integraÇÃo e relacionamento de fornecedores … · cenário local, com o caso do estaleiro...
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INTEGRAÇÃO E RELACIONAMENTO DE
FORNECEDORES DA INDÚSTRIA NAVAL
E ESTALEIROS
Ytauana Karine de Lima (UFPE)
Marcos André Mendes Primo (UFPE)
Francisco Oliveira Machado (UFPE)
As boas práticas em Gestão da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain
Management- SCM) têm sido apontadas como fator crítico de sucesso
nas grandes empresas. Faz partedos objetivos de SCM entender como se
integram fornecedores e empresas, e atté diversosfornecedores entre si,
aprendendo, desse modo, a desenvolver redes de fornecedores
queminimizem desperdícios e maximizem os benefícios dos conhecimentos
de fornecedores.No setor naval, o sucesso dos empreendimentos depende
fortemente dorelacionamento com os fornecedores e integração de
informações na cadeia, devido tanto ao grande número de fornecedores
como a presença mais recente de fornecedores turnkey.Sendo assim, o
obejtivo desse artigo foi analisar como os fornecedores do Setor Naval e
estaleiros se integram em cadeia de suprimentos, tendo como base a
análise do caso Estaleiro Atlântico Sul. A metodologia utilizada foi de
pesquisa exploratória, bibliográfica e qualitativa, sendo complementada
com a realização de uma survey com 129 empresas com intenção de uma
sondagem inicial e entrevistas com executivos do EAS - Estaleiro Atlântico
Sul - e representantes do Simmep e Sebrae-pe.Pode-se afirmar, como
síntese do que foi exposto ao longo do trabalho, que a Indústria Naval
como um todo ainda está muito atrás no uso de Melhores Práticas em
relação a outros setores, e mais ainda a indústria nacional. Entretanto, no
cenário local, com o caso do Estaleiro Atlântico Sul, tanto a empresa
como grande parte dos fornecedores estão nascendo agora e têm a
possibilidade de tirar proveito disso através da busca pela qualidade
juntos.
Palavras-chaves: Indústria Naval, cadeia de suprimentos, integração de
informações
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão.
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009
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1. Introdução
Analisar a cadeia de suprimentos de uma empresa significa identificar como as empresas
parceiras dessa cadeia se interligam. A Gestão da Cadeia de Suprimentos (GCS) na construção
naval é prejudicada pela falta de consenso sobre a estrutura, o funcionamento e a dinâmica da
integração da produção e GCS do navio. Nesse sentido, o progresso em direção a reduzir os
custos dos materiais e proporcionar melhoria no tempo de entrega depende de uma compreensão
mais profunda da integração dos processos internos e dos fornecedores em um "sistema de
produção" (FLEISCHER et al., 1999). No sistema há uma grande dependência do relacionamento
com os fornecedores e a gestão de fornecedores depende em grande parte do compartilhamento e
integração de informações. Ainda mais pelo fato de hoje a competição ser integrada, de forma
que uma cadeia de suprimento compete com outra por mercados, estabelecendo, redes de relações
empresariais maiores e mais complexas (LAMBERT; COOPER, 2000).
A integração e visão em rede possibilitam ganhos e lucros às organizações envolvidas, e os elos
estabelecidos em cadeia produtiva são consolidados em termos de disseminação da informação
ao longo da cadeia de suprimento (LEE et al., 1997). Essa visão de ligação entre os atores irá
possibilitar maior acurácia na realização da previsão de demanda por entre os envolvidos (LEE et
al., 1997), por exemplo, além de maior capacidade de desenvolvimento de inovações e
aprendizagem (KERR PINHEIRO et al., 2005). Essa integração é enfatizada por Shin et al.
(2000) quando apontam para o fato de que as organizações têm melhor desempenho, tanto para o
lado do comprador quanto do fornecedor da cadeia se adotarem a orientação gerencial para a
gestão de suprimentos.
Nessa conjuntura teórica, a necessidade de entender como compartilhar e integrar informações é
ainda maior na Indústria Naval devido a características específicas da cadeia, como: (1) a
presença de um número muito grande de fornecedores – muitas vezes esses parceiros são
centenas ou até alguns milhares; (2) a grande importância que tem o desenvolvimento de novos
produtos para que os estaleiros alcancem vantagem competitiva; (3) ocorrência de economias de
aprendizado; (4) a importância de cumprimento de prazos e tarefas, bem como das especificações
de qualidade.
Dessa forma, o objetivo do presente trabalho foi: “Analisar como os fornecedores do Setor Naval
e estaleiros se integram em cadeia de suprimentos, tendo como base a análise do caso Estaleiro
Atlântico Sul.
1.1. Relevância e Justificativas ao Estudo
O trabalho é parte inicial de um arcabouço teórico-conceitual na área de GCS desenvolvido por
um grupo de pesquisa que está realizando aplicações no campo empírico, o setor naval, em
decorrência da implementação de um estaleiro no Estado de Pernambuco. O estudo apresenta
relevância no sentido de que apesar da necessidade de integração em cadeia, muitas empresas do
setor industrial ainda não oferecem a devida importância à área de GCS ou não conseguem fazer
com que seja trabalhada de modo eficiente. No entanto, indústrias de sucesso do Setor Naval e
diversos setores industriais no cenário mundial consideram as melhorias nas relações entre a
empresa e seus fornecedores como uma das mais importantes prioridades competitivas, em
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especial, quando a integração de informações propicia o desenvolvimento de conhecimento e
inovações (UPTON; KIM, 1998; PAIVA et al., 2008; PRIMO et al. 2008; MORRIS et al., 2009;
PRIMO; AMUNDSON, 2002).
No campo empírico o trabalho se faz relevante dentre vários motivos. De acordo com a
Transpetro (2005), por exemplo, o comércio exterior brasileiro é 95% movimentado por
transporte marítimo. Para suprir essa demanda por embarcações, no passado, o Brasil chegou a
ser vice-líder mundial em produção naval no início da década de 1980. Entretanto entrou
praticamente em estado de esgotamento a partir da segunda metade da década, tendo uma
participação de apenas 0,51% da produção em CGTs(Compensated Gross Tonnage) entre 1989 e
2006 (PINTO; COLIN, 2006). Esse declínio produtivo fez com que diversos segmentos
industriais relacionados com a indústria naval fossem extintos, tendo impacto em toda a cadeia
produtiva. Esse impacto foi muito negativo no relacionamento com os fornecedores, que
culparam os estaleiros pelos prejuízos, trazendo conflitos e clima de desconfiança, o que
contradiz os ensinamentos de Morgan; Hunt (1994), Narasimhan et al. (2009) e Xiande Zhao et
al. (2008) para o estabelecimento de relações comerciais duradouras. O Programa de
Modernização e Expansão da Frota da Transpetro pretende expandir e modernizar e reduzir a
idade média da frota da Transpetro, retomando a produção naval. Foi encomendada a construção
de 42 navios de grande porte em duas fases de 26 e 16 navios, respectivamente, com 65 % de
nacionalização dos materiais empregados, buscando-se a competitividade internacional dos
fornecedores, aumentando seu poder de competição em exportação (TRANSPETRO, 2005).
Em complemento a justificativa de estudo, tem-se a ocorrência de investimentos no setor
PGE&N (Petróleo, Gás, Energia e Construção Naval) no Brasil. O Porto de Suape, em
Pernambuco, está se desenvolvendo e se consolidando como importante pólo desse setor
produtivo por captar encomendas para o transporte marítimo e os serviços de apoio à indústria de
Petróleo e Gás. Essa realidade enseja o desenvolvimento de estudos diversos, na qual o trabalho é
um dos primeiros que se apresenta na tentativa de compreender a dinâmica do Setor Naval, como
forma de desenvolvimento de relação entre os parceiros mais duradoura, pautada no
comprometimento e confiança.
1.2. Aspectos Metodológicos considerados
Para classificação da pesquisa, tomou-se como base a taxionomia apresentada por Vergara
(2003), que a qualifica em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto
aos fins, a pesquisa foi exploratória e aplicada. Exploratória porque, embora haja diversos
estudos sobre o Setor Naval, o mesmo parte do entendimento de um caso pouco abordado, o de
Suape, na perspectiva do entendimento da relação cliente / fornecedor. Além de estamos tratando
de uma área de conhecimento onde há poucos trabalhos desenvolvidos no Brasil. Também, o
artigo é exploratório por ser uma pesquisa de natureza de sondagem. Foi também aplicada, por ter
buscado oferecer sugestões concretas, de finalidade prática. Quanto aos meios, a pesquisa foi
bibliográfica porque analisou livros, revistas, jornais, periódicos, outros estudos e artigos de áreas
adjacentes.
