iniciação à vida crista 2009

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INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ Estudos da CNBB 97 APRESENTAÇÃO Esta reflexão sobre “Iniciação à Vida Cristã” atende a um pedido da 46ª Assembléia Geral dos Bispos do Brasil, celebrada em 2006. Situa-se como um desdobramento do documento Diretório Nacional de Catequese (cf DNC 35-38; 45-50) aprovado pela 43ª Assembléia em agosto de 2005. Quer ser também uma resposta à interpelação de Aparecida: “[A iniciação cristã é] um desafio que devemos encarar com decisão, com coragem e criatividade, visto que em muitas partes a iniciação cristã tem sido pobre e fragmentada. Ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para seu seguimento, ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora” (nº 287). Para isso, “a Presidência da CNBB, nos termos do Art. 282 do Regimento, nomeou e apresentou ao Conselho Permanente uma comissão para tratar do tema Iniciação à Vida Cristã, que deverá ter tratamento de tema prioritário na Assembléia” . Essa comissão foi composta pela Comissão Episcopal Bíblico-Catequética e alguns convidados , constituindo-se em equipe de redação. Em três reuniões (outubro de 2008, fevereiro e março de 2009) elaborou-se o presente texto, que é agora submetido aos senhores Bispos. O tema Iniciação, tão enfatizado no capítulo VI do Documento de Aparecida, e recomendado no nº 63 das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil, 2008- 2010, não é novo na Igreja. Vem desde as origens do cristianismo e recebeu, nos séculos III ao V, uma estruturação específica, o Catecumenato, considerado ao longo dos séculos como um modelo privilegiado para o processo de Iniciação à Vida Cristã. Por ser uma iniciativa da

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Trata-se do documento de estudo da CNBB que traça os principais argumentos sobre o modelo de pastoral que prioriza a experiência pessoal com Jesus Cristo na introdução à vida da Igreja.

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  • INICIAO VIDA CRIST Estudos da CNBB 97

    APRESENTAO

    Esta reflexo sobre Iniciao Vida Crist atende a um pedido da 46 Assemblia Geral dos Bispos do Brasil, celebrada em 2006. Situa-se como um desdobramento do documento Diretrio Nacional de Catequese (cf DNC 35-38; 45-50) aprovado pela 43 Assemblia em agosto de 2005. Quer ser tambm uma resposta interpelao de Aparecida: [A iniciao crist ] um desafio que devemos encarar com deciso, com coragem e criatividade, visto que em muitas partes a iniciao crist tem sido pobre e fragmentada. Ou educamos na f, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para seu seguimento, ou no cumpriremos nossa misso evangelizadora (n 287).

    Para isso, a Presidncia da CNBB, nos termos do Art.

    282 do Regimento, nomeou e apresentou ao Conselho Permanente uma comisso para tratar do tema Iniciao Vida Crist, que dever ter tratamento de tema prioritrio na Assemblia . Essa comisso foi composta pela Comisso Episcopal Bblico-Catequtica e alguns convidados , constituindo-se em equipe de redao. Em trs reunies (outubro de 2008, fevereiro e maro de 2009) elaborou-se o presente texto, que agora submetido aos senhores Bispos.

    O tema Iniciao, to enfatizado no captulo VI do

    Documento de Aparecida, e recomendado no n 63 das Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora no Brasil, 2008-2010, no novo na Igreja. Vem desde as origens do cristianismo e recebeu, nos sculos III ao V, uma estruturao especfica, o Catecumenato, considerado ao longo dos sculos como um modelo privilegiado para o processo de Iniciao Vida Crist. Por ser uma iniciativa da

  • Igreja e para toda a Igreja o catecumenato no se restringe ao mbito de algum grupo, movimento ou pastoral.

    Para compreender e colocar em prtica a Iniciao

    Vida Crist, com inspirao catecumenal, de fundamental importncia o Ritual de Iniciao Crist de Adultos (RICA). Publicado pela Congregao para Culto Divino e aprovado pelo Papa Paulo VI em 1972 , este ritual obedece ao que o Conclio Vaticano II, pede em Christus Dominus, Sacrosanctum Concilium e em Ad Gentes, a respeito da retomada, com as devidas adaptaes, do Catecumenato dos incios da Igreja.

    No decorrer dos sculos, porm, a Iniciao foi se limitando preparao aos Sacramentos da Iniciao Crist (Batismo, Eucaristia, Confirmao). s vezes tal preparao foi reduzida a uma sntese doutrinal, enfeixada no tradicional estilo de catecismo, pressupondo a vivncia crist na famlia e na sociedade, marcadas, ento, pelo cristianismo. Mas o mundo mudou e surgiu um amplo pluralismo, tambm, religioso. Esta situao d margem a um crescente nmero de jovens e adultos que no foram batizados, para os quais, quando se interessam por ser cristos, se recomenda o processo de Iniciao Vida Crist ou Catecumenato. Por outro lado, apesar dos grandes esforos da Igreja, particularmente atravs da catequese, grande nmero de batizados, no chegam a completar a prpria iniciao vida crist, gerando uma multido de batizados no evangelizados. Retomando o tema da iniciao, no se trata de querer manter a tradicional preparao aos sacramentos, com apenas um novo rtulo, sem nada mudar. H tambm a realidade do grande nmero de batizados e fiis na Igreja Catlica, para os quais viver a f nesse mundo em mudana torna-se um constante desafio. Estes fiis sentem a urgncia de um processo complementar de Iniciao, pois se vem sem o apoio da famlia e da sociedade crist, e sem condies de darem para si e para os outros as razes de sua f, esperana e amor.

    Com este texto sobre Iniciao Vida Crist, a Assemblia Geral da CNBB quer traar as orientaes fundamentais para a operacionalizao da mesma, como pede a Introduo ao RICA, 12. Por outro lado, leva em conta que diz o Documento de Aparecida, n 294: Propomos que o processo catequtico de formao adotado pela Igreja para a iniciao crist seja assumido em todo o Continente como a maneira ordinria e indispensvel de introduo na vida crist e como a catequese bsica e fundamental. Depois, vir a catequese permanente que continua o processo de amadurecimento da f, na qual se deve incorporar um discernimento vocacional e a iluminao para projetos pessoais de vida. Trata-se, pois, de retomar a grande prtica da iniciao crist como processo profundo de mergulho na vida crista, processo que implica muitos agentes de pastoral; dentro desse processo a catequese no realiza apenas mudanas metodolgicas, mas reveste-se de um verdadeiro novo paradigma (cf Aparecida 294).

    O texto, entre tantas possibilidades, tomou como esquema fundamental o insistente pedido de Aparecida: Impe-se a tarefa irrenuncivel de oferecer uma modalidade de iniciao crist, que alm de marcar o que, d tambm elementos para o quem, o como e o onde se realiza. Dessa forma, assumiremos o desafio de uma nova evangelizao, qual temos sido reiteradamente convocados (n 287). Acrescentando-se um quinto elemento (com quem? e onde?), o texto ficou estruturado com esses cinco captulos:

    I Iniciao vida crist: por qu? II Iniciao vida crist: o que ? III Iniciao vida crist: como? IV Iniciao vida crist: para quem? V Iniciao vida crist: com quem contamos? Onde? Inicialmente pensado como uma Carta da CNBB, ao

    estilo paulino, a proposta foi, depois abandonada, mantendo-se, porm, uma linguagem sobretudo pastoral, bastante

  • prxima linguagem da Mensagem do Snodo de 2008 sobre a Palavra de Deus.

    Desejamo0s que estas reflexes possam contribuir para melhorar a prtica catequtica e impulsionar nossas comunidades. Invocamos sobre esse processo de Iniciao Vida Crist as luzes do Esprito Santo e as bnos maternas de Nossa Senhora Aparecida. Dom Eugnio Rixen Presidente da Comisso Episcopal para Animao Bblico-Catequtica e da Equipe Redatora.

    INTRODUO 1. Em fins de 1974, a CNBB publicava dois documentos:

    Pastoral da Eucaristia e Pastoral dos Sacramentos da Iniciao Crist 1. Eram os primeiros documentos da CNBB, orientados, como vemos, para os Sacramentos da Iniciao. A preocupao, h 35 anos estava voltada para os sacramentos ou pastoral dos sacramentos. Alm de elementos teolgicos acentuavam-se sobretudo, elementos catequtico-jurdico-pastorais. Entretanto, j se falava tambm numa perspectiva mais abrangente, do que a preparao para receber os sacramentos. Referindo-se catequese, afirmava-se: necessrio que a preocupao doutrinal ceda o primeiro lugar autntica iniciao, isto , introduo na vida comunitria, de fraternidade crist e de participao na misso eclesial. E este, justamente, o desafio que ainda permanece.

    2. Ao retornar hoje sobre a mesma Iniciao vida crist, estamos nos dedicando a um dos temas mais desafiadores da nossa ao evangelizadora. Como levar as pessoas a um contato vivo e pessoal com Jesus Cristo, como faz-los mergulhar nas riquezas do Evangelho, como inici-los verdadeira e eficazmente na vida da comunidade crist e faz-los participar da vida divina, cuja expresso maior so os sacramentos da iniciao? Como realizar uma iniciao de tal modo que os fiis perseverem na comunidade crist? Como formar verdadeiros discpulos-missionrios de Jesus? Entendemos nos debruar no tanto sobre a preparao para receber os sacramentos, mas sim sobre o processo e a dinmica pelas quais tornar-se cristos, processos que vo alm da catequese entendida como perodo de maior aprendizado e orientado para um sacramento. A partir do Vaticano II, mas sobretudo no final e incio do milnio, a Igreja est se empenhando em restaurar o grande processo catecumenal, que to grandes

  • resultados de evangelizao provocou nos primeiros sculos, como processo eficaz de iniciao vida crist.

    3. Nessa iniciao, assim amplamente concebida, no esto implicados apenas os catequistas, que certamente continuam a ter um papel importantssimo e insubstituvel. A est implicada toda a Igreja: pais, padrinhos, introdutores, catequistas, liturgistas, ministrios ordenados... enfim, toda a comunidade! Com isso, estamos dando continuidade e desdobramento s grandes solicitaes do Diretrio Nacional de Catequese (2006), de Aparecida (2007) e que muito tem a ver com a Misso Continental e o Projeto Nacional de Evangelizao.

    I-INICIAO VIDA C R I S T . . . P O R QU? "Tarde te amei. Beleza to antiga e to nova, tarde te amei! Tu estavas dentro de mim e eu te buscava fora de mim (...) Brilhaste e resplandeceste diante de mim, e expulsaste dos meus olhos a cegueira. Exalaste o teu Esprito e aspirei o teu perfume, e desejei-te. Saboreei-te, e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me, e abrasei-me na tua paz". (Santo Agostinho, Confisses X, 27,38). 1.1 Muitos, sem saber, esto em busca dessa Beleza Agostinho descobriu tarde a seduo da pessoa e da proposta de Jesus. Outras grandes figuras da Igreja trilharam esse caminho, como se v na declarao, bem semelhante, de Charles de Foucauld: " meu Deus, a que ponto tua mo me segurava e eu no percebia! Como s bom e me preservaste! Tu me cobrias com tuas asas quando eu nem mesmo acreditava em tua existncia!"4. Mas talvez isso at tenha contribudo de certo modo para uma entrega mais intensa, com conhecimento de causa e com a conscincia do vazio deixado por tantas outras buscas. Essa procura, a pergunta por Deus, est em todos ns. Muitos so os que andam inquietos pelo mundo, descontentes com propostas que ainda no conquistaram sua mente e seu corao; h tambm outros, que de certa forma perderam de vista o Transcendente, ao se deixar levar pelo imediatismo, pelo materialismo, e pelas muitas sedues de uma sociedade que valoriza outras conquistas... Mas, tambm estes , podero redescobrir essa necessidade bsica, bem humana, de buscar a fonte do mistrio da sua prpria existncia.

