representam uma demanda para os

envolvidos nas áreas de preservação.

2. Desenvolvimento de programas de ecoturismo e “dolphin watching”

Programas de ecoturismo vêm sendo discutidos a pelo menos três décadas em todo o mundo

e apresentam grande potencial na conservação de ecossistemas. O ecoturismo fornece benefícios

para a população local e pode fornecer suporte para áreas protegidas (Brightsmith et al., 2008).

A Amazônia tem grande potencial para desenvolvimento de um ecoturismo responsável e

vem crescendo o interesse pelo “turismo comunitário”, onde o turista tem a oportunidade de

conhecer o modo de vida ribeirinho. O desenvolvimento de programas de ecoturismo exige grandes

investimentos, sendo necessário o interesse da iniciativa privada.

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Outra questão, ainda em debate, é o turismo de observação de cetáceos ou “Whale/Dolphin

Watching”. Este tipo de turismo movimenta mais de um bilhão de dólares anualmente e atrai mais

de nove milhões de turistas em 87 países. No Brasil, essa atividade vem se expandindo e promove

valiosa renda para a comunidade, gerando novos empregos e ajudando a promover a conservação e

a pesquisa científica com esses animais (Hoyt, 2001 apud Simões et al., 2005). Por outro lado, o

uso de cetáceos como atração turística pode também ser visto como uma forma de exploração

danosa para as espécies (Orams, 2000 apud Simões et al., 2005).

Em algumas áreas da Amazônia vem se desenvolvendo um turismo de interação com os

golfinhos. Botos-vermelhos de vida livre são alimentados e assim atraídos para determinados locais,

para depois ser oferecida ao turista a prática de alimentar estes animais. O órgão fiscalizador

ambiental vem tentando regulamentar esta prática, que ainda carece de estudos de impactos sobre os

botos. O crescimento desta prática mostra o grande potencial e carisma dos golfinhos da Amazônia

para o turismo de observação de cetáceos que, ocorrendo de maneira correta, pode trazer benefícios

não apenas para a comunidade como para conservação dos golfinhos.

Acreditamos que agregar valor aos golfinhos, ou seja, transformá-los em fonte de renda para

a população local, deve diminuir os conflitos atuais: foi muito comum a citação que os golfinhos

não devem ser preservados já que não se ganha nada com eles.

3. Projetos de valorização das atividades de pesca

Apesar do incremento dos dados relativos à pesca na Amazônia nos últimos anos, ainda há

grande deficiência e problemas com coletas intermitentes, principalmente nas regiões mais

afastadas. Dados pesqueiros confiáveis são ferramentas essenciais para produção de estimativas das

interações dos golfinhos com a pesca e diagnóstico dos recursos pesqueiros, essenciais para

alimentação da população humana local e dos golfinhos.

Não apenas os órgãos públicos devem incentivar a coleta de dados pesqueiros de qualidade,

como também as Colônias de Pesca devem ser envolvidas neste processo. Seria útil implantar um

projeto de informatização nas Colônias. Destaca-se o trabalho da Colônia Z-04 de Tefé com os

Acordos de Pesca como modelo na região e a proposta quanto aos manifestos de pesca.

Seria viável também uma adaptação do programa de observadores de bordo já utilizados em

todo o mundo. Em parceria com as Colônias, os próprios pescadores poderiam ser conscientizados e

treinados para preencher corretamente fichas de embarque pré-definidas, com informações cruciais

sobre as atividades de pesca e as interações que podem ocorrer.

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Durante o presente estudo, as Colônias de Pescadores foram de especial valia, sempre muito

comprometidas e interessadas. Elas devem ser inseridas nas discussões e medidas para melhoria de

coleta de dados tanto sobre atividades de pesca quanto conservação dos golfinhos.

4. Fortalecimento dos Acordos de Pesca

Os Acordos de Pesca devem ser fortalecidos. A dedicação dos pescadores nestas áreas

favorecem a pesca sustentável, permitem acesso a informações de qualidade e fiscalização sobre

práticas predatórias aos golfinhos. O manejo comunitário pode levar à conservação do recurso

quando dilemas sociais e ecológicos são resolvidos (Castro, 2004).

