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ANO 1 | N O 05 | DEZ 2010 | JAN 2011 O CARRO SUSTENTÁVEL Ford lança o Fusion, o primeiro carro híbrido do País MIRIAM BELCHIOR Segundo a futura ministra do Planejamento, inovação deve ser reforçada um mergulho na EXEMPLAR CORTESIA R$ 12,00 AMANDA PEROBELLI CÁSSIO VASCONCELLOS | SAMBA PHOTO

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Revista INOVABCD 05

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ANO 1 | NO 05 | DEZ 2010 | JAN 2011

o carro sustentável Ford lança o Fusion, o primeiro carro híbrido do País

miriam belchior Segundo a futura ministra do Planejamento, inovação deve ser reforçada

um mergulho na

regionalidade

EXEMPLARCORTESIA

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A Região do ABCD está pronta para transformar-se em um dos mais importantes polos de inovação brasilei-ros. Não apenas porque ganha em abril de 2011 um centro de pesquisa aeroespacial (pag. 35). Mas, tam-bém, porque conta com uma instituição regional ino-vadora que está aniversariando neste mês de dezem-bro: o Consórcio Intermunicipal Grande ABC, objeto da cobertura especial desta edição de INOVABCD.

Ao comemorar seus 20 anos de existência, o Con-sórcio e demais instituições regionais do ABCD atravessam um momento de profundas mudanças, de reinvenção de conceitos e mecanismos de ges-tão. Trata-se de um processo inovador no campo das políticas de regionalidade.

A mais importante delas, no plano dos conceitos, é o reconhecimento de que as cidades localizadas em regiões metropolitanas precisam organizar-se a partir de instituições metropolitanas e não apenas a partir de mapas políticos regionais dentro de conglo-merados conurbados, como a Grande São Paulo.

E, no quadro conjuntural nacional e regional, as expectativas para o futuro são promissoras. A re-novação do governo federal petista promete man-ter critérios de investimentos priorizando projetos regionais nas áreas metropolitanas. No plano esta-dual, alguns sinais da formação de uma secretaria de assuntos metropolitanos alimentam o otimismo de que, finalmente, o Estado cumprirá seu papel de liderar projetos de alcance regional dando eficiência a ações isoladas de cidades como as do ABCD.

É este, enfim, o caminho inovador nas políticas públi-cas regionais que o Brasil exige de todos os atores. É a única alternativa para que se possa, a exemplo

do Vale do Ruhr, na Alemanha, retratado no relato do correspondente Flávio Aguiar, recuperar condição de vida em regiões metropolitanas como as da Grande São Paulo e outras metrópoles brasileiras.

Pouco antes de ser assassinado brutalmente, em 2002, o ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, apontava a ausência de massa crítica como uma das limitações para o sucesso das políticas de regio-nalidade no ABCD. Depois de 20 anos, no entanto, o quadro parece ser outro. A região conta, hoje, com lideranças reconhecidas. O ex-ministro do Trabalho e da Previdência, hoje prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, ao lado dos prefeitos petistas Mario Reali e Oswaldo Dias, do prefeito José Auricchio Ju-nior (PSDB) e Clovis Volpi (PV). A “embaixadora em Brasília”, a futura ministra do Planejamento, Miriam Belchior. Cientistas como Luiz Roberto Alves, da UMESP, Jeroen Klink, da UFABC e Sílvio Minciotti, da USCS. Gestores públicos como Jefferson Conceição e Luiz Paulo Bresciani. Empresários como Fausto Cestari e sindicalistas como Sérgio Nobre e Paulo Lage, todos de alguma forma ouvidos nesta edição. Um time de primeira, que tem craques internacio-nais em regionalidade em seu banco de reservas: o ex-prefeito José de Filippi Júnior, doutor em Harvard e o “candidato a técnico”, o mais popular líder da história do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.

Conta também com jornal regional, o ABCD MAIOR e uma revista, a INOVABCD, que colocam a promoção da inovação e do fortalecimento das políticas de regionali-dade entre seus objetivos editoriais mais estratégicos.

O EDITOR

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04 EditorialO ABCD DA REGIONALIDADE

06 Entrevista | Miguel JorgeO responsável pelo Ministério do Desenvolvimento durante o período do crescimento econômico deixa o cargo com um dos maiores PIBs das últimas décadas

10 Notas23 Tecnologias SociaisFUNDAÇÃO BANCO DO BRASILInstituição promove inclusão inovadora e investe R$ 500 milhões em oito anos

24 LogísticaCASE DE SUCESSOJMB Zeppelin desenvolve tecnologia para carregamento de contêiner

26 SustentabilidadeA ERA DOS HíBRIDOSCom o novo Fusion, Ford dá a largada no lançamento dos automóveis sustentáveis

27 CompetitividadePOLO METALMECÂNICOEmpresários da região se unem para fortalecer o setor

28 PesquisaEXPANSÃO DO CENPESCérebro da maior empresa brasileira, centro de pesquisas está hoje entre os maiores do mundo no setor de petróleo

32 ServiçoFOMENTO à INOVAÇÃO

35 InvestimentosCONqUISTANDO O ESPAÇOSueca Saab começa a montar a equipe do centro de pesquisas em São Bernardo

36 Ponto de vistaSéRGIO NOBREConstruindo o futuro

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eXPeDiente: INOVABCD é uma publicação da MIDIA PRESS Editora Ltda. INOVABCD não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. Travessa Monteiro Lobato, 95 – Centro São Ber-nardo do Campo Fone (11) 4128-1430 Diretor: Celso Horta (MTb 140002/51/66 SP) eDitor: Gilberto Nascimento reDação: Clébio Cavagnolle Cantares, Felipe Rodrigues, Joana Horta, Maurício Thuswohl, Niceia Climaco e Vinicius Morende. corresPonDente: Flávio Aguiar arte: Ligia Minami tratamento De imaGens: Fabiano Ibidi DePartamento comercial: Fone (11) 4335-6017 PubliciDaDe: Jader Reinecke assinatura: Jéssica D’Andréa imPressão: Leograf tiraGem: 40 mil exemplares

12 Um polo de inovação regional

14 Pioneirismo: 20 anos de história

15 Para se tornar a quinta nação do mundo

17 O novo planejamento

18 Ruhr: exemplo de vida associativa

20 Instituições da Região

especial regionalidade

14CELSO DANIELA criação do Consórcio IntermunicipalGrande ABC buscou reforçar a ideia de uma região proativa

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Rodoanel: um dos resultados da mobilização

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inoVabcD - em 2008, a pedido do governo, 13 ministérios trabalharam na elaboração de um Plano de Desenvolvimento Produtivo (PDP). como o Sr. avaliou essa ação?Miguel Jorge - Avalio satisfatoriamente. No meu primeiro encontro com o presidente, nós conversamos sobre a necessidade de uma po-lítica industrial no Brasil. Nós não tínhamos uma desde os anos 1970. O presidente pediu uma política industrial muito abrangente, por-que a primeira do governo, feita em 2004, só abarcou quatro setores, que eram importantes na época. Hoje, a nossa política industrial tem os 36 principais setores da economia. Temos o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimen-to Econômico e Social) e a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), que são os coordenadores do PDP. É impor-tante e interessante contar que a ex-ministra chefe da Casa-Civil, Dilma Rousseff, é a co-ordenadora máxima da politica industrial. Ela sempre se envolveu em todo este tempo, como ministra, muito fortemente junto aos coordenadores da política industrial. Temos toda certeza de que ela não só manterá como também aprofundará a política nos próximos anos. Estamos fazendo uma revisão do pro-cesso agora, o BNDES e a ABDI, para que possamos entregar nesta fase de transmissão ao menos um esboço do que nós considera-mos os próximos passos da política.

Responsável pelo ministério durante o período do crescimento econômico, Miguel Jorge deixa o cargo com um dos maiores PIBs das últimas décadas

por Vinicius Morende

Ele comandou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior durante a consolidação do crescimento econômico no País, em quase todo o segundo mandato do presidente Lula. O homem do desenvolvimento brasileiro, o ministro Miguel Jorge, foi um dos responsáveis pelas ações do Plano de Desenvolvimento Produtivo (PDP) junto à presidente eleita, Dilma Rousseff, e de outros órgãos importantes como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O ministro deverá deixar o cargo ao final de 2010, quando o País registrará um dos maiores crescimentos do Produto Interno Bruto(PIB) das últimas décadas. Após meio século de trabalho, Miguel Jorge, jornalista de profissão, passou por grandes veículos da imprensa nacional e depois ocupou altos altos cargos executivos em grupos como o Santander Banespa, Volkswagen e Autolatina. Agora, quer dedicar a maior parte do tempo à família e retornar às origens para escrever,“no mínimo”, um livro. “é um sonho de anos“, afirma. Orgulhoso do legado deixado, Miguel Jorge falou à INOVABCD, sobre o comércio mundial, o Brasil, a Região do ABCD, e os novos entraves para o desenvolvimento do País. Tudo com muito conhecimento de causa.

O HOMEM DO DESENVOLVIMENTO

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entrevista Miguel Jorge

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inoVabcD - recentemente, o presidente do bnDeS, luciano coutinho, afirmou que já era o momento de elaborar um segundo PDP. a inovação pode ser a matriz da nova política?Jorge – A inovação já está na nossa política desde 2002. Nós a consideramos como um dos pontos fundamentais. Ela já faz, diga-mos, parte do coração da política industrial.

inoVabcD - Que a herança o senhor deixa para quem assumir o ministério no próximo governo? Jorge – Eu não deixo herança, quem deixa é o ministério. Nós mudamos várias práticas. Por exemplo, na área de defesa industrial, uma ação antidumping levava dois anos e meio para ser aplicada. Nós reduzimos este prazo para um ano. Começamos a aplicar direito provisório antidumping em três me-ses, desde que haja indícios claros de con-corrência desleal, para tornar mais efetiva a defesa da indústria brasileira. Ao final de uma investigação, de concorrência desleal, que demorava dois anos, a indústria que ti-vesse sido afetada já teria morrido. Levamos indústrias, setores inteiros a recorrerem mui-tosmais do que antes à defesa comercial, por-que eles sabem que hoje funciona. Muitos se-tores eram céticos quanto à defesa comercial, porque também sabiam, como nós, que dois anos era excessivo. Temos hoje 60 direitos antidumping aplicados, 40 em processo de

Responsável pelo ministério durante o período do crescimento econômico, Miguel Jorge deixa o cargo com um dos maiores PIBs das últimas décadas

avaliação e outros 40 que estão nos primei-ros estudos para passar para a segunda fase, que é a de avaliação da documentação para a eventual aplicação de um direito provisó-rio ou de um direito definitivo. Quer dizer, nós somos hoje o segundo País no mundo com o maior número de aplicação de direi-tos de defesa comercial e sem nenhum pro-blema com a OMC (Organização Mundial do Comércio). Isso é importante dizer: nós não infringimos nenhuma regra da OMC. Seguindo a orientação do presidente Lula, nós não praticamos protecionismo, não par-tiríamos para nenhum tipo de protecionismo e não partimos. E nenhum dos nossos casos foram derrubados judicialmente, porque os processos são muito bem feitos, com mui-ta correção e tecnicamente perfeitos. Outra coisa que eu acho fundamental é a política industrial. A política industrial brasileira es-tabelecida pelo PDP foi inclusive importante para o enfrentamento da crise, que ninguém esperava. Por exemplo, no caso dos incenti-vos, foram mais de R$ 100 bilhões em redu-ção de impostos no período. Grande parte dos incentivos foram definidos em discussões feitas com o Ministério da Fazenda e den-tro dos conceitos da política industrial. Nós criamos o complexo militar de Defesa, que é coordenador pelo Ministério da Defesa; o complexo industrial da Saúde, coordenado pelo Ministério da Saúde; e houve um traba-lho muito forte na área de confecções.

O HOMEM DO DESENVOLVIMENTOinoVabcD - Quem é o responsável pela elaboração da política industrial para a exploração do pré-sal? e em que estágio está isso?Jorge – O Ministério de Minas e Energia dará os conceitos principais para a explora-ção do pré-sal junto com a ANP (Agência Nacional do Petróleo), em termos de regu-lação, o que depois será aprovado pelo Con-gresso. A discussão está no Congressso. No caso específico do Ministério da Indústria e Comércio, em relação ao pré-sal, temos um envolvimento bastante forte na questão de transferência de tecnologia para as empre-sas brasileiras e na discussão do conteúdo nacional dos equipamentos, das platafor-mas, navios. Já foram estabelecidos critérios e índices de nacionalização dos produtos do pré-sal e o governo continuará trabalhando neste processo. Assim como continuará trabalhando no trem de alta velocidade. Aliás, por determinação de Dilma Roussef, na época ministra-chefe da Casa-Civil, que coordenava todos estes programas, o minis-tério passou a ser o coordenador, dentro do governo, do processo de transferência de tecnologia de conteúdo local para o trem de alta velocidade, para o pré-sal e para outros grandes programas.

