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INFORMATIVO MENSAL DA FACULDADE DE MEDICINA DO ABC | ANO IV - Nº 36 - JUNHO DE 2018

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InformatIvo mensal da faculdade de medIcIna do aBc | ano Iv - nº 36 - junho de 2018

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A Revista MedABC é um informativo mensal da Fundação do ABC/Faculdade de Medicina do ABC, de distribuição gratuita e tiragem de 75.000 exemplares.

Diretor da FMABCDr. David Everson Uip

Vice-DiretorDr. Fernando Luiz Affonso Fonseca

Produção: Departamento de Comunicação e Marketing da FUABC.Textos e Fotos: Eduardo Nascimento e Maíra Sanches.Artes e Editoração Eletrônica: Fernando Valini e Alexandre Leão.Apoio: Luciana Ferreira.Endereço: Av. Lauro Gomes, 2000. Bairro Vila Sacadura Cabral.Santo André (SP). CEP: 09060-870.

Contatos: [email protected] / (11) 2666-5431.Endereço eletrônico: www.fmabc.br e www.fuabc.org.br.

A edição de junho da Revista Med- ABC traz como assunto de capa as alergias alimentares, tendo em vista um novo consenso recém-divulgado nessa área, preparado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai). Entre os destaques do documento está revisão a respeito da alergia à proteína do leite de vaca (APLV), que é extremamente comum entre o primeiro e o terceiro ano de vida.

Outro tema em evidência é a espon-dilite anquilosante, uma doença reumá-tica crônica, que afeta a coluna vertebral e as articulações sacroilíacas, causando a chamada dor inflamatória. A boa notícia é que, nos últimos anos, o uso da terapia biológica trouxe expressiva melhora dos quadros dolorosos, da qualidade de vida e no desenvolvimento de deformidades.

Por fim, a edição deste mês reforça a importância da doação de sangue. Após a campanha estadual de vacinação con-tra a febre amarela, todos aqueles que foram imunizados ficaram impedidos de doar sangue por 28 dias, o que contribuiu para a baixa expressiva nos estoques. Além disso, com a chegada do mês de julho e as férias escolares, muitas famílias viajam e há uma grande preocupação com nova baixa no número de doadores. Boa leitura e, não se esqueça: Doe san-gue, salve vidas!

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DrA. SôniA MAriA LoDuCA LiMAProfessora de reumatologia da Faculdade de Medicina do ABC

Mês passado, em 7 de maio, foi cele-

brado globalmente o “Dia Mundial da Es-

pondilite Anquilosante”. Essa é uma doença

reumática crônica, que afeta a coluna verte-

bral e as articulações sacroilíacas, causando

a chamada dor inflamatória. Faz parte das

enfermidades denominadas espondiloartri-

tes – grupo em que também estão engloba-

das a artrite psoriásica, a artrite reativa e as

manifestações osteoarticulares das doenças

inflamatórias intestinais.

Em geral, a espondilite anquilosante se

manifesta no início da vida adulta e afeta

predominantemente o sexo masculino. As

principais características da doença são: dor

que tem seus primeiros sintomas antes dos

40 anos de idade; não melhora com o re-

pouso e tem alívio com movimentação; leva

ao despertar durante a noite; provoca rigi-

dez após períodos de inatividade, como pela

manhã, por exemplo; e melhora com o uso

de anti-inflamatórios não hormonais.

EspondilitE AnquilosAntEsaiba mais sobre essa doença reumática crônica, que afeta a

coluna vertebral e as articulações sacroilíacas

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Pacientes com espondilite também po-

dem apresentar dor e inflamação em articu-

lações periféricas, especialmente nos mem-

bros inferiores, como tornozelos, joelhos e

quadril. Podem ocorrer, ainda, manifesta-

ções em outros órgãos, com comprometi-

mento ocular e cutâneo.

Se não for tratada de forma adequada, a

doença pode provocar deformidades ósseas

– especialmente na coluna vertebral –, que

levam a limitação dos movimentos de flexo-

extensão, rotação e lateralidade.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

O diagnóstico é feito com base na his-

tória médica (dor lombar inflamatória, dor

nas articulações sacroilíacas, entre outras),

em conjunto com achados do exame físico

e exames subsidiários. Alterações observa-

das no raio-x da coluna e das articulações

sacroilíacas podem demorar muitos anos

para serem observadas. Por esse motivo, a

ressonância magnética é um grande avanço

para o diagnóstico precoce. Além disso, um

exame chamado de HLA B27 também pode

auxiliar na avaliação diagnóstica, já que é

positivo em grande proporção de pacientes.

Durante muitos anos o tratamento para

espondilite foi restrito ao uso de anti-infla-

matórios não hormonais, analgésicos e me-

didas de fisioterapia. Entretanto, nos últimos

anos, o uso da terapia biológica trouxe ex-

pressiva melhora dos quadros dolorosos, da

qualidade de vida e no desenvolvimento de

deformidades.

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sociedade Brasileira de pediatria e Associação Brasileira de Alergia e imunologia publicam novo Consenso Brasileiro de Alergia Alimentar, com atualizações sobre diagnósticos e tratamentos da doença

DrA. nEuSA FALBo WAnDALSEnChefe do Departamento de Pediatria da FMABC e coordenadora do Setor de Alergia e imunologia Clínica

AlERGiA AliMEntARProfessoras do Departamento de Pedia-

tria da Faculdade de Medicina do ABC, Dra. Neusa Wandalsen e Dra. Roseli Sarni parti-ciparam da revisão e atualização do novo Consenso Brasileiro de Alergia Alimentar 2018, publicado em abril pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai). O material contou com a colaboração de mais de 20 especialistas de todo o País en-volvidos no manejo da doença, que acome-te especialmente crianças e adolescentes. O último documento foi publicado em 2007.

O consenso foi produzido por alergolo-gistas, gastroenterologistas, nutrólogos e pediatras especializados no tratamento de pacientes com alergia alimentar. O objetivo é disponibilizar aos especialistas um docu-

mento prático, capaz de auxiliar na com-preensão dos mecanismos envolvidos na alergia alimentar e possibilitar manejo adequado das suas diversas formas de apresentação, uma vez que há grandes va-riedades de sintomas. Revisão de métodos de diagnósticos, esquemas de tratamentos disponíveis, novos conceitos sobre aborda-gem terapêutica, apresentação clínica e fa-tores de risco também foram estudados.

ALERGIA ALIMENTARAs alergias alimentares ocorrem quan-

do o sistema imunológico reage a algu-mas proteínas presentes nos alimentos por considerá-las elementos estranhos. O organismo, em alerta, inicia a produção de anticorpos específicos (IgE) para combater a “invasão”, o que desencadeia um proces-

so alérgico.Um dos pontos principais revi-sados no documento diz res-

peito à alergia à proteína do leite de vaca (APLV),

muito comum entre o primeiro e o terceiro

ano de vida. Isso porque a entrada

da proteína em um organismo com sistema imunológico em formação pode ser con-siderada pelo corpo como

algo noci-vo, por isso a

chance de de-senvolver esse

tipo de alergia é

maior em crianças se comparada a adultos.A introdução precoce do leite de vaca –

bem como do ovo, amendoim, castanhas e frutos do mar – era considerada fator de risco à saúde e capaz de induzir o desenvol-vimento de alergia alimentar. “Na atualida-de isso é visto como uma ação oposta. Ou seja, a exclusão por tempo prolongado de alimentos com potencial alergênico pode ser fator de risco porque não haveria a in-dução da tolerância oral. A maior diversida-de de alimentos na infância pode ter efeito protetor sobre a sensibilização alimentar. O assunto, no entanto, não está comple-tamente estabelecido e ainda necessita de estudos adicionais”, explica Dra. Neusa, também coordenadora do Setor de Alergia e Imunologia Clínica do Departamento de Pediatria da FMABC.

Em função dos inúmeros benefícios à saúde materna e infantil, o novo consenso recomenda, portanto, a manutenção da norma da Organização Mundial da Saúde (OMS), que estipula o leite materno como fonte de amamentação exclusiva até os seis meses e de forma complementar até dois anos ou mais.

A alergia à proteína do leite da vaca é a mais prevalente entre crianças, que manifes-tam sintomas clínicos em diferentes níveis de gravidade. Os indícios mais comuns são cóli-cas, diarreia, vômitos e manchas avermelha-das na pele. Para diagnosticar as alergias ali-mentares, os métodos mais eficazes são os que demonstram a presença da IgE especí-fica para o alimento na pele, como os testes cutâneos, ou no sangue, o Immunocap/Rast, e principalmente o teste de provocação oral, que consiste na oferta do alimento suspeito em intervalos regulares.

Segundo o Consenso, embora mais de

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Neste ano, a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia já havia publicado alerta sobre a importância do leite de vaca

e dos cuidados com “modismos”, que têm levado muitas famílias a retirar o alimento da dieta das crianças, mesmo

sem a confirmação do quadro de alergia alimentar. A Asbai reforçou que a restrição ao leite de vaca deve ocorrer somente

a partir da recomendação de um especialista, que estará apto a diagnosticar a Alergia à Proteína do Leite de Vaca.

Sintomas:A maioria das crianças com APLV tem um ou mais

sintomas envolvendo um ou mais órgãos, principalmente o trato gastrointestinal e a pele.

Entre 50% e 70% apresentam sintomas cutâneos, 50% a 60% gastrointestinais e 20% a 30% sintomas respiratórios.

Números:Estima-se que entre 7% e 9% das crianças com até 3 anos

tenham alergia a leite de vaca.

Com tratamento adequado, cerca de 85% das crianças com até 5 anos desenvolvem tolerância imunológica e podem

voltar a tomar leite de vaca.

* Fontes: ASBAI / FMABC.

DrA. roSELi oSELkA SACCArDo SArniProfessora titular de Clínica Pediátrica do Departamento de Pediatria da FMABC

AplV: AlERGiA à pRotEínA do lEitE dE VACA

170 alimentos tenham sido reconhecidos como potencialmente alergênicos, uma pequena parcela tem sido responsabiliza-da pela maioria das reações. Entre os adul-tos, os alimentos mais identificados são amendoim, castanhas, peixe e frutos do mar. Na infância, causam mais alergias ali-mentares o leite de vaca, ovo, trigo e soja. Em geral, essas reações são transitórias, uma vez que menos de 10% dos casos per-sistem até a vida adulta. “Em caso de sus-peita, os pais devem consultar o médico e nunca excluir alimentos por conta própria. O paciente que apresenta reação a deter-minado alimento pode voltar um dia a in-geri-lo, pois ocorre aquisição de tolerância ao longo do tempo. Uma vez identificada a alergia, o alimento deverá ser retirado e sua introdução feita sob supervisão médi-

ca por meio de testes de provocação oral”, explica Dra. Roseli, professora titular da disciplina de Clínica Pediátrica do Departa-mento de Pediatria da FMABC. A reintrodu-ção alimentar, sempre com acompanha-mento médico, pode ser feita a cada 6 a 12 meses como forma de verificar se houve alterações a essa condição.

Os sintomas da alergia alimentar va-riam bastante. Nas reações cutâneas, são comuns surgimento de urticária, angioede-ma e dermatite atópica, enquanto que nas respiratórias há quadros de rinite ou asma. Nas alergias digestivas prevalecem reflu-xos, vômitos e diarreias. O tratamento é feito à base de anti-histamínicos e corticoi-des. Em casos mais graves é preciso atendi-mento médico de urgência para reversão do quadro de choque anafilático, causado

pela falta de sangue no coração após brus-ca queda da pressão arterial. O paciente sente imediato “fechamento” da garganta e obstrução das vias aéreas, o que pode le-var à morte em minutos.

PREVALÊNCIAOs especialistas consideram a alergia ali-

mentar um problema de saúde pública, pois sua prevalência tem aumentado no mundo todo. Um estudo realizado em Boston, nos Estados Unidos, avaliou dados sobre rea-ções adversas a alimentos em 27 milhões de pacientes entre 2000 e 2013. Ao menos 3% apresentaram alergia a algum alimento. No Brasil, de acordo com o Consenso, os dados sobre prevalência são escassos e limitados a grupos populacionais, o que dificulta avalia-ção mais próxima da realidade.

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