Com relação ao manejo de pesca, o Brasil ainda carece de estratégias voltadas para a

realidade da pesca artesanal. Uma das ações necessárias consiste em estimular a organização

política dos pescadores e sua participação no manejo (Begossi et al., 2004) e nesse contexto se

inserem os Acordos de Pesca.

Os Acordos de Pesca são uma espécie de co-manejo, envolvendo a comunidade pesqueira na

elaboração e implantação das regras de manejo pesqueiro. A demanda por tais acordos surgiu dos

conflitos entre os pescadores de subsistência – representados pelos ribeirinhos que viam seus

estoques pesqueiros cada vez mais escassos – e os pescadores comerciais. Nestes Acordos,

pescadores comerciais e comunidades trabalham juntos para o manejo dos recursos pesqueiros,

zoneando áreas de preservação e de utilização e atuando na fiscalização.

Na região esta prática está bem difundida. A Colônia de Tefé organiza dois Acordos bem

estabelecidos (no Lago Pantaleão e no Paranã do Capivara), outros dois em andamento (na FLONA

Tefé e no Rio Cubuá) e é ainda pólo local para iniciativas de acordos em outras áreas. O habitat de

várzea apresenta alta resiliência, permitindo rápida recuperação sob regras de manejo adequadas.

Esta característica tem efeito positivo no sistema de manejo, pois os pescadores percebem a rápida

mudança de produtividade e relacionam isto a seus esforços de manejo (Castro, 2004).

Chamou atenção a postura adotada pelos participantes do Acordo de Pesca do Capivara.

Eles apoiaram a pesquisa em todas as suas etapas e participavam à pesquisadora S. Brum sobre suas

reuniões, demandas e problemas. A pesquisadora era convidada a monitorar as atividades de pesca,

proferir palestras e avisada sobre animais que morriam em decorrência de interações com a pesca.

O Paranã do Capivara é uma conhecida área de pesca de piracatinga e os pescadores foram

também muito solícitos quanto à esta parte da pesquisa. Alguns pescadores comentaram que

pararam de pescar piracatinga devido ao envolvimento positivo do IBAMA no Acordo de Pesca, e

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assim eles se sentiam inibidos em praticar atos ilegais como matar botos e jacarés. Em outra

oportunidade a pesquisadora foi informada sobre uma denúncia de captura de botos na área do

Acordo e que esta seria devidamente averiguada pelos próprios pescadores.

Os Acordos de Pesca ainda têm um longo caminho a percorrer e mais estudos a respeito de

sua efetiva contribuição para a conservação dos recursos naturais são necessários. No entanto, eles

certamente são excelentes oportunidades para atuação de grupos de pesquisa e educação ambiental,

bem como favorecem uma nova mentalidade conservacionista entre os pescadores. Para haver

manejo intencional, deve haver a percepção de que o recurso em questão pode ser exaurido

(Begossi et al., 2004) e o grande interesse dos pescadores nestes acordos demonstra um início real

desta percepção em uma região onde, por muitos anos, todos os recursos naturais eram considerados

infinitos. Acreditamos que o fortalecimento destes acordos com projetos e parcerias tem grande

potencial para a conservação da área de estudo e, consequentemente, dos golfinhos.

5. Desenvolvimento de um fundo para doação de redes de proteção e pagamento de danos

comprovadamente feitos por botos

A mais imediatista das medidas mitigatórias propostas é a criação de um fundo que vise

compensar os pescadores pelos prejuízos financeiros causados pelos golfinhos.

Muitos estudos vêm discutindo as relações de conflitos entre pessoas e animais em todo o

mundo e suas implicações quanto à conservação das espécies (Gurung et al., 2008; Liu et al., 2011;

Goodrich et al., 2011; Rosas-Ribeiro, 2009) e, atualmente, pagamentos compensatórios seja para

proteção de uma área ou espécie, têm importante papel nos esforços conservacionistas (Drechsler et

al., 2007). Em relação principalmente a grandes felinos ameaçados, existem iniciativas para

pagamentos compensatórios por perda de animais de rebanho predados (Sangay e Vernes, 2008).

