instabilidade mecÂnica de formaÇÕes carbonÁticas em pooÇos de petrÓleo - stefano

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO NORTE LAUREATE INTERNATIONAL UNIVERSITIES ESCOLA DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA CURSO DE TECNOLOGIA EM PETROLEO & GÁS Stefano Gomes Corrêa INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CALCARENÍTICAS EM POÇOS DE PETRÓLEO Manaus – AM 2011

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Page 1: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

CENTRO UNIVERSITÁRIO DO NORTE LAUREATE INTERNATIONAL UNIVERSITIES

ESCOLA DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA CURSO DE TECNOLOGIA EM PETROLEO & GÁS

Stefano Gomes Corrêa

INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CALCARENÍTICAS EM POÇOS DE PETRÓLEO

Manaus – AM 2011

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Stefano Gomes Corrêa

INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CALCARENÍTICAS EM POÇOS DE PETRÓLEO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do Título de Tecnólogo em Petróleo & Gás no Centro Universitário do Norte – UNINORTE. Orientador: Profº MSc Willian Sérgio Marques Palha

Manaus – AM 2011

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CORRÊA, Stefano Gomes Instabilidade Mecânica de Formações Calcareníticas em Poços de Petróleo/ Stefano Gomes Corrêa C824i Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) – Centro Universitário do Norte / Laureate International Universities. Curso de Tecnologia em Petróleo e Gás, 2011. Orientador: Profº MSc Willian Sérgio Marques Palha 1 Instabilidade de Poços 2 Rochas Calcareníticas 3 Mecânica das Rochas | Título CDD 622.25

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Stefano Gomes Corrêa

INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CALCARENÍTICAS EM POÇOS DE PETRÓLEO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário do Norte como um dos pré-requisitos para obtenção do título de Tecnólogo em Petróleo & Gás.

Aprovada em ____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________ Geólogo Willian Sérgio Marques Palha, MSc

Centro Universitário do Norte

_____________________________________________ Geólogo Joemes Simas, MSc Centro Universitário do Norte

_____________________________________________

Tecnóloga, Esp Neymara Costa Centro Universitário do Norte

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Dedico À minha saudosa mãe, Edmar Gomes da Cunha, pelo intenso amor e por deixar belíssimas lições que formaram o meu caráter.

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Agradecimentos

Primeiramente, gostaria de agradecer à Deus por todas as coisas maravilhosas que nos concedeu, pelo aprendizado e pelo que sou hoje. Obrigado Senhor, por mais uma batalha vencida. À minha amável namorada, Angel Amorim, por toda a compreensão das horas direcionadas para a elaboração deste T.C.C. Obrigado por toda a dedicação, amor, carinho e respeito. Na verdade, quando me abati, você estava lá para me fazer levantar a cabeça. Certamente, sua presença em minha vida faz toda a diferença. Assim como por me fazer amar e acreditar num amanhã melhor. Ao meu orientador e melhor professor do curso, Willian S. M. Palha, por toda a sua paciência para com o direcionamento deste desafiador projeto, principalmente pelo incentivo e confiança depositados a mim. Afinal, “quem disse que ia ser fácil” pesquisar sobre estabilidade de poços em plena Amazônia? De fato, não foi. Porém, conseguimos e a missão foi cumprida! Ao técnico do laboratório de Mecânica das Rochas, Darlei, cuja presença foi imprescindível para a execução dos ensaios e para a realização deste projeto. Obrigado pelos ensinamentos e por me atentar para os perigos de um laboratório. À coordenadora de ensino Alzira Miranda, por sua total competência e coragem por topar o grande desafio de coordenar o curso e conseguir estruturá-lo em pouquíssimo tempo. Às palavras sábias nas horas certas e a maternidade intelectual, obrigado. Aos meus irmãos de coração Leandro Benício e César Augusto pelas ótimas lembranças e inesquecíveis momentos de nossa longa irmandade. Jamais esquecerei que um tripé é sustentado por três bases. Aos meus amigos da turma TPN05S2, em especial ao Jonas Almeida e Juan Carlos. Foram minha terceira família ao longo desta árdua missão. Obrigado pelos vários momentos que proporcionaram a mim. Jamais esquecerei.

À professora Neymara Costa, por toda a força e grandes conselhos. Sou grato por me fazer enxergar o quão é interessante a avaliação de poços. Ademais, sua ajuda dentro e fora da academia jamais será esquecida por mim.

À professora da UFRR, Suellen Marques, pelas breves orientações em relação ao projeto. Suas intervenções foram notadas ao longo do mesmo. Além do mais, as lições de Sistemas de Produção foram fundamentais no meu estágio. Aos meus colegas de estágio do setor de Otimização da Refinaria Isaac Sabbá – Reman, da PETROBRÁS. À família Corrêa por me fazer entender a verdadeira importância do que é fazer parte de um seio acolhedor e amoroso. Aos meus tios, Raimundo e Edna Cunha, simplesmente por fazerem o papel de mãe ao longo da minha vida. Meu maior orgulho é proporcionar orgulho a vocês. Não estaria aqui se não fosse a presença atenciosa, protetora e amorosa de vocês. Ao Sr. Ivo Amorim e à Sra. Antônia, pelo aconchegante e prazeroso acolhimento. Obrigado pelo amor parental e por todo o incentivo, conselhos e paciência. Sinto-me bastante especial fazendo parte desta formosa família. E por fim, gostaria de agradecer à pessoa mais importante desta lista, meu pai, Sidney Aguiar, o modelo que tento seguir, meu principal incentivador e apoiador, cuja figura é tudo na minha vida, e neste grande elipsóide de rotação, é o motivo de todo o meu esforço. Obrigado por toda a sua dedicação, apoio e amor concebidos a mim.

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“ Depois que uma mente se abre para uma nova idéia, ela jamais retornará ao seu tamanho original...” Albert Einstein

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RESUMO

Durante e perfuração de um poço de petróleo, as rochas que estão submetidas à um estado de tensões in situ sofrem alterações comportamentais. Tais alterações estão intrinsecamente relacionadas à modificação das tensões in situ e à resistência do elemento de rocha componente da parede do poço frente a modificação das tensões. Neste contexto, é bastante comum a perfuração em rochas calcareníticas, porém, ainda são escassos os dados conhecidos sobre as rochas carbonáticas, dada a complexidade no comportamento da mesma em relação à perfuração. Dados do comportamento mecânico das rochas devem ser obtidos de modo que haja maior precisão no critério de ruptura e assim, caracterizar a otimização do peso do fluido de perfuração a ser utilizado para as respectivas fases do poço, promovendo uma perfuração estável, segura e sem dispêndios. Neste trabalho realizou-se ensaios de compressão uniaxial em rochas calcareníticas no âmbito do laboratório de Mecânica das Rochas – Centro Universitário do Norte - UNINORTE/LAUREATE. O ensaio realizado compreende aplicação de tensão compressiva em dois conjuntos de corpos de prova compostos sinteticamente com diferentes proporções de depósitos sedimentares, com objetivo de medir seus respectivos limites de resistência. Utilizados os dados provenientes dos ensaios experimentais, foi desenvolvida a curva tensa-deformação, imprescindível no que diz respeito ao entendimento do comportamento das rochas durante á perfuração e assim, à estabilidade de poços. Palavras-Chave: rochas calcareniticas – tensão e deformação – estabilidade de poços de petróleo. .

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ABSTRACT

During and drilling an oil well, the rocks are subjected to a stress state in situ undergo behavioral changes. These changes are closely related to the modification of in situ stresses and the resistance element component of the rock wall of the well before the change of tension. In this context, it is quite common in rock drilling calcarenites, however, are still few data on carbonate rocks known, given the complexity of the same behavior in relation to drilling. Data from the mechanical behavior of rocks must be obtained so that there is greater precision in failure criterion and thus characterize the optimization of the weight of the drilling fluid to be used for the respective phases of the well drilling promoting a stable, secure and without spending. This work was performed uniaxial compression tests on rocks calcarenites in the Rock Mechanics Laboratory - University Center North - UNINORTE / Laureate. The testing performed includes application of compressive stress in two sets of specimens made synthetically with different proportions of sedimentary deposits, in order to measure their respective limits of endurance. Used data from the experimental trials, was developed tension-strain curve, which is essential with respect to understanding the behavior of rocks during drilling and thus the stability of wells.

