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Gado de Leite Erick Fonseca de Castilho Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) Em Bovinos Leiteiros

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Gado de Leite

Erick Fonseca de Castilho

Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)Em Bovinos Leiteiros

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C A P Í T U L O

33. IATF como ferramenta no melhoramento

genético de bovinos de leite

3.1 Introdução

Independente do sistema, vacas leiteiras têm problemas sérios em relação à

eficiência reprodutiva e esta se constitui em um dos fatores que mais influenciam

o sucesso econômico do empreendimento. Para se obter um bom desempenho

produtivo e reprodutivo, há a necessidade da redução do intervalo de partos (IP)

por meio de métodos efetivos no manejo reprodutivo e o uso adequado da inse-

minação artificial (IA) ou monta natural (MN), consequentemente menor período

de serviço (PS). Devido a problemas cada vez mais frequentes de detecção do

estro e diminuição nas taxas de concepção (TC) em vacas leiteiras, o IP tem sido

cada vez mais prolongado. Tem-se notado ao longo dos anos que vacas, espe-

cialmente as de elevada produção leiteira, têm apresentado um aumento grada-

tivo em problemas reprodutivos, aparentemente devido a causas multifatoriais

(LUCY, 2001). Na tentativa de contornar estes problemas, estratégias de manejo

reprodutivo devem ser implementadas, muitas vezes utilizando-se medidas mais

intensivas, tais como inseminação artificial em tempo fixo (IATF).

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

102 IEPEC

A IA consagrou-se mundialmente e provou ser viável técnica e economicamente

para acelerar o ganho genético e o retorno econômico da pecuária. Dentre suas

vantagens, destacam-se a padronização do rebanho, o controle de doenças se-

xualmente transmissíveis, a organização do trabalho na fazenda, a diminuição do

custo de reposição de touros etc. Outra vantagem é o uso de sêmen de touros

mesmo após a sua morte. Mas o principal benefício desta técnica é o melhora-

mento genético por meio do uso de touros provados para obtenção de crias com

maior potencial de produção e reprodução.

Para melhorar a eficiência reprodutiva, é importante ressaltar que o manejo da

propriedade é fator imprescindível, considerando que as características repro-

dutivas são essencialmente influenciadas pelo meio ambiente e pela nutrição.

Com a evolução e o estabelecimento da técnica de IA, os problemas, como

detecção do estro, baixo número de animais inseminados e principalmente a

necessidade de mão-de-obra em tempo integral, conduziram à busca por alter-

nativas de contorná-los, sem comprometer os índices reprodutivos (BARUSELLI et

al., 2004). Assim, surgiram as técnicas de sincronização de estros e da ovulação

que permitem a realização da IATF e possibilitam inseminar um grande número

de animais no momento mais apropriado aos técnicos e produtores, sem a ne-

cessidade de observar o estro (AYRES et al., 2006; TORRES-JÚNIOR et al., 2007).

Outro fator muito importante da IATF é o seu uso na indução de estros de fêmeas

em anestro e com irregularidades no ciclo estral.

A IATF se baseia na mimetização dos eventos reprodutivos fisiológicos de uma

fêmea cíclica, por meio da manipulação hormonal exógena. Porém, nem sempre

se consegue atingir a perfeição dos ciclos estrais fisiológicos.

Portanto, somente os técnicos capacitados detêm o conhecimento da biologia

reprodutiva nas diferentes raças de bovinos, podendo preconizar com consciência

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

103O portal do agroconhecimento

e segurança os programas que maximizem a eficiência com o mínimo de risco

aos índices reprodutivos e econômicos.

Entretanto, devido ao manejo concentrado e gastos adicionais com medicamen-

tos e instalações, apesar de em geral apresentarem uma melhora na eficiência

reprodutiva, deve-se avaliar o custo-benefício do emprego destas ferramentas

antes de começar a utilizá-las em larga escala. Com a IATF, a reprodução das

fêmeas fica sob controle do produtor. Com esta técnica, as vacas tratadas são in-

seminadas com datas e horários marcados, e sem a necessidade de observar cios.

Dessa forma, o criador pode inseminar mais vacas em menor escala de tempo,

programar a inseminação e o nascimento das bezerras, aumentar o número de

bezerras para cria e recria e obter um melhor aproveitamento da mão-de-obra.

A vantagem econômica da IATF é uma questão importante e vai depender do

uso correto da técnica.

A IATF é sem dúvida, uma ferramenta extremamente importante no processo de

melhoramento genético do rebanho. No entanto, uma das grandes limitações à

sua expansão tem sido o custo, mão-de-obra especializada, falhas na observação

do estro, taxa de prenhez razoável por sessão (variando de 30 a 60 %) (MALUF,

2002).

As perdas de cio aumentam o número de dias improdutivos dos animais, o

intervalo de partos, e diminuem o número de bezerras nascidas por ano. Ao

observarem esses efeitos, muitos produtores interromperam seus programas de

inseminação artificial. Dessa forma, programas de inseminação em tempo fixo,

sem a necessidade de detecção de cio, colaboram para o aumento da eficiência

e do emprego dessa técnica (BARUSELLI, 2004).

Os objetivos deste Capítulo são:

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

104 IEPEC

» Descrever os requisitos básicos para se implantar um programa de

IATF em propriedades leiteiras;

» Discutir a importância da mão-de-obra especializada nos resulta-

dos da IATF;

» Descrever os métodos de seleção/avaliação dos animais a serem

introduzidos no programa de IATF;

» Discutir os principais protocolos de IATF em rebanhos leiteiros.

3.2 Vantagens da IATF em rebanhos leiteiros

Dentre as vantagens, destacam-se:

» Elimina a necessidade de observação de estros, evitando erros de

detecção;

» Evita inseminações de vacas fora do momento certo, diminuindo o

desperdício de sêmen, material e mão de obra;

» Induz a ciclicidade em vacas em anestro no pós-parto, permitindo

a inseminação destas fêmeas;

» Diminui o intervalo de partos, aumentando o número de bezerras

nascidas;

» Aumenta a produção de leite;

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

105O portal do agroconhecimento

» Possibilita a programação das inseminações em um curto período;

» Concentra o retorno do estro das fêmeas falhadas na primeira in-

seminação, facilitando o diagnóstico de estro no repasse destas;

» Concentra a mão-de-obra e diminui o número de horas extras com

inseminadores e problemas trabalhistas;

» Diminui o descarte e o custo de reposição de matrizes no rebanho.

» Diminui o investimento com touros;

» Melhora o manejo das pastagens, evitando a degradação dos pi-

quetes próximos ao curral (utilizados intensamente em programas

de inseminação artificial convencional).

3.3 Requisitos básicos para a implantação do programa de IATF em rebanhos leiteiros

Para se obter sucesso nos programas de IATF, alguns requisitos são necessários

para a sua implantação. Dentre eles, destacam-se: controle sanitário eficiente;

bom manejo nutricional; meio ambiente favorável para o bem-estar animal;

mão-de-obra especializada; e avaliação geral e ginecológica periódica das fê-

meas.

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

106 IEPEC

3.3.1 Influência sanitária

O manejo sanitário para o gado leiteiro deve ser eficiente a fim de evitar que os

animais venham a contrair doenças que possam prejudicar a sua produção leiteira

e a eficiência reprodutiva do rebanho, causando prejuízos ao produtor. O orga-

nismo do animal está em contato direto com diferentes agentes que provocam

diversas doenças, abaixo listadas:

» Doenças parasitárias (parasitas internos e externos) – vermes in-

testinais, bicheiras, bernes, carrapatos, mosca-do-chifre etc.

» Doenças infecto-contagiosas: raiva, febre-aftosa, brucelose, tuber-

culose, IBR, BVD, campilobacteriose, leptospirose, tricomonose etc;

» Outros: mastite, intoxicação por ingestão de plantas tóxicas, pro-

blemas de cascos etc.

O leite é considerado o alimento mais perfeito da natureza, com uma rica compo-

sição de proteínas, vitaminas, gordura, carboidratos e sais minerais; é produzido

durante a lactação das vacas, a partir de elementos que passam do sangue para

as células especializadas do úbere. Durante o processo de lactação, medicamen-

tos ou drogas administradas podem passar para o leite, comprometendo assim

a sua qualidade e causando prejuízos à indústria de leite (inibição de culturas

lácteas utilizadas na fabricação de iogurte e outros fermentados) e problemas a

saúde humana (reações alérgicas ou tóxicas).

