inovaÇÃo - labjor- unicamptores. o setor de montagem de veículos automotores, embora seja o 3º...

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INOVAÇÃO 26 No âmbito da proposta de constru- ção do Índice Brasil de Inovação (IBI), este artigo tem por objetivo discutir a distribuição dos recursos humanos em P&D nos setores da indústria de trans- formação e enfocar o indicador de recur- sos humanos (IRH), um componente do IBI, considerando a importância do emprego de mão-de-obra altamente qua- lificada para o processo de inovação. Como já foi abordado nos textos ante- riores, o IBI é composto por dois conjun- tos de indicadores. Um conjunto mede os esforços ou insumos para inovar e o outro, os resultados ou produtos deste processo. O indicador de resultado é aufe- rido a partir dos dados de paten- tes (concedidas ou depositadas) e das informações de impacto das inovações de produto sobre a receita líquida de vendas das empresas. Já o indicador de esfor- ço é medido pelo dispêndio em atividades inovativas (P&D inter- na e externa, aquisição de máqui- nas e equipamentos, licenças, royalties, etc.) e pelo recurso humano mobilizado para as ati- vidades de P&D. Assim, os indi- cadores de esforço ou insumo para a inovação focalizam, entre outros aspectos, os esforços rea- lizados pelas empresas em pes- quisa e desenvolvimento (P&D). A categoria de recursos humanos em ciência e tecnologia cons- titui o núcleo do Manual de Canberra, considera tanto o lado educacional quanto o ocupacional, e inclui "as pes- soas que completaram o ensino pós- secundário ou que estejam trabalhan- do em uma ocupação associada à ciên- cia e tecnologia, ainda que não tenham completado aquele nível de ensino". (OCDE, 1995). Com base nisso, os recur- sos humanos destinados à P&D podem ser subdivididos em três categorias: cientistas e engenheiros, técnicos e pes- soal de apoio. No questionário da Pesquisa Industrial da Inovação Tecnológica (Pintec), do IBGE, princi- pal fonte de dados deste índice, tam- bém se expressa uma divisão de acor- do com o nível de qualificação: técni- cos de nível superior (doutores, mes- tres e graduados), técnicos de nível médio e outros de suporte. O tempo de dedicação das pessoas às atividades de P&D também representa uma medida de contabilização de recursos huma- nos. O indicador de recursos humanos (IRH) que compõe o IBI mede, então, a qualificação do pessoal de nível supe- rior alocado pela empresa para a ativi- dade de P&D. Em números absolutos, os setores da indústria de transformação que mais empregam doutores (tabela 1) são: o químico, o de produção e refino de petróleo e o de máqui- nas e equipamentos para infor- mática. Esse indicador revela que, na indústria brasileira, existe uma concentração em termos absolutos dos recursos humanos mais qualificados em setores de média intensidade tecnológica, fato este coerente com a maior vocação dessa indústria para setores mais maduros tecnologicamente. Para fins de medição do IRH, o número de pessoal de nível superior mobilizado em P&D é normalizado pelo pessoal ocu- pado total de cada setor e ponde- Recursos humanos em P&D Silvia Angélica Domingues e André Furtado Í N D I C E B R A S I L Tabela 1 - Recursos Humanos de Nível Superior em P&D (em equivalente tempo integral) - números absolutos.

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Page 1: INOVAÇÃO - Labjor- Unicamptores. O setor de montagem de veículos automotores, embora seja o 3º em inten-sidade de P&D, posiciona-se ape-nas em 7º lugar na média ponde-rada de

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No âmbito da proposta de constru-ção do Índice Brasil de Inovação (IBI),este artigo tem por objetivo discutir adistribuição dos recursos humanos emP&D nos setores da indústria de trans-formação e enfocar o indicador de recur-sos humanos (IRH), um componente doIBI, considerando a importância doemprego de mão-de-obra altamente qua-lificada para o processo de inovação.

Como já foi abordado nos textos ante-riores, o IBI é composto por dois conjun-tos de indicadores. Um conjunto medeos esforços ou insumos para inovar e ooutro, os resultados ou produtos desteprocesso. O indicador de resultado é aufe-rido a partir dos dados de paten-tes (concedidas ou depositadas)e das informações de impactodas inovações de produto sobrea receita líquida de vendas dasempresas. Já o indicador de esfor-ço é medido pelo dispêndio ematividades inovativas (P&D inter-na e externa, aquisição de máqui-nas e equipamentos, licenças,royalties, etc.) e pelo recursohumano mobilizado para as ati-vidades de P&D. Assim, os indi-cadores de esforço ou insumopara a inovação focalizam, entreoutros aspectos, os esforços rea-lizados pelas empresas em pes-quisa e desenvolvimento (P&D).

A categoria de recursos

humanos em ciência e tecnologia cons-titui o núcleo do Manual de Canberra,considera tanto o lado educacionalquanto o ocupacional, e inclui "as pes-soas que completaram o ensino pós-secundário ou que estejam trabalhan-do em uma ocupação associada à ciên-cia e tecnologia, ainda que não tenhamcompletado aquele nível de ensino".(OCDE, 1995). Com base nisso, os recur-sos humanos destinados à P&D podemser subdivididos em três categorias:cientistas e engenheiros, técnicos e pes-soal de apoio. No questionário daPesquisa Industrial da InovaçãoTecnológica (Pintec), do IBGE, princi-

pal fonte de dados deste índice, tam-bém se expressa uma divisão de acor-do com o nível de qualificação: técni-cos de nível superior (doutores, mes-tres e graduados), técnicos de nívelmédio e outros de suporte. O tempo dededicação das pessoas às atividades deP&D também representa uma medidade contabilização de recursos huma-nos. O indicador de recursos humanos(IRH) que compõe o IBI mede, então, aqualificação do pessoal de nível supe-rior alocado pela empresa para a ativi-dade de P&D.

Em números absolutos, os setoresda indústria de transformação que mais

empregam doutores (tabela 1)são: o químico, o de produção erefino de petróleo e o de máqui-nas e equipamentos para infor-mática. Esse indicador revelaque, na indústria brasileira,existe uma concentração emtermos absolutos dos recursoshumanos mais qualificados emsetores de média intensidadetecnológica, fato este coerentecom a maior vocação dessaindústria para setores maismaduros tecnologicamente.

Para fins de medição do IRH,o número de pessoal de nívelsuperior mobilizado em P&D énormalizado pelo pessoal ocu-

pado total de cada setor e ponde-

Recursos humanos em P&D

Silvia Angélica Domingues e André Furtado

Í N D I C E B R A S I L

Tabela 1 - Recursos Humanos de Nível Superior em P&D (em equivalente tempo integral) - números absolutos.

Page 2: INOVAÇÃO - Labjor- Unicamptores. O setor de montagem de veículos automotores, embora seja o 3º em inten-sidade de P&D, posiciona-se ape-nas em 7º lugar na média ponde-rada de

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rado de acordo com o nível de formação,de forma que o termo correspondenteaos doutores, tem um peso maior, o quecorresponde aos mestres um peso inter-mediário e o que corresponde aos gra-duados, o menor peso. Para formaro IRH, a soma dos recursos huma-nos relativos alocados em tempointegral à P&D, ponderada por nívelde qualificação de cada empresa, édepois normalizada em relação àmédia setorial ponderada a doisdígitos. Com isso, objetiva-se des-tacar as empresas com maiores emais intensos esforços para inovarem relação ao seu respectivo setor,o que também se reflete pela melhorqualificação do pessoal mobiliza-do em P&D.

Na Tabela 2, os setores a doisdígitos estão ordenados de acordocom o seu respectivo componentedo IRH. Os setores considerados dealta e média-alta intensidade tec-nológica são os destaques em ter-mos de maior média ponderada seto-rial, porém nem sempre. Assim, osetor fabricação de máquinas paraescritório e equipamentos de infor-mática apresenta uma participa-ção de doutores, mestres e gradua-dos bem superior aos demais, o quese reflete em sua média setorial pon-derada que é quase duas vezes supe-rior ao segundo colocado. Essa dife-rença se justifica por este ser umsetor de alta tecnologia, que é, tam-bém, objeto de uma política federalde incentivos ao desenvolvimentotecnológico e inovativo.

Nem sempre os setores com amelhor qualificação de pessoal ocu-pado em P&D correspondem aos

setores com maior intensidade de gas-tos nesta atividade. O setor fabricaçãode outros equipamentos de transporte,o mais intensivo em P&D, com dispên-dios da ordem de 4% de sua receita líqui-

da de vendas, é o 2º setor na média pon-derada, sendo o 5º com maior intensi-dade de mestres em P&D e o 9º em dou-tores. O setor de montagem de veículosautomotores, embora seja o 3º em inten-

sidade de P&D, posiciona-se ape-nas em 7º lugar na média ponde-rada de recursos humanos. Causatambém surpresa, o setor de fumo,normalmente associado ao setorde alimentos e que é consideradocomo sendo de baixa intensidadetecnológica, estar posicionado no4º lugar em termos da média pon-derada e em 2º lugar para a inten-sidade de doutores.

Esses dados revelam que o IRHmede um aspecto complementardo esforço tecnológico das empre-sas que não necessariamente variana mesma direção que a intensi-dade de P&D e, subseqüentemen-te, ao IAI (indicador de atividadesinovativas) — que mede o esforçoatravés do dispêndio em ativida-des inovativas em relação à recei-ta líquida.

I N O V A Ç Ã OÍ N D I C E B R A S I L

Sílvia Angélica Domingues e AndréFurtado são pesquisadores do

Departamento de Política Científica

e Tecnológica do Instituto de

Geociências da Unicamp.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASOECD- Organization for Economic Co-Operation and

Development. The measurement of scientific and tech-nological activities: manual on the measurement of humanresources devoted to S&T - Canberra Manual. Paris, 1995.

FERREIRA, S. P. (coord.) Recursos Humanos disponíveis em

Ciência e Tecnologia in LANDI, F. R. (coord.) Indicadoresde ciência, tecnologia e inovação em São Paulo 2004. São

Paulo: Fapesp, 2005.Tabela 2 - Intensidades de RH (pessoal em P&D em tempo integral pornível/pessoal ocupado total)