inteiro teor do acórdão _ tj-sc - apelacao civel _ ac 50631 sc 2004

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19/10/2015 Inteiro Teor do Acórdão | TJSC Apelacao Civel : AC 50631 SC 2004.0050631 | Jurisprudência JusBrasil http://tjsc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/5402046/apelacaocivelac50631sc20040050631/inteiroteor11725142 1/6 TJSC Apelacao Civel : AC 50631 SC 2004.005063 1 Inteiro Teor Publicado por Tribunal de Justiça de Santa Catarina 9 anos atrás Dados do acórdão Classe: Apelação Cível Processo: Relator: Newton Janke Data: 20060608 Apelação Cível n. , de Chapecó. Relator: Des. Newton Janke. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ESCRIVÃO DE PAZ. DESOBEDIÊNCIA À DETERMINAÇÃO DE AFASTAMENTO PROVISÓRIOS DAS FUNÇÕES. EXTINÇÃO E ARQUIVAMENTO POSTERIOR DO PROCESSO ADMINISTRATIVO. OBSERVÃNCIA AOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. A desobediência à determinação de suspensão do exercício das funções de Escrivão de Paz, configurando o delito previsto no art. 324, do Código Penal , traduz, em tese, ato de improbidade administrativa por atentar contra o princípio da legalidade que está sob a esfera de proteção do caputdo art. 11, da Lei 8.429/92. A despeito disso, seria atentar contra os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade penalizar o agente com as sanções do art. 12, III , da Lei 8.429/92 ante o fato de o processo administrativo, onde aplicada a medida de afastamento, ter sido julgado extinto e arquivado em razão da existência de coisa julgada administrativa. Ademais e sem embargo da independência das instâncias, não seria juridicamente sensato decretar, na esfera civil, a perda da função pública ou da delegação por uma conduta que, mesmo apenada no máximo na esfera criminal, jamais levaria a essa conseqüência, tanto mais por tratar se de infração penal de menor potencial ofensivo. Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível n. , de Chapecó (Vara da Fazenda Pública), JusBrasil Jurisprudência 18 de outubro de 2015

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Inteiro Teor do Acórdão _ TJ-SC - Apelacao Civel _ AC 50631 SC 2004

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19/10/2015 Inteiro Teor do Acórdão | TJ­SC ­ Apelacao Civel : AC 50631 SC 2004.005063­1 | Jurisprudência JusBrasil

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TJ­SC ­ Apelacao Civel : AC 50631 SC 2004.005063­1 • Inteiro TeorPublicado por Tribunal de Justiça de Santa Catarina ­ 9 anos atrás

Dados do acórdãoClasse: Apelação Cível

Processo:Relator: Newton JankeData: 2006­06­08

Apelação Cível n.  , de Chapecó.

Relator: Des. Newton Janke.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE  IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ESCRIVÃO DE PAZ.DESOBEDIÊNCIA À DETERMINAÇÃO DE AFASTAMENTO PROVISÓRIOS DAS FUNÇÕES. EXTINÇÃOE ARQUIVAMENTO POSTERIOR DO PROCESSO ADMINISTRATIVO. OBSERVÃNCIA AOSPRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.

A desobediência à determinação de suspensão do exercício das  funções de Escrivão de Paz,configurando o delito previsto no art. 324, do Código Penal,  traduz, em  tese, ato de  improbidadeadministrativa por atentar contra o princípio da  legalidade que está sob a esfera de proteção docaputdo art. 11, da Lei 8.429/92.

A despeito disso, seria atentar contra os princípios da  razoabilidade e da proporcionalidadepenalizar o agente com as sanções do art. 12,  III, da Lei 8.429/92 ante o  fato de o processoadministrativo, onde aplicada a medida de afastamento,  ter sido  julgado extinto e arquivado emrazão da existência de coisa  julgada administrativa.

