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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO BRUNO SILVA QUIRINO INOVAÇÃO SOCIAL E NEGÓCIOS SOCIAIS: Um estudo de caso do Programa Minha Casa, Minha Vida em uma instituição financeira Belo Horizonte 2014

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

BRUNO SILVA QUIRINO

INOVAÇÃO SOCIAL E NEGÓCIOS SOCIAIS:

Um estudo de caso do Programa Minha Casa, Minha Vida em uma

instituição financeira

Belo Horizonte

2014

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BRUNO SILVA QUIRINO

INOVAÇÃO SOCIAL E NEGÓCIOS SOCIAIS:

Um estudo de caso do Programa Minha Casa, Minha Vida em uma

instituição financeira

Dissertação apresentada ao Curso de

Mestrado Profissional em Administração do

Centro Universitário UNA, como requisito

parcial para a qualificação e obtenção do

título de Mestre em Administração

Linha de pesquisa: Inovação, Redes

Empresariais e Competitividade

Área de concentração: Inovação e Dinâmica

Organizacional

Orientador: Prof. Dr. Rivadavia C.

Drummond de Alvarenga Neto

BELO HORIZONTE

2014

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Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras

Q8i Quirino, Bruno Silva

Inovação social e negócios sociais: um estudo de caso do programa

minha casa, minha vida em uma instituição financeira. / Bruno Silva

Quirino. – 2014.

182f.

Orientador: Prof. Dr. Rivadavia C. Drummond de Alvarenga Neto

Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2014. Programa

de Mestrado Profissional em Administração.

Bibliografia f. 161-167.

1. Desenvolvimento social. 2. Habitação popular. I. Alvarenga Neto,

Rivadávia Correa Drummond de. II. Centro Universitário UNA. III.

Título.

CDU: 658

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Centro Universitário UNA

Mestrado Profissional em Administração

Dissertação intitulada “Inovação Social e Negócios Sociais: um estudo de caso

do Programa Minha Casa, Minha Vida em uma instituição financeira”, de autoria

do mestrando Bruno Silva Quirino, apresentada à banca examinadora

constituída pelos seguintes professores:

_______________________________________________________

Prof. Dr. Rivadávia C Drummond de Alvarenga Neto – Orientador

_______________________________________________________

Profa. Dra. Íris Barbosa Goulart – Centro Universitário UNA

_______________________________________________________

Prof. Dr. Rodrigo Baroni – PUC Minas

Belo Horizonte, 2014

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Dedicatória

Este trabalho é dedicado às pessoas que sofrem os inúmeros males causados

pela pobreza, ao tempo em que crio a esperança de que seja fonte de

inspiração para o desenvolvimento de muitos negócios sociais.

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Agradecimentos

Meu pai, Divalde, que sempre fez questão de encher a casa de livros para as

crianças se habituarem a esse convívio tão importante para minha formação;

Minha mãe, Jane, que ouvia minhas tentativas de leitura de revistas, andando

atrás dela enquanto arrumava a casa;

Minhas irmãs e irmão, a quem pretendo sempre orgulhar e servir;

Minha mulher, Larissa, que me inspira na vida e que teve tanta paciência com

minha dedicação a estes estudos...

Meus amigos, pelo respeito à negligência que precisei oferecer-lhes durante o

período da pesquisa.

Ao Professor Rivadávia, responsável por me fazer acreditar muito mais na

dedicação, nos estudos e na transpiração acadêmica.

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Epígrafe

“As pessoas pobres são pessoas bonsai. Não há nada de errado

com suas sementes, mas a sociedade nunca lhes deu a base

adequada a partir da qual pudessem crescer.”

(Muhammad Yunus)

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RESUMO

A pesquisa, desenvolvida sob a forma qualitativa, com finalidade descritiva, foi

executada por meio de um estudo de caso cujo objeto é o “Programa Minha

Casa, Minha Vida”. O objetivo principal é investigar o modelo de negócios do

Programa sob a ótica dos conceitos de inovação social e negócios sociais.

Definiu-se a proposição teórica de modelo de negócios conceituada por

Muhammad Yunus para a técnica de comparação de padrões. A coleta de dados

se deu através de entrevistas semi-estruturadas, pesquisa documental e

observação direta. Três categorias de análise foram definidas, com base nos

objetivos específicos: i) conceitos, legislação, métricas e resultados do

Programa; ii) modelo de negócios do Programa; iii) equação de lucro financeiro

e equação de lucro social. Os dados coletados foram submetidos a processos

de redução, exibição em displays e, por fim, verificação. A principal conclusão

foi que o Programa Minha Casa Minha Vida, embora ofereça diversos e

significativos resultados financeiros e sociais, não pode ser caracterizado como

um modelo de negócios social, conforme o padrão adotado pela pesquisa.

Palavras-chave: inovação, inovação social, modelos de negócios, modelos de

negócios sociais, Programa Minha Casa Minha Vida, resultados sociais

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ABSTRACT

This research, developed by a qualitative form and with a descriptive purpose,

was made via case study. The object of its study is the Brazilian Government

Program “Minha Casa Minha Vida”. The main target is to analyze the Program

under concepts of social innovation and social business. The Muhammad

Yunus’s social business model concept was defined as theoretical proposition to

compare with the Program. Data were collected by semi-structured interviews,

documentary research and direct observation. Three analysis categories were

defined based on specific objectives, which are: i) concept, legislation, metrics,

and results of the Program; ii) Program business model; iii) financial equation and

social profit equation. Collected data was submitted to processes of reduction,

display, and verification. The main conclusion was that the Program “Minha Casa

Minha Vida”, although offers large and significant social profits, can’t be

characterized as a social business according to the Muhammad Yunus’s model.

Keywords: inovation, social inovation, business model, social business model,

Program Minha Casa Minha Vida, social profits

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Siglas e abreviaturas

ABECIP Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança

BB Banco do Brasil

BNH Banco Nacional da Habitação

CEF Caixa Econômica Federal

CEO Chief Executive Officer

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

EUA Estados Unidos da América

FAR Fundo de Arrendamento Residencial

FDS Fundo de Desenvolvimento Social

FGHAB Fundo Garantidor da Habitação Popular

FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

FIES Financiamento Estudantil

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDE International Development Enterprises

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ONG Organizações Não-Governamentais

ONU Organização das Nações Unidas

PAC Programa de Aceleração do Crescimento

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

PIS Programa de Integração Social

PMCMV Programa Minha Casa, Minha Vida

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNHR Programa Nacional de Habitação Rural

PNHU Programa Nacional de Habitação Urbana

ROI Retorno Sobre o Investimento

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RSC Responsabilidade Social Corporativa

SAC Sistema de Amortização Constante

SFH Sistema Financeiro da Habitação

SROI Retorno Social Sobre o Investimento

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

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Lista de Quadros

QUADRO 1 – Fontes de Inovação ........................................................... 32

QUADRO 2 – Inovação e Inovação Social ............................................... 48

QUADRO 3 – Empreendimentos Sociais e Negócios Convencionais ...... 56

QUADRO 4 – Modelos de Negócios Convencionais e Modelos de Negócios

Sociais ...................................................................................................... 62

QUADRO 5 – Fontes de evidências ......................................................... 75

QUADRO 6 – Entrevistas Semi-Estruturadas .......................................... 80

QUADRO 7 – Análise de Dados – Modelo de Miles & Huberman ............ 85

QUADRO 8 – Objetivos/resultados esperados pelo PMCMV................... 96

QUADRO 9 – Principais Conclusões da Categoria Analítica 1 ................ 97

QUADRO 10 – Produtos e Público-alvo do PMCMV ................................ 123

QUADRO 11 – Principais Conclusões da Categoria Analítica 2 .............. 124

QUADRO 12 – Recursos do PMCMV ...................................................... 129

QUADRO 13 – Principais Conclusões da Categoria Analítica 3 .............. 149

QUADRO 14 – PMCMV x Modelo de Negócios Sociais .......................... 157

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Lista de ilustrações

FIGURA 1 – As seis alavancas da inovação ............................................ 37

FIGURA 2 – Negócios sociais x negócios com finalidade lucrativa x

organizações sem fins lucrativos .............................................................. 59

FIGURA 3 – Índice SROI ......................................................................... 68

GRÁFICO 1 – Distribuição da renda das famílias na Faixa 1................... 111

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Lista de tabelas

TABELA 1 – Déficit habitacional no Brasil – 2007/2012 ........................... 138

TABELA 2 – Total unidades habitacionais PMCMV (até 30/06/2014) ...... 139

TABELA 3 – Unidades entregues por faixa .............................................. 139

TABELA 4 – Entregas por perfil de renda e por região ............................ 140

TABELA 5 – Estoque de contratos de crédito imobiliário ......................... 140

TABELA 6 – Média anual de financiamentos imobiliários no Brasil ......... 140

TABELA 7 – Satisfação das famílias com o PMCMV ............................... 144

TABELA 8 – Satisfação das famílias (região Nordeste) .......................... 145

TABELA 9 – Satisfação da famílias por tipo de moradia .......................... 145

TABELA 10 – Impacto em emprego/renda/materiais de construção ........ 146

TABELA 11 – Impacto do PMCMV na produção de imóveis no Brasil ..... 147

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 17

1.1 Problema de Pesquisa ...................................................................................................... 20

1.2 Objetivos da Pesquisa ...................................................................................................... 24

1.2.1 Objetivo geral: ............................................................................................................. 24

1.2.2 Objetivos específicos ................................................................................................. 24

1.3 Justificativa ......................................................................................................................... 25

1.4 Estrutura do Texto ............................................................................................................. 27

2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................ 29

2.1 Inovação ......................................................................................................................... 29

2.1.1 Conceitos e Importância ....................................................................................... 29

2.1.2 Processo de Produção da Inovação .................................................................... 31

2.1.3 Inovação na interface entre Tecnologia e Modelo de Negócios ..................... 35

2.2 Modelos de Negócios .................................................................................................... 40

2.2.1 Conceitos, desenvolvimento histórico e posicionamento na Teoria

Econômica ......................................................................................................................... 40

2.2.2 Modelos de negócios e estratégia ....................................................................... 43

2.2.3 Dinamismo do Modelo de Negócios .................................................................... 44

2.3 Inovação Social e Modelos de Negócios Sociais .................................................... 46

2.3.1 Construção teórica: de empreendimentos sociais a modelos de negócios

sociais ................................................................................................................................. 47

2.3.2 Mensuração de impacto ........................................................................................ 64

3 METODOLOGIA .................................................................................................................... 71

3.1 Caracterização da pesquisa ......................................................................................... 71

3.2 Coleta de dados ............................................................................................................. 73

3.3 Categorias de análise ................................................................................................... 76

3.4 Técnicas de interpretação e análise de dados .......................................................... 76

4 CONTEXTO DE PESQUISA ............................................................................................... 79

4.1 A instituição – FINANX.................................................................................................. 85

5 ANÁLISE DE DADOS ........................................................................................................... 87

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5.1 Categoria de Análise 1: Conceito, legislação, métricas e resultados do PMCMV

................................................................................................................................................. 88

5.2 Categoria de Análise 2: Modelo de negócios do PMCMV: proposta de valor,

público-alvo, constelação de valor, custos e receitas ..................................................... 98

5.3 Categoria de Análise 3: Equação de lucro financeiro e equação de lucro social

............................................................................................................................................... 124

6 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 150

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 160

APÊNDICE A – Protocolo de Estudo de Caso .................................................................. 167

APÊNDICE B – Práticas de Negócios Sociais .................................................................. 171

APÊNDICE C – Exemplo da Matriz de análise de dados brutos .................................... 171

APÊNDICE D – Relação de documentos analisados ....................................................... 178

ANEXO A – Modelo Canvas ................................................................................................. 181

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1 INTRODUÇÃO

O capitalismo estabeleceu-se como sistema mais comum na economia

de todo o mundo. Gates (2008) afirma que essa doutrina tornou melhor a vida

de bilhões de pessoas, ao mesmo tempo em que deixou para trás outros tantos

bilhões. A afirmação ganha contornos visíveis a partir da confrontação da

projeção da população do planeta para 2050 – 10 bilhões de pessoas – (ONU,

2013) com o percentual de pobres. Mantendo-se a mesma proporção

apresentada por Polak e Warwick (2013) ao tempo de sua obra, em que havia

no mundo 2,7 bilhões de pobres de um total de 7,2 bilhões de habitantes, em

2050 haverá 3,8 bilhões de pessoas submetidas à pobreza.

Esses autores adotam o conceito de pobreza com relação à renda,

incluindo na condição aqueles que vivem com US$ 2 ou menos por dia. O

tamanho do problema é destacado quando se observa, em análise dos dados do

United States Census Bureau (2014) que os considerados pobres em 2013 e a

população total do planeta em 1955 contavam-se em números equivalentes,

aproximadamente 2,7 bilhões de pessoas.

Além do fator econômico, podem-se citar outros elementos

caracterizadores da condição de pobreza, entre os quais encontram-se os

seguintes: desemprego; barreiras em virtude de raça, etnia ou religião; falta de

água; desnutrição; falta de cuidados médicos; educação precária; deficiências

na moradia (POLAK & WARWICK, 2013); impossibilidade de adquirir bens de

primeira necessidade como fogões; problemas de saúde causados por

condições de vida precárias (BRUGMANN & PRAHALAD, 2007); dificuldade de

acesso ao crédito bancário; falta de acesso à tecnologia; desnutrição infantil

(YUNUS, 2010); problemas de segurança e infraestrutura urbana (ASHOKA,

2014).

É fato que as condições de vida, em geral, melhoraram nos últimos 100

anos, conforme se pode constatar pela análise de quesitos múltiplos como os

apontados por Gates (2008): alta da expectativa de vida, consolidação de

regimes democráticos, maior participação popular nas eleições, abertura para

liberdade de expressão do pensamento e expansão da liberdade econômica

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para mais camadas da população, dentre outros. No campo das melhorias

específicas para as camadas de renda mais baixa, Bornstein e Davis (2010)

acrescentam o surgimento das organizações de microfinanças, das escolas e

bibliotecas rurais, inovações em saúde e fortalecimento dos defensores de

direitos humanos. Tais avanços, porém, não atingiram todas as pessoas. Uma

grande massa permanece à margem da evolução.

Entre os problemas sociais de países em desenvolvimento destaca-se,

em consonância aos objetivos deste trabalho, o déficit habitacional. A privação

de moradia digna pode disparar outras mazelas, como flagelos de saúde e

educação. Quem habita um local cujas condições são precárias está exposto a

doenças, violência, intempéries naturais e, consequentemente, fica incapacitado

de buscar qualificação profissional e educacional, tendo seu desenvolvimento

obstruído.

No Brasil, o déficit habitacional é definido pelo IPEA – Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2013), abrangendo as seguintes

condições:

1 – Domicílios precários: moradias rústicas ou improvisadas;

2 – Coabitação: famílias que convivem numa mesma habitação e têm

intenção de se mudar ou famílias residentes em cômodos;

3 – Excedente de aluguel: famílias que comprometem mais de 30% da

renda com pagamento do aluguel;

4 – Adensamento excessivo: moradias com mais de 3 moradores por

cômodo.

O conceito de déficit habitacional guia as políticas públicas voltadas para

a moradia, servindo como orientador das decisões voltadas para solução dos

problemas que envolvem o tema (IPEA 2013).

Ações para reduzir esse problema no Brasil remontam a muitos anos.

Em 1964, a Lei no 4.380 unificou as políticas habitacionais no âmbito federal,

definindo objetivos/metas e a estrutura de um mecanismo completo, o Sistema

Financeiro da Habitação – SFH. Essa mesma lei criou o Banco Nacional da

Habitação – BNH, autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda cujo objetivo era

promover financiamentos à produção de empreendimentos habitacionais

(CAIXA, 2012).

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Conforme proposto pela Caixa (2012), Programas como o BNH foram

atingidos por crises econômicas e financeiras que os tornaram pouco efetivos.

Instabilidade econômica e inflação descontrolada a partir da década de 70 do

século XX desequilibraram os financiamentos concedidos no âmbito do SFH.

Regras relativas ao sistema, especialmente envolvendo a correção monetária do

saldo devedor dos contratos foram seguidamente alteradas, gerando uma

situação de desequilíbrio tal que levou ao fim do BNH. O Banco foi extinto em

1986, pelo Decreto-Lei 2.291/86 (CAIXA, 2012).

O papel da economia nos resultados insuficientes do período entre 1980

e 1990 é ressaltado em trabalho da FGV (2007), que atribui parte das

deficiências do sistema à crise econômica do referido período, elevação das

taxas de juros, alta inflação e queda do poder aquisitivo dos mutuários. Todos

esses fatores causadores de instabilidade econômica, aliados a fraquezas

internas do SFH, desaguaram num significativo indicador: em 2003, o volume de

crédito concedido pelo sistema atendia apenas 10% da demanda habitacional,

contra 70% nos anos 1980 (FGV, 2007).

Ainda a respeito dos solavancos econômicos que interferiram na política

de habitação, a ABECIP – Associação Brasileira das Entidades de Crédito e

Poupança – afirma que a crise do petróleo e a alta da dívida externa brasileira

ao final dos anos 1970 causaram uma disparada da inflação, tendo como

conseqüência grande quantidade de ações judiciais visando adequar o valor das

prestações à evolução do salário dos mutuários. O principal efeito dessas ações

foi a incompatibilização do índice de correção das prestações e dos saldos

devedores dos contratos, gerando desequilíbrio (ABECIP, 2014).

A análise dessas informações permite concluir que os fatores

evidenciados pela ABECIP (2014), Caixa (2012) e FGV (2007) contribuíram para

impedir a solução do problema habitacional no Brasil. Ainda de acordo

com a Caixa (2012), após a crise do final dos anos 1970, ocorreu um fenômeno

chamado “favelização dos centros urbanos”, que consistiu na ocupação irregular

de espaços urbanos. Esse processo – cujos efeitos persistiam ao tempo do

desenvolvimento deste trabalho – foi devido, em parte, à referida crise

econômica somada à ausência de uma política habitacional bem-sucedida e ao

alto custo do solo urbano. Resta claro, portanto, que a questão habitacional

persiste como uma das mais graves a serem enfrentadas pelo País. Outra

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20

importante característica demográfica do Brasil é a predominância da população

urbana, cuja representação chegou a 84,36% do total em 2010 (IBGE, 2010),

dado que reforça a necessidade de um eficiente programa habitacional.

Embora estudos do IPEA apontem redução no déficit habitacional no

Brasil entre os anos de 2007 e 2011, o dado mais recente desse indicador

apontava demanda de 5,4 milhões de domicílios (IPEA, 2013).

A classe média brasileira – população com renda per capita mensal entre

R$ 291 e R$ 1.019 – ganhou, entre 2002 e 2012, 35 milhões de pessoas oriundas

das classes inferiores, conforme é possível confirmar-se em Brasil (2012). O

citado estudo aponta crescimento de 50,6% no rendimento das famílias

pertencentes à classe média brasileira entre os anos de 2001 e 2011 (BRASIL,

2012), de onde se reconhece aumento na quantidade de potenciais

consumidores.

Foi sob esse contexto histórico que, por meio da Medida Provisória

459/2009, posteriormente convertida na lei 11.977/2009, o Governo Federal

brasileiro criou o Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) para

enfrentamento da questão habitacional. Segundo a referida legislação, a

finalidade do PMCMV é “criar mecanismos de incentivo à produção e aquisição

de novas unidades habitacionais” (Lei 11.977, 2009, art. 1º). Trata-se de um

programa com objetivo de construir 3 milhões de novas moradias, refletindo

diretamente na vida das famílias beneficiadas e de toda a cadeia produtiva da

construção civil (Lei 11.977, 2009).

A partir desses ambiciosos objetivos, definidos na legislação pertinente,

observa-se que o PMCMV, bem como seus componentes e sua mecânica de

funcionamento, merecem maior atenção dos pesquisadores. Tal assertiva será

discutida neste trabalho, sendo necessário anteriormente o aprofundamento na

problemática ora proposta, o que será feito a seguir.

1.1 Problema de Pesquisa

Até a década de 70 do século passado, predominava a assertiva de que

caberia exclusivamente ao Poder Público solucionar problemas sociais e

ambientais. Mazelas sociais, a exemplo do déficit habitacional, eram

consideradas responsabilidade exclusiva dos governos. Reinava o pensamento

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consagrado pelo economista Milton Friedman, segundo o qual empresas foram

constituídas para produzir lucro, ficando a cargo dos governos o cuidado com

questões sócio-ambientais e a vigilância aos excessos cometidos pelo setor

privado (EGGERS & MACMILLAN, 2013).

Polak e Warwick (2013) defendem a ideia de que somente negócios

podem acabar com a pobreza, porque as demais formas de auxílio são

superficiais e efêmeras. Filantropia, por exemplo, é útil em situações de

emergência. No entanto, a simples doação de dinheiro não atinge o núcleo do

problema e, portanto, não o resolve.

Asseveram esses autores que, no mundo inteiro, é comum que ações

governamentais apresentem horizonte de curto prazo, visto que ocupantes de

cargos eletivos costumeiramente não se preocupam com o tempo posterior ao

seu mandato. Governantes sofrem pressão para criar soluções imediatas que,

no mais das vezes, não são as mais efetivas (POLAK & WARWICK, 2013).

O caráter de curto prazo das ações governamentais também é tratado

por Bornstein e Davis (2010), que, a seguir, incluem os doadores individuais no

rol das pessoas que não visam resultados sustentáveis num prazo estendido.

Disso resulta o seguinte problema: peregrinar em busca de indivíduos ricos

dispostos a doar dinheiro para um negócio é penoso, custa caro e consome

muito tempo (BORNSTEIN & DAVIS, 2010; YUNUS, 2010).

Ainda questionando o modelo tradicional de solução pública, Polak e

Warwick (2013) indicam que outros interesses permeiam a decisão de

investimento dos governos. Para ilustrar, citam a ajuda internacional dos Estados

Unidos aos países pobres. Em 2010, os Estados Unidos da América – EUA –

doaram US$ 4,75 bilhões para seus dois principais beneficiários – Israel e Egito.

Desse total, 86% foram destinados a auxílio militar. A se considerar que os EUA

tenham grande capacidade financeira, o fato de a maior parte das doações não

ser revertida para programas de combate à pobreza indica a incapacidade dos

governos de nações ricas em produzir soluções no âmbito social.

Corroborando as idéias de Polak e Warwick (2013), Eggers e Macmillan

(2013) submetem a teoria chamada solution economy (economia de solução,

tradução nossa), segundo a qual o setor privado assume parte das

responsabilidades que antes eram exclusivas dos governos. Seu trabalho

confirma a incapacidade do Poder Público em resolver – sozinho – os mais

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graves problemas sociais. Sobre a participação do mundo dos negócios no alívio

ao sofrimento humano, os autores sugerem:

Quando grandes problemas sociais são vistos não como caridade mas como oportunidades de mercado, as ações de negócios são feitas em maior escala e têm maior visibilidade no longo prazo. (EGGERS e MACMILLAN, 2013, p. 34, tradução do autor).

Uma nova estrutura de negócios que envolva a integração de sociedade

civil, governos e grandes corporações é necessária para atender a um mercado

inexplorado que Prahalad & Hart (2002) chamam de “base da pirâmide”.

A busca pelo perfeito entendimento de como poder público e iniciativa

privada enfrentam os problemas relacionados à pobreza necessitará, para

efeitos deste trabalho, da compreensão do conceito de modelos de negócios.

Tratar-se-á com detalhes sobre esse fenômeno no segundo capítulo do

referencial teórico, não sendo dispensados breves comentários preliminares.

Modelos de negócios referem-se à lógica da empresa, a forma como ela

funciona e cria valor para as pessoas e organizações que fazem parte de sua

cadeia de relacionamento (CASADESUS-MASANELL & RICART, 2010). Cada

modelo representa a foto de um momento da empresa e inclui seus recursos e

competências, sua estrutura organizacional – fornecedores, clientes,

concorrentes, órgãos reguladores e outros – e a oferta que se traz ao mercado,

denominada proposta de valor (DEMIL & LECOCQ, 2010).

Conforme será demonstrado ao longo deste trabalho, a partir da entrada

do setor privado no esforço de busca por soluções para os problemas gerados

pela pobreza, surgiu na literatura um subtipo do conceito modelo de negócios.

Nomeados modelos de negócios sociais, são parecidos com empreendimentos

tradicionais, carregando a diferença de possuírem como propósito principal a

geração de resultados sociais e não lucros financeiros (YUNUS, 2010). Modelos

de negócios sociais estão de tal forma próximos aos convencionais que

Bornstein e Davis (2010) apostam que a grande jogada da inovação a partir da

segunda década do século XXI sairá da interseção entre os dois setores.

Iniciativas de negócios que vão além da simples Responsabilidade

Social Corporativa – RSC – e da filantropia são vistos como oportunidades tanto

para grandes empresas aumentarem seus mercados quando para atingir

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resultados no campo social, aliviando efeitos da pobreza (THOMPSON &

MACMILLAN, 2010; YUNUS, 2010). É nesse contexto que se apresenta a

literatura de inovação social, um tipo independente e distinto de inovação, que

pretende realizar uma nova combinação de fatores para atingir objetivos

relacionados ao benefício público (HOWALDT & SCHWARZ, 2010). Ocorre que

a maioria dos estudos sobre inovação social analisam emprendimentos

desenvolvidos por Organizações Não Governamentais – ONGs – e não modelos

de organizações empresariais, como propõe esta pesquisa.

No Brasil ainda se contam em pequeno número os modelos de efetiva

participação do segmento empresarial na busca por resultados sociais. Chama

a atenção o lançamento, em 2009, do PMCMV, para enfrentamento do déficit

habitacional. O modelo do programa envolve a participação do Poder Público em

parceria com instituições financeiras, construtoras, imobiliárias e outros atores.

Encontra-se no Contexto de Pesquisa deste trabalho uma descrição mais

detalhada de seu funcionamento, devendo-se adiantar que sua proposta previa

a construção de 3 milhões de novas moradias entre 2009 e 2014.

A literatura contemporânea de inovação social, conforme restará

demonstrado neste trabalho, estuda atualmente diversos modelos de negócios

sociais em que grandes empresas atuam ao lado do Poder Público em busca de

dois tipos de resultados na temática denominada “inovação social” e “modelos

de negócios sociais”: retorno financeiro e retorno social. Porém, não se

encontram estudos aprofundados sobre o PMCMV em relação às mesmas

temáticas. Busca realizada em junho de 2014 nos acervos das Revistas RAC –

Revista de Administração Contemporânea, BAR – Brazilian Administration

Review, RAC Eletrônica e ao portal de periódicos científicos Spell utilizando-se

como palavras-chave os termos que definem o PMCMV não encontrou

resultados. Buscando-se por “inovação social”, surgem trabalhos voltados

exclusivamente para o setor sem fins lucrativos.

Conforme visto, no Brasil há exígua pesquisa acerca de tais temas e até

mesmo na literatura internacional não existem exemplos brasileiros

representativos de tal modalidade, forma ou tipo de inovação. Assim, torna-se

oportuno pesquisar um caso brasileiro nas perspectivas duplas de inovação

social e modelos de negócios sociais e confrontá-lo com a fronteira da geração

concomitante de lucro empresarial e lucro social. Existe uma lacuna teórica entre

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os estudos de modelos de negócios sociais, os graves problemas decorrentes

da pobreza e as parcerias entre organizações e o Estado Brasileiro.

Destarte, este trabalho se aprofundará no estudo dos conceitos de

inovação, modelos de negócios e modelos de negócios sociais, para extrair o

conhecimento necessário à resposta da pergunta de pesquisa que se propõe,

qual seja:

O Programa “Minha Casa, Minha Vida”, executado por uma

instituição financeira federal, pode ser caracterizado como um modelo de

negócio social, conforme os conceitos preconizados na literatura

contemporânea de inovação social?

1.2 Objetivos da Pesquisa

Para responder à pergunta proposta, o presente trabalho tem os

seguintes objetivos:

1.2.1 Objetivo geral:

Investigar, descrever e analisar o modelo de negócios do

“Programa Minha Casa, Minha Vida” executado por uma

instituição financeira federal com base nos conceitos

preconizados na literatura contemporânea de inovação social e

negócio social.

1.2.2 Objetivos específicos

a) Investigar, descrever e analisar o conceito, objetivos, métricas e

resultados do PMCMV;

b) Examinar e detalhar a proposta de valor que envolve

produtos/serviços, clientes e demais stakeholders do PMCMV e a

constelação de valor (redes interna e externa);

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c) Investigar e analisar a equação de lucro financeiro – receitas/custos

e recuperação do capital – e a equação de lucro social, conforme

modelo de Yunus et al. (2010);1

1.3 Justificativa

A busca de resultados financeiros que agradem aos acionistas ainda é

o principal objetivo da maioria das organizações, porém é crescente o número

de empresas que desenvolvem negócios sociais (YUNUS et al., 2010). Esses

empreendimentos ocorrem diretamente ou via parcerias com ONGs e Governos

de países em desenvolvimento.

Embora existam experiências relativamente antigas como o Grameen

Bank (Banco do Vilarejo), fundado em 1976 (YUNUS, 2010), apenas na primeira

década do século XXI o tema negócios sociais ganhou notoriedade na literatura

especializada. Como todos os campos emergentes de pesquisa, não possui

fronteira lógica definida, acabando misturados em outras disciplinas (MAIR &

MARTI, 2004). Para Weber (2008), o conceito de negócios sociais ainda não

atingiu completo reconhecimento, mas já é uma realidade. Yunus et al. (2010)

entendem ser necessário o aprofundamento no duplo campo de pesquisa e

experimentação de modelos de negócios sociais, dado que muitas questões

permanecem sem solução. A conferência desses autores permite concluir que,

sob o ponto de vista do mundo acadêmico, é importante o aprofundamento no

tema, seja via pesquisa e/ou experimentos. Para a academia brasileira,

especialmente, o assunto reclama maior atenção, visto que, ao se pesquisar a

literatura de inovação social, encontram-se poucas referências nacionais. O

curso de Mestrado Profissional em Administração de que este trabalho é

requisito está conectado com o tema proposto, pois um de seus eixos centrais é

exatamente a Inovação.

Há um crescente interesse da academia pelo tema, posto que atrai a

atenção do mundo dos negócios. A pobreza é elemento contrário à produção,

dentro do raciocínio de que sem renda não há consumo. Se existem 2,7 bilhões

de pessoas à margem do consumo, conforme já citado anteriormente, e a se

1Ver QUADRO 4

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considerar a informação de Polak e Warwick (2013) de que 50% do poder de

compra nos países em desenvolvimento reside na base da pirâmide, parece

claro o interesse do meio corporativo em voltar seus olhos para tal direção.

A espécie de inovação a ser estudada possui requisitos para conquistar

o interesse acadêmico por representar ferramenta capaz de construir a conexão

entre governos e sociedade civil na divisão de responsabilidades pela mudança

social, como se depreende de Yunus (2010). Se uma empresa tradicional não

sobrevive sem inovação (DAVILA et al., 2006), é possível que a inovação social

seja igualmente importante. Polak e Warwick (2013) afirmam que nenhuma

empresa irá sobreviver se ignorar as mudanças e deixar de apostar num

mercado com quase três bilhões de possíveis clientes, embora tal indicação

esteja sujeita a questionamentos.

O estudo dos modelos de negócios sociais ganha relevância à medida

que as práticas se proliferam pelo mundo. Nas palavras de Bornstein e Davis

(2010):

Empreendimentos sociais estão surgindo tão rapidamente e em tantas direções que serão necessários numerosos livros para que se dê tratamento adequado. (BORNSTEIN e DAVIS, 2010, p. 100, tradução do autor).

O pesquisador deste trabalho se entusiasmou com o tema por múltiplas

razões. O programa objeto do estudo é executado, entre outras, pela instituição

em que o autor trabalha desde 2001, situação que torna a matéria ainda mais

instigante aos seus olhos. A partir do início do Mestrado Profissional em

Administração, o autor passou a ter contato com conceitos que ainda não

experimentara estudar. O estudo sobre inovação em geral, negócios sociais, as

características de tais modelos de negócios e os exemplos de aplicação prática

ao redor do mundo incentivaram a curiosidade da pesquisa.

Para a instituição em análise, a pesquisa é importante porque permitirá

esclarecer a configuração do PMCMV e revelar se é possível promover melhoria

na qualidade de vida da população e ainda assim gerar lucros financeiros em um

mesmo modelo de negócios. O correto enquadramento científico do PMCMV

permitirá à instituição fortalecer a atuação no mesmo. Categorizar o PMCMV

como filantrópico, inovação na base da pirâmide, transferência de benefícios do

Governo Federal ou negócio social permitirá a redução de eventuais

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contestações e exaltações inspiradas por adversidades político-ideológicas,

tornando-o peça classificada cientificamente.

As ambiciosas metas do PMCMV, definidas em seus estatutos legais, de

construir 3 milhões de novas moradias no período de 2009 a 2014 reveste de

relevância o objeto do estudo, especialmente em se considerando o déficit

habitacional brasileiro de 5,4 milhões de domicílios (IPEA, 2013).

Quanto aos procedimentos metodológicos deste trabalho e a partir do

desenho de pesquisa supracitado, trata-se de uma pesquisa de abordagem

qualitativa, com finalidade descritiva. O meio empregado será o estudo de caso,

o que permitirá uma análise profunda do objeto de estudo, o PMCMV. Empregar-

se-ão principalmente os procedimentos de levantamento bibliográfico, análise

documental, entrevistas semi-estruturadas e observação direta. A metodologia

completa será detalhada em capítulo próprio.

1.4 Estrutura do Texto

A presente dissertação está organizada em cinco partes. Na parte

introdutória são apresentados a problemática, a pergunta de pesquisa, os

objetivos gerais e específicos, a justificativa e menções à metodologia a ser

aplicada.

A segunda parte constitui o Referencial Teórico dividido em três

capítulos. O primeiro capítulo trata de inovação. São feitas análises dos

conceitos e importância da inovação, processos de produção e sobre a inovação

na interface entre a tecnologia e o modelo de negócios. No segundo capítulo

serão estudados os conceitos de modelos de negócios. O terceiro capítulo

apresentará os modelos de negócios sociais, tratando dos pontos em comum e

das diferenças com relação aos empreendimentos convencionais, bem como

descreverá a importância da mensuração e os indicadores de resultados sociais.

Na terceira parte são apresentados os procedimentos metodológicos a

serem aplicados na pesquisa, descrevendo os principais conceitos e propostas

da metodologia. Será, ainda, descrito o contexto em que se realizará a pesquisa,

ou seja, a instituição e o programa objeto do estudo. A quarta parte – análise e

discussão de resultados – será composta da análise detalhada do modelo de

negócios do PMCMV, suas características, proposta de valor, constelação de

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valor, equação de lucro financeiro e equação de lucro social. Por fim, a quinta

parte – conclusões –pretende responder à pergunta de pesquisa, ressaltando

eventuais lacunas deixadas pelo estudo e recomendando o aprofundamento em

determinadas questões.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

O Referencial Teórico aborda os seguintes temas: Inovação,

considerando seus conceitos e importância, processo de produção e a dupla

abordagem da inovação na tecnologia e no modelo de negócios; Modelos de

Negócios, trazendo seus conceitos, a diferença com relação à ideia de estratégia

e seu dinamismo; por fim, trata do subtipo nomeado Modelos de Negócios

Sociais.

2.1 Inovação

2.1.1 Conceitos e Importância

Neste capítulo, será submetida à análise a temática inovação, cujos

contornos são tangentes ao escopo principal do trabalho. Pretende-se iniciar

com conceitos trazidos por autores especializados e tratar da importância da

inovação para o mundo empresarial em geral. Em sequência, serão

apresentadas linhas gerais de como produzir inovação, explicando-se

adicionalmente o processo de tentativa-e-erro. Por fim, será exposta a inovação

como agente influenciador não somente da tecnologia, mas também do Modelo

de Negócios, de forma a atingir-se o entendimento de que estes também são

afetados pelas mudanças, ao contrário do que supõe o senso comum.

Inovação é tema recorrente no cotidiano do mundo corporativo. É

possível constatar que as empresas que alcançam maior sucesso em termos de

dinamismo e rentabilidade são as mais inovadoras, aquelas que criam novos

mercados, diversamente de permanecer brigando em setores altamente

concorridos (TIGRE, 2006). Corroborando Alvarenga Neto (2012) em sua

definição como “tarefa ingrata” a de conceituar inovação, é farta a literatura a

respeito, de onde se extraem conceitos vários, como os apresentados nos

parágrafos a seguir.

Um conceito que remete à prática das organizações, portanto de fácil

reconhecimento, é o de Teece (2010), para quem a inovação ocorre quando se

modifica a forma de como a empresa vai a mercado.

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Na concepção de Drucker (1998), inovação é “o esforço para criar

mudanças propositais num potencial ambiente econômico ou social”

(DRUCKER, 1998, p. 3).

Tigre (2006) chama a atenção para o costumeiro equívoco entre os

conceitos de inovação e produto novo, no que é acompanhado por Alvarenga

Neto (2012), que alerta para a habitual confusão entre as ideias de inovação,

criatividade e invenção. Para Tigre (2006), um lançamento só poderá ser

chamado de inovador se alcançar escala comercial. A simples criação de um

produto com características diferentes daqueles já existentes não

necessariamente caracteriza inovação. As novidades incapazes de se difundir

amplamente no mercado serão classificadas como mera invenção. Neste

mesmo sentido, Davila et al. (2006) afirmam que criatividade e cultura criativa

não são fundamentos primordiais da inovação, uma vez que produzir ideias

constitui a parte fácil do processo. A dificuldade está em selecionar e

implementar as boas criações.

Por fim, Davila et al. (2006) descrevem inovação como um processo de

gestão que requer ferramentas específicas, regras e disciplina. Inovação é aquilo

que produz mudanças fundamentais para a sobrevivência da organização.

Postos os conceitos, avista-se o momento de clarificar a importância da

inovação no ambiente organizacional e sua fixação como diferencial competitivo.

Assim o faz Porter (2001), para quem a distinção necessária está em avançar ao

mercado de uma maneira diferente da clássica, sendo que o lançamento de

produtos convencionais com métodos costumeiros já não garante vantagem

competitiva.

Davila et al. (2006) asseveram que inovação é elemento-chave para o

crescimento, fator crítico sem o qual as empresas param, os competidores as

ultrapassam e, por fim, as empresa morrem. Useem, apud Davila et al. (2006),

confirma essa assertiva ao dizer que “inovação é questão de sobrevivência”2.

Davila et al. (2006) usam a mesma expressão, “questão de sobrevivência”, para

dizer que, sem inovação, a empresa será extinta. Prosseguem declarando que,

quanto a isso, não há dúvidas, restando apenas incerto quando tal fato terá lugar.

2USEEM, J. 3M + General Eletric = ?.Fortune Magazine, EUA, 12 de agosto de 2002. Disponível em: http://money.cnn.com/magazines/fortune/fortune_archive/2002/08/12/327038/index.htm, acessado em 12/04/2014

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Deixar de inovar é tão dramático para uma empresa que Teece (2010) reconhece

a absoluta necessidade de mudança por conta própria, antes que a companhia

seja impelida por forças externas, como aconteceu com os bancos de

investimento nos Estados Unidos após a crise de 2008. Corroborando os já

citados autores, Kanter (2006) ressalta a proeminência das ações inovadoras ao

determinar que “inovação envolve ideias que criam o futuro” (KANTER, 2006, p.

12, tradução nossa). Dessa declaração é possível depreender que não há futuro

para companhias pouco ou nada inovadoras.

Afirmar que comportamento inovador seja vital para o sucesso

empresarial encontra apoio em Drucker (1998). Para esse autor, ninguém mais

precisa ser convencido da importância da inovação.

Pacificado tal entendimento, há que se investigar o “como” fazer, que

constitui responsabilidade de todos os executivos e função específica de todos

os empreendimentos, sejam eles negócios existentes, instituições públicas ou

um novo negócio iniciado na cozinha de uma família.

2.1.2 Processo de Produção da Inovação

Antes, porém, de tratar-se da execução em si, mostra-se indispensável

investigar a partir de onde a organização enxerga oportunidades de inovar.

Drucker (1998) afirma que inovação é, em regra, fruto de um processo

consciente, uma busca por oportunidades que surgem em determinadas

situações produzidas por “fontes de inovação”. Exceção que confirma a regra

encontra-se na eventualidade, em situações nas quais a inovação nasce de um

processo não estruturado, como num lampejo de genialidade. O autor apresenta

sete fontes que criam tais ensejos para os inovadores, sendo quatro internas à

organização e três externas, representadas no QUADRO 1.

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QUADRO 1

Fontes de Inovação

Oportunidade Exemplos Localização

Sucessos e fracassos

inesperados: situações não

planejadas pela empresa, mas

para as quais os gestores

permanecem atentos e

desenvolvem negócios a partir

da ocorrência

A máquina de calcular da IBM (1930) não

conquistou o mercado-alvo (bancário), mas

encontrou outras aplicações e levou a empresa ao

domínio da indústria de computadores nos 50 anos

seguintes.

Interna

Incongruências (desconexões

entre lógicas de processo,

realidades econômicas, ou

expectativas/resultados

Surgimento dos containers na indústria cargueira

naval, que quanto mais crescia, menos lucros

produzia, devido ao tempo dos navios parado nos

portos.

Interna

Necessidades de processo A “mídia” é resultado de 2 inovações dos anos

1890: a produção expressa e em alto volume de

jornais (Linotipo de Mergenthaler) e a venda de

publicidade (New York Times e New York

World).

Interna

Mudanças industriais e de

mercado: criam muitas

oportunidades de inovação.

Comum quando a indústria

cresce rapidamente. Perigosa

para empresas estabelecidas.

Indústria de cuidados com a saúde nos EUA, nos

anos 1980/1990 se espalhou em clínicas privadas

ao longo do país inteiro

Interna

Mudanças demográficas:

normalmente negligenciadas

pelos gestores

Japoneses perceberam, nos anos 1970, a redução

da natalidade e a melhoria do nível de educação

dos jovens. Portanto, faltaria mão-de-obra pesada

no futuro. Investiram em robótica e se tornaram

líderes neste setor

Externa

Mudanças na percepção (copo

meio cheio ou meio vazio).

Mudanças que não alteram os

fatos, mas sim seu significado

(podem ocorrer muito

rapidamente)

A qualidade da saúde dos norte-americanos

melhorou muito nos anos 1970/1980,

incentivando as pessoas a desejarem “a vida

eterna”. Isso gerou oportunidades para surgimento

de revistas especializadas em saúde, comida

saudável, academias, equipamentos de ginástica

etc.

Externa

Novos conhecimentos: são as

estrelas da inovação, a

primeira imagem que as

pessoas visualizam quando

pensam no tema

Criação do sistema bancário moderno por JP

Morgan (EUA) e Georg Siemens (Alemanha),

indústria da computação, indústria da eletricidade,

aviação ...

Externa

Fonte: adaptado de DRUCKER (1998)

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As oportunidades surgidas por meio das fontes propostas por Drucker

(1998) despertam a necessidade de um processo sistemático, intencional, que

envolva observação, questionamentos e audição, cujo produto é a inovação.

Tigre (2006) confirma o caráter processual e sistemático ao definir que a

inovação é conseqüência de uma combinação de várias fontes, internas e

externas à empresa, partindo das atividades de P&D – Pesquisa e

Desenvolvimento, passando pela aquisição de conhecimento codificado – livros,

manuais, softwares – e chegando à aquisição de licenças e tecnologia embutida

em equipamentos.

Conhecimento parece ser etapa do processo, visto que Tigre (2006)

destaca a importância da inovação realizada por meio da informação e do

conhecimento, de modo a agregar valor à estrutura produtiva. Explica que o

desenvolvimento não advém somente da expansão econômica, mas também é

conseqüência direta de investimentos em educação, tecnologia e inovação.

Conhecimento e informação são igualmente ressaltados por Alvarenga Neto

(2005) como elementos fundamentais no ambiente organizacional, visto

consistirem em “únicos fatores capazes de fortalecer as competências

essenciais das organizações e contribuir para a consolidação de vantagens

competitivas sustentáveis” (ALVARENGA NETO, 2005, p. 19).

Ainda com respeito à íntima relação entre conhecimento e inovação,

toma-se emprestado o alerta de Choo (1996) sobre o fato de que ter uma visão

antecipada dos movimentos do mercado constitui vantagem competitiva, do que

se conclui que inovar não deve ser um ato inconsciente, mas uma ação

direcionada. Para Choo (1996), alterações relevantes no ambiente irão

determinar os momentos em que a empresa deve agir, tomando uma decisão

racional. Tais alterações podem ser identificadas a partir de sinais enviados pelo

ambiente externo, cabendo às organizações tratarem esses indícios para

transformá-los em conhecimento. Por sua vez, conhecimento será material para

a tomada de decisão dos gestores. Nas palavras do autor, “o novo conhecimento

é aplicado ao desenho de novos produtos e serviços, aprimoramento das ofertas

existentes e melhoria do processo organizacional” (CHOO, 1996 p. 330).

Despertada a necessidade de mudança e geradas as oportunidades

pelas fontes internas e externas, o “como fazer” da inovação, conforme Drucker

(1998), é similar à execução de qualquer outro empreendimento. Requer muito

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mais trabalho do que genialidade – trabalho duro, focado, intencionalmente

planejado. O procedimento é simplificado por Davila et al. (2006) quando

afiançam que, para se produzir inovação não é necessário uma revolução dentro

da empresa, mas sim a construção de um processo sólido de gestão e

organização, que faça as coisas acontecerem. Refere-se a um trabalho

intencional, focado nos atributos de uma empresa inovadora, sob uma gestão

preparada para enfrentar as barreiras internas e externas e baseado no binômio

tentativa-erro. Necessário reforçar que inovação não acontece num passe de

mágica, consoante afiançam Davila et al. (2006) ao incluí-la como parte integral

da mentalidade de negócios da corporação.

Além de ser reconhecida como elemento crucial da competitividade, a

inovação depende de incentivos para florescer. Tigre (2006) ressalta o papel

decisivo de um ambiente favorável ao fenômeno inovador:

A geração e apropriação de inovações, entretanto, é um processo complexo que depende não apenas das qualificações e dos recursos técnico-financeiros detidos pela firma, mas também do ambiente institucional no qual está inserida e do poder de negociação com fornecedores e clientes. (TIGRE, 2006, p. VIII ).

Preparar o terreno para promover a inovação nas organizações é

condição para seu desenvolvimento. Legislação, apoio político e localização

geográfica que facilitem conexões entre os participantes de uma cadeia

produtiva fazem parte da seleção de itens a se considerar quando se fala em

inovação (PORTER, 2001). Países capazes de promover um ambiente fértil para

inovação o fazem através de políticas inspiradas pelo conhecimento das

características de uma empresa inovadora e dos fatores sistêmicos que podem

influenciar o fenômeno (OCDE, 1997).

Uma vez compreendido que a inovação surge de determinadas fontes,

depende de trabalho árduo e só se desenvolve num ambiente favorável, além de

estar relacionada ao conhecimento, faz-se importante considerar que resultados

somente serão alcançados quando o pretenso inovador se lança a campo para

observar, perguntar e ouvir (DRUCKER, 1998). Cabe a abertura de breves

parêntesis para lembrar fala atribuída ao político mineiro Benedito Valadares,

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sobre a importância de prestar atenção ao que os outros dizem: “Estou rouco de

tanto ouvir” (BENEDITO VALADARES, 2014).

A inovação será conseqüência de operações diferentes do negócio

existente, numa lógica de tentativa e erro (MCGRATH & MACMILLAN, 1995).

Chesbrough (2010) sugere a criação de experimentos em menor escala, para

simular o lançamento de uma novidade. Tais experimentos devem ser fiéis à

realidade para acumular conhecimento sobre possíveis falhas antes do

lançamento definitivo. Para esse autor, falha não é sinônimo de erro. A primeira

faz parte do processo normal de experimentação e é útil para o aprendizado. O

segundo aparece apenas em experimentos mal desenhados. McGrath (2010),

da mesma forma, defende que, diante da impossibilidade de previsão do futuro

para o lançamento de novos produtos, o melhor caminho é a experimentação de

baixo custo inicial. Consiste em um grande erro aplicar altos volumes de recursos

numa ideia embrionária, mesmo que seja promissora. Melhor seria iniciar com

aporte menor de recursos até que a novidade se provasse viável, por meio dos

testes.

Essa autora separa a abordagem convencional – que mede o sucesso

da inovação pela taxa de acerto das projeções do futuro– da abordagem dirigida

à descoberta – surgida uma nova ideia, ela deve passar por testes de validação.

Bornstein e Davis (2010) confirmam a necessidade de se suportar falhas num

processo de inovação, concluindo que cometer erros que ajudem a aprender é

o caminho para produzir ideias melhores. Bons exemplos de inovação

“indesejada” são as descobertas do Raio X e da penicilina. Os pesquisadores

buscavam outras coisas e só chegaram aos resultados surpreendentes a partir

de observação, experimentação e ajustes.

2.1.3 Inovação na interface entre Tecnologia e Modelo de Negócios

Ao finalizar a análise da temática inovação, consonante à atenção

principal deste trabalho, há que se retornar aos conceitos do objeto de estudo

para identificar-se uma modalidade que recebe, segundo Alvarenga Neto (2012),

pouquíssimo valor da academia. Refere-se à inovação que acontece no modelo

de negócio.

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Popularmente difundida é a definição de inovação tecnológica que, de

acordo com a OCDE (1997), se dá com a implantação de um novo produto com

características aprimoradas para oferecer ao consumidor serviços novos ou mais

sofisticados. Essa visão é ilustrada por Davila et al. (2006), que descrevem a

primeira imagem que vem à mente das pessoas quando se fala em inovação:

uma sala onde técnicos e engenheiros estão concentrados, trabalhando para

construir a próxima e espetacular tecnologia que irá revolucionar o mundo. Disso

se infere que, popularmente, o termo “inovação”, sem complemento, está

associado a novidades tecnológicas. É bastante simples enxergar novas

tecnologias em produtos como chips de computador, equipamentos eletrônicos,

fábricas, ao passo que se mostra complexo identificar a inovação contida em

uma refeição italiana, em uma apresentação artística ou em uma caixa de sabão

em pó (OCDE, 1997).

Davila et al. (2006) afirmam tratar-se de um equívoco a imediata conexão

entre o termo “inovação” e o avanço tecnológico, uma vez que se pode

influenciar tanto aspectos da tecnologia quanto do modelo de negócios.

Destacam em seu trabalho a relevância de não se prender apenas à inovação

tecnológica. Em suas palavras, “desenvolver novos modelos de negócios e

novas estratégias é tão importante [quanto desenvolver novas tecnologias] – às

vezes, mais” (DAVILA et al., 2006, p. XVI, tradução nossa).

Encontram-se fartamente na literatura e no cotidiano exemplos

vencedores de inovações que nada alteraram a tecnologia e, ainda assim,

mudaram a direção da indústria inteira. É o caso da Apple com o iTunes,

inovação que atingiu apenas o modelo de comercialização de músicas, sem criar

uma nova tecnologia (ALVARENGA NETO, 2012; DAVILA et al., 2006;

JOHNSON et al., 2008). Grande sucesso obteve a Dell Computadores com a

substituição de seu sistema de vendas através de representantes para venda

direta ao consumidor, sem envolver novas tecnologias (DAVILA et al., 2006). Por

sua vez, Teece (2010) menciona a empresa aérea Southwest Airlines, que

recorreu à inovação no modelo de negócios para conquistar significativa redução

de custos. Seu modelo, apelidado “sem frescuras”, se baseia nos seguintes

aspectos: utilização de um único tipo de aeronave, venda direta aos clientes, uso

de aeroportos periféricos, cobrança por serviço de bordo.

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Alvarenga Neto (2012) defende o mesmo ponto de vista, apontando a

limitação da fixação na inovação em tecnologia e sugerindo estudos ampliados

para abranger tanto o aspecto tecnológico quanto o modelo de negócio, com uso

das seis alavancas da inovação propostas por Davila et al. (2006). Conforme se

verifica na FIG. 1, o modelo prevê três alavancas no campo tecnológico e três

no modelo de negócios, as quais serão conceituadas e exemplificadas nos

parágrafos a seguir.

Figura 1: As seis alavancas da inovação. Fonte: adaptado de Davila et al. (2006), p. 31

Alavancas da tecnologia:

Inovações nos produtos e serviços são as mais visíveis ao cliente.

Configuram a representação mental da palavra “inovação” para a maioria das

pessoas. São as estrelas populares. Podem ser novidades inseridas em

produtos já existentes ou mesmo a criação de um produto completamente novo.

Os consumidores aguardam por esta modalidade. Podem ser novos recursos em

aparelhos de telefone, uma nova droga revolucionária na indústria farmacêutica,

o próximo modelo de tablet.

Bem menos perceptíveis ao primeiro olhar são as inovações em

tecnologias de processos, geralmente feitas para redução de custos. Envolvem

tecnologias de processamento de alimentos, fabricação de automóveis, refino de

petróleo, geração de energia e outros. São especialmente importantes nas

indústrias de commodities, onde o produto de todos os concorrentes é

praticamente idêntico.

Tecnologias capacitantes estão em uma alavanca indireta, não fixada ao

produto/serviço. Muito pouco claras aos olhos do cliente, são utilizadas para

melhoria da estratégia, auxiliando na tomada de decisões e na gestão financeira.

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Um exemplo é a tecnologia da informação que, ao ser aprimorada, permite

execução mais eficiente e veloz da estratégia.

Alavancas do Modelo de Negócios:

Inovações na proposta de valor significam novos produtos ou ampliação

da oferta do produto existente. Trata-se do caso da mudança significativa no

campo de atuação da IBM, que voltou seu foco para a prestação de serviços,

reduzindo a produção de equipamentos.

A alavanca cadeia de suprimentos inclui inovações pouco visíveis para

os clientes, que ocorrem no campo da distribuição do valor. Estão nos bastidores

e, geralmente, não provocam a comoção habitual do lançamento de um produto

revolucionário. Exemplo: parceria da Microsoft com desenvolvedores de jogos

para o console Xbox.

Novos segmentos de clientes-alvo podem ser definidos, visando melhor

desempenho da organização. Inovar nesta alavanca representa direcionamento

dos esforços para outros clientes, como na história do desenvolvimento das

barras de cereal que, a princípio, eram voltadas para atletas profissionais.

Posteriormente, a indústria encontrou novos nichos de mercado, especialmente

pessoas preocupadas com a boa forma física.

A análise da literatura feita neste capítulo conduz à conclusão de que

inovação é capital necessário para gerar e manter vantagem competitiva

(PORTER, 2001), sendo consequência não da casualidade (DAVILA et al.,

2006), mas de um processo direcionado para este fim, num ambiente propício

(TIGRE, 2006), a partir de determinadas fontes (DRUCKER, 1998). A busca pela

inovação deve se pautar na experimentação com projetos de menor porte, para

proteger a empresa dos riscos de um lançamento dispendioso (MCGRATH,

2010).

O conceito de inovação adotado para este trabalho é o de geração de

valor como interface entre a tecnologia e o modelo de negócio, de acordo com

as ferramentas propostas por Davila et al. (2006).

Uma vez investigados os conceitos, importância, fontes, processo,

ambiente necessário para seu florescimento e as alavancas da inovação –

sobretudo aquelas que influenciam algo além da tecnologia – passa-se a

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discorrer sobre o que há de mais contemporâneo na literatura de modelos de

negócios.

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2.2 Modelos de Negócios

Para os objetivos a que se propõe este trabalho, o estudo dos modelos

de negócios é fundamental, pois é introdutório à análise de um subtipo destes,

quais sejam, os modelos de negócios sociais.

Inicia-se o capítulo com conceitos pesquisados na literatura

especializada. A seguir, disserta-se a respeito da história desses modelos e seu

posicionamento dentro da Teoria Econômica. A importância para as

organizações, distinção com relação a estratégia, execução e dinamismo dos

modelos de negócios completam esta parte do estudo.

2.2.1 Conceitos, desenvolvimento histórico e posicionamento na Teoria

Econômica

Um dos conceitos de modelos de negócios encontrados na literatura

contemporânea é o de Teece (2010), segundo o qual se trata da maneira como

a empresa vai a mercado, tendo em sua essência a forma como a empresa

entrega valor, convence os clientes a pagarem pelo valor e transforma parte

destes pagamentos em lucro. Consideravelmente similar é a definição de

Osterwalder (2010): um modelo de negócios descreve a lógica como uma

organização cria, entrega e captura valor. Magretta (2002) compara modelos de

negócios à narração da história de como a empresa trabalha ou,

analogicamente, à narração de como a empresa cria, entrega e captura valor.

Osterwalder (2010) propõe um framework nomeado Canvas (ANEXO A),

que permite análise do modelo de negócios de uma empresa considerando-se

nove blocos, quais sejam: segmentos de clientes (quem é o público-alvo?);

proposta de valor (quais necessidades do cliente são atendidas pela oferta?);

canais de comunicação; relacionamento com o cliente; fluxo de receitas;

recursos-chave (físicos, intelectuais, humanos, financeiros); atividades-chave;

parceiros-chave (alianças, joint ventures, rede de fornecedores); estrutura de

custos.

Já Zott e Amit (2010) tratam modelos de negócios como um sistema de

atividades praticadas pela empresa e seus parceiros, complementado por um

modelo de receitas cujo objetivo final é similar aos anteriormente citados neste

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capítulo, qual seja: produzir e capturar valor. Conceito análogo é proposto por

Itami e Nishino (2010), que oferecem na composição do modelo de negócios um

sistema de atividades – trabalho de produção e entrega – e um modelo lucrativo

– padrão de como a empresa captura valor. Sua concepção pode ser ilustrada

pelo modelo de negócios do Google, onde é possível identificar o sistema de

atividades no software de buscas – o qual confere ao usuário informações

imediatas em grande volume – e o modelo lucrativo na venda de publicidade

comercial associada às buscas dos usuários (ITAMI & NISHINO, 2010).

Relevante conceito é o de Baden-Fuller e Morgan (2010): modelos de

negócios são um local para investigação científica, sendo utilizados como receita

para gestores criativos. Os autores os comparam a uma receita gastronômica.

Visto sob o ponto de vista da culinária, modelos de negócios podem resultar em

diversos pratos de inovação, a partir da combinação de seus ingredientes:

recursos, capacidades, produtos, clientes, tecnologia, mercados. Essa última

analogia também é descrita por Sabatier et al. (2010), para quem os modelos

devem ser descritos de maneira concisa, de forma que possam ser replicáveis

como uma receita de bolo.

Ao se pesquisar a literatura especializada em modelos de negócios,

estudos a respeito são encontrados com maior fartura na esteira do intenso

desenvolvimento tecnológico e da comunicação ocorrido a partir dos anos 1990.

A definição dessa data para origem dos estudos de tal temática encontra amparo

em Magretta (2002), que aponta a referida expressão como uma das mais

destacadas buzzwords – palavras da moda – do período rotulado “boom da

internet” – final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Teece (2010) reconhece

a mesma origem do termo, dizendo que este ganhou relevância a partir da

primeira década dos anos 2000, devido à emergência do conhecimento da

Internet, do comércio eletrônico e da reestruturação do sistema financeiro

mundial.

O surgimento dos modelos de negócios apenas na transição dos séculos

XX para XXI explica-se pela complexidade que envolvia a elaboração de uma

proposta como esta em tempos deficientes de avançada tecnologia. A

simplificação veio com a introdução dos computadores pessoais e das planilhas

eletrônicas, fato que permitiu o planejamento de modelos de negócios que,

anteriormente, eram gerados acidentalmente (MAGRETTA, 2002).

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O referido período de nascimento do conceito ora tratado coincide com

os meteóricos surgimento e fracasso das empresas “ponto com”, organizações

sem fundamentos, sem proposta de valor, sem estratégia e nem mesmo clientes-

alvo, cujo único propósito era auferir lucros com uma tecnologia baseada na

Internet (MAGRETTA, 2002). A coincidência temporal levou à associação entre

modelos de negócios e empresas “ponto com”, gerando motivo para

desconfiança. A autora absolve o conceito ora em estudo, definindo como

culpados aqueles que o distorceram e dele fizeram mau uso, ao mesmo tempo

que insiste na sua importância para qualquer empreendimento de sucesso atual.

Nesse sentido, Teece (2010) aparentemente confirma o engano de tal

correlação direta quando diz que todos os empreendimentos, de maneira

implícita ou explícita, utilizam um modelo de negócios próprio. Seguindo a

mesma linha, Casadesus-Masanell e Ricart (2010) salientam que toda empresa

tem um modelo de negócios, pois todas tomam decisões cujas conseqüências

determinam a lógica de seu funcionamento.

O caráter recente da questão se reflete na baixa difusão do assunto pela

academia, assertiva validada por Baden-Fuller e Morgan (2010), cujo trabalho

aponta uma lacuna nas escolas especializadas, que raramente possuem

modelos de negócios como centro de suas pesquisas. Esses autores

consideram tal brecha uma contradição, visto que o objeto ignorado pelas

escolas de negócio ganha vida no mundo organizacional, faz parte do dia-a-dia

de gestores, consultores, comentaristas na TV e rádio.

Teece (2010) reforça as críticas, afirmando que modelos de negócios

não têm lugar junto à teoria econômica, uma vez que os estudos econômicos

não fundamentam o referido conceito. Insiste que a teoria econômica não vê

problema a ser resolvido por tais modelos, pois segundo ela o mercado

absorverá automaticamente o produto lançado, se ele for vendido a um preço

razoável que garanta lucro para a empresa. O entendimento de Teece (2010) é

de que os estudos econômicos enxergam apenas um mercado ideal que não

existe na vida real. Entretanto, a realidade é o campo em que se desenvolvem

os modelos de negócios. Em um mercado onde não houvesse concorrência,

como uma economia planejada, em que o Estado define a produção, modelos

de negócios seriam desnecessários e, portanto, a Academia não precisaria se

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preocupar com este assunto. Eles são úteis em mercados onde há competição

(TEECE, 2010).

Em que pese tais fraquezas na fundamentação teórica, esse conceito

deve estar presente na estratégia das empresas (TEECE, 2010). O autor expõe

freqüentes fracassos de inovações tecnológicas causados por desatenção ao

modelo de negócios. Traz o exemplo de Thomas Edison, que não conseguiu

tornar viáveis comercialmente a maioria de seus inventos. Teece (2010) destaca,

ainda, que o melhor entendimento do modelo de negócios leva a empresa a

compreender o comportamento do mercado, resultando em vantagem

competitiva. Johnson et al. (2008) concluem que a razão da dificuldade de

transformar inovações em lucros é o raso conhecimento das empresas com

relação a seus próprios modelos de negócios.

2.2.2 Modelos de negócios e estratégia

Além da citada ausência na Teoria Econômica, os conceitos de modelos

de negócios são habitualmente confundidos com os de estratégia. Diante da

proposição deste trabalho em esclarecer o entendimento sobre a temática em

estudo, considera-se útil desfazer o nó que envolve ambas as proposições.

Regularmente, ao serem perguntadas sobre estratégia, as pessoas confundem

tal matéria com modelo de negócios, embora este último seja mais restrito que

aquela (BADEN-FULLER & MORGAN, 2010).

Estratégia de uma empresa se refere ao caminho em que se combinam

atividades sobrepostas para atingir diferentes clientes e mercados, enquanto

modelos de negócios são um dos elementos da estratégia (SABATIER et al,

2010). Tanto são assim diferentes em amplitude que Casadesus-Masanell e

Ricart (2010) definem estratégia como a escolha do modelo de negócios com o

qual a empresa irá atuar. Numa analogia com máquinas, esses autores usam a

indústria automobilística: o desenho e a fabricação do carro são a estratégia,

enquanto o carro é o modelo de negócios.

Ao tratar de estratégia e modelos de negócios, Teece (2010) conclui que

atrelar ambos é fundamental como proteção às vantagens competitivas surgidas

do desenho do modelo.

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Estabelecida a distinção entre estratégia e modelos de negócios, passa-

se à análise do dinamismo destes últimos.

2.2.3 Dinamismo do Modelo de Negócios

Com objetivo de se identificar a boa qualidade de um modelo de

negócios, propõe-se a sugestão de Magretta (2002). Segundo os estudos dessa

autora, a organização alcançará sucesso se seu modelo for aprovado no “teste

dos números”. Resultará bem-sucedido o modelo que extrair bons números de

uma história que faça sentido.

A fim de ilustrar, cita a varejista californiana Webvan, cujo modelo de

negócios consistia na venda e entrega de produtos de supermercado na casa

dos consumidores. O primeiro olhar fazia crer que a história agradaria, afinal é

coerente supor que fazer compras no conforto de casa seja atrativo. Porém, a

Webvan não passou no teste dos números: o custo excedente para receber

compras do dia-a-dia em casa não convenceu os clientes e a empresa faliu em

2001.

Se modelos de negócios são fundamentais para toda organização,

conforme se depreende da leitura dos parágrafos anteriores, é simples

compreender que a criação de um modelo representa o primeiro passo para o

sucesso. Porém, alerta Teece (2010), meramente criar um modelo de boa

qualidade não garantirá o sucesso, pois se as características inovadoras forem

fáceis de copiar, em pouco tempo não mais representarão vantagem

competitiva. Entre os mecanismos de defesa contra a cópia de ideias, Teece

(2010) propõe que as empresas adotem a manutenção de um nível de

obscuridade dos detalhes e a implementação de processos difíceis de se copiar.

Adicionalmente às ações de proteção, a literatura ensina que o

dinamismo é característica significativa de um modelo vitorioso. Alcançar e

manter vantagens competitivas exige que o modelo seja dinâmico,

constantemente revisto e atualizado em virtude das mudanças no ambiente

interno e externo à organização, conforme é possível deduzir da leitura de Demil

e Lococq (2010), reforçados nessa afirmação por Wirtz et al. (2010).

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A empresa deve estar preparada para os riscos inerentes à necessária

mudança, usando ferramentas como as advindas da “consistência dinâmica”

proposta por Demil e Lecocq (2010). Consistência dinâmica representa a

capacidade da empresa em manter um desempenho sustentável ao mesmo

tempo em que altera seu modelo de negócios. Williamson (2010) explica que,

para grandes empresas, mudar o modelo de negócios é difícil, caro e lento, mas

destaca a importância de que alterações sejam feitas, oferecendo como exemplo

as montadoras japonesas Honda e Toyota, que surgiram aparentemente do

nada e superaram empresas então estabelecidas há 60 anos.

Johnson et al. (2008) contribuem com a discussão sobre o dinamismo

dos modelos das organizações, afirmando que “um segredo para manter um

negócio próspero é reconhecer quando ele necessita de uma mudança

fundamental” (JOHNSON et al., 2008, pg. 2, tradução nossa). Pesquisas desses

autores apontam dados contraditórios quando se confronta a opinião dos

empreendedores e suas efetivas realizações:

Cerca de 50% dos executivos acreditam que a inovação no

modelo de negócios será mais importante do que no

produto/serviço.

Quase a totalidade dos CEO concorda que seus modelos de

negócios necessitam de ajustes.

Somente 10% dos investimentos em inovação são direcionados

aos modelos de negócios. O restante é voltado para tecnologia.

A literatura parece deixar claro que inovar no modelo de negócios

representa decisão estratégica das mais importantes em uma organização.

Sob certas circunstâncias, até mesmo um novo modelo é necessário,

conforme apontam Johnson et al. (2008) por meio do exemplo da criação de uma

nova proposta em torno de uma antiga tecnologia, como fez a Apple com a

distribuição de músicas via iTunes para rodar nos mesmos tocadores de MP3 já

existentes. Importante que se responda a movimentos na base da concorrência

e se afastem disruptores por via da recriação do modelo. Caso o veículo de

baixíssimo custo criado pela Tata Motors venha a ser disruptor do mercado, a

indústria automobilística terá que criar novos modelos de negócios para

sobreviver.

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Além de se defender da imitação combinando análise estratégica com

análise do modelo de negócios (TEECE, 2010), ou recriando o próprio modelo

(JOHNSON et al., 2008), faz-se importante manter o foco na observação do

ambiente externo, que influencia o modelo de negócios tanto ou mais que a

gestão da empresa (DEMIL e LECOCQ, 2010). Esses autores destacam o perigo

de que o modelo se perca por fatores localizados fora do alcance do gestor, risco

este minimizado na proposta de Teece (2010), para quem o modelo deve ser

visto como solução provisória, estando pronto para ser substituído por outro em

algum momento.

A inteligência a respeito de modelos de negócios, conforme se

depreende da literatura especializada tratada neste capítulo, é absolutamente

necessária para a condução de uma organização rumo ao sucesso. Escassos

estudos formais e falta de atenção para este aspecto da administração dificultam

a viabilidade da inovação (BADEN-FULLER e MORGAN, 2010; TEECE, 2010).

O gestor tem o desafio de promover a inovação não somente nos aspectos

tecnológicos, mas também através das alavancas do modelo de negócios, o que

originará vantagem competitiva (DAVILA et al., 2006).

Se modelos de negócios estão presentes em todas as empresas

(CASADESUS-MASANELL & RICART, 2010) e se um bom modelo é condição

para a comercialização de uma boa tecnologia (TEECE, 2010), pode-se concluir

pela importância capital da pesquisa nesse campo de estudos.

Concluída a análise de modelos de negócios, será discutido na

sequência um conceito originário deste, os modelos de negócios sociais, objetos

ainda mais jovens na literatura e pontos centrais aos objetivos deste trabalho.

2.3 Inovação Social e Modelos de Negócios Sociais

A terceira parte do Referencial Teórico aborda os modelos de negócios

sociais que, conforme será demonstrado, visam um novo mercado de clientes –

os pobres do mundo.

Surgidos a partir do duplo entendimento de que as soluções para a

pobreza trazem também oportunidades de negócios e de que o aumento da

qualidade de vida das pessoas interessa a todos, os modelos de negócios

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sociais complementam a atuação do Poder Público. São levantadas diversas

formas de atuação do setor privado na solução de problemas sociais, além das

semelhanças e diferenças entre modelos de negócios convencionais e sociais.

Faz-se um caminho de construção teórica a partir do amplo conceito de

empreendimento social até a estrita definição de negócios sociais, ponto em que

se define o paradigma escolhido como base para este trabalho.

A seguir, são analisados modelos de avaliação de resultados sociais,

deixando para o Apêndice B um rol de práticas de negócios sociais em

andamento no mundo.

2.3.1 Construção teórica: de empreendimentos sociais a modelos de

negócios sociais

Uma modalidade específica de inovação, nomeada “inovação social”,

surgiu a partir dos primeiros anos do século XXI como importante discurso das

instituições civis (HOWALDT & SCHWARZ, 2010). Segundo esses autores,

quanto mais a sociedade, economia e cultura são transformadas por inovações

técnicas, mais importantes se tornam as inovações sociais, consideradas essas

como fatores decisivos para um crescimento sustentável, garantia de empregos

e desenvolvimento de habilidades competitivas. Afirmam esses autores que a

inovação social é compatível com a mudança de uma sociedade industrial para

uma economia de conhecimento e serviços.

Para Phills (2009), inovação social se dá com a introdução de soluções

novas para um problema ou necessidade social, desde que sejam melhores do

que as abordagens já existentes e desde que os benefícios criados sejam

voltados para a sociedade como um tudo e não para pessoas individualmente

consideradas.

Inovações sociais são um componente das mudanças sociais não

limitadas à ação dos governos, consistindo na criação de produtos, serviços e

modelos com objetivo de atingir necessidades sociais, conforme Howaldt e

Schwarz (2010).

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QUADRO 2 – Inovação e Inovação Social

Inovação + Aspectos Sociais

= Inovação Social

Introdução de novidade ou

aperfeiçoamento no ambiente

produtivo ou social que resulte em

novos produtos, processos ou

serviços

Novidade, melhoria de performance,

magnitude, implementação

Necessidades ou problemas sociais;

Valor social;

Balanço entre criação e captura de valor

público

Fonte: elaborado pelo autor com base na Lei 10.973/2004; Phills (2009); Howaldt e Schwarz

(2010)

As necessidades sociais são aquelas que atingem grande número de

pessoas. Considera-se elevado o percentual da população mundial que nunca

recebeu atenção das grandes corporações, especialmente nos países em

desenvolvimento, que abrigam a maior parte dos 4 bilhões de pessoas

constituintes da base da pirâmide social (PRAHALAD & HART, 2002). Para

esses autores, reside nessa faixa populacional um grande potencial econômico

que poderia ser explorado por modelos de negócios especificamente

desenvolvidos.

Os quatro bilhões de pessoas cuja renda anual per capita é inferior a

US$1.500, constituintes da base da pirâmide proposta por Prahalad e Hart

(2002) não são classificados como pobres por tais autores, embora estejam

situados à margem do consumo. Um corte maior, oferecido por Polak e Warwick

(2013), vai além, para definir como pobres as pessoas que vivem com renda de

US$2 ou menos por dia. Estima-se que em 2013 existiam 2,7 bilhões de pessoas

nessa condição – número equivalente ao total da população mundial em 1950 –

, dos quais 1 bilhão viviam com menos de US$ 1 por dia (POLAK & WARWICK,

2013). Representativa quantia expõe a magnitude do problema social nominado

pobreza e, simultaneamente, a enorme oportunidade para se fazer negócios,

uma vez que tais pessoas se encontram praticamente fora do mercado

consumidor.

Embora não se encontre farta literatura, alguns autores defendem que

as grandes corporações criem negócios especialmente destinados a esse

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público, entre os quais podem-se citar: Bornstein e Davis (2010), Eggers e

MacMillan (2013), Gates (2008), Polak e Warwick (2013), Thompson e MacMillan

(2010). Raciocínio similar encontra-se em Prahalad e Hart (2002), que assinalam

o poder de compra da base da pirâmide, ilustrando-o com o exemplo de um

iceberg, em que a ponta representa a economia que aparece nos números

oficiais e a base, oculta sob as águas, equivale à economia informal dos países

pobres.

O cuidado com os problemas de natureza social produzidos pela

pobreza sempre foi dedicado ao Poder Público que, de acordo com Eggers e

Macmillan (2013), falhou por não conseguir apresentar soluções definitivas.

Esses autores discorrem sobre o fato histórico da responsabilização dos

governos pelo cuidado com saúde, educação, segurança e a obrigação de

combater a pobreza. Na sequência, decretam o fracasso do Estado em

solucionar, sozinho, tais mazelas. Sucessivas barreiras como crises econômicas

forçaram a recorrente adoção de posturas austeras pelos governos, levando-os

a reduzir investimentos destinados ao enfrentamento das adversidades sociais.

Eggers e Macmillan (2013) informam que a recessão nos EUA e na Europa a

partir de 2008 causou fechamento de escolas, bibliotecas e hospitais.

Ainda segundo esses autores, o governo não é mais o único ator na luta

contra problemas sociais. Embora não seja o mais eficiente guerreiro em tal

batalha, a responsabilidade pelas soluções cabe ao Estado (BORNSTEIN &

DAVIS, 2010). Ocorre que a sociedade está passando, desde o início dos anos

2000, por um momento de alteração da estrutura atual, formatada de cima para

baixo para um modelo em que o Poder Público é apenas mais um elemento entre

os outros na batalha contra a miséria.

As deficiências do setor público em erradicar a pobreza passam,

segundo Polak e Warwick (2013), pelo fato de que suas políticas são feitas por

meios oblíquos e não diretamente para os pobres. Para eles, constitui um erro

das nações ricas a doação de recursos para terceiros realizarem ações sociais,

uma vez que haveria maior eficiência em trabalhos executados de modo direto.

Exatamente sob tal conjuntura surge o debate sobre a inserção do setor

privado no empenho em erradicar o sofrimento humano. Embora a busca por

lucros para o acionista ainda seja o principal foco no mundo corporativo, é

crescente o número de grandes empresas preocupadas com a RSC –

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responsabilidade social corporativa (YUNUS et al., 2010). Na concepção destes

autores, a RSC propõe um tripé para avaliação das companhias: benefícios

financeiros, sociais e ambientais. Ressalvam, porém, que, em regra, a avaliação

da qualidade da empresa se prende ao aspecto financeiro. É essa a linha do

balanço que atrai atenção dos analistas, comentaristas de negócios, instituições

financeiras e investidores. Por conseguinte, RSC não resolve problemas no

longo prazo porque, num momento de crise, a decisão das corporações é

tomada na direção do braço lucrativo em detrimento das ações sociais.

Na concepção de Yunus (2010), RSC abrange ações de empresas

convencionais, com objetivo de prestar algum serviço comunitário, colhendo os

frutos de uma reputação de empresa “cidadã, boa vizinha”.

Ainda assim, a visão da participação dos segmentos da sociedade civil

na busca de soluções é otimista para Eggers e Macmillan (2013), de cujo estudo

extrai-se a informação de que, atualmente, a filantropia privada contribui com

volume de recursos maior que de todos os governos.

Na realidade, a literatura comprova que há algo muito maior que

simplesmente doação de dinheiro. Temple (2013) apresenta a tendência de

conexão entre os negócios convencionais e os empreendimentos sociais a partir

da afirmação de que 48% destes últimos realizam algum tipo de transação com

o setor privado. É uma convicção desse autor o fato de que as empresas, por

seu lado, estão avançando das simples políticas de RSC para algum tipo de

atividade social muito mais alinhada com seu negócio principal.

Além de empresas com boas práticas de RSC, Eggers e Macmillan

(2013) apresentam os wavemakers3. Esses são as pessoas, organizações com

fins lucrativos e ONGs que pretendem revolucionar a abordagem a respeito dos

desafios sociais. A atividade de tais organismos não está restrita ao plano

teórico, conforme se conclui dos números expostos pelos citados autores:

estima-se que existiam em 2013, nos EUA, mais de 650 mil empreendimentos

sociais ativos, os quais podem ser legalmente reconhecidos. No mundo, essa

espécie de empresa gerou mais de US$ 2,1 trilhões de receitas no ano de 2012.

Bornstein e Davis (2010) indicam que a entrada do setor civil no

empreendedorismo social veio a alterar o modelo centralizador e construído de

3“Wavemaker”: sem tradução direta para o português. Em tradução livre, algo como “transformadores”

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cima para baixo, característico do século XX. A nova forma de atuação é

integrada – setores público e privado – e descentralizada para unir esforços em

busca de soluções de longo prazo e de alcance profundo.

Como mencionado nos parágrafos anteriores, a relativa incompetência

estatal em deslindar os graves sofrimentos advindos da pobreza e, ainda, a

afirmação que o setor privado se tornou ator ativo nessa luta, buscam-se na

literatura especializada diferentes modalidades de atuação. Algumas delas serão

descritas a seguir:

Filantropia: ações geralmente individuais, em que pessoas físicas ou

corporações dedicam elevados volumes de recursos para determinada causa.

Seus aplicadores não exigem retorno do montante, mas colhem frutos indiretos,

como uma boa reputação a partir da vinculação do ato ao seu nome (POLAK &

WARWICH, 2013). Filantropos famosos: Bill Gates, Warren Buffet, Patrice

Motsepe – homem mais rico da África do sul (EGGERS & MACMILLAN, 2013).

Para Polack e Warwick (2013), ações filantrópicas são incapazes de enfrentar

realmente a pobreza, pois são limitadas, descoordenadas e de baixa escala.

Yunus (2010) reconhece o importante papel da filantropia, especialmente em

momentos de emergência como catástrofes naturais, porém chama de

insustentável um modelo que tenha necessidade permanente de busca por

doações. Para Bornstein e Davis (2010), quem realiza esta espécie de doação

costuma não considerar a performance do negócio beneficiário, gerando

concentração em “organizações medíocres com uma marca forte” (BORNSTEIN

& DAVIS, 2010, p. 49, tradução nossa).

Atendimento à base da pirâmide: ações de grandes multinacionais em

busca dos enormes e inexplorados mercados dos países em desenvolvimento,

levando às pessoas produtos aos quais elas nunca haviam tido acesso

(PRAHALAD & HART, 2002). O texto de Dahan et al. (2010) sugere que

multinacionais façam parcerias com ONGs locais para facilitar a penetração nos

novos mercados. Yunus et al. (2010) admitem que haja um reflexo social, porém

não se trata do principal objetivo desta forma de atuação, fato que a mantém

incompleta. Polak e Warwick (2013) consideram que o atendimento à base da

pirâmide não soluciona problemas sociais, pois é voltado a classes relativamente

mais abastadas da sociedade, não os realmente pobres – aqueles cuja renda

diária seja de até US$ 2.

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RSC: atividades das empresas com objetivo de amenizar o impacto

social e ambiental de suas operações (PORTER & KRAMER, 2006). As

principais críticas partem desses mesmos autores, para quem muitas

companhias restringem a RSC à propaganda, sem efeitos práticos.

Historicamente, a RSC surgiu como defesa a acusações de violações de direitos

humanos, degradação do meio-ambiente e exploração do consumidor, sem

efetiva preocupação com benefícios sócio-ambientais (PORTER & KRAMER,

2006). Yunus (2010) afirma que ações de RSC não superam o grau de pequenos

benefícios para as comunidades locais, com o principal objetivo de forjar uma

imagem de empresa cidadã, boa vizinha. Para ele, esta modalidade só é tolerada

pelas organizações até o ponto em que não atrapalhe o lucro. É comum que

RSC seja tratada de maneira descoordenada e sem profundidade, funcionando

meramente como propaganda (PORTER & KRAMER, 2006). Ainda assim, pode-

se dizer que sejam lucrativas para as corporações, conforme se depreende das

conclusões de Griffin e Sun (2012), segundo as quais o valor das ações das

companhias é influenciado, entre outros elementos, pela adoção voluntária de

práticas de RSC. A pesquisa, realizada com 84 empresas durante 10 anos,

evidencia forte relação entre a adoção das referidas políticas e o aumento do

valor de mercado dessas companhias em 10 bilhões de dólares.

Empreendimentos sociais: na definição de Haugh e Tracey4 (apud Mair

e Marti, 2004), tratam-se de negócios que atendem um propósito social,

combinando inovação, empreendedorismo e propósitos sociais. Para Mair e

Marti (2004), empreendimento social é o resultado do empreendedorismo social,

que por sua vez se refere a um processo para catalisar mudanças sociais e

atingir necessidades sociais. Visão diferente apresentam Smith et al. (2010), que

enxergam neste tipo de ação um paradoxo entre benefícios sociais e estratégias

visando o lucro. Também em oposição, Yunus (2010) afirma que

empreendimento social e empreendedorismo social encontram-se no rol de

empresas voltadas para a maximização de lucros, gerando benefícios sociais

apenas de maneira indireta. Importante frisar que o termo “empreendimentos

sociais” é comumente empregado como sinônimo de “negócios sociais” por parte

da literatura ora estudada.

4HAUGH, H.; TRACEY, P.; The Role of Social Enterprise in Regional Development. Social Enterprise and Regional DevelopmentConference, Cambridge-MIT Institute, Universityof Cambridge, 2004.

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Negócios sociais: espécie de ações que possuem como principal

objetivo a luta contra o sofrimento causado pela pobreza. Para Yunus (2010),

diferem completamente dos negócios tradicionais, de entidades sem fins

lucrativos e de empreendimentos sociais. Em sua concepção, visam resolver

problemas sociais por meio de métodos de negócios, entre eles a

comercialização de produtos, mas não devem permitir a distribuição de

dividendos aos acionistas. Nesse ponto discordam Bornstein e Davis (2010),

Eggers e Macmillan (2013) e Polak e Warwick (2013), que posicionam a

lucratividade como elemento-chave para atrair o necessário capital privado.

Comini et al. (2012) diferem negócios sociais em perspectivas. Segundo eles, a

escola europeia enxerga tensão na busca simultânea de resultados financeiros

e sociais, ao tempo que entende que negócios sociais devem ser dirigidos por

empresas cujo propósito principal seja a solução de graves problemas da

humanidade, com reinvestimento total de eventuais lucros. Por outro lado, a

perspectiva norte-americana defende que sejam catalisados por multinacionais,

visem dupla linha de resultado – financeiro e social – e permitam a distribuição

de dividendos aos investidores.

Assim como outros autores, Bornstein e Davis (2010) utilizam o termo

“empreendimento social” com um conceito muito próximo aos negócios sociais

utilizados por Yunus (2010) e Yunus et al. (2010): uma organização que ataca

problemas sociais através de um formato de negócios convencionais.

A descrição de empreendimento social da OCDE – Organização para

Cooperação e Desenvolvimento Econômico – parece abarcar alguns dos

conceitos citados anteriormente neste capítulo, inclusive o de negócios sociais.

Empreendimentos sociais são organizações (...) que buscam objetivos econômicos e sociais em um espírito empreendedor. (...) Tipicamente visam entregar serviços sociais (...) para comunidades em situação de desvantagem (...). Adicionalmente, empreendimentos sociais estão surgindo na provisão de serviços comunitários, inclusive nos campos educacional, cultural e ambiental (OCDE, 2006, p. 1).

Encontram-se em OCDE (2006) elementos para identificar um

empreendimento social, os quais são confirmados pela literatura analisada neste

trabalho. A seguir, passa-se à análise de alguns:

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Critérios econômicos:

1 – Comprometimento com a produção e venda de bens e serviços,

diferentemente das organizações sem fins lucrativos tradicionais (OCDE, 2006).

Comini et al. (2012) tratam de negócios sociais sob a perspectiva norte-

americana, como negócios que levam bens e serviços a pessoas que, por razões

econômicas, não tinham acesso a eles.

2 – Autonomia: são criados voluntariamente por grupos de pessoas e

não pelo poder público. Portanto, são autônomos. Os acionistas têm direito de

participar das decisões e de deixar o empreendimento quando bem entenderem.

O fato de eventualmente receberem subvenções públicas ou doações privadas

não tira o caráter autônomo dos empreendimentos sociais (OCDE, 2006). Yunus

et al. (2010) parecem confirmar este critério ao descrever o empreendimento

Grameen Danone. A multinacional espanhola criou um fundo especialmente

voltado para essa experiência, desvinculado dos negócios tradicionais da

empresa. Sob tal estruturação, os investidores que aderiram ao fundo o fizeram

tendo conhecimento do especial direcionamento dos recursos.

3 – Risco econômico: a viabilidade econômica do empreendimento

social depende das ações que são tomadas, das decisões e dos esforços de

seus membros (OCDE, 2006). A teoria de Dahan et al (2010) atesta o critério ao

afirmar que, embora o lucro não seja mandatário para uma ONG, manter as

contas equilibradas é ponto importante para esse tipo de organização, visto que

seu modelo de negócios está sujeito às mesmas forças e razões de mercado

que as entidades com fins lucrativos. Se gestão de qualidade é fundamental para

qualquer empresa, nos negócios sociais tem importância ainda maior, conforme

assevera Weber (2008). Nesse ambiente, o desperdício significa não somente

retirar do bolso do acionista, mas também da boca de pessoas famintas. Yunus

(2010) relata que a Grameen Danone teve um início promissor com vendas

crescentes no primeiro ano de atividade, 2007. Logo em seguida, ocorreram

“fatores econômicos que ninguém previra” (YUNUS, 2010, p. 50), obrigando a

empresa a promover alterações no modelo de negócios, buscar novos grupos

de clientes e introduzir novos produtos. O negócio social sofria com a crise

econômica mundial assim como um banco norte-americano, comprovando a

similaridade dos modelos (YUNUS, 2010).

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Critérios sociais:

1 – Empreendimentos sociais resultam da iniciativa de cidadãos

pertencentes a uma comunidade ou um grupo que tem necessidades e objetivos

comuns (OCDE, 2006).

2 – Princípio do “um membro, um voto”. Garantia de direito de participar

da tomada de decisões a todos os membros, independente do capital que cada

um tenha aportado (OCDE, 2006). Um dos modelos de negócios sociais

apresentado por Yunus (2010) aprofunda tal princípio. Algumas das empresas

sociais possuem como proprietários os próprios beneficiários de suas atividades.

É o caso do Grameen Bank, cujos principais acionistas são os tomadores de

microcrédito.

3 – Lucros: há organizações que proíbem distribuição de lucros, exigindo

o total reinvestimento do superávit. Outras permitem distribuição de parte dos

lucros, sendo estabelecida uma limitação. Em comum, ambas as correntes não

admitem comportamento de maximização dos lucros (OCDE, 2006). O referido

conflito está presente na leitura de Comini et al. (2012), Eggers e Macmillan

(2013), Polak e Warwick (2013), Yunus (2010) e Yunus et al. (2010), já citados

anteriormente neste capítulo.

4 – Objetivo explícito de beneficiar a comunidade (OCDE, 2006). Para

Yunus (2010), o negócio social é dedicado à solução de problemas sociais,

econômicos e ambientais e isso deve estar explícito em seus documentos de

fundação, a fim de não deixar dúvidas.

Considerando que negócios sociais constituem assunto relativamente

recente, dada a presença na literatura apenas a partir dos anos 2000, surge

natural curiosidade em compreender em que medida se igualam às atividades

convencionais e a partir de que ponto se separam a constituir organismo

independente, se é que isto acontece.

Mair e Marti (2004) explicam que o empreendedorismo social pode

assumir a forma de empresa com ou sem finalidades lucrativas. A natureza do

problema a ser perseguido é o elemento decisivo para a opção por um ou outro

formato, como se explica a seguir.

Haverá maior chance de sucesso para uma indústria farmacêutica que

desenvolva drogas contra doenças “negligenciadas” – aquelas que não

interessam às grandes corporações – se não tiverem fins lucrativos, pois

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receberão incentivos desinteressados em retorno. Sem a obrigação de

responder lucrativamente, terão tempo para pesquisar. É o caso do IOWH –

Institute for One World Health, farmacêutica norte-americana criada no ano 2000

com foco em doenças pouco atrativas economicamente, como a leishmaniose.

Pelo lado oposto pode-se citar o grupo Grameen, de Bangladesh, cuja

opção pela finalidade lucrativa do Grameen Bank permitiu que expandisse seus

negócios para novos desafios, entre os quais a Grameen Telecon e a Grameen

Energia. Mair e Marti (2004) sintetizam o pensamento na inexistência de conflito

entre os modelos com e sem finalidade lucrativa, ressaltando a diferença na

prioridade que se dá ao tipo de resultado esperado, o que pode ser melhor

visualizado no QUADRO 3.

QUADRO 3

Empreendimentos Sociais e Negócios Convencionais

Empreendimentos sociais Negócios convencionais

Finalidade principal: criar riqueza social Finalidade principal: gerar lucro financeiro

Sub-produto: lucro financeiro Sub-produto: riqueza social

Fonte: Elaborado pelo autor, com base em Mair e Marti (2004)

Ainda a se estudar a convergência dos negócios convencionais e

sociais, Polak e Warwick (2013) definem empreendimentos sociais como

organizações cuja missão é visar problemas sociais, econômicos ou ambientais

sentidos por um grande número de pessoas. Para esses autores, referido

modelo de empreendimento pode ser concebido sob a forma lucrativa ou não-

lucrativa, desde que os objetivos sociais sejam explícitos na missão da empresa

e a busca por lucros apareça num aspecto secundário, porém importante para

garantir o alcance de escala global. Incluem nessa classificação as Corporações

B dos Estados Unidos – empresas que possuem autorização legal para oferecer

baixo lucro aos acionistas em troca de benefícios sociais – e as Companhias de

Interesse Comunitário no Reino Unido.

Em conformidade com outros autores, Polak e Warwick (2013) trazem

em diversas passagens de seu texto a afirmação de que impacto social e

lucratividade não são mutuamente excludentes. Importante suscitar a opinião

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contrária de Yunus (2010), para quem as Corporações B e as Companhias de

Interesse Comunitário não se encaixam na definição de negócios sociais.

O convívio dos citados dois mundos de negócios é analisado por Dahan

et al. (2010), que estudam modelos de negócios construídos a partir de parcerias

formadas por empresas multinacionais e ONGs em países em desenvolvimento.

Grandes corporações, pretendendo avançar nos países em desenvolvimento,

necessitam de parceiros conhecedores da realidade local, aptos a lhes abrirem

as portas.

Modelos de negócios construídos através dessas parcerias são

baseados em capacidades complementares que, uma vez combinadas, resultam

em vantagens para todos os envolvidos. Para as multinacionais, as seguintes:

acesso a diferentes fontes de informação; identificação de mudanças no

mercado; aceleração da penetração no mercado; legitimação junto aos

consumidores, sociedade civil e governo; acesso à experiência local e sistemas

de distribuição.

Por sua vez, as grandes empresas oferecem os seguintes elementos à

parceria: capital; tecnologia e capacidade gerencial; capacidade de produção em

escala; legitimação com outros players do setor privado; poder de compra; força

da marca com os consumidores

Embora não classifiquem as parcerias como negócios sociais, o caráter

mutuamente vantajoso guarda semelhança com aquele conceito. Dahan et al.

(2010) acrescentam à definição de modelo de negócios dois novos elementos: a

colaboração intersetorial – empresas com finalidades lucrativas e ONGs – e a

criação de valor social. Nesse mesmo estudo tratam da necessidade de os

negócios conduzidos pelas ONGs serem sustentáveis, embora sem obrigação

de dar lucro. Alinhado a essas ideias encontra-se o pensamento de Bornstein e

Davis (2010), segundo o qual a essência de parcerias entre empresas com

finalidades lucrativas e empreendedores sociais é a complementariedade.

Parcerias entre empresas que visam lucro e entidades sem fins

lucrativos também são defendidas por Yunus et al. (2010), para quem tal tipo de

trabalho conjunto segue a forma colaborativa, sendo altamente produtivo, uma

vez que tais organizações não competem diretamente entre si.

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O modelo de negócios proposto por Dahan et al. (2010) para uma ONG

está sujeito às mesmas forças de mercado que um modelo tradicional, portanto

seu sucesso estará condicionado à sustentabilidade financeira.

A se falar na conexão dos setores, Brugmann e Prahalad (2007) dizem

que o mercado livre obriga executivos e ativistas sociais a trabalharem juntos,

desenvolvendo modelos de negócios que transformarão as organizações. Nesse

ponto, há convergência com o pensamento de Yunus (2010), segundo o qual

“negócios sociais estão sujeitos a muitos dos mesmos sinais, desafios e tensões

que as empresas com fins lucrativos” (YUNUS, 2010, p. 43). Esse autor ressalta

que, por operarem dentro de um mesmo sistema – o capitalismo – negócios

sociais devem ir ao mercado com a eficácia de uma empresa comum, buscando

as melhores maneiras para vender seus produtos a fim de cobrir os custos e,

eventualmente, auferir lucros que servirão como combustível para sua

expansão.

Yunus et al. (2010) comparam os desenhos de modelos de negócios

convencionais e de um modelo de negócios sociais. Os últimos possuem uma

estrutura muito parecida com os primeiros, visto que não se enquadram na

categoria de empresas de caridade, antes carregam os caracteres peculiares de

um negócio.

Para esses autores, a auto-sustentabilidade financeira deve ser

característica de negócios sociais, a fim de se garantir o pagamento do

investimento realizado, ponto em que diferem da filantropia. Devem receber

aportes financeiros apenas no início e se desenvolver comercialmente a ponto

de garantir a capitalização inicial e a manutenção da atividade. Modelos de

negócios sociais, assim como os tradicionais, oferecem produtos e serviços,

possuem clientes, visam mercados, têm estruturas de custos/receitas e canais

de distribuição. Assim, possuem a mesma mentalidade e estão sujeitos às

mesmas condições que os demais atores do capitalismo.

Negócios sociais estão enquadrados no meio termo entre empresas com

finalidade lucrativa e sem finalidade lucrativa (YUNUS et al., 2010). Em seu

conceito, consistem em “uma companhia auto-sustentável que vende bens ou

serviços e repõe o investimento de seus proprietários, mas cujo propósito

principal é servir a sociedade e melhorar a vida dos pobres” (YUNUS et al., 2010,

p. 309).

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Yunus et al. (2010) comparam modelos de empresas com finalidades

lucrativas, empresas sem finalidades lucrativas e os chamados negócios sociais.

Na FIG. 2 encontra-se representada a tríplice noção, em que a

maximização do lucro financeiro e do lucro social servem como base para

enquadramento em cada um dos modelos: negócios com finalidade lucrativa

buscam maximizar o lucro financeiro e recuperar o capital; organizações sem

fins lucrativos visam maximizar o lucro social e não se preocupam em recuperar

o investimento; negócios sociais objetivam máximo lucro social com recuperação

do capital aportado.

Figura 2: Negócios sociais x negócios com finalidade lucrativa x organizações sem

fins lucrativos. Fonte: adaptado de Yunus et al. (2010)

As semelhanças entre negócios tradicionais e sociais chega até a oferta

de produtos. Polak e Warwick (2013) revelam uma percepção errada no senso

comum, segundo a qual produtos para os pobres devem ser de baixa qualidade

e ter aparência simples. Consumidores pobres não são diferentes dos demais;

portanto, tornar produtos atrativos para os pobres envolve oferecer preço

acessível combinado com bom funcionamento e aparência atrativa. Quem tem

pouco dinheiro deve usá-lo para adquirir bens de qualidade, uma vez que não

há margem para desperdício. Os autores sugerem os requisitos seguintes para

se produzir com qualidade e baixo custo: eliminar penduricalhos – recursos que

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a maioria das pessoas não usa –, usar matéria-prima local, produzir com partes

permutáveis – que sejam utilizáveis em outras linhas de produtos –, criar um

sistema de distribuição descentralizada.

A percepção de que negócios sociais se desenvolvem sob a mesma

lógica dos convencionais é compartilhada por Eggers e Macmillan (2013) quando

defendem o entendimento de que a solução para os problemas sociais não está

na caridade, uma vez que todo problema representa oportunidades de mercado.

O pensamento é ratificado por Porter e Kramer (2006), que não

enxergam razão para que os mundos dos negócios convencionais e dos

negócios sociais sejam separados ou excludentes. Afirmam que todas as

escolas de pensamento econômico compartilham uma mesma fraqueza, a de

manter o foco no atrito entre negócios e a sociedade, quando na verdade estes

dois campos são interdependentes.

Defendem que as ações de RSC só se tornam efetivas quando fazem

parte do negócio da empresa, quando estão diretamente ligadas ao coração da

organização. É útil para o mundo corporativo que a sociedade seja saudável.

Educação, saúde, igualdade de oportunidades preparam uma força de trabalho

mais produtiva. Produtos seguros e boas condições de trabalho atraem clientes,

reduzem o custo com acidentes.

Em resumo, uma sociedade bem desenvolvida amplia as oportunidades

de negócio. Ao mesmo tempo, a sociedade necessita de empresas de sucesso

que irão gerar empregos, riqueza e permitir a melhoria de vida da população. No

mesmo sentido, Thompson e MacMillan (2010) analisam melhorias na condição

humana feitas através de modelos de negócios rentáveis. A conseqüência desse

tipo de empreendimento é um círculo virtuoso, em que a geração de riqueza

social produz redução no sofrimento humano. Produzir lucros com a inserção de

um novo público no mercado consumidor incentiva mais empresas a

participarem e, dessa forma, o círculo é reiniciado. Esse será um novo setor da

economia, cuja linha de resultados esperados inclua lucros financeiros e

melhorias na condição de vida humana (THOMPSON e MACMILLAN, 2010).

O mundo corporativo passou a ser visto como importante fonte para

atendimento às causas sociais, conforme Polak e Warwick (2013). Na opinião

desses estudiosos, somente o poder dos negócios é capaz de promover

mudança social em larga escala. Em sua visão, a população pobre será

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importante fonte de negócios, desde que sejam desenvolvidos produtos

especificamente para atendê-los. Atendê-los significa oferecer soluções para

aflições que os atingem, tais como falta de água potável e energia, fome e

desnutrição, fragilidades de saúde. Destacam que, nos países em

desenvolvimento, 50% do poder de compra está na base da pirâmide. São ainda

mais contundentes ao afirmar que nenhuma empresa hoje constituída irá

sobreviver se não passar a atentar para o mercado potencial formado pelos

bilhões de pobres espalhados pela Terra.

A mesma necessidade é ressaltada por Williamson (2010), que prevê

um futuro onde modelos de negócios só terão sucesso se estiverem preparados

para atender a demanda dos países em desenvolvimento.

Sob o ponto de vista das organizações e sua relação entre os dois tipos

de negócios, Gates (2008) admite equívoco da Microsoft ao praticar anos de

filantropia enquanto poderia ter utilizado aquilo que faz melhor – desenvolver

softwares – para atingir resultados sociais. A fim de conduzir melhorias sociais,

defende o uso das forças de mercado, especialmente a inovação. Em sua

opinião, as empresas devem ir além da filantropia.

A semelhança entre negócios convencionais e negócios sociais e a

importância de os dois setores atuarem em conjunto parece comprovada pela

literatura já apresentada neste estudo. Se ainda resta demonstrar a estrutura de

ambos e definir seus pontos de aderência e cisão, Yunus et al. (2010) suprem

tal lacuna. Inicialmente, os autores explicam a estrutura de um modelo de

negócios, conforme se vê a seguir:

Proposta de valor: inclui clientes e produtos/serviços. Responde à

questão: “Quem são nossos clientes e o que oferecemos para eles?”.

Constelação de valor: cadeia interna e cadeia externa de

relacionamentos que incluem os fornecedores, a produção e distribuição da

proposta de valor. Responde à questão: “Como entregamos a oferta aos

clientes?”.

Equação de lucro: formada pelas receitas de vendas, estrutura de

custos e capital empregado. Responde como o valor é capturado através das

receitas geradas pela proposta de valor, explica estrutura de custos e como o

capital é aplicado.

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Embora a estrutura dos modelos de negócios sociais seja similar, Yunus

et al. (2010) apontam algumas diferenças. Ao acrescentar as desigualdades, os

autores desenham a estrutura de modelos de negócios sociais adotada como

base dos estudos desta pesquisa.

A proposta de valor desses modelos é mais abrangente, deixando de ter

foco exclusivo no cliente, passando a envolver todos os stakeholders – pessoas

interessadas. Para os autores, o modelo poderia inclusive ser replicado nas

empresas convencionais, a ponto de substituir-se a preocupação exclusiva com

os acionistas para abranger todos os envolvidos.

A segunda diferença citada por Yunus et al. (2010) está na equação de

lucro. Enquanto nos modelos convencionais o lucro financeiro deve ser sempre

maximizado, nos modelos de negócios sociais está prevista apenas a cobertura

dos custos e a recuperação do capital.

A terceira distinção se encontra na inclusão da equação de lucro social

e ambiental, a qual é inexistente nos modelos comuns e prioritária nos modelos

sociais. O QUADRO 4 ilustra as duas estruturas. Os modelos de negócios sociais

delineados no referido quadro são aqueles em torno dos quais este trabalho será

realizado e que embasam os objetivos específicos.

QUADRO 4

Modelos de Negócios Convencionais e de Modelos de Negócios Sociais

Modelos de Negócios Convencionais Modelos de Negócios Sociais

Proposta de Valor Clientes, produtos/serviços Todos os stakeholders,

produtos/serviços

Constelação de Valor

Redes interna e externa: fornecedores,

produção, distribuição

Redes interna e externa:

fornecedores, produção,

distribuição

Equação de Lucro Receitas de vendas, estrutura de custos,

capital empregado (maximização dos

lucros)

Receitas de vendas, estrutura de

custos, capital empregado

(recuperação do capital e

cobertura de custos)

Equação de Lucro

Social/ambiental

Inexistente

Benefícios sociais e ambientais,

não medidos em unidades

monetárias

Fonte: elaborado pelo autor, baseado em Yunus et al. (2010)

Assim como a estrutura dos modelos de negócios convencionais e dos

sociais caminha em paralelo até determinado ponto, os caminhos a serem

percorridos são parcialmente coincidentes.

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Yunus et al. (2010) definem até onde se igualam e a partir de onde se

separam os movimentos criadores de inovação e de inovação social. Sua teoria

apresenta três estratégias comuns a ambos: desafiar a sabedoria estabelecida,

firmar parcerias, fazer uso da experimentação. Em complemento, apenas para

inovação social, são propostos os movimentos de envolver acionistas orientados

para lucro social e a explicitação formal da busca por resultados sociais.

Após a análise de farta literatura especializada, desenrola-se o

entendimento de que a abordagem convencional, exclusivamente via Poder

Público, não é a mais adequada para solucionar os problemas sociais.

Abordagens costumeiras para acabar com a pobreza falharam

largamente, pois foram incapazes de compreender que o jeito mais óbvio para

combater a pobreza seria ajudar os pobres a ganhar mais dinheiro (POLAK &

WARWICH, 2013).

Tal ilação é confirmada por números trazidos pelos mesmos autores: no

período aproximado de 1950 a 2010, os países ricos gastaram US$ 2,3 trilhões

em auxílio, mas não acabaram com a pobreza. Também encontra eco em

Thompson e MacMillan (2010), que identificam crescente descontentamento

com o tratamento tradicional dos problemas sociais, gastando-se enormes

volumes de recursos sem resultados efetivos. Polak e Warwick (2013) insistem

que os pobres devem ser vistos como clientes, não como recipientes de

caridade, da mesma maneira que Bornstein e Davis (2010) já proclamavam a

mudança da visão desses de “beneficiários” para “consumidores”.

Conclui-se, assim, que problemas sociais podem ser tratados por

modelos muito parecidos com aqueles empregados nas empresas que visam

lucros. É nesse ponto que entram os modelos de negócios sociais, com diversas

vertentes já apresentadas neste capítulo.

A partir da interpretação dos conceitos trazidos pela literatura

contemporânea, já citados neste trabalho, adota-se uma adaptação do conceito

de modelos de negócios sociais proposto por Yunus et al. (2010), caracterizado

pelos seguintes atributos:

a) Ser estruturado como um modelo de negócios, possuindo proposta

de valor, cadeia de suprimentos, estrutura de custos e receitas

(GATES, 2008; EGERS & MACMILLAN, 2013; POLAK & WARWICK,

2013; YUNUS et al., 2010);

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b) Manter uma estrutura de fornecedores, produção e distribuição

voltada para benefícios sociais ao longo de toda a cadeia (YUNUS,

2010; YUNUS et al., 2010);

c) Possuir como objetivo principal a geração de resultados no campo

social. Caso permita distribuição de dividendos, essa não deve ser

sua finalidade cardeal (COMINI et al., MAIR & MARTI, 2004; OCDE,

2006; YUNUS, 2010; YUNUS et al., 2010);

d) Ser auto-sustentável financeiramente, exigindo aportes de recursos

apenas nos seus momentos incipientes (DAHAN et al., 2010;

EGGERS & MACMILLAN, 2013; POLAK & WARWICK, 2013;

YUNUS, 2010; YUNUS et al., 200).

Caracterizados os modelos de negócios sociais, conflitados seus

elementos com o setor convencional da economia, conhecidos os componentes

que os diferenciam, passa-se a analisar a mensuração do impacto dos negócios

sociais.

2.3.2 Mensuração de impacto

A partir deste ponto serão analisadas a dificuldade e a importância de

mensuração do impacto dos modelos de negócios sociais. Serão apresentados

modelos de mensuração e, por fim, uma conclusão sobre o método que será

adotado nesta pesquisa.

O desafio das organizações que dirigem negócios sociais vai além do

enfrentamento da pobreza e suas conseqüências, às quais está submetido mais

de um terço da humanidade. Um dos enfrentamentos adicionais que pode-se

perceber é a mensuração dos resultados sociais, assim apresentada por

múltiplos autores especializados em inovação social, os quais serão estudados

neste momento.

Após os estudos referidos ao longo deste referencial teórico, parece

clarificado que a produção de resultados configura característica que diferencia

negócios sociais de outras atividades como RSC e filantropia. Assim, emerge a

curiosidade de tratar-se da avaliação das conseqüências dessa espécie de

modelos de negócios.

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Uma vez que a inovação social já ganhou corpo no mundo dos negócios,

até mesmo envolvendo grandes corporações, Trelstad (2008) sugere quais são

os questionamentos a serem feitos com respeito a um negócio social: as pessoas

estão tendo acesso à água limpa? A saúde delas melhorou? Os pobres estão

deixando essa condição por meio de acesso a produtos especialmente

desenvolvidos para eles? O autor ressalta que a avaliação permitirá que

organizações como o Fundo Acumen, da qual ele faz parte, tenham certeza de

que seu trabalho está sendo importante para a vida de milhões de pessoas a

que servem.

No mesmo estudo, Trelstad (2008) identifica dois tipos de retornos

esperados dos negócios sociais: primeiro, os financeiros, incluindo projeção de

fluxo de receitas e recuperação do capital emprestado acrescido de juros. A

seguir, os não financeiros, de mais difícil mensuração, como a redução da

incidência de malária num determinado programa de saúde.

Emerson et al. (2000) defendem que valor social, assim entendido como

o resultado produzido por empreendimentos sociais, devem ser mensurados, ao

passo que questiona a aceitação de que não se pode assim proceder porque

lucro social não tem, em regra, valia financeira. No entendimento desses autores,

a medição é absolutamente necessária para se compreender o verdadeiro valor

do trabalho que se realiza no setor econômico sem finalidade lucrativa.

Considerando que um dos parâmetros utilizados na decisão de investimento é a

viabilidade de retorno, Bornstein e Davis (2010), propõem que a ausência de

mensuração tem por efeito o afastamento do investidor dos negócios sociais.

Avaliação de resultados é decisiva na condução dos negócios, inclusive

os sociais. Enquanto Trelstad (2008) afirma que medir aquilo que se gere é

premissa para atingir bons resultados, Gates (2013), defende a mensuração

como condição essencial para o desenvolvimento da inovação social. Essa só

causará impacto a partir do encontro com seus beneficiários.

Tal afirmação torna possível concluir pela validade de se conectar ações,

resultados e pessoas que possam deles se favorecer. Em seu trabalho, Gates

(2013) demonstra a conexão entre o estabelecimento de metas em programas

sociais, sua efetiva avaliação e a sustentabilidade dos mesmos. Entre diversos

outros exemplos, traz a história do programa de vacinação do UNICEF – Fundo

das Nações Unidas para a Infância – nos anos 1980, que deve parte de seu

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sucesso à coleta de dados para avaliação do desempenho, abrindo caminho

para mudanças de rota e ajustes.

Mair e Marti (2004) classificam a avaliação do impacto como um dos

maiores desafios dos empreendimentos sociais, considerando a extrema

dificuldade em quantificar efeitos sócio-econômicos, ambientais e sociais.

Bornstein e Davis (2010) confirmam o caráter desafiador do tema, propondo um

questionamento sobre qual seria a fórmula para se avaliar efeitos de programas

voltados para moldar comportamentos de crianças em seus relacionamentos na

escola e comunidade.

Mudanças comportamentais – na visão desses autores – podem

despender anos antes que demonstrem efeitos.

Eggers e Macmillan (2013) reforçam a ideia ao determinarem o choque

da simplicidade em se quantificar o número de crianças na escola com a

dificuldade em se aferir a qualidade do ensino. Yunus et al. (2010) dão atenção

ao embaraço em avaliar resultados sociais, usando como exemplo os benefícios

da melhoria da alimentação infantil, os quais serão percebidos somente depois

de alguns anos.

Pertence ao desafio da medição de resultados sociais o conflito da

definição de peso maior ou menor para problemas diferentes. Bornstein e Davis

(2010) destacam a complexidade da decisão do investidor social entre um

programa que vise melhorias na educação infantil e outro na Universidade.

É fato notório que investidores estão habituados a estimar oportunidades

utilizando métodos matemáticos pelos quais quantificam possíveis ganhos

durante e ao final do desenvolvimento do programa (BORNSTEIN & DAVIS,

2010). Esses autores afirmam que negócios sociais não podem ser medidos por

fórmulas típicas do mercado tradicional. Um dos indicadores mais clássicos de

negócios tradicionais, conforme os mesmos autores, é o ROI – retorno sobre o

investimento -, que o glossário do Gartner (2013) assim define: ganho financeiro

expresso como uma porcentagem dos fundos investidos para gerar aquele

ganho. Conceito de ROI também é trazido pela Wikipedia (2014): relação entre

a quantidade de dinheiro ganho ou perdido como resultado de um investimento

e a quantidade de dinheiro investido.

O orçamento aplicado, considerando receitas e despesas de um modelo

de negócios social, frequentemente é considerado indicador de mensuração de

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resultados. Assim o certificam Bornstein e Davis (2010), para em seguida

apontar a fragilidade de tal medidor. O montante investido nem sempre garante

uma avaliação precisa, visto que haverá distorção se o negócio em questão for

de baixa qualidade. A medição de um programa ineficiente de melhoria do

aprendizado de estudantes demonstraria a quantidade de horas desperdiçadas.

No estudo desses autores encontram-se experiências em apuração de

resultados sociais, sobre as quais se fazem breves comentários a seguir.

Teach For America: organização cujo objetivo principal é melhorar a

educação infantil nos EUA. Mensura seus resultados considerando o número de

alunos que assumiram posições de liderança na educação pública.

Ashoka: empreendimento social atuante em diversas áreas, desde

eletricidade até microfinanças e cuidados com a saúde infantil. Avalia os

resultados de suas ações a partir da quantidade de seguidores que conseguiram

modificar os padrões estabelecidos em seus respectivos campos de atuação.

Cinco anos depois do empreendimento lançado, a Ashoka avalia os critérios a

seguir: se houve mudança nas políticas nacionais em virtude do projeto; se o

projeto causou mudanças no campo de trabalho; se o projeto continua

funcionando integralmente.

Grameen Bank: instituição financeira especializada em microfinanças

para os pobres, conforme já tratado neste trabalho. Sua principal unidade de

medida é o percentual de tomadores de crédito que saíram da pobreza. Nessa

avaliação, consideram-se aspectos objetivos – renda – e subjetivos, inclusive a

opinião das pessoas a respeito da mudança de condição.

Encontram-se no contexto dos negócios sociais uma série de modelos

para medir aquilo que importa, expressão utilizada por Eggers e Macmillan

(2013), cuja obra referencia o IRIS – Relatório de Impacto e Padrões de

Investimento, idealizado por um grupo de organizações sociais formado pela

Fundação Rockefeller, B. Lab, Fundo Acumen e outros. Utilizando um catálogo

de métricas de avaliação de performance de organizações com propósito social,

esse modelo pretende servir de referência para análise do “sucesso social,

ambiental e financeiro, avaliar negócios e aumentar a credibilidade da indústria

de investimento de impacto” (IRIS, 2014).

Semelhante ao IRIS encontra-se o modelo PULSE, trazido por Kramer

et al. (2009). Desenvolvido como plataforma eletrônica, produz avaliação de

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resultados a partir de indicadores específicos do campo de atuação da empresa.

Seus testes consideram métricas financeiras, sociais, operacionais e ambientais.

Kramer et al. (2009) expõem um modelo utilizado por mais de 200

organizações no mundo, nominado Success Measures Data System – SMDS.

Trata-se de um modelo flexível, baseado na internet, em que o empreendedor

seleciona os ativos a serem considerados na análise. É abastecido por dados

coletados manualmente ou de forma eletrônica. Fornece relatórios de resultados,

testes qualitativos e quantitativos e diversas outras ferramentas. O custo de

aquisição do sistema é considerado baixo pelos autores, cerca de US$ 2.500 por

ano.

Importante modelo de avaliação de resultados sociais é o Societal

Return on Investment5 – SROI, desenvolvido com base na formulação inicial do

pesquisador Jed Emerson, do Fundo Roberts de Desenvolvimento Empresarial,

na Inglaterra (CABINET OFFICE, 2009). Prevê o preenchimento de um mapa de

impacto em que são lançados dados das pessoas envolvidas, indicadores,

insumos, resultados e outras informações. O resultado final é a razão entre o

valor dos benefícios do empreendimento trazido ao tempo presente e o valor dos

insumos despendidos, como representado na FIG. 3.

SROI = Valor Presente dos Benefícios Valor dos insumos Figura 3 - Índice SROI. Fonte: adaptado de CABINET OFFICE, 2009.

O desenvolvimento da análise SROI prevê seis estágios, a saber

(CABINET OFFICE, 2009): 1 – Estabelecer o escopo e identificar stakeholders;

2 – Mapear os resultados; 3 – Monetizar os resultados; 4 – Estabelecer o

impacto; 5 – Calcular o SROI; 6 – Produzir relatórios, utilizar e internalizar à

organização.

5“Societal Return on Investment”: Retorno social sobre o investimento. Tradução do autor.

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Embora estejam sendo desenvolvidos modelos e aplicativos com

finalidade de se apurar os resultados sociais, todos ainda se encontram num

estágio preliminar (YUNUS et al., 2010).

Se considerarmos, conforme já apurado neste trabalho, que modelos de

negócios sociais tomaram corpo apenas a partir dos primeiros anos do século

XXI, torna-se simples compreender o caráter embrionário dos próprios

empreendimentos e, ainda mais, de fórmulas para aferir seu impacto. Assim, é

de se esperar que ainda não existam ferramentas prontas capazes de servir

como parâmetro para as inúmeras variações dos negócios sociais.

Tal conclusão é reforçada por Trelstad (2008), que considera todos os

modelos de avaliação de resultados sociais ainda incompletos, incapazes de

capturar a informação e processar os dados com clareza.

Chama a atenção declaração atribuída por Bornstein e Davis (2010) ao

físico Albert Einstein: “Nem tudo que conta pode ser contado e nem tudo que

pode ser contado conta” (BORNSTEIN e DAVIS, 2010, p. 62. Tradução nossa).

Esses mesmos autores indicam o especial caráter da avaliação de

resultados sociais, devendo ser considerados não somente a razão, mas incluir

aspectos emocionais, intangíveis. Citam o músico inglês Benjamin Zander, cujo

principal objetivo é levar ao público a descoberta da música clássica. Sua

avaliação de sucesso leva em consideração os olhares das pessoas que o

assistem pela primeira vez. A respeito desse ponto, Trelstad (2008) já defendera

um modelo que considerasse métricas quantitativas e qualitativas.

Ademais, ainda de acordo com Bornstein e Davis (2010), que método de

avaliação seria capaz de traduzir a alegria de uma criança que lê, pela primeira

vez na vida, um parágrafo de um livro?

Ao declarar sua própria incapacidade em mensurar os múltiplios

resultados do trabalho de empreendimentos sociais, Trelstad (2008) propõe a

existência de impactos imensuráveis. A partir de um programa que criasse cinco

mil empregos em um país pobre, por exemplo, efeitos sociais seriam irradiados

para incontáveis pessoas em numerosas situações de difícil identificação e não

apenas os beneficiários diretos.

A encerrar a presente discussão sobre sistemas de avaliação,

interessante trazer contribuição de Trelstad (2008), a relativizar a relevância da

monetização dos resultados sociais. Segundo esse autor, sua experiência de

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trabalho no Fundo Acumen comprova que os doadores de recursos buscam

métricas simples, claras e, principalmente, fazem suas opções muito mais com

base nas histórias contadas a respeito do impacto de seus trabalhos do que em

relatórios financeiros, ainda que as histórias sejam preferencialmente

acompanhadas de dados.

Conforme melhor se descreve na Metodologia, nesta pesquisa não será

adotado integralmente nenhum dos referidos modelos, pelos motivos já expostos

de serem ainda incompletos e, ainda, pela complexidade de se avaliar o impacto

em mais de 2 milhões de famílias – avaliação que deverá ser feita ao longo dos

próximos anos. A fim de atender os objetivos deste trabalho, serão considerados

indicadores de déficit habitacional, quantidade de imóveis financiados, valor dos

imóveis financiados, quantidade de unidades construídas, número de pessoas

beneficiadas.

A fim de que se dê uma visão mais realística de como os modelos de

negócios sociais se desenvolvem ao redor do mundo, propõe-se no Apêndice B

a explanação a respeito de alguns deles, num relato abreviado que apresente as

principais características e identifique os elementos da pobreza que sejam objeto

de sua atuação. Não é objetivo desta pesquisa o detalhamento de cada um

desses modelos de negócios, atividade certamente imprescindível que deverá

ser realizada em outro trabalho cujo eixo seja especificamente destinado para

tal fim.

Neste ponto do trabalho está concluída a análise teórica de modelos de

negócios sociais com base em estudos de recente e especializada literatura.

Foram descritos conceitos vários, entre os quais aquele que norteará o estudo

de caso – modelo de negócios sociais de Yunus et al. (2010). Foi investigada

sua importância na solução de graves problemas sociais e analisada sua

conexão com o mundo dos negócios convencionais. Analisaram-se, também,

formas de mensuração de resultados sociais. Passa-se ao tratamento da

metodologia pela qual será realizada a pesquisa.

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3 METODOLOGIA

3.1 Caracterização da pesquisa

O presente trabalho adotará a forma de pesquisa qualitativa, quanto à

abordagem. Segundo Godoy (1995, p. 58), a pesquisa qualitativa “envolve a

obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos

pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada.”

Embora apresente dados econômicos e financeiros, a essência da

pesquisa está nas características do PMCMV, com análise subjetiva dos

referidos dados. Assim, a abordagem qualitativa parece mais adequada, pois

conforme Vergara (2005), essa modalidade de pesquisa avalia a qualidade das

informações e a percepção dos atores sociais.

A fim de comparar as características do PMCMV com aquelas exigidas

por Yunus et al. (2010) para ser considerado um modelo de negócios social –

descritas no Referencial Teórico deste trabalho –, é necessário um olhar que

contenha subjetividade, mesmo quando se inclua no objeto dos estudos a

quantidade de financiamentos concedida ou as taxas de juros cobradas.

Segundo Richardson (1985), até mesmo em estudos quantitativos é possível um

olhar qualitativo. Esse autor afirma que o uso de critérios, categorias ou escalas

de atitudes são maneiras de se quantificar dados qualitativos.

Para Richardson (1985), abordar qualitativamente um problema tem

como conseqüência o entendimento da natureza dos fenômenos sociais. Ele

critica a excessiva quantificação das pesquisas, especialmente no campo das

Ciências Sociais, resultando em resultados pobres. O presente trabalho

pretende analisar a estrutura do PMCMV, especialmente para verificar se são

encontradas nele as características definidoras de um modelo de negócios

social. Portanto, o uso do método qualitativo é adequado. Assim se conclui com

base em uma das situações que Richardson (1985) aponta como exigentes de

estudos qualitativos: quando se pretenda utilizar dados qualitativos como

indicadores do funcionamento de estruturas sociais.

Quanto aos fins, o método empregado será a pesquisa descritiva.

Conforme Collis e Hussey (2005), essa modalidade de pesquisa descreve o

comportamento dos fenômenos, sendo usada para obter informações sobre as

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características de uma determinada questão. Vai além da modalidade

exploratória, uma vez que avalia e descreve as características das questões

pertinentes.

A pesquisa qualitativa, sendo aquela em que o pesquisador vai a campo

para captar o fenômeno a partir da perspectiva das pessoas nele envolvidas

(GODOY, 1995), pode ser trabalhada por diferentes meios, entre eles a pesquisa

documental e o estudo de caso, ambos utilizados neste trabalho. Este último é

assim definido pelo autor:

O estudo de caso tem se tornado a estratégia preferida quando os pesquisadores procuram responder às questões “como” e “por quê” certos fenômenos ocorrem, quando há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesses é sobre fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de algum contexto da vida real (GODOY, 1995, p.25).

No mesmo sentido está o entendimento de Yin (2010), para quem os

estudos de caso são apropriados quando presentes as questões “como” ou “por

quê”, quando o investigador possui pouco controle sobre os eventos e quando o

objeto é “um fenômeno contemporâneo no contexto da vida real” (YIN, 2010, p.

22).

Triviños (1987) entende que o estudo de caso se desenvolve em uma

profunda análise sobre o objeto de pesquisa. Desenvolvendo o conceito, o autor

afirma que essa modalidade de investigação pode parecer, aos olhos do

pesquisador iniciante, simples. Com o avançar dos estudos e o consequente

aprofundamento no assunto, o estudo de caso se torna bastante complexo. No

presente trabalho, a opção por tal meio de pesquisa é justificada pela intenção

de analisar-se profundamente o objeto, de investigar-se o caso específico do

PMCMV.

Pelo entendimento do estudo de Triviños (1987), definiu-se que o

trabalho possuirá aspectos dos dois tipos de estudos de caso entre aqueles

propostos em sua obra, a saber:

a) Estudos de casos histórico-organizacionais: a unidade de estudo

pode ser uma escola, uma universidade ou um clube, por exemplo.

O pesquisador se concentra na vida da instituição, partindo do

conhecimento já existente sobre o objeto estudado (registrado em

documentos).

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b) Estudos de casos observacionais: “categoria típica de pesquisa

qualitativa”, que utiliza como principal técnica a observação

participante. O foco do estudo não é a organização, mas um aspecto

dela, como o trabalho realizado em determinado setor, treinamentos,

reuniões etc.

3.2 Coleta de dados

Os principais procedimentos para a coleta dos dados que servirão de

base para responder à pergunta de pesquisa serão levantamento bibliográfico,

levantamento documental e entrevistas semi-estruturadas. Pode-se ainda fazer

uso da observação direta. Yin (2010) apresenta a pesquisa com uso de múltiplas

fontes de evidência como importante tática para reforçar a validação do

constructo durante a coleta de dados.

Pretende-se pesquisar bibliografia suficiente para responder dúvidas

levantadas nos objetivos específicos, tais como a literatura sobre negócios

sociais, modelos de negócios, déficit habitacional e especificamente sobre o

PMCMV.

O levantamento documental abrangerá a legislação referente ao sistema

habitacional no Brasil, balanços do PMCMV, planilhas. A opção pelo estudo

documental encontra respaldo em Alvarenga Neto (2005, p. 207), para quem “o

uso mais importante de documentos é corroborar e valorizar as evidências

oriundas de outras fontes”. Neste trabalho, os documentos serão fontes

importantes para verificar se as características do PMCMV são compatíveis com

os elementos caracterizadores dos modelos de negócios sociais, especialmente

aqueles assim definidos por Yunus et al. (2010).

A técnica de entrevista semi-estruturada, segundo Triviños (1987), é um

dos principais meios disponíveis para que o investigador realize a coleta de

dados. Sua importância para a pesquisa reside na característica de valorizar o

investigador ao mesmo tempo em que concede liberdade ao informante,

estimulando sua espontaneidade. A entrevista semi-estruturada é feita com base

em um roteiro prévio, com perguntas básicas a respeito do assunto em estudo.

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Para esta pesquisa, serão entrevistados os seguintes gestores da

instituição diretamente envolvidos com o PMCMV, pertencentes à rede interna

da Constelação de Valor: o vice-presidente de Habitação, o diretor da área

responsável pelo PMCMV, o superintendente nacional responsável pelo

Programa, um Gerente Regional do setor da Construção Civil e dois gerentes de

agências. Serão entrevistados integrantes da rede externa da Constelação de

Valor, quais sejam: dois Prefeitos Municipais e dois proprietários de empresas

da construção civil parceiros da instituição no PMCMV. Adicionalmente, serão

entrevistadas duas famílias beneficiárias do PMCMV, com questionamentos

diferentes dos demais.

A observação direta, técnica que se realiza mediante visita ao local onde

os fenômenos acontecem, também será importante para responder

questionamentos necessários às análises das categorias selecionadas.

Segundo Alvarenga Neto (2005, p. 209), “visitas de campo geram ricas

oportunidades para observações diretas sobre comportamentos ou condições

ambientais relevantes.” Essa técnica permitirá ao pesquisador, no estudo deste

caso, vivenciar presencialmente o ambiente em que o PMCMV se realiza. O

pesquisador no campo terá oportunidade de checar a suposta melhoria da

qualidade de vida gerada pelo objeto do estudo.

O QUADRO 5 apresenta uma comparação entre os instrumentos de

coleta selecionados para esta pesquisa.

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QUADRO 5

Fontes de evidências

Fonte de Evidências Pontos fortes Pontos fracos

Documentação - Estável – pode ser revista

- Discreta - não foi criada

em conseqüência do estudo

de caso

- exata – contém nomes,

referências e detalhes exatos

de um evento;

- ampla cobertura – longo

período de tempo, muitos

eventos e muitos ambientes

- Recuperabilidade: pode ser

difícil de se encontrar

- Seletividade parcial: a coleção

pode ser incompleta

- Parcialidade: reflete eventual

parcialidade do autor

- Dificuldade de acesso: pode ser

negado acesso às fontes

Observações diretas - realidade: tratam de

acontecimentos em tempo

real

- contextuais: tratam do

contexto do evento

- consomem muito tempo

- seletividade: é difícil haver uma

ampla cobertura, salvo com

grande número de observadores

- reflexibilidade: o evento pode

ocorrer de forma diferente porque

está sendo observado

- custo: horas necessárias pelos

observadores humanos

Entrevistas - direcionadas: focam

diretamente o tópico do

estudo de caso

- perceptivas: fornecem

inferências causais

percebidas

- Parcialidade: questões mal

elaboradas

- Parcialidade das respostas

- Incorreções devido a falhas de

memória do entrevistado

- reflexibilidade: o entrevistado dá

ao entrevistador a resposta que ele

quer ouvir

Fonte: adaptado de YIN (2010)

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3.3 Categorias de análise

Definiram-se três categorias de análise para nortear a pesquisa.

Categorias de análise são, em pesquisa qualitativa, o equivalente às variáveis

da pesquisa quantitativa (ALVARENGA NETO et al., 2006). A categorização que,

no conceito desses autores, engloba elementos inter-relacionados, tem como

propósito auxiliar o entendimento do estudo de caso. Determinar as categorias

a seguir oferecidas tem o mesmo objetivo daquele encontrado nas palavras de

Alvarenga Neto et al. (2006), qual seja: não se perder de vista os objetivos do

trabalho.

Com base no Referencial Teórico, foram propostas as seguintes

categorias de análise:

1 – Conceito, legislação, métricas e resultados do PMCMV;

2 – Modelo de negócios do PMCMV: proposta de valor, público-alvo,

demais stakeholders; , constelação de valor (canais, fornecedores, rede interna

e externa), custos e receitas;

3 – Equação de lucro financeiro (custos/receitas/recuperação do capital)

e equação de lucro social (resultados sociais advindos do PMCMV).

Definidas as categorias de análise, formatou-se um Protocolo de Estudo

de Caso (APÊNDICE A), documento que propõe os questionamentos que serão

discutidos ao longo da pesquisa, através dos múltiplos instrumentos de coleta.

3.4 Técnicas de interpretação e análise de dados

Um dos pontos cruciais da pesquisa a ser efetuada é a identificação de

resultados oriundos dos negócios sociais. Conforme tratado no terceiro capítulo

do Referencial Teórico, entende-se que ainda não existe um método

considerado padrão para análise de resultados não financeiros. Lucro social

inclui aspectos racionais e emocionais (BORNSTEIN & DAVIS, 2010), estes

últimos de difícil apuração.

O modelo SROI, descrito no Referencial, se mostra interessante,

possivelmente suficiente para analisar os efeitos do PMCMV e afirmar um índice

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de resultados sociais dele advindo. Ocorre que a complexidade do PMCMV,

envolvendo mais de três milhões de famílias espalhadas pelo Brasil inteiro, além

das centenas de empresas de construção civil e outros stakeholders, obriga à

definição de um limite para este trabalho.

Para percorrer os estágios do SROI seria necessário muito mais tempo

do que o disponível para o cumprimento dos requisitos do presente Mestrado

Profissional em Administração.

Uma pesquisa mais detalhada exigirá a observação do PMCMV ao longo

de alguns anos, a fim de se incluírem os dados subjetivos, como a percepção

das famílias atendidas acerca dos benefícios recebidos, em conformidade com

a teoria de Yunus et al. (2010) aplicada aos casos do Grupo Grameen. Isso

exigirá outro trabalho, além do presente.

Obter retorno dos próprios beneficiários também é designado por Eggers

e Macmillan (2013) como maneira de apuração dos resultados sociais. Diante da

proposta de extensão do corrente trabalho, porém, não se considera a

abordagem a uma amostragem segura dos mais de três milhões de famílias

atendidas pelo PMCMV.

Para os objetivos a que se propõe este trabalho, não se adotará

integralmente nenhum dos modelos de mensuração de impacto ora em

construção pela literatura especializada em negócios sociais, já estudados no

Referencial Teórico.

Tal atividade deverá ser trabalhada em novas pesquisas. Nesta, serão

selecionados indicadores de déficit habitacional, quantidade de imóveis

financiados, valor dos imóveis financiados, quantidade de unidades construídas,

número de pessoas beneficiadas. Todos esses elementos são considerados no

catálogo de métricas do modelo IRIS – já estudado no Referencial Teórico (IRIS,

2014). O diagnóstico apresentado a partir da resposta a essas questões será

capaz de demonstrar a presença ou ausência de resultados sociais oriundos do

PMCMV.

A fim de se analisarem os dados coletados com base no Protocolo de

Estudo de Caso, adota-se neste trabalho o modelo de Miles e Huberman (MILES

& HUBERMAN, 1984, apud ALVARENGA NETO, 2005), que é proposto em três

etapas:

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I – redução de dados: seleção, concentração, simplificação,

sumarização e transformação dos dados brutos que aparecem nas anotações

da pesquisa de campo.

II – exibição de dados (display): montagem organizada de informações

que permitam tomada de ações e conclusões.

III – verificação de dados: conclusões com base em inferências a partir

de evidências ou premissas.

Definidos os procedimentos pelos quais se desenvolverá a pesquisa –

instrumentos de coleta de dados, categorias de análise e modelo de análise de

dados – sintetiza-se a conexão da metodologia com o todo do trabalho da forma

que se explana a seguir.

O corrente trabalho se propõe a responder determinada pergunta de

pesquisa da forma proposta em seu objetivo geral. Este se desdobra em

objetivos específicos dos quais derivam as três categorias de análise –

agrupamento de ideias para sintetizar a interpretação dos dados (ALVARENGA

NETO et al., 2006) –, as quais encontram amparo nos capítulos do Referencial

Teórico. Os especificados métodos de pesquisa conduzirão a busca e análise

dos dados que, por fim, resultarão nas conclusões, onde se pretende ter

respondido à pergunta de pesquisa.

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4 CONTEXTO DE PESQUISA

A escolha da análise do PMCMV sob a ótica de uma das instituições

financeiras que o opera se deu por critérios de conveniência para o pesquisador

e, sobretudo, porque a referida instituição concentra em torno de 90% da

atividade realizada desde o início do Programa, em 2009.

Embora o PMCMV seja gerido pelo Ministério das Cidades, foi possível

observar-se que a instituição em que se realizou o estudo executa não somente

o trabalho no âmbito operacional, mas também ações de gestão, como por

exemplo, a administração dos recursos destinados à subvenção. Observou-se,

ainda, que alguns dos principais executivos responsáveis pelo Programa no

Ministério das Cidades são funcionários cedidos pela empresa.

Assim, analisar o PMCMV pela execução da instituição financeira

escolhida significa enxergá-lo de uma maneira integral, envolvendo todos os

stakeholders e a rede de parceiros.

A despeito de o pesquisador ter facilidades de acesso à empresa, sendo

ela própria patrocinadora do curso, houve alguns contratempos durante a

realização da pesquisa. Embora o projeto já houvesse sido analisado e aprovado

pelas áreas de recursos humanos que patrocinam o Mestrado do pesquisador,

alguns desencontros poderiam ter comprometido a realização do estudo.

No dia 16 de junho de 2014, após a fase de qualificação do trabalho, a

pesquisa foi autorizada pela Diretoria responsável, desde que não fosse

“mencionada a ‘instituição’ no trabalho e nem que as informações induzissem a

tal. No dia 16 de julho, nova mensagem, dessa vez da Vice Presidência,

desautorizou a pesquisa, inclusive cancelando as entrevistas que já haviam sido

marcadas com alguns executivos.

Após novos contatos, finalmente no dia 17 de julho de 2014 a Diretoria

e a Vice Presidência voltaram a autorizar a pesquisa, reiterando a ressalva de

não se utilizar o nome da instituição. As entrevistas foram novamente

confirmadas. Foi necessária uma revisão do trabalho para excluir menções ao

nome da instituição, garantindo-se o respeito ao contrato de confidencialidade.

Reafirmando o firme compromisso em cumprir o acordo de não exposição do

nome da instituição, parece não ser possível garantir que a mesma não será

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identificada pelo leitor, até mesmo por sua notoriedade na execução do PMCMV,

fato que se encontra totalmente fora do controle do pesquisador.

Ao todo, foram realizadas 12 entrevistas semi-estruturadas (QUADRO

6), orientadas pelo Protocolo de Estudo de Caso (Apêndice A), desenvolvido

conforme anteriormente descrito no capítulo referente à Metodologia. Procurou-

se incluir, nas entrevistas, colaboradores e/ou participantes dos âmbitos

estratégico, tático e operacional do PMCMV, além de representantes da Cadeia

de Valor, tais como: proprietários de empresas da construção civil e

representantes do Poder Público. Embora não previsto inicialmente, foram

ouvidas famílias pertencentes ao público-alvo, fato que enriqueceu

substancialmente o entendimento sobre resultados não mensuráveis e permitiu

o exercício da observação direta nos conjuntos habitacionais.

Os nomes e cargos dos entrevistados foram omitidos e substituídos por

Códigos de acordo com o nível hierárquico na empresa ou a posição no modelo

de negócios do PMCMV (QUADRO 6).

QUADRO 6

Entrevistas Semi-Estruturadas

Entrevistado Cargo Posição

C1 Empresário da Construção Civil Constelação de Valor

C2 Prefeito Municipal Constelação de Valor

C3 Empresário da Construção Civil Constelação de Valor

C4 Prefeito Municipal Constelação de Valor

E1 Diretora do PMCMV Nível Estratégico

E2 Vice-Presidente da Instituição Financeira Nível Estratégico

E3 Superintendente Nacional Nível Estratégico

O1 Gerente Geral Nível Operacional

O2 Gerente Geral Nível Operacional

P1 Beneficiário Público-alvo

P2 Beneficiário Público-alvo

T1 Gerente Regional Nível Tático

Fonte: elaborado pelo autor.

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As entrevistas totalizaram 300 minutos de gravação e 96 páginas de

transcrição. Cabem alguns comentários sobre fatos ocorridos durante essa

etapa da pesquisa, a seguir.

Foram agendadas para a sede da empresa, em Brasília, entrevistas com

o primeiro e o segundo executivos responsáveis pela área de habitação. Apesar

de ter sido agendado o horário, confirmado via email (PESQUISA

DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 57) o segundo executivo não recebeu

o pesquisador, que pôde confirmar sua presença ao vê-lo em sua mesa de

trabalho. Houve pedido de desculpas por parte da secretaria, informando que o

executivo estaria com sua agenda tomada naquela manhã. Entende-se que o

fato foi perfeitamente normal, diante da tumultuada agenda dos executivos da

alta administração de grandes empresas. Conclui-se que não houve prejuízo,

visto que foi possível entrevistar o primeiro executivo e também o terceiro.

Importante ressaltar ainda que, através de contatos realizados pela diretoria da

empresa, foi realizada entrevista com uma executiva do Ministério das Cidades,

naquela mesma data.

Outro fato a ser ressaltado ocorreu durante a entrevista de um dos

Prefeitos. Por ser membro do partido de oposição ao Governo Federal de então,

ele se mostrou bastante reticente durante a conversa, aparentemente com receio

de que seus comentários pudessem ser utilizados politicamente. Ainda que o

pesquisador tenha demonstrado e insistido no caráter exclusivamente

acadêmico do trabalho, ficou evidente o desconforto do Prefeito em oferecer sua

opinião sobre o PMCMV.

Em pelo menos outro encontro, o entrevistado se mostrou demasiado

apressado. Foi proposto a ele remarcar a data, porém houve insistência de sua

parte para que se fizesse a entrevista naquele momento. A conversa durou

apenas oito minutos e não foi possível extrair todo o conteúdo que o pesquisador

pretendia.

Excetuando-se tais pequenos desarranjos, os entrevistados em geral

mostraram-se solícitos, interessados e em alguns casos até mesmo

entusiasmados em falar a respeito do PMCMV e contribuir com a pesquisa

acadêmica.

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O apoio da instituição, viabilizando agenda com alguns de seus

principais executivos em seu edifício sede e autorizando o uso de informações

sobre o PMCMV foi elemento-chave para o projeto (PESQUISA DOCUMENTAL,

Apêndice D, Documento 55). Necessário destacar a disponibilidade dos

entrevistados e seu conhecimento como itens fundamentais ao desenvolvimento

do estudo de caso.

Entrevistar duas famílias integrantes do público alvo enriqueceu a

pesquisa. Embora não tenha sido criada uma categoria especial no Protocolo de

Estudo de Caso, as perguntas direcionadas às famílias auxiliaram às conclusões

das categorias 2 (Modelo de negócios do PMCMV) e 3 (Equação de lucro

financeiro e equação de lucro social).

A fim de alcançar os resultados propostos, especialmente responder à

pergunta de pesquisa, utilizou-se da estratégia de múltiplas fontes de pesquisa.

Segundo Yin (2010), o uso de múltiplas fontes de evidência reforça a validade

do constructo ao longo da coleta de dados.

Considerando que a análise de dados passa pela coleta e categorização

de evidências para, a seguir, se extrair conclusões do exame, é importante a

definição de uma estratégia para auxiliar em referido processo.

Entre aquelas propostas por Yin (2010), foi definida para esta pesquisa

a estratégia analítica “contando com proposições teóricas”. Segundo tal

expediente, a análise considera uma proposição teórica em que os objetivos do

estudo de caso foram baseados. Assumir essa definição facilita e qualifica a

pesquisa e, consequentemente, aumenta a robustez das inferências e dos

conceitos alcançados.

Facilita na medida em que a proposição teórica faz com que o

pesquisador foque sua atenção em determinadas informações, desde a coleta

inicial dos dados. Assim procedendo, não haverá captação de dados

desnecessários e será preciso uma quantidade menor de reduções para concluir

a análise. Qualifica porque a análise é feita com base em certa proposição

teórica academicamente difundida e discutida, cujo constructo está maduro e

vigoroso.

A proposição teórica adotada como base de comparação neste trabalho

será o modelo de negócios sociais proposto por Yunus et al. (2010). Justifica-se

a adoção dessa proposta por ser relevante mundialmente, aparecendo em

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citações dos principais autores de inovação social e, ainda, pelo reconhecido

sucesso dos empreendimentos montados sob tal formato. A concessão do

Prêmio Nobel em 2006 ao criador do modelo reforça sua relevância.

Adicionalmente, o processo de análise empregou a técnica analítica

“combinação de padrão”, assim definida por Yin (2010):

(...) compara um padrão baseado empiricamente com um padrão previsto (...). Se os padrões coincidirem, os resultados podem ajudar o estudo de caso a fortalecer sua validade interna (YIN, 2010, p. 165).

O Protocolo de Estudo de Caso (Apêndice A) orienta todo o processo da

pesquisa e não somente as entrevistas. Conforme salienta Yin (2010), referido

instrumento difere do questionário, uma vez que seu direcionamento é para o

pesquisador. As questões do protocolo são formuladas para o investigador,

servindo como “lembretes relacionados com a informação que necessita ser

coletada e por quê” (YIN, 2010, p. 113). Sua principal finalidade é orientar o

pesquisador ao longo da coleta de dados, seja por meio de entrevistas,

documentos ou observação direta.

Dessa forma, considerando que o Protocolo orienta o pesquisador em

quaisquer que sejam suas fontes de evidência e instrumentos de coleta, a

pesquisa se baseou nessa ferramenta para conduzir as entrevistas, realizar a

observação direta e selecionar os documentos.

A coleta dos documentos foi feita através de contatos com a instituição

financeira, solicitações via e-SIC – Sistema Eletrônico do Serviço de Informação

ao Cidadão – e buscas na internet.

Ponto importante a se destacar é o uso do e-SIC, sistema criado para

atender exigências da Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527, 2011). Diversas

solicitações foram feitas às instituições financeiras operadoras do PMCMV e ao

Ministério das Cidades. Todas foram prontamente atendidas em um prazo de até

três dias úteis.

Outra característica interessante da pesquisa é a prevalência de

documentos localizados na internet. Foi tomado o cuidado de consultar fontes

oficiais, extraindo-se documentos confiáveis. Toda a legislação referente ao

PMCMV, demonstrativos financeiros da instituição, balanços do PMCMV e do

PAC – Programa de Aceleração do Crescimento – são exemplos de documentos

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oficiais encontrados na internet. A rede mundial de computadores oferece

vantagens como celeridade – documentos localizados imediatamente -,

confiabilidade – é possível verificar a veracidade das informações diretamente

junto às fontes oficiais – e atualização das informações.

Como já descrito no capítulo Metodologia, utilizou-se o modelo de Miles

e Huberman (MILES & HUBERMAN, 1984, apud ALVARENGA NETO, 2005)

para a análise dos dados, adotando-se os procedimentos seguintes: redução dos

dados; exibição dos dados e verificação dos dados (Quadro 7).

O procedimento de redução consistiu na seleção, estudo e descarte de

documentos, tendo se dado em duas etapas. Na primeira etapa, cada documento

foi analisado individualmente e organizado por categoria. Nesse momento foi

possível observar que muitos auxiliariam as respostas em mais de uma das

categorias. Alguns, até em todas as três. Houve redução de 406 páginas. A

segunda etapa consistiu na análise de cada categoria e os documentos a ela

vinculados. Nesse procedimento, houve descartes e também busca de novas

informações, novos documentos para acrescentar ou substituir outros

anteriormente coletados. Foram descartadas mais 658 páginas. Em seguida, foi

montado o display, uma matriz de análise de dados brutos (Apêndice C). Para

cada categoria de análise foi criada uma matriz, sendo que todas traziam os

questionamentos do Protocolo de Estudo de Caso. Esse procedimento também

consumiu duas etapas.

No primeiro ciclo do display, foram incluídos nas matrizes os bullet

points, anotações manuais feitas durante as entrevistas. No segundo ciclo, foram

inseridos dados extraídos dos documentos e da transcrição das entrevistas, de

maneira a buscar respostas para cada uma das perguntas do Protocolo.

A terceira etapa tratou da verificação dos dados. Analisaram-se as

categorias detalhadamente, registrando-se no relatório as observações que

poderiam levar às respostas. A seguir, uma nova leitura das anotações manuais,

das matrizes de análise de dados e dos registros do relatório conduziu à

conclusão de cada questionamento.

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QUADRO 7

Análise de Dados – Modelo de Miles & Huberman

Procedimento e Resultados

Redução de dados

Etapa 1: Análise a partir dos documentos. Redução de 406 páginas.

Resultado: 1.419 páginas

Etapa 2: Análise dos documentos a partir

das categorias.

Redução de 658 páginas.

Resultado: 761 páginas

Display de dados

Etapa 1: Inclusão dos bullet points nas

matrizes de análise de dados brutos

Criação de 4 matrizes: uma para

cada categoria e uma para

assuntos introdutórios

Etapa 2: inclusão de informações dos

documentos e das transcrições das

entrevistas nas matrizes

Preenchimento das matrizes com

dados dos documentos. Total: 29

páginas

Verificação de dados

Análise das informações lançadas nas

matrizes.

Respostas descritas no Relatório

do Estudo de Caso

Releitura das informações Conclusões

Fonte: elaborado pelo autor

4.1 A instituição – FINANX

O Protocolo de Estudo de Caso incluiu um bloco introdutório, cujas

questões foram elaboradas para permitir melhor conhecimento da principal

organização executora do Programa Minha Casa Minha Vida. Conhecer a

empresa sob a ótica da qual se faz o estudo de caso do PMCMV é importante

tanto para compreender melhor o fenômeno ora observado quanto para

identificar características que possam, ao final, apontar resposta para a pergunta

de pesquisa.

A instituição analisada é empresa controlada pelo Estado Brasileiro.

Essa característica a coloca sob interessante paradoxo. Por um lado, é

organização pública, cujos principais dirigentes são nomeados pelo Presidente

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da República e cujos empregados são admitidos por concurso público.

Juridicamente, possui natureza privada, o que a posiciona como competidora em

iguais condições com demais organizações do altamente concorrido mercado

bancário.

É integrante do Sistema Financeiro Nacional e está sujeita às regras

impostas às demais instituições financeiras, inclusive fiscalização do Banco

Central, depósito compulsório, determinações do Acordo de Basileia, dentre

outras. Além de parceira do Estado Brasileiro, a organização é uma instituição

financeira similar às demais. Disputa mercados, possui base de clientes, faz uso

de estratégias de marketing, oferece produtos e serviços da área comercial, tais

como: contas correntes, depósitos a prazo, crédito pessoal, seguros e

previdência.

A análise dos demonstrativos de resultados da instituição expressa que

houve lucro crescente em todos os últimos anos: 2011, 2012, 2013. A leitura do

balanço da empresa permite constatar que a organização captura valor no

campo tradicional dos negócios, uma vez que aufere lucros em operações de

intermediação financeira, prestação de serviços, cobrança de tarifas bancárias e

outros. Em que pese ser lucrativa, seu Estatuto aponta que a referida empresa

pública também presta uma série de serviços com características sociais, tais

como: prestar serviços delegados pelo Governo Federal; atuar como agente

financeiro de habitação e saneamento; conceder empréstimos e financiamentos

de natureza social.

A instituição é uma das operadoras autorizadas do PMCMV que,

conforme restará demonstrado ao longo da pesquisa, constitui um programa sob

gestão da União.

A realização da pesquisa foi autorizada pela instituição, ressalvando o

sigilo da identificação da mesma. Dessa forma, não será citado o nome da

organização nem dos dirigentes entrevistados. Em substituição, será utilizado o

nome FINANX ao longo da pesquisa. Os nomes dos entrevistados também não

serão informados e seus cargos foram substituídos por códigos (assim como os

demais entrevistados, conforme QUADRO 6).

Concluídas as ponderações a respeito do procedimento e do contexto

da pesquisa, passa-se à análise dos dados nos capítulos seguintes.

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5 ANÁLISE DE DADOS

Após os procedimentos de coleta, classificação, redução e exibição,

deu-se início à verificação dos dados. Neste ponto é importante reiterar o

compromisso do uso das múltiplas fontes de evidências para reforço da validade

das conclusões.

O expediente verificatório seguiu a ordem do Protocolo de Estudo de

Caso, ferramenta desenvolvida com base nas categorias de análise. Essas, por

sua vez, são derivadas dos objetivos específicos – desdobramentos do objetivo

geral –, os quais, uma vez atingidos, permitirão uma conclusão que responda à

Pergunta de Pesquisa:

O Programa “Minha Casa, Minha Vida”, executado por uma instituição

financeira federal, pode ser caracterizado como um modelo de negócio social,

conforme os conceitos preconizados na literatura contemporânea de inovação

social?

Cada categoria é apresentada sequencialmente em capítulos

específicos. As questões introdutórias do Protocolo subsidiaram as informações

a respeito da FINANX apresentadas no capítulo anterior. As entrevistas

realizadas com famílias beneficiárias, embora não constituam categoria própria,

foram aproveitadas em todas as demais, especialmente nas de número 2 e 3.

Após a análise de cada questão do Protocolo, são expressas conclusões. O

sexto capítulo deste trabalho apresentará a conclusão e considerações finais,

abrangendo a pesquisa como um todo.

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5.1 Categoria de Análise 1: Conceito, legislação, métricas e resultados do

PMCMV

A categoria de análise número 1 objetivou investigar as informações

iniciais a respeito do PMCMV: definir um conceito, identificar a legislação que o

criou e regulamentou e dados preambulares a respeito de suas métricas e

resultados.

A fim de analisar esta categoria, o Protocolo de Estudo de Caso propôs

quatro questionamentos, os quais serviram como roteiro na investigação.

Buscou-se ter uma visão geral do PMCMV. Interessa compreender se

seus principais propósitos estão voltados para aspectos financeiros ou para

aliviar problemas advindos da pobreza, conforme preconiza a literatura de

negócios sociais (Yunus, 2010; Yunus et al, 2010; Comini et al., 2012; Polack e

Warwick, 2013). Nesse mesmo sentido, os resultados esperados indicarão quais

as prioridades do PMCMV sob a ótica da instituição que o executa.

A questão relativa à legislação que criou e regulamentou o PMCMV

encontrou as seguintes respostas:

Lei 11.977/09: resultado da conversão da Medida Provisória nº 459/2009, que criou o PMCMV. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14) Portaria Interministerial 395/11: dispõe sobre o PNHR – Programa Nacional de Habitação Rural, subprograma do PMCMV. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 19) Portaria 561/11 do Ministério da Fazenda: define a remuneração das instituições financeiras pelas atividades no âmbito do PNHU – Programa Nacional de Habitação Urbana, subprograma do PMCMV. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 20) Portaria Interministerial 409/2011: dispõe sobre operações de crédito com recursos do FGTS no âmbito do PNHU, integrante do PMCMV. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 21) Decreto 7.499/2011: Regulamenta o PMCMV. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 28) Resolução 702/12 do Conselho Curador do FGTS: estabelece diretrizes sobre propostas orçamentárias do FGTS. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 24)

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Portaria 168/2013 do Ministério das Cidades: dispõe sobre aquisição e alienação dos imóveis com recursos do FAR, no âmbito do PNHU, integrante do PMCMV. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 22) Portaria 363/2013 do Ministério das Cidades: dispõe sobre aquisição e alienação dos imóveis com recursos do FAR, no âmbito do PNHU, integrante do PMCMV, em municípios com população inferior a 50.000 habitantes. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 23) Lei 12.868/2013: dispõe sobre o financiamento de bens de consumo duráveis para beneficiários do PMCMV. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 15) Portaria 595/13 do Ministério das Cidades: dispõe sobre os critérios de seleção dos beneficiários do PMCMV. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 32)

Quanto à definição do PMCMV, as fontes oficiais (legislação e

publicações das instituições operadoras) trazem o seguinte:

(...) é um programa de governo que tem transformado o sonho da casa própria em realidade para muitas famílias brasileiras. Em geral, o Programa acontece em parceria com estados, municípios, empresas e entidades sem fins lucrativos. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 47) Iniciativa criada pelo Governo Federal com o objetivo de diminuir o déficit habitacional (...).(PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 48)

Em sua definição legal, encontra-se a estrutura em que se desdobra o

PMCMV:

Compreende os seguintes programas: Programa Nacional de Habitação Urbana; Programa Nacional de Habitação Rural (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14).

O conceito observado pelos entrevistados demonstra a vinculação entre

a atividade de financiar habitação com a solução de problemas sociais. Ao serem

questionados sobre qual a definição do PMCMV, entrevistados fizeram as

seguintes ponderações:

Política pública/social de alcance extremo. (E2) Um programa essencial, de natureza social com conseqüências econômicas (C2).

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Soma entre social e privado, em que o capital privado viabiliza o ganho social (C4).

Identifica-se na fala da maioria dos entrevistados uma percepção

positiva com relação ao PMCMV, o que pode ser confirmado pelos termos a

seguir:

Maior e melhor programa habitacional (O1). Divisor de águas no mercado imobiliário (T1). Programa altamente exitoso (E3). Muito correto, muito bom no geral (C1). Essencial (C2).

Constatou-se, portanto, através da pesquisa documental e das

entrevistas, que o PMCMV consiste num programa de governo, também

podendo ser considerado política pública com direcionamento social, criado para

reduzir o déficit habitacional brasileiro através de dois subprogramas: Habitação

Urbana e Habitação Rural.

A respeito dos objetivos, alguns são explicitados na legislação, tais

como:

Criar mecanismos de incentivo à produção e aquisição de novas unidades habitacionais para famílias com renda de até R$ 4.650,00 (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14). Posteriormente, o limite máximo de renda foi estendido para R$5.400,00, (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 24). Promover a produção, aquisição, requalificação e reforma de (...) unidades habitacionais (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14). Promoção da melhoria da qualidade de vida das famílias; provisão habitacional em consonância com os planos diretores municipais; criação de novos postos de trabalho diretos e indiretos, especialmente por meio da cadeia produtiva da construção civil; promoção de condições de acessibilidade (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 22).

O pesquisador, como funcionário da FINANX, pode observar, no seu dia-

a-dia, que a instituição estabelece, internamente, metas de contratação de

unidades habitacionais – exemplo: 5 mil unidades para determinada região no

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ano –, fato que parece confirmar que um dos objetivos do PMCMV é a redução

do déficit habitacional.

Como observador, o pesquisador identificou preocupação da instituição

com a qualidade, ao orientar seus empregados para o pronto atendimento das

demandas registradas na ferramenta “De Olho na Qualidade”. Tal instrumento

consiste num canal entre a FINANX e as famílias beneficiárias do programa, por

meio de um número de telefone que pode ser acionado gratuitamente para tratar

de questões relativas à qualidade do imóvel.

No cotidiano como empregado da FINANX, o observador identificou que

a alta gestão exige das áreas táticas e operacionais a certificação de que o

Trabalho Técnico Social é realizado junto às famílias. Esse trabalho envolve

ações de educação voltadas para a cidadania e o convívio dos moradores dos

novos conjuntos, visando qualidade de vida e sustentabilidade dos

empreendimentos (E3 e observação direta).

Os objetivos a seguir foram citados pelos entrevistados:

Reduzir déficit habitacional nas classes mais baixas (T1); Reduzir déficit habitacional(O1); Reduzir o déficit habitacional; urbanização dos municípios(C4); Reduzir o déficit habitacional (E2); Redução do déficit habitacional na baixa renda (E1); Dar casa a quem precisa (C3); Produzir moradias (E3).

Interessante aspecto foi apontado em algumas entrevistas e confirmado

até mesmo pela legislação: o econômico. O lançamento do PMCMV se deu em

2009, ano que o mundo passava por “profunda crise econômica”, nas palavras

do entrevistado E2.

Algumas fontes de evidência apontam para a preocupação do PMCMV

em interferir na atividade econômica e no nível de emprego do Brasil. Os

objetivos de reação à crise econômica mundial foram assim citados:

Crescimento do PIB, emprego, renda(...) (T1);

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Estimular a economia através da construção civil (C4); Responder à crise econômica (E2); Geração de emprego e renda, movimentar a economia (E3); Mover a economia (C1); Responder à crise econômica – foco em emprego na construção civil (E1). (...) criação de novos postos de trabalho diretos e indiretos, especialmente por meio da cadeia produtiva da construção civil (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 22).

Metas sociais, não quantificáveis, aparecem nas falas dos entrevistados

e nos documentos:

Compromisso com a sociedade (O2); Dar às famílias condições de sair da situação de pobreza (C2); Objetiva que as pessoas subam (...) degraus em qualidade de vida (E3); Tirar as pessoas da pobreza, progresso social (C2); Grande alcance social; suprir um hiato (O1). DIRETRIZES GERAIS a) promoção da melhoria da qualidade de vida das famílias beneficiadas; (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 22).

Um dos entrevistados do nível operacional (O2), apontou o interesse da

FINANX em lucrar financeiramente, incluindo o aspecto comercial como um dos

objetivos.

Ela tem objetivo enquanto braço direito do Governo Federal nas políticas públicas e tem objetivo um compromisso com a sociedade (...). E ela tem os objetivos comerciais também, que ela atinge quando fideliza esses clientes que nos procuram, transformando esses clientes em clientes. (O2)

Há convergência de entrevistados, documentação e observação direta

no sentido de que o PMCMV possui como principais objetivos a redução do

déficit habitacional, geração de emprego e renda por meio de mecanismos de

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incentivo à produção e comercialização de novas unidades habitacionais para

famílias de baixa renda não proprietárias.

A meta é de produzir 3,75 milhões de novas moradias (E2). Objetivos de

redução da pobreza e melhoria da qualidade de vida das famílias também foram

citados nas entrevistas e podem ser distinguidos nos parâmetros legais

(elevados subsídios, foco em baixa renda etc.).

Art. 82-B. O PMCMV (...) tem como meta promover a produção, aquisição, requalificação e reforma de dois milhões de unidades habitacionais, a partir de 1º de dezembro de 2010 até 31 de dezembro de 2014. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14).

Quanto ao questionamento a respeito dos

resultados esperados, também é possível classificá-los como quantificáveis e

não quantificáveis. Os primeiros incluem os números de novos imóveis que o

PMCMV pretende entregar. Os outros abrangem resultados sociais e reflexos na

vida das pessoas e das comunidades.

Em termos de quantidade, a legislação original não definiu meta. A partir

dezembro de 2010 foi estabelecida como meta a produção de 2 milhões de

unidades habitacionais desde então até dezembro de 2014.

PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA – Metas e resultados 2009/2014 Meta até 2014: 3,75 milhões Contratadas até novembro 2013: 3 milhões de unidades Entregues até novembro 2013: 1,4 milhão de unidades (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 37)

Interessante afirmação foi feita por um entrevistado do nível estratégico

do Programa, demonstrando que a meta do PMCMV está mais voltada para

combate ao crescimento da demanda habitacional do que ao próprio déficit:

Hoje em dia nós estamos muito mais voltadas para o incremento. (...) pra que nos nossos programas, a gente esteja conseguindo combater parte, não totalmente (...) o incremento, a demanda por habitação futura. A gente se prepara com oferta de moradia pra uma demanda futura. Claro, sem desmerecer, obviamente, o déficit existente, lógico. (E1).

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Quanto aos resultados esperados pelo PMCMV, de maneira similar aos

objetivos, é possível encontrar retornos similares a negócios convencionais e

outros que indicam resultados sociais. Alguns entrevistados repetiram, para a

questão “resultados esperados”, aquilo que disseram para “objetivos do

PMCMV”.

Entre os resultados típicos de negócios convencionais, destacam-se os

seguintes elementos:

3,7 milhões de novas moradias (T1); Agregar negócios para a instituição financeira (O1); Injeção de recursos financeiros no mercado (C2); Crescimento da economia (E3).

Resultados sociais, assim considerados aqueles que não pertencem ao

mundo dos negócios convencionais, são citados em abundância:

Geração de emprego, melhoria na qualidade de vida (O1); Melhorar a situação das crianças; redução da criminalidade; qualidade de vida; dignidade; desenvolver habilidade das pessoas conviverem socialmente (C2). Retirada de famílias de áreas de preservação ambiental e áreas invadidas (C4); Promoção da melhoria da qualidade de vida; provisão habitacional garantindo sustentabilidade social, econômica e ambiental (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 22).

A produção de novas moradias, aqui classificada como resultado

convencional – do ponto de vista da cadeia da construção civil – , também pode

ser considerada resultado social, uma vez que o foco do PMCMV são famílias

de baixa renda que não possuem casa própria.

A maior parte dos recursos que movimentam o PMCMV vem de duas

fontes: FGTS e Orçamento Geral da União – OGU.

PMCMV – TOTAL – 30/06/2014 Subsídios OGU: R$ 83.535.219.519,00 Subsídios FGTS: R$ 22.848.336.230,00

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Financiamentos FGTS: R$ 112.153.857.247,00 (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 39).

Conclui-se, após trianguladas informações coletadas nas entrevistas,

documentos e observação do pesquisador, que o PMCMV foi criado por Lei

Federal para diminuir o déficit habitacional do Brasil, com meta de contratar 3,75

milhões de novas moradias até o fim de 2014. Possui, explicitamente, objetivos

sociais. Suas principais metas estão relacionadas à produção de novas moradias

para famílias não proprietárias. Objetivos de impacto na economia nacional e

ganhos para as instituições financeiras operadoras são apresentados como

secundários.

O QUADRO 8 demonstra uma série de objetivos e resultados do

PMCMV, alguns típicos de negócios convencionais, outros de negócios sociais.

O QUADRO 9 apresenta resumo das conclusões desta categoria.

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QUADRO 8

Objetivos/Resultados esperados pelo PMCMV

Convencionais Sociais

Criar mecanismos de incentivo à

produção e aquisição de novas

unidades habitacionais

3,75 milhões de novas moradias;

Agregar negócios para a instituição

financeira;

Injeção de recursos financeiros no

mercado

Crescimento da economia

Responder à crise econômica

Interesse comercial das instituições

financeiras

Dar às famílias condições de sair da

situação de pobreza

3,75 milhões de novas moradias

Progresso social

Reduzir o déficit habitacional

Crescimento do PIB, emprego, renda

Promoção da melhoria da qualidade de

vida das famílias

Criação de novos postos de trabalho

diretos e indiretos

Geração de emprego, melhoria na

qualidade de vida

Melhorar a situação das crianças;

redução da criminalidade; qualidade de

vida; dignidade; desenvolver habilidade

das pessoas conviverem socialmente

Retirada de famílias de áreas de

preservação ambiental e áreas invadidas

Promoção da melhoria da qualidade de

vida; provisão habitacional com

sustentabilidade social, econômica e

ambiental

Ascensão das pessoas à melhor

qualidade de vida

Fonte: elaborado pelo autor

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QUADRO 9

Principais conclusões da Categoria Analítica 1

Conceito Objetivos Legislação Resultados esperados

Política pública Incentivar produção

habitacional

Lei 11.977/09 3,75 milhões de novas

moradias

Programa habitacional Promover qualidade

de vida

Portaria 395/11 Suprir a demanda

habitacional

Programa de governo Redução do déficit

habitacional

Portaria 561/11 MFAZ Novos postos de

trabalho

PNHU e PNHR Enfrentar crise

econômica

Portaria 409/11

Política social Decreto 7.499/11

Privado + social

Metas sociais Resolução 702/12

CCFGTS

Portaria 168/13 MCIDAD

Portaria 363/13 MCIDAD

Lei 12.868/13

Portaria 595/13 MCIDAD

Fonte: elaborado pelo autor

Cumprida a proposta de analisar conceito, legislação, métricas e

resultados, prosseguir-se-á para a categoria de análise 2, que trata do modelo

de negócios do PMCMV, examinando-se sua proposta de valor, público-alvo,

constelação de valor, custos e receitas.

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5.2 Categoria de Análise 2: Modelo de negócios do PMCMV: proposta de

valor, público-alvo, constelação de valor, custos e receitas

A segunda categoria de análise pretendeu investigar e analisar o modelo

de negócios do PMCMV. Pretendeu-se descobrir se o Programa possui um

modelo de negócios com proposta de valor (o que entrega para o cliente),

público-alvo, constelação de valor (rede de parceiros) e estrutura de custos e

receitas.

A presente categoria visou extrair importantes informações para a

pesquisa, visto que os modelos de negócios sociais devem ter, a princípio,

características de uma empresa clássica: atuação no mercado oferecendo

produtos, busca de clientes, disputa por mercados, manutenção de estrutura de

custos/receitas e canais de distribuição (YUNUS et al., 2010).

Procurou-se compreender se os produtos foram inovadores, se visaram

um novo mercado e se foram desenvolvidos especialmente para os indivíduos

integrantes de tal mercado. Para Phills (2009), inovação social se dá com a

introdução de soluções novas para um problema ou necessidade social, desde

que sejam melhores do que as abordagens já existentes. Daí a necessidade de

compreender se há um caráter inovador intrínseco aos produtos do PMCMV.

Quanto ao público que pretende atingir, buscou-se descobrir se as

pessoas são consideradas clientes de um produto ou beneficiários de um

programa social. Solucionar tal dúvida é fundamental para responder à pergunta

de pesquisa, uma vez que o conceito de negócios sociais prevê que as pessoas

sejam vistas e tratadas como verdadeiros clientes.

A fim de cumprir tais objetivos, o Protocolo de Estudo de Caso definiu

sete questionamentos na segunda categoria de análise, passando por todos os

elementos de um modelo de negócios e buscando identificar sinais de inovação

social.

O primeiro elemento de modelo de negócios analisado foi o relativo aos

produtos. Sobre os produtos oferecidos pelo PMCMV, a legislação apresenta

dois sub-programas, um para a área urbana e outro para área rural.

O Programa Minha Casa Minha Vida (...) compreende os seguintes subprogramas: PNHU – Programa Nacional de Habitação Urbana

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PNHR – Programa nacional de Habitação Rural. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14);

No âmbito do PNHR – Programa Nacional de Habitação Rural, há divisão

por grupos de faixa de renda, existindo uma linha sem financiamento, com

subvenção paga pela União e outras duas faixas de financiamento com recursos

do FGTS:

I - Grupo 1: agricultores familiares e trabalhadores rurais cuja renda familiar anual bruta não ultrapasse R$ 15.000,00; II - Grupo 2: agricultores familiares e trabalhadores rurais cuja renda familiar anual bruta seja superior a R$ 15.000,00 e inferior ou igual a R$ 30.000,00; e III - Grupo 3: agricultores familiares e trabalhadores rurais cuja renda familiar anual bruta seja superior a R$ 30.000,00 e inferior ou igual a R$ 60.000,00 (...) Os beneficiários integrantes do Grupo 1 serão atendidos sem a constituição de operação de financiamento (...) (...) A subvenção econômica do PNHR será paga, à vista e em espécie, integralmente ao Gestor Operacional do programa, a partir da contratação da operação entre os Agentes Financeiros e os beneficiários (...) 2. Os beneficiários integrantes dos Grupos 2 e 3 serão atendidos a partir da constituição de operação de financiamento, lastreada nos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS (...)(PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 19).

Pelo fato de o PNHR não se tratar do foco do estudo de caso, além de

representar proporcionalmente apenas uma pequena parte do PMCMV, esta

pesquisa se ocupará preponderantemente do PNHU – Programa Nacional de

Habitação Urbana, em que se distinguem duas modalidades de atividade,

conforme a faixa de renda das famílias a que pretende atender.

Bom, ele está estratificado em principalmente na renda e também valores de financiamentos e subsídios especificados por locais. Na renda, temos o faixa i para quem tem até R1.600,00, totalmente bancado por recursos do OGU, que aporta os recursos no FAR.(...) [faixa ii e iii] É um outro produto. Esse aí já é um financiamento mais com regras de mercado, mas ele tem uma diferenciação. (...) está previsto diferenciais de subsídios que vão decrescendo para quem ganha até R$ 3.275,00, você tem o FGC, q é o fundo garantidor e você tem também uma taxa de juros reduzida, que vai no faixa ii até R$3.275,00 e faixa iii até R$4.500,00. Notadamente, faixa i por ser indicação do poder público, e não haver análise cadastral (...),ele é um programa diferenciado. Os

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outros já tem a questão cadastral da pessoa para ter acesso a esse programa, tanto de renda quanto de idoneidade cadastral. Então, é um programa guarda-chuva e aí na área urbana se resuma a esses três aí: faixa i, ii e iii. (T1)

A chamada faixa i do PMCMV não prevê financiamento nem análise

cadastral ou comprovação da capacidade de pagamento. É promovida com

recursos do FAR – Fundo de Arrendamento Residencial, por meio de

subvenções. A contrapartida dos beneficiários é oferecida por prestações

limitadas.

A integralização de cotas do FAR (...), tem por objetivo a aquisição e requalificação de imóveis destinados à alienação para famílias com renda mensal de até mil e seiscentos reais, por meio de operações realizadas por instituições financeiras oficiais federais (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 22); As operações realizadas com recursos provenientes da integralização de cotas no FAR (...) beneficiarão famílias com renda mensal de até R$ 1.600,00 e ocorrerão na forma de regulamento estabelecido por ato conjunto dos Ministérios das Cidades, da Fazenda, e do Planejamento, Orçamento e Gestão, observadas as seguintes condições: I - exigência de participação financeira dos beneficiários, sob a forma de prestações mensais; II - quitação da operação, em casos de morte ou invalidez permanente do beneficiário, sem cobrança de contribuição do beneficiário; e III - cobertura de danos físicos ao imóvel, sem cobrança de contribuição do beneficiário. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 28) A subvenção econômica será concedida nas prestações do financiamento, ao longo de cento e vinte meses; A quitação antecipada do financiamento implicará o pagamento do valor da dívida contratual do imóvel, sem a subvenção econômica conferida na forma deste artigo Não se admite transferência inter vivos de imóveis sem a respectiva quitação. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 28) Os beneficiários das operações realizadas com recursos provenientes da integralização de cotas no FAR e recursos transferidos ao FDS assumirão responsabilidade contratual pelo pagamento de cento e vinte prestações mensais, correspondentes a cinco por cento da renda bruta familiar mensal, com valor mínimo fixado em vinte e cinco reais. (PESQUISA DOCUMENTO, Apêndice D, Documento 28)

A legislação procura garantir que a subvenção seja oferecida apenas

uma vez para cada beneficiário e imóvel, tanto na faixa i quanto na faixa ii:

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A subvenção econômica a que se refere o inciso I do caput do art. 2º será concedida exclusivamente a mutuários com renda familiar mensal de até R$ 3.275,00 (três mil, duzentos e setenta e cinco reais), uma única vez por imóvel e por beneficiário. (PESQUISA DOCUMENTO, Apêndice D, Documento 28)

As faixas ii e iii do PMCMV atingem até o valor de R$ 5.400,00 de renda,

sendo que se tratam de operações de financiamento com análise cadastral e de

capacidade de pagamento, porém com condições especiais.

Na faixa ii e iii, ele é uma operação similar às operações que nós já fazíamos anteriormente. (...) Porque a inadimplência do faixa ii e iii é risco do banco. Então ela é uma operação de mercado, em que o Estado participa dela facilitando o acesso de quem tá comprando, dando um subsídio para que ele possa comprar um imóvel que a renda dele não permitia comprar numa situação diferente. Mas tirando essa questão importante do subsídio pro comprador, o financiamento tem as mesmas regras de um financiamento comercial. (E2) [faixa ii é] um outro produto que já não é subsídio direto, porque são recursos do FGTS, cuja renda é superior (...) e o recurso sim, são do FGTS, via financiamento. (O2) Faixa de R$1.600,00 a R$ 3.275,00 é a faixa ii, neste aí o governo aporta um subsídio (...) que é um complemento. E o faixa iii que vai de R$ 3.275,00 a R$ 5.000,00, hoje o único diferencial dele é o fundo garantidor, que é um seguro mais barato do que se fosse em um financiamento. (E3) A subvenção econômica (...) será concedida exclusivamente a mutuários com renda familiar mensal de até R$ 3.275,00 (três mil, duzentos e setenta e cinco reais), uma única vez por imóvel e por beneficiário e será cumulativa com os descontos habitacionais concedidos nas operações de financiamento. (PESQUISA DOCUMENTO, Apêndice D, Documento 28).

Através da observação direta, identificou-se que, na faixa i, as

contratações são feitas de maneira coletiva. Nas faixas ii e iii, podem se dar por

empreendimentos coletivos ou individualmente numa relação simples de

comprador e vendedor, com intervenção do banco financiador.

As linhas de crédito e de subvenção são consideradas produtos

oferecidos pelo PMCMV. As próprias unidades habitacionais, igualmente, são

apresentadas na legislação e nas entrevistas como produtos.

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No âmbito do FAR, os imóveis são padronizados e os valores máximos

estabelecidos conforme a localidade do imóvel, variando entre R$ 57 mil e R$

76 mil (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documentos 22, 29 e 30).

Os valores máximos de aquisição (...) poderão compreender os custos de aquisição do terreno, edificação, equipamentos de uso comum, tributos, despesas de legalização, trabalho social e execução de infraestrutura (...). Contemplam, ainda, os custos do sistema de aquecimento solar nas edificações unifamiliares. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 22).

Com relação aos financiamentos do FGTS, o valor máximo de imóvel é

de R$ 90 mil, podendo ser majorado conforme a região do País:

R$ 115 mil: imóveis situados em municípios com mais de 50 mil habitantes. R$ 145 mil: imóveis situados em municípios com mais de 250 mil habitantes ou integrantes de regiões metropolitanas. R$ 170 mil: imóveis situados em municípios com pelo menos 1 milhão de habitantes ou capitais estaduais. R$ 190 mil: imóveis situados no Distrito Federal ou em municípios integrantes das regiões metropolitanas dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 24)

Alinhados ao que apresenta a documentação, os entrevistados informam

sua visão com relação ao que consideram ser os produtos do PMCMV:

Moradia (E2, E3); Financiamentos estratificados por renda (T1); Comercialização de imóveis via financiamento (O1); Habitação (C2); Uma linha individual e uma coletiva (O2); Faixa I: limites estabelecidos pelo Ministério das Cidades e o Faixa II, que tem que vender o imóvel(C3).

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Notável que tal pergunta tenha recebido respostas que, a exemplo dos

objetivos e resultados esperados, são vinculadas a aspectos sociais, conforme

as seguintes:

Bancarização, responsabilidade coletiva (E2); Infraestrutura e equipamentos sociais como escolas, postos de saúde etc.(E1); Equipamentos de aquecimento solar, impacto na saúde, valorização da mulher (C2); Mais do que habitação simplesmente: moradia, teto, infraestrutura, equipamentos comunitários (E1).

Ainda relativamente à proposta de valor do PMCMV, questionou-se a

respeito das necessidades dos clientes-alvo, dos valores criados para a

sociedade. Infere-se da pesquisa documental que o déficit e a demanda

habitacional são necessidades importantes a que o PMCMV atinge diretamente.

O déficit habitacional em 2012 era de 5,2 milhões de domicílios, nesses

números considerados:

Domicílios precários: 870,56 mil; Coabitação: 1.757 mil; Excedente de aluguel: 2.293 mil; Adensamento excessivo: 510,19 mil. Demanda habitacional prevista até 2023: 27 milhões de unidades habitacionais, sendo 62% dela concentrada na faixa de renda de até R$ 1.200,00 (incluída no público-alvo do PMCMV). (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 46)

Os entrevistados destacaram necessidades sociais similares àquelas

apontadas pelos documentos e adicionaram aspirações indiretamente ligadas à

moradia, como:

Sonho da casa própria (...), segurança do imóvel (O1); Condição básica para a família, a casa (C3);

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Realização do sonho do cliente, casa própria com condição digna (O2); Não se preocupa só com moradia, mas também com infraestrutura, água, transporte...”(E1).

As respostas a esse questionamento reforçam aquelas encontradas

quando se tratou dos objetivos e dos resultados esperados pelo PMCMV, na

primeira categoria analítica.

Ao considerar negócios realizados por grandes corporações para

atender aos pobres do mundo, autores defendem que os produtos sejam

desenhados especificamente para aquele público (GATES, 2008;

THOMPSON & MACMILLAN, 2010; BORNSTEIN & DAVIS, 2010; EGGERS &

MACMILLAN, 2013; POLAK & WARWICK, 2013). Nesse ponto, parece haver

convergência de opiniões da maioria dos entrevistados, entendendo eles que a

linha de subvenção para famílias que ganham até R$ 1.600,00 por mês

(chamada Faixa i do PMCMV) foi desenvolvida especialmente para tal público.

Quanto às linhas de financiamento com subsídios, alguns entendem que sim,

outros entendem que não.

O Faixa ii se assemelha ao produto que já existia antes, que era a carta de crédito Associativa. Só que não tinha esses benefícios da taxa de juros reduzida, não tinha o benefício do Fundo Garantidor de Créditos e também não tinha o benefício do subsídio (...). Notadamente, Faixa i, por ser indicação do poder público e não haver análise cadastral (...), ele é um programa diferenciado (T1). (...) pode até ter tido iniciativas no passado (...). Mas eram situações absolutamente diferentes, formas diferentes de fazer. Então, eu diria que não existia, foi uma coisa nova, diferente (...). Desenhados especificamente para isso, quer dizer, a tipologia mínima que você tem (...), a infraestrutura (...). Não é uma situação que a gente tinha no passado em outras experiências (...). E o número que ele atingiu também é sem precedentes. (E2). Foram feitos de fato para atender ao público do PMCMV (O1); Especificamente para esse público-alvo (C4); Eu acho que atende sim [Faixa i ]. O Faixa ii eu tenho algumas dúvidas (...), a impressão que eu tenho (...) é que o Faixa ii é um programa que beneficia mais as construtoras que a sociedade (C2).

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A documentação parece oferecer respostas que esclareçam a questão.

A própria Lei que criou o PMCMV apresenta separadamente produtos por faixa

de renda, conforme já descrito neste capítulo (PESQUISA DOCUMENTAL,

Apêndice D, Documento 14).

A legislação “desenha” o produto, exigindo especificações técnicas

mínimas, infraestrutura e outros itens:

ESPECIFICAÇÃO TÉCNICA O projeto do empreendimento observará especificação técnica mínima disponível para consulta no endereço eletrônico do Ministério das Cidades (www.cidades.gov.br). O projeto de empreendimento composto por edificações unifamiliares deverá contemplar sistema de aquecimento solar individual. O empreendimento deverá ser dotado de infraestrutura urbana básica: vias de acesso e de circulação pavimentadas, drenagem pluvial, calçadas, guias e sarjetas, rede de energia elétrica e iluminação pública, rede para abastecimento de água potável, soluções para o esgotamento sanitário e coleta de lixo. As redes de energia elétrica e iluminação pública, abastecimento de água potável e as soluções para o esgotamento sanitário, deverão estar operantes até a data de entrega do empreendimento. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 22)

Os projetos de unidades a serem comercializados na Faixa i possuem

especificações mínimas de dimensões dos cômodos, características gerais (área

útil, pé direito, cobertura, revestimento, portas, janelas, paredes, pisos, pinturas,

louças e metais, instalações elétricas, infraestrutura, acessibilidade) definidas

legalmente (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documentos 29 e 30).

Todas as residências passaram a ser entregues com revestimento

(pisos) a partir de julho de 2011, data em que tal condição foi acrescentada às

especificações técnicas dos imóveis. Merece destaque o fato de que as unidades

já entregues quando do estabelecimento dessa exigência foram incluídas no

projeto, tendo o PMCMV instalado revestimento em todas as moradias sem custo

para o beneficiário (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 22 e

observação direta).

Os projetos de empreendimentos das operações contratadas até o dia 8 de julho de 2011 (...), poderão ser objeto de acréscimo

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de revestimento cerâmico de piso nas áreas privativas da unidade habitacional e nas áreas de uso comum nos casos de edificações multifamiliares. (PESQUISA DOCUMENTO, Apêndice D, Documento 22).

A legislação tributária foi alterada especificamente para o PMCMV. Foi

criado regime especial de tributação para construção de unidades habitacionais

contratadas no âmbito do PMCMV, mais favorável às construtoras, na forma de

incentivo fiscal:

Instrução Normativa RFB nº 1435: Dispõe sobre os regimes especiais de pagamento unificado de tributos aplicáveis às incorporações imobiliárias, às construções de unidades habitacionais contratadas no âmbito do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) e às construções ou reformas de estabelecimentos de educação infantil (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 31). DO REGIME ESPECIAL APLICÁVEL ÀS CONSTRUÇÕES NO ÂMBITO DO PMCMV: Até 31 de dezembro de 2014, a empresa construtora contratada para construir unidades habitacionais no âmbito do PMCMV, de que trata a Lei nº 11.977, de 2009, fica autorizada, em caráter opcional, a efetuar o pagamento unificado de tributos equivalente a 1% (um por cento) da receita mensal auferida pelo contrato de construção. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 31).

Pode-se citar como exclusividade do PMCMV, ainda, o desenvolvimento

de uma linha de financiamento de bens de consumo duráveis para os

beneficiários do PMCMV. Criada por lei e chamada “Minha Casa Melhor”, a linha

de crédito é oferecida por uma das instituições financeiras operadoras, com

recursos da União, com destinação específica para aquisição de móveis,

eletrodomésticos e eletrônicos, para permitir que a família equipe a nova

residência. É voltada exclusivamente para os beneficiários do PMCMV. O

objetivo é que a família equipe a nova residência.

LEI 12.868/13 (...) para dispor sobre o financiamento de bens de consumo duráveis a beneficiários do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) Os recursos captados (...) na forma do caput poderão ser destinados ao financiamento de bens de consumo duráveis,

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inclusive bens de tecnologia assistiva, para as pessoas físicas do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV (...). O Conselho Monetário Nacional definirá os bens de consumo duráveis e de tecnologia assistiva (...), seus valores máximos de aquisição e os termos e as condições do financiamento. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 09).

O próprio público-alvo parece entender que os produtos do PMCMV são

diferentes dos anteriores e que foram desenvolvidos para atendê-los.

No financiamento normal, acho que não teria condições de comprar. Prestação de R$ 500,00, eu não ia dar conta sozinha. (P1) Tentei várias vezes, tentei muito [financiar imóvel antes do PMCMV]. Fiquei até frustrada com isso. Porque não dá! [para financiar nas linhas anteriores] Não dá pelo seguinte: a gente, como se diz, é pobre. A gente ganha salário, e então com esse salário eu tinha que pagar aluguel, eu tinha que dar assistência meu filho na escola, roupa, alimentação, remédio, tudo isso. Então com o salário que a gente ganha, como que a gente vai juntar aí vinte mil, trinta mil para dar de entrada para depois continuar uma prestação? Então não dá. (P2)

Referente ao caráter inovador, a maioria dos entrevistados confirma a

presença de tal característica nos produtos do PMCMV, embora alguns deles,

ao serem instados a explicar o porquê de assim entenderem, não o souberam

explicar. Possivelmente isso se deve ao desconhecimento do conceito de

inovação.

Ainda que os entrevistados não sejam detentores do conhecimento

acadêmico referente à inovação e inovação social, é possível extrair de suas

falas noções que demonstram que os produtos do PMCMV são inovadores.

Recorrendo aos estudos propostos por Davila et al. (2006), foram

encontrados aspectos inovadores na tecnologia e, especialmente, no modelo de

negócios do PMCMV. A seguir, apresentam-se as inovações identificadas por

alavanca, conforme o citado modelo de Davila et al. (2006), a partir da estratégia

de triangulação de fontes de evidências.

Proposta de valor (inovação no modelo de negócios): Os produtos anteriores tinham problemas de financiamento que não ocorrem no PMCMV - resíduos a pagar após o fim do prazo do contrato, escolha de famílias que não tinham necessidade etc. (C2).

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Não existia tamanha abrangência (T1). Foi uma coisa nova, diferente, atingiu números sem precedentes. (E2). Grande incremento orçamentário. (E1). Soma de variáveis inovadoras: desoneração tributária, subsídio, critérios sociais, juros subsidiados. (C4). Os contratos e registros efetivados no âmbito do PMCMV serão formalizados, preferencialmente, em nome da mulher. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14). Para a indicação dos beneficiários do PMCMV, deverão ser observados os seguintes requisitos: (...) Prioridade de atendimento às famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14). Nas hipóteses de dissolução de união estável, separação ou divórcio, o título de propriedade do imóvel adquirido no âmbito do PMCMV, na constância do casamento ou da união estável, com subvenções oriundas de recursos do orçamento geral da União, do FAR e do FDS, será registrado em nome da mulher ou a ela transferido. Os emolumentos devidos pelos atos de abertura de matrícula, registro de incorporação, parcelamento do solo, averbação de construção, instituição de condomínio, averbação da carta de “habite-se” e demais atos referentes à construção de empreendimentos no âmbito do PMCMV serão reduzidos em: I - 75% (setenta e cinco por cento) para os empreendimentos do FAR e do FDS; II - 50% (cinquenta por cento) para os atos relacionados aos demais empreendimentos do PMCMV. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14). Serão assegurados no PMCMV: I – condições de acessibilidade a todas as áreas públicas e de uso comum; II – disponibilidade de unidades adaptáveis ao uso por pessoas com deficiência, com mobilidade reduzida e idosos (...) III – condições de sustentabilidade das construções; IV – uso de novas tecnologias construtivas. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14).

DIRETRIZES GERAIS

(...) f) execução de trabalho social, entendido como um conjunto de ações inclusivas, de caráter socioeducativo, voltadas para o fortalecimento da autonomia das famílias, sua inclusão produtiva

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e a participação cidadã, contribuindo para a sustentabilidade dos empreendimentos habitacionais (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 22). Programa De Olho na Qualidade: um conjunto de ações que têm como objetivo a garantia do atendimento e da qualidade do atendimento e dos imóveis entregues por um dos maiores programas habitacionais do mundo, o Minha Casa Minha Vida. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 26). Cliente-alvo (inovação no modelo de negócios): Atingiu um novo mercado. (T1) O público do PMCMV estava fora do mercado. (C3) No financiamento normal, acho que não teria condições de comprar. Prestação de R$ 500,00 eu não ia dar conta sozinha. (P1) Entrevistado P2, antes do PMCMV, tentou financiar várias vezes sem sucesso em virtude da entrada. “Como que a gente vai juntar 20 mil pra dar de entrada?” (P2). Criação de Faixas de clientes por renda (Faixa i, Faixa ii e Faixa iii), com benefícios de subsídios, subvenções e taxas de juros diferentes, sendo que para as camadas mais baixas as vantagens são maiores (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14). O foco do PMCMV com relação do público que pretende alcançar está alinhado à previsão de demanda habitacional futura. Até 2023, 62% da demanda estará concentrada nas rendas de até R$1.200,00. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 10).

Cadeia de suprimentos (inovação no modelo de negócios): Desoneração tributária para as construtoras (C4). “As construtoras modificaram sua forma de atuar” (C3). “Houve uma mudança na indústria da construção.” (E3) Criação de uma estrutura interna voltada para o PMCMV, incluindo Superintendências Nacionais específicas, Gerências em Superintendências Regionais, plataformas regionais para operacionalização dos contratos etc. (OBSERVAÇÃO DIRETA)

Produto (inovação tecnológica): Criação de produtos específicos para cada faixa de renda (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14).

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Definição de subsídios/subvenções e juros diferenciados por faixa de renda (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14) Produtos não existiam antes, nessa formatação. (O1) Criação de um Fundo Garantidor de Crédito para cobrir desemprego, morte, invalidez e danos ao imóvel; estabelecimento dos subsídios; redução nas taxas de juros. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documentos 14, 21, 22, 24). Subsídios diretos e juros subsidiados. (C3) Melhoria na qualidade dos produtos. “Antes, as casas eram entregues com chão batido, na lama. Hoje tem exigência de piso, aquecedor solar, infraestrutura completa”. (C1) Produtos com especificações técnicas mínimas definidas em lei. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 22). Estabelecimento de exigências com relação ao empreendimento: pavimentação, drenagem pluvial, energia elétrica, água, esgoto, coleta de lixo, equipamentos públicos de educação, saúde assistência social, segurança (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 22). Determinação da colocação de revestimento (pisos) em todas as residências. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14).

Uma das características dos empreendimentos inovadores é a busca de

novos mercados (TIGRE, 2006). Análise documental apresenta dado que

parece demonstrar que o PMCMV atingiu um novo mercado.

Média anual de financiamentos imobiliários no Brasil: Entre 1974 e 2008: 238.753 Entre 2009 e 2013: (período do PMCMV): 1.008.720. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 25). A participação do público-alvo do PMCMV no total de financiamentos concedidos no Brasil aumentou de 25,5% em 2004 para 33,8% em 2013 (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 41)

Prezando pela análise de múltiplas fontes, encontraram-se nas

entrevistas referências ao surgimento de um mercado até então não atendido:

Não tínhamos esse programa com essa abrangência (T1).

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Atingiu números sem precedentes (E2). O público do PMCMV estava fora do mercado (C3).

A própria simulação de um financiamento convencional demonstra que

as subvenções tornaram possível o acesso de quem não teria capacidade

financeira. A prestação para financiamento de R$60 mil custaria, sem subsídios,

R$792,05, (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 49), o que

excluiria grande parte do público do PMCMV, uma vez que 1,61 milhão das

unidades contratadas foram para famílias com renda de até R$1.600,00. Com

renda máxima de R$ 1.600,00, nenhuma dessas famílias teria capacidade de

pagamento para R$792,05. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D,

Documento 39).

GRÁFICO 1 – Distribuição da renda das famílias na Faixa 1

Fonte: Pesquisa Documental, Apêndice D, Documento 36.

Cerca de 50% das entregas ao Faixa I foram para famílias com renda de

R$601,00 a R$1.000,00. Renda de R$ 600,01 num financiamento normal

permitira capacidade de pagamento de cerca R$180,00, suficiente para financiar

menos de R$20 mil.

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Pode-se afirmar, portanto, que há um mercado novo atendido pelo

PMCMV. Além dos exemplos acima, pode-se considerar ainda a situação de

famílias com renda abaixo de R$601,00 e até totalmente sem renda que, por

falta de capacidade de pagamento de uma prestação, estavam alijadas da

possibilidade de aquisição de um imóvel para viver.

Conclui-se que o PMCMV possui uma proposta de valor a entregar para

a sociedade e que seus produtos são diferentes conforme o público que

pretendem atender.

Os produtos oferecem características exclusivas, criadas para permitir e

facilitar o acesso do público-alvo. Há elementos que indicam inovação nas

alavancas tecnológica e modelo de negócios. Percebe-se, pelas informações

dos entrevistados, pela análise documental e observação direta, que a proposta

de valor do PMCMV traz características novas, que até então não existiam no

mercado imobiliário. Condições e exigências estabelecidas a partir do

lançamento do programa e exclusivamente para seus clientes/beneficiários

denotam uma proposta de valor diferenciada, voltada para garantir boa

qualidade da unidade habitacional e melhoria de vida das pessoas.

