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Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Todos os julgados foram comentados. ÍNDICE DIREITO CIVIL INTERDIÇÃO Morte do interditando não acarreta, por si só, a extinção da ação de exigir contas ajuizada por ele. RESPONSABILIDADE CIVIL E INTERNET Responsabilidade do provedor de conteúdo em caso de associação indevida entre o argumento de pesquisa e o resultado de busca. CONTRATO DE SEGURO Indenização securitária pelo valor do automóvel no momento do sinistro. CONTRATO DE LOCAÇÃO Locador de locação comercial não tem a obrigação legal de adaptar o imóvel às peculiaridades da atividade que será explorada pelo locatário. CONTRATOS AGRÁRIOS Empresa rural de grande porte não tem direito de preferência previsto no Estatuto da Terra. AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA Termo inicial do prazo prescricional da petição de herança em caso de reconhecimento póstumo da paternidade. DIREITO DO CONSUMIDOR BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES A Súmula 385 do STJ aplica-se também para ações propostas pelo consumidor contra o credor que efetivou a inscrição irregular. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA Cumprimento imediato da internação fixada na sentença ainda que tenha havido recurso. DIREITO PROCESSUAL CIVIL ADJUDICAÇÃO Forma preferencial de pagamento ao credor. Momento para requerimento da adjudicação.

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Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante Todos os julgados foram comentados.

ÍNDICE DIREITO CIVIL

INTERDIÇÃO Morte do interditando não acarreta, por si só, a extinção da ação de exigir contas ajuizada por ele. RESPONSABILIDADE CIVIL E INTERNET Responsabilidade do provedor de conteúdo em caso de associação indevida entre o argumento de pesquisa e o

resultado de busca. CONTRATO DE SEGURO Indenização securitária pelo valor do automóvel no momento do sinistro. CONTRATO DE LOCAÇÃO Locador de locação comercial não tem a obrigação legal de adaptar o imóvel às peculiaridades da atividade que

será explorada pelo locatário. CONTRATOS AGRÁRIOS Empresa rural de grande porte não tem direito de preferência previsto no Estatuto da Terra. AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA Termo inicial do prazo prescricional da petição de herança em caso de reconhecimento póstumo da paternidade.

DIREITO DO CONSUMIDOR

BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES A Súmula 385 do STJ aplica-se também para ações propostas pelo consumidor contra o credor que efetivou a

inscrição irregular.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA Cumprimento imediato da internação fixada na sentença ainda que tenha havido recurso.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

ADJUDICAÇÃO Forma preferencial de pagamento ao credor. Momento para requerimento da adjudicação.

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DIREITO PENAL

HOMICÍDIO Incompatibilidade entre dolo eventual e a qualificadora de motivo fútil. Inexistência de motivo fútil em homicídio decorrente da prática de "racha".

DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROVAS Extração sem prévia autorização judicial de dados e de conversas registradas no whatsapp. INTIMAÇÃO Nulidade da intimação por edital de réu preso. TRIBUNAL DO JÚRI Possibilidade de extensão de decisão de desclassificação adotada por Júri em favor de corréu.

DIREITO CIVIL

INTERDIÇÃO Morte do interditando não acarreta, por si só, a extinção da ação de exigir contas ajuizada por ele

A morte do interditando no curso de ação de interdição não implica, por si só, a extinção do processo sem resolução de mérito da ação de exigir contas por ele ajuizada mediante seu curador provisório, tendo o espólio legitimidade para prosseguir com a ação de exigir contas.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.677-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 3/5/2016 (Info 583).

Curatela Em regra, se a pessoa for maior de 18 anos, ela é plenamente capaz e está habilitada à prática de todos os atos da vida civil (art. 5º do CC). No entanto, existem determinadas pessoas que, mesmo sendo maiores, não podem exercer alguns atos patrimoniais da vida civil sozinhos, necessitando da assistência de terceiros. Para resguardar os direitos de tais pessoas, o Direito Civil previu uma proteção jurídica chamada de “curatela”.

Mas o que vem a ser a curatela? A curatela é um encargo (múnus) imposto a um indivíduo (chamado de “curador”), por meio do qual ele assume o compromisso judicial de cuidar de uma pessoa (“curatelado”) que, apesar de ser maior de idade, necessita de auxílio para a prática de determinados atos. Por conta disso, o curatelado só poderá praticar certos atos patrimoniais se for assistido pelo curador.

Tutela x Curatela

Tutela Curatela

Instrumento jurídico para proteger a criança ou adolescente que não goza da proteção do poder familiar em virtude da morte, ausência ou destituição de seus pais. A tutela é uma espécie de colocação da criança ou adolescente em família substituta.

Instrumento jurídico voltado para a proteção de uma pessoa que, apesar de ser maior de 18 anos, necessita da assistência de outra para a prática de determinados atos de cunho patrimonial como uma forma de lhe proteger.

Hipóteses em que ocorre a curatela O art. 1.767 do CC traz o rol de pessoas que estão sujeitas à curatela. Esse dispositivo foi recentemente alterado pela Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Veja a alteração promovida:

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Antes Depois

Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela: I — aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil; II — aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade; III — os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos; IV — os excepcionais sem completo desenvolvimento mental; V — os pródigos.

Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela: I — aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; II — (Revogado); III — os ébrios habituais e os viciados em tóxico; IV — (Revogado); V — os pródigos.

Repare que a Lei nº 13.146/2015 retirou do art. 1.767 do CC as menções que eram feitas à deficiência mental e outras expressões congêneres. Diante disso, indaga-se: pode-se dizer que acabou a possibilidade de a pessoa com deficiência ser submetida à curatela? Isso deixou de existir? NÃO. Mesmo depois da Lei nº 13.146/2015, ainda existe a possibilidade de a pessoa com deficiência ser submetida à curatela quando essa medida protetiva extraordinária se mostrar necessária. O Estatuto da Pessoa com Deficiência expressamente prevê isso. Confira:

Art. 84. (...) § 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei. (...) § 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível. (...) Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial. § 1º A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto. § 2º A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da sentença as razões e motivações de sua definição, preservados os interesses do curatelado. (...)

O objetivo da Lei nº 13.146/2015, ao alterar o art. 1.767 do CC, foi o de deixar claro que não é pelo simples fato de a pessoa apresentar deficiência que ela terá que ser interditada. Ao contrário. Com a nova Lei, a regra passa a ser a não interdição da pessoa com deficiência. A pessoa com deficiência só será submetida à curatela quando isso se mostrar necessário e tal situação durará o menor tempo possível. Como é instituída a curatela? Para que a curatela seja instituída, é necessária a instauração de um processo judicial, de jurisdição voluntária, regulado pelos arts. 1.177 a 1.186 do CPC 1973 (arts. 747 a 758 do CPC 2015). Esse processo é iniciado por meio de uma ação de interdição (ou ação de curatela). Obs: alguns autores afirmam que, depois do Estatuto da Pessoa com Deficiência, não se deve mais utilizar a expressão "ação de interdição" porque esta terminologia "interdição" possui uma carga de preconceito e dá a ideia de que a pessoa fica inteiramente sem autonomia para tomar suas decisões, o que não é

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verdade já que a curatela afeta tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial (art. 85 do Estatuto). No entanto, é possível que você ainda encontre a expressão ação de interdição em julgados e nas provas porque esta expressão continua sendo empregada pelo CPC. Legitimados O rol dos legitimados para propor ação de interdição está descrito no CPC. Confira:

CPC 1973 CPC 2015

Art. 1.177. A interdição pode ser promovida: I — pelo pai, mãe ou tutor; II — pelo cônjuge ou algum parente próximo; III — pelo órgão do Ministério Público.

Art. 747. A interdição pode ser promovida: I — pelo cônjuge ou companheiro; II — pelos parentes ou tutores; III — pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando; IV — pelo Ministério Público. Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a petição inicial.

Obs.: o rol de legitimados para a ação de interdição é TAXATIVO. Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: Lucas, filho de João, ajuizou ação de interdição pedindo a curatela de seu pai. O juiz deferiu a medida liminar, nomeando-o como curador provisório. Em seguida, João, representado por seu filho Lucas (curador provisório), ajuizou ação de prestação de contas em desfavor de Maria (irmã de João), pedindo que ela prestasse contas dos valores que sacou da conta corrente do autor e que ela movimentava por força de uma procuração outorgada pelo requerente. Ocorre que João faleceu no curso do processo. O filho de João requereu que o espólio do pai assumisse o polo ativo da demanda e que o processo continuasse, conforme autoriza o art. 110 do CPC/2015 (sucessão processual):

Art. 110. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 313, §§ 1º e 2º.

O juiz, contudo, extinguiu o processo sem resolução do mérito, nos termos do art. 485, IX, do CPC/2015 alegando que a ação proposta é personalíssima:

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e

Agiu corretamente o magistrado? NÃO.

A morte do interditando no curso de ação de interdição não implica, por si só, a extinção do processo sem resolução de mérito da ação de exigir contas por ele ajuizada mediante seu curador provisório, tendo o espólio legitimidade para prosseguir com a ação de exigir contas. STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.677-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 3/5/2016 (Info 583).

Não há dúvidas de que a morte do interditando no curso do processo de interdição acarreta a extinção do processo sem resolução do mérito, visto que se trata de ação de natureza personalíssima. No entanto, isso não ocorre com a ação de exigir contas (art. 550 do CPC/2015). A ação de exigir contas (chamada na época do CPC/1973 de "ação de prestação de contas") é considerada personalíssima apenas em relação ao requerido (réu da ação). No que tange ao requerente (autor), ela não é personalíssima, podendo ser assumida, no polo ativo, pelo espólio do falecido.

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RESPONSABILIDADE CIVIL E INTERNET Responsabilidade do provedor de conteúdo em caso de associação indevida

entre o argumento de pesquisa e o resultado de busca

Importante!!!

Não há dano moral quando o Google exibe, como resultado de uma busca, a indicação do link de um site que não mais contém aquela palavra ou frase porque já foi removida. Ex: determinado blog publicou a frase "João de Tal é um péssimo médico". Depois de um tempo, o administrador deste blog retirou a expressão, mas manteve o restante do texto. O Google demorou para atualizar seu sistema de buscas e continua exibindo o link deste blog quando a pessoa digita o nome "João de Tal", mesmo não havendo mais qualquer referência no texto. Esse fato não gera, por si só, dano moral a ser pago pelo Google.

A ausência de congruência entre o resultado atual e os termos pesquisados, ainda que decorrentes da posterior alteração do conteúdo original publicado pela página, configuram falha na prestação do serviço de busca, que deve ser corrigida nos termos do art. 20 do CDC, por frustrarem as legítimas expectativas dos consumidores.

