instituto nacional de pesquisas da amazÔnia – inpa...

44
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA, CONSERVAÇÃO E BIOLOGIA EVOLUTIVA TESTANDO LIMITES ESPECÍFICOS DOS UAKARIS PRETOS SENSU HERSHKOVITZ (1987) (Pitheciidae: Primates) FABRÍCIO BERTUOL Manaus, Amazonas Maio, 2015

Upload: ngonhu

Post on 18-Jan-2019

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA, CONSERVAÇÃO E

BIOLOGIA EVOLUTIVA

TESTANDO LIMITES ESPECÍFICOS DOS UAKARIS PRETOS

SENSU HERSHKOVITZ (1987) (Pitheciidae: Primates)

FABRÍCIO BERTUOL

Manaus, Amazonas

Maio, 2015

FABRÍCIO BERTUOL

TESTANDO LIMITES ESPECÍFICOS DOS UAKARIS PRETOS

SENSU HERSHKOVITZ (1987) (Pitheciidae: Primates)

ORIENTADOR: Ph.D. Tomas Hrbek

Coorientador: Ph.D. Jean Philippe Boubli

Dissertação apresentada ao Instituto

Nacional de Pesquisas da Amazônia como

parte dos requisitos para obtenção do título

de Mestre em Genética, Conservação e

Biologia Evolutiva.

Manaus, Amazonas

Maio, 2015

B552t Bertuol, Fabrício Testando limites específicos dos Uakaris pretos sensu Hershkovitz

(1987) (Pitheciidae: Primates) / Fabrício Bertuol. --- Manaus: [s.n.], 2015.

44 f. : il., color.

Dissertação (Mestrado) --- INPA, Manaus, 2015.Orientador: Tomas Hrbek.Coorientador : Jean Philippe Boubli.Área de concentração:Genética, conservação e biologia evolutiva.

1. Delimitação de Espécies 2. Primatas – Uakaris pretos. 3. NGS. I.Título

CDD 599.8

Sinopse:

Foram utilizadas novas abordagens genômicas para delimitar as

três espécies dos uakaris pretos, buscando esclarecer Cacajao

ayresi, terceira espécie descrita para o grupo e contestada.

Foram encontradas duas linhagens evolutivas e dois grupos

biológicos distintos, C. ayresi fica agrupado com C. hosomi.

Palavras-chave: Cacajao, genômica, linhagens evolutivas,

grupos biológicos.

iii

Agradecimentos

Aos meus pais Denise e Aristides e irmão Lucas que apesar da distância sempre

estiveram presentes e me apoiaram nesta jornada. Meus pais sempre foram

incentivadores do estudo, sempre se sacrificaram para dar o melhor aos filhos indiferente

das situações. Fica meu eterno agradecimento;

Tomas Hrbek pela oportunidade da orientação, pelos ensinamentos aprendidos ao

longo destes anos em Manaus e pela paciência representada em algumas situações, em

diversos momentos lembrou meu pai, pois em alguns momentos de dúvida e dificuldade

sempre me dizia “tem que aprender a se virar”;

Jean Philipe Boubli pela orientação, que apesar de fisicamente distante sempre

esteve presente para responder minhas dúvidas, sempre ajudou mesmo em situações de

dificuldade e me ensinou a aprender e gostar dos primatas;

Izeni Pires Farias pelos ensinamentos aprendidos estes anos e pelas dicas

construtivas para este trabalho;

Rupert Collins pela ajuda com o sistema operacional Ubuntu sempre ajudando a

esclarecer minhas dúvidas na instalação de programas e análises estatísticas;

Mario Nunes pela ajuda no laboratório e esclarecimento de dúvidas em análises

estatísticas;

Lelé e Iracema pela ajuda e apoio em relação a obtenção de amostras da coleção

zoológica de mamíferos do INPA;

José sempre presente para discutir assuntos relacionados a área da genômica e

NGS, sempre com boas dicas e respondendo perguntas;

Deyla pelas ajudas e dicas de escrita durante esse trabalho;

Elciomar e Rommel meus camaradas durante esse período em Manaus, demos

iv

boas risadas, bebemos muitas cervejas e jogamos muita sinuca no Carlão. Tivemos boas

conversas na hora de tomar o cafezinho do seu Zé e cultivamos boa amizade durante

este tempo;

Vinícius pela camaradagem no laboratório e dicas de escrita;

Sandra e Jéssica pela ajuda e colaboração durante a nossa geração de resultados

genômicos;

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq pela

concessão da bolsa de estudo;

Ao Instituto Leônidas e Maria Deane da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) por

disponibilizar os equipamentos de NGS e ao Vitor por nós acompanhar e ao seu seu

chefe Felipe Naveca;

Ao projeto CNPq SISBIOTA/Rede BioPAHM, que subsidiou esse estudo;

Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Laboratório de Genética e Evolução

Animal (LEGAL) pelo espaço físico e estrutura para o desenvolvimento da pesquisa;

Ao Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) e ao Programa de Pós-

Graduação em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva (PPG-GCBev) pela

oportunidade de estudo;

….a todos os demais colegas do LEGAL por esse tempo compartilhado que

estivemos juntos para nosso enriquecimento pessoal.

Obrigado a todos por participarem desta etapa.

v

Resumo

Os uakaris pretos atualmente possuem três espécies válidas: Cacajao. melanocephalus,

C. hosomi e C. ayresi; que foram propostas após revisão taxonômica do grupo porém,

não existe consenso sobre esta classificação devido a discordâncias sobre a validade de

C. ayresi proposta como sendo espécie nova para o grupo. A discordância existe devido à

baixa resolução filogenética encontrada em relação a sua espécie irmã, C. hosomi. Neste

sentido, foram testados os limites específicos dos uakaris pretos para validar ou não C.

ayresi, com a utilização de filogenia de Citocromo b e sequenciamento de nova geração

para delimitar linhagens evolutivas e grupos biológicos. Foram utilizadas dez amostras

inéditas de uakaris pretos para uma nova reconstrução filogenética do Citocromo b e vinte

e uma amostras para o sequenciamento de nova geração. Todas as amostras utilizadas

na reconstrução filogenética do Citocromo b se agruparam com suas respectivas espécies

descritas, indicando uma monofilia para este marcador. Os resultados provenientes do

NGS indicam que C. hosomi e C. ayresi formam uma única linhagem evolutiva enquanto

que C. melanocephalus forma outra linhagem. Foram encontrados dois grupos biológicos,

um composto por C. melanocephalus e outro composto C. ayresi e C. hosomi. Os

resultados indicam que C. ayresi e C. hosomi são espécies distintas pela filogenia do

Citocromo b, seguindo o conceito filogenético de espécies enquanto que os resultados

provenientes do NGS indicam que C. ayresi e C. hosomi formam uma única linhagem

evolutiva por apresentarem polifilia, não sendo classificadas como espécies distintas pelo

conceito filogenético de espécies. As espécies C. ayresi e C. hosomi também se agrupam

em um mesmo grupo biológico, indicando compartilhamento do sistema de acasalamento

e por isso classificadas como pertencentes a mesma espécie pelo conceito biológico de

espécies portanto, C. hosomi e C. ayresi não podem ser classificadas como espécies

distintas.

Palavras chave: Cacajao, ddRAD, NGS, linhagem evolutiva, grupo biológico.

vi

Abstract

The black Uakari currently have three valid species: Cacajao. melanocephalus, C. hosomi

and C. ayresi; proposed after a group taxonomic revision, however there is no consensus

on this classification due to disagreements over the validity of C. ayresi proposed as new

species for the group. The disagreement exist due to the low phylogenetic resolution found

between C. ayresi and its sister species, C. hosomi. In this regard, the specific limits of

black uakaris were tested to validate or not C. ayresi, using the phylogeny of Cytochrome

b and next generation sequencing to delimit evolutionary lineages and biological groups. It

was used ten new samples of black uakaris to building a phylogenetic reconstruction of

Cytochrome b and twenty-one samples for next-generation sequencing. All samples used

in the phylogenetic reconstruction of Cytochrome b were grouped with their respective

described species, indicating a monophyletism for this marker. The results from the NGS

indicate that C. hosomi and C. ayresi form a single evolutionary lineage while C.

melanocephalus form another branch. Two biological groups were found, one composed

by C. melanocephalusand other composed by C. ayresi and C. hosomi. The results

indicate that C. ayresi and C. hosomi are distinct species by phylogenetic Cytochrome b,

following the phylogenetic species concept, while the results from the NGS indicate that C.

ayresi and C. hosomi form a single evolutionary lineage presenting polyphyly and is not

classified as distinct species by phylogenetic species concept. The species C. ayresi and

C. hosomi are also grouped in the same biological group, sharing mating system and thus

classified as belonging to the same species by the biological species concept, therefore C.

hosomi and C. ayresi can not be classified as separate species.

Keywords: Cacajao, ddRAD, NGS, evolutionary lineage, biological group.

vii

Sumário1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................................11

1.1. CONCEITO DE ESPÉCIE.....................................................................................................111.2. UAKARIS PRETOS...............................................................................................................121. 3 NOVAS ABORDAGENS - NEXT GENERATICON SEQUENCING (NSG)......................16

2 OBJETIVOS....................................................................................................................................182.1. GERAL...................................................................................................................................182. 2. ESPECÍFICOS.......................................................................................................................18

3 MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................................................183.1. AMOSTRAGEM....................................................................................................................183.2 EXTRAÇÃO DO DNA...........................................................................................................203.3. SEQUENCIAMENTO DO DNA MITOCONDRIAL CITOCROMO B...............................213.4. PREPARAÇÃO DA BIBLIOTECA GENÔMICA.................................................................223.5. ANÁLISE DOS DADOS........................................................................................................24

3.5.1. ANÁLISES DOS DADOS DO DNA MITOCONDRIAL..............................................243.5.2 ANÁLISES NGS – PYRAD............................................................................................253.5.3. RECONSTRUÇÃO FILOGENÉTICA...........................................................................253.5.4. GRUPOS BIOLÓGICOS................................................................................................26

4. RESULTADOS...............................................................................................................................274.1. RECONSTRUÇÃO FILOGENÉTICA COM O GENE CITOCROMO B............................274.2. FILOGENÔMICA..................................................................................................................284.3 GRUPOS BIOLÓGICOS........................................................................................................29

5. DISCUSSÃO..................................................................................................................................31

viii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa da distribuição geográfica das três espécies de uakari preto. Polígonos

indicando os limites de distribuição. Cacajao hosomi em amarelo, C. ayresi em marrom e

C. melanocephalus em vermelho

(IUCN)................................................................................................................................14.

