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1 Destaque Setorial - Bradesco Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos Leandro de Oliveira Almeida 22 de dezembro de 2015 Indústria de alimentos Perspectivas para a indústria de alimentos são mais favoráveis diante da desvalorização cambial e das safras maiores A indústria de alimentos e bebidas registrou retração da produção ao longo deste ano, em linha com a economia como um todo. Além disso, a inflação mais pressionada acabou comprometendo a renda das famílias, levando a uma redução da demanda por alimentos, a despeito de sua maior resiliência em relação aos demais setores industriais. Em que pese que os segmentos exportadores dessa indústria sejam favorecidos – como soja, café, açúcar e carnes, respondendo por cerca de metade da produção –, estimamos recuo de 3% e 5% das indústrias de alimentos e bebidas neste ano, respectivamente, e estabilidade em 2016, com as exportações compensando a continuidade da baixa demanda interna. Dados do IBGE apontam que neste ano, até outubro, a produção da indústria de alimentos caiu 3,1%, enquanto a indústria de bebidas, mais sensível à diminuição da renda, retraiu 5,1%. No mesmo sentido, o volume de vendas no varejo em hipermercados e supermercados deve diminuir 3,5% neste ano e cerca de 2,1% no próximo ano. Uma causa relevante para a diminuição da produção de alimentos é a inflação mais alta este ano. O aumento dos custos de energia elétrica e combustíveis (acima da inflação dos demais itens da cesta de consumo no IPCA) retirou 2,15 pontos percentuais do rendimento do trabalhador entre novembro do ano passado e novembro deste ano. Taxa de variação da produção industrial de alimentos e bebidas (acumulado em 12 meses) -0,6% 3,5% -2,3% 5,0% -2,8% 3,6% 1,5% -3,9% 7,9% -0,6% 12,7% -3,6% 2,0% -4,8% -3,9% -6,0% -4,0% -2,0% 0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0% 12,0% 14,0% out/05 jan/06 abr/06 jul/06 out/06 jan/07 abr/07 jul/07 out/07 jan/08 abr/08 jul/08 out/08 jan/09 abr/09 jul/09 out/09 jan/10 abr/10 jul/10 out/10 jan/11 abr/11 jul/11 out/11 jan/12 abr/12 jul/12 out/12 jan/13 abr/13 jul/13 out/13 jan/14 abr/14 jul/14 out/14 jan/15 abr/15 jul/15 out/15 Alimentos Bebidas Fonte: IBGE Elaboração: BRADESCO -22,1% -6,5% -5,4% -5,1% -4,9% -4,8% -3,1% -2,4% -2,0% -0,3% -0,2% 3,2% -25,0% -20,0% -15,0% -10,0% -5,0% 0,0% 5,0% Conserva de frutas, legumes e outros vegetais Açúcar Bebidas não-alcoólicas Bebidas Laticínios Bebidas Alcoólicas Alimentos Pescado e Outr. Prod. Alimentícios Complexo da Carne Café Moagem, amilácios e rações Óleos e gorduras Variação acumulada no ano até outubro de 2015 Fonte: IBGE Elaboração: BRADESCO

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Leandro de Oliveira Almeida

22 de dezembro de 2015

Indústria de alimentos

Perspectivas para a indústria de alimentos são mais favoráveis diante da desvalorização cambial e das safras maiores

A indústria de alimentos e bebidas registrou retração da produção ao longo deste ano, em linha com a economia como um todo. Além disso, a inflação mais pressionada acabou comprometendo a renda das famílias, levando a uma redução da demanda por alimentos, a despeito de sua maior resiliência em relação aos demais setores industriais. Em que pese que os segmentos exportadores dessa indústria sejam favorecidos – como soja, café, açúcar e carnes, respondendo por cerca de metade da produção –, estimamos recuo de 3% e 5% das indústrias de alimentos e bebidas neste ano, respectivamente, e estabilidade em 2016, com as exportações compensando a continuidade da baixa demanda interna.

Dados do IBGE apontam que neste ano, até outubro, a produção da indústria de alimentos caiu 3,1%, enquanto a indústria de bebidas, mais sensível à diminuição da renda, retraiu 5,1%. No mesmo sentido, o volume de vendas no varejo em hipermercados e supermercados deve diminuir 3,5% neste ano e cerca de 2,1% no próximo ano.

Uma causa relevante para a diminuição da produção de alimentos é a inflação mais alta este ano. O aumento dos custos de energia elétrica e combustíveis (acima da inflação dos demais itens da cesta de consumo no IPCA) retirou 2,15 pontos percentuais do rendimento do trabalhador entre novembro do ano passado e novembro deste ano.

Taxa de variação da produção industrial de alimentos e bebidas (acumulado em 12 meses)

-0,6%

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Fonte: IBGEElaboração: BRADESCO

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Conserva de frutas, legumes e outros vegetais

Açúcar

Bebidas não-alcoólicas

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Pescado e Outr. Prod. Alimentícios

Complexo da Carne

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Moagem, amilácios e rações

Óleos e gorduras

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Variação acumulada no ano até outubro

de 2015

Fonte: IBGEElaboração: BRADESCO

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Na abertura do segmento alimentício, tanto bebidas como alimentos mais sensíveis à renda foram os que mostraram os maiores ajustes. Em especial, a linha de conserva de frutas, legumes e outros vegetais foi o que sofreu a contração mais intensa neste ano. Esse fraco desempenho reflete a alta elasticidade-renda desses produtos, que podem ser substituídos por alimentos in natura preparados em casa, em momentos de retração da renda. Acreditamos, contudo, que à medida que a renda voltar a se recuperar ao longo do ano que vem, a demanda dessa indústria deve retomar. Na mesma direção, o segmento de bebidas, considerando águas envasadas, refrigerantes e outras bebidas não alcoólicas, também é impactado pela maior sensibilidade à renda e pela substituição por outros tipos de produtos. A indústria de laticínios, embora o leite seja item básico, tem produção concentrada em laticínios (cerca de 2/3 da produção), influenciada pela troca do consumo de iogurtes e queijos por produtos de menor valor, como leite. O setor de bebidas alcoólicas também é afetado de maneira adversa, ainda que haja uma forte diminuição da importação de vinhos e cervejas nos últimos meses, que pode gerar alívio ao produtor local.

A indústria açucareira, por sua vez, vem produzindo neste ano abaixo do ano passado, refletindo em grande medida os incentivos de produzir etanol, dado o recente aumento dos preços desse. Mas como a safra de 2015/2016 tende a ser maior que a anterior e como os preços em reais do açúcar estão em patamares mais altos, há perspectiva de retomada da produção açucareira. O risco, porém, é de novo aumento nos preços de combustíveis, o que pode influenciar negativamente a produção de sacarose.

Os setores de melhor desempenho neste ano são aqueles ligados ao setor externo (e que podem se beneficiar em 2016 da desvalorização cambial) ou os menos sensíveis à variação da renda, que apresentam mais resistência à queda do consumo dado a conjuntura econômica atual de retração da atividade econômica.

Dentre os segmentos que respondem em menor intensidade à queda da renda, temos a categoria de pescados e outros produtos alimentares ‒ incluindo biscoitos, chocolates, massas, pães, temperos e alimentos prontos ‒, mesmo que em queda, apresentam um desempenho mais moderado, pois têm um leque de produção diversificado e inclui itens mais essenciais. Somado a isso, a indústria de moagem, farinhas e rações, formadas por rações farinhas de trigo e arroz beneficiado tem sentido de forma mais suave os ajustes da economia.

Dentre as cadeias voltadas à exportação, sem dúvidas, o destaque fica com os óleos brutos, refinados e

gorduras, diante da boa safra de soja, que estimula a fabricação de óleos de soja brutos e refinados. Como a produção de soja deve bater novo recorde no ano que vem, esperamos que esse segmento continue tendo desempenho positivo e ajude na recuperação da indústria de alimentos. A indústria de café apresenta ligeira retração no acumulado deste ano até outubro por causa da estiagem da produção cafeeira do Sudeste na última safra. Com a recuperação das lavouras no próximo ano, a produção da indústria de café também deve se recuperar e apresentar crescimento mais robusto em 2016.

Por outro lado, as exportações de carne bovina acumulam queda de 14,9% em quantidade até outubro, refletindo a retração da demanda da Rússia e da Venezuela. Já os embarques de carne suína estão em recuperação para a Rússia e a China e as exportações de carne avícola estão em expansão para países árabes (substituição da carne bovina) e China. Com isso, apesar da retração do mercado consumidor interno, a produção do complexo de carnes vem apresentando desempenho acima da maior parte da indústria de alimentos. Relatório do USDA, divulgado recentemente, aponta que a produção de carne bovina deve se recuperar no próximo ano e que a produção avícola deve continuar a crescer.

