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Volume 15. Suplemento. 1997 ISSN 0102-0536 SOCIEDADE DE OLERICULTURA DO BRASIL Presidente Nilton Rocha Leal UENF-CCTA Vice-Presidente Luiz Gomes Correa EMATER-MG 1º Secretário Arlete Marchi T. de Melo IAC 2º Secretário Iniberto Hammerschmidt EMATER-PR 1º Tesoureiro Pedro Henrique Monnerat UENF-CCTA 2º Tesoureiro Osmar Alves Carrijo Embrapa Hortaliças COMISSÃO EDITORIAL DA HORTICULTURA BRASILEIRA Presidente Paulo Eduardo de Melo Embrapa Hortaliças Editora Alice M. Quezado Soares Embrapa Hortaliças Editor Luis Antônio B. Salles Embrapa Clima Temperado Editor Marcelo Mancuso da Cunha IICA- SRH Editora Mirtes Freitas Lima Embrapa Semi-Árido Editora Sieglinde Brune Embrapa Hortaliças CORRESPONDÊNCIA: Horticultura Brasileira Caixa Postal 190 70.359-970 - Brasília-DF Tel.: (061) 385-9000/9066/9051 Fax: (061) 556-5744 www.hortbras.com.br hortbras@ cnph.embrapa.br Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento. ÍNDICE CARTA DO EDITOR 139 PALESTRAS Os desafios da olericultura como atividade empresarial. Carlos Alberto M. Tavares ........................................................................................................ 141 O reconhecimento do papel das populações tradicionais no melhoramento e conservação de espécies vegetais. Lin Chau Ming .............................................................................................. 145 A lei de acesso: comentários sobre o projeto de lei do Senado no. 306, de 1995, de autoria da Senadora Marina Silva, que “dispõe sobre o acesso a recursos genéticos e seus produtos derivados e dá outras providências”. Fernando Antônio Lyrio Silva ...................................... 148 O impacto da lei de propriedade industrial e de proteção de cultivares na olericultura brasileira. Vicente Wagner D. Casali ..................................................................... 154 Papel da rede GENAMAZ na conservação e uso dos recursos genéticos amazônicos. Eduardo A. V. Morales. Everaldo de V. Martins .............................. 157 A importância da flora amazônica para uso medicinal.Germano Guarim Neto ...................... 159 Tendências fitotécnicas e econômicas de espécies vegetais utilizadas na medicina popular. Jean Kleber de A. Mattos ....................................................................... 161 Plasticultura nos trópicos: uma avaliação técnico-econômica. Rumy Goto .............................. 163 Resultados preliminares da produção de hortaliças sem o uso de solo no Amazonas. Osvaldo K. Sassaki .................................................................................................. 165 Murcha-bacteriana em hortaliças: avanços científicos e perspectivas de controle. de controle. Armando Takatsu; Carlos A. Lopes ........................................................ 170 Manejo integrado de pragas e doenças em hortaliças. Hasan A. Bolkan .................................. 178 Controle integrado de doenças de espécies olerícolas. Hasime Tokeshi1; Douglas Y. Harada .................................................................... 179 Expansão do cultivo da pupunheira para palmito no Brasil. Marilene L. A. Bovi ................... 183 Pupunha: recursos genéticos para a produção de palmito. Charles R. Clement ...................... 186 Sistemas de cultivo para produção de palmito da pupunheira. Kaoru Yuyama ....................... 191 Palmito de pupunha - alternativas de processamento. Antônio G. Soares ................................ 198 A sustentabilidade e o cultivo de hortaliças. C.A. Khatounian ................................................. 199 Produção e comercialização de hortaliças orgânicas. Laércio Meirelles .................................. 205 O papel das universidades no desenvolvimento da olericultura no Brasil. Maria do Carmo Vieira ............................................................................................. 210 A Sociedade de Olericultura do Brasil e o desenvolvimento da pesquisa em hortaliça. Flávio Augusto D’A. Couto ................................................................................. 213 A SOB e a extensão rural no Brasil. Sérgio Mário Regina ....................................................... 216 Difusão de tecnologias para a produção de hortaliças pelas instituições oficiais de pesquisa científica. Nozomu Makishima ................................................................................... 223 Contribuição da extensão rural para o desenvolvimento da olericultura no Brasil. Rodolfo H. Steindorf .................................................................................................. 227 RESUMOS DO 37ºCONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA

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Volume 15. Suplemento.1997

ISSN 0102-0536

SOCIEDADE DEOLERICULTURADO BRASIL

PresidenteNilton Rocha LealUENF-CCTA

Vice-PresidenteLuiz Gomes CorreaEMATER-MG

1º SecretárioArlete Marchi T. de MeloIAC

2º SecretárioIniberto HammerschmidtEMATER-PR

1º TesoureiroPedro Henrique MonneratUENF-CCTA

2º TesoureiroOsmar Alves CarrijoEmbrapa Hortaliças

COMISSÃO EDITORIALDA HORTICULTURABRASILEIRA

PresidentePaulo Eduardo de MeloEmbrapa Hortaliças

EditoraAlice M. Quezado SoaresEmbrapa Hortaliças

EditorLuis Antônio B. SallesEmbrapa Clima Temperado

EditorMarcelo Mancuso da CunhaIICA- SRH

EditoraMirtes Freitas LimaEmbrapa Semi-Árido

EditoraSieglinde BruneEmbrapa Hortaliças

CORRESPONDÊNCIA:Horticultura BrasileiraCaixa Postal 19070.359-970 - Brasília-DFTel.: (061) 385-9000/9066/9051Fax: (061) 556-5744www.hortbras.com.brhortbras@ cnph.embrapa.br

Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

ÍNDICE

CARTA DO EDITOR139

PALESTRASOs desafios da olericultura como atividade empresarial.Carlos Alberto M. Tavares ........................................................................................................ 141O reconhecimento do papel das populações tradicionais no melhoramento e conservação deespécies vegetais. Lin Chau Ming ..............................................................................................145A lei de acesso: comentários sobre o projeto de lei do Senado no. 306, de 1995, de autoriada Senadora Marina Silva, que “dispõe sobre o acesso a recursos genéticos e seus produtosderivados e dá outras providências”. Fernando Antônio Lyrio Silva ......................................148O impacto da lei de propriedade industrial e de proteção de cultivares naolericultura brasileira. Vicente Wagner D. Casali .....................................................................154Papel da rede GENAMAZ na conservação e uso dos recursosgenéticos amazônicos. Eduardo A. V. Morales. Everaldo de V. Martins ..............................157A importância da flora amazônica para uso medicinal.Germano Guarim Neto ......................159Tendências fitotécnicas e econômicas de espécies vegetais utilizadasna medicina popular. Jean Kleber de A. Mattos .......................................................................161Plasticultura nos trópicos: uma avaliação técnico-econômica. Rumy Goto ..............................163Resultados preliminares da produção de hortaliças sem o uso de solo noAmazonas. Osvaldo K. Sassaki ..................................................................................................165Murcha-bacteriana em hortaliças: avanços científicos e perspectivas de controle.

de controle. Armando Takatsu; Carlos A. Lopes........................................................170

Manejo integrado de pragas e doenças em hortaliças. Hasan A. Bolkan ..................................178Controle integrado de doenças de espéciesolerícolas. Hasime Tokeshi1; Douglas Y. Harada ....................................................................179Expansão do cultivo da pupunheira para palmito no Brasil. Marilene L. A. Bovi ...................183Pupunha: recursos genéticos para a produção de palmito. Charles R. Clement ......................186Sistemas de cultivo para produção de palmito da pupunheira. Kaoru Yuyama .......................191Palmito de pupunha - alternativas de processamento. Antônio G. Soares ................................198A sustentabilidade e o cultivo de hortaliças. C.A. Khatounian .................................................199Produção e comercialização de hortaliças orgânicas. Laércio Meirelles ..................................205O papel das universidades no desenvolvimento da olericulturano Brasil. Maria do Carmo Vieira .............................................................................................210A Sociedade de Olericultura do Brasil e o desenvolvimento da pesquisaem hortaliça. Flávio Augusto D’A. Couto .................................................................................213A SOB e a extensão rural no Brasil. Sérgio Mário Regina .......................................................216Difusão de tecnologias para a produção de hortaliças pelas instituições oficiais depesquisa científica. Nozomu Makishima ...................................................................................223Contribuição da extensão rural para o desenvolvimento da olericulturano Brasil. Rodolfo H. Steindorf ..................................................................................................227

RESUMOS DO 37ºCONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA

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Address:Caixa Postal 07-19070359-970 Brasília-DFTel: (061) 385-9000/9051/9066Fax: (061) [email protected]

Journal of the BrazilianSociety of Vegetable Science

Volume 15 Supplement.1997

ISSN 0102-0536

CONTENTS

EDITOR'S LETTER139

The challenges of vegetable cropping as business. Carlos Alberto M. Tavares .......141Recognition of the traditional populations’ role on breeding andconservation of vegetal species. Lin Chau Ming .........................................................145The access law: comments on the Senate Law Project n. 306, from 1995,authored by senator Marina Silva, that “disposes about the access togenetic resources and their derivatives and regulates otherprocedures”. Fernando Antônio Lyrio Silva ...............................................................148The impact of the industrial property and cultivar protection law on the Brazilianhorticulture. Vicente Wagner D. Casali .......................................................................154Papel da rede GENAMAZ na conservação e uso dos recursosgenéticos amazônicos.Eduardo A. V. Morales1 & Everaldo de V. Martins ............157A importância da flora amazônica para uso medicinal.Germano Guarim Neto ........159Technical and economic trends of plant species used in the folkpopular medicine. Jean Kleber de A. Mattos. ............................................................. 161Protected cultivation in the tropics: a technical and economicapproach. Rumy Goto ....................................................................................................163Preliminary results of soilless vegetable production in the state of Amazonas.Osvaldo K. Sassaki ........................................................................................................165Bacterial wilt in vegetables: scientific advances and perspectives of control.Armando Takatsu; Carlos A. Lopes ...........................................................................170Integrated pest and disease management in vegetables. Hasan A. Bolkan .................178Integrated disease control in vegetable species.vegetable species. Hasime Tokeshi1; Douglas Y. Harada .........................................179Expansion of pejibaye cultivation for palm-core productionin Brazil. Marilene L. A. Bovi ......................................................................................183Pejibaye: genetic resources for palm-core production. Charles R. Clement ..............186Cropping system for palm-core production from the peach-palm. Kaoru Yuyama ... 191Pejibaye palm-core: options for processing. Antônio G. Soares .................................198Sustainability and vegetable copping. C.A. Khatounian .............................................199Production and commercialization of organic vegetables. Laércio Meirelles ............205The role of university in the development of horticulture in Brazil.Maria do Carmo Vieira ................................................................................................210The Brazilian Society of Vegetable Science and the development of research invegetable crops. Flávio Augusto D’A. Couto ..............................................................213The Brazilian Society of Vegetable Science - SOB - and the rural extensionin Brazil. Sérgio Mário Regina ....................................................................................216Diffusion of technology for vegetable production by the official institutionsof scientific research. Nozomu Makishima..................................................................223Contributions of the rural extension for the development of horticultureof horticulture in Brazil.Rodolfo H. Steindorf .............................................................227

Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

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carta do editor

Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

Com este número, contendo as palestras e resumos dos trabalhos apresentadosno XXXVII Congresso Brasileiro de Olericultura, realizado em Manaus, em1997, encerramos o volume 15 da nossa Horticultura Brasileira. Este volume

foi aberto com a celebração dos quinze anos da nossa revista e marcou também o começodo trabalho de uma Comissão Editorial renovada. Pois bem, chegamos agora ao final dovolume, ainda celebrando, embora um pouco cansados, é verdade. O trabalho neste anofoi árduo, buscando publicar sem atraso a revista (o que ainda não conseguimos total-mente) e, ao mesmo tempo, lutando contra o nosso mais forte obstáculo: o financiamentoda revista.

Por outro lado, encerramos o ano muito satisfeitos. Temos nossos dois números anu-ais já publicados e, além deles, nos foi possível publicar também este Suplemento, graçasao apoio sempre constante da diretoria da Sociedade e, com todo o mérito, à ComissãoOrganizadora do XXXVII CBO. Porém, não só da publicação desse número extra vem anossa satisfação. Durante todo esse ano, de forma mais especial logo após a publicaçãodos número 1 e 2, recebemos várias manifestações muito positivas de diversos sócios,tanto autores, quanto leitores. Isso nos dá tranquilidade para continuar trabalhando emritmo forte e certeza de que seguimos no rumo certo. A estes, agradecemos o apoio e oincentivo. Sabemos que não conseguimos atender a todos na forma como merecem e, porisso, já estamos implementando algumas mudanças que nos permitirão melhorar o aten-dimento aos sócios. A estes, pedimos desculpas, um pouco mais de paciência e um votode confiança.

Encerrando esta carta gostaria de chamar a atenção para o enorme êxito desteSuplemento de Horticultura Brasileira que consegue, de uma vez só, reunir três pilaresfundamentais da nossa Sociedade de Olericultura: o CBO, através das palestras e dosresumos; a Horticultura Brasileira, através da própria revista que você agora lê e; e osócio, começo e fim da nossa SOB, aqui representado por você, caro leitor. Até o próxi-mo número!

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palestras

Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

TAVARES, C.A.M. Os desafios da olericultura como atividade empresarial. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, p. 141-144, 1997. Palestra. Suplemento.

Os desafios da olericultura como atividade empresarial.The challenges of vegetable cropping as business.

Carlos Alberto M. TavaresSVS do Brasil Sementes Ltda. - Depto. de Serviços Técnicos, C. Postal 1564, 13.025-300 Campinas - SP.

Palavras-chave: economia, hortaliças, cultivo protegido, plasticultura, melhoramento, cultivares, embalagens, comercialização,transporte, distribuição, armazenamento, marketing.Keywords: economics, protected cultivation, plastic cover, breeding, cultivars, packs, trade, transport, distribution, storage, marketing.

A olericultura vem experi-mentando, a nível mundial,profundas e rápidas mudan-

ças em toda a sua cadeia produtiva so-bretudo com a formação de blocos eco-nômicos na Europa e América do Nor-te. No Brasil, essas transformações co-incidem com o processo gradual de aber-tura da economia, a partir do início dadécada atual, e com a implementaçãodo MERCOSUL. Além disso, a estabi-lização da economia, a partir do PlanoReal, tem também contribuído sobrema-neira para o desenvolvimento e a mo-dernização da olericultura brasileira.

A produção de hortaliças, enquantoatividade empresarial de grande impor-tância sócio-econômica no negócio agrí-cola nacional, através dessas transfor-mações, busca a modernidade necessá-ria para melhorar o rendimento e a qua-lidade de seus produtos e, sobretudo, asua competitividade, condição impres-cindível para enfrentar a concorrênciaexterna à medida que o processo deglobalização da economia avançairreversivelmente. É evidente que osdesafios são gigantescos, em vista, prin-cipalmente, das peculiaridades ineren-tes a um país com dimensão continentale com profundas diferenças regionais.Todavia, para enfrentar esses desafios,em nosso ponto de vista, serão necessá-rios investimentos na geração detecnologia para atender às novas moda-lidades de cultivo (e às convencionaistambém), na logística de embalagem,nos canais de comercialização, no trans-porte, armazenamento e distribuição, eem um sistema eficiente de informaçãointegrando os principais entrepostos

hortifrutícolas do MERCOSUL. Evi-dentemente, isso só será factível atra-vés de uma ação integrada envolvendotodos os segmentos da cadeia agro-in-dustrial de olerícolas.

Enfocaremos a seguir alguns aspec-tos/tópicos que consideramos relevan-tes, por ensejarem um estudo mais pro-fundo, dentro do processo de moderni-zação da olericultura brasileira frenteaos desafios do presente e futuros. Anossa contribuição é baseada na experi-ência de quem vem acompanhando deperto o desenvolvimento da olericulturabrasileira nos últimos doze anos.

NOVAS MODALIDADES DECULTIVO

O uso do plástico possibilitou a in-trodução de novos modelos de cultivoque têm se demonstrado eficientes, per-mitindo quando bem manejados amaximização da produção e a obtençãode produtos de alta qualidade, capazesde competir com nossos parceiros co-merciais. Os meios de comunicação têmpublicado com frequência, as vantagense os resultados promissores consegui-dos tanto a nível nacional como inter-nacional, com os diferentes sistemas deprodução tais como, o cultivo protegi-do no solo, a hidroponia e a produçãode produtos orgânicos.

São muitas as empresas e produto-res que têm tentado fazer da plasticulturauma realidade, porém após os três pri-meiros anos da implantação dos proje-tos, os problemas encontrados têm sidomaiores que os resultados econômicosauferidos por estas atividades produti-

vas. Modelos inadequados de estufas ouabrigos plásticos, altas temperaturas,condução inadequada, cultivares nãoapropriadas, uso de fertilizantes não es-pecíficos, falta de recomendações téc-nicas para fertirrigação adaptadas àsnossas condições, somados à ocorrên-cia de problemas de solo como osnematóides, têm se constituído nos mai-ores desafios a serem superados para acompleta viabilização da plasticultura,como atividade empresarial.

SEGMENTAÇÃO VARIETAL

A busca incessante de melhores pre-ços tem levado os produtores rurais àprocura de novidades e de nichos demercado diferenciados para hortaliçassofisticadas com melhor remuneração.O surgimento e expansão das grandescadeias de ‘fast food’, que totalizam hojemais de 550 estabelecimentos e umfaturamento anual bruto de 2,6 a 3 bi-lhões de reais, tem sido um fator impor-tante de demanda por matérias-primasmais nobres e de alta qualidade. A in-dústria de sementes sempre atenta paraa introdução de novas tecnologias, temse colocado na vanguarda da pesquisa esuprimento de novas cultivares mais re-sistentes a pragas e doenças, como a in-trodução recente dos híbridos de toma-te do tipo longa vida e do tipo cereja,melancias híbridas, melancias sem se-mentes, melões nobres, pepinospartenocárpicos, pimentões, berinjelase cebolas coloridas, alfaces americanase vermelhas, brócolos de cabeça única,cenouras híbridas e endívias.

A estabilização da economia e o alto

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custo de vida têm forçado as donas decasa a participarem do orçamento fami-liar. Sem o tempo necessário para osafazeres domésticos, o público femini-no tem gerado maior demanda por ali-mentos semi-processados e congelados,fazendo surgir um número cada vezmaior de empresas interessadas no abas-tecimento destes novos segmentos. Osuprimento contínuo de novas cultiva-res que satisfaçam plenamente as neces-sidades da indústria de processamento,bem como dos produtores, será um novodesafio para todas as empresas privadase órgãos oficiais de pesquisa.

EMBALAGENSDIFERENCIADAS

As embalagens são hoje um compo-nente fundamental na comercialização.São elas que chamam a atenção do pú-blico e que agregam valor ao seu con-teúdo. O acondicionamento de produ-tos hortícolas em embalagens adequa-das contribui não só para uma melhorconservação e apresentação dos mes-mos, como para a redução de perdas,controle de problemas sanitários, melhormanuseio das mercadorias e maiorracionalidade e economia de transporte.

A utilização da caixa “K” comoembalagem preferida do mercado ata-cadista tem se mostrado inadequada,para o acondicionamento dehortigranjeiros. Para o setorsupermercadista, a permanência dasembalagens atuais, principalmente dacaixa “K”, tem levado a consequênciasnocivas quanto a perdas mecânicas dosprodutos, contaminação microbiológicae transtornos sanitários entre outros.Devido ao alto nível das perdas dasmercadorias, em torno de 15 a 16%, pro-vocados pelo mau acondicionamento, osprodutores acabam sendo pressionadosa arcar com os custos das quebras nosistema de distribuição. O surgimentode uma nova classe de produtores pro-fissionais, muitos deles agrônomos,mais abertos à adoção de novas técni-cas de cultivo, acondicionamento e‘marketing’, tem substituído paulatina-mente os pequenos produtores rurais emrelação ao fornecimento de produtos nasformas mais adequadas e exigidas pe-las grandes redes de supermercados.

Hoje o livre comércio doMERCOSUL e as pressões cada vezmaiores por parte do consumidor inter-no, exigem uma evolução global no pa-drão de acondicionamento e portantodas embalagens dos produtos hortícolas,incluindo no mínimo o uso de materialnão retornável, dimensões externaspaletizáveis e a presença externa de se-los com logomarca e rótulos de identi-ficação do produto, com sua classifica-ção, qualidade e origem. As embalagensapropriadas serão o componente maisforte para a maximização dos lucros e aconquista de preços preferenciais nosmercados interno e externo, a despeitoda flutuação e da demanda inerentesdeste setor.

Novos Canais de ComercializaçãoO tradicional canal de escoamento

dos produtos olerícolas a nível atacadistaé constituído pelas Centrais de Abaste-cimento - CEASAS, instaladas nas ca-pitais e nos principais municípios detodos os estados brasileiros. Cerca de55% a 60% do total do volume de hor-taliças é comercializado por estes mer-cados, entre os quais o Entreposto Ter-minal de São Paulo, a CEAGESP, res-ponde isoladamente por pouco mais de25% de toda a comercializaçãoverificada nos entrepostos oficiais doPaís. A rede nacional de CEASAS, foiconcebida no final da década de 60 vi-sando a racionalização e o aumento glo-bal da eficiência de comercialização dosprodutos hortigranjeiros.

Hoje há uma apreciação consensualde que as Centrais de Abastecimentoacabaram por privilegiar unicamente osaspectos massivos do abastecimentohortícola, manejando grandes volumesem detrimento quase que total das pre-ocupações com qualidade, apresentaçãodo produto final e desenvolvimentoempresarial de produtores e comercian-tes. A abertura de mercado e as recen-tes mudanças nos hábitos de consumoprovocadas pelo aumento do poder aqui-sitivo, evidenciam a existência de umgrande mercado emergente, que temabsorvido novas iniciativas comerciaisde exploração de novos nichos de mer-cado, altamente sofisticados, como asbutiques de verduras e casas espe-cializadas no comércio de hortaliçasfrescas semi-processadas e importadas.

As grandes redes de supermercados, porseu turno, têm dedicado maior atençãoà venda de produtos horti-granjeiros,investindo na inovação tecnológica desuas embalagens, formas de apresenta-ção e comercialização.

Recentemente, o surgimento das gi-gantes empresas transnacionais de dis-tribuição de produtos hortifruti-granjeiros, com os mais altos conceitosde logística e qualidade, como a norteamericana DOLE, com 4 bilhões defaturamento e presença em mais de 80países, os restaurantes industriais e asredes de ‘fast food’ em franca expan-são, passarão a representar as maisamplas perspectivas para o desenvolvi-mento das empresas olerícolas em umfuturo próximo. Considerando-se a rea-lidade dos novos tempos e a evoluçãode toda a cadeia produtiva, faz-se pre-mente a modernização das CEASA’scom a introdução de novos sistemas decomercialização que sejam mais aber-tos e que facilitem o relacionamento,bem como o contato direto entre o em-presário rural e o consumidor final.

A instalação de leilões compu-tadorizados tipo ‘veiling’, já em práticana venda de flores na Holambra, pode-ria significar a mudança, do antigo sis-tema vigente há décadas, para um novomodelo que privilegiasse a transparên-cia, a qualidade e sobretudo a seguran-ça de recebimento das transações comer-ciais, efetuadas por compradores previ-amente cadastrados e selecionados. Aexpectativa em relação ao futuro comér-cio atacadista de hortaliças é que ocor-ram no Brasil processos semelhantes emrelação aos que já ocorreram na Euro-pa, onde há uma crescente perda dosentrepostos oficiais, que vêm sendosubstituídos por centrais atacadistas in-dependentes. Na França por exemplo,de 1975 a 1992, a participação dos no-vos atacadistas cresceu de 21% para34% no comércio global de frutas ehortaliças. A explicação deve-se aossupermercados que têm otimizado oabastecimento de suas lojas, através dadiminuição da intermediação comerci-al, em detrimento da utilização de siste-mas mais eficientes de normatização,tanto de produtos, quanto de suas for-mas de acondicionamento e dos siste-mas logísticos de distribuição.

TAVARES, C.A.M. Os desafios da olericultura como atividade empresarial.

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No Brasil, o mesmo já está aconte-cendo e as mudanças já se refletem noentreposto paulista, que têm registradoum decréscimo nos seus volumes co-merciais da ordem de 10%. Estepercentual representa uma perda de qua-se 280 mil toneladas anuais, cujas prin-cipais causas são as limitações físicas,operacionais e o crescimento significa-tivo das compras diretas dos supermer-cados junto aos produtores. Em 1996,informações da Secretaria da Agriculturadão conta de que estas aquisições diretassomaram entre 200 e 250 mil toneladas.

É necessário também incentivar emelhorar a imagem dos produtosolerícolas, hoje negativa, devido ao ele-vado nível de resíduos agroquímicos. Sóé possível isto com campanhasinstitucionais de ‘marketing’, em par-ceria com a iniciativa privada, de modoa aumentar-se o consumo, hoje de ape-nas 40 kg/ano per capita, nível muitobaixo se comparado a nossos vizinhos daArgentina e Uruguai, com 70 a 75 kg.

LOGÍSTICA DE TRANSPORTE,DISTRIBUIÇÃO E

ARMAZENAMENTO

Um país como o Brasil, de extensãocontinental, necessita de uma logísticade transporte adequado, distribuição efi-ciente e armazenamento apropriado. Autilização de meios de transportefrigorificados, capazes de realizar o des-locamento de produtos perecíveis a lon-gas distâncias, com certeza será um dosmeios eficazes de garantir a manuten-ção da qualidade que almeja o merca-do. A padronização da paletização e aadoção de páletes providos de rodaschamados no exterior de ‘rolltainers’,não só facilitam o processo de carga edescarga, como possibilitam acomercialização de hortaliças no própriopálete, que serve como prateleira, repre-sentando economia de tempo e espaço.Com a utilização de embalagem quepermitam um correto empilhamento etransporte, serão criadas as condições

necessárias para o bom acondiciona-mento dos produtos perecíveis.

Com o surgimento das novas empre-sas de processamento de hortaliças, tan-to na área de congelados quanto na deprodutos semi-processados com atmos-fera modificada, novos métodos de dis-tribuição têm sido postos em prática,entre eles o modelo de venda domicili-ar ou porta-a-porta, tão em voga na áreade cosméticos. O ‘marketing’ cada vezmais agressivo e a necessidade de umadistribuição cada vez mais rápida e efi-ciente, farão com que os produtosolerícolas possam suprir de modo inte-gral a completa necessidade do consu-midor final.

MARKETING

As empresas modernas do setor daprodução de olerícolas estão interessa-das em produtos que atendam à expec-tativa do consumidor final. Estão, deoutro lado, interessadas em pesquisar a

AGRONEGÓCIOSUMA NOVA POSTURA EM RELAÇÃO AO FUTURO

TAVARES, C.A.M. Os desafios da olericultura como atividade empresarial.

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aceitação das suas mercadorias, a ima-gem de suas empresas, bem como acompetitividade dos preços, qualidade,embalagem, rapidez de entrega e o ní-vel de atendimento dos pontos de ven-da. O marketing dentro das principaisredes de supermercado tem criado no-vos departamentos para hortaliças semi-processadas, produzidas em estufa,hidropônicas e orgânicas. Além disto,alguns deles têm feito a promoção dasdiferentes verduras com cartazes ondese pode observar o conteúdo nutritivode cada uma delas, a exemplo do que éfeito no mundo desenvolvido.

Na verdade, promoções têm sidofeitas em alguns países entre produto-res, atacadistas e varejistas, para a cria-ção de hábitos de consumo de determi-nados produtos. Nos Estados Unidos porexemplo, aumentou-se o consumo dehortaliças e frutas na alimentação, atra-vés de testes degustativos e campanhaspublicitárias, que mostravam não só ovalor nutricional, como sua contribui-ção para uma vida mais saudável. Nosdias de hoje onde a competição é a pa-lavra-chave, mais do que conquistarmercados é necessário prover a sua ma-nutenção com produtos diferenciados,de alto valor agregado, e serviços capa-zes de satisfazerem todos os anseios doconsumidor final.

SISTEMA DE INFORMAÇÃO

A globalização da economia e o li-vre comércio estabelecido, especialmen-

te no MERCOSUL, farão com que ainteração da comunicação seja uma re-alidade entre os diferentes parceiroscomerciais. Informações de mercadodos principais países da América do Sulpoderão ser recebidas via on-line. A ra-pidez das comunicações viaINTERNET poderá ser um importanteinstrumento à disposição dos produto-res, atacadistas e varejistas quanto àoferta e procura de mercadorias, progra-mação de safras e ofertas de produtosexcedentes a nível de continente.

CONCLUSÃO

A inserção do Brasil na economiaglobal fará com que se busque em blo-co um crescimento econômico estável,constante e cada vez mais dinâmico,capaz de satisfazer os anseios pessoaisde consumo, bem como o suprimentopleno das necessidades das populações,com uma melhor condição de vida. Se-gundo nosso ponto de vista e de acordocom a figura, além da tecnologia fun-damental durante a fase de produção, ogerenciamento, a organização e o‘marketing’, dentro e fora da proprie-dade, englobarão o conhecimento neces-sário para se chegar à competitividade,que viabilizará a produção diferenciadade hortaliças, com altos padrões de pro-dutividade e qualidade.

O engajamento permanente das em-presas fornecedoras de insumos, quetêm se colocado na vanguarda com aintrodução do que existe de melhor a

serviço do produtor brasileiro, commaquinários, defensivos e adubos, in-cluindo também a indústria de semen-tes, sempre atenta para a introdução denovas cultivares de maior potencial ge-nético e com múltipla resistência a do-enças, farão com que as mudanças se-jam grandes ao se iniciar o novo século.

A participação de indústrias cada vezmais dinâmicas, modernas e eficientes,aliada à investigação científica que nostrará as soluções técnicas que almejamnossos produtores, serão o sustentáculomaior do sucesso que antevemos para oprogresso da olericultura empresarialbrasileira. Porém, a harmonização dapolítica tributária será a condição sinequa non para o livre comércio, sob penade se discriminarem nossas estruturasprodutivas.

O rápido processo de abertura eco-nômica trará como desafio permanentea busca de soluções para os tópicos aquienfocados. Estamos certos de que todasas partes envolvidas farão o melhor paraque se encontrem as soluções que todosalmejamos para o setor. Desejamos fir-memente que a nossa olericultura encon-tre seu lugar de destaque no contextonacional e internacional e que aplasticultura se transforme na excelên-cia da olericultura como atividade em-presarial.

TAVARES, C.A.M. Os desafios da olericultura como atividade empresarial.

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145Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

MING. L.C. O reconhecimento do papel das populações tradicionais no melhoramento e conservação de espécies vegetais. Horticultura Brasileira, v. 15, p.145-148, 1997. Palestra. Suplemento.

O reconhecimento do papel das populações tradicionais no melhoramen-to e conservação de espécies vegetais.Recognition of the traditional populations’ role on breeding andconservation of vegetal species.

Lin Chau MingUNESP - Faculdade de Ciências Agronômicas, Depto. de Horticultura, 18.603-970 Botucatu - SP.

Palavras-chave: cultivares criatas, biodiversidade, recursos naturais, manejo, propriedade intelectual, legislação.Keywords: landraces, biodiversity, natural resources, management, intellectual property, regulation.

Ahistória da agricultura seconfunde com o desenvolvimento da habilidade das

populações autóctones, de diversas par-tes do mundo, em observar as caracte-rísticas dos vegetais mais apropriadosao uso humano e selecionar e domesti-car plantas, iniciando assim o processode cultivo de vegetais para aproveita-mento pelas famílias, seja na alimenta-ção, no vestuário, ou ainda como uten-sílios e medicamentos. No Brasil, antesda chegada dos colonizadores portugue-ses, as populações indígenas já haviamdesenvolvido estratégias para melhorutilização e conservação dos recursosque a diversidade natural lhes oferecia.Na carta enviada ao rei, o escrivão PeroVaz de Caminha informa que os índiosconsumiam umas variedades de inhames(possivelmente Dioscorea) de melhorsabor do que as conhecidas em CaboVerde, as quais foram levadas a Portu-gal. Outras espécies cultivadas, com cer-teza, não foram observadas pela expedi-ção, dado ao pouco tempo que permane-ceram. Nas expedições posteriores e du-rante o processo desencadeado para a co-lonização do Brasil nos séculos seguin-tes, intensificou-se o intercâmbio de es-pécies vegetais, notadamente com os es-cravos negros, seu aproveitamento e a tro-ca de informações culturais, constituindo-se assim as bases da variedade de espéci-es utilizadas na agricultura brasileira.

A despeito da velocidade em quehouve a introdução e o cultivo de espé-cies exóticas em grandes extensões deterra, o aproveitamento de espécies na-tivas também se verificou, porém emescala bem mais modesta, em nível re-

gional, na maior parte das vezes. Issoporém, não significa que essas espéciessejam menos importantes. A participa-ção de cultivares utilizadas por comu-nidades tradicionais e/ou espécies nãousuais da agricultura ocidental vem seconstituindo em importante fonte na ali-mentação da população, fornecendo pro-teínas, aminoácidos, açúcares, vitami-nas e outros elementos essenciais, alémde produtos não alimentares que contri-buem para a melhoria das condições devida, como fibras, corantes, perfumes,madeira, produtos naturais e medica-mentos. O usufruto desses recursos na-turais é um benefício que pode ser paratoda a humanidade. Muitos destes pro-dutos são hoje utilizados, como fibrasde agave para produção de cordas, al-guns gêneros de palmeiras para fabri-cação de vassouras, cipós deCyclantacea para confecção de cestos,corante de Bixa orellana para a indús-tria alimentícia, amido de estipe de al-gumas palmeiras para alimentação, di-versas plantas como medicamento, di-versas frutas comestíveis e uma sérieimensa de outras espécies. O valor e aimportância dessas espécies para a hu-manidade é incalculável.

Além de utilizarem, melhorarem ecultivarem essas fontes alternativas deprodutos naturais, mantendo um amploleque de possibilidades e variabilidadegenética, as comunidades tradicionaisdesenvolveram estratégias, oriundas doestreito e íntimo convívio com o ambi-ente que as cercavam, que permitiram amanutenção e conservação não somen-te desses recursos, mas de todos osbiomas vegetais em que habitavam. A

expansão da agricultura moderna tevecomo uma das consequências mais ne-fastas, a destruição de enormes e contí-nuas áreas de vegetação natural, pondoem risco de extinção grande número deespécies que são úteis ou poderão vir aser utilizadas pela humanidade. A ma-nutenção da diversidade genética nosambientes originais existentes no Bra-sil e o reconhecimento do papel desem-penhado pelas populações tradicionaisna sua conservação são ações essenci-ais para a garantia de que isso possa serusufruído pelas próximas gerações.

FONTES ALTERNATIVAS EMELHORAMENTO DOSRECURSOS VEGETAIS

Os recursos genéticos vegetais noBrasil foram utilizados, muitos deles,segundo informações e observações fei-tas com as diversas populações autóc-tones e/ou tradicionais. Além doinhame, a esquadra de Cabral conheceuoutras espécies de arroz do gênero Oryza(Martins, 1997*), que lhe foram ofere-cidas, pelos indígenas.

Na América do Sul, o registro dosconhecimentos das plantas cultivadaspelos povos da América pré-colombia-na é muito escasso. Segundo Sauer(1987) as fontes utilizadas para esse es-tudo foram: a) informações de cronis-tas europeus, de fins do século XVI,principalmente espanhóis e portugueses;b) materiais arqueológicos, que limita-ram-se, em sua maior parte, à costa dePeru e do Chile; c) estudo regionais deplantas nativas cultivadas e da agricul-

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tura e estudos botânicos sistemáticosrealizados apenas no século XX e; d)estudos genéticos, que são mais recen-tes. Segundo o mesmo autor, da mesmaforma que o ocorrido com o milho nonovo mundo, as características botâni-cas e as preferências dos cultivadoresnativos formaram, com o tempo, e pre-servaram até nossos dias, uma extraor-dinária variedade de formas de muitasespécies vegetais que são utilizadashoje. Como exemplo, aclimataram qua-tro espécies de feijão comum(Phaseolus); diversas espécies decucurbitáceas, como Cucurbita (C. pepoe C. maxima), Sicana, Cyclanthera eSechium; diversas variedades de man-dioca (Manihot utilissima), batata-doce(Ipomoea batatas), de inhames(Dioscorea dodecaneura, D. piprifoliae D. hastata, confirmando a carta deCaminha), carás (diversas espécies deXanthosoma), diversas pimentas(Capsicum), tabaco (Nicotianatomentosum e N. sylvestris), de bana-nas ou pacovás (Musa paradisiaca), demamões (Carica candicans, C.candamarcencis e C. pentagona), goi-aba (Psidium guajava) que se expan-diram plenamente através de porcos eoutros animais, algodão (Gossypiumbarbadense e G. hirsutum), pupunha(Bactris gasipaes), que foi melhoradapor muitas populações indígenas, docacau (Theobroma cacao), que foi me-lhorado por cultivadores aborígenes emtipos com sementes de sabor delicadoe pobre em tanino, urucu (Bixaorellana), jenipapo (Genipa america-na) e outras espécies.

Outros trabalhos mostram tambéma paciente e continuada ação de melho-ramento e cultivo de espécies vegetaisna América do Sul e no Brasil. Kerr(1987) já informava que os índioscaiapós selecionavam as 20 melhoresespigas de milho para sementeira (utili-zando onze cultivares) e conservavamo terço médio, depois de seco ao sol, emcabaças tapadas com cera. Segundo omesmo autor, foram tambémselecionadas cultivares de abio(Pouteria caimito) que produziam fru-tos maiores (de até 1,8 kg), quando osfrutos normais pesam cerca de 30 g;cultivares de mapati (Pouroumacecropiaefolia), melhorada pelos índi-os Tukuna e Tukano, selecionando cul-tivares com frutos maiores, alguns commais de 3 cm de diâmetro.

A variabilidade de frutos seleciona-dos pelos índios amazônicos pode tam-bém ser exemplificada no abacaxi, queapresenta variações de cor de fruto, sa-bor mais ou menos ácido e/ou doce epeso. Há a famosa cultivar de abacaxi deTarauacá, no Acre, cujos frutos ultrapas-sam 12 kg. Kerr (1987) observouquatorze cultivares de banana plantadaspelos caiapós, diferenciadas pela cor, sa-bor e formato do fruto. Segundo Clement(1990), a pupunha foi melhorada em épo-ca remota, pelos indígenas amazônicose colombianos, tendo diversas cultivaressido levadas para outros locais da Ama-zônia. As cultivares apresentam diferen-ças no sabor, teor de óleo, presença ouausência de sementes, cor e tamanho defrutos e número de cachos por pé.

No Acre, existe uma variedade decastanheira (Bertholletia excelsa) con-servada pelos seringueiros na região deXapuri, cujas sementes são quatro ve-zes mais pesadas que as normais. No quetange a raízes comestíveis, os índioscaiapós utilizam mais de 22 cultivaresde batata-doce, os índios Desâna utili-zam mais de 40 cultivares de mandio-ca, que se diferenciam pela produtivi-dade, cor e formato de folhas, precoci-dade, altura da planta e cor de raiz (Kerr,1987). Os índios caiapós plantam 21cultivares de cará às margens das gran-des trilhas que unem as aldeias. Plan-tam duas cultivares por cova, provocan-do constante competição, com a sele-ção das melhores cultivares. Cherneca(1987) também verificou o cultivo 137cultivares de mandioca pelos índiosTukano, em quatro aldeias, que se dife-renciavam pelo número e formato doslobos das folhas, cor das hastes e da fo-lhagem nova, ramificação da planta ecor da raiz. Salick (1997) encontrouentre os Anuesha, no Peru, a seleção econservação, através de métodos tradi-cionais indígenas, de diversas cultiva-res de mandioca, envolvendo quatro di-ferentes condições ambientais e 73 va-riedades, muitas delas resistentes a mui-tas pragas e doenças frequentes na re-gião, confirmando o observado anteri-ormente por Boster (1984).

Essas opções de utilização de espé-cies vegetais diferentes e não usuaisgarantem fontes alternativas para asmais diversas necessidades atuais e fu-turas da humanidade. Tal situação so-

mente é possível com os conhecimen-tos etnobiológicos das mais diversaspopulações autóctones e/ou tradicionaisde todo o país, que contribuíram e ain-da contribuem com a produção de cen-tenas de espécies domesticadas e a ma-nutenção dos ambientes naturais ondevivem, permitindo a existência dessesrecursos, muito deles ameaçados peladesenfreada ação antrópica promovidapela expansão agropecuária.

CONSERVAÇÃO DOSRECURSOS VEGETAIS

A prática agrícola requer, inevitavel-mente, a existência de áreas abertas parao cultivo organizado de espécies úteisao homem. Tal atividade pode ter maiorou menor influência negativa para oambiente natural do lugar, conforme astécnicas e estratégias de cultivoadotadas. As práticas adotadas na agri-cultura do hemisfério norte, realizadapelos europeus, não foram plenamenteeficientes, quando trazidas para os paí-ses tropicais, no melhor e racionalaproveitamento dos recursos existentes,bem como não se mostraram adaptadasàs condições edafoclimáticas tropicais.Ao contrário e mesmo que em menoresextensões territoriais e para menorescontigentes populacionais, as comuni-dades autóctones souberam desenvolvertecnologias adaptadas às condiçõesambientais, sociais e culturais locais. Oentendimento da importância da flores-ta ou outra formação vegetal determi-naram a utilização de práticas agrícolase/ou manejo sustentável para a produ-ção de diversas espécies úteis na Amé-rica do Sul, que conservaram os biomasexistentes.

Posey (1984), em estudo sobre o sis-tema de manejo da floresta tropical dosíndios caiapós, detalhou diversas estra-tégias adotadas na melhor utilização dosrecursos naturais, sem suadepauperação. Diversas associaçõesplanta-solo-animais foram verificadasem diversas ecozonas. Manejo em flo-restas primárias e secundárias tambémsão ações usadas para criar condiçõesambientais para algumas espécies úteis.O plantio em clareiras na floresta e aolongo dos caminhos entre as tribosdemostram a harmonia e o entendimen-

MING. L.C. O reconhecimento do papel das populações tradicionais no melhoramento e conservação de espécies vegetais.

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147Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

to das relações entre os indígenas e oambiente. Hiraoka (1992) e Padoch &De Jong (1992) estudaram o manejo deflorestas secundárias por populações tra-dicionais nas várzeas amazônicas e ve-rificaram a existência de um complexosistema de utilização dos recursos natu-rais conforme o ciclo das águas dos rios,que inundam áreas ribeirinhas periodi-camente. Diversas espécies são mane-jadas com grande sucesso nesses locais.

A agricultura praticada por um enor-me contigente de agricultores brasilei-ros, a de coivara ou itinerante, ou seja, aderrubada da mata, o plantio e o cultivopor alguns anos, o abandono da área e aabertura de nova área, é um sistema ba-seado no entendimento do processo derecuperação natural da pequena áreadesmatada, para utilização posterior. Éuma prática agrícola branda, que per-mite o desenvolvimento do complexobiológico na área, após alguns anos de“repouso”. Dentre os seringueiros daregião de Xapuri, Acre, tal processo éutilizado e as famílias locais preferemreutilizar áreas de capoeiras velhas paraplantio de culturas a abrir novas áreasem floresta primária (Ming, 1994). Nascapoeiras o trabalho de derrubada é maisfácil e, além disso, nas área novas háespécies importantes para as famíliasnas formações naturais primárias. Estespoucos exemplos podem trazer elemen-tos comparativos entre as açõesantrópicas desenvolvidas por diferentespovos, técnicas e interesses.

Na atividade pecuária, os danosambientais e a perda da biodiversidadesão drásticos. Segundo Menezes (1994),87% da área desmatada no Acre se des-tina à expansão pecuária. Os processosde colonização agrícola em Rondôniapromovem as famosas “espinhas de pei-xe”, faixas enormes desmatadas ao lon-go das estradas, que são abertas para adefinição dos loteamentos e a posteriore consequente formação das clareiras,observadas por fotografias de satélites.

As comunidades tradicionais, comsuas práticas menos agressivas ao am-biente, adaptadas às condições locais,são responsáveis diretamente pela ma-nutenção e conservação dos recursosgenéticos existentes nesses locais. Re-conhecer esse fato é essencial para aspolíticas sociais e projetos a serem rea-lizados daqui em diante.

DIREITOS DE PROPRIEDADEINTELECTUAL DAS

COMUNIDADES.

Passar do reconhecimento do papeldas comunidades tradicionais e seusconhecimentos no melhoramento e con-servação dos recursos genéticos vege-tais ao reconhecimento de seus direitosde propriedade intelectual seria um pro-cedimento lógico, não fossem os gran-des interesses econômicos e políticosenvolvidos e as dificuldades inerentesdessa situação.

Grande parte das comunidades tra-dicionais encaram seus conhecimentosacerca do uso, melhoramento e conser-vação dos recursos genéticos como umbem que pode ser compartilhado comoutros, em benefício comum. Assimocorreu e vem ocorrendo, com o inter-câmbio de germoplasma melhorado, deinformações técnicas adequadas, dasestratégias utilizadas no manejo e con-servação, do acesso a essas espécies;enfim, ações que, dentro do contextocultural das comunidades, são encaradascomo normais e amistosas, destituídas dequalquer intenção que não seja a de co-laboração, seja quem for o interlocutor,parentes, amigos, outras comunidades,estudantes ou pesquisadores.

Essa generosidade e fraternidade deações foi aproveitada historicamente poroutros povos e mais recentemente porindústrias. Há casos antigos, como o docurare, usado pelos índios amazônicosem suas armas para caça, que viroumedicamento patenteado e produzidopela indústria farmacêutica ocidental, ecasos mais recentes, como o deThaumatococcus daniellii, planta quecresce nas florestas da África Central eOcidental e que produz uma proteína, ataumatina, cerca de 2.000 vezes maisdoce que a sacarose. Seus frutos são uti-lizados secularmente pelas populaçõesautóctones como adoçante. Uma empre-sa americana obteve patente de todos osfrutos, sementes e hortaliçastransgênicas que contenham o gene res-ponsável pela produção daquela proteí-na, pondo a perder todas as áreas plan-tadas com a espécie nos locais de ocor-rência e sem retornar nenhum benefícioàs comunidades locais. O mercado po-tencial deste produto é estimado em um

bilhão de dólares/ano, somente nos Es-tados Unidos (Posey & Dutfield, 1996).

O desrespeito aos tradicionais deveser urgentemente interrompido. A im-portância desses conhecimentos podeser medida no crescente número de tra-balhos, pesquisas, instituições, entida-des e profissionais ligados à áreaetnobiológica, particularmente aetnobotânica. No Brasil, no ano passa-do, o próprio CENARGEN - CentroNacional dos Recursos Genéticos, daEMBRAPA, firmou um acordo compopulações indígenas amazônicas, parao retorno e acesso deles às suas própri-as etnocultivares melhoradas de milho,conservadas em laboratórios, em umaação inédita, bastante louvável, de re-conhecimento do papel desempenhadono melhoramento e conservação dosrecursos naturais.

Ações para garantia dos direitos daspopulações tradicionais devem ser fru-to de esforços conjuntos. Populaçõeslocais, que não conheciam esses direi-tos, começaram a se organizar. Entida-des e organizações também contribuempara isso. Desde 1990, o Grupo de Tra-balho em Direitos de Propriedade Inte-lectual vem desenvolvendo atividadescom populações indígenas, organiza-ções científicas e grupos ambientalistaspara implementar uma forte estratégiapara o uso dos conhecimentos tradicio-nais, no envolvimento de populaçõeslocais em estratégias de conservação edesenvolvimento e na implantação dealternativas de modelos de conservaçãocentrados na população. Após a ECO-92, as ações nessa área intensificaram-se enormemente. Diversos eventos in-ternacionais discutiram aspectos e situ-ações reais, expondo uma grande gamade dificuldades de ordem científica, le-gal, econômica e política, muitas delasde difícil entendimento dada a comple-xidade e novidade do assunto.

O Brasil, como país de maior diver-sidade vegetal do planeta e com sua ricadiversidade cultural, não pode ficar foradessa discussão. O fato de uma socie-dade científica, como a Sociedade deOlericultura do Brasil, promover umfórum de debate sobre essa questãomostra concretamente que os pesquisa-dores brasileiros e outras categorias en-volvidas se preocupam e querem dar sua

MING. L.C. O reconhecimento do papel das populações tradicionais no melhoramento e conservação de espécies vegetais.

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148 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

SILVA, F.A.L. A lei de acesso: comentários sobre o projeto de lei do Senado no. 306, de 1995, de autoria da Senadora Marina Silva, que “dispõe sobre o acessoa recursos genéticos e seus produtos derivados e dá outras providências”. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, p. 148-153. Palestra. Suplemento.

