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XXVII Encontro Nacional da ANPEC – Belém, dez/1999 INOVAÇÃO E MEIO AMBIENTE NO ENFOQUE EVOLUCIONISTA: O CASO DAS EMPRESA PAULISTAS 1 M a CECÍLIA J. LUSTOSA 2 RESUMO O presente trabalho tem como objetivo verificar o comportamento das empresas paulistas no que se refere às inovações ambientais. Uma vez que a produção e o consumo de bens econômicos podem levar à degradação ambiental, é importante analisar o comportamento dos agentes econômicos, especialmente da firma, por ser produtora de bens que provocam, em diferentes graus, danos ambientais e por ser consumidora de recursos naturais e energia. Tal como a análise do processo inovativo, o meio ambiente pode ser estudado numa ótica evolucionista, que comporta no centro de sua análise uma visão dinâmica do processo de inovação. São abordadas questões sobre a relação entre tecnologia e meio ambiente, bem como os fatores essenciais para o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientais nos diversos setores da economia. Utilizando os dados da Pesquisa da Atividade Econômica Paulista, foram exemplificadas algumas das hipóteses teóricas acerca desse relacionamento para o caso paulista. Os principais resultados obtidos são: (i) as empresas de inserção internacional são as que mais consideram?o meio ambiente como uma oportunidade de negócios e, independentemente da origem do capital controlador, as empresas não consideram que há perda de mercados pelos efeitos ambientais de sua atividade; (ii) as firmas que modificaram seus processos produtivos por questões ambientais são as que mais investem em P&D; (iii) a estratégia de preservação do meio ambiente como fator indutor da inovação está mais claramente presente nas empresas que atribuem um grau importante ou superior ao seu departamento interno de P&D. I. INTRODUÇÃO O debate sobre crescimento econômico sempre foi intenso na teoria econômica. Os países menos desenvolvidos buscam alcançar o mesmo padrão econômico (de consumo) dos países desenvolvidos (PD). Entretanto, o alto padrão de consumo desses países, se for estendido para todos os países do planeta, torna- se inviável por alguns motivos, entre eles: o padrão tecnológico vigente, que seria adotado por todos os países, é intensivo em energia e matérias-primas. Existe, portanto, um limite de recursos naturais e fontes de energia à adoção desse mesmo padrão tecnológico por diversos países; não há tecnologia disponível que aproveite 100% dos insumos. Juntamente com a produção surgem os rejeitos industriais e se suas quantidades forem maiores que a capacidade de absorção do meio ambiente, geram a poluição. Essa tem efeitos negativos sobre a saúde humana, sobre a qualidade dos recursos naturais, afetando a harmonia dos ecossistemas; o uso de determinados produtos gerados pela tecnologia vigente têm como conseqüência a geração de poluição. A quantidade de poluição resultante da adoção dos padrões de consumo dos PD por toda a população mundial tornaria o planeta 1 A autora agradece os comentários de Lia Hasenclever. 2 Doutoranda do IE/UFRJ e Professora do Departamento de Economia da UFAL. E-mail: [email protected] 1

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XXVII Encontro Nacional da ANPEC – Belém, dez/1999

INOVAÇÃO E MEIO AMBIENTE NO ENFOQUE EVOLUCIONISTA: O CASO DAS EMPRESA PAULISTAS1

Ma CECÍLIA J. LUSTOSA2

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo verificar o comportamento das empresaspaulistas no que se refere às inovações ambientais. Uma vez que a produção e o consumode bens econômicos podem levar à degradação ambiental, é importante analisar ocomportamento dos agentes econômicos, especialmente da firma, por ser produtora debens que provocam, em diferentes graus, danos ambientais e por ser consumidora derecursos naturais e energia. Tal como a análise do processo inovativo, o meio ambientepode ser estudado numa ótica evolucionista, que comporta no centro de sua análise umavisão dinâmica do processo de inovação. São abordadas questões sobre a relação entretecnologia e meio ambiente, bem como os fatores essenciais para o desenvolvimento edifusão de tecnologias ambientais nos diversos setores da economia. Utilizando os dadosda Pesquisa da Atividade Econômica Paulista, foram exemplificadas algumas dashipóteses teóricas acerca desse relacionamento para o caso paulista. Os principaisresultados obtidos são: (i) as empresas de inserção internacional são as que maisconsideram?o meio ambiente como uma oportunidade de negócios e,independentemente da origem do capital controlador, as empresas não consideram quehá perda de mercados pelos efeitos ambientais de sua atividade; (ii) as firmas quemodificaram seus processos produtivos por questões ambientais são as que maisinvestem em P&D; (iii) a estratégia de preservação do meio ambiente como fator indutorda inovação está mais claramente presente nas empresas que atribuem um grauimportante ou superior ao seu departamento interno de P&D.

I. INTRODUÇÃO

O debate sobre crescimento econômico sempre foi intenso na teoria econômica. Ospaíses menos desenvolvidos buscam alcançar o mesmo padrão econômico (de consumo)dos países desenvolvidos (PD). Entretanto, o alto padrão de consumo desses países, sefor estendido para todos os países do planeta, torna- se inviável por alguns motivos, entreeles: • o padrão tecnológico vigente, que seria adotado por todos os países, é intensivo em

energia e matérias- primas. Existe, portanto, um limite de recursos naturais e fontesde energia à adoção desse mesmo padrão tecnológico por diversos países;

• não há tecnologia disponível que aproveite 100% dos insumos. Juntamente com aprodução surgem os rejeitos industriais e se suas quantidades forem maiores que acapacidade de absorção do meio ambiente, geram a poluição. Essa tem efeitosnegativos sobre a saúde humana, sobre a qualidade dos recursos naturais, afetando aharmonia dos ecossistemas;

• o uso de determinados produtos gerados pela tecnologia vigente têm comoconseqüência a geração de poluição. A quantidade de poluição resultante da adoçãodos padrões de consumo dos PD por toda a população mundial tornaria o planeta

1 A autora agradece os comentários de Lia Hasenclever.2 Doutoranda do IE/UFRJ e Professora do Departamento de Economia da UFAL. E-mail:[email protected]

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sem condições de ser habitado, dado o surgimento de problemas ambientais globais elocais 3.

Ass?m, há um limite ambiental para o desenvolvimento econômico na atual trajetóriatecnológica, tanto no que tange à disponibilidade de recursos naturais quanto àsaturação do ecossistema planetário. Além do mais, é importante enfatizar a questão dairreversibilidade dos danos ambientais. Ou seja, uma floresta destruída leva décadas parase recompor; um dos principais gases responsáveis pelo aquecimento global, o dióxidode carbono (CO2), leva em torno de 100 anos para se dissipar na atmosfera; os solos, semmanejo adequado, ficam totalmente irrecuperáveis e tornam- se desertos, ou seja, osrecursos naturais não- renováveis têm seus dias contados com a exploração irracional emesmo os renováveis podem extinguir- se, se sua velocidade de exploração for superior asua capacidade de reprodução, como os recursos pesqueiros. Adicione- se a tais fatos osaltos custos de reversão dos danos ambientais, sejam eles relacionados aos gastosgovernamentais ou privados, relativos à saúde humana ou à despoluição4.

Esse debate sobre crescimento econômico e meio ambiente teve início no final dos anos60 e a discussão era se deveria ou não se desacelerar o ritmo de crescimento econômicoem função da crescente degradação ambiental. A tecnologia era considerada estática equanto mais acelerado o ritmo do crescimento econômico, mais rápida seria adeterioração do planeta. Nos anos 70, a tecnologia continuava sendo a responsável peladegradação do meio ambiente, mas políticas ambientais foram implementadas nosentido de difundir as soluções do tipo end- of-pipe 5. Somente nos anos 80 é que se podeperceber o potencial da tecnologia para solucionar os problemas ambientais.

A questão deixou de ser crescer ou não, para ser como crescer. Por um lado, havia oreconhecimento de que a tecnologia gerou impactos sem precedentes sobre o meioambiente, mas, por outro lado, a mudança tecnológica passou a ser a chave parasolucionar os problemas ambientais. Atualmente, a discussão relevante passa a ser comogerar e difundir o conhecimento tecnológico, flexibilizar as regulamentações e aumentaro conhecimento e a capacidade de aprendizagem sobre os impactos ambientais datecnologia, de forma a preveni- los.

Alvo de regulamentações ambientais crescentes, o setor industrial é um dos que maisprovoca danos ambientais, seja por seus processos produtivos ou pela fabricação deprodutos poluentes e/ou que tenham problemas de disposição final após sua utilização.Nesse contexto, a indústria é alvo de preocupações ambientais e também incorre emgastos financeiros pela maior regulamentação ambiental, como multas e tratamentoscompulsórios de resíduos. A preservação ambiental é vista, por muitos empresários eeconomistas, como um custo para a indústria, afetando sua competitividade e a de seupaís inclusive.

3 São exemplos de problemas ambientais globais o aquecimento global (efeito estufa) e a destruição dacamada de ozônio. Os problemas ambientais locais são, entre outros, a poluição de recursos hídricos e adegradação dos solos.4 No caso brasileiro, estudos Motta e Mendes (1995a e 1995b) estimam gastos com saúde associados aosefeitos da poluição hídrica e atmosférica; o programa de despoluição da Baía de Guanabara já consumiumilhões de dólares e ainda não foi concluído. Esses são alguns exemplos do alto custo incorridos ao tentarreverter os efeitos da poluição.5 Na seção III encontra- se a definição de tecnologias end- of-pipe.

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Entretanto, apesar desses problemas serem de caráter mais macro, a raiz do problemaestá numa esfera micro. São as firmas e/ou setores industriais os responsáveis pelapoluição, advinda do processo de produção ou do produto que geram, devido àstecnologias 6 adotadas. Assim, a capacidade das firmas de adotarem e gerarem inovaçõestecnológicas ambientais (environment- friendly technologies) é determinante para que setenha processos produtivos e produtos menos agressivos ao meio ambiente.

Por outro lado, a capacidade de inovação das firmas depende de fatores internos eexternos a elas. Entre os primeiros, estão suas competências específicas para resolverproblemas, a capacidade de absorção da firma e o acesso às inovações desenvolvidas porterceiros. Pode ser que mudanças nas estratégias, rotinas e expectativas empresariais dafirma sejam necessárias para que ela se torne inovadora. Dentre os fatores externos estãomedidas de caráter regulatório, ou seja, políticas que estimulem as firmas à inovação, oparadigma tecnológico vigente, o Sistema de Inovação Nacional (SIN) e o contextomacroeconômico.

No caso brasileiro, a preservação ambiental tem sido alvo de preocupações crescentes.As empresas têm sofrido pressões dos órgãos reguladores, da sociedade e dasorganizações não- governamentais no sentido de melhorarem sua performanceambiental. Algumas já incorporaram a gestão ambiental na gestão empresarial, atravésda adoção de certificação ambiental voluntária de acordo com a normas ISO 14000.Entretanto, as empresas de inserção internacional, ou seja, as exportadoras, as quepossuem participação acionária de estrangeiros, as que dependem de financiamentoexterno e as filiais de empresas transnacionais (ET), sofrem também pressõesinternacionais em relação ao seu comportamento ambiental e algumas delas se deparamcom barreiras “verdes” ao comércio internacional.

Entretanto, há uma distância entre as pressões exercidas e a maneira pela qual asempresas vêem e agem em relação às questões ambientais. Um estudo empírico sobre ocomportamento ambiental das empresas brasileiras ajudaria a elucidar essa questão. AFundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), através da Pesquisa daAtividade Econômica Paulista (PAEP), construiu uma base de dados sobre a indústriapaulista que contém informações sobre o comportamento ambiental das empresas. Apartir dos dados da PAEP, serão verificadas algumas hipóteses sobre o comportamentoambiental ?as empresas paulistas. Dado que o Estado de São Paulo é responsável pelamaior parte da atividade industrial brasileira, as conclusões sobre o comportamento dasempresas paulistas pode dar uma primeira aproximação sobre a atuação ambiental dasempresas brasileiras.

O presente trabalho está dividido em quatro partes. A primeira (seção II) faz umaabordagem teórica sobre inovação num enfoque evolucionista, abordando os principaisfatores que influenciam na capacitação das firmas para se tornarem inovadoras. A seçãoseguinte trata das especificidades das inovações ambientais, procurando destacar, aindaque hipoteticamente, as razões pelas quais umas firmas adotam inovações ambientais eoutras não. A terceira parte (seção IV) analisa a relação meio ambiente e inovação para asfirmas paulistas, procurando verificar algumas das hipóteses levantadas na seção

6 Por tecnologia entende- se não somente a técnica de produção, mas também a organização do processoprodutivo, a disposição final de resíduos, entre outros.

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anterior, utilizando dados da PAEP. Finalmente, a seção V traça algumas conclusõessobre o trabalho.

II. A INOVAÇÃO NO ENFOQUE EVOLUCIONISTAA análise da mudança tecnológica e da inovação deve ser feita numa perspectivadinâmica. Uma determinada tecnologia, a partir de um certo momento, não mais satisfazplenamente seu usuário. Surgem problemas e esses são solucionados com inovações.Entretanto, quando se introduz uma inovação não se sabe exatamente seus resultados e,muitas vezes, inovações incrementais são necessárias para adaptá- la a novas situações,revelando o caráter incerto do processo inovativo. Portanto, essa constante mutação aolongo do tempo não pode ser analisada sob um ponto de vista estático. O passado podeser analisado historicamente; o momento atual e as perspectivas futuras num enfoqueevolu ionista 7.

Para os economistas evolucionistas, o conhecimento tecnológico pode ser codificado outácito. No primeiro caso, o conhecimento pode ser transmitido através de manuais ou dedescrição de procedimentos de como empregar determinada tecnologia. Oconhecimento tácito, diferentemente, só é adquirido pelo uso de uma dada tecnologia,ele é fruto de experiências pessoais e, por isso, é difícil de ser transmitido e codificado.Em relação às tecnologias, elas podem ser universais - quando o conhecimento édifundido e são princípios gerais de ampla aplicação - ou específicas - no caso em queresulta de procedimentos específicos desenvolvidos através da experiência. Outradistinção importante se faz entre tecnologias públicas, de livre acesso a todos, e asprivadas, vindas de conhecimento tácito ou protegidas por patentes e segredosindustriais.

Para os evolucionistas, as firmas não podem ser tratadas como se tivessem os mesmosobjetivos, pois elas são diferentes entre si e tais diferenças são fundamentais paraentendê- las. Cada firma possui rotinas, estratégias e competências específicas que irãodeterminar sua capacidade de sobrevivência no ambiente em que estão inseridas. Acapacidade de sobrevivência da firma está diretamente relacionada com a maneira pelaqual ela percebe e soluciona problemas. As inovações são respostas para os problemascom os quais a firma se depara.

Segundo Hall (1994), o processo de inovação corresponde a todas as atividades quegeram mudanças tecnológicas e a interação dinâmica entre elas, sendo que nãonecessariamente precisam ser novidades. Ao inovar, a firma está buscando solução paraum determinado problema, que é resolvido dentro de um paradigma tec ológico 8, isto é,dentro de determinados padrões de soluções amplamente aceitos baseados nosprincípios das ciências naturais. Assim, uma vez estabelecido o paradigma tecnológico,as inovações tornam- se seletivas na capacidade de solucionar problemas, ao mesmotempo que encobrem outras soluções que estariam fora do paradigma tecnológico.Entretanto, quando as dificuldades para achar soluções tornam- se crescentes, ?á um forteincentivo para a mudança de paradigma tecnológico, mas essa não é uma condição

Os principais autores desta escola são: Giovanni Dosi, Christopher Freeman, Richard Nelson, SidneyWinter, entre outros. Paradigma tecnológico é um conceito desenvolvido do G. Dosi, baseado na noção de paradigma de T. Kuhn(Hall, 1994 e López, 1996).

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suficiente, visto que para estabelecer um novo paradigma é necessário que ocorramavanços no conhecimento básico, além de outros fatores institucionais e de mercado.

Dentro do paradigma tecnológico vigente, é selecionada uma determinada tecnologia.Segundo B. Arthur, citado por López, 1996, a tecnologia não é eleita por ser a maiseficiente, mas torna- se mais eficiente por que foi eleita, isto é, as tecnologias tornam- semais atrativas quanto mais são utilizadas. Assim, a tecnologia é path- dependent , ou seja,ela será resultado de trajetórias previamente definidas. Isso gera um efeito de lock- in ,fazendo com que as firmas fiquem presas à tecnologia mais difundida e ao paradigmatecnológico vigente. Esses eventos terão grandes efeitos sobre a capacidade da firma emachar soluções para problemas específicos, ou seja, sobre a capacidade de inovar dafirma.

Esse raciocínio leva à seguinte questão: o que capacita as firmas para gerarem eadotarem inovações? Há uma série de fatores que irão influenciar na capacitação dasfirmas a se tornarem inovadoras. Em linhas gerais, pode- se agrupá- los em fatoresinternos e externos às firmas. Dentre os fatores internos, pode- se destacar: ascompetências específicas para resolução de problemas, a capacidade de absorção dafirma e o acesso às inovações desenvolvidas por terceiros. Dentre os fatores externosestão: o paradigma tecnológico vigente e o SIN.

As competências específicas da firma para resolução de problemas, o primeiro dosfatores internos, são acumuladas ao longo do tempo. Ou seja, são habilidades econhecimentos que a firma possui, que foram adquiridos com o tempo, que determinamsua capacidade de absorver ou criar conhecimento. Essas habilidades e conhecimentosespecíficos dependem dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), doconhecimento individual dos funcionários, do tamanho e da natureza da empresa(pública, privada, ET, etc.), do setor de atividade e do grau de especialização.

O segundo fator interno está diretamente relacionado com o primeiro. A capacidade deabsorção, segundo Cohen & Levinthal (1990), é definida como as habilidades dereconhecer o valor da nova informação, assimilá- la e aplicá- la para fins comerciais, sendocrucial para capacitar a firma a inovar. Entretanto, essa habilidade para avaliar e utilizaro conhecimento externo é função do nível de conhecimento anterior, ou seja, na medidaem que o conhecimento externo e a firma possuam padrões básicos e linguagem comuns,fica mais fácil utilizar a informação de forma produtiva. Assim, a capacidade de absorçãoé co-produto do P&D e dos conhecimentos tácitos adquiridos na produção. Nessesentido, o treinamento em pessoal significa investimento na capacidade de absorção enas atividades de P&D, mesmo que não gere resultados imediatos, está contribuindodecisivamente para aumentar a capacidade de absorção da firma. Entretanto, oinvestimento para desenvolver a capacidade de absorção é alto e pode ser consideradoum s nk- cost9.

O acesso às inovações desenvolvidas por terceiros não é livre e, em geral, possui altoscustos. Seja por falta de informação da firma que quer adotar a inovação, por estratégiaconcorrencial do inovador em não difundir sua inovação, por proteção de patentese?segredo industrial ou pelos custos de manutenção da capacidade de absorção, as

Sunk- cost são que não podem ser recuperados caso a firma deixe o mercado. Em geral, representam ativosespecíficos da firma (Schmalensee, 1990).

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inovações não estão disponíveis como produtos na prateleira de um supermercado. Issosignifica que há um custo de acesso e que ele pode ser alto. Logo, para muitas firmastorna- se difícil inovar, seja pelo alto custo de desenvolvimento interno (P&D) ou deaquisição de tecnologias de terceiros. Concluindo, a capacidade de inovação da firmaencontra duas limitações: é path- dependent e dependente das capacidades endógenasacumuladas no campo tecno- produtivo.

O primeiro dos fatores externos, o paradigma tecnológico vigente, como explicadoanteriormente, delimita a capacidade da firma de inovar, pois define o padrão científicono qual as inovações devem ficar circunscritas. Nesse sentido, a mudança no paradigmatecnológico pode fazer com que a firma se torne mais ou menos inovadora, a dependerdos fatores internos à firma que influenciam na sua capacidade de inovar.

O SIN, o segundo fator externo, vai influenciar na capacidade das firmas gerarem eadotarem inovações, pois constitui- se num sistema organizacional que visa desenvolver aciência e tecnologia dentro dos limites da nação. É um arranjo institucional complexoque envolve os laboratórios de P&D das firmas, os institutos de pesquisa e universidades,as instituições de financiamento, as instituições educacionais, as instituições legais(patentes, leis de regulação da concorrência, entre outros), os mecanismos de seleção (omercado e outras instituições reguladoras) e a relação com outros países. O SIN deve serconsiderado em suas três dimensões: as instituições; a interação entre elas, formandouma rede; e a capacidade de aprendizado. Assim, um SIN eficaz induz as firmas a sereminovadoras.

Mesmo que as firmas estejam capacitadas para serem inovadoras, há outros fatores quesão determinantes para gerarem e adotarem inovações. Ou seja, uma vez capacitadas,falta explicar porque umas firmas tenderiam mais a inovar do que outras. O contextomacroeconômico é um fator qu? interfere nesse processo, pois explicita o contextoeconômico no qual a firma está inserida. As firmas têm dificuldades para tomar decisõesem condições de grande incerteza, geradas por um cenário de instabilidademacroeconômica. Nesse contexto, há uma certa paralisia das firmas para inovar.Reversamente, a estabilidade macroeconômica cria confiança nos agentes econômicos,que tenderão a consumir e investir mais. Logo, quanto mais estável a situaçãomacroeconômica, mais segurança as firmas têm para inovar.

As medidas de caráter regulatório seriam outro fator, visto que podem induzir as firmas aadotarem inovações. Alguns setores necessitam de maiores regulamentações em funçãodo tipo de atividade que desenvolvem. Por exemplo, as empresas cujas atividadescausam impactos no meio ambiente, estão sujeitas ao cumprimento de regulamentações,que podem ser indutoras de inovações, a depender dos objetivos e instrumentos depolítica ambiental. Finalmente, o grau de competição do mercado no qual a firma estáinserida é um dos fatores que mais influencia na sua decisão de gerar e adotar inovações.Para os evolucionistas, a concorrência é o motor da inovação, isto é, a inovação éresultante do processo de concorrência capitalista. Assim, em mercados competitivos, ainovação passa a ser fator de diferenciação entre a firma e seus concorrentes, podendoser também a única forma de sobrevivência no mercado. Nessa perspectiva, a firma têmdois destinos: ou inovar ou morrer.

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III. AS INOVAÇÕES AMBIENTAIS

O estudo dos problemas ambientais deve, também, ser feito através de uma perspectivadinâmica. Numa análise histórica, pode- se perceber que os problemas ambientaismudam ao longo do tempo. Como ilustram Kemp e Soete (1990), no final do século XIX,o uso de cavalos como meio de transporte trouxe grandes problemas ambientais para acidade de Londres. Dado que cada cavalo produz em média 16 kg de estrume por dia, ouso intensivo desse meio de transporte causou diversos transtornos à cidade, fazendocom que tivesse cerca de 6 mil varredores de ruas, a fim de limpar a passagem para ospedestres. Apesar de já estarem disponíveis outros meios de transporte, eles não eramadotados em função das regulamentações que limitavam a velocidade em oitomilhas/hora e pela pequena escala de produção. Foi constatado, entretanto, que oscarros emitiam 200 vezes menos resíduos que os cavalos, quando as emissões erammedidas em gramas por milha.

Um século mais tarde, o problema ambiental do passado não mais existe, devido àsubstituição de cavalos por meios de transporte com motores que utilizavamcombustíveis fósseis. Mas, surgiu outro problema: a queima de combustível fóssilprovoca emissões de carbono e, devido à utilização generalizada, a concentração dedióxido de carbono na atmosfera vem aumentando, sendo este um dos principais gasesresponsáveis pelo aquecimento global.

A questão da cumulatividade e da irreversibilidade dos danos ambientais é igualmenterelevante. No primeiro caso, novos problemas vão surgindo à medida em que o meioambiente torna- se mais degradado. A acumulação na atmosfera de dióxido de enxofre,por exemplo, provoca chuva ácida, sendo necessárias inovações para lidar com oproblema. No que tange à irreversibilidade, as inovações são necessárias para recompor omeio ambiente. O desmatamento desordenado faz com que terras antes férteis tornem-se desertos, aniquilando a flora e a fauna locais. Tecnologias de recuperação de solos e dereflorestamento são necessárias para recompor o ecossistema local, entretanto, dadas asespecificidades ambientais, muitas vezes são necessárias inovações incrementais nesseprocesso. Tais inovações, incrementais ou não, podem trazer outros problemasambientais, como no caso da substituição do cavalo como meio de transporte porveículos automotores.

Assim, seja por ação antrópica ou por sua mutação natural, o meio ambiente está emconstante evolução e, tal como a análise do processo inovativo, pode ser estudadocorretamente numa ótica evolucionista. Abre- se, portanto, a possibilidade de analisar asquestões relativas às inovações ambientais à luz da teoria econômica evolucionista, quecomporta, no centro de sua análise, uma visão dinâmica do processo econômico. Umavez que a produção e o consumo de bens econômicos leva à degradação ambiental, éimportante analisar o comportamento dos agentes econômicos, especialmente da firma,por ser produtora de bens que provocam, em diferentes graus, danos ambientais e por serconsumidora de recursos naturais e energia.

A capacidade das firmas adotarem e gerarem inovações ambientais é determinante paraque se tenha melhorias ambientais locais e globais - gerenciando adequadamente osrecursos naturais e controlando a poluição. As melhorias ambientais podem sertraduzidas como menor utilização de recursos naturais e energia por unidade de produto

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- melhoria na produtividade dos insumos -, menor poluição e recuperação deecossistemas degradados, permitindo que se amplie o limite ambiental para odesenvolvimento econômico. Dessa maneira, as inovações ambientais são fundamentaispara harmonizar preservação ambiental com o crescimento econômico e para permitirum maior acesso a padrões de consumo mais elevados por um maior número de pessoas.

As soluções para os problemas de poluição ambiental podem ser do tipo end- of-pipe(EOP) ou pollution prevention (PP). No primeiro caso (EOP), também chamado detratamento de final de linha, as substâncias tóxicas são tratadas antes de serem lançadasno meio ambiente - controle da contaminação - e incluem também as atividade derestauração do ambiente degradado (clean- up) , tornando inofensivas substâncias tóxicasjá presentes no ecossistema. O segundo caso (PP), prevenção da contaminação ou “eco-eficiência”, inclui a adoção?de tecnologias mais limpas, melhoria na eficiência produtivaatravés de gestão inovadora, redução da geração de resíduos e reciclagem de subprodutosdo processo produtivo que eram considerados resíduos (López, 1996). Ou seja, o enfoquePP prevê mudanças nas tecnologias adotadas e nas formas de gestão empresarial,enquanto que o tratamento EOP está baseado em tecnologias já existentes e podem serconsiderados, portanto, como paliativos e não soluções mais definitivas, que reduzamefetivamente a quantidade de emissões e resíduos, como no caso da PP. Assim, define- seinovações ambientais aquelas associadas ao enfoque PP.

Porém, como afirma López (1996), muitas vezes não estão claros os limites entre assoluções EOP e as PP. Um tratamento EOP pode recuperar substâncias que podem serreutilizadas. Além do mais, muitas vezes uma solução eco- eficiente não eliminatotalmente as emissões, necessitando posteriormente de tratamento EOP, demonstrandoque elas podem ser complementares. Entretanto, de acordo com Foray e Grübler (1996),esses dois tipos de soluções podem gerar conflitos nos objetivos de curto prazo e de longoprazo de políticas ambientais. A eco- eficiência (PP) é um objetivo de longo prazo enecessita de suporte de políticas que estimulem o surgimento e a adoção de inovaçõesambientais. As soluções EOP são para controlar as emissões no curto prazo e estão maisao alcance das firmas por serem de mais fácil adaptação à tecnologia utilizada, semnecessitar de mudanças radicais nos processos produtivos e organizacionais das firmas.Assim, políticas ambientais que estimulem a redução da poluição no curto prazo, atravésda adoção de soluções do tipo EOP, podem desincentivar a adoção de inovaçõesambientais que requeiram mudanças mais radicais.

Foray e Grübler (1996) destacam três questões relevantes sobre a relação entre tecnologiae meio ambiente. A primeira refere- se à incerteza, ao desconhecimento e aoconhecimento disperso que são dominantes na geração e distribuição do conhecimentotecnológico, inclusive em relação à questão ambiental. Associadas ao surgimento de umanova tecnologia, existem incertezas quanto às suas propriedades e impactos atuais efuturos. Esses impactos podem estar associados aos usos da tecnologia em si, àsincertezas de sua utilização social e às incertezas quanto à magnitude da difusãotecnológica e seus efeitos ou impactos cumulativos potenciais. Existe, também, odesconhecimento quanto à existência de determinadas tecnologias. O acesso aoconhecimento nem sempre é imediato, pois “there is simply a difference betweenknowledge that may exist somewhere and knowledge that is available in the right form, atthe right time, to the right people” (Foray e Grübler, 1996 : 8). Além do mais, o

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conhecimento sobre o meio ambiente encontra- se disperso. Talvez as novas tecnologiasde informação possam vir a minimizar esses problemas.

A segunda questão refere- se às tensões existentes entre a inércia e estabilidade dastecnologias existentes e os fatores que induzem à mudança tecnológica, incluindo apreservação ambiental como um desses fatores. Como anteriormente mencionado, atecnologia é resultado de uma trajetória previamente definida, gerando um efeito de lock-in . Assim, a geração de novas tecnologias eco- eficientes torna- se um desafio, apesar docritério ambiental ser potencialmente indutor de mudança tecnológica. Surge umaimportante questão: como superar a inércia tecnológica para acelerar a transição nadireção de novas tecnologias e configurações institucionais que internalizem a questãoda preservação ambiental?

A última questão trata dos dilemas de política no que tange as questões ambientais. Osobjetivos ambientais de curto e longo prazo podem não ser compatíveis, como acimamencionado para as soluções EOP e eco- eficientes. As regulamentações ambientais e aspolíticas vigentes podem não ser compatíveis com atitudes inovadoras das firmas. Alémdo mais, surge uma possível incompatibilidade entre a diversidade tecnológica,possivelmente mais adequada às diferentes questões ?mbientais, e a padronização, quereduz custos e gera ganhos de escala. Por fim, existe o dilema entre a necessidade deacelerar a criação e difusão de tecnologias ambientais e a necessidade de minimizar airreversibilidade tecnológica.

Kemp e Soete (1990) argumentam que a criação e a difusão de tecnologias ambientaisdiferem do processo tradicional de mudança tecnológica em geral, que consiste nasucessão de técnicas de produção mais novas e eficientes. Assim, apontam os fatoresessenciais para o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientais nos diversossetores da economia. Tais fatores podem ser separados nos que afetam a oferta enaqueles que afetam a demanda por tecnologias ambientais.

Dentre os primeiros, pode- se destacar as oportunidades tecnológicas, que diferem tantointer quanto intrasetorialmente. Essas oportunidades dependem dos conhecimentoscientíficos e técnicos existentes e dos equipamentos disponíveis, pois dada a diversidadedos problemas ambientais, alguns podem ser facilmente resolvidos com a tecnologiadisponível, enquanto que outros não têm solução imediata e nem no futuro próximo.Outro fator que afeta a oferta de tecnologias ambientais refere- se às condições deapropriabilidade. Por um lado, dado o interesse social na rápida difusão dessastecnologias, provavelmente haverá uma maior regulamentação no sentido de limitar otempo de apropriabilidade. Por outro lado, dada a crescente expectativa em relação aoaumento da quantidade e da rigidez das regulamentações ambientais, o domínio detecnologias mais limpas pode tornar- se um importante fator competitivo para as firmas.Finalmente, a instabilidade da demanda por tecnologia ambiental faz com que aindústria de tecnologia ambiental não se desenvolva plenamente.

Dentre os fatores que afetam a demanda por tecnologias ambientais, os autoresdestacam, em primeiro lugar, os problemas relacionados com o conhecimento e ainformação. Nestes estão incluídos tanto as competências técnicas para adaptar novastecnologias, como também o conhecimento sobre quais técnicas estão disponíveis, comoacessá- las e como obter financiamento para adotá- las. A insegurança e a incerteza em

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adotar de tecnologias ambientais, devido ao risco envolvido, é outro fator que afeta ademanda. Novas tecnologias requerem mudanças de rotina e treinamento de pessoal,além das incertezas inerentes aos seus resultados. Além do mais, as tecnologiasambientais podem ficar rapidamente obsoletas, na medida em que os padrões deproteção ambiental se tornam mais rígidos. A avaliação de tais riscos varia de uma firmapara outra e entre setores.

A relação produtor usuário também influencia diretamente na demanda por tecnologiasambientais. Dada a diversidade dos problemas ambientais, é difícil haver um produtorde tecnologias limpas para todos os setores. Além do mais, o produtor de tecnologiasambientais, devido a especificidade de seu produto, não será o maior provedor detecnologia para as empresas. O último fator apontado refere- se à distinção entreinovações de produto e de processo. As inovações de produto devem atender à demandados consumidores por produtos ecologicamente corretos, que vai depender daimportância que atribuem ao meio ambiente e à disponibilidade de pagar por esse tipode produto. As inovações de processo estão relacionadas com os objetivos e valores dafirma, onde predominam os fatores de eficiência de custos. São, portanto, fatoresdiferentes que induzem cada tipo de inovação ambiental.

Além desses fatores, a estrutura de mercado do setor poluidor influencia na difusão detecnologias ambientais. As pequenas e médias empresas têm menos percepção dosproblemas ambientais e possuem menos conhecimento e informações sobre astecnologias disponíveis. É esperado, portanto, que firmas desse tipo sejam menosinovadoras, ao mesmo tempo em que não percebem a influência da preservaçãoambiental sobre seus negócios. O grau de competição entre as firmas e a situaçãofinanceira delas também influenciam na adoção de tecnologias ambientais. Mercadosonde a competição se dá via preços, que possuem margens de lucro muitos baixas e quesão caracterizados pela ausência de competição – como monopólios e reservas demercado - tendem a influenciar negativamente nas decisões da firma em adotar edesenvolver tecnologias ambientais.

Ao tratar as inovações ambientais no enfoque evolucionista, pode- se levantar algumashipóteses pelas quais umas firmas adotam e geram inovações ambientais e outras não.Diante do exposto acima, infere- se que:

1) De acordo com os fatores internos que capacitam as firmas a gerarem e adotareminovações, descritos no item II, as firmas inovadoras seriam as que investem mais emP&D, que têm pessoal mais qualificado, as de maior tamanho e as mais beminformadas. No caso específico de inovações ambientais, deve- se adicionar que asfirmas que adotam esse tipo de inovações são as de inserção internacional - no casodos países em desenvolvimento (PED) -; as de melhor situação financeira, uma vezque a preservação ambiental é, muitas vezes, considerada um custo; e aquelas quetêm a questão ambiental inserida nos seus objetivos e valores.

2) Entretanto, como entre os objetivos da firma predominam os fatores de eficiência decustos, a adoção de métodos de produção ambientalmente corretos não é um objetoprioritário da firma, apesar da crescente consciência de seu papel poluidor e daspressões sociais (Kemp e Soete, 1990). Logo, não haverá muitas atitudes voluntáriaspara combater a poluição. Nesse caso, as regulamentações seriam necessárias para

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induzir as firmas a adotarem tecnologias mais limpas e os setores considerados maispoluidores seriam os mais forçados a diminuírem seus impactos ambientais.

3) As firmas com elevado nível de competitividade têm mais possibilidade de responderà questão ambiental, uma vez que a variável ambiental pode ser um fator parareforçar sua posição competitiva.

4) Fatores externos à firma influenciam na sua atitude de gerar e adotar inovaçõesambientais. Quanto mais a preservação ambiental estiver internalizada nasinstituições, maiores serão os incentivos para as firmas; quanto maior a estabilidademacroeconômica, menores são as incertezas associadas às inovações; quanto maisdesenvolvido o SIN, torna- se mais fácil o acesso às inovações ambientais; e quantomais competitivo for o ambiente no qual a firma está inserido, maiores são osincentivos às inovações – incluindo também as ambientais -, a fim de preservar ouampliar sua participação no mercado.

IV. EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS: O CASO DAS FIRMAS PAULISTAS

A partir das hipóteses acima levantadas, serão utilizados dados da Fundação SEADErelativos à PAEP a fim de analisar alguns aspectos do comportamento ambiental dasempresas paulistas. Essa pesquisa refere- se ao ano de 1996, abrangendo o Estado de SãoPaulo, num total de 43.900 empresas. As respostas foram voluntárias e por isso podehaver diferença no número de empresas de cada tabela. Em função da abrangência dopresente trabalho, nem todas as variáveis necessárias para evidenciar as hipóteseslevantadas foram selecionadas.

Pelo exposto na seção III, as empresas de inserção internacional seriam as que maisadotam inovações ambientais e as que vêm o meio ambiente como uma oportunidade denegócios, podendo vir a perder mercados pelo seu comportamento ambiental. A variávelescolhida que reflete a inserção internacional foi a Origem do capital controlador daempresa em 31/12/96, ou seja, corresponde à origem (nacionalidade) do(s) sócio(s)controlador(es) 7: • nacional, controle efetivo em caráter permanente sob titularidade direta ou indireta

de pessoas físicas domiciliadas e residentes no país, ou por empresas brasileiras decapital nacional, inclusive entidade de direito público interno;

• estrangeira, controle efetivo em caráter permanente sob titularidade direta ou indiretade pessoas físicas ou jurídicas domiciliadas fora do país;

• nacional e estrangeira, quando houver mais de um controlador por força de acordo deacionistas, sendo que pelo menos um deles é estrangeiro.

Para verificar se as empresas vêm o meio ambiente como uma oportunidade de negócios,podendo vir a perder mercados pelo seu comportamento ambiental, foram selecionadasas variáveis:• Oportunidade de negócios – produtos e processos não agressivos ao meio ambiente,

que indica a ocorrência da oportunidade de negócio para a empresa devido aodesenvolvimento de produtos e processos não agressivos ao meio ambiente;

7 Os conceitos das variáveis foram retirados da PAEP.

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• Implicações efeito sobre meio ambiente – perda de mercado, que indica a ocorrênciade perda de mercados internos e/ou externos derivada dos efeitos da atividade daempresa sobre o meio ambiente;

• Implicações efeito sobre meio ambiente – elevação de custos, que indica a ocorrênciade elevação dos custos da empresa (com investimento em tratamento de resíduos,multas, etc.) derivada dos efeitos de sua atividade sobre o meio ambiente.

As tabelas 1 a 3 apresentam os resultados do cruzamento dessas variáveis com a origemdo capital controlador das empresas. De acordo com a tabela 1, das 843 empresas deinserção internacional (capital estrangeiro e nacional e estrangeiro), 52,4% acham que odesenvolvimento de produtos e processos produtivos menos agressivos ao meioambiente pode ser uma oportunidade de negócios. Se considerarmos somente asempresas de capital estrangeiro, esse percentual sobe para 54,9%. Dentre as empresas decapital nacional, esse percentual cai para 29,2%. Confirma- se, portanto, a hipótese de queas empresas de maior inserção internacional são aquelas que vêm o meio ambiente comouma oportunidade de negócios.

Tabela 1 – Empresas que consideram o meio ambiente uma oportunidade de negócios,segundo origem do capital controlador - 1996

Erro Amostral: B = Estimativas comerro relativo menorque 40%.

OPORTUNIDADE DE NEGÓCIOS – PRODUTOS EPROCESSOS NÃO AGRESSIVOS AO MEIO AMBIENTE

ORIGEM DO CAPITALCONTROLADOR (EM 31/12)

Dados 1 = SIM 2 = NÃO Total Global

1 = NACIONAL Contagem deEmpresas

11.702 28.367 40.069

Erro Amostral B -

2 = ESTRANGEIRO Contagem deEmpresas

322 264 586

Erro Amostral B B -

3 = NACIONAL EESTRANGEIRO

Contagem deEmpresas

120 137 257

Erro Amostral B B -

Total de Empresas 12.144 28.768 40.912

Entretanto, a tabela 2 mostra que somente 11,4% das empresas de inserção internacionaladmitem perder mercados devido aos efeitos de sua atividade sobre o meio ambiente.Esse percentual cai para 4,3% quando consideradas as empresas de capital nacional.Logo, a maioria das empresas (95,6%), independente da origem do capital, acham quenão há perda de mercados internos e/ou externos devido aos efeitos de sua atividadesobre o meio ambiente.

Tabela 2 – Empresas que consideram perdas de mercado devido aos efeitos de suaatividade sobre o meio ambiente, segundo origem do capital controlador - 1996

Erro Amostral:

C = Estimativassujeitas a errorelativo maior que40%.

IMPLICAÇÕES EFEITO SOBRE MEIO AMBIENTE - PERDA DE MERCADO

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ORIGEM DO CAPITALCONTROLADOR (EM31/12)

Dados 1 = SIM 2 = NÃO Total Global

1 = NACIONAL Contagem deEmpresas

1.721 38.326 40.047

Erro Amostral B B -

2 = ESTRANGEIRO Contagem deEmpresas

72 511 583

Erro Amostral A B -

3 = NACIONAL EESTRANGEIRO

Contagem deEmpresas

24 234 259

Erro Amostral C B -

Total de Empresas 1.817 39.072 40.889A tabela 3 demonstra que 41,1% das empresas de inserção internacional consideram queseus custos elevaram devido aos impactos ambientais de suas atividades. Esse percentualcai para 14,8% no caso das empresas de capital nacional. No total das empresas, 84,7%consideram que não houve elevação de custos por questões ambientais.

Tabela 3 – Empresas que consideram elevação de custos derivada dos efeitos de suaatividade sobre o meio ambiente, segundo origem do capital controlador - 1996

Erro Amostral: B = Estimativas com errorelativo menor que 40%.

IMPLICAÇÕES EFEITO SOBRE MEIO AMBIENTE –ELEVAÇÃO DE CUSTOS

ORIGEM DO CAPITALCONTROLADOR (EM31/12)

Dados 1 = SIM 2 = NÃO Total Global

1 = NACIONAL Contagem de Empresas 5.919 34.131 40.050 Erro Amostral B B -

2 = ESTRANGEIRO Contagem de Empresas 242 341 583 Erro Amostral B B -

3 = NACIONAL EESTRANGEIRO

Contagem de Empresas 104 155 259

Erro Amostral B B -

Total Contagem deEmpresas

6.265 34.627 40.892

Concluindo, ao comparar as empresas nacionais e as de inserção internacional –considerando a origem do capital controlador - pode- se observar que as primeiras nãopercebem o meio ambiente como uma oportunidade de negócios tanto quando assegundas, confirmando a hipótese acima. Mas, a maioria das empresas nacionaisconsideram que não houve elevação de custos por razões relacionadas ao meio ambientee quase metade das empresas de inserção internacional percebem a preservaçãoambiental como um custo. A maioria das empresas, independentemente da origem docapital controlador, não consideram que há perda de mercados pelos efeitos ambientaisde sua atividade, contrariando a hipótese acima. Cabe ressaltar que para avaliar ocomportamento das empresas de inserção internacional seria necessário incluir outrasvariáveis que reflitam sua ligação com o exterior. Uma empresa nacional, por exemplo,pode ser exportadora e, por isso, ter inserção internacional. Nesse caso, esse tipo deempresa estaria excluída da análise acima.

As variáveis que refletem a adoção de inovações ambientais são: • Fatores que motivaram a empresa a inovar, de 1994 a 1996 – preservação do meio

ambiente, que indica o grau de importância da estratégia de preservação do meio

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ambiente como fator de motivação para a empresa inovar. Se indiferente, poucoimportante, importante, muito importante ou crucial.

• Investimento – mudanças no processo de produção, que demonstra a ocorrência deinvestimento em mudanças no processo de produção para a redução de problemasambientais causados pela atividade da empresa.

A tabela 4 mostra o cruzamento dessa primeira variável com a origem do capitalcontrolador da empresa. Das empresas de inserção internacional, 85,5% achamimportante, muito importante e crucial a estratégia de preservação do meio ambientecomo fator de motivação para a empresa inovar. Esse percentual cai para 78,4% emrelação às empresas nacionais. Isso demonstra que, apesar das empresas de inserçãointernacional serem mais inclinadas a inovar por causa de questões ambientais, a maioriadas empresas paulistas consideram a preservação ambiental um fator indutor deinovações.

Tabela 4 – Grau de importância da estratégia de preservação do meio ambiente comofator de motivação para a empresa inovar, segundo origem do capital controlador - 1996

Erro Amostral:

C = Estimativassujeitas a errorelativo mai?rque 40%.

ORIGEM DO CAPITAL CONTROLADOR (EM 31/12)

FATORES QUE MOTIVARAM AEMPRESA A INOVAR -PRESERVAÇÃO DO MEIOAMBIENTE (94-96)

Dados 1 =NACIONAL

2 =ESTRANGEIRO

3 = NACIONAL EESTRANGEIRO

Total Global

1 = INDIFERENTE Contagem deEmpresas

1.095 10 16 1.121

Erro Amostral B A C -

2 = POUCOIMPORTANTE

Contagem deEmpresas

518 22 12 552

Erro Amostral B A C -

3 = IMPORTANTE Contagem deEmpresas

2.361 113 22 2.495

Erro Amostral B B A -

4 = MUITOIMPORTANTE

Contagem deEmpresas

2.458 109 41 2.608

Erro Amostral B B A -

5 = CRUCIAL Contagem deEmpresas

1.028 53 17 1.097

Erro Amostral B A C -

Total Contagem de Empresas 7.459 306 108 7.874

A tabela 5 mostra as empresas que investiram, ou não, na mudança de processoprodutivo com fins de reduzir os problemas ambientais. As empresas de inserçãointernacional foram as que mais investiram em mudança de processo (40,8%) quandocomparadas com as empresas nacionais (18,2%). Confirma- se, portanto, a hipótese deque as empresas de inserção internacional são as que mais adotam inovações ambientais,apesar da empresas nacionais também considerarem o meio ambiente como um fatorindutor de inovações.

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Tabela 5 – Empresas que investiram em mudanças no processo de produção pararedução de

problemas ambientais, segundo origem do capital controlador - 1996ORIGEM DO CAPITAL CONTROLADOR (EM 31/12)

39.968582

INVESTIMENTO-MUDANÇASNO PROCESSO PRODUÇÃO

1 = NACIONAL 2 =ESTRANGEIRO

3 = NACIONAL EESTRANGEIRO

Total Global

1 = SIM 7.294 251 92 7.636 B B B -

2 = NÃO 32.674 331 167 33.173 B B B -

Erro Amostral: B = Estimativas com erro relativo menor que 40%.

Outra hipótese levantada pela literatura é que as firmas inovadoras seriam as queinvestem mais em P&D, ou seja, as firmas que realizam atividades de P&D estariam maiscapacitadas para gerarem e adotarem inovações, inclusive as ambientais. A variávelescolhida para refletir as firmas que realizam atividades de P&D foi Fontes internas paraatividades inovativas, de 1994 a 1996 – departamento de P&D (E97IA011), que indica ograu de importância do departamento interno de P&D como fonte indutora dedesenvolvimento da atividade inovativa na empresa. Se indiferente, pouco importante,importante, muito importante e crucial.

A tabela 6 mostra as empresas que investiram em mudanças no processo de produçãodevido a problemas ambientais, de acordo com a importância do departamento internode P&D para a atividade inovativa da empresa. Quanto mais cresce a importância dodepartamento interno de P&D, mais empresas fizeram investimentos no processoprodutivo para solucionar problemas ambientais. Assim, das empresas que não atribuemimportância ao departamento interno de P&D (indiferentes), 27,8% realizaraminvestimentos em mudança no processo produtivo e 72,2% não realizaram taisinvestimentos. Esses percentuais mudam para 49% e 51%, respectivamente, quandoconsideradas as empresas que acham crucial o departamento interno de P&D como fonteindutora de desenvolvimento da atividade inovativa na empresa.

Tabela 6 – Empresas que investiram em mudanças no processo de produção pararedução de problemas ambientais, segundo grau de importância do departamento

interno de P&D - 1996

Erro Amostral: B =Estimativascom errorelativomenor que40%.