Quando o animal está sadio, bem alimentado e em conforto, espera-se que eles

expressem o máximo de sua capacidade reprodutiva. Neste tópico, não serão

abordados detalhes das enfermidades que acometem os bovinos de leite, e sim,

sugerir um programa sanitário eficiente.

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

107O portal do agroconhecimento

3.3.2 Influência nutricional

Vários estudos realizados em rebanhos leiteiros demostraram claramente que um

aumento acentuado na produção de leite durante o início da lactação aumenta

a incidência de vários problemas reprodutivos (GROHN et al, 1994; MACMILLAN

et al., 1996; POSO et al., 1996). Além disso, a capacidade genética para alta pro-

dução de leite, juntamente com as mudanças no estado nutricional e o aumento

dos plantéis têm sido associados a uma gradual diminuição da fertilidade.

A incapacidade de atingir os altos requisitos energéticos tanto para mantença

quanto para produção em vacas leiteiras de alto desempenho leva a um balan-

ço energético negativo, principalmente durante as primeiras semanas após o

parto. O balanço energético durante as três primeiras semanas de lactação está

altamente correlacionado ao intervalo de partos e a primeira ovulação (BUTLER

et al., 2000).

Está bem documentado que vacas muito gordas ao parto frequentemente apre-

sentam redução de apetite e, assim, desenvolvem balanço energético negativo

maior do que suas companheiras de rebanho. Essas vacas apresentam mobiliza-

ção mais intensa da gordura corporal e maior acúmulo de triglicerídeos no fígado

(RUKKWAMSUK et al., 1998), levando à lipidose hepática, que está associada, se-

gundo muitos autores, ao comprometimento da fertilidade no período pós-parto.

Além disso, relatou-se que um grave balanço energético negativo pode prolongar

o intervalo de partos e a primeira ovulação. A baixa disponibilidade energética

durante as primeiras semanas de lactação afeta a secreção de LH, mas também

reduz a resposta do ovário à estimulação do LH (JOLLY et al., 1995; BUTLER, 2000).

E como já foi dito anteriormente, animais magros geralmente não apresentam

atividade ovariana devido à deficiência energética. Este fato ocorre pela falta de

reserva de gordura para a produção de esteroides.

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

108 IEPEC

O déficit no consumo de energia é a causa predominante do atraso à atividade

reprodutiva nos rebanhos brasileiros e esses efeitos são mais acentuados quando

ocorrem na fase final de gestação. Vacas magras ao parto apresentam intervalos

mais longos até o primeiro estro e/ou primeira ovulação pós-parto, em decorrên-

cia da maior sensibilidade hipotalâmica ao estradiol, culminando com secreção

insuficiente de gonadotrofinas para manter o crescimento folicular.

Um método fácil, prático e eficiente na avaliação do estado nutricional (massa

muscular e camada de gordura subcutânea) de vacas leiteiras é o Escore de

Condição Corporal (ECC), que é avaliado numa escala de 1 a 5, quando a vaca

está magra ou gorda (Figura 32).

O ECC é avaliado pela visualização de extremidades ósseas, como ísquios, íleos,

sacro, vértebras lombares, costelas e inserção de cauda.

Figura 32: Escore de condição corporal em vacas de leiteiras. FONTE: EMBRAPA (2010).

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

109O portal do agroconhecimento

3.3.3 Influência ambiental

Segundo Hurnik (1992), bem-estar animal é o estado de harmonia entre o animal

e seu ambiente, caracterizado por condições físicas e fisiológicas ótimas e de

alta qualidade de vida do animal. De acordo com o Conselho de Bem-Estar dos

Animais de Produção (do inglês Farm Animal Welfare Council – FAWC, 1979), os

animais devem estar livres de:

» Fome, sede e desnutrição;

» Desconforto;

» Dor, injúria e doenças;

» Restrições que os impeçam de expressar o comportamento natural

da espécie;

» Medo e estresse.

Estar confortável significa que o animal atingiu certo nível de bem-estar. Por isso,

o manejo que os animais estão submetidos, independentemente do tipo de

sistema adotado, tem que garantir amenidades que proporcionem conforto. Por

exemplo: controle da temperatura (quando necessário), abrigo, espaço físico, ar e

água limpos, dieta nutritiva, ausência de dor, de pânico, de ansiedade e de abuso.

Dentre os fatores ambientais que afetam o conforto e o bem-estar dos animais,

destacam-se:

» Ambiente social: dominância, liderança, tamanho do lote, espaço

individual e interação com os humanos;

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110 IEPEC

» Ambiente físico: instalações (dimensões de cochos de alimenta-

ção, dos bebedouros e das baias, o tipo de piso etc.);

» Condições climáticas: frio, calor, umidade, vento etc.

Figura 33: Animais apresentando estresse calórico. FONTE: Arquivo pessoal.

Figura 34: Animais em conforto térmico. FONTE: Arquivo pessoal.

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

111O portal do agroconhecimento

3.3.4 Influência da mão-de-obra

De acordo com Russi et al. (2009), a falta de pessoas capacitadas é um dos fatores

limitantes para a expansão da IA no Brasil. Além disso, os autores destacaram que

um manejo inadequado (nutricional, sanitário etc.) também pode acarretar resul-

tados indesejados. Dobson e Smith (2000) mostraram que um manejo aversivo,

que gera estresse, pode alterar a resposta aos tratamentos recebidos durante os

protocolos de IATF e até mesmo resultar em perdas embrionárias.

Sabe-se que o inseminador apresenta um papel fundamental na eficiência da IA/

IATF. A inadequada manipulação do sêmen, má identificação do estro e falhas na

execução da técnica são geralmente apontados como fatores que comprometem

os resultados de prenhez. Dentre os fatores que interferem no desempenho dos

inseminadores, Russi et al. (2009) destacaram os seguintes: estado emocional e

personalidade do inseminador. Foi relatado que o estado emocional do insemi-

nador influenciou a taxa de retorno ao estro após as inseminações. Os indivíduos

com menos preocupações e mais tranquilos obtêm os melhores resultados. Além

disso, também é preciso considerar a confiança que o inseminador tem no sêmen

que está utilizando, o comprometimento que o mesmo possui com a fazenda, o

conhecimento e a confiança na técnica de IA/IATF e a possibilidade de participar

de treinamentos e reciclagens.

Um estudo desenvolvido por Fernandes Jr. (2001) mostrou que as variáveis ha-

bilidade, curso de IA e reciclagens geram diferenças significativas entre os inse-

minadores, medidas pela taxa de prenhez. Tal estudo reforça a necessidade de

revisar todo o processo de IA periodicamente, a fim de aumentar a habilidade

e a autoconfiança do inseminador. Outra consideração importante feita por esse

mesmo autor é em relação ao comprometimento afetivo com o trabalho. Inse-

minadores com maior comprometimento afetivo obtiveram melhores taxas de

gestação (85%) que aqueles que apresentaram comprometimento apenas por

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

112 IEPEC

razões econômicas (68%).

Outro fator que pode afetar os resultados e que deve ser sempre levado em

consideração é o cansaço do inseminador. Dados revisados por Russi et al. (2009)

mostraram que algumas manifestações indicativas de cansaço ocorrem antes

mesmo de o inseminador solicitar sua substituição, podendo resultar em queda

no rendimento do profissional. Reforçando a importância de realizar o treinamen-

to do maior número possível de pessoas dentro das propriedades que realizam

IA/IATF.

Adicionalmente, foi observado que conhecer e acreditar na técnica com a qual se

trabalha também pode ter influência positiva nos resultados. Os inseminadores

que conheciam/acreditavam na técnica de IATF obtiveram melhores resultados

do que os que não acreditavam (40% vs 36% de prenhez), podendo comprome-

ter os resultados dos programas de IA (RUSSI, 2008).

Frente a isso, torna-se cada vez mais importante o treinamento/reciclagem dos

inseminadores e a disseminação da técnica de IA/IATF (RUSSI et al., 2009). Pois

além de aumentar a habilidade dos funcionários, ambos são de extrema im-

portância para aumentar a confiança e a autoestima dos mesmos. Atitudes que

valorizam a equipe envolvida podem resultar em melhoras significativas dentro

da propriedade, principalmente, quando se trata de IA/IATF.