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inoVabcD – Quanto aos incentivos fiscais e até vocacionais, o bnDeS, a Finep (Financiadora de estudos e Projetos) e a apex (agência brasileira de Promoção de exportação e investimentos) têm promovido uma série de ações. o repasse de verba do bnDeS, por exemplo, aumentou. Mas as empresas ainda resistem em acessar esses benefícios.Jorge – Eu não acredito que as empresas têm resistência a acessar os recursos. Elas têm uma vontade enorme de acessar. O cartão BNDES, por exemplo, que nós en-contramos com 200 e poucos mil cartões, hoje passaram de 400 mil. Praticamente dobramos. Tem milhares de padarias bra-sileiras que hoje usam o cartão do BNDES. O mesmo cartão que tinha apenas R$ 250 mil de limite, hoje está com R$ 1 milhão – multiplicamos por quatro. Criamos o fundo seed semente, que é para investir em empresas altamente inovadoras, empresas chamadas de garagem, como foram no pas-sado a Google, Apple, Microsoft. Nós au-mentamos enormemente a participação das pequenas e médias empresas nos financia-mentos do BNDES. Hoje, mais de 30% dos financiamentos do banco são para peque-nas e médias empresas. Se observarmos os desembolsos, principalmente nestes últimos quatro anos, praticamente dobraram. Neste ano, até outubro, foram 482 mil operações, com R$ 140 bilhões em desembolsos. O BNDES está tendo um papel fundamental para os investimentos no Brasil.

inoVabcD – Qual é sua avaliação sobre a atuação da apex e da abDi?Jorge – Vou dar um exemplo muito focado no ABCD. Nós iniciamos o PSI (Programa de Sustentação do Investimento) em ju-nho do ano passado, depois da crise, para apoiar o financiamento de ônibus e cami-nhões, o que permitiu ao Brasil se tornar um dos maiores produtores de caminhões do mundo, durante a crise. A indústria de caminhões – e creio que 70% dela está insta-lada no ABCD –, pode crescer exponencial-mente. O apoio não foi só para caminhões e ônibus, mas também para máquinas e equipamentos agrícolas. O PSI foi funda-mental para enfrentarmos a crise, para sa-írmos dela e darmos um salto em termos de produção e emprego na área de bens de capital. A Apex tem um papel importante nas exportações e na participação em feiras internacionais. Neste ano, a Apex partici-pou de quase mil feiras no exterior. Uma das últimas foi em Cuba. Eu chefiei, no fi-nal de novembro, uma missão a cinco paí-ses do Oriente Médio. Em Abu Dhabi, nós teremos a Feira Sabores do Brasil, que vai mostrar alimentos que nós produzimos. A Apex tem tem tido um papel fundamental no processo de agregar pequenas e médias empresas ao esforço exportador brasileiro. Eu participei da reunião do conselho de administração da Apex, a última do ano, e os resultados são extraordinários. Estamos com atuação em quase todo o mundo, não só em termos de exportação, mas inclusive para a atração de investimentos. A ABDI, por sua vez, também passou para um novo patamar de atuação. Foi fundamental para o desenvolvimento da política industrial, até porque os técnicos são especialistas nisso. Além da atuação dentro do Brasil,

a ABDI tem tido papel importante no de-senvolvimento de processos industriais em outros países, o que foi um pedido do pre-sidente Lula.

inoVabcD - a falta de infra-estrutura básica no País ainda é um dos entraves para o desenvolvimento da economia? além do governo, quem tem de investir na infra-estrutura?Jorge – Sem dúvida. O governo tem que in-vestir, evidentemente. Mas não é o governo que deveria ser o maior investidor. Tem que ser a iniciativa privada. Como é em todos os lugares do mundo. O que aconteceu é que neste País, durante 30 anos, nós não tivemos investimentos na infra-estrutura, porque o País não estava crescendo. Para que você precisa de estradas se não tem caminhões transportando bens e máqui-nas? É aquele negócio do ovo ou da gali-nha. O que você faz primeiro? Você investe em infra-estrutura ou você cresce? O que aconteceu é que nós começamos a crescer. O País teve um crescimento médio e aí os problemas que tínhamos apareceram de uma maneira muito forte. Eu acredito que o PAC (Programa de Acelaração do Cres-cimento) está enfrentando isso bem. Ago-ra, são projetos de maturação longa. Não é como abrir uma padaria e começar a fa-zer pão. Alguns investimentos são de longo prazo. Não tivemos o cuidado, no passado, de fazer algumas obviedades. Por exemplo, em outros aeroportos do mundo havia e há uma área enorme reservada para as futuras ampliações. No aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP), não tomamos este cuida-do. Há hoje uma área ocupada com quatro

O redutor do imposto de importação de autopeças será zerado até março de 2011, valorizando a indústria nacional

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mil famílias ao lado do aeroporto. E aí, como você faz? Retira-se as quatro mil fa-mílias e põe onde? Isso cria um problema que dificulta o processo da infra-estrutura. Não fizemos várias estradas. Ferrovias, por exemplo, acabamos com elas. Hoje, é muito mais difícil fazer uma ferrovia por causa das questões ambientais. Agora, temos que fa-zer um esforço grande, porque precisamos ampliar e modernizar nossos aeroportos, melhorar nossa rede de rodovias, ampliar a de ferrovias e investir na estrutura portuá-ria. Temos que correr e eu sei que a Dilma tem consciência disso, como coordenadora do PAC durante muito tempo.

inoVabcD - o brasil seria favorecido caso outros países não praticassem tantas medidas de protecionismo às suas economias?Jorge – Tanto nos EUA quanto na Euro-pa, a proteção ocorre muito sobre os pro-dutos agrícolas. É praticamente impossível vender. No caso da indústria brasileira, dos produtos de bens de consumo, o pro-tecionismo é menor, mas aí você tem os problemas da competitividade da indústria brasileira, que ainda não tem as condições, até por estes problemas de infra-estrutura, de competir com os produtos no exterior. É muito difícil você vender automóveis brasi-leiros na Europa. Por que? A escala deles é muito maior do que a nossa. As grandes fábricas estão instaladas na Europa. Quan-do comparamos o automóvel do Brasil com preço competitivo e o preço deste produto na Europa, mesmo os salários europeus sendo mais altos do que no Brasil, surge um problema de entrada no mercado. O mesmo acontece nos EUA.

inoVabcD - o saldo da balança comercial do abcD ainda é positivo, garantido pela cadeia automobilística. Mesmo assim, no caso de São bernardo, o município importa em autopeças, aproximadamente, metade do valor do que exporta em veículos prontos ou semi-prontos. as montadoras instaladas no País deverão ser caracterizadas no futuro como apenas montadoras de veículos produzidos com peças importadas?Jorge – Certamente não, pois há grandes investimentos nos fornecedores de auto-peças, especialmente para o aumento da capacidade de produção, para acompa-nhar a necessidade das montadoras. Além disso, durante muito tempo, as autopeças tiveram um redutor de 40% no imposto de importação, o que significa que uma peça importada poderia entrar no País com o imposto reduzido, praticamente, à metade. Essa distorção vem sendo corrigida, o re-dutor já é de cerca de 20% e ele será zerado em 1º de março de 2011. Acreditamos que essa medida já trará uma melhoria na ba-lança comercial das autopeças.

inoVabcD - empresários e sindicatos de trabalhadores indicam a extinção do setor de autopeças em dez anos, caso medidas emergenciais não sejam tomadas, principalmente em relação ao aperfeiçoamento tecnológico. Quais as alternativas para manter a competitividade das empresas de autopeças brasileiras?Jorge - Não vejo a menor possibilidade de que isso aconteça. Hoje, as maiores empre-sas de autopeças são multinacionais e os aperfeiçoamentos tecnológicos são feitos de maneira global.

inoVabcD - como o Sr. vê a promessa de instalação de novas montadoras no País, entre elas chinesas e coreanas?Jorge – Tenho recebido várias empresas interessadas em virem para cá. Fico mui-to impressionado com isso, pois não vejo como podemos ter tantas montadoras. As que já estão instaladas aqui são mui-to fortes, têm bons e modernos produtos, com boa imagem, e redes com capilari-dade. Esse mercado é muito competitivo. Algumas montadoras que se instalaram no Brasil em meados dos anos 1990 ainda têm menos de 5% do mercado. Por enquanto, tenho sentido mais manifestações de inten-ções do que ações efetivas.

inoVabcD - em novembro, empresários ligados à Fiesp voltaram a defender o fortalecimento da camex (câmara de comércio exterior) e a transformação do órgão em ministério para incentivar as exportações de manufaturados. como o senhor avalia o pedido?Jorge – É um pedido interessante. Somen-te fico pensando porque essa proposta não foi feita antes, tendo aparecido apenas agora. Os empresários, agora, dizerem que a Camex é um orgão de terceiro escalão é imcompreensível. Na última reunião, cinco ministros e dois secretários-executivos, ou vice-ministros, participaram da reunião da Camex, que é formada por ministros. Esta equipe é de terceiro escalão? Isso deve ser alguma brincadeira dos responsáveis por essa declaração infeliz.

O redutor do imposto de importação de autopeças será zerado até março de 2011, valorizando a indústria nacional

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Americanos de olho no ABCDO cônsul comercial dos Estados Unidos no Brasil em São Paulo, Sean Kelley, afirmou que preten-de apoiar as relações comerciais entre empre-sários dos Estados Unidos e da região do ABCD. Os setores automotivo e metalmecânico de São Bernardo são vistos como potenciais aliados. “As médias e pequenas empresas de nosso país estão em busca de parceiros para expandir seus negócios e a Região do ABCD é muito forte. Estamos planejando integrar os executivos para que eles possam prospectar novos negócios”, afirmou Kelley, durante o evento “Realizando Ne-gócios com os EUA”, realizado na Pinacoteca de São Bernardo, no dia 22 de novembro. O cônsul comercial apontou que o fato do Bra-sil ter alcançado um lugar entre as 10 maiores economias do mundo é um fator crucial para que as empresas multinacionais optem por instalar-se em terras brasileiras.

Rio Claro: novo centro de pesquisa Já está funcionando, em Rio Claro (SP), o UNESPetro, um centro de geociências aplica-das ao petróleo. A iniciativa é resultado de uma parceria entre a Petrobras e a Universidade Es-tadual Paulista (Unesp). Com dois mil metros quadrados de área útil, o novo centro recebeu investimentos de R$ 10,5 milhões em infraes-trutura, que incluem a construção do prédio, a aquisição de modernos equipamentos labora-toriais e mobiliário. Deste montante, em torno de R$ 9 milhões foram investidos pela Petro-bras e R$ 1,5 milhão pela Unesp.

BNDES financiará TAVA diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou as condições que serão oferecidas pela instituição para o finan-ciamento do trem de alta de velocidade (TAV), que fará a interligação entre Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas. A participação máxima de recursos pú-blicos no financiamento será de até R$ 20 bilhões. O trem de alta velocidade deverá transportar, inicial-mente, 32 milhões de passageiros e gerar receitas totais de mais de R$ 2 bilhões por ano. O prazo de implantação previsto é de seis anos.

notas

PROGRAME-SE 2011JANEIRO

17 a 23 de janeiro | campus Party brasil 2011 | Realizado desde 1997, hoje é considerado o maior evento de inovação, ciência, criatividade e entretenimento digital do mundo. A festa aterrissa em São Paulo com 6,5 mil entradas disponíveis e novidades em seu conteúdo, como a estréia do Campus Start-Up, espaço voltado ao empreendedorismo. LOCAL: Centro de Exposições Imigrantes / Rodovia dos Imigrantes, km 1 – SP / Mais informações: campus-party.com.br

31 de janeiro a 02 de fevereiro | thermal energy 2011 | Primeiro evento regional de energia terme-létrica simultaneamente co-alocado com os principais congressos de geração de energia na América Latina. LOCAL: Centro de Convenções SulAmérica / Av. Paulo de Frontin – RJ / Mais informações: thermalenergylatam.com.br

CâMARA APROVA PARTILHA DO PRé-SALPor 204 votos a favor, 66 contra e duas abstenções, os deputados federais aprovaram, na noite de 1o de dezembro, o projeto do marco regulatório do pré-sal, que cria o Fundo Social e institui o modelo de partilha. O governo, neste modelo, passa a receber uma parte da produção em óleo e a Petrobras passa a participar de todos os consórcios com no mínimo 30% de participação, sendo a operadora única das reservas que serão leiloadas. O novo modelo será aplicado na área do pré-sal que ainda não foi licitada.Na mesma seção foi também aprovado, em votação simbólica, a nova distribuição dos royalties entre os Estados e municípios produtores e não produtores. Os deputados concordaram com a emenda do senador Pedro Simon (PMDB-RS) que prevê uma distribuição mais equitativa entre os Estados da Federação.O governo federal já sinalizou que deve vetar a questão dos royalties. O deputado Marco Maia (PT-RS), que presidiu a sessão, comemorou o resultado da votação dizendo que a Câmara promoveu uma sessão histórica ao aprovar os itens chaves do marco regulatório do pré-sal, que terá influência decisiva no desenvolvimento do País. O projeto do pré-sal tramitava no Congresso desde setembro do ano passado.

Plataforma P-34, primeira plataforma a

produzir petróleo na camada do pré-sal.

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Uniban faz parceria com PortugalA Universidade Uniban assinou uma joint venture com a Universidade Lusófona, que pertence ao maior grupo de ensino privado de Portugal. Com a parceria, que abrange os países de língua portuguesa na África, pro-fessores e estudantes das duas instituições poderão fazer intercâmbio e cursar discipli-nas com validação recíproca de diplomas. A nova comunidade acadêmica é formada por 140 mil alunos, seis mil professores e oferece mais de 300 cursos de graduação e pós-graduação.