FONTES INTERNAS PARA ATIVIDADE INOVATIVAS –DEPARTAMENTODE P&D (94-96)

INVESTIMENTO-MUDANÇASNO PROCESSOPRODUÇÃO

Dados 1 =INDIFERENTE

2 = POUCOIMPORTANTE

3 =IMPORTANTE

4 = MUITOIMPORTANTE

5 =CRUCIAL

TotalGlobal

1 = SIM Contagemde Empresas

242 193 1.277 789 380 2.880

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ErroAmostral

B B B B B -

2 = NÃO Contagemde Empresas

629 311 1.945 1.063 395 4.343

ErroAmostral

B B B B B -

Total Contagem deEmpresas

871 504 3.221 1.852 775 7.223

A tabela 7 mostra o cruzamento de variáveis anteriormente selecionadas, revelando ograu de importância da estratégia de preservação do meio ambiente como fator demotivação para a empresa inovar, de acordo com o grau de importância do departamentointerno de P&D. Considerando conjuntamente as empresas que acham importante,muito importante e crucial o departamento de P&D interno, ou seja, aquelas que achamrelevante desenvolver essa atividade internamente, cerca de 90% acha crucial apreservação ambiental como fator de motivação da inovação, 83% para muitoimportante, 79% para importante, 76% para pouco importante e 72% para indiferente.Logo, há uma redução no percentual de empresas que acham relevante desenvolver P&Dinterno e vêem o meio ambiente como um fator que motiva a inovação.

Tabela 7 – Grau de importância da estratégia de preservação do meio ambiente como fatorde motivação para a empresa inovar, segundo grau de importância do departamento

interno de P&D-1996

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Erro Amostral:

C = Estimativas sujeitas a erro relativo maior que 40%.

FONTES INTERNAS PARA ATIVIDADE INOVATIVAS –DEPARTAMENTO DEP&D (94-96)

FATORES QUEMOTIVARAM AEMPRESA AINOVAR -PRESERVAÇÃODO MEIOAMBIENTE (94-96)

Dados

1 =INDIFERENTE

2 = POUCOIMPORTANTE

3 =IMPORTANTE

4 = MUITOIMPORTANTE

5 =CRUCIAL

Total Global

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1 =INDIFERENTE

Contagem de Empresas

182 46 296 151 132 808

Erro Amostral

B B B B C -

2 = POUCOIMPORTANTE

Contagem de Empresas

49 56 164 111 65 447

Erro Amostral

C C B B C -

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3 =IMPORTANTE

Contagem de Empresas

221 157 933 337 137 1.784

Erro Amostral

B B B B B -

4 = MUITOIMPORTANTE

Contagem de Empresas

201 153 914 599 195 2.062

Erro Amostral

B B B B B -

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5 = CRUCIAL Contagem de Empresas

69 29 429 341 99 967

Erro Amostral

C C B B B -

TotalContagem deEmpresas

721 441 2.737 1.539 629 6.067

Os dados acima apresentados parecem confirmar que as empresas que realizamatividades de P&D estariam mais capacitadas para gerarem e adotarem inovações,inclusive as ambientais. Tanto as inovações de processo, por causa de danos ambientais,quanto a estratégia de preservação do meio ambiente como fator indutor da inovaçãoestão mais claramente presentes nas empresas que atribuem um grau importante ousuperior ao seu departamento interno de P&D.

V. CONCLUSÕES

A partir da análise de dados da PAEP, verificou- se que as empresas de inserçãointernacional são as que mais consideram o meio ambiente como uma oportunidade denegócios, confirmando a hipótese levantada na literatura. Entretanto, essa hipótese écontrariada na questão da perda de mercados, pois as empresas de inserçãointernacional não consideram que há perda de mercados pelos efeitos ambientais de suaatividade. Nesse ponto, nem as empresas nacionais consideram esse efeito. Quase ametade das empresas de inserção internacional observou uma elevação nos seus custosdevido aos impactos ambientais de sua atividade, sendo que para a maioria das empresasnacionais não foram consideradas elevações de custos por esse motivo.

Quanto à hipótese de que as empresas de inserção internacional seriam as que maisadotam inovações ambientais, a pesquisa das empresas paulista parece confirmá- la,

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apesar das empresas nacionais também considerarem o meio ambiente como um fatorindutor de inovações. A hipótese de que as firmas inovadoras seriam as que investemmais em P&D parece válida para as inovações ambientais. O percentual de empresas queacham relevante ter um departamento interno de P&D cresce ao relacionar com asempresas que investiram na mudança de processo de produção para reduzir osproblemas ambientais. Além do mais, a estratégia de preservação do meio ambientecomo fator indutor da inovação está mais claramente presente nas empresas queatribuem um grau importante ou superior ao seu departamento interno de P&D.

Para ver a validade das outras hipóteses para o caso brasileiro, seria necessário escolheroutras variáveis. Devido aos limites do presente trabalho, não foi possível verificá- las.Entretanto, ao analisar o comportamento ambiental das empresas brasileiras, deve- se terclaro que a capacidade da firma para achar soluções para problemas específicos é path-dependent e a firma está atrelada a uma determinada tecnologia, podendo gerar umefeito de lock- in , impedindo que ela adote e gere inovações ambientais. Além do mais, ainstabilidade macroeconômica da economia brasileira, marcada por altos índices deinflação até 1994 e pela vulnerabilidade aos movimentos especulativos do capitalfinanceiro a partir da metade da década de 90, talvez possa explicar, em parte, porque noBrasil não há uma grande difusão das inovações ambientais. Vale ressaltar que o país nãopossui um SIN eficiente e integrado, podendo, também, influenciar na capacidade dasfirmas serem inovadoras.

A base de dados utilizada para verificar as hipóteses levantadas é referente ao universodas empresas paulistas. Os resultados podem não ser totalmente conclusivos para asempresas brasileiras como um todo, mas como ressaltado anteriormente, pelo fato doEstado de São Paulo ter grande participação no PIB industrial brasileiro, as conclusõespara as empresas paulistas foram generalizadas para o país.

Cabe ressaltar que para avaliar o comportamento das empresas de inserção internacionalseria necessário incluir outras variáveis que reflitam sua ligação com o exterior. Umaempresa nacional, por exemplo, pode ser exportadora e, por isso, ter inserçãointernacional. Nesse caso, ainda se faz necessário o cruzamento de outras variáveis quereflitam as características das empresas consideradas de inserção internacional.

Entretanto, tais limitações podem ser vencidas na medida em que estudos posteriorespossam vir a complementar o presente trabalho. Além da verificação das outrashipóteses acima mencionadas, seria importante utilizar outras bases de dados para finsde comparação com os resultados aqui obtidos. Muitas questões ainda estão em aberto eprecisam ser amplamente discutidas. Vale ressaltar pelo menos duas que foramexplicitadas ao longo do trabalho: a primeira, como gerar e difundir o conhecimentotecnológico, flexibilizar as regulamentações e aumentar o conhecimento e a capacidadede aprendizagem sobre os impactos ambientais da tecnologia? A segunda, como superara inércia tecnológica para acelerar a transição na direção de novas tecnologias econfigurações institucionais que internalizem a questão da preservação ambiental?

Assim, o desenvolvimento tecnológico deve se dar no sentido da sustentabilidadeecológica, a fim de que se possa ampliar os limites do crescimento econômico, ao mesmotempo em que reduza as disparidades econômicas e sociais entre os PD e os PED. A fimde que todos os povos de todas as nações tenham um padrão de vida semelhante, é

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necessário que seja incorporada a questão ambiental no novo paradigma tecnológico queestá sendo construído.

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