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Influência de Diferentes Granulometrias de Resíduos de Pneus em Argamassas Cesar Fabiano Fioriti Professor Doutor/Universidade Estadual Paulista FCT/UNESP Brasil [email protected] Jorge Luís Akasaki Professor Doutor/Universidade Estadual Paulista FEIS/UNESP Brasil [email protected] Leandro Cirqueira Sousa Mestrando/Universidade Estadual Paulista FEIS/UNESP Brasil [email protected] Maria Lidiane Marques Mestre/Universidade Estadual Paulista FEIS/UNESP Brasil [email protected] Resumo: Estudou-se argamassas com adição de 18,8% em volume de borracha de pneus em substituição parcial ao agregado miúdo. Foi analisado o comportamento de argamassas mediante a realização de ensaios de resistência mecânica à compressão e à tração, absorção de água, densidade e índice de consistência. As granulometrias de borracha de pneus utilizadas foram: 420 m, 1000 m, 1500 m e 2000 m. Os resultados indicaram perda de resistência mecânica, diminuição da absorção de água, diminuição da densidade e diminuição da trabalhabilidade. Contudo, a borracha dos pneus pode deixar de ser um problema ambiental, passando a ser uma fonte de material alternativo na construção civil. Palavraschave: argamassa, borracha de pneus, meio ambiente, material alternativo. 1. INTRODUÇÃO A necessidade de preservação do meio ambiente assim como a conscientização da população tem aumentado sensivelmente com o passar do tempo. Juntamente ao aspecto das questões ambientais vem o crescente avanço tecnológico que gera uma produção de resíduos provenientes de processos industriais, que agravam os danos ao meio ambiente gerando uma grande preocupação com métodos de reciclagem ou reaproveitamento. A construção civil vem sendo ao longo do tempo uma grande auxiliadora no reaproveitamento desses resíduos, uma vez que apresenta soluções que minimizam a degradação ambiental, proporcionando uma redução dos custos finais de seus produtos. De maneira paralela, os resíduos de borracha vulcanizada procedentes de pneus inservíveis são alguns desses materiais que causam danos ao meio ambiente, porém podem ser reaproveitados na construção civil, seja pelo seu valor energético em fornos de cimenteiras, como adição em misturas betuminosas para pavimentação asfáltica ou ainda em argamassas e concretos. Em busca de fornecer alternativas de uso para os resíduos de pneus inservíveis, vários pesquisadores propuseram o uso da borracha de pneus através da incorporação em

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Influência de Diferentes Granulometrias de Resíduos de Pneus em

Argamassas

Cesar Fabiano Fioriti

Professor Doutor/Universidade Estadual

Paulista –FCT/UNESP

Brasil

[email protected]

Jorge Luís Akasaki

Professor Doutor/Universidade Estadual

Paulista – FEIS/UNESP

Brasil

[email protected]

Leandro Cirqueira Sousa

Mestrando/Universidade Estadual Paulista

– FEIS/UNESP

Brasil

[email protected]

Maria Lidiane Marques

Mestre/Universidade Estadual Paulista –

FEIS/UNESP

Brasil

[email protected]

Resumo: Estudou-se argamassas com adição de 18,8% em volume de borracha de pneus

em substituição parcial ao agregado miúdo. Foi analisado o comportamento de argamassas

mediante a realização de ensaios de resistência mecânica à compressão e à tração,

absorção de água, densidade e índice de consistência. As granulometrias de borracha de

pneus utilizadas foram: 420 m, 1000 m, 1500 m e 2000 m. Os resultados indicaram

perda de resistência mecânica, diminuição da absorção de água, diminuição da densidade

e diminuição da trabalhabilidade. Contudo, a borracha dos pneus pode deixar de ser um

problema ambiental, passando a ser uma fonte de material alternativo na construção civil.

Palavras–chave: argamassa, borracha de pneus, meio ambiente, material alternativo.

1. INTRODUÇÃO

A necessidade de preservação do meio ambiente assim como a conscientização da

população tem aumentado sensivelmente com o passar do tempo. Juntamente ao aspecto

das questões ambientais vem o crescente avanço tecnológico que gera uma produção de

resíduos provenientes de processos industriais, que agravam os danos ao meio ambiente

gerando uma grande preocupação com métodos de reciclagem ou reaproveitamento.

A construção civil vem sendo ao longo do tempo uma grande auxiliadora no

reaproveitamento desses resíduos, uma vez que apresenta soluções que minimizam a

degradação ambiental, proporcionando uma redução dos custos finais de seus produtos.

De maneira paralela, os resíduos de borracha vulcanizada procedentes de pneus

inservíveis são alguns desses materiais que causam danos ao meio ambiente, porém

podem ser reaproveitados na construção civil, seja pelo seu valor energético em fornos de

cimenteiras, como adição em misturas betuminosas para pavimentação asfáltica ou ainda

em argamassas e concretos.

Em busca de fornecer alternativas de uso para os resíduos de pneus inservíveis, vários

pesquisadores propuseram o uso da borracha de pneus através da incorporação em

concretos e argamassas. Seu uso é aconselhado quando a resistência mecânica não é a

principal característica e sim, a absorção ao impacto, baixa densidade e maior tenacidade.

Todavia, Cincotto (1988) alerta para os critérios gerais na avaliação de materiais residuais

para uso na construção civil:

- a quantidade disponível em um local deve ser suficientemente grande para que se possa

justificar o desenvolvimento de sistemas de manuseio, processamento e transporte;

- as distâncias de transporte envolvidas devem ser competitivas com os materiais

convencionais;

- o material não deve ser potencialmente nocivo durante a construção ou posteriormente à

sua incorporação na estrutura.

Dessa forma, o objetivo geral deste trabalho foi avaliar experimentalmente a incorporação

de borracha de pneus em argamassas por meio de ensaios de resistência mecânica à

compressão e à tração, absorção de água, densidade, e índice de consistência.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Os ensaios foram realizados no Laboratório de Engenharia Civil da Companhia

Energética de São Paulo (CESP) e no Laboratório de Engenharia Civil da Universidade

Estadual Paulista (UNESP), ambos situados no município de Ilha Solteira, Brasil.

Os materiais utilizados foram o cimento CPV-ARI, areia natural e a borracha de pneus.

Inicialmente foram determinadas as massas específicas (unitária e absoluta) dos materiais,

com a finalidade de caracterizá-los. A caracterização dos materiais utilizados esta

apresentada na Tabela 1.

Tabela 1 – Resultado de massa específica absoluta e aparente dos materiais utilizados.

Massa específica aparente (g/cm³) Massa específica absoluta (g/cm³)

Cimento 1,05 Cimento 3,05

Água 1,00 Água 1,00

Areia 1,48 Areia 2,65

Borracha 0,35 Borracha 1,09

As várias granulometrias de borracha utilizadas foram obtidas através dos processos de

trituração, moagem e peneiramento de pneus inservíveis. A amostra de borracha de pneus

utilizada no trabalho foi doada por uma empresa brasileira que trabalha com a reciclagem

e regeneração de pneus inservíveis. A empresa forneceu o material nas seguintes

granulometrias: 420 m, 1000 m, 1500 m e 2000 m.

2.1 Tratamento da Borracha de Pneus Com o objetivo de melhorar a aderência entre as partícular de borracha e a matriz de

cimento, foi realizado um tratamento superficial da borracha de pneus com uma solução

saturada de hidróxido de sódio (NaOH).

Para os traços de argamassa composta de borracha de pneus tratada, inicialmente a

borracha foi submetida a uma lavagem em uma solução saturada (composição 1:1 em

massa) de NaOH e água a 20°C, ficando o material imerso por aproximadamente 30

minutos, sendo agitado periodicamente, e depois lavado com água corrente para retirada

do NaOH. A água com NaOH foi neutralizada para posterior descarte.

Para garantir que todo NaOH tivesse sido eliminado da borracha de pneus, verificou o pH

inicial da água (antes do tratamento) utilizando papel de tornassol e lavou-se a borracha

até que o pH da água residual voltasse a ser o pH inicial. Terminada esta etapa, a borracha

de pneus foi colocada para secar ao ar livre por 24 horas. Após a secagem esta foi

embalada em sacos plásticos para consumo no decorrer do trabalho. A Figura 1 mostra os

procedimentos utilizados.

Figura 1 – a) Papel de tornassol utilizado na verificação do pH da borracha tratada; b)

Borracha de pneus imersa na solução de NaOH; c) Lavagem da borracha de pneus; d)

Borracha de pneus sendo seca ao ar livre.

2.2 Composições das Argamassas Para a confecção da argamassa controle, que serviu de parâmetro de comparação, foi

utilizado o traço de 1: 3: 0,5 (em massa). Na Tabela 2 são apresentados o consumo de

materiais e as porcentagens em massa e volume dos componentes desta argamassa.

Tabela 2 – Composição da mistura referente ao traço controle (sem borracha).

Materiais % Massa % Volume Consumo de materiais (kg/m3)

Cimento 25,19 27,37 509,77

Água 12,59 14,37 254,89

Areia 75,56 58,26 1529,32

Relação água/cimento 0,50

Na confecção das argamassas com borracha de pneus foi utilizado o traço 1: 2,4: 0,25: 0,5

(em massa), com 18,8% (em volume) de substituição do agregado miúdo por borracha de

pneus.

O percentual de borracha de pneus foi definido, levando-se em consideração resultados

obtidos nas referências Siddique e Naik (2004), Sukontasukkul e Chaikaew (2006),

Marques et al (2008), que utilizaram teores de borracha que variaram de 3% a 20% (em

volume) em suas composições cimentícias, e constataram que essa faixa de consumo de

borracha tem tendência à perda de resistências mecânicas menores do que quando se

utilizaram percentuais acima de 20%.

Nesta etapa foram confeccionados 8 traços de argamassas com borracha de pneus, sendo

que 4 traços utilizaram a borracha com tratamento de NaOH e 4 traços utilizaram a

borracha sem nenhum tratamento. Na Tabela 3 são apresentados o consumo de materiais e

as porcentagens em massa e volume dos componentes desta argamassa.

Tabela 3 – Composição da mistura referente aos traços com borracha de pneus.

Materiais % Massa % Volume Consumo de materiais (kg/m3)

Cimento 24,11 25,17 509,77

Água 12,00 13,21 254,89

Areia 57,87 42,85 1223,46

Borracha 5,97 18,77 126,00

Relação água/cimento 0,50

2.3 Determinação do Índice de Consistência Este ensaio foi realizado seguindo as prescrições da NBR-13276 (ABNT, 2005) onde após

a preparação da argamassa, lubrificou-se a mesa do aparelho de consistência com óleo

(a) (b) (c) (d)

mineral e colocou-se sobre ela a fôrma tronco-cônica, com sua base maior apoiada na

mesa. Manteve-se a fôrma na mesma posição enquanto colocava-se a argamassa na fôrma,

com auxílio de uma espátula. Com o soquete, deram-se 20 golpes distribuídos,

respectivamente, nas primeiras e segundas camadas.

Após o enchimento, retirou-se a fôrma levantando-a verticalmente e, em seguida, moveu-

se a manivela do aparelho, fazendo com que esta caísse 25 vezes em 25 segundos. O valor

do índice de consistência foi a média aritmética das medidas de 3 diâmetros ortogonais,

após o ensaio, menos a medida do diâmetro inicial (base da fôrma tronco-cônica –

padronizada e igual 100mm). Na Figura 2 são apresentadas imagens do índice de

consistência antes e depois do ensaio.

(b)

Figura 2 – a) Argamassa antes do ensaio de consistência; b) Argamassa depois do ensaio

de consistência.

2.4 Adensamento e Cura das Argamassas O adensamento das argamassas nas fôrmas de dimensões 5cm x 10cm foi executado

manualmente com auxílio de um soquete de aço.

Conforme recomenda a NBR-5738 (ABNT, 2003) a cura dos corpos de prova

confeccionados em laboratório foi feita com o auxílio da câmara úmida, com temperatura

em torno de 22,5ºC.

2.5 Ensaio de Densidade O ensaio de densidade foi realizado conforme a NBR-9778 (ABNT, 2005). Nele foram

confeccionados 3 corpos de prova cúbicos com dimensões de 10cm x 10cm x 10cm, para

cada granulometria de borracha de pneus (sem tratamento) e para o traço controle.

Para a determinação da densidade da argamassa no estado fresco, pesou-se inicialmente a

fôrma vazia, em seguida fez-se a moldagem com argamassa para posterior pesagem. A

densidade obtida foi a média aritmética da subtração do peso da fôrma moldada com a

argamassa, com o peso da fôrma vazia, dividido por 1000.

A determinação da densidade dos corpos de prova secos aos 28 dias, foi obtida colocando

os mesmos em uma estufa por 24 horas e em seguida pesando-os. Para os corpos de prova

úmidos, foi feito o mesmo procedimento, colocando-os imersos no tanque por 24 horas,

decorrido este tempo os mesmos foram pesados. A densidade obtida foi a média

aritmética do peso dos corpos de prova dividido por 1000.

2.6 Ensaio de Resistência à Compressão A determinação da resistência à compressão simples foi efetuada de acordo com as

prescrições da NBR-7215 (ABNT, 1996). Depois de capeados com uma mistura de

enxofre (60%) e pozolana (40%), os corpos de prova foram rompidos em uma prensa

universal para ensaios, sob velocidade de carregamento de 2,5 kgf/cm²xs, seguindo as

especificações de norma e dimensões da amostra.

(a) (b)

Os ensaios de resistência à compressão foram realizados em 5 corpos de prova de cada

granulometria de borracha de pneus, com tratamento e sem tratamento, tomando-se como

valor final a média aritmética dos mesmos, nas idades de 7, 28, 56, 90 e 180 dias. A

Figura 3 ilustra o ensaio de rompimento dos corpos de prova.

Figura 3 – Ensaio de resistência à compressão.

2.7 Ensaio de Resistência à Tração por Compressão Diametral A determinação da resistência à tração por compressão diametral foi efetuada conforme a

NBR-7222 (ABNT, 2011), através do ensaio Lobo Carneiro que correlaciona a tensão de

ruptura à compressão diametral com a tensão de ruptura à tração.

Os ensaios de resistência à tração foram realizados em 5 corpos de prova de cada

granulometria de borracha de pneus, com tratamento e sem tratamento, tomando-se como

valor final a média aritmética dos mesmos, nas idades de 7, 28, 56 e 90 dias. A Figura 4

ilustra o ensaio de rompimento dos corpos de prova.

Figura 4 – Ensaio de resistência à tração.

2.8 Ensaio de Absorção de Água Neste ensaio seguiu-se as recomendações da NBR-9778 (ABNT, 2005). Os ensaios de

absorção de água foram realizados em 3 corpos de prova de cada granulometria de

resíduos de pneus, com tratamento e sem tratamento, tomando-se como valor final a

média aritmética dos mesmos, nas idades de 7, 28, 56 e 90 dias. Na Figuras 5 encontram-

se os corpos de prova imersos no tanque e sendo secos na estufa.

Figura 5 – a) Corpos de prova imersos na água; b) Corpos de prova na estufa.

(a) (b)

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Índice de Consistência A seguir são apresentados os resultados de índice de consistência para os corpos de prova

controle e constituídos de borracha de pneus (Figura 6).

Figura 6 – Comparação do índice de consistência para os traços de argamassa com adição

de borracha de pneus sem tratamento, com tratamento e controle.

A consistência é diretamente determinada pelo conteúdo de água, sendo influenciada

pelos seguintes fatores: relação água/aglomerante, relação aglomerante/areia,

granulometria da areia, natureza e qualidade do aglomerante.

Observa-se pela Figura 6 que quanto maior a granulometria de borracha utilizada, mais

fluida a argamassa ficou, resultando no aumento do seu índice de consistência, tanto para

as argamassas tratadas quanto para as não tratadas. Huynh e Raghavan (1997) também

observaram tal ocorrência quando estudaram a trabalhabilidade da argamassa incorporada

de borracha de pneus.

Nota-se que as argamassas com borracha de granulometria 420 m (CS-1 e CT-1)

proporcionaram os menores índices de consistência, e as argamassas contendo borracha

com granulometria de 2000 m (CS-4 e CT-4) obtiveram os maiores índices de

consistência.

A diferença nos resultados do índice de consistência das argamassas constituídas com

borracha não tratada com relação as argamassas adicionadas com borracha tratada é de

0,7%, de 4,2% e de 6,7% para as granulometrias de 420μm, 1000μm e 1500μm,

respectivamente. Apenas para a granulometria de 2000μm, a argamassa com borracha

tratada (CT-4) apresentou melhor trabalhabilidade do que à argamassa contendo borracha

não tratada (CS-4), e essa diferença foi de 3,6%.

O traço controle (sem borracha) teve um índice de consistência de 95,5% com uma

diferença de 42,7% em relação à granulometria de 420 m, diferença de 34,8% em relação

à granulometria de 1000 m, diferença de 11,6% em relação à granulometria de 1500 m, e

diferença de 8,2% em relação à de 2000 m.

Assim, podemos dizer que os grãos de borracha se assemelham aos grãos de areia. Pois,

quanto mais fina for a areia, maior quantidade de água será necessário para manter a

mesma trabalhabilidade (sem levar em consideração o fenômeno do inchamento,

pensando só em área superficial). Logo, a menor área superficial que as grunulometrias

maiores apresentaram, proporcionou que elas obtivessem uma trabalhabilidade maior.

3.2 Densidade A Figura 7 mostra os valores de densidade para as argamassas (no estado fresco e no

estado endurecido) adicionadas com os 4 tipos de granulometrias e para o traço controle.

Figura 7 – Densidade das argamassas constituídas com as 4 granulometrias x idade.

Em função da baixa densidade que a borracha de pneus apresenta, todos os traços

incorporados com a borracha apresentaram valores inferiores ao do traço controle.

Porém, pela Figura 7, percebe-se que os valores de densidade das argamassas em relação

as 4 granulometrias estudadas estão muito próximos, e que em relação à idade manteve

uma determinada constância, sofrendo poucas variações.

A diferença nos valores da densidade para o traço controle (sem borracha) no estado

fresco em relação às argamassas adicionadas com borracha também no estado fresco foi

de 12,2%, de 12,7%, de 11,3% e de 10,4% para as granulometrias de 420 m, 1000 m,

1500 m e 2000 m, respectivamente. Ressalta-se que neste ensaio toda a borracha de

pneus utilizada não possuia o tratamento com a solução de NaOH.

Para as argamassas no estado endurecido (seco em estufa aos 28 dias) a diferença entre os

resultados das argamassas controle em relação às argamassas constituídas com borracha

foram de 13,0%, de 13,5%, de 12,1% e de 11,1% para as granulometrias de 420 m,

1000 m, 1500 m e 2000 m, respectivamente. No estado endurecido (úmido aos 28 dias)

essa diferença passou a ser de 15,9%, de 16,8%, de 13,2% e de 11,8% para as

granulometrias de 420 m, 1000 m, 1500 m e 2000 m, respectivamente.

3.3 Resistência à Compressão A Figura 8 apresenta os resultados de resistência à compressão das argamassas

adicionadas com os 4 tipos de granulometrias, com tratamento e sem tratamento, e para o

traço controle.

Figura 8 – Resistência à compressão x idade para as 4 granulometrias de borracha com e

sem tratamento e do traço controle.

Como pode ser observado na Figura 8, a utilização de borracha de pneus tende a diminuir

a resistência à compressão, de maneira geral em comparação ao traço de controle,

confirmando os resultados obtidos por Minatel et al (2008) e Marques et al (2008), que

também incorporaram borracha de pneus em argamassas e seus resultados de resistência à

compressão decrescesseram até 50% do traço controle (sem borracha).

Dessa forma, a Figura 8 mostra que os resultados do ensaio mantiveram-se próximos com

relação a diferença de granulometria da borracha incorporada a argamassa, dificultando a

indicação de uma granulometria ideal.

As argamassas contendo borracha com tratamento e sem tratamento apresentaram valores

muito próximos de resistência, desde a idade de 7 à idade de 180 dias.

Fazendo uma comparação entre os valores de resistência, nota-se que as argamassas

contendo borracha sem tratamento obtiveram melhores resultados do que argamassas

adicionadas de borracha tratada. Salvo as argamassas que utilizaram borracha com a

granulometria de 1500μm (CS-3 e CT-3), que obteveram um resultado inverso.

O aumento dos valores nos resultados de resistência da argamassa com borracha sem

tratamento para os resultados da argamassa com borracha com tratamento foi de 6,4%

para a granulometria de 420μm, de 9,9% para a granulometria de 1000μm e de 2,6% para

a granulometria de 2000μm. Para a granulometria de 1500μm, a resistência da argamassa

com borracha tratada foi maior do que a argamassa com borracha sem tratamento, e esse

aumento foi de 2,3% analisando a idade de 180 dias.

Quando se incorpora borracha de pneus em argamassas a tendência da resistência é

diminuir. Essa queda na resistência para as argamassas constituídas com borracha sem

tratamento foi de 54,8%, de 53,4%, de 54,6% e de 53,2% para as granulometrias de

420μm, 1000μm, 1500μm e 2000μm, respectivamente, quando comparadas com a

argamassa controle (sem borracha). Para as argamassas constituídas com borracha tratada,

a queda na resistência quando comparadas com a argamassa controle foi de 56,7%, de

57,7%, de 53,2% e de 53,2% para as granulometrias de 420μm, 1000μm, 1500μm e

2000μm, respectivamente.

3.4 Resistência à Tração A Figura 9 apresenta os resultados de resistência à tração para as argamassas com os 4

tipos de granulometrias, com tratamento e sem tratamento, e para o traço controle.

Figura 9 – Resultados de resistência à tração para as idades de 7, 28, 56 e 90 dias.

Diversos estudos realizados tanto com argamassa quanto com concreto mostram que o

valor da resistência à tração diminui com a incorporação de borracha de pneus. Segundo

Akasaki et al (2001) e Siddique e Naik (2004), que trabalharam com adição de borracha

de pneus em concretos, seus resultados de resistência à tração seguiram o mesmo modelo

dos resultados de compressão, ou seja, quanto maior a resistência à compressão, maior a

resistência à tração.

Na Figura 9 percebe-se que os valores de resistência à tração estão bem próximos

dificultando a indicação de uma granulometria ideal.

Porém, todas as granulometrias de borracha com tratamento e sem tratamento

apresentaram o mesmo comportamento, tendo-se um aumento na resistência aos 28 dias,

um decréscimo aos 56 dias, e depois aumento da resistência até a idade de 90 dias.

Fazendo uma comparação entre os resultados da argamassa contendo borracha tratada e

sem tratamento, nota-se que até a idade de 56 dias o tratamento com solução de NaOH

não influênciou no valor de resistência à tração. Na idade de 90 dias as duas

granulometrias mais finas (420μm e 1000μm) não apresentaram aumento no valor da

resistência, da borracha tratada para a não tratada, caracterizando dessa maneira a não

influência do tratamento com a solução de NaOH. Já para as granulometrias de 1000μm e

2000μm esse aumento foi de 4,54% e de 4,44%, respectivamente.

Quando comparamos a argamassa controle com as argamassas adicionadas de borracha

sem tratamento, a redução na resistência foi de 30%, de 31,7%, de 30% e de 28,3% para

as granulometrias de 420μm, 1000μm, 1500μm e 2000μm, respectivamente. Já para as

argamassas com borracha tratada essa queda foi de 30%, de 31,7%, de 26,7% e de 25%

para as granulometrias de 420μm, 1000μm, 1500μm e 2000μm, respectivamente.

3.5 Absorção de Água A Figura 10 apresenta os resultados referentes ao ensaio de absorção de água.

Figura 10 – Resultados de absorção de água das argamassas para as idades de 7, 28, 56 e

90 dias.

Na Figura 10 nota-se que as granulometrias mais finas absorveram menos água que as

granulometrias mais grossas, independente do tratamento com a solução de NaOH na

borracha. E que a tendência da absorção de água é diminuir com o tempo.

Observa-se um aumento na absorção de água quando se compara argamassas com

borracha tratada e argamassas com borracha sem tratamento. Esse aumento na absorção

das argamassas com borracha tratada foi de 27,9% e de 17,7% para as granulometrias de

420µm e 1000µm, respectivamente. A granulometria de 1500µm apresentou uma perda na

absorção de 18,6% quando compararado o traço de borracha sem tratamento com o traço

de borracha tratada. Já a granulometria de 2000µm não apresentou diferença nos

resultados das duas argamassas estudadas, analisando a idade de 90 dias.

Quando se compararam as argamassas constituídas de borracha sem tratamento e com

tratamento, com a argamassa controle, nota-se que todas as granulometrias, até a idade de

90 dias, apresentaram resultados menores ou iguais ao traço controle. Essa diferença para

as argamassas constituídas com borracha sem tratamento foi de 43,6%, de 44,8%, de

27,5% e de 6,1% para as granulometrias de 420µm, 1000µm, 1500µm e 2000µm,

respectivamente. E de 21,8%, de 32,9%, de 41% e de 6,1% para as argamassas

constituídas com borracha tratada para as granulometrias de 420µm, 1000µm, 1500µm e

2000µm, respectivamente, na idade de 90 dias.

Analisando os resultados da absorção de água com as resistências à compressão, nota-se

que houve redução da absorção à medida que a idade (dias) dos corpos de prova foram

aumentando, enquanto ocorreu o inverso com as resistências à compressão.

Segundo Segre e Joekes (2000) e Bauer et al (2001), que estudaram pastas de cimento,

argamassas e concretos, foram obtidos resultados favoráveis quando usado a borracha de

pneus, pois a absorção de água por capilaridade foi diminuída. Minatel et al (2008), que

trabalharam com a a incorporação de borracha de pneus em argamassas, consideraram

seus resultados de absorção de água por imersão como satisfatórios.

Segre e Joekes (2000) observaram também que as amostras contendo borracha de pneus

tratados com NaOH apresentaram menor absorção de água, do que as amostras contendo

borracha de pneus submetidos a outros tipos de tratamento.

4. CONCLUSÕES

No ensaio de índice de consistência, observou-se que argamassas compostas com

granulometrias de borracha maiores apresentaram melhores resultados de trabalhabilidade

que as argamassas compostas com granulometrias mais finas.

As argamassas constituídas com borracha sem tratamento apresentaram melhor

trabalhabilidade do que argamassas constituídas com borracha tratada com a solução de

NaOH. Salvo a granulometria de 2000μm que apresentou resultado inverso.

A adição de borracha de pneus em argamassas proporcionou uma redução no valor da

densidade. Conclui-se que dentro da faixa das granulometrias estudadas, a mesma não

teve influência nos resultados, o mesmo ocorre quando se compara argamassa fresca e

argamassa seca aos 28 dias, ficando os valores quase que constantes.

Analisando os valores referentes à resistência a compressão, verificou-se que a variação

granulométrica da borracha de pneus não teve influência entre os resultados, mantendo-se

próximos a 21 MPa, e que o tratamento da borracha de pneus com a solução de NaOH

para o mesmo ensaio também não influenciou, com uma variação menor que 10%.

Para o ensaio de tração, os resultados seguiram a mesma tendência que os encontrados no

ensaio de resistência à compressão. Na idade de 90 dias as duas granulometrias mais finas

(420μm e 1000μm) não apresentaram aumento na resistência à tração da argamassa

composta com borracha de pneus tratada para a borracha não tratada, caracterizando a não

influência do tratamento com a solução de NaOH. Já para as granulometrias de 1000μm e

2000μm o aumento foi menor que 5%, não tendo influência significativa.

Com relação ao ensaio de absorção de água, percebeu-se que para as argamassas

constituídas com borracha de pneus sem tratamento, a absorção de água foi menor para as

granulometrias mais finas, sendo que estas aumentaram quase linearmente à medida que

se aumentou a granulometria da borracha de pneus.

Diante do exposto, o uso de argamassa utilizando grãos de borracha de pneus pode ser

atrativo como adição, pois poderá produzir um material mais leve e com características

para isolamento, além de contribuir para deixar de ser um problema ambiental. Contudo, é

necessário ampliar mais o conhecimento sobre o comportamento da borracha de pneus na

produção de argamassas.

5 REFERÊNCIAS

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