O próximo componente de um modelo de negócios tratado foi o cliente,

ou público-alvo que ele pretende atender. Nesta pesquisa, investigou-se o

elemento sob dois aspectos. O primeiro visou identificar se o PMCMV possui, de

fato, um público-alvo que pretenda atingir. O segundo aspecto teve por meta

observar se tal público é considerado cliente de um produto ou destinatário de

um benefício público.

Foi possível constatar que a legislação criadora e regulamentadora do

PMCMV define claramente o público-alvo. Começa por explicitar o conceito de

família adotado pelo programa:

Unidade nuclear composta por um ou mais indivíduos que contribuem para o seu rendimento ou têm suas despesas por ela atendidas e abrange todas as espécies reconhecidas pelo ordenamento jurídico brasileiro, incluindo-se nestas a família unipessoal (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14).

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Público do produto Faixa i (recursos do FAR): A integralização de cotas no FAR (...), tem por objetivo a aquisição e requalificação de imóveis destinados à alienação para famílias com renda mensal de até mil e seiscentos reais (...)(PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 22). A indicação dos candidatos se dará a partir da aplicação dos critérios de priorização e procedimentos de seleção definidos nesta Portaria. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 32). Contratação realizada coletivamente (OBSERVAÇÃO DIRETA). Público dos produtos Faixas ii e iii (recursos FGTS): I - Pessoas físicas: definidas como famílias com renda familiar mensal limitada a R$ 4.300,00, admitida sua elevação até R$ 5.400,00 (...) em municípios integrantes de regiões metropolitanas ou equivalentes, municípios-sede de capitais estaduais, ou municípios com população igual ou superior a 250.000 (duzentos e cinquenta mil) habitantes (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 24) No faixa ii e iii eles se caracterizam pelo financiamento habitacional. (...) a pessoa toma um financiamento habitacional, (...) ele se endivida normalmente, as instituições analisam a capacidade dela de pagar e o PMCMV entra subsidiando uma parcela do imóvel. Então o imóvel custa 100 mil, você ta em Brasília, você vai ganhar 23 mil de subvenção. (E1) Contratos feitos coletivamente ou individualmente. Contratação segue as regras de mercado, inclusive oferta e demanda (OBSERVAÇÃO DIRETA) A construtora é que busca os clientes (C3).

O público Faixa i não segue as regras de mercado, ou seja, quem

escolhe o comprador não é o vendedor e vice-versa. O negócio de construção e

transação do imóvel segue procedimento especial previsto na legislação. A

escolha dos candidatos é feita pelo Poder Público local:

A indicação dos candidatos se dará a partir da aplicação dos critérios de priorização e procedimentos de seleção definidos nesta Portaria. (...) São considerados critérios nacionais de priorização, conforme o disposto na Lei 11.977, de 7 de julho de 2009: a) famílias residentes em áreas de risco ou insalubres ou que tenham sido desabrigadas; b) famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar; e c) famílias de que façam parte pessoas com deficiência. (...)

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De forma a complementar os critérios nacionais, Distrito Federal, estados, municípios e entidades organizadoras poderão estabelecer até três critérios adicionais de priorização. (...) O processo seletivo nortear-se-á pelo objetivo de priorização ao atendimento de candidatos que se enquadrem no maior número de critérios nacionais e adicionais. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 32) Geograficamente, estabeleceu-se a abrangência do PMCMV: ÁREA DE ATUAÇÃO As operações de aquisição de imóveis serão implementadas nas capitais estaduais e respectivas regiões metropolitanas, quando existentes, nas regiões metropolitanas de Campinas/SP e Baixada Santista/SP, nos municípios limítrofes à Teresina/PI e que pertençam à respectiva Região Integrada de Desenvolvimento - RIDE, no Distrito Federal e nos municípios com população igual ou superior a 50.000 (cinquenta mil) habitantes. Poderão, ainda, ser implementadas operações de aquisição de imóveis nos municípios com população entre vinte e cinqüenta mil habitantes, desde que: a)possuam população urbana igual ou superior a setenta por cento de sua população total; b) apresentem taxa de crescimento populacional, entre os anos 2000 e 2010, superior à taxa verificada no respectivo Estado; e c) apresentem taxa de crescimento populacional, entre os anos 2007 e 2010, superior a cinco por cento. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 22). PARTICIPANTES E ATRIBUIÇÕES: (...) DISTRITO FEDERAL, ESTADOS E MUNICÍPIOS (...) que aderirem ao Programa: a) firmar Termo de Adesão ao PMCMV, disponibilizado no sítio eletrônico (www.cidades.gov.br), assumindo, no mínimo, as seguintes atribuições (...).(PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14) Até abril de 2014, cerca de 4.420 municípios e 18 Unidades da Federação haviam firmado termo de adesão do PMCMV (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 17).

A se considerar que o público-alvo seja maior do que a oferta do

PMCMV, há previsão de que serão atendidos os candidatos que se enquadrem

na maior quantidade de critérios definidos, utilizando-se a forma de sorteio como

modalidade de desempate. O último ato da seleção é a checagem de dados pela

FINANX, para certificar-se de que as famílias não receberam, anteriormente,

subsídios habitacionais.

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O ente público responsável pela seleção deverá encaminhar a relação dos candidatos a beneficiários selecionados para conhecimento dos conselhos distrital, municipal ou estadual de habitação ou de assistência social antes da apresentação da relação às instituições financeiras ou agentes financeiros. O processo seletivo será finalizado pela validação, por parte da [FINANX], das informações prestadas pelos candidatos junto a outros cadastros de administração de órgãos ou entidades do Governo Federal, conforme disposto no item 8 desta Portaria, e deverá ser precedida da inclusão ou atualização dos dados dos candidatos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico). (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 32). A contratação nas faixas ii e iii segue o fluxo de uma compra e venda típica de mercado, seguida de financiamento pelas instituições financeiras (OBSERVAÇÃO DIRETA). Após cinco anos de execução do PMCMV, verifica-se que cerca de 50% do público atendido encontra-se no lapso de renda entre R$ 601,00 e R$ 1.000,00 (PESQUISA DOCUMENTAL, APÊNDICE D, DOCUMENTO 36).

Quanto ao PNHR, segmento do PMCMV que atende a área rural, seu

público inclui agricultores familiares divididos em três grupos:

Serão beneficiários do PNHR os agricultores familiares e trabalhadores rurais assim qualificados: I - Grupo 1: agricultores familiares e trabalhadores rurais cuja renda familiar anual bruta não ultrapasse R$ 15.000,00 (quinze mil reais); II - Grupo 2: agricultores familiares e trabalhadores rurais cuja renda familiar anual bruta seja superior a R$ 15.000,00 (quinze mil reais) e inferior ou igual a R$ 30.000,00 (trinta mil reais); e III - Grupo 3: agricultores familiares e trabalhadores rurais cuja renda familiar anual bruta seja superior a R$ 30.000,00 (trinta mil reais) e inferior ou igual a R$ 60.000,00 (sessenta mil reais). (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 19).

A percepção dos entrevistados com relação ao questionamento do

público-alvo, mais uma vez na pesquisa, é voltada em maior grau para aspectos

sociais do que para o ponto de vista demográfico, embora renda e critérios legais

de seleção também sejam citados. Destacam-se os seguintes termos utilizados

pelos entrevistados para o questionamento a respeito do público-alvo:

Público sem capacidade de compra; pessoas de baixíssima renda e nível de fragilidade social extrema (E2).

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Trabalhadores com renda baixa, pequenos empresários (T1). Duas faixas distintas: Faixa i, estava fora do mercado, podem até não ter renda nenhuma. Faixa ii: demanda de mercado, nova classe média. Pessoas que não tem condições de comprar o imóvel de outra forma (O1). Pessoas que não comprariam essas casas. Mercado novo. Pessoas que estavam abandonadas (C2).

As entrevistas realizadas com as duas famílias beneficiadas trouxeram

um dado curioso. Ambas demonstraram não ter tido conhecimento dos critérios

legais pelos quais elas mesmas foram selecionadas, parecendo considerar que

a escolha se deu exclusivamente através de um sorteio entre os inscritos.

“Aí eu fiz a inscrição, aí teve (...) o sorteio. Aí eu nem fui porque estava com visita na época, aí o pessoal falou: ‘eu vi o seu nome!’ Aí minha colega foi e me falou: ‘oh, eu vi seu nome lá na prefeitura’. Aí eu fiquei louca, eu fui lá, vi. Realmente o meu nome estava lá”(P1). “(...) e eu fiz minha inscrição e fui sorteada. Participei do sorteio que teve lá no Parque de Exposições. Eles estavam sorteando lá e o meu nome saiu”(P2).

O segundo enfoque da pesquisa com relação ao público-alvo é o

questionamento – cujo esclarecimento se mostra essencial para atender ao

objetivo geral – relativo à classificação das famílias usuárias do PMCMV na

natureza de clientes compradores de um produto ou de beneficiárias de um

programa social ou de Governo.

Yunus (2010), Yunus et al. (2010), Borsntein e Davis (2010), Eggers e

MacMillan (2013), Polak e Warwick (2013) afirmam que negócios sociais se

guiam pela mesma lógica de uma empresa convencional. Portanto, seu público-

alvo deve ser composto de clientes.

Na mesma linha, Polak e Warwick (2013) defendem que os pobres

devem ser vistos como clientes e não como “recipientes de caridade”, assim

como Borstein e Davis (2010) propõem que sejam tratados como

“consumidores”, ao invés de “beneficiários”.

A pesquisa documental, que incluiu toda a legislação pertinente ao

PMCMV, não encontrou pontos em que as famílias fossem citadas direta ou

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indiretamente como “clientes”, especialmente quando referentes ao público da

chamada Faixa i – rendas de até R$ 1.600,00. Os documentos D14 e D22 –

peças fundamentais do programa – trazem, respectivamente, 27 e 38 citações

dos termos “beneficiadas, beneficiários ou benefício” e nenhuma citação de

“produto”, “cliente” ou “venda”.

A seguir, amostra de informações coletadas na pesquisa documental:

Portaria “dispõe sobre os parâmetros de priorização e sobre o processo de seleção dos beneficiários do PMCMV” (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 32).

A lei criadora do PMCMV menciona, em diversos pontos, os termos

“beneficiário” e correlatos:

Concederá subvenção econômica ao beneficiário pessoa física no ato da contratação de financiamento habitacional; (...) para indicação dos beneficiários do PMCMV...; (...) os parâmetros de priorização e enquadramento dos beneficiários do PMCMV; (...) o poder aquisitivo da população a ser beneficiada. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14)

O documento D22 traz, em diversos pontos, os termos ora tratados,

como nos exemplos a seguir:

Promoção da melhoria da qualidade de vida das famílias beneficiadas; (...) processo de seleção dos beneficiários; (...) participação financeira dos beneficiários; (...) alienar e ceder aos beneficiários do Programa os imóveis produzidos; (...) trabalho social junto aos beneficiários. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 22)

Extraiu-se das entrevistas um duplo entendimento do tema. Sem

pretender adiantar as conclusões, parece claro que as pessoas ouvidas dividem

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o público entre beneficiários de um programa social ou governamental (famílias

da Faixa i) e clientes de um produto (Faixas ii e iii).

Não são clientes. Banco não tem ousadia como o Grameen Bank (C2). Público do Faixa i é tratado mais como beneficiário do que como cliente. (...) Os demais são clientes, pois consomem outros produtos – cartão de crédito, cheque especial, seguros, aplicações financeiras(O2). Todos são clientes, embora no Faixa i não haja negócios de maior volume (O1). Faixa i: beneficiários, mas também clientes com potencial de consumo baixo. Faixa ii, tratados normalmente como clientes, com cadastro e análise de renda (T1). No Faixa i, quem define o cliente não é o banco. Nas faixas de renda mais alta, o cliente é interessante para o mercado (E2). No Faixa i, são beneficiários. “A gente trata eles como beneficiários”(E1). Faixas ii e iii: inegavelmente, clientes. Todo cidadão é cliente, mas no Faixa i não há muitos negócios, está mais voltado para benefício (E3). Faixa de 0 a 3 salários pode ser visto como beneficiário. As demais faixas, um mutuário (C4). Faixa i (...), subsídio explícito. Eu costumo falar que não é uma doação porque não pode. (...) As prestações variam entre R$300,00 / R$350,00 no papel. Quando você aplica o subsídio, elas caem para R$25,00 a R$80,00. É praticamente uma doação. (O1)

O fato de que, no Faixa i, os contratantes são escolhidos pelo Poder

Público com base em critérios legais e não definidos por livre acordo de mercado,

faz com que se incline por sua classificação como beneficiários. (PESQUISA

DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 32).

Um entrevistado pertencente à Constelação de Valor, proprietário de

uma construtora, os vê como beneficiários, inclusive os da Faixa ii. Ilustra o

suposto pensamento das pessoas com a frase seguinte:

A gente ouve muito isso, embora seja faixa ii, a gente ouve aí: “a casinha que a Dilma me deu”. A gente ouve muito (C1).

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Já outro entrevistado da constelação de valor entende que são clientes:

A construtora os vê como clientes. Tem pós-venda, supervisão de qualidade... (C3).

No mesmo sentido da maioria, as duas famílias entrevistadas se veem

da seguinte forma:

Benefício. Dívida não, benefício (P1).

Ganhei um benefício, com certeza (P2).

Considerando os termos utilizados pela legislação, além da percepção

dos entrevistados e a própria observação direta do pesquisador, conclui-se que

o público-alvo do PMCMV é dividido em beneficiários de um programa de

governo (Faixa i) e clientes de um produto (Faixas ii e iii). As famílias da Faixa ii,

ainda, podem ser chamadas de clientes com condições especiais, visto que têm

acesso a subsídios diretos aplicados na compra do imóvel, conforme se verifica

na Categoria de Análise 3. Faixa i e Faixa ii são mercados que não existiriam

sem os subsídios.

O alto volume de subsídios, estudado na Categoria 3, demonstra que

não se tratam de clientes, pelo menos quando se considera o significado

convencional do termo, pois na maioria dos casos não se paga integralmente o

valor do imóvel e as negociações não são típicas de mercado.

O próximo componente a ser verificado para confirmação da existência

ou não de um modelo de negócios é a constelação de valor, que inclui as redes

interna e externa, fornecedores, produção e distribuição.

A pesquisa documental apresenta uma cadeia completa, que começa

com o nível estratégico, responsável pela definição das regras do PMCMV, e vai

até o operacional, em que as unidades habitacionais são entregues às famílias.

No meio disso, estão as empresas da construção civil, o Poder Público, as

instituições financeiras (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 22).

A seguir, o papel de cada ator, expresso na legislação:

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Ministério das Cidades: estabelecer regras e condições, definir padrão das moradias, fixar a remuneração das instituições, estabelecer critérios de seleção dos beneficiários ... Instituições financeiras oficiais federais: atuar como agentes executores; adquirir as unidades habitacionais em nome do FAR; analisar viabilidade técnica e jurídica dos projetos; contratar a execução das obras e serviços; alienar e ceder os imóveis aos beneficiários. Poder Público local (Distrito Federal, UF, municípios): executar a seleção dos beneficiários; executar o Trabalho Social; instalar/ampliar equipamentos e serviços públicos; facilitar a execução dos projetos. Construtoras: apresentar projetos de empreendimentos; executar os projetos contratados; guardar os imóveis por 60 dias após a conclusão das unidades. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 22)

A União também tem papel importante nessa rede. Cabe a ela:

Integralizar cotas do FAR (prover recursos para os subsídios); realizar oferta pública para empreendimentos em municípios com menos de 50 mil habitantes; participar do FGHab – Fundo Garantidor da Habitação; conceder subvenção diretamente aos contratos e subsídios para equilíbrio financeiro da operação (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 28). Fica instituído o Comitê de Acompanhamento do Programa Minha Casa, Minha Vida - CAPMCMV, com a finalidade de acompanhar e avaliar as atividades do Programa. § 1o O CAPMCMV será integrado por um representante titular e um suplente dos seguintes órgãos: I - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, responsável pela sua coordenação e por oferecer os meios necessários ao seu funcionamento; II - Casa Civil da Presidência da República; III - Ministério das Cidades; e IV - Ministério da Fazenda. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 28).

Quanto aos entrevistados, alguns parecem um pouco confusos com

relação ao papel de cada ator da cadeia, demonstrando maior conhecimento das

atividades em que estão diretamente envolvidos. Os entrevistados do nível

estratégico possuem uma compreensão mais ampla de toda a cadeia.

Internamente, a instituição objeto desta análise mantém uma estrutura

completa para trabalhar o PMCMV. Há órgãos que estão localizados no edifício

sede da empresa, em Brasília – Superintendências Nacionais. Espalhadas pelo

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país, a FINANX possui Gerências Regionais de Habitação, que concentram as

atividades de engenharia e Superintendências Regionais de Negócios, que

realizam a contratação (OBSERVAÇÃO DIRETA).

O Ministério é o gestor, (...) Hoje o próprio balanço está conosco ainda, ou seja, a [FINANX] atua muito afinada com o Ministério e até se confundem em determinados momentos, mas o Ministério é o gestor (...). Aqui na [FINANX] nós temos a nossa área que é a [Superintendência Nacional do PMCMV] que coordena a faixas i, ii, iii, nós temos a [outra Superintendência Nacional] que cuida dos movimentos sociais, entidades de habitação rural e urbanas e nós temos também a [terceira Superintendência Nacional] que é a gestora do FAR. (...) daí nós interagimos com todas as áreas. Interagimos com as [Gerências Regionais de Habitação], que é a parte de engenharia, interagimos com as Superintendências Regionais na parte de contratação, interagimos com todas as vices- presidências que tem referência a isso. (E3) Nós, para executar, contratamos as construtoras que atuam lá. Nós também diretamente interagimos com os municípios que é quem muitas vezes doa as áreas, (...) atua como processos de facilitação muito grande em termos de isentar impostos, de IPTU, enfim... e outras vezes ele atua como mero espectador, porque a própria empresa já prospecta uma área(...) O papel de indicar as pessoas que vão residir nesses imóveis é do município, ele que faz o processo de escolha, seleção, baseado nos critérios que ele aprovou lá na cidade.(E3)

Por meio da observação direta, o pesquisador identificou que cada

Superintendência Regional possui um Gerente Regional responsável pela área

de Construção Civil, sendo que uma de suas principais atividades é realizar

negociações com as construtoras e operacionalizar, com sua equipe, os

contratos que darão origem aos empreendimentos do PMCMV. O trabalho desse

Gerente Regional é feito em conjunto com a já citada Gerência Regional de

Habitação, sendo essa uma área técnica, composta essencialmente por

engenheiros.

Há uma Gerência específica para tratar dos empreendimentos da Faixa

i, localizada nas capitais estaduais. O pesquisador identificou, ainda, que as

agências da FINANX atuam diretamente na concessão de financiamentos nas

modalidades Faixas ii e iii. Em tais casos, o cliente não passa pelo Poder Público

local, contratando diretamente com a instituição financeira e o

vendedor/construtor do imóvel. A atividade das agências bancárias no Faixa i é

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muito menor, sendo quase todo o trabalho executado pelas Superintendências

Regionais, Gerência Regional de Habitação, Gerência Regional de Alienação

(centralizada na capital dos Estados) e Poder Público (OBSERVAÇÃO DIRETA).

Outros atores citados nas entrevistas são:

Correspondentes Bancários (O1) Departamento jurídico, entidades organizadoras, cooperativas, sindicatos (O2) Movimentos sociais (E2).

O entrevistado C4, prefeito de uma cidade com aproximadamente 220

mil habitantes, enxerga o papel do Município como um “facilitador”. Ele afirma

que criou um Decreto apelidado “fura-fila”, para que os projetos do PMCMV

tenham atendimento prioritário em todos os protocolos da Prefeitura. Além disso,

foi promovida isenção fiscal do ISS – Imposto Sobre Serviços (C4).

A confirmação da existência de uma Constelação de Valor no PMCMV –

envolvendo desde o Ministério das Cidades (gestor do programa), a FINANX

com suas diversas áreas internas e parceiros externos – fecha o conjunto de

elementos, permitindo a conclusão de que o PMCMV possui um modelo de

negócios.

Há, porém, que se fazer importante destaque com relação ao público-

alvo. A conclusão possível pela análise dos dados é de que o público do PMCMV

não é composto por “clientes de um produto”, mas sim por “beneficiários de um

programa social”. O tratamento legal, a percepção dos entrevistados, a forma de

seleção dos clientes, a incompatibilidade entre o crédito tomado e as prestações

pagas – especialmente na Faixa i – demonstram não existir uma relação

convencional de empresa / cliente no mercado do PMCMV.

As famílias que contratam nas Faixas ii e iii do PMCMV estão mais

próximas de clientes do que beneficiários, uma vez que nesses produtos há livre

escolha entre o comprador e o vendedor/construtor do imóvel. Ainda assim, na

Faixa ii pode-se dizer que existe um tratamento especial, com subvenção direta

para reduzir o valor do imóvel para o comprador e taxas de juros reduzidas. A

subvenção pública é que permite a existência do negócio, o que conduz à

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conclusão de que esse público também não é formado por clientes, pelo menos

não no significado convencional do termo.

Encerra-se o presente capítulo com um resumo dos produtos e público-

alvo do PMCMV (QUADRO 10) e síntese das conclusões da segunda categoria

analítica (QUADRO 11). Finalizado o estudo de seu modelo de negócios, iniciar-

se-á a análise da dupla modalidade de lucro oriundo do PMCMV, considerando-

se os resultados financeiros e sociais.

QUADRO 10

Produtos e Público-alvo do PMCMV

Produto Características Público-alvo

Faixa i Subvenção concedida nas prestações do financiamento. Paga-se prestação de 5% da renda. Não há avaliação de capacidade de pagamento. Não há financiamento. Selecionados pelo Poder Público.

Famílias com renda de R$0,00 a R$ 1.600,00, que não tenham imóvel próprio nem tenham sido beneficiárias de outros programas habitacionais

Faixa ii Financiamento com avaliação de capacidade de pagamento. Subsídio direto para pagamento de parte do imóvel, redução das prestações e indireto para redução da taxa de juros. FGhab. Contratam livremente com os bancos e os vendedores dos imóveis.

Famílias com renda de até R$3.275,00. O direito é concedido uma única vez por beneficiário e por imóvel

Faixa iii Financiamento com avaliação de capacidade de pagamento. FGhab e juros baixos. Contratam livremente com os bancos e os vendedores dos imóveis.

Famílias com renda de até R$5.400,00

Fonte: elaborado pelo autor

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QUADRO 11

Principais conclusões da Categoria Analítica 2

Proposta de Valor Público-alvo Constelação de valor

PNHU e PNHR

Linha de financiamento

(FGTS) e Linha de repasse

de recursos públicos (FAR)

Novos mercados

Definido por lei

Dividido em 3 faixas de renda

Faixa i: beneficiários de programa

social

Rede interna:

Superintendências Nacionais e

Regionais, agências,

departamento jurídico,

correspondentes...

Produtos inovadores e

desenhados para o público-

alvo

Faixas ii e iii: mais próximos de

clientes

Rede externa: União,

Ministério das Cidades, Poder

Público Local, Construtoras...

Fonte: elaborado pelo autor

5.3 Categoria de Análise 3: Equação de lucro financeiro e equação de lucro

social

A terceira categoria de análise objetivou identificar características do

PMCMV relativas a resultados, a fim de confrontá-las com o modelo de negócios

sociais proposto por Yunus et al. (2010) e adaptado pelo pesquisador com base

em outros autores.

Negócios sociais atuam sob a lógica de negócios convencionais

(BORNSTEIN & DAVIS, 2010). Para Yunus et al. (2010), devem ser auto-

sustentáveis financeiramente e garantir o retorno do investimento. O modelo

desses autores prevê aportes financeiros apenas no início, pois a operação deve

se tornar rentável. A necessidade de obtenção permanente de recursos por

doadores ou investidores inviabiliza a perpetuação do negócio.

Yunus et al. (2010) incluem, em sua construção teórica do modelo, os

resultados sociais, além dos financeiros. Conforme já visto no Referencial

Teórico deste trabalho, o propósito principal de um negócio social é o retorno

social, a melhoria de vida dos pobres (YUNUS et al., 2010; POLAK & WARWICK,

2013).

Nove questionamentos do Protocolo de Estudo de caso orientaram a

análise da terceira categoria.

Tratando dos aportes de recursos públicos, identificaram-se os

seguintes aportes iniciais:

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Art. 4º Fica a União autorizada a conceder subvenção econômica no âmbito do PNHU até o montante de R$ 2.500.000.000,00 (dois bilhões e quinhentos milhões de reais). (...) Art. 11. Fica a União autorizada a conceder subvenção econômica no âmbito do PNHR até o montante de R$ 500.000.000,00 (quinhentos milhões de reais). (...) Art. 17. Fica a União autorizada a transferir recursos para o Fundo de Arrendamento Residencial - FAR, até o limite de R$ 15.000.000.000,00 (quinze bilhões de reais), e para o Fundo de Desenvolvimento Social - FDS, até o limite de R$ 500.000.000,00 (quinhentos milhões de reais). Art. 18. Fica a União autorizada a participar, até o limite de R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais), de Fundo Garantidor da Habitação Popular – FGHab. (...) Art. 31. Fica a União autorizada a conceder subvenção econômica ao BNDES, sob a modalidade de equalização de taxas de juros e outros encargos financeiros, especificamente nas operações de financiamento de linha especial para infra-estrutura em projetos de habitação popular. § 1º O volume de recursos utilizado para a linha de que dispõe o caput deste artigo não pode superar R$ 5.000.000.000,00 (cinco bilhões de reais).

Além da destinação inicial de recursos, identificou-se que há

contribuição constante, durante toda a execução do PMCMV. A cada

contratação, existe aporte de recursos do FAR ou FGTS. O documento 39

demonstra que os principais fundings (origens) dos recursos são o FGTS e a

União. Entrevista documentada sob o número 33 prevê que o investimento total

para o período compreendido entre 2009 e dezembro de 2014 será de R$234

bilhões (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 33).

Art. 2º Para a execução do PMCMV, a União, observada a disponibilidade orçamentária e financeira: I - concederá subvenção econômica ao beneficiário pessoa física no ato da contratação de financiamento habitacional; II - participará do Fundo de Arrendamento Residencial - FAR, mediante integralização de cotas e transferirá recursos ao Fundo de Desenvolvimento Social – FDS (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 28).

Os subsídios variam em natureza, finalidade e origem, conforme se trate

do produto Faixa i ou Faixas ii e iii do PMCMV. Exige-se que os destinatários de

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tais recursos não tenham recebido anteriormente benefícios públicos para

habitação.

I - a subvenção econômica será concedida nas prestações do financiamento, ao longo de cento e vinte meses; II - a quitação antecipada do financiamento implicará o pagamento do valor da dívida contratual do imóvel, sem a subvenção econômica conferida na forma deste artigo; (...) É vedada a concessão de subvenções econômicas lastreadas nos recursos do FAR ou FDS a beneficiário que tenha recebido benefício de natureza habitacional oriundo de recursos orçamentários da União, do FAR, do FDS ou de descontos habitacionais concedidos com recursos do FGTS (...). (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 28). A concessão de subvenção econômica, nas operações de que trata o inciso III do caput do art. 2º, beneficiará famílias com renda bruta mensal limitada a R$ 1.600,00 (um mil e seiscentos reais) (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 28). Art. 6o A subvenção econômica de que trata o inciso I do art. 2o será concedida no ato da contratação da operação de financiamento, com o objetivo de: I - facilitar a aquisição, produção e requalificação do imóvel residencial; ou II – complementar o valor necessário a assegurar o equilíbrio econômico-financeiro das operações de financiamento (...) § 1º A subvenção econômica de que trata o caput será concedida exclusivamente a mutuários com renda familiar mensal de até R$ 2.790,00 (...) [posteriormente atualizada para R$ 3.275,00] (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14)

Ponto interessante a se observar é que, no caso do Faixa i, a subvenção

pode atingir quase a totalidade do valor do imóvel. Considere-se, por exemplo,

um imóvel destinado ao PMCMV, Faixa i, na Capital do Estado de Minas Gerais,

cujo valor máximo é de R$ 65.000,00 (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D,

Documento 22). Famílias que ganham R$ 1.000,00 pagarão 120 prestações de

no máximo 5% da renda (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento

14), ou seja, R$ 50,00. Ao fim do período, os pagamentos totalizarão R$

6.000,00, ficando o restante a cargo da subvenção.

A prestação mínima definida pela legislação é R$ 25,00 (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 14)

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Considerando-se famílias ainda mais pobres e até mesmo aquelas que

não possuem renda alguma, o custo final será de R$3.000,00 para o imóvel de

R$65.000,00, visto que a prestação mínima é de R$ 25,00.

Os produtos das faixas ii e iii – operações de financiamento – também

recebem aportes de recursos constantes.

Art. 26. Os descontos a serem concedidos nos financiamentos a pessoas físicas destinam-se à redução no valor das prestações ou ao pagamento de parte da aquisição ou construção do imóvel. Art. 27. Serão beneficiárias de descontos as pessoas físicas com renda familiar mensal limitada a R$ 3.275,00 (três mil, duzentos e setenta e cinco reais) (...) Art. 28. Os descontos serão calculados e concedidos observadas as seguintes diretrizes, sem prejuízo daquelas específicas dos programas de aplicação a que se vinculem os respectivos contratos de financiamento: II - incentivo à produção ou à aquisição de imóveis novos, passíveis de enquadramento no Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) (...) IV - concessão, uma única vez a cada beneficiário, excetuados os casos de financiamentos anteriores destinados, exclusivamente, à aquisição de material de construção, cabendo aos Agentes Financeiros alimentar cadastro que permita tal controle, na forma regulamentada pelo Agente Operador; V - acesso à moradia adequada para os segmentos populacionais de menor renda; VI - aplicação dos recursos onerosos destinados ao financiamento habitacional, por intermédio do desconto para fins de redução da prestação. Art. 29. O desconto para fins de redução no valor das prestações é representado pela cobertura da remuneração dos Agentes Financeiros, equivalente ao somatório dos valores a seguir discriminados, e será limitado a 75% (setenta e cinco por cento) do valor do saldo devedor inicial da operação de financiamento ou R$ 16.000,00 (dezesseis mil reais) por contrato de financiamento. (...) § 1º O diferencial de juros (...), será coberto pelo FGTS nas seguintes condições: I - integralmente, (...) a pessoas físicas com renda familiar mensal limitada a R$ 2.455,00; e II - limitado a 1,16% (...) a pessoas físicas com renda familiar mensal situada no intervalo compreendido entre R$ 2.455,01 e R$ 3.275,00 (...) Art. 30. O desconto para fins de pagamento de parte da aquisição ou construção do imóvel será calculado e concedido (...) observados, no mínimo, os seguintes parâmetros: I - valor individual limitado a R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais);

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II - renda do beneficiário, de forma inversamente proporcional ao desconto a ser concedido, garantindo-se o maior valor de desconto de que trata o inciso I a famílias com renda mensal bruta de até R$ 1.600,00 (um mil e seiscentos reais); III - localização do imóvel (...); e IV - modalidade operacional do Programa de Aplicação a que esteja vinculado o contrato de financiamento (...). (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 24).

PMCMV – TOTAL – 30/06/2014 Subsídios OGU: R$ 83.535.219.519,00 Subsídios FGTS: R$ 22.848.336.230,00 Financiamentos FGTS: R$ 112.153.857.247,00 (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 39).

A finalidade das subvenções aplicadas pelo FAR e pelo FGTS encontra

fundamento na legislação criadora do PMCMV:

5º A subvenção econômica de que trata o art. 4º será concedida (...)com o objetivo de complementar: a) a capacidade financeira do proponente para pagamento do preço do imóvel residencial; b) o valor necessário a assegurar o equilíbrio econômicofinanceiro das operações de financiamento realizadas pelas instituições financeiras ou agentes financeiros do Sistema Financeiro da Habitação (...).

Neste ponto da pesquisa, as entrevistas não trouxeram contribuições

comparáveis à pesquisa documental. Todos os entrevistados possuem noção de

que existe aporte de recursos públicos ao longo do PMCMV, porém a maioria

não pôde especificar a natureza, origem e volumes. Neste ponto, a contribuição

mais valiosa veio de um entrevistado do nível estratégico:

O faixa ii você tem o custo do funding, a taxa de juros que o cliente paga mas, como a taxa de juros em alguns casos é similar ao custo do funding, aí você tem aquilo que se chama subsídio de equilíbrio. É um subsídio (...), que permite à operação ser adequada para a instituição financeira mesmo que a taxa de juros ativa e passiva seja a mesma. Então entra o subsídio. Ou seja, o cliente paga 6%, mas o banco recebe 7,16% por exemplo. Esse 1,16% é o tal do subsídio-complemento. No faixa iii, o seu ganho é exatamente a diferença do spread. O custo do seu funding do FGTS e a taxa que o cliente paga. (E2)

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Para o entrevistado O1, existe colocação de dinheiro público no Faixa i,

embora não soubesse determinar valores e condições.

Coloca [recursos públicos]. (...) a Faixa I é recurso do FAR, é recurso do OGU. Mesmo a faixa ii, onde tem subsídio do FGTS, depende muito da entrada de recursos, que não é público, que é do FGTS pra o subsídio. Mas faixa i é subsídio explícito, ele não é financiamento. (O1) Então, vamos nos ater aqui àquilo que não tem retorno, que é o subsídio (...). Olha, ele hoje não é pequeno. Para aquelas pessoas que fazem o financiamento no faixa ii e faixa iii, esse subsídio chega aí entre 8 e 9 bilhões de reais por ano. (...) Pro outro, ele chega às vezes a 20 bilhões em cada um desses anos, que é pras pessoas de baixo poder aquisitivo. (E2)

QUADRO 12

Recursos do PMCMV – até 30/06/2014

Objetivo Funding Valor concedido Público

Subsídio para aquisição de imóveis Orçamento

da União

R$ 76,82 bilhões Faixa i (renda até

R$1.600,00 e rural)

Subsídio para aquisição de imóveis Orçamento

da União

R$ 6,71 bilhões Faixa ii (renda até

R$3.275,00)

Desconto para pagamento de parte

do imóvel / Equilíbrio financeiro

dos contratos

FGTS R$ 22,85 bilhões Faixa ii

Financiamentos FGTS R$ 112,1 bilhões Faixas ii e iii (até

R$5.400,00)

Fonte: elaborado pelo autor, com base no documento 39

Procurou-se investigar se eventual retirada dos subsídios

comprometeria o andamento do PMCMV. O modelo de negócios sociais de

Yunus (2010) e Yunus et al. (2010) prevê que o empreendimento não receba

aportes durante logo período, devendo ele próprio se pagar.

Conforme simulação realizada por meio da tabela SAC – Sistema de

Amortização Constante -, o financiamento de um imóvel de R$ 60 mil em 120

meses (característico do Faixa i do PMCMV), com taxa de juros equivalente à

poupança, custaria mensalmente R$792,05 se não houvesse os subsídios

(PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 49).

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Considerando que a capacidade máxima de pagamento é de 30% da

renda mensal, apenas famílias com renda de no mínimo R$2.640,00 seriam

aprovadas para tal financiamento. Se 46% das contratações foram feitas para

famílias com renda de até R$1.600,00 (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D,

Documento 39), pode-se entender que a exclusão das subvenções

comprometeria a existência do PMCMV, pelo menos na proporção que já

alcançara até 30/06/2014.

Os entrevistados do nível estratégico da FINANX concordam que o fim

do subsídio significaria o encerramento do PMCMV.

Se não houvesse esse programa e o subsídio, não existiria essa operação, então não existiria esse mercado. (E2) Não [existiria mais o programa] porque a grande maioria, vamos dizer do Faixa i... oitenta por cento deles tem renda até oitocentos reais. Oitocentos reais você vai conseguir, se tu colocar a capacidade de pagamento, o cara pagaria R$ 200,00/R$ 250,00 de prestação. Com R$ 250,00 ele conseguia pegar aí, vamos dizer... um financiamento R$ 20.000,00. Não compra nada, né? (E3)

Para os integrantes da constelação de valor, não parece tão claro que o

PMCMV seria interrompido com o fim dos subsídios.

Eu acho que ia ser um baque na construção de baixa renda. Se terminasse de uma hora pra outra, seria um baque na construção de baixa renda. Principalmente nessa que a gente atua. Eu acho que o subsídio... to dizendo to Faixa ii, Faixa i não. Faixa i você tem espaço pra diminuir subsídio. Porque hoje ele chega a 95%. É exagerado. Uma pessoa pagar aí 25,00 por mês numa casa. A pessoa pode pagar 100,00 fácil, fácil numa casa. Passar a dar valor aí. Ter um tratamento diferenciado aí. Então, ele é exagerado (C3).

Outros entrevistados entendem que o PMCMV não existiria na mesma

proporção atual.

Não na mesma proporção. Sem dúvida nenhuma não. (...) Sem dúvida nenhuma, muito menor. Porque é... Uma vez vi uma pesquisa das Casas Bahia, que a cada R$ 10,00 que ela sobe na prestação de um produto, ela exclui um milhão de consumidores, então a prestação de casa é mais ou menos assim. (...) você vai subir R$ 100,00 numa prestação, o cara não consegue. Tem famílias que por causa de R$ 30,00, são excluídas do programa. (C1)

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131

Ele seria possível, mas teria um escopo muito menor, teria uma abrangência muito menor. Atingiria uma clientela bem menor. (C2)

Com isso, conclui-se que o PMCMV recebeu aportes iniciais da União,

por meio do FAR. Identificou-se que o Programa necessita de investimentos

constantes. Cada contrato realizado prevê incentivos financeiros oriundos do

FAR e do FGTS, com as seguintes finalidades: pagamento de parte do valor do

imóvel; redução da taxa de juros; equilíbrio financeiro da operação; subvenção

para contratos da Faixa i.

Conclui-se, adicionalmente, que eventual retirada dos subsídios

inviabilizaria o PMCMV em sua forma atual, uma vez que 49% do total de

recursos aportados é de subvenções que não preveem retorno. Ademais, a

modalidade Faixa i, que significa aproximadamente metade das entregas do

PMCMV, é mantida quase que totalmente por subsídios, com previsão de retorno

muito inferior ao valor do investimento. A maior parte dos negócios da faixa ii

também não seria viável sem os subsídios.

Questão fundamental para a pesquisa é a auto-sustentabilidade do

modelo de negócios. Não foi encontrada nos documentos qualquer previsão de

retorno dos subsídios aos cofres da União ou do FGTS, exceto nos casos de

quitação antecipada dos contratos.

A quitação antecipada do financiamento implicará o pagamento do valor da dívida contratual do imóvel, sem a subvenção econômica conferida na forma deste artigo (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 28).

Os entrevistados, inclusive do mais alto nível da estratégia do PMCMV,

confirmam não haver expectativa de retorno integral do investimento.

Na realidade, você tem uma boa parte do PMCMV que é subsídio e tem uma outra parte que as pessoas pagam, que é financiamento normal. Então, vamos nos ater aqui àquilo que não tem retorno, que é o subsídio que tá colocado no PMCMV. (...)Então, eu estou falando de alguma coisa entre 20 e 30 bilhões de reais por ano de subsídio. De dinheiro que foi e que não tem a necessidade de retornar. (E2)

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Sobre o questionamento a respeito de eventual previsão de recuperação

do investimento público: “O subsídio não. Subsídio não”. (E3). O que se recebe

de volta no Faixa i são as prestações, que não são suficientes para cobrir os

aportes públicos.

Se você pegar, a grande maioria é R$ 25,00. Vinte e cinco reais vezes 120 meses dá R$ 3.000,00. Ele vai devolver ao longo dos 10 anos, três mil reais e ele recebe um imóvel de R$ 65.000,00, ou seja, em torno de 96% do valor do imóvel é subsidiado. (E3)

O PMCMV FAR, não vai voltar o valor todo, porque se a pessoa paga uma prestação simbólica de R$80,00 (...), então retorna até 15% do investimento. Já os recursos do FGTS, os recursos do subsídio, não é retornado. O que é retornado é o recurso do FGTS que é emprestado na forma de financiamento. (O2)

Há uma aparente confusão para alguns entrevistados com relação às

subvenções concedidas na modalidade Faixa ii. Tanto o entrevistado T1 quanto

O1 acreditam que os subsídios concedidos pelo FGTS serão pagos ao longo das

prestações. Tal afirmação, porém, é contestada pelo entrevistado E1.

[subsídio FGTS] Tem retorno, exatamente. Inclusive o subsídio. (T1) [subsídio FGTS] Ele sim. Inclusive, o subsídio que o FGTS dá, o cálculo matemático pela taxa de juros ele retorna ao longo do financiamento. (O1) Não [há retorno]. Você tem 2 situações. O FGTS... ele tem, do financiamento propriamente dito, ele tem um retorno normal, né? Mas ele pode, aquele subsídio do faixa ii, especialmente do faixa ii, que hoje pode chegar a 25 mil, uma parte dele, alguma coisa em torno de quatro quintos, aproximadamente, é do FGTS e um quinto é do tesouro, do OGU. Aquela faixa i, 100% é do OGU (E1).

Considera-se, com base nas análises acima, que o PMCMV não é auto-

sustentável, uma vez que as subvenções da União e do FGTS não são

retornadas aos cofres de origem. A condição negativa de auto-sustentabilidade

é consolidada pela constância dos investimentos, sem os quais o PMCMV

possivelmente não existiria.

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O questionamento a respeito da obtenção de receitas pela FINANX em

virtude da operação do PMCMV resultou em respostas afirmativas. Sob o ponto

de vista da FINANX, há fontes de receita através da execução do PMCMV, tanto

pela diferença entre o custo de captação e os juros cobrados dos tomadores de

crédito quanto por meio de tarifas. Como o custo da captação dos recursos junto

ao FGTS é próximo das taxas de juros cobradas nos contratos de financiamento

das Faixas ii e iii, estabeleceu-se o subsídio indireto (PESQUISA

DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 24), que aumenta a rentabilidade da

operação, tornando-a interessante para a FINANX.

Art. 32. Nas operações de empréstimo vinculadas aos recursos alocados à área orçamentária de Habitação Popular, a taxa nominal de juros é fixada em 6% (seis por cento) ao ano, excetuados (...) casos, onde será aplicada a taxa nominal de 5% (cinco por cento) ao ano. (...) Art. 37. O diferencial de juros será cobrado acrescido às taxas nominais, (...) nos seguintes valores: I - até 2,16% ao ano, nas operações de financiamento com pessoas físicas, excetuadas aquelas que contemplem famílias com renda bruta mensal situada no intervalo de R$ 3.275,01 a R$ 5.000,00 (cinco mil reais), inclusive, cujo diferencial de juros fica limitado a 1,16% (um inteiro e dezesseis décimos por cento) ano; (...) Art. 38. Exclusivamente nas operações com pessoas físicas, será cobrado valor máximo de R$ 25,00 referente à taxa de administração. - taxa de administração, de que trata o art. 38, paga à vista, descontada à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC). Art. 39. A título de taxa de acompanhamento da operação, nas operações de financiamentos a pessoas físicas, ficam os Agentes Financeiros autorizados a cobrar valor correspondente até 1,5% (um e meio por cento) do valor do financiamento (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 24)

As operações na Faixa i não são feitas com financiamento. Não há,

portanto, spread bancário. As atividades das instituições financeiras são

remuneradas pelo FAR. O termo encontrado na legislação é “cobertura de

custos”. Estão previstas as seguintes receitas:

Análise e contratação do projeto e acompanhamento de obra: R$16,09 por operação com beneficiário final, mensalmente por até 18 meses;

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Originação do contrato: R$197,06 por alienação da unidade habitacional; Administração e cobrança: R$15,63 mensais por até 120 meses, por operação. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 20).

Art. 5º A [FINANX] receberá, mensalmente, a título de remuneração pelas atividades de gestão operacional, importância correspondente a 0,5% (cinco décimos por cento) de cada parcela das subvenções repassadas. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 21).

Embora nem todos saibam citar exatamente em que atividades a

instituição é remunerada, os entrevistados compreendem que, no Faixa i, existe

pagamento por parte do FAR e, no Faixa ii, existe o ganho na diferença entre o

custo de captação e a receita com o financiamento – spread – , além do subsídio

indireto, para equilíbrio econômico-financeiro:

No CCFGTS eu já tinha visto [remuneração], no FAR provavelmente também tem, porque a [FINANX] tem um custo com esse produto e não é justo que assuma a operacionalização sem ser remunerada. (O2) Eu entendo que é inviável se não tiver uma remuneração por contrato. Nós temos custo de manutenção do contrato. Então deve existir ... não sei te precisar o que está sendo pago como tarifa. (O1) Nós recebemos um valor definido (...), então para cada contrato no ato da contratação eu recebo uma remuneração por isso e recebo também uma tarifa de acompanhamento de obra (...), acompanhamento e a entrega. Existem tarifas definidas para cada uma dessas modalidades (...). (E3) No faixa ii e faixa iii existem assim: nós estamos concedendo um financiamento, então da parte do financiamento eu recebo a remuneração como qualquer outro financiamento, a taxa de juros. A diferença é o spread que eu recebo do custo. E também eu recebo um complemento de subsídio, um valor justamente pelo diferencial da taxa de juros. (E3)

Você tem uma tarifa, no caso da faixa i, pela prestação do serviço, porque aí você não tem spread (...). Você tem uma receita de prestação de serviços, que ela é adequada pra cobertura dos custos. (...) E você tem, nas outras operações, faixas ii e iii, você tem spread normal. Você tem uma operação de financiamento, onde você tem o custo do funding que é do FGTS, você tem a taxa de juros que o cliente paga e você tem... (...) O faixa ii você tem o custo do funding, a taxa de juros que o

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cliente paga mas, como a taxa de juros em alguns casos é similar ao custo do funding, aí você tem aquilo que se chama subsídio de equilíbrio. É um subsídio que é dado, que permite à operação ser adequada pra instituição financeira mesmo que a taxa de juros ativa e passiva seja a mesma. Então entra o subsídio. Ou seja, o cliente paga 6%, mas o banco recebe 7,16% por exemplo. Esse 1,16% é o tal do subsídio-complemento. (E2)

O entrevistado E3 entende que as receitas auferidas pela FINANX não

são relevantes.

A instituição não tem lucro expressivo com esse negócio (E3). Acho que tanto a [FINANX] quanto [outro banco] se posicionam comercialmente , nada de diferente porque do outro lado é o governo. Ela põe o preço dela. As precificações dela são extremamente detalhadas, de rede... e tudo que ela vai gastar, é tudo bem pormenorizado. (E1)

Para os entrevistados, a instituição financeira captura valor

indiretamente, ao passar a atender um mercado ao qual não teria acesso se não

fosse executora do PMCMV:

[nas faixas ii e iii] traz uma possibilidade de, a partir da contratação do financiamento do PMCMV, de um relacionamento bancário bastante proveitoso pra todo mundo. (...) pro banco também, que pega um cliente que está numa curva de ascensão social e vai conviver com ele por 20, 30 anos e num relacionamento que vai além do financiamento habitacional, com outros produtos bancários... uma conta, outros produtos que essas pessoas passam a consumir de uma maneira mais natural. (E2) Você faz outros negócios com esses clientes ao longo dos anos, como qualquer outro, então isso é favorável...(...) Você acaba atraindo um público que, naturalmente ele não viria (E3). Pela observação direta, o pesquisador identificou que a beneficiária P1 não possui outros produtos contratados com a FINANX, além do contrato do PMCMV e de uma caderneta de poupança anterior. A beneficiária P2, que também é da faixa i, tomou crédito junto à FINANX para comprar material de construção e construir o muro e a varanda da casa.

Pra faixa ii (...) você ganha com esse cliente. Ele tem potencial pra vários produtos. Você pensa bem, uma família com 5 mil de renda, nos interessa muito. Você pode desenvolver um IC – índice de comercialização – de 4 ou 5 [produtos] (O1)

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(...) tem objetivos comerciais também, que ela atinge quando fideliza esses clientes que nos procuram, transformando esses clientes em clientes. (O2)

Constatou-se, pelo depoimento de vários dos entrevistados, a

comercialização de outros produtos pela FINANX para os usuários do PMCMV.

Entendeu-se, pela análise da questão relativa às receitas, que o PMCMV não

possui rentabilidade própria, mas gera receitas diretas e indiretas para as

instituições operadoras: subsídio para equilíbrio financeiro dos contratos, tarifas

por serviços prestados, acréscimo da base de clientes e outros.

A destinação de eventual lucro financeiro num empreendimento

constitui elemento importante para o estudo dos negócios sociais. Porém, tanto

a análise documental quanto as entrevistas não apresentaram dados suficientes

para confirmar de que forma seria utilizado o lucro, se existente, das operações

do PMCMV.

Os dados até aqui apresentados, comprovando que não se espera

retorno dos recursos aportados, conduzem ao entendimento de que o PMCMV,

por si só, não prevê dividendos. Entretanto, parece possível afirmar que a

FINANX pode lucrar com a execução. As referências à destinação de eventual

lucro da empresa são as seguintes:

Após a absorção de eventuais prejuízos acumulados e deduzida a provisão para imposto de renda e contribuição social sobre o lucro líquido, o Conselho de Administração fixará a destinação dos resultados, observados os limites e as condições exigidos por lei, a saber: I - cinco por cento para constituição da reserva legal, destinada a assegurar a integridade do capital, até que ela alcance vinte por cento do capital social; II - reservas de lucros a realizar; III - reservas para contingências; IV - reserva de incentivos fiscais; V - vinte e cinco por cento, no mínimo, do lucro líquido ajustado, para o pagamento de dividendos e de juros sobre capital próprio; VI - reserva de retenção de lucros; e VII - reservas estatutárias, assim consideradas: (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 02). Autor: Esse resultado financeiro, quando ele acontece, essa diferença no spred ou essa remuneração pelo serviço prestado, (...), ele não tem balanço separado não? E3: Não.

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137

Autor: Ele entra no lucro da [FINANX] normal? E3: Isso.

Portanto, eventuais lucros obtidos pela FINANX não seriam

obrigatoriamente reinvestidos no próprio PMCMV. Assim, entendeu-se que a

questão, enfrentada pelas múltiplas fontes de evidência, não obteve respostas

conclusivas, tendendo a parecer que eventual lucro financeiro não seria

necessariamente aplicado novamente no PMCMV.

Yunus et al. (2010) afirma que os negócios clássicos e os sociais fazem

uso de três estratégias comuns: desafiar sabedoria estabelecida, firmar

parcerias, experimentação. Duas outras estratégias seriam específicas dos

negócios sociais: possuir acionistas orientados para o lucro social e formalmente

buscar resultados sociais. Passa-se, agora, a examinar a questão relativa à

equação de lucro social.

O déficit habitacional, conforme anteriormente tratado no Referencial

Teórico, envolve as habitações precárias, coabitação familiar, excedente de

aluguel e adensamento excessivo.6 No Brasil, segundo a PNAD – Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios – realizada pelo IBGE – Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística –, o déficit habitacional foi mitigado em 6,23% entre

os anos de 2007 e 2012. No mesmo período, a quantidade de domicílios

progrediu 12,66%. Entende-se, assim, que a redução do déficit é dificultada pelo

aumento da demanda habitacional (TAB 1).

Interessante notar que a proporção déficit/número de domicílios regrediu

de 10,0% para 8,53%, uma queda de 14,70% entre 2007 e 2012. Considerando

déficit/número de domicílios, a queda é bem maior que a do próprio déficit

nominal, que foi de 6,23% no mesmo período (TAB 1).

6 Ver conceito de déficit habitacional na Introdução deste trabalho

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TABELA 1

Déficit Habitacional no Brasil – 2007 a 2012

2007 2008 2009 2011 2012

Número domicílios 55.918.038 57.709.161 58.684.603 61.470.054 62.996.532

Déficit habitacional 5.593.191 5.191.565 5.703.003 5.409.210 5.244.525

Estimativas relativas

Déficit / domicílios 10,00% 9,00% 9,72% 8,80% 8,53%

Fonte: Elaborado pelo autor, com base em D46

O trabalho desenvolvido demonstra que o crescimento da Demanda Habitacional é influenciado por fatores demográficos. A concentração populacional nos grandes centros urbanos, a redução do número de integrantes das famílias e o envelhecimento da população são fenômenos que têm ampliado a necessidade de moradias. (...) As transformações sociais ocorridas ao longo do tempo ocasionaram mudanças no tamanho das famílias e na quantidade de habitantes por domicílio. Na década de 70, a média de habitantes por domicílio equivalia a 5,28. Mantido este padrão, seriam necessários 36.324 mil domicílios para uma população de 191.795 mil em 2009. Considerando os 58.646 mil domicílios apropriados na PNAD 2009, haveria um saldo de 22.321mil que atenderia à Demanda Habitacional de 9.297 mil e restaria um superávit de 13.024 unidades habitacionais. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 10).

Até 30/06/2014 havia sido contratado o total de 3.499.640 novas

unidades habitacionais pelo PMCMV (85,75% desse total foi contratado pela

FINANX). Dessas, 2.009.768 unidades já estavam com a construção concluída

e 1.749.573 já haviam sido entregues, conforme verifica-se na TAB 2.

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TABELA 2

Total Unidades Habitacionais PMCMV (até 30/06/2014)

Contratadas Entregues

Total PMCMV 3.499.640 1.749.573

Faixa i 1.619.400 552.644

Faixa ii 1.441.404 1.040.570

Faixa iii 438.836 156.359

Fonte: Elaborado pelo autor, com base em D8

TABELA 3

Unidades entregues por Faixa por ano (até 30/06/2014)

2009 2010 2011 2012 2013 2014 Total

Faixa i 67 9.340 113.132 174.803 163.297 92.005 552.644

Faixa ii 66.375 233.875 177.211 202.858 259.884 100.367 1.040.570

Faixa iii 10.506 35.881 16.862 22.459 58.085 12.566 156.359

Total/ano 76.948 279.096 307.205 400.120 481.266 204.938 1.749.573

Fonte: Elaborado pelo autor, com base em D8

Considerando 1.020 municípios analisados em documento da FINANX,

foi contratado 1,2 milhão moradias no Faixa i, até 31/07/2014, valor que

representa 41,86% do déficit urbano então apresentado (PESQUISA

DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 41).

Merece atenção o dado demonstrado na TAB 4, onde se percebe que

53,4% das unidades entregues foram para famílias com renda de até R$1.600,00

(PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 08). É notável resultado social

o fato de que está na região Nordeste a maior quantidade de entregas para as

rendas mais baixas, totalizando 450 mil para um déficit habitacional de 1,61

milhões de domicílios (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 46).

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TABELA 4

Entregas por Perfil de Renda e por Região (PMCMV Faixas i, ii e iii)

Região Até R$ 1.600,00

De R$ 1.600,01 a R$

3.100,00

De R$ 3.100,01 a R$

5.000,00 Total

BRASIL 934.344 734.350 80.879 1.749.573

CENTRO-

OESTE

90.839 107.780 9.308 207.927

NORDESTE 326.720 110.772 12.906 450.398

NORTE 63.339 16.938 3.278 83.555

SUDESTE 273.749 289.113 41.307 604.169

SUL 179.697 209.747 14.080 403.524

Fonte: Balanço do PMCMV (D8)

Outro resultado social identificado é o expressivo aumento da carteira de

crédito imobiliário da FINANX, tanto em volume quanto em prazo médio, durante

o período do PMCMV e a elevação da média anual de contratações.

TABELA 5

Estoque de contratos de crédito imobiliário

Data

referência

Estoque

(quantidade de

contratos)

Estoque (R$) Prazo médio da

carteira

Novembro/08 2,5 milhões 57,7 bilhões 130 meses

Junho/14 4,7 milhões 314,99 bilhões 258 meses

Fonte: FINANX (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 41)

TABELA 6

Média anual de contratos de financiamentos imobiliários no Brasil

Data referência Média anual (quantidade de contratos)

1974 a 2008 238.753

2009 a 2013 1.008.720

Fonte: FINANX (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 25)

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A linha de crédito “Minha Casa Melhor” pode ser considerada resultado

social porque oferece às famílias beneficiárias do PMCMV crédito a baixo custo

para aquisição de eletrodomésticos, eletrônicos e móveis.

(...)o Governo Federal lançou o Programa Minha Casa Melhor, que financia, com juros subsidiados, a compra de móveis e eletrodomésticos para beneficiários do Minha Casa, Minha Vida. Após receber sua moradia, mais de 428 mil famílias já foram beneficiadas com recursos que somam mais de R$ 2,13 bilhões, garantindo mais conforto e qualidade de vida (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 09). O que é o Programa Minha Casa Melhor? É um Programa que permite que aqueles que conquistaram sua casa própria pelo Programa Minha Casa Minha Vida possam adquirir móveis e eletrodomésticos necessários para seu conforto, bem estar. Quem tem direito de participar? Todos que compraram suas casas pelo Programa Minha Casa Minha Vida e que estejam com as prestações em dia. Quais as condições da linha de financiamento? (...) valor máximo de até R$ 5 mil. (...) O financiamento terá prazo máximo de até 48 meses, com Taxa de Juros única: 5% ao ano. Quais produtos estão disponíveis para compra? Refrigerador R$ 1.090,00 Fogão R$ 599,00 Micro-ondas R$ 350,00 Lavadora de roupa automática R$ 1.100,00 TV Digital R$ 1.400,00 Computador (...) com acesso à internet R$ 1.150,00 Tablet (...) R$ 800,00 Guarda-Roupa R$ 700,00 Cama: R$ 500,00 Cama de solteiro R$ 400,00 Mesa com Cadeiras R$ 400,00 Sofá R$ 600,00 Estante ou rack R$ 350,00 Móveis para cozinha R$ 600,00 (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 52).

Os entrevistados, ao serem questionados sobre eventuais lucros sociais

alcançados com o PMCMV, ofereceram respostas diversas, que variam de

conseqüências visíveis a efeitos relativos ao sentimento dos beneficiários.

Melhorias urbanísticas e relativas à educação e saúde foram apontadas

pelos entrevistados seguintes:

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Ordenamento para as cidades: acesso, abastecimento de água, planejamento urbano, escolas, creches. (T1) Melhoria da qualidade do bairro e dos bairros vizinhos (linhas de ônibus, saneamento, água, luz). (O2) Ambiente que proporcione atendimento a todas as necessidades de um ser humano. Influencia novo padrão da cidade (pavimentação, etc.). (E3) Ambiente mais adequado para a família viver. Acesso a água, energia elétrica, serviço de saúde, aquecedor solar. (C2) “Aqui já asfaltou tudo, calçou as linhas de ônibus tudo, esse bairro aqui era tudo barro”. (P1) “A casa foi entregue sem piso. Depois o banco veio aqui e colocou o piso.” (P2)

Melhores condições de vida foram citadas pelos entrevistados a seguir:

Melhoria da condição de compra das famílias. Inclusão bancária. (O1) Melhoria na alimentação, vestimenta, acesso à internet. (P1) Acesso a serviços que não existiam antes. Capacidade de poupança, consumo, gastos com educação dos filhos. Bancarização. Avanço em relação à convivência social e responsabilidade coletiva. (E2) Resultados do trabalho técnico social: gestão financeira, questões condominiais, ambientais, tratamento do lixo. (E1) Influência na saúde (água, saneamento). Redução da criminalidade. (E3) Aumento na capacidade de investimento das famílias. Qualidade da educação (sobram recursos para aula de inglês, judô...). (C4) Manutenção das crianças por mais tempo na escola, redução da criminalidade e violência social. Ambiente limpo e pavimentado ajuda a reduzir incidência de doenças infantis. Menor adensamento reduz proliferação de doenças. (...) [antes do PMCMV] “moravam assim, três, quatro famílias numa casa de vinte e cinco metros quadrados.” (C2)

Durante a visita às famílias, o pesquisador pôde observar

demonstrações de elevado orgulho das pessoas por serem proprietárias de um

imóvel. Ambas insistiam para mostrar a casa, o quintal, as melhorias realizadas

(coberta, área de churrasco).

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Outros resultados, que são relacionados à sensação das famílias após

aquisição da casa própria, foram apontados de maneira enfática pelos

entrevistados.

Ganho social absurdo. “impacto social violento”. Ajuda a reduzir a pobreza. Dignidade, inclusão social. Ganho social imensurável. Segurança financeira e segurança social. (O1) Dignidade para as famílias. (T1) Tranquilidade. (P2) Resgate de cidadania e dignidade. (O2) A pessoa sai do “patamar de miserabilidade para o patamar de ser proprietário”. (E2) Efeito do patrimônio: “Agora eu tenho um imóvel, eu sou dona”. (E1) Saída do anonimato (a pessoa passa a ter um endereço), cidadania. A pessoa passa “a existir no mundo”. Influência na auto-estima, melhoria da qualidade de vida. (E3) Segurança para as famílias. (C4) Dignidade para as pessoas. (C2)

Neste ponto, torna-se indispensável trazer citações das duas famílias

beneficiárias entrevistadas, com relação às mudanças ocorridas em sua vida

após o PMCMV, que podem ser consideradas resultados sociais. Ao serem

questionadas sobre modificações ocorridas em sua vida após adquirir o imóvel,

as famílias entrevistadas responderam:

Tudo. Sossego. Igual... ele [marido] tem problema de saúde, de coluna. Tinha mês que ele falava que não dava pra fazer pro aluguel. E ficava aquela ‘brigaiada’, aquela ‘cachorrada’. (...) então, foi uma benção. (P1) (...) agora, com uma prestação dessas, a gente até (...) veste melhor, come melhor (...). Questão de vestir, agora eu dou as coisas pra ela [filha], internet ela tem aqui. (P1) Quando eu mudei pra cá, eu comprei meus móveis tudo de novo, eu reformei meus móveis. Porque a casa que eu morava era de madeira e cai muito caruncho, então ele [caruncho] comeu o guarda roupa da minha filha, comeu o meu, e aquilo ali foi me desanimando. (P1)

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Eu dou conta de fazer mais um churrasquinho final de semana. (...). Vai melhorando a cada dia que passa. (P1) Nós fizemos melhoria, colocamos pia. Se você quiser ir lá fora eu te mostro. (P1) Mudou bastante coisa (...). É uma coisa que, assim... me tranqüiliza muito, que eu coloco minha cabeça no travesseiro e durmo tranqüila, principalmente a questão do meu filho, porque a gente pensa muito em filho. E se eu morrer amanhã, depois, meu filho está seguro. Pelo menos onde morar ele tem. (P2) A gente valoriza muito isso aqui, pelo que eu acabei de te falar, porque se não fosse dessa forma, não teria, e se estivesse morando onde eu morava, o meu aluguel lá já estava R$600,00, então quer dizer, quase metade do meu salário. (P2)

A satisfação dos beneficiários, que pode ser considerada resultado

social do PMCMV, foi aferida em pesquisa analisada neste trabalho (PESQUISA

DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 36). Instados a apontar nota de 1 a 10 para

quatro itens, as famílias deram nota média de 8,35, como se verifica na TAB 7.

TABELA 7

Satisfação das famílias com o PMCMV

Critério Nota

Custo com prestação 7,9

Aumento de bem estar 8,6

Satisfação com a moradia 8,8

Satisfação com o entorno 8,1

Fonte: elaborado pelo autor, com base no Documento 36

Os Estados da região nordeste do Brasil, onde está o maior déficit

habitacional e os mais baixos indicadores sociais, são os que concederam

maiores notas. A satisfação média na região foi assim demonstrada:

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TABELA 8

Satisfação das famílias (Região Nordeste)

Critério Nota

Maranhão 9,6

Piauí 9,3

Ceará 8,8

Rio Grande do Norte 9,3

Paraíba 9,2

Pernambuco 9,3

Sergipe/Alagoas 9,3

Fonte: elaborado pelo autor, com base no Documento 36

Outros documentos analisados (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D,

Documentos 34 e 35) oferecem dados a respeito de resultados do PMCMV.

Embora não tratem especificamente do Programa, tais documentos se referem

à relação entre o “capital residencial e a qualidade de vida”, sendo capital

residencial a propriedade de um imóvel para moradia. A casa própria, segundo

informações dos documentos, influencia a sensação de satisfação com a vida,

que pode ser considerada um tipo de resultado social. Os dados estão expressos

na TAB. 9.

TABELA 9

Satisfação das famílias por tipo de moradia

Tipo de Moradia

Grau de satisfação com a vida

(de 0 a 10)

Cedida 6,33

Alugada 6,62

Própria (pagando) 6,85

Própria (quitada) 6,93

Fonte: elaborado pelo autor, com base nos Documentos 34 e 35

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146

A análise da satisfação das pessoas com suas moradias demonstra

elevada variação entre o período anterior ao PMCMV e após sua criação. Houve

decréscimo de 54,67% no nível de insatisfação.

Satisfação com moradia – Condições de moradia – famílias Boas/satisfatórias: 84,89% em 2002/03 e 93,15% em 2013 Ruins: 15,11% em 2002/03 e 6,85% em 2013. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documentos 34 E 35).

Outros impactos do PMCMV são identificados a partir de uma pesquisa

específica. Segundo referido trabalho, apresentado em entrevista e consultado

em vídeo, a cada R$ 1 milhão investido pelo PMCMV, são gerados 32 postos de

trabalho diretos e R$744 mil de renda adicional. (PESQUISA DOCUMENTAL,

Apêndice D, Documento 33)

A Tabela 10 demonstra o efeito do PMCMV com relação à geração de

empregos, geração de renda e compras de materiais de construção por ano,

desde 2009.

TABELA 10

Impacto do PMCMV em emprego/renda/materiais de construção

Referência Empregos

gerados no ano

Renda gerada no ano

(R$ milhões)

Compras de material de

construção no ano (R$

milhões)

2009 158.710 4.527,14 2.490,73

2010 804.249 21.411,83 12.621,53

2011 1.108.298 24.878,99 17.393,13

2012 1.260.655 30.052,54 22.162,66

2013 1.273.071 29.753,46 22.380,93

Fonte: elaborado pelo autor, com base nos Documentos 33 e 37

Impacto do PMCMV no total de moradias existentes no Brasil: evoluiu de 0,3% em 2009 para 1,7% em 2013. Participação do PMCMV na produção anual de moradias no Brasil: Em 2009 significou 5%. Em 2013, 32,1%

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Impacto da produção do PMCMV em relação ao estoque do seu público-alvo: 7,5% em 2009 e 48% em 2013. (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documentos 33 e 37)

TABELA 11

Impacto do PMCMV na produção de imóveis no Brasil

Referência Impacto no total

de moradias

Produção anual do

PMCMV / produção

total de moradias

Produção do PCMV em

relação ao estoque de

moradias do público-alvo

2009 0,3% 5,0% 7,5%

2010 1,0% 17,9% 26,7%

2011 1,0% 18,4% 27,5%

2012 1,5% 27,0% 40,3%

2013 1,7% 32,1% 48,0%

Fonte: elaborado pelo autor, com base nos Documentos 33 e 37

Assim, pode-se afirmar que o PMCMV é responsável por

aproximadamente metade das novas unidades habitacionais adquiridas pelo seu

público-alvo (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documentos 33 E 37).

Considera-se, portanto, que o PMCMV produz diversos impactos

sociais, desde participação na redução do déficit e, especialmente, da demanda

habitacional, até a felicidade das famílias. Foi demonstrada crescente

participação do PMCMV no mercado imobiliário, sobretudo quando se considera

o público-alvo de baixa renda. A simulação de um financiamento convencional

em comparação com os valores cobrados dos beneficiários do PMCMV mostra

evidente indício do impacto social (PESQUISA DOCUMENTAL, APÊNDICE D,

DOCUMENTO 49).

Entre os objetivos do PMCMV, está formalmente, o atingimento de

resultados sociais. Observou-se alinhamento dos objetivos do PMCMV com a

missão da FINANX:

Atuar na promoção da cidadania e do desenvolvimento sustentável do País, como instituição financeira, agente de políticas públicas e parceira estratégica do Estado brasileiro (PESQUISA DOCUMENTAL, Apêndice D, Documento 51).

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Quando questionados se a FINANX ou o Governo utilizam algum modelo

ou métrica para avaliar os resultados sociais do PMCMV, os entrevistados

convergiram no sentido de respostas negativas, ao mesmo tempo em que

afirmaram a crença na existência dos resultados.

Olha, eu acho que já tem os indicadores que são indicadores padrão. IDH... eu acho que esse programa, ele atinge esses indicadores. O governo tem conhecimento dos impactos. Eu não conheço um estudo nesse sentido não [medidor de impacto social].. Mas é tão claro isso [os resultados socais], que eu estive num dos conjuntos do FAR, 356 unidades (...). A primeira visita que eu fiz lá, (...)nós passamos por uma estrada (...), chão batido e chegamos no terreno. Não tinha nada ali (...). A segunda vez que eu fui lá, a prefeitura já tinha interferido no processo. Toda a periferia foi beneficiada com asfaltamento. Já cheguei com asfalto até a porta do empreendimento, as 356 casas acabando de ser erguidas. E lugar que, historicamente, nunca teve linha de ônibus, sendo implantada linha de coletivo. (...) Então além do empreendimento, 356 famílias beneficiadas, que tão indo pra um lugar com água, luz, saneamento, tudo certinho, toda a periferia do empreendimento foi beneficiada. (O2) Especificamente com relação ao PMCMV eu não tenho conhecimento... (T1) Pelo governo federal eu não sei se é medido, pela [FINANX] (...) nós vamos avaliar a freqüência escolar, nós vamos avaliar o atendimento nas unidades básicas de saúde, os programas de saúde da família, nós vamos avaliar a violência para aquela faixa de renda comparada com outras situações de habitação mais tradicionais, nós podemos avaliar de um modo geral todos os indicadores de saúde (C2) [indicador] do próprio PMCMV não. Você tem os indicadores (...) de quantidade de unidades contratadas versus o déficit habitacional daquele município. (...) Tem município que você já contratou metade do déficit. Tem lugar que você já contratou 10% do déficit, tem lugar que contratou 70% do déficit(...) E outra coisa que é um indicador importante é (...) a quantidade, todas essas 3 milhões de famílias... (E2) É um programa novo, ele está em construção, muitas vezes é até difícil de mensurar esse reflexo de imediato, você tem assim; além da movimentação da economia como um todo, (...) mas em média para cada unidade, são 3,6 a 4 pessoas por apartamento. Se você olhar empregos diretos, isso que a gente estava olhando, da praticamente 0,8 por unidade, quase 1 emprego por unidade, isso direto. (E3)

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A pesquisa documental não resultou na detecção de qualquer indicador,

modelo ou métrica criados ou adaptados para avaliação dos resultados do

PMCMV.

Os documentos mostraram diversos resultados diretos e indiretos do

PMCMV, embora não se refiram a um modelo de mensuração como, por

exemplo, seria o SROI, estudado no capítulo da Metodologia deste trabalho.

Conclui-se que não foi adotado um indicador de mensuração dos

resultados sociais pelo Governo Federal ou pelas instituições financeiras

operadoras do PMCMV. Apurou-se a percepção de vários entrevistados, além

da observação direta de duas famílias beneficiárias. Verificou-se que foi

realizada pesquisa por órgão oficial, o IPEA, para aferição de resultados sociais

do Programa sem que isso se configure um indicador oficial e regular de tais

efeitos.

Desempenhado o exame das três categorias de análise propostas,

passar-se-á às conclusões extraídas ao longo da pesquisa, onde se pretende

responder à pergunta da pesquisa.

QUADRO 13

Principais conclusões da Categoria Analítica 3

Aporte de Recursos Lucro Financeiro Lucro Social

Inicial: R$25 bilhões Para o PMCMV, diretamente,

não existe

Acesso à moradia (contratação de 3,49

milhões de novas moradias)

Previsto até dez/14:

R$234 bilhões

Receitas da FINANX: subsídio

indireto, spread, tarifas por

prestação de serviços.

Expressiva participação do PMCMV na

produção imobiliária no Brasil

Não há auto-

sustentabilidade

Receitas indiretas: acesso a

novos mercados para venda de

produtos

Maior participação dos pobres nas linhas

de financiamento habitacional

Substancial aumento da média anual de

contratos de crédito imobiliário

Não há previsão de

recuperação dos

investimentos

Não há obrigatoriedade de

reinvestimento de eventuais

lucros

Crédito de baixo custo para aquisição de

bens duráveis

Melhorias urbanísticas

A retirada dos

aportes

comprometaria a

continuidade do

PMCMV

Melhoria na condição de vida

Bancarização, geração de emprego,

geração de renda

Dignidade, tranqüilidade, segurança

Aumento da satisfação com a vida

Não se usa indicador para medir impacto

social do PMCMV

Fonte: elaborado pelo autor

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150

6 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa visou investigar, descrever e analisar o modelo de

negócios do Programa Minha Casa Minha Vida, executado por uma instituição

financeira, tendo como base os conceitos preconizados na literatura

contemporânea de inovação social e negócios sociais.

O estudo de caso foi conduzido com a finalidade de, por meio da

comparação da estrutura do PMCMV com um padrão adaptado da teoria de

Yunus et al. (2010), compreender se pode ser considerado um modelo de

negócios social.

Para tanto, desdobrou-se o objetivo geral em três específicos, a partir

dos quais estabeleceram-se as categorias de análise, a fim de responder-se à

pergunta: o Programa “Minha Casa, Minha Vida”, executado por uma instituição

financeira federal, pode ser caracterizado como um modelo de negócio social,

conforme os conceitos preconizados na literatura contemporânea de inovação

social?

A proposta do trabalho não pretendeu esgotar todas as análises

possíveis nem mesmo dissecar o PMCMV, uma vez que a grandiosidade de seus

números torna tal tarefa impossível para uma única pesquisa. Estudos futuros

serão imprescindíveis para uma melhor compreensão do Programa e seus

efeitos.

Cada categoria de análise trouxe certo número de questionamentos –

descritos no Protocolo de Estudo de Caso –, que serviram de guia ao

pesquisador durante o exame das diversas evidências coletadas.

Ressalta-se que a riqueza do procedimento deste estudo de caso supera

os próprios resultados do mesmo. Conhecer a magnitude de um programa que

já atende diretamente mais de 3 milhões de famílias produz um dote de

conhecimentos que certamente não serão totalmente explorados na atual

apresentação. Ao mesmo tempo, estimula o pesquisador a se preparar para

novos trabalhos mais complexos sobre a mesma temática.

Entre as percepções captadas pelo pesquisador, talvez a mais marcante

tenha sido o franco entusiasmo das famílias pobres com sua vida após a

aquisição da casa própria. O orgulho das pessoas em mostrar a casa, as

melhorias realizadas e dizer que hoje se alimentam melhor porque estão

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independentes de um aluguel oneroso desperta no pesquisador grande interesse

por compreender melhor esse fenômeno, numa pesquisa futura.

Introdutoriamente, foi analisada a principal instituição executora do

PMCMV. A análise das características da FINANX conduziu à conclusão de que

a empresa, embora seja controlada pelo Estado Brasileiro e tenha explicitamente

objetivos sociais, também captura valor no campo tradicional dos negócios, é

lucrativa e atua em um mercado bastante concorrido. Negócios sociais são

conduzidos por empresas do campo tradicional de negócios.

A verificação da primeira categoria de análise permitiu concluir que o

PMCMV se trata de um programa de governo com direcionamento social, cujo

gestor é o Ministério das Cidades, executado por instituições financeiras –

especialmente a FINANX –, dividido em duas áreas de atuação: urbana e rural.

Há ampla legislação federal que o criou e regulamentou, estabelecendo

limites, objetivos, áreas de atuação, critérios de seleção dos beneficiários e

diversas outras informações.

Uma característica importante dos negócios sociais foi encontrada: o

PMCMV possui objetivos sociais explícitos nos documentos legais,

confirmados pela prática dos entrevistados e outros implícitos. Entre eles, a

redução do déficit habitacional na baixa renda, geração de emprego e renda,

redução da pobreza, melhoria da qualidade de vida das famílias, redução da

criminalidade; favorecimento à dignidade das famílias; retirada das famílias de

áreas de risco e de preservação ambiental.

A segunda categoria pretendeu investigar se o PMCMV possui um

modelo de negócios, além de identificar a eventual existência elementos de um

negócio social, tais como: caráter inovador dos produtos, desenho específico dos

produtos para o público-alvo e o tratamento dessas pessoas como clientes.

Inicialmente, foi possível verificar que o PMCMV apresenta um modelo

de negócios, conforme cada elemento a seguir descrito:

Está presente uma proposta de valor, com produtos

detalhadamente previstos na legislação. As necessidades a que

os produtos visam atender estão claramente definidas, conforme

as seguintes observações:

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o Os produtos podem ser considerados inovadores, tanto na

alavanca tecnológica quanto no modelo de negócios.

Inovou-se ao oferecer uma proposta de valor diferente do

que existia até então; buscou-se um novo mercado,

oferecendo produtos para clientes que anteriormente não

eram atendidos por nenhuma organização.

o A oferta parece ter sido desenhada especificamente para

o seu público-alvo, uma vez que seus padrões, taxas de

juros, subvenções, critérios para escolha dos usuários e

cuidado com o entorno dos empreendimentos imobiliários

indicam preocupação para que o cliente se torne capaz de

adquirir os produtos e esses o atendam com qualidade.

o Inovou-se, ainda, no sentido de incentivar o setor da

construção civil a participar do PMCMV, especialmente

criando condições por meio de incentivos fiscais e com a

promoção da emergência de um mercado inexistente.

o Na alavanca tecnológica, há inovação exatamente nos

produtos, modelados especialmente para famílias que não

possuíam capacidade de pagamento para financiar a casa

própria. Criaram-se exigências técnicas, métricas e de

qualidade para a construção das unidades habitacionais e

de todo o empreendimento e seu entorno.

Foi confirmada a existência de um público-alvo do PMCMV,

embora seus membros não possam ser chamados de clientes,

pelo menos não como “clientes convencionais”, assim

considerados aqueles inseridos numa lógica de mercado em que

vigora a lei da oferta e da procura e que se submetem a avaliação

de cadastro para tomarem crédito. Atente-se para as

ponderações seguintes:

o A pesquisa encaminhou à conclusão de que o público da

Faixa i é beneficiário de um programa social, pois não é

sequer escolhido pelos vendedores e pelos financiadores

dos imóveis, mas sim pelo Poder Público. O fato de não

passarem por avaliação de capacidade de pagamento ou

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de cadastro confirma que não são clientes “convencionais”,

embora de alguma forma sejam consumidores de

produtos.

o O público da Faixa ii, embora tenha uma relação mais

próxima de mercado com a FINANX e os vendedores dos

imóveis, não pode ser considerado cliente convencional.

Afinal, a contratação só é possível em virtude dos

subsídios públicos oferecidos pelo PMCMV para redução

do valor da compra e dos juros reduzidos. O público da

Faixa iii é o que mais se aproxima da concepção de

clientes, pois nesse estrato social não existe o subsídio

direto ao comprador, mas apenas o indireto, para viabilizar

o equilíbrio econômico-financeiro do contrato.

Considerando que as Faixas i e ii representam 87,46% da

quantidade de unidades habitacionais contratadas no

Programa, é possível concluir que a maior parte do público-

alvo não é formada por clientes, mas por beneficiários de

um programa social. Os estudos apresentados no

Referencial Teórico afirmam que negócios sociais devem

se guiar pela mesma lógica de empresas convencionais,

inclusive possuindo clientes, buscando mercados,

enfrentando concorrência. Se o público do PMCMV não é

tratado como cliente, mas como beneficiário, essa

característica do modelo de negócios mostra-se

incompatível com o modelo de Yunus et al. (2010).

Confirmou-se a existência de uma constelação de valor ligada

do PMCMV. Internamente, fazem parte as diversas áreas da

FINANX envolvidas com a execução do Programa, quais sejam:

Superintendências Nacionais, Gerências Regionais, agências

bancárias, áreas de engenharia e departamento jurídico.

Externamente, o Ministério das Cidades, Poder Público local

(distrito federal, estados e municípios), empresas da construção

civil, correspondentes bancários.

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A terceira categoria apurou dados da equação de lucro financeiro e

equação de lucro social.

Verificou-se que o programa recebeu aportes iniciais e

permanece obtendo investimentos tanto da União quanto do

FGTS em todos os contratos celebrados. Relativo aos subsídios

concedidos, não há expectativa de retorno. Considerando a

expressividade desses valores (R$106,3 bilhões do total de

R$218,48 bilhões, ou 49% do total do investimento, sendo o

restante financiamento, conforme QUADRO 12), é possível

concluir pela negativa da auto-sustentabilidade financeira do

PMCMV. Outro elemento que aponta pela inexistência do caráter

auto-sustentável é a dependência do aporte constante dos

subsídios, a partir da verificação de que, sem tais subvenções, o

PMCMV não existiria.

Não há geração de lucro financeiro para o próprio Programa.

Por outro lado, as instituições financeiras operadoras, inclusive a

FINANX, obtêm receitas diretas (spread bancário, tarifas por

prestação de serviços) e indiretas (comercialização de produtos

de portfólio convencional para um público ao qual tem acesso por

ser executora do PMCMV).

A análise das evidências através das múltiplas fontes não

conduziu à conclusões no que se refere a destinação de eventual

lucro gerado pelo PMCMV. Anteriormente, este trabalho concluiu

que o PMCMV não produz lucros em si, porém igualmente restou

comprovado que as instituições operadoras são remuneradas

pelos serviços prestados e lucram com o spread nos contratos

das Faixas ii e iii. Legalmente, a FINANX não teria obrigação de

reinvestir, no PMCMV, os lucros oriundos do mesmo. Isso

contraria o modelo de Yunus et al. (2010), que prevê a

reaplicação de qualquer dividendo, sem distribuição para

acionistas ou destinação para outras áreas.

Quanto ao lucro social, foi atestada sua existência em diversos

campos: redução do déficit/demanda imobiliária da baixa renda;

melhorias urbanísticas; acesso à água, energia, aquecimento

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solar; inclusão bancária; melhoria da qualidade de vida; redução

de problemas de saúde; diminuição da criminalidade; dignidade,

tranqüilidade, cidadania e segurança social para as famílias;

satisfação com a vida; geração de emprego e renda.

Constatou-se a inexistência de instrumentos para medição dos

resultados sociais ou indicadores próprios para o PMCMV. Uma

pesquisa realizada pelo IPEA é o mais qualificado estudo

encontrado sobre efeitos não mensuráveis do PMCMV, mas não

constitui um indicador regular, de apuração periódica.

Ao longo da análise dos dados, possíveis conclusões foram se

desenhando na mente do pesquisador, sendo que algumas delas acabaram

desmentidas por dados posteriormente verificados. A certo tempo do estudo,

tendia-se a acreditar que a pergunta da pesquisa teria dupla resposta: sim, trata-

se de um modelo de negócios sociais no que se refere à Faixa ii e não, não é

modelo negócios sociais quanto à Faixa i.

Investigadas todas as questões do Protocolo de Estudo de Caso,

distribuídas pelas três categorias analíticas, chega-se à conclusão final.

Considere-se o modelo de negócios sociais proposto por Yunus et al.

(2010), já apresentado anteriormente neste trabalho e repetido a seguir:

o Proposta de valor: produtos/serviços voltados para o cliente e

todos os demais stakeholders. Verificou-se que o PMCMV possui

uma proposta de valor especialmente voltada para seu público-

alvo e que atinge a constelação de valor e toda a sociedade.

Confirmou-se que a FINANX, executora do PMCMV, é uma

grande empresa que atua no mercado convencional de negócios.

Identificou-se, porém, que os usuários do PMCMV não são

considerados clientes de produtos, mas sim receptores de

benefícios sociais.

o Constelação de valor: identificou-se a existência de uma rede

interna e externa estruturada desde a estratégia até a entrega da

proposta de valor.

o Equação de lucro financeiro: o modelo usado como base exige

que não haja distribuição de dividendos para acionistas, devendo

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todo o lucro ser reinvestido na operação. Poucas foram as

referências encontradas, não se podendo afirmar que eventual

resultado financeiro seria reinvestido no PMCMV, condição

obrigatória para ser considerado negócio social, segundo o

modelo adotado.

o Equação de lucro social: ponto fundamental para caracterização

de negócios sociais. Confirmou-se a produção de resultados

sociais pelo PMCMV, embora não exista um indicador específico

para medi-los.

Considerando as estratégias específicas do modelo de negócios sociais,

quais sejam “acionistas orientados para lucro social e explicitação formal da

busca por resultados sociais”, conclui-se que estão presentes no modelo do

PMCMV. Embora não exista a figura técnica do acionista, uma vez que não há

mercado de ações envolvido, os investidores do PMCMV são a própria União e

o FGTS, que participam com interesse social. A explicitação dos objetivos sociais

é comprovada pela legislação, pelas entrevistas e pela observação direta.

O Quadro 14 apresenta comparação do modelo previsto com o PMCMV.

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QUADRO 14

PMCMV x Modelo de Negócios Sociais de Yunus et al. (2010

Elemento do Modelo de Negócios do

PMCMV

Há convergência com Modelo de

Yunus et al. (2010)?

Proposta de Valor Parcialmente. Diverge na classificação

do usuário como “beneficiário”

Constelação de Valor Sim.

Equação de Lucro Financeiro

Não. Falta obrigação de reinvestimento

dos lucros. Não há auto-sustentabilidade

Equação de Lucro Social Sim

Acionistas voltados para o resultado

social

Sim

Objetivos sociais explícitos Sim

Fonte: elaborado pelo autor

A técnica da “combinação de padrão”, proposta por Yin (2010), foi

aplicada para se comparar o fenômeno PMCMV com o padrão previsto, qual

seja, o modelo de negócios sociais de Yunus et al. (2010). Verificados os dados

e alcançadas as conclusões para cada questionamento pertencente às

categorias de análise, é possível responder à pergunta de pesquisa.

Confrontados o modelo de negócios do PMCMV com o modelo tomado

como base, qual seja, o de Yunus et al. (2010), identificou-se convergência

parcial relativamente ao elemento proposta de valor. Existe oferta de um produto

inovador, criado especialmente para o público-alvo. Há divergência na

classificação do usuário que, conforme verificado anteriormente, não pode ser

identificado como “cliente”. O elemento constelação de valor mostrou-se

convergente com o padrão. Com relação à equação de lucro financeiro, não há

identidade, visto que no PMCMV inexiste obrigatoriedade de reinvestimento de

de eventuais lucros e falta o caráter de auto-sustentabilidade, ambos

considerados fundamentais na proposta de Yunus et al. (2010). Com relação à

equação de lucro social, os modelos são convergentes, inclusive quando se trata

da existência de acionistas voltados para o resultado social e de objetivos sociais

explícitos.

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Assim, pode-se afirmar que o Programa Minha Casa, Minha Vida,

executado por uma instituição financeira federal, não pode ser caracterizado

como um modelo de negócio social, conforme os conceitos preconizados na

literatura contemporânea de inovação social. Embora os sistemas sejam

similares na maioria dos elementos, algumas características fundamentais dos

negócios sociais não foram identificadas no PMCMV. Mas há elementos

indicativos de que o Programa possa ser aperfeiçoado nesse sentido. Toda

política pública precisa de tempo para maturação, sendo fundamental

implementar e melhorar, inclusive utilizando-se no campo social a

experimentação típica dos mais qualificados modelos de negócios convencionais

(MCGRATH & MACMILLAN, 1995; CHESBROUGH, 2010; MCGRATH, 2010). A

relação reflexa direta entre modelos de negócios sociais e convencionais se

confirma na necessidade, em ambos, de avaliação e melhoria contínua. No caso

da inovação social, a própria pressão da sociedade e até dos beneficiários

diretos obriga à melhoria.

Em que pese não ser considerado um negócio social, conforme a teoria

de Yunus et al. (2010), em diversos aspectos o PMCMV se aproxima do modelo

desse e de outros autores. O problema enfrentado atinge grande número de

pessoas e sua solução produz reflexos não somente no déficit e na demanda

habitacionais, mas também em diversos outros aspectos da vida das famílias

envolvidas.

O impacto social é relevante. Após a análise dos dados, restou

comprovada a existência de significativo impacto social do PMCMV na condição

de vida das famílias, como se apresentou no capítulo próprio. Ficou comprovado

o interesse econômico causado pelo Programa, atraindo empresas da

construção civil e produzindo riqueza, emprego e renda.

Adicionalmente, a análise permite concluir que o PMCMV introduziu

soluções novas para problemas e necessidades sociais, em conformidade com

a definição de Phills (2009) para inovação social.

Apresenta-se como grande desafio para a sustentabilidade do PMCMV

que sejam mantidos os subsídios que garantem sua efetividade e amplitude.

Considerando a teoria de negócios sociais, poder-se-ia sugerir a

preparação de um cenário em que o poder público se retirasse gradativamente,

sendo substituído por investidores sociais. A modificação da forma de atuação

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permitiria que o investidor recuperasse seu capital após determinado período, o

que eliminaria a dependência de recursos públicos ou doações, tornando o

PMCMV auto-sustentável, fortalecendo sua continuidade. O formato atual

embute elevado risco de, a qualquer momento, serem suspensos os subsídios

da União e do FGTS, comprometendo a própria existência do PMCMV.

A presente pesquisa sofreu limitações diversas. Possivelmente a

principal insuficiência consistiu na inexistência de métricas e indicadores para

avaliação dos resultados sociais. A ausência de dados financeiros sobre a

receita da FINANX com a operação do PMCMV é elemento de relativo destaque.

Além disso, pode-se citar como fragilidade da pesquisa a inviabilidade de tempo

e recursos para um estudo amplo das famílias atendidas pelo PMCMV. O próprio

fato de tratar-se de um programa jovem ao tempo do estudo é causa da

dificuldade em apurar-se o lucro social.

Sugerem-se estudos futuros para avaliar mais profundamente os

resultados sociais, especialmente aqueles percebidos diretamente pelas famílias

beneficiárias. Tal trabalho deve ser estendido para diversas regiões do Brasil e

realizado durante um período mais longo, para observar-se a influência do

PMCMV na vida das famílias.

Importante, da mesma forma, que outras pesquisas considerem

maneiras de substituição das subvenções sem retorno por investimentos sociais

e mecanismos que tornem o PMCMV independente do aporte constante de

dinheiro dos governos ou de doadores, adquirindo o caráter de auto-

sustentabilidade.

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167

APÊNDICE A – Protocolo de Estudo de Caso

Adota-se o Protocolo de Estudo de Caso com base na proposta de

Yin (2010). Conforme esse autor, o protocolo não é um questionário, visto que

mais amplo em conteúdo e voltado para um público diferente. Esse instrumento

“se destina a orientar o investigador na realização da coleta de dados de um

caso único” (Yin, 2010, p. 106).

Considerando referida orientação, o Protocolo ora proposto servirá

como orientação ao pesquisador para percorrer o objeto de estudo por via dos

vários instrumentos de coleta selecionados. Assim, para cada questionamento

aqui definido serão buscadas respostas por via de análise documental, análise

bibliográfica, observação direta e entrevistas.

Ainda segundo Yin (2010), o protocolo de estudo de caso traz

questões que o investigador deverá ter em mente durante a coleta de dados. As

questões são formuladas para o investigador, não para o entrevistado. Mais uma

vez, portanto, deve-se afirmar que as questões ora colocadas não formam um

questionário, mas funcionarão como um guia ao pesquisador.

O presente protocolo foi elaborado com base nas categorias de

análise definidas a partir dos objetivos específicos. As questões foram

organizadas em quatro blocos, sendo o primeiro introdutório e os seguintes

correspondentes a cada categoria de análise.

Os questionamentos a seguir orientarão o pesquisador não somente

durante as entrevistas, mas também nos procedimentos de análise documental

e observação direta. As indagações durante as entrevistas também serão

formuladas a partir deste protocolo, embora possam e devam ser selecionadas

e modificadas conforme a pessoa entrevistada e o contexto.

Bloco Introdutório

1. Quais são as principais características da instituição pesquisada?

(natureza jurídica, propósitos, estratégia etc.)

2. A instituição pesquisada participa de um mercado onde há ampla

concorrência?

Bloco I – Conceitos, legislação, métricas e resultados do PMCMV

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3. Como se define o PMCMV? Follow up: conceito fundamental,

fundamentos do programa.

4. Quais são os objetivos do PMCMV?

5. Que resultados são esperados com o PMCMV?

6. Qual é a legislação que define e regulamenta o PMCMV?

Bloco II – Modelo de negócios do PMCMV: Proposta de valor, público-alvo,

constelação de valor, custos e receitas

7. Que produtos/serviços são oferecidos pelo PMCMV aos seus clientes?

Follow up: avaliar a proposta de valor e o cliente-alvo. Que valor é criado

para a sociedade?

8. A que necessidades dos clientes-alvo o PMCMV atende? Follow up: que

valores são criados para a sociedade? O que o PMCMV entrega para a

sociedade?

9. Os produtos do PMCMV foram desenhados especialmente para o público-

alvo?

10. Os produtos/serviços foram inovadores ao tempo de seu lançamento?

Follow up: considerar as alavancas de inovação na tecnologia e no

modelo de negócios. Havia similares no mercado? Em que inovaram?

11. Quem são os clientes-alvo do PMCMV? Follow up: Que mercados foram

buscados? Havia concorrência nestes mercados? Como se chega a

esses clientes?

12. Com relação ao público alvo, são beneficiários de um programa ou

clientes de um produto?

13. Além dos clientes, que outros atores internos e externos estão envolvidos

com o PMCMV? Follow up: áreas meio e áreas fim da instituição

(engenharia, análise de risco, gestão do PMCMV, agências, plataformas

de concessão de crédito imobliário), parceiros externos (Poder Público,

correspondentes, construtoras...) Questionar como eles estão

organizados.

Bloco III – Equação de lucro financeiro e equação de lucro social

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14. Qual foi o custo inicial no PMCMV? Follow up: de onde vieram tais

recursos?

15. Existe aporte constante de recursos públicos no PMCMV? Follow up: Qual

a origem desses recursos?

16. Se verdadeira a questão anterior, caso retirados os aportes constantes, o

PMCMV permaneceria em andamento?

17. Há previsão de ressarcimento dos aportes de recursos iniciais e dos

periódicos?

18. Quais as receitas obtidas através do PMCMV?

19. Caso haja superávit financeiro, qual sua destinação?

20. A instituição oferece outros produtos/serviços de seu portfólio para os

clientes? Follow up: essas receitas indiretas são significativas? O público

do PMCMV pode ser considerado um novo mercado para a instituição?

21. Além dos resultados financeiros, que espécie de lucro social é alcançada

com o PMCMV? Follow up: além da solução do problema de moradia, que

outros resultados sociais acontecem: redução da pobreza, acesso a

melhores condições sanitárias, saúde, educação? Num momento de

crise, a instituição prioriza resultado financeiro ou social?

22. A instituição ou o Governo utilizam algum modelo ou métrica para avaliar

os resultados sociais do PMCMV? Follow up: São qualitativos ou

quantitativos? Como se aplica a mensuração? Quais os resultados já

apurados?

Bloco Especial – Famílias Beneficiárias

1. Como foi sua seleção para o PMCMV? Follow up: como soube do

PMCMV?

2. Você participou do Programa Técnico Social executado pela instituição

financeira e pelo município?

3. O que mudou em sua vida após a aquisição da casa? Como era sua casa

anterior? O que mudou no seu trabalho, o que mudou com relação aos

filhos?

4. Você teria condições de comprar uma casa sem o PMCMV? As condições

do PMCMV são boas? Você se preocupa em pagar?

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5. Você já tinha conta bancária antes do PMCMV? Tem agora? Tem mais

algum produto do banco?

Informações preliminares: o texto a seguir será utilizado durante a

coleta de dados para apresentação aos entrevistados, a fim de criar um clima de

confiança que facilite a interação.

Você está participando de uma pesquisa acadêmica que faz parte de uma

dissertação para o Programa de Mestrado Profissional em Administração do

Centro Universitário UNA. O objetivo da pesquisa é investigar, descrever e

analisar o modelo de negócios do Programa Minha Casa Minha Vida executado

por uma instituição financeira. O interesse da pesquisa abrange exclusivamente

a operação do PMCMV, desde o complexo normativo que o criou até a métrica

de seus resultados, recaindo também sobre a cadeia de fornecedores,

beneficiários e demais stakeholders. Não são interesse da pesquisa quaisquer

outras áreas ou práticas da empresa. Foi negociado com a alta administração o

uso das informações, inclusive as questões relativas a sigilo do nome da

empresa e dos entrevistados. É importante deixar claro que as informações

prestadas serão utilizadas exclusivamente para os fins a que se propõe o

presente trabalho. Tais medidas são necessárias para o estabelecimento de uma

relação ética, profissional e transparente. Os resultados produzidos por este

trabalho serão disponibilizados em primeira mão para a organização e você terá

acesso a uma cópia, caso solicite. A gravação da entrevista jamais será

apresentada em público, conforme contrato de sigilo, servindo apenas para

subsidiar a transcrição das respostas. Agradeço a cordialidade em oferecer seu

tempo para colaborar com a pesquisa universitária brasileira! (adaptado de

ALVARENGA NETO, 2005).

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APÊNDICE C – Exemplo da Matriz de análise de dados brutos

Categoria 1: Conceitos, legislação, métricas e resultados do PMCMV

Siglário:

Instrumento de coleta

ES: Entrevista semi- estruturada

7Grameen: vila ou aldeia, no idioma Bengali 8Aliança Global pela Melhoria da Nutrição, tradução nossa

APÊNDICE B – Práticas de Negócios Sociais

Programa/Projeto Objetivo Modelo de negócios Resultados

Banglhadeshi Grameen Bank7

Fornecer crédito de pequena monta e a baixo custo para pessoas pobres que objetivem empreender.

Instituição financeira cujos acionistas são os próprios mutuários e o governo de Bangladesh. Capta depósitos e oferece crédito a um público de baixa renda sem exigência de comprovação de renda e apresentação de garantias. Reinveste todos os lucros auferidos, não havendo distribuição de dividendos.

Atingiu, em 2014, total de 8,62 milhões de membros. Entre seus mutuários, 68% deixaram a condição de miséria. Distribuiu US$ 15,2 bilhões em empréstimos até abril de 2014, com adimplência de 97,28%. A instituição e seu fundador foram laureados com o Prêmio Nobel da Paz em 2006, por seus esforços contra a pobreza. Fonte:Yunus (2010); Yunus et al. (2010), Grameen (2014).

Grameen Danone Oferecer um

produto

alimentício a

baixo custo e fácil

acesso para suprir

necessidades

nutricionais das

crianças pobres

de Bangladesh

(iogurte

ShoktiDoi).

A produção do iogurte

com ingredientes locais

para redução de custo.

Fábrica de pequeno

porte, para minimização

do risco, evitar

necessidade de

armazéns refrigerados e

simplificar o problema

de pessoal. Uso de baixa

tecnologia e de mão-de-

obra local não

especializada.

Desenvolvida uma rede

Alcançou, em dezembro de 2010, total de 821 “Grameen ladies” distribuindo o iogurte e cerca de 400 microfazendeiros na rede de fornecedores. Estudos do GAIN – “Global Alliance for ImprovedNutrition”8 – indicam, preliminarmente, que o ShoktiDoi traz melhorias significativas no aprendizado e concentração das crianças. Fonte:Yunus (2010), Yunus et al. (2010), Grameen

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9Programa Wharton de Riqueza Social, tradução nossa.

local de fornecedores.

Distribuição no modelo

porta a porta.

Danone (2010), GAIN (2011), Danone (2011).

Grameen Phone Permitir que moradores pobres das vilas de Banglhadesh tenham acesso à comunicação via telefone celular. Em 1996, 80 mil vilas naquele país não tinham serviço telefônico.

Parceria do Grupo Grameen com a companhia de telecomunicações Telenor, da Noruega. Serviço baseado no aluguel de um aparelho de telefone móvel por alguns minutos para quem não tem condições de financeiras de adquirir o equipamento..

A Grameen Phone se tornou uma das maiores pagadoras de impostos de Bangladesh. O volume de receitas da empresa em 2013 foi de US$ 96,6 bilhões – resultado financeiro. Em 2005, tinha 8 milhões de usuários, tendo chegado a 20 milhões em 2008 – resultado social. Fonte:Yunus et al. (2010)

Sistema deB

irrigação “Treadle

Pump”

Facilitar a irrigação de áreas de plantio, permitindo que haja colheita de produtos de boa qualidade durante todo o ano, inclusive nos períodos de seca. Voltado para pequenos agricultores de baixa renda, que não podem adquirir modernos sistemas de irrigação.

Equipamento manufaturado localmente a custo extremamente baixo (US$25) Movido por um pedal, a bomba é acionada por propulsão humana, sendo capaz de bombear água a partir de até 7 metros de profundidade. Estratégias de marketing especialmente desenhadas para as populações rurais – teatro, filmes apresentados em locais públicos e exibição de funcionamento do equipamento.

Considerado uma das histórias de maior sucesso em termos de redução do sofrimento das pessoas pobres. Promoveu aumento de renda entre os pequenos fazendeiros pobres de Bangladesh equivalente a US$ 130 milhões por ano. A área irrigada por métodos de micro-irrigação como o “TreadlePump” aumentou globalmente cerca de 6 vezes ao longo dos vinte anos anteriores a 2013. Fonte:Polak e Warwich (2013), IDE (2013).

“Wharton Social Wealth Program”9

Criado para

solucionar o

problema da

desnutrição da

população do

noroeste da

Zâmbia após a

baixa das

Sistema para calcular a mistura ideal para produzir ração mais barata e nutritiva para a criação de galinhas. Previa a criação de uma rede de distribuição regional, contrário de

Causou redução do preço médio e aumentou qualidade da alimentação animal entre 2003 e 2009, beneficiando criadores das aves e os consumidores. Replicado em estados vizinhos. Ao tempo do estudo ora apresentado

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173

PD: Pesquisa Documental

OD: Observação Direta

Fonte de Evidência

E(n): entrevistado pertencente ao nível Estratégico

T(n): entrevistado pertencente ao nível Tático

O(n): entrevistado pertencente ao nível Operacional

C (n): entrevistado pertencente à Constelação de Valor P (n): entrevistado pertencente ao Público-Alvo D(n): documento

Questão do protocolo 3 - Como se define o PMCMV?

Instrumento

de coleta

Fonte de

Evidência

Observações

ES O1 Maior e melhor programa habitacional; abrangência

completa; critérios claros; programa espetacular

ES O2 “Quase” a única forma da classe média e baixa adquirir

um imóvel

ES C4 Programa inteligente; soma entre social e privado; o

capital privado viabiliza o ganho social

ES E2 Política pública/social de alcance extremo. Primeiro

programa que buscou responder às principais questões

do déficit habitacional

ES T1 Divisor de águas no mercado imobiliário. Programa

inédito.

ES E1 Programa destinado a priorizar famílias de baixa renda.

Não se fala em doação, toda a política nacional de

habitação quer que a pessoa pague pelo bem

cotações do

cobre levar

miséria e fome às

famílias dos

mineiros locais.

uma rede ampla para grandes comerciantes.

havia negociações para outros países. Fonte:Thompson e Macmillan (2010).

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ES E3 Programa altamente exitoso

ES C3 Uma boa ideia em termos de habitação popular.

ES C1 Um programa muito correto, muito bom no geral

ES C2 Um programa essencial, de natureza social com

conseqüências econômicas

PD D14 Compreende os seguintes subprogramas: Programa

Nacional de Habitação Urbana; Programa Nacional de

Habitação Rural. No PNHU, implantará

empreendimentos em terrenos urbanos, adequados

ambientalmente, com infraestrutura básica,

compromisso do poder público local para instalação de

equipamentos relacionados à educação, saúde, lazer e

transporte.

PD D47 O Minha Casa Minha Vida é um programa de governo

que tem transformado o sonho da casa própria em

realidade para muitas famílias brasileiras. Em geral, o

Programa acontece em parceria com estados,

municípios, empresas e entidades sem fins lucrativos.

PD D48 Iniciativa criada pelo Governo Federal com o objetivo

de diminuir o déficit habitacional, mediante a

construção de 2 milhões de novas moradias populares

até 2015 na zona urbana, com recursos do FGTS e taxa

diferenciada.

Questão do protocolo 4 - Quais são os objetivos do PMCMV?

Instrumento

de coleta

Fonte de

Evidência

Observações

ES T1 Reduzir déficit habitacional nas classes mais baixas.

Desenvolvimento econômico, crescimento do PIB.

Emprego, renda e habitação

ES O1 Reduzir déficit habitacional; alcance social do Faixa I.

Suprir um hiato

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ES O2 Levar moradia e reduzir o déficit habitacional. Para a

instituição, objetivos comerciais e compromisso com a

sociedade

ES C4 Reduzir o déficit habitacional, estimular a economia

através da construção civil, urbanização dos municípios

ES C2 Condições de tirar as pessoas da pobreza; progresso

social; preocupações sociais.

ES E2 Responder à crise econômica; reduzir o déficit

habitacional

ES E3 Geração de emprego/renda, movimentar a economia e

produzir moradias. Objetiva que as pessoas subam

1,2,3 degraus em qualidade de vida

ES E1 Responder à crise econômica – foco em emprego

(construção civil); redução do déficit habitacional na

baixa renda

ES C3 Dar a casa a quem precisa, atingir o público-alvo

ES C1 O objetivo da construtora é ganhar dinheiro. Do

Programa, mover a economia

ES C2 Dar às famílias condições de sair da situação de

pobreza

PD D14 Promover a produção,aquisição, requalificação e

reforma de 2 milhões de unidades habitacionais, entre

1/10/2010 a 31/12/2014, sendo no mínimo 220 mil

para empreendimentos do FAR. (art. 82-B)

PD D14 Criar mecanismos de incentivo à produção e aquisição

de novas unidades habitacionais para famílias com

renda de até R$ 4.650,00 (depois atualizado para

5.400,00).

Questão do protocolo 5 – Que resultados são esperados com o PMCMV?

Instrumento

de coleta

Fonte de

Evidência

Observações

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ES T1 3,7 milhões de novas moradias, incluindo zona rural

ES O1 Moradias, geração de emprego, melhoria na qualidade

de vida, melhoria da economia local, agregar negócios

para a Instituição Financeira

ES C2 Melhorar situação das crianças; redução da

criminalidade; qualidade de vida; dignidade; injeção de

recursos financeiros no mercado; condições para a

pessoa conseguir um emprego, desenvolver habilidade

das pessoas conviverem socialmente; emprego e

renda. Mais palpável: redução do déficit habitacional

ES E1 Incremento da oferta para suprir demanda por

habitação sem “desmerecer” o déficit

ES E3 Crescimento da economia e redução do déficit

habitacional

ES C4 Tirar famílias de áreas de preservação ambiental e

invadidas (efeito ambiental); efeito urbano

paisagístico; melhoria da infraestrutura do município;

redução do déficit habitacional

PD D22 Promoção da melhoria da qualidade de vida; provisão

habitacional (com sustentabilidade social, econômica e

ambiental); criação de novos postos de trabalho;

atendimento às diretrizes do Programa Brasileiro de

Qualidade e Produtividade do Habitat (materiais de

construção em conformidade com as normas técnicas);

PD D22 Contratação de 860 mil unidades habitacionais até

31/12/2014, com recursos do FAR, distribuídas por U.F.

de acordo com estimativa de déficit habitacional.

PD D33 Meta do PMCMV: 3,75 milhões de unidades até

31/12/2014.

Questão do protocolo 6 – Qual é a legislação que define e regulamenta o

PMCMV?

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Instrumento

de coleta

Fonte de

Evidência

Observações

PD Diversas Lei 11.977/09; Portaria Interministerial 395/11;

Portaria Ministério da Fazenda 561/11; Portaria

Ministério das Cidades 595/13; Portaria

Interministerial 409/11; Portaria Ministério das

Cidades 168/13; Portaria Ministério das Cidades

363/13; Resolução Conselho Curador FGTS 702/12; Lei

12.868/13; Decreto 7.499/11

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APÊNDICE D – Relação de documentos analisados

1. Decreto 6.473/2008. Estatuto da Caixa Econômica Federal. Adobe Acrobat.

2. Decreto 7.973/2013. Estatuto da Caixa Econômica Federal. Adobe Acrobat.

3. Demonstração do Resultado Caixa Econômica Federal, 2013. Adobe Acrobat.

4. Demonstração do Resultado Caixa Econômica Federal, 2012. Adobe Acrobat.

5. Demonstração do Resultado Caixa Econômica Federal, 2011. Adobe Acrobat.

6. Decreto-Lei 759/1969. Autoriza o Poder Executivo a constituir a empresa pública Caixa Econômica Federal e dá outras providências. Adobe Acrobat.

7. Diário Oficial da União, 17/07/2013, seção 1, p. 91. 8. Balanço Minha Casa Minha Vida, 30/06/2014. 9. Balanço PAC 2. 9º Balanço – 2011/2014. Adobe Acrobat. 10. Demanda Habitacional no Brasil. Caixa Econômica Federal, 2012. 11. Cartilha Programa Minha Casa Minha Vida. Adobe Acrobat. 12. Empreendimentos Contratados FAR – analítico. Posição 24/07/2014. 13. Contratações Programa Minha Casa Minha Vida – total por instituição em

valores e unidades habitacionais. 14. Lei 11.977/2009. Dispõe sobre o Programa Minha Casa Minha Vida.

Microsoft Word. 15. Lei 12.868/2013. dispõe sobre o financiamento de bens de consumo

duráveis a beneficiários do Programa Minha Casa, Minha Vida. Microsoft Word.

16. Medida provisória 459/2009. Dispõe sobre o Programa Minha Casa Minha Vida, depois convertida na lei 11.977/2009. Microsoft Word.

17. Extrato Termo de Adesão dos Municípios até 07/04/2014. Ministério das Cidades. Adobe Acrobat.

18. Nota Técnica IPEA. Estimativas do déficit habitacional brasileiro (2007-2011) por municípios (2010). Maio de 2013. Adobe Acrobat.

19. Portaria Interministerial 395/2011. Dispõe sobre o Programa Nacional de Habitação Rural, integrante do Programa Minha Casa Minha Vida. Adobe Acrobat.

20. Portaria 561/2011, Ministério da Fazenda. Define a remuneração da CEF pelas atividades exercidas no PNHU, subprograma do Programa Minha Casa Minha Vida. Adobe Acrobat.

21. Portaria Interministerial 409/2011. Dispõe sobre as operações de crédito com recursos do FGTS contratadas no âmbito do PNHU, integrante do Programa Minha Casa Minha Vida. Adobe Acrobat.

22. Portaria 168, Ministério das Cidades. Dispõe sobre as diretrizes Gerais para aquisição e alienação de imóveis com recursos do FAR, no âmbito do Programa Minha Casa Minha Vida. Adobe Acrobat.

23. Portaria 363/2013, Ministério das Cidades. Dispõe sobre as diretrizes gerais para aquisição e alienação de imóveis com recursos do FAR, no

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âmbito do Programa Minha Casa Minha Vida em municípios com população inferior a 50.000 habitantes. Adobe Acrobat.

24. Resolução 702/2012, Conselho Curador do FGTS. 25. O Cenário Macroeconômico do País e o Mercado Imobiliário.

Apresentação CAIXA / SINDUSCON PARANÁ. Apresentação Powerpoint.

26. De Olho na Qualidade. Minha Casa Minha Vida, Momento Atual – Ciclo de Qualidade. Adobe Acrobat.

27. Programa De Olho na Qualidade do Minha Casa Minha Vida recebeu mais de 200 mil ligações em um ano. Notícia disponível em http://www20.caixa.gov.br/Paginas/Noticias/Noticia/Default.aspx?newsID=523

28. Decreto 7.499/2011. Regulamenta o Programa Minha Casa Minha Vida. Microsoft Word.

29. PMCMV Especificações Mínimas – Apartamento/Casa sobreposta/sobrado, de acordo com item 7.1 do anexo I da Portaria 168/2013. Adobe Acrobat.

30. PMCMV Especificações Mínimas – Casa de acordo com item 7.1 do anexo I da Portaria 168/2013. Adobe Acrobat.

31. Instrução Normativa RFB 1435/2013. Condições tributárias especiais do Programa Minha Casa Minha Vida. Adobe Acrobat.

32. Portaria Ministério das Cidades 595/2013. Dispõe sobre o processo de seleção dos beneficiários do Programa Minha Casa Minha Vida. Adobe Acrobat.

33. Coletiva: Casa Própria, Capital Imobiliário e Qualidade da Moradia. Entrevista IPEA – Marcelo Néri e Agnaldo Ribeiro. Vídeo em arquivo MP4 e também disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=20597&catid=22&Itemid=2

34. Casa Própria: capital residencial & qualidade de vida. Marcelo Néri. Apresentação. Adobe Acrobat.

35. Casa Própria: capital residencial & qualidade de vida. Sumário Executivo. Marcelo Néri. Apresentação. Adobe Acrobat.

36. Pesquisa com beneficiários do Programa Minha Casa Minha Vida. Ministério das Cidades. IPEA. 2013. Adobe Acrobat.

37. Programa Minha Casa Minha Vida Avanços Socioeconômicos. Ministério das Cidades. Secretaria de Assuntos Estratégicos. 2013. Adobe Acrobat.

38. Unidades habitacionais contratadas, entregues e valores. Base de dados: 26/06/2014. Planilha Excel.

39. Ministério das Cidades. Unidades habitacionais contratadas por instituição, por Faixa, incluindo valor de subsídio e concessão FGTS. Base de dados: 30/06/2014. Planilha Excel.

40. Evolução mensal subsídio FGTS – 2013 a 2014. Microsoft Word. 41. Dados diversos: quantidade e valores de unidades habitacionais

contratadas e entregues; perfil do mutuário; contratos em fase de amortização; comparativo 2008 e 2014 de volume de créditos concedidos. Microsoft Word.

42. Instituições Financeiras em funcionamento. Banco Central, agosto 2014. Microsoft Excel.

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43. Concentração, concorrência e rentabilidade no setor bancário brasileiro. Tendências Consultoria, 2010. Adobre Acrobat.

44. Foto Residencial Copacabana. 45. Foto Residencial Vila das Roseiras – Divinópolis MG. Jornal G37. 46. Nota Técnica IPEA 2007-2012. Ipea, novembro 2013. Adobe Acrobat. 47. Minha Casa Minha Vida - Site de Internet:

http://www.caixa.gov.br/novo_habitacao/minha-casa-minha-vida/index.asp

48. Cartilha Minha Casa Minha Vida. Banco do Brasil, 2012. Adobe Acrobat. 49. Simulação Tabela SAC. Planilha do Microsoft Excel. 50. Missão e Valores:

http://www14.caixa.gov.br/portal/acaixa/home/a_vida_pede_mais_que_um_banco/missao_visao_valores

51. Site de internet: http://www14.caixa.gov.br/portal/acaixa/home/a_vida_pede_mais_que_um_banco/

missao_visao_valores Consultado em 21/09/2014 52. Site de internet: https://minhacasamelhor.com.br. Consultado em

28/09/2014 53. Email: agendamento das entrevistas com executivos da FINANX.

Recebido em 14/07/2014. 54. Email: agendamento de entrevista com o Ministério das Cidades.

Recebido em 17/07/2014. 55. Email: autorização para a pesquisa, pela FINANX. Recebido em

16/06/2014. 56. Email: cancelamento de autorização para a pesquisa, pela FINANX.

Recebido em 16/07/2014. 57. Email: calendário com remarcação das entrevistas com executivos da

FINANX. Recebido em 17/07/2014. 58. Email: primeira marcação das entrevistas com executivos da FINANX.

Recebido em 15/07/2014. 59. Medida Provisória 459/2009, versão original. Documento Microsoft Word.

Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/medpro/2009/medidaprovisoria-459-25-marco-2009-587252-publicacaooriginal-110936-pe.html. Acessado em 23/10/2014.

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ANEXO A – Modelo Canvas

Fonte: adaptado de Osterwalder (2010 ), p. 44