A lei de acesso: comentários sobre o projeto de lei do Senado no. 306, de1995, de autoria da senadora Marina Silva, que “dispõe sobre o acesso arecursos genéticos e seus produtos derivados e dá outras providências”1

The access law: comments on the Senate Law Project n. 306, from 1995,authored by senator Marina Silva, that “disposes about the access togenetic resources and their derivatives and regulates other procedures”.

Fernando Antônio Lyrio SilvaConsultor Legislativo do Senado Federal

Palavras-chave: biodiversidade, regulação.Keywords: biodiversity, regulation.

cota de participação. A questão não seencerra agora, muitas discussões preci-sam ainda continuar, buscando soluçõesque respeitem e beneficiem as popula-ções tradicionais e sua cultura, mas mar-ca o reconhecimento de sua importânciaem muitas das atividades relacionadas àhorticultura no país. Um bom começo.

LITERATURA CITADA

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HISTÓRICO

A Convenção da DiversidadeBiológica (CDB), um dosmais importantes resultados

da Conferência do Rio, em 1992, repre-senta uma importante mudança no tra-

tamento dado aos recursos dabiodiversidade. Com efeito, prevalecia,então, a definição de que esses recursosconstituíam patrimônio comum da hu-manidade. Em contraposição, a idéiadefendida especialmente pelos países doSul, em 1992, enfim vencedora,

propugnava pela adoção do conceito depreocupação comum da humanidade eé com este conceito que nos deparamoshoje ao lidarmos com uma proposta na-cional para a formulação de uma lei deacesso a recursos genéticos.

A idéia de uma lei que disciplinasse

1 Trabalho elaborado com diversos subsídios oriundos do trabalho de Francisco Eugênio Machado Arcanjo, Consultor Legislativo do Senado Federal,intitulado Convenção Sobre Diversidade Biológica e Projeto de Lei do Senado n° 306, de 1995: Soberania, Propriedade e Acesso aos Recursos Genéticos,1997. O presente trabalho reflete o estágio atual da tramitação do PLS 306/95 no Senado Federal.

MING. L.C. O reconhecimento do papel das populações tradicionais no melhoramento e conservação de espécies vegetais.

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149Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

o acesso aos recursos genéticos nacio-nais no âmbito do Congresso Nacionalremonta ao ano de 1995, quando o Se-nador Dirceu Carneiro apresentou pro-jeto de lei que dispunha sobre os “ins-trumentos de preservação da diversida-de e da integridade do patrimônio gené-tico do País”. O projeto continha, emessência, os princípios básicos que de-veriam reger a matéria e, por força dasdisposições regimentais do Senado Fe-deral, não tendo sido apreciado antes dofim da legislatura, foi arquivado.

Nesse período, tramitava no Sena-do Federal o Projeto de Lei da Câmaran° 115, de 1993, sobre direitos e obri-gações relativos à propriedade industri-al. Entre os temas mais debatidos, en-tão, figurava a questão do patenteamentode formas de vida e suas repercussõesna sociedade brasileira. Naquela opor-tunidade, a Senadora Marina Silva apre-sentou emendas que visavam assegu-rar direitos para comunidades locais epara populações indígenas, no que dizrespeito ao uso de seus conhecimentos,inovações e práticas aplicados aos re-cursos biológicos. Ambas as emendas,discutidas sob intensa pressão interna-cional para aprovar uma legislaçãopatentária o menos restritiva possível,foram rejeitadas.

Antes que a Lei de Patentes fosseaprovada, a Senadora Marina Silva de-cidiu pela apresentação de um projetode lei para disciplinar o acesso aos re-cursos genéticos brasileiros, o Projetode Lei do Senado n° 306, de 1995 (PLS306/95), que é hoje conhecido comoprojeto da Lei de Acesso. Havia, à épo-ca, plena consciência das dificuldadespara uma tarefa de tal envergadura. Emparticular, não existia, então, uma sólegislação similar em outro país, a par-tir de onde se pudesse iniciar o traba-lho. Partia-se apenas de disposições ge-néricas da CDB, que assim dispõe emseu artigo 15: “cada parte contratantedeve adotar medidas legislativas, admi-nistrativas ou políticas (...) para compar-tilhar de forma justa e equitativa os re-sultados da pesquisa e do desenvolvimen-to de recursos genéticos e os benefíciosderivados de sua utilização comercial ede outra natureza com a parte contra-tante provedora desses recursos. Essapartilha deve dar-se de comum acordo”.

Em sua justificação ao Projeto, aSenadora Marina destacava que “(...) abiodiversidade ganhou em 92, ostensi-va e definitivamente, a posição de eixocrítico e privilegiado de negociação po-lítica e econômica. (...) Na Conferência,ficou claro, de maneira pública, o quejá se sabia nos circuitos especializados:biodiversidade é poder.”

Com referência ao desafio que seapresentava, à existência de poucosparâmetros de referência para iniciar adiscussão e à escassez de legislaçãocomparada que pudesse ser usada comoponto de partida, a Senadora afirmava:“Temos consciência de que, sobre estabase, um longo caminho deverá ser per-corrido no Congresso Nacional, paraque possa ser contemplada a necessi-dade de uma ampla e profunda troca deconhecimentos e opiniões, entre cientis-tas, pesquisadores e técnicos, setores dapopulação diretamente interessados eorganizações não-governamentais queacumulam significativa experiência so-bre o assunto”.

Não havia, portanto, a despeito daimportância e da necessidade de umalegislação de acesso aos recursos gené-ticos nacionais, qualquer interesse emque o Projeto fosse aprovado às pressasno Senado Federal. A idéia era que oProjeto pudesse ser amplamente discu-tido com diversos setores da sociedadebrasileira, incluindo a comunidade depesquisa, organizações não-governa-mentais e os diversos órgãos do PoderPúblico de alguma maneira ligados, di-reta ou indiretamente, à matéria.

De fato, foi isso o que aconteceu.Desde sua apresentação no Senado Fe-deral, em outubro de 1995, o projetovem sendo alvo de intensas discussõesem todo o País. Especificamente duranteo ano de 1996, diversos eventos foramrealizados com o objetivo específico dediscuti-lo, destacando-se as três audiên-cias públicas realizadas pela Comissãode Assuntos Sociais do Senado Federal(São Paulo, Manaus e Brasília) e oworkshop “Acesso a Recursos Biológi-cos: subsídios para sua normatização”,uma promoção do Ministério do Meio-Ambiente em parceria com o SenadoFederal, com a EMBRAPA e com qua-tro organizações não-governamentais(WWF, ISA, Vitae Civilis e ASPTA).

Além disso, durante esse período, hou-ve intensa movimentação de segmentosinteressados que apresentaram, ao Se-nado Federal, subsídios que represen-tassem suas posições.

Com esse nível de discussões, pare-ce atendida a expectativa da SenadoraMarina Silva com o presente projeto, oque assegura a ela lugar de destaque natarefa a que o país vem se dedicandopara encontrar instrumentos adequadospara o uso e para a conservação da ricadiversidade biológica nacional.

É de se destacar, também, aqui, opapel do relator do projeto na Comis-são de Assuntos Sociais do Senado Fe-deral, o senador Osmar Dias. Com efei-to, desde o momento em que foi desig-nado relator da matéria, o senador nãopoupou esforços para que o maior nú-mero possível de interessados fosse ou-vido, para que as audiências públicasfossem realizadas e para que houvesseum saudável contato de trabalho entreele, na condição de relator, e a Senado-ra Marina Silva, na condição de autorado projeto.

O projeto foi também distribuído,por requerimento do senador LúcioAlcântara, à Comissão de Educação doSenado Federal, o que significa que,após sua aprovação na Comissão deAssuntos Sociais, o Projeto deve vir aser discutido também nesta comissão.Esse requerimento pode ser retirado, acritério de seu autor, o que faria com que,uma vez aprovado o projeto na Comis-são de Assuntos Sociais, seja ele imedi-atamente remetido à Câmara dos Depu-tados para nova rodada de discussões.

O estudo sobre alterações no Proje-to de Lei n° 306/95, preparado pela as-sessoria do senador Osmar Dias e quecirculou entre as principais entidades eindivíduos que vêm acompanhando atramitação do projeto, revela conteúdoque significa grande avanço em relaçãoao projeto originalmente apresentado.Alguns subsídios de última hora ainda têmchegado à autora do projeto, senadoraMarina Silva, especialmente da parte dealgumas organizações não-governamen-tais e, encaminhados ao relator, poderãoser incorporadas ao seu parecer. Uma vezapresentado à Comissão de Assuntos So-ciais, espera-se que o parecer possa sersubmetido a discussão e a votação aindano mês de agosto próximo.

SILVA, F.A.L. A lei de acesso: comentários sobre o projeto de lei do Senado no. 306, de 1995, de autoria da Senadora Marina Silva, que “dispõe sobre oacesso a recursos genéticos e seus produtos derivados e dá outras providências”.

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DESAFIOS

Desde o início da concepção do pro-jeto e até agora, durante todas as etapasde sua discussão, um conjunto de requi-sitos se constituíram os principais desa-fios para que se chegasse à versão quedeve ser finalmente apresentada pelosenador Osmar Dias à Comissão de As-suntos Sociais. Eugênio Arcanjo, umdos consultores legislativos incumbidostanto da redação inicial do projeto comodo assessoramento ao relator, senadorOsmar Dias, destaca que, ao contráriodo que se poderia imaginar, as princi-pais dificuldades enfrentadas não se re-ferem “a conflitos de natureza política,ideológica ou técnica, como ocorreu noprojeto de lei sobre propriedade indus-trial e, em menor escala, no projeto delei sobre cultivares. O principal obstá-culo da proposta (...) tem sido omarcante caráter inovador da legislação,ante o qual se agrupa todo o atual esfor-ço de composição política e técnica emtorno do projeto, envolvendo Governo,sociedade civil e Legislativo”.

De fato, é interessante observar quea maior parte daqueles que se têm en-volvido com o debate em torno da Leide Acesso comungam de posições bas-tante semelhantes e defendem, basica-mente, os mesmos princípios, aquilo queArcanjo tem chamado de “agenda doacesso”, presente na CDB e norteadorado projeto de lei nacional. Segundo atal “agenda”, a idéia que se tem procu-rado imprimir ao projeto em discussãono Senado Federal é a elaboração de uminstrumento normativo que discipline ouso do recurso genético para fins cien-tíficos ou comerciais (que, em últimaanálise, é o que estamos chamando deacesso aos recursos genéticos), a partirdas seguintes premissas:

- sustentabilidade ambiental, o queimplica dizer que os avanços econômi-cos e tecnológicos obtidos com os re-cursos genéticos do País não se darãoàs custas da qualidade do meio-ambi-ente, em especial da integridade dopatrimônio genético e da diversidadebiológica do País;

- soberania nacional sobre os recur-sos genéticos e seus produtos derivadosexistentes no território nacional, dentrodo que prevê a CDB;

- respeito aos direitos de proprieda-de material e imaterial, incluindo os re-cursos naturais, coleções privadas derecursos genéticos, conhecimentos tra-dicionais, cultivos agrícolas e proprie-dade intelectual;

- repartição eqüitativa dos benefíci-os financeiros e tecnológicos derivadosdo acesso aos recursos genéticos;

- proteção às comunidades locais eàs populações indígenas, reconhecendo-se seu importante papel na proteção dabiodiversidade e assegurando-lhes retri-buição eqüitativa e justa pela eventualutilização de seus conhecimentos;

- transferência e fixação detecnologias apropriadas, em particulara biotecnologia, voltadas para o uso dosrecursos genéticos.

Até o momento, não se têm verifi-cado embates acentuados em torno daspremissas acima, que têm sido aceitas ereconhecidas pelos principaisinterlocutores do Congresso Nacional nadiscussão da Lei de Acesso. Os debatese as polêmicas têm se concentrado, emparticular, na forma, nomenclatura econceituação de idéias que possam pro-duzir, mais do que uma declaração deprincípios, um efetivo instrumento paradisciplinar o acesso aos recursos gené-ticos do País e regular as relações daídecorrentes de maneira justa para a na-ção e sua sociedade. Para isso, têm-seconjugado esforços por parte de cien-tistas, acadêmicos, políticos, represen-tantes de organizações não-governa-mentais e de órgãos governamentais, embusca das melhores formas de elabora-ção legislativa para registrar propostasque, se não constituem, ainda, acirradafonte de divergências, estão longe deconstituírem consenso quanto à formaem que devem ser apresentadas. Damesma maneira, praticamente todos ospaíses do planeta, independentemente deserem ricos ou pobres em diversidadebiológica, bem como organismos inter-nacionais especializados e a Conferên-cia das Partes da CDB, têm dedicado es-pecial atenção à elaboração de regimesadequados para disciplinar o acesso aosrecursos genéticos e aos efeitos dessa ati-vidade nas relações entre os países.

A tarefa a que o Congresso Nacio-nal tem se dedicado, portanto, é adequara “agenda do acesso” a um regime que

seja não apenas adequado ao País mas,também, reconhecido e aceito pelos pa-íses detentores de tecnologia e, supos-tamente, interessados nos recursos ge-néticos nacionais. Reconhece-se, atéaqui, que a elaboração de uma lei cujaexecução seja considerada excessiva-mente complexa, burocrática ouxenófoba trará, como principal efeito, amanutenção da clandestinidade em quese processa o acesso aos recursos gené-ticos no País, a perpetuação da “pirata-ria genética” e, na melhor das hipóteses,à formulação de acordos paralelos, àmargem da lei, entre prospectores bioló-gicos e provedores de recursos genéticos.

Superada essa etapa, onde os emba-tes têm sido mais de ordem técnica doque de vontade política, voltados para abusca de referências e terminologia co-muns, muito provavelmente os esforçosque se conjugam no Congresso Nacio-nal venham a desvendar as diferençasde cunho ideológico e político que hojenão estão aparecendo de maneira muitoclara. Um exemplo ilustrativo dessaperspectiva encontra-se na questão dosdireitos das comunidades locais e po-pulações indígenas. O projeto tem comoum de seus pontos basilares o respeito aessas sociedades, às terras que ocupame a seus conhecimentos tradicionais,mas, sabidamente, esse enfoque encon-tra resistências em diversos segmentosda sociedade brasileira, que se manifes-tarão mais cedo ou mais tarde.

O PROJETO EM GESTAÇÃO

Do ponto de vista exclusivamenteregimental, a versão oficial que se temdo projeto é ainda a que foi apresentadapela Senadora Marina Silva, em 1995.O parecer do relator, Senador OsmarDias, ainda não foi apresentado à Co-missão de Assuntos Sociais, para quepossa ser discutido e votado, o que nãonos permite fazer afirmações quanto aoconteúdo das alterações que venham aser feitas ao projeto original. Baseamo-nos, aqui, nos resultados das consultas,das audiências públicas e dos workshopsrealizados, que permitem vislumbraruma série de aperfeiçoamentos que po-dem ser incorporados à versão originaldo projeto. Assim, nada do que aqui seexpõe é considerado oficial, sob a ótica

SILVA, F.A.L. A lei de acesso: comentários sobre o projeto de lei do Senado no. 306, de 1995, de autoria da Senadora Marina Silva, que “dispõe sobre oacesso a recursos genéticos e seus produtos derivados e dá outras providências”.

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do relator ou do Senado Federal, refle-tindo apenas nossa opinião pessoal.

O que se propõe aqui, a título deanálise do projeto, são breves comentá-rios sobre as principais questões que têmsido alvo das discussões e apresentar aspropostas que, até o momento, têm mai-or probabilidade de serem incorporadasao texto que o Senado vier a aprovar.

Objeto - Após muitos debates emtorno da abrangência da Lei de Acesso,entende-se que a lei deva ter alcance su-ficientemente amplo para regular direi-tos e obrigações relativos ao acesso a:

· recursos genéticos, material ge-nético e produtos derivados, em condi-ções ex situ ou in situ, existentes no ter-ritório nacional ou dos quais o Brasil épaís de origem;

· conhecimentos tradicionais daspopulações indígenas e comunidadeslocais associados a recursos genéticosou produtos derivados;

· cultivos agrícolas domesticadose semi-domesticados no Brasil.

Regime de propriedade dos recur-sos genéticos - Esse é, sem dúvida, umaspecto complexo da legislação de aces-so. Trata-se, aqui, de definir a relaçãode titularidade patrimonial que deve re-ger os recursos genéticos do País, emespecial no que tange ao papel do PoderPúblico, considerando-se que se quer ca-racterizar um bem sobre o qual recai ointeresse público (portanto, um bem pú-blico), mas para o qual se admitem algu-mas formas de apropriação privada (quevêm a ser as razões que justificam um pro-cedimento de acesso a recursos genéticos).

Com base nesse entendimento, Ar-canjo propõe que a melhor classifica-ção para os recursos genéticos, no quetange à sua titularidade, é a de bens co-muns de uso especial, definidos peloespecialista em direito administrativoJosé Cretella Júnior como “toda partedo domínio público sobre o qual deter-minadas pessoas exercem direitos deuso e gozo, mediante outorga (...) dopoder público, através dos institutos dapermissão ou da concessão”. Ressalta-se, assim, o interesse público na tuteladesses bens, possibilitando-se, porém, for-mas de apropriação privada segundo opoder discricionário da autoridade com-petente. Essa tem sido também a opçãode países que aprovaram recentemente

legislação específica de acesso a recursosgenéticos, como o Equador e as Filipinas.

Direitos de propriedade materiale imaterial - A aceitação e a viabilida-de política da Lei de Acesso que se dis-cute está condicionada ao respeito a di-reitos de propriedade material eimaterial, reconhecidos legal e consti-tucionalmente, em particular aquelesrelativos:

· aos recursos naturais que contêmo recurso genético ou produto derivado;

· à coleção privada de recursosgenéticos ou produtos derivados;

· aos conhecimentos tradicionaisdas populações indígenas e comunida-des locais associados a recursos genéti-cos ou produtos derivados;

· aos cultivos agrícolas domesti-cados e semi-domesticados no Brasil.

Repartição dos benefícios - Da mes-ma forma como previsto na CDB, a Leide Acesso deverá incluir a garantia derepartição justa e eqüitativa dos benefí-cios derivados do acesso aos recursosgenéticos e produtos derivados, aos co-nhecimentos tradicionais das populaçõesindígenas e comunidades locais associa-dos a recursos genéticos ou produtos de-rivados e aos cultivos agrícolas domesti-cados e semi-domesticados no Brasil.

Acesso aos recursos genéticos hu-manos - Os objetivos da Lei de Acessonos levam a acreditar que não é adequa-do nem oportuno tratar, nesta proposta,do acesso aos recursos genéticos huma-nos, que deve ser devidamenteexcepcionado do escopo da lei.

Definições - O uso de definições noprocesso de elaboração legislativa não éusual no Brasil. Contudo, em casos es-pecíficos, entende-se que a harmonizaçãode conceitos pode revelar-se fundamen-tal no entendimento e na aplicação da lei.Esse é, evidentemente, o caso da Lei deAcesso, cujo debate envolve termos eexpressões que não fazem parte do uni-verso legislativo, alguns objeto de polê-micas e de interpretações diferenciadasque justificam a inclusão de conceitos edefinições na lei nacional

Autoridade competente - Por for-ça de dispositivos da Constituição Fe-deral, um projeto de lei iniciado no Con-gresso Nacional não pode, sob pena devício de origem, dispor sobre criação,

estruturação e atribuições dos ministé-rios e órgãos da administração pública.Assim, o projeto não deverá referir-seexplicitamente a nenhum órgão gover-namental, utilizando-se apenas da ex-pressão genérica “autoridade competen-te”. Caberá a esse órgão, a ser designa-do pelo Poder Público, toda a elabora-ção, coordenação e execução da políti-ca nacional de acesso a recursos genéti-cos, em conformidade com as diretrizesda Comissão de Recursos Genéticos,instância consultiva cuja criação se pro-põe no estudo realizado por Arcanjopara alterações ao projeto.

Do acesso a recursos genéticos emcondições in situ - Como requisito fun-damental de qualquer procedimento deacesso, deve ser prevista a autorizaçãoprévia pela autoridade competente e aassinatura e publicação de contrato en-tre a autoridade competente e as pesso-as físicas ou jurídicas interessadas. Oestudo para alterações ao projeto prevê,ainda, a figura das “agências de aces-so”, entidades públicas e organizaçõesprivadas sem fins lucrativos que pode-rão requerer acesso em nome de tercei-ros, negociar contratos conexos e cláu-sulas de proteção de direitos relativos àconhecimento tradicional, bem comogerenciar projetos e aplicações de recur-sos advindos dos contratos de acesso.

Embora haja divergências quanto aograu de detalhamento que deve constarna Lei de Acesso no que tange à solici-tação e ao projeto de acesso, entende-seque, minimamente, a lei deverá refe-renciar-se à exigência de apresentação,pelos solicitantes, dos dados de identi-ficação das diversas entidades e dos res-pectivos responsáveis, de informaçõessobre os recursos financeiros previstospara o projeto, dos métodos a serem uti-lizados, da localização precisa onde sefará o acesso e do destino do materialcoletado.

Em adição, os procedimentos de aces-so deverão ser acompanhados por umainstituição pública a ser especificamenteaprovada ou designada pela autoridadecompetente, ressalvando-se que convê-nios especiais poderão ser feitos com ins-tituições de ensino e pesquisa públicasou de utilidade pública, que seriam, nes-se caso, dispensadas dessa exigência.

Finalmente, entende-se que a Lei de

SILVA, F.A.L. A lei de acesso: comentários sobre o projeto de lei do Senado no. 306, de 1995, de autoria da Senadora Marina Silva, que “dispõe sobre oacesso a recursos genéticos e seus produtos derivados e dá outras providências”.

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Acesso deverá prever publicidade paratodos os atos administrativos que esta-belece, bem como a possibilidade demanifestação por parte de qualquer in-teressado.

Contrato de acesso - Deverá ter,como partes, o Estado, representado pelaautoridade competente, o solicitante doacesso, a agência de acesso e o prove-dor do conhecimento tradicional ou docultivo agrícola domesticado, nos casosde contratos de acesso que envolvamestes componentes.

Contratos acessórios - Quando asolicitação de acesso envolva um conhe-cimento tradicional ou um cultivo agrí-cola domesticado, o contrato de acessoincorporará, como parte integrante, umanexo, denominado contrato acessóriode utilização de conhecimento tradicio-nal ou de cultivo agrícola domesticado,subscrito pela autoridade competente,pelo provedor do conhecimento tradi-cional ou do cultivo agrícola domesti-cado, pelo solicitante e pela agência deacesso, quando for o caso, que estabe-leça a compensação justa e eqüitativarelativa aos benefícios provenientes des-sa utilização, indicando-se expressa-mente a forma de tal participação.

Contrato conexos - O projeto de-verá prever a existência de contratos nãodiretamente relacionados à atividade deacesso (esses têm que ser celebradoscom a autoridade competente), como,por exemplo, os contratos dos prospec-tores com o dono da terra onde se loca-lizam os recursos genéticos ou com acomunidade local ou população indíge-na (quando não estiverem envolvidosconhecimentos tradicionais). Esses con-tratos referem-se, basicamente, ao tipode benefício que essas pessoas obterãoa partir do acesso e deverão estipular umaparticipação justa e eqüitativa às partesnos benefícios resultantes do acesso aorecurso genético, indicando-se expressa-mente a forma de tal participação.

Do acesso a recursos em condiçõesex situ - Outro ponto polêmico da leique se discute. Parece haver consensoquanto à necessidade da existência decontratos de acesso a recursos genéti-cos depositados em centros de conser-vação ex situ localizados no territórionacional ou em outros países (neste caso,quando o Brasil for o país de origem dos

recursos). Também não restam muitasdúvidas de que os acordos de transfe-rência de material genético ou análogosentre centros de conservação ex situ ouentre estes centros e terceiros, interna-mente ou mediante importação ou expor-tação, constituem modalidades de con-tratos de acesso e que, portanto, devemser regidos pela lei que aqui se discute.

As dúvidas surgem quando se dis-cute a abrangência dessa proteção a re-cursos genéticos ex situ. É sabido queos principais cultivos alimentares utili-zados no País são dependentes degermoplasma exótico. O fato de o Bra-sil ser rico em diversidade biológica nãoquer dizer, necessariamente, que o Paísseja auto-suficiente na produção de ali-mentos. A situação mundial é de extre-ma interdependência no que se refereaos recursos genéticos para agriculturae, mais especificamente, para alimenta-ção. Por esse motivo, muitos estudio-sos propugnam por um regime de exce-ção para esses recursos que compõem amatriz alimentar do País.

Aparentemente, ao defender de ma-neira veemente a troca do sistema vi-gente de livre troca de recursos genéti-cos para agricultura e alimentação, oBrasil optou por um sistema que pudes-se, no longo prazo, assegurar sua pro-priedade sobre a rica diversidade bioló-gica silvestre e a transferência detecnologia que vem associada à negoci-ação sobre o acesso aos recursos gené-ticos. Esse é, porém, um aspecto daCDB ainda mal resolvido, o qual nãopôde ser apropriadamente conduzidonas reuniões preparatórias para redaçãodo texto da Convenção, fazendo comque a reunião de Nairobi, a última antesda Rio-92, reconhecesse a necessidadede se elaborar melhor esse significantee contencioso tema junto à FAO (Foodand Agriculture Organization), o orga-nismo internacional que defendeu e po-pularizou o conceito de “patrimôniocomum da humanidade”.

Proteção do conhecimento tradi-cional associado a recursos genéticos- A autora do PLS 306/95, senadoraMarina Silva, manifestou, desde o iní-cio, sua preocupação com a proteção dosconhecimentos das comunidades locaise das populações indígenas, empenhan-do-se no sentido de que qualquer regi-

me de acesso que se estabeleça no Paístenha, como princípio básico, a integri-dade intelectual do conhecimento tradi-cional e a garantia de seu reconhecimen-to, de sua proteção e de compensaçãojusta e eqüitativa pelo seu uso.

Esse é, contudo, o princípio da leionde se têm encontrado as maiores difi-culdades, no nível técnico, jurídico epolítico. Procura-se, aqui, criar um sis-tema que não existe, ainda, funcionan-do efetiva e eficazmente, em qualqueroutro país. Um sistema denominado suigeneris, uma vez que nenhum dos insti-tutos de proteção ao conhecimento hojeconhecidos - patentes, direitos autorais,certificado de inventor, cultivares, en-tre outros - se revela apropriado para osconhecimentos tradicionais. Nesse sis-tema, que deve prever a repartição dosbenefícios derivados do acesso aos re-cursos genéticos, deve constar, também,a necessidade de consentimento préviodas comunidades locais e das popula-ções indígenas para as atividades deacesso aos recursos genéticos situadosnas áreas que ocupam, aos seus culti-vos agrícolas domesticados e semi-do-mesticados e aos conhecimentos tradi-cionais que detêm.

Como fundamento de um sistema suigeneris, ainda, a Lei de Acesso deverácaracterizar a diferença entre os direi-tos de propriedade intelectual (funda-mentados basicamente na retribuiçãofinanceira pelo uso do conhecimento) eos direitos relativos aos conhecimentostradicionais, que se distinguem pela suainalienabilidade, impenhorabilidade eimprescritibilidade. O uso desses direi-tos só é admitido após o consentimentoda comunidade ou população envolvi-da e mediante a devida compensação.

Desenvolvimento e transferênciade tecnologia - Como prevê a CDB, alei nacional deve ser elaborada de for-ma que o acesso aos recursos genéticospropicie ao País a partilha dos benefíci-os resultantes e o ganho de tecnologiasrelevantes, incluindo biotecnologia.Para isso, o Poder Público deverá apoi-ar o desenvolvimento e a aquisição detecnologias nacionais para o estudo, usoe melhoramento dos recursos genéticos,bem como a criação, manutenção e aper-feiçoamento dos conhecimentos tradi-cionais das comunidades locais e popu-

SILVA, F.A.L. A lei de acesso: comentários sobre o projeto de lei do Senado no. 306, de 1995, de autoria da Senadora Marina Silva, que “dispõe sobre oacesso a recursos genéticos e seus produtos derivados e dá outras providências”.

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lações indígenas, além de criar meca-nismos para assegurar e facilitar aospesquisadores nacionais o acesso atecnologias apropriadas para a conser-vação e utilização sustentável da diver-sidade biológica.

Infrações e sanções administrati-vas e penais - O Senado Federal acabade aprovar projeto de lei que define oscrimes e as infrações administrativascontra o meio-ambiente, incluindo avan-ços que podem ser incorporados pela Leide Acesso, como o princípio da respon-sabilidade civil objetiva e aresponsabilização penal da pessoa jurí-dica, entre outros. As penas previstasdeverão ser severas o suficiente para quetenham efeito dissuasivo e as modali-dades de sanções administrativas ao al-cance da autoridade competente deve-rão constar de forma explícita, de for-ma a simplificar e tornar mais ágil a fis-calização e o cumprimento da lei.

CONCLUSÃO

A Lei de Acesso, de autoria da se-nadora Marina Silva, ora em tramitaçãono Senado Federal e aguardando pare-cer do senador Osmar Dias, tem mos-trado ao País o quão difícil é a tarefa dedisciplinar o acesso e o uso dos recur-

sos genéticos nacionais, em função dacomplexidade da matéria e da falta deconhecimentos técnicos universalmen-te aceitos em todas as áreas. O uso deconceitos e de regras para os procedimen-tos de acesso é uma tarefa tão mais com-plexa quanto mais se aproxime dos aspec-tos econômicos que envolvem a questão.

Por isso, o resultado mais importan-te até agora obtido na tramitação do PLS306/95 é o próprio processo de discus-são a que o projeto vem sendo submeti-do, o que tem proporcionado oenvolvimento de todos os tipos de enti-dades e indivíduos que possam ofere-cer subsídios a uma matéria de naturezatão ampla e pouco explorada. Nessesquase dois anos de existência do proje-to, observou-se uma formidável conju-gação de esforços por parte de diversossegmentos da sociedade brasileira, in-cluindo-se aí universidades, centros depesquisa, comunidades locais, popula-ções indígenas, organizações não-gover-namentais e órgãos do Poder Executi-vo. Esse esforço foi coordenado e arti-culado pelo Senado Federal, que, até omomento, não tem poupado esforçospara viabilizar, por meio de audiênciaspúblicas, workshops, debates, consultase conversas, o maior número de aportese subsídios que possam ser oferecidosao projeto original.

A forma com que o projeto vem sen-do discutido possibilitou que a denomi-nação Lei de Acesso se tornasse de usocorrente, antes que, como de costume,se batizasse a Lei como Lei SenadorFulano ou Lei Senador Ciclano. Essaimportante mudança de hábitos políticosé certamente a razão pela qual estão sen-do vencidas resistências de cunho parti-dário ou pessoal e para que as discussõesse concentrem naquilo que é essencialpara a definição de um regime de acessoaos recursos genéticos nacionais, tarefa,por si só, grandiosa e complexa.

O Projeto ainda tem um longo ca-minho a percorrer antes de sua transfor-mação em norma jurídica: aprovação noSenado, discussão e aprovação na Câ-mara dos Deputados, retorno ao Sena-do e sanção presidencial. Em cada umadessas etapas, abrem-se novas oportu-nidades de discussão, de esclarecimen-tos, de superação de divergências e deformulação de conceitos. Esse é o ver-dadeiro e ideal caminho da elaboraçãolegislativa e a esperança de que o Brasilvenha a ter uma Lei de Acesso que, defato, se constitua instrumento de desen-volvimento para o País, de conservaçãoe de uso sustentável da diversidade bio-lógica e de repartição justa e equitativados benefícios derivados da utilizaçãodos recursos genéticos.

SILVA, F.A.L. A lei de acesso: comentários sobre o projeto de lei do Senado no. 306, de 1995, de autoria da Senadora Marina Silva, que “dispõe sobre oacesso a recursos genéticos e seus produtos derivados e dá outras providências”.

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154 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

CASALI, V.W.D. O impacto da lei de propriedade industrial e de proteção de cultivares na olericultura brasileira. Horticultura Brasileira, v. 15, p. 154-156,1997. Palestra. Suplemento.

O impacto da lei de propriedade industrial e de proteção de cultivares naolericultura brasileira.The impact of the industrial property and cultivar protection law on theBrazilian horticulture.

Vicente Wagner D. CasaliUFV - Depto. de Fitotecnia, 36.571-000 Viçosa - MG.

Palavras-chave: legislação, patentes, biotecnologia, organismos geneticamente modificados, biodiversidade.Keywords: regulation, patents, biotechnology, genetic modified organisms, biodiversity.

INTRODUÇÃO

Na história da agricultura, ogermoplasma foi a matéria-prima livremente usada pe-

los seres humanos para a co-evoluçãoda agricultura. A história da humanida-de não é a história do desenvolvimentotecnológico, mas a história da evoluçãodo pensamento. Primordialmente o pen-samento era ocupado com a sobrevivên-cia. Depois, desenvolveu-se para o pen-samento analógico e tornou-se deduti-vo para precipitar-se no pensamentoobjetivo (com o qual fez a revoluçãoindustrial e a tecnologia). Agora, a de-gradação levou-o ao pensamentoholístico que agarrou-se naglobalização, onde a pobreza competecom a riqueza, sendo a patente um ins-trumento de legalização. A geração de1940-50 nasceu por conta da natureza;a de 60-80, por conta do consumismo.A geração do final do século nascerápor conta de qual poder? Seremos filhosde quem? Seremos multinacionais?

LEI DE PROPRIEDADEINDUSTRIAL

A nova Lei de Propriedade Industri-al (no 9.279-96), assinada em 14 de maiode 1996 e publicada no dia seguinte noDiário Oficial da União, passou a vali-dar os direitos retroativos da indústriaquímica e farmacêutica instantaneamen-te. Os outros direitos, quase todos, pas-saram a vigorar a partir de 15 de maiode 1997. Cruelmente o Brasil passa apagar “royalties” sobre produtos que nãoseriam patenteáveis por já se encontra-

rem no domínio público (artigo 230)exatamente por causa desse retroativo.Uma vez que sejam declarados pelorequisitante como invenção, os remédi-os, os alimentos e as biotecnologias,assim como os microorganismostransgênicos são doravante patenteáveis(artigo 18). E o INPI (Instituto Nacio-nal de Propriedade Industrial) passa adecidir sobre a legitimidade, a capaci-dade técnica e a capacidade econômicados empresários nacionais com vistas àfabricação dos produtos patenteados eimportados por multinacionais (artigo68). E a pirataria é sumariamente cul-pada até que prove o contrário nos tri-bunais (artigo 42 e 206).

No artigo 10, inciso IX, está explí-cito e claro que não são patenteáveis,em razão de não serem consideradosinvenções, “o todo ou parte de seres vi-vos naturais e materiais biológicos iso-lados, inclusive o genoma ougermoplasma de qualquer ser vivo na-tural e os processos biológicos naturais”.Esse artigo limitou as intenções de po-der imperial ambicionadas pelo gover-no enquanto engessado pelasmultinacionais, no que se refere a pro-dutos e processos naturais. A pressãodos ambientalistas, cientistas, filósofose religiosos, dentre outros, contra opatenteamento dos seres vivos resultounuma conquista que se limita aos arti-gos 10 e o 18. Nesse artigo 18, incisoIII, o patenteamento é restrito aosmicroorganismos transgênicos que aten-dam aos requisitos específicos dapatenteabilidade, quais sejam: a novi-dade, a atividade inventiva e a aplica-ção industrial. As descobertas em si não

são patenteáveis. O microrganismotransgênico é definido como “organis-mo, exceto o todo ou parte de plantasou de animais, que expressem, median-te intervenção humana direta em suacomposição genética, uma característi-ca normalmente não alcançável pelaespécie em condições naturais”.

A interpretação dos artigos 10 e 18,plenamente compreensível pela comu-nidade científica, a qual, aguarda otimis-ta o entendimento da comunidade jurí-dica, assim como o respeito humanistados interessados exclusivamente emmonopólios e lucros, é que, absoluta-mente nenhum ser vivo ou processo bi-ológico natural, e nenhuma planta ouanimal como estão e são, serãopatenteáveis. O que foi deixado comoponto vulnerável, ainda anterior às in-tenções do lobo à jusante sobre o cor-deiro bebendo água à vazante, é que, noartigo 10 não foi estabelecido claramen-te o que é natural e o que é invençãopara seres vivos, com referência às par-tes que os compõem e os processos bio-lógicos que lhes são intrínsecos. Dasdescobertas de Einstein fizeram a bom-ba atômica.

Das intenções do governo, apoiadase promovidas pelas multinacionais nosentido de dar prioridade aopatenteamento das tecnologias estran-geiras, resultou que o artigo 18, que tra-ta das invenções não patenteáveis, nãose refere aos processos biotecnológicosque, portanto, serão patenteáveis, domesmo modo que as metodologias me-cânicas e químicas sempre foram. Nãotendo sido estabelecidas as condições deacesso aos processos biotecnológicos, o

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Brasil fica sob o domínio dessas paten-tes ao desenvolver suas próprias inven-ções, novidades e aplicações industri-ais. Sendo assim o patenteamento dire-to de plantas e animais está impedidopela lei, mas o patenteamento indiretoestá aberto, pois a patente sobre um pro-cesso biotecnológico para a criação deuma planta ou animal transgênico con-cede os mesmos direitos sobre a plantaou animal obtido (artigo 42, II). Emrazão de não haver limitação sobre apatente de genes de bactériastransgênicas quando estes são transfe-ridos via engenharia genética para ogenoma de plantas ou animais, a repro-dução das plantas e animais transgênicosimplica na reprodução de um gene pa-tenteado. Portanto, plantas e animais nãopatenteáveis, segundo o artigo 18, sãomonopolizáveis pelas patentes do pro-cesso biotecnológico e do microor-ganismo transgênico empregados na“nova invenção”.

De acordo com a nova lei, os proje-tos, exceto das indústrias farmacêuticas,química e de alimentos, empregandotecnologia de ponta, ao requererem pa-tentes, poderão ter o parecer negativode acordo com o artigo 229 e, nas pró-ximas proposições de financiamento, jádevem incluir eventuais “royalties” nosorçamentos que, inclusive, poderão sercobrados retroativamente. Levando-seem conta que há uma pressão para queas pesquisas sejam direcionadas para omercado, o artigo 43 alerta os pesquisa-dores para usarem as técnicas pagandoos direitos de patente antes de inventa-rem suas próprias.

LEI DE PROTEÇÃO DE CULTIVARES

A Lei de Proteção de Cultivares (no.

9456-97), publicada no Diário Oficialda União no dia 28 de abril de 1997 pro-tege os direitos relativos à propriedadeintelectual referente a cultivar e dá ou-tras providências.

No artigo 9 merecem destaque asrestrições impostas pela lei e que influ-enciam as atividades na área deolericultura. O titular (dono) de umacultivar adquiriu o direito da reprodu-ção comercial, ou seja, é proibido a pes-soas ou empresas a produção, com fins

de venda, das sementes da nova culti-var; somente o titular pode autorizar essaoperação durante o período da proteção.As cultivares lançadas por órgãos depesquisa pública, sem proteçãorequerida ou concedida, podem sercomercializadas livremente, como paratodas as cultivares antes dessa lei. Asnovas cultivares com proteção concedi-da poderão ser monopolizadas à medi-da que as pequenas empresas forem de-saparecendo. A doação de sementes dacultivar protegida é possível, sem san-ções, quando não for nominada a semen-te doada. A troca de sementes entre pe-quenos agricultores é permitida, respei-tada a definição de pequeno agricultorna lei. O artigo 9 pela sua fundamentalconceituação será transcrito: “A prote-ção assegura ao seu titular o direito àreprodução comercial no território bra-sileiro, ficando vedado a terceiros, du-rante o prazo de proteção, a produçãocom fins comerciais, o oferecimento àvenda ou à comercialização, do materi-al de propagação da cultivar, sem suaautorização”.

A utilização de uma cultivar em cru-zamentos deve respeitar a lei de prote-ção e a cultivar obtida utilizando-se acultivar protegida como progenitor sópoderá ser comercializada se ocorrerautorização do titular. A cultivar prote-gida pode ser utilizada na pesquisa ci-entífica pois não fere o direito de pro-priedade (artigo 10). Uma cultivar deri-vada da protegida poderá ser exploradacomercialmente mediante autorizaçãodo titular da proteção. A cultivar deri-vada deve ser distinta da protegida pormargem mínima de descritores previs-tos em critérios de órgão competente(ainda a ser estabelecido). A lei prevêuma declaração de uso público da culti-var protegida para atender necessidadesda política agrícola nos casos de emer-gência, abuso do poder econômico epara usos não comerciais. Esse disposi-tivo pode atender os programas de dis-tribuição gratuita de sementes promo-vidos por prefeituras.

Há possibilidades de cancelamentoda proteção quando ocorrerem, dentreoutras situações, a perda dehomogeneidade ou estabilidade ouquando for comprovado que a cultivartenha causado impacto desfavorável ao

ambiente ou à saúde humana. As culti-vares suscetíveis a doenças e pragas sãopassíveis de cancelamento quando exi-girem a aplicação de doses de agrotóxicosque causem riscos à saúde. Assim tam-bém as cultivares resistentes a herbicidas,com o uso contínuo, com acompanha-mento e com um relatório de impactoambiental, podem ser canceladas.

LEI DE ACESSO AOSRECURSOS GENÉTICOS

Esse procedimento legal é um reco-nhecimento dos direitos soberanos dospaíses sobre seus recursos naturais, di-ante do lema tendencioso de que os re-cursos genéticos eram patrimônio co-mum da humanidade. Na realidade são,exceto no sentido do mercantilismo.Diante dessa definição soberana, abiodiversidade revela-se como objeto depoder. A convenção sobre diversidadebiológica se fundamenta em três objeti-vos: a conservação da diversidade bio-lógica, a utilização sustentável de seuscomponentes e a repartição justa e eqüi-tativa dos benefícios derivados da utili-zação dos recursos genéticos e transfe-rência adequada de tecnologias perti-nentes, levando em conta todos os di-reitos sobre tais recursos e tecnologiase mediante financiamento adequado.Esse propósito visa disciplinar, acom-panhar e contabilizar as compensaçõesdas práticas de biopirataria e garimpogenético, ou seja, a invasão de nossoterritório por empresas com o objetivode apropriar-se de recursos genéticos.Tem-se em vista a justa retribuição aoconhecimento e a conservação dos re-cursos genéticos pelas comunidades in-dígenas e assemelhadas.

O texto contém os princípios: a) so-berania na inalienabilidade dos direitossobre a diversidade biológica e recur-sos genéticos existentes no territórionacional; b) a participação das comuni-dades locais e dos povos indígenas nasdecisões, que tenham por objetivo oacesso em suas áreas; c) a participaçãonacional nos benefícios econômicos esociais decorrentes do acesso, especial-mente em proveito das comunidadeslocais e povos indígenas envolvidos; d)a proteção e o incentivo à diversidadecultural e ; e) a garantia dos direitos in-

CASALI, V.W.D. O impacto da lei de propriedade industrial e de proteção de cultivares na olericultura brasileira.

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telectuais comunitários sobre os conhe-cimentos associados à biodiversidade,de maneira que se reconheçam sua pro-teção e remuneração.

Há ainda um capítulo com as defi-nições das obrigações institucionais,porém as responsabilidades do órgãoencarregado serão estabelecidas em re-gulamentação posterior. As normas paraacessar são fixadas. Em se tratando deterras indígenas ou comunidades, deve-rá haver audiência e participação nostrabalhos por representantes dessas co-munidades. Normas de biossegurança,de proteção ao ambiente, de repasse deinformações a instituições federais, departicipação nacional nos benefíciosgerados, constam do documento. Algunsaspectos que devem ser consideradosnessa lei são identificados nos seguin-tes itens: a) há garantias de propriedadeintelectual e os países detentores dabiodiversidade condicionam o acesso aseus recursos genéticos a transferênci-as de tecnologia e compensações eco-nômicas; b) os dispositivos da lei sãoinstrumentos de negociação em que ogestor é o Estado; c) as conceituaçõesde comunidade local são levantadas as-

sim como a repartição de benefícios.Alguns comentários devem ser feitosquanto à repartição de benefícios quenaturalmente não serão um pagamentopelo produto gerado a partir de seus re-cursos, além disso deverá ser assegura-do às comunidades o direito de nega-rem o acesso a seus recursos genéticosou conhecimentos.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

Em termos econômicos é bom refle-tir sobre o exemplo modesto e curiosode duas espécies de tomates verdes sil-vestres encontrados no Peru na décadade 60. Os genes responsáveis pelo acrés-cimo de pigmentação e teor de sólidossolúveis valem aproximadamente US$5 milhões por ano à indústriaprocessadora de tomate. Outra reflexãoé que a extinção de espécies vegetaispode significar também o desapareci-mento de bilhões de dólares emfármacos derivados cujo valor de mer-cado, em 1980, era US$ 8 bilhões. Es-ses exemplos ilustram que a cada novaavaliação do sistema mercantilista im-posto à humanidade pelo poder econô-

mico, os interesses industriais são for-talecidos, mas os direitos da sociedadesão enfraquecidos e o planeta está maispobre nos seus recursos naturais. Osmonopólios avançam e as dependênci-as dos agricultores aumentam. Sob ojugo de quem nascerão nossas próximasgerações? Vai ser necessário uma paten-te para nascer? Pertencemos todos aomesmo planeta e por isso vozes de con-testação e reflexão devem se fazer ou-vir. Os líderes dos recursos financeirosnão apreciam ouvir os contrários, masos ouvem, por isso é preciso primeiroapontar o lado cruel do patenteamentopara, depois, conviver com o sistema eajudar no direcionamento de caminhosalternativos para as próximas geraçõesde líderes, já que a atual está apegadademais aos valores materiais e esqueci-da de valores humanísticos. A empresaestá hierarquicamente colocada em mai-or importância que o ser humano. Masnão esqueçamos que a dívida atual dosseres humanos para com o planeta Terraé de US$ 33 trilhões. Isso é o quanto foiretirado “gratuitamente”. Será que vamosavançar nosso pensamento historicamen-te para o pensamento holístico?

CASALI, V.W.D. O impacto da lei de propriedade industrial e de proteção de cultivares na olericultura brasileira.

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157Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

MORALES, E.A.V. & MARTINS, E. de V. Papel da rede GENAMAZ na conservação e uso dos recursos genéticos amazônicos. Horticultura Brasileira,Brasília, v. 15, suplemento, p. 157-159, 1997.

Papel da rede GENAMAZ na conservação e uso dos recursos genéticosamazônicos.The rate of GENAMAZ network on conservation and use of the Amazonic resources.Eduardo A. V. Morales1, Everaldo de V. Martins2

1 Embrapa - Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Ocidental, C. Postal 319, 69011-970 Manaus - AM; 2 SUDAM - Gerência deProgramas de Ciência e Tecnologia, Av. Almirante Barroso 426, Bloco C - 4o. andar, 66090-000 Belém - PA

Palavras-chave: biodiversidade, desenvolvimento sustentável, pesquisa e desenvolvimento.Keywords: biodiversity, sustainable development, research and development.

CONCEITUAÇÃO

ARede para Conservação eUso dos Recursos Genéticos Amazônicos -

GENAMAZ - faz parte de um conjuntode estratégias adotadas pela Superinten-dência do Desenvolvimento da Amazô-nia - SUDAM - para promover o desen-volvimento sustentável da região ama-zônica (SUDAM, 1996), dentro de umarelação harmônica entre a conservaçãode sua biodiversidade e o estímulo aocrescimento da economia regional. Naprática constitui uma rede amazônicainterinstitucional, organizada sob o mar-co da SUDAM, através do Grupo deCiência e Tecnologia. Está fundamen-tada no Plano de Desenvolvimento daAmazônia (SUDAM, 1993), onde abiodiversidade presente nosecossistemas amazônicos destaca-secomo um dos maiores potenciais a se-rem oferecidos para o terceiro milênio.

PROPOSTA

A GENAMAZ, ao mesmo tempo emque apoia ações voltadas para conser-vação e qualidade ambiental do bioma,em benefício da humanidade, apoia tam-bém ações voltadas a disponibilizar epromover a utilização sustentável deinformações sobre o potencialsocioeconômico de flora, fauna emicobiota amazônica. Sua proposta estavoltada para a organização de mecanis-mos técnico-institucionais de articula-ção entre as políticas nacionais e regio-nais para a conservação e uso dos re-cursos genéticos da Amazônia, estimu-lando a transformação do potencial natu-

ral em fonte de renda, de emprego e debem estar da sociedade amazônica.

Os conceitos organizacionais daGENAMAZ repousam sobre o papelestratégico que as atividades de P & D,principalmente quando em redesinstitucionais, representam para o desen-volvimento socioeconômico da Amazô-nia. Como estratégia para superar açõespontuais, muitas vezes voltadas para ocorporativismo acadêmico com baixosníveis de eficiência e eficácia (Carnei-ro, 1995), a GENAMAZ estimula: (i) olevantamento de demandas como me-canismo para priorizar tecnologias, ser-viços, produtos e processos de interessepara o desenvolvimento socioeco-nômico regional; (ii) a mobilização in-tegrada da capacidade instalada nos se-tores públicos e empresariais, com ointuito de promover e fortalecer a buscade soluções para os problemaspriorizados; e (iii) a priorização de umapolítica regional de capacitação de re-cursos humanos e de fortalecimentoinstitucional, principalmente quando deinteresse para ações integradas. A in-tenção que conduz esta estratégia é es-timular ações de cooperação ecomplementação para possibilitar o es-tabelecimento de fortes níveis deintegração institucional.

PRODUTOS ESPERADOS

Em relação ao potencial de produ-tos esperados da biodiversidade amazô-nica é importante levar-se em conta onúmero de ecossistemas e de espéciesexistentes, embora, dada a magnitude,em muitos casos ainda sejam estimati-vas. Em linhas gerais, tem sido aceitosos seguintes números: 30.000 espéciesde plantas superiores, 2.500.000 espé-

cies de artrópodes, 2.000 espécies depeixes e 300 espécies de mamíferos,com um enorme potencial de diversida-de genética nas inúmeras comunidadese endemismos da região (Gentry, 1983;Salati, 1983). Entretanto, ao mesmotempo em que existe um potencial ex-pressivo de encontrar-se característicasutilitárias do maior valorsocioeconômico nesta diversidade ge-nética amazônica, também existe o ris-co de que, quando procuradas, já tenhamocorrido perdas irrecuperáveis, uma vezque estimativas mostram que a degra-dação das florestas tropicais é tão intensaque poderá provocar até ao final desteséculo a extinção de 15 a 50% dessasflorestas (Lugo, 1988). Esta situaçãopoderá ser ainda mais acentuada naAmérica Latina, uma vez que esta re-gião mantém somente 2% das florestastropicais sob áreas protegidas, ao passoque África o faz em 4% e Ásia em 6%(Wilson, 1988).

Embora ainda pouco conhecida, estavariação genética potencial representaum dos mais importantes produtos es-tratégicos da biodiversidade amazônicae, ao mesmo tempo, um importantemecanismo para o desenvolvimentosocioeconômico regional em bases sus-tentáveis. Entretanto, a implementaçãode uma política adequada para conser-vação e uso dos recursos genéticos ama-zônicos precisa de esforçosinstitucionais expressivos, principal-mente através de ações institu-cionalmente integradas, para: (1) coor-denar a coleta e a disponibilidade dogermoplasma; (2) melhorar a capacida-de para permitir uma retribuição maisjusta pela variação genética regional; (3)identificar e disponibilizar variação

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genética de interesse socioeconômico e;(4) diminuir a dependência por materi-ais genéticos estrangeiros.

Os resultados esperados estão rela-cionados tanto ao fortalecimento dacompetência científico-tecnológica re-gional, como à definição de oportuni-dades empresariais de interessesocioeconômico, sob quatro grandes li-nhas: (i) fortalecimento da capacidadecientífico-tecnológica regional; (ii) dis-ponibilidade de germoplasma com po-tencial de uso em programas de desen-volvimento sustentável da Amazônia;(iii) estabelecimento de uma rede regi-onal de informação e documentaçãopara recursos genéticos amazônicos e;(iv) disponibilidade de um banco de pro-jetos empresariais, utilizando o poten-cial de negócios oferecido pelos recur-sos genéticos amazônicos, de interessesocioeconômico regional.

ORGANIZAÇÃO DAGENAMAZ

Tendo como princípio essencial umaação articulada entre instituições queatuem ou que possam apoiar a conser-vação e o uso de recursos genéticosamazônicos, a GENAMAZ estáestruturada com a participação ativa eintegrada de instituições federais, regi-onais e estaduais que atuam na Amazô-nia, como agências para o desenvolvi-mento socioeconômico; centros de ex-celência em P & D; sistema universitá-rio público e privado; sistema para con-servação e qualidade ambiental; siste-mas de C & T; organizações empresari-ais e organizações não governamentais.Embora o apoio oferecido pelaGENAMAZ possa ser significativo, suaação poderá ser ainda mais expressivase os em projetos também receberemapoio de programas de C & T e P & D,como: MCT-CORPAN, MCT-PADCT,MMA-PRONABIO, MCT-PTU, MCT-PPG-7, UNAMAZ, TCA, IICA-PROCITROPICOS / TROPIGEM,GEF, FAO, PNUD e outros.

ORGANIZAÇÃO DOS PROJETOS INTEGRADOS

Considerando-se o expressivo poten-cial oferecido pela diversidade genéti-ca amazônica, a organização de proje-

tos deve considerar as seguintes fases eetapas:

(i) Fase I. Seleção de espécies po-tenciais e comprometimentoinstitucional na seleção de espécies compotencial socioeconômico de interesseregional, com as seguintes etapas: a)identificação de demandas e oportuni-dades de negócios; b) existência devocações, demandas e prioridades regi-onais; c) análise do conhecimentoetnobiológico, popular, científico-tecnológico, perspectivas utilitárias edistribuição ecogeográfica das espéciespotenciais; d) análise darepresentatividade genética, estado deconservação e disponibilidade deamostras das espécies potenciais; e)seleção de espécies prioritárias para umaação institucional integrada e; f) defini-ção das atribuições e do comprometi-mento institucional nas ações integra-das priorizadas.

(ii) Fase II. Obtenção, conservaçãoe reconhecimento do valor utilitário dogermoplasma, para identificar, reconhe-cer o valor socioeconômico, conservare tornar disponíveis características ge-néticas, com as seguintes etapas: a)prospecção, levantamento e, quandonecessário, validação das informaçõessobre distribuição ecogeográfica dasespécies, dos “genepools” pertinentes edas áreas de pressão antrópica, comoestratégias para priorizar os locais paracoleta de germoplasma; b) coleta deamostras populacionais para represen-tar e obter características genéticas paraadaptação ambiental e utilitárias; c) es-tabelecimento de processos alternativose complementares para conservação dogermoplasma, através do uso combina-do de procedimentos in situ e ex situ; e)caracterização, avaliação e validação dogermoplasma, como, por exemplo, me-canismos para diferenciar acessos e es-tabelecer seu potencial utilitário e; g)organização da documentação e da di-fusão das informações pertinentes.

(iii) Fase III. Disponibilização doconhecimento, das tecnologias e políti-cas de crédito necessárias para que osrecursos genéticos nativos sejam utili-zados em ações empresariais de interes-se socioeconômico regional, com as se-guintes etapas: a) identificação e sele-ção de perspectivas de negócios para

espécies amazônicas, como estratégiapara identificar e priorizar atividades deC & T; b) estímulo ao desenvolvimentoe uso de tecnologias, sistemas de pro-dução e “pacotes tecnológicos”, comexpressivo valor agregado; c)implementação de estudos tecnológicosvoltados para apoiar a pequena, médiae grande empresa, tanto em nível de in-cubação, como na organização de con-sórcios entre universidades, empresaspúblicas e empresas privadas; d) desen-volvimento de normas e regulamentostanto de direitos e patentes sobre ogermoplasma e as tecnologias para suautilização, como sobre biossegurançapara os organismos transformados ge-neticamente; e) levantamento do esta-do da arte da pesquisa para aproveita-mento socioeconômico dabiodiversidade, com ênfase aos proces-sos biotecnológicos e à disponibilidadede tecnologias pertinentes em nível re-gional, nacional e mundial; f) levanta-mento da política de investimentos dosetor privado nacional e estrangeiro, deinteresse para promoção do desenvol-vimento socioeconômico regional embases sustentáveis e; g) levantamentodas perspectivas oferecidas pelos mer-cados nacionais e estrangeiros, dentroda realidade de uma economia global demercados.

Durante a execução das diferentesfases, três enfoques devem ser conside-rados para fortalecer a integração e as-sociação institucional e,consequentemente, para diminuir asações pontuais ou isoladas: (i) concen-tração dos recursos humanos e financei-ros sobre as prioridades definidas paracada etapa; (ii) utilização conjunta oucomplementar do conhecimento cientí-fico-tecnológico disponível e; (iii) for-talecimento da capacidade institucionalinstalada.

PRIORIZAÇÃO DOS PROJETOS

Com a intenção de priorizar umasérie de ações de interesse para apoiar odesenvolvimento socioeconômico daAmazônia e com isto diminuir-se açõespontuais, foram selecionados os seguin-tes grupos de atividades: (i) estudossobre o conhecimento etnobiológico e

MORALES, E.A.V., MARTINS, E. de V. Papel da rede GENAMAZ na conservação e uso dos recursos genéticos amazônicos.

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distribuição da diversidade genéticacomo estratégia para selecionar espéci-es; (ii) levantamento e validação dadistribuição ecogeográfica da diver-sidade genética; (iii) taxonomia, evolu-ção, “genepools”; (iv) coleta degermoplasma; (v) conservação degermoplasma; (vi) caracterização e ava-liação de germoplasma; (vii) intercâm-bio e direitos sobre germoplasma; (viii)atividades de “pré-melhoramento”,como estímulo para a utilização degermoplasma; (ix) estimativa do poten-cial socioeconômico ou utilitário dogermoplasma; (x) documentação e in-formação de recursos genéticos comoestratégia para estimular a utilização dosrecursos genéticos; (xi) organização deum banco de projetos sobre oportuni-dades empresariais e; (xii) implementar

modelos alternativos para utilização dosrecursos genéticos amazônicos.

LITERATURA CONSULTADA

CARNEIRO, M. Parecer Técnico à EMBRAPAsobre o processo de levantamento epriorização de demandas para a pesquisabiotecnológica. Brasília: EMBRAPA -CENARGEN, 1995. 3 p. (Documento Inter-no Restrito).

GENTRY, A. Neotropical floristic diversity:Phytogeographical connections betweenCentral and South America, pleistoceneclimatic fluctuations, or an accident of theAndean orogeny?. Annals of the MissouriBotanical Garden, v. 69, n. 3, p. 557 - 593,1982.

LUGO, A.E. Estimating reductions in the diversityof tropical forest species. In: WILSON, E.O,PETER, F.M. Biodiversity. Washington:National Academy, 1988. p. 3 -18.

McNEELY, J.A.; MILLER, K.R.; REID, W.;MITTERMEIER, R.A.; WERNER, T.B.Conserving the world´s biological diversity.Washington: IUCN/WRI/CI/WWF-US/World Bank, 1993.

SALATI, E. O clima atual depende da floresta.In: SALATI, E. (ed.) Amazônia: desenvol-vimento, integração e ecologia. São Paulo:Brasiliense, 1983. p. 15 - 44.

SUPERINTENDÊNCIA DO DESENVOLVI-MENTO DA AMAZÔNIA. Plano de De-senvolvimento da Amazônia 1994/97. Belém,1993. 90 p.

SUPERINTENDÊNCIA DO DESENVOLVI-MENTO DA AMAZÔNIA. Rede para Con-servação e Uso dos Recursos GenéticosAmazônicos (GENAMAZ). 2a.. Ed., Belém:Superintendência do Desenvolvimento daAmazônia - Grupo de Ciência e Tecnologia,1996, 46 p.

WILSON, E.O. The current state of biologicaldiversity. In: WILSON, E.O., PETER, F.M.Biodiversity. Washington: NationalAcademy, 1988. p. 3 - 18.

GUARIM NETO, G. A importância da flora amazônica para uso medicinal. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, suplemento, p. 159-161, 1997.

A importância da flora amazônica para uso medicinal.The importance of the Amazonic plants for medicinal use.Germano Guarim Neto1

Universidade Federal de Mato Grosso, IB - Depto. de Botânica e Ecologia, 78060-900 Cuiabá - MT.

Palavras-chave: floresta tropical, biodiversidade, taxonomia.Keywords: rainy forest, biodiversity, taxonomy.

Nas oportunidades que tive deexternar/opinar sobre aAmazônia, sempre fiz de

maneira muito gratificante, uma vez quefoi nesta fantástica região que consoli-dei a minha formação científica, maisprecisamente no Instituto Nacional dePesquisas da Amazônia, onde me inserino campo da Botânica e nas suas inú-meras possibilidades. Agradeço à Co-missão Organizadora do evento peloconvite a mim formulado para apresen-tar esta palestra sobre a flora medicinalda Amazônia.

A região amazônica, por si só carac-teriza-se pela grande variação de forma-ções vegetais, onde as espécies seinterrelacionam e definem unidades depaisagem diferenciadas e peculiares.

Essa vegetação, a grosso modo, estáconfigurada, principalmente, pelas áre-as florestais (onde se inserem as matas)

e as não florestais (caracterizadas peloscampos e similares). Classificações de-talhadas para a vegetação da Amazôniasão fornecidas por Ducke & Black (1954),Pires (1973), Braga (1979), Pires & Prance(1985) e Guarim Neto (1994).

BASES PARA OCONHECIMENTO DA

BIODIVERSIDADE

A questão da biodiversidade é umtema atual e merece a atenção de todosos envolvidos com o estudo dos seresvivos, neste caso, da biodiversidade ve-getal. Nesse sentido, Guarim Neto(1994) formula três caminhos como ba-ses para o conhecimento dabiodiversidade: (1) os trabalhos de le-vantamentos florísticos e fitosso-ciológicos realizados em diferentes lo-calidades da Amazônia; (2) os trabalhos

de revisões e estudos taxonômicos degrupos vegetais (famílias, gêneros) que,normalmente, incluem espécies novas enovas ocorrências de espécies para a flo-ra amazônica, informando sobre seususos e; (3) o resgate do conhecimentoetnobotânico de comunidades tradicio-nais (e contemporâneas) da Amazônia.

Nesse pressuposto, tem-se apotencialidade de uma região, conheci-da e divulgada nos mais diferentes as-pectos, subsidiando políticas públicaspara a sua manutenção (e proteção),principalmente frente à discutida lei depatenteamento.

POTENCIAL DA FLORAAMAZÔNICA

Em geral, o aproveitamento de de-terminada flora conduz para itens bas-tante diversificados, onde salientam-se,no caso da Amazônia:

1 Bolsista do CNPq.

MORALES, E.A.V. & MARTINS, E. de V. Papel da rede GENAMAZ na conservação e uso dos recursos genéticos amazônicos.

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160 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

· Plantas produtoras de látex (Heveabrasiliensis M. Arg.: seringueira).

· Plantas produtoras de óleos egorduras (Carapa guianensis Aublet:andiroba).

· Plantas produtoras de resinas(Copaifera guianensis Desf.: copaíba).

· Plantas aromáticas (Aniba spp.:pau-rosa).

· Plantas fornecedoras de condi-mentos (Spilanthes acmella Murr.:jambu).

· Plantas taníferas (Stryphnodendronpulcherrimum (Willd.) Hochr.: faveira-camuzé).

· Plantas tóxicas (Derris sp.:timbó).

· Plantas inseticidas (Ryania spp.:mata-calado).

· Plantas alucinógenas (Banisteriacaapi Spruce: caapi).

· Plantas contraceptivas (Siparunaspp.: caapitú, erva-santa).

· Plantas abortivas (Merremiaglabra Hall.: kumikumi)

· Planta têxteis (Ceiba pentandra(L.) Gaertn.: sumaúma).

· Plantas madeireiras (Swieteniamacrophylla King: mogno, aguano).

· Plantas como matéria-prima paracelulose e papel (Calophyllumbrasiliensis Camb.: jacareúba,guanandi)

· Plantas tintoriais (Bixa orellanaL.: urucu, colorau).

· Plantas ornamentais ou com pos-sibilidades (bromélias, cactos, maracu-já-poranga, açaí, buriti).

· Plantas fornecedoras de frutoscomestíveis (Theobroma grandiflorum(Willd. ex Spreng.) Schum.).

· Plantas medicinais (objeto destapalestra).

PLANTAS MEDICINAIS

Indiscutivelmente, em qualquer re-gião, as plantas medicinais assumem umpapel de destaque, principalmente por-que traduzem um conhecimento tradi-cional secular, acumulado pelas popu-lações humanas que delas fazem uso e,de uma forma ou de outra, conseguemrepassar esse conhecimento aos seus

descendentes. Sobre o aspecto do estu-do botânico de plantas medicinais valemencionar, entre outros, Cavalcante &Frikel (1973), que encontraram 171plantas medicinais aplicadas à 292 do-enças na farmacopéia dos índios Tiriyó(Amazônia); Branch & Silva (1983),que apontam 192 plantas utilizadas emAlter do Chão (Pará), aplicadas em 394remédios; Guarim Neto (1987, 1996),indicando respectivamente uma relaçãode 128 e 166 espécies para a flora me-dicinal de Mato Grosso; Berg (1980,1993), enumerando respectivamente103 espécies para o estado de MatoGrosso e 352 espécies como componen-tes do repertório fitoterápico da Ama-zônia; Berg & Silva (1988), apontando103 espécies medicinais para a flora deRoraima; Tenório et al., (1991) infor-mando sobre cerca de 65 espécies me-dicinais de usos mais comuns noAmapá. A ampliação dos trabalhos so-bre plantas medicinais, certamente, for-neceria um maior número de espécies,tendo em vista a própria territorialidadeamazônica.

USO TRADICIONAL

Entre as espécies medicinais tradi-cionais utilizadas na Amazônia, situam-se: Abuta (Aristolochia cymbifera Zuc.),Açaí (Euterpe oleracea Mart.), Amei-xa-do-Pará (Ximenia americana L.),Andiroba (Carapa guianensis Aubl.),Angelim (Andira anyhelminticaBenth.), Caferana (Picrolemmapseudocoffea Ducke), Capim-santo(Cymbopogon citratus L.), Castanha-do-Pará (Bertholletia excelsa HBK),Catinga-de-mulata (Aeolanthussuaveolens G. Don), Catuaba(Anemopaegma arvensis (Vell.) Stellf.),Copaíba (Copaifera spp.), Crajiru(Arrabidaea chica (HBK) Verlot),Jacareúba, guanandi (Calophyllumbrasiliensis Camb.), Japana(Eupatorium triplinerve Vahl), Jatobá,jutaí (Hymenaea courbaril L.), Jequitibá(Cariniana domestica Miers),Malvarisco (Potomorphe peltata (L.)Miq.), Marapuama (Heteropteris sp.),Mastruz (Chenopodium ambrosioidesL.), Pata-de-vaca (Bauhinia nitidaBenth.), Patchuli (Vetiveria zizanioides(L.) Nash.), Pau-d’arco (Tabebuia spp.),

Pau-de-angola (Piper arboreum Ruiz &Pavon), Sacaca (Croton cajucara L.),Sucupira (Bowdichia nitida Spruce),Tipi (Pettiveria alliacea L.) e Ucuuba-vermelha (Virola sebifera Aubl.)

ALGUMAS POSSIBILIDADES

Entretanto, é interessante que espé-cies menos difundidas sejam contempla-das em estudos mais pormenorizados,visando obter dados para a compreen-são dos seus usos e potencialidades,Entre estas, situam-se, por exemplo:Amapá (Parahancornia amapa Ducke),Amor-crescido (Portulaca pilosa L.),Bota (Cissampelos ovalifolia DC.),Cabacinha (Luffa operculata L.), Cajuí(Anacardium giganteum L.), Camapu(Phisalis angulata L.), Caranapaúba(Aspidosperma nitidum Benth.), Cipó-cravo (Thynanthus elegans Miers),Cubiu (Solanum sessiliflorum Dunal),Graviola (Annona muricata L.),Imbiriba (Xylopia frutescens Aubl.),Oerana (Salix martiana Leyb.), Piprioca(Cyperus odoratus Rott.), Sacaca(Croton cajucara L.), Saúde-da-mulher(Echites rubro-venosa Lindl.), Sucuúba(Himatanthus sucuuba Woods.), Uxi(Endopleura uchi Cuatr.).

As opções são amplas, porém, o es-tudo de plantas medicinais deve contem-plar a interdisciplinaridade e buscar for-mas de retorno para as comunidadesdetentoras do conhecimento tradicionaldos usos das espécies.

LEITURA CITADA

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Tendências fitotécnicas e econômicas de espécies vegetais utilizadas namedicina popular.Technical and economic trends of plant species used in the folk medicine.

Jean Kleber de A. Mattos.Universidade de Brasília, C. Postal 04364, 70.919-970 Brasília - DF.

Palavras-chave: plantas medicinais, plantas aromáticas, paisagismo, pesquisa.Keywords: medicinal plants, aromatic plants, ornamentals, research.

O setor de produção de plan tas medicinais no Brasil vem sendo beneficiado de

alguns anos para cá por um aumento nonúmero de pessoas interessadas no es-tudo desta matéria. Uma forte evidên-cia é o crescente número de teses demestrado e de doutorado e o elevadonúmero de inscrições e trabalhos apre-sentados em recentes simpósios sobre otema. Este fato tem resultado em efeti-vos ganhos de transparência no comér-cio de plantas medicinais e derivados,trazendo a público dados mais específi-cos sobre a participação do Brasil comoimportador e exportador de plantas me-dicinais e seus derivados ou afins. Tam-bém tem ensejado à identificação de al-guns equívocos ou até mesmo fraudesque permeiam este complicado ramo decomércio.

Desde o início da onda naturista quevarreu o planeta em fins dos anos 70 e

início dos anos 80, o grupo de plantasmedicinais da Sociedade de Olericulturado Brasil tem procurado atualizar osconhecimentos da comunidade median-te o estímulo à apresentação de traba-lhos e conferências de seus membros oude conferencistas convidados nos con-gressos anuais de SOB , bem como daparticipação em outras sociedades rela-cionadas ao assunto. Merecem destaqueos simpósios realizados em Aracaju,Brasília, Águas de São Pedro (SP), Fozdo Iguaçu e Rio de Janeiro, onde foipossível discutir a situação deste setorno Brasil, na Europa, na América Lati-na e na Ásia. Constatamos, por exem-plo, os avanços do setor na China e naÍndia, bem como visualizamos os ele-vados valores das importações brasilei-ras, notadamente de nossos vizinhos docone sul.

A pesquisa no Brasil tem avançadoprincipalmente na revelação de novas

fontes de fármacos (como, por exem-plo, a Lippia sidoides, fonte de timol),neste aspecto destacando-se os trabalhosda equipe do Prof. F.J.A. Mattos, daUniversidade Federal do Ceará (UFCe),bem como na reversão de tendência àextinção de algumas espécies como aipecacuanha (Cephaelis ipecacuanha),mediante trabalhos na área debiotecnologia onde se destacam oCENARGEN e o CPATU (EMBRAPA),o INPA e o Museu Paraense EmílioGoeldi (MPEG). Ainda do norte, a re-velação de novas fontes alternativas defármacos como a Pimenta-longa (Piperhispidinervium), também fonte deSafrol. Merece especial destaque o tra-balho de melhoramento e zoneamentogeográfico de espécies exóticas, lidera-do pelo CPQBA-UNICAMP, e as tesesde pós-graduação que contemplam asmedicinais de clima ameno com ênfasena Espinheira-santa (Maytenus

GUARIM NETO, G. A importância da flora amazônica para uso medicinal.

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162 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

ilicifolia ), onde se destacam as Univer-sidades Federais do Paraná (UFPR) eRio Grande do Sul (UFRGS), além daUniversidade Estadual Paulista(UNESP). Deve ser lembrado ainda oeficiente trabalho da EMATER-PR,principalmente em relação à camomila.Resultados obtidos pela FIOCRUZ comespécies exóticas em topoclimas no su-deste brasileiro também precisam sermencionados. Em todos os casos umaconstante: a preocupação da correlaçãodo fator clima e do fator manejo com aconcentração do fármaco.

No que tange às aromáticas em ge-ral, há que ser reconhecido o trabalhopioneiro do Instituto Agronômico deCampinas (IAC), que vem desenvolven-do pesquisa neste grupo de plantas hávárias décadas, oferecendo pacotestecnológicos para a produção em cam-po de dezenas de espécies em São Pau-lo. Dados valiosos sobre a sazonalidadede diversas substâncias ativas já foramobtidos pelo CPQBA, UFCe e UnB. Naárea da adubação enfatizamos o que temsido realizado em Pernambuco(UFRPe), em São Paulo (UNESP) e noParaná (UFPR). Quanto à fitossanidade,destaque seja dado aos trabalhos na áreade nematologia vegetal em Minas Ge-rais (UFLA), Brasília (UnB) e Paraná(IAPAR). No tocante à micro-propagação,o número de trabalhos é significativamen-te alto em quase todos as instituições deensino e pesquisa. Nesta matéria, referên-cia especial seja feita ao CENARGEN, àUFRGS, à UnB e ao CPATU.

Como novidade, ultimamente temcrescido o interesse dos pesquisadorese extensionistas pelo “Neem”(Azadiracta indica), já tendo sido ins-talados plantios pilotos em Goiás(EMBRAPA) e no Maranhão (EMAPA-UFMA). A planta produz substânciasativas sobre a alimentação e o cicloreprodutivo de insetos, além de outrassubstâncias de uso medicinal.

O momento atual do trabalho comas plantas envolvidas de alguma formana medicina popular está sendo marca-do por uma crescente profissionalizaçãodo setor, priorizando três linhas:

· obtenção de germoplasma com-petitivo;

· seleção e adaptação de plantasexóticas para substituição de importações;

· revelação de novas espéciesobjetivando principalmente a exportação.

Em se tratando de economia e con-templando a questão das oportunidadesde trabalho, há uma utilidade das plan-tas medicinais que está sendo esqueci-da: o seu potencial paisagístico. É ine-gável que o retorno do investimento emplantas medicinais como tal é lento,porque é complexo. O sucesso com avenda destas plantas como remédio de-pende de vários fatores. Via de regra háque se combinar estrutura adequada eoportunidades especiais de venda. Daílembrarmos o paisagismo como maisuma alternativa. Ao contrário do queocorre na Europa e nos Estados Unidos,esta atividade tem sido negligenciada noBrasil. Jardins de plantas medicinais são

belíssimos e podem vir a ser uma ativi-dade econômica interessante.

No plano internacional e na faixatropical gostaríamos de destacar osavanços obtidos na Índia, com a produ-ção in vitro de metabólitos secundáriosmediante cultura de células, valendoenfatizar a utilização da bactériaAgrobacterium rhizogenes paramaximizar a obtenção em laboratório dealcalóides produzidos em raízes desolanáceas (‘hairy root cultures’). Fina-lizando diríamos que o grande desafioatual está na elucidação das viasbiossintéticas dos metabólitos secundá-rios que nos interessam. Lembrando umartigo de um conferencista convidado daSOB, o Dr. Paramvir Singh Ahuja, ex-chefe da Divisão de Cultura de Tecidosdo CIMAP - Lucknow - Índia, reforça-ríamos suas palavras no sentido de quea identificação de enzimas envolvidasna formação dos produtos secundários,com o auxílio dos avanços obtidos pelapesquisa em biologia molecular, signi-ficará a abertura das portas do futuro,tornando cada dia mais viável o isola-mento dos genes específicos responsá-veis por promover ou inibir as conver-sões de substâncias fitoterápicas de altarelevância. Em termos de arsenal técni-co-científico, o Brasil está a se capaci-tar a passos largos com a força de seusjovens pesquisadores e a esperança doscidadãos nas promessas da ciência paraa cura das enfermidades.

MATTOS, J.K. de A. Tendências fitotécnicas e econômicas de espécies vegetais utilizadas na medicina popular.

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163Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

GOTO, R. Plasticultura nos trópicos: uma avaliação técnico-econômica. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, p. 163-165, 1997. Palestra. Suplemento.

Plasticultura nos trópicos: uma avaliação técnico-econômica.Protected cultivation in the tropics: a technical and economic approach.

Rumy GotoUNESP - FCA, Depto. de Horticultura, C. Postal 237, 18.603-970 Botucatu - SP.

Palavras-chave: histórico, problemas, pesquisa, perspectivas.Keywords: historic, problems, research, perspectives.

INTRODUÇÃO

A utilização do plástico na olericultura é bastante anti ga, tendo sido empregada

pela primeira vez em grande escala noBrasil, no início da década de 70, como‘mulching” na cultura do morango.

Como primeira consideração a fazer,depois de pouco mais de quinze anos deuso de plástico na agricultura ehorticultura no Brasil, dentro do contex-to de cobertura de estruturas para pro-dução de hortaliças, o termo “Plasticul-tura”, apesar de internacional deveria sermodificado, pelo menos a nível nacio-nal, pelo termo “Ambiente Protegido”,tendo em vista as suas várias finalida-des de uso tais como: “Guarda-chuva”,“Abrigo” ou então como “Estufa” de-pendendo da região. Todas essas finali-dades visam a produção de hortaliçascom alta qualidade, produtividade efrequência de oferta.

RETROSPECTIVA

As primeiras citações da utilizaçãodo plástico no cultivo de hortaliças noBrasil são referentes aos trabalhos pio-neiros realizados por Kimoto & Concei-ção (1967), onde os autores demonstra-ram a eficiência do plástico na culturado morango, cobrindo os canteiros(mulching). Nos anos posteriores, de1969 a 1970, essa técnica já estava sen-do utilizado pelos agricultores da regiãode Atibaia (SP), a nível de teste, ou seja,com 50% da área coberta com plásticoe, o restante, coberto com palha. Logoapós esta experiência, o domínio doplástico foi total.

Com relação à utilização do plásti-

co em estruturas, com finalidade de pro-teção contra as adversidades climáticas,há os trabalhos de Martins (1983), rea-lizados em Manaus (AM), no final dadécada de 70, que provaram a eficiên-cia da utilização desse material na pro-dução de hortaliças. Na época foramfeitas muitas críticas. No entanto, ficoucomprovado que para a região deManaus, a técnica se mostrou muitoeficiente. Outra iniciativa de grande pro-porções ou de melhor divulgação foi oProjeto São Tomé, apoiado pela indús-tria de filmes plásticos, no Rio Grandedo Sul, em meados da década de 80.Depois de uma grande explosão, aospoucos os produtores foram abandonan-do essa tecnologia, pois não houve umacompanhamento técnico capaz demantê-los na atividade.

Concomitantemente no estado deSão Paulo, a Cooperativa Agrícola deCotia, preocupada com os problemas debaixa produtividade e qualidade dashortaliças, colocou alguns agrônomos etécnicos agrícolas em uma visita técni-ca e treinamento em algumas regiões doJapão. O técnico agrícola PauloKumagaia, voltando desse treinamento,inovou e incentivou os produtores daregião do cinturão verde da grande SãoPaulo a utilizarem estruturas de prote-ção, em princípio contra o frio e utili-zando conjuntamente grandes quantida-des de adubos orgânicos, no caso, com-postos. Este técnico divulgou intensiva-mente a tecnologia de cultivo de horta-liças em ambiente protegido e desper-tou os produtores para a importância depreservar a vida no solo.

No mesmo período também obser-vava-se uma migração para o Japão dosdescendentes de japoneses, principal-mente filhos de produtores, que frustra-

dos com a política agrícola do país, semmuita perspectiva de melhora, desisti-ram totalmente da atividade de produ-ção de hortaliças e se tornaram então “osdekasseguis”. Estes, como eram ligadosà produção de hortaliças, mesmo nãotrabalhando diretamente com a ativi-dade agrícola no Japão, estavam sem-pre atentos às novidades na área, bus-cando, conversando, visitando produto-res. Alguns retornaram e continuaramna atividade olerícola, implantando astecnologias de cultivo protegido em suasáreas, enquanto outros mandavam notí-cias sobre as novidades em termos detecnologias que poderiam ser utilizadasno Brasil. Dessa forma houve uma am-pliação na área de cultivo protegido,principalmente nas regiões tradicionaisde cultivo do cinturão verde da grandeSão Paulo. Com a repercussão de gan-hos extraordinários e retorno rápido decapital aplicado, a nova tecnologia foise espalhando pelo interior do estado deSão Paulo e por outros estados. OParaná, principalmente a região norte,também foi um estado pioneiro na utili-zação do plástico na horticultura, a prin-cípio na viticultura e, posteriormente, naolericultura, culminando com a produ-ção de pepino e melão rendilhado, pi-mentão amarelo e tomate-cereja.

As estruturas inicialmente emprega-das foram as mais simples, com utiliza-ção de mourões de eucaliptos, alturabaixa de pé direito (no máximo com1,5 m), ou ainda, utilizando túneis altose baixos e estruturas de uma água, tipo“Londrina”. Esses modelos seespelhavam em países do hemisférionorte, de latitude superior a 35o N e con-dições climáticas totalmente diferentedas nossas, tropicais, que apresentamépocas de excesso de luminosidade e

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164 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

invernos não tão rigorosos. Surgiu en-tão a necessidade de desenvolver ummanejo específico, já que além das con-dições mesológicas distintas, havia tam-bém diferenças relacionadas às condi-ções ou tipos de solo.

SITUAÇÃO ATUAL

Após quase quinze anos de explora-ção desse novo sistema na produção dehortaliças, o que se pode notar é a evo-lução da tecnologia, impulsionada porinformações e por iniciativa dos própri-os agricultores, pois até hoje a pesquisafoi incapaz de acompanhar seus passos.Em Almeria, na Espanha, o processoaconteceu de forma diferente: em 1963os produtores também iniciaram porconta própria o cultivo de hortaliças sobplástico, utilizando, com baixo custo, asestruturas existentes em parreirais fali-dos. O objetivo era procurar uma alter-nativa para aquela atividade e para suasituação econômica. Aos poucos porém,o cultivo de hortaliças foi se expandin-do e muitos problemas foram surgindo.Diante disso, o governo instalou esta-ções experimentais para tentar solucio-nar esses problemas. Atualmente pode-se dizer que as estações experimentaisnão só alcançaram, como superaram atecnologia utilizada pelos produtores,dando soluções a problema relaciona-dos desde às estruturas até ao manejodas culturas, estudando detalhadamentea fisiologia das plantas que são cultiva-das. No Brasil, o cultivo em “ambienteprotegido” ainda é muito poucopesquisado, existindo resultados isola-dos. Este fato, aliado à grande extensãodo país e à variedade de climas e solos,dificulta e aumenta as dificuldades. Al-guns problemas são resolvidos, poisvários técnicos acompanham produto-res e pesquisam em parceria com eles,contando também sempre com o auxí-lio de muitos produtores-agrônomos.

No início da atividade observou-seuma explosão e uma procura por estru-turas mais baratas, com retorno fácil.Havia interesse tanto por parte de pro-dutores experientes em cultivo de hor-taliças como também de outros, semnenhuma experiência agrícola. Essesúltimos entravam na atividade após ob-servarem, através da mídia, em propa-

gandas enganosas sobre a não utiliza-ção de defensivos agrícolas e sistemasnaturais de cultivo, um retorno líquidoaparentemente fácil. Em seguida a essaexplosão inicial, houve uma estabilida-de na ampliação de áreas, ou seja, mui-tos dos pioneiros “quebraram” por di-versos motivos: o solo se contaminara,o manejo de doenças e pragas ficaraimpossível de se executar pela comple-xidade que tomava, houve muita con-corrência entre produtores e a políticaeconômica não foi favorável. Houve porsi só uma seleção dos produtores, per-manecendo realmente os mais profissi-onais na área.

Com a evolução e com a não exis-tência de grandes entressafras como nopassado, os produtores tiveram que seorganizar procurando o seu mercadoespecífico e acompanhando a transfor-mação iniciada pelos grandes supermer-cados (hipermercados), que enxergaramem produtos diferenciados como as hor-taliças e frutas, uma fonte de atração deconsumidores. Aqueles produtores quese tornaram competentes nesta ativida-de, procurando novos mercados, novasopções, aumentaram a sua área de pro-dução e diversificaram ou se especi-alizaram em alguma espécie, para setornarem ainda mais profissionais. Con-tudo, é nesta fase que os produtoresnecessitam de informações básicas dapesquisa, as quais infelizmente aindanão possuímos. Será que poderemoschegar lá? Ou será que vamos continu-ar trabalhando em temas não tãoemergenciais. O que acontece com apesquisa? Faltam pesquisadores emolericultura? Os pesquisadores não es-tão sensíveis aos problemas ou estãofora da realidade, preocupados somen-te as suas dissertações e teses e com suascarreiras na pesquisa/docência?

Atualmente existe um cenário ondeas empresas privadas ocupam esta la-cuna e, com o pretexto de solucionar osproblemas, vendem tudo que se possaimaginar, especialmente “kits” e fórmu-las importadas de outras realidades, decondições desérticas, de locais onde nãoexiste solo propriamente dito, que nemao menos sabemos de que forma irãoreagir aqui, em nossas condições tropi-cais. Não seremos nós que condenare-mos essa atitude. Contudo, devemos tes-

tar, experimentar antes de colocar o pro-duto no mercado e avaliar a resposta fi-siológica da planta quando da utiliza-ção destes produtos ou tecnologias.

Avançamos muito, aprendemos mui-to, e hoje em algumas regiões a enxertiaé uma tecnologia totalmente absorvidana rotina de alguns que viram nesta prá-tica, a única saída para poder continuaratuando e produzindo com qualidade, acurto prazo. As pesquisas na área demelhoramento são relativamente lentase mesmo para testar e aprovar genótiposestrangeiros leva-se tempo. Os porta-enxertos também devem serpesquisados, para que possamos testara sua qualidade como tal.

PERSPECTIVA

Existe grande perspectiva para oscultivos protegidos, pois esta é umatecnologia bastante utilizada em algu-mas regiões e os produtores que estãodesde o início ou que estão há pelo me-nos cinco anos na atividade não vão re-troceder e tão pouco pretendem voltar acultivar somente em campo aberto. Émais fácil reduzir o cultivo em campoaberto do que reduzir o cultivo em am-biente protegido. Para tanto é necessá-rio resolver alguns problemas comosalinização e fertirrigação, além de in-corporar mais tecnologias e abandonara teoria do “achismo”.

Em cada região, em cada microclimaexistente neste imenso Brasil tropical,com diferentes níveis de exigência e deconsumidores, existe grande perspecti-va de expansão desta tecnologia, que écapaz de utilizar pequenas áreas e pro-duzir pelo menos uma vez e meia ou odobro do que se consegue produzir emcampo aberto, desde que se saiba ma-nejar a estrutura e o ambiente em ques-tão, respeitando a espécie a ser instala-da. Para este tipo de cultivo, estudar oambiente, dando condições de melhoraeração e ventilação, estudar as estrutu-ras que são adaptadas à cada região eutilizar equipamentos não tão sofistica-dos, significará oferta constante de hor-taliças neste imenso país, sem necessi-tarmos dos passeios que muitas fazemdurante o processo de comercialização.

Os consumidores só tem a ganhar,pois a curva de variação estacional de

GOTO, R. Plasticultura nos trópicos: uma avaliação técnico-econômica.

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165Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

preços em alguns períodos está se ame-nizando, deixando de existir picos altose baixos de oferta de produto no merca-do. A hidroponia está atraindo algunsprodutores que após salinizarem o soloe o contaminarem com nematóides efungos, aprenderam esta tecnologia quelhes aproveita a estrutura e, assim, semantêm nesta área, o que não deixa deestar errado. É preciso estudar e tentaralongar o período de utilização dos so-los sob proteção, incorporando adubosorgânicos que enriqueçam a floramicrobiana e mantenham o equilíbriodesta riqueza que é o solo brasileiro.

FAÇO AQUI UMA REFLEXÃO...

Neste imenso Brasil tropical, ondeos solos tem boa fertilidade, seria omomento de utilizar a técnica dehidroponia para se produzir espécieshortícolas, que são a base da alimenta-ção da população? Acredito que estatecnologia seja bastante válida para aregião de Almeria e Motril, na Espanha,onde os solos, além de bastante arenosos,apresentam muitos pedregulhos, ou ain-da, têm que ser “construídos” ou, como édenominado em espanhol “enarenados”,

com uma composição de camada desubsolo, solo, esterco ovino e areia.

AGRADECIMENTOS

Aos professores Dr. Tosiaki Kimoto(UNESP-FCA), Prof. Mário CésarLopes (FULM), Prof. Marco Antônio daSilva Vasconcellos (UFRRJ) e ao Eng.Agro. Paulo Costa, pelas sugestões e re-visão do texto.

SASSAKI, O.K. Resultados preliminares da produção de hortaliças sem o uso de solo no Amazonas. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, p. 165-169000,1997. Palestra. Suplemento.

Resultados preliminares da produção de hortaliças sem o uso de solo noAmazonas.Preliminary results of soil-less vegetable production in the state of Amazo-nas.

Osvaldo K. SassakiUniversidade Federal do Amazonas - Faculdade de Ciências Agrárias

Palavras-chave: cultivo protegido, hidroponia, sistemas de cultivo, alface (Lactuca sativa), pepino (Cucumis sativus), perspectivasfuturas.

Keywords: protected cultivation,hydroponics, cultivation systems, letucce(Lactuca sativa), cucumber (Cucumissativus), future perspectives.

Manaus, capital de um estado subcontinente, é umacidade localizada às mar-

gens do Rio Negro, em uma região tro-pical próxima à linha do Equador, o queproporciona um clima quente durante oano todo (médias das temperaturas má-ximas e mínimas respectivamente de 32e 23 0C) com duas estações: uma comprecipitação pluviométrica extrema-mente elevada, popularmente conheci-da como período de inverno, e outradenominada período de verão, quandoas chuvas diminuem significativamen-te. As pesadas chuvas e as altas tempe-raturas tornam-se os maiores fatoreslimitantes para a produção de hortali-ças na região de Manaus, provocandouma oferta de produtos imprevisível euma flutuação peculiar nos preços de

mercado, o que estimula a importaçãode hortaliças de outros estados comoCeará, Goiás e São Paulo.

Como resultado das mudanças naeconomia promovida pela Zona Fran-ca, nos últimos vinte anos houve umaumento considerável no número deestabelecimentos comerciais voltadospara agricultura, como também um au-mento brutal no consumo quantitativoe qualitativo de hortaliças, influenciadocertamente pelos imigrantes e tambémpelos migrantes, formando uma popu-lação manauense de 1,6 milhão de ha-bitantes. As mudanças no perfil do con-sumidor e os preços de mercado sem-pre convidativos têm promovido osolericultores a produzir hortaliças aqualquer custo, podendo correr o riscode um desequilíbrio ecológico na rela-ção culturas/sanidade devido à utiliza-ção maximizada, tanto em número deaplicações como dosagem de defensi-vos agrícolas.

Com o objetivo de tentar contribuirpara reduzir as influências das adversi-dades climáticas no período chuvoso,diminuir o uso inadequado de defensi-vos agrícolas e também devido ao au-mento considerável na incidência denematóides nas hortaliças cultivadas noSetor de Olericultura do Curso de Agro-nomia da Universidade Federal do Ama-zonas, iniciamos no ano de 1989 as ati-vidades de pesquisa em cultivo protegi-do, com recursos oriundos do convêniono23/89 entre a Fundação Universidadedo Amazonas e a Superintendência daZona Franca de Manaus, que possibili-taram a construção do primeiro túnelplástico com 240 m2 e permitiram quefossem dados os primeiros passos naatividade de cultivo sem o uso do solo.Essa prática é definida por Jensen comouma tecnologia de crescimento de plan-tas em solução nutritiva, com ou semuso de um meio artificial para proporci-onar um suporte mecânico das raízes.O cultivo sem solo tem sido didatica-

GOTO, R. Plasticultura nos trópicos: uma avaliação técnico-econômica.

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mente classificada em:1 - Hidrocultivo· Sistema NFT - fluxo laminar de

nutrientes· Sistema DFT- técnica com raízes

flutuantes (hidrocultivo)· Sistema CUT- técnica da

capilaridade ascendente

· Sistema CDT- técnica dacapilaridade descendente

2 - Cultivo Aeropônico· suporte inorgânico: areia, pedra

britada, carvão, vermiculita, lã de rocha

· suporte orgânico: serragem,piaçava, casca de coco triturada, palha/casca de arroz

Todos esses sistemas de cultivo temadotado o termo Hidropônico sugeridopor Gericke, que o definiu como o cul-tivo de plantas com e em água, estabe-lecendo um sistema em que todos osnutrientes minerais compatíveis estãosolubilizados e disponíveis para a plan-ta. Um método de produção de vegetaisde alta tecnologia, alta produtividade e,em geral, uso intenso de capital, poden-do ser considerado literalmente uma in-dústria de verduras, flores ou de plantasmedicinais.

O sistema NFT- Nutrient FilmTechnique, que significa Fluxo Laminarde Nutrientes, foi desenvolvido no finalda década de 60 pelo Dr. Allen Cooper,no Instituto de Pesquisas em CultivoProtegido em Littlehampton, Inglater-ra. Neste sistema, segundo o autor, asplantas crescem e desenvolvem suasraízes em uma fina lâmina de água emcirculação onde todos os nutrientes ne-cessários são dissolvidos.

Já o cultivo hidropônico, um dosprimeiros métodos a merecer atenção doDr. W.F. Gericke, que posteriormente ointroduziu de forma comercial, iniciou-se a céu aberto, durante a segunda guer-ra mundial, nas ilhas do pacífico, utili-zando pedra britada como suporte, já quena região a disponibilidade de pedrasbritadas oriundas de rochas vulcânicasera abundante. Nos dias atuais, esse sis-tema é amplamente utilizado nos EUAe em diversas partes do mundo, tantopor pequenos como por grande produ-tores de hortaliças e de flores. Outraopção de suporte para raízes é a lã derocha, cuja utilização se iniciou a céuaberto, na Dinamarca, em l969, época

em que a utilização de areia começou aser também pesquisada na Universida-de do Arizona, inicialmente emprego emregiões desérticas ou nas orlas maríti-mas (costeiras) do Oriente Médio, Nor-te da África e México, onde a areia éfartamente disponível, não havendo por-tanto necessidade de se importar mate-rial de suporte de outras regiões.

O sistema aeropônico, criado porJensen e Collins em l972, procurou ummaior aproveitamento da radiação so-lar, da solução nutritiva e da área verti-cal da casa-de-vegetação, e consiste emum ‘box spray’, em armação “A”, complacas de isopor com orifícios onde ashortaliças são plantadas, ficando as raízessuspensas na parte interior, onde são pul-verizadas ou atomizadas com soluçãonutritiva, em turnos periódicos de dois atrês minutos, mantendo sempre a umi-dade saturada no interior do ‘box’.

Baseado nessas e outras referênci-as, as atividades olerícolas sem o usodo solo tiveram início na Universidadedo Amazonas em canteiros construídosem concreto, contendo seixo. Entretan-to, este sistema foi pouco utilizado noSetor de Olericultura da Agronomia,uma vez que a temperatura dentro dotúnel chegava a 47oC. Além disto, a so-lução nutritiva se aquecia rapidamentecomo resultado do equilíbrio com a tem-peratura ambiente, já que o seixo é umexcelente receptor e difusor de energia,assim como a própria solução nutritivafisicamente também é uma considerá-vel receptora de energia. Dessa forma,os resultados foram desanimadores, ob-servando-se pendoamento excessiva-mente precoce e redução na altura dasplantas e na área foliar, obtendo-se porfim um produto praticamente sem valorcomercial. Além do exposto, outro fa-tor também físico proporcionou-nosincontáveis momentos de preocupação:as inesperadas interrupções no forneci-mento de energia que, na ausência deum no-break, causavam danosirreparáveis à cultura, além de proble-mas mecânicos na eletrobomba ocasio-nados pelas constantes quedas de volta-gem da corrente elétrica, impossibilitan-do-nos que ao menos pudéssemos ter-minar a avaliação da utilização do sis-tema NFT para cultivo de alface emManaus. Esses fatos, somados às limi-

tações climáticas, colocavam diante denós vários problemas, dos grandes:

1 - aumentar o volume de soluçãonutritiva para se evitar o ressecamentodo sistema radicular na falta de energia,durante os reparos nas eletrobombas;

2 - evitar o aumento da temperaturana solução nutritiva fornecida;

3 - identificar a cultivar adequada àscondições climáticas da região e;

4 - como trabalhar com energia so-lar, caríssima, e, por isso, capaz deinviabilizar qualquer empreendimentode produção de alface.

Na tentativa de amenizar a influên-cia negativa da temperatura ambiente nasolução nutritiva, inicialmente utiliza-mos, como recipiente, caixas de isopordoadas pelas Indústrias Tupy de Isola-mento Térmico e assim implantamos osistema desenvolvido por Yamasaki eml976: DFT-CUT (Deep FloatingTechnique - Capillary-Up Technique).As dimensões das caixas de isopor fo-ram: 0,40 x 0,40 x 0,20 m de profundi-dade, correspondendo a um volume de32 litros. Como suporte para o sistemaradicular foram utilizadas placas deisopor de 0,30 x 0,10 x 0,025 m, sobuma tira de tecido para absorção capilarBidin XT, semelhante aos tecidos utili-zados para filtros de aparelhos condici-onadores de ar, tendo as duas pontasmergulhadas na solução nutritiva. Oequipamento utilizado para oxigenaçãoda solução nutritiva foi composto porbombas de oxigenação de aquários. Aplaca de isopor permitiria o estabeleci-mento e desenvolvimento das raízesacima da solução nutritiva, proporcio-nando uma bolsa de ar de 3 a 5 cm abai-xo do colo das plantas. O fluxo de arpropelido pela bomba de aquário favo-receria a evaporação da solução nutriti-va e consequentemente promoveria umadiminuição significativa da temperatu-ra na parte inferior da planta, favorecen-do o seu desempenho. Esse sistema mis-to nos capacitou a dar inicio à produçãocomercial de alface cultivar Vitória deVerão, identificada como a mais adequa-da após alguns ensaios de competição,utilizando as cultivares Black-SeedSimpson, Glória, Vanessa, Regina, Vi-tória de Santo Antão e Grand Rapids,entre outras.