Não há dano moral quando o provedor de busca, mesmo após ser cientificado pelo consumidor, continua exibindo resultado desatualizado. Ex: ao se digitar o nome desse consumidor (argumento de pesquisa) continua aparecendo, entre os resultados, determinado site que tinha realmente este nome do consumidor, mas que já foi retirado de lá. Em outras palavras, não há dano moral quando o provedor, mesmo depois de alertado sobre a falha, exibe associação indevida entre o argumento de pesquisa e o resultado de busca.

O provedor de busca cientificado pelo consumidor sobre vínculo virtual equivocado entre o argumento de pesquisa (nome de consumidor) e o resultado de busca (sítio eletrônico) é obrigado a desfazer a referida indexação, ainda que esta não tenha nenhum potencial ofensivo.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/5/2016 (Info 583).

Imagine a seguinte situação hipotética: João é um médico famoso. Certa vez, ele digitou seu nome completo no Google e um dos resultados que apareceu foi o depoimento de um ex-paciente seu que falava mal do tratamento dele em um blog. O médico interpelou extrajudicialmente o ex-paciente e este manteve o depoimento no blog, mas retirou o nome do médico e qualquer referência que pudesse identificá-lo. Mesmo depois desta retirada, ao se digitar o nome de João no Google, continua aparecendo, como um dos resultados da busca, o referido depoimento no blog. No entanto, ao se abrir a página, não se encontra mais o nome do médico no texto. João notificou o Google para que este não fizesse mais essa associação, no entanto, seu pedido não foi atendido. Diante disso, ele ajuizou ação de indenização por danos morais contra o Google, por continuar vinculando no resultado das buscas de seu nome o referido depoimento. Vejamos algumas conclusões do STJ relacionadas com esse tema. A relação da pessoa que pede a retirada do conteúdo e o Google é uma relação de consumo? A pessoa pode ser considerada consumidora e o Google fornecedor de serviços? SIM. Os serviços prestados pelo Google na internet, como é o caso de seu sistema de buscas, mesmo sendo gratuitos, configuram relação de consumo. O fato de o serviço prestado pelo provedor de serviço de Internet ser gratuito não desvirtua a relação de consumo, pois o termo “mediante remuneração”, contido no art. 3º, § 2º, do CDC, deve ser interpretado de forma ampla, de modo a incluir o ganho indireto do fornecedor. STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.921-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/6/2012 (Info 500).

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Qual é a natureza jurídica do serviço de pesquisa via internet? Os sites de pesquisa (provedores de pesquisa), como o Google, são uma espécie do gênero “provedor de conteúdo”, pois esses sites não incluem, hospedam, organizam ou de qualquer outra forma gerenciam as páginas virtuais indicadas nos resultados disponibilizados, se limitando a indicar links onde podem ser encontrados os termos ou expressões de busca fornecidos pelo próprio usuário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.921-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/6/2012 (Info 500). Qual é a responsabilidade dos provedores de pesquisa (espécie do gênero provedor de conteúdo)? A responsabilidade dos provedores de pesquisa deve ficar restrita à natureza da atividade por eles desenvolvida que, como visto, corresponde a facilitar a localização de informações na web. Assim, os provedores de pesquisa devem garantir o sigilo, a segurança e a inviolabilidade dos dados cadastrais de seus usuários e das buscas por eles realizadas, bem como o bom funcionamento e manutenção do sistema. STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.921-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/6/2012 (Info 500). Os provedores de pesquisa podem ser responsabilizados pelo conteúdo do resultado das buscas realizadas pelos usuários? NÃO. Na visão do STJ, não se trata de atividade intrínseca ao serviço por eles prestado. Logo, não se pode reputar como defeituoso, nos termos do art. 14 do CDC, o site de pesquisa que não exerce esse controle sobre os resultados das buscas. Como o provedor de pesquisa age como mero intermediário, repassando textos e imagens produzidas por outras pessoas, sobre essas informações não exerceu fiscalização ou juízo de valor, não podendo ser responsabilizado por eventuais excessos e ofensas à moral, à intimidade e à honra de terceiros. Não se aplica aqui a teoria do risco da atividade. Conclui-se, portanto, ser ilegítima a responsabilização dos provedores de pesquisa pelo conteúdo do resultado das buscas realizadas por seus usuários. STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.921-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/6/2012 (Info 500). Os provedores de pesquisa podem ser obrigados a filtrar o conteúdo das pesquisas feitas por cada usuário? NÃO. Os provedores de pesquisa realizam suas buscas dentro de um universo virtual, cujo acesso é público e irrestrito, ou seja, seu papel se restringe à identificação de páginas na web onde determinado dado ou informação, ainda que ilícito, estão sendo livremente veiculados. Dessa forma, ainda que seus mecanismos de busca facilitem o acesso e a consequente divulgação de páginas cujo conteúdo seja potencialmente ilegal, fato é que essas páginas são públicas e compõem a rede mundial de computadores e, por isso, aparecem no resultado dos sites de pesquisa. Ora, se a página possui conteúdo ilícito, cabe ao ofendido adotar medidas para que haja a supressão da página e, com isso, automaticamente, ele não mais aparecerá nos resultados de busca virtual dos sites de pesquisa. Não se ignora a evidente dificuldade de assim proceder, diante da existência de inúmeras páginas destinadas à exploração de conteúdo ilícito – sobretudo imagens íntimas, sensuais e/ou pornográficas, mas isso não justifica a transferência, para mero provedor de serviço de pesquisa, da responsabilidade pela identificação desses sites, especialmente porque teria as mesmas dificuldades encontradas por cada interessado individualmente considerado. Sopesados os direitos envolvidos e o risco potencial de violação de cada um deles, o fiel da balança deve pender para a garantia da liberdade de informação assegurada pelo art. 220, § 1º, da CF/88, sobretudo considerando que a Internet representa, hoje, importante veículo de comunicação social de massa. STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.921-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/6/2012 (Info 500). Há possibilidade, de ordem técnica, para que os provedores de pesquisa possam controlar e filtrar os conteúdos ilícitos das páginas? NÃO. Inúmeras páginas são criadas diariamente e, além disso, a maioria das milhões de páginas existentes na web sofre atualização regularmente, por vezes em intervalos inferiores a uma hora, sendo que em qualquer desses momentos pode haver a inserção de informação com conteúdo ilícito. Essa circunstância,

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aliada ao fato de que a identificação de conteúdos ilícitos ou ofensivos não pode ser automatizada (deve ser feita por humanos), torna impraticável o controle prévio por parte dos provedores de pesquisa da cada página nova ou alterada, sob pena, inclusive, de seus resultados serem totalmente desatualizados. STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.921-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/6/2012 (Info 500).

Em suma Segundo o STJ, os provedores de pesquisa: a) não respondem pelo conteúdo do resultado das buscas realizadas por seus usuários; b) não podem ser obrigados a exercer um controle prévio do conteúdo dos resultados das buscas feitas

por cada usuário; e c) não podem ser obrigados a eliminar do seu sistema os resultados derivados da busca de determinado

termo ou expressão, tampouco os resultados que apontem para uma foto ou texto específico, independentemente da indicação do URL da página onde este estiver inserido.

Até aí, tudo bem. Acima nós temos o entendimento majoritário no STJ. No entanto, nosso exemplo possui uma peculiaridade que ainda não havia sido enfrentada pelo Tribunal. O interessado (João) conseguiu, extrajudicialmente, retirar o conteúdo nocivo da página (com a supressão de seu nome). Apesar disso, o índice do Google Search permanece exibindo o link como se na página indicada ainda houvesse o conteúdo retirado. Por que isso acontece? Por que o Google continua exibindo-o em seus resultados mesmo o nome do interessado já tendo sido excluído? Os sítios de busca, como o Google, disponibilizam uma ferramenta por meio da qual o usuário realiza as pesquisas acerca de qualquer assunto ou conteúdo existente na web, mediante fornecimento de critérios ligados ao resultado desejado, obtendo, como resposta imediata, os respectivos links das páginas onde a informação pode ser localizada. Ok, isso todo mundo sabe porque já fez uma pesquisa no Google. O que nem todo mundo sabe é que, para fazer isso, o Google já rastreou e indexou, previamente, trilhões de páginas disponíveis na web, organizando essas informações em seus bancos de dados. Em outras palavras mais simples, é como se o Google constantemente rastreasse as páginas da web e organizasse essas informações em "estantes" para que, quando o usuário pesquise, esta busca seja rápida e forneça os resultados necessários conforme eles já foram organizados. Essa indexação ("organização em estantes") é atualizada, em regra, da seguinte forma: o sistema do Google vai acrescentando novas páginas à essa base de dados a partir de novas varreduras que faz na web. No entanto, em regra, o Google não retira essas páginas da indexação (não retira os sites das suas "estantes"). Essa exclusão até ocorre, mas de acordo com critérios e segundo uma periodicidade que é prevista no algoritmo do sistema de buscas do Google. Não se trata de algo automático e imediato. Se você publicou algum texto em um blog e depois de um tempo excluiu uma frase dele, isso não significa que haverá a imediata exclusão disso do sistema de busca do Google. Esta ferramenta possui mecanismos próprios para realizar a atualização de seus resultados.

O fato de o Google não atualizar instantaneamente esses resultados gera, por si só, dano moral aos interessados? NÃO. Segundo o STJ, essa ausência de atualização constante não gera, por si só, dano suscetível de imputar ao provedor de pesquisa a responsabilidade civil. O resultado apontado em decorrência da ausência de atualização automática não é o conteúdo ofensivo em si, mas a mera indicação do link de uma página. Ao acessar a página por meio do link, todavia, o conteúdo exibido é exatamente aquele existente na página já atualizada e, portanto, livre do conteúdo ofensivo e do potencial danoso. Em outras palavras, mesmo exibindo nos resultados uma frase que não mais existe no site, quando a pessoa abre o link informado não irá encontrar aquela referência e, portanto, não há, nesta desatualização, um fato que gere, por si só, dano moral.

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Não há dano moral quando a Google exibe, como resultado de uma busca, a indicação do link de um site que não mais contém aquela palavra ou frase porque já foi removida. Ex: determinado blog publicou a frase "João de Tal é um péssimo médico". Depois de um tempo, o administrador deste blog retirou a expressão, mas manteve o restante do texto. A Google demorou para atualizar seu sistema de buscas e continua exibindo o link deste blog quando a pessoa digita o nome "João de Tal" mesmo não havendo mais qualquer referência ao nome no texto. Esse fato não gera, por si só, dano moral a ser pago pelo Google. STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/5/2016 (Info 583). Não há dano moral, mas essa situação pode ser considerada como uma falha do sistema de buscas? É possível que o interessado requeira que o Google corrija esta vinculação desatualizada que está sendo feita com seu nome? SIM. Ao espelhar um resultado que um dia esteve disponível mas que não mais se encontra publicado na rede mundial na data da busca, a ferramenta de pesquisa apresenta-se falha em seu funcionamento, não correspondendo adequadamente ao fim a que se destina. Como já vimos, o serviço oferecido pelo Google é regido também pelo CDC e este diploma estabelece, em seu art. 20, que é dever dos fornecedores entregarem serviços que se mostrem adequados aos fins que razoavelmente deles se esperam. Assim, o Google tem o dever de corrigir sua base de dados e adequá-la aos resultados de busca atuais, fazendo cessar a vinculação do nome do autor à página por ele indicada. Este é um dever seu enquanto fornecedor do serviço de busca, ou seja, o dever de entregar respostas adequadas ao critério pesquisado. Em um ambiente tão dinâmico e complexo como a internet, é normal que ocorram falhas e incorreções decorrentes de informações desatualizadas. Também por isso o STJ entendeu que não caberia indenização por danos morais. No entanto, depois de o consumidor comunicar ao Google que está havendo essa incorreção, é dever dele corrigir a falha de seu serviço. A ausência de congruência entre o resultado atual e os termos pesquisados, ainda que decorrentes da posterior alteração do conteúdo original publicado pela página, configuram falha na prestação do serviço de busca, que deve ser corrigida nos termos do art. 20 do CDC, por frustrarem as legítimas expectativas dos consumidores. STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/5/2016 (Info 583). Caso o provedor não retire o resultado incorreto (desatualizado), nesta hipótese, podemos dizer que existe dano moral? Também NÃO. Não há dano moral quando o provedor de busca, mesmo após ser cientificado pelo consumidor, continua exibindo resultado desatualizado. Ex: ao se digitar o nome desse consumidor (argumento de pesquisa) continua aparecendo, entre os resultados, determinado site que tinha realmente este nome do consumidor, mas que já foi retirado de lá. Em outras palavras, não há dano moral quando o provedor, mesmo depois de alertado sobre a falha, exibe associação indevida entre o argumento de pesquisa e o resultado de busca. STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/5/2016 (Info 583). Mas neste caso, o consumidor ficará prejudicado? Ficará sem instrumentos para corrigir a falha? NÃO. O consumidor poderá ajuizar ação contra o provedor de pesquisa (no caso, o Google) pedindo que seja corrigida a falha, inclusive com a fixação de astreintes (multa cominatória). O provedor, para tentar se isentar do dever de corrigir a falha, poderá argumentar que esse erro não gera nenhum prejuízo ao consumidor? Esta alegação é válida? NÃO.

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O provedor de busca cientificado pelo consumidor sobre vínculo virtual equivocado entre o argumento de pesquisa (nome de consumidor) e o resultado de busca (sítio eletrônico) é obrigado a desfazer a referida indexação, ainda que esta não tenha nenhum potencial ofensivo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/5/2016 (Info 583).

CONTRATO DE SEGURO Indenização securitária pelo valor do automóvel no momento do sinistro

Importante!!!

No caso de contrato de seguro de automóvel, havendo perda total, a seguradora deverá indenizar o segurado com base na tabela vigente na data do sinistro, e não na data do efetivo pagamento (liquidação do sinistro).

É abusiva a cláusula de contrato de seguro de automóvel que, na ocorrência de perda total do veículo, estabelece a data do efetivo pagamento (liquidação do sinistro) como parâmetro do cálculo da indenização securitária a ser paga conforme o valor médio de mercado do bem, em vez da data do sinistro.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.546.163-GO, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 5/5/2016 (Info 583).

Tabela FIPE FIPE é a sigla de "Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas", uma organização de direito privado ligada ao Departamento de Economia da USP. Esta fundação elabora, mensalmente, uma tabela prevendo os preços médios dos veículos usados que são vendidos no mercado nacional. Ex: segundo a tabela FIPE, um Fiat Palio City 1.0 4p, ano 2000, custa em, em julho de 2016, R$ 10.435,00. Os valores estabelecidos na tabela variam em função da região, conservação, cor, acessórios ou qualquer outro fator que possa influenciar as condições de oferta e procura por um veículo específico. Vale ressaltar que o preço dos carros, em regra, vai diminuindo com o passar dos meses. Ex: em maio de 2016, o valor do mesmo Fiat Palio City 1.0 4p, ano 2000, era de R$ 10.516,00 na tabela FIPE. Já em julho de 2016, caiu para R$ 10.435,00, como vimos acima. As seguradoras utilizam a Tabela FIPE para determinar o valor do automóvel segurado. Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa "XX" fez um contrato de seguro para cobrir possíveis sinistros em seus veículos. Em abril de 2016, um caminhão da empresa envolveu-se em um acidente e houve perda total do veículo. Na data do sinistro, o caminhão estava avaliado em R$ 110 mil, segundo a Tabela FIPE. A empresa acionou o seguro e iniciaram-se os procedimentos para "liquidação do sinistro", ou seja, pagamento da indenização. Em regra, o procedimento de liquidação do sinistro não pode durar mais que 30 dias, conforme regras da SUSEP (Superintendência de Seguros Privados). No entanto, em alguns casos, é possível sim que atrase mais que isso se houver dúvida fundada e justificável, situação em que serão necessárias novas exigências, inclusive de documentos. Voltando ao nosso exemplo, suponhamos que três meses depois, ou seja, em julho de 2016, a seguradora realizou o pagamento. Ocorre que aí surgiu um problema. Isso porque em julho de 2016, segundo a Tabela FIPE, o caminhão valia R$ 100 mil, ou seja, menos que em abril de 2016. O contrato de seguro assinado prevê que o valor da indenização deve ser calculado no momento da realização do sinistro (data do pagamento). Diante disso, a seguradora quer pagar apenas R$ 100 mil. A empresa, no entanto, não se conforma e deseja receber R$ 110 mil (preço do veículo na data do sinistro).

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Neste caso concreto, quem tem razão, segundo o STJ? A empresa. A indenização deve ser calculada com base no valor médio de mercado considerando-se a data do sinistro. Mas e a cláusula contratual afirmando que o valor deve ser calculado com base na data do pagamento? Trata-se de cláusula abusiva, que deve ser tida como não-escrita. É abusiva a cláusula de contrato de seguro de automóvel que, na ocorrência de perda total do veículo, estabelece a data do efetivo pagamento (liquidação do sinistro) como parâmetro do cálculo da indenização securitária a ser paga conforme o valor médio de mercado do bem, em vez da data do sinistro. STJ. 3ª Turma. REsp 1.546.163-GO, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 5/5/2016 (Info 583). Princípio indenitário O CC/2002 prevê, em seu art. 781, o chamado princípio indenitário, segundo o qual a indenização securitária deve corresponder ao valor real dos bens perdidos, destruídos ou danificados que o segurado possuía logo antes da ocorrência do sinistro. Veja:

Art. 781. A indenização não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento do sinistro, e, em hipótese alguma, o limite máximo da garantia fixado na apólice, salvo em caso de mora do segurador.

Dessa forma, o total da indenização está, em regra, limitado ao valor do dano atual e efetivo sofrido. Em outras palavras, deve-se pagar pelo prejuízo que a pessoa sofreu. Isso se justifica porque o contrato de seguro não deve ser causa de enriquecimento do segurado. O seu objetivo é apenas o de restabelecer a situação das coisas, em nível patrimonial, ao mesmo patamar de antes do sinistro. Por força do princípio indenizatório, a indenização deve corresponder ao valor do efetivo prejuízo experimentado pelo segurado no momento do sinistro, mesmo em caso de perda total dos bens garantidos. Assim, é abusiva a cláusula contratual do seguro de automóvel que impõe o cálculo da indenização securitária com base no valor médio de mercado do bem vigente na data de liquidação do sinistro, pois onera desproporcionalmente o segurado, colocando-o em situação de desvantagem exagerada, indo de encontro ao princípio indenitário, visto que os veículos automotores sofrem, com o passar do tempo, depreciação econômica, e quanto maior o lapso entre o sinistro e o dia do efetivo pagamento, menor será a recomposição do patrimônio garantido. Esta cláusula é, portanto, uma disposição unilateral e benéfica somente à seguradora, a qual poderá também atrasar o dia do pagamento, ante os trâmites internos e burocráticos de apuração do sinistro. Desse modo, no caso de contrato de seguro de automóvel, havendo perda total, a seguradora deverá indenizar o segurado com base na tabela vigente na data do sinistro, e não na data do efetivo pagamento (liquidação do sinistro).

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CONTRATO DE LOCAÇÃO Locador de locação comercial não tem a obrigação legal de adaptar o imóvel

às peculiaridades da atividade que será explorada pelo locatário

Na hipótese de locação de imóvel comercial, salvo disposição contratual em sentido contrário, a obrigação do locador restringe-se tão somente à higidez e à compatibilidade do imóvel ao uso comercial e não abrange a adaptação do bem às peculiaridades da atividade a ser explorada pelo locatário ou mesmo o dever de diligenciar perante os órgãos públicos para obter alvará de funcionamento ou qualquer outra licença necessária ao desenvolvimento do negócio.

Em outras palavras, na hipótese de locação comercial, a Lei não impõe ao locador o encargo de adaptar o imóvel às peculiaridades da atividade que será explorada pelo locatário. Também não obriga o locador a diligenciar junto aos órgãos públicos para obter alvará de funcionamento ou qualquer outra licença necessária ao desenvolvimento do negócio. Essas são obrigações do locatário, salvo se houver alguma previsão contratual em sentido contrário.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.317.731-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/4/2016 (Info 583).

Imagine a seguinte situação hipotética: João desejava abrir um bar em determinado bairro. Localizou um imóvel onde funcionava uma loja e que estava para alugar e entrou em contato com Pedro (proprietário). João e Pedro fizeram, então, um contrato de locação comercial. Pedro entregou as chaves e a empresa tomou posse do imóvel, iniciando a decoração do local, colocação de placa, das mesas etc. Ocorre que João não conseguiu obter alvará de funcionamento porque a Prefeitura afirmou que nesta área, apesar de ser comercial, não era permitida a instalação de bares por força do plano diretor. Além disso, também não houve autorização do Corpo de Bombeiros. Diante disso, Pedro, que já estava devendo três meses de aluguel, devolveu o imóvel para João e afirmou que estava desobrigado de pagar a quantia porque o imóvel teria sido alugado para ele sem que estivesse em condições de uso para o fim a que se destinava. A tese de Pedro (locatário) foi aceita pelo STJ? NÃO. Na hipótese de locação de imóvel comercial, salvo disposição contratual em sentido contrário, a obrigação do locador restringe-se tão somente à higidez e à compatibilidade do imóvel ao uso comercial e não abrange a adaptação do bem às peculiaridades da atividade a ser explorada pelo locatário ou mesmo o dever de diligenciar perante os órgãos públicos para obter alvará de funcionamento ou qualquer outra licença necessária ao desenvolvimento do negócio. STJ. 3ª Turma. REsp 1.317.731-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/4/2016 (Info 583). A regularização do bem perante os órgãos públicos não está entre as obrigações conferidas ao locador pelo art. 22, I, da Lei nº 8.245/91, sendo fato imputável exclusivamente ao locatário. Ademais, não havia nenhuma cláusula no contrato que estipulasse a obrigação do locador de adaptar o imóvel para fins de funcionamento de um bar. Na verdade, no contrato só dizia que o locatário faria uso do imóvel para fins comerciais. Obrigação do locador de entregar imóvel que sirva ao uso a que se destina Segundo o art. 22, I, da Lei nº 8.245/91 (Lei do Inquilinato), o locador é obrigado a "entregar ao locatário o imóvel alugado em estado de servir ao uso a que se destina". A locação urbana pode ser:

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para o uso residencial: destinado à moradia (arts. 46 e 47);

para temporada: destinado à residência temporária do locatário, para prática de lazer, realização de cursos, tratamento de saúde, feitura de obras em seu imóvel, e outros fatos que decorrem tão somente de determinado tempo, e contratada por prazo não superior a 90 dias, esteja ou não mobiliado o imóvel (arts. 48 a 50); ou

para o uso comercial: destinado para instalação de escritórios, comércio, indústria ou qualquer outra atividade que não seja residencial (arts. 51 a 57).

Logo, quando o art. 22, I, afirma que é dever do locador entregar ao locatário o imóvel de forma compatível com o uso a que se destina, o que se está dizendo é que ele deve ser entregue com condições de ser utilizado para locação residencial, para temporada ou comercial (a depender do caso). Assim, por exemplo, na hipótese de locação residencial, é dever do locador observar se o local onde situado o imóvel autoriza a utilização do bem para o fim de moradia, se apresenta condições de uso e gozo e outras condições de habitabilidade. Já nos casos de locação para fins comerciais, a obrigação do locador restringe-se tão somente à higidez e à compatibilidade do imóvel ao uso comercial. Em outras palavras, basta que o locador alugue um imóvel que possa ser utilizado para atividades empresariais. O locador não tem a obrigação de entregar um imóvel que seja adequado para a atividade comercial específica que o locatário deseja exercer. Compete, portanto, ao locatário analisar perviamente se o bem que ele irá alugar é compatível com a atividade empresarial que deseja realizar no local. Esse exame deve envolver inclusive os documentos relativos a esse imóvel. Locador não tem obrigação de preparar o imóvel para a atividade que será explorada pelo locatário Assim, na hipótese de locação comercial, a Lei não impõe ao locador o encargo de adaptar o imóvel às peculiaridades da atividade que será explorada pelo locatário. Também não obriga o locador a diligenciar junto aos órgãos públicos para obter alvará de funcionamento ou qualquer outra licença necessária ao desenvolvimento do negócio. Essas são obrigações do locatário, salvo se houver alguma previsão contratual em sentido contrário. Postura colaborativa do locador Vale ressaltar, no entanto, que o locador, em virtude dos chamados deveres anexos à boa-fé (deveres de informação, cooperação, lealdade e probidade) tem a obrigação de colaborar com o locatário fornecendo os documentos e as informações necessárias à implementação da atividade no imóvel objeto da locação. Isso, contudo, é diferente de ele ter a obrigação de resolver os entraves.

CONTRATOS AGRÁRIOS Empresa rural de grande porte não tem direito de preferência previsto no Estatuto da Terra

O direito de preferência para a aquisição do imóvel arrendado, previsto no art. 92, § 3º, do Estatuto da Terra, não é aplicável à empresa rural de grande porte (arrendatária rural).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.447.082-TO, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/5/2016 (Info 583).

Arrendamento rural De forma resumida, arrendamento rural é um contrato por meio do qual o arrendador aluga um imóvel que será utilizado por outra pessoa (arrendatário) para a exploração de atividade rural (agrícola, pecuária, granjeira etc).

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Vamos detalhar essa definição: Arrendamento rural é... - o contrato agrário - por meio do qual uma pessoa se obriga a ceder à outra, - por tempo determinado ou indeterminado, - o uso e gozo de imóvel rural (no todo ou em parte), - incluindo, ou não, outros bens, benfeitorias e ou facilidades, - com o objetivo de que nele seja exercida atividade de - exploração agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista, - pagando o arrendatário ao arrendador uma retribuição ou aluguel, - observados os limites percentuais da Lei. O contrato de arrendamento rural é regido pelo Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/64) e pelo Decreto nº 59.566/66. Direito de preferência O Estatuto da Terra prevê que, se o arrendador quiser vender o imóvel, o arrendatário terá direito de preferência, ou seja, terá direito de comprar, desde que aceite pagar o valor que os demais interessados haviam oferecido. Veja como isso está previsto:

Art. 92 (...) § 3º No caso de alienação do imóvel arrendado, o arrendatário terá preferência para adquiri-lo em igualdade de condições, devendo o proprietário dar-lhe conhecimento da venda, a fim de que possa exercitar o direito de perempção dentro de trinta dias, a contar da notificação judicial ou comprovadamente efetuada, mediante recibo. § 4º O arrendatário a quem não se notificar a venda poderá, depositando o preço, haver para si o imóvel arrendado, se o requerer no prazo de seis meses, a contar da transcrição do ato de alienação no Registro de Imóveis.

Imagine agora a seguinte situação adaptada: A "XXX Agropecuária" é uma empresa rural de grande porte. João, dono de uma fazenda, firmou contrato particular de arrendamento rural com a "XXX Agropecuária" por meio do qual esta, arrendatária, poderia explorar, durante 2 anos, o imóvel de João, devendo pagar a ele, em contraprestação, R$ 20 mil por mês. Faltando alguns meses para chegar ao fim o prazo de vigência do contrato, João vende o imóvel para Pedro, dono da fazenda vizinha. Quando descobriu que houve a alienação, a empresa arrendatária exigiu seu direito de preferência, nos termos do art. 92, §§ 3º e 4º do Estatuto da Terra.

O pedido da empresa deverá ser acolhido? NÃO.

O direito de preferência para a aquisição do imóvel arrendado, previsto no art. 92, § 3º, do Estatuto da Terra, não é aplicável à empresa rural de grande porte (arrendatária rural). STJ. 3ª Turma. REsp 1.447.082-TO, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/5/2016 (Info 583).

Regulamento do Estatuto da Terra limita os direitos nele previstos O Estatuto da Terra não impôs nenhuma restrição quanto à pessoa do arrendatário para o exercício do direito de preferência, de modo que, ao menos numa interpretação literal, nada obstaria a que uma grande empresa rural viesse a exercer o direito de preempção. Porém, o Decreto nº 59.566/66, que regulamenta o Estatuto da Terra, estabeleceu que os benefícios nele previstos seriam restritos àqueles que explorem atividade rural direta e pessoalmente, como o típico homem do campo (art. 38), fazendo uso eficiente e correto da terra, contando essencialmente com a força de trabalho de sua família (art. 8º).

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Estatuto da Terra deve ser examinado à luz da função social da propriedade e da justiça social Analisando-se o Estatuto da Terra como um microssistema normativo, percebe-se que seus princípios orientadores são, essencialmente, a função social da propriedade e a justiça social (arts. 1º e 2º da Lei nº 4.504/64). Portanto, cabe interpretar o direito de preferência à luz desses dois princípios. Sob o prisma da função social da propriedade, a terra é vista como um meio de produção que deve ser mantido em grau satisfatório de produtividade, observadas as normas ambientais e trabalhistas. No caso do arrendamento, o arrendatário tem total interesse em manter a terra produtiva, pois seria antieconômico pagar aluguel e deixar a terra ociosa. Desse modo, o exercício do direito de preferência pelo arrendatário possibilitaria a continuidade da atividade produtiva, atendendo-se, assim, ao princípio da função social da propriedade. Observe-se que essa conclusão independe do porte econômico do arrendatário, pois o foco é produtividade da terra, respeitadas as normas ambientais e trabalhistas. Entretanto, os princípios da função social da propriedade e da justiça social nem sempre andam juntos. O princípio da justiça social preconiza a desconcentração da propriedade das mãos dos grandes grupos econômicos e dos grandes proprietários, para que seja dado acesso à terra ao homem do campo e à sua família. Preconiza, também, a proteção do homem do campo nas relações jurídicas de direito agrário. A falta ou a ineficiência de uma política agrária faz com que rurícolas migrem para as grandes cidades, onde, não raras vezes, são submetidos a condições de vida degradantes, como temos testemunhado em nosso país, ao longo de décadas de êxodo rural contínuo. Assim, não é por outra razão que o Estatuto da Terra assegura a todo agricultor o direito de "permanecer na terra que cultive", bem como estabelece que é dever do Poder Público "promover e criar condições de acesso do trabalhador rural à propriedade da terra" (art. 2º, §§ 2º e 3º). Direito de preferência só atende ao princípio da justiça social quando o arrendatário é um homem do campo Diante disso, o direito de preferência previsto no Estatuto da Terra atende ao princípio da justiça social quando o arrendatário é um homem do campo, pois possibilita que esse permaneça na terra, passando à condição de proprietário. Por outro lado, quando o arrendatário é uma grande empresa, desenvolvendo o chamado agronegócio, o princípio da justiça social deixa de ter aplicabilidade, pois ausente a vulnerabilidade social que lhe é pressuposto. Tem-se, na hipótese em análise, portanto, uma situação em que, embora o princípio da função social seja aplicável, não o é o princípio da justiça social. Assim, agiu corretamente o Decreto nº 59.566/66 ao limitar os benefícios nele previstos a quem explore a terra direta e pessoalmente, como verdadeiro homem do campo, contando essencialmente com a força de trabalho de sua família. Quando a arrendatária é uma empresa rural de grande porte incide o Código Civil Dessa forma, quando a arrendatária é uma empresa rural de grande porte, não lhe é aplicável o Estatuto da Terra, incidindo o Código Civil, que não prevê direito de preferência no contrato de locação de coisas, cabendo às partes pactuarem uma cláusula com esse teor. Se fosse reconhecido direito de preferência neste caso, as grandes empresas rurais exerceriam esse direito contra os terceiros adquirentes, ainda que estes sejam homens do campo, invertendo-se, assim, a lógica de proteção do Estatuto da Terra que é, como já dito, proteger o pequeno produtor.

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AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA Termo inicial do prazo prescricional da petição de herança

em caso de reconhecimento póstumo da paternidade

Na hipótese em que ação de investigação de paternidade post mortem tenha sido ajuizada após o trânsito em julgado da decisão de partilha de bens deixados pelo de cujus, o termo inicial do prazo prescricional para o ajuizamento de ação de petição de herança é a data do trânsito em julgado da decisão que reconheceu a paternidade, e não o trânsito em julgado da sentença que julgou a ação de inventário.

Em suma, o termo inicial para o ajuizamento da ação de petição de herança é a data do trânsito em julgado da ação de investigação de paternidade, quando, em síntese, confirma-se a condição de herdeiro.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.475.759-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/5/2016 (Info 583).

Ação de petição de herança Ação de petição de herança é aquela proposta por alguém que quer ser reconhecido como herdeiro do falecido e, como via de consequência, ter direito à herança (no todo ou em parte). Petição = pedido. Logo, petição de herança significa pedir a herança. Trata-se de ação para que um herdeiro preterido possa reivindicar a totalidade ou parte do acervo hereditário, sendo movida contra o detentor da herança, com o objetivo de que seja realizada nova partilha dos bens. Ex1: mulher vivia em união estável com o morto, mas isso não estava oficializado e os filhos do defunto não a reconhecem como sua companheira. Ela poderá ajuizar ação de reconhecimento de união estável post mortem cumulada com petição de herança. Ex2: filho não reconhecido pelo morto poderá ajuizar ação de reconhecimento de paternidade post mortem cumulada com petição de herança. Previsão A petição de herança está prevista nos arts. 1.824 a 1.828 do CC:

Art. 1.824. O herdeiro pode, em ação de petição de herança, demandar o reconhecimento de seu direito sucessório, para obter a restituição da herança, ou de parte dela, contra quem, na qualidade de herdeiro, ou mesmo sem título, a possua.

Prazo prescricional A pretensão de petição de herança prescreve no prazo de 10 anos, nos termos do art. 205 do CC, já que não existe um prazo específico fixado no Código:

Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.

Imagine a seguinte situação hipotética: João, viúvo, faleceu e deixou dois filhos: Antônio e Bento. Com a morte, foi aberto inventário e, em 2002, realizou-se a partilha dos bens de João entre os dois herdeiros acima mencionados. Ocorre que havia uma história que poucos sabiam. João teve mais um filho (Carlos), que não foi registrado em seu nome. Em 2012, Maria, mãe de Carlos, decide contar a verdade para seu filho e o incentiva a procurar seus direitos. Diante disso, Carlos ajuíza ação de investigação de paternidade post mortem pedindo que seja reconhecido como filho de João. Havia várias provas desse fato e a sentença foi procedente e transitou em julgado em 2014. Em 2015, Carlos propôs ação de petição de herança contra Antônio e Bento pedindo a sua parte na herança.

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Os réus suscitaram a ocorrência de prescrição, argumentando que a ação de petição de herança prescreve em 10 anos. Como a sentença que julgou o inventário e fez a partilha transitou em julgado em 2002, arguiram que João tinha até o ano de 2012 para propor a demanda. O argumento dos réus foi aceito pelo STJ? Houve a prescrição considerando que a ação de petição de herança foi proposta mais de 10 anos depois do trânsito em julgado da partilha? NÃO. Na hipótese em que ação de investigação de paternidade post mortem tenha sido ajuizada após o trânsito em julgado da decisão de partilha de bens deixados pelo de cujus, o termo inicial do prazo prescricional para o ajuizamento de ação de petição de herança é a data do trânsito em julgado da decisão que reconheceu a paternidade, e não o trânsito em julgado da sentença que julgou a ação de inventário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.475.759-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/5/2016 (Info 583). Segundo o art. 189 do CC, o prazo prescricional somente começa a correr quando há violação do direito subjetivo alegado. Não há que se falar em petição de herança enquanto não houver a confirmação da paternidade. Dessa forma, conclui-se que o termo inicial para o ajuizamento da ação de petição de herança é a data do trânsito em julgado da ação de investigação de paternidade, quando, em síntese, confirma-se a condição de herdeiro. No mesmo sentido é o entendimento da doutrina majoritária: "O termo inicial do lapso prescricional é coincidente com a data da abertura da sucessão, como já decidiu o Supremo Tribunal Federal, uma vez que não se pode postular acerca de herança de pessoa viva. Somente depois da morte há legitimação ativa para suceder, por parte de quem tiver de pleitear a herança. (...) Todavia, se a legitimação depender do prévio reconhecimento da paternidade, o dies a quo do prazo prescricional será a data em que o direito puder ser exercido, ou seja, o momento em que for reconhecida a paternidade, e não o da abertura da sucessão." (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 10ª ed., v. 7. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 142).

DIREITO DO CONSUMIDOR

BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES A Súmula 385 do STJ aplica-se também para ações propostas pelo consumidor

contra o credor que efetivou a inscrição irregular

Importante!!!

A inscrição indevida comandada pelo credor em cadastro de proteção ao crédito, quando preexistente legítima inscrição, não enseja indenização por dano moral, ressalvado o direito ao cancelamento.

A Súmula 385-STJ também é aplicada às ações voltadas contra o suposto credor que efetivou inscrição irregular.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.386.424-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 27/4/2016 (Info 583).

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Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17

Imagine a seguinte situação hipotética: João deixou de pagar a prestação de uma geladeira. Diante disso, a loja comunicou o fato ao SERASA, que expediu uma correspondência ao endereço do consumidor. Nesta carta, João foi informado de que existia a referida dívida e que se ela não fosse regularizada no prazo de 10 dias, seu nome seria inserido no cadastro negativo. Infelizmente João não tinha condições de quitar o débito e seu nome foi incluído no banco de dados do SERASA. Passaram-se dois anos deste fato. Determinado dia, João recebe uma nova carta do SERASA afirmando que a operadora de telefonia celular estava pedindo a sua inclusão no banco de dados de devedores em virtude de ele ter deixado de pagar a conta de dezembro/2015, no valor de R$ 100. O nome de João foi, então, incluído no SERASA por essa nova conta. Diante desse fato, João propôs ação de indenização por danos morais contra a operadora de telefonia afirmando que ela ordenou indevidamente sua inscrição no cadastro de inadimplentes considerando que a dívida já estava paga. Em sua defesa, a companhia telefônica afirmou que já ordenou a retirada do nome de João do SERASA, mas argumentou que não deveria haver condenação por danos morais, tendo em vista que o consumidor já possuía outra anotação legítima no cadastro de inadimplentes. Invoca, para fundamentar sua tese, a súmula 385 do STJ:

Súmula 385-STJ: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.

João, assistido pela Defensoria Pública, refutou o argumento da operadora de telefonia afirmando que os precedentes que deram origem a essa súmula 385 foram de ações propostas pelo consumidor contra os cadastros de inadimplência (consumidor x SERASA/SPC). Alegou, portanto, que a súmula 385-STJ não se aplicaria para ações propostas pelo consumidor lesado contra o próprio credor, como no caso em tela.

A tese de João foi aceita pelo STJ? A súmula 385 do STJ aplica-se apenas para os casos de ações propostas pelo consumidor contra os cadastros de inadimplência (SPC/SERASA)? NÃO. A Súmula 385-STJ também é aplicada às ações voltadas contra o suposto credor que efetivou inscrição irregular.

Na prática forense, esta tese levantada por João é comumente alegada pelos Defensores Públicos e advogados e chegou até mesmo a ser acolhida em muitos julgados, inclusive do STJ. No entanto, o Tribunal, ao reapreciar o tema em sede de recurso especial repetitivo, pacificou o assunto em sentido contrário e definiu a seguinte tese:

A inscrição indevida comandada pelo credor em cadastro de proteção ao crédito, quando preexistente legítima inscrição, não enseja indenização por dano moral, ressalvado o direito ao cancelamento. STJ. 2ª Seção. REsp 1.386.424-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 27/4/2016 (Info 583).

Realmente, a súmula 385 do STJ surgiu de precedentes que envolviam ações propostas pelo consumidor contra o SPC/SERASA. Isso é verdade. No entanto, o STJ afirmou que a razão de ser deste enunciado pode ser aplicada também para ações ajuizadas pelo consumidor contra o credor. Não há nada que justifique tratamento diferenciado.

Ressalte-se, todavia, que isso não quer dizer que o credor não possa responder por algum outro tipo de excesso. A anotação irregular, já havendo outras inscrições legítimas contemporâneas, não enseja, por si só, dano moral. Mas o dano moral pode ter por causa de pedir outras atitudes do suposto credor, como a insistência em uma cobrança eventualmente vexatória e indevida, ou o desleixo de cancelar, assim que ciente do erro, a anotação indevida.

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ECA

CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA Cumprimento imediato da internação fixada na sentença ainda que tenha havido recurso

Importante!!!

Atualize o Info 553-STJ

Atualize seu livro de 2015 (p. 717)

Atualize livro Julgados Resumidos (p. 385)

É possível que o adolescente infrator inicie o imediato cumprimento da medida socioeducativa de internação que lhe foi imposta na sentença, mesmo que ele tenha interposto recurso de apelação e esteja aguardando seu julgamento.

Esse imediato cumprimento da medida é cabível ainda que durante todo o processo não tenha sido imposta internação provisória ao adolescente, ou seja, mesmo que ele tenha permanecido em liberdade durante a tramitação da ação socioeducativa.

Em uma linguagem mais simples, o adolescente infrator, em regra, não tem direito de aguardar em liberdade o julgamento da apelação interposta contra a sentença que lhe impôs a medida de internação.

STJ. 3ª Seção. HC 346.380-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/4/2016 (Info 583).

No caso de apuração de ato infracional, aplica-se subsidiariamente o CPP ou o CPC? Depende. Aplica-se:

o CPP para o processo de conhecimento (representação, produção de provas, memoriais, sentença);

o CPC para as regras do sistema recursal (art. 198 do ECA). Resumindo: 1ª opção: normas do ECA. Na falta de normas específicas:

CPP: para regular o processo de conhecimento.

CPC: para regular o sistema recursal. Imagine agora a seguinte situação adaptada: João, adolescente, praticou ato infracional equiparado a roubo majorado (art. 157, § 2º, I e II, do CP). Durante todo o processo, João permaneceu em liberdade. O magistrado proferiu sentença aplicando-lhe medida socioeducativa de internação. A defesa interpôs recurso de apelação. A apelação foi recebida apenas no seu efeito devolutivo (ou seja, não foi recebida no efeito suspensivo). Como o recurso não suspendeu a sentença, isso significa que, na prática, o adolescente deverá aguardar no centro de internação o julgamento da apelação. Em outros termos, foi negado ao adolescente o direito de recorrer em liberdade e ele iniciará o cumprimento da medida de internação. A decisão foi acertada? Em regra, a apelação contra a sentença que aplica medida socioeducativa de internação deverá ser recebida no efeito meramente devolutivo? É possível o imediato cumprimento da medida de internação mesmo que o adolescente tenha interposto recurso? SIM.

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É possível que o adolescente infrator inicie o imediato cumprimento da medida socioeducativa de internação que lhe foi imposta na sentença, mesmo que ele tenha interposto recurso de apelação e esteja aguardando seu julgamento. Esse imediato cumprimento da medida é cabível ainda que durante todo o processo não tenha sido imposta internação provisória ao adolescente, ou seja, mesmo que ele tenha permanecido em liberdade durante a tramitação da ação socioeducativa. Em uma linguagem mais simples, o adolescente infrator, em regra, não tem direito de aguardar em liberdade o julgamento da apelação interposta contra a sentença que lhe impôs a medida de internação. STJ. 3ª Seção. HC 346.380-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/4/2016 (Info 583). Tema outrora polêmico Este tema era extremamente polêmico no STJ, havendo inúmeras decisões em ambos os sentidos. Vale ressaltar, no entanto, que a decisão proferida neste HC 346.380-SP foi tomada pela 3ª Seção (que abrange a 5ª e 6ª Turmas, que julgam direito infracional). Dessa forma, a tendência é que esta posição se consolide, apesar do resultado da votação ter sido extremamente apertado (5x4). Havendo mais alguma novidade, você será alertado. Vejamos, abaixo, os principais argumentos do STJ. Iniciar o cumprimento imediato atende aos princípios da proteção integral, da prioridade absoluta e da atualidade A medida socioeducativa tem como missão precípua não a punição pura e simples do adolescente em conflito com a lei, mas, principalmente, a ressocialização e a proteção do jovem infrator. As medidas previstas nos arts. 112 a 125 do ECA não são penas e possuem o objetivo primordial de proteção dos direitos do adolescente, de modo a afastá-lo da conduta infracional e de uma situação de risco. Isso atende aos princípios da proteção integral e da prioridade absoluta (art. 227 da CF/88 e arts. 3º e 4º do ECA). Desse modo, postergar (retardar) o início de cumprimento da medida socioeducativa imposta na sentença significa fazer com que se perca a atualidade da resposta estatal, enfraquecendo o objetivo ressocializador e permitindo que o adolescente permaneça em situação de risco, uma vez que ele continuará exposto às mesmas circunstâncias que o levaram à prática infracional. Não há ofensa ao princípio da não-culpabilidade (presunção de inocência) porque a medida socioeducativa não é pena Ao analisar o tema, não se deve equiparar o adolescente que pratica ato infracional ao adulto imputável autor de crime. De acordo com o art. 228 da CF/88, os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis e estão sujeitos às normas da legislação especial. No processo penal, as regras têm por objetivo, fundamentalmente, proteger o acusado contra ingerências abusivas do Estado em sua liberdade. A pena criminal é uma punição e o princípio da presunção de não culpabilidade é levado ao extremo. Por outro lado, a medida socioeducativa não representa punição, sendo um mecanismo de proteção do adolescente e da sociedade, possuindo natureza pedagógica e ressocializadora. Por essas razões, para o STJ, a imediata execução da sentença que aplica medida socioeducativa não ofende o princípio da não culpabilidade (art. 5º, LVII, da CF/88). Princípio da intervenção precoce Ainda que o adolescente infrator tenha respondido ao processo de apuração de prática de ato infracional em liberdade, a prolação de sentença impondo medida socioeducativa de internação autoriza o cumprimento imediato da medida imposta, tendo em vista os princípios que regem a legislação menorista, um dos quais é o princípio da intervenção precoce na vida do adolescente, positivado no parágrafo único, VI, do art. 100 do ECA.

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Art. 100 (...) Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas: (...) VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja conhecida;

Revogação do inciso VI do art. 198 do ECA Um argumento contrário ao cumprimento imediato da medida socioeducativa era o inciso VI do art. 198 do ECA, que previa que os recursos seriam recebidos apenas no efeito devolutivo, sendo que este inciso foi revogado pela Lei nº 12.010/2009. Veja o que dizia o inciso VI:

VI - a apelação será recebida em seu efeito devolutivo. Será também conferido efeito suspensivo quando interposta contra sentença que deferir a adoção por estrangeiro e, a juízo da autoridade judiciária, sempre que houver perigo de dano irreparável ou de difícil reparação; (Revogado pela Lei nº 12.010/2009)

Dessa forma, alguns autores defendiam a seguinte tese: ora, como o inciso VI foi revogado, isso significa que agora os recursos no ECA deverão obedecer a legislação subsidiária, ou seja, o CPC. E o art. art. 1.012 do CPC/2015 afirma que, em regra, o recurso de apelação deverá ser recebido no seu duplo efeito. Diante disso, para essa tese, com a revogação do inciso VI, não poderia ser admitida a execução provisória de sentença que impõe medida socioeducativa. A maioria dos Ministros do STJ, contudo, não aderiu a essa tese e contra-argumentou afirmando que a regra no ECA continua sendo que os recursos tenham efeito apenas devolutivo. Isso porque continua a vigorar o art. 215 do ECA, que prevê:

Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparável à parte.

Ora, se o art. 215 estabelece que o juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, isso significa que, como regra, eles não possuem esse efeito. Para o STJ, ainda que este art. 215 esteja em um capítulo que não trata sobre medidas socioeducativas, é possível que ele seja aplicado, supletivamente, para se concluir que os recursos serão recebidos, salvo decisão em contrário, apenas no efeito devolutivo, ao menos em relação aos recursos contra sentença que acolhe representação do Ministério Público e impõe medida socioeducativa ao adolescente infrator, sob pena, repita-se, de frustração da principiologia e dos objetivos a que se destina a legislação menorista. Em suma: Condicionar, de forma peremptória, o cumprimento da medida socioeducativa ao trânsito em julgado da sentença que acolhe a representação – apenas porque não se encontrava o adolescente já segregado anteriormente à sentença – constitui verdadeiro obstáculo ao escopo ressocializador da intervenção estatal, além de permitir que o adolescente permaneça em situação de risco, exposto aos mesmos fatores que o levaram à prática infracional.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

ADJUDICAÇÃO Forma preferencial de pagamento ao credor Momento para requerimento da adjudicação

Ao analisar o instituto da adjudicação e em especial a sua preferência sobre outras formas de expropriação e o momento de realizá-la, o STJ enunciou duas conclusões

I - A adjudicação é forma preferencial de pagamento ao credor, devendo ser assegurada ao legitimado que oferecer preço não inferior ao da avaliação. Assim, se um dos legitimados previstos em lei requereu a adjudicação e ofereceu preço não inferior ao da avaliação, não deve o magistrado indeferir o pedido e determinar a alienação do bem penhorado.

II - A adjudicação poderá ser requerida após resolvidas as questões relativas à avaliação do bem penhorado e antes de realizada a alienação.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.505.399-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 12/4/2016 (Info 583).

O que acontece com o bem penhorado? Se o bem penhorado for dinheiro, ele é transferido ao credor, quitando-se a obrigação. Se o bem penhorado for coisa diferente de dinheiro, ele poderá ser: a) adjudicado; b) alienado; c) concedido em usufruto ao exequente. Quando acontece uma dessas três situações acima, dizemos que houve a “expropriação”, conforme previsto no art. 825 do CPC/2015:

Art. 825. A expropriação consiste em: I - adjudicação; II - alienação; III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens.

Obs: esses incisos estão organizados segundo uma preferência legal. Em outras palavras, se houver interessados em adjudicar (inciso I), não será necessário fazer a alienação. Se não ocorrer a adjudicação, deve-se tentar a alienação (inciso II) antes da apropriação de frutos (inciso III). Adjudicação (inciso I) A adjudicação ocorre quando a propriedade do bem penhorado (móvel ou imóvel) é transferida para o exequente (ou para um terceiro legitimado a adjudicar), como forma de pagamento da dívida que está sendo cobrada em juízo. O instituto encontra-se previsto no art. 876 do CPC/2015, cujo caput estabelece:

Art. 876. É lícito ao exequente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação, requerer que lhe sejam adjudicados os bens penhorados.

O caput do art. 876 fala apenas no exequente, mas o § 5º prevê outros legitimados que também podem adjudicar. Veja:

§ 5º Idêntico direito pode ser exercido por aqueles indicados no art. 889, incisos II a VIII, pelos credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelo companheiro, pelos descendentes ou pelos ascendentes do executado.

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A adjudicação é forma preferencial de pagamento ao credor, devendo ser assegurada ao legitimado que oferecer preço não inferior ao da avaliação. Assim, se um dos legitimados previstos em lei requereu a adjudicação e ofereceu preço não inferior ao da avaliação, não deve o magistrado indeferir o pedido e determinar a alienação do bem penhorado. STJ. 4ª Turma. REsp 1.505.399-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 12/4/2016 (Info 583). Essa preferência fica clara ao se ler o art. 880 do CPC/2015, que afirma que a alienação somente ocorrerá se "não efetivada a adjudicação":

Art. 880. Não efetivada a adjudicação, o exequente poderá requerer a alienação por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor ou leiloeiro público credenciado perante o órgão judiciário.

A lei não prevê expressamente o prazo máximo para o exequente ou demais legitimados pedirem a adjudicação. Diante disso, o STJ decidiu que: A adjudicação poderá ser requerida após resolvidas as questões relativas à avaliação do bem penhorado e antes de realizada a alienação. STJ. 4ª Turma. REsp 1.505.399-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 12/4/2016 (Info 583). A legislação não estabelece expressamente o limite temporal para requerimento da adjudicação, mas isso pode ser extraído da redação do art. 880 do CPC/2015, vista acima. Desse modo, podemos concluir que o termo inicial para o pedido de adjudicação é a entrega da avaliação. Tendo o bem sido avaliado, ele já poderá ser adjudicado. Por outro lado, o termo final da adjudicação é a realização da alienação. Se a coisa já foi alienada (seja por iniciativa particular, seja por leilão judicial), não é mais permitida a adjudicação. Imagine agora que o exequente, em um primeiro momento, não queira adjudicar o bem. Diante disso, são iniciados os preparativos para a realização da sua alienação. Ocorre que também não se consegue vender a coisa. O novo CPC prevê, de forma inovadora, que, nesta situação, será permitido novamente que o exequente (ou algum legitimado) requeira a adjudicação. Veja do que estou falando:

Art. 878. Frustradas as tentativas de alienação do bem, será reaberta oportunidade para requerimento de adjudicação, caso em que também se poderá pleitear a realização de nova avaliação.

Confira os comentários de Daniel Amorim Assumpção Neves a respeito deste dispositivo: "Conforme indicado pelo art. 880, caput, do Novo CPC, a adjudicação é a forma preferencial de satisfação do direito do exequente, no sentido de que, antes de ser determinada qualquer outra medida que busque tal satisfação, poderá ocorrer a adjudicação. Mas não se deve entender que exista uma preclusão temporal que impeça a adjudicação de ocorrer depois desse momento inicial de expropriação, desde que ela ainda seja materialmente possível. É natural que não tenha sentido falar em adjudicação após o bem penhorado já ter sido alienado ou, ainda, já estar em curso o seu 'usufruto executivo'. Mas nenhuma preclusão impedirá que, frustrada a alienação do bem, o exequente ou qualquer outro legitimado requeira a adjudicação do bem." (Novo CPC Comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 1391-1392). Alienação (inciso II) Segundo o art. 879 do CPC 2015, existem duas espécies de alienação do bem: a) por iniciativa particular: ocorre quando o próprio exequente (ou algum corretor ou leiloeiro público credenciado) tenta conseguir um comprador para o imóvel, seguindo determinadas regras impostas pela lei. b) leilão judicial (eletrônico ou presencial): é a oferta do bem penhorado aos interessados em adquiri-lo em um evento organizado pelo Estado-juiz.

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Observação: No CPC 2015, o que é chamado atualmente de “leilão judicial” era conhecido como “hasta pública” (expressão do CPC 1973). Assim, no CPC 1973 existiam duas formas de hasta pública (art. 686, IV): a) praça, quando a coisa a ser alienada era bem imóvel; b) leilão, quando a coisa a ser alienada era bem móvel. O CPC 2015 não repete tais palavras e não mais faz essa distinção. Agora, fala-se em leilão judicial tanto para bens móveis como imóveis. Apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens (antigo “usufruto de bem móvel ou imóvel”) (inciso III) No CPC 1973, isso era tratado como sendo “usufruto de bem móvel ou imóvel”, expressão que era criticada pela doutrina e que, por isso, foi substituída no novo Código. Compare:

CPC 1973 CPC 2015

Art. 716. O juiz pode conceder ao exequente o usufruto de móvel ou imóvel, quando o reputar menos gravoso ao executado e eficiente para o recebimento do crédito.

Art. 867. O juiz pode ordenar a penhora de frutos e rendimentos de coisa móvel ou imóvel quando a considerar mais eficiente para o recebimento do crédito e menos gravosa ao executado.

Ex: foi penhorado um apartamento do executado, que se encontra alugado a um terceiro; pode o juiz determinar que o exequente fique recebendo o valor dos aluguéis até que o débito da execução seja totalmente pago.

DIREITO PENAL

HOMICÍDIO Incompatibilidade entre dolo eventual e a qualificadora de motivo fútil

A qualificadora do motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP) é compatível com o homicídio praticado com dolo eventual? A pessoa que cometeu homicídio com dolo eventual pode responder pela qualificadora de motivo fútil?

1ª corrente: SIM. O fato de o réu ter assumido o risco de produzir o resultado morte, aspecto caracterizador do dolo eventual, não exclui a possibilidade de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o dolo do agente, direto ou indireto, não se confunde com o motivo que ensejou a conduta, mostrando-se, em princípio, compatíveis entre si. STJ. 5ª Turma. REsp 912.904/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 06/03/2012.

2ª corrente: NÃO. A qualificadora de motivo fútil é incompatível com o dolo eventual, tendo em vista a ausência do elemento volitivo. STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/4/2016 (Info 583).

STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/4/2016 (Info 583).

A qualificadora do motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP) é compatível com o homicídio praticado com dolo eventual? A pessoa que cometeu homicídio com dolo eventual pode responder pela qualificadora de motivo fútil?

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SIM NÃO

O fato de o réu ter assumido o risco de produzir o resultado morte, aspecto caracterizador do dolo eventual, não exclui a possibilidade de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o dolo do agente, direto ou indireto, não se confunde com o motivo que ensejou a conduta, mostrando-se, em princípio, compatíveis entre si. STJ. 5ª Turma. REsp 912.904/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 06/03/2012.

A qualificadora de motivo fútil é incompatível com o dolo eventual, tendo em vista a ausência do elemento volitivo. STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/4/2016 (Info 583).

Obs: antes desta última decisão da 6ª Turma, prevalecia no STJ a primeira corrente, ou seja, a compatibilidade entre dolo eventual e motivo fútil. Vamos aguardar a definição do tema e qualquer novidade, você será avisado(a).

HOMICÍDIO Inexistência de motivo fútil em homicídio decorrente da prática de "racha"

Não incide a qualificadora de motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP), na hipótese de homicídio supostamente praticado por agente que disputava "racha", quando o veículo por ele conduzido - em razão de choque com outro automóvel também participante do "racha" - tenha atingido o veículo da vítima, terceiro estranho à disputa automobilística.

Motivo fútil corresponde a uma reação desproporcional do agente a uma ação ou omissão da vítima. No caso de "racha", tendo em conta que a vítima (acidente automobilístico) era um terceiro, estranho à disputa, não é possível considerar a presença da qualificadora de motivo fútil, tendo em vista que não houve uma reação do agente a uma ação ou omissão da vítima.

STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/4/2016 (Info 583).

Imagine a seguinte situação hipotética: João, conduzindo um Camaro amarelo, estava participando de um "racha", disputando corrida com seu amigo Pedro, que conduzia um Porsche. Em determinada curva, os veículos se tocaram e João perdeu o controle do carro atropelando e matando Maria, que estava na parada de ônibus. O Ministério Público denunciou João e Pedro pela prática de homicídio doloso (dolo eventual), com a qualificadora do motivo fútil, prevista no art. 121, § 2º, II, do CP. A defesa de João pediu a exclusão da qualificadora, sob o argumento de que o art. 121, § 2º, II, pune aquele homicida que age com motivação fútil em relação à vítima. No caso concreto, o réu não tinha nenhuma motivação com relação à vítima. Ele nem sequer a conhecia e não tinha nenhuma intenção para com ela. Logo, não se pode dizer que ele tivesse motivação fútil.

A tese da defesa foi acolhida pelo STJ? SIM.

Não incide a qualificadora de motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP), na hipótese de homicídio supostamente praticado por agente que disputava "racha", quando o veículo por ele conduzido - em razão de choque com outro automóvel também participante do "racha" - tenha atingido o veículo da vítima, terceiro estranho à disputa automobilística. STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/4/2016 (Info 583).

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Na situação em análise, o homicídio decorre de um acidente automobilístico, em que não havia nenhuma relação entre o autor do delito e a vítima. A vítima nem era quem praticava o "racha" com o agente do crime. Ela era um terceiro que trafegava por perto naquele momento e que, por um dos azares do destino, viu-se atingido pelo acidente que envolveu o agente do delito. Quando o legislador quis se referir a motivo fútil, fê-lo tendo em mente uma reação desproporcional ou inadequada do agente quando cotejado com a ação ou omissão da vítima; uma situação, portanto, que pressupõe uma relação direta, mesmo que tênue, entre agente e vítima. No caso, não há essa relação. Não havia nenhuma relação entre o autor do crime e a vítima. O agente não reagiu a uma ação ou omissão da vítima (um esbarrão na rua, uma fechada de carro, uma negativa a um pedido). Não há aqui motivo fútil, banal, insignificante, diante de um acidente cuja causa foi um comportamento imprudente do agente, comportamento este que não foi resposta à ação ou omissão da vítima. Na verdade, não há nenhum motivo.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROVAS Extração, sem prévia autorização judicial, de dados e de conversas registradas no whatsapp

Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas pela polícia por meio da extração de dados e de conversas registradas no whatsapp presentes no celular do suposto autor de fato delituoso, ainda que o aparelho tenha sido apreendido no momento da prisão em flagrante.

Assim, é ilícita a devassa de dados, bem como das conversas de whatsapp, obtidos diretamente pela polícia em celular apreendido no flagrante, sem prévia autorização judicial.

STJ. 6ª Turma. RHC 51.531-RO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/4/2016 (Info 583).

Imagine a seguinte situação hipotética: João foi preso em flagrante pela prática de tráfico de drogas. A polícia apreendeu seu telefone celular. Como não havia senha, o Delegado abriu o aplicativo Whatsapp e verificou as conversas de João. As mensagens comprovaram que ele realmente negociava drogas e, o pior, que havia praticado diversos outros crimes, dentre eles ameaça e homicídio. Tais mensagens foram transcritas pelo escrivão e juntadas ao inquérito policial em forma de certidão. A autoridade fundamentou tais diligências no art. 6º, II, III e VII, do CPP:

Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; (...) VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;

Posteriormente, tais elementos informativos serviram de base para que o Ministério Público oferecesse denúncia contra João pela prática de uma série de crimes.

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Tese da defesa A defesa, contudo, alegou que tais elementos informativos são nulos. Segundo argumentou o advogado do réu, após a apreensão do celular, sem qualquer autorização, a polícia teria que ter requerido ao juízo autorização para consultar o conteúdo do aparelho. Diante disso, requereu que as "provas" colhidas fossem declaradas nulas e desentranhadas do processo. Contra-argumento do MP O MP refutou os argumentos da defesa afirmando que o acesso aos dados constantes do aparelho não encontra o mesmo impedimento da interceptação telefônica e que a autoridade policial agiu estritamente para o cumprimento da lei. A proteção do acesso aos dados constantes do aparelho não se assemelha à interceptação telefônica. O telefone celular foi apreendido no momento da prisão em flagrante do réu e, após a apreensão, a autoridade policial tomou as providências previstas no art. 6º do CPP, determinando a extração das mensagens constantes do celular. A tese da defesa foi aceita pelo STJ? É necessária prévia autorização judicial para que a autoridade policial possa ter acesso ao whatsapp da pessoa que foi presa em flagrante delito? SIM. Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas pela polícia por meio da extração de dados e de conversas registradas no whatsapp presentes no celular do suposto autor de fato delituoso, ainda que o aparelho tenha sido apreendido no momento da prisão em flagrante. STJ. 6ª Turma. RHC 51.531-RO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/4/2016 (Info 583). CF/88 A CF/88 prevê como garantias ao cidadão a inviolabilidade da intimidade, do sigilo de correspondência, dados e comunicações telefônicas (art. 5º, X e XII), salvo ordem judicial. Lei nº 9.294/96

No caso das comunicações telefônicas, a Lei nº 9.294/96 regulamentou o tema nos seguintes termos: Art. 1º. A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática.

Lei nº 9.472/97 A Lei nº 9.472/97 (Lei das Telecomunicações), por sua vez, prescreve:

Art. 3º O usuário de serviços de telecomunicações tem direito: (...) V - à inviolabilidade e ao segredo de sua comunicação, salvo nas hipóteses e condições constitucional e legalmente previstas;

Marco Civil da Internet Por fim, também deve ser aplicada ao caso a Lei nº 12.965/2014, conhecida como Marco Civil da Internet, que prevê o seguinte:

Art. 7º O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes direitos: I - inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

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II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei; III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial; (...)

O acesso aos dados de celular e às conversas de whatsapp representa uma devassa de dados particulares e ocasiona uma violação à intimidade do agente. Por essa razão, para que o acesso fosse possível, seria necessária a prévia autorização judicial devidamente motivada. A conversa mantida pelo whatsapp é uma forma de comunicação escrita e imediata entre os interlocutores e, caso seja acessada sem autorização judicial, representa interceptação não autorizada de comunicações. Acesso aos e-mails somente pode ser com autorização judicial, devendo este entendimento ser aplicável ao whatsapp O STJ já decidiu que as conversas mantidas por e-mail somente podem ser acessadas após prévia ordem judicial:

(...) A quebra do sigilo do correio eletrônico somente pode ser decretada, elidindo a proteção ao direito, diante dos requisitos próprios de cautelaridade que a justifiquem idoneamente, desaguando em um quadro de imprescindibilidade da providência. (...) STJ. 6ª Turma. HC 315.220/RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 15/09/2015.

Esta mesma proteção conferida aos e-mails deve ser empregada para conversas mantidas pelo whatsapp. Atualmente, o celular deixou de ser apenas um instrumento de conversação por voz à longa distância, permitindo, diante do avanço tecnológico, o acesso de múltiplas funções, incluindo a verificação de correspondência eletrônica, de mensagens e de outros aplicativos que possibilitam a comunicação por meio de troca de dados de forma similar à telefonia convencional. Desse modo, sem prévia autorização judicial, é ilícita a devassa de dados e de conversas de whatsapp realizada pela polícia em celular apreendido.

INTIMAÇÃO Nulidade da intimação por edital de réu preso

Preso o réu durante o curso do prazo da intimação por edital da sentença condenatória, essa intimação fica prejudicada e deve ser efetuada pessoalmente.

Se o réu for preso durante o prazo do edital, deverá ser intimado pessoalmente do decreto condenatório, na forma do art. 392, I, CPP, restando prejudicada a intimação editalícia.

STJ. 6ª Turma. RHC 45.584/PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 3/5/2016 (Info 583).

Imagine a seguinte situação hipotética: João foi condenado, pelo juiz, a uma pena de 5 anos de reclusão. O oficial de justiça foi até a casa onde João morava a fim de intimá-lo da sentença condenatória, mas lá não encontrou ninguém. Durante o processo, João foi assistido por um defensor dativo que nunca teve contato direto com o réu e, por essa razão, nada sabia informar sobre o seu paradeiro. Diante disso, o juiz determinou a intimação do condenado por edital com prazo de 90 dias. Passou o prazo do edital e do recurso e houve o trânsito em julgado.

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Ocorre que João, durante o prazo do edital, foi preso por conta de outro delito cometido. Alguns meses depois, ao descobrir a nova condenação, João pediu auxílio à Defensoria Pública que fica dentro do presídio. Foi, então, impetrado habeas corpus alegando que a intimação realizada foi nula. A tese da defesa foi acolhida pelo STJ? SIM. Preso o réu durante o curso do prazo da intimação por edital da sentença condenatória, essa intimação fica prejudicada e deve ser efetuada pessoalmente. Se o réu for preso durante o prazo do edital, deverá ser intimado pessoalmente do decreto condenatório, na forma do art. 392, I, CPP, restando prejudicada a intimação editalícia. STJ. 6ª Turma. RHC 45.584/PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 3/5/2016 (Info 583). Trata-se do texto expresso do CPP:

Art. 392. A intimação da sentença será feita: I - ao réu, pessoalmente, se estiver preso;

Além disso, outro argumento que poderia ser invocado está no fato de que, antes de ser realizada a intimação por edital, devem ser feitas diligências no sentido de localizar o acusado. Veja outro precedente do STJ no mesmo sentido:

(...) É direito do acusado ser informado a respeito do resultado do julgamento da ação penal, com os meios e recursos a ele inerentes, nos termos do art. 5º, LV, da CF, independentemente de disposição expressa no CPP, sob pena de se violar o devido processo legal, especificamente as vertentes do contraditório e da ampla defesa. 2. No caso dos autos, a nulidade decorrente da intimação da sentença ao paciente, mediante edital, deve ser reconhecida por esta Corte, porque, ao tempo da efetivação da diligência, ele estava preso em regime fechado e deveria ser intimado pessoalmente; o defensor dativo, intimado por email, sequer apresentou apelação criminal; e, por fim, o Juízo processante, passados dois anos entre a determinação da intimação por edital e a afixação do expediente no átrio do Fórum, deveria ter realizado diligências para tentar localizar o réu antes de concretizar o ato, mormente quando ele demonstrou estar ao alcance de outras comunicações dos órgãos públicos no endereço declinado por ocasião de seu interrogatório. (...) STJ. 6ª Turma. RHC 36.986/SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 02/10/2014.

TRIBUNAL DO JÚRI

Possibilidade de extensão de decisão de desclassificação adotada por Júri em favor de corréu

Dois réus foram denunciados por tentativa de homicídio doloso por acidente causado em razão da prática de racha. O feito foi desmembrado e o réu 1, que deu causa direta ao acidente ao se chocar com a vítima, foi beneficiado com a desclassificação para crime de lesões corporais graves, em decisão do Tribunal do Júri.

O réu 2, que ainda iria ser julgado, em um outro dia, pelo Tribunal do Júri, pode ser beneficiado com a decisão que foi aplicada ao réu 1.

O STJ decidiu, assim, que é possível a extensão da decisão, nos termos do art. 580 do CPP, em favor de corréu ainda não julgado pelo Tribunal do Júri.

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Apesar de o art. 580 falar em "decisão do recurso", é possível a aplicação do efeito extensivo previsto neste dispositivo para situações em que a decisão benéfica tenha sido proferida em outras esferas que não sejam a sede recursal.

STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/4/2016 (Info 583).

Imagine a seguinte situação hipotética: João, conduzindo um Camaro amarelo, e Pedro, dirigindo um Porsche, decidiram disputar competição automobilística não autorizada, ou seja, fazer um "racha" entre eles. Ao "furarem" o sinal vermelho, em altíssima velocidade, João acabou atropelando Maria, que estava atravessando a rua na faixa de pedestres. Maria sofreu graves lesões que quase a levaram a óbito. Felizmente, a vítima sobreviveu. O Promotor de Justiça denunciou João e Pedro pela prática de tentativa de homicídio doloso (dolo eventual). Segundo o Ministério Público, os denunciados assumiram o risco de matar a vítima, mas o atendimento médico por ela recebido impediu a ocorrência do resultado. É juridicamente possível a existência de tentativa de homicídio doloso com dolo eventual? SIM. A tentativa é compatível com o delito de homicídio praticado com dolo eventual na direção de veículo automotor (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1322788/SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 18/06/2015). Voltando ao exemplo: João e Pedro foram pronunciados. Pedro interpôs recurso em sentido estrito contra a decisão. João não recorreu. Diante disso, o juiz desmembrou o processo, ou seja, dividiu os autos em dois, um para cada réu:

O processo de Pedro foi remetido para o TJ a fim de que se apreciasse o RESE;

Quanto ao processo de João, o magistrado determinou a preparação para julgamento em Plenário. João foi julgado e o Tribunal do Júri decidiu desclassificar sua conduta de homicídio tentado (art. 121 c/c art. 14, II, do CP) para lesões corporais graves (art. 129, §1º, inciso II). Esta decisão transitou em julgado. Por outro lado, alguns dias depois, o TJ manteve a pronúncia de Pedro. O juiz marcou, então, a sessão do Júri para julgar Pedro. Tese de Pedro Pedro já estava com júri marcado, quando sua defesa impetrou habeas corpus alegando a seguinte tese: o crime foi praticado pelos dois réus, que praticaram a mesma conduta. Logo, se o Tribunal do Júri desclassificou o crime para lesões corporais, essa decisão, que foi tomada em relação a João, também deve ser estendida a Pedro. Em outras palavras, a ação de Pedro está umbilicalmente ligada à do corréu João. Se o Júri entendeu que não houve dolo eventual na ação de João, essa decisão também deve obrigatoriamente favorecer Pedro, sob pena de haver um tratamento desigual. Essa alegação de Pedro foi aceita pelo STJ? SIM. Ocorrido o desmembramento da ação penal que imputava aos coacusados a prática de homicídio doloso tentado decorrente da prática de "racha", a desclassificação em decisão do Tribunal do Júri do crime de homicídio doloso tentado para o delito de lesões corporais graves ocorrida em benefício do corréu (causador direto da colisão da qual decorreram os ferimentos suportados pela vítima) é extensível,

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independentemente de recurso ou nova decisão do Tribunal Popular, a outro corréu (condutor do outro veículo) investido de igual consciência e vontade de participar da mesma conduta e não responsável direto pelas citadas lesões. STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/4/2016 (Info 583). Existe algum fundamento legal para essa decisão? SIM. O art. 580 do CPP, que prevê:

Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do recurso interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros.

Mas no art. 580 fala em "decisão do recurso" e, no caso concreto, o réu está pedindo para lhe ser estendida a decisão do Tribunal do Júri... Mesmo assim, aplica-se o art. 580 do CPP? SIM. A jurisprudência e a doutrina afirmam que, excepcionalmente, é possível a aplicação do efeito extensivo previsto no art. 580 do CPP para hipóteses em que a decisão benéfica tenha sido proferida em outras esferas que não sejam a sede recursal. Isso porque a norma inscrita no art. 580 tem como objetivo garantir a equidade entre os réus que estejam na mesma situação. Nesse sentido: STF. 2ª Turma. HC 101118 Extn, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 22/06/2010. Segundo decidiu o STJ, essa é a interpretação mais coerente com o espírito da lei. O fato de a decisão cuja extensão se pretende não ser proferida em recurso não inibe que ela seja estendida a corréu. Do contrário, estaremos permitindo que corréus em situação idêntica venham a ser julgados de forma diferente, o que não condiz com a garantia da equidade. Não se deve permitir que um dos corréus corra o risco de sofrer reprimenda diversa daquela imposta ao outro corréu, sem que haja qualquer motivo que diferencie a situação de ambos os denunciados. No caso, não se trata de hipótese de participação de menor importância ou cooperação dolosamente distinta. Essa decisão de estender para o outro réu a desclassificação não ofende à soberania do Júri? NÃO. Ao contrário. A decisão que fez a primeira desclassificação foi tomada pelo Tribunal do Júri e ela está sendo estendida para o outro corréu.