interação professor aluno

Upload: cassia-martins

Post on 12-Jul-2015

489 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • 5/11/2018 interao professor aluno

    1/5

    "

    54 Capftulo 2

    pr6ximas em alguns grupos restritos ou pode chegar ate a cidadania, quandoa pessoa tem consciencia de sua insercao na grande comunidade da cidadedos homcns, com direitos e devel-es, com responsabil idade e ressonanciasgrupais arnplas.

    (Esther Pillar Grossi)

    Atividadcsobre a leitura complcmentarLeia e analise 0texto complementar em grupo. Depotsfaca uma sin-tese, especificando qual e a ideia central que caracteriza 0 construtivismo

    e 0 diferencia do inatismo e do empirismo.

    Capitulo 3

    A intera~aoprofessor-aluno1. 0 valor pedag6gico da relacaoprofessor-aiuno

    A formacao das criancas e dos [ovens ocorre par meio de suaparticipacao na rcde de relacoes que constitui a dinarnica social. Econvivendo com pessoas, seja com adultos ou com seus colegas -grupos de brinquedo ou de estudo -, que a crianca e 0overn assi-milam conhecimentos e desenvolvern habitos e ati tudes de conviviosocial, como a cooperacao e 0 respeito humano. Daf a importanclado grllpo como elemento formador.

    Cada classe constitui tambern urn grupo social. Dentro dessegrupo, que ocupa 0 espaco de urna sala de aula, a interacao socialse processa pOl' meio da relacao professor-aluno e da relacao aluno-aluno. E no contexte da sala de aula, no convfvio diario com 0 pro-fessor e com os colegas, que 0 aluno vai paulatinamente exercitan-do habitos, desenvolvendo atitudes, assimilando valores. Sobre iS50,diz Georges Gusdorf, em sua admiravel obraPrC!/essores, para que?:"Cada urn de nos conserva imagcns inesqueciveis dos primeiros diasde aula e da lenta odisseia pedag6gica a que se deve 0 desenvolvi-mento do nosso espfrito e, em larga medida, a formacao da nossapersonalidade. 0 que nos ensinaram, a materia desse ensino, per-deu-se. Mas se, adultos, esquecemos 0 que em criancas aprende-rnos, 0 que nunca desaparece e 0 clima desses dias de colegio: asaulas e 0 recreio, os exercfcios e os jogos, os colegas"l_ 0 valorpedagogico da relacao professor-aluno. E por que nao dizer tambemque sernpre nos lembraremos daqueles que forarn nossos professo-res, de suas personalidades, de SlUtS forrnas de agir, de pensar e seexpressar?

    1 Georges Gusdorf , p . 7.

  • 5/11/2018 interao professor aluno

    2/5

    56 Capitulo 3.

    o que Georges Gusdorf quer dizer, ao se expressar de forma taotocante por rneio dessas palavras e ao longo de toda a sua obra, eque a escola e urn local de encontros existencials, da vivencia dasrela\;oes human as e da veiculacao e intercambio de valores e prin-cipios de vida. Se, pOI' u rn lado, a materia e 0 conteudo do ensino,tao racional e cognit ivamente assirnllados, podem ser esquecidos,pOI' outro, 0 "clima" das aulas, as fates alegres ou tristes que nelasse succderam, 0assunto das conversas informais, as ideias expres-sas pelo professor e pelos colegas, a forma de agir e de se manifes-tar do professor, enfim, os mementos vividos juntos c os valores queforarn veiculados nesse convivio, de for~na Implicita ou explfcita,inconsciente ou conscientemente, tudo isto tende a ser lembradopelo alUDOdurante 0decorrer de sua vida e tende a rnarcar profun-damente sua personalidade enortear seu desenvolvimento posterior .

    Isso ocorrc porque e durante este convivio, isto e , sao nessesmomentos de interacao, instantes comparttlhados e vividos em con-junto, que 0 dominio afetivo se une a esfera cognit iva e 0 aluno agede forma integral , como realrnente e , como urn todo. Ou seja, deage nao s6 com a razao, mas tambern com os sentimentos e as emo-coes. Portanto, neste momenta de interacao, de convrvio, de vida emconjunto, o aluno torna-se presente por inteiro, pois a razao e osscntimentos se unem, guiando seu comportamento.o professor Walter Garcia afirrna que "a educacao, seja ela esco-lar on 'do mundo', e fenorneno que so ocorre em razao de urn pro"cesso basico de interacao entre pessoas. ( .:~.)Que a educacao e pro-cesso eminentemente social julgamos desnecessario insistir, tal a 'evidencia com que isto se manifesta. Alias, poderfamos ir mais alern,ao dizer que a educacao existe exatamente porque 0 homem e urnser gregario e que so se realiza como tal a partir do momento emque entra em relacao com seu semelhinte. Enquanto processo deformacao humana, a educacao e a (mica maneira pela qual e asse-gurada a continuidade da especie, que assim consegue dominar anatureza e irnprimir nela sua presenca e sua manetra de ver 0rnundo">.

