informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida · paola troccoli analista de comunicação...

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Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida 1 Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida SÃO PAULO, JANEIRO 2012 EDIÇÕES ESPECIAIS SAÚDE VOLUME IV

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Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida 1

Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida

S Ã O P A U L O , J A N E I R O 2 0 1 2

E D I Ç Õ E S E S P E C I A I S S A Ú D E

V O L U M E I V

2

S U P E R V I S Ã O

Antônio BrittoPresidente-Executivo

C O O R D E N A Ç Ã O - G E R A L

Octávio NunesDiretor de Comunicação Institucional

Missieli RostichelliAnalista de Comunicação

Tel.: (55 11) 5180 3476

[email protected]

Paola TroccoliAnalista de Comunicação

Tel.: (55 11) 5180 3477

[email protected] S S E S S O R I A D E I M P R E N S A

Burson-Marsteller

Selma Hirai

Tel.: (55 11) 3040 2403 (Burson-Marsteller)

Tel.: (55 11) 5180 3478 (Interfarma)

[email protected]

P R O J E T O E D I T O R I A L

Nebraska Composição Gráfica

E D I Ç Ã O

Iolanda Nascimento – Mtb 20 322

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Verônica Rita Zanatta – Mtb 31 538

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70.000 exemplares

I M A G E N S

Banco de imagens Interfarma

S O B R E A I N T E R F A R M A

Interfarma – Associação da Indústria Farmacêutica de

Pesquisa

A Interfarma é uma entidade setorial, sem fins lucrativos,

que representa empresas e pesquisadores nacionais ou

estrangeiros responsáveis por promover e incentivar

o desenvolvimento da indústria de pesquisa científica

e tecnológica no Brasil voltada para a produção de

insumos farmacêuticos, matérias-primas, medicamentos

e produtos para a saúde.

Fundada em 1990, a Interfarma possui atualmente 42

instituições associadas que juntas somam 1.389 anos

de presença no Brasil. Hoje, esses laboratórios são

responsáveis pela venda, no canal farmácia, de 78% dos

medicamentos de referência do mercado e também

por 43% dos genéricos produzidos por empresas que

passaram a ser controladas pelos laboratórios associados.

A Interfarma defende a pesquisa e a inovação como

fatores de desenvolvimento econômico e a ética

como princípio fundamental de suas atividades. A

entidade estimula o debate sobre temas de interesse

da sociedade como pesquisa clínica, acesso e

financiamento à saúde, combate à informalidade,

biotecnologia e sistema regulatório.

Dentre as ações institucionais da entidade estão

a interação e o estreitamento das relações com os

diversos agentes, por meio de um diálogo franco e

aberto, especialmente com autoridades da área de

saúde, lideranças do setor, formadores de opinião e

outros públicos que possam auxiliar na construção

de um novo cenário para a saúde, tendo como

principais objetivos ampliar o acesso e fortalecer a

inovação no Brasil.

Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida 3

Nosso caráter é o resultado da nossa conduta A R I S T Ó T E L E S

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Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida 5

Apresentação

As apreensões de produtos falsos, contrabandeados e pi-

rateados triplicaram nos últimos seis anos em valor, pas-

sando de R$ 452 milhões em 2004 para R$ 1,27 bilhão

em 2010, conforme os dados mais recentes divulgados,

pelo Ministério da Justiça. Essas estatísticas mostram

que há uma atuação mais eficiente do País no combate

à informalidade. Porém, revelam também que há ainda

muito a ser feito, pois esse mercado movimenta mais

de um terço da renda bruta nacional por ano adicional-

mente, de acordo com os especialistas, causando graves

prejuízos para a economia formal.

Quanto mais o mercado informal é alimentado menos

impostos são arrecadados e a sociedade deixa de usu-

fruir os benefícios que esses recursos poderiam propor-

cionar. Quanto mais informal é uma economia, mais

trabalhadores terão seus direitos ignorados e menores

serão os investimentos das empresas formais, menos

competitivas nesse cenário. Quanto maior a participação

da informalidade na economia, maior será o poder dos

criminosos, sejam nacionais, sejam internacionais, que

movimentam esse mercado paralelo, que ignora as leis,

os padrões de qualidade, a propriedade intelectual e os

direitos dos consumidores.

Na área da saúde pública, a informalidade não é tradu-

zida apenas em números econômicos, mas em vidas. A

falsificação, o roubo e o contrabando de medicamentos,

bem como a venda de remédios sem registros, entre ou-

tros crimes, têm sido alvos preferenciais de especialistas

que dominam a economia informal. O crescente merca-

do brasileiro de medicamentos aliado a uma demanda

de acesso à saúde ainda bastante reprimida são um terre-

Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida 5

no atrativo e fértil para a atuação dos que agem visando

apenas o lucro fácil e estão cada vez mais equipados e

sofisticados.

Nessa publicação, a Interfarma, associação que reúne a

Indústria Farmacêutica de Pesquisa, traça esse cenário

para ampliar a discussão sobre os males causados à po-

pulação brasileira pela informalidade na área da saúde.

Nesse contexto, a Interfarma também organizou o semi-

nário “A Informalidade e seus Impactos na Sociedade”,

em parceria com o jornal O Globo. O evento reuniu

representantes de órgãos públicos e da sociedade civil e

faz parte, assim como essa publicação, de uma extensa

agenda institucional, que visa debater os principais pro-

blemas da saúde pública brasileira e as maneiras mais

eficazes e eficientes para combatê-los.

Todos nós sabemos que a informalidade é um proble-

ma global, afetando, em maior ou menor escala, todos

os países, sejam pobres, sejam ricos ou em desenvolvi-

mento, como o Brasil. Mas os grupos especializados que

movimentam esse mercado não têm pátria. Por isso, a

informalidade só pode ser combatida com a união de

esforços e, principalmente, com a vontade e participação

de todos.

Eloi Bosio Antônio BrittoPresidente do Conselho Diretor Presidente-Executivo

6

Informalidade: alto custo à economia e risco à saúde públicaSão inegáveis os esforços empreendidos pelo Brasil nos

últimos anos para vencer algumas das barreiras que

impendem uma maior expansão da economia, mas há

ainda um longo caminho a ser trilhado e inúmeros obs-

táculos a serem removidos para que o País possa crescer

com sustentabilidade, ser mais produtivo e se tornar re-

almente competitivo nesse cenário econômico mundial

cada vez mais globalizado. “Vencer a barreira da infor-

malidade no setor da saúde nos seus mais variados tentá-

culos já tão arraigados na sociedade brasileira é uma das

ações mais urgentes, pois ela restringe a produtividade,

desestimula o investimento empresarial e coloca em sé-

rio risco a saúde da população brasileira, pois atinge for-

temente o setor de medicamentos”, diz Antônio Britto,

presidente-executivo da Interfarma.

Estima-se que a economia informal represente cerca de

40% da renda bruta nacional. O Ministro da Justiça, José

Eduardo Cardozo, acredita ser esse um número muito

elevado. “Porém, esse dado é uma referência”, afirma. O

mercado informal é composto por empresas, pessoas ou

grupos que operam parcial ou totalmente fora das leis,

sonegando impostos, ignorando qualidade e segurança

dos produtos e infringindo direitos trabalhistas e auto-

rais, entre outras ações de uma lista imensa que inclui

muitos crimes.

Um estudo da Federação do Comércio do Estado do

Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), denominado “Pirataria

no Brasil – Radiografia do Consumo”, projeta em cerca

de 70 milhões os consumidores brasileiros de produtos

falsificados. A análise compara dados de duas pesquisas

e indica avanço de 13,8 milhões de consumidores entre

a primeira, realizada em 2006, e o segundo estudo, de

2010. O consumo de produtos piratas “subiu em todas as

regiões do Brasil, com exceção do Norte/Centro-Oeste,

onde houve recuo de 54% (do total dos entrevistados),

em 2006, para 52%, em 2010. Há cinco anos, essas duas

regiões concentravam a maior parcela da população que

comprava produto pirata”, informa o estudo.

O consumidor e os canais de escoamento são, no entan-

to, o elo mais fraco dessa cadeia, acredita Edson Luiz

Vismona, presidente do Fórum Nacional Contra a Pira-

taria e Ilegalidade (FNCP), associação civil sem fins lu-

crativos formada por empresas, sindicatos e associações

e que visa articular a sociedade, no âmbito público e

privado, para combater a pirataria, falsificação, desca-

minho, contrabando, subfaturamento, sonegação fiscal

e práticas comerciais ilícitas. “Atrás disso tudo o que

encontramos, na maioria das vezes, são organizações

criminosas com estruturas sofisticadas, uma incrível lo-

gística, inclusive internacional, que desejam apenas o

lucro”, assegura Vismona.

“A pirataria acaba tendo ligações muito fortes com a in-

formalidade”, diz o Ministro Cardozo. Tanto do ponto

de vista financeiro quanto do econômico ou social, a

informalidade gera graves prejuízos à sociedade, enfa-

tiza. “Por isso, é necessário trazer aquilo que é saudável

para o campo da formalidade e, afastando o joio do trigo,

atacar frontalmente o mundo ilícito.” Segundo o minis-

tro, essa é uma preocupação permanente dos órgãos do

governo. Combater a informalidade, diz, significa atuar

nas duas pontas, ou seja, adotar medidas propositivas

que permitam que o mercado informal se transforme

em formal, ao mesmo tempo em que se ataca o ilícito. “É

especialmente nessa segunda parte a ênfase na atuação

do Ministério da Justiça.”

Nesse sentido, foi criado, no âmbito do Ministério da

Justiça, o Conselho Nacional de Combate à Pirataria e

Delitos contra a Propriedade Intelectual (CNCP), que

elabora o Plano Nacional de Combate à Pirataria e à

Sonegação Fiscal, composto por três vertentes: a repres-

siva visa conter a oferta de produtos piratas e falsifi-

cados; as medidas educativas são campanhas nacionais

de conscientização em torno dos males causados pela

pirataria e de capacitação de agentes públicos e, por fim,

a vertente econômica que formula estudos entre o setor

produtivo e o governo, para apontar alternativas para a

produção de produtos originais a preços mais populares.

“O primeiro plano foi concebido em 2005 e o atual é de

2008, com previsão de sua revisão para 2012”, explica

Paulo Abrão, secretário nacional de Justiça e presidente

do CNCP.

Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida 7

Difícil de ser medida e projetada, é possível apenas ter

uma ideia da magnitude da informalidade hoje e do seu

poder de corrosão a partir do crescimento nos últimos

anos de apreensões e prisões, realizadas por uma atu-

ação mais intensa da vigilância sanitária e dos órgãos

policiais, e do aumento da arrecadação de impostos no

mercado de medicamentos, desde a implantação, em al-

guns Estados, de instrumentos como a Substituição Tri-

butária e de mecanismos eletrônicos de emissão de notas

fiscais, como se verá adiante. Nessa área, os impactos

econômicos da atividade ilícita na economia brasileira

e no setor farmacêutico formal são expressivos, mas ela

atinge brutalmente e causa enormes prejuízos, sobretu-

do à saúde pública.

Seus tentáculos perigosos e hediondos, como contra-

bando, roubo e falsificação de medicamentos, além da

venda de remédios de baixa qualidade e sem registro,

têm um espaço fértil no País, um dos mais importan-

tes mercados farmacêuticos do mundo e o segundo que

mais cresce, o que atrai cada vez mais a atenção de crimi-

nosos e quadrilhas, sejam locais, sejam internacionais.

“Qualquer percentual nesse setor, por menor que ele

seja, é dramático quando coloca a saúde das pessoas em

risco”, afirma Antônio Britto, presidente-executivo da

Interfarma.

Conforme Abrão, o projeto de maior visibilidade do

CNCP é o “Cidade Livre de Pirataria”. Brasília, Curitiba

e São Paulo já aderiram ao projeto e criaram comitês

municipais de combate à pirataria. “Em São Paulo, desde

o fim do ano passado, 18 operações integradas da Polícia

Federal, Receita Federal e prefeitura nos locais mais em-

blemáticos na venda de produtos piratas e falsificados,

como a Galeria Pajé e a Rua 25 de março, resultaram em

25 milhões de produtos apreendidos e a extradição de 93

estrangeiros que estavam irregulares no Brasil. Em Bra-

sília, na área de software, já foram apreendidas mais de 7

milhões de mídias. No mês passado, capacitamos 1.400

policiais militares”, faz um balanço o secretário.

Na saúde, qualquer percentual pode ser fatalEntre os mais afetados pela informalidade, destacam-

-se setores grandes e, no entanto, pulverizados, como a

construção civil, processamento de alimentos (incluindo

carnes e lácteos), serviços, varejo, audiovisual, software e

farmacêutico. O estudo “Informalidade no Setor Farma-

cêutico: Barreira ao Crescimento da Economia Brasileira

e Risco à Saúde Pública”, do Etco – Instituto Brasileiro

de Ética Concorrencial –, que teve como consultores

a Mckinsey & Company e o escritório Pinheiro Neto

Advogados, avalia como alarmante o nível de informa-

lidade no mercado de medicamentos. Não à toa, como

indicam os números na tabela 1.

Realizado durante 2005, a partir da percepção de que

havia forte informalidade e irregularidades na cadeia

de medicamentos e ausência de dados para análise, o

diagnóstico impressiona até hoje, especialmente diante

da avaliação de que as melhoras ocorridas desde então

estão muito aquém do necessário. “Tivemos realmente

uma redução na evasão fiscal, no déficit de profissionais

farmacêuticos e no índice de emprego informal, mas

ainda subsiste um quadro muito sério”, diz o embaixador

Roberto Abdenur, presidente-executivo do Etco.

Tabela 1:

Nível de informalidade no mercado de medicamentos

Fonte: ETCO. Informalidade no setor farmacêutico. São Paulo: Etco, 2005.

Em média 23% de todos os impostos devidos são

sonegados, o que representa um rombo de R$ 2 bilhões a

3 bilhões ao ano nos cofres públicos.

Cerca de 40% da utilização da mão de obra no setor é

informal, o que signifi ca o não recolhimento entre R$ 530

milhões e R$ 850 milhões em encargos.

27% das vendas de medicamentos nas classes terapêuticas

pesquisadas (Amoxicilina, Diclofenaco Potássico,

Loratadina e Maleato de Enalapril) são feitas por meio

de troca ilegal de receita. Se considerado em termos

do mercado como um todo, isso corresponderia a um

montante de R$ 3 bilhões a R$ 4,5 bilhões em volume

fi nanceiro.

Défi cit de, pelo menos, 200% de farmacêuticos

capacitados para o trabalho em drogarias no País, o que é

imprescindível para que a regulamentação seja cumprida

nesses estabelecimentos.

8

O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância

Sanitária (Anvisa), Dirceu Barbano, diz que a institui-

ção tem uma área dedicada para, em conjunto com os

órgãos de repressão, identificar e combater esses crimes.

“Temos convênios com a Polícia Federal e a Polícia Ro-

doviária Federal e isso fez com que avançássemos muito

nessa área. É importante destacar que a fabricação e o

comércio de falsificados, clandestinos ou a venda de me-

dicamentos controlados sem receita são considerados

crime, por isso a atuação junto com os órgãos policiais é

tão fundamental. Destaco que neste caso estamos falan-

do de situações extremas.”

A Anvisa também está em constante intercâmbio com

agências sanitárias internacionais a fim de se manter

informada das irregularidades que ocorrem em outros

países e que podem, ocasionalmente, atingir também

o Brasil, diz Barbano. “Do lado do mercado formal e

regular, ou seja, daquelas empresas que atuam correta-

mente, a Anvisa tem mantido um diálogo permanente

para aprimorar as normas sanitárias e, ao mesmo tempo,

estimular o desenvolvimento do setor farmacêutico.” O

interesse da Agência é que as exigências sejam suficien-

tes para garantir medicamentos seguros e permitir que

o complexo produtivo da saúde se desenvolva e torne o

Brasil mais competitivo nessa área, completa o diretor-

-presidente da Anvisa.

O medicamento legalUm medicamento formal atende às regras previstas na

abundante legislação brasileira direcionadas para toda

a cadeia. “Para que um medicamento obtenha registro

na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)

e seja, portanto, considerado regular e de acordo com

a definição da Farmacopeia Brasileira, é necessário que

atenda às normas, que têm como objetivo a garantia da

qualidade do produto e a segurança da saúde do usuá-

rio, ou seja, da população”, explica o diretor-presidente

da Anvisa, Dirceu Barbano. Esse processo, prossegue, é

amplo e envolve diversos atores. “Temos os fabricantes

do insumo farmacêutico e do medicamento, o distribui-

dor, a armazenagem, a venda no varejo, os profissionais

de saúde que lidam com esses produtos e o consumidor.

Para cada elo dessa rede, existem normas para garan-

tir a segurança sanitária. Sem contar a pesquisa clínica,

que também é acompanhada pela Anvisa e serve como

base para o trabalho que torna possível a chegada de um

medicamento ao mercado.” A figura 1 mostra como um

medicamento legal chega ao consumidor.

Portanto, a informalidade no setor de medicamentos, ou

nas áreas sob regulação da Anvisa, ocorre quando pes-

soas, grupos ou empresas “atuam à margem das normas

relacionadas às exigências sanitárias de segurança”. “Mas

é preciso diferenciar informalidade, clandestinidade e

falsificação de medicamentos para não tratarmos de for-

ma igual irregularidades diferenciadas em seus níveis de

agravo. Um produto pode estar na informalidade porque

o fabricante não cumpriu alguma questão administrati-

va. Já um produto clandestino pode dar entrada no País

burlando a fiscalização sanitária e policial. Neste caso,

geralmente, trata-se de algum produto banido no país de

origem. No caso de medicamento falsificado, a questão

passa a ser tratada como crime hediondo. Imagine al-

guém sendo tratado para uma doença grave e o medica-

mento sem fazer efeito porque é falso. Isto é gravíssimo”,

afirma o diretor-presidente da Anvisa.

Barbano observa ainda que na ponta mais branda, por

exemplo, pode estar a falta de licenças sanitárias locais

e de Autorização de Funcionamento da Anvisa, que

também constituem uma informalidade, mas neste caso

trata-se de uma infração que se resolve no âmbito admi-

nistrativo. “Do ponto de vista da Anvisa, o essencial é

que todas as etapas da cadeia que levam o produto até o

usuário sejam feitas por entes que buscam o atendimen-

to das regras.”

Um problema globalA informalidade é um problema global e sua intensi-

dade varia de acordo com o grau de desenvolvimento

econômico-social de cada país e de acordo com decisões

políticas tomadas para reverter o quadro. O Brasil tem

avançado, ao realizar algumas reformas e ações seto-

riais. Hoje, há esforço no sentido de aparelhar melhor

o Estado para combater a evasão e de estimular empre-

endedores e pequenas empresas a buscar a formalidade,

Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida 9

Figura 1. Como um medicamento legal chega ao consumidor.

Fonte: ANVISA. Como um medicamento legal chega ao consumidor. Brasília: Anvisa, 2011.

Fase de teste do medicamento em humanos.

É dividia em Pesquisa Clínica de Fase 1, 2 e 3. A fase três é a

que reúne o maior número de voluntários, sendo a ultima

fase antes da apresentação do pedido de registro na Anvisa.

OBS: Existe a Pesquisa de Fase 4 que é o acompanhamento

que é feito já com o medicamento disponível no mercado.

É o trabalho chamado de Farmacovigilância e que ajuda

a identificar dados que não foram detectados nas fases

anteriores.

A Pesquisa Clínica só existe para medicamentos chamados

de inovadores, ou seja, que não tem equivalente no

mercado e que, portanto não dispõe de dados sobre sua

segurança e eficácia.

Pesquisa clínica

Após a Pesquisa Clínica, vem o pedido de registro do

medicamento na Anvisa. Nesta fase, a Agência avalia a

segurança e efi cácia do medicamento.

No caso de medicamentos genéricos ou similares o

trabalho começa no momento de registro, pois não se trata

de um medicamento inovador. A principal exigência para

os genéricos e similares são os estudos de bioequivalência

que vão demonstrar se o efeito do produto é igual ao

medicamento de referência.

Para todos os laboratórios, é exigida Autorização de

Funcionamento da Anvisa e Certifi cado de Boas Práticas

de Fabricação. Isso implica na realização de inspeções nos

laboratórios, seja no Brasil ou no exterior.

Registro

Com o registro em mãos, o laboratório pode colocar o

medicamento no mercado.

Como no Brasil temos regulação de preço de

medicamentos, o produto precisa ter seu preço máximo

aprovado pela Câmara de Regulação do Mercado de

Medicamentos, é uma câmara interministerial cujo trabalho

executivo é realizado pela Anvisa.

Nesta fase, entram todos os entes da cadeia produtiva:

Fornecedor de matéria-prima / laboratório produtor /

transportador / distribuidor / armagenagem / varejo. Para

cada uma dessas instâncias há regras específi cas voltadas

para manutenção da qualidade do produtos. Todos esses

entes precisam estar regularizados seja junto à Anvisa

ou à vigilância sanitária local. Exemplo: a farmácia tem

que ter Autorização da Anvisa e alvará sanitário emitido

localmente.

Algumas regras:

O registro de medicamento vale por cinco anos e deve ser

renovado na Anvisa no fi nal este período.

Dados de Farmacovigilância podem justifi car a revisão

do perfi l de segurança de um medicamento e levar a

mudanças em sua indicação ou até mesmo sua retirada

do mercado (é uma atividade dinâmica relacionada ao

conhecimento científi co).

O monitoramento de qualidade feito pelos produtores e

pelo sistema de vigilância pode levar ao recolhimento de

lotes específi cos que tenham algum desvio de qualidade.

Exemplo: produto com cor diferente do normal.

Pós mercado

enquadrando-as em sistemas de alíquotas de impostos

menores, como o Simples Nacional (regime especial

unificado de arrecadação de tributos e contribuições de-

vidos pelas microempresas e empresas de pequeno por-

te). Na área de medicamentos, o governo tem avançado,

particularmente, na guerra contra crimes, contrabando

e falsificação, como revelam os dados de apreensão dos

últimos anos. Há uma estratégia em andamento para

reunir esforços públicos e privados a fim de combater,

em especial, os tentáculos da informalidade que colo-

cam a vida das pessoas sob sério risco.

A própria criação, em 1999, da Anvisa surgiu da ne-

cessidade de regular e fiscalizar melhor esse mercado,

em razão de escândalos com medicamentos falsos que

10

marcaram os anos de 1997 e 1998, como o do Androcur,

indicado para câncer de próstata, um dos episódios mais

graves da história da saúde no Brasil: foram mais 1,1

milhão de comprimidos desse medicamento falsificados

– só continham placebo –, produzidos pela centenária

Botica Ao Veado d’Ouro (que fechou suas portas apenas

em 2008), de São Paulo, e pela Veafarm. Depois, foram

distribuídos e comercializados para pacientes, clínicas e,

inclusive, serviços públicos de saúde de diversos Estados

brasileiros, causando a morte de dezenas de pacientes. O

lote falso, o de número 351, desse medicamento gerou

um prejuízo de R$ 2,75 milhões à época – somente em

relação ao valor equivalente aos gastos com a compra

desse produto, conforme estimou o Ministério Público.

A “Crise de Falsificação de Medicamentos” no fim da

década de 1990 resultou na criação das leis 9677/98 e

9695/98. A primeira alterou a redação do artigo 273, en-

tre outros, do capítulo dos crimes contra a saúde pública

do Código Penal (tabela 2). A lei 9695/98, por sua vez,

alterou a lei 8072/90 para qualificar a conduta de falsi-

ficação, corrupção, adulteração ou alteração de produto

destinado a fins terapêuticos ou medicinais como crime

hediondo. “Comercializar produto que exige receita sem

a apresentação da mesma constitui tráfico de drogas”, diz

Ricardo Ramos Sampaio, assessor chefe de Segurança

Institucional da Anvisa.

A própria área coordenada por Sampaio, a Assessoria

de Segurança Institucional (Asegi) foi criada em 2006 e

implementada em 2007 com a finalidade de ser o braço

de estratégia de inteligência e investigação da Anvisa

no combate à criminalidade que assola as áreas sob sua

regulação e fiscalização. “A Asegi integra atividades de

inteligência de segurança pública, voltadas para as áreas

de atuação da Agência, em consonância com os órgãos

de inteligência federais e estaduais. Ela também acom-

panha e apoia as atividades de identificação de agentes

econômicos envolvidos no Sistema Nacional de Vigilân-

cia Sanitária que estejam executando atividades ilegais e

produz conhecimento para subsidiar ações de órgãos de

segurança pública destinadas a neutralizar, coibir, inibir

e reprimir os atos ilícitos relativos ao setor de vigilância

sanitária”, explica Sampaio.

Desde a sua criação até dezembro do ano passado, a

Asegi já realizou 153 operações em conjunto com ou-

tros órgãos, como as polícias estaduais, federal e, em

alguns casos, internacional. A partir dessas ações, mais

de 2.300 locais foram inspecionados, com interdição

total de 36,5% dos estabelecimentos, e 589 prisões fo-

ram efetivadas (tabela 3). Entre as principais apreensões,

destacam-se: 135.438 unidades de medicamentos falsos

Tabela 2: Artigo 273 do Código Penal.

Fonte: PORTAL DO PLANALTO. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/

Decreto-Lei/Del2848.htm. Acesso em 28 nov. 2011.

Art. 273 - Falsifi car, corromper, adulterar ou alterar produto

destinado a fi ns terapêuticos ou medicinais:

Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa.

§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende,

expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de qualquer

forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsifi cado,

corrompido, adulterado ou alterado.

§ 1º-A – Incluem-se entre os produtos a que se refere este

artigo os medicamentos, as matérias-primas, os insumos

farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em

diagnóstico.

§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as

ações previstas no § 1º em relação a produtos em qualquer

das seguintes condições:

I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância

sanitária competente;

II - em desacordo com a fórmula constante do registro

previsto no inciso anterior;

III - sem as características de identidade e qualidade

admitidas para a sua comercialização;

IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua

atividade;

V - de procedência ignorada;

VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade

sanitária competente.

Tabela 3: Principais dados das operações conjuntas realiza-

das entre os anos de 2007 e 2010.

2007 2008 2009 2010 TOTAL

Número de

Operações10 20 63 60 153

Locais

Inspecionados 136 318 691 1245 2390

Locais Interditados 49 119 213 492 873

Prisões 10 59 203 317 589

Média de Prisões

por Operação1 3 3 5 4

Fonte: ANVISA. A Anvisa e as ações de prevenção e combate à pirataria de produ-

tos submetidos à vigilância sanitária. Brasília: Anvisa, 2011.

Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida 11

e contrabandeados, 386.417 caixas de medicamentos

controlados, 355,6 toneladas de medicamentos sem re-

gistro e 408 toneladas de outros produtos (agrotóxicos,

alimentos, saneantes, produtos para saúde) sem registro

ou impróprios para o consumo, lista Sampaio. “Os au-

mentos nas apreensões, interdições e prisões mostram

a melhoria do processo de fiscalização, ou seja, quanto

mais operações são feitas, mais crimes são detectados e

os responsáveis, punidos”, ele afirma, acrescentando que

como, atualmente, os produtos piratas não são encontra-

dos apenas no mercado informal (feiras livres, camelôs,

internet), mas também em farmácias, drogarias e lojas,

o trabalho de fiscalização de rotina executado pela vigi-

lância sanitária e as operações conjuntas assumem maior

relevância.

Essa união de forças foi mais acentuada a partir de 2008,

quando o Conselho Nacional de Combate à Pirataria e

Delitos contra a Propriedade Intelectual (CNCP) assi-

nou acordo de cooperação técnica e operacional com a

Anvisa. “A partir do acordo as apreensões tornaram-se

crescentes com um cenário em 2008 de 28 toneladas

Tabela 4: Principais apreensões em 2010.

Tipo de produto apreendido Quantidade*

Falsifi cados 67.755 comprimidos/

ampolas

Contrabandeados13.451 comprimidos/

ampolas

Medicamentos Controlados

Portaria nº. 344/98

9 milhões de Unidades

Farmacêuticas (305.234

caixas)

Medicamentos sem registro 71,5 Toneladas

Cigarros e Tabaco 3,5 Toneladas

Medicamentos e Soros

Vencidos ou Impróprios72,5 Toneladas

Alimento sem registro600.000 comprimidos/

cápsulas

Produtos usados na

adulteração de drogas1,5 toneladas

Saneante sem registro 50 toneladas

* Dados de Operações Conjuntas que foram coordenadas pela Anvisa. Não

incluem apreensões das Operações Coordenadas pela Polícia Federal nas quais a

Anvisa colaborou como apoio técnico. Não incluem as apreensões cautelares.

Fonte: ANVISA. A Anvisa e as ações de prevenção e combate à pirataria de produ-

tos submetidos à vigilância sanitária. Brasília: Anvisa, 2011.

Figura 2: Evolução das operações.

Fonte: ANVISA. A Anvisa e as ações de prevenção e combate à pirataria de produtos submetidos à vigilância sanitária. Brasília: Anvisa, 2011.

12

de medicamentos para em 2010 atingir o nível de 400

toneladas apreendidas”, observa Paulo Abrão, secretário

nacional de Justiça e presidente do CNCP. O Ministro

da Justiça, José Eduardo Cardozo, aponta outras ações

importantes no combate à pirataria na área da saúde que

considera como de fundamental importância. “Recente-

mente, implantamos o plano estratégico em fronteiras,

que envolve esforços do Ministério da Justiça e do Mi-

nistério da Defesa, e conseguimos aumentar em 12.000%

a apreensão de remédios piratas. Para ser preciso, o au-

mento foi de 12.041,23% nas apreensões de remédios

ilícitos, isso comparando janeiro a maio de 2011 com

junho a setembro de 2011, quando implantamos essa es-

tratégia. Se de janeiro a maio de 2011 foram apreendidos

1.663 medicamentos falsos, nesse último período, foram

175.485. Um ótimo resultado porque estamos apenas

começando a implantar o plano estratégico”, diz.

Remédios falsos, uma epidemia de fatoEstimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS),

que considera o problema uma epidemia, apontam que

até 1% dos medicamentos disponíveis nos países desen-

volvidos está sujeito à falsificação, percentual que avança

vertiginosamente para uma média de 10% em âmbito

global, puxada por Ásia, África e América Latina, onde

a informalidade pode chegar a 30% do mercado. A FDA

(Food and Drugs Administration) – órgão norte-ameri-

cano que regula os setores de alimentos e medicamentos

– acredita que os produtos falsificados e de qualidade

inferior representem em torno de 10% do mercado far-

macêutico mundial.

Uma fortuna que, se fosse investida, poderia melhorar

substancialmente o cenário global na área da saúde e

evitar outros gastos para corrigir, quando possível, os

problemas causados por esses produtos. Despesas que

não são possíveis medir. É difícil conhecer com precisão

também o mal causado por esses produtos à saúde públi-

ca. “Não é possível saber ainda em quanto isso impacta

em hospitalização, consultas médicas, exames porque

nem mesmo os pacientes sabem que o problema pode

ser o remédio, que por ser falso é ineficiente, não con-

trola o problema e, pior, até causa outros mais graves,

dependendo da sua formulação. O sistema em qualquer

parte do mundo tem dificuldade de analisar a eficácia do

medicamento verdadeiro, o que dirá os impactos dos fal-

sos, salvo exceções, como no caso do Androcur, ou ou-

tros que tiveram grandes proporções”, explica Iara Alves

de Camargo, médica especialista em saúde pública da

Secretaria da Saúde de São Paulo. Os falsificadores usam

uma lista extensa de produtos que agridem severamen-

te o organismo humano para conseguir obter remédios

falsos muito semelhantes aos originais, que vão desde o

uso de tinta comum a metais pesados. Nos casos mais

brandos, os produtos falsos são formulados apenas com

placebo, que não provoca outros males a não ser agravar

a saúde de quem os usa por ser complemente inócuo.

Ricardo Ramos Sampaio, assessor chefe de Segurança

Institucional da Agência Nacional de Vigilância Sani-

tária (Anvisa), afirma que a Agência nunca identificou

um polo, ou uma fábrica sequer, de falsificação de medi-

camentos no Brasil, desde que a Assessoria de Seguran-

ça Institucional (Asegi) começou a funcionar, em 2007.

“Dados da Interpol sugerem que a produção de medi-

camentos falsificados ocorre, principalmente, no Leste

Europeu e em alguns países asiáticos. São organizações

criminosas altamente sofisticadas e não é tão simples

identificar seus produtos como falsos”, ressalta, obser-

vando que já foram detectadas fábricas clandestinas em

cidades próximas à fronteira do Brasil, a entrada mais

natural desses produtos no País, destinadas à finalização

da produção desses falsos medicamentos, como a parte

de embalagem, por exemplo.

Os incidentes envolvendo medicamentos falsificados e

de má qualidade seguem uma curva em ascensão mun-

do afora, como indicam os números recolhidos pela The

Pharmaceutical Securty Institute (PSI), uma organização

da sociedade civil e sem fins lucrativos dedicada a prote-

ger a saúde pública e a recolher e partilhar informações

sobre medicamentos falsificados. De acordo com suas

pesquisas, subiram de 196, em 2002, para 2.054, no ano

passado, os incidentes envolvendo esses tipos de produ-

tos. “O aumento nas apreensões de medicamentos falsi-

Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida 13

Figura 4: Incidentes por região em 2010.

Fonte: THE PHARMACEUTICAL SECURITY INSTITUTE. Disponível em: http://psi-inc.org/IncidentTrends.cfm. Acesso em 30 nov. 2011.

ficados no mundo é resultado da crescente conscienti-

zação dos funcionários do governo e representantes da

lei quanto à gravidade do problema e os sérios - se não

mortais - riscos para a saúde decorrentes desses produ-

tos. Por meio de diálogos em curso entre a indústria,

profissionais de saúde e funcionários do governo, novos

medicamentos falsificados estão sendo descobertos e es-

tamos nos informando cada vez mais sobre como parar

o trânsito antes de os produtos chegarem às mãos dos

consumidores”, analisa Scott La Ganga, que dirige a The

Partnership For SafeMedicines (PSM), entidade sem fins

lucrativos da qual a PSI é membro.

La Ganga acentua que, infelizmente, as regiões mais vul-

neráveis são aquelas cuja a localização é remota, já que

nestes locais é mais difícil para os cidadãos obterem os

medicamentos de que necessitam e o mercado é propí-

cio para que os criminosos tirem proveito. “Com base

nos dados da PSI a partir de 2010, as regiões com maior

número de incidentes com medicamentos, que inclui

falsificações, desvio de drogas e roubo, são a Ásia, segui-

da pela América Latina, e depois Europa. No entanto, o

desafio da coleta de dados existe. A atividade da África

não é baixa, mas há a falta de uma estrutura regulamen-

tar harmonizada entre os países e as distintas formas de

aplicação da lei de um país para os outros que criam inú-

meros desafios e uma falta de comunicação”, assegura.

Figura 3: Total de incidentes entre os anos de 2002 e 2010.

Fonte: THE PHARMACEUTICAL SECURITY INSTITUTE. Disponível em: http://psi-inc.org/

IncidentTrends.cfm. Acesso em 30 nov. 2011.

14

Carga pesadaMuito cuidado com a segurança e uma boa dose de des-

confiança. Essas duas ações fazem a diferença entre a

vida e a morte dos pacientes, como mostra o exemplo

de Simone Souza Lopes. Farmacêutica da Clínica Inte-

grada da Mama, em Florianópolis (SC), onde também

é responsável pela aquisição de medicamentos, Simone

foi procurada no ano passado por um novo distribuidor,

aparentemente regularizado, com uma proposta bastan-

te lucrativa à primeira vista: seus produtos oncológi-

cos custavam quase 50% menos que a cotação média do

mercado. Desconfiada de que o medicamento pudes-

se ser falso, a farmacêutica pediu para ver a validade e

anotou, sem que o representante percebesse, o número

do lote. De posse dessa informação, telefonou para o

fabricante do produto e descobriu que o lote havia sido

roubado.

Atitudes como as de Simone, que também é direto-

ra da Associação Brasileira dos Portadores de Câncer

(Amucc), têm sido mais frequentes, mas não são tão

comuns como deveriam. Elas são simples, eficazes e co-

laboram definitivamente para a diminuição de crimes

que causam impacto imensurável na saúde pública bra-

sileira, como o roubo, contrabando e venda de medica-

mentos sem registro na Agência Nacional de Vigilância

Sanitária (Anvisa). “É preciso sempre ter um distribui-

dor confiável, credenciado pelos fabricantes e, antes de

qualquer coisa, saber qual é a origem do medicamento,

se ela é confiável. É preciso sempre também desconfiar

de preços que estão muito abaixo da média. Por fim, às

vezes, um simples telefonema resolve todas as dúvidas

e você garante a qualidade do produto e a segurança do

tratamento do paciente”, ensina Simone, complemen-

tando que preços muito abaixo do mercado são, nor-

malmente, a primeira indicação de que algo pode estar

muito errado.

Apesar de nos últimos anos haver uma ação mais con-

tundente das autoridades reguladoras, dos órgãos de

pressão, das indústrias e de outros setores da socieda-

de civil no combate à criminalidade, os dados preocu-

pam. Atualmente, o grande volume de medicamentos

roubados ocorre, normalmente, depois da fatura. Ou

seja, depois que saem dos depósitos de farmacêuticas e

distribuidores. As quadrilhas que atuam nesse mercado

são bem equipadas, estão cada dia mais sofisticadas e

infiltradas e preferem atuar no momento do transporte

dos produtos. “É mais comum no transporte porque nos

depósitos ou nas empresas sempre existem câmeras (de

vídeo), alarmes e seguranças 24 horas que dificultam

mais essas ações”, diz Luiz Fernando Buainain, presi-

dente da Associação Brasileira do Atacado Farmacêu-

tico (Abafarma), que estima que entre 10% e 15% dos

medicamentos em circulação sejam oriundos de roubo,

contrabando, falsificação e de produtos sem registro. Ou

seja, em um mercado de 4 bilhões de unidades, como é o

brasileiro, seriam entre 400 milhões e 600 milhões.

Somente o roubo de medicamentos gera um prejuízo

anual próximo de R$ 40 milhões por ano, estimam os

especialistas. Esse número refere-se apenas ao valor das

cargas e é estimado sobre os dados de São Paulo, onde es-

sas informações são analisadas mensalmente e o Estado,

afirmam, representa em torno de 50% do total de roubos

de cargas do País. Os outros Estados não apuram ou não

divulgam regularmente os seus números e também não

há integração das informações em âmbito nacional. “São

Paulo e Rio de Janeiro apresentam os maiores índices

porque são os maiores mercados produtores e de con-

sumo”, diz Newton Gibson, presidente da Associação

Brasileira de Logística e Transporte de Carga (ABTC).

De janeiro a junho de 2011, foram 234 ocorrências en-

volvendo produtos farmacêuticos de um total de 3.345

roubos de cargas em São Paulo, de acordo com estatísti-

cas da Secretaria de Segurança Pública compiladas pelo

Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São

Paulo e Região (SETCESP). O setor registrou o quarto

maior volume de ocorrências, atrás apenas de produtos

alimentícios (834), eletroeletrônicos (574) e cargas fra-

cionadas (493) e o roubo de medicamentos gerou um

prejuízo de R$ 8,4 milhões no acumulado do ano. Na

comparação anual, houve queda, mas os números con-

tinuam expressivos. Em 2010, houve um total de 7.294

ocorrências, redução de 6,2% em relação ao ano anterior.

As que envolveram produtos farmacêuticos somaram

523 e prejuízo de R$ 21,47 milhões, com queda de 9,3%

e 7%, respectivamente.

Waldomiro Milanesi, coordenador do Programa de Pre-

venção de Furtos, Roubos e Desvio de Cargas (Procarga)

Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida 15

da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São

Paulo, acredita que a reativação do Procarga no fim de

2009 foi fundamental para esse resultado. Criado em

1997, o programa funcionou ativamente até 2002, quan-

do entrou em “inércia”, diz. O Procarga hoje atua em par-

ceria com as polícias Civil, Militar, Técnico-Científica,

Rodoviária, as secretarias de Estado e com representan-

tes da sociedade civil, como o SETCESP. Sua maior atri-

buição é analisar esse tipo de crime para definir estra-

tégias conjuntas de prevenção e combate mais efetivos.

“O tratamento dos dados reais nos dá condições de saber

onde e em quais horários acontecem com mais frequ-

ência os roubos e furtos, quais as cargas mais visadas e

como operam os criminosos. A partir dessas informa-

ções, podemos reforçar o policiamento, por exemplo,

nos locais e horários de maior incidência, ter um tra-

balho preventivo mais eficiente e com racionalização

dos recursos, tanto materiais como humanos. Um bom

trabalho policial só se faz com inteligência”, assegura Mi-

lanesi. “Geralmente, os roubos de cargas envolvem qua-

drilhas altamente organizadas, que utilizam armamento

pesado, muitas vezes de uso restrito das Forças Armadas,

e estão sempre muito bem aparelhadas e equipadas”, diz.

“Quando se fala em roubo de carga, se fala em crime

organizado, porque exige uma logística para o roubo

ou furto e para a fuga. Não são todos os casos em que

os caminhões são roubados, eles têm que ter know-how

para o transbordo rápido. Depois, têm o armazenamen-

to e a distribuição do material roubado.” O SETCESP

informa que o roubo de caminhões junto com a carga

vem crescendo na última década, cuja média ficou entre

12% e 15%. “No ano passado, alcançou 22%. Foram mais

de 2 mil veículos roubados junto com a carga”, aponta o

coronel Paulo Roberto de Souza, assessor de assuntos

de segurança do SETCESP. Milanesi afirma que, quanto

mais a sociedade avança no combate a esse tipo de crime,

mais as quadrilhas se especializam para tentar driblar as

barreiras. “Além de armas roubadas das Forças Arma-

das, eles se vestem de policiais, muitas vezes, utilizam

giroflex e investem em equipamentos bloqueadores de

sinais para evitar que o caminhão e carga roubados se-

jam rastreados.”

Prejuízos ultrapassam meio bilhão de reaisAs ocorrências causaram um prejuízo total de R$ 279,75

milhões com cargas roubadas em 2010, queda de 0,8%

comparativamente a 2009. No entanto, no primeiro se-

mestre deste ano, apesar da redução de 8,28% no núme-

ro médio de ocorrências envolvendo o roubo de cargas

em São Paulo, para 557,5 por mês, aumentou em 6,5%

a média mensal dos prejuízos causados pelos delitos,

para R$ 24,82 milhões, em relação a 2010. Na ponta do

lápis, é impossível avaliar o impacto econômico desse

tipo de criminalidade. Muitos milhões de reais são gas-

tos mensalmente pelo setor público em seus sistemas de

prevenção e combate a essas ações criminosas. Outros

Figura 5: Roubo de cargas em 2009 e 2010. Tipos de car-

gas mais visadas (em R$ milhões acumulados do ano)

Fonte: SETCESP/SSP. Disponível em: www.setcesp.org.br/assessoria_estatistica.asp.

Acesso em 30 nov. 2011

2009

2010

16

milhões saem dos caixas das empresas para programas

de gerenciamento de risco, que incluem aquisição de

equipamentos de segurança cada vez mais sofisticados,

contratação de vigilantes e escoltas, pagamento de segu-

ros e franquias.

Conforme estimativa “conservadora” da Associação

Brasileira de Logística e Transporte de Carga (ABTC),

as perdas econômicas ultrapassam mais de R$ 600 mi-

lhões por ano. “O delito do roubo de cargas faz parte de

um contexto muito mais amplo, no qual nem o tráfego

de drogas está descartado”, diz o presidente da ABTC,

Newton Gibson. Para tentar reduzir as ocorrências, as

empresas têm feito investimento recordes em prevenção,

muitas vezes “acima das suas capacidades financeiras”,

observa. O elevado número de roubo de cargas faz cres-

cer a utilização de escolta armada, por exemplo, para

dificultar a ação dos bandidos. “Nos últimos dois anos,

esse crescimento ficou em torno de 50%, em média.”

Outra despesa considerável para o caixa das companhias

é a do seguro, que alcança entre 25% e 30% do valor da

carga e é um dos itens mais importantes da formação de

preços e custos.

O preço do seguro, informa Gibson, varia de acordo com

o tipo de carga e risco e as empresas repassam ao produ-

to ou correm o risco e absorvem o prejuízo. “Tem carga

que pelo seu valor, se roubada, leva uma transportadora

à falência.” Muitas seguradoras nem estão nesse merca-

do por conta do elevado número de sinistro, segundo o

coronel Paulo Roberto de Souza, assessor de assuntos de

segurança do Sindicato das Empresas de Transporte de

Carga de São Paulo e Região (SETCESP). “E as segura-

doras que fazem cobram caro e todos esses custos são,

geralmente, repassados aos produtos porque nenhuma

empresa quer ficar no vermelho ou ir à falência. No final,

quem paga a conta é o consumidor”, afirma Souza. Ele

estima que os seguros e os programas de gerenciamento

de risco representem hoje em torno de 15% o fatura-

mento das empresas de transporte, um custo alto que

tem tirado muitas empresas dessa atividade, garante o

presidente da ABTC.

As despesas com segurança estão distribuídas por toda

a cadeia. Luiz Fernando Buainain, presidente da Asso-

ciação Brasileira do Atacado Farmacêutico (Abafarma),

calcula que as empresas do setor tiveram um aumento

entre 1,5% e 2% nos custos por fortalecer e sofisticar os

seus sistemas de proteção. A Associação Brasileira de

Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) informa

que os investimentos dos pontos de venda são tão altos

quanto o número de roubos a seus centros de distri-

buição. “Só se contabiliza perdas. As redes são muito

roubadas e depois enfrentam a concorrência de quem

vende seus próprios produtos (roubados) informalmen-

te, pois eles voltam para o mercado por meio de outros

vendedores”, afirma o presidente da Abrafarma, Sérgio

Mena Barreto.

A indústria farmacêutica não tem cálculos precisos so-

bre seus custos relacionados a essa proteção específica,

mas informa que são altos. Em meados dos anos 2000,

quando começou a investir pesado no gerenciamento

desse tipo de risco e multiplicou seus gastos com prote-

ção, recebeu como contrapartida, nos últimos três anos,

uma consecutiva queda no volume de ocorrências e nos

preços dos seguros. Estes últimos caíram para cerca da

metade do valor. Antônio Britto, presidente-executivo

da Interfarma, reafirma que quando se trata de medica-

mento o assunto não deve ser tratado na base de percen-

tual. “O número de cargas de produtos farmacêuticos

roubados está caindo e pode parecer pouco expressivo

diante de outros bens. Mas se você pensar em apenas

uma carga roubada e que fim vai ter esse medicamento,

como ele foi levado e as condições às quais foi submeti-

do, o resultado pode ser dramático. Basta apenas uma

carga, uma embalagem, para se ter consequências graves

à saúde pública.”

Além de cargas, proliferam os casos de roubos e furtos

de medicamentos de alto custo, principalmente em es-

toque do sistema público de saúde. Em um dos casos,

em 2011, a Delegacia de Saúde Pública desbaratou uma

quadrilha que atuava em São Paulo e causou prejuízo de

mais de R$ 10 milhões roubando, particularmente, Ma-

bthera, um medicamento para o tratamento do câncer,

cuja dose custa em torno de R$ 6 mil, mas é fornecida

gratuitamente pelo sistema público. “Podemos medir os

prejuízos econômicos, mas não os efeitos na saúde pú-

blica. Medicamentos desviados ou oriundos de roubos e

furtos não têm a eficácia e segurança garantidas porque

não se sabe como foram armazenados e transportados”,

afirma Ricardo Ramos Sampaio, assessor chefe de Se-

gurança Institucional da Anvisa, lembrando que mui-

tos oncológicos, por exemplo, têm de ser mantidos em

estoques refrigerados e transportados nessas mesmas

condições para manter suas qualidades.

Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida 17

Poucos sabem o que acontece com esses produtos nesse

período, mas todos têm uma certeza: eles vão parar no

mercado e nas mãos dos consumidores. Outra certeza é

que, por uma questão mais de risco do que de logística,

a maior parte da carga roubada é comercializada mesmo

no Brasil, como assegura Waldomiro Milanesi, coorde-

nador do Programa de Prevenção de Furtos, Roubos e

Desvio de Cargas (Procarga) da Secretaria de Segurança

Pública do Estado de São Paulo. “Não descarto a pos-

sibilidade de esses produtos serem levados para outros

países. O Brasil tem extensão continental e uma longa

fronteira difícil de vigiar, mas a possibilidade de esses

criminosos serem pegos em longas viagens é maior. Por

isso, acredito que a maioria fica no Brasil.”

Esses produtos são vendidos, geralmente, em feiras li-

vres, pontos de venda comuns, daqueles que comercia-

lizam toda sorte de produto, mas também vão parar em

hospitais, clínicas e nas farmácias e drogarias formais,

misturados aos produtos legais. “Alguns farmacêuticos

e administradores desconhecem que compraram um

produto roubado porque não seguiram à risca as nor-

mas de segurança. Outros fazem com consciência, por

lucro mesmo”, diz Milanesi. Conforme Mena Barreto,

muitos desses produtos podem mesmo estar disponíveis

nas farmácias legais. “A indústria fabrica lotes imensos e

um lote não é roubado integralmente. Como saber qual

parte do lote é fruto de roubo?”, questiona.

O problema são as leis?Tramita no Congresso Nacional o projeto de lei 627/11,

de autoria do Deputado Otavio Leite (PSDB/RJ) am-

plamente apoiado por vários setores da sociedade ci-

vil, particularmente pelos que enfrentam os problemas

causados pelo roubo de cargas de medicamentos no

Brasil. O projeto visa incluir um inciso na Lei dos Cri-

mes Hediondos que determine que o furto ou roubo de

medicamentos sejam considerados como tal. Muitos es-

pecialistas acreditam que essas estatísticas poderiam ser

menos assustadoras se a legislação fosse mais rigorosa,

inclusive para o crime de receptação, que prevê pena de

um a quatro anos de prisão.

“Tem muita distribuidora de medicamentos que é cons-

tituída legalmente para atuar somente por tempo sufi-

ciente para dar o golpe de colocar a carga roubada no

mercado. Para combater com mais precisão toda essa

articulação, o Estado precisa ter instrumentos muito efi-

cazes, por via fiscal e policial, prendendo e confiscando,

para que essa responsabilidade seja auferida de acordo

com a gravidade do crime, a fim de que o criminoso não

venha a repetir essas práticas. Muito disso vem sendo

feito, mas, infelizmente, na hora da punição, a pena é

branda, em especial, para o receptador”, afirma Waldo-

miro Milanesi, coordenador do Programa de Prevenção

de Furtos, Roubos e Desvio de Cargas (Procarga) da

Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.

Uma tentativa de punir com mais severidade o crime

de receptação (de qualquer tipo de produto) naufragou

em 2006 quando foi vetado um artigo que tratava sobre

o tema na Lei Complementar 121, que criou o Sistema

Nacional de Prevenção, Fiscalização e Repressão ao Fur-

to e Roubo de Veículos e Cargas. O artigo excluído dizia

que os bens imóveis utilizados para a prática de furto ou

roubo de veículos e cargas ficariam sujeitos à pena de

perdimento, mediante a condenação. “Isso desanimou

muito o setor. Com isso, se poderia efetivamente punir

o receptador com a perda de seus bens para ressarcir

quem foi prejudicado com o roubo. Enquanto não hou-

ver punição severa para o receptador, o roubo de cargas

não será debelado”, diz Newton Gibson, presidente da

Associação Brasileira de Logística e Transporte de Carga

(ABTC).

O Deputado Federal Hugo Leal (PSC/RJ) também acre-

dita que a pena de perdimento poderia coibir o aumen-

to da criminalidade. “Tudo que repercute no bolso é

mais eficaz.” Segundo os defensores do artigo vetado,

a pena de perdimento vem sendo aplicada em alguns

países com sucesso. Na Argentina, ela foi aprovada em

2003 e desde então esse tipo de crime despencou cerca

de 60%. Tão sério quanto esse veto, observa o Deputado

Leal, é a implantação eficiente do Sistema Nacional de

Prevenção, Fiscalização e Repressão ao Furto e Roubo de

Veículos e Cargas. “Tenho feito audiências públicas e pe-

dido a participação de representantes do governo federal

para saber por que hoje, em 2011 e cinco anos depois de

a 121 (Lei Complementar) entrar em vigor, ainda não se

criou uma estrutura concreta, na prática e não apenas

no papel, de prevenção e segurança no combate a esse

crime”, diz, acrescentando que esse delito avança porque

18

as quadrilhas contam com essa desorganização do siste-

ma, no qual cada “Estado faz o seu”, ou seja, não há troca

suficiente de informações entre os poderes públicos.

“Não há inocentes nesse mercado”O presidente do Fórum Nacional contra a Pirataria e

Ilegalidade (FNCP), Edson Luiz Vismona, diz que ja-

mais esquecerá uma audiência da qual participou, em

2003, durante a CPI (Comissão Parlamentar de Inqué-

rito) dos remédios falsificados, particularmente para o

tratamento do câncer. “Um dos criminosos de origem

estrangeira respondeu, quando questionado sobre por

que falsificava um produto para uma doença tão grave,

que a escolha desse tipo de produto era porque ele era

mais caro e, portanto, o lucro seria maior. Esse é um

dado importante que a sociedade precisa saber: não há

inocentes nesse mercado. São organizações criminosas

e internacionais que não têm outra preocupação a não

ser o lucro. E elas todas interligadas. Se não tem lucro

vendendo CD pirata, investe no remédio falso.”

É o lucro que define qual tipo de produto está mais na

mira das quadrilhas de falsificação, contrabando, desca-

minho e roubo de cargas. Segundo os especialistas, não

há um ranking elaborado de quais sejam essas preferên-

cias, mas elas recaem, geralmente, por medicamentos de

alto valor (oncológicos) ou de grande escala (analgésicos

e anticoncepcionais) e que possam ser comercializados

mais facilmente. “Aqueles usados para soropositividade

e os anabolizantes também são muito sujeitos às ações.

Medicamentos de maior consumo, de alto valor ou de

necessidade imprescindível atraem essa prática crimi-

nosa”, diz Paulo Abrão, secretário nacional de Justiça e

presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria

e Delitos contra a Propriedade Intelectual (CNCP).

No topo da lista das predileções, também estão medi-

camentos para tratar a disfunção erétil (como Viagra,

Cialis e Levitra) e uma grande gama de produtos de tarja

preta, que exigem prescrição médica para serem comer-

cializados e que, por isso, atraem o consumidor para o

mercado negro. Em relação aos remédios para disfunção

erétil, o primeiro atrativo foi o alto preço desses produtos

quando surgiram. Hoje, no entanto, após o acirramento

da concorrência nesse mercado, os criminosos se valem

do preconceito dos homens em relação ao problema.

Com vergonha de procurar um médico e chegar com

uma receita nas farmácias, muitos preferem o produto

pirata, que entra no País pelas fronteiras, em especial,

com o Paraguai. Um campeão nessa categoria é o Pramil,

um medicamento para a disfunção erétil sem registro na

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) cuja

comercialização é legal no Paraguai. “O falsificador, o

contrabandista tem uma profunda habilidade para en-

xergar o lucro. Há uma movimentação em direção aos

medicamentos mais sofisticados, que por sua vez são os

que causam maior impacto na saúde pública ou porque

não resolvem o problema do paciente ou porque pioram

o problema”, observa Antônio Britto, presidente-execu-

tivo da Interfarma.

Sociedade civil se organizaÉ consenso entre os especialistas que o consumidor ja-

mais compraria um medicamento se soubesse de sua

origem clandestina ou da sua falta de qualidade, ape-

sar de todos afirmarem que é a sociedade que alimen-

ta o mercado informal. “Temos de separar o paciente

do comprador do CD pirata, que está atento apenas à

questão do preço e só deixaria de adquirir um produto

falso se houvesse uma brutal consciência de que aquilo

é crime. Diante de um medicamento, eu duvido que as

pessoas prefiram o falsificado, o pirata. O problema é

saber o que é pirata e o que não é”, diz Antonio Britto,

presidente-executivo da Interfarma. Para ajudar a po-

pulação a fazer a escolha certa e o Estado a combater a

criminalidade, indústria, associações ligadas às empre-

sas e entidades sem fins lucrativos estão arregaçando as

mangas.

Segundo Britto, a indústria farmacêutica investe cons-

tantemente nas boas práticas de fabricação, para evitar

a introdução de produtos de má qualidade no mercado,

e em mecanismos que auxiliem na segurança dos medi-

camentos (como o lacre das embalagens e a raspadinha

– todo remédio original tem uma espécie de selo que, ao

Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida 19

ser raspado, aparece a palavra “Qualidade” e o nome do

fabricante, indicando sua autenticidade). “Há um tra-

balho interno, para dentro da indústria e outro externo,

voltado para a sociedade”, diz Britto.

A Interfarma tem ainda um Código de Conduta que

regula as atividades de todos os associados, que devem

aderir aos seus parâmetros para fazer parte da institui-

ção. “O código disciplina a atividade, incluindo as rela-

ções com os pontos de venda e prevê penas e multas mais

severas em comparação a dos próprios órgãos regula-

dores. Todas as normas são mais restritivas”, afirma Ro-

naldo Pires, diretor Jurídico da Interfarma. Sérgio Mena

Barreto, presidente da Associação Brasileira de Redes de

Farmácias e Drogarias (Abrafarma), diz que a institui-

ção que dirige também possui uma carta de princípios

e código de conduta que devem ser seguidos pelos asso-

ciados sob pena de exclusão. “Já ocorreram exclusões.”

No sentido de disseminar conhecimento e atingir a po-

pulação, a Interfarma montou recentemente uma “Co-

missão de Combate à Informalidade” que, entre outras

funções, participa de programas educativos que ensinam

como diferenciar um medicamento verdadeiro do falso.

Esses programas são feitos em parceria com entidades

como o Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade

(FNCP), o Instituto Etco, órgãos públicos e são direcio-

nados, em especial, para os agentes que estão na ponta

e precisam desse conhecimento técnico para efetuar um

trabalho de prevenção e combate mais eficiente.

Scott La Ganga, que dirige a The Partnership For Safe

Medicines (PSM), acredita que somente uma estratégia

global e colaborativa pode lidar com o risco dos medi-

camentos falsos à saúde pública. “Ainda há um longo

caminho a ser percorrido, mas o progresso está sendo

feito”, diz, acrescentando que o crescimento da ativida-

de criminosa deve-se, além da natureza lucrativa, aos

obstáculos na diferenciação entre uma droga real e uma

droga falsa por meio de uma simples observação. A PSM

é uma entidade da sociedade civil sem fins lucrativos li-

derada por acadêmicos, representantes da lei e médicos e

que está focada em construir uma cadeia de fornecimen-

to de medicamentos segura e global, além de aumentar

a consciência a respeito da ameaça à saúde pública, que

são os medicamentos falsificados e de qualidade inferior.

O peso dos tributosO estudo realizado pelo Etco, “Informalidade no Setor

Farmacêutico: Barreira ao Crescimento da Economia

Brasileira e Risco à Saúde Pública”, apontou que apro-

ximadamente 23% de todos os impostos devidos pela

cadeia farmacêutica brasileira eram sonegados à época

da sua elaboração, em 2005. O estudo fez as contas dos

prejuízos para a sociedade, que vão além da inibição do

investimento no setor pela cadeia formal por causa da

concorrência desleal. Com os valores sonegados seria

possível, por exemplo, ampliar em 42% a distribuição de

medicamentos ou expandir em 50% os gastos do Minis-

tério da Saúde com internações ou duplicar os recursos

destinados à atenção básica à saúde pelo Sistema Único

de Saúde (SUS). Já com os recursos não pagos dos en-

cargos trabalhistas, seria possível custear os benefícios

de mais de 16 mil aposentados.

O problema poderia ser minimizado com regulações

mais rigorosas, aumento e progressividade das puni-

ções, melhores instrumentos e otimização da fiscaliza-

ção e, sobretudo, maiores incentivos para a migração à

formalidade, incluindo a redução da carga tributária e

modificação no sistema de tributação, segundo o Etco.

“Uma das razões da grande informalidade no mercado

brasileiro, e não apenas no setor de medicamentos, é a

excessiva carga tributária. O Estado é um vampiro ao

cobrar em média cerca de 30% de tributos sobre medi-

camentos, ou seja, em torno de cinco vezes mais que a

média mundial”, diz o embaixador Roberto Abdenur,

presidente-executivo do Etco. Antônio Britto, presiden-

te-executivo da Interfarma, destaca, além da elevada

carga tributária, o complexo sistema fiscal, em que cada

Estado tem uma regra. “Isso facilita quem quer se be-

neficiar da ilegalidade porque há um emaranhado de

impostos e contribuições que até para o próprio sistema

é difícil de administrar. Por outro lado, a confusão fiscal

também é um inferno para as empresas formais e um

custo alto com gigantes departamentos para organizar

toda a operação tributária.”

Edson Luiz Vismona, presidente do Fórum Nacional

contra a Pirataria e Ilegalidade (FNCP), concorda que

a alta e complexa carga tributária contribui para o au-

mento da informalidade, mas ressalta que, enquanto es-

sas regras existirem, devem ser cumpridas. “Não é justo

20

alguns pagarem e outros não.” O professor de finanças

e formação de preços da Fundação Instituto de Admi-

nistração (FIA), José Carlos Souza Filho, ressalta que

o problema maior talvez nem seja a carga elevada, mas

a contrapartida, que não está no mesmo patamar. “Ela

é similar em comparação com a de muitos países, de

maneira geral, mas o problema é que a sociedade não

tem o retorno à altura do que contribui com impostos e

taxas. No entanto, isso não pode ser justificativa para a

informalidade e a criminalidade.”

O professor concorda que a complexidade do sistema

brasileiro é única no mundo. Em um único preço, estão

embutidos vários tipos de impostos, como PIS, COFINS,

ICMS e contribuições, enquanto em boa parte dos países

se tem, geralmente, um único imposto, com variação

apenas das alíquotas de acordo com os Estados e os ti-

pos de produtos, como no caso dos Estados Unidos e da

Alemanha. Do total arrecadado no Brasil, quase 70% são

referentes a impostos e contribuições federais, cerca de

20%, estadual e os municípios ficam com o restante. Nos

últimos anos, o governo federal tem tentado minimizar

a carga de impostos e simplificar o sistema, principal-

mente, para os empreendedores e as pequenas empresas,

aumentando a margem de faturamento para que elas

possam se enquadrar no Simples.

No mercado farmacêutico, há também um esforço de

redução de impostos. Marcelo Liebhardt, diretor de As-

suntos Econômicos da Interfarma, diz que o governo

federal reduziu a carga tributária ao isentar de PIS e

COFINS uma parte importante do mercado farmacêu-

tico. “O principal problema subsiste com os Estados e o

ICMS. Por tratar-se de um imposto estadual, as reduções

do imposto abaixo de 12% devem ser acordadas no âm-

bito do Confaz (Conselho Nacional de Política Fazen-

dária), que reúne os secretários estaduais de Fazenda

de todos os Estados da federação. Esse processo torna a

Figura 6: Incidência de impostos sobre vendas em medicamentos vs. benchmarks. Uma das maiores incidências de impostos.

Fonte: BCG. Vencendo as barreiras de acesso a medicamentos no Brasil.

BCG: São Paulo, 2005.

Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida 21

desoneração muito difícil.” Conforme o executivo, além

de ser fundamental para a redução da informalidade,

a diminuição de impostos impactaria diretamente o

bolso do consumidor. “Toda redução de tributos reduz

proporcionalmente os preços dos medicamentos e isso

consta das regulações do setor.”

Hoje, não se sabe ao certo qual o nível de evasão no

setor, mas os especialistas estimam que seja bem menor

por causa da implantação cada vez mais intensa de me-

canismos como a Substituição Tributária e a nota fiscal

eletrônica, que estão permitindo, além de um aumento

na arrecadação, uma fiscalização mais eficiente. “A Subs-

tituição Tributária muda a forma de recolher o imposto,

que passa a ser arrecadado no primeiro estágio da ca-

deia, ou seja, na indústria, que recolhe os seus tributos e

os dos elos subsequentes. Desta forma, diminuiu muito

a possibilidade de sonegar e está mais fácil fiscalizar por-

que o número de fabricantes é menor em relação ao de

farmácias”, explica Liebhardt.

Os números de São Paulo, que detém cerca de 80% da

produção brasileira de medicamentos, dão uma medi-

da desse impacto. O Estado iniciou a implantação da

Substituição Tributária em fevereiro de 2008, da nota

fiscal eletrônica, em dezembro do mesmo ano, e do Pro-

grama Nota Fiscal Paulista, que incentiva o cidadão a

pedir nota fiscal com a devolução de 30% do ICMS re-

colhido pelos estabelecimentos aos consumidores, no

fim de 2007. Desde então, a arrecadação só aumentou e

o número de contribuintes também, afirma Edson Kon-

do, coordenador-adjunto de administração tributária da

Secretaria da Fazenda do Governo do Estado de São

Paulo. Somente na cadeia de medicamentos, a arreca-

dação subiu quase 14% na comparação de 2008 com

2010, passando de R$ 2,9 bilhões para R$ 3,3 bilhões.

Kondo admite que a própria dinâmica de crescimento

da economia também influenciou o resultado, mas não

tem dúvidas de que foram esses mecanismos os princi-

pais responsáveis, particularmente quando analisado o

aumento de 21,5% no número de contribuintes.

Em toda a cadeia – inclui indústria, atacado e varejo –,

eles saltaram de 14 mil para 17 mil, na mesma base de

comparação. A maior expansão de contribuintes ocor-

reu no varejo, com cerca de 23%, passando de 13 mil

em 2008 para 16 mil no ano passado. “A Substituição

Tributária combate a informalidade ao fazer a retenção

do imposto no início da cadeia. O varejo é muito pulve-

rizado e difícil de fiscalizar. É praticamente impossível

fiscalizar tantos pontos de venda (são cerca de 65 mil

farmácias e drogarias no Brasil, sendo em torno de 18

mil em São Paulo).” Sérgio Mena Barreto, presidente da

Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias

(Abrafarma), diz que a entidade sempre foi favorável à

implantação da Substituição Tributária. “Quando não

se recolhe o imposto, lesa-se o consumidor duas vezes,

porque ele pagou e não viu o tributo recolhido e também

porque deixa de usufruir dos benefícios que o Estado

poderia oferecer, se tivesse recebido o imposto.” Em São

Paulo, antes da implantação da Substituição Tributária,

as quatro maiores redes respondiam por cerca de 50% do

ICMS recolhido, afirma Mena Barreto.

O setor de medicamentos tem uma participação impor-

tante na arrecadação de São Paulo, com 3,6% do total,

uma fatia que só tende a crescer, na opinião de Kondo,

pela expansão do próprio mercado e da economia e por-

que o governo do Estado mantém fortes investimentos

em tecnologia e no desenvolvimento de instrumentos

que combatam cada vez mais a informalidade. Atual-

mente, está desenvolvendo um sistema a ser implantado

no varejo para emissão de cupom fiscal que possibilitará

ao Estado acesso quase em tempo real aos dados sobre

vendas.

Guerra fiscalAs estratégias de tentar atrair as empresas para suas re-

giões seduzindo-as com incentivos fiscais que alguns

Estados brasileiros vêm implementando desde o fim do

século passado também são citadas pelos especialistas

como uma das formas encontradas para burlar as leis.

Para ter acesso a esses impostos e taxas mais atrativos,

as companhias têm de abrir filiais locais, seja na área de

produção, seja na de distribuição, de comércio exterior

ou de varejo. São normas que variam de acordo com as

regras de cada um desses “polos de desenvolvimento”,

como costumam ser denominados, e os mais conhecidos

são os do Distrito Federal, Goiás e Espírito Santo. Na

área de medicamentos genéricos, por exemplo, Goiás

se tornou um importante polo a partir dos anos 1990,

quando começou a dar incentivos fiscais para que as

empresas se instalassem no Estado.

22

As empresas que montam estruturas nesses polos afir-

mam que, dado a elevada carga tributária no País, são

significativas as vantagens fiscais obtidas nessas regiões,

mesmo que suas mercadorias tenham de “viajar pelo

País” – da fábrica, geralmente, localizada em outro Es-

tado, até o polo para depois serem distribuídas ao mer-

cado, inclusive, para a região produtora. Os incentivos

fiscais compensam tanto os investimentos no transporte

dos produtos até essas regiões como em áreas de arma-

zenagem e estrutura administrativa e de distribuição que

são montadas nessas áreas, porque o imposto incidente

nesses polos é muito abaixo do que o que recai sobre a

venda dos produtos nos outros Estados.

No entanto, além dessa vantagem, essa estrutura fiscal

brasileira abre brechas para o “jeitinho brasileiro”, no

qual as empresas desonestas montam escritórios apenas

de fachada nesses Estados e “mandam apenas as notas

fiscais passearem”. O que não tem sido tão incomum

devido, mais uma vez, a deficiências nas estruturas de

fiscalização e também à elevada corrupção no País. “Isso

possibilita aumentos de desvios e da informalidade tam-

bém”, diz Roberto Abdenur, presidente-executivo do

Etco.

O professor de finanças e formação de preços da Funda-

ção Instituto de Administração (FIA), José Carlos Souza

Filho, acredita que tem havido exageros na concessão

de benefícios em alguns Estados. Não têm sido raros

os casos que vão parar na Justiça em uma briga entre

Estados mais conhecida como guerra fiscal. São Paulo,

por exemplo, tem processos que somam R$ 9 bilhões

em créditos tributários referentes ao período de 2004

a 2010, segundo Edson Kondo, coordenador-adjunto

de administração tributária da Secretaria da Fazenda

do Governo do Estado de São Paulo. “São valores que

foram abatidos nas operações em São Paulo e não fo-

ram recolhidos. Ou seja, as empresas recolheram apenas

os impostos relativos aos incentivos concedidos, mas

abateram em São Paulo o total do imposto interestadu-

al”, explica, observando que, desse total, R$ 2,8 bilhões

referem-se ao setor farmacêutico.

Quando aprovadas pelo Conselho Nacional de Política

Fazendária (Confaz), as políticas de incentivos são total-

mente legais. O problema é que têm Estados que colo-

cam essas políticas em prática à revelia do Confaz. Souza

Filho diz que não há exemplo no mundo de problema

semelhante e que ele só ocorre porque há diferenças en-

tre as alíquotas de ICMS. “Não se pode negar que essas

diferenças de alíquotas são o pai, a mãe, o padrasto e a

madrasta dessa confusão. Mas, se olhar o todo, também

temos um lado positivo, que é a distribuição de riquezas

e redução de carências.” Para o professor, a política de

abertura de polos de desenvolvimento auxilia na dis-

tribuição de riqueza no País, ao criar oportunidades de

arrecadação, trabalho e aumento da renda em regiões

antes pouco desenvolvidas.

“Antes, São Paulo respondia por quase metade de todo

o ICMS arrecadado no País. Hoje, isso gira em torno de

25%”, diz, observando que o Estado não ficou mais po-

bre por isso, pois o bolo também cresceu muito. Kondo

assegura, entretanto, que os únicos que ganham são as

empresas. “Essas cidades e Estados concedem incenti-

vos de um lado, mas aumentam impostos de outro, para

compensar, ou seus incentivos são tão absurdos que não

sobra para investir no aumento da demanda por infra-

estrutura que um polo requer. Estamos observando o

crescimento de problemas sociais em muitas unidades

da federação em decorrência disso.”

Fora da leiA legislação brasileira é clara: a prescrição de um me-

dicamento não pode ser alterada pelos atendentes de

farmácias e drogarias, exceto se existir um genérico que

possa substituir o produto de referência indicado. No en-

tanto, a realidade brasileira é outra. Essa regra é ampla-

mente descumprida, por laboratórios que atuam fora de

padrões éticos e oferecem comissões e bônus aos donos

de farmácias e balconistas. Conforme os especialistas,

isso pode ocasionar danos à saúde dos consumidores,

uma vez que o medicamento indicado para a troca pode

não ter a mesma qualidade e característica terapêutica

do prescrito pelo médico. A troca ilegal também atinge

o bolso do consumidor, pois o produto oferecido é, ge-

ralmente, mais caro.

A pesquisa “Percepções sobre Medicamentos”, realizada

pelo Ibope e divulgada em outubro de 2011 durante o

seminário “A Informalidade e seus impactos na Socie-

dade”, organizado pela Interfarma em parceria com o

jornal O Globo, aponta que pouco mais de um terço das

pessoas entrevistadas (2002 no total) já viveu a experi-

Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida 23

ência de ter um medicamento recomendado pelas far-

mácias, diferente do prescrito na receita médica, mesmo

sem que esse pedido tenha sido feito pelo paciente. Na

maior parte das vezes, o medicamento recomendado foi

um genérico, mas um terço dessas pessoas já recebeu

oferta de troca por produtos de outra marca. “Nestas si-

tuações, o consumidor acaba acatando a recomendação

da farmácia”, disseram os autores do estudo.

Para Sérgio Mena Barreto, presidente da Associação

Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafar-

ma), além de ilegal e condenável, a troca de receita é

antiética. “Isso não beneficia o consumidor e a Abra-

farma é totalmente contra também que os vendedores

sejam comissionados para exatamente não se sentirem

atraídos a indicar produtos que lhes rendam mais.” Mena

Barreto afirma, entretanto, que o Brasil poderia organi-

zar melhor o varejo brasileiro, um segmento altamente

pulverizado, com cerca de 65 mil estabelecimentos, onde

a disputa é muito acirrada e as margens, baixas, o que

abre brechas para a informalidade. “Se uma farmácia

fatura R$ 100 mil, por exemplo, sobram apenas R$ 23

mil para cobrir todas as despesas e impostos. A margem

de lucro fica entre 3% e 4%”, assegura Mena Barreto. Se-

gundo afirma, 75% das vendas do setor estão nas mãos

de 13 mil farmácias, ou seja, há um universo de mais

de 50 mil estabelecimentos sobrevivendo com os 25%

restantes. “Por isso, pode haver muita farmácia que se

sustenta beirando a informalidade ou dos outros artigos

que vendem.”

Para o assessor de relações institucionais do Conselho

Regional de Farmácia de São Paulo, e ex-diretor-presi-

dente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvi-

sa), Dirceu Raposo, falta um vínculo com a área de saúde

por parte dos proprietários de farmácias e drogarias no

País. “Eles tratam apenas como um negócio e mandam

mesmo seus funcionários fazerem vendas casadas, sob o

risco de demissão. O que é preciso é transformar a far-

mácia em um estabelecimento de saúde, sem essa visão

fortemente comercial que impregna o segmento hoje.” A

troca de receita é ética, diz Raposo, quando ela não fere

a legislação e, sobretudo, vai ao encontro dos preceitos

da profissão do farmacêutico, “que tem a obrigação pro-

fissional ética de apresentar ao consumidor o melhor

tratamento ao menor custo, a um preço justo”. “Hoje, a

troca é feita meramente sob o ponto de vista econômico

do estabelecimento.”

Pesquisa revela hábitos dos brasileiros na hora de comprar medicamentosA dificuldade de acesso da população brasileira ao sis-

tema de saúde e a medicamentos tem reduzido cada vez

mais o papel de decisão e referência dos médicos no

diagnóstico e indicação de tratamentos, afirma Antonio

Britto, presidente-executivo da Interfarma, ao analisar

os resultados da pesquisa “Percepções sobre Medica-

mentos”, encomendada ao Ibope pela entidade. “Infe-

lizmente, essa é uma realidade: o papel de decisão dos

médicos tem caído.”

O estudo, de abrangência nacional e com todos os extra-

tos socioeconômicos representados na amostra de 2002

pessoas, teve o objetivo de avaliar os principais hábitos

do brasileiro em relação à compra de medicamentos, e

seus resultados são preocupantes.

Um dos dados mais relevantes é o que mostra a elevada

proporção de pessoas que recorrem a opiniões menos

qualificadas para resolver problemas de saúde, como a

de familiares e amigos, diz Hélio Gastaldi, diretor de

negócios da área de opinião pública e política do Ibope.

Conforme a pesquisa, 17% dos entrevistados admitem

buscar a orientação de familiares, enquanto 16% procu-

ram esse auxílio com os farmacêuticos e 8% aos atenden-

tes de farmácias. Em cidades com até 20 mil habitantes, o

percentual que prefere o farmacêutico sobe para 21%. “A

novidade é que o farmacêutico é uma fonte de consulta

expressiva até em alguns municípios de porte maior e

não, como seria de se esperar, nas cidades de pequeno

porte, onde possa não existir a figura do médico e onde

sabemos que ele funciona como uma autoridade de saú-

de”, diz Gastaldi.

Surpreende também na pesquisa o volume de pessoas

que declararam não ter prescrição médica para adquirir

medicamento tarjado (preto ou vermelho), que só po-

dem ser comercializados com receita médica. Segundo

o estudo, 15% compram medicamentos que se enqua-

24

dram nessas categorias sem ter em mãos a prescrição e

18% admitem fazer aquisição desses tipos de remédios

sem ao menos ter consultado um médico antes (figu-

ra 8). Esse último percentual sobe para 24% nas capitais

e na região Nordeste (figura 9). Outro dado alarmante é

o número de pessoas que compram medicamentos em

camelôs ou barracas de ruas, que são definitivamente

locais que não estão sob as regras dos órgãos reguladores

e de vigilância sanitária brasileiros e não poderiam de

forma alguma exercer esse tipo de atividade: 6% na mé-

dia nacional, mas o percentual sobe para 13% nas regiões

Centro-Oeste e Norte do País.

“A compra de medicamentos sem receita é assumida por

pelo menos um quinto da população. Eu falo ‘pelo me-

nos’ porque, no tipo de abordagem direta da pesquisa,

entende-se que algumas pessoas prefiram não declarar

essa prática. Então, 18% é o número mínimo que po-

demos esperar nesse cenário, sendo que no Nordeste e

nas capitais alcança um quarto da população”, observa

o diretor do Ibope. O estudo revela também que, no ato

da compra de medicamentos sem a devida prescrição ou

sem a avaliação de um médico, 72% das pessoas infor-

maram aos atendentes das farmácias os seus problemas,

69% procuraram pelos farmacêuticos e 62% pediram

recomendações sobre medicamentos. Os participantes

da pesquisa podiam escolher múltiplas respostas para

as questões.

O estudo sobre informalidade revela ainda que, no mo-

mento da aquisição de medicamentos, 37% dos entre-

vistados, percentual que sobe para 45% nas capitais, já

NÃO

SIM

JÁ COMPROU SEM RECEITA MÉDICA?

15%

85%

Fonte: IBOPE. Percepção sobre medicamentos. Ibope: São Paulo, 2011.

Figura 8: Compra de medicamentos de tarja vermelha ou

preta sem a apresentação da receita médica

NÃO

SIM

JÁ COMPROU SEM ANTES IR AO MÉDICO?

Região Nordeste: 24%Capitais: 24%

18%

82%

Fonte: IBOPE. Percepção sobre medicamentos. Ibope: São Paulo, 2011.

Figura 9: Procura a farmácia/drogaria sem antes passar pelo

médico, para a compra de medicamentos de tarja vermelha

ou preta JÁ RECOMENDARAM MEDICAMENTO DIFERENTE DO PRESCRITO, SEM QUE ISSO TENHA SIDO SOLICITADO?

Fonte: IBOPE. Percepção sobre medicamentos. Ibope: São Paulo, 2011.

NÃO

59%

SIM

37%

2%

Não sabem ou

não responderam

2%

Nunca comprou

remédios com receita

Capitais: 45%

Figura 10: Recomendação espontânea de medicamentos

pelo farmacêutico.

Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida 25

mantidos os efeitos dos produtos prescritos. As suges-

tões dadas pelos atendentes das farmácias nesses casos

foram para genéricos (94%) e remédios de outras marcas

(48%).

Outro ponto importante comentado pelo diretor do Ibo-

pe e que chama a atenção: “O selo de segurança, ou a

raspadinha como é popularmente conhecida, é ignorado

por praticamente metade da população. Não sabem de

sua existência, não sabem para que serve”. A pesquisa

revela que 47% da população nunca ouviu falar do selo e

mostra também que esse percentual sobe para 62% entre

as pessoas menos escolarizadas e para 60% nas classes C

e D. Já a validade do medicamento costuma ser conferi-

da no ato da compra por 70% das pessoas, caindo para

61% na região Sul do País. Em relação aos medicamentos

que já estão em casa, 76% conferem a validade antes de

fazer uso dos produtos.

Para Paulo Abrão, presidente do Conselho Nacional de

Combate à Pirataria e Delitos contra Propriedade In-

telectual (CNCP), todos esses números revelam que o

quadro de informalidade é muito elevado para um País

que deseja alcançar níveis de disseminação de seu estado

de direito. “Se cerca de 20% da população tem disposição

de adquirir esses produtos sem nenhum tipo de orienta-

ção (médica) e outros tantos têm a coragem de assumir

a compra sem receita, em um setor que é considerado

como uma área onde as pessoas não teriam propensão

a causar a elas mesmas prejuízos médicos, imagina essa

informalidade quando aplicada a outros campos da pro-

dução”, observa Abrão.

A pesquisa “Percepção sobre Medicamentos” seguiu a

mesma metodologia das adotadas em estudos eleitorais

ou em avaliação de instituições. O estudo abrangeu capi-

tais, regiões metropolitanas e cidades de pequeno, médio

e grande portes do interior. A pesquisa foi em domicílios

e os entrevistados tinham a opção de múltiplas respostas.

Sociedade debate soluçõesCampanhas educativas e de conscientização voltadas

para a sociedade, uma maior integração das forças pú-

Destes, 59% aceitaram a recomendação

15% de todos os entrevistados

O MEDICAMENTO RECOMENDADO ERA DE OUTRA MARCA?

Fonte: IBOPE. Percepção sobre medicamentos. Ibope: São Paulo, 2011.

ACONTECEU

68%

NÃO ACONTECEU

31%

Figura 11: O atendente da farmácia/drogaria recomenda um

medicamento com uma marca diferente da que estava escrito

na receita, mesmo sem o consumidor pedir.

viveram a situação de ter medicamentos recomendados

pelos atendentes de farmácias diferentes dos prescritos

pelos médicos, sem que isso tenha sido solicitado (figura

10). Desse total, 90% dos casos foram para substituir por

genéricos, o que não é ilegal, mas reforça o papel impor-

tante do atendente ou do farmacêutico; 80% aceitaram

as novas sugestões, ou 27% de todos os entrevistados.

Em 68% dos casos, o que é ilegal, a sugestão foi para

trocar o medicamento receitado por outro de marca e

59%, ou 15% dos entrevistados, aceitaram a proposta

(figura 11). “Isso ocorreu numa proporção um pouco

menor, mas igualmente significativa, e a recomendação

foi aceita também numa proporção um pouco menor,

possivelmente porque o preço não tenha se configurado

como tão vantajoso como no caso do genérico”, analisa

Gastaldi. A pesquisa mostra que a busca de qualidade

com menor custo é uma preocupação do consumidor:

68% dos que compram medicamentos com receita mé-

dica afirmam buscar alternativas mais baratas, desde que

26

blicas e privadas para a prevenção e maior integração

dos órgãos públicos de combate à criminalidade, além

da implantação da rastreabilidade na área de medica-

mentos, são os caminhos que precisam ser trilhados para

que o País possa minimizar os impactos econômicos e

na saúde pública dos problemas causados pela crescente

informalidade do setor, apontam os especialistas. Muitos

acreditam ainda que novas e mais severas leis deveriam

ser formuladas para ajudar nessa guerra e outros apon-

tam também a necessidade de se investir mais na infra-

estrutura dos órgãos reguladores e de fiscalização.

“É um problema que está na pauta diária do Congres-

so. Estamos focando projetos para mudar algumas le-

gislações a fim de obter melhor eficiência e eficácia na

prevenção e no combate à pirataria. Mas a fórmula é

a soma de todos os esforços, sobretudo, da sociedade

civil, porque a partir do momento que o consumidor se

conscientizar que sem o informal o que é formal ganha

escala e tem margem para baratear preços, e inclusive re-

duzir tributos, esse mercado perderá força”, diz o Depu-

tado Federal Guilherme Campos (PSD/SP). O senador

e ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT/PE) tem

atualmente três projetos que tratam do assunto trami-

tando no Congresso. Um deles institui a Política Nacio-

nal de Combate à Pirataria de Produtos Submetidos à

Vigilância Sanitária e outro estabelece a suspensão das

atividades de estabelecimento empresarial envolvido na

falsificação, adulteração ou alteração, entre outras prá-

ticas, de medicamentos, cosméticos e correlatos. “Esses

estabelecimentos vendem produtos falsos, contrabande-

ados ou roubados e depois de descobertos continuam

funcionando, gerando um clima de impunidade.”

Conforme o senador, a formação de uma Política Na-

cional de Combate à Pirataria de Produtos Submetidos

à Vigilância Sanitária servirá como instrumento para

caracterizar a biopirataria. “Hoje, não há muita clareza

sobre o que seja isso e o que se enquadra nisso”, afirma,

acrescentando que o Brasil favorece a pirataria, por situ-

ações como a grande incidência de automedicacação, a

busca por remédios mais baratos e o problema de acesso

ao sistema de saúde. O senador Humberto Costa ob-

serva também que é preciso fortalecer as estruturas da

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e das

vigilâncias sanitárias em âmbito estadual e municipal.

Antônio Britto, presidente-executivo da Interfarma,

acredita que o País já tem legislação suficiente e de alta

qualidade, quando comparada a dos países mais desen-

volvidos na área da saúde. “As leis são abundantes e boas.

Falta mais estrutura. A Anvisa não tem estrutura à altura

do trabalho gigante que tem de fazer, como fiscalizar

todas as operações que envolvem saúde no Brasil e no

exterior, porque tem de fiscalizar os fabricantes de in-

sumos, já que o País só produz 5% das matérias-primas

que utiliza na fabricação dos medicamentos.” A rastrea-

bilidade, aponta Britto, será o instrumento mais eficaz

para combater o avanço da criminalidade envolvendo

medicamentos.

Embora já tenha sido aprovado, o programa que institui a

rastreabilidade de medicamentos no Brasil está atrasado.

Emperrou na questão sobre qual o melhor sistema a ser

utilizado. Segundo Dirceu Raposo, assessor de relações

institucionais do Conselho Regional de Farmácia de São

Paulo e ex-diretor-presidente da Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (Anvisa), qualquer sistema que se

instale não custa menos de R$ 300 milhões. “Qualquer

ferramenta de rastreabilidade é mais barata que os pre-

juízos causados pelos medicamentos falsificados, rouba-

dos, contrabandeados, entre outros crimes. As entidades

calculam que a informalidade atinge 40% do mercado.

Eu acho que o desvio chega a 10%”, faz as contas Raposo.

Em números do mercado farmacêutico brasileiro do ano

passado e de acordo com a estimativa de 10% de Raposo,

o desvio ultrapassou R$ 3,5 bilhões.

Seminário discute impactos da informalidade

“Por mais que a indústria cuide e por mais que

o governo cuide, a população precisa estar aten-

ta aos prejuízos causados pela informalidade à

sociedade. A informalidade é um problema em

qualquer área, mas na saúde é literalmente fa-

tal.” Dessa maneira, Antônio Britto, presidente-

-executivo da Interfarma, abriu o seminário “A

Informalidade e seus Impactos na Sociedade”.

Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida 27

Promovido em parceria com o jornal O Globo, o

evento organizado pela Interfarma teve o objeti-

vo de reunir especialistas, parlamentares e repre-

sentantes do governo, da iniciativa privada e de

organizações sem fins lucrativos para debater o

problema – que afeta o desenvolvimento das na-

ções mundo afora e a vida das pessoas – e reunir

esforços a fim de propor soluções para amenizá-

-lo. A intenção principal, entretanto, foi servir de

instrumento de conhecimento à população sobre

os impactos nocivos da informalidade na econo-

mia, na qualidade do emprego e, particularmen-

te, na saúde.

O plano estratégico de fronteiras, pelas quais en-

tram a maior parte dos produtos que alimentam

a economia informal brasileira, que foi desenvol-

vido e está sendo colocado em prática em 2011

pelo Ministério da Justiça, Ministério da Defesa,

Forças Armadas e pelas polícias Federal e Ro-

doviária, tem tido um desempenho excelente e

foi um passo importante para integrar as forças

nacionais na guerra contra a informalidade, in-

cluindo na área de medicamentos, afirmou o mi-

nistro da Justiça, José Eduardo Cardozo, presente

no seminário. “O que mostra que a integração

das forças é de fundamental importância para

que possamos ter planos de segurança pública.

Porém, é necessário ampliarmos essa integração

ainda mais com a iniciativa privada e com as en-

tidades da sociedade civil para obtermos mais

eficiência operacional.”

Para Dirceu Barbano, diretor-presidente da An-

visa, além das ações conjuntas entre órgãos pú-

blicos, privados e associações civis, a ampliação

do acesso à saúde é essencial para reduzir a expo-

sição da população ao mercado informal de me-

dicamentos. “Quanto mais for disponível e facili-

tado o acesso de todos aos medicamentos dentro

do sistema de saúde de maneira formal, menos

provável que as pessoas busquem produtos de

origem duvidosa. Então, ampliar o acesso é fun-

damental também como uma ferramenta para

evitar que as pessoas estejam sujeitas a medica-

mentos falsificados ou contrabandeados”, disse.

Barbano informou, durante o seminário, que, en-

tre 2008 e 2010, a Anvisa participou de mais de

50 eventos relacionados ao combate à falsificação

de medicamentos, com ênfase em capacitação,

sensibilização e treinamento. Esses eventos atin-

giram um público total de 2.500 acadêmicos e

profissionais ligados à área de saúde.

O dirigente da Agência também apresentou nú-

meros que mostram a eficiência das operações

conjuntas no combate ao problema (tabela 5).

Tabela 5: Eficiência das operações conjuntas no combate

à informalidade de medicamentos (entre 2007 e o primeiro

semestre de 2011)

170 operações

648 prisões

978 locais interditados

2.611 locais inspecionados

143.572 unidades apreendidas de medicamentos falsos

e contrabandeadas (em comprimidos/ampolas)

420.996 caixas apreendidas de medicamentos

controlados

425 toneladas apreendidas de medicamentos sem

registro, vencido ou impróprio

Fonte: ANVISA (2011).

Paulo Abrão, presidente do Conselho Nacional

de Combate à Pirataria e Delitos contra Proprie-

dade Intelectual (CNCP), lembrou que, entre

2004 e 2011, segundo dados da Receita Federal,

foram apreendidos no Brasil R$ 7,6 bilhões em

mercadorias pirateadas, falsificadas e contraban-

deadas, fruto dos esforços de ações conjuntas en-

tre os órgãos governamentais, entre eles a Agên-

cia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Abrão observa que os produtos mais pirateados

ainda são as mídias como CDs e DVDs e os mais

falsificados, as roupas e acessórios, mas ressalta

que é crescente a pirataria de medicamentos. “E

eles estão sendo vendidos não apenas nos espa-

ços informais, como a internet, camelôs, feiras

livres, mas também nas farmácias, drogarias e

lojas. O que só faz com que assuma ainda maior

relevância o trabalho de fiscalização e de rotina

executado pelas vigilâncias sanitárias e as opera-

ções conjuntas que temos procurado fazer entre

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sidade do desenvolvimento de ações educativas

de massa para combater mais vigorosamente o

problema. “São de grande importância. Já foram

feitas cartilhas, entre outras ações, mas eu acho

que ainda somos tímidos nessa parte. Temos de ir

além, informar a sociedade, preveni-la, conscien-

tizá-la sobre os problemas que a informalidade

acaba trazendo. E, portanto, a questão não é só de

cunho repressivo, não é só de cunho investigati-

vo, é de cunho pedagógico social”, disse Cardozo,

acrescentando também que, em prevenção e re-

pressão, o governo tem avançado muito. “Mas há

ainda muito a ser feito.”

a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a

Anvisa, e por meio de ações repressivas do Minis-

tério da Justiça”, afirmou Abrão.

O presidente da Interfarma, Antônio Britto, fina-

liza acrescentando que o mercado brasileiro de

medicamentos, dado o seu tamanho substancial

e complexidade, tem sido um dos alvos preferen-

ciais de pessoas que agem na informalidade, seja

cometendo crimes fiscais, seja como a sonegação

de impostos, ou hediondos, como a falsificação

de produtos farmacêuticos. O ministro da Justi-

ça, José Eduardo Cardozo, reconheceu a neces-

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Informalidade na saúde: o que está em jogo é a vida 31

Pela segurança dos medicamentos e contra a informalidade

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