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TJSC Apelacao Civel : AC 50631 SC 2004.0050631 • Inteiro TeorPublicado por Tribunal de Justiça de Santa Catarina 9 anos atrás
Dados do acórdãoClasse: Apelação Cível
Processo:Relator: Newton JankeData: 20060608
Apelação Cível n. , de Chapecó.
Relator: Des. Newton Janke.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ESCRIVÃO DE PAZ.DESOBEDIÊNCIA À DETERMINAÇÃO DE AFASTAMENTO PROVISÓRIOS DAS FUNÇÕES. EXTINÇÃOE ARQUIVAMENTO POSTERIOR DO PROCESSO ADMINISTRATIVO. OBSERVÃNCIA AOSPRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.
A desobediência à determinação de suspensão do exercício das funções de Escrivão de Paz,configurando o delito previsto no art. 324, do Código Penal, traduz, em tese, ato de improbidadeadministrativa por atentar contra o princípio da legalidade que está sob a esfera de proteção docaputdo art. 11, da Lei 8.429/92.
A despeito disso, seria atentar contra os princípios da razoabilidade e da proporcionalidadepenalizar o agente com as sanções do art. 12, III, da Lei 8.429/92 ante o fato de o processoadministrativo, onde aplicada a medida de afastamento, ter sido julgado extinto e arquivado emrazão da existência de coisa julgada administrativa.
Ademais e sem embargo da independência das instâncias, não seria juridicamente sensatodecretar, na esfera civil, a perda da função pública ou da delegação por uma conduta que, mesmoapenada no máximo na esfera criminal, jamais levaria a essa conseqüência, tanto mais por tratarse de infração penal de menor potencial ofensivo.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível n. , de Chapecó (Vara da Fazenda Pública),
JusBrasil Jurisprudência18 de outubro de 2015
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em que é apelante o representante do Ministério Público e apelado Nélson Teófilo Grando Filho:
ACORDAM , em Primeira Câmara de Direito Público, por votação unânime, negar provimento ao recurso eà remessa.
Sem custas.
1. O Ministério Público de Santa Catarina, por seu representante na Comarca de Chapecó, ajuizou açãocivil pública contra Nélson Teófilo Grando Filho, buscando responsabilizálo pelo cometimento de atoatentório aos princípios da Administração Pública, ao não se submeter à determinação judicial que oafastou do cargo de Escrivão de Paz no Distrito de Marechal Bormann em face de irregularidadesadministrativas constatadas na correspondente serventia extrajudicial.
Na contestação, o réu assinalou que os fatos mencionados na ação já foram objeto de processoadministrativo, apreciado pelo Conselho da Magistratura do Eg. Tribunal de Justiça e julgado extinto pelacoisa julgada. De outra parte, alega que houve excesso de prazo na condução e no desfecho do primeiroprocesso administrativodisciplinar a que foi submetido, o que lhe garantiria o retorno às suas funções.Por fim, requereu a extinção do processo com base na exceção de coisa julgada, ou, quando não, pelaimprocedência da ação pelo excesso de prazo na conclusão do processo administrativo (fls. 206/210).
Concluída a instrução, sobreveio a sentença de improcedência do pedido, ao fundamento de que, aopraticar o ato acoimado de ímprobo, o réu não estava no exercício do cargo de Escrivão de Paz, dissoresultando a sua ilegitimidade passiva ad causam. Demais disso, acrescentou que "não progride apresente ação civil pública que não pode servir de sucedâneo ao processo criminal" (fl. 304).
Inconformado, o representante do Ministério Público apelou, sustentando, em síntese, que a ocorrência doato ímprobo está incontestavelmente comprovada, sendo descabido o reconhecimento da ilegitimidade doréu, eis que, embora suspenso, o apelado, em conduta insubordinada e desrespeitosa, se manteve noexercício da função pública, repousando nisso o fundamento da demanda proposta.
O apelado, na resposta recursal, enalteceu o julgamento monocrático, pugnando pela sua manutenção(fls. 330/332), nisso recebendo oapoio do parecer exarado pelo Dr. Raul Schaeffer Filho, em nome da d.ProcuradoriaGeral de Justiça.
É o relatório.
2. Cuidase de ação civil pública em que o Ministério Público imputa ao réu a prática de ato deimprobidade administrativa, enquadrável no art. 11, da Lei 8.429/92, porque, desobedecendo decisão doEg. Conselho da Magistratura que o suspendera do exercício das funções de Escrivão de Paz do Distritode Marechal Bormann, no Município e Comarca de Chapecó, o mesmo prosseguiu nas atividades docargo, em comportamento que, na esfera criminal, tipifica a conduta delituosa capitulada no art. 324, do
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Código Penal.
A ação foi julgada ao entendimento de que, "ao tempo do ato acoimado de ímprobo, o agente não estavainvestido do cargo de Escrivão de Paz em face de suspensão colimada pelo Conselho da Magistratura ",circunstância que retiraria a sua legitimidade passiva ad causam.
É, sem dúvida, equivocada a premissa.
A Lei nº 8.429/92 traz, em seu artigo 2º, o conceito de agente público para os fins a que se destina, nosseguintes termos: "Reputase agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, ainda quetransitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outraforma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas noartigo anterior. "
Segundo Fábio Medina Osório , "o Supremo Tribunal Federal já decidiu, de modo a permitir, pela viainterpretativa, no contexto da lei de improbidade, alargamento do art. 1º e seu parágrafo único (emboraeste não tenha sido objeto da decisão), que"as serventias extrajudiciais instituídas pelo Poder Públicopara o desempenho de funções técnicoadministrativas destinadas a garantir a publicidade, aautenticidade, a segurançaa eficácia dos atos jurídicos (Lei número 8.935/94, art. 1º), constituem órgãospúblicos titularizados por agentes que se qualificam, na perspectiva das relações que mantém com oEstado, como típicos servidores públicos". E prossegue o acórdão:"A atividade notarial e registral, aindaque executada no âmbito de serventias não oficializadas, constitui, em decorrência de sua próprianatureza, função revestida de estabilidade, sujeitandose, por isso mesmo, a um regime estrito de direitopúblico. A possibilidade constitucional de a execução dos serviços notariais e de registro ser efetivadaem caráter privado, por delegação do poder público (CF, art. 236), não descaracteriza a naturezaessencialmente estatal dessas atividades de índole administrativa", sendo que as custas judiciais eemolumentos concernentes aos serviços notariais e registrais possuem natureza tributária, qualificandosecomo taxas remuneratórias de serviços públicos, sujeitandose aos princípios de direito tributário, e aoslimites constitucionais ao poder de tributar ."(in"Improbidade Administrativa", 2ª ed., Porto Alegre: Síntese,1998, 101).
Mais adiante, o autor conclui com as seguintes palavras: "Interessante, portanto, observar a incidência daLei número 8.429/92 a todos aqueles que, mesmo não sendo rigorosamente agentes públicos, estejam emcontato com o dinheiro público ou se beneficiem, direta ou indiretamente, dos efeitos da improbidadeadministrativa, culposa ou dolosamente. Em síntese, o legislador busca alargar ao máximo o alcancesubjetivo da Lei número 8.429/92, embora falhando em alguns pontos fundamentais, o que deve serlevado em linha de conta pelos intérpretes, respeitandose o sentido teleológico das normas jurídicas quereprimem severamente a improbidade administrativa " (p. 118) (grifei).
Nesse contexto, sem nenhuma relevância o fato de o réu estar suspenso do exercício de suas funções.O que importa é que continuava detentor do cargo e, nesta condição, ignorando a decisão administrativa,continuou a exercer as atividades de agente público.
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Tivesse sido demitido, então, sim, poderseia dizer que não se enquadrava na conceituação do sujeitoativo do ato ímprobo.
Malgrado isso, a sentença deve ser mantida pela sua conclusão.
É incontroverso que, no curso de processo administrativo instaurado em razão de supostas irregularidadesfuncionais, o réuapelado foi suspenso de suas funções, vindo a ser substituído precisamente pelo seupai, Nelson Grando. Certamente facilitado por essa circunstância, continuou no exercício das funções,praticando atos a ela inerentes.
A insubmissão à ordem de afastamento provisório é que constitui o núcleo ou a causa de pedir dademanda. Tratase de atuação não abrangida pelo art. 31, da Lei 8.935/94. É razoável entender que asinfrações disciplinares ali especificadas, porque penalizadas neste mesmo diploma legal (art. 32 eseguintes), excluem, pela prevalência do princípio da especialidade, a aplicação da Lei de ImprobidadeAdministrativa.
Assim sendo, lido o art. 11, da Lei 8.429/92, não se pode descartar que a conduta insubordinada dorecorrido, conquanto não se amolde a nenhuma tipificação específica dos 7 (sete) incisos da norma,importou em ofensa ao princípio da legalidade evocado no caput .
Tal como se convenceu o ilustre parecerista da ProcuradoriaGeral da Justiça, a responsabilização e apenalização do apelado por ato de improbidade administrativa representaria deslustre aos princípios darazoabilidade e da proporcionalidade.
Com efeito, revelam os autos que, um ano após instaurado, o processo administrativo, onde foideterminada ab initio a suspensão do serventuário, veio a ser, por decisão unânime do Conselho daMagistratura, julgado extinto e arquivado porque acerca dos fatos que ali lhe foram imputados havia acoisa julgada administrativa (fls. 211/215).
Se assim é, temse que o apelado foi vítima de um processo que sequer deveria ter sido instaurado. Issopode até explicar, embora não justificar, a sua conduta insubmissa.
Só por isso já seria uma insensatez jurídica aplicarlhe qualquer punição.
Por outro lado, advertindose, desde logo, não se ignorar a regra da independência da instâncias criminal,civil e administrativa, verificase que, pela mesma conduta, o apelado foi denunciado como incurso nassanções do art. 324, do Código Penal (fls. 120/122). Não houve pronunciamento de mérito sobre aquestão criminal porque, de acordo com os registros do SAJ Serviço de Automação Judiciária, apunibilidade foi julgada extinta pela prescrição da ação penal.
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Tratase de delito cuja pena corporal máxima é de 1 (um) mês de detenção , podendo ser apenadoexclusivamente com multa. Já se cuidava, então, de infração penal de menor potencial ofensivo (art. 61,Lei 9.099/95), passível de conciliação ou transação.
A perda de cargo ou função pública, como efeito da sentença condenatória penal, nos casos de crimespraticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública, só terá lugarquando a pena privativa de liberdade for igual ou superior a um ano (art. 92, inc. I, alínea a do CP).
Seria razoável e proporcional, então, decretar, na esfera civil, a perda da função pública ou da delegaçãopor uma conduta que, na esfera criminal, jamais levaria a essa conseqüência?
Estimo ser dispensável responder.
Para manter a sentença, desprovendo o recurso e a remessa, calha, em reforço, reproduzir as lúcidaspalavras do ilustre Procurador de Justiça, Raul Schaefer Filho, segundo quem "a extensão do dano, aúnica variável a ser considerada, constituise em ato de desobediência à ordem que pode sercompreendida como judicial, conquanto no âmbito administrativo, com conseqüências de natureza penal,em frágil ou nihill, repitase, dano à moralidade administrativa, o que, concessa venia, norteia a aplicaçãodos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, com observância de critérios compatíveis àadequação entre os meios e fins, tornando, na hipótese subjudice, despicienda a imposição deobrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento dointeresse público (..)" . (fl. 338).
3. Nos termos do voto do relator, decidiu a Câmara, por votação unânime, negar provimento ao recurso eà remessa.
Participaram do julgamento os Exmos. Desembargadores Volnei Carlin e Vanderlei Romer, lavrandoparecer, pela ProcuradoriaGeral de Justiça, o Exmo. Procurador Raul Schaefer Filho.
Florianópolis, 08 de junho de 2006.
Volnei Carlin
PRESIDENTE
Newton Janke
RELATOR
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