aurélio, 2009

118
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DISTÚRBIOS DA COMUNICAÇÃO HUMANA RUÍDO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Fernanda Soares Aurélio Santa Maria, RS, Brasil 2009

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Enfermagem

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIACENTRO DE CINCIAS DA SADE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM DISTRBIOS DA COMUNICAO HUMANA

    RUDO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

    DISSERTAO DE MESTRADO

    Fernanda Soares Aurlio

    Santa Maria, RS, Brasil2009

  • RUDO EM

    UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

    por

    Fernanda Soares Aurlio

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Ps-Graduao em Distrbios da Comunicao Humana, rea de

    Concentrao em Audiologia, da Universidade Federal da Santa Maria(UFSM, RS), como requisito parcial para obteno do grau de

    Mestre em Distrbios da Comunicao Humana

    Orientadora: Prof Dr. Tania Maria Tochetto

    Santa Maria, RS, Brasil

    2009

  • Aurlio, Fernanda Soares

    A927r

    Rudo em Unidade de Terapia Intensiva neonatal / por Fernanda Soares Aurlio ; orientador Tnia Maria Tochetto. - Santa Maria, 2009. 118 f. ; il.

    Dissertao (mestrado) Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Cincias da Sade, Programa de Ps-Graduao em Distrbios da Comunicao Humana, RS, 2009.

    1. Rudo 2. Recm-nascido 3. Medio de rudo 4. Neonatologia I. Tochetto, Tnia Maria, orient. II. Ttulo

    CDU: 616.28-008.12

    Ficha catalogrfica elaborada porLuiz Marchiotti Fernandes CRB 10/1160Biblioteca Setorial do Centro de Cincias Rurais/UFSM

  • Universidade Federal de Santa MariaCentro de Cincias da Sade

    Programa de Ps-Graduao em Distrbios da Comunicao Humana

    A Comisso Examinadora, abaixo assinada,aprova a Dissertao de Mestrado

    RUDO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

    elaborada porFernanda Soares Aurlio

    como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Distrbios da Comunicao Humana

    COMISSO EXAMINADORA:

    Tania Maria Tochetto, Dr. (UFSM)(Presidente/Orientadora)

    Marisa Frasson de Azevedo, Dr. (UNIFESP)

    Angela Regina Maciel Weinmann, Dr. (UFSM)

    Santa Maria, 5 de janeiro de 2009.

  • DEDICATRIA

    Por ser meu porto seguro, minha fonte constante de incentivo, que nos momentos de

    fraqueza e cansao no me deixou esmorecer.

    Por ser, acima de tudo, amigo e companheiro e por vivenciar cada minuto dessa

    conquista

    Dedico este trabalho ao Ricardo, meu namorado.

  • AGRADECIMENTOS

    Deus, por minha vida e por tudo que Ele tem me proporcionado at hoje.

    minha famlia, meu pilar de sustentao. Aos meus pais, Alda e Antonio,

    minha v, Anair e meus irmos, Izabel, Antnio Carlos e Cristiane que me

    acompanharam nesta conquista, me incentivaram e apoiaram incondicionalmente e

    compreenderam os momentos de ausncia e afastamento em funo deste meu

    objetivo.

    prof Dr Tania Maria Tochetto, minha orientadora, que acreditou no meu

    potencial e confiou no meu trabalho, meu sincero reconhecimento e gratido.

    s membros da banca, Dr Angela Regina Maciel Weinmann e Dr Marisa

    Frasson de Azevedo pelas consideraes que vieram enriquecer muito este trabalho

    e pelos exemplos de profissionais que so.

    equipe da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital Universitrio

    de Santa Maria pela forma acolhedora com que me receberam e abriram seu espao

    de trabalho pra que este trabalho fosse realizado. Meus sinceros agradecimentos!

    coordenao do Programa de Ps-Graduao em Distrbios da

    Comunicao Humana, em especial a Prof Marcia Keske-Soares por tornar tudo

    isso possvel abrindo mo, muitas vezes, sua vida pessoal em prol deste nosso

    sonho. Muito Obrigada!

    Adriana Ribas que nesses dois anos me auxiliou, com muita pacincia,

    dedicao e competncia, em todos os momentos que precisei.

    Aos Engenheiros em Segurana do Trabalho, Jos Carlos Lorentz Aita e

    Nverton Peixoto que nortearam o incio deste trabalho propiciando a obteno e

    tratamento dos dados corretamente. Muito Obrigada!

  • Direo do Colgio Tcnico Industrial de Santa Maria que autorizou o

    emprstimo do equipamento utilizado para realizao da mensurao dos nveis

    sonoros.

    Ao Tcnico em Segurana do Trabalho Alexandre Augusto Benedetti que

    participou ativamente na coleta dos dados deste estudo, pela disponibilidade e

    prontido na realizao de sua tarefa.

    Ao Tcnico em Segurana do Trabalho Mateus de Paula Leiria que colaborou

    de maneira grandiosa com o esclarecimento de dvidas e realizao da anlise dos

    nveis sonoros mensurados, dando o suporte necessrio para a obteno e

    interpretao dos resultados.

    s minhas colegas e, acima de tudo, AMIGAS Aline Lopes, Sinia Neujahr,

    Gracielle Nazari, Giseane Conterno, Marcia Lima, Janana Baesso e Shanna Lara

    Miglioranzi pelo apoio incondicional as quais, mesmo distncia, sempre me

    apoiaram e apostaram em mim. Obrigada pela amizade e pela confiana. AMO

    VOCS!

    Aos sujeitos que participaram desta pesquisa, pela confiana, pelo carinho e

    principalmente pela colaborao, sem a qual no seria possvel a realizao de

    parte deste estudo.

    equipe da Acstica Amplivox a qual soube entender minhas ausncias e

    supriram muito bem minha falta. Obrigada por me oportunizarem a concluso desde

    objetivo.

    Sandra Izabel Messer e ao Dmis Heemann que, em diferentes momentos,

    com muita competncia e disponibilidade, contriburam na confeco dos abstracts.

  • Quero, um dia, dizer s pessoas que nada foi em vo...

    Que o amor existe, que vale a pena se doar s amizades e s pessoas, que a

    vida bela sim e que eu sempre dei o melhor de mim... e que valeu a pena.

    Mrio Quintana

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 3.1- Dosmetro modelo Quest 400 ......................................................................49

    Figura 4.1- Lmax, Lmin e Lavg de acordo com o dia, nos diferentes locais de coleta.......60

    Figura 4.2- Nveis mdios de rudo registrados, de acordo com os turnos, durante os

    nove dias de mensurao nos diferentes locais de coleta .............................................63

    Figura 4.3- Nveis sonoros mensurados nos perodos mais e menos ruidosos, nos

    nove dias de medio em cada local de coleta ..............................................................65

    Figura 5.1- Lavg mnimo e mximo, por turno, em cada local de coleta ........................89

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 5.1 Percepo dos profissionais, alunos e pais de recm-nascidos a

    respeito da existncia e da intensidade do rudo na UTIN do HUSM.............................81

    Tabela 5.2 - Percepo dos profissionais, alunos e pais de recm-nascidos sobre o

    seu comportamento na UTIN do HUSM.......................................................................114

    Tabela 5.3 - Percepo dos profissionais, alunos e pais de recm-nascidos sobre a

    possibilidade de alteraes nos indivduos expostos ao rudo existente na UTIN do

    HUSM.............................................................................................................................83

  • LISTA DE REDUES

    AAP Academia Americana de Pediatria

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    ASHA American Speech-Language Hearing Association

    dB Decibel ou decibels/decibis

    dB(A) ou dBA Decibel ou decibels/decibis para mensurao utilizando

    equipamento com circuito de ponderao ou escala A

    EOAE Emisses Otoacsticas Evocadas

    GATANU Grupo de Apoio a Triagem Auditiva Neonatal Universal

    HCFMRP/USP Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina de Ribeiro

    Preto/Universidade de So Paulo

    Hz Hertz

    JCIH Joint Committee on Infant Hearing

    Lavg Average Level (Nvel Mdio de Rudo)

    Leq Nvel de Presso Equivalente (Rudo Mdio Equivalente)

    Lmx Nvel de Presso Sonora Mxima

    Lmin Nvel de Presso Sonora Mnima

    Lpeak Presso Acstica de Pico (Nvel mais alto de presso sonora

    instantneo registrado)

    MTL Mudana Temporria de Limiar

    NPS Nvel de Presso Sonora

    OMS Organizao Mundial da Sade

    PAIR Perda Auditiva Induzida por Rudo

    PEATE Potencial Evocado Auditivo de Tronco Enceflico

    RN Recm-nascido

  • TAN Triagem auditiva neonatal

    TST Tcnico em Segurana do Trabalho

    TWA Time Weighted Average

    UTI Unidade de Terapia Intensiva

    UTIN Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

    WHO World Health Organization

  • LISTA DE ANEXOS

    ANEXO A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido..........................................112

    ANEXO B Certificados de Calibrao .......................................................................114

    ANEXO C Questionrio.............................................................................................116

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................................................................16

    2 REVISO DE LITERATURA ......................................................................................19

    2.1 Deficincia auditiva: Incidncia e fatores de risco .............................................19

    2.2 Rudo: conceito bsicos, caractersticas acsticas e fsicas ............................22

    2.3 Efeitos do rudo ......................................................................................................26

    2.3.1 Efeito auditivo .......................................................................................................27

    2.3.2 Efeitos no auditivos .............................................................................................30

    2.3.2.1 Efeitos no auditivos nos recm-nascidos ........................................................30

    2.3.2.2 Efeitos no auditivos nos profissionais ..............................................................32

    2.3.2.3 Efeitos no auditivos nos pais ...........................................................................34

    2.4 Rudo em ambientes hospitalares e neonatais: consideraes relevantes e pesquisas atuais ..........................................................................................................34

    2.4.1 Normas legais e tcnicas sobre rudo em ambientes hospitalares e neonatais ...34

    2.4.2 Fontes e medidas de reduo de rudo em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal ........................................................................................................................35

    2.4.3 Mensurao do rudo em ambientes hospitalares em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal .........................................................................................................40

    3 MTODOS ..................................................................................................................47

    3.1 Delineamento da pesquisa ....................................................................................47

    3.2 Aspectos bioticos ................................................................................................47

    3.3 Materiais e procedimentos ....................................................................................48

    3.4 Anlise dos dados..................................................................................................51

    4 ARTIGO DE PESQUISA MENSURAO DO RUDO EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL...............................................................................53

    4.1 Resumo ..................................................................................................................53

    4.2 Abstract ..................................................................................................................54

  • 4.3 Introduo ..............................................................................................................55

    4.4 Material e Mtodo ..................................................................................................56

    4.5 Resultados .............................................................................................................58

    4.6 Discusso ..............................................................................................................66

    4.7 Concluso ..............................................................................................................69

    4.8 Referncias bibliogrficas ....................................................................................70

    5 ARTIGO DE PESQUISA RUDO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL: MENSURAO E PERCEPO DE PROFISSIONAIS, ALUNOS E PAIS DE RECM-NASCIDOS .......................................................................................74

    5.1 Resumo ..................................................................................................................74

    5.2 Abstract ..................................................................................................................76

    5.3 Introduo ..............................................................................................................77

    5.4 Mtodos ..................................................................................................................78

    5.5 Resultados .............................................................................................................80

    5.6 Discusso ..............................................................................................................90

    5.7 Concluso ..............................................................................................................94

    5.8 Referncias bibliogrficas ....................................................................................95

    6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...........................................................................99

    ANEXOS ......................................................................................................................113

    Anexo A .......................................................................................................................113

    Anexo B .......................................................................................................................115

    Anexo C .......................................................................................................................117

  • 16

    1 INTRODUO

    O ambiente superestimulante das Unidades de Terapia Intensiva Neonatal

    (UTIN) pode comprometer o processo de desenvolvimento e crescimento dos

    recm-nascidos (RN), devido ao fato destas crianas, em especial os prematuros,

    possurem receptores sensoriais extremamente sensveis. Alm dos prejuzos

    causados nos RN, este rudo pode provocar, tambm, alteraes fisiolgicas e

    psicolgicas nos pais que freqentam este ambiente, bem como na equipe de

    profissionais.

