informatica_tecnicas da informacao e comunicacao_2013

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    Ricardo Jorge de Lucena Lucas

    Felipe Lima Rodrigues

    Fortaleza

    2013

    Tcnicas da Informao

    e Comunicaoaplicadas Educao

    PedaQumica Fsica Matemca PedaArtes

    PlscasCincias

    Biolgicas Informca

    Inform

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    Presidente da RepblicaDilma Vana Rousseff

    Ministro da EducaoHenrique Paim Fernandes

    Presidente da CAPESJorge Almeida Guimares

    Diretor de Educao a Distncia da CAPESJean Marc Georges Mutzig

    Governador do Estado do CearCid Ferreira Gomes

    Reitor da Universidade Estadual do Cear

    Jos Jackson Coelho SampaioPr-Reitora de Graduao

    Marclia Chagas Barreto

    Coordenador da SATE e UAB/UECEFrancisco Fbio Castelo Branco

    Coordenadora Adjunta UAB/UECEElosa Maia Vidal

    Diretor do CCT/UECELuciano Moura Cavalcante

    Coordenao da Licenciaturaem Informtica

    Francisco Assis Amaral Bastos

    Coordenao de Tutoriada Licenciatura em Fsica

    Maria Wilda Fernandes Felipe

    Coordenadora EditorialRocylnia Isidio de Oliveira

    Projeto Grco e Capa

    Roberto Santos

    DiagramadorFrancisco Oliveira

    Reviso Ortogrca

    Gezenira Rodrigues da Silva

    Secretaria de Apoio s Tecnologias EducacionaisAv. Paranjana, 1700 - Campus do Itaperi - Fortaleza - Cear

    (85) 3101-9962

    Copyright 2013. Todos os direitos reservados desta edio UAB/UECE. Nenhumaparte deste material poder ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meioeletrnico, por fotocpia e outros, sem a prvia autorizao, por escrito, dos autores.

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    Sumrio

    Apresentao .....................................................................................................5Introduo ...........................................................................................................7

    Captulo 1 A Informao ..............................................................................151. A informao: breve introduo .......................................................................17

    2. A informao como um conceito tcnico .......................................................18

    3. Ciberntica: um dos pontos de partida

    da comunicao e da informao ..................................................................20

    4. A informao como um conceito dentro do

    campo da comunicao de massa ................................................................22

    Captulo 2 A Comunicao..........................................................................271. A Comunicao como troca simblica ...........................................................29

    2. A comunicao como processo interacional .................................................31

    3. A comunicao de massa como simulao de troca simblica ...................40

    4. A comunicao como simulao de dialogia .................................................42

    Captulo 3 Tecnologia e Linguagem ..........................................................491. As tecnologias da informao .........................................................................51

    2. Os produtos mediticos ...................................................................................53

    3. Matrizes da linguagem: som, imagem e texto ................................................56

    4. O sincretismo das linguagens .........................................................................62

    Captulo 4 As linguagens em sala de aula ...............................................691. Os textos mediticos na sala de aula .............................................................71

    2. O Som ...............................................................................................................74

    2.1. O comeo: um estdio ..............................................................................75

    2.2. Os recursos sonoros: do corpo humano ao computador .......................75

    3. Som + texto ......................................................................................................78

    3.1. A voz ..........................................................................................................79

    3.2. O texto escrito para ser lido: o roteiro ......................................................79

    3.3. O texto para ser lido: a locuo ................................................................84

    3.4. Os formatos radiofnicos .........................................................................86

    4. A imagem ..........................................................................................................88

    4.1. A imagem fotogrca ................................................................................89

    4.2. A informao na fotograa .......................................................................90

    4.3. A fotograa em sala de aula .....................................................................94

    4.4. Os conceitos da linguagem fotogrca ...................................................96

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    4.5. Os objetos da fotograa ...........................................................................99

    5. Imagem, som e texto ....................................................................................100

    5.1. A produo audiovisual: formatos, gneros e aspectos gerais ............101

    5.2. Planejamento da produo audiovisual: etapas e processos ..............102

    6. Texto e imagem .............................................................................................107

    6.1. O jornal impresso ....................................................................................107

    6.2. As histrias em quadrinhos ....................................................................117

    7. A hipertextualidade .........................................................................................125

    7.1. O link como ferramenta de linguagem ..................................................126

    7.2. Os formatos da internet em sala de aula ..............................................128

    8. Exerccios prticos.........................................................................................131

    Consideraes nais ....................................................................................138

    Sobre os autores............................................................................................140

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    Apresentao

    Este livro discute sobre as relaes entre os campos da Comunicaoe da Educao, procurando criar uma base terica inicial para os professorese leitores, que possa auxili-los em suas prticas prossionais em sala deaula. Assim, inicia o capitulo um, apresentando aspectos relacionados in-formao como um conceito tcnico e a ciberntica como um dos pontos departida da comunicao e da informao, bem como a informao como umconceito dentro do campo da comunicao de massa.

    No captulo dois so discutidos os processos de comunicao, envol-

    vendo a troca simblica, o processo interacional e a comunicao de massacomo simulao de troca simblica e dialgica.

    O capitulo trs dedicado a tecnologia e linguagem. Nos captulos an-teriores procurou-se trabalhar a diferena entre informao e comunicao,por ser est fundamental para se entender o atual estgio da sociedade. Issoporque o computador, em particular quando conectado internet, se trans-forma potencialmente numa tcnica e numa tecnologia de informao e decomunicao simultaneamente.

    O capitulo quatro apresenta as linguagens em sala de aula, iniciando

    com os textos mediticos na sala de aula, o som, o som acrescido do texto, aimagem, a imagem, som e texto, o texto e imagem e nalmente a hipertextua-lidade. O nosso interesse relativo compreenso e ao uso das tcnicas decomunicao e de informao nas diferentes prticas pedaggicas em salade aula, visando auxiliar a produo de conhecimento. Para isso, damos prio-ridade compreenso das linguagens mobilizadas nesses processos, a mde que os alunos possam tanto desenvolver uma viso crtica dos meios decomunicao quanto compreender o potencial ldico, informativo e dialgicodas tecnologias da comunicao e da informao a partir do uso das diferen-tes matrizes da linguagem (som, imagem e palavra).

    Esperamos que com este livro possibilitar aos alunos, em sala de aula,o aprendizado e o domnio de certas tcnicas de comunicao e informaoajuda a garantir que tenhamos futuras geraes que saibam exercer o seu di-reito de expresso. O uso das tecnologias digitais, nesse aspecto, acelera pro-cessos de aprendizagem e, ao mesmo tempo, permite a troca de experinciascom alunos que esto geogracamente distantes, mas virtualmente prximos.

    Os autores

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    Tcnicas da Informao e Comunicao aplicadas Educao

    Introduo

    A capacidade de interveno na natureza um dos traos mais signicativosque distinguem os seres humanos dos demais animais

    No lme 2001 uma odisseia no espao (1969), dirigido por StanleyKubrick, vemos uma sequncia inicial que mostra um conjunto de antepas-sados do ser humano vivendo em tempos pr-histricos. Em dado momento,um deles descobre que um osso de animal pode ter uma utilidade at ento

    impensada: ser uma arma, que serve para abater outros animais, seja paracom-los, seja para lutar contra eles.

    Na sequncia, esse ser pr-histrico joga o osso para cima e, numadas mais famosas elipses do cinema, experimentamos um salto no tempoda narrativa e chegamos ao futuro representado no lme (o ano de 2001, nocaso), onde vemos uma nave no espao. Uma das coisas que Kubrick quernos mostrar que essa nave fruto da interveno humana na natureza. Emoutros termos: ela fruto da tecnologia.

    A lngua tambm uma formade tecnologia. Como tal, necessita seraprendida, seja uma lngua nativa, sejauma segunda lngua. E, por ser umatecnologia, uma vez aprendida esquece-mos que a aprendemos. Tal processo, doponto de vista neurolgico e cognitivo, similar a aprender a tocar um instrumen-to ou a dirigir um carro; no incio, pensa-mos nas aes a serem executadas, de-pois apenas as executamos. Pensamosnas palavras que vamos usar apenas emsituaes especcas e que considera-mos importantes pelo fato de no seremrotineiras (uma entrevista de emprego,por exemplo); no tendemos a car es-colhendo palavras se vamos apenas darum bom dia a algum conhecido.

    Tcnica x Tecnologia

    importante fazer a disno (fundamental) entre tecnologia e tcni-ca. Cronologicamente, a palavra tcnica mais anga: deriva do gre-go, tekhn, que signicava em sua origem arte ou ocio (a Retrica,por exemplo, era considerada uma arte e tambm uma tekhnentre

    gregos e romanos angos). Dentro de uma viso cienca moderna,tcnica signica um po de construo ou de mtodo parcular, queajuda a promover a modicao do real. J o termo tecnologia sur-ge bem depois, por volta do sculo XVII, para designar um estudo

    sistemco das artes ou a terminologia de uma arte em parcular(WILLIAMS, 2000, p. 312), e provm do grego clssico, tekhnologia, edo lam moderno, technologia, que designam formas de tratamentosistemco de algo, ou ainda um sistema desses meios e mtodos.Assim, tcnicas de informao e comunicao dizem respeito a pose mtodos parculares de sistemazao de informaes e de pro -cessos comunicavos; tecnologias de informao e de comunicaodesignam o sistema que faz uso dos meios e mtodos tcnicos.

    Saiba mais

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    Por trs dessas situaes, est um estranho enigma: todos os sereshumanos dispem (a princpio) de sistemas siolgico, respiratrio, digestivo efonolgico com as mesmas caractersticas e funes; porm, quando se tratado sistema lingustico, quase que improvvel pensarmos no uso de uma

    mesma e nica lngua para todos os seres.A no existncia de um repertrio lingustico comum (uma mesma ln-

    gua, com as mesmas semntica e sintaxe) a todos os habitantes do planetaimplica em vrios problemas, como as diculdades de traduo ou a neces-sidade de conhecimento de uma lngua eventualmente morta diante de umdocumento cuja escrita no mais possvel decifrar. H estimativas de queo planeta Terra j tenha abrigado algo entre cinco e dez mil lnguas diferen-tes; locais como a ndia e a Papua Nova-Guin abrigam dezenas e centenasde dialetos e lnguas diferentes; na Itlia, certos habitantes locais costumamusar dialetos especcos para conversar entre si caso se sintam incomodados

    diante de estranhos e/ou estrangeiros; e mesmo dentro de uma mesma lnguapodemos ter comunidades especcas (prossionais, msicos, cientistas) quefaam uso de jarges e grias que podem parecer intraduzveis aos ouvidosde um outro falante que esteja fora daquele universo cultural. Poderamosdizer: a linguagem no algo natural.

    Aparentemente, se todos falassem um nico idioma, uma nica lngua,grande parte dos nossos problemas estaria resolvida. No existiriam mais di-culdades com tradues de obras, inclusive com aquelas que fazem um usoliterrio incomum da linguagem (pensemos aqui em autores como Lewis Car-roll, James Joyce, Raymond Queneau, Groucho Marx ou Guimares Rosa,cujos textos verbais so marcados por palavras inventadas e/ou trocadilhosmuitas vezes sem sentido fora da sua lngua nativa ou mesmo sem possibili-dades de traduo adequada).

    As poesias no perderiam parte de seu sentido original; tambm no serianecessrio fazer legendagens e dublagens nos lmes e animaes; documentoscom destinao internacional no precisariam de tradues ociais; e mesmotextos muitos antigos (estivessem eles escritos em papiros, pergaminhos, pedrasou cavernas) potencialmente teriam grandes chances de serem ao menos lidos.

    Mas o virtual fato de falarmos uma nica lngua no eliminaria outros

    problemas. Isso ocorre porque a linguagem , em parte, condicionada pelacultura, ou seja: ela um sistema que se desenvolve socialmente.

    A lngua no apenas um conjunto de palavras de diferentes nalidades(substantivas, adjetivas, verbais etc.), mas tambm a possibilidade de uso depalavras para se referirem a realidades extralingsticas, realidades essas cujapercepo varia interculturalmente. Um exemplo simples: consta que os esqui-ms conseguem perceber vrias dezenas de diferentes tons de branco.

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    Do ponto de vista da informao, isso equivale ao bilogo que conseguedistinguir diferentes tipos de plantas apenas das folhas (aparentemente iguaisaos olhos de um leigo) ou ao msico que consegue distinguir entre diferentesgneros musicais (heavy metal, trash, punk,gtico, hard rock).

    Dissemos que a linguagem uma tecnologia e, como tal, deve seraprendida. Pensemos num exemplo banal: levar um carro a uma ocina me-cnica por no saber identicar um dado defeito. O mecnico diz algo como:o problema num disjuntor de mdia tenso a vcuo. Se voc no entendeo que ele diz, est diante de dois problemas: o defeito do carro e o desco-nhecimento do signicado das palavras do mecnico. Diante de tal situao,h duas possibilidades: ou o carro ca par ao o conserto ou se busca umasegunda opinio...

    Um outro exemplo vai ilustrar melhor essa ideia da linguagem como tec-nologia. No lme Central do Brasil, de Walter Salles (1998), a atriz FernandaMontenegro interpreta o papel de uma mulher que ganha a vida escrevendocartas para analfabetos. Mas a sua prpria condio de analfabetos impedeessas pessoas de vericarem se o que a personagem de Fernanda Montene-gro escreveu foi o que eles ditaram. Em suma: quando uma pessoa no do-mina uma dada tecnologia, ela potencialmente ca refm de quem dominaessa mesma tecnologia.

    Percebe-se, assim, que a linguagem pode ser tambm uma forma deexcluso social. E essa noo deve ser estendida a outras formas de lingua-gem, como os quadrinhos, o cinema ou o teatro. Ou seja: existem vrias for-mas de linguagem que fazem uso de cdigos especcos (palavras, imagense sons isolados ou combinados entre si), os quais pedem uma dada compe-tncia do seu receptor.

    Por exemplo: para ler quadrinhos, necessrio anteriormente saberler (pois a disposio dos quadros tende a seguir a orientao do sentido deleitura); para ler o cinema, preciso conhecer certas convenes (como oashback); e mesmo para o teatro, preciso minimamente saber que se estdiante de uma encenao (o que pode confundir certos espectadores diantede peas experimentais nas quais o ator desce do palco e se mistura platia:at onde vai a encenao?). Ou seja: o desconhecimento desses cdigos

    pode dicultar a compreenso de um dado texto.Como superar essas diferenas de domnio das linguagens? Comobuscar evitar essa desigualdade entre pessoas, mesmo que elas dominemum mesmo idioma, uma mesma lngua? Essa desigualdade pode ser elimi-nada, se considerarmos que todas as pessoas detm pontos de vista dife-rentes sobre a realidade e sobre si prprias? Um dos modos de diminuir essevirtual abismo atravs de um movimento que considera o fato de que:

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    1. Todas as pessoas sabem algo sobre alguma coisa;

    2. Ningum conhece tudo;

    3. Todo mundo busca se expressar;

    4. Todo mundo busca saber algo sobre o outro; e5. O ser humano um ser, acima de tudo, social.

    Os enunciados acima apontam para um duplo campo: de um lado, ocampo da Educao, que visa a produo de conhecimento atravs da difu-so e do compartilhamento de informaes; de outro, o campo da Comunica-o, que visa a produo e/ou manuteno da sociabilidade. a partir dessadupla articulao que vamos desenvolver os principais aspectos dessa obra.

    Obviamente, estamos longe de esgotar o assunto. H obras que fazemuma discusso sobre a relao Educao e Comunicao em suas vriaspossibilidades (BRAGA & CALAZANS, 2001; CITELLI, 2000). O lsofo da

    educao Mrio Kaplun (1923 - 1998), argentino radicado no Uruguai e amigodo pedagogo brasileiro Paulo Freire, props o termo Educomunicao nosanos 1980, para designar a mediao da Comunicao comeparaa Edu-cao como forma de ao poltica diante dos fenmenos contemporneos(ps-modernidade, globalizao, transnacionalizao do poder econmico--nanceiro etc.) (SCHAUN, 2002, p. 81).

    H vrias maneiras de encararmos a relao entre a educao e a comu-nicao, entre os modos de aprendizagem pedaggica e o uso dos meios decomunicao (sejam eles massivos e baseados na lgica de distribuio e difu-so, como os jornais, as revistas, os quadrinhos e o cinema, sejam eles digitais,

    como os sites, portais e mdias sociais, baseados na lgica de acesso on-linea servidores). O vis que nos interessa aqui (e que no esgota o assunto, natu-ralmente) diz respeito compreenso e ao uso das tcnicas da comunicao eda informao nas prticas pedaggicas, percebidas tambm como formas desociabilidade, na medida em que esses fazeres devem se dar coletivamente.

    natural a existncia de riscos nesse tipo de discusso: muitos incor-rem na anlise apenasdos meios em si, deixando de lado as suas potencia-lidades e limites e, ao mesmo tempo, deixando de lado tambm a anlise doseu potencial comunicativo. Talvez um dos exemplos mais clssicos dessetipo de equvoco seria a crena numa modalidade de teleaula na qual o alu-no apenas assiste aos contedos transmitidos pela TV, sem apoio de outrosmateriais e, principalmente, de sem apoio de professores em sala de aula (ain-da hoje comum professores colocarem alunos para assistir algo quandono podem dar aula...).

    Anal, a popularidade da televiso como meio informativo massivo (not-cias, novelas, lmes etc.), para muitos, era suciente para que as aulas basea-

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    das apenas nessa lgica transmissiva fossem tambm ecientes; mas variveiscomo as maneiras como as pessoas consumiam a TV, os gneros televisivosfavoritos da audincia e as situaes de recepo foram deixados de lado. Orelativo fracasso dessa tentativa aponta para o fato de que a anlise da TV como

    ferramenta se centrou apenas na tecnologia em si, no nos modos como aspessoas interagem diante da tecnologia e entre si, simultaneamente.

    A TV foi percebida em sua eccia potencial como transmissoradecontedos, mas no se questionou, poca, sua eccia comogeradora deconhecimentos, sendo que estes se baseiam, muitas vezes, em prticas so-ciointerativas (ou seja, em situaes sociais, presenciais ou distncia).

    No incio de seu livro intitulado La Educacin desde la Comunicacin, opesquisador colombiano (nascido na Espanha) Jess Martn-Barbero advertesobre um duplo fato: o que estamos acostumados a confundira comunicaocom os meios e a educao com seus mtodos e tcnicas. Ou seja: pre-ciso evitar o reducionismo de ambos os conceitos e processos a uma visomeramente tcnico-instrumental. Alm disso, h outro aspecto importante noque se refere ao modo de se lidar com a dualidade Comunicao-Educao,do ponto de vista terico-metodolgico: mais importante ensinar o aluno autilizar os meios, dominando suas tcnicas, ou ensinar o aluno a fazer umaleitura crtica desses meios?

    De um lado, em uma sociedade cada vez mais mediatizada1, faz-senecessrio que os alunos dominem as diversas tcnicas de produo de in-formao e de comunicao (compreenso da lgica produtiva); ao mesmotempo, preciso que eles saibam interpretar os contedos veiculados nosmeios de comunicao massivos e digitais (interpretao dos produtos medi-ticos). A nosso ver, essa uma escolha fundamental, mas perceba-se que,apesar de serem duas questes interrelacionadas, elas colocam em xequeaspectos diferentes sobre a percepo dos meios: a produo de textos porparte dos alunos e a anlise dos produtos mediticos produzidos no mbitodos meios de comunicao massivos e digitais.

    Assim, preciso ter sempre em mente as diferenas simblicas entre ocampo escolar como esfera de produo de conhecimentos e o sistema mediti-co como espao difusor de informaes. Nossa escolha, aqui, auxiliar o profes-

    sor na produo dos textos por parte dos alunos a partir das diferentes tcnicas decomunicao e informao; acreditamos que o conhecimento e a prtica sobreos modos de produzir esses textos ajudam posteriormente numa anlise crticasobre os meios de comunicao de massa nos quais circulam outros textos. Ouseja: existe uma diferena fundamental entre saber como se faz e saber fazer.

    Cumpre lembrar que todas as tcnicas aqui relacionadas podem sertrabalhadas com o auxlio do computador. Uma vez que as tecnologias digi-

    1Apesar de os termosmdia e miditicoestarem popularizados, agraa mais adequada, do

    ponto de vista etimolgicseria media e meditic(como escrevem osportugueses). Anal, apalavra vem do latim,medium, que signicameio (seu plural mediAqui, todos os vocbulosde lngua portuguesareferentes aos meiosde comunicao serografados em conformidadcom a origem do termo

    em latim: assim, usaremomeditico e nomiditico; mediatizadono midiatizado.

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    tais permitem o manuseio dos textos verbais, das imagens e dos sons, bemcomo de suas combinaes, nada impede que as atividades sejam realizadastanto atravs de encontros presenciais quanto atravs de atividades coletivase colaborativas mediadas pelo computador. Cabe aos professores, dentro de

    suas vises de processo pedaggico, avaliarem quais os melhores caminhosa serem seguidos.

    Aqui, tentaremos evitar alguns equvocos: talvez o principal deles sejadeixar de lado a centralidade no suporte para dar nfase aos aspectos dasdiversas formas de linguagem (escrita, sonora, audiovisual, imagtica etc.),cujos princpios tendem a se manter, independentemente do suporte analisa-do. Um exemplo simples: a princpio, no existem diferenas entre um lmevisto na TV, no cinema, num aparelho de DVD ou de Blu-rayou no compu-tador, no que se refere ao lme em si; as diferenas ocorrem em funo dosuporte e daquilo que ele possibilita.

    No cinema, no podemos pausar a exibio do lme; na TV, dependen-do do tipo de aparelho, isso j possvel; no aparelho de DVD ou Blu-ray eno computador, podemos pausar quantas vezes quiser. Mas essas diferenasno alteram o estatuto do lme como mensagem audiovisual: assim, o tempode exibio ou a ordem das sequncias so mantidos. Ou seja: os modosde construo de um produto audiovisual (em termos de captao de ima-gens, edio, ps-produo etc.) sero sempre os mesmos, independentedo suporte no qual o lme ser exibido (obviamente, h excees em algunsaspectos, como os lmes em 3D).

    H outras variantes a serem consideradas: um lme na TV, no DVDou no Blu-ray, visto em famlia ou entre amigos, quase sempre um ritualacompanhado de comentrios (ligados ao lme ou no); no cinema, o ritual(ao menos em algumas culturas) pede que o lme seja assistido em silncio;no computador, a exibio tende a ser individual e solitria (uma vez que, sejanum desktop, notebook, netbook, tablet ou mesmo num smartphone, essesobjetos tendem a ser percebidos como objetos pessoais). Ou seja, as formasde recepo so bastante distintas. Observar as formas de recepo tambmna sala de aula algo importante para o pedagogo.

    Alm disso, preciso ter em mente que os modos como as futuras

    tecnologias so concebidas podem implicar em mudanas nas formas deproduo meditica. Por exemplo: se um dia pudermos escolher a prximasequncia de um lme, numa lgica similar do RPG (role playing game), inevitvel que a produo do lme se modicar, deixando de ser roteirizadae concebida como um continuum temporal para se tornar um conjunto depossibilidades narrativas escolha do espectador (mais prxima da lgica dovideogame). Uma discusso sobre essas potencialidades pode ser encontra-da, por exemplo, em Gosciola (2003).

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    Figura 1 Composio da palavra informao

    2. A informao como um conceito tcnico

    Proposta de Shannon para enfrentar problemas tcnicos de transmisso demensagens se torna primeira teoria da informao.

    A primeira teoria da informao ocorreu quase que por acaso. A compa-nhia de telecomunicao Bell Telephone Laboratoryqueria aperfeioar o funcio-namento do telgrafo; buscava, por exemplo, aumentar a velocidade de transmis-so das mensagens telegrcas e diminuir as perdas da mensagem transmitida.

    Em outros termos: otimizar a eccia dos canais de comunicao exis-tentes naquela poca, ou seja, o cabo de telefone e a onda de rdio. ClaudeElwood Shannon (1916 - 2001), engenheiro e matemtico norte-americano,buscava auxiliar nessa empreitada, que j fora tentada antes pelos engenhei-ros Harry Nyquist (1889 - 1976) e Ralph Hartley (1888 - 1970).

    Em 1947, Shannon esboou um esquema que se tornou clssico nocampo da Comunicao; em 1948, publicou um artigo sobre o assunto e,nalmente, em 1949, publica com Warren Weaver (1894 - 1978), tambm ma-temtico, o livro Mathematical Theory of Communication.

    Figura 2 Esquema da teoria da comunicao segundo Shannon e Weaver

    Vamos explicar rapidamente o esquema de Shannon e Weaver: existeuma fonte de informao, que constri uma mensagem atravs de um dadocdigo (elemento esse no explicitado pelos autores, e que pode ser um idioma,como o ingls ou o francs, por exemplo). Essa mensagem transmitida atra-vs de um suporte transmissor que emite sinais. Esses mesmos sinais devem

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    ser recebidos em igualdade de condies por um aparelho receptor que devereconstituir a mensagem, fazendo-a chegar a sua destinao nal.

    Neste processo, pode ocorrer a interferncia de rudos na transmisso da men-sagem, ou seja: elementos no desejveis e que interferem na reconstituio da men-sagem (falhas de transmisso). Para evitar a perda de alguma informao, sugere--se que a mensagem tenha certo grau de redundncia, ou seja, que ela repita dediferentes formas (parfrases, repeties diferenciadas) uma mesma informao.

    O que propuseram Shannon e Weaver, no nal das contas? A partir desuas formaes prossionais (Engenharia, Matemtica), um vis matemtico--informacional: nesse vis, o que se percebe so as partes componentes dosistema informativo (e no o processo comunicacional em si) apenas do pontode vista tcnico, com particular preocupao de que os sinais da mensagemtransmitida cheguem ao destinatrio do mesmo modo que saram da fonte.Ou seja: a meta aqui a transmisso otimizada da mensagem, sem nenhumtipo de preocupao com o seu contedo.

    Em outros termos: a preocupao se dava apenas com o funcionamen-to tcnico do sistema comunicativo. A transmisso eciente tende a garantiruma decodicao eciente para o receptor, levando-se em conta apenas ossinais transmitidos. O termo sinal, aqui, deve ser entendido dentro do mbitoda informao. O cdigo Morse, por exemplo, para quem no o domina, apenas um conjunto de sinais; porm, quem domina o cdigo no percebeapenas sinais, mas sim signos3(palavras, frases etc.). No caso do telefone, oque o aparelho recebe so sinais eltricos.

    Aqui, so deixadas de lado outras variveis, como as intenes do emis-sor, o trabalho de interpretao do receptor etc. Esses aspectos, em particular,esto diretamente ligados ao campo da comunicao. De qualquer modo,o paradigma matemtico-informacional de Shannon & Weaver, aplicado ini-cialmente apenas s telecomunicaes e engenharia de comunicaes, foiposteriormente adaptado pelo pesquisador norte-americano Wilbur Schramm comunicao humana, levando-se em conta os seguintes aspectos:

    1) Que a fonte de informao e o transmissor equivalem ao comunicador

    2) Que o receptor e a destinao equivalem ao receptor

    3) Que o comunicador e o receptor devem partilhar campos de experincias

    em comum (em outros termos: devem possuir um repertrio4em comum,ou seja: devem dividir cdigos, domnios de linguagens, textos etc.).

    A partir dessa perspectiva, Schramm concluiu, nos anos 1970, queo estudo da Comunicao era dependente de uma srie de outros fatores,como as contribuies de outros campos cientcos (Sociologia, Psicologia).Alm disso, Schramm admite a Comunicao como uma relao interativa

    3Signos: os elementosfsicos constitutivos deuma mensagem (letras,imagens, sons, gestosetc.). Os signos devemser, a princpio, sinais

    que sero interpretadosposteriormente. Ou seja: h signo se existir um sinque lhe seja anterior.

    4Repertrio: o vocabulrde um dado cdigo. Podeser entendido tambmcomo o universo deinformaes adquiridas pum ser humano (domniode lnguas, conhecimentetc.).

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    (e no como apenas algo que se transmite a algum) e que estud-la signicaestudar as pessoas que interatuam nos processos comunicacionais.

    Em suma, Shannon e Weaver se preocupavam principalmente com aeccia tcnica do sistema informativo, ou seja, que a mensagem constituda

    no polo da emisso fosse reconstituda no polo da recepo na sua ntegraem relao aos sinais. O aspecto semntico (o contedo da mensagem) noera de interesse deles.

    Em outros termos: no interessa o teor da conversa de duas pessoasao telefone, mas apenas que uma pessoa possa ouvir outra e vice-versa,compreendendo o que ela fala, palavra por palavra, fonema por fonema. Po-rm, veremos que, mesmo com a proposta feita por Schramm, o modelo deShannon e Weaver se tornou paradigmtico no campo da Comunicao, aponto de muitas vezes apenasse pensar os fenmenos da rea dentro dessaviso chamada por Winkin (1984), em termos facilitadores, de telegrca. A

    justicativa dessa viso ser retomada adiante.

    Emissor:seja na teoria da informao ou na maioria das teorias da comunicao tradicionais,

    emissor o criador ou a fonte da informao, de uma mensagem, que emida a um receptor.Receptor: o recebedor ou desnatrio da mesma mensagem enviada pelo emissor. Emalgumas ocasies, emissor e receptor tanto podem ser a mesma pessoa quanto podemtrocar de lugar, em situaes de interao presencial ou mediada pelo computador.Mensagem: o conjunto ordenado de uma srie de sinais que, sendo interpretveis,

    se tornam signos, visando a transmisso de uma dada informao. Geralmente a infor-mao est situada dentro do contexto de uma mensagem.

    Cdigo: linguagem ou sistema de signos convencionais e regrados nos quais a mensagem

    transmida (linguagem escrita ou falada, cinematogrca, quadrinsca, teatral etc.).Sinais:fenmenos sicos que, uma vez interpretados, se transformam em signos deuma mensagem.

    Rudo:sinal que atrapalha a transmisso e/ou decodicao da mensagem.Redundncia:repeo de signos, iguais ou equivalentes entre si (como as parfra-ses), para reforar a compreenso de uma dada mensagem.

    Saiba mais

    3. Ciberntica: um dos pontos de partida da comunica-

    o e da informaoCincia proposta por Norbert Wiener nos anos 1940 diz respeito ao estudo docontrole e comunicao no animal e na mquina.

    Em 1948, o matemtico norte-americano Norbert Wiener (1894-1964)publicou um livro intitulado Cybernetics: Or the Control and Communicationin the Animal and the Machine, com o qual criou o termo ciberntica5; dois

    5A teoria matemtica dacomunicao no surgiunos anos 1940, conformedestaca Weaver (1987:26-7). O fsico austracoLudwig Boltzmann (1844-

    1906) sugeriu provveispontos de contato entre amecnica estatstica e oconceito de informao.O matemtico norte-americano Norbert Wiener(1894-1964), que foiuma inuncia centralno trabalho de Shannon,desenvolveu o conceito deciberntica (que abordadono prximo tpico). Maser(1975: 168) cita outros

    pesquisadores que tambmse dedicaram ao estudoda teoria da informao,como Karl Kpfmller(1897-1977), Dennis Gabor,inventor da holograa(1900-1979) e Leo Szilard(1898-1964).

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    anos depois, trouxe luz a obra The Human Use of Human Beings,na qualretoma os conceitos-chave do livro anterior para ns de divulgao junto apblico mais leigo.

    A origem do termo ciberntica vem da palavra grega kubernetes(pi-loto), da qual tambm se origina a expresso governador (atravs do Latim,

    gubernare); porm, o prprio Wiener adverte que a palavra j havia sido usadaantes, por exemplo, por Andr-Marie Ampre em estudos sobre cincia poltica.

    O que Wiener chama de Ciberntica? Antes, preciso entender que aNatureza, do ponto de vista estatstico, catica, ou seja: imprevisvel, in-controlvel. A Ciberntica, por outro lado, colocada (ao menos inicialmente)como a cincia do controle (ou seja, regulao) das relaes existentes (ouseja, comunicao) entre mquinas e organismos vivos (ou seja, homens).

    Para que tal relao possa existir, importante a existncia da retroali-

    mentao (feedback) para que o sistema continue em ao. Nesta viso, seaceita que o mundo seja composto de sistemas6vivos ou no, que interagemuns com os outros (empresas, pessoas, animais, computadores, crebrosetc.). Ao mesmo tempo, um sistema visto como um conjunto de elementosem interao constante. Assim, um sistema deve ter dados de entrada (inputs)inseridos nele e, posteriormente, esse mesmo sistema deve produzir respos-tas (outputs) que permitam a criao de um feedback.

    Para Wiener, existem dois tipos de feedback: um positivo, no qual as re-aes de B reforam as aes de A, podendo at mesmo mudar o mtodo e opadro geral de desempenho do sistema; e outro negativo, no qual as reaes

    de B levam as aes de A a serem apenas reguladas. Aqui, Wiener fala, respec-tivamente, em aprendizagem e rigidez. Assim, homens e mquinas se comu-nicam atravs de situaes em que uma informao retorna7 fonte emissora.

    Figura 3 Viso de feedbackproposta por Norbert Wiener

    Mais do que uma teoria, o pensamento de Wiener uma reexo. Issoporque o que vigorava nas cincias (e no paradigma de Shannon e Weaver)era a ideia de linearidade, de causa e efeito; a partir da viso de Wiener, o que

    7Retorno (ou feedback): volta da mensagem suaorigem (emissor).

    6Outro autor que trabalhcom a ideia de sistemafoi o bilogo austro-canadense Ludwig vonBertalanffy (1901-1972),criador da Teoria Geraldos Sistemas nos anos1930. Sua principal obra justamente intituladaTeoria Geral dos Sistema

    e bastante estudada emreas como AdministraBiologia e Sociologia. Oprincpio lgico-matemtda Teoria Geral dosSistemas que muitasdisciplinas reetem maisem termos de sistemas delementos do que comoelementos isolados; assiela pode ser aplicada smais diversas cincias

    empricas.

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    nos seja dita a respeito dele ter grande potencial informativo e, ao mesmotempo, nos d um modo de perceber esse fenmeno. Digamos, por exemplo,que uma pessoa nunca tenha visto uma determinada cor (o azul), tampoucosaiba o seu nome (j que nunca a viu).

    Se algum disse a essa pessoa que o nome dessa cor azul, da pordiante, sempre que a pessoa estiver diante dessa cor, ir pensar na palavraazul. Ou seja: a partir daquele momento, a palavra azul formata aquelainformao cromtica para aquele indivduo e aquela cor deixa de ser impre-cisa, torna-se por ele conhecida. Ao mesmo tempo, elimina-se a incerteza(qual o nome dessa cor?) e formata-se um aspecto da realidade (a existn-cia do nome azul para essa cor, em lngua portuguesa).

    Essa lgica se estende a outros fenmenos da realidade (incidentes di-plomticos, conitos blicos e acontecimentos em geral) atravs dos meios decomunicao de massa. Percebe-se, porm, que esse processo no to sim-ples e estvel: dependendo de uma srie de percepes ideolgicas e culturais,a imprensa pode falar em guerra do Afeganisto ou invaso norte-americanaao Afeganisto para se referir a acontecimentos que envolvam o exrcito norte--americano no territrio afego, como os ocorridos a partir de 2001.

    Isso ocorre na sociedade a todos os momentos: uma pessoa pode perce-ber uma garrafa de Coca-Cola como uma opo refrescante para um dia quen-te e outra pessoa pode associar a bebida noo conceitual de imperialismonorte-americano.

    Assim, a informao uma mensagem referente a um acontecimento des-

    conhecido ou novo, do ponto de vista de quem no o conhece. Mas esse acon-tecimento pode depender tambm das probabilidades de ele acontecer ou no.Assim, um dado fenmeno pode ser raro ou altamente improvvel, o que implicaem um alto grau informativo. Nos meios jornalsticos, h uma frase humorstica etalvez exagerada, mas que no deixa de explicitar a lgica desse raciocnio:

    se um co morde um homem, isso no notcia; mas se um homem

    morde um co, isso notcia.

    Com isso, percebe-se que a informao matria-prima da comunica-o e da cultura massivas (novelas, noticirios, eventos esportivos etc.), uma

    vez que ambas trabalham com diversos textos que fazem uso de um suben-tendido tradicional, do tipo receptor, saiba que....

    Assim, a novela informativa na medida em que o espectador no sabeo que vai acontecer com as personagens; e, mesmo que saiba do destinodessas personagens (atravs dos cadernos de TV, com resumos de novelas),ele assiste TV para conrmar se o que ele sabe vai se conrmar ou no. Onoticirio parte do pressuposto de que o telespectador desconhece aquelasinformaes que esto sendo transmitidas, no todo ou em parte.

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    Os eventos esportivos, por sua prpria natureza, no podem ter seudesfecho antecipado, ainda que os torcedores possam especular sobre oresultado nal (loteria esportiva, boles, apostas etc.). Por tudo isso, valea pena transcrever a seguinte citao do pesquisador portugus Adriano

    Duarte Rodrigues (1994)

    a esfera da informao uma realidade relativa que compreende o con-

    junto dos acontecimentos que ocorrem no mundo e formam o nosso

    meio ambiente. Os acontecimentos so tanto mais informativos quanto

    menos previsveis e portanto mais inesperados (...). A informao , por

    conseguinte, uma realidade que pode ser teoricamente medida pelo cl-

    culo de probabilidades, sendo o valor informativo de um acontecimento

    inversamente proporcional sua probabilidade de ocorrncia (...). A in-

    formao est por isso intimamente associada natureza relativamente

    inexplicvel de fenmenos, ao fato de a razo humana no os conseguir

    dominar e de ocorrerem no mundo nossa volta sem aviso prvio, forado controle e do domnio da liberdade humana, de intervirem de maneira

    brutal e inesperada (p. 20-1).

    Em suma: a informao algo que, de certa forma, nos tranqiliza, por-que diz respeito s coisas do mundo e nos diz algo sobre elas. Nesse aspecto,ela bem distinta da comunicao, processo que analisaremos a seguir.

    Atividades de avaliao

    1. Por que a teoria de Shannon e Weaver tomada como uma teoria da co-municao? Pense sobre o assunto.

    2. Pense em algumas formas de feedbackdentro de um processo de troca deinformaes.

    3. Pense nas vrias formas de informao que nos cercam no dia-a-dia.

    4. Quais as informaes jornalsticas que interessam a voc? Por qu? Pen-se sobre o assunto.

    Referncias

    CAPURRO, Rafael. Pasado, presente y futuro de la nocin de informacin.In: I Encuentro Internacional de Expertos en Teoras de la Informacin un enfoque interdisciplinar. Len, 2008. Disponvel em http://www.capurro.de/leon.pdf. Acessado em 1o. de fevereiro de 2012.

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    1. A Comunicao como troca simblica

    A comunicao um processo de mo dupla, mas no necessariamenteigualitrio.

    Vimos que, nas sociedades tradicionais (pr-modernas), comunicaoe informao tendencialmente caminhavam juntas. Vimos tambm que umanoo especca de comunicao vai se desenhar na primeira metade dosculo XX (consolidando-se nos anos 40 - 50), a partir do momento em que os

    meios de comunicao de massa (rdio, cinema, televiso) vo se tornandoelementos cotidianos na vida das pessoas.

    bastante comum que encontremos diferentes denies de Comuni-cao nos dicionrios, como os exemplos a seguir:

    Ato de estabelecer relao (coisas, clulas, animais, seres humanos)

    Ato de transmitir sinais atravs de cdigos (animais, seres humanos)

    Ato de trocar pensamentos ou sentimentos (seres humanos)

    Usar meios tecnolgicos (comunicao telefnica, via Internet)

    Mensagem ou informao

    Vias que ligam espaos distintos, ou circulao

    Disciplina, saber, cincia ou grupo de cincias.

    Talvez seja interessante voltarmos tambm etimologia da palavra co-municao. O termo tambm vem do latim (communicatio), onde:

    Figura 5 Composio da Palavra Comunicao.

    Ou seja, a ideia de comunicao implica em uma atividade ou ao naqual se pressupe um compartilhar de algo. A partir desses radicais, surgirampalavras ans, como comungar. Assim, podemos dizer, a princpio, que acomunicao um processo de troca entre dois agentes (animais, seres hu-manos etc.), uma vez que h algo a ser compartilhado entre eles.

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    Aqui, percebe-se que o processo comunicacional diferente do proces-so informacional (ligado transmisso de algum que sabe visando algumque no sabe); no processo comunicativo, ao contrrio, pressupe-se queambos os agentes tenham algo a compartilhar. Retomemos aqui o pesquisa-

    dor portugus Adriano Duarte Rodrigues (1994), agora em sua denio decomunicao:

    [a comunicao um] processo que ocorre entre pessoas dotadas de

    razo e de liberdade, entre si relacionadas pelo fato de fazerem parte,

    no do mundo natural, com as suas regras brutais e os seus mecanis-

    mos automticos, mas pelo fato de pertencerem a um mesmo mundo

    cultural. (...) [A comunicao um] processo dotado de relativa previsibi-

    lidade. Da previsibilidade do processo comunicacional depende um dos

    seus princpios fundamentais, o da intercompreenso. (...) Os processos

    comunicacionais so dotados de valores que pem em jogo as prefe-

    rncias, as opes, os desejos, os amores e os dios, os projetos, asestratgias dos intervenientes na intercompreenso e na interao. (...).

    A comunicao no um produto, mas um processo de troca simblica

    generalizada, processo de que se alimenta a sociabilidade, que gera os

    laos sociais que estabelecemos com os outros, sobrepondo-se s rela-

    es naturais que mantemos com o meio ambiente (p. 21-2).

    A ideia de troca simblica concebida por Rodrigues similar propos-ta por Marcel Mauss em seu famoso Ensaio sobre a Ddiva. Para Mauss, atroca um fato social total (em conformidade com o conceito do tio, o socilo-go mile Durkheim), ou seja, ela ocorre como fato social total quando a totali-

    dade do social est presente nela, ou ainda, quando o fato puramente social,no podendo se dar na instncia do estritamente individual. Sob essa tica, acomunicao tambm um fato social total, pois tende a ocorrer na esfera dosocial (ainda que possamos falar de comunicao intrapessoal, obviamente).

    Para Mauss, a ddiva um fato social baseado numa trade: dar, rece-ber e retribuir (objetos materiais ou simblicos), criando laos sociais entre osagentes envolvidos. Desse ponto de vista a ddiva um processo de modupla desigual, pois quem d, pode receber, mas quem recebe o objeto daddiva, deve retribuir sempre. Est em vantagem, portanto, quem d, criandouma obrigao exclusivamente para quem deve retribuir. Mesmo que o rece-

    bedor no queira entrar no sistema da ddiva, ele j est nele ao receber,e mesmo que se recuse a receber ou a retribuir. Ou seja: o que est em jogoaqui so a honra e o prestgio (de dar ou de retribuir).

    Tal fato facilmente vericvel no nosso dia a dia: basta que pensemosem algum que estica a mo para cumprimentar uma segunda pessoa; esta, porsua vez, est virtualmente impossibilitada de participar de tal interao, pois foi

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    Isso implica uma desigualdade sob uma dupla tica: o emissor detm tantoa informao quanto os meios de transmisso dessa informao; o receptor, porsua vez, nem possui a informao, nem os meios de retransmisso dessa infor-mao, apenas os meios de recepo (veculos impressos, TV, rdio, equivoca-

    damente chamados por alguns mais distrados de meios de comunicao).Ao mesmo tempo, a aceitao dessa noo do processo de comunica-

    o como transmisso da informaono fez mais do que, em determinadascondies, reforar determinadas prticas pedaggicas com a diferena deque, nessa rea, a informao substituda pelo conhecimento. O pedago-go brasileiro Paulo Freire, ainda em ns dos anos 1960, j havia denominado(e denunciado) essa prtica da concepo bancria, ou seja: por um lado,ela uma prtica voltada exclusivamente para a transferncia de conheci-mentos, cuja responsabilidade ca nas mos do educador; por outro lado, uma prtica que ignora os saberes do educando em sala de aula: na viso

    bancria da educao, o saber uma doao dos que se julgam sbios aosque julgam nada saber (...). A rigidez destas posies nega a educao e oconhecimento como processos de busca (FREIRE, 2012, p. 81).

    Voltemos noo de interao. O que isso quer dizer, na prtica? Vimosque a comunicao um processo de troca e que, conforme a viso de Mauss,ela pode implicar na obrigao ou no de retribuio. Mas esse processo podeno se encerrar nesse triplo movimento (dar, receber e retribuir); na verdade,poderamos dizer que o mais comum que o processo comunicativo seja con-tinuado, at que se cesse a interao entre os dois agentes sociais. Alm disso,podem existir mais pessoas envolvidas num processo comunicativo; nem sem-pre essa uma relao que envolve apenas duas pessoas.

    Essa viso de comunicao foichamada de orquestral por Winkin(1984), a partir das vises de processosculturais de autores to distintos quanto olinguista suo Ferdinand de Saussure, oantroplogo francs Claude Levi-Straussou o antroplogo ingls Edmund Leach.Em termos gerais, o que Winkin conside-ra o fato de que a comunicao umprocesso do qual as pessoas participam,direta ou indiretamente, e no que elassejam apenas pontos de partida ou dechegada de uma mensagem. nessesentido que Winkin diferencia entre a vi-so telegrca e a viso orquestral dosmodos de se conceber a comunicao.

    MarkStivers

    Figura 6 Charge aludindo ao processo de comunicao

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    de no comportamento. Assim, se nosso comportamento pode ser percebi-do como uma forma de nos comunicarmos com os outros, atravs de nossasaes, isso implica que a no-comunicao tambm no existe. Ou, para dizercomo os autores propem: no se pode no comunicar. Birdwhistell, por sua

    vez, fala que nunca no ocorre nada.Essa viso sobre a comunicao como algo impossvel de no ocorrer

    nos permite olhar certos fatos sob uma tica diferente: se uma pessoa pedeuma informao a outra, e esta no responde, na verdade ela j est respon-dendo, algo como: no quero falar com voc, no entendi o que voc falou,ignoro sua presena etc. Ou seja: a ausncia de resposta uma forma deresposta. No responder se torna, simultaneamente, uma forma de comporta-mento e uma forma de comunicao interacional.

    Watzlawick encontrava esse problema em alguns esquizofrnicos, quetentavam no se comunicar, cando parados ou se encolhendo (ou seja, nose comportando), mas fracassavam em sua tentativa, pois as pessoas tendema se aproximar e a buscar se comunicarem (pois elas interpretavam que o es-quizofrnico, daquele modo, comunicava algo: que ele precisava de ajuda).

    Por conta desse duplo modo de se pronunciar (atravs da comuni-cao e do comportamento), pode-se falar que h uma dupla comunicaoem jogo: uma ligada ao contedo verbal e outra ligada ao comportamentodo indivduo. Dissemos que a pragmtica se interessa pelos modos como ossujeitos so afetados pelos sinais que constituem as mensagens; na prtica,porm, o fato que os sujeitos so afetados tanto pela mensagem quantopela forma como esses sinais so transmitidos.

    Por exemplo: um pedido de copo de gua, a algum, pode ser umasimples solicitao, se o tom de voz for calmo e o corpo expressar tranquili-dade, ou uma ordem, se o tom de voz for spero e se os gestos forem rudes.Autores como Bateson, Birdwhistell e Watzlawick ponderam que, na verdade,qualquer mensagem traz duasmensagens embutidas: uma que referente aoprprio contedo textual (verbal) e outra que referente maneira (comporta-mental) como o agente social se expressa.

    Assim, toda mensagem teria um contedo (verbal) e expressaria uma rela-o (entre os sujeitos). Se a maneira como a mensagem deve ser entendida em

    parte determinada pela relao, Bateson, Birdwhistell e Watzlawick armam queesta , na verdade, uma comunicao sobre a comunicao. Em outros termos:ela uma metacomunicao.

    A partir desse olhar, e se consideramos a comunicao como um pro-cesso que integra as mensagens verbais (escritas, orais) e as mensagensno-verbais, que so percebidas atravs do comportamento (gestos, tons devoz, postura corporal etc.), devemos considerar tambm que essas mensa-gens podem no signicara mesma coisa.

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    Dizendo de outro modo: uma mensagem verbal pode ser contradita poruma mensagem no-verbal e vice-versa. Os exemplos desse tipo de situaoso ilimitados em nosso cotidiano: um pai que, sorrindo, tenta dar uma broncano lho pequeno; uma pessoa que diz eu te amo para outra sem demonstrar

    a menor passionalidade; o funcionrio mal-humorado de uma empresa emcujo uniforme podemos ler a frase estamos contentes em atender voc.

    Em todos esses casos, tendemos a estar diante de um paradoxo co-municacional, no qual as mensagens comunicacionais (relao e contedo)apontam para signicaes geralmente opostas.

    Daniel Bougnoux (1994) aponta para o fato de que esses paradoxos somais comuns do que imaginamos. O exemplo do autor um anncio publicitriocontra a AIDS, divulgado na Frana nos anos 1990, que solicitava verbalmenteaos seus destinatrios que evitassem a prtica sexual, mas, ao mesmo tempo,mostrava imagens de um casal transando.

    Poderamos dizer que o texto verbal apontava para uma negatividade eo texto visual para uma positividade. Isso nos remete clebre discusso deSigmund Freud (data) sobre a falta de negao nos sonhos, que deve ser in-terpretada nos seguintes termos: se dizemos Joo no est mais na cadeira,ca claro o carter negativo da expresso; porm, se trocarmos o enunciadoverbal por uma imagem (fotografada ou desenhada) de uma cadeira vazia, oenunciado visual que teremos uma cadeira vazia ou uma cadeira ou umacadeira de estilo campestre ou outras possibilidades descritivas, mas dicil-mente olharemos para a imagem e pensaremos Joo no est mais na cadei-ra (anal, Joo no est presente na imagem).

    Mesmo que coloquemos Joo ao lado da cadeira, tenderemos a pensarJoo est ao lado da cadeira ou Joo est em p ao lado da cadeira ou (nova-mente) outras possibilidades descritivas, mas dicilmente uma delas ser Joono est mais na cadeira (pois a imagem no pode nos mostrar se ele estavaantesna cadeira). Ainda no mesmo exemplo: imaginemos agora que algum lmaJoo saindo da cadeira. A tendncia, ainda assim, de criar um enunciado posi-tivo: Joo se levanta da cadeira, Joo est saindo da cadeira ou algo similar.

    Esse um problema clssico da Psicanlise, conforme lembra Boug-noux: como negar algo sem que esse algo esteja presente no enunciado?

    Se dissermos proibido fumar, o termo fumar est presente na expresso.Existe at uma velha brincadeira em que algum manda as pessoas fecharemos olhos e, de repente, ela diz: no pensem na cor azul!. O resultado, obvia-mente, a cor azul vindo nossa mente.

    Um outro exemplo, comum em certas emissoras de TV: vez por outra(infelizmente) ocorrem brigas entre torcidas de times de futebol ditos rivais(nos estdios ou nas imediaes). comum vermos na TV os comentaristas,

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    Figura 8 Zonas de distncia interpessoal, segundo Edward Hall

    Em suma, a comunicao um processo que mobiliza, simultanea-mente, tudo aquilo que falamos e fazemos.

    3. A comunicao de massa como simulao de trocasimblica

    As noes de comunicao e de comunicao de massa no podem sertomadas como equivalentes.

    A comunicao da massa comea a se efetivar ainda em ns do s-culo XIX, atravs de novas possibilidades derivadas do advento do cinema edas histrias em quadrinhos. A inveno da mquina de imprensa por JohannGutenberg, nos anos 1440, seria fundamental em dois aspectos: um deles

    o processo de mecanizao da produo de livros e demais impressos, tor-nada mais acelerada do que seus antecessores (como a xilograa); o outro a maior possibilidade de difuso das informaes e sistemas de pensamentoao longo do espao.

    Ou seja: a comunicao de massa comea a vencer, ao mesmo, o tem-po (os processos de produo se aceleram) e o espao (os produtos dela

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    sentes as guras do eu e do tu, bem como das ideias e vises de mundoque cada um oferta no processo comunicativo. Alm disso, esses eu e tuso dotados de reversibilidade, ou seja, podem trocar de lugar. A dialogia sedistingue da monologia, ou seja, o resultado do processo do monlogo, onde

    eu e tu ocupam a mesma posio.Mas preciso ter em mente que nem sempre a presena de um dilogo

    implica a presena de uma dialogia. H diversas situaes nas quais, apesar determos dois ou mais agentes sociais no processo interativo, de fato h um ver-dadeiro monlogo. Retornemos rapidamente a Bateson, agora para falar sobrea cismognese, ou seja, sobre a gnese de um cisma (diviso) no interior de umsistema social; esse conceito nos ajudar a entender aonde queremos chegar.

    Segundo Bateson, essas formas de diviso social podem ser de duasordens. A primeira delas a diferenciao simtrica: podem se inscrever nes-sa categoria todos os casos nos quais os indivduos de dois grupos A e B tmas mesmas aspiraes e os mesmos modelos de comportamento, mas se di-ferenciam pela orientao desses modelos (BATESON, 1977, p. 98). Existemvrios exemplos clssicos de relaes simtricas: dois times que disputamuma partida esportiva ou dois exrcitos que disputam um territrio.

    Ou seja: todos os indivduos tm as mesmas aspiraes (vencer ou con-quistar) e os mesmos modelos de comportamento, mas diferenciados, dentro decada universo social (atacantes e defensores ou capites, sargentos, soldados).

    A outra forma de diferenciao proposta por Bateson a diferencia-o complementar:nessa categoria estaro inscritos todos os casos onde o

    comportamento e a aspiraes dos membros dos dois grupos so fundamen-talmente diferentes (BATESON, 1977, p. 99). Aqui tambm existem vriosexemplos de relaes sociais complementares: pais e lhos, patres e em-pregados, professores e alunos, exibicionistas e voyeuristas, sdicos e ma-soquistas. Ou seja: tanto o comportamento quanto as aspiraes dos agentessociais envolvidos no processo interacional so completamente distintos. Emsuma, se A e B so sujeitos, ento:

    relao simtrica: A = B

    relao complementar: A > B ou A < B

    Assim, por isso que um atleta pode deixar uma equipe para defender

    outra, por exemplo; por outro lado, na relao complementar, os agentes nopodem trocar seus papis sociais. Mas, em ambos os casos, ressalta Bate-son, tanto uma quanto outra forma de diferenciao podem progredir rumo auma escalada de descontrole e violncia se no houver regras limitantes sprticas de cada sujeito.

    Assim, de um lado, o esporte tem regras a serem seguidas e existe(em tese) um controle contra a corrida armamentista; de outro, as relaes

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    Alm disso, Vern percebe (na Argentina) que a oposio entre essasduas posturas ideolgico-pedaggicas era maior nos primeiros ciclos do quenos demais, posteriores. Ou seja: medida que os graus escolares avanam,h uma tendncia maior ao uso de livros que favorecem a uma relao com-

    plementar, na medida em que eles so menos ldicos e narrativos e maistcnicos, didticos e imperativos (no sentido que ordenam).

    As ideias de Vern se aproximam bastante das consideraes de PauloFreire; este, ao discorrer sobre a dialogicidade, lembra que a educao autnti-ca (...) no se faz de A para B ou de A sobre B [como na concepo bancria deeducao], mas de AcomB, mediatizados pelo mundo (FREIRE, 2012, p. 116.Grifo no original). Assim, a concepo dialgica e simtrica de educao se dife-rencia da (podemos dizer: se confronta coma) concepo pedaggica bancria,que seria monolgica (antidialgica, diria Freire) e complementar.

    Um adendo: em Extenso ou Comunicao?, Paulo Freire se refere aosobjetos cognoscveis como mediadores entre os homens, enquanto em Peda-

    gogia do Oprimidoessa mediatizao seria prpria do mundo (a inclusos osobjetos cognoscveis). De todo o modo, o mais importante aqui a noo demediatizao: para Freire, so os objetos ou o mundo que os sujeitos cognos-centes buscam conhecer.

    Uma vez que no possvel esgotar o objeto ou o mundo, tampouco darconta deles com um s olhar ou um s ponto de vista, monologicamente, pre-ciso criar as condies de conhecimento sobre esse objeto ou sobre o mundo.E as condies de criao desse conhecimento somente podem decorrer deuma situao dialgica.

    Assim, podemos estabelecer as diferenas centrais entre comunicaoe informao a partir das seguintes denies: a comunicao deve ser vistacomo umprocesso, de troca simblica, enquanto a informao deve ser vistacomo umproduto, a mensagem a ser transmitida a algum. Ao mesmo tem-po, a comunicao tende a ser um processo dialgico, bilateral, enquanto ainformao um produto cuja transmisso se pretende (por parte do emissor)monolgica e unilateral. Mas h dois detalhes importantes:

    1. possvel que um processo comunicacional seja monolgico, quandodesconsidera a possibilidade de permutao dos papis sociais dos agen-

    tes participantes da interao, ainda que parea dialgico apenas pelo fatode contar com dois ou mais indivduos; e

    2. Sempre h a possibilidade de reversibilidade da informao num processocomunicacional; a essa reversibilidade da informao, de volta ao emis-sor, chamamos feedback. Essa reversibilidade faz parte dos processoscomunicacionais.

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    Como j vimos, no devemos denominar as tecnologias como sendo ex-clusivamente produtos eletroeletrnicos, mas dentro de um concepo maior(como o osso do lme 2001de Stanley Kubrick ou a escrita do lme Central doBrasil,de Walter Salles). Uma tecnologia uma interveno na natureza que

    implica tambm, e consequentemente, um redesenho social (desde que elaseja incorporada ao conjunto das prticas cotidianas de um dado grupo social).Isso ca mais claro quando abordamos as tecnologias mediticas.

    No comeo, nossos ancestrais milenares no faziam uso das tcnicas de co-municao que utilizamos hoje, o que no signica que eles no se comunicavam.O mais provvel que eles zessem uso de sons estritamente vocais (grunhidos,gritos, urros e similares) usando, ao mesmo tempo, gestos indicativos para apontarpara determinados seres e objetos, com valor informativo similar ao das setas.

    Posteriormente, com a possibilidade de criarem imagens e sinais em ca-vernas, criaram-se as condies de armazenamento das informaes, surgindoassim uma espcie de memria. Ainda que muitos ponderem que os primeirosgrasmos tenham a ver com alguma forma de representao do real, AndrLeroi-Gourhan (1985) sustenta que esses grasmos, de carter mais rtmico,buscam fazer representaes do abstrato, como (talvez) a contabilidade dacaa, congurando formas de arte pr-histrica.

    As guras mais antigas que se conhecem no representam cenas decaa, animais a morrer ou cenas de famlia. So smbolos grcos sem ligaodescritiva, suporte de um contexto oral irremediavelmente perdido (LEROI-GOU-RHAN, 1985, p. 191). Ou seja: de algum modo, as imagens possibilitavam umaoutra forma de comunicao (ainda que no possamos recuperar seus registros).

    O desenvolvimento da escrita e sua inscrio em determinados supor-tes (areia e lousa materiais que podiam ser apagados e reutilizados , tbuasde argila, papiros, pergaminhos etc.), at a Idade Mdia, signicavam apenasque esses artefatos eram auxiliares da memria, como se fossem pequenoslembretes, conforme armam, dentre outros, Walter Ong, Eric Havelock e Da-vid Olson (HAVELOCK, 1996; ONG, 1998; OLSON, 1997).

    Sob essa tica, esses suportes podem ser considerados os antecesso-res das chas de anotao (usadas por professores e apresentadores de TV),dos recursos audiovisuais (ou seja, de softwares como Power Point, Keynote

    e similares) e dos equipamentos eltricos e eletrnicos (projetores de ima-gens, tablets), uma vez que eles servem como auxiliares da memria e dafala, e no como substitutos de ambas.

    Por outro lado, o pesquisador e jesuta francs Marcel Jousse (2008)ressalta a importncia de outros elementos como auxiliares dos processos dememorizao de textos orais entre algumas culturas, como o ritmo, os gestos,a respirao e a simetria bilateral do corpo humano.

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    a) Verbal (escrita)

    b) Visual (corporal, gestual, grca e/ou imagtica, xa ou em movimento)

    c) Sonora (oral, musical)

    Consideramos apenas essas trs formas de expresso porque (ao me-nos at o momento) ainda no dispomos de tcnicas de comunicao ou deinformao que simulem ou representem os outros sentidos (gustativo, tctile olfativo, no caso). Assim, podemos considerar todas as tecnologias mediti-cas como meios e/ou suportes que fazem uso articulado e combinado dessastrs formas de expresso.

    Pensemos numa enciclopdia multimedia: nela, teremos uma descrioverbal de algum referente (um leo, por exemplo), suas imagens (fotogrcas,lmadas e/ou desenhadas, animadas ou no) e os sons que ele produz (rugidos).

    Ter essa noo em mente nos permite comear a perceber os meios de

    forma diferente. Por exemplo: o senso comum tende a falar no jornal impressocomo um meio verbal; porm, em suas pginas, temos recursos visuais,como imagens (fotograas, desenhos, infograas) e a prpria disposio es-pacial dos elementos (manchetes, textos, fotos, anncios publicitrios etc.)em uma pgina. Assim, mesmo um texto verbal tambm visual; basta pen-sar que diferenciamos uma manchete jornalstica de uma pequena notcia nom da pgina em termos de localizao (cima x baixo) e de tamanho (letrasgrandes x letras pequenas).

    Outro exemplo: o senso comum tende a falar no cinema, na TV e nasanimaes como exemplos de linguagem visual. Na verdade, porm, essas

    produes so audiovisuais, ou seja, contam com som tambm (vozes, m-sicas incidentais, rudos e sons ambiente). Para quem tem alguma dvida,basta eliminar o volume durante uma novela, lme ou desenho sonoros (semusar a funo closed caption) e car assistindo apenas s imagens para tentarcompreender a narrativa ou a transmisso. Alm disso, elas fazem uso detextos verbais escritos (nome da produo, crditos etc.).

    Assim, trabalhar com tcnicas de informao e de comunicao pres-supe a compreenso de quando, como e por que fazer uso dessas formastcnicas de expresso (verbal, visual e sonora). A partir de agora, vamos ana-lisar as caractersticas e particularidades de cada uma dessas formas de lin-

    guagem, a m de melhor compreender as suas nalidades e potencialidadesdentro das diferentes formas de expresso humana.

    3. Matrizes da linguagem: som, imagem e texto

    Nesse tpico, iremos discutir algumas das caractersticas centrais de cadauma dessas matrizes da linguagem.

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    Reeve no cinema ao ouvir a trilha sonora do lme homnimo, composta porJohn Williams) ou mesmo a um lme todo (como a trilha de Bernard Herrmannpara Psicose, de Alfred Hitchcock).

    No primeiro caso, temos o que se chama de trilha incidental; no segundo,trilha sonora ou trilha musical. Assim, podemos dizer que uma dada passagemmusical (uma msica, uma vinheta, os primeiros acordes de uma cano, umrefro etc.) tem por funo a identicaode uma personagem, na medida emque ele funciona como uma espcie de logomarca sonora.

    importante tambm considerar que, no caso da animao, existem oscasos de mickeymousing, ou seja, uma sequncia musical que acompanhaa ao (andar, correr, lutar) das personagens (muito comum nos antigos de-senhos animados da Disney e da Hanna-Barbera, por exemplo). Neste caso,a msica empresta uma outra dinmica ao mostrada visualmente.

    Passemos imagem, termo bastante polissmico, uma vez que seuuso se dirige a vrios signicados distintos (desenhos, fotograas, imagenscientcas, cinema, produtos televisivos, HQs, pinturas etc.) e tambm a v-rias manifestaes materiais e temporais distintas (as imagens podem serfeitas mo, capturadas por mquinas fotogrcas, lmadas, produzidas di-gitalmente, do ponto de vista material, e podem ser xas ou em movimento,do ponto de vista temporal). Inicialmente, iremos considerar como imagensapenas aquelas destitudas de complementos verbais (como as HQs ou oslivros ilustrados) ou sonoros (como os produtos audiovisuais).

    Para facilitar nossa discusso, vamos considerar aqui tambm o estatuto

    do verbal. Para isso, vamos rememorar algumas consideraes feitas pelo pes-quisador espanhol Romn Gubern e pelo pesquisador francs Guy Gauthier.Gubern (1987, p. 49 - 56) arma que as palavras tm forte carter de denomina-oe designao, ou seja, elas permitem a nomeao dos objetos no mundo,ao passo que as imagens permitem melhor descrio, alm da mostrao, dosobjetos fsicos no mundo ou, pelo menos, de suas caractersticas visveis.

    Em suma: as palavras tm forte carter indutivo (no sentido de desen-cadear uma conceitualizao ou representao, de objetos concretos ou abs-tratos), ao passo que as imagens tm forte carter ostensivo (no sentido derepresentar certas caractersticas ticas de algo ou algum). Ao mesmo tem-

    po, a palavra no tem como ser precisa em relao a certos elementos visuais(gradao de cores ou de tons, por exemplo). Isso introduz uma primeira eimportante distino entre o visual e o verbal:

    A imagem se presta a representar objetos concretos;

    A palavra se presta a representar objetos concretos e abstratos.

    Essa distino ca mais clara se tomarmos dois exemplos diferentes:

    gato x inao

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    existente entre os elementos que compunham estruturalmente a mensagemde um anncio de macarro por ele analisado. Ele lembrava que a mensagemlingustica mantm dois tipos de relao com a mensagem icnica (imagem): arelao de xao (denotativa e repressiva, pois poda a liberdade polissmica

    da imagem, tirando sua ambiguidade) e a funo de relais(onde palavra e ima-gem tm relao de complementaridade) (BARTHES: 1990, p. 31-4).

    Finalmente, em uma nota de rodap, Barthes fala sobre o princpio de so-lidariedade entre os termos de uma estrutura na qual, se um elemento muda, osdemais tambm mudam (BARTHES: 1990, p. 42). Em outros termos: na xao,o texto (como as legendas explicativas) d sentido imagem; no relais, texto eimagem tm ambos a mesma importncia (como nas charges e histrias em qua-drinhos). Ou seja: no primeiro caso, T (texto) > I (imagem); no segundo caso, T = I.

    Porm, percebe-se que Barthes no prope uma terceira categoriapara os termos T e I, na qual a imagem com funo de desambigualizar otexto, de ser mais importante do que o texto (portanto, I > T). O francs PaulLen (2008) retoma a proposta barthiana numa anlise de anncios publicit-rios e sugere essa terceira relao: o escoramento, no qual o texto, ambguo,depende da imagem para se tornar inteligvel (p. 232-3).

    A partir dessa relao de escoramento, Lon localiza seis funes pos-sveis da imagem publicitria em relao ao texto (que aparece incompleto,ambguo, sem referncia aparente etc.). Um exemplo nosso: um enunciadoverbal num anncio publicitrio no qual no conseguimos determinar quemfala (vamos l, Brasil!) necessita de uma imagem para sugerir o respons-vel pelo enunciado (uma foto com um grupo de pessoas vestidas como tor-cedores da seleo Brasileira de futebol, uma foto com um grupo de pessoasvestidas de trabalhadores etc.); aqui, a imagem tira a ambiguidade do textoverbal e diz quem est falando dentro do anncio.

    Assim, o que seria o sincretismo, no mbito das linguagens? Seria acaracterstica comum a vrios tipos de linguagem (como o cinema, as novelasde TV, a pera e as histrias em quadrinhos) onde existe a necessidade demobilizar vrios cdigos ao mesmo tempo. O cinema, como linguagem, fazuso de vrios cdigos e linguagens (som, textos verbais, imagens xas e/ouem movimento, luzes, edio) que tm todos a mesma importncia. Nessa

    viso sincrtica, a questo no apenas a obrigatoriedade do somatrio decdigos e linguagens, mas antes a impossibilidade de sua apartao.

    Peguemos como exemplo uma histria em quadrinhos. A princpio, secostuma dizer que ela o somatrio do texto verbal (dilogos, pensamentos)e das imagens (os contedos dos quadros). Porm, existem outros elementosimportantes na constituio de uma HQ, como a cor, a tipograa, o papel usa-do para a impresso, a distribuio dos quadros na pgina etc.

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    Vamos nos deter mais na cor e na tipograa. Sobre a cor, devemoslembrar que h vrios modos de colorir uma HQ: 100% preto e branco, comuso de variaes de cinza (chamadas na rea grca degrises), atravs debicromia (duas cores), tricromia (trs) ou policromia (quatro, as quais geram

    todas as demais cores). Essa colorizao, por sua vez, pode se basear emvrias outras inuncias visuais (pop art, cinema noir etc.).

    A alterao desses modos de colorizao altera em parte o estatuto dahistria: as novas geraes tendem a perceber todo e qualquer lme em pretoe branco como algo antigo vide O Artista, de Michel Hazanavicius; poroutro lado, as antigas geraes percebem como um pecado a colorizaode lmes em preto e branco, como as comdias O Gordo e o Magroou osclssicos cinematogrcos dos anos 1940.

    A tipograa outro elemento importante nas HQs. Ela no simples-mente a transcrio verbal da fala ou pensamento de uma personagem, mastambm das emoes ou at mesmo da origem ou identidade da personagem.

    Assim, comum termos dilogos fazendo uso de variaes dentro deuma mesma famlia tipogrca (espessura, tamanho, inclinao) ou usandodiferentes famlias tipogrcas; no primeiro caso, podemos dar como exem-plo o Cebolinha (Maurcio de Souza Produes); no segundo caso, o pode-roso Thor e todos os demais asgardianos (Marvel Comics) e as persona-gens de Sandman(Neil Gaiman). Alm disso, devemos considerar a prpriaforma do balo de fala, que tambm pode denotar sentimentos ou identidadedas personagens.

    O que tudo isso implica? Que a feitura de um texto que mobiliza diversoscdigos e linguagens deve ser pensado em funo de todos esses elementosarticulados, uma vez que qualquer alterao num deles modica em parte, oumesmo no todo, o texto em questo. Parafraseando livremente Barthes: oscdigos e linguagens so solidrios entre si nos textos sincrticos14.

    No prximo captulo, vamos nos dedicar s matrizes da linguagem ea algumas das combinaes delas resultantes, a m de melhor perceber opotencial dos diferentes suportes e meios em sala de aula.

    Atividades de avaliao

    1.Pesquise sobre inventos cujos usos se tornaram bem diferentes de suasnalidades pensadas originariamente.

    2. Preste ateno aos suportes de apoio memria em uma sala de aula.Quais so os mais usados? Como so usados? Avalie seus usos.

    14O campo que buscaestudar o universo daintegrao das linguagen chamado de semiticasincrtica.O conceito de

    sincretismo tem comoponto de partida as ideiado linguista dinamarqusLouis Hjelmslev nagramtica tradicional,alm da discussosobre os fenmenos deneutralizao na fonologmoderna; posteriormenteo linguista lituano AlgirdaJulien Greimas vaiestabelecer o sincretismna semitica em dois

    nveis. Para mais detalhever a coletnea Linguagena Comunicao

    desenvolvimentos de

    semitica sincrtica, de AClaudia de Oliveira e LucTeixeira (organizadoras),2009.

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    OLSON, David. O mundo no papel - as implicaes conceituais e cognitivasda leitura e da escrita. So Paulo: tica, 1997.

    ONG, Walter. Oralidade e cultura escrita - a tecnologizao da palavra.Campinas: Papirus, 1998.

    PEIRCE, Charles Sanders. Semitica.So Paulo: Perspectiva, 1995.

    SANTAELLA, Lucia. Matrizes da linguagem e do pensamento sonora vi-sual verbal. 3. ed., So Paulo: Iluminuras/FAPESP, 2005.

    SANTAELLA, Lucia. Semitica aplicada.So Paulo: Pioneira ThomsonLearning, 2007.

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    Ricardo Jorge de Lucena Lucas e Felipe Lima Rodrigues72

    1. De qual material de apoio disponho para realizar uma dada atividade?Infelizmente, os aspectos materiais so fundamentais na maior parte dos ca-sos, e a realidade das escolas brasileiras ainda bastante diferenciada (parano dizermos desigual) em termos de equipamentos e suportes tecnol-

    gicos. E, mesmo que uma escola tenha um computador, isso pode noser suciente (conforme veremos ao longo deste captulo, vrias atividadespodem requerer outros perifricos, equipamentos e placas especcas).

    2. Que tipo de material meditico usar?A resposta a essa questo depende,em parte, da resposta da pergunta anterior: fazer uma realizao audiovisu-al vai depender das condies materiais existentes na escola, por exemplo.Por outro lado, nada impede o uso de produtos mediticos em sala de aulapara outras atividades. Assim, um professor pode utilizar msica para falarsobre diferentes disciplinas (ver, por exemplo, FERREIRA, 2010) ainda queno disponha de recursos sonoros para realizar gravaes com os alunos,

    como podemos perceber nessa discusso em outros autores (por exem-plo, MARCONDES, MENEZES & TOSHIMITSU, 2000; SETTON, 2010).Ou poder usar recursos audiovisuais (programas de TV, lmes etc.) semnecessariamente ter as condies de produzi-los com os alunos (ver, porexemplo, BRANDO, 2011, e NAPOLITANO, 2008, 2010). A escola, emconsonncia com seu projeto pedaggico, quem dever decidir pelo me-lhor uso dos suportes e produtos mediticos em sala de aula.

    3. Qual a meta com a atividade? Cada uma das atividades aqui propostaspotencializa diferentes aspectos dos alunos (capacidade de expresso ver-bal, corporal, oral, escrita, artstica etc.). importante (a nosso ver) queos alunos busquem experimentar todas essas capacidades de expres-so. Defendemos que, a princpio, todos ns, quando crianas, falvamoscom certa espontaneidade (mesmo sem conhecimento da gramtica, dasintaxe, das concordncias etc.), fazamos desenhos (mesmo sem saberdesenhar), tentvamos escrever (mesmo sem saber escrever direito) etc.Infelizmente, medida que crescemos, a maior parte dessas atividadesvai cando de lado; muitos passam a car tmidos ao terem de falar diantede um grupo de pessoas, desaprendem a desenhar ou mesmo tememescrever. A prtica dessas atividades pode tanto auxiliar na manutenoe aprofundamento d