Do ponto de vista da forma de abordagem do problema, a pesquisa é considerada qualitativa, já
que tem como base a interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados em seu processo.
Fenômenos circunscritos a um caso em estudo, o Pólo Portuário de Suape com sua cadeia de
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suprimentos do setor naval. Também, o trabalho pode ser classificado como qualitativa por não
ter feito uso de métodos e técnicas estatísticas (SILVA; MENEZES, 2001). Contudo, destaca-se o
fato de que o cuidado destacado por Miles; Huberman (1994), Godoy (1995a; 1995b), para não
comprometer a cientificidade do trabalho foi tomado e as recomendações oferecidas, por estes
autores, foram perseguidas.
No entanto, em consonância com Yin (2001), ao alegar que análises quantitativas podem ser
realizadas dentro de um estudo de caso qualitativo, algumas análises quantitativas, com o uso de
software Excel foram realizadas. Para levantar a perspectiva das empresas locais foi aplicada uma
survey, técnica que envolve um conjunto de informações de um grande grupo de pessoas ou de
uma população (Malhotra e Grover, 1998). Foram aplicados questionários estruturados por
telefone visando à obtenção de um alto nível de resposta para a pesquisa. O questionário foi pré-
testado por meio de entrevistas presenciais e a equipe de entrevistadores foi treinada para a
aplicação do mesmo. Os indivíduos participantes da pesquisa, geralmente gerentes das áreas de
produção, suprimentos ou comercial, receberam o questionário por e-mail, em paralelo ao contato
telefônico, visando facilitar a resposta do mesmo na entrevista telefônica.
A análise de dados foi realizada a partir de uma amostra de 129 empresas representando uma
população de 180 potenciais fornecedores de insumos, produtos e serviços para a indústria de
construção naval (ICN) brasileira. Porém, a pesquisa não se ateve a detectar, precisamente, o
quantitativo do comportamento de cada resposta obtida. Seu intento restringe-se a uma sondagem
inicial do campo empírico para desenvolvimento de estudos futuros do grupo de pesquisa.
Ainda, complementando a pesquisa bibliográfica, entrevistas foram realizadas com executivos do
EAS – Estaleiro Atlântico Sul – junto à Direção Industrial, Gerência de Logística, Gerência de
Compras Nacionais, Gerência de Compras Internacionais, bem como, junto a representantes dos
dois órgãos com maior representatividade em ações de articulação da cadeia da indústria naval
em Pernambuco. No intuito de inserção de mais atores no processo, buscando maior comparação
de dados, junto ao Sebrae, foi entrevistada a coordenação do programa de capacitação de micro,
pequenas e médias empresas (MPMEs) locais para o setor de Petróleo, Gás, Energia e
Naval.(PGE&N). Pelo Programa de Modernização da Indústria do Petróleo e Gás (Promimp), foi
entrevistado a coordenação do programa de certificação de mão-de-obra local para a indústria
naval e de petróleo.
2. Relacionamento de fornecedores da indústria naval e estaleiros com a rede de
suprimentos
2.1. Cadeia versus rede de suprimentos
Para Lambert; Cooper (2000), a cadeia de suprimentos é formada por membros que
compreendem todas as organizações com as quais a empresa focal interage direta ou
indiretamente por meio de seus fornecedores ou clientes, desde o ponto de origem da extração da
mais básica matéria-prima até o ponto de consumo. A cadeia de suprimentos é, portanto, um
conceito de fluxo do fornecedor ao consumidor que compreende todos os processos logísticos,
desde o contato com o fornecedor, a internacionalização de insumos, o abastecimento das linhas
de produção até a distribuição de bens para o mercado consumidor. A cadeia, segundo esses
autores, envolve transportes, análises de demanda, gestão de estoques e o alinhamento de todos
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esses processos com a estratégia da empresa e suas áreas funcionais: marketing, finanças, pessoas
e outras.
O trabalho de Chen; Paulraj (2004) tem por base cadeia de suprimento a relação estabelecida
entre o fornecedor e comprador, que deve primar por: (1) redução da base de fornecedores, (2)
relacionamento de longo prazo, (3) comunicação constante e intensa entre os membros, (4)
equipes multifuncionais entre as empresas, (5) envolvimento dos fornecedores no
desenvolvimento dos produtos dos compradores. Esses pontos são também tratados por Shin et
al. (2000).
Já o conceito de rede de suprimento é um pouco mais amplo e está relacionado a como se
organizará a produção de bens e/ou serviços de modo a gerar melhoria da posição competitiva
das empresas. A rede industrial é considerada composição de dois conjuntos básicos de ligações
entre suas atividades (ASSUMPÇÃO, 2003): (1) o conjunto institucional, baseado em regras que
regem as trocas entre os sistemas de produção e os elos existentes nos canais de
distribuição/fornecimento; e (2) o conjunto tecnológico, que é constituído pelos sistemas de
produção, que liga recursos e sistemas tecnológicos, segundo uma lógica industrial, esta define a
natureza das atividades de produção e de distribuição/fornecimento.
Diante do exposto, pode-se inferir que a competição está em fornecer ao elo subseqüente da
cadeia, desempenho superior nos critérios mais solicitados, as prioridades competitivas mais
solicitadas que são, segundo Shin et alii (2000), (1) qualidade; (2) entrega; (3) custo; e (4)
flexibilidade. Sicsú (2000) aponta para a flexibilidade como um novo paradigma para a
sobrevivência em um ambiente de negócio competitivo, onde destacam-se as pequenas e micro
empresas, que superam as barreiras, outrora intransponíveis de escala. “Nota-se a consolidação de
grupos de pequenas empresas que, articuladas, horizontalmente, se especializam em
determinados segmentos produtivos” (SICSÚ, 2000, p. 19). Nesse sentido, surge a competição
em arranjos produtivos, que são horizontalizados, diferentemente da cadeia de suprimentos,
estrutura de apoio verticalizada, no entanto, os dois conceitos geram valor ao produto final
ofertado. Competir então, pode ser associado à maior integração por meio da confiança e
disseminação da informação por entre os elos da cadeia de valor que é estabelecida para a
produção de qualquer que seja o produto. Então, tem-se que a formação de redes pode ser vista
como uma solução viável para as MPMEs conseguirem competir com as grandes empresas no
mercado globalizado sem desvantagens. Isso por que as grandes empresas têm capacidade para
investir em todas as áreas que agregam valor à produção, que sejam logística, P&D, compras e
mesmo marketing, e para as MPMEs torna-se necessária essa integração em uma “rede de valor”
para que consigam competitividade.
2.2. Integração da Rede de Suprimentos do Setor Naval
2.2.1 Integração entre Fornecedores e Estaleiros
As relações que acontecem em uma rede de suprimentos devem se encaixar na definição de uma
relação de convergência de interesses mútuos na conquista de um objetivo estratégico, claramente
delineado, segundo Gil et al. (2002). Estes autores alegam que o compartilhamento de
informações através de parcerias pode trazer resultados significativos como: Transferência de
parte da fabricação para o parceiro; Desenvolvimento conjunto de projetos; Transferência de
máquinas para as instalações do parceiro; Implantação de programas de otimização de custos;
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Financiamento de projetos, máquinas e equipamentos; Melhoria de processos produtivos;
Treinamento de pessoal; Consultoria técnica; e Aval financeiro para empréstimos junto a
entidades públicas e privadas.
De acordo com Fleischer at al. (1999) fornecedores da indústria naval são muito mais
interessados nas necessidades de seus clientes quando existe um relacionamento mais próximo e
a comunicação é freqüente e aberta. Isso resulta em fornecedores integrados com os processos da
firma, o que pode significar envolvê-los em etapas de design ou nos planejamentos estratégicos
do estaleiro. O desenvolvimento de parcerias com os fornecedores pode trazer grandes melhorias
nos resultados e as políticas de relacionamento tornam possível à criação de parcerias de longo
prazo e baseadas em confiança de ambos os lados, onde o preço não é o principal fator na tomada
de decisão (KUCHENBECKER, 2006).
2.2.1.1. Categorias de Fornecedores e de Relacionamentos
Diversos autores têm categorizado os “tipos de fornecedores” de acordo com sua importância e
nível de integração com a empresa cliente. Em Fleischer et al. (1999) encontra-se um modelo que
divide os fornecedores em quatro categorias, tendo por base um plano cartesiano, função entre
valor e risco: (1) Produtos Únicos (valor baixo e rico alto); (2) Genéricos (Valor e Risco baixos);
(3) Produtos Críticos (Valor e Riscos Altos); e (4) Comodities (Valor Alto e Risco Baixo). Esse
modelo foi adotado por Primo; Queiroz (2007) ao estudar as práticas da cadeia de navipeças, daí
sua menção, por ser aplicável.
Quanto à categorização dos tipos de relacionamento, diversos modelos têm sido propostos de
acordo com o nível de integração estratégica de fornecedores-clientes. O modelo de Martin
Christopher apud Gil et al. (2002) é articulado em quatro níveis de desenvolvimento, tendo uma
visão da evolução do relacionamento em termos mais globais, conforme vemos na Quadro 1 a
seguir.
Quadro 1 – Modelo articulado em níveis de desenvolvimento Fonte: Gil et al. (2002)
Outro modelo é o proposto por Spekman citado em Primo; Queiroz (2007). Os autores
mencionam o fato de que as cadeias de suprimentos bem sucedidas devem buscar confiança e
comprometimento nos relacionamentos com as diversas empresas para que possam focalizar os
processos de negócios. Para atingir esse intento, as organizações devem passar da abordagem de
negociações de mercado baseadas apenas em preço para relacionamentos mais colaborativos de
acordo com a complexidade de fornecimento e a importância estratégica do relacionamento. A
confiança e o comprometimento no relacionamento são pontos destacados nos trabalhos de
Lamber; Cooper (2000), Fisher (1997); Shin et al. (2000); Choi; Hartley (1996); Chen; Paulraj
(2004); Paiva et al. (2008); Tax et al. (1998); Pagell (2004) dentre outros, além do trabalho de
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Morgan; Hunt (1994), sob a mesma ótica apresentada por Primo; Queiroz (2007), que
consolidaram o modelo de Spekman apresentado na figura 1 a seguir.
Figura 5 – Opções de relacionamento na cadeia de suprimentos.
Fonte: Spekman apud Primo e Queiroz (2007)
2.2.1.2. Alianças Estratégicas e Acordos de Longo Prazo
O tema “Aliança Estratégica” é amplamente abordado na literatura, porém, após revisar um
amplo arcabouço teórico, Hunt et al. (2002) chegam a definição de que aliança ocorre quando
duas ou mais organizações atuantes em um setor se juntam para compartilhar recursos. Essa
junção ocorre no intuito de se tornarem mais competitivas do que se tivessem que atuar sozinhas
no mercado. Nesse sentido, pode-se inferir: (1) que a aliança é a base do estabelecimento de uma
cadeia de suprimento e (2) que a chave para sua consolidação é o compartilhamento integrado de
informação.
Nesse sentido, não se é mais possível o estabelecimento da competição sem a colaboração efetiva
de todos os elos envolvidos na cadeia produtiva, independentemente do setor produtivo da qual o
mesmos estejam inseridos. Caso haja fornecedores locais, pequenos e pouco competitivos, os
mesmos devem ser integrados e absorvidos na cadeia, haja vista o fato de que a competição
ocorre não mais de empresa contra empresa, e sim cadeia contra cadeia de suprimentos como um
todo. As organizações só são competitivas e obtêm aumento nos lucros se tiverem suas atividades
chaves e a gestão do processo produtivo ligadas ao longo da cadeia produtiva (LAMBERT;
COOPER, 2000).
Na Indústria Petroleira, a cadeia de suprimentos passando por reestruturação. Esse está ocorrendo
por conta da tendência das companhias de utilizarem contratos do tipo EPC (Engineering-
Procurement-Construction). Esse tipo de contrato tem como característica um único responsável
(maincontractor) que fornece uma instalação completa, envolvendo atividades do projeto
executivo, suprimento de materiais e equipamentos, e construção e montagem (ANP/PUC;
DANTAS apud PUCRJ, 1999).
No cenário da Indústria Naval podemos perceber essa tendência de integração através do
aumento de fornecimento do tipo turnkey – que é o fornecimento de sistemas completos baseados
apenas nos requerimentos estabelecidos pelo cliente. Esse tipo de fornecimento impulsiona uma
relação mais intensa e de longo prazo entre os estaleiros e seus fornecedores diretos, que passam
a ter um maior poder de barganha. No entanto, quanto mais distante do estaleiro está o fornecedor
na cadeia, menor a sua força competitiva e poder de barganha. São fornecedores de segundo,
terceiro nível e assim por diante, que são comandados pelos fornecedores diretos. Contratos de
longo prazo também são comuns e muito importantes no caso de fornecimento de produtos dos
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quais os estaleiros dependem de fornecimento regular, tais como chapas grossas, perfis e de
produtos de metalurgia básica, como tubulações.
2.2.1.3. Sistemas Integrados de Informação
A reputação de cumprimento do cronograma de execução da obra e da qualidade do produto final
são grandes ganhadores de pedido na Indústria Naval. A eficiência em ambos os fatores vão
depender de uma boa elaboração do projeto e do bom gerenciamento da execução das atividades.
Por sua vez, para que essa eficiência seja alcançada a utilização de softwares modernos, sistemas
digitais em 3D e completa integração entre os sistemas utilizados e os fornecedores de navipeças
são indispensáveis (COUTINHO; SABBATINI; RUAS, 2006).
No entanto, a dinâmica de negócio fez surgir uma nova categoria de fornecedores para estaleiros
que resolveram intensificar a produção em série através da padronização das embarcações. Esse
comportamento diminui a participação dos estaleiros no desenvolvimento de projetos e possibilita
o desenvolvimento de empresas especialistas em definição de projetos, incluindo design, projeto
e controle da produção e até seleção de fornecedores de navipeças (procurement) (COUTINHO,
SABBATINI E RUAS, 2006). Contudo, essa realidade só se faz possível quando há integração e
o compartilhamento de informações entre os elos, no sentido de haver o compartilhamento das
necessidades e pré-requisitos de projeto.
2.2.1.4 Treinamento/Qualificação de Fornecedores
Uma das características ou resultados que podem ser alcançados em estágios avançados de
cooperação entre as empresas e os fornecedores é o treinamento de pessoal e a qualificação de
fornecedores, além do desenvolvimento de novos fornecedores. O desenvolvimento de
fornecedor, bem como impulsionar a qualificação dos antigos, envolve o serviço prestado ao
mesmo de consultoria e assessoria para ajudá-lo a identificar e sanar problemas relacionados à
organização em si, métodos adequados e processos fabris. A base desse assessoramento é a troca
de informação (GIL et al., 2002).
De acordo com KUCHENBECKER (2006), “o processo de qualificação de fornecedores consiste
em identificar parceiros no alcance dos objetivos da organização”. Para Porter (1985), “a
qualidade tornou-se uma das bases do novo padrão de relacionamento entre empresas
fornecedoras e empresas clientes”. Sendo assim, os esforços da organização nesse sentido estão
direcionados a criação e manutenção de uma rede bem capacitada de fornecedores, através da
qualificação e desenvolvimento destes. O objetivo desse relacionamento é conseguir benefícios
mútuos através de cooperação de longo prazo entre essas empresas, ajudando os dois lados a
alcançarem as melhorias desejadas e se tornarem mais competitivos no mercado, o que retoma ao
conceito do estabelecimento de aliança estratégica. Nesse sentido, a empresa que reconhece a
qualificação e desenvolvimento de fornecedores a longo prazo como parte de sua estratégia entra
num processo contínuo de aprendizado e parceria estratégica
3. Discussões — Considerações práticas encontradas
Após a extensa revisão de literatura, chegou-se a uma composição de um conjunto de
temas que são intrínsecos a gestão integrada de cadeia de suprimentos. Esses pontos foram
considerados para a composição das questões perguntadas aos entrevistados, que foram elencadas
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em categorias. As categorias mais relevantes e seus aspectos principais levantados são expostos a
seguir.
3.1. Gestão de fornecedores como estratégia
Com uma análise inicial já podemos perceber que existe uma tendência a desenvolver
relacionamentos de colaboração por grande parte das empresas encontradas como potenciais
fornecedores locais para o Estaleiro Atlântico Sul – EAS. Essas organizações adotam, inclusive,
práticas que são exigidas para atuação na construção naval. Na pesquisa realizada, práticas
comuns da gestão de qualidade são adotadas como critérios básicos de atendimento aos clientes,
por pelo menos 2/3 das empresas respondentes. Também são apontados, pelas organizações
participantes, a adoção de relacionamento de longo-prazo (pelo menos dois anos), participação
em equipes conjuntas de melhorias e soluções de problemas, processo formal de avaliação de
desempenho do fornecimento, presença física do fornecedor nas instalações do cliente e repasse
de informação para o cliente do planejamento da produção do fornecedor.
3.2. Associação de fornecedores locais com firmas internacionais e Desenvolvimento de
fornecedores Turnkey
A maioria das empresas participantes da pesquisa é classificada, de acordo com os valores
categorizados pelo SEBRAE, como micro (até R$240.000), pequena (mais de R$240.000 até
R$2.400.000) ou média empresa (mais de R$2.400.000 até R$15.000.000) de acordo com o
faturamento anual em 2007, 73% do total da amostra. Enquanto apenas 16% das respondentes se
enquadram como grande empresa (mais de R$15.000.000) (porcentagem que inclui subsidiárias
de empresas multinacionais). Além disso, grande parte das empresas realiza a maioria das suas
vendas e das suas compras, tendo como destino e origem o mercado local (69 e 49%
respectivamente), caracterizando baixa atividade de importação e exportação (20 e 15%).
Nesse cenário, há uma grande probabilidade de que fornecedores locais tenham poucas chances
de fornecimento direto ao estaleiro, apenas serão fornecedores de fornecedores. Em adição a essa
conjuntura, a Samsung, empresa coreana, é responsável pelo projetos dos navios do EAS, e essa
firma, por ter experiência maior com fornecedores internacionais, pode não ser favorável à
eleição de fornecedores locais para sua rede. Apesar de essa eleição ser incentivada pelo índice
de nacionalização obrigatório de 65%, não é, como alguns pensam, obrigatória, visto que esse
índice é facilmente alcançado com mão de obra, aço, insumos e serviços básicos, podendo não
consistir em vantagem para aqueles. Nesse sentido, a parceria estabelecida com firmas
internacionais e/ou maiores facilitaria o desenvolvimento de relacionamentos do EAS com
fornecedores locais.
Essa alternativa encontrada, de associação desses fornecedores com firmas internacionais, seria
positiva para os dois lados participantes da parceria, em alguns sentidos. Por parte das empresas
locais: (1) elas já possuem boa experiência no setor eletro-metal-mecânico; (2) possuem
vantagens competitivas como a proximidade do estaleiro e flexibilidade de produção e
atendimento ao cliente; (3) além de ter maior facilidade de acesso a atores locais importantes.
Esses fatores abririam as portas para os parceiros internacionais. No entanto, destaca-se o fato de
os fornecedores locais não terem grande capacidade de investimento, em pesquisa e
desenvolvimento, em equipamentos para adaptar a produção, etc., bem como, não possuem valor
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“imaterial” (experiência internacional, conhecimento de marca, etc.), empecilhos que seriam
resolvidos com os parceiros internacionais.
Ainda no sentido de estabelecer parcerias com firmas internacionais ou maiores, a gerência de
compras nacionais e internacionais do EAS informou nas entrevistas que alguns produtos teriam
possibilidade de ser fornecidos em associação com essas empresas, como bombas centrífugas e
rotativas, painéis elétricos e outros.
3.3. Formação de Clusters
No caso da indústria naval um fator que é visto um dos grandes pontos positivos da aglomeração
na cadeia produtiva, que é o baixo custo de transporte, não tem muita importância. Isso se dá por
que tanto o produto final como grande parte de componentes intermediários são produtos de
grande valor por volume, o que diminui a proporção do custo de transporte. Assim também é com
as vantagens como entrega Just-in-time já que a maior parte dos produtos é fabricada sob
encomenda.
Entretanto, as vantagens que são conseguidas com a formação de clusters nessa indústria são as
mais diversas e importantes para o cenário nacional e local, no contexto do arranjo do EAS. O
fornecimento turnkey, propiciado pela parceria entre fornecedores locais por meio dessa
formação de clurster, tem tratando do Estaleiro Atlântico Sul – EAS. Esse tipo de acordo seria
incentivado e incentivaria o investimento em inovações, contando com a associação com outros
atores, como universidades, cooperativas e o próprio Estado, com os seus mais diversos órgãos.
Dinâmica e interação – fatores que criam um ambiente de inovação. A formação de clusters é
responsável por facilitar as relações de cooperação tecnológica e o compartilhamento de
competências, o que é de grande interesse dos estaleiros, já que as opções de fornecedores bem
capacitados tecnologicamente ainda são aquém do desejado, segundo a maioria dos
respondentes..
A parceria entre fornecedores locais através da formação de um cluster também seria uma
alternativa à parceria com firmas de fora para fornecimento turn key. Nesse sentido, pode-se dizer
que o conceito de rede pode ser mais desenvolvido para o estabelecimento de parceria mais
solidas entre os parceiros, em especial aos pequenos fornecedores que podem melhor se
desenvolver no caso estudado, o Pólo de Suape.
3.4. Treinamento/Qualificação de fornecedores
A maior contribuição no sentido de melhorar a capacitação dos fornecedores locais tem sido o
treinamento on-the-job. Entretanto, um pouco menos da metade dos fornecedores já utilizam: (1)
programas de qualidade e/ou desenvolvimentos e treinamento/assistência ofertados por empresas
clientes e (2) treinamento/assistência fornecidos por fornecedores de equipamentos utilizados na
empresa. Esses dados indicam que existe uma grande abertura no sentido de integrar processos de
treinamento e qualificação na cadeia, ao menos em um nível mais básico, porém com
possibilidade de expansão para um relacionamento mais profundo, desenvolvendo, por exemplo,
práticas de pesquisa e desenvolvimento conjuntas, visto que 42% das empresas fornecedoras
afirmaram possuir atividades nessa área, talvez aumentando a complexidade dessas.
Outro ponto favorecido poderia ser a certificação formal, visto que, menos da metade das
empresas utilizam processos de qualificação de seus produtos e serviços junto a alguma
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sociedade classificadora ou possuem certificações dos processos de produção. O estaleiro pode
atuar sendo o responsável por estimular a busca por certificações, enquanto o desenvolvimento de
relação com outras empresas que já tenham experiência em conseguir certificações
(internacionais e/ou maiores) poderia facilitar esse processo. O fim do processo em análise seria o
estabelecimento pleno das organizações locais na cadeia produtiva do setor naval do EAS.
3.5. Utilização de instrumentos de apoio à integração da cadeia de suprimento
Na Indústria Naval, a competitividade é fortemente influenciada pela qualidade de seus recursos
e pela capacidade de inovação e aprendizagem, através da aplicação de ciência e tecnologia na
produção de embarcações cada vez mais eficientes. Esses fatores exigem investimentos por parte
das organizações na aquisição de softwares que não só viabilizem a utilização das mais modernas
práticas de engenharia, como também propiciem a integração dessas práticas, mas o façam de
modo integrado aos fornecedores.
No cenário local, a utilização desses instrumentos é uma prática a qual deve ser dada bastante
importância, principalmente pelos fornecedores menores. Isso por que os altos investimentos
financeiros que são necessários muitas vezes desestimulam a aquisição de softwares e sistemas
em geral. No entanto, a ausência destes recursos provavelmente culminará em uma desvantagem
competitiva mediante as empresas maiores.
Uma dificuldade que pode ser encontrada, apontada pelos entrevistados, é o fato de que nesse
sentido é que visto os fornecedores locais de software (Porto Digital) não terem feito grandes
esforços em direção ao EAS. Foi informado nas entrevistas com a direção do Atlântico Sul que
tanto software de projetos como de gestão serão fornecidos por empresas internacionais. Essa
decisão teria que ser contornada para tornar possível uma integração mais efetiva com os
pequenos fornecedores locais
4. Considerações Finais
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A informação e sua administração eficaz não têm sido levadas em conta de maneira adequada
pela maioria das empresas. Efetivamente, a administração estratégica da informação ainda é uma
prática pouco desenvolvida nas empresas brasileiras (LESCA E ALMEIDA apud BRITO et al.
1997). Entretanto, a informação é o recurso principal para o bom funcionamento de qualquer
organização, pois é o “sangue” que faz “viver” todos os processos e interações.
Pode-se afirmar, como síntese do que foi exposto ao longo do trabalho, que a Indústria Naval
como um todo ainda está muito atrás no uso de Melhores Práticas em relação a outros setores, e
mais ainda a indústria nacional. A cadeia ainda está desarticulada por não ter se recuperado após
a grande crise que acometeu o setor, como relatado, e a capacitação tecnológica está muito aquém
do desejado para mantenimento de níveis competitivos mundiais. É importante que haja
integração entre o meio acadêmico e empresarial através de pesquisas aplicadas para que o bom
momento que o setor está encarando seja aproveitado ao máximo pelos envolvidos e se mantenha
por bastante tempo.
No cenário local, com o caso do Estaleiro Atlântico Sul, tanto a empresa como grande parte dos
fornecedores estão nascendo agora e têm a possibilidade de tirar proveito disso através da busca
pela qualidade juntos.
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