    Em unidades neonatais de alta complexidade os RN esto expostos a vrias

    fontes de rudo ambiental e a riscos decorrentes do processo teraputico que

    acrescidos da fragilidade biolgica e longa permanncia nessas unidades podem

    potencializar os riscos para a deficincia auditiva. Confirmando isto, o Joint

    Committee on Infant Hearing citou, em 2007, a permanncia em UTIN por mais de

    cinco dias como um dos principais indicadores de risco para deficincia auditiva, a

    qual pode limitar e/ou dificultar, de modo significativo, a aquisio da linguagem e a

    produo da fala por parte da criana.

    O rudo excessivo encontrado nas UTINs, conforme mencionado por Scochi

    et al. (2001), decorrente de diversas fontes, tais como a circulao de pessoas na

    unidade e dos equipamentos de suporte vida.

    Segundo Lichtig (1990), a poluio sonora nas UTINs permanente, com

    presena de rudos em intensidades superiores a 100 dB, nefastos cclea

    humana. Se tais rudos so prejudiciais ao adulto, que fica exposto a eles de 8 a 12

    horas, so muito mais nocivos ao RN de alto risco, o qual permanece nesse

    ambiente ruidoso continuamente, durante vrios dias ou at meses.

    Alm dos efeitos puramente auditivos, o rudo tem conseqncias

    fisiolgicas, bem como um importante componente psicolgico. De acordo com

    Tamez e Silva (1999) as respostas fisiolgicas e comportamentais do RN ao rudo

    incluem: hipxia; aumento da presso intracraniana e da presso sangunea;

    apnia; bradicardia; isolamento da interao social; alterao do estado de repouso

    e sono gerando fadiga, agitao, irritabilidade e choro; aumento do consumo do

    oxignio e da freqncia cardaca tendo como conseqncia o aumento do

    consumo calrico, logo ganho de peso lento.

  • 17

    Taffalla e Evans (1997) e Parente e Loureiro (2001) relataram que o nvel de

    rudo contnuo e excessivo pode causar efeitos fisiolgicos e psicolgicos na equipe

    de atendimento mdico, tais como presso arterial alta, alterao no ritmo cardaco e

    no tnus muscular, cefalia, perda auditiva, confuso, baixo poder de concentrao,

    e irritabilidade.

    A partir disto, verifica-se que o rudo permanente em intensidade elevada

    presente nas UTINs prejudica tanto os RN quanto os profissionais expostos, que,

    submetidos a valores crticos de nveis de rudo, tem seu bem-estar fsico e mental

    afetados.

    Apesar das normas correntes e da comprovao dos efeitos nocivos do rudo,

    estudos como os de Kent et al. (2002), Oliveira; Frana; Mor (2003) e Ichisato (2004)

    tm registrado, tanto no ambiente neonatal quanto em incubadoras, nveis sonoros

    bem mais intensos que o aceitvel.

    A carncia de conhecimento e conscientizao, tanto por parte dos

    profissionais quanto dos pais dos RN, a respeito das conseqncias auditivas e no

    auditivas do rudo, pode implicar em um comportamento pouco silente, dificultando o

    controle e a eliminao desse agente na UTIN.

    Sendo assim, surge a preocupao com a qualidade de vida das pessoas

    expostas ao rudo presente nas UTINs e, em especial, com os possveis prejuzos

    auditivos causados neste pblico, principalmente nas crianas nascidas pr-termo e

    de alto risco.

    Todos estes fatores somados carncia de estudos referentes percepo

    das equipes atuantes na UTIN do Hospital Universitrio de Santa Maria (HUSM) e

    dos familiares dos RN a internados, a respeito do rudo existente neste ambiente e

    seus efeitos, bem como, a falta de conhecimento dos valores dos nveis de presso

    sonora (NPS) existentes nesta UTIN, e a necessidade da implantao de futuros

    programas de diminuio de rudo neste local, justificam este estudo.

    Assim sendo, o presente trabalho objetivou definir o nvel de rudo existente

    na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) do Hospital Universitrio de Santa

    Maria (HUSM) e verificar a percepo das pessoas que freqentam este ambiente,

    sobre o rudo a existente.

    Inicialmente, no segundo captulo, apresenta-se uma reviso de literatura na

    qual feito um breve relato a cerca da incidncia e indicadores de risco para a

    deficincia auditiva, seguida por conceitos bsicos e caractersticas do rudo. Neste

  • 18

    captulo so descritos, ainda, os efeitos auditivos e no auditivos do rudo excessivo

    sobre os RNs, profissionais, alunos e pais de RNs. Para finalizar aborda-se as

    pesquisas que investigam o rudo existente em ambientes hospitalares, em especial,

    os neonatais.

    Na metodologia so descritos o tipo de estudo, os aspectos bioticos, os

    materiais e procedimentos utilizados na pesquisa e ainda os mtodos utilizados para

    a anlise dos dados.

    O quarto captulo consta de um artigo de pesquisa que buscou mensurar o

    nvel de rudo existente na UTIN do HUSM, compar-lo com os valores

    recomendados pelas normas nacionais e internacionais, bem como, com os achados

    de outros estudos em ambientes hospitalares e neonatais. A partir das informaes

    obtidas ser possvel avaliar a necessidade da adoo de medidas para reduzir o

    rudo existente neste ambiente. Este trabalho ser enviado para apreciao e

    possvel publicao na Revista Brasileira de Otorrinolaringologia.

    O quinto e ltimo captulo composto de um artigo de pesquisa que objetivou

    definir a percepo dos profissionais e alunos atuantes na mesma UTIN, bem como,

    dos pais dos RNs a internados, sobre o rudo existente nessa unidade e comparar

    esses achados com a literatura e com os valores registrados na mensurao dos

    NPS existentes nessa unidade. Este estudo ser enviado para anlise e possvel

    publicao no Jornal de Pediatria.

  • 19

    2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 Deficincia auditiva: incidncia e fatores de risco

    A incidncia de perda auditiva neurossensorial bilateral em RN saudveis

    atinge cerca de um a trs em cada mil nascidos vivos (ACADEMIA AMERICANA DE

    PEDIATRIA-AAP, 1999; DOWNS & YOSHINAGA-ITANO, 1999; MOELLER, 2000;

    COMIT BRASILEIRO SOBRE PERDAS AUDITIVAS NA INFNCIA, 2001;

    SIMONEK, 2001; KENNA, 2003) e cerca de dois a quatro em cada mil provenientes

    de UTIN (AAP, 1999; DOWNS & YOSHINAGA-ITANO, 1999; MOELLER, 2000;

    COMIT BRASILEIRO SOBRE PERDAS AUDITIVAS NA INFNCIA, 2001; KENNA,

    2003). De acordo com Oliveira; Castro; Ribeiro (2002), essa incidncia pode

    alcanar de 20 a 40 para cada mil nascidos vivos oriundos de UTIN.

    Levando-se em considerao os casos de menor gravidade ou de perdas

    auditivas unilaterais a incidncia fica em torno trs a seis por mil RNs vivos

    (OLIVEIRA; CASTRO; RIBEIRO, 2002).

    Dentre as doenas passveis de triagem ao nascimento, a deficincia auditiva

    a que apresenta maior prevalncia (30:10.000), seguida do hipotireoidismo

    (2,5:10.000), anemia falciforme (2:10.000) e fenilcetunria (1:10.000) (COMIT

    BRASILEIRO SOBRE PERDAS AUDITIVAS NA INFNCIA, 2001).

    Estima-se que no Brasil trs a quatro RN em cada mil nascem com

    deficincia auditiva, aumentando para dois a quatro em cada cem quando

    provenientes de UTIN. Cerca de 50 a 75% das deficincias auditivas so passveis

    de identificao no berrio, por meio da triagem auditiva com o registro das

    Emisses Otoacsticas. Dos RN, sete a 12% possuem pelo menos um indicador de

    risco para deficincia auditiva. Aproximadamente de 2,5 a 5% desses neonatos so

    portadores de deficincia auditiva, moderada ou severa (INES, 1990).

    Nesse pas, o diagnstico tem sido realizado por volta dos dois ou trs anos

    de idade (RUGGIERI-MARONE; LICHTIG; MARONE, 2002). Para Simonek (2001) o

    diagnstico se d por volta dos quatro anos de idade devido falta de informao e

    conscientizao de profissionais que no levam em considerao a suspeita das

    mes ou casos de risco aparente e no solicitam exame.

  • 20

    De acordo com estimativas baseadas em dados do Rio de Janeiro, o

    diagnstico da perda auditiva ocorre por volta dos cinco anos de idade (BRASIL,

    2002).

    Os indicadores de risco para deficincia auditiva publicados pelo Joint

    Committee Infant Hearing (JCIH) em 1994 e revisados em 2000, para RNs (do

    nascimento aos 28 dias) englobam: histria familiar de deficincia auditiva na

    infncia; sinais ou sndromes associadas deficincia auditiva condutiva ou

    neurossensorial; anomalias crnio-faciais, incluindo anormalidades morfolgicas do

    pavilho auricular e conduto auditivo externo; infeces intra-uterinas

    (citomegalovrus, rubola, toxoplasmose, sfilis e herpes); permanncia em UTIN por

    48 horas ou mais; peso abaixo de 1500 g; hiperbilirrubinemia (em nveis que

    indiquem exasanguineotransfuso); medicao ototxica por mais de 48 horas,

    incluindo os aminoglicosdeos, associados ou no com diurticos de ala; meningite

    bacteriana; ndice de apgar de zero a quatro no primeiro minuto ou zero a seis no

    quinto minuto; ventilao mecnica por mais de 48 horas (JCIH, 2000).

    No mesmo documento constam os indicadores de risco para crianas de 29

    dias a dois anos de idade, os quais incluem: preocupao/suspeita dos pais com

    relao ao desenvolvimento da fala, linguagem ou audio; meningite bacteriana e

    outras infeces associadas perda auditiva neurossensorial; traumatismo crnio-

    enceflico acompanhado de perda de conscincia ou fratura de crnio; estigmas ou

    sinais de sndromes associadas a perdas auditivas condutivas e/ou

    neurossensoriais; exposio a medicamentos ototxicos; otite mdia de

    repetio/persistente, com efuso por pelo menos trs meses.

    Azevedo (1997) props que fossem includos mais quatro fatores de risco:

    exposio dos RN a rudos na incubadora por mais de sete dias, uso de

    drogas/lcool pela me, hemorragia ventricular e convulses neonatais.