Assim, a desvalorização cambial deve favorecer apenas parcialmente a cadeia de alimentação, já que parte relevante da produção abastece o mercado interno. No entanto, a indústria de alimentos ligada à soja, açúcar, café e carnes, que representa cerca de metade da produção total, deve se beneficiar com os novos patamares da moeda brasileira. Cabe lembrar que, em 2014, da produção alimentícia nacional 19% foi exportada, principalmente itens dos segmentos supracitados, já a indústria de bebidas exportou apenas 4% de sua produção. Dessa forma, a indústria de bebidas deve ser beneficiada principalmente através da diminuição das importações (de vinhos e cerveja, especialmente), que responderam por 10% do consumo aparente no ano passado. Na indústria de alimentos, por sua vez, as importações representaram apenas 4% desse consumo.

Como resu l tado , exc lu indo os segmentos exportadores, a indústria de alimentos deve continuar com fraco desempenho neste ano e no próximo, em linha com a continuidade do fraco desempenho das vendas no varejo.Por fim, a sondagem industrial mensal realizada pela FGV corrobora o melhor desempenho das exportações da indústria de produtos alimentares, tendo em vista que o nível da demanda externa está acima de 100, indicando otimismo dos empresários com a demanda externa Em contrapartida, a demanda interna segue em linha com a fraca produção e vendas no varejo, indicando

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Demanda GlobalDemanda InternaDemanda Externa

Sondagem conjuntural - nível de demanda da indústria de alimentos e bebidas

Fonte: FGVElaboração: BRADESCO

certo pessimismo no curto prazo. De fato, os dados da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE, apontam que há cerca de 25 mil ocupados a menos na indústria

de alimentos e bebidas em setembro de 2015 ante mesmo mês do ano passado, ou seja, o setor está demitindo liquidamente.

Perfil Setorial

• Dentro do setor de alimentos carnes respondem por 23,5% do valor da produção, enquanto a produção de açúcar corresponde a 16,7%. Já as produções de alimentos para animais, laticínios e óleos e gorduras correspondem a 11,9%, 11,7% e 11,0% do valor da produção, respectivamente, enquanto que as produções conservas de frutos e legumes, café e peixes respondem por 5,7%, 1,7% e 1% do valor, nessa ordem.

• Regionalmente, a divisão se dá com São Paulo respondendo por 32,7% do valor total da transformação industrial de alimentos, Paraná com 10,5%, Minas gerais com 10,0%, Goiás com 8,0%, Rio Grande do Sul com 7,6%, Mato Grosso com 6,4% e Santa Catarina com 6,1%.

• O valor da transformação industrial de bebidas, por sua vez, é dividido quase igualitariamente com bebidas não alcoólicas respondendo por 49,96% e bebidas alcoólicas com 50,04%. Regionalmente, São Paulo aparece com participação de 22,3%, Amazonas com 21,2%, Rio de Janeiro com 11%, Minas Gerais com 7,1%, Rio Grande do Sul com 5,8% e Pernambuco com 4,6%.

• Juntas, as fabricações de alimentos e bebidas respondiam por 1,942 milhões de empregos em 2014, 3,9% da população ocupada formal do País, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado pelo Ministério do Trabalho.

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Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos EconômicosMarcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivoEconomia Internacional: Fabiana D’Atri / Felipe Wajskop França / Daniela Cunha de Lima / Thomas Henrique Schreurs Pires Economia Doméstica: Igor Velecico / Andréa Bastos Damico / Ellen Regina Steter / Myriã Tatiany Neves Bast / Ariana Stephanie ZerbinattiAnálise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Leandro de Oliveira Almeida Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Leandro Câmara Negrão / Ana Maria Bonomi BarufiEstagiários: Davi Sacomani Beganskas / Henrique Neves Plens / Mizael Silva Alves / Gabriel Marcondes dos Santos / Wesley Paixão Bachiega / Carlos Henrique Gomes de Brito / Gustavo Assis Monteiro

Equipe Técnica

O DEPEC – BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO).