indÚstria e desenvolvimento local: antigos...

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266 INDÚSTRIA E DESENVOLVIMENTO LOCAL: ANTIGOS PROBLEMAS E NOVA ABORDAGEM DA INDÚSTRIA CALÇADISTA DE FRANCA Hélio Braga Filho (Uni-FACEF) Márcio Benevides Lessa (Uni-FACEF) Matheus Lourenço Pupim (Uni-FACEF) 1 – O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DO BRASIL: BREVE RECORTE TEMPORAL No Brasil, até 1940, no campo concentrava-se mais da metade da população brasileira – segundo o IBGE (Estatísticas do Século XX) a população rural representava 68,8% e a urbana 31,2% da população total – enquanto a agricultura representava ainda o setor dinâmico da economia. Entretanto, no ano de 1930, o setor externo da economia do país sofreria forte abalo advindo da Grande Depressão resultante do Crash da Bolsa de Wall Street em New York, quando então, o desenvolvimento brasileiro baseado no modelo agrário – exportador, atingiu o seu limite, dando por sua vez, início a um novo ciclo de expansão e de desenvolvimento da economia sob o comando do setor industrial. Importa lembrar que o dinamismo da economia brasileira durante quatro séculos condicionou-se à dinâmica da demanda externa, a qual, por sua vez, foi decisiva para o desenvolvimento do país, caracterizando deste modo a influência dos ciclos econômicos. Três ciclos de longa duração caracterizaram o desenvolvimento do país: o primeiro, sob o impulso das exportações de açúcar (1530 – 1650); o segundo marcado pela extração do ouro (1700 – 1780); e o terceiro, sob o signo da expansão do café (1840 – 1930). (FURTADO, 1964). Convém, no entanto, mencionar que do impulso dinâmico advindo da demanda externa – sobretudo em se tratando da economia cafeeira baseada no trabalho assalariado – é que se desenvolveu no país o setor de mercado interno (SMI) derivado da propagação do fluxo de renda criado pelas exportações. Os gastos de consumo – compra de alimentos, roupas, serviços, etc – vêm a constituir a renda dos pequenos produtores, comerciantes, etc.

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INDÚSTRIA E DESENVOLVIMENTO LOCAL: ANTIGOS PROBLEMA S

E NOVA ABORDAGEM DA INDÚSTRIA CALÇADISTA DE FRANCA

Hélio Braga Filho (Uni-FACEF) Márcio Benevides Lessa (Uni-FACEF)

Matheus Lourenço Pupim (Uni-FACEF)

1 – O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DO BRASIL: BREVE RECORTE

TEMPORAL

No Brasil, até 1940, no campo concentrava-se mais da metade da

população brasileira – segundo o IBGE (Estatísticas do Século XX) a população rural

representava 68,8% e a urbana 31,2% da população total – enquanto a agricultura

representava ainda o setor dinâmico da economia. Entretanto, no ano de 1930, o

setor externo da economia do país sofreria forte abalo advindo da Grande

Depressão resultante do Crash da Bolsa de Wall Street em New York, quando então,

o desenvolvimento brasileiro baseado no modelo agrário – exportador, atingiu o seu

limite, dando por sua vez, início a um novo ciclo de expansão e de desenvolvimento

da economia sob o comando do setor industrial. Importa lembrar que o dinamismo

da economia brasileira durante quatro séculos condicionou-se à dinâmica da

demanda externa, a qual, por sua vez, foi decisiva para o desenvolvimento do país,

caracterizando deste modo a influência dos ciclos econômicos.

Três ciclos de longa duração caracterizaram o desenvolvimento do país: o primeiro, sob o impulso das exportações de açúcar (1530 – 1650); o segundo marcado pela extração do ouro (1700 – 1780); e o terceiro, sob o signo da expansão do café (1840 – 1930). (FURTADO, 1964).

Convém, no entanto, mencionar que do impulso dinâmico advindo da

demanda externa – sobretudo em se tratando da economia cafeeira baseada no

trabalho assalariado – é que se desenvolveu no país o setor de mercado interno

(SMI) derivado da propagação do fluxo de renda criado pelas exportações.

Os gastos de consumo – compra de alimentos, roupas, serviços, etc – vêm a constituir a renda dos pequenos produtores, comerciantes, etc.

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Estes últimos também transformam grande parte de sua própria renda em gastos de consumo. Não obstante, a soma de todos esses gastos terá necessariamente de exceder de muito a renda monetária criada pela atividade exportadora. [...] A massa de salários pagos no setor exportador vem a ser, por conseguinte, o núcleo de uma economia de mercado interno. (FURTADO, 1963).

Entretanto, o fluxo de renda criado pelas exportações (advindo da

dinâmica da demanda externa) ao mesmo tempo em que dava impulso ao SMI,

criava outros problemas para a economia brasileira, pois, aumentava o volume de

importações, produzindo, por sua vez, desequilíbrios no balanço de pagamentos.

Por outro lado, por estarem as exportações do país concentradas em produtos

primários – alimentos, produtos primários e matérias-primas – que são mais

sensíveis às flutuações de preços e de demanda, além de debilitarem os termos de

troca acabavam comprometendo a capacidade de importar do país.

Numa economia do tipo da brasileira do século XIX, o coeficiente de importações era particularmente elevado, [...] os desequilíbrios na balança de pagamentos eram relativamente muito mais amplos, pois refletiam as bruscas quedas de preços das matérias-primas no mercado mundial. (FURTADO, 1963).

Vale lembrar que enquanto as exportações brasileiras eram

constituídas na sua totalidade por produtos suscetíveis à quedas bruscas de preços

– até por volta de 1940-45 –, as importações eram pautadas em produtos cujos

preços eram menos sensíveis às flutuações, além de serem de maior valor. A crise

de 1929, motivou o governo brasileiro a repensar e reorientar o modelo de

desenvolvimento econômico até então vigente (agrário-exportador), uma vez que, a

economia do país, notadamente o seu setor dinâmico (SME), flutuava ao sabor das

oscilações da demanda externa e dos preços dos produtos primários, além do que a

economia dependia sobremaneira das importações de bens de consumo, bens de

capital, matérias-primas e insumos intermediários.

A lentidão e a irregularidade da propagação do progresso técnico

advindo da RI cujo impulso inicial fora mais intenso na Grã-Bretanha, nos Estados

Unidos e no Japão e, com distintos graus de intensidade no continente europeu,

possibilitaram a formação dos grandes centros industriais do capitalismo central. Por

sua vez, os países retardatários passariam a constituir a periferia do sistema

econômico capitalista.

268

[...] há uma tendência à concentração dos frutos do progresso técnico nas economias centrais, e o mecanismo pelo qual isto se dá é a deterioração das relações de troca. [...] crescer para fora continuadamente significaria aprofundar a tendência à deterioração das relações de troca. (CARDOSO DE MELLO, 1998).

A composição da pauta exportadora brasileira entre 1845 a 1945

retrata com indiscutível fidelidade o elevado teor de especialização da economia em

produtos oriundos do setor primário. A baixa produtividade do setor exportador de

alimentos e de matérias-primas da periferia contrastava com os elevados índices de

produtividade da indústria do centro, resultando, por conseguinte na deterioração

dos termos de troca.

A evidência deste fenômeno se manifesta no comércio internacional

através da composição das importações do país.

Tabela 1: Distribuição das importações brasileiras segundo categorias de uso (%).

ANOS BC BK MP / BI 1901-07 36,9 7,1 55,1 1919-23 19,9 11,5 68,6

1929 18,7 26,7 54,6 1937-38 13,3 23,7 63,0

1948 17,3 39,3 43,4 1955 9,3 27,2 63,5 1961 7,4 31,6 61,0

Fonte: BAER (1988) – Elaboração IPES NOMENCLATURA – BC: bens de consumo; BK: bens de capital; MP / BI: matérias-primas e bens intermediários.

A partir de 1929 as importações de bens de consumo iniciam contínuo

movimento (irregular) de redução, porém as importações de bens de capital,

matérias-primas e bens intermediários, descrevem trajetória exatamente contrária,

justificando desse modo a necessidade de reorientação do modelo de

desenvolvimento até então vigente no país. Assim, a opção adotada pelo governo

sob a tutela de Getúlio Vargas foi a industrialização que ao romper com o modelo

269

tradicional de dependência clássica inaugurou uma nova etapa do desenvolvimento

brasileiro.

A partir de então, a industrialização substitutiva de importações (ISI)

daria um novo impulso ao desenvolvimento do país ao promover em seu curso

importantes modificações de viés estrutural. Basta verificar que em 1939 a

agricultura que representava 25,8% e a indústria 19,4% do PIB, passariam a

contribuir com 15,3% e 33% respectivamente em 1973 no total do produto interno

nacional. Do mesmo modo, a força de trabalho até então concentrada nas atividades

primárias, deslocou-se continuamente para a indústria localizada nos grandes

centros urbanos. No âmbito da indústria de transformação, ocorreram significativas

modificações estruturais, posto que, enquanto as indústrias denominadas

tradicionais experimentavam progressiva redução na composição do produto

industrial, as indústrias modernas aumentavam consideravelmente sua contribuição.

Tabela 2: Brasil, modificações na distribuição do produto industrial (%)

INDÚSTRIAS 1920 1940 1950 1960 1968 Total das Ind. Modernas 12,3 23,9 25,5 40,2 49,9

Total das Ind. Tradicionais 79,4 64,0 56,8 43,3 34,7

Total outras Indústrias 8,3 12,1 17,7 16,5 15,2

Fonte: BAER (1988) – Elaboração IPES Ind. Modernas: Fabr. de Metal; Maquinaria; Equip. Elétrico; Equip. Transporte; Prod. Químicos e Farmacêuticos. Ind. Tradicinais: Fabr. Alimentos e Bebidas, Tabaco; Têxteis; Roupas; Sapatos; Madeira e móveis; Prod. de couro. Outras Indústrias: Papel e produtos de papel; produtos de borracha; minerais não-metálicos; indústria tipográfica e editorial.

Muito embora a ISI fosse suficientemente capaz de promover

substanciais mudanças estruturais na composição do produto da economia, na

estrutura da indústria de transformação, na ocupação da força de trabalho, na

estrutura de consumo e na composição da pauta de exportações do país, a mesma

não fora capaz de atenuar os desequilíbrios regionais, uma vez que, a

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industrialização na sua fase inicial adquiriu nítida convergência para o eixo Sul-

Sudeste, notadamente Rio – São Paulo, revelando desse modo o seu caráter

concentrador.

2 – O PROBLEMA DA AGLOMERAÇÃO INDUSTRIAL NO ESTADO DE SÃO

PAULO

O problema da localização e/ou da concentração de empresas

industriais em determinadas localidades cujo objetivo é a redução dos custos de

produção, é reconhecido enquanto recomendação tipicamente marshalliana, uma

vez que baseia-se nas possibilidades de obtenção de economias de escala ou de

economias externas.1

No caso de economias de escala a redução dos custos de produção é

obtida por meio do aumento da escala de produção o que requer por sua vez,

elevado grau de especialização, uniformidade e padronização dos produtos e amplo

mercado consumidor. Em se tratando de economias externas e/ou de aglomeração a

localização de empresas advém das vantagens que podem ser obtidas através da

disponibilidade de adequada e suficiente infra-estrutura econômica de apoio (IEA),

bem como, da existência de empresas complementares. Diante disto, podemos

admitir que a concentração de empresas industriais na RMGSP (Região

Metropolitana da Grande São Paulo) ocorreu num primeiro momento em razão das

possibilidades de obtenção de economias de escala e de economias externas.

Quanto às vantagens proporcionadas pelo aglomerado metropolitano, os manuais de economia demonstram e ilustram as economias de escala e economias externas proporcionadas a partir de um determinado nível e intensidade de concentração humana e material, na cidade. (RATTNER, 1979).

O problema da aglomeração de empresas e da conseqüente

concentração industrial, seja no eixo Sul-Sudeste, como, e principalmente no estado

de São Paulo, assume maior transparência quando retratado pelo Valor da

Transformação Industrial (VTI).

Os estados do Rio de Janeiro/Guanabara, Minas Gerais, São Paulo,

Paraná, Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, juntos contribuíam com 92,45%

271

(1969); 88,73% (1979); 87,67% (1989); 85,19% (1996) e com 79,56% (2006) do total

do VTI produzido pela indústria de transformação.

Contudo, do mesmo modo que se pode verificar em boa medida a

ocorrência de desconcentração industrial nessas mesmas regiões geográficas, esse

fenômeno também ocorreu no estado paulista. De 1969 até o ano de 2006 o estado

de São Paulo que detinha participação de 57,89% no VTI da indústria de

transformação no país, teve sua contribuição reduzida para 42,69% no ano de 2006.

Gráfico 1: Estado de São Paulo, participação relativa no VTI da indústria de

transformação (%) – 1969, 1979, 1989, 1996 e 2006.

272

57,89

53,71

50,90

54,26

42,69

40

42

44

46

48

50

52

54

56

58

60

1969 1979 1989 1996 2006

Par

t. R

elat

iva

no V

TI (

%)

Fonte: IBGE / PIA – Elaboração IPES.

A gradativa redução da participação do estado de São Paulo no VTI da

indústria de transformação do país colide com a diminuição da participação da

RMSP no VTI do estado.

Esse fenômeno advém do fato do interior paulista, notadamente as

regiões de Campinas, São José dos Campos, Ribeirão Preto e Sorocaba, ter sido

beneficiado pelos investimentos públicos e relocalização do investimento privado

que pelo que passou a ser denominado “interiorização do desenvolvimento”,

possibilitou que a participação da indústria de transformação do interior aumentasse

de 14,7% em 1970 para 22,5% no ano de 1985. (PACHECO, 1998 e CANO, 1998).

Muito embora a desconcentração industrial da RMSP seja decorrente

de outros fatores – reestruturação produtiva, guerra fiscal, etc – não se deve

descartar a possibilidade de que a urbanização desordenada combinada com o

problema de “deseconomias externas de aglomeração”, tenham contribuído para a

ocorrência desse fenômeno. Ocorre que se em dado momento a aglomeração de

empresas foi de alguma maneira induzida pelas possibilidades de redução de custos

derivadas das vantagens oferecidas pelas “economias externas e economias de

aglomeração”, em outro momento, os aumentos de custos para as empresas

somado às “externalidades” deixariam de funcionar como fator de atratividade.

273

Ao final dos anos de 1970 entre os principais problemas urbanos da

RMSP podemos destacar aqueles mencionados por Rattner (1979), quais sejam:

transportes; energia elétrica; água e esgotos; coleta de lixos; poluição do ar;

acidentes de trabalho; desocupação e delinqüência juvenil e condições de vida e

criminalidade.

3 – INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO: PROBLEMAS DA GRANDE E

PEQUENA EMPRESA

Antes mesmo de centrarmos a discussão em torno do problema do

tamanho das empresas, convém lembrar que ao final da década de 1970 o ciclo de

crescimento econômico sustentado por elevadas taxas de expansão do PIB

esgotou-se, a economia brasileira, por sua vez, mergulhou numa conjuntura de

instabilidade e estagnação. A junção de variado conjunto de fatores fez com que a

economia do país ingressasse num circuito marcado por recessões, inflação crônica

e persistente, aumento do endividamento interno público (governo federal),

sucateamento e atraso tecnológico da indústria, etc.

A taxa de crescimento do PIB que registrara a média anual de 8,4%

(1971-79), despencou para pífios 2,9% a.a. entre 1980-89. O abrupto aumento da

dívida externa de US$ 9,5 milhões (1972) para US$ 53,8 milhões em 1980 e US$

102,5 milhões em 1988, por orientação de fora para dentro (FMI), obrigou o país a

promover radical ajuste externo, o qual, por conseguinte, resultou da redução das

importações, impedindo que a indústria nacional pudesse e continuasse a adquirir

máquinas e equipamentos do exterior suscetível de promover a atualização

tecnológica e modernização do parque fabril.

Na segunda metade dos anos de 1990, o governo FHC aprofundou o

processo de abertura econômica juntamente com o ajuste pró-estabilização da

economia. A calibragem das medidas de política macroeconômica foram suficientes

para que as empresas industriais adotassem medidas radicais de ajustamento, o

que resultou de um profundo processo de reestruturação produtiva.

O ciclo recessivo e de estagnação decorrente da conjuntura

inflacionária que se instalou no país na década de 1980, além de ter provocado a

distorção dos preços relativos, prejudicou sem margem de dúvida o poder real de

274

compra dos trabalhadores assalariados (inflação x salário nominal), assim como,

inibiu a formação bruta de capital fixo (FBCF), mais precisamente os investimentos

privados, transferindo as inversões do circuito real da economia para a especulação

financeira.

A própria conjuntura inflacionária permitia que os empresários

industriais descarregassem com certa facilidade as tensões de custos, ineficiência,

preços administrados, etc, para o consumidor final. Com a estabilidade da economia

consolidada e posteriormente sustentada pela política de “target inflation” (metas

inflacionárias) junto ao aumento da concorrência (interna e externa), os empresários

industriais foram obrigados a se preocuparem muito mais com os custos de

produção produtividade, qualidade dos produtos, inovação, etc.

Na medida em que a firma é definida como um lócus de acumulação de capital, crescimento e lucros aparecem como objetivos complementares. Pode-se afirmar que os lucros são necessários para o crescimento da firma e que o crescimento é necessário para a manutenção e o aumento dos lucros. De fato, quando se reconhece a impossibilidade de utilização ilimitada de financiamento externo pela firma, sua taxa de crescimento fica condicionada por sua taxa de lucro; por outro lado, a sobrevivência da firma – e sua capacidade de gerar lucros – depende de sua posição na indústria e, portanto, de sua taxa de crescimento.2 (GUIMARÃES, 1987).

Do ponto de vista macroeconômico a acumulação de capital equivale à

parcela do produto da economia que (subtraído o consumo) é poupada, enquanto

sob a ótica microeconômica corresponde à poupança das empresas (lucros não

distribuídos) que é empregada para ampliar a capacidade produtiva e/ou destinada à

renovação do capital depreciado.

Ainda no que diz respeito à industrialização do país, cabe mencionar o

fato de que além da ISI ter promovido expressiva concentração de empresas no eixo

Rio – São Paulo, a indústria, era basicamente, constituída por unidades de porte

reduzido.

Verifica-se ser de proporções bastante reduzida a maioria das empresas, fato esse que não se alterou nos 10 anos decorridos entre 1950 e 1960. As grandes companhias empregam, porém, parcela muito maior de mão-de-obra do que as pequenas empresas e fornecem proporção igualmente mais avantajada da produção total. Todavia, esses agregados escondem diferenças existentes por classe de indústria. Por exemplo, na siderurgia e, especialmente na indústria automobilística, predominam as firmas grandes. [...] Predominam ainda no Brasil as firmas individuais ou pertencentes a famílias.

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Algumas delas [...] são gigantescos combinados de muitas empresas criadas por empreendedores dinâmicos e dotados de iniciativa, enquanto outras não passam de empresas pequenas e extremamente conservadoras. (BAER, 1988).