    Fausti et al. (2005) defendem que os efeitos das drogas ototxicas podem ser

    potencializados pela exposio concomitante a sons excessivamente intensos.

    O JCIH, em documento recentemente revisado, incluiu aos indicadores de

    risco j mencionados: permanncia em UTIN por cinco dias ou mais; necessidade

    de oxigenao extracorprea; sndromes associadas com perda auditiva

    progressiva ou de incio tardio como neurofibromatose, osteopetrose e Sndrome de

    Usher, ou presena de outras sndromes freqentemente encontradas como

    Waardenburg, Alport, Pendred, e Jervell e Lange-Nielson; desordens

  • 21

    neurodegenerativas, como sndrome de Hunter, ou neuropatias sensrio-motoras,

    como Ataxia de Friedreich e sndrome de Charcot-Marie-Tooth; quimioterapia (JCIH,

    2007).

    A prematuridade em si no apontada como indicador de risco para a

    deficincia auditiva (ASHA, 2000). No entanto os RNs pr-termo esto expostos a

    riscos decorrentes do processo teraputico, acrescidos da fragilidade biolgica e

    longa permanncia nas unidades neonatais, em especial aqueles mais imaturos e de

    menor peso (RODARTE, 2003; RODARTE; SCOCHI; SANTOS, 2003).

    De acordo com Kent at al. (2002), em anlise microscpica da cclea as

    clulas ciliadas esto presentes em bebs a termo e prematuros, mas ainda em

    processo de diferenciao, porm, salientam que a mielinizao do nervo auditivo

    est incompleta, pois no RN este processo progressivo e contnuo depois do

    nascimento.

    A deficincia auditiva infantil compromete de forma definitiva a aquisio da

    linguagem e a evoluo social, emocional e acadmica do indivduo. Considerando

    que os trs primeiros anos de vida so os mais importantes para a aprendizagem da

    fala (OLIVEIRA; CASTRO; RIBEIRO, 2002) faz-se necessria a implementao de

    programas de Triagem Auditiva Neonatal (TAN), a fim de identificar precocemente a

    deficincia auditiva e potencializar o desenvolvimento lingstico dessas crianas.

    A TAN um procedimento rpido, simples e de fcil aplicao que visa

    identificar aquelas crianas que tm alta probabilidade de apresentar deficincia

    auditiva e necessitam de diagnstico completo (RIBEIRO, 2001; AZEVEDO, 2004).

    Este mtodo recomendado para todas as crianas, a fim de que as perdas

    auditivas congnitas (aproximadamente 50% dos casos) tambm sejam

    diagnosticadas precocemente e recebam a interveno necessria (GATANU,

    2008).

    Em estudo de Chapchap e Segre (2001) a perda auditiva foi confirmada em

    dez crianas (2,3/1.000 nascidos vivos), das quais trs no tinham indicadores de

    risco para a deficincia auditiva.

    Sabe-se que, com a identificao e a interveno precoce, privilegiando os

    perodos crticos de maturao das funes biolgicas do ser humano, possvel

    que o deficiente auditivo alcance um desempenho comunicativo muito prximo ao

    das crianas ouvintes (YOSHINAGA-ITANO et al., 1998; GARCIA; ISAAC;

    OLIVEIRA, 2002; COLUNGA et al., 2005).

  • 22

    No Brasil, os primeiros programas de TAN foram implantados em 1987, um

    no Hospital So Paulo (So Paulo, SP) outro no Hospital Universitrio de Santa

    Maria (Santa Maria, RS). O procedimento utilizado em ambas as instituies foi a

    observao de respostas comportamentais (TOCHETTO & VIEIRA, 2006).

    No ano seguinte, no Hospital Israelita Albert Einstein (So Paulo), teve incio

    o primeiro programa de TAN que utilizou mtodo eletrofisiolgico (PEATE) e contou

    com fonoaudilogo na equipe neonatal. Inicialmente atendia apenas os neonatos

    com indicadores de risco para surdez, mas gradualmente foi ampliado para todas as

    crianas da UTIN. A partir de 1999 a avaliao de EOAEs passou a ser utilizada

    (GATANU, 2008). Desde 1998, o Grupo de Apoio a Triagem Auditiva Neonatal

    Universal (GATANU) vem trabalhando pela universalizao da TAN dentre outros

    temas (GATANU, 2008).

    2.2 Rudo: conceitos bsicos, caractersticas acsticas e fsicas

    O rudo pode ser conceituado como sendo uma mescla de sons com

    freqncias que no seguem lei precisa e que diferem entre si por valores

    imperceptveis ao ouvido humano (TORREIRA, 1997), ou ainda, como sendo

    qualquer som que cause nas pessoas efeitos inesperados, afetando negativamente

    sua sade (GARCIA, 2002).

    Do ponto de vista fsico, rudo definido como um fenmeno acstico no

    peridico, sem componentes harmnicos definidos. um som de grande

    complexidade, resultante da superposio desarmnica de sons advindos de vrias

    fontes (FERNANDES, 2002), tornando-se assim intil e desagradvel (COSTA

    & KITAMURA, 1995).

    Em funo de sua variao no tempo, o rudo pode ser classificado como

    contnuo ou descontnuo. Entende-se como rudo contnuo aquele cuja variao do

    NPS encontra-se na faixa de 3dB durante um perodo de medio. Oposto a isto,

    variaes maiores que 3dB em perodos curtos de observao so chamados de

    descontnuas, podendo ser subdivididas em rudo intermitente ou rudo de impacto.

    O rudo intermitente aquele cujo NPS cai bruscamente vrias vezes ao nvel

    do ambiente (rudo de fundo), com variaes maiores que 3dB, desde que o

  • 23

    tempo de ocorrncia seja superior a 1 segundo. Pode ser fixo, quando alcana um

    nvel superior fixo, ou varivel, constitudo por uma sucesso de nveis estveis

    durante um perodo de medio. O rudo de impacto aquele que consiste em um

    ou mais picos de energia acstica, de durao menor que um segundo em

    intervalos de ocorrncia superiores a um segundo (ARAJO & REGAZZI, 2002).

    Para mensurar o rudo de maneira precisa faz-se necessrio a utilizao de

    equipamentos medidores de presso sonora. Os equipamentos mais conhecidos

    so o decibelmetro e o dosmetro. O medidor registra diretamente (na forma

    analgica ou digital) o NPS de um fenmeno acstico. O resultado expresso em

    dB com uma presso sonora de referncia de 2x10-5 pascal. Eles so dotados de

    filtro de ponderao para freqncias e circuitos de resposta (ARAJO & REGAZZI,

    2002).

    Os filtros, escalas ou circuitos de ponderao so utilizados para

    aproximarem a medio das caractersticas perceptveis do ouvido humano e so

    classificados em A, B, C e D (ARAJO & REGAZZI, 2002; JANKOVITZ, 2008a).

    O circuito ou escala A (dBA) o que mais se aproxima das curvas de igual

    audibilidade para baixos NPS (GERGES, 2000; JANKOVITZ, 2008a) se

    aproximando mais ao que perceptvel ao ouvido humano (ROBERTSON;

    COOPER-PEEL; VOS, 1998; ROBERTSON et al. 1998, ARAJO & REGAZZI,

    2002). usada para NPS prximos a 50 dB (JANKOVITZ, 2008a).

    O circuito ou escala B (dBB) sofre menos variao nas baixas freqncias.

    No apresenta atenuaes entre 400 e 3000 Hz (ARAJO & REGAZZI, 2002).

    Aproxima-se das curvas de igual audibilidade para NPS mdios, prximo de 75 dB

    (JANKOVITZ, 2008a).

    O circuito ou escala C utilizado para altos NPS, prximos a 100 dB

    (ARAJO & REGAZZI, 2002; JANKOVITZ, 2008a). o mais adequado para o

    monitoramento de rudos de impacto (ARAJO & REGAZZI, 2002).

    O circuito ou escala D tem por objetivo medir e analisar NPS acima de 120

    dB (TORREIRA, 1997; ARAJO & REGAZZI, 2002).

    Os mais comuns e necessrios em equipamentos de mensurao so os

    circuitos de ponderao A e C. O valor em dB deve vir seguido da letra

    correspondente ao circuito de ponderao utilizado - dB(A), dB(B), dB(C) (ARAJO

    & REGAZZI, 2002).

    J os circuitos de resposta podem ser classificados em: rpido (fast), lento

  • 24

    (slow) e impulso (impulse). O circuito de resposta rpida (125 ms) usado para

    medir nveis de rudo que no oscilam muito rapidamente (rudos contnuos) e para

    determinar valores extremos de rudos intermitentes. O circuito de resposta lenta (1

    seg.) usado em situaes de grande flutuao para facilitar a leitura. Expressa

    valores que tendem para a mdia e o mais utilizado para monitoramento em

    ambiente de trabalho. O terceiro e ltimo circuito, o impulsivo (35 ms), usado para

    rudos de impacto, pois apresenta maior velocidade de deteco (ARAJO &

    REGAZZI, 2002).

    Os nveis de rudo contnuo ou intermitente devem ser medidos em decibis

    (dB) com instrumento de nvel de presso sonora operando no circuito de

    compensao "A" e circuito de resposta lenta (slow) (BRASIL, 1978).

    Os equipamentos de mensurao de NPS so classificados, por Arajo e

    Regazzi (2002), quanto s caractersticas de medio, em convencionais e

    integrados. Os primeiros medem o NPS em tempo muito reduzido, quase

    instantneo (decibelmetro), enquanto os segundos so capazes de registrar os

    NPS num tempo maior e expressam o resultado, refletindo a integrao dos

    diversos valores instantneos medidos, ou seja, expressa a mdia dos nveis

    durante o tempo de medio (dosmetro).

    O dosmetro um monitor de exposio que acumula o rudo constante

    utilizando microfone interno. O sinal acumulado em um condensador e,

    posteriormente, na memria. Este equipamento possui um sistema integrador capaz

    de transformar a informao binria armazenada (NPS e tempo) em um nmero que

    expresse a dose acumulada durante o tempo em que o equipamento est em

    funcionamento (ARAJO & REGAZZI, 2002).

    Os dosmetros podem fornecer valores importantes como o Leq, Average

    Level (Lavg), Time Weighted Average (TWA), valores mximos por intervalos (Lmax),

    curva de distribuio estatstica do rudo, e calcular a projeo da dose, para a

    jornada de trabalho, ou seja, para o tempo de exposio a determinado NPS

    (ARAJO & REGAZZI, 2002).

    O Leq a mdia dos nveis de energia equivalente ao NPS medido em dBA

    em um determinado tempo, o qual corresponde ao valor dos NPSs, associado a

    uma faixa de tempo especfica equivalente energia do rudo (ROBERTSON et al.,

    1998), ou seja, corresponde mdia da energia sonora integrada no tempo da

    medio (JANKOVITZ, 2008b). Do ponto de vista fsico, o Leq a energia acstica a

  • 25

    que o trabalhador est realmente exposto (ARAJO & REGAZZI, 2002).

    O TWA a mdia ponderada no tempo dos NPS, onde o incremento de

    duplicidade de dose (q) varia de acordo com o critrio da norma utilizada, e pode ser

    considerado como o rudo caracterstico de uma determinada atividade por um

    perodo de 8 horas.

