inselbergs e sua gÊnese no semi-Árido baiano · uma erosão específica de clima ... recursos...

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INSELBERGS E SUA GÊNESE NO SEMI-ÁRIDO BAIANO Gleize Cerqueira de Souza (Graduanda em Geografia- UEFS) [email protected] Karine de Cerqueira S. Oliveira (Graduanda em Geografia- UEFS) [email protected] Mílvia Oliveira Cerqueira (Graduanda em Geografia- UEFS) [email protected] RESUMO:O domínio semi-árido baiano é caracterizado por possuir altas temperaturas e amplitude térmica diária, chuvas irregulares e mal distribuídas, altos índices de evaporação, intermitência de rios, solos rasos e a vegetação xerófila. Na geomorfologia da região, destaque para a Depressão Sertaneja, que possui um perfil morfológico notadamente contrastante: pediplano sertanejo, com áreas desgastadas, pediplanadas, com relevos residuais típicos, os inselbergues. O objetivo pleiteado pelo presente trabalho consiste na análise da origem dos relevos residuais inselbergues no Semi-árido baiano, tomando por base a Teoria da Pediplanação. A metodologia adotada perpassa pela revisão bibliográfica de autores que estudaram e pesquisaram o semi-árido baiano, as teorias que abarcam a pediplanação, e observações de campo. A Teoria da Pediplanação tem por princípios a análise da evolução do relevo, ocasionado dentre outros fatores pela termoclastia, fator importante na erosão em ambientes secos, ocasionando a desagregação mecânica (esfoliação esferoidal), erosão regressiva (recuo paralelo das encostas), modelagem dos relevos residuais, e formação de pediplano, através da sobreposição de pedimentos. Contudo, infere-se que a origem e evolução gradual dos inselbergues no semi-árido baiano, assim como no nordeste brasileiro, estão associadas a uma dinâmica evolutiva do relevo, pertinente às peculiaridades fisiográficas da região, essas feições são relevos que possuem maior resistência a desagregação mecânica, pelas condições litológicas de seu substrato rochoso, conseqüentemente, são considerados relevos residuais. Palavras-chave: Semi-árido baiano, Inselbergues, Teoria da Pediplanação, Paleoclimas.

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INSELBERGS E SUA GÊNESE NO SEMI-ÁRIDO BAIANO

Gleize Cerqueira de Souza (Graduanda em Geografia- UEFS)

[email protected]

Karine de Cerqueira S. Oliveira (Graduanda em Geografia- UEFS)

[email protected]

Mílvia Oliveira Cerqueira (Graduanda em Geografia- UEFS)

[email protected]

RESUMO:O domínio semi-árido baiano é caracterizado por possuir altas

temperaturas e amplitude térmica diária, chuvas irregulares e mal distribuídas, altos índices de evaporação, intermitência de rios, solos rasos e a vegetação xerófila. Na geomorfologia da região, destaque para a Depressão Sertaneja, que possui um perfil morfológico notadamente contrastante: pediplano sertanejo, com áreas desgastadas, pediplanadas, com relevos residuais típicos, os inselbergues. O objetivo pleiteado pelo presente trabalho consiste na análise da origem dos relevos residuais inselbergues no Semi-árido baiano, tomando por base a Teoria da Pediplanação. A metodologia adotada perpassa pela revisão bibliográfica de autores que estudaram e pesquisaram o semi-árido baiano, as teorias que abarcam a pediplanação, e observações de campo. A Teoria da Pediplanação tem por princípios a análise da evolução do relevo, ocasionado dentre outros fatores pela termoclastia, fator importante na erosão em ambientes secos, ocasionando a desagregação mecânica (esfoliação esferoidal), erosão regressiva (recuo paralelo das encostas), modelagem dos relevos residuais, e formação de pediplano, através da sobreposição de pedimentos. Contudo, infere-se que a origem e evolução gradual dos inselbergues no semi-árido baiano, assim como no nordeste brasileiro, estão associadas a uma dinâmica evolutiva do relevo, pertinente às peculiaridades fisiográficas da região, essas feições são relevos que possuem maior resistência a desagregação mecânica, pelas condições litológicas de seu substrato rochoso, conseqüentemente, são considerados relevos residuais.

Palavras-chave : Semi-árido baiano, Inselbergues, Teoria da Pediplanação,

Paleoclimas.

1. INTRODUÇÃO O Nordeste brasileiro localiza-se entre 6º e 16º de latitude Sul e entre

35º e 45º de longitude Oeste, banhado, a leste e norte, pelo Oceano Atlântico

Sul. Inserido no Nordeste está o domínio morfoclimático semi-árido (ver figura

1) - um domínio ou sistema morfoclimático consiste num conjunto de formas de

relevo submetidas à mesma tipologia climática (CUNHA, 2007).

Figura 1: Localização do semi-árido no Nordeste Brasileiro

O semi-árido baiano caracteriza-se por ter temperaturas médias entre 25

e 29°C, com alto nível de evaporação; precipitação média anual de 650mm,

ocorrendo de forma torrencial e má distribuída. Existência de longos períodos

de seca. Sua paisagem é composta por relevos baixos, desgastados,

arrasados; áreas deprimidas, pediplanadas com presença marcante dos

relevos residuais inselbergues (SEI, 2009).

A área é ambientalmente frágil, intermitência na hidrografia, solos rasos

e pedregosos, vegetação de Caatinga e Cerrado, marcada pelo uso e

LEGENDA

SEMI-ÁRIDO

ocupação desordenado do solo, com intenso desmatamento do bioma e

ampliação de pastagens e áreas para cultivo.

Inselbergues são ilhas de rochas, cuja evolução se faz em função de

uma erosão específica de clima seco, a esfoliação esferoidal. Esse termo

(inselbergue) foi introduzido pelo geólogo alemão Friedrich Bornhardt em 1900

para caracterizar montanhas pré-cambrianas, geralmente monolíticas, de

gnaisse e granito (GUERRA, 2001) (ver figura 2). São feições de relevo típicas

de domínio morfoclimático Semi-árido, considerados relevos residuais, ou seja,

aqueles que resistem às ações intempéricas e erosivas.

Figura 2: Inselbergue A pedra de Itaberaba (Itaberaba-BA)

Fonte: CERQUEIRA, 2010

O objetivo do presente trabalho consiste na análise da origem dos

relevos residuais inselbergues no Semi-árido baiano, tomando por base se

pesquisa a Teoria da Pediplanação. A metodologia adotada perpassa pela

revisão bibliográfica de autores que estudaram e pesquisaram o semi-árido

baiano, as teorias que abarcam a pediplanação, as análises dos relevos

residuais inselbergues, entre outros. Foram utilizadas anotações de trabalho de

campo realizado no município de Itaberaba-Bahia, além de fotos e figuras

extraídas de fontes diversas.

A estrutura deste artigo está organizada da seguinte forma:

• Primeira parte: Origem e caracterização do semi-árido baiano.

• Segunda parte: A relação entre o domínio morfoclimático semi-árido e a

Teoria da Pediplanação.

• Terceira parte: Processos evolutivos dos relevos residuais.

• Quarta parte: Notáveis inselbergues no semi-árido Nordestino e sua

importância para biomas.

2. DISCUSSÕES

2.1. ORIGEM DO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO

A aridez na América do Sul e África teve seu início a 135M.a. (milhões

de anos) na Era Mesozóica Superior, no Período Cretáceo, quando fraturou o

super-continente Gondwana, na direção norte-sul, ocasionando a formação do

oceano Atlântico Sul (ver figura 3).

Durante esse período ocorreram grandes erupções vulcânicas no oeste

da África, por conta disso, as lavas chegavam a alcançar parte da América do

Sul. Acerca de 95M.a. o clima começa a sofrer mudanças, aumentando

gradativamente as temperaturas, associadas a separação dos continentes,

bem como a origem do Atlântico Sul e as intensas atividades vulcânicas. Esse

aumento de temperatura resultou na escassez de água devida altos níveis de

evaporação, e por conseqüência modificou toda a dinâmica da natureza da

região. Representando a gênese da aridez do Nordeste Brasileiro, que por sua

vez localiza-se a leste da América do Sul, região que sofreu grandes

influências dos eventos ocorridos desde o Cretáceo Inferior, quando se iniciou

o fenômeno de separação do Gondwana (SALGADO-LABOURIAU, 1998).

Figura 3 : Formação do Atlântico Sul.

Fonte: SALGADO-LABOURIAU, 1998

2.2. CARACTERIZAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO

O Semi-árido brasileiro ocupa 86% do território Nordestino, compondo o

Polígono das Secas, que abrande os oito estados nordestinos (com exceção do

Maranhão) e o norte de Minas Gerais, onde vive 15% da população nacional

(Marengo, 2008).

A paisagem do semi-árido é composta por uma morfologia caracterizada

por dois conjuntos de formas contrastantes: as Depressões Sertanejas (ver

figura 4) compostas pelos pediplanos; e os relevos residuais típicos, os

inselbergs (VALE, 2006).

Figura 4 : Perfil leste-oeste da parte norte do Semi-Árido brasileiro

Fonte: ADAS,1998.

Para entender a Teoria da Pediplanação e o processo de origem dos

Inselbergues na região semi-árida da Bahia, é necessária a compreensão do

comportamento climático, que tem por característica ser a região semi-árida

mais chuvosa do mundo, além de ser a mais habitada; porém essa chuva, que

tem média anual de 650 mm, é má distribuída. O semi-árido tem dois períodos

destacados, um chuvoso e outro seco, intensificados pelo alto potencial de

evaporação de água, em função da enorme disponibilidade de energia desse

sistema, com temperaturas médias entre 25° e 29°C, atualmente com

significativo aumento decorrente do aquecimento global (SEI, 2009).

Significativa periodicidade de ocorrência do fenômeno da seca e escassez de

recursos naturais estão presentes neste domínio morfoclimático.

A principal característica do Nordeste brasileiro é a alta variabilidade

climática, que está associada à ocorrência de eventos extremos de secas,

devido às más distribuições de chuva no tempo e espaço, que acontecem

poucas vezes durante ao ano e de forma irregular, com maior concentração no

verão e outono, com existência de chuvas orográficas, ou seja, de relevo. Isso

acontece, porque nesta área recebe mais influência de massas de ar quentes e

secas (sotavento), por conta das serras funcionam como barreiras (barlavento)

para as massas úmidas provenientes dos ventos alísios de sudeste

(MENDONÇA, 2007).

Altas amplitudes térmicas diárias que ocorrem no Semi-árido provocam

a dilatação dos minerais da rocha durante o dia e contração durante a noite,

ocasionando a desagregação mecânica das rochas, ou seja, a termoclastia,

elemento que é principal causador da esfoliação esferoidal, tipo de erosão

característico de ambientes secos.

Hidrografia dotada de intermitência de rios e riachos, devido às elevadas

temperaturas existentes, à irregularidade das chuvas, à infertilidade de solos e

conseqüente desnudação, e ao uso inadequado dos recursos ambientais do

bioma caatinga, principalmente pela agropecuária, caracterizam o geoambiente

desta região (AB’ SÁBER, 2003).

3. A RELAÇÃO ENTRE O DOMÍNIO MORFOCLIMÁTICO SEMI-ÁR IDO E A

TEORIA DA PEDIPLANAÇÃO.

As feições atuais do relevo baiano dão testemunho da suntuosa

dinâmica de sua gênese, ou seja, as paisagens morfológicas que observamos

é somente uma etapa de um extenso ciclo ou uma seqüência de fases que

findaram e que ainda estão por vir.

A formação de relevos planos foi alvo de muitas interpretações por parte

de estudiosos da Geologia e Geomorfologia, dentre eles, Willian M. Davis e

Lester King, estes tentaram explicar a gênese destes relevos por meio de

teorias, a mesmas norteiam trabalhos científicos até a época atual. As teorias,

em geral, estão alicerçadas em observações geralmente empíricas, ou podem

ser frutos da dedução fundamentada de estudiosos da área. Para que esta

venha ser considerada verdadeira deve condizer com os eventos do mundo

real.

O semi-árido baiano é caracterizado por “pediplanos”, ou seja, por

relevos aplainados e algumas formas remanescentes ou residuais

denominados de inselbergs e serras. Estes relevos são resultantes de

domínios morfoclimáticos semi-áridos onde a vegetação é rarefeita, os solos

rasos e pedregosos, chuvas má distribuídas, bacias hidrográficas com rios

intermitentes; tais características fisiográficas tornam o ambiente favorável para

o embasamento do estudo a partir da Teoria da Pediplanação de Lester King e

2. Walter Penk (ver figura 5), propostas nas décadas de 50 e 60.

Figura 5: Recuo paralelo e origem dos inselbergues

Fonte: CASSETI, 2005

O semi-árido baiano a amplitude diária é considerável, em torno de

7°C, deste modo a termoclastia atua sobre a litolog ia das rochas, os minerais

dilatam durante o dia e contraem durante a noite, ocorrendo assim a

desagregação mecânica.