De fato as empresas de maior porte além de contribuírem com parcelas

consideravelmente maiores na geração do produto industrial, são elas mesmas que

empregam proporções também significativas da força de trabalho. Também é de se

supor que as empresas industriais de maior porte sejam mais dinâmicas, inovadoras,

dotadas de uma relação capital / produto (K / Y) bem superior às demais e, que

ainda detém certas vantagens sobre aquelas de porte reduzido. Muito embora a

descrição feita por Baer seja de caráter mais geral a respeito da indústria de

transformação brasileira, notadamente sobre as grandes empresas, quadro

semelhante é analisado por Rattner em relação aos estabelecimentos industriais

localizados no estado de São Paulo em diferentes anos entre as décadas de 1950 a

1970.

Tabela 3: Concentração de mão-de-obra em estabelecimentos industriais do Estado

(%)

1950 / 1951 1960 / 1961 1970 / 1971 Classes

Segundo número de empregados

Estab. % Empr. % Estab. % Empr. % Estab. % Empr. %

0 – 5 57,20 6,40 69,96 6,97 67,97 5,70 5 – 50 35,50 24,20 24,84 19,43 26,07 18,25 50 – 100 3,40 10,10 2,27 8,84 2,44 8,41 100 – 500 3,20 28,70 2,42 28,99 2,90 30,28 500 – 1000 0,40 12,40 0,30 11,36 0,39 13,25 + de 1000 0,20 18,20 0,21 24,41 0,23 24,11 Fonte: Rattner (1979) – Elaboração IPES.

Quando comparamos o período 1960 / 61 com o seu subseqüente

1970 / 71, as mudanças que ocorreram na concentração de mão-de-obra segundo

as classes de tamanho dos estabelecimentos industriais, foram muito tênues, no

entanto, se examinarmos 1950 / 51 com o último biênio, constatamos significativa

concentração de mão-de-obra nos estabelecimentos de maior porte.

Levando em conta que o ritmo de acumulação de capital combinado

com a velocidade da inovação tecnológica e a concorrência inter-empresas no

mercado doméstico e no internacional configuravam o que Rattner considerava

276

como “tendência central e fundamental de nosso sistema econômico”, podemos

imaginar que as empresas de maior porte estariam muito mais bem equipadas do

que aquelas de porte reduzido para o enfrentamento dessa mesma tendência.

A aplicação de uma tecnologia mais capital-intensiva leva a um aumento da produtividade do trabalho, como conseqüência de um maior domínio de equipamentos e processos (Know-how) pelos operários. Produzindo-se mais, com relativamente menos mão-de-obra, tende-se a aumentar as escalas de produção e aumenta-se, também, o número médio de empregados por empresa. No período de “vacas gordas”, a euforia geral é compreensível pela expansão geral do sistema: todas as empresas – pequenas médias e grandes – sobretudo estas últimas, crescem por meio de concentração, ou seja, ocorre um processo intenso de acumulação de capital. Cresce a produção, os mercados se expandem e assim, também as pequenas empresas conseguem uma fatia de mercado, já que a pressão da concorrência não é tão sentida. [...], assim como em 1963, também em 1974 o processo de acumulação de riqueza social estancou ou diminuiu sensivelmente, desencadeando a descapitalização e enfraquecimento das empresas menores e bem organizadas. [...] Nessa fase de contrações da demanda e da produção, aumentam as dificuldades nas vendas e agrava-se a concorrência intra-setorial, ao ponto em que as pequenas empresas não resistem e acabam se fundindo ou sendo absorvidas pelas grandes. (RATTNER, 1979).

Em razão da tendência do sistema econômico anteriormente

assinalada e da própria instabilidade da economia, sobretudo dos ciclos de

contração da atividade econômica, podemos supor que as grandes empresas

industriais poderiam por ordem diversa de motivos produzir tamanha pressão

competitiva sobre as de menor porte que essas últimas seriam em boa medida

extintas do mercado. Todavia, convém lembrar que nos períodos de expansão geral

da economia empresários podem surgir aos magotes como afirmara Schumpeter. As

empresas de menor porte nos ciclos recessivos seriam submetidas a situações

bastante difíceis o que poderia ainda mais comprometer a sua permanência no

mercado.

É neste período que aumenta o número de protestos, concordatas e falências, índices do termômetro do sistema econômico. Parece bastante evidente que estamos atravessando a fase de recessão do ciclo econômico, em que se multiplicam os sinais de acirramento da concorrência, da descapitalização de pequenas e médias empresas, de diminuição dos níveis de produção, [...]. Importa frisar, todavia a tendência imperiosa em direção à racionalização e modernização das empresas, como condição essencial para a sobrevivência. Na luta pelo mercado minguante, defender-se-á melhor a empresa apta a inovar, isto é, a introduzir tecnologia poupadora de mão-de-obra, com conseqüente redução de custos e elevação de lucros. Novamente, é a grande empresa que estará em condições mais favoráveis de

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acesso a inovações tecnológicas e de obter recursos para investir [...]. Daí o aparente paradoxo – as grandes empresas continuam a crescer e a se expandir, mesmo em períodos de recessão ou de diminuição relativa das atividades econômicas. (RATTNER, 1979).

A tendência à racionalização e modernização das empresas,

notadamente a introdução de tecnologia inovadora e poupadora de mão-de-obra no

ciclo econômico recessivo, aproxima-se do que Marx denominou “mudanças na

composição orgânica do capital”, a qual, por sua vez, contribuiria para maior

concentração de capital e aumento do desemprego estrutural.

Entretanto, o preço a pagar pela racionalização e modernização, por meios de fusões, incorporações e absorção de empresas menores, é um aumento paulatino do desemprego tecnológico, cujas vítimas irão engrossar os contingentes do subemprego e do desemprego estrutural. [...] No decorrer do processo de industrialização, com a ampliação e diversificação de todas as atividades econômicas, são criadas condições propícias para aquelas empresas capazes de realizar “economias de escala”. Essas empresas, por disporem de maiores recursos financeiros, têm acesso fácil à tecnologia moderna e, assim, a um equipamento mais eficiente, reunindo também contingentes crescentes de mão-de-obra e capital sob seu controle. (RATTNER, 1979).

Diante disto, podemos inferir que no ciclo econômico de expansão há

uma tendência favorável de ampliação da acumulação de capital, que se materializa

inclusive pelo surgimento de novos empresários em razão das perspectivas de

obtenção de lucros, contudo, no ciclo econômico recessivo o acirramento da

concorrência e a tendência à racionalização e inovação acrescidas dos processos

de fusões e incorporações, conduzem inevitavelmente o sistema econômico a uma

maior concentração.

Com o início do período de recessão (1963 e 1974), verifica-se uma retração paulatina do mercado comprador e, em conseqüência, dos níveis de produção e de serviços. As pequenas e médias empresas não somente não crescem mais, como muitas são obrigadas a cerrarem suas portas ou, na melhor das hipóteses, a procurarem em fontes externas recursos financeiros para capital de giro, reequipamento, racionalização administrativa, etc. Inevitavelmente, para não serem eliminadas do mercado, terão que procurar a associação com empresas mais poderosas, isto é, com mais capital e acesso à tecnologia moderna, nacionais ou estrangeiras. É neste período de recessão, também, que a “mortalidade infantil” das empresas se eleva rapidamente, conforme bem o comprovam os dados sobre protestos, concordatas e falências ou , simplesmente, o

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encerramento das atividades de um grande número de empresas, pequenas e médias na RMGSP. (RATTNER, 1979).

Cabe-nos ponderar que Rattner está analisando os agregados da

indústria de transformação e não segmentos específicos desse macro setor da

atividade econômica, uma vez que, devemos levar em conta que os subsetores que

integram a indústria tradicional e a indústria dinâmica, possuem características muito

particulares e, estão inseridos em diferentes estruturas de mercado. Assim, o

problema da mortalidade das empresas, principalmente para as de porte reduzido é

mais grave e complicado face as inúmeras restrições a que estão sujeitas.

4 – INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO NO BRASIL: REFLEXÕES A PARTIR

DAS CONTRIBUIÇÕES DE STEINDL

O reduzido porte da maioria das empresas industriais assinalado

anteriormente por Baer (1988) também foi detectado em outros segmentos na fase

inicial da industrialização do país.

No que se refere à composição do produto industrial, os setores Têxtil e de produtos alimentares predominam amplamente, na fase inicial do desenvolvimento da indústria: no Censo Industrial de 1920, esses dois gêneros eram responsáveis por quase 60% do valor adicionado na indústria de transformação. Se acrescenta a produção de outros bens não-duráveis de consumo como Vestuário, Calçados e Bebidas, aquela proporção chega a 70%. No entanto, as indústrias de Alimentos, Vestuário, Calçados e Bebidas eram nesse período, constituídas principalmente de estabelecimentos de pequena escala, utilizando métodos de produção semi-artesanais. (VERSIANI & SUZIGAN, 1990).

Com base no “Inquérito Industrial de 1907” (Versiani & Suzigan, 1990),

verificamos que os gêneros que apresentavam maior número de operários por

estabelecimentos eram os de fabricação de fósforos (221); fiação e tecelagem (268);

fabricação de charque (145) e construção naval (213), enquanto o segmento de

fabricação de calçados empregava em torno de 62 operários por estabelecimento.

Muito embora as plantas industriais de maior porte configurem certas vantagens

como a de oferecer avantajada proporção da produção total, bem como, de

empregar parcela bem maior da força de trabalho do que as empresas de reduzido

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porte como assinalara Baer, é oportuno tecer algumas considerações a respeito das

pequenas empresas. Para isto, selecionamos as contribuições que julgamos

relevantes a respeito das pequenas empresas analisadas por Steindl.3 Apesar do

autor analisar a questão relacionada ao tamanho das empresas sediadas nos

Estados Unidos da América entre as décadas de 1930 a 1940, admitimos que em

alguma medida, os aspectos teóricos mais gerais inerentes às empresas de

pequeno porte, sejam ainda recorrentes nos dias atuais.

4.1 – Limitações ao Crédito

Contrariando Marshall, Steindl observa a existência de consideráveis

restrições ao crédito para pequenos empresários.