Key-Works: calcarenites rocks - stress and deformation - stability of oil wells.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Diagrama triangular para a classificação composicional das rochas carbonáticas (TEIXEIRA et al., 2000)......................................................................................7 Figura 1.2 - Componentes de tensão normal e tangencial (ROCHA & AZEVEDO, 2009).................................................................................................................................8 Figura 1.3 - (A) Corpo sob tensão normal de compressão (positiva), (B) Corpo sob tensão normal de tração (negativa) e (C) corpo sob tensão cisalhante (ROCHA & AZEVEDO, 2009)..............................................................................................................8 Figura 1.4 - Tensões internas e seção de corte (ROCHA & AZEVEDO, 2009)................9

Figura 1.5 - Estado tridimensional de tensão (AZEVEDO, 2011)...................................10 Figura 1.6 - Tensões principais atuando em um elemento de rocha (ROCHA & AZEVEDO, 2009)............................................................................................................11 Figura 1.7 - Corpo sob tensão de tração (ROCHA & AZEVEDO, 2009).........................12

Figura 1.8 – Corpo sob tensão de compressão (AZEVEDO & MARQUES, 2006).........13

Figura 1.9 – Corpo sob tensão de cisalhamento (ROCHA & AZEVEDO, 2009).............14

Figura 1.10 – Curva tensão – deformação (ROCHA & AZEVEDO, 2009)......................16

Figura 1.11 – Curva tensão-deformação de rochas frágeis e rochas dúcteis (ROCHA & AZEVEDO, 2009)............................................................................................................18

Figura 1.12 – Critério de Ruptura de Mohr Coulomb (ROCHA & AZEVEDO, 2009)......20

Figura 1.13 – Estado de tensão in situ em um elemento de rocha (ROCHA & AZEVEDO, 2009)............................................................................................................22

Figura 1.14 – Representação de um estado de tensões atuantes ao redor do poço em coordenadas cilíndricas (ROCHA & AZEVEDO, 2009)...................................................24

Figura 1.15 – Variação da magnitude das tensões ao redor do poço (ROCHA & AZEVEDO, 2009)............................................................................................................25

Figura 1.16 – Janela operacional de um poço de petróleo (ROCHA & AZEVEDO, 2009)...............................................................................................................................26

Figura 1.17 – Modos de fratura em poços de petróleo (adaptado de VILARROEL, 2009)...............................................................................................................................27

Figura 1.18 – Instabilidades de um poço de petróleo (RODRIGUES, 2007)..................27

Figura 1.19 – Alguns tipos de instabilidades decorrentes do modo de falha (adaptado de ROCHA & AZEVEDO).....................................................................................................29 Figura 2.1 – Material argiloso peneirado (granulometria 0,004mm) e em seguida

introduzido na estufa para a retirada de umidade (foto do autor 29/06/2011)................31

Figura 2.2 – Material arenoso peneirado (granulometria 0,062mm) (foto do autor

29/06/2011).....................................................................................................................32

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Figura 2.3 – Peneiras utilizadas na seleção granulométrica (intervalo granulométrico de

0,004 a 0,062) (foto do autor 29/06/2011).......................................................................32

Figura 2.4 – Balança Eletrônica (sensibilidade 0,01) (foto do autor 30/06/2011)...........33

Figura 2.5 –Materiais sedimentares separados após pesagem e suas respectivas

fôrmas (foto do autor 30/06/2011)...................................................................................34

Figura 2.6 – Argamassadeira utilizada na mistura dos depósitos sedimentares para a

composição dos corpos de prova (foto do autor 30/06/2011).........................................34

Figura 2.7 – Corpos de Prova pertencentes ao jogo 1 na fôrma (foto do autor

30/06/2011).....................................................................................................................35

Figura 2.8 – Corpos de prova pertencentes ao Jogo 1 (fileira da frente) e Jogo 2 prontos

para o ensaio uniaxial (foto do autor 01/07/2011)...........................................................36

Figura 2.9 – Corpo de prova na prensa hidráulica (foto do autor 01/07/2011)...............37

Figura 3.1 – Medição do diâmetro e comprimento do corpo de prova pertencente ao jogo 1 após a aplicação da tensão..................................................................................38

Figura 3.2 – Gráfico da Curva tensão - deformação do conjunto 1.................................40

Figura 3.3 – Gráfico da Curva tensão - deformação do conjunto 2.................................41

Figura 3.4 – Gráfico comparativo das Curvas tensão - deformação dos corpos 1 e 2..42.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 – Taxas quantitativas e tipos de depósitos sedimentares utilizados na

composição para cada corpo de prova de cada jogo......................................................38

Tabela 3.1 – Dados obtidos após o ensaio do jogo 1.....................................................45

Tabela 3.2 – Dados obtidos após o ensaio do jogo 2.....................................................46

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................................1

CAPÍTULO 1 - REFERENCIAL TEÒRICO ................................................................... 4

1.1 Fatores que controlam a formação das rochas calcárias: condições climáticas,

condições tectônicas e proveniência sedimentar..............................................................4

1.2 Calcarenito: classificação, definição e composição mineralógica........................6

1.3 Mecânica das Rochas............................................................................................7

1.3.1 Tensão...............................................................................................................7

1.3.2 Estado Tridimensional de Tensão...................................................................10

1.3.3 Tensões Principais..........................................................................................11

1.3.4 Deformação.....................................................................................................12

1.3.5 Teoria da Elasticidade Linear..........................................................................14

1.3.6 Relação e obtenção da curva Tensão-Deformação a partir da obtenção de

ensaios uniaxiais de compressão....................................................................................15

1.3.7 Rochas Frágeis e Dúcteis...............................................................................18

1.3.8 Critério de ruptura de Mohr Coulomb..............................................................19

1.3.9 Falha da rocha.................................................................................................21

1.4 Estabilidade de Poços de Petróleo.......................................................................21

1.4.1 Tensões in situ e tensões atuantes ao redor de poço.....................................22

1.4.2 Janela operacional..........................................................................................25

Page 15: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

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1.4.3 Modos de ruptura e problemas operacionais decorrentes da instabilidade de

poços de petróleo............................................................................................................26

CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA ....................................................................................30

CAPÍTULO 3 – APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ............................................. 38

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. ..........43

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 45

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INTRODUÇÃO

Os sistemas petrolíferos reúnem as rochas essenciais e as condições

fundamentais a acumulações de hidrocarbonetos. Dentre as rochas reservatórios mais

importantes estão às formações carbonáticas. Estas rochas resultam do processo

diagenético, por meio do processo denominado de precipitação química de carbonato

de cálcio e/ou magnésio, quando de origem química ou por acumulações de carapaças

de organismos, geralmente em ambientes marinhos, quando de origem orgânica

compondo 14% do total das rochas sedimentares presentes na crosta terrestre (PRESS

et al., 2007).

As rochas carbonáticas reagem ao soterramento de maneiras diferentes a

depender do ambiente de sedimentação. Por exemplo, em determinados ambientes de

sedimentação, o material terrígeno tem um efeito inibidor na produção de carbonato.

Logo, devido à sua origem, é previsível que seu comportamento, durante a sua

perfuração, seja uma operação complexa e onerosa, devido a sua relação estrutural e o

seu processo de compactação, em função de vários fatores que incluem a mineralogia,

textura, processo de cimentação, ambiente deposicional, regime tectônico, temperatura

e pressão (ROCHA & AZEVEDO, 2009).

Deste modo, as rochas carbonáticas podem apresentar instabilidades

associadas à sua gênese, como por exemplo, o alto grau de dureza e/ou altos índices

de resistência. Segundo Kenitiro (1980), sua elevada dureza se dá em função de suas

fortes ligações químicas

Neste contexto, considerando os vários fatores acima citados, as rochas

carbonáticas apresentam grandes problemas relacionados à perfuração de um poço de

petróleo.

Durante a perfuração de um poço de petróleo são retirados fragmentos de

rochas que promoviam condições de equilíbrio nas formações, sendo substituídos pelo

fluido de perfuração, que tem como principal função restabelecer o estado de equilíbrio

original daquele sistema. Contudo, o fluido de perfuração não possui as mesmas

condições reológicas dos fragmentos retirados, e deste modo, alterações relacionadas

Page 17: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

2

ao estado de tensões in situ devem ser consideradas e estabilizadas por meio de

modificações do peso de fluido utilizado. Deste modo, problemas de instabilidade

envolvendo parâmetros hidráulicos (vazão, pressão, fluxo ou tipo de escoamento do

fluido de perfuração) e mecânicos (limites de resistência das rochas) podem ocorrer

caso o fluido de perfuração, por meio de pressão hidrostática, não mantenha as

paredes do poço estabilizadas física e quimicamente.

Os problemas operacionais decorrentes desta alteração, tais como

desmoronamento total e parcial das paredes do poço com possível aprisionamento da

coluna, ampliação no diâmetro do poço ou mesmo redução, perda de circulação total,

prisão da coluna por diferencial de pressão são alguns dos principais gargalos

operacionais, e refletem diretamente no custo final do projeto de poços de petróleo,

especialmente em sistemas carbonáticos/evaporíticos.

As rochas de origem química e/ou orgânica estão adquirindo importante papel

no contexto de exploração e produção de petróleo, considerando a maturidade

exploratória dos reservatórios mais rasos e a necessidade da explotação de

reservatórios mais profundos, uma vez que as rochas siliciclásticas apresentam perda

suas propriedades de reservatório (permoporosidade) a altas profundidades, em função

da compactação mecânica. Já os reservatórios carbonáticos mantêm as referidas

propriedades efetivamente constantes nessas mesmas condições (ALVES, et al.,

2007).

As rochas carbonáticas, se comparadas às rochas siliciclásticas, apresentam

diferenças consideráveis de comportamento quando submetidas à um estado de

tensões in situ, essencialmente no que se refere aos modos de falha (AZEVEDO,

2011).

Neste contexto, o entendimento dos mecanismos que geram instabilidades no

poço é de fundamental importância para minimizar os custos de desenvolvimento de um

campo de petróleo, uma vez que 10 a 15% do tempo de perfuração de um poço estão

relacionados à estabilidade. (VILLARROEL et al., 2009). Assim, há a necessidade de

reduzir custos na perfuração de poços de petróleo, e em contraste, aumentar a

qualidade de dados obtidos na perfuração. (TISSER, 2004).

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3

A perfuração de um poço de petróleo pode provocar falha nas rochas que

constituem suas paredes em virtude da não equalização das tensões poço-formação a

qual deve ser provida pelo fluido de perfuração. Se essa equalização das tensões poço-

formação não for obtida dentro de um padrão real de estabilidade para a perfuração,

ocorrerá um grande diferencial de tensões e assim, a ruptura das rochas que compõem

a parede do poço poderá ocorrer. Esse diferencial de tensão pode ser observado pelo

surgimento e propagação de microfissuras que provocam variações das propriedades

da rocha e, portanto, podem levar a macrofissuras e à fratura da mesma (ARAÚJO, et

al., 2002).

São comuns, em uma operação de perfuração, dois modos de ruptura ou falha

que podem ocorrer nas paredes do poço: falha por cisalhamento (decorrentes de

esforços compressivos) e falha por tração (decorrentes de esforços distensivos). São os

problemas relacionados a esses modos de ruptura que deixam a operação dispendiosa

(ROCHA & AZEVEDO, 2009).

No entanto, ainda é escasso o conhecimento sobre o comportamento

elastoplástico dessas rochas durante a perfuração, dificultando assim sua

caracterização e previsão, com conseqüente dificuldade de modelagem e simulação

(ALVES, et al., 2007).

Deste modo, se torna indispensável realizar ensaios em laboratório com

amostras de rochas carbonáticas com o objetivo de permitir melhor representação do

comportamento elastoplástico desta rocha durante a perfuração, e assim, fornecer

dados para caracterizar de forma ótima a superfície de escoamento, no caso, o critério

de ruptura Mohr Coulomb, sendo este o mais utilizado na indústria petrolífera. A partir

da obtenção destes dados, é possível calibrar um modelo numérico possibilitando

melhor representação do problema real para próximos poços a serem perfurados

(GUEVARA, 2006).

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4

CAPÍTULO 1

REFERENCIAL TEÓRICO

Este item trata da fundamentação teórica das rochas carbonáticas

(calcarenitos), mecânica das rochas e estabilidade de poços de petróleo,

imprescindíveis para o entendimento deste projeto de pesquisa.

1.1 Fatores que controlam a formação das rochas cal cárias: condições

climáticas, tectônicas e proveniência sedimentar.

As rochas carbonáticas são formadas por minerais de origem aloquímica e

autóctone (oriundos de atividades vitais formados dentro da bacia de deposição e que

sofreram pouco ou nenhum transporte dentro da mesma bacia), em que os sulfatos,

fosfatos, nitratos e sais halóides podem ser formadores destes minerais,

essencialmente de origem carbonática (TEIXEIRA et al., 2000).

É possível encontrar intercalações entre áreas de sedimentação com

predominação carbonática e terrígena. Esta sobreposição se dá em função dos

intervalos na história do tempo geológico, uma vez que determinadas camadas de

rochas carbonáticas foram formadas em determinados intervalos de tempo geológico.

Ainda há a existência de domínios exclusivamente terrígenos ou carbonáticos. As áreas

de deposição exclusivamente terrígenas concentram-se, na maior parte, sob uma

profundidade de aproximadamente 2.000m, ao contrário das áreas de deposição

exclusivamente carbonáticas, que se concentram geralmente sob a profundidade de

4.000m (TEIXEIRA et al., 2000).

As rochas carbonáticas, quando de origem química, são formadas pela

precipitação química de íons oriundos da dissolução de minerais instáveis na água

durante a sua trajetória sedimentar. Deste modo, os grãos terrígenos mais estáveis são

acompanhados por íons desde a área fonte até a bacia de sedimentação. Assim, para

que a formação de rochas carbonáticas de origem química seja possível, a relação

íons/terrígenos deve ser elevada, pois os íons são essenciais na formação das rochas

calcárias já que são os principais formadores de depósitos carbonáticos. Além do mais,

Page 20: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

5

o aporte terrígeno dificulta a formação de rochas calcárias por diluir a importância da

sedimentação química e biogência e por turvar a água, trazendo empecilho à

fotossíntese de algas e bactérias (TEIXEIRA et al., 2000).

Quando de origem orgânica, essas rochas são formadas por meio de

sedimentos bioquímicos, cuja sua constituição é formada a partir de minerais não-

dissolvidos, sendo produto do acúmulo de restos e carapaças de animais aquáticos

(PRESS et al., 2007).

Outro fator que tem grande interferência na formação das rochas calcárias é o

clima. Há dificuldade de formação destas rochas se o clima for quente e úmido, pois

sob estas condições, o intemperismo químico é intenso, o que coopera para a liberação

e redistribuição de íons. Por outro lado, levando-se em conta que o a escassez de

chuva favorece a concentração de íons com sua posterior precipitação e a temperatura

aumenta a insolubilidade do bicarbonato, o clima quente e seco é ideal para a gênese

de rochas calcárias.

No caso em que a tectônica encontra-se inativa, propiciando a formação de

relevo suave, o transporte sedimentar resulta lento e prolongado. A razão

intemperismo/erosão e o tempo de contato, nessas condições, são geralmente altos o

que propicia a dissolução total ou parcial dos minerais instáveis, sendo relevante para a

formação de cargas de íons e assim de sedimentos autóctones, necessários para

formação de rochas calcárias.

No que se refere à disponibilidade de minerais instáveis e solúveis, estes

minerais são os próprios carbonatos presentes em rochas ígneas, metamórficas ou

mesmo sedimentares. Não obstante, em se tratando dos minerais, a formação da rocha

calcária é possibilitada a partir de cristais de carbonato de cálcio (expresso na rocha em

minerais calcíticos), esqueletos de animais e outras fontes de cálcio (AMUI, 2010).

A diagênese é o processo físico e químico que transforma sedimentos em

rochas sedimentar, é caracterizado pelos seguintes processos, a saber: compactação

(mecânica e/ou química), dissolução, cimentação e recristalização diagenética. Porém,

os processos de compactação química (ou dissolução sob pressão) e cimentação são

os fenômenos de maior expressão na litificação da rocha carbonática dada a facilidade

de haver a dissolução e reprecipitação do carbonato (TEIXEIRA et al., 2000).

Page 21: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

6

Portanto, que fatores como o clima quente e seco, baixo aporte terrígeno,

relevo pouco acidentado e proveniência sedimentar apropriada são imprescindíveis

para a formação de rochas calcárias.

1.2 Calcarenito: classificação, definição e composi ção mineralógica.

Para que uma rocha seja classificada composicionalmente como carbonática,

deve conter em sua composição um percentual mínimo de 50% de grãos carbonáticos.

Em rocha calcarenítica, a porcentagem varia de limites mínimos e máximos,

respectivamente, de 10% a 50% de particulas arenáceas, classificada no diagrama da

figura 3.1 como calcário impuro (TEIXEIRA et al., 2000).

O calcarenito pode ser definido como sendo um calcário clástico de granulação

predominantemente arenosa (2 mm a 0,062mm) composto por partículas calcíticas.

Portanto, o calcarenito é um arenito carbonático produzido por precipitação

química com conseqüente retrabalhamento no interior da bacia ou resultante da erosão

de calcários mais antigos situados fora da bacia de deposição (ROCHA & AZEVEDO,

2009).

Os calcarenitos, além de possuírem comumente o mineral calcítico (CaCO3),

possuem depósito terrígeno arenáceo igual ou superior a 10%. Estes depósitos

terrígenos representam impurezas mineralógicas, encontradas na composição do

calcarenito. Tais impurezas são concomitantes à deposição do CaCO3 ou podem se

incorporar na rocha após a deposição. Os argilominerais (caulinita, ilita, clorita, smectita

e outros micáceos), assim como a sílica (presente na rocha como fragmentos de

quartzo) são as principais impurezas encontradas nos calcarenitos e podem estar

distribuídas por toda a rocha (ALMEIDA & SAMPAIO, 2005).

Page 22: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

7

Figura 1.1 – Diagrama triangular para a classificação composicional das rochas carbonáticas (TEIXEIRA

et al., 2000).

1.3 Mecânica das Rochas

As tensões aplicadas num material rochoso e as deformações ocasionadas pela

aplicação da tensão e suas relações são estudadas pela Mecânica das Rochas. Um

corpo rochoso apresenta comportamento diferenciado em relação à deformação a

depender da carga a qual o corpo está sendo submetido, das propriedades mecânicas

da rocha; e a relação entre essas dependência pode levar o corpo à sua ruptura. Com o

conhecimento acerca da Mecânica das Rochas, é possível definir os limites de

resistência da rocha, sendo de vital importância para a previsão do comportamento

elastoplástico da rocha por meio de um critério de ruptura.

Quando a operação de perfuração é iniciada, as tensões originais existentes em

subsuperfície são alteradas, trazendo a possibilidade de instabilidades no poço, como o

desmoronamento parcial ou total de suas paredes.

1.3.1 Tensão

Quando um corpo é submetido à aplicação de uma tensão, forças internas são

induzidas para tentar restabelecer o estado de tensão original. A aplicação de uma

tensão sobre um corpo pode alterar seu comportamento em função da indução das

forças internas. Portanto, a tensão pode ser definida como a relação de um valor da

força F sobre uma área A, entendida como tensão média:

Page 23: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

8

A

F=σ (1.1)

Já a tensão local, função de um elemento de força dF por um elemento de área

dA, pode ser definida de acordo com a equação (1.2):

dA

dF=σ (1.2)

A tensão média ou a tensão local não atuam exatamente de forma

perpendicular ou tangencial à área que atuam, conforme mostra a figura 1.2. Portanto,

uma tensão pode ser decomposta em componentes de tensão normal ou cisalhante

distribuídas sobre a área:

σ = tensão normal, perpendicular ao plano que atua.

τ = tensão cisalhante, tangencial ao plano que atua.

Figura 1.2 - Componentes de tensão normal e tangencial (ROCHA & AZEVEDO, 2009).

Neste caso, conforme a figura 1.3., assume-se que um corpo sólido está sujeito

a dois tipos de tensão: normal e cisalhante. É importante ressalvar que as tensões

normais podem ser subdivididas em:

•Tensão normal de compressão, considerada positiva.

•Tensão normal de tração, considerada negativa.

Figura 1.3 - (A) Corpo sob tensão normal de compressão (positiva), (B) Corpo sob tensão normal de

tração (negativa) e (C) corpo sob tensão cisalhante (ROCHA & AZEVEDO, 2009).

Page 24: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

9

No que se refere à magnitude da tensão, o valor da força, o valor da área e a

orientação do plano serão importantes para a definição da magnitude da força.

Conforme se observa na figura 3.4., as tensões σ e 1σ são iguais, pois

possuem a mesma força atuando sobre a mesma área. No entanto, a tensão 2σ

possui maior magnitude se comparada às outras, pois atua sobre uma área menor. Isto

quer dizer que o mesmo valor de força atuante nos dois primeiros planos de σ e 1σ ,

respectivamente, é a mesma que atua no terceiro plano, o de 2σ , sendo, portanto, a

área menor e concentrando maior tensão. Nota-se então que 2σ > 1σ , pois A2 <A1.

No que concerne à orientação do plano, no entorno de um ponto P passam

infinitos planos. Como um elemento de força dF é decomposto em tensão normal e

cisalhante à área que atua, tem-se que para cada plano que passa pelo ponto P há

uma combinação de tensão normal e cisalhante. No entanto, considerando os planos a

e b da figura 1.4., que representam dois planos que passam pelo ponto P, há uma

combinação de tensão normal e tangencial diferente para cada plano a depender da

orientação deste, configurando magnitudes de tensões diferentes.

Figura 1.4 - Tensões internas e seção de corte (ROCHA & AZEVEDO, 2009)

Page 25: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

10

1.3.2 Estado tridimensional de tensão

Segundo Rocha & Azevedo (2009), para se ter uma descrição completa do

estado de tensão em um ponto, é necessário identificar as tensões relacionadas à três

planos ortogonais entre si.

A figura 1.5 mostra que existem nove tensões atuando no corpo sólido. No

caso, uma tensão normal e duas cisalhantes são distribuídas em cada ponto de cada

plano dos eixos x, y e z, contabilizando nove tensões. Cada ponto, então, está

submetido às componentes, que são funções de dF.

Figura 1.5 - Estado tridimensional de tensão (AZEVEDO, 2011).

Segundo a convenção de sinais utilizada na Mecânica das Rochas, as

componentes de tensão podem ser classificadas da seguinte maneira: as componentes

que possuem seus vetores saindo da direção positiva das coordenadas são

consideradas tensões normais de compressão. Já as componentes que possuem seus

vetores saindo na direção negativa das coordenadas são consideradas tensões

normais de tração. A figura 1.5 trata de componentes de tensão de tração, pois os

sinais estão saindo da direção negativa das coordenadas.

A equação 1.3 retrata o tensor de tensões, que é útil na caracterização do

estado tridimensional de tensões em um determinado ponto. O primeiro subscrito

refere-se ao plano que a componente atua e o segundo subscrito refere-se à direção

que a componente atua.

Page 26: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

11

(1.3)

1.3.3 Tensões Principais

No caso de existir um sistema de coordenadas particular em que três planos

são ortogonais entre si e que atuam somente as tensões normais com as tensões

cisalhantes nulas, as tensões normais são consideradas tensões principais, onde atuam

em planos principais. Conforme pode ser observado na figura 1.6., entre as tensões

normais, há a maior tensão atuante no elemento (σ 1), a menor tensão atuante no

elemento (σ 3) e ainda uma terceira força intermediária e ortogonal à estas (σ 2), se

τ xy= τ xz=τ yx=τ yz=τ zx=τ zy= 0.

Figura 1.6 - Tensões principais atuando em um elemento de rocha (ROCHA & AZEVEDO, 2009).

Neste contexto, quando todas as tensões normais são iguais, diz-se que o

corpo sólido está sob um estado de tensão hidrostático, onde há variação no volume do

corpo sólido. Por outro lado, a parcela desviadora de tensão provoca mudanças no

formato do corpo, em virtude da sua atividade distorciva atuante. Assim, as tensões

normais (compressão ou tração) trazem configurações alteradas no volume do corpo e

as tensões cisalhantes (distorção) trazem mudança no formato do corpo. Vale lembrar

que nos planos onde a tensão cisalhante é máxima, geralmente atua tensão normal,

sendo esta igual à tensão média σ méd. Portanto, nos planos principais as tensões

cisalhantes são nulas, porém, nos planos de cisalhamento máximo, as tensões normais

Page 27: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

12

médias atuam. Pode-se concluir que o estado de tensão total atuante no corpo pode ser

dividido em duas parcelas: uma hidrostática (para tensões normais iguais) e uma

desviadora. Nota-se a subtração da σ méd da parcela desviadora, de modo que

interesse apenas o valor efetivo das tensões cisalhantes nos planos onde a tensão

cisalhante é máxima. A equação 1.4 representa o estado de tensão total:

(1.4)

1.3.4 Deformação

Um corpo rochoso é dito deformado quando, após a aplicação de uma tensão, o

mesmo passa de uma configuração original para uma nova configuração, que por sua

vez, é deformada. Há uma mudança nos pontos do corpo em função da aplicação da

tensão e sua magnitude, associado às propriedades mecânicas da rocha.

As deformações de um sólido trazem mudanças no formato do corpo, o qual

pode ser alongado (tração), comprimido (compressão) ou sofrer distorções

(cisalhamento). A figura 1.7 representa um corpo deformado sob tensão de tração.

Observa-se o alongamento do corpo e o comprimento que antes era de dx passando a

ter uma configuração deformada u(x + dx).

Figura 1.7 - Corpo sob tensão de tração (ROCHA & AZEVEDO, 2009).

Page 28: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

13

Quando submetido à tensão compressiva, o corpo comprimido apresenta

deformações axiais e radiais (laterais), conforme se pode observar na figura 1.8, onde o

comprimento (axial) inicial L passa a ter uma nova configuração deformada subtraindo

∆ L, assim como uma nova configuração deformada lateralmente (radial) ∆ a D/2.

Figura 1.8 – Corpo sob tensão de compressão (AZEVEDO & MARQUES, 2006).

Levando-se em conta que um corpo possui determinado comprimento e

diâmetro, após a aplicação de determinada tensão normal de compressão, as

deformações axiais )( xε e radiais )( yε , podem ser calculadas pela equação 1.5.:

=ε comprimento final – comprimento inicial-

comprimento final (1.5)

Page 29: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

14

Ainda há a representação de um corpo sob tensão cisalhante (figura 1.9). Nota-

se a perda de ortogonalidade entre os eixos AB1 e AB3, o que caracteriza este tipo de

deformação, já que é responsável pela mudança de formato do corpo.

Figura 1.9 – Corpo sob tensão de cisalhamento (ROCHA & AZEVEDO, 2009).

1.3.5 Teoria da Elasticidade Linear

Para ensaios uniaxiais, são importantes duas propriedades mecânicas das

rochas:

•Lei de Hooke: Um material que apresenta um comportamento linear-elástico,

ou seja, uma relação linear entre tensão e deformação, apresenta o módulo de Young

(E), visto pela equação 1.6. O módulo de Young representa a rigidez do material,

configurando uma resistência à deformação.

E= εσ

∆∆

(1.6)

•Coeficiente de Poisson: Em amostras de rochas cilíndricas, a deformação radial

é função da deformação axial, a qual reduz seu comprimento e aumenta seu diâmetro.

A relação entre essas duas deformações é dada pelo coeficiente de Poisson:

Page 30: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

15

(1.7)

O coeficiente de Poisson mede a expansão lateral relativa a uma concentração

longitudinal, quantificando o quanto uma tensão aplicada em uma direção é sentida da

direção ortogonal a esta (ROCHA & AZEVEDO, 2009). Este dado é adimensional e

geralmente, as rochas apresentam valores entre 0,4 e 0,15.

1.3.6 Relação e obtenção da curva Tensão – Deformaç ão a partir de ensaios

uniaxiais de compressão

O comportamento quanto à deformação de um corpo é função da magnitude

das tensões e do tipo de rocha. Portanto, é necessário analisar uma relação tensão -

deformação para caracterizar o comportamento de um corpo rochoso face à aplicação

da tensão.

Quando um corpo está submetido à uma tensão e volta ao seu estado original

após a tensão ser retirada, diz-se que ocorreram deformações elásticas no corpo.

Porém, se o corpo apresentar deformações permanentes com a aplicação da tensão,

ocorreu deformações plásticas.

Ensaios de compressão em laboratório executados em rochas são realizados

com o objetivo de quantificar seus limites de resistência o obter propriedades

mecânicas das rochas.

Dentre os tipos de ensaio de compressão em laboratório, destaca-se o ensaio

uniaxial ou simples, usado com freqüência para a determinação da resistência e

deformabilidade da rocha assim como para a obtenção propriedades mecânicas das

rochas tais como o módulo de Young e coeficiente de Poisson (subitem 3.2.5)

(AZEVEDO E MARQUES, 2006). Este ensaio compreende três tensões aplicadas ao

corpo de prova: uma vertical (tensão axial) e duas horizontais (tensões confinantes). As

tensões confinantes são nulas, variando apenas o incremento da tensão axial,

justificando o nome uniaxial.

O produto obtido a partir deste teste é a curva tensão - deformação, onde são

plotadas as tensões axiais no eixo x e as deformações axiais no eixo y.

Page 31: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

16

A curva tensão-deformação pode ser dividida em duas regiões, conforme pode

ser observado na figura 1.10:

•Região Elástica : onde não há deformações permanentes na rocha, ou seja, as

deformações são recuperadas e a amostra volta ao estado inicial. Esta região pode ser

dividida em:

•Região Linear Elástica : A curva apresenta linearidade, ou seja, a tensão

axial e a deformação axial são diretamente proporcionais. Esta região

compreende o ponto de origem 0 ao A.

•Região Não Linear Elástica : Nesta região não há linearidade na entre a

tensão axial e a deformação axial. Esta região compreende o ponto A ao B.

•Região Plástica : Esta região compreende o surgimento de deformações

permanentes, ou seja, há o início do surgimento de deformações plásticas e o corpo

não volta à configuração original se retirada a tensão. Esta região pode ser dividida em:

•Região Dúctil : Nesta região as deformações são parcialmente

irreversíveis. Mesmo com o aumento de deformação a amostra não perde a

habilidade de suportar carga. Esta região compreende o ponto B ao C.

•Região Frágil : Nesta zona, a amostra perde a capacidade de suportar a

carga com o aumento da deformação, podendo chegar à ruptura total da

amostra. Esta região compreende o ponto C ao D.

Figura 1.10 – Curva tensão – deformação (ROCHA & AZEVEDO, 2009).

Page 32: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

17

Alguns pontos relevantes da figura 1.10 podem ser explicados:

Ponto A σ p (Limite de Proporcionalidade): Representa o ponto onde há o limite

de proporcionalidade linear entre tensão e deformação axial desde o ponto 0 ao ponto

A na região linear elástica. A amostra absorve a energia da carga sem haver

deformações permanentes, havendo apenas registros de deformações elásticas, sendo

estas recuperáveis no caso da tensão ser retirada, trazendo à configuração original do

corpo.

Ponto B σ e (Limite Elástico): Este ponto representa o limite máximo de tensão

registrada sem que haja o surgimento de deformações permanentes. Compreende o

último valor de tensão na região não linear elástica. Ocorre a primeira perda de

linearidade da curva tensão-deformação, ainda que não ocorram deformações

permanentes.

Ponto C0 (Resistência à Compressão Simples): Depois de ultrapassado o valor

de tensão do ponto B, há o início do aparecimento das deformações plásticas ou

permanentes, onde a curva passa para a região dúctil. O ponto C0 (último valor de

tensão da região dúctil) pode ser definido como o máximo valor registrado de tensão

(tensão máxima) da curva tensão – deformação. Representa a resistência da amostra à

compressão, ou seja, a carga máxima que o corpo suporta com o concomitante

aumento das deformações plásticas. Observa-se o surgimento de microfissuras

interligadas. O valor C0 é utilizado na definição do critério de ruptura.

Ponto D σ r (Tensão Residual): Uma vez excedido o valor de C0, a amostra

perde a habilidade de suportar carga com o aumento da deformação plástica. O ponto

D é definido como a tensão mínima registrada na curva tensão – deformação imposta à

amostra antes da sua ruptura. Neste ponto há interligação de microfissuras

semicontínuas na amostra, causando o aparecimento de macrofissuras contínuas com

grande probabilidade de haver ruptura total da amostra.

Page 33: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

18

1.3.7 Rochas Frágeis e Dúcteis

Levando em consideração a curva tensão-deformação, o comportamento da

amostra é variável a depender do seu tipo. Assim, diferentes rochas apresentam

distintos limites de resistência. Isto está intrinsecamente relacionado ao processo

diagenético que dá origem à rocha e à sua composição mineralógica.

Rochas frágeis apresentam ruptura catastrófica quando o limite de resistência é

atingido. Ou seja, com o aumento da deformação perdem a capacidade de suportar

carga rapidamente quando o valor de resistência à compressão simples é ultrapassado.

Rochas consideradas frágeis exibem pouca deformação plástica ou permanente antes

da ruptura. Calcários, arenitos cimentados e granitos são rochas consideradas frágeis.

Já as rochas dúcteis apresentam substancial deformação plástica antes da sua

ruptura. Mesmo com o aumento da deformação não perdem catastroficamente a

habilidade de suportar carga. Arenitos não cimentados, margas e folhelhos são rochas

consideradas dúcteis.

Figura 1.11 – Curva tensão-deformação de rochas frágeis e rochas dúcteis (ROCHA & AZEVEDO, 2009).

Considerando a deformação plástica da curva da figura 1.11, as rochas ditas

frágeis apresentam maior região elástica se comparadas às dúcteis. Observa-se que o

valor de tensão máxima nas rochas frágeis é maior, haja vista certa linearidade da

curva com declínio agudo, representando pouca deformação exibida e catastrófica

ruptura. As rochas dúcteis, em geral, apresentam uma curva tensão-deformação mais

Page 34: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

19

obtusa, sendo o valor da deformação axial usualmente maior que o valor apresentado

na curva tensão – deformação das rochas frágeis.

A inclinação das curvas reflete como a amostra se rompe, uma vez que rochas

frágeis apresentam pouca deformação plástica e ruptura catastrófica. Rochas dúcteis

apresentam maior deformação plástica e sua ruptura se dá de forma menos rápida.

1.3.8 Critério de Ruptura de Mohr Coulomb

De acordo com Azevedo & Marques (2006), os critérios de ruptura são relações

entre as tensões correspondentes ao estado de ruptura de determinado material. No

caso das rochas, é comum associar o estado de tensão para qual acontecerá a ruptura

da rocha correspondentemente à curva tensão-deformação. Como este Projeto de

Pesquisa visa o estudo do comportamento de rochas a partir da obtenção de resultados

de tensões compressivas, somente será explicitado o critério para tensões de

compressão.

Entre vários outros critérios utilizados na indústria petrolífera, o critério de

ruptura de Mohr Coulomb é o mais conservador entre eles (figura 1.12), uma vez que

não considera a tensão principal intermediária σ 2 e consiste em uma envoltória de

ruptura linear onde os círculos representam estado de tensões críticas para qual houve

a falha da rocha. Este estado de tensões é obtido a partir de um ensaio uniaxial de

compressão, descrito anteriormente. Portanto, se o círculo de Mohr, que representa um

estado de tensões crítico atuante na rocha, atingir a envoltória de ruptura linear, haverá

a ruptura da rocha por cisalhamento, decorrente de esforços de compressão. Na figura

1.12, S0 representa a interceptação do eixo y com a envoltória linear de ruptura;

φ representa o ângulo de incremento da envoltória de ruptura.

Page 35: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

20

Figura 1.12 – Critério de Ruptura de Mohr Coulomb (ROCHA & AZEVEDO, 2009).

Segundo Rocha & Azevedo (2009), o critério de ruptura representa o estado de

tensão atuante em qualquer plano que passa por um ponto, representando

graficamente as tensões principais máximas e mínimas, permitindo que se projete uma

terceira tensão, a tensão cisalhante máxima. De forma que quanto maior o diferencial

de tensão entre a tensão principal máxima σ 1 e tensão principal mínima σ 3, maior

será o incremento da tensão cisalhante máxima, grande responsável por esforços de

distorção, os quais promovem a ruptura da rocha por cisalhamento.

Vale ressaltar que o principal fator responsável pela ruptura das rochas, pela

análise do referido critério, não é a magnitude das tensões, mas sim o diferencial de

magnitude das tensões. Neste contexto, o fluido de perfuração promove um equilíbrio

por meio da pressão hidrostática, evitando o aumento da magnitude das tensões

atuantes ao redor do poço, em especial da tensão tangencial e assim, diminuindo a

magnitude da tensão cisalhante. Isto será discutido com mais clareza no item 3.3

(Estabilidade de Poços de Petróleo).

Logo, conhecidas as tensões máximas e mínimas, pode-se construir de forma

simples o círculo de Mohr, e definir a tensão cisalhante máxima pela equação 3.6:

(1.6)

Page 36: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

21

Através da equação 1.6, obtém-se que quanto maior for o diferencial de tensão

entre σ 1 eσ 3, maior será o raio do círculo sendo diretamente proporcional à tensão

cisalhante máxima.

1.3.9 Falha da rocha

Quando uma rocha está submetida à um estado de tensão, dependendo da

magnitude da tensão e do tipo da rocha, alguma falha ou até mesmo a ruptura total

poderá ocorrer. Desta forma, a falha da rocha é função da tensão aplicada e das

características da rocha.

É necessário não apenas identificar o estado de tensão atuante na rocha, mas

determinar para qual estado de tensão a rocha vai falhar. Além do mais, pode-se dizer

que houve falha na rocha simplesmente quando há apenas deformações plásticas.

Porém, a falha da rocha pode significar a ruptura total desta da parede do poço.

Conforme visto na seção anterior, a falha da rocha se dá em função da variação

de um pico máximo σ 1 a partir de tensões confinantes σ 3, a qual promove a falha da

rocha caso a resistência da rocha para tensões compressivas seja alcançado.

1.4 Estabilidade de Poços de Petróleo

As rochas cortadas pelo poço assim como o estado de tensões in situ devem

ser compreendidos sob a ótica de que as tensões atuantes ao redor do poço precisam

estar em equilíbrio com o peso do fluido de perfuração para que não haja as

instabilidades ou fraturas nas rochas. Portanto, a partir do embasamento teórico na

Mecânica das Rochas (no conhecimento acerca da medição dos limites de resistência

da rocha e no seu comportamento elastoplástico conhecido através da obtenção da

curva tensão-deformação), a identificação das tensões atuantes ao redor de poço

propiciará um melhor entendimento no que diz respeito à estabilidade do poço,

reduzindo a margem de erro quanto ao peso do fluido de perfuração a ser utilizado em

cada fase da perfuração. Não haverá estabilidade mecânica no poço caso não se tenha

dados oriundos da Mecânica das Rochas.

Page 37: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

22

1.4.1 Tensões in situ e tensões atuantes ao redor do poço

Segundo VILLELA (2010), o desenvolvimento de um projeto de um poço de

petróleo em determinada área requer estudo geomecânico das formações e tem como

uma de suas etapas a estimativa das três tensões atuantes na área.

As tensões in situ atuam em determinado elemento de rocha, sendo uma

tensão vertical (σ v) e duas horizontais (com acréscimo da pressão de poros), que

podem ou não ser iguais. No caso de não serem iguais, tem-se σ h (tensão horizontal

mínima) e σ H (tensão horizontal máxima).

Considerando a figura 1.13, um sistema de coordenadas no qual o eixo z

coincide com a direção vertical, as tensões σ v, σ h e σ H são as tensões principais

atuantes no elemento de rocha (AZEVEDO, 2011).

Figura1.13 – Estado de tensão in situ em um elemento de rocha (ROCHA & AZEVEDO, 2009).

Cada camada sobrejacente ao referido objetivo possui densidade diferente e

implicará numa tensão de sobrecarga atuando como uma tensão vertical. Levando-se

em consideração que há tendência das rochas se deformarem lateralmente, surgem

então duas outras tensões horizontais para dar estabilidade à área. As tensões

horizontais são induzidas como resultado do carregamento vertical.

A magnitude da tensão σ v (tensão vertical) pode ser facilmente medida caso

haja o conhecimento da densidade das formações, uma vez que a profundidade e a

constante gravitacional são parâmetros conhecidos e precisos para a determinação de

σ v. As tensões σ h (tensão horizontal mínima) e σ H (tensão horizontal máxima) são

Page 38: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

23

medidas por testes de pressão executados in situ. As direções das tensões in situ

podem ser identificadas por perfis acústicos, cáliper e outros (AZEVEDO, 2011).

Contudo, é tendencioso que a tensão vertical seja, comumente, a tensão

principal máxima (σ 1) atuante na formação. Porém, a tensão horizontal pode ser a

máxima tensão atuante na formação, caso haja atividade tectônica, movimentação de

sal (domos salinos) e aumento de temperatura. Em casos onde é registrada a tensão

horizontal máxima (σ H) como a tensão principal máxima, a perfuração de um poço

horizontal ou direcional é fundamental, visto que a concentração de tensões na parede

do poço será menor, evitando problemas relacionados à ruptura (ROCHA & AZEVEDO,

2009).

Em virtude da perfuração, há a alteração do estado de tensões in situ nas

rochas devido à remoção do material rochoso que promovia suporte e as condições de

equilíbrio na área alterada pela escavação. Para tentar recompensar o estado anterior à

perfuração, o material removido é substituído pelo fluido de perfuração até que a

parede do poço seja revestida (GUEVARA, 2006). Porém, como o fluido de perfuração

não comporta as mesmas características reológicas da rocha original, há alterações nas

tensões atuantes ao redor do poço que vão até alguns diâmetros de distância do eixo

central do poço até haver estabilização novamente, com probabilidades reais de

problemas decorrentes desta alteração. Deste modo, segundo Palha (2010), as tensões

ao redor do poço são partes integrantes das tensões in situ. Grandes concentrações de

tensões atuantes ao redor de poço podem levar à ruptura da rocha (ROCHA &

AZEVEDO, 2009). Portanto, as tensões geradas ao redor do poço são funções da

pressão hidrostática do fluido de perfuração. Basicamente, uma análise de estabilidade

de poço consiste em determinar a pressão a ser utilizada durante a perfuração com o

objetivo de evitar ruptura nas rochas (VILARROEL et al, 2009).

O sistema cilíndrico melhor representa as tensões atuantes ao redor do poço,

conforme figura 3.14. As tensões atuantes ao redor do poço são divididas em:

•tensão axial (σ a): é função da tensão de sobrecarga e atua paralela ao eixo do

poço.

•tensão tangencial (σ θ): função das tensões horizontais e atua tangencialmente

ao eixo do poço.

Page 39: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

24

•tensão radial (σ r): é igual à pressão hidrostática do fluido de perfuração

atuando nas paredes do poço de forma interna. Exerce a mesma tensão para todas as

direções dentro do poço, de forma radial.

Figura 1.14 – Representação de um estado de tensões atuantes ao redor do poço em coordenadas

cilíndricas (ROCHA & AZEVEDO, 2009).

As tensões ao redor do poço compõem o chamado estado triaxial de tensão ao

longo da parede do poço. A magnitude destas tensões é variável em função de vários

fatores, como: Alinhamento do poço em relação às tensões in situ e a magnitude

destas; Comportamento das rochas e geometria do poço.

Analisando a figura 1.15, percebe-se ainda que o maior diferencial de tensão

ocorre na parede do poço. Comumente, assume-se a tensão tangencial como principal

máxima (σ 1) e tensão radial como principal mínima (σ 3). A tensão axial, por ser

intermediária (σ 2) às outras duas é considerada nula e não é admitida no critério de

ruptura de Mohr Coulomb. A depender da profundidade de alguns poços verticais, a

tensão axial pode ser a principal menor σ 3.

Page 40: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

25

Figura 1.15 – Variação da magnitude das tensões ao redor do poço (ROCHA & AZEVEDO, 2009).

1.4.2 Janela Operacional

A janela operacional, item indispensável num projeto de poços de petróleo, é o

principal parâmetro a ser usado na estabilidade de um poço durante a sua perfuração.

É a partir da obtenção da janela operacional que se tem o intervalo (entre um limite

inferior e superior) permitido para a variação da massa específica e consequentemente

o peso do fluido de perfuração com o principal objetivo de obter uma perfuração estável

e segura com a redução de problemas operacionais.

O limite inferior da janela operacional é representado pelo maior valor da curva

do gradiente de pressão de poros e gradiente de colapso. Já o limite superior é

representado pela curva do gradiente de fratura. Deste modo, a massa específica deve

ser condicionada a promover uma pressão hidrostática de modo a atender cada fase

neste intervalo para que a perfuração ocorra estabilizada.

Page 41: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

26

Figura 1.16 – Janela operacional de um poço de petróleo (ROCHA & AZEVEDO, 2009).

Como a janela operacional trabalha principalmente o peso do fluido de

perfuração a ser utilizado na operação, algumas importantes funções e características

do fluido de perfuração são relevantes (THOMAS, 2001):

-ser estável quimicamente;

-estabilizar as paredes mecânica e quimicamente;

-manter os cascalhos suspensos quando da operação de limpeza do poço;

-ser bombeável;

-facilitar a separação dos cascalhos em superfície;

-exercer hidrostática sobre a formação de modo a evitar a fluência de fluidos

indesejáveis da formação para dentro do poço (kicks);

-resfriar a broca e lubrificar a coluna de perfuração:

-limpar o fundo do poço e;

-transportar os cascalhos à superfície.

1.4.3 Modos de ruptura e problemas operacionais dec orrentes da

instabilidade

Caso o fluido de perfuração não promova equilíbrio necessário para prosseguir

a perfuração do poço, rupturas podem ocorrer. Geralmente, os dois modos de ruptura

Page 42: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

27

mais comuns são os colapsos e as fraturas. As fraturas são oriundas de esforços

distensivos, promovendo uma ruptura à tração da rocha, enquanto que os colapsos são

resultados de esforços compressivos, promovendo ruptura por cisalhamento na rocha.

(VILARROEL et al, 2009).

Figura 1.17 – Modos de fratura em poços de petróleo (adaptado de VILARROEL, 2009).

Portanto, segundo Rodrigues (2007), os principais problemas que levam a falha

da rocha são (figura 1.18):

Figura 1.18 – Instabilidades de um poço de petróleo (RODRIGUES, 2007).

Page 43: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

28

a) Colapso Inferior: ocorre quando há ruptura da rocha por cisalhamento,

ocasionado por uma tensão compressiva. Este modo de ruptura ocorre devido ao baixo

peso do fluido de perfuração, promovendo uma pressão hidrostática insuficiente para

manter as paredes do poço estabilizadas, gerando uma ampliação do diâmetro do poço

por intermédio dos desmoronamentos com provável aprisionamento da coluna de

perfuração pelos cascalhos desmoronados. As rochas são consideradas impermeáveis

podendo haver influência da pressão de poros (figura 1.19).

b) Fratura Superior: ocorre fratura da rocha por tração, quando a pressão

hidrostática do fluido de perfuração estiver alta. Neste caso, há uma fratura tal na rocha

que o fluido migra por entre as fraturas, abrindo o poço e ocasionando perda de

pressão no interior do poço. A falha se dá perpendicularmente à tensão horizontal

mínima. As rochas são consideradas permeáveis (figura 1.19).

Rodrigues (apud GUENOT, 2007, p. 6), ainda ressalta dois modos de falha e

suas conseqüências. Vale lembrar que estes dois modos de falha são raros de

acontecer na parede do poço:

c) Colapso Superior: ocorre ruptura da rocha, por cisalhamento, quando se

utiliza um fluido de perfuração muito pesado. Isto é, a pressão hidrostática é muito

elevada. Este tipo de instabilidade ocorre quando o valor da massa específica

ultrapassa o valor do limite superior da janela operacional. As rochas são consideradas

permeáveis (figura 1.19).

d) Fratura Inferior: ocorre ruptura da rocha por tração, decorrente do baixo peso

do fluido de perfuração. As rochas são consideradas impermeáveis (figura 1.19).

Page 44: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

29

Figura 1.19 – Alguns tipos de instabilidades decorrentes do modo de falha (adaptado de ROCHA &

AZEVEDO).

Ainda há outro modo de ruptura, o porocolapso, que tem sido bastante

verificado em calcários produtores de óleo e gás. À medida que há a produção dos

fluidos do reservatório, a tensão efetiva no reservatório aumenta. Se não houver

resistência da região rochosa para absorver esse aumento de tensão, ocorrerá o

colapso dos poros (ARAÚJO, 2002).

Page 45: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

30

CAPÍTULO 2

METODOLOGIA

Para realizar este experimento foram construídos corpos de prova de rochas

calcárias, a fim de submetê-los a ensaios uniaxiais de compressão. O método de

pesquisa e o procedimento usado no Projeto são experimentais, pois o experimento foi

todo executado no laboratório da instituição. Para o levantamento da fundamentação

teórica do item 3. foram utilizados métodos de pesquisa bibliográfica.

Em relação ao experimento, foram compilados dois jogos de corpos de prova

contendo, cada um, seis corpos de prova de acordo com a tabela 2. A composição

sintética das amostras foi embasada criteriosamente na classificação das rochas

calcareníticas, explicitada no subitem 1.2.

Quanto ao ensaio realizado, vale ressaltar que a prensa hidráulica utilizada

neste ensaio (marca PAVITES, fabricada pela CONTENCO), cuja capacidade de carga

é de até 100 toneladas, apresenta limitações e não mede as deformações

simultaneamente à aplicação da tensão durante o ensaio, além de não registrar a

tensão residual, em virtude de registrar apenas o pico máximo da curva. Logo, para

simular o comportamento das rochas de forma mais próxima do real, foram utilizadas

dois jogos de seis amostras para cada jogo, que representam um mesmo tipo de rocha,

e, por conseguinte, a curva tensão-deformação pode ser obtida. Portanto, a

representação deste projeto consiste em descrever o comportamento da curva tensão-

deformação (sem a identificação da tensão residual) para duas rochas simuladoras de

calcarenito de composições mineralógicas variáveis, a partir das taxas quantitativas de

depósitos sedimentares, conforme se pode observar na tabela 2.

Tabela 2.1 – Taxas quantitativas e tipos de depósitos sedimentares utilizados na composição para cada corpo de prova de cada jogo.

% Material JOGO 1- 6x amostras JOGO 2- 6x amostras Areia fina 31,25% (125g) 18,75% (75g)

Argila 18,75% (75g) 31,75% (125g)

Cimento (CaCo3) 50% (200g) 50% (200g)

Água para mistura 510 ml 510 ml

Page 46: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

31

Em relação à tabela 2.1., taxa quantitativa de cimento é constante, onde há

variação apenas na taxa dos depósitos terrígenos. O cimento utilizado no processo de

composição dos corpos de prova, representa o carbonato de cálcio (CaCo3) , cujo

depósito carbonático é essencial para a classificação projetada no corpo de prova.

Nesta situação, há a simulação de um calcarenito depositado em um ambiente de alta

energia, característica diagenética comum para este tipo de rocha.

Acerca dos materiais utilizados para a constituição das amostras:

Argila (granulometria 0,004mm);

Areia fina (granulometria 0,062mm) e;

Cimento (CaCO3).

Dos equipamentos utilizados na preparação dos materiais sedimentares:

Peneiras com seções granulométricas entre 0,004mm a 0,062mm.

Estufa

Para a preparação do material sedimentar argiloso, foi necessário haver a

seleção granulométrica (0,004mm) dos grãos e retirar a umidade remanescente, sendo

preciso a utilização da estufa. O material foi aquecido a uma temperatura de

aproximadamente 100°C por um período de 24 horas, o nde o material supracitado foi

considerado pronto para a atividade de composição.

Figura 2.1 – Material argiloso peneirado (granulometria 0,004mm) e em seguida introduzido na

estufa para a retirada de umidade.

Page 47: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

32

O material sedimentar arenoso passou apenas pelo processo de seleção

granulométrica (0,062mm). Já o cimento utilizado não precisou passar por

procedimento laboratorial.

Figura 2.2 – Material arenoso peneirado (granulometria 0,062mm).

Foram utilizadas peneiras (figura 2.3) com as referidas seções granulométricas

para a argila e areia, respectivamente.

Figura 2.3 – Peneiras utilizadas na seleção granulométrica (intervalo granulométrico de 0,004 a 0,062)

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33

O procedimento da preparação do material sedimentar teve início e conclusão

em 29/06/2011.

No que se refere aos equipamentos utilizados para a composição dos corpos de

prova:

Balança Eletrônica (sensibilidade de 0,01);

Argamassadeira;

Fôrma para corpo de prova (10 cm de comprimento x 5 cm diâmetro) e;

Espátulas e soquetes;

Inicialmente, o material sedimentar foi pesado (em g) na balança eletrônica

(figura 2.4) levando em consideração a pesagem das seis amostras de cada jogo de

acordo com a tabela 2.1., obtendo as proporções de depósitos sedimentares a serem

usados para a composição dos jogos de corpo de prova (figura 2.5).

Figura 2.4 – Balança Eletrônica (sensibilidade 0,01)

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34

Figura 2.5 –Materiais sedimentares separados após pesagem e suas respectivas fôrmas.

Após definidos os percentuais (em g) de depósitos sedimentares utilizados na

composição de cada corpo de prova (tabela 2.1 e figura 2.5), os depósitos

sedimentares (argila, areia e cimento) individuais à cada fôrma (pertencente à

composição de cada jogo de amostras) foram misturados na argamassadeira (figura

2.6) juntamente com água para dar consistência à massa.

Figura 2.6 – Argamassadeira utilizada na mistura dos depósitos sedimentares para a composição dos

corpos de prova.

Page 50: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

35

Com a consistência adequada para ser adicionada às suas respectivas fôrmas

(figura 2.7), foram utilizados soquetes para compactar e minimizar as bolhas de ar no

interior da massa.

Figura 2.7 – Corpos de Prova pertencentes ao jogo 1 na fôrma.

Após ficarem 24 horas na fôrma, os corpos de prova foram para o processo de

cura, o qual trata submersão dos mesmos em água e cal. O processo de cura simula o

processo de litificação da rocha, visto que a amostra, quando penetrada na cura,

adquire uma dureza próxima ao de uma rocha calcarenítica. Todo o procedimento de

composição dos corpos de prova teve início em 30/06/2011 e conclusão em 1/07/2011.

As amostras ficaram na cura por 60 dias, a partir da data de composição dos corpos de

prova, e foram desenformadas para a realização do ensaio uniaxial (figura 2.8).

Page 51: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

36

Figura 2.8 – Corpos de prova pertencentes ao Jogo 1 (fileira da frente) e Jogo 2 prontos para o ensaio

uniaxial.

Seguinte a essa etapa, os corpos de prova tiveram suas dimensões axiais (l) e

radiais (d) medidas (utilizando-se de um paquímetro) antes de serem submetidos à

Prensa Hidráulica, pois pequenas variações em relação ao recipiente (10 cm x 5 cm)

foram observadas. É importante encontrar a deformação efetiva e para tal, as medições

pré - ensaio foram essenciais.

Os corpos de prova homogêneos do jogo 1 e 2 foram submetidos aos ensaios

na ordem de tensão em que houve o alcance do limite de resistência (pico máximo

registrado pela prensa hidráulica) à tensões menores. Os corpos de prova não sofreram

ruptura total. Configura-se assim, uma composição da curva tensão-deformação (para

cada jogo) obtendo primeiramente, o valor do primeiro corpo de prova cujo limite de

resistência à compressão simples é medido. Nos outros cinco corpos de prova

restantes, o ensaio foi executado de modo que a carga atuante no corpo de prova fosse

menor que o limite de resistência alcançado anteriormente pela amostra do mesmo

jogo, já que possuem a mesma composição mineralógica e são homogêneas. Estas

menores cargas foram controladas pelo fechamento da válvula de pressão. Na figura

2.9, há melhor visualização do procedimento executivo do ensaio, onde a carga é

aplicada axialmente, com tensões horizontais nulas (=0).

Page 52: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

37

Figura 2.9 – Corpo de prova na prensa hidráulica

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38

CAPÍTULO 3

RESULTADOS E DISCUSSAO

Nesse capítulo serão apresentados e discutidos os resultados obtidos por meio

da metodologia proposta para o presente trabalho de pesquisa. Os resultados obtidos

são apresentados nas tabelas 3.2 e 3.3.

As dimensões das amostras antes e após os ensaios foram medidas, a fim de

se calcular a deformação axial e para a confecção da curva tensão-deformação de cada

conjunto (figura 3.1).

Figura 3.1 – Medição do diâmetro e comprimento do corpo de prova pertencente ao jogo 1 após a

aplicação da tensão.

Os valores das deformações (ε y) e o valor do coeficiente de Poisson (para a

região linear elástica) dos corpos de prova foram calculados utilizando as equações

(1.5), e (1.7), utilizando os dados obtidos após o ensaio, os quais estão apresentados

na tabela 3.1 e 3.2. Foram calculadas as densidades médias para os corpos de prova.

Para os corpos de prova do conjunto 1 e 2, os valores médios calculados foram 2,39

g/cm³ e 2,28 g/cm³, respectivamente.

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39

Tabela 3.1 – Dados obtidos após o ensaio do jogo 1. Na tabela estão os valores das tensões, deformações, propriedades mecânicas elásticas e dimensões (em mm).

(conjunto 1) ∆ l e ∆ d (mm)

∆ l=1,6 ∆ d=3,3

∆ l=1,2 ∆ d=2,9

∆ l=0,8 ∆ d=2,6

∆ l=0,5 ∆ d=2,3

∆ l=0,3 ∆ d=1,8

∆ l=0,1 ∆ d=1,2 ν =0,252

Tensão (t) 5,42 t 4,73 t 4,35 t 4 t 3,24 t 2,30 t

Deformaçãoε y

1, 616 1, 212 0, 800

0, 510 0, 300 0,100

Tabela 3.2 – Dados obtidos após o ensaio do jogo 2. Na tabela estão os valores das tensões, deformações, propriedades mecânicas elásticas e dimensões (em mm).

(conjunto 2) ∆ l e ∆ d (mm)

∆ l=1,6 ∆ d=5,1

∆ l=1,2 ∆ d=4,2

∆ l=0,8 ∆ d=3,9

∆ l=0,5 ∆ d=3,1

∆ l=0,3 ∆ d=2,5

∆ l=0,4 ∆ d=1,9 ν =0,100

Tensão (t) 3,6 t 3,5 3,13 3,08 2,88 1,96

Deformaçãoε y

2,400 2,200 1,700

1,500 0, 700 0,400

Os resultados obtidos a partir do ensaio uniaxial e o produto deste podem ser

analisados nas figuras 3.2 e 3.3. Nestas, se observa as curva tensão-deformação do

primeiro e do segundo conjunto de corpos de provas. Os gráficos apresentam a relação

entre a aplicação da tensão e sua respectiva deformação. Nestas figuras é observado o

comportamento da deformação frente ao incremento da aplicação da tensão.

No conjunto 1, observa-se que até o limite de proporcionalidade da curva

tensão-deformação, seu comportamento é semelhante às observadas em experimentos

com rochas que apresentam comportamento frágil, ou seja, rochas compactadas, com

baixa porosidade e/ou bem cimentadas. Já no conjunto 2 observa-se uma curva mais

suavizada que pode representar uma rocha mais dúctil, ou seja, um comportamento

mais plástico. Tais comportamentos podem representar rochas sedimentares

carbonáticas com densidade em torno de 2,72 g/cm³.

Desta forma, visualiza-se que o conjunto de processos físicos, químicos e

biológicos aos quais esses sedimentos são submetidos pode influenciar diretamente

nos limites de resistência desta rocha.

Page 55: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

40

É importante ressaltar nas curvas, que conforme se aumenta a intensidade da

tensão, há maior competência das amostras em absorver a energia aplicada, o que

corresponde à região linear elástica, ou seja, a aplicação da tensão. Nesta fase do

experimento não se observou deformação na amostra, o que corresponde

perfeitamente ao comportamento observado em rochas bastante resistentes, como por

exemplo, arenitos silicificados, calcáreos cimentados e rochas ígneas.

Figura 3.2 – Gráfico da Curva tensão - deformação do conjunto 1

Page 56: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

41

Figura 3.3 – Gráfico da Curva tensão - deformação do conjunto 2.

Na seqüência do experimento observa-se que as amostras de ambos os

conjuntos atingiram seu limite de proporcionalidade (σ p) de tensão aplicada. É

importante ressaltar que a amostra resiste à aplicação da tensão sem apresentar

deformações permanentes, observando-se a proporcionalidade quanto à deformação.

Após ultrapassado o limite máximo de proporcionalidade, a amostra passa a

suportar cada vez menos energia, ou seja, com o aumento do carregamento a amostra

passa a resistir cada vez menos à tensão aplicada, passando a operar na região não

linear elástica. Deste modo, a amostra passa gradualmente para a região

dúctil, apresentando um comportamento cada vez mais plástico.

Ressalta-se ainda, que as amostras suportaram a energia aplicada em função

de sua estrutura interna. As amostras dos conjuntos resistem até uma tensão de

aproximadamente de 5,5 t e 3,6 t, onde o limite de resistência à Compressão Simples

Page 57: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

42

(Co) é atingido, máxima tensão ou resistência da amostra, rompendo e passando a

operar na região rúptil ou frágil.

Figura 3.4 – Gráfico comparativo das Curvas tensão - deformação dos corpos 1 e 2.

Os corpos de prova do experimento 1 apresentaram maiores limites de

resistência quando comparada à rocha sintética 2. Este fato pode ser explicado, devido

à estrutura interna do corpo de prova e a composição mineralógica da mesma. Desta

forma, a quantidade de minerais siliciclásticos no corpo de prova 1 seria o possível

responsável direto pela maior resistência à compressão do corpo, considerando que

esta amostra possui conteúdo em torno de 31,25 % areia. A diferença de carga

suportada pelos corpos 1 e 2 foi de 1,82 t, considerando a composição química, este

fato pode ser mais bem explicado devido à estrutura interna e/ou processo de

construção mecânica e química da amostra.

Page 58: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

43

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A instabilidade mecânica em poços de petróleo está intrinsecamente

relacionada com a resistência dos materiais rochosos, e dependem da definição do

estado de tensão triaxial atuante nas paredes do poço. Deste modo, por meio destes

dados, seria definido o critério de ruptura de Mohr Coulomb, o qual estipularia o estado

de tensão crítico não suportado pelo elemento de rocha. Neste contexto, relaciona-se

os resultados dos ensaios, as amostras do conjunto 1 suportaram maior diferencial de

tensão do que as amostras do conjunto 2. Entretanto, as rochas estariam submetidas a

temperaturas e pressões diferentes das de superfície e as tensões horizontais

aumentariam a resistência da rocha.

Em se tratando dos círculos de Mohr Coulomb, a tensão principal máxima (σ 1)

e mínima (σ 3) seriam dados conhecidos, e portanto, a tensão cisalhante máxima

(τ máx) atuante nas amostras dos conjuntos 1 e 2, corresponderiam aos pontos de C0,

que podem ser facilmente conhecidas: τ máx1 = 2,71 t ; τ máx2 = 1,98 t.

Caso o peso do fluido de perfuração escolhido para estabilizar as paredes do

poço esteja igual ou acima do estimado ocorreria à ruptura por cisalhamento, assim, é

possível que haja cascalhos desmoronados com possível prisão da coluna de

perfuração por acunhamento ou prisão da broca.

Rocha & Azevedo (2009) atentam para a definição complexa dos termos ruptil e

dúctil. Para tal, deve-se observar ao comportamento da curva tensão – deformação, já

que rochas ditas frágeis apresentam maior tensão máxima e exibem pouca deformação

plástica antes da ruptura, sendo esta última catastrófica ou rápida, de forma a perder

rapidamente a propriedade de suporte à carga. Já nas rochas dúcteis é observada

maior taxa de deformação plástica antes da ruptura, com avanço de deformação mais

lenta, porém, de forma a suportar tensão. Essa definição é baseada nos ensaios

uniaxiais realizados em laboratório, portanto as tensões horizontais podem transformar

o estado frágil de uma rocha para um estado dúctil.

Neste contexto, na comparação entre as curvas, o conjunto 1 apresenta

características mais frágeis visto que o σ e (2,88 t) apresentou maior valor para uma

Page 59: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

44

deformação menor (0,1). Já o conjunto 2 apresentou menor valor de σ e (1,96 t) para

deformação maior (0,4), e possui características ou um comportamento um pouco mais

dúcteis. No entanto, não foi possível definir claramente se as amostras submetidas aos

ensaios possuem definição frágil ou dúctil. Entretanto, neste experimento pode-se

observar uma tendência a um comportamento na região dúctil, o que contradiz com o

comportamento de rochas calcárias cimentadas, corroborando com uma estrutura

menos densa e pouco menos cimentada, podendo representar uma rocha calcarenítica

bastante fraturada. Considerando a taxa quantitativa de argila compreendida no ensaio

dos corpos de prova pertencentes ao conjunto 2, esta taxa pode ter alterado o

comportamento da amostra.

É importante ressaltar que as curvas tensão-deformação dos corpos de prova 1

e 2 não compreendem a região frágil (em função de limitações do experimento), e desta

forma a mínima tensão imposta ao corpo após sua ruptura total não pode ser

conhecida. Este valor seria importante para se obter e analisar a região frágil da

amostra e, por conseguinte, analisar o quanto de tensão a amostra iria suportar após o

atingir o limite de resistência.

Page 60: INSTABILIDADE MECÂNICA DE FORMAÇÕES CARBONÁTICAS EM POOÇOS DE PETRÓLEO - STEFANO

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