Ademais e sem embargo da  independência das  instâncias, não seria  juridicamente sensatodecretar, na esfera civil, a perda da  função pública ou da delegação por uma conduta que, mesmoapenada no máximo na esfera criminal,  jamais  levaria a essa conseqüência,  tanto mais por  tratar­se de  infração penal de menor potencial ofensivo.

Vistos,  relatados e discutidos estes autos de apelação cível n.  , de Chapecó  (Vara da Fazenda Pública),

JusBrasil ­ Jurisprudência18 de outubro de 2015

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19/10/2015 Inteiro Teor do Acórdão | TJ­SC ­ Apelacao Civel : AC 50631 SC 2004.005063­1 | Jurisprudência JusBrasil

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em que é apelante o  representante do Ministério Público e apelado Nélson Teófilo Grando Filho:

ACORDAM  , em Primeira Câmara de Direito Público, por votação unânime, negar provimento ao  recurso eà  remessa.

Sem custas.

1. O Ministério Público de Santa Catarina, por seu  representante na Comarca de Chapecó, ajuizou açãocivil pública contra Nélson Teófilo Grando Filho, buscando  responsabilizá­lo pelo cometimento de atoatentório aos princípios da Administração Pública, ao não se submeter à determinação  judicial que oafastou do cargo de Escrivão de Paz no Distrito de Marechal Bormann em  face de  irregularidadesadministrativas constatadas na correspondente serventia extrajudicial.

Na contestação, o  réu assinalou que os  fatos mencionados na ação  já  foram objeto de processoadministrativo, apreciado pelo Conselho da Magistratura do Eg. Tribunal de Justiça e  julgado extinto pelacoisa  julgada. De outra parte, alega que houve excesso de prazo na condução e no desfecho do primeiroprocesso administrativo­disciplinar a que  foi  submetido, o que  lhe garantiria o  retorno às suas  funções.Por  fim,  requereu a extinção do processo com base na exceção de coisa  julgada, ou, quando não, pelaimprocedência da ação pelo excesso de prazo na conclusão do processo administrativo  (fls. 206/210).

Concluída a  instrução, sobreveio a sentença de  improcedência do pedido, ao  fundamento de que, aopraticar o ato acoimado de  ímprobo, o  réu não estava no exercício do cargo de Escrivão de Paz, dissoresultando a sua  ilegitimidade passiva ad causam. Demais disso, acrescentou que  "não progride apresente ação civil pública que não pode servir de sucedâneo ao processo criminal"  (fl. 304).

Inconformado, o  representante do Ministério Público apelou, sustentando, em síntese, que a ocorrência doato  ímprobo está  incontestavelmente comprovada, sendo descabido o  reconhecimento da  ilegitimidade doréu, eis que, embora suspenso, o apelado, em conduta  insubordinada e desrespeitosa, se manteve noexercício da  função pública,  repousando nisso o  fundamento da demanda proposta.

O apelado, na  resposta  recursal, enalteceu o  julgamento monocrático, pugnando pela sua manutenção(fls. 330/332), nisso  recebendo oapoio do parecer exarado pelo Dr. Raul Schaeffer Filho, em nome da d.Procuradoria­Geral de Justiça.

É o  relatório.

2. Cuida­se de ação civil pública em que o Ministério Público  imputa ao  réu a prática de ato deimprobidade administrativa, enquadrável no art. 11, da Lei 8.429/92, porque, desobedecendo decisão doEg. Conselho da Magistratura que o suspendera do exercício das  funções de Escrivão de Paz do Distritode Marechal Bormann, no Município e Comarca de Chapecó, o mesmo prosseguiu nas atividades docargo, em comportamento que, na esfera criminal,  tipifica a conduta delituosa capitulada no art. 324, do

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Código Penal.

A ação  foi  julgada ao entendimento de que,  "ao  tempo do ato acoimado de  ímprobo, o agente não estavainvestido do cargo de Escrivão de Paz em  face de suspensão colimada pelo Conselho da Magistratura  ",circunstância que  retiraria a sua  legitimidade passiva ad causam.

É, sem dúvida, equivocada a premissa.