No caso dos golfinhos da Amazônia, os prejuízos causados à pesca são os principais motivos

ao estabelecimento deste conflito e pagamentos compensatórios poderiam amenizar a situação. O

fundo para proteção aos golfinhos da Amazônia poderia doar carretéis de náilon necessários aos

consertos das redes, redes de proteção ou compensações por perda de produção ou qualidade do

pescado que fossem comprovadamente causadas pelos golfinhos. O fundo poderia servir também

para realizar pesquisas sobre como repelir os golfinhos das redes. Poderiam ser testados aparelhos

usados na pesca industrial marinha, como “pingers” eletrônicos (e.g. Carretta et al., 2008).

Para implantação deste fundo seria necessária ajuda internacional, da iniciativa privada e

campanhas de conscientização para que houvesse doações.

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83

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ANEXOS

ANEXO I - QUESTIONÁRIO LEVANTAMENTO

Questionário nº_______ Data: _______ Tipo de barco: RABETA BARCO

IDENTIFICAÇÃO

Nome do barco: PODE SER OMITIDO

Nome do entrevistado: PODE SER OMITIDO

Entrevistado: (Dono do barco) Encarregado Outro

O pescador vive somente da pesca? Sim Não

CARACTERÍSTICAS DA EMBARCAÇÃO

Comprimento: _________ m; Boca: ______ m; Pontal: _________ m

Comprimento da caixa de gelo: _____ X _____ X _______ m

Marca do motor: _________; HP: _____; Centro ou popa? Combustível (D/G)

(Toda de tábua) (Casco + tábua) Alumínio

ARMAZENAMENTO

( ) caixa fixa ( ) isopor: ______ unidades ________ litros

ÁREA DE PESCA PRINCIPAL

SECA

CHEIA

APETRECHOS DE PESCA:

Malhadeiras

Quant. Malha

(mm)

Fio Valor

(R$)

Comp.

(m)

Alt. (m) Material

de

confecção

Espécie-

alvo

Outros apetrechos

Apetrechos Quant. Valor (R$ Total em

metros

Espécie-alvo

Tarrafa

Arrastão

Espinhel

Caniço

Arpão

Tramalha

Currico

Zagaia

CANOAS AUXILIARES: SIM NÃO Quantas? Tipo?

TRIPULAÇÃO

Número de pescadores:

Pesca durante: (Ano todo) Verão Inverno (De vez em quando)

Quantas vezes por mês?

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A pesca é efetuada: Dia Noite Ambos

Já teve que alterar sua rota de pesca devido a conflitos com moradores do local? Sim Não

Onde?

COMERCIALIZAÇÃO

Para quem ou onde o senhor costuma vender o peixe: Consumidor (Mercado Municipal) Recreio

Marreteiros Frigorífico Residência Outros

Forma de comercialização: Inteiro Eviscerado Congelado Resfriado Salgado

DIVERSOS

Quanto tempo faz que o senhor pesca?

A pesca é sua principal fonte de renda? Sim Não

Quais as outras atividades que exerce?

Pesca sempre no mesmo lugar: Sim Não

A instituição de áreas preservadas na região beneficia a pesca? Sim Não Por que?

INTERAÇÕES OCASIONAIS

É comum espécies que não a espécie-alvo interagirem com a pescaria? Sim Não

Que espécies? Cetáceos Répteis Aves (Outros peixes) Quais?

Em caso de cetáceos, qual? Ig Sf

Com qual artefato ocorre interação com cetáceos?

Como é a interação com Ig? Emalhe (Dano de artefato) Arpoamento (Roubo pescado)

Afugentamento (Tocaia pescado) Cooperação Espantamento (Troca pesqueiro)

Em qual época a interação com Ig é maior? Seca Enchente Cheia Vazante

Quantos animais é mais comumente observado? Solitário Poucos Alguns (Grupo grande)

Como é a interação com Sf? Emalhe (Dano de artefato) Arpoamento (Roubo pescado)

Afugentamento (Tocaia pescado) Cooperação Espantamento (Troca pesqueiro)

Em qual época a interação com Sf é maior? Seca Enchente Cheia Vazante

Quantos animais é mais comumente observado? Solitário Poucos Alguns (Grupo grande)

Utiliza a carcaça de cetáceos para algum fim? Sim Não

Se sim, qual espécie? Ig Sf

Qual fim? Consumo Isca (Amuletos e remédios) Outros

Os botos atrapalham a pescaria? Sim Não

A quantidade de botos está aumentando ou diminuindo?

Os botos precisam de proteção?

É necessário estudar os botos?

O senhor tem medo dos botos?

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103

ANEXO II - QUESTIONÁRIO DESEMBARQUE LO

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A

Rede Malha Fio

Jacaré Boto Tucuxi Outros

Solitário Alguns Grande

Adulto Jovem Filhote

Emalhe Dano Arpoa Roubo Afugenta Cooperação Espanta TrocaPesqueiro CapturaPeixe

Rede Malha Fio

Jacaré Boto Tucuxi Outros

Solitário Alguns Grande

Adulto Jovem Filhote

Emalhe Dano Arpoa Roubo Afugenta Cooperação Espanta TrocaPesqueiro CapturaPeixe

Rede Malha Fio

Jacaré Boto Tucuxi Outros

Solitário Alguns Grande

Adulto Jovem Filhote

Emalhe Dano Arpoa Roubo Afugenta Cooperação Espanta TrocaPesqueiro CapturaPeixe

Rede Malha Fio

Jacaré Boto Tucuxi Outros

Solitário Alguns Grande

Adulto Jovem Filhote

Emalhe Dano Arpoa Roubo Afugenta Cooperação Espanta TrocaPesqueiro CapturaPeixe

Rede Malha Fio

Jacaré Boto Tucuxi Outros

Solitário Alguns Grande

Adulto Jovem Filhote

Emalhe Dano Arpoa Roubo Afugenta Cooperação Espanta TrocaPesqueiro CapturaPeixe

Rede Malha Fio

Jacaré Boto Tucuxi Outros

Solitário Alguns Grande

Adulto Jovem Filhote

Emalhe Dano Arpoa Roubo Afugenta Cooperação Espanta TrocaPesqueiro CapturaPeixe

Rede Malha Fio

Jacaré Boto Tucuxi Outros

Solitário Alguns Grande

Adulto Jovem Filhote

Emalhe Dano Arpoa Roubo Afugenta Cooperação Espanta TrocaPesqueiro CapturaPeixe

Rede Malha Fio

Jacaré Boto Tucuxi Outros

Solitário Alguns Grande

Adulto Jovem Filhote

Emalhe Dano Arpoa Roubo Afugenta Cooperação Espanta TrocaPesqueiro CapturaPeixe

Rede Malha Fio

Jacaré Boto Tucuxi Outros

Solitário Alguns Grande

Adulto Jovem Filhote

Emalhe Dano Arpoa Roubo Afugenta Cooperação Espanta TrocaPesqueiro CapturaPeixe

Rede Malha Fio

Jacaré Boto Tucuxi Outros

Solitário Alguns Grande

Adulto Jovem Filhote

Emalhe Dano Arpoa Roubo Afugenta Cooperação Espanta TrocaPesqueiro CapturaPeixe

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ANEXO III – LISTA DE PEIXES DESEMBARCADOS NO ENTREPOSTO DE PESCA DA

TEFÉ

NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO

IMPORTÂNCIA

COMERCIAL

(desembarque em Manaus)

VALOR Kg ORDEM

Jaraqui Semaprochilodus sp. Destacada R$ 1,00 a R$ 4,00 Characiforme

Aruanã

Osteoglossum bicirrhosum

Cuvier, 1829

Insignificante

R$ 1,00 a R4 4,00

(unidade)

Osteoglossiforme

Pacu Mylossoma sp. Insignificante R$ 2,00 a R$ 4,00 Characiforme

Curimatã Prochilodus nigricans

Agassiz, 1829

Moderada R$ 1,00 a R$ 3,00 Characiforme

Tucunaré Cichla sp. Moderada R$ 3,00 a R$ 6,00 Perciforme

Acarás Astronotus sp. Insignificante R$ 2,50 a R$ 3,00 Perciforme

Piranha caju

Pygocentrus nattereri Kner,

1858

Insignificante R$ 1,50 a R$ 3,00 Characiforme

Surubim

Pseudoplatystoma fasciatum

Linnaeus, 1766 Insignificante R$ 3,00 a R$ 8,00 Siluriforme

Tambaqui

Colossoma macropomum

Cuvier, 1818 Destacada R$ 2,50 a R$ 10,00 Characiforme

Pirapitinga Piaractus brachypomus

Cuvier, 1818

Insignificante R$ 2,50 a R$ 6,00 Characiforme

Sardinha Triportheus sp. Insignificante R$ 2,00 a R$ 3,00 Characiforme

Branquinha Potamorhina sp. Insignificante R$ 1,00 a R$ 2,00 Characiforme

Pirarucu Arapaima gigas Schinz, 1822 Insignificante R$ 3,00 a R$ 8,00 Osteoglossiforme

Bodó

Liposarcus pardalis

Castelnau, 1855

Insignificante

R$ 0,50 a R$ 1,00

(unidade)

Siluriforme

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105

Jatuarana

Brycon melanopterus Cope,

1972

Insignificante R$ 2,50 a R$ 3,00 Characiforme

Bocudo

Ageneiosus inermis

Linnaeus,1766

Insignificante R$ 1,50 a R$ 2,00 Siluriforme

Pescada Plagioscion sp. Insignificante R$ 2,00 a R$ 4,00 Perciforme

Barba-chata Pinirampus pirinampu Spix &

Agassiz, 1829

Insignificante R$ 2,00 a R$ 3,50 Siluriforme

Cuiu Oxydoras niger Valenciennes,

1821

Insignificante R$ 2,00 a R$ 10,00

(unidade)

Siluriforme

Dourada

Brachyplatystoma rousseauxii

Castelnau, 1855

Insignificante R$ 3,00 a R$ 10,00 Siluriforme

Mapará Hypophthalmus sp. Insignificante R$ 2,00 a R$ 3,00 Siluriforme

Aracu Schizodon fasciatus Spix &

Agassiz, 1829

Insignificante R$ 2,00 a R$ 2,50 Characiforme

Matrinxã

Brycon amazonicus Spix &

Agassiz, 1829

Destacada

R$ 5,00 a R$ 12,00

(unidade)

Characiforme

Melado

Goslinia platynema

Boulenger, 1898

Insignificante R$ 2,00 a R$ 5,00 Siluriforme

Traíra

Hoplias malabaricus Bloch,

1794 Insignificante R$ 1,00 a R$ 2,50 Characiforme

Caparari

Pseudoplatystoma tigrinum

Valenciennes, 1840 Insignificante R$ 3,00 a R$ 8,00 Siluriforme

Braço-de-moça Hemisorubim platyrhynchos

Valenciennes, 1840

Insignificante Siluriforme

Cachorra Raphiodon vulpinus Spix &

Agassiz, 1829

Insignificante Characiforme

Flamengo

Brachyplatystoma juruense

Boulenger, 1898

Insignificante Siluriforme

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Cara-de-gato

Platynematichthys notatus

Jardine, 1841

Insignificante Siluriforme

Bacu

Lithodoras dorsalis

Valenciennes, 1840

Insignificante

R$ 5,00 a R$ 8,00

(unidade)

Siluriforme

Jandiá

Leiarius marmoratus Gill,

1870

Insignificante Siluriforme

Maura

Sorubimichthys planiceps Spix

& Agassiz, 1829 Insignificante R$ 3,00 a R$ 6,00 Siluriforme

Apapá Pellona sp. Insignificante Clupeiforme

Pirabutão

Brachyplatystoma vaillantii

Valenciennes, 1840

Insignificante Siluriforme

Pacamum

Zungaro zungaro Humboldt,

1821

Insignificante R$ 2,00 a R$ 5,00 Siluriforme

Pirarara

Phractocephalus

hemiollopterus Bloch &

Schneider, 1801

Insignificante R$ 1,50 a R$ 4,50 Siluriforme

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ANEXO IV – QUESTIONÁRIO PESCA DA PIRACATINGA

Questionário nº_______ Data: _______

Nome: (Pode ser omitido para obtenção de informações como captura intencional)

Idade:

Tempo como pescador:

A piracatinga sempre foi sua espécie-alvo? Sim Não

Se não, a quanto está nessa atividade?

Qual o motivo para pescar piracatinga? (Falta de opção) (Bom retorno financeiro) Facilidade

Qual tipo de embarcação utilizada?

Para que utilização? Montagem Transporte (Captura de isca) Outros

Volume de captura:

Conservação do pescado: Frigorífico Gelo Sal Defumação

Forma de comercialização: Inteiro Eviscerado Congelado Resfriado Salgado

Local de comercialização: Local Regional Nacional Internacional

Valor comercial:

Artefato de pesca:

Descrição:

Capacidade de captura do artefato:

Isca utilizada: Peixe (qual espécie?) Jacaré (qual espécie?) Boto Tucuxi Outros

Como obtém a isca? Pesca Compra Caça Coleta Outros

Esforço: (tempo, pessoal envolvido, quantidade de captura)

Valor comercial do artefato:

Local de pesca:

Época de pesca:

Se a isca for boto, quantos quilos precisa para encher a caixa?

E se for jacaré?

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ANEXO V – QUESTIONÁRIO LEVANTAMENTO FRIGORÍFICOS

Questionário nº_______ Data: _______

Nome:

Proprietário:

Tempo de funcionamento:

Capacidade da câmara frigorífica:

Espécies armazenadas:

Espécies mais comercializadas:

Forma de comercialização: Inteiro Eviscerado Congelado Resfriado Salgado

Local de comercialização: Local Regional Nacional Internacional

Consulta sobre a disponibilidade de fornecer os dados de produção durante o período de

estudo e épocas anteriores

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ANEXO VI – TABELA DE APETRECHOS

APETRECHO DESCRIÇÃO

COMPRIMENTO (m) MALHA (mm

entrenós) FIO

PREÇO

MÉDIO

(R$) Média

(±) Máximo Mínimo Máximo Mínimo Máximo Mínimo

Tramalha Redes confeccionadas com náilon monofilamento,

mais frágil, e amplamente utilizado para captura de

peixes menores

101,3

(77,32) 440 60 120 25 70 30

25,00 a

200,00

Malhadeira Redes confeccionadas com náilon multifilamento e

que são muito utilizadas para captura de tambaquis e

outros pescados de maior porte

88

(25,39) 140 25 120 30 48 12 270,00

Redinha

Rede de cerco utilizada em lagos ou leito do rio, onde

o fundo seja livre de obstáculos. Tem malhas e fios

semelhantes a rede de cerco, mas de comprimento

menor e a despesca se faz com a canoa (Petrere Jr.,

1977)

154

(38,10) 176 110 40 20 18 15 5000,00

Cerco

Rede de cerco de grandes dimensões que é armada de

forma ao cardume ser conduzido ao local e

aprisionado, para depois ser arrastado para a margem

(análogo à “arrastadeira” em Petrere Jr., 1977)

433

(248,05) 1100 242 40 20 35 15 20000,00

Arrastão

Apetrecho de emalhar de fio multifilamento e

diferente chumbada, que normalmente é solto para

descer com a correnteza. Utilizado na captura de

bagres (análogo à “rede-malhadeira” em Barthem,

1999)

336

(263,54) 800 70 100 60 72 24 1500,00

Espinhel

Uma linha comprida com vários anzóis médios,

sendo que as duas pontas estão amarradas na margem

(Barthem, 1999) - - - - - - - -

Linha de mão Uma linha comprida com um anzol e segura pelo

pescador; é utilizada para a pesca de bagres (ibid.) - - - - - - - -

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Caniço Consta de uma linha com anzol e chumbo presa em

uma haste (vara de madeira) (Petrere Jr., 1977) - - - - - - - -

Flecha Uma vara oca com um arpão ou tridente na ponta,

lançado por um arco ou mesmo pela mão (Barthem,

1999) - - - - - - - -

Zagaia

Uma vara com um tridente na ponta, utilizada para as

pescarias noturnas e com uma fonte de luz forte

(ibid.); utilizadas para “faxear” na linguagem do

pescador

- - - - - - - -

Arpão

Aparelho bastante especializado para o pirarucu,

consta de uma haste longa e pesada com uma ponta

de ferro que se encaixa em uma de suas extremidades

(Petrere Jr., 1977), podendo capturar também outros

animais de grande porte (Barthem, 1999); muito

utilizado para proteção contra jacarés e botos

- - - - - - - -

Tarrafa Utilizada em áreas rasas com pouca ou sem

vegetação (Barthem, 1999), é um apetrecho de náilon

que, lançado, forma um círculo antes de cair na água - - - - - - - -

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ANEXO VII – COMUNIDADES E PESQUEIROS VISITADOS

Comunidade Coordenada

geográfica

Localidade Nº

pessoas

Atividade

principal

Área de

preservação

Aranatuba 3.91022S /

65.0118W

Rio/ Lago

Tefé

42 Agricultura FLONA Tefé

Barrigudo 3.75185S /

65.1224W

Rio/ Lago

Tefé

Agricultura FLONA Tefé

Bom Jardim 3.23021S /

64.5892W

Paranã do

Capivara

Pesca Acordo de Pesca

do Capivara

Boa Vista do Rio

Curumitá

3.83949S /

65.1216W

Rio/ Lago

Tefé

Agricultura FLONA Tefé

Boa Vista 4.21851S /

65.1734W

Rio/ Lago

Tefé

46 Agricultura FLONA Tefé

Cacautuba 4.13804S /

65.0803W

Rio/ Lago

Tefé

27 Agricultura FLONA Tefé

Canariá 3.09371S /

64.9318W

Rio Solimões +200 Pesca RDS Mamirauá

Caru 3.56738S /

64.9958W

Rio/ Lago

Tefé

88 Pesca e

agricultura

FLONA Tefé

Copaíba 4.31794S /

65.2715W

Rio/ Lago

Tefé

4 Agricultura FLONA Tefé

Deus é Pai 3.95078S /

65.0043W

Rio/ Lago

Tefé

Agricultura FLONA Tefé

São Francisco do

Itaúba

4.18498S /

65.1569W

Rio/ Lago

Tefé

102 Agricultura FLONA Tefé

São João do

Mulato

3.56164S /

64.9952W

Rio/ Lago

Tefé

78 Agricultura FLONA Tefé

Nova Canaã 3.64987S /

65.0358W

Rio/ Lago

Tefé

49 Pesca e

Agricultura

FLONA Tefé

Abil 4.34264S /

65.3063W

Rio/ Lago

Tefé

14 Agricultura FLONA Tefé

São Francisco do

Paixiubinha

3.83076S /

64.9948W

Rio/ Lago

Tefé

57 Agricultura FLONA Tefé

São Francisco do

Igarapé

3.74904S /

65.1252W

Rio/ Lago

Tefé

Agricultura FLONA Tefé

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112

São Francisco do

Capivara

3.28106S /

64.6234W

Paranã do

Capivara

+100 Pesca Acordo de Pesca

do Capivara

São João do

Capivara

3.25612S /

64.5913W

Paranã do

Capivara

Pesca Acordo de Pesca

do Capivara

São José 3.28751S /

64.6106W

Paranã do

Capivara

Pesca Acordo de Pesca

do Capivara

Sorva 3.88117S /

65.0551W

Rio/ Lago

Tefé

137 Agricultura FLONA Tefé

Santa Rosa do Rio

Curumitá

3.88724S /

65.1555W

Rio/ Lago

Tefé

Agricultura FLONA Tefé

São Sebastião do

Rio Curumitá

3.79859S /

65.0943W

Rio/ Lago

Tefé

+200 Agricultura FLONA Tefé

Santa Cruz 4.29206S /

65.202W

Rio/ Lago

Tefé

10 Pesca FLONA Tefé

Santa Teresa do

Cubuá

3.15041S /

64.6012W

Rio Cubuá +100 Pesca

Santa Rosa do

Capivara

3.21479S /

64.5899W

Paranã do

Capivara

+50 Pesca Acordo de Pesca

do Capivara

Campo Novo 3.7514S /

65.034W

Rio/ Lago

Tefé

84 Agricultura FLONA Tefé

Tuiuca de cima 3.65263S /

65.038W

Rio/ Lago

Tefé

50 Pesca e

Agricultura

FLONA Tefé

Vila Moura 4.44667S /

65.4828W

Rio/ Lago

Tefé

72 Agricultura FLONA Tefé

Paraíso 4.41128S /

65.4412W

Rio/ Lago

Tefé

12 Agricultura FLONA Tefé

Caburini 3.091S /

64.469W

Rio Solimões +50 Agricultura RDS Mamirauá