instrumentos utilizados em pesquisas em saÚde

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INSTRUMENTOS UTILIZADOS EM PESQUISAS EM SAÚDE Fernanda Ludmilla Rossi Rocha Professora Associada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto Universidade de São Paulo

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INSTRUMENTOS UTILIZADOS EM

PESQUISAS EM SAÚDE

Fernanda Ludmilla Rossi Rocha

Professora Associada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto

Universidade de São Paulo

• “A ciência é a maior empresa coletiva da

humanidade. Ela nos permite viver mais e melhor,

cuida de nossa saúde, fornece medicamentos que curam

doenças e aliviam dores e sofrimentos, ajuda a obter

água para nossas necessidades básicas, fornece energia

e torna a vida mais agradável. Pode desempenhar um

papel nos esportes, na música, no lazer e nas mais

recentes tecnologias de comunicação. Por último, mas

não menos importante, a ciência alimenta nosso

espírito.”

https://es.unesco.org/themes/ciencia-al-servicio-sociedad

• A ciência é um sistema de conhecimentos sobre a realidade que

nos rodeia

• Um sistema que abarca leis, teorias e hipóteses; que se encontra

em um processo contínuo de desenvolvimento, o que representa

o aprimoramento constante do conhecimento sobre a realidade

• A metodologia da investigação científica constitui um

conjunto de métodos, normas e procedimentos que orientam os

esforços da investigação para a solução dos problemas científicos

com o máximo de eficiência

• Se trata pois, da aplicação do método científico na solução de

problemas do conhecimento

• Objetivo da pesquisa científica: gerar conhecimento

de maneira sistemática, ordenada, metódica, racional e

crítica.

• O método científico, no sentido etimológico, significa

"Caminho para o conhecimento".

• O método científico baseia-se na observação cuidadosa

dos fenômenos, na geração de hipóteses, na

implementação de uma estratégia experimental e no

estabelecimento de uma teoria científica, um paradigma

científico.

Gómez, C., Mora, J., Hernández, A., Hernández, D., & Hernández, V. (2012). Manual de Investigación. Ambato: Mendieta.

ABORDAGENS EM PESQUISA

PESQUISA QUALITATIVA

PESQUISA QUANTITATIVA

Abordagem Quantitativa

• A abordagem quantitativa nas ciências sociais se origina

do trabalho de Auguste Comte (1798 - 1857) e Emile

Durkheim (1858 - 1917)

• Propuseram que o estudo dos fenômenos sociais exigisse

ser científico, ou seja, passível de ser adquirido através

da aplicação do método científico e sustentaram que

todos os fenômenos poderiam ser medidos

• Essa corrente foi chamada Positivismo

• A pedra angular da ciência de acordo com o positivismo

são os dados (observáveis, positivos)

Abordagem Quantitativa

• Usa a coleta e análise de dados para responder uma ou mais

perguntas de pesquisa e testar hipóteses previamente estabelecidas

• Confia na medição numérica, na contagem e no uso frequente de

estatísticas para estabelecer com precisão padrões comportamentais

em uma população

• Baseia-se em um esquema dedutivo e lógico

• É reducionista e visa generalizar os resultados de seus estudos

através de amostras representativas

• Uma ou mais hipóteses são derivadas da questão de pesquisa e uma

estratégia é desenvolvida para testá-la ou refutá-la

• Mede e define variáveis em um determinado contexto

Abordagem Quantitativa

• Analisa as medidas obtidas por métodos estatísticos

• Estabelece uma série de conclusões sobre a hipótese

• As hipóteses são testadas usando os desenhos de

pesquisa apropriados

• Está associado a experimentos, pesquisas com perguntas

fechadas ou estudos que utilizam instrumentos de

medição padronizados

• Exemplos dessa abordagem são estudos de prevalência,

casos e controles, coortes, ensaios clínicos, etc.

Abordagem Qualitativa

• Nas ciências sociais, a abordagem qualitativa teve

origem em Max Weber (1864 - 1920)

• Essa corrente reconheceu que, além da descrição e

mensuração de variáveis sociais, devem ser considerados

significados subjetivos e a compreensão do contexto em

que o fenômeno ocorre

• É baseado em métodos de coleta de dados sem medição

numérica, como a descrição e observação do fenômeno

• O processo é flexível e se move entre os eventos e sua

interpretação

Abordagem Qualitativa

• Seu objetivo é reconstruir a realidade; é baseado em um esquema indutivo

• São orientados por áreas ou temas significativos e não se destinam a

generalizar os resultados de suas investigações

• As questões e hipóteses de pesquisa podem ser desenvolvidas antes,

durante ou após a coleta e análise dos dados

• Sua ênfase não está na mensuração das variáveis envolvidas no referido

fenômeno, mas na sua compreensão (não realiza análise estatística)

• Os métodos de coleta de dados utilizam técnicas que não se destinam a

medir ou associar medições a números, como observação não estruturada,

entrevistas abertas, revisão de documentos, discussão em grupo, avaliação

de experiências pessoais, inspeção de histórias de vida, análise de discurso

semântica e cotidiana, integração com grupos ou comunidades.

Abordagem Qualitativa

• A pesquisa é realizada basicamente em ambientes naturais,

onde os participantes se comportam como no dia a dia

• As variáveis não são definidas para fins de manipulação ou

controle experimental

• O pesquisador observa eventos comuns e atividades

cotidianas e está diretamente envolvido com as pessoas

estudadas e com suas experiências pessoais

• Exemplos dessa abordagem são estudos fenomenológicos,

etnográficos, antropológicos, estudos de teoria fundamentada,

pesquisa-ação, estudo de caso

TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS

• OBSERVAÇÃO

• ENTREVISTA

• QUESTIONÁRIOS/INSTRUMENTOS

OBSERVAÇÃO

• Técnica de coleta de dados que utiliza os sentidos na

obtenção de determinados aspectos da realidade

• Consiste em examinar fatos ou ferramentas que se deseja

estudar

• A observação ajuda o pesquisador a identificar e a obter

provas a respeito de objetivos sobre os quais os

indivíduos não tem consciência, mas que orientam seu

comportamento.

TIPOS DE OBSERVAÇÃO

• Observação não estruturada: é a que se realiza sem

planejamento e sem controle anteriormente elaborados,

como decorrência de fenômenos que surgem de

imprevisto

• Observação estruturada: é a que se realiza em condições

controladas para se responder a propósitos, que foram

anteriormente definidos. Requer planejamento e

necessita de operações específicas para o seu

desenvolvimento

ENTREVISTA

• Encontro entre duas pessoas a fim de que uma delas obtenha

informações a respeito de determinado assunto

• TIPOS DE ENTREVISTAS

• Estruturada: é aquela em que o entrevistador segue um roteiro

previamente estabelecido

• Não estruturada: o entrevistado tem liberdade para desenvolver

cada situação em qualquer direção que considere adequada

• Semi estruturada: o pesquisador elabora um roteiro prévio, mas não

fica preso ao mesmo, tendo a possibilidade de inserir novas questões

durante a entrevista, se achar pertinente

QUESTIONÁRIO/INSTRUMENTO

• Constituído por uma série ordenada de perguntas ou

itens, que devem ser respondidas por escrito, com ou

sem a presença do entrevistador

• TIPOS DE QUESTÕES

• a) Abertas: permitem ao informante responder

livremente e emitir opiniões

• Dificulta a resposta, o processo de tabulação, o

tratamento estatístico e a interpretação

TIPOS DE QUESTÕES

• b) Fechadas: aquelas em que o informante escolhe sua

resposta entre duas opções

• Facilita a tabulação, pois as respostas são objetivas

• c) Múltipla escolha: perguntas fechadas que apresentam

uma série de possíveis respostas, abrangendo várias

facetas do mesmo assunto

• Facilmente tabulável e proporciona uma exploração

em maior profundidade

ELABORAÇÃO DE

INSTRUMENTOS

INSTRUMENTOS EM PESQUISA

1. Instrumentos para caracterização dos

participantes

2. Instrumentos para coleta de dados

Elaboração de instrumentos para

coleta de dados

• Pesquisador deve ter domínio da temática

• Revisão da literatura: essencial para coletar informações

“chaves”