Contrariamente à pressuposição de Marshall, há na verdade, limitações muito estritas ao crédito, especialmente aos empréstimos feitos por pequenos empresários. Na prática, cabe em primeiro lugar ao credor agir no sentido de limitar o endividamento proporcional da empresa. [...], verifica-se que a percentagem das empresas que alegam dificuldades de crédito aumenta fortemente com a razão entre a dívida e o capital próprio. [...], todas as evidências mostram que os obstáculos ao crédito de pequenas empresas são particularmente difíceis de superar. (STEINDL, 1990).

O grau de endividamento calculado pela razão entre os ativos de uma

empresa e o capital por ela investido no empreendimento (I’ / C) quando atinge um

patamar acima dos limites aceitáveis, tornam o risco do crédito bem maior o que na

teoria econômica é conhecido como “princípio do risco crescente”. No que diz

respeito às pequenas empresas os fatores que contribuem para que o seu

endividamento se agrave, estão relacionados àqueles provenientes das despesas

com aluguel (pois, podem se reverter em custo fixo) e das dívidas de curto prazo.

4.2 – Mortalidade das Empresas

280

Em razão dos prejuízos serem mais freqüentes nas pequenas

empresas a elevada taxa de mortalidade dessas empresas é corroborada pelos

resultados obtidos através de várias investigações acerca desse problema.

Há evidências que mostram que os prejuízos são mais freqüentes, e mais sérios, e que de fato a mortalidade é mais elevada no caso das pequenas empresas. [...] Um estudo da mortalidade de empresas industriais no Estado de Minnesota parece sugerir que a taxa de mortalidade é tanto maior quanto menor for o capital do empresário. (STEINDL, 1990).

Convém relembrar que nos ciclos de expansão da economia a pressão

competitiva se torna menos nociva para as pequenas empresas, conquanto nas

fases de retração e/ou recessivas as perdas se tornam mais agudas para essa

classe de empresas, ainda mais pelo fato dessas firmas muito provavelmente,

assumirem na perspectiva de uma taxonomia da indústria a classificação de “firmas

marginais”, que é uma das características das indústrias competitivas.

A despeito da ausência de economias de escala, das restrições ao

crédito, dos ciclos econômicos desfavoráveis, do acirramento da concorrência, da

tendência à modernização via inovações tecnológicas, etc, estaríamos inclinados a

supor que as empresas de menor porte dificilmente conseguiriam se manter no

mercado, principalmente, pelo fato da taxa de mortalidade nessa classe de

empresas ser ainda mais elevada.

4.3 – Deseconomias na Administração e Organização d a Empresa

A suposta vantagem ou, mesmo superioridade das pequenas sobre as

grandes empresas baseada no trade-off “burocracia X flexibilidade” segundo Steindl,

tem pouco significado prático. A esse respeito, é oportuno observar que mais

recentemente, o intenso processo de reestruturação produtiva imposto pela Terceira

Revolução Industrial juntamente com a globalização das economias e dos mercados,

fora marcado sobremaneira pela redução dos níveis hierárquicos (downsizing). Além

disso, o crescente emprego da informática na administração promoveu considerável

redução do custo direto das empresas face a diminuição do pessoal não-ligado à

produção e da prática intensiva da terceirização.

281

4.4 – Existência da Concorrência Imperfeita

Diante do elenco de fatores não favoráveis às pequenas empresas, as

imperfeições de mercado constituem situação deveras propícia a essa categoria de

empreendimento. A esse respeito, Steindl assinala:

Esta pode claramente levar à inferioridade da grande empresa, na medida em que precisar ampliar seu mercado apenas no mesmo ramo. Mas deve-se levar em conta que esta grande empresa pode entrar em outras linhas de produtos. Isto pode, entretanto, envolver certos custos iniciais (que em parte dependem também de imperfeições, como é o caso da publicidade) fazendo com que o “empresário” tenha que lidar com uma variedade de linhas, que ele não pode conhecer tão bem como sua própria, e isto pode vir a aumentar o seu risco. (STEINDL, 1990)

Nesse caso podemos supor que diante da impossibilidade da grande

empresa ampliar seu mercado a não ser no mesmo ramo – o que a levaria a

diversificar o seu mix de produtos – não somente os custos iniciais é que

representariam algum risco para o empresário. Ocorre que uma maior variedade de

linhas poderá de alguma forma comprometer a eficiência da empresa, pois: a) o

empresário passa a lidar com um mix de produtos que ele próprio desconhece; b)

uma variedade maior de linhas pode significar a inclusão de produtos fabricados em

menor escala e de processos menos uniformizados; c) um mix mais diversificado de

produtos pode não ocupar de forma satisfatória a capacidade instalada da própria

empresa; d) a produtividade pode em alguma medida reduzir-se; e e) os custos e

despesas podem aumentar mais que proporcionalmente à receita gerada pelas

novas linhas de produtos.

Entretanto, admitindo o suposto de que sendo a firma segundo

Guimarães, “um lócus de acumulação de capital e que os lucros são necessários

para o seu crescimento”, ao lidar com maior variedade de linhas, o empresário,

deverá provavelmente, eliminar aquelas menos rentáveis e manter por determinado

tempo as linhas de produtos mais rentáveis.

4.5 – Economias de Escala e o Princípio das Transaç ões a Granel

282

A produção em grande escala e a produção em pequena escala para

Steindl “(...) freqüentemente equivale à escolha entre um produto padronizado mais

barato de um lado e a ‘individualidade ou variedade’ do outro”. (STEINDL, 1990).

Diante dessa assertiva podemos assumir que a hipótese de obtenção

de economias de escala para as pequenas empresas (dado o reduzido capital que

nelas é investido) deva ser provisoriamente rejeitada. Logo, se isto for verdadeiro,

então a escolha – entre grande e pequena escala em se tratando de empresas de

menor porte – que em tal circunstância mais se ajusta ou, se torna a única e viável, é

a da “individualidade” ou da “variedade”.

Contudo, supondo a priori não ser possível a obtenção de economias

de escala na produção entre as pequenas empresas, Steindl assinala uma

alternativa oferecida pelo professor Sargant Florence que está contida no “Princípio

das transações a granel”.

[...] verifica que o custo de lidar com grandes quantidades freqüentemente não é maior do que o de lidar com quantidades menores – ou seja, que não é proporcionalmente maior [...], não é apenas o maior tamanho do estabelecimento que gera as economias de escala; a combinação de diversos estabelecimentos dentro de uma empresa também constitui uma importante fonte das mesmas. Uma razão disso reside nas economias conseguidas através da compra de materiais e da venda dos produtos (casos em que se manifesta o princípio das transações a granel). Devido a isso, a produção de vários bens pode freqüentemente ser combinada dentro de uma única empresa, principalmente se se tratar de produtos oriundos de, ou convergido para um único e mesmo processo. No primeiro caso, a compra conjunta e, no segundo, a venda conjunta irá gerar economias de escala. (STEINDL, 1990).

Segundo as proposições fundadas nesse princípio, a obtenção de

economias de escala – através da compra e da venda conjuntas e até mesmo por

meio da produção – para empresas de menor porte constitui importante alternativa

para a redução de custos, corroborando, por conseguinte a hipótese provisória e

anteriormente rejeitada.

Entrementes, Steindl aponta para a existência de uma vantagem que

somente as grandes empresas dela podem usufruir dado o seu elevado custo.

Existe porém, um campo específico no qual as economias de escala só podem ser conseguidas por empresas muito grandes. Trata-se do campo da pesquisa tecnológica. As vantagens e a superioridade que ela pode conferir a uma empresa sob a forma de patentes, etc., são

283

óbvias. Seus custos, porém são de tal monta que só estão ao alcance de empresas muito grandes. (STEINDL, 1990).

Ainda que as menores empresas destinem alguma parcela da sua

receita às atividades de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), é oportuno considerar

que o risco associado ao elevado custo decorrente do registro de patentes, confere

superior vantagem às grandes empresas, mesmo porque, a pesquisa tecnológica

assume tamanha magnitude que incorpora-la ao circuito do capital requer sobretudo

economias de escala.4

No campo da inovação na indústria brasileira (VIOTTI, BAESSA e

KOELLER, 2005) comparando empresas nacionais e estrangeiras no Brasil (1998 –

2000) quanto à proporção do número de empresas, a participação na receita líquida

de venda (RLV) e taxas de inovação, constataram que:

As empresas industriais brasileiras de capital estrangeiro apresentam taxa de inovação de 62%, que é o dobro da taxa das empresas de capital nacional (31%). Grande parte da superioridade da taxa de inovação das empresas de capital estrangeiro pode ser explicada pelo fato de essas empresas estarem fortemente concentradas nos estratos de empresas de maior porte. A taxa de inovação da indústria brasileira cresce significativamente com o tamanho das empresas (pequena, 27%; média, 46%; e grande, 65%), como, de resto, ocorre nos demais países5(...). No segmento das grandes empresas da indústria brasileira, as diferenças de taxas de inovação entre nacionais (61%) e estrangeiras (79%) são proporcionalmente bem menores. Como 99% das empresas de pequeno porte são de capital nacional e apenas 1% destas são de capital estrangeiro, a performance inovadora da empresa nacional é profundamente afetada por sua concentração no estado de pequenas empresas, que são as que apresentam menor taxa de inovação. (VIOTTI, BAESSA e KOELLER, 2005).

Diante desta evidência mais recente a respeito da inovação na

indústria brasileira podemos admitir que a afirmação feita por Steindl ainda se

confirma para o caso do Brasil.

4.6 – Concorrência Imperfeita e Custos

284

Embora à grande empresa tenha sido conferido em boa medida

significativas vantagens, comparativamente às empresas de menor porte, Steindl

observa que a imperfeição do mercado constitui via de regra vantagem a essa

segunda classe de empresas. Ocorre que a imperfeição de mercado ao mesmo

tempo que é um óbice às economias de escala pode de acordo com Steindl (1990)

manifestar-se sob outras formas como sugere:

• Preços mais baixos para a empresa maior; • Maiores custos unitários de comercialização (ex. custos de publicidade); • Maiores custos de produção devido a menor grau de utilização da capacidade instalada; e • Custos adicionais determinados pela produção de várias linhas num mesmo estabelecimento, ou numa única empresa (empresa multiproduto).

Não bastassem os problemas decorrentes do aumento dos custos em

razão da subutilização da capacidade instalada (aumento da ociosidade) e da

produção de várias linhas numa mesma empresa – além das outras formas -,

convém mencionar que a distribuição desigual da renda juntamente com o baixo

rendimento médio individual, reduzem a amplitude do consumo. Por sua vez,

devemos, no entanto, considerar que produtos / segmentos da indústria menos

sensíveis a preços e mais dependentes da escala de produção e produtos / gêneros

da indústria mais sensíveis a preços e que ainda a escala de produção não é

possível, podem favorecer consideravelmente as empresas maiores em detrimento

das pequenas empresas.

Isto ocorre porque há ramos dominados por grandes empresas, principalmente em decorrência de economias de escala, nos quais o poder de monopólio mantém elevados os preços em relação aos custos, tornando correspondentemente altos os lucros, enquanto que, nos ramos em que predominam as pequenas empresas e prevalecem condições “competitivas”, os preços são baixos em relação aos custos, e os lucros são também correspondentemente mais baixos. (STEINDL, 1990).

No que diz respeito a economia de escala, custos em relação às

vendas e preços e poder de oligopólio, em determinadas situações predominam

nítida vantagem em favor das grandes empresas, enquanto sob outras

circunstâncias, prevalecem vantagens às pequenas empresas como observara

Steindl (1990).

285

Com um aumento no tamanho, as economias de escala tendem a reduzir os custos em relação às vendas, e o poder de oligopólio tende a aumentar os preços e, portanto, o valor das vendas, em relação aos custos. Por sua vez, a imperfeição do mercado tende a reduzir os preços, e a aumentar os custos das empresas maiores em relação aos das menores. Se denominarmos o custo total π e o valor das vendas S, então S / π – 1 será a margem líquida do lucro expressa em proporção ao custo. Essa margem líquida de lucro cresce com o aumento do tamanho da empresa, na medida em que os efeitos da imperfeição do mercado forem sobrepujados pelos efeitos dos dois outros fatores (...).

Levando em conta que as atividades de P&D (pesquisa industrial)

contenha diferentes objetivos, tais como, inovação de produtos e de processos,

novos mercados, inovação em gestão, etc; principalmente a redução de custos, é a

priori possível admitir que a grande empresa opere com margem líquida de lucro

significativamente maior. Isto porque a vantagem alcançada com a obtenção de

escala assinalada por Steindl somada ao que constataram Viotti, Baessa e Koeller –

a taxa de inovação cresce significativamente com o tamanho – contribuiriam

decisivamente para que a diferença entre custos e o valor das vendas ampliassem

consideravelmente o poder de oligopólio das empresas maiores em detrimento das

pequenas. No entanto, a imperfeição de mercado beneficiaria a pequena empresa

em detrimento da empresa maior.

5 – A INDÚSTRIA DE CALÇADOS DE FRANCA

Por mais de quarenta anos a indústria de transformação sediada no

município de Franca, registrou entre as décadas de 1940 a 1985 crescente

participação no PIB municipal, passando de 24,6% em 1949 para 61,1% no ano de

1985. No entanto, daí em diante e de forma irregular a sua contribuição no PIB vem

sendo progressivamente reduzida enquanto os macrosetores do comércio e dos

serviços seguiam em rítmo de contínua expansão.

Mesmo assim, no âmbito da indústria de transformação local

destacava-se o segmento de fabricação de calçados, pois em boa medida,

contribuiu para que entre 1970 a 1985, fosse possível ocorrer considerável aumento

do tamanho dos estabelecimentos que passou de 27,3 para 46,6 pessoas ocupadas.

286

O impulso econômico do município traduzido principalmente pela

expansão da atividade de fabricação de calçados entre 1950 a 1980 – que é

intensiva de mão-de-obra –, atraiu considerável fluxo de migrantes, contribuindo

para que a população total aumentasse de 53.485 para 148.505 habitantes

respectivamente. Esse salto verificado em termos de crescimento populacional

estava diretamente associado ao aumento do número de fábricas, assim como, em

razão da expansão da produção de calçados.

A explicação para tal fato reside nos altos índices de produção de calçados que, nos anos de 1960, chegam a dobrar. A indústria experimentou uma verdadeira febre de produção. Fábricas instalaram-se por toda parte fazendo com que o parque industrial crescesse de maneira desordenada. [...] Segundo a F. I. B. G. E., na década de 1960 Franca possuía 73 indústrias de calçados com 2.517 operários e no ano de 1970 já contava com 14.286 trabalhadores entre operários do calçado e outras atividades afins. (GARCIA, 1997).

Basta verificar que de acordo com Garcia segundo dados da F. I. B. G.

E. (Censos Industriais de 1960 e 1970) a produção de calçados em Franca saltou de

1.117.126 pares em 1950 para 7.200.000 pares no ano de 1967, ou seja, um

aumento da ordem de 544% no período. Nesse mesmo período a produção média

mensal (1950) de 93.093 pares saltara para 600.000 pares mensais já no ano de

1967. A expansão da produção não parou por aí, ao contrário, seguiu em forte

movimento de expansão até por volta de 1984, mesmo porque, nesse mesmo ano o

“Censo Industrial” organizado e realizado pelo Sindicato da Indústria de Calçados de

Franca sob o comando do empresário José Carlos Brigagão do Couto, registrara que

a indústria calçadista detinha em seu conjunto capacidade produtiva mensal de mais

de 3.000.000 de pares mensais. Esse expressivo aumento da capacidade produtiva

instalada da indústria de calçados foi obtido simultaneamente pelo aumento do

número de estabelecimentos combinado com o crescimento das menores e médias

empresas que ampliaram consideravelmente suas respectivas plantas industriais.

Todavia, esse ritmo de acumulação de capital não deve ser visto como fenômeno

exclusivo desse período mais recente.

Nos anos de 1940 ainda não havia um pólo calçadista em Franca, desenhava-se. A população urbana no início da década totalizava quase metade dos habitantes do município e a cidade acompanhava as mudanças que ocorriam na estrutura econômica nacional: o crescimento das indústrias superava o da agricultura e o País não

287

dependia essencialmente das lavouras de café para gerar riquezas e sobrevivência. (COUTINHO, 2008).

Tal inferência não tão somente confirma como reforça o que foi

anteriormente assinalado a respeito da contribuição do segmento industrial na

composição do PIB do municipal.

O empreendimento lastreado no conhecimento das técnicas e na força de trabalho, carente de recursos financeiros – uma característica da fabricação de calçados em Franca desde 1900 –, ampliou-se geometricamente. Consolidou-se o ciclo que perdura até hoje: o de trabalhadores transformarem cômodos da casa em oficina, inspirados no êxito de indústrias da mesma origem. [...] Novos fabricantes surgem em profusão a partir de 1940; são ex-operários na maioria, com cerca de 26 anos de idade na média geral, além de filhos ou parentes de antigos artesãos. [...] Paralelamente à multiplicação progressiva de fabricantes em Franca é no decorrer desse decênio que São Paulo e Rio de Janeiro começam a perder a liderança da produção nacional de calçados, declínio que se completa nos anos 60. (COUTINHO, 2008).

De fato, nesse gênero da indústria tradicional a carência de recursos

financeiros é de alguma maneira superada pelas facilidades advindas da obtenção

de know-how adquirido por aquilo que Benko (1996) designou como tecnologia

derivada de um certo “savoire-faire”. Independente de tecer qualquer predicativo a

esse respeito é oportuno lembrar que a evolução dessa indústria à categoria de

“pólo industrial” e do posterior status de “aglomeração industrial” somente foi

possível graças ao pioneirismo de empreendedores dinâmicos e arrojados.

No entanto, a gênese da indústria calçadista de Franca em nada difere

do padrão descrito por Baer (1988) e como por Suzigan Versiani (1990) em relação

à indústria no Brasil.

[...], encontramos a origem do empresariado do calçado em modestos empreendimentos iniciados por artesãos e pequenos comerciantes. Em Franca, o grande capital esteve ausente da formação da indústria do calçado, somente se fazendo presente a partir dos anos 1960, quando o setor já se encontrava plenamente consolidado no município. [...] Mesmo se considerarmos os setenta anos entre 1900 e 1969, ou seja, todo o período de origem, evolução e consolidação da indústria do calçado de Franca, chegando até a época em que se iniciou a fase exportadora, ainda assim não encontraremos uma presença significativa de empreendimentos iniciando seus negócios já como médias empresas; pelo contrário, sua presença é insignificante. Analisando o capital inicial das 562 fábricas de calçados registradas em Franca nas sete primeiras décadas do século XX, constatamos o evidente predomínio das empresas que

288

iniciaram suas atividades de maneira bastante modesta. (BARBOSA, 2006).

Posto dessa forma é cabível admitir que o reduzido tamanho dos

estabelecimentos industriais fabricantes de calçados combinado com a baixa

produtividade do trabalhador não teria possibilitado a obtenção de vantagens

provenientes de economias de escala.

[...] a indústria calçadista local teve como característica fundamental a evolução gradativa da fase artesanal, passando à manufatureira, para depois de quase meio século alcançar o estágio de grande indústria. (BARBOSA, 2006).

