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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA INPA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO AMAZONAS UEA SAMUEL DE OLIVEIRA VIEIRA EFEITOS DA ZONA DE CONVERGÊNCIA DO ATLÂNTICO SUL (ZCAS) SOBRE AS CHUVAS DA REGIÃO SUL DA AMAZÔNIA BRASILEIRA Manaus - AM 2013

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO AMAZONAS – UEA

SAMUEL DE OLIVEIRA VIEIRA

EFEITOS DA ZONA DE CONVERGÊNCIA DO ATLÂNTICO SUL (ZCAS) SOBRE AS CHUVAS DA REGIÃO SUL DA AMAZÔNIA

BRASILEIRA

Manaus - AM 2013

SAMUEL DE OLIVEIRA VIEIRA

EFEITOS DA ZONA DE CONVERGÊNCIA DO ATLÂNTICO SUL (ZCAS) SOBRE AS CHUVAS DA REGIÃO SUL DA AMAZÔNIA

BRASILEIRA

Tese de Doutorado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Clima e Ambiente do convênio INPA/UEA, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em CLIMA E AMBIENTE, área de concentração em Interação Biosfera Atmosfera.

Orientadores: Prakki Satyamurty Rita Valéria Andreoli

Manaus - AM 2013

AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus, pois sem ele nada seria possível.

A minha família que sempre me apoiou.

A minha esposa Martha, pela ajuda generosa e carinhosa com a qual me presenteou

em tudo o que esteve ao seu alcance.

Aos professores orientadores Dr. Prakki Satyamnurty e Dr. Rita Valéria pelo tempo

que me dedicaram durante este doutorado e pela confiança que demonstraram em

meu trabalho.

Aos professores do Curso, agradeço o apoio constante e amistoso desde a minha

chegada ao INPA e, em particular, aos professores David, Cândido e Francis.

Aos amigos, Nilomar e Alcides, companheiros de sempre e, os de curso, Paulo

Teixeira, Cláudia e ao amigo Henrique Barbosa da Universidade de São Paulo.

Agradeço pela ajuda em mais uma etapa.

Ao pessoal da secretaria do INPA.

À Universidade Federal do Amazonas pela concessão de afastamento.

Ao programa da CAPES pelo apoio financeiro.

V657 Vieira, Samuel de Oliveira

Efeitos da zona de convergência do

atlântico sul (zcas) sobre as chuvas na região sul da

Amazônia brasileira / Samuel de Oliveira Vieira. ---

Manaus : [s. n.], 2013.

95 f. : il. color.

Tese (Doutorado) --- INPA, Manaus, 2013.

Orientador : Prakki Satyamurty.

Coorientador : Rita Valéria Andreoli.

Área de concentração : Interações Clima-Biosfera na

Amazônia.

1. Chuvas - Amazônia. 2. Clima - Zona de

convergência. 3. Clima - Amazônia. I.

Título.

CDD 551.57

O Analfabeto Político

O pior analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do

remédio depende das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.

Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e

multinacionais.

Bertolt Brecht.

EFEITOS DA ZONA DE CONVERGÊNCIA DO ATLÂNTICO SUL (ZCAS) SOBRE

AS CHUVAS DA REGIÃO SUL DA AMAZÔNIA BRASILEIRA

RESUMO

Esse estudo investigou os padrões atmosféricos dominantes durante a atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) no Sul da Amazônia, designada Área Alvo (AA), nos meses de novembro a março (NDJFM), no período 1999-2010. Para tanto, as seguintes técnicas foram utilizadas: Análise Espectral (AnEs), Análise Funções Ortogonais Empíricas (FOE) e Método Fuzzy. Os dados utilizados foram: Reanálises das variáveis, ROL, vento, temperatura e umidade provenientes do National Centers for Environmental Prediction (NCEP/NCAR), precipitação proveniente do satélite Tropical Rainfall Measuring Mission (TRMM) e das estações meteorológicas do INMET. A Análise Espectral da precipitação média sobre a área alvo (AA) apontou dois picos no espectro de potência em torno de periodicidades de 11 e 38 dias, que correspondem aos fenômenos de ZCAS e Oscilação Madden-Julian (OMJ), respectivamente. Os dados de precipitação e demais variáveis foram filtrados nas duas janelas de 10-20 dias e 20-100 dias. Os dados filtrados foram submetidos à análise de EOF. As primeiras duas componentes de cada conjunto de dados filtrados foram analisadas. O método Fuzzy foi utilizado para classificar os eventos de ZCAS em Intensa, Moderada e Fraca e ZCAS Oceânica (ZCO), Costeira (ZCC) e Amazônica (ZCA). Um algoritmo objetivo para a identificação da ocorrência (ou atuação) de ZCAS foi esquematizado. Os resultados foram: (1) O método objetivo é mais consistente na identificação de ZCAS (do que o boletim mensal Climanálise). (2) A classificação em termos linguísticos permite categorizar as ZCAS em diferentes tipos. (3) Durante os períodos de ZCAS, a possibilidade de ocorrer chuvas fortes diárias (> 20 mm) é mais de duas vezes maior que a climatologia. (4) ZCAS Amazônicas e Costeiras produzem aproximadamente 71% da precipitação sobre AA. (5) Os padrões de campos associados à ZCAS Amazônica tais como convergência de umidade e fluxo de umidade são distintos e podem ser utilizados na previsão de médio prazo na região Amazônica. (7) Quando ocorre superposição das fases favoráveis dos dois modos a precipitação é intensificada. (8) Em geral, o trabalho trouxe detalhes adicionais sobre ZCAS atuando sobre a Amazônia que complementam os conhecimentos anteriores. Palavras-chave: Convergências. Chuvas. Boletim mensal. Amazônia. ZCAS.

ON THE SOUTH ATLANTIC CONVERGENCE ZONE AFFECTING SOUTHERN AMAZONIA IN AUSTRAL SUMMER

ABSTRACT

This study investigated the dominant atmospheric flow patterns in the months of November through March (NDJFM) associated with the occurrence of the South Atlantic Convergence Zone (SACZ) in Southern Amazônia, designated Target Area (TA), in the period 1999-2010. For this purpose the techniques of the Power Spectrum Spectral Analysis (PSA), Empirical Orthogonal Function Analysis (EOF), The ETA NWP Model, and the Fuzzy Analysis were employed. The datasets used were: NCEP/NCAR Reanalyses for the variables ROL, wind, temperature and Humidity, and TRMM and INMET station data for rainfall. The area-averaged precipitation over the TA was subjected to PSA and found two peaks in the power spectrum approximately near 11 and 38 days that correspond to the two well-known phenomena, SACZ and the Madden-Julian Oscillation (OMJ), respectively. The precipitation and other variable data-sets are filtered using two windows: 10-20 days and 20-100 days. The filtered data sets are submitted to EOF analysis and the first two components of each of the two windows are analyzed. The Fuzzy technique was used to classify the events into Strong, Moderate and Weak as well as Oceanic SACZ, Coastal SACZ and Continental or Amazon SACZ. An objective method was proposed and utilized to identify the SACZ events active over TA. The results are: (1) In all 28 cases of SACZ with activity over the TA are objectively identified in the 10-year period, and the objective method supplied a more consistent set of events than the set given in the monthly bulletin, Climanálise, of the CPTEC. (2) The Fuzzy method permitted to classify satisfactorily the different types of SACZ. (3) During the SACZ events the possibility of the occurrence of intense rainfall during a day (> 20 mm) is more than twice as the climatological value. (4) Amazon SACZ and Coastal SACZ events account for about 71% of the rainfall of the season over the TA. (5) The patterns of atmospheric flow Fields are distinct in different types SACZ, especially in terms of moisture convergence and can be used for operational medium range forecasts in Amazônia. (6) When there was superposition of favorable conditions of the phases of the two principal components, the precipitation intensified. (7) In general, this work provided additional details about the SACZ events active over the Amazon Basin that complements the previous knowledge about the phenomenon. Keywords: Convergences. Rains. Monthly Newsletter. Amazon. SACZ.

LISTA DE FIGURAS 2.1 Pêntadas de temperatura de brilho média (K) para o mês de

dezembro/2001, referente a dois eventos de ZCAS nos períodos 17-21 (lado esquerdo) e 24-28 (lado direito). (FONTE: Boletim Climanálise CPTEC/INP E – Satélite GOES (8))

24

2.2 Desvio padrão de ROL (W/m2) nos anos de 1979-96 para o verão austral (DJF). As linhas tracejadas destacam as regiões com maior variação de intensidade das ZCAS. O círculo mostra a região de ZCAS continental que contém a região de estudo neste trabalho.

26

3.1 Modelo da caixa sobre a área alvo para calcular o transporte de umidade, integrado da superfície até 300 hPa. As setas indicam o sentido nos lados da caixa

35

3.2 Resposta do filtro de Lanczos nas bandas de 10 a 20 dias e 20 a 100 dias com frequências de corte entre 1/10 e 1/20 dias (linha vermelha) e 1/20 e 1/100 dias respectivamente (linha preta) com 120 pesos

41

3.3 Estrutura de um controlador de Lógica Fuzzy 45

3.4 Representação do número trapezoidal μ(x) em suas respectivas base ou intervalos

46

3.5 Esquema de um Sistema Fuzzy. Entrada de dados (esquerda). Bases de regras e Inferências (meio). Saída (direita)

48

4.1 (a) Climatologia de 11 anos de precipitação na estação chuvosa (NDJFM) sobre o sul da região da América tropical. (b) compostos de chuvasde 32 episódios da série S1. (c) compostos de chuvas de 28 episódios da série S3. (d) Diferença entre S1 e S3. (e) Anomalia significativa de S1. (f) Anomalia significativa de S3. As unidades estão em mm/dia e os dados do satélite TRMM. O retângulo é a área de estudo.

52

4.2 Episódios médios de temperatura no topo de nuvem de dois episódios de ZCAS. (a) Período de 26 a 29 de fevereiro de 2008 pertencente ao conjunto S1, e (b) no período de 23 de janeiro a 4 de fevereiro 2008 pertencente ao conjunto S3. Temperaturas mais frias indica que o topo da nuvem esta mais alta

53

4.3 Análise espectral nas séries da média diária de chuvas sobre a área alvo no Sul da Amazônia. Os picos (preto) sobre a curva (cinza) são significativos ao nível de 95%.

54

4.4 Composto de vento em 925 hPa. (a) Climatologia. (b) Anomalia de S1.(c) Anomalia de S3.

54

4.5 Convergência de umidade sobre a área alvo.(a) Climatologia. (b) Composto S3. As setas indicam os transportes de umidade através das paredes da área alvo. O número no canto inferior direito é saldo líquido de convergência de umidade. Unidades: 107kg/s

56

4.6 Primeiro e segundo modo da EOF na área alvo (retângulo) correlacionada com a anomalia de precipitação na banda de 10/20 dias. Correlação positivo (vermelho) e negativo (azul), nível significativo em 95% (linha de contorno preto)

58

4.7 Padrões espaciais e temporais dos modos da correlação na anomalia de precipitação AS na banda de 20/100 dias, anomalia positiva (negativo)

vermelho (azul) e o nível de significância de 95% é representada pela linha de contorno preto.

60

4.8 Seis eventos comuns da ACP nos dois primeiros modos na banda de 10/20 dias. CP01 - linha preta, CP02 - linha verde e período da ZCAS - linhas vermelhas.

62

4.9 Sete eventos comuns da ACP nos dois primeiros modos nas duas bandas. (a.1)-(b.1) em CP01. (a.2)-(f.2) em CP02. Linhas pretas na banda de 10/20 dias, verde na banda de 20/100 dias e as linhas vermelhas tracejadas períodos de ZCAM.

64

4.10 Precipitação média anômala dos eventos 07 e 19 de ZCAM. (a) e (b) evento 07 nas duas bandas. (d) e (e) evento 19 nas duas bandas. (c) e (f) soma das duas bandas. Anomalia positiva cor azul e negativa cor vermelha. (Unidade mm/dia).

65

4.11 Primeiro (a) e segundo (b) modo na banda de 10/20 dias. Correlação entre ACP e anomalia de ROL para a AS

67

4.12 Correlação entre ACP na banda 20/100 dias e anomalia de ROL na AS, positiva (negativo) vermelho (azul) com nível de significância de 95%, linha de contorno preto.

68

4.13 Padrões espaciais e temporais nos primeiros modos na banda de 10/20 dias. Correlação entre as ACP da precipitação na área alvo com anomalia dos ventos (u,v) da AS.

69

4.14 Padrões espaciais e temporais dos modos na banda de 20/100 dias. Correlação entre as ACP da precipitação na área alvo com anomalia dos ventos (u,v) da AS.

69

4.15 Padrões espaciais e temporais na banda 10/20 dias nos modos de correlação na ACP de precipitação na área alvo com a temperatura para AS. Anomalia positiva (negativa) vermelho (azul). A linha de contorno preta mostra área onde o nível de significância de 95%.

70

4.16 Correlação do CP01 da Banda de 10/20 dias e anomalia de ROL global. Sinal positivo (cor vermelho) e negativo (cor azul). Linha de contorno preto representa a região significativa em 95%.

72

4.17 Correlação do CP01 da Banda de 20/100 dias e anomalia de ROL global. Sinal positivo (cor vermelho) e negativo (cor azul). Linha de contorno preto representa a região significativa em 95%.

75

4.18 Precipitação normal - CN (coluna da esquerda), chuvas de ZCAS – CZ (coluna do meio) e classificação de ZCAS em ai, bi e ci, i = 1, 2 e 3 (coluna da direita). (a) CN fraca e CZ variando. (b) CN média e CZ variando, e (c) CN forte e CZ variando. CZ variando em fraca (1), forte (2) e intensa (3). Unidades: mm/dia.

76

4.19 Classificação anômala e significativa de ROL sobre AS dos 28 episódios de ZCAS, significância estatística em 95% (linha de contorno). (a) ZCAS oceânica (ZCO), (b) ZCAS costeira (ZCC) e (c) ZCAS Amazônica(ZCAM).

78

4.20 Compostos de imagens de Satélite GOES de Temperatura de brilho para três eventos, ZCAM no período 29/01 a 09/02/2007, ZCC no período 4 a 7/11/2007 e ZCO no período 27/12/02 a 03/01/2003. Fonte: Boletim Climanálise – CPTEC.

79

4.21 Episódio de ZCAS classificada como costeira, período de 10 a 14/12/2010, significância estatística de 95% (linha de contorno preto), anomalia negativa de azul. ZCC em relação a série S3. Unidade: W/m2

81

4.22 Superfície de inferência das chuvas CN, CZ e TZ em relação ao grau de Pertinência.

81

4.23 Percentagem da classificação de ZCAS no sul da Amazônia. 82

4.24 Percentagem de ZCAS atuantes nos meses de verão. 82

LISTA DE TABELAS 3.1 Atuação de 32 eventos de ZCAS. Séries S1. Fonte: Boletim Climanálise.

(*) significa eventos comuns entre as Tabelas 3.1 e 3.2. Dn é o número de dias

29

3.2 Atuação de 28 eventos de ZCAS pela Metodologia Objetiva. Série S3 31 3.3 Termos Linguísticos na Classificação da variável de saída sobre o tipo de

ZCAS atuantes no Sul da Amazônia. 50

4.1 Frequência e percentagem do número de ZCAS em cada modo nas respectivas bandas 10/20 dias e 20/100 dias.

61

4.2 Frequência e percentagem da classificação dos eventos de ZCAS referentes aos meses de atuação pelo Método Fuzzy. ZCAS oceânica (ZCO), ZCAS costeira (ZCC)e ZCAS Amazônica (ZCAM).

83

LISTA DE ABREVIATURAS

AB Alta da Bolívia

ACP Análise de Componentes Principais

AS América do Sul

ASAN Alta Subtropical do Atlântico Norte

ASAS Alta Subtropical do Atlântico Sul

BDME Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa

CC Centro Ciclônico

CPTE Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos

CT Convecção Tropical

DJF Dezembro – Janeiro – Fevereiro

EAM Leste da Amazônia

ENOS El Niño - Oscilação Sul

FOE Funções Ortogonais Empíricas

HN Hemisfério Norte

HS Hemisfério Sul

INMET Instituto Nacional Meteorologia

JJA Junho - Julho – Agosto

JBN Jatos em baixos níveis

LIs Linhas de Instabilidade

NCEP/N

CAR

National Centers for Environmental Prediction

NDJFM Novembro - Dezembro - Janeiro - Fevereiro – Marco

NEB Nordeste do Brasil

NW/SE Noroeste a sudeste

OMJ Oscilação de Madden-Julian

ROL Radiação de Ondas longas

SF Sistemas Frontais

TRMM Tropical Rainfall Measuring Mission

TSM Temperatura da Superfície do Mar

VCMs Vórtices Ciclônicos de Mesoescala

ZCAM ZCAS Amazônica

ZCAS Zona de Convergência do Atlântico Sul

ZCC ZCAS costeira

ZCIT Zona de Convergência Intertropical

ZCO ZCAS oceânica

ZCPS Zona de Convergência do Pacífico Sul

ZPS Zonas de Precipitações Subtropicais

SUMÁRIO CAPÍTULO 1 1 INTRODUÇÃO, OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS 13 1.1 Introdução 13 1.2 Objetivo 16 1.2.1 Objetivo Geral 16 1.2.2 Objetivos Específicos 16 1.3 Justificativa 16 CAPÍTULO 2 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 18 2.1 Sistemas Atmosféricos atuantes na Amazônia 18 2.2 Precipitação na Amazônia e o transporte de umidade 20 2.3 Zona de Convergência do Atlântico Sul 22 2.3.1 Caracterização de ZCAS 23 2.3.2 Variabilidade Temporal 25 2.3.3 Variabilidade Espacial 25 CAPÍTULO 3 3 DADOS E METODOLOGIA 27 3.1 Dados 27 3.2 Metodologia 27 3.2.1 Estudos Observacionais 27 3.2.1.1 Identificação dos episódios de ZCAS segundo o Boletim Climanálise 28 3.2.1.2 Identificação dos episódios de ZCAS pelo Método Objetivo 30 3.2.1.3 Definição dos Campos Compostos 32 3.2.1.4 Fluxo de umidade e convergência 34 3.2.1.5 Análise Espectral 36 3.2.1.6 Funções Ortogonais Empíricas 39 3.2.2 Estudos de Modelagem 42 3.2.2.1 Coeficiente de Eficiência dos episódios de ZCAS 42 3.2.2.2 Modelagem Fuzzy na Classificação de ZCAS 43 CAPÍTULO 4 4 ANÁLISE OBSERVACIONAL 51 4.1 Identificação dos eventos de ZCAS no Sul da Amazônia 51 4.1.1 Densidade Espectral e ZCAS 53 4.1.1.1 Vento em baixos níveis e Convergência de umidade 54 4.1.2 Análise de Componente Principal ACP 57 4.1.2.1 Modos de ZCAS nas bandas de 10 a 20 dias e de 20 a 100 dias 57 4.1.2.2 Mecanismos associados aos padrões de ZCAM nas bandas de 10/20

dias e 20/100 dias 66

4.1.2.3 Padrões de evolução 71 4.1.3 Análise de Modelagem 76 4.1.3.1 Análises do Método Fuzzy 76 4.1.3.2 Classificação dos tipos de ZCAS 77 4.1.3.3 ZCAS e os meses de atuação 81

CONSIDERAÇÕES FINAIS 85 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 89

14

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO, OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS

1.1 INTRODUÇÃO

As chuvas na Amazônia são importantes para controlar as queimadas

naturais e as provocadas pelo homem, pois além de deteriorarem a cobertura

vegetal, alteram o mecanismo de chuvas da floresta.

As chuvas refletem diretamente na vazão dos rios, na economia e no

transporte fluvial da região. Em muitos locais da Amazônia, o meio de transporte

mais importante são os barcos e, sem as chuvas adequadas (chuvas de verão) é

quase impossível chegar às comunidades, ficando assim isoladas. Longos períodos

de estiagem podem causar um abaixamento nos níveis dos reservatórios, causando

desabastecimento de água e falta de energia hidroelétrica.

O regime de chuva na Amazônia é modulado por sistemas dinâmicos de

microescala, mesoescala e escala sinótica. Dentre os sistemas de escala sinótica e

da mesoescala atuantes, destacam-se as Zonas de Convergência associadas às

circulações térmicas diretas, Hadley e Walker, e os aglomerados convectivos que

constituem as bandas de nebulosidade (MOLION, 1993).

Kodama (1992, 1993) descreveu características dinâmicas e termodinâmicas

das bandas de nebulosidade e chuva quase estacionárias sobre os oceanos

subtropicais em ambos os hemisférios e reconheceu a existência de três zonas

frontais quase estacionárias nos Hemisférios Norte e Sul: no leste da Ásia chamada

de Frente Baiu, nas porções subtropicais do Pacífico oeste, Zona de Convergência

do Pacífico Sul (ZCPS), e no Atlântico Sul conhecida como Zona de Convergência

do Atlântico Sul (ZCAS).

A ZCAS é uma banda de nebulosidade convectiva que se estende de

noroeste a sudeste (NW/SE) sobre a América do Sul (AS) desde o sul da Amazônia

até o oceano Atlântico e é considerada uma interação entre sistemas meteorológicos

tropicais e extratropicais.

A ZCAS é caracterizada principalmente pela estacionariedade da banda de

nebulosidade por períodos de quatro dias ou mais, alterando o regime de chuvas

15

das regiões afetadas (KODAMA, 1992 e 1993; QUADRO, 1994; SATYAMURTY et

al. 1998; CARVALHO et al. 2002, 2004; DE OLIVEIRA VIEIRA et al. 2012).

O fato da ZCAS ocorrer durante o período de verão do Hemisfério Sul (HS)

ressalta a importância da convecção tropical (CT) e a consequente liberação de

calor latente na região amazônica tanto para a geração como a manutenção do

fenômeno. Sakamoto e Silva Dias (1990) ressaltaram a importância da umidade do

solo no Brasil Central para as precipitações de sistemas semiestacionários no verão

do HS. Outros fatores importantes no posicionamento e manutenção da ZCAS são a

Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS) e o cavado semiestacionário a leste da

Cordilheira dos Andes (SATYAMURTY et al, 1980). Estes dois sistemas favorecem a

manifestação da ZCAS interagindo da seguinte maneira: na região de atuação da

ZCAS observa-se, na baixa troposfera, a ASAS contribuindo, na sua borda sudeste,

para a convergência do ar tropical com o ar extratropical e, simultaneamente, o

cavado semipermanente na média troposfera serve de recipiente para sistemas de

baixa pressão e vórtices de mesoescala. A penetração de sistemas frontais durante

o verão austral (SF) até latitudes subtropicais organizam a convecção nos trópicos

em forma de faixa de nebulosidade, com orientação NW/SE, influenciando

fortemente o posicionamento da ZCAS mais ao norte (CHAVES E CAVALCANTI,

2002).

A importância da ZCAS na precipitação na América do Sul se deve à

intensidade da chuva associada. Aspectos observados por Carvalho et al. (2002)

verificaram a importância da intensidade para modulação de eventos extremos no

Estado de São Paulo, independente de sua extensão para o oceano.

Aproximadamente 65% (35%) dos eventos extremos de chuvas ocorrem quando a

ZCAS apresentou intensa (fraca) atividade convectiva. Quando a ZCAS teve grande

desenvolvimento sobre o continente e fraco sobre o oceano, extremos ocorreram em

quase todas as regiões do país.

Figueroa et al (1995) usaram modelagem para mostrar que forte aquecimento

adiabático sobre a bacia Amazônica além da presença dos Andes, é um fator

indispensável para a formação da atividade convectiva da ZCAS. Kodama (1999)

usando um modelo de circulação global sem continente mostrou que as zonas de

convergência subtropicais podem ser simuladas com intensa fonte de calor

localizada sazonalmente na região equatorial.

16

A forma da fonte contribui para explicar os padrões de convecção e

subsidência climatológica, associadas à ZCAS. Gandu e Silva (1998), através do

modelo numérico de equações primitivas, mostraram que a assimetria das fontes de

calor afeta a subsidência de grande escala, fundamentalmente o ramo de

subsidência nessa zona de convergência ativa sobre o Sul do Brasil e Argentina.

Carvalho et al (2002) sugeriram que nos trópicos da AS, a Radiação de

Ondas longas (ROL) ≤ 200 W/m2 está relacionada com intensa precipitação. As

regiões com ROL ≤ 200 W/m2 foram selecionadas para verificar as variações da

intensidade e localização geográfica da ZCAS. As características básicas desta

banda de precipitação (ZCAS) na região Amazônica apresentam maior valor da

atividade convectiva e menor valor na variabilidade intrassazonal. Áreas costeiras e

oceânicas apresentam maior valor da variabilidade intrassazonal. A intensidade da

ZCAS independe de sua extensão oceânica, devido sua persistente atividade

convectiva sobre o continente, desacoplando da atividade convectiva sobre o

oceano, e vice-versa.

Ainda, Carvalho et al (2002; 2004) analisando as relações entre intensidade e

características geográficas da ZCAS e os extremos de precipitação para o território

brasileiro, mostraram que atividade convectiva associada à ZCAS intensas no

continente aumenta o valor do percentil de 95% da precipitação diária em relação a

climatologia sobre boa parte do Centro-Leste, São Paulo, e em alguns estados do

Nordeste do Brasil. Quando a ZCAS é fraca há uma diminuição desse percentil.

Nesse trabalho, propomos estudar a influência da ZCAS em termos de

chuvas na região sul da Amazônia no verão austral baseada nas observações e

modelagem numérica. Avaliou-se a precipitação sobre o sul da Amazônia nos meses

de novembro a março (NDJFM) no período de 1999 até 2010, em relação à chuva

climatológica e dos 28 eventos de ZCAS sobre a região. Nesse sentido,

investigaram-se os padrões atmosféricos dominantes durante atuação da Zona de

Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) no Sul da Amazônia através da Análise

Espectral, Função Ortogonal Empírica (EOF) e Método Fuzzy.

Em uma primeira etapa a climatologia estatística dos eventos de ZCAS sobre

a AS, principalmente sobre o Sul da Amazônia é apresentada. Em seguida, Análise

Espectral foi aplicada a séries de precipitação observada para determinar as escalas

de variabilidade dominantes, a fim de buscarmos o entendimento da variabilidade

intrassazonal a qual está inserida a ZCAS. Definida a escala de variabilidade, a

17

técnica da EOF foi aplicada nos dados de precipitação para verificar os padrões

espaciais dominantes.

Por último buscou-se quais as características em relacionadas os tipos de

ZCAS atuantes no Sul da Amazônia que mais contribuíram com a precipitação

acima da climatologia. Para isso, foi empregada descrição linguística sobre a

precipitação (fraca, forte e intensa), possibilitando o aproveitamento heurístico dos

operadores. Com esse propósito, o Método Fuzzy foi aplicado às séries de

precipitações e no implemento de um algoritmo para detectar o comportamento das

chuvas provocadas pelas ZCAS costeiras e/ou continentais.

1.2 OBJETIVO

1.2.1 Objetivo geral

Estudar a influência de ZCAS em termos de chuvas na região sul da

Amazônia no verão austral baseada nas observações e modelagem numérica.

1.2.2 Objetivos específicos

1. Determinar a frequência, duração e intensidade da precipitação associada a

ZCAS na região sul da Amazônia e adjacências (ZCAS continental);

2. Analisar a estrutura horizontal e vertical dos campos meteorológicos associados

aos eventos de ZCAS, tais como: temperatura, umidade e ventos, por meios de

campos compostos;

3. Analisar os modos dominantes da estrutura de ZCAS continental através de

Componentes Principais;

4. Identificar os tipos de ZCAS que atuam na região do sul da Amazônia através do

método Fuzzy.

18

1.3 JUSTIFICATIVA

A ZCAS se estende da Região Norte até o Atlântico Sul e, por isso, influencia

no regime de chuva da Amazônia, especialmente da região sul. Estas mudanças são

caracterizadas pela atividade convectiva (nuvens profundas) e chuvas, muitas

vezes, intensas que levam a não compreensão da sociedade das causas dessas

mudanças no tempo.

A pesquisa justifica-se, pelo fato de que é necessário o estudo da ZCAS, no

intuito de contribuir nas previsões do tempo, durante os episódios de ZCAS, com

uma boa destreza, pois chuvas constantes e intensas causam grandes transtornos

para a atividade econômica e social da região. Para melhorar a previsão da

formação, duração e dissipação de ZCAS, precisa-se de estudos observacionais do

sistema e seus efeitos na região de interesse. Outro aspecto importante é verificar a

capacidade do modelo regional do CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos

Climáticos) em representar os episódios de ZCAS na Região Norte do Brasil, por

meio de experimentos numéricos específicos.

Até agora, poucos estudos mostraram a influência da ZCAS na ocorrência de

chuvas extremas na Amazônia. Assim, justifica-se, ainda, mostrar o resultado do

estudo da ZCAS continental e os eventos de chuvas fortes associadas à ZCAS na

Amazônia. Ainda, é importante ressaltar que os estudos anteriores não enfocaram

sobre dois assuntos relevantes para Amazônia: um associado a uma possível

relação entre a intensidade da ZCAS costeira e ZCAS continental e o outro ao efeito

de ZCAS sobre os eventos de chuvas extremas na Amazônia.

Dessa forma, neste trabalho propõe-se estudar a influência da ZCAS sobre os

episódios chuvosos da região sul da Amazônia no verão austral, baseada em

observações e modelagem numérica, determinando os aspectos relacionados com

ventos na baixa e alta troposfera, umidade na baixa e média troposfera e, assim,

ajudar na compreensão do fenômeno e do clima da região Amazônica. A

comunidade científica tem despertado uma grande atenção aos estudos do clima e

modelagem no Brasil, todavia uma boa parte do esforço foi para sistemas de origem

extratropical como frentes frias e friagens não se dando devidas atenções para os

fenômenos meteorológicos da região tropical, justificativa dos motivos de exame do

presente estudo.

19

CAPÍTULO 2

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A Amazônia é a maior floresta tropical úmida do mundo possuindo uma área

total, aproximadamente 7 milhões de km2. É cortada pelo rio Amazonas e seus

afluentes, constituindo a maior rede fluvial do globo. Está localizada nos trópicos,

onde as trocas de energia entre a superfície continental e a atmosfera são bastante

intensas.

A convecção local, devida ao aquecimento diurno da superfície, também

contribui para a formação de nuvens de verão e uma parcela significativa das chuvas

anuais. Esses sistemas convectivos conduzem a uma intensa variabilidade espacial

e temporal no ciclo hidrológico na Amazônia.

O regime de precipitação na Amazônia é modulado por sistemas dinâmicos de

microescala, mesoescala e escala sinótica. Dentre os sistemas de escala sinótica

atuantes nessa modulação, destaca-se a Zona de Convergência do Atlântico Sul.

2.1 SISTEMAS ATMOSFÉRICOS ATUANTES NA AMAZÔNIA

Durante os meses de verão no Hemisfério Sul (HS), grande parte da

precipitação é ocasionada pela intensa atividade convectiva sobre o continente. A

presença das ZCAS contribui intensamente para a persistência da precipitação em

algumas regiões do Brasil, devido sua estacionariedade.

A circulação geral da alta troposfera sobre a América do Sul tem sido bastante

estudada nos últimos anos (SANTOS,1986; CARVALHO, 1989; CAVALCANTI et al.,

2009). Esta região possui uma característica muito particular de apresentar o

desenvolvimento de um anticiclone em altos níveis (200 hPa), durante os meses de

verão, associado com a forte convecção da região Amazônica. Este anticiclone foi

denominado de Alta da Bolívia (AB), pois se situa sobre a região do altiplano

boliviano. Durante a época de inverno, ocorre a desintensificação da AB e até com o

seu completo desaparecimento gradual (JONES E HOREL, 1990; GANDU, 1998;

20

CAVALCANTI et al, 2009).

A localização geográfica da AB possui variação intrassazonal e interanual,

associado com a convecção na Amazônia. Santos (1986) observou que durante

anos menos chuvosos na região Amazônica, os centros da AB eram menos

intensos. A manutenção deste centro quente anticiclônico é devido à convergência

em baixos níveis da umidade que vem de nordeste e de leste. Esta convergência

provoca forte convecção, condensação e liberação de calor latente na média e alta

troposfera, associada à atividade convectiva (GUTMAN e SCHWERDTFEGER,

1965; VIRJI, 1981; LENTERS e COOK, 1997).

O aquecimento na média troposfera gera uma alta pressão na alta troposfera

e uma baixa pressão na baixa troposfera. Entretanto, esta atividade convectiva

possui um ciclo anual de migração NW/SE, partindo da região amazônica durante o

trimestre DJF e deslocando-se até a América Central no trimestre JJA (HOREL et al.,

1989; MARENGO, 1992; MARENGO E HASTENRATH, 1993; FISCH, et al., 1996).

A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) é caracterizada pela confluência

dos ventos alísios de nordeste do HN com os ventos de sudeste do HS na baixa

troposfera. A ZCIT possui uma banda de baixa pressão entre 10◦ N e 5◦ S e a

convergência dos alísios em baixos níveis força o ramo ascendente da célula de

Hadley nas proximidades do equador e descendente nas latitudes subtropicais. A

banda de nebulosidade resultante circunda a faixa equatorial do globo com chuvas

intensas, e com marcante deslocamento meridional sazonal. No Atlântico Tropical, a

ZCIT estende-se da África ao norte da América do Sul. Historicamente, a convecção

amazônica durante a estação chuvosa era considerada uma extensão da ZCIT,

porém com a evolução das observações e análises a definição da ZCIT se

consolidou sobre o oceano (HASTENRATH E HELLER, 1977; NOBRE E SHUKLA,

1996; SOUZA et al, 1998; XAVIER, 2000; SOUZA et al, 2004; BATISTA, 2008).

Os impactos da zona de convergência nas regiões continentais especialmente

na convecção da Amazônia passaram a ser tratadas como um sistema distinto com

dinâmica própria conhecida como Cavado Equatorial.

As Linhas de Instabilidade (LIs) apresentam um sistema de grande interesse

científico pela interação de escalas envolvidas. Originam-se no litoral norte da

América do Sul onde os ventos alísios e a brisa marítima se reforçam. A sua

organização forçada pelo jato de baixos níveis de leste associado a perturbações de

baixa troposfera no Atlântico, eventualmente constituídas pelas ondas de leste.

21

Anualmente ocorrem alguns casos de LIs que se iniciam na costa norte e se

propagaram para oeste através da Bacia Amazônica com velocidades de 15 a 20

m/s persistindo até 48 h, embora o tempo de vida média seja 12 a 24 h (COHEN et

al, 1995). Rickenbach (2004) estudando a precipitação na região sudoeste da

Amazônia mostrou que as LIs podem chegar a essa região até dois dias depois de

sua origem na costa norte nas proximidades de Belém.

As LIs que ocorrem na Amazônia são responsáveis pela formação de chuvas

próximo à costa litorânea dos Estados do Pará e Amapá, bem como de precipitação

na Amazônia Central, durante a estação seca. Cohen et al (1989) mostraram que

estas LIs são atuantes no leste do Pará contribuindo cerca de 45% da chuva durante

o período chuvoso. Estas linhas são caracterizadas por possuir grandes

conglomerados de nuvens cumulo-nimbus orientados de noroeste para sudeste.

Devido a suas dimensões, estas LIs são facilmente observadas por imagens

de satélites. De acordo com Cohen et al (1989), as linhas de Instabilidade Costeira

(LICs), tem movimento horizontal para o interior do continente adentrando

aproximadamente 170 km da costa, constituem 62% dos casos observados. O

restante 38% compreendido de Linhas de Instabilidade com Propagação (LIPs), com

movimento horizontal adentrando o continente por distâncias maiores que 170 km. O

comprimento e a largura média das LIs é de aproximadamente 1500 km e 170 km,

respectivamente, podendo ser observada durante todo ano e o período com maior

frequência está entre abril e agosto (COHEN et al 1989). Estudos climatológicos

observaram que a região da formação destas linhas posiciona-se ao sul da Zona de

Convergência Intertropical (ZCIT).

A formação de maior frequência ocorre na época em que a ZCIT está mais

organizada e localizada ao norte do centro das LIs. Molion (1987) descreve a

influência destas LIs na distribuição de chuva da Amazônia Central, observando que,

durante à noite e devido à diminuição do contraste térmico oceano-continente, estas

LIs praticamente se dissipam e revigoram-se no dia seguinte devido ao aquecimento

diurno da superfície. Seu deslocamento sobre o extremo oeste da Amazônia

mostrou que a velocidade varia entre 12 e 15 m/s (13◦ de longitude por dia).

2.2 PRECIPITAÇÃO NA AMAZÔNIA E O TRANSPORTE DE UMIDADE

Molion (1987; 1993) estudou as circulações de macro e mesoescala que

22

atuam na Amazônia e os processos dinâmicos que organizam e promovem a

precipitação naquela área. Segundo este autor, os mecanismos que provocam chuva

na Amazônia podem ser agrupados em 3 tipos:

1. Convecção diurna resultante do aquecimento da superfície e condições de larga

escala favoráveis;

2. Linhas de instabilidade originadas na costa N-NE do litoral do Atlântico;

3. Aglomerados convectivos de meso e larga escala, associados com a penetração

de sistemas frontais na região S/SE do Brasil e interagindo com a região Amazônica.

A região Amazônica possui uma precipitação média de aproximadamente

2300 mm/ano, e tem regiões (na fronteira entre Brasil e Colômbia e Venezuela) em

que o total anual atinge 3500 mm Nestas regiões não existe período de seca. Estes

valores de precipitação elevada próximo à Cordilheira dos Andes devem-se à

ascensão orográfica da umidade transportada pelos ventos alísios de leste da ZCIT.

Na região costeira (no litoral do Pará ao Amapá), a precipitação também é alta e sem

período de seca definido, devido à influência das LIs que se formam ao longo da

costa litorânea durante o período da tarde e que são forçadas pela brisa marítima.

A distribuição espacial e temporal das chuvas na Amazônia foi

detalhadamente estudada por Figueroa e Nobre (1990), utilizando de 226 estações

pluviométricas, e por Marengo (1995) que usou dados de Radiação de Ondas

Longas do International Satellite Cloud Climatology Project (ISCCP). O máximo da

chuva na região central da Amazônia (próximo de 5◦ S) pode estar associado com a

penetração de sistemas frontais da região sul, interagindo e organizando a

convecção local.

O período de chuvas ou forte atividade convectiva na região Amazônica é

compreendido entre novembro e março, sendo que o período de seca (sem grande

atividade convectiva) é entre os meses de maio e setembro. Os meses de abril e

outubro são meses de transição entre um regime e outro. A distribuição de chuva no

trimestre Dezembro-Janeiro-Fevereiro (DJF) apresenta uma região de precipitação

alta (superior a 900 mm) situada na parte oeste e central da Amazônia, em

associação com a posição geográfica da AB. Por outro lado, no trimestre Junho-

Julho-Agosto (JJA), o centro de máxima precipitação desloca-se para o norte e situa-

se sobre a América Central. A região Amazônica nesta época do ano, principalmente

na parte central, está sobre o domínio do ramo descendente da célula de Hadley,

23

induzindo um período de seca, bem característico. Este comportamento está de

acordo com o ciclo anual da atividade convectiva na região, conforme demonstrado

por Horel et al (1989).

O balanço hídrico na região Amazônica é difícil de ser calculado devido à falta

de continuidade espacial e temporal das medidas da precipitação, da inexistência de

medidas simultâneas de vazões fluviais, do desconhecimento do armazenamento de

água no solo etc. Entretanto, algumas tentativas de se entender melhor o regime

hídrico dentro da bacia hidrográfica tem sido realizada (MOLION 1975; VILLA NOVA

et al, 1976; SALATI et al, 1979; ROCHA, 1991). Por intermédio do balanço de vapor

d’água em toda a região Amazônica, Salati et al (1979) determinou que a

precipitação na região é uma composição da quantidade de água evaporada

localmente (evapotranspiração) adicionada de uma contribuição de água advinda do

Oceano Atlântico. Desta maneira pode-se estimar que 50% do vapor d’água que

precipita pelas chuvas é gerado localmente (pela evapotranspiração), sendo o

restante importado para a região pelo fluxo atmosférico proveniente do Oceano

Atlântico. Estudos recentes, todavia, apontaram para uma estimativa de 35% do

vapor d’água que precipita é gerado localmente (SATYAMURTY et al., 2012).

2.3 ZONA DE CONVERGÊNCIA DO ATLÂNTICO SUL

Somente na década de 70 pesquisadores observaram uma banda de

nebulosidade com orientação noroeste-sudeste (NW-SE) através de campos médios

de ROL, extraídas de imagens de satélite. A banda de nebulosidade é mais atuante

nos meses de maior convecção tropical (novembro a março). A presença desta faixa

de nebulosidade organizada na costa leste da América do Sul (AS) no verão foi

mostrada por Streten (1973) e Yasunari (1977).

Kodama (1992) investigou e caracterizou as três bandas de nebulosidade,

conhecidas como Zonas de Precipitações Subtropicais (ZPS) quase estacionárias

subtropicais: no leste da Ásia, conhecida como Baiu Front, nas porções subtropicais

da Zona de Convergência do Pacífico sul(ZCPS) e do Atlântico Sul como ZCAS. As

ZPS possuindo propriedades diferentes dos sistemas frontais de latitudes médias e

de zonas de convergências tropicais, como a ZCIT. As ZPS formam bandas, ao

longo dos jatos subtropicais a leste de um cavado quase permanente, com

orientação de sudoeste para nordeste no HN e com orientação de noroeste para

24

sudeste no HS. As bandas de convecção são integrantes dos sistemas de monção

tropical. As chuvas nestas zonas igualam ou excedem em 400 mm/mês. Kodama

(1992) notou que a ZPS pode ser caracterizada por zonas de convergência de

umidade e por zonas baroclínicas com um cavado subtropical de altos níveis

associados para oeste da ZPS. A convergência do fluxo de umidade ao longo das

ZPS é de 5 - 10 mm/dia, aproximadamente igual a diferença entre as taxas de

precipitação e evaporação.

A existência da ZPS, segundo Kodama (1992b), deve-se à manutenção quase

estacionária dos jatos subtropicais que fluem nas latitudes subtropicais e dos fluxos

de baixos níveis em direção ao polo, ao longo da periferia à oeste das altas

subtropicais. Os fluxos em direção aos polos são importantes para forte

convergência de umidade e para frontogênese dos campos de temperatura potencial

equivalente e instabilidade convectiva nos trópicos, dessa maneira caracterizando as

zonas frontais subtropicais (KODAMA, 1992a).

2.3.1 Caracterização de ZCAS

A ZCAS é caracterizada por convergência de umidade em baixos níveis, um

cavado semiestacionário em 500 hPa orientado na mesma direção da ZCAS,

movimentos verticais ascendentes organizados no sentido NW a SE na média

troposfera à leste do cavado semipermanente sobre o continente da AS, forte

gradiente de temperatura potencial equivalente (Θe ) na média troposfera na direção

da nebulosidade convectiva, vorticidade (ζ) relativa positiva em 200 hPa alinhada

com a banda de nebulosidade (FIGUEROA, 1997).

A ZCAS é identificada pela banda de nebulosidade estacionada por vários

dias, maior ou igual a 4 dias, originária na bacia Amazônica, estendendo-se em

direção ao Sudeste do Brasil e projeta-se no sudeste subtropical do Oceano

Atlântico. Esse sistema afeta o regime de chuvas na parte central do país

(KODAMA, 1992, 1993; SATYAMURTY et al 1998; CARVALHO et al 2002). A Figura

2.1 mostra a organização e persistência da nebulosidade nos períodos de atuação

de ZCAS. Pode-se notar que a faixa de máximo brilho se posiciona sobre o leste da

Amazônia até o sudeste do Brasil chegando até o oceano Atlântico.

25

Figura 2.1: Pêntadas de temperatura de brilho média (K) para o mês de dezembro/2001, referente a dois eventos de ZCAS nos períodos 17-21 (lado esquerdo) e 24-28 (lado direito). (FONTE: Boletim Climanálise CPTEC/INPE - Satélite GOES 8).

O fato da ZCAS ocorrer durante o período de verão do HS ressalta a

importância da convecção tropical (CT) e a consequente liberação de calor latente

na região Amazônica tanto para a geração como para manutenção do fenômeno.

Sakamoto e Silva Dias (1990) ressaltaram a importância da umidade no Brasil

Central para as precipitações de sistemas semiestacionários no verão do HS.

Em um estudo recente (QUADROS et al, 2012), detectaram na baixa

troposfera que os Vórtices Ciclônicos de Mesoescala (VCMs) influenciam o início,

organização e evolução da convecção profunda e úmida que possuem circulação

ciclônica com um total de 300 VCMs úmidos, enquanto que na média e alta

troposfera foram detectados 277 VCMs. Dessa maneira, o método desenvolvido

para detecção dos VCMs embebidos na região da ZCAS foi testado nos meses de

verão do HS entre os anos de 2000 a 2009, e consiste em procedimento

computacional que tem por objetivo principal facilitar a identificação desses sistemas

ciclônicos de mesoescala em função da dificuldade da identificação visual em

imagens de satélite. Interessante notar que os vórtices estão embebidos na região

de confluência e movimento ascendente do ar ao longo da ZCAS.

26

2.3.2 Variabilidade Temporal

A ZCAS possui variabilidade em diferentes escalas de tempo: na escala

sinótica, as entradas de frentes frias sobre a Argentina e o Brasil atingem latitudes

mais baixas acompanhadas de atividade convectiva no oeste e sudeste da

Amazônia sobre a ZCAS. Na escala 30-60 dias essa variabilidade está associada ao

deslocamento para leste da Oscilação de Madden-Julian (OMJ) que é o mais

importante da variabilidade tropical. Na escala intrassazonal (10-100 dias) a

intensidade da atividade convectiva possui máxima variância sobre ZCAS e região

central da América do Sul e menor sobre a Amazônia (LIEBMANN et al, 1999;

NOEGUÉ-PAEGLE et al, 2002; MUZA et al, 2009).

Durante o período da ausência ou enfraquecimento da ZCAS, o número de

sistemas convectivos de mesoescala cresce consideravelmente no noroeste da

Amazônia, oposto ao período de ZCAS intensas. Em relação ao balanço integrado

vertical do fluxo de umidade, durante o experimento TRMM/LBA mostrou-se que o

transporte de umidade dos trópicos para os extratrópicos da AS é mais eficiente

durante o regime de ZCAS em relação a ausência e enfraquecimento de ZCAS

(HERDIES et al, 2002).

Kodama (1992a) concluiu que a ZCPS possui uma variação intrassazonal 30-

60 dias dos campos de nebulosidade profunda. Na escala de tempo interanual, o El

Niño exerce um papel importantíssimo na variabilidade da monção na AS e na

ZCAS, inclusive na ocorrência de eventos extremos de precipitação (CARVALHO et

al 2002, 2004; VERA et al, 2006).

2.3.3 Variabilidade Espacial

As características básicas da ZCAS que afetam a região Amazônica, a ZCAS

continental, apresentam maior valor da atividade convectiva e menor valor na

variabilidade intrassazonal (CARVALHO et al 2002). Áreas Costeira e Oceânica

apresentam maior valor da variabilidade intrassazonal, ver Figura 2.2.

A intensidade da ZCAS independe de sua extensão oceânica, devido sua

persistente atividade convectiva sobre o continente, desacoplando da atividade

convectiva sobre o oceano, e vice-versa (CARVALHO et al, 2004).

27

Figura 2.2: Desvio padrão de ROL (W/m2) nos anos de 1979-96 para o verão austral (DJF). As linhas tracejadas destacam as regiões com maior variação de intensidade das ZCAS. O círculo mostra a região de ZCAS continental que contem a região de estudo neste trabalho. Fonte: Carvalho et al. (2002).

A topografia exerce um papel fundamental ao determinar o máximo de

precipitação na parte leste da região central dos Andes e na parte oeste da região

sul dos Andes. Em média, a ZCAS posiciona-se mais a leste em dezembro devido à

associação com a alta precipitação sobre o Brasil e, em janeiro, se posiciona mais a

oeste devido ao aumento da precipitação no Altiplano propiciado pelo escoamento

de ar úmido em baixos níveis na região leste dos Andes (NOGUÉS-PAEGLE et al,

2002).

O enfoque do presente estudo é a atuação da ZCAS na parte interior do

continente ou situações de ZCAS Amazônica. A região está mostrada

aproximadamente por um círculo na Figura 2.2. Portanto, a escolha da área de

estudo (área alvo) está baseada no estudo anterior, de Carvalho et al (2004).

28

CAPÍTULO 3

DADOS E METODOLOGIA

3.1 DADOS

Os dados diários de precipitação, referente ao período de estudo 1999 a 2010

durante os meses novembro a março (NDJFM), foram obtidos do satélite Tropical

Rainfall Measuring Mission (TRMM) com resolução de 0.25◦ × 0.25◦ graus e estão

disponíveis no endereço http://disc2.nascom.nasa.gov/Giovanni/tovas/. A NASA está

disponibilizando os dados em formato binário, que permitem leituras pelo GrADS

(Grid and Analysis Display System). Os dados de precipitação diária fornecidos pelo

BDMEP-INMET, para o mesmo período de estudo, das estações meteorológicas de

Canarana, Gleba Celeste, Lábrea, Manicoré, Matupá e São José do Rio Claro

também foram utilizados.

Os dados de Radiação de Onda Longa (ROL) da National Oceanic and

Atmospheric Administration (NOAA), com interpolação espacial de 2.5◦ e temporal

para o período de estudo, estão disponíveis no site:

http://www.esrl.noaa.gov/psd/data/gridded/data.interp−OLR.html. Os dados servem

como "proxy" para caracterizar a atividade convectiva associada a ZCAS.

Os dados diários de ventos (u,v), temperatura, pressão e umidade

provenientes da reanálise NCEP/NCAR 1 (KALNAY et al, 1996), também são

utilizados neste estudo. Os dados globais estão disponíveis em uma resolução

espacial de 2.5◦ × 2.5◦ graus de latitude e longitude e em 17 níveis verticais.

3.2 METODOLOGIA

3.2.1 Estudos Observacionais

Inicialmente, uma climatologia estatística (média e desvio padrão) dos

eventos de ZCAS continental para o período de 1999 a 2010 foi estabelecida sobre

os parâmetros meteorológicos de precipitação, ROL, ventos zonal e meridional em

925 hPa, umidade em 925 hPa, geopotencial em 925 hPa. Para essa climatologia os

29

eventos de ZCAS foram selecionados levando-se em consideração informações

contidas no boletim mensal publicado pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos

Climáticos (CPTEC) disponíveis no site

http://www.cptec.inpe.br/products/climanalise. Em seguida, um método objetivo

descrito a seguir, também foi utilizado para selecionar eventos de ZCAS continental.

Esse método baseia-se na formulação de um índice de precipitação média para a

região limitada entre as latitudes 14◦ S e 6◦ S e longitudes 66◦W e 50◦W. A escolha

dessa área alvo tem como objetivo avaliar o efeito da ZCAS no sul da Amazônia,

conforme sugerido por Carvalho et al (2002).

3.2.1.1 Identificação dos episódios de ZCAS segundo o Boletim Climanálise

Inicialmente, foram selecionados os dias, meses e anos no período de estudo

em que ocorreram eventos de ZCAS que atuaram na região Amazônica conforme o

boletim mensal "climanálise". Para identificação dos eventos de ZCAS o critério de

seleção baseou-se nas informações contidas no Boletim Climanálise, como segue:

1. Os eventos de ZCAS atuaram no sul do Amazonas;

2. Os eventos de ZCAS atuaram na Região Norte;

Com base nessas informações criou-se uma tabela (Tabela 3.1) com 32

eventos de ZCAS que atuaram no sul da Amazônia durante o período de estudo.

Estes correspondem a 41% de todos os 78 eventos de ZCAS atuantes no Brasil

durante o período analisado, equivalendo aproximadamente a 3 eventos de ZCAS

por ano que atuaram na área alvo. Esse conjunto de eventos mostrado na Tabela 3.1

é designado S1.

30

Tabela 3.1: Atuação de 32 eventos de ZCAS. Séries S1. _______________________________________________

Evento (n) Duração (Dn) Período Ano _______________________________________________ 01 05 16 a 20/12 1999

02 08 01 a 08/12 2000

03 06 17 a 22/12 2000

04 06 01 a 06/11 2001

05 06 16 a 21/11 2001

06 05 17 a 21/12 2001

07 05 24 a 28/12 2001

08 07 10 a 16/12 2002∗

09 12 27/12/02 a 07/01/03 2002/2003∗

10 05 02 a 06/01 2004

11 11 10 a 20/01 2004∗

12 07 27/01 a 02/02 2006

13 05 09 a 13/02 2006

14 10 07 a 16/03 2006∗

15 05 10 a 14/11 2006

16 07 26/11 a 02/12 2006

17 06 07 a 16/12 2006

18 21 27/12/06 a 16/01/07 2006/2007

19 06 22 a 27/01 2007

20 06 12 a 17/02 2007

21 05 19 a 23/03 2007

22 04 04 a 07/11 2007

23 07 27/11 a 02/12 2007∗

24 10 30/01 a 08/02 2008∗

25 05 26 a 29/02 2008

26 06 03 a 08/03 2008

27 06 12 a 17/03 2008

28 12 13 a 24/11 2008

29 05 27/11 a 01/12 2008

30 09 12 a 20/12 2008

31 04 13 a 16/03 2009

32 05 28/02 a 04/03 2010∗

________________________________________________

Fonte: Boletim Climanálise. (*) significa eventos comuns entre as Tabelas 3.1 e 3.2. Dn é o número de dias.

31

3.2.1.2 Identificação dos episódios de ZCAS pelo Método Objetivo

O método objetivo baseia-se nas séries de dados de precipitação de seis

estações meteorológicas do BDMEP - INMET situados na área alvo no sul da

Amazônia. A partir dessas séries de dados, construiu-se uma nova série de dados

diária de precipitação média das seis estações com um total de 1664 dias, ver

Tabela 3.2, que correspondem a uma sequência dos meses de novembro a março

desde 1999 até 2010. Foram calculados, para essa nova série, precipitação média,

mm/dia e o desvio padrão, mm/dia. Em seguida, foi

escolhido um limiar, que corresponde aproximadamente a 18

mm/dia. Com esse limiar foram selecionados os dias de precipitação segundo os

critérios abaixo:

1. Se a cada 5 dias consecutivos, 3 dias tivessem chuvas maiores ou igual l(P), essa

sequência de 5 dias correspondia a um evento de ZCAS;

2. Se a cada 5 dias consecutivos, 2 dias tivessem chuvas maiores ou igual e a

média da precipitação desses 5 dias fosse maior que , então essa sequência de

5 dias também correspondia a um evento de ZCAS.

Caso um determinado intervalo de tempo de 1 a 10 dias tivesse chuvas acima

do limiar em 3, 4, 5 e 7 dias, o critério computaria apenas um evento de ZCAS,

iniciando no dia primeiro (1) e finalizando no nono (9) dia. Esse exemplo mostrou

também que ao utilizar outro método (média móvel) o número de ZCAS computado

foram 4 eventos a mais que o critério proposto. Além disso, um valor de precipitação

alta entre 5 dias, pode levar a evento de ZCAS não confiável.

O cuidado para esse novo critério, está relacionado também com o avanço de

Frente Fria até a região norte (sul da Amazônia) no verão austral, pois, normalmente

esse sistema interage com o ar úmido e quente da região, produzindo convecção

profunda e consequentemente chuvas fortes e intensas no sul da região Amazônia

(região tropical) (OLIVEIRA 1986; ANDRADE e CAVALCANTE 2004).

Os 28 eventos computados na área de estudo (Tabela 3.2) através desse

critério equivale a 36% do valor computado em relação a média móvel durante o

mesmo período, ou seja, o total dos eventos computados pela média móvel no sul

32

da Amazônia é igual ao número total de episódios de ZCAS atuantes em todo

território brasileiro.

Tabela 3.2: Atuação de 28 eventos de ZCAS pela Metodologia Objetiva. Série S3.

__________________________________________________ Evento Duração (Dn) Período Ano ____________________________________________________________

01 06 22 a 27/12 1999 02 09 11 a 19/03 2000 03 09 28/02 a 08/03 2001 04 10 05 a 14/01 2002 05 15 04 a 28/02 2002 06 07 10 a 16/12 2002∗

07 12 27/12/02 a 07/01/03 2002∗

08 08 14 a 21/01 2003 09 11 10 a 20/03 2003 10 05 25 a 29/03 2003 11 05 16 a 20/01 2004∗

12 05 23 a 27/01 2004 13 14 01 a 14/02 2004 14 06 17 a 22/02 2004 15 07 03 a 09/03 2004 16 09 21 a 27/12 2004 17 06 11 a 16/12 2005 18 06 08 a 13/03 2006∗

19 13 29/01 a 09/02 2007 20 06 18 a 23/02 2007 21 09 27/11 a 05/12 2007∗

22 05 21 a 25/12 2007 23 06 11 a 16/01 2008 24 12 24/01 a 07/02 2008∗

25 06 13 a 18/02 2009 26 07 05 a 11/12 2009 27 05 27 a 31/01 2010 28 07 24/02 a 02/03 2010∗

____________________________________________________

Esse novo conjunto de eventos de ZCAS é chamado S2. Utilizando o mesmo

critério, construiu-se uma nova série agora utilizando os dados estimados do satélite

TRMM. Essa nova série é denominada de S3. A partir da série S3, foram calculados a

precipitação média dos compostos sobre a área alvo, mm/dia, e o desvio

padrão, mm/dia, e o limiar para chuvas desta série é = 13,8 mm/dia.

Uma vez que 80% dos casos foram comuns para as séries S2 e S3, optou-se

por usar, daqui em diante, a série S3 com objetivo de criar os compostos de

precipitação e outras variáveis atmosféricas. Do mesmo modo compostos dos

eventos de ZCAS selecionados em S1 também foram obtidos para poder analisar as

33

diferenças nos padrões de ZCAS selecionados pelos diferentes critérios.

3.2.1.3 Definição dos Campos Compostos

A análise de compostos é uma ferramenta bastante usada e efetiva na

identificação dos padrões médios e suas variações associadas a um determinado

fenômeno. Entretanto, a efetividade da análise depende fundamentalmente do

critério de seleção dos eventos a serem estudados. Neste estudo essa técnica foi

utilizada para identificarmos padrões dominantes dos episódios de ZCAS

selecionados anteriormente.

A significância estatística para esses compostos foi calculada com base no

teste t-Student. A significância estatística representa uma medida da confiabilidade

de um determinado resultado, ou ainda, a probabilidade do erro envolvido em aceitar

um resultado como verdadeiro (WILKS, 2006). Aqui, nos campos compostos a

estatística testa da é a média. Um nível de significância 0,05 indica que existe uma

probabilidade de 5% de que a hipótese nula seja falsa ou 95% de chance que este

resultado tenha consistência. Para as composições foi assumido que uma variável

com n valores e desvio padrão (σ) apresenta uma média com distribuição t-Student.

Assim, somente compostos com valores absolutos maiores que são

estatisticamente significativos, onde tα são tabelados.

Seja ψ(i, j, d, n) um campo bidimensional de uma variável atmosférica (ex.

componente de vento meridional em 850 hPa ou temperatura em 925 hPa), onde i é

o índice do ponto de grade na direção leste, j é o índice na direção norte, d é o

número do dia do evento e n é o número dos eventos de ZCAS. Dessa maneira, d =

1 representa o dia do início da atuação da ZCAS de um dado evento n, onde d = 2,

3, 4, ..., Dn , representam os dias posteriores.

Cada evento tem uma duração de Dn dias diferentes de acordo com a Tabela

3.1. Desta maneira, os compostos para os primeiros dias de atuação de ZCAS

utilizam todos os eventos selecionados e os compostos para os dias posteriores

dependem da variação de Dn com n. Alguns eventos apresentaram atuações

prolongadas de ZCAS e outras não. Então, o número de atuações evidentemente

será reduzido para durações maiores. Eventos de ZCAS na série S1 duraram entre 4

e 21 dias, com uma média de 7 dias dos 32 eventos, enquanto que na série S3 , a

34

duração dos episódios variou entre 5 e 15 dias, tendo um média de 8 dias dos 28

episódios. Devido a essas diferenças, o campo composto para um evento é definido

como:

onde ψCE representa um campo composto do n−ésimo evento, Dn é a duração em

dias do evento.

O Campo Composto para todos os eventos é definido por

onde ψC representa a média de todos os campos compostos, N é o número de

eventos. O campo composto (ψC) serve para descrever a distribuição espacial

média da variável em questão. Os compostos foram obtidos para as variáveis

atmosféricas tais como temperatura em baixos níveis, ventos em baixo, médio e

altos níveis, precipitação, ROL, umidade integrada da superfície até 300 hPa (água

precipitável) e diagnósticos derivados como fluxo de umidade e convergência na

baixa troposfera.

A análise dos compostos foi realizada para diferentes subconjuntos de ZCAS,

a seguir:

1. Para todo o período de estudo na AS;

2. Para todos os eventos de ZCAS escolhidos em S1 e S3;

3. Para eventos que apresentaram chuvas fracas, fortes e intensas na série S3 ,

separadamente;

Para definirmos os eventos com precipitações fracas, fortes e intensas em

relação a média diária de ZCAS da série S3 sobre a área alvo, foram utilizados os

seguintes critérios:

1. Se, os eventos com precipitações em torno desses valores

em mm/dia, foram considerados fracos;

35

onde é a média da precipitação climatológica, é a média da precipitação do

n−ésimo evento de ZCAS e σ/2 é a metade do desvio padrão da precipitação da

série S3 . As médias e desvio padrão foram obtidas sobre a área alvo.

2. Se , os eventos de precipitação foram considerados

fortes;

3. Se , os eventos de precipitação foram considerados intensos.

Os valores escolhidos para classificar as chuvas segundo sua intensidade

estão relacionados com as médias e desvios padrão dos eventos de ZCAS em

relação à série S3.

3.2.1.4 Fluxo de umidade e convergência

Foram calculadas as integrações laterais e verticais dos valores do fluxo de

vapor, Fw, de água através dos quatro lados da área de estudo mostrada na Figura

3.1 e pela equação dada por

(3.3)

onde q é a umidade específica, V é o vetor vento, p é a pressão e g é a aceleração

da gravidade.

A divergência do fluxo de umidade é dada Dw = ∇ · Fw, ou seja, uma maneira

de obter a divergência do fluxo de vapor de água sobre a área é calcular a integral

de linha fechada. Por outro lado, quando a área é retangular, a integral fechada é

quebrada em quatro partes, uma para cada fronteira, fronteira leste, oeste, norte e

sul do retângulo como segue:

36

Figura 3.1: Modelo da caixa sobre a área alvo para calcular o transporte de umidade, integrado da superfície até 300 hPa, As setas indicam o sentido nos lados da caixa .

onde u, v são as componentes do vetor vento V, Tw (E) é o transporte para dentro da

área através da parede leste, Tw (W) é através da parede oeste, etc. O limite de

integração sobre a vizinhança leste e oeste possuem latitudes sul e norte sobre a

vizinhança da área alvo. O limite de integração sobre a vizinhança norte e sul e

longitude da vizinhança de leste e oeste. A convergência do fluxo de umidade total,

Cw (T), sobre a área retangular é dada pela convergência total de vapor de água

dividido pela área considerada, o que dará a diferença entre as taxas médias, Pm ,

de precipitação, devido a convergência de umidade sobre a área, isto é,

(3.4)

(3.5)

onde A é a área de estudo considerada. Esse procedimento pode ser considerado

para qualquer área retangular, esse método é conhecido como modelo de caixa,

maiores detalhes ver Satyamurty et al (2012).

A contribuição percentual da convergência de umidade para a precipitação é

dada por e a reciclagem do vapor d’água pela evaporação é

37

, onde P é a precipitação média na área alvo.

Quando Cw é negativa, tem-se divergência. A convergência total de vapor de

água dividido pela área considerada dará a diferença entre as taxas médias de

precipitação, P, e evapotranspiração. As estimativas foram feitas para os meses de

NDJFM de cada ano no período de 1999 a 2010.

3.2.1.5 Análise Espectral

A fim de identificarmos a escala de variabilidade dominante nas séries de

precipitação sobre a região sul do Amazonas, uma análise espectral foi realizada

utilizando dados das seis estações meteorológicas (Canarana, Gleba celeste,

Matupá, São José do Rio Claro, Maués e Lábrea). Para isso, inicialmente uma série

anual dos dados de precipitação foi gerada da seguinte maneira: o primeiro valor da

série é a média de todos os primeiros dias de janeiro, o segundo valor da série é a

média de todos os segundos dias de janeiro e assim sucessivamente até a média de

todos os trigésimos primeiros dias de dezembro. Para os anos bissextos, foi

calculada uma média dos dias 28 e 29 de fevereiro para constarão apenas um dia,

assim todos os meses de fevereiro constarão apenas de 28 dias para todo o

período. A partir dessa série calculou-se a média móvel.

Após o cálculo da média móvel removeu-se o ciclo anual e tendência linear e,

em seguida, calculou-se o espectro de potência dessa nova série e a curva de

significância. A seguir é apresentado como foram realizados o cálculo da média

móvel e a remoção do ciclo anual. Maiores detalhes ver Wilks (2006) e Jenkins

(1968).

Média móvel

Para identificar claramente a eventual presença de ciclos nas séries de

precipitação ou de outras variáveis é necessário utilizar filtros capazes de reduzir a

variabilidade nos ciclos de presenças óbvias como ciclo sazonal. Para reduzir o ciclo

sinótico obtém-se uma média móvel de 5 dias:

(3.6)

38

onde t representa os índices da nova série (média móvel), 5 representa o número de

observações incluídas na média que pode ser considerado como um parâmetro a

ser ajustado. A nova série tem 4 elementos a menos que a série original. Aqui 5 dias

é o tamanho da janela. Sabe-se que quanto maior for a janela maior o efeito de

suavização.

Função Harmônica

A análise harmônica consiste em representar as flutuações ou as variações de

uma série de tempo como uma série de funções seno e cosseno. As funções são

escolhidas para terem frequências exibindo múltiplos inteiros da frequência

fundamental determinada pelo tamanho da amostra da série de dados. Após ter-se

calculado a média móvel, obteve-se o ciclo anual dado pela função geral

(3.7)

quando k= 1, h1 (t) é o primeiro harmônico e n é o número total da série e t=1, 2, . ,n,

são os coeficientes de Fourier e são os

valores da precipitação da série sobre a média móvel. Aqui o valor de n é 361 dias.

O primeiro harmônico é o ciclo anual, para removê-lo tem-se que calcular a

diferença entre . Portanto, a nova série é dada por , com

t = 1, 2, . . . , n, e será submetida a análise de espectro.

Autocorrelação de Séries Temporais

A existência de autocorrelação em dados meteorológicos e climatológicos tem

implicações importantes sobre a aplicabilidade de alguns métodos estatísticos nos

padrões de dados atmosféricos. Às vezes tais correlações são referidas como

correlações defasadas e são calculadas como coeficientes de Pearson-correlação.

O processo de computar as autocorrelações pode ser visualizado por imaginar uma

cópia de uma sequência de observação e essa sequência (série) pode ocorrer uma

autocorrelação com defasagem (lag) por uma unidade de tempo ou mais. Nosso

interesse é calcular as autocorrelações com defasagens mais longas, lag = 75, a

única diferença é que a série será deslocada por mais que uma unidade de tempo

39

em relação a si. Dessa maneira o coeficiente de autocorrelação para lag = k, será

(3.8)

aqui os subscritos (-) e (+) indicam médias amostrais ao longo do primeiro e último

n − k valores de dados, respectivamente, e válido para 0 ≤ k < n − 1.

A coleção das autocorrelações para várias defasagens são chamadas de

função de autocorrelação. Uma função de autocorrelação sempre começa com

r0 = 1, uma vez que qualquer série não deslocada de dados irá apresentar

correlação perfeita com ele mesmo. É típico de uma função de autocorrelação expor

uma decomposição mais ou menos gradual tendendo a zero quando a defasagem

em relação a k aumenta, gerando relações estatisticamente mais fracas entre os

pontos de dados mais afastados uma da outra no tempo.

Quando os dados da série original possui ciclicidade, as autocorrelações

também apresentam a mesma ciclicidade. Assim, podemos obter os ciclos por

analisar a série de autocorrelação. Os ciclos da série de observações se manifestam

na série de autocorrelação. A vantagem de trabalhar com autocorrelação é que

baixas frequências são eliminadas.

Espectro teórico de modelos autorregressivos

Muitas vezes, para definir, por exemplo, um ciclo anual de uma variável

climatológica, o primeiro harmônico pode dar uma representação bastante adequada

do ponto de vista prático. Nosso objetivo é encontrar uma função que passa

exatamente através de cada um dos pontos de dados, então todos os harmônicos

n/2 serão utilizados para os cálculos dos coeficientes de amplitude, separadamente

para cada harmônico da seguinte maneira

(3.9)

onde são os coeficientes

a série.

40

Análise da Série Temporal

Uma vez que as relações são estabelecidas entre as variáveis harmônicas e

os dados da série x(t), o primeiro Harmônico foi subtraído da série diária de

precipitação e uma parte dessa série contendo 5 meses (Novembro a Março) foram

considerados para essa análise. Tem-se uma série de 151 valores diários. As

autocorrelações , com um lag de dias, = 1, . . . , 75, foram calculadas. A

Transformada de Fourier discreta na série com 75 valores de autocorrelação foi

calculada. Assim, as amplitudes são obtidos para cada período de

dias. A proporcionalidade da variância é explicada para cada m-ésimo

componente de Fourier dado pela equação

(3.10)

onde é a variância de . Essa Estatística é a densidade espectral normalizada e

é representada graficamente pelo período de oscilação. A hipótese nula de que a

amplitude ao quadrado, para o período é significativamente maior do que o

espectro de ruído vermelho nesse período seria rejeitado no nível

(3.11)

onde denota a cauda direita do quantis da distribuição qui-quadrado e

com dois graus de liberdade. Isto,

(3.12)

onde é o parâmetro autorregressivo dado pela a autocorrelação com

é a frequência.

3.2.1.6 Funções Ortogonais Empíricas

Vários métodos estatísticos têm sido usados para identificar a natureza

temporal e espacial da variabilidade climática, como um meio de se interpretar

fisicamente campos meteorológicos. A decomposição em EOF é uma técnica

estatística multivariada, usada tanto para se conhecer as dependências existentes

entre um conjunto de dados como também para estruturar tal conjunto a fim de

41

reduzir o número de variáveis interrelacionadas para um conjunto menor de

componentes, que são combinações lineares das variáveis originais.

As dimensões do espaço vetorial ortogonal podem normalmente ser reduzidas

desde que uma grande fração da variância total seja explicada por uma pequena

fração dos M autovetores. Por esta razão, as combinações lineares dos autovetores

no espaço vetorial reduzido aproximam-se dos vetores originais.

Este método é bastante usado em Meteorologia e tem duas vantagens

básicas. Permite que a descrição de um campo seja feita por um número

relativamente pequeno de funções e coeficientes temporais associados, que

explicam uma fração maior da variância total que qualquer outra transformação.

Também permite investigar processos geofísicos complexos, tais como, variações

oceânicas ou alterações climáticas em curto prazo. A formulação matemática da

técnica está baseada em Wilks (2006).

Filtro de Lanczos

Neste estudo a EOF será aplicada à série de anomalia diária filtrada de

precipitação para o período total de estudo na área alvo. A escolha da área alvo (sul

da Amazônia) nesse estudo está contida na área indicada nos estudo de Carvalho et

al (2002).

As escolhas das bandas de estudos de 10 a 20 dias e 20 a 100 dias estão

relacionados aos picos significativos de 11 dias, 15 dias e 38 dias,

aproximadamente, obtidos na análise espectral descrita anteriormente. Assim, para

focar nas oscilações com períodos de 10 a 20 dias e 20 a 100 dias, as anomalias

diárias de precipitação, ROL, componente zonal e meridional do vento em 925 hPa e

temperatura do ar em 925 hPa para o período de NDJFM foram filtradas utilizando

um filtro "passa-banda" de Lanczos (DUCHON, 1979). A Figura 3.2, ilustra a

resposta do filtro de Lanczos particularmente para as duas bandas.

A primeira banda de 10 a 20 dias possui uma frequência de corte de 1-10 e 1-

20 e a segunda banda de 20 a 100 dias possui uma frequência de corte de 1/20 e

1/100, consideramos 120 pesos nas duas bandas. Uma vez que com a utilização

desse filtro, parte da série de dados é perdida, considerou-se para a filtragem dos

dados o período de setembro a maio. Assim, considerando o número de pesos

iguais a 120, pós a filtragem da série de entrada contendo 2981 dias resultou-se em

42

uma série de saída contendo 1661 dias, correspondente ao período de NDJFM.

Figura 3.2: Resposta do filtro de Lanczos nas bandas de 10 a 20 dias e 20 a 100 dias com frequências de corte entre 1/10 e 1/20 dias (linha vermelha) e 1/20 e 1/100 dias respectivamente

(linha preta) com 120 pesos.

Em seguida, foram calculadas a EOF para anomalias filtradas diárias da

precipitação para todo o período de estudo na área alvo. Para obter os padrões das

demais variáveis e garantir a consistência física entre tais padrões, a correlação

entre a componente principal (ACP) sobre a área alvo e as anomalias nas séries

temporais nas demais variáveis para cada ponto de grade foram calculadas para a

América do Sul. Nessa correlação aplicamos o teste-t a um nível de significância

estatística de 95% e os mapas de correlação serão plotados destacando o mesmo

nível de significância de 95% calculada da seguinte maneira:

(3.13)

t95% é o valor da distribuição relativa ao teste-t, n é o graus de liberdade calculado

pela divisão do número total da série pelo maior valor do intervalo da banda em

estudo e σc correspondente ao desvio padrão do com posto.

43

3.2.2 Estudos de Modelagem

Primeiramente, definiu-se um coeficiente de eficiência (α) que traduz a

intensidade de chuva diária quando os episódios de ZCAS estão atuando no sul da

Amazônia.

3.2.2.1 Coeficiente de Eficiência dos episódios de ZCAS

O Coeficiente de Eficiência diz respeito à frequência das chuvas intensas

quando os eventos de ZCAS estão atuando na área alvo. No presente estudo

usamos um limiar de 20 mm/dia de precipitação média diária para definir as chuvas

intensas com dados das seis estações meteorológicas na área alvo. Esse limiar é

baseado na experiência do dia-dia, todavia, chuvas próximas ou superiores de 20

mm/dia na área alvo não são tão comuns.

Os dados observados de precipitação das estações do INMET foram

examinados para os eventos de chuvas intensas no período de estudo. Durante

estes episódios definiu-se uma função α, chamada de Coeficiente de Eficiência de

ZCAS na produção de eventos de chuvas intensas como segue:

(3.14)

onde m é número total de casos de chuvas intensas (maior ou igual ao limiar)

durante o período de atuação de ZCAS continental, M corresponde ao número de

todos os dias de chuvas fortes nos 55 meses, D é o número de dias do período de 5

meses de NDJFM desses 11 anos de estudo, d é o número total de dias da atuação

de ZCAS. Se α > 1 significa que o evento de ZCAS contribui para propiciar chuvas

intensas com maior frequência na região do que a média climatológica.

Se a proporção de m em relação a d for igual à proporção de M em relação a

D, ou seja, então α = 1, significando que o número de dias com chuvas

intensas durante os episódios de ZCAS não é proporcionalmente maior em relação à

climatologia. Agora, se α > 1, significa que a os episódios de ZCAS apresentam

proporcionalmente maior número de chuvas intensas do que a média de verão.

Os valores encontrados para o cálculo do coeficiente de eficiência (α)

pertencem à série S2 que correspondem aos casos de precipitação média diária na

área alvo maior ou igual ao limiar 20 mm/dia.

44

Os dias de ZCAS que houve chuvas maiores ou iguais ao limiar escolhido

correspondem a m = 63 dias e d = 232 é o número de dias com atuação de ZCAS

dos 28 eventos no período de estudo. M = 195 corresponde ao total de dias com

chuvas ≥ 20 mm e o número D = 1661, o total de dias em 55 meses de NDJFM no

período de 1999 a 2010.

Assim, depois de efetuado o cálculo sobre os dados observados, obtivemos o

valor do Coeficiente de Eficiência α = 2,31, o que significa que a contribuição dos

eventos de ZCAS em reproduzir chuvas fortes ou intensas é proporcionalmente

superior ao dobro de dias da climatologia.

Em seguida, faz necessário conhecer quais os tipos de ZCAS a dizer:

oceânica e/ou costeira e/ou Amazônica (continental), que afetam o sul da Amazônia

com chuvas (forte e intensa) acima da climatologia. Para isso utilizamos o método

Fuzzy.

3.2.2.2 Modelagem Fuzzy na Classificação de ZCAS

O objetivo dessa etapa do trabalho é aplicar os conceitos da teoria dos

conjuntos difusos, de modo a ter um mecanismo de alerta sobre as chuvas acima da

média climatológica provocadas pela Zona de Convergência do Atlântico Sul no Sul

da Amazônia, a dizer: ZCAS Amazônica (continental), ZCAS costeiras e ZCAS

oceânicas, segundo as regiões de atuação desses eventos de acordo com os

trabalho de Carvalho et al (2004) e Quadro et al (2012), que podem ser usados na

previsão de tempo nos modelos numéricos possibilitando uma visão determinística

regional de chuvas sobre a área de estudo, tendo como foco um sistema de alerta

sazonal de chuvas para áreas de risco.

Sistema Fuzzy

Seres humanos são capazes de lidar com processos bastante complexos,

baseados em informações imprecisas ou aproximadas. A Teoria dos Conjuntos

Fuzzy e os Conceitos de Lógica Fuzzy concebida por Lotfi Zadeh (1965 e 1973)

podem ser utilizados para traduzir em termos matemáticos a informação imprecisa

expressa por um conjunto de termos de regras linguísticas (DA SILVA et al, 2007 e

ISLAM et al, 2013).

45

Esta subjetividade nos permite classificar os eventos de ZCAS em oceânicas

e/ou costeiras e/ou amazônica (também chamada continental), através de uma

expressão matemática ou função que indica o grau com que o elemento x de

um conjunto U está em concordância com o conceito que caracteriza os elementos x

no subconjunto A que está contido no U.

Isto é, um subconjunto fuzzy A de um conjunto U é caracterizado por uma

função de pertinência , onde mede a probabilidade do

elemento x pertencer ao subconjunto A, ou seja, o valor de . A

pertinência ou não pertinência de um elemento em A é indicado por

, respectivamente (SUGENO, 1974).

Se um operador humano for capaz de articular sua estratégia de ação como

um conjunto de regras da forma, "se,..., então", um algoritmo passível de ser

implementado em computador pode ser construído. A grande vantagem desse

método provém de sua habilidade de inferir conclusões e gerar respostas, tomando

como input um conjunto de informações vagas, ambíguas e qualitativamente

incompletas e imprecisas.

Sistema de Mamdani

Aqui, apresentamos um breve resumo de como funciona o método Mamdani

de inferência segundo Barros (1997). Espera-se que a cada entrada crisp (um

número real ou n-upla de números reais) faça corresponder uma saída crisp, e em

geral, um sistema fuzzy faça corresponder a cada entrada uma saída. Neste caso,

um sistema fuzzy é uma função de em , construída por uma metodologia

específica de acordo com os módulos (Figura 3.3).

1. Módulo de fuzzificação: modela matematicamente a informação das variáveis de

entrada por meio de conjuntos fuzzy. É neste módulo que se mostra a grande

importância do especialista no processo a ser analisado, pois a cada variável de

entrada devem ser atribuídos termos linguísticos que representam os estados desta

variável e, a cada termo linguístico, deve ser associado a um conjunto fuzzy por uma

função de pertinência. É nesse módulo que se armazenam as variáveis e suas

classificações linguísticas;

46

Figura 3.3: Estrutura de um controlador de Lógica Fuzzy

2. Módulo de inferência: é onde se definem os conectivos lógicos usados para

estabelecer a relação fuzzy que modela a base de regras. É deste módulo que

depende o sucesso do sistema fuzzy já que ele fornecerá a saída (controle) fuzzy a

ser adotado pelo controlador a partir de cada entrada fuzzy;

3. Módulo de defuzzificação: que traduz o estado da variável de saída fuzzy para um

valor numérico.

Número Fuzzy

Na literatura aparecem vários números fuzzy, os mais comuns são:

1. Triangulares;

2. Trapezoidais;

3. Em forma de sino.

47

Definimos um número Fuzzy Trapezoidal se a sua função de pertinência é da

forma

onde está definido no intervalo fechado v = [a, d], de tal forma que podemos

decompor esse intervalo como a união finita de intervalos, tal que

.

Assim, se , então o valor de x pertence ao domínio sobre a

imagem da parte esquerda do trapézio, ou seja, o valor de está entre

, onde os valores representam os valores

limitantes nas bases inferiores e superiores do lado esquerdo do trapézio,

respectivamente. De modo semelhante e representam os valores que

limitam a base superior do trapézio e finalmente os valores de e

representam as bases superior e inferior do lado direito do trapézio, respectivamente

(Figura 3.4).

Figura 3.4: Representação do número trapezoidal μ(x) em suas respectivas base ou intervalos

Das funções de pertinência, a que melhor se ajustou ao nosso modelo foi a

trapezoidal, devido termos as médias dos eventos centralizados em um dado

intervalo, cujos valores extremos estão relacionados com as funções médias e

desvios padrão. O método de inferência utilizado foi o Método de Mamdani

(BARROS, 1997) que combina os graus de pertinência referentes a cada um dos

valores de entrada, através do operador mínimo e agrega as regras através do

48

operador máximo.

Os operadores, máximo e mínimo, são definidos abaixo, respectivamente:

1.

2.

A escolha dos operadores, máximo e mínimo, na definição da união e

intersecção fuzzy, se justificam pelo fato de que quase todas as operações clássicas

dos conjuntos são preservadas.

Os valores de entradas são definidos através dos domínios e termos

linguísticos atribuídos as intensidades da precipitação para todo período ou para

apenas um mês de análise, assim como as chuvas que ocorreram no período de

atuação da ZCAS na área alvo. Essas intensidades serão as variáveis de entrada e

saída descritas abaixo.

Dados de entrada

A Figura 3.5 representa de forma esquemática o sistema fuzzy, os retângulos

amarelos à esquerda representam os dados de entrada de precipitação referente

aos meses NDJFM no período 1999 a 2010. Os retângulos, superior e inferior, à

esquerda, representam as quantidades de chuvas normais (mm/dia) ou diárias (CN)

e as chuvas (mm/dia) dos 28 episódios de ZCAS (CZ), respectivamente. O retângulo

central representa a modelagem segundo a Base de Regras e Inferência Fuzzy

(Mamdani) e o retângulo à direita é a saída do modelo.

1. Entrada1: CN - são as chuvas para todo o período de estudo na área alvo,

levando em consideração para os cálculos a média climatológica de 9, 4 mm/dia e o

desvio igual a metade do desvio padrão σ/2 = 2, 2 mm/dia da série S3 .

(a) Termos Linguísticos: fraca, média e forte;

i. fraca = [0 0 5 7,2]

ii. média = [5 7,2 11,6 13,8]

iii. forte = [11,6 13,8 26,6 26,6]

Universo (CN): 0 a 26,6 mm/dia.

49

os dois valores 0 no intervalo de chuvas fracas (i) correspondem às bases inferior e

superior do trapézio do lado esquerdo e os valores 5 e 7,2 correspondem às bases

superior e inferior do lado direito do mesmo trapézio. Esses valores 5 e 7,2 em (i)

representam também, respectivamente, valores da média climatológica menos o

desvio padrão e média climatológica menos a metade do desvio padrão. Do mesmo

modo, os valores dos intervalos de Entrada2 e Saída são manipulações análogas.

Figura 3.5: Esquema de um Sistema Fuzzy. Entrada de dados (esquerda). Bases de regras e Inferências (meio). Saída (direita).

2. Entrada2: CZ - são as chuvas de todos os dias dos eventos de ZCAS da série S3.

(a) Termos Linguísticos: fraca, forte e intensa;

i. fraca [0 0 9,2 11,4]

ii. forte [9,2 11,4 13,7 14,8]

iii. intensa [13,7 14,8 26,6 26,6]

Universo (CZ): 0 a 26,6 mm/dia.

3. Saída: ZCAS oceânica e/ou costeira e/ou Amazônica corresponde aos valores das

porcentagens dos eventos. Nesses intervalos estamos utilizando o valor da

percentagem de atuação de ZCAS na área alvo para definirmos os intervalos, os

valores extremos em (i), (ii) e (iii) correspondem ao valor da percentagem de ZCAS

atuando na área de estudo.

50

(a) Termos Linguísticos: Oceânica, Costeira e Continental;

i. oceânica [0 0 7,14 17,14]

ii. costeira [7,14 17,14 40,14 50,14]

iii. continental [40,14 50,14 100 100]

Universo(ZCAS): [0, ..., 100]%.

A condicional "se" chuvas normais (CN) é fraca "e" chuvas de ZCAS (CZ)

também é fraca, "então" a ZCAS atuante no Sul da Amazônia é oceânica, essa

condicional possui uma função de pertinência

(3.15)

onde μ mede o grau de verdade da relação de implicação entre os conjuntos CN

(fraca) e CZ (fraca) que correspondente ao tipo de ZCAS atuante na região de

estudo (área alvo), o símbolo ∧ representa a operação união sobre os conjuntos.

A Base de Regras e Método de Inferência estão relacionados com a

probabilidade da função de pertinência pertencer a cada intervalos determinados

pelos valores médios da precipitação diária e os desvios padrão dos eventos de

ZCAS atuantes sobre o sul da Amazônia, definidos anteriormente. As chuvas nesse

período de estudo, também, podemos denominar, de chuvas normais (CN) e as

chuvas, durante os eventos de ZCAS, denominaram-se de CZ. CN também pode ser

analisada pela chuva do mês em que ocorreu o evento de ZCAS. Assim, a Base de

Regra no implemento do algoritmo é definido como segue:

Base de Regra no implemento do algoritmo

1. Se (CN é Fraca) e (CZ é Fraca) então (ZCAS é oceânica);

2. Se (CN é Fraca) e (CZ é Forte) então (ZCAS é oceânica);

3. Se (CN é Fraca) e (CZ é Intensa) então (ZCAS é costeira);

4. Se (CN é Média) e (CZ é Fraca) então (ZCAS é oceânica);

5. Se (CN é Média) e (CZ é Forte) então (ZCAS é costeira);

6. Se (CN é Média) e (CZ é Intensa) então (ZCAS é continental);

7. Se (CN é Forte) e (CZ é Fraca) então (ZCAS é costeira);

8. Se (CN é Forte) e (CZ é Forte) então (ZCAS é continental);

9. Se (CN é Forte) e (CZ é Intensa) então (ZCAS é continental).

51

A defuzzificação é o processo contrário da fuzzificação, seu papel é converter

a saída dada pelo módulo de inferência, que é um conjunto fuzzy, em um número

crisp que bem o represente. Em tais processos foram avaliados as porcentagens e o

desvios padrão das chuvas sobre a área de estudo. Nessa etapa, utiliza-se o método

do centro de gravidade (centróide). Maiores detalhes ver Mamdani e Assillan (1975).

Avaliamos os 28 compostos de ZCAS selecionados na Tabela 3.2 e assim

buscarmos quais os tipos de ZCAS que contribuem com precipitação acima da

média climatológica, a dizer: oceânica, costeira ou Amazônica (continental), no sul

da Amazônia. Nesse sentido, a resposta condicionada a base de regra e inferência é

mostrado em um resumo na Tabela 3.3.

Tabela 3.3: Termos Linguísticos na Classificação da variável de saída sobre o tipo de ZCAS atuantes no Sul da Amazônia.

Portanto, a operação "e" lógico (interseção) de fatos das variáveis linguísticas,

por exemplo, se CN é fraca e CZ é fraca, então será resolvida através do operador

mínimo entre fraca e fraca. Na prática, as operações para se obter o algoritmo de

controle consistiram nos seguintes procedimentos: 1. Para cada fator da parte "se"

da regra: obter um grau de participação do valor de entrada para cada função de

associação ou termo linguístico; 2. O mínimo valor dos graus de participação obtidos

em 1 é o grau de participação da parte "se" (antecedente); 3. Aplicar um limitador na

função de associação da parte "então" através do fator obtido; 4. Fixando CN para

todas as condições e para cada uma delas pode variar CZ as 3 condições todas as

etapas na regras e obter a soma lógica "ou" das funções de pertinência associação

dadas pelas partes "então" (consequente) de cada regra. 5. Calcular a

defuzzificação da função de pertinência resultante e obter o valor de saída.

52

CAPÍTULO 4

ANÁLISE OBSERVACIONAL

4.1 IDENTIFICAÇÃO DOS EVENTOS DE ZCAS NO SUL DA AMAZÔNIA

A Figura 4.1 mostra a climatologia da precipitação, os compostos dos

episódios de ZCAS para os conjuntos S1 e S3, diferenças entre os compostos S1 e

S3 e suas respectivas anomalias e significâncias. Anomalia positiva significativa

apresenta uma precipitação mais forte durante os episódios em relação à

climatologia. Neste sentido, podemos observar que a anomalia positiva está

alinhada desde o sul da região Amazônica até sudeste no Atlântico.

Surpreendentemente, as anomalias positivas não são tão fortes sobre o sul da

Amazônia ou da área alvo, como presumíamos (Figura 4.1 (e)). Assim, parece que

os episódios identificados nos boletins Climanálise não afetam fortemente a região

de estudo (área alvo). Por esse motivo, usamos um critério objetivo, tal como

descrito na seção anterior, para identificar os episódios de ZCAS que afetam o sul da

Amazônia que apresentam anomalias positivas significativas sobre a área alvo,

como também, ao norte da Região Nordeste (Figura 4.1 (f)).

Sobre a área alvo o composto S3 é mais forte que o composto S1 em

aproximadamente 2 mm/dia (Figura 4.1 (d)). Observa-se também nessa Figura 4.1

(e-f) que as anomalias positivas significativas estão situadas ao longo da banda de

nebulosidade da ZCAS. No caso de S3 (Figura 4.1 (f)) anomalias positivas

significativas sobre a área alvo são maiores em relação a S1 (Figura 4.1 (e)). Os

compostos de anomalias são testados para a significância estatística utilizando o

teste-t. No presente estudo, as anomalias positivas e negativas mais fortes do que

2,228 milímetros são estatisticamente significativas ao nível de 5%. Assim, o método

objetivo na identificação dos eventos de ZCAS foi mais apropriado para a região sul

da Amazônia.

53

Figura 4.1: (a) Climatologia de 11 anos de precipitação na estação chuvosa (NDJFM) sobre o sul da região da América tropical. (b) compostos de chuvas de 32 episódios da série S1. (c) compostos de chuvas de 28 episódios da série S3. (d) Diferença entre S1 e S3. (e) Anomalia significativa de S1. (f) Anomalia significativa de S3. As unidades estão em mm/dia e os dados do satélite TRMM. O retângulo é a área de estudo.

A busca para representar a atividade convectiva na Amazônia foi realizada

através da escolha de dois episódios de ZCAS aleatórios, um pertencente ao

conjunto S1 e o outro pertence ao conjunto S3, observados na Figura 4.2.

54

Considerando que as áreas de convecção nos trópicos apresentam

temperaturas no topo de nuvem inferiores a 270◦ K, podemos ver que a banda de

atividade convectiva estende-se desde o Peru e a sul da Colômbia, oeste e Sul da

Amazônia até a região Sudeste do Brasil e para o Atlântico Sul. A área cinzenta

alongada representa as temperaturas com valores inferiores a 260◦ K é considerado

ZCAS.

O padrão é mais forte no segundo caso (S3) na Figura 4.2 (b), i. e, no caso de

uma ZCAS identificada utilizando o critério objetivo (S3 ). O mesmo tipo de figuras

surge quando as anomalias ROL são consideradas no lugar de temperaturas,

porque o ROL é uma função direta da temperatura da superfície que emite. Assim, o

método objetivo de identificação de ZCAS é mais apropriado para o Sul da

Amazônia.

Figura 4.2: Episódios médios de temperatura no topo de nuvem de dois episódios de ZCAS. (a) Período de 26 a 29 de fevereiro de 2008 pertencente ao conjunto S1, e (b) no período de 23 de janeiro a 4 de fevereiro 2008 pertencente ao conjunto S3 . Temperaturas mais frias indicam que o topo da nuvem esta mais alta

4.1.1 Densidade Espectral e ZCAS

A duração média dos episódios de ZCAS em ambos os conjuntos de S1 e S3

são aproximadamente 7 e 8 dias, respectivamente, (Tabelas 3.1 e 3.2). Cerca de

30% dos episódios do conjunto S3 coincidem com os do conjunto S1 obtido a partir

do boletim Climanálise. Quando consideramos todos os eventos ZCAS mencionados

nos boletins Climanálise durante o período de estudo o número total dos episódios

55

de ZCAS aumenta para 60 nas 11 estações chuvosas. Uma boa porcentagem (45%)

dos episódios de ZCAS mencionados na Climanálise afetam o Sul da Amazônia e

apenas 15% são intensos. Essa é uma das razões pelas quais 30% dos eventos de

S1 concordam com os eventos de S3.

Os episódios de ZCAS, possivelmente, constituem uma parte significativa da

variabilidade intrassazonal. Com esse proposito, Análise Espectral da série de

precipitação média diária sobre a área alvo durante a estação chuvosa foi realizado.

A Figura 4.3 mostra as densidades espectrais para períodos entre 3,8 e 75 dias. Os

picos em 37,5 dias e 5,8 dias, observados na figura, são atribuídos à Oscilação

Madden-Julian e ao sinal sinótico extratropical, respectivamente. Os dois picos de

4,7 e 3,9 dias necessitam de uma investigação mais aprofundada, pois estão

relacionados com os sistemas frontais e esses resultados são semelhantes aos

encontrados no trabalho do Marton (2000). É interessante notar que a série de

precipitação apresenta uma densidade espectral significativa em 10,7 dias, que

atribuímos a eventos de ZCAS sobre o sul da Amazônia. Esse resultado incentiva a

exploração da influência dos eventos de ZCAS sobre a precipitação no sul da

Amazônia.

Figura 4.3: Análise espectral nas séries da média diária de chuvas sobre a área alvo no Sul da Amazônia. Os picos (preto) sobre a curva (cinza) são significativos ao nível de 95%

4.1.1.1 Vento em baixos níveis e Convergência de umidade

O transporte de umidade é geralmente efetuado pelos ventos inferiores da

troposfera inferior (SATYAMURTY et al, 2012), devido a umidade ser mais

concentrada nessa camada.

56

Figura 4.4: Composto de vento em 925 hPa. (a) Climatologia. (b) Anomalia de S1. c) Anomalia de S3

A Figura 4.4 apresentam anomalias dos ventos climatológicos e dos eventos

de ZCAS em 925 hPa da série S3 . Esse nível é considerado representativo na baixa

troposfera. Nesta figura, são apresentados os compostos da climatologia (Figura 4.4

(a)) de 11 anos e suas anomalias referentes aos compostos de S1 e S3. Sobre a

Bacia Amazônica o padrão de circulação anômalo é de norte. Esse vento gira

ciclonicamente e converge sobre a área alvo no Sul da Amazônia, esse padrão

refere-se ao conjunto S3. Na anomalia S1, por outro lado, o centro ciclônico anômalo

está no Oceano Atlântico. Isto talvez explique a intensidade da atividade convectiva

durante os eventos nas séries S3, no interior do continente.

57

Os cálculos da convergência de umidade sobre a área de estudo segue o

mesmo modelo de Caixa nas mesmas linhas de Satyamurty et al (2012). A Figura

4.5 mostra o transporte de umidade para todos os quatro lados do paralelepípedo

sobre a área alvo e o saldo na convergência de umidade (canto inferior a direita)

para o composto S3. A climatologia de 11 anos também é mostrada para

comparação. Nos compostos de S3 (Figura 4.5 (b)) observamos que o transporte de

umidade através da fronteira leste é menor e o transporte através da fronteira norte

é maior em relação ao transporte de umidade climatológica (Figura 4.5 (a)). Este

resultado é consistente com a anomalia do vento de baixo nível visto na Figura 4.4.

Figura 4.5: Convergência de umidade sobre a área alvo. (a) Climatologia. (b) Composto S3. As setas indicam os transportes de umidade através das paredes da área alvo. O número no canto inferior direito é saldo líquido de convergência de umidade. Unidades: 10

7 kg/s

A convergência dentro da caixa de 7,61 · 107 kg/s na climatologia aumenta

para 11, 0 · 107 kg/s nos compostos de S3. Este valor dividido pela área alvo dá uma

taxa de precipitação média devido à convergência de umidade de aproximadamente

de 5,14 mm/dia. O resto da precipitação observada, aproximadamente 3,0 mm/dia é

devido à evapotranspiração dentro da área alvo, acreditando que o valor obtido pela

climatologia dos dados TRMM estejam perto da precipitação real e o vento da

reanálise e conjuntos de dados de umidade representem a situação real.

58

4.1.2 Análise de Componente Principal ACP

A Análise de Componente Principal (ACP) tem como objetivo mostrar o

padrão dominante na variabilidade intrassazonal observada na seção anteriormente

(3.1.1), cujos resultados mostraram ciclos (picos) significativos. Desse modo, através

da Análise dos Componentes Principais serão analisadas as bandas 10 a 20 dias e

de 20 a 100 dias, que contêm os ciclos significativos com 10,7, 15 e 37,5 dias,

respectivamente.

Inicialmente serão apresentados os padrões de correlação entre a ACP da

precipitação sobre a área alvo e as anomalias de precipitação para a AS. As análises

foram realizadas para os primeiros modos de máxima variabilidade encontrados para

cada banda.

4.1.2.1 Modos de ZCAS nas bandas de 10 a 20 dias e de 20 a 100 dias

A Figura 4.6 mostra os primeiros dois modos de correlação da ACP sobre a

precipitação na área alvo e anomalias filtradas da precipitação na banda 10 a 20

dias em cada ponto de grade sobre a América do Sul, os quais representam os

modos de variância máxima cerca 11,8% no primeiro e 5,78% no segundo nessa

escala de tempo, respectivamente. Observa-se no primeiro modo (Figura 4.6 (a))

uma correlação significativamente positiva, localizada sobre grande parte do Brasil

central, sudeste e oceano Atlântico. Esse sinal que atua nessa região desde o Sul da

Amazônia até o oceano Atlântico, passando pelo centro oeste do Brasil é conhecido

como região de atuação dos eventos de ZCAS (orientação da ZCAS). Grande parte

dessa precipitação (núcleo) concentra-se no Sul da Amazônia, GO, MG e nordeste

brasileiro. A ZCIT aparece com menor intensidade (não significativa) ao norte com o

mesmo sinal, esse resultado está semelhante a análise do campo de ROL na banda

de 07/13 dias do Marton (2000).

As Correlações significativas de sinal oposto são notadas sobre as regiões do

Sul do Brasil, Paraguai e Argentina. Observam-se, também, algumas regiões com o

mesmo sinal no litoral nordestino e, em algumas áreas no norte do Brasil, próximos

as Guianas. Esse padrão de correlação da ACP e anomalias de chuva caracteriza

uma gangorra na precipitação entre a ZCAS e a região sul do país, semelhante ao

observado na Figura 4.1 (c) segundo De Oliveira Vieira et al (2012) e Paegle et al

59

(2000). Estudos semelhantes mostraram que os sinais opostos da correlação nessas

regiões estão associados ao JBN e a presença da ZCAS. Nesse sentido o JBN está

mais enfraquecido na direção sul do país e contribuindo para que a banda de

precipitação observada desde o sul da Amazônia fosse dirigida para a regiões

Sudeste/Nordeste do Brasil e em direção ao Atlântico, causando chuvas intensas

(fracas) nas regiões com sinal positivo (negativo) e significativo segundo os

trabalhos de Seluchi et al (2000) e Carvalho e Santos (2003).

Esse padrão de gangorra observado no verão austral sobre a região sul da

Amazônia e sul do Brasil, pode ser explicado também, pela variabilidade

intrassazonal na alternância das posições dos JBN mais fracos na presença dos

episódios de ZCAS, embora tais intensidades possivelmente dependam de fatores

locais.

Figura 4.6: Primeiro e segundo modo da EOF na área alvo (retângulo) correlacionada com a anomalia de precipitação na banda de 10/20 dias. Correlação positiva (vermelho) e negativa (azul), nível significativo em 95% (linha de contorno preto).

O segundo modo (Figura 4.6 (b)), apresenta correlação positiva a leste da

região da ZCAS (leste do Sul da Amazônia até o nordeste brasileiro) e negativa a

oeste da mesma (leste do Sul da Amazônia e parte central do continente),

propiciando um dipolo sobre os lados oeste e leste da área alvo. O dipolo positivo no

nordeste localizado no centro-norte até sul apresenta sinal significativo na

precipitação com uma variância máxima de aproximadamente 6%. Esse padrão é

semelhança as chuvas de outono austral durante os meses de março até maio no

Semiárido nordestino. Tal semelhança pode estar relacionada ao tipo de ZCAS que

60

atua na região Sul da Amazônia, ou seja, ZCAS costeira e continental.

Souza et al (2004) usando dados de estações pluviométricas, analisaram a

variabilidade da precipitação regional sobre leste da Amazônia/Nordeste do Brasil

(EAM/NEB) na escala de tempo semanal. Eles observaram evidências de que

variações pluviométricas semanais significativas ocorrem sobre o EAM/NEB no

regime chuvoso de outono, e são associados aos aspectos dinâmicos da ZCIT sobre

o Atlântico.

Todavia, não se observa no Atlântico Norte (Figura 4.6 (b)) próximo à costa do

Brasil uma região significativa que possa ser sugerida como a presença da ZCIT e,

consequentemente, relacionada com a ZCAS no Sul da Amazônia. Dessa maneira,

sugerimos que esse padrão de ZCAS possa estar relacionado com manifestações

de outros sistemas meteorológicos de origem extratropicais, tais como frentes frias

segundo Vitorino et al (1997). Uma das razões para não apresentar ZCIT nos

padrões da Figura 4.6 possa está relacionada com a filtragem do sinal superior a 20

dias.

Na Figura 4.7 são apresentados os dois primeiros modos na banda de 20 a

100 dias, os quais explicam 21,25% e 7,11% da variabilidade nessa banda. Nessa

figura, os padrões de correlação entre ACP e anomalia na precipitação destacam

duas regiões de atuação bem definidas com característica de um Dipolo,

semelhantes ao observado anteriormente na Figura 4.6. Na Figura 4.7(a), a

variância máxima no primeiro modo dessa banda é aproximadamente 21%,

destacando um sinal negativo em quase todo território brasileiro, exceto no sul do

país e adjacentes.

Muza et al (2009), analisaram as variabilidades intrassazonal e interanual na

banda de 20 a 90 dias sobre eventos extremos na precipitação. Os resultados são

semelhantes ao padrão de gangorra na precipitação entre a ZCAS (seco) e o sul do

país (chuva) sugerido neste trabalho.

No segundo modo dessa banda, Figura 4.7 (b), o sinal negativo confina-se

para o lado oeste da Amazônia. O sinal positivo concentra-se em uma região muito

maior sobre o lado leste no Sul da Amazônia e nordeste brasileiro, favorecendo uma

gangorra entre os lados oposto do sul da Amazônia. A presença da ZCIT não

aparece nos dois primeiros modos. Esse segundo modo está coerente com o

resultado encontrado na Figura 4.6 (b) e nos trabalhos de Carvalho et al (2004),

Souza et al (2004) e Muza et al (2009).

61

Figura 4.7: Padrões espaciais e temporais dos modos da correlação na anomalia de precipitação AS na banda de 20/100 dias, anomalia positiva (negativa) vermelho (azul) e o nível de significância de 95% é representada pela linha de contorno preto.

Os primeiro e segundo modos apresentados nessa banda, não possuem

características de um dipolo, pois os sinais observados são bem mais fracos em

relação a banda anterior, ou seja, às áreas de atuação desses sinais não são

significativos. Essa diferença quanto ao sinal e regiões de atuação, principalmente

as dos segundos modos nas duas bandas, sugerem diferentes mecanismos que

estejam atuando para gerar esses sinais, como, por exemplo, OMJ, ENSO e o

Dipolo do Atlântico (FERREIRA et al 2004, SOUZA, 2004).

Assim, os primeiros modos das duas bandas 10 a 20 dias e 20 a 100 dias

podem ser interpretados como ZCAS episódicas e ZCAS sazonal.

Como mencionada anteriormente, as variâncias máximas explicadas pelos

primeiros modos, são de aproximadamente 17% e 28,4%, para as escalas 10 a 20

dias e 20 a 100 dias, respectivamente, mostrando maior importância em relação aos

outros modos. A variabilidade na banda 10 a 20 dias tem um papel importante na

região Sul da Amazônia, onde explica o comportamento de todos os 28 eventos de

ZCAM segundo de S3, conforme mostrado na Tabela 4.1.

A Tabela 4.1 representa a frequência e a percentagem dos eventos de ZCAS

capturados em cada banda nos dois primeiros modos. Observa-se que

aproximadamente metade dos episódios foi capturada pelo primeiro padrão da

Figura 4.6. Isto é, a banda de 10/20 dias mostrou um padrão mais eficiente em

representar ou capturar os episódios de ZCAM. É interessante notar que na banda

62

20/100 dias o segundo padrão capturou 43% dos episódios. Os dois modos da

banda 10/20 dias representam aproximadamente 80% dos episódios da série S3 ou

ZCAM.

Tabela 4.1: Frequência e percentagem do número de ZCAS em cada modo nas respectivas bandas

10/20 dias e 20/100 dias.

A Figura 4.8 apresenta, a evolução das amplitudes dos dois modos para os 6

(seis) eventos comuns de ZCAM (02, 05, 06, 07, 08 e 19) capturados pelos modos

CP01 e CP02 para a banda de 10 a 20 dias. Os episódios possuem algumas

características semelhantes, tais como: duração média de uma semana e meia;

amplitudes máximas dos modos com defasagem média de 2 a 3 dias: valores das

amplitudes das componentes principais maiores ou iguais a um desvio padrão (σ).

A escala de variabilidade dos eventos em comuns está coerente com as

encontradas, anteriormente, no espectro de potência, o qual apresentou um ciclo

significativo de 15 dias para os dois modos nessa banda (figura não mostrada).

Todavia, esses 6 episódios de ZCAM não necessariamente apresentam os mesmos

padrões de variabilidade no sul da Amazônia. Porém, algumas características são

predominantes, principalmente as relacionadas com as defasagens nas amplitudes e

interações de fases que determinam o posicionamento e intensidade da precipitação

na região de atuação, ou seja, os modos reforçam ou enfraquecem as intensidades

das suas fases de atuação. Essas características podem estar relacionadas com os

aspectos físicos não contemplados na ACP e tais diferenças são bem nítidas e

observadas nos padrões espaciais entre os dois modos apresentados na Figura 4.6

(a-b).

63

Figura 4.8: Seis eventos comuns da ACP nos dois primeiros modos na banda de 10/20 dias. CP01 - linha preta, CP02 - linha verde e período da ZCAS - linhas vermelhas.

As Componentes Principais estão relacionadas somente com as direções de

máximas variâncias dos dados. O primeiro autovetor no espaço K-dimensional é

direcionado aproximadamente na direção dos casos capturados por ele. Os

diferentes modos ortogonais determinados não levam em consideração os

processos físicos que dão origem aos dados. Todavia, a análise da EOF considera

que se os padrões são independentes, diferentes mecanismos físicos estão

associados. Nesse sentido, os processos físicos não são independentes e a

interpretação sobre as componentes principais em possuir variabilidades

independentes para cada padrão não é precisa para esses episódios de ZCAS.

Todavia, a primeira componente principal representa um modo importante na

64

variabilidade ou processo físico. Consequentemente, incluindo aspectos de outros

modos ou processos, como mostrado nesses 6 episódios comuns nos dois modos

da ACP, é semelhante a considerar a influência de diferentes processos físicos.

Em relação as diferentes bandas, observa-se na Figura 4.9 os eventos

capturados simultaneamente nas bandas de 10 a 20 dias e 20 a 100 dias. O modo

CP01 da banda de 20 a 100 dias, capturou 2 eventos (7,1%) e o CP02 capturou 12

eventos (42,8%) de ZCAM. Todavia, no modo CP01 os dois eventos 15 e 22

capturados (Figura 4.9 (a.1-b.1), curva verde) também foram capturados na primeira

banda (10 a 20 dias, curva preta) e o mesmo acontece no modo CP02, que também

tiveram cinco eventos (01, 03, 07, 18 e 19) comuns a outra banda (Figura 4.9 (a.2-

e.2)). No entanto, a contribuição dos eventos 15 e 22 sobre todos os episódios de

ZCAM em produzirem chuvas fortes ou intensas sobre o Sul da Amazônia (área

alvo) é muito pequena ou não se mostra significativa em relação a chuva média

climatológica, ficando em torno de ± 21%. Esse fato evidencia a diferença na

precipitação de aproximadamente 2 mm/dia entre os dois eventos (15 e 22) de

ZCAM e a climatologia no Sul da Amazônia. Isso pode estar associado as fases das

ondas de maneira que quando apresentam mesma fase (fase oposta) atuam

construtivamente (destrutivamente) para intensificar (enfraquecer) a precipitação.

Portanto, essas características nos dois eventos em relação as duas bandas

no modo CP01, tiveram um papel significativo na desintensificação da precipitação

quando os eventos de ZCAM estão atuando no sul da Amazônia.

O mesmo pode ser notado em relação ao segundo modo. Nas duas bandas

apresentadas na Figura 4.9 (a.2-e.2), observamos também que as duas séries da

ACP possuem fases opostas e amplitudes com defasagens dentro e fora no período

de atuação dos episódios de ZCAM (linha vermelha), as quais atuam para

intensificar ou enfraquecer a precipitação na região. Para ilustrar esse fato, foram

analisados dois casos de ZCAM em relação a precipitação no Sul da Amazônia:

1◦ caso: O primeiro episódio (evento 07) teve um período de atuação em 27/12/2002

a 03/01/2003 com 8 dias de duração representado na Figura 4.9 (c.2). Observa-se

que durante o período do evento as duas curvas estão em fases opostas de maneira

que sua atuação ocorra no sentido de enfraquecer a precipitação, conforme

mostrado na Figura 4.10. Nesta figura, observa-se anomalias positiva da

precipitação (evento 07) cobrindo grande parte do Brasil, principalmente no Sul da

Amazônia que apresentou precipitação acima de 2mm/dia. Por outro lado, o mesmo

65

evento na segunda banda, observa-se na Figura 4.10 (b) a anomalia negativa

cobrindo grande parte da região norte, exceto Pará e Tocantins, esse sinal negativo

também é observado no lado oeste no Sul da Amazônia.

Figura 4.9: Sete eventos comuns da ACP nos dois primeiros modos nas duas bandas. (a.1)-(b.1) em CP01. (a.2)-(f.2) em CP02. Linhas pretas na banda de 10/20 dias, verde na banda de 20/100 dias e as linhas vermelhas tracejadas períodos de ZCAM.

As interações (soma) das anomalias para as duas bandas nesse evento, uma

favorável (fase positiva) e a outra não (fase negativa), desfavoreceu em

aproximadamente 4% da precipitação em relação a média climatológica na região

Sul da Amazônia. Esse padrão de anomalia é semelhante aos modos CP02s

apresentados nas Figuras 4.6 (b) e 4.7 (b) e encontrados em vários trabalhos a qual

podemos citar Ferraz (2000), Carvalho et al (2002; 2004) e Muza et al (2009).

Conforme estudos anteriores, esse padrão tem característica de ZCAS costeira e/ou

oceânica.

2◦ caso: O segundo episódio (evento 19) teve um período de atuação em 29/01/2007

a 09/02/2007 com 12 dias de duração, representado na Figura 4.9 (e.2).

66

Observamos nessas bandas que as duas curvas apresentam suas amplitudes de

mesmos sinais, dentro do intervalo de estudo (linha vermelha), ou seja, as duas

bandas estão em fase e, consequentemente, contribuindo na intensidade

precipitação no Sul da Amazônia durante o episódio de ZCAM, ver Figura 4.10 (d-f).

Neste caso, apresentou anomalias positivas sobre duas regiões: a primeira, cobrindo

quase todo o norte e nordeste brasileiro e a segunda sobre a ZCAM (Figura 4.10

(d)), desde o Sul da Amazônia até oceano Atlântico, esse resultado está coerente

com a amplitude da fase positiva durante o evento, observado na Figura 4.9 (e.2)

(curva de linha preta). Todavia, esse episódio no modo CP02 na segunda banda

observada na Figura 4.10 (e), apresentou anomalias positivas muito mais intensas e

com características semelhantes ao padrão anterior de ZCAM. Neste sentido, a

precipitação média diária apresentou valores acima de 4 mm/dia sobre toda a

extensão da ZCAM e 3 mm/dia acima em relação ao anterior na Figura 4.10 (d).

Figura 4.10: Precipitação média anômala dos eventos 07 e 19 de ZCAM. (a) e (b) evento 07 nas duas bandas. (d) e (e) evento 19 nas duas bandas. (c) e (f) soma das duas bandas. Anomalia positiva cor azul e negativa cor vermelha. Unidade mm/dia).

A análise simultânea na interação das duas fases positivas nas duas bandas

67

sobre esse episódio, contribuiu para uma precipitação média diária sobre o Sul da

Amazônia em aproximadamente 14,3 mm/dia, o que corresponde a uma

percentagem cerca de 52% acima da média climatológica. Portanto, a interação

entre as duas fases observadas, destaca-se claramente que as opostas

desintensificam a precipitação e quando estão na mesma fase, a precipitação é

intensificada sobre a região. Esses resultados estão consistentes ao observados na

Figura 4.9 (e.2). O padrão apresentado pela ACP possui uma característica de uma

ZCAM bem definida atuando principalmente sobre o continente (sul da Amazônia)

até oceano Atlântico.

4.1.2.2 Mecanismos associados aos padrões de ZCAM nas bandas de 10/20

dias e 20/100 dias

Apresentam-se nessa seção, os resultados dos padrões de correlação entre

as ACP dos primeiros modos na precipitação na área alvo e anomalias filtradas de

variáveis atmosféricas em suas bandas de 10 a 20 dias e 20 a 100 dias na região da

AS.

Na Figura 4.11, os padrões de correlação entre CP01 e CP02 da ACP e

anomalias de ROL na banda de 10 a 20 dias para AS são mostrados. Correlação

significativa negativa de ROL com o primeiro modo (Figura 4.11 (a)) cobre toda a

extensão da ZCAM, mostrando intensa atividade convectiva na Amazônia e é

consistente com o núcleo de máxima precipitação sobre o Sul da Amazônia na

Figura 4.6 (a). A região com sinal positivo significativo encontra-se no sul do Brasil e

adjacentes.

O segundo modo de ROL na Figura 4.11 (b), apresenta sinais opostos e

significativos sobre o sudoeste da Amazônia e leste da Amazônia. Esses sinais

positivos (oeste) e negativos (leste) estão consistentes com os padrões de

precipitação apresentados anteriormente na Figura 4.11 (b). Esses resultados são

semelhantes aos encontrados por Carvalho et al (2002; 2004).

68

Figura 4.11: Primeiro (a) e segundo (b) modo na banda de 10/20 dias. Correlação entre ACP e anomalia de ROL para a AS.

Na Figura 4.12 são mostrados os dois primeiros modos de ROL na banda de

20 a 100 dias para AS. A Figura 4.12 (a) apresentou um sinal positivo em grande

parte da Região Norte, Central, nordeste brasileiro e também sobre o oceano

Atlântico. Nessa última região observa-se duas ramificações do sinal, uma na

direção sudeste trópicos entre 5◦ S e 15◦ S. Um núcleo significativo no Sul da

Amazônia é observado nessa figura, esse padrão é semelhante ao encontrado na

banda de 20 a 100 dias na Figura 4.12 (a), mas com sinal oposto. O sinal negativo

(não significativo) concentra-se na região sul do Brasil e adjacências, esse aspecto

desintensificação a atividade convectiva sobre quase todo o território brasileiro. A

Figura 4.12 (b) apresenta um padrão de gangorra entre os lados opostos no sul da

Amazônia com valores positivos (oeste) e negativos (leste) semelhantes ao

encontrado na Figura 4.11 (b).

O padrão de vento na Figura 4.13 em 925 hPa são observados. No primeiro

modo da Figura 4.13 (a), o padrão de circulação anômala apresenta uma circulação

ciclônica sobre a região alvo, acompanhada por ventos de norte que adentram sobre

essa região. Nesse sentido, a intensificação dos ventos de norte parece contribuir de

forma significativa para o transporte de umidade para a região sul da Amazônia. Por

outro lado, o posicionamento do centro ciclônico anômalo sobre a América do Sul,

proporciona condições favoráveis para confluências dos ventos nessa região e

conseguintemente a convergência de umidade em baixos níveis, como mostrado

69

anteriormente na Figura 4.4 (c). Por outro lado, para o segundo modo (Figura 4.13

(b)) o centro ciclônico é mais intenso e deslocado para leste, enquanto que os

ventos de norte, em direção a área alvo praticamente desaparece. Esse padrão é

semelhante a anomalia do vento na série S1 observado na Figura 4.4 (b), indicando

que os ventos de norte ao adentrar a Amazônia tornam-se de oeste.

Figura 4.12: Correlação entre ACP na banda 20/100 dias e anomalia de ROL na AS, positiva (negativo) vermelho (azul) com nível de significância de 95%, linha de contorno preto.

Na banda de 20 a 100 dias referente a Figura 4.14 são mostrados as

correlações da ACP com vento em 925 hPa. O primeiro modo apresenta padrão

inverso na circulação para comparação em relação ao primeiro modo da primeira

banda. A Figura 4.14 (a) apresenta circulação ciclônica sobre o sudeste no sul da

Amazônia, acompanhada por vento mais forte de norte, em relação a primeira

banda, adentrando a região, contribuindo para o transporte de umidade significativa

sobre a mesma. Todavia, o centro ciclônico posicionado sobre o sul da Amazônia é

condição favorável para confluência dos ventos, mas com menor intensidade nessa

região, e conseguintemente a convergência em baixos níveis. Esse padrão é

consistente aos resultados sobre a atividade convectiva e padrão de circulação

mostrado nas Figuras 4.11 (a) e 4.13 (a). O segundo padrão nessa banda da Figura

4.14 (b), o padrão de circulação ciclônica no sul da Amazônia foi deslocado para o

Oceano Atlântico, próximo ao estado do Rio de Janeiro, sendo que os ventos de

norte enfraquecem sobre o lado oeste da região norte próximo da área alvo, mas

70

sobre o nordeste brasileiro os ventos no sentido NW/SE são mais intenso. A

circulação ciclônica no Atlântico é condição favorável para confluência dos ventos

desde o lado leste no sul da Amazônia até o nordeste brasileiro, esse padrão

contribui para atividade convectiva nessa região e consequentemente precipitação.

Esse padrão é semelhante aos resultados encontrado nas Figuras 4.6 (b), 4.7 (b) e

4.13 (b).

Figura 4.13: Padrões espaciais e temporais nos primeiros modos na banda de 10/20 dias. Correlação entre as ACP da precipitação na área alvo com anomalia dos ventos (u,v) da AS.

Figura 4.14: Padrões espaciais e temporais dos modos na banda de 20/100 dias. Correlação entre as ACP da precipitação na área alvo com anomalia dos ventos (u,v) da AS.

71

Esses ventos (alísios) de norte que adentram o continente são mais intensos

e trazem umidade do oceano Atlântico e posteriormente sofrendo mudança em sua

trajetória devido a presença dos Andes e que confluem com os ventos de menor

intensidade vindos do sul, favorecendo uma extensa região de convergência na

região da ZCAM.

Figura 4.15: Padrões espaciais e temporais na banda 10/20 dias nos modos de correlação na ACP de precipitação na área alvo com a temperatura para AS. Anomalia positiva (negativa) vermelho (azul). A linha de contorno preta mostra área onde o nível de significância de 95%.

A Figura 4.15 mostra padrões de correlação entre a ACP e anomalia da

temperatura do ar em 925 hPa para AS na banda de 10 a 20 dias. Na Figura 4.15

(a), observa-se sinal negativo e não significativo desde o sul da Amazônia ao sul do

país e adjacências, observado também o mesmo sinal na Argentina. O segundo

modo (Figura 4.15 (b)) apresenta uma região com sinal negativo cobrindo grande

parte da América do Sul e oceano Atlântico na direção NW/SE, porém, correlação

significativa destaca-se na direção da ZCAM. Todavia, esses modos sobre os

episódios de ZCAM não possui variações térmicas significativamente, com exceção

do estado de Mato Grosso e sudeste do país, diferentes de outros sistemas como,

por exemplo, frentes frias (Cavalcanti et al, 2009). Esse padrão confirmam altos

valores de energia solar incidente na superfície equatorial, cuja variação da

temperatura do ar é muito pequena nessa região (Cavalcanti et al, 2009).

Agora, os padrões de correlações para a banda de 20 a 100 dias, não

apresentaram nenhum resultado significativo sobre a AS e, portanto, as figuras

72

relacionadas não foram mostradas.

4.1.2.3 Padrões de evolução

Os aspectos envolvendo a evolução do padrão de precipitação e suas

relações com padrões de circulação são mostrados nas Figuras 4.16 e 4.17, para as

bandas de 10 a 20 dias e 20 a 100 dias, respectivamente. Para a Figura 4.16 os

padrões de correlação entre a ACP do primeiro modo e séries filtradas de ROL e

vento para defasagens com até 8 dias de antecedências. A escolha dessa

defasagem baseia-se no período de oscilação, com aproximadamente 11 a 15 dias,

definidos pelo primeiro modo da EOF, para essa escala de tempo.

No dia -8 mostrado na Figura 4.16 (a) observa-se correlação positivo e

significativo de ROL sobre a região da ZCAM e negativa no sul do Brasil. O sinal

negativo está associado aos ventos alísios fortes na costa nordestina e circulação

ciclônica próximo ao sudeste do país, favorecendo atividade convectiva, transporte

de umidade e precipitação sobre a região sul e na região da ZCAM esse padrão

desfavorece a convecção. A partir do dia -6 na Figura 4.16 (b), o núcleo ciclônico

desintensifica e os ventos de sudeste ficam mais fortes sobre a região contribuindo

para o aumento da atividade convectiva na mesma. Todavia, destacam-se algumas

regiões de mesmo sinal e significativo na Austrália, Pacífico equatorial e próximo a

América central. Contudo, entre latitudes 30◦ S e 40◦ S, tanto para o dia -8 quanto

para -o dia 6, o sinal negativo e significativo é dominantes.

No dia -4 na Figura 4.16 (c), o sinal positivo e significativo desintensifica sobre

o Atlântico, limitando-se apenas na Amazônia. A leste da África e Austrália também

se observa o mesmo sinal, mas com menor intensidade. O sinal oposto observado

no dia -6, no Pacífico Leste, próximo a AS, desintensifica e se propaga para a AS,

contribuindo para intensificar a atividade convectiva, por outro lado, tal sinal aparece

no lado leste do Brasil entorno de 20◦ S, essa atividade convectiva está associada a

circulação que confluem nesta região, propiciando sinal negativo e significativo

próximo ao nordeste brasileiro.

73

Figura 4.16: Correlação do CP01 da Banda de 10/20 dias e anomalia de ROL global. Sinal positivo (cor vermelho) e negativo (cor azul). Linha de contorno preto representa a região significativa em 95%.

Nos dias -2 e 0 na Figura 4.16 (d-e), os padrões de ROL com sinais negativos

associados às atividades convectivas são semelhantes sobre a região da ZCAM e

Indonésia. O sinal positivo observado anteriormente no dia -4 sobre a ZCAM,

74

desintensifica por completo dando lugar ao sinal negativo e significativo, sugerindo a

contribuição desse sinal vinda do sul e de leste no Atlântico (Figura 4.16 (d)),

destacado na direção da ZCAM no dia -2 e aumenta consideravelmente tanto a área

de atuação quanto na intensidade no dia 0 (Figura 4.16 (e)), propiciando um amento

na atividade convectiva e consequentemente maior precipitação sobre a região. O

sinal oposto e significativo é dominante no Atlântico Norte no dia -2 e no sul do país

do Brasil no dia 0. Todavia, uma gangorra é observada sobre a região sul da

Amazônia (sinal negativo) e sul do país e adjacências (sinal positivo), destacando

nessas regiões sinais significativos. O campo de vento em baixos níveis favorece

esses padrões, pois se destaca uma circulação anticiclone desde o sul da Amazônia

até o oceano Atlântico no dia -2, transportando umidade para o continente, e no dia 0

os ventos de norte aumentam e uma circulação ciclônica é observada sobre a área

alvo, favorecendo a intensidade do fluxo de umidade e consequentemente um

aumento da precipitação.

O campo de ROL apresenta poucas anomalias estatisticamente significativas

na defasagem de -8 a -2 dias, fora da AS. Na defasagem zero parece haver a

configuração de um trem de onda originaria no Pacifico Central, semelhante aos

trabalhos de Liebmann (1999) e Ferraz (2004).

No dia -20 mostrado na Figura 4.16 (a) observa-se correlação negativa de

ROL sobre grande parte do Brasil e na região da ZCIT. Correlação positiva é

observada sobre a Indonésia e Pacífico Equatorial. No campo de vento sobre a AS,

observa-se confluência dos eventos sobre o Sul da Amazônia até oceano Atlântico,

contribui para o aumento da atividade convectiva e consequentemente precipitação

na região Norte e Nordeste do Brasil. A partir do dia -15 na Figura 4.16 (b), observa-

se um núcleo anticiclônico na costa leste do Nordeste intensificando os ventos de

norte sobre a Amazônia, favorecendo maior intensidade da atividade convectiva

(sinal negativo) sobre a região da ZCAM e Nordeste do Brasil, semelhante ao

encontrado em Carvalho et al, 2002. Contudo, no Atlântico equatorial esse padrão

desfavorece a convecção na região da ZCIT. Todavia, destacam-se algumas regiões

de mesmo sinal na Austrália, Sul da Índia e África. Por outro lado, correlação de

sinal positivo também aparece sobre o sul do Brasil e sobre a Indonésia, tendo um

aumento nesse dia tanto de intensidade quanto na região de atuação, o que não foi

observado no dia -20. Contudo, observa-se nas regiões da Indonésia e sobre a

Amazônia sinais opostos e não significativos tanto para o dia -20 quanto para o dia -

75

15, essa gangorra sobre a atividade convectiva favoreceu precipitação ou

enfraqueceu nas regiões de atuação, dependendo do sinal. Esse padrão se mantém

para os dias seguintes até o dia 0, semelhante ao encontrado por Muza et al, 2009.

No dia -10 na Figura 4.16 (c), o sinal negativo desintensifica sobre a

Amazônia e Nordeste do Brasil limitando-se apenas na parte leste da Amazônia. Na

Índia e Austrália também se observa o mesmo sinal, mas com maior intensidade,

enquanto na África o sinal positivo desapareceu completamente. O sinal oposto é

observado no Sul do Brasil, intensificando-se na direção noroeste e sudeste,

principalmente na costa oeste da AS no Pacífico leste. Todavia, tanto o

enfraquecimento quanto a gangorra observada na atividade convectiva sobre a

Amazônia foram influenciadas pela circulação na AS, deslocamento o centro

anticiclônico da costa leste nordestina para o oceano Atlântico Sul.

Nos dias -5 e 0 na Figura 4.16 (d-e), o padrão de ROL são semelhantes sobre

as regiões da ZCAM, Indonésia e Pacífico Equatorial. A gangorra sobre a atividade

convectiva sobre a Amazônia desaparece no dia -5 e um padrão dominante é

observado com sinal positivo sobre a ZCAM e oceano Atlântico, sugerindo uma

contribuição desse sinal do Pacifico (Atlântico) leste (oeste), destacando

consideravelmente um enfraquecimento na atividade convectiva na direção da

ZCAM do dia -5 para o dia 0, propiciando diminuição da precipitação na região. O

campo de vento em baixos níveis para esses dias, destaca um núcleo anticiclone

longe da costa brasileira no dia -5 no Atlântico e os ventos de norte são fracos, no

dia -0, o núcleo anticiclônico que antes posicionava-se no Atlântico, desloca-se para

o sul da Amazônia/nordeste, enfraqueceu mais ainda os vento de norte sobre o

continente. Esse padrão na circulação desfavorece o fluxo de umidade e a

convecção na Amazônia.

Portanto, a circulação ciclônica anômala e os ventos de norte em baixos

níveis relacionada com propagação da OMJ nos dias -20 a -15, resultado

semelhante encontrado em Paegle et al, 2000, são fatores que favorecem a

atividade convectiva sazonal na Amazônia, os episódios que ocorreram com essas

configurações chamamos de ZCAM sazonal.

76

Figura 4.17: Correlação do CP01 da Banda de 20/100 dias e anomalia de ROL global. Sinal positivo (cor vermelho) e negativo (cor azul). Linha de contorno preto representa a região significativa em 95%.

77

4.1.3 Análise de Modelagem

4.1.3.1 Análises do Método Fuzzy

A Figura 4.18, mostra os resultados do sistema fuzzy construído a partir das

informações das médias e desvios padrão das chuvas, (CN) e (CZ) respectivamente,

definidos anteriormente, com o objetivo de prever o tipo de ZCAS atuante no Sul da

Amazônia.

Figura 4.18: Precipitação normal - CN (coluna da esquerda), chuvas de ZCAS – CZ (coluna do meio) e classificação de ZCAS em ai, bi e ci, i = 1, 2 e 3 (coluna da direita). (a) CN fraca e CZ variando. (b) CN média e CZ variando, e (c) CN forte e CZ variando. CZ variando em fraca (1), forte (2) e intensa (3). Unidades: mm/dia.

Neste sentido, ao fixar o valor da precipitação fraca de CN em 4,51 mm/dia

(Figura 4.18 (a)) e variar a intensidade de chuvas dos eventos de ZCAS em 6,41

mm/dia (1), 12,5 mm/dia (2) e 18,5 mm/dia (3) (coluna do meio) de acordo com cada

78

intervalo estabelecido anteriormente, as classificações foram: ZCAS oceânica (a1),

ZCAS oceânica (a2) e ZCAS costeira (a3).

De modo semelhante na Figura 4.18 (b), fixamos o valor da precipitação no

seu respectivo intervalo de intensidade em CN = 9,4 mm/dia (CN média), variando

as chuvas de ZC fraca = 6,4 mm/dia (1), ZCAS forte = 12,9 mm/dia (2) e ZCAS

intensa = 18,7 mm/dia (3). Os resultados nas classificações foram: ZCAS oceânica

(b1), ZCAS costeira (b2) e ZCAS Amazônica (b3). Analogamente, na Figura 4.18 (c)

fixamos o valor de CN = 17,2 mm/dia (CN forte) e variamos as chuvas de ZC em

fraca = 4,47 mm/dia (1), ZCAS forte = 12,9 mm/dia (2) e ZCAS intensa = 20 mm/dia

(3). Os resultados classificados foram: ZCAS oceânica (c1), ZCAS Amazônica (c2) e

ZCAS Amazônica (c3), respectivamente.

A resposta do modelo fuzzy na classificação é mais consistente quando

aumentamos os valores da precipitação dos eventos de ZCAS em relação as chuvas

normais, ou do mês em estudo. Essa variação na intensidade da precipitação sobre

a área alvo, representada em três intensidades (fraca (1), forte (2) e intensa (3)),

estão associados aos três tipos de ZCAS que atuam no Sul da Amazônia.

4.1.3.2 Classificação dos tipos de ZCAS

O mesmo pode ser notado quando consideramos a variável ROL na Figura

4.19. A região delimitada em vermelho foi usada para destacar a posição

climatológica de atuação dos episódios classificados, semelhantes ao encontrado

nos estudos de Carvalho et al (2004) e Quadro (2012).

Na Figura 4.19 (a) destacam-se os 8 (28,6%) eventos de ZCAS, da série S3 ,

atuantes no Sul da Amazônia classificados como ZCAS oceânica (ZCO). A anomalia

significativa de ROL é observada em três áreas distintas: a primeira desde o sul da

Amazônia até o sul do continente, concordando com a presença dos JBN; a

segunda, à noroeste do Brasil sofrendo interferência dos Andes; e a terceira na

direção do oceano Atlântico. A terceira região está relacionada com a presença da

ZCAS oceânica (ZCO), classificada pela função μ, consistente com o resultado

anterior observados na Figura 4.18.

A Figura 4.19 (b) representa a média de ROL para 10 (35,7%) eventos de

ZCAS, mostrando três regiões de maior atuação com anomalias significativas: Uma

sobre os Andes desde 15◦ S até o sul do continente; a outra na direção da ZCAS,

79

desde no Sul da Amazônia até o oceano Atlântico, o que não foi observado

anteriormente sobre a região sul da Amazônia; e a terceira nota-se a presença da

ZCIT no alto da figura. Nesta figura, a anomalia significativa se destaca sobre o

nordeste e sudeste do país e que não foi observada anteriormente na Figura 4.19

(a). Nesse sentido, como esse padrão de ROL não cobre 1/2 da área de estudo no

lado oeste, definimos como ZCAS costeira (ZCC). Esse resultado está consistente

com o apresentado na Figura 4.18.

Figura 4.19: Classificação anômala e significativa de ROL sobre AS dos 28 episódios de ZCAS, significância estatística em 95% (linha de contorno). (a) ZCAS oceânica (ZCO), (b) ZCAS costeira (ZCC) e (c) ZCAS Amazônica (ZCAM).

Na Figura 4.19 (c) é mostrado o padrão de anomalia significativo de ROL para

os 10 (35,7%) eventos de ZCAS restantes. Nesta figura, a região de maior diferença

em relação às outras categorias estão sobre toda a região sul da Amazônia

concentrando-se em uma grande extensão de terra sobre o continente, numa faixa

preferencial entre as latitudes 15◦ S até 5◦ S. As outras regiões de atuação

80

comparada com a da Figura 4.19 (a-b) mais intensificada, exceto no Amapá, próximo

ao litoral paraense e Mato Grosso do Sul e adjacências. Esse padrão classificou-se

como ZCAS Amazônica (ZCAM) é semelhante ao encontrado quando analisamos a

ACP para o primeiro modo, mostrado anteriormente na Figura 4.6 (a).

Figura 4.20: Compostos de imagens de Satélite GOES de Temperatura de brilho para três eventos, ZCAM no período 29/01 a 09/02/2007, ZCC no período 4 a 7/11/2007 e ZCO no período 27/12/02 a 03/01/2003. Fonte: Boletim Climanálise – CPTEC.

Para ilustrar esses resultados apresenta-se na Figura 4.20, três eventos de

ZCAS sobre a temperatura média de brilho de acordo com classificação dos eventos

de ZCAS em Amazônica (ZCAM), costeira (ZCC) e oceânica (ZCO) na América do

Sul. O episódio considerados Amazônica (ZCAM) na Figura 4.20 (a) atuou no

período de 28/02 a 04/03/2004 com duração de 5 dias, a região preferencial de

atuação é desde o Sul da Amazônia até nordeste/sudeste brasileiro. O evento

considerado costeiro (Figura 4.20 (b)) com período de 4 a 7/11/2006 e duração de 4

dias, tem como regiões de maior atuação a região o norte em direção ao oceano

Atlântico, mas a oeste/central sobre o sul da Amazônia e a leste de MT observa-se

81

menor intensidade da temperatura e brilho, esse foi um dos indicadores da

precipitação entre 23,5% a 47% acima da climatologia, classificados como ZCC.

Agora, considerados oceânicos com período de 7 a 16/12/2006 e duração de 10 dias

(Figura 4.20 (c)), apresenta uma homogeneidade na temperatura de brilho em todo o

continente, fazendo com que a precipitação estivesse no máximo 22% acima da

climatologia sobre o Sul da Amazônia. Essas observações são consistentes com as

classificações anteriormente mostradas na Figura 4.18 na região.

A Figura 4.21 mostra o resultado da classificação Fuzzy para evento de ZCAS

no período de 10 a 14 de dezembro de 2010, evento este não utilizado na calibração

do método. Os resultados das médias da precipitação sobre a área alvo do mês de

dezembro e do episódio de ZCAS são CN = 8,6 mm/dia (média) e CZ = 14,5 mm/dia

(forte), respectivamente, a função atuando nesses valores μ(media, forte) classificou

como ZCAS costeira.

Nesta figura destaca anomalia negativa de ROL igual −10W /m2 sobre os

Andes e atuando no sul da Amazônia e nordeste brasileiro, destacando a leste do

Sul da Amazônia anomalia de ROL = −20W /m2. Todavia o núcleo de maior

intensidade (ROL = −30W /m2 ) se destaca em três regiões do país: a primeira no

sul; a segunda no lado leste do Sul da Amazônia e a terceira cobrindo quase todo o

nordeste brasileiro, possuindo uma precipitação 54% acima da média climatológica

no Sul da Amazônia. Esse padrão de chuva de 2 a 3 dias é previsto no outono

nordestino, sugerindo uma ligação da ZCAM e as chuvas no nordeste na presença

da ZCIT no verão austral, o qual foi observado no segundo modo de variabilidade

nas ACP para as duas bandas estudadas e, também, dos dados observados de

ZCAM do TRMM na seção Modelagem Numérica, demostrando a consistência do

Método Fuzzy.

Nesse sentido, pode-se dizer que os resultados mostraram que a teoria fuzzy

é uma ferramenta promissora na classificação de sistemas sinóticos, por exemplo,

ZCAS, e podem contribuir para um avanço significativo no entendimento físico desse

fenômeno. A análise sistemática do problema em linguagem natural simplificou o

processo de classificação das ZCAS na área de estudo, além de fornecer resultados

coerentes com a realidade dos eventos de ZCAS.

82

Figura 4.21: Episódio de ZCAS classificada como costeira - período de 10 a 14/12/2010 - significância estatística de 95% (linha de contorno preto), anomalia negativa de azul. ZCC em relação à série S3. Unidade: W /m2

Figura 29: Superfície de inferência das chuvas CN, CZ e TZ em relação ao grau de pertinência.

4.1.3.3 ZCAS e os meses de atuação

Os resultados encontrados a partir dessa metodologia na classificação dos 28

episódios de ZCAS no Sul da Amazônia durante o período de estudo, revelaram que

71,4% dos episódios de ZCAS são costeiras e continental e são estes que mais

contribuem com precipitação, cerca de 23,5% acima da média climatológica e com 2

83

eventos por ano no Sul da Amazônia.

Por outro lado, analisou-se a contribuição desses eventos (Figura 4.23) em

relação aos meses de atuação que representa a percentagem dos 28 casos de

ZCAS avaliados sobre a precipitação atuantes na área alvo nos meses de novembro

a março no período de 1999 a 2010. A maior frequência de atuação desses eventos

ocorreu nos meses de janeiro, fevereiro e março tendo em média 7,3 eventos, esses

três meses acumulam cerca de 78,6% de todos os episódios, todavia, no mês de

novembro houve apenas um evento (3,6%) e em dezembro ocorreram 5 eventos

(18%) atuantes durante os 11 verões sobre o Sul da Amazônia.

Figura 4.22: Percentagem da classificação de ZCAS no sul da Amazônia.

A Figura 4.24, representa a percentagem na classificação da precipitação de

acordo com a intensidade dos eventos de ZCAS sobre a área alvo no período de

estudo. Nesse sentido, o número total de ZCAS oceânica que atuaram nesta região

correspondem a 8 (28,6%) eventos, ZCAS costeira 10 (35,7%) e continental 10

(35,7%). Nesse sentido, o método fuzzy conseguiu capturar todas as ZCAS

referentes aos 28 episódios que atuam no sul da Amazônia. Todavia, os episódios de

ZCAS costeira e Amazônica são os responsáveis em causar transtornos sobre a

população urbana e ribeirinha.

Figura 4.23: Percentagem de ZCAS atuantes nos meses de verão.

84

Em relação a classificação dos tipos de ZCAS que atuam nos meses de

novembro a março mostrado na Tabela 4.2, a percentagem sobre a ZCAS oceânicas

concentra-se basicamente nos meses de dezembro e janeiro cerca de 5 eventos, as

costeiras concentra-se nos meses de fevereiro e março cerca de 7 eventos e as

ZCAS Amazônicas concentra-se em janeiro e fevereiro com 8 eventos. Essa Tabela

apresenta dois casos interessantes sobre o mês de novembro em relação aos

eventos costeiros e continentais, os quais não atuaram nesse mês em todo o

período de estudo no Sul da Amazônia.

Tabela 4.2: Frequência e percentagem da classificação dos eventos de ZCAS referentes aos meses de atuação pelo Método Fuzzy. ZCAS oceânica (ZCO), ZCAS costeira (ZCC)e ZCAS Amazônica (ZCAM).

Os números dos eventos atuantes de ZCAS costeiras e Amazônica sobre o

sul da Amazônia são 20 episódios, concentrando-se basicamente nos meses de

janeiro a março, essa percentagens estão distribuídas em ordem decrescente de

maior frequência com fevereiro tendo 7 eventos, janeiro 6 e março 5 eventos, nota-

se que a diferença entre esses três meses é de aproximadamente 1 evento, esse

valor de percentagem para esses dois tipos de ZCAS costeira e Amazônica

apresentam valores significativos acima de 30% em relação a precipitação média

climatologia.

A atuação da ZCAS oceânicas e costeiras sobre o Sul da Amazônia são bem

marcantes refletindo diretamente nos 4 meses de atuação quase constante igual a 4

(22,2%) evento entre dezembro a março, destacando o mês de março que possui 1

evento a mais que os outros correspondendo cerca de 5 (27,8%). Nessa Tabela 4.2

também observamos um aumento gradual em relação ao número de ZCAS nos

meses de novembro a março, mas no mês de Abril não apresenta nenhum evento

85

atuante, desmontando uma forte descontinuidade repentina na atuação de ZCAS na

série de estudo. Ao analisarmos o boletim Climanálise um a um referente ao mês de

abril para todo o período de estudo, ele apresentou apenas 2 eventos de ZCAS

nesse mês.

Portanto, as condições para ocorrência de ZCAS no sul da Amazônia estão

relacionadas com os eventos costeiros e Amazônicos aparecendo principalmente em

dezembro até março sumindo totalmente no mês de Abril.

86

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A climatologia da Bacia Amazônica é influenciada, essencialmente, por quatro

tipos de sistemas meteorológicos, a saber, (1) Convecção de Mesoescala, a maioria

sem muita organização; (2) Linhas de Instabilidades, que iniciam perto da costa

norte do continente sul-americano e propagam-se para oeste na bacia (COHEN et

al, 1995); (3) Propagação de Incursões Frontais frias do sul; (4) a Zona de

Convergência do Atlântico Sul. O presente estudo aborda aspectos sobre a

influência da ZCAS na precipitação sobre a América do Sul, especialmente

associadas aos eventos de ZCAS que afetam o Sul da Amazônia.

Inicialmente, um método objetivo foi proposto para selecionar eventos de

ZCAS que afetam o sul da Amazônia, uma vez que os episódios identificados pelo

método proposto pelo Boletim Climanálise não afetam fortemente a precipitação

dessa região. De modo similar, Carvalho et al (2004) propuseram um método

objetivo elaborado com base nos dados de ROL para identificar diferentes tipos de

ZCAS. No presente estudo, um método simples e eficiente foi usado para identificar

os eventos de ZCAS que afetam a região sul da Amazônia usando dados de

precipitação. Consistente com os resultados Carvalho et al (2004) sobre a definição

de ZCAS continental, o método proposto neste estudo foi capaz de capturar os

episódios de ZCAS que afetam o sul da Amazônia.

Para esses eventos de ZCAS selecionados, foi possível notar que os

transportes de umidade são significativamente diferentes do fluxo climatológico, de

maneira que, o fluxo anômalo na baixa troposfera (representado pelo nível 925 hPa)

é de norte ao longo das Guianas transformando-se em ciclônico sobre o Sul da

Amazônia favorecendo a convergência de umidade nessa região (Figura 4.4). Como

consequência, o transporte de umidade através da fronteira norte na área alvo (Sul

Amazônia) e a convergência líquida aumentam sobre a área alvo durante eventos de

ZCAS. Isso faz com que a precipitação média na área alvo aumente. Com base

nesses resultados, sugere-se que a diferença na precipitação, entre os eventos de

ZCAS e a climatologia, de aproximadamente 3 mm/dia, seja devido à reciclagem da

umidade local ou da evapotranspiração da floresta. Assim, a floresta desempenha

um papel importante na manutenção dos episódios de ZCAS mais úmido e

significativo em relação à climatologia. Assim, pode-se concluir que as diferenças

87

entre a climatologia e os eventos de ZCAS fornecem uma base para a compreensão

do fenômeno ZCAS e que diferenças são essencialmente na circulação ciclônica

anômala e convergência de umidade 45% mais forte no sul da Amazônia. Neste

sentido, sugere-se aos meteorologistas que examinem a convergência de umidade e

características de baixo nível na circulação sobre a Bacia Amazônica para melhorar

a precisão da previsão dos eventos de ZCAS que afetam a região sul da Amazônia.

Quanto a variabilidade dos eventos, a análise espectral da série de

precipitação média diária sobre área alvo no sul da Amazônia mostrou a existência

de uma periodicidade de aproximadamente de 11 dias, que está associado à uma

manifestação do efeito de ZCAS. Por outro lado, os picos observados em 38 e 6 dias

são atribuídos à Oscilação Madden-Julian e ao sinal sinótico extratropical,

respectivamente. A fim de avaliar os padrões de variabilidade associados à ZCAS e

a possível relação com a variabilidade intrassazonal, padrões dominantes de

variabilidade foram obtidos utilizando análises de Componente principais, para as

escalas de 10 a 20 dias (ZCAS) e de 20 a 100 dias (intrassazonal).

As duas bandas de variabilidade apresentaram padrões de precipitações

semelhantes para os dois primeiros modos apresentados, destacando uma faixa que

se estende do sul da Amazônia até o oceano Atlântico, passando pelo Centro-Oeste

do Brasil e outra faixa atuando no lado leste no sul da Amazônia. Sugere-se então

que o primeiro modo das duas bandas 10 a 20 dias e 20 a 100 dias possam ser

interpretados como ZCAS episódicas e ZCAS sazonal, respectivamente. Ressalta-se

ainda que, o padrão de ZCAS episódicas representa em torno de 43% dos episódios

de ZCAS selecionados anteriormente. Por outro lado, 7% dos eventos de ZCAS

foram capturados pelo primeiro modo da banda de 20 a 100 dias. Quando se

consideram o primeiro e segundo modos, aproximadamente 80% (50%) dos

episódios de ZCAS são representados pela variabilidade de 10 a 20 (20 a 100) dias.

Ressalta-se, ainda, que alguns episódios de ZCAS foram representados pelos

dois primeiros modos de variabilidade para as diferentes escalas. Uma vez que

esses modos são ortogonais, eles são não correlacionados para uma defasagem

zero. Quando defasagens maiores são consideradas, o valor da correlação pode ser

diferente de zero, contudo, provavelmente mostrarão diferentes espécies de

associação (por exemplo, variabilidade em fase ou fora de fase) em escalas

temporais distintas. Assim, as interações entre as fases nos primeiros modos nas

duas bandas, mostram que quando as amplitudes da série temporal da componente

88

principal estão em fase (fora de fase) a uma tendência de intensificar (enfraquecer) a

precipitação.

As características da atividade convectiva (ROL) e circulação em baixos

níveis e temperatura do ar em 925 hPa associada a cada escala de variabilidade

mostram padrões distintos. A primeira banda (10 a 20 dias) apresentou

características oscilatórias predominantes sobre a região da ZCAM, quando se

analisou o campo de ROL, contudo, sobre a região extratropical foi observada uma

propagação aparente de um trem de onda de Rossby na direção da ZCAM. Em

relação ao padrão de circulação em baixos níveis, o padrão de ZCAS foi

estabelecido quando as circulações ciclônicas e ventos de norte anômalos atuaram

e confluíram sobre o sul da Amazônia, caracterizando ZCAM episódicas. Para a

escala de 20/100 dias, o padrão de evolução de ROL, sugere que a atividade

convectiva na região da ZCAM pode estar associada a propagação da convecção do

Pacífico Equatorial, consistente com a OMJ e de leste no oceano Atlântico. Todavia,

a circulação anticiclônica sobre o Nordeste do Brasil, intensificou os ventos

anômalos de nordeste, que posteriormente mudaram suas trajetórias sobre o sul da

Amazônia na presença dos Andes, em direção sudeste, caracterizando o jato baixo

níveis. Esse padrão de circulação favoreceu a intensa atividade convectiva sobre

AS, caracterizando a ZCAM sazonal.

Ainda, com intuito de propor um método para construir um mecanismo de

alerta sobre as chuvas acima da média climatológica provocadas pela Zona de

Convergência do Atlântico Sul no Sul da Amazônia, a dizer: ZCAS Amazônica

(continental), ZCAS costeiras e ZCAS oceânicas, que podem auxiliar na previsão de

tempo, utilizou-se um modelo baseado no método Fuzzy. Os resultados encontrados

a partir dessa metodologia para a classificação dos 28 episódios de ZCAS no Sul da

Amazônia durante o período de estudo, revelaram que 75,4% dos episódios de

ZCAS são costeiras e continental e são estes que mais contribuem para um

aumento na precipitação em cerca de 23,5% acima da média climatológica e com

uma frequência de dois eventos por ano no Sul da Amazônia. Ainda, a maior

frequência de atuação desses eventos ocorreram nos meses de janeiro a março

tendo em média 7,3 eventos, acumulando cerca de 79% dos episódios. Assim, os

resultados mostraram que a teoria fuzzy é uma ferramenta promissora na

classificação de sistemas sinóticos, por exemplo, ZCAS, e podem contribuir para um

avanço significativo no entendimento físico desse fenômeno.

89

Finalmente, acredita-se que um completo entendimento dos processos

responsáveis para o regime de chuvas sobre o Sul da Amazônia é crucial. Nesta

pesquisa buscou-se avaliar o papel da ZCAS de forma isolada. No entanto, futuros

trabalhos poderão focar o entendimento de como ZCAS pode interagir com outros

sistemas de escala sinótica como também o estudo de modelagem numérica na

previsão de tempo na região Amazônia.

90

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