influência do jornalismo económico na bolsa de valores
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Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria, Multimédia
Ana Isabel Meireles | Ana Rita Gomes | Ana Rita Neves Costa
Cloe Jaqueline Mattos | Francisco Moya Parens | Mafalda Leite
Maria João Monteiro | Natacha Oliveira
Influência do Jornalismo Económico
na Bolsa de Valores
Visibilidade mediática da empresa Sonae
Trabalho de Investigação
Psicossociologia da Comunicação
Docente Jorge Marinho
Influência do Jornalismo Económico na Bolsa de Valores – Trabalho de
Investigação
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Índice
Introdução ......................................................................................................................... 3
Metodologia ...................................................................................................................... 3
O Jornalismo Económico: Definição e Influência ............................................................ 5
A empresa Sonae na comunicação social e na Bolsa de Valores ..................................... 9
A influência dos jornais económicos no processo de investimento ............................... 10
A influência dos líderes de opinião na Bolsa de Valores ............................................... 13
Análise de três jornais económicos e das cotações da empresa Sonae ........................... 14
Conclusão ....................................................................................................................... 16
Bibliografia ..................................................................................................................... 18
Anexos ............................................................................................................................ 20
Influência do Jornalismo Económico na Bolsa de Valores – Trabalho de
Investigação
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Introdução
O objetivo da unidade curricular de Psicossociologia da Comunicação para este
semestre centrou-se no tema “A influência do jornalismo económico nos investimentos
na bolsa de valores”, a partir do qual optamos por aprofundar ou, mais precisamente,
afunilar a nossa investigação, enveredando por uma abordagem mais circunscrita
relativamente à empresa Sonae e à influência que peças jornalísticas teriam sobre os
investimentos nas suas cotações de bolsa.
É através do jornalismo que ficamos a conhecer ou, pelo menos, a compreender
melhor aquilo que nos rodeia e que trás profundas repercussões para o país e para acda
um de nós, individualmente. Num actual contexto de crise económica, parece tornar-se
preponderante o papel dos media, em que “os jornalistas têm uma responsabilidade
acrescida de tentar dar a informação, não só a que as pessoas querem, mas uma
informação que seja relevante e que seja com o máximo rigor possível” (NEVES, 2014).
A questão mais relevante a que o grupo procura responder é quão importante influência
toma a imprensa nos investimentos na bolsa de valores.
Deste modo, para a concretização da investigação, foram realizadas entrevistas
que permitem ilustrar melhor as nossas conclusões e uma pequena análise comparativa
de dados entre jornais a partir da qual criaremos as bases deste trabalho.
Metodologia
Para a elaboração do trabalho acerca da influência que o jornalismo económico
tem nos investimentos da bolsa de valores, procedemos à análise de jornais económicos
Influência do Jornalismo Económico na Bolsa de Valores – Trabalho de
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e das cotações da empresa Sonae na Bolsa de Valores, a uma pesquisa de terreno que
também se pode entender como consulta de especialistas e a uma pesquisa webgráfica
ou bibliográfica.
No que toca à análise de jornais económicos, propusemo-nos a analisar o Jornal
de Negócios, o Diário Económico e o Dinheiro Vivo. Desta análise, extraímos apenas as
notícias referentes à empresa em estudo.
O período de análise situou-se desde o dia 15 de Março até dia 15 de Maio de
2014. O grupo escolheu este espaço temporal, por considerar significativo em termos de
representatividade, visto que dois meses dariam o material suficiente para análise, como
sei a verificar, pela quantidade de peças jornalísticas.
A nível de informação sobre as cotações na Bolsa de Valores, verificamos a
secção “cotações” que faz parte de cada um dos jornais analisados. A consulta passou
pelo site da Euronext, na secção da Bolsa de Lisboa e pelas cotações providenciadas
pelo Jornal de Negócios.
Relativamente à pesquisa de terreno, realizamos três entrevistas com o intuito de
obter informação mais precisa e aprofundada acerca da matéria em questão, tendo sido
feitas a um acionista da Sonae, Leopoldo Furtado Martins, a um jornalista, editor da
delegação do Porto do Jornal de Negócios, Rui Neves, e ao fundador do projeto
Zercatto, Gaspar D'Orey.
Em relação à pesquisa webgráfica/bibliográfica e de forma a conceder
fundamentação teórica, retiramos as informações mais pertinentes presentes nas
seguintes obras: “Manual de Psicossociologia das Organizações”, de António Caetano,
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J.M. Carvalho Ferreira e José Neves; “Introdução à Psicossociologia das Organizações”
de François Petit e Michel Dubois; “Etudes de Psychologie Sociale” de Gabriel Tarde;
“O jornalismo especializado na sociedade de informação” de Ana Carolina de Araújo
Abiahy; “A utilidade da greve no discurso do jornal Diário Económico” de Branco Di
Fátima; “Economia, valor notícia e assessorias de imprensa” de Lino Geraldo Resende;
e “Business Journalism’s Image Problem” de Chrystia Freeland.
O Jornalismo Económico: Definição e
Influência
O jornalismo económico diz respeito, segundo Pierre Bourdieu, a um subcampo
do jornalismo. Esta área de jornalismo especializado centra-se na cobertura e debate de
temas referentes à economia, aos negócios e às finanças ao nível nacional e/ou
internacional.
O jornalismo económico surgiu na mesma altura que o jornalismo generalista ou
tradicional. No entanto, o jornalismo económico sempre se debateu com algumas
dificuldades, muito ligadas à forma como os jornalistas especializados nesta área
tratavam a informação.
De acordo com Kárita Cristina Francisco, na sua publicação “Barreiras na
produção de conhecimento pelo jornalismo económico”, existe três barreiras com que o
jornalismo económico sempre se debateu:
1) A falta de tempo para trabalhar melhor a apuração da notícia e para a
construção do texto;
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2) A falta de acesso a fontes oficiais;
3) Transmissão de informação muito baseada em números, tabelas, dados e
percentagens.
A forma como a informação de índole económica é tratada pelos meios de
comunicação sempre foi alvo de críticas pelos “verdadeiros” especialistas nesta
temática, que afirmam que a maneira como os temas são transmitidos e expostos ao
público são pouco rigorosos.
Christina Martins, na sua publicação Uma fronteira ou o jornalismo económico
como forma de conhecimento especializado, refere que no jornalismo económico e
sendo este um jornalismo especializado:
“os valores-notícia da procura pela objetividade e respeito pela acelerada
contagem do tempo que regem o jornalismo têm de ser acompanhados
por outras capacidades técnicas. Não é um jornalismo melhor do que o
dito generalista ou tradicional, apenas exige maiores e outros cuidados e,
principalmente, uma preparação complementar por parte do profissional
da informação que a ele se dedica.” (Martins,2005).
As fontes deste tipo de jornalismo são, por vezes controversas. A informação
geralmente vem dos próprios atores, de modo que a imparcialidade é muitas vezes
duvidosa.
A Economia é uma especialidade que requer em muitos casos, uma investigação
completa, pois as empresas não querem tornar os seus dados em informação pública. A
área económica é usada, muitas vezes como fonte de informação para os próprios
indicadores do Governo: sindicatos, associações profissionais, empregadores e os meios
de comunicação oficiais (ministérios, funcionários, etc..)
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As principais informações económicas de instituições públicas são
providenciadas por uma análise conjunta ou centros de pesquisa, mas geralmente as
mais importantes são aquelas que geralmente são dadas pelas empresas si.
O jornalismo económico tem sido frequentemente acusado de usar jargão
excessivo, que não permite o acesso público à informação. Repórteres defendem,
alegando que o papel da imprensa não é o de ensinar e que os termos utilizados
pertencem a linguagem económica universal.
Existe igualmente a preocupação de dotar os jornalistas, de uma qualificação
especializada na área da Economia, para que possam da maneira mais correta manusear
a informação em bruto que todos os dias chega à redação. Se por um lado, existe o
perigo de tornar o jornalismo económico, um ramo demasiado restrito a uma camada
social, por outro, trata-se de capacitar os profissionais da comunicação de “engenhos”,
que permitiam divulgar e tratar os conteúdos corretamente e sem a ponta de
ambiguidade.
O interesse pela informação económica, passa muito pela forma como esta é
tratada e divulgada, pelo que cabe ao jornalista torná-la o mais apelativa e
compreensível possível, com recurso por exemplo, a elementos multimédia ou
organizativos como as tabelas.
Todavia, há uma questão que não pode ser esquecida: em temas como a
economia, na maior parte das sociedades, a comunicação social acaba por ser a maior
fonte de informação dos indivíduos ditos leigos. Neste sentido, é o jornalista que tem o
papel de definir a chamada agenda pública, isto é, é o jornalista especializado na área da
economia que assume por completo a função de pedagogo, transformando o resultado
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da sua atividade numa espécie de dicionário tanto para leigos como para especialistas.
(Martins, 2005).
Como diz Graham Watts, citado por Christina Martins, o jornalismo económico
é “antes de qualquer outra coisa, jornalismo”. E é neste aspeto que o jornalista deve
refletir na altura em que relata um acontecimento: que nunca deve publicar nada que ele
próprio não compreenda. Ele dever ser capaz de utilizar a informação de índole
económica, com todos os seus números e tabelas, de forma equilibrada e distribuída
pelo texto, com fim a que haja uma linha de sentido para o leitor comum.
Esta forma de escrever Economia é justificada por Burkett, também citado por
Christina Martins, que diz ser “por uma boa causa, uma vez que o redator pretende
procurar o significado para o seu público-alvo.”.
Desde a década de 70 do século XX que a economia passou a assumir um papel
preponderante na sociedade. E, para que esta esteva informada acerca do tema, a
comunicação social começou a ter mais cuidado na forma como trata e transmite
informação desta índole, mantendo sempre um relato acessível ao público, pois é por
este que a mensagem tem de ser compreendida. Neste sentido, Graham Watts volta a
sublinhar que o jornalismo económico “pode ser economia, mas continua a ser
jornalismo.”.
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A empresa Sonae na comunicação social e na
Bolsa de Valores
Na era da informação em que vivemos, as empresas vêm a necessidade de
adaptar a sua comunicação a um público que se interessa cada vez mais em acompanhar
regularmente o seu percurso.
Torna-se, desta forma, indispensável criar um departamento de comunicação
consistente, que possa responder de forma adequada às demandas informativas dos
clientes.
A Sonae tem vindo a consolidar ao longo dos anos a sua presença mediática e é
cada vez mais notável a relação entre as decisões que a empresa vai tomando e a sua
divulgação nos meios de comunicação. A visibilidade mediática da Sonae começa nos
comunicados que esta emite e agrupa no respetivo site debaixo do título “Media Center”
e estende-se até às notícias que aparecem em diversos jornais económicos e
generalistas.
Tendo em conta que a Sonae é um dos mais importantes grupos empresariais
portugueses, é constante a referência noticiosa à empresa e às sub-empresas nela
incluída como a Sonae Indústria.
As notícias estão normalmente relacionadas com a criação de extensões da
empresa em determinado local, as compras e vendas a empresas estrangeiras, o estado
de expansão ou recuo da empresa, a abertura de novas lojas e novos postos de trabalho e
declarações da equipa da Sonae.
Na imprensa generalista, as notícias relacionadas com a Sonae referem-se apenas
ao grupo empresarial e são menos frequentes. Pelo contrário, em jornais de economia
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como o Diário Económico, Jornal de Negócios ou Dinheiro Vivo se noticia
regularmente o que ocorre em cada uma das marcas da Sonae.
A presença da Sonae nestes jornais é frequente, mas dá-se de acordo com o
movimento da empresa, o que significa que há dias sem notícias e outros em que são
várias as informações divulgadas.
É ainda possível acompanhar a Sonae na Bolsa de Valores e ver a evolução
diária das ações de cada marca que dela faz parte, assim como perceber em que medida
determinado cenário é ou não favorável aos investimentos. Alguns jornais de economia,
como o Jornal de Negócios, apresentam opiniões de especialistas que fazem previsões
sobre as tendências de subida ou descida das ações.
A influência dos jornais económicos no
processo de investimento
O jornalismo económico, tal como todo o tipo de jornalismo especializado ou
generalista, detém uma capacidade de influência que será impossível negar. A
necessidade de informação especializada por parte do leitor ou potencial investidor em
matérias como a Economia ou a Finança, requer factos e enquadramentos que só o
jornalismo económico pode fornecer. - “Hoje, ao mesmo tempo que informa, ele presta
serviços, esclarece pontos da economia e procura deixar o leitor informado do que está
acontecendo na economia e como estes acontecimentos podem afetá-lo.”
(Resende,2003:34).
Além de que, a excessiva carga informativa que geralmente circula nos meios de
comunicação social será esbatida e organizada pelo jornalismo especializado, que
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simultaneamente poderá conceder uma orientação ao público que o consulta. - “As
produções especializadas compreendem que justamente pelo excesso de informação que
chega diariamente, o indivíduo sente necessidade de uma orientação para o que seja de
seu maior interesse, por isso existe a busca crescente por materiais mais direccionados.”
(Abiahy,2005:13)
No caso da Economia e da Finança, duas áreas que são especialmente propícias
ao movimento de interesses devido à concentração de grandes grupos económicos, estes
podem encontrar no jornalismo económico, a visibilidade que almejam e necessitam. -
“As publicações especializadas servem como um termómetro da gama de interesses das
mais diversas áreas, expõem, então, o nível de dissociação entre os componentes da
Sociedade da Informação.” (Abiahy,2005:5).
A orientação do público pode não ser vista como algo inocente e ingénuo, porém
da mesma forma que se coloca em causa o conteúdo veiculado pelos jornais
económicos, salvaguarda-se a importância que têm na formação de um público
esclarecido e educado economicamente e financeiramente. Tal como afirma Gaspar
d’Orey (2014), quando questionado acerca da importância dos media especializados em
Economia: “Julgo que são fundamentais ao bom funcionamento, transparência e à
educação do mercado.”.
Não é difícil constatar, que os investidores na Bolsa de Valores, não raras vezes,
consultam periódicos na tentativa de encontrarem informações que possam tirar dúvidas
ou confirmar certezas acerca de determinada empresa ou de um possível investimento.
Porém, a capacidade crítica será importante aquando da consulta dos periódicos, na
medida em que tudo o que envolva comunicação, e o jornalismo especializado
inclusive, é permeável à existência de rumores e boatos.
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De acordo com Leopoldo Martins (2014), investidor da Bolsa e accionista, para
além das publicações especializadas, cria-se a necessidade de recorrer a outras fontes de
informação como as próprias empresas, outros investidores e os corretores bancários,
por forma a evitar maus investimentos – “(..) não é só nos jornais que eu vou colher
informações sobre a empresa. Eu tenho que recorrer ao meu banco e ao meu gestor de
conta.”.
A irracionalidade e volatilidade associadas aos mercados financeiros e
económicos advêm da precipitação de muitos investidores, que quando confrontados
com as informações veiculadas pelos jornais, reagem de forma imediata e frenética –
“Há Experts que, em alturas de grande volatilidade, incerteza ou rumores preferem ficar
fora do mercado. É um comportamento bastante saudável, dado que nestas alturas o
mercado pode comportar-se de forma mais irracional.” (Gaspar d’Orey, 2014).
Um exemplo da marcada influência do jornalismo económico na Bolsa de
Valores, é certamente o caso das notícias que divulgam a compra ou fusão de certas
empresas ou grupos económicos, e que geralmente contribuem para a subida dos valores
das ações.
Assim sendo, muitas vezes, as empresas conhecendo o potencial de influência
dos media, ocultam estas informações da opinião pública e dos jornais, uma vez que o
mais pequeno e insignificante facto veiculado pode destruir a possibilidade de negócio,
pois condiciona a venda das ações dos atuais acionistas a um preço mais elevado, ou
provocar volatilidade repentina nas cotações da Bolsa de Valores, tornado os custos
insuportáveis e inevitáveis para a empresa.
Adicionalmente, aquando da divulgação destas notícias, futuros investidores
poderão deixar de comprar ações da empresa uma vez que a sua expansão acarreta um
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grande aumento de capital, fator que já não é tido como um investimento a longo prazo,
mas sim como um custo e consequentemente, um prejuízo para o investidor.
Em suma, tal como afirma Leopoldo Martins (2014), “A bolsa é um barómetro
ultra-sensível do que se passa no mundo”, o que demonstra que todos os acontecimentos
mediatizados, sobretudo nos jornais de foro económico/financeiro, têm um grande
impacto na oscilação das cotações da Bolsa de Valores.
A influência dos líderes de opinião na Bolsa de
Valores
Tal como referido anteriormente, aquando da decisão de investimento na bolsa,
um acionista procura, para além da impressa especializada, outros meios fidedignos de
obtenção de informação, entre os quais outros investidores, cuja opinião se revela de
maior importância. Estes investidores são por isso denominados líderes de opinião.
“Liderar implica a existência de um individuo que tem capacidade de influenciar
um grupo de indivíduos” (Neves, 2011: 429), existe portanto uma pessoa que se destaca
relativamente às restantes, pelo seu vasto conhecimento sobre o assunto e porque
pretende alcançar os mesmos objetivos.
No que diz respeito à Bolsa de Valores, Leopoldo (2014) afirma que: “Se existe
confiança entre os investidores então as pessoas sabem que devem investir naquelas
ações que recomendei”, ou seja, no seio de um grupo de investidores, aquele que revelar
maior experiência, alguma aptidão natural para os bons negócios e maior sucesso em
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investimentos passados, possuiu conselhos vitais numa altura de indecisão face a um
investimento. Para além destes aspetos, o líder tem ainda de acompanhar diariamente as
cotações e não se deixar influenciar exclusivamente por jornais especializados.
Análise de três jornais económicos e das
cotações da empresa Sonae
Existem vários factores que podem influenciar as cotações da Bolsa de uma
empresa, desde o lucro, taxas de câmbio, novos investimentos, crescimento económico.
Aqui, focar-nos-emos num fator que pode, apesar de ser externo, ter influência nas
cotações e uma bolsa, neste caso na da Sonae.
Deste modo, propusemo-nos a analisar notícias e percebes como é que as
mesmas podem influenciar a subida ou descida das cotações. Entendemos que uma das
grandes influências é o facto de saírem notícias favoráveis/benéficas ou
desfavoráveis/prejudiciais ou notícias sobre o mercado em que a empresa atua.
De forma a fazermos esta análise, escolhemos três jornais: o Jornal de Negócios,
o Diário Económico e o Dinheiro Vivo. Verificamos que existe uma correlação direta
entre as notícias e a Bolsa, ou seja, quando a notícia é favorável, as cotações são mais
elevadas. Se, pelo contrário, as notícias sejam pejorativas à empresa, as cotações
sofrerão uma descida, podendo até ser negativas.
No dia 15 de março de 2014, o Jornal de Negócios lançou uma notícia sobre a
previsão de subida de lucros da Sonae, o que contribuiu para que nesse dia a Bolsa da
mesma estivesse positivamente cotada, com 2,13%. Em alguns casos, aconteceu que a
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Bolsa desvalorizou de um dia para o outro. Pensamos que esta situação poderá estar
relacionada com as notícias que saíram sobre a Sonae. Atentemos então no exemplo dos
dias 18 e 19 de março de 2014.
O jornal Dinheiro Vivo, no dia 16 de abril, publicou uma notícia com o seguinte
título: “Sonae Sierra distinguida na América Latina”e tendo como lead: “Os prémios
que distinguem o que de melhor se faz no setor dos centros comerciais na América
Latina, os “Latin American Shopping Center Awards”, foram atribuídos este ano à
Sonae Sierra Brasil.”, o que constitui algo favorável e que se manifestou na cotação da
Sonae nesse dia, que foi de 2,41%, subindo mais de um ponto percentual em relação ao
dia anterior (15/04), que teve uma cotação de 1,23%.
No dia 8 de maio registou-se a pior cotação da Sonae Indústria, durante o
período de análise. A cotação foi de -13,20%. Nesse mesmo dia, no Diário Económico,
noticiou-se o seguinte: “Sonae Indústria prepara aumento de capital em 150 milhões”,
que pode aparentar ser favorável, mas na verdade quando lemos o lead percebemos que
é algo pejorativo, já que no lead se pode ler o seguinte: “O grupo de derivados de
madeira, detido maioritariamente pela ‘holding’ pessoal de Belmiro de Azevedo,
agravou os prejuízos para 26 milhões.”. Compreendemos assim que a Sonae Indústria
terá um prejuízo bastante avultado, o que pode justificar a má cotação desse dia.
O dia 12 de maio também não foi um dia muito benéfico para a Sonaecom,
sendo que alcançou uma cotação negativa (-1,23%). Mais uma vez, acreditamos que
esta situação esteja relacionada com a notícia do Diário Económico, que tem como
título: “Lucro da Sonaecom cai mais de 23% para 7,2 milhões de euros” e o seguinte
lead: “Dona da Zon Optimus por via directa e indirecta registou um volume de
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negócios consolidado de 31,1 milhões de euros. Resultados não são directamente
comparáveis com os do período homólogo devido à fusão entre a Zon e a Optimus.”
Entendemos que o facto de os lucros caírem, seja motivo para um decréscimo da
aquisição de ações. Concluímos assim, que as notícias podem ter efeito nas cotações da
bolsa da empresa Sonae.
Conclusão
O jornalismo económico é um ramo do jornalismo que se concentra em relatar
os fatos relacionados com a economia, incluindo tópicos sobre finanças, Banca e o
mercado de ações; mostra igualmente como analisar, interpretar e elaborar informação
económica.
O jornalista combina a experiência profissional e amplo conhecimento em uma
determinada área para a implementação das habilidades jornalísticas gerais que
permitem informar eficazmente o público.
Ao longo do trabalho, tendo como o objeto de estudo a Sonae, o objetivo foi
determinar a representatividade que uma empresa pode ter no ambiente mediático e
social.
A análise de jornais económicos permitiu concluir que essa representatividade é
visível e não foge muito dos padrões que inicialmente o grupo tinha concebido como os
recorrentes de uma empresa conhecida em Portugal como a Sonae. A empresa detém
visibilidade social e económica no panorama português, o que justifica a sua
repercussão mediática.
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No que diz respeita à influência do jornalismo económico, tanto as empresas
como os investidores depositam nos media um enorme poder. Embora se possa afirmar,
que atualmente, esse poder é disseminado pelos líderes de opinião e pelos especialistas
na área da Economia.
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Bibliografia
CAETANO, António, CARVALHO FERREIRA, J.M. , NEVES, José – Manual
de Psicossociologia das Organizações. Lisboa: Escolar Editora, 2011.
DUBOIS, Michel, PETIT, François – Introdução à psicossociologia das
organizações. Lisboa: Instituto Piaget, 2000.
TARDE, Gabriel – Études de Psychologie Sociale. Paris: V. Giard & E. Briere,
1898.
Webografia
Biblioteca Online de Ciências da Comunicação (1999), “ A utilidade da greve no
discurso do jornal Diário Económico”, Branco Di Fátima, 2011. Artigo
consultado a 14 de Abril de 2014
http://www.bocc.ubi.pt/pag/fatima-branco-a-utilidade-da-greve-no-discurso-do-
jornal.pdf
Biblioteca Online de Ciências da Comunicação (1999), “Economia, valor notícia
e assessorias de imprensa”, Lino Geraldo Resende, 2003. Artigo consultado a 14
de Abril de 2014
http://www.bocc.ubi.pt/pag/resende-lino-economia-valor-noticia.pdf
Biblioteca Online de Ciências da Comunicação (1999), “O jornalismo
especializado na sociedade de informação”, Ana Carolina Abiahy, 2000. Artigo
consultado a 14 de Abril de 2014
http://www.bocc.ubi.pt/pag/abiahy-ana-jornalismo-especializado.pdf
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The New York Times (2010), “Business Journalism’s Image Problem”, Chrystia
Freeland, 20 de Agosto. Página consultada a 14 de Abril de 2014
http://www.nytimes.com/2010/08/22/books/review/Freeland-t.html?_r=0
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Anexos
Entrevista a Gaspar d’Orey
Gaspar d’Orey é um dos fundadores da plataforma Zercatto, cujo principal
propósito é aconselhar potenciais investidores, tendo como base investidores de
sucesso, dispostos a revelar alguns dos “truques” no que toca à Economia e ao
comportamento estratégico na Bolsa de Valores. Sediado no Porto, o Zercatto assenta a
sua atuação no próprio slogan: “Follow the best in Financial Markets”.
O que levou três jovens a criarem a plataforma da Zercatto?
Como especialistas em mercados financeiros, eu e o Gonçalo Moreira ouvimos
muitas vezes a pergunta: "Não tem nenhuma dica?". Muitos queriam investir sozinhos,
mas sem conhecimentos nem tempo, acabavam por perder dinheiro. Durante uma
conversa de amigos, surgiu a ideia de criar um site onde estas pessoas pudessem seguir
os passos de investidores de sucesso, que estivessem dispostos a abrir o seu “jogo”. O
site reúne quem realmente percebe de mercados financeiros, e quem quer investir fora
da alçada do conselho de bancos e das corretoras de forma segura e em sigilo, e sem ter
de abrir novas contas em bancos ou corretoras.
O Zercatto foi criado para formar uma comunidade das melhores carteiras de
investimento no mundo, e fazer com que investidores activos em Bolsa, e com qualquer
dimensão de carteira possam seguir essas carteiras que já têm sucesso, e aprender com
elas.
Na sua opinião, o que leva um potencial investidor a consultar esta plataforma?
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O Zercatto permite que Experts do mundo inteiro melhorem a sua carteira de
investimentos em Bolsa, e que possa lucrar tal como estes Experts.
Com isto, um investidor volta a ter controlo, entusiasmo e resultados sobre a sua
carteira. O investidor pode seguir qualquer um dos Experts e replicar os seus trades
baseado na performance real, auditada pelo Zercatto. O investidor aplica a sua estratégia
na instituição financeira que preferir (corretora, banco, etc) sem ter de abrir novas
contas. Além disso, faz isto em total privacidade, porque ninguém nunca tem acesso aos
seus detalhes de conta ou montante investido.
Existem determinados períodos durante o ano em que verifiquem que a afluência
ao site é maior?
Não maior, mas menor. Natal e Agosto têm naturalmente menos afluência,
porque o hemisfério norte está todo de férias, logo os mercados têm menor liquidez.
A inovação que está inerente a este projeto, tinha como objetivo quebrar com a
habitual zona de conforto dos investimentos, como os bancos e as corretoras?
Não necessariamente. Ao contrário dos agentes normais, não acreditamos que
uma equipa isolada de banqueiros ou um algoritmo tenha a capacidade para saber o que
é o melhor para a sua carteira. Também não acreditamos que o resultado da sua carteira
deva subir e descer a par dos índices, acreditamos que a sua carteira deve superá-los.
Não acreditamos igualmente em comissões de gestão, não interessa o quão baixas são,
nem em cobrar comissões por cada operação que faça em Bolsa.
Para nós, só faz sentido pagar quando obtiver lucro. Ao contrário dos agentes
normais, não acreditamos em trading automático feito por robôs, mas sim que o
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investidor deva ter o controlo da sua carteira, e que deva questionar todos os trades
efectuados.
Para os bancos e corretoras, o Zercatto é uma oportunidade de dar um melhor
serviço aos seus clientes, sem os perderem É a oportunidade para eles de alargarem a
sua equipa de especialistas dos 5 ou 10 que trabalham nas suas instalações, para mais de
160 que estão pelo mundo fora. É a oportunidade de terem alguém a certificar-se que os
Experts têm rentabilidades altas, e que os investidores, seus clientes, que os seguem,
tenham uma maior probabilidade de fazerem dinheiro. E isto tudo sem dividirem as suas
comissões com ninguém, porque o Zercatto não ganha com base numa comissão de
compra ou venda (como os bancos e corretoras), mas sim por uma subscrição, tal como
se subscrevesse uma revista.
Tendo em conta a sua experiência, quais são os fatores que mais pesam nas
decisões dos investidores?
Variam muito, consoante o tipo do investidor (mais ou menos conservador, mais
ou menos activo, etc), o seu capital disponível, o seu objectivo... É difícil responder.
A informação disponibilizada nos jornais económicos, afeta o comportamento de
um investidor na Bolsa de Valores? De que forma?
Afecta o comportamento dos investidores mais amadores. Tipicamente, quando
sai nas notícias, é porque é tarde demais para fazer alguma coisa. Não quer dizer que os
investidores que compraram ou venderam antes, tenham informação privilegiada.
O que normalmente acontece é um delay (atraso) entre a informação e a notícia,
e quem está mais atento e por dentro, atua antes.
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Uma empresa que tenha pouca e/ou desfavorável exposição mediática tem
repercussões ao nível dos seus investimentos e da sua cotação?
Não vejo correlação entre isso. Obviamente que há os casos evidentes como o
facto de se saber que o Warren Buffet está interessado na empresa X. Claramente, a
cotação da empresa sobe imediatamente. Por isso, a) o Warren Buffet não pode
informar a imprensa porque senão vai ter de comprar mais caro e b) os accionistas
actuais da empresa vão poder vender as suas ações a um valor mais alto só por causa
desta notícia. Se este caso não passar de um rumor, ainda pior porque a cotação irá subir
e depois descer , causando volatilidade e um aumento de risco desnecessário à flutuação
do valor da empresa.
Alguma vez sentiu essa retração do investidor enquanto fundador e trabalhador da
Zercatto?
Claro que sim. Há Experts que, em alturas de grande volatilidade, incerteza ou
rumores preferem ficar fora do mercado. É um comportamento bastante saudável, dado
que nestas alturas o mercado pode comportar-se de forma mais irracional.
Os media especializados em Economia são uma mais-valia ou um incómodo para
os mercados financeiros?
Claramente, uma mais-valia! Julgo que são fundamentais ao bom
funcionamento, transparência e à educação do mercado. Casos como os jornalistas do
Diário Económico, Jornal de Negócios, Expresso (Economia), Bloomberg, Wall Street
Journal e Financial Times são uma mais-valia.
Entrevista ao Dr. Leopoldo Martins
Influência do Jornalismo Económico na Bolsa de Valores – Trabalho de
Investigação
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Leopoldo Martins tem 78 anos, é acionista da Sonae e durante muitos anos que é
investidor na Bolsa de Valores. O interesse pelos mercados financeiros e económicos é
resultado da influência de um familiar, também investidor na Bolsa.
Como investidor, de que forma considera que o jornalismo económico tem impacto
na Bolsa de Valores?
O impacto é grande e pode ser positivo ou negativo. Devia ser sempre positivo
mas adivinhar é proibido e portanto não é só nos jornais que eu vou colher informações
sobre a empresa. Eu tenho que recorrer ao meu banco e ao meu gestor de conta.
Há nas empresas sempre um indivíduo que é pago pela empresa para estabelecer
relações com os investidores, eu não utilizo mas há quem não largue as empresas. Há ali
um interface permanente que se pode ter e portanto e os próprios jornais também é aí
que recorrem.
Acompanha algum órgão de comunicação social de economia para ponderar os
seus investimentos?
Muito de economia vou ao Público, vou ao Expresso e ao Diário de Noticias,
mas fundamentalmente é o Diário Económico e o Jornal de Negócios.
Quando estive em Londres, uns tempos, lia o Wall Street Journal e o Financial
Times que trazia as notícias todas, de todo o lado mas deixei de comprar jornais há dez
anos, desde que tenho a internet.
Na presença de uma notícia desfavorável a determinada empresa, reconsidera se
deve ou não investir na mesma?
Nem se pensa em investir. Antigamente lia nas notícias, a Sonae vai comprar a
Unicer e pensava isto é muito bom para a Sonae, é um bom investimento que vai fazer,
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vão meter as cervejas a vender nos continentes... Considerava-se esse dispêndio de
dinheiro como um investimento que no futuro ia dar grandes lucros à Sonae e então a
Sonae subia (na Bolsa) porque era um bom investimento, bem feito.
Hoje tu lês, a Sonae vai comprar a Unicer, as acções caem. Deixou de ser um
investimento e passou a ser um custo. A empresa vai gastar dinheiro mal gasto. O
conceito hoje é completamente diferente.
A opinião de outros investidores tem peso na sua decisão de investimento?
Há pessoas que me vêm pedir opinião porque sabem que tenho olho para isto.
Existe uma conversa entre nós e um acompanhamento diário das ações.
Se existe confiança entre os investidores então as pessoas sabem que devem
investir naquelas ações que recomendei.
Acha que a cotação em Bolsa de uma empresa pode ser directamente influenciada
por uma notícia com carga negativa?
Os jornais económicos não se preocupam só com a Bolsa, preocupam-se com
tudo o que são notícias económicas.
A Bolsa é um barómetro ultra-sensível do que se passa no mundo. Há uma coisa
qualquer, um barco que foi ao fundo, um avião que caiu e a Bolsa imediatamente
reflecte-se. Uma notícia má é uma coisa logo imediata, quando é uma notícia boa, que é
para fazer crescer a Bolsa, demora muitíssimo tempo.
Entrevista ao jornalista Rui Neves, editor da delegação do Porto do Jornal de
Negócios
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Para que público se dirige o Jornal de Negócios?
Dirige-se a um nicho de públicos muito específico. Estamos a falar de
empresários, gestores; muitas vezes, as pessoas confundem empresários com gestores.
Empresários são aqueles que têm capital, que são accionistas e que também podem
gerir, ou não, a empresa. Os gestores são aqueles que gerem as empresas, mas podem
não ser empresários, podem não ter capital, são apenas gestores profissionais (muito
pessoal de recursos humanos, do Governo, directores de topo, universitários,
nomeadamente das áreas de economia, gestão e até investigação). Também se confunde
muito os jornais de economia, em termos de público-alvo, com pessoal que tem
dinheiro. Não tem a ver com isso, há muito pessoal com dinheiro que não lê, sequer, os
jornais, tem a ver com pessoal interessado na área.
Qual acredita ser o papel do jornalismo na actual conjuntura?
É quase o mesmo que o jornalismo de sociedade, o jornalismo político, etc. Em
alturas de crise económica, nota-se que a tendência dos jornais é de que as vendas caiam
bastante. Porquê? Porque as pessoas têm menos dinheiro e um dos cortes, supostamente,
supérfluos é, por exemplo, nos jornais e isso nota-se bastante. Curiosamente, quando há
crise económica, os jornais especializados em economia, especialmente os diários,
aumentam as vendas. Porquê? As pessoas estão carentes de informação, porque as
mudanças são muitas, as pessoas vivem com ansiedade e têm que saciar, de alguma
forma, a fome que têm de informação sobre aquilo que está a acontecer (que tem muito,
a ver com a economia). Os assuntos económicos, em alturas de crise económica,
ganham uma importância acrescida. Isto aqui é uma análise empírica, mas nota-se,
mesmo nos jornais generalistas, até nas manchetes, grande parte delas, uma pessoa vê
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que é quase só economia e mesmo nas primeiras páginas, é quase só economia.
Relativamente à importância do jornalismo económico, obviamente que é uma
“pescadinha de rabo na boca”; se as pessoas têm mais fome de informação económica,
os jornalistas têm uma responsabilidade acrescida de tentar dar a informação, não só a
que as pessoas querem, mas uma informação que seja relevante e que seja com o
máximo rigor possível, porque estamos a jogar com a vida das pessoas. Por exemplo,
quando o Governo anuncia cortes e não diz que nível de cortes, se estamos a falar das
pensões, estamos a falar da vida das pessoas, das expectativas que elas têm
relativamente ao futuro. O jornalista, nesta altura, tem de tentar, com o máximo de rigor
possível, divulgar qual é o nível de cortes. No fundo, o quadro em que as pessoas se
podem movimentar com alguma segurança em termos de fiabilidade dos números que
estão para ser anunciados, daí que tenha uma importância obviamente acrescida.
De que forma considera que o jornalismo económico tem um impacto na bolsa de
valores?
Impacto tem sempre, quer dizer, é incontínuo. A bolsa e os seus investidores
vivem de informação, sendo que as notícias que saem via comunicação social, têm um
impacto grande. Os efeitos que o jornalismo económico tem são os normais. Nós
fazemos os chamados conteúdos sobre determinadas empresas cotadas; sendo positivo,
geralmente tem um resultado positivo (nem sempre assim é, às vezes há notícias
negativas sobre uma determinada empresa e nesse dia a empresa até subiu, por isso se
diz que os mercados são uma bocado irracionais). Uma coisa que também é polémica,
quando os jornalistas escrevem sobre uma grande empresa portuguesa que está cotada
Influência do Jornalismo Económico na Bolsa de Valores – Trabalho de
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na bolsa, o jornalista não está proibido (a não ser eticamente) de estar a entrevistar o
presidente dessa empresa, que lhe pode estar a dar informações muito relevantes que
têm impacto na bolsa, e o jornalista, ao mesmo tempo que está a fazer a entrevista, pode
estar ao telefone a dar uma ordem pessoal de compra ou venda, de títulos dessa empresa
na bolsa. Teve acesso privilegiado a essa informação, enquanto jornalista, e utilizou-a
para fins pessoais, comprando ou vendendo conforme as expectativas do impacto que
ele prevê que aquela notícia vai ter.
Há pouco falou que a peça jornalística até pode ser negativa e o valor na bolsa
dessa empresa até pode subir. Não há uma relação directa entre as peças
positivas/negativas e os valores na bolsa?
Isto tem uma lei da oferta e da procura, ou seja, muitas vezes, uma ou outra
peça, existem pessoas com todo o interesse em que saia uma notícia negativa sobre uma
dada empresa, tal como existe muito interesse por parte da empresa e das chamadas
agências de comunicação e de assessores de comunicação, que saiam notícias positivas.
O jornalista tem como função cruzar informações, checkar se aquela informação é
verdadeira ou não. Sendo verdadeira, publica. Mas há alguém por trás que passou a
informação que não quer que se passe uma boa imagem da empresa e, de facto, depois,
a notícia reflete-se no jornal (vai sair uma notícia que é negativa e quem passou a
informação fica satisfeito. Ao jornalista, isso não interessa, apenas se a informação é
verdadeira ou não) – isto aqui é um pressuposto de toda esta matéria. O impacto de a
notícia ser positiva e ela muitas vezes não se refletir na cotação da empresa desse dia,
requer uma explicação muito técnica. Quando, numa empresa, a expectativa dos
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investidores é que quando forem anunciados os resultados estes correspondam ao
esperado (se o prejuízo da empresa for de 100 milhões de euros este ano e a expectativa
é de que esses sejam os valores, a cotação da empresa vai sendo desvalorizada
progressivamente, o que significa que naquele dia não haverá diferenças significativas
no valor da empresa na bolsa. Quando o prejuízo é anunciado os investidores já tinham
isso em conta, são os chamados resultados expectáveis.
Logo no início disse que há aquela crença coloquial de que só as pessoas que têm
dinheiro têm interesse pela compra dos jornais económicos. Consegue descrever o
comportamento de indivíduos com maior poder de compra relativamente a jornais
económicos como o Jornal de Negócios?
Nós temos um retrato aproximado daquilo que é o nosso leitor, mas não sabemos
ao certo se é a mesma coisa quando uma pessoa faz um jornal, ou faz a reformulação de
um jornal com base em N estudos e então direcionamos, em termos gráficos, de
conteúdos, de profundidade, para aquilo que dizem os estudos e depois chegamos ao
mercado e andamos 1 mês, 1 ano e até descemos as vendas. Então fizemos estudos,
gastamos rios de dinheiro, afinal fomos nesta direção e não se vê nada? Até descemos as
vendas; tomamos uma má decisão? E, no entanto, estava, pelos vistos, bastante
fundamentada. O mesmo se passa relativamente ao nosso leitor. E primeiro lugar, quem
lê jornais, é pessoal que está ávido de informação que gosta de estar a par do que
acontece no mundo, interessado, querendo fazer parte desse mundo porque com toda
essa informação consegue interagir. Isto é assim em todo o lado e com todo o tipo de
pessoas, ou seja, não tem que ter dinheiro, tem que ter hábito de informação. Existe
aquele tipo de pessoas com muito dinheiro que não querem saber das notícias, nem
sequer telejornal lêem, muito menos jornais especializados em economia. A relação
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direta que existe entre pessoas com muito dinheiro e jornalismo económico não deve ser
feita, acho que não há relação nenhuma. No entanto, as pessoas que têm muito dinheiro,
geralmente, têm uma política de investimento e ao investir dinheiro, podem fazê-lo na
bolsa, em imobiliário, etc.
Existem pressões internas ou externas para que seja publicado um (artigo)?
Claro que sim e os jornalistas que dizem que não, não sei onde andam. Os
jornalistas têm a mania de dizer que não são pressionáveis, isso é mentira. Os jornalistas
na área da economia são obviamente alvo de pressões, no sentido do "mau era que os
jornalistas não fossem pressionados. Se nós não tivéssemos pressões, era sinal que não
andávamos aqui a fazer nada, o impacto das nossas noticias era nulo, ninguém nos
ligava nenhuma, se não houvesse alguém que se chateasse com aquela noticia. O que
interessa é a maneira como o jornalista lida com essas pressões, e as pressões há de
vários tipos, há as pressões ostensivas (através de ameaças). Depois há pressões que, de
uma maneira muito soft tentam que a pessoa possa revisitar a matéria. Depois há
pressão de se perder uma fonte com o lançamento de uma notícia; é das piores pressões,
quando um jornalista tem uma boa fonte e perde-a porque a certa altura da vida tem uma
matéria que a vai por em cheque, e aí essa fonte diz "se publicas isso nunca mais te dou
nada".
A coluna de opinião de um jornalista especializado em economia tem um peso
significativo na tomada de decisão de investidores?
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Tem bastante. São conhecidos alguns colonistas internacionais de grandes
jornais internacionais, os chamados oráculos, e a análise é seguida por muitos
investidores. Em Portugal há dois ou três que são seguidos e têm impacto, mais a nível
de análise macroeconómica, não tanto de empresas e tendências bolsistas.
Com uma posição de grande responsabilidade no jornal de negócios, como se sente
o Rui Neves, influencia a tomada de decisão das pessoas que o rodeiam, mais a
nível pessoal? Sendo uma pessoa que tem uma opinião relevante por estar dentro
do assunto.
Primeiro, antes de ser da área da economia, sou jornalista. A nível pessoal, eu
sou uma pessoa que não tem acções, não tenho investimentos, etc, e tenho uma opinião
que a nível familiar ou pessoal, um jornalista não deve dar conselhos. Claro que dentro
de casa é um bocado difícil, mas quando alguém me dá ou pede uma informação, eu
costumo fazer apenas a análise da situação que eu podia fazer amanhã numa peça do
jornal. Um jornalista não dá conselhos, é completamente neutro.
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