A Lei nº 8.429/92  traz, em seu artigo 2º, o conceito de agente público para os  fins a que se destina, nosseguintes  termos:  "Reputa­se agente público, para os efeitos desta  lei,  todo aquele que exerce, ainda quetransitoriamente ou sem  remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outraforma de  investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou  função nas entidades mencionadas noartigo anterior.  "

Segundo Fábio Medina Osório  ,  "o Supremo Tribunal Federal  já decidiu, de modo a permitir, pela viainterpretativa, no contexto da  lei de  improbidade, alargamento do art. 1º e seu parágrafo único  (emboraeste não  tenha sido objeto da decisão), que"as serventias extrajudiciais  instituídas pelo Poder Públicopara o desempenho de  funções  técnico­administrativas destinadas a garantir a publicidade, aautenticidade, a segurançaa eficácia dos atos  jurídicos  (Lei número 8.935/94, art. 1º),  constituem órgãospúblicos  titularizados por agentes que se qualificam, na perspectiva das  relações que mantém com oEstado, como  típicos servidores públicos". E prossegue o acórdão:"A atividade notarial e  registral, aindaque executada no âmbito de serventias não oficializadas, constitui, em decorrência de sua próprianatureza,  função  revestida de estabilidade, sujeitando­se, por  isso mesmo, a um  regime estrito de direitopúblico. A possibilidade constitucional de a execução dos serviços notariais e de  registro ser efetivadaem caráter privado, por delegação do poder público  (CF, art. 236), não descaracteriza a naturezaessencialmente estatal dessas atividades de  índole administrativa",  sendo que as custas  judiciais eemolumentos concernentes aos serviços notariais e  registrais possuem natureza  tributária, qualificando­secomo  taxas  remuneratórias de serviços públicos, sujeitando­se aos princípios de direito  tributário, e aoslimites constitucionais ao poder de  tributar  ."(in"Improbidade Administrativa", 2ª ed., Porto Alegre: Síntese,1998, 101).

Mais adiante, o autor conclui  com as seguintes palavras:  "Interessante, portanto, observar a  incidência daLei número 8.429/92 a  todos aqueles que, mesmo não sendo  rigorosamente agentes públicos, estejam emcontato com o dinheiro público ou se beneficiem, direta ou  indiretamente, dos efeitos da  improbidadeadministrativa, culposa ou dolosamente. Em síntese, o  legislador busca alargar ao máximo o alcancesubjetivo da Lei número 8.429/92, embora  falhando em alguns pontos  fundamentais, o que deve serlevado em  linha de conta pelos  intérpretes,  respeitando­se o sentido  teleológico das normas  jurídicas quereprimem severamente a  improbidade administrativa  "  (p. 118)  (grifei).

Nesse contexto, sem nenhuma  relevância o  fato de o  réu estar suspenso do exercício de suas  funções.O que  importa é que continuava detentor do cargo e, nesta condição,  ignorando a decisão administrativa,continuou a exercer as atividades de agente público.

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19/10/2015 Inteiro Teor do Acórdão | TJ­SC ­ Apelacao Civel : AC 50631 SC 2004.005063­1 | Jurisprudência JusBrasil

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Tivesse sido demitido, então, sim, poder­se­ia dizer que não se enquadrava na conceituação do sujeitoativo do ato  ímprobo.

Malgrado  isso, a sentença deve ser mantida pela sua conclusão.

É  incontroverso que, no curso de processo administrativo  instaurado em  razão de supostas  irregularidadesfuncionais, o  réu­apelado  foi  suspenso de suas  funções, vindo a ser substituído precisamente pelo seupai, Nelson Grando. Certamente  facilitado por essa circunstância, continuou no exercício das  funções,praticando atos a ela  inerentes.

A  insubmissão à ordem de afastamento provisório é que constitui o núcleo ou a causa de pedir dademanda. Trata­se de atuação não abrangida pelo art. 31, da Lei 8.935/94. É  razoável entender que asinfrações disciplinares ali especificadas, porque penalizadas neste mesmo diploma  legal  (art. 32 eseguintes), excluem, pela prevalência do princípio da especialidade, a aplicação da Lei de  ImprobidadeAdministrativa.