• Foco nos objetivos do estudo

• Deve ter redação clara e ser de fácil compreensão

Elaboração de instrumentos para

coleta de dados

• Considerar as características da população ou público-

alvo (crianças, analfabetos, contextos culturais

diferentes, linguagem utilizada)

• Coletar o dado da forma mais “bruta” possível (ex: idade

em anos)

• Evitar sobrecarregar o participante com perguntas

desnecessárias ao objetivo do estudo

Avaliação – Comitê de Juízes

• Equivalência Semântica (gramatical)

• Equivalência Idiomática (expressões idiomáticas)

• Equivalência Cultural (contexto cultural)

• Equivalência Conceitual (conceitos)

SELEÇÃO DE

INSTRUMENTOS

Seleção de instrumentos válidos e confiáveis em saúde

• Atualmente, número crescente de instrumentos

de medida desenvolvidos com a finalidade de

avaliar diferentes construtos ou desfechos em

saúde

• Representa uma forma objetiva de avaliação de

fenômenos psicológicos

Seleção do instrumento

• Fundamental: escolha de um instrumento válido e

confiável, elaborado com base em referenciais teóricos

robustos e validado por meio de técnicas adequadas, de

modo a garantir a qualidade dos resultados obtidos

• Reconhecer como ocorreu a elaboração dos itens, as

características da população para a qual instrumento foi

validado inicialmente, como autores originais

recomendam a avaliação dos escores e, especialmente,

quais as propriedades de medida do instrumento

Propriedades de medida de instrumentos

• Reconhece-se internacionalmente a validade e a

confiabilidade, das quais depende diretamente a

qualidade da informação

• Validade: refere-se ao fato de um instrumento medir

exatamente o que se propõe a medir

• Confiabilidade: representa a capacidade do

instrumento medir com precisão o construto

pretendido

ADAPTAÇÃO CULTURAL

ETAPAS DA ADAPTAÇÃO CULTURAL

• Guillemin, Bombardier e Beaton (1993) consideram essencial a

realização de etapas, as quais foram adaptadas por Ferrer (1996) e

Beaton et al. (2007):

1) Tradução;

2) Síntese e consenso das traduções;

3) Avaliação por Comitê de Especialistas;

4) Retrotradução (back-translation);

5) Pré-teste

PROCESSO DE ADAPTAÇÃO CULTURAL

Avaliação pelo Comitê de Juízes

Versão original em Inglês

Versão em Português – Tradutor 1 (VP1) Versão em Português – Tradutor 2 (VP2)

Versão Consensual em Português 2 (VCP2)

Versão em Inglês – Tradutor 3 (VI1) Versão em Inglês – Tradutor 4 (VI2)

Versão Consensual em Português 3 (VCP3)

Versão Consensual em Inglês (VCI)

Análise Semântica

Versão Consensual Final (VCF)

Pré-Teste

(GUILLEMIN; BOMBARDIER; BEATON, 1993; FERRER et al., 1996)

Tradução

Retro

tradução ou

back-

translation

Síntese e

Consenso das

Traduções

Versão Consensual em Português 1 (VCP1)

Versão Português Final (VPF)

(GUILLEMIN; BOMBARDIER; BEATON, 1993; FERRER, 1996; BEATON et al., 2007)

Avaliação – Comitê de Juízes

• Equivalência Semântica (gramatical)

• Equivalência Idiomática (expressões idiomáticas)

• Equivalência Cultural (contexto cultural)

• Equivalência Conceitual (conceitos)

VALIDAÇÃO DE PROPRIEDADES

PSICOMÉTRICAS DE

INSTRUMENTOS DE MEDIDA

USO DE INSTRUMENTOS

• O uso de instrumentos e testes psicométricos representa uma

importante forma de avaliação objetiva dos fenômenos

psicológicos.

• O desenvolvimento de instrumentos de avaliação psicológica se

iniciou no século XIX, paralelamente ao avanço da ciência

positivista e da necessidade de medidas objetivas e válidas para o

desenvolvimento de pesquisas clínicas. Surgiu daí a urgência por

métodos que avaliassem as propriedades psicométricas dos

instrumentos.

AVALIAÇÕES PSICOMÉTRICAS

• As avaliações psicométricas dos testes passaram por diferentes

fases, tendo início por volta da década de 1880 com Galton,

atravessando as eras de Cattell, na década 1890, de Binet, na

década de 1900, a era dos testes de inteligência, entre 1910 e

1930, a da análise fatorial e a era da sistematização, entre 1940 e

1980.

AVALIAÇÕES PSICOMÉTRICAS

• Na era de Binet, a partir dos trabalhos de Spearman relacionados à

correlação, desenvolveu-se a Teoria Clássica dos Testes – TCT

(Pasquali, 1997).

• Na TCT se basearam a maioria dos métodos operacionais utilizados

para avaliar as duas principais propriedades psicométricas dos

instrumentos: a validade e a confiabilidade

TEORIA DE RESPOSTA AO ITEM

• A TRI deve ser entendida como um conjunto de modelos

psicométricos para desenvolver e refinar medidas psicológicas

(Embretson; Reise, 2000)

• Visa superar as limitações da TCT, e não entrar em contradição

com seus princípios. Ao contrário, sugere uma nova proposta

estatística, a de análise centrada nos itens, apresentando ainda

novos recursos tecnológicos para a avaliação psicológica

(Primi, 1998)

ETAPAS DO PROCESSO DE VALIDAÇÃO

Validade

Confiabilidade

A. Face

B. Conteúdo

C. Construto

D. Critério

A. Estabilidade

B. Equivalência

C. Consistência interna

D1. Discriminante

D2. Preditiva

C1. Fatorial

C2. Convergente

C3.Discriminante

C4. Concorrente

C5. Divergente

- Exploratória

- Confirmatória

Aranha, 2008; Anastasi, 1986, 2008; Fornell; Larcker, 1981; Kline, 2011; Marôco, 2014

Etapas

obrigatórias

Adaptação

Cultural

Referências

• Gulliksen H. Theory of mental tests. New York: Wiley; 1950.

• Lord FM. A theory of test scores. Iowa (IA): Psychometric Society; 1952. (Psychometric Monograph, n. 7).

• Rasch G. Probabilistic models for some intelligence and attainment tests. Copenhagen: Danish Institute for Educational Research and

St. Paul; 1960.

• Birnbaum A. Some latent trait models and their use in inferring and examinee’s ability. In: Loed FM, Lord MR. Novick, statistical

theories of mental test scores. Reading: Addison Wesley; 1968. p.17-20.

• Lord FM. Applications of item response theory to practical testing problems. Hillsdale: Erlbaum; 1980.

• Campbell DT, Stanley J. Experimental and quasi-experimental designs for research. Skokie: Rand McNally; 1973.

• Anastasi A. Evolving concepts of test validation. Ann Rev Psychol. 1986;37(1):1-15.

• Pasquali L. Validade dos testes psicológicos: será possível reencontrar o caminho? Psicol Teor Pesq. 2007; 23 (n.esp):99-107. 15.

• Pasquali L. Psicometria: teoria dos testes na psicologia e na educação. Petrópolis: Vozes; 2004.

• Pasquali L. TRI - Teoria de Resposta ao Item: teoria, procedimentos e aplicações. Brasília: LabPAM/UnB; 2007.

• Thurstone LL.The criterion problem in personality research. Chicago: University of ChicagoPress; 1952.

• Kline, R. Principles and practice of structural equation modeling. New York: Guilford Press, 2011.

• Pasquali L; Primi R. Fundamentos da Teoria da Resposta ao Item –TRI. Avaliação Psicológica 2003, (2)2, 99-110.

• Sartes LMA; Souza-Formigoni MLO. Avanços na Psicometria: Da Teoria Clássica dos Testes à Teoria de Resposta ao Item. Psicologia:

Reflexão e Crítica 2013, 26(2), 241-250.