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Lurdes Pauluk Giaretta INFERTILIDADE E... QUADRIGÊMEOS! A HISTÓRIA DE UMA FAMÍLIA Infertilidade_Rev2.indd 3 Infertilidade_Rev2.indd 3 26/7/2007 11:32:34 26/7/2007 11:32:34

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Lurdes Pauluk Giaretta

INFERTILIDADE E...QUADRIGÊMEOS!A HISTÓRIA DE UMA FAMÍLIA

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Dedicatória

Ao meu marido, Luiz Carlos, que sempre esteve ao meu lado e, por isso, juntos fomos fortes o sufi ciente para enfrentar as turbulências no período de tratamento, durante a gestação e pós-nascimento das crianças.

Aos fi lhos que são a essência da minha vida. Na busca pela minha essência construí uma história e com esta história de vida, nos apaixonamos cada dia um pouco mais.

Aos familiares e amigos que juntos acreditaram que se-ria possível uma estória se tornar história.

Aos médicos doutor Karam Abou Saab e a doutora Nau-ra Tonin, que me apoiaram em diferentes momentos, transmi-tindo confi ança e tranqüilidade, sendo este apoio fundamental na realização do sonho de ser mãe.

A Deus, nossa gratidão, por defi nir que assim seria o cur-so de nossas vidas.

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Sumário

Prefácio – Dr. Karam Abou Saab .................................................................9Introdução ....................................................................................................11

PARTE I:Suas decisões compõem sua história e projetam seu futuro ..................13 A sombra da infertilidade ...................................................................15 Um relato de vida: quando paciência e persistência são primordiais............................................................................................31

PARTE II:O despertar de novas vidas ........................................................................61 Baybuxos quadrigêmeos: o dia-a-dia a seis ......................................63

Referências .................................................................................................119

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A vida é emocionante. Traz surpresas e reviravoltas impre-visíveis. Nada é mais gratifi cante para o médico especializado em tratamento de casais sem fi lhos, que o recebimento de um teste de gravidez positivo. Nada é mais angustiante que cons-tatar que a paciente apresenta uma gravidez de quadrigême-os, principalmente por ser uma situação que tenho procurado evitar ao longo destes 25 anos dedicados à fertilização in vitro, aprimorando a técnica, trabalhando com menos óvulos e con-seqüentemente com menos embriões, evitando assim a geme-laridade excessiva, sem comprometer o bom índice de suces-so. Quando Lurdes, com seus quadrigêmeos, ligou-me dizendo que estava escrevendo este livro, entendi seu entusiasmo em re-latar suas aventuras reprodutivas. Porém, talvez pela apregoa-da falta de sensibilidade ou frieza peculiares aos médicos, ima-ginei que seria apenas mais um livro... de mais uma gravidez. Ignorando meu lado médico e recuperando meu senso de es-terileuta, corrigi imediatamente minha percepção. Esta não é apenas mais uma história! Uma gravidez é sempre especial e, quando tão almejada e obtida com sacrifícios, tem um signi-fi cado indescritível. Se toda gestação é um estado interessan-te, uma de quadrigêmeos torna-se sublime; receber quatro fi -

PrefácioDr. Karam Abou Saab

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lhos simultaneamente é um grande presente verdadeiramente natalino; criar quatro fi lhos com a mesma idade é, no mínimo, uma grande aventura.

Parabéns a vocês, Lurdes e Luiz Carlos! Quatro, pelos fi lhos maravilhosos que vocês fi zeram por merecer, e um por este livro. Parabéns pela elegante simplicidade pela qual vocês expressaram todos os seus sentimentos, característicos dos ca-sais portadores de infertilidade. Vocês viveram difi culdades va-riadas e frustrações repetidas e enquanto muitos se revoltam, colocando em dúvida dogmas e valores, vocês mantiveram-se fi rmes, convictos de que, se o caminho pudesse ser árduo, a re-compensa justifi caria os sacrifícios. Vocês não esmoreceram, superaram todos os obstáculos, venceram os desafi os e agora altruisticamente dividem suas experiências para estimular ou-tros casais a nunca desistirem dos seus sonhos.

Parabéns professora Lurdes, você conseguiu transmi-tir sua profunda sensibilidade sem perder a racionalidade, de-monstrando, com muita didática, estar conectada aos recentes avanços da ciência.

Um milagre! Sim, quando dois se transformam em seisem apenas nove meses, estamos diante do milagre da vida. A força incomensurável que a natureza exerce sobre nós para perpetuar a vida, a força da reprodução, a força que move o mundo.

Emocionei-me a cada página desta obra. Não por estar habituado aos sofrimentos e alegrias dos casais inférteis, mas pela maneira que Lurdes despojou-se dos sentimentos peque-nos e de forma magnânima, descreveu tudo que se passou em seu coração de mãe.

Que alegria poder prefaciar este livro que relata o episó-dio mais marcante de uma família numerosa, linda e feliz, for-mada pelos meus amigos Lurdes e Luiz Carlos, com seus her-deiros Isabela, Vinícius, Gabriel e Guilherme.

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Introdução

Além de relatar a nossa experiência de vida, este livro contém informações e dados muito interessantes em relação à infertilidade, reprodução assistida, gestação múltipla e à opor-tunidade de criar, educar e acompanhar quadrigêmeos. Rela-tos e citações dos médicos que acompanharam cada passo da nossa história enriquecem o texto ao reforçar nossa vivência.

Ao tratar do tema infertilidade, vem à tona um precon-ceito ainda existente fortemente na sociedade atual. Para a mu-lher, o tema se apresenta de forma estigmatizante e depreciati-va, sendo concebida como condenação ou maldição, enquanto para o homem a infertilidade aparece erroneamente atrelada à virilidade, pondo em dúvida sua masculinidade. Assim, este as-sunto se torna delicadíssimo e casais que vivenciam esta expe-riência tendem a se isolar com o intuito de se proteger. Depen-dendo do grau de desgaste emocional em que o casal se encon-tra, consegue compartilhar com familiares e amigos mais pró-ximos, mas ainda é comum a família estar totalmente ausente nesta busca por um fi lho.

Enquanto estivemos em tratamento para realizar o sonho da maternidade/paternidade, por muitas vezes nos sentíamos uma ilha de problemas, parecia que todos os outros casais ti-

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nham fi lhos com tanta facilidade e que as difi culdades aconte-ciam somente conosco. Porém, hoje sabemos que 10% dos ca-sais no mundo apresentam difi culdades para engravidar.

A ciência avança a passos largos neste ramo da medici-na, seja nos exames mais detalhados, medicamentos mais efi -cazes ou no aperfeiçoamento das técnicas de reprodução assis-tida, aumentando as chances de ocorrer uma gravidez. Assim, como prova de que com paciência e persistência se consegue tudo aquilo que se deseja, relatamos nossa luta durante quatro anos na busca por um fi lho. Após toda esta batalha, com o au-xílio da ciência, Deus nos presenteou com a vinda de quadri-gêmeos: Gabriel, Isabela, Guilherme e Vinícius.

O texto vem recheado de emoções vividas no período de tratamento, durante a gestação, com cuidados especiais pela multiplicidade, descrevendo os medos e as angústias vividas por toda gestante que, neste caso, eram redobrados pelos riscos que representava tanto para a mãe quanto para os bebês. Relatamos a emoção do nascimento, as incertezas provocadas pela prema-turidade dos bebês, bem como todos os cuidados especiais com bebês prematuros e a grande importância da existência de Uni-dade de Terapia Intensiva Neonatal.

Faz-se presente o relato de como reorganizamos nossas vidas com a chegada dos bebês, criando uma estrutura para dar conta da nova realidade, destacando o desgaste físico, emocio-nal e fi nanceiro ocorrido nos primeiros tempos. E o principal de toda esta viagem, para a qual nós seis — eu, meu marido e as quatro crianças —, compramos passagem com o mesmo desti-no para juntos vivermos valiosas aventuras. Esta oportunidade que Deus nos concedeu de apoiar e orientar estes quatro anjos, com certeza é também a via para o nosso crescimento e ama-durecimento, ao nos dar o privilégio de vivenciar as peculiari-dades no dia-a-dia com quadrigêmeos.

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PARTE I

Suas decisõescompõem sua históriae projetam seu futuro

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A sombra da infertilidade

Mesmo atravessando séculos de história, continua im-pregnado na nossa cultura que, quando um casal passa certo tempo junto, necessariamente já deve estar se preparando para ter um fi lho. É como se a instituição casamento estivesse orga-nizada com um pequeno tempo somente para o casal e, logo em seguida, obrigatoriamente viesse o período da procriação, fun-ção única desta união. Este pensamento permanece presente no atual contexto de organização da nossa sociedade, mesmo le-vando em consideração todas as mudanças ocorridas atualmen-te, com um percentual cada vez maior de mulheres no mercado de trabalho, fazendo com que, via de regra, ela deixe a materni-dade para o futuro, tendo a carreira em primeiro plano.

Há certa especulação ou curiosidade quando o casal não tem fi lhos. São freqüentes algumas perguntinhas indiscretas: Quando chegará o bebê? Qual dos dois tem problema? O grau de importância da pergunta e os sentimentos que ela desperta, depende do grupo de casais a que pertencem os interrogados.

Existem basicamente três grupos de casais sem fi lhos: aquele que optou por não ter fi lhos; aquele que adiou a mater-nidade/paternidade para o futuro, por ter outros projetos para o momento; e aquele que sonha com um bebê e que é impedi-do pelo fator infertilidade.

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Se até mesmo os casais dos dois primeiros grupos sen-tem-se incomodados com tantos interrogatórios desagradáveis, para os casais que por algum motivo não podem gerar fi lhos naturalmente e sonham com esse momento, a situação torna-se muito constrangedora e o desgaste emocional é intenso. A vida em sociedade, seja na área familiar, social ou profi ssional, passa a ser um desafi o e muitas vezes uma tortura. Difi cilmen-te você sairá imune do constrangimento.

Infelizmente, ainda hoje a condição de infértil é concebi-da como condenação ou maldição, principalmente para as mu-lheres. Muitos mitos, preconceitos ou estigmas permanecem arraigados no pensamento social, conforme relatam Trindade e Enumo (2002), no artigo “Triste e incompleta: uma visão fe-minina da mulher infértil” (Revista Psicologia da Universidade de São Paulo, Instituto de Psicologia – USP), ao mostrar o re-sultado de uma pesquisa realizada com objetivo de investigar as representações sociais da infertilidade feminina, entre mulhe-res de diferentes classes sociais. Segundo a pesquisa, as conse-qüências mais fortemente ligadas à infertilidade seriam: tristeza, solidão, inferioridade, frustração, além de se sentir uma pessoa incompleta, cobrada pelos outros e pensar em adoção.

De acordo com o artigo citado, comprova-se que, quan-do é diagnosticada a infertilidade, as mulheres passam por um grande desafi o, para com ela mesma e para com a sociedade, uma vez que a condição de infértil ainda é tida como violação das normas socialmente impostas, e impera a visão de que a mulher é a responsável pela procriação, gerando sentimentos de auto-estima negativos.

Embora o peso maior recaia sobre a mulher, o problema atinge também o parceiro, porém com enfoque diferenciado. Enquanto para o homem a infertilidade está ligada à sexuali-dade, pondo em dúvida a sua virilidade, para a mulher, segun-

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do Trindade e Enumo (2002), a infertilidade implica em depre-ciação e estigmatização, por ser a maternidade considerada na-tural, seja como destino biológico ou como concretização da identidade feminina, reafi rmando o estereótipo da mulher-mãe. E ainda, Rocha-Coutinho (1994) in Trindade e Enumo, afi rma que é a maternidade que transforma Eva em Maria.

Lembro-me, quando criança, de ouvir comentários co-mo: “O casal fulano de tal já tem alguns anos de casado e ainda não ‘encomendou’ seu bebê”. Em torno do fato, a comunidade local se debruçava para saber o motivo da infertilidade. Os co-mentários eram vários. Impressionava-me com as histórias que ouvia e construí uma imagem de que a infertilidade era uma forma de Deus punir as pessoas. A visão que se tinha na comu-nidade onde vivi, na minha infância, era exatamente esta.

Ainda hoje, lembro-me de um casal que não teve fi lhos. A senhora era alta, magérrima. Ouvia-se dizer que ela, de tão ruim que era, se tornou “seca por dentro como era por fora”.

Ao assistir à novela “Senhora do Destino” (2004/2005), pela Rede Globo, e acompanhar reportagens da época, com ma-nifestações de ONGs que tratam de questões ligadas à infertili-dade, como na reportagem da jornalista Cláudia Collucci (Fo-lha de S. Paulo, 16/2/05), deparei-me com a imagem da infer-tilidade que eu havia construído quando criança. Na novela, a vilã Nazaré, ao constatar que não poderia ser mãe, seqüestrou um bebê (Isabel). Quando Isabel descobre a verdade, já é adulta e está grávida. Em algumas cenas, a personagem Isabel reforça estereótipos presentes nas representações sociais, com comen-tários tais como: “você é seca”, “sua barriga é oca”, “ela me olha com o ódio de uma mulher estéril”.

A novela evidenciou preconceitos ao exibir a personagem Nazaré como vilã, a partir do momento que a mesma desco-bre que é estéril. Como conseqüência da esterilidade, a perso-

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nagem segue toda a trama praticando maldades, o que a torna uma pessoa desequilibrada emocionalmente. Para fazer o con-traponto, na trama existe a personagem Maria do Carmo, a qual tinha fi lhos e netos. Uma mulher perfeita, feliz e equilibrada.

Segundo Collucci, foram enviadas mensagens de protes-to à Rede Globo apontando que algumas cenas estariam refor-çando falsos estereótipos em relação à mulher infértil, fortale-cendo, assim, a idéia de que mulheres férteis são exemplos de bondade e felicidade, enquanto mulheres estéreis são marcadas pela maldade e infelicidade, ressaltando a maternidade como garantia de mulher completa.

No período em que a novela foi ao ar (2004/2005) meus fi lhos já haviam nascido, porém todo o desgaste na batalha para tê-los ainda estava vivo na memória. Este período da minha vida, que costumo chamar de “a sombra da infertilidade”, foi in-discutivelmente o mais sofrido, mas o período de maior cresci-mento e amadurecimento. Passei a ter outros valores, um outro olhar sobre o que é a vida e quais são as prioridades.

Muito embora a nossa luta incansável para a realização do sonho da maternidade/paternidade, a princípio, não tivesse relação com infertilidade, sendo apenas conseqüência da vasec-tomia a que meu marido havia se submetido, muitas vezes tam-bém sofremos com os preconceitos existentes na sociedade.

Quando a sociedade utiliza uma determinada situação ou perfi l de um indivíduo como parâmetro para massifi car todo um grupo de pessoas que possui algumas características em comum, cria preconceitos, que são utilizados como diver-são e chacota, em detrimento do sofrimento de quem vive o problema, e em nada contribuem para amenizar o sofrimento alheio. Muito pelo contrário, a pressão social só faz aumentar o constrangimento. No caso da infertilidade, acaba levando o casal a optar pelo isolamento, aumentando a tristeza e a solidão.

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Assumir que naturalmente você não é capaz de conceber um fi lho é, na maioria das vezes, uma situação muito embaraçosa, por envolver a sexualidade. O medo de comentários desagra-dáveis está sempre presente.

Para o homem é ainda mais difícil aceitar e assumir que existe algum problema com a sua fertilidade, pois o conceito de homem “macho” vem erroneamente atrelado à procriação. Quando o problema é diagnosticado no organismo da mulher, é mais tranqüilo, porque ela tem a tendência de aceitar esta situação com mais facilidade, ainda que a pressão social seja maior sobre ela.

Existem casos em que o marido sequer aceita fazer um espermograma, negando qualquer possibilidade de o problema ser dele e, quando se esgotam as possibilidades de o problema ser da mulher, ela ainda precisa insistir muito para que ele se

“sujeite” a realizar algum tipo de exame. Geralmente, nesses ca-sos, se a mulher quer continuar o tratamento, acaba assumin-do socialmente que a causa da infertilidade está no organismo dela e não dele.

Neste sentido, é comum que o assunto infertilidade fi que restrito ao âmbito familiar ou a um pequeno grupo de amigos. Às vezes, a maior pressão ou cobrança vem justamente da fa-mília, o que é lamentável, pois é esta a instituição que melhor poderia contribuir para amenizar o sofrimento.

Acompanhamos o drama de um casal de amigos que, após três tentativas de fertilização in vitro, obteve a gravidez. Hoje a criança já está com 2 anos e a família sequer descon-fi a que aquela criança é resultado de uma reprodução assistida. Quando nos pediram que não comentássemos sobre o assunto com sua família, achamos muito estranho, pois para nós isto é natural. A justifi cativa foi de que o marido seria alvo de pia-das dentro da família.

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Durante o tempo em que estivemos em tratamento, tam-bém ouvimos muitas piadinhas desagradáveis, do tipo: “Ô cara! Vê se dá no couro!” ou “Procure outro marido; isto é coi-sa de marido frouxo”. Tirávamos de letra estas questões, por-que para nós estava tudo resolvido, tínhamos um objetivo defi -nido. No fundo sentíamos muita pena destas pessoas, por não saberem discernir as funções exatas de cada órgão do organis-mo humano.

Quando iniciamos o tratamento, um colega de trabalho, que já havia passado por um período de tratamento e havia en-trado com um processo de adoção junto ao Juizado de Menores, nos relatou, com muita mágoa, que um “amigo” teria lhe suge-rido uma fórmula mágica: “Aplique esse dinheiro todo, faça um fi lho com uma outra mulher qualquer e depois peça a ela que dei-xe a criança na porta da sua casa, ao menos terá seu sangue”.

Na fala do “amigo” fi cam explícitas duas questões: o pre-conceito quanto à adoção e a negação de que a causa da infer-tilidade também possa ser masculina.

Certamente pessoas que têm o sonho e lutam para ter um bebê, seja biologicamente ou adotivo, não necessitam de ami-gos ou conselhos desse tipo, pois o que realmente importa é o bebê e não a forma como ele chegará. O lado bom disso tudo é que as pessoas que permanecem nos acompanhando são, de fato, nossos amigos.

Considerando que nos últimos anos houve um grande avanço na medicina, seja com o surgimento de exames mais detalhados, medicamentos mais efi cazes ou o aperfeiçoamen-to das técnicas de reprodução assistida, assim como o acesso a essas informações e principalmente o acesso a essas melhorias, ainda é comum clínicas investigarem apenas a mulher. Somente após não restar uma dúvida sequer quanto ao organismo dela, ou o que chamamos popularmente de “conhecer mais por den-

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tro do que por fora”, é que se começa a investigar o organismo masculino, quando poderia se poupar tempo e custo se fosse feito um tratamento simultâneo no casal. Parece que mesmo no meio médico, existe certa resistência, mesmo que estatisti-camente se comprove que em uma grande parcela de casais in-férteis a causa da infertilidade é exclusivamente masculina.

A propósito, apesar de estarmos falando de infertilidade, você sabe quando é diagnosticada a infertilidade num casal?

O dr. Karam Abou Saab, do Centro Paranaense de Fer-tilidade1, escreve que:

“Infertilidade é não conseguir uma gravidez naturalmente após um ano de relacionamento sexual, sem uso de mé-todos anticoncepcionais. Ainda que não sirva de consolo, você deve saber que não está sozinho, já que mais de 10% dos casais no mundo apresentam difi culdade para engra-vidar. Isto representa aproximadamente 3 milhões de ca-sais no Brasil. Após 1 mês de relacionamento sexual sem uso de métodos anticoncepcionais, 30% dos casais obterão uma gestação enquanto 50% conseguirão a gravidez após 6 meses. Após 1 ano, 80% dos casais conseguirão. Os 20% restantes demorarão muito mais tempo ou necessitarão de auxílio médico para obter uma gestação. Estes serão rotula-dos como casais inférteis para revolta e incompreensão da maioria, pois a natureza para eles falhou naquilo que eles têm de mais íntimo e se sentirão defi cientes”.

1 Dr. Karam Abou Saab é o idealizador e diretor clínico do Centro Paranaense de Fertili-dade. Desde 1982, é professor de Reprodução Humana da Faculdade de Medicina da Uni-versidade Federal do Paraná. É responsável pelo nascimento do primeiro bebê de proveta do Estado do Paraná, sendo um dos pioneiros no desenvolvimento desse ramo da medi-cina no Brasil. Foi reconhecido como o primeiro médico, no mundo, a realizar uma cirur-gia de reversão de laqueadura tubárea, feita por videolaparoscopia. O Centro Paranaense de Fertilidade é uma clínica altamente especializada em tratamento de infertilidade, si-tuada em Curitiba (PR).

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10%

20%

30%

40% Exclusivamente feminina

Exclusivamente masculina

Âmbos os cônjuges

Sem causa aparente

Causas da infertilidade

Fonte: Centro Paranaense de Fertilidade

As mulheres, como vimos, são responsáveis exclusivamente por 40% das causas de infertilidade, sendo os seguintes fato-res causadores:

FATO

R

CAUSA DIAGNÓSTICO

TU

RIO

São as tubas ou trompas que captam o óvulo, recebem os es-permatozóides, dando condições para ocorrer a fertilização e o desenvolvimento do embrião por 5 dias; a seguir, conduzem-no para o útero. Elas são facilmente acometidas por infl amações de origem vaginal ou sanguínea que geralmente provocam lesões graves com dilatação e obstrução das mesmas. Outra causa por fator tubário é a laqueadura ou ligadura das trompas.

Realizado por meio de histeros-salpingografi a, exame radiológico em que um líquido é injetado pelo colo uterino, preenche o úte-ro, passa pelas trompas e atinge os ovários. Isto fi ca registrado em radiografi as, que mostram se o trajeto está livre para que óvulos e espermatozóides se encontrem.Ainda, para uma melhor ava-liação das trompas, utiliza-se a video-laparoscopia, um procedi-mento cirúrgico que tanto serve para diagnóstico como para tratamento de algumas lesões tubárias.

Segundo estudos, as causas da infertilidade sõ assim dis-tribuídas:

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Infer t i l idade e . . . QUADRIGÊ MEOS !O

VA

RIA

NO

O ovário produz o óvulo e os hormônios que preparam o útero para uma gestação. A falta de ovulação é causa freqüente de infertilidade.

Através de ultra-sonografi as, no período pré-ovulatório, até que ocorra a ovulação. São repetidas a cada dois dias, a fi m de acom-panhar o crescimento do folículo ovariano, até o rompimento do mesmo no dia fértil com libera-ção do óvulo. Também pode ser realizada a videolaparoscopia, que — além de analisar os sinais ovarianos de ovulações recentes e antigas — permite biopsiar os ovários, isto é, retirar fragmen-tos para exames, além de retirar cistos, perfurar microcistos e cauterizar a cápsula ovariana, favorecendo, assim, seu melhor funcionamento. Podem ser utili-zadas, ainda, dosagens hormonais sanguíneas para avaliar a função ovariana.

CER

VIC

AL

O colo uterino constitui-se naporta de entrada dos espermato-zóides, local em que estes podem sofrer agressões provocadas por acidez, infecções ou anticorpos.

A avaliação deste fator é feita com um exame chamado Teste Pós-Coital. No período fértil, algumas horas após a relação sexual, a paciente comparece ao consul-tório e, através de um exame ginecológico, o médico colhe ma-terial do colo uterino e o examina imediatamente ao microscópio, analisando a presença e motilida-de dos espermatozóides.

UT

ERIN

O

Anomalias uterinas são causas pouco freqüentes de infertilidade, porém algumas mulheres nascem com defeitos uterinos que, às vezes, não permitem gestações ou são causas de abortamentos. Outras desenvolvem miomas ou pólipos que podem justifi car infertilidade.

O diagnóstico é realizado por ultra-sonografi a, histerossalpin-gografi a, histeroscopia ou video-laparoscopia.

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Endométrio é o revestimento interno do útero. Endometriose é a presença de endométrio fora do útero. Origina-se quando algu-mas células endometriais migram pelas trompas para o interior do abdome, podendo implantar-se em qualquer órgão pélvico, provocando micromenstruações nestes locais, prejudicando a fertilidade. Cistos ovarianos, chamados endometriomas, podem comprometer a ovulação. Aderências e dores abdominais são comuns em portadoras desta doença.

É realizado pela videolaparos-copia que também se presta ao tratamento através da cauteri-zação dos focos e retirada dos cistos endometrióticos. Quan-do a endometriose é extensa, complementa-se o tratamento laparoscópico com medicamen-tos por seis meses.

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Em apenas 5% dos casais inférteis a causa é realmente de fundo psicológico e geralmente acon-tece em mulheres portadoras de personalidade infantil ou fóbicas, isto é, pacientes que não se julgam em condições de suportar uma gestação ou criar um bebê. Por outro lado, a maioria dos casais que é rotulada como infér-til tem difi culdades em assumir esta defi ciência sem desenvolver vários confl itos como raiva, frus-tração, insegurança, agressivida-de e perda da auto-estima, além da diminuição do sentimento de feminilidade ou masculinidade, com possível deteriorização do relacionamento marido-mulher. Alguns casais geram alto grau de estresse que pode resultar em bloqueio da fertilidade.

Felizmente, estes fenômenos são transitórios e desaparecem na medida em que o médico faz uma avaliação clara do problema do casal e, respeitando a fragi-lidade e a elevada sensibilidade, principalmente das mulheres, estabelece um plano de tratamen-to objetivo e efi caz, criando um vínculo de confi ança entre o casal e o médico, elo este fundamental para o sucesso do tratamento

Fonte: Centro Paranaense de Fertilidade

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Foi constatado que em 30% dos casos de infertilidade as cau-sas são exclusivamente masculinas e, segundo Saab, geralmen-te devido à produção defi ciente de espermatozóides em quan-tidade ou qualidade.

“Estas defi ciências ocorrem em conseqüência de anoma-lias congênitas, isto é, a pessoa nasce com o defeito, ou adquiridas, como infecções, estresse, poluição ou drogas e, algumas vezes, secundárias às varizes peritesticulares conhecidas como varicocele.

O sêmen, colhido por masturbação, permite em exame ao microscópio, a avaliação dos espermatozóides, confi guran-do o exame chamado espermograma.

A escolha do tratamento depende do diagnóstico e da qua-lidade do espermatozóide. Rotineiramente opta-se inicial-mente por tratamentos mais simples e quando estes falham, indicam-se os mais sofi sticados e efi cientes.”

Depois de apresentados todos os fatores causadores de infertilidade, tanto feminina como masculina, podemos com-preender melhor o desgaste de que tanto falamos desde o iní-cio. A dor física para a realização de todos os exames necessá-rios até obter o diagnóstico é apenas a primeira parte. A par-tir do diagnóstico, na maioria das vezes, primeiro é necessário um tratamento para resolver parte do fator causador da infer-tilidade, para depois iniciar os procedimentos para uma repro-dução assistida.

Durante o período de preparação para a reprodução as-sistida, são utilizados medicamentos para acelerar a ovulação, os quais “aceleram” todo o organismo, levando inclusive à mu-dança de humor e principalmente ao estresse.

Como querer que um casal que passa por toda esta ma-ratona de exames, horas no consultório médico e, principal-

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mente, estando ligado ao calendário biológico para não perder o período fértil, ou seja, a chance de gravidez, esteja em per-feito equilíbrio?

Certamente, quanto maior o tempo de permanência em tratamento, maior também será o desgaste emocional; a insegu-rança vai aumentando e a cobrança também. É neste momento que o casal precisa de muito apoio e o grande desafi o é encon-trar as pessoas certas com quem possa desabafar sem medo de ouvir críticas ou desestímulos.

Nós aprendemos muitas lições quando passamos por este período. No começo, falávamos sobre o assunto com um gran-de grupo de pessoas. Aos poucos fomos percebendo que mui-tos faziam comentários maldosos e, quando recebíamos o resul-tado negativo, nos desestimulavam. A cada tentativa a pressão era maior. Assim, cada vez mais fomos reduzindo o grupo de pessoas com quem dialogávamos sobre o assunto. Nossa famí-lia foi parceira o tempo todo, sofríamos juntos, principalmente durante os longos doze dias entre a transferência dos embriõesaté o dia do teste de gravidez.

Como a modernização das técnicas de reprodução as-sistida tem elevado cada vez mais o índice de resultados posi-tivos e a grande maioria dos casais não omite que contou com o auxílio da ciência para ter seu bebê, criou-se uma rede de in-formações. Esta rede de informações de pacientes para pacien-tes ajuda muito os casais, passando maior segurança em rela-ção a uma determinada clínica e seus serviços prestados, e vem apoiando casais para continuarem a sua luta.

Desde quando iniciamos a nossa jornada e, principal-mente, após o nascimento dos quadrigêmeos, muitas pessoas ligam para saber informações sobre o tratamento, as questões fi nanceiras, ou o desgaste físico e emocional. Às vezes, querem apenas conversar sobre o assunto. Muitas dessas pessoas sequer

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conhecemos, e estas, em especial, querem saber de tudo, em detalhes. Em alguns casos pedem para não comentarmos que entraram em contato conosco. Geralmente sabem o caminho, apenas querem ter o depoimento de alguém que obteve suces-so para poder conversar e serem compreendidas.

Quando alguém diz, confi dencialmente, que deseja ter um fi lho e que está em tratamento, é preciso ajudá-lo, ser com-preensivo e estimulá-lo.

Lembro-me do que nos disse o médico que nos acompa-nhou. Um dia, quando estávamos saindo da clínica após uma das tentativas, disse-lhe que aquela seria a última vez que o fa-ria; se não engravidasse, não retornaria! Ele me perguntou se era este realmente o meu sonho e acrescentou: “Se você desis-tir neste momento em que fi sicamente seu organismo tem to-das as chances possíveis para realizar o seu sonho, no futuro, quando isto não for mais possível, só lhe restará lamentar e o vazio que sente hoje não será menor no futuro”.

Tudo o que foi descrito até aqui — os desafi os da vida em sociedade e as causas da infertilidade —, tem como objeti-vo alertar que o que passamos não foi exclusividade nossa, as-sim como não é de qualquer outro casal. Às vezes nos sentía-mos uma ilha de problemas, parecia que somente nós vivíamos aquilo. Todos que decidem por este caminho têm experiências dolorosas para serem contadas.

O grande diferencial vai estar no enfrentamento da dor, na maneira de administrá-la. Cada pessoa deve buscar aquilo que mais pode ajudá-la a aliviar a tensão, objetivando desviar um pouco a atenção do problema. Se a forma encontrada for yoga, massagem, caminhada ou terapia, será ela quem irá defi nir.

O que ela não poderá fazer é sentir-se vítima, como se fosse a pessoa mais sem sorte ou menos favorecida da face da Terra. Sentir pena de si própria não a levará a lugar algum.

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