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INOVAÇÃO EM OPERADORES LOGÍSTICOS Regina Meyer Branski Laura Marques Soares Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo RESUMO A inovação dos produtos e serviços é apontada, por diversos autores, como fundamental para o desempenho das empresas, entretanto esta questão ainda é pouco explorada na logística. O objetivo do estudo é descrever o processo de inovação em operadores logísticos a partir de um modelo onde são identificados os elementos que fundamentaram a tomada de decisão, a implantação das inovações, e os resultados obtidos pelos operadores e por outros agentes da cadeia de suprimentos. A metodologia utilizada foi estudo de casos aplicado a dois operadores logísticos: o primeiro rompeu uma parceria que mantinha com um grande operador logístico internacional e institui 80 novos parceiros numa rede pulverizada e, o segundo, desenvolveu um sistema de roteirização dinâmica que melhorou o controle e a utilização da capacidade dos caminhões e o nível de serviço. O trabalho dá continuidade a pesquisa anterior onde foi estudado um operador que implantou um novo modelo de negócio e outro que inovou em seu processo logístico por meio do uso de novas tecnologias e equipamentos. Os resultados mostram as particularidades do processo de inovação em cada operador e contribuem para compreensão dos seus elementos. ABSTRACT Technical studies consider products and services innovation as being fundamental for business performance. However in the area of logistics few studies deal with innovation. This research aims to describe the innovation process in two third-part logistics providers (3PL), using a model that takes into account aspects that drive the decision making process, implementation, and the results obtained by 3PLs and other supply chain actors. Case studies were used to apply the model in two 3PLs: the first discontinued a partnership with a major international 3PL and established 80 new partnerships in a pulverized network; and the second, developed a dynamic routing system that improved truck control and utilization capacity, and service levels. The study follows previous researches on a 3PL new business model implementation; and on logistics process innovation based on the utilization of new technologies and equipment. The results show process peculiarities for each provider, and contribute to understanding of their elements. 1. INTRODUÇÃO Inovação é a criação de novos produtos, novos métodos de produção e transporte, novos mercados e novas formas de organização industrial. Está, portanto, associada a tudo que diferencia e cria valor para uma empresa. A inovação não decorre, necessariamente, de um novo conhecimento científico e pode ser resultado da experimentação prática ou da combinação das tecnologias já existentes (Tigre, 2006). A capacidade de inovar é central para que as empresas sobrevivam e sejam competitivas, já que precisam oferecer produtos e serviços cada vez mais sofisticados e enfrentam competição crescente por custo e qualidade (Grawe et al., 2009). Mas, embora vários autores tenham se dedicado ao estudo deste tema desde os anos 80 (ver Castellacci et al., 2005), a inovação na logística tem recebido pouca atenção (Busse; Wallenberg, 2011; Su et al., 2011). Segundo Su (2011), há poucos estudos sobre como os operadores logísticos desenvolvem suas inovações e os resultados obtidos. Estes elementos são fundamentais para o entendimento do processo de inovação e, sendo assim, precisam ser melhor explorados pelos pesquisadores. O objetivo do estudo é descrever o processo de inovação identificando os elementos que fundamentaram a tomada de decisão, a implantação das inovações e os resultados obtidos. A metodologia utilizada foi o estudo de casos múltiplos aplicado a dois operadores logísticos. O

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INOVAÇÃO EM OPERADORES LOGÍSTICOS

Regina Meyer Branski

Laura Marques Soares

Universidade Estadual de Campinas

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo

RESUMOA inovação dos produtos e serviços é apontada, por diversos autores, como fundamental para o desempenho das

empresas, entretanto esta questão ainda é pouco explorada na logística. O objetivo do estudo é descrever o

processo de inovação em operadores logísticos a partir de um modelo onde são identificados os elementos que fundamentaram a tomada de decisão, a implantação das inovações, e os resultados obtidos pelos operadores e

por outros agentes da cadeia de suprimentos. A metodologia utilizada foi estudo de casos aplicado a dois

operadores logísticos: o primeiro rompeu uma parceria que mantinha com um grande operador logístico

internacional e institui 80 novos parceiros numa rede pulverizada e, o segundo, desenvolveu um sistema de

roteirização dinâmica que melhorou o controle e a utilização da capacidade dos caminhões e o nível de serviço.

O trabalho dá continuidade a pesquisa anterior onde foi estudado um operador que implantou um novo modelo

de negócio e outro que inovou em seu processo logístico por meio do uso de novas tecnologias e equipamentos.

Os resultados mostram as particularidades do processo de inovação em cada operador e contribuem para

compreensão dos seus elementos.

ABSTRACTTechnical studies consider products and services innovation as being fundamental for business performance. However in the area of logistics few studies deal with innovation. This research aims to describe the innovation

process in two third-part logistics providers (3PL), using a model that takes into account aspects that drive the

decision making process, implementation, and the results obtained by 3PLs and other supply chain actors. Case

studies were used to apply the model in two 3PLs: the first discontinued a partnership with a major international

3PL and established 80 new partnerships in a pulverized network; and the second, developed a dynamic routing

system that improved truck control and utilization capacity, and service levels. The study follows previous

researches on a 3PL new business model implementation; and on logistics process innovation based on the

utilization of new technologies and equipment. The results show process peculiarities for each provider, and

contribute to understanding of their elements.

1. INTRODUÇÃO

Inovação é a criação de novos produtos, novos métodos de produção e transporte, novos

mercados e novas formas de organização industrial. Está, portanto, associada a tudo que

diferencia e cria valor para uma empresa. A inovação não decorre, necessariamente, de um

novo conhecimento científico e pode ser resultado da experimentação prática ou da

combinação das tecnologias já existentes (Tigre, 2006).

A capacidade de inovar é central para que as empresas sobrevivam e sejam competitivas, já

que precisam oferecer produtos e serviços cada vez mais sofisticados e enfrentam competição

crescente por custo e qualidade (Grawe et al., 2009). Mas, embora vários autores tenham se

dedicado ao estudo deste tema desde os anos 80 (ver Castellacci et al., 2005), a inovação na

logística tem recebido pouca atenção (Busse; Wallenberg, 2011; Su et al., 2011). Segundo Su

(2011), há poucos estudos sobre como os operadores logísticos desenvolvem suas inovações e

os resultados obtidos. Estes elementos são fundamentais para o entendimento do processo de

inovação e, sendo assim, precisam ser melhor explorados pelos pesquisadores.

O objetivo do estudo é descrever o processo de inovação identificando os elementos que

fundamentaram a tomada de decisão, a implantação das inovações e os resultados obtidos. A

metodologia utilizada foi o estudo de casos múltiplos aplicado a dois operadores logísticos. O

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primeiro rompeu uma parceria que mantinha com um grande operador logístico, que permitia

que atuasse em bases mundiais, e institui 80 novos parceiros em diferentes países numa rede

pulverizada. O segundo desenvolveu um sistema de roteirização dinâmica que melhorou o

controle e a utilização da capacidade dos caminhões e o nível de serviço. O trabalho dá

continuidade à pesquisa anterior onde foram estudados um operador que implantou um novo

modelo de negócio e outro que inovou em seu processo logístico por meio das tecnologias e

equipamentos. Os resultados mostram as particularidades do processo de inovação em cada

operador e contribuem para compreensão dos seus elementos.

2. INOVAÇÃO NA LOGÍSTICA

Schumpeter (1957) ressalta a importância do papel da inovação como força de destruição da

ordem existente, como criadora de novo espaço econômico, como princípio de diferenciação e

como fonte de lucros extraordinários. O desenvolvimento de um produto ou serviço inovador,

o descobrimento de uma nova tecnologia, ou mudanças na forma de gestão que resultem em

maior produtividade, coloca o inovador em posição vantajosa frente ao mercado.

Para análise da inovação, o Manual de Oslo (OCDE) recomenda monitorar produtos,

processos, mudanças organizacionais e marketing. Inovações nos produtos ocorrem quando

há uma grande diferenciação em relação aos produtos anteriores ou quando são aperfeiçoados

por novas matérias primas ou componentes. Inovações nos processos estão relacionadas às

formas de operação tecnologicamente novas ou aperfeiçoadas decorrentes da introdução de

novas tecnologias de produção ou no manuseio e entrega de produtos. Inovações

organizacionais decorrem de mudanças na estrutura gerencial das empresas, nas formas de

articulação entre as áreas, na especialização dos trabalhadores, nos relacionamentos externos e

nos processos de negócios. Finalmente, inovações de marketing estão relacionadas à

alterações no design dos produtos, nas embalagens, na formas de colocação nos mercados etc.

Na logística, inovação é definida como a criação de valor logístico a partir de novos produtos

ou serviços, novos processos, novos relacionamentos, novos tipos de transação ou novos

modelos de negócios. O valor logístico pode decorrer da diminuição no custo, ou da melhora

do serviço ao cliente. O objetivo da empresa que inova é resistir ou vencer seus competidores.

Na prática, este objetivo toma a forma de metas mais específicas formuladas pela direção da

empresa. O quadro abaixo apresenta as metas mais frequentemente observadas na indústria

logística (Cruijssen, 2006).

Finalmente, para Chapman et al. (2002) a capacidade das empresas logísticas de inovarem

decorre de sua base de conhecimento, do uso eficiente de parcerias externas e internas, e da

utilização das tecnologias para ampliar o mix de produtos e aumentar a velocidade e eficiência

das suas operações. Assim, para os autores, são três os elementos essenciais que devem ser

investigados para compreensão da inovação na logística: tecnologias utilizadas, gestão do

conhecimento e redes de relacionamentos.

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Quadro 1: Objetivos da inovação na logística Objetivo Explicação/Exemplo

Melhorar serviço Satisfação do cliente é fundamental no ambiente competitivo como a indústria logística. Exemplo é a consolidação dos pedidos de um mesmo cliente em uma única remessa diminuindo, assim, o número de visitas

Melhorar qualidade Sistemas inovadores podem melhorar a qualidade dos serviços logísticos. Exemplo: caminhões equipados com sistemas que sinalizam problemas, reduzindo quebras e tornando o serviço mais confiável.

Criar novos mercados Cooperação entre transportadoras e armazéns pode ampliar a cobertura geográfica destas empresas, criar ou abrir novos mercados.

Ampliar mercado Idéias inovadoras elaboradas para atender as necessidades de um embarcador podem

contribuir para a contratação do operador

Ampliar pacote de serviços Instalação de EDI com clientes chaves para oferecer serviços adicionais como reposição de estoque

Reduzir recursos e custos Implantar uma ferramenta de roteirização para construir rotas mais eficientes, atendendo o mesmo número de remessas com um número menor de caminhões

Reduzir danos ambientais Reconhecimento do potencial poluidor das atividades logísticas. Contribuir para o desenvolvimento da chamada cadeia verde

Conformidade com a regulação

Restrições de horário ao tráfego de caminhões nos centros das cidades. OL e transportadoras precisam mudar sua rotina de entrega para atender a restrição

Fonte: Cruijssen (2006).

3. MODELOS PARA ANÁLISE DA INOVAÇÃO

Existem, na literatura, modelos que ajudam a identificar os diferentes tipos de inovação, entre

eles os propostos por Bessant et al. (2004), Sawhney et al. (2006) e Cruijssen (2006). O

modelo proposto por Bessant et al. (2004) tem como foco a cadeia de suprimentos e apontam

quatro tipos de inovação: nos produtos e/ou serviços, nos processos, no posicionamento e nos

paradigmas.

nos produtos e/ou serviços: serviços logísticos são equivalentes a novos produtos no setor

industrial e é aonde ocorrem inovações com maior frequência. O autor cita como exemplo

a implantação de Track & Trace (monitoramento e rastreamento) que indica a localização

exata do produto.

nos processos: envolve a gestão dos fluxos de materiais e informações desde a matéria

prima até o consumidor final. Inovação nos processos está relacionada a novas formas de

executar as tarefas como, por exemplo, entrega just-in-time.

no posicionamento: quando produtos ou processos já conhecidos têm novos usos ou

contextos. Um exemplo de posicionamento de um produto para um novo uso em um novo

contexto são os telefones celulares, que passaram a ser usados como máquina fotográfica,

filmadora, meio de pagamento, etc.

nos paradigmas: envolve novos modelos de negócio, como empresas que criaram novas

formas de desenvolver suas atividades e obtiveram um desempenho superior.

O modelo proposto por Sawhney et al. (2006) identifica dimensões onde podem haver

oportunidades de inovação para as empresas. Denominado Radar da Inovação, o modelo é

composto por quatro âncoras: as ofertas criadas, os clientes atendidos, os processos utilizados

e os pontos de presença da empresa. Entre as âncoras, os autores identificam oito dimensões

que são direcionadores das inovações. O quadro 2 abaixo detalha cada uma delas.

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Quadro 2: Dimensões da Inovação para as empresas Dimensões Definição

Ofertas Desenvolver novos produtos ou serviços

Plataforma Usar componentes comuns para criar novos produtos ou serviços

Soluções Criar produtos e serviços customizados para atender necessidades dos clientes

Clientes Descobrir necessidades dos clientes ou identificar segmentos não atendidos

Experiências do cliente Reformular interação com clientes por meio de pontos e momentos de contato

Captura de valor Redefinir como a empresa obtém pagamentos ou cria novas fontes de receita

Processos Redesenhar processos para melhorar a eficiência e eficácia

Organização Mudar a forma, função ou atividades da empresa

Cadeia de Suprimentos Repensar abastecimento e atendimento

Presença Criar novos canais de distribuição ou pontos de presença

Rede Criar redes inteligentes e integradas

Marca Alavancar uma marca em novos mercados

Fonte: Adaptado de Sawhney et al. (2006).

A âncora ofertas refere-se ao desenvolvimento de novos produtos e serviços na empresa e

abriga as dimensões plataforma e soluções. Plataforma está relacionada aos componentes,

partes ou tecnologias comuns que podem ser utilizados em vários produtos ou serviços.

Nesta dimensão, inovação envolve explorar a modularidade e criar novos produtos mais

rapidamente e com menos recursos. Soluções estão relacionadas às combinações de

produtos, serviços e informação customizados para atender ao cliente. Nesta dimensão, a

inovação ocorre por meio da integração dos diferentes elementos.

A âncora clientes refere-se a descobrir novos segmentos ou necessidades não atendidas

pelo mercado e abriga as dimensões experiências e captura de valor. Experiências estão

relacionadas a tudo que os clientes veem, sentem ou experimentam ao interagir com a

empresa. Nesta dimensão a inovação envolve o estabelecimento de novas formas de

interação. Valor capturado refere-se aos mecanismos para captura do valor criado. Para

inovar nessa dimensão a empresa pode descobrir receitas ainda não exploradas ou

desenvolver novos sistemas de tarifas.

A âncora processos refere-se à configuração das atividades para o desenvolvimento das

operações internas e envolve as dimensões organização e cadeia de suprimentos. Na

dimensão organização, a empresa pode reformular seus processos para obter maior

eficiência, qualidade ou reduzir seu tempo de ciclo. Na dimensão cadeia de suprimentos, a

empresa pode otimizar o fluxo de informação, mudar sua estrutura ou melhorar a

colaboração entre os participantes.

A âncora presença refere-se aos canais de distribuição que a empresa utiliza e aos pontos

de venda. Abriga as dimensões rede e marca. Rede estabelece a conexão entre a empresa e

clientes. Inovar nesta dimensão está relacionado ao estabelecimento de novos pontos de

venda. Finalmente, marca são os símbolos, expressões ou sinais por meio do qual a

empresa comunica uma mensagem aos clientes. A empresa inova encontrando formas

criativas para fortalecer sua marca.

Finalmente, o modelo proposto por Cruijssen (2006), elenca cinco tipos de inovação que

podem ocorrer na logística: nos produtos ou serviço, nos processos, nas formas de transação,

nos relacionamentos e nos modelos de negócios. O Quadro 3 descreve cada inovação e aponta

um exemplo prático.

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Quadro 3: Tipos de inovação logística Tipos de inovação logística Descrição Exemplos

Inovação em serviços e produtos

Realização de novos produtos ou serviços

Introdução de monitoramento e rastreamento em tempo real. Os clientes podem

acompanhar sua encomenda ou remessas e são

notificados caso ocorra algum problema.

Inovação em processos Alterações nas formas como os

produtos ou serviços são produzidos ou executados

A introdução de palete padrão pode melhorar a eficiência dos processos logísticos.

Inovação na transação Novas maneiras de vender produtos

ou serviços.

Nos pedidos realizados eletronicamente e entregues em domicilio, a informação é mais atual e confiável o que permite estabelecer melhores rotas de entrega.

Inovação no relacionamento Desenvolvimento de novas

parcerias (vertical ou horizontal) Cooperação horizontal entre empresas de transporte

para planejamento conjunto de rotas.

Inovação dos negócios Mudanças na forma de operação da

empresa. Um operador logístico que se transforma em gestor

da cadeia de suprimentos.

Fonte: Cruijssen (2006).

4. INOVAÇÃO EM OPERADORES LOGÍSTICOS

Su (2011) desenvolveu, a partir de ampla revisão da literatura, uma estrutura conceitual para

análise da inovação logística em operadores. Segundo o autor, inovações logísticas de sucesso

obedecem três estágios: tomada de decisão, cooperação e resultados. Em todos os estágios os

operadores interagem com clientes e fornecedores que contribuem para uma melhor

integração da cadeia de suprimentos.

No primeiro estágio, tomada de decisão, os operadores devem identificar e analisar as

principais motivações para a adoção ou desenvolvimento da inovação, elementos facilitadores

que possam aumentar suas chances de sucesso e barreiras que possam comprometer seu

esforço. Se a análise indicar que os motivadores e facilitadores superam as barreiras

potenciais, os operadores devem seguir para o próximo estágio. No segundo estágio,

cooperação, os operadores devem buscar estabelecer os passos que permitem o sucesso da

inovação: planejamento, testes, lançamento e melhoria contínua da inovação. Este estágio

exige a colaboração intensiva entre os diferentes agentes da cadeia. Finalmente, no terceiro e

último estágio denominado resultados, os ganhos gerados a partir da inovação logística devem

ser reconhecidos e partilhados entre os agentes da cadeia de suprimentos. O desafio é

desenvolver uma métrica para avaliar as vantagens – tangíveis e intangíveis – e elaborar

relatórios gerenciais que permitam à todos os agentes partilhar os ganhos obtidos.

A figura abaixo é uma adaptação da estrutura proposta por de Su (2011) e elenca os elementos

que serão analisados neste trabalho.

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Fonte: Adaptado de Su (2011).

Figura 1: Estrutura conceitual para análise do processo de inovação em operadores logísticos

O modelo propõe, inicialmente, uma caracterização do operador. São analisados o tipo de

inovação, a forma de operação e a cadeia de suprimentos. O estágio denominado por Su

(2011) de cooperação, no modelo proposto é denominado implantação da inovação. São

considerados aspectos como planejamento, elementos que fundamentam a inovação,

principais requisitos, e melhorias implantadas pelos operadores. E, finalmente, no estágio

resultados, além das vantagens trazidas para o operador, foram também considerados os

benefícios para a cadeia de suprimentos.

5. METODOLOGIA

A metodologia adotada na pesquisa foi o estudo de casos porque é adequada para descrever

detalhadamente práticas adotadas e obter um entendimento profundo dos fenômenos. A

revisão bibliográfica mostrou que há poucos estudos voltados para a natureza das inovações e

o desenvolvimento de novos serviços no setor logístico, indicando a necessidade da

construção de teorias (Yin, 2003).

As etapas desenvolvidas no trabalho estão representadas na figura 2 (Branski, Arellano e

Lima Jr., 2010).

Figura 2: Etapas do estudo de casos

A partir de estudos anteriores (Branski e Lima Jr, 2011; Branski, 2012) e da revisão

bibliográfica foi desenvolvida uma estrutura de análise que forneceu a base para a formulação

da proposição e para o desenvolvimento do questionário aplicado nos estudos dos casos. A

Tomada de Decisão

•Motivadores

•Facilitadores

•Barreiras

Implantação

•Planejamento

•Base da inovação

•Requisitos

•Melhorias /Evolução

Resultados

•Para os operadores logísticos

•Para a cadeia de suprimentos

Unidades

de análise

Objetivo

da

pesquisa

Revisão

Bibliográfica

Proposição

Operador

Logístico

A

Implantação

Conclusão Operador

Logístico

B Resultados

Tomada de

Decisão

Protocolo

Análises

Caracterização

Tipos de inovação

Operação

Cadeia de suprimentos

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pesquisa partiu da proposição: para compreender o processo de inovação em operadores

logísticos é necessário analisar os elementos considerados na tomada de decisão, na sua

implantação e analisar os principais resultados (Su, 2011). As informações foram coletadas

por meio de entrevistas semiestruturadas com os gerentes de logística, além de consulta a

publicações especializadas. A pesquisa mapeou e analisou, para cada operador, o processo de

inovação e, em seguida, buscou semelhanças e diferenças entre eles.

6. ESTUDO DE CASOS

6.1 Operador logístico 1 (OL 1)

O OL 1 é um operador logístico internacional que atua enquanto prestador de serviços na

importação e exportação e na gestão de operações internacionais marítimas, aéreas e pelo

modal rodoviário em bases globais. Possui 450 empregados alocados em 12 escritórios

espalhados pelo Brasil. Sua sede está na cidade de São Paulo com filiais em Santos,

Campinas, Jacareí, Manaus, Rio de Janeiro e nos aeroportos de Guarulhos e Viracopos.

Possui uma frota com 80 caminhões, mas também utiliza transporte de terceiros.

Alguns dos clientes são grandes redes de supermercados, indústrias farmacêuticas,

cosméticos, autopeças, siderurgia e metalurgia, eletroeletrônico e informática. Entre seus

fornecedores estão: armadores, companhias aéreas, agentes de carga, despachantes

aduaneiros, transportadoras, armazéns e outros operadores logísticos, além de inúmeros

agentes subcontratados nos principais portos e aeroportos do país.

A possibilidade de OL 1 operar em qualquer lugar do mundo decorria, sobretudo, de sua

parceria com “A”: empresa multinacional com mais de 150 anos de experiência que coordena

uma ampla rede de agentes espalhados por 85 países. Sua rede envolve mais de 10 mil

profissionais em mil centros de serviços cobrindo a Ásia (Pacífico), Europa, Oriente Médio,

África, América do Norte e América Latina.

A parceria de OL 1 com “A” era antiga, desde 1992. Na exportação, OL 1 fazia a coleta da

carga e enviava para o embarque marítimo ou aéreo. No destino, seu parceiro “A” ou algum

agente da rede, providenciava a liberação da carga na alfândega e entregava diretamente para

o cliente do cliente. Na importação atuava como agente da rede no Brasil. Assim, OL 1 estava

representado pela bandeira worldwide de “A” e operava nos cinco continentes.

Em 2010 este cenário mudou quando “A” decidiu abrir uma filial da empresa no Brasil.

Inicialmente fez uma proposta para comprar o OL 1, mas como não houve acordo financeiro,

a antiga parceria foi rompida e OL 1 precisou reconstruir rapidamente sua rede para continuar

atuando mundialmente. A decisão foi construir uma nova rede de parcerias com operadores

logísticos menores localizados em diferentes partes do mundo.

Montar esta rede foi um trabalho complexo, mas facilitado pelo fato da empresa ter mantido

cerca de 90% dos clientes que atendia quando operava com “A”. Movimentando um volume

significativo de carga, não foi difícil atrair operadores logísticos interessados na parceria.

Outro elemento que facilitou a construção da nova rede foi o uso da internet para identificar e

contatar os novos parceiros. O OL 1 estabeleceu parcerias com 80 operadores menores por

todo o mundo e construiu uma rede pulverizada.

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Não houve um planejamento prévio para a implantação da nova rede de parceiros: teve de ser

construída de forma rápida para atender as necessidades de OL 1. O principal requisito

exigido dos novos parceiros era integridade: o estabelecimento de relação de confiança é

central no negócio já que os serviços são todos pré-pagos e o calote de algum parceiro traria

grandes prejuízos para a empresa.

No futuro OL 1 pretende ampliar sua rede, incorporando novos agentes. Mas, como a rede

atual é eficiente e já atende as necessidades do operador, novos agentes serão aceitos somente

se contribuírem com carga para movimentação.

A constituição de uma nova rede de parcerias trouxe vantagens e desvantagens para OL1. Por

um lado, a negociação individualizada com diversos operadores permitiu redução no custo do

frete e armazenagem, maior customização e flexibilidade nos serviços oferecidos. Por outro

lado, perdeu a bandeira worldwide, além de precisar administrar uma rede de maior

complexidade. Na cadeia de suprimentos, os clientes passaram a ter acesso a um serviço mais

customizado e flexível. Os fornecedores não foram afetados pela inovação.

6.2 Operador logístico 2

A empresa pertence a um grupo nacional que atua no mercado brasileiro e conta com quatro

unidades de negócio: transportadora, operador logístico, serviço de entrega expressa e agente

de cargas aéreas. O estudo de caso foi realizado na transportadora que será denominada OL2.

OL2 é especializada no transporte de cargas secas e fracionadas, possui 32 filiais e opera nas

regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Seus 1250 veículos são equipados com dispositivos de

segurança e monitorados por satélite. Seus clientes são os setores farmacêutico, eletrônicos

(computadores e periféricos), têxtil, autopeças, e produtos de higiene, perfumaria e

cosméticos. A principal operação da empresa é a coleta de grandes cargas e, em seguida, a

realização da distribuição pulverizada.

Recentemente, OL 2 desenvolveu e implantou um sistema de monitoramento dinâmico onde

os veículos e informações sobre a carga são visualizadas na plataforma do Google Maps. O

sistema mostra o roteiro das entregas dos veículos, a posição exata de cada caminhão,

porcentagem da carga entregue, capacidade livre, além de informações como tipo de

caminhão, hora de saída e de entrada na filial etc. Quando, ao longo do dia, surgem novas

coletas, o sistema localiza os cinco veículos mais próximos com capacidade disponível e o

operador decide qual irá fazer a operação. Em seguida, o sistema elabora um novo roteiro

atendendo a coleta e acomodando as entregas restantes.

Nos veículos, os motoristas podem visualizar os pontos onde é permitida a parada. Nestes

pontos, denominados alvos, a autorização para abrir as portas é concedida automaticamente.

No caso da distribuição pulverizada, os endereços de entrega tornam-se alvos temporários,

que desaparecem ao final da operação. O sistema também alerta sobre trechos com elevado

número de acidentes e envia mensagens regulares entre 4 e 6 horas da manhã, horário crítico

de sonolência dos motoristas, o que reduziu os índices de acidentes.

A principal motivação de OL 2 para a implantação do monitoramento dinâmico de cargas foi

buscar um melhor gerenciamento da sua frota. Os principais problemas enfrentados pela

empresa era o fornecimento, pelos motoristas, de informações incorretas quanto ao horário de

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entrada e saída das filiais, localização do veículo e capacidade disponível nos caminhões. A

falta do registro correto dos atrasos no horário de saída dos veículos de transferência, por

exemplo, prejudicava a distribuição subsequente feita por veículos menores. Muitos

motoristas davam informações erradas sobre localização e capacidade dos veículos para não

realizar novas coletas que surgissem ao longo do dia. Com o novo sistema, OL 2 esperava

obter maior controle sobre a frota, reduzindo custos, agilizando a operação e aumentando o

nível de serviço dos clientes.

O sistema foi desenvolvido pela equipe interna de tecnologia da informação de OL 2. Além

de programação, a equipe conhecia bem a operação e as dificuldades enfrentadas pela

transportadora. Buscaram ferramentas tecnológicas capazes de mitigar os principais

problemas e estava claro que OL 2 precisava fazer uma gestão mais efetiva da sua frota,

utilizando melhor sua capacidade por meio de uma distribuição mais racional da carga. O

sistema demorou cerca de um ano para ser desenvolvido e implantado e a equipe enfrentou

dificuldades técnicas, resolvidas em fóruns de especialistas na Internet. Além disto, no início,

enfrentou resistência de algumas pessoas para a utilização do aplicativo.

O desenvolvimento da tecnologia só foi possível quando, em 2004, a empresa adquiriu um

novo sistema de rastreamento que possibilitava a integração com outros sistemas. As

informações dos veículos fornecidas pelo rastreador (localização, abertura de portas, trocas de

mensagem etc.) são enviadas para uma central, selecionadas e reorganizadas pelo sistema de

OL 2. Além da infraestrutura de servidores, bancos de dados etc., o desenvolvimento e

implantação do aplicativo exigiu da equipe conhecimento técnico e da operação.

Atualmente, estão sendo planejadas inúmeras melhorias como integração com as câmeras das

rodovias, envio de informações sobre tráfego, previsão do tempo, congestionamentos,

acidentes, além de aprimoramento da roteirização. Atualmente, quando surge uma nova

coleta, o operador identifica os veículos mais próximos com capacidade para a operação. Mas,

não se há tempo suficiente para a operação e se existem veículos que, embora mais distantes,

possam atingir o alvo com maior rapidez.

Com o melhor aproveitamento da capacidade dos caminhões e a racionalização dos trajetos,

os custos de operação de OL 2 diminuíram e melhorou o nível de serviço com maior acurácia

e velocidade na coleta e na entrega. Quanto aos clientes, por meio de um sistema denominado

baixa online integrado ao sistema de roteirização dinâmica, têm acesso às informações sobre a

carga. Este programa, que roda nos celulares, permite aos motoristas registrar nos servidores

de OL 2 a entrega realizada. Esta informação fica disponível no site, mas pode também ser

enviada por mensagem ou EDI para os clientes.

6.3 Análise comparativa

A seguir foram comparados os processos de inovação nos dois operadores, analisando os tipos

de inovação, os elementos da tomada de decisão, implantação e os resultados, conforme o

modelo proposto (Quadro 4).

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Quadro 4: Análise do processo de inovação em operadores logísticos Caracterização OL 1 OL 2

Inovação

Rompeu uma parceria que mantinha com um grande operador logístico “A” e institui 80 novos parceiros numa rede pulverizada de

alcance mundial

Desenvolveu e implantou um sistema de monitoramento dinâmico de cargas que opera

integrado ao sistema de rastreamento. O sistema

localiza os cinco veículos mais próximos e com capacidade disponível para realizar coleta, e

indica para operação. Em seguida, elabora um novo roteiro para a nova situação.

Operação Executa o processo logístico na exportação e

importação de carga marítima, aérea e rodoviária em todo o mundo.

Realiza o transporte rodoviário, aéreo, marítimo e serviço de armazenagem. Sua operação mais frequente é grandes coletas concentradas e

distribuição pulverizada.

Cadeia de Suprimento

Clientes: supermercados, indústria farmacêutica, cosméticos, autopeças, siderurgia e metalurgia, eletroeletrônico, informática etc. Fornecedores: armadores, companhias aéreas,

agentes de carga, despachantes aduaneiros, armazéns e outros operadores logísticos.

Transporte próprio e terceirizado.

Clientes: indústria farmacêutica, computadores e periféricos, têxtil, higiene pessoal, cosméticos e

perfumaria, produtos alimentícios, autopeças, confecção e vestuário, indústria química e

derivados e eletroeletrônicos. Fornecedores: montadoras de caminhão

Tomada de Decisão

Motivadores Após rompimento da parceria com “A”, OL 1 precisou reconstruir rapidamente sua rede para

continuar atuando em todo o mundo.

Melhorar a gerenciamento da frota para obter redução de custos e oferecer um melhor nível de

serviço.

Facilitadores

Manteve muitos clientes (90%), o que facilitou

a constituição de novos parceiros interessados nas cargas. Uso da internet para identificar e

contatar os novos parceiros

Os desenvolvedores conheciam bem a operação e as dificuldades enfrentadas pela transportadora

Barreiras A rede precisou ser refeita rapidamente e

aumentou significativamente sua complexidade

Dificuldades técnicas, solucionadas em fóruns de especialistas na Internet e resistência de algumas

pessoas para a utilização do aplicativo

Implantação

Planejamento Não houve planejamento prévio para a implantação da nova rede de parceiros: o

rompimento ocorreu repentinamente.

A empresa precisou adquirir um novo sistema de rastreamento que possibilitava a integração com

outros sistemas

Base da Inovação Identificar, contatar e estabelecer parcerias com agentes em todo o mundo.

Integração do sistema de rastreamento ao novo sistema. Utiliza como plataforma as informações

georeferenciadas do Google Maps.

Requisitos Integridade dos novos parceiros, já que é

essencial o estabelecimento de forte relação de confiança

Infraestrutura de servidores, bancos de dados etc., além de conhecimento técnico e da operação

Melhorias/Evolução Desenvolvimento de novos parceiros com carga

para maior equilíbrio da rede.

Integração com as câmeras das rodovias, informações sobre tráfego, previsão do tempo,

congestionamentos, acidentes, além de aprimoramento da roteirização.

Resultados

Para operador

Maior flexibilidade e redução no custo do frete. Perdeu a bandeira worldwide, tornou a gestão

mais complexa, mas, em contrapartida, melhorou o nível de serviço.

Melhor aproveitamento da capacidade dos caminhões e racionalização dos trajetos, os custos

de operação diminuíram e melhorou o nível de serviço com maior acurácia e velocidade na

coleta e na entrega.

Para cadeia de Suprimentos

Clientes passaram a ter acesso a um serviço mais customizado. Fornecedores não foram

afetados pela inovação

Por meio de um sistema denominado baixa online integrado ao sistema de roteirização dinâmica,

clientes têm acesso imediato às informações sobre a entrega de carga. Fornecedores não foram

afetados pela inovação

OL 1 é um operador logístico internacional que após o rompimento de uma parceria com um

único grande operador logístico, institui uma rede pulverizada. OL 2 é uma grande

transportadora que desenvolveu e implantou um sistema de monitoramento dinâmico de

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cargas com informações em tempo real da localização e capacidade dos caminhões. OL 1

inovou estabelecendo novas parcerias e OL 2 inovou no serviço logístico. Tanto OL 1 quanto

OL 2 atendem aos setores farmacêutico, de computadores e periféricos, eletroeletrônicos,

varejo etc.

Na tomada de decisão, o fator que motivou OL 1 a estabelecer uma nova rede foi o

rompimento da parceria com A e, OL 2, foi a melhora no gerenciamento de sua frota. A

inovação foi facilitada, no caso de OL 1, pelo uso da Internet e por ter mantido grande parte

dos clientes. Em OL 2, pelo fato dos desenvolvedores do aplicativo terem, além do domínio

da técnica, conhecimento do negócio. As principais dificuldades enfrentadas por OL 1 foi a

urgência na composição da nova rede e o aumento da sua complexidade e, no caso de OL 2,

dificuldades técnicas e resistência das pessoas em adotar as novas tecnologias.

Na fase de implantação, dada a urgência do processo, não houve planejamento por parte de

OL 1. Em OL 2 a inovação só pôde ser implantada após a aquisição de um novo sistema de

rastreamento. A inovação de OL 1 tinha como base a reformulação de sua rede de parceiros,

em OL 2 a integração do sistema de rastreamento ao novo sistema. Integridade dos parceiros

era um requisito fundamental para OL 1 enquanto que, para OL 2, o fator essencial era

conhecimento técnico e da operação. OL 1 planeja ampliar sua rede, mas incorporando

agentes que, além de operar para OL 1 em outros países, também possuam carga e, OL 2,

planeja integrar seu sistema às câmeras das rodovias e disponibilizar outras informações.

Finalmente, quanto aos resultados obtidos pelos operadores logísticos, o estabelecimento de

uma rede pulverizada em OL1 garantiu maior flexibilidade e redução no custo do frete mas,

em contrapartida, tornou a gestão mais complexa. Os clientes puderam ter acesso a um

serviço mais customizado, capaz de atender suas particularidades. OL 2 conseguiu aproveitar

melhor a capacidade dos caminhões e racionalizar os trajetos, o que diminuiu os custos de

operação e melhorou o nível de serviço com maior acurácia e velocidade na coleta e na

entrega. Os clientes tem acesso em tempo real às informações sobre suas cargas. Os

fornecedores não foram afetados pelas inovações em nenhum dos casos estudados.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do trabalho era descrever o processo de inovação logística em operadores a partir

de uma estrutura de referência onde foram identificados os elementos que fundamentaram a

tomada de decisão, a implantação das inovações e os resultados obtidos. A estrutura foi

aplicada em dois operadores que inovaram nos relacionamentos e nos serviços e dá

continuidade a trabalho anterior onde foram estudadas inovações no modelo de negócio e no

processo logístico (Branski, 2012).

Como nos estudos anteriores, não foram identificados padrões nos processos de inovação dos

operadores: suas motivações foram diversas, as implantações demandaram diferentes

requisitos técnicos e estavam baseadas em diferentes pressupostos. Nos dois casos, as

inovações atenderam aos objetivos dos operadores trazendo maior flexibilidade e controle e,

apesar de não terem sido motivadas pelas necessidades dos clientes, eles foram indiretamente

beneficiados com serviços mais customizados e eficientes.

Um elemento importante que deve ser ressaltado é o papel ocupado pelas tecnologias no

processo de inovação. No primeiro, funcionou como facilitador ajudando na identificação e

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contato com os novos parceiros e, no segundo, como elemento central de suporte a inovação.

Não foi observado, em nenhum dos operadores, atividades voltadas para gestão de

conhecimento que, segundo Chapman (2002) podem contribuir para inovação na logística.

Novos estudos com outros operadores podem ampliar o entendimento destes processos e de

seus elementos e, consequentemente, contribuir para uma melhor compreensão da inovação

nestes agentes.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio

financeiro que permitiu a realização da pesquisa;.

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