    O ser humano vive procura de respostas sobre a vida e, no fundo, sobre si mesmo. Pode at ser iludido por turbilhes que escondem essa busca, fugas que acabam levando a caminhos

  • perigosos ou alienantes. Mas as perguntas continuam l dentro de homens e mulheres que querem saber quem so, por que esto neste mundo, que sentido tm as escolhas que a vida exige de ns.

    Na abertura da carta Fides et Ratio, Joo Paulo II se refere a essa necessidade, que pertence a nossa prpria natureza: "A F e a Razo constituem como que as duas asas pelas quais o esprito humano se eleva para a contemplao da verdade. Foi Deus quem colocou no corao do homem o desejo de conhecer a verdade e, em ltima anlise, de O conhecer, para que, conhecendo-o e amando-o, possa chegar tambm verdade plena sobre si prprio." (Saudao de Joo Paulo II, Fides et Ratio, p. 5).

    O Catecismo da Igreja Catlica afirma que "o homem capaz de Deus" logo em seu primeiro captulo, que se inicia assim: "O desejo de Deus est inscrito no corao do homem, j que o homem criado por Deus e para Deus; e Deus no cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem h de encontrar a verdade e a felicidade que no cessa de procurar." (n. 27). Quem chega idade adulta com essas indagaes precisa de mais do que uma sntese doutrinal. Traz toda uma vida, cheia de experincias, perplexidades, alegrias e decepes. E a no basta estudar o cristianismo. O adulto cheio de perguntas quer descobrir sentido na vida, nos seus relacionamentos, no mistrio de Deus j percebido atravs da Criao, como primeiro livro da Revelao divina. Vai ser necessrio um verdadeiro mergulho no mistrio, com uma experincia cada vez mais profunda das diversas dimenses da vida crist. Isso no se faz num cursinho rpido e nem mesmo numa catequese isolada de outros aspectos da vida eclesial. No

    se trata de "aprender coisas", trata-se de adeso consciente a um projeto de vida.

    Hoje muitos se sentem mais vontade para declarar que no tm religio ou que consideram insuficiente a sua suposta pertena eclesial. Alguns desses esto perifericamen-te na Igreja, participam de vez em quando, se relacionam com gente catlica por questes de trabalho, amizade, parentesco ou vizinhana. Outros ficam mais longe, tm at lembranas no muito boas de alguma tentativa de aproximao... mas tm perguntas e anseios que encontrariam resposta na Boa Nova vivida com conscincia e alegria. Ao falar em questionamentos, muitos pensam apenas nos mais letrados, intelectuais. O povo simples tambm questiona, com outra linguagem e s vezes at com uma profundidade maior, com aquela sabedoria conquistada atravs das dores e carncias experimentadas no cotidiano de uma sociedade injusta.

    Jesus evangelizou os adultos e abenoou as crianas. Ns muitas vezes fazemos o contrrio. As crianas, claro, sempre sero bem-vindas e tm todo o direito de viver a experincia do amor de Deus. Mas adultos que vo desco-brindo o que, sem saber, seu corao sempre buscou, pre-cisam de um processo bem vivido de iniciao (cf. DNC, n. 180-184). Uma Igreja em estado permanente de misso tem que responder a essa necessidade.

    1.2 .Uma necessidade religiosa, mas tambm antropolgica

    11. H muitos sculos, Tertuliano j dizia que "os cristos se fazem, no nascem"5. Isso vale para qualquer religio. Para "tornar-se" algo novo preciso passar por um processo de iniciao que envolve mais do que conhecer ideias. A pessoa nova que vai emergir como seguidora de um cami-

  • nho se compromete com seu conhecimento, suas emoes, suas opes de vida, suas escolhas de cada momento. Diz o Documento de Aparecida, citando palavras do papa Bento XVI: "... no se comea a ser cristo por uma deciso tica ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que d novo horizonte vida e, com isso, uma orientao decisiva." (DAp, n. 12).

    12. Entrar num novo projeto de vida, religioso ou no, requer um processo de passos sucessivos de aproximao. Reli-gies fazem isso num processo que mescla vivncia, co-nhecimento e celebrao. A pessoa aprende, mas tambm se deixa envolver pelo clima do mistrio e passa a agir de outro modo rio campo pessoal, comunitrio e social, alegremente comprometida com um projeto de vida envolvido pelo amor de Deus. E isso realizado por meio de ritos, smbolos e celebraes, que fazem parte da histria humana em todos os tempos e lugares. Mesmo os que se dizem ateus precisam de gestos simblicos para se expressar e assumir sua fidelidade a projetos e pessoas.

    13. Para sentir-se parte de uma tradio, um povo, uma comu-nidade religiosa (ou at uma famlia) a pessoa precisa estar imersa no sentido de vida que caracteriza essa pertena.

    Nem sempre o processo de iniciao identificado como tal, mas ele acontece sempre que algum se compromete com um novo projeto de vida. A busca desse novo projeto pode nascer de uma situao difcil, de algum tipo de vazio existencial. A Iniciao Crist tem muito a oferecer tambm quando algum vive em crise e insegurana. Para isso, preciso que a pessoa se sinta, em todo o processo, apoiada por uma comunidade acolhedora.

    1.3 Foi assim no comeo da Igreja

    14. Jesus formou discpulos, devagar. Houve um primeiro chamado, um aprendizado e um convvio. Houve eta-pas na misso, envio, aprofundamento. Mas mesmo as-sim no estavam totalmente prontos para a tarefa de ser Igreja at que viveram a experincia do mistrio pascal. Alguns textos do evangelho j nos do, de forma sinttica, um caminho. Podemos refletir assim sobre o processo do chamado:

    a) tudo comea com uma busca (cf. Jo 1,38): "Que pro-curais?" pergunta Jesus;

    b) isso gera um encontro (cf. Jo 1,38-39): "Onde moras?" dizem eles. No fundo esto perguntando: "Como te conheceremos melhor?" Jesus responde: "Vinde e vede!";

    c) e produz converso: eles vo, vem... e decidem segu-lo.

    d) assim o processo vai produzindo comunho:permaneceram com ele (cf. Jo 1,39), acompanham seu poder de expulsar o mal e curar (cf. Mt 10, 1)

    e) que leva misso: cada discpulo atrai outros (cf. Jo l, 40-41.45), para anunciar juntos a boa nova (cf. Mc 3,14 e cf. Jo 17,20-23) e depois fazer discpulos em todos os poros (cf. Mt 28,19);

    f) a misso leva transformao da sociedade: j nos Atos dos Apstolos e nas comunidades vislumbradas nas cartas do Novo Testamento, vemos propostas de novos tipos de relacionamento, em que a soli-, dariedade, a comunho e a fraternidade constrem um novo jeito de viver. Afinal, Jesus veio para trans-formar, trazer mais Vida para todos. A consequncia social do seguimento do Evangelho deve se tornar visvel para que a misso seja coerente.

  • 15. A partir de Pentecostes a Igreja cresceu atravs de um processo de iniciao, com todos esses passos. Numa sociedade ainda no marcada pela cultura crist, pessoas aderiam ao projeto do Reino tornando-se discpulas. Essa iniciao foi bem feita, sustentou mrtires e possibilitou a expanso do Evangelho pelo mundo. Mesmo quando ainda no eram tantos, os cristos eram firmes o bastante para que o imprio, que a princpio os perseguia, os aceitasse e mais tarde at os tornasse representantes da "religio oficial". No se consegue isso com cristos s de nome. Foi preciso uma slida iniciao, para vencer tempos difceis. Essa iniciao se dava em comunidades eclesiais que viviam com intensidade as consequncias da adeso a Cristo e que, com isso, davam slido suporte aos iniciantes. O livro de Atos dos Apstolos nos apresenta sinais muito mobilizadores, vividos na Igreja primitiva: "eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apstolos, na comunho fraterna, na frao do po e nas oraes." (At 2,42). A comunho era forte, superava diferenas sociais e oferecia um apoio mtuo:

    "A multido dos fiis era um s corao e uma s alma". (At '4; 4,32). Paulo nos d notcias de ajuda material entre as comunidades. Era importante que se pudesse perceber que, por causa de uma efetiva

    partilha, "entre eles ningum passava necessidade..." (At 4,34). 16, O caminho da iniciao ficou evidente, a partir do sculo

    II, com a estruturao do catecumenato para promover a introduo dos novos convertidos na vida da Igreja. O ob-jetivo era o aprofundamento da f, como adeso pessoal a Jesus Cristo e a tudo que ele revela. Era o caminho ordinrio para conduzir os adultos (e no as crianas) aos mistrios divinos, profisso de f e participao na comunidade. Teve seu perodo ureo entre os sculos III a IV.

    17. Quando o cristianismo comeou a ser religio aceita e, posteriormente, tornada religio oficial do Imprio (Constan-tino e Teodosio), o catecumenato foi reduzido Quaresma at desaparecer e ser substitudo pelo Batismo de massa. Ser cristo comea a ser situao comum e abre-se a possibilidade do batismo ministrado

    preponderantemente s crianas. No sculo VI desaparece o catecumenato propriamente dito; catequese e liturgia se distanciam e a catequese vai se dirigindo s crianas. Era natural tambm que, numa sociedade nominalmente crist, a "iniciao" fosse feita por imerso no prprio ambiente cultural. Iniciava-se o longo perodo do catecumenato social no contexto da cristandade.

    1.4 Cristandade: evoluo e declnio 18. A f se espalhou, gerou grandes realizaes, produziu he-

    ricos exemplos de santidade. Durante muito tempo, em pases de cultura crist, o processo de iniciao explcita foi ficando menos ativo. Afinal, todo mundo era batizado e religio era atitude que se aprendia vivendo em famlia e na prpria sociedade.

    19. Essa religio culturalmente disseminada foi campo frtil para devocionismos variados, que na verdade no forma-vam propriamente discpulos missionrios de Jesus Cristo, mas apesar disso mantiveram a f do povo. Especificamente na colonizao de nosso pas, apesar de todo esforo de adaptao dos missionrios, houve e h mais sacramentali-zao, incluindo a prticas como a chamada "desobriga", do que uma consistente iniciao. As pessoas eram batiza-das, faziam primeira comunho, casavam na Igreja... mas gradativamente muitos foram deixando de perceber o que esse compromisso de fato significava. Junto a isso temos um processo histrico que favoreceu a descrena, com a influncia do iluminismo agnstico e ateu, com conflitos mal resolvidos entre cincia e f, principalmente entre in-telectuais e classes dirigentes. A sociedade foi se tornando independente da influncia da Igreja e a religio passou a ser vista como assunto privado, pessoal.

  • 20. Recentemente, as estatsticas mostram um declnio per-centual no nmero de catlicos. O que isso significa? Perdemos catlicos ou simplesmente muitos que nunca o foram assumiram de fato tal situao? Talvez o pblico aparentemente garantido de outros tempos tenha contri-budo para uma certa acomodao. E disso que fala o Do-cumento de Aparecida, citando o cardeal Ratzinger: "Nossa maior ameaa o medocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, ' mas na verdade a f vai se desgastando e degenerando em mesquinhez". (DAp, n. 12).

    21. O projeto de Jesus no tem nada de pequeno ou mesquinho; pelo contrrio, somos chamados a um trabalho exigente e emocionante. Num mundo ferido por violncia, escravizado ao consumismo irresponsvel, numa sociedade construda sobre a injustia, Jesus nos impulsiona a viver a fraternidade, a defender os fracos, a construir a paz valorizando a honestidade e a dignidade humana, sabendo perdoar e partilhar.