Finep elege ações inovadoras em todo o BrasilDurante o mês de novembro, a Finep (Fi-nanciadora de Estudos e Projetos) premiou empresas inovadoras em todas as regiões do Brasil. No sudeste, quinze premiações fo-ram distribuídas entre empresas, fundações e instituições de ensino e pesquisa. Na categoria média empresa, a Omnisys, de São Bernardo do Campo, ficou com o segun-do lugar, atrás da Treetech Sistemas Digitais. Na etapa regional, a FINEP premia até o ter-ceiro colocado de cada categoria, mas ape-nas os primeiros lugares recebem um valor em dinheiro e concorrem à etapa nacional. Os vencedores receberão recursos do progra-ma de Subvenção Econômica, que variam de R$ 120 mil a R$ 2 milhões, dependendo da categoria premiada. A verba é para ser usada no desenvolvimento de projetos nas áreas de ciência, tecnologia e inovação. Nesta edição, houve sete categorias – ins-tituição de ciência e tecnologia, micro e pequena empresa, média empresa, grande empresa, tecnologia social e inventor inova-dor e Gestão da Inovação. A categoria gran-de empresa é disputada apenas na etapa nacional do prêmio. Este ano, o Prêmio rece-beu 885 inscrições em todo o Brasil: Norte, 82; Nordeste, 159; Centro-Oeste, 113; Su-deste, 307; e Sul, 224.Saiba mais em www.finep.gov.br

LULA DEFENDE ECONOMIA SOLIDÁRIAO presidente Luiz Inácio Lula da Silva lembrou a trajetória da Uniforja, cooperativa de produção industrial em metalurgia de Diadema, em discurso durante a plenária do Conselho Nacional de Economia Solidária, no dia 17 de novembro, em Brasília. A Uniforja foi constituída há dez anos e o processo foi dirigido pelos trabalhadores da falida empresa Conforja, na tentativa de reduzir os seus danos. “A maioria dos trabalhadores não quis a cooperativa e por inocência, por sectarismo, ou por ignorância fazia discursos homéricos contra a cooperativa”, recordou o presidente.Durante a plenária, Lula assinou dois decretos. Um deles disciplina o funcionamento do Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares (Proninc). Por meio de parceria entre o governo e instituições de ensino superior, o Proninc desenvolverá processos de incubação de empreendimentos econômicos solidários para a geração de trabalho e renda. “As universidades e os estudantes do Brasil apóiam as cooperativas populares pelo Brasil inteiro. Muito se aprende ao interagir diretamente com o povo brasileiro”, disse o economista Paul Singer, secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho.O outro decreto institui o Sistema Nacional do Comércio Justo e Solidário, um conjunto de parâmetros para execução de políticas públicas relacionadas à promoção da economia solidária e do comércio justo. Um dos objetivos do sistema é apoiar o processo de educação para o consumo com vistas à adoção de hábitos sustentáveis e à organização dos consumidores para a compra de produtos e serviços de comércio justo e solidário.

Lula cita Uniforja em discurso pró economia solidária, durante assinatura do Proninc

ABCD GANHA PRêMIO DE TECNOLOGIA O Prêmio Cempre é um concurso para estimular organizações não-governamentais, funda-ções, institutos de pesquisa e universidades a desenvolver processos inovadores que permi-tam ampliar a coleta seletiva de resíduos sólidos recicláveis, por todo o território brasileiro. O prêmio foi criado pelo Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre). Em sua última edição, foi dividido em duas categorias: cooperativas de catadores e inovação tecnológica. Na categoria Inovação Tecnológica, pessoa física, o primeiro lugar ficou com Wilson Bottaro, de Santo André, pelo software Sistema de Gestão Gerencial (SGG). O programa desen-volvido para cooperativas de reciclagem inclui 12 módulos como cadastro de produtos e clientes, informações sobre os cooperados e controle financeiro e de estoques. Leia mais em cempre.org.br

Com informações da Agência Brasil

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especial regionalidade

um polo de

inovação

Vista aérea da Represa Billings, localizada entre

quatro municípios do ABCD.

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Celso Horta

Carro-chefe da indústria automotiva bra-sileira, no início da década de 1990 a eco-nomia do ABCD experimentou uma freada inusitada. Sem apoio de políticas públicas federais ou estaduais, em meio a uma ver-dadeira guerra fiscal, pairavam sobre a Re-gião ameaças de evasão industrial e de de-semprego em massa. O pesadelo de Detroit rondava a imaginação de executivos, traba-lhadores e gestores públicos. Duas décadas depois, fantasmas exorcizados, já é possível enxergar os caminhos que garantiram a manutenção da base industrial do ABCD: instituições regionais representativas e po-líticas de regionalidade. E é a partir delas que a Região, agora, dá seus primeiros pas-sos para transformar-se em um importante polo de inovações do Brasil.

Em 19 de dezembro de 1990, foi fundado solenemente o Consórcio Intermunicipal Grande ABC. Seu inspirador e primeiro pre-sidente, o ex-prefeito petista Celso Daniel, já se revelava um “visionário” da questão da regionalidade. A liderança regional que, doze anos depois, ganhava estatura nacional na coordenação do programa de governo do então candidato do PT à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, Celso Daniel foi brutalmente assassinado em 2002, mas deixou um legado extremamente valioso para a Região e para o País.

Passados 20 anos do início deste movi-mento que se estendeu pelo Brasil, a ex-secretária e ex-mulher do prefeito petista,

Miriam Belchior, prestes a assumir o minis-tério do Planejamento da presidente Dilma Rousseff, avalia que as instituições criadas na Região, encabeçadas pelo Consórcio, “só ganharam relevância” e devem, a partir de agora, com o apoio do governo Federal, galgar um novo patamar de articulação nas regiões metropolitanas. Uma inovação na gestão pública de importância inestimável para o País.

Em abril, começa a funcionar em São Bernardo do Campo um centro de pesqui-sa, desenvolvimento e inovação da indústria aeroespacial que tem potencial para impac-tar e inovar toda a sociedade regional (ver reportagem na página 35). Para o prefeito Luiz Marinho (PT), um dos arautos da re-gionalidade, este centro tem potencial inclu-sive para alavancar e inovar o polo tecnoló-gico automotivo instalado no ABCD.

Convidada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a coordenar projetos estratégi-cos de seu governo, entre eles o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Miriam acredita que a Região tem vantagens loca-cionais e precisa estar bastante atenta para oportunidades como este centro aeroespa-cial, investimentos do pré-sal, na expansão da malha ferroviária, especialmente aque-les relacionados com ciência e tecnologia e avanços tecnológicos. “A região precisa se estruturar, ter uma agenda para os próximos anos e apresentá-la aos governos estadual e federal para que eles também participem deste processo de uma maneira ativa, mais do que participaram nos últimos anos”.

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Depois de 20 anos construindo instituições regionais, o ABCD está pronto para dar novo passo e compor uma região metropolitana inovadora

regionalinovação

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KIKO (PSDB) | Rio Grande da Serra

VOLPI (PV) | Ribeirão Pires

RAVIN (PTB) | Santo André

AURICCHIO (PSDB) | São Caetano

REALI (PT) | Diadema

DIAS (PT) | Mauá

Prefeitos da Região devem

discutir o regionalismo

sem partidarismo

ideológico

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Os prefeitos que hoje têm assento no conse-lho diretor do Consórcio concordam com um balanço positivo do trabalho da instituição. Nascida sob o modelo jurídico de organização não-governamental (ONG), o Consórcio acaba de transformar-se em ente público e vive inten-so processo de ajustes à nova lei dos consórcios, aprovada em 2004.

Clovis Volpi (PV), prefeito de Ribeirão Pires, e atual presidente da entidade, aponta o pionei-rismo da Região e afirma que “nosso modelo de consórcio tem sido referência para experiências semelhantes”. Enumera conquistas das várias prefeituras a partir de gestões da entidade. “Re-centemente, todas as cidades do Grande ABCD ganharam seus bureaus de turismo, graças a um convênio do Consórcio”.

Cita também avanços promovidos pelo Con-sórcio em torno do programa de macro-drena-gem do Estado, piscinões e promete novidades no novo planejamento estratégico que está ofe-recendo à Região para os próximos 10 anos. Entre as ações previstas para o período, com o Consórcio já funcionando como instituição pública, ele fala da integração do transporte regional, um dos estrangulamentos mais graves da infra-estrutura regional.

O balanço do prefeito de São Caetano, José Aurichio Junior (PSDB), que antecedeu Volpi à frente do Consórcio, não é diferente. Para o futuro imediato, ele comemora a ênfase às ques-tões relativas à defesa civil, “deixando os muni-cípios mais preparados para enfrentar catástro-fes climáticas de forma mais integrada”. Espera também que o Consórcio avance em temas como desenvolvimento econômico e ambiental sustentável, trânsito e macro-drenagem.

Oswaldo Dias (PT), prefeito de Mauá, tam-

São Bernardo: município mais rico e mais populoso da Região

Pioneirismo: 20 anos de história

A futura ministra do Planejamento conhece como poucos a história das instituições regionais que permitiram ao ABCD vencer a “tragédia” anunciada no início dos anos 1990. “Com o real envolvimento dos principais atores da região, de todos os setores, a gente conseguiu gerar o entu-siasmo da Região”.

É este também o testemunho de cientistas da regionalidade, como o professor Luiz Roberto Alves, ex-secretário de Educação e Cultura de São Bernardo e Mauá e coordenador da cátedra de Regionalidade da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Para ele, o ABCD costu-rou este diálogo a partir de três atores: o poder público, principalmente a prefeitura de Santo André; as forças econômicas do capital e a so-ciedade organizada, associações e sindicatos, de diferentes origens e orientações políticas.

Jeroen Klink, holandês, também ex-secretá-rio da equipe de Celso Daniel e hoje professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), outro estudioso da regionalidade, sustenta que “a crise econômica (dos anos 1990) gerou a percepção dos atores locais de que se precisava reagir”. Na primeira fase, com atuação dos sete prefeitos da Região, através do Consórcio. Num segundo momento, lembra Klink, “a sociedade civil passou a cobrar a continuidade da agenda regional”. Foi quando foram criados o Fórum da Cidadania, a Câmara Regional e a Agência de Desenvolvimento Econômico.

especial regionalidade

A criação do Consórcio Intermunicipal do ABC buscou reforçar a ideia de uma região proativa, contrapondo-se ao bairrismo, à visão do cenário local como feudo político pessoal e à troca de favores no campo intergovernamental”.CELSO DANIEL (o registro está na obra Quando o Apito da Fábrica Silencia, de Jefferson Conceição)

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Para se tornar a quinta nação do mundoA futura ministra do Planejamento, Miriam Belchior, diz que inovação deverá ser reforçada no governo Dilma

Para o governo lula, a inovação tem tido uma importância muito grande. continua?Miriam Belchior – Se o Brasil quer se tornar, realmente, a 5ª na-ção do mundo em desenvolvimento, a gente não pode deixar de trabalhar, muito mais pesadamente ainda do que a gente vem trabalhando, na questão da inovação.

Sobre os caças: como você vê a demanda da região pelo caça da gripen?Miriam Belchior – Não sei dizer. Acompanho muito de longe. Não tenho informação suficiente. Só acho que o que a Região está fa-zendo é importante. Estar atento para estas oportunidades e ten-tar levar para a Região este tipo de investimento é o caminho.

o presidente lula vai ajudar na discussão da regionalidade?Miriam Belchior – Eu acho que o peso político dele, os resultados que ele alcançou em seu governo, dão condição para ele atuar em qualquer área. A estada dele em São Bernardo vai fazer que ele acabe trabalhando um pouco nisso, não diretamente, mas como indutor de alguns processos. Mas, me parece que ele quer mesmo é se dedicar à questão da África e da participação do Brasil em minorar os problemas, especialmente da fome.

Qual será o papel da questão social no planejamento da presidente Dilma rousseff?Miriam Belchior – No PAC 2 e mesmo no PAC 1, fizemos o eixo social e urbano com transporte urbano, especialmente metrô, habitação e saneamento. No PAC 2 a gente radicalizou, com creches e pré-escolas, com postos de saúde, unidades de pronto atendimento, postos de segurança comunitário e grandes espa-ços de cultura e lazer, que mostram exatamente com que lógica a gente vê as regiões metropolitanas, que a gente vê as cidades, tanto a macro-estrutura como a infra-estrutura urbana e social nos grandes centros urbanos.

Miriam Belchior: “Muita gente está no ABC. Eu sou de lá”

bém da galeria de ex-presidentes da entidade, é outra testemunha qualificada do papel do Consórcio na defesa da Região. Ele lembra que sua cidade colheu “os frutos da regionalidade” e cita a questão dos resíduos sólidos e do Rodo-anel. “Nós tínhamos uma reivindicação antiga de ligar Mauá com a via Anchieta. Com o Ro-doanel abrimos mão, todos os prefeitos apoia-ram a idéia, deu certo”.

Nos anos 1990, como presidente do Sindi-cato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho liderava a bancada do movimento social nas articulações regionais. Ele vai mais além na valorização deste processo e credita à ação do Consórcio e demais entes regionais vitórias ain-da mais estratégicas para a Região. Não fosse a ação regional, sustenta ele, a duplicação do polo de Capuava ou a permanência no territó-rio de fábricas como a da Volkswagen “talvez não tivessem sido conquistadas”.

O prefeito de Diadema, Mário Reali (PT), em seu primeiro mandato à frente do executivo municipal, concorda com estas avaliações, mas aponta a necessidade de superar o que define por “um estágio de paralisia” das instituições regionais. Com seu nome à disposição dos de-mais prefeitos para assumir em fevereiro próxi-mo a presidência do Consórcio Intermunicipal, Reali defende que a Região precisa “aproveitar as oportunidades” que vem sendo oferecidas pelos programas federais como o pré-sal, a in-dústria naval, o Minha Casa, Minha Vida, bem como de políticas sociais na área de educação, desde educação infantil, alfabetização de adul-tos, até a universidade federal.

