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Instituto de Investigação Sócio – Cultural
Delegação Provincial de Manica
BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DO ARPAC- DELEGAÇÃO PROVINCIAL DE MANICA
A Delegação Provincial de Manica foi criada em 1991 e funciona actualmente com dezasseis (16)
funcionários distribuídos em três áreas sendo cinco na Investigação, três na Documentação e oito na
Administração e finanças. Desde a sua criação, a Delegação faz pesquisas variadas no ramo das ciências
sociais que têm seus resultados disponibilizados ao público. A Biblioteca desta Delegação Provincial
dispõe de várias obras publicadas e não publicadas resultantes de pesquisas feitas ao nível da Província
de Manica sem contar com outras obras literárias que dão suporte às pesquisas. Destaca-se a seguir
algumas obras que resultaram das pesquisas feitas ao longo da vida da Delegação Provincial de Manica:
1996 – Makombe: Subsídios para a reconstituição da sua personalidade.
1999 – Cidade de Chimoio: Ensaio sócio histórico
2001 – A Memória das Cheias de 2000
2003 – Avaliação do Impacto das mensagens sobre HIV-SIDA no corredor da Beira
2003 – Valores culturais como marcos importantes para definição de líderes e sistemas de
liderança moderna a luz do Decreto 15/2000 de 20 de Junho de 2003
2005 – As riquezas turísticoculturais de Chimanimani
2006 – A Etimologia e a arte rupestre em Manica
2008 – Aspectos socioculturais do Monte Bengo ou Cabeça do Velho
2010 – A diversidade sociocultural da Província de Manica: Manual para o subsídio ao Currículo
Local
2011 – Potencialidades sócio - turísticos da província de Manica: Caso dos distritos de Manica e
Sussundenga
2011 – O grupo etnolinguístico Tewe e sua cultura
2012 – O papel sócio cultural de Jogos Tradicionais na educação da criança: Caso da Província
de Manica
2013 – Impacto das Mensagens Sobre as Queimadas Descontroladas nas Comunidades: Caso
dos Distritos de Macossa e Sussundenga
2014 – Estudo sócio económico e cultural da desistência de alunos nas escolas: Distritos de
Machaze e Macossa
2016 – O Património Cultural Imaterial do Distrito de Báruè: Caso da Localidade de Nhassacara
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2016 – Álbum fotográfico sobre algumas danças tradicionais no âmbito do IX Festival Nacional da
Cultura
BREVE CARACTERIZAÇÃO DA PROVÍNCIA DE MANICA
Enquadramento Geográfico, Superfície e População
A Província de Manica fica situada ao longo da fronteira com a República do Zimbabwe a Oeste; estende-
se do rio Zambeze em limite com a Província de Tete ao Norte até ao rio Save e faz limites com as
Províncias de Gaza e Inhambane ao Sul e limite com a Província de Sofala a Este. Actualmente a
província possui 12 distritos, nomeadamente: Báruè, Chimoio, Gondola, Guro, Macate, Machaze,
Macossa, Manica, Mossurize, Sussundenga, Tambara e Vanduzi.
Figura 1: Localização geográfica da Província de Manica
Com uma superfície de 61.661 Km2, a Província de Manica possui uma população projectada para 2014
de 1.866.301 habitantes, atingindo uma densidade populacional de 30hab/m2. A sua população é
maioritariamente jovem.
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Figura 2: Pirâmide etária da população da Província de Manica Fonte: INE, 2014
Clima
A província de Manica é caracterizada por um clima tropical alterado pela altitude, com tendência para
quente e húmido, com duas estações distintas: chuvosa, de Setembro a Março, e outra seca, de Abril a
Agosto. As temperaturas médias no verão são de 20oC e ocorrem em metade da Província. Com tudo, as
temperaturas mais quentes (25oC) ocorrem nos vales do Zambeze e Save. As temperaturas mais frescas
(15oc a 20oC) ocorrem nos distritos de Gondola, Manica, Mossurize, Báruè e nas zonas montanhosas do
ocidente.
A precipitação média anual atinge os 1.400mm. Nas regiões secas, estas não ultrapassam os 700mm e
nas zonas altas do interior pode atingir os 1.800mm. No período seco, por vezes aparecem neblinas
matinais, características de épocas de transição entre a estação húmida e seca, ocorrendo principalmente
nas regiões altas, podendo ser acompanhadas de aguaceiros locais e/ou chuvas fortes.
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Breve caracterização histórica e aspectos sócio-culturais
Manica como uma das componentes do antigo Distrito de Manica e Sofala, desmembrou-se em Distritos
da Beira (Província de Sofala) e Vila Pery (Província de Manica), a 1 de Janeiro de 1971, pelo Decreto
355/70 de 28 de Julho de 1970, publicado no Boletim Oficial n.º 62, de 5 de Agosto de 1970.
A capital provincial à semelhança duma parte dos Distritos de Sussundenga e Gondola, é habitada
maioritariamente pelo povo falante do Tewe. Este grupo étnico, possui muitas variantes em relação aos
grupos que o circundam. Os tewe pertencem ao grupo Shona que por sua vez se subdivide em barke
(norte da província), manyika e tewe (centro) e ndau (sul).
O povo Shona é da origem Bantu (povos da África Sub - Equatorial que têm línguas de origem comum)
que primeiro vivia na região entre-os-rios Ubangui e Chari, na África Ocidental e que mais tarde pela
infertilidade dos solos (tratando-se de um povo agricultor), aliado ao aumento populacional, teria migrado
para o planalto do Katanga e na região dos grandes lagos, na África Sub - Equatorial.1
A Província de Manica a semelhança de Sofala e Tete, faz parte da cultura Shona. A cultura Shona
engloba um conjunto de povos que possuem línguas, costumes semelhantes e uma organização sócio -
política idêntica. Todos são patrilineares, o casamento é precedido por uma compensação matrimonial
“chuma” ou termos equivalentes e ou prestação de serviços pelo noivo.
Estas características estão presentes entre os grupos étnicos Va-Ndau, Va-Tewe, Va-Manyika, nas terras
de Manica. Estas características foram adquiridas em resultado da vizinhança entre os dois povos
agudizadas pelos íntimos contactos entre os Shona do Zimbabwe e o povo moçambicano.
De acordo com Jopela (2006), parte da vida dos falantes de Shona em Manica está intimamente
relacionada com a paisagem natural e com crenças dos espíritos ancestrais. Na hierarquia dos espíritos
ancestrais Shona, tem-se em primeiro plano o “Mwari”, suprema divindade Shona, o criador da terra e dos
homens. Este espírito controla a fertilidade da terra, e é o suporte das leis e costumes tradicionais, fornece
chuva nos tempos de seca e adverte a nação em tempos de crise. Em seguida aparece o espírito do chefe
já falecido “Mhondoro”, que está intimamente relacionado com o território que este governa em vida. Por
último tem-se o “Mudzimo”, espírito de pessoa ancestral que protege os membros da respectiva família
dos infortúnios, sendo normalmente invocados durante cerimónias familiares e individuais.
1 SUANA, E. M. (1999). Introdução a Cultura Teve.
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Na crença local, estes espíritos vivem em terra assim como na água. Por isso, alguns locais do meio
natural como é o caso de riachos, lagoas, nascentes, abrigos rochosos no topo dos montes (alguns com
pinturas rupestres), árvores gigantescas, alguns arvoredos e florestas são entendidos como locais com
grande valor espiritual. Alguns destes elementos naturais são tidos como símbolos da presença dos
antepassados na terra, sendo a partir destas que as comunidades interagem com o mundo dos ancestrais.
A cultura, nesta parcela do país é manifestada através de vários símbolos designadamente, ritos
(nascimento, casamento, fúnebres e de preces de chuva), dança tradicional, artesanato entre outras
práticas.
Potencialidades sócio-turísticos
A Província de Manica possui uma variedade no potencial sócio turístico distribuído da seguinte maneira:
1-Patrimonio cultural natural, constituído por comunidades vegetais ou áreas que contem uma variedade
de tipos de paisagem e elementos do ecossistema, locais habitados por plantas ou animais ou espécies
em via de extinção, ambientes imperturbados ou ambientes que demonstrem influenciados pelos
processos naturais; 2- Património histórico-cultural, como é o caso dos lugares de importância espiritual
para as comunidades (matas, árvores, lagos e rios sagrados), lugares para cerimónias ou lugares onde
foram enterrados os antepassados, evidência de instrumentos usados pelos antepassados, locais de
massacre, grutas, pinturas, fortes, estações arqueológicas entre outras.
Nesta província pratica -se apenas o turismo do interior, com um potencial ecoturístico distribuído por
quase todos os seus distritos, com locais históricos de alto valor patrimonial e de interesse turístico. A
Reserva Transfronteiriça de Chimanimani, as Pinturas Rupestres de Chinhamapere, Mukondiwa e
Mushabaka, no Distrito de Manica, de Mavita, Mussapa e Mvuratsvuku, em Sussundenga, Nhansana no
Distrito de Guro, o monte Cabeça do Velho na Cidade de Chimoio, só para citar alguns exemplos. Para
além destes podem-se apreciar diversas fortalezas e fortins, ruínas e conjuntos edificados antes de 1920,
sepulcros, campas e diversas bases da Luta de Libertação Nacional.
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Foto 1: Pinturas rupestres de Chinyamapere, distrito de Manica
Foto 2: Fortaleza de Massangano, distrito de Guro
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Foto 3: Base de Nhacaduzuduzu FESTIVAIS E DATAS TURISTICO-CULTURAIS NA PROVÍNCIA DE MANICA
A Província de Manica é rica em potencialidades turístico-culturais que nos últimos tempos tem contribuído
para o aumento de postos de trabalho, intercâmbio cultural entre os povos, promoção e divulgação da
cultura e desenvolvimento socioeconómico no geral.
Na base dessas potencialidades, o Governo da Província de Manica concebe festivais para divulgar
produtos culturais e turísticos de forma a trair mais investimento nas áreas da Cultura e Turismo. Foi nesta
assenda que em 2014 nasceu o Festival Turístico-Cultural Cabeça do Velho que vem reforçando o festival
nacional da cultura realizada no território moçambicano bienalmente e as festividades da revolta de Báruè
realizadas anualmente na Vila de Catandica no Distrito de Báruè. O ARPAC tem a nobre missão nesses
eventos fazer a cobertura documental e audiovisual para divulgar essas grandes realizações.
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Festival Cabeça do Velho
Cabeça de Velho é o nome de um monte que serve de cartão-de-visita para quem chega a Cidade de
Chimoio, e que deriva o seu nome pelo facto de ter uma aparência de uma cabeça de um velho deitada.
O monte é carregado de muitos simbolismos místicos, com diversas interpretações, assim justificando o
seu uso pelos residentes locais para fins religiosas e cerimónias tradicionais para pedir a protecção e
bênção dos espíritos. Reza ainda a tradição local que, misteriosamente, apareciam nos tempos não muito
recuados pelas manhãs animais tais como cabritos, leopardos e lagartos maiores para além de roupas
estendidas na montanha sem que alguém vivesse ali. O povo Tewe, que circunda a montanha, tem crença
no poder dos espíritos dos antepassados e o monte Cabeça do Velho é tido como um dos locais onde
jazem alguns espíritos dos ancestrais. O aparecimento de animais para este povo representava a
existência dos antepassados na região e o desaparecimento dos mesmos nos últimos tempos também
representam a ausência da protecção dos espíritos pelo que os residentes já sofrem de conflitos
socioculturais na produção agrícola, no comércio e até nos laços parentescos que constantemente se
encontram degradados.
Uma das formas encontradas para consolidar os valores turísticos e culturais que o Monte Cabeça do
Velho representa é o Festival Turístico-Cultural Cabeça do Velho realizado anualmente desde 2014. Este
é um evento descrito como um casamento descontraído para preservar o património cultural e cartão-de-
visita da cidade de Chimoio, e ao mesmo tempo impulsionar o turismo doméstico e respeito pelas
tradições seculares.
O festival Cabeça de Velho realiza-se no IV Trimestre de cada ano desde 2014, sendo que neste ano de
2017 já vai na sua IV Edição. Trata-se de um evento de carácter sociocultural, que envolva artistas e
expositores vindos de todos os distritos da Província de Manica, autoridades públicas, privadas e todos
actores de desenvolvimento. As principais actividades desenvolvidas são: exposição de gastronomia e
artesanato, dança tradicional, teatro, moda e concerto musical.
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Figura 3: Logótipo do Festival Cabeça do Velho
Aniversários da revolta de Báruè A Revolta de Báruè representa o conjunto de iniciativas levadas a cabo pelo povo Barke e diversos grupos
sociais e unidades étnicas do Estado de Báruè sob liderança dos Makombe, ao longo do vale do
Zambeze, em repor a sua soberania e resistir contra a ocupação e dominação colonial portuguesa em
Moçambique.
A Revolta de Báruè iniciou em Março de 1917 e, em reconhecimento a grandeza e simbolismo que
representa para a história de Moçambique, anualmente a cada 28 de Março, a Vila de Catandica, Distrito
de Báruè, Província de Manica acolhe as cerimónias alusivas as comemorações da mesma. Predominam
nas celebrações várias actividades culturais a saber; ritos de veneração aos espíritos, exposição de livro,
gastronomia e artesanato, dança tradicional, teatro, moda e música.
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Foto 4: Cerimonia tradicional no 98° Aniversario da revolta de Báruè, 2015
Foto 5: Cerimonia oficial do 99° Aniversario da revolta de Báruè, 2016
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Foto 6: Exposição de livros e panfletos no 99° Aniversario da revolta de Báruè, 2016
Centenário da Revolta de Báruè
Em Março de 2017 a Revolta de Báruè completou 100 anos e o ARPAC se engajou em várias actividades
científicas. Destacam-se pesquisas rumo a construção do monumento, palestras, exposição de livros,
apetrechamento do Centro de Interpretação Makombe, Seminário sobre a revolta de Báruè e cobertura
documental e audiovisual da cerimónia oficial do centenário da revolta de Báruè.
O monumento Makombe
A construção do monumento é um projecto que remonta do dia 27 de Março de 1997, data do lançamento
da primeira pedra, a quando das comemorações do 80o aniversário da Revolta de Báruè. Desde então,
multiplicaram-se debates sobre o conceito e o formato do Monumento. Delegações científicas foram aos
Arquivos e Centros de Documentação na República do Zimbabwe, em busca de fotografias de qualquer
um dos Makombe, debalde.
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Em 2014, o Governo da Província de Manica iniciou as diligências para construção do monumento
Makombe. Os investigadores do ARPAC e os autores da obra publicada em 1996, entre outros
especialistas foram chamados a prestar seu apoio em ideias para a forma e conteúdo do monumento.
Perante a indisponibilidade de muitos, prevaleceu a troca de suposições entre Domingos do Rosário Artur
e investigadores do ARPAC-Manica, da qual emergiu o projecto definitivo do monumento Makombe
aprovado e executado pelo Governo da Província de Manica.
Foto 7: Monumento Makombe, inaugurado em Março de 2017
Palestras Sobre a Revolta de Báruè nas Escolas Secundárias.
No quadro das celebrações do centenário, o Sector elaborou textos para palestras com o objectivo de
divulgar a história sobre a revolta do Báruè e sobre a Dinastia Makombe. O material foi enviado às
Repartições de Cultura dos Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologia dos Distritos de
Báruè, Guro e Macossa. As palestras foram ministradas pelos professores de História e decorreram nos
respectivos Distritos.
Apetrechamento do Centro de Interpretação Makombe.
O Centro de Interpretação Makombe é uma entidade permanente, sem fins lucrativos, a serviço da
sociedade e do seu desenvolvimento aberto ao público que visa adquirir, conservar, investigar, difundir e
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expor artefactos da Revolta de Báruè, dos Makombe e de seu entorno, para educação e deleite da
sociedade, assumindo assim um papel importante na interpretação da cultura e na educação do homem,
no fortalecimento da cidadania e do respeito à diversidade cultural. O ARPAC através de livros, textos em
posters, brochuras e folhetos apetrechou este centro para o consumo público. Também foram expostas
fotografias e artefactos que representam o quotidiano do povo Barke e sua história.
Foto 8: O Centro de Interpretação da revolta de Báruè
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Foto 9: Parte interna do Centro apetrechada
Seminário sobre a revolta de Báruè
Antecedendo as comemorações oficiais dos 100 anos da Revolta de Báruè, realizou-se no dia 27 de
Março de 2017, com inicio as 14:30 minutos, na sala de reuniões do Governo Distrital de Báruè, o
seminário de apresentação de comunicações científicas envolvendo académicos, investigadores,
convidados e a comunidade, sendo que no seu todo, fizeram parte do seminário 51 participantes.
De referir que para além dos Investigadores do ARPAC, Delegação de Manica, o seminário contou com a
presença dos Investigadores das Delegações de Tete e Sofala, Docentes da Universidade Pedagógica,
Delegações de Manica e Tete bem como da Directora Geral Adjunta do ARPAC, Angélica João
Munhequete e do Chefe de Investigação do ARPAC - Central, Ruben Taibo.
Foram apresentadas comunicações científicas divididas em 4 grupos temáticos, nomeadamente: Lutas de
resistências contra a penetração colonial potruguesa em Moçambique, História da Revolta do Báruè,
Locais históricos ligados a Revolta de Báruè e o Turismo Cultural e O heroísmo da dinastia Makombe.
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Artigos cientificos apresentados
Foto 10: Seminário sobre a revolta de Báruè
PAINEL 1
PAINEL 2
PAINEL 3
PAINEL 4
1 Aspectos socioculturais das resistências africanas à ocupação estrangeira: o caso da
resistência de Báruè
2. Abordagem comparativa em torno das resistências da ocupação estrangeira em África: o
caso da renitência de Báruè
1. Contribuição da revolta de Báruè no desenvolvimento do nacionalismo moçambicano.
2. Da revolta de Báruè de 1917 à Luta de Libertação Nacional: Seu impacto na construção da
Moçambicanidade.
3. Da luta heróica de Nongwe-Nongwe ao desenvolvimento do espírito nacionalista em
Moçambique.
1. Origem e mitologia dos Makombe
2. O Proto – nacionalismo dos Makombe
1. Turismo Cultural: uma reflexão sobre alguns locais associados aos Makombe no
desenvolvimento do turismo.
2. Necessidade de sistematização da documentação sobre a resistência do regime
colonial: O caso da resistência de Báruè