informativo comentado: informativo 646-stj1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _,...

34
Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 646-STJ Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE DIREITO ADMINISTRATIVO SERVIÇOS SOCIAIS AUTÔNOMOS Serviços sociais autônomos não devem figurar no polo passivo de ação proposta pelo contribuinte discutindo a exigibilidade das contribuições sociais. ACUMULAÇÃO DE CARGOS Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h. DIREITO CIVIL CONDOMÍNIO Honorários de sucumbência decorrentes de ação de cobrança de cotas condominiais não possuem natureza propter rem. DOAÇÃO Possibilidade de cancelamento de cláusula de inalienabilidade instituída pelos pais em relação ao imóvel doado aos filhos. ALIMENTOS O prazo para a interposição de recurso ordinário em habeas corpus contra decisão do TJ que nega liberdade para devedor de alimentos é de 5 dias (não é 15 dias). DIREITO DO CONSUMIDOR PLANO DE SAÚDE É vedada à operadora de plano de saúde a resilição unilateral imotivada dos contratos de planos coletivos empresariais com menos de trinta beneficiários. DIREITO EMPRESARIAL MARCA A aquisição de distintividade de marca não gera como decorrência lógica, direta e automática a exclusividade de seu uso. TÍTULOS DE CRÉDITO O instrumento de cessão fiduciária de direitos creditórios deve indicar, de maneira precisa, o crédito, e não o título objeto de cessão. SOCIEDADE LIMITADA A sucessão civil e processual dos sócios de sociedade limitada, extinta por meio do distrato, é efetivada por meio do procedimento de habilitação, e não pela via da desconsideração da personalidade jurídica.

Upload: others

Post on 04-Jul-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Informativo comentado: Informativo 646-STJ

Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIÇOS SOCIAIS AUTÔNOMOS Serviços sociais autônomos não devem figurar no polo passivo de ação proposta pelo contribuinte discutindo a

exigibilidade das contribuições sociais. ACUMULAÇÃO DE CARGOS Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h.

DIREITO CIVIL

CONDOMÍNIO Honorários de sucumbência decorrentes de ação de cobrança de cotas condominiais não possuem natureza propter

rem. DOAÇÃO Possibilidade de cancelamento de cláusula de inalienabilidade instituída pelos pais em relação ao imóvel doado aos

filhos.

ALIMENTOS O prazo para a interposição de recurso ordinário em habeas corpus contra decisão do TJ que nega liberdade para

devedor de alimentos é de 5 dias (não é 15 dias).

DIREITO DO CONSUMIDOR

PLANO DE SAÚDE É vedada à operadora de plano de saúde a resilição unilateral imotivada dos contratos de planos coletivos

empresariais com menos de trinta beneficiários.

DIREITO EMPRESARIAL

MARCA A aquisição de distintividade de marca não gera como decorrência lógica, direta e automática a exclusividade de

seu uso. TÍTULOS DE CRÉDITO O instrumento de cessão fiduciária de direitos creditórios deve indicar, de maneira precisa, o crédito, e não o título

objeto de cessão. SOCIEDADE LIMITADA A sucessão civil e processual dos sócios de sociedade limitada, extinta por meio do distrato, é efetivada por meio do

procedimento de habilitação, e não pela via da desconsideração da personalidade jurídica.

Page 2: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL O prazo para a interposição de recurso ordinário em habeas corpus contra decisão do TJ que nega liberdade para

devedor de alimentos é de 5 dias (não é 15 dias). O juízo de admissibilidade do recurso ordinário em mandado de segurança é feito pelo STJ (e não pelo TJ ou TRF

recorrido). PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE A prescrição intercorrente por ausência de localização de bens não retira o princípio da causalidade em desfavor do

devedor, nem atrai a sucumbência para o exequente.

DIREITO PENAL

CONFISSÃO Súmula 630-STJ INDULTO Súmula 631-STJ

DIREITO TRIBUTÁRIO

CONTRIBUIÇÕES Serviços sociais autônomos não devem figurar no polo passivo de ação proposta pelo contribuinte discutindo a

exigibilidade das contribuições sociais.

DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIÇOS SOCIAIS AUTÔNOMOS Serviços sociais autônomos não devem figurar no polo passivo de ação proposta pelo

contribuinte discutindo a exigibilidade das contribuições sociais

As entidades dos serviços sociais autônomos não possuem legitimidade passiva nas ações judiciais em que se discute a relação jurídico-tributária entre o contribuinte e a União e a repetição de indébito das contribuições sociais recolhidas.

Os serviços sociais são meros destinatários de subvenção econômica e, como pessoas jurídicas de direito privado, não participam diretamente da relação jurídico-tributária entre contribuinte e ente federado.

O direito que tais entidades possuem à receita decorrente da subvenção não gera interesse jurídico a ponto de justificar a ocorrência de litisconsórcio com a União. O interesse dos serviços sociais autônomos nesta lide é reflexo e meramente econômico.

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.619.954-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/04/2019 (Info 646).

Serviços sociais autônomos Serviços sociais autônomos são pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, criadas por lei, e que se destinam a prestar assistência ou ensino a certas categorias sociais ou grupos profissionais. Não integram a Administração Pública direta ou indireta, sendo considerados entes paraestatais. Os serviços sociais autônomos são também conhecidos como “sistema S” pelo fato de geralmente começarem com a letra “S” e por estarem ligadas aos Sindicatos. Exemplos: SESI, SENAC, SESC, SENAI, SEST, SENAT etc. Também são serviços sociais autônomos a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI (Lei nº 11.080/2004) e a Agência de Promoção de Exportações do Brasil – APEX (Lei nº 10.668/2003).

Page 3: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3

Contribuição para os serviços sociais autônomos Os serviços sociais autônomos são mantidos por meio de contribuição compulsória paga pelos empregadores com base na folha de salários. Esta contribuição possui natureza jurídica de tributo, sendo chamada de “Contribuição para os serviços sociais autônomos”. Há divergência sobre a natureza jurídica dessa contribuição destinada aos serviços sociais autônomos, havendo duas posições: 1ª) seria uma espécie de “contribuição social geral”, estando prevista no art. 240 da CF/88:

Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto no art. 195 as atuais contribuições compulsórias dos empregadores sobre a folha de salários, destinadas às entidades privadas de serviço social e de formação profissional vinculadas ao sistema sindical.

2ª) seria uma “contribuição de intervenção no domínio econômico”, melhor se enquadrando, portanto, no art. 149 da CF/88:

Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.

Obs: no caso específico do SEBRAE, para fins de concurso público, não há dúvida de que se trata de uma contribuição de intervenção no domínio econômico porque se trata da posição do STF. Veja:

A contribuição do SEBRAE - Lei 8.029/90, art. 8º, § 3º, redação das Leis 8.154/90 e 10.668/2003 - é contribuição de intervenção no domínio econômico, não obstante a lei a ela se referir como adicional às alíquotas das contribuições sociais gerais relativas às entidades de que trata o art. 1º do D.L. 2.318/86, SESI, SENAI, SESC, SENAC. Não se inclui, portanto, a contribuição do SEBRAE, no rol do art. 240, C.F. STF. Plenário. RE 396266, Rel. Min. Carlos Velloso, julgado em 26/11/2003.

A contribuição destinada ao SEBRAE possui natureza de contribuição de intervenção no domínio econômico (art. 149 da CF/88) e não necessita de edição de lei complementar para ser instituída. STF. Plenário. RE 635682/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/4/2013 (Info 703).

Essa posição quanto ao SEBRAE já foi cobrada em prova: (Juiz Federal TRF2 2018) A contribuição ao SEBRAE é qualificada, pelo Supremo Tribunal Federal, como tendo natureza de contribuição de intervenção no domínio econômico — CIDE, e não como contribuição social de interesse de categorias profissionais e econômicas. (CERTO) Meros destinatários das contribuições Vale ressaltar que os serviços sociais autônomos são meros destinatários de uma parte das contribuições sociais instituídas pela União. Essa parte destinada aos serviços sociais autônomos é denominada de “adicional à alíquota” (art. 8º, §§ 3º e 4º da Lei nº 8.029/90). O repasse da arrecadação dessa contribuição para os serviços sociais autônomos caracteriza-se como sendo uma transferência de receita corrente para pessoas jurídicas de direito privado (arts. 9º e 11 da Lei nº 4.320/64). Trata-se, portanto, de uma espécie de subvenção econômica (arts. 12, §§ 2º e 3º, e 108, II, da Lei nº 4.320/64). Após o repasse, esses valores não mais têm a qualidade de crédito tributário; são, a partir de então, meras receitas dos serviços sociais autônomos, como assim qualifica a legislação.

Page 4: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4

Imagine agora a seguinte situação hipotética: Determinada empresa quer ajuizar afirmando que não deveria estar pagando a contribuição destinada para aquele serviço social autônomo e pedindo a restituição dos valores já pagos. Em outras palavras, pretende propor uma ação de inexigibilidade da contribuição e de repetição do indébito. Essa ação deve ser proposta somente contra a União ou contra a União e o serviço social autônomo, em litisconsórcio? Somente contra a União.

As entidades dos serviços sociais autônomos não possuem legitimidade passiva nas ações judiciais em que se discute a relação jurídico-tributária entre o contribuinte e a União e a repetição de indébito das contribuições sociais recolhidas. Os serviços sociais são meros destinatários de subvenção econômica e, como pessoas jurídicas de direito privado, não participam diretamente da relação jurídico-tributária entre contribuinte e ente federado. O direito que tais entidades possuem à receita decorrente da subvenção não gera interesse jurídico a ponto de justificar a ocorrência de litisconsórcio com a União. O interesse dos serviços sociais autônomos nesta lide é reflexo e meramente econômico. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.619.954-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/04/2019 (Info 646).

Os serviços autônomos, embora sofram influência (financeira) da decisão judicial a respeito da relação tributária, como pessoas jurídicas de direito privado não têm interesse jurídico quanto à relação jurídico-tributária da qual se origina a base de cálculo dos valores repassados. O interesse, sob esse ângulo, é reflexo e meramente econômico, até porque, se os serviços prestados são relevantes à União, esta se utilizará de outra fonte para manter a subvenção caso a relação jurídico-tributária entre contribuinte e ente federado seja declarada inexistente. Eventual ausência do serviço social autônomo no polo passivo da ação não gera nenhum prejuízo à defesa do tributo que dá ensejo à subvenção. Tratando-se de subvenção econômica, não há falar em litisconsórcio entre a União e os serviços sociais autônomos, uma vez que estes são terceiros estranhos à relação jurídico-tributário e sem responsabilidade quanto à repetição do indébito do tributo.

ACUMULAÇÃO DE CARGOS Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais. Isso porque não existe esse requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horários no exercício das funções, cujo cumprimento deverá ser aferido pela Administração Pública.

STF. 1ª Turma. RE 1176440/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/4/2019 (Info 937).

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.767.955-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 27/03/2019 (Info 646).

É possível que a pessoa acumule mais de um cargo ou emprego público? REGRA: NÃO. A CF/88 proíbe a acumulação remunerada de cargos ou empregos públicos.

EXCEÇÕES: a própria CF/88 prevê exceções a essa regra. Veja o que dispõe o art. 37, XVI:

Page 5: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5

XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI: a) a de dois cargos de professor; b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico; c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas;

No caso dos servidores públicos federais, importante mencionar que o tema foi regulamentado pela Lei nº 8.112/90:

Art. 118. Ressalvados os casos previstos na Constituição, é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos. (...) § 2º A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condicionada à comprovação da compatibilidade de horários.

Parecer-AGU nº GQ-145/98* Com o objetivo de disciplinar a matéria, a Advocacia Geral da União (AGU) emitiu, em 1998, o parecer nº GQ-145, vinculante, afirmando que o servidor somente poderia acumular cargos se houvesse compatibilidade de horário e desde que a jornada máxima não ultrapasse 60 horas semanais. Assim, para a AGU, mesmo que existisse compatibilidade de horários, se a jornada semanal ficasse acima de 60 horas, a acumulação não seria permitida, considerando que o servidor estaria muito cansado e isso atrapalharia seu desempenho funcional, em prejuízo ao princípio constitucional da eficiência. * Obs: esse parecer foi revogado em abril/2019. Os servidores não concordaram com este entendimento e recorreram à Justiça para que pudessem manter a acumulação de cargos mesmo se a jornada semanal for superior a 60 horas. A jurisprudência acolhe o pedido dos servidores? É possível que o servidor acumule dois cargos públicos mesmo que a soma das jornadas ultrapasse 60 horas semanais? SIM. É possível a acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h:

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal. O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horários no exercício das funções, cujo cumprimento deverá ser aferido pela administração pública. STF. 1ª Turma. RE 1176440/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/4/2019 (Info 937). STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018. STJ. 1ª Seção. REsp 1767955/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 27/03/2019.

O fundamento é constitucional. Ora, a Constituição Federal em nenhum momento exigiu que a jornada semanal dos dois cargos fosse de até 60 horas. O único requisito estabelecido pela CF/88 para a acumulação é a compatibilidade de horários no exercício das funções, cujo cumprimento deverá ser aferido pela administração pública. Logo, essa exigência feita por norma infraconstitucional de que a jornada seja de até 60 horas está além daquilo que a Constituição impôs, sendo, portanto, indevida. Assim, quando houver compatibilidade de horários, a existência de norma infraconstitucional limitadora de jornada semanal de trabalho não constitui óbice ao reconhecimento da cumulação de cargos prevista no art. 37, XVI, da Constituição Federal.

Page 6: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6

Posição do TCU A jurisprudência atual do TCU é no sentido de que a questão da incompatibilidade de horários entre os cargos acumuláveis deve ser estudada caso a caso, sem a limitação objetiva de 60 horas semanais. Nesse sentido: Acórdãos 1.338/2011-TCU-Plenário, de relatoria do Ministro Augusto Nardes, e 1.168/2012-TCU-Plenário, de relatoria do Ministro José Jorge. Revogação do Parecer-AGU nº GQ-145/98 Em abril de 2019, a AGU exarou novo parecer revogando o Parecer-AGU nº GQ-145/98. A nova posição institucional da AGU é a seguinte:

É inválida a regulamentação administrativa que impõe limitação de carga horária semanal como empecilho para a acumulação de cargos públicos.

DIREITO CIVIL

CONDOMÍNIO Honorários de sucumbência decorrentes de ação de cobrança de

cotas condominiais não possuem natureza propter rem

As verbas de sucumbência, decorrentes de condenação em ação de cobrança de cotas condominiais, não possuem natureza ambulatória (propter rem).

O art. 1.345 do CC estabelece que o adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante, em relação ao condomínio, inclusive multas e juros moratórios.

A obrigação de pagar as verbas de sucumbência, ainda que sejam elas decorrentes de sentença proferida em ação de cobrança de cotas condominiais, não pode ser qualificada como ambulatória (propter rem), seja porque tal prestação não se enquadra dentre as hipóteses previstas no art. 1.345 do CC para o pagamento de despesas indispensáveis e inadiáveis do condomínio, seja porque os honorários constituem direito autônomo do advogado, não configurando débito do alienante em relação ao condomínio, senão débito daquele em relação ao advogado deste.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.730.651-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/04/2019 (Info 646).

Imagine a seguinte situação hipotética: João é proprietário e morador do apartamento 1501 do edifício residencial “Jardim Feliz”. João estava devendo 6 meses de cotas condominiais. O condomínio ajuizou ação contra ele cobrando o valor das cotas em atraso. O juiz julgou procedente o pedido e condenou João ao pagamento de: • R$ 100 mil, a título de cotas condominiais em atraso (acrescidas de juros e correção monetária); e • honorários advocatícios de sucumbência fixados em 10% da condenação, ou seja, R$ 10 mil. Sem ter condições de pagar as dívidas, João vendeu seu apartamento para Pedro. Pedro, ao adquirir o apartamento, passa a ter responsabilidade pelo pagamento das cotas condominiais em atraso? SIM. As cotas condominiais são classificadas como obrigações propter rem. Por isso, responde pela obrigação de pagar tais dívidas aquele que adquire a unidade, não importando que os débitos sejam anteriores à aquisição do imóvel. É o que determina o Código Civil:

Page 7: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7

Art. 1.345. O adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante, em relação ao condomínio, inclusive multas e juros moratórios.

O sentido dessa norma é fazer prevalecer o interesse da coletividade, permitindo que o condomínio receba, a despeito da transferência de titularidade do direito real sobre o imóvel, as despesas indispensáveis e inadiáveis à manutenção da coisa comum, impondo ao adquirente, para tanto, a responsabilidade, inclusive, pelas cotas condominiais vencidas em período anterior à aquisição. Fale-me mais sobre as obrigações propter rem... Obrigações propter rem (também chamadas de obrigações ambulatórias) são aquelas que se vinculam à titularidade de um direito real, independentemente da manifestação de vontade do titular, e, por isso, são transmitidas a todos os que lhe sucederem em sua posição; são, pois, assumidas “por causa da coisa” (propter rem). As obrigações que os condôminos possuem em relação ao condomínio são ordinariamente qualificadas como ambulatórias (propter rem). Como essas obrigações decorrem da mera titularidade do direito real sobre o imóvel, elas incidem e acompanham a coisa em todas as suas mutações subjetivas (mudanças de “dono”). Assim, a obrigação de pagar os débitos em relação ao condomínio se transmite automaticamente, isso é, ainda que não seja essa a intenção do alienante e mesmo que o adquirente não queira assumi-la. Aprofundando: ônus real Obs: alguns autores afirmam que o art. 1.345 é mais que uma mera obrigação de natureza ambulatória (propter rem). Esse dispositivo imporia ao titular do direito sobre o bem um verdadeiro ônus real. Cite-se, por oportuna, a lição de Francisco Eduardo Loureiro, mencionando, por sua vez, o escólio de Antunes Varela: “Na lição clássica de Antunes Varela, o artigo em exame descreve verdadeiro ônus real. Segundo o autor, “a diferença prática entre ônus e as obrigações reais, tal como a história do direito as modelou, está em que, quanto a estas, o titular só fica vinculado às obrigações constituídas na vigência do seu direito, enquanto nos ônus reais o titular da coisa fica obrigado mesmo em relação às prestações anteriores, por suceder na titularidade de uma coisa a que está visceralmente unida a obrigação (...)”(Código Civil comentado: doutrina e jurisprudência. Coordenador Cezar Peluso. 5ª ed. São Paulo: Manole, 2011. p. 1.396-1.397) Vimos, então, que Pedro (adquirente) terá que pagar os R$ 100 mil de cotas condominiais atrasadas. E os R$ 10 mil, também? O adquirente possui responsabilidade pelo pagamento dos honorários advocatícios? NÃO. A obrigação de pagar as verbas de sucumbência, ainda que sejam elas decorrentes de sentença proferida em ação de cobrança de cotas condominiais, não pode ser qualificada como ambulatória (propter rem) e, portanto, não pode ser exigida do novo proprietário do imóvel sobre o qual recai o débito condominial. Em primeiro lugar, porque tal obrigação não está expressamente elencada no rol do art. 1.345 do CC, até mesmo por não se prestar ao custeio de despesas indispensáveis e inadiáveis à manutenção da coisa comum. Em segundo lugar, porque os honorários de sucumbência constituem direito autônomo do advogado (art. 23 do Estatuto da OAB), de natureza remuneratória. Trata-se, portanto, de dívida da parte vencida frente ao advogado da parte vencedora, totalmente desvinculada da relação jurídica estabelecida entre as partes da demanda. Logo, os honorários de sucumbência não se enquadram no art. 1.345 do CC, que fala em “débitos do alienante, em relação ao condomínio”.

Page 8: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8

Em suma:

As verbas de sucumbência, decorrentes de condenação em ação de cobrança de cotas condominiais, não possuem natureza ambulatória (propter rem). O art. 1.345 do CC estabelece que o adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante, em relação ao condomínio, inclusive multas e juros moratórios. A obrigação de pagar as verbas de sucumbência, ainda que sejam elas decorrentes de sentença proferida em ação de cobrança de cotas condominiais, não pode ser qualificada como ambulatória (propter rem), seja porque tal prestação não se enquadra dentre as hipóteses previstas no art. 1.345 do CC para o pagamento de despesas indispensáveis e inadiáveis do condomínio, seja porque os honorários constituem direito autônomo do advogado, não configurando débito do alienante em relação ao condomínio, senão débito daquele em relação ao advogado deste. STJ. 3ª Turma. REsp 1.730.651-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/04/2019 (Info 646).

DOAÇÃO Possibilidade de cancelamento de cláusula de inalienabilidade

instituída pelos pais em relação ao imóvel doado aos filhos

É possível o cancelamento da cláusula de inalienabilidade de imóvel após a morte dos doadores se não houver justa causa para a manutenção da restrição ao direito de propriedade.

A doação do genitor para os filhos e a instituição de cláusula de inalienabilidade, por representar adiantamento de legítima, deve ser interpretada na linha do que prescreve o art. 1. 848 do CC, exigindo-se justa causa notadamente para a instituição da restrição ao direito de propriedade.

Caso concreto: decidiu ser possível o cancelamento da cláusula de inalienabilidade após a morte dos doadores, considerando que já se passou quase duas décadas do ato de liberalidade e tendo em vista a ausência de justa causa para a manutenção da restrição. Não havendo justo motivo para que se mantenha congelado o bem sob a propriedade dos donatários, todos maiores, que manifestam não possuir interesse em manter sob o seu domínio o imóvel, há de se cancelar as cláusulas que o restringem.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.278-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/03/2019 (Info 646).

Imagine a seguinte situação hipotética: João doou um apartamento para seus dois únicos filhos: Pedro e Tiago. Ocorre que a doação foi feita com a cláusula de inalienabilidade. Além disso, João estabeleceu seu direito real de usufruto sobre o imóvel enquanto viver (usufruto vitalício). Assim, o pai garantiu para si o direito real de usar e fruir do apartamento (no caso, morar) até que venha a falecer. Cláusula de inalienabilidade É uma restrição imposta ao beneficiário, de forma que ele fica impedido de dispor da coisa, não podendo transferi-lo a terceiros, seja a título gratuito ou oneroso. Essa restrição pode ser imposta por tempo determinado (ex: 5 anos) ou de forma vitalícia. A cláusula de inalienabilidade pode ser estipulada de duas formas: a) por ato de liberalidade inter vivos (doação); b) por ato relacionado com a morte - causa mortis (testamento). Morte de doador e pedido para cancelamento da cláusula João faleceu. Pedro e Tiago não tinham interesse em morar no apartamento e queriam vendê-lo.

Page 9: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9

Diante disso, os dois ajuizaram uma ação pedindo o cancelamento da cláusula de inalienabilidade. O juiz deve julgar procedente o pedido? SIM. Restrição ao direito de propriedade A cláusula de inalienabilidade representa uma severa restrição ao direito de propriedade, pois impede que o proprietário exerça um dos poderes inerentes ao domínio: o de dispor livremente do bem. Não há justa causa para se manter a inalienabilidade Enquanto o doador estava vivo e existia o usufruto, era razoável ser mantida a restrição (inalienabilidade), pois a venda do imóvel enquanto João estivesse vivo poderia comprometer o seu uso tranquilo do bem. No entanto, após a morte do doador, ocorreu, como consequência, a extinção do usufruto e acabou o justo motivo que impedia a alienação. Direito de propriedade do donatário Se é verdade que a vontade do doador e instituidor da cláusula de inalienabilidade merece respeito, do mesmo modo, o direito de propriedade daquele que recebe o bem graciosamente merece a devida proteção. Há de se exigir que o doador manifeste razoável justificativa para a imobilização de determinado bem em determinado patrimônio, sob pena de privilegiarem-se excessos de proteção ou caprichos desarrazoados. Pode ser aplicado o art. 1.848 do CC ao presente caso O ato intervivos de transferência de bem do patrimônio dos pais aos filhos configura adiantamento de legítima e, com a morte dos doadores, passa a ser legítima propriamente dita, revelando-se importante o quanto estabelece o art. 1.848 do CC:

Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e de incomunicabilidade, sobre os bens da legítima.

Não havendo justo motivo para que se mantenha congelado o bem sob a propriedade dos donatários, todos maiores, que manifestam não possuir interesse em manter sob o seu domínio o imóvel, há de se cancelar a cláusula de inalienabilidade.

Em suma:

É possível o cancelamento da cláusula de inalienabilidade de imóvel após a morte dos doadores se não houver justa causa para a manutenção da restrição ao direito de propriedade. A doação do genitor para os filhos e a instituição de cláusula de inalienabilidade, por representar adiantamento de legítima, deve ser interpretada na linha do que prescreve o art. 1. 848 do CC, exigindo-se justa causa notadamente para a instituição da restrição ao direito de propriedade. STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.278-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/03/2019 (Info 646).

ALIMENTOS O prazo para a interposição de recurso ordinário em habeas corpus contra decisão do TJ que

nega liberdade para devedor de alimentos é de 5 dias (não é 15 dias)

O prazo para interposição de recurso ordinário em habeas corpus, ainda que se trate de matéria não criminal, continua sendo de 5 dias, nos termos do art. 30 da Lei nº 8.038/90, não se aplicando à hipótese os arts. 1.003, §5º, e 994, V, do CPC/2015.

Page 10: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10

Ex: recurso ordinário contra decisão do TJ que negou habeas corpus a indivíduo que se encontra preso em razão de dívida de alimentos.

STJ. 3ª Turma. RHC 109.330-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/04/2019 (Info 646).

Veja comentários em Direito Processual Civil.

DIREITO DO CONSUMIDOR

PLANO DE SAÚDE É vedada à operadora de plano de saúde a resilição unilateral imotivada dos

contratos de planos coletivos empresariais com menos de trinta beneficiários

O art. 13, parágrafo único, II, da Lei nº 9.656/98, que veda a resilição unilateral dos contratos de plano de saúde, não se aplica às modalidades coletivas, tendo incidência apenas nas espécies individuais ou familiares.

No entanto, no caso de planos coletivos empresariais com menos de trinta usuários, em vista da vulnerabilidade da empresa estipulante, dotada de escasso poder de barganha, não se admite a simples rescisão unilateral pela operadora de plano de saúde, havendo necessidade de motivação idônea.

STJ. 3ª Turma. REsp 1553013/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/03/2018.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.776.047-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/04/2019 (Info 646).

Imagine a seguinte situação hipotética: CM Comércio Ltda., empresa de pequeno porte, mantinha, há alguns anos, contrato de plano de saúde coletivo empresarial com a Unimed. Determinado dia, a Unimed notificou a empresa dizendo que não tinha mais interesse em manter o contrato, fazendo a rescisão unilateral do pacto. Vale ressaltar que o contrato de plano de saúde coletivo beneficiava apenas cinco pessoas, sendo que duas delas eram os sócios. A conduta da operadora de plano de saúde foi lícita? NÃO. Modalidades de planos de saúde O art. 16, VII, da Lei nº 9.656/98 prevê que existem três modalidades de planos de saúde: a) individual ou familiar; b) coletivo empresarial e c) coletivo por adesão. Plano de saúde individual O plano de saúde individual é aquele em que a pessoa física contrata diretamente com a operadora ou por intermédio de um corretor autorizado. A vinculação de beneficiários é livre, não havendo restrições relacionadas ao emprego ou à profissão do usuário em potencial (art. 3º da RN n. 195/2009 da ANS). Planos de saúde coletivo O plano de saúde coletivo é aquele contratado por uma empresa, conselho, sindicato ou associação junto à operadora de planos de saúde para oferecer assistência médica e/ou odontológica às pessoas vinculadas às mencionadas entidades, bem como a seus dependentes.

Page 11: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11

São dois os regimes de contratação de planos de saúde coletivos: b) o coletivo empresarial, o qual garante a assistência à saúde dos funcionários da empresa contratante em razão do vínculo empregatício ou estatutário (art. 5º da RN nº 195/2009 da ANS); e c) o coletivo por adesão, contratado por pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial, como conselhos, sindicatos, cooperativas e associações profissionais (art. 9º da RN nº 195/2009 da ANS). Nos contratos de plano de saúde coletivo, portanto, a relação jurídica de direito material envolve uma operadora e uma pessoa jurídica que atua em favor de uma classe (coletivo por adesão) ou em favor de seus respectivos empregados (coletivo empresarial). Estipulação em favor de terceiro O contrato de plano de saúde coletivo caracteriza-se como uma estipulação em favor de terceiro, em que a pessoa jurídica figura como intermediária da relação estabelecida substancialmente entre o indivíduo integrante da classe/empresa e a operadora (art. 436, parágrafo único, do Código Civil). Isso porque a estipulação do contrato de plano de saúde coletivo ocorre, naturalmente, em favor dos indivíduos que compõem a classe/empresa, verdadeiros beneficiários finais do serviço de atenção à saúde. Regulamentação da rescisão dos planos de saúde O art. 17-A, § 6º da Lei nº 9.656/98 autorizou que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) editasse normas regulamentando as hipóteses de rescisão dos contratos de plano de saúde. Rescisão em caso de plano de saúde individual No caso de plano de saúde individual, a própria Lei nº 9.656/98 reservou um tratamento mais restritivo para eventual rescisão. O art. 13, parágrafo único, II, da Lei previu o seguinte:

Art. 13. Os contratos de produtos de que tratam o inciso I e o § 1o do art. 1º desta Lei têm renovação automática a partir do vencimento do prazo inicial de vigência, não cabendo a cobrança de taxas ou qualquer outro valor no ato da renovação. Parágrafo único. Os produtos de que trata o caput, contratados individualmente, terão vigência mínima de um ano, sendo vedadas: (...) II - a suspensão ou a rescisão unilateral do contrato, salvo por fraude ou não-pagamento da mensalidade por período superior a sessenta dias, consecutivos ou não, nos últimos doze meses de vigência do contrato, desde que o consumidor seja comprovadamente notificado até o quinquagésimo dia de inadimplência; e

Rescisão em caso de plano de saúde coletivo Em se tratando de plano de saúde coletivo, a operadora somente pode fazer a rescisão unilateral e imotivada do contrato coletivo se cumpridos três requisitos: a) o contrato contenha cláusula expressa prevendo a possibilidade de rescisão unilateral; b) o contrato esteja em vigência por período de pelo menos 12 meses; c) haja a prévia notificação da rescisão com antecedência mínima de 60 dias. Nesse sentido:

É possível a resilição unilateral do contrato coletivo de saúde, uma vez que a norma inserta no art. 13, II, b, parágrafo único, da Lei 9.656/98 aplica-se exclusivamente a contratos individuais ou familiares. STJ. 4ª Turma. AgInt nos Edcl no ARESP 1.197.972/SP, Min. Rel. Raul Araújo, DJ 20/3/2019.

A distinção entre os planos individuais ou familiares e as contratações de natureza coletiva concebida pela Lei nº 9.566/98 teve por objetivo conferir maior proteção aos titulares de planos individuais, diante da

Page 12: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12

posição de maior vulnerabilidade do consumidor singularmente considerado e, também, inserir mecanismo destinado a permitir que, nos contratos coletivos, a pessoa jurídica contratante exerça o seu poder de barganha na fase de formação do contrato, presumindo-se que o maior número de pessoas por ela representadas desperte maior interesse da operadora do plano de saúde. Planos coletivos empresariais com menos de 30 usuários No tocante ao número de beneficiários, os planos coletivos são subdivididos em a) planos com quantidade inferior a 30 usuários e b) planos com quantidade igual ou superior a tal limite. Os regramentos diferem um pouco, como a forma de reajuste e a não exigência de cumprimento de prazos de carência para estes últimos (art. 6º da RN nº 195/2009 da ANS). Nesse cenário, extrai-se que os planos coletivos com menos de 30 beneficiários apresentam características híbridas, pois possuem alguns comportamentos dos contratos individuais ou familiares, apesar de serem coletivos. Diante disso, o STJ criou o seguinte raciocínio:

O art. 13, parágrafo único, II, da Lei nº 9.656/98, que veda a resilição unilateral dos contratos de plano de saúde, não se aplica às modalidades coletivas, tendo incidência apenas nas espécies individuais ou familiares. No entanto, no caso de planos coletivos empresariais com menos de trinta usuários, em vista da vulnerabilidade da empresa estipulante, dotada de escasso poder de barganha, não se admite a simples rescisão unilateral pela operadora de plano de saúde, havendo necessidade de motivação idônea. STJ. 4ª Turma. REsp 1.776.047-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/04/2019 (Info 646).

No mesmo sentido:

Em vista das características dos contratos coletivos, a rescisão unilateral pela operadora é possível, pois não se aplica a vedação do art. 13, parágrafo único, II, da Lei nº 9.656/1998, mas, ante a natureza híbrida e a vulnerabilidade do grupo possuidor de menos de 30 (trinta) beneficiários, deve tal resilição conter temperamentos, incidindo, no ponto, a legislação do consumidor para coibir abusividades, primando também pela conservação contratual (princípio da conservação dos contratos). STJ. 3ª Turma. REsp 1553013/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/03/2018.

DIREITO EMPRESARIAL

MARCA A aquisição de distintividade de marca não gera como decorrência

lógica, direta e automática a exclusividade de seu uso

Marcas “fracas”, evocativas, descritivas ou sugestivas: são aquelas que apresentam baixo grau de distintividade, por se constituírem a partir de expressões que remetem à finalidade, natureza ou características do produto ou serviço por elas identificado. São formadas, portanto, por expressões de uso comum, de pouca originalidade. Ex: “American Airlines” (empresa de serviços de transporte aéreo).

Em caso de marcas evocativas ou sugestivas, a exclusividade conferida ao titular do registro comporta mitigação, devendo ele suportar o ônus da convivência com outras marcas semelhantes. Ex: “American Airlines” teve que aceitar outra marca registrada como “America

Page 13: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13

Air” (empresa brasileira que atua como táxi aéreo). Isso porque no caso de uso de marcas evocativas ou descritivas, a anterioridade do registro não justifica o uso exclusivo de uma expressão dotada de baixo vigor inventivo.

A “American Airlines” buscou anular o registro da marca nominativa “America Air” invocando a teoria da “distintividade adquirida” (significação secundária ou secondary meaning). O fenômeno da distintividade adquirida ocorre quando um signo de caráter comum, descritivo ou evocativo foi utilizado durante tanto tempo, alcançando tantas pessoas, que passou a adquirir eficácia distintiva suficiente, a ponto de possibilitar seu registro como marca.

O STJ não acolheu a tese. Diante do fato de as duas marcas serem evocativas e considerando que as empresas prestam serviços distintos (não tendo sido constatada a possibilidade de confusão junto ao público), inexiste qualquer razão jurídica que justifique a declaração de nulidade do registro marcário da “America Air”.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.773.244/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/04/2019 (Info 646).

A situação concreta, com algumas adaptações, foi a seguinte: A “American Airlines INC”, como se sabe, é uma das maiores companhias aéreas do mundo, sendo sediada no Texas (EUA), mas operando em praticamente todo o mundo. A “America Air Ltda” é uma sociedade empresária brasileira, situada em São Paulo, que presta serviços de táxi aéreo. A empresa brasileira conseguiu o registro no INPI da marca “America Air” para ser utilizado no ramo de táxi aéreo. A “American Airlines” não concordou e ajuizou ação de nulidade de marca contra o INPI e a “America Air” alegando, dentre outros argumentos, que: • possui um registro anterior da marca “American Airlines”; • fez altos investimentos na proteção e divulgação de sua marca; • permitir a convivência entre as marcas “American Airlines” e “America Air” pode gerar confusão nos consumidores, além de gerar aproveitamento indevido por parte da ré da fama e do renome construídos pela autora ao longo de seu tempo de existência. Isso configuraria prática de concorrência desleal; • se deve aplicar ao caso a teoria do “significado secundário” ou da “distintividade adquirida” (secondary meaning), devendo-se, para tanto, levar em conta o uso prolongado da marca, a tradição, a respeitabilidade e o volume de investimentos na sua divulgação. O pedido da autora foi acolhido? O registro da “America Air” foi anulado? NÃO. Dupla finalidade da marca A marca tem duas funções principais: • assegurar os interesses próprios de seu titular; e • proteger os consumidores (função social), conferindo-lhes meios para aferir a origem e a qualidade dos produtos ou serviços adquiridos. Classificação das marcas quanto ao seu grau de distintividade As marcas registráveis (marcas que podem ser registradas) podem ser classificadas de acordo com seu grau de distintividade. Grau de distintividade: o quanto uma marca é original (incomum) e pode ser diferente das demais. Com base nesse critério, podemos identificar três espécies: a) marcas de fantasia; b) marcas arbitrárias; c) marcas evocativas ou sugestivas (as mais “fracas” em termos distintivos).

Page 14: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14

Marcas “fracas”, evocativas, descritivas ou sugestivas São aquelas que apresentam baixo grau de distintividade, por serem formadas a partir de expressões que remetem à finalidade, natureza ou características do produto ou serviço por elas identificado. São formadas, portanto, por expressões de uso comum, de pouca originalidade. Evocativa vem de “evocar”, verbo que significa “trazer à lembrança”. Assim, marca evocativa é aquela que traz à lembrança (que evoca) o próprio nome do produto ou serviço. A marca evocativa possui reduzido grau de distintividade, por estar associada ao produto ou serviço que pretende assinalar. Em outras palavras, ela não se distingue tanto de outras marcas porque utiliza, no todo ou em parte, o próprio nome do produto ou serviço. Não possui, portanto, “características distintivas”. Exemplos de marcas evocativas: Chokito, Chocobon (são marcas que remetem ao chocolate). Caso alguém registre uma marca parecida envolvendo, no todo ou em parte, a palavra “chocolate”, não se poderá dizer, a princípio, que houve uma violação a essas marcas anteriormente registradas. Para o STJ, a marca “American Airlines” é evocativa e, portanto, “fraca” em termos de originalidade. Isso porque AMERICAN (americano ou americana) e AIRLINES (linhas aéreas ou companhia aérea) remetem diretamente aos serviços de transporte aéreo por ela prestados. Marcas evocativas possuem proteção limitada Por não ter características distintivas, as marcas evocativas são consideradas “marcas fracas”. Possuem um âmbito de proteção limitado, de modo que a exclusividade a elas conferida admite mitigação. Assim, a ideia de que somente quem registrou a marca evocativa poderá utilizar aquele nome ou nomes parecidos é flexibilizada. Segundo aponta a Min. Nancy Andrighi, conferir monopólio para que apenas um comerciante utilize um nome ou sinal genérico seria aceitar uma exclusividade inadmissível. Isso porque os demais comerciantes ficariam impedidos de divulgar a fabricação de produtos semelhantes através de expressões de conhecimento comum, obrigando-os à busca de nomes alternativos estranhos ao domínio público. Marcas evocativas podem conviver com outras semelhantes, desde que isso não gere confusão no consumidor A marca evocativa goza de proteção. No entanto, conforme vimos acima, essa proteção é mitigada. Por que se diz que é mitigada? Porque o seu titular é obrigado a conviver com outras marcas parecidas, semelhantes. Vale ressaltar, no entanto, que o titular de uma marca evocativa pode se insurgir e conseguir a proibição de outra marca semelhante se isso gerar confusão no público consumidor. Ex: uma loja de calçados que registre a marca “Shopping do Pé” pode ser obrigada a conviver com outra marca chamada de “Mercado do pé”; por outro lado, é possível que essa loja consiga, em tese, a proibição de outra marca chamada “Shop do Pé” porque, nesse caso, haveria um potencial muito grande de gerar confusão no público consumidor. Para o TRF, não haveria possibilidade de gerar confusão para os consumidores A “American Airlines” é uma marca evocativa. Assim, ela tem que aceitar a existência de marcas semelhantes, salvo se isso puder gerar confusão no consumidor. Para o TRF2, não há esse risco de confusão entre os consumidores porque os serviços prestados pelas empresas “apresentam sensível distintividade” considerando que desempenham atividades com foco em âmbitos muito diversos: uma atua no âmbito de táxi aéreo e a outra no transporte regular aéreo de passageiros. Assim, o TRF2 decidiu que é possível a convivência entre as duas marcas porque não há risco de confusão junto ao público consumidor.

Page 15: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15

O STJ afirmou que não poderia rever essa conclusão do TRF considerando que isso seria reexame de prova, o que não pode ser feito em sede de recurso especial:

Súmula 7-STJ: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.

Teoria da “distintividade adquirida” Os advogados da “American Airlines” sabiam que se trata de uma marca evocativa e, por isso, tentaram um último e interessante argumento. Invocaram a teoria da “distintividade adquirida” (significação secundária ou secondary meaning). O fenômeno da distintividade adquirida ocorre quando um signo de caráter comum, descritivo ou evocativo foi utilizado durante tanto tempo, alcançando tantas pessoas, que passou a adquirir eficácia distintiva suficiente, a ponto de possibilitar seu registro como marca. O STJ entendeu que, neste caso, era possível aplicar essa teoria para conferir essa proteção especial à marca “American Airlines”, anulando o registro da marca “America Air”? NÃO. Para o STJ, o único efeito que a “distintividade adquirida” gera é o de permitir o registro da marca, mesmo ela sendo “comum”. Essa teoria não autoriza, contudo, que se impeça o registro de marcas semelhantes. Em se tratando de marcas “fracas”, descritivas ou evocativas, é descabida qualquer alegação de anterioridade de registro quando o intuito da parte for o de assegurar o uso exclusivo de expressão dotada de baixo vigor inventivo. Em suma:

A “American Airlines” buscou anular o registro da marca nominativa “America Air” invocando a teoria da “distintividade adquirida” (significação secundária ou secondary meaning). O fenômeno da distintividade adquirida ocorre quando um signo de caráter comum, descritivo ou evocativo foi utilizado durante tanto tempo, alcançando tantas pessoas, que passou a adquirir eficácia distintiva suficiente, a ponto de possibilitar seu registro como marca. O STJ não acolheu a tese. Diante do fato de as duas marcas serem evocativas e considerando que as empresas prestam serviços distintos (não tendo sido constatada a possibilidade de confusão junto ao público), inexiste qualquer razão jurídica que justifique a declaração de nulidade do registro marcário da “America Air”. STJ. 3ª Turma. REsp 1.773.244/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/04/2019 (Info 646).

TÍTULOS DE CRÉDITO O instrumento de cessão fiduciária de direitos creditórios deve indicar,

de maneira precisa, o crédito, e não o título objeto de cessão

Na cessão fiduciária de direitos creditórios, para a perfectibilização do negócio fiduciário, o correlato instrumento deve indicar, de maneira precisa, o crédito objeto de cessão e não os títulos representativos do crédito.

O objeto da cessão fiduciária são os direitos creditórios que devem estar devidamente especificados no instrumento contratual (e não o título objeto da cessão, que apenas os representa).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.797.196-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 09/04/2019 (Info 646).

Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa “XXX” recebeu mútuo bancário de R$ 800 mil e emitiu em favor da instituição financeira uma Cédula de Crédito Bancário (CCB).

Page 16: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16

Além disso, como garantia, ele fez a cessão fiduciária para o banco de duplicatas. Em outras palavras, a empresa cedeu fiduciariamente as duplicatas para o banco. Se ela pagasse o empréstimo, o banco “devolveria” as duplicatas; caso se tornasse inadimplente, o banco se tornaria, em definitivo, proprietário das duplicatas e, assim, poderia cobrar dos emitentes das duplicatas os valores que ali constam. Cédula de Crédito Bancário com garantia A Cédula de Crédito Bancário (CCB) é um título de crédito extremamente comum na atividade empresarial, estando disciplinada nos arts. 26 a 45 da Lei nº 10.931/2004. Quando uma pessoa física ou jurídica adquire um empréstimo bancário, a instituição financeira exige que este mutuário emita, em favor do banco, uma cédula de crédito bancário, que é um papel no qual o emitente se compromete a pagar para o beneficiário determinada quantia ali prevista. Este papel (CCB) fica em poder do credor. Caso o emitente não cumpra a sua promessa e não pague a dívida no prazo, o credor poderá executar a CCB, que é um título de crédito e, portanto, título executivo extrajudicial. A CCB poderá ser emitida com ou sem garantia (art. 27 da Lei nº 10.931/2004). Em caso de empréstimo de pequenos valores, os bancos normalmente não exigem garantia, bastando a CCB, que é, como vimos, título executivo. No entanto, se a quantia for grande, as instituições exigem que o mutuário, além de emitir a cédula, forneça uma garantia (ex: hipoteca de um bem imóvel, cessão fiduciária de bens móveis etc.). Em nosso exemplo, o banco exigiu a garantia. Voltando ao nosso exemplo: A empresa “XXX” não pagou o empréstimo e, ainda, pediu de volta as duplicatas. Segundo alegou a empresa, o negócio fiduciário não se encontrou perfectibilizado, pois os bens (duplicatas) objeto de propriedade fiduciária não estão descritos no instrumento constitutivo da garantia fiduciária. A devedora argumentou que o contrato de cessão fiduciária, para ser válido, deveria conter a descrição exata dos títulos de crédito que estavam sendo objeto de cessão fiduciária. A tese da empresa “XXX” deve ser acolhida? Para a perfectibilização do negócio fiduciário (cessão fiduciária de direitos creditórios), o correlato instrumento deve indicar de maneira precisa os títulos representativos do crédito (duplicatas)? NÃO. O objeto da cessão fiduciária é o crédito propriamente dito – devendo este, sim, ser devidamente especificado no contrato –, e não o título que simplesmente o representa. Em nosso exemplo, o contrato não descreveu os títulos, mas indicou, de forma específica, os créditos que estavam sendo cedidos. Logo, foi atendido o requisito legal. Lei não exige descrição do título, até porque algumas vezes isso não é possível A exigência de que no contrato de negócio fiduciário na especificação esteja descrito o título representativo do crédito (duplicata) não tem previsão legal. Além disso, algumas vezes são cedidos fiduciariamente títulos que ainda serão recebidos pela empresa (títulos futuros) que, por não existirem ainda no momento do contrato, não poderiam ser descritos no instrumento. É o caso, por exemplo, de uma empresa ceder, em garantia fiduciária a um empréstimo bancário, os créditos advindos de uma futura venda comercial a ser realizada com um de seus clientes (corporificada em uma duplicata). Veja-se, assim, que “os recebíveis”, objeto de cessão fiduciária, devidamente especificados no contrato, podem se referir a créditos já constituídos (performados) ou a créditos futuros (a performar), na medida em que o negócio jurídico, para a sua validade, deve ostentar objeto lícito, possível e determinado ou passível de determinação, nos termos do art. 104, II, do CC.

Page 17: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17

A corroborar essa linha de entendimento, registre-se que a Lei nº 10.931/2004, que disciplina a cédula de crédito bancário, é expressa em admitir que a cessão fiduciária em garantia da cédula de crédito bancário recaia sobre um crédito futuro (a performar), o que, per si, inviabiliza a especificação do correlato título (já que ainda não emitido):

Art. 30. A constituição de garantia da obrigação representada pela Cédula de Crédito Bancário é disciplinada por esta Lei, sendo aplicáveis as disposições da legislação comum ou especial que não forem com ela conflitantes. Art. 31. A garantia da Cédula de Crédito Bancário poderá ser fidejussória ou real, neste último caso constituída por bem patrimonial de qualquer espécie, disponível e alienável, móvel ou imóvel, material ou imaterial, presente ou futuro, fungível ou infungível, consumível ou não, cuja titularidade pertença ao próprio emitente ou a terceiro garantidor da obrigação principal.

Assim, é possível perceber que a exigência de descrição do título no contrato, além de não ser prevista em lei, é, em alguns casos, inviável na prática. Em suma:

Na cessão fiduciária de direitos creditórios, para a perfectibilização do negócio fiduciário, o correlato instrumento deve indicar, de maneira precisa, o crédito objeto de cessão e não os títulos representativos do crédito. O objeto da cessão fiduciária são os direitos creditórios que devem estar devidamente especificados no instrumento contratual (e não o título objeto da cessão, que apenas os representa). STJ. 3ª Turma. REsp 1.797.196-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 09/04/2019 (Info 646).

SOCIEDADE LIMITADA A sucessão civil e processual dos sócios de sociedade limitada, extinta por meio do distrato, é

efetivada por meio do procedimento de habilitação, e não pela via da desconsideração da personalidade jurídica

A extinção da pessoa jurídica se equipara à morte da pessoa natural (art. 110 do CPC/2015), atraindo a sucessão material e processual com os temperamentos próprios do tipo societário e da gradação da responsabilidade pessoal dos sócios.

Em sociedades de responsabilidade limitada, após integralizado o capital social, os sócios não respondem com seu patrimônio pessoal pelas dívidas titularizadas pela sociedade, de modo que o deferimento da sucessão dependerá intrinsecamente da demonstração de existência de patrimônio líquido positivo e de sua efetiva distribuição entre seus sócios.

A demonstração da existência de fundamento jurídico para a sucessão da empresa extinta pelos seus sócios poderá ser objeto de controvérsia a ser apurada no procedimento de habilitação, que é previsto no art. 687 do CPC/2015, aplicável por analogia à extinção de empresas no curso de processo judicial.

A desconsideração da personalidade jurídica não é, portanto, via cabível para promover a inclusão dos sócios em demanda judicial, da qual a sociedade era parte legítima, sendo medida excepcional para os casos em que verificada a utilização abusiva da pessoa jurídica.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.784.032-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 02/04/2019 (Info 646).

Imagine a seguinte situação hipotética: MG Comércio Ltda. era uma sociedade empresária que tinha dois sócios: Marcos e Gilberto. Esta empresa foi extinta por distrato social, registrado perante a Junta Comercial em 2011.

Page 18: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18

Na baixa constou que a empresa não estava deixando patrimônio passivo nem ativo. Ação de indenização Ocorre que, em 2009, João havia ajuizado uma ação de indenização contra a MG Comércio. Esta ação foi julgada procedente em 2012 e transitou em julgado. Em 2013, João iniciou o cumprimento de sentença. O juiz deferiu o pedido para incluir Marcos e Gilberto no polo passivo do cumprimento de sentença fundamentando sua decisão no art. 50 do CC, que trata sobre a desconsideração da personalidade jurídica. Agiu corretamente o magistrado? NÃO. O que acontece quando uma sociedade empresária é extinta e ainda possuía ação judicial em curso contra ela? A extinção da pessoa jurídica se equipara à morte da pessoa natural. Assim, é possível que ocorra a sucessão material e processual, conforme prevê o art. 110 do CPC/2015:

Art. 110. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 313, §§ 1º e 2º.

Essa sucessão, contudo, vai ocorrer de acordo com o tipo societário da empresa que foi extinta e conforme a gradação da responsabilidade pessoal dos sócios. Assim, a sucessão processual de empresa dissolvida somente será cabível: • contra os sócios ilimitadamente responsáveis; ou • se não houver sócios com responsabilidade ilimitada, contra os demais sócios, porém estes irão responder limitadamente ao ativo por eles partilhados em razão da liquidação societária (apenas para você entender: os sócios responderão de forma limitada aos “herdados” em decorrência da “morte” da pessoa jurídica). Essa apuração deverá ser efetivada por meio do procedimento de habilitação, que é previsto no art. 687 do CPC/2015, aplicável por analogia à extinção de empresas no curso de processo judicial:

Art. 687. A habilitação ocorre quando, por falecimento de qualquer das partes, os interessados houverem de suceder-lhe no processo.

Voltando ao caso concreto: O juiz, utilizando-se da desconsideração da personalidade jurídica, admitiu a sucessão da sociedade empresária (ré originária na ação de indenização em fase de cumprimento de sentença), determinando a substituição da requerida por seus sócios, sem observar o procedimento legal para o deferimento da sucessão pleiteada. Vale ressaltar, ainda, que a empresa extinta era uma típica sociedade limitada e que sua liquidação não resultou em partilha entre os sócios, porque não havia patrimônio líquido, nem ativo nem passivo. Diante desse cenário, não era cabível o deferimento da sucessão processual da parte, considerando que, nos termos do art. 1.052 do CC/2002, nas sociedades limitadas, após a integralização do capital social, os sócios não respondem pelos prejuízos da entidade societária:

Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.

Page 19: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19

Desse modo, dissolvida a sociedade e extinta a personalidade jurídica litigante, sem a distribuição de patrimônio ativo remanescente, não há viabilidade para o pleito de redirecionamento do cumprimento de título executivo contra os antigos sócios da pessoa jurídica devedora. Em suma:

A extinção da pessoa jurídica se equipara à morte da pessoa natural (art. 110 do CPC/2015), atraindo a sucessão material e processual com os temperamentos próprios do tipo societário e da gradação da responsabilidade pessoal dos sócios. Em sociedades de responsabilidade limitada, após integralizado o capital social, os sócios não respondem com seu patrimônio pessoal pelas dívidas titularizadas pela sociedade, de modo que o deferimento da sucessão dependerá intrinsecamente da demonstração de existência de patrimônio líquido positivo e de sua efetiva distribuição entre seus sócios. A demonstração da existência de fundamento jurídico para a sucessão da empresa extinta pelos seus sócios poderá ser objeto de controvérsia a ser apurada no procedimento de habilitação, que é previsto no art. 687 do CPC/2015, aplicável por analogia à extinção de empresas no curso de processo judicial. A desconsideração da personalidade jurídica não é, portanto, via cabível para promover a inclusão dos sócios em demanda judicial, da qual a sociedade era parte legítima, sendo medida excepcional para os casos em que verificada a utilização abusiva da pessoa jurídica. STJ. 3ª Turma. REsp 1.784.032-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 02/04/2019 (Info 646).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL O prazo para a interposição de recurso ordinário em habeas corpus contra decisão do TJ que

nega liberdade para devedor de alimentos é de 5 dias (não é 15 dias)

O prazo para interposição de recurso ordinário em habeas corpus, ainda que se trate de matéria não criminal, continua sendo de 5 dias, nos termos do art. 30 da Lei nº 8.038/90, não se aplicando à hipótese os arts. 1.003, §5º, e 994, V, do CPC/2015.

Ex: recurso ordinário contra decisão do TJ que negou habeas corpus a indivíduo que se encontra preso em razão de dívida de alimentos.

STJ. 3ª Turma. RHC 109.330-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/04/2019 (Info 646).

Imagine a seguinte situação hipotética: O juiz da vara de família decretou a prisão civil de João em virtude de atraso no pagamento da pensão alimentícia. Contra essa decisão, João impetrou habeas corpus junto ao Tribunal de Justiça que, no entanto, denegou a ordem. Qual é o recurso que João poderá interpor contra o acórdão do TJ? Recurso ordinário constitucional (ROC), dirigido ao STJ, conforme prevê o art. 105, II, “a”, da CF/88:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: (...) II - julgar, em recurso ordinário: a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória;

Page 20: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20

Qual é prazo desse recurso? Havia duas posições sobre o tema:

Prazo do recurso ordinário contra decisão denegatória de habeas corpus

15 dias Fundamento: art. 1.003, § 5º, do CPC

5 dias Fundamento: art. 30 da Lei nº 8.030/90

Art. 1003 (...) § 5º Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para responder-lhes é de 15 (quinze) dias. Art. 994. São cabíveis os seguintes recursos: V - recurso ordinário;

Art. 30. O recurso ordinário para o Superior Tribunal de Justiça, das decisões denegatórias de Habeas Corpus, proferidas pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal, será interposto no prazo de cinco dias, com as razões do pedido de reforma.

Qual foi a posição adotada pelo STJ? A 2ª corrente. O prazo é de 5 dias. O recurso ordinário constitucional (ROC) é um recurso que somente é julgado pelo STJ ou pelo STF e nas seguintes hipóteses:

ROC a ser julgado pelo STJ ROC a ser julgado pelo STF

I - Caberá ROC para o STJ se qualquer TRF ou TJ denegar (ou seja, julgar contra o autor de): • Habeas corpus • Mandado de segurança

I - Caberá ROC para o STF se qualquer Tribunal Superior denegar (ou seja, julgar contra o autor de): • Habeas corpus • Mandado de segurança • Mandado de injunção • Habeas data

II - Caberá ROC para o STJ se qualquer juiz federal julgar uma causa que envolva: • Estado estrangeiro X Município brasileiro • Estado estrangeiro X pessoa residente ou domiciliada no país • Organismo internacional X Município brasileiro • Organismo internacional X pessoa residente ou domiciliada no país Exemplos de organismo internacional: ONU, Unesco, Cruz Vermelha. Obs: as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País são julgadas pelo juiz federal (art. 109, II, CF). Neste caso, o recurso contra a decisão do juiz federal nessas causas é o ROC, interposto diretamente no STJ (a questão não passará pelo TRF).

II - Caberá ROC para o STF em caso de qualquer juiz federal julgar crime político. Os crimes políticos são julgados por juiz federal (art. 109, IV, CF). Neste caso, o recurso contra a decisão do juiz federal é o ROC, interposto diretamente no STF (a questão não passará pelo TRF).

CPC/2015 não disciplina o ROC contra acórdão que denegar habeas corpus O art. 1.027, do CPC/2015 delimita as hipóteses em que o recurso ordinário constitucional se submeterá, do ponto de vista procedimental, ao regime recursal instituído pelo CPC/2015.

Page 21: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21

Ao se analisar este dispositivo, percebe-se que o CPC/2015 excluiu de sua regência o recurso ordinário em habeas corpus, não tendo o legislador sequer realizado a ressalva de que o CPC/2015 se aplicaria, por exemplo, aos recursos ordinários em habeas corpus de matéria não criminal (prisões decorrentes de obrigações alimentares, acolhimentos institucionais, etc.), o que poderia demonstrar o eventual desejo consciente de tratar, de modo distinto, os recursos ordinários em habeas corpus cíveis e criminais. Contribui para esse entendimento, ademais, o fato de que o legislador, quando quis, expressamente revogou dispositivos existentes na Lei nº 8.078/90. O art. 30, contudo, foi mantido. Em suma:

O prazo para interposição de recurso ordinário em habeas corpus, ainda que se trate de matéria não criminal, continua sendo de 5 dias, nos termos do art. 30 da Lei nº 8.038/90, não se aplicando à hipótese os arts. 1.003, §5º, e 994, V, do CPC/2015. Ex: recurso ordinário contra decisão do TJ que negou habeas corpus a indivíduo que se encontra preso em razão de dívida de alimentos. STJ. 3ª Turma. RHC 109.330-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/04/2019 (Info 646).

RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL O juízo de admissibilidade do recurso ordinário em mandado de segurança

é feito pelo STJ (e não pelo TJ ou TRF recorrido)

Novo CPC

Em recurso ordinário em mandado de segurança, o exercício de juízo de admissibilidade por tribunais federais e estaduais caracteriza usurpação de competência do Superior Tribunal de Justiça, sendo cabível reclamação.

O recurso ordinário em mandado de segurança deve ser imediatamente remetido pelo TJ ou TRF ao Tribunal Superior, independentemente de juízo prévio de admissibilidade.

STJ. 2ª Seção. Rcl 35.958-CE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/04/2019 (Info 646).

Imagine a seguinte situação hipotética: João impetrou, no Tribunal de Justiça, mandado de segurança contra o Governador do Estado. Cuidado! MS contra Governador não é julgado pelo STJ. • Crime praticado contra Governador: competência originária do STJ. • MS impetrado contra ato do Governador: não é de competência do STJ. A competência para julgar mandado de segurança contra Governador deve ser prevista na Constituição Estadual. Em regra, as Cartas estaduais preveem que se trata de uma competência do Tribunal de Justiça. Todas as Constituições estaduais que conheço preveem que a competência para julgar MS contra Governador do Estado é do TJ. Voltando ao nosso exemplo: João impetrou, no Tribunal de Justiça, mandado de segurança contra o Governador do Estado. O TJ denegou o mandado de segurança (julgou improcedente). Qual é o recurso que João poderá interpor contra o acórdão do TJ? Recurso ordinário constitucional (ROC), dirigido ao STJ, conforme prevêm o art. 105, II, “b”, da CF/88 e o art. 1.027, II, “a”, do CPC/2015:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: (...)

Page 22: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22

II - julgar, em recurso ordinário: (...) b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;

Art. 1.027. Serão julgados em recurso ordinário: (...) II - pelo Superior Tribunal de Justiça: a) os mandados de segurança decididos em única instância pelos tribunais regionais federais ou pelos tribunais de justiça dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;

Vimos que esse recurso é julgado pelo STJ. Mas onde deverá ser proposto esse recurso? No próprio Tribunal de Justiça. O processo ainda está no TJ e, portanto, o recurso ordinário deverá ser proposto no TJ, devendo este Tribunal intimar o recorrido para apresentar contrarrazões e, em seguida, remetê-lo ao STJ para ali ser julgado. É o que prevê o art. 1.028, § 2º do CPC:

Art. 1.028 (...) § 2º O recurso previsto no art. 1.027, incisos I e II, alínea “a”, deve ser interposto perante o tribunal de origem, cabendo ao seu presidente ou vice-presidente determinar a intimação do recorrido para, em 15 (quinze) dias, apresentar as contrarrazões.

Em nosso exemplo, João ingressou com o recurso ordinário. O TJ intimou o Estado para apresentar contrarrazões, o que foi feito. Logo depois, o Presidente do TJ negou seguimento ao recurso de João afirmando que ele não preencheu um dos requisitos de admissibilidade. Agiu corretamente o Presidente do TJ? O TJ deverá analisar os requisitos de admissibilidade do recurso ordinário constitucional, deixando de enviar ao STJ os recursos que não preencherem tais requisitos NÃO. Segundo o CPC/2015, o duplo grau de jurisdição não se sujeita ao exame prévio de admissibilidade pelo órgão de origem. Isso porque o legislador, além de eliminar a possibilidade de o juízo a quo negar seguimento à apelação, foi expresso em determinar a imediata remessa dos autos do recurso ordinário ao juízo ad quem. É o que se depreende do art. 1.208, § 2º e 3º:

Art. 1.208 (...) § 3º Findo o prazo referido no § 2º, os autos serão remetidos ao respectivo tribunal superior, independentemente de juízo de admissibilidade.

Diante disso, com o novo CPC, não há mais nenhuma dúvida de que, em caso de recurso ordinário interposto contra acórdão do TJ ou TRF que denegou o mandado de segurança, compete exclusivamente ao STJ analisar o preenchimento dos requisitos essenciais à admissibilidade do recurso ordinário, bem como para apreciação de seu mérito. Isso significa que o TJ ou TRF não pode obstar (impedir) a subida dos autos, considerando que ele (TJ ou TRF) não tem competência para negar seguimento ao recurso ordinário. Assim, logo depois de receber as contrarrazões, o TJ ou TRF deverá remeter os autos ao STJ sem fazer juízo de admissibilidade.

Em recurso ordinário em mandado de segurança, o exercício de juízo de admissibilidade por tribunais federais e estaduais caracteriza usurpação de competência do Superior Tribunal de Justiça, sendo cabível reclamação. O recurso ordinário em mandado de segurança deve ser imediatamente remetido pelo TJ ou TRF ao Tribunal Superior, independentemente de juízo prévio de admissibilidade. STJ. 2ª Seção. Rcl 35.958-CE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/04/2019 (Info 646).

Page 23: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23

PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE A prescrição intercorrente por ausência de localização de bens não retira o princípio da

causalidade em desfavor do devedor, nem atrai a sucumbência para o exequente

Declarada a prescrição intercorrente por ausência de localização de bens, incabível a fixação de verba honorária em favor do executado.

Por força dos princípios da efetividade do processo, da boa-fé processual e da cooperação, não pode o devedor se beneficiar do não-cumprimento de sua obrigação.

O fato de o exequente não localizar bens do devedor não pode significar mais uma penalidade contra ele, considerando que, embora tenha vencido a fase de conhecimento, não terá êxito prático com o processo.

Do contrário, o devedor que não apresentou bens suficientes ao cumprimento da obrigação ainda sairia vitorioso na lide, fazendo jus à verba honorária em prol de sua defesa, o que se revelaria teratológico, absurdo, aberrante.

Assim, a responsabilidade pelo pagamento de honorários e custas deve ser fixada com base no princípio da causalidade, segundo o qual a parte que deu causa à instauração do processo deve suportar as despesas dele decorrentes.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.769.201/SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 12/03/2019 (Info 646).

Não localização de bens penhoráveis João ingressou com execução cobrando R$ 100 mil de Pedro. O executado não pagou espontaneamente o débito e não foram localizados bens de Pedro que pudessem ser penhorados. Ocorrendo isso, o juiz deverá proferir uma decisão suspendendo o processo, nos termos do art. 921, III, do CPC/2015:

Art. 921. Suspende-se a execução: (...) III - quando o executado não possuir bens penhoráveis;

Hipóteses do inciso III Vale ressaltar que a suspensão da execução com base no inciso III abrange três hipóteses: 1ª) quando não é localizado nenhum bem do devedor (não tem nada em seu nome); 2ª) quando são localizados bens, mas estes se classificam como impenhoráveis (exs: o executado tem uma casa em seu nome, mas é bem de família; o executado possui uma poupança com menos de 40 salários mínimos depositados); 3ª) quando até foram localizados bens do devedor que podem ser penhorados, mas, se alienados, não pagarão nem as custas da execução, nos termos do art. 836 do CPC/2015 (ex: o executado possui uma mobilete, ano 1990). Por quanto tempo este processo ficará suspenso? O juiz suspenderá a execução pelo prazo de 1 ano. Neste período de 1 ano, ficará suspensa também a prescrição (§ 1º do art. 921). O que acontece se, neste período, for localizado algum bem penhorável? Neste caso, os autos serão desarquivados para prosseguimento da execução (§ 3º do art. 921).

Page 24: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24

Depois que passar este prazo de 1 ano, o que acontece? A execução continuará suspensa. No entanto, o prazo prescricional começará a correr.

Art. 921 (...) 4º Decorrido o prazo de que trata o § 1º sem manifestação do exequente, começa a correr o prazo de prescrição intercorrente.

Para que o prazo prescricional comece a correr, é necessária decisão ou despacho do juiz afirmando isso? NÃO. Depois que transcorrer 1 ano da execução suspensa, o prazo da prescrição intercorrente começa a correr automaticamente, sem necessidade de decisão ou despacho do magistrado. Enunciado 195-FPPC: O prazo de prescrição intercorrente previsto no art. 921, § 4º, tem início automaticamente um ano após a intimação da decisão de suspensão de que trata o seu § 1º. Qual é o nome desta prescrição? Prescrição intercorrente. É assim chamada porque ocorre durante o processo. Qual será o prazo prescricional da prescrição intercorrente? Irá variar de acordo com o que está sendo executado. Isso porque a execução prescreve no mesmo prazo de prescrição da ação (Súmula 150-STF). Ex1: João ingressou com execução de uma nota promissória contra Pedro (emitente). O prazo para se ingressar com ação de execução de nota promissória é de 3 anos. Isso significa que o prazo da prescrição intercorrente na execução da nota também será de 3 anos. Logo, depois de não se localizarem bens de Pedro, este terá que esperar 4 anos para se livrar do processo (1 ano de suspensão da prescrição + 3 anos até prescrever). Ex2: João ingressou com ação de indenização contra Pedro. O juiz condenou o réu a pagar R$ 100 mil. Houve o trânsito em julgado. O credor iniciou o cumprimento de sentença. Não foram localizados bens penhoráveis. O prazo para que a pessoa ingresse com ação de reparação civil é de 3 anos (art. 206, § 3º, V, do Código Civil). Isso significa que o prazo da prescrição intercorrente no cumprimento de sentença de uma condenação de reparação civil também será de 3 anos. Logo, depois de não se localizarem bens de Pedro, este terá que esperar 4 anos para se livrar do processo (1 ano de suspensão da prescrição + 4 anos até prescrever).

Daí ter sido editado o Enunciado 196-FPPC: O prazo de prescrição intercorrente é o mesmo da ação. A prescrição intercorrente pode ser decretada de ofício ou depende de requerimento do executado? Pode ser decretada de ofício. No entanto, antes de decretar, o juiz deverá intimar as partes para que se manifestem no prazo de 15 dias:

Art. 921 (...) § 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição de que trata o § 4º e extinguir o processo.

O executado normalmente não se manifesta ou simplesmente vai corroborar a ideia de que a execução deve ser extinta pela prescrição. O exequente, contudo, poderá alegar algum fato que obste a decretação da prescrição (ex: o juiz contou errado o prazo). Essas regras acima analisadas valem apenas para a execução de título extrajudicial ou também para o cumprimento de sentença? Para ambos. As regras da prescrição intercorrente previstas no art. 921, III e §§ 1º a 5º, do CPC/2015, valem tanto para a execução de título extrajudicial como para o cumprimento de sentença. Nesse sentido

Page 25: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25

é o Enunciado 194-FPPC: A prescrição intercorrente pode ser reconhecida no procedimento de cumprimento de sentença. Voltando ao nosso exemplo: Não foram localizados bens de Pedro que pudessem ser penhorados. O juiz proferiu, então, decisão suspendendo o processo, nos termos do art. 921, III, do CPC/2015. A execução ficou suspensa pelo prazo de 1 ano. Esse prazo de 1 ano passou e começou a correr o prazo da prescrição intercorrente. O prazo da prescrição intercorrente também acabou sem que o exequente (João) encontrasse algum bem de Pedro que pudesse ser penhorado. Diante disso, sem alternativa, o juiz reconheceu a prescrição intercorrente e extinguiu o processo. Indaga-se: o exequente (João) terá que pagar honorários advocatícios em favor do advogado do executado, considerando que a execução foi extinta? NÃO. Quem deu causa à instauração da execução foi o executado A responsabilidade pelo pagamento de honorários e custas deve ser fixada com base no princípio da causalidade, segundo o qual a parte que deu causa à instauração do processo deve suportar as despesas dele decorrentes. No entanto, nos casos de execução extinta pela prescrição intercorrente, o princípio da causalidade incide, portanto, em desfavor do executado. Isso porque foi ele (devedor) quem deu causa à instauração da execução ao não efetuar o pagamento de forma espontânea. Seria uma dupla punição para o exequente O credor é obrigado a promover a execução porque teve seu patrimônio desfalcado e pelo fato de que o devedor não cumpriu voluntariamente a obrigação. Se o exequente não consegue localizar bens penhoráveis durante o prazo previsto na lei, a consequência inevitável será a ocorrência da prescrição, fazendo com que se perpetue o desfalque em seu patrimônio. O ordenamento jurídico escolhe isso em prol de um valor maior, que é a segurança jurídica e a paz social. Não se pode, todavia, considerar que foi o credor o causador do ajuizamento da execução, punindo-o não apenas com a perda irremediável de seu patrimônio, mas também com o pagamento de honorários ao advogado do devedor. O fato de o exequente não localizar bens do devedor não pode significar mais uma penalidade em seu desfavor. Do contrário, o devedor que não apresentou bens suficientes ao cumprimento da obrigação ainda sairia vitorioso na lide, fazendo jus à verba honorária em prol de sua defesa, o que se revelaria teratológico, absurdo, aberrante. Atenção Situação diversa seria aquela na qual o credor propõe a execução quando já consumada a prescrição, hipótese em que a responsabilidade pelo indevido ajuizamento da demanda natimorta não pode, em princípio, ser atribuída ao devedor. Em suma:

Declarada a prescrição intercorrente por ausência de localização de bens, incabível a fixação de verba honorária em favor do executado. Por força dos princípios da efetividade do processo, da boa-fé processual e da cooperação, não pode o devedor se beneficiar do não-cumprimento de sua obrigação. O fato de o exequente não localizar bens do devedor não pode significar mais uma penalidade contra ele, considerando que, embora tenha vencido a fase de conhecimento, não terá êxito prático com o processo.

Page 26: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 26

Assim, a responsabilidade pelo pagamento de honorários e custas deve ser fixada com base no princípio da causalidade, segundo o qual a parte que deu causa à instauração do processo deve suportar as despesas dele decorrentes. STJ. 4ª Turma. REsp 1.769.201/SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 12/03/2019 (Info 646).

DIREITO PENAL

CONFISSÃO Súmula 630-STJ

Para ter direito à atenuante no caso do crime de tráfico de drogas, é necessário que o réu admita que traficava, não podendo dizer que era mero usuário

Súmula 630-STJ: A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse ou propriedade para uso próprio.

STJ. 3ª Seção. Aprovada em 24/04/2019, DJe 29/04/2019.

NOÇÕES GERAIS SOBRE A CONFISSÃO

Confissão espontânea: atenuante A confissão espontânea é atenuante genérica prevista no art. 65, III, “d”, do CP:

Art. 65. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III — ter o agente: d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;

Como se trata de atenuante, a confissão serve para diminuir a pena do condenado, o que é feito na 2ª fase da dosimetria da pena. Confissão parcial A confissão parcial ocorre quando o réu confessa apenas parcialmente os fatos narrados na denúncia. Ex.: o réu foi denunciado por furto qualificado pelo rompimento de obstáculo (art. 155, § 4º, I, do CP). Ele confessa a subtração do bem, mas nega que tenha arrombado a casa. Se a confissão foi parcial e o juiz a considerou no momento da condenação, este magistrado deverá fazer incidir a atenuante na fase da dosimetria da pena? SIM. Se a confissão, ainda que parcial, serviu de suporte para a condenação, ela deverá ser utilizada como atenuante (art. 65, III, “d”, do CP) no momento de dosimetria da pena. Incide a atenuante prevista no art. 65, III, “d”, do CP, independente se a confissão foi integral ou parcial, quando o magistrado a utilizar para fundamentar a condenação. Mesmo nas hipóteses de confissão qualificada ou parcial, deve incidir a atenuante prevista no art. 65. III, “d”, do Código Penal, se os fatos narrados pelo autor influenciaram a convicção do julgador. Essa é a inteligência da Súmula 545 do STJ. STJ. 5ª Turma. HC 450.201/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 21/03/2019. Confissão qualificada A confissão qualificada ocorre quando o réu admite a prática do fato, no entanto, alega em sua defesa um motivo que excluiria o crime ou o isentaria de pena. Ex: eu matei sim, mas foi em legítima defesa.

Page 27: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 27

Obs: por serem muito próximos os conceitos, alguns autores apresentam a confissão parcial e a qualificada como sinônimas. Se a confissão foi qualificada e o juiz a considerou no momento da condenação, este magistrado deverá fazer incidir a atenuante na fase da dosimetria da pena? Para o STJ: SIM. Não é possível desmerecer a confissão daquele que efetivamente contribui para a elucidação dos fatos supostamente delituosos, ainda que agregando teses defensivas. Nos casos em que a confissão do acusado servir como um dos fundamentos para a condenação, deve ser aplicada a atenuante em questão, pouco importando se a confissão foi espontânea ou não, se foi total ou parcial, ou mesmo se foi realizada só na fase policial, com posterior retratação em juízo. Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, “d”, do Código Penal (Súmula 545/STJ), sendo indiferente que a admissão da autoria criminosa seja parcial, qualificada ou acompanhada de alguma causa excludente de ilicitude ou culpabilidade. STJ. 5ª Turma. HC 450.201/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 21/03/2019. STJ. 6ª Turma. AgInt no REsp 1775963/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 07/05/2019. Obs: o STF possui julgados em sentido contrário. Veja: (...) A confissão qualificada não é suficiente para justificar a atenuante prevista no art. 65, III, “d”, do Código Penal (...) STF. 1ª Turma. HC 119671, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 05/11/2013. Como o último julgado do STF sobre o tema é relativamente antigo (2013), em provas é mais provável que seja cobrado o entendimento do STJ. Fique atenta(o), contudo, à redação do enunciado. Confissão retratada A chamada confissão retratada ocorre quando o agente confessa a prática do delito e, posteriormente, se retrata, negando a autoria. Ex: durante o inquérito policial, João confessa o crime, mas em juízo volta atrás e se retrata, negando a imputação e dizendo que foi torturado pelos policiais. O agente confessa na fase do inquérito policial e, em juízo, se retrata, negando a autoria. O juiz condena o réu fundamentando sua sentença, dentre outros argumentos e provas, na confissão extrajudicial. Se a confissão foi retratada e o juiz a considerou no momento da condenação, este magistrado deverá fazer incidir a atenuante na fase da dosimetria da pena? Para o STJ: SIM. Se a confissão do réu foi utilizada para corroborar o acervo probatório e fundamentar a condenação, deve incidir a atenuante prevista no art. 65, III, "d", do Código Penal, sendo irrelevante o fato de que tenha havido posterior retratação, ou seja, que o agente tenha voltado atrás e negado o crime. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1712556/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/06/2019.

Obs: existem alguns julgados do STF em sentido contrário: a retratação em juízo da anterior confissão policial obsta a invocação e a aplicação obrigatória da circunstância atenuante referida no art. 65, inc. III, alínea ‘d’, do Código Penal (STF. 2ª Turma. HC 118375, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 08/04/2014. Em suma, na sentença o juiz poderá utilizar a confissão parcial, a confissão qualificada ou a confissão com retratação posterior para, em conjunto com outras provas, condenar o réu? SIM. Neste caso, o juiz deverá aplicar a atenuante do art. 65, III, “d”, do CP? SIM. Para o STJ, é irrelevante que a confissão tenha sido parcial ou total, condicionada ou irrestrita, com ou sem retratação posterior. Se a confissão foi utilizada pelo juiz como fundamento para a condenação, deverá incidir a atenuante do art. 65, III, “d”, do Código Penal.

Page 28: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 28

Entendimento sumulado O STJ resumiu seus entendimentos sobre a confissão com a súmula 545:

Súmula 545-STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal.

Desse modo, a Súmula 545 do STJ vale tanto para casos de confissão parcial, de confissão qualificada e confissão com retratação posterior. Em suma, se o juiz utilizou a confissão como fundamento (elemento de argumentação) para embasar a condenação, ele, obrigatoriamente, deverá aplicar a atenuante prevista no art. 65, III, “d”, do CP. A confissão é um fato processual que gera um ônus e um bônus para o réu. O ônus está no fato de que isso será utilizado contra ele como elemento de prova no momento da sentença. O bônus foi concedido pela lei e consiste na atenuação de sua pena. Para o STJ, não seria justo que o magistrado utilizasse a confissão apenas para condenar o réu, sem lhe conferir o bônus, qual seja, o reconhecimento da confissão. CONFISSÃO, TRÁFICO DE DROGAS E POSSE DE DROGAS PARA CONSUMO PRÓPRIO

Imagine a seguinte situação hipotética: João foi preso, em uma viagem de ônibus, com uma grande quantidade de cocaína em sua mochila. O Ministério Público denunciou João pela prática do crime do art. 33 da Lei nº 11.343/2006. No interrogatório, João admitiu que a droga era sua, mas alegou que ela seria utilizada exclusivamente para seu próprio consumo. Disse, em suma, que é usuário de drogas, afirmando ter adquirido o entorpecente em grande quantidade para evitar ter que ir várias vezes à “boca-de-fumo”. A defesa alegou que João deveria ser condenado pela prática do crime previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006:

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

O juiz, contudo, não acolheu o pedido e condenou o réu por tráfico de drogas, nos termos do art. 33:

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

Suponhamos que, na sentença, havia um trecho dizendo o seguinte: “não há dúvidas de que a droga pertencia ao acusado, considerando que ele próprio confessa que a bolsa é sua”. Neste caso, como o réu admitiu a propriedade da droga, ele terá direito à atenuante da confissão espontânea ao ser condenado por tráfico? NÃO. Isso porque ele confessou a posse da droga para fins de consumo (e não para tráfico). A atenuante da confissão espontânea pressupõe que o réu reconheça a autoria do fato típico que lhe é imputado. Ocorre que, no caso, o réu não admitiu a prática do tráfico, pois afirmou que a droga era exclusivamente para seu consumo próprio, numa clara tentativa de desclassificar a sua conduta para o crime do art. 28 da Lei nº 11.343/2006.

Page 29: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 29

Nesse caso, em que se nega a prática do tipo penal apontado na peça acusatória, não é possível o reconhecimento da circunstância atenuante. Para o STJ, não incide a atenuante da confissão espontânea quando o réu não admite a autoria do exato fato criminoso que lhe é imputado:

O reconhecimento da atenuante genérica prevista no art. 65, III, “d”, do Código Penal exige que o réu confesse os fatos pelos quais está sendo devidamente processado. STJ. 6ª Turma. HC 326.526/MS, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 04/04/2017.

Em se tratando do crime de tráfico de entorpecentes, a confissão espontânea do acusado que admite a propriedade da droga, no entanto afirma ser destinada a consumo próprio, sendo mero usuário, impossibilita o reconhecimento da atenuante prevista no art. 65, inciso III, alínea “d”, do Código Penal. STJ. 5ª Turma. HC 488.991/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 26/03/2019.

Sabe-se que nos casos em que a confissão do agente é utilizada como fundamento para embasar a conclusão condenatória, a atenuante prevista no art. 65, inciso III, alínea “d”, do CP, deve ser aplicada em seu favor, pouco importando se a admissão da prática do ilícito foi espontânea ou não, integral ou parcial ou se houve retratação posterior em juízo. Entretanto, in casu, não obstante o agravante tenha admitido a propriedade da droga, não reconheceu a traficância, afirmando que o estupefaciente encontrado seria para uso pessoal, sendo, portanto, insuficiente para reconhecer a incidência da referida atenuante. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1308356 MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 07/08/2018.

Vale ressaltar que não se pode dizer que houve confissão parcial neste caso porque o réu admitiu a prática de um fato diferente:

(...) a incidência da atenuante da confissão espontânea, prevista no art. 65, III, alínea d, do Código Penal, no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não sendo apta para atenuar a pena a mera admissão da propriedade para uso próprio. Nessa hipótese, inexiste, nem sequer parcialmente, o reconhecimento do crime de tráfico de drogas, mas apenas a prática de delito diverso. (...) STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1408971/TO, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 07/05/2019.

Não confundir:

Confissão parcial Réu confessa a prática de outro tipo penal diverso

daquele narrado na denúncia.

Réu confessa apenas parcialmente os fatos narrados na denúncia. Ex.: réu foi acusado de furto qualificado; confessa a prática do furto, mas nega a qualificadora do rompimento de obstáculo. Deverá incidir a atenuante da confissão espontânea (STJ HC 328.021-SC).

Ex.: réu é acusado de tráfico de drogas (art. 33 da LD); ele confessa que a droga era sua, negando, porém, a traficância. Isso significa que ele confessou a prática de um outro crime, qual seja, o porte para consumo pessoal (art. 28 da LD). Não deverá incidir a atenuante da confissão espontânea, considerando que o réu não reconheceu a autoria do fato típico imputado.

O entendimento da súmula 630 do STJ também é adotado pelo STF

Não é de se aplicar a atenuante da confissão espontânea para efeito de redução da pena se o réu, denunciado por tráfico de droga, confessa que a portava para uso próprio. STF. 1ª Turma. HC 141487, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Rosa Weber, julgado em 04/12/2018.

Page 30: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 30

Admitir-se a incidência da atenuante genérica da confissão (CP, art. 65, III, d), com a consequência de redução da pena, quando as próprias declarações do condenado não coincidiram com o propósito maior do instituto, o de facilitar a atuação da justiça criminal, representaria, por certo, verdadeiro contrassenso. No caso, o paciente assumiu a propriedade da substância entorpecente para fins de consumo próprio, dissimulando o propósito da traficância, reconhecido ulteriormente em sentença condenatória. STF. 2ª Turma. HC 135345, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/10/2016.

O entendimento da súmula 630 do STJ não é aplicável para situações envolvendo roubo e furto Ministério Público oferece denúncia contra o acusado imputando-lhe a prática de roubo. O réu se defende admitindo a subtração, mas negando o emprego de violência ou grave ameaça. Em outras palavras, o acusado admitiu a prática de um furto (e não de roubo). Nesses casos, o STJ tem admitido a incidência da atenuante afirmando que se está diante de confissão parcial:

Embora a simples subtração configure crime diverso - furto -, também constitui uma das elementares do delito de roubo - crime complexo, consubstanciado na prática de furto, associado à prática de constrangimento, ameaça ou violência, daí a configuração de hipótese de confissão parcial. STJ. 5ª Turma. HC 299.516/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 21/06/2018. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 452.897/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 07/08/2018.

INDULTO Súmula 631-STJ

O indulto extingue somente a pena ou medida de segurança, não interferindo nos efeitos secundários da condenação

Súmula 631-STJ: O indulto extingue os efeitos primários da condenação (pretensão executória), mas não atinge os efeitos secundários, penais ou extrapenais.

STJ. 3ª Seção. Aprovada em 24/04/2019, DJe 29/04/2019.

Efeitos da condenação A sentença penal condenatória, depois de transitada em julgado, produz diversos efeitos. Os efeitos da condenação podem se dividir em: 1) Efeitos PRINCIPAIS (PRIMÁRIOS) da condenação; 2) Efeitos SECUNDÁRIOS da condenação.

EFEITOS DA CONDENAÇÃO

1) PRINCIPAIS (PRIMÁRIOS)

O efeito principal (primário) da condenação é impor ao condenado uma sanção penal. Efeito principal (primário) = sanção penal. A sanção penal divide-se em: a) pena; b) medida de segurança.

2) SECUNDÁRIOS

2.1) PENAIS Alguns exemplos: reincidência (art. 63), causa de revogação do sursis (art. 77, I e § 1º), causa de revogação do livramento condicional (art. 86), causa de conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade (art. 44, § 5º), impossibilita a transação penal e concessão de suspensão condicional do processo (arts. 76 e 89 da Lei nº 9.099/95) etc.

2.2) EXTRAPENAIS a) Genéricos: art. 91 do CP;

Page 31: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 31

b) Específicos: art. 92 do CP; c) Previstos em “leis” especiais (exs: art. 15, III, CF; art. 83 da Lei de Licitações; art. 181, da Lei de Falências).

Anistia, graça e indulto: - são formas de renúncia do Estado ao seu direito de punir; - classificam-se como causas de extinção da punibilidade (art. 107, II, CP); - a anistia, a graça e o indulto são concedidos pelo Poder Legislativo (no primeiro caso) ou pelo Poder Executivo (nos dois últimos), mas somente geram a extinção da punibilidade com a decisão judicial; - podem atingir crimes de ação penal pública ou privada.

ANISTIA GRAÇA

(ou indulto individual) INDULTO

(ou indulto coletivo)

É um benefício concedido pelo Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República (art. 48, VIII, CF/88), por meio do qual se “perdoa” a prática de um fato criminoso. Normalmente, incide sobre crimes políticos, mas também pode abranger outras espécies de delito.

Concedidos por Decreto do Presidente da República. Apagam o efeito executório da condenação. A atribuição para conceder pode ser delegada ao(s): • Procurador Geral da República; • Advogado Geral da União; • Ministros de Estado.

É concedida por meio de uma lei federal ordinária.

Concedidos por meio de um Decreto.

Pode ser concedida: • antes do trânsito em julgado (anistia própria); • depois do trânsito em julgado (anistia imprópria).

Tradicionalmente, a doutrina afirma que tais benefícios só podem ser concedidos após o trânsito em julgado da condenação. Esse entendimento, no entanto, está cada dia mais superado, considerando que o indulto natalino, por exemplo, permite que seja concedido o benefício desde que tenha havido o trânsito em julgado para a acusação ou quando o MP recorreu, mas não para agravar a pena imposta (art. 5º, I e II, do Decreto 7.873/2012).

Classificação a) Propriamente dita: quando concedida antes da condenação. b) Impropriamente dita: quando concedida após a condenação.

a) Irrestrita: quando atinge indistintamente todos os autores do fato punível. b) Restrita: quando exige condição pessoal do autor do fato punível. Ex.: exige primariedade.

a) Incondicionada: não se exige condição para a sua concessão. b) Condicionada: exige-se condição para a sua concessão. Ex.: reparação do dano.

a) Comum: atinge crimes comuns. b) Especial: atinge crimes políticos.

Classificação a) Pleno: quando extingue totalmente a pena. b) Parcial: quando somente diminui ou substitui a pena (comutação). a) Incondicionado: quando não impõe qualquer condição. b) Condicionado: quando impõe condição para sua concessão. a) Restrito: exige condições pessoais do agente. Ex.: exige primariedade. b) Irrestrito: quando não exige condições pessoais do agente.

Page 32: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 32

Extingue os efeitos penais (principais e secundários) do crime. Os efeitos de natureza civil permanecem íntegros.

Só extinguem o efeito principal do crime (a sanção penal). Os efeitos penais secundários e os efeitos de natureza civil permanecem íntegros.

O réu condenado que foi anistiado, se cometer novo crime, não será reincidente.

O réu condenado que foi beneficiado por graça ou indulto, se cometer novo crime, será reincidente.

É um benefício coletivo que, por referir-se somente a fatos, atinge apenas os que o cometeram.

É um benefício individual (com destinatário certo). Depende de pedido do sentenciado.

É um benefício coletivo (sem destinatário certo). É concedido de ofício (não depende de provocação).

Vale ressaltar que a concessão do indulto está inserida no exercício do poder discricionário do Presidente da República (STF. ADI 2.795-MC, Rel. Min. Maurício Corrêa). Indulto extingue apenas os efeitos principais da condenação O indulto extingue apenas os efeitos primários da condenação (pretensão executória). Dito de forma bem simples: o indulto extingue somente a pena ou a medida de segurança. O indulto não atinge os efeitos secundários (penais ou extrapenais):

A concessão do indulto afasta o efeito principal decorrente da condenação, qual seja, o próprio cumprimento da pena anteriormente fixada pela sentença condenatória. No entanto, os efeitos secundários da condenação, tais como aqueles elencados no art. 91 do Código Penal, mas não a eles restritos, não são afetados pela concessão do indulto, ante a inexistência de previsão legal neste sentido, restando mantidas, assim, as devidas anotações junto aos cartórios e ofícios distribuidores acerca da existência do feito. STJ. 5ª Turma. AgInt no RHC 66.190/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 12/03/2019.

A extinção da punibilidade pelo indulto não afasta os efeitos da condenação, dentre eles a reincidência, uma vez que só atinge a pretensão executória. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 409.588/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 12/12/2017.

Exemplos de situações que não serão afetadas mesmo tendo havido o indulto: • as anotações do crime continuarão nos cartórios e ofícios distribuidores; • nome do condenado continua incluído no “rol dos culpados”; • a condenação que foi objeto de indulto continua tendo força para gerar reincidência (a reincidência não é afastada com a concessão do indulto); • se o indivíduo havia sido condenado a perder bens e valores, o indulto não irá alterar isso; • condenado continua com a obrigação de indenizar a vítima. Não confundir:

ANISTIA GRAÇA E INDULTO

Extingue o efeito primário da condenação (pretensão executória).

Extingue o efeito primário da condenação (pretensão executória).

Extingue também os efeitos secundários penais da condenação (ex: reincidência).

NÃO extingue os efeitos secundários penais da condenação.

Não extingue os efeitos secundários extrapenais da condenação (ex: tornar certa a obrigação de

NÃO extingue os efeitos secundários extrapenais da condenação (ex: tornar certa a obrigação de

Page 33: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 33

indenizar, perda da função pública). Os efeitos de natureza civil permanecem íntegros.

indenizar, perda da função pública). Os efeitos de natureza civil permanecem íntegros.

Dito de outro modo: • Efeitos primários da condenação: anistia, graça e indulto extinguem. • Efeitos secundários penais: anistia extingue; graça e indulto não extinguem. • Efeitos secundários extrapenais: não são extintos seja pela anistia, graça ou indulto.

DIREITO TRIBUTÁRIO

CONTRIBUIÇÕES Serviços sociais autônomos não devem figurar no polo passivo de ação proposta pelo

contribuinte discutindo a exigibilidade das contribuições sociais

As entidades dos serviços sociais autônomos não possuem legitimidade passiva nas ações judiciais em que se discute a relação jurídico-tributária entre o contribuinte e a União e a repetição de indébito das contribuições sociais recolhidas.

Os serviços sociais são meros destinatários de subvenção econômica e, como pessoas jurídicas de direito privado, não participam diretamente da relação jurídico-tributária entre contribuinte e ente federado.

O direito que tais entidades possuem à receita decorrente da subvenção não gera interesse jurídico a ponto de justificar a ocorrência de litisconsórcio com a União. O interesse dos serviços sociais autônomos nesta lide é reflexo e meramente econômico.

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.619.954-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/04/2019 (Info 646).

Veja comentários em Direito Administrativo.

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) As entidades dos serviços sociais autônomos possuem legitimidade passiva nas ações judiciais em que se

discute a relação jurídico-tributária entre o contribuinte e a União e a repetição de indébito das contribuições sociais recolhidas. ( )

2) (Juiz Federal TRF2 2018) A contribuição ao SEBRAE é qualificada, pelo Supremo Tribunal Federal, como tendo natureza de contribuição de intervenção no domínio econômico — CIDE, e não como contribuição social de interesse de categorias profissionais e econômicas. ( )

3) A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais. ( )

4) As verbas de sucumbência, decorrentes de condenação em ação de cobrança de cotas condominiais, não possuem natureza ambulatória (propter rem). ( )

5) (Procurador da República 2015) A dívida condominial constitui uma obrigação propter rem, cuja prestação não deriva da vontade do devedor, mas de sua condição de titular do direito real. ( )

6) É possível o cancelamento da cláusula de inalienabilidade de imóvel após a morte dos doadores se não houver justa causa para a manutenção da restrição ao direito de propriedade. ( )

Page 34: Informativo comentado: Informativo 646-STJ1ª) seria uma espécie de ^contribuição social geral _, estando prevista no art. 240 da CF/88: Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto

Informativo comentado

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 34

7) No caso de planos coletivos empresariais com menos de trinta usuários, em vista da vulnerabilidade da empresa estipulante, dotada de escasso poder de barganha, não se admite a simples rescisão unilateral pela operadora de plano de saúde, havendo necessidade de motivação idônea. ( )

8) (Juiz TJ/BA 2019 CESPE) É válida a rescisão unilateral imotivada de plano de saúde coletivo empresarial pela operadora de plano de saúde em desfavor de microempresa com apenas dois beneficiários, em razão da inaplicabilidade das normas que regulam os contratos coletivos, justamente por faltar o elemento essencial de uma população de beneficiários. ( )

9) A aquisição de distintividade de marca gera como decorrência lógica, direta e automática a exclusividade de seu uso. ( )

10) Na cessão fiduciária de direitos creditórios, para a perfectibilização do negócio fiduciário, o correlato instrumento deve indicar, de maneira precisa, o crédito objeto de cessão e não os títulos representativos do crédito. ( )

11) A sucessão civil e processual dos sócios de sociedade limitada, extinta por meio do distrato, poderá ser efetivada por meio do procedimento de habilitação, mas não pela via da desconsideração da personalidade jurídica. ( )

12) O prazo para interposição de recurso ordinário em habeas corpus será de 15 dias quando não se tratar de matéria criminal. ( )

13) Em recurso ordinário em mandado de segurança, o exercício de juízo de admissibilidade por tribunais federais e estaduais caracteriza usurpação de competência do Superior Tribunal de Justiça, sendo cabível reclamação. ( )

14) Declarada a prescrição intercorrente por ausência de localização de bens, incabível a fixação de verba honorária em favor do executado. ( )

15) A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse ou propriedade para uso próprio. ( )

16) (PGM-BH 2017 CESPE) Confissão ocorrida na delegacia de polícia e não confirmada em juízo não pode ser utilizada como atenuante, mesmo que o juiz a utilize para fundamentar o seu convencimento. ( )

17) O indulto extingue os efeitos primários da condenação (pretensão executória), mas não atinge os efeitos secundários, penais ou extrapenais. ( )

Gabarito

1. E 2. C 3. C 4. C 5. C 6. C 7. C 8. E 9. E 10. C

11. C 12. E 13. C 14. C 15. C 16. E 17. C