Inovação é um eterno desafio

Você já pensou seriamente em inovação na sua empresa? Já tentou definir metas permanentes nesta área, medir o potencial e conseqüências de suas ações em inovação - ou da falta delas? Não vá dizer que acha difícil, que isto é teoria ou só para as grandes empresas. "Inovação não é obra de super-heróis", esclarece Moysés Simantob, professor de inovação e sustentabilidade do Departamento de Operações da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas/SP, na qual também coordena o Fórum de Inovação. Mas exige consciência e persistência coletivas, além de envolvimento constante de todos na revisão e compreensão do que de fato são as competências essenciais da empresa. "Para inovar estrategicamente temos que abrir as entranhas da organização e expô-Ias à luz do dia", aponta.

A inovação estratégica, que é a inovação no conceito de negócios, depura Simantob, é a mãe de todas as inovações - seja em produto, processo, ou tecnologia. Ela é uma ação coordenada e coletiva, compartilhada pelo todo da empresa, cotidianamente, e que passa, também, pela identificação de como aplicar as competências da companhia de modo a inovar. O resultado, enfatiza, é a "inovação sustentável".

No campo mais tangível da inovação, a experiência da São Paulo Alpargatas - 10 mil funcionários nas oito unidades de produção (localizadas em Manaus/AM, Natal/RN, Santa Rita e Campina GrandelPB, Mogi Mirim/SP, Pouso AlegrelMG e duas em VeranópolislRS) - mostra que a convergência de interesses do todo para o foco na inovação traz resultados consideráveis. Fábio Muniz, gerente de RH da empresa no estado gaúcho e coordenador corporativo do projeto Ciranda de Idéias, implantado desde 2000, revela que o valor acumulado de economia líquida gerado pela ação é estimado em aproximadamente R$ 9,8 milhões, até o ano passado. "Envolver as pessoas é uma das melhores maneiras de gerar melhorias no processo de produção em geral", assinala. Em 2005, o Ciranda atingiu seu recorde anual: foram 5.118 idéias ao longo do ano, e as que foram implantadas geraram economia líquida de R$ 2,2 milhões.

o processo é simples: qualquer colaborador dá sua idéia, que é avaliada como mensurável (com resultado financeiro) ou não mensurável. Se ela for implantada, o autor recebe um prêmio em dinheiro (um percentual da economia líquida anual gerada com o projeto, até R$ 15 mil). "Pras inovações cujos resultados não são mensuráveis existe uma tabela de pontuação. Se trazer melhora de segurança, ou limpeza, por exemplo, o autor também recebe um valor em dinheiro. O prêmio mínimo é de R$ 15 por idéia implantada", explica Muniz. Até 2005, entre prêmios e investimentos na implantação das idéias, a empresa aplicou R$ 600 mil.

"O projeto é muito dinâmico e ele mesmo vai se inovando", esclarece Muniz. Hoje, o Ciranda da Alpargatas é todo informatizado, e as pessoas podem acompanhar, através de terminais instalados na administração e produção, o processo das suas idéias - onde estão, quem as está analisando e, inclusive, cada um pode tirar o extrato das idéias que já apresentou. "Estamos discutindo o conceito de gestão em inovação e especificamente deste programa, para ampliarmos os resultados. Ele é muito importante, porque favorece o clima organizacional na empresa e motiva muito as pessoas, que são ouvidas, têm retorno e são premiadas pelo engajamento."

Até agora, as maiores melhorias em função do Ciranda ocorreram na produção, gerando qualidade, produtividade e maior segurança, conta Muniz. O projeto tem até um slogan:

"Toda idéia pode ser melhorada e toda idéia é bem-vinda." Afinal, o máximo que pode acontecer é ela ser reprovada e isto faz parte do processo, porque se você estimula as pessoas a darem idéias elas virão em volume considerável e, então, é natural muitas não serem aprovadas. "Nosso índice de aproveitamento fica em torno de 20% das sugestões."

Ter foco em aprendizado contínuo é meio caminho andado, indica Simantob. "Promover e alavancar competências e recursos do cliente (customers as innovators) também estimula a encontrar respostas fora da empresa e não só dentro dela", acrescenta. A cultura inovadora é fruto, entre outros elementos, de se possuir uma visão de inovação como capacidade - inovação como uma prática contínua.

A abordagem é estratégica. Permeia gestão, principais processos e, sobretudo, assegura um ambiente de intensa colaboração, motivação e troca entre as pessoas. "Estudos do Fórum (de Inovação) têm mostrado que empresas que oferecem boas condições de trabalho, aliado a pessoas que têm um longo período de casa podem obter melhores resultados em inovações. Não há segredo: maior confiança nos colegas gera maior liberdade no pensar e agir, que por sua vez, aguça (sem medos) a tomada de risco", raciocina Simantob.

Veículo: Jornal Exclusivo Fórum da Inovação Assintecal By Brasil

Data: 16/01/2006