A erosão regressiva ocorre nas escarpas rochosas, estas são bastante

íngremes e recuam paralelamente a si mesmas, como uma casca de cebola,

resultantes da esfoliação esferoidal (ver figura 6). Segundo Cassetti (1994), a

evolução do recuo por um período de tempo com uma relativa estabilidade

tectônica permitiria o desenvolvimento de extensos pediplanos, razão por esta

teoria ser conhecida como pediplanação.

Figura 6: Esfoliação esferoidal

Fonte: CERQUEIRA, 2010

Com o gradativo solapamento das vertentes, origina-se o tálus – quebra

da vertente - são áreas de deposição de sedimentos logo abaixo da escarpa

rochosa, sendo de variados tamanhos sem organização estratigráfica.

Os pedimentos formam-se a partir das áreas de acumulação de

sedimentos que partem de relevos mais altos e vão se espalhando por toda a

depressão. Estes provocam entulhamento nas depressões e elevam-se os

níveis de base, que para Penk é qualquer ponto de um rio para os demais à

montante.

Os relevos residuais são facilmente encontrados por toda a região da

Bahia, com base na Teoria de Penk estes relevos são resultantes da erosão

diferencial, ou seja, as rochas mais resistentes permanecerão “ou por

saliências que permaneceram menos atacadas pela erosão em virtude de sua

posição nas áreas interfluviais.” (Christofoletti,1974)

As bajadas são relevos mais baixos - pequenas depressões –

encontrados nas áreas circunvizinhas aos inselbergs, podem acumular água na

estação chuvosa formando lagoas e acumulam bolsões de pedimentos, origina-

se assim, áreas aplainadas. Segundo Para Christofoletti (1974), com a soma e

a coalescência dos pedimentos, constituem as pediplanícies, isto é, as

superfícies aplainadas por pedimentação, também denominadas de

pediplanos, como é o caso do pediplano sertanejo presente em toda a

Depressão Sertaneja.

Figura 7: Campo de Inselbergues

Fonte: PEDRO HAUCK, 2010

4. PROCESSOS EVOLUTIVOS DOS RELEVOS RESIDUAIS

No Nordeste Brasileiro, os inselbergues distribuem-se ao longo da

Depressão Sertaneja, formando uma paisagem notadamente contrastante:

Pediplanos sobre uma Depressão periférica e interplanáltica, destacando-se a

presença marcante dos relevos residuais inselbergues (VALE, 2006).

As depressões periféricas e interplanálticas são áreas mais baixas em

relação aos planaltos que as circundam. São formas deprimidas com

superfícies erosivas planas e arrasadas, submetidas ao processo de

sedimentação. A Depressão sertaneja porta-se como local de depósitos dos

pedimentos que compõem os pediplanos sertanejos, que por sua vez, teve

formação iniciada no final do Terciário e início do Quaternário

(aproximadamente 1,6 M.a.) (CASSETI, 2005). Os pediplanos sertanejos foram

formados sobre escudos cristalinos -origem ígnea/metamórfica- mais

especificamente sobre o cráton de São Francisco.

As formas horizontalizadas, aplainadas e pediplanadas encontradas em

grande parte do Nordeste não iniciaram sua formação no regime climático

atual. A modelagem dessas formas está vinculada aos fenômenos

paleoclimáticos de climas agressivos, secos ou áridos. Os pediplanos e seus

respectivos residuais resultam de climas secos/áridos, por isso, para a

compreensão da gênese de relevos testemunhos como os inselbergues, deve-

se levar em conta a existência de um clima com grandes amplitudes térmicas

diárias, favorecendo a ocorrência de desagregação mecânica das rochas –

termoclastia (CASSETI, 1994).

Ocorreram muitas alternâncias entre períodos secos e úmidos,

associadas às glaciações, no decorrer do tempo geológico, mais

especificamente durante o Pleistoceno (Quaternário). Esses ciclos

morfoclimáticos foram grandes responsáveis pela modificação dos níveis de

pediplanação, ou seja, dos níveis de base da região nordestina.

Quando se inicia um período glacial como o Gunz (590.000 anos),

Mindel (476.000 anos), Riss (230.000 anos) e Würn (70.000 anos), se inicia

também um longo período semi-árido, pelo fato de a maior parte da umidade

do planeta ser proveniente dos oceanos, que em fases de glaciações, diminui

quase em toda totalidade a evaporação de água, havendo substituição da

chuva por precipitações em forma de neve, que se acumulam nas calotas

polares e expandem-se para os hemisférios; ocasionando desta forma o

eustatismo negativo, ou seja, regressão marinha, por conta do congelamento

de águas oceânicas.

São nos períodos glaciais que o processo de pediplanação torna-se

mais intenso, o qual afirma o importante papel da aridez para a modelagem de

feições de relevo. Por conta da existência de alta pressão ocasionada pelo

deslocamento dos centros anticiclonais tropicais para menores latitudes, há um

impedimento da ascensão de ar úmido, não havendo assim precipitação

pluviométrica, deixando o clima seco, semi-árido/árido em toda faixa

intertropical (CASSETI, 1994).

Esses fenômenos ocorrem de forma diferenciada em períodos

interglacias, onde a circulação atmosférica torna-se mais úmida e quente,

proporcionando o eustatisto positivo, ou seja, transgressão marinha, onde a

evaporação as águas oceânicas permite a ocorrência de chuvas de forma mais

regular,proporcionando uma reorganização da drenagem, e atuação do

intemperismo químico, como grande responsável pela decomposição das

rochas in situ e conseqüente formação de depósitos que poderão formar

futuros relevos residuais.

No caso do Nordeste brasileiro, isto é, na região baiana atualmente

apresenta um clima semi-árido, mesmo estando numa fase interglacial, em

fases glaciais havia predominância da aridez, portanto um clima mais seco e

agressivo do que o atual. Nesse período, a morfogênese mecânica com

pediplanação esteve notadamente presente, elevando os níveis de base,

representados hoje pelas superfícies de cimeira (superfícies de topo) dos

relevos residuais inselbergues, enquanto que em fases úmidas das interglaciais

(úmidas), houve entalhamento, elaboração de ravinas e erosão dos níveis de

base (ver figura 7) (CASSETI, 2010).

As feições de relevo, semelhantes aos inselbergues, encontradas em

regiões úmidas recebem o nome de Pão-de-Açúcar; essa diferenciação ocorre

pelo fato de que os inselbergues serem formas específicas de regiões semi-

áridas, e os Pães-de-Açúcar apresentar representante cobertura vegetal, o que

não ocorre nos inselbergues.

Figura 8: Oscilações climáticas elaboração de níveis de base

Fonte: CASSETI, 2005

Com isso, infere-se que os climas áridos e semi-áridos proporcionam a

evolução horizontal da paisagem, através do recuo paralelo das vertentes das

formas elaboradas nos climas úmidos, levando o relevo ao aplainamento. Em

contrapartida, o clima úmido é responsável pela evolução vertical do relevo,

através do entalhamento e gradiente topográfico entre os interflúvios e

talvegues (CASSETI, 1994).

5. NOTÁVEIS INSELBERGUES DO SEMI-ÁRIDO BAIANO

Figura 10: Milagres-BA Figura11 : Itaberaba-BA

Fonte:PEDRO HAUCK, 2010 Fonte: CERQUEIRA, 2010

6. IMPORTÂNCIA DOS INSELBERGS PARA BIOMAS

Os relevos residuais são estudados em varias regiões do mundo como

na África, Venezuela, nas Guianas, Bolívia, Brasil e Austrália. As formas de

vida encontradas nessas feições, são bastante diversificadas.

Os inselbergues são ricos em biodiversidade por não apresentarem

necessariamente o mesmo tipo de vegetação de seu entorno, como se fosse

uma ilha de pedra isolada. A importância dos inselbergues vai além da

peculiaridade de seus biomas, a exemplo, o uso em pedreiras que levam

muitos desses residuais às depredações do granito e gnaisse, utilizados na

pavimentação e construção civil.

Outra curiosidade sobre a riqueza de elementos encontrados nos

inselbergues é as plantas endêmicas, que são comercializadas por sua beleza

exótica (ver figura 14). Além dessas feições de relevo terem servido como

abrigo para habitantes pré-históricos, prova disso as pinturas rupestres

deixadas por esses povos (ver figura 15).

Figura 14: Cabeça-de-frade

Fonte: CACTOS-ART.BIZGALLERY.COM, 2010

Figura 15: Pinturas rupestres em inselbergues

Fonte: FRANÇA, 1997

Os inselbergues do Semi-árido baiano começaram a ser estudados em

1995 pelo projeto Flora dos inselbergues, desenvolvido pela UEFS

(Universidade Estadual de Feira de Santana), inicialmente na cidade de

Milagres-BA, expandindo-se para as cidades de Santa Teresinha, Itaberaba e

na região de Feira de Santana, todos municípios baianos. Esse projeto

registrou cerca de 600 espécies de plantas, como a Jurema ou Jerema,

Catingueira, Cactiformes e o Cansanção, a família da acerola e algumas

espécies de flores que cobrem e embelezam o lajedo. Além das Cabeças-de-

frade e de Xiquexiques, que predominam sobre esses inselbergues (FRANÇA,

1997).

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presença dos relevos residuais do semi-árido da Bahia é influenciada

pelas características climáticas. Tais características deram condições

evolutivas a sua formação, deste modo os inselbergues são relevos que

persistiram pelas condições litológicas de seu substrato rochoso,

conseqüentemente, dão testemunho de seqüência de fases passadas e

presentes, por tal razão são considerados relevos residuais.

A origem dos inselbergues na Bahia, assim como no nordeste brasileiro

pode estar associada a uma dinâmica evolutiva que perpassa pela Teoria da

Pediplanação de Lester King e Walter Penk. Essa relação se dá a partir do

conhecimento das características fisiográficas do nordeste do Brasil, entre elas:

alta sazonalidade, solos pouco espessos, rios intermitentes, entre outras.

Esses aspectos favorecem a formação gradual dos inselbergues, relevos que

King e Penk interpretaram em sua teoria.

Apesar de haver poucos estudos relacionados aos relevos residuais,

principalmente no que se diz respeito a seu detalhamento estrutural e sua

gênese.

O presente trabalho tem relevante importância por representar mais um

estudo sobre essas feições de relevo complementado às pesquisas

acadêmicas que abarcam este tema. Todo este artigo foi baseado em teorias,

pesquisas e análises renomadas inseridas na pesquisa geográfica.

8. REFERÊNCIAS

AB’SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo, SP: Ateliê Editorial, 2003.

CASSETI, Valter. Elementos de Geomorfologia. Goiânia. Editora:

UFG. 1994 CHRISTOFOLETTI, Antônio. Geomorfologia. São Paulo: Edgard

Blücher, Ed da Universidade de São Paulo, 1974. CUNHA, Sandra Baptista da GUERRA, Antonio Teixeira.

Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 7. ed Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

GUERRA, Antônio Teixeira. GUERRA, Antônio José Texeira. Novo

dicionário Geológico-Geomorfológico. 2ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2001

MENDONÇA, Francisco; DANNI-OLIVEIRA, Inês Moresco.

Climatologia, noções básicas e climas do Brasil. São Paulo. Editora: Oficina de textos. 2007.

SALGADO-LABOURIAU. Historia ecológica da Terra. São Paulo,

Editora: Edgard Blücher.1994.

FRANÇA, Flávio; MELO, Efigênia; SANTOS, Cosme Correia. Flora de inselbergs da região de Milagres, Bahia, Brasil: I. Caracterização da vegetação e lista de espécies de dois inselbergs. In Sitientibus, Feira de Santana, n17, p163-184, jul/dez 1997.

MARENGO, Jose A. Vulnerabilidade, impactos e adaptação à

mudança do clima no semi-árido do Brasil . BRASÍLIA,DF: PARCERIAS ESTRATÉGICAS. 2008.

Imagens: ADAS, Melhem. Panorama Geográfico do Brasil .12ed, São Paulo.

Editora: Simeone. 1998. BRASIL, Ministério da Integração Nacional. 2005 CERQUEIRA, Mílvia Oliveira. Análises de campo. HAUCK, Pedro. Disponível em: <http:

//altamontanha.com/colunas.asp?NewsID=1512>. Acesso em 10 de Julho de 2010

<http: //www.cactos-art.bizgallery.com>. Acesso em 10 de julho de 2010. Em meio eletrônico: <http: //www.funape.org.br/geomorfologia/>; CASSETI, Valter.

Geomorfologia, 2005. <http: //www.sei.ba.gov.br>, 2009. Acesso em 09 de julho de 2010.