Para compreender melhor estas passagens, ou seja, do artesanato à

manufatura até atingir o estágio de indústria, procuramos na Teoria Econômica,

especialmente no terreno da Economia Industrial fundamentação passível de

explicar esse mesmo processo. Assim, procuramos sintetizar a evolução dos

conceitos de empresa e de indústria adotando como referência a abordagem

elaborada por Dantas, Kertsnetzky e Prochnik (2002)6. Esses autores analisam

como a empresa evoluiu no tempo modificando a si mesma e o seu próprio conceito,

sendo que essas alterações seguem uma ordem cronológica cujo ponto de partida é

a empresa examinada na tradição da Escola Clássica. Em seguida, o conceito de

empresa submete-se às formulações propostas pelo modelo neoclássico, para na

seqüência incorporar os pressupostos da corrente institucional e da corrente

gerencialista. Finalmente, o conceito de empresa da visão neoschumpeteriana evolui

até as configurações mais recentes de Cadeias Produtivas e Complexos Industriais.

Sendo assim, de forma bem sintetizada destacamos os aspectos mais gerais do

conceito de empresa segundo as contribuições advindas de diferentes escolas no

âmbito da Economia Industrial.

289

Quadro 1 : Evolução do conceito de empresa

ESCOLA / VISÃO CONCEITO DE EMPRESA • CLÁSSICA Mesmo no século XIX, as primeiras empresas industriais (...) são

empresas familiares ou sociedades de natureza jurídica simples, não separando a responsabilidade do patrimônio familiar dos compromissos assumidos pelas empresas. Neste sentido, a empresa da escola clássica se identifica com o capitalista, (...).

• NEOCLÁSSICA É vista como um agente que toma decisões de produção (curto prazo) e de escolha do tamanho da planta (longo prazo), (...). As escolhas individuais das empresas são governadas pelo objetivo de maximização de lucros, que corresponde à quantidade produzida que proporciona os maiores lucros dentre o conjunto de quantidades que uma planta permite produzir (curto prazo), ou à escolha da planta ótima, a que permite obter a maior lucratividade (...).

• EMPRESAS COMO INSTITUIÇÃO (Coase)

(...), a empresa é vista como um arranjo institucional que substitui a contratação renovada de fatores no mercado por uma outra forma de contratação, representada por um vínculo duradouro entre fatores de produção.

• GERENCIALISTA Um elemento chave na configuração dos modelos desta corrente refere-se à separação entre propriedade e controle, uma nova característica organizacional das empresas ao introduzir a figura do gerente profissional representando seu corpo executivo. Estes executivos, por sua vez, possuem objetivos próprios, não necessariamente coincidentes com os interesses dos acionistas proprietários.

• NEOSCHUMPETERIANA (...) as empresas se comportam de acordo com rotinas cristalizadas através de sua experiência, que possuem o papel de coordenar a atividade interna dos membros da empresa, ao mesmo tempo em que encerram o conhecimento da organização, à semelhança de um código genético.

Fonte: DANTAS, KERTSNETZKY e PROCHNIK (2002) – Elaboração IPES.

De acordo com as características mais gerais dessas escolas e

correntes da Teoria Econômica compartimentadas no núcleo da Economia Industrial,

podemos admitir que as empresas calçadistas de Franca – considerando as suas

particularidades – evoluíram da empresa clássica para o formato de Empresa

Verticalmente Integrada. No limite, possibilitaram que um formato mais arrojado de

indústria pudesse emergir no próprio município, pois à medida que novas fábricas

surgiam, outras já existentes, ampliavam suas próprias instalações, criando por

assim dizer, demanda interindustrial considerável, que gradativamente se expandia

com o aumento da capacidade produtiva instalada e da produção.

No entanto, consideramos relevante e oportuno sobressair que se entre

outras tantas causas, a desigualdade possa ser inclusive produto da coexistência

simultânea de tempos cronológicos, e históricos diferentes no mesmo espaço geo-

econômico, podemos admitir então, que enquanto algumas empresas, conseguiram,

evoluir de uma forma mais rudimentar para um modelo organizacional mais ousado,

290

outras, muito provavelmente, ainda devam preservar características genuinamente

clássicas.

Em relação à Escola Clássica verificamos que na sua totalidade as

empresas que integram a indústria calçadista local, são genuinamente de origem

familiar, sendo que nelas, o empresário e o proprietário, fundem-se numa única

pessoa. Do mesmo modo podemos reconhecer que não ocorra, por esta razão a

separação dos “compromissos assumidos pelas empresas” com “as

responsabilidades do patrimônio familiar”. O objetivo proposto pela Escola

Neoclássica de maximização de lucros – obtido em função de um nível de produção

em que a diferença entre os custos e as receitas é a maior possível – de alguma

forma incorpora as decisões de produção tomadas pelas empresas apesar de certas

restrições e/ou limitações7.

Quanto a corrente institucionalista no terreno das relações de trabalho

é possível visualizar formalização contratual, entretanto, no que concerne às

relações entre as empresas fabricantes de calçados com seus respectivos

fornecedores – formalizadas com o propósito de reduzir os custos de transação –

falta-nos subsídios mais consistentes para comprova-la.

A Escola Gerencialista ainda que parcialmente, integrara o processo de

evolução das empresas calçadistas francanas, pois, a limitação mais significativa

resultara da dificuldade de ruptura entre propriedade e controle.

A lacuna não ainda preenchida pela falta de estudos e/ou pesquisas,

não nos autoriza a tecer nenhuma avaliação a respeito da visão neoschumpeteriana.

Todavia, a título de observação não podemos nos esquecer de que no

passado empresários pioneiros tornaram possível que modelos organizacionais mais

requintados fossem adotados em suas próprias empresas. No que diz respeito aos

diferentes modelos organizacionais de empresas diversificadas, Dantas, Kertsnetzky

e Prochnik (2002) explicam que a Empresa Verticalmente Integrada:

- envolve a atuação da empresa em diversos estágios da cadeia produtiva associada à transformação de insumos em bens finais de determinada indústria. Em geral, a justificativa de escala – as quais se expandem para o conjunto de atividades da empresa integrada – que permitem a obtenção de ganhos de eficiência e a redução de custos de transação.

291

Muito embora em bem poucas empresas a integração vertical tenha se

estendido a reduzidos estágios da cadeia produtiva, podemos ao menos vislumbrar

que parcialmente a Samello fora pioneira ao adotar no passado esse mesmo modelo

organizacional. Do mesmo modo, porém em menor escala, detacaram-se também

HB e Sândalo. Muito embora não se possa afirmar que a indústria calçadista

francana configure um arranjo organizacional tão sofisticado quanto as empresas do

capitalismo avançado, convém ressaltar que a sua evolução contribuiu

decisivamente para a conformação de uma cadeia produtiva.

Cadeia produtiva é um conjunto de etapas consecutivas pelas quais passam e vão sendo transformados e transferidos os diversos insumos. [...] Em um nível mais agregado, encontram-se as cadeias produtivas setoriais, nas quais as etapas são setores econômicos e os intervalos são mercados entre setores consecutivos. Variando a amplitude do leque de produtos considerados, nos setores econômicos obtêm-se cadeias mais ou menos desagregadas. Neste sentido, pode-se ter, por exemplo, a cadeia dos calçados de couro ou a cadeia de calçados. (DANTAS, KERTSNETZKY e PROCHNIK, 2002).

Não é por acaso que o município de Franca, além de ser um

importante pólo industrial especializado na confecção de calçados masculinos de

couro, configura a “existência de um sistema produtivo completo” (GARCIA e REIS,

2001). A evolução da indústria calçadista local foi marcada ainda por momentos

distintos pois, ao lado da sobretaxa do calçado brasileiro imposta pelo governo

norte-americano, do problema crônico decorrente da exportação de couro – principal

matéria-prima dessa indústria – essa mesma indústria fora beneficiada pelo governo

federal mediante subsídios, incentivos fiscais e certa proteção industrial traduzida

pelas tarifas de importação.

A década de 1980 inaugurou o período de transição política do país

com o fim da ditadura militar e a retomada da redemocratização, no entanto, do

ponto de vista econômico penalizou severamente a indústria de modo geral em

decorrência da instabilidade da economia agravada pela inflação crônica, persistente

e galopante que entre outros efeitos perversos, inviabilizou a modernização e a

atualização tecnológica do parque fabril nacional.

Assim, tecnologicamente atrasada e com significativas deficiências

competitivas, a indústria brasileira passaria a enfrentar em meados da década de

1990 uma conjuntura bastante diferenciada da anterior. Ocorre que além da

292

economia do país, transitar do círculo inflacionário para a era da estabilidade (dos

preços) os expedientes da política macroeconômica adotados, principalmente entre

1995 a 1998, tais como, sobrevalorização do câmbio, taxas internas de juros

elevadas e redução sintomática das alíquotas de importação, induziram as empresas

industriais de modo geral a promoverem profundo ajuste de viés microeconômico.

No âmbito da indústria de transformação, o subsetor de calçados foi severamente

penalizado em razão do “forte viés antiprodução e pró-importação, traduzido pelo

significativo aumento do coeficiente de penetração das importações sobre a

produção que em 1993 ficara entre 0,7% e 3%, passou em 1996 a oscilar entre 4% e

8%”. (COUTINHO, 1997).

A redução das importações de calçados dos Estados Unidos

combinada com a apreciação do Real frente ao dólar (US$), contribuíram

negativamente para que as vendas de calçados destinadas ao mercado externo

pelos industriais francanos, experimentassem vertiginosa queda. Além disto, o ajuste

pró-estabilização – câmbio valorizado, redução das alíquotas de importação, etc. –

dificultou as exportações e estimulou as importações que ao lado do reduzido

consumo per capita doméstico acrescido da dependência do mercado norte-

americano, agravaram ainda mais a situação para os fabricantes de calçados.

Assim, a abertura comercial inaugurada pelo governo Collor e

posteriormente aprofundada concomitantemente à estabilização da economia pelo

governo FHC, induziram os produtores de calçados de Franca a promover radical

ajuste estrutural em suas respectivas empresas, contribuindo sobremaneira para que

mudanças sem dúvida significativas ocorressem no formato da indústria calçadista

instalada no município.8

A transição da economia brasileira da conjuntura inflacionária com

proteção industrial para a estabilidade com abertura comercial, foi senão decisiva

para que juntamente a outros diferentes motivos, o processo de liquidação de

empresas vinculadas ao ramo de fabricação de calçados se tornasse mais intenso.

Assim, as grandes plantas industriais foram gradativamente sendo extintas.

Por este motivo, admitimos que até por volta de 1985 a 1990, muito

provavelmente a indústria calçadista francana passou de uma estrutura um tanto

oligopolizada para uma configuração mais acentuada de concorrência

monopolística.

293

Quadro 2 : Esquema simplificado das características dos mercados

ESTUTURA DE MERCADO ATRIBUTOS DO MERCADO CONCORRÊNCIA

MONOPÓLICA OLIGOPÓLIO

Número De Compradores E Vendedores MUITO ALTO POUCOS FORNECEDORES

GRAU DE Diferenciação do Produto MUITO BAIXA NORMALMETNE ALTA

Barreiras à entrada e à saída do Mercado INEXISTENTES ALTAS

Fonte: Apud (NELLIS & PARKER, 2003), Adaptada pelo IPES.

Ainda que nesta mesma época a indústria mencionada operasse numa

estrutura de concorrência monopólica de modo geral, a presença das grandes

empresas – dadas as suas intrínsecas características – possibilitavam

concomitantemente que uma parcela considerável da indústria sob concorrência

monopólica estivesse operando com uma diminuta fração de empresas inseridas

numa estrutura de mercado provavelmente mais oligopolizada.

Analisando os padrões de competição em diferentes indústrias uma

redefinição quanto a taxonomia da indústria proposta por Guimarães (1987)

incorpora preços e diferenciação de produto nos mecanismos de competição.

Do ponto de vista dos padrões de competição em uma indústria, o caminho óbvio para uma nova taxonomia consiste em considerar as possíveis combinações entre dois mecanismos de competição – preços e diferenciação de produto. Cabe portanto, substituir a dicotomia proposta inicialmente por quatro classes de indústrias: 1. a indústria competitiva, onde existe competição por preço mas não por diferenciação de produto; 2. a indústria competitiva diferenciada, na qual ambos os mecanismos de competição estão presentes; 3. a indústria oligopolista diferenciada ou o oligopólio diferenciado, onde existe competição por diferenciação de produto mas não por preço; 4. a indústria oligopolista pura ou o oligopólio homogêneo, onde não ocorre nem competição por preço nem por diferenciação de produto. (GUIMARÃES, 1987).

Dadas as características mais genéricas das quatro classes de

indústrias, podemos afirmar que a industria de calçados não se enquadra no

oligopólio homogêneo. Vale lembrar que as grandes empresas calçadistas de

Franca, conformavam uma estrutura organizacional e adotavam estratégias de

competição consideravelmente diferenciadas das demais empresas do mesmo

ramo. De forma bem sucinta, ó oportuno sublinhar que as grandes empresas: a) sem

nenhum rigor científico desenvolviam atividades de P&D (Pesquisa e

294

Desenvolvimento); b) lideravam o lançamento no mercado nacional de novos

produtos e/ou novas coleções; c) por serem empresas multiproduto, alcançavam

escala de produção em algumas de suas linhas de produtos que otimizavam a

planta industrial em que operavam, enquanto em outras linhas as quantidades

produzidas eram reduzidas; e d) adotavam estratégias mais agressivas de

marketing.

Diante disto, presumindo que tais características sejam verdadeiras,

podemos supor que a indústria calçadista local no passado, deva ter-se constituído

de empresas que operavam na indústria competitiva, na indústria competitiva

diferenciada, como também, por empresas que competiam no oligopólio

diferenciado.

Tabela 4: Indústria de calçados, Brasil, Franca, Regiões Sul, Sudeste e Nordeste,

concentração do estoque de vínculos ativos por área de abrangência territorial e por

classes de tamanho dos estabelecimentos – 1985 e 2007.

CONCENTRAÇÃO DO ESTOQUE DE VÍNCULOS ATIVOS POR CLAS SES DE TAMANHO DOS ESTABELECMENTOS (%)

DE 4 até 19 De 20 até 99 De 100 até 499 De 500 a 1000 ou mais

Áreas de Abrangência

Territorial

1985 2007 1985 2007 1985 2007 1985 2007 Brasil 6,76 10,92 14,40 23,25 38,67 26,50 40,17 39,33 Franca 4,25 29,13 14,76 42,04 45,78 20,55 35,21 8,28 Sul 2,89 10,47 7,91 26,36 43,82 34,34 45,38 28,83 Sudeste 1 15,02 18,59 27,57 39,92 25,63 26,71 31,78 14,78 Nordeste 13,02 2,32 23,27 5,00 24,69 17,06 39,02 75,62 Fonte: RAIS/MTE – Elaboração IPES ¹ Região Sudeste: exclusive Franca

Em 1985, as estatísticas do trabalho registradas pela RAIS/MTE

revelam com nitidez que na indústria de calçados no Brasil, o capital, a produção e

os empregos formais, concentravam-se nas regiões Sul-Sudeste. Nesse mesmo

ano, a indústria instalada no município de Franca – examinada sob a ótica da

concentração do estoque de vínculos ativos por classes de tamanho dos

estabelecimentos - , configurava um formato muito próximo da indústria calçadista

da região Sul. Em Franca, ainda referente ao mesmo ano, a concentração do

estoque de vínculos ativos nas classes de tamanho dos estabelecimentos de 100

até 499 e de 500 a 1000 ou mais, contabilizara percentual de 80,99%,

295

caracterizando, por sua vez, expressiva concentração do capital, da produção e da

ocupação da força de trabalho nas empresas de médio e de grande porte.

Até o final da década de 1980, é bem provável que esta configuração

da atividade de fabricação de calçados em Franca, tenha sido em alguma medida,

influenciada pelas possibilidades de obtenção de escala econômica advindas: a) da

política de proteção industrial adotada pelo governo federal; b) da ainda fraca

concorrência interna e externa; c) dos programas de exportação caracterizados

pelos elevados volumes físicos e por uma maior padronização; e d) pelo ciclo mais

prolongado dos produtos destinados ao consumo interno.

A partir da década 1990 este quadro modificou-se acentuadamente. A

política de proteção industrial cedera espaço para o câmbio apreciado e para uma

significativa redução das alíquotas de importação. Mesmo defasada

tecnologicamente – produto geneticamente transmitido pelo vírus inflacionário e pela

proteção exacerbada – a indústria calçadista de modo geral, sobretudo a de Franca,

fora submetida a um regime de concorrência intenso e assimétrico. Os programas de

exportação que a rigor obedeciam maior padronização e expressivos volumes

físicos, perderam espaço para a diversificação em lotes menores.

O ciclo de vida mais prolongado dos produtos elaborados e destinados

ao consumo doméstico é substituído pelo encurtamento da sua vida útil, derivado da

inovação turbinada pelo acirramento da concorrência numa sociedade estigmatizada

pela desigualdade e por um mercado de consumo qualificado pela degradação.

Ademais, a nova conjuntura que se instalou no país na última década

do século XX, alterou as condições do ambiente macroeconômico profundamente,

uma vez que as mudanças aumentaram tanto de intensidade como na velocidade, a

certeza ainda que relativa, foi senão trocada pela dúvida quase absoluta e o risco,

aumentou consideravelmente.

A pressão competitiva alimentada por medidas de política econômica

convergente à estabilização do nível geral de preços e à modernização produtiva,

suscitaram no âmbito microeconômico respostas radicais e rápidas, as quais,

protagonizadas pelo processo de reestruturação produtiva, motivaram fusões,

aquisições e até eliminação de empresas, flexibilização e terceirização seguidas de

considerável movimento de relocalização espacial do capital produtivo. Em boa

medida, o movimento de migração de empresas, matizou uma nova espacialidade

296

da produção industrial e dos empregos, preenchendo lacunas em certas localidades

e abrindo casernas da matriz industrial em outras.

Esquema 1: Esquema simplificado do “Complexo Moda”

Fonte: Elaboração IPES.

Através deste esquema simplificado, procuramos vislumbrar a

possibilidade de diferentes atividades produtivas articularem-se entre si na busca de

uma nova combinação de produtos e setores que possibilitem a sua convergência

em direção ao seu núcleo comum, qual seja, a moda. Ademais, a combinação de

produtos – setores – materiais, articulados ao design, provavelmente possibilitaria

agregação de valor aos produtos elaborados pelo “complexo moda”, além de

proporcionar-lhes a obtenção de diferencial competitivo. Para conferir maior robustez

Fabr. Acessórios de couro, Art. Viagem

(malas/bolsas) Curtimento e Preparo.

de Couros

Fabricação de

Calçados

Ind. Têxtil, Confecção Art. Vestuário Acess.

e Lingerie

Ind. Cosméticos e Perfumaria

Demais elos da cadeia Produtiva do

Calçado

Moda e Design

Universidades Escolas Técnicas

Entidades Técnicas de Apoio

Entidades Representativas

de Classes

Governo Municipal

Liderança Política Local

297

ao complexo moda, faz-se mister que o mesmo seja sustentado por um também

novo e diferenciado arranjo institucional, que entre outras competências, deve

sobretudo fortalece-lo nas suas dimensões técnica, econômico-financeira,

tecnológica, sócio-ambiental e comercial.9

Assim, a articulação do design – produtos – setores – materiais, sob a

regência de novo arranjo institucional, vale dizer, da governança local, acrescido de

ações de responsabilidade sócio-ambiental, em boa medida, contribuiria tanto para

um novo desenho do parque fabril calçadista, como para dar novo impulso ao

desenvolvimento local.

6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

A disponibilidade de matéria-prima, a existência de estabelecimentos

ligados ao curtimento de couros e a atividade artesanal de reparos e fabricação de

artefatos de couro, contituíram na perspectiva marshalliana vantagens locacionais

para que nas primeiras décadas século XX pudesse despontar a fabricação de

calçados como promissor gênero da indústria manufatureira no município de Franca.

Das primeiras e pequenas unidades fabris até o aparecimento de

empresas de grande porte, foram necessárias algumas décadas. Daí em diante,

empresas menores tornaram-se médias e empresas de médio porte ampliaram sua

capacidade produtiva ao ponto de adquirirem o status de grande empresa. Algumas

fábricas, ao alcançarem a condição de grande empresa, passaram a diferenciar-se

das demais não apenas pelo tamanho, mas, sobretudo por configurarem um formato

mais sofisticado e atualizado de organização, incluindo a existência de empresas

multiproduto e até mesmo de empresas verticalizadas.

Por sua vez, à medida que a produção de calçados aumentava,

também se ampliava a demanda intermediária. Assim, diante das possibilidades de

se preencher casernas ainda vazias da própria matriz industrial e, da obtenção de

lucros, começaram a surgir empresas correlatas à fabricação de calçados que

acabaram transformando o já então constituído pólo industrial em autêntica cadeia

produtiva do calçado.

298

Este mesmo gênero da manufatura industrial, consolidou-se tanto no

mercado nacional como adquiriu conhecimento internacional através do crescente

volume de pares produzidos destinados à exportação.

Todavia, se a década de 1980 do século passado, contribuiu para

retardar a modernização do parque fabril do país – inclusive o segmento de

fabricação de calçados – sobretudo pelo excesso de proteção industrial, a década

de 1990, contribuiu para colocar em curso intenso processo de reestruturação

produtiva convergente à modernização e à recuperação da competitividade da

indústria nacional.

Diante disto, a reestruturação do segmento de fabricação de calçados

de Franca, implementada às custas da liquidação de considerável número de

empresas – inclusive daquelas de grande porte – da relocalização de algumas

plantas industriais e, por um intenso processo de terceirização, produziu uma nova

reconfiguração da indústria calçadista local que passou a constituir-se

predominantemente de empresas de micro e pequeno porte.

A estabilidade da economia, a redução do volume físico das

exportações, mais o encurtamento do ciclo de vida dos produtos e o acirramento da

concorrência decorrente da globalização das economias e dos mercados, ao mesmo

tempo que impunham crescentes dificuldades, decretavam a necessidade de uma

nova e diferenciada postura dos empresários calçadistas francanos suficientemente

capaz de propiciar a conquista de novos mercados e de encontrar alternativas

convergentes à obtenção de economias de escala.

Além do mais, a predominância de empresas de menor porte diante

das dificuldades de acesso ao crédito, bem como, da imperiosa necessidade ditada

pela importância das atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D),

demandavam ainda mais, além da cooperação entre os próprios empresários um

novo arranjo institucional capaz sobretudo de criar e fortalecer as bases da

governança local.

A proposta de articulação de produtos e de setores convergentes ao

núcleo comum denominado “complexo moda” sustentado por um novo arranjo

institucional, requer para a sua materialização profunda mudança de caráter cultural

e comportamental do empresário local.

Pensar e promover o desenvolvimento, sobretudo diante dos novos

desafios a serem enfrentados, implica acima de tudo, superar vícios adquiridos e

299

antigos problemas, o que reforça ainda mais a necessidade de se construir sólida

base de governança local e, ao mesmo tempo, proporcionar aos produtores /

empresários industriais condições para a sua capacitação / atualização profissional.

1 Os conceitos de economia de escala, economias internas, economias externas (externalidades) e economias de aglomeração elaborados por Sandroni (2006) relacionam-se: a) Economia de Escala – Produção de bens em larga escala, com vistas a uma considerável redução de custos. (...). Seu elevado grau de especialização garante melhores processos e métodos de controle de qualidade da produção e maior uniformidade na padronização dos produtos. (...). As economias de escala não comportam mercados consumidores limitados. Sua existência está diretamente ligada ao consumo de massa, capaz de absorver em todos os níveis a produção em série; b) Economias Internas – Forma de economia de escala que a própria empresa cria a infra-estrutura necessária à sua expansão e à redução de seu custo unitário de produção. (...) requer recursos que só estão ao alcance de grandes empresas. c) Economias Externas – Benefícios obtidos por empresas que se formam (ou já existentes) em decorrência da implantação de um serviço público (por exemplo, energia elétrica) ou de uma indústria, proporcionando à primeira vantagens antes inexistentes. (...). A existência de economias externas permite em geral uma redução de custos para as empresas e significa uma importante alavanca do desenvolvimento econômico; d) Economias de Aglomeração – Redução de custos resultantes da proximidade física de empresas do mesmo ramo ou de atividades complementares. As economias de aglomeração constituem, de certa forma, um caso particular de economias externas. SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia do século XXI. – 2 ed. – Rio de Janeiro: Record, 2006. p. 272-273 – 276-277. 2 Como sugere Penrose (1959), “se o lucro é uma condição para o crescimento, mas é buscado basicamente em benefício da firma, isto é, antes para reinvestir na própria firma do que para reembolsar os proprietários pelo uso dos seus capitais ou pelo risco corrido, então, do ponto de vista da política de investimento, crescimento e lucro se tornam equivalentes como critério para seleção de programas de investimento [...]. Portanto, não importa se falamos de crescimento ou de lucros como objetivo das atividades de investimento da firma. (GUIMARÃES, 1987) 3 Referimo-nos ao trabalho intitulado “Pequeno e grande capital: problemas econômicos do tamanho das empresas” publicado em 1990 no Brasil pela HUCITEC – Editora da UNICAMP. A obra supra mencionada enquadra-se no campo da Microeconomia, precisamente da Economia Industrial. 4 Evidências mais recentes no Brasil podem ser examinadas através do Pesquisa de Inovações Tecnológicas (PINTEC / IBGE) que por meio de um amplo conjunto de indicadores retrata a situação das atividades de pesquisa e de inovações tecnológicas desenvolvidas pelas empresas no país.

300

5 Os autores fazem menção aos seguintes países: Itália, Dinamarca, Grécia, Holanda, Áustria, França, Espanha, Alemanha, Bélgica e por último o Brasil. 6 Para um exame mais detalhado sobre esta questão recomenda-se DANTAS Aléxis, KERTSNETZKY Jacques e PROCHNIK, Vitor. Empresa, Indústria e Mercados. In: Economia Industrial: fundamentos teóricos e práticas no Brasil. David Kupfer & Lia Hasenclever (orgs.). – Rio de Janeiro: Campus, 2002. 7 No caso de pequenas empresas Steindl (1990) observa que: “Por pequenas empresas devemos entender as que requerem apenas um montante muito moderado de capital do empresário, uma quantia que possa ser possuída ou obtida por um número não demasiadamente pequeno de pessoas; em outras palavras, as pequenas empresas são aquelas para as quais – [...] – podemos presumir uma oferta elástica de capacidade empresarial. Pode-se mostrar que essas pequenas empresas são muito provavelmente detentoras, na média do ciclo de conjuntura de uma margem de lucro muito pequena . Em apoio a esse pressuposto, podemos apresentar em primeiro lugar as evidências estatísticas que mostram (1) que as taxas de lucro são muito baixas para essas empresas; e (2) que elas operam com uma baixa razão entre o capital e o valor anual de vendas, razão que na maioria dos casos é substancialmente inferior a um, de modo que a margem de lucro é ainda menor do que a taxa de lucro. 8 A respeito desta questão recomendamos a pesquisa intitulada “Estudo exploratório de mercado: o problema da concentração de atividades econômicas do setor calçadista no mercado local”, realizada em 2005 por Aline Correia de Souza (graduanda em Ciências Econômicas) no âmbito do Programa de Iniciação Científica do Uni-FACEF nucleado pelo Programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes financiado pela FAPESP sob a coordenação do Prof. Dr. Agnaldo de Souza Barbosa. 9 Convém no entanto ressaltar que o papel das universidades deve ser compreendido e restrito às suas respectivas atividades de ensino-pesquisa-extensão, assim como, cabe às escolas técnicas e à FATEC desempenharem funções bem específicas. REFERÊNCIAS COUTINHO, Luciano. A especialização regressiva: um balanço do desempre go industrial pós-estabilização. In: Brasil: desafios de um país em transformação. João Paulo dos Reis Velloso (coord.). IX Fórum Naci onal. – Rio de Janeiro: José Olympio, 1997. COUTINHO, Antonio. Couro cru: origens do pólo calçadista de Franca (18 20 – 1950). – Franca (SP): Ribeirão Gráfica e Editora, 2008. RATTNER, Henrique. Planejamento e bem-estar social. – São Paulo: Editora Perspectiva S.A., 1979. STEINDL, Josef. Pequeno e grande capital: problemas econômicos do t amanho das empresas. Trad: Tamás Szmrecsányi. – São Paulo: Ed. Hucitec, Editora da Unicamp, 1990. BAER, Werner. A industrialização e o desenvolvimento econômico do Brasil. Trad: Paulo de Almeida Rodrigues. – 7.ed. – Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getulio Vargas, 1998. NELLIS, Joseph. & PARKER, David. Princípios de economia para os negócios. Trad. Bazan Tecnologia e Lingüística. – São Paulo: Futura, 2003. PENROSE, Edith. A teoria do crescimento da firma. Trad: Tamás Szmrecsányi. – Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2006.

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