Ex-deputado estadual, Reali está familiari-zado com o debate da questão urbana e preparado para enfrentá-lo em toda sua

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De cima para baixo: Rodoanel, Hospital das Clínicas e UFABC: conquistas da mobilização regional

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complexidade. O desafio, diz o professor Jero-en Klink, será dar um salto de qualidade nas instâncias regionais. “É preciso avançar com o planejamento regional. Investimentos como os do PAC, ou os do programa Minha Casa, Minha Vida, não passaram pelas instâncias regionais, mas apenas pelos municípios e esta-dos”. Ou seja, sem o mínimo de planejamento regional, pelo menos no que diz respeito ao uso e ocupação do solo. “Cada município faz com suas metodologias próprias e coloca isso num plano diretor municipal. É um caleidoscópio de plano diretor”, aponta Klink.

Fragilidades – As fragilidades das ins-tituições e políticas regionais têm origens bas-tante complexas. Para o professor Luiz Ro-berto Alves, “nos últimos dez anos ninguém esqueceu do planejamento. Mas, talvez, não se possa ter encarado o estratégico. Primeiro pela morte de um líder, em 2002, um ano depois do seu primeiro planejamento estratégico”. Além da morte de Celso Daniel, hoje um mito na Re-gião, o professor lembra também o falecimento do governador Mário Covas. Foi o único gover-nador do PSDB, que governou São Paulo em todo este período, a dar atenção às articulações regionais no ABCD. “Significou o enfraqueci-mento do poder público, do veículo indutor. O estratégico, por um momento, hibernou, mas a consciência se mantém”, sustenta Alves.

A frágil representação do Estado de São Pau-lo isolou os esforços regionais do equaciona-mento dos problemas metropolitanos e resultou em graves limitações à eficiência das políticas públicas produzidas na Região. Para o prefeito Luiz Marinho, “discutir esta questão de manei-ra apaixonada não resolve. É preciso refletir, sem

partidarismo ideológico e discutir os nós metro-politanos que se cruzam com os nós da Região e que passam por saúde, segurança, trânsito, transporte”. O Estado precisa fazer uma discus-são sobre orçamento da região metropolitana, propõe o prefeito petista. Mais que reclamar, ao assumir a gestão do maior orçamento da Região, Marinho tomou a iniciativa de procurar o prefei-to de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM) para propor a elaboração de políticas metropolitanas para a Grande São Paulo.

Ele acredita que esta postura do governo do Estado vai mudar. Otimismo que compartilha com Miriam, que também enxerga sinais de que, a partir de agora, o governo do Estado vai favorecer as articulações metropolitanas. Há uma mensagem do executivo estadual criando uma secretaria de estado para este fim.

O papel federal – Os resultados das ur-nas de outubro parecem favorecer as propostas de regionalidade. Se depender de Miriam Bel-chior, hoje a mais eminente protagonista da po-lítica regional, sua “embaixadora em Brasília”, o ABCD pode contar com o apoio do ministério do Planejamento da presidente Dilma Rousseff.

O governo do Presidente Lula tem trabalhado com este conceito, afirma, especialmente com a criação do ministério das Cidades e depois com o PAC. “Eles permitiram alocar recursos subs-tantivos nas regiões metropolitanas e No ABCD não foi diferente”. Ela lembra também o papel da Subchefia de Assuntos Federativos (SAF) e do ministro de Relações Institucionais, Alexan-dre Padilha, para quem “uma das suas priorida-des foi incentivar a constituição de consórcios”.

Mas, trabalhar regionalmente ainda é insti-tucionalmente difícil para a ministra. “Para se

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Para Marinho, não fosse a ação regional,

a permanência de fábricas como a da

Volkswagen no ABCD talvez não tivesse sido

conquistada

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Eliana Bernardo: mais de dois meses de trabalho Fausto Cestari: empresário reclama participação

O novo planejamentoNesta segunda edição, para 2010/2020, faltou participação da sociedade

Niceia Climaco

O planejamento estratégico da Região para a próxima década acaba de ser finalizado pelo Consórcio Intermunicipal Grande ABC. É o segundo planeja-mento estratégico realizado pelo Consórcio, em condições muito diferentes do primeiro, elogiado por todos e liderado por Celso Daniel, com amplo apoio da sociedade regional, da Agência de Desenvolvimento, da Câmara Regional e do Fórum da Cidadania, à época todos ativos.

A restrição maior é que, desta vez, o debate dos 26 Grupos de Trabalho (GTs) não saiu para fora das instalações do prédio da avenida Ramiro Colleoni, em Santo André. Mas o Consórcio Intermunicipal Grande ABC vive uma nova reali-dade institucional. Como entidade pública que passou a ser desde o início do ano, o Consórcio poderá receber recursos das esferas federal e estadual para dar vida aos projetos idealizados no seu planejamento estratégico.

De acordo com a secretária executiva da entidade, Eliana Bernardo da Silva, embora o planejamento tenha sido desenvolvido para a próxima década, é passível de revisão. Ela relata que o novo planejamento é fruto de reuniões diárias realizadas ao longo de mais de dois meses, entre agosto e outubro. Sua expectativa é de que, em 2020, pelo menos 80% das ações planejadas tenham sido executadas.

Para suprir o que considera “uma falha do planejamento anterior”, desta vez o trabalho será consolidado em um livro, Consórcio Intermunicipal do Grande ABC-20 anos, que traz um balanço, as metas e prazos a serem cumpridos. “Será como um material de consulta para comparar o andamento das ações”, explica Eliana.

Mas, para Fausto Cestari, empresário que ocupou o cargo de diretor executi-vo do Consórcio sob a gestão do prefeito tucano de São Caetano, José Auricchio Júnior (2009), o problema do planejamento regional não está aí. “Avançamos entre 40% a 50% das ações previstas em 2000”, comentou, exemplificando com o plano de macro-drenagem das enchentes, a UFABC, o Hospital Mario Covas, o Rodoanel e a ampliação do Polo Petroquímico.

Em relação ao novo planejamento, Cestari considera que faltou realizar um debate mais abrangente com a sociedade civil e não apenas restrito ao poder público. “O poder público é temporário, a sociedade, duradoura e não houve mobilização da sociedade para contribuir ou validar essa proposta”, avaliou.

Apesar de compartilhar das críticas oriundas de diferentes setores da socie-dade, Cestari reconhece que as ações tomadas regionalmente fizeram da Região

uma referência nacional e até internacional. “Agora, como primeiro consórcio multisetorial de direito público e natureza autár-

quica, passamos por um exercício de aprendizagem, do qual vamos colher frutos para finalidades mais abrangentes de governança”, afirma.

ter uma idéia, no caso de São Paulo, para dis-cutir os principais projetos do PAC 1 e, agora, do PAC 2, nós chamamos os municípios por regiões metropolitanas: de São Paulo, da Bai-xada e de Campinas, exatamente para escolher projetos de caráter regional. Agora, no PAC 2, inclusive, dividi (a região metropolitana de São Paulo) em região Oeste, a região do ABCD, a região Leste, que é o entorno de Guarulhos, exatamente para potencializar ações de caráter regional”.

Ao fazer isto, justifica, a intenção é promo-ver ações regionais. “Se alguém me propõe uma questão de drenagem que envolve dois municí-pios, está na divisa, eu vou dar prioridade a essa questão e não a uma interna do município”.

Massa crítica – Tão importante quanto a força da liderança colocada à frente da Re-gião, o sucesso da implementação das políticas regionais depende também de uma massa críti-ca de atores sociais dispostos a sustentá-la. O professor Luiz Roberto Alves conta que pou-co antes de morrer, em seminário realizado na Universidade de São Caetano do Sul (USCS), Celso Daniel dizia que “ainda faltava muita massa crítica para dar respaldo às visões de po-lítica regional”.

Mas, um balanço do que foi construído nas universidades da Região para tentar suprir esta lacuna ainda mostra um resultado modesto: a cátedra de Gestão de Cidades, coordenada por ele na UMESP; o curso de pós-graduação em regionalidade e o Laboratório de Regionalida-de da USCS, que garantiu o mestrado a impor-tantes gestores regionais como o hoje secretá-rio de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Bernardo, Jefferson José da Conceição; e, finalmente, a UFABC. “Até hoje não estamos preparados, articulados como blo-co”, avalia o professor.

O professor Jeroen Klink concorda no diag-nóstico, mas é mais generoso com as instituições regionais. Ele lembra também a presença na Re-gião de atores como a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e o Instituto Mauá de Tecno-logia, mas admite a desarticulação destas ins-tituições. “Não existe uma rede. A inovação tecnológica, a produção social (acadêmica) tem dificuldade de dialogar com a necessi-dade da sociedade, do mercado, do poder público. Esse é um problema nacional”.

colaborou Niceia Climaco

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Ruhr: exemplo de vida associativaAo lado da região de Emilia Romana, na Itália, e de Detroit, nos Estados Unidos, a revitalização do Vale do Rhur, na Alemanha, está na origem da discussão que atravessou o ABCD e se espalhou pelo Brasil.

Flávio Aguiar

A região do Ruhr, Ruhrgebiet, no oeste da Alemanha, sobreviveu como uma das maio-res conurbações da Europa graças à sua pre-coce vida associativa, em todos os níveis.

Ela é a 4a região metropolitana do conti-nente, e a 1a da Alemanha, com 7,3 milhões de habitantes. Só perde para Londres, Paris e Moscou. Em compensação, ao contrário dessas três, que gravitam em torno da capi-tal do país, a região metropolitana do Ruhr é descrita como “policêntrica”. Reúnem-se nela 14 municipalidades; nenhuma pode ser descrita como o seu “centro”, embora Essen seja uma espécie de portal geográfico. Além dela, estão entre as maiores as cidades de Duisburg, Mülheim na der Ruhr, Bochum e Dortmund. Quatro de seus municípios po-dem ser descritos como “rurais”.

Essa é outra curiosidade dessa região: ape-sar de historicamente ter sido uma das maio-res zonas industriais da Europa e do mun-do, a sua área “construída” é relativamente pequena e muito concentrada, ocupando 37,6% do território; 40,7% das terras são de-dicadas à agricultura, e 17,6 % são reservas florestais. Apesar dessa “dispersão”, uma das características da região é que se passa de uma municipalidade para outra sem solu-ção de continuidade na urbanização.

Trabalho escravo – A “vida mo-derna” começou no Ruhr no século XVIII, com a mineração do carvão, e no XIX, com a expansão da siderurgia. Em 1850, a região do Ruhr tinha mais de 300 minas em opera-ção e produzia dois milhões de toneladas de carvão por ano. Em 1913, esse número che-ga a 140 milhões de toneladas. Na primeira metade do século XX o Ruhr, sozinho, pro-duzia mais da metade do carvão e do aço da Europa Ocidental.

O processo de conurbação se acelerou enormemente. Imigrantes vinham da Polô-nia, da Bélgica, da França e do Reino Uni-do, além de outros países. Esse processo despertou as primeiras iniciativas conjuntas que começaram a definir uma consciência de “região” para o aglomerado metropolitano. Em 1913, os municípios do Ruhr adotaram conjuntamente a primeira lei antipoluição da Europa, disciplinando a descarga de resídu-os nos canais e rios da região com o objetivo de garantir água potável para a população.

Uma parte importante dessa consciência

desenvolveu-se com as lutas dos trabalhado-res. Apesar de haver uma tendência à divi-são (os poloneses, por exemplo, preferiram inicialmente criar sindicatos próprios), os movimentos dos trabalhadores conseguiram desenvolver bandeiras estratégicas comuns.

Em 1899, por exemplo, houve a primeira grande greve geral reivindicando participa-ção nos lucros das empresas. Em 1908, os trabalhadores do Ruhr conseguiram, com uma greve geral, obter as oito horas diárias de trabalho – uma conquista precoce em termos mundiais.

Depois da Primeira Guerra Mundial, du-rante os levantes de 1918/1919/1920 (em que foram assassinados Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo, em Berlim), o “Exército Ver-melho” dos trabalhadores do Ruhr enfrentou em confrontos armados, por diversas vezes, os Freikorps – organizações para-militares de ex-trema direita, matriz das SA e SS nazistas – e o próprio Exército regular alemão. De 1921 a 1924, o Ruhr passou à administração france-sa, como compensação pela Alemanha não ter pago parte das indenizações da Primeira Guer-ra, e os trabalhadores resistiram à ocupação.

Em 1929, a crise financeira mundial de-vastou o Ruhr: a produção de aço caiu em 60%, e, em 1932, 31,2% de sua mão de obra estava desempregada.

Com sua política populista de direita e a repressão à esquerda, o regime nazista re-presentou um brutal retrocesso na região. Além de perseguir e eliminar os adversá-rios, os judeus, ciganos e outras “raças in-feriores”, os nazistas instituíram o trabalho

Placa em estrada alemã que leva à região industrial

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Os muitos significados de “região”“Região” tornou-se uma “palavra internacional”, presente, sob formas específicas, numa multiplicidade de línguas, e não só nas de origem latina.Parece mentira, mas o sentido original do latim “regio”, de que derivam as outras das línguas modernas, era “direção em linha reta”. Portanto, vejam só, ela tem algo também a ver com “régua”.“Regio” era o nome das linhas retas com que os adivinhos romanos (augures) dividiam o céu para fazer suas previsões (augúrios). Daí ela passou a designar limite, fronteira; e sucessivamente o território contido nesses limites, unido por um princípio identitário e características comuns. Dela veio também o verbo “regere”, que queria dizer “dirigir em linha reta”. Daí passou a designar “marcar limites”, tanto no sentido físico quanto moral, e deslizou para “conduzir, dirigir, liderar”, ou seja, “reger” – de um país a uma orquestra. Tem relação também com “reitor”.A palavra se internacionalizou graças à presença dos princípios da administração romana em diferentes países da Europa. Inicialmente designava um território com características comuns e delimitação geográfica determinada. Em geral, seu uso se dava, inclusive no Brasil, em termos intranacionais: a região sul, a região norte, etc.Mas seu alcance foi se alargando: a região amazônica (plurinacional). Também invadiu áreas urbanas: a região metropolitana, a região do ABCD.Hoje tem até dimensões continentais. Pode-se falar da “região do Mercosul”, “a região do Caribe”, ou ainda de uma “economia regional” em relação, por exemplo, à América do Sul.

escravo para muitos estrangeiros e os traba-lhos forçados para prisioneiros de guerra nas indústrias da região.

A Segunda Guerra – Os bombar-deios aéreos de 1943 destruíram 65% das re-sidências das cidades de Dortmund e Duis-burg, e 50% das de Essen. As instalações industriais também foram seriamente atingi-das. Com o fim da Guerra, em 1945, a região ficou sob administração internacional, em diferentes formas, até meados da década de 50, quando foi final e definitivamente rein-corporada à Alemanha Ocidental. Ainda nesta época, os trabalhadores do Ruhr foram protagonistas das primeiras grandes greves e movimentos de operários na “nova Alema-nha”, reivindicando, entre outras coisas, o pleno desenvolvimento da região.

A estas vicissitudes somou-se o crescente desequilíbrio na produção de carvão e aço, que se avolumou nas décadas seguintes. En-tre 1974 e 1977, a produção regional caiu de 32,2 milhões de toneladas/ano para 21,5 milhões, e perderam-se 200 mil postos de trabalho. Indústrias e minas começaram a fechar; em 1983, num ato simbólico maior, fechou a fábrica da Krupp em Duisburg, apesar dos protestos dos trabalhadores.

Mesmo com essa desaceleração, avolu-maram-se os problemas de poluição. Em 1979, houve o primeiro alarme regional pela ocorrência de smog (do inglês smoke + fog, fumaça + neblina), uma ameaça letal à longevidade. Em 1985, houve, pela primeira vez, um alerta máximo de smog, provocan-do a interrupção da produção.

Essas circunstâncias trouxeram para a região não só a necessidade de resgatar sua

identidade histórica, mas de projetar seu futuro de modo conjunto e o mais racional possível. Em 1979, fundou-se a “Kommunal-verband Ruhrgebiet”, a Associação Comuni-tária da Região do Ruhr. Em 1988, fundou-se a associação empresarial “Inititivekreis Ruhrgebiet”, que hoje congrega 61 empresas da região, da Alemanha e do mundo inteiro que têm presença ou algum interesse no Ruhr. Essa associação atua no campo empresarial propriamente dito, artístico, cultural, cientí-fico (nas questões de poluição e alternativas) e no incentivo à inovação tecnológica.

Do século XX para o XXI, a “Kommu-nalverband” passou por uma série de trans-formações até tornar-se a “Regionaverband Ruhr”, um conselho oficial que nomeia uma executiva, formado a partir dos diversos con-selhos locais, e que tem autoridade legal sobre todos os planos diretores da – e para – a região. Entre as iniciativas bem sucedidas da “Regio-nalverband” estiveram o Projeto Ruhr 2010, objetivando indicar a cidade de Essen como capital cultural da Europa para 2010 (objetivo também da “Initiativekreis”). Uma das razões desse movimento é a consciência progressiva de que um dos objetivos fundamentais de uma associação regional desse tipo deve ser o ma-rketing da própria região em escala mundial.

Outra iniciativa foi o Projeto Ruhr 2030, análise concluída em 2009 e que fixa diretri-zes para as próximas décadas. Graças a isso, o Ruhr, que continua sendo o maior conglo-merado industrial da Europa, diversificou seu perfil e sua identidade, atuando hoje de maneira vigorosa nas áreas de comércio, ser-viços e informática, tendo ainda um substan-cial fomento ao turismo, às artes e à cultura. Em suma, um exemplo.

Mapa da região do Ruhr, na Alemanha.

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Instituições da RegiãoJoana Horta

A história da mobilização Regional no ABCD se deu no contexto da superação de uma grave crise que assolou o Brasil e a Região

No início dos anos noventa, a inserção su-bordinada do Brasil à globalização desestru-tura as relações das empresas com seus terri-tórios de origem. Mas, antes que a falência econômica alcançasse a Região, a percepção acerca da necessidade de reagir coletivamen-te começou a tomar forma. Pautados pela experiência européia, atores regionais ini-ciaram uma articulação organizada a partir de três pilares. O primeiro deles era o poder público. O segundo, formado pelas empresas e o terceiro pela sociedade organizada.

Na visão da academia, a primeira articula-ção efetivada pelo mundo tripartite Regional se deu no âmbito da gestão pública. A crise,

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RÃO em sua outra vertente, força a visão estratégi-

ca dos representantes locais, que se sensibili-zam com a necessidade de articular o sistema de baixo para cima, do mundo do trabalha-dor para o empresarial. E a primeira ação reativa foi a criação do Consórcio Municipal da Bacia do Alto Tamanduatei e Billings.

O Consórcio, hoje chamado Consórcio Intermunicipal Grande ABC, completa duas décadas de existência neste mês de de-zembro. Integrado pelos sete prefeitos dos municípios que compõe o ABCD, o espaço, idealizado pelo então prefeito Celso Da-niel, surge como ferramenta de articulação de políticas públicas setoriais voltadas para o desenvolvimento econômico e social de toda a Região. A primeira ação da entidade se deu na busca por soluções para o proble-ma da geração e descarte de lixo.

Para Luiz Roberto Alves, professor da UMESP o resultado apareceu rapidamen-te. “O Consórcio começou a trabalhar com a questão do lixo, depois se estendeu para aterros sanitários, para experiências de me-nor poluição, para a busca de tecnologias para transformação social. Até a entrada da nova indústria, que polui menos. Esse processo definitivamente aconteceu.”

Frutos da década – Um ano de-pois, inicia-se o Fórum Permanente de Dis-cussão de Santo André e, em 1994, o Fórum

Reali, em discurso de comemoração de 20 anos do Consórcio: prefeito de Diadema deve ser o próximo presidente da entidade Abaixo: doze acordos foram assinados na 4a reunião do Conselho da Câmara do Grande ABC

Luiz Roberto Alves: reestruturação do capital forçou articulação regional

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ABC. Com a explicita intenção de manter a agenda política regional, uma das princi-pais bandeiras do Fórum foi a de estimular o voto em candidatos locais a deputado es-tadual e federal, sustentando a campanha “Vote no Grande ABC”. Nos anos seguin-tes, o Fórum reunia sem qualquer objetivo executivo cerca de 80 entidades da socieda-de civil, de diversos seguimentos, e abrigava a participação de diferentes atores sociais.

Novo espaço para negociação surgi-ria com a criação da Câmara Regional do ABC, em 1997. “Ela buscava integrar os atores públicos e da sociedade civil em uma mesma mesa de discussões”, aponta Jefferson Conceição, secretário de Desen-volvimento Econômico de São Bernardo e autor do livro “Quando o Apito da Fábrica Silencia” (Editora ABCD Maior). Durante seus primeiros anos, a Câmara era compos-ta por membros do Governo do Estado, do Consórcio Intermunicipal (sete prefeitos), dos legislativos municipais, do Fórum da Cidadania, das associações empresariais, dos sindicatos de trabalhadores e pelos par-lamentares do ABCD na Assembléia Legis-lativa e no Congresso Nacional.

Uma das mais importantes decisões da instituição foi a fundação de um quarto agente de articulação local, a Agência de Desenvolvimento Econômico. Criada em 1998, a instituição não-governamental, sem fins-lucrativos, nasce com a missão de dar suporte institucional aos acordos da Câma-ra e, desde então, sustenta um amplo leque de iniciativas em torno de arranjos produti-vos locais que têm prestado serviços de valor inestimável para dezenas de empresas da Re-gião (ver página 33).

Com esta quarta instituição, estava com-posto o leque de entidades que garantiu a articulação da regionalidade do ABCD até o começo do novo século. “Consórcio, Fórum, Câmara e Agência. Esses quatro grandes ato-res passaram a ser grupos de pressão e, através desses instrumentos, foram feitas dezenas de acordos”. Entre os resultados destes acordos, Alves cita aterros sanitários, o Hospital das Clínicas, Piscinões, Fatecs, Etecs, entre outros projetos que se tornaram realidade.

O lugar do líder – Nos primeiros anos do século, o quadro conjuntural se al-tera. Celso Daniel é assassinado e Mário Co-vas também morre. Sem a força do líder re-

gional e a disposição política do Estado para o diálogo, as instituições regionais recuam. Agora, a retomada da atividade econômica também ajuda a afastar ameaças de colapso dos municípios, apesar de graves dificuldades fiscais de cidades como Diadema e Mauá.

A única compensação é a postura das políti-cas do governo federal, que se faz mais presente na Região a partir de programas como o PAC 1 e 2 e o Minha Casa, Minha Vida (2009).

Depois da morte do Celso Daniel, a Câ-mara Regional e o Fórum da Cidadania praticamente se desativaram. As instituições regionais vivem uma fase de transição, avalia Jeroen Klink, da UFABC. “Não é um pro-cesso simples e, hoje, vejo lideranças, com experiências importantes, despontando. É o caso dos prefeitos Luiz Marinho e de Má-rio Reali. Há ainda excelentes gestões em secretarias de desenvolvimento municipais. Temos lideranças sindicais, que estão saindo do movimento sindical para a vida política, como o Carlos Alberto Grana. Estamos fa-lando de lideranças muito fortes, e as pers-pectivas são boas.”

E, para provar que há muita energia em torno do território da regionalidade, enquan-to o Forum da Cidadania agoniza lentamente, uma nova entidade regional, o Forum Social do ABCDMRR, dá seus primeiros passos. No mês passado, o Fórum realizou em Diade-ma a 4ª Jornada Cidadã, na Kizomba, a Festa da Raça. A regionalidade, agora, brota com a força da cultura do ABCD.

RIO GRANDE DA SERRA

44.084HABITANTES

MAUá

417.281 HABITANTES

SÃO BERNARDO

765.203 HABITANTES

SÃO CAETANO

149.571 HABITANTES

DIADEMA

386.039 HABITANTES

SANTO ANDRÉ

673.914 HABITANTES

RIBERÃO PIRES

113.043 HABITANTES

TOTAL

2.549.135HABITANTES

População do ABCD cresceu 4,32% entre 2000 e 2010. Dados Censo 2010, do IBGE (Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística)

POPULAÇÃO DO ABCD

SERVIÇO

Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABCwww.agenciagabc.com.br

Consórcio Intermunicipal Grande ABCwww.agenciagabc.com.br

Av. Ramiro Colleoni 5, Centro Santo André - SP

Jeroen Klink, da UFABC: “vejo lideranças importantes despontando”

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apoio tecnologias sociais

inclusão inovadoraEm oito anos, Fundação Banco do Brasil investe R$ 500 milhões para expansão de tecnologias sociais

O que é uma Tecnologia Social?É um conceito que remete para uma proposta inovadora de desenvolvimento, considerando a participação coletiva no processo de organização, desenvolvimento e implementação. Está baseado na disseminação de soluções para problemas voltados a demandas de alimentação, educação, energia, habitação, renda, recursos hídricos, saúde, meio ambiente, dentre outras.As tecnologias sociais podem aliar saber popular, organização social e conhecimento técnico-científico. Importa essencialmente que sejam efetivas e reaplicáveis, propiciando desenvolvimento social em escala.São exemplos clássicos de tecnologia social: soro caseiro ( mistura de água, açúcar e sal que combate a desidratação e reduz a mortalidade infantil) e as cisternas de placas pré-moldadas que atenuam os problemas de acesso a água de boa qualidade à população do semi-árido.

Pereira diz que o Banco do Povo de Santo André espera fechar 2010 com financiamentos de R$ 6 milhões para população de baixa renda

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s projetos de inclusão so-cial no Brasil já entraram na era da inovação e re-cebem, a cada dia, mais estimulo à criação e re-aplicação das chamadas

tecnologias sociais. Somente a Fundação Banco do Brasil (FBB) foi responsável por um aporte de R$ 500 milhões, distribuídos por mais de seis mil projetos em todo o Bra-sil, nos últimos oito anos, para melhorar o trabalho de instituições que promovem a educação e a geração de trabalho e renda, através do uso das tecnologias.

O Banco do Povo Crédito Solidário, de Santo André, é um exemplo de beneficiá-rio da utilização de tecnologias sociais. Na busca por uma solução metodológica que aumentasse a capacidade de oferta de crédito à população carente do ABCD, o Banco do Povo adotou a solução Grupos Solidários para o Microcrédito, patrocina-da pela FBB. “É uma metodologia muito pouco difundida na região sudeste e ampla-mente utilizada no norte e nordeste. Como não tínhamos expertise para implantá-la sozinhos, solicitamos o auxílio da funda-ção, que apóia a sua replicação”, explica Almir Pereira, gerente executivo do Banco do Povo de Santo André e presidente da Associação Brasileira de Microcredito e Microfinanças (ABCRED).

Em 2007, com um aporte de R$ 50 mil, o Banco do Povo aplicou o investimento da FBB em consultoria e formação de pessoal para orientação de tomada de crédito por grupos. O Banco do Povo trabalhava, até então, apenas com microcréditos individu-ais, onde o empreendedor necessariamente precisa buscar um avalista ou dispor de um bem. Já com a tecnologia social de Grupos Solidários, o Banco não mais solicita tais garantias, ampliando sua capacidade de atuação. “A tecnologia tornou muito mais simples o acesso e de fato deu um caráter social ao microcrédito”, afirma Pereira.

A nova solução oferecida pelo banco mu-dou o perfil do atendimento. Hoje, dos quase dois mil financiamentos em execução pelo Banco do Povo de Santo André, 70% são tomados por Grupos Solidários. Em 2007, quando o projeto começou a ser aplicado, o

Banco financiou aproximadamente R$ 2,7 milhões. Em 2010, estimulado pelo crédito a grupos, o banco estima movimentar R$ 6 mi-lhões. “Nossa capacidade de crédito melhorou e a qualidade do serviço também. Completa-mos 21 meses com inadimplência inferior a 2%.”, ressalta Pereira. “A transformação de nossas capacidades não se deu apenas pelo aporte da fundação, mas a partir do domínio da tecnologia social, acessamos um financia-mento de R$ 1,5 milhões do BNDES e outros dois que somaram mais de R$ 500 mil com a Caixa Econômica Federal e com o Itaú.”

A busca por soluçõesA FBB começou a operar efetivamente em

fevereiro de 1988, com a proposta de finan-ciar projetos que buscassem soluções para problemas sociais e passou a desenvolver uma série de projetos sociais em várias regiões do País. Mas é em 2001 que a instituição assume o papel de articuladora de tecnologias sociais. “Hoje, o apoio às tecnologias sociais é priori-tário e inspira todo o nosso trabalho”, afirma Jefferson Oliveira, gerente de parcerias, arti-culações e tecnologia social da fundação.

Para identificar tecnologias sociais repli-cáveis, como a dos Grupos Solidários de Microcrédito, adotada pelo Banco do Povo de Santo André, a cada dois anos é promo-vido o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. As iniciativas com resultados comprovados são certificadas e passam a compor o Banco de Tecnologias Sociais. “Temos um cadastro digital que hoje conta com 571 soluções bem sucedi-das em todo o País. Com esse programa, a fundação assumiu como diretriz a dissemi-nação de conhecimento e experiências ge-radoras de transformação social positiva”, revela Oliveira.O Banco de Tecnologias Sociais da FBB é público e pode ser consultado por qual-quer pessoa, através da internet, no portal www.tecnologiasocial.org.br

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Clébio Cavagnolle Cantares

logística case de sucesso

INOVAÇÃO EM LOGíSTICA

O DESAFIO

Reduzir custos e otimizar carregamento de contêineres

QUEM RESOLVE

JMB Zeppelin, empresa de São Bernardo

A SAíDA

Desenvolvimento do Robô Bulktilter

A JMB Zeppelin, empresa de equipa-mentos industriais, instalada em São Ber-nardo do Campo, inovou o conceito de carregamento de contêineres. Com foco no máximo aproveitamento do espaço, sem perda da qualidade de grãos e materiais em pó ou pellets (granulados), além de reduzir o custo de logística, a companhia criou o Bulktilter, espécie de “plataforma-robô” que eleva o contêiner e o inclina diante de um reservatório para que ocorra o carre-gamento ou descarregamento de granu-lados. Segundo Ricardo Santos, diretor da empresa, o equipamento é ideal para diversos produtos em pellets ou pó, como polímeros (moléculas gigantes com unida-des que se repetem), café, negro de fumo (pó preto usado como matéria-prima para borracha), grãos, fertilizantes, alumina (composto para produção do alumínio) e pellets plásticos.”

“É um conceito inovador que reduz o custo de logística e permite melhor apro-veitamento do espaço nos contêineres”, destaca o executivo. O Bulktilter já faz sucesso, tanto que foi comercializado para países como Estados Unidos, Tailândia, Marrocos, Colômbia e Irã.

A pesquisa e o desenvolvimento do equipamento foram realizados dentro da Zeppelin a partir da necessidade de maior eficiência no carregamento e na economia com fretes. “Inicialmente, o estudo do produto visava alavancar a venda de silos (reservatórios verticais de produtos), mas percebemos que a funcionalidade era mui-to maior”, relata Santos. Segundo o execu-tivo, as empresas buscam economizar com o frete e geralmente precisam aproveitar o contêiner que leva um produto diferente para, na volta, trazer matéria prima, seja granulado ou pó. “No Brasil, os fretes são caros, já que os trajetos são longos e as es-tradas nem sempre são boas. Quando são boas, os pedágios são caros. Nosso conceito é de permitir que o carregamento leve mais produto, para um melhor aproveitamento do espaço, sem perda da qualidade, já que os grãos são preservados no momento de carregar”, enfatiza.

Projetado e montado na unidade de São Bernardo, o Bulktilter resulta também em ganho de produtividade, já que é possível carregar até três contêineres e meio, no padrão de 20 ou 40 pés, por hora. Além disso, o equipamento é seguro, possuindo travas e dispositivos hidráulicos automa-tizados. O equipamento dispensa ainda o uso de big-bags (áreas de armazenamento) e, se utilizado com silos, libera área indus-trial para outros processos. Como não há necessidade de empilhadeiras, traz ainda redução na ocorrência de acidentes.

Segundo Reginaldo Nascimento, geren-te de vendas da Zeppelin, o equipamento preserva o produto ainda por evitar que a sujeira do caminhão se misture a ele. “Esse

A JMB Zeppelin, empresa de São Bernardo, cria equipamento para revolução em carregamentos

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A JMB Zeppelin, empresa de São Bernardo, cria equipamento para revolução em carregamentos

fluxo é muito importante para mal-te e café, por exemplo, que precisam chegar ao destino com a qualidade preservada. No caso do café, siste-mas de enchimento convencionais, como o de ar, causam a perda de 20% do espaço, além de sempre deterio-rar alguns grãos. Com o Bulktilter, o espaço do contêiner é utilizado em 100%, o que significa até 12 sacas, ou 700 quilos a mais, pelo mesmo frete; uma bela diferença”, explica Nas-cimento, que orgulha-se de obter a aprovação de cooperativas de café. “No caso de exportação de café a granel, fez muita diferença”, avalia.

Tanta inovação anima a empresa, que projeta venda de 20 a 30 unida-des do equipamento em 2011. “Te-mos encomendas e estamos traba-lhando para atender a um mercado promissor que entende a necessidade de reduzir o custo de logística. Isso resulta em menor repasse ao valor final do produto e todos ganham”, finaliza Santos.

A empresa de São Bernardo criou a “plataforma-robô”, que inova conceito de carregamento de contêineres. À esq., a produção da Bulktilter, o diretor Santos e o equipamento em ação

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tecnologia sustentabilidade

A ERA DOS HíBRIDOSCom o novo Fusion, Ford dá a largada no lançamento dos automóveis “sustentáveis”

indústria automotiva bra-sileira rendeu-se à sustenta-bilidade e passa a produzir veículos híbridos. Eles são movidos a energia elétrica, o que representa um passo

importante, tanto para a preservação ambien-tal, quanto para o posicionamento do País no segmento de alternativas e fontes de energia re-nováveis. O primeiro automóvel desse segmen-to comercializado no Brasil pertence a um se-leto grupo, o de luxo. Trata-se do Ford Fusion Hybrid, portador de um pioneiro e inovador princípio de funcionamento chamado “full-hy-brid”, ou híbrido total. O carro possui um mo-tor a combustão e outro elétrico integrados na transmissão, com bateria de alta capacidade de 250 volts a 275 volts para tração. A bateria é recarregável pela própria ação energética do veículo, sem a necessidade de ligações externas, o que garante autonomia e flexibilidade de uso na cidade e na estrada.

O modelo híbrido oferece a mesma versatili-dade do carro a gasolina, sem depender do rea-bastecimento na rede elétrica. Além disso, essa tecnologia pode ser associada com a tecnolo-gia brasileira do motor flex. A versão atual, no entanto, ainda não possibilita o abastecimento com álcool. A partida silenciosa é feita com tra-ção elétrica. O sistema de freios é regenerativo e recupera até 94% da energia que normalmen-

te seria perdida por atrito. É justamente essa energia que recarrega a bateria. Existem três tipos de propulsão híbrida no mercado: micro, mild e full, este último posicionado no Fusion e responsável pelo sistema de tração que conse-gue operar no modo puramente elétrico até a velocidade de 75 km/h.

Todo esse sistema gera economia de com-bustível cerca de 70% maior em comparação aos veículos comuns. Segundo a montadora, isso representa o consumo de 18,4 km/h na estrada e 16,4 km/h na cidade, o que reflete mé-dia combinada de 13,1 km/l (medido conforme as normas NBR 6601 e 7024). Esses resulta-dos são praticamente os mesmos de um carro popular 1.0 básico, sem direção hidráulica e ar-condicionado, mas com peso e espaço do Fusion, sedã grande equipado com todos os itens de conveniência e conforto. Além disso, suas emissões são menores que 10% do limite legal estabelecido pelo Proconve L6 (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), que entra em vigor em 2015. A montadora já acumulava experiência de cinco anos na produção dos utilitários esportivos híbridos Escape e o Mercury Mariner, produ-zidos e vendidos nos Estados Unidos. A dife-rença entre o Fusion e eles é que dependem de um conjunto de baterias de íons de lítio, que são recarregadas diretamente na tomada, em

220 ou 110 V, por um período de seis ou 12 ho-ras, respectivamente.

Além do item sustentabilidade, a linha Fu-sion destaca-se pela criatividade e alta segu-rança, proporcionadas pelos equipamentos de última geração. Conforme a versão, estão disponíveis a chave configurável MyKey, câ-mera de ré, sensor de chuva, sistema de moni-toramento de pontos cegos, banco com ajuste elétrico em 10 direções e painel configurável. “Estamos orgulhosos de lançar no Brasil um veículo híbrido, que além dos atributos de sustentabilidade, oferece muita qualidade, segurança e criatividade. O Fusion Hybrid é uma grande inovação e seu pioneirismo mar-cará época”, afirmou. em nota, o presidente da Ford Brasil e Mercosul, Marcos de Oliveira.

O automóvel foi a grande novidade da mon-tadora no 26º Salão do Automóvel de São Paulo, especialmente pela entrega, sob regime de comodato, de um modelo à frota da Presi-dência da República. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o “presente” e a presi-dente eleita vai contar com um veículo susten-tável incorporado à sua frota. (CC)

O presidente Lula recebeu um modelo do Fusion para incorporar à frota da Presidência da República

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competitividade polo metalmecânico

Diante de um mercado globalizado e al-tamente competitivo, em especial pela alta demanda de importação de peças prove-nientes da China, as empresas de ferra-mentaria e modelação no Brasil estão em busca de formas inovadoras para, mais do que sobreviver, gerar novos modelos de ne-gócios. Essa demanda abriu espaço para o polo metalmecânico e de ferramentaria que alguns empresários vislumbram nascer a partir do ABCD, englobando regiões com grande concentração de indústrias neste segmento pelo País, como Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul e Joinville, em Santa Catarina. O projeto está em discussão jun-to à Associação Brasileira da Industria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e pre-tende trazer em sua concepção mais do que união do setor, uma verdadeira revolução.

Segundo Paulo Braga, diretor da Meta-lúrgica Taurus, o propósito é unir diversos polos pelo Brasil de forma “virtual”, com o ABCD à frente do projeto. “Somente dessa forma poderemos combater a importação desenfreada da China. Precisamos atender à demanda de ferramentaria para gerar ren-da no mercado nacional e em nossa região”, destaca Braga. O projeto também visa a criação de uma universidade corporativa em inovação. “Para nos tornamos competitivos,

precisamos de mão de obra especializada. Essa universidade terá um modelo focado em processos e gestão empresarial. Será um conjunto de idéias que nos dará condições de atender ao mercado e nos dará reconheci-mento como referência mundial”, ressalta.

Braga afirma que os empresários do setor já abraçaram a causa. “Querem participar para combater essa desigualdade que sofre-mos com a globalização. O conceito desse polo é nacional e estaremos como carro chefe”, ressalta. Carlos Manoel, diretor da Tribomattec, assume luta incansável para a implantação do projeto. “Temos tradição nessa área, coisa que os chineses não têm. Precisamos unir forças para tornar esse so-nho realidade”, explicou. “O polo será res-ponsável por apresentar soluções conjuntas dentro da cadeia produtiva e contará com membros das companhias, representantes de sindicatos patronais e dos trabalhadores, além de representantes do poder público”.

Com característica virtual, reunindo po-los pelo Brasil afora, mas com centro físico em Diadema, o projeto já conta com apoio da Abimaq. Alexandre Fix, presidente da câmara de discussão voltada para ferramen-taria e modelação do órgão, afirmou que re-conhece a importância do polo. “É um pro-jeto muito importante. Estamos apoiando

com tudo que é possível”, enfatizou.Luis Paulo Bresciani, secretário de De-

senvolvimento Econômico e Trabalho de Diadema, não esconde o entusiasmo com o polo. “Temos interesse total no projeto. A cidade e a região contam com uma quan-tidade considerável de empresas no setor e é importante que estejam organizadas para que se tornem mais competitivas”, enfati-zou o secretário.

No início de 2011, os empresários for-marão comitiva para visitar o polo de fer-ramentaria da Espanha. “Há um modelo que funciona bem por lá. Vamos ver de que forma poderemos usar como plataforma”, anunciou Manoel, da Tribomattec. Ou-tras reuniões já estão sendo encaminhadas para ajustar o apoio de entidades como o Sindicato Nacional da Indústria de Com-ponentes para Veículos Automotores (Sin-dipeças), Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Associação Brasileira de Fundição (Abifa), Sindicato Nacional da Indústria de Forjaria (Sindi-forja) e Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). Braga estima a im-plantação total do projeto em cerca de seis meses. (CC)

união que faz a força

Bresciani, secretário de Desenvolvimento de Diadema, lembra que as empresas do setor precisam se organizar para serem competitivas. Braga, da Taurus, diz que o objetivo é unir diversos polos espalhados pelo Brasil

Empresários se unem para fortalecer o setor metalmecânico e de ferramentaria a partir de um polo nacional sediado no ABCD

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pesquisa cenpes

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Cérebro da maior empresa brasileira, centro de pesquisas está hoje entre os maiores do mundo no setor de petróleo

Maurício Thuswohl

uem conhece a Petrobras sabe que o Centro de Pes-quisas e Desenvolvimento Leo poldo Américo Mi-guez de Mello é o cérebro da maior empresa brasilei-ra. Localizado na Ilha do Fundão, na Zona Norte do

Rio de Janeiro, o Cenpes, como é chamado, se encontra hoje entre os maiores centros tec-nológicos de pesquisa aplicada na indústria de petróleo e energia do mundo. A descoberta de petróleo na camada pré-sal das bacias de Campos e Santos pela Petrobras fez crescer ainda mais a importância do Cenpes como polo irradiador de inovação tecnológica no Brasil. Este ano, foi finalizada no Fundão a construção da segunda e moderníssima uni-dade do centro de pesquisas, que passou a ter uma área total de 300 mil metros quadrados, com 137 laboratórios e 30 unidades piloto.

A expansão do Cenpes custou R$ 1,2 bi-lhão. A nova unidade tem escritórios, áreas de convivência e local de reunião ao ar-livre, entre outros requintes. São dez novas alas de labora-tórios, cinco delas dedicadas principalmente ao pré-sal e cinco dedicadas à pesquisa em áreas como biocombustíveis, redução de emissão de CO2, reutilização de água, gás química, ener-

CENPES CONSOLIDA EXCELêNCIA

gias renováveis, biotecnologia, entre outras.No novo Laboratório de Física de Rochas

do Cenpes, pesquisadores realizam diversos testes sísmicos e geológicos com fragmentos de rocha, ainda impregnados de óleo do pré-sal, recentemente retirados do poço de Gua-rá. A nova estrela do Cenpes, no entanto, é o Núcleo de Visualização Colaborativa, onde um software desenvolvido em parceria com universidades permite que, a partir da utili-zação de óculos especiais 3D, os pesquisado-res e técnicos possam ficar “imersos” na tela tridimensional e andar por toda a platafor-ma recentemente inaugurada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no poço de Tupi.

A Petrobras já tem 17 salas de visualiza-ção com tela 3D semelhantes à utilizada no Fundão em todo o País, revela o diretor-executivo do Cenpes, Carlos Tadeu da Cos-ta Fraga: “Para a engenharia de projetos e a interpretação de dados sísmicos visando o posicionamento para a instalação de poços, essas salas são uma revolução. Temos um grande centro de visualização que é o pró-ximo passo da tecnologia de visualização aplicada à indústria de óleo e gás”, diz.

A importância estratégica dada pela Petro-bras ao setor de pesquisa e desenvolvimento (P&D) nos últimos anos pode ser medida nos números que acompanham os investimentos totais da empresa. Estes cresceram dez vezes,

saltando de US$ 3,5 bilhões em 2000 para US$ 35 bilhões em 2009 (majoritariamente investidos em poços e plataformas). O inves-timento específico em P&D é atualmente, segundo a empresa, de US$ 900 milhões por ano, o que coloca a Petrobras entre os cinco maiores investidores do mundo na área de energia: “No ano passado, a Petrobras inves-tiu mais em P&D do que a Exxon, algo que anos atrás ninguém imaginava que poderia acontecer. A maior parte desse investimento está sendo feita aqui no Brasil, porque hoje temos condições de fazer pesquisa de quali-dade e isso alavanca a formação de recursos humanos”, afirma Carlos Tadeu.

O diretor-executivo do Cenpes afirma que a “construção da capacidade local e de um polo tecnológico no Brasil que seja relevante em nível mundial” é uma prioridade da Pe-trobras. Os dois pilares dessa estratégia são a estreita colaboração com as universidades e o desenvolvimento de mais e melhores cen-tros de pesquisa em todo o Brasil: “A Petro-bras trabalha pela construção da nossa ca-pacidade em P&D na área de óleo e gás nas nossas universidades e institutos de pesquisa e pela construção de centros de pesquisas de fornecedores do setor de óleo e gás no Brasil. Não existe hoje no mundo um outro lugar onde tantos centros de pesquisa estejam sen-do construídos ao mesmo tempo”, diz.

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Parceria com universidades

Em relação às universidades brasileiras, os investimentos da Petrobras saltaram de R$ 100 milhões para R$ 400 milhões desde 2004. A legislação brasileira de óleo e gás tem dois dispositivos de fomento à inovação e aos investimentos em P&D. O primeiro de-les transfere parte dos royalties destinados à Agência Nacional do Petróleo (ANP) para o Fundo Setorial do Petróleo e esse dinheiro vai para o Ministério da Ciência e Tecnologia para ser aplicado em projetos do interesse da indústria. Um segundo recurso de fomento é a aplicação pelas empresas exploradoras do equivalente a 1% do faturamento de seus campos de alta produtividade em P&D no Brasil, sendo que no mínimo a metade desse montante tem que ser obrigatoriamente in-vestido em universidades.

Segundo essa cláusula, o investimento da Petrobras em 2010 seria de R$ 800 milhões, ou seja, no mínimo R$ 400 milhões para as universidades: “Antes, mesmo com intensa colaboração, investíamos somente R$ 100 milhões. Para viabilizar o aumento em qua-tro vezes dos investimentos, nós fizemos jun-to com as universidades um trabalho muito grande para apresentar a ANP uma estraté-gia de investimento. Mostramos que o inves-

timento só teria retorno com laboratórios de qualidade e com gente capaz e pedimos que a ANP aceitasse que nos primeiros anos uma parte desse investimento fosse destinado a construir a infraestrutura física e humana para podermos desenvolver projetos de pes-quisa aqui no Brasil”, conta Carlos Tadeu.

Nos últimos cinco anos, a Petrobras ajudou a construir laboratórios dedicados à área de óleo e gás que, segundo o diretor-executivo do Cenpes, “são equivalente aos melhores do mundo”. Os novos laboratórios representam uma área quatro vezes maior do que a do Cenpes: “Pegamos cada uma das 16 linhas de pesquisa da Petrobras e desdobramos em 50 temas tecnológicos do interesse da empresa. Mapeamos, com a ajuda do CNPq e da Fi-nep, as instituições mais competentes em cada tema e, para cada um, foi criada uma rede. São 50 redes temáticas”, diz Carlos Tadeu, citando inaugurações recentes de laborató-rios na USP (primeiro equipamento de medi-ção de geocronologia do Hemisfério Sul), na Unesp (Centro de Tecnologia em Carbonato) e na UFRJ (Laboratório Nacional de Ensaios Não-Destrutíveis de Corrosão, que só tem um similar, no Reino Unido).

Carlos Tadeu cita um estudo do Ipea segundo o qual o pesquisador da universi-dade brasileira tem produtividade 40% su-perior à média do pesquisador brasileiro:

Corredor interno dos laboratórios nas novas

instalações do Cenpes. Abaixo, túnel que liga a

área às antigas instalações, uma exposição digital e equipamentos de testes

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“Estamos povoando esses laboratórios com gente competente, estamos conseguindo trazer de volta brasileiros que estavam no exterior por falta de condições de trabalho aqui e agora voltam para trabalhar conosco através das universidades. Além disso, tem gente estrangeira que vem como pesquisa-dor visitante para aumentar a massa crítica brasileira”.

Atualmente, cerca de 75% da equipe de pesquisadores do Cenpes tem pós-gradua-ção (sendo 25% doutores e 50% mestres) e o restante é graduado ou está fazendo pós-graduação. Essa equipe é reforçada pela parceria com as universidades: “A escala entre o número de pesquisadores do Cenpes e o número de pesquisadores nas univer-sidades brasileiras trabalhando em proje-tos do Cenpes é de um para dez. Temos, do lado de fora, um exército contribuindo conosco, em sua maior parte formado por doutores”. O Cenpes, assim como toda a Petrobras, passa por um grande processo de renovação: “Quase 60% de nossa equi-pe tem menos de dez anos de companhia. Esse é o processo mais intenso de renovação desde a criação da Petrobras. Temos tam-bém hoje o maior programa de treinamento da história do Cenpes. Existe um processo muito acelerado de transmissão do conheci-mento da geração mais antiga para os que chegaram recentemente”, diz.

Desafios do pré-sal Os efeitos da descoberta do pré-sal já

são visíveis em termos de fortalecimento do parque tecnológico brasileiro, e empre-sas como Usiminas, Schlunberger, General Electric e Halliburton estão instalando ou já anunciaram a instalação de novos centros de pesquisa no Brasil: “O pré-sal demanda um mercado enorme de fornecedores e tem um apelo tecnológico muito interessante. É pre-ciso que fique claro que hoje não existe nada no pré-sal que não possa ser feito com as tec-nologias que nós dominamos e já aplicamos, mas ainda existe muito espaço para a gente avançar e aprimorar”, diz Carlos Tadeu.

“Para as empresas estrangeiras que procuram a Petrobras a fim de propor acordos comerciais de longo prazo dizemos que agora é diferente dos anos 1980. Queremos um acordo intelectual e que as pesquisas antes feitas lá fora sejam feitas no Brasil. Eles acabam percebendo que os cus-tos disso não seriam tão grandes, pois terão seus próprios laboratórios, mas também poderão utilizar os laboratórios das nossas universidades. Existem também uma série de médias empresas e de universidades se aproximando das empre-sas maiores. O Brasil é a bola da vez em termos de science park. Já tem gente falando em um Vale da Energia aqui no Brasil, em comparação com o Vale do Silício nos EUA”, acrescenta o diretor-executivo do Cenpes.

Rochas impregnadas de petróleo retiradas do pré-sal no poço do Guará em análise no laboratório

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Em relação às inovações tecnológicas já em processo de aplicação, o Cenpes tem conquistado alguns avanços: “Fizemos uma revolução no processamento primário do petróleo (separação de óleo, gás, água e sedimentos). Isso normalmente é feito com um vaso separador, onde se aguarda o cha-mado tempo de residência para a força da gravidade atuar e separar os componentes. Nós passamos a usar com sucesso equipa-mentos compactos de grande eficácia que utilizam força centrífuga com uso de cam-pos elétricos para acelerar a separação”, conta Carlos Tadeu.

Outros setores onde as pesquisas avançam são a separação de CO2 da corrente gasosa – foi desenvolvida com os fornecedores uma nova geração de equipamentos que usam a separação por membranas - e a perfuração de poços: “Hoje perfuramos os poços do pré-sal com tempo compatível ao que per-furamos poços na Bacia de Campos. Para isso, temos utilizado novas composições e brocas com geometrias diferentes, além de técnicas, plugs de perfuração e processos de cimentação diferentes”.

O próximo desafio, segundo Carlos Ta-deu, são os poços direcionais: “Estamos estudando como dar ângulo às brocas para perfurar esses poços, pois, à grande profun-didade e pressão, o sal é ‘plástico’ e maleá-vel. Tem muita inovação já sendo aplicada nessa linha da trajetória tecnológica. Cada linha de pesquisa tem um alvo no futuro e, para chegar lá, são precisos projetos inter-mediários com inovações que vão sendo aplicadas conforme ficam prontas”. No Cenpes, existe a certeza de que o sucesso empresarial da Petrobras, reconhecido em todo o mundo, está totalmente calcado no domínio tecnológico: “A Petrobras é uma empresa de vanguarda tecnológica e conse-guiu, mesmo sendo uma empresa da Améri-ca Latina, de um país em desenvolvimento, desenvolver e aplicar tecnologias que são reconhecidas mundo afora como tecnolo-gias de ponta. Os recursos imprescindíveis para o trabalho de inovação são dinheiro, infraestrutura e pessoal, sendo esta última a parte mais importante de tudo isso”, diz Carlos Tadeu.

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O acesso a fundos de investimentos pode ser árduo sem as devidas orientações. Nesse sentido, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) conta com duas opções de formação empresarial. O Seed Forum Finep e o Venture Forum Finep são eventos que promovem o encontro de empresários com potenciais investidores. O papel da Finep no processo é selecionar as empresas com perfil para receberem investimentos, orientá-las em seus planos de negócios e treiná-las para negociar com gestores de fundos.

O cadastro para solicitação de inclusão no programa está disponível no site da Finep. Após a inscrição, há uma pré-seleção e uma apresentação para uma banca. Em seguida, a empresa passa por um período de dois meses de preparação, no qual será orientada nos aspectos estratégicos de seu negócio. Após este processo, as empresas fazem uma apresentação formal, no dia do evento, para uma platéia de investidores.

Três aspectos diferenciam o Seed do Venture Forum: o porte dos empreendimentos, as necessidades de capital e o tamanho de seus mercados. Além disso, o Venture Forum permite a participação de empresas de todo o País, enquanto o Seed Forum é regional.

O cadastro para as duas iniciativas é único e pode ser realizado pelo endereço eletrônico: www.venturecapital.gov.br/empcom.asp

serviços | fomento, financiamento e suporte à inovação

PerFil De emPresa inDicaDa Para o seeD Forum FineP e o venture Forum FinePTECNOLOGIA: a empresa participante deve atuar em áreas como tecnologia da informação, biotecnologia, saúde, química, energia, meio-ambiente, máquinas e equipamentos, automação e segmentos correlatos;

INOVAçãO: é um fator determinante, principalmente enquanto elemento de diferenciação da empresa no mercado, podendo estar presente no processo ou produto, ou ainda na estratégia comercial da empresa;

PRODUTOS E PROCESSOS DE PRODUçãO: devem apresentar o máximo de características proprietárias (desenvolvimento próprio) e de inovação, de forma a diferenciá-lo de seus concorrentes. O seu diferencial pode se basear na qualidade, na funcionalidade, no custo ou em outros pontos que permitam vantagens competitivas explícitas;

ANÁLISE DA SITUAçãO DE MERCADO E DAS ESTRATÉGIAS: o mercado no qual se insere o empreendimento deve apresentar altas taxas de crescimento (ou potencial para tanto), devendo ser suficientemente grande para sustentar a entrada de uma nova empresa com razoável participação;

RETORNO FINANCEIRO: a rentabilidade do empreendimento, em função de sua perspectiva de investimento e de receitas projetadas, é um elemento determinante para se reconhecer uma boa oportunidade de investimento;

SAíDA: é importante ainda que sejam avaliadas as oportunidades de desinvestimento, ou seja, as alternativas de saída do investidor da empresa no futuro.

Dicas Para o Preenchimento Do caDastroTIPO DE NEGóCIO: negócio principal, atividades secundárias, quais os nichos em que a empresa atua e se destaca, e quais aqueles em que consegue melhor rentabilidade;

PRODUTOS E SERVIçOS: diferenciais de sua empresa em relação à concorrência, como satisfazer as necessidades de seus clientes, perspectivas futuras, inovações e projetos em desenvolvimento;

MERCADO E CONCORRêNCIA: principais concorrentes, diretos e indiretos,suas vantagens e desvantagens, e em que segmentos cada um deles disputa mercado com sua empresa. Analisar ainda o tamanho, as tendências e perspectivas de seu mercado;

FAIxA DE INVESTIMENTO: estimar o valor desejado, e onde se pretende alocar o investimento (Ex: capital de giro, P & D, máquinas e equipamentos, mão-de-obra especializada, marketing etc).

FINEP ORIENTA INVESTIMENTOS

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SEED FóRUM E VENTURE FóRUM FINEPNo ABCD, estão ativas diversas fontes de fomento com foco no desenvolvimento econômico de setores fundamentais para a Região, incluindo linhas específicas para projetos de inovação. Na região existem serviços como o posto do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDES) e o Serviços em Tecnologia e Inovação do Grande ABC (Cestec). Confira os programas regionais disponibilizados hoje:

centro De aPoio à tecnoloGia Do Plástico (ciaP)PROMOçãO: Agência Grande ABC

OBJETIVO: atender às necessidades das micro, pequenas e médias empresas no setor de plásticos, aumentando sua competitividade por meio da transmissão de conhecimentos que possibilitem a resolução de problemas que estejam impedindo o seu crescimento

PúBLICO ALVO: micro, pequenas e médias empresas no setor de plásticos

PARCERIA: apoio técnico e financeiro da Finep, CNPq e IPT

INFORMAçõES ADICIONAIS: www.agenciagabc.com.br

Posto De inFormações Do banco nacional De Desenv. econômico e social (bnDes)PROMOçãO: Agência Grande ABC

OBJETIVO: facilitar o acesso de micro e pequenos empresários às linhas de crédito e programas de fomento, em especial às seguintes: Finame, BNDES Automático, Finame Agrícola, Cartão BNDES e BNDES Exim.

PúBLICO ALVO: micro e pequenos empresários

PARCERIA: BNDES

INFORMAçõES ADICIONAIS: www.agenciagabc.com.br

arranjo ProDutivo local (aPl) Do GranDe abcPROMOçãO: Agência Grande ABC

OBJETIVO: capacitar e estimular o crescimento de médias, pequenas e microempresas dos setores de autopeças, ferramentaria e plásticos instaladas nos sete municípios da região

PúBLICO ALVO: micro, pequenas e médias empresas dos setores de autopeças, ferramentaria e plásticos do Grande ABC.

PARCERIA: apoio técnico e financeiro do Sebrae/SP

INFORMAçõES ADICIONAIS: www.agenciagabc.com.br

centro De serviços em tecnoloGia e inovação Do GranDe abc (cestec)PROMOçãO: Agência Grande ABC

OBJETIVO: oferecer suporte técnico às empresas do setor metal mecânico da região em diversas áreas e atuar como elo entre indústrias e centros de pesquisa e ensino

PúBLICO ALVO: empresas do setor metal-mecânico do Grande ABC

INFORMAçõES ADICIONAIS: www.cestec.com.br

ProGrama De aPoio à eXPortação Da aGência GranDe abcPROMOçãO: Agência Grande ABC

OBJETIVO: Oferecer informações e dar apoio às iniciativas das pequenas e médias empresas que pretendem atingir o mercado externo com seus produtos e serviços

PúBLICO ALVO: pequenas e médias empresas

INFORMAçõES ADICIONAIS: www.agenciagabc.com.br

sebrae escritório reGional GranDe abcPROMOçãO: Sebrae-SP

OBJETIVO: serviço de apoio à micro e pequena empresa, com foco no desenvolvimento de ações que conversem com o cenário regional

INFORMAçõES ADICIONAIS: www.sebraesp.com.br

INFORME-SE SOBRE INCENTIVOS REGIONAIS

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investimentos

conquistando o espaçoFelipe Rodrigues

empresa sueca Saab come-çou a montar a equipe do centro de pesquisas aero-espaciais a ser implantado em São Bernardo do Cam-po. O centro começará a

funcionar em abril de 2011 e contará, nos próximos cinco anos, com investimentos de US$ 50 milhões. A Saab disputa a lici-tação do programa F-X2, para a renovação da frota da Força Aérea Brasileira( FAB). No entanto, a criação do centro de pesquisa independe da vitória da empresa. A empre-sa assegura que o projeto está vinculado à oportunidade de exportar tecnologia da Re-gião para o mundo.

O vice-presidente da Saab, Dan Jangblad, anunciou, durante a abertura do “Workshop de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro”, no dia 1o de dezembro, em São Bernardo, que a “coluna vertebral” do complexo indus-trial já começou a ser constituída. “Vamos trabalhar na região, mas também teremos atuação global. São Bernardo é uma cidade com um alto potencial tecnológico. Tenho certeza que o complexo de pesquisa poderá contribuir em inovações tecnológicas para

os setores aeronáutico, de defesa e inovação urbana”, afirmou.

Anunciado em setembro, o centro aeroes-pacial deve implantar ao menos cinco proje-tos até o final de 2011, com custos estimados em U$S 10 milhões. “Além destes, o centro deve contar com outros 15 projetos ocorren-do paralelamente”, sinalizou Janglad.

O primeiro projeto ocorrerá no setor de radar e proteção de fronteira. As empresas responsáveis por cuidar dessas ações serão a Saab e também a Atmos/Atech. Já o segun-do projeto anunciado terá a área de vigilância como foco de atuação. “O centro de pesqui-sas vai contribuir muito para a cidade de São Bernardo e também para a Região. Na Sué-cia, esse projeto deu muito certo”, observou o presidente da empresa, Hakan Buskhe.

O prefeito de São Bernardo, Luiz Mari-nho (PT), presente na abertura do workshop, destacou que a instalação do centro de pes-quisas deve colocar a cidade em evidência no setor aeroespacial. “O país vive um mo-mento excepcional. Após cinco décadas, o Brasil vai voltar a investir no setor de defesa e a nossa expectativa é de que possamos ins-talar um polo de defesa em São Bernardo”, ressaltou. “O nosso objetivo de atrair inves-timento para a cidade foi alcançado. Seria excelente se os demais concorrentes tam-

bém buscassem investir independente do resultado da licitação. O importante é que os suecos escolheram o nosso município e estou otimista para ver em breve o centro aeroespacial operando”.

O vice-ministro de Infra-Estrutura da Suécia, Car Von der Esch, disse acreditar que a cooperação entre a Suécia e o Brasil será fortalecida com a instalação do centro. “Atualmente, contamos com muitas empre-sas suecas trabalhando ativamente no Brasil e a nossa expectativa é de que as indústrias brasileiras possam trabalhar juntamente com as do nosso País, buscando sempre a inovação tecnológica”, ressaltou.

O encontro contou ainda com a partici-pação de representantes do Poder Público, empresas, universidades e institutos de pes-quisa da Região. Hélio Waldman, reitor da Universidade Federal do ABC (UFABC), uma das parceiras da Saab no projeto, acre-dita que o centro impulsionará o crescimen-to das universidades e também das empre-sas. “Nossa expectativa é de que possamos realizar grandes pesquisas e desenvolver inovações para resolver os problemas e as demandas que temos na Região. Quando os órgãos se unem em prol de uma causa, a tendência é de que as soluções apareçam rapidamente”, afirmou.

A sueca Saab começa a montar a equipe do centro de pesquisas em São Bernardo, com investimentos de US$ 50 milhões

Dan Jangblad, vice-presidente da Saab: “Vamos trabalhar na região, mas também teremos atuação global”

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futuro do ABCD é desa-fiador. Está na consoli-dação e modernização da indústria. Não apenas au-tomobilística, mas de todo o seu complexo industrial.

Paradigma para o restante do País, a Re-gião é uma estrutura econômica completa e abrangente, sem similar em outras regiões brasileiras, que extrapola a cadeia automo-tiva. Essa é a sua riqueza e o seu desafio.

Somente a manutenção e inovação dessa estrutura, com a melhoria das relações ca-pital-trabalho, garantirá o futuro do ABC e a qualidade de vida dos seus quase 2,5 mi-lhões de habitantes. Os caminhos para as-segurar que essa ascensão ocorra de forma sustentável e com desenvolvimento social passam, obrigatoriamente, por consolidar aqui o modelo europeu, no qual a indústria investe na qualificação e no valor agregado da sua produção, e no fortalecimento de instituições regionais, como o Consórcio Intermunicipal Grande ABC. Esse movi-mento já é realidade, mas precisa ser am-pliado e modernizado.

A Região já é forte e especializada no setor de caminhões, cujo valor agregado é alto, e na indústria química. Expandir essa realida-de no futuro exige ações desde já, que depen-dem de intervenções do Estado e municípios, de políticas regionais de inovação e atração de empresas de alta complexidade; de siner-gia entre as redes de educação técnica e uni-versitária com as indústrias e o movimento sindical, além, lógico, da melhoria da infra-estrutura urbana e da logística, entre outras.

O papel do movimento sindical local e, em especial do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, tem sido e seguirá sendo crucial para o processo de consolidação do ABC como uma estrutura econômica moderna. O Sin-dicato, além de referência, é articulador e ca-talizador das principais iniciativas na nossa Região - caixa de ressonância que transfor-ma debates regionais em questões nacionais.

Foi assim no passado distante, na luta pela democracia, no enfrentamento ao mo-delo neoliberal dos anos 1990, com a criação do Conselho Intermunicipal Grande ABC e das câmaras setoriais. Foi assim no passado mais recente, durante a crise econômica in-ternacional, em 2008/2009, quando a Região organizada e o Sindicato tiveram papel deci-sivo na adoção de medidas para enfrentar e superar a crise. É assim no trabalho efetivo realizado junto às quatro montadoras insta-ladas no ABC para que fizessem investimen-tos nas plantas de São Bernardo do Campo, aonde indústria e o Sindicato vêm construin-do negociações inovadoras.

O ABC tem se consolidando como palco principal da modernização das relações ca-pital e trabalho. Tanto que o Sindicato dos Metalúrgicos conseguiu conquista sem pre-cedentes no País: o dia de formação sindical, que garante ao trabalhador o direito de pas-sar um dia no sindicato, abonado pela em-presa, para estudar e debater seus direitos.

O futuro exigirá a nossa atuação em novas frentes, como a criação de políticas de fortalecimento dos setores que mantêm alto índice de importação de peças e pro-dutos, com vistas à substituição do pro-duto importado por produto nacional; o apoio à criação do setor de reciclagem e de tecnologias ambientalmente sustentáveis; o apoio às micro e pequenas empresas e o incentivo para investimentos privados ligados ao setor de petróleo/gás e bens de capital, entre outros. Hoje, no ABC, o cidadão pode viver todas as etapas da sua vida: crescer, estudar, se formar, trabalhar, evoluir profissionalmen-te, consumir, dispor de lazer e usufruir de serviços diversos e completos. Daí ser im-prescindível à Região associar crescimento econômico, desenvolvimento social e sus-tentabilidade.

Sérgio Nobre é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

ponto de vista

CONSTRUINDO O FUTURO

O papel do movimento sindical local e, em especial, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, tem sido e seguirá sendo crucial para o processo de consolidação do ABC como uma estrutura econômica moderna. O Sindicato, além de referência, é articulador e catalizador das principais iniciativas na nossa Região – caixa de ressonância que transforma debates regionais em questões nacionais.

Sérgio Nobre

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AÇÃO

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