    22. Mas, em vez de apenas censurar os tempos modernos, com seu individualismo e seu relativismo, estamos comeando a ver a "mudana de poca" como oportunidade para promover mais qualidade e entusiasmo na misso. O Projeto Nacional de Evangelizao, em sua introduo, fala em "aproveitar intensamente esta hora de graa". V as dificuldades como provocaes a um santo e criativo crescimento e diz: "O mesmo Espirito despertar em ns a criatividade para encontrar formas diversas para nos aproximarmos inclusive dos ambientes mais difceis, desenvolvendo, no ministrio, a capacidade de nos convertermos em pescadores de homens"6. Nesse contexto, um processo consistente de iniciao crist

    indispensvel ao tipo de misso que os sinais dos tempos esto pedindo Igreja.

    1.5 Tudo isso um apelo para uma Igreja melhor 23. O apstolo Paulo, contemplando as perseguies e dificul-

    dades que deveria encontrar, dizia: "quando sou fraco, ento sou forte" (2Cor 12,10). Isso verdade, em mltiplas situa-es. Facilidades geram mais acomodao do que crescimen-to. Igreja acomodada se torna medocre, morna, sem gosto. Ficamos espantados quando ouvimos algum que passou anos na Igreja de repente dizer, geralmente a partir da participao em algum movimento (mas s vezes at mudando de Igreja): "Encontrei Jesus!" E nos perguntamos: "Como pode ser isso? Jesus estava aqui o tempo todo, na Palavra, na Eucaristia, na Misso...". Mas fica meio evidente que, mesmo que no tenha faltado a presena de Jesus, algo importante ficou ausente. Quem no encontrou Jesus de fato no foi iniciado nu f, mesmo que tenha estado junto de ns por muitos anos. Encontrar Jesus colocar-se tambm em linha direta com a experincia dos primeiros cristos. No livro de Atos, vemos que, nas primeiras comunidades, a Igreja vai se formando a partir de uma misso recebida do prprio Jesus e retransmitida plos que se tornaram seus seguidores. O Esprito Santo confirma, sustenta e expande a misso - e isso vivenciado com fortes sinais em Pentecostes. Dificuldades e perseguies, em vez de gerar desnimo, produzem mais ardor missionrio. As comunidades se sentem portadoras de uma misso transformadora, vivem com entusiasmo a experincia do chamado.

  • 24. Se vamos criar estruturas pastorais que possibilitem um real processo de iniciao, tanto para no batizados como para batizados insuficientemente catequizados, teremos que ter uma Igreja muito consciente da necessidade permanente de um testemunho qualificado. Os que vo acompanhar os que se iniciam, sem exceo, tero que crescer tambm. O texto sobre Misso Continental chega a dizer: "Nesta vivncia, a renovao da converso pastoral dos pastores e de todos os consagrados elemento indispensvel para que o testemunho coerente de vida se torne cimento pedaggico"7.

    25. O mesmo texto destaca a importncia do compromisso qualificado dos leigos: "Qualquer esforo missionrio exige, de maneira particular, a participao ativa e comprometida dos fiis leigos em todas as etapas do processo (...) Eles ho de ser parte ativa e criativa na elaborao e execuo de projetos pastorais em favor da comunidade (...) necessrio que o leigo seja levado em considerao com um espirito de comunho e participao"*. Em outras palavras, todos tm algo importante a ganhar quando uma dificuldade se transforma em emocionante desafio para a promoo de um ideal to precioso.

    1.6 A comunidade inteira vai ser sinal de algo muito bom

    26. Jesus respondeu aos que o buscavam: "Vinde e vede!". Ele, evidentemente, passou nesse teste que ele mesmo props. Eles foram, viram, se encantaram com o que vivenciaram, ficaram, aprenderam, depois partiram em misso com a vida transformada para sempre. A iniciao vida crist supe uma comunidade que passe no L teste do "Vinde e vede". Iniciao no s aprendizado t; de doutrina. insero na totalidade da experincia de ;... f dentro de uma comunidade em que se identifica a pre-i sena

    ativa do fermento do evangelho e a fora transfor-madora do amor de Jesus.

    27. Estamos tratando de "vida crist". Ento, aquele que se inicia nesse processo vai ter que perceber em profundidade o que significa, nos vrios campos de nossa ao, ser discpulo de Jesus e ser Igreja hoje. No iniciao espiritualidade deste ou daquele instituto religioso ou movimento apenas, embora eles sejam teis e cada um possa aderir ao grupo com que sente mais afinidade. iniciao ao conjunto orgnico do mistrio cristo e da misso ecle-sial. Teremos evidentemente grande nfase nos aspectos catequticos e litrgicos. Mas ser cristo exige o compro-misso com a misso em geral, com a transformao da sociedade, com a leitura orante da Bblia, com o dilogo ecumnico e inter religioso, com a promoo das diferen- ' ' - tes vocaes que, em seu conjunto, permitem uma ao " mais ampla na proclamao e vivncia do evangelho. Tudo isso precisa ser vivido em comunidade, com diversidade de pastorais, de maneira a apresentar a Igreja em ao, nas diferentes dimenses da vivncia evangelizadora. Isso tem sido feito, por exemplo, nas Comunidades Eclesiais de Base, que so espao de convivncia, compromisso e educao da f e desenvolvem um jeito de ser Igreja que uma verdadeira iniciao crist. O Documento de Aparecida lembra que elas "tem sido escolas que tm ajudado a formar cristos comprometidos com sua f e issionrios do Senhor... "(DAp, n. 178).

    28. Para que tudo isso possa ser experimentado no processo de iniciao, a comunidade precisar de planejamento participativo num slido esprito de pastoral orgnica. Diz o Documento de Aparecida: "Uma comunidade que assume a iniciao crist renova sua vida comunitria e desperta seu carter missionrio. Isso requer novas atitudes pastorais por

  • parte dos bispos, presbteros, pessoas consagradas e agentes de pastoral" (DAp, n. 291).

    29. Esa renovao fica estimulada pela permanente necessi-dade de oferecer uma boa imagem de Igreja a quem se inicia. Cuidando bem dos que chegam, a comunidade acaba cuidando melhor de si mesma, como pais que se esforam para ser melhores porque seus filhos precisam de seu exemplo. Por isso o Documento de Aparecida insiste na necessidade de converso: "A converso pastoral requer 1 que as comunidades eclesiais sejam comunidades de discpulos ; missionrios ao redor de Jesus Cristo, Mestre e Pastor. Da nasce a atitude de abertura, dilogo t disponibilidade para promover a co-responsabilidade e participao efetiva de todos os fiis na ida das comunidades crists. Hoje, mais do que nunca, o testemunho de comunho eclesial e de santidade so uma urgncia "' pastoral" (DAp, n. 368).

    30. Com esse estmulo, a comunidade torna-se bem mais animada para fazer o que lhe est sendo insistentemente pedido: "Nenhuma comunidade deve isentar-se de entrar deci-didamente, com todas as foras, nos processos constantes de re-novao missionria e de abandonar as ultrapassadas estruturas que no favoream a transmisso da f" (DAp, n. 365).

    31. Especialmente, uma comunidade comprometida com um processo de iniciao aquela Igreja onde quem chega se sente em casa, acolhido num ambiente de fraterna cooperao, estimulado a servir com alegria e com a esperana de poder fazer diferena em meio aos sofrimentos e injustias deste nosso mundo. um estmulo a mais para viver uma das grandes afirmaes de Christifideles Laici, retomada em Aparecida: "A comunho missionria e a misso para a comunho" (ChL, n. 32; cf. DAp, n. 163).

    1.7 Crescimento e alegria ao fazer o que Deus nos pede 32. A iniciao crist uma exigncia da misso da Igreja

    nos dias de hoje: formar cristos firmes e conscientes, nos novos tempos em que a opo religiosa uma escolha e no simplesmente tradio e imerso cultural. um dever que temos como servidores do Evangelho. E, ao cumprir esse dever, estaremos entre os primeiros beneficiados com as consequncias de um processo que far crescer na f tanto os evangelizados como os evangelizadores e a comunidade inteira.

    33. Estaramos, ento, dando ateno a um grande objetivo especfico da Misso Continental: "promover a profunda con-verso pessoal e pastoral de todos os agentes de pastoral e evan-gelizadores, para que, com atitudes de discpulos, todos possam recomear desde Cristo uma vida nova no esprito, inserida na comunidade eclesial"9. uma proposta emocionante, com benefcios para todos: iniciantes, iniciadores, a comunida-de eclesial e a sociedade.

    34. Motivados para esse novo desafio, vamos refletir um pou-co mais sobre o que e fato a iniciao crist, o processo a ser desenvolvido, os interlocutores que teremos nessa caminhada, os agentes que devem se envolver nessa tarefa e as situaes em que somos chamados a atuar. Poro refletir

    1- A na sua realidade, quais costumam ser os motivos que as pessoas tm para se aproximar ou se afastar da Igreja? 2- Como seria, para voc, uma comunidade eclesial atraente, de testemunho convincente? 3- Voc conhece pessoas batizadas que no se sentem Igreja? Por que ser que isso acontece?

  • II- O QUE T E M O S EM V I S T A QUANDO FALAMOS EM IN I C I A O V I D A C R I S T 2.1 Jesus Cristo, mistrio de Deus 35. Diante da sede de infinito, presente em todo corao

    humano, Deus nos d uma resposta em Cristo Jesus. Como Pedro, confessamos a nossa perplexidade e a nossa confiana nessa resposta de Deus: "A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna" (Jo 6, 68). Consciente disso, a Igreja proclama "que a chave, o centro e o fim de toda histria humana se encontra em seu Senhor e Mes-|, tre" (GS, n. 10,2).

    36. Com Jesus se faz presente o Reino de Deus, o Mistrio ' revelado entre ns. Nos evangelhos Jesus est a servio do Reino de Deus que, para ele, a realidade ltima. Ele o mediador absoluto e definitivo do Reino. E para compreender o que o Novo Testamento quer dizer, anunciar e propor ao falar do Reino de Deus preciso mergulhar no Jesus histrico e em sua prtica. Por sua vida, suas palavras e aes, por sua doao total na cruz e gloriosa ressurreio ele revela ao mundo o amor e o projeto de salvao do Pai que nos ama a todos. Nisso se baseia a Igreja, corpo de Cristo, portadora da sua mensagem, lugar de participao na vida nova que Jesus nos veio trazer. A se encontra o centro do anncio, dn proposta transformadora do Evangelho.

    2.2 O mistrio est no centro da f 37. Jesus, ao falar do Reino, chama-o de mistrio: "A vs

    confiado o mistrio do Reino de Deus" (Mc 4,11; cf. Mt 13,11; cf. Lc 8,10). Ser cristo participar desse mistrio e se comprometer com ele. Requer uma mudana de vida, fruto de experincia, no apenas de conhecimento. O conceito de mistrio aparece pouco no Antigo Testamento, mas muito usado por Paulo.

    Era algo bem presente nas religies pags. No cristianismo adquire um sentido totalmente novo: a presena do Reino de Deus presente com Jesus.

    38. A mensagem final do Snodo dos Bispos de 2008 fala na voz da Palavra, (a Revelao, que ultrapassa a Bblia), no rosto da Palavra (Jesus Cristo, Verbo que se fez um de ns), na casa da Palavra (a Igreja, como povo de Deus) e nos caminhos da Palavra (a Misso, que leva a experincia a outros). Todos esses aspectos da Palavra so mergulhos no mistrio de Deus e da vida.