    Quanto maior a intensidade do estmulo maior o risco de alterao

    permanente no limiar auditivo. Com base nisto foi estabelecido uma relao entre

    Leq e o tempo de exposio, conhecida como fator de correo q, o qual expressa

    o aumento em dBA, pois duplica o risco de leso auditiva em um determinado

    tempo de exposio. Nos pases europeus o q igual a trs (q=3) e no Brasil o

    valor de referncia cinco (q=5) (ARAJO & REGAZZI, 2002).

    Para designar o TWA baseado na taxa de duplicidade de dose q=3 utilizado

    o Leq, e para designar o TWA baseado na taxa de duplicidade de dose q=5

    empregado o Lavg.

    A norma regulamentadora NR-15, estabelece em seu Anexo N 1, os Limites

    de Tolerncia para rudo contnuo ou intermitente. Estes limites so definidos

    tomando como critrio de referncia uma dose de 100% para uma jornada de 8

    horas sob rudo de 85 dB, com incremento de duplicao de dose de 5 dB (q=5),

    medidos no circuito de resposta lenta e curva de ponderao A (BRASIL, 1978).

    O tambm chamado fator duplicativo o incremento, em dB, para o qual a

    dose dobra de valor, segundo critrios legais normalizados. Por exemplo: Segundo

    OSHA 100% de dose significa que o indivduo esteve exposto a um nvel mdio

    equivalente de 90dB durante oito horas contnuas. O fator duplicativo 5dB, ou seja,

    caso o Nvel Sonoro Contnuo Equivalente passe a 95dB a dose passar a 200%.

    No entanto se este Nvel passar a 85dB teremos uma dose de 50% (HANS, 2001).

    Quando o incremento de duplicidade de dose igual a trs (q=3) o TWA

    igual ao Leq (ARAJO & REGAZZI, 2002).

    O TWA pode ser considerado como o rudo caracterstico de uma

    determinada atividade por um perodo de 8 horas.

  • 26

    2.3 Efeitos do rudo

    Davis (1948) e Jansen (1969) apontaram os efeitos nocivos do rudo sobre o

    sistema auditivo e outros rgos, aparelhos e funes do organismo, salientando as

    preocupaes e esforos na eliminao e/ou controle desse agente.

    Segundo Mendes (1980); Okamoto e Santos (1996); Seligman (1997) o rudo

    pode provocar alteraes em todos os sistemas e rgos do organismo.

    O rudo pode perturbar o trabalho, o descanso, o sono, e a comunicao dos

    seres humanos. Alm disso, pode prejudicar a audio e provocar reaes

    psicolgicas e fisiolgicas (FIORINI et al., 1991).

    Os elevados NPS podem desencadear efeitos fisiolgicos como aumento na

    presso arterial, alteraes no ritmo cardaco, vasoconstrio perifrica, dilatao

    das pupilas e aumento na secreo de adrenalina (MCLAUGHLIN et al., 1996).

    Os efeitos psicolgicos relacionados a nveis elevados de rudo podem causar

    distrbios comportamentais. O nvel de dano est atrelado natureza do som, sua

    significncia, ou se o mesmo pode ser controlado e esperado (KAM; KAM;

    THOMPSON, 1994; CLARK, 1996; FONTAINE, 1996; HAZINSKI, 1999).

    Em viglia, o rudo de at 50 dB(A) pode ser perturbador, mas ainda

    aceitvel. A partir de 55 dB(A) provoca estresse leve. O estresse degradativo do

    organismo comea a cerca de 65 dB(A) com desequilbrio bioqumico, aumentando o

    risco de enfarte do miocrdio, derrame cerebral, infeces, osteoporose, dentre

    outros. Provavelmente, a 80 dB(A) j ocorre liberao de endorfina no organismo,

    provocando prazer e completando o quadro de dependncia. Em torno de 100 dB(A)

    pode haver perda imediata da audio. Alm disso, o rudo um dos perturbadores

    mais importantes do ritmo do sono. Distrbios do ritmo do sono produzem srios

    efeitos na sade mental (PIMENTEL-SOUZA, 2008).

    Tendo em vista que tambm nos hospitais o desenvolvimento tecnolgico,

    trouxe como conseqncia nveis de rudo potencialmente nocivos, surge uma

    crescente preocupao principalmente com os RN internados em UTI (KAM; KAM;

    THOMPSON, 1994; FERNANDEZ & CRUZ, 2006)

    No ambiente hospitalar o avano e a sofisticao necessrios para uma

    assistncia de qualidade geram altos NPS tornando esse ambiente perturbador,

    contribuindo para o desenvolvimento de alteraes fisiopatolgicas tanto nos

  • 27

    pacientes como nos profissionais presentes (PEREIRA et al., 2003). Esse ambiente

    pode at ser percebido como relativamente calmo para o adulto, mas no para o

    prematuro (SILVA, 2007).

    Nos RN pr-termo todos os efeitos causados pelo rudo so agravados,

    principalmente, pela imaturidade do crebro para processar e registrar as

    informaes sensoriais, sendo extremamente sensitivo e incapaz de selecionar os

    estmulos recebidos devido falta de controles inibitrios (MARRESE, 1996).

    Mudanas nas respostas fisiolgicas, comportamentais e/ou psicolgicas em

    RN foram relatadas por Long et al. (1980), Mitchel (1984), Jurkovicov e ghov

    (1989), Kam; Kam; Thompson (1994), Clark (1996), Consentino e Malerba (1996),

    Fontaine (1996), Hazinski (1999), Tamez e Silva (1999), Carvalho (2000), entre

    outros.

    A equipe de profissionais tambm prejudicada pela exposio a nveis de

    rudo contnuo e excessivo, acarretando efeitos fisiolgicos e psicolgicos neste

    grupo (TAFFALLA & EVANS, 1997; PARENTE & LOUREIRO, 2001).

    No aspecto da Segurana do Trabalho o hospital considerado um ambiente

    de risco profissional por abrigar uma srie de agentes fsicos, qumicos, biolgicos,

    entre outros, que podem vir a ser nocivos quando no controlados. Dentre os

    fatores de risco do trabalho da enfermagem nos hospitais encontra-se a exposio a

    rudo, sendo este classificado como risco fsico (GONALVES et al, 2001).

    2.3.1 Efeitos auditivos

    Kwitko e Pezzi (1990), afirmaram que as alteraes fisiopatolgicas causadas

    pelo rudo na audio parecem estar relacionadas, inicialmente, diminuio de

    oxignio intracelular das clulas ciliadas do rgo de Corti, pela vasoconstrio

    subseqente ao contato com o rudo. Aps, o edema leva completa separao do

    epitlio sensorial (clulas ciliadas internas e externas, clulas de Deiter e Hansen)

    da membrana basilar e, finalmente, ocorre perda dos estereoclios.

    O desenvolvimento auditivo segue etapas graduais de complexidade e inicia

    j na vida intra-uterina. Sendo assim, para que uma criana adquira a linguagem e

  • 28

    desenvolva a fala, deve ser capaz de detectar um som, prestar ateno a este,

    discrimin-lo, localiz-lo, memoriz-lo, reconhec-lo e finalmente compreend-lo

    (NBREGA, 1994). Qualquer destas etapas e principalmente as iniciais so de

    grande importncia para que todo o processo se complete (PDUA et al., 2005).

    Em 1995, Henderson e Hamernik salientaram que o processo patolgico

    evolui at destruir as clulas sensoriais, neurais, de sustentao e alterar o

    suprimento vascular.

    As alteraes supracitadas devido exposio a rudos de forte intensidade

    podem resultar numa perda auditiva temporria ou permanente (JERGER &

    JERGER, 1989).

    A perda auditiva temporria ou mudana temporria de limiar (MTL)

    causada pela exposio rudo contnuo superior a 80 dB (STELLMAN & DAUM,

    1975), ou exposio a nveis superiores a 85 dB por mais de oito horas (BRASIL,

    1978; LICHTIG & MAKI, 1992) promovendo fadiga e no transmisso de respostas

    ao crebro diminuindo a acuidade auditiva (SALIBA, 2004). Porm, os limiares

    auditivos retornam a normalidade aps um perodo de silncio, que normalmente

    de 11 a 14 horas (SALIBA, 2004). Para Melnick (1999) um efeito a curto prazo e

    se refere a elevao do limiar de audibilidade que se recupera gradualmente aps a

    exposio ao rudo.

    A perda auditiva permanente pode ocorrer de forma brusca, pela exposio

    de curta durao a um rudo intenso (trauma acstico) ou de forma lenta, pela

    exposio prolongada a rudos ambientais de risco (PAIR) (JERGER & JERGER,

    1989).

    O trauma acstico ocorre frente a poucas exposies ou exposies nicas a

    nveis sonoros muito elevados. Neste caso os nveis sonoros que atingem as

    estruturas da orelha interna ultrapassam seus limites mecnicos produzindo

    freqentemente uma destruio completa e leso do rgo de corte (MELNICK,

    1999).

    A mudana permanente de limiar causada por exposio prolongada a altos

    NPS denominada perda auditiva induzida por rudo (PAIR) e definida como a

    diminuio auditiva devido degenerao das clulas ciliadas pela exposio

    prolongada a altos NPS (SANTOS, 1996; SELIGMAN, 1997; FERREIRA, 1998), e

    se essa sabidamente causada por rudo ocupacional, alguns chamam de perda

    auditiva induzida por rudo ocupacional (PAIRO) (SALIBA, 2004).

  • 29

    Jerger e Jerger (1989) e Ks e Ks (2003) classificam a PAIR como uma

    perda auditiva do tipo neurossensorial, simtrica, bilateral com curva audiomtrica,

    normalmente, de configurao descendente.

    Exposies repetidas a rudos que produzem perdas auditivas temporrias

    podem gradualmente originar perdas auditivas permanentes (OLIVEIRA, 1994;

    SALIBA, 2004).

    A susceptibilidade do indivduo e a caracterstica do rudo tm relao com a

    facilidade de adquirir perda auditiva (MENDES, 1980).

    Os rudos contnuos so menos traumatizantes do que os intermitentes. O

    mecanismo de proteo do ouvido ativado assim que este recebe um som intenso.

    Sendo assim o primeiro impacto sonoro sempre percebido para que este

    mecanismo seja acionado. Quando o rudo contnuo o primeiro impacto sonoro

    recebido sem proteo, mas o restante atenuado. Com o rudo intermitente, todos

    os impactos sonoros so recebidos sem serem atenuados, j que entre um som e

    outro h tempo do mecanismo de proteo desativar-se (CZAR, s.d.).

    Tambm h diferena quanto sensibilidade do ouvido humano s diferentes

    freqncias audveis. O impacto sonoro atinge primeiro as clulas receptoras de

    sons agudos, que se situam na base da cclea. Os sons graves so atenuados pelo

    reflexo acstico (CZAR, s.d.).

    Para Morata e Santos (1996) a nocividade do rudo est relacionada com a

    freqncia, o tempo de repouso acstico, a intensidade da presso sonora, os anos

    efetivos de exposio e a suscetibilidade do indivduo.

    A suscetibilidade ao dano auditivo pode ser influenciada por doena, idade,

    fatores hereditrios e exposio a outros agentes como drogas (RAMOS, 2001).

    Sendo a idade uma varivel determinante na magnitude dos danos causados

    pelo rudo, Almeida; Rezende; Vieira (1998) mencionam que a tolerncia do RN aos

    efeitos auditivos e no auditivos do rudo pode ser inferior do adulto. Conforme

    Tamez e Silva (1999), os RN prematuros so mais suscetveis aos efeitos do

    ambiente que os RN a termo. Quanto menor a idade gestacional, maior o

    comprometimento, j que o desenvolvimento cerebral no est completo e aumenta

    o risco de maturao cerebral anormal.

    A exposio ao rudo ambiental existente nas UTINs pode ocasionar dano

    coclear e alterar o crescimento e desenvolvimento normais, visto que as estruturas

  • 30

    auditivas imaturas podem ser mais suscetveis ao dano pela combinao de rudo e

    outros fatores de risco (AAP, 1997).

    A maior incidncia de perda auditiva entre os prematuros est associada

    combinao de drogas ototxicas com nveis elevados de rudo (MALERBA, 1996;

    MARRESE, 1996). Glass (1999) corrobora tal idia e menciona que somado a

    superestimulao ambiental e a imaturidade global do RN, o uso de medicamentos

    ototxicos aumenta o risco de perda auditiva.

    Ainda, os RN que necessitam do uso da incubadora esto expostos tanto ao

    rudo motor (rudo contnuo) quanto ao de sua manipulao (rudo de impacto)

    (RODARTE et al., 2005).

    Silva (2007) relata que RNs prematuros tem dificuldade de reagir ao estmulo

    auditivo durante a estada na UTI e aps.

    O JCIH (2007) aponta como um dos indicadores de risco para a deficincia

    auditiva a permanncia em UTIN por um perodo de cinco dias ou mais.

    Em hospitais de So Paulo, foram realizadas avaliaes audiomtricas nas

    equipes de enfermagem expostas a rudos constantes em seus ambientes de

    trabalho (laboratrios clnicos, ambulatrios, pronto socorro, sala de cirurgia, UTI,

    entre outros), Os achados das avaliaes desses trabalhadores foram comparados

    aos de outros no expostos a tais rudos. O autor verificou que aproximadamente

    50% dos funcionrios expostos a estes rudos apresentaram em maior ou menor

    grau perda auditiva superior a esperada (LEME, 2001).

    2.3.2 Efeitos no auditivos

    2.3.2.1 Efeitos no auditivos nos RN

    Alm dos efeitos auditivos o rudo ocasiona mudanas significativas nas

    respostas fisiolgicas, comportamentais e/ou psicolgicas dos RNs expostos a ele.

    Lehmann e Tamm (1956) citaram alteraes no ritmo cardaco e

    vasoconstrio perifrica mesmo em nvel de presso sonora reduzida como 70 dB.

    Outras alteraes encontradas em RNs expostos a altos nveis de rudo so:

  • 31

    distrbios nos padres de sono (GADEKE et al, 1969; TAMEZ & SILVA, 1999;

    CARVALHO, 2000), agitao, choro (LONG, 1980; MITCHEL, 1984; TAMEZ &

    SILVA, 1999), irritabilidade (TAMEZ & SILVA, 1999; CARVALHO, 2000) e fadiga

    (TAMEZ & SILVA, 1999). O rudo intenso pode tambm afetar a personalidade da

    criana e reduzir sua capacidade de enfrentamento (KAM; KAM; THOMPSON,

    1994; CLARK, 1996; FONTAINE, 1996; HAZINSKI, 1999; CARVALHO, 2000)

    Long et al. (1980) e Mitchel (1984) relataram ainda aumento nas freqncias

    cardaca e respiratria, aumento na presso intracraniana, freqentemente

    precedida de hipoxemia, em RNs expostos a rudos impulsivos de 70 a 75 dBA. A

    maioria destes rudos so gerados durante os cuidados prestados ao RN. Em

    estudo de Jurkovicov e ghov (1989), com RNs de baixo peso, tambm foram

    verificadas mudanas vegetativas (presso sangnea e freqncia cardaca)

    desencadeadas por rudos usuais existentes em UTINs. Silva (2007) tambm cita

    alterao na presso intracraniana em RN expostos a rudo.

    A exposio a altos NPS com aumento do consumo de oxignio e da

    freqncia cardaca, resulta no aumento do consumo calrico e conseqente ganho

    de peso lento. O aumento da presso intracraniana e da presso sangnea

    predispe a hemorragia intraventricular nos prematuros (TAMEZ & SILVA, 1999).

    Alm do exposto, o rudo pode induzir a insnia a qual poder consumir a

    energia necessria para o processo de cura por causa de sua relao com a

    imunossupresso, sntese inadequada de protenas, confuso, irritabilidade,

    desorientao, falta de controle e ansiedade. A supresso do sono REM (Rapid Eye

    Movement - Movimento rpido dos olhos) e a psicose aps tratamento em UTI

    podem estar associadas ao rudo (CORSER, 1996; FONTAINE, 1996; THOMAS,

    1998; HAZINSKI, 1999). O efeito do rudo no estado de sono pode ser uma causa

    potencial de hipoxemia e fonte de morbidade neonatal (ALMEIDA; REZENDE;

    VIEIRA, 1998).

    Ainda, o rudo pode comprometer o processo de cura aumentando a

    produo de somatotropina, hormnio adenocorticotrfico, catecolaminas,

    adrenalina, noradrenalina, taxa metablica, alm de outras alteraes fisiolgicas

    importantes (CLARK, 1996; FONTAINE, 1996; SMITH & BROWNE, 1996;

    HAZINSKI, 1999; TSIOU et al. 1998)

    Aos efeitos do rudo somam-se ainda permanncia em UTI por tempo

    prolongado, a separao me-beb e a exposio a vrios estmulos negativos

  • 32

    como a manipulao constante da equipe (CONSENTINO & MALERBA, 1996).

    Alm dos efeitos no auditivos citados so mencionados tambm a ocorrncia

    de dessaturao (MIRANDA et al., 1999; CARVALHO, 2000; SILVA, 2007), apnia

    (TAMEZ & SILVA, 1999; CARVALHO, 2000; SILVA, 2007), bradicardia (TAMEZ &

    SILVA, 1999; CARVALHO, 2000), hipxia, apagamento comportamental ou

    isolamento da interao social, reduo global na resposta auditiva e no

    desenvolvimento (TAMEZ & SILVA, 1999) e possveis efeitos neuroendcrinos e

    imunolgicos (SILVA, 2007), em RNs expostos a rudos contnuos em UTIN.

    Carvalho (2000) acrescenta ainda, em RNs expostos a rudos entre 70-80dB,

    hipertenso, aumento do fluxo sangneo cerebral, alterao na funo intelectual e

    estresse.

    Levy; Woolston; Browne (2003) ressaltam que os RNs pr-termo e de muito

    baixo peso, devido imaturidade neurolgica e instabilidade fisiolgica, so

    significativamente mais vulnerveis presena do rudo ambiente, conduzindo a

    prejuzo neurolgico e de organizao.

    2.3.2.2 Efeitos no auditivos nos profissionais

    Alm dos efeitos causados nos RN, adultos submetidos a rudos de 65 dBA

    podem sofrer um aumento nos nveis plasmticos de corticosterides e na excreo

    urinria de adrenalina e noradrenalina (KAM; KAM; THOMPSON, 1994; FONTAINE,

    1996; MCLAUGHLIN; MCLAUGHLIN; ELLIOTT, 1996).

    Sintomas de distrbios vestibulares como vertigens, acompanhadas ou no

    por nuseas, vmitos e suores frios, dificuldades no equilbrio e na marcha,

    nistagmos, desmaios, e dilatao de pupilas durante ou aps a exposio ao rudo

    so descritos por Seligman (1997).

    So atribudas ainda como conseqncias provenientes da exposio a altos

    nveis de rudo, na equipe de profissionais: hipertenso arterial (TAFFALLA &

    EVANS, 1997; PARENTE & LOUREIRO, 2001; SILVA, 2007), alterao no ritmo

    cardaco e no tnus muscular, cefalia, perda auditiva, confuso, baixo poder de

    concentrao, irritabilidade (TAFFALLA & EVANS, 1997; PARENTE & LOUREIRO,

  • 33

    2001), ansiedade (WHO, 1999a; TOPF, 2000) e estresse (WHO, 1999a; TOPF,

    2000; SILVA, 2007).

    So acrescentadas a estas, nuseas, instabilidade, mudanas de humor,

    aumentando os conflitos sociais, bem como desordens psiquitricas gerais como

    neuroses, psicoses e histeria (WHO, 1999a).

    Seligman (1997) menciona que rudos escutados durante o dia podem

    atrapalhar o sono horas aps. Medeiros (1999) acrescenta que por este fato o rudo

    vai agir indiretamente no dia-a-dia do trabalhador. Segundo esse autor

    incontestvel a importncia de uma noite bem dormida, para o bom desempenho

    do indivduo em suas atividades, principalmente as que exijam concentrao e

    habilidade, refletindo num melhor rendimento no seu trabalho e na sua vida social.

    Silva (2007) concorda com o autor citado ao mencionar as alteraes no sono como

    um dos fatores causados pelo rudo na equipe de profissionais atuantes em UTINs.

    Por ser um som indesejvel o rudo pode irritar e, conseqentemente, diminuir

    a capacidade de concentrao, afetando o desempenho na habilidade de realizar

    algumas tarefas (MEDEIROS, 1999; TOPF, 2000). Sendo assim, profissionais que

    utilizam habilidades manuais, por exemplo, podem ser muito prejudicados, pois

    estando sua capacidade diminuda, aumenta a probabilidade de erros e acidentes

    ocupacionais, e compromete a execuo de tarefas que exijam ateno e

    concentrao (MEDEIROS, 1999).

    De acordo com Thomas e Martin (2000), o rudo na UTIN interfere na

    comunicao dos profissionais e na realizao do trabalho da equipe.

    A exposio a altos NPS um risco ocupacional que pode interferir na sade

    e no desempenho do profissional da sade. Sustentam tambm que a exposio ao

    rudo ocupacional tem impacto negativo sobre a presso arterial e sobre a satisfao

    com o trabalho no decorrer do tempo, especialmente entre trabalhadores que

    exercem tarefas complexas (SAMUEL; YITZHAK; PAUL, 2001; SILVA, 2007).

    Para Lally (2001) alguns profissionais parecem habituados a NPS intensos

    em hospitais, especialmente em UTIs.

    Alguns autores defendem que os profissionais da sade devem ser protegidos

    desse risco ambiental adverso, que pode comprometer seu desempenho e contribuir

    para eventos indesejveis no cuidado dos pacientes (CARVALHO; PEDREIRA;

    AGUIAR, 2005).

  • 34

    A todos esses efeitos Silva (2007) acrescenta ainda fadiga e aumento do nvel

    de colesterol, alm de alteraes na comunicao e dificuldade de manter a

    ateno.

    2.3.2.3 Efeitos no auditivos nos pais

    Para Silva (2007) a exposio ao rudo existente nas UTINs pode causar

    estresse fisiolgico e comportamental, e sobrecarga sensorial nos pais dos RNs.

    Alm disso, dificulta a interao deles com o RN.