Figura 2 – Variação na coloração das espécies de uakaris pretos: 1 - C. melanocephalus;

2 - C. hosomi; 3 - C. ayresi................................................................................................14.

Figura 3 - Mapa de distribuição das espécies de uakaris preto e da amostragem utilizada

para a filogenia do Citocromo b no presente trabalho. Os pontos corresponde aos locais

de coleta e os polígonos às áreas de distribuição da espécie segundo a IUCN, sendo

vermelho correspondente à distribuição da espécie Cacajao melanocephalus; vermelho,

C. hosomi em amarelo , C. ayresi em

marrom...............................................................................................................................19.

Figura 4 - Mapa de distribuição das espécies de uakaris preto e da amostragem utilizada

para o sequenciamento de próxima geração no presente trabalho. Os pontos

corresponde aos locais de coleta e os polígonos às áreas de distribuição das espécies

segundo a IUCN, sendo vermelho correspondente à distribuição de Cacajao

melanocephalus, em amarelo C. hosomi e marrom C.

Ayresi.................................................................................................................................20.

Figura 5 – Árvore filogenética de verossimilhança do Citocromo b representando as

linhagens evolutivas encontradas. Cacajao melanocephalus em vermelho, Cacajao

hosomi em amarelo e Cacajao ayresi em marrom indicando a monofilia do grupo com a

exclusão da amostra MPEG 8991 de qualidade

inadequada........................................................................................................................28.

Figura 6 – Árvore filogenética de verossimilhança de RADseq representando as linhagens

evolutivas encontradas. C. melanocephalus em vermelho, suportada por 0,969. C. hosomi

ix

e C. ayresi em amarelo indicando um grupo polifilético com 0, 999 de valor de

suporte...............................................................................................................................29.

Figura 7 – Grupos biológicos encontrados. Em vermelho Cacajao melanocephalus forma

um grupo, em amarelo C. hosomi e C. ayresi, formam outro grupo biológico...................30.

Figura 8 - Resultado indicando k=2, como a melhor probabilidade para explicar os dados.

A vertical mostra a média da estimativa da distribuição das probabilidades dos dados e a

horizontal número de clusters testados (k) e o desvio padrão (SD) da probabilidade

média.................................................................................................................................31.

x

1 INTRODUÇÃO

1.1. CONCEITO DE ESPÉCIE

Dentro das áreas biológicas, espécie é a unidade principal de trabalho, porém

ainda hoje sua delimitação não possui um consenso. O que é uma espécie e quais

critérios são necessários e suficientes para reconhecer uma, tem gerado debate

desde a formulação de Mayr (1942) sobre conceito biológico de espécie.

Este debate continuou até recentemente quando uma nova proposta

prevaleceu sobre as outras, de espécies como linhagens evolutivas (de Queiroz,

1998), agrupando todos os conceitos em um sentido único. Que critério para

delimitação usar, o que é necessário e suficiente para delimitar especies prevalece

pouco claro. Ficou esclarecido as diferenças entre os conceitos de espécies

existentes (o conceito de espécie primária) e os critérios de delimitação espécies (os

conceitos de espécie secundários). O conceito de espécie linhagem generalizada de

de Queiroz (1998) é um conceito de espécie primária, enquanto o conceito biológico

de espécies (Mayr, 1942) e filogenético (Cracraft, 1983), dois entre muitos, são

conceitos de espécies secundárias ou seja, critérios para a delimitação das

espécies.

Considerando que as espécies surgem pelos processos de especiação

seguido pela divergência, os diferentes conceitos (critérios) focam em diferentes

propriedades, as quais tem tempos médios de surgimento diferentes após o evento

da especiação. Os diferentes conceitos de espécie frequentemente se referem a

diferenças no tempo durante e após a especiação (de Queiroz, 2007).

As espécies são o resultado de um processo evolutivo seguido pela

divergência, sendo assim, espécies podem ser identificadas por características

específicas que surgiram de maneira independente nas linhagens após o evento de

especiação, como por exemplo, diferenças no sistema reprodutivo, reconhecimento

sexual, diferenças na morfologia (internas e externas) e em comportamento e uso de

nicho. Portanto, para identificar linhagens divergentes e possíveis espécies é

necessário a inclusão de diferentes informações (Padial et al., 2010). Porém, parte

dos problemas observados em tentar diferenciar linhagens evolutivas ocorre pela

11

baixa quantidade de informações geradas, ou seja, possuem poucos dados para

esclarecer as relações entre as linhagens.

Fleagle (2014) indica quais são os principais conceitos utilizados dentro da

Primatologia, o Conceito Biológico de Espécies continua tendo aceitação por alguns

autores, enquanto o Conceito Filogenético de Espécies (Cracraft, 1983), possui boa

aceitação, mas o que prevalesse é o Conceito Geral de Espécies (de Queiroz, 2007)

que é indicado sendo o mais lúcido (Groves, 2014).

1.2. UAKARIS PRETOS

Os uakaris pretos são macacos do novo mundo, pertencentes à família

Pithecidae, sendo os únicos da família a apresentar cauda curta e adaptações para

a predação de sementes (Hershkovitz, 1897; Boubli et al., 2008). São primatas de

médio porte (3 - 4 kg), restritos à bacia do rio Negro e rio Orinoco/Cassiquiari

(Boubli, 1999). Vivem em grupos sociais muito grandes de até 100 indivíduos com

uma área de vida muito extensa chegando até a 1.500 ha (Boubli, 1993).

Hershkovitz (1987), revisou a taxonomia do gênero Cacajao e reconheceu

duas espécies e seis subespécies para o gênero, destas, quatro subespécies foram

encontradas dentro de uakaris brancos, sendo: Cacajao calvus calvus, C. c.

rubicundus, C. c. ucayalii, C. c. novaesi e duas dentro de uakaris pretos, C.

melanocephalus melanocephalus ocorrendo no Brasil e C. m. ouakary, restrita a

Venezuela.

Embora Hershkovitz, (1987) tenha reconhecido duas subespécies, a

subdivisão dos uakaris pretos já havia sido proposta anteriormente por Hernández-

Camacho e Cooper (1976) tendo Hershkovitz (1987) simplesmente mantido o

arranjo proposto por estes autores. Esta divisão é suportada por dados filogenéticos

inferidos por citocromo b, corroborando a separação geográfica das subespécies e

diferenças morfológicas (Boubli et al., 2008; Figueiredo-Ready et al., 2013).

A divisão dos uakaris pretos de acordo com Hershkovitz (1987) se manteve

até nova revisão taxonômica proposta por Boubli et al., (2008) baseado em

evidencias morfológicas, ecológicas, distribuição geográficas e filogenia molecular.

12

Estes autores propuseram uma reorganização da taxonomia deste grupo, elevando

os taxa anteriores a espécies e incluindo a descrição de uma terceira espécie

proveniente do rio Aracá, Cacajao ayresi, nome dado em homenagem ao

pesquisador José Márcio Ayres que realizou o primeiro estudo sobre a ecologia dos

uakaris brancos na Reserva de Desenvolvimento Sustentável, Mamirauá,

Amazonas, Brasil.

Boubli et al. (2008) reinterpretaram a origem do tipo de uakari preto descrito

por Humboldt em 1801 e sinonimizaram melanocephalus e ouakary, com isso, os

uakaris pretos da região do Pico da Neblina no Brasil, ficaram sem nome disponível

tendo estes autores atribuído novo nome para este táxon, hosomi, palavra da língua

Yanomami para uakari preto. Desta forma, Boubli et al. (2008) propuseram três

espécies válidas: C. melanocephalus, C. hosomi e C. ayresi.

A distribuição geográfica de C. melanocephalus seria delimitada ao sul pelos

rios Solimões e Japurá, no Brasil, a oeste pelo rio Apaporis e montanha de La

Macarena na Colômbia, ao norte pelo rio Guaviare também na Colômbia, rio Negro e

Canal Cassiquiari no Brasil e rio Orinoco, na Venezuela (Boubli, 1993; Boubli et al.,

2008) (Figura 1). Este táxon apresenta variação em sua coloração (Figura 2),

apresentando três faixas de cores, sendo que na cabeça e membros superiores a

espécie apresenta uma coloração preta variando para amarelada a partir da região

escapular até os quadris e se tornando marrom avermelhada nos membros

inferiores e voltando a cor preta no final dos membros inferiores e ponta da cauda,

seu peso varia entre 1.900 a 2.600 g.

Por sua vez, a espécie Cacajao hosomi é limitado ao sul e oeste pelo rio

Negro, pelo rio Marauiá no leste (Brasil), e pelo canal de Cassiquiare e rio Orinoco

ao norte (Venezuela) (Figura 1). Essa espécie possui coloração variando de preta na

cabeça e membros superiores a marrom avermelhada a partir da região escapular

(Figura 2), retornando à cor preta na ponta dos membros inferiores e ponta da

cauda. É considerada a maior espécie dos uakaris pretos com peso médio variando

de 3.100 a 4.500 g (Boubli et al., 2008).

13

Figura 1 - Mapa da da distribuição geográfica das três espécies de uakari preto. Polígonos indicando

os limites de distribuição. C. hosomi em amarelo, C. ayresi em marrom e C. melanocephalus em

vermelho (IUCN), área indicado por ?, provável área de C. melanocephalus porém, sem confirmação.

Figura 2 – Variação na coloração das espécies de uakaris pretos: 1 - C. Melanocephalus; 2 - C.

Hosomi; 3 - C. ayresi.

14

1 2 3

Cacajao ayresi habita uma pequena área que abrange a bacia do rio

Curunduri e áreas adjacentes (Figura 1). A espécie também possui coloração

variando entre preta e marrom avermelhada e quebra da coloração na região

escapular, porém a coloração na região marrom avermelhada não é uniforme como

em C. hosomi, possuindo pelos com as pontas enegrecidas, assim, destacando uma

clara diferença morfológica entre as duas espécies (mais escura que C. hosomi)

(Figura 2) (Boubli et al., 2008).

A separação entre as espécies que ocupam a mesma margem do rio Negro,

C. hosomi e C. ayresi, foi proposta por uma barreira, imposta por exclusão

competitiva, pela espécie Chiropotes israelita (cuxiú), impedindo assim o contato

entre as duas espécies de uakaris (Boubli et al., 2008). Uakaris e cuxiús ocupam

nichos ecológicos similares, portanto, se excluiriam ecologicamente (Ayres, 1989).

De acordo com Boubli et al. (2008), C. ayresi é encontrado principalmente em

áreas de igapó e buritizais, enquanto a espécie C. hosomi é encontrado

principalmente em áreas de terra firme podendo inclusive chegar a altitudes

superiores a 1.500 m no maciço do Pico da Neblina e C. melanocephalus

essencialmente ocupa áreas de igapó na margem direita do rio Negro.

Apesar da nova proposta para delimitar os táxons (Boubli et al., 2008), a

diferenciação genética entre C. ayresi e C. hosomi foi questionada por Ferrari et al.

(2014), que consideraram baixa a diferenciação genética encontrada entre os dois

táxons (0,5 %). Ferrari et al. (2014) se baseiam também em dados morfológicos e

zoogeográficos para delimitar somente uma única espécie existente em cada lado

do rio Negro, porém elevando as subespécies de uakaris pretos ao status de

espécie, C. ouakari na margem direita do rio Negro e C. melanocephalus na margem

esquerda com uma subespécie, C. m. ayresi.

A proposta de Boubli et al. (2008) se suporta no argumento de que a

separação dos táxons ocorreu em uma escala evolutiva muito recente (0,5 a 0,3

milhões de anos) e que por isso os níveis de divergência genética seriam baixos.

Conforme os dados de Citocromo b utilizados por Boubli et al. (2008), C. ayresi

apresenta um caractere diagnóstico em relação a C. hosomi na posição 909 do

Citocromo b, uma transição de uma citosina, onde C. hosomi apresenta uma timina.

Adicionalmente, C. ayresi apresenta um caractere exclusivo (timina) no sítio 720 em

15

relação a todas as outras espécies do gênero que apresenta uma citosina na mesma

posição.

Figueiredo et al. (2013) baseados em sequências de Citocromo b, também

não suportaram a espécie C. ayresi, por estar aninhada dentro do grupo de C.

hosomi. Nesse trabalho, uma das amostras classificada como C. hosomi coletada no

rio Curunduri, limite da distribuição de C. ayresi, apresentou-se como grupo irmão de

C. ayresi, tornando assim C. hosomi parafilético ou anulando C. ayresi como uma

espécie válida. A amostra utilizada pelos autores provem de material antigo de

museu, sendo assim a sequência obtida pelos autores apresentaram ‘missing data’ o

que é um problema quando usadas em análises filogenéticas de espécies com

divergência recente.

Apesar das criticas, as novas argumentações levantadas (Figueiredo et al.,

2013; Ferrari et al., 2014) não trazem nenhuma informação nova sobre as relações

filogenéticas dos uakaris pretos. Situação similar foi observada em uma recém

descrita espécie de anta, Tapirus kabomani (Cozzuol et al., 2013) que recebeu

criticas de sua real existência (Voss et al., 2014) e levantando a contestação de qual

informação seria necessária para delimitar uma nova espécie (Cozzuol et al., 2014).

1. 3 NOVAS ABORDAGENS - NEXT GENERATICON SEQUENCING (NSG)

O desenvolvimento do sequenciamento de próxima geração (Next Generation

Sequencing – NGS) permite a obtenção de enorme quantidade de sequências e loci,

com velocidade, precisão e custo reduzido. Estas novas abordagens estão

revolucionando a geração de sequências e a descoberta de polimorfismos de

nucleotídeos único (single nucleotide polymorphisms - SNPs) ao longo de todo o

genoma (Helyar et al., 2011), que são variações em apenas uma base na sequência

do DNA. A utilização de NGS para a obtenção dos marcadores moleculares SNPs

chega a ser da ordem de milhares e estas variações de DNA entre indivíduos podem

ser usadas para inúmeros fins, como exemplo em nível populacional (Hohenlohe et

al., 2010, 2011, 2012).

Esta grande quantidade de informações proporcionaram a expansão dos

16

estudos no âmbito da genômica populacional que agora permitem o

desenvolvimento de estudos em organismos não modelo (Helyar et al., 2011). Estes

estudos permitiram explicar o encontro de adaptações paralelas (Hohenlohe 2010;

2012) e hibridização entre espécies de peixes (Hohenlohe, 2011), e agora estão

possibilitando estudos em escala filogenômica, definido como o estudo das relações

evolutivas baseados em análises comparativas de dados em escala genômica (Chan

e Ragan, 2013).

Como parte dos problemas observados em tentar delimitar linhagens

evolutivas são relacionados à baixa quantidade de informações geradas, a

filogenômica surge como uma nova ferramenta com capacidade para resolver as

relações entre os táxons (Prasad et al., 2008; Philippe et al., 2009, Cariou et al.,

2013) em virtude da geração de uma enorme quantidade de dados representativos

de todo o genoma do organismo e não apenas de regiões específicas.

Os poucos estudos com filogenômica, estão apresentando expectativas

animadoras em resolver problemas filogenéticos em escala fina e possibilitando o

esclarecimento das relações entre as linhagens evolutivas divergentes. Esta nova

abordagem permitiu, por exemplo, resolver problemas filogeográficos prévios em

mosquitos da espécie Wyeomyia smithii da América do Norte, problema este não

resolvido com dados de citocromo oxidase I (COI) (Emerson et al., 2010).

Recentemente, os dados NGS conseguiram suportar a monofilia das espécies

dos ciclídios do Lago Vitória (Wagner et al., 2013) que por muito tempo ficou mal

esclarecida, mostrando assim que a técnica permite resolver filogenias difíceis em

grupos com divergências recentes (< 15 mil anos) assim como identificar evolução

reticulada em peixes do gênero Xiphophorus da família Poeciliidae (Cui et al., 2013).

Análises genômicas praticamente resolveram a filogenia de macacos do novo

mundo (Perelman et al., 2011). Entretanto, as relações das espécies dentro dos

gêneros, não foram resolvidas para a maioria dos táxons.

Sendo assim, no presente trabalho, reexaminamos as hipóteses taxonômicas

de Hershkovitz (1987) e Boubli et al. (2008) utilizando dados do Citocromo b e

sequenciamento de nova geração para as espécies Cacajao melanocephalus, C.

hosomi e C. ayresi, o que permitirá melhorar a delimitação entre as linhagens

evolutivas com divergência recente. Além disso, a abordagem filogenômica auxiliará

17

delimitar de maneira mais refinada as relações filogenéticas entre as três espécies e

confirmar ou não o status de espécie para C. ayresi.

Também usamos a abordagem da genômica populacional com utilização de

marcadores SNPs, uma abordagem nova para os uakaris pretos, já que nunca foram

utilizadas informações a níveis populacionais para delimitar grupos biológicos, desta

forma procurando a existência de compartilhamento de sistema de acasalamento

entre os indivíduos de C. ayresi e C. hosomi.

2 OBJETIVOS

2.1. GERAL

Testar os limites específicos das espécies de uakaris pretos validando ou não

a espécie Cacajao ayresi por meio de dados do citocromo b e de sequenciamento

de nova geração.

2. 2. ESPECÍFICOS

1) Realizar uma nova reconstrução filogenética com o citocromo b, com maior

número de amostras, com o intuito de aumentar a compreensão das relações entre

as espécies.

2) Verificar a formação de grupos biológicos distintos dos indivíduos de C.

ayresi em relação às outras espécies irmãs, C. hosomi e C. melanocephalus com

dados de sequenciamento de nova geração.

3) Inferir se os indivíduos de C. ayresi formam uma linhagem evolutiva independente

de C. Hosomi.

18

3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1. AMOSTRAGEM

Foram utilizadas vinte e uma amostras de tecido muscular fresco, estas

compostas por cinco espécimens de C. ayresi, quatro de C. hosomi, onze de C.

melanocephalus e uma de C. calvus rubicundus para o sequenciamento de próxima

geração (Tabela 1, Anexo 1, Figura 3) e dez novas amostras para filogenia do

Citocromo B com a utilização de amostras depositadas no GenBank (Tabela 1,

Anexo 1, Figura 4). As amostras de tecido foram provenientes de coletas

anteriormente realizadas por Boubli e em expedições do projeto SISBIOTA –

BIOPHAM realizadas no município de Santa Isabel do Rio Negro e Japurá,

Amazonas. Estas amostras encontram-se depositadas na Coleção de Tecido do

Laboratório de Evolução e Genética Animal (LEGAL) na Universidade Federal do

Amazonas (UFAM) e na coleção de mamíferos do Instituto Nacional de Pesquisas

da Amazônia (INPA).

Figura 3 - Mapa de distribuição das espécies de uakaris preto e da amostragem utilizada para a

filogenia do Citocromo B no presente trabalho. Os pontos corresponde aos locais de coleta e os

polígonos às áreas de distribuição da espécie segundo a IUCN, sendo vermelho correspondente à

distribuição da espécie C. melanocephalus; vermelho, C. hosomi em amarelo , C. ayresi em marrom.

19

Figura 4 - Mapa de distribuição das espécies de uakaris preto e da amostragem utilizada para o

sequenciamento de próxima geração no presente trabalho. Os pontos corresponde aos locais de

coleta e os polígonos às áreas de distribuição da espécie segundo a IUCN, sendo vermelho

correspondente à distribuição da espécie C. melanocephalus em vermelho, C. hosomi em amarelo e

C. ayresi em marrom.

3.2 EXTRAÇÃO DO DNA

Os procedimentos laboratoriais foram realizados no Laboratório de Evolução

e Genética Animal (LEGAL) na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). A

extração do DNA genômico total procedeu conforme o método CTAB 2% (Doyle e

Doyle, 1987). Foram utilizados aproximadamente 3 a 5 mg de tecido fresco, que

foram incubados para a digestão com auxílio de 500 µL de tampão de lise CTAB 2%

e 15 µL de proteinase K (10 mg/mL). Após a digestão, foram realizadas lavagens

com 500 µL de clorofórmio - álcool isoamílico (24:1), posteriormente o DNA foi

precipitado com 500 µL de etanol absoluto, seguido com 500 µL de etanol 70 % e

ressuspendido em 50 µL de água ultrapura.

A integridade e pureza do DNA assim como sua concentração foram

checadas em Nanodrop 2000 (Thermo Scientific, USA) para posterior diluição.

20

3.3. SEQUENCIAMENTO DO DNA MITOCONDRIAL CITOCROMO B

O gene mitocondrial citocromo b foi amplificado pela reação em cadeia da

polimerase (PCR) para as dez amostras cujas sequências não constavam depositas

no GenBank.

Foram realizados duas PCRs para cada amostra com auxílio de primers

internos com sobreposição, com a finalidade de otimizar o tamanho do fragmentos

gerados. Os primers utilizados na primeira reação foram os primer forward L14725

(5'– CGAAGCTTGATATGAAAAACCATCGTTG - 3') (Kocher et al., 1990) em

conjunto com o primer Gina 538 reverse (5'– AGGCAAGATAAAGTGGAAG – 3')

(Figueiredo, 2013). Para a segunda reação de PCR, foram utilizados os primers

forward Jeff – 353 (5'– TTTTATTACTTACAACTATAGC - 3') (Figueiredo, 2013) junto

com o reverse H15915 (5' – AACTGCAGTCATCTCCGGTTTACAAGAC - 3') (Irwin et

al., 1991).

O volume final do PCR foi de 15 µL, contendo 6,2 µL de água ultrapura, 1,2

µL de dNTP (2,5 mM), 1,8 µL de MgCl2 (25 mM), 1,5 µL de tampão 10 X, 1,5 µL de

primer forward e reverse (2 pmol), 0,3 µL de taq DNA polimerase (1 U/µL) e 1 µL de

DNA (30 ng/µL).

As condições de ciclagem seguiram as seguintes condições: um ciclo de

desnaturação inicial a 95 ºC durante 2 minutos, seguido de 40 ciclos de

desnaturação a 95 ºC por 15 segundos, anelamento a 48 ºC por 30 segundos,

extensão por 72 ºC por 1 minuto e para finalizar um ciclo de extensão final a 72 ºC

por 5 minutos.

As amplificações foram checadas via eletroforese em gel de agarose a 1%

corado com GelRed™ (Biotium, Inc.) e purificados com uma solução de

Exonuclease I e Fosfatase alcalina de camarão (ExoSap-IT®) (USB Corporation)

(Fermentas) (Werle et al., 1994).

Após a purificação, os fragmentos de PCR foram sequenciados com uma

reação de 4,4 μL de água ultrapura; 1,3 μL de tampão de sequenciamento 5X; 0,3 μL

de BigDye Terminator v 3.1 (Applied Biosystems®); 2,0 μL dos primers forward e

reverse e 2,0 μL do produto de PCR purificado (20-50 ng/μL). As reações de

sequenciamento seguiram as recomendações indicadas pelo fabricante com a

21

temperatura de anelamento de 50 ºC (Platt et al., 2007). Posteriormente os produtos

sequenciados foram purificados com a adição de 2,5 µL de EDTA (125 mM) e 30 µL

de álcool absoluto e então resuspendidos em Hi-DiTM formamida e injetado em

sequenciador automático ABI 3500 (Applied Biosystems®).

3.4. PREPARAÇÃO DA BIBLIOTECA GENÔMICA

Para a construção da biblioteca genômica foi utilizada a técnica de ddRADseq

(double digest restriction-site-associated DNA) (Peterson et al., 2012), que faz uso

de duas enzimas de restrição, sendo uma de corte raro e outra de corte frequente,

com o objetivo de padronizar e otimizar o tamanho dos fragmentos gerados. Esta

etapa sofreu algumas modificações para ser utilizado na plataforma Ion TorrentTM.

Para essa etapa, foram utilizadas os DNAs das 21 amostras das espécies C.

ayresi, C. hosomi, C. melanocephalus e C. calvus rubicundus. O processo de

digestão do DNA, ocorreu de forma individual em um volume final de reação de 50

µL. Foram utilizados 4,0 µL de DNA (totalizando 200 ng), que foram digeridas com

0,1 µL (1 U) das enzimas de restrição (Thermo Scientific) SdaI (corte frequente) e

Csp6I (corte raro), respectivamente. Essas enzimas criam pontas coesivas em

ambas as extremidades das moléculas de DNA digerida, que permitem a ligação aos

adaptadores.

O adaptador P1 (comum a todas as amostras), utilizado 2,0 µl (0,1 µM), se

liga a ponta gerada pela enzima SdaI e o adaptador AY 2,0 µl (5 uM) (barcode único

de cada amostra), 2,0 µL, se liga a ponta gerada pela enzima Csp6I. Estes

adaptadores se ligam inicialmente por pontes de hidrogênio à molécula de DNA

digerida. A enzima T4 ligase 0,5 µl (5 U), permite a ligação fosfodiester com o auxílio

de 0,5 µl ATP (5 mmol) e 5 µl Tampão Tango 10X.

Este processo de digestão e ligação ocorre de forma simultânea. Após a

digestão, os adaptadores que possuem um nucleotídeo alterado em suas

sequencias, se ligam a molécula de DNA e desta forma alteram o sítio de

reconhecimento de corte das enzimas, sem ocorrer ligação e digestão simultânea.

As condições do tempo de digestão foram de 37 oC durante 90 minutos, para a

22

realização do processo de digestão do DNA pelas enzimas e posterior desnaturação

destas a 68o durante 15 minutos.

Após a digestão foi realizado um PCR teste para a verificação do

funcionamento da digestão. A PCR foi realizada em um volume final de 15 µL

contendo 5.25 µL de H2O, 1.5 µL de NH4SO4 10X, 1.5 µL do primer P1 (2 mM), 1.5

µL do primer A-amp (2 mM), 1.5 µL BSA (Bovinum Serum Albumin), 1,5 µL dNTPs

(10 mM), 1.5 µl MgCl2 (25 mM), 0,35 µl da taq DNA (1 U) polimerase e 1 µL de DNA

digerido. As condições do PCR foi de um ciclo inicial a 94 ºC por 2 minuto seguido

por 35 ciclos de 94 ºC por 15 segundos, 55 ºC por 35 segundos e 68 ºC por 1 minuto

e 30 segundos com ciclo único e final de 68 ºC por 1 minutos e 30 segundos. As

amplificações foram checadas via eletroforese em gel de agarose a 1% corado com

GelRed™ (Biotium, Inc.). Posteriormente, foi realizado a etapa de enriquecimento.

Cada uma das amostras digeridas contribui para a geração de cinco PCRs

distintas com finalidade de aumentar numero dos fragmentos de DNA que realizaram

somente a ligação com os adaptadores P1 e AY.

Na etapa de enriquecimento as condições de PCR ocorreram em volume final

de 25 µL, sendo 12.4 µL de H2O, 2,0 µL MgCl2 (25 mM), 2.0 µL dNTPs (10 mM), 2.5

µL de tampão NH4SO4 10X (Fermentas), 2.5 µL de primer P1 (2 mM), 2.5 µL de

primer A-amp (2 mM), 0,1 µL de Taq (0,5 U Klentaq DNA Polymerase Technology) e

1 µL de DNA digerido. As reações de PCR ocorreram em um ciclo inicial de 68 ºC

por 1 minuto seguido por 18 ciclos iniciando a 93 ºC por 10 segundos, 52 ºC por 35

segundos, 68 ºC por 1 min e 30 segundos e um ciclo final e único de 68 ºC por 7

minutos.

Após o término, cada uma das cinco amostras de PCR foram agrupadas em

um único tubo para totalizar um volume final de 100 µL. Estas amostras foram

purificadas em coluna do kit Illustra GFX PCR DNA e Gel Band Purification kit (Ge

Healthcare Life Science, USA) de acordo com as instruções do fabricante.

Posteriormente todas as amostras contribuíram de forma equimolar para a

formação de um pool genômico em um único tubo, estas foram designadas para

corte e seleção dos fragmentos alvos a serem sequenciados. Estes são definidos

por modelos computacionais que levam em consideração um genoma completo

como referência, sendo que no nosso caso, nós usamos o genoma das espécies

23

Callitrix jaccus e Saimiri boliviensis, espécies filogeneticamente próximas,

depositadas no GenBank.

Esta relação do tamanho do genoma e corte das enzimas indicou a seleção

dos fragmentos a serem utilizados indicando o modelo de corte range com tamanho

dos fragmentos variando entre 350 – 450 pb, esta etapa foi realizada no seletor de

fragmentos em gel de agarose 2 % Pippin Prep (Sage Science).

Nesta etapa é importante selecionar o tamanho correto dos fragmentos para

produzir fragmentos em tamanho ótimo compatíveis com a capacidade da geração

de dados do chip utilizado no sequenciador, já que se perde informações com

fragmentos maiores ou menores.

Após a construção da biblioteca foram seguidas as recomendações dos

fabricantes para o sequenciamento no sequenciador Ion Torrent (PGM, Life

Technologies) com a utilização do kit de sequenciamento 318 Ion PGM chip de 400

pb.

3.5. ANÁLISE DOS DADOS

3.5.1. ANÁLISES DOS DADOS DO DNA MITOCONDRIAL

Para a construção da filogenia com o gene citocromo b, utilizamos

sequências de trabalhos prévios depositadas no GenBank (Boubli et al. 2008; 2015;

Figueiredo-Ready et al., 2013) e as sequências geradas no presente estudo,

totalizando 41 sequências (Tabela 1, Anexo 1).

Os eletroferogramas foram importados para o programa Geneious 6.1.7

(Kearse et al., 2012) e as sequências consensos foram geradas. Cada sequência

consenso foi traduzida in silico, quando apropriado e posteriormente editada e

alinhada. Para essa etapa, nós incluímos as 10 amostras sequenciadas no presente

estudo com total de 1095 pb, juntamente com amostras depositadas no GenBank.

Para encontrar o melhor modelo molecular de substituição a ser usado na

reconstrução filogenética, foi utilizado o programa JModeltest 2.1.5 (Darriba et al.,

2012), que indicou HKY 85 (Hasegawa et al., 1985), como melhor modelo.

A reconstrução filogenética pelo método de máxima verossimilhança foi

24

realizada no programa PHYML (Guindon e Gascuel 2003) utilizando bootstrap de

1000 replicas, um método que consiste em um algorítimo simples que ajusta as

topologias das árvores e comprimento dos ramos simultaneamente. Este algoritmo

começa de uma árvore inicial construída por um rápido método baseado em

distância e modifica esta árvore para melhorar sua probabilidade a cada iteração.

Devido aos ajustes simultâneos na topologia e comprimento dos braços, somente

poucas interações são suficientes para atingir o ótimo (Guindon e Gascuel 2003).

Foram utilizadas as espécies Chiropotes chiropotes, Chiropotes utahicki, Cacajao

calvus rubicundus e Cacajao calvus calvus como grupos externos.

3.5.2 ANÁLISES NGS

Para esta etapa foi utilizado o programa pyRAD (Eaton, 2014), desenvolvido

para análises a nível populacional e filogenético. Este programa é um pipeline que

agrupa alinhamentos de novo para RADseq loci com a aplicabilidade de uso para

diferentes técnicas de preparo de bibliotecas genômicas.

Este programa separa inicialmente os RADseq de cada indivíduos por

barcode e, posteriormente, realiza alinhamento de novo (sem genoma de referência)

procurando sequencias ortólogas segundo padrão de similaridade de 88%, sendo

que cada alelo deve ter uma cobertura mínima de sete leituras (sequencias).

Posterior à construção de loci de novo o pipeline realizou a construção de

sequencia concatenadas únicas por indivíduo as quais são homólogas entre elas e a

realização de uma matriz de SNPs não ligados para análises populacionais.

3.5.3. RECONSTRUÇÃO FILOGENÉTICA

A construção filogenética dos RADseq para as sequencias concatenadas foi

construída no programa PhyML implementado no programa Geneious, com a

utilização de 1000 réplicas de Bootstrap e suporte pelo modelo evolutivo

Shimodaira-Hasegawa (1999) com a utilização de C. calvus novaesi como grupo

externo.

25

3.5.4. GRUPOS BIOLÓGICOS

Para determinar a existência de grupos biológicos distintos entre C. ayresi, C.

hosomi e C. melanocephalus foi utilizada uma abordagem Bayesiana de

agrupamento probabilístico em um modelo em que há K populações, cada uma das

quais é caracterizada por um conjunto de frequências alélicas em cada locus

(Pritchard et al., 2000). Esta abordagem permite atribuir indivíduos às populações

com base em seus genótipos multilocos e estima simultaneamente a frequência dos

alelos nas populações. Este método pode ser aplicado a diversos marcadores como

por exemplo SNPs (Pritchard et al., 2000; Falush et al., 2003).

No caso dos uakaris, ocorrerá a busca das frequências alélicas de casa

indivíduo para cada locus na tentativa de diminuir o desvio do equilíbrio de Hardy-

Weinberg com objetivo de determinar a existência de grupos biológicos (Falush et al.

2003) utilizado os modelos de mistura (admixture model) e de frequências alélicas

correlacionadas entre populações (correlated allele frequencies).

O admixture model, permite que cada indivíduo possa apresentar uma

característica genética não necessariamente exclusiva à apenas uma população

biológica, uma vez que esses organismos podem trazer consigo uma herança

genética de ancestrais recentes derivados de mais de uma população biológica

(Falush et al., 2003).

O correlated allele frequencies, assume que as frequências alélicas em

populações proximamente relacionadas devem ser similares, sendo ele capaz de

identificar populações que são subestruturadas uma vez que a estrutura

populacional gera desequilíbrio de ligação (Falush et al. 2003). Todos esses modelos

foram então implementados no programa STRUCTURE versão 2.3.4 (Pritchard et al.

2000; Falush et al. 2003; Falush et al., 2007).

Para cada valor de K testado, foram realizadas 1.000.000 réplicas sob o

algoritmo Monte Carlo via Cadeias de Markov (MCMC) com valores de corte (burn-

in) de 100.000 permutações. Os outputs produzidos foram importados dentro do

programa STRUCTURE HARVESTER 0.6.92 (Earl e VonHoldt, 2012), onde os

dados obtidos foram sumarizados. Atribui cada indivíduo sua composição genética

no programa CLUMP 1.1.2 (Jakobsson & Rosenberg, 2007), que avalia a

26

similaridade de tais resultados e produz uma matriz final dos dados.

Tal matriz foi analisada dentro do programa DISTRUCT 1.1 (Rosenberg,

2004), onde foi elaborada a representação gráfica dos mesmos. O valor de K

escolhido foi aquele maximizado pelo modelo log-likelihood (log(P(X/K)), por esta ser

frequentemente a melhor escolha para o número de populações de acordo com os

modelos testados (Falush et al. 2003).

4. RESULTADOS

4.1. RECONSTRUÇÃO FILOGENÉTICA COM O GENE CITOCROMO B

Os resultados da reconstrução filogenética do citocromo b mostram a

existência de uma monofilia recíproca existente entre as três espécies estudadas

(Figura 4). Para isso deve-se excluir a amostra duvidosa portadora de “missing data”

causadora da parafilia, MPEG 8991.

A espécie C. melanocephalus teve maior representação com vinte uma

sequências utilizadas destas, sete novas sequencias incluídas aumentando a

distribuição da amostragem na filogenia com indivíduos do alto rio Japurá e todos os

indivíduos utilizados se agrupam com alto valor de suporte. Na margem esquerda

são encontradas as espécies C. hosomi com oito sequências, sendo uma sequência

nova e C. ayresi com sete sequencias, duas novas, todas sequências se agrupam

em seus respectivos grupos taxonômicos.

27

Figura 5 – Árvore filogenética de verossimilhança do Citocromo b representando as linhagens

evolutivas encontradas. Cacajao melanocephalus em vermelho, Cacajao hosomi em amarelo e

Cacajao ayresi em marrom indicando a monofilia do grupo com a exclusão da amostra MPEG 8991

de qualidade inadequada.

4.2. FILOGENÔMICA

A construção filogenética com a utilização dos RADseq, foi realizada com a

utilização de 626 loci RADseq, destes 1.235 sendo sítios variáveis e 568

28

parcimoniosos. Os resultados indicam a existência de duas linhagens distintas para

as três espécies estudas, com >95% de valor de bootstrap. Foi delimitada uma

linhagem na margem direita do rio Negro composta pelos onze indivíduos de C.

melanocephalus, e na margem esquerda uma linhagem que agrupa os quatro

indivíduos da espécie C. hosomi junto com os cinco indivíduos da espécie C. ayresi

(Figura 6).

Figura 6 – Árvore filogenética de verossimilhança de RADseq representando as linhagens evolutivas

encontradas. Cacajao melanocephalus em vermelho, suportada por 0,969. Cacajao hosomi e

Cacajao ayresi em amarelo indicando um grupo polifilético com 0,999 de valor de suporte.

29

4.3 GRUPOS BIOLÓGICOS

Os resultados foram construídos a partir de uma matriz de SNPs de 477

SNPs não ligados. Foram testados K=5, o que melhor representa a formação de

grupos biológicos foi de K=2 (Figura 6), indicados pelos valores de probabilidade

posterior lnPr=-2324.23 (Figura 7). Os resultados dos grupos biológicos indicam que

as três espécies estudadas se agrupam em dois grupos biológicos distintos, cada

grupo ocupa uma margem do Rio Negro, sendo este barreira para os grupos. Os

onze indivíduos indicados pertencentes a espécie C. melanocephalus formam um

grupo biológico, ocupando a margem direita, enquanto que os quatro indivíduos

indicados serem C. hosomi e os cinco indivíduos indicados como C. ayresi, formam

um grupo biológico na margem esquerda, o grupo da margem esquerda compõe as

duas espécies, indícios da existência de compartilhamento de sistema de

acasalamento.

Dois indivíduos do grupo biológico da margem esquerda, classificados como

C. hosomi, são híbridos (indivíduos que possuem acima de 5% do seu genoma

proveniente de outra espécie). Estes possuem mistura genética com o grupo

biológico da margem direita composto por C. melanocephalus. Estes resultados

indicam a possibilidade de quebra de barreira nas cabeceiras do Rio Negro e

provável existência de uma área de contato com uma zona de hibridização entre os

dois grupos biológicos.

C. melanocephalus C. hosomi C. ayresi

Figura 7 – Grupos biológicos encontrados. Em vermelho C. melanocephalus forma um grupo, em

amarelo C. hosomi e C. ayresi, formam outro grupo biológico.

30

Figura 8 - Resultado do indicando k=2, como a melhor probabilidade para explicar os dados. A

vertical mostra a média da estimativa da distribuição das probabilidades dos dados e a horizontal

número de clusters testados (k) e o desvio padrão (SD) da probabilidade média.

5. DISCUSSÃO

No momento, existem três espécies válidas de uakaris preto, Cacajao

melanocephalus na margem direita do rio Negro, C. hosomi e C. ayresi na margem

esquerda do rio Negro. Estas espécies foram descritas em uma revisão taxonômica

do grupo, baseada em critérios morfológicos (morfometria e coloração), ecológicos

(utilização do ambiente), da distribuição geográfica (ocorrência alopátrica) e filogenia

molecular (Citocromo b) (Boubli et al., 2008). Após esta proposta que reorganizou a

antiga taxonomia que reconhecia apenas uma espécie separada em duas

subespécies (C. m. ouakari e C. m. melanocephalus) (Hershkovitz, 1987), surgiram

contestações e atualmente não existe consenso sobre quantas espécies de uakaris

pretos existem: as três espécies C. melanocephalus (margem direita do rio Negro) e

C. hosomi e C. ayresi (margem esquerda do rio Negro) sensu Boubli et al., (2008);

ou C. ouakari (margem direita do rio Negro) e C. melanocephalus (margem esquerda

do rio Negro) senso Ferrari et al. (2014).

31

A primeira contestação surge com uma nova construção filogenética do grupo

com a utilização de novas amostras provenientes de peles de museu (Figueiredo et

al., 2009). Uma das amostras proporciona uma parafilia entre C. hosomi e C. ayresi

porém, esta sequencia possui qualidade baixa (Figueiredo et al., 2009). A segunda

contestação surge propondo uma nova organização taxonômica se baseando nos

resultados filogenéticos da primeira contestação, com a adição de novas

informações morfológicas e biogeográficas (Ferrari et al. 2014). Propõe o

reconhecimento de duas espécies válidas uma de cada lado do rio Negro,

reestabelecendo a nomenclatura anterior sensu Hershkovitz (1987) e classificando

C. ayresi como subespécie de C. melanocephalus.

A nova proposta da reconstrução filogenética do presente trabalho com o

Citocromo b com a inclusão de novas amostras propõe a existência de uma

monofilia recíproca, esta encontrada com a exclusão da amostra MPEG 8991

identificada como portadora de “missig data”, que causa a parafilia entre C. hosomi e

C. ayresi.

Cada uma dessas três espécies classificadas como válidas, C.

melanocephalus, C. hosomi e C. ayresi; possui todos seus indivíduos agrupados no

mesmo clado e por isso classificadas como espécies válidas sob o conceito

filogenético de espécies (Cracraft, 1983). Este conceito filogenético identifica

espécies sob o critério da monofilia, sendo que os grupos monofilético são definidos

como linhagens que contém todos os descendentes conhecidos de um ancestral

comum. Desta forma, as espécies são identificadas estimando-se a filogenia de

populações estreitamente relacionadas e encontrando os menores grupos

monofiléticos, para serem espécies filogeneticamente separadas. Essas populações

ficaram separadas durante um tempo suficiente o que permitiu a evolução das

características diagnósticas.

Em contrapartida, as novas abordagens para a construção filogenética

baseadas em dados genômicos, utilizadas no presente trabalho, trouxeram novas

interpretações sobre os uakaris pretos como observado na filogenia dos RADseq.

Com dados encontrados, fica clara a existência de duas linhagens evolutivas

distintas, com os indivíduos classificados como C. melanocephalus formando uma

linhagem na margem direita do rio Negro, enquanto os indivíduos classificados como

32

C. hosomi e C. ayresi formando outra linhagem na margem esquerda. Desta forma,

existe uma polifilia na linhagem evolutiva composta por C. hosomi e C. ayresi, sendo

assim e levando em consideração o conceito filogenético de espécies proposto por

Cracraft (1983), as duas espécies não poderiam ser classificadas como espécies

distintas e, portanto, não estão seguindo trajetórias evolutivas independentes.

Os resultados da formação dos grupos biológicos são inéditos para os uakaris

pretos, ainda não tendo sido testados a nível populacional. Estes dados indicam a

existência de dois grupos biológicos distintos, sendo um composto pelos indivíduos

de C. melanocephalus e outro composto pelos indivíduos de C. hosomi e C. ayresi.

De acordo com o conceito biológico de espécies, o isolamento reprodutivo é o

critério essencial na identificação da independência evolutivas das espécies, porque,

confirma a ausência de fluxo gênico. Se estas populações de organismos não se

hibridizam regularmente na natureza, ou quando ocorre, incapaz de produzir prole

fértil, estas estão isoladas reprodutivamente e são consideradas espécies distintas.

Entre C. hosomi e C. ayresi foi observado que estas possuem compartilhamento no

sistema de acasalamento, formam um mesmo grupo biológico e por isso não são

válidas sob este critério.

Separação entre as linhagens mitocondriais também foram relatadas em

Gato leopardo (Prionailurus bengalensis) na Índia. Estas separadas entre linhagens

ao norte e sul dentro da mesma espécie, com suas respectivas populações bem

estruturadas em cada região. As variações climáticas foram indicadas como

prováveis explicação para a separação entre as duas linhagens. Nesse caso ocorreu

uma separação ecológica entre as duas linhagens (Mukherjee et al., 2010).

Discordâncias entre os resultados do DNA mitocondrial e nuclear como

encontrados no presente estudo são relatadas na literatura. Como a taxa de

evolução do genoma mitocondrial é estimada em 5, 7 X 10 -8 dez vezes mais rápida

que o nuclear (Brown et al. 1982), pode-se encontrar divergência entre genes em

uma mesma espécie assim como separação mitocondrial entre a mesma espécie.

Discordâncias dos dados do DNA mitocondrial e nuclear foi encontrado em

um estudo realizado com peixes do gênero Xiphophorus. Este gênero possui uma

divisão na morfologia que separa as duas formas (platis e espadas) porém, as

espécies X. clemenciae e X. monticolus se agrupam pelo DNA mitocondrial

33

juntamente com os platis porém, sua morfologia indica pertencer aos espadas.

Diferentemente, com a utilização de genes nucleares foi encontrada incongruência,

sendo que a nova resolução filogenética agrupou as duas espécies com seus

respectivos grupos morfológicos, indicando que estes surgiram por evento de

hibridização (Kang et al., 2013). Posteriormente, este trabalho foi reexaminado com

a utilização de RADseq que corroborou com a nova classificação das espécies por

genes nucleares (Jones et al., 2013).

Dados de RADseq também foram utilizados por Cui et al., (2014) para

esclarecer as relações filogenéticas em presença de hibridização dos peixes

espadas e platis. Os resultados demonstraram que a hibridação foi

surpreendentemente generalizada na história evolutiva do gênero confirmando

também a classificação de X. clemenciae e X. monticolus.

Argumentações atuais sugerem a importância da inclusão de dados nucleares

para a melhor resolução das relações filogenéticas das espécies e indicando que o

DNA mitocondrial é uma ferramenta extremamente útil, mas que em certos casos

pode ser limitada (Barrowclough e Zink, 2009) ou apresentar resultados

discordantes. Sendo assim, a inclusão de informações geradas por NGS são de

grande importância para a resolução de difícil resolução baseados apenas em um

tipo de marcador, como o mitocondrial.

Um exemplo, é o trabalho de Wagner et al., (2013) que por meio de dados de

NGS conseguiram encontrar resoluções ao nível de espécie para dezesseis

espécies de peixes ciclídeos do Lago Vitória provenientes de uma mesma

comunidade de uma ilha rochosa com radiação adaptativa, onde trabalhos

anteriores baseados apenas em análises filogenética não encontraram nenhuma

resolução.

Outro exemplo é o trabalho de Emerson et al. (2010), onde os autores

conseguiram delimitar as linhagens evolutivas do mosquito Wyeomyia smithi, que

possuíam relações mal esclarecidas com outros dados, pois divergiram

recentemente. Neste trabalho foi encontrada separação da espécie em duas

principais linhagens na América do Norte, uma ao norte e outra ao sul com divisões

internas para três formas ao norte e duas ao sul.

Porém alguns trabalhos com a utilização de RADseq indicam indícios da

34

separação filogenética entre as linhagens de subespécies de borboletas do gênero

Heliconius e formação de grupos biológicos similares entre as linhagens indicadas

como divergentes (Nadeau et al., 2013).

As duas linhagens evolutivas dos uakaris encontradas neste estudo com

dados de RADseq se agruparam em dois grupos biológicos distintos, um em cada

margem do rio Negro e desta maneira, fica clara a importância do rio na separação

destas linhagens, sendo um agente importante no processo de diversificação destes

grupos. O rio Negro é conhecido por ser uma das grandes barreiras biogeográficas

da Amazônia e anteriormente já tinha sido proposto como agente vicariante entre as

linhagens dos uakaris pretos assim como para outros primatas (Boubli et al., 2015) e

aves não voadoras do gênero Psophia (Ribas et al., 2012). Porém, o indício da

existência de híbridos entre os dois grupos biológicos encontrados indica uma

provável quebra na barreira nas cabeceiras, que anteriormente já havia sido

proposta para aves (Naka et al., 2012). Casos de hibridização para macacos do

novo mundo já foram relatadas anteriormente em macaco-aranha, guaribas e

calitriquideos (Arnould et al., 2009).

CONCLUSÃO

Diante das novas evidências apresentadas, C. hosomi e C. ayresi não podem

ser classificadas como espécies distintas, por serem agrupadas por dois critérios de

delimitação de espécies. Estas se encontram em polifilia em uma mesma linhagem

evolutiva bem suportada e ficarem agrupadas em um mesmo grupo biológico e

desta forma compartilham sistema de acasalamento, sendo assim, C. hosomi e C.

ayresi não podem existir como espécies distintas, pois os seus respectivos genomas

se encontram em equilíbrio de Hardy-Weinberg. Porém, também pode ser um caso

de estruturação intraespecífica ou um caso de especiação adaptativa incipiente, um

processo em início de especiação, e desta forma necessita a busca de genes sobre

seleção associados com a divergência.

35

REFERÊNCIAS

Arnold, M. L,; Meyer, A. 2006. Natural hybridization in primates: One evolutionary

mechanism. Zoology, 109: 261-276.

Ayres, J. M. 1989. Comparative feeding ecology of the uakari and bearded saki,

Cacajao and Chiropotes. Journal of Human Evolution, 18: 697–716.

Boubli, J. P. 1993. Southern expansion of the geographical distribution of Cacajao

melanocephalus melanocephalus. International Journal of Primatology, 14(6): 933–

937.

Boubli, J. P. 1999. Feeding ecology of black-headed uacaris (Cacajao

melanocephalus melanocephalus) in Pico da Neblina National Park, Brazil.

International Journal of Primatology, 20(5): 719-749.

Boubli, J. P.; da Silva, M. N.; Amado, M. V.; Hrbek, T.; Pontual, F. B.; Farias, I. P.

2008. Taxonomic Reassessment of Cacajao melanocephalus Humboldt (1811), with

the Description of Two New Species. International Journal of Primatology, 29: 723–

741.

Boubli, J. P.; Ribas, C.; Lynch Alfaro, J. W.; Alfaro, M. E.; da Silva, M. N. F.; Pinho, G.

M.; Farias, I. P. 2015. Spatial and temporal patterns of diversification on the Amazon:

A test of the riverine hypothesis for all diurnal primates of Rio Negro and Rio Branco

in Brazil. Molecular Phylogenetics and Evolution, 82: 400–412.

Brown, W. M.; Prager, E. M.; Wang, W.; Wilson, C. 1982. Mitochondrial DNA

Sequences of Primates: Tempo and Mode of Evolution, Journal of Molecular

Evolution 18: 225-239

Cozzuol, M. A.; Clozato, C. L.; Holanda, E. C.; Rodrigues, F. H. G.; Nienow, S.;

Thoisy, B.; Redondo, R. A. F.; Santos, F. R. 2013. Journal of Mammalogy, 94(6):

36

1331–1345.

Cozzuol, M. A.; Thoisy, B.; Fernades-Ferreira, H.; C.; Rodrigues, F. H. G.; Santos, F.

R. How much evidence is enough evidence for a new species? Journal of

Mammalogy, 95(4) :899–905.

Cui, R.; Schumer, M.; Kruesi, K.; Walter, R.; Andolfatto, P.; Rosenthal, G. G. 2013.

Phylogenomics Reveals Extensive Reticulate Evolution in Xiphophorus Fishes.

Evolution, 67-8: 2166–2179.

Cracraft, J. 1983. Species concepts and speciation analysis. Current Ornithology, 1:

159-187.

Cariou, M.; Duret, L.; Charlat, S. 2013. Is RAD-seq suitable for phylogenetic

inference? An in silico assessment and optimization. Ecology and Evolution, 3(4):

846–852.

Chan, C. X.; Ragan, M. A. Next-generation phylogenomics. Biology Direct 2013, 8: 3.

Darriba D.; Taboada, G. L.; Doallo, R.; Posada, D. 2012.jModelTest 2: more models,

new heuristics and parallel computing. Nature Methods, 9(8): 772.

Doyle, J. J.; Doyle, J. L. 1987. A rapid DNA isolation procedure for small quantities of

fresh leaf tissue. Phytochemical Bulletin, 19: 11-15.

De Queiroz K (1998) The general lineage concept of species, species criteria, and

the process of speciation: A conceptual unification and terminological

recommendations. In: Howard D. J., Berlocher S.H., (eds) Endless Forms: Species

and Speciation. Oxford University Press, Oxford, England, 57–75.

de Queiroz, K. 2007. Species Concepts and Species Delimitation. Systematic

Biology, 56: 879 – 886.

37

Earl, D. A.; von Holdt, B. M. 2012. STRUCTURE HARVESTER: a website and

program for visualizing STRUCTURE output and implementing the Evanno method.

Conservation Genetics Resources, 4: 359–361.

Eaton, D. A. R. 2014. PyRAD: assembly of de novo RADseq loci for phylogenetic

analyses. Bioinformatics, 30(13): 1844-1849.

Emerson, K. J.; Merz, C. R.; Catchen, J. M.; Hohenlohe, P. A.; Cresko, W. A.;

Bradshaw, W. E.; Holzapfel, C. M. 2010. Resolving postglacial phylogeography using

high-throughput sequencing. Proceedings of the National Academy of Sciences of

the United States of America, 107(37): 16196-16200.

Falush D, S. M.; Pritchard, J. K. 2003. Inference of population structure using

multilocus genotype data: linked loci and correlated allele frequencies. Genetics, 164:

1567–1587.

Falush D, S. M.; Stephens, M.; Pritchard, J. K. 2007. Inference of population

structure using multilocus genotype data: dominant markers and null alleles.

Molecular Ecology Notes, 7: 574–578.

Ferrari, S.; Guedes, P. G.; Figueiredo-Ready, W. M. B.; Barnett, A. A. 2014.

Reconsidering the taxonomy of the Black-Faced Uacaris, Cacajao melanocephalus

group (Mammalia: Pitheciidae), from the northern Amazon Basin. Zootaxa 3866 (3):

353–370.

Figueiredo-Ready, W. M. B.; Schneider, H.; Ferrari, S. F.; Haralda, M. L.; da Silva, J.

M. C.; Silva Júnior, J. S.; Bates, J. M. 2013. A molecular phylogeography of the

uacaris (Cacajao). In: Veiga, E.; Ferrari, S. F.; Narconk, M. A. Evolutionary Biolgy and

Conservation of Tits, Sakis and Uacaris. Cambrige University Press, p. 23-27.

Fleagle, J. G. 2014. Identifying Primate Species: Themes and Perspectives.

38

Evolutionary Anthropology, 23: 39–40.

Groves,C. 2014. The Species in Primatology. Evolutionary Anthropology, 23: 2–4.

Guindon, S.; Gascuel, O. 2003. A Simple, Fast, and Accurate Algorithm to Estimate

Large Phylogenies by Maximum Likelihood. Systematic biology, 52(5): 696–704.

Hasegawa, M.; Kishino, H.; Yano, T. 1985. Jounal of Molecular Evolution, 22: 160-

174.

Hernandéz-Camacho, J.; Cooper, R. W. 1976. The nonhuman primates of Colombia.

In Thorington Jr, R. W. e Heltne, P. G. Neotropical Primates. Field Studies and

Conservation. Washington, DC: National Academy of Science, p. 35–69.

Hershkovitz, P. 1987. Uacaries, New World Monkeys of the Genus Cacajao

(Cebidae, Platyrrhini): A Preliminary Taxonomic Review With the Description of a

New Subspecies. American Journal of Primatology, 12: 1-53.

Helyar, S. J.; Hemmer-Hansen, J.; Bekkevold, D.; Taylor, M. I.; Ogden, R.; Limborg,

M. T.; Cariani, A.; Maes, G. E.; Diopere, E.; Carvalho, G. R.; Nielsen, E. E. 2011.

Application of SNPs for population genetics of nonmodel organisms: new

opportunities and challenges. Molecular Ecology Resources, 11: 123–136.

Hohenlohe, P. A.; Bassham, S.; Etter, P. D.; Stiffler, N.; Johnson, E. A.; Cresko, W. A.

2010. Population genomics of parallel adaptation in threespine stickleback using

sequenced RAD Tags. PLoS Genetics, 6: 1000862.

Hohenlohe, P. A.; Amish, S. J.; Catchen, J. M.; Allendorf, F. W.; Luikart, G. 2011.

Next-generation RAD sequencing identifies thousands of SNPs for assessing

hybridization between rainbow and westslope cutthroat trout. Molecular Ecology

Resources, 11: 117–122.

39

Hohenlohe, P. A.; Bassham, S.; Currey, M.; Cresko, W. A. 2012. Extensive linkage

disequilibrium and parallel adaptive divergence across threespine stickleback

genomes. Philosophical Transactions of the Royal Society B-Biological Sciences ,

367: 395–408.

Irwin, D. M.; Kocher, T. D.; Wilson, A. C. 1991. Evolution of cytochrome b gene in

mammals. Journal of Molecular Evolution 32: 128-144.

Jakobsson, M.; Rosenberg, N.A., 2007. CLUMPP: a cluster matching and

permutation program for dealing with label switching and multimodality in analysis of

population structure. Bioinformatics, 23(14): 1801–1806.

Kocher, T. D.; Thomas, W. K.; Meyer, A.; Edwards S.V.; Pääbo, S.; Villablanca, F.X.

1989. Dynamics of mtDNA evolution in animals: amplification and sequencing with

conserved primers. Proceedings of Natinal Academy of Sciences. USA 86: 6196–

6200.

Mayr, E. 1942. Systematics and the origin of species. Columbia University Press,

New York.

Nadeau, N. J.; Martin, S. H.; Krzysztof, M. K.; Salazar, C.; Dasmahapatra, K. K.;

Davey, J. W.; Baxter, S. W.; Blaxter, M. L.; Mallet, J.; Jiggins, C. D. 2013. Genome-

wide patterns of divergence and gene flow across a butterfly radiation. Molecular

Ecology, 22, 814–826.

Naka, L. N.; Bechtoldt, C. L.; Henriques, L. M. P.; Brumfiel, R. T. 2012. The Role of

Physical Barriers in the Location of Avian Suture Zones in the Guiana Shield,

Northern Amazonia. The American Naturalist, 179(4): E115-E132.

Padial, J. M.; Miralles, A.; De la Riva, I.; Vences, M. Review The integrative future of

taxonomy. Frontiers in Zoology 2010, 7:16.

40

Perelman, P.; Johnson, W. E.; Roos, C., Seuanez, H. N.; Horvath, J. E.; Moreira, M.

A. M.; Kessing, B., Pontius, J.; Roelke, M.; Rumpler, Y.; Schneider, M. P.; Silva, A.;

O’Brien, S. J.; Pecon-Slattery, J. 2011 A Molecular Phylogeny of Living Primates.

Plos Genetics, 7(3): e1001342.

Peterson, B. K.; Weber, J. N.; Kay, E. H.; Fisher, H. S.; Hoekstra, H. E. Double Digest

RADseq: An Inexpensive Method for De Novo SNP Discovery and Genotyping in

Model and Non-Model Species. PLoS ONE, 7: 37135.

Philippe, H.; Derelle, R.; Lopez, P.; Pick, K.; Borchiellini, C.; Boury-Esnault, N.;

Vacelet, J.; Renard, E.; Houliston, E.; Quéinnec, E.; Da Silva, C.; Wincker, P.; Le

Guyader, H.;Leys, S.; Jackson, D. J.; Schreiber, F.; Erpenbeck, D.; Morgenstern, B.;

Worheide, Manuel, M. 2009. Phylogenomics Revives Traditional Views on Deep

Animal Relationships. Current Biology, 19: 706–712.

Platt, A., Woodhall, R. & George Jr, A., 2007. Improved DNA sequencing quality and

efficiency using an optimized fast cycle sequencing protocol. BioTechniques, 43(1):

58–62.

Pritchard, J. K. Stephens, M. Donnelly, P. 2000. Inference of population structure

using multilocus genotype data. Genetics, 155: 945–959.

Prasad, A. B.; Allard, M. W.; Green, E. D. Program NCS. 2008. Confirming the

phylogeny of mammals by use of large comparative sequence data sets. Molecular

Biology and Evolution, 25, 1795–1808.

Ribas, C. C.; Aleixo, A.; Nogueira, A. C. R.; Miyaki, C. Y.; Cracraft J. 2011. A

palaeobiogeographic model for biotic diversification within Amazonia over the past

three million years. Proceedings of the Royal Society, 279 (1729), 681–689.

Rosemberg, N. A. 2004. DISTRUCT : a program for the graphical display of

population structure. Molecular Ecology Notes, 4: 137–138.

41

Shimadaira, H.; Hasegawa, M. 1999. Multiple Comparisons of Log-Likelihoods with

Applications to Phylogenetic Inference. Molecular Biology and Evolution, 16(8):1114–

1116.

Thompson, J. D.; Higgins, D. G.; Gibson, T. J .CLUSTAL W: improving the sensitivity

of progressive multiple sequence alignment through sequence weighting, position-

specific gap penalties and weight matrix choice. Nucleic Acids Research, 22(22):

4673-4680.

Voss, R. S.; Helgen, K. M.; Jansa, S. A. 2014. Extraordinary claims require

extraordinary evidence: a comment on Cozzuol et al. (2013) .Journal of Mammalogy,

95(4) :893–898.

Wagner, C. E.; Keller, I.; Wittwer, S.; Selz, O. M.; Waiko, W.; Greuter, L.; Sivasundar,

A.; Seehausen, O. 2013 .Genome-wide RAD sequence data provide unprecedented

resolution of species boundaries and relationships in the Lake Victoria cichlid

adaptive radiation. Molecular Ecology Resources, 22: 787–798.

Werle, E, Scneider, C. 1994. Convenient single-step, one tube purification of PCR

products for direct sequencing. Nucleic Acids Research, 22: 4354–4355.

42

Tabela 1. Amostragem utilizada no estudo

EspéciesNumero de

TomboNúmero GenBank Localidade NGS Longitude Latitude Artigo referente

C. ayresi CTGA 5666 Presente estudo Margem esquerda rio Acará, AM Sim -62,95 -0,38 Presente estudo

C. ayresi CTGA 5667 Presente estudo Margem esquerda rio Acará, AM Sim -62,95 -0,38 Presente estudo

C. ayresi INPA 5246 EU560409/KM370849 Margem esquerda Igarapé Madixi, AM Sim -63,34 -0,12 Boubli et al., 2008

C. ayresi INPA 5247 EU560410/KM370850 Margem esquerda rio Acará, AM Sim -62,91 -0,54 Boubli et al., 2008

C. ayresi INPA 5248 EU560411 Margem esquerda rio Acará, AM Sim -62,91 -0,54 Boubli et al., 2008

C. ayresi USNM 406422 KM370847 AM, Venezuela Não -65,28 2,25 Boubli et al., 2015

C. hosomi MPEG 8991 FJ531650 rio Curunduri, AM Não Não NãoFigueiredo et al., 2009

C. hosomi INPA 5242 EU560418 São Gabriel da Cacheira, AM Sim -66,11 0,61 Boubli et al., 2008

C. hosomi CTGA 5698 EU560412 Serra do Imeri, Xamata, AM Sim -65,27 0,49 Boubli et al., 2008

C. hosomi CTGA 5716 EU560413/KM370848 Serra do Imeri, Xamata, AM Sim -65,27 0,49 Boubli et al., 2008

C. hosomi JPB 163 Presente estudo AM, Venezuela Sim -66,28 0,93 Presente estudo

C. hosomi INPA 5249 EU560414 Serra do Padre e Waputar, AM Não -66,21 0,66 Boubli et al., 2008

C. hosomi INPA 5250 EU560415 Serra do Padre e Waputar, AM Não -66,21 0,66 Boubli et al., 2008

C. hosomi INPA 5251 EU560416 Serra do Padre e Waputar, AM Não -66,21 0,66 Boubli et al., 2008

C. hosomi INPA 5252 EU560417 Serra do Padre e Waputar, AM Não -66,6 0,49 Boubli et al., 2008

C. hosomi MVZCmm1 FJ531649 Parque Nacional do Pico da Neblina, AM Não Não NãoFigueiredo et al., 2009

C. melanocephalus CTGA 5663 Presente estudo Margem direita do rio Negro, AM Sim -64,74 -0,49 Presente estudo

C. melanocephalus CTGA 5665 Presente estudo Margem direita do rio Negro, AM Sim -64,65 -0,49 Presente estudo

C. melanocephalus INPA 5238 EU560419/KM370851 Margem esquerda rio Solimões, Lago Amanã, AM Sim -64,5 -2,5 Boubli et al., 2008

C. melanocephalus INPA 5239 EU560420 Margem esquerda rio Solimões, Lago Amanã, AM Sim -64,5 -2,5 Boubli et al., 2008

C. melanocephalus INPA 5240 EU560421/KM370852 Margem esquerda rio Solimões, Lago Amanã, AM Sim -61 -3 Boubli et al., 2008

43

C. melanocephalus CTGA 5705 EU560422/KM370846 Margem esquerda rio Solimões, Lago Amanã, AM Sim -65,17 -0,47 Boubli et al., 2008

C. melanocephalus CTGA 65 Presente estudo Margem direita do rio Negro, Igarapé Parati, AM Sim -64,91 -0,58 Presente estudo

C. melanocephalus CTGA 98 Presente estudo Margem direita rio Negro, Igarapé Aiuanã, AM Sim -64,93 -0,62 Presente estudo

C. melanocephalus CTGA 756 Presente estudo Margem esquerda rio Japurá, AM Sim -69.20 -1.69 Presente estudo

C. melanocephalus CTGA 757 Presente estudo Margem esquerda rio Japurá, AM Sim -69.20 -1.69 Presente estudo

C. melanocephalus CTGA 775 Presente estudo Margem esquerda rio Japurá, AM Sim -69.34 -1.66 Presente estudo

C. melanocephalus FMNH 88250 FJ531640 Alto rio Inirida, Colômbia Não -70,4 2,3Figueiredo et al., 2009

C. melanocephalus FMNH 88251 FJ531641 Alto rio Inirida, Colômbia Não -70,4 2,3Figueiredo et al., 2009

C. melanocephalus FMNH 89470 FJ531642 Barracon, Alto Cano Itilla, Colômbia Não -72,69 1,61Figueiredo et al., 2009

C. melanocephalus FMNH 89471 FJ531643 Cano Miraflores, rio Vaupés, Colômbia Não -72 1,5Figueiredo et al., 2009

C. melanocephalus FMNH 89468 FJ531644 Lago el Dorado, rio Vaupés, Colômbia Não -70,45 1Figueiredo et al., 2009

C. melanocephalus FMNH 89469 FJ531645 Lago el Dorado, rio Vaupés, Colômbia Não -70,45 1Figueiredo et al., 2009

C. melanocephalus MVZ-016 FJ531646 rio Manacapuru, AM Não -40,76 -73,984Figueiredo et al., 2009

C. melanocephalus MVZ-017 FJ531647 rio Manacapuru, AM Não -40,76 -73,984Figueiredo et al., 2009

C. melanocephalus UFPA-Cmo1 FJ531648 Desconhecido Não Não NãoFigueiredo et al., 2009

C. calvus novaesi INPA 5241 EU560408 Sacado do Turucá, AM Sim Não Não Boubli et al., 2008

Chiropotes chiropotes UFPA-Csa3056 FJ531667 rio Trombetas, Pará Não Não NãoFigueiredo et al., 2009

44