Assim sendo,  lido o art. 11, da Lei 8.429/92, não se pode descartar que a conduta  insubordinada dorecorrido, conquanto não se amolde a nenhuma  tipificação específica dos 7  (sete)  incisos da norma,importou em ofensa ao princípio da  legalidade evocado no caput  .

Tal como se convenceu o  ilustre parecerista da Procuradoria­Geral da Justiça, a  responsabilização e apenalização do apelado por ato de  improbidade administrativa  representaria deslustre aos princípios darazoabilidade e da proporcionalidade.

Com efeito,  revelam os autos que, um ano após  instaurado, o processo administrativo, onde  foideterminada ab  initio a suspensão do serventuário, veio a ser, por decisão unânime do Conselho daMagistratura,  julgado extinto e arquivado porque acerca dos  fatos que ali  lhe  foram  imputados havia acoisa  julgada administrativa  (fls. 211/215).

Se assim é,  tem­se que o apelado  foi  vítima de um processo que sequer deveria  ter sido  instaurado.  Issopode até explicar, embora não  justificar, a sua conduta  insubmissa.

Só por  isso  já seria uma  insensatez  jurídica aplicar­lhe qualquer punição.

Por outro  lado, advertindo­se, desde  logo, não se  ignorar a  regra da  independência da  instâncias criminal,civil e administrativa, verifica­se que, pela mesma conduta, o apelado  foi denunciado como  incurso nassanções do art. 324, do Código Penal  (fls. 120/122). Não houve pronunciamento de mérito sobre aquestão criminal porque, de acordo com os  registros do SAJ  ­ Serviço de Automação Judiciária, apunibilidade  foi  julgada extinta pela prescrição da ação penal.

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Trata­se de delito cuja pena corporal máxima é de 1  (um) mês de detenção  , podendo ser apenadoexclusivamente com multa. Já se cuidava, então, de  infração penal de menor potencial ofensivo  (art. 61,Lei 9.099/95), passível de conciliação ou  transação.

A perda de cargo ou  função pública, como efeito da sentença condenatória penal, nos casos de crimespraticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública, só  terá  lugarquando a pena privativa de  liberdade  for  igual ou superior a um ano  (art. 92,  inc.  I, alínea a do CP).

Seria  razoável e proporcional, então, decretar, na esfera civil, a perda da  função pública ou da delegaçãopor uma conduta que, na esfera criminal,  jamais  levaria a essa conseqüência?

Estimo ser dispensável  responder.

Para manter a sentença, desprovendo o  recurso e a  remessa, calha, em  reforço,  reproduzir as  lúcidaspalavras do  ilustre Procurador de Justiça, Raul Schaefer Filho, segundo quem "a extensão do dano, aúnica variável a ser considerada, constitui­se em ato de desobediência à ordem que pode sercompreendida como  judicial,  conquanto no âmbito administrativo, com conseqüências de natureza penal,em  frágil ou nihill,  repita­se, dano à moralidade administrativa, o que, concessa venia, norteia a aplicaçãodos princípios da  razoabilidade e da proporcionalidade, com observância de critérios compatíveis àadequação entre os meios e  fins,  tornando, na hipótese sub­judice, despicienda a  imposição deobrigações,  restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento dointeresse público  (..)"  .  (fl. 338).

3. Nos  termos do voto do  relator, decidiu a Câmara, por votação unânime, negar provimento ao  recurso eà  remessa.

Participaram do  julgamento os Exmos. Desembargadores Volnei Carlin e Vanderlei Romer,  lavrandoparecer, pela Procuradoria­Geral de Justiça, o Exmo. Procurador Raul Schaefer Filho.

Florianópolis, 08 de  junho de 2006.

Volnei Carlin

PRESIDENTE

Newton Janke

RELATOR

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