informativo junho edição especial

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Informativo da Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão Rio Grande do Sul - Junho de 2009 www.agert.org.br Informa O Projeto de Lei N° 4.573 – submetido pelo Poder Executivo à deliberação do Congresso Nacional em 16 de janeiro de 2009 e que está atualmente aguardando apreciação da Co- missão de Constituição Justiça e Cidadania do Senado Federal – está colocando em aler- ta todos os radiodifusores do Brasil. Dentre di- versas mudanças pretendidas pelo Projeto, a que está chamando mais atenção de toda a sociedade é a proposta de alteração do Art. 183 da Lei n° 9.472 de 16 de julho de 1997, descriminalizando a conduta de desenvolver clandestinamente a atividade de radiodifu- são. Outro ponto polêmico refere-se à extin- ção de regra que trata das rádios piratas, atra- vés da revogação do Art. 70 da Lei 4.117, de 27 de agosto de 1962. Hoje, atos de ilegalida- de no setor são punidos com imposição de pe- nas de detenção e multas. A Associação Gaúcha de Emissoras de Rá- dio e TV (AGERT) quer mostrar à sociedade que as ilegalidades praticadas no setor da ra- diodifusão não prejudicam apenas o segmen- to, mas sim toda a população. “Ao tornar lícita, ao menos na esfera penal, o exercício da ati- vidade de rádio pirata, estaremos colocando em risco os cidadãos brasileiros. As transmis- sões clandestinas interferem, comprovada- mente, o controle de voos em aeroportos no país”, declara o presidente da AGERT, Rober- to Cervo Melão. Para uso dos Correios MUDOU-SE DESCONHECIDO RECUSADO FALECIDO AUSENTE NÃO PROCURADO ENDEREÇO INSUFICIENTE CEP NÃO EXISTE Nº INDICADO INFORMAÇÃO ESCRITA PELO PORTEIRO OU SÍNDICO REINTEGRADO AO SERVIÇO ___/___/___ POSTADO EM ___/___/___ ______________ RESPONSÁVEL DEVOLUÇÃO GARANTIDA CORREIOS Impresso Especial Nº3908/06 DR/RS CORREIOS AGERT PROJETO DE LEI PRETENDE DESCRIMINALIZAR PRÁTICAS ILEGAIS NA RADIODIFUSÃO “Não existem razões lógicas e jurídicas para a descriminalização da atividade de rádio pirata no Brasil. O país deve reforçar suas estruturas de fiscalização para garantir a segurança de to- da a sociedade e o cumprimento legal da ativi- dade da radiodifusão”, afirma o consultor jurídi- co da AGERT, o advogado Gildo Milman, ressal- tando que os Tribunais brasileiros têm decidido favoravelmente pela punição das emissoras ile- gais. O controle de voos em aeroportos de todo o Brasil está sendo afetado por interferências de rádios clandestinas, especialmente nas cidades de São Paulo e Foz do Iguaçu. A Aeronáutica registra uma média de 60 a 90 ocorrências men- sais de interferências. Recentemente, três voos da TAM que pousariam no aeroporto de Congo- nhas tiveram que ser desviados devido à inter- ferência de rádio pirata no sistema de comuni- cação. O controle de aproximação de São Paulo ge- rencia mais de mil voos por dia. “O fluxo de aero- naves pousando e decolando e a segurança do tráfego aéreo dependem da perfeita comunica- ção entre controladores e pilotos. Em muitos ca- sos, as decolagens foram suspensas em virtu- RÁDIOS PIRATAS COLOCAM EM RISCO O TRÁFEGO ÁEREO BRASILEIRO de desse problema”, declarou o chefe do Servi- ço Regional de Proteção ao Voo de São Paulo (SRPV-SP), coronel-aviador Jeferson Ghisi Cos- ta, durante audiência pública realizada no ano passado. Nas regiões de fronteira, esse problema tor- na-se ainda mais frequente, causados por rádi- os piratas instaladas nos países vizinhos que in- terferem no aeroporto local. Na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), essas interferências são tratadas co- mo risco à vida. Durante o mês de abril, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e a Prefeitura de São Paulo realizaram ação conjunta, destruindo oito toneladas de equipamentos e outros mate- riais apreendidos em emissoras de rádios clan- destinas, que não tinham licença para operar, na região metropolitana de São Paulo. De acor- do com a Prefeitura de São Paulo, foram apre- endidos 17 mil CDs, 750 transmissores, 70 ante- nas e 400 receptores. Denúncias devem ser encami- nhas a Central de Atendimento pelo fone 133 ou 0800.33.2001 de segunda a sexta-feira das 8h às 20h. ANATEL E PREFEITURA DE SÃO PAULO DESTRÓEM 8 TONELADAS DE EQUIPAMENTOS APREENDIDOS Foto: Divulgação/Anatel Foto: Divulgação/Anatel EDIÇÃO ESPECIAL

