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O ENSINO DA GEOGRAFIA NO PERÍODO TÉCNICO-CIENTÍFICO-
INFORMACIONAL
Camila Campos de Lara Jakimiu
Universidade Estadual do Paraná - campus União da Vitória – [email protected]
Resumo:
Esta pesquisa surgiu da necessidade de compreender a importância do ensino da Geografia e o papel social e político do professor desta disciplina no período histórico atual denominado técnico-científico-informacional. Busca-se promover a reflexão acerca da importância de entender holisticamente o espaço geográfico e suas relações através do ensino da Geografia, focando no professor dessa disciplina. Porém, o mesmo enfrenta desafios ao ensinar devido ao grande fluxo e variedade de técnicas disponíveis, informações e tecnologias que se renovam constantemente pelo avanço da ciência. Nesse sentido, surge a necessidade da reflexão sobre a prática exercida pelo professor e a realidade do ensino de Geografia, pois as tecnologias ainda não fazem parte do contexto da grande maioria das escolas. Dessa maneira, faz-se necessário acompanhar a realidade histórica atual e romper com o ensino arcaico da disciplina de Geografia empregada desde o período técnico, possibilitando a melhoria da qualidade do ensino de Geografia no atual período técnico-científico-informacional. Quanto ao delineamento metodológico o presente estudo adota os moldes da pesquisa teórico-bibliográfico de cunho qualitativo, sendo que a área de abrangência para averiguação dos pressupostos teóricos encontra-se no âmbito da Educação, nas questões que envolvam o Ensino da Geografia.
Palavras-chave: Ensino, Geografia, Período técnico-científico-informacional.
Introdução
Esta pesquisa surgiu da necessidade de compreender a importância do ensino da
Geografia, assim como o papel social e político do professor desta disciplina no período
histórico atual denominado técnico-científico-informacional (Santos, 2009).
Esse período consiste na junção entre ciência, tecnologia e informação. Com o
avanço cada vez mais mundializado desses três fatores e sua rápida difusão – devido o
processo de globalização – ensinar e aprender Geografia tornou-se uma tarefa complexa que
exige muito dos professores.
As questões levantadas na problemática consistem em: a) entender primeiramente a
fase atual denominada período técnico-científico-informacional; b) Refletir acerca da
importância da Geografia no entendimento do espaço e o papel do professor desta Ciência no
atual período histórico – e, c) Discutir os desafios do ensino e a importância de acompanhar a
realidade histórica do período atual.
Inicialmente a presente reflexão busca mostrar a importância de entender o atual
período histórico, sua complexidade e contradições. Logo após refletir sobre a necessidade de
compreensão do espaço através da Ciência Geográfica por meio do sujeito que ensina e
aprende geografia nesse contexto – o professor – e como seu papel dentro da sociedade é
desempenhado nessa realidade histórica, política e social.
E, finalmente, discutir acerca da importância de acompanhar a realidade histórica do
período atual, refletindo sobre as condições atuais do ensino da Geografia.
Metodologia
Quanto ao delineamento metodológico o presente estudo adota os moldes da
pesquisa teórico-bibliográfico, de cunho qualitativo, sendo que a área de abrangência para
averiguação dos pressupostos teóricos encontram-se no âmbito da Educação, mais
especificamente nas questões que envolvam o Ensino da Geografia.
Discussão
O período Técnico-Científico-Informacional
Desde o começo da história, o homem se apropria da natureza e detêm controle sobre
ela. Esse domínio é possível através do uso da técnica, que se renova com as mudanças do
espaço e suas relações. A técnica é compreendida como um conjunto de instrumentos sociais
e políticos que o homem utiliza para sobreviver no meio ao qual está inserido, modificando-o
à suas necessidades, ou seja, o “conjunto de técnicas aparece em um dado momento, mantêm-
se como hegemônicos durante um certo período, constituindo a base material da vida da
sociedade, até que outro sistema de técnicas tome o lugar” (Santos, 2009, p. 176). Nesse
contexto, com os eventos ocorrendo sucessivamente, a história se refaz continuamente dentro
do processo de ruptura e mudança, o que vêm possibilitando o aumento significativo do
domínio do homem na natureza e no espaço (Santos, 2009).
Partindo desse pressuposto, “as épocas se distinguem pelas formas de fazer, isto é,
pelas técnicas. Os sistemas técnicos envolvem formas de produzir energia, bens e serviços”
(Santos, 2009, p.177) o que promove a necessidade de periodizar a história do espaço para
compreendê-lo de forma totalizante e racional. Nessa perspectiva, o geógrafo brasileiro
Milton Santos dividiu a história do meio geográfico em três etapas: meio natural; meio
técnico e meio técnico-científico-informacional (2009, p. 234).
O meio natural é aquele dos tempos remotos, no qual o homem, munido de suas
técnicas mais rudimentares, retirava da natureza apenas o necessário para sua subsistência e
transformava de forma amena o local que habitava. Os objetos eram naturais e não re-
produziam influências, pois nesse período o controle territorial, a criação das técnicas e a
comunicação eram locais. Dessa forma os eventos não afetavam de forma ampla outros
lugares, apesar da organização espacial desse meio, não havia grande impacto espacial.
O meio técnico é aquele anterior à Segunda Guerra Mundial, onde o homem se
apodera da natureza mais brutalmente, no qual as técnicas e os objetos começam a se
artificializar e mecanizar, e “os objetos que formam o meio não são, apenas, objetos culturais,
eles são culturais e técnicos, ao mesmo tempo” (Santos, 2009, p.236). Nesse período, o objeto
passa a carregar certa carga de intencionalidade, porém sem a informação, o objeto atua de
maneira dispersa no espaço. A comercialização aumentou, porém os fenômenos ainda se
davam em pontos distantes, sem uma conexão eficaz.
Finalmente, o período o qual estamos atravessando, vivendo e modificando
constantemente é aquele no qual o autor citado denominou de período ou meio técnico-
científico-informacional, o meio geográfico do período atual. Ele se dá após o advento da
Segunda Guerra Mundial – juntamente com o processo de globalização – e se caracteriza pela
junção da técnica e da ciência – a tecnociência – juntamente com a informação, responsável
pela circulação de todos os agentes espaciais. Nesse período, a possibilidade de difusão de
idéias, mercadorias e pessoas ocorre de forma rápida, e a substituição dos agentes acontece de
forma contínua. A mobilidade e a flexibilidade são duas características marcantes da nossa
realidade espacial atual.
O espaço torna-se aberto e controlado exteriormente, não mais localmente,
produzindo influências e também sendo influenciado por outros subespaços, onde a “união
entre técnica e ciência vai dar-se sob a égide do mercado. E o mercado, graças exatamente à
ciência e a técnica, torna-se um mercado global.” (Santos, 2009, p. 238). Nesse contexto
social o mercado global passa a controlar o próprio Estado Nacional. Sendo assim o Estado
torna-se subordinado ao mercado global e a outros estados/potências, que ditam as regras por
possuírem o domínio político-econômico-ideológico. É no meio técnico-científico-
informacional que os objetos são cada vez mais artificializados e,
“[...] são elaborados a partir dos mandamentos da ciência e se servem de uma técnica informacional da qual lhes vem o alto coeficiente de intencionalidade com que servem às diversas modalidades e às diversas etapas da produção” (SANTOS, 2009, p.234-235).
Com o avanço técnico-científico-informacional ocorre a formação de “uma
verdadeira tecnoesfera, uma natureza crescentemente artificializada, marcada pela presença de
grandes objetos geográficos, idealizados e construídos pelo homem, articulados entre si em
sistemas” (Santos, 2013, p.120). Dessa maneira, tal processo torna-se cada vez maior e
contínuo, no sentido em que os lugares - mesmo possuindo suas individualidades e certa
autonomia – dependem dos grandes centros que detêm o controle político-econômico
espacial, as tecnoesferas.
Vivemos em um período onde os objetos artificiais são rapidamente substituídos por
outros, onde “o espaço é hoje um sistema de objetos cada vez mais artificiais, povoado por
sistemas de ações igualmente imbuídos de artificialidade” (Santos, 2009, p.63) e o fluxo de
ideias se expande rápida e brutalmente. Nesse contexto, os sistemas tecnológicos – com o
avanço contínuo da Ciência – transformam a sociedade, o território e suas relações, e,
principalmente, as formas de pensar e agir dos indivíduos dessa sociedade. Isso ocorre devido
à “interdependência da ciência e da técnica em todos os aspectos da vida social, situação que
se verifica em todas as partes do mundo e em todos os países” (Santos, 2013, p.117). Isso
acontece porque,
“Nesta nova fase histórica, o Mundo está marcado por novos signos, como: a multinacionalização das firmas e a internacionalização da produção e do produto; [...] os novos papéis do Estado em uma sociedade e uma economia mundializadas; o frenesi de uma circulação tornada fator essencial da acumulação; a grande revolução da informação que liga instantaneamente os lugares, graças aos progressos da informática” (SANTOS, 2013, p.117).
Por isso a necessidade da compreensão totalitária do espaço geográfico, no sentido
de romper com a alienação espacial e territorial. E tal compreensão totalitária do espaço, dar-
se-á holisticamente através do estudo das particularidades que compõe a estrutura espacial.
Entender o espaço constitui o objeto da Ciência Geográfica. Entender o espaço
significa compreender a gama de relações existentes nele, e para isso é preciso “partir da
consciência da época em que vivemos” para construir uma consciência territorial sólida, que
reconheça o conjunto e que compreenda a unidade. É através do professor de Geografia, que
os alunos irão entender esse espaço historicamente, se enxergando como parte constituinte
dessa sociedade do período atual. Daí decorre a importância de compreender e refletir acerca
do Ensino da Geografia – no atual período do meio geográfico – e sobre os agentes atuantes,
focando no professor de geografia, que na complexidade de suas relações necessita se (re)
adaptar ao meio técnico-científico-informacional. Dessa forma, ele irá melhor cumprir com
sua função social e política, que consiste em ensinar geografia nos dias de hoje aliando
conhecimento e tecnologia.
A importância da Geografia e do professor no período atual
A geografia é uma ciência interdisciplinar, que acompanha a história do espaço e a
“geografiza” (Santos, 2009), se atentando para todas as mutações sociais, políticas e
econômicas que ocorrem na sociedade e no espaço geográfico, no qual o homem produz e é
produzido. Sendo assim, professores do período atual também necessitam atentar-se para tais
questões, no sentido de romper com a alienação espacial de seus alunos.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais da disciplina de Geografia (2000,
p.11-12) as novas tecnologias da comunicação e da informação estão muito presentes no
cotidiano de todos, o que cria a necessidade de sua análise no espaço escolar. Essa condição
de soberania dos sistemas tecnológicos faz parte da sociedade atual, ou seja, do mundo
produtivo e da prática social de todos, criando formas de organização e transformação de
processos e procedimentos. Por isso a importância de compreender esse espaço no período
técnico-científico-informacional, porque é nesse meio onde tudo se faz urgente, onde a troca,
a substituição e o intercâmbio de objetos técnicos-científicos são cada vez mais comuns.
Portanto, entender geografia,
“[...] significa entender como é o mundo, como se organiza, como vem se transformando, como age o capital, como se estruturam as grandes firmas, como acontece a produção, o destino da produção, a circulação, a informação e o papel que o estado assume numa economia e sociedade cada vez mais mundializados. Os lugares particulares se interligam entre si de forma seletiva e de acordo com os interesses locais, nacionais e/ou mundiais. O espaço concretiza todas estas relações, e torna-se fundamental estudar o particular, o local” (CASTROGIOVANNI, 2003, p. 131).
Compreender Geografia é entender a si mesmo, a sua função na sociedade produtiva
capitalista. É criar o sentimento de consciência e solidariedade territorial, compreender como,
porque e onde os agentes sociais se manifestam mais fortemente e influenciam outros agentes.
Trata-se de “um pretexto para pensarmos nossa existência, uma forma de ‘lerpensar’
filosoficamente as coisas e as relações e influências que elas têm no nosso dia-a-dia”
(Kaercher, 2007, p.17). Daí é relevante pensar a Geografia sendo uma ciência interdisciplinar
que,
“[...] no desenvolvimento de seus conceitos e na maneira de produzir, ensinar, e relacionar-se ou não com seus próprios ramos e com outras ciências ou disciplinas escolares, é um movimento histórico que se encontra em constante transformação” (PONTUSCHKA et al; 2009, p.145).
Sendo assim é função social e política do professor de Geografia que, refletindo
criticamente sobre a sua prática (Freire, 1999, p.43) ensina e aprende continuamente. O
professor de Geografia precisa cada vez mais estar à frente do seu tempo, possuir qualificação
e dinamicidade em sala de aula, tendo consciência de que é a peça chave para que seus alunos
compreendam o espaço geográfico e suas relações. Nesse sentido, para Pontuschka (2009,
p.145) “O professor necessita manter o diálogo permanente com o passado, o presente e o
futuro para conhecer melhor sua própria ciência e saber como constituir projetos disciplinares
e interdisciplinares na escola”. Pois ele cria novos saberes e os aproxima com a realidade
social mediante leituras diversificadas do espaço geográfico e de temas de grande interesse e
necessidade para compreender o mundo (p.145).
Por isso a necessidade de enxergar a importância da ciência geográfica e do professor
de Geografia, uma vez que partindo das reflexões que a Ciência propõe que professores e
alunos poderão compreender o espaço geográfico o qual estão inseridos no período atual
técnico-científico-informacional. É através do ensino, ou seja, das formas metodológicas de
ensinar, que o professor de Geografia cumprirá sua função política e social em um período em
que esse objetivo se faz cada vez mais urgente.
Os desafios do Ensino de Geografia no atual período histórico
Devido à rapidez das transformações mundiais, as ideologias que são impostas
socialmente também mudam com freqüência e acabam influenciando professores e seus
alunos, modificando então os pensamentos e valores. Processo esse resultante da mutação
constante da sociedade e da política, que se renovam com grande velocidade e de forma
contínua. O que ocorre, porém, é que a maneira de ensinar Geografia ainda se mantém àquela
igual ao do meio técnico: hierárquica e politizada, nas quais os alunos – mesmo que
invisivelmente – ainda são impedidos de refletir sobre sua existência espacial.
Um exemplo dessa amarra é quanto ao ensino da disciplina, quando os professores
não transmitem a verdadeira Geografia na sua essência, ou seja, não apresentam aos seus
alunos os grandes geógrafos que constituíram essa Ciência e propuseram teorias que a
nortearam, como Carl Ritter, Alexander Von Humboldt, e o geógrafo brasileiro Milton
Santos. A conseqüência disso é que o professor de Geografia não irá mais conseguir sustentar
seus alunos na escola, nem com conhecimento tampouco com estímulos, como iguais aqueles
que recebem constantemente em outros âmbitos que convivem. Dessa forma, é necessário que
os professores sejam qualificados e que utilizem os sistemas tecnológicos na sala de aula a seu
favor, buscando formas de “incrementar o processo ensino-aprendizagem”, assim como
elaborando uma rediscussão acerca da “educação em suas relações com a tecnologia”
(CARVALHO, KRUGER, BASTOS, 2000, p. 15). Sendo assim,
“[...] o professor precisa repensar o seu papel como educador, simplesmente, ele não será apenas um transmissor de informações, pois estas tecnologias já fornecem aos alunos. No atual contexto, o professor deve voltar suas estratégias metodológicas para a construção de valores a partir do conhecimento científico” (LIMA; CRUZ; MALAFAIA, 2010, p.4).
Nesse contexto Sancho (1998, p.41) escreve que o “ritmo acelerado de inovações
tecnológicas exige um sistema educacional capaz de estimular nos estudantes o interesse pela
aprendizagem”, já que o mesmo convive simultaneamente com várias tecnologias fora da sala
de aula. Isso o caracteriza como o aluno do período técnico-científico-informacional:
Inovador, criativo, dinâmico e curioso. Daí a necessidade de que,
“[...] a formação do professor é fator imprescindível para que a escola consiga melhorar a capacidade do cidadão comunicante, uma vez que o professor pode adotar em sua prática cotidiana uma postura que subsidia e estimula o aluno a refletir sobre o que significa comunicar-se em nossa sociedade, como também aprender a manipular tecnicamente as linguagens e a tecnologia” (CHIAPINNI, 2005, p.278).
É papel do professor de Geografia preparar a si e seus alunos para “enfrentar
exigências desta nova tecnologia, e de todas que estão a sua volta” (Almeida, 2000, p. 78),
pois ele é a figura fundamental no processo de ensino, que não pode ser substituído por
nenhuma tecnologia, “é a tecnologia das tecnologias, e deve se portar como tal” (Demo, 2008,
p. 134). Ou seja, o uso das novas tecnologias no ensino não reduziu a função do professor,
“houve uma modificação profunda na forma de ensinar, visto que ele deixou de ser o dono do
saber e passou a ser um parceiro de um saber coletivo” (Santos et al, 2010, p.8) por isso a
importância dele se qualificar e dominar todos os instrumentos disponíveis – tecnológicos,
sociais e políticos – principalmente dentro da sala de aula. É nesse sentido que Mercado
(1999) coloca que,
“As novas tecnologias criam novas chances de reformular as relações entre alunos e professores e de rever a relação da escola com o meio social, ao diversificar os espaços de construção do conhecimento, ao revolucionar os processos e metodologias de aprendizagem, permitindo à escola um novo diálogo com os indivíduos e com o mundo” (p.27).
Porém, o avanço técnico-científico da sociedade ainda não chegou à maioria dos
espaços escolares, devido questões políticas, sociais e econômicas que estruturam o espaço
geográfico. Muitas escolas ainda são precárias, no sentido de não possuírem instrumentos que
possibilitem o uso de tecnologias, como, laboratórios de informática, Tv’s pen drive,
projetores multimídia, entre outros. Essa realidade resulta na impossibilidade da utilização dos
recursos disponíveis no atual período – técnico-científico-informacional – como a internet e a
informática. Nesse sentido, “o uso das novas tecnologias para o ensino da Geografia ainda
não está consolidado” porque muitas escolas públicas não dispõem de recursos tecnológicos
para aprimorar as aulas de Geografia e, ao mesmo tempo “ainda falta um aprimoramento dos
professores, que assoberbados pelo mundo do trabalho, dadas as suas condições salariais,
acabam não disponibilizando tempo para a aprendizagem em informática” (Santos et al, 2010,
p.11).
Nesse contexto, muitas vezes os alunos apenas têm contato com os sistemas
tecnológicos quando não estão mais inseridos no ambiente escolar. Essa realidade demonstra
que o atual sistema educacional acaba por excluir mais do que incluir o sujeito. A escola, os
professores e também seus alunos vivem uma realidade à parte da realidade do meio técnico-
científico-informacional, que é ó próprio espaço escolar, onde o processo de ensino-
aprendizado acontece. Na realidade histórica atual, o ensino da geografia não possibilita a
compreensão espacial e as suas relações, e isso acontece porque as
“[...] tecnologias da informação e da comunicação, sob o argumento de estarem inseridas na lógica do mercado e da globalização cultural, teria como efeito mais exclusão e mais seletividade social, uma vez que sua não integração às práticas de ensino impediria aos alunos oportunidades de percepção e emissão da informação, deixando-os desguarnecidos diante das investidas de manipulação cultural e política, de homogeneização de crenças,
gostos e desejos, de substituição do conhecimento pela informação” (LIBÂNEO, 1998, p. 60).
Nesse contexto contraditório de realidades, se faz importante o papel político do
professor de Geografia, que mesmo sem as melhores condições - assim como a maioria dos
professores de outras disciplinas – buscam a resolução para a alienação histórica de seus
alunos, e conseqüentemente promovem a melhoria da sociedade e do espaço. Somente
compreendendo amplamente esse espaço geográfico, é que se darão as melhores condições de
ensino e aprendizado, pois é fundamental (re) conhecer o espaço e as múltiplas relações que
nele ocorre, principalmente no período técnico-científico-informacional. Sendo assim,
“Formar para as novas tecnologias é formar o julgamento, o senso crítico, o pensamento hipotético e dedutivo, as faculdades de observação e de pesquisa, a imaginação, a capacidade de memorizar e classificar, a leitura e a análise de textos e imagens, a representação de redes, de procedimentos e de estratégias de comunicação” (PERRENOUD, 2000, p.128).
O aluno desse período deve ter consciência espacial e compreender a Geografia na
sua essência, ou seja, deve conhecer os grandes autores da ciência através do ensino de
qualidade transmitido pelo professor desta disciplina. Deve possuir discernimento nas
questões que referem-se ao espaço, suas modificações e suas relações, decodificando as
informações e as transformando em conhecimento, entendendo os porquês, levantando
questionamentos e dessa forma se tornando cidadão consciente de sua existência.
Conclusões
O período histórico-espacial atual denominado técnico-científico-informacional
transforma-se constantemente com o avanço contínuo da ciência. Essas transformações são
promovidas pela ação dos sistemas técnicos sobre os objetos – naturais, sociais e artificiais –
no espaço, e pela rápida difusão da informação por todos os subespaços. Nessa realidade o
ensino da Geografia ainda permanece arcaico no que refere-se ao uso de tecnologias em sala
de aula, pois o espaço escolar não comporta os sistemas técnicos do período, o que dificulta o
acompanhamento do Ensino junto ao período histórico atual.
Para a maioria dos professores de Geografia falta qualificação do ponto de vista
técnico-científico, e muitos alunos não possuem estímulo para aprender no contexto escolar
atual. Daí decorre a importância da compreensão holística do espaço, pois é através dele que
podem ser reestruturadas as questões do ensino da Geografia, por meio do professor desta
disciplina que transforma a realidade. Dessa forma, é relevante enaltecer a importância dos
sistemas tecnológicos em sala de aula, para que, professores e alunos possam acompanhar a
realidade atual – e utilizá-las a seu favor – sem permanecerem deslocados da realidade social
imposta pelo modo de produção capitalista.
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