3.3.5 Influência da seleção animal (saúde geral e reprodutiva)

As avaliações ginecológicas periódicas (planejadas) representam uma etapa

importante no manejo reprodutivo de rebanhos leiteiros. Apesar de não serem

realizadas na grande maioria das propriedades, estas avaliações proporcionam

informações valiosas da situação atual reprodutiva do animal.

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

113O portal do agroconhecimento

O uso da ultrassonografia transretal para avaliar a prenhez no início da gestação

está entre as aplicações mais práticas do ultrassom para reprodução de bovinos

leiteiros. A identificação precoce das vacas vazias após a inseminação natural

ou artificial melhora a eficiência reprodutiva e a taxa de prenhez ao reduzir o

intervalo entre as IAs e ao aumentar a taxa de inseminações.

Algumas falhas reprodutivas ocorrem com maior frequência em rebanhos lei-

teiros. Dentre elas, destacam-se: maior incidência de retenção de placenta pós-

parto, maior incidência de cistos foliculares, variação na duração do estro, estros

silenciosos, maior incidência de dupla ovulação e de partos gemelares, menor

taxa de concepção à Inseminação artificial e maior sensibilidade aos fatores cli-

máticos.

Nos animais diagnosticados como aptas à reprodução, ou seja, estão ciclando

normalmente, os gastos com hormônios serão significantemente menores e a

fertilidade das fêmeas serão muito maiores (≥ 85 % no estro normal vs ≤ 60 %

na IATF), consequentemente, resultando em taxas de prenhez significativamente

maiores. Outro fator interessante nos animais cíclicos é que se pode sincronizar

o estro de animais que estejam na mesma fase do ciclo estral, ou seja, na fase

luteal (diestro). Nesta fase, o corpo lúteo estará no seu auge de secreção de

progesterona, logo, estará muito sensível à administração exógena de prosta-

glandina sintética. Em relação à IATF, este método de sincronização resultará em

um estro tão fértil quanto um estro normal e muito mais barato ao produtor.

Ainda em animais cíclicos, quando não se tem a disponibilidade de contratação

de um veterinário, pode realizar um protocolo de sincronização de estro, com

prostaglandina, com resultados satisfatórios. Lembrando que este protocolo não

é IATF. Discutiremos mais adiante este tópico.

Por outro lado, em animais que apresentam falhas reprodutivas e diagnosticadas,

pelo exame ginecológico, como inaptas temporárias à reprodução, devem ser

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

114 IEPEC

realizados programas hormonais direcionados para cada animal. Por exemplo, os

animais que não estão manifestando estro em virtude de uma persistência de

corpo lúteo, uma simples administração de prostaglandina promoverá a ocorrên-

cia do estro. Outro caso interessante, é de um animal que não manifesta estro

devido estar em anestro (inatividade ovariana). Nesta situação, a prostaglandina

não resolverá o problema, pois não tem corpo lúteo, muito menos folículos em

crescimento em ambos os ovários. Portanto, se for diagnosticado que o anestro

é por deficiência hormonal e não por outro fator (por exemplo, deficiência nu-

tricional), pode-se corrigir com um protocolo de IATF utilizando progestágenos.

Geralmente, no primeiro protocolo a taxa de fertilidade é baixa, aumentando a

partir do segundo protocolo. Nestes animais não recomendamos o uso do sêmen

sexado.

Outro fator que interfere nos resultados, tanto dos programas de inseminação,

quanto na monta natural, é o anestro pós-parto. Dependendo do sistema de

produção, o intervalo de partos ideal é 12-14 meses. Para que isto seja possível,

o período de serviço (intervalo entre o parto e a concepção) deve ser de 45

a 90 dias, e às vezes até 120 dias (dependendo do sistema de produção). Se

considerarmos que, os primeiros 30-45 dias pós-parto a fêmea ainda recupera o

útero e o eixo hipotálamo-hipófisario-gonadal do parto anterior, sobra de 45-75

dias para que o animal cicle, seja inseminado ou coberto e emprenhe. O anestro

pós-parto prolongado significa um maior período de serviço, obrigando, o produ-

tor a recorrer ao apoio veterinário, com o intuito de diminuir a grande parcela de

animais não-gestantes, aumentando o número de dias improdutivos e o custo

de produção das bezerras.

Também destacamos a importância da IATF em animais cíclicos, onde pode-se

formar lotes de animais a serem inseminados em um mesmo dia ou um número

determinado por mês afim de se obter um número planejado de partos por mês,

mantendo, assim, uma constante produção de leite ao longo do ano.

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

115O portal do agroconhecimento

Enfim, são inúmeras as vantagens para o produtor quando se tem a disponi-

bilidade de um veterinário em realizar um programa diferenciado do controle

reprodutivo do rebanho. Se pensarmos em custos, imaginem uma fazenda com

100 animais em lactação, onde cinco animais (5 %) estão apresentando falhas re-

produtivas. Considerando que a média de atraso reprodutivo destes cinco animais

seja de 30 dias e a média de produção de leite seja de 15 kg/dia. Então, temos:

5 animais X 15 kg de leite/dia = 75 kg x R$ 0,70 = R$ 52,50/dia perdido

R$ 52,50/dia perdido X 30 dias = R$ 1.575/mês perdido

Considerando que 1 (um) dia de serviço de um veterinário seja no valor de uma

diária (1 salário mínimo atual = R$ 622,00) e R$ 160,00 referente a 200 km de

deslocamento (R$ 0,80/km rodado – ida e volta), o produtor gastará somente

R$ 782,00 pelo serviço.

Desta forma, com o prejuízo exposto, o produtor poderia ter em sua propriedade

um acompanhamento veterinário mensal ou até mesmo quinzenal do rebanho,

que não seria oneroso ao mesmo.

Algumas vantagens ao produtor: maior número de vacas prenhes por ano, maior

número de bezerras nascidas ao ano, menor gastos com hormônios, menor per-

da de leite, maior produção de leite por ano, menor intervalo de partos, maior

controle efetivo da reprodução, produção e sanidade do rebanho.

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

116 IEPEC

Figura 35: Principais fatores que interferem no sucesso da IATF.

3.4 Base dos protocolos de IATF

Nos rebanhos leiteiros em que há partos durante o ano inteiro, as vacas devem

ser manejadas individualmente e de forma mais intensiva do que as de corte.

Com a meta de um bezerro por vaca por ano, o intervalo parto e concepção se

limita a cerca de 85 dias, durante os quais deve ocorrer a involução do útero, a

atividade ovariana deve ser retomada e o estro detectado. Em geral, por volta de

25% das vacas leiteiras não são observados em estro antes do dia 40 pós-parto.

O controle farmacológico do estro é utilizado em vacas leiteiras para as seguintes

indicações:

» Para induzir o estro e a ovulação em vacas com anestro pós-parto

Sucessoda IATF

Sanidade

Exame ginecológicoperiódico (matrizes

e novilhas)

Nutrição

Bem-estar econforto animal Mão de obra

especializada

Acasalamentodirecionado

Hormônios dequalidade e bem

armazenados

Sucessoda IATF

Sanidade

Exame ginecológicoperiódico (matrizes

e novilhas)

Nutrição

Bem-estar econforto animal Mão de obra

especializada

Acasalamentodirecionado

Hormônios dequalidade e bem

armazenados

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

117O portal do agroconhecimento

no intuito de diminuir o intervalo de parto e a primeira insemina-

ção;

» Para sincronizar vacas doadoras e receptoras para transferência de

embrião;

» Para sincronizar o estro de grupos de animais visando melhora da

detecção;

» Para controlar o intervalo entre partos de um rebanho.

Os protocolos de sincronização para IATF objetivam induzir a emergência de uma

nova onda de crescimento folicular, controlar a duração do crescimento folicular

até o estágio pré-ovulatório, sincronizar a inserção e a retirada da fonte de pro-

gesterona exógena (implante auricular ou dispositivo intravaginal) e endógena

(PGF2α) e induzir a ovulação sincronizada em todos os animais simultaneamente.

Atualmente, a base dos protocolos é o implante intravaginal impregnado com

progesterona em associação com os estrógenos, pois consegue-se maior sincro-

nia das ondas foliculares e ovulações.

Em alguns casos, os sistemas de manipulação do estro podem ser usados como

tratamento para certos transtornos reprodutivos, tais como “cio silencioso” ou

doença cística ovariana.

Entretanto, os métodos farmacológicos de manipulação do ciclo estral nunca

devem ser considerados como substituto do manejo nutricional adequado.

