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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS E EMPRESARIAS
LICENCIATURA EM CONTABILIDADE E ADMINISTRAÇÃORAMO: ADMINISTRAÇÃO E CONTROLO FINANCEIRO
EMPREENDEDORISMO E O PERFIL DO EMPREENDEDOR
Anilton César Delgado
Mindelo, Maio de 2009
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS E EMPRESARIAS
LICENCIATURA EM CONTABILIDADE E ADMINISTRAÇÃORAMO: ADMINISTRAÇÃO E CONTROLO FINANCEIRO
EMPREENDEDORISMO E O PERFIL DO EMPREENDEDOR
Anilton César Delgado
Orientadora: Dra. Isa Neves
Mindelo, Maio de 2009
II
Dedicatória
Dedico este trabalho ao meu filho Dérick.
Sei que acabei privando-te da minha companhia e dedicação como Pai na fase tão linda
dos teus cinco anos. Eu amo-te muito e espero que um dia compreendas as minhas
razões.
III
Agradecimentos
Correndo o risco de esquecer pessoas importantes nesta aventura que me conduziu a
este curso e mais especificamente a elaboração deste trabalho, agradeço, em especial,
à orientadora Dr.ª Isa Neves, pela paciência, apoio e orientação no trabalho;
ao ISCEE, pelo acolhimento durante estes quase cinco anos;
aos meus colegas de grupo Deolindo Neves e Odair Fernandes pela partilha dos
momentos mais difíceis dos três primeiros anos deste curso;
à todos os meus colegas da turma de Contabilidade e Administração via ensino;
à todos os docentes que contribuíram para o meu progresso académico;
aos colegas da Licenciatura, pela partilha das alegrias e dificuldades;
à todos os empresários da ilha de São Vicente que responderam prontamente ao
questionário;
aos responsáveis do projecto de reforço do ensino técnico (PRET);
à todos os meus alunos com quem tenho partilhado o prazer de ensinar e
aprender;
aos inúmeros empresários cabo-verdianos que empenham no dia a dia em gerar
riquezas e emprego, contribuindo para o potencial crescimento deste país;
à todos os que de uma forma directa ou indirecta me auxiliaram na realização
deste sonho.
IV
“Alguns homens vêem as coisas como são, e perguntam: “Por quê?”. Eu sonho com as
coisas que nunca existiram e pergunto: “Por que não?”
George Bernard Shaw
V
Resumo
Actualmente é cada vez mais visível a vontade e o interesse dos países em verem suas
economias crescer. Não obstante este interesse e vontade, muitos são os países que não
têm conseguido alcançar os objectivos pré-estabelecidos.
É perante este cenário que surge o empreendedorismo como uma estratégia de
sustentabilidade económica, quer através dos postos de trabalho que pode proporcionar,
quer ainda pelo dinamismo e a consequente competitividade que este traz para o
mercado.
O presente trabalho objectiva o estudo do empreendedorismo na abrangência e
relevância, demonstrando, na primeira parte, a evolução dos conceitos de
empreendedorismo e de empreendedor.
Na segunda parte o objectivo é tentar mostrar que para além dos empreendedores inatos
também existem pessoas que conseguem aprender as principais habilidades dos
empreendedores. Ainda na segunda parte aponta-se as características mais comuns do
empreendedor que diferencia-o do gestor.
Na terceira parte demonstra-se a importância do fenómeno empreendedorismo no
crescimento económico e na geração de emprego e analisa-se o impacto da cultura no
empreendedorismo.
Finalmente, na última parte faz-se um estudo de caso sobre a situação do
empreendedorismo na ilha de São Vicente e se analisa os dados provenientes da
aplicação de um questionário.
Palavras-chave: Empreendedorismo, empreendedor, crescimento económico
VI
ÍndiceResumo............................................................................................................................VILista de Abreviaturas....................................................................................................VIIILista de Quadros..............................................................................................................IXLista de Gráficos.............................................................................................................IX1 Introdução..................................................................................................................12 Enquadramento Teórico............................................................................................3
2.1 História do Empreendedorismo..........................................................................32.1.1 Um panorama sobre os seus antecedentes históricos..................................32.1.2 Definições de empreendedorismo...............................................................42.1.3 Empreendedor..............................................................................................6
2.1.3.1 Conceitos de empreendedor.................................................................62.1.3.2 Como surgem os empreendedores.......................................................92.1.3.3 Características do empreendedor.......................................................102.1.3.4 Análise comparativa entre gestor e empreendedor............................14
2.2 Importância económica do empreendedorismo................................................152.2.1 Relação entre o empreendedorismo e o Crescimento/Desenvolvimento Económico...............................................................................................................172.2.2 Empreendedorismo e desemprego.............................................................20
2.2.2.1 Empreendedorismo contribui para a diminuição da taxa de desemprego?........................................................................................................21
2.3 Cultura e empreendedorismo............................................................................223 Estudo de caso – A ilha de São Vicente e o empreendedorismo.............................24
3.1 Caracterização da ilha.......................................................................................243.2 Fomento e apoio do empreendedorismo na ilha...............................................253.3 Metodologia da pesquisa..................................................................................263.4 Análise dos resultados......................................................................................27
4 Conclusões e recomendações..................................................................................355 Referências Bibliográficas.......................................................................................376 Anexos.....................................................................................................................39
6.1 Anexo 1: Guião do questionário aplicado aos empresários..............................39
VII
Lista de Abreviaturas
CCIASB – Câmara de Comercio, Indústria, Agricultura e Serviços de Barlavento
CI – Agência Cabo-verdiana de Investimentos
EUA – Estados Unidos da América
GAE – Gabinete de Apoio ao Empreendedor
GEM – Global Entrepreneurship Monitor
PIB – Produto Interno Bruto
PNB – Produto Nacional Bruto
VIII
Lista de Quadros
Quadro 1 - Desenvolvimento da teoria do empreendedorismo e do termo empreendedor............9Quadro 2 – Comparação entre gestor e empreendedor................................................................15
Lista de Gráficos
Gráfico 1 – Razões para criação da empresa................................................................................27Gráfico 2 – Experiência anterior..................................................................................................28Gráfico 3 – Idade..........................................................................................................................28Gráfico 4 – Ramo de actividade...................................................................................................29Gráfico 5 – Nível de escolaridade................................................................................................30Gráfico 6 – Número de trabalhadores..........................................................................................31Gráfico 7 – Formas de financiamento..........................................................................................32
IX
1 Introdução
É senso comum que Cabo Verde é um país com uma economia aberta, sensível ao
fenómeno da globalização e dependente das importações, factos que colocam desafios
cada vez mais exigentes ao nível da satisfação dos consumidores e da promoção de
produtos nacionais. Perante tal situação não resta outra alternativa às empresas
nacionais se não a adopção de estratégias que lhes permitem actuar numa economia de
mercado global.
Também, é unânime que uma abordagem mais abrangente possível de aspectos ligados
ao empreendedorismo traz benefícios económicos para o crescimento e
desenvolvimento de qualquer economia.
Perante estas constatações, é evidente que apostar na promoção do empreendedorismo é
fundamental para qualquer país que tenha ambições de crescimento e desenvolvimento
económico sustentáveis.
O fenómeno empreendedorismo começou a despontar-se na economia cabo-verdiana na
década de 1990. Nessa altura iniciou-se um amplo programa de privatização de várias
empresas nacionais, dando voz à iniciativa privada no contexto da economia nacional.
Porém, ainda subsiste a necessidade de um trabalho árduo, contínuo e consistente para
que o empreendedorismo possa ganhar o dinamismo necessário e possa contribuir para
o crescimento e desenvolvimento no nosso país.
A escolha do tema prende-se com o facto de em Cabo Verde existir uma crescente
necessidade de apostarmos na criatividade, na inovação e na criação de novos negócios,
para melhor enfrentarmos a competitividade externa. Por outro lado, este fenómeno é
pouco divulgado no seio dos cabo-verdianos e, sobretudo, a nível académico.
Assim com a elaboração deste trabalho pretende-se:
Aflorar a importância que o empreendedorismo tem no crescimento e
desenvolvimento das economias;
1
Chamar a atenção das instituições governamentais para a necessidade urgente de
se criarem incentivos para estimular e apoiar o empreendedorismo;
Demonstrar o impacto que o empreendedorismo tem no crescimento e
desenvolvimento económico, nomeadamente no aumento do produto nacional bruto
(PNB) e do produto interno bruto (PIB), no aumento das receitas fiscais
arrecadadas pelo Estado, na diminuição da taxa de desemprego, na redução do nível
da pobreza e na melhoria das condições de vida das populações.
Promover o surgimento de novos empreendedores.
Em termos de metodológicos, pretende-se desenvolver o trabalho apoiando em
resultados de investigações sobre a matéria, assim como em bibliografias especializada,
nomeadamente livros, revistas, manuais, relatórios de economia e websites.
O trabalho encontra-se estruturado em quatro capítulos. No primeiro capítulo faz-se a
introdução do tema, onde é definido os objectivos do trabalho, a sua estrutura, a
metodologia utilizada e justifica-se a escolha do mesmo; no segundo capítulo
desenvolve-se um enquadramento teórico e histórico dos conceitos de
empreendedorismo, e empreendedor; no terceiro capítulo faz-se uma análise da situação
do empreendedorismo na ilha de São Vicente, com dados provenientes da aplicação de
um questionário aos empresários locais; o quarto capítulo será composto pelas
conclusões e recomendações.
2
2 Enquadramento Teórico
2.1 História do Empreendedorismo
2.1.1 Um panorama sobre os seus antecedentes históricos
Em termos académicos o empreendedorismo é um campo muito recente, com menos de
três décadas, mas tem verificado um aumento acentuado do número de cursos nessa
área. Em 1975 nos Estados Unidos da América (EUA) existiam cerca de cinquenta
cursos. Em 1999 já havia mais de mil universidades e escolas secundárias ensinando o
empreendedorismo. (Dolabela, 1999 a)1
Segundo Dolabela este ramo de conhecimento, apesar de dinâmico em termos de
pesquisa e publicações, demorará algum tempo para atingir uma base científica.
(Dolabela, 1999 a)2
Tal facto é devido à inexistência de padrões definidos, princípios gerais ou fundamentos
que possam assegurar a consolidação dos conhecimentos nessa área.
A palavra empreendedorismo (entrepreuneur) foi utilizada pela primeira vez na língua
francesa no início do século XVI, para designar os homens envolvidos na coordenação
de operações militares.
A definição preliminar do termo empreendedorismo pode ser atribuído a Marco Pólo, o
qual tentou estabelecer uma rota comercial para o Oriente, assinando um contrato com
um investidor para vender as mercadorias deste. Nesta época o capitalista era alguém
que assumia riscos de forma passiva, somente fornecia o capital, enquanto o aventureiro
empreendedor assumia um papel activo, correndo todos os riscos económicos e físicos.
1, 2Apud Cruz, Carlos Fernandes.(2005), Os motivos que dificultam a acção empreendedora conforme o ciclo de vida das organizações. Disponível em: http://www.tede.ufsc.br/teses/PEPS4644.pdf
2
3
A primeira relação efectiva entre assumir riscos e empreendedorismo deu-se no século
XVII, onde era estabelecido acordos entre governantes e empreendedores para a
execução de serviços e/ou fornecimento de produto. Nessa mesma época Richard
Cantillon foi considerado um dos criadores do termo empreendedorismo, ao diferenciar
o empreendedor, aquele que assumia riscos, do capitalista, aquele que fornecia o capital.
Com o início da industrialização ocorrida no século XVIII, o capitalista e o
empreendedor foram finalmente diferenciados. Nessa época muitos pesquisadores só
puderam desenvolver as suas experiências com o auxílio de investidores, os quais
financiavam seus projectos. Sendo assim, ficou definido como empreendedor o
utilizador do capital e o fornecedor era um investidor de risco, que fazia grandes
investimentos a partir de um determinado valor de capital próprio para com isso obter
uma alta taxa de retorno do investimento.
Finalmente, o momento actual pode ser denominado da era do empreendedorismo, pois
são os empreendedores estão eliminando barreiras comerciais e culturais, encurtando
distâncias, globalizando e renovando os conceitos económicos, criando novas relações
de trabalho e novos empregos, quebrando paradigmas e gerando riqueza para a
sociedade.
(Dornelas, 2001, p. 21)3
2.1.2 Definições de empreendedorismo
O empreendedorismo é uma revolução silenciosa, que será para o século XXI mais do
que a revolução Industrial foi para o século XVIII. (Timmons, 1990 apud Dolabela,
1999a)4.
3, 4 Apud Cruz, Carlos Fernandes.(2005), Os motivos que dificultam a acção empreendedora conforme o ciclo de vida das organizações. Disponível em: http://www.tede.ufsc.br/teses/PEPS4644.pdf
4
4
A definição de empreendedorismo a nível mundial é antiga. Entretanto, houve várias
interpretações para o conceito: desde a concepção de empreendedor como ser social que
fugia dos padrões determinantes até a visão actual em que o empreendedor é visto como
um ser extremamente importante para o desenvolvimento económico e social da
humanidade.
Hoje não podemos admitir uma sociedade sem empreendedores.
Desde o aparecimento deste fenómeno, vários são os autores que se dedicam à pesquisa
do tema e com os benefícios que o empreendedorismo pode trazer à economia de um
país.
De acordo com Dolabela o empreendedorismo significa fazer coisas novas, ou
desenvolver maneiras novas de fazer as coisas.
Segundo Dornelas (2001)5, o empreendedorismo consiste em reconhecer a criatividade e
a inovação de cada indivíduo, fazendo com que as motivações e capacidades de cada
um convergem no único sentido - produção de produtos/serviços ou, ainda, a criação de
estímulos para o crescimento económico do país.
Ângelo, E.(2003)6 defende que o empreendedorismo é a forma de criação de valor que
os indivíduos encontram para implementar suas ideias, recorrendo a aplicação da
criatividade, a capacidade de transformar e a coragem de assumir risco.
Empreendedorismo é o processo de criar algo novo, com valor, dedicando o tempo e os
esforços necessários, assumindo os riscos financeiros, psicológicos e sociais
correspondentes e recebendo as consequentes recompensas da satisfação e
independência económica e pessoal. (Hirich, 2004, p. 29).
Esta definição ressalta quatro aspectos básicos do empreendedorismo. Primeiro envolve
um processo de criação que tenha valor para o empreendedor e para o destinatário.
Segundo, o processo empreendedor exige a dedicação do tempo e dos esforços
necessários para a criação de algo novo. Assumir riscos, sejam eles financeiros, 5, 6Apud Pinto, Dalminda N. (2007), O empreendedorismo e o empreendedor6
5
psicológicos ou sociais, é o terceiro aspecto do empreendedorismo. Finalmente, temos o
quarto aspecto, o qual, envolve as recompensas e retornos pelo facto de assumirmos os
riscos de um empreendimento.
2.1.3 Empreendedor
Empreender é uma atitude mental que engloba a motivação e a capacidade de um
indivíduo, isolado ou integrado numa organização para identificar uma oportunidade e
para a concretizar com o objectivo de produzir um novo valor ou um resultado
económico.
2.1.3.1 Conceitos de empreendedor
O empreendedor é a pessoa que inicia e/ou opera seu próprio negócio. É visto como
uma pessoa que assume riscos necessários numa economia em crescimento produtivo.
Existem várias definições para o termo empreendedor, conforme pesquisadores de
diversas áreas, os quais utilizam princípios de suas próprias áreas para elaborar um
conceito. Para o economista, um empreendedor é aquele que combina recursos,
mão-de-obra e matéria-prima, com o objectivo de agregar mais valor ao produto final.
Para um psicólogo, o empreendedor é uma pessoa geralmente impulsionada por certas
forças, como a necessidade de obter ou conseguir algo, experimentar, realizar ou a
vontade de escapar das imposições de um superior.
Alguns homens de negócios defendem que os empreendedores constituem uma ameaça,
um concorrente agressivo, enquanto outros encaram o empreendedor como um aliado,
um cliente ou alguém capaz de criar riqueza para os outros, bem como aquele que
descobre as melhores formas de utilizar recursos, reduzir os desperdícios e produzir
empregos tão desejados por outras pessoas. Hisrich (2004, p. 29).
6
O economista Cantillon (1755) definiu o empreendedor como sendo a pessoa que
comprava matérias-primas, geralmente um produto agrícola, e as vendia a terceiros,
depois de processá-las, identificando, portanto, uma oportunidade de negócios e assumir
riscos. Já o economista francês Jean-Baptiste Say (1803), dizia que o empreendedor é
aquele que transfere recursos económicos de um sector de produtividade mais baixa
para um sector de produtividade mais elevada e de maior rendimento.
Nos Estados Unidos, conforme Drucker (1987), o empreendedor é frequentemente
definido como sendo aquele que começa o seu próprio, novo e pequeno negócio.
Louis Jacques Fillion (1991 apud Dolabela, 1999a, p. 28) define empreendedor de
forma simples e abrangente. Segundo ele, um empreendedor é uma pessoa que imagina,
desenvolve e realiza visões. A imaginação é necessária para que se tenham visões; a
visão é a habilidade de estabelecer e alcançar objectivos.
O economista Joseph Shumpeter, pioneiro na introdução do conceito de inovação na
definição de empreendedorismo, definiu o empreendedor como sendo “o agente do
processo de destruição criativa, que é o impulso fundamental que acciona e mantém em
marcha o motor capitalista, constantemente criando novos produtos, novos métodos de
produção, novos mercados e, implacavelmente, sobrepondo-se aos antigos métodos
menos eficientes e mais caros” (Shumpeter, 1983 apud Degen, 1989, p. 1).
Sob o ponto de vista do professor José Dornelas (2001) os empreendedores são pessoas
diferenciadas, que possuem motivação singular, apaixonadas pelo que fazem, não se
contentam em ser mais um na multidão, querem ser reconhecidos e admirados,
referenciados e imitados. Ele ainda caracteriza o empreendedor como sendo aquele que
faz as coisas acontecerem, que se antecipa aos factos e tem uma visão futura da
organização.
Por último, convém destacar a posição de Dolabela. Segundo o autor, a palavra
empreendedor num contexto mais amplo é utilizada para designar as actividades de
7
quem se dedica à geração de riquezas, seja na transformação de conhecimentos em
produtos ou serviços, na geração do próprio conhecimento ou na inovação em áreas
como marketing, produção e organização.
Para ele o empreendedor é caracterizado como alguém que sabe o que quer fazer e em
que contexto será feito. Dedica-se intensamente aos projectos, já que trabalho para ele
se confunde com prazer. Acrescenta ainda que o empreendedor, ao definir o que vai
fazer, leva em consideração seus sonhos, desejos, preferências, e o estilo de vida que
quer ter. (Dolabela, 1999a)
A dificuldade de se encontrar uma definição universal dos termos empreendedorismo e
empreendedor ou definições que se aproximam é grande. Cada autor tenta
contextualizar estes termos de acordo com as suas experiências e época em que viveu.
Assim sendo, no quadro 1 faz-se um desenvolvimento da teoria do empreendedorismo e
do termo empreendedor, em datas distintas.
Quadro 1 - Desenvolvimento da teoria do empreendedorismo e do termo empreendedor
Idade média Participante e pessoa encarregada de projectos de produção em grande escala.
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Século XVII Pessoa que assumia riscos de lucro (ou prejuízo) num contrato de valor fixo com o
governo.
1725 Richard Cantillon – pessoa que assume riscos é diferente da que fornece capital.
1803 Jean Baptiste Say – lucros do empreendedor separados dos lucros de capital.
1876 Francis Walker – distinguiu entre os que fornecem fundos e recebiam juros e aqueles que
obtinham lucro com habilidades administrativas.
1934 Joseph Schumpeter – o empreendedor é um inovador que desenvolve tecnologia ainda
não testada.
1961 David McClelland – o empreendedor é alguém dinâmico que corre riscos moderados.
1964 Peter Drucker – o empreendedor maximiza oportunidades.
1975 Albert Shapero – o empreendedor toma iniciativa, organiza alguns mecanismos sociais e
económicos e aceita riscos de fracasso.
1980 Karl Vésper – o empreendedor é visto de modo diferente por economistas, psicólogos,
negociantes e políticos.
1983 Gifford Pinchot – o intra-empreendedor é um empreendedor que actua dentro de uma
organização já estabelecida.
1985 Robert Hisrich – o empreendedorismo é o processo de criar algo diferente e com valor,
dedicando o tempo e o esforços necessários, assumindo os riscos financeiros,
psicológicos e sociais correspondentes e recebendo as consequentes recompensas da
satisfação económica e pessoal
Fonte: Hisrich (1986, p. 96)
2.1.3.2 Como surgem os empreendedores
Ainda se discute se o empreendedor nasce ou se um indivíduo pode ter uma formação
que o leve a adquirir os requisitos necessários a se transformar num empreendedor.
Alguns autores defendem que o espírito empreendedor é inato, dependendo da
personalidade de cada indivíduo, pelo que o empreendedorismo não pode ser ensinado.
Outros, como Dolabela, defendem que os requisitos para se tornar empreendedor podem
ser aprendidos e desenvolvidos ao longo da vida dos indivíduos.
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Dolabela (1999) defende que apesar de não ser uma tarefa fácil, o empreendedorismo
pode ser ensinado. Defende também que a forma como os professores transmitem as
suas experiências e conhecimentos dessa área e o interesse dos alunos sobre o tema,
constituem factores determinantes da sua aprendizagem.
Já o professor José Dornelas refere esta questão como sendo polémica.
Segundo ele, por um lado, existem aqueles indivíduos que já nascem com o espírito
empreendedor, e por outro lado existem aqueles que conseguem ter sucesso a partir
conhecimentos e experiências adquiridas em universidades ou na vida ao identificarem
uma oportunidade de negócio. Dornelas diz que existe tanto aqueles que nascem
prontos, como aqueles que podem aprender as saídas para se tornar um empreendedor.
Apesar destas discussões, já faz parte do senso comum que o empreendedorismo pode
ser ensinado, pelo que hoje várias universidades dedicam uma atenção especial ao
ensino do referido tema, nomeadamente nos EUA, no Brasil e, mais recentemente,em
Portugal. De acordo com Cohen, a universidade tida como referência é a Babson
College, nos EUA, reconhecida a nível internacional pela sua primazia no ensino do
empreendedorismo.
2.1.3.3 Características do empreendedor
Conforme Filion apund Dolabela (1999a) as características dos empreendedores variam
de acordo com as actividades que o empreendedor executa numa determinada época ou
em função do estágio de crescimento da empresa. Sendo assim, as características
empreendedoras podem ser adquiridas e desenvolvidas.
Os estudos sobre este aspecto são recentes, não existem padrões definidos, princípios
gerais ou fundamentos que possam garantir de forma efectiva o conhecimento na área.
No entanto, da literatura consultada, chega-se à conclusão que as características a seguir
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indicadas são de extrema importância para o sucesso de qualquer empreendedor, sendo
as características mais comuns:
Auto-confiança – acredita em si mesmo por isso arrisca mais e está mais apto
para realizar tarefas desafiadoras.
Auto motivação, entusiasmo e energia – os empreendedores não precisam de
prémios para se sentirem motivados; são capazes de auto motivarem-se com
desafios e tarefas em que acreditam. Sua motivação permite-lhes entusiasmar-se
com suas ideias e projectos. Seu entusiasmo e motivação dão-lhes a energia
necessária para se lançarem em novas realizações que usualmente exigem
esforços iniciais intensos.
Capacidade de decisão e assumir responsabilidades – o empreendedor não fica à
espera que os outros decidam por ele, deve ser capaz de tomar decisões correctas
no momento exacto, estar bem informado, analisar bem as situações e avaliar as
alternativas para poder escolher a solução mais adequada. Ele responsabiliza-se
sempre pelas consequências.
Disposição para assumir riscos – o empreendedor aceita riscos. Os
empreendedores, ao iniciar seus próprios negócios assumem riscos financeiros,
isto é, investem dinheiro próprio ou fazem empréstimos, riscos de suas carreiras
pois abandonam o emprego estável e riscos psicológicos, isto é, enfrentam a
possibilidade de fracasso nos negócios.
Liderança e dinamismo – dentro e fora da empresa, o homem de negócios faz
contratos com clientes, fornecedores e empregados. Assim, a liderança tem que
ser uma qualidade sempre presente no empreendedor. Ele deve saber definir
objectivos, orientar tarefas, combinar métodos e procedimentos práticos,
estimular as pessoas rumo às metas traçadas e favorecer relações equilibradas
dentro da equipa de trabalho.
Iniciativa – o empreendedor não fica à espera que os outros, governo,
empregados ou familiares, venham resolver os seus problemas. Face aos
problemas ele age, arregaça as mangas e parte para a solução.
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Ambição – o empreendedor procura fazer sempre mais e melhor, nunca se
contentando com o que já atingiu, quer sempre chegar um pouco mais além do
que da última vez.
Optimismo – o empreendedor é optimista e nunca deixa de ter a esperança de
ver seus sonhos realizados. Ele tem confiança em seu desempenho profissional,
acredita nas oportunidades que o mundo oferece e na possibilidade de resolução
dos problemas.
Conhecimento da área – é importante que o empreendedor tenha conhecimento
da área em que vai actuar e saiba reunir as competências necessárias para levar o
projecto ou ideia adiante. Quanto mais dominar o ramo em que pretende actuar,
maiores são as probabilidades de sucesso. O empreendedor deve ter experiência
no sector que quer actuar.
Persistência – este é uma das características mais importante do empreendedor,
isto é por ele estar motivado, convicto, entusiasmado e crente nas possibilidades
de sucesso, é capaz de persistir até que as coisas comecem a funcionar como ele
deseja. Esta característica é dinamizada por alguém que esta em busca de um
sonho.
Saber aproveitar oportunidades – o empreendedor deve estar sempre atento e
deve ser capaz de perceber, no momento certo, as oportunidades de negócio que
o mercado oferece.
Independência – o empreendedor precisa abrir seus próprios caminhos, decidir o
rumo de sua vida, enfim, ser seu próprio patrão.
Flexibilidade – isto é o empreendedor deve estar apto a adaptar-se as
circunstancias que o rodeiam, pois se algo correr diferente do planeado, ele não
deve desistir, mas sim alterar seus planos de modo a adapta-los as actuais
circunstancias para alcançar os objectivos previamente fixados.
Não ter medo de errar – para o empreendedor a empresa é uma espécie de
laboratório. Ele fará tudo para não fracassar, mas ele não tem medo do fracasso.
Comete muitos erros mas “aprende fazendo”. Para ele o fracasso é um resultado
como outro qualquer, através do qual ele tem muito a aprender.
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Capacidade de organização – o empreendedor deve ter senso de organização e
capacidade de utilizar recursos materiais, humanos e financeiros de forma
harmoniosa e racional, pois a organização economiza tempo e dinheiro e facilita
o trabalho.
Capacidade de concentração – deve ser capaz de esquecer os demais problemas,
de forma a mergulhar em um só assunto de cada vez. Tem que ser capaz de
esquecer dos demais assuntos e concentrar em um único aspecto como se este
fosse a coisa mais importante do mundo.
Capacidade de verticalização – ser capaz de tratar os assuntos não de forma
superficial, mas com a adequada profundidade, isto é, terá de ter a capacidade de
organizar os detalhes em um todo coerente, indo do geral para o específico,
detalhando o específico e refazendo a visão do todo.
Criatividade – antes de descrever esta característica, convêm salientar que a
criatividade só desponta em um ambiente de liberdade no qual se pode errar. O
empreendedor deve ser muito criativo, isto porque à medida que aumenta a
concorrência, a necessidade de se criar coisas novas no mercado também
aumenta. Ele terá de conseguir ver as oportunidades onde os outros não as vêem,
conseguindo definir algo a partir do nada.
Capacidade de estabelecer relações – uma característica importante do
empreendedor é a sua capacidade de estabelecer relações com pessoas que
podem contribuir para o sucesso de seu negócio, pelo que ele deve ter a
capacidade de escolher as pessoas adequadas, isto é, deve criar equipas, delegar
poder, acreditar nos outros e assim conseguir resultados por meio de outros
indivíduos.
Capacidade de ser polivalente – numa empresa em crescimento, onde reina a
escassez de recursos, o empreendedor tem que estar preparado para fazer tudo,
desde pagar a conta de electricidade até a fabricação do próprio produto ou
prestação do serviço. O empreendedor terá de ter uma polivalência acima da
média, pois ele terá de lidar com todos que relacionam com a empresa, isto é
com empregados, advogados, instituições financeiras, clientes, fornecedores e
sindicatos.
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Aberto a opiniões – o empreendedor humildemente deve ouvir a opinião dos
outros sobre o seu produto ou serviço, sobre a sua empresa e até mesmo sobre a
sua própria pessoa. Ele terá de ter a tarefa de criar um clima propício, onde as
pessoas se sintam desinibidas em emitirem suas opiniões, para que ele consiga
autoavaliar-se e se conhecer profundamente no sentido de aumentar as
probabilidades de sucesso da empresa.
Instinto empresarial – ele deve possuir um forte instinto empresarial, uma boa
percepção de negócio, isto é, um dom empresarial e daí seguir os caminhos para
o sucesso e para a realização de seus sonhos.
Não obstante as características acima referidas, há que destacar a posição de Casson
(1982) que descreve as qualidades associadas ao empreendedor de sucesso como sendo
a imaginação e a visão, qualidades, segundo ele, escassas e que, consequentemente,
conferem uma vantagem competitiva a quem as possui.
2.1.3.4 Análise comparativa entre gestor e empreendedor
No final do século XIX e início do século XX, de acordo com Dornelas (2001), os
empreendedores foram confundidos com os gestores. Esta confusão, sob o ponto de
vista económico, permanece até os dias actuais, sendo os empreendedores definidos
como aqueles que desempenham as funções de planear, organizar, dirigir e controlar as
acções desenvolvidas na organização.
A diferença entre estas duas personagens do palco empresarial tem causado muita
confusão. Essa diferença é estudada por Dolabela (1999a, p. 120) no que diz respeito a
forma de abordar a empresa, no comportamento, nas atitudes e visão do mundo.
Segundo o autor acima citado, pode-se fazer uma análise comparativa entre o gestor e o
empreendedor, apresentada no quadro 2.
14
Quadro 2 – Comparação entre gestor e empreendedor
Gestor Empreendedor
Tenta optimizar os recursos para atingir
metas.
Estabelece uma visão e objectivos, depois
localiza os recursos.
Opera dentro de uma estrutura existente. Define tarefas e papéis que criam uma
estrutura na organização.
Busca a aquisição de conhecimentos e
técnicas de gestão.
Apoia-se na auto-imagem geradora de visão e
inovação. Busca adquirir o know-how.
A chave é se adaptar às mudanças. A chave é iniciar as mudanças.
Seu padrão de trabalho implica análise
racional.
Seu padrão de trabalho implica inovação e
criatividade.
Trabalho centrado em processos que se
apoiam no meio em que ele se desenvolve.
Trabalho centrado no planeamento de
processos que resultam de uma visão
diferenciada do meio.
Apoiado na cultura da afiliação. Apoiado na cultura da liderança.
Centrado no trabalho em grupo e na
comunicação entre estes.
Centrado na evolução individual.
Desenvolve padrões para a busca de regras
gerais e abstractas. O gerente está em busca
de princípios que possam transformar-se em
comportamentos empresariais de eficácia.
Lida com situações concretas e específicas.
Uma oportunidade é única, é um caso
diferente de outros e deve ser tratada de forma
diferenciada.
Baseia-se no desenvolvimento do conceito de
si, com ênfase na adaptabilidade.
Baseia-se no desenvolvimento do conceito de
si, com ênfase na perseverança.
Voltado para a aquisição de know-how em a
gestão de recursos e da área da própria
especialização.
Voltado para a aquisição de know-how para
definir contextos que levem à ocupação do
mercado.
Fonte: Dolabela (1999 b).
2.2 Importância económica do empreendedorismo
Desde o início da teoria económica, com Adam Smith até muito recentemente, os
economistas explicavam o desenvolvimento das nações como resultado de três
15
variáveis: mão-de-obra barata, matéria-prima abundante e capital disponível para
investimentos. Hoje sabe-se que existem mais duas variáveis, provavelmente mais
importantes que as demais: a tecnologia e o empreendedorismo.
É fácil compreender a importância do empreendedorismo no desenvolvimento actual
das economias e na alteração da nossa forma de vida. Hoje, tudo o que se consome
resulta do espírito criativo dos empreendedores. É difícil conseguir-se imaginar a vida
sem telefones, automóveis, aviões, telemóveis, computadores, televisão, rádio, ou coisas
mais simples como esferográficas, agrafadores, lapiseiras escova de dentes, corta-unhas,
fio dental ou ainda sem cinema, concertos, teatros, discotecas e restaurantes. Tudo isto é
graças aos empreendedores que transformaram as suas ideias em projectos. Ideias essas
que continuarão a surgir, com mais ou menos sucesso e outras ainda falharão.
Apesar das dificuldades com que deparamos no empreendedorismo afirmar-se
cientificamente, ele é considerado o meio mais eficiente na ligação da ciência ao
mercado, através da criação de empresas e levando novos produtos ou serviços ao
mercado. A actividade empreendedora é extremamente importante na economia, pois é
capaz de construir e manter a base económica e gerar riqueza. Essa riqueza, quando
tratada da melhor forma, contribui para o desenvolvimento económico.
Por outro lado, o aumento significativo que se tem verificado na publicação de
investigações sobre o empreendedorismo acaba por ser um reconhecimento da
importância que o fenómeno assume no desenvolvimento das economias,
nomeadamente no aumento do produto interno bruto (PIB), no aumento das receitas
fiscais, na diminuição da taxa de desemprego, na redução do nível da pobreza e na
melhoria das condições de vida das populações. Este facto foi sublinhado por
Schumpeter (1949), há mais de cinquenta anos.
Essa importância é também reconhecida pelo poder político. Desde o governo socialista
francês até aos governos conservadores dos E.U.A, passando pelo governo inglês, todos
têm sublinhado a importância estratégica do empreendedorismo para o desenvolvimento
económico e social de seus países. (Raposo e Silva, 2000)
16
HenreKson (2002) e Coulter (2003) apontam como explicação para a importância
atribuída a este fenómeno a três razões principais: a criação de emprego, a inovação e a
criação de riqueza.
Reynolds, Storey e westhead (1994) acrescentam uma quarta. Segundo eles a criação da
própria empresa constitui-se como uma importante escolha de carreira para uma parte
significativa da força de trabalho.
Hoje, como Schumpeter havia afirmado, o empreendedorismo traz consigo a capacidade
de desencadear o crescimento económico. Isto significa que, através da actividade
empreendedora, é possível que se tenha a iniciativa de liderar e coordenar esforços no
sentido do indivíduo ou comunidade alcançar o crescimento económico. (Dolabela,
1999a)
Todas estas razões colocam em evidência a importância considerável do
empreendedorismo como motor essencial para o desenvolvimento económico e social,
sustento de uma região e até mesmo de um país.
2.2.1 Relação entre o empreendedorismo e o Crescimento/Desenvolvimento Económico
Actualmente não há dúvida que o empreendedorismo constitui a fonte do crescimento
económico das economias.
Quanto à relação entre estes conceitos, pode-se afirmar que, se por um lado, é verdade
que muitas vezes o crescimento acelerado de algumas economias deve-se à iniciativa
privada de seus empreendedores, por outro lado, é correcto afirmar que nem sempre
existe uma relação directa e inequívoca entre estes.
Esta posição pode ser comprovada com a opinião de alguns autores, que seguidamente
se menciona.
17
Sobre este aspecto, Henderson (2002) considera que o valor do empreendedor é
evidente tanto a nível nacional como regional.
Quanto às nações, ele verificou que aquelas que apresentam uma taxa mais elevada da
actividade empreendedora têm, também, um crescimento do PIB mais elevado,
afirmando mesmo que o empreendedorismo é o responsável por um terço da diferença
de crescimento verificado entre os países.
Ele ainda considera que, quanto maior é a dependência de uma nação do comércio
internacional, mais visível é a relação entre o empreendedorismo e o crescimento
económico.
Por sua vez, a autora Coulter (2003) confirma o trabalho de Schumpeter (1942) que há
mais de cinquenta anos viu a figura do empreendedor como o principal “activador” do
desenvolvimento económico, graças a sua função de inovador. Verifica que nos países
do G7 se confirma a existência de uma forte relação entre o nível da actividade
empreendedora e o crescimento económico anual. A autora, baseando-se no relatório da
Global Entrepreneurship Monitor (GEM), fornece evidência conclusiva de que
promover o empreendedorismo e a dinâmica empreendedora dum país devia ser uma
componente da acção de qualquer governo que queira estimular o crescimento e
desenvolvimento económico.
Analisando o outro verso da moeda, há que realçar o trabalho de Audretsch e Fritsch
(2003), onde se sustenta que não existe uma relação directa e inequívoca entre o
empreendedorismo e crescimento económico. Segundo estes autores, essa relação pode
ser diferente em diferentes sistemas económicos e em épocas diferentes.
Defendendo a posição acima mencionado, os autores remetem-nos à análise da seguinte
experiência: enquanto os estudos realizados na Alemanha nos anos oitenta não
identificaram uma relação directa entre o nível de empreendedorismo e o crescimento
económico (Audretsch e Fritsch, 1996, Fritsch, 1996 e 1997), os estudos de Reynolds
(1999) sobre os E.U.A, chegaram a uma conclusão completamente diferente,
identificando uma relação clara e positiva entre as duas variáveis.
18
Entretanto, nos anos noventa, usando o mesmo modelo na Alemanha, os resultados
foram completamente diferentes, indicando que as regiões com uma taxa mais elevadas
de criação de novas empresas exibiram uma taxa de crescimento económico claramente
mais elevada. Segundo estes autores, tal facto é devido às alterações verificadas na
estrutura da economia alemã.
Sobre este aspecto, Baumol (1995) conclui que o mais importante para o
desenvolvimento económico-social de uma sociedade não é quantidade de
empreendedores existentes, mas sim a sua distribuição entre diferentes actividades.
No mesmo sentido, ainda há que referir a posição de Wennekers et al (2005), que
defende que esta relação entre o empreendedorismo e o crescimento económico varia
conforme a estatura do país, ou seja, para os países mais desenvolvidos a forma de
incentivar o crescimento passará por estimular o empreendedorismo, enquanto nos
países em vias de desenvolvimento se torna mais viável obter este crescimento através
de, por exemplo, uma maior exploração de economias de escala ou da atracção de
grandes investimentos estrangeiros.
Outra visão sobre este assunto é a de Sturzenegger e Tommasi (1994), concluindo que a
alocação dos recursos dos empreendedores para actividades menos produtivas é
responsável pelo fraco crescimento económico de alguns países.
Quando há uma relação directa entre o empreendedorismo e o crescimento e
desenvolvimento económico, ela pode ser analisado e explicado da seguinte forma: o
empreendedorismo traz inovação e criatividade para o país; a inovação traz mudança
para estrutura empresarial e causa o surgimento de novos produtos e serviços,
traduzindo na melhoria dos rendimentos obtidos.
Os lucros podem ser distribuídos aos accionistas e/ou aos trabalhadores, fazendo com
que estes melhorem a sua condição económico-sociail. Se não forem distribuídos,
podem ser reinvestidos na própria empresa, com o objectivo de melhorar a sua
capacidade produtiva e, consequentemente, os resultados obtidos através do aumento do
19
volume de vendas. O aumento da capacidade produtiva, por vezes, pode traduzir-se num
aumento do número de postos de trabalho, fazendo com que a taxa de desemprego
diminua, melhorando assim o nível de vida da população.
Quanto ao Estado, este também beneficia porque quanto maior for o rendimento (lucro)
alcançado pelas empresas, maior é o volume das receitas fiscais. Estas receitas poderão
ser investidas na criação de infra-estruturas, nomeadamente estradas, estruturas de
saúde, de educação e habitação social, para aumentar o salário dos funcionários
públicos, trazendo mais bem-estar social para todos.
Todos estes rendimentos fazem com que o PIB e o produto nacional bruto (PNB)
aumentem, traduzindo automaticamente num aumento do crescimento económico do
país. Se este crescimento repercutir nas várias camadas sociais, dará lugar à observância
de um maior desenvolvimento económico.
2.2.2 Empreendedorismo e desemprego
Anualmente muitos são os jovens que terminam o seu processo académico e
profissional e que anseiam ingressar no mercado de trabalho. Mas, a concorrência é
elevada e nem todos conseguem ter uma oportunidade na sua área de formação e outros
em área nenhum. Este problema tende a agravar ainda mais nos países em vias de
desenvolvimento onde o mercado de trabalho é pequeno para absorver o número de
profissionais que formam durante o ano. Este problema faz com que a taxa de
desemprego aumente dia após dia.
Por outro lado, há que referir aspectos como a globalização, a evolução tecnológica e o
aparecimento da internet, como sendo factores relevantes nesta análise, no sentido de
que estes foram os responsáveis para fazer com que as grandes empresas, antes
abarrotadas de mão-de-obra, reduzissem seus custos na procura de produtos mais
20
baratos e competitivos, gerando assim um enorme contingente de população activa
desempregada.
Perante este cenário, para escapar do desemprego e garantir o sustento próprio e o da
família, muitas pessoas optam por iniciar o seu próprio negócio, muitas vezes sem
experiência, mas com algum optimismo de que dias melhores virão.
Neste contexto, conclui-se que a taxa de desemprego vária na razão inversa com a taxa
de actividade empreendedora, ou seja, o desemprego é uma forma de incentivar acções
empreendedoras, principalmente quando o sistema económico de um país tem a
tendência de oferecer cada vez menos oportunidades de emprego.
2.2.2.1 Empreendedorismo contribui para a diminuição da taxa de desemprego?
Respondendo a esta questão, conclui-se que se partirmos da ideia de que o
empreendedorismo resume apenas na abertura de um negócio então é insuficiente para
fazer com que a taxa de desemprego diminua. Isto porque a criação de emprego pelas
novas empresas decorre em paralelo com o possível encerramento de empresas antigas,
ultrapassadas e vencidas pelas novas. Ou seja, se por um lado se cria emprego, a
abertura de novas empresas leva também a perda de outros postos de trabalho.
Ainda sobre esta questão, se centrarmos em todos os componentes do termo
empreendedorismo, nomeadamente os conceitos de criatividade e de inovação
destacamos as evidências empíricas de Baptista, Escária e Madruga (2004) que
comprovam que a criação de novas empresas tem efeitos directos na criação de
emprego, mas também efeitos indirectos, através do aumento da concorrência, da
eficiência e da inovação. No entanto, estes efeitos indirectos fazem-se sentir com um
desfasamento temporal de cerca de oito anos, ou seja, a criação de novas empresas tem
também uma influência de longo prazo na criação de emprego.
21
2.3 Cultura e empreendedorismo
Além dos aspectos económicos e sociais, a cultura é considerada um elemento de grande
influência na actividade empreendedora. Partindo da ideia de que os empreendedores são
indivíduos e não organizações e que estes são definidos como um ser social, produto do
meio em que vivem, é natural que as pessoas sejam influenciadas por aspectos culturais
relacionados com o contexto em que vivem, pelo que se uma pessoa estiver inserida num
ambiente em que ser empreendedor é visto como algo positivo, terá maior motivação para a
criação e manutenção do seu próprio negócio.
Analisando as várias definições de empreendedorismo e do empreendedor, pode-se concluir
que as regiões em que existe uma maior percepção em relação a conceitos como o risco, a
competição e o individualismo, como é o caso dos E.U.A e alguns países da Europa
Ocidental, observa-se um nível maior de empreendedorismo do que países como o Japão e
outros em que estas características não são tão acentuadas. Tal facto nos alerta de que o
empreendedorismo também é visto como um fenómeno regional, ou seja, existem cidades,
regiões, países mais ou menos empreendedores do que outros.
Segundo Dolabela (1999a), se no passado era incutido nos filhos e alunos valores como
emprego, estabilidade financeira e nível universitário como meios fundamentais de
realização pessoal, existe agora a obrigação de educar as crianças e jovens no sentido de
estes terem valores como autonomia, independência, capacidade de gerar o próprio
emprego, de inovar e gerar riqueza, capacidade de assumir riscos e crescer em ambientes
instáveis, porque, perante as condições reais do ambiente, são estes os valores sociais
capazes de conduzir um país ao desenvolvimento.
Culturalmente, o cabo-verdiano está bastante arraigado ao conceito de emprego e
salário. O sistema de ensino vigente no país, tradicionalmente vem preparando os
estudantes para serem empregados e não empregadores.
22
Um outro aspecto de extrema relevância para a análise do nível de empreendedorismo
no país, prende-se com o facto de os cabo-verdianos terem uma fraca cultura da
poupança e investimento e, consequentemente, fraca inteligência financeira. A baixa
percentagem que faz alguma poupança prefere guardar o seu dinheiro e viver de juros
ou rendimentos seguros a arriscar em grandes negócios. Estes têm receio de abrir mão
da estabilidade e segurança económica e financeira para assumirem os riscos associados
a um negócio próprio.
23
3 Estudo de caso – A ilha de São Vicente e o empreendedorismo
Com o presente estudo de caso, pretende-se fazer uma pequena análise da situação do
empreendedorismo na Ilha de São Vicente, procurando identificar o perfil dos
empreendedores da ilha, os motivos que os levaram a criar o seu próprio negócio, os
apoios obtidos, os constrangimentos encontrados na abertura do negócio, o espírito de
criatividade e a capacidade inovadora que cada um possui dentro da sua organização.
3.1 Caracterização da ilha
São Vicente é a segunda ilha mais populosa de Cabo Verde, localizada no grupo do
Barlavento, a noroeste do arquipélago. O canal de São Vicente separa-a da vizinha ilha
de Santo Antão. O Aeroporto de São Pedro localiza-se a sul da cidade do Mindelo, o
principal centro urbano da ilha e segunda maior cidade do país, onde se concentra
grande parte da população da ilha que no seu todo conta com 74.136 habitantes. A
cidade do Mindelo é frequentemente considerada informalmente a capital cultural de
Cabo Verde.
A economia da ilha sempre se baseou quase exclusivamente no comércio e nos serviços.
Devido à falta de chuvas, a agricultura é de subsistência. A pesca tem alguma
relevância, mas apresenta condições para ser uma actividade de maior importância, não
só pelas capturas, mas também pelas indústrias derivadas: conservas, seca e salga de
peixe e construção naval.
No sector industrial, a ilha apresenta abundância de mão-de-obra, se bem que pouco
qualificada, resultado do êxodo de habitantes de outras ilhas para São Vicente. Cerca de
27% da população empregada exerce profissões sem grande qualificação. Empregados
altamente qualificados, nomeadamente os quadros superiores de empresas e da
administração pública e os que exercem funções de gestão e direcção, não chegam a 2%
das profissões exercidas.
24
Segundo o censo de 2000, São Vicente é a ilha que apresenta a maior taxa de
desemprego do país (23 %), enquanto a média nacional se fica pelos 17%. O
desemprego afecta mais as mulheres do que os homens. O parque industrial da ilha
(Zona Industrial do Lazareto) concentra diversas unidades fabris, essencialmente de
investimento estrangeiro, nas actividades do calçado, confecções e transformação de
pescado.
3.2 Fomento e apoio do empreendedorismo na ilha
Apesar da consciencialização por parte dos governos central e local com relação à
importância do tema em estudo para o crescimento e desenvolvimento da economia do
nosso país, pouco ou nada se tem feito no sentido de estimular o surgimento de
empreendedores.
Das pesquisas efectuadas, encontramos um único programa de apoio ao
empreendedorismo em São Vicente, coordenado pela Câmara de Comercio, Industria,
Agricultura, e Serviços de Barlavento (CCIASB), com a denominação de Gabinete de
Apoio ao Empreendedor (GAE).
O GAE nasceu da necessidade de apoio aos investimentos privados na região de
Barlavento, com o intuito de reduzir os constrangimentos de ordem jurídico-
administrativa enfrentados pelos empreendedores nacionais e estrangeiros,
constrangimentos esses que tornam a fase do pré-investimento morosa e custosa. Neste
sentido, a CCIASB procura cada vez mais consolidar a sua rede de relações
institucionais, buscando acordos com as Câmaras Municipais, Chefias Intermédias,
Gabinetes de Consultorias e Instituições Bancárias do país.
O GAE tem estrutura operacional em todas as ilhas da região de Barlavento com
competências nas seguintes áreas:
Criação de sociedades em qualquer área de actividade económica;
25
Coordenação de processos de obtenção de licenças diversas (comercial,
industrial, investidor externo, utilidade turística, etc.);
Assessoria técnica em matéria fiscal, financeira e laboral;
Coordenação de estudos técnicos e de viabilidade económico-financeira para a
fase de pré-investimento;
Coordenação de estudos de prospecção de mercados;
Selecção e recrutamento de pessoal;
Coordenação de formação específica e especializada intra-empresa.
Os principais parceiros do gabinete são:
Câmaras Municipais Nacionais;
CI – Agência Cabo-verdiana de Investimentos;
Ministério de Economia, Crescimento e Competitividade;
Gabinetes Técnicos de Consultoria.
3.3 Metodologia da pesquisa
Dos 98 empresários inquiridos, somente 77 responderam prontamente ao questionário
e/ou entrevista realizada, pelo que a análise de resultados é feita com base na opinião
destes 77 empresários da ilha de São Vicente. O questionário é exploratório, composto
por perguntas objectivas e descritivas e foi aplicado durante o mês de Maio de 2009.
26
3.4 Análise dos resultados
Com base nas respostas obtidas durante a pesquisa e entrevista junto aos empresários, é
apresentado abaixo os resultados, para melhor visualizar o perfil do empreendedor
pesquisado.
Na primeira questão, perguntou-se aos empreendedores qual a principal razão para a
criação da sua empresa.
Gráfico 1 – Razões para criação da empresa
Fonte: Dados da pesquisa
Conforme pode ser observado no gráfico 1 acima, identificou-se que 62% dos
empreendedores apontam a percepção de oportunidade de mercado como o principal
factor motivacional para a criação da empresa. Isto demonstra que a maioria dos
entrevistados iniciou seus negócios pelo facto de terem uma visão ampla de mercado.
Há que também fazer referência aos 29% de empreendedores que deram inicio ao
negócio pelo facto de estarem numa situação de crise, o que demonstra que na ilha há
presença do chamado empreendedorismo por necessidade.
Na segunda pergunta, conforme gráfico 2 abaixo, abordou-se o tempo de experiência
anterior dos empreendedores no ramo de actividade em que actuam.
27
Gráfico 2 – Experiência anterior
Fonte: Dados da pesquisa
Verifica-se que 39% dos inquiridos possuem de um a cinco anos de experiência. Por
outro lado, ainda observou-se que uma percentagem relevante de empreendedores
entrevistados apontam ter mais de 10 anos de experiencia (29%). Ainda sobre esta
questão, constata-se que, dos 18% que apontam não ter qualquer experiência antes do
início do negócio a maioria (64%) faz parte dos que iniciaram o negócio por causa de
uma crise pessoal. Este facto nos leva a concluir que na presença de uma crise pessoal o
são vicentino está disposto a correr todos os riscos de um empreendimento.
Na sequência, buscou-se identificar qual a idade das pessoas ao iniciarem seus próprios
negócios.
Gráfico 3 – Idade
Fonte: Dados da pesquisa
28
Percebe-se que a grande maioria dos empreendedores inquiridos (44%), deu início ao
seu negócio entre 31 a 40 anos de idade. A pesquisa ainda revela que 9% se encontra na
faixa etária de 18 a 25 anos; 29% de 26 a 30 anos e 18 acima dos 40 anos.
Os dados obtidos nesta questão não vão muito além dos resultados a nível mundial, uma
vez que a literatura mostra que em diversos países do mundo a faixa etária dos 25 a 35
anos é a predominante entre as pessoas que criam o próprio negócio e que a partir dos
40 anos as pessoas são menos propensas a se arriscarem em negócios próprios.
Analisando a pequena percentagem que consta na faixa etária dos 18 a 25 anos (9%),
constata-se que nesta idade os jovens da ilha estão mais preocupados em encontrar um
emprego do que auto-empregarem-se. Isto nos alerta para a necessidade, da
implementação de um sistema de ensino que prepare os jovens no sentido de estes
serem empregadores e não somente empregados, para que quando estes terminarem os
estudos académicos não se questionem onde é que vão arranjar emprego, mas sim como
é que vão criar o próprio emprego.
No que diz respeito ao tipo de actividade, perguntou-se em que ramo de negócios o
empreendedor actua.
Gráfico 4 – Ramo de actividade
Fonte: Dados da pesquisa
Sendo São Vicente, a exemplo das outras ilhas, caracterizada pelo elevado nível de
importações e fracas exportações, os resultados obtidos nesta questão, não poderiam ser
tão diferentes dos esperados. A grande percentagem dos inquiridos (57%) aponta o
comércio, 25% aponta o sector dos serviços, 12% opta pelos dois sectores e uma
29
minoria de 6% investe no sector da indústria, conforme pode-se observar no gráfico 4
acima.
A escolha da actividade do comércio, deve-se ao facto desta área ser mais ampla,
oferecendo assim mais oportunidades de negócio, como por exemplo lojas de roupa,
calçado, supermercados, drogarias, bares entre tantas outras opções.
Quanto aos serviços, estes englobam a educação, saúde, advocacia, turismo, segurança,
limpeza, assistência técnica e os transportes, sendo que a última rubrica apresenta com a
maior fatia deste sector, constituindo um total de 37%.
Ainda procura-se saber o grau de escolaridade de cada um dos empreendedores.
Gráfico 5 – Nível de escolaridade
Fonte: Dados da pesquisa
A pesquisa revela que 29% dos empreendedores da ilha de São Vicente possuem o nível
superior, pouco mais de um terço (41%) se encontra em um nível primário e secundário
de educação, e o ensino médio aparece com 12%. Os restantes (18%) não concluíram o
ensino superior.
Os resultados demonstram que a importância do estudo superior está em baixa, isto é,
muitos dos empresários não se importam em incrementar o seu nível de escolaridade,
pois já com seu negócio montado resolvam se acomodar.
A análise dos resultados também revela que 85% daqueles que apontam a realização
pessoal como a razão para a criação de sua empresa são pessoas que possuem o ensino
superior e que sempre sonharam em ter seu próprio escritório ou consultório.
30
Na oitava questão, procura-se analisar até que ponto as empresas existentes na ilha
contribuem para a criação de postos de trabalho.
Gráfico 6 – Número de trabalhadores
Fonte: Dados da pesquisa
Perante os dados obtidos, não se pode deixar de sinalizar um dos resultados mais
expressivos desta pesquisa, onde se revela que mais de metade das empresas (62%)
empregam menos de 10 trabalhadores e 27% acolhem de 11 a 20 trabalhadores no seu
seio. Este facto nos leva a concluir que, das empresas existentes, um leque muito
elevado pertence à categoria de pequenas e médias empresas.
A inexistência de empresas com mais de 50 trabalhadores pode estar subjacente ao facto
do questionário ser aplicado somente às empresas de carácter regional.
Ainda, sobre o emprego há que destacar a resposta dada por alguns empresários, na
décima terceira questão, onde manifestam a intenção de empregar mais pessoas, mas
não o fazem porque a estrutura de custos na lhes permite.
“Para mim a maior satisfação seria ver o meu negócio prosperar até se transformar
numa grande empresa, ao ponto de garantir um posto de trabalho a muitos dos nossos
jovens que estão desempregados e perdidos no seio da nossa sociedade”. (Anónimo)
Ao analisarmos as respostas obtidas na nona questão, temos a oportunidade de constatar
que muitos dos empresários da ilha provêm de outras ilhas, nomeadamente da ilha de
Santo Antão, da ilha do Fogo e da ilha de Santiago, constituindo um total de 41% dos
respondentes, sendo que somente 32% destes têm origem em S. Vicente. Este facto que
tem como uma das principais razões a fraca cultura da poupança que se depara no seio
31
dos são vicentinos, fazendo com que estes não tenham recursos financeiros que muitas
vezes é exigido para se iniciar um negócio.
Estando a analisar apenas empresas de carácter regional, não é estranho a baixa
percentagem de empreendedores estrangeiros no universo dos inquiridos (27%). Isto
porque os investidores estrangeiros estão mais interessados em fazer grandes
investimentos, carácter nacional, do que investimentos em pequenos negócios.
Gráfico 7 – Formas de financiamento
Fonte: Dados da pesquisa
No que se refere ao financiamento ou obtenção do investimento inicial, para o evento
empreendedor, a pesquisa revela que a maioria dos nossos pequenos empresários tem
como principal fonte de financiamento o capital próprio (51%) e como segunda fonte
em importância de recursos os empreendedores recorrem aos familiares (16%). Como
terceira fonte de apoio financeiro eles utilizam recursos provenientes de uma
indemnização ou aposentadoria (14%).
Esta questão serve também para desvendar a seguinte realidade – existência de uma
elevada restrição dos bancos comerciais e entidades financeiras quanto ao
financiamento de empreendimentos de pequeno porte, sendo que este constitui a fonte
de financiamento de apenas 10% dos inquiridos. No que se refere a apoios de
instituições governamentais, somente dois empresários inquiridos dizem ter recebido
qualquer apoio de instituições governamentais (englobado na rubrica de outra fonte).
32
Paralelamente a esta questão, surge a questão número 11, onde se tem a oportunidade de
verificar que 84% dos empresários que obtiveram um financiamento bancário, tiveram
que apresentar como garantia um bem pessoal ou um avalista. Os restantes 16%
obtiveram alguma facilidade porque a comparticipação das instituições bancárias nos
seus projectos era de longe inferior ao que eles iram aplicar no projecto.
Outras questões ainda foram abordadas na pesquisa.
Assim, partindo para a parte descritiva, na décima segunda questão do questionário,
quisemos saber se os empreendedores sentiram alguma dificuldade para montar seu
próprio negócio. Com base nas respostas constatamos que as dificuldades foram de
vária ordem, nomeadamente falta de apoios financeiros, falta de experiência na área de
actuação, a burocracia da administração pública, falta de orientação etc.
“Eu recebi uma indemnização de uma empresa onde trabalhei durante 17 anos, eu
queria investir, mas eu não tinha a noção de onde investir” (Paulino Gomes)
“A maior dificuldade que eu tive foi conseguir familiarizar com as operações inerentes
ao meu negócio”. (Anónimo)
“Para mim a maior dificuldade foi conseguir todos os documentos legais para a abertura
da minha empresa. Tive um atraso de quase quatro meses em relação ao tempo que eu
tinha previsto para a abertura”. (Anónimo)
Já outros empreendedores (19% dos inquiridos) dizem que não tiveram qualquer
dificuldade ao iniciarem seu próprio negócio, conforme ilustra-se na resposta seguinte.
“Não senti nenhuma dificuldade quando iniciei o meu negócio, pois já tinha trabalhado
um bom tempo em negócios semelhantes ao meu e assim adquiri conhecimento e
experiência na área”. (Armindo Ramos)
Perguntou-se na décima terceira questão descritiva qual seria a maior satisfação pessoal
após o inicio do negócio. A maioria dos empreendedores indica a autonomia financeira
e o reconhecimento pessoal como sendo a maior satisfação.
“Ao montar meu próprio negócio, parei de depender financeiramente dos meus pais”.
(Ana Fernandes)
33
“Para mim a maior de todas as recompensas é o facto de hoje ser uma pessoa muito
reconhecida no comércio”. (Anónimo)
Com o intuito de finalizar a pesquisa, quisemos com a décima quarta questão avaliar o
nível de criatividade e inovação dos nossos empreendedores.
Chegamos à conclusão que estes são pouco inovadores e que a resposta predominante
foi “ aumentamos as nossas instalações e contratamos mais pessoal”.
Esta fraca capacidade de inovação pode ser ainda comprovada com a sexta questão,
onde tivemos a oportunidade de verificar que cerca de 61% dos inquiridos dedica menos
de oito horas diária a seus negócios. Naturalmente, quanto menos tempo dedicam ao
negócio, menor é a probabilidade de criarem coisas novas nas empresas.
Perante tal situação, é nossa opinião que as nossas empresas só estão a ter sucesso
porque estão inseridas num mercado pouco competitivo e de pouca agressividade.
Não obstante esta situação do empresariado da ilha, há que destacar a existência de um
nível considerado de comércio informal, que constitui a fonte de sustento de muitas
famílias. Estás pessoas normalmente têm as suas próprias ideias e um certo nível de
criatividade, mas lhes falta o apoio e o incentivo necessários para criarem as suas
pequenas empresas e assim contribuírem para o PIB do país.
34
4 Conclusões e recomendações
Da literatura consultada sobre o tema constata-se que aspectos como a inovação, o
desafio, a criação de negócio, o risco e a criatividade são comuns em definições que
autores diferentes utilizam para o termo empreendedorismo. Este facto que nos leva a
concluir que estes aspectos são os pilares do fenómeno do empreendedorismo.
O empreendedorismo constitui um elemento importante para o
crescimento/desenvolvimento económico de qualquer nação, pelo que apostar no
empreendedorismo pode ser a solução para muitos dos problemas enfrentados pelas
actuais sociedades.
Se analisarmos atentamente o que esta a acontecer em torno do tema
“Empreendedorismo”, nomeadamente instituições de ensino a incorporarem esta
disciplina nas suas estruturas curriculares e a promoverem cursos sobre o tema,
instituições governamentais a disponibilizarem incentivos, indivíduos empreendedores a
criarem novos negócios, a sociedade a encarar o fenómeno como uma fonte de geração
de emprego, não restam dúvidas de que Timmons estava certo ao afirmar que o
empreendedorismo é uma revolução silenciosa que será para o século XXI mais do que
a Revolução Industrial foi para o século XVIII.
Com a graduação de Cabo Verde a País de Desenvolvimento Médio e com a sua entrada
na Organização Mundial do Comércio, as ajudas externas tendem a diminuir de forma
gradual. Perante tal cenário, Cabo Verde ganhará o desafio do desenvolvimento se
conseguir desenvolver uma boa base exportadora, seja de bens ou de serviços.
Para que isso aconteça o empresário cabo-verdiano e o são vicentino, em particular, terá
que ser competitivo como o estrangeiro, apostando na criatividade e na inovação
(intra-empreendedorimo) e o Governo terá de ser capaz de criar um bom ambiente de
negócio.
35
Neste contexto, é recomendável que os governos, central e local, criem incentivos para
estimular e apoiar os actuais e potenciais empreendedores.
Para tal é necessário:
Rever as fontes de financiamentos do empresariado nacional;
Criar organizações para orientar as pessoas que tem desejos de investir;
Atribuir prémios monetários aos melhores projectos empreendedores;
Dinamizar a inserção da sua economia no contexto internacional, privilegiando
sectores como o turismo, os transportes e as comunicações, os serviços
financeiros, as pescas e a indústria ligeira virada para a exportação;
Reformar a administração pública, no sentido de reduzir o elevado nível de
burocracia existente;
Criar políticas de apoio às sociedades de capital de risco;
Promover um sistema educativo que prepara os jovens para serem
empregadores.
5 Referências Bibliográficas
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Livros
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Micro-Empresas & Pequenos Negócios. 3ª ed. Lisboa: Edições Lidel
CRUZ, Eduardo (1999) – Criar uma empresa de sucesso. 1ª ed. Lisboa: Sílabo.
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Monografias
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VARGAS, Marco António Moreno (2004) – Dimensões Socioculturais do
Empreendedorismo: Estudo do evento empreendedor no sector têxtil e de confecções de
Santa Cruz de La Sierra – Bolívia. (Consulta em Fevereiro de 2009). Disponível em
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Sites na Internet:
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situação em Portugal. (Consulta em Fevereiro de 2009) Disponível em
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em Março de 2009) Disponível em http://www.clee2008.ufsc.br/56.pdf
http://www.cciasb.org/ (Consult. em Abril de 2009)
www.ine.com (Consult. em Maio de 2009)
http://www.nead.unama.br/bibliotecavirtual/revista/adcontar/pdf/adcontar31a4.pdf
(Consult. em Fevereiro de 2009)
http://pt.wikipedia.org/wiki/empreendedorismo (Consult. Janeiro de 2009)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_de_S%C3%A3o_Vicente_(Cabo_Verde) (Consult.
Maio de 2009)
6 Anexos
6.1 Anexo 1: Guião do questionário aplicado aos empresários
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QUESTIONÁRIO
Observação: Os dados fornecidos permanecerão em anonimato após a conclusão da pesquisa. Todo o questionário deve ser respondido pelo empreendedor e/ou proprietário da empresa.
P1. Qual foi a principal razão para a criação da sua empresa? Realização pessoal Crise pessoal Percepção de oportunidade de mercado
P2. Quando iniciou o negócio, qual era o tempo de experiência que já detinha na área? Não tinha experiência De 1 a 5 anos De 6 a 10 anos Mais de 10 anos P3. Qual era a sua idade quando iniciou o seu próprio negócio? De 18 a 25 anos De 26 a 30 anos De 31 a 40 anos Mais de 40 anos
P4. Qual é o ramo de negócio em actua? Comércio Indústria Serviço P5. Qual é o seu nível de formação académica? Primário e Secundário Médio Superior incompleto Superior
P6. Diariamente, qual é o tempo que dedica ao seu negócio? Menos de 8 horas De 8 a 12 horas Mais de 12 horas
P7. Número de sócios que possui? Não tenho Até três sócios Entre três e cinco sócios
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Mais de cinco sócios
P8. Número de empregados que possui? Menos de 1 De 11 a 20 De 21 a 50 Mais de 50
P9. Região de origem. Nacional. Ilha _________________ Estrangeiro. País _______________
P10. Para iniciar o seu negócio recebeu ajuda financeira de: (Pode marcar mais do que uma categoria se for o caso). Bancos e entidades financeiras Ajuda financeira de algum familiar Capital próprio Aposentadoria ou indemnização
Outra fonte. Especifique: _______________________ P11. Para conseguir ajuda financeira você fez e apresentou seu plano de negócios? Sim Não P12. Quais as dificuldades que teve ao iniciar seu próprio negócio? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
P13. Para si, qual foi a maior satisfação pessoal após o início do seu próprio negócio? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
P14. Depois de ter iniciado o negócio, quais foram as inovações realizadas na empresa?__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
P15. Na sua opinião quais as medidas que o Estado deve tomar para incentivar o empreendedorismo em Cabo Verde?____________________________________________________________________________________________________________________________________________
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