O mesmo aconteceu com a cultivar

SASSAKI, O.K. Resultados preliminares da produção de hortaliças sem o uso de solo no Amazonas.

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de pepino Hokkushin, após avaliaçãodas cultivares Aodai, Sprint 440-S,Midori, Tsubasa, Tsukuba, Nanshin eHokkoshin, entre outros. No início, di-ante da inexistência de insetospolinizadores, a fecundação das floresfemininas era feita manualmente. Já paracebolinha, uma hortaliça muito solici-tada pelos manauenses, a cultivar Todo-ano teve o seu desempenho muito favo-recido quando cultivada no sistema mis-to DFT-CUT, uma vez que colhia-se oproduto com folhas de 80 a 90 cm decomprimento em média, sendo neces-sário inclusive a colocação de uma telade fios de nylon para a manutenção daposição ereta das folhas.

A concentração molar da soluçãoestoque foi baseada em Hoagland &Arnon, sugerida pelo Dr. JúlioNakagawa, quando proferiu a palestra“Perspectivas para produçãohidropônica de hortaliças na região deManaus”, no início da década de 90.Entretanto, diante da dificuldade dosfuncionários para elaboração da soluçãonutritiva pela retirada das alíquotas dasolução-estoque, modificamos a siste-mática nessa questão uniformizandoessa retirada para 5 ml em todos osmacronutrientes, facilitando dessa for-ma o manuseio na elaboração e forneci-mento da solução nutritiva para o siste-ma de produção (Tabela 1).

O uso do sistema misto DFT-CUTna produção de hortaliças no Setor deOlericultura do Curso de Agronomia daUniversidade do Amazonas pode serconsiderado como temporário, uma vezque deixou de ser utilizado por volta del994, quando passamos a preencher osrecipientes com serragem de madeira,proveniente de uma serraria distante 3

km do Campus, fornecido gratuitamen-te, inclusive com transporte, por ser con-siderado como material indesejável nopátio da indústria madeireira.

O cultivo de hortaliças em serragemmereceu a atenção de Mass & Adanson(l972), na Estação experimental deSaanichton na Columbia Britânica, Ca-nadá, como tentativa de eliminar a inci-dência de nematóides, doenças do soloe solos pobres em estrutura e em nutri-entes. A utilização de serragem comoancoragem em hidroponia tem comouma das grandes vantagens a péssimacondutividade de energia do material, oque assegura a manutenção da tempe-ratura, além de permitir uma aeração euma retenção de umidade mais adequa-da na zona de crescimento do sistemaradicular das plantas, reduzindo consi-deravelmente os estresses provocadospor esses fatores físicos. Entretanto paraque sejam obtidos bons resultados coma sua utilização, a serragem deve sofrertratamentos como lavagem em águacorrente e cozimento ou uso dehidróxido de potássio para eliminaçãode compostos indesejáveis da madeiraque podem causar fitotoxidez.

Esse sistema possibilitou-nos darinício em l994 ao desenvolvimento depesquisas com recursos do PIBIC-CNPq, trabalhos em cultivo de hortali-ças sem o uso do solo, tanto a céu aber-to como em cultivo protegido, com es-pecial ênfase no aproveitamento de re-síduos das indústrias madeireiras e dasindústrias eletro-eletrônicas da ZonaFranca de Manaus, respectivamente aserragem e as caixas de isopor, embala-gem utilizada para proteção de compo-nentes eletrônicos.

Utilizando-se caixas de isopor de

0,46 m de comprimento por 0,28 m delargura e 0,23 m de altura e serragemde madeira de lei, em geral Angelim eLouro, avaliamos as cultivares de pepi-no Aodai melhorado, Sprint 440S,Midori, Tsukuba, Tsubasa, Hokkushine Nanshin, a céu aberto, com forneci-mento de solução nutritiva manual.Entre as cultivares do tipo Aodai, a cul-tivar Sprint 440-S foi superior às de-mais. Entre os híbridos japoneses,‘Hokkushin’ apresentou melhor produ-tividade que todas as demais cultivares,tanto em kg/ha, como em número de fru-tos por planta e precocidade, anteceden-do em cerca de dez dias a emissão de flo-res femininas, formadas em maior quan-tidade, tanto no início como ao longo dacultura, com uma freqüência de três co-lheitas semanais.

Avaliando-se as possibilidades de al-gumas hortaliças em hidroponia, tendo aserragem como suporte, foram obtidos osseguintes resultados promissores:

· com o quiabo, cultivar SantaCruz 47, foi observada maior produçãoquando foi feita poda 45 dias após otransplantio definitivo, além de umavida produtiva superior a 18 meses comuma segunda poda;

· com couve-manteiga, cultivarGeorgia, com duas podas, observou-seexcelente desempenho, com umalongevidade superior a três anos. Hou-ve boa produção de folhascomercializáveis e emissão de grandequantidade de brotações, uma raridadequando a couve-manteiga é cultivadaem no solo na região de Manaus;

· entre os coentros a cultivarVerdão sempre apresentou superiorida-de em relação às cultivares Português,Palmeirão e Francês;

· com alface, as cultivares Marisae Vitória de Verão apresentaram os me-lhores resultados, embora a cultivarMarisa apresente um desempenho mo-desto nos primeiros dez dias após otransplantio definitivo. Não temos uti-lizado a repicagem no cultivo da alfa-ce. Nosso método consiste em umede-cer a semente em papel germinador oujornal durante 24 a 36 horas na parte in-ferior da geladeira, semeando-se em se-guida. As mudas ficam cerca de dez diasna sementeira para posterior transplantiopara o canteiro definitivo, onde são co-

siaS-oãçuloS

)L/g(euqotsesatouqílA

-oãçuloS)L/lm(euqotse

satouqílA

2)3ON(aC raloM1 5 raloM1 5

3ONK raloM1 5 raloM1 5

4OP2HK raloM1 1 raloM5/1 5

4OSgM raloM1 2 raloM5.2/1 5

Tabela 1. Alíquotas necessárias à preparação de solução nutritiva para cultivohidropônico partindo de solução-estoque de Hoagland & Arnon.

SASSAKI, O.K. Resultados preliminares da produção de hortaliças sem o uso de solo no Amazonas.

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168 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

lhidas após cerca de 23 a 25 dias.Com o objetivo de minimizar os cus-

tos com nutrientes, estudou-se o uso docalcário dolomítico e do superfosfatosimples pré-misturados com o suporteorgânico - serragem - e a solução nutri-tiva, conforme sugerido por Mass &Adanson (1979). O experimento foi re-alizado a céu aberto, na cultura do pepi-no, utilizando-se cobertura morta, sen-do desenvolvido também para avaliar areutilização do plástico 150 micra anti-UV, após l8 meses em túneis ou em casa-de-vegetação, com o objetivo de aumen-tar a sua vida útil na produção olerícola.O plástico se constitui em um materialde grande utilidade para a horticultura.Porém, após seu uso, se não for reciclado,pode tornar-se, ao contrário, material in-desejável na propriedade rural, já queapresenta difícil degradação e não deveser queimado, pois os gases gerados du-rante a combustão são altamente tóxicose contaminam o ambiente.

Os resultados, apesar de ainda seremparciais e longe de serem conclusivos,têm demonstrado a versatilidade do sis-tema hidropônico na região quente eúmida de Manaus, onde várias hortali-ças podem ser cultivadas com sucessodurante os 365 dias do ano, dentre elasdestacamos: a alface, cultivares Marisae Vitória de Verão; o almeirão, cultivarFolha Larga; o pepino, cultivares Sprint440-S e Hokkushin; o agrião; o espina-fre da Nova Zelândia; o quiabo, culti-var Santa Cruz 47; a berinjela, cultivarPiracicaba Super F-100; o tomate, cul-tivar C-38; a salsa, cultivar Lisa Portu-guesa; o coentro, cultivares Verdão,Palmeirão e Português; a cebolinha, cul-tivar Todo-ano; o pimentão, cultivaresCalifornia Wonder, All Big e YoloWonder; a couve-manteiga, cultivarGeorgia; a pimenta malagueta; a pimen-ta-de-cheiro; a pimenta Murupí; a ce-noura, cultivar Brasília e; o rabanete,cultivar Akamaru Hatsuka.

Segundo Raffar (l990), sempre ébom lembrar que o principal propósitoda hidroponia é superar as limitaçõespara o crescimento da planta e das raízesdevido a deficiência de nutrientes e afatores físicos do solo no sistema con-vencional de cultivo olerícola. A água éutilizada como veículo para proporcio-nar o suprimento mineral adequado e

necessário as raízes das plantas. Todosistema hidropônico basicamente é com-posto por:

1 - casa-de-vegetação coberta porplástico resistente a raios ultra-violeta;

2 - canteiros ou unidades para cres-cimento das plantas;

3 - sistema de fornecimento da so-lução nutritiva: tanques, eletrobomba etubulações;

4 - sistema de coleta ou drenagemda solução nutritiva e;

5 - sistema elétrico: ‘timer’ ou bói-as de nível superior/inferior edisjuntores.

Toda essa estrutura e equipamentosdevem atender a certos requisitos bási-cos e comuns:

· permitir a respiração das raízes,já as raízes das plantas absorvem oxi-gênio e liberam dióxido de carbono du-rante o ciclo de respiração e, sem umaadequada quantidade de oxigênio dis-ponível ao sistema radicular, a plantanão cresce e ocorre a sua morte prema-tura. Nos sistemas circulantes, o oxigê-nio é suprido parcialmente pela simplesmovimentação da solução nutritiva.Entretanto, é conveniente umacomplementação com uma bomba de ar.Em sistemas que utilizam substratosorgânicos ou inorgânicos, a quantidadede oxigênio contido entre os espaços dosgrãos de areia, pedra britada, serragemou seixo é suficiente para atender àsnecessidades da planta. Uma das pecu-liaridades da hidroponia é a possibili-dade de uma renovação periódica do arpara o sistema radicular.

· prover cerca de 16 elementosbásicos para operacionalizar eficiente-mente o sistema, proporcionando o com-pleto desenvolvimento da planta que sealimenta desses elementos básicos emlimitadas combinações e somente quan-to estes elementos ou combinações es-tiverem dissolvidos na água.

· Deve ser programado para serutilizado em ambiente onde luz, ar etemperatura estão disponíveis em níveissatisfatórios para as plantas.

· A formulação de nutrientes deve serfeita com base nas necessidades da planta.

· As plantas são organismos vivosque, quando dispõem de nutrientes ba-lanceados, desenvolvem-se rapidamen-

te e apresentam alta produtividade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos nestes traba-lhos preliminares têm demonstrado cla-ramente a versatilidade do cultivo semsolo, com uma grande diversidade deplantas olerícolas, condimentares e me-dicinais sendo produzidas com sucessona região de Manaus. Alguns empresá-rios da hidroponia já alcançam a marcade 1.000 pés de alface/semana, indivi-dualmente. Um maior desenvolvimen-to de sistemas hidropônicos poderá serfavorecido pelos seguintes aspectos:

· como o clima da região é quentedurante todo o ano, a procura por horta-liças frescas se torna uma necessidadebiológica como fonte natural de vitami-nas e sais minerais;

· uso mais eficiente da terra;· as culturas poderão ser explora-

das onde o solo é um fator limitante;· o uso de esterco é completamen-

te dispensado e isto é deveras importanteconsiderando-se que este insumo estácada vez mais caro e escasso, tornando-se um fator limitante na produção dehortaliças na região;

· a rotação de culturas é uma prá-tica dispensada. Os cultivos poderão sersucessivos no mesmo local onde foi co-lhida a cultura anterior, bastando ape-nas uma limpeza mecânica e desinfec-ção com hipoclorito de sódio;

· com cultivares adequadas à re-gião, é possível elaborar uma programa-ção de cultivo sem riscos das adversi-dades climáticas, eliminando asazonalidade e efetuando-se colheitas aolongo de todo o ano;

· poderão ser obtidos produtoscomercialmente uniformes, com melho-res retornos financeiros;

· criação de condições para obten-ção de produtos com alto grau de sani-dade, livres de impurezas químicas oubiológicas;

· geração de expectativa de se ob-ter maiores produtividades como resul-tado de :

a) melhores condições para o desen-volvimento do sistema radicular dasplantas;

b) formação de raízes mais eficien-

SASSAKI, O.K. Resultados preliminares da produção de hortaliças sem o uso de solo no Amazonas.

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tes na absorção de água e nutrientes;c) maior número de plantas por uni-

dade de área e maior número de colhei-tas por unidade de tempo, ambos impor-tantes componentes na avaliação do re-torno do capital investido e na rentabi-lidade econômica do empreendimentohidropônico;

d) o ciclo das culturas e as colheitastendem a ser pelo menos 10% menoresou mais precoces, uma vez que as raízesnão utilizam energia perfurando o soloà procura de nutrientes e, esta energianão utilizada é possivelmente aprovei-tada pela planta no desenvolvimentoqualitativo da parte aérea e de frutos;

e) facilidade no controle do pH econdutividade elétrica da solução nu-tritiva.

· redução no número de trabalha-dores, já que o uso de mão de obra émenos intenso que na produção conven-cional, bastando apenas uma orientaçãocomplementar ao trabalhador. Além dis-so, como a atividade hidropônica nãonecessita de esforços físicos considerá-veis, as mulheres também poderão es-tar envolvidas na atividade;

· redução no uso de defensivosagrícolas;

· eliminação das doenças do solo

com consequente aumento da vida pós-colheita do produto;

NECESSIDADES FUTURAS

1. Estudo para a diminuição docusto das estruturas para construção decasas-de-vegetação;

2. Viabilizar fontes alternativas deenergia para ventilação e diminuição datemperatura no interior da casa-de-ve-getação e resfriamento da solução nu-tritiva;

3. Desenvolvimento de materialpara cobertura com maior durabilidadee menor custo, de fácil reciclagem e comtransparência seletiva e reflexiva dosraios solares;

4. Estudos para o controle de do-enças provocadas por patógenos aquá-ticos;

5. Aprofundar estudos em sistemasintegrados de controle de pragas em ca-sas-de-vegetação para racionalizar eminimizar o uso de defensivos agríco-las;

6. Desenvolver defensivos agríco-las específicos para o controle de pra-gas e doenças em casas-de-vegetação;

7. Desenvolver novos substratos

de baixo custo, facilidade de uso, longadurabilidade e recicláveis, ou ainda,desenvolver métodos para reaproveitá-los no cultivo convencional, na melhoriadas condições químicas e físicas do solo;

8. Desenvolver cultivares resisten-tes ao calor e específicas para o cultivoem hidroponia.

LITERATURA CITADA

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HOAGLAND, D.R.; ARNON D.I. The water-culture method for growing plants withoutsoil. California Agriculture ExperimentalStation, 1950 (Circular 347).

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TAKATSU, A.; LOPES, C.A. Murcha-bacteriana em hortaliças: avanços científicos e perspectivas de controle. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, p.170-177, 1997. Palestra. Suplemento.

Murcha-bacteriana em hortaliças: avanços científicos e perspectivas decontrole.Bacterial wilt in vegetables: scientific advances and perspectives of control.

Armando Takatsu1; Carlos A. Lopes2

1 UnB - Depto. de Fitopatologia; 2 Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70.359-970 Brasília - DF.

Palavras-chave: Ralstonia solanacearum, Pseudomonas solanacearum, doença, bactéria, taxonomia, epidemiologia, disseminação,temperatura, resistência.Keywords: Ralstonia solanacearum, Pseudomonas solanacearum, disease, bacteria, taxonomy, epidemics, dissemination, temperature,resistance.

INTRODUÇÃO

A murcha-bacteriana (MB),ou “moko” quando ataca abananeira, é causada por

Ralstonia solanacearum (Rs), nova no-menclatura para Pseudomonassolanacearum, sendo a principal doen-ça vascular de plantas de origembacteriana. Por atacar um grande núme-ro de espécies de plantas causando sin-tomas visíveis e devastadores, tem sidoa doença bacteriana mais estudada emtodo o mundo, desde a sua primeiraconstatação por Erwin F. Smith há umséculo. Por ser vascular e “habitante”de solo, associada a um grande númerode plantas cultivadas e daninhas, é umadoença de controle extremamente difícil.

As culturas de importância econô-mica mais afetadas são as Solanáceascomo batata, tomateiro, pimentão, be-rinjela, fumo e outras, mas várias espé-cies importantes afetadas severamentesão de outras famílias como a bananei-ra, amendoim e gengibre. No Brasil, amurcha-bacteriana é um grande fator derisco para a produção da batata em to-das as áreas onde ela é cultivada. Já nasdemais Solanáceas, a doença tem gran-de incidência e severidade nas regiõestropicais de baixa altitude do Nordestee em toda a Região Amazônica. O“moko” da bananeira é um fatorlimitante nos cultivos de várzeas dos riosMadeira, Solimões e Amazonas desdeo Atlântico até à divisa com Peru e Bo-lívia. Recentemente foi encontrado tam-bém nos estados do Sergipe e deAlagoas, sendo um motivo de grande

preocupação para toda a bananiculturanordestina

Rs é uma bactéria cosmopolita, ex-tremamente variável, adaptada a gran-de número de plantas hospedeiras sobas mais variadas condiçõesedafoclimáticas. A dificuldade em de-senvolver estratégias eficientes de con-trole da MB é devida, em grande parte,à falta de conhecimentos básicos sobrea ecologia e evolução deste fitopatógeno(Kelman, 1953; Cook & Sequeira, 1994;Lopes, 1994). Centenas de espécies deplantas estão relatadas como hospedei-ras suscetíveis (Buddenhagen &Kelman, 1964; Hayward, 1994) e no-vas espécies continuam sendo relatadas.Entretanto, não é possível definir a qualestirpe ou variante essas plantas são sus-cetíveis. Sem esta informação, muitopouco se pode contribuir para a com-preensão ou resolução do problema poisas variantes apresentam preferências porhospedeiras e, assim sendo, uma plantapode ser hospedeira suscetível de umaou de algumas variantes e não das de-mais. Além disso, essa informação étambém essencial para definir as espé-cies de plantas a serem utilizadas noprograma de rotação para o controle damurcha e qual estirpe ou raça (no sentidocorreto do termo) do patógeno deve serutilizado para seleção de genótipos resis-tentes no programa de melhoramento.

Esta dificuldade pode ser traduzidapela frase de Buddenhagen (1986) queafirma: “as pesquisas (sobre a murcha-bacteriana) precisam ser baseadas emagrupamentos naturais (dopatógeno)...(porque) existem muitas

‘murchas bacterianas’ e muitas‘pseudomonas solanacearums’ e a ten-tativa para generalizar a murcha-bacteriana como uma única entidadetende a obscurecer a realidade local”.

O objetivo do presente trabalho é re-ver alguns aspectos fundamentais dopatógeno, especialmente os relacionadosà sua variabilidade, interação com suashospedeiras e condições edafoclimáticas,e as estratégias atualmente consideradaspara o controle da doença.

CLASSIFICAÇÃO E VARIABI-LIDADE DO PATÓGENO

O agente causal da murcha-bacteriana foi descrito pela primeira vezpor Smith em 1896 como Bacillussolanacearum e desde então tem sofri-do algumas modificações, recebendodiferentes denominações. Porém, a no-menclatura dada em 1914 pelo próprioSmith, como Pseudomonassolanacearum (Smith) Smith, prevale-ceu por quase 80 anos. Em 1992, a bac-téria foi reclassificada por Yabuuchi etal. (1992) dentro do grupo II dehomologia de rRNA de Palleroni et al.(1973) como Burkholderiasolanacearum (Smith). Entretanto, me-nos de três anos depois, essa classifica-ção foi revista com base nos dados deanálise filogenética da sequência denucleotídeos de rDNA de 16S,hibridação de rRNA-DNA, análise delipídios celulares e de ácidos graxos etambém das caracterizações fenotípicas.A bactéria foi então reclassificada den-tro do mesmo grupo, porém como um

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novo gênero, Ralstonia, criado para abri-gar o grupo de homologia de DNA distin-to do grupo da espécie tipo Burkholderiacepacia (Yabuuchi et al., 1995).

Tradicionalmente, RS tem sido clas-sificada em nível infra-subespecífico emtrês raças, baseadas primariamente emgama de hospedeiras (Buddenhagen etal., 1962), ou em quatro biovares, base-adas na utilização de certos açucares eálcoois (Hayward, 1964). Estas classi-ficações foram complementadas por Heet al. (1983), com a inclusão da raça 4 ebiovar 5. Estas classificações têm sidoúteis em alguns casos, como da raça 2,que inclui apenas as estirpes que afe-tam as bananeira triplóides, biovares 2e 3, sendo a biovar 2 limitada às regiõesde clima ameno das regiões Centro a Suldo país enquanto a biovar 3 é prevalenteem regiões quentes como a Amazônia eNordeste (Takatsu et al., 1984;Reifschneider & Takatsu, 1985). Apesardeste tipo de análise ser útil como meiode catalogar a diversidade das estirpes,fornecem pouca base para a compreen-são da origem e do significado desta di-versidade (Cook & Sequeira, 1994).

Os avanços obtidos nas técnicas deidentificação e caracterização de Rs nosúltimos anos especialmente através demétodos moleculares (Cook & Sequeira,1994; Gillings & Fahy, 1994; Seal &Elphinstone, 1994), veio possibilitaruma visualização evolutiva bastante sig-nificativa deste patógeno, trazendo gran-des esperanças na identificação das es-tirpes no contexto epidemiológico epossibilitando a orientação das estraté-gias de controle e dos trabalhos de me-lhoramento genético para a obtenção decultivares resistentes à MB. Gillings &Fahy (1993) descrevem que os avançosalcançados na tecnologia do DNA sig-nificam que agora é possível identificarestirpes da bactéria para definir esque-mas taxonômicos que refletemacuradamente as relações filogenéticase para conduzir investigaçõesepidemiológicas significativas baseadassomente em manipulações de DNA.Segundo esses autores, a melhor técni-ca atualmente empregada é a que usa asendonucleases de restrição do tipo II, emque, quando é feita a digestão do DNA,a enzima reconhece e fende assequências de DNA específicas, resul-tando em uma complexa mistura de

fragmentos. Este processo é altamentereproduzível, isto é, a digestão do mes-mo DNA com a mesma enzima resultaexatamente nos mesmos fragmentos. Apartir deste ponto, os fragmentos comgenes específicos podem ser detectadosatravés da hibridação com sondas deDNA marcadas (análise de RFLP) ouesta mistura de fragmentos de DNApode ser separada de acordo com o ta-manho, em eletroforese, com os frag-mentos migrando para posições deter-minadas do gel. Os fragmentos são en-tão visualizados por coloração direta,obtendo-se assim, um padrão de bandas(‘genomic fingerprinting’ ou impressãodigital genômica) que pode ser classifi-cado em comparação com o padrão deisolados conhecidos.

Cook & Sequeira (1994) identifica-ra, até aquela data, 33 genótiposmultiloculados ou grupos de RFLP, comsondas que especificam a virulência oua reação de hipersensibilidade. Estesgrupos refletem os agrupamentos base-ados em gama de hospedeiras e carac-terísticas fisiológicas, podendo predizera raça ou a biovar do isolado em ques-tão. Entretanto, a característica que estámais correlacionada aos dados da aná-lise de RFLP é a de origem geográficada estirpe, podendo visualizar duas di-visões geneticamente distintas, uma daAustralásia, compreendendo as biovares3, 4 e 5, e outra das Américas, compre-endendo as biovares 1, 2 e 2T. Gillings& Fahy (1994) utilizaram as técnicas deimpressão digital e de PCR (‘polimerasechain reaction’) que permitem a identi-ficação em subgrupos ou clones dentrodos genótipos multiloculados (grupos deRFLP) e consideram estas técnicas maisfáceis, rápidas e econômicas.

Um dos aspectos mais interessantesesclarecidos com a identificação dosgrupos genéticos de RFLP e seus clonesé em relação à biovar 2 (biovar 3) debatata. Foram identificadas dentro des-ta biovar apenas 2 grupos, 26 e 27, am-bos geneticamente muito próximos, e ogrupo encontrado em muitas áreas deprodução de batata em diferentes paí-ses foi o 26, originário da região orien-tal dos Andes, onde os primeiros colo-nizadores espanhóis tiveram acesso àbatata. Os grupos identificados dentroda biovar N2 ou 2-T (fenótipo tropicalde baixa altitude, Hayward et al., 1992)

foram os grupos 29, 30 e 32, sendo elesgeneticamente muito mais variáveis,diferentes de 26 e 27 e, muito provavel-mente, originários de diferentes espéci-es hospedeiras naturais que não a batata.

Entre 23 isolados brasileiros dabiovar 2 examinados por French et al.(1993), nove (quatro de Brasília, um deMinas Gerais e quatro do estado de SãoPaulo) eram da Biovar 2-T. Como aocorrência de biovar 2 nas culturas emterras recém-desmatadas (infecções deprimeiro contato) são frequentes tantoem regiões de matas, cerrados ou cam-pos, em toda a região Centro e Sul doBrasil, é provável que a diversidade dabiovar 2-T seja muito maior, com mui-tas hospedeiras nativas.

Segundo Eden-Green (1994), os es-tudos de RFLP forneceram bases racio-nais para a divisão em estirpes asiáticase americanas, sendo a biovar 3 conside-rada como asiática por ser a mais en-contrada em todo o Sudeste Asiático,Austrália e muitas partes da África eenquadrada dentro da divisão I, juntocom as biovares 4 e 5. Entretanto, comoestirpes da biovar 3 são também as maisprevalentes em todas as regiões exten-sas da Amazônia e do Nordeste e sãoencontradas naturalmente em florestas,matas e campos virgens, será necessá-rio avaliar maior número de isoladosamericanos desta biovar, especialmen-te do Brasil, para definir melhor seusprováveis centros de diversidade.

As características da variabilidadeda biovar 1 tão pouco estão esclarecidaspor causa da magnitude da diversidadegenética, já que esta biovar é encontra-da no Brasil desde o Rio Grande do Sulaté à Amazônia. A definição das estir-pes ou grupos das biovares 1 e 3 depen-de ainda da coleta, isolamento e examedetalhado de grande número de isola-dos, preferivelmente de hospedeirasnaturais distribuídas nas diferentes eimensas regiões do país.

A preservação dos isolados obtidostem sido um dos fatores limitantes parao estudo e caracterização dos isoladosde Rs devido à sua instabilidade e perdada virulência em culturas preservadasem água ou liofilizadas. Preservaçãosegura tem sido obtida somente em con-geladores a 80oC negativos ou em ni-trogênio líquido.

TAKATSU, A.; LOPES, C.A. Murcha-bacteriana em hortaliças: avanços científicos e perspectivas de controle.

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ASPECTOSEPIDEMIOLÓGICOS

Dentro da epidemiologia da MB, asobrevivência do patógeno nas áreasinfestadas, as formas de disseminação eo efeito da temperatura podem ser con-siderados como os aspectos mais impor-tantes. Será feita aqui uma abordagemsucinta de cada um destes aspectos.

Sobrevivência nas áreas infestadasRs parece ser adaptada a colonizar

raízes de plantas como rizobactérias,sendo a patogenicidade uma exceção àregra, que acontece em condiçõesedafoclimáticas especiais (Crosse, 1967;Melo, 1995). Assim sendo, a maioria dasplantas hospedeiras podem serassintomáticas ou não suscetíveis. Ogrande desafio até agora vem sendo aidentificação de plantas cultivadas ouinvasoras que podem ser ou não hospe-deiras das estirpes presentes na área ouregião para poder estabelecer um pro-grama adequado de rotação de cultura epara eliminar as hospedeiras intermedi-árias. A identificação das plantas hos-pedeiras preferenciais das variantes deRs definidas em níveis de grupos, clonesou estirpes é de fundamental importân-cia para aperfeiçoar a visãoepidemiológica da MB.

Segundo Granada & Sequeira(1983), Rs tem baixa capacidade de so-brevivência no solo e as altas popula-ções do patógeno estão associadas a in-fecções sistêmicas ou localizadas emraízes de plantas hospedeiras resisten-tes ou assintomáticas. Viana (1995) en-controu população elevada de Rs biovar1 em raízes de repolho e cenoura semcausar infecção interna, em ensaio emvasos inoculados sob condições de casa-de-vegetação. Quando nestes solos fo-ram plantados tomateiros como iscas,depois de 90 dias de cultivo com aque-las plantas, os índices de murcha forambem mais elevados que em parcelastestemunhas cultivadas com tomateirossuscetíveis que morreram no início doensaio, deixando a bactéria sem sítioadequado de sobrevivência, indicandoque plantas hospedeiras não suscetíveisdevem atuar como melhoresmantenedores do patógeno do que asplantas suscetíveis.

Resultados bastante promissores têmsido obtidos no desenvolvimento de

métodos em vasos e in vitro para a avali-ação da população de diferentes isola-dos de Rs no sistema radicular de dife-rentes plantas (Melo, 1995; Bringel,1997). Nesses trabalhos tem sido de-monstrado que muitas espécies de plan-tas cultivadas, como abobrinha, beter-raba, caupi, feijoeiro, repolho e ervilha,que são consideradas normalmentecomo plantas não hospedeiras, podemmanter populações elevadas de muitasestirpes das biovares 1 e 3 de Rs. Comos métodos de avaliação da populaçãoradicular de Rs, auxiliados com as téc-nicas moleculares de identificação degrupos genéticos (grupos RFLP) e declones, poderá ser tecnicamente possí-vel fazer a identificação segura das es-tirpes presentes na área ou região e iden-tificar e definir as espécies cultivadas esilvestres hospedeiras e não hospedei-ras daquelas estirpes.

Disseminação através de materi-ais de propagação vegetativa

Materiais de propagação vegetativacomo tubérculos, rizomas e mudas sãoos veículos mais eficientes de dissemi-nação de Rs a longas distâncias e paranovas plantações. Dentre estes materi-ais, a batata-semente ocupa de longelugar de destaque, fato este evidencia-do pela distribuição da raça 3 (biovar2A, grupo RFLP 26), originária da re-gião Andina Ocidental, em praticamen-te todas as regiões do globo terrestreonde a batata é cultivada. As estirpes dasraças 1, 2 e 4 (biovares 1, 3, 4 e 5) etambém as da biovar 2T ou N2 têm suadistribuição mais ou menos restrita àssuas regiões de origem (Gillings & Fahy,1994). No caso do moko, mudas de ba-naneira infectadas vem sendo o princi-pal meio de disseminação novas plan-tações e também para longas distâncias(Cares, 1988). Mudas de helicônia tam-bém podem servir de veículo eficientede transporte do agente causal do mokoda bananeira, conforme detectado naAustrália em mudas importadas, conta-minadas com a biovar 1, grupo de RFLP28, encontrado somente na América doSul (Gillings & Fahy, 1994).

Há ainda o caso do gengibre, em quea utilização sem controle fitossanitáriode rizomas como material de plantio temexpandido o problema da MB nesta cul-tura na China, Indonésia e Malásia e,

provavelmente, disseminado tambémpara outros países (Hayward, 1991).

A introdução de qualquer materialde propagação vegetativa de regiõesonde a MB é endêmica apresenta sem-pre certo risco de introdução de algumaestirpe de Rs, já que muitas espéciespodem ser hospedeiras não suscetíveisdo patógeno.

Disseminação através de sementesbotânicas

A disseminação através de semen-tes botânicas foi comprovada em toma-te (Devi, 1980; Shakya, 1993) e emamendoim (Machmud, 1991; Zhang,1993). No Brasil não há ainda nenhumdado sobre a disseminação através desementes, mas, aparentemente, elas nãosão veículos importantes de dissemina-ção de Rs. Entretanto, a efetividade dadisseminação por este meio emSolanáceas como tomateiro, pimentão,berinjela e jiló merece ser investigadanas condições da Amazônia e do Nor-deste, onde a MB é fortemente endêmicae se manifesta de maneira muito seve-ra. É muito provável que a não compro-vação até agora se deva em parte ao fatode as sementes dessas Solanáceas quesão comercializadas no Brasil seremproduzidas em regiões onde a MB nãoocorre ou a sua incidência é pouco sig-nificativa.

Outras formas de disseminaçãoA disseminação planta-a-planta do

moko da bananeira pode se dar atravésdo contato das raízes, por insetos quevisitam a inflorescência e através de fer-ramentas de corte. No Brasil, o mokoda Amazônia, causado pela estirpe A deRs, encontrada nas lavouras de várzeasao longo dos principais rios, se disse-mina planta-a-planta através de contatoentre as raízes, sendo a taxa de dissemi-nação maior na estação de maior preci-pitação pluviométrica e também nas la-vouras onde é feita capina, em que asraízes são feridas, em comparação àslavouras apenas roçadas (Pereira, 1990).As plantas morrem em reboleiras queaumentam lenta e constantemente atéatingir toda a plantação e podem ser lo-calizadas à distância. Em terras firmes,quando uma muda infectada é plantadano meio da lavoura, não ocorre, prati-camente, a transmissão para plantas vi-zinhas sadias e a doença tende a desa-

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parecer com a morte daquela touceira.Por outro lado, o moko de Sergipe, en-contrado também no estado de Alagoas,em áreas irrigadas nas margens do rioSão Francisco, se dissemina rapidamen-te através de insetos (vespas) que visi-tam a inflorescência. Os sintomas sópodem ser visualizados de perto noscachos que apresentam maturações ir-regulares e necroses internas, frutosmumificados e morte da inflorescênciamasculina.

As ferramentas de corte utilizadaspara desbaste das mudas e colheita decachos constituem um meio eficiente erápido de disseminação planta-a-plantado moko.

Efeito da temperaturaA MB é uma doença que apresenta

maior incidência e severidade nas regi-ões tropicais e, mesmo nas regiões declima subtropical ou temperado, a do-ença se manifesta mais e com maior se-veridade nos períodos mais quentes. Deum modo geral, nos testes depatogenicidade de rotina, a quase tota-lidade dos isolados da biovar 3 e a mai-oria dos isolados da biovar 1 não repro-duzem sintomas de murcha se a tempe-ratura nos horários mais quentes do dianão estiver entre 30 a 35oC ou mais ouquando a temperatura noturna abaixarpara menos de 20oC. Isto ocorre tam-bém para muitos isolados da biovar 2T.

Haiward (1991) descreve que a tem-peratura é o fator mais importante entreos que afetam a interação patógenohospedeiro e que o aumento da tempe-ratura ambiente para 30-35oC durante odia aumenta também a incidência e a se-veridade da MB, mas não para todas asestirpes do patógeno. Neste contexto,plantas que eram resistentes ou mode-radamente resistentes podem tornar-sesuscetíveis em temperaturas mais altas,sendo a resistência, portanto, sensível àtemperatura e estirpe-específica. Des-creve ainda que não está claro se estamudança na resistência se deve ao fatorde virulência do patógeno que é expres-so somente a temperaturas elevadas ouse é efeito da ausência de expressão degenes de resistência da hospedeira emtemperaturas elevadas.

Identificar as características de com-portamento das diferentes estirpes dopatógeno em relação às hospedeiras, em

função das diferentes condições detemperatura, é um aspecto extremamen-te importante para os conhecimentosepidemiológicos e para as estratégias decontrole da MB. Estas característicasenvolvem não só os fenômenos da ma-nifestação e de recuperação da doençaque ocorrem nas variações de tempera-tura, como também a sobrevivência ouflutuação populacional do patógeno emraízes de diferentes plantasassintomáticas ou não suscetíveis.

PERSPECTIVAS DECONTROLE

Diante da grande complexidade daMB, é impossível se falar em seu con-trole sem se mencionar o manejo inte-grado, independente da espécie vegetalinfectada. Uma estratégia de controle dadoença para a batata foi elaborada porFrench (1994) e considerou uma sériede fatores de diferentes pesos de acordocom a eficiência no controle das raças 1e 3 da bactéria. Será feito aqui um bre-ve comentário sobre alguns destes fato-res que melhor se relacionam à situaçãodo Brasil, sendo a maioria deles aplica-dos não só para a batata, mas tambémpara outras espécies cultivadas que sãoafetadas pela doença.

Plantio em solo livre do patógenoÉ um dos principais fatores a serem

considerados no controle. Entretanto, Rsé nativa em muitos solos brasileiros,havendo sido introduzida em outrosatravés de material propagativo conta-minado, como a batata-semente, perma-necendo aí associada à rizosfera de plan-tas daninhas ou mesmo à soqueira debatata. Até há bem pouco tempo, estefator era o mais levado a sério por pro-dutores, pois a batata-semente em San-ta Catarina só era produzida em terre-nos recém desmatados, teoricamenteisentos da bactéria. Algumas vezes, po-rém, plantas murchas apareciam nestassituações, talvez por estar o patógenoassociado à vegetação nativa.

O principal problema deste tipo decontrole é o alto preço de arrendamentode terras virgens, além dasconsequências ambientais provocadaspelo desmatamento descontrolado. So-los mais arenosos, que retêm menoságua e, portanto, menores condições deabrigarem a bactéria, têm sido preferi-dos por produtores de tomate em regi-

ões onde a MB é limitante, como noNorte e Nordeste do Brasil.

Rotação de culturasEnquanto não existirem cultivares

resistentes de boa aceitação comercial,a rotação de culturas e eliminação deplantas capazes de manter a populaçãode Rs por longo tempo nas áreas infes-tadas são as medidas mais importantes,dentro de um conjunto de medidas inte-gradas de controle, por ser Rs umpatógeno que tem baixa capacidade desobrevivência no solo (Granada &Sequeira, 1983) e que consegue persis-tir na área infestada apenas através daassociação com raízes de plantas na for-ma de infecção sistêmica (Granada &Sequeira, 1983) ou epifítica (Viana,1995 ; Melo, 1995). Os melhores re-sultados têm sido obtidos comgramíneas como milho, arroz e pasta-gens (de gramíneas). A rotação comgramíneas tem se mostrado a alternati-va mais viável para o desmatamento devegetação nativa. Cada vez mais áreascultivadas com Solanáceas, principal-mente na região Sul do país, voltam aser utilizadas para o plantio com espé-cies desta família após alguns anos decultivo de gramíneas. A associação depastagens com batata tem dado excelen-tes resultados nas regiões Sul e Sudestedo Brasil. Após batata, o solo é cultiva-do por três a cinco anos com capim, depreferência com pisoteio de gado bovi-no, que previne o aparecimento desoqueira que poderia perpetuar a doen-ça no solo.

A prática mais frequente, no entan-to, é fazer a rotação com outras hortali-ças não pertencentes à família dasSolanáceas porque as gramíneas não sãoopções viáveis para a maioria dos pe-quenos horticultores. Entretanto, é fre-quente observar nestas condições, amanifestação da murcha mesmo depoisde vários anos de rotação. Esta situaçãose deve à permanência de R.solanacearum em associação com plan-tas hospedeiras não suscetíveis ouassintomáticas ainda não identificadas.

Viana (1995), Melo (1995) e Bringel(1997) estudaram uma metodologia deidentificação de plantas hospedeiras ounão-hospedeiras de diferentes estirpesde Rs. Para tanto, foi avaliada a coloni-

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zação de raízes de plantas cultivadas emcondições de casa-de-vegetação, utili-zando variantes de Rs com resistênciamúltipla a antibióticos. Bringel (1997)adaptou a metodologia de cultivo in vitroa partir de sementes para esta finalida-de, o que possibilitou uma avaliaçãopreliminar rápida de grande número deisolados em grande número de espéciesde plantas. Estes resultados constituemavanços muito significativos nametodologia de avaliação da colonizaçãode raízes por Rs e muito promissores paraos trabalhos de identificação de plantashospedeiras e não-hospedeiras em funçãodas estirpes existentes na área de cultivo.

Estes trabalhos de identificação dehospedeiras, complementados com mé-todos moleculares de caracterização deestirpes permitirá a identificação de gru-pos e ou clones dentro do contextoepidemiológico, como patogenicidade,preferência por hospedeira ou grupo dehospedeiras e origem geográfica. Àmedida que novas estirpes caracteriza-das forem sendo catalogadas, será maisfácil o trabalho de identificação das es-tirpes presentes nas áreas infestadas e serámais eficiente o controle da doença.

RESISTÊNCIA Genética

Mesmo que vários autores indiquema resistência genética como o únicométodo efetivo e prático para o contro-le da MB, Buddenhagen (1986)exemplifica que, embora progressos te-nham sido feitos com fumo, tomate,batata, pimentão, berinjela e amendoim,a doença continua sendo importantenestas culturas, indicando que muitoainda necessita ser feito. Estamos cadavez mais conscientes de que abiotecnologia moderna (Young &Danesh, 1994) pode complementar astécnicas convencionais de melhoramen-to, dando novo impulso ao desenvolvi-mento de cultivares, principalmente poroferecer uma maior amplitude de genesde resistência, de diferentes origens. NoBrasil, apenas a cultivar de batata Achattem mostrado resistência de campo àdoença. Entretanto, acredita-se quegenótipos resistentes oferecem o riscode aumentarem a disseminação da do-ença através de infecção latente, i.e.,tubérculos-sementes que tenham passa-

do nas inspeções de campo e tubérculopodem não apresentar sintomas, mesmoestando infectados. Este fato aparentemen-te não tem sido constatado no caso da cul-tivar Achat, que provavelmente apresen-ta também resistência à infecção latente,o que necessita ser melhor avaliado.

O Centro Nacional de Pesquisa deHortaliças da EMBRAPA, com a cola-boração do IAPAR - Curitiba e do Cen-tro Internacional de la Papa - CIP, noPeru, tem buscado fontes de resistênciaigual ou melhor àquela da cultivarAchat, que não pode ser utilizada emmelhoramento tradicional por não flo-rescer. Atualmente, a Embrapa Hortali-ças conta com quinze clones promisso-res, selecionados por apresentarem boascaracterísticas de tubérculo e resistên-cia à MB. Estes clones estão sendo uti-lizados na Embrapa Hortaliças em cru-zamentos com cultivares, estando tam-bém disponíveis a outros programas demelhoramento.

O Instituto Nacional de Pesquisas daAmazônia - INPA - vem desenvolven-do trabalhos de peso no melhoramentogenético de hortaliças (Noda, 1996;Noda & Machado, 1996), sendo um dosseus produtos a cultivar de tomate comalto nível de resistência à MB e adapta-da às condições de Trópico Úmido, de-nominada Yoshimatsu (Noda et al.,1988). Entretanto, nenhuma cultivar detomate possui resistência suficiente àMB em clima quente e úmido, em con-dições de alta infestação do solo, comoocorre após plantios sucessivos deSolanáceas na mesma área. A resistên-cia em tomate também é poligênica,portanto sujeita a efeitos ambientais,necessitando de testes locais para ave-riguar sua estabilidade. O mesmo ocor-re em pimentão e berinjela. Nestes ca-sos, a Embrapa Hortaliças conta comboas fontes de resistência que deverãoresultar em breve em cultivares com umrazoável grau de resistência. Dentre es-tas fontes de resistência destacam-seCNPH 171, CNPH 175, CNPH 407 eCNPH 408 (berinjela), CNPH 143 (pi-mentão), e Hawaii 7996, Hawaii 7997,Hawaii 7998, CRA 66 e Yoshimatsu 4-11 (tomate).

Em banana não foi encontrada ain-da nenhuma cultivar resistente ao moko.Entretanto, a cultivar Pelipita, debrácteas persistentes, tem mostrado bai-xa incidência da doença causada por

estirpes do patógeno disseminadas porinsetos (Cares, 1988).

FUMIGAÇÃO

É bastante utilizada e eficaz em cul-tivos protegidos, onde normalmenteocorre aumento sucessivo do potencialde inóculo pela dificuldade de se fazerrotação de culturas. Tem sido utilizadaprincipalmente para as culturas de to-mate, pimentão e pepino em estufas, nãosendo economicamente viável em cul-tivos em campo aberto. Neste processo,o produto utilizado na quase totalidadedos casos é o brometo de metila que, noentanto, deverá ter sua produção inter-rompida no início do próximo século.Assim, há que se buscar alternativas, emespecial para o manejo da doença emcultivos protegidos. Outras formas decontrole químico como o uso de antibi-óticos, fungicidas cúpricos edesinfestantes, pulverizados na parteaérea ou aplicados ao solo, têm se mos-trado ineficazes, além de economica-mente inviáveis.

Solarização

Embora pouco estudada, é uma al-ternativa que deverá ser melhor explo-rada, principalmente em cultivos prote-gidos, conforme indicado no item ante-rior. A questão maior fica por conta dasobrevivência de células bacterianasprotegidas em bolsões de solo, que po-derão reiniciar a infecção. Sabe-se queRs pode ser encontrada a uma profundi-dade de até 1 metro, onde a temperaturadificilmente atingirá um valor capaz deeliminar a bactéria, que é nativa de re-giões de solos quentes.

Manejo da Água

A alta umidade do solo afeta positi-vamente a disseminação, a multiplica-ção e a colonização de Rs, comconsequente aumento da taxa de pro-gressão da doença no campo. Solos bemdrenados e irrigados de forma adequa-da certamente resultarão em menor ata-que da MB. Culturas como tomate ebatata frequentemente recebem exces-

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so de água, muitas vezes com irrigaçõesdiárias. Além de favorecer a doença di-retamente, alguns nutrientes fornecidospela adubação são lixiviados, tornandoas plantas carentes de um balançonutricional adequado e, portanto, menosresistentes ao ataque de doenças.

Época de Plantio e Exploraçãode Microclimas

Tem efeito bastante significativo nasperdas provocadas pela MB, especial-mente em cultivos de ciclo curto, comoas hortaliças. Em batata, este fator foievidenciado em São Paulo (MirandaFilho et al., 1988), onde foi constatadaa viabilidade de se produzir batata-se-mente em plantios de inverno. A épocadesejável de plantio é aquela em que nãoocorra temperatura alta associada a altapluviosidade. Em Brasília, os plantiosfeitos em abril - maio são os mais bemsucedidos, pois permitem coincidir operíodo mais sensível da cultura (inícioda tuberização da batata e frutificaçãodo tomate) com o período mais frio doano, que desfavorece a multiplicação einfecção pelo patógeno.

Na região Nordeste do Brasil, a gran-de maioria das culturas de tomate paraconsumo in natura e de pimentão estãoem áreas de microclima de temperaturaamena, como o Planalto da Borborema,Serra do Ibiapaba e Serra do Baturité.Há também vários pontos de produçãode batata no Nordeste, comoParipiranga, na Bahia, Simão Dias, emSergipe, e Lagoa Seca, na Paraíba. Ocultivo nestes microclimas se deve nãosó ao fato de estas Solanáceas seremmelhor adaptadas às condições de tem-peraturas mais amenas, mas principal-mente devido à alta incidência, de formadevastadora e persistente, da murcha-bacteriana nas zonas de baixa altitude.

Solos Supressivos

É um fator muito pouco exploradodevido à sua complexidade, relaciona-da à própria complexidade física, quí-mica e biológica do solo. Embora nãodevidamente explicado ou mesmo pu-blicado, o fenômeno da supressividadetem sido frequentemente observado,

principalmente em solos sob vegetaçãonativa das regiões Sul, Centro Oeste eNordeste. O tipo mais comum tem sidochamado “Campo-biô”, termo cunhadopor produtores japoneses para caracte-rizar a MB que desaparecia do solo apósplantios sucessivos com batata. Nestecaso, o patógeno parece existir no soloem populações bastante altas, capazesde provocar perdas de até 80%. Entre-tanto, diferentemente da MB “comum”,em plantios sucessivos com batata oucom várias outras culturas de ciclo cur-to, a doença regride até permanecer emníveis de dano desprezível ou mesmodesaparecer. Acredita-se que o cultivointensivo do solo aumenta a populaçãode microrganismos antagônicos a Rs,que pode existir em formas mais oumenos competitivas no solo, face a suagrande variabilidade genética.

Semente Certificada

Uma das culturas mais afetadas pelaMB no mundo é a batata. Neste caso, ofator mais importante no manejo da do-ença é a utilização de batata-sementecertificada, ou seja, aquela que passoupor inspeções de campo e de tubérculo,não sendo constatada a doença em ne-nhuma desta fases. Responsável pelamaioria das condenações de campos decertificação, a MB era a principal causada preferência de produtores pela bata-ta-semente importada. Hoje isto nãoacontece, em virtude do bom controle dequalidade da batata-semente nacional edevido à constatação da doença em paí-ses onde ela era considerada inexistente,como Suécia, Holanda e Chile.

A não tolerância da MB em batata-semente tem sido frequentemente ques-tionada, em virtude principalmente dapresença endêmica da doença na maio-ria das regiões produtoras do país. En-tretanto, devido à rápida disseminaçãoda doença via batata-semente e via solo(escorrimento e aderido a máquinas), àdificuldade de amostragem para análi-se em tubérculo e em campo, à ausên-cia de testes confiáveis para a diagnoseprecisa e rápida da doença e à forma la-tente como a doença se apresenta sobcondições sub-ótimas ao seu desenvol-vimento, a tolerância nas inspeções decertificação e de importações deve per-manecer “zero”. Ressalta-se aqui a gran-de responsabilidade dos técnicos nas

inspeções de lotes de batata-sementeimportados, principalmente com o ad-vento do Mercosul. Plantios informaisde batata, que muitas vezes são feitoscom batata-consumo desviadas para “se-mente”, podem estar contaminados porpatógenos diversos, inclusive variantesexóticas de Rs.

Controle Biológico

A literatura tem se tornado bastanterica em trabalhos sobre o controle bio-lógico da MB em virtude da baixa efi-ciência do controle da doença atravésdas técnicas chamadas convencionais.Entretanto, a grande maioria dos rela-tos tem se restringido a testes in vitroou com plantas cultivadas em solo este-rilizado, quase todos sugerindo que nãopassarão de eternos métodos “potenci-ais” de controle. Dentre os mais promis-sores citados, encontram-se as bactéri-as dos gêneros Bacillus, osactinomicetos e isolados avirulentos dopróprio patógeno. A existência de solossupressivos é forte indicação de que ocontrole biológico existe na natureza eque merece atenção da pesquisa, masnecessita, muito mais do que simplesisolamentos de antagonistas promisso-res, testes in vitro e em plantasenvasadas. Há que se buscar maneirasde avaliar a competitividade dos agen-tes antagonistas no solo, isoladamenteou em mistura com outros microrganis-mos. Isto porque a ação supressiva emcondições de campo é obtida por umacomposição de vários antagonistas eoutros microrganismos. Esta composi-ção pode variar em função das condi-ções físico-químicas de cada solo e dasua flora microbiana. A eficiência deuma composição mista de microrganis-mos no controle da doença depende por-tanto da sua capacidade em adaptar-seà condição físico-química do solo emquestão e de competir com a suamicroflora, além da sua atividade anta-gônica. Resultados obtidos com micror-ganismos antagônicos testados indivi-dualmente, em condições de vasos, re-presentam apenas um pequeno passo emuma grande distância a ser percorridaaté a sua aplicação em diferentes condi-ções de campo.

TAKATSU, A.; LOPES, C.A. Murcha-bacteriana em hortaliças: avanços científicos e perspectivas de controle.

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Exclusão

Ralstonia solanacearum é uma es-pécie cosmopolita que apresenta gran-de variabilidade, não só quanto à prefe-rência por hospedeiras, como tambémquanto à adaptação edafoclimática.Dentro deste quadro, existem variantesque não ocorrem no Brasil e, portanto,a sua introdução deve ser impedida atra-vés de medidas de exclusão. Comoexemplos, podem ser citadas a varianteque causa a MB do amendoim, que ocor-re no Sudeste Asiático, Oceania e EUA;a que causa a MB do gengibre, que ocor-re no Sudeste Asiático e Oceania; e aestirpe SFR, que causa o “moko” dabananeira em regiões de temperaturaamena da Colômbia. A importação demateriais de propagação de plantas semas medidas adequadas de defesafitossanitária pode resultar na introduçãode estirpes exóticas, ampliando a suavariabilidade no país e,consequentemente, agravando o quadrodas “murchas” existentes. Adicionalmen-te, pode-se ampliar ainda mais o númerode espécies afetadas pela doença.

Erradicação

Para culturas de ciclo curto, como amaioria das hortaliças, esta medida épouco significativa no cultivo atual,embora reduza a multiplicação doinóculo inicial para a próxima safra.Neste caso, é recomendável cobrir o lo-cal da planta arrancada com cal e retirara planta inteira do campo em saco deplástico, para não espalhar solo infesta-do para outras partes do campo. No casoda bananeira, entretanto, a erradicaçãoé bastante eficiente para as estirpes quese disseminam lentamente através decontato das raízes (estirpe A), comoacontece nas várzeas da região Amazô-nica (Pereira, 1990). Para as estirpes quese disseminam através de insetos quevisitam a inflorescência, como aconte-ce em Sergipe, é importante se fazer aerradicação precoce de focos, com ins-peções de duas a quatro semanas de in-tervalo, além da remoção do coração ouumbigo logo após a floração da últimapenca (Cares, 1988). Erradicação pre-coce dos focos é também uma medida

importante para impedir a disseminaçãoda doença através de ferramentas decorte utilizadas para desbaste de mudase colheita de cachos, tendo em vista queé praticamente impossível fazer a desin-fecção das ferramentas em cada opera-ção de corte.

Considerações Finais

Técnicas moleculares como as deanálise de RFLP, PCR e “genomicfingerprinting”, assim como as técnicasconvencionais de avaliação da coloni-zação de raízes in vitro e em condiçõesde casa-de-vegetação continuarão a seraperfeiçoadas e as estirpes de Rs serãomelhor caracterizadas no contextoevolutivo e epidemiológico, possibili-tando o desenvolvimento de estratégiasadequadas de controle, baseadas prin-cipalmente em dados e informaçõesmais precisas de sobrevivência dopatógeno na rizosfera de plantas culti-vadas e silvestres. Técnicas molecularesdeverão também permitir a detecção dabactéria em níveis populacionais muitobaixos, possibilitando a identificação debaixas populações do patógeno no soloe infecções latentes em materialpropagativo, como em batata-semente,resultando em melhor possibilidade dese reduzir o inóculo inicial. Estas técni-cas permitirão ainda e relacionar a va-riabilidade do patógeno com a resistên-cia genética do hospedeiro.

A obtenção de plantas transgênicascom resistência à MB é uma realidadecada vez mais próxima, à medida queos genes de resistência das diferenteshospedeiras vêm sendo mapeados e,mesmo que a resistência não seja do tipovertical, qualquer nível intermediário deresistência será útil, quando associadoa outras medidas de controle. Embora ocontrole biológico tenha mostrado al-guns resultados promissores sob condi-ções controladas, a complexidade dopatógeno em relação à sua sobrevivên-cia no solo leva a crer que este não seráum componente forte no manejo da do-ença a curto prazo. French (1994) acre-dita que a MB possa ser erradicada emregiões de produção de batata onde ocor-re somente a raça 3 do patógeno, queataca quase exclusivamente a batata,tem baixa capacidade de sobrevivência

no solo e está associada a poucas espé-cies hospedeiras. Isto dependerá degrande esforço da pesquisa e da exten-são rural, além de disponibilidade debatata-semente com garantia de ausên-cia de infecção, inclusive latente. Téc-nicas pouco convencionais, como aenxertia em cavalo resistente, não de-verão ser enfatizadas devido à dificul-dade de execução, a não ser para situa-ções especiais como cultivos protegidos.

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178 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

BOLKAN, H. Manejo integrado de pragas e doenças em hortaliças. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, p. 178-179, 1997. Palestra. Suplemento.

Manejo integrado de pragas e doenças em hortaliças.Integrated pest and disease management in vegetables.

Hasan A. BolkanCampbell Research and Development, 28605 County Road, 95616 Davis - CA, USA.

Palavras-chave: pimentão (Capsicum annuum), tomate (Lycopercison esculentum), batata (Solanum tuberosum), salsão (Apiumgraveolens), queima-do-salsão (Septoria apiicola), aspectos econômicos, Bacillus thuringiensis, baculovírus, feromônios, plantastransgênicas, previsão do tempo, avaliação de riscos.Keywords: pepper (Capsicum annuum), tomato (Lycopercison esculentum), potato (Solanum tuberosum), celery (Apium graveolens),celery blight (Septoria apiicola), economic aspects, Bacillus thuringiensis, baculoviruses, pheromones, transgenic plants, forecasting,risk assessment.

As hortaliças de forma geralnecessitam de cuidado intensivo devido ao ataque de

pragas e doenças. Os agricultores pre-cisam usar estratégias economicamenteviáveis para se manterem competitivosno mercado global. Manejo Integradode Pragas e Doenças (MIPD) é a me-lhor forma de manter a qualidade domeio ambiente e assegurar acompetitividade dos produtores no mer-cado interno e externo. O MIPD ofere-ce baixo custo de produção sem reduzira produtividade das culturas, usando umconjunto de diversas técnicas de contro-le de pragas e doenças. Atualmente umavirtual revolução no desenvolvimentodo MIPD certamente aumentará a quan-tidade de métodos eficientes à disposi-ção dos produtores no controle de pra-gas e doenças. Por exemplo, entre ospesticidas naturais, significantesmelhorias estão surgindo com o auxíliode modificações genéticas. Bacillusthuringiensis (Bt), amplamente utiliza-do a nível comercial nas últimas déca-das, teve sua forma de ação melhoradapor meio de técnicas detransconjugação. Outro exemplo são osbaculovírus, que estão sendo genetica-mente manipulados para aumentar a suavelocidade de ação, o que resultará emextermínio rápido dos seus hospedeirostornando-os comercialmente viáveis.Melhor entendimento dos mecanismosbiológicos das pragas associadas comseus hospedeiros proporcionará ao MIPDdesenvolver estratégias mais eficientesno controle das pragas e doenças.

O MIPD envolve contínua avalia-ções e modificações à medida que no-vos conhecimentos vão surgindo. Um

bom exemplo do uso desses conheci-mentos são os feromônios. Esses quí-micos naturais, extraídos dos insetos,podem ser usados para monitorar popu-lações, atrair os insetos em armadilhase também para alterar o comportamen-to dos mesmos prevenindo oacasalamento. Essa técnica tem sido uti-lizada comercialmente e com sucessopara controlar Spodoptera exigua empimentões e Keiferia lycopersicella emtomates. Plantas modificadas genetica-mente também estão contribuindo parao MIPD. Plantas transgênicas contendoos genes responsáveis pela proteína tó-xica Bt estão controlando Leptinotarsadecemlineata em batata. Como é de co-nhecimento geral, fatores climáticos afe-tam a qualidade e a produtividade dasculturas e também a severidade do ata-que de pragas e doenças, portanto, da-dos climáticos para previsão de doen-ças são importantes fatores para a to-mada de decisão dos produtores. Taistecnologias são significantes constitu-intes do futuro MIPD que poderão, as-sociadas a outros métodos atualmenteutilizados, produzir abundante alimen-to a um preço razoável.

EXEMPLO DE UM MIPD BEMSUCEDIDO - DOENÇAS

VIRÓTICAS EM HORTALIÇAS

Doenças viróticas têm sido consis-tentemente um problema para a produ-ção das hortaliças em várias partes domundo. Produtores têm constantemen-te aplicado pesticidas para controlar osvetores de vírus ou expandido a áreaplantada como tentativa de minimizar

os prejuízos. Um importante objetivo é,todavia, aprender como manejar as do-enças viróticas sem investir em umagrande área de plantio ou na aplicaçãodemasiada de pesticidas. Uma possibi-lidade será o uso de sistemas de previ-são de doenças, associados a váriastecnologias de identificação de fatoresepidemiológicos e fatores do ambienteque proporcionam o desenvolvimentode doenças viróticas.

Pragas e doenças na agricultura seestendem além de determinada área cul-tivada e melhores resultados para o con-trole dessas doenças e pragas são obti-dos com atuações de âmbito regional.Inóculos de patógenos que se dissemi-nam por meio de correntes aéreas resul-tam em doenças que exibem padrões dedesenvolvimento baseado na distribui-ção das fontes de inóculo na região.Todavia, controle baseado na análise dadistribuição espacial do patógeno deveser considerado para as doençasviróticas. Para uma virose causar umaepidemia significante, a fonte de vírusdeve estar em uma proximidade de 50 a150 metros da área de cultivo. A proba-bilidade de hospedeiros alternativos es-tarem próximos à área de cultivo depen-de da região.

A avaliação de risco utiliza dados doSistema de Informação Geográfica(SIG) (coordenadas geográficas da re-gião), do Sistema de PosicionamentoGlobal (SPG) (identificam as coordena-das geográficas) e da geoestatística (aná-lise geográfica) para identificar padrõesgeográficos de desenvolvimento de epi-demias. Usando esse conjunto de avan-çadas tecnologias, dados podem ser

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179Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

coletados, armazenados, analisados ecomparados anualmente para cada áreae conclusões podem ser obtidas sobreos padrões de distribuição das doenças.Modificações nas práticas culturais deuma determinada lavoura podem serrecomendadas para a redução das per-das devido a doenças. Tais informaçõespodem também ser usadas para o esta-belecimento a longo prazo de sistemasde produção, visando hortaliças de altaqualidade.

A avaliação dos riscos antes do plan-tio torna-se um ponto crítico no progra-ma de controle de viroses. Risco é pro-duto de dano e exposição (Risco = danox exposição). Dano é a medida desuscetibilidade de uma planta ao vírusque varia entre 0 (resistente) e 1 (susce-tível). Considerando o fato de que nãose tem conhecimento de quais vírusocorrerão na lavoura e muito menos atolerância da mesma à infecção por es-ses vírus, os danos no plantio de, por

exemplo, tomate, são sempre conside-rados. Da mesma forma, exposição é aparte do ciclo de vida da planta na quala mesma é suscetível ao vírus. Plantasque estejam próximas à fonte de inóculotêm alto risco de serem expostas aosvírus e devem ser evitadas ou tais fon-tes devem ser removidas antes do plan-tio. Um sistema numérico de avaliaçãotem sido desenvolvido para ajudar aquantificar o risco relativo do plantio dedeterminada área. Se duas áreas com ca-racterísticas semelhantes estão disponíveispara o cultivo, a área com menor risco dedoença deve ser usada para o plantio.

SISTEMA DE PREVISÃO DEFATORES CLIMÁTICOS EMANEJO DA QUEIMA-DO-

SALSÃO

No passado, o controle da queimado salsão (Septoria apiicola) incluía

doze aplicações de fungicidas. Essaspulverizações eram baseadas somentenos estágios de desenvolvimento daplanta e não na presença do patógeno, oque resultava em aplicações desneces-sárias de fungicidas. Uma vez que nãose dispõe de cultivares resistentes, apli-cações regulares de fungicidas são es-senciais para o controle efetivo da do-ença. Atualmente, essas aplicações temsido possíveis com o uso de um sistemade previsão de doenças que utiliza fato-res climáticos, tais como temperatura eperíodo de molhamento foliar favorá-veis a infecções de S. apiicola. Com aimplementação do sistema de previsãoTOM-CAST e o uso de uma escala deseveridade da doença, produtores desalsão estão economizando de quatro aseis aplicações por estação de cultivo,dependendo da localização da área.

TOKESHI, H.; HARADA, D.Y. Controle integrado de doenças de espécies olerícolas. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, p. 179-182, 1997. Palestra.Suplemento.

Controle integrado de doenças de espécies olerícolas.Integrated disease control in vegetable species.

Hasime Tokeshi1; Douglas Y. Harada2

1 USP-ESALQ, Depto. de Fitotecnia, 13.416-130 Piracicaba - SP; 2 Fundação Mokiti Okada (MOA), C. Postal 33, 13.506-000 Ipeúna - SP.

Palavras-chave: doenças de solo, agricultura sustentável, agricultura orgânica, alface (Lactuca sativa), Sclerotinia sclerotiorum, batata(Solanum tuberosum), requeima (Phytophthora infestans), murcha-bacteriana (Ralstonia solanacearum).Keywords: soil-borne diseases, sustainable agriculture, organic agriculture, lettuce (Lactuca sativa), Sclerotinia sclerotiorum, potato(Solanum tuberosum), late blight (Phytophthora infestans), bacterial wilt (Ralstonia solanacearum).

INTRODUÇÃO

O constante desaparecimen to dos cinturões verdes de produção de hortaliças nas

regiões canavieiras do estado de SãoPaulo tem sido atribuído a causas di-versas. Isto no entretanto está intima-mente relacionado à poluiçãoambiental dos canaviais por herbicidas,que atingem as hortaliças diretamentepela deriva pelo ar ou indiretamentepelas águas de irrigação. Fatos comoestes estão ocorrendo em vários locaise nos mostram que a poluiçãoambiental nos atinge constantementevia alimentos contaminados.

A crescente concientização sobre oimpacto dos agrotóxicos na saúde dohomem, animais e plantas, na contami-nação da água, na degradação do solo ena perda dos inimigos naturais, nos obri-ga a refletir e cogitar sobre uma posturaque a sociedade como um todo tem odever de assumir, assim como o deverde buscar soluções. Deixar para as ge-rações futuras o meio ambiente comoherdamos dos antepassados é a nossaobrigação.

Avanços tecnológicos dos agroquí-micos biológicos, sem dúvida, uma con-quista valiosa que devemos respeitar eadotar na medida em que não agridam anatureza. Buscar soluções alternativas

e formar pesquisadores conscientes éuma meta para aqueles que tem comoideal um futuro saudável para as gera-ções futuras.

MÉTODOS DE CONTROLEINTEGRADO DE DOENÇAS

DO SOLO

No controle integrado das doençasdas espécies olerícolas a maior dificul-dade está relacionada ao cultivo inten-sivo do solo, área limitada, proximida-de das culturas, falta de cultivares re-sistentes às doenças e dificuldade einviabilidade do uso de rotação de cul-

BOLKAN, H. Manejo integrado de pragas e doenças em hortaliças.

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180 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

tura. O problema é agravado nas doen-ças do solo onde o patógeno se mantémviável por anos sem que se possa apli-car medidas eficientes de controle. En-tre os patógenos do solo destacamosFusarium, Rhizoctonia, Pythium,Sclerotinia, Sclerotium, P.solanascearum e nematóides que sãoagressivos em solos desestruturados,mal drenados, compactados, com baixoteor de matéria orgânica e com o míni-mo de atividade biológica. Todos elestem como ponto comum a necessidadede solos degradados, elevada umidadesuperficial e baixa atividade biológica.

Para controle das doenças do solonecessitamos de conhecimentos das ati-vidades fisico-químicas e biológicas dosolo, pois é neste ambiente integrado,complexo e multidisciplinar que as me-didas de controle irão atuar. Os avançosdas pesquisas na área de agricultura or-gânica, biodinâmica e sustentável estãocada vez mais enfatizando a importân-cia da estruturação do solo e da ativida-de microbiológica no controle destesorganismos.

Dezenas de produtores do cinturãoverde do estado de S. Paulo soluciona-ram os problemas mencionados, aumen-taram a rentabilidade, reduziram a po-luição ambiental, controlaram erosão,diminuíram a irrigação e mostraramnovos paradigmas a serem adotados.Entre os pioneiros da técnica selecio-nou-se como modelo um produtor en-quadrado dentro do sistema de agricul-tura sustentável usandomicroorganismos eficientes (EM). Se-gundo depoimento do produtor, o pre-paro do solo foi sempre feito com enxa-da rotativa, de oito a doze vezes ao ano,e o solo foi cultivado com espéciesolerícolas com o emprego de todos osadubos solúveis, corretivos, inseticidas,fungicidas, bactericidas e nematicidasdo mercado. Com o aumento na utiliza-ção de insumos agrícolas, as doençasmurchadeira-da-batata, podridão-de-esclerotínia, esclerócio, fusário, tomba-mento e nematóides passaram a infes-tar todas as áreas cultivadas, causandoperdas irreparáveis. Devido à degrada-ção do solo, erosão, doenças do solo,pragas, baixa produtividade e problemasfinanceiros a empresa foi à falência. Naimpossibilidade de comprar insumos

agrícolas e na falta de crédito, o pro-dutor foi obrigado a buscar soluções al-ternativas e passou a empregar o EMem associação com adubações verdes,feitas com plantas invasoras e restos decultura. Durante todo o período man-teve a enxada rotativa no preparo dosolo, de oito a doze vezes ao ano, comosempre fez. Dois a três anos após a mu-dança do sistema observou que o soloficou fofo e a frequência da irrigaçãomudou de duas a três vezes por sema-na para uma irrigação a cada sete a dezdias. A erosão não era mais problemae a produtividade voltou a ser alta, pre-coce e de ótima qualidade, desapare-cendo também os problemas de pragase doenças do solo.

Diante dos fatos relatados, procuran-do averiguar a sua veracidade, avaliou-se nestas áreas a estruturação do solopela sua compactação, velocidade deinfiltração básica de água, infiltração detinta e porosidade como possíveis fato-res responsáveis pela supressividade dasdoenças do solo (Tokeshi et al., 1993).Neste trabalho avaliou-se estatistica-mente, com penetrômetro de impacto, acompactação do solo abaixo da camadaarável de duas áreas, com e sem aplica-ção do sistema EM. Os resultados (Ta-bela 1) mostraram que o solo com EMestá sem pé-de-grade de 0 a 41 cm deprofundidade e este solo superou o con-trole quanto à compactação em até317%. Já a velocidade de infiltração da

edadidnuforP otnematarTropsadacnaP

ortemíced 1

adotnemuA%oãçatcapmoc

32-12 ramoP b76,3 713

32-12 ME a88,0 0

52-32 ramoP b48,3 951

52-32 ME a64,1 0

72-52 ramoP b87,3 111

72-52 ME a97,1 0

92-72 ramoP b24,3 39

92-72 ME a77,1 0

13-92 ramoP b93,3 811

13-92 ME a55,1 0

33-13 ramoP b41,3 58

33-13 ME a96,1 0

53-33 ramoP b21,3 97

53-33 ME a47,1 0

73-53 ramoP b98,2 46

73-53 ME a67,1 0

93-73 ramoP b26,2 33

93-73 ME a69,1 0

14-93 ramoP b76,2 24

14-93 ME a88,1 0

Tabela 1 - Média de compactação de solo no subsolo de áreas com (EM) e sem(pomar) aplicação de microorganismos eficazes (EM).

Médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente entre si a 5% de probabilidade.

TOKESHI, H.; HARADA, D.Y. Controle integrado de doenças de espécies olerícolas.

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água de chuvas em duas áreas com EMfoi de 26,72 e 49,15 cm/h, contra 8,90 e2,65 cm/h nos respectivos controles. Osaumentos de infiltração foram de 232 e1.762% respectivamente e explicam cla-ramente o controle de erosão observa-do pelo produtor. As medidas de infil-tração de tinta e porosidade dos solosconfirmaram os dados apresentados.

Devido à similaridade das condiçõesde umidade requerida por Sclerotiniasclerotiorum e os outros patógenos dosolo controlados pelo sistema, escolheu-se este fungo como modelo de estudopela facilidade de avaliação, tamanho doinóculo, importância econômica e pos-sibilidade de repetir a experimentação,porque a doença ocorre anualmente deabril a setembro naquele local. Testou-se a hipótese de que o pé-de-grade mu-dava a umidade do solo e estimulavaassim a produção de apotécios (corposde frutificação) de S. sclerotiorum, estefato estando relacionado àsupressividade do solo sem pé-de-gra-de. Assim Tokeshi et al. (1995) avalia-ram em dois experimentos o número deescleródios férteis e abortados, númerode apotécios por escleródios e umidadedo solo. Determinou-se que a umidadesuperficial do solo é um dos principaisfatores que controlam a produção eabortamento de apotécios. Dos resulta-dos e análises destacamos os seguintesmecanismos de controle: a) redução donúmero de apotécios; b) abortamento deescleródios germinados; c) redução donúmero de apotécios do solo;d)competição por nutrientes na superfí-cie da planta; e) efeito dos camalhões ef) evasão (Tokeshi, 1991ab). Na tabela

2 são apresentados os resultados médi-os do número do apotécios em dois anosde experimentação em solo cultivadocom EM. Em ambos os experimentos osolo supressivo reduziu o número deapotécios produzidos e diferiu estatisti-camente dos demais tratamentos a 5%de probabilidade. No solo supressivo aesporulação não coincide com o perío-do suscetível e a planta evade dopatógeno ao mesmo tempo que destróio inóculo do solo.

MÉTODO DE CONTROLEINTEGRADO DE DOENÇAS

DA PARTE AÉREA

Dentre as plantas cultivadas nos so-los supressivos destacamos a cultura dabatata (Solanum tuberosum) que vemsendo cultivada por quatro anos no mes-mo solo, com a mesma semente. Estaspráticas deveriam causar epidemias deviroses, doenças foliares, nematóides emurchadeira-da-batata. No entanto,mesmo sem as aplicações de inseticidas,nematicidas e fungicidas, todos os agen-tes mencionados estão presentes, mas osdanos são desprezíveis. No caso espe-cífico da requeima (Phytophthorainfestans), o controle é feito com a cal-da bordalesa, aplicada de três a cincovezes no ciclo da cultura. O controle ésempre associado ao uso de cultivaresresistentes ao fungo. Para verificar se aresistência genética faz parte do siste-ma, foram instalados, em 1996, dois tes-tes de cultivares. No primeiro usou-seas cultivares Bintje (suscetível), Aracy(de resistência intermediária) e Itararé(resistente). Verificou-se que as cultiva-

res com resistência alta e intermediáriaproduziram adequadamente, pois a do-ença só ocorreu tardiamente, após a fasede formação dos tubérculos. Cultivaressuscetíveis, como a Bintje, são impró-prias para o sistema e não são utilizadaspelo produtor, pois morrem antes de for-mar tubérculos.

No segundo teste, feito de agosto aoutubro, com as cultivares Baraka (re-sistência intermediária) e Itararé (resis-tente), os resultados foram semelhantesDurante os quatro anos de cultivo dabatata na mesma área, foram observa-dos focos isolados da murchadeira-dabatata, que não aumentaram de tama-nho, indicando a falta de dispersão dabactéria para as áreas e plantas vizinhas.Os dados obtidos contrastam com ou-tros cultivos da região que usualmenterecebem de quinze a vinte aplicações deagroquímicos para o controle de doen-ças e pragas.

CONCLUSÕES

Os métodos alternativos de controlede doenças apresentados atuam basica-mente no ambiente do solo, fitoplano erizoplano das plantas. Osmicroorganismos responsáveis pelasmudanças agem indiretamente mudan-do as propriedades fisico-químicas dosolo, a fisiologia da planta, a competi-ção por nutrientes, o antagonismo, aantiniose e o parasitismo nos patógenos.Procurar manter o equilíbrio energéticodo ecossistema; a biodiversidade dasplantas; conservar o solo biologicamen-te ativo (vivo) e respeitar asinterligações dos seres vivos da nature-za são a chave do controle integrado dedoenças e pragas.

A redução da frequência de irriga-ção, maior infiltração de água, aumentode capacidade de retenção de água eausência de compactação aparentementeforam as causas da transformação dosolo conducente em solo supressivo aS. sclerotiorum e possivelmente tambéma outros patógenos do solo. A reduçãode 50% de tempo necessário para trans-formar o solo de agricultura tradicionala sustentável é um dos grandes benefí-cios do sistema estudado. O sistema deagricultura sustentável com EM requersempre o uso de cultivares resistentes

)mc(odarAedéPsolossonsoicétopaedoidémoremúN

seõçitepeRotiO seõçitepeRzeD

MElarutaN a6,1a0,54

51 b5,4b0,831

01 ba6,2b0,101

5 ba6,0b0,39

Tabela 2 - Número de apotécios de Sclerotinia sclerotiorum em solos com umida-de diferentes.

Médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente entre si a 5% de probabilidade.

TOKESHI, H.; HARADA, D.Y. Controle integrado de doenças de espécies olerícolas.

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associado à biodiversidade de plantas eà manutenção do equilíbrio biológicodos agentes de controle das pragas edoenças.

LITERATURA CITADA

TOKESHI, H. Manejo da microflora epífita no con-trole de doenças de plantas. In: REUNIÃOBRASILEIRA SOBRE CONTROLE BIO-LÓGICO DE DOENÇAS DE PLANTAS, 6.,1991, Campinas, SP. Anais... Campinas:

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183Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

BOVI, M.L.A. Expansão do cultivo da pupunheira para palmito no Brasil. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, p. 183-185, 1997. Palestra. Suplemento.

Expansão do cultivo da pupunheira para palmito no Brasil.Expansion of pejibaye cultivation for palm-core production in Brazil.

Marilene L.A. BoviInstituto Agronômico de Campinas, C. Postal 28, 13001-970 Campinas - SP. [email protected]

Palavras-chave: Bactris gasipaes, aspectos históricos, estatísticas de produção, sementes, mudas, técnicas de cultivo.Keywords: Bactris gasipaes, historical aspects, production figures, seed, plantlet, cultivation techniques.

INTRODUÇÃO

O cultivo da pupunheira vemdespertando, nos últimosanos, o interesse de agricul-

tores de todo o país. Esse interesse édevido, principalmente, à busca de no-vas opções de cultivo em substituiçãoaos tradicionais, em virtude dos baixospreços alcançados por esses últimos nomercado.

É preciso ser dito que o palmito éextraído de um grande número de gêne-ros e espécies de palmeiras. Os fatoresque fazem com que uma espécie sejapreferida a outra, são principalmente:abundância, palatabilidade, cor, forma-to, ausência de princípios tóxicos, ren-dimento e facilidade de extração. Con-siderando esses atributos, palmeiras dogênero Euterpe vem sendo as preferi-das. No entanto, devido à alta taxa deexploração de palmeiras desse gênero eo relativamente baixo poder de regene-ração presente em espécies de Euterpe,há atualmente, falta de produto de boaqualidade. Palmeiras mais precoces e queproduzam bom palmito têm sido busca-das. Dentre estas tem merecido destaquea pupunheira (Bactris gasipaes).

Nativa da América Latina, há gran-de variedade de raças e ecótipos depupunheira (Mora-Urpí et al., 1993). Noentanto, o tipo inerme é o que tem cha-mado mais atenção de pesquisadores einteressados no seu cultivo para palmi-to. Isso porque, quando se busca substi-tuir uma exploração por um cultivo,deve-se procurar no substituto as mes-mas qualidades do produto antigo e depreferência, algumas qualidades ausen-tes naquele. A pupunha, especialmentee sem espinhos, possui quase todas as

características desejáveis de palmeiras dogênero Euterpe, acrescidas ainda de al-gumas vantagens adicionais, quais sejam:crescimento acelerado (precocidade),perfilhamento, rusticidade e alta sobre-vivência em campo. Com relação ao pal-mito propriamente dito, difere em rela-ção ao sabor (mais doce) e à coloração(mais amarelada) (Ferreira et al., 1988).

INTERESSE NO CULTIVO

O interesse no cultivo da palmeirapupunha para palmito no Brasil surgiua partir da divulgação do trabalho deCamacho e Sória, na Costa Rica, feitoem congresso em 1970 (Camacho &Sória, 1970). Dessa data em diante, al-gumas instituições brasileiras de pesqui-sa, tais como o INPA (Instituto Nacio-nal de Pesquisa da Amazônia), o IAC(Instituto Agronômico de Campinas) ea CEPLAC (Comissão Executiva doPlano da Lavoura Cacaueira) começa-ram a realizar pesquisas nessa área. Se-mentes foram importadas daquele país ecoleta e preservação do material genéti-co foram efetuadas, com o patrocínio deentidades internacionais (Clement, 1983;Clement & Coradin, 1985). Os primei-ros resultados de pesquisa com apupunheira para a produção de palmitono Brasil começaram a ser divulgados apartir de 1978 (Germek, 1978; Germeket al., 1981; Gomes, 1983; Bovi et al.,1988; Clement et al., 1988).

INÍCIO DO CULTIVO

Embora houvesse sementes disponí-veis em pequena escala a partir de 1976,o cultivo da palmeira pupunha não tevegrande avanço na década de 70. Ape-

nas alguns plantios pioneiros, pequenose destinados principalmente à produçãode frutos foram implantados no Acre,Rondônia, Pará e Bahia. O interesse peloseu cultivo para a produção de palmitoera muito pequeno, devido principal-mente a ocorrência de espinhos. Acos-tumados com palmeiras inermes e emabundância na natureza, os palmiteirosrecusavam-se a pensar no cultivo depalmeiras com espinhos, nas quais a re-gião do corte para palmito não se mos-trava tão claramente. Germoplasma comalta taxa de plantas sem espinhos foiidentificado no Brasil, Peru e Costa Ricae coletado no início da década de 80(Clement et al., 1982; Mora-Urpí, 1984).

Os dados documentados são escas-sos em relação aos primeiros cultivoscomerciais da pupunheira para palmitono Brasil. Considera-se que o primeiroplantio visando especificamente a pro-dução de palmito foi feito no Acre, pelaBONAL, em meados da década de 80.Antes disso já havia relatos de uso dapupunheira para a produção de palmito,mais especificamente extração de pal-meiras nativas, com espinhos, originári-as do Pará. Foi dessa forma que o Insti-tuto de Tecnologia de Alimentos (ITAL)conseguiu material para a primeira ca-racterização do palmito da pupunheiraem relação às espécies até então mais uti-lizadas (Ferreira et al., 1982).

Em decorrência dos bons resultadosobtidos pela pesquisa com o materialinerme na década de 80 e da escassezda matéria prima usual (Euterpe spp.),devido a extração indiscriminada e pre-datória, alguns empresários iniciaramestudos visando o cultivo em larga es-cala da pupunheira. Os interessados es-barraram, logo de início, na ausência desementes em quantidade suficiente para

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iniciar os seus plantios. Embora o INCA,o IAC e a CEPLAC já dispusessem dematerial genético inerme com certo ní-vel de seleção, não o possuíam em lar-ga escala. Vale aqui mencionar que asinstituições de pesquisa vem sendo mui-to cobradas a esse respeito. Do pontode vista de agricultores e empresários,caberia a essas instituições a produçãoem escala comercial de material seleci-onado. No entanto, sabemos da falta derecursos que essas instituições enfrentamaté mesmo para a condução de um núme-ro limitado de experimentos. Dessa for-ma, pode-se dizer que, embora a partir de1980 tenha aumentado o interesse no cul-tivo da pupunha para palmito, esse inte-resse foi cerceado pela falta de sementesde material inerme em quantidade.

EXPANSÃO DO CULTIVO

O cultivo da pupunheira para palmi-to no Brasil teve expansão considerávele caráter mais empresarial a partir de1988. Dessa data em diante alertadospela notícia da existência de populaçõesnas diversas regiões onde foram testa-das (Clement et al., 1988; Bovi et al.,1988), empresários começaram a envi-ar pessoas para adquirir sementes dire-tamente da região de origem do materi-al sem espinho (Yurimaguas, Peru). Se-mentes em grande quantidade foramtransportadas para diversas regiões noBrasil, sem nenhum controle e com pou-co tratamento fitossanitário. Vendedo-res de sementes começaram a anunciarnos principais dos estados e estas forampostas à disposição de grandes e peque-nos agricultores.

Devido à grande demanda, o preçodas sementes atingiu seu máximo em1994-95, variando entre 30 e 35 dólareso quilo para pedidos de grande quanti-dade e de 40 a 120 dólares o quilo paramaterial vendido a granel (1 a 5 quilos).Os primeiros viveiros particulares, des-tinados exclusivamente à venda de mu-das, foram implantados a partir de 1991,em vários estados e utilizandotecnologias diversas. O preço das mu-das alcançou seu máximo em 1994-95,com valores em torno de R$ 2,50 a 3,20a unidade. Plântulas recém-germinadas(uma a duas folhas - 8 a 10 cm de altu-

ra) foram vendidas como mudas, atin-gindo preços de R$ 0,60 a R$ 1,20 aunidade. Atualmente, devido à grandeoferta, o preço da semente peruana estáentre R$ 8 a 15,00 o quilo. Mudas bemformadas são comercializadas entre R$0,40 a 1,20 a unidade.

ESTIMATIVAS DA ÁREAATUAL DE PLANTIO DE

PUPUNHEIRA NO BRASIL

Devido ao fato de mais de 70% dapossível área plantada com pupunheirapossuir menos de dois anos de idade,ainda não existe informação segura acer-ca dos cultivos realmente consolidados.Na falta de estatística de produção obti-das nas fábricas ou nos órgãos oficiais(IBAMA, CACEX, órgãos de extensão,etc) é possível fazermos uma projeçãoaproximada baseada na importação desementes. Sabe-se que pelo menos 90%dos plantios são feitos com sementes deorigem peruana.

Embora de registro impreciso, dadoo caráter não oficial dessa importaçãode sementes, estima-se que entre 1990e 1997 entraram no país pelo menos 120toneladas de sementes originárias doPeru. Estima-se ainda que cerca de mais20 toneladas tenham sido produzidas noperíodo, no Brasil (Amazonas, Pará,Rondônia, Acre e Bahia) ecomercializadas em vários estados bra-sileiros. O processo de importação e dis-tribuição de sementes foi tão intensonesse período que ultrapassou frontei-ras. Material vindo do Peru chegou atéo Brasil e daqui para o Paraguai, Uru-guai e Argentina. Nos últimos três anos,uma rota alternativa (Peru, Costa Rica,Brasil) também tem sido utilizada. De-vido ao comércio intenso, com a pre-sença de inúmeros intermediários noprocesso, é difícil traçar o destino finaldessa semente. Seguindo apenas os pas-sos do primeiros e segundo repasse, su-põe-se que o estado de Espírito Santotenha recebido 39,3% desse total, sen-do seguido pelos estados de São Paulo(24,1%), Rondônia (10,8%), Pará(10,6%), Bahia e Rio Grande do Norte(3,2% cada), Mato Grosso (2,4%),Goiás (2,0%), Rio de Janeiro (1,3%),Acre (1,2%), Paraná (0,9%), SantaCatarina (0,6%) e Minas Gerais (0,4%).

Deve ser lembrado que, do total de se-mentes introduzidas no Espírito Santo,apenas 53,8% ficou no estado. O res-tante foi enviado em forma de mudas,para vários outros estados, especialmen-te Minas Gerais, Bahia, São Paulo,Alagoas e Rio de Janeiro. É preciso men-cionar ainda que é difícil quantificar se-mentes introduzidas no Estado do Ama-zonas. Cremos que aí os plantios foramfeitos com material de origem peruanamas já produzido no próprio estado.

Partindo da hipótese de que todo omaterial introduzido tenha sido transfor-mado em mudas e que estas tenham sidode fato plantadas, pode-se estimar queo Brasil possua cerca de 28.000.000 depés de pupunha ou uma área aproxima-da de 5.600 hectares (5.000 plantas/ha)cultivados com material de origem pe-ruana, visando especialmente a produ-ção de palmito. No entanto, em nossaopinião, essa estimativa é maior que ototal realmente implantado. Vários fa-tores têm contribuído para isso. Relata-remos abaixo aqueles que consideramosmais importantes.

PRINCIPAIS PROBLEMAS NAFORMAÇÃO DE MUDAS

Grande parte das perdas ocorreainda no viveiro. É nessa fase que mui-tos projetos de implantação do cultivoda pupunheira para palmito terminam.Já observamos perdas de mais de 80%das mudas causadas por um conjunto defatores. As decisões tomadas nesta eta-pa são muito importantes e diretamenteresponsáveis pelo sucesso futuro doempreendimento. Mudas bem formadasapresentam baixa mortalidade a campoe maior precocidade, alcançando idadede corte significativamente mais cedodo que as de formação mediana.

Vários são os fatores que levam aoinsucesso nesta fase. Merecem destaque:sementes e/ou mudas de má qualidadee sem tratamento fitossanitário adequa-do; falta de experiência em agricultura,que leva a escolha inadequada do localdo viveiro, falta de infra-estrutura básicae ausência de cronograma; economia demão-de-obra em viveiro e; informaçõesagronômicas incompletas, incorretas ouinadequadas para a situação local.

BOVI, M.L.A. Expansão do cultivo da pupunheira para palmito no Brasil.

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PRINCIPAIS PROBLEMAS NOPLANTIO E CONDUÇÃO

Como discutido acima, a maior par-te dos problemas aparecem já na forma-ção ou obtenção de mudas. Alguns ou-tros, muito decorrentes daqueles apon-tados acima, ocorrem na fase de cam-po. A falta de experiência em agricultu-ra, associada ao excesso de otimismo eàs promessa de vendedores de semen-tes e viveiristas leva, com frequência, àescolha inadequada de área para plan-tio. Áreas com condições climáticascompletamente inadequadas têm sidousadas. A falta de experiência em agri-cultura faz com que, ainda nesta fase,não seja estabelecido um cronograma detarefas. Outro problema que surge é aeconomia tardia. Gastou-se muito coma semente, com a formação ou aquisi-ção de mudas. Começa-se então a eco-nomizar, visando diminuir os custos deimplantação. Elimina-se preparo do soloe adubação de fundação, diminui-se ir-rigação e adubação de manutenção.Depois disso tudo, espera-se que a plan-ta tenha o desenvolvimento e a produti-vidade descrita em boletins informati-vos dos principais institutos de pesqui-sa que trabalham com a cultura.

RECOMENDAÇÕES AOSINTERESSADOS

Não resta dúvida de que, entre aspalmeiras utilizadas para palmito de boaqualidade, a pupunheira é precoce e re-lativamente rústica. No entanto, é umaespécie exigente em características fí-sicas do solo, especialmentecompactação e drenagem, necessita deadubação pesada para máxima produ-

tividade e correção de solo a cada qua-tro anos. A exigência em água tambémé elevada, sendo necessária irrigaçãoquando cultivada em áreas com déficithídrico. A pupunheira é sensível a al-gumas doenças importantes do ponto devista de disseminação e controle, taiscomo as causadas por Fusarium eErwinia.

Recomenda-se aos interessados nocultivo dessa palmeira que visitem asinstituições de pesquisa que trabalhamcom a espécie, procurando conhecer arealidade do cultivo (vantagens, desvan-tagens, solo e clima recomendado, prin-cipais problemas) e se assegurem da ido-neidade de vendedores de sementes eviveiristas. Se possível, fazer visitas aosplantios existentes em regiõesedafoclimáticas semelhantes às do lo-cal onde se pretende iniciar o cultivo.Em seguida, fazer uma boa escolha daárea onde será feito o plantio, iniciandocom pequenos lotes de sementes e for-mando suas próprias mudas. Posterior-mente, expandir o cultivo de acordo como desempenho da planta na região e comos objetivos aos quais se propuseraminicialmente.

LITERATURA CITADA

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186 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

CLEMENT, C.R. Pupunha: recursos genéticos para a produção de palmito. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, p. 186-191, 1997. Palestra. Suplemento.

Pupunha: recursos genéticos para a produção de palmito.Pejibaye: genetic resources for palm-core production.

Charles R. ClementINPA, C. Postal 478, 69011-970 Manaus - AM.

Palavras-chave: Bactris gasipaes. Videotipo, espinhos, coleções de germoplasma, política agrícola, melhoramento.Keywords:Bactris gasipaes. Videotype, spines, germplasm collections, agricultural policy, improvement.

A qualidade dos recursos ge néticos interage com o ma nejo agronômico para de-

terminar a produção biológica e econô-mica de um cultivo. No caso da pupunha(Bactris gasipaes Kunth), os povos na-tivos de Amazônia a América Centralnos deixaram recursos genéticos extre-mamente variáveis e bem adaptados aosagroecossistemas do trópico úmido.Embora estes povos tenham domestica-do a pupunha por seu fruto, seu palmitoé hoje uma agroindústria altamente ren-tável e que está se expandindo rapida-mente na América tropical. Felizmen-te, os povos nativos também deixarammuitos recursos genéticos excelentespara a produção de palmito, mesmo queeste uso fosse pouco importante paraeles. No presente trabalho, farei um le-vantamento do estado atual de conheci-mento sobre (1) o ideotipo de pupunhapara palmito, (2) a genética e a impor-tância de espinhos, (3) as populações depupunha com menor frequência de es-pinhos, (4) as coleções de germoplasmadisponíveis no Brasil e (5) as dificulda-des enfrentadas pelas instituições depesquisa para utilizar esse germoplasma.A informação disponível sobre os recur-sos genéticos da pupunha para a produ-ção de palmito é apreciável; no entanto,não basta para garantir a continuidade deum programa de melhoramento e a entre-ga de germoplasma de elite aos produto-res. Políticas agrícolas nacional e regio-nal, com apoio financeiro para pesquisa edesenvolvimento, são as pedras funda-mentais que estão faltando no Brasil.

UM IDEOTIPO DE PUPUNHAPARA PALMITO

Mora Urpí & Weber (1997) aprimo-raram o ideotipo apresentado por

Clement et al. (1988), propondo 19caracteres (Tabela 1). Este ideotipo émuito específico para um mercado (deexportação = dos supermercados), em-bora tenha um caráter que se refere aomercado in natura. O mercado innatura, no entanto, exigirá atenção àpresença de oxalato de cálcio, pois, napresença de uma enzima ativadora, oscristais causam irritação na boca e nagarganta e podem até causar reaçõesalérgicas com complicações médicasimportantes (N.Y. Nagai, Univ. Hawaii,com. pess., 1995). Também não está cla-ro se o mercado in natura exigirá pal-mitos pequenos. O mercado criado noHavaí por Clement et al. (1996) preferepalmitos maiores que os do supermer-cado. O mercado das churrascarias nãofoi considerado por Mora Urpí & Weber(1997), pois não há churrascarias namaior parte da América tropical. Em-bora o ideotipo proposto defina muitobem o ideal para o mercado de exporta-ção, todos os caracteres provavelmentetem herdabilidades baixas a médias(Clement, 1995), com a possível exce-ção da folha ereta (Mora Urpí & Weber,1997). Qualquer programa de melhora-mento que utilize este conjunto decaracteres para fazer um índice de sele-ção terá ganhos genéticos inexpressivos,pois quanto maior o número de caracteresmenor o ganho (Simmonds, 1979).

Clement (1995) propôs um ideotipomuito mais simples: pecíolo/ráquis semespinhos, alta taxa de crescimento rela-tivo (TCR), perfilhamento contínuo,baixa presença da enzima que combinacom o oxalato de cálcio e palmito debom tamanho (que tem uma relação ge-ral de ~1:2 p:p com a estipe comestí-vel). Com a possível exceção da enzima,todos estes caracteres têm herdabilidade

baixa (Clement, 1995). Este ideotipo uti-liza a TCR porque é mais flexível que aTAL, pois um fenótipo pode ter uma TCRalta como resultado de uma TAL alta oupor ter uma alta razão de área foliar (RAF)(Causton & Venus, 1981). Em termos prá-ticos, todas as tentativas de melhorar ge-neticamente a TAL fracassaram, enquan-to modificações da RAF já foramconseguidas em diversos cultivos (Gupta,1992), elevando assim a TCR.

A produção sustentável de um plan-tio de pupunha para palmito depende daTCR, do perfilhamento contínuo, do ta-manho dos palmitos, da densidade doplantio, da adubação e dos outros tratosculturais. A ausência de espinhos nopecíolo/ráquis facilita o manejo do plan-tio e o processamento dos palmitos, masfacilita também o ataque de pragas, tantoinsetos como mamíferos. Os parâmetrosagronômicos são controlados pelo agri-cultor e serão discutidos nesta mesa re-donda por Kaoru Yuyama.

O ideotipo de Clement (1995) é di-rigido à produção sustentável de palmi-to para qualquer dos mercados de inte-resse no Brasil. Por ter um número decaracteres reduzido, poderá permitir umganho genético mais rápido. No entan-to, a médio e longo prazo outroscaracteres do ideotipo de Mora Urpí &Weber (1997) terão de ser incluídos, con-forme os programas de melhoramentoalcancem suas metas preliminares e seespecializem para diferentes mercados.

A GENÉTICA E A IMPOR-TÂNCIA DE ESPINHOS

O plantio de pupunha para palmitono Brasil começou a expandir-se após aintrodução de germoplasma inerme deYurimaguas, Loreto, Peru (raça

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187Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

lha e intermediários. Existe uma classede tamanho de espinhos no pecíolo, amesma variação de formatos como en-contrada na estipe, e diferentes arranjosao longo do pecíolo: em três fileiras ouuniformemente (Clement, 1986).

Chávez Flores (1987) estudou a es-trutura genética dos espinhos da folhaem uma amostra da população deYurimaguas, em Manaus. Além da va-riação observada antes, observou-se quea densidade de espinhos no pecíolo di-minuiu com a idade em algumas plan-tas, ou seja, cada folha mais nova tevemenos espinhos e até em plantas madu-ras os pecíolos foram inermes. A densi-dade de espinhos no pecíolo apresentouuma herdabilidade sensu stricto de 0,35,enquanto espinhos na borda dos folíolose no nervo do folíolo apresentaram 0,25e 0,04, respectivamente. Clement (1995)estudou a estrutura genética do caráterespinhos no pecíolo em uma amostra dapopulação de Benjamin Constant (AM)(raça “macrocarpa” Putumayo), noHavaí. A densidade de espinhos apre-sentou herdabilidade sensu stricto de 0a 0,40, dependendo das progênies e lo-calidades incluídas na análise. Obser-vou-se que ambientes mais secos e va-riáveis aumentaram a densidade de es-pinhos. A densidade de espinhos dimi-nuiu com idade e apresentou diferença,diminuindo mais ou menos rapidamen-te, de planta para planta. Esta variaçãoem expressão apresentou herdabilidadede 0 a 0,22. As plantas em ambientesmais secos e variáveis foram mais len-tas a tornar-se inermes. A existênciadeste complexo de genes regulando aexpressão durante a maduração fisioló-gica da planta complica seriamente acaracterização de espinhos em pupunha.

Estas observações sugerem que es-pinhos na estipe e na folha são caracteresquantitativos com muita influência doambiente na sua expressão fenotípica.No entanto, estas observações não ques-tionam se a ausência é recessiva, o que,por sua vez, sugere que plantas inermessão menos heterozigotas que plantasarmadas e podem apresentar depressãoendogâmica como conseqüência. Isto éa base genética da suposição que plan-tas inermes são menos produtivas queplantas armadas.

Existem diversas comparaçõespossíveis que avaliam a importância de

Tabela 1. Ideotipo de pupunha para a produção de palmito para os mercados deexportação (processado; em vidro ou lata) e in natura. Manaus, INPA, 1997.

sepitsE

sohnipsemessónertne

oãçacifingilatiummes,sevaussodicet

g003>levítsemocepitse

sahloF

sohnipsemessiuqar/oloícep

adirpmoceevausahniab

atereeatrucanimâl

atla)LAT(adiuqíloãçalimissaedaxat

sohlifreP

sesem6<,ecocerpoãçaicnerefid

ona/epitse/4>,asoremunoãçudorp

odipárotnemicserc

otimlaP

epitseedortemâidedmc9moc,sesemezod<mocetrocoriemirp

sesem42soaodnaçemoc,ona/sariecuotortauq>launaoãçudorp

g051>edadilauqariemirpedotimlap

ocnarbroc

etnelecxerobas

otnemassecorparaporiehcmes,arutanniomusnocaraplarutanoriehc

epitse-ad-acorbàeahlof-ad-oracáoaetnetsiseR

acifícepseartnioãçitepmocàetnareloT

acimônorgaoãçatpadaalpmA

Modificado de Mora Urpí & Weber (1997).

“mesocarpa” Pampa Hermosa), no iní-cio do anos 80s, pelo M.Sc. WandersChávez-Flores, então do INPA. No en-tanto, na Costa Rica e outros países deAmérica tropical é comum ouvir quepupunha armada é superior a pupunhainerme. Recentemente esta opinião tam-bém está ganhando adeptos na Amazô-nia. Villachica (1996) afirma que plan-tas armadas produzem 7% mais palmi-to que plantas inermes. Clement (1996)examinou esta questão em detalhe, poisVillachica (1996) não apresentou dadose Bovi et al. (1992) encontraram que apupunha da Costa Rica (raça desconhe-cida) apresentou uma correlação nega-tiva (r = -0,22) entre número de espi-nhos e peso do palmito, sugerindo a su-perioridade de pupunha inerme.

A presença de espinhos é primitivaem Bactris (Uhl & Dransfield, 1987) e

sua presença parece ser um caráter do-minante (Mora Urpí, 1984), mas isto nãotem sido confirmado experimentalmen-te. A pupunha é potencialmente armadacom espinhos na estipe, no pecíolo/ráquis, na nervura central dos folíolos(raramente nas nervuras laterais), nasbordas dos folíolos e na espata. A pri-meira hipótese sobre a estrutura genéti-ca da armação da estipe era que a pre-sença ou ausência fosse um caráterMendeliano simples, com poucos genesque modificam sua expressão em termosde densidade (Mora Urpí, com. pess.,em Kerr & Clement, 1980). MoreraMonge (1981) encontrou três classes decomprimento dos espinhos da estipe,bem como variação contínua na densi-dade de cada classe. Clement (1986)encontrou variação no formato dos es-pinhos, com formatos de espada e agu-

CLEMENT, C.R. Pupunha: recursos genéticos para a produção de palmito.

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188 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

Tabela 2. Porcentagem de diferença1 entre as médias (± o desvio-padrão) de plan-tas inermes (0) e armadas (+) para o número de perfilhos, no momento do primeirocorte, em seis progênies de pupunha de Benjamin Constant (raça Putumayo) plan-tadas nas estações experimentais de Ninole e Poamoho, Havaí, de 1992 a 1995.Manaus, INPA, 1997.

seinêgorP

1 2 3 5 8 9 aidéM

eloniN

0 5,2±0,01 8,2±0,9 2,2±0,7 1,3±9,9 8,2±8,6 4,2±7,7 3,1±4,8

+ 1,3±5,9 3,2±7,7 2,2±9,6 1,3±6,8 2,2±1,6 6,2±4,6 2,1±5,7

.fid% 1,5 5,61 7,0 4,51 9,21 5,91 4,11

ohomaoP

0 1,2±6,8 7,2±6,8 2,2±5,8 6,2±1,01 7,1±9,7 5,3±7,8 7,0±7,8

+ 1,3±3,9 4,1±0,9 7,1±3,7 8,3±7,8 7,1±1,7 1,2±4,7 9,0±1,8

.fid% 4,7- 9,4- 2,71 8,61 9,9 4,71 3,7

1 % diferença = [(inerme - armada) ¸ armada] * 100; então, as diferenças a favor de inerme apresentamum sinal positivo e as a favor de armada apresentam um negativo.

espinhos: comparações entre populaçõesmais e menos armadas, entre indivídu-os armados e inermes em uma popula-ção e entre indivíduos armados e iner-mes em uma progênie. Todas são im-portantes para produtores e melhoristas,mas é importante distinguir entres estascomparações pois não são equivalentes.Comparações entre populações são prin-cipalmente sobre a adaptação de umconjunto de genótipos aoagroecossistema em que se encontram.A armação é apenas uma pequena partedo genótipo, de forma que influi poucona adaptação da população ao local. Noentanto, esta comparação é importante,pois a maioria das sementes disponíveisno mercado hoje são de populações.Clement (1996) mostrou que a popula-ção de Yurimaguas (93% inerme) era10% superior em peso de palmito emuma localidade e a população de Benja-min Constant (79% inerme) era 5% su-perior em outra localidade no Havaí,mostrando a importância das interaçõesgenótipo x ambiente nesta comparação.

A comparação entre indivíduos ar-mados e inermes em uma populaçãotambém é principalmente sobre a adap-tação de um conjunto de genótipos (comalguns genes para armação) a uma lo-calidade. Esta comparação é importan-te porque pode identificar plantas pro-missoras para programas de melhora-mento. Bovi et al. (1992) encontraramuma correlação de r = -0,22 entre nú-mero de espinhos e peso do palmito. Ocoeficiente de determinação resultante éapenas r2 = 0,05, ou seja, 5% da variaçãono peso do palmito pode ser explicadapela densidade de espinhos nas plantas.Clement (1996) encontrou um r2 = 0,005*

em favor de plantas inermes em uma lo-calidade e r2 = 0,002ns em favor de plan-tas armadas em outra localidade, maisuma vez mostrando a importância deinterações genótipo x ambiente e a pou-ca importância da armação como com-ponente da produtividade.

A comparação de indivíduos arma-dos e inermes numa progênie permiteavaliar a importância de espinhos, poisesta importância está sendo avaliada emum genótipo comum e o efeito do am-biente pode ser identificado. Clement(1996) apresentou dados sobre a impor-tância de espinhos em seis progênies de

Benjamin Constant, em duas localida-des no Havaí, para quatro característi-cas de produção sustentável. A únicacaracterística que mostrou a importân-cia de espinhos de forma clara foi o nú-mero de perfilhos (Tabela 2), enquantoa TCR, o peso do palmito exportável(Tabela 3) e o peso comestível totalmostraram muita variação em importân-cia dos espinhos entre as localidades eas progênies.

Se uma progênie qualquer apresen-ta tanta variação na superioridade das

plantas armadas e inermes em respostaao ambiente, é de supor que existavariação fenotípica que poderá ser sele-cionada. Clement (1996) mostrou estavariação claramente em termos dosparâmetros de produção sustentável.

Clement (1996) concluiu que nãoexiste evidência clara para a superiori-dade dos genes para espinhos; asuperioridade depende do germoplasma,da localidade e da magnitude dainteração genótipo x ambiente. No en-tanto, existem razões para preferir um

Tabela 3. Porcentagem de diferença1 entre as médias (± o desvio-padrão) de plan-tas inermes (0) e armadas (+) para o peso do palmito exportável em 6 progênies depupunha de Benjamin Constant (raça Putumayo) plantadas em Ninole e PoamohoExp. Station, Havaí, entre 1992 e 1995, com as médias por localidade.

seinêgorP

1 2 3 5 8 9 aidéM

eloniN

0 25±971 45±861 25±981 36±102 26±771 44±971 11±281

+ 36±841 94±651 05±671 55±061 66±871 94±281 31±761

.fid% 2,12 9,7 6,7 2,62 0,1- 7,1- 4,9

ohomaoP

0 66±791 94±061 76±512 46±312 16±302 38±961 12±391

+ 18±502 96±312 23±502 86±222 24±132 25±291 31±112

.fid% 8,3- 0,52- 9,4 3,4- 1,21- 8,11- 7,8-

1 % diferença = [(inerme - armada) ¸ armada] * 100; então, as diferenças a favor de inerme apresentamum sinal positivo e as a favor de armada apresentam um negativo.

CLEMENT, C.R. Pupunha: recursos genéticos para a produção de palmito.

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189Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

ou outro tipo de planta. As plantas ar-madas são mais resistentes (fisicamen-te) ao ataque de pragas (insetos e ma-míferos) e existem algumas anedotasque são mais frutíferas (menos suscetí-veis a queda precoce de frutos). As plan-tas inermes são mais fáceis de manejar,tanto no campo como durante oprocessamento, não se tornam “cabelu-das” quando seus palmitos são prepara-dos in natura (o efeito cabeludo apare-ce quando se esfrega o palmito no sen-tido contrário ao acostamento dos espi-nhos tenros e estes se levantam), e, ondea segurança dos empregados é levada asério, como no Havaí, o preço de segu-ro de saúde é muito inferior (com plan-tas armadas no campo, o preço do segu-ro de saúde é proibitivo no Havaí, tor-nando todo o empreendimento inviável;J. Mood, com. pess., 1995).

AS POPULAÇÕES DEPUPUNHA INERME

Os povos nativos de América tropi-cal eram excelentes observadores emelhoristas de plantas. Quando encon-travam uma planta inerme, começavama selecionar para este caráter em diver-sos lugares. Como resultado, na Ama-zônia existem plantas inermes em todasas populações da parte ocidental, espe-cialmente nas raças Solimões, PampaHermosa, Putumayo e Vaupés. Na Amé-rica Central, somente existe uma raçade pupunha inerme, a Guatuso, no nor-te de Costa Rica, perto da cidade de SanCarlos. No noroeste da América do Sule no sul da América Central as plantasinermes são muito mais raras, sugerin-do que as mutações que deram origemàs plantas inermes na Amazônia ociden-tal e na Costa Rica foram distintas.

Na década de 80 três populações depupunha com frequências interessantesde plantas inermes foram identificadas(Clement et al., 1988): Yurimaguas (60-80% inerme), Benjamin Constant (15-25% inerme) e San Carlos (15-30% iner-me) [os intervalos representam varia-ções entre sub-populações]. Além des-te caráter, estas populações apresentamoutros caracteres de interesse paraprogramas de melhoramento, tais comodiâmetro da estipe, comprimento dosentrenós, número de folhas, comprimento

Tabela 4. Características de interesse para a produção de palmito observadas insitu em pupunheiras de Benjamin Constant, AM, Brasil (raça Putumayo - BC), SanCarlos, Alajuela, Costa Rica (raça Guatuso - SC) e Yurimaguas, Loreto, Peru (raçaPampa Hermosa - Yu). Manaus, INPA, 1997.

oãçalupoPadortemâiD)mc(epitse

odotnemirpmoC)mc(sónertne

edºNsahlof

adotnemirpmoC)mc(railofsiuqár

railofaerÁ)2m(

CB 0,91 7,281 2,71 882 9,3

CS 8,71 6,911 4,61 892 3,4

uY 0,81 3,371 6,41 813 3,3

Fonte: Clement et al.(1988).

da ráquis foliar e área foliar (Tabela 4).O diâmetro da estipe é positivamente

correlacionado com o peso do palmito(Bovi et al., 1992, Clement et al., 1988),enquanto o comprimento de noveentrenós, o número de folhas e a áreafoliar são relacionados com vigor (umaestimativa subjetiva da TCR). O com-primento da ráquis foliar é relacionadocom o comprimento do pecíolo, que in-fluencia o comprimento do palmito,embora esta relação varie continuamen-te durante o crescimento de cada folha(Clement et al., 1988). As três popula-ções apresentam muita variaçãofenotípica para cada um destescaracteres (Clement & Mora Urpí, 1988;Clement, 1986), mas somente no Brasilexistem amostras razoáveis dogermoplasma de Benjamin Constant eYurimaguas.

O mercado brasileiro é abastecidoprincipalmente com sementes da popu-lação de Yurimaguas, tanto quando assementes são importadas como quandosão produzidas no país, pois o principalprodutor de Manaus (e do Brasil) pos-sui principalmente germoplasma deYurimaguas. Até agora, a importação desementes do Peru não tem trazido ne-nhum problema fitossanitário, mas o re-sultado é preocupante porque a base ge-nética é restrita. Além disto, aheterozigosidade deste material é redu-zida (0,14 com base em 16 loci de noveenzimas; Clement et al., 1997) e podecontribuir para os problemas defrutificação observados em Manaus.

AS COLEÇÕES DEGERMOPLASMA

Três instituições brasileiras possu-em coleções de germoplasma formais:

o IAC (estabelecida em 1974), com 43acessos do Brasil, Costa Rica e Peru; oINPA (estabelecida em 1979), com 450acessos do Brasil, Colômbia, CostaRica, Equador, Panamá e Peru; e aCEPLAC (estabelecida em 1993), com27 acessos da Bolívia, Brasil, Colôm-bia e Costa Rica (Mora Urpí & Weber,1997). Nenhuma dessas coleções é re-presentativa da diversidade genética daespécie. Diversas instituições tambémpossuem coleções de trabalho: INPA,IAC, Embrapa - CPATSA, Embrapa -CPAF (AC) e Embrapa - CPAA e talvezoutras que não estejam em contato como INPA. A Embrapa - CPATU teve umacoleção, estabelecida nos anos 60, masos dados de passaporte foram perdidosnos anos de estagnação do IPEAN e acoleção foi destruída na década de 70porque não se justificava sem o passa-porte (Clement & Coradin, 1995). Aestagnação de instituições de pesquisaé um fator importante na história dapupunha. Durante a década de 80, a co-leção principal do INPA foi designadacomo Banco Ativo de Germoplasma dePupunha pela Embrapa - CENARGEN.Com a criação da Embrapa - CPAA,após a fusão da Embrapa - CNPSD e daUEPAE-AM, a Embrapa - CPAA come-çou a colaborar com o INPA para a ma-nutenção da coleção principal e das co-leções de trabalho.

A coleção principal do INPA possuimuito germoplasma das três principaisraças brasileiras de pupunha, mas pou-co das outras raças amazônicas e muitopouco da América Central. Possui ain-da muito germoplasma da populaçãohíbrida de Yurimaguas (50 acessos) eoutros acessos inermes. Arepresentatividade das raças não-ama-zônicas é baixa. Além da coleção prin-cipal, o INPA mantém duas coleções de

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190 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

trabalho, ambas de germoplasma deYurimaguas. A primeira é a coleção ori-ginal feita em 1980 por Chávez, que con-tém 360 plantas, quatro de cada um dos80 acessos coletados, plantadas emespaçamento para frutos. Uma parte des-te germoplasma formou a base genéticado primeiro produtor brasileiro de se-mentes de pupunha inerme, o Sr. ImarC. Araújo. A segunda é uma coleção fi-nanciada pelo CNPq em 1990, tambémfeita por Chávez, que contém 319 aces-sos plantadas em um ensaio deprogênies em espaçamento para palmi-to. Esta coleção está duplicada no IAC.

A coleção principal do INPA estáparcialmente caraterizada, mas estavasemi-abandonada durante o período1990-95 por falta absoluta de recursos.Por esta razão, precisa ser totalmenterenovada, o que significa a derrubadadas estipes principais e a recondução dastouceiras com base em um perfilho. Atéeste momento, esta renovação não foiiniciada, pois será feita em parceria coma Embrapa - CPAA e com a Universi-dade do Amazonas, para que acaraterização molecular possa ser feitana hora da derrubada. Dado a ausênciade garantias de financiamento de longoprazo, a coleção principal não está sen-do ampliada. As coleções principais doIAC e da CEPLAC estão em melhorescondições que a do INPA. A coleção detrabalho de Yurimaguas, do IAC, estásendo avaliada e será possível fazer al-gumas comparações interessantes com osresultados do INPA no futuro próximo.

AS DIFICULDADES PARAUSAR AS COLEÇÕES

Se existem três coleções degermoplasma e várias coleções de tra-balho, parece lógico perguntar porquenão foram lançadas populações melho-radas ou cultivares de pupunha para omercado nacional de sementes? A res-posta é muito simples: os programas demelhoramento genético das três institui-ções têm sofrido discontinuidades de re-cursos financeiros e humanos ao longodos anos. Qualquer programa de melho-ramento genético com uma espécie pe-rene, como a pupunha, requer estabili-dade e apoio financeiro.

Dado a falta de políticas agrícolas

nacional e regional e a baixa prioridadede pesquisa e desenvolvimento nos ní-veis nacional, regional e estadual noBrasil, é pouco provável que o setor pú-blico tenha condições de executar pro-gramas de melhoramento genético nosmoldes tradicionais para cultivos de im-portância reduzida como a pupunha.Portanto, se as instituições esperamapoiar a expansão da pupunha, precisa-rão transformar seus programas em par-cerias com o setor privado, tanto em-presarial como de pequenos e médiosprodutores. Mais importante ainda, osprogramas deveriam ser feitos fora dasestações experimentais. Desta formapoderão esperar melhor apoio da socie-dade (ou seja, dos produtores) e serãomelhor protegidos das discontinuidadesinstitucionais. Esta recomendação re-quer uma nova atitude dos pesquisado-res e, especialmente, de seus chefes, poisos melhores recursos genéticos não es-tarão mais nas mãos dos institutos massim da sociedade, a quem pertencem.

As prioridades dos programas demelhoramento deveriam ser traçadas emcomum acordo com os produtores e co-merciantes, pois de outra forma apenasrepresentam uma esperança dos pesqui-sadores e seus chefes. Na Amazônia,este acordo está começando tomar for-ma, embora a falta de infra-estrutura mí-nima na parte de institutos como o INPAdificulte a parceria já que, por exemplo,não há sequer veículos suficientes paraos pesquisadores possam ir ao campo.Assim, não se justifica o aumento dascoleções de pupunha na Amazônia, poisnão existem programas de melhoramen-to que possam usá-las adequadamente.Neste momento existe muita variabili-dade das raças Pampa Hermosa,Putumayo e Solimões nas coleções eesta variabilidade não está sendo bemutilizada. Já na raça Guatuso há poucavariabilidade, mas, ainda assim, aumen-tar a coleção somente será justificávelquando a variabilidade das outras raçasestiver sendo bem explorada. Qualquertrabalho de melhoramento com os re-cursos genéticos de pupunha precisa serfeito como um componente de um pro-grama completo que vise levar apupunha aos mercados locais, regionais,nacionais e internacionais. Portanto, seráapenas um componente, com priorida-de intermediária, em lugar de um pro-grama em si só.

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos Drs. Hiroshi Noda eKaoru Yuyama pela revisão crítica des-te manuscrito.

LITERATURA CONSULTADA

BOVI, M.L.A.; SAES, L.A.; GODOY JUNIOR,G. Correlações fenotípicas entre caracteresnão destrutíveis e palmito em pupunheiras.Turrialba, v. 42, p. 382 390, 1992.

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191Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

YUYAMA, K. Sistemas de cultivo para produção de palmito da pupunheira. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, p. 191-1980, 1997. Palestra. Suplemento.

Sistemas de cultivo para produção de palmito da pupunheira.Cropping system for palm-core production from the peach-palm.

Kaoru YuyamaINPA - CPCA, C. Postal 478, 69.083-000 Manaus -AM.

Palavras-chave: Bactris gasipaes, origem, extrativismo, germoplasma, consorciação, adubação, densidade de plantio, plantas daninhas,colheita.Keywords: Bactris gasipaes, origin, exploitation, germplasm, combined cropping, fertilization, plant density, weeds, harvest..

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INTRODUÇÃO

A pupunheira (Bactrisgasipaes Kunth, Palmae)foi domesticada pelos

índios da Amazônia, sendo utilizadaprincipalmente na alimentação comofonte de energia (amido e lipídios), nu-trientes (proteína e vitaminas A com altabiodisponibilidade, Yuyama etal.,1991), e matéria-prima paraagroindústria (Clement & Mora Urpi,1987). Em alguns lugares da Amazôniae do noroeste de América do Sul apupunheira já foi um cultivo principal,dada a sua produtividade e a preferên-cia pelos povos nativos. Após a chega-da dos europeus, a pupunheira foi es-quecida e somente na década de 70 vol-tou a atrair a atenção dos pesquisadorese, subsequentemente, dos agricultores eagroindústrias da América Latina. Hojea pupunheira é uma importanteagroindústria na Costa Rica para a ex-tração de palmito e sua importância vemcrescendo rapidamente no Brasil, Co-lômbia, Equador e Peru.

O Brasil é o maior produtormundial de palmito, com aproximada-mente 200.000 t extraídas em 1989(IBGE, 1990). É também o maior ex-

portador de palmito, com 10.000 t ex-portadas em 1990, a um valor de US$40 milhões. No Brasil, diversas palmei-ras produzem palmito comestível, po-rém apenas as do gênero Euterpe foramexplorados comercialmente em largaescala até recentemente. A grande mai-oria desta produção é obtida da explo-ração extrativista de florestas naturais,tanto na reduzida Mata Atlântica, comona floresta do estuário do Rio Amazo-nas. Essa exploração tem sidoindiscriminada e destrutiva, empobre-cendo as florestas e os povos que nelashabitam. Dada esta destruiçãoindiscriminada, o governo, por meio doMinistério do Meio-Ambiente, tem re-gulamentado a exploração extrativista,tornando mais interessante a plantaçãotécnica. Uma vez que as espécies deEuterpe são de crescimento lento e ne-cessitam de sombreamento, os produ-tores começaram a seguir o modelo deCosta Rica, onde a pupunheira é plan-tada em larga escala. Nos últimos cincoanos, os agricultores brasileiros vemplantando em ritmo acelerado, apesar dedispor de poucas técnicas de cultivocomprovadas. A médio prazo (5 - 10anos), a produção de palmito será obti-da principalmente de cultivos técnicos

de pupunheira, substituindo a explora-ção extrativista das espécies de Euterpe.Infelizmente, a maioria desta nova plan-tação tem sido realizada em outrasregiões do Brasil. Na região Amazôni-ca, calcula-se que existem hoje ao re-dor de 2000 ha em exploração, enquan-to para outras regiões do Brasil foramenviadas ao redor de 10 t de sementesao ano (informação em Tabatinga, AM).Quanto a quantidade que foi plantadano Sul ou Sudeste, a Dra. Bovi devemencionar em sua palestra. Desta ma-neira, pode-se dizer que os Amazônidasnão tem sido beneficiado quanto ao usode sua planta nativa.

O Instituto Nacional de Pesquisas daAmazônia (INPA) trabalha com apupunheira desde 1975 (ano de criaçãodo Departamento de Ciências Agronô-micas). Atualmente, possui um banco degermoplasma com mais de 450 acessos,duas coleções de trabalho com mais de300 acessos de germoplasma inerme, ouseja, sem espinhos no pecíolo (>95%),proveniente de Yurimaguas, Peru(Yuyama & Chávez, 1996) para o pro-grama de melhoramento para a produ-ção de palmito e conta com uma equipemultidisciplinar e interinstitucional(Embrapa - CPAA, Embrapa -

CLEMENT, C.R. Pupunha: recursos genéticos para a produção de palmito.

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192 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

CENARGEN e Universidade do Ama-zonas - UA) e o apoio de cooperativas,associações de produtores e empresári-os privados, para desenvolver técnicasde cultivo para a região Amazônica.

Os agricultores necessitam de umpacote tecnológico que deve incluir téc-nicas de manejo de plantas e deagroecossistemas para tornar este culti-vo sustentável a longo prazo e contri-buir para evitar a degradação do meio-ambiente. Ressalta-se ainda a inclusãode estudos ecológicos (modificação dosolo e sua biologia), agronômicos (ma-nejo de sementes, produção de mudas,densidade de plantio, manejo de plantas,fertilização do solo, consorciação comcultivos anuais), e técnicas pós-colheita.

Este pacote tecnológico está sendorepassado aos agricultores diretamenteou por meio do órgão estadual de assis-tência técnica e extensão rural, promo-vendo demonstrações diretamente nocampo, nas comunidades, cooperativase agroindústrias. A metodologia utiliza-da nesta pesquisa proporciona ainteração de pesquisadores com os pe-quenos e médio produtores rurais e suasfamílias e empresários, o que implicanuma intensa troca de informações en-tre ambos permitindo uma significativaparticipação dos produtores rurais nosajustes necessários às ações de pesqui-sa. Dessa forma, os conhecimentos e osprodutos já produzidos ou os que vie-rem a ser gerados pelas ações de pes-quisa poderão ser utilizados imediata-mente pelos produtores rurais.

Neste sentido, o INPA juntamentecom as cooperativas, associações de pro-dutores e empresas privadas, tem insta-lado alguns ensaios de adubação,consorciação e espaçamento para pro-dução de palmito. Quanto à dissemina-ção ou divulgação dos resultados, o meiomais eficiente e rápido é comprovaçãovisual de plantio e sucesso de cultivodos vizinhos.

RESULTADOS ALCANÇADOS

Consorciação com culturas anuaisSilva & Yuyama (1997) avaliaram o

desenvolvimento da pupunheira paraprodução de palmito em sistema demonocultivo (com e sem capina) e deconsórcio com as seguintes espécies deciclo curto: amendoim, arroz, sorgo e

macaxeira (Tabela 1). Estes autores ain-da verificaram a produção de culturasanuais, observando que a macaxeira foia lavoura mais produtiva, diferencian-do-se das demais, apesar de ser a únicaespécie que produziu menos do que amédia nacional (IBGE, 1993). Quandoanalisado o valor econômico,amendoim, arroz e macaxeira não dife-riram estatisticamente entre si, porémsuperaram o sorgo. Considerando queos custos de implantação tenham sidoiguais em todos os tratamentos, a me-lhor renda foi obtida no cultivo do amen-doim, embora não tenha diferido esta-tisticamente do cultivo do arroz emacaxeira. Este resultado é variável emfunção dos valores do mercado.

O sistema de consórcio depupunheira com gramíneas (arroz esorgo) demonstrou um amarelecimentodas folhas e aparentemente menor de-senvolvimento da pupunheira, principal-mente com sorgo, estando de acordocom Mora Urpi et al. (1982), que men-cionam que a pupunheira não tolera apresença de gramíneas, pois seu siste-ma radicular é superficial e é muito afe-tado pela competição, particularmentepor nitrogênio disponível. Ferreira et al.(1980) relataram que a grande maioriadosistema radicular da pupunheira ficana camada dos 20 cm superficiais. Osdados médios de diâmetro do caule, al-tura da planta e número de folhas verdessão apresentados nas Tabela 2, 3 e 4.

A taxa de crescimento relativo(TCR) do diâmetro do caule, altura daplanta e número de folhas verdes apre-sentou um decréscimo ao longo do pe-

ríodo, porém mais acentuado nas 3a. e4a. coletas em todos tratamentos. Istoprovavelmente se deveu à diminuiçãoda precipitação pluviométrica, provo-cando um estresse fisiológico que resul-tou em redução do metabolismo. A re-duzida TCR deveu-se ao número de fo-lhas verdes, que, diminuindo acentua-damente, reduziu a atividadefotossintética com consequente diminui-ção da taxa de crescimento. Com a che-gada das chuvas em setembro e outu-bro, as plantas voltaram a crescer (Sil-va, 1997). A TCR normalmente decres-ce com a idade da planta, durante o pe-ríodo de crescimento vegetativo(Yuyama, 1991).

O tratamento que apresentou melhorTCR do diâmetro do caule foi o consór-cio entre pupunha e amendoim, enquan-to que o tratamento pupunha e arrozapresentou os resultados mais fracos. Aassociação de pupunha com sorgo teveum comportamento particular, pois ob-servou-se um aumento no diâmetro daspupunheiras entre a 1a. e a 2a. coletas eentre a 2a. e 3a. coletas, não acontecendoo mesmo nos outros tratamentos. Istopode estar relacionado ao fato do sorgoter apresentado a fase de maturação du-rante a 1a. e a 2a. coletas, competindocom a pupunheira, enquanto entre a 2a.

e 3a. coletas, o sorgo já havia sido colhi-do, não havendo a competição. Apupunheira, desta forma, teve pleno de-senvolvimento, aumentando a TCR. ATCR da pupunheira consorciada com amacaxeira, teve uma redução bastanteacentuada entre a entre a 2a. e 3a. cole-tas, provavelmente porque a macaxeira

seicépsE )ah/t(oãçudorP )ah/$R(ocimônocerolaV

miodnemA b90.2 a04.176

zorrA b84.2 a05.225

ogroS b60.2 b05.722

ariexacaM a32.7 a04.875

F **4.22 **2.9

)%(VC 06.03 03.52

Tabela 1. Produção e valor econômico de quatro espécies utilizadas em consorciaçãocom pupunheiras.

Fonte: Silva, 1997.Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si a 5% de probabilida-de pelo teste Tukey.** Significativo a 1% de probabilidade.

YUYAMA, K. Sistemas de cultivo para produção de palmito da pupunheira.

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193Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

estava competindo com a pupunheiranesta fase de enchimento das raízes,apesar de Moreira Gomes (1993) afir-mar que a mandioca não afeta a produ-ção de frutos da pupunheira consorcia-da. O tratamento pupunha isolada, massem capina, foi o que mais reduziu aTCR do diâmetro das pupunheiras emcomparação aos demais tratamentos(Silva, 1997).

Os resultados econômicos mostra-ram ser possível consorciar a pupunheirapara produção de palmito com outrasespécies anuais no estágio inicial dedesenvolvimento. A melhor combina-ção se deu no consórcio de pupunheiracom o amendoim, pois, além do cresci-mento satisfatório (diâmetro da planta= 6 cm e altura da planta = 65,5 cm, onzemeses após o plantio no campo) e me-lhor TCR média (diâmetro do caule =0,225 e altura da planta = 0,25), verifi-cou-se um bom estado nutricional dapupunheira e um melhor retorno econô-mico (2,09 t/ha de amendoim casca).Contudo, na consorciação com arroz,sorgo ou macaxeira são necessários es-tudos de adubação para diminuir a com-petição por nutrientes e não afetar o de-senvolvimento da pupunheira plantas(Silva, 1997; Silva & Yuyama, 1997).

Espaçamento e adubaçãoUm ensaio para produção de palmi-

to com diferentes níveis de adubaçãoNPK, uso de micronutrientes, calcário,gesso e esterco, conduzido no SítioRieda, BR-174, km 8, no município deManaus (AM), tem mostrado até nomomento, seis meses após a adubação,que o tratamento utilizando a fórmulaN-P

2O

5-K

2O 90-90-120 está proporcio-

nando melhor crescimento das plantasque os demais tratamentos, compupunheiras de 3,55 cm de diâmetromédio; 30 cm de altura; 7,1 folhas ver-des 7,1 e, 0,99 perfilhos (Tabela 8).

Outro ensaio, conduzido na GranjaMiyamoto, na rodovia AM-10, km 37,município de Manaus, com níveis cres-centes de NPK, não apresentou nenhu-ma diferença no crescimento das plan-tas (diâmetro, altura da planta, númerode folhas verdes e número de perfilhos),dez meses após o plantio (Tabela 9).Porém, os blocos que receberam 5 kgde esterco/cova apresentaram diâmetrosignificativamente maior (5,4 e 4,5 cm),

sotnematarT 1a ateloC. 2a ateloC. 3a ateloC. 4a ateloC. 5a ateloC.

anipacmesahnupuP 12.2 52.3 ba51.4 ba61.4 ba7.4

anipacmocahnupuP 09.1 96.2 b83.3 b35.3 b9.3

miodnemamocahnupuP 14.2 65.3 a00.5 a42.5 a0.6

zorramocahnupuP 60.2 77.2 b03.3 b81.3 b7.3

ogrosmocahnupuP 39.1 03.2 b28.2 b47.2 b9.3

ariexacammocahnupuP 30.2 98.2 b02.3 b83.3 b1.4

SMD sn sn 85.1 74.1 09.1

Tabela 2. Diâmetro do caule de pupunheiras em monocultivo e consorciadas comcultivos anuais, coletados de fevereiro a outubro de 1996, em intervalos de dois meses.

Fonte: Silva, 1997.Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si a 5% de probabilida-de pelo teste Tukey.

Tabela 3. Altura de planta de pupunheiras em monocultivo e consorciada comcultivos anuais, coletados de fevereiro a outubro de 1996, em intervalos de doismeses.

sotnematarT 1a ateloC. 2a ateloC. 3a ateloC. 4a ateloC. 5a ateloC.

anipacmesahnupuP 40.91 51.13 03.83 ba2.44 ba1.55

anipacmocahnupuP 27.71 87.52 51.23 ba9.53 cba4.74

miodnemamocahnupuP 61.91 81.13 84.14 a2.05 a5.56

zorramocahnupuP 94.81 51.72 00.13 b8.33 cb5.83

ogrosmocahnupuP 02.71 39.42 82.82 b9.92 c4.43

ariexacammocahnupuP 86.71 04.82 58.53 ba0.93 cba5.54

SMD sn sn sn 34.51 51.02

Fonte: Silva, 1997.Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si a 5% de probabilida-de pelo teste Tukey.

sotnematarT 1a ateloC. 2a ateloC. 3a ateloC. 4a ateloC. 5a ateloC.

anipacmesahnupuP 01.5 09.5 22.6 ba8.4 9.4

anipacmocahnupuP 54.4 86.5 84.6 ba5.4 2.5

miodnemamocahnupuP 22.5 80.6 0.7 a1.5 1.5

zorramocahnupuP 56.4 54.5 0.6 ba3.4 7.4

ogrosmocahnupuP 51.4 06.4 39.5 b0.4 6.4

ariexacammocahnupuP 05.4 82.5 28.5 ba8.4 4.5

SMD sn sn sn 19.0 sn

Tabela 4. Número de folhas verdes de pupunheiras em monocultivo e consorcia-das com cultivos anuais, coletados de fevereiro a outubro de 1996, em intervalosde dois meses.

Fonte: Silva, 1997.Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si a 5% de probabilida-de pelo teste Tukey.

YUYAMA, K. Sistemas de cultivo para produção de palmito da pupunheira.

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194 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

sotnematarT ovitalerotnemicsercedaxaT

2a 1-. a .loC. 3a 2-. a .loC. 4a 3-. a .loC. 5a 4-. a .loC.

anipacmesahnupuP 83.0 42.0 10.0 21.0

anipacmocahnupuP 53.0 32.0 40.0 01.0

miodnemamocahnupuP 93.0 33.0 50.0 31.0

zorramocahnupuP 03.0 81.0 80.0 30.0

ogrosmocahnupuP 81.0 02.0 10.0 13.0

ariexacammocahnupuP 53.0 01.0 50.0 91.0

assim como altura de planta (49 e 39cm) e número de perfilhos (2,96 e 1,9).

Em um ensaio de adubação eespaçamento de pupunheira na Fazen-da Yuricam, situada na rodovia AM-10,km 100, município de Rio Preto da Eva,inicialmente estabeleceu-se como adu-bação básica NPK a fórmula (225-25-180), baseada na adubação utilizada porHerrera (1989), que recomendou de 200a 250 kg de N, 20 kg de P

2O

5 e de 160 a

200 kg de K2O por hectare x ano e

Cantarella & Bovi (1995) que recomen-daram 222 de N, 32 de P e 172 de K porhectare. Os outros tratamentos foram50% (112,5-12,5-90) e 150% (337,5-38-270) da adubação básica, além da teste-munha sem adubação. Utilizou-se ain-da um último tratamento baseado naanálise do solo da região, paupérrimoem fósforo, constituído de 4,5 vezes aquantidade de P

2O

5 recomendada na

adubação básica. Através da análise devariância observou-se diferenças signi-ficativas (p<0,01) em altura, diâmetrode planta, número de folhas e númerode perfilhos em resposta às diferentesadubações NPK. Observou-se ainda res-posta significativa (p<0,01) para altura,diâmetro de planta e número de folhasem função de espaçamentos e interaçãosignificativa entre espaçamento e adu-bação apenas para diâmetro de planta(Yuyama et al., 1997).

A altura de planta diferiu significa-tivamente entre os espaçamentos de 2 x1,5 m (51 cm) e 2 x 1 m (42 cm), apre-sentando resultado estatisticamente neu-tro em relação aos dois anteriores parao espaçamento de 1 x 1 m (45 cm). Namaior densidade de plantio observou-seestiolamento das plantas (Tabela 10).Quanto ao diâmetro de planta, o valorobservado para o espaçamento de 2 x1,5 m (5,9 cm) diferiu estatisticamentedos valores observados nos tratamentos1 x 1 e 2 x 1 m, respectivamente 5,15cm e 5,12 cm. O número de folhas porplanta foi maior no espaçamento 2 x 1,5m (9,21) diferindo estatisticamente de2 x 1m (7,99) e 1 x 1 m (9,91).

A utilização da fórmula NPK 225-90-180 foi o tratamento que proporcio-nou melhor desenvolvimento às plantas(Tabela 11), diferindo estatisticamentedos demais em altura (62,7 cm), diâme-tro da planta (6,84 cm) e número de

Tabela 5. Taxa de crescimento relativo do diâmetro do caule de pupunheiras.

Fonte: Silva, 1997.

Tabela 6. Taxa de crescimento relativo da altura de pupunheiras.

sotnematarT ovitalerotnemicsercedaxaT

2a 1-. a .loC. 3 .a 2- a .loC. 4a 3-. a .loC. 5a 4-. a .loC.

anipacmesahnupuP 94.0 02.0 41.0 22.0

anipacmocahnupuP 73.0 22.0 11.0 82.0

miodnemamocahnupuP 94.0 82.0 91.0 62.0

zorramocahnupuP 83.0 31.0 90.0 31.0

ogrosmocahnupuP 73.0 21.0 50.0 41.0

ariexacammocahnupuP 74.0 32.0 80.0 51.0

Fonte: Silva, 1997.

sotnematarT ovitalerotnemicsercedaxaT

2a 1-. a .loC. 3 .a 2- a .loC. 4a 3-. a .loC. 5a 4-. a .loC.

anipacmesahnupuP 51.0 50.0 62.0- 20.0-

anipacmocahnupuP 42.0 31.0 63.0- 41.0

miodnemamocahnupuP 51.0 41.0 23.0- 00.0

zorramocahnupuP 61.0 01.0 33.0- 90.0

ogrosmocahnupuP 01.0 52.0 93.0- 51.0

ariexacammocahnupuP 61.0 01.0 91.0- 31.0

Fonte: Silva, 1997.

Tabela 7. Taxa de crescimento relativo do número de folhas verdes de pupunheiras.

perfilhos (3,25). O número de folhas foimaior quando se utilizou as fórmulas225-90-180 e 225-25-180, diferindo es-tatisticamente da testemunhas sem adu-bação e da utilização da fórmula 112,5-12,5-90). A testemunha sem adubaçãofoi o tratamento que, como esperado,proporcionou menor desenvolvimentoàs plantas, diferindo estatisticamentedos demais (altura = 30,9 cm; diâmetroda planta = 3,75 cm; número de folhas= 6,65 e número de perfilhos = 0,2).

Houve efeitos significativos da

interação entre espaçamento e adubaçãopara diâmetro da planta (Tabela 12). Noespaçamento de 1 x 1 m, a única dife-rença significativa foi observada entrea testemunha (4 cm) e os tratamentosque utilizaram 225-90-180 (5,8 cm) e225-25-180 (6 cm). No espaçamento de2 x 1 m, o tratamento com 225-90-180(6,4 cm) diferiu significativamente datestemunha 0-0-0 (3,5 cm) e dos trata-mentos que utilizaram 112,5-12,5-90(5,1 cm) e 337,5-38-270 (5,1 cm), po-rém sem diferir significativamente do

YUYAMA, K. Sistemas de cultivo para produção de palmito da pupunheira.

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195Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

Tabela 8. Diferentes níveis de adubação NPK, uso de micronutrientes, calcário,gesso e esterco na cultura da pupunheira para produção de palmito - Sítio Rieda.

sotnematarTad.maiD

)mc(atnalpadarutlA

)mc(atnalpNo sahlof.

sedrevNo ed.

ohlifrep

1 ahnumetseT 21.2 3.51 1.6 54.0

2 )ah/t1(oiráclaC 77.1 4.41 1.5 00.0

3 )ah/t1(osseG 10.2 3.61 0.6 91.0

4 )ah/t5.21(ocretsE 18.2 5.42 6.6 56.0

5 021-54-09 27.2 3.42 2.6 92.0

6 042-54-09 15.2 0.22 3.6 24.0

7 021-09-09 55.3 0.03 1.7 99.0

8 041-09-09 42.2 1.02 8.5 31.0

9 021-54-081 30.2 5.81 2.5 40.0

01 042-54-081 35.2 8.22 1.6 90.0

11 021-09-081 46.2 3.32 2.6 12.0

21 042-09-081 14.2 3.12 8.5 51.0

31 021-54-072 65.2 0.22 0.6 61.0

41 042-54-072 74.2 5.12 7.5 13.0

51 021-09-072 39.2 0.52 6.6 23.0

61 042-09-072 36.2 6.32 9.6 83.0

71 orciM+G 33.2 9.02 3.6 52.0

81 orciM+C 99.1 6.61 2.7 40.0

91 orciM+T 81.2 0.02 2.6 31.0

02 orciM+042-54-081 27.2 6.42 5.6 64.0

.S.M.D 38.1 27.51 80.3 21.1

)%(.V.C 13.82 30.82 49.81 33.21

Tabela 9. Diferentes níveis de adubação NPK na cultura de pupunheira para produ-ção de palmito - Granja Miyamoto.

sotnematarTadarutlA

)mc(atnalpadortemâiD)mc(atnalp

sahlof.oNsedrev

ed.oNsohlifrep

.melE ah/gk

57 74 9.4 2.7 56.1

N 051 05 3.5 3.7 97.1

522 64 9.4 1.7 57.1

03 84 9.4 2.7 07.1

5O2P 06 94 1.5 2.7 17.1

09 64 0.5 2.7 97.1

06 64 9.4 1.7 68.1

O2K 021 64 8.4 1.7 76.1

081 15 3.5 4.7 68.1

.S.M.D 7.6 9.6 55.0 22.0

)%(.V.C 60.71 66.61 52.9 06.51

tratamento que utilizou 225-25-180 (5,4cm). No espaçamento de 2 x 1,5 m, otratamento com adubação 225-90-180(8,4 cm) diferiu dos demais tratamen-tos. Para efeitos de espaçamento dentrode adubação, observou-se que para ostratamentos com 337,5-38-270 e 225-90-180 o espaçamento de 2 x 1,5 m apre-sentou resultados superiores (6,4 e 8,5cm de diâmetro da planta) que os ob-servados no espaçamento 2 x 1 m (5,1 e6,4 cm) e 1 x 1 m (5,1 e 5,8 cm.

O tratamento de adubação NPK(225-90-180) mostrou maior crescimen-to em relação a diâmetro e altura daplanta, número de folhas verdes eperfilhos, superando os níveis de adu-bação básica (225-25-180). Os níveis deP

2O

5 utilizados por Herrera (1989) e

Cantarella & Bovi (1995) são similarese foram determinados tidas em solo comteores de fósforo superiores aos utiliza-dos nestes experimentos. Na Amazônia,os solos de terra firme, tipicamenteLatossolos Amarelos, possuem um teorde fósforo baixíssimo, com média de 1a 2 ppm. Desta forma, para cultura dapupunheira, o acréscimo na dose de P

2O

5

de 25 (Herrera, 1989; Cantarella & Bovi,1995) para 90 kg/ha x ano, mostrou servantajoso, constituindo-se em uma dosemais adequada e balanceada para os so-los predominantes na região Amazôni-ca. Espera-se obter no ocasião da colhei-ta de palmito uma resposta mais con-creta (Yuyama et al., 1997).

O espaçamento de 2 x 1,5 m apre-sentou maior desenvolvimento em ter-mos de número de folhas verdes, diâ-metro e altura da planta. O trabalho apre-sentado por Chalá C. (1993) mostrouque plantios em densidades mais eleva-das (16.666 plantas/ha) produzirammaior número e peso de palmito porhectare que densidades de 14.183,10.000 e 2.500 plantas/ha, esta últimaresponsável pela menor produtividadeno primeiro e segundo ano de corte.Mora Urpi & Weber (1997) apresenta-ram o quinto ano de corte do experimen-to iniciado por Chalá C. (1993) e de-monstraram que a produtividade esta-bilizou-se no patamar de 1,65 a 2,25 t/ha de palmito para todas as densidades.Este resultado deixa algumas dúvidas,pois não se sabe os tratos culturais (hou-ve ou não controle de perfilhos, cortede palmito na época certa, e a adubação

de reposição). Como foi verificado queos tratamentos com maior densidadeproduziram mais palmito por hectarenos primeiros dois anos de corte, evi-

dentemente estes necessitaram demaior quantidade de nutrientes para re-posição. Caso não tivessem sido aduba-dos de maneira diferenciada, a tendên-

YUYAMA, K. Sistemas de cultivo para produção de palmito da pupunheira.

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196 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

portação do produto envasado.

USO DE HERBICIDAS NOCONTROLE DE PLANTAS

DANINHAS

Quando se pensa em utilizarherbicidas ou outros agrotóxicos neces-sita-se inicialmente saber quais os pro-dutos existentes no mercado local, poismuitos produtos eficientes não se encon-tram na praça de Manaus.

De Frank & Clement (1995) testa-ram em pupunha os herbicidas Oryzarin(Surflan), Oxyfluorfen (Goal), Paraquat(Gramoxone) e Polypropilene mat(PAK), em condições de cultivo noHavaí. Os resultados, baseados na pre-cocidade e rendimento de palmito e efi-ciência de controle indicaram que PAKfoi semelhante a Goal e superior aSurflan e Paraquat, considerando que asplantas invasoras predominantes eramEleusine indica (Capim-pé-de-galinha),Euphorbia hirta (Erva-de-Santa-Luzia)e Siegesbackia orientalis (Botão-de-ouro). Para a região Amazônica, alémda limitação herbicidas existentes nomercado de Manaus, necessita-se aindaaprofundar as pesquisas e selecionar osherbicidas eficientes para as espécies deplantas daninhas predominantes da região.

GRAMOXONE - um dos produtosmais comuns no mercado, de preço maisbaixo. Seu inconveniente é ser umherbicida de contato e não possuir açãosistêmica. As plantas adultas queimamas folhas verdes mas geralmente nãochegam a morrer e as gramíneas adul-tas rapidamente se re-estabelecem. Nasfolhas da pupunha, o produto causaqueima seguida de necrose. O produtoé utilizado no plantio da Indústria Sharpem Barcelos (AM), com pulverizador demangueira, com protetor na ponta (cha-péu de Napoleão) motorizado,tracionado na tomada de força do tra-tor. O produto é de classe toxicológicaI, oferecendo perigo para o aplicador daregião.

ROUNDUP - eficiente no controlede gramíneas como Brachiariahumidicola, uma das principais plantasdaninhas nas áreas de cultivo dapupunheira anteriormente ocupadascom pastagem. Apresenta baixa

Tabela 10. Espaçamento na cultura da pupunheira para produção de palmito -F a z e n d a

Yuricam.

otnemaçapsEatnalpadarutlA

)mc(adortemâiD)mc(atnalp

No sahlofed.sedrev

No sohlifreped.

m1x1 ba9,44 b51,5 b9,7 78,0

m1x2 b3,24 b21,5 b0,8 89,0

m5,1x2 a2,15 a59,5 a2,9 02,1

.S.M.D 3,6 54,0 6,0 s.n

Tabela 11. Adubação NPK na cultura da pupunheira para produção de palmito -Fazenda Yuricam.

KPNoãçabudAadarutlA

)mc(atnalpadortemâiD)mc(atnalp

No sahlofed.sedrev

No ed.sohlifrep

0-0-0 c9,03 c57,3 c56,6 c02,0

09-5,31-5,211 b5,34 b22,5 b60,8 b27,0

072-83-5,733 b2,44 b25,5 ba66,8 b50,1

081-09-522 a7,26 a48,6 a64,9 a52,3

081-52-522 b3,94 b17,5 a40,9 b51,1

.S.M.D 5,9 17,0 48,0 04,0

oãçabudA otnemaçapsE

KPN m1x1 m1x2 m5,1x2

0-0-0 bA7,94 cA73,53 cA83,73

09-5,31-5,211 baA4,94 bA44,15 bA17,55

072-83-5,733 baB7,05 bB10,15 bA00,46

081-09-522 aB8,75 aB48,36 aA45,38

081-52-522 aA1,06 baA24,45 bA46,65

)c,b,a(otnemaçapseadacedortnedoãçabudaertne33,21=SMD

)B,A(oãçabudaadacedortnedotnemaçapseertne84,01=SMD

Tabela 12. Interação entre espaçamento e adubação NPK sobre o diâmetro docaule na cultura da pupunheira para produção de palmito - Fazenda Yuricam.

cia esperada seria de uniformização ouaté mesmo redução da produtividade detratamentos muito demandantes em nu-trientes nos primeiros anos. Por outrolado, os tratamentos de menor densi-dade apresentariam aumento de produ-tividade possivelmente devido à maioremissão de perfilhos/planta (maiorluminosidade) e maior reserva de nu-trientes (menor produtividade nos pri-meiros anos).

Yuyama & Costa (1994) relataramque touceiras com o maior número deperfilhos por planta (três perfilhos) pro-duziram maior número e peso do pal-mito em relação a touceiras de um oudois perfilhos. Porém, no presente ex-perimento, o efeito de espaçamento so-

bre o crescimento da planta foi maiorno tratamento 2 x 1,5 m, onde prova-velmente será observado o maior pesode palmito por planta em menor espaçode tempo, o que não significa obrigato-riamente maior rendimento de palmitopor hectare, ao longo do tempo, consi-derando cinco anos de corte. As carac-terísticas densidade de plantas e núme-ro de perfilhos estão ligadas diretamen-te ao rendimento de palmito por hecta-re, mas ainda faltam dados para confir-mar qual a densidade ideal paraprodução do palmito. A densidade idealvariará conforme o mercado pretendi-do, com menor densidade para merca-do interno (churrascaria e restaurante)e maior densidade para mercado de ex-

YUYAMA, K. Sistemas de cultivo para produção de palmito da pupunheira.

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197Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

fitotoxidade às pupunheiras. É utiliza-do pela Tapiré Indústria e ComércioLtda., em Iranduba (AM), com bons re-sultados. É de classe toxicológica IV eapresenta preço elevado. Além do con-trole eficiente, o herbicida deixa umadensa camada de matéria orgânica pro-tegendo o solo e mantendo-o úmido portempo prolongado.

IDENTIFICAÇÃO DA ÉPOCADO CORTE DE PALMITO

Sabe se que o peso do palmito é di-retamente proporcional ao tempo (tama-nho da planta) de corte, pois aspupunheiras maiores geralmentepossuem peso de palmito (maior diâme-tro do palmito) maiores em relação àspupunheiras jovens (Moreira Gomes &Arkcoll, 1988). Uma das práticas que éimportante para o produtor de palmitode pupunha é a identificação do pontoexato de corte, isto é, o ponto em que ocrescimento do palmito (diâmetro ecomprimento) torna-se mais lento e dei-xa de ser compensador atrasar a épocade corte. O ponto ideal pode também serdeterminado pelo mercado pretendido,em combinação com densidade de plan-tas e adubação. O corte tardio não sóprejudica o crescimento dos perfilhos(tempo de recuperação) como tambémaltera seu desenvolvimento por falta deluminosidade. Quando atrasa-se dema-siadamente o corte, os perfilhos defi-nham, ficam estiolados, apresentam fo-lhas que se quebram facilmente (porseres estioladas) e sofrem queimadura,o que retarda o seu desenvolvimento.

Já existe alguma indicação da alturade corte. Yuyama & Costa (1993) ava-liaram a altura de corte em 44 plantascom diferentes alturas de inserção daúltima folha verde (folha verde maispróxima do solo, de 0,28 a 2,48m), queforam subdivididas em oito classes de25 cm, compondo tratamentos. Verifi-cou-se que não houve diferença signifi-cativa entre peso e diâmetro do palmitoe peso da coração (parte comestível)para nenhuma das classes, o que indicaque, se a inserção da última folha verdeestiver acima de 25 cm, os palmitos po-dem ser extraídos ocasionar perda naprodução. Alguns autores (Villachica,1996; Mora Urpi & Weber, 1997) reco-

mendam que quando o diâmetro da re-gião do colo da planta estiver com 9 cm,já foi atingido o ponto de colheita. En-tretanto, em plantios adensados muitasplantas não atingem este diâmetro. NoHavaí, a época da corte é baseada naaltura da planta, procedendo-se à colhei-ta quando a planta atinge 1,3 m de altu-ra (Clement, comunicação pessoal).Porém em plantio adensado em Manaus,esta altura parece ser muito baixa, poisa maioria das plantas ainda não apre-sentou o primeiro nó (local da inserçãoda folha) acima de 25 cm. Este fato éimportante porque corte de palmito podeafetar os perfilhos existentes. Na regiãode Manaus, o aparecimento do primei-ro nó ocorre quando a planta tem ao re-dor de 1,8 m, em densidade de 4000plantas/ha. Portanto, a época de corte depalmito pode ser baseada inicialmenteno aparecimento do primeiro nó e, pos-teriormente, na altura da planta.

PRÁTICAS CULTURAIS APÓSO CORTE DE PALMITOConsiderando os solos da região

Amazônica, pobres em nutrientes e ma-téria orgânica, é recomendável deixar omáximo de restos vegetais (folhas ecolmos) no campo, o que favorece o soloquímica e fisicamente, além de auxilia-rem no controle de plantas daninhas, quetornam-se mais agressivas após o cortedas plantas, devido ao aumento deluminosidade no solo. Em geral, abiomassa da pupunheira apodrece emum mês, deixando uma camada de co-bertura morta.

AGRADECIMENTOS

Eu gostaria de agradecer principal-mente algumas empresas privadas quenão mediram esforços para me apoiar,cedendo áreas, insumos, transportes,infra-estrutura e pessoal de apoio, paraconcretizar as pesquisas: ao Sr. JeanDupui e ao M.Sc. Wanders BenjaminChávez-Flores da Fink & Cia Ltda.; aoSr. Miyamoto, da Granja Miyamoto; aoSr. Alcy Hagge Cavalcante, daAmazonav; aos Sr. Jaime, “Galego” eEuclides, da Tapiré Indústria e Comér-cio Ltda., e também aos colegas Dr.Newton Bueno e Dr. Manuel Cravo, daEmbrapa - CPAA; M.Sc. Oswaldo

Sassaki, da Universidade do Amazonas, e meus companheiros do INPA -CPCA, pois sem a colaboração dos se-nhores estes resultados não teriam sidoobtidos e não seria possível prosseguircom as minhas pesquisas de pupunheirano Amazonas. Muito obrigado.

LITERATURA CONSULTADA

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198 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

Palmito de pupunha - alternativas de processamento.Pejibaye palm-core: options for processing.

Antônio G. SoaresEmbrapa Agroindústria de Alimentos, Av. das Américas 29.501, Bairro Guaratiba, 23.020-070 Rio de Janeiro - RJ.

Palavras-chave: Bactris gasipaes tecnologia de alimentos, extrativismo, qualidade de alimentos, soluções salinas, atmosfera controlada.Keywords: Bactris gasipaes food technology, exploitation, food quality, saline solutions, controlled atmosphere.

neglected crops. Rome: International PlantGenetic Resources Institute (no prelo).

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O Brasil é o maior produtor eexportador de palmito domundo, suprindo mais de

70% da demanda mundial. Acomercialização de palmito em conser-va alcança cerca de 30 milhões de dóla-res anuais. Na Europa, o principal paísimportador é a França; na América doNorte, os Estados Unidos; na AméricaLatina, a Argentina e; na Ásia, o Japão.Entretanto, como esta atividade é es-sencialmente baseada na extração dosrecursos naturais, a produção de palmi-to tem variado de modo substancial, es-tando em declínio (Tabela 1). Além dis-so, como é grande o número de palmei-ras capazes de fornecer palmito comes-tível, são poucas ainda as culturas racio-nais de palmito para comercialização.

O palmito de pupunha, por suas ca-racterísticas agronômicas, químicas ecomerciais, vem despertando grandeinteresse nos últimos anos. No entanto,a falta de uniformidade da matéria-pri-ma, o baixo nível tecnológico emprega-do e a baixa produção racional desteproduto, são fatores que impedem oavanço de sua comercialização e, porconsequência, a conquista de novosmercados.

Agronomicamente, a espécie apre-senta uma grande adaptação ecológica,excelente produtividade e rusticidade,sendo considerada perene pela sua ca-pacidade de rebrotar. No processamento,a pupunha é uma espécie de palmito queapresenta algumas características pró-prias e muitos distintas, tais como: au-sência de escurecimento enzimático,textura macia e sabor característico li-geiramente adocicado. Por isso faz-senecessário pesquisar o desenvolvimentode técnicas alternativas e específicaspara o seu processamento. Do ponto devista tecnológico, a produção de palmi-to de pupunha em conserva é bastanteutilizada. No entanto, existem outrasalternativas como: uso de soluções sali-nas com imersão do palmito de pupunhae o uso de atmosfera controlada.

Obtenção de Palmito de Pupunha innatura através do uso de solução salina

Soluções salinas, adicionadas de al-guns aditivos químicos, podem ser uti-lizadas com sucesso. O palmito é imersonesta solução por aproximadamentequinze minutos, retirado, escorre-se oexcesso de água, embala-se em PVC earmazena-se à temperatura de 10°C,conforme indicado no fluxograma

apresentado a seguir. Análises de cor,textura e sabor do produto evidenciaramque, dez dias após o início doarmazenamento, as características ini-ciais do palmito permaneciam quaseinalteradas.

Recepção de Matéria-prima

Descascamento

Classificação

Pré-lavagem e Lavagem

Corte em Toletes

Imersão em Solução

Embalagem

Armazenamento

Outra tecnologia que pode ser em-pregada é o uso de atmosfera controla-da (AC). Esta tecnologia significa o con-trole dos níveis de CO

2, O

2, e etileno do

YUYAMA, K. Sistemas de cultivo para produção de palmito da pupunheira.

SOARES, A.G. Palmito de pupunha - alternativas de processamento. Horticultura Brasileira, v. 15, p. 198-199, 1997. Palestra. Suplemento.

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199Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

produto durante o armazenamento. Ouso adequado desta tecnologia pode re-duzir a taxa respiratória em até 50%,quando comparada à taxa respiratória doproduto armazenado ao ar ambiente, nasmesmas condições de temperatura. Osníveis adequados destes gases são ca-pazes de manter a qualidade do produtoe minimizar as perdas, com consequenteaumento da vida útil. Para compensaros custos do sistema de AC, o palmitodeve ser submetido a uma criteriosaclassificação, devendo apresentar umaexcelente aparência. Estudos prelimina-res indicaram que o uso desta tecnologiapoderá aumentar substancialmente otempo de vida útil do palmito, desde quearmazenado à temperatura correta. Es-

onA )1(oãçudorP

6891 849.302

7891 321.53

8891 962.981

9891 786.102

1991 786.32

2991 300.12

Tabela 1. Quantidade de palmito obtido no Brasil.

Fonte: IBGE, 1994.

tão sendo iniciados no momento estu-dos sobre a fisiologia do palmito depupunha (taxa de respiração do produ-to), que darão subsídio para a identifi-

cação da melhor mistura de gases a serutilizada na própria embalagem.

KHATOUNIAN, C.A. A sustentabilidade e o cultivo de hortaliças. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, p. 199-205, 1997. Palestra. Suplemento.

A sustentabilidade e o cultivo de hortaliças.Sustainability and vegetable cropping.C.A. KhatounianInstituto Agronômico do Paraná, C. Postal 481, 86.001-970 Londrina - PR.

Palavras-chave: origem, enfoque histórico, estrutura de produção, enfoque social, recursos naturais, impacto ambiental, degradaçãoambiental, produção orgânica.Keywords: origins, historical approach, production structure, social approach, natural resources, environmental impact, environmentaldegradation, organic production.

SUSTENTABILIDADE

A preocupação com asustentabilidade não é simplesmente o tema da moda.

É antes o fruto das reflexões da relaçãodo homem com o ambiente ao longo dahistória e levou quase três décadas parase cristalizar num conceito. Um conceitosimples, mas de profundas conseqüên-cias. Apenas na década de 60 a humani-dade começou a se dar conta de que opotencial de transformação desenvolvi-do pelo progresso tecnológico estavagerando problemas numa escala maisampla do que a natureza podia corrigi-los. Subitamente, o mundo se tornoupequeno para o homem e ainda menornas décadas seguintes. Os indícios des-sa pequenez: a poluição generalizada, aescassez da água e o comprometimentodos recursos dos oceanos, os buracos nacamada de ozônio, o efeito estufa, oDDT até no leite das mulheres e nos pin-güins, a desertificação.

Essa percepção da degradação dascondições essenciais à vida no planetaconduziu à busca de um novo paradigmade desenvolvimento, cristalizado noconceito de sustentabilidade, na Eco-92,no Rio de Janeiro. O modelo de desen-volvimento predominante no planetatraz em si o princípio da sua exaustão,uma vez que compromete os recursosnaturais essenciais ao seu funcionamen-to. Em outras palavras, o modelo não éreprodutível ad infinitum. Fundamen-talmente, a sustentabilidade agrega adimensão de tempo à busca de desen-volvimento.

Apenas como exemplo, estima-seque para cada quilo de soja colhido nocerrado se perdem 10 kg de solo. Essesolo perdido, além do empobrecimentoda terra agrícola, vai comprometer a ri-queza piscícola dos rios, a produção deenergia das hidrelétricas e assim pordiante, determinando um decaimento dacapacidade de produção do ambiente no

seu todo. Porém, o conceito desustentabilidade cristalizado na Eco-92vai mais além. Ele engloba também osfatores econômicos e sociais, cujas ne-cessidades também precisam ser atendi-das para que uma situação seja efetiva-mente sustentável. Assim, o conceito desustentabilidade pode ser entendido comoum tripé, envolvendo os fatores de natu-reza econômica, social e ambiental.

Naturalmente, o que não é economi-camente competitivo, não será susten-tável, seja uma pequena exploraçãoolerícola ou todo um país. Uma vezalcançada a economicidade, ela só semantém se as condições sociais foremaceitáveis para os agentes envolvidos naprodução. A insatisfação social põe emrisco tanto os aspectos econômicosquanto os ambientais. E, ainda que sejalucrativa e socialmente aceitável, nenhu-ma situação será sustentável se a basenatural em que se alicerça estiver sendodesgastada.

SOARES, A.G. Palmito de pupunha - alternativas de processamento.

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Assim, o desafio dasustentabilidade não se restringe a ge-rar soluções ambientalmente adequa-das, mas também lucrativas e social-mente desejáveis. À luz desse tripé dasustentabilidade podem ser estudadasas diferentes modalidades de produçãode olerícolas no Brasil.

O CULTIVO DE HORTALIÇASATRAVÉS DOS TEMPOS

O estudo da sustentabilidade daprodução de hortaliças no país pode sermelhor enquadrado sob uma perspecti-va histórica. Essa perspectiva permiteentender o contexto em que se inseremos diferentes sistemas de produção emuso no Brasil, focalizando suas limita-ções e potencialidades ambientais, eco-nômicas e sociais.

Embora consumidas desde a maisremota antiguidade, o cultivo de horta-liças em sistemas fortemente intensivoscomo o conhecemos hoje é relativamen-te recente. Nos sistemas agrícolas maisantigos, com longos períodos de pousio,as hortaliças eram simplesmente colhi-das dentre as ervas que cresciam espon-taneamente nas áreas de cultivo oucircunvizinhas à habitação.

Durante os séculos de supremaciaromana no mundo ocidental, as áreasagrícolas estavam divididas em duascategorias: ager, o campo, e hortus, semequivalente exato no português moder-no. O termo ager se referia à área deprodução de grãos, geralmente maisampla e de cultivo extensivo, emcontraposição ao hortus, referente àcircunvizinhança da casa e ao cultivomais intensivo. Nessa circunvizinhançase incluíam plantas ornamentais, frutí-feras, medicinais, hortaliças e até mes-mo árvores para madeira. Desses doisconceitos derivaram respectivamente ostermos agricultura e horticultura. Naslínguas do tronco germânico, a mesmadistinção se observa ainda hoje entre ostermos acker, em alemão, ou field, eminglês, equivalentes ao conceito latinode ager, e garten ou garden, equivalen-tes ao hortus latino. Também os árabesno seu apogeu durante a Idade Médiaconservavam essa distinção em apenasduas áreas de produção agrícola.

A separação de uma parte do hortuspara o cultivo exclusivo do que hojechamamos hortaliças é muito mais re-cente, tendo ocorrido apenas, e a prin-cípio de maneira muito tênue, no finalda Idade Média. Essa separação repre-sentou uma intensificação ainda maiorda produção em relação ao hortus, emtermos de utilização de material fertili-zante e de mão-de-obra. Tal separaçãose deu como conseqüência doflorescimento das cidades, definindogradualmente uma nova posição geográ-fica da produção de hortaliças (os cha-mados cinturões verdes), um novo tipode atividade agrícola (a olericultura) euma nova especialização dos agriculto-res (os hortelãos).

Nas civilizações do arroz, o proces-so histórico foi um tanto diferente, umavez que a própria produção do cerealbásico só se fixou sob técnicas muitointensivas, comparáveis às utilizadaspara a produção especializada de horta-liças. Esse sistema de produção agríco-la é às vezes muito propriamente cha-mado de jardinagem oriental. Daí a fa-miliaridade das civilizações do arrozcom a produção de hortaliças e sua maislonga tradição na olericultura. Em ja-ponês, o mesmo termo hatake é utiliza-do para a horta diversificada ou um cam-po de qualquer outra cultura.

Nas culturas agrícolas que se desen-volveram nos trópicos, em áreas desequeiro, marcadas pela derrubada,queima e pousio, os conceitos ligados àagricultura são ainda mais diferentes dosconceitos dos latinos. Na agriculturaitinerante, seja na África ou no Brasil,há o conceito de roça, área onde se cul-tivam todos os tipos de produtos, de ce-reais e tuberosas, a hortaliças e frutas.

O cultivo de hortaliçasno Brasil atual

Atualmente, cultivam-se no Brasilhortaliças nesses três diferentes contex-tos culturais: o do hortus de origem eu-ropéia, o da jardinagem oriental, sobre-tudo pela colônia nipo-brasileira e o dasroças dos agricultores de ascendênciacultural africana ou ameríndia. Há ain-da uma quarta modalidade de cultivo deorigem muito recente, fruto do cresci-mento do mercado das grandes metró-

poles brasileiras: o cultivo intensivo emamplas áreas, bem descrito comomonoculturas olerícolas. Cada uma des-sas quatro modalidades de produção seinsere em contextos socioeconômicos ede organização da produção diferentes,resultando em diferentes problemas faceao ideal de sustentabilidade.

Roças

O cultivo em roças é de extremaimportância social no suprimento dapopulação rural pobre de vilarejos, so-bretudo do Nordeste e do Norte do Bra-sil. Dentre seus produtos típicos se des-tacam, no Nordeste, abóboras, batata-doce, quiabo, maxixe, feijão-verde,melancias, coentro; no Maranhão, alémdesses, a vinagreira e o monjongome(Talinum); na Amazônia, além destes, ojambu, o caruru (Talinum) e a chicória(Eryngium). Na Amazônia ocidental,registram-se ainda alguns produtos docultivo indígena, como ariá, cubiu ejacatupé. Em Minas, nesse mesmo pa-drão de cultivo, registram-se ainda ataioba, a serralha, a capiçoba e o ora-pró-nobis. O elenco das plantas espon-tâneas que crescem nas roças novas eque servem como hortaliças é relativa-mente grande, incluindo amarantáceas,quenopodiáceas, brassicáceas,asteráceas, portulacáceas e outras.

Historicamente, a manutenção dafertilidade das roças é feita pelaalternância entre períodos curtos de cul-tivos e períodos longos de pousio. Ocomprimento desses períodos dependiadas condições locais. Não havia umaestratégia de recuperação das condiçõesfavoráveis especificamente para as hor-taliças. Atualmente, esse sistema de re-cuperação da fertilidade está em crise,devido ao encurtamento do pousio pelapouca terra disponível. Já o controle depragas e doenças nos sistemas de roçadepende dos mecanismos da natureza,não se utilizando produtos químicos.Assim, o impacto que esses sistemascausam ao ambiente se refere apenasao empobrecimento biológico que so-brevem ao encurtamento do pousio.Do ponto de vista econômico, estessistemas são relativamente estáveis,mas em um nível de existência mate-rial muito baixo.

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Hortas

A produção em sistema de horta épraticada sobretudo nas áreas de predo-minância de agricultores de ascendên-cia européia, no Centro-Sul e Sul dopaís. Visa o abastecimento dos própriosagricultores e de cidades pequenas emédias. Seus produtos típicos são o re-polho, a alface, a cebola, a cenoura, otomate, a batata-doce.

O manejo da fertilidade das hortasse baseia no aporte de adubos orgâni-cos e minerais e se utilizam agrotóxicospara o controle de pragas e doenças.Quanto aos adubos orgânicos, tem cres-cido a utilização do esterco de galinha,em detrimento do de ruminantes, devi-do à disponibilidade e custos. Nas pro-ximidades das cidades maiores, é cres-cente o uso de herbicidas. O impactodesses sistemas sobre o ambiente depen-de da quantidade de insumosindustriais utilizada. Nos sistemas maispróximos das cidades e com maior área,pode haver comprometimento do solo edas águas, devido aos fertilizantesnitrogenados e aos agrotóxicos.

Economicamente, esses sistemasapresentam uma capacidade relativa-mente elevada de adaptação àsflutuações do mercado. Em ambientemais favorável podem se abrir mais aomercado e, em situação inversa, refor-çar a produção para autoconsumo. Suaestrutura biológica também lhes dá re-lativa flexibilidade quanto ao uso deagroquímicos, podendo-se ampliá-lo ourestringi-lo. Além disso, costuma haveroutras atividades de renda, o que tam-bém contribui para sua estabilidade. Emseu conjunto, tais características dotamesses sistemas de relativa estabilidadeeconômica, sustentando um nível deexistência material sóbrio.

Os produtos desse tipo de hortas secaracterizam por uma qualidade visualvariável de acordo com as exigências domercado. Do ponto de vista de resíduosde agrotóxicos, o risco se concentra so-bre alguns produtos, especialmente o

tomate, a batata e o morango. Tambémcenoura, no verão, e pepino, no inver-no, são produtos de risco. Contudo, amaior parte das hortaliças apresenta bai-xo risco devido à baixa utilização deagrotóxicos.

Um capítulo à parte se refere à qua-lidade da água de irrigação. Com eleva-da freqüência, as águas estão contami-nadas com esgotos e/ou excrementos deanimais, tornando as hortaliças um meiode disseminação de doenças, especial-mente verminoses1 .

Jardinagem oriental

A jardinagem oriental típica se con-centra sobretudo nos cinturões verdesdas cidades maiores e hoje não está li-gada apenas à colônia nipo-brasileira.Responde pela maior parte do abasteci-mento da população urbana do país. Asestruturas de comercialização estão or-ganizadas para levar seus produtos paraconsumidores a grande distância do lo-cal de produção. Seus produtos típicossão o tomate, a cenoura e as folhosas,especialmente alface e repolho. Culti-va-se ainda um grande número de ou-tras hortaliças, para o atendimento dademanda cosmopolita das metrópoles.

Para a manutenção da fertilidade e dasanidade das lavouras, esses sistemasdependem fortemente da indústria quí-mica. Contudo, é forte a tradição de adu-bação orgânica, embora sua utilizaçãoesteja em declínio. Entre as causas dessedeclínio, destaca-se a escassez de mate-riais a preços competitivos no comérciode insumos, além das restrições ideoló-gicas desenvolvidas pela propaganda in-dustrial. Essas restrições ideológicas es-tão se atenuando em algumas regiões,mas ainda são muito fortes em outras.

A produção de hortaliças em jardi-nagem oriental causa um grande impac-to ao meio ambiente em termos de resí-duos de agrotóxicos. Provavelmentetambém em termos de contaminação daágua do subsolo com nitratos. Os danosde erosão do solo são relativamente

menores, posto que as áreas de lavourararamente ultrapassam alguns hectares,e que os agricultores são usualmenteproprietários.

A economicidade dessas explora-ções se baseia na diversificação de cul-turas, com elevada geração de renda ede emprego por unidade de área emcomparação com outras atividades agrí-colas. Contudo, os ganhos dos agricul-tores são fortemente pressionados, deum lado, pelo custo dos insumos, e deoutro, pelo sistema de comercialização.A produção desses sistemas édirecionada a mercados exigentes, demodo que sua classificação visual é ri-gorosa. A parte da produção que nãoalcança o padrão exigido é orientadapara os mercados menos exigentes e/oumais pobres. Os riscos de resíduos nes-ses produtos são maiores do que no casodas hortas, devido à maior utilização deagrotóxicos.

A utilização liberal de uréia e deoutros nitrogenados faz crer que os ní-veis de nitratos nas folhosas sejam ele-vados, representando riscos para a saú-de humana. Freqüentemente a qualida-de das águas de irrigação é insatisfatória.Contudo, a contaminação nesse casopode ser também química. Isso porque,nas imediações das médias e grandescidades do Brasil, os cursos d’água re-cebem o despejo de efluentes industri-ais, além dos domésticos. Consideradaa possibilidade de contaminação porresíduos de agrotóxicos, esgoto domi-ciliar, esgoto industrial e nitratos, émuito difícil convencer o consumidorbem informado das grandes cidades deque o consumo de hortaliças não com-porta riscos. Aí está uma das causas deo mercado de produtos orgânicos estarcrescendo a taxas de 10% ao ano2 .

Monoculturas olerícolas

As monoculturas de olerícolas foramse implantando em função da concen-tração do consumo atual em uns poucosprodutos, da melhoria dos transportes e

1 No meio urbano, o veículo mais importante de disseminação da cisticercose não é a carne de porco, mas as verduras. A recente epidemia de cólera não foipotente o suficiente para chamar a atenção para a gravidade do problema de contaminação da água de irrigação.2 Agroanalysis, p. 8 - 11, dez 1996. Outras fontes estimam o crescimento do consumo em 30% ao ano. No Ceagesp, comercializam-se presentemente até deztoneladas por dia de produtos orgânicos, mas a quantidade de produtos vendida diretamente pelos agricultores no atacado e no varejo é bem maior. Vertambém Revista Veja, p. 35, 21 de maio de 1997.

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do desenvolvimento da agroquímica.Essas monoculturas atendem mercadosconsumidores muito distantes dasregiões de produção e dentre seus pro-dutos típicos se incluem o tomate e abatata, mas a lista cresce rapidamente:cenoura, cebola. A lógica damonocultura de olerícolas se baseia naeconomia de escala e na especializaçãodo produtor, que passa a dominar me-lhor tanto as técnicas de cultivo quantoo mercado de umas poucas culturas, nãoraro uma única. É uma estratégia de,através da escala, fugir da pressão doscustos de produção e dos preços baixos.

Freqüentemente, a monocultura seinstala sobre terras arrendadas, uma vezque a simplificação dos sistemas agrí-colas torna mais difícil o controlefitossanitário, levando ao constante des-locamento. Embora a produção dasmonoculturas olerícolas seja orientadapara os grandes centros consumidores,os meios de transporte e as relações co-merciais lhe permitem alcançar inclusi-ve as pequenas povoações do interior,desde que bem servidas de estradas.

A fertilidade desses sistemas depen-de ainda mais dos fertilizantes mineraisdo que a jardinagem oriental, havendocasos de nenhuma utilização de adubosorgânicos. Para o controle fitossanitárioutilizam-se agrotóxicos abundantemen-te, tendo como limite apenas a relaçãoentre seu preço e o do produto colhido.As medidas de controle da erosãofreqüentemente se restringem àquelasque podem por em risco o rendimentoda cultura naquele ano. Preocupações delongo prazo estão fora de cogitação. Amonocultura de hortaliças causa umimpacto importante no ambiente tantodevido à dimensão das áreas cultivadas,da ordem de dezenas de hectares, quan-to pela quantidade de agrotóxicos e fer-tilizantes minerais utilizados.

Do ponto de vista econômico, amonocultura é um empreendimento dealto risco. Esse risco tem um componen-te biológico e um componente de mer-cado. O biológico se deve à fragilidadeda monocultura frente às pragas, doen-ças e adversidades climáticas. O com-

ponente de mercado se deve à depen-dência de um único produto, cujo preçodesfavorável pode arruinar o agricultor.Comparativamente aos outros sistemasde cultivo de hortaliças, a monoculturade olerícolas é um verdadeiro jogo deazar, podendo os agricultores ganharemmuito dinheiro numa safra, para o per-derem na seguinte.

Os produtos das monoculturas dehortaliças sofrem pela mesma pressãode mercado que os da jardinagem orien-tal. A fração mais bonita da colheita vaipara os mercados mais ricos e exigen-tes, mas os preços a nível do consumi-dor das grandes cidades não são refleti-dos proporcionalmente a nível do pro-dutor. A qualidade desses produtos emtermos de resíduos de agrotóxicos temos mesmos senões que no caso da jardi-nagem oriental. Possivelmente, muitosconsumidores evitariam esses produtosde soubessem dos riscos de muitos dosagrotóxicos utilizados, por exemplo, nasmonoculturas de tomate, melancia, ce-noura e cebola.

O problema da baixa qualidade daágua de irrigação tende a ser menosimportante nas monoculturas de horta-liças, devido à maior distância das fon-tes poluidoras.

OS PONTOS FRACOS DAMODERNA PRODUÇÃO DE

HORTALIÇAS

Considerado o volume da produção,a tendência predominante é de cresci-mento das monoculturas de olerícolas,supostamente com uma importante pro-dução complementar dos sistemas dejardinagem oriental. Focalizando essatendência, alguns pontos podem ser des-tacados quanto à sustentabilidade.

Sumidouro de energia, de nutrientese de biomassa

A eficiência energética passou a serum critério de avaliação do desempe-nho das culturas a partir da crise do pe-tróleo do início dos anos 70. Subitamen-

te, os países desenvolvidos se deramconta de como sua agricultura estavadependente do petróleo, e ainda está.Iniciaram-se então estudos visando aquantificar a eficiência energética dosdiferentes sistemas de cultivo, pionei-ramente por Pimentel e Lockeretz3 .

Esses estudos revelaram que, doponto de vista energético, os sistemasde agricultura considerados atrasados,tipo roça, eram mais eficientes que ossistemas modernos, baseados no usointensivo de insumos industriais. Os doisitens que mais oneram os sistemas mo-dernos são os fertilizantes, especialmen-te os nitrogenados, e os agrotóxicos.Contudo, antes mesmo da industrializa-ção da agricultura, a produção de horta-liças já era a atividade energeticamentemenos eficiente no âmbito da produçãovegetal. Com o uso de insumos indus-triais, seu balanço energético ficou ain-da mais desfavorável. Há quem consi-dere esse problema irrelevante, postoque a função das hortaliças é fornecerpreponderantemente vitaminas e mine-rais, não energia. Assim, a necessidadede melhores balanços energéticos fica-ria para os cereais e tuberosas. Nãoobstante, esse parece ser um raciocíniode visão estreita, face à prevista exaustãodas reservas de minerais para a produ-ção de fertilizantes potássicos efosfatados e de combustível fóssil paraa produção de nitrogenados e deagrotóxicos. Pode se discutir se estãocorretos os prazos previstos para aexaustão das reservas de exploraçãoeconômica, mas não há dúvidas quantoà sua futura exaustão.

Do ponto de vista do aproveitamen-to dos fertilizantes minerais aplicados,as taxas são sensivelmente baixas. É deconhecimento geral que, para as cultu-ras de campo, o aproveitamento do ni-trogênio é da ordem de apenas 50%4,um pouco mais para o potássio e 6% a10% para o fósforo. Em muitas situa-ções de horta, o aproveitamento pode serainda mais baixo, uma vez que a irriga-ção, mais a precipitação natural, somamfacilmente 3000 mm ou mais de água.Essa quantidade de água intensifica a

3 Sobre esse assunto, uma síntese interessante da discussão que se seguiu à crise do petróleo pode ser encontrada em LOCKERETZ, W. (ed.) Agriculture andEnergy. New York: Academic Press, 1977.4 A parte lixiviada do nitrogênio, vai causar a já clássica contaminação do lençol freático com nitratos, comprometendo sua potabilidade.

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lixiviação de nutrientes e leva a altera-ções na estrutura dos solos.

A produção de hortaliças é tambémaltamente concentradora de biomassa.Mesmo com o crescimento da fertiliza-ção mineral, os olericultores sempre re-lutaram em abandonar os adubos orgâ-nicos, em face de seus visíveis efeitosna produção. Assim, a maioria dos sis-temas em jardinagem oriental e mesmoas monoculturas de olerícolascontinuam fazendo uso da adubação or-gânica. Nesses sistemas, a utilização deestercos animais resulta na transferên-cia de fertilidade das áreas onde se pro-duzem as forragens (ou grãos) para asáreas cultivadas com olerícolas. NoNorte do Paraná, para cada hectare dehortaliças, o esterco utilizadocorresponde a uma área de coleta pelosanimais entre 10 e 20 hectares. Isso re-presenta uma elevada concentração debiomassa a favor das hortaliças, àsexpensas das áreas de pasto e/ou de la-vouras anuais. Uma observação interes-sante é que, nessa mesma região, asmelhores hortas orgânicas consomem amesma quantidade de esterco que asconvencionais, para uma produção apa-rentemente equivalente, mas sem a uti-lização de adubos minerais. Isso podeser conseguido graças ao manejo da ro-tação de culturas, do solo e da irriga-ção.

Não reproducibilidade do sistemade cultivo

Na escola de agronomia francesa,fala-se em condições de reprodução dossistemas de cultivo. Por reprodução dosistema se entende a possibilidade deobter os mesmos rendimentos, com asmesmas técnicas, ao longo dos anos.Para isso, as condições de produção nãopodem se degradar ao longo do tempo.Enfocando sob esse prisma o conjuntoda agricultura brasileira, somos força-dos a concluir que ela não reuniu histo-ricamente as condições para sua repro-dução e tão pouco as reúne no presente.

De fato, a história da nossa agricul-tura, na grande maioria das situações,pode ser contada como o caminho dafloresta para o pasto ralo. Com o advento

da moto-mecanização, dos fertilizantesminerais e biocidas, observou-se, em umprimeiro momento, uma recuperação dacapacidade de produção dos terrenosantigos. Contudo, esses recursos tam-bém se revelaram insuficientes e/ou ina-dequados, sendo necessário aumentarcrescentemente as doses e a potência dosmeios utilizados. Assim, após um bre-ve fôlego, esses recursos tecnológicostambém se mostraram limitados.

Sob esse prisma, a moderna produ-ção de hortaliças, especialmente asmonoculturas olerícolas, pode ser enten-dida como um sistema baseado nessebreve fôlego. À semelhança dos siste-mas de roça, em que o campo era aban-donado após poucos anos de explora-ção, as monoculturas olerícolas aban-donam a área quando os recursos quí-micos já não resolvem os problemas.Convém ressaltar, porém, que essa se-melhança é acompanhada de uma gran-de diferença. O impacto das roças so-bre o ambiente se restringia a poucomais que a área da clareira, enquanto oimpacto das monoculturas olerícolas émuito mais amplo, devido à natureza eà potência dos seus recursos químicos emecânicos. Na nossa compreensão, oque fundamentalmente ainda não assi-milamos é que a agricultura é a arte demanejar o ciclo do carbono na naturezae que a maior parte do decaimento dascondições de produção, tanto para a roçaquanto para a monocultura de olerícolas,está na baixa produção de biomassa dossistemas implantados.

A superação da nãoreproducibilidade da agricultura brasi-leira exige um grande esforço dereformulação da nossa mentalidadeagronômica. Em importante medida, deagricultores do extrato herbáceo, preci-samos nos converter em agricultores deárvores. Precisamos reconceituar a fer-tilidade do ambiente, entendendo queela não está no solo mas no ecossistema.Nesse sentido, a assim chamada agri-cultura orgânica é um primeiro passo,não sem tropeços, num longo caminho.

Comprometimento do meio ambien-te e da saúde

Já se comentou ao longo do textosobre algumas das formas de compro-metimento do ambiente pela modernaprodução de hortaliças. Esse impacto ébastante visível sobre o solo (contami-nação com agrotóxicos e erosão) e aágua (contaminação com nutrientes mi-nerais e agrotóxicos, turbidez) e já foicomentado nesse texto.

Deve-se considerar ainda, além des-sas, a contaminação dos agricultorescom agrotóxicos, comum no país, em-bora não haja estatísticas específicaspara a olericultura. Os dados publica-dos em 1996, referentes a 1994, regis-tram 3740 ocorrências, que representa-ram 8,34% do total de intoxicações5 .Contudo, essas estatísticas estão abaixoda realidade por três razões: apenas oscasos mais graves chegam ao serviço desaúde, a notificação não é obrigatória emuitas vezes os sintomas são genéricos,não sendo correlacionados pelo médicocom o uso de agrotóxicos.

O impacto menos visível porém sedá sobre a biodiversidade. Tal impactoresulta por um lado da supressão dosorganismos devido aos biocidas e, poroutro, da uniformização genética dasplantas cultivadas. De fato, a modernaprodução se alicerça sobre uma estreitabase genética, tanto em termos de cul-turas como de cultivares. A redução nonúmero de culturas é muitas vezes con-testada, com base no maior número deespécies que se encontra nos mercadoscosmopolitas das grandes cidades, rela-tivamente às cidades menores. Nessecaso, a falha de percepção reside em que,apesar dessa aparente diversidade, onúmero de espécies que responde pelaquase totalidade do consumo éreduzidíssimo, não ocupando todos osdedos de uma mão. Em termos de culti-vares dentro de cada espécie, o númeroàs vezes parece razoável. Contudo, aanálise dos tipos parentais revela unspoucos grupos genéticos para a maioriados produtos da moderna produção dehortaliças.

OS PONTOS FRACOS DACOMERCIALIZAÇÃO

Ao se indagar os agricultores sobre

5 Somadas às intoxicações com inseticidas para uso doméstico, em 1993 e 1994, os agrotóxicos foram responsáveis por 11 - 12% das intoxicações no Brasil.Ver BORTOLETTO, M. E. et al. Estatística anual de casos de intoxicação e envenenamento: Brasil, 1994. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/SINITOX, 1996.

KHATOUNIAN, C.A. A sustentabilidade e o cultivo de hortaliças.

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os problemas que enfrentam na produ-ção, a maioria usualmente coloca osbaixos preços como primeira queixa.Como não há sustentabilidade semlucratividade, essa queixa precisa serseriamente considerada.

Em passado não muito distante, osintermediários foram considerados osresponsáveis pelos baixos preços pagosaos agricultores e altos preços cobradosdos consumidores, sendo pejorativa-mente chamados de atravessadores. Defato, observa-se na atividade deintermediação uma capacidade de acu-mulação sem paralelo com a da produ-ção. A nível mundial, é muito grande onúmero de iniciativas tentando alteraressa situação a favor dos agricultores.Em alguns casos, a venda direta podeser uma solução, mas pode exigir umtempo considerável do agricultor, emprejuízo da produção. Acomercialização em grupos informais ouformais, como cooperativas, é outrapossibilidade, mas, quando a escalacresce, pode se transformar num tipovelado de intermediação. Há, finalmen-te, em especial para os mercados maio-res, a possibilidade de se trabalhar comleilões, nos moldes dos operados naHolanda. Caso o produto não alcance acotação esperada, ele será sumariamen-te destruído ou convertido em ração.Naturalmente, destruir sumariamente oproduto exige um elevado nível de or-ganização dos agricultores.

OS PONTOS FRACOS DO CON-SUMO

Pelo lado do consumo, os pontos fra-cos mais evidentes são seu descompassocom a sazonalidade, os preços a níveldo consumidor e a concentração empoucos produtos.

A natureza funciona por ciclos: asestações do ano, os dias e as noites, osciclos biológicos das espécies. Até hápoucas décadas, quase toda a humani-dade se acoplava ao ritmo das estaçõespelo consumo dos produtos da época.Naturalmente, a lei da oferta e da pro-cura valorizava os produtos fora de épo-ca, tornando-os atrativos para os agri-cultores. Contudo, as forças do ambi-ente limitavam a extensão dos cultivosfora de época. Com o surgimento dosartifícios químicos, essas forças do

ambiente foram sendo contornadas: aexcessiva umidade relativa do ar se con-tornava com fungicidas, o fracoenraizamento com fertilizantes emquantidade, os artrópodos pragas cominseticidas e acaricidas e, mais recente-mente, o frio ou as chuvas torrenciaistêm sido contornados com estufas plás-ticas. Com esse arsenal tem sido possí-vel produzir diversas hortaliças todo oano, embora com grande impacto sobreo ambiente, riscos para o agricultor, re-síduos de agrotóxicos e perda de valornutritivo e sabor dos produtos. Para con-tornar esses inconvenientes, é precisopor um lado informar e reeducar o con-sumidor e por outro lado, garantir ren-da para os agricultores com os produtosda época. Ainda que difícil, esse pro-blema tem de ser enfrentado, posto quenão há sustentabilidade quando se des-respeitam ciclos fundamentais da natu-reza, como são as estações do ano. Deum modo um tanto poético, as mangase abacaxis são parte do verão, da mes-ma forma que os pinhões e pecans sãopartes do inverno.

Outro ponto fraco do consumo sãoos altos preços das hortaliças a nível dosconsumidores. Relativamente a outrosprodutos das dietas correntes no Brasil,como o arroz, o feijão ou a carne, ospreços das hortaliças chegam a serexorbitantes. Um pé de alface custa pelomenos meio quilo de arroz, um maço debrócolos, um quilo de carne. Isso limitaa expansão do consumo, que no conjun-to da população ainda é bastante baixo.

O terceiro limitante no âmbito doconsumo está em sua excessiva concen-tração em um reduzido número de pro-dutos. Tomate, alface e batata são ashortaliças mais consumidas no país, ape-sar de não serem as melhores opçõesnem em termos nutritivos nem de pro-dução agrícola. Há ainda uma tremendalacuna na educação da população, es-pecialmente quanto ao valor nutritivodos alimentos e ao risco de contamina-ção com agrotóxicos e agentes biológi-cos. Nesse caminho, há um espaço ain-da muito pouco explorado de valoriza-ção dos produtos regionais. A sobrevi-vência em um mundo globalizado de-penderá em importante medida da ca-pacidade das populações de bem apro-veitarem seus recursos locais, em opo-sição a uma dieta uniformizada e sem

colorido, baseada em trigo, tomate efrango. Na era da globalização, valemmais as soluções regionais.

PARA SUPERAR OS PONTOSFRACOS

A superação desses pontos fracosna busca de maior sustentabilidadepassa por diversas esferas. Dentre elas,destacam-se a necessidade de um novopadrão tecnológico de produção ecomercialização, novos padrões dequalidade e um novo corpo conceituale técnico.

Novo padrão tecnológico daprodução e comercialização

Face aos vários aspectos deinsustentabilidade já mencionados nes-se texto, urge o desenvolvimento demodelos alternativos, capazes de garan-tir produção em qualidade e quantidadeadequadas, conservando os recursosnaturais e propiciando padrões aceitá-veis de existência material para os agri-cultores.

Uma primeira aproximação a esseideal é a produção dita orgânica. Embo-ra não perfeita, essa modalidade de pro-dução tem se expandido e aprimorado,oferecendo produtos de boa qualidadee a preços finais competitivos. Contu-do, é tamanho o interesse dos consumi-dores que esse mercado ainda é forte-mente comprador. A produção orgâni-ca tem garantido melhor renda aos agri-cultores através de dois mecanismos: aredução nos custos de produção e a re-dução da intermediação. Qual o fôlegodesses mecanismos para enfrentar umagrande ampliação da produção ainda éuma interrogação.

Novos padrões de qualidade

É urgente que os agentes envolvidosno setor olerícola percebam a mudançanos critérios para a avaliação da quali-dade dos produtos. Além da qualidadevisual, o mercado pede hoje produtosisentos de resíduos e dá preferência àprodução adequada aos aspectossociais e ambientais. No mundo da in-formação, não é mais realista contar-secom a ignorância do consumidor comofator de consumo. Possivelmente mui-tos agricultores e técnicos estão perden-do a dianteira não porque esses novos

KHATOUNIAN, C.A. A sustentabilidade e o cultivo de hortaliças.

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205Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

MEIRELLES, L. Produção e comercialização de hortaliças orgânicas. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, p. 205-210, 1997. Palestra. Suplemento.

Produção e comercialização de hortaliças orgânicas.Production and commercialization of organic vegetables.

Laércio MeirellesCAE (Centro de Agricultura Ecológica), Ipê - RS

Palavras-chave : aspectos sociais, capitalização, qualidade dos alimentos, agricultura ecológica, certificação,sustentabilidade, biotecnologia, comercialização.keywords : social aspects, capitalization, ecological agriculture, regulation, sustainability, food quality, biotechnology,trade.

“Cansei de ser moderno. De agora em diante serei eterno.”Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

padrões sejam inatingíveis, mas porquenão se estão dando conta da direção dasmudanças6 .

Novo corpo conceitual e técnico

Há também que se adotar um novocorpo conceitual e técnico na formação

dos profissionais das ciências agrárias.Há quase um século, mas especialmen-te nas quatro ou cinco últimas décadas,a formação agronômica se concentrouem conceitos e práticas da mecânica eda química, minimizando as contribui-ções da biologia. Na atividade de trei-namento do pessoal técnico que oIAPAR tem levado a cabo, nota-se anecessidade de reforçar os conhecimen-

tos de biologia, sobretudo no campo daecologia. Em geral, os profissionais de-claram uma grande modificação na suamaneira de interpretar os problemasagrícolas ao enfocá-los sob o prisma dabiologia. Até há pouco, a agronomiapodia ser entendida como combinaçãode química e mecânica aplicadas. Asexigências da sociedade atual forçamuma modificação dessa visão, transfor-mando-se a agronomia na ecologia apli-cada à produção agrícola.

6 Um interessante caso de agricultores que sofreram perdas econômicas porque seu produto estava contaminado e resolveram melhorar seu produto éfocalizado no suplemento agrícola de O Estado de São Paulo, de 02 de julho de 1997, na reportagem sobre os produtores de batata de Itapetininga.

INTRODUÇÃO

O presente texto se propõe atraçar comentários sobre aprodução e comercialização

de produtos orgânicos em geral e deolerícolas em particular. Parte de umbreve diagnóstico da realidade, passan-do por diferentes percepções e argumen-tos a favor da produção orgânica de ali-mentos e chega a situação que hoje nosencontramos em relação a certificaçãoe comercialização deste produtos noBrasil, com as dificuldades que umacomplexa realidade de um país conti-nental impõe a qualquer análise ou dia-gnóstico. Acabamos por concluir que háduas percepções distintas envolvidas naprodução orgânica de alimentos e que éimportante que tenhamos informaçõessobre elas para que possamos nosposicionar com maior clareza.

A REALIDADE

Crises ambientais não são propria-mente uma novidade na história da hu-manidade. O que sobressai aos olhos,no momento atual, é a dimensão destacrise, planetária e duradoura. A agricul-tura tem desempenhado um importantepapel na crise ecológica que hora atra-vessamos. Na famosa “Declaração deDen Bosch”, de 1991, a agricultura foiapontada como a grande vilã da conta-minação ambiental. E, para resgatar osseus pecados, deveria consumir, a par-tir daí, insumos de tecnologia de ponta,que garantissem uma alta produtivida-de mas não contaminassem o meio-am-biente. Na realidade, tanto o diagnósti-co quanto a penitência sugerida sãoapresentados através de um viés equi-vocado. Afinal, se a agricultura tem suaparcela de culpa na contaminação do

planeta, essa culpa está muito mais re-lacionada ao fato de que a agriculturaconsume produtos contaminantes, doque ao fato de que os produz. E a solu-ção proposta traz, novamente, uma saí-da que não permite à agriculturaindependizar-se do complexo industri-al, que se coloca tanto à montante quantoà jusante da atividade agrícola. Este pa-pel da agricultura, de consumidora deprodutos industrializados e mera produ-tora de matéria-prima para a indústria,ou de alimentos a baixo custo para aspopulações urbanas é, na verdade, a for-ça motriz da moderna sociedade urba-no-industrial.

O PROBLEMA NA ÓTICA DOAGRICULTOR

A crise por que passa a agriculturamundial, nos dias de hoje, só nos apon-

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ta como solução a preocupação em ge-rar e resgatar tecnologias que permitamao agricultor ter uma produção que, aomesmo tempo, mantenha a sua seguran-ça alimentar e a do planeta e que nãoseja, obrigatoriamente, consumidora deprodutos industrializados. Este é um dosprincípios básicos em que se apoia aagricultura ecológica - resgatar e gerartecnologias que tenham, como motiva-ção básica, a agricultura. Por mais ób-via e lógica que possa parecer uma afir-mação como essa, na verdade, ela suge-re uma mudança considerável no eixoque, nas últimas décadas, tem orienta-do a ciência agronômica.

