[indústria, sindicato, trabalhadores] além da fábrica - org. marco aurélio santana e josé...

Upload: tiago-reis

Post on 13-Apr-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    1/21

    SANTANA, Marco Aurlio; RAMALHO, Jos Ricardo. Alm da fbrica: trabalhadores, sindicatos

    e a nova questo social. So Paulo: Boitempo, 2003. p.64-71.

    ALM DA FBRICAtrabalhadores, sindicatos e a nova questo social

    Pgina 44

    O SINDICALISMO TEM FUTURO NO SCULO XXI?1

    Huw BeynonIntroduo bem conhecido o fato de que Karl Marx e Friedrich Engels concluram o

    Manifesto comunista com as palavras: "O proletariado no tem mais nada aperder a no ser os seus grilhes. Eles tm o mundo a ganhar. Proletrios detodos os pases, uni-vos!". Francis Wheen, em sua excelente biografia de Marx,reflete acerca disso, indicando que:

    "Os nicos grilhes que amarram a classe trabalhadora hoje so os relgiosRolex falsos. Nos dias atuais, os proletrios tem muito mais coisas quedetestariam perder microondas, frias e antenas parablicas. Elescompraram suas casas e suas aes de empresas privadas; eles comemoraramquando sua sociedade de auxlio se converteu em um banco. Resumindo,somos todos burgueses agora. Mesmo o Partido Trabalhista Britnico tornou-seThatcherista" (Wheen, 1999:4).Esta se tornou uma viso aceita entre intelectuais e polticos ocidentais.

    Todavia, muitos pontos so esquecidos ou subestimados nesta viso queressalta a afluncia dos trabalhadores no Ocidente e o

    Pgina 45

    declnio do emprego nas indstrias manufatureiras. Uma das muitas sutilezasde Marx est relacionada com sua compreenso da explorao capitalista e dopapel que desempenham nela os salrios e o processo de trabalho. Em suaviso, o processo de extrao da mais-valia, e com ele urna variedade deprocessos polticos decorrentes, opera sobre os trabalhadores "sejam seussalrios altos ou baixos".Alm disso, j foi dito (segundo Lnin) que o imperialismo possibilitou aos

    Estados capitalistas a distribuio de parte da explorao da mais-valiaextrada nas colnias para seus trabalhadores nos pases centrais na forma dealtos salrios. Isso produziu a idia do "imperialismo social" como explicaodas reformas polticas dos Estados ocidentais e o estabelecimento de umacidadania de direitos para os trabalhadores atravs da reforma do Estado.Nesse contexto, em contraste com Wheen (1999), interessante notar o

    nmero de escritores que comearam a comentar a diminuio desses direitose a reduo de salrios dos trabalhadores manuais nos Estados capitalistasavanados.O ataque aos direitos dos trabalhadoresA questo dos "direitos", especialmente dos direitos dos trabalhadores, em

    um contexto de mudanas econmicas globais, emergiu como uma questocentral para cientistas sociais, polticos e militantes. Em Nova York, EthanKapstein, diretor de estudos do Conselho de Relaes Exteriores, escreveu o

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    2/21

    seguinte acerca da quebra da negociao ps-guerra", construda em torno doacordo de Bretton Woods:"A economia global est deixando em seu rastro milhes de trabalhadores

    insatisfeitos. Desigualdade, desemprego e pobreza endmica tem sido suascompanheiras. A rpida mudana tecnolgica e o aumento da competiointernacional esto pressionando os mercados de trabalho dos principais pases

    industrializados. Ao mesmo tempo, presses sistmica esto reduzindo acapacidade dos governos de responder com novos gastos. No exato momentoem que os trabalhadores precisam dos Estados nacionais como uma proteona economia mundial, eles os esto abandonando" (Kapstein, 1996: 16).Em Londres, Joe Rogaly, colunista do Financial Times, assinalou, que,

    Pgina 46

    "Nos velhos tempos, muitos empregados podiam apelar ajuda do sindicato.Apenas um oitavo dos trabalhadores do mundo est organizado agora... Os

    lees tiveram seus dentes arrancados... Ns fomos deixados sozinhos comnossos novos mestres, as grandes corporaes, aquelas que o criticam se nopodem se livrar de voc" (Rogaly, 1998).Anos atrs, ouvindo Bill Gates apresentar seu plano de lanar 300 satlites de

    comunicao, o mesmo autor desenhou o futuro da seguinte forma:"Corporaes que operam em muitos pases buscam lugares onde os impostosso os mais baixos. Sempre evitando pagar impostos para reduzir seus custos,esses gigantes podem escolher onde e o que fazer. Eles mudam naturalmentepara onde as leis so mais amenas. Essas viagens fugindo das leis seroaceleradas pelas redes. As chances so as de que, durante as dcadas futuras,

    as diretorias das 100 maiores companhias do planeta sero mais fortes e maisrelevantes para as dvidas individuais do que os governos dos 100 maiorespases... Ns estamos testemunhando o incio de um triunfo to grande para omercado livre, que nem os proponentes do capitalismo jamais sonharam"(Rogaly, 1997).Outros autores, embora concordem com Joe Rogaly no que diz respeito

    crise dos direitos dos trabalhadores, tm uma compreenso mais complexadessa situao. Charles Tilly, escrevendo em uma edio especial do Journal ofInternational Labor and Working Class History, associa a expanso dos direitosdos empregados com a expanso do Estado e da democracia. Segundo ele, no

    contexto da globalizao, Estado e democracia esto ambos enfraquecidos.Historicamente, no Ocidente, assinala o autor:"Direito de greve, de associao, luta por sanes contra as pssimas

    condies de trabalho, buscar o reforo legal dos contratos, recolher seguro-desemprego, receber aposentadoria, tudo isso no era fruto de um ethoseuropeu e ocidental geral, mas sim de uma presteza particular do Estada navalidao dos direitos em questo" (Tilly, 1995: 12-13).Ele acrescenta:"O exerccio dos direitos dependia fortemente da capacidade e da propenso

    dos Estados em disciplinar o capital. Muito da poltica trabalhista nos pasesocidentais girou em torno precisamente de demandas no sentido de que oEstado fizesse valer tais direitos em face da resistncia dos capitalistas" (idem,ibidem).

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    3/21

    Pgina 47

    Na viso do autor, a globalizao do capital e a criao de "poderosasorganizaes supranacionais" minaram a capacidade dos Estados de"disciplinar o capital". Resumindo seu argumento, Tilly (ibidem: 21) afirma

    que:"Minha anlise indica que a substancial aquisio de direitos feita pelos

    trabalhadores nos pases capitalistas depois de 1850 agora enfrenta umadevastadora reverso. Nada nesta anlise sugere que um novo ciclo deaquisio est prestes a comear. Da mesma forma que o Estado declina,declinam os direitos dos trabalhadores".Segundo o autor, a no ser que novos modos de organizao sejam

    encontrados, a prpria democracia corre o risco de ser esmagada "pelas novasoligarquias do capital". Ou, na linguagem de Rogaly (1997):"Voc pode confiar na administrao para tratar mal os empregados, os

    consumidores, os diretores e todo mundo mais, sempre que as circunstnciasexigirem. Essa uma proposio fundamental cuja verdade no pode sernegada".Immanuel Wallerstein (1995: 26) concorda com essa viso e usa a linguagem

    da guerra em sua abordagem da ascendncia dessa oligarquia. De seu pontode vista, ela tem sido mareada por ataques e contra-ataques:"O que importante perceber que este 'contra-ataque' uma reverso de

    estratgia pelas classes privilegiadas, ou ainda um retorno estratgia do pr-1848, na qual se administrava o descontentamento dos trabalhadoresconjugando indiferena e represso. Aps 1848, at 1968, as classes

    privilegiadas tentaram apaziguar a classe trabalhadora atravs da instituiodo Estado liberal, combinada com doses de concesses econmicas. Aestratgia foi politicamente vitoriosa. Elas apenas reverteram essa estratgiaquando a conta tornou-se muito alta, o que apenas aconteceu recentemente".Todos esses textos fazem uma leitura sombria. Eles sugerem que estamos

    entrando em um perodo no qual os direitos dos trabalhadores nos Estados daOrganizao para Cooperao e Desenvolvimento (OCDE) e ao redor do mundoesto em perigo.Elementos de repressoAs anlises sobre as foras que produziram essa presso pela diminuio dos

    direitos dos trabalhadores identificam trs principais agentes:Pgina 48

    Corporaes multinacionaisA crescente importncia das corporaes transnacionais no interior das

    economias nacionais no um fenmeno novo. O capitalismo sempre teveuma agenda internacional. Entretanto, uma preocupao com o impactodessas corporaes nos arranjos dentro da indstria manufatureira tornou-seclara a partir dos anos 1960. Esse processo foi se acelerando com o desenrolardo sculo. O fim da Unio Sovitica e a liberalizao das economias da China,da frica do Sul e do Brasil tm acelerado o desenvolvimento de suasatividades em uma escala global.

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    4/21

    Os trabalhadores das fbricas da Ford no Reino Unido ficaram preocupadoscom o modo pelo qual as operaes internacionais da empresa afetavam assuas vidas. Na fbrica de Halewood, em Liverpool, a produtividade comeou aser comparada com a de outra fbrica equivalente da Ford em Colnia, naAlemanha, na qual so empregados imigrantes turcos. Esse padro aumentoucom a medio do trabalho e os nveis de produo de diferentes fbricas que

    foram colocadas em uma espcie de "tabela de campeonato", na qual ostrabalhadores foram encorajados a competir com seus colegas de outrasplantas da empresa (Beynon, 1996a).O impacto desse tipo de arranjo comeou a ser sentido depois da crise

    cambial de 1976. Essa crise, combinada com a sobrecapacidade industrial daEuropa, promoveu um severo achatamento nos nveis de emprego e, com isso,no desenvolvimento de estratgias de negociao pelas companhias queenfraqueceram profundamente a organizao dos sindicatos.Em uma ocasio, a Hyster empresa produtora de empilhadeiras

    anunciou que uma de suas trs plantas europias teria que fechar. A escolha

    entre elas dependeria dos nveis de reduo de salrios que cada uma estavadisposta a fazer. Logo depois, a Ford anunciou que desejava instalar umafbrica de componentes em Dundee, na Esccia, mas que s o faria se ossindicatos concordassem que salrios e condies de trabalho no interior daplanta no fizessem parte do acordo nacional, que se aplicava a todas asfbricas da Ford. Essa fbrica foi finalmente instalada nas Filipinas.O impacto depressivo desse tipo de prtica sobre a percepo de sindicatos e

    trabalhadores acerca de seu poder e de seus direi-

    Pgina 49

    tos bvio. Isso ficou claro no Reino Unido em um incidente em uma fbricatxtil e de roupas no noroeste da Inglaterra:"Na sexta-feira, trabalhadores da fbrica Coates Viyella, em Rainhill

    Merseyside, pegaram seu aviso de demisso no cho de uma guarita fora daplanta. Seus envelopes haviam sido deixados em pequenas pilhas por umadministrador ansioso por fechar a porta exatamente uma da tarde. Para PatDonoghue e Lisa Kelly, foi a humilhao final. As pessoas tiveram que securvar no cho para pegar seus avisos. Eles no tiveram a decncia de nosentregar diretamente' disse um dos trabalhadores.

    A fbrica em Rainhill, produtora de camisas para a rede Marks and Spencer,no tem produzido nada l desde 10 de abril, quando os trabalhadoresouviram do diretor-geral que a planta ia ser fechada. Todo trabalho seriatransferido para as fbricas da Coares Viyella nas Ilhas Maurcio e naIndonsia, onde os trabalhadores locais produziriam as mesmas camisas pormenos da metade do salrio pago em Rainhill" (The Times, 6/5/1996).Dessa forma, o nvel de emprego nas indstrias txteis e de couro, que

    absorviam 723.000 trabalhadores em 1979, foi reduzido para 366.200 em1995. O processo de fechamento de fbricas e as mudanas nas formas deemprego afetaram a indstria manufatureira em muitos pontos. Em setoresto diversos quanto o de roupas, o de veculos e o qumico, a perda detrabalho est ligada com a realocao dos espaos de produo. Isso pode servisto de forma dramtica nas operaes de uma corporao industrial gigante

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    5/21

    como a Imperial Chemical Industries (ICI), que, no incio dos anos 1980,mudou o balano de sua produo de um tipo que era dominado por suasplantas britnicas para um outro bastante diverso em termos de sua operaointernacional.Essa alterao na base do emprego gerou severa perda de trabalho em suas

    principais locaes britnicas em Teesside e Merseyside (ver Beynon, Hudson e

    Sadler, 1994). Como um quid pra quo, o Reino Unido ofereceu adequadaslocaes produtivas para filiais de corporaes dos Estados Unidos e daAlemanha, bem como do Japo, da Coria do Sul e de Taiwan. Essascompanhias formaram a base da indstria britnica de eletrnicos ecomputadores. Processos similares afetaram a posio de trabalhadores nosEstados Unidos. Estima-se que, entre 1978 e 1991, um tero do setor deautopeas americano mudou-se para o Mxico.

    Pgina 50

    O salrio real dos trabalhadores do setor caiu 9%. Os trabalhadoresconcordaram com o corte nos salrios para manter os seus empregos.De forma geral, as indstrias recm-chegadas e aquelas que permaneceram

    abertas foram administradas no sentido de que reduzissem dramaticamentesua fora de trabalho. Esse processo ficou conhecido nos Estados Unidos comodownsizing (ou, ocasionalmente, como rightsizing). Ele foi visto corno asoluo para a intensificao da competio internacional, removendo aesclerose das indstrias dominadas pelas prticas do "trabalho para toda avida" e pelo suporte dado pelo Estado atravs de subsdios e contratosgarantidos. Mquinas (robs e computadores) substituram empregos em uma

    velocidade que levou alguns observadores a preverem o fim do trabalho (verRifkin, 1995). Em 1995, o relatrio do Banco Mundial comentava que"As transformaes envolvem profundas reformas estruturais. Elas criam

    novas oportunidades, mas tambm riscos que geraro vencedores eperdedores... O trabalho, possivelmente mais que o capital, tende a sofrerdurante o perodo de ajustes iniciais... O trabalho tem menos mobilidadeinternacional do que o capital. Ento, quando a economia quebra, o maisprovvel que o trabalho sofra um choque mais duro, enquanto o capitalfoge... As maiores transformaes esto associadas com a massivareestruturao do emprego alguns empregos podem ser destrudos e outros

    novos criados".Alguns analistas americanos tm se referido emergncia de uma novaforma de economia, que eles chamam de turbocapitalirmo Os componentes-chave desse novo sistema repousam no modo fluido pelo qual o dinheiro e ocapital fixo movem-se pelo globo, alterando a paisagem local e a vida daspessoas que trabalham para viver. Um desses depoimentos foi documentadopor Business Week:Pergunte a David K. Hayes acerca dos impactos da globalizao na vida delee voc ouvir a histria de uma dolorosa jornada na montanha-russa em quese tornou o nosso mundo. No incio do ano passado, a fbrica da Goodyear Tiree Rubber Co., em Gadsden, Alabama, onde ele trabalhou por 24 anos, decidiutrocar a maioria de seus trabalhadores pelos baixos salrios do Mxico e doBrasil. A planta reduziu sua fora de trabalho de 1.850 para 628 trabalhadores.

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    6/21

    Aos 44 anos, pai de duas crianas, ele teve sorte e conseguiu um empregopagando os mesmos

    Pgina 51

    US$36.000 de salrio por ano; porm, em outra planta da Goodyear situada a

    300 milhas de distncia . A esposa de Hayes no quis sair de seu trabalhocomo enfermeira, no qual ganhava U$30.000 por ano. Ento, Hayes alugou umpequeno apartamento em Union City, Tennessee, s podendo ver sua famlianos fins de semana. Em outubro, a Goodyear reverteu sua posio inicial eempregou cerca de 700 pessoas em Gadsden, indusive Hayes. bom estar emcasa, diz ele. Mas agora ele est constantemente preocupado com apossibilidade de que a companhia mude de idia novamente. Isso temacabado como os meus nervos', diz ele. Ns temos tentado ser bastantecautelosos com os gastos porque eu no sei se terei trabalho daqui a seismeses" (Bernstein, 2000: 38-44).

    Eventos como esse tem levado os pesquisadores a argumentar que o"turbocapitalismo" est estreitamente relacionado com a emergncia de novostipos de regimes baseados no trabalho inseguro (Heery e Salmon, 2000). Ocrescimento desse tipo de insegurana especialmente para aquelesempregados em tarefas manuais, qualificados ou no enfraqueceu acapacidade dos sindicatos de se organizarem efetivamente. KateBrofenbrenner, da Universidade de Cornell, argumenta que suas pesquisasacerca das campanhas de sindicalizao em plantas manufatureiras revelaramque os gerentes, em 62% delas, ameaavam fechar a fbrica se a campanhaprosseguisse (Fairbrother, 1999).

    Bernstein (2000) indica que, quando perguntados, 75% dos cidados norte-americanos sentiam que a "globalizao" tinha uma vantagem principal: eladava empregos e reforava a economia dos pases pobres. Como poderemosver, muitas pessoas acabaram por ressentir-se disso. Entretanto, claro quequalquer mudana no perfil dos empregos no ser a troca de um por outroigual ou equivalente.Agncias internacionais o FMIAs firmas capitalistas organizadas internacionalmente so parte importante

    dessa situao de mudana. Um outro elemento de relevo o colapso doentendimento que sustentava o acordo de Bretton Woods. Isso tem sido

    associado crescente preponderncia do Fundo Monetrio Internacional comouma agncia da ortodoxia financeira. Nos ltimos vinte anos o fundo vemintervindo na operao dos Estados de diversas maneiras. Em momentos de

    Pgina 52

    crise ele tem mobilizado suporte financeiro e creditcio. Mas, de formacrescente, essa ajuda tem sido parte de um pacote compromete o Estadoajudado com a introduo de polticas monetrias ortodoxas. Suas atividadesforam centrais na crise que afetou a Rssia. Recentemente, George Sorosindicou as formas pelas quais o suporte do FMI - exacerbou a crise. O ProdutoInterno Bruto (PIB) da Rssia hoje de 50% de seu nvel de trs anos e temsido acompanhado por uma espiral descendente dos salrios reais e da

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    7/21

    chegada de uma forma de capitalismo gangster. Nada disso foi antecipado,pelo menos no para as pessoas na Rssia, muitas das quais hoje vem oFundo Monetrio como um bero do Imperialismo norte-americano. Asintervenes do Fundo Monetrio na regio do Pacifico tiveram resultadoscataclsmicos, mas mesmo l o aumento da taxa de juros e os severos cortesnos gastos pblicos tiveram um profundo efeito deflacionrio. Efeitos similares

    podem ser observados no impacto do FMI nas estratgias econmicas deMxico e Brasil.Pouco comentado, porem, foi o papel importante que o Fundo desempenhou

    na crise de desvalorizao no Reino Unido em 1976. a interveno do FMInaquela oportunidade restringiu seriamente as opes abertas para o entogoverno trabalhista. No meio de uma severa recesso (Burke e Cairncross,1992), o Fundo comprometeu o governo com um corte nos gastos pblicos de8 bilhes de libras entre 1977 e 1979. a experincia convenceu o governo deque o keynesianismo estava no fim. O primeiro-ministro Jim Callaghan tornouisso bastante claro em um discurso provocativo durante o congresso do Partido

    Trabalhista, em 1977:Ns sempre pensamos que poderamos continuar gastando apesar darecesso, e aumentar o desemprego cortando impostos e aumentando osgastos do governo. Eu digo a vocs com toda honestidade que essa opo noexiste mais. Ela s existiu e funcionou desde a guerra atravs da injeo dealtas doses de inflao na economia, seguidas por um outro nvel dedesemprego... Agora, ns devemos voltar para os fundamentos (citado emPanitch e Leys, 1998:117).Margareth Thatcher elevou essa idia a pontos que j esto bem

    documentados. Contudo, o impacto de longa durao da interveno do FMI

    est menos documentado e pouco compreen-

    Pgina 53

    dido. Isso fica mais claro no fato de que o gasto publico, durante o atualgoverno trabalhista de Tony Blair, permanece nos nveis deixados pela ultimaadministrao do partido Conservador. Isso j[ havia sido sinalizado na visitafeita por Tony Blair a Rupert Murdoch (o magnata da mdia), na Austrlia, emjulho de 1996, e pela chegada de Bill Clinton a Downing Street para conversa aportas fechadas, em maio de 1997.

    A interveno de FMI em 1976 foi fortemente influenciada pelas opiniescirculantes em Wall Street de que a economia do Reino Unido saiu dascordas. Paul Krugman assinala a influencia de opinies como estas. Do seuponto de vista, a poltica fiscal internacional se desenvolve no interior de umelaborado discurso dominante. Segundo ele:Encontros sem fim, discursos e troca de comunicados ocupam a maior partedo tempo dos formadores de opinio em economia. Esses grupos sociaisfechados tendem em um dado momento, entre outras coisas, a convergir parauma sabedoria convencional sobre economia. Pessoas acreditam em certashistrias porque todo mundo importante fala delas, e as pessoas contam essashistrias porque todo mundo importante acredita nelas. Quando a sabedoriaconvencional est em sua fora mxima, concordar com ela parece ser o maiorteste para que possamos ser levados a srio (Krugman, 1995:28-44).

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    8/21

    Estados-naoA combinao de um capital global sem regulao, e das atividades

    coordenadas das agencias internacionais dominadas pelos Estados Unidos, coma agenda econmica neoliberal forma parte importante das presses sobre osdireitos dos trabalhadores. Elas foram impostas pelas dramticas mudanas naatuao dos partidos polticos e na estratgia poltica dos Estados-nao. Aqui,

    as atenes foram direcionadas para Thather/Reagan e para os partidosconservadores e republicanos. Todavia, a transformao dos partidossocialdemocratas foi de fundamental importncia. Ns vimos como issoocorreu no governo trabalhista dos anos 1970. O fenmeno da unio associaldemocracia com o neoliberalismo parece ter afetado todos os (chamados)Estados capitalistas anglo-saxes. Em adio ao ocorrido no Reino Unido e nosEstados Unidos, vimos os mesmos processos ocorrerem na Nova Zelndia, naAustrlia e no

    Pgina 54

    Canad. De diferentes formas (como sugerido por Wheen, 1999), essespartidos encamparam ou prepararam o terreno para polticas que ficaramconhecidas como thatcherista (Thatcherite) e reaganomia (Reaganomics).Para a anlise do carter dessas polticas no Reino Unido, seria interessante

    levar em considerao o que indica Alan Budd, professor de economia daLondon Business School e assessor direto de Margareth Thatcher. Em junho de1992, ele participou de um programa de televiso no qual apontou ossustentculos filosficos da estratgia seguida pelo governo Thatcher,definindo-os como uma "volta ao bsico".

    "Aumentar o desemprego foi um jeito bastante interessante de reduzir afora da classe trabalhadora... O que foi engendradaem termos marxistas foi a crise do capitalismo que recriou o exrcito industrial de reserva e semprepermitiu aos capitalistas terem lucros"2.O depoimento de Budd foi confirmado por Norman Stone, outro assessor de

    Thatcher Como professor de histria moderna da Universidade de Oxford,Stone foi entrevistado pelo The Sunday Times para fazer uma avaliao dosculo XX, analisando a importncia social e poltica de cada uma das dcadas.Para ele, os anos 1980 foram um perodo no qual o "capital contra-atacou"fortemente.

    O voluntarismo, evidente em ambos os relatos (dos tericos da direita), interessante e aponta para a importncia da poltica e da mobilizao noprocesso de mudana econmica. Thatcher e Reagan, com seus assessores eos Think Tanks3, embarcaram em um projeto poltico que excluiu outrasopes. O bordo de Thatcher era TINA There Is No Alternative (No halternativa) e foi usado com poderoso efeito retrico.Como uma "sabedoria convencional" tal idia tomou de assalto o processo de

    deciso poltica nos Estados Unidos e no Reino Unido nos anos 1980. Elacontinha poderosos instrumentos

    Pgina 55

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    9/21

    retricos que colocavam grande nfase em noes do passado, identificando ossindicatos e seus lderes como personagens de uma era ultrapassada. Dessaforma, o sindicato dos trabalhadores das Docas foi identificado como "a ltimadas grandes guildas medievais" e seus trabalhadores como "fsseis em umaterra arruinada, criada por eles mesmos4. Os lderes sindicais eram tocomumente chamados de "bares" que isso virou parte do discurso cotidiano.

    Outras aluses, como a de "Mfia", traziam consigo as idias de poder ecorrupo. Juntas, tais idias serviram para identificar o sindicalismo (e, porextenso, a classe trabalhadora) como essencialmente ultrapassado e vivendono passado. As manchetes dos jornais freqentemente associavam a lideranasindical aos dinossauros. As referncias tornaram-se ainda mais comuns apso filme Jurassic Park de Steven Spielberg. Nas fbricas, escritrios euniversidades, sindicalistas e militantes de esquerda passaram a ser chamadosde "jurssicos".Deste e de outros modos, TINA tomou conta do Reino Unido. Isso promoveu

    uma frustrao crescente com as greves do setor pblico e com a sobrecarga

    de regras e regulamentaes sobre a vida cotidiana. Uma de suasconseqncias foi a liberalizao de aspectos da vida de uma formaextraordinria. Telefones, por exemplo, eram de fornecimento escasso quandoum monoplio estatal com poucos recursos controlava o setor. O pedido deinstalao de uma linha era complicado e, invariavelmente, demorava mesespara ser atendido. A mesma coisa acontecia quando se tentava obter novosaparelhos ou suprimentos. Para os consumidores havia pouca ou nenhumacompensao. A desregulamentao e a privatizao criaram uma situao naqual os telefones podiam ser comprados facilmente nos centros comerciais dequalquer cidade.

    Um futuro alternativoEste o discurso que enfatiza a ascendncia do capitalismo e do sistemacapitalista. Ele confronta a expanso da economia global com as inseguranase vulnerabilidades dos trabalhadores e de

    Pgina 56

    suas famlias, bem como de suas localidades. As maiores evidncias do modopelo qual a mudana de natureza e perfil dos empregos tornou-se a parte daestrutura dinmica da "globalizao" podem ser ilustradas com um exemplo da

    pouco estudada rea de transporte ocenico.Vinte anos atrs, os maiores pases industrializados operavam suas prpriasfrotas com seus prprios tripulantes. Isso no ocorre mais. Hoje, por exemplo,20% da fora de trabalho martima filipina. Isso representa um rpidocrescimento nos ltimos vinte anos, que se relaciona com os modos pelosquais a indstria martima, vivendo a sobrecapacidade, rompeu sua relaocom seus pases natais. Atravs do instrumento da "bandeira de convenincia",os navios que antes eram registrados e regulados pelo Reino Unido, e outrospoderes martimos, mudaram-se para lugares como Malta, Panam, Bahamas,os quais fornecem um lar sem o decorrente controle de navios e proprietrios.O rompimento com seus pases de origem tambm facilitou a ruptura com afora de trabalho nativa, bem como com seus salrios e acordos sindicais.

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    10/21

    Sob essas condies, a fora de trabalho do transporte martimo se tornouglobal em sua forma. Agncias de emprego e recrutamento em lugares comoFilipinas, ndia, Cabo Verde, Latvia e Rssia tornaram-se uma nova e lucrativafonte de trabalho para esse novo mercado de trabalho global. Essestrabalhadores so, muito freqentemente, recrutados para um contrato denove meses, com a maior parte dos seus salrios paga pela agencia de

    contratao diretamente na sua conta bancria. Ao fim de cada contrato, ostrabalhadores solicitam o certificado de sada ao gerente do navio. Em muitoscasos esse certificado atributo apenas da empresa do comandante e doagente. Um relatrio negativo (associado a qualquer forma de reclamao)garantir que o contrato no seja renovado.Este um relato preocupante e deprimente sobre uma situao que parece

    permitir pequena margem de manobra. A articulao entre os trs elementoscitados tomou uma forma que estimula a viso de que no h outro futuro; osseres humanos e as instituies sociais precisam se adaptar a essas mudanase s foras econmicas poderosas. Em um contexto como esse, as presses

    sobre a psique humana aumentam bastante.

    Pgina 57

    Em 1998, a Harper's Magazine promoveu um simpsio acerca de ganhadorese perdedores na economia global. Bill Greider expressou seu ponto de vista:"Ao menos na Amrica, o processo de remoo de direitos - o declnio do

    salrio real, a eroso da representatividade governamental e do trabalhoorganizado tem caminhado com altos e baixos por 25 anos, Mas esse processotem tido um efeito oposto, ele gerou a despolitizao. Convenceu-se um monte

    de gente de que a poltica uma coisa feita por outras pessoas e que deve serdesprezada" (Greider, 1995: 39-50).Ele continua seu raciocnio prevendo uma derrota da direita. Na mesma linha,

    Bernard Crick (1980), autor da biografia de George Orwell, teceu comentriosacerca da reemergncia da "multido agressiva" na vida britnicacontempornea. Com base nos escritos de Hannah Arendt em Origens dototalitarismo, ele faz urna distino entre "o povo" e "multido agressiva";indicando que, enquanto o povo busca a verdadeira representao e serincludo na poltica, a multido "odeia a sociedade da qual excluda". Em2000, ocorreram vrios exemplos da "multido agressiva" no trabalho e nos

    bairros pobres no Reino Unido. Inflamada pelos jornais sensacionalistas, amultido insurgiu-se contra os suspeitos de pedofilia e "falsos exilados".A viso de Greider (1995) e Crick (1980) ecoa as preocupaes mencionadas

    anteriormente por Kapstein (1996). Em seu artigo, ele usa uma amplaabordagem histrica e percebe na depresso que assolou a Europa nos anos1870 as origens da Primeira Guerra Mundial e a subseqente ascenso deAdolf Hitler e do Partido Nazista.Existe algum modo alternativo de analisar tais desenvolvimentos? Existem

    desenvolvimentos alternativos e/ou estratgias que possam fornecer umaviso diferente do futuro?Sindicalismo e capitalismo globalNo discurso dominante os sindicatos so vistos ou como viles ou como

    ultrapassados. Geralmente so vistos como instituies que foram

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    11/21

    ultrapassadas pelos desenvolvimentos na organizao da produo e pelasmudanas na natureza das sociedades capitalistas. bastante comum referir-se ao declnio da influncia dos

    Pgina 58

    sindicatos na poltica nacional, ao declnio do nmero de filiados, e dificuldade que eles tm, como organizaes nacionais, de lidar com sistemasglobais de produo e distribuio, bem como aos modos pelos quais ostrabalhadores, de forma cada vez mais crescente, percebem-se mais comoconsumidores do que como produtores.Esse discurso tem levado a alguns exageros. Embora o nmero de filiados a

    sindicatos tenha declinado nos principais Estados capitalistas, ele aindacontinua bastante significativo. Nos ltimos anos esse nmero cresceu noReino Unido e nos Estados Unidos. Alm disso, existe forte evidncia de que ostrabalhadores em seus locais de trabalho continuam percebendo a presso que

    sofrem da gerncia como um ponto central em suas preocupaes.Indubitavelmente, a retrica da "globalizao" aponta para problemas reais

    no estabelecimento de aes coletivas para os "proletrios de todos os pases".Porm, isso mascara o fato de que os sindicatos j esto buscando estratgiasque transcendam as fronteiras nacionais. As iniciativas so variadas. Umaorganizao internacional da indstria qumica foi estabelecida no sentido decoordenar as atividades dos sindicatos, acompanhando a crescenteconcentrao e internacionalizao da operao das empresas do setorqumico.De modos diferentes, as organizaes de base de sindicatos no setor

    automobilstico iniciaram, nos anos 1970, a construo de articulaesinternacionais, que tm apresentado, de forma freqente, efeitos importantes.Os trabalhadores da Ford, no Reino Unido, substituindo o nome e o smbolo daempresa, produziram a camiseta "Fraude", como parte de urna campanha desua greve em 1978; isso foi usado tambm, trs anos depois, pelostrabalhadores da empresa nas Filipinas. A idia seria utilizada mais uma vezpelos trabalhadores no Brasil que cunharam a insgnia "Fome".As articulaes internacionais de base enfrentaram problemas no fim dos

    anos 1980, embora o contato pessoal entre os atores ainda permanea.Existem sinais de que elas esto reemergindo de diversas maneiras.

    Pesquisadores do sindicato dos funcionrios pblicos no Reino Unidodesenvolveram um website interativo na internei, o "Cyber Picket"(http://www.cf.ac.uk/socsi/crest/picket.html), que recebe milhares de visitaspor ano. Na Europa,

    Pgina 59

    articulaes eficazes esto sendo construdas como conseqncia da filiao Unio Europia, e a necessidade de acordos em relao implementao desuas diretivas. No caso do North American Free Trade Agreements (Nafta),temos percebido conseqncias similares embora num nvel muito menosformalizado.

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    12/21

    No hemisfrio Sul, um importante encontro do Southern Initiative onGlobalization and Trade Union Rights ocorreu em Johannesburgo, em outubrode 1999. O encontro tambm possibilitou a reunio de uma rede paralela doGrupo de Trabalho 44 da Associao Internacional de Sociologia (ISA).Conforme observado por Fairbrother (1999):"Um elemento distintivo desse encontro foi a integrao de ativistas do

    movimento dos trabalhadores e de pesquisadores acadmicos, informando-seuns aos outros de forma produtiva e mutuamente estimulante".O principal resultado do encontro foi a assinatura da "carta de intenes"

    entre o sindicato dos martimos da Austrlia e a Transport General WorkersUnion (TGWU) sul-africana, visando um programa de troca emdesenvolvimento de polticas conjuntas envolvendo seus membros e osrepresentantes de base dos portos de Durban (frica do Sul) e de Freemande(Austrlia).Em fevereiro de 2000, uma grande manifestao tomou as ruas de Manila. Os

    slogans e escritos nas bandeiras e nas faixas eram:

    No s listas negras contra os martimosAs listas negras violam os direitos humanosEssa manifestao foi importante por inmeras razes. Primeiro, ela reflete o

    fato de que um quarto de milho de filipinos est agora empregado naindstria mundial de transporte martimo. Freqentemente eles estoenvolvidos em disputas por salrios, condies de trabalho e manuteno decontato com a International Transport Federation (ITF):"Constantemente, aqueles que contatam a ITF so tachados de 'causadores

    de problemas'. Seus nomes so includos em 'listas negras' mantidas pelasagncias de contratao e/ou na 'lista de marcados' elaborada pela Agncia

    Filipina de Emprego Ultramarino, as quais so

    Pgina 60

    as nicas fontes oficiais de emprego no mar. Corno conseqncia, muitostrabalhadores temerosos acabam por se manter calados, deixando caminhoaberto para inescrupulosos donos de navios que ignoram at mesmo os seusdireitos mais bsicos"5.Os manifestantes estavam chamando a ateno para esse problema e para o

    fato de que mais de 100 inspetores da ITF, de cerca de 40 pases, estavam

    reunidos em Manila para discutir a questo.Por causa de seu papel no interior de uma indstria altamente globalizada, aITF achou necessrio o estabelecimento de forte colaborao internacional(com sindicatos de doqueiros) e pensa seriamente na possibilidade dedesenvolver uma organizao global para lutar por salrios e condies detrabalho globais. Alm do medo das "listas negras", um outro problema crucialenfrentado por esses trabalhadores envolve o fato de, em muitos casos,ficarem presos em portos estrangeiros sem salrios, aps o colapso dascompanhias proprietrias dos navios. A ITF, em colaborao com uma comitivade trabalhadores do mar, desenvolveu uma rede internacional visando apoiaros trabalhadores nessas circunstncias. O navio da ITF, o Global Mariner,acaba de completar um cruzeiro ao redor do mundo-. Os seus registros listamos portos visitados pelo navio, os encontros por ele organizados e o nmero de

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    13/21

    pessoas que visitaram a portentosa exibio em seu interior detalhando otrabalho dos martimos: Mumbai, ndia, 60.000 visitantes...Karachi, Paquisto,mais de 75.000 visitantes em apenas cinco dias; Mombassa...Movimentos sociaisUm dos elementos interessantes presentes na literatura sobre globalizao

    a importncia dada a uma forma de conscincia social emergente, que

    transcende a localidade e o Estado local. Isso se d de forma mais clara emrelao s questes ambientais. A exploso de Chernobyl tornou claro para osfazendeiros do norte da Inglaterra e do Pas de Gales que eles dividiam omesmo mundo com o povo da Ucrnia. Para as pessoas mais prximas da

    Pgina 61cena da destruio, a maneira pela qual o desastre foi enfrentado provou serum importante ponto de mudana em suas vidas. Karol explicou como ele,sendo membro da juventude comunista, "destampou os olhos" quando viu apouca importncia que se dava quelas pessoas. Essa preocupao ambiental

    no , com certeza, uma panacia ou a soluo para os problemas do mundo.O movimento ambiental (como todo movimento social) tem seus conflitosinternos. Todavia, o que ele pode estar apontando a sugesto de que osmovimentos sociais, em fins do sculo XX, e incio do sculo XXI, comeam ater uma viso "planetria" e que isso pode ser percebido como umdesenvolvimento significativo.Esse tipo de viso contribuiu para as manifestaes durante a celebrao dos

    50 anos do FMI. Ativistas ambientais cobriram os delegados presentes comnotas de dlares falsos, reivindicando que no houvesse mais destruio dacamada de oznio. De maneira geral, tem crescido bastante a crena

    (encorajada pelas organizaes no-governamentais envolvidas emcampanhas contra a fome na frica e em outros pases) de que aquele ajusteestrutural proposto pelo Fundo simplesmente no funciona. Como o editorialdo Multinational Monitor indicava:"As evidncias da falha das polticas de ajuste estrutural j esto disponveis

    h algum tempo para aqueles interessados em ver. Elas so certamentebastante conhecidas das organizaes no-governamentais que trabalham coma questo do desenvolvimento".Campanhas no Reino Unido e nos Estados Unidos em defesa do

    "cancelamento da dvida externa" para as naes mais pobres do mundo

    comearam a se espalhar entre grupos religiosos, sindicalistas e ONGs. Deforma mais aguda, uma manifestao de massa encerrou o encontro daOrganizao Mundial do Comrcio (0MC), em Seattle. Um dos manifestantesrelembra como, ao fim da manifestao,"Caminhei pela rua uma ltima vez. O forte cheiro doce do gs lacrimogneo

    ainda aromatizava o ar da manh. Quando eu entrava no carro para a viagemde volta a Portland, um adolescente negro segurou meu brao. Sorrindo, eledisse: Ei cara, essa tal de OMC vem para c todo ano?' Eu percebi claramenteo que o garoto sentiu. Junto com o

    Pgina 62

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    14/21

    veneno, as luzes das bombas e as balas de borracha, havia um otimismo, umaenergia e um companheirismo nas ruas de Seattle que havia muito tempo euno via".Refletindo sobre o otimismo, ele escreveu:"Nos anais do protesto popular na Amrica, essas foram horas brilhantes,

    conseguidas inteiramente por fora da arena convencional dos protestos

    ordeiros".Ele contrasta a ao dos manifestantes nas ruas de Seattle com "o ativismo

    legalista e o tmido gemido das lideranas profissionais do trabalho e doambientalismo".No que j agora um texto clssico, Andre Gorz props, em 1967, o que

    seria urna strategy for labour. Ele indicava que o movimento sindical haviaformado a melhor fora organizada no interior do movimento progressista. Oapoio que ele dava a outros movimentos sociais mais amplos era visto comodecisivo tanto para os movimentos que ele apoiava como para o prpriosindicalismo. Segundo ele:

    "A definio de se esses outros elementos sero parte da esquerda ourompero com ela, se estaro engajados em aes coletivas ou permanecerocomo minorias tentadas ao recurso da violncia, depende de se o movimentosindical se opuser a eles ou se ele buscar alianas e aes conjuntas".Mais ainda, "a posio com relao aos outros movimentos sociais...

    determinar sua (e a deles) prpria evoluo".Durante os ltimos trinta anos, as organizaes sindicais pareceram ser

    estranhas a esses movimentos sociais. Todavia, esse no tem sido sempre ocaso e j h sinais muito claros de que uma mudana est em curso.No Reino Unido, remanescentes do sindicalismo dos trabalhadores nas minas,

    baseando-se em suas experincias na famosa greve de um ano, se associaramaos ativistas ambientais nos protestos contra o desenvolvimento das minasque utilizam formas de extrao a cu aberto (opencast coal mining), que sobastante agressivas para o meio ambiente. Outros colaboraram com a ao degrupos contra a pobreza em relao ao trabalho no setor informal. SheliaRowbotham (1999) e outros registraram os modos pelos quais os sindicatos nandia, na frica do Sul, na Madeira e

    Pgina 63

    na Austrlia assumiram uma postura afirmativa quanto organizao e o apoioaos trabalhadores a domicilio. Essas atividades e o papel da HomeNet emgarantir a incluso/participao dos trabalhadores a domicilio na Conveno daOrganizao Internacional do Trabalho (OIT) de 1996 esto fartamentedocumentadas em seus informativos.Esse aumento na receptividade para com as novas formas de organizao por

    parte de alguns sindicatos tem sido, em certa medida, influenciado pelo durorevs no nmero de seus membros, trazido pelo fechamento das fbricas epelo desenvolvimento de novos tipos de processo de trabalho, formas decontratao e condies trabalho. Nos Estados Unidos, Ruth Milkman (2000)confirmou a efetividade das campanhas de sindicalizao que se basearam, dealguma forma, em algumas idias dos militantes dos movimentos sociais,tendo mesmo os incorporado em alguma tarefa organizativa. Isso tem sido

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    15/21

    particularmente efetivo na organizao de trabalhadores imigrantes. Existemalguns paralelos entre esse caso e o Brasil, onde a Central nica dosTrabalhadores (CUT) se preocupa em organizar demandas em torno dospadres e nveis de condio de trabalho propostos pela OIT, bem como emconstruir fortes laos com os movimentos sociais e com os trabalhadores dosetor informal.

    Mais interessantes talvez sejam os desenvolvimentos nos Estados Unidos,onde o deslocamento das plantas para o Mxico criou grandes demandas portarifas e "comrcio justo" entre os sindicatos de trabalhadores. Aqui, aassinatura do Nafta fez surgir movimentos, envolvendo grupos de estudantes,contra as "precrias condies de trabalho" expostas, principalmente, naspequenas confeces de roupas que trabalham subcontratadas por empresasmaiores. A Unio dos Eletricitrios Americanos (United Electrical Workers UE),hoje um sindicato pequeno, estabeleceu a Aliana de Organizao Estratgica(Strategic Organizing Alliance) com a Frente Autentico del Trabajo (FAT) noMxico, que desenvolveu um trabalho educacional atravs do intercmbio

    estudantil (sobre a FAT, ver Hathaway, 2000). Essa aliana objetiva trabalharpela solidariedade entre os trabalhadores norte-americanos e aqueles quetrabalham nas novas fbricas das empresas no Mxico. Isso tem atradoameaas para os sindicalistas mexicanos. Um deles explica como:

    Pgina 64

    "Produtos e capital atravessam a fronteira livremente agora. Mas nstrabalhadores no podemos fazer isso. Muitos tentaram e nunca retornaram.Se ns ficamos no Mxico, mas tentamos organizar em outros pases, somos

    chamados de 'traidores'. De fato, muitos termos so usados contra ns'perigo social' o mais recente".O movimento contra as precrias condies de trabalho tem recebido

    considervel apoio de vrias organizaes em todos os Estados Unidos, OMilwaukee Labor Council organizou um jantar beneficente para socorrertrabalhadores que cruzam a fronteira. Aes desse tipo incluem:*Intercmbio cultural de artistas que trabalham com a populao local

    produzindo murais que representem o trabalho em suas variadas formas.*Contato detalhado/intenso entre sindicalistas do Norte e do Sul informando-

    se mutuamente acerca das aes das corporaes multinacionais e da natureza

    dos acordos sobre salrios e condies de trabalho.*Informao e ajuda (via boicote e presso de lobby) com relao s grevespelas clusulas sociais, pelas condies de trabalho, contra o ataque asindicatos etc.Harley Shaiken, do Centro Latino-Americano da Universidade da Califrnia,

    em Berkeley tem estado diretamente envolvido na construo de articulaesentre sindicalistas da Amrica do Norte e os das novas fbricas no Mxico.Desde a assinatura do Nafta, ele organiza a ida de nibus lotados com essestrabalhadores e seus representantes para Tijuana, no noroeste do Mxico. Emuma delas esteve presente uma delegao de 400 ativistas da UnitedAutomobile Workers (UAW) e um grande grupo de ativistas e dirigentes daUnio dos Maquinistas. Quando conversei com ele, em abril de 2000, ele meexplicou como

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    16/21

    "Essas viagens, invariavelmente, comeam com ceticismo e um nvel deantagonismo baseado na crena de que 'essas pessoas roubaram nossotrabalho'. Contudo, a visita casa dos trabalhadores sempre dissipa essesentimento de animosidade e conflito. Eles encontram as pessoas vivendo emabrigos feitos das caixas que embrulham as ferramentas que vm das fbricasonde eles trabalham nos Estados Unidos. Os sindicalistas americanos sempre

    respondem de forma generosa. Isso os toca e eles esvaziam seus bolsos lhesdando dinheiro. Eles partem com a sensao de

    Pgina 65

    ter tido uma das maiores experincias de suas vidas. Muitos deles meescrevem dizendo isso".Para muitos desses sindicalistas americanos, a curta visita a Tijuana

    representa uma rara incurso para alm das fronteiras de seu estado natal.Globalizao contra-hegemnica

    Recentemente, escritores nos Estados Unidos e no Reino Unido comearam aquestionar os modos pelos quais a globalizao tem sido pensada para operarcom uma fora hegemnica no interior da poltica e da teoria social. TantoPeter Evans (2000) como Doreen Massey (2000) tm escrito acerca doscaminhos pelos quais a globalizao, quando olhada da perspectiva dostrabalhadores e das pessoas "de baixo", pode ser interpretada de um mododiferente. Segundo Evans (2000):"Por que o desenvolvimento burgus das comunicaes e do movimento

    atravs das fronteiras nacionais no pode criar novas estratgias globaisvisando o bem-estar dos seres humanos e a eqidade, ao mesmo tempo em

    que estimula as finanas e o comrcio transnacional?"Para Massey (2000):"Ns estamos enfrentando um problema de linguagem. A palavra

    globalizao' teve seu sentido seqestrado para significar somente uma formaparticular de globalizao (neoliberal e maciamente preocupada comeconomia), que a que ns sofremos no momento. Mas globalizao', narealidade, significa apenas interconexo global, podendo assumir outrasformas, basear-se em diferentes termos e construir diferentes tipos derelaes de poder. Talvez, de fato, exista o incio das idias sobre como issopode funcionar decisivamente nas redes internacionais que j esto sendo

    investidas pelo poder radical dos movimentos de protesto. De todo modo,precisamos resgatar para ns mesmos o sentido daquele termo, lutar por ele epensar, no no local ou no global, mas em uma forma diferente deglobalizao".Massey (2000) aponta para o papel significativo representado pelos Estados

    nacionais na criao de uma forma especifica de "globalizao" diferente daexistente. Esse aspecto tambm enfatizado por Leo Panitch (2000) em umensaio recente que lida com a "estratgia do trabalho". Em seu ponto de vista,

    Pgina 66

    "Globalizao no um processo econmico, ao qual, como muitos parecempensar, o trabalho precise alcanar. Ela um processo poltico posto em

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    17/21

    movimento por interesses identificveis para alcanar claros fins. A falha emver a natureza e a poltica estratgica da globalizao reflete em umeconomicismo que precisa ser superado. Os Estados nacionais no so vitimasda globalizao, mas atores dela. Os Estados no foram destronados pelocapital globalizado, eles representam o capital globalizado, principalmente ocapital financeiro".

    Panitch (2000) conclui que as fundaes da nova estratgia necessitamcomear no interior dos Estados-nao. Mas a aliana progressista que otrabalho buscou fazer com a "burguesia nacional" no pode mais ser umaopo aceitvel. Isso porque o "Estado representa cada vez mais um conjunto(nacional e estrangeiro) de classes capitalistas orientadas internacionalmente".Como essas idias podem nos ajudar?Para comear, indicando o fato de que a "globalizao" um tipo particular

    de construo ideolgica, eles apontam para novos modos de pens-la ecompreend-la, e para a importncia que isso tem considerando os tipos deopo disponveis. Por exemplo, existe agora uma gama considervel de

    literatura acerca dos modos como "as comunidades transnacionais" estosendo construdas pelas pessoas que viajam ao redor do mundo de diversasmaneiras, em busca de ou/e por causa de emprego, ou mantendo contato comamigos e parentes. Trabalhadores imigrantes, atravs de suas remessas, doimportante contribuio para a balana de pagamentos de seus Estados natais.Evans (2000) v nesta dispora um tipo de "globalizao a partir de baixo"digna de nota:"Globalizao a partir de baixo permite ao cidado comum, especialmente

    queles dos pases pobres, construir vidas que no seriam possveis em mundotradicional de Estados ligados por rgidas fronteiras".

    Mas, como eles apontam,"A surpreendente flexibilidade e a habilidade das pessoas comuns, cujasvidas tornaram-se transnacionais, no desafiam necessariamente as regrasglobais dominantes, os modos como essas regras so feitas, nem a ideologiadominante que as legitima".Contudo, claro que essa "conscincia transnacional" tornou-se um elemento

    de muitas formas institucionais e de prticas que

    Pgina 67

    podem muito bem afetar as regras dominantes. Evans indica trs formas, asquais, segundo ele, merecem ateno:*As redes de advocacia transnacional: tais redes so particularmente efetivas

    no que diz respeito ao meio ambiente e ao direito das mulheres. Elas envolvemtentativas de transmitir a informao transnacionalmente e de regular ocomportamento dos poderosos atravs da invocao das normas. O autoravalia que esta prtica tem sido bastante efetiva no Nordeste do Brasil (direitodas mulheres) e em relao vida dos seringueiros. As redes facilitam acirculao da informao que pode ento ser usada como arma; da mesmaforma elas potencializam a ocorrncia do processo de "mudana de arena" no qual as injustias de um lugar so criticadas e sofrem presso de um outroponto.

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    18/21

    *Negociar boicote de poder e consumo: informaes acerca das condies detrabalho dos empregados da Nike, na Indonsia e no Vietn, produziram umagrande crise para a empresa. At o fim do ano fiscal de 1997-1998, seuslucros haviam cado para metade do ano anterior e o preo das aes caiu para40%. Pesquisadores indicaram que o custo direto do trabalho no era mais de2% do preo de um tnis de 100 dlares. A vulnerabilidade da Nike derivava

    do fato de que as suas vendas (como em muitos pases consumidores domercado capitalista avanado) relacionavam-se com a sua marca e a suaimagem. Esse fato tem sido utilizado por organizaes como a GlobalExchange, nos Estados Unidos, e a Women Working Worldwide, no ReinoUnido.*Trabalhadores do mundo unidos: um dos acordos do Nafta permite que

    sindicatos de cada um dos trs pases participantes faam reclamaes sobre aviolao dos direitos dos trabalhadores. Isso levou a uma importantecolaborao entre as diretorias de sindicatos (envolvendo 50 sindicatosdiferentes) no Canad, nos Estados Unidos e no Mxico, de uma forma que no

    havia sido prevista. Da mesma maneira, isso possibilitou as bases para umamudana no pensamento de alguns sindicatos dos pases do capitalismocentral que vem os mexicanos como colaboradores na luta, e no maiscomo "ladres de emprego". Possibilidades semelhantes existem na insistnciade que a OMC mantenha padres elevados de condies de trabalho.

    Pgina 68

    Cada uma dessas reas recomenda a inverso da regra: pensar globalmente,agir localmente. Elas sugerem que se ganha muito mais agindo globalmente. O

    princpio mais marcante repousa na possibilidade de estabelecimento denormas, valores e costumes que possam ser aplicados s relaes, tanto naeconomia formal como na informal. Pode no ser fcil, especialmente em ummundo feito de diferentes crenas religiosas e prticas culturais. Como assinalaMassey (2000), pode um conjunto de regras abstratas ser adequado em umasituao de variedade social e cultural, e de desigualdade econmica?Ela pergunta tristemente sobre as novas regras do livre mercado:"Se ns votamos pela total liberdade de movimento de pessoas e negcios,

    justo que aqueles relativamente mais pobres do Primeiro Mundo sejam os queperdero seus empregos e os que tero mais presses pela mudana de seu

    sistema habitacional? Julgar entre os relativamente pobres do Primeiro Mundoe os terrivelmente pobres do Terceiro Mundo mostra a falta de adequao narelao entre essas regras e os atores sociais, bem como seus poderesaltamente diferenciados, os quais so agentes da globalizao".Massey (2000) argumenta a favor do "agir globalmente", mas prefere pensar

    em termos de metas e princpios, como aqueles relativos igualdade e aomeio ambiente. E, como Evans (2000) rpido em apontar, o "agirglobalmente" produzir pouco resultado positivo, a menos que ele esteja ligados organizaes locais. Boicote de consumidores e presso pelos direitoshumanos e por nveis elevados de condies de trabalho so vulnerveis dianteda crtica de que eles so simplesmente o protecionismo com outro nome. Paraque essas mudanas tenham relevo, sindicatos locais e grupos comunitriostambm necessitam ser organizados em torno das novas "normas mundiais".

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    19/21

    Acerca desse ponto, Panitch (2000) enftico:"Se o internacionalismo concebido de modo que seja uma alternativa, ou

    um substituto, para as mudanas que so necessrias no nvel nacional, osresultados s podem ser negativos, se no forem desastrosos. Deve haverpouca tolerncia para com o tipo de invocao para uma unidade global daclasse trabalhadora, a qual, como j foi mostrado tragicamente em 1914,

    produziu mais calor retrico do que efetiva viso e solidariedadetransnacional".

    Pgina 69

    Neste incio do sculo XXI, no parece ser otimista sugerir que algumasprticas institucionalizadas esto em curso e podem construir novos patamaresde entendimento internacional. A organizao dos trabalhadores no hemisfrioSul especialmente no Brasil e na frica do Sul tem fornecido importantesexemplos de novas formas de organizao em circunstncias bastante difceis.

    Existe a possibilidade de que a organizao no Norte dar agora sua prpriacontribuio para a ampliao e o desenvolvimento de uma sociedade globalmais humana e equnime.BibliografiaBERNSTEIN, Aaron (2000). "Backlash: Behind the Anxiety Over

    Globalisation". Busiszess Week, Abril, p. 38-44.BEYNON, Huw. (1996a). Trabalhando para a Ford. So Paulo, Paz e Terra.-------(1996b). "A destruio da classe operria inglesa", Revista Brasileira de

    Cincias Socias, vol. 39, n 2, p. 253-279.BEYNON, H., COX A., HUDSON, R (2000). Digging Up Trouble: Opencast

    Mining ad Environmental Protest in the UK. London, Rivers Oram.BEYNON, H., HUDSON, R, SADLER, D. (1994).A Place Called Teesside.Edinburgh University Press.BURKE, Kathleen e CAIRNCROSS, Alec. (1992). Goodbye Great Britain: the

    1976 IMF Crisis. Kogan Page.CRICK, Bernard. (1980). George Orwell: A Life London, Secker & Warburg.EVANS, Peter. (2000). "Fighting Marginalisation with Transnational Networks:

    Counter-Hegemonic Globalisation". Contemponary Sociology, 29 (1), p. 230-241.FAIRBROTHER, Peter. (1999). Report on the SIGTUR Conference. Mimeo.

    Cardiff, Cardiff School of Social Sciences, Cardiff UniversityFISHMAN, T., GARTEN, J. e GREIDER, W. (1998). "Global Routlette: in avolatile world economy can everyone lose?". Harpers Magazine, junho, p. 39-50.GORZ, Andre. (1967). Strategy for Labour: A Radical Proposal. Boston,

    Beacon Books, apud Leo Panitch, "A Strategy for Labour", Socialist Registes2001, London, Merlin Press, 2000.

    Pgina 70

    GREIDER Bill (1995). "Global Routlette: in a volatile world economy caneveryone lose?", Hapers Magazine, junho, p. 39-50.

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    20/21

    HATHAWAY David. (2000). Allies Across the Border: Mexicos "AuthenticLabor Front and Global Solidarity. Cambridge, Ma: South End Press.HEERY, E. e SALMON, J. (orgs.) (2000). The Insecure Workforce, London,

    Routledge.KAPSTEIN, Ethan B. (1996). "Workers and the World Economy", Foreign

    Affairs, maio/junho p. 16.

    KRUGMAN, Paul. (1995). "Dutch Tulips and Ernerging Markets". ForeignAffairs julho/agosto, 74, (4): p. 28-44.LUTTWAK, E. (1999). Turbo-Capitalism: Winners and Losers in the Global

    Economy. London, Texere Publishing.MASSEY, Doreen (2000). "The Geography of Power". Red Pepper, julho, p.

    18-21.MILKMAN, Ruth. (org.) (2000). Organising Immigrants. Ithaca, Cornell

    University Press.PANITCH, Leo. (2000). "Reflections on Strategy for labour?", Socialist

    Register 2001, London, Merlin Books, p. 367-392.

    PANITCH, Leo e LEYS, Colin. (1998). The End of Parliamentary Socialism fromNew Left to New Labour. London, Verso.RIFKIN, Jeremy. (1995). The End of Work The Decline of the Global Labor

    Force and the Dawn of the Post-Market Era. New York, A Tarcher/PutnamBook.ROGALY Joe. (1997). "No Spot on Earth Will be Microsoft- Free", The

    Financial Times Week-end 3-4 maio, p. 3.---------(1998). "Time for a New David to tackle Goliath". The Financiai Times

    Week-end, 18-19 April, p. 3.ROWBOTHAM, Sheila. (1999). "New Ways of Organising in the Informal

    sector: Five Case Studies of Trade Union Activities". London, HomeNet.ST CLAIR, Jeffrey. (1999). "Seattle Diary: It's a Gas, Gas, Gas", New LeftReview n 238, novembro-dezembro, p. 81-96.TILLY, Charles. (1995). "Globalisation Threatens Workers Rights". Journal of

    International Labor and Working Class History.; n 47, primavera.

    Pgina 71

    TURNBULL, Peter, WOOLFSON, Charles e KELLY, John (1992). Dock strike:Restructuring the British Ports. Avebury.

    WALLERSTEIN, Immanuel (1995). "Response: Declining States, DecliningRights, Journal of international Labor and Working Class Historys primavera.WHEEN, Francis. (1999). Karl Maix. London, Fourth Estare.WORLD BANK (1995). Urld Bank Annual Report. Washington, World Bank.

    Notas

    Pgina 44(1)"Has trade unionism a future in the twenty first century?". Traduo de

    Marco Aurlio Santana.

    Pgina 54(2) Para uma maior discusso a respeito, ver Beynon (1996b).

  • 7/21/2019 [Indstria, Sindicato, Trabalhadores] Alm Da Fbrica - Org. Marco Aurlio Santana e Jos Ricardo Ramalho

    21/21

    (3) Conselhos ou comits formados por pessoas com experincia em um dadoassunto. Eles so estabelecidos por uma organizao ou governo no sentido deproduzir idias e lhes dar consultoria. (N. T.)

    Pgina 55(4) Para maiores detalhes, ver Turnbull, Woolfson e Kelly (1992).

    Pgina 60(5) citado em "Inspectors discuss ways to combat Filipino blacklist", ITFSeafirers Bulletin, n 14, 2000, p.7.