    39. O termo mystrion fundamental no Novo Testamento10. Foi usado para manifestar o desgnio divino de salvao que para Paulo se concentra na pessoa de Jesus, sua vida, ''' morte e ressurreio. Paulo contrape a "sabedoria humana" "sabedoria misteriosa" de Deus (ICor 2,7) e diz que sua misso fazer conhecer a gloriosa riqueza deste mistrio em meio aos gentios, ou seja, "o Cristo no meio de vs, esperana da glria" (Cl 1,27) e tambm iniciar os cristos "no pleno entendimento e no conhecimento do mistrio de Deus, que Cristo, no qual esto escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento" (Cl 2,2-3; cf. Ef 1,9-10; 6,19).

    2.3 Iniciao: mergulho pessoal no mistrio 40. A mensagem crist apresentada como mistrio leva

    naturalmente realidade da iniciao. No nosso imaginrio o mistrio carrega em si algo de fascinante, sublime, surpreendente, deslumbrante, inacessvel ao simples mortal; enfim, algo de divino, de fantstico e espantoso. O mistrio um segredo que se manifesta somente aos iniciados. Diferentemente de outros conhecimentos ou prticas, no se tem acesso ao mistrio atravs de um ensino terico, ou com a aquisio de certas habilidades. Para ter acesso aos divinos mistrios a pessoa precisa, de uma maneira ou

  • de outra, ser iniciada a essas realidades maravilhosas atravs de experincias que a marcam profundamente.

    41.Os discpulos de Jesus, no anncio do Evangelho, lanaram mo dessa realidade to humana e arraigada nas culturas, de tal modo que o cristianismo foi at confundido com uma das tantas religies iniciticas que pululavam no Oriente Mdio. Mas era algo muito mais profundo: para participar do mistrio de Cristo Jesus preciso passar por uma experincia impactante de transformao pessoal e deixar-se envolver pela ao do Esprito. O processo de transmisso da f tornou-se, sim, inicitico em sua metodologia. A profisso e vivncia da f crist, no so algo natural. A "alma naturalmente crist" (anima naturaliter cristiana), de que fala Tertuliano, se refere mais s generalidades da religiosidade crist, e no tanto ao especfico seguimento de Jesus e prtica de seu Evangelho. Descobrir o mistrio da pessoa de Jesus e os mistrios do Reino, assumir os compromissos de seu caminho, viver a ascese requerida pela moral crist... so realidades muito exigentes. Enfim, a verdadeira dimenso ou metania (mudana de mentalidade) supe uma certa maturidade humana e toca as mais profundas tendncias humanas.

    42 Existe, porm, uma tenso entre o aspecto de segredo, ligado ideia de mistrio, e a necessidade de anncio, de proclamao da mensagem que nos foi comunicada atravs do que nos foi revelado em Jesus. A misso visa proclamar e fazer experimentar o mistrio, no escond-lo. Mas ao mesmo tempo no podemos banalizar o acesso ao sagrado como se estivssemos distribuindo algo sem consequncias mais srias. O querigma (primeiro anncio, pregao missionria) para todos; mas os mistrios (sacramentos) so para aqueles que foram iniciados na f.

    2.4 Catecumenato: um caminho antigo e eficiente 43. Desde o sculo II, a iniciao crist se fazia atravs do

    ca-tecumenato. Foi uma feliz criao da Igreja, num

    tempo em que ela no podia contar com o apoio de uma cultura crist na sociedade e ainda havia muito clima de segredo na prtica crist. O ncleo do prprio desenvolvimento do ano litrgico foi gerado nesse processo. O catecmeno, que corresponderia ao nosso catequizando de hoje, era visto como "aquele que deve ser iniciado na f".

    44. O vocabulrio da iniciao crist foi elaborado plos Santos Padres: refere-se s etapas consideradas indispensveis para mergulhar (batismo significa mergulho) no mistrio de Cristo e comear a fazer parte da comunidade eclesial em esprito e verdade. O valor desse mistrio de Cristo e da Igreja era experimentado e depois explicado numa vivncia marcada pelo rito atravs de uma catequese chamada "mistaggica" (que inicia ao mistrio).

    Essa catequese fazia a pessoa recm batizada perceber o significado, valor e alcance dos ritos realizados. O rito, ao envolver a pessoa por inteiro, marca mais profundamente do que uma simples instruo e interioriza o que foi aprendido e proclamado, realando a dimenso de compromisso

    2.5 A iniciao como dado antropolgico 45. Ao longo do tempo, fomos perdendo a ligao com o

    real processo de iniciao. As culturas modernas no tm a mesma conscincia da necessidade antropolgica dos processos de iniciao que havia no passado e que h ainda em culturas tribais.

    46. Etimologicamente "iniciao" provm do latim "in-ire", ou seja, ir bem para dentro. No Dicionrio Aurlio, sua defi-nio assim: "Processo ou srie de processos de natureza ritual, que efetivam e marcam a promoo de indivduos a novas posies sociais (como, por exemplo, sua passagem s diferentes fases do ciclo de vida e, em particular, sua incorporao comunidade dos adultos) ou o acesso a determinadas funes religiosas ou polticas", ou ainda: "preparao pela qual se inicia

  • algum nos mistrios de alguma religio ou doutrina e a cerimnia dela decorrente". Em outras palavras, um tempo de aproximao e imerso em novo jeito de ser; sinaliza uma mudana de vida, de comportamento, com a insero num novo grupo.

    47. Jovens de hoje conhecem alguns processos de iniciao quando comeam a fazer parte de um grupo ou quando entram para uma universidade. Festas de formatura e de quinze anos so ritos de passagem. O casamento tambm: mesmo quem no tem religio sente uma certa necessidade de ritualizar essa mudana de vida. Comunidades afro-indgenas e de outros continentes esto familiarizadas com ritos de passagem. Sociedades secretas tambm usam verdadeiros processos de iniciao. So maneiras variadas de assumir uma transformao, uma virada existencial que transforma o nefito de certa forma em uma outra pessoa. O ritual (embora s vezes diludo em formas mais modernas) marca essa nova conscincia, divide a vida en-f .:>; tre o "antes" e o "depois" do compromisso assumido ou i da insero no novo grupo.

    48 Um grande especialista na rea da iniciao a define como "um conjunto de ritos e ensinamentos orais, visan-do realizar uma transformao do estatuto religioso e so-cial do iniciado. Do ponto de vista filosfico, a iniciao equivale a uma mutao ontolgica existencial. Ao final do perodo de provas, o nefito goza de uma existncia totalmente diferente da que possua antes: transforma-se noutra pessoa"11.

    49. Numa cultura moderna quase que ps-crist (cf. CT, n. 57; DGC, n. HOd) a Igreja se v diante da necessidade de uma real iniciao, para formar cristos que realmente assumam o projeto do Reino. O Estudos da CNBB "Com Adultos Catequese Adulta" afirma: "para entender melhor a tarefa da catequese importante aprofundar o conceito , de iniciao. Nossa sociedade moderna e ps-moderna perdeu, quase por completo, o elemento cultural da iniciao, to radicado em outras

    culturas." Diz ainda: "Aquilo que os ritos de iniciao representam para a vida scio cultural de um grupo, a catequese deveria representar para a vida crist"12: um processo profundo que integra a pessoa num outro estilo de rida.

    50. Da a necessidade de formas de catequese que estejam verdadeiramente a servio da iniciao crist, na complexidade de suas exigncias, como bem afirmam o DGC (n. 63-68) e o DNC (n 35 e todo o subttulo 4.1). Sente-se hoje uma necessidade urgente de reviso profunda da nossa prtica eclesial, para restabelecer, na sua funo primordial, a iniciao crist.

    51. O Documento de Aparecida enftico ao falar da necessidade urgente de assumir o -processo inicitico na evangelizao: "Ou educamos na f, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para seu seguimento, ou no cumpriremos nossa misso evangelizadora. Impe-se a tarefa irrenuncivel de oferecer uma modalidade de iniciao crist, que alm de marcar o qu, tambm d elementos para o quem, o como e o onde se realiza" (n. 287; cf. n. 286-294).

    2.7 A importncia e o lugar dos sacramentos 52. Ao traduzir o termo mistrio do grego para o latim usou-

    se a palavra sacramento que na Bblia e no incio do cristianismo, tinha um sentido bem amplo: eram as aes salvadoras de Deus. Nesse sentido, tudo que a Igreja realiza mistrio! O telogo beneditino Odo Casei definiu o mistrio como "uma ao sagrada na qual o fato salvfico se faz presente no rito. A comunidade, ao celebrar o rito toma parte na ao salvadora e recebe para si a graa divina"11. O Vaticano II incorporou esse conceito: fala do mistrio pascal (SC), mistrio da Igreja (LG), mistrio da salvao (AG), plano de Deus, mistrio, sacramento (PO).

  • 53. Resumindo as perspectivas do Vaticano II, os estudiosos afirmam que no mistrio (nos sacramentos), a liturgia torna presente para cada crente e para todos os crentes, de qual-quer poca, a plena realidade da obra da salvao realizada uma vez por todas em Cristo Jesus14.

    54. Importantes na concepo de mistrio so os sinais e smbolos, inspirados na experincia humana e na realidade csmica. Ao mesmo tempo em que revelam, escondem a realidade divina que querem comunicar. Lemos no Catecismo da Igreja Catlica: "A liturgia da Igreja pressupe, integra e santifica elementos da criao e da cultura humana conferindo-lhes a dignidade de sinais da graa, da nova criao em Jesus Cristo" (n. 1149). Diante disso, uma parte essencial da iniciao crist, coroamento do processo inici-tico, justamente a catequese mistaggica.

    2.8 Mas identificamos um problema nesse processo 55. muito comum criticar um certo tipo de catequese,

    considerada sacramentalista. Com isso se quer falar do costume de fazer do sacramento uma espcie de "festa de formatura", fim do caminho, despedida da Igreja. O sacramento vira uma espcie de costume, uma devoo a mais, sem considerao do conjunto do compromisso de f que ele sinaliza e exige.

    56. E a temos um desafio. Piecisamcs afirmar que todo verdadeiro processo catequtico desemboca na celebrao dos sacramentos, como momento culminante da participao no mistrio de Cristo. O Vaticano n afirma que a liturgia cume e fonte da vida crist (cf. SC, n. 10). O sacramento a consequncia de urna f assumida, mas tambm realimentao contnua dessa mesma f. Celebramos porque cremos e assumimos ( o cume, sinal mximo de vivncia e compromisso), mas, ao celebrar fortalecemos essa crena e esse compromisso, nos alimentamos na fonte, o que nos leva a celebrar de novo, num processo que se auto-sustenta.

    57. Portanto, a catequese deve levar a sacramento. No tem sentido fazer de outro jeito. Mas s um bom processo

    de iniciao pode dar ao sacramento o lugar que lhe cabe, que no faa dele um ponto de chegada sem prossegui-mento de caminho.

    2.9 Uma iniciao que leve a uma real participao 58. Hoje vivemos na cultura em geral uma grande demanda

    de transcendncia, de uma certa religiosidade difusa, que busca contato meio s cegas com o sagrado no torvelinho das angstias da vida. claro que temos que considerar esse dado, mas a iniciao crist no uma estratgia que busca se aproveitar das exigncias desse tipo de "mercado religioso".

    59. A restaurao do catecumenato, solicitada pela Igreja (cf. CD, n. 14, SC, n. 64-68 e AG, n. 14), com a devida incul-turao, quer retomar a dimenso mstica, celebrativa, da catequese, considerando que um dos aspectos essenciais da educao da f levar as pessoas a uma autntica expe-rincia crist, na integridade de suas vrias dimenses.

    60. No mera ampliao do nmero de fiis. E um processo de compromisso, adeso, transformao. Um documento do episcopado espanhol define assim a iniciao crist: "a incorporao do candidato, mediante os trs sacramentos da iniciao, no mistrio de Cristo, morto e ressuscitado, e na comunidade da Igreja, sacramento de salvao, de tal modo que o iniciado, profundamente transformado e introduzido na nova condio de vida, morre ao pecado e comea uma nova existncia de plena realizao. Essa insero e transformao radical, realizada dentro do mbito de f da comunidade eclesial, onde o cristo vive e d sua resposta de f, exige, por isso mesmo, um processo gradual ou um itinerrio catequtico que o ajude a amadurecer na f"15.

    61. E o Estudos da CNBB "Com adultos, catequese adulta" des-creve assim a iniciao crist: " processo de preparao, compreenso vital e de acolhimento dos grandes segre-dos (mistrios) da vida nova revelada em Jesus Cristo. O cristo convertido vai, ento, aprofundando a acolhida do 'amor do Pai, do Filho e do Esprito Santo e se colocando na

  • dinmica do amor servial aos irmos. Nesse itinerrio ele vai experimentando a f nos gestos salvficos, nas palavras de Jesus Cristo, vividos e comunicados pela Igreja atravs do testemunho de vida, da Palavra, dos Sacramentos e se abrindo esperana que no engana (escatologia). Essa era a funo maior da catequese no incio do cristianismo, no processo conhecido como catecumenato..." 16.

    2.10 Natureza da iniciao crist 62. Podemos descrever a natureza da iniciao crist com al-

    gumas caractersticas. Elas, alm de aprofundar seu sentido, mostram a diferena e o distanciamento com relao aos ritos mistricos pagos.

    63. A DV afirma que Deus, em sua sabedoria e imensa bonda-de, quis revelar-se a Si Mesmo e manifestar o mistrio de sua vontade: por Cristo, a Palavra feito carne e no Esprito Santo, todos podemos chegar ao Pai e participar de sua na-

    ' tureza divina (cf. DV, n. 2). A encontramos o objetivo final da iniciao crist, seu contedo e sobretudo sua origem: ela obra do amor de Deus. A iniciao crist graa bene-volente e transformadora, que nos precede e nos cumula com os dons divinos em Cristo. Ela se desenvolve dentro do dinamismo trinitrio: os trs sacramentos, numa unidade indissolvel, expressam a unidade da obra trinitria na iniciao crist: o Batismo nos torna filhos do Pai, a Euca-ristia nos alimenta com o Corpo de Cristo e a Confirmao nos unge com uno do Esprito.

    64. Esta obra do amor de Deus se realiza na Igreja e pela me-diao da Igreja. Como corpo de Cristo, sinal e germe do Reino, a Igreja que anuncia a boa nova, acolhe e acompa-nha os que querem realizar um caminho de f, coloca os fundamentos da vida crist e principalmente incorpora a Cristo os que esto sendo iniciados plos sacramentos da iniciao. E importante compreender bem essa dimenso eclesial. As pessoas so iniciadas no mistrio de Cristo e na vida da Igreja, no na devoo particular de qualquer pessoa ou de um grupo. A ao dos catequistas junto aos ca-tecmenos, mesmo que se enriquea com os

    dons pessoais de cada um, palavra e ao em nome da Igreja. atravs deles, e da comunidade que testemunha e apoia, que a Igreja exerce sua misso maternal de gerar novos filhos.

    65. Este dom de Deus realizado na e pela Igreja tem um terceiro elemento: requer a deciso livre da pessoa. Pela obedincia da f a pessoa se entrega inteira e livremente a Deus e lhe oferece a homenagem total de sua inteligncia e vontade (cf. DV, n. 5). No processo ou itinerrio de iniciao a pessoa envolvida inteiramente em todas as esferas e dimenses do ser. O fracasso ou falta de perseverana no caminho da f se deve, muitas vezes, falta deste envolvimento total dos iniciandos. Se isso verdade para crianas e jovens, muito mais o para os adultos.

    66. Por fim, a iniciao crist a participao humana no di-logo da salvao. Somos chamados a ter uma relao filial com Deus. Com a iniciao crist o catecmeno comea a caminhada para Deus que irrompe em sua vida e cami-* nh com ele. Essa vida nova, essa participao na natureza divina constitui o ncleo e corao da iniciao crist. O iniciado, transformado e introduzido na nova condio de vida, morre ao pecado e comea uma nova existncia.

    67. O estudo "Com adultos, catequese adulta", fala da inicia-o crist a partir do conjunto da misso da Igreja, pro-pondo uma iniciao bem abrangente, que contemple as vrias dimenses da vida crist: "conceber a catequese como iniciao vida crist implica assumi-la como um longo processo vital de introduo dos cristos ainda no iniciados, seja qual for a sua idade, nos diversos as-pectos essenciais da vida crist. bvio que no se trata de tudo, o que impossvel, mas de um todo elementar e coerente, como base slida para a caminhada rumo maturidade em Cristo"17.

    68. bom perceber que isso nos lernete a um equilbrio. A iniciao no vai ser uma catequese completa; mesmo uma vida inteira no basta para conhecer e experimentar tudo que pode enriquecer a f. Mas ela deve apresentar um

  • panorama sem deformaes que aconteceriam se faltasse alguma dimenso importante da vida da Igreja.

    Para refletr

    1- Qual o significado da palavra "mistrio" no Novo Testamento? Com relao, ao "mistrio" ao qual se pretende iniciar, qual a diferena do cristianismo e as demais religies mistricas?

    2- Com relao nossa tradicional catequese (preparao para os sacramentos conduzida por um/uma catequista com seu grupo...) qual a novidade processo catecumenal ou de uma catequese com inspirao catecumenal?

    3- Como se pode descrever a "natureza teolgica" do processo da Iniciao Vida Crist?

    4- Que diferenas e contatos se podem estabelecer entre "catequese de Iniciao" e o "processo de formao permanente"?

    I I I - I N I C I A O V I D A C R I S T . . . C O M O ?

    Eis o Cordeiro de Deus Ouvindo essas palavras, os dois discpulos de Joo seguiram a Jesus. (Cf. Jo 1,36-37)

    "Depois que se sentou mesa com eles, tomou o po pronunciou a bno, partiu-o e deu-os a eles. Neste momento, seus olhos se abriram e eles o reconheceram." (Lc 24,30-31) 3.1 Um encontro que transforma a vida

    69. Palavra, Comunidade, Celebrao foram importantes para que os primeiros discpulos reconhecessem Jesus como centro de sua vida. So fundamentais para os cristos de hoje tambm. A vida dos primeiros discpulos mudou a partir do encontro com Jesus de Nazar e seu mistrio. Eles o seguiram nos caminhos da Palavra e dos sinais do Reino. Recriados pela f na vitria da ressurreio e animados pelo dom do Esprito, tornaram-se para sempre participantes da sua vida, membros do seu corpo, celebrantes do seu mistrio, testemunhas do seu Reino. Atentos grandeza da misso, passaram a fazer discpulos em todos os povos.

    3.2 Um caminho que a Igreja quer fortalecer 70. Nossas Igrejas particulares, em todo o Brasil, ao longo

    de mais de quinhentos anos, de muitas formas tm con-vidado e conduzido ao caminho de Jesus. Sabem que o itinerrio da iniciao crist inclui sempre "o anncio da Palavra, o acolhimento do evangelho, que implica a con-verso, a profisso de f, o Batismo, a efuso do Esprito Santo, o acesso comunho eucarstica." (CIC, n. 1229).

  • Contudo, nossas dioceses tm conscincia de que muitos dos itinerrios oferecidos aos no batizados so fragmen-tados. Sabem tambm que, entre os batizados de vrias idades, mesmo entre os que participam da comunidade e dos movimentos, h carncia de itinerrios de introduo e amadurecimento na f.

    3.3 Um processo que pode inspirar outras aes 71. Uma herana eclesial e prottipo de caminho que conduz

    vida crist, como dito acima, o catecumenato batismal: ! ele uma "escola preparatria vida crist", "um processo formativo e verdadeira escola de f" (DGC, n. 130, e DGC, n. 91). Esse processo foi restaurado em suas fontes e, a pedido do Conclio Vaticano II, codificado no Ritual de Iniciao Crist de Adultos. Nas ltimas dcadas, a situao pastoral tem feito a Igreja perceber que h tambm uma necessidade de catecumenato ps-batismal (CIC, n. 1231), que seria de muito valor para a iniciao integral de jovens e adultos batizados, mas no suficientemente envolvidos no compromisso cristo.

    72. O modelo de catecumenato apresentado pelo RICA possi-

    bilita a elaborao de itinerrios diversos, de acordo com as necessidades de cada realidade. No o que se costu-ma chamar de roteiro ou manual catequtico, mas, atravs do processo proposto e do contedo das celebraes, indica um caminho. importante, mesmo com as adapta-es necessrias diante de cada realidade, conservar o que essencial e especfico nesse processo. Uma primeira carac-terstica essencial o seu carter cristocntrico e gradual. O catecumenato est a servio de quem decidiu seguir Cristo e trilha a converso (cf. DGC; n. 89). organizado em quatro tempos e em trs grandes celebraes ou etapas, das quais participam membros da comunidade, parentes e amigos. "A f, impulsionada pela graa divina e cultivada pela ao da Igreja, experimenta um processo de amadurecimento" (DGC, n. 88). No decorrer do processo, introdutores, cate-

    quistas e presbteros, refletindo junto com os iniciandos, examinam as condies que cada um tem de vivenciar a etapa que marca a passagem para o tempo seguinte.

    73. Outras caractersticas do modelo catecurnenal devem ser

    garantidas (cf. DGC. n. 91 e DNC, n. 49). O catecumenato visa a iniciao, uma funo vital da Igreja. Sua responsa-bilidade de toda a comunidade crist. Todo ele impreg-nado pelo mistrio da Pscoa de Cristo. E tambm lugar privilegiado de inculturao, onde so acolhidas na Igreja as "sementes da Palavra" presentes nas pessoas e nas cul-turas. Alm disso, o catecumenato, que garante uma for-mao intensa e integral, est vinculado a ritos, smbolos e sinais e est em funo da comunidade crist.

    3.5 Desenvolvimento do processo catecurnenal

    74. A iniciao catecurnenal, de acordo com o RICA, se faz em 4 tempos e 3 etapas. A palavra "etapa" aqui tem um signi-ficado um pouco diferente do que aparece na linguagem comum. As etapas so entendidas como "portas" (algo que se abre, possibilitando avano na caminhada), momentos fortes marcados por uma celebrao especfica que assina-la a situao do iniciando dentro do processo, na passa-gem para o tempo seguinte. Como se v no quadro abaixo, por exemplo, embora a celebrao dos sacramentos seja um sinal forte na caminhada, ela no o fim do processo, a "porta" que se abre para a catequese mistaggica, que vai aprofundar a educao para a vivncia do mistrio:

  • 3.5.1 Cada progresso marcado por uma celebrao

    75. Dentro de cada tempo vo acontecendo progressos na ca-minhada da educao da f. Alm das celebraes (etapas) que marcam a passagem de um tempo para outro, h ritos especiais dentro de cada tempo, feitos no meio da semana, para marcar os avanos que vo sendo gradativamen-te atingidos. Alguns desses ritos incluem "entregas" que representam os compromissos que vo sendo assumidos, como acontece, por exemplo, na entrega do smbolo da f (o Credo) e da orao do Senhor (o Pai Nosso).

    76. J os escrutnios da quaresma, na sua qualidade de ritos penitenciais, visam uma progresso "na conscincia do pecado e no desejo de salvao", para caminhar ao en-, contro de Cristo, na noite pascal, Ele que gua viva, luz, ressurreio e vida (cf. RICA, n. 157). Aqui se faz um uso bem especfico de uma palavra (escrutnio) que costuma ser usada de outro modo na linguagem comum. No RICA, os escrutnios so celebraes que levam a um exame de conscincia e a uma reflexo sobre a libertao do pecado e de suas consequncias, reforando a adeso Redeno oferecida por Cristo.