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Informativo Agert Junho Edição Especial

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Informativo da Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão

Rio Grande do Sul - Junho de 2009

www.agert.org.br

Informa

O Projeto de Lei N° 4.573 – submetido pelo Poder Executivo à deliberação do Congresso Nacional em 16 de janeiro de 2009 e que está atualmente aguardando apreciação da Co-missão de Constituição Justiça e Cidadania do Senado Federal – está colocando em aler-ta todos os radiodifusores do Brasil. Dentre di-versas mudanças pretendidas pelo Projeto, a que está chamando mais atenção de toda a sociedade é a proposta de alteração do Art. 183 da Lei n° 9.472 de 16 de julho de 1997, descriminalizando a conduta de desenvolver clandestinamente a atividade de radiodifu-são. Outro ponto polêmico refere-se à extin-ção de regra que trata das rádios piratas, atra-vés da revogação do Art. 70 da Lei 4.117, de 27 de agosto de 1962. Hoje, atos de ilegalida-de no setor são punidos com imposição de pe-nas de detenção e multas.

A Associação Gaúcha de Emissoras de Rá-dio e TV (AGERT) quer mostrar à sociedade que as ilegalidades praticadas no setor da ra-diodifusão não prejudicam apenas o segmen-to, mas sim toda a população. “Ao tornar lícita, ao menos na esfera penal, o exercício da ati-vidade de rádio pirata, estaremos colocando em risco os cidadãos brasileiros. As transmis-sões clandestinas interferem, comprovada-mente, o controle de voos em aeroportos no país”, declara o presidente da AGERT, Rober-to Cervo Melão.

Para uso dos Correios

MUDOU-SE

DESCONHECIDO

RECUSADO

FALECIDO

AUSENTE

NÃO PROCURADO

ENDEREÇO INSUFICIENTE

CEP

NÃO EXISTE Nº INDICADO

INFORMAÇÃO ESCRITAPELO PORTEIRO OU SÍNDICO

REINTEGRADO AO SERVIÇO ___/___/___POSTADO EM ___/___/___

______________RESPONSÁVEL

DEVOLUÇÃOGARANTIDA

CORREIOS

ImpressoEspecial

Nº3908/06DR/RS

CORREIOSAGERT

PROJETO DE LEI PRETENDEDESCRIMINALIZAR PRÁTICAS ILEGAIS

NA RADIODIFUSÃO

“Não existem razões lógicas e jurídicas para a descriminalização da atividade de rádio pirata no Brasil. O país deve reforçar suas estruturas de fiscalização para garantir a segurança de to-da a sociedade e o cumprimento legal da ativi-dade da radiodifusão”, afirma o consultor jurídi-co da AGERT, o advogado Gildo Milman, ressal-tando que os Tribunais brasileiros têm decidido favoravelmente pela punição das emissoras ile-gais.

O controle de voos em aeroportos de todo o Brasil está sendo afetado por interferências de rádios clandestinas, especialmente nas cidades de São Paulo e Foz do Iguaçu. A Aeronáutica registra uma média de 60 a 90 ocorrências men-sais de interferências. Recentemente, três voos da TAM que pousariam no aeroporto de Congo-nhas tiveram que ser desviados devido à inter-ferência de rádio pirata no sistema de comuni-cação.

O controle de aproximação de São Paulo ge-rencia mais de mil voos por dia. “O fluxo de aero-naves pousando e decolando e a segurança do tráfego aéreo dependem da perfeita comunica-ção entre controladores e pilotos. Em muitos ca-sos, as decolagens foram suspensas em virtu-

RÁDIOS PIRATAS COLOCAM EM RISCO O TRÁFEGO ÁEREO BRASILEIRO

de desse problema”, declarou o chefe do Servi-ço Regional de Proteção ao Voo de São Paulo (SRPV-SP), coronel-aviador Jeferson Ghisi Cos-ta, durante audiência pública realizada no ano passado.

Nas regiões de fronteira, esse problema tor-na-se ainda mais frequente, causados por rádi-os piratas instaladas nos países vizinhos que in-terferem no aeroporto local.

Na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), essas interferências são tratadas co-mo risco à vida.

Durante o mês de abril, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e a Prefeitura de São Paulo realizaram ação conjunta, destruindo oito toneladas de equipamentos e outros mate-riais apreendidos em emissoras de rádios clan-destinas, que não tinham licença para operar, na região metropolitana de São Paulo. De acor-do com a Prefeitura de São Paulo, foram apre-endidos 17 mil CDs, 750 transmissores, 70 ante-nas e 400 receptores.

Denúncias devem ser encami-nhas a Central de Atendimento pelo fone 133 ou 0800.33.2001 de segunda a sexta-feira das 8h às 20h.

ANATEL E PREFEITURA DE SÃO PAULO DESTRÓEM 8 TONELADAS DE EQUIPAMENTOS APREENDIDOS

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EDIÇÃO ESPECIAL

Junho de 20092 InformaInforma

OPINIÃO

Assessoria Jurídica: Gildo Milmann e Cláudio Diagramação: André Luiz Saboia Sturbelle O Agert Informa é uma publicação mensal Brito Comercialização: Cláudia Cassol da Associação Gaúcha de Emissoras de

Rádio e TelevisãoPresidente da AGERT: Roberto Cervo - Melão Impressão: Dolika Afa Artes GráficasRua Riachuelo, 1098 - Conj. 204 - Centro Realização: Eliana Camejo Comunicação Circulação: 1000 exemplaresCEP 90010-272 - Porto Alegre/RSEmpresarial Telefone: (51) 3228.3959 - www.agert.org.brTelefone: (51) 3228.3959Redação: Aline Victorino (Mtb. 11602) e Eliana www.agert.org.br - [email protected] (Mtb. 6158)

ENTIDADE FUNDADA EMDEZEMBRO DE 1962

PIRATARIA É CRIME!Num regime democrático, a idéia de poder

é inseparável das noções de controle e de limi-te. O Estado Social e Democrático de Direito, como modelo contemporâneo de Estado que marca a Constituição Federal de 1988 (CF/88), exerce a sua força de modo legítimo quando age em defesa dos valores mais rele-vantes da vida social. É a noção de limite do ius puniendi (direito de punir) do Estado.

Igualmente, há outros limites ao direito de punir do Estado, geralmente consagrados em princípios fundamentais do direito penal e positivados em normas constitucionais. No en-tanto, a questão jurídica aqui analisada per-passa necessariamente pelo estudo de um desses princípios básicos do direito penal curi-osamente não previsto de forma expressa em nossa Carta Constitucional: o princípio da in-tervenção penal mínima.

De acordo com Nilo Batista, autor do livro “Introdução crítica ao direito penal”, pelo prin-cípio da intervenção penal mínima "entende-se que o Estado não deva recorrer ao direito penal e sua gravissima sanção se existir a pos-sibilidade de garantir uma proteção suficiente com outros instrumentos jurídicos não-penais”. Isso revela o caráter subsidiário do di-reito penal (que pressupõe sua fragmentarie-dade, pois o direito penal "se ocupa somente de uma parte dos bens jurídicos protegidos pe-la ordem jurídica", conforme Cezar Roberto Bi-tencourt, devendo constituir a ultima ratio - ou extrema ratio - do ordenamento jurídico. E ma-is: esses conceitos deixam claro o núcleo da norma penal que é o bem jurídico; não todo e qualquer bem jurídico (ou valor), mas aquele mais relevante da vida social.

Ao cumprir essa missão,

não que não existam outras espécies de controle social, informais, mas esses mecanismos (família, escola, igre-ja, imprensa etc.), infelizmente, não são sufi-cientes para assegurar um convívio social har-monioso.

Todavia, desde o início da década de 90 o discurso do direito penal mínimo não corres-ponde com a realidade da atividade legislati-

O princípio do nullum crimen sine lege (prin-cípio da legalidade ou da reserva legal), previsto no art. 5°, inc. XXXIX, da CF/88, e no art. 1° do Código Penal brasileiro vigen-te, é o exemplo mais notável de limitação de caráter material da atividade punitiva es-tatal.

A principal mis-são do direito penal é a de proteção dos bens jurídicos.

o direito penal age necessariamente como parte inte-grante de um controle social formal que vi-sa submeter todas as pessoas a um pro-cesso de socialização;

va.

sem precedentes, ain-da que essa contramarcha da tendência cri-minalizadora venha cumprindo uma finalida-de puramente simbólica.

E pior: sem reduzir as cotas de vi-olência.

Reale Jr. ensina que o avassalador pro-cesso de criminalização conduz a uma contí-nua "administrativização do direito penal", ou seja, tal processo "torna a lei penal um regula-mento, sancionando a inobservância a regras de convivência da Administração Pública, ma-térias antes de cunho disciplinar. No seu subs-trato está a concepção pela qual a lei penal vi-sa antes a 'organizar' do que a proteger, sen-do, portanto, destituída da finalidade de con-sagrar valores e tutelá-los”. Por exemplo, é di-fícil identificar a relevância do bem jurídico "protegido" pela lei penal que define como deli-to o uso de gás liquefeito de petróleo em aque-cimentos de piscinas, em desacordo com as normas estabelecidas na forma da Lei (art. 1°, inc. II, da Lei n. 8.176, de 08 de fevereiro de 1991), ou a que criminaliza a conduta de co-mercialização de motosserra, sem licença ou registro da autoridade competente (art. 51 da Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998). São condutas que poderiam ser sancionadas por normas administrativas (p. ex., de contra-ordenações) e não por normas penais. Para que o valor protegido alcance a dignidade pe-nal deve atender certamente a pressupostos de maior relevo à convivência social.

A primeira regra (art. 2°, § 2°) propõe a exclusão da esfera de atuação penal da conduta de de-senvolvimento clandestino da atividade de ra-diodifusão, previsto no art. 183 da Lei n. 9.472/1997. Porém, em ato complementar, é proposta a revogação do art. 70 da Lei n. 4117/62, visto que a jurisprudência brasileira nunca assumiu posição uníssona quanto à aplicação da regra penal nos casos de exercí-

O clima político-ideológico atual, com o aumento da criminalidade organizada e de atos de terrorismo, do crescimento do sen-timento de pânico e insegurança decor-rente da violência urbana e a previsão constitucional de tutela de bens jurídicos supraindividuais, tem favorecido a infla-ção legislativa penal,

A própria tendên-cia criminalizadora - de proteger todo e qualquer bem jurídico, sem estabelecer os pressupostos materiais mínimos da tutela penal - gera um sério problema de eficácia da lei penal.

Por outro lado, o PL n. 4.573/09 percor-re o caminho inverso da atual tendência cri-minalizadora, pois os seus arts. 2°, § 2°, e 6°, tornam lícita, ao menos na esfera penal, o exercício da atividade de "rádio pirata".

cio da atividade de "rádio pirata”.

É preciso esclare-cer que a Lei n. 9.612, de 19 de fevereiro de 1998 instituiu o serviço de radiodifusão comu-nitária para atender a tais finalidades, em fa-vor de fundações e associações comunitári-as, sem fins lucrativos, desde que preenchi-das requisitos técnicos normativos. Ou seja, "rádios comunitárias" que preenchem estes requisitos legais não são "rádios piratas". Então o que pretende o autor da proposição?

O PL n. 4.573/09 retira o caráter de ilicitude jurídica da atividade de "rádio pirata"? Esse anteprojeto conduz ao entendimento de que a "rádio pirata" é uma atividade socialmente adequada, não se revestindo de tipicidade pe-nal? Ou não se justifica mais a proteção penal da atividade legal de radiodifusão frente a um direito penal mínimo? A primeira questão me-rece uma resposta negativa, pois a proposta não retira o caráter de ilicitude administrativa dessa atividade, em que pese a pretensão de não receber mais a proteção do direito penal, sempre subsidiário e fragmentário. Nesse sentido, não se pode afirmar que a proposi-ção, ao descriminalizar tal atividade, pretende preservá-la e reproduzi-la, já que a proposta, repita-se, não afasta a possibilidade de apli-

Ou seja, a PL n 4.573/09 deixa manifesta a opção pela descriminalização do exercício da ativida-de de “rádio pirata". Seria essa opção uma forma de permitir maior liberdade de mani-festação do pensamento e da informação a quem tem poucos recursos financeiros e pretende apenas atender a finalidades edu-cativas, artísticas, culturais e informati-vas, sem fins lucrativos?

Gildo MIlmanConsultor Jurídico da AGERT

Junho de 2009 3InformaInforma

Contrafação, cópia sem autorização, burla à propriedade industrial, furto de ideias e ou-tras condutas semelhantes estão enquadra-das e definidas, no popular, como pirataria. DVD, CD, livro e obra de arte, tudo se copia e se multiplica. Música e cinema, literatura, es-cultura e o que mais a mente e as mãos huma-nas produzam têm em qualquer esquina, sem que seus autores sejam os donos do lucro dos negócios. Eles nem sabem o que já fizeram com seus trabalhos e criações. Do tênis aos óculos, do abrigo à camisola, da caneta aos eletrônicos, tem de tudo em qualquer lugar. Games e programas de computador, então, são a febre da hora. Fajutar tudo isso, arma-zenar, transportar, expor e vender são, entre outras, ações criminosas. Multa e cadeia, além da perda dos bens pirateados, são as consequências. Nenhuma novidade.

Pirataria com pe-rigosidade, como ocorreu em São Paulo, quan-do aviões de carreira desviaram suas rotas por-que não se comunicavam com o controle de Congonhas, pela interferência de uma rádio ile-gal. A Polícia Civil de São Paulo apreendeu os equipamentos da emissora clandestina. Vem

O que inova é a tentativa de se descriminalizar a conduta dos piratas. Há projetos para tan-to em Brasília.

Radiodifusão sonora, sem a outorga de permissão, autorização ou concessão, con-forme a categoria em que se classifique o ra-diodifusor, é crime também.

O PERIGO DA DESCRIMINALIZAÇÃOaí alguma confusão, já que é atribuição de ór-gãos federais a matéria, ainda mais em uma ca-pital, onde a Polícia Federal e a Anatel, que tem poderes específicos para o caso, estão presentes. Ponto secundário agora, se consi-derarmos que o mais grave precisava ser impe-dido com brevidade. O mesmo aconteceu por aqui, faz um ou dois anos. Uma aeronave pe-dia pouso no Salgado Filho e perdeu contato com a torre do aeroporto ao sobrevoar Eldora-do do Sul. Arremeteu, sobrevoou Porto Alegre e, felizmente, entre ruídos estranhos e chiadei-ra, o comandante se entendeu com os contro-ladores e pousou. Tudo gravado, a Anatel con-seguiu lacrar equipamentos e impedir a trans-missão criminosa. São centenas de casos to-dos os meses, no país inteiro.

Uma rádio comunitária tem potência, localiza-ção e alcance definidos por lei. Deve cumprir as regras que impedem a comercialização e li-mitam a propagação de suas programações à região em que se situa. Fora disso, tudo é pira-

Imagine o que vai ser quando a lei disser que pirataria dei-xou de ser crime. Não é possível que isso aconteça.

Não se confunda essa burla com o rá-dio comunitário, que tem regras próprias e restrições suficientes para que emissoras dessa categoria não interfiram em outras e muito menos nas delicadas transmissões de serviços essenciais como dos aeropor-tos, bombeiros, polícias e ambulâncias.

taria, tudo é crime. Tem que ser assim, impe-dindo um festival de emissões desconexas, de baixa qualidade técnica e de péssimo con-teúdo. O caso mais recente de pirataria no rá-dio serve de advertência aos que pretendem aprovar a descriminalização. Será um crime se o fizerem.

cação de sanções administrativas às "rádios piratas". Quanto ao segundo questionamen-to, cabe salientar que é infundado o argumen-to de adequação social" dessa atividade.

A utilização clandestina de tele-comunicações freqüentemente causa dano aos meios de comunicações oficiais das polí-cias, dos aeroportos e das Forças Armadas. É difícil crer, também, que tal prática seja 'soci-almente aceita', já que representa desigual-dade de tratamento àqueles que pagam pelo mesmo serviço ou pelo uso de aparelhos celu-lares (os quais têm seu funcionamento preju-dicado em razão dela)”. Além disso, cumpre salientar que o bem jurídico-penal tutelado pe-las Leis n. 4.117/62 e n. 9.472/1997 é a segu-rança dos meios de comunicação, sem exclu-ir, a proteção de outros valores de natureza in-dividual, mais relevantes (a ordem de rele-vância dos bens jurídicos estabelecido pelo le-gislador ordinário adota o critério da maior pe-na in abstrato), tais como a vida e a integrida-de física dos usuários do transporte aéreo. Mas é preciso tecer outros argumentos, mais claros e conclusivos, já que a terceira questão antes mencionada é justamente o problema principal desse parecer. Além disso, no que tange ao terceiro problema acima descrito, cumpre ressaltar, antes de mais nada, que

Con-forme decisão do Relator Des. Élcio Pinhe-iro de Castro, do TRF-4 (RSE n. 2000.71.03.000515-6/RS): "a ação descrita no art. 70 da Lei n° 4.117/62 pode trazer, em tese, conseqüências bastante danosas à comunidade.

é injustificável excluir apenas a atividade de

"rádio pirata" do campo da ilicitude penal, como se pretende, mantendo como crime o desenvolvimento clandestino de outros meios de comunicação, pois ambas as con-dutas podem violar os mesmos bens jurí-dicos-penais.

Além disso, as sanções administrati-vas (advertência multa, suspensão etc) perdem eficácia no combate a atividade de "rádio pirata", uma vez que elas não afe-tam efetivamente o patrimônio do ofensor ou não impedem o retomo dessa atividade ilícita pelas mãos de outras pessoas.

a pena prevista nas re-gras que se pretendem revogar é uma me-dida manifestamente adequada a obter o fim perseguido de proteção dos mencio-nados bens jurídico-penais; a pena é uma medida eficaz quando as san-ções administrativas não são suficientes para punir o infrator e prevenir a repeti-

E mais: a norma penal que pro-íbe a atividade de "rádio pirata" visa mais a proteção de bens jurídicos de grande relevân-cia social (p. ex. a vida do passageiro do transporte aéreo como bem fundado no valor chave da dignidade humana) do que apenas a mera organização (disciplina) do sistema brasileiro de radiodifusão, afastando as hipó-teses de proteção penal das Leis n. 4.117/62 e n. 9.472/1997 como exemplo do tão criticado processo de 'administrativização do direito pe-nal".

Nesse sentido, algumas razões nos le-vam a concluir que as normas penais que se pretendem revogar atendem perfeitamente aos pressupostos materiais mínimos da tute-la penal: primeira,

segunda,

ção da conduta, tal como ocorre no caso concreto;

quando proíbem a atividade de "rádio pirata", não cumprem apenas uma função meramente simbólica, mas efetiva de combate a eventos sociais ex-tremamente danosos à convivência soci-al harmoniosa.

terceira, numa análise conjunta do grau de eficácia da norma penal e a inten-sidade do custo individual e social da inter-venção mostra que a criminalização da ativi-dade de "rádio pirata" e os riscos que ela cria, por exemplo, ao setor de transporte aé-reo, promovem menos efeitos criminógenos do que a falta dessa intervenção penal esta-tal, já que as falhas técnicas de segurança que permitiram os atentados terroristas de 11 de setembro e o recente desastre aéreo que vitimou os passageiros do vôo 1907 da Gol estão vivas na mente de qualquer cida-dão brasileiro, exigindo a manutenção das formas mais graves de punição para aqueles que realizam condutas geradores de alto grau de intranquilidade social; ou seja, as normas penais das Leis n. 4.117/62 e n. 9.472/1997,

Portanto, não existem razões lógicas e jurí-dicas para a descriminalização da atividade de "rádio pirata" no Brasil. Sem esquecer, ain-da, a necessidade de solução institucional pa-ra a punição de quem exerce essa atividade criminosa, já que as instituições formais de combate a essa ilicitude necessitam de maior fiscalização (de modo a evitar o controle sele-tivo da atividade policial, antes referido) e res-paldo legal.

Cláudio BritoVice-Presidente Jurídico da Agert

Junho de 20094 InformaInforma

O Projeto do Executivo Nacional (4.573) altera Decreto-Lei I - veicular publicidade ou propaganda em desacordo com o n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; Lei n° art. 18 desta Lei; e 9.472, de 16 de julho de 1997 e Lei n° 9.612, de 19 de fevereiro II - infringir qualquer dispositivo desta Lei ou da correspon-de 1998 para dispor sobre normas penais e administrativas re- dente regulamentação ao qual não seja expressamente comi-ferentes à radiodifusão e às telecomunicações. nada outra sanção.

Parágrafo único. Persistindo a infração, será suspenso o O Decreto-Lei N° 2.848, Código Penal, será alterado em funcionamento da operação das emissoras pelo prazo de até

dois artigos: trinta dias, sem prejuízo da multa." Art. 151: refere-se à violação de comunicação telegráfi-

ca, radioelétrica ou telefônica. No novo projeto de lei são elimi- Além disso, são acrescidos alguns dispositivos a esta lei:nados os incisos II, III e IV, assinalados no texto.

“Art.21-A. O uso de equipamentos fora das especificações “Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de corres- autorizadas pelo Poder Concedente na operação das emisso-

pondência fechada, dirigida a outrem: ras autorizadas do Serviço de Radiodifusão Comunitária cons-Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. titui infração grave penalizada com multa e, no caso de reinci-§ 1º - Na mesma pena incorre: dência, com multa e lacração do equipamento até que sejam I - quem se apossa indevidamente de correspondência alhe- sanadas as situações motivadoras." (NR)

ia, embora não fechada e, no todo ou em parte, a sonega ou "Art. 21-B. Constituem infrações gravíssimas na operação destrói; das emissoras autorizadas do Serviço de Radiodifusão Comu-

nitária penalizadas com a cassação da autorização e a lacra-ção do equipamento:

I - transferir a terceiros os direitos ou procedimentos de exe-cução do serviço;

II - praticar proselitismo de qualquer natureza em sua pro-gramação; e

III - permanecer fora de operação por mais de trinta dias sem motivo justificável." (NR)

"Art.21-C. A operação de estação de radiodifusão sem auto-Art. 261: refere-se à sinistro em transporte marítimo, flu- rização do Poder Concedente constitui infração gravíssima

vial ou aéreo. O PL 4.573 altera o § 1º, determinando a pena de sancionada com a apreensão dos equipamentos, multa e a sus-reclusão de quatro a doze anos para quem, mediante de ope- pensão do processo de autorização de outorga ou a impossibi-ração de serviços de radiodifusão, expõe a perigo a segurança lidade de se habilitar em novo certame até o pagamento da refe-de serviços de telecomunicações de emergência, de seguran- rida multa." (NR) ça pública ou de fins exclusivamente militares ou, ainda, o fun- cionamento de equipamentos médico-hospitalares. As rádios comunitárias têm por finalidade o atendimento à

comunidade beneficiada, dando oportunidade à difusão de ide-A Lei 9.472, Lei Geral das Telecomunicações, sofrerá alte- ias, elementos de cultura, tradições e hábitos sociais da comu-

ração o Art. 183 que determina a pena para quem desenvolver nidade; oferecendo mecanismos à formação e integração da clandestinamente atividades de telecomunicação. O crime de- comunidade, estimulando o lazer, a cultura e o convívio social; finido neste artigo não se aplica, no entanto, à radiodifusão. prestando serviços de utilidade pública entre outros papéis.

O conteúdo das programações das rádios comunitárias tam-bém deve seguir alguns princípios determinados por lei, dando preferência a programas de finalidade educativa, artísticas, cul-turais e informativas em benefício do desenvolvimento geral

O serviço da radiodifusão comunitária a no Brasil foi instituí- da comunidade; promoção das atividades artísticas e jornalís-do pela Lei 9.612 de 19 de fevereiro de 1998 que denominou ticas na comunidade. dessa forma a radiodifusão sonora, em freqüência modulada, As outorgas das rádios comunitárias são concedidas pelo operada em baixa potência (até 25 watts ERP) e cobertura res- Ministério das Comunicações e a esse cabe a fiscalização no trita. Somente pode ser outorgada a fundações e associações cumprimento de todos os itens estabelecidos em lei.comunitárias, sem fins lucrativos, com sede na localidade de prestação de serviço. O Projeto de Lei 4.573 propõe mudanças da Lei 9.612, alterando o artigo 21 que determina as infrações – operação das emissoras do serviço de radiodifusão comuni-tária, que passará a vigorar com a seguinte redação:

“Art, 21. Constituem infrações na operação das emissoras autorizadas do Serviço de Radiodifusão Comunitária penaliza-das com advertência e, em caso de reincidência, multa:

II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utili-za abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica diri-gida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras pesso-as;

III - quem impede a comunicação ou a conversação referi-das no número anterior;

IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétri-co, sem observância de disposição legal".

PAPEL DAS RÁDIOS COMUNITÁRIAS NO PAÍS

LEGISLAÇÃO

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES PROPOSTASNO PROJETO DE LEI 4.573

A ÍNTEGRA DA LEI N° 9.612 QUE INSTITUI O SERVIÇO DE RADIODIFUSÃO

COMUNITÁRIA PODE SER ACESSADANO SITE DA AGERT

(WWW.AGERT.ORG.BR).