Em vacas com ovários ativos, o ciclo estral pode ser manipulado de três formas:

» Pelo uso de prostaglandinas, para induzir a regressão precoce do

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

118 IEPEC

corpo lúteo;

» Pelo uso sequencial de prostaglandinas e análogos do GnRH para

obter desenvolvimento folicular sincronizado após uma luteólise

induzida.

» Pelo uso de progestágenos que agem como um corpo lúteo “ar-

tificial”.

3.4.1 Prostaglandinas

Entre os dias 6 e 16 do ciclo estral (o período de liberação da prostaglandina

natural F2α), uma administração de prostaglandina sintética induzirá a regressão

do corpo lúteo, finalizando a fase luteínica. Inicia-se uma nova fase folicular, e o

animal apresentará estro e ovulará. A fertilidade do estro induzido é semelhante

à do estro natural.

Para a sincronização de um grupo de animais cíclicos, provavelmente todos em

estágios diferentes e desconhecidos do ciclo, uma única injeção de prostaglan-

dina não é suficiente. Deve-se fazer uma segunda aplicação de 11 a 13 dias

depois, já que nesse momento todos os animais deverão apresentar um corpo

lúteo funcional.

Apesar da rapidez na indução da luteólise, o intervalo até o início do estro após

o tratamento com PGF2α é variável e depende do estágio de desenvolvimento

folicular do animal no momento do tratamento (Figura 36 e 37). Animais com

um folículo dominante funcional apresentam estro dentro de 2 a 3 dias porque o

folículo dominante ovula depois da indução da luteólise. Contudo, os animais na

fase de pré-dominância da onda exigirão de 2 a 4 dias para formar um folículo

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

119O portal do agroconhecimento

dominante e, por isso, apresentam um intervalo mais longo e mais variável até

a apresentação do estro.

A inseminação após detecção do estro proporcionará as melhores taxas de con-

cepção e é recomendada principalmente para vacas leiteiras adultas. As novilhas

apresentam uma resposta mais sincronizada, podendo-se usar a inseminação em

tempo fixo após 72 e 96 horas.

Figura 36: Intervalo entre administrações de PGF2α e a ovulação em bovinos. FONTE:

INTERVET (2006).

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

120 IEPEC

Figura 37: Distribuição da ocorrência do estro em vacas tratadas com PGF2α. FONTE:

INTERVET (2006)

Como as prostaglandinas agem no corpo lúteo, elas só podem ser eficazes em

vacas que estiverem ciclando. Podem-se usar as prostaglandinas de diversas

maneiras para manipulação do estro, de acordo com as intenções do tratador, o

tipo do animal e as condições da fazenda. Uma visão geral adaptada de Cavalieri

et al. (2006) delineia os sistemas usados com maior frequência (Figura 38).

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Dia 1 Dia 1 Dia 1 Dia 1 Dia 1 Dia 1

Dia após a administração de PGF

% d

os a

nim

ais

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Dia 1 Dia 1 Dia 1 Dia 1 Dia 1 Dia 1

Dia após a administração de PGF

% d

os a

nim

ais

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

121O portal do agroconhecimento

Figuro 38: Programas de sincronização do estro com PGF2α. FONTE: CAVALIERI et al.

(2006).

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

122 IEPEC

Os protocolos de doses múltiplas são geralmente empregados para sincronizar

o estro em rebanhos. Os sistemas de dose única foram desenvolvidos com o

objetivo de reduzir o custo do tratamento, mas oferecem uma flexibilidade muito

menor do que os protocolos de doses múltiplas. Estes sistemas baseiam-se na

administração estratégica de PGF2α em vacas nas quais a luteólise provavelmente

ocorrerá após o tratamento, e assim exigem detecção de estros por um período

mais prolongado e/ou detecção de um corpo lúteo para assegurar uma alta taxa

de resposta ao tratamento.

Para as fêmeas cíclicas, desenvolveu-se o programa Targeted Breeding para me-

lhorar a eficiência reprodutiva em grandes rebanhos leiteiros (Figura 38). Nesse

sistema, as vacas são sistematicamente tratadas nos mesmos dias da semana,

para facilitar o tratamento e a IA nos mesmos dias da semana. Os animais rece-

bem uma injeção de prostaglandina em intervalos de 14 dias e são inseminados

após detecção do estro. As vacas não detectadas em estro após um terceiro

tratamento com prostaglandinas são inseminadas a tempo fixo 72 a 80 horas

após a última administração de PGF2α.

3.4.1.1 Prostaglandinas e análogos de GnRH

O protocolo Ovsynch (Figura 39 e 40) é indicado basicamente para vacas leiteiras

e envolve suas injeções de um análogo de GnRH intercaladas por uma única

administração de PGF2α. Sabendo-se que as vacas podem se apresentar em qual-

quer estágio do ciclo estral, a combinação de GnRH com prostaglandina promove

grande homogeneidade entre os estágios foliculares do ovário das vacas no

momento da indução da luteólise. Assim, o momento de ocorrência do estro após

a indução da luteólise pela prostaglandina torna-se bastante previsível, com alto

sincronismo dos picos de LH, e verifica-se a sincronização tanto do desenvolvi-

mento folicular quanto da regressão do corpo lúteo.

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

123O portal do agroconhecimento

A primeira administração de GnRH é realizada em um estágio aleatório do ciclo

estral e provoca a ovulação ou a luteinização do folículo dominante, em cerca

de 85 % das vacas (PURSLEY et al., 1995). A administração de prostaglandina

provoca a regressão de qualquer corpo lúteo acessório ou folículo luteinizado pelo

GnRH ou, ainda, de qualquer corpo lúteo presente originário de uma ovulação

espontânea anterior. Nas vacas em que houve ação sobre o folículo dominante,

estará presente um novo folículo no ovário no momento do segundo tratamento

com GnRH. As vacas que recebem a primeira administração de GnRH na fase de

pré-dominância do folículo não sofrem alteração da onda folicular, devendo-se

esperar que tenham um folículo dominante presente quando do segundo tra-

tamento com GnRH. A resposta ovulatória nas vacas leiteiras torna-se bastante

sincronizada, ocorrendo aproximadamente de 26 a 32 horas após a segunda

injeção de GnRH. Assim, uma inseminação programada para 17 a 24 horas após

o GnRH deve resultar em uma alta probabilidade de concepção bem-sucedida

(Peters et al., 1999).

Figura 39: Protocolo Ovsynch; FD, folículo dominante. FONTE: INTERVET (2006).

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

124 IEPEC

Figura 40: Foliculogênese em vacas tratadas com o Ovsynch. Fonte: INTERVET (2006).

O Ovsynch facilita a programação precisa da primeira IA pós-parto, ao mesmo

tempo em que melhora o desempenho reprodutivo. Além disso, reduz bastante

a necessidade de mão-de-obra pela eliminação da necessidade de detecção do

estro. Coleman et al. (1991) e Twagiramungu et al. (1992) observaram que a taxa

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

125O portal do agroconhecimento

de fertilidade de vacas sincronizadas com GnRH e PGF2α variou entre 35 e 65 % e

foi semelhante à dos animais controle, inseminados no primeiro estro observado.

3.4.1.1.1 Eficácia do protocolo Ovsynch

A eficiência da sincronização do estro e da ovulação dos protocolos baseados em

GnRH-PGF2α depende do estágio de desenvolvimento folicular no momento da

primeira injeção de GnRH. A fertilidade obtida com o protocolo Ovsynch é mais

alta quando as vacas ovulam após a primeira injeção de GnRH. Vasconcelos et al.

(1999) avaliaram a influência do dia do ciclo estral em que se inicia o Ovsynch e

as taxas de prenhez resultantes em vacas leiteiras lactantes (Tabela 6).

Tabela 6: Eficácia do protocolo Ovsynch iniciada em dias diferentes do ciclo estral.

Dia do ciclo estralOvulação na 1ª inje-

ção de GnRHOvulação na 2ª inje-

ção de GnRH

1-4 23 % 94 %

5-9 96 % 89 %

10-16 54 % 85 %

17-21 77 % 81 %

Geral 64 % 87 %

Fonte: VASCONCELOS et al. (1999).

Deste estudo pode-se concluir que é possível obter maiores taxas de concepção

quando se inicia o protocolo Ovsynch entre os dias 5 e 12 do ciclo estral. Entre-

tanto, monitorar o ciclo estral da vaca para selecionar o momento mais promissor

para iniciar o protocolo Ovsynch não é viável e, de certa forma, vem contra toda a

ideia de praticidade deste sistema, de não depender do estágio do ciclo da vaca.

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

126 IEPEC

Vários estudos conduzidos durante os últimos anos compararam as taxas de

prenhez obtidas com o uso do protocolo Ovsynch e outros programas de ma-

nipulação do estro, tais como o uso de prostaglandinas, progestágenos, várias

modificações do protocolo Ovsynch e monta natural. Rabiee et al. (2005) com-

parou os resultados obtidos em inúmeros experimentos com o uso do protocolo

Ovsynch, monta natural, injeção única, dupla ou tripla de prostaglandina, Select

Synch, Heat Synch e Ovsynch modificado. Esses autores concluíram que as ta-

xas de prenhez para os programas Ovsynch não diferiam significativamente das

taxas obtidas com a monta natural. Além disso, a probabilidade de concepção

e prenhez não diferiu significativamente entre o grupo Ovsynch e as vacas trata-

das com prostaglandinas. A comparação da probabilidade de prenhez em vacas

tratadas com Ovsynch, Heat Synch e Select Synch não diferiu significativamente.

3.4.1.1.2 Modificações do protocolo Ovsynch

Tanto a resposta ovulatória quanto a função luteínica após a indução da ovulação

com GnRH são dependentes do tamanho dos folículos ovarianos no momento

da aplicação. A pré-sincronização e outras modificações do protocolo Ovsynch

clássico aumentam a probabilidade de que a ovulação seja induzida pela primeira

injeção de GnRH e de que ocorram a luteólise e uma melhor sincronização da

ovulação após a administração de prostaglandina e da segunda dose de GnRH.

Uma das modificações mais simples do sistema Ovsynch clássico é o denominado

protocolo Co-Synch (Figura 41). Neste protocolo, tanto a segunda injeção de GnRH

como a IA são realizadas ao mesmo tempo, ou seja, 48 horas após o tratamento

com prostaglandina (SMALL et al., 2000).

Desenvolveu-se um protocolo pré-sincronização antes da implantação do pro-

tocolo Ovsynch por meio de duas injeções de PGF2α, com 14 dias de intervalo,

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

127O portal do agroconhecimento

efetuando-se a primeira administração de GnRH 12 dias depois. O protocolo

Pre-Sync-Ovsynch proporcionou aumento das taxas de prenhez em 18 % (de 25

% para 43 %) nas vacas lactantes que estavam ciclando (MOREIRA et al., 2001).

A pré-sincronização pós-parto com GnRH também pode ser realizada 7 dias antes

do protocolo Ovsynch clássico. Este protocolo tem a vantagem de ser potencial-

mente eficaz, tanto nas vacas cíclicas quanto nas que se encontram em anestro

(THOMPSON et al., 1999; STEVENSON et al., 2000).

Figura 41: Modificações do protocolo Ovsynch. FONTE: CAVALIERI (2006).

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

128 IEPEC

A combinação de prostaglandina e GnRH para pré-sincronização antes do pro-

tocolo Ovsynch clássico ou Co-Synch também foi experimentada, com sucesso

variável, resultando em uma pequena melhora nas taxas de prenhez em relação

à IA final do Ovsynch (DEJARNETTE et al., 2003).

O protocolo Heat Synch, mais amplamente usado nos EUA, envolve a substitui-

ção da segunda injeção de GnRH por ésteres de estradiol (GEARY et al., 2000;

STEVENSON et al., 2004). Os adeptos deste sistema afirmam que o estradiol

melhora a sincronização da ovulação do folículo dominante e provoca aumento

da expressão comportamental de estro nas vacas tratadas. Com o aumento da

preocupação com o uso de estrógenos em animais para produção de alimentos,

e praticamente com a impossibilidade de seu uso na Europa, a aplicação desse

sistema fica limitada geograficamente.

A administração de hCG ou implantes contendo um potente agonista do GnRH,

a deslorelina, também vêm sendo utilizados para substituir a segunda dose de

GnRH no protocolo Ovsynch para indução da ovulação. O uso de hCG proporcionou

resultados comparáveis e taxas de prenhez semelhantes às de IA com GnRH (De

RENSISET al., 2002), mas a implantação de um protocolo com deslorelina resultou

em intervalos entre ovulações mais longos (BARTOLOME et al., 2004) devido à

dessensibilização do hipotálamo (PADULA et al., 2002 e 2005) e taxas mais baixas

de prenhez quando uma dose mais alta de deslorelina foi empregada (SANTOS

et al., 2004).

3.4.1.1.3 O protocolo Ovsynch e a dosagem de GnRH

Os primeiros estudos básicos sobre o uso de GnRH no protocolo Ovsynch, e para

indução da ovulação, haviam sido realizados com o uso de 8 mcg de um potente

análogo de GnRH, a buserelina. Em muitos estudos posteriores foi utilizada a

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

129O portal do agroconhecimento

gonadorelina, mas com uma dose de apenas 100 mcg. Essa dose de GnRH é

empregada rotineiramente nos EUA e se mostrou de considerável interesse em

muitos outros países, pois oferece a possibilidade de reduzir os custos do trata-

mento. Contudo, a redução da dose de gonadorelina representaria uma redução

substancial da potência biológica, uma vez que se estima que a buserelina seja

entre 40 e 200 vezes mais potente do que a gonadorelina (CHENAULT et al.,

1990).

Desde então, muitos autores têm questionado a eficácia de uma dose reduzi-

da de gonadorelina para a indução da ovulação, principalmente nos sistemas

complexos de sincronização do tipo Ovsynch, nos quais a indução da ovulação

em alta porcentagem das vacas determina tanto a precisão quanto a eficácia da

sincronização. Demonstrou-se que doses mais baixas de gonadorelina (25 mcg e

100 mcg) são eficazes apenas parcialmente (100 mcg) ou insuficientes (25 mcg)

para ovular um folículo dominante em fase luteínica (Mihm et al., 1998).

A sincronização da ovulação foi de apenas 68 % nas vacas que estavam ciclando,

conforme relatado por Cartmill et al. (2001), quando se utilizou uma dose de

gonadorelina de 100 mcg no protocolo Ovsynch. Ao mesmo tempo, Fricke et al.

(1998) e Vasconcelos et al. (1999) obtiveram resultados similares, em termos

de taxas de indução de ovulação, quando utilizaram doses padrão baixas de

gonadorelina. No entanto, alguns estudos recentes têm indicado que muitas das

ovulações induzidas com dose mais baixa de gonadorelina podem não resultar

na formação de um corpo lúteo normal.

Isso, por sua vez, teria um efeito claramente deletério sobre a manutenção da

prenhez e sobre as taxas de prenhez das vacas tratadas. Cordoba e Fricke (2002)

e Shephard (2002) relataram um aumento da incidência de ciclos curtos em

vacas tratadas com o protocolo Ovsynch quando doses de 50 mcg ou 100 mcg de

gonadorelina foram utilizadas, encurtamento da fase luteínica e falha na concep-

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

130 IEPEC

ção. Esses ciclos curtos ocorreram tanto nas vacas que estavam ciclando como nas

que se encontravam em anestro. É provável que a formação anormal do corpo

lúteo esteja associada ao fato de que a dose reduzida de GnRH apresente eficácia

limitada sobre a atresia do folículo, ovulação e o desenvolvimento do corpo lúteo.

3.4.2 Progestágenos (P4)

Existem atualmente no mercado produtos eficientes que liberam progesterona

(dispositivos intravaginais, implantes auriculares e suplemento oral) para sincro-

nização do estro e da ovulação. Esses produtos são utilizados por um período de 7

a 12 dias, dependendo do protocolo estabelecido. A finalidade desses tratamen-

tos é manter altos os níveis de progesterona circulantes e suprimir a liberação

endógena do pico de LH, simulando a fase luteínica do ciclo estral. A regressão

luteínica é alcançada pela aplicação de estradiol no início do tratamento ou pela

administração de prostaglandinas no momento da remoção do implante.

Uma característica de todos os sistemas atuais baseados em implantes de pro-

gesterona é a administração de estradiol exógeno no início do tratamento para

encurtar a fase luteínica e provocar a atresia do folículo dominante, induzindo a

emergência de uma nova onda folicular.

Essa segunda função dos ésteres de estradiol, usados em conjunto com os im-

plantes de progesterona, é de especial importância, uma vez que todos os siste-

mas liberadores de progestágeno/progesterona geram níveis sub-luteínicos de

progesterona na circulação de vacas tratadas. Esses níveis são suficientes para

criar um feedback negativo e evitar um pico pré-ovulatório de LH e ovulação.

Entretanto, são incapazes de bloquear totalmente a liberação de LH, mantendo-

se uma pequena secreção pulsátil, permitindo a persistência de um folículo do-

minante caso ele esteja presente no ovário no início do tratamento. Sabe-se que

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

131O portal do agroconhecimento

quando a duração da dominância do folículo ovulatório ultrapassa 4 dias (folículo

dominante persistente), há um declínio progressivo na fertilidade em virtude

da redução da competência do oócito, e a um aumento da perda embrionária

(DISKIN et al., 2002).

O estradiol exógeno, administrado conjuntamente com o progestágeno, suprime

a formação ou provoca atresia do folículo dominante, quando administrado antes

ou durante a emergência da onda, presumivelmente devido à supressão do FSH

e, talvez, do LH. Quando a seleção do folículo já tiver ocorrido, esse tratamen-

to resulta também na atresia do folículo dominante. O tratamento das vacas

classificadas como em anestro anovulatório com baixas doses de progestágenos

durante 6 a 8 dias raramente induz a formação de folículos dominantes persis-

tentes, como se esperaria que ocorresse em vacas cíclicas sem a presença de um

corpo lúteo funcional (McDOUGAL et al., 2004).

Quando se utiliza um éster de estradiol de vida curta, como o benzoato de es-

tradiol, no início de um tratamento de sincronização com progestágeno, mesmo

que a duração do tratamento seja estendida para 12 dias, não é possível provocar

regressão completa do corpo lúteo em todos os animais no término do trata-

mento com progestágeno. Consequentemente, é altamente recomendável que a

PGF2α seja administrada na retirada do dispositivo, ou antes dela, para assegurar

a regressão do corpo lúteo nos animais que não responderem ao estradiol.

O implante auricular subcutâneo, utilizado para sincronização do crescimento foli-

cular e da ovulação por um período de aproximadamente nove dias. Os implantes

auriculares de progestágenos contêm norgestomet (progesterona sintética), que

apresenta potência cerca de 200 vezes superior à da progesterona natural. Assim,

o implante silástico possui 3 mg de norgestomet. O implante de silicone provoca

a liberação do progestágeno de forma homogênea e linear (KESLER et al., 1995).

As desvantagens deste dispositivo são o número de usos (no máximo 2 usos)

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

132 IEPEC

por tratamento, necessidade de se fazer uma incisão para inserção do implante,

dificuldade em retirar o implante e o risco de infecção no local da inserção,

podendo causa a perda da orelha do animal.

Na Tabela 7 estão indicados os principais protocolos de sincronização da ovulação

para inseminação artificial em tempo fixo com o uso de Crestar® (MSD).

Tabela 7: Protocolos de IATF com o uso do Crestar® (MSD) em diferentes categorias de animais do rebanho leiteiro.

Categoria animal

Dia 0 Dia 6 Dia 9 IATF

Novilhas

Implante do Crestar® e

administração de 2 mg de benzoato de

estradiol

-----1 mg de

benzoato de estradiol

48-54 horas após a remoção do

implante

Vacas de leite de baixa

produção

Implante e injeção de Crestar®

-----

Remoção do implante e injeção de

300-500 UI de eCG

56 horas após a remoção do

implante

Vacas de leite de alta

produção

Implante e injeção de Crestar®

Administração de prostaglan-

dina

Remoção do implante e injeção de

300-500 UI de eCG

56 horas após a remoção do

implante

Os dispositivos intravaginais contêm progesterona natural e atingem níveis san-

guíneos em torno de 4 a 5 ng/ml durante sua permanência. Estes níveis são

suficientes para suprimir o pico de LH. No entanto, as quantidades de progeste-

rona liberadas são adequadas para promover o crescimento de ondas foliculares

durante o tratamento. As vantagens deste dispositivo em relação ao auricular

é o número de usos por tratamento (até 4 usos, dependendo do laboratório),

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

133O portal do agroconhecimento

siliconado, liberação lenta, facilidade em retirar o implante, mais rentável por

unidade de dispositivo pelo número de usos e não causa infecções vaginais

quando bem protocolados. Os protocolos envolvendo os dispositivos intravaginais

serão discutir mais adiante.

3.4.2.1 Repetição da sincronização do estro nas vacas que não

concebem a sincronização

Várias estratégias vêm sendo utilizadas para a repetição da sincronização no

retorno ao estro em vacas previamente sincronizadas, no intuito de aumentar o

número de vacas inseminadas de uma forma oportuna. Estas estratégias incluem

o uso de dispositivos liberadores de progesterona ou a inclusão de vacas previa-

mente inseminadas em protocolos do tipo Ovsynch. Pode-se iniciar o protocolo

Ovsynch no dia 21 ou 28 após uma inseminação anterior, aplicando-se prosta-

glandina apenas nas vacas vazias, diagnosticadas por ultrassonografia, obten-

do-se taxas de prenhez semelhantes às da inseminação anterior relatadas por

Chebel et al. (2003). Bartolome et al. (2005) relataram resultados semelhantes

após a repetição da sincronização com Ovsynch e Heat Synch de vacas previa-

mente inseminadas e detectadas aos 27 dias como não-gestantes. As fêmeas

que repetiram estro poderão ser incorporadas, também, ao protocolo simples da

prostaglandina, como citados anteriormente. As maiores vantagens são o baixo

custo e a maior probabilidade de se obter altas taxas de prenhez com um estro

muito fértil (> 85 %).

3.4.3 Estrógenos (E2)

Os ésteres de estradiol, tais como benzoato, cipionato e valerato, são comumente

usados para indução da ovulação nos protocolos de fêmeas bovinas. No entanto,

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

134 IEPEC

características peculiares da atividade desses fármacos devem ser esclarecidas

para que se obtenha resultados de prenhez satisfatórios nos protocolos IATF.

O Benzoato de Estradiol (BE) é sabidamente uma preparação farmacológica de

tempo de meia-vida mais curto que o Cipionato (CE) e o Valerato de Estradiol

(VE). Vemos na Figura 42 que a ação farmacológica do BE, CE e VE são de 3, 7-9

e 10-12 dias, respectivamente.

Isso significa que o benzoato de estradiol tem um tempo de atuação mais pon-

tual, fazendo com que sua atuação seja mais sincrônica que o cipionato e o va-

lerato. Essa maior sincronia do benzoato está descrita em diversos experimentos

onde se acompanhou, por ultrassonografia, a dinâmica de ovulações do grupo

sincronizado. Nesses experimentos houve uma menor variação de tempo entre

a primeira e a última ovulação das vacas tratadas com BE. Com o benzoato, as

fêmeas ovularam num intervalo bem menor do que 24 horas, enquanto que com

o cipionato, as fêmeas ovularam num intervalo igual ou maior do que 24 horas.

(REIS et al., 2004; MARTINS et al., 2005)

Figura 42: Comparação farmacológica dos 3 tipos de estradiol (Benzoato, Valerato e Cipionato). Fonte: TECNOPEC.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 Dias após

17ß estradiol

Benzoato de Estradiol

Cipionato de Estradiol

Valerato de Estradiol

1 2 3 4 5 6 7 8 9 Dias após

17ß estradiol

Benzoato de Estradiol

Cipionato de Estradiol

Valerato de Estradiol

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

135O portal do agroconhecimento

A Figura 43 resume de forma ilustrativa como a viabilidade espermática e a dis-

persão das ovulações nos protocolos IATF pode afetar a taxa de prenhez. Quando

o sêmen é de alta viabilidade (amarelo), portanto permanece fértil por longo

tempo após a IA, cobrindo todas as ovulações no período, a taxa de prenhez será

satisfatória independente do indutor de ovulação. Já o sêmen de menor viabilida-

de (azul), com tempo de durabilidade menor, o resultado será mais satisfatório

somente em protocolos onde o intervalo de ovulações entre as fêmeas for menor

e mais sincrônico, como observado na curva com o BE.

Dessa forma, como há uma grande variabilidade na fertilidade de sêmen dis-

ponível para uso na IA e considerando as diferenças na dispersão das ovulações

das fêmeas em função do agente indutor de ovulação no programas de IATF,

podemos concluir que corremos menores riscos de baixas taxas de prenhez quan-

do o sêmen é de baixa qualidade ao usarmos protocolos com indutores mais

eficientes, como o benzoato de estradiol.