Além desta preocupação central, oagricultor tem se deparado com outrosproblemas, na maioria das vezes, decor-rente do acima mencionado:descapitalização crescente, empobreci-mento dos solos, intoxicações, mortes.Os agricultores sentem, dia a dia, a ne-cessidade de recuperar seu papel de des-taque como um dos eixos importantespara o desenvolvimento da sociedade.E esta recuperação passa, necessaria-mente, por um questionamento sobre astecnologias hoje empregadas na agricul-tura. De onde surgiram? A quem inte-ressam? Para onde têm nos levado?

A PERSPECTIVA DOCONSUMIDOR

Aliada às preocupações do agricul-tor, uma outra perspectiva tem motiva-do o crescimento da proposta da agri-cultura orgânica. É a crescente deman-da dos consumidores por produtos sau-dáveis, isentos de agrotóxicos. Ao lon-go das últimas décadas temos colecio-nado constantes denúncias de contami-nação dos alimentos. Morango no RioGrande do Sul, maçã no Paraná, batataem Minas Gerais, tomate na Espanha...A busca de uma vida mais saudável, parase contrapor ao estresse provocado pelamodernidade, também tem levado a umaumento constante no nível de exigênciado consumidor em relação à qualidadede sua alimentação. Há na sociedade umarelação cada vez mais forte e mais fre-quente entre alimentação e saúde.

Mas essa busca de alimentos maissaudáveis não é, como poderíamos su-por, uma peculiaridade dos países do

hemisfério Norte ou de classes abasta-das nos países do Sul. É verdade quenas sociedades ou classes sociais cha-madas de pós-materialistas há uma níti-da percepção dos problemas ambientaiscontemporâneos. Mas também é verda-de que países ou grupos sociais menosfavorecidos possuem uma história dedemandas por melhor qualidade de vida,que muitas vezes se mescla com lutaspor um meio-ambiente mais limpo. Adécada de setenta foi marcada por umafamosa frase: “Melhor morrer de cân-cer aos 50 anos do que de fome aos 20”.A costumeira visão, de que quem temfome não pode se preocupar se o ali-mento está ou não contaminado, vemcaindo em descrédito. Afinal, a popula-ção deve ter acesso à comida para satis-fazer suas necessidades, mas estes ali-mentos devem trazer saúde e não carên-cias nutricionais ou doenças. E, estapercepção está cada vez mais presentena população como um todo, na medi-da em que se tem acesso a informações.

Aqui, reside o motivo dos alimen-tos orgânicos ainda serem uma deman-da mais consistente na classes média ealta. São elas quem têm tido mais aces-so a informações e, consequentemente,tem mais elementos para decidir sobrequal alimento consumir. Urge, então,buscar formas de se socializar as infor-mações sobre o que é a qualidade dosalimentos. Não só apresentar problemasóbvios, como a contaminação poragrotóxicos, mas, também, sobre a qua-lidade nutricional propriamente dita. Hárelativamente poucas pesquisas sobreeste tema, destacando-se trabalhos rea-lizados por Schuphan, além de citaçõesfeitas por Claude Aubert e FrancisChaboussou.

A seguir, são apresentados algunsexemplos que dizem respeito à qualida-de de alimentos orgânicos, conforme aadubação empregada.

Teor de Matéria Seca

“Os aportes elevados de N levam auma redução da matéria seca, especial-mente em frutos e legumes ricos emáguas”. Assim, “alguns fabricantes deespinafre em conserva, do Oeste daFrança, constataram que, para fabricaruma lata de conserva de 1 kg, com teor

de matéria seca constante, necessitavamduas vezes mais espinafres frescos quevinte anos antes”. (Claude Aubert).Pesquisas feitas por Schuphan mostramque o teor de matéria seca de batata e es-pinafre aumenta 23% quando adubadoscom matéria orgânica se comparados àprodução com NPK. A ciência médicaatual já estabeleceu uma clara correlaçãoentre dieta pobre em fibras e o aumentosignificativo de câncer de cólon,especialmente na população ocidental.

Teor de Glicídios

Estudos feitos na Alemanha ePolônia mostram um decréscimo na re-dução de amido, na maioria das culti-vares de batata testadas. Quanto às ver-duras, há redução no teor de açúcar,mesmo com doses muito baixas de Nsintético (Claude Aubert).

Teor de Nitratos

Como todos sabemos, o nitrato setransforma em nitrito, na saliva e no es-tômago. E os nitritos, combinadas comas aminas, formam as nitrosaminas,cancerígenas. Schuphan estudou avariação do teor de nitrato em cultiva-res de alface (Tabela 1) e há trabalhosde pesquisa relatando resultados seme-lhantes em espinafre e cenoura.

PRODUÇÃO

Como consequência dos problemasexpostos, tanto consumidores quantoprodutores têm se preocupado em bus-car alternativas que viabilizem uma pro-dução que resgate os objetivos princi-pais da atividade agrícola - a produçãode alimentos. De tal forma que não só anossa, mas também as gerações futuraspossam satisfazer as suas necessidades.Até o momento, esta busca de alternati-vas têm se dado no seio de organizaçõesda sociedade civil. São organizações-não-governamentais, organizações dospróprios agricultores, como associaçõese pequenas cooperativas, organizaçõesde consumidores e algumas entidades decaráter representativo, tanto de agricul-tores quanto de técnicos. O Estado nãotem, em nenhum momento, se preocu-

MEIRELLES, L. Produção e comercialização de hortaliças orgânicas.

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pado em apoiar estas iniciativas, salvoalgumas honrosas exceções, que partemmuito mais da boa vontade pessoal dealguns, que de uma decisão política doaparelho de Estado.

É dentro deste quadro, de prementenecessidade e total falta de apoio, que aagricultura orgânica vem se desenvol-vendo. Se esta forma de entendimentodos processos agrícolas atingiu a dimen-são que hoje tem, é muito mais por seumérito intrínseco que por interesses co-merciais distantes da agricultura. Ain-da que estes interesses também já se fa-çam presentes hoje, particularmente noque diz respeito à divulgação dos pro-dutos oriundos da engenharia genéticacomo solução para conferir à agricultu-ra o caráter de sustentabilidade hoje exi-gido pela sociedade.

O mérito intrínseco da agriculturaecológica ao qual nos referimos é, fun-damentalmente, o fato de trazer em seubojo um componente de resgate da au-tonomia da sociedade como um todo ena produção agropecuária, além deuniversalizar os benefícios desta produ-ção, não os limitando a pequenos e po-derosos grupos de interessados. É im-perioso esclarecer que a perspectiva daprodução orgânica de hortaliças é tra-balhar com níveis de produtividade eapresentação do produto compatíveiscom as necessidades da populaçãoatual e o nível de exigência do consu-midor. A produção orgânica de hortali-ças é hoje uma realidade que, se aindanão atingiu um volume que possa sercontabilizado com números estatísticosexpressivos, ao menos aponta um cami-nho seguro para a olericultura. Esta pro-dução se baseia em alguns postulados:

I) Geração/utilização de tecnologiasque privilegiem o agricultor: há umanecessidade, cada vez mais premente deque resgatemos ou geremos tecnologiasque tornem o agricultor menos depen-dente do complexo industrial, que hojecomprime a agricultura.

II) Geração/utilização de tecnologiasque possam ser socializadas em seusprincípios, adaptadas às diferentes rea-lidades e apropriadas pelos agricultores.

III) Balanço energético positivo: éimperioso que a agricultura possa gerarmais energia do que aquela que conso-me. A petroquímica fez com que agri-cultura passasse de produtora a consu-midora de energia, o que a inviabilizado ponto de vista da sustentabilidade oumesmo do ponto de vista econômico amédio/largo prazo.

IV) Sustentabilidade: é necessáriogarantir às gerações futuras o direito aomesmo acesso aos recursos naturais queestamos tendo e, também, permitir umacesso igualitário a atual geração.

AS DUAS PERSPECTIVAS

Duas perspectivas diferentes podem,na conjuntura atual, servir de incentivopara uma tomada de decisão em relaçãoao incremento da produção e dacomercialização de olerícolas orgânicas.A primeira destas perspectivas tememergido mais das nações do Norte,com um conceito bastante questionávelde sustentabilidade. As próprias agên-cias internacionais de desenvolvimentotêm buscado disseminar as informaçõesrelativas aos problemas decorrentes daRevolução Verde e propõem, como al-ternativa, a utilização de produtos oriun-

dos da biotecnologia, para que a agri-cultura produza o alimento necessáriopara saciar a fome do mundo, sem acontaminação e/ou esgotamento dos re-cursos naturais. Os argumentos e instru-mentos, a partir desta perspectiva, sãoos mesmos conhecidos de há muito:

1) O aumento da demanda por pro-dutos orgânicos e a necessidade de queuma parcela dos agricultores ocupemeste nicho;

2) O preço diferenciado pago poruma parcela elitizada de consumidores,dispostos a preservar sua saúde, inde-pendente do custo;

3) O incentivo e subsídio freqüenteà agricultura orgânica, nas suas muitasvariações, por parte dos governos dospaíses do Norte. Em razão disto é co-mum ouvir-se afirmações do tipo “é aagricultura do futuro”;

4) A necessidade de compatibilizara produção agropecuária com as deman-das sociais por um meio ambiente sadioe preservado.

A revista Agroanalysis, v. 16, n. 12,dez. de 1996, traz uma matéria especialsobre o “Mercado de produtos orgâni-cos”. Nesta matéria podemos encontrar,de uma maneira suscinta, os argumen-tos desta linha de raciocínio.

Foi a partir desta perspectiva quese desenvolveu e segue se desenvolven-do a agricultura orgânica nos países donorte. Nos EUA, por exemplo, no esta-do da Califórnia, onde a olericultura ébastante “desenvolvida” tem aconteci-do alguns fatos curiosos. A agriculturaorgânica, que nasceu como uma formade privilegiar a pequena produção e seusmétodos de cultivos menos intensivostornou-se, hoje, um grande negócio que

Tabela 1. Teor de Nitrato existente em alface, segundo a adubação e a cultivar.

oãçabudAotartiNedroeTeseravitluC

)ocserfosepedg001/3ONgM(

opiT )ah/gk(roeT atineB edliH anoM eseirrakceN airotkiV

elortnoC 0 111 66 85 86 68

otsopmoC 001 731 801 87 74 09

otsopmoC 042 341 202 331 08 161

KPN 001 285 545 685 594 426

KPN 042 666.1 534.1 102.1 412.1 262.1

Fonte: Schuphan

MEIRELLES, L. Produção e comercialização de hortaliças orgânicas.

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lembra muito pouco as preocupaçõessócio-ambientais que a motivaram.Atualmente, é um negócio de grandesempresas, que fazem com que as horta-liças cheguem a vários pontos dos EUA,acondicionadas em sofisticadas emba-lagens e transportes refrigerados. Ospreços ao consumidor têm se mantidoelevados, enquanto os preços pagos aosagricultores vêm caindo sistematica-mente.

As lojas comerciais de produtosagropecuários possuem uma gama cadavez maior de insumos orgânicos que sãoelaborados em fábricas e transportadospor grandes distâncias. São produtosdiferenciados, enriquecidos com N, commicrorganismos, com oligoelementos,etc... Empresas de certificação especia-lizaram-se em avalizar a seriedade dotrabalho feito pelos agricultores e se tor-naram um negócio mais rentável que aprodução em si. As agroindústrias deprodutos orgânicos são concentradas namãos de poucos empresários, o que aca-ba por repetir os equívocos que o movi-mento, de início, pretendia mudar: bai-xos preços pagos aos agricultores, cen-tralização da industrialização, baixa re-muneração da mão-de-obra, etc.

Podemos fazer uma reflexão sobre osargumentos expostos acima e asexperiências práticas que temosvivenciado. Estas já podem nos mostrarque aqueles são falaciosos ou ocultam overdadeiro sentido das ações que promo-vem:

1) Não se trata de nicho de mercado,mas de uma tendência sólida, que depen-de apenas de uma universalização dasinformações para que se consolide deuma maneira definitiva e majoritária;

2) O preço diferenciado é apenas umasituação conjuntural e não é sustentável,sequer necessária, a médio/longo prazo;

3) O incentivo dos países do Norte àagricultura orgânica decorre, sobretudo,da sua utilização como um apaziguadordas tensões socio-ambientais e não dasua eficiência e eficácia como agricul-tura. Há uma clara tendência dos paísesricos de descartar a agricultura como umdos eixos de sustentação da sociedade;

4) A compatibilização da agriculturacom um meio-ambiente preservado estásendo pensada através do crescimento dautilização de produtos biotecnológicos,

o que não reverte em absoluto o grau dedependência da agricultura aos produtosindustrializados. E há temores, cada vezmais fundamentados, de que os produ-tos biotecnológicos podem mesmo agra-var os problemas ambientais que agorase propõem a resolver.

Enfim, hoje muitos daqueles pionei-ros que começaram este trabalho têmfeito este tipo de questionamento, porsentirem a inutilidade de boa parte deseus esforços e apregoam a necessida-de de que outros caminhos sejam bus-cados. Já existem hoje, dentre estes no-vos caminhos, grupos de moradores ur-banos que se associam a agricultores,compartilhando idéias de vão desde oplanejamento da produção até aos ris-cos da colheita.

A outra perspectiva, a que nosreferimos acima, surge de umquestionamento mais profundo e críti-co das origens e motivações da “moder-nização da agricultura”. Estas críticasprovêm do entendimento de que, a par-tir de importantes descobertas científi-cas, foram selecionadas exatamenteaquelas que traziam mais possibilidadesde serem traduzidas, em termostecnológicos, em produtos industrializa-dos e, consequentemente, de propiciaro acúmulo de capital. Um exemplo podeser dado com as discussões que se tra-varam entre Liebig, com sua importan-te contribuição no campo da químicaagrícola e Pasteur, que afirmava serLiebig quimicista e reducionista. Não foiuma evidência científica que fez comque os trabalhos de Liebig tivessem aprojeção que conhecemos e os dePasteur, em relação à agricultura, caís-sem no ostracismo. Antes, foi a maiordificuldade em patentear e industriali-zar complexos organismos e fenômenosoriundos do aspecto biológico do solo ea facilidade de se fazer este processo depatenteamento, industrialização eacúmulo com, por exemplo, os adubosde síntese. Após este momento, que deuma ou outra maneira continha um ob-jetivo de busca de verdades científicas,outras descobertas, muito distantes daagricultura, vieram a se realizar - o des-cobrimento e utilização de moléculasquímicas sintetizadas em laboratóriopara fins bélicos. Estas moléculas che-garam à agricultura sob o eufemismo dedefensivos agrícolas e revestidas de uma

cientificidade no mínimo questionávelnas suas origens e métodos.

São estes alguns dosquestionamentos a que nos referíamos,que fazem com que uma nova maneirade se pensar o modelo e as tecnologiasagrícolas esteja surgindo. Nesta linha deraciocínio, também são prementes asrespostas à grave crise ambiental queassola o planeta, à necessidade de ali-mentos saudáveis e à busca de umamelhor qualidade de vida por parte dapopulação. Mas, o principal, dentro des-ta lógica é buscarmos um modelo dedesenvolvimento para a agricultura quere-valorize a atividade agrícola e queresgate a importância do papel social eeconômico que a produção familiar podeter em um processo de desenvolvimen-to mais equilibrado e harmônico. Nestemomento podemos parafrasear a citaçãoque se encontra no início do texto e di-zer que a ciência agronômica deveriavoltar as suas preocupações não maispara a modernidade mas, sim, para asustentabilidade. Uma sustentabilidadenão só ambiental, mas também políticae social.

CERTIFICAÇÃO

Um dos temas que surgemfreqüentemente, quando nos referimosà produção e comercialização de pro-dutos orgânicos, é a certificação. Acertificação é o processo que garante aoconsumidor que o produto que ele con-some é de fato o que se propõe a ser. Ouseja, produzido sem insumos químicosde síntese. A certificação, tal como seapresenta hoje, tem sua origem em doisfatos: o primeiro é que acomercialização de produtos orgânicosvende algo que não se enxerga - o ali-mento puro, livre de resíduos tóxicos.O segundo, é que se entendeu, e muitosentendem até hoje, que era necessárioum sobrepreço pelo fato deste alimentoser “limpo”. Na realidade, hoje está lon-ge de ser um consenso a “necessidade”do produto orgânico ser mais caro doque o chamado convencional. E isto porvárias razões: as tecnologias desenvol-vidas têm permitido que, em vários ca-sos, o custo de produção seja menorquando se produz o alimento “limpo”;há o entendimento de que não se pode

MEIRELLES, L. Produção e comercialização de hortaliças orgânicas.

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produzir o alimento de melhor qualida-de apenas para uma parcela privilegia-da da população; e, ainda, a visão de quequeremos que a produção e o consumodos alimentos orgânicos aumentem sig-nificativamente, sendo, para isso, neces-sário que o preço seja competitivo.

De uma forma ou de outra, quer opreço do alimento orgânico seja ou nãomais caro, a formação de instituiçõesque têm como função garantir que a pro-dução do agricultor é aquilo que ele afir-ma ser é, no mínimo, questionável. Cria-se mais um elo na já extensa correnteque separa produtores e consumidores.Onera-se o preço final do produto. Nãose privilegia formas de organização so-cial que poderiam, por parte do agricul-tor, ser criadas para conferir maiorcredibilidade à sua produção e, por par-te do consumidor, exigir seriedade notrabalho desenvolvido pelo agricultor. E,principalmente, não é cumprida a fun-ção que se propõe cumprir, ou seja, a degarantir que o produto do agricultor foiproduzido dentro das normasestabelecidas. Isto, pelo simples fato deque não é possível, para nenhumcertificador, acompanhar, diariamente,as atividades de um agricultor. Em nos-so entendimento, a certificação de pro-dutos orgânicos, da forma como estásendo pretendida hoje, é uma práticadesnecessária e que não atende aos in-teresses do movimento como um todo.Claro que entendemos que o consumi-dor deve ser resguardado de possíveisfraudes mas, para isto, temos uma le-gislação moderna e regulamentada emseus mínimos detalhes - o código dedefesa do consumidor.

Hoje, este debate está posto na socie-dade. Desde novembro de 1994 discu-te-se, a nível ministerial, uma portariaque deveria regulamentar a certificaçãoe comercialização de produtos orgâni-cos. Atualmente existe no CongressoNacional um projeto de lei e umsubstituvo que tratam sobre esta maté-ria. Tanto um como outro trazem emseus conteúdos a visão de se entregar aempresas privadas o papel decertificadoras. Até hoje, maio de 1997,de qualquer forma, não temos no Paísuma legislação específica que regula-mente a comercialização de produtosorgânicos. Nos parece, inclusive, quepoderia ser o momento oportuno paraum debate mais amplo, que tratasse da

qualidade dos alimentos colocados àdisposição da população. Quem sabe,poderíamos informar não apenas quaisprodutos não contêm agrotóxicos mastambém aqueles que os contêm, fatorelativamente comum na Alemanha porexemplo. Para diferenciar a origem dosprodutos, poderíamos ter um “selo ver-de”, indicando boa qualidade, e um “selovermelho”, mostrando alto risco.

Hoje, é uma exigência do MercadoComum Europeu que os produtos orgâ-nicos a serem importados pelos seuspaíses-membros devam ser certificados.E, esta certificação só será válida com oaval dos governos dos países exporta-dores. Nesta necessidade, imposta pelaCEE, é que se encontra a verdadeira ra-zão de estarmos envolvidos com estetema e não por uma demanda dos con-sumidores internos. Demanda esta quenunca tivemos a oportunidade de pre-senciar, em oito anos de experiência decomercialização de produtos orgânicos.

COMERCIALIZAÇÃO

As estratégias de comercialização deolerícolas orgânicas têm sido as maisdiversas. As feiras-livres têm cumpridoum papel importante neste contexto. Eminúmeros estados do Brasil existem,hoje, feiras de diversos tamanhos e vo-lumes comercializados. Em alguns es-tados, como Rio Grande do Sul e SãoPaulo, para citarmos duas realidades queconhecemos de perto, existem váriasfeiras não só nas capitais, mas tambémem pequenas cidades do interior. Algu-mas das vantagens deste sistema são:

1) O preço é normalmente bastantecompensador para o agricultor, por setratar de uma estratégia de baixo custologístico e de preço final (semintermediação);

2) Permite uma ampla e constantedivulgação do trabalho, através de dife-rentes estratégias de ‘marketing’ diretoque podem ser utilizadas;

3) Permite um contato direto entreprodutor e consumidor, que diminui oanonimato do mercado;

4) Leva a um contato maior com a ci-dade, que muitas vezes contribui para queo agricultor desmistifique a concepçãofantasiosa do modus vivendi urbano.

Ainda citando o Rio Grande do Sul,em Porto Alegre, aos sábados podem serencontrados mais de dez pontos de ven-da de produtos orgânicos, em diferen-tes espaços públicos. Desde bancas iso-ladas que movimentam R$ 300,00 eviabilizam a comercialização de duas outrês famílias de agricultores, até umagrande feira, organizada pela Coopera-tiva COOLMÉIA que chega a movi-mentar R$ 30.000,00 por sábado eviabiliza a comercialização de mais de200 famílias. E não está contabilizadaaqui a comercialização em espaços pri-vados. Mais do que um número, isto sig-nifica um exemplo. Há também diver-sas experiências com entregas diretas aoconsumidor. Normalmente cestas deprodutos, em sua maioria olerícolas. Éum atendimento personalizado que mui-tas vezes tem evoluído para uma rela-ção mais estreita entre o produtor e oconsumidor, como boletins informativossobre a produção ou visitas as áreas dosagricultores. A limitação das feiras oudas entregas diretas fica por conta daimpossibilidade de que, no momentoatual, cumpram um papel de escoamen-to de volumes maiores de produção.

Assim, há algum tempo os super-mercados são vistos como um grandefilão a ser explorado pelos produtoresorgânicos. Hoje existem grandes redesde supermercados que têm mostrado uminteresse crescente na comercializaçãodestes produtos, seguindo uma tendên-cia mundial. No caso de olerícolas, duasmaneiras de se efetuar estacomercialização podem ser observadas:a primeira através de gôndolas especí-ficas para produtos orgânicos e, a segun-da, através de mercadorias embaladasindividualmente, normalmente de for-ma sofisticada, que trazem algum tipode identificação, atestando a origem doproduto. Podem ser observadas vanta-gens e desvantagens nas duasestratégias, e há um certo consenso deque as duas não são excludentes. Aliás,em outros países a tendência tem sidoexatamente que os produtos orgânicosestejam tanto em gôndolas isoladasquanto embaladas individualmente jun-to a produtos similares. No caso dos pro-dutos embalados, o maior problema ficapor conta do custo destas embalagense, principalmente, pelo caráter poucoecológico que sua maioria possui.

MEIRELLES, L. Produção e comercialização de hortaliças orgânicas.

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VIEIRA, M. do C. O papel das universidades no desenvolvimento da olericultura no Brasil. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, p. 210-212, 1997.Palestra. Suplemento.

O papel das universidades no desenvolvimento da olericultura no Brasil.The role of university in the development of horticulture in Brazil.

Maria do Carmo VieiraUFMS - DCA, C. Postal 533, 79804-970 Dourados - MS

Palavras-chave: ensino, diagnose, disciplinas, pesquisa, extensão, hortaliças.Keywords: teaching, diagnosis, contents, research, extension, vegetables.

CONCLUSÃO

A grave crise ambiental que atraves-samos tem levado à necessidade de bus-carmos alternativas a esta situação. Nocaso da produção de alimentos orgâni-cos há inúmeras motivações para bus-carmos estas alternativas, partindo tan-to do produtor quanto do consumidor.Podemos partir de questionamentosmais superficiais, que se limitariam àqualidade ambiental dos métodos e pro-dutos provenientes da produçãoagropecuária, ou outros mais profundosque envolveriam também os aspectosenergéticos, sociais e políticos. Assim,o que nos cabe neste momento é procu-rar uma definição sobre quais destas in-

terrogações irão nos orientar ao buscar-mos novos caminhos. A partir desta de-finição estaremos optando ou por ape-nas uma correção de rumos, que não tra-rá mudanças significativas no modeloatual, ou por uma busca de outro mode-lo de desenvolvimento para a socieda-de como um todo e para o setor ruralem particular.

LITERATURA CONSULTADA

AUBERT, C. L’agriculture biologique - pour quoiet comment la pratiquer. Paris: Le Courrierdu Livre, 1977.

CHABOUSSOU, F. Plantas doentes pelo uso deagrotóxicos - a teoria da trofobiose. PortoAlegre: LP&M, 1987.

EHLERS, E. Agricultura sustentável - origens eperspectivas de um novo paradigma. São

Paulo: Livros da Terra, 1996.FOSTER, T. Luces y sombras de la

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GUIMARÃES, A.P. A Crise Agrária. Rio de Ja-neiro: Paz e Terra, 1982.

MARTINEZ ALIER, J. De la economía ecológi-ca al ecologismo popular. Montevideo:Nordan - Comunidad, 1995.

MARTINEZ ALIER, J.; SCHLUEPMANN, K.La ecologia y la economía. México: Fondode Cultura Económica, 1991.

PINHEIRO, S.; GUAZZELLI, M.J.; AURVALLEA.E. Agropecuária sem Veneno. Porto Ale-gre: LP&M, 1985.

VOGTMANN, H.; WAGNER, R. Agriculturaecológica - teoria e prática, Porto Alegre:Mercado Aberto, 1987.

INTRODUÇÃO

Foi no âmbito de uma Univer-sidade, a antiga ESAV (Escola Superior de Agricultura de

Viçosa) e atual UFV (Universidade Fe-deral de Viçosa), durante a realizaçãode um curso intensivo de hortaliças, noano de 1961, que a Olericultura brasi-leira passou a existir de fato com a cria-ção da Sociedade de Olericultura doBrasil - SOB. Considerando estar a uni-versidade alicerçada no tripé ensino,pesquisa e extensão, é uma de suas fun-ções formar os profissionais que irãotrabalhar com hortaliças em diversosaspectos, desde o próprio ensino até aprodução e comercialização. Surge daía grande responsabilidade da universi-dade e sua necessidade de estar cons-tantemente auto-avaliando o seu papel.

Segundo Pereira & Makishima(1993), de modo geral, até a década de70, as pesquisas com hortaliças foramdesenvolvidas pelas universidades e ins-titutos e muitos resultados foram incor-porados aos sistemas de produção e sãousados até hoje. É preciso refletir, en-tão, sobre como as universidades estãodesempenhando esse papel, pois a trans-missão de conhecimentos por si só nemsempre é suficiente para a boa forma-ção profissional. É necessário valorizara integração multidisciplinar e atendertambém aos anseios dos agricultores,que são os que trabalham com a terra.Além disso, há falta de intercâmbio en-tre os próprios docentes dos cursos deAgronomia e, com isso, não há unifor-midade no comportamento da maioria.

Segundo Tanaka (1991), há, na uni-versidade, uma dificuldade cada vez

maior de comunicação entre o profes-sor e o aluno, que muitas vezes aceitapassivamente tudo o que lhe é imposto,sem se dar conta de seu papel na reali-zação de mudanças. Percebe-se a valo-rização grande da técnica, sem conside-rar as diferentes implicações sociais paraa boa formação profissional. A conclu-são da autora de que há falta deintegração multidisciplinar confirma aconstatação anterior de Pereira (1990),o que pode levar à formação de profis-sionais deficientes, com visão parcial darealidade, ou seja, que sentirão grandedificuldade em corresponder aos anseiosdos agricultores.

MATERIAL E MÉTODOS

Com a finalidade de diagnosticar asituação das universidades quanto ao

MEIRELLES, L. Produção e comercialização de hortaliças orgânicas.

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ensino de Olericultura nos níveis de gra-duação e pós-graduação, além do inter-câmbio entre a universidade e os que tra-balham no meio rural, foi feito um le-vantamento de dados junto às instituiçõesde ensino superior de Agronomia no País.

Utilizou-se um questionário ondeforam solicitadas as seguintes informa-ções: 1) disciplinas na área deOlericultura/Plantas Medicinais nos ní-veis de graduação e pós-graduação, comrespectivas cargas horárias e outros; 2)professores que atuam em Olericulturacom áreas de formação e qualificação;3) linhas de pesquisa, 4) orientação dealunos de iniciação científica e pós-gra-duação; 5) estágio curricular na gradu-ação; 6) disponibilidade de pessoal deapoio; 7) recursos disponíveis na bibli-oteca e 8) trabalhos de extensão na áreade Olericultura. Os dados obtidos foramusados para se ter uma visão geral doque se pretendia, uma vez que nem to-dos questionários foram devolvidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O número de docentes que atendemdisciplinas na área de Olericultura, nosníveis de graduação e pós-graduação,aumentou em relação a levantamentosfeitos anteriormente (Pereira, 1984 e1990). Atualmente, incluindo bolsistasdo CNPq na modalidade desenvolvi-mento regional, há em média três pro-fessores na área, variando de um a dez.A qualificação também está melhor, jáque a maioria (cerca de 70%) dos do-centes possui o título de doutor, ao con-trário do que encontrou Pereira (1990),apenas 40% de doutores.

A carga horária da disciplinaOlericultura, a nível de graduação, estáem torno de 60 a 75 horas, mas foi con-siderada insuficiente por 58% dos agrô-nomos que atuam na área (Braz, 1995).Quanto aos acadêmicos que cursaram adisciplina, 50% acharam a capacitaçãoem aulas práticas insuficiente, enquan-to 35% consideraram as aulas teóricasinsuficientes. Tanto os alunos como osagrônomos, em geral, foram unânimesem apontar a necessidade de mais ativi-dades práticas (Braz, 1995). Constata-se que em algumas universidades, es-pecialmente naquelas com cursos deagronomia criados mais recentemente,

as aulas práticas limitam-se a algumasvisitas a propriedades rurais.

O estágio curricular para os estudan-tes de graduação em agronomia já éobrigatório em cerca de 70% das uni-versidades e cerca de 10% dos alunos ocumprem na área de Olericultura. Porser uma atividade prática, esta pode es-tar sendo uma maneira de atender aosanseios da comunidade universitária ede agrônomos que apontaram a neces-sidade de melhoria do ensino deOlericultura (Braz, 1995).

Alguns dados apresentados pelosdocentes nos questionários, como as li-nhas de pesquisa e os trabalhos de ex-tensão, mostram que a universidade ain-da é uma instituição fechada. Observa-se que cada docente, ou, no máximo, osdocentes de uma mesma instituição, es-tão trabalhando de forma isolada daque-les de outras instituições. Não há rela-cionamento interinstitucional, pois ostrabalhos de pesquisa que estão sendoconduzidos refletem, muitas vezes, ointeresse individual. A própria defini-ção de linhas de pesquisa ainda não estábem clara e o que se observa é que al-gumas delas são, na verdade, projetosindividuais dos professores. Se houves-se melhor entendimento do que são li-nhas de pesquisa, haveria uma razãoconcreta para aglutinar os docentes emuma equipe de trabalho, que poderia ser,inclusive, interinstitucional, como jáocorre em algumas universidades ouentre essas e outras instituições.

Dentre as linhas de pesquisa citadasencontram-se plasticultura, cultivo pro-tegido, melhoramento de hortaliças (fei-jão-de-vagem, melão, cebola e outras),avaliação de linhagens e cultivares dealface e pimentão, banco degermoplasma de cucurbitáceas, compor-tamento de clones de mandioquinha-sal-sa, nutrição e adubação, avaliação deboro e matéria orgânica em melancia,produção orgânica de tomate e outras,manejo de solo, solarização,fitopatologia, viroses em cucurbitáceas,patologia de plantas olerícolas, sistemasde produção e manejo de hortaliças (in-clui taioba, cará, inhame emandioquinha-salsa), rotação de cultu-ras, hidroponia (alface, morango, toma-te, gengibre e outras), fisiologia de cres-cimento e desenvolvimento em hortali-

ças e plantas medicinais, fenologia decouve-manteiga, uso de fitorreguladoresem hortícolas, manejo da cultura demorango, vernalização de alho, propa-gação de hortaliças, produção de mudasde hortaliças, substratos para produçãode mudas, produção de sementes dehortaliças, semeadura direta de tomatee cebola, pesquisas com Lentinulaedodes (shitakee), irrigação emhortícolas, manejo pós-colheita em hor-taliças e plantas medicinais,etnobotânica de plantas medicinais.

Também ao verificar essas linhas depesquisa, observa-se que o número deespécies de hortaliças estudadas é pe-queno, sendo contempladas as culturasde exportação e aquelas que demandamuso excessivo de insumos. Também Pe-reira (1990) constatou que apenas 25espécies de hortaliças eram estudadaspelos docentes, número esse que achoupequeno, comparado ao número totalexistente, quase o triplo, o que demons-tra a falta de preocupação com a preser-vação de germoplasma e com a possibi-lidade de aproveitamento do grandepotencial de espécies consideradas nãoconvencionais, de alto valor nutritivo ecujos resíduos podem ser aproveitadosna alimentação animal ou ainda comoutras finalidades. As linhas de traba-lho dos professores parecem ser, de certaforma, transmitidas aos alunos, uma vezque a pretensão de trabalho dos discen-tes concentra-se, em cerca de 50% doscasos, nas seguintes culturas: tomate,alface, pimentão, cenoura, pepino e ce-bola (Braz, 1995). Também Lima & Pe-reira (1995), fazendo análise da produçãotécnico-científica das instituições de pes-quisa com hortaliças, exceto de universi-dades, constataram que as dez espéciesmais contempladas foram: tomate, bata-ta, alho, hortaliças, cenoura, cebola, ervi-lha, pimentão, batata-doce e pepino.

A participação de professores nos re-sumos de congressos da SOB nos últimosnove anos foi a seguinte: 1989 - 58%, 1990- 48%, 1991 - 52%, 1992 - 46%, 1993 -35%, 1994 - 42% (Braz, 1995), 1995 -51%, 1996 - 65% e 1997 - 51%.

Um aspecto bastante positivo cons-tatado pelos questionários devolvidosfoi a criação, ao nível de graduação, dedisciplinas complementares na área deOlericultura, dentre elas: Solanáceas

VIEIRA, M. do C. O papel das universidades no desenvolvimento da olericultura no Brasil.

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Olerícolas; Raízes, Bulbos e Tubércu-los; Solanáceas; Olericultura Especial ePlantas Hortícolas. Quanto ao conteúdode Plantas Medicinais, cerca de 30% dasuniversidades já o incluem em uma dis-ciplina própria, mas a maioria ainda mi-nistra poucas horas junto ao conteúdo dedisciplinas como Fitotecnia, AgriculturaEspecial e Horticultura Aplicada.

A nível de pós-graduação, houve umavanço em termos de novas disciplinascriadas. Essa situação tornou-se possí-vel graças à melhoria na qualificaçãodos docentes e apresenta, como conse-qüência, a formação de profissionaiscom uma gama de conhecimentos maisampla e profunda nas áreas deOlericultura e Plantas Medicinais. Onúmero médio de disciplinas por insti-tuição é três (variável de um a 17), in-cluindo tópicos de plantas aromático-medicinais. Dentre essas disciplinas in-cluem-se: Hortaliças de Clima Tropical;Olericultura Avançada; Produção deHortaliças; Melhoramento Genético deHortaliças; Olericultura Especial; Pro-dução de Sementes de Hortaliças e Plan-tas Medicinais; Cultura de Plantas Me-dicinais, Aromáticas e Condimentares;Etnobotânica; Tópicos em Pesquisa emPlantas Medicinais e Aromáticas; Cul-tivo de Plantas Medicinais e Aromáti-cas; Doenças de Hortaliças; TécnicasEspeciais de Propagação de PlantasHortícolas; Comercialização de PlantasHortícolas; Ação Fisiológica deFitorreguladores em Plantas Hortícolas;Bioquímica e Fisiologia de Vegetais

Pós-Colheita; Bataticultura; Tecnologiade Frutos e Hortaliças; Nutrição Mine-ral de Hortaliças e Plasticultura.

As disciplinas das áreas deOlericultura e Plantas Medicinais, napós-graduação, fazem parte, em geral,de cursos de agronomia ou fitotecnia,com áreas de concentrações diversas,como Produção Vegetal, Produção eTecnologia de Sementes, Melhoramen-to Genético Vegetal, Fitotecnia eHorticultura, tal como observado porPereira (1993).

A orientação docente se dá nos ní-veis de graduação, na iniciação cientí-fica, e de pós-graduação. O número dealunos orientados por professor nos doisníveis é variável de zero a cinco, sendoque os números maiores ocorrem nasinstituições com maior tradição em pes-quisa e com pessoal mais qualificado.

As atividades de extensão das uni-versidades na área de Olericultura ain-da são relativamente poucas e muitasvezes não têm sido dirigidas para o pro-dutor rural, o que poderia funcionarcomo um dos mecanismos para se iden-tificar suas demandas em termos de pes-quisa e de profissionais da Olericultura.Dentre os trabalhos de extensão citados,encontram-se: hortas escolares, comu-nitárias, domésticas e outras; trabalhosem parceria com o sistema EMATER,Secretarias de Agricultura,PETROBRÁS e outras; dias de campo,cursos para produtores e comunidade emgeral; visitas e assessoria técnicas e ou-tros trabalhos sem definição de públi-

co. Não se pode deixar de registrar quemuitos eventos de caráter científico e degrande porte, como simpósios, congres-sos, workshops e outros, que constitu-em atividades de extensão, são organiza-dos por diferentes instituições de ensino.

AGRADECIMENTOS

A autora agradece a todos os cole-gas que colaboraram enviando muitasdas informações aqui apresentadas.

LITERATURA CONSULTADA

BRAZ, L.T. Perfil do ensino de Olericultura de-lineado por olericultores, agrônomos e aca-dêmicos. 1995. (dados não publicados).

LIMA, M.F.B.F.; PEREIRA, W. Diagnóstico daprodução técnico-científica sobre hortaliçasdas instituições de pesquisa no período 1980-1992. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 13,n. 1, p. 6 10, 1995.

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PEREIRA, A.L. Avaliação do ensino daOlericultura no Brasil. SOBInforma, Itajaí,v. 9, n. 1, p. 18 19, 1990.

PEREIRA, A.L. O ensino e a pesquisa daOlericultura nos cursos de Agronomia.Horticultura Brasileira, Brasília, v. 11, n. 2,p. 211 212, 1993.

PEREIRA, W.; MAKISHIMA, N. Diagnóstico dapesquisa com hortaliças no Brasil - períodode 1980 a 1993. Horticultura Brasileira,Brasília, v. 11, n. 2, p. 112 113, 1993.

TANAKA, I. “Educação e extensão - hierarquias,autoritarismos e (des) conhecimentos. Umaanálise da relação pedagógica na Universi-dade e no meio rural”. SOBInforma, v. 10,n. 1, p. 22 23, 1991.

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213Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

COUTO, FAD´A. A sociedade de olericultura do Brasil e o desenvolvimento da pesquisa em hortaliça. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, p. 213-215. Palestra. Suplemento.

A Sociedade de Olericultura do Brasil e o desenvolvimento da pesquisaem hortaliça.The Brazilian Society of Vegetable Science and the development ofresearch in vegetable crops.

Flávio Augusto D’A. CoutoSócio Fundador da Sociedade de Olericultura do Brasil, Ex-professor catedrático da UREMG, Pesquisador aposentado da EmbrapaHortaliças.

Palavras-chave: origem, importância, comercialização, ensino, histórico, tomate, Lycopersicon esculentum, tipo Santa Cruz, repolho,Brassica oleracea var. capitata, cultivar Louco, couve-flor, Brassica oleracea var. botrytis, grupo Teresópolis, grupo Piracicaba, sementes.Keywords: origin, importance, market, teaching, historical, tomato, Lycopersicon esculentum, ‘Santa Cruz’ group, cabbage, Brassicaoleracea var. capitata, ‘Louco’ group, Brassica oleracea var. botrytis, ‘Teresópolis’ group, ‘Piracicaba’ group, seeds.

Oconsumo das diversas es-pécies de hortaliças está in-timamente ligado à ali-

mentação dos povos desde a mais re-mota antigüidade. À medida que a co-municação entre eles aumentou, verifi-cou-se a troca de experiências e assim,as espécies vegetais foram migrando desua região de origem e incorporando-seao hábito alimentar de outros grupos so-ciais.

A palavra latina hortus especificavauma área cercada com muros ou outrostipos de proteção, cultivada dentro doscastelos ou das cidades antigas. Noshortus eram cultivados, entre outras, asplantas denominadas olus, que o dicio-nário latim-português traduz como cou-ves (couve, couve-flor, couve-brócolos,couve-de-Bruxelas, couve-rábano e re-polho) e legumes. As couves foram clas-sificadas por Lineu como Brassicaoleracea por serem provavelmente asmais comuns entre as olus. Do vocábu-lo latino hortus veio para a língua por-tuguesa a palavra horto, como sendo olocal onde era feito o plantio desse gru-po de plantas, e horticultura como sen-do a atividade desenvolvida nos hortos.

Com a expansão dos Hortos, outraspalavras passaram a designar atividadesespecíficas, tais como horta, hortofrutícola e horto florestal. Na religiãocristã, o Horto das Oliveiras, local ondeCristo se reuniu com os seus discípulospela última vez, em Jerusalém, entroupara a história. Com o crescimento dahorticultura, várias especialidades são

hoje bem conhecidas, tais como aolericultura, a jardinocultura, a floricul-tura, o paisagismo, a viveiricultura, afruticultura e a silvicultura.

No Brasil, a produção comercial dehortaliças foi feita em primeiro lugar nascercanias de grandes cidades, localiza-das a poucas horas do mercado consu-midor, dada a perecibilidade da maioriadas espécies. As hortaliças menos pere-cíveis começaram a ser produzidas emlocais mais distantes, como foi o casoda cebola, cujos extensos plantios nadécada de 30 foram feitos pelos imigran-tes portugueses ou seus descendentes,nos municípios de Rio Grande e SãoJosé do Norte, às margens da Lagoa dosPatos, no Rio Grande do Sul. A cebolaproduzida era transportada por navios epor estrada de ferro para os mercadosdo Rio de Janeiro, São Paulo e outros.

Na década de 40 as hortas noscinturões verdes de São Paulo e Rio deJaneiro, cultivadas principalmente porimigrantes de origem italiana, portugue-sa e japonesa atingiram importância eco-nômica elevada, sendo criados osprimórdios dos mercados atacadistas hojeexistentes. A rede de Centrais de Abas-tecimentos - CEASAs - criadas na déca-da de 70, atestam o desenvolvimento eco-nômico do setor. Notável é também hojea venda de hortaliças em supermercadossendo já visível a importância que a po-pulação está dando às hortaliças já pre-paradas, prontas para uso.

Apesar do desenvolvimento crescen-te da produção de hortaliças na décadade 40, seu ensino nas universidades eramuito restrito. A horticultura era lecio-nada em apenas um ano e na maioriadas escolas superiores de agricultura,resumia-se a duas aulas teóricas e umaprática por semana. Como a fruticultu-ra e a silvicultura eram setores de maiorimportância econômica, a olericulturaera lecionada apenas em algumas aulaspráticas. Na Escola Superior de Agri-cultura do Estado de Minas Gerais, emViçosa, face à sua formação inicial, oensino da horticultura já era feito nadécada de 40 em dois anos, sendo trêssemestres de fruticultura e um deolericultura. No início da década de 50houve novo desdobramento no ensinodeste setor, passando a olericultura a serlecionada em um ano com a carga horá-ria de duas aulas teóricas e uma práticapor semana.

Em meados da década de 50, sob aégide do Projeto ETAA 55, a EscolaSuperior de Agricultura da antigaUREMG, hoje UFV, firmou convêniocom o Escritório Técnico de Agricultu-ra - ETA, para desenvolver uma parce-ria com a Universidade de Purdue, Es-tados Unidos, em um programa visan-do a ampliação do ensino, da pesquisa eda extensão. Na área do ensino foi pro-gramado um curso intensivo de cincosemanas em hortaliças a nível de pós-graduação, ministrado em janeiro - fe-vereiro de 1958, com a carga horária de150 horas. Para este curso foram con-

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vidados a dar aulas sobre suas especiali-dades pesquisadores de Piracicaba, Cam-pinas, Pelotas e Domingos Petrolini, alémde quatro professores de Viçosa.

No decorrer do curso reuniram-se osprofessores Flávio Augusto D’A. Couto,Marcílio Dias e Flávio F. Rocha com oobjetivo de trocarem idéias sobre a ne-cessidade da criação de uma agremiaçãodos interessados no desenvolvimento daolericultura. O assunto foi levado a con-sideração dos professores visitantes edos técnicos que freqüentavam o curso,que abraçaram a idéia, aceitando o con-vite feito pela Escola Superior de Agri-cultura da UREMG para realizar o Con-gresso da Fundação da Sociedade, querecebeu o nome de Sociedade deOlericultura do Brasil - SOB, em julhode 1961, em Viçosa,.

O primeiro congresso da SOB, rea-lizado entre os dias 23 e 29 de julho de1961, reuniu dezoito professores e pes-quisadores, tendo sido apresentados ediscutidos quinze trabalhos científicos(Tabela 1). Esta foi uma sementelançada em solo fértil. A SOB passoudesde então a fazer congressos anuais,fazendo cumprir assim sua finalidade decongregar os interessados no desenvol-vimento da pesquisa, do ensino e daextensão em hortaliças.

A pesquisa formal em olericulturafoi iniciada no Brasil com a criação doCampo Experimental de Horticultura,em 16 de abril de 1938, instalado emDomingos Petrolini, município de RioGrande (RS), pela então Secretaria deEstado dos Negócios da Agricultura,Indústria e Comércio. Naquela época,além da produção já extensiva de cebo-la nos municípios Rio Grande e São Josédo Norte, eram também importantes noRio Grande do Sul a produção de bata-ta, alho, tomate, ervilha e aspargo. Osprojetos de pesquisa realizados sob acoordenação do pesquisador FlorianoFernando Guimarães trouxeram realcontribuição ao desenvolvimentotecnológico dos plantios destasespécies, permitindo na década de 1940a instalação de pequenas indústrias deenlatamento de aspargo em Pelotas e deervilha em Rosário do Sul.

A importância econômica das hor-taliças no Rio Grande do Sul, motivouo então Instituto Agronômico do Sul, do

Ministério da Agricultura, em Pelotas,a também desenvolver, na década de 50,trabalhos de pesquisa com batata, ervi-lha, aspargo, tomate, e outros.

Em São Paulo a pesquisa foi inten-sificada a partir dos anos 50, sendo no-táveis os trabalhos desenvolvidos noInstituto Agronômico de Campinas,com batata e morango, e na Escola Su-perior de Agricultura “Luiz de Queiroz”,com repolho, couve-flor, berinjela e ce-bola. Foram também importantes os tra-balhos de defesa sanitária vegetal reali-zados no Instituto Biológico de São Pau-lo principalmente com batata, alface etomate.

Em Minas Gerais a pesquisa em hor-taliças foi intensificada no final da dé-cada de 50, mais centralizada em alho etomate, em Viçosa, e na produção debatata-semente, em Maria da Fé.

No estado do Rio de Janeiro a pes-quisa formal se desenvolveu mais emfitopatologia, no final da década de 50,na Escola Nacional de Agronomia. Con-tribuição notável veio do trabalho infor-mal em melhoramento de tomate, coma criação da cultivar Santa Cruz, nomeda região onde foi desenvolvida, origi-nária de cruzamentos naturais entre ascultivares da época conhecidas comoCereja (de frutos pequenos e quase es-féricos) e Lúculus (de formato seme-lhante à cereja, porém com frutos umpouco maiores), com a cultivar italianaSan Marzano, cultivada na Itália parafins industriais. As cultivares Cereja eLúculos tinham frutos com mesocarpofino. A cultivar San Marzano era de fru-tos maiores, com o comprimento bemmaior que o diâmetro, de mesocarpoespesso e com boa resistência ao trans-porte. A cultivar Santa Cruz foi selecio-nada pelos agricultores para frutosbiloculares, mesocarpo espesso, diâme-tro pouco menor que o comprimento ede tamanho maior que as cultivares co-muns. Esta nova cultivar criou o que sechama hoje de tipo Santa Cruz, comvárias cultivares selecionadas para pro-duzirem frutos deste tipo.

A pesquisa em olericultura, teve umforte impulso na década de 60 com acriação do Curso de pós-graduação anível de mestrado pela UniversidadeRural do Estado de Minas Gerais, atualUniversidade Federal de Viçosa. A pri-

meira turma matriculada em 1961, tevenove engenheiros agrônomos, proveni-entes de quatro estados brasileiros.

Também na década de 60, o Institu-to de Pesquisa Agronômicas - IPA, dePernambuco, decidiu dar um forte apoioà pesquisa em cebola, visto que a áreaplantada no estado estava em francaexpansão às margens do Rio São Fran-cisco e a tecnologia empregada era mui-to deficiente. A Estação Experimentalde Jatinã, na região maior produtoradesta hortaliça, passou a trabalhar emcebola, com o apoio de três pesquisa-dores. Também novