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Instabilidade política e quedas presidenciais na América do Sul: causas e conseqüências André Luiz Coelho Farias de Souza Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro – Iuperj [email protected] Preparado para apresentação no 21 0 Congresso Mundial de Ciência Política – Ipsa/2009, Santiago, Chile, de 12 a 16 de julho de 2009 1 - Introdução O objetivo deste trabalho será realizar uma comparação entre a ocorrência de crises políticas e a estabilidade presidencial na Argentina, Brasil, Bolívia e Equador no período imediatamente posterior a redemocratização e implementação das reformas estruturais no continente. Para tal, considero principalmente a influência do desenho institucional do sistema político e seu desempenho efetivo, além da atuação dos movimentos sociais e da sociedade civil com o intuito de compreender quais foram os principais fatores que levaram, ou não, a sucessivas quedas do Executivo. Esclareço, no entanto, que por se tratar de pesquisa ainda em andamento, apresento aqui somente seus primeiros resultados. Os países analisados possuem em comum uma histórica herança de subdesenvolvimento e instabilidade ao longo do século XX, com oscilações entre períodos democráticos e autoritários. Com o advento da democracia (em 1979 no Equador, 1982 na Bolívia, 1983 na Argentina e 1985 no Brasil) e a implementação das reformas de mercado e do Estado, novas diretrizes tomaram a ordem do dia, motivadas por mudanças significativas nos cenários externos e internos. Autores como Anastásia, Ranulfo e Santos (2004) sustentam que ao longo

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Instabilidade política e quedas presidenciais na América do Sul: causas e conseqüências

André Luiz Coelho Farias de Souza

Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro – Iuperj

[email protected]

Preparado para apresentação no 210 Congresso Mundial de Ciência Política – Ipsa/2009, Santiago, Chile, de 12 a 16 de julho de 2009

1 - Introdução

O objetivo deste trabalho será realizar uma comparação entre a ocorrência de crises políticas e

a estabilidade presidencial na Argentina, Brasil, Bolívia e Equador no período imediatamente

posterior a redemocratização e implementação das reformas estruturais no continente. Para

tal, considero principalmente a influência do desenho institucional do sistema político e seu

desempenho efetivo, além da atuação dos movimentos sociais e da sociedade civil com o

intuito de compreender quais foram os principais fatores que levaram, ou não, a sucessivas

quedas do Executivo. Esclareço, no entanto, que por se tratar de pesquisa ainda em

andamento, apresento aqui somente seus primeiros resultados.

Os países analisados possuem em comum uma histórica herança de subdesenvolvimento e

instabilidade ao longo do século XX, com oscilações entre períodos democráticos e

autoritários. Com o advento da democracia (em 1979 no Equador, 1982 na Bolívia, 1983 na

Argentina e 1985 no Brasil) e a implementação das reformas de mercado e do Estado, novas

diretrizes tomaram a ordem do dia, motivadas por mudanças significativas nos cenários

externos e internos. Autores como Anastásia, Ranulfo e Santos (2004) sustentam que ao longo

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do percurso acidentado da reconstrução da democracia, os países da América do Sul

passaram por processos simultâneos de diversificação socioeconômica e cultural (...) e da

manutenção e ou aprofundamento de padrões de pobreza e desigualdades sociais.

Sendo assim, guardadas as peculiaridades, os respectivos países possuem significativas

similitudes, sobretudo se considerarmos uma série de fatores estruturais comuns ao continente

como dependência econômica, pobreza e desigualdade, mas principalmente no histórico

recente de crises políticas e econômicas, além das quedas presidenciais que alguns desses

países enfrentaram.

A escolha dos países é explicada primordialmente pela diversidade de situações relativas à

estabilidade dos mandatários. Nesse sentido, um dos aspectos mais relevantes dos casos

analisados reside no fato de que todos os presidentes que deixaram o poder no período

compreendido entre 1989 a 2008 - incluindo aqueles que caíram antes do tempo previsto -

foram substituídos por novos presidentes civis. Essa observação demonstra que, apesar de

todos os problemas enfrentados pela democracia no período, não ocorreu o retorno às

soluções autoritárias das décadas anteriores. As mudanças do Chefe do Executivo foram

mudanças no interior dos regimes, e não rupturas dos mesmos. Obras recentes como a de

Pérez Liñán (2008) chamam a atenção para o paradoxo das quedas presidenciais sucessivas

nos países da América do Sul sem prejuízo para o regime, ou, para a emergência de

democracias estáveis com governos instáveis.

2 – Crises políticas e quedas presidenciais na América Latina contemporânea

A ocorrência de seguidas crises políticas e econômicas, das quedas do Executivo, das

diferentes respostas do sistema político e da atuação da sociedade civil organizada através dos

movimentos sociais nos leva a necessidade de um aprofundamento teórico sobre os graus de

liberdade de ação dos mandatários dos países em questão. Se no passado recente a

instabilidade política e presidencial da região ocorria através de golpes militares, hoje ela

transcorre segundo a dinâmica do jogo democrático, com ampla participação das massas e das

instituições representativas.

Hochstetler (2007) afirma que 23% dos presidentes latino-americanos eleitos

democraticamente desde a década de 1970 foram forçados a deixar seus cargos antes do final

de seus mandatos. A autora chama atenção para a importância desses números e para a pouca

atenção sistemática recebidas pelas quedas presidenciais nos debates acerca da qualidade da

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democracia e da instabilidade nos sistemas presidenciais. Dos 40 presidentes eleitos na região

a partir de 1970 até 2003, 16 deles (40%) enfrentaram contestações à sua permanência no

cargo e nove (23%) tiveram seus mandatos “fixos” encerrados prematuramente. Assim, os

presidentes latino-americanos não podem assumir que terão o exercício de um mandato fixo e

determinado. Do mesmo modo, Hochstetler sugere que as eleições presidenciais diretas na

América do Sul não dão aos presidentes uma legitimidade consistente que dure todo o período

de seu mandato constitucional.

Pérez Liñán (2008), em artigo que analisa a América Latina no período compreendido entre

1985 e 1995 chega a resultados semelhantes, afirmando que 13 presidentes eleitos foram

removidos de seus cargos ou forçados a renunciar, conta que se eleva a 18 mandatários se

incluirmos os vice-presidentes ou os sucessores nomeados para completar os mandatos

daqueles que tampouco conseguiram encerrar os seus ou convocaram eleições antecipadas.

Assim, o autor conclui que tais acontecimentos não constituem um fenômeno passageiro

restrito a certo contexto histórico, uma vez que ocorreram em contextos institucionais e

econômicos diferentes.

Um dos aspectos relevantes para a escolha dos casos reside no fato de que Equador e Bolívia

apresentaram trajetórias semelhantes tanto em relação às seguidas quedas presidenciais como

também na forma peculiar que estas se apresentaram e dos atores envolvidos no processo. O

caso argentino também se assemelha muito aos anteriores, considerando a grave crise política

e econômica atravessada pelo país no início dos anos 2000, redundando em quebras

institucionais e renúncia de presidentes. Já o Brasil se distancia dos outros países pela

ocorrência de um caso de impeachment1 logo após o retorno a democracia e pela posterior

estabilidade presidencial que perdura até os dias atuais.

3 - Período analisado

O período analisado é o imediatamente posterior ao retorno da democracia e da

implementação das reformas de mercado. Dois são os principais motivos para a escolha do

ano de 1989 como o ponto de partida para a pesquisa: o evento paradigmático da queda do

muro de Berlim, associado à criação do chamado Consenso de Washington no ano anterior;

1 A destituição de Fernando Collor de Mello (o primeiro presidente eleito pelo voto popular desde João Goulart em 1961) pelo Congresso brasileiro ocorreu em dezembro de 1992.

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além de razões de ordem prática, por representar o ano do começo de um novo ciclo de

presidentes eleitos democraticamente na região.

Na Argentina, analiso os dois governos de Carlos Menem (1990-1995; 1995-1999),

substituído por Fernando de la Rúa (1999), retirado do poder por intensas mobilizações

populares em 2001, quando após uma grande crise decisória o Congresso escolheu Eduardo

Duhalde como presidente interino. Em 2003, Nestor Kirchner foi eleito o novo presidente da

Argentina, deixando o poder em 2008, sendo substituído por sua esposa, Cristina.

No Brasil, o período tem início no governo Collor (1990-1992), deposto pelo Congresso após

um processo de impeachment (1992), quando Itamar Franco (1992-1994), seu vice, assume o

governo. Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda da gestão anterior, inicia seu

primeiro mandato (1995-1998), sendo posteriormente reeleito (1999-2002). Em 2003, Luiz

Inácio Lula da Silva assume a presidência, sendo também reeleito em 2006.

Na Bolívia, compreende o primeiro governo de Sanchez de Lozada, (1993-1997) e o mandato

de Hugo Banzer (1996-2001), quando deixou o poder em razão de doença. Este foi

substituído pelo governo de transição de Jorge Quiroga (2001-2002). Nesse mesmo ano, a

população elegeu novamente Gonzalo Sanchez de Lozada, o qual foi obrigado a renunciar no

ano seguinte, sendo substituído pelo seu vice, Carlos Mesa, que também abdicou da

presidência em 2005. Em seu lugar, assumiu o presidente da Corte Suprema de Justiça,

Eduardo Rodríguez Veltzé, que antecipou as eleições presidenciais, parlamentares e de

governadores para dezembro do mesmo ano, vencidas em primeiro turno pelo candidato do

Movimento ao Socialismo (MAS), Evo Morales Ayma.

O Equador é um país com um histórico recente de lutas políticas e de forte polarização

ideológica que têm resultado em curtos mandatos presidenciais. Desde meados dos anos 1990

nenhum presidente conseguiu concluir o mandado de quatro anos. O primeiro governo

analisado é o de Sixto Durán Ballén (1992-1996), último presidente a terminar seu mandato.

Abdalá Bucaram Ortiz, presidente eleito em 1996, permaneceu apenas 186 dias no cargo. Foi

substituído pelo presidente do Congresso Fabián Alarcón,2 que antecipou as eleições

presidenciais, vencidas por Jamil Mahuad Witt (1998). Este permaneceu apenas um ano e

meio no poder, destituído por um golpe militar com o apoio dos indígenas. Em seu lugar

assumiu Gustavo Noboa, que realizou um governo de transição até a eleição de Lúcio

Gutiérrez Borbúa (2002), que governou o país por dois anos e quatro meses, sendo deposto

2 A vice-presidente de Bucaram, Rosália Arteaga, foi impedida de assumir à presidência graças a uma manobra do Congresso equatoriano.

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pelo Congresso e obrigado a fugir. A presidência foi então assumida por seu vice, Alfredo

Palacio, em maio de 2005, administrando o país até 15 de janeiro de 2007, data em que Rafael

Correa toma posse.

A Tabela 1 – Período e trocas presidenciais (1990-2007) mostra com detalhes os presidentes

eleitos (dezessete no total) e a duração de seus mandatos. Desse contingente, apreciando

apenas os casos de quedas de presidentes vitoriosos em eleições que ocorreram em períodos

regulares, teremos um total de seis quedas (Total 2 da tabela 1), o que implica dizer que

aproximadamente 35% dos presidentes eleitos não conseguiram terminar seus mandatos.

Contudo, se incluirmos todos aqueles que chegaram a exercer a presidência dos respectivos

países, inclusive em substituição àqueles que não concluíram seus mandatos, o total de quedas

sobe para nove (Total 1 da Tabela 1), ou aproximadamente 53%. Já a Tabela 2 – Motivos de

quedas presidenciais, lista resumidamente as razões para as quedas.

Tabela 1 – Período e trocas presidenciais (1990-2007)

Obs: As quedas presidenciais estão destacadas em amareloFonte: Compilação do autor

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Tabela 2 - Motivos de quedas presidenciaisAno País Presidente Motivo1992 Brasil Collor Renúncia/Impeachment1997 Equador Bucaram Destituído por incapacidade mental1997 Equador Arteaga Ignorada pelo Congresso2000 Equador Mahuad Golpe2001 Argentina De la Rua Renúncia2001 Argentina Puerta Renúncia2001 Argentina Saá Renúncia2003 Bolívia Lozada Renúncia2005 Bolívia Mesa Renúncia2005 Equador Gutiérrez Destituído por abandono de cargo

Fonte: Compilação do autor

4 – Sistema político e conflitos entre poderes

Nessa seção, relaciono as principais discussões teóricas acerca do sistema político da

Argentina, Brasil, Bolívia e Equador e suas implicações para o surgimento de crises políticas

e instabilidade presidencial. As relações entre os três poderes, Executivo, Legislativo e

Judiciário, constituem um dos principais elementos para a manutenção da governabilidade e,

conseqüentemente, da estabilidade política e presidencial.

Amorim Neto (2006), ao avaliar os sistemas presidencialistas da América Latina, observa

uma grande variação institucional, como também atestam os trabalhos de Carey (2003),

Shugart (1992); Jones (1995), Mainwaring (2003); Sartori (1997), entre outros, o que – em

interação com a inclinação ideológica do presidente, o sistema partidário e as condições

econômicas – refletiria uma diversidade de padrões de governança. Estes, por sua vez,

poderiam ser associados ao desempenho político e econômico dos países das Américas.

Santos, Almeida e Vilarouca (2008) distinguem em dois os principais fatores que afetam a

governança na região:3 a distribuição dos poderes legislativos entre o presidente e o

Congresso e o grau de divergência entre os atores políticos detentores de poder de veto

(especialmente entre o presidente e a tendência majoritária no Legislativo).

De modo análogo, Anastásia, Ranulfo e Santos (2004) afirmam que as instituições: 1) afetam

o comportamento e os resultados políticos; 2) interagem e produzem efeitos combinados

sobre atributos desejáveis da ordem democrática, tais como estabilidade política,

accountability e representatividade. Estes autores discutem o chamado “dilema institucional”

3 A governança é definida pelos autores como a capacidade de governar, ou, em termos gerais, como definir objetivos em primeiro lugar e em seguida tomar decisões e implementar ações com vistas a alcançá-los.

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das recentes democracias latino-americanas, que poderia ser sintetizado em quais seriam os

arranjos institucionais compatíveis com sociedades que combinam heterogeneidades

estruturais com pobreza e desigualdade social. Este “dilema institucional” seria traduzido, de

alguma forma, no trade off ou mais estabilidade ou mais representatividade, ou na tensão do

acréscimo do hiperpresidencialimo que poderia gerar maior governabilidade em detrimento da

responsividade/representação dos eleitores.

Podemos identificar o conflito entre poderes na região nas sucessivas tentativas de reforma

constitucional nos países em questão. Segundo Pachano (2004), as reformas constitucionais e

legais implementadas nas duas últimas décadas acabaram fortalecendo os respectivos

presidentes, levando o Legislativo ao bloqueio das iniciativas do Executivo como moeda de

uso corrente e principal estratégia de barganha política. Ao longo do período, a última grande

reforma constitucional realizada na Argentina ocorreu em 1994; mesmo ano de relevante

reforma constitucional na Bolívia, que promulgou sua nova Constituição via referendo

popular em 2009, enquanto no Equador foram promulgadas duas novas Constituições, em

1998 e 2008. No Brasil, a última Constituição data de 1988, mas desde então já foram

realizadas diversas emendas que modificaram significativamente o texto constitucional.

Sendo assim, o período recente sempre ofereceu algum grau de incerteza para as práticas

políticas. A intromissão do Executivo e do Legislativo, principalmente este último, na

formação e na atuação do Judiciário, por exemplo, contribui de forma negativa para a

estabilidade do país e para a resolução de conflitos.4

Ainda de acordo com Pachano (2006), uma das principais dificuldades dos países da região

seria a formação de maiorias parlamentares para a sustentação de governos. Nesse sentido, as

negociações do Executivo junto ao Legislativo, em especial aos partidos políticos, sempre

constituem motivo de tensão e barganha política. Freqüentemente os partidos capitalizam as

insatisfações populares visando o aumento de seu poder de negociação, deflagrando

eventualmente o início de uma crise ou um conflito aberto entre poderes.

Tais acontecimentos chamam a atenção para a importância do estudo das coalizões no

presidencialismo para a sustentação dos mandatários. A literatura é pródiga em discutir a

estabilidade política e sua relação com as maiorias parlamentares e sistemas partidários,

4 Pessanha (2002) afirma que os processos de transição política que se realizaram na América Latina, em sua maioria, foram consolidados com mudanças constitucionais que, em alguns casos, sofreram descontinuidades ou profundas modificações, através da introdução de sucessivas emendas e desobediência ao texto constitucional produzido por maiorias parlamentares, sem a devida atenção aos princípios republicanos, responsáveis pelos limites e pelos instrumentos populares adequados ao controle do poder político.

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estando dividida em dois lados opostos: aqueles que acreditam que governos com apoio

minoritário no Congresso levariam necessariamente a situações prejudiciais para a

governabilidade - Linz (1994) e Mainwaring (1993), entre outros - e aqueles que acreditam

que governos minoritários não redundam necessariamente em baixa governabilidade -

Cheibub (2002), Jímenez (2007), Chasquetti (2001) e Negretto (2003).

Autores como Chasquetti (2001), Cheibub (2002) e Negretto (2003) procuraram demonstrar

que a instabilidade política no presidencialismo não seria uma condição intrínseca ao sistema,

mas surgiria apenas em alguns arranjos institucionais específicos, como no caso de

presidentes minoritários que não conseguiram ou não quiserem formar coalizões de governos

em sistemas multipartidários. Segundo os autores, os presidentes que foram capazes de formar

coalizões majoritárias possuem uma taxa de fracasso relativamente baixa e aceitável.

De acordo com Badillo (2007), os mecanismos para governar com estabilidade política estão

diretamente relacionados com a capacidade de ambos os poderes (legislativo e executivo)

formarem coalizões partidárias e sancionar as iniciativas de lei que fazem parte da agenda do

governo. A autora aponta a institucionalização do sistema partidário como um dos fatores

importantes para a formação de coalizões legislativas. Sistemas partidários pouco

institucionalizados – como é o caso do Equador – teriam pouca disciplina e baixa coesão

interna para formar coalizões mais duradouras.5

Portanto, a lógica da negociação entre o Executivo e o Legislativo será fundamental para

determinar as crises políticas. Cheibub, Przworski e Saiegh (2004) afirmam que um

presidente pode gerir um governo minoritário sem crise em determinadas situações desde que

consiga formar coalizões majoritárias e estáveis. Caso não obtenha seu objetivo, pode mudar

o ministério e formar uma nova coalizão. Quando o presidente tem poder de agenda e

capacidades de imprimir restrições à forma de votar, seria capaz de controlar o resultado.

Amorim Neto (2006) cita o trabalho de Deheza (1997), demonstrando que nessa região os

gabinetes minoritários ou de coalizão seriam menos duráveis do que os majoritários ou

unipartidários.

Negretto (2003) também contesta o argumento de parte da literatura em que presidentes

minoritários no Congresso não seriam estáveis. Segundo o autor, três fatores deveriam ser

considerados para analisar o desempenho do presidente: 1) a posição de policy do partido do

5 Badillo utiliza a definição de Mainwaring e Scully (1997) para caracterizar quando um sistema de partidos é institucionalizado: 1) há concorrência regular entre partidos; 2) os partidos possuem raízes estáveis na sociedade; 3) os partidos e as eleições são os mecanismos que determinam quem governa; 4) as organizações partidárias são relativamente sólidas.

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presidente; 2) a capacidade presidencial de manutenção de veto sobre medidas aprovadas pelo

Congresso; 3) o status legislativo dos partidos incluídos no gabinete.

O autor afirma que o potencial de conflito em um regime presidencialista aumenta quando o

partido do presidente perde o apoio tanto do legislador médio como do legislador que definirá

a situação de veto, e, simultaneamente, não ocorre a formação de um o gabinete de coalizão

que sustente uma maioria legislativa a favor do partido do presidente.

Nesse sentido, a análise das forças políticas distantes do centro mostra-se importante, pois tal

configuração constitui relevante fator de instabilidade. Nesse sentido, a utilização do conceito

de Sartori (Santos, 1986) denominado escala de promessas mostra-se apropriada. Os partidos

que entram no jogo destas promessas irreais não acompanhariam as regras usuais de

competição e, como conseqüência, o jogo político seria então conduzido por uma escalada

incessante. Tais partidos (ou forças políticas) não teriam esperança de ocupar o governo e por

essa razão não respeitariam limites em suas promessas com o intuito de desestabilizar o

centro.

No entanto, acredito que a presença da polarização política em níveis elevados não

necessariamente se traduz em crises políticas, uma vez que a literatura já demonstrou que faz

parte da dinâmica do presidencialismo a possibilidade da formação de amplas coalizões para a

sustentação da governabilidade do Executivo.

Além da conhecida polarização ideológica, a polarização ocorre nos países analisados

também através da dinâmica de participação ou não no governo. Essa oposição teria sido

recriada e fortalecida em grande parte pela ação popular nos protestos e revoltas que

ocorreram via piqueteros, indígenas e cocaleiros, com a ação de um grande contingente de

cidadãos contrários ao ajuste estrutural e aos partidos que implementaram as reformas. A

participação popular nas manifestações e derrubada de presidentes, o surgimento de novos

partidos políticos e de novos líderes teria sido o principal mote da mudança. O principal tema

da polarização, nesse momento, passou a ser entre aqueles que defendiam/e ou

implementaram as reformas estruturais neoliberais e aqueles que eram contrários.

Jímenez Badillo (2007), ao analisar os sistemas presidencialistas latino-americanos, sustenta

como seu principal argumento que quanto maior a distância ideológica entre os partidos e o

presidente, menores as possibilidades de se formarem coalizões legislativas. Dessa maneira,

se aproxima do argumento de Cheibub (2002) e Chasquetti (2001) sobre a importância da

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polarização do sistema político como um dos principais fatores para a instabilidade dos

regimes presidencialistas.

Podemos também identificar a presença de relevante polarização geográfica nos países

analisados. As eleições presidenciais do Equador em 1998 retratam bem essa questão. Na

ocasião, uma das principais armas de campanha dos dois principais candidatos era exatamente

o investimento no fortalecimento de suas bases. Segundo dados do Tribunal Supremo

Eleitoral equatoriano, os resultados do segundo turno demonstraram bem essa diferença: na

região serrana, Jamil Mahuad conseguiu 66% dos votos e Gustavo Noboa 33%; já na zona

litorânea, ocorreu o fenômeno inverso, uma vez que Noboa obteve 62,7% contra 37% de

Mahuad. Na província litorânea de Guayas, Mahuad só cresceu 2,05% entre o primeiro e

segundo turnos. Do modo análogo, os conflitos entre a chamada “região da meia-lua” e os

demais departamentos bolivianos, ou ainda entre a oposição conservadora e o governo central

de Morales evidenciam bem a importância da polarização geográfica em algum dos países da

região. Ao longo do ano de 2008 essa oposição quase provocou uma guerra civil no país. Já

no caso argentino a dinâmica da polarização geográfica estaria concentrada na distinção entre

a capital Buenos Aires e o restante do país.

Uma das indicações dada pela teoria acerca da polarização política aponta a utilização do

conceito de paralisia decisória (Santos, 1986), em razão da existência de uma forte

polarização entre os atores em alguns dos países que serão analisados. Nas palavras do autor:

Em resumo, o modelo (analítico formal de competição política) estabelece, mediante a

descrição de sistemas polarizados, que uma crise de paralisia decisória torna-se o resultado

mais provável do confronto político quando os recursos de poder se dispersam entre os

atores radicalizados em suas posições, de tal forma que se estabelece o que denomino de

equilíbrio político.6

Tomando a paralisia decisória como fenômeno a ser explicado, o autor sugere que os

processos que a produziram foram: 1) a fragmentação dos recursos de poder -acompanhada da

radicalização ideológica; 2) a fragilidade e a inconstância das coalizões que se formaram no

parlamento 3) a instabilidade governamental, definida como rotatividade dos titulares de

pastas ministeriais e de agências estatais.

Santos (1986) acredita que os processos políticos podem efetivamente ser considerados

variáveis independentes, atraindo a atenção para o exame das tendências empíricas que não

6 SANTOS, Wanderley G. Sessenta e quatro: anatomia da crise, 1986: 10.

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seriam identificadas de outra forma. Não seriam, portanto, unicamente subprodutos de

tendências macrossociais ou macroeconômicas. A natureza dos resultados do conflito depende

da dinâmica da competição institucional, que será responsável, em última instância, pela

maior ou menor capacidade do sistema político como um todo para organizar as ações

coletivas destinadas a solucionar problemas.

O conceito de paralisia decisória se assemelha ao conceito de deadlock. De acordo com

Cheibub (2002), a ocorrência de situações de deadlock dependeria de uma combinação de

fatores políticos e institucionais. Por um lado, dependeriam da distribuição de cadeiras no

Congresso ou, mais especificamente, da distribuição de cadeiras dominadas pelo governo. Por

outro, dependeriam dos requisitos institucionais necessários para o veto presidencial. Tais

condições seriam: a existência de poder de veto presidencial na legislação, o tipo de maioria –

simples ou qualificada - necessária no Congresso para derrubar o veto presidencial e,

finalmente, se é necessário votação em uma ou nas duas câmaras. O deadlock não ocorreria

quando a controle da maior parte das cadeiras do Legislativo pertence ao partido do

presidente.

Um dos exemplos paradigmáticos de paralisia decisória – ou deadlock - pode ser percebido no

Equador, no breve mandato de Lúcio Gutiérrez. O ex-coronel foi eleito com um discurso

reformista, contrário aos ajustes macroeconômicos e à dependência externa, contando com o

apoio de uma coalizão de centro-esquerda que incluía o partido indígena Movimento

Pachakutik - PK. Contudo, logo nos primeiros meses de governo tomou direção oposta à

prometida. Esse movimento, por sua vez, acabou gerando a perda gradual de sua base de

sustentação parlamentar. O Pachakutik foi o primeiro a abandonar o governo, seguido

posteriormente por outros partidos. Com isso, a bancada do governo no Congresso Nacional -

que é unicameral - ficou reduzida a somente oito deputados, de um total de cem cadeiras. Em

seguida ocorreu o progressivo deslocamento ideológico das relações de força partidária e a

recomposição da base parlamentar com vistas a uma maior estabilidade para consecução das

políticas de ajuste fiscal. Nesse sentido, Gutiérrez incorporou sete novos ministros dos

partidos de centro-direita, recuperando a maioria no Congresso.

Meses depois, os partidos que apoiaram Gutiérrez no início de seu mandato foram os mesmos

que promoveram uma ofensiva de oposição, iniciando um processo de impedimento do

presidente. A partir de março de 2005, o potencial de conflito entre as forças políticas

equatorianas atingiu um nível em que os custos de supressão do adversário passaram a se

tornar menores que os da tolerância, rompendo uma “segurança mútua”.1 Com o apoio da

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nova maioria, Gutiérrez implementou uma série de reformas, entre elas modificações nas

Cortes Supremas do país, que são partidarizadas, retirando os juízes filiados aos partidos de

oposição e substituindo-os por magistrados de partidos fiéis ao regime. Em seguida, líderes da

oposição convocaram os equatorianos às ruas pedindo a renúncia imediata do presidente. Por

fim, estudantes invadiram o prédio do Congresso Nacional, enquanto deputados destituíam o

então presidente do Congresso, seguindo-se a votação do impedimento de Gutiérrez sob a

alegação de “abandono de cargo”, ainda que o então presidente estivesse todo o tempo em seu

gabinete. No contexto regional, a intervenção na Suprema Corte é um dos expedientes mais

utilizados por governantes que desejam um amplo controle do país revestido de uma suposta

aparência de constitucionalidade. Do mesmo modo agiu Menem, aumentando o número de

juízes da Suprema Corte Argentina, estabelecendo um amplo controle do país para realizar o

pacote de reformas neoliberais.

Contudo, um dos aspectos que desejo novamente ressaltar seria o de que para que as

intervenções do Executivo no Judiciário possam ser bem-sucedidas, dependem

primordialmente da coalizão de governo, que deve necessariamente ser majoritária. Foi o que

ocorreu no caso argentino, uma vez que o aumento do contingente de juízes da Suprema Corte

Argentina aconteceu em um momento extremamente favorável à Menem, que contava com

amplo apoio legislativo para suas medidas, além da adesão popular. O mesmo, como

demonstrado, não ocorreu com Gutiérrez no Equador, que enfrentou tanto uma parcela

significativa de legisladores da oposição contrários às suas medidas como sucessivas

manifestações por parte dos movimentos sociais, tornando sua manutenção no poder

insustentável.

No caso brasileiro, a exceção de Fernando Collor de Mello, os últimos presidentes sempre

conseguiram formar coalizões majoritárias que permitiam ao menos mínimas condições de

governabilidade aos mandatários.

As tentativas de intervenção no Judiciário nos países analisados reforçam um aspecto próprio

do funcionamento das Cortes Supremas nas democracias em questão: o fato de que muitas

vezes estas não atuam como fiscal da lei ou no controle da constitucionalidade, mas

efetivamente como outra instância de negociação. Tal fato seria um grave problema para a

teoria democrática tradicional e para a estabilidade política dos países analisados.

No entanto, após esse momento de extrema polarização, tomando como base a sugestão

teórica da literatura norte-americana, talvez possamos afirmar o que se seguiu foi um período

de reacomodação do conflito nos termos do teorema de Downs, com os partidos se

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realinhando novamente na direção do centro político. Esse movimento teria se consolidado a

partir da metade dos anos 2000, mas de maneiras diferentes na região. Enquanto em alguns

países, como o Brasil, já não se identifica grande diferença ideológica entre governo e

oposição, em outros como a Venezuela, Bolívia e Equador essa distinção persiste, mas em

graus diferenciados.

Portanto, a maneira pela qual o sistema político está estruturado em cada país da região será o

fator determinante para a definição de sua estabilidade. Fatores como a importância dos

poderes de veto e decreto dos presidentes e a polarização dos sistemas partidários, além da

análise da distância entre a posição do presidente e a maioria parlamentar também seriam

determinantes para a estabilidade política e para a estratégia de formação dos gabinetes.

5 - Movimentos Sociais

Nesta seção discuto o papel dos movimentos sociais para a definição tanto da estabilidade

política como da estabilidade presidencial na Argentina, Brasil, Bolívia e Equador. Estruturo a

discussão considerando dois argumentos principais: 1) a atuação dos movimentos sociais na

promoção das principais mobilizações contra presidentes e; 2) na organização de partidos

políticos que funcionam como braços políticos para a representação institucional de seus

interesses. Neste universo estão inscritos tanto a atuação dos movimentos sociais de linhagem

clássica, como, por exemplo, o movimento sindical, como também os chamados novos

movimentos sociais (NMS), como os movimentos étnicos e piqueteros.

De acordo com Mirza (2006), a ação dos movimentos sociais latino-americanos poderia ser

resumida em uma idéia central: com o fim do período autoritário e o retorno da democracia,

novas expectativas foram criadas e esperadas pelos cidadãos que, após conviverem com a

repressão das ditaduras em quase toda a região, aspiravam aos direitos inerentes de uma

democracia livre, com a melhoria nas condições de vida após décadas de pobreza e

desigualdade social. Contudo, a classe política não teria conseguido corresponder a essas

demandas da maneira esperada. Como resultado, os cidadãos passaram a não acreditar no

modelo de representação tradicional dos partidos políticos e, por extensão, na democracia

como sistema: assim, se manifestaram em sucessivos levantamientos os indígenas; em

piquetes e marchas, os desempregados; em ocupações de terra e mobilizações, os sem-terra;

em greves, bloqueio de vias e manifestações nas ruas, os trabalhadores e camponeses.

Melucci (2001) afirma que um movimento social não é a resposta a uma crise, mas a

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expressão de um conflito, manifestado em sua organização, o que implicaria em uma ruptura

dos limites de compatibilidade do sistema ao qual a ação se refere.

Argumentando na mesma direção de Mirza (2006), mas ampliando a discussão para o

conceito de estabilidade presidencial, Hochstetler (2007) afirma que a presença ou ausência

de protestos populares nas ruas constitui fenômeno basilar para a saída dos presidentes na

América do Sul. Segundo a autora: todas as mobilizações bem-sucedidas de quedas

presidenciais incluíram participantes da sociedade civil, que exigiam nas ruas a saída dos

presidentes. Contudo, a participação popular em mobilizações não constitui o único meio de

ação e nem tem efeito obrigatório, já que em diversos momentos a ocorrência de grandes

mobilizações não necessariamente redundou em quedas presidenciais. Todavia, ao que parece,

todas as quedas presidenciais que tiveram como motor principal a ação do Legislativo

contaram também com forte atuação dos movimentos sociais organizando os protestos da

sociedade civil.

Sendo assim, defino a atuação dos movimentos sociais em relação à estabilidade presidencial

no período 1990-2007 em três tipos: 1) para destituir presidentes; 2) contra o Estado e o

sistema político em geral (expresso no lema “que se vayan todos”) e 3) pela manutenção de

presidentes (oposição ao golpe contra Chávez em 2002).

Segundo Pérez Liñán (2008), os militares eram no passado o principal fator de força capaz de

impor a saída de um presidente. Contudo, a retirada do exército do campo político teve duas

conseqüências fundamentais: 1) os movimentos sociais teriam se transformado no fator

fundamental capaz de desestabilizar um governo, através de formas de protestos

confrontacionais ou violentos; 2) a capacidade repressiva do Estado foi limitada pela

crescente resistência do Exército em exercer funções para-policiais. Esta situação teria

iniciado uma cena de poder popular que, combinada com o marco das instituições

democráticas, careceria de precedentes na América Latina.

O “povo”, portanto, ganhou assim um papel preponderante na explicação das crises

presidenciais, não como referência a uma massa amorfa e manipulada, mas como uma

categoria que representa a cidadania mobilizada, não como a representação de uma turba

anômica, mas como a manifestação política dos movimentos sociais. Identificando a

importância dos protestos sociais no novo contexto histórico, Zamosc (2004) denominou os

casos de instabilidade presidencial como “juízos políticos populares”. Tais acontecimentos

teriam gerado uma dinâmica complexa entre a sociedade civil, os setores mobilizados e os

atores institucionais. Como regra geral, esses movimentos de protesto buscam a deposição do

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presidente, mas não possuem um plano coordenado para substituí-lo por outra figura. Com o

objetivo de exercer alguma forma de accountability, os protestos se enfocam contra o

governo, mas não contra o regime democrático. Por este motivo Zamosc (2004) concluiu que

ao perceber a mobilização popular simplesmente como uma disrupción da ordem legal,

corremos o sério risco de vermos a democracia somente em sua chave formal, ignorando seus

aspectos substantivos.

Para Mirza (2006), a maioria dos partidos políticos tradicionais demonstrou a incapacidade

para assumir a condução eficaz do processo de reconstrução do Estado com o fim do período

autoritário. Portanto, os novos movimentos sociais latino-americanos configuraram novos

eixos do conflito social. Por isso, necessitam de um estudo cuidadoso de suas estratégias e

formas de luta, de suas demandas e interpelações, suas vitórias e conquistas sociais. Nos anos

1980, os movimentos sociais começaram a ocupar o espaço dos partidos, irrompendo no

ambiente da política institucional. Os espaços, portanto, se confundem – uma das razões para

a necessidade de se estudar as relações entre sistema político e movimentos sociais.

Esse tipo de desenvolvimento teórico percebe os novos movimentos sociais como

fundamentais para a reconstrução de um modelo democrático inclusivo que possa ir além da

democracia representativa tal como é executada atualmente. De acordo com Coutinho,

Mireles e Delgado (2008) a mobilização coletiva assistida na América do Sul neste início de

século ocorre contra a exclusão, seja ela relacionada diretamente ao processo neoliberal ou

não. Neste sentido, os movimentos sociais da região lutariam por voz, inclusão social e

reconhecimentos de seus direitos, retirando-se das margens. Ao mesmo tempo, o ator coletivo

sul-americano lutaria também para ser parte de processos decisórios, muitos destes cruciais

para o rumo nacional e com repercussão nos âmbitos regional, internacional e mesmo

global. Os anseios de Dahl (1997) sobre inclusividade estão vivamente presentes nesse

argumento. Mirza (2006) afirma que partidos políticos, movimentos sociais, atores sociais,

todos estão estreitamente envolvidos na construção e manutenção do delicado equilíbrio

democrático. A repartição do poder em uma democracia representantiva não é um ato único

que se execute no dia seguinte as eleições, mas o produto de uma interação permanente cuja

correlação de forças depende de fatores econômicos, políticos e sócio-culturais.

As variações dessa correlação de forças serão distribuídas segundo a posição de controle e

manejo de recursos estratégicos - econômicos, institucionais, simbólicos, políticos, pela

capacidade de articulação entre os atores e seus veículos de comunicação interna e externa,

pelo apoio dos cidadãos e pelo grau de legitimidade acumulado. As alianças de classe e

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setores sociais, nesse sentido, se manifestam nas articulações entre os movimentos sociais e

partidos políticos.

Nos casos da Bolívia e do Equador, a ênfase recai sobre os movimentos étnicos. Inicialmente,

durante o século XX os indígenas, quando incorporados ao Estado, sempre o foram na

condição de camponeses, ligados à concepção de luta de classes. A partir do final dos anos

1970, houve uma reconsideração de tais movimentos e a identidade étnica começou a ganhar

força (Van Cott, 2005).

No caso boliviano, os movimentos indígenas sempre estiveram ligados ao movimento

sindical, sendo que as demandas de caráter étnico foram agregadas posteriormente. Contudo,

não podemos falar de um movimento indígena coeso, uma vez que há clara separação entre

grupos indígenas, especificamente os movimentos indígenas Katari e os indianistas

(Camargo, 2007).

Também o caso equatoriano está ligado em sua gênese aos movimentos camponeses e a

federações sindicais. Contudo, desde a fundação da Confederação das Nacionalidades

Indígenas Equatorianas (Conaie) em 1979, o debate tomou a tonalidade das demandas étnicas

(Yashar, 2005). No ano de 1990, esta organização assume o protagonismo com os diversos

bloqueios que paralisaram o país, que se desenrolaram desde então com grande freqüência.7

Em 1996 é criado o Movimento Pachakutik (PK), braço político da Conaie. Desde então, a

principal estratégia eleitoral utilizada pelo Pachakutik foi o apoio a outros candidatos nas

eleições presidenciais, e nunca a constituição de uma candidatura própria.

Desta maneira, os movimentos sociais de caráter étnico no Equador e na Bolívia se

distinguem dos tradicionais movimentos sociais do passado, com novas reivindicações e

formação mais abrangente (Dávalos, 2005). São constituídos em sua maioria por parcela

excluída da população,8 transformando-se, ao longo dos anos, em verdadeiras potências

sociais no interior da política de seus respectivos países. Estão focados principalmente nas

novas demandas impostas pelos efeitos da globalização e por maior inclusão social e política.

Após anos de experiência democrática, estes movimentos tomaram vulto, entraram para a

política formal, chegando até à presidência, como no caso boliviano.

7 O Equador destaca-se na região dos Andes como um dos poucos países que conseguiram articular uma confederação indígena unificada e mobilizar uma identidade étnica e programática, embora isso não tenha significado, ainda, uma representação parlamentar proporcional, ou mesmo a eleição de um indígena à presidência, como ocorreu na Bolívia.8 Os povos indígenas representam cerca de 60% dos bolivianos. Entre 1997 e 2002, o percentual de indígenas vivendo em condição de extrema pobreza permaneceu em 52% e a taxa de pobreza nesta parcela da população diminuiu de 75% para 74%, enquanto na população não-indígena a redução foi de 57% para 53%.

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Nesse contexto, destaca-se o surgimento de novos partidos políticos no cenário político na

região, principalmente aqueles fundados a partir de movimentos sociais ou de forças da

sociedade civil. Em países como o Bolívia e Equador, por exemplo, pela primeira vez na

história foi possível a constituição de partidos políticos indígenas com efetiva força legislativa

e poder de barganha.

Segundo Jatobá e Epsteyn,9 no caso argentino, os diferentes movimentos piqueteros, grupos

heterogêneos de desempregados surgidos no contexto do ativismo anterior a crise de 2001,

poderiam ser considerados como os agrupamentos políticos mais organizados, combativos e

contestatórios do país. De maneira semelhante aos movimentos sociais andinos, suas

mobilizações massivas incluiriam em muitos casos o bloqueio de pontes e estradas de crucial

importância como estratégia para fazer valer suas demandas frente ao governo. Tais protestos

foram acompanhados de lemas que expressavam um total repúdio à classe política tradicional,

expressado fortemente pelo slogan “que se vayan todos”. Ainda de acordo com os autores,

outro fenômeno inédito teria surgido da crise econômica e da agitação política e social da

Argentina no início dos anos 2000: a ocupação de fábricas por parte de empregados

dispensados.

De acordo com Coletti (2004), o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) foi o

movimento social popular que mais cresceu no Brasil na década de 1990 e se constituiu como

o principal foco de resistência à política neoliberal implementada neste país desde a eleição de

Collor (1989). O autor sustenta que o MST cresceu em uma conjuntura de refluxo para a

maioria dos outros movimentos sociais populares do país, em especial para o movimento

sindical combativo articulado em torno da Central Única dos Trabalhadores (CUT),

considerada pela vasta literatura sobre o tema um caso paradigmático de construção do poder

sindical na América Latina.

Nascido oficialmente em 1984, o MST tem lutado pela reforma agrária e por justiça social em

um país que possui um dos maiores índices de concentração de terras e renda do planeta. Seus

principais instrumentos de luta são as ocupações de terra, os acampamentos, as marchas,

ocupações de prédios públicos, os saques e as manifestações públicas, utilizados como

instrumentos de pressão sobre o governo por desapropriação de terras e assistência técnica-

financeira dos assentados. No entanto, o MST não possui uma ideologia de confrontação

direta contra o Estado e não participou de maneira decisiva em mobilizações contra

9 JATOBÁ, Daniel & EPSTEYN, Juan. A Argentina nos primeiros cinco anos do século XXI: crise, transição e transformação, 2007, 55.

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presidentes. Entretanto, desde a eleição de Lula em 2002, o MST teria perdido parte

considerável de sua autonomia, alinhando-se progressivamente ao Estado e ao Partido dos

Trabalhadores - PT.

Nesse período conturbado de seguidas crises econômicas e aumento da polarização, podemos

destacar também o aumento das crises políticas e a queda de vários presidentes. Inúmeras

foram às mobilizações, protestos e greves empreendidas. Os movimentos sociais organizados,

com o apoio da população e de determinados partidos políticos, chegaram a questionar

frontalmente a ordem institucional dos respectivos países, como o caso da invasão de

cidadãos equatorianos ao Congresso Nacional e ao Palácio Presidencial de Carondelet, que

acabaram sendo decisivas para a queda tanto de Jamil Mahuad (2000) como de Lúcio

Gutiérrez (2005). Também nos episódios bolivianos, os protestos populares chegaram a sitiar

a capital La Paz, resultando em um grande número de mortos e feridos, sendo o principal

motivo para a renúncia consecutiva de dois presidentes: Gonzalo Sanchez de Lozada (2003) e

Carlos Mesa (2005). Em relação à Argentina, em especial, a atuação popular dos piqueteros e

dos desocupados foi fundamental para o aprofundamento da crise política que resultou nas

seguidas quedas presidenciais entre 2001 e 2003.

Aqui, portanto, cabe uma reflexão entre a linha de ação dos partidos políticos tradicionais e

dos movimentos políticos. Uma das indicações da vasta literatura sobre partidos políticos

seria a de que estes teriam um maior comprometimento com o jogo e as instituições

democráticas, o que não seria compartilhado na mesma medida pelos movimentos sociais.

Estes últimos, quando não atingem o poder, constituiriam influentes grupos de pressão nem

sempre inseridos na lógica democrática, chegando a utilização de diversas táticas que

poderiam ser consideradas mais radicais, como forma de barganha política.10

De acordo com Segovia (2004), a instabilidade econômica e política desses países desde o

retorno da democracia promoveu a consolidação de espaços extra-institucionais onde os

movimentos sociais discutem, rechaçam e apresentam alternativas à aplicação das reformas

econômicas e políticas pelo Executivo. Deste modo, os movimentos sociais teriam

conquistado e consolidado seus próprios canais de participação, seja aproveitando os espaços

institucionais como impulsionando novas vias de contestação extra-institucional, como

ocorreu, por exemplo, na tomada de estradas, bloqueio de vias, panelaços e invasões ao

10 No caso equatoriano, a Conaie/Pachakutik atua em duas frentes. Como partido, influenciando diretamente na dinâmica institucional: propondo leis, promovendo vetos às iniciativas do Executivo, iniciando o processo de juízo político contra o presidente; e como movimento social, sendo o principal promotor das greves e manifestações que paralisam o país, com seu alto poder de barganha.

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parlamento. Assim, ocorreu a articulação do discurso histórico, sindical e étnico cultural com

os conteúdos anti-neoliberais.

Esses movimentos sociais se constituíram como verdadeiros grupos de pressão organizados

em torno de seus interesses. A maior prova é a cristalização de suas principais demandas em

interesses nacionais, passando a construir boa parte da agenda política de seus países, como

por exemplo, na instauração das Assembléias Constituintes na Bolívia e no Equador; nos

protestos contrários ao aprofundamento das relações com os Estados Unidos e a assinatura de

tratados de livre comércio. Medidas ortodoxas do Executivo na economia, no caso argentino,

foram alvo de protestos que acabaram por modificar a orientação da agenda política dos

mandatários, como ocorreu com o governo Kirchner (2003-2008), que levou para o interior do

governo alguns dos expoentes dos movimentos piqueteros e de desocupados, com o objetivo

de inserir a sociedade civil na discussão política e no planejamento do país.

Wolff (2007), no entanto, afirma que contemporaneamente a influência dos piqueteros teria

ficado confinada à participação individual de seus líderes no parlamento ou em gabinetes do

Executivo. Por um lado, isso seria devido à capacidade do Partido Peronista em se adaptar as

mudanças circunstanciais e absorver as forças sociais e, por outro, o fato de que a categoria

social dos “trabalhadores desempregados” não representaria uma clivagem social viável para

a construção de uma organização política diferenciada. Contudo, Wolff argumenta que não há

dúvidas de que esses países hoje em dia estão mais abertos a participação desses setores

populares do que no passado.

Desse modo, a grande importância dos movimentos sociais e da sociedade civil nos processos

de crise política e principalmente na definição da estabilidade presidencial demonstra a

necessidade da reflexão sobre o real papel desse contingente nos países analisados e, em uma

esfera maior, no presidencialismo. Ao mesmo tempo em que o Executivo utiliza estratégias

em que diminui ou mesmo praticamente ignora a representatividade popular situada no

Legislativo em nome da governabilidade, os representados aparecem como força política

definidora da manutenção dos presidentes.

Destarte, longe de serem considerados como elemento desestabilizador da democracia na

região, os movimentos sociais podem ser qualificados em grande parte como os principais

defensores da soberania popular, utilizando as mobilizações contra presidentes como forma de

restabelecer o equilíbrio político de seus países.

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6 - Conclusão

A proposta deste trabalho foi discutir como a conformação das instituições políticas e a

atuação dos movimentos sociais influenciou diretamente na ocorrência de crises políticas e na

queda de presidentes nos últimos 20 anos na Argentina, Brasil, Bolívia e no Equador.

Refletindo sobre o desempenho do sistema político nos países analisados, recorro a Anastásia,

Ranulfo e Santos (2004), que afirmam que os efeitos combinados das instituições políticas

podem produzir uma distribuição dos poderes de agenda e de veto entre os atores, expressiva

de um ponto de equilíbrio entre estabilidade, accountability e representatividade, ou seja, do

chamado ponto de equilíbrio da democracia. Esse ponto de equilíbrio seria afetado pela

variação das condições sob as quais as instituições políticas devem operar. Segundo os

autores, existiriam evidências de que determinadas combinações entre instituições e condições

seriam capazes de produzir tal ponto de equilíbrio.

Caminhando no mesmo sentido, Hagopian e Mainwaring (2005) salientam que a

vulnerabilidade de um regime político estaria diretamente relacionada à criação de instituições

que regulassem o conflito distributivo dos países da América Latina: em outras palavras,

regimes democráticos são vulneráveis especialmente quando falham em resolver as pressões

oriundas das necessidades dos cidadãos e não desenvolvem mecanismos de inclusão e

representação para compensar as ineficiências em seus desempenhos.

Hofmesteir (2004) direciona seu argumento no mesmo sentido, quando afirma que a

instabilidade gerada pela alternância entre períodos democráticos e golpistas no passado

recente em praticamente todos os países da América Latina representa uma definitiva

dificuldade para legitimar meios sólidos de governabilidade. Esses processos, segundo o

autor, se desenvolveram em grande precariedade institucional, resultando no desvio do

funcionamento dos respectivos sistemas políticos, que não conseguiram criar mecanismos

sólidos de acesso aos direitos civis, sociais e políticos.

Contudo, como demonstrado ao longo do texto, em alguns momentos as instituições

democráticas argentinas, bolivianas e equatorianas não foram capazes de dirimir ou regular os

conflitos em cenários de crise, redundando muitas vezes em um conflito aberto entre os três

poderes ou ainda entre o presidente e o restante da população, principalmente via movimentos

sociais. Se em algumas ocasiões foi possível retomar o controle do arranjo distributivo das

forças políticas e atingir a resolução das crises, em outras as demandas eram tantas e tão

intensas que o único caminho possível consistia na queda de presidentes democraticamente

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eleitos. Nesse sentido, mostra-se interessante a análise do caso brasileiro, que no mesmo

período, apesar de inúmeras crises políticas e econômicas, conseguiu equacionar melhor seus

conflitos.

Independentemente do tipo de crise, Negretto (2003) afirma que parece claro na maioria dos

casos de queda de presidentes tanto o Congresso como os mandatáios percebiam a eliminação

do outro como a solução para a crise. Sob essa perspectiva, a renúncia forçada ou mesmo o

impeachment dos presidentes, por um lado, e a substituição ou dissolução do Congresso pelos

mandatários, por outro, podem ser percebidos como resultados simétricos não cooperativos.

De acordo com Wollf (2007) o chamado “impeachment popular”, ou seja, a deposição de

presidentes democraticamente eleitos do poder via protestos de massa tornou-se atualmente

um modelo estabelecido de substituição política.

Contudo, esclareço que a competição política nem sempre redunda em crise, muito pelo

contrário. O ponto ideal da democracia passa pela constante competição política e a resolução

dos conflitos pela via do consenso, como por exemplo, na adaptação ou no surgimento de

novos partidos políticos que representem os temas mais candentes da sociedade. A

competição política só se torna prejudicial quando ocorre de maneira predatória ou extrema,

podendo gerar instabilidade.

Portanto, a democracia no continente, apesar de relativamente nova, apresenta resultados bem

interessantes no que diz respeito aos anseios da soberania popular. As crises políticas e quedas

presidenciais na Argentina, Bolívia e Equador podem ser analisadas, em último caso, como

representativas da vontade de seus cidadãos, e não como demonstrações de crise da

democracia. Como argumenta Pérez-Liñan (2003), as crises institucionais contemporâneas na

América Latina estariam mais relacionadas a governos do que a instabilidade do regime. Na

maioria dos casos, suas origens envolveriam uma complexa interação entre mobilização

social, tanto de maneira espontânea como provocada por atores políticos, e conflitos

institucionais.

A pergunta que se coloca é se, a partir da ascensão de governos progressistas ou de esquerda

nesses países, esses novos presidentes serão capazes ou não de resolver o conflito distributivo

sem realizar o famoso “estelionato eleitoral” manterem-se no poder.

7 - Referências bibliográficas

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