    77. As entregas representam a herana da f que passada aos caminhantes. Outros rituais vo acompanhando o processo. Na uno suplica-se "a fora, a sabedoria e as virtudes divinas, para que sigam o caminho do Evan-gelho de Jesus, tornem-se generosos no servio do Rei-no..." (RICA, n. 131). Os exorcismas da quaresma pedem a libertao das consequncias do pecado e da influncia maligna, para que os catecmenos sejam fortalecidos em seu caminho espiritual e abram o corao para os dons do Senhor (cf. RICA, n. 156). Aqui

  • tambm a palavra "exorcismo" aplicada de formabem tpica desse processo de iniciao: no so ritos assustadores; so oraes, dentro das celebraes, que pedem a libertao de todo o mal. Para entender melhor todo o processo, recomenda-se a leitura do roteiro das celebraes, no RICA.

    3.5.2 O pr-catecumenato (1 tempo]

    78. No modelo catecumenal, em qualquer poca do ano, as pessoas que querem viver o processo so recebidas por um catequista. So tambm acompanhadas por um intro-dutor ou introdutora, vo entrando em contato com a co-munidade e com o ministro ordenado. Faz-se um primeiro anncio - o querigma - (ou o novo anncio, dependendo do caso) do mistrio de Cristo, no dilogo com a pessoa, sua cultura e experincia religiosa. No caso dos j batiza-dos, a aproximao (ou reaproximao) ao Senhor decor-rente do batismo recebido na infncia e, eventualmente, dos outros sacramentos de iniciao j celebrados.

    79. Esse o tempo do despertar ou reavivar (para os que j tiveram alguma participao) a f em Jesus Cristo e a converso, tempo de perceber melhor a funo da Igreja. O caminhante incentivado a vivenciar a f pela orao e pela mudana de relaes com os outros e com a vida. Esperam-se pequenas atitudes que mostrem que isso est acontecendo. Os que vo alcanando esse estgio so convidados ao catecumenato. Os j batizados so incentivados a buscar o Sacramento da Reconciliao.

    3.5.3 Rito de admisso ao catecumenato (1a etapa)

    80. O chamado de Deus e primeira adeso a Cristo, por parte dos candidatos, so marcados por uma primeira grande celebrao, que o rito de entrada no catecumenato. Nela eles so assinalados com a cruz do Senhor, pois pela f j participam do mistrio da morte e ressurreio. Depois so convidados a entrar na igreja e a ouvir a Palavra de Deus junto com a comunidade. Recebem o Livro da Sagrada Escritura como sinal de sua condio de ouvintes da Pala-vra. Assim so acolhidos no seio maternal da Igreja e reco-nhecidos como iniciantes no discipulado, catecmenos

    81. Os batizados, por sua vez, em tal celebrao so acolhidos como membros da Igreja, catequizandos, fiis que faro um } percurso de intenso seguimento do Senhor. Alguns deles ," tm em vista o prosseguimento de sua iniciao plos sacramentos da Confirmao e da Eucaristia. Outros, j con-firmados e comungantes, ao fim do processo catecumenal renovaro de modo especial seus compromissos batismais diante da comunidade. Em ambos os casos, ao longo do catecumenato, revivero a riqueza da iniciao crist: "a f infusa no Batismo deve crescer, chegar maturidade e enraizar-se profundamente..." (RICA, n. 296).

    3.5.4 O catecumenato (2 Tempo)

    82. Tendo sido feita a acolhida como catecmenos na celebra-o da primeira etapa, se inicia o catecumenato propriamente dito; a fase mais longa de todo processo de iniciao vida crist. Compete ao bispo, em comunho com a Con-ferncia Episcopal, estabelecer a este respeito normas mais precisas18. Durante este tempo os catecmenos criam fa-miliaridade com a Palavra de Deus, recebem formao catequtica, so iniciados nos ritos litrgicos e exercitam-se na prtica da vida crist. Pede-se deles uma progressiva

  • mudana de mentalidade e dos costumes com suas consequncias sociais. "A formao propriamente catecu-menal, conforme a mais antiga tradio, se realiza atravs da narrao das experincias de Deus, particularmente da Histria da Salvao mediante a catequese bblica. A pre-parao imediata ao Batismo feita por meio da catequese doutrinal, que explica o Smbolo Apostlico e o Pai Nosso, com suas implicaes morais" (cf. DNC, n. 47).

    3.5.5 Celebrao da eleio ou inscrio do nome (2a etapa)

    83. Com o rito da eleio, que geralmente acontece no incio da quaresma, encerra-se o catecumenato propriamente dito e d-se incio ao tempo da purificao e iluminao. uma celebrao muito solene porque um momento forte de todo o catecumenato. Os catecmenos declaram diante do bispo ou seu representante o desejo e a deciso de se tor-narem cristos. O bispo, ento, ouvindo o testemunho dos padrinhos em favor dos catecmenos, acolhe e declara-os aptos a uma preparao mais especfica, "eleitos" para os sacramentos pascais.

    3.5.6 Purificao e iluminao (3 Tempo)

    84. Nos quarenta dias da quaresma acontece o tempo de pu-rificao e iluminao. Os catecmenos so ajudados na re-viso de vida e no retorno ao primeiro encontro com o Se-nhor. E um tempo em que se reala mais o cultivo da vida interior. Procura-se purificar os coraes e aprofundar a converso pelo exame de conscincia e pela penitncia.

    85. So prprios deste tempo os escrutnios, as entregas do Sm-bolo (Credo), da Orao do Senhor (Pai-Nosso) e os ritos de

    ' preparao imediata. Os escrutnios realizam-se no 3Q, 4 e 5 Domingos da Quaresma. Se motivos pastorais exigirem pode-se escolher outros domingos ou dias de semana. Tm por finalidade purificar, aperfeioar os sentimentos, as decises e a adeso, fortalecer contra as tentaes, orientar os propsitos e estimular as vontades (cf. RICA, n. 154).

    86. "As entregas, que tambm podem ser antecipadas para o tempo do catecumenato por causa da brevidade do tempo da purificao e da iluminao, devem ser celebradas quando os catecmenos derem sinais de maturidade" (RICA, n. 125). Os ritos de preparao imediata so feitos no Sbado Santo pela manh ou no incio da tarde.

    3.5.7 Celebrao dos sacramentos da iniciao (3a etapa)

    87. Na noite da Pscoa os iniciados recebem os sacramentos do Batismo, da Confirmao e da Eucaristia. a terceira grande celebrao ou etapa. "Os eleitos, tendo recebido o perdo dos pecados, so incorporados ao povo de Deus, tornam-se seus filhos adotivos, so introduzidos pelo Esprito na prometida plenitude dos tempos e ainda, pelo sacrifcio e refeio eucarstica, antegozam o Reino de Deus" (RICA, n. 27). Quanto aos adultos que j receberam o Batismo eles no devero tomar parte dos ritos batismais, a no ser juntamente com toda a assembleia na hora da renovao do Batismo. Para estes, a data da Primeira Eucaristia e Crisma poder ser marcada em outra poca, de preferncia durante o tempo pascal (cf. cap. IV do RICA).

  • 3.5.8 Mistagogia (4 Tempo)

    88. Ao longo do tempo pascal, acontece um prolongamento da experincia dos iniciados, um mergulho maior no mistrio: o tempo da mistagogia. este o ltimo tempo da iniciao. Nele "se obtm o conhecimento mais completo dos mistrios atravs das novas explanaes e sobretudo da experincia dos sacramentos recebidos" (RICA, n. 38). Nas missas os nefitos ocupam lugar de destaque, so lembrados na homilia e na orao dos fiis. "Para encerrar o tempo da mistagogia, realiza-se uma celebrao ao terminar o tempo pascal, nas proximidades do domingo de Pentecostes, at mesmo com festividades externas" (RICA, n. 237).

    89. No aniversrio do batismo de se desejar que os nefitos se reunam para agradecer a Deus, partilhar sua experincia espiritual e renovar suas foras(Cf. RICA, n. 237-238). Terminado o processo catecumenal de iniciao vida crist, o nefito prossegue seu caminho de amadurecimento na f atravs da formao continuada.

    3.6 Caractersticas complementares do Catecumenato

    3.6.1 Meios para se atingir a maturidade da vida crist

    90. A formao integral e vivencial realizada no catecumena-to devem incluir as diversas dimenses da vida eclesial e da proposta do Reino. Visa levar os iniciantes a orar mais facilmente, dar testemunho da f, guardar em tudo a es-perana em Cristo, seguir na vida as inspiraes de Deus e praticar a caridade para com o prximo, at a renncia de si mesmos.

    91. Quatro meios fundamentais so propostos para atingir esse objetivo:

    a) a catequese que leve ntima percepo do mistrio da salvao e no s do conhecimento de dogmas e preceitos; para isso dever estar relacionada ao ano litrgico, distribuda por fases e apoiada nas celebraes da Palavra;

    b) a continuao do acompanhamento plos introdutores, assim como o exemplo e a contribuio dos padrinhos (escolhidos nesse perodo) e dos membros da comunidade;

    c) a liturgia, com os ritos de purificao e bno, cele-braes especiais da Palavra e participao gradativa nas celebraes da comunidade;

    d) estmulo ao testemunho de vida e profisso de f dos caminhantes, como forma de colaborar para a evangelizao e a edificao da Igreja (cf. RICA, n. 19).

    3.6.2 Catequese e liturgia em mtua cooperao 92. A catequese e a liturgia se reforam mutuamente no

    processo catecumenal. A catequese fornece meios para conhecer Jesus e viver a experincia pessoal de encontro com ele , e aceitao de sua proposta, de seu mistrio de salvao. A liturgia ajuda a' guardar e assumir profundamente o que foi descoberto na caminhada. Assim, as celebraes da Palavra de Deus no catecumenato tm por finalidade "gravar nos coraes dos catecmenos o ensinamento recebido quanto aos mistrios de Cristo e a maneira de viver o que da decorre (...); lev-los a saborear as formas e as vias de orao; introduzi-los pouco a pouco na liturgia de toda a comunidade" (RICA, n. 106).

    93. A cada semana, as celebraes podem incluir um exorcismo. J vimos o que que o RICA chama de "exorcismo", algo diferente da conotao que essa palavra tem no imaginrio comum do povo. So oraes pedindo a proteo de Deus, a fora para resistir ao mal e s tentaes. Veja-se como exemplo as oraes que esto no RICA (n. 113;164;171;178).

  • 94. Tambm bom relembrar que o termo escrutnio, usado no RICA, no exatamente o que costumamos pensar quando ouvimos essa palavra. Trata-se de uma celebrao, onde se espera que as pessoas ouam a Palavra e atravs dela examinem sua vida com vistas a um progresso sempre maior no seguimento de Jesus. Na sua preparao pessoal para esses escrutnios e em toda a avaliao de sua caminhada, o catecmeno conta com a ajuda de seus catequistas, do presbtero e do introdutor,que o acompanha passo a passo.

    3.6.3 Um modelo inspirador, aberto a adaptaes 95. Em muitos lugares j h experincias que esto

    pondo em prtica o esprito catecumenal da iniciao crist, com criatividade e adaptao. O prprio RICA chama a ateno para a necessria flexibilidade, quando diz: "O Rito de iniciao se adapta ao itinerrio espiritual dos adultos, que varia segundo a multiforme graa de Deus, a livre cooperao dos mesmos, a ao da Igreja e as circunstncias de tempo e lugar" (RICA, introduo, n. 5). O modelo catecumenal deve ser estudado e aplicado na medida do possvel, na ao normal da Igreja (no restrito a alguns grupos, movimentos etc.). So ricas orientaes, mas sua aplicao vai ter que levar em conta uma grande variedade de situaes, tanto das comunidades como dos candidatos envolvidos.

    96. Devemos fazer sempre o melhor possvel, mas no podemos ficar paralisados se as condies que nos cercam no permitem por em prtica o modelo ideal. O catecumenato d pistas importantes para a catequese e traz um estmulo muito grande para a qualidade da vida paroquial. Mas no deve ser visto como um esquema rgido, que impossibilite solues criativas para situaes especficas.

    3.6.4 Alguns riscos e problemas do caminho 97. E importante no esquecer que a iniciao crist tarefa

    do conjunto da Igreja. As pessoas so iniciadas para a vida em Cristo. Viver essa vida a partir da espiritualidade de um grupo ou movimento pode ser uma opo pessoal, mas no alternativa nica que possa ser imposta para quem quer ser Igreja. E timo ter o melhor processo possvel de iniciao, com todos os aprofundamentos que a situao permitir. Mas os que assim forem iniciados precisam superar a tentao de uma atitude de superioridade em relao a quem no teve tal oportunidade e aos que trabalham a partir de outros itinerrios de evangelizao. A humildade tambm tem que fazer parte do processo, para no se repetir em nossas comunidades aquela situao, criticada por Jesus, dd fariseu e do publicano que foram ao templo para orar (cf. Lc 18,9-14).

    98. A iniciao no estilo catecumenal tem forte nfase na liturgia, mas essa acentuao no pode deixar esquecidos outros aspectos da pastoral, como a dimenso sociotrans-formadora, o ecumenismo e o dilogo inter-religioso, a comunho entre os diferentes agentes pastorais e seus campos de atuao. O justssimo desejo de levar a srio o processo de iniciao e de ter cristos realmente comprometidos, conscientes e imersos nas grandezas do mistrio da f no pode transformar a Igreja numa sociedade excludente que no seria capaz de acolher todos os que permitem por em prtica o modelo ideal. O catecumenato d pistas importantes para a catequese e traz um estmulo muito grande para a qualidade da vida paroquial. Mas no deve ser visto como um esquema rgido, que impossibilite solues criativas para situaes especficas.precisam e tem direito de se sentir amados por Deus. Situaes especiais precisam ser tratadas com caridade, acolhimento, delicadeza. As nossas normas e disciplinas tm que ser caminhos, no portas fechadas.

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  • 99. No se pode implantar um processo com esse nvel de exigncia sem a correspondente preparao e contnua reflexo e reviso de vida dos agentes, de todos os nveis, e sem uma grande ateno qualidade do testemunho da comunidade inteira.

    3.7 Outras situaes podem usar aspectos do processo

    inicitico 100. Algo do processo catecumenal pode ser aplicado aos

    trabalhos deformao continuada que j existem nas comunidades, aprofundando a misso evangelizadora. Por exemplo: aps os encontros de preparao para o matrimnio, o casal seria estimulado a participar de um processo de iniciao; casais que j vivem juntos podem celebrar o matrimnio aps um processo de iniciao; padrinhos podem ser mais bem preparados e escolhidos com mais coerncia em relao a sua misso.

    101. Na verdade, a imensa variedade de interlocutores da misso da Igreja vai necessariamente determinar diversidade criativa na forma de atender a cada grupo ou pessoa.

    Para refletir

    1- Que aspectos desse processo a comunidade j estaria em condies de assumir? 2- Na sua realidade que adaptaes criativas do que o RICA prope seriam necessrias? Por qu? 3- Como se preparariam agentes qualificados para esse processo?

    IV- I N I C I A O V I D A C R I S T . . . PARA Q U E M ? A mulher disse ento a Jesus: "Senhor, d-me desa gua, para que eu no tenha mais sede, nem tenha de vir aqui tirar gua"[Jo 4,15).

    4.1 Destinatrios como interlocutores 102. A samaritana faz um pedido a Jesus no meio de uma

    conversa em que ambos ouviram e foram ouvidos. Ela se sente capaz de falar e, falando e sendo ouvida, permite que Jesus responda de acordo com a sua necessidade. Esse falar e ouvir foram muito importantes para ela, ajudaram esclarecer dvidas e descobrir que Jesus era o Messias. Por isso, inspirados pela ao de Jesus, consideramos os iniciantes como interlocutores e no como meros destinatrios no processo de iniciao vida crist.

    103. Jesus se aproxima da Samaritana pedindo gua. Dar gua, elemento escasso, era sinal de acolhida, hospitalidade, solidariedade. Em troca da hospitalidade, Jesus oferece sua prpria gua. Ao pr-se no nvel da necessidade corporal, pedindo gua samaritana, Jesus afirma a igualdade, suprime a discriminao e dignifica a mulher. Demonstra-lhe confiana. Interlocutor ouvido. Ouvindo-o, percebemos melhor o que ele precisa e o que ele nos pode oferecer tambm. Em meio s suas dvidas, a samaritana diz a Jesus o que lhe faz falta, fala de sua sede de gua viva. Quais so as sedes dos homens e mulheres que vivem nesta poca de mudanas, neste tempo de crise? Podemos nomear algumas: sede de felicidade, de paz, de sentido, de frater-nidade, de vida, de escuta, de acolhida, de gratuidade, de amor, de alegria, de beleza, de misericrdia, de ternura, de perdo, de compaixo, de reconhecimento da sua prpria dignidade, de justia, de Deus...

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  • 104. H um povo sedento, que procura a fonte, que quer uma gua que sacie sua sede de um modo diferente... A Igreja uma fonte por natureza, tem por misso apresentar o Cami-nho, oferecer a gua Viva. A samaritana conversa com Jesus a partir de sua prpria experincia, inclusive no campo reli-gioso. Sabe que h divergncias sobre o lugar, o jeito "certo" de adorar a Deus. E a partir dessa dvida que Jesus pode revelar a ela algo que ainda hoje, para ns, fundamental e deve ser bem entendido e vivido: "Deus Esprito e os que o adoram devem ador-lo em esprito e verdade." (Jo 4,24) Ao falar do dom de Deus, de gua viva que Ele capaz de dar, Jesus instiga a curiosidade da mulher. Ela no reconhece ainda o dom de Deus em Cristo. No conhece outra gua , a no ser a daquele poo e pensa que se h de tir-la com esforo humano. Ela no est acostumada ideia da gratuidade e nem conhece o amor de Deus. Ela conhece o dom de Jac, de quem aquele poo tornava presente a memria.

    4.2 Diversas so as motivaes dos que procuram a Igreja 105. O que faz algum buscar a Igreja, mesmo sem ter

    recebido uma real iniciao crist? Os motivos podem ser bem variados: saudade do Deus da sua infncia, busca de significado para a vida, impacto provocado por alguma situao difcil, admirao diante de um testemunho autntico, necessidade de cura ou consolo, desejo de regularizar alguma situao de vida (como no caso de desejar um casamento cristo), adultos que sentem que precisam de algo mais para orientar os filhos... Nem sempre esto buscando (ou at nem imaginam que exista) um processo mais completo de iniciao. "Na maioria das vezes, esto procura de esmolas na f, fingindo satisfao com as respostas superficiais que so dadas s suas vitais indagaes e necessidades"19. Muitos buscam os sacramentos para si e/ou para seus filhos, sem motivaes to claras; frequentam a missa ou outras prticas de devoo tendo em vista alcanar

    graas, milagres, favores... Buscam a gua que no mata a sede, pois ainda no conhecem a gua Viva.

    106. Boa parte dos adultos catlicos foi catequizada a partir das doutrinas e da metodologia do pequeno catecismo de perguntas e respostas. Alguns, depois, se aprofundaram e tiveram outras experincias evangelizadoras; outros guardam s uma vaga lembrana do que aprenderam na infncia, outros se decepcionaram pelo caminho, muitos se perderam no meio dos apelos da cultura ps-moderna. Assim, alm dos que nunca foram batizados, temos tambm os que participam sem real compreenso da identidade crist, os que aparecem de vez em quando, os que foram gradativamente se afastando, os que se sentiram mal acolhidos em alguma situao, os que se sentem ex-cludos. Sobre isso, nos lembra o Documento de Aparecida "So muitos os cristos que no participam da Eucaristia dominical nem recebem com regularidade os sacramen-tos, nem se inserem ativamente na comunidade eclesial. (...) Alm disso, temos alta porcentagem de catlicos sem a conscincia de sua misso de ser sal e fermento no mundo, com identidade crist fraca e vulnervel" (n. 286).

    4.3 Uma comunicao que nem sempre tem sido de modo

    adequado 107. O conjunto dos que foram batizados, mas de fato

    no encontraram Jesus nos faz repensar o processo de evangelizao, a ao missionria, o tipo de anncio de que necessitamos. Reconheceram os bispos em Aparecida: "Na evangelizao, na catequese e, em geral, na pastoral, persistem tambm linguagens pouco significativas para a cultura atual e em particular para os jovens" (DAp, n. 100d).

    108. Ao considerar a linguagem, de forma ampla, temos que conhecer bem a situao de cada candidato iniciao, porque a proposta que lhe vai ser

  • apresentada deve ser resposta "sede" que cada pessoa experimenta com mais intensidade. O texto base do Ano Catequtico Nacional 2009 lembra que evangelizar , antes de tudo, no ignorar, e que no d para educar, com profundidade, pessoas que a gente no se interessa em conhecer20 (n. 30). Diante disso, p conjunto do processo de iniciao tem que ser pensado, em cada grupo, a> partir das necessidades e caractersticas das pessoas envolvidas.

    4.4 Cada um tem que ser considerado na sua realidade

    humana 109. No dilogo com a Samaritana, Jesus sonda seu

    corao, sua vida, sua mente, sua f. Revela, com isso, que a vida, a histria, as experincias, os sentimentos, os sonhos, os projetos, os medos das pessoas devem ser consideradas, escutadas, valorizadas em todo o processo evangelizador, especialmente na Iniciao Vida Crist. No h como viver a vida crist e anunciar o Evangeho sem esta realidade, pois nela que Deus se manifesta.

    110. O povo que a Igreja tem a misso de acolher e servir uma multido, com rostos variados que precisam ser reconhecidos, identificados, personalizados. Destes, muitos procuraro na Igreja uma resposta para suas buscas. Outros, que convivem com sua sede sozinhos, ou vo procura de outra gua, em outras fontes, ou, ainda, contagiados pela cultura atual, nem se do conta de que tm sede. Ns mesmos os buscaremos no trabalho missionrio. Esta realidade requer da Igreja uma nova conscincia, uma nova postura e novas atitudes pastorais. Ela chamada e enviada para ir ao encontro, a dialogar, a acolher, sobretudo os afastados, os jovens, os pobres, os excludos21. Todos precisam ser amados, reconhecidos e ajudados na busca do caminho.

    4.5 Catequese diversificada, com itinerrios especiais 111. Dada a diversidade de interlocutores do processo de

    iniciao vida crist, o Documento de Aparecida (n. 288) prev duas maneiras de percorrer este caminho: catecume-nato batismal para os no batizados e catecumenato ps-batismal para os j batizados, mas no suficientemente catequizados.

    112. Considerando as vrias situaes em que se encontram as pessoas a serem atendidas nos processos de iniciao (cf. DNC cap. VI), temos, entre outros grupos:

    a) Adultos e jovens no batizados: um grupo mi-

    noritrio, mas crescente na medida em que declina o chamado catolicismo herdado. Exigem especial ateno, com incorporao a um catecumenato ba-tismal nos moldes do RICA, com as devidas adapta-es realidade de cada um (escolaridade, situao pessoal, idade etc).

    b) Adultos e jovens batizados que desejam completar a iniciao crist: em geral j esto prximos ou querem voltar Igreja depois de se terem afastado por no se sentirem mobilizados pelo que ouviram ou viram em relao f. Alguns necessitam com-pletar sua iniciao sacramental (Primeira Eucaristia e Crisma).

    c) Adultos e jovens com prtica religiosa, mas insu-ficientemente evangelizados: formam um grupo muito grande. Frequentam a Igreja, mas no tiveram acesso s riquezas da mensagem crist. Por conta disso, muitos separam f e vida: vo ao templo, participam dos ritos, mas no transformam a vida com os critrios do Evangelho. Outros praticam um catolicismo popular pr-moderno, sendo vtimas de uma superficial educao da f. Para todos esses seria necessria uma catequese de inspirao cate-cumenal, que complete sua iniciao, a fim de que

  • cheguem a uma f viva, esclarecida, partilhada e comprometida.

    d) Pessoas de vrias idades marcadas por um con-texto desumano ou problemtico: entre elas pode vigorar, frequentemente, uma religiosidade confli-tante, ambgua e confusa, embora possa manifestar muita confiana em Deus, apoiada em prticas de religiosidade popular ou em vivncia religiosa do co-meo de sua caminhada H a um apelo veemente a uma real evangelizao. Estas pessoas tm sede de in-cluso, necessitam do prmeiro anncio - querigma - ou um novo anncio - que D primeiro passo para a con-verso; devem ser encaminhadas ao discipulado, para engajamento na Igreja e na construo do Reino. Tm que ser tambm apoiadas na especfica situao difcil em que se encontram, valorizadas como filhos e filhas amadas por Deus e capazes de construir o bem.

    e) Grupos especficos, em situaes variadas: teramos a as diferentes variedaces de pessoas com deficin-cia, os povos indgenas, os ciganos, os intelectuais, as famlias formadas por casais de casamento misto, as pessoas que vm de outras Igrejas ou religies, as pessoas que no tem tempo por causa da correria da vida: todos merecem ser acolhidos e acompanhados no processo de iniciao de acordo com sua realidade, com tempo e programa adaptados.

    f) Casais em situao matrimonial irregular e outros grupos impossibilitados de receber os sacramentos, sobretudo da Eucaristia, necessitam de uma evange-lizao adequada sua condio especial. A Consti-tuio Dogmtica "Dei Verbum" (cf. n. 21) aponta um caminho para a participao de muita gente na Igreja ao afirmar que na mesa para a qual a Igreja nos convida o Po da Vida tem duas formas: a Eucaristia e a Escritura. As duas formas merecem a mesma ve-nerao, pois Cristo se faz presente tanto na Palavra quanto na Eucaristia.

    g) Adolescentes e jovens: vivem diferentes situaes religiosas, emocionais e morais. Muitas vezes atravessam crise de f, so maltratados pela vida ou foram seduzidos por comportamentos desastrosos. Outros esto apenas buscando aprofundar uma op-o de f que de fato j fizeram e esperam ser aju-dados nisso pela comunidade. urgente propor a eles uma catequese com itinerrios novos, aberta aos problemas e sensibilidade dessa faixa etria, abran-gendo o campo teolgico, tico, social, espiritual.

    h) Crianas no balizadas e inscritas na catequese: tambm um grupo que est crescendo. Para elas, necessrio um catecumenato batismal, adaptado sua idade, e sem pressa de chegar aos sacramentos de iniciao. O importante a adeso a Jesus Cristo e a personalizao do ato de f.

    i) Crianas e adolescentes balizados que seguem o processo tradicional de iniciao crist: embora a ateno maior seja direcionada aos adultos, urgente pensar um processo de iniciao que acompanhe as crianas em todo o processo da educao da f, lem-brando que nesta fase que se atinge o maior nmero de catequizandos. Isso deveria, claro, envolver a famlia. Em certos casos, isso no possvel. Ento devemos ter conscincia da responsabilidade maior que nos cabe na educao da f dessas crianas, que buscam a Igreja sem o devido apoio domstico.

    113. Se no se consegue ainda uma renovao total do modelo de iniciao crist tradicional, sempre ser possvel ir aos poucos dando um carter cada vez mais catecumenal catequese, com o objetivo de formar discpulos e missionrios de Jesus Cristo, comprometidos com a vida e o dinamismo da Igreja e engajados

  • generosamente na construo do Reino de Deus na histria.

    Para refletir

    1. Alm do encontro com a Samaritana, que outros exemplos encontramos na prtica de Jesus que podem iluminar nosso agir catequtico, no processo de Iniciao Vida Crist? 2. Quais so as "sedes" que voc identifica em sua comunidade? Que "gua" a comunidade tem oferecido a quem vem at a fonte? 3. Quais so os rostos concretos das pessoas que procuram a catequese? Quais so suas motivaes? 4. Como a realidade de cada pessoa e sua experincia valorizada em sua comunidade, sobretudo na catequese e no processo de Iniciao Vida Crist?

    V - I N I C I A O V I D A C R I S T . . . C O M Q U E M CONTAMOS? ONDE? "Ora, como invocaro aquele em quem no creram? E como crero naquele que no ouviram? E como ouviro, se ningum o proclamar? E como o proclamaro se no houver enviados?" (Rm 10,14-15)

    5.1 Os sujeitos e os agentes da Iniciao Crist 114. Os participantes do processo de Iniciao Crist devem

    ser vistos como interlocutores e no simples destinatrios da Iniciao Vida Crist de inspirao catecumenal. Eles tm direito, portanto, a animadores, agentes e catequistas competentes e testemunhas do Reino, bem como a todo o apoio da comunidade eclesial que com eles trabalhem num processo participativo (Cf. DNC, cap. VI).

    115. Diante disso fundamental um cuidado especial na pre-parao e acompanhamento destes animadores, catequis-tas e agentes, dos quais depende em grande parte a cami-nhada dos que seguem o itinerrio da Iniciao. Para isso se recomenda que a prpria formao desses responsveis seja no estilo catecumenal, possibilitando aos prprios catequistas viverem a Iniciao Vida Crist22. E apenas a formao inicial destes responsveis no suficiente, pois o compromisso que assumem exigente e requer que assumam, com afinco, a formao continuada. Alis, tanto a vida crist como qualquer ministrio que nela algum venha a exercer, implica sempre um permanente estado de converso, santificao, atualizao, crescimento na espiritualidade, no conhecimento, e na intimidade com o mistrio.

    116. Os catequistas atuam em nome da Igreja. Paulo nos fala da necessidade de que os anunciadores sejam enviados pelo Senhor e investidos de autoridade, como representantes dele para a misso: como o proclamaro se no forem enviados? (Rm 10,15). , portanto, em nome do Senhor que a Igreja faz o envio dos catequistas, e os torna, seus delegados, pois falaro e agiro em nome dela.

  • por isso, que a misso dos responsveis diretos pela Iniciao Vida Crist deve ser exercida, de modo a englobar nela todas as foras da Igreja. Afinal a comunidade eclesial que evangeliza, catequiza, celebra e age em, por e com Cristo, na unidade do Esprito Santo.

    5.2 O sujeito do processo de Iniciao 117. O RICA descreve bem qual deve ser o fruto de uma boa

    Iniciao Vida Crist: "de tal modo se completam os trs sacramentos da iniciao crist, que proporcionam aos fiis atingirem a plenitude de sua estatura, no exer-ccio da sua misso de povo cristo no mundo e na Igreja" (RICA, n. 2). Pelo teor dessa frase entende-se, conse-quentemente, que o todo da vida crist que deve ser o alvo da Iniciao e no apenas a recepo dos referidos sacramentos.

    118. Mas a realidade dos fiis, dos j batizados e das comunida-des eclesiais, revela um abismo entre essa teoria teolgica e litrgica e a prxis. A cooperao dos fiis com a graa divina , portanto, indispensvel e requer sempre mais ateno, sobretudo, nas circunstncias atuais do mundo. Para eles, a complementao da iniciao sacramental aju-da a aprofundar a adeso individual a Jesus Cristo e os conduz, ao longo da vida, rumo almejada maturidade em Cristo (cf. Ef 4,13).

    119. A pessoa que ainda no foi batizada e que se sente chamada, por iniciativa gratuita de Deus, f crist, tem direito a ser acolhida pela Igreja e orientada para que chegue a dar o seu sim pessoal e, em seguida, comear a trilhar o caminho do processo de Iniciao Vida Crist. Sua participao existencial requerida como contrapartida gra-tuidade da graa, pois a cooperao humana no mistrio da salvao indispensvel. Afirma Santo Agostinho: o Deus que nos criou sem ns no nos salva sem o nosso sim sua proposta23.

    120. Diante dessa exigncia da salvao que, tambm, depende da nossa liberdade, a Igreja reconhece que h

    ainda um longo caminho a percorrer em sua misso de oferecer a Iniciao Vida Crist a quem pede para ser cristo e aos que desejam aprofundar a f recebida no batismo. Cabe aos pastores e agentes de pastoral favorecer a estas pessoas que tiveram a graa de serem batizadas todo apoio para que realizem o encontro pessoal e intransfervel com Jesus Cristo vivo, o assumam e ajustem suas vidas a ele, seus ensinamentos e sua misso. Os sacramentos da Iniciao precisam estar situados num itinerrio adequado que garanta aos fiis a opo consciente por Jesus, a insero na Igreja e o engajamento na construo do Reino de Deus, com uma profunda marca de profetismo, devido s condies adversas do mundo de hoje.

    121. para caminhar nesta direo e, assim deslanchar a renovao da Igreja, que os bispos do nosso continente fizeram, em 2007, uma ousada proposta registrada no Documento de Aparecida: "Propomos que o processo catequtico de formao adotado pela Igreja para a ini-ciao crist seja assumido em todo o Continente como a maneira ordinria e indispensvel de introduo na vida crist e como a catequese bsica e fundamental. Depois, vir a catequese permanente que continua o processo de amadurecimento da f, na qual se deve incorporar um discernimento vocacional e a iluminao para projetos pessoais de vida." (DAp, n. 294).

    122. Mas no se faz um processo de Iniciao sem priorizar a pessoa do candidato. Quem vai ser iniciado precisa ser considerado em seu todo corporal, afetivo, psquico, in-telectual, relacional para que o passo de f que vai dar atinja e envolva todo o seu ser. Cabe, portanto, Igreja - comunidade do Senhor e sinal visvel do projeto do Reino - cuidar da qualidade da ateno s pessoas e das re-laes humanas. Estas, obviamente, devem se concretizar em gestos fortes e convincentes, expressos na acolhida, na fraternidade, na solidariedade, na criao de um ambiente amoroso. significativo que Jesus tenha indicado um grande sinal para os seus discpulos: "Como eu vos amei,

  • assim tambm deveis amar-vos uns aos outros. Nisto co-nhecero todos que sois os meus discpulos: se vos amar-des uns aos outros" (Jo 13,34b-35).

    123. nesse clima especfico de f e amor que a evangelizao e a catequese conseguiro sua meta de formar discpulos missionrios que o mundo de hoje necessita. E, para isso, as pessoas que vo orientar a Iniciao, alm do preparo religioso, pedaggico e espiritual devem dar condies para que o iniciante se sinta envolvido por esse carinho fraterno que Jesus desejou que fosse a marca da comunidade dos seus amigos. Mas no basta que pessoas, individualmente, sejam sinais de fraterna acolhida. A comunidade inteira, no seu modo de viver e de se relacionar, deve ter um jeito de casa acolhedora, de famlia de irmos que se amam e se ajudam mutuamente, tornando-se cativante e atraente. o que nos diz o Documento de Aparecida: "A Igreja cresce, no por proselitismo, mas por atrao: como Cristo que 'atrai tudo para si' com a fora do seu amor." (DAp,