Figura 43: Intervalo de Ovulações versus Viabilidade Espermática. Fonte: TECNOPEC.

70 hIATF

SEMEN VIABILITY

SEMEN VIABILITY

BE

CE

70 hIATF

SEMEN VIABILITY

SEMEN VIABILITY

BE

CE

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

136 IEPEC

Em novilhas, não se recomenda a utilização do valerato de estradiol (Crestar® -

MSD) para sincronização da onda folicular, uma vez que este hormônio provoca

excessivo bloqueio da liberação de LH, levando a falhas na sincronização.

Em estudos recentes, foram propostos sistemas nos quais a injeção de estradiol

foi substituída pela administração de GnRH no início do tratamento (THOMPSON

et al., 1999; STEVENSON et al., 2000; GARCIA et al., 2004). Essa mudança está

claramente associada à proibição do uso de ésteres de estradiol em animais para

produção de alimentos na Europa. Caso a sincronização da onda folicular não

seja feita com valerato de estradiol, é necessário efetuar-se a administração de

uma baixa dose (0,5 a 1,0 mg) de benzoato de estradiol cerca de 24 horas após

a retirada do progestágeno. Isso aumenta a precisão do momento do início do

estro, melhora a expressão comportamental do estro e, induz mais precisamente

o momento do pico de LH e o momento da ovulação.

3.5 Protocolos de IATF (base implantes intravaginais com progesterona)

São vários os protocolos de IATF, mas todos tem uma base em comum que é a

utilização da progesterona. Serão expostos a seguir vários protocolos hormonais

com boas taxas de prenhez (40 a 60 %).

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

137O portal do agroconhecimento

Tabala 8: Protocolo de IATF para vacas leiteiras de alta produção, contendo Progesterona (P4), Benzoato de Estradiol (BE), FSH, PGF

2α e GnRH.

Opção 1 Opção 2 Protocolo hormonal

Dia 0 às 6h Dia 0 às 6h Inserir P4 + 3 mL de BE

Dia 8 às 6h Dia 8 às 16h Retirar P4 + 1 mL de FSH + 2 mL de PGF2α

Dia 10 às 6h Dia 10 às 16h 1 mL de GnRH

Dia 10 às 18h Dia 11 às 6h Inseminar todo o lote

Indicações deste protocolo:

» Animais com média condição corporal (2,5);

» Animais com intervalo pós-parto maior que 50 dias;

» Animais com presença de CL, o uso do FSH é opcional.

Tabela 9: Protocolo de IATF para vacas leiteiras mestiças, contendo Progesterona (P4), Benzoato de Estradiol (BE), FSH e PGF

2α.

Dia e horário Protocolo hormonal

Dia 0 às 8h Inserir P4 + 2 mL de BE

Dia 8 às 8h Retirar P4 + 1 mL de FSH + 2 mL de PGF2α

Dia 9 às 8h 1 mL de BE

Dia 10 às 12h Inseminar todo o lote entre 12:00 e 18:00

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

138 IEPEC

Indicações deste protocolo:

» Vacas leiteiras com produção igual ou menor a 20 Kg/dia.

» Animais com média condição corporal (2,5);

» c)Animais com intervalo pós-parto maior que 50 dias;

» Animais com presença de CL, o uso do FSH é opcional.

Os resultados de programas de IATF com sêmen sexado ainda têm se mostrado

inconsistentes. Uma alternativa do seu uso em programas de sincronização, é o

uso de protocolos mistos, no qual se realiza a sincronização folicular, porém sem

o estimulo final à ovulação, que ocorrerá naturalmente. Neste caso se faz neces-

sária a observação de cios. Os animais que não apresentarem cios até 54 horas

após a retirada do dispositivo podem ser inseminados em tempo fixo com sêmen

convencional de baixo custo administrando junto uma dose de GnRH (Tabela 10).

Esse tipo de protocolo também pode ser utilizado para se aumentar a eficiência

de uso de doses de sêmen de alto valor, diminuindo as perdas de sêmen (alta

taxa de concepção), porém comprometendo um pouco a taxa de serviço (o que

pode compensar pelo alto custo das doses).

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

139O portal do agroconhecimento

Tabela 10: Protocolo de IATF com o uso de sêmen sexado ou de alto custo, contendo Progesterona (P4), Benzoato de Estradiol (BE), FSH, PGF

2α e GnRH.

Dia e horário Protocolo hormonal

Dia 0 às 8h Inserir P4 + 2 mL de BE

Dia 8 às 8h Retirar P4 + 1 mL de FSH + 2 mL de PGF2α

Dia 9 a 10 (até 54 horas) Observação do estro (inseminar 12 horas após o registro do estro)

Dia 10 às 14hNas vacas que não manifestaram o estro,

administrar 1 ml de GnRH e inseminar com sêmen convencional.

Outra opção de protocolo de IATF para o uso de sêmen sexado é demonstrado

na Tabela 11, onde usa-se somente a progesterona, benzoato de estradiol e

prostaglandina. Pode-se incrementar o protocolo com a aplicação de 1 mL de

GnRH no momento da IA.

Tabela 11: Protocolo de IATF com o uso de sêmen sexado ou de alto custo, contendo somente Progesterona (P4), Benzoato de Estradiol (BE), PGF

2α e GnRH.

Dia e horário Protocolo hormonal

Dia 0 às 8h Inserir P4 + 2 mL de BE

Dia 7 às 8h Retirar P4 + 3 mL de PGF2α

A partir do Dia 7 Observação do estro (inseminar 12 horas após o registro do estro + 1 mL GnRH)

Recentemente, tem sido utilizada a base dos protocolos de IATF para a indução

da puberdade de novilhas (corte e leite) no intuito de antecipar a cronologia

puberal destes animais. Na realidade, não é IATF e sim um programa de indução

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

140 IEPEC

hormonal. Na Tabela 12 e 13, temos a descrição deste programa em 2 etapas,

respectivamente.

O aporte exógeno de progesterona + estrógeno é capaz de acelerar a entrada em

puberdade de novilhas pré-púberes, pois simula uma condição fisiológica, primei-

ro na produção de estrógeno pelo folículo e depois na produção de progesterona

pelo corpo lúteo. A progesterona estimula o desenvolvimento do endométrio

e suas glândulas e prepara o útero para a gestação. O estrógeno possui ampla

função sobre o trato reprodutivo, atuando na sinalização do comportamento do

estro e na maturação das glândulas uterinas e mamárias.

Tabela 12: Etapa 1 do programa de indução de puberdade em no-vilhas, contendo Progesterona (P4) e Benzoato de Estradiol (BE).

Dia e horário Protocolo hormonal (Etapa 1)

Dia 0 às 8h Inserir P4 + 2 mL de BE

Dia 8 às 8h Retirar P4 + 1 mL de BE

Dia 20 ao 30 Início dos programas reprodutivos

Tabela 13: Etapa 2 do programa de indução de puberdade em novilhas, contendo Progesterona (P4), Benzoato de Estradiol (BE), FSH, PGF

2α e LH (Lutropin® - Bioniche).

Dia e horário Protocolo hormonal (Etapa 1)

Dia 0 às 8h Inserir P4 + 2 mL de BE

Dia 9 às 8h Retirar P4 + 1 mL de FSH + 0,5 mL de BE + 1,5 mL de PGF2α

Dia 11 às 8-10h Inseminação + 3,12 mg de LH (Lutropin®)

Para novilhas leiteiras, pode-se utilizar o protocolo da Tabela 3.9, com possibili-

dade de substituição do benzoato pelo cipionato.

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

141O portal do agroconhecimento

Tabela 14: Protocolo de IATF para novilhas leiteiras, contendo Pro-gesterona (P4), Benzoato de Estradiol (BE), PGF

2α e Cipionato de Estradiol (CE).

Dia e horário Protocolo hormonal

Dia 0 às 8h Inserir P4 + 2 mL de BE

Dia 7 às 8h 2,5 mL de PGF2α (Lutalyse®)

Dia 9 às 8h Retirar P4 + 0,3 mL de CE

Dia 11 às 8-10h IATF

Outros protocolos para vacas em lactação se baseiam na utilização o eCG como

indutor do crescimento folicular (Tabela 15), ao invés do FSH. Nestes protocolos,

sugerimos realizar somente uma sessão com o eCG em virtude da produção de

anticorpos pelo organismo. Assim, em caso e retorno ao estro, substituir o eCG

pelo FSH. A vantagem deste protocolo é que maneja-se os animais somente 3

vezes. Caso não queira utilizar a inseminação em tempo fixo, os animais deverão

ser inseminados 12 horas após a observação do estro, com a aplicação de 2,5

mL de GnRH.

Tabela 15: Protocolo de IATF para vacas leiteiras, contendo Proges-terona (P4), Benzoato de Estradiol (BE), Gonadotrofina Coriônica Equina (eCG), PGF

2α, Cipionato de Estradiol (CE) e GnRH.

Dia e horário Protocolo hormonal

Dia 0 às 8h Inserir P4 + 2 mL de BE

Dia 8 às 6h Retirar P4 + 200 UI de eCG + 2 mL de PGF2α + 2 mL de CE

Dia 10 às 14h IATF + 2,5 mL de GnRH

Na Tabela 16, tem-se o protocolo de IATF com eCG , ao invés do FSH, para vacas

mestiças. Este protocolo também tem a vantagem de manejar os animais so-

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142 IEPEC

mente por 3 dias.

Tabela 16: Protocolo de IATF para vacas mestiças, contendo Pro-gesterona (P4), Cipionato de Estradiol (CE), PGF

2α e Gonadotrofina Coriônica Equina (eCG).

Dia e horário Protocolo hormonal

Dia 0 às 8h Inserir P4 + 1 mL de CE

Dia 7 às 8h 2,5 mL de PGF2α

Dia 9 às 8h Retirar P4 + 200 UI de eCG + 0,5 mL de CE

Dia 11 às 8h IATF

3.5.1 Uso do FSH na IATF

O uso de gonadotrofina folículo estimulante (FSH) mostrou-se eficiente em es-

timular o crescimento folicular final em rebanhos com baixo grau de ciclicidade,

animais recém-paridos (período pós-parto inferior a 3 meses) e em animais com

condição corporal comprometida (4 a 5 na escala 1-9; abaixo de 3, na escala de

1-5). A partir de 2006, intensas pesquisas têm sido realizadas com uso de FSH

em protocolos IATF e TETF.

Os motivos para estas pesquisas foram a busca de soluções eficientes para as

limitações que se apresentaram no decorrer desse período de utilização do eCG,

que estão ligadas principalmente a antigenicidade da molécula (alto peso mo-

lecular) e a dificuldade no aumento de produção para atender a demanda do

crescente uso desses protocolos. Lembrando que o uso de eCG na primeira sessão

de IATF apresenta resultados tão satisfatórios quanto o uso do FSH. Porém, a

partir do segundo uso do eCG na mesma vaca, há uma grande probabilidade

deste animal não reagir ao hormônio devido a produção de anticorpos contra

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

143O portal do agroconhecimento

esta molécula hormonal.

3.6 Equipamentos e materiais necessários para a IATF

O material básico utilizado nos programas de IATF são os seguintes:

a) Tronco de contenção;

b) Aplicador de progestágeno;

c) Balde;

d) Dispositivo intravaginal com P4;

e) Luva descartável;

f) Seringas e agulhas;

g) Hormônios (dependendo do protocolo);

h) Papel toalha;

i) Algodão e álcool iodado;

j) Tesoura;

k) Luva de palpação;

l) Ficha de anotação, prancheta e caneta;

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

144 IEPEC

m) Kilol®;

n) Material de IA

3.7 Estratégias para incrementar a taxa de concepção à IATF

Estratégias que visam melhorar a taxa de concepção em vacas leiteiras e que

podem ser utilizadas concomitantemente à IATF, pois podem incrementar os

resultados. Deve-se, no entanto, avaliar o custo-benefício das técnicas dentro da

realidade de cada propriedade.

» Administração de análogos de GnRH, 7 dias após a IA: esse mane-

jo induz a ovulação do folículo dominante da 1ª onda de desenvol-

vimento folicular, que se inicia 1 dia após a ovulação ocorrida na

IA. Esse manejo gera um corpo lúteo acessório. Aumenta a produ-

ção de progesterona, podendo melhorar as taxas de prenhez, por

diminuir os índices de perda embrionária;

» Suplementação alimentar com Ácidos Graxos Omega 3: a ingestão

de 10 gramas/dia de ácidos graxos Omega 3, durante o período

reprodutivo, melhora a taxa de concepção na IA, diminuindo o

índice de perda embrionária, motivada pela regressão precoce do

corpo lúteo. Os ácidos graxos Omega 3 mudam a cadeia de de-

gradação do ácido Araquidônico, resultando em Prostaglandinas

do Tipo E (ao invés de PGF2α), que não são ativas na lise do corpo

lúteo. Algumas fontes de Omega 3 são óleo de peixe e gordura

protegida de óleo de palma.

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

145O portal do agroconhecimento

3.8 Dicas Importantes

» Em vacas de raças europeias ou sintéticas (corte e leite), devido às

diferenças no metabolismo da progesterona em relação aos zebu-

ínos e cruzados, recomenda-se reutilizar o mesmo progestágeno

por duas vezes. Existindo a possibilidade da 3ª utilização somente

em novilhas, ou vacas secas que são animais com metabolismo de

progesterona mais lento;

» Não trabalhar com animais com escore de condição corporal muito

comprometida ou com balanço energético negativo intenso (perda

de peso). Mesmo nos melhores programas, o efeito da nutrição

e da condição corporal é sempre significante (mínimo de 2,5 de

ECC);

» Utilizar uma planilha para controle das administrações hormonais.

Todos os animais devem passar por todas as administrações. Uma

falha em uma aplicação significa perda de prenhez do animal.

Muitas falhas comprometem o resultado final. Uma sugestão de

planilha está disponível para download no portal IEPEC. Notar o

espaço para anotação da condição corporal e intervalo pós-parto.

Estes dados ajudam a entender o resultado final e realizar corre-

ções em um próximo programa, caso seja necessário;

» Descongelar o sêmen conforme as instruções do fornecedor. No

caso de um lote com muitos animais, dispor de uma pessoa exclu-

sivamente para descongelar e montar os aplicadores, para agilizar

o serviço;

» No caso de lotes com mais de 50 animais, fazer rodízio de insemi-

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

146 IEPEC

nadores. Já está provado que a partir de 50 inseminações, quando

feita somente por 1 inseminador, a taxa de prenhez diminui e a

taxa de retorno ao estro aumenta.

» Utilizar sempre sêmen de qualidade;

» Não estressar desnecessariamente os animais nas aplicações e

na IA;

» Não é necessária uma estrutura complexa para a realização da

IATF. Com um bom curral, tronco de contenção e um inseminador

experiente pode-se inseminar um grande número de animais por

dia. Quanto melhor o curral maior poderá ser o tamanho do lote

trabalhado

» O criador não necessita ter o botijão de sêmen e o material de in-

seminação, podendo alugar ou emprestar esse equipamento pelo

período curto em que realizar o trabalho;

Organização: horário, dia, critério com o manejo dos animais, manipulação dos

hormônios com luva descartável, contenção adequada dos animais e higiene.

3.9 Considerações finais

Atualmente, não existe o melhor protocolo para a sincronização e/ou indução de

estro para os animais de produção. E, sim, o melhor planejamento hormonal para

melhorar o status reprodutivo do rebanho, a baixo custo. A partir desta filosofia,

com os conhecimentos da biologia reprodutiva dos bovinos, cada propriedade

pode adotar seu protocolo de IATF ou similares para melhorar a saúde e os índices

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Capítulo 3IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite

147O portal do agroconhecimento

reprodutivos do rebanho.

Material Complementar

.pdf

Manual TECNOPEC. Novidades IATF em novilhas: soluções técnicas

TECNOPEC.

capitulo-3-arquivo-1.pdf

Manejo reprodutivo da fêmea leiteira.

capitulo-3-arquivo-2.pdf

Manual técnico sobre Sincronização e Inseminação Artificial em

Tempo Fixo (IATF) em bovinos.

capitulo-3-arquivo-3.pdf

TECNOPASTO. Manual de Inseminação Artifical em Tempo Fixo

(IATF) em gado leiteiro.

capitulo-3-arquivo-4.pdf

Protocolos de inseminação artificial em tempo fixo para vacas

mestiças leiteiras.

capitulo-3-arquivo-5.pdf

Uso do IATF e sêmen sexado na atualidade.

capitulo-3-arquivo-6.pdf

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Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)em Bovinos Leiteiros

148 IEPEC

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