    2.4 Rudo em ambiente hospitalar e neonatal: consideraes relevantes e

    pesquisas atuais

    2.4.1 Normas legais e tcnicas sobre rudo em ambientes hospitalares e neonatais

    Desde 1974 a United States Environmental Protection Agency preconiza que

    os nveis de rudo em hospitais no devem exceder 45 dB durante o dia e 35 dB

    durante a noite.

    A Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT, 1987, 1999) NBR

    10152/1987 concorda ao sugerir 35 a 45 dB(A) como nveis aceitveis para

    diferentes ambientes hospitalares, sendo o primeiro o nvel desejvel e o segundo o

    limite aceitvel.

    A Academia Americana de Pediatria (AAP, 1997) indica que a quantidade de

    rudo ambiental em UTINs no deve exceder 45 dBA.

    A Organizao Mundial da Sade (OMS) recomenda Leq de 30 dBA e Lmax de

    40 dBA para ambientes internos hospitalares. Visto que os pacientes tm menor

    capacidade de lidar com o estresse, ressaltado que o nvel no deveria exceder

    35 dBA. Para o perodo noturno prevista uma reduo de presso sonora de cerca

    de 5 a 10 dB (WHO, 1999b).

  • 35

    Conforme o Committee to Establish Recommended Standars for Newborn

    ICU Design (2006), o rudo contnuo, medido por um dosmetro, no deve exceder

    Leq (hora) de 45 dB(A), L10 (hora) - nvel de som que excedido 10% do tempo

    durante o mais longo intervalo de medio - de 50 dB(A) e Lmax (1 seg) de 65 dB(A),

    todos medidos em escala lenta.

    No Brasil, de acordo com a ABNT (1997) o mximo Nvel de Presso Sonora

    (NPS) permitido para a incubadora em funcionamento 60 dB e no deve

    ultrapassar 80 dB, quando o alarme estiver soando.

    No pas, conforme Rodarte et al. (2005), somente na dcada de 90 que

    tiveram incio os estudos direcionados questo do rudo em ambiente neonatal,

    especificamente em incubadoras. Nessa ocasio, no havia legislao que

    determinasse o nvel de rudo permitido nas incubadoras.

    Com base na busca executada nas bases de dados cientficas e operacionais

    brasileiras, no foi encontrada referncia quanto s normas especficas para

    unidades neonatais no Brasil.

    2.4.2 Fontes e medidas de reduo de rudo em Unidades de Terapia Intensiva

    Neonatal

    Em 1992, Lichtig e Maki ao mensurarem o rudo existente dentro das

    incubadoras verificaram que a mdia do nvel de rudo interno foi maior durante a

    medio das incubadoras fechadas, comparada a mdia do nvel de rudo medido

    com as cpulas abertas.

    Outros resultados obtidos no mesmo estudo sugeriram que os rudos de

    freqncias graves atingem diretamente o ouvido do RN que se encontra dentro da

    incubadora. Isto significa que rudos como os que so produzidos por geradores,

    sistema de controle de climatizao e ar condicionado no so isolados

    acusticamente pela cpula de acrlico. Para os rudos mais agudos, a cpula acrlica

    isola-os parcialmente, sendo que nesta faixa de freqncia encontram-se a

    conversao humana, o rdio comunicador, rdio comum e alarmes em geral.

    Elander e Hellsttrom (1995) mencionaram que grande parte dos sons

    perturbadores foram provenientes de equipamentos de suporte a vida, como

  • 36

    ventiladores e bombas de infuso, porm nveis de rudo em torno de 70 dB foram

    observados mediante risadas de funcionrios, conversas e falta de cuidado ao abrir

    e fechar portas.

    Segundo Hale (1996), Santchez (1996), e Veit (1999) a principal fonte do

    rudo provm dos profissionais e dos estudantes da rea da sade, devido falta de

    conscientizao da potencialidade dos riscos fsicos, fisiolgicos e psicolgicos

    ligados poluio sonora. Para esses autores as conversas da equipe so mais

    perturbadoras do que os rudos dos equipamentos.

    Para Consentino e Malerba (1996) os rudos nas UTINs podem alcanar

    nveis de at 85dB, incluindo alarmes dos equipamentos, movimento de um aparelho

    grande, sons de telefone, arrastar de cadeiras, elevado tom de vozes durante a

    admisso do RN, troca e passagem de plantes.

    Marziale e Carvalho (1998) verificaram a predominncia do rudo no perodo

    diurno e defenderam que tal rudo era decorrente da maior circulao de pacientes,

    familiares e funcionrios neste turno; reformas ou manuteno de setores dos

    hospitais; movimentao nos arredores do prdio e aumento do rudo causado por

    mquinas operatrizes, grande fluxo de veculos e ambulncias. Os autores

    ressaltaram ainda, que no perodo diurno o telefone toca um nmero maior de vezes.

    Conforme Scochi et al. (2001), os altos NPS encontrados nas UTINs so

    decorrentes de diferentes fontes como a circulao de pessoas na unidade e dos

    equipamentos de suporte vida, como respiradores mecnicos, beros aquecidos,

    bombas de infuso, monitores cardiorespiratrios e de temperatura cutnea,

    incubadoras, vozes, alarmes, rdios, dentre outros.

    Chang, Lin, Lin (2001) ao investigarem as fontes de rudo na UTIN de um

    Hospital Universitrio do sudeste de Taiwan, constataram que 86% dos picos de

    rudo em 24 horas estavam entre 65 e 74 dBA e 90% estavam relacionado ao

    comportamento humano, sendo a fonte mais ruidosa o transporte do bero aquecido

    e a mais freqente a conversao entre os profissionais da unidade.

    Estudos de Chen e Chang (2001) mostraram que apenas 21% do rudo

    existente na UTIN vinham do toque de alarmes dos equipamentos e do rudo do

    motor das incubadoras. Cerca de 79% do rudo era proveniente da abertura e

    fechamento da portinhola da incubadora, conversao entre a equipe, interveno

    da enfermagem e atividade humana.

    Na pesquisa de Holsbach; De Conto; Godoy (2001) as principais fontes de

  • 37

    rudo, alm dos alarmes dos equipamentos e ar condicionado, foram as

    manipulaes de objetos, arrastar de cadeiras, batidas de portas e conversas. Os

    autores referiram que os alarmes so utilizados no nvel mximo devido s

    conversas, distncias dos leitos aos postos de observao em UTIs e demais

    rudos.

    Kent et al. (2002) citou outras fontes de rudo alm das mencionadas, a saber:

    telefone, realizao de procedimentos de emergncia, perodo de visitas mdicas e

    de familiares, trocas de turnos (passagem de planto), manuseio da incubadora,

    limpeza da unidade, circulao de equipamentos de exames e abrir e fechar as

    portas das unidades.

    Para Rodarte; Scochi; Santos (2003) os elevados NPS no ambiente das UTIs

    so resultantes, em sua maioria, do processo teraputico, compreendendo os

    recursos humanos, fsicos e tecnolgicos. s fontes de rudo j referidas eles

    somam os equipamentos de apoio ao diagnstico.

    Ichisato (2004) ratificou que as fontes que contriburam para a ocorrncia dos

    mais intensos NPS em pesquisa realizada na UTIN do Hospital das Clnicas da

    Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto foram: nmero de pessoas, tonalidade de

    voz das conversas, presena de alarmes estridentes, manipulao no cuidadosa no

    fechamento de armrio, gavetas, tampas de lixo, portas e alto fluxo da gua na

    torneira do lavabo alm das quedas de objetos.

    Em estudo realizado por Carvalho; Pedreira; Aguiar (2005), o rudo mais

    significativo foi produzido principalmente pelos funcionrios, e no pelos

    equipamentos.

    Com relao ao rudo produzido pelos equipamentos foram obtidos os

    seguintes resultados: ventilador mecnico 60-65 dBA; alarme do ventilador

    mecnico 70-85 dBA; alarme da bomba de infuso 65-75 dBA; alarme da oximetria

    de pulso 60-75 dBA; monitor cardaco (ECG) 50-55 dBA; sistema de aspirao

    endotraqueal 50-60 dBA.

    Zamberlan (2006), tambm no Hospital das Clnicas da Faculdade de

    Medicina de Ribeiro Preto, verificou que os maiores Lmax foram registrados ao abrir

    e fechar a tampa da lixeira (77,2 dBA) seguida da fonte de abrir e fechar a porta de

    correr de uma das salas da unidade com a porta da enfermaria aberta (74,9 dBA).

    No mesmo estudo valores inferiores a 50 dB foram encontrados somente quanto o

    ar condicionado estava desligado, as lmpadas acessas ou no (49,3dB), sem

  • 38

    circulao da equipe e familiares e alarmes dos equipamentos desativados. O ar

    condicionado acrescentou 3,5 dBA, independente de estar ou no ligada a lmpada

    (52,8 dB).

    Outras fontes citadas por Ichisato (2004) e Zamberlan (2006) foi o alarme de

    pulso e a torneira da pia aberta.

    De acordo com Fernndez e Cruz (2006), os RNs na incubadora esto

    permanentemente expostos a um nvel de rudo entre 50 e 90 dB. O rudo de vozes,

    alarmes de monitores, rdios, bombas de infuso e abertura e fechamento das

    portinholas das incubadoras podem gerar aumento de rudos resultando em sons

    prximos a 120 dB.

    No estudo de Kakehashi et al. (2007), as principais fontes de rudo foram os

    alarme dos ventiladores, dos oxmetros, conversa entre profissionais e pais e outros.

    Lichitig e Maki (1992), Consentino e Malerba (1996) defendem que

    necessrio a reduo dos rudos existentes nas UTINs. Com esta finalidade citam

    alguns cuidados: diminuir o volume das vozes, monitores, alarmes e telefones;

    responder rapidamente a alarmes; limitar o uso de rdio nesse ambiente; manipular

    a incubadora com cuidado; evitar apoiar objetos e golpear dedos sobre a superfcie

    da incubadora e evitar acmulo de gua nas tubulaes de gases.

    A estes cuidados so acrescentados ainda: escolher equipamentos menos

    ruidosos; pressionar delicadamente os fechos das portinholas, tanto para abri-las

    como para fech-las, soltando os pinos dos fechos depois de fechados (para evitar

    o "click" dos fechos); transferir telefones, rdios e outros equipamentos ruidosos

    para uma sala prxima a UTIN; forrar com espumas as portas inferiores do

    gabinete; substituir cestas de lixo metlicas por de plstico para evitar batidas

    ruidosas; diminuir a gerao de sons de baixa freqncia, como ventiladores e ar

    condicionado, pois a capacidade de isolamento da tampa acrlica zero para estas

    freqncias (LICHITIG & MAKI, 1992).

    Para Cmiel et al. (2004), importante enfatizar a necessidade da realizao

    de ajustes nos alarmes dos equipamentos de acordo com a idade e condies

    fsicas da criana a fim de prevenir rudos desnecessrios. Tanto para a recuperao

    das crianas quanto para a proteo dos profissionais contra os efeitos nocivos dos

    elevados nveis de rudo, necessrio estabelecer programa para reduo dos

    elevados nveis sonoros. Existem evidncias de que a educao da equipe de sade

    e o ajuste de comportamento so essenciais para a reduo dos rudos.

  • 39

    Conforme Carvalho; Pedreira; Aguiar (2005) necessrio promover ajustes

    arquitetnicos na UTI, com o uso de piso, teto e paredes que absorvam o rudo,

    divises entre os leitos nas unidades maiores, e instalao de vedaes de

    borracha nas portas e janelas. Alm disso, importante avaliar os nveis de rudo

    antes da aquisio dos equipamentos e implementar um programa de educao

    contnua para os profissionais que trabalham nesta unidade.

    Esse programa deve visar, alm dos cuidados citados por Consentino e

    Malerba (1996), mudanas no comportamento, tais como evitar falar em voz alta ao

    lado do leito ou em reas prximas aos pacientes, usar calados adequados,

    designar reas especficas para discusses clnicas. Deve tambm enfocar ajustes

    comportamentais adicionais para controlar o volume de televisores, campainhas,

    entre outros. As portas dos quartos dos pacientes devem permanecer fechadas.

    Consentino e Malerba (1996) e Carvalho; Pedreira; Aguiar (2005) concordam

    ao defender que se faz necessrio sinalizar que a UTIN uma rea de silncio e

    implementar horrios de silncio, nos quais se deve reduzir ou desligar os alarmes

    dos equipamentos, diminuir a rotina e os procedimentos.

    Para os autores supracitados um programa de reduo de rudos requer a

    cooperao da equipe auxiliar, incluindo os funcionrios da limpeza, tcnicos de

    laboratrio e tcnicos de raio X. Os mesmo ratificam que importante que os

    administradores hospitalares promovam programas educativos contnuos a fim de

    obter uma mudana cultural em todos os membros da equipe de sade.

    A partir dos resultados obtidos no estudo de Kakehashi et al. (2007) e

    considerando os efeitos deletrios do nvel elevado de rudo sobre neonatos e

    equipe de sade, foi constatada a necessidade de intervenes em algumas rotinas

    e na conduta dos profissionais e familiares a fim de reduzir o rudo existente no

    ambiente estudado.

    As conversas entre os profissionais foram apontadas como as principais

    fontes de rudo no primeiro piso de uma UTI de Belo horizonte. No segundo piso da

    mesma UTI os equipamentos internos e as visitas foram os principais causadores

    do rudo existente nesse ambiente. Em outro hospital da mesma cidade as

    principais fontes de rudo foram as conversas entre funcionrios e equipamentos,

    sendo o principal o ar condicionado. Os autores concluram que a maior parte dos

    rudos nas UTI dos dois hospitais causada por fatores que podem ser atenuados

    por pequenas mudanas comportamentais no setor, tais como a diminuio da

  • 40

    conversa e o monitoramento das visitas. No que se refere ao rudo provocado pela

    infra-estrutura, a substituio do ar condicionado capaz de resolver os problemas

    detectados no hospital B (DINIZ; GOMES JNIOR; ARAJO, 2007).

    Para Evans e Philbin (2000), um hospital pode criar toda uma nova UTIN, ou

    reformar completamente uma j existente e, ainda assim, no obter melhora no

    ambiente, se a cultura do rudo permanecer inalterada.

    A fim de proteger RNs e profissionais, Carvalho (2000) recomenda para os

    primeiros o uso tampes de ouvido para RN, e Carvalho, Pedreira e Aguiar (2005)

    sugerem a realizao de avaliaes peridicas tanto dos nveis de rudo quanto da

    audio dos profissionais.

    2.4.3 Mensurao do rudo em ambientes hospitalares e Unidades de Terapia

    Intensiva Neonatal

    Russo e Santos (1989) mencionaram que o rudo ambiental de uma UTI varia

    de 56 dB a 77 dB.

    Estudo de Lichtig e Maki (1992) mostrou que, durante alguns cuidados

    prestados ao RN, so produzidos vrios rudos intensos de impacto, ou seja, picos

    de energia acstica inferior a um segundo de durao, como por exemplo, abrir e

    fechar as portinholas da incubadora (112 a 124,5 dB) e colocar objetos sobre a

    cpula de acrlico (116 dB). Em relao ao rudo de manipulao, os mesmos

    autores obtiveram picos de 118 dB na elevao do leito e colcho da incubadora no

    modo cuidadoso e 122 dB de maneira brusca. Ao abaix-los no modo brusco o pico

    foi de 120 dB.

    Pesquisa de Parrado e Costa Filho (1992) investigou os nveis de rudo aos

    quais os RN de alto risco, que necessitavam de incubadora, estavam expostos. Em

    trs maternidades foram encontrados nveis de rudo contnuo que variavam de 63 a

    69 dB, de 59 a 69 dB e de 63 a 70 dB. O rudo mensurado durante a abertura das

    portinholas da incubadora foi de 82 a 91 dB, 76 a 88 dB e 91 a 94 dB. Durante o

    fechamento das portinholas das incubadoras foram registrados nveis de presso

    sonora de 88 a 92 dB, 81 a 126 dB e 98 a 114 dB.

  • 41

    Os nveis de rudo registrados em UTINs da ustria (BALOGH ET al. 1993),

    de Manitoba (Canad) (TSIOU et al., 1998) e de Valncia (Espanha) (SANTOS et al.

    1999) foram, respectivamente, de 60 a 65 dB, 68 dB e mais de 55 dB.

    Barros (1998) referiu que nas incubadoras os nveis de rudo variam de 70 a

    80 dB e em alguns momentos poderiam atingir at 130 a 140 dB, como por

    exemplo, ao fechar abruptamente a porta da incubadora, utilizar respiradores,

    aspiradores ou ainda quando a criana chora.

    Gomes e Crivari (1998) pesquisaram os nveis de rudo de alguns

    equipamentos como capacete de oxignio, lmpadas de fototerapia, telefone e

    incubadora ligada. Os pesquisadores encontraram como resultados

    respectivamente: 87 dB, 80 dB, 74 dB e 62 dB.

    Em estudo realizado com RNs prematuros e de baixo peso foi encontrado

    relao significativa entre os nveis de rudo ambiental e o peso do RN. Os nveis de

    rudo nas incubadoras com crianas menores so mais altos, pois lactentes

    pequenos tm menos gordura corporal e seus corpos no permitem reduzir a

    reverberao do som tanto quanto os maiores lactentes. Neste estudo foi verificado

    o efeito da espuma acstica sobre o nvel de rudo dentro da incubadora. O

    pesquisador cobriu a incubadora com o protetor e todos os RNs foram acomodados

    em um ninho de espuma, sobre um travesseiro de gel, e em cada canto da

    incubadora foi colocada uma espuma acstica. Foi verificado que houve uma

    reduo de 3,27 dB no nvel de rudo dentro da incubadora, visto que a espuma

    absorvia o rudo, impedindo que este ricocheteasse dentro da incubadora, reduzindo

    o rudo no seu interior (JOHNSON, 2001).

    Holsbach; De Conto; Godoy (2001) pesquisaram o nvel de rudo em uma

    UTIN, uma UTI Peditrica e duas UTIs Adultas da Irmandade Santa Casa de

    Misericrdia de Porto Alegre (RS), com a utilizao de um decibelmetro com

    circuito de ponderao A e C e condio de resposta rpida (Fast). Foram

    realizadas duas medies por dia, uma em torno das 9h30min e a outro por volta

    das 16h. Os resultados nas quatro UTIs foram acima dos valores recomendados

    pela Norma Brasileira para Conforto Acstico Ambiental (NBR 10152). Tais

    resultados apontaram a necessidade da reduo dos nveis de rudo, tendo em vista

    as interferncias negativas causadas nos pacientes.

    Em 2002, Kent et al. realizaram um estudo nas quatro enfermarias da UTIN

    do Kingston General Hospital (Canad). Os pesquisadores analisaram o efeito das

  • 42

    atividades da equipe sobre o nvel de rudo durante seis perodos de 12 horas (7 s

    19 horas) e compararam os nveis de rudo mensurados, por um dosmetro, em

    pontos diferentes das enfermarias com aqueles medidos dentro de uma incubadora

    ocupada em quatro perodos de 24 horas. Verificaram que os nveis de rudo

    ambiental eram significativamente mais elevados nos quartos onde a atividade da

    equipe de funcionrios era maior (59 dB). Comparando os nveis de rudo medidos

    nas salas e os mensurados dentro da incubadora, os autores constataram que a

    mdia dos nveis de rudo no interior da incubadora (61 dB) era significativamente

    mais elevado do que aquele medido fora (55 dB). Tambm foram encontrados picos

    de 120 dB de rudo.

    Para Oliveira; Frana; Mor (2003), o uso do ar condicionado contribui para o

    aumento significativo do rudo. Existe um aumento de 17 dB, em mdia, no rudo

    ambiental da UTIN quando o ar condicionado encontra-se ligado. Os mesmos

    observaram que o nvel de rudo fora da incubadora variou de 70 a 86 dB e durante

    a atuao da equipe encontrou-se valores de 80 a 86 dB. Dentro da incubadora

    durante a abertura e fechamento da portinhola foram encontrados valores de 88 a

    90 dB.

    A partir de um estudo realizado na UTI geral de adultos do Hospital So

    Paulo, entre outubro de 2001 e junho de 2002, totalizando 6000 minutos, foi obtido

    nvel de presso sonora equivalente (Leq) mdio de 65,36 dBA, variando de 62,9 a

    69,3 dB(A). Durante o perodo diurno (6 s 18hs) a mdia do Leq foi de 65,23 dBA e

    para o perodo noturno, 63,89 dBA (18h s 6h). O Lmax encontrado foi de 108,4 dBA

    e o Lmin de 40 dBA (PEREIRA, et al., 2003).

    Rodarte et al. (2005) realizaram medies com o uso de um decibelmetro,

    durante a manipulao de 23 incubadoras, nos modos cuidadoso e brusco. As

    incubadoras foram divididas em quatro grupos (A, B, C e D). O grupo A foi composto

    por oito incubadoras com o perodo de uso de 15 a 16 anos e procedncia nacional;

    o grupo B, por oito incubadoras nacionais com o perodo de uso entre 16 a 18 anos;

    o C foi formado por quatro incubadoras, sendo trs de procedncia estrangeira e

    uma nacional, com o perodo de uso entre quatro e cinco anos, e o grupo D, por trs

    incubadoras, sendo duas estrangeiras e uma nacional, com o perodo de uso de

    quatro a seis anos. Em praticamente todas as situaes de manipulao, tanto no

    modo cuidadoso como no brusco, o grupo B, composto por incubadoras mais

    antigas, apresentou NPS mais elevados. O grupo C, formado pelas incubadoras

  • 43

    com menos tempo de uso, foi o que demonstrou os menores NPS durante as

    diversas situaes de manipulao. Os autores relataram que nos hospitais

    predomina o uso de incubadoras antigas e que detalhes tcnicos nos equipamentos,

    como o uso de borrachas mais macias para amenizar o impacto do acrlico, de

    travas deslizantes ou giratrias para abrir e fechar as portinholas das incubadoras

    podem amenizar o rudo. No mesmo estudo foi observado que mesmo a

    manipulao cuidadosa do RN gera um intenso nvel de rudo e que este quase

    sempre dobra ou triplica, podendo at mesmo quadruplicar quando a mesma

    atividade realizada bruscamente.

    O nvel de rudo ambiental registrado em uma UTI peditrica variou entre 60 a

    70 dBA. Os nveis mais elevados foram identificados durante o dia, e eram

    decorrentes da atividade e comunicao dos profissionais e alunos atuantes neste

    ambiente. O rudo mais significativo produzido pelos equipamentos foi o gerado

    durante o acionamento de certos alarmes e durante a operao normal do ventilador

    mecnico, seguido pelo bipe dos monitores cardacos. O pico de rudo ocorreu

    entre 10 horas da manh e 4 horas da tarde. O posto de enfermagem e o corredor

    de acesso a esta UTI tiveram os nveis mais elevados (CARVALHO; PEDREIRA;

    AGUIAR, 2005).

    Krueger et al. (2005) constataram que, em uma UTI movimentada dos

    Estados Unidos, tanto a intensidade total mdia equivalente de hora em hora,

    quanto a intensidade mxima estavam freqentemente acima dos nveis sonoros

    recomendados. Alm disso, determinados perodos do dia, tais como, 6 e 7 da

    manh e das 10 ao meio-dia eram mais ruidosos.

    Ichisato (2004) pesquisou o nvel de rudo ambiental da UTIN do Hospital das

    Clnicas da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo

    (HCFMRP/USP), durante trs semanas no consecutivas. O Equipamento utilizado

    foi um dosmetro da marca Quest Techinologies, modelo Quest 400, ajustado com

    circuito de ponderao A, condio de resposta lenta (slow) e taxa de compensao

    q = 3dB. A intensidade do rudo variou de 48,6 dBA (Lmin) a 114,1 dB (Lpeak), sendo o

    menor e o maior Leq compreendido entre 49,9dBA e 88,3dBA, respectivamente. A

    mdia de Leq na primeira semana foi de 64 dBA, na segunda, de 62,5 dBA e na

    terceira de 63,2dBA. O Lmax dirio variou de 81,4 a 94,2 dBA, tendo registrado na

    primeira semana 92,5 dBA; na segunda, 89,9dBA e 94,2dBA na terceira. O menor e

    o maior Lpeak foram de 105,7 e 114,1dBA, registrados no 13 e 2 dia de coleta,

  • 44

    respectivamente. O Lmin dirio variou de 48,6 a 54,1 dBA, mostrando-se maior na

    primeira semana de coleta, quando comparada com as demais.

    Com relao aos nveis mensurados de acordo com turnos nas trs semanas

    de coleta, o menor e o maior Leq foram obtidos na terceira semana, assumindo

    respectivamente os valores de 61,5 dBA e 64,8 dBA. Os Lmaxs por turno estavam

    todos acima de 86 dBA, sendo o menor 86,5dBA obtido na manh da terceira

    semana e o maior, 94,2 dBA, no turno da noite tambm na terceira semana. O

    menor e o maior Lmin foram 48,6 dBA e 53,4 dBA, e ocorreram no turno da noite da

    terceira semana e tarde da primeira, respectivamente.

    No Hospital Pblico Universitrio do Vale do Paraba foi realizada uma

    pesquisa a fim de verificar os NPS captados no interior e exterior de seis

    incubadoras as 10, 16 e 22 horas, durante um minuto, em 11 dias consecutivos. Os

    resultados mostraram que em mdia o NPS ambiental foi 59,9 dBA, 62 dBA e 59,1

    dBA nos turnos da manh, tarde e noite, respectivamente, valores superiores aos

    preconizados para UTINs. O nvel de rudo dentro da incubadora foi menor do que o

    nvel de rudo ambiental. O valor mdio do NPS dentro das incubadoras estava de

    acordo com o recomendado pelas normas (60 dB), embora em grande parte dos

    registros tenha estado muito prximo ou acima do limite recomendado (CORRA,

    2005).

    Estudo de Zamberlan (2006) mensurou o rudo existente na Unidade de

    Cuidados Intermedirios Neonatal, no Hospital das Clnicas da Faculdade de

    Medicina de Ribeiro Preto (HCFMRP/USP), no perodo de duas semanas

    consecutivas, utilizando um dosmetro Quest 400. Na primeira semana a coleta foi

    realizada no perodo diurno (7 s 19 horas) e na segunda no perodo noturno (19 s

    7 horas). Foi encontrado nvel mdio de rudo na unidade de 60,8 dBA. A

    variabilidade, na semana, do Leq, Lpeak, Lmax e Lmin foi de 20,8 dBA (51,8 a 72,6 dBA),

    23,6 dBA (90,1 a 113,7 dBA), 42,8 dBA (52,1 a 90,9 dBA) e 1,4 dBA (50,7 a 52,1

    dBA), respectivamente. O menor Leq foi de 51,8 dBA e ocorreu na quarta-feira s

    6h25min e o maior foi 76,2dBA, na segunda-feira s 00h52min. O Leq por dia da

    semana foi maior (62,3 dBA) na tera-feira e menor (59,5 dBA) no sbado. O Lmax

    por dia da semana variou de 52,1 a 90,9 dBA, obtidos na quarta s 12h26min e na

    segunda-feira s 8h48min, respectivamente. O Lmin os dirio variou entre 50,7 dBA e

    52,1 dBA, valores obtidos consecutivamente na tera-feira s 7h56min e na quarta-

    feira s 5h30min.

  • 45

    Pesquisa conduzida em 2007 na UTIN de um hospital de ensino que pertence

    a uma universidade pblica do municpio de So Paulo foi utilizado um dosmetro de

    marca SparkR, modelo 706, nas escalas A e C e em velocidade Fast foi registrado

    Leq entre 61,3 a 66,6 dBA, sendo maior nos dias do final de semana, com valores de

    Leq igual a 66,0 dBA no sbado e 66,6 dBA no domingo. Os valores dos picos

    variaram de 90,8 a 123,4 dBC, sendo mais elevados no perodo noturno (123,4

    dBC), seguido do matutino (103,4 dBC) e do vespertino (90,8 dBC). Os autores

    utilizaram a escala C para captar tambm rudos de impacto (KAKEHASHI et al.,

    2007).

    Alm destes estudos foi realizada coleta dos NPS nas UTINs de dois grandes

    hospitais de Harris County (Houston/Texas), a fim de comparar o rudo existente nas

    duas unidades e os NPS de acordo com o nvel de cuidados prestados - Nvel II

    (geralmente no requer ventilao mecnica ou uso extenso de medicaes), Nvel

    III (casos mais graves que requerem mais cuidados) e Isolamento (RNs com

    doenas infecciosas ou condies que exigem separao dos demais). A UTIN B foi

    construda recentemente atentando para alguns cuidados necessrios a fim de

    atenuar o rudo ambiental. Os dados foram coletados em sete dias e o instrumento

    utilizado foi um dosmetro.

    Na UTIN A o Leq semanal variou de 61 a 63 dBA e na UTIN B, atualmente

    construda, oscilou entre 55 e 60 dBA. Os valores gerais do Leq da UTIN B foram

    significativamente menores do que na UTIN A. O Lpeak excedeu 90 dBA em 6,3%

    das amostras na UTI A e em 2,8% na UTI B. Tais resultados mostram que o nvel de

    rudo foi menor na UTIN edificada recentemente (em todos os quartos), apontando a

    importncia da adoo de cuidados como espaos separados para atividades que

    no exigem contato direto com o RN, uso de tapetes e no azulejo, utilizao de

    materiais atenuantes, entre outros. Alm desses achados, foi possvel verificar que

    na UTIN A o quarto de cuidados Nvel II foi o mais ruidoso, enquanto na UTIN B

    essa sala foi a mais silenciosa. Nas salas de isolamento os nveis mais altos de

    rudo foram registrados quando pessoas da equipe mdica e/ou os pais entravam

    nas salas ou quando os alarmes dos equipamentos eram acionados (WILLIAMS;

    DRONGELEN; LASKY, 2007).

    A mensurao do rudo tambm foi realizada em duas UTIs de Belo

    Horizonte, durante 30 minutos, nos perodos da tarde e noite, em diferentes dias da

    semana. Foram realizadas oito medidas em cada local com o uso de um

  • 46

    decibelmetro. No primeiro andar do hospital A, foram encontrados nveis de rudo

    de 62 dB(A) no perodo da tarde e 60 dB(A) noite. No segundo andar deste

    mesmo hospital, foram encontrados rudos de 60 dB(A) no perodo da tarde e 58

    dB(A) no perodo da noite. No hospital B foi verificado nos perodos da tarde e noite

    nveis de 64 dB(A) e 61 dB(A), respectivamente. Na UTI Cardiolgica desse

    hospital, os nveis de rudos encontrados foram da ordem de 60 dB(A) durante a

    tarde e 63 dB(A) durante a noite (DINIZ; GOMES JNIOR; ARAJO, 2007).

    Na UTIN de um hospital do estado do Paran foi registrado nvel mdio de

    rudo de 61,4 dBA. Conforme os autores, os nveis encontrados resultaram de

    conversas de funcionrios, e nos momentos de pico foi conseqncia dos choros de

    RNs e alarmes de monitores (OTENIO et al., 2007).

    Estudo realizado com a equipe de enfermagem de um hospital de mdio

    porte do interior paulista objetivou verificar o conhecimento deste grupo sobre os

    rudos existentes em UTINs. Foi possvel verificar que 58,8% dos profissionais

    tinham conhecimento a respeito dos nveis de rudo e 82,3% mencionaram saber os

    efeitos causados pelo rudo no RN. Mais de 70% referiram ter conhecimento sobre

    preveno de rudos e 52,9% j haviam recebido informaes sobre essa temtica.

    De acordo com esses profissionais, as fontes de rudo que mais perturbam o

    ambiente so os equipamentos (41,1%), seguido de sons dos equipamentos

    somado as conversas (35,2%) (PALMA et. al., 2007).

    Porto (2008), a partir de reviso sistemtica da literatura, concluiu que os

    nveis sonoros verificados nos hospitais encontram-se, em determinados casos,

    acima dos nveis aceitveis pelas normas vigentes, constituindo um risco para a

    audio e para o bom funcionamento dos setores hospitalares. Verificou, ainda, que

    os maiores ndices de rudo so decorrentes do uso de equipamentos ruidosos e

    alguns procedimentos da equipe. Ressaltou a necessidade da implementao de

    programas de preveno junto aos profissionais expostos a tais NPS em ambientes

    hospitalares.

  • 47

    3 MTODOS

    3.1 Delineamento da pesquisa

    Estudo quantitativo, no-experimental, descritivo, exploratrio de dados

    obtidos na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) do Hospital Universitrio

    de Santa Maria/RS (HUSM).

    A pesquisa no-experimental realizada quando a varivel independente

    inerentemente no-manipulvel, ou nas quais no seria tico manipul-la. O

    delineamento no-experimental apropriado para estudos cuja finalidade a

    descrio (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).

    Os estudos descritivos tm como propsito observar, descrever e

    documentar os aspectos da situao (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004), ou ainda,

    descrever as caractersticas de determinada populao ou fenmeno (GIL, 1991).

    Os estudos exploratrios, na maioria dos casos envolvem, alm do

    levantamento bibliogrfico, entrevistas com pessoas que tiveram experincias

    prticas com o problema pesquisado e a anlise de exemplos que estimulem a

    compreenso (SELLTIZ, et al.; 1967 apud GIL, 1991).

    3.2 Aspectos bioticos

    Obedecendo Resoluo 196/1996, participaram deste estudo os

    profissionais e alunos bolsistas que atuam na UTIN, bem como os familiares dos

    recm-nascidos internados que concordaram em fazer parte da pesquis