integração energética na américa do sul

17
Integração Energética na América do Sul China & África Diplomacia e interesses econômicos Concentração Bancária Uma pedra no caminho do Brasil Indústria Farmacêutica O lucro vem em primeiro lugar c al gl número 1 outubro/2010 ano 1 Painel de Geopolítica, Meio Ambiente e Cultura Mateus Prado Wagner Iglesias Taís Fuoco Humberto Dantas Felipe Lemos Caio Penko Camila Medonca Jony Rodrigues André Fontana Ildo Sauer Sônia Seger Marco Paupério Pablo Batista Samira Burani R$ 14,90

Upload: revista-glocal

Post on 26-Mar-2016

214 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Pensamentos globais, ações locais – com o objetivo de apresentar um panorama de mundo plural e contextualizado, a revista Glocal estreou com uma seleção multidisciplinar tratando de temas como os desafios da democracia Brasileira, lixo eletrônico, concentração bancária, desmistificação do parto natural, perspectivas para a integração energética na américa do sul, aquecimento global , democracia latino-americana, indústria farmacêutica, máfia dos remédios e muito mais.

TRANSCRIPT

Page 1: Integração Energética na América do Sul

Integração Energética na América do Sul

China & ÁfricaDiplomacia e interesses econômicos

Concentração Bancária Uma pedra no caminho do Brasil

Indústria FarmacêuticaO lucro vem em primeiro lugar

calgl cglgl c núm

ero

1 ou

tubr

o/20

10 a

no 1

Painel de Geopolítica, Meio Ambiente e Cultura

Mateus Prado Wagner Iglesias Taís Fuoco Humberto Dantas Felipe Lemos Caio Penko Camila Medonca Jony Rodrigues André Fontana Ildo Sauer Sônia Seger Marco Paupério Pablo Batista Samira Burani

R$ 14,90

Page 2: Integração Energética na América do Sul
Page 3: Integração Energética na América do Sul

edit rialedit ri

Caro Leitor, É com prazer que o Instituto Henfi l lança sua re-

vista de atualidades, a GLOCAL: Painel de Geopolítica, Meio Ambiente e Cultura. O nome de nossa revista é um reconhecimento da interdependência entre o am-biente Global e o ambiente Local na sociedade con-temporânea. Nossa publicação, bimestral, abordará as questões mundiais e os assuntos nacionais relacio-nados aos processos políticos, sociais, econômicos e culturais da atualidade.

A GLOCAL nasce como uma revista multidiscipli-nar, uma abordagem que emerge na educação básica nacional e que, no futuro, tende a ser um dos princí-pios do nosso processo educacional. Com pauta atual e plural, a GLOCAL constitui um material paradidático que, diferente dos livros e apostilas, associa alguns dos eixos do moderno ensino médio com os aconteci-mentos/fatos do cotidiano.

Realmente, a complexidade de nosso tempo tem reformado as instituições. Mesmo que a passos lentos, a escola começa a se reestruturar no Brasil. Educado-res questionam a tão antiga e, paradoxalmente, atual educação bancária, onde o professor é o dono do sa-ber e impõe este ao aluno. Desde meados dos anos 90, a Unesco argumenta que na escola é importante que o aluno aprenda a “conhecer”, a “fazer”, a “ser” e a “conviver”. São os quatro pilares da educação para o século XXI, que recomendam metodologias de ensino--aprendizagem (incluindo materiais) inovadores. Neste contexto, o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) propõe uma avaliação das competências e habilidades adquiridas pelos alunos na Educação Básica, suplan-tando os vestibulares que, convencionalmente, avaliam os conteúdos-programáticos. A GLOCAL, atenta à refor-ma do Ensino Médio no país, apresenta uma linha edito-rial condizente com a proposta do ENEM.

Ademais, um dos diferenciais da GLOCAL é a sua construção em rede; enquanto alguns dos nossos tex-tos são escritos por renomados intelectuais e presti-giados técnicos convidados pelo conselho editorial, os outros passam por um processo de seleção inclusivo. Universitários de todo o país enviam artigos que são analisados pelo nosso conselho editorial. Os artigos es-

colhidos voltam para seus autores para as adequações e, na seqüência, nossa equipe seleciona gráfi cos, inclui informações adicionais, destaca passagens nos textos, tudo para que você aproveite – plenamente – a leitura.

Por fi m, agradecemos o seu interesse pela leitu-ra do primeiro número da nossa revista. Nesta edição debatemos sobre as Perspectivas para a Integração Energética da América Latina. A saúde pública tem seu espaço em um artigo sobre o parto humanizado e dois textos que tratam dos interesses da indústria farmacêu-tica. Na área política temos a oportunidade de ver posi-ções sobre os Desafi os da Democracia Brasileira e os Avanços da Democracia na América Latina.

Por fi m, agradecemos o seu interesse pela leitura do primeiro número da nossa revista. Nesta edição um dos texto que se destacam versa sobre as Perspecti-vas para a Integração Energética da América Latina. A saúde pública tem seu espaço em um artigo sobre o parto humanizado e dois textos que tratam dos inte-resses da indústria farmacêutica. No campo da polí-tica temos a oportunidade de ver posições sobre os Desafi os da Democracia Brasileira e os Avanços da Democracia na América Latina.

A discussão sobre o Meio Ambiente é abarcada por dois textos; um sobre a destinação do Lixo Eletrônico e o outro sobre as questões ligadas ao Aquecimento Global. A área econômica está coberta com um texto que analisa as relações econômicas entre China e o continente africano e com um revelador artigo sobre a Concentração Bancária no Brasil. As questões socio-culturais são tratadas em dois artigos: o primeiro sobre a Inclusão da Diversidade nos Currículos Escolares e o segundo sobre as formas que os Estados Nacionais tratam o Multiculturalismo e a Diversidade. O nosso pri-meiro número é fechado com um texto sobre Exclusão Digital e um guia para conhecer melhor o Patrimônio Cultural da Cidade de São Paulo.

Boa leitura!

Dos editores, Prof. Fernando de Souza Coelho

e Mateus Prado.

Prof. Fernando de Souza Coelho

Mateus Prado

03glocalglo

Page 4: Integração Energética na América do Sul

06su

mário

sum

ário Desafios da

democracia brasileira

por Humberto Dantas

por Jony M. Rodrigues

16Expediente:Editores: Fernando Coelho e Mateus PradoConselho Editoral: Renato Eliseu, Wagner Iglesias e Paulo de Tarso Gestão de Educação e Ensino do Instituto Henfi l: Ana Paula Dibbern Coodernação de Comunicação e Direção de Arte: José Geraldo S. Junior Projeto Gráfi co: Lucas Paiva

Onde diplomacia e interesses econômicos se encontram

por Felipe Lemos

10

Concentracão bancária no Brasil: uma pedra no meio do caminho

Page 5: Integração Energética na América do Sul

Combate à exclusão digital

24O fantasma do aquecimento global

por Pablo de Araujo Batista

por Mateus Prado

Lixo eletrônico -desafios das novas geracões

(Re)descobrindo o Patrimônio e os Museus

A máfia dos medicamentos

Multiculturalismo e universalidade

09

18

31

26

34

por Taís Fuoco

Desmistificacão do parto natural

14

por Camila Mendonça

por André Fontan Köhler

por Wagner Iglecias

por Samira Burani

por Franz Gustav Buhr

Para pensar sobre o espaco escolar

12

por Caio Penko

28

Perspectivas para a Integracão Energética na América do Sul20

por Ildo Sauer Sônia Seger Marco Antônio Luz Paupério

Avancos da democracia na América Latina

Page 6: Integração Energética na América do Sul

Conheca a Glocal, Revista de atualidades especializada em ENEM.

www.revistaglocal.org.br/artigos

Pensamentos globais, acões locais

A Revista Glocal - Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana é uma publicação de atualidades do Instituto

Henfil Educação e Sustentabilidade, que tem como objetivo divulgar informações qualificadas sobre arte, cultura, política nacional e

internacional, meio-ambiente, geopolítica, economia, questões sociais, ciência e matemática. O formato colaborativo abre espaço

em suas páginas para que estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, professores e especialistas em diversas áreas

publiquem seus artigos em português, inglês ou espanhol.

Escreva o mundo de hoje.

Envie seu artigo e colabore para o debate da sociedade sobre os temas do momento.

Conheça o edital de seleção de textos em:

Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana

Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana

Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana

Artigo Publicado3 Gratificacão4Artigo Selecionado2Envie seu Artigo1

[email protected]

Page 7: Integração Energética na América do Sul

Conheca a Glocal, Revista de atualidades especializada em ENEM.

www.revistaglocal.org.br/artigos

Pensamentos globais, acões locais

A Revista Glocal - Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana é uma publicação de atualidades do Instituto

Henfil Educação e Sustentabilidade, que tem como objetivo divulgar informações qualificadas sobre arte, cultura, política nacional e

internacional, meio-ambiente, geopolítica, economia, questões sociais, ciência e matemática. O formato colaborativo abre espaço

em suas páginas para que estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, professores e especialistas em diversas áreas

publiquem seus artigos em português, inglês ou espanhol.

Escreva o mundo de hoje.

Envie seu artigo e colabore para o debate da sociedade sobre os temas do momento.

Conheça o edital de seleção de textos em:

Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana

Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana

Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana

Artigo Publicado3 Gratificacão4Artigo Selecionado2Envie seu Artigo1

[email protected]

Page 8: Integração Energética na América do Sul

Nos escritos da antiga Grécia, que car-regam nas costas mais de vinte e cinco séculos de história, a democracia por vezes era colocada em dúvida. Platão entendia que a acomodação poderia

levar a uma catástrofe. Homens acostumados com o poder se renderiam facilmente à preguiça e se cor-romperiam. Diógenes, o Cínico, protagonizava teatral-mente esse sentimento, e circulando pelas ruas com uma lanterna acesa, em plena luz do dia, dizia que pro-curava um homem probo.

Mais de um milênio depois, a democracia que (re)nasceu das reivindicações burguesas contra os nobres teve DNA liberal, sob as vestes de um Estado mínimo. Culturalmente não poderia ser diferente: o absolutis-mo deu brecha aos que buscavam estabilidade nas regras tributárias e garantias de propriedade – já era

06

muito para os padrões da época. Direitos sociais vieram depois, muito depois, como resultado de uma série de fatores. Primeiramente a extensão do sufrágio, ou seja, homens pobres passaram a votar, e em seguida vieram as mulheres, já no século XX na imensa maioria dos pa-íses democráticos. Tal cenário alterou completamente a lógica do Estado, sobretudo em virtude do que Engels chamou de “a situação da classe trabalhadora na In-glaterra” e também dos cenários pós-guerras, com ên-fase ao confl ito que terminou em 1945.

Tendo em vista o novo quadro, as democracias representativas modernas (termo utilizado por Robert Dahl) passaram a atender as massas e parte de seus reclames, caracterizadas pelo sufrágio universal (aces-so de todos ao voto). Os partidos se fortaleceram como organização, pois precisaram buscar apoio no imenso contingente que ascendeu às urnas. O caráter quanti-

hu

ma

na

s

Page 9: Integração Energética na América do Sul

Os desafios da

brasileira“democracia”

Uma revolução cultural. Presente no cotidiano dos cidadãos e não somente na política eleitoral

07glocalglo

tativo da democracia se fez presente. As teorias acerca da participação tornaram-se práticas no alistamento de imensos contingentes de cidadãos. O voto era a ga-rantia aparente da cidadania. Mas restava um desafi o, associado ao caráter qualitativo da democracia. O voto, por si só, isoladamente, não parece garantir grandes avanços. Os eleitores necessitam de informação e edu-cação política para que possam “jogar o jogo da de-mocracia”. E isso não é apenas opinião, está presente em praticamente todos os escritos fi losófi cos sobre o tema, até mesmo entre os descrentes da democracia, que apontavam essa falta de comprometimento como algo capaz de corromper o sistema.

Esse talvez seja um dos grandes desafi os do Brasil: a qualifi cação para o voto. Os anos 80, vistos por muitos economistas como a década perdida, representaram algo expressivo para nossa democracia. Entramos no período reorganizando nosso quadro partidário, artifi -cialmente composto no regime militar. Em 1982 elege-mos governadores diretamente, em 1983 assistimos os primeiros ensaios da maior agitação popular vivida nesse país, o Movimento Diretas Já, frustrado em 25

Page 10: Integração Energética na América do Sul

de abril de 1984 com a derrota da emenda Dante de Oliveira numa manobra regimental da situação no Con-gresso. Em 1985, mesmo indiretamente, assistimos um civil chegar ao poder nacional, e incluímos por decreto o analfabeto no rol de eleitores. No ano seguinte elege-mos uma Assembleia Constituinte, que num movimento bastante inclusivo, em permanente contato com a so-ciedade, promulgou a Carta Cidadão de 1988, ou: Cons-tituição Federal. Nela reservamos espaço para o voto dos jovens de 16 e 17 anos, algo raríssimo no mundo. E fechamos a década conduzindo, em dezembro, um presidente diretamente escolhido pelo povo, nas urnas.

A década de 90 também nos reservou boas surpre-sas. Assistimos a um impeachment sem golpes poste-riores, controlamos a infl ação e fi zemos a sociedade compreender que grandes feitos na esfera pública são avaliados positivamente nas urnas. Na entrada do sé-culo XXI elegemos o grupo de oposição para o poder público federal e empossamos os vencedores sem ru-mores de radicalismos. Para muitos analistas, a demo-cracia se conquista com o amadurecimento eleitoral, e nesse rumo parece que estamos seguindo.

Mas de que bastaram todos esses esforços para aqueles que se atêm às teorias da democracia? Pes-quisas de opinião pública e estudos acadêmicos re-velam descrença e descaso do cidadão com a política. Para fi carmos em apenas uma dimen-são do nosso desafi o, em artigo publicado em 2004 na Revista Opinião Pública da UNICAMP, cientistas políticos da USP mos-travam com base nos dados do Estudo Eleitoral Brasileiro de 2002 que 67% dos brasileiros são alienados politicamente. Ou seja, dos 132 milhões de eleitores, 88 milhões são analfabe-tos políticos – utilizando um termo radical para um pro-blema assombroso.

E a arena pública se torna ainda mais assustadora diante de seguidos escândalos de corrupção. Ou seja: o descaso é aproveitado pelos que se interessam em distorcer a visão do Estado. Tal cenário desacredita a política, e por mais que as eleições nacionais ocorram com relativa qualidade no Brasil, é absolutamente ne-cessário lembrar que estamos muito distantes do que poderíamos descrever como uma Democracia, aos moldes mais teóricos associados à participação quan-titativa simbolizada pelas urnas, e qualitativa represen-tada pela busca de informações e educação suprapar-tidária formal nas escolas.

Assim, diante dos desafi os de nossa democracia, fi ca a grande questão: o que devemos fazer para que a democracia se consolide em nosso país após anos de conquistas relevantes? Necessitamos de uma re-volução cultural. Aquela que seja capaz de colocar a democracia como um bem inestimável, presente não apenas na política eleitoral, mas também no cotidiano dos cidadãos. Norberto Bobbio, célebre pensador ita-liano do século XX, afi rmava que a democracia precisa estar presente nas escolas, nas casas, nas famílias, relacionamentos pessoais e profi ssionais. Enfi m: em todas as formas de as pessoas se associarem e con-fl itarem. Diante de tal desafi o é chegado o momento de promover algo capaz de desencadear diversas mudan-

ças em nosso cotidiano. A sabedoria política, sempre suprapartidária, com interesses em estimular a partici-pação, nunca de indicar uma legenda e seus candida-tos específi cos, pode alterar nossas vidas e deve estar presente em escolas, empresas e organizações sociais. O cidadão politicamente educado é aquele que sabe, por exemplo, que um parlamentar não é um fazedor de favores, e sim um legislador. Que um presidente não é o pai da República, e sim o administrador maior do pa-trimônio público, que é nosso. Um cidadão comum deve entender minimamente o sentido da palavra orçamen-to, conhecer as atribuições daqueles que elege e tantas outras questões básicas de nosso cotidiano. Um eleitor precisa saber que o voto não tem preço, tem consequ-ências, e que emprego na área pública deve ser ocupa-do por técnico, e não por apadrinhamento.

A crise de nossa democracia passa pela capaci-dade de solucionarmos um imenso défi cit de educa-ção política, simbolizado por uma cultura associada ao favor, ao medo, ao descaso, à malandragem e à es-perteza. Essa é a verdadeira reforma política de que o país precisa. Com um grande agravante, no entanto: os responsáveis pelos currículos escolares públicos são aqueles que chegam ao poder conduzidos pelo eleitor mediano, aquele que pouco ou nada entende de políti-

ca, enxergando-a como algo dis-tante. O cenário torna-se menos pessimista se pensarmos que muitos políticos estão dispostos a mudar essa realidade por meio de ideias inovadoras. Uma delas foi por meio da implementação de uma série de iniciativas par-ticipativas. Foram criados con-selhos gestores de políticas pú-blicas, comissões de legislação

participativa, audiências públicas e reuniões do orça-mento participativo em uma série de lugares. Tais ini-ciativas são internacionalmente reconhecidas como grandes ferramentas de gestão democrática, mas ain-da padecem da falta de conhecimento da sociedade e da truculência de alguns políticos que desrespeitam algumas decisões legitimadas pela sociedade nes-se tipo de ferramenta. Assim, criar mecanismos de aproximação é menos relevante, nesse momento, do que ofertar ao cidadão uma formal instrução acerca dos valores associados à democracia. De posse das regras do jogo, caberá a cada um, de forma conscien-te, escolher o que pretende fazer de seu voto, de seu tempo e de sua dedicação à coisa pública. Afi nal de contas, a despeito do tempo que nos separa da cita-ção, Rousseau dizia que a partir do momento em que o cidadão colocar seus interesses pessoais à frente de suas questões públicas o Estado estaria fadado ao caos. Resta alguma dúvida? A educação é realmente nosso grande desafi o, em nome do bem maior chama-do Democracia.

Humberto Dantas é doutor em ciência política pela USP, professor visitante da USP-Leste, curso de Gestão de Políticas Públicas e superintendente da Fundação Mario Co-vas. Ao longo dos últimos seis anos coordenou mais de 100 turmas de cursos de educação política. [email protected]

Um eleitor precisa saber que o voto

não tem preço, tem consequências

67% 67% dos brasileiros são alienados politicamente, de acordo com dados do Estudo Eleitoral Brasileiro de 2002

08

Page 11: Integração Energética na América do Sul

26

na

ture

za

Page 12: Integração Energética na América do Sul

A máfia dos medicamentosA “utilização” de médicos na divulgação de medicamentos é feito de forma sistemática pelos laboratórios

Os remédios são utilizados há muito tem-po, produzidos a partir de ervas, subs-tâncias aromáticas e de drogas que vinham do oriente. A Indústria dos Re-médios participa intensamente da vida

da população e, em especial, na dos idosos. É comum encontrarmos pessoas idosas ingerindo mais de dez medicamentos por dia. Mas qual será a infl uência dos médicos, estudantes e docentes das universidades na indústria medicamentosa?

Grande parte dos docentes universitários desen-volve pesquisas, com o apoio governamental, a fi m de encontrar novas formas de tratamento para determina-das doenças. Quando fi nalizam seu estudo, o Estado, que durante todo o desenvolvimento fi nanciou a pes-quisa, agora é passado para trás, já que um fabricante de remédios oferece uma proposta tentadora e todo o conhecimento fi nanciado com dinheiro público passa a ser dominado pela indústria privada, que produzirá o medicamento e logo o colocará em circulação, em grande parte das vezes, com valores absurdos.

Após todo o processo de compra do conhecimento e produção do medicamento, a próxima etapa é a pro-dução e distribuição do produto no mercado. É nessa que muitos médicos contribuem com a propaganda. Um caso interessante a ser citado é o que aconteceu com a Professora Doutora Ângela Maria Machado de Lima do curso de graduação em Gerontologia da USP: “Estive no XVI Congresso da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, que foi realizado em junho de 2008 em Porto Alegre, e me incomodou o fato de receber no ato da inscrição, por ser médica, um crachá de tarja verde na qual estava escrita a palavra “prescritor”. Ao per-guntar as razões que teriam para tal procedimento, fui informada que para os que não prescrevem havia um crachá de tarja vermelha onde se lia “não prescritor” e que isso havia sido proposto pelos laboratórios farma-cêuticos para facilitar a abordagem dos profi ssionais que podem receitar medicação. Então, imediatamente solicitei que meu crachá fosse trocado por outro de tar-ja vermelha e não fui assediada por ninguém, porém a quantidade de brindes a serem distribuídos aos “pres-critores” me impressionou bastante e observei que houve quem entrasse na mesma fi la para pegar bolsas, estojos e até lanches de uma importante rede de fast food, por repetidas vezes. Outra coisa impressionan-te foi descobrir que houve palestras patrocinadas por laboratórios (medicamento que supostamente trata a

Doença de Alzheimer) nas quais se distribuíam brindes aos ouvintes. Fiquei preocupada com a possível banali-zação e mercantilização do tratamento medicamentoso para idosos e com risco de comprometer os objetivos e atividades de um congresso científi co com assuntos relacionados aos negócios.”

Esse fato acontece já que grande parte da popu-lação acredita que o médico é uma fonte de conheci-mento, como se o título de Doutor bastasse para que o mesmo seja o possuidor de todo o conhecimento, poder e cura das doenças das pessoas. Sendo assim, ele é tido como o melhor propagandista para as empresas. Além do mais, os médicos fornecem amostras para os pacientes, as quais lhe foram cedidas pelas empresas, assim os pacientes acabam saindo dos consultórios com a ideia de que “Nossa, como aquele médico é bon-zinho, ele me deu até amostras do remédio”.

O ciclo da produção do conhecimento e de medi-camento é fechado com o lucro ganho pelas indústrias. Após ganhar o fármaco, a grande tendência é de o pa-ciente ir à farmácia solicitando o mesmo medicamento, da mesma marca que lhe foi fornecido pelo médico. Se-gundo um estudo publicado em 2009 na Revista da As-sociação Médica Brasileira sobre a complexidade do regime terapêutico prescrito para idosos, a prevalência do uso de medicamentos no Brasil é de 60% a 91%.

O maior alvo das indústrias, talvez seja os idosos, já que muitos ingerem grandes quantidades de medi-camentos e podem ser considerados como propagan-distas das empresas. Quando o remédio traz o efeito desejado, eles divulgam para amigos, parentes, que foi curado de determinada doença e assim mais uma pes-soa poderá ser um freguês desta empresa.

A máfi a dos medicamentos nunca deixará de exis-tir, já que ela contribui com o enriquecimento não só de profi ssionais de mau caráter, como de funcionários go-vernamentais. E é muito triste dizer que instituições de, possam contribuir com esse comércio, possibilitando que seus docentes, mal intencionados, possam pesqui-sar e vender a ciência para esse fi m.

Portanto é necessário dar uma atenção para esse fato, algo que não aparece frequentemente em jornais e revistas, mas que prejudica, certamente, a população que necessita de medicação.

Samira BuraniAluna do curso de Gerontologia da Universidade de São Paulo (USP).

Jardineiro Fiel O fi lme, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, conta a história “fi ctícia”de um laboratório farmacêutico que faz testes de um medicamento contra o câncer, de forma ilegal, em habitantes do Quênia. O Enredo discute a Ética em pesquisas e as práticas e interesses da indústria farmacêutica no mundo atual.

Mais

27glocalglo

Page 13: Integração Energética na América do Sul

líng

ua

ge

ns

Page 14: Integração Energética na América do Sul

Combate à exclusão digitalA inclusão digital está fortemente relacionada à distribuição de renda, à participação popular e ao combate à fome

Diferente da maior parte dos países da Europa e da America do Norte, a questão da exclusão digital é fun-damental para a plataforma da inclusão social no Brasil. No país temos somente 16 milhões de pontos de acesso à internet, revelando que boa parte da população não pode usá-la como tecnologia a qualquer momento que deseje. Isso se torna mais grave se consideramos uma concepção mais ampla do que seria exclusão digital, concepção à qual me filio.

Na sociedade da informação, quem toma decisões e quem está nas principais posições de poder usa da tec-nologia da informação para tomar decisões, comandar processos e influir pessoas. Para caminharmos para uma sociedade em que as diferenças de oportunidade fossem minimizadas, o mínimo que deveríamos contar é que todos pudessem ser usuários avançados das tecnologias de informação. Para que haja um pouco de justiça nas relações de quem controla os meios de produção, os demais usuários precisam mais do que saber navegar na in-ternet. É necessário que cada um deles tenha acesso a software livre, saiba utilizá-lo, consiga alterar programas para que estes atendam às suas necessidades, possa produzir conteúdos e publicá-los na rede internacional de computadores, entre outras coisas.

Page 15: Integração Energética na América do Sul

Alguns pesquisadores apontam que as políticas de inclusão digital não podem estar dissociadas das polí-ticas sociais. Pelo contrário, a inclusão digital está for-temente relacionada ao desenvolvimento sustentável, à distribuição de renda, à participação popular, ao comba-te à fome e à globalização contra hegemônica.

Também é importante destacar que a inclusão di-gital, tal como caracterizada acima, possibilita que os usuários desenvolvam formas diversas de desenvolver as capacidades cognitivas e incentiva a multiplicidade de pensamentos. Para entender melhor isso, lembramos que os software proprietários possuem um caminho ló-gico e que os usuários, com o tempo de uso, tendem a repetir em outras áreas da vida os processos cognitivos que usam nos programas.

Os programas de inclusão digital de que temos conhecimento no Brasil são tímidos e partem de outra concepção. Alguns disponibilizam totem de acesso à Internet. Ora, como esperar que um usuário que, por al-guns minutos, utiliza o computador, e em pé, desenvolva as competências e habilidades necessárias para estar

em igualdade com as pessoas que decidem as coisas em nossa sociedade? Outros programas, como os tele-centros, também partem desta visão estreita de que o simples acesso à internet, mesmo que por poucas ho-ras na semana, inclui digitalmente as pessoas. Há ainda programas mais restritos, que pregam que usuários que dominem a edição de textos e tabelas já estão incluídos.

A velocidade de acesso também é um problema a ser resolvido. As camadas mais pobres costumam ter acesso à internet em velocidades menores. A Finlândia resolveu isso, colocando na constituição que Internet de um Mega de velocidade é direito de toda pessoa.

No Brasil, a defesa pura e simples do direito de baixar arquivos e copiar documentos é solidifi car uma estratifi cação que existe em relação ao acesso, uso e formas de uso das tecnologias da informação no país. Mais correto, como vemos, é possibilitar que todos te-nham acesso e saibam usar as ferramentas para terem os mesmos direitos.

Transparência GovernamentalMais uma diferença marcante entre o Brasil, a Eu-

ropa a América do Norte está relacionada à disponibili-zação das informações em bancos de dados que sejam fáceis e que os usuários possam cruzar dados a fi m de obter outras informações. No Brasil, o próprio sistema de acompanhamento dos gastos do governo não está disponível para consulta do cidadão comum. Somente parlamentares possuem senhas para acessá-las. Os bancos de dados disponíveis para os parlamentares são de difícil navegação e só possuem dados quantitativos, relativos ao tamanho dos gastos. A qualidade não é le-vada em conta. Cruzar informações dentro do programa é muito difícil e lento.

Algumas ONGs acompanham esses gastos. É claro que já é algum avanço termos ONGs que acompanham os gastos governamentais, mas gostaria de destacar dois problemas. O primeiro deles é que algumas destas ONGs sobrevivem de fi nanciamento público, portanto fi scalizando aqueles que viabilizam sua existência. O outro problema é que as ONGs que não vivem de recur-sos públicos dependem de favores de deputados para que tenham acesso aos dados do sistema. Ora, não é demais supor que deputados contrariados não em-

prestam a senha para essas ONGs. Tal qual o fi nan-ciamento público causa dependência de algumas

instituições, a necessidade de pedir favores e de manter uma boa rede de relações no legislativo causa a de outras.

Não é preciso dizer que o melhor é que todos possam ter acesso aos dados e que a qualidade destes seja aprimorada. A trans-parência precisa estar entre as propostas dos Partidos no Brasil, para incluir de forma séria essa pauta na agenda política brasi-leira e para permitir que nossos internau-tas possam navegar pelos mares da admi-nistração pública e “pilhar” e “saquear” os dados que são capazes de combater o condomínio patrimonialista instalado na política brasileira.

Mateus Pradocursou sociologia e políticas públicas na USP.

É presidente nacional do Instituto Henfi l e autor de livros didáticos

FUST O FUST ( Fundo de Universalização do Sistema de Telecomunicações ) já arrecadou cerca de 9 bilhões de reais através de cobrança em contas telefônicas. O dinheiro poderia ser utilizado para a universalização do acesso à Internet no Brasil.

Mais

30

Page 16: Integração Energética na América do Sul

Leia a Revista Glocal em seu smartphone, tablet ou computador.

A única revista colaborativa de atualidades especializada em ENEM.

www.revistaglocal.org.br calgl cglglglgl cglglglPainel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana

Page 17: Integração Energética na América do Sul

Um projeto: