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A presente brochura é

parte integrante do estudo “Incêndios

em Portugal: uma análise crítica do pós-2003”,

encomendado pela Autoridade Florestal Nacional à Liga

para a Protecção da Natureza. Este projecto foi financiado

pelo Programa Europeu “Forest Focus” e envolveu várias iniciativas,

onde se incluiu a elaboração de um relatório com a caracterização da

evolução recente do sistema de Defesa da Floresta Contra Incêndios, a

realização, a 17 de Outubro de 2008, do Workshop “Incêndios Florestais – 5

anos após 2003” e um livro com a síntese dos aspectos mais relevantes do

primeiro relatório e com as apresentações e intervenções no Workshop. Por

sua vez, a presente brochura resulta de uma síntese do estudo acima referido.

Destina-se a informar o público em geral, através de uma apresentação, sim-

plificada e acessível de alguns dos aspectos mais importantes do balanço

dos incêndios, 5 anos após o trágico ano de 2003, no qual se registou a

maior área ardida de sempre no nosso país. Para um conhecimento

mais aprofundado do trabalho que deu origem a esta brochu-

ra, remetemos o leitor para o Livro “Incêndios Florestais

- 5 anos após 2003” editado em conjunto com

a presente publicação.

INTRODUÇÃO

INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003

Pinheiro- -bravo

1995/98

1.200

800

400

0

1.00

0 ha

2005/06

Eucalipto Sobreiro Azinheira Carvalhos Pinheiro- -manso

Castanheiro

CaRaCTeRIzaÇÃO Da flOResTa e DOs INCêNDIOs flOResTaIs em PORTUgal

a floresta portuguesaA floresta portuguesa ocupa uma área aproximada a 3,4 milhões de hectares, cerca de 40%

do território nacional, e caracteriza-se por uma baixa diversidade de espécies, dado que cerca

de 2/3 de toda a área florestal são ocupados por apenas 3 espécies: eucalipto, sobreiro e

pinheiro-bravo.

Podemos analisar a evolução recente da floresta tendo por base os resultados dos Inventários

Florestais Nacionais (IFN) de 1995/1998 e de 2005/2006. No entanto, o último Inventário, ao

contrário do anterior, não discrimina os povoamentos jovens por espécie dominante, pelo que,

para efeitos de análise da evolução, é necessário distribuir a área de povoamentos jovens de

acordo com a proporção registada em 1995/98. De acordo com este exercício, verificamos que

o eucalipto foi a espécie que registou, neste intervalo aproximado de 10 anos, o maior au-

mento na superfície ocupada (+23%), fazendo com que, provavelmente, esta espécie exótica

utilizada para a fabricação de pasta para papel, ocupe actualmente a maior área florestal do

nosso país. Também o sobreiro e o pinheiro-manso registaram um aumento (+5% e +28%,

respectivamente). Pelo contrário, houve um recuo significativo da azinheira e do pinheiro-bra-

vo (-15% e -20%, respectivamente). Quanto às folhosas, carvalhos e castanheiro, registaram

igualmente uma diminuição (-5% e -28%, respectivamente).

a quem pertence a floresta portuguesa?O Estado detém apenas uma pequena porção das áreas florestais de Portugal (cerca de 2%,

a mais baixa percentagem em toda a Europa), pois a grande maioria destas áreas pertence

a proprietários individuais (77%). Os baldios, terrenos comunitários utilizados por compartes

(moradores de uma ou mais freguesias ou parte delas), ocupam uma superfície total corres-

pondente a 13% da floresta. As áreas florestais detidas pelas indústrias ocupam 8%.

evolução Recente da floresta em Portugal

77%

13%

8%

2%

Floresta

privada

Floresta

comunitária

ou baldios

Floresta

privada da

Indústria

Floresta do

Estado

O Regime de Propriedade da floresta em Portugal

J. Sande Silva

INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003

Um dos principais problemas, no que diz respeito à nossa floresta, provém da fragmentação da

propriedade e da sua reduzida dimensão. Há em Portugal perto de 11 milhões de prédios rústicos

(cerca de um por cada português), mais de metade apenas na Região Centro. Quanto à dimensão,

verifica-se que 31% das propriedades têm menos de 1 ha e que 61% têm menos de 5 ha, corres-

pondendo a 26% do total da área florestal. Estas pequenas propriedades predominam nas Regi-

ões Norte, Centro e Algarve, ou seja nas regiões com maiores problemas de incêndios florestais.

A reduzida dimensão das propriedades com uso florestal resulta, na maior parte dos casos, na

ausência de gestão e de investimento nestas áreas o que, por sua vez, contribui para facilitar

a propagação de incêndios florestais.

Outra importante condicionante é a inexistência de cadastro dos prédios rústicos em boa parte

do território nacional. Tal faz com que se desconheçam os donos das terras, tornando ainda mais

difícil a implementação de medidas que conduzam à gestão das propriedades florestais. Por outro

lado, estima-se que cerca de 20% do território nacional não tenha qualquer proprietário registado.

Os incêndios florestais em PortugalAs características mediterrânicas do nosso clima, com Invernos chuvosos favoráveis ao desen-

volvimento da vegetação e Verões quentes e secos facilitando a sua combustão, fazem com

que o território português seja particularmente susceptível à ocorrência de incêndios. Não obs-

tante, Portugal assume a este respeito um papel de destaque quando comparado com outros

países europeus com clima semelhante ao nosso. Apesar de termos apenas um quarto da po-

pulação e apenas um quinto da área florestal de Espanha, as estatísticas do Sistema de Infor-

mação Europeu de Incêndios Florestais (EFFIS) revelam que Portugal teve, entre 2000 e 2007,

mais 34% de ocorrências e mais 28% de área queimada do que o nosso vizinho ibérico.

A partir do início da década de 90, os registos oficiais apresentam um total anual de ocorrên-

cias quase sempre superior a 20.000, ultrapassando mesmo as 30.000 ocorrências em quatro

destes anos. Ao nível das áreas ardidas, os anos de 2003 e 2005 apresentam os maiores valo-

res registados, com cerca de 425.000 ha e 338.000 ha de áreas ardidas respectivamente. No

entanto, os anos 2006-2008 são uma excepção pela positiva, com valores muito mais baixos

que qualquer um dos triénios anteriores (média rondando os 40.000 ha).

450.000

400.000

350.000

300.000

250.000

200.000

150.000

100.000

50.000

0

ha 40.000

35.000

30.000

25.000

20.000

15.000

10.000

5.000

0

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

2008

Área ardida (ha) Nº de ocorrências

Número de Ocorrências e Áreas ardidas em Portugal (1980-2008*)

Paulo Fernandes

* Valores provisórios.

INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003

as causas das igniçõesAs causas dos incêndios florestais são bastante diversificadas, tendo apenas um aspecto em co-

mum: são sobretudo causadas pela população. Na verdade, apenas 3% dos incêndios florestais

tem causas naturais, sendo, neste caso, provocados principalmente por trovoadas. A determi-

nação e a compreensão das causas dos incêndios florestais, incluindo os seus padrões espaciais

e temporais, reveste-se da maior importância e constitui um elemento fundamental para a defi-

nição de políticas e estratégias de prevenção adequadas a cada local e a cada público-alvo.

A investigação das causas dos incêndios iniciou-se em 1989 com equipas de guardas-florestais

da Direcção-Geral das Florestas. A partir de 2006, esta incumbência passou para o Serviço de

Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da Guarda Nacional Republicana (GNR). O pro-

cedimento de investigação da causa de um incêndio florestal consiste, de uma forma sumária,

na localização do ponto de início e na procura de evidências físicas e de testemunhos que

indiciem o meio de ignição e o seu autor, possibilitando assim a determinação da causa.

Nem todos os incêndios florestais são investigados, devido ao seu elevado número. Por outro

lado, nem sempre se consegue saber a causa de todos os incêndios investigados. Em 2007

foram investigadas perto de 30% (a maior percentagem de sempre) do total das 18.722

ocorrências registadas, mas não se conseguiu apurar a causa em cerca de metade destas

investigações. De acordo com os resultados das investigações desse ano, o uso negligente do

fogo foi a causa mais recorrente, correspondendo a 27% das investigações, seguindo-se a

intencionalidade com 20%.

É importante entender que nem todo o País tem o mesmo regime de fogo. Há regiões que são

percorridas pelo fogo com maior frequência, em especial as regiões montanhosas do Norte e

do Centro do País, onde vários concelhos apresentam uma média superior a 1.000 ha de área

ardida por ano.

Ao nível das ocorrências encontramos um padrão espacial sem correspondência evidente com

as áreas ardidas, pois na verdade apenas uma ignição no local e hora errados pode ser res-

ponsável por uma área ardida muito elevada. Foi o que sucedeu em 2003, quando por entre

a vasta série de grandes incêndios, dois deles queimaram mais de 90.000 ha, ou seja, mais de

20% de toda a área ardida nesse ano.

Verifica-se que existe uma relação mais ou menos evidente entre as áreas mais densamente povoa-

das e as áreas com maior número de ocorrências, resultando numa espécie de expansão em semi-

-círculos concêntricos que se alastram a partir dos grandes centros urbanos do Porto e de Lisboa.

1 - 250

251 - 500

501 -1000

1001 - 2000

2001 - 4000

média áreas ardidas (ha) 1980 - 2007

2 - 50

51 - 100

101 -200

201 - 350

351 - 550

média nº ocorrências 1980 - 2007

Paulo Fe

rnandes

0 50 100 km 0 50 100 km

N N

INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003

Cada uma das categorias de causalidade apresentadas inclui uma série de sub-categorias cor-

respondendo ao tipo de actividade que esteve na origem da ocorrência investigada. Toman-

do como exemplo o uso negligente do fogo, encontramos nesta categoria algumas causas

responsáveis por uma parte significativa das ignições em Portugal, como: as queimadas, as

queimas de lixo, o lançamento de foguetes, os cigarros lançados ao chão ou a realização de

fogueiras. Mesmo na categoria “Intencionais” temos causas tão diversas como: as brincadei-

ras de crianças, a piromania, o vandalismo ou os conflitos entre vizinhos.

O que mudou desde 2003Apesar das perdas em vidas humanas e dos elevadíssimos prejuízos materiais e ambientais,

os incêndios florestais de 2003 tiveram a virtude de despertar o Estado e a sociedade portu-

guesa para este problema económico, social e ambiental, levando à introdução de reformas

institucionais e legislativas e a uma nova atitude perante o problema dos incêndios florestais.

Importa assim analisar o que mudou e que lições foram de facto aprendidas com os incêndios

de 2003.

Em termos institucionais podemos distinguir duas fases: uma primeira fase logo após os incên-

dios de 2003, que criou uma Secretaria de Estado das Florestas e centralizou toda a prevenção

de incêndios na Agência para a Prevenção de Incêndios Florestais (APIF); e uma segunda fase,

implementada pelo actual Executivo, eleito após as eleições de 2005, que extinguiu a APIF,

Resultados das Investigações das Causas dos Incêndios em 2007

49%

27%

20%

3%1%

Uso negligente do fogo Intencionais Acidentais

Naturais Indeterminadas

integrando as suas competências nos Serviços Florestais e atribuiu as competências na área da

vigilância e detecção de incêndios à GNR, extinguindo a Guarda Florestal. Independentemente

de qualquer juízo de valor sobre estas alterações, a verdade é que todo o sistema tem sofrido

uma constante instabilidade. Um bom exemplo de permanente instabilidade são os Serviços

Florestais do Estado, que assumiram três designações diferentes ao longo dos últimos cinco

anos (DGF, DGRF e AFN).

Combate Prevenção

MAI

SNBPC

CNOS NPF

CDOS

Bombeiros

CEFFd

CEFFm

Câmaras Municipais

MADRP

SEDR

DRA DGF

CPD CNGF

MCOTA

ICN

Áreas Protegidas

Sapadores Florestais

OPF e Baldios

Competências Relacionadas com a DfCI antes dos Incêndios de 2003

J. Sande Silva

INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003

Ao nível do financiamento dá-se um passo importante com a criação do Fundo Florestal Per-

manente (FFP) em Março de 2004, o qual seria “destinado a apoiar o sector florestal e as acti-

vidades não imediatamente rendíveis, financiado, nomeadamente, pelo rendimento das matas

públicas e comunitárias, pelo produto de coimas aplicadas e por uma imposição fiscal sobre o

consumo dos produtos petrolíferos”. A criação deste Fundo já tinha sido prevista em 1996, na

Lei de Bases da Política Florestal. Não obstante, o FFP tem suscitado bastantes críticas, quer à

forma como tem sido aplicado, quer à sua falta de transparência.

Um outro aspecto da evolução recente prende-se com uma progressiva responsabilização dos

poderes autárquicos, relativamente à DFCI. Uma das facetas mais visíveis dessa responsabi-

lização tem a ver com a criação dos Gabinetes Técnicos Florestais (GTF) em Julho de 2004,

com o objectivo de garantir a operacionalização do Sistema Nacional de Defesa da Floresta

Contra Incêndios a nível municipal, de acordo com as directrizes das Comissões Municipais

de Defesa da Floresta Contra Incêndios e dos Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra

Incêndios. Em Outubro de 2008, encontram-se constituídos 210 GTF correspondendo a 89%

dos municípios.

Em Agosto de 2005, é publicado o diploma que cria as bases para a implantação de um

conceito inovador em Portugal – as Zonas de Intervenção Florestal (ZIF), dando resposta, à

Combate

ANPC

CNOS

CDOS

Bombeiros

CMPC

MAI/SEPC

CCON

CCOD

sIOPs

GNR PSP

INEMIM

AFN

Prevenção

CmDfCI

Câmaras Municipais

MADRP/SEDRF

AFN

Sapadores Florestais

OPF e Baldios

DFCI

Detecção

GNR

SEPNA(Fiscalização)

Competências actuais Relacionadas com a DfCI

No final do texto é disponibilizada a lista das siglas que se encontram nestas figuras.

ANMP

IM

ICN

Combate Prevenção

CmDfCI

Câmaras Municipais

MADRP

SEF

aPIfDGRF

CPD

CNGF

Sapadores Florestais

OPF e Baldios

MAI

SNBPC

CNOS

CDOS

Bombeiros

Competências Relacionadas com a DfCI após os In-cêndios de 2003

J. Sande Silva

INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003

semelhança do FFP, a um dos princípios da Lei de Bases da Política Florestal de 1996, nomeada-

mente a “dinamização e apoio do associativismo” e a “constituição de explorações florestais

com dimensão que possibilite ganhos de eficiência na sua gestão, através de incentivos fiscais

e financeiros ao agrupamento de explorações”.

Desde Novembro de 2006 até Setembro de 2008 foram declaradas e oficializadas, 30 Zonas

de intervenção Florestal, totalizando mais de 150.000 ha. Em processo de constituição, encon-

tram-se mais 147 ZIF, prevendo-se que em tempos próximos ocorra um aumento significativo

das áreas abrangidas.

Evolução da área afecta às ZIF (ha)

200.000

150.000

100.000

50.000

0

ha

Evolução do nº de ZIF

Nov

-06

Jan-

07

Mar

-07

Mai

-07

Jul-0

7

Set-

07

Nov

-07

Jan-

08

Mar

-08

Mai

-08

Jul-0

8

30

25

20

15

10

5

0

Set-

08

evolução do Número de zIf

J. Sande Silva

Paulo Fernandes

INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003

Ao longo deste período, assistiu-se também ao reforço e criação de novos agentes de pro-

tecção civil vocacionados para a Defesa da Floresta Contra Incêndios (DFCI), aumentando

significativamente as capacidades do dispositivo existente, em especial a nível qualitativo dado

que estas novas forças beneficiam de uma formação especializada, mais completa e mais ade-

quada a este tipo de missões. Houve o reforço das equipas de sapadores florestais (eSF) sob

coordenação da Autoridade Florestal Nacional (AFN), passando de 102 eSF em 2003 para 263

em 2008, num total de 1.315 sapadores florestais.

Nº eSF

1999

300

250

200

150

100

50

02000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

33

69

11

84102

163 163183

203

263

evolução do Número de equipas de sapadores florestais

Em 2006, foram criados os Grupos de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS) sob a depen-

dência da GNR, passando de 196 elementos e 36 viaturas em 2006 para 720 elementos e 92

viaturas em 2008. Em 2007, foram instituídas oficialmente as Forças Especiais de Bombeiros

Canarinhos (FEB) dando continuidade às forças criadas em 2005, contando actualmente com

210 elementos. Juntamente com os Sapadores Florestais, estas forças têm formação especia-

lizada em primeira intervenção e contribuíram significativamente para o reforço do dispositivo

dedicado ao ataque inicial. Se juntarmos a estes três grupos, as brigadas da Medida AGRIS 3.4,

as equipas do Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB), os Sapadores Flo-

restais do Exército e as brigadas da AFOCELCA, temos uma evolução notável da componente

do dispositivo de combate especializada em primeira intervenção nos incêndios florestais.

J. Sande Silva

INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003

Cabe ainda destacar a entrada em funcionamento dos Grupos de Análise e Uso do Fogo

(GAUF) em 2007 (criados em 2006). Os GAUF distinguem-se das restantes forças porque

são, antes de mais, um grupo especializado na análise do comportamento dos incêndios e na

utilização do fogo como técnica de combate indirecto. Desta forma, uma das suas missões é

apoiar os comandantes das operações de socorro em incêndios, por norma de grandes dimen-

sões, delineando estratégias de actuação e, se necessário, recorrendo ao fogo de supressão

(contrafogo e/ou fogo táctico). Em 2008, os GAUF contam com 26 elementos, incluindo cinco

especialistas estrangeiros.

2001

8.000

6.000

4.000

2.000

0

2002 2003 2004 2005 2006 2007

Forças de combate alargado Forças especializadas em 1ª intervenção

2000 2008

evolução dos meios Humanos do Dispositivo de Combate a Incêndios

J. Sande Silva

De entre os meios humanos, os bombeiros continuam a ser a força de combate a incêndios

florestais mais numerosa nas missões de protecção e socorro, em especial os bombeiros volun-

tários. Tomando como exemplo o ano 2003, 93% do universo nacional de 41.630 bombeiros,

eram voluntários. No entanto, apenas uma pequena parte destes elementos está enquadrada

no dispositivo de combate aos incêndios florestais. Em 2008, Portugal conta com cerca de

4.900 bombeiros no dispositivo de resposta permanente dos Corpos de Bombeiros (CB), que

correspondem a mais de 50% do total de elementos que integram a Força Operacional Con-

junta (FOCON) para a Fase Charlie (período de 1 de Julho a 30 de Setembro). Relativamente

à FOCON, importa fazer uma referência especial aos meios aéreos, sobretudo no que toca à

evolução crescente durante os últimos 8 anos. Esta evolução traduziu-se, em termos globais,

numa variação de 35 aparelhos (helicópteros e aviões) em 2001, para 56 aparelhos em 2008 ,

dos quais 10 são propriedade do Estado.

Quanto à performance destes meios tem-se verificado alguma melhoria, quer nos tempos

de chegada ao local quer no tempo de duração dos incêndios. No entanto, ainda existem

aspectos que necessitam de ser fortemente melhorados, como seja o caso da diminuição do

número de reacendimentos. Dado o efeito dos reacendimentos no aumento da área ardida

Nº / M€

Total de meios

aéreos (Nº)

Total de aviões (Nº) Total dos encargos

(milhões de euros - M€)

Total de

helicópteros (Nº)

60

50

40

30

20

10

02002 2003 2004 2005 2006 20072001 2008

evolução dos meios aéreos em Portugal

INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003

e dado ser um indicador da ineficácia do sistema, foi definida como meta no Plano Nacional

de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PNDFCI) uma redução do seu número para menos de

1% do total de ocorrências, a atingir até 2012. Até 2018, ambiciona-se no mesmo sentido

uma redução para 0,5%.

e o papel da meteorologia na evolução recente dos incêndios?Através dos valores apresentados anteriormente é possível observar uma evolução positiva até

2008, quer no número de ocorrências quer no número de hectares queimados. No entanto há

que ter em conta que estes valores foram influenciados pelas condições meteorológicas. Importa

então conhecer qual o real efeito das alterações introduzidas no sistema de DFCI, na evolução

positiva verificada no período 2006-2008. Esse estudo foi realizado pelo investigador Paulo Fer-

nandes da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e encontra-se incluído no livro “Incên-

dios Florestais – 5 anos após 2003”. Nesse estudo calcularam-se quatro indicadores da eficiência

do sistema de DFCI: número de ocorrências (prevenção de ignições), proporção de fogos ≥1 ha

(detecção e 1ª intervenção), proporção de fogos ≥100 ha (ataque inicial) e o valor mediano dos

incêndios ≥100 ha (ataque ampliado). A comparação dos valores destes indicadores no período

2006-2008, com os valores que seriam obtidos se a relação incêndios/meteorologia fosse a dos

2.000

1.500

1.000

500

0

%

2002 2003 2004 2005 20062001 2007

7

6

5

4

3

2

1

0

Objectivo do PNDFCI

para 2018 (%)

Reacendimentos

(% do total

de ocorrências)

Objectivo do PNDFCI

para 2012 (%)

Total de reacendimentos

evolução do Número de Reacendimentos

5 anos precedentes, revelou melhorias significativas nos 3 primeiros indicadores mas o mesmo

não aconteceu com o último. Tal indicia que, de facto, o sistema terá melhorado ao nível da

prevenção das ignições, da detecção/primeira intervenção e do ataque inicial aos incêndios,

mas que essa melhoria não se terá verificado para fazer face a incêndios de grandes dimensões

(combate ampliado).

Variação do Número de Ocorrências Relativamente aos Valores Calculados

por um modelo Integrando a meteorologia

20

10

0

-10

-20

-30

-40

Varia

ção

(%)

Ano

2002 2003 2004 2005 2006 20072001 2008

J. Sande Silva

INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003

Varia

ção

(%)

2002

30

20

10

0

-10

-20

-30

-40

-502003 2004 2005 2006 2007

Ano

2001 2008

Variação da Proporção de fogos >1 ha Relativamente aos Valores Calculados

por um modelo Integrando a meteorologia

Variação da Proporção de fogos >100 ha Relativamente aos Valores Calcu-

lados por um modelo Integrando a meteorologia

Varia

ção

(%)

2002 2003 2004 2005 2006 2007

Ano

2001 2008

40

20

0

-20

-40

-60

-80

-100

CONClUsões DO WORksHOP “INCêNDIOs flOResTaIs – 5 aNOs aPós 2003”

A Liga para a Protecção da Natureza, em colaboração com a Autoridade Florestal Nacional,

organizou em 17 de Outubro de 2008 o Workshop “Incêndios Florestais – 5 anos após 2003”,

no qual participaram especialistas e representantes de instituições com responsabilidades nes-

ta matéria. Das comunicações e intervenções realizadas resultou um conjunto de conclusões

que se procuraram sintetizar.

Número de ocorrências

Apesar do número anual de ocorrências tender a diminuir, o que indicia alguma eficácia das

medidas tomadas nos últimos 5 anos, este número continua ainda muito elevado. Consideran-

do a diminuição do número de ocorrências um factor crítico de sucesso, torna-se necessário

continuar a apostar na sensibilização, na fiscalização e na vigilância.

Investigação das causas dos incêndios

O número do ocorrências investigadas tem tido um aumento nos últimos anos. No entanto,

não é evidente a aplicação prática dos resultados dessa investigação, para além do foro estri-

tamente criminal. Este conhecimento deveria ter uma aplicação objectiva na perspectiva da

prevenção dirigida.

sensibilização

Apesar das melhorias verificadas ao nível da sensibilização, existem ainda aspectos a melhorar.

Nomeadamente, a necessidade de adequar a sensibilização ao público-alvo, adequando a trans-

missão da mensagem aos diferentes grupos específicos, de modo a conseguir a mudança de

comportamentos. É também importante avaliar os impactos das campanhas de sensibilização.

Vigilância

No âmbito da vigilância, existiu uma maior visibilidade da autoridade, fruto do número de ele-

mentos da GNR actualmente no terreno, com essa função. O efeito dissuasor dessa visibilidade

poderá ter contribuído para a diminuição do número de ocorrências.

gestão florestal

É consensual a necessidade de levar a gestão ao terreno de modo a evitar o aumento de

INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003

grandes áreas de vegetação contínua (plantações, áreas naturais, áreas abandonadas). No

entanto, não foi consensual a forma de o concretizar, devido à dificuldade em conseguir que

os proprietários façam, ou permitam que se faça, essa gestão.

fogo controlado

No que diz respeito ao uso da técnica de fogo controlado para a gestão de combustíveis, ape-

sar do desenvolvimento verificado nos últimos anos, o impacto das intervenções mais recentes

é, apesar de tudo, limitado perante a amplitude do trabalho a realizar.

Cadastro das propriedades florestais

Apesar das muitas diligências efectuadas desde há vários anos e das perspectivas positivas

anunciadas, a verdade é que até ao momento o cadastro dos prédios rústicos tem sido um

projecto adiado, em boa parte devido ao elevado investimento que envolve. A necessidade de

realização do cadastro dos prédios rústicos, constituiu um dos aspectos mais unânimes, sendo

consensual a dificuldade de aplicação de medidas de gestão, sem que se conheçam os interlo-

cutores que detêm de facto o poder de decisão sobre a gestão dos terrenos.

zonas de Intervenção florestal

É reconhecido o importante papel que as Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) poderão ter na mudan-

ça da realidade da gestão florestal em Portugal. No entanto esta poderá vir a ser uma oportunidade

perdida, quanto à possibilidade de gerir em conjunto unidades territoriais de pequenas dimensões.

Na verdade não se encontram garantidas as condições para que os proprietários constituintes das

ZIF abdiquem de facto de fazer uma gestão individualizada das suas parcelas de terreno.

fundo florestal Permanente

O Fundo Florestal Permanente (FFP) foi objecto de críticas quer quanto à forma como tem sido

aplicado, quer quanto à falta de transparência na sua gestão. Quanto à sua aplicação, tem-se

verificado um desvirtuar dos objectivos iniciais do FFP. Quanto à transparência, tem sido notó-

ria a falta de informação e a ausência de escrutínio público, contrariando aquilo que previa o

diploma que deu início ao processo de constituição do FFP.

Detecção de incêndios

O sistema de detecção fixa deve ser revisto, de modo a ultrapassar as actuais fragilidades,

tendo em conta: a reestruturação proposta para a Rede Nacional de Postos de Vigia, o seu

modelo de funcionamento e as potencialidades oferecidas pelas novas tecnologias.

Organização do combate

É unânime a opinião de que se verificaram mudanças positivas significativas ao nível do com-

bate, principalmente depois de 2006. Essas mudanças evidenciam-se através de um sistema

coerente (Sistema Integrado de Operações de Protecção e Socorro - SIOPS) e através da defi-

nição de uma estratégia (Directiva Operacional Nacional da Autoridade Nacional de Protecção

Civil). A estratégia baseada na redução do tempo de chegada e no ataque massivo (golpe úni-

co) constitui um aspecto positivo, verificando-se assim uma melhoria na primeira intervenção.

A capacidade de combate foi também grandemente reforçada, havendo uma melhoria nos

diferentes meios de combate e na gestão e controlo dos meios aéreos.

forças especializadas em combate a incêndios florestais

Para esta melhoria da performance terá contribuído bastante o notável aumento no terreno de

forças especializadas em combate a incêndios, como os Grupos de intervenção de Protecção

e Socorro (GIPS), as Forças Especiais de Bombeiros (FEB), os Sapadores Florestais (Autoridade

Florestal Nacional e Exército) e as brigadas da AFOCELCA (Agrupamento Complementar de

Empresas dos Grupos Portucel/Soporcel e Altri). O aparecimento dos GAUF foi também tido

como um contributo importante para melhorar a capacidade técnica do dispositivo de comba-

te, nomeadamente através da utilização tecnicamente fundamentada do fogo de supressão.

Disponibilização de informação

A disponibilização de informação foi também melhorada significativamente no sentido de

uma maior transparência e acessibilidade, designadamente ao nível da Autoridade Nacional

J. Sande Silva

INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003

directa na minimização do fenómeno dos incêndios, afectando necessariamente a avaliação.

Uma perspectiva de 10 anos sobre 2003 permitirá um balanço melhor, para além de manter

a sociedade civil mobilizada e vigilante. Este aspecto foi reforçado por um dos trabalhos apre-

sentados, que evidenciou a elevada taxa de recuperação da carga de combustível, fazendo

com que as áreas queimadas em 2003 tenham rapidamente readquirido condições para per-

mitir de novo o desenvolvimento de grandes incêndios.

O qUe PODemOs TODOs fazeR PaRa qUe 2003 NÃO se RePITa

O papel da populaçãoNos últimos anos, tem-se assistido a uma progressiva participação da população na detecção

de focos de incêndio, a ponto de actualmente ser a fonte de alerta mais importante, em es-

pecial nas áreas mais densamente povoadas. Esta dinâmica, fruto de uma vigilância passiva,

poderá explicar-se, em parte, pela generalização do uso do telemóvel, permitindo uma rápida

comunicação da ocorrência através da linha 112 de emergência ou mesmo directamente para

as corporações de bombeiros ou outros agentes/entidades. Desta forma, a população tem-se

revelado um importante aliado na prevenção e combate aos incêndios.

de Protecção Civil, sendo pública a informação sobre a performance das forças de combate e

sobre a evolução dos incêndios.

formação em combate a incêndios florestais

Apesar das melhorias registadas, a formação dos bombeiros, que continuam ainda a constituir o

grosso dos efectivos nos Teatros de Operações, continua a ser uma das maiores fragilidades do

sistema. Tal é em parte responsável pela inexistência de uma capacidade de resposta adequada ao

nível do combate alargado, ou seja, a partir do momento em que falha a primeira intervenção.

Instabilidade institucional e legislativa

A constante instabilidade criada pelas constantes alterações à legislação e às orgânicas das institui-

ções não favorece a adopção das medidas necessárias para a Defesa da Floresta Contra Incêndios.

Plano Nacional de Defesa da floresta Contra Incêndios

Apesar das críticas que acompanharam o processo de implementação do Plano Nacional de

Defesa da Floresta Contra Incêndios (PNDFCI), reconhece-se que este instrumento permitiu de-

finir papéis e responsabilidades, fornecendo uma abordagem comum a todas as instituições,

unificadas num mesmo objectivo e numa mesma direcção. No entanto, é criticável o facto de

não se ter adoptado por inteiro a Proposta Técnica de PNDFCI elaborada pelo Instituto Supe-

rior de Agronomia, que acabou por ser bastante desvirtuada relativamente aos seus princípios

fundamentais.

monitorização da aplicação das medidas

A análise e acompanhamento das medidas definidas e aplicadas e dos seus resultados, é

fundamental para o desenvolvimento do sistema de DFCI, sendo importante discutir as infor-

mações compiladas em debates públicos, ou recorrer a uma avaliação internacional indepen-

dente. A este respeito destaca-se algum progresso através do acompanhamento feito pela As-

sembleia da República, designadamente depois dos incêndios florestais de 2005, promovendo

uma nova visibilidade e uma nova sensibilidade política para estas questões.

Poderemos vir a ter outro 2003

Os anos de 2007 e 2008 foram marcados por condições meteorológicas atípicas com implicação OutrosRNPV Populares Linhas telefónicas (117)

100

80

60

40

20

0

%

2002 2003 2004 2005 20062001 2007

evolução das fontes de Detecção dos Incêndios florestais

INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003

No entanto há duas vertentes em que ainda há muito a melhorar e essa melhoria depende

sobretudo do empenhamento dos cidadãos. Por um lado há a necessidade de cumprir a le-

gislação sobre o uso do fogo. Portugal continua a ser recordista em termos de número de

incêndios, quase todos provocados por actividades humanas. Deste modo é necessário ter em

conta que durante o período crítico não é permitido nos espaços rurais:

• Fazer lume ou fogueiras;

• Utilizar fogareiro ou grelhador em áreas não autorizadas para o efeito;

• Lançar foguetes ou balões de mecha acesa;

• Lançar fogo-de-artifício ou outros artefactos pirotécnicos sem autorização prévia da câmara

municipal;

• Queimar sobrantes agrícolas ou florestais (excepto por exigências fitossanitárias obrigatórias

na presença de uma equipa de bombeiros ou de sapadores florestais);

• Fazer queimadas para a renovação de pastagens;

• Fumigar ou desinfectar apiários (excepto com dispositivos de retenção de faúlhas);

• A circulação de tractores, máquinas e veículos de transporte pesados que não possuam

extintores, sistema de retenção de faúlhas ou faíscas e tapa chamas nos tubos de escape

ou chaminés.

Estas proibições são extensíveis a qualquer época do ano, desde que o risco de incêndio flo-

restal seja muito elevado ou máximo.

O outro aspecto em que a população em geral pode ajudar tem a ver com a limpeza da vege-

tação numa faixa (Faixa de Gestão de Combustíveis – FGC) de 50 m junto às casas. A legisla-

ção prevê a possibilidade de, se necessário, o proprietário da casa se substituir ao proprietário

do terreno, nessa obrigação. O não cumprimento desta obrigação legal, faz com que exista

um desvio do esforço de combate para a protecção às casas, permitindo dessa forma o alastra-

mento dos incêndios para outras áreas, muitas vezes colocando em risco outras casas.

J. Sande Silva

O papel dos proprietáriosDe acordo com os princípios gerais estabelecidos na Lei de Bases da Política Florestal os deten-

tores de áreas florestais são responsáveis pela execução de práticas de silvicultura e pela ges-

tão, de acordo com as normas estabelecidas. A defesa de pessoas e bens deve ser assegurada

através da criação e manutenção de faixas de gestão de combustível que se estabelecem quer

Vegetação sem FGC

50m FGC 50m FGC

Zona sujeita a gestão de combustível - FGC

>4m

2m5m

acesso com zona de inver-são de marcha e FGC de 10m para ambos os lados

casa com área pavimenta-da em toda a volta com 2m de largura

ocupação do solo com baixa combustibilidade (jardim ou horta por ex.)

INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003

As Zonas de Intervenção Florestal, constituem outra forma de viabilizar a gestão florestal em

propriedades de reduzida dimensão. Pretendem as ZIF proporcionar aos proprietários florestais

a possibilidade de ter uma gestão integrada e permanente dos espaços florestais de toda a ZIF,

permitindo dessa forma uma diminuição das condições de propagação dos incêndios florestais.

Sendo a propriedade gerida de forma integrada e em conjunto com as restantes da mesma ZIF,

garantir-se-á maior eficácia das acções realizadas, resultando assim em ganhos de eficiência

dessa mesma gestão. Decorre da criação da ZIF a necessidade de identificar terrenos e pro-

prietários (cadastro), avaliar existências (inventário florestal) e elaborar os seus instrumentos de

gestão (plano de gestão florestal, plano de defesa contra incêndios, regulamento interno).

O papel dos meios de comunicaçãoOs meios de comunicação social têm desempenhado um importante papel, ao constituírem

um dos meios privilegiados de sensibilização e informação do público. Por outro lado, a res-

ponsabilidade social destes agentes desde há muito que é fonte de debate, dado o poder e

a influência que podem exercer na nossa visão e interpretação dos acontecimentos. Um dos

aspectos mais evidentes é a “espectacularização” do fenómeno do fogo e de todo o aparato

provocado pelos meios terrestres e aéreos de combate aos incêndios. Também frequentemen-

te assistimos à “repetição interminável” de imagens com forte impacto visual, normalmente

de cenários dantescos em chamas. Esta estratégia jornalística, numa parte significativa dos

conteúdos noticiosos, é por muitos considerada de entretenimento e sensacionalista, facto

observável por exemplo nos blogues onde este assunto tem sido abordado.

J. Sande Silva

ao longo da rede viária, ferroviária e de transporte de energia, quer em torno de habitações,

armazéns ou outros edifícios que confinem com terrenos rurais, arborizados ou não. Nos aglo-

merados populacionais que confinam com espaços florestais e que estejam definidos no Plano

Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios é obrigatória a gestão de combustível numa

faixa exterior de protecção com largura de 100 metros.

Dadas as dificuldades em suportar os custos de uma adequada gestão de combustíveis e

outros custos de gestão florestal, existe toda a vantagem em que os proprietários florestais

se associem. As Organizações de Produtores Florestais (OPF) prestam um conjunto de serviços

técnicos (levantamento cadastral, avaliação do material lenhoso, elaboração de projectos e

Planos de Gestão Florestal, formação profissional), assim como informações técnicas, jurídicas

e sobre os mecanismos de financiamento públicos existentes. Muitas OPF possuem equipas de

sapadores florestais que executam serviços de controlo de vegetação, prevenção de incêndios

e vigilância, defendendo assim a área dos associados. A formação de OPF tem tido um cres-

cimento notável ao longo das últimas três décadas, embora nos últimos anos seja perceptível

um aumento mais pronunciado com a formação de 49 associações entre 2002 e 2007.

Nº OPF

1975

200

150

100

50

0

1978

1981

1984

1987

1990

1993

1996

1999

2002

2005

2008

16

67

130141

168179

evolução do Número de associações florestais desde a década de 70

INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003

J. Sande Silva

lIsTa De sIglas

afN – Autoridade Florestal Nacional

afOCelCa – Agrupamento Complementar de Empresas dos Grupos Portucel/Soporcel e Altri

aNmP – Associação Nacional de Municípios Portugueses

aNPC – Autoridade Nacional de Protecção Civil

aPIf – Agência para a Prevenção de Incêndios Florestais

CB – Corpo de Bombeiros

CCOD – Centro de Coordenação das Operações Distrital

CCON – Centro de Coordenação Operacional Nacional

CDOs – Centros Distritais de Operações de Socorro

Ceffd – Comissão Especializada em Fogos Florestais distrital

Ceffm – Comissão Especializada em Fogos Florestais municipal

CmDfCI – Comissão Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios

CmPC – Comissão Municipal de Protecção Civil

CNgf – Corpo Nacional da Guarda Florestal

CNOs – Centro Nacional de Operações de Socorro

CPD – Centro de Prevenção e Detecção

DfCI – Defesa da Floresta Contra Incêndios

Dgf – Direcção-Geral das Florestas

DgRf – Direcção-Geral dos Recursos Florestais

DRa – Direcção Regional de Agricultura

effIs – European Forest Fires Information System

esf – Equipa de sapadores florestais

feB – Força Especial de Bombeiros Canarinhos

ffP – Fundo Florestal Permanente

fgC – Faixa de Gestão de Combustível

fOCON – Força Operacional Conjunta

gaUf – Grupo de Análise e Uso do Fogo

gIPs – Grupos de Intervenção de Protecção e Socorro

gNR – Guarda Nacional Republicana

gTf – Gabinete Técnico Florestal

É no poder dos meios de comunicação social sobre a percepção dos indivíduos, e mesmo na

influência de comportamentos individuais e colectivos, que reside o principal problema. Alguns

especialistas defendem que a transmissão do tipo de imagens referido, poderá desencadear

acções criminosas em indivíduos influenciáveis e despoletar novas ignições. Por outro lado, e

extrapolando as conclusões de um estudo realizado em Espanha, os meios de comunicação

social poderão ser responsáveis por uma ideia quase generalizada, e claramente afastada da

realidade como vimos atrás, de que grande parte dos incêndios tem origem criminosa, poden-

do assim fomentar a desresponsabilização na população, na questão das ignições.

No entanto, os meios de comunicação poderão ser um importante aliado nas políticas de

prevenção e combate aos incêndios florestais, como é já exemplo a divulgação da informação

relativa ao risco de incêndio durante a época estival. Deste modo, os meios de comunicação

poderão prestar um valioso serviço à sociedade, divulgando os conselhos e as informações das

autoridades quer no que diz respeito à antecipação de situações de alerta, quer no que diz

respeito à transmissão de informações sobre o que fazer em situações de emergência, quer

ainda na transmissão de conselhos sobre as práticas correctas de conduta de modo a evitar

novas ignições e de modo a proteger as habitações, por exemplo.

ICN – Instituto da Conservação da Natureza

ICNB – Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade

IfN – Inventário Florestal Nacional

Im – Instituto de Meteorologia

INem – Instituto Nacional de Emergência Médica

maDRP – Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas

maI – Ministério da Administração Interna

mCOTa – Ministério das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente

NPf – Núcleo de Protecção da Floresta

OPf – Organização de Produtores Florestais

PNDfCI – Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios

PsP – Polícia de Segurança Pública

RNPV – Rede Nacional de Postos de Vigia

sePC – Secretaria de Estado da Protecção Civil

seDR – Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural

seDRf – Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e das Florestas

sef – Secretaria de Estado das Florestas

sePNa – Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente

sf – Sapadores Florestais

sIOPs – Sistema Integrado de Operações de Protecção e Socorro

sNBPC – Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil

zIf – Zona de Intervenção Florestal