informativo enem 2003 3 - edisciplinas.usp.br · os resultados do enem expıem a mesma situaçªo....

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3 INFORMATIVO ENEM 2003 INFORMATIVO ENEM 2003 CARO(A) PROFESSOR(A), amos dar início às inscriçıes para a sexta ediçªo do Exame Nacional do Ensino MØdio, o Enem. E nesta oportunidade, para que possamos encontrar juntos os caminhos da melhoria do quadro educacional do País, quero estabelecer um diÆlogo constante com vocŒ. Os resultados das avaliaçıes educacionais, realizadas pelo MinistØrio da Educa- çªo, mostram as dificuldades enfrentadas por vocŒ no seu dia-a-dia e apontam, cla- ramente, para a necessidade de mudarmos a Educaçªo no nosso País. O primeiro passo para vencermos essa batalha Ø combater as desigualda- des sociais, marcadas aqui pelos irrelevantes gastos educacionais na maioria da nossa rede pœblica de ensino. Todos os anos, milhares de crianças e jovens situados na linha da pobreza ou abaixo dela sªo excluídos das salas de aula. Tornam-se vítimas do baixo padrªo de vida, da falta de conhecimento, da violŒncia. É uma guerra Ærdua, mas que pode ser vencida se tivermos o comprometimento de todas as esfe- ras de governo e tambØm da sociedade. Enfrentar esse desafio Ø, sobretudo, um compromisso meu, como ministro da Educaçªo do Brasil. E o desafio Ø seu tambØm, como responsÆvel pela formaçªo escolar das cidadªs e dos cidadªos brasileiros. Como professor, sei que qualificaçªo e remuneraçªo digna sªo condiçıes fundamentais para que o nosso objetivo seja alcançado. Assim, propus a am- pliaçªo de vagas nos cursos de licenciatura e a criaçªo do piso nacional dos salÆrios para os docentes. Outro ponto que considero importante para melhorarmos a qualidade do nosso ensino Ø a avaliaçªo do seu trabalho. Por isso, solicito que estimule o seu aluno a fazer o Enem e discuta os resultados na escola: o Exame Ø instrumento valioso na promoçªo de um ensino de qualidade. O nosso objetivo Ø fazer uma escola do tamanho do Brasil, para todas as nossas crianças e nossos jovens. Receba meu respeito, minha admiraçªo e minha convicçªo: conto com vocŒ, meu caro professor, para a transformaçªo que buscamos e que juntos realiza- remos. CRISTOVAM BUARQUE Ministro da Educação V

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Page 1: INFORMATIVO ENEM 2003 3 - edisciplinas.usp.br · Os resultados do Enem expıem a mesma situaçªo. Em 2002, a mØ-dia dos estudantes das escolas pœ-blicas na parte objetiva da prova

3INFORMATIVO ENEM 2003INFORMATIVO ENEM 2003

CARO(A) PROFESSOR(A),

amos dar início às inscrições para a sexta edição do Exame Nacionaldo Ensino Médio, o Enem. E nesta oportunidade, para que possamosencontrar juntos os caminhos da melhoria do quadro educacional doPaís, quero estabelecer um diálogo constante com você.

Os resultados das avaliações educacionais, realizadas pelo Ministério da Educa-ção, mostram as dificuldades enfrentadas por você no seu dia-a-dia e apontam, cla-ramente, para a necessidade de mudarmos a Educação no nosso País.

O primeiro passo para vencermos essa batalha é combater as desigualda-des sociais, marcadas aqui pelos irrelevantes gastos educacionais na maioriada nossa rede pública de ensino.

Todos os anos, milhares de crianças e jovens situados na linha da pobrezaou abaixo dela são excluídos das salas de aula. Tornam-se vítimas do baixopadrão de vida, da falta de conhecimento, da violência. É uma guerra árdua,mas que pode ser vencida se tivermos o comprometimento de todas as esfe-ras de governo e também da sociedade.

Enfrentar esse desafio é, sobretudo, um compromisso meu, como ministroda Educação do Brasil. E o desafio é seu também, como responsável pelaformação escolar das cidadãs e dos cidadãos brasileiros.

Como professor, sei que qualificação e remuneração digna são condiçõesfundamentais para que o nosso objetivo seja alcançado. Assim, propus a am-pliação de vagas nos cursos de licenciatura e a criação do piso nacional dossalários para os docentes.

Outro ponto que considero importante para melhorarmos a qualidade donosso ensino é a avaliação do seu trabalho.

Por isso, solicito que estimule o seu aluno a fazer o Enem e discuta osresultados na escola: o Exame é instrumento valioso na promoção de umensino de qualidade.

O nosso objetivo é fazer uma escola do tamanho do Brasil, para todas asnossas crianças e nossos jovens.

Receba meu respeito, minha admiração e minha convicção: conto com você,meu caro professor, para a transformação que buscamos e que juntos realiza-remos.

CRISTOVAM BUARQUEMinistro da Educação

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4 INFORMATIVO ENEM 2003INFORMATIVO ENEM 2003

PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Luiz Inácio Lula da Silva - MINISTRO DA EDUCAÇÃO - Cristovam Buarque -PRESIDENTE DO INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS - Otaviano Augusto MarcondesHelene - DIRETORA DE AVALIAÇÃO PARA CERTIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIAS DO INEP - Dirce Gomes - REDAÇÃO -Dulcídio Siqueira Neto e João Luiz Mendes - ENDEREÇO - Inep/MEC Esplanada dos Ministérios,Bloco L, Anexos I e II, 4º Andar 70047-900 Brasília/DF www.inep.gov.br - [email protected]

Informações sobreo Enem

Carta aoprofessor

A carado EnsinoMédio

Em busca de umaeducação de qualidade

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As competências ehabilidades do Enem 16

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Análise das questõesdo Exame 19

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Ensino Médio no Brasilainda é uma realidade dis-tante para muitos jovens.Segundo dados levantadosa partir do Censo Escolar,

realizado pelo Instituto Nacional deEstudos e Pesquisas Educacionaisdo Ministério da Educação (Inep/MEC), de cada 100 crianças que in-gressam na primeira série do ensi-no fundamental, consideradas astaxas de repetência, promoção eevasão atuais, apenas 40 vão con-cluir a educação básica.

O levantamento mostra que,mesmo com o crescimento dos úl-timos anos � em 2002 eram 8,7milhões de alunos �, uma gran-de parcela da população aindanão consegue chegar a este nívelde ensino. Apesar de 83% dos jo-vens entre 15 e 17 anos estaremna escola, apenas 33% freqüentam

A CARA DO ENSINO MÉDIOo ensino médio.

Além do problema do acesso,um outro componente da situaçãodo ensino é a desigualdade entreas diversas regiões brasileiras. En-quanto na Região Sudeste a taxaesperada de conclusão da educa-ção básica é de 49%, na RegiãoNorte, ela não ultrapassa os 27%.As diferenças também são mar-cantes quando se analisam os indi-cadores de eficiência do ensino. En-quanto a taxa de repetência noensino fundamental na Região Su-deste é de 12%, na Norte chega aos30% e na Nordeste é perto de 31%.

�Na sociedade democrática aeducação tem que ser igual e paratodos. Esta é a preocupação quedeve orientar qualquer política pú-blica�, afirma o secretário de En-sino Médio e Tecnológico do Mi-nistério da Educação (Semtec/

MEC), Antônio Ibañez. Uma me-dida defendida pelo secretário paratornar mais igualitário o acesso aoensino médio é fazer com que asua oferta seja obrigatória. �Nos-so governo está pensando nisso.Está em discussão tornar o ensinomédio obrigatório progressivamente�,explica. Segundo ele, a intenção é fa-zer, inicialmente, que a 1ª série sejaobrigatória e, posteriormente, ir am-pliando aos poucos essa medidapara as demais séries.

Essa proposta resgata o que foiestabelecido na Lei de Diretrizese Bases da Educação Nacional(LDB). A lei de 1996, além de fi-xar como dever do Estado a ofer-ta gratuita e obrigatória do ensinofundamental, estabeleceu tambéma progressiva extensão da obrigato-riedade e gratuidade ao ensino mé-dio (art. 4º, II).

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Otaviano Helene, presidente doInep, também defende a obrigato-riedade. Para ele, na prática, o quese aprende no ensino médio é con-dição necessária para garantir o di-reito de cidadania ante a sofistica-ção da vida, em particular nas re-giões urbanas do País. �Só o ensi-no fundamental não permite isso;vivemos num mundo muito maiscomplexo do que há 50 anos. Nes-se contexto, o ensino médio é es-sencial para que qualquer pessoapossa se inserir na vida adulta co-mo cidadão, com capacidade paraenfrentar as dificuldades e enten-der o mundo�, afirma.

Qualidade � Além da questãodo acesso, os novos estudantes quedeverão ingressar no ensino mé-dio nos próximos anos irão se de-parar com diversos problemas deinfra-estrutura, insumos, salário eformação dos professores, ques-tões que refletem diretamente naqualidade do ensino. Segundo da-dos do Censo, 51% dos alunos do en-

sino médio estudam em escolassem laboratório de ciências, e 48%não têm acesso à Internet.

Para o presidente do Inep, agrande maioria das escolas públi-cas e muitas da rede privada têmorçamentos por aluno bastante bai-xos, o que faz com que o ensinoseja qualitativamente fraco. A mé-dia de gasto aluno/ano nas escolaspúblicas do País, considerando oinvestimento das três esferas degoverno, é cerca de R$700,00 noensino médio. �Não é possível quetenhamos uma escola de qualida-de com este gasto; é preciso ur-gentemente aumentar o nível deinvestimento público na educa-ção�, pondera.

A questão do financiamento pú-blico na educação, com a amplia-ção de recursos, é também a preo-cupação do presidente da UniãoBrasileira dos Estudantes Secun-daristas (Ubes), Igor Bruno de Frei-tas Pereira. Ele acredita que estadeva ser a primeira medida para

melhorar as condições das escolase a qualidade da educação. �Exis-tem escolas em que o jovem nãotem acesso à Internet, não tem bi-blioteca, não tem luz, não tem ca-deira, e isso prejudica a qualidadeda educação, obviamente. É pre-ciso melhorar a infra-estrutura, darcondições para o jovem estudar.�

Para o presidente da Ubes, umaoutra questão que precisa mudar éa gestão escolar, que deve ser maisdemocrática. �As leis que regemas escolas são punitivas para os es-tudantes. É necessário mais deba-te coletivo dentro da comunidadeescolar, os estudantes devem sesentir parte da escola, o que, comcerteza, ajudaria a melhorar a edu-cação em nosso País�, diz. Ao mes-mo tempo, Igor Bruno defende avalorização do papel do professor,com a melhoria dos salários. �Nãotem como o professor que traba-lha em várias escolas dar uma boaaula; ele não tem tempo para corrigiro trabalho, para preparar a sua aula�.

Já o presidente doInep aponta outros pro-blemas como o peque-no número de horas depermanência na escolapor dia, a falta de pro-fessores bem formadosem nível superior, assimcomo a carência de do-centes, principalmenteem áreas como matemá-tica, física, química e bio-logia. �Deve-se adicio-nar aí o problema sala-rial do professor, princi-palmente da rede públi-ca, mas, também, degrande parte da redeprivada, o que acabasendo um fator de des-motivação�, conclui.

O reflexo das con-dições gerais do sistemaeducacional brasileiro

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está estampado nos resultados dasavaliações realizadas pelo Inep,como o Sistema Nacional de Ava-liação da Educação Básica (Saeb)e o Exame Nacional do EnsinoMédio (Enem). A última edição doSaeb, realizada em 2001, demons-tra que, tanto em Matemática comoem Língua Portuguesa, a grandemaioria dos alunos da 3ª série do en-sino médio não apresenta as ha-bilidades adequadas de leitura ede compreensão matemática paraa série.

Os resultados do Enem expõem amesma situação. Em 2002, a mé-dia dos estudantes das escolas pú-blicas na parte objetiva da provafoi de 30, numa escala de 0 a 100.Com isso, 84,5% dos estudantes fi-caram situados no pior patamar deresultados, de insuficiente a regu-lar. As médias das escolas no Exa-me mostram ainda que, entreaquelas com os melhores resulta-

dos, não há nenhum estabeleci-mento público típico, com exceçãode alguns colégios universitários,escolas militares e instituições téc-nicas federais e estaduais.

Algumas alternativas que alte-ram o quadro atual estão sendo dis-cutidas pelo Ministério da Educa-ção. O secretário de Ensino Mé-dio e Tecnológico aponta, porexemplo, a concessão de bolsaspara universitários em que a licen-ciatura seja um dos critérios paraque o jovem estudante possa re-ceber o benefício. �Esse é um in-centivo para que o aluno perma-neça na licenciatura, porque, hoje,a evasão nessa área é muito gran-de. Por outro lado, o ministro Cris-tovam Buarque tem colocado emdiscussão a questão do piso salarialnacional�, diz Ibañez. Em relaçãoao material didático, uma propos-ta do MEC consiste em estendera doação do livro didático para o

ensino médio, como acontece hojecom o ensino fundamental.

Identidade � Uma outra ques-tão vem à tona quando a discussãoabrange os três últimos anos daeducação básica: é a função e a iden-tidade do ensino médio. A LDB es-tabelece que o Ensino Médio façaa preparação básica para o traba-lho e a cidadania do educando, paracontinuar aprendendo, de modo a sercapaz de se adaptar com flexibilidade anovas condições de ocupação ou aperfei-çoamento posteriores (art. 35, II).

O perfil deste nível de ensinoestá descrito nas Diretrizes Curri-culares Nacionais para o EnsinoMédio (DCNEM), elaboradas pe-lo Conselho Nacional de Educa-ção (CNE), e têm caráter obriga-tório para todas as escolas. O Mi-nistério da Educação produziu tam-bém os Parâmetros CurricularesNacionais para o Ensino Médio(PCNEM), conjunto de orientações

Metade dos alunos do ensino médio estuda em escolas sem laboratório de ciências

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MEC

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e recomendações que servem paraapoiar o trabalho dos professores.Apesar das Diretrizes e dos Parâ-metros, a carência de definição daidentidade do ensino médio aindapersiste, principalmente porque adiscussão só chegou parcialmenteao local onde a educação de fatoacontece: na escola.

A presidente da ConfederaçãoNacional dos Trabalhadores emEducação (CNTE), Juçara DutraVieira, explica que o ensino mé-dio vive historicamente uma crisede identidade. �A escola não re-solveu a sua relação com omundo do trabalho. Na re-forma de 1971, por exem-plo, a orientação do ensi-no foi no sentido da subor-dinação da escola a inte-resses do mercado�. Poroutro lado, ela tambémcondena a orientação quea escola passou a ter na pre-paração dos alunos para ovestibular, �mesmo sabendoque uma parte muito pe-quena deles ingressa no cur-so superior�, diz.

Para ela, o ensino médiodeve tentar resolver aquestão da profissionaliza-ção em conjunto com a for-mação mais ampla, huma-nística e cultural. �O ensino mé-dio tem que dar conta das duascoisas: a conquista da cidadania,que significa o preparo para a vidana sociedade, e a inserção no mun-do do trabalho�.

Essa visão encontra consonân-cia com a de Antônio Ibañez. �Oensino médio, como etapa finalís-tica da educação básica, implicaque a pessoa esteja apta a ser umcidadão. E isso não significa que écidadão só aquele que vai para auniversidade. Cidadão é uma pes-soa que está apta a enfrentar a vi-da, seja entrando numa escola

técnica, seja ingressando no mun-do do trabalho ou em um curso su-perior�. Para ele, o ensino médio,hoje, não oferece os conhecimentossuficientes para que o jovem fa-ça a melhor opção para enfrentara vida.

Uma proposta de Ibañez é a in-clusão de um quarto ano no ensinomédio. �Nesse quarto ano, o alunopoderia se preparar melhor para fa-zer as suas opções. Se quiser ir paraa universidade, vai ter condiçõesde estudar, com uma carga horáriamaior, porque vai ter um ano a mais

nas disciplinas que são fundamen-tais para ir para a universidade. Seo jovem quer trabalhar logo após aconclusão do ensino médio, elepode ser qualificado em informá-tica ou instalações prediais, porexemplo, de modo a facilitar a suaentrada na vida do trabalho. Casoqueira ir para um curso técnico, nes-te quarto ano ele pode fazer algumasdisciplinas que o orientem para saberqual o melhor curso ou qual é a ha-bilidade que ele gosta mais e maisse adequa ao seu perfil�, conta.

Debate nacional � A presiden-te da CNTE acredita que o papel

e a identidade do ensino médio de-veriam ser definidos em um debatenacional sobre o assunto. �Obser-vamos que todas as iniciativas quecomeçam com as diretrizes curri-culares de alguma forma setorizama questão da educação e pensamem resolver na ponta o processo.Eu acho que, para chegar a essasdiretrizes curriculares, nós tería-mos que pensar mais amplamen-te�, afirma.

Para ela, o exemplo dos chama-dos conteúdos transversais para oensino fundamental são emblemá-

ticos dessa situação. �Eles não mo-dificavam absolutamente o compor-tamento na escola, por isso eramchamados de conteúdos tangen-ciais. Tratar primeiramente de cur-rículo parece que tem sido a for-ma tradicional de tentar modificar adinâmica na escola, mas é sempre co-meçar por onde deveria terminar�.

Para a Juçara Dutra Vieira, umgrande debate sobre o formato daeducação básica poderia ser o pon-to de partida para responder à ne-cessidade da formação integrale do preparo para o mundo dotrabalho. Nesse debate seriam

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definidas as responsabilidades dasagências formadoras, da escola, dogoverno federal e, também, dosconselhos de educação. �Ao mu-dar o currículo primeiro, você co-meça por aquilo que deveria retra-tar toda uma concepção, e acaba-se responsabilizando individual-mente o professor ou a escola peloresultado. Quer dizer, o governopropôs, está aqui o novo currícu-lo, não deu certo porque a esco-la não deu conta desse processo�,explica.

Na discussão, o presidente da

Ubes é bastante pragmático ao de-finir seu ponto de vista: �a escolaé chata�, diz categórico. �Sou estu-dante do ensino médio da EscolaTécnica Visconde de Mauá, no Rio,e noto, tanto na sala de aula comoconversando com meus colegas, quehá uma grande falta de interesse pe-las matérias. As aulas não incenti-vam o estudante a investigar, asempre tentar saber mais.� Segun-do ele, o aluno hoje em dia é ensi-nado a repetir, a decorar. �O estu-dante tem que aprender a pensar�,enfatiza.

Avaliação � A avaliação do en-sino médio, assim como dos de-mais níveis de ensino, faz partedo debate nacional em torno daqualidade da educação. A presi-dente da CNTE considera ne-cessária a avaliação, no entantoentende que ela deveria incidir so-bre o processo e não simplesmen-te sobre resultados finais, e quetambém deveria contemplar ascondições diferenciadas dos alunose das escolas, sejam regionais,sejam de condição econômicaou de localização.

�Não tenho dúvida de que é im-portante ter uma radiografia doensino, mas uma das grandes difi-culdades que nós encontramos naeducação é lidar com a avaliaçãodos alunos e do trabalho dos edu-cadores. Essa dificuldade se dá emgrande medida pelo fato de queacaba sendo uma avaliação igualpara desiguais com condições de-siguais, e, também, porque ela qua-se sempre é uma avaliação de re-sultados e não de processos. E sen-do uma avaliação de resultados, emgeral, não modifica a realidade do

ponto de vista de correção de rotano processo�, afirma.

Para Antônio Ibañez, a avaliaçãodeve permitir a intervenção na rea-lidade que leve à construção depolíticas públicas que tornem aeducação mais eqüânime e justa.Por outro lado, ele expressa preo-cupação com o fato de um exameser realizado apenas no último anodo ensino médio, como é o casodo Enem. �O aluno pode se sentirfrustrado e dizer: eu também gos-taria de saber, ao longo do meu per-curso na escola, como é que eu

estava. Porque só no finaleu fui saber que estava mal.Assim, eu acho problemático sóum exame; deveriam ter duasou três avaliações ao longoda educação básica�.

Já Igor Bruno defendeque um sistema de avaliaçãodeva conseguir diagnosticartodos os problemas da escola:a infra-estrutura, como fun-ciona a escola, como são asaulas dos professores e o queos estudantes aprendem. �Sócom a avaliação do estudante,não é possível fazer um dia-gnóstico; o que falta no Brasilé uma avaliação que apon-te as deficiências e sirvapara resolver os proble-mas�, explica.

Apesar de não existir consensoem torno de qual seria o melhor for-mato para a avaliação da educação bá-sica, todos concordam que ela temque estar comprometida com amelhoria da educação, posição queé resumida pela presidente daCNTE. �Uma avaliação que temem vista elevar o patamar de qua-lidade para toda a população éuma avaliação que possui umaconcepção de que a educação de-ve ser útil, deve ser uma estraté-gia dentro de um projeto de mu-dança social�, finaliza.

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caminho é árduo, os obstá-culos são muitos e diversos,mas há esforços para supe-rar as dificuldades. Essa éa realidade de vários pro-

fessores do ensino médio na buscapor uma escola mais avançada, plu-ral, integrada à realidade do mun-do e, principalmente, que ofereçaensino de qualidade aos seus alu-nos. A interdisciplinaridade e aabordagem do tema de forma con-textualizada, que são defendidas naproposta do Exame Nacional do En-sino Médio (Enem), ganham, oradevagar, ora de maneira mais in-tensa, espaço na escola.

De acordo com a professora deHistória, Silvia Aparecida Mano,que leciona há 25 anos no ensinomédio da Escola Estadual ClóvisSalgado, em São Sebastião do Pa-raíso (MG), as questões do Enem,que avaliam as competências e

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Professor Grach,do Colégio

Estadual do Paraná:"Os alunos estãose interessando

mais pelas aulas."

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11INFORMATIVO ENEM 2003INFORMATIVO ENEM 2003

habilidades desenvolvidas pelosestudantes ao longo da educaçãobásica, tornaram-se importantessubsídios na preparação dos proje-tos pedagógicos: �As questões sãoestudadas pelos professores nasreuniões e as levamos para discu-tir com os alunos. Atualmente, osprofessores de Literatura, Histó-ria e Gramática trabalham com ostemas de redação propostos noEnem desde o primeiro ano do en-sino médio.�

Como em algumas escolas fal-tam exemplos práticos de comoabordar as questões de forma in-terdisciplinar e contextualizada, oEnem tem sido utilizado paraprovocar mudanças na formade avaliar. Professora de Língua

Médio do Setor Oeste, em Brasília(DF), Chase Stanley, tem promo-vido junto aos alunos visitas auma série de exposições, refor-çado o trabalho interdisciplinare discutido as questões do Exa-me, com o objetivo de dar aoaluno um maior potencial parater mais liberdade de escolha nofuturo. �A escola tem dado muitaênfase aos projetos interdisci-plinares, como, por exemplo, a cor-relação entre fato e local, envol-vendo História e Geografia�, diz.Segundo ele, o Enem tem servi-do de guia sobre como os pro-fessores estão trabalhando nasala de aula, detectando ondehouve erros e o que precisa sermais trabalhado. Para ele, com

Portuguesa há 20 anos na EscolaEstadual Odilon Batista Jordão, emPilar do Sul (SP), Rita Aparecidade Proença Carvalho afirma que oEnem tem estimulado a criação denovos exercícios para a turma:�Em uma das minhas aulas, sugeriaos alunos que fizessem uma re-dação falando como seria a vidadeles daqui a 15 anos. A partirdaí, podemos notar que algunstêm uma visão muito clara da-quilo que querem e outros di-zem o que querem, mas não con-seguem explicitar isso. É um tra-balho que nos possibilita corrigiros rumos do aprendizado.�

Guia � Em consonância com aproposta do Enem, o professor deHistória do Centro de Ensino

Estudantes fazem a prova do Enem

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NA BOCA DOPROFESSOR

essa nova proposta, os alunosestão respondendo melhor ao pro-jeto pedagógico. O professor acre-dita que os estudantes apresenta-rão melhorias mais significativasnos próximos anos.

Na opinião da professora Rita,essa forma de trabalhar é o melhorcaminho para a melhoria da quali-dade do ensino. �O estudante nãopode colecionar conhecimentos; oimportante é saber o que fazer comesse conhecimento e ir progredin-do.� É o que também defende asua colega de escola, a professorade Língua Portuguesa Maria Ro-sana Paiotti: �Queremos que os es-tudantes estejam preparados paraa vida, que façam uma leitura crí-tica do mundo e saibam impor suasidéias.� Para ela, o bom resultadona avaliação não atinge só os estu-dantes, mas toda a comunidade es-colar: �O êxito do aluno é o êxitodo professor e da escola, e o fra-casso também.�

Obstáculos � Mas a mudançadas políticas pedagógicas não temsido de fácil implantação dentrodas escolas, principalmente naque-las onde faltam recursos básicospara aprimorar o aprendizado doaluno. É o que conta o professorde Geografia Celso Lima Valen-te, do Colégio Estadual JoaquimNogueira, de Fortaleza (CE): �Asidéias são muito boas e as apro-vamos, mas os estudantes do en-sino médio precisam de materi-al didático, as escolas precisamestar mais bem equipadas e osprofessores precisam ter mais aces-so aos programas de capacitaçãopara que possamos desenvol-ver melhor essas novas propos-tas. Assim, com certeza, ampli-aríamos o nível escolar.�

A formação do docente tam-bém é uma das preocupações daprofessora Maria Rosana: �O re-sultado do trabalho, levando em

Com o objetivo de verificar o impactodo Enem nas escolas públicas brasileiras,

a equipe do informativo colheudepoimentos de sete professores do Ceará,Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santoe Paraná, que atuam em estabelecimentos

de ensino que tiveram elevados índicesde participantes no Exame.

“As questões do Enem são bem elaboradas e apresentamum nível de profundidade interessante. Exigem raciocíniológico e não a memorização. Observo que permitemdesenvolver um determinado tema de trabalho em váriasdisciplinas. Aguçam a curiosidade do estudante.Sou defensor dessa proposta e procuro trabalharas questões do Exame na sala de aula.”Celso Lima Valente, professor de Geografia do Colégio Estadual Joaquim Nogueira

– Fortaleza (CE) – e coordenador voluntário do projeto “Dicas de Vestibular”, que

atende a estudantes aos sábados na própria escola.

“Sempre incentivamos a participação dos estudantesno Enem e usamos as questões do Exame em nossas provas.Comentamos com freqüência a inteligência das questões doEnem, pois exigem muita leitura e conhecimento. A avaliaçãodo estudante é também a avaliação do professor e da escola.O êxito do aluno é o êxito do professor e da escola,e o fracasso, também”.Maria Rosana Paiotti, professora de Língua Portuguesa da Escola Estadual Odilon

Batista Jordão – Pilar do Sul (SP).

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“Em relação às questões do Enem,percebo que na última avaliação elas foramabordadas de forma interdisciplinar, não tratandoisoladamente os conteúdos.As questões abordaram os conhecimentos de diversasáreas: literatura, história, geografia,tudo ao mesmo tempo. Destaco tambémas competências e habilidadesavaliadas. Elas se tornaram importantes subsídiosna preparação dos nossos projetos, das nossas aulas,pois demonstram claramente o que o aluno temque saber ao concluir o ensino médio.Antes o Enem se parecia mais com o vestibular,mas o último está mais próximo de temas como ética,família, o papel do cidadão. Todas as questões foramestudadas pelos professores nas nossas reuniões pedagógicas. O Exame está envolvido no cotidianoda escola.”Sílvia Aparecida Mano, professora de História da Escola Estadual Clóvis Salgado –

São Sebastião do Paraíso (MG).

“Em relação à escolapública, o Enem possibilitadetectar como os estudantesestão indo, de forma geral,onde houve falhas e em queprecisamos trabalhar mais.O Enem reforça ainterdisciplinaridade. Eleserve como um guia de comoestamos trabalhando na salade aula, principalmente paradar mais potencial ao aluno,de ter liberdade de escolha.O Enem não serve só para ovestibular, mas para a vida.”Chase Stanley, professor de História do

Centro de Ensino Médio do Setor Oeste

– Brasília (DF).

“Não temos muitos exemplos de como trabalhar demaneira interdisciplinar e contextualizada; por isso,o Enem nos traz exemplos práticos. Utilizamos suasquestões como exercício em classe e, a partir daí, criamosnovos exercícios.” Rita Aparecida de Proença Carvalho, professora de Língua Portuguesa da Escola

Estadual Odilon Batista Jordão – Pilar do Sul (SP).

“O Enem possibilitaverificar de forma maisgenérica todo o ensinomédio, permitindo realizarações onde houve asmaiores deficiências.O Enem também fezcom que ampliássemoso trabalho interdisciplinarna escola. JuntamosFísica, Matemática,História, todas asmatérias, de uma formaou de outra, em atividadesde interdisciplinaridade.”Tony Marcio Grach, professor e

coordenador de Física do Colégio

Estadual do Paraná – Curitiba (PR).

“Na escola não trabalhamos em função do Enem,mas procuramos desenvolver atividades de formacontextualizada. Apesar de não discutir os aspectosdo Enem, incentivo a participação dos alunos e gostoda qualidade da prova.”Ricardo Paiva,gerente de Ensino Médio e professor de Educação Física do Cefet

Espírito Santo – Vitória (ES).

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14 INFORMATIVO ENEM 2003INFORMATIVO ENEM 2003

Levantamento realizado a partirdos resultados do Enem 2002 mos-trou que a maioria dos alunos com bomdesempenho no Exame estuda emescolas particulares. Dos estabeleci-mentos públicos, as notas mais eleva-das são, em geral, de estudantes doscentros tecnológicos, colégios uni-versitários e escolas militares dasredes federal e estadual.

Na avaliação do ano passado, em82 estabelecimentos de ensino, a notamédia do conjunto dos alunos queparticiparam do Enem foi de 60 pon-tos ou mais, numa escala de zero a100. Desse total, 64 são particulares e18, públicos, sendo 13 federais e cin-co estaduais. Das instituições pú-blicas, cinco são Cefets; três, co-légios universitários; quatro, mili-tares; e cinco, escolas técnicas.

O bom desempenho dessas es-colas públicas decorre de estrutu-ra de funcionamento bem parecidaà encontrada na elite da rede privada.Gasto médio por aluno bem acima dodestinado aos estabelecimentos públi-cos, professores com formação ade-quada e mais bem remunerados,escolas bem equipadas e, princi-palmente, o conjunto do alunadointegrante das classes socioe-conômicas mais elevadas. E issofaz a diferença.

Em seu estudo �Escolas de ensi-no médio em Belo Horizonte: as cam-peãs e as que oferecem mais ao alu-no�, o professor da UniversidadeFederal de Minas Gerais e doutorem Estatística pela Universidadede Wisconsin (EUA) José Francis-co Soares revela que �uma escolaque recebe alunos melhor prepa-rados e apoiados por famílias quetêm os meios e os conhecimentos pro-

ESCOLAS TÉCNICAS, UNIVERSITÁRIASE MILITARES SÃO DESTAQUE NO ENEM

OS RESULTADOS DO ENEMPODEM AJUDAR A ESCOLA:

l subsidiar a preparação de pro-jetos pedagógicos;l provocar mudanças na formade avaliar;lmudar práticas pedagógicas,reforçando o trabalho interdis-ciplinar;l dar um novo sentido aos co-nhecimentos adquiridos pelosalunos, estimulando sua aplica-ção no cotidiano;l identificar as dificuldades, mu-dar na prática, por conta da es-trutura da escola, do preparo doprofessor e das exigências le-gais definidas pela Lei de Di-retrizes e Bases da EducaçãoNacional e pelos conselhos es-taduais, municipais e nacionalde educação.

duzirá alunos que se saem melhor nasprovas.� E acrescenta: �Estes alunosjá entram sabendo mais e, ao lon-go do curso, aprendem com me-nor esforço da escola.�

Qualidade � Entre as institui-ções públicas com os melhores de-sempenhos na média do conjuntodos seus alunos, o Centro Federalde Educação Tecnológica do Es-pírito Santo teve o maior númerode participantes no Enem. No anopassado, 542 estudantes fizeram oExame. O gerente de Ensino Mé-dio e professor de Educação Físi-ca do Centro, Ricardo Paiva, infor-ma que a escola não desenvolve tra-balhos em função do Enem, mas temincentivado seus estudantes amarcar presença no Exame.�Gosto da qualidade da prova�, diz.

conta as habilidades e as com-petências, é gratificante, mas, comcerteza, é mais difícil; por isso, oprofessor precisa estar muito pre-parado. Se não tiver uma leiturageral do mundo, como poderá eleensinar o aluno?� Para a professo-ra Sílvia, é necessário fazer um tra-balho de base na escola e não ape-nas com os estudantes que estãoconcluindo a educação básica.Ela sente ainda a lentidão com queas propostas de mudança chegamà escola: �A Lei de Diretrizes eBases da Educação Nacional(LDB) chegou de forma morosaà escola, e apenas há cerca deum ano é que esta matriz decompetências e habilidades che-gou�, argumenta a professora,que também visualiza muita re-sistência por parte dos profes-sores, mas acredita que os efei-tos dessa nova proposta serãobenéficos.

ENTREVISTAENTREVISTA

Dirce Gomes, diretorade Avaliação paraCertificação deCompetências do Inep,responsável pelo Enem

RESULTADOS:�Há uma forte correlaçãoentre bom desempenhode alunos tanto de escolaspúblicas diferenciadas,como as técnicas, as deaplicação e os colégiosmilitares, quanto deinstituições particulares,convencionais ou derenome.�ESCOLAS PÚBLICAS:�Escolas públicas

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15INFORMATIVO ENEM 2003INFORMATIVO ENEM 2003

Os estudantes das escolas públi-cas passaram a ter mais representa-tividade no Enem. Eles, quetotalizam 80% dos concluintes doensino médio, já correspondem a75% dos participantes do Exame.No ano passado, entre as institui-ções públicas, a que teve o maiornúmero de presentes foi o Colé-gio Estadual do Paraná, um dosmaiores da América Latina, comcerca de quatro mil alunos em 100turmas de ensino mé-dio nos três turnos defuncionamento. Docolégio paranaense,1.104 estudantes fize-ram o Enem.

Para o professor ecoordenador de Físicado Colégio, TonyMarcio Grach, �oEnem possibilita veri-ficar de forma mais ge-nérica todo o ensinomédio, permitindo lo-calizar falhas a seremcorrigidas�. Segundoele, desde a implanta-ção da LDB, a escolatem trabalhado de forma interdis-ciplinar. �Com o Enem, essa ativida-de foi ampliada. Juntamos Física, Ma-temática, História, todas as disciplinas,de uma forma ou de outra, em ativi-dades interdisciplinares.�

De acordo com Grach, atual-mente há um maior equilíbrio en-tre as disciplinas, inclusive as queestavam fora do currículo, comoSociologia e Filosofia, nas discus-sões dos problemas atuais. �Os estu-dantes estão se interessando mais pe-las aulas. Hoje, eles vão para asruas debater a Física no trânsito e

COLÉGIO DO PARANÁ TEMO MAIOR NÚMERO DE PARTICIPANTES

os assuntos relacionados com a cri-se de energia no País. Mesmo emdisciplinas como Física, que dizemnão gostar, vêem como ela é im-portante para o seu cotidiano.�

Esse processo de mudança es-barra em um problema comum dasescolas públicas: as condições detrabalho do professor. De acordocom Grach, uma das maiores difi-culdades do colégio é a falta de es-tabilidade do docente, o que pro-

voca constantes mudanças no qua-dro de recursos humanos. �Paraentrar no clima da interdiscipli-naridade, o professor precisa detempo, e quando consegue, termi-na o contrato, ele sai da escola e otrabalho se perde�, adverte. Eletambém visualiza deficiências naformação dos professores, o que pre-judica o andamento do trabalho daescola, que, segundo ele, �teminfra-estrutura acima da média na-cional, com laboratórios de ciên-cias e informática, observatório,planetário e ginásio de esportes�.

Mas na instituição capixaba jásopram ventos que se asseme-lham às propostas do Enem.�Trabalhamos as disciplinas demaneira contextualizada � hoje,nossas atividades laboratoriais sãosempre voltadas para o que aconte-ce no dia-a-dia � mas atuar de for-ma interdisciplinar ainda está di-fícil, apesar de haver sinais nessesentido�, comenta Paiva. Segun-do ele, o projeto pedagógico doCentro insere a interdisciplina-ridade, mas não há reuniões pe-riódicas para discutir o assunto. Oprofessor relata que, no ano pas-sado, a partir do tema �Energia�,os docentes e estudantes conse-guiram desenvolver trabalhos en-globando várias matérias, o queculminou numa exposição geralsobre esse assunto. �Detecta-mos que o aluno se envolvemais agindo dessa forma e ficamais estimulado a pesquisar e aestudar.�

convencionais tambémpreparam alunosque conseguem bomdesempenho no Enem.Isto se deve à qualidadede seu ensino e àcompetência ededicação de seusprofessores.�USO DO ENEM:�Reconhecer o esforçodas escolas públicas nãobasta para melhorar aqualidade do ensinomédio. Vamos usar todasas informações queos resultados do Enemacumularam para aformulação de políticaspúblicas que reduzam adesigualdade no preparoda nossa juventude.�

LINA

FARI

A

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16 INFORMATIVO ENEM 2003INFORMATIVO ENEM 2003

AS COMPETÊNCIAS EHABILIDADES DO ENEM

A estrutura conceitual de avali-ação do Enem vem aprimorando-se desde sua primeira aplicação,tendo como referência principal aarticulação entre o conceito deeducação básica e o de cidadania,tal como definidos nos textos cons-titucionais e na Lei de Diretrizese Bases da Educação Nacional (LDB).

Uma matriz foi desenvolvidapara representar a associação en-tre conteúdos, competências e ha-bilidades, de tal forma a definir cla-ramente os pressupostos do Eneme delinear suas característicasmetodológicas e operacionais.

Competências são modalidadesestruturais da inteligência, ou me-lhor, ações e operações que utili-zamos para estabelecer relaçõescom e entre objetos, situações, fe-nômenos e pessoas que desejamosconhecer. As habilidades são espe-cificações das competências estru-turais em contextos específicos,decorrem das competências adqui-ridas e referem-se ao plano imedi-ato do �saber fazer�. Por meio dasações e operações, as habilidadesaperfeiçoam-se e articulam-se pos-sibilitando nova reorganização dascompetências.

As cinco competências que es-truturam o Enem são desenvolvi-das e fortalecidas com a mediaçãoda escolarização formal e cor-respondem aos requisitos mínimospara que a interação social � abase do exercício da cidadania �possa pautar-se pela autonomia,

esteio das condutas nas sociedadesdemocráticas.

Cada uma das cinco competên-cias que estruturam o Exame, em-bora correspondam a domínios es-pecíficos da estrutura mental, fun-cionam de forma orgânica e inte-grada. E elas expressam-se, maisespecificamente, no caso do Enem,em 21 habilidades. Este constructode competências e habilidades,próprio do ser humano, desenvol-ve-se e aperfeiçoa-se desde o nas-cimento, na interação com o meiofísico e social. Das interações con-tínuas realizadas pelo cidadão éque se constroem os conhecimen-tos, sendo, portanto, os conceitos,as idéias, as leis, as teorias, os fa-tos, as pessoas, a história, o espa-ço geográfico, a ética e os valores(o conteúdo tradicional das ciên-cias, das artes e da filosofia) con-dições essenciais à construção doconhecimento.

O modelo da matriz indica ascompetências e habilidades geraispróprias do cidadão na fase de de-senvolvimento cognitivo corres-pondente ao término da escolari-dade básica, associadas aos con-teúdos do ensino fundamental emédio, e considera como referên-cias norteadoras o texto da LDB, osParâmetros Curriculares Nacionais,os textos da Reforma do EnsinoMédio e as Matrizes Curricularesde Referência para o Saeb.

A partir das competências cog-nitivas globais, identifica-se um

elenco de habilidades correspon-dentes, e a matriz assim construídafornece indicações do que se pre-tende valorizar nessa avaliação,servindo de orientação para a ela-boração de questões sobre as di-ferentes áreas do conhecimento.

COMPETÊNCIAS

I - Dominar a norma culta daLíngua Portuguesa e fazer uso das

A RELAÇÃO DA PROVACOM AS COMPETÊNCIASE HABILIDADES

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17INFORMATIVO ENEM 2003INFORMATIVO ENEM 2003

COMPETÊNCIAS

I. Dominar linguagensII. Compreender fenômenosIII. Enfrentar situações-problemaIV. Construir argumentaçãoV. Elaborar propostas

linguagens matemática, artística ecientífica.

II - Construir e aplicar concei-tos das várias áreas do conheci-mento para a compreensão de fe-nômenos naturais, de processoshistórico-geográficos, da produ-ção tecnológica e das manifesta-ções artísticas.

III - Selecionar, organizar, re-lacionar, interpretar dados e infor-mações representados de diferen-

tes formas, para tomar decisões eenfrentar situações-problema.

IV - Relacionar informações,representadas em diferentes for-mas, e conhecimentos disponíveisem situações concretas, para cons-truir argumentação consistente.

V - Recorrer aos conhecimen-tos desenvolvidos na escola paraelaboração de propostas de inter-venção solidária na realidade, res-peitando os valores humanos e con-

siderando a diversidade socio-cultural.

HABILIDADES

1 - Dada a descrição discursivaou por ilustração de um experi-mento ou fenômeno, de naturezacientífica, tecnológica ou social,identificar variáveis relevantes eselecionar os instrumentos neces-sários para a realização ou inter-pretação do mesmo.

2 - Em um gráfico cartesiano devariável socieconômica ou técni-co-científica, identificar e anali-sar valores das variáveis, interva-los de crescimento ou decréscimoe taxas de variação.

3 - Dada uma distribuição es-tatística de variável social, econô-mica, física, química ou biológica,traduzir e interpretar as informa-ções disponíveis, ou reorganizá-las,objetivando interpolações ouextrapolações.

4 - Dada uma situação-proble-ma, apresentada em uma lingua-gem de determinada área de co-nhecimento, relacioná-la com suaformulação em outras linguagense vice-versa.

5 - A partir da leitura de textosliterários consagrados e de infor-mações sobre concepções artísti-cas, estabelecer relações entreeles e seu contexto histórico, so-cial, político ou cultural, inferindoas escolhas dos temas, gênerosdiscursivos e recursos expressivosdos autores.

6 - Com base em um texto, ana-lisar as funções da linguagem,identificar marcas de variantes lin-güísticas de natureza sociocul-tural, regional de registro ou de es-tilo, e explorar as relações entreas linguagens coloquial e formal.

7- Identificar e caracterizar a con-

O diagrama mostraa relação entreas questões da provae cada uma dashabilidades, e entreestas e as ompetências,de modo a permitir umaavaliação global dodesempenho doparticipante e umainterpretação dessedesempenho em cadauma das cincocompetências.

Observe-se, porexemplo, que acompetência II éavaliada pela prova 51vezes. As 63 questõessão de igual valor e ototal de pontos obtidosé colocado em umaescala de 0 a 100.

O instrumento permitetambém que odesempenho emcada uma das cincocompetências sejaigualmenterepresentado numaescala de 0 a 100.

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18 INFORMATIVO ENEM 2003INFORMATIVO ENEM 2003

servação e as transformações de ener-gia em diferentes processos de suageração e uso social, e comparardiferentes recursos e opções ener-géticas.

8- Analisar criticamente, de for-ma qualitativa ou quantitativa, asimplicações ambientais, sociais eeconômicas dos processos de uti-lização dos recursos naturais, ma-teriais ou energéticos.

9 - Compreender o significadoe a importância da água e de seu ci-clo para a manutenção da vida, emsua relação comcondições so-cioambientais,sabendo quan-tificar variaçõesde temperaturae mudanças defase em proces-sos naturais e deintervenção hu-mana.

10 - Utilizar einterpretar dife-rentes escalasde tempo paras i tua r e des -crever transfor-mações na at-mosfera, biosfera,hidrosfera e litosfera, origeme evolução da vida, variaçõespopulacionais e modificaçõesno espaço geográfico.

11 - Diante da diversidade da vi-da, analisar, do ponto de vista bio-lógico, físico ou químico, pa-drões comuns nas estruturas enos processos que garantem acontinuidade e a evolução dosseres vivos.

12 - Analisar fatores socioeco-nômicos e ambientais associadosao desenvolvimento, às condiçõesde vida e saúde de populações hu-

manas, por meio da interpretaçãode diferentes indicadores.

13 - Compreender o caráter sis-têmico do planeta e reconhecer aimportância da biodiversidade parapreservação da vida, relacionandocondições do meio e intervençãohumana.

14 - Diante da diversidade deformas geométricas planas e espa-ciais, presentes na natureza ou ima-ginadas, caracterizá-las por meio depropriedades, relacionar seus ele-mentos, calcular comprimentos,

áreas ou volumes, e utilizar o co-nhecimento geométrico para leitu-ra, compreensão e ação sobre a rea-lidade.

15 - Reconhecer o caráter alea-tório de fenômenos naturais ounão e utilizar em situações-pro-blema processos de contagem,representação de freqüênciasrelativa, construção de espaçosamostrais, distribuição e cálculo deprobabilidades.

16 - Analisar, de forma qualita-tiva ou quantitativa, situações-pro-blema referentes a perturbações

ambientais, identificando fonte,transporte e destino dos poluentes,reconhecendo suas transforma-ções; prever efeitos nos ecossis-temas e sistema produtivo epropor formas de intervençãopara reduzir e controlar os efeitosda poluição ambiental.

17 - Na obtenção e produção demateriais e insumos energéticos,identificar etapas, calcular rendi-mentos, taxas e índices, e analisarimplicações sociais, econômicas eambientais.

18 - Valorizar a di-versidade dos patri-mônios etnoculturaise artísticos, identifi-cando-a em suas ma-nifestações e repre-sentações em dife-rentes sociedades,épocas e lugares.

19 - Confrontar in-terpretações diversasde situações ou fatosde natureza históri-co-geográfica, téc-nico-científica, ar-tístico-cultural oudo cotidiano, com-parando diferentespontos de vista ,

identificando os pressupostosde cada interpretação e analisan-do a validade dos argumentos uti-lizados.

20 - Comparar processos de for-mação socioeconômica, relacio-nando-os com seu contexto histó-rico e geográfico.

21 - Dado um conjunto de in-formações sobre uma realidade his-tórico-geográfica, contextualizar eordenar os eventos registrados, com-preendendo a importância dos fa-tores sociais, econômicos, políticosou culturais.

Competências são modalidades

estruturais da inteligência, ou

melhor, ações e operações que

utilizamos para estabelecer

relações com e entre objetos,

situações, fenômenos e pessoas

que desejamos conhecer.

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19INFORMATIVO ENEM 2003INFORMATIVO ENEM 2003

ANÁLISE DE QUESTÕES DO ENEMÉrico Veríssimo relata, em suas memórias, umepisódio da adolescência que teve influênciasignificativa em sua carreira de escritor.� Lembro-me de que certa noite � eu teria uns quatorzeanos, quando muito � encarregaram-me de segurar umalâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações,enquanto um médico fazia os primeiros curativos numpobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam�carneado�. (...) Apesar do horror e da náusea, continueifirme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo podeagüentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficarsegurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costuraresses talhos e salvar essa vida? (...)

QUESTÃO 7Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-meanimado até hoje a idéia de que o menos que o escritorpode fazer, numa época de atrocidades e injustiças comoa nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre arealidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia aescuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aostiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náuseae do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica,acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso,risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de quenão desertamos nosso posto.�

VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I. PortoAlegre:Editora Globo, 1978.

PEQUI 25 (SACA) 500 56,81

PANÃ 2 (UNIDADE) 80 9,09

FAVA-D'ANTA 5 (SACA) 60 6,81

LENHA 5 (CARROÇA) 240 27,29

TOTAL 880 100

PRODUTO RENDAMÉDIA (R$)

PARTICIPAÇÃO (%)NA RENDA TOTAL

RENDAANUAL (R$)

FONTE: CIÊNCIA HOJE. JUNHO DE 2000.

Neste texto, por meio da metáfora da lâmpada que ilumina a escuridão, Érico Veríssimo define como uma dasfunções do escritor e, por extensão, da literatura,

(A) criar a fantasia.(B) permitir o sonho.(C) denunciar o real.(D)criar o belo.(E) fugir da náusea.

Essa questão apresenta para leitura e análise um trecho de Solo de Clarinetaem que Érico Veríssimo relata uma experiência de juventude e dela constróiuma metáfora para revelar o que ele entende ser uma das funções essenciais daliteratura. �Lâmpada�, �vela�, �fósforos� devem ser lidos como a palavra com-prometida em traduzir a realidade do mundo. Ou seja, afirmar que o escritordeve �fazer luz sobre a realidade se seu mundo�, nesse contexto, equivale aafirmar que um papel da literatura é denunciar o real. Todas as alternativaspropostas referem-se a eventuais funções da literatura. Apenas a alternativa Cé pertinente o contexto e foi escolhida por cerca de metade dos participantes.

QUESTÃO 11A coleta de favas é feita por famílias inteiras

de trabalhadores rurais (não-proprietários).Enquanto o jovem apanhador de favas podeganhar até R$7,50 por dia, os demais trabalha-dores adultos ganham, em média, R$5,12 pordia, podendo dedicar-se a outras atividadesextrativistas: a coleta de pequis e panãs, frutosvendidos à beira da estrada, e de lenha, vendi-da a pequenos compradores. A tabela apresen-ta a renda média anual dos jovens e adolescen-tes de uma cidade de Minas Gerais, com essasatividades extrativistas.

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20 INFORMATIVO ENEM 2003INFORMATIVO ENEM 2003

Foram feitas as seguintes afirmações sobre a importância socioeconômica do extrativismo da fava-d�anta:

I. A desinformação impede qualquer controle da situação por parte dos coletores, aos quais cabe apenas opapel de trabalhadores braçais.

II. O retorno financeiro para a população é compatível com a importância dos produtos derivados da fava.III. A atividade é menos rentável porque, entre os compradores de favas, existem atravessadores, ao

contrário do que acontece na venda do pequi.IV. A atividade eleva o salário diário do trabalhador, representando a fonte mais importante de sua

renda anual.

Está correto apenas o que se afirma em

(A) I, III e IV.(B) II, III e IV.(C) I e III.(D)II e IV.

(E) I e IV.

Neste item os participantes devem utilizar dados dos enunciados e databela para avaliar a importância socioeconômica do extrativismo da fava-d�anta. A afirmação I está correta e se confirma no texto: �Embora os mora-dores da região tenham um vasto conhecimento sobre hábitos e usos da faunae flora locais, pouco ou nada sabem sobre...o destino e aproveitamento damatéria-prima extraída da fava d�anta �. A afirmativa II está errada, já que asfavas têm lugar garantido no mercado mundial e representam apenas 6,81%da baixa renda dos trabalhadores�. A afirmativa III está correta e se confirmapela observação dos dois enunciados: �Depois da coleta, as vagens são vendi-das aos atacadistas locais que as revendem a atacadistas regionais, estes sim,

os revendedores de fava para as indústrias...� e �a coleta de pequis e panãs, frutos vendidos à beira da estrada...�.A afirmação IV está errada e se confirma pela baixa participação na renda total apresentada na tabela. Participantesque optaram pelas alternativas A, B, D e E (49%) acreditam ser possível que a atividade menos rentável para ostrabalhadores possa ser a fonte mais importante de sua renda anual. O que está completamente errado de acordocom os dados fornecidos e com o senso comum. A resposta correta foi assinalada por cerca de metade dos partici-pantes.

QUESTÃO 39Considere o papel da técnica no desenvolvimento da constituição de sociedades e três invenções tecnológicas

que marcaram esse processo: invenção do arco e flecha nas civilizações primitivas, locomotiva nas civilizações doséculo XIX e televisão nas civilizações modernas.

A respeito dessas invenções são feitas as seguintes afirmações:

I. A primeira ampliou a capacidade de ação dos braços, provocando mudanças na forma de organização social e na utilização de fontes de alimentação.

II. A segunda tornou mais eficiente o sistema de transporte, ampliando possibilidades de locomoção eprovocando mudanças na visão de espaço e de tempo.

III. A terceira possibilitou um novo tipo de lazer que, envolvendo apenas participação passiva do serhumano, não provocou mudanças na sua forma de conceber o mundo.

Está correto o que se afirma em:

(A) I, apenas.(B) I e II, apenas.(C) I e III, apenas.(D)II e III, apenas.(E) I, II e III.

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21INFORMATIVO ENEM 2003INFORMATIVO ENEM 2003

A questão propõe ao participante uma reflexão sobre um dos temas maiscomplexos dos estudos históricos: as conseqüências das inovações tecnológicasnão apenas no domínio da natureza, mas também sobre a própria visão de mun-do dos homens que as criaram. A formulação da questão leva o participante atornar consciente e explicitar que a práxis é motivada pelas necessidadeshumanas, mas que ela desencadeia igualmente processos nem semprecontrolados ou previstos no seu início. Nesse sentido, há mesmo umasutil ironia na afirmação III, pois a referida imprevisibilidade não implica

forçosamente a �passividade� do ser humano diante do fenômeno desencadeado, nem tampouco �constância� emsua forma de conceber o mundo: para responder corretamente a questão, o participante deveria representar mentalmente umprincípio dialético segundo o qual, na História, todo movimento gera movimento. Cerca de 60% dos participantes assinalaramcorretamente a alternativa B. As escolhas em C, D e E (37%) revelam, possivelmente, a crença de que as invenções, emparticular a televisão, não provocaram mudanças na forma do ser humano conceber o mundo.

QUESTÃO 54A tabela refere-se a um estudo realizado entre 1994 e 1999 sobre violência sexual com pessoas do sexo feminino

no Brasil.

A partir dos dados da tabela e para o grupo feminino estudado, são feitas as seguintes afirmações:

I. A mulher não é poupada da violência sexual doméstica em nenhuma das faixas etárias indicadas.II. A maior parte das mulheres adultas é agredida por parentes consangüíneos.III. As adolescentes são vítimas de quase todos os tipos de agressores.IV. Os pais, biológicos, adotivos e padrastos, são autores de mais de 1/3 dos casos de violência sexual

envolvendo crianças.É verdadeiro apenas o que se afirma em

(A) I e III. (B) I e IV. (C) II e IV. (D) I, III e IV. (E) II,III e IV

Essa questão apresenta uma tabela com dados sobre violência sexualcometida contra pessoas do sexo feminino de diferentes faixas etárias epretende que o participante seja capaz de analisar aspectos dessa pesqui-sa para uma melhor compreensão do fato. Cerca de metade dos partici-pantes fizeram uma leitura correta da tabela e assinalaram a alternativaD. As demais opções foram feitas por aqueles que provavelmente nãoassociaram as afirmações aos dados da tabela.

TIPIFICAÇÃO DOAGRESSOR IDENTIFICADO

CRIANÇAS ADOLESCENTES

LEVANTAMENTO DOS CASOS DE VIOLÊNCIA SEXUAL POR FAIXA ETÁRIA

QUANTIDADEADULTAS

% QUANTIDADE %PAI BIOLÓGICO 13 21,7 21 13,9 6 6PADRASTO 10 16,7 16 10,6 0 0PAI ADOTIVO 1 1,6 0 0 0 0TIO 7 11,6 14 9,4 1 1,4AVÔ 6 10,0 0 0 1 1,4IRMÃO 0 0 7 4,6 0 0PRIMO 0 0 5 3,4 1 1,4VIZINHO 10 16,7 42 27,8 19 27,9PARCEIRO E EX-PARCEIRO - - 13 7,5 17 25,2CONHECIDO (TRABALHO) - - 8 5,3 5 7,3OUTRO CONHECIDO 13 21,7 25 16,5 18 26,5TOTAL 60 100 151 100 68 100

QUANTIDADE %

PERCENTUAIS DE

RESPOSTA

A B C D E

15 9 8 49 18

Habilidade: 12

FONTE: JORNAL DA UNICAMP, Nº 162. MAIO DE 2001.(-) NÃO APLICÁVEL

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OBJETIVO: O Enem permite aos estudantes fazeremuma auto-avaliação dos conhecimentos e das habili-dades desenvolvidos ao longo da educação básica,com a finalidade de saber como está sua formaçãopara integrar efetivamente à sociedade. Além disso,serve para orientar as escolhas futuras em relação àcontinuidade dos estudos e à participação no mer-cado de trabalho. Os resultados do Enem tam-bém são utilizados nos vestibulares de mais de400 instituições de ensino superior. O Examevisará, ainda, subsidiar o Ministério da Educa-ção, as Secretarias Estaduais e Municipais deEducação e as escolas nas ações que visam me-lhorar a qualidade do ensino.

INSCRIÇÃO: De 12 a 23 demaio de 2003, na própriaescola.

APLICAÇÃO DA PROVA:Dia 31 de agosto de 2003,domingo, com início às13h e término às 18h (ho-rário de Brasília).

PARTICIPANTES: O Enemé voluntário e podem seinscrever os alunos queestão terminando o Ensi-no Médio no ano de 2003e todos aqueles que jáconcluíram esse nível deensino, inclusive os quefizeram a Educação deJovens e Adultos (o anti-go supletivo). É aconse-lhável que os alunos ma-tr iculados no 1º e 2ºanos do ensino médioprestem o Exame no pe-ríodo mais adequado, que é o 3º ano do curso.Todos aqueles que já realizaram o Enem em anosanteriores também podem participar da edição de2003

VALOR DA TAXA DE INSCRIÇÃO: R$ 32,00.GRATUIDADE: Estão dispensados de pagar a taxa de

inscrição todos os alunos do 3º ano do Ensino Médiode escolas públicas � federais, estaduais e munici-pais. O Exame também será gratuito para os estudan-tes carentes do 3º ano da rede particular, mediante

INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE O ENEMdeclaração de carência. Também não precisarão pa-gar a taxa de inscrição os concluintes do Ensino Médiona modalidade de Educação de Jovens e Adultos � oantigo Supletivo � que tenham terminado todosos exames entre abril de 2002 e abril de 2003.Finalmente, está isento da taxa de inscrição todoestudante carente que concluiu em anos anteriores oEnsino Médio, mediante declaração de que é caren-te.

CONFIRMAÇÃO DA INSCRIÇÃO: Todos os inscritos re-ceberão, pelos Correios, os seus respectivos Cartõesde Confirmação de Inscrição. Nesse cartão, estão onúmero da inscrição e o local onde deverão se apre-sentar para fazer a prova.

COMO SERÁ A PROVA: São63 questões objetivas demúltipla escolha e uma re-dação, abrangendo as vá-rias áreas de conhecimen-to em que se organizamas atividades pedagógicasda escolaridade básicano Brasil. A redação de-ve ter a forma de textoem prosa do tipo dis-sertativo-argumentativo,a partir de um tema de or-dem social, científica, cul-tural ou política.

RESULTADOS: O partici-pante receberá, no ende-reço que indicou na fichade inscrição, o Boletim In-dividual de Resultados,contendo duas notas glo-bais: uma para a parte ob-jetiva e outra para a reda-

ção. O Boletim terá também uma interpretação dosresultados obtidos em cada uma das cinco compe-tências avaliadas nas duas partes da prova, sendo quecada uma é avaliada numa escala de zero a 100 pon-tos. A previsão é de que os resultados comecem aser remetidos, pelos Correios, a partir de 11 de no-vembro de 2003. Haverá sigilo absoluto em relaçãoaos resultados individuais. Somente o participantepoderá autorizar a utilização dos resultados que ob-teve no Enem.

As escolas, que tiveram mais de 90% de seusalunos matriculados na terceira série doensino médio presentes ao Enem, poderão

solicitar um boletim com a média dosresultados de seus estudantes. Esse boletim

informa também a nota média do País,possibilitando uma comparação dosresultados. O documento, que poderá

solicitado pelo e-mail: [email protected],é gratuito para as escolas públicas. Para as

escolas particulares será cobrada a taxade R$5,00 por aluno.

Todos os alunos da 3ª série do ensino médiopodem fazer a inscrição na própria escola

BOLETIM DA ESCOLA:BOLETIM DA ESCOLA:

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