    Falando mais especrftcamente sabre a ato de ensinar e aprender,Bruner diz que ele e urn processo essencialrnente social , porque "as

    1Walter E. Garcia, Educacdo. uisao tcorica ej}ratica pedagogica, P: 63.

    A Interacao professor-alul1o 57

    relacoes entre quem eusina e quem aprende repercutcrn sempre naaprendizagem">.Os educadores concordam que 0 processo educativo e, maisespecificamente, a construcao do conhecimento sao processos inte-rat ivos, e portanta socials, nos quais os agentes que deles participarnestabelecem relacoes entre si. Nessa interacao, des transmitern eassirnilam conhecimentos, trocam ideias, expressarn opinioes, com-parti lharn experiencias, manifestam suas formas de ver e concebero mundo e veiculam os valores que norteiam suas vidas.Portanto, a interacao hurnana tern uma funcao educativa, pois econvivendo com as seus sernelhantes que 0 ser humane e educadoe se educa.No processo de construcao do conhecimento, 0 valor pedagogi-co da interacao hurnana e ainda mais evidente, pois e par interme-dio da relacao professor-aluno e da relacao aluno-aluno que 0conhecimento vai sendo coletivarnente construido.

    o educador, na sua relacao com 0 educando, estirnula e ativa 0interesse do aluno e orienta 0 seu esforco individual para aprender.Assirn sendo, 0 professor tern, basicamente, duas funcoes na suarelacao com a aluno: uma funcao incentivadora e energizante, pois ele deve aproveitara curiosidade natural do educando para despertar 0 seu interessee rnobilizar seus esquemas cognitivos (esquemas operatives depensamento);

    urna funcao orientadora, pois deve orientar 0 esforco do alunopara aprender, ajudando-o a construir seu proprio conhecimento.Cabe ao professor, durante sua intervencao em sala de aula e

    pOI'meio de sua interacao com a . dasse, aiudar 0aluno a transfor-mar sua curiosidade em esforco cognitivo e a passar de urn conhe-cimento confuso, sincretico, fragmentado, a urn saber organizado epreciso.Mas 0professor deve ter bern claro que, antes de ser um profes-sor, ele e urn educador, pols sua personalidade e norteada por valo-res e principios de vida, e consciente ou inconscientemente, explici-ta ou implicltamenteele veicula esses valores em sala de aula, mani-festando-os a seus alunos. Assim, ao interagir com cada aluno em:;Jerome S. Bruner. Uma nova teoria da aprendizagem, p. 50.

  • 5/11/2018 interao professor aluno

    3/5

    58 Capitulo 3

    particular e ao se relacionar com a classe como urn todo, 0 profes-sor nao apenas transrnite conhecimentos, em forma de Informa-coes, conceitos e ideias (aspecto cognitivo), mas tarnbern facihta aveiculacao de Ideals, valores e princfpios de vida (elementos daesfera afetiva), contribuindo para a formacao da personalidade doeducando.De acordo com nossa concepcao, 0 educando e "urna pessoaque se desenvolve, que atualiza suas possibilidades, que se ajusta ese reajusta, mediante processos dinamicos, orientados por valoresque the conferern individualidade e prospectividade't+.Quem assim concebe 0 educando, tende a valorizar ainda maisa relacao professor-aluno, pais v e nessa interacao urn processo deintercambio de conhecimentos, ideias, ideais e valores, que atua

    diretamente na forrnacaoda personalidade.

    2. A Irnportancia do dialogo na relac;ao pedagogicaComo vimos, a construcao do conhecimento e um processointerpessoal. 0ponto principal desse processo interativo e a relacaoeducando-educador. E esta relacao nao e unilateral, pots nao e so 0aluno que constroi seu conhecimento. E verdade que (J aluno, atra-ves desse processo interat ivo, assimila e constroi conhecirnentos,valores, crencas, adquire habitos, forrnas de se expressar, sentir ever 0 mundo, forma ideias, conceitos (e por que nao dizer precon-ceitos?), desenvolve e assume atitudes, modificando c arnpliandosuas estruturas mentais . .Mas tambern everdade que 0 professor e atingido nessa relacao,De certa forma, ele aprende com seu aluno, na medida em que con-segue compreender como este percebe e.sente 0mundo, e na medi-cia que corneca a sondar quais as conhecimentos, valores e habili-,dades que 0 alU110 ja traz de seu ambiente familiar e de seu gruposocial para a escola.Assim, em decorrencla des sa relacao, 0professor pode passar aconhecer novas formas de conceber 0mundo, que sao diferentes dasua. Pode tambern rever cornportarnentos, rati ticar au retificar opi-

    nioes, desfazer preconceitos, rnudar atitudes, alterar posturas.

    .jIrene Mello Carvalho, oprocesso diddti.:o, p. 297.

    A interacao professor-aluno 59

    Talvez seja por isso que Guirnaraes Rosa tenha escrito, em seu livroGrande sertdo: veredas, que "mestre nao e quem sempre ensina,mas quem de repente aprende".

    Nesse contato interpessoal Instaura-se urn processo de inter-cambio, no qual 0 dialogo e fundamental . De um lado esta 0 profes-sor com seu saber organizado, sen conhecimento cientificamenteestruturado, sua forma de se expressar na norma culta da lingua,com os Ideais e valores formats aceitos e,proclarnados oficialmentepela sociedade e com seu grau de expectativa em relacao ao desem-penho do aluno. Do outro Iado esta 0 aluno com seu saber nao sis-tematizado, difuso e sincretico, seu conhecimento empirico, com 0modo de falar proprio de seu ambiente cultural, com os ideals evalores de scu grupo social e com u91 certo nivel de aspiracao emrelacao ~l escola e a vida.

    Esse encontro do professor com a aluno podera representaruma situacao de intercfunbio bastante proveitosa para ambos, emque a conhecimento sera construido em conjunto Oll, ao contrario,podera se transforrnar num verdadeiro duelo, num defrontar deposicoes pouco ou nada proveitoso para ambos.

    Para haver urn processo de intercambio que propicie a constru-c;ao coletlva do conhecimento, e precise que a relacao professor-aluno tenha como base 0 dlalogo. E por meio do dialogo que pro-fessor e aluno juntos constroem 0 conhecimento, chegando a umasfntese do saber de cada um.o dtalogo e desencadeado por uma situacao-problema ligada apratica. 0 professor transmite 0 que sabe, partindo sempre dosconhecimentos rnanifestados anteriormente pelo aluno sobre 0assunto e das experiencias pOl'ele vivenciadas. Assim, ambos podemchegar a uma sfntese esclarecedora da situacao-problema que sus-citou a discussao. Nesse memento de sintese, 0 conhecimento eorganizado e slstematizado, sendo novamente aplicado a pratica,agora ja de forma estruturada,Referindo-se ao dialogo na pratica pedagogic a, assim se expres-sa Maria Teresa Nidelcoff: "Ao trabalhar corretamente com 0preble-rnadas subculturas, 0 professor procura captar toda a riqueza queas criancas trazem, para d.e fato aprender com elas. Portanto, nao serelaciona com as criancas como se fosse 0 unico que tem algo aensinar, nem ve as criancas COIl~O seres nulos que devem aprender

  • 5/11/2018 interao professor aluno

    4/5

    ii '

    60 Capi tu lo 3

    tudo; ao contra rio, sabe que ele e as criancas tern que se re lac ionardentro de urn rmi tuo intercambio de ensinar-aprendcr">.o professor Antonio Faundez, no seu linda texto intituladoDialogue pour ie deueloppement et ie developpement du dialo-gue, salienta a necessidade do dialogo no ato de construcao doconhecimento ao cornentar : "Se analisarrnos etimologicamente 0verbo frances que indica a a

  • 5/11/2018 interao professor aluno

    5/5

    62 Capitulo 3

    professor-aluno biunivoca, dialogica, Nessa relacao 0 professor fala,rna.'>tarnbern ouve, ou seja, dialoga COm 0 aluno e permite que eleaja e opere mentalmente sobre os objetos , aplicando a realidade cir-cundante seus esquernas cognitivos de natureza operativa.

    3. Autoddade versus autoritarismoAlgumas pessoas podern pensar que discutir a questao da auto-ridade e do autorilari smo se ja urn terna ja ul trapassado. No entanto,

    nao 0 e . 0 professor Regis de Morais, no livre sob sua coordenacaointitulado Saia de aula -Que espaco e ester, rnosrra que este e urntema bem atual. Vejamos 0 que de diz, para em seguida fazermosalgumas reflexoe sobre 0 assunto: "Urn tempo que confunde coisastao radicalrnente distintas como 'autoridade' e 'autoritarismo", e urntempo enfermo. ( ... ) Levando tsto em conta, quero propor umarediscussao do problema da autoridade na sala de aula. Segundo 0meu modo de perceber e avaliar as chamadas 'relacoes peda-gogicas' , nao consigo conceber tema mais contemporaneo e de van-guarda como a questao que acabo de proper, Esta na hora de per-dermos 0 medo perante certos problemas, superando inocuos tre-[eitos falsamente pedag6gicos e modismos, saindo a procura de urnequilibrio ate hoje raramente a lcancado (. . .). Urge, no entanto, l em-brarrnos que a retomada do tema da autoridade e a retornada doproprio terna do amor - coisa atemporal que alimenta as sonhosde todo ser humano"?Hoje em dia, e comum encontrarmos pessoas que contestam aautoridade do professor em sala de aula nao em nome do bomsenso, mas sim em nome de um falso humanisrno e de urn modismocharnado laissez-faire ou ndo-diretiuidade, .que geram urn volun-tarismo espontanefsta e confundern erronearnente autoridade comautoritarismo. Ora, 0 born sensa pedag6gico nosmostra que a auto-ridade do professor e urn fato, pols ela e ine rente a sua propria fun-cao docente.Diz ainda Regis de Morai s na obra ci tada: "Os professores comoque passam a ter vergonha de exercer uma autoridade para a qual9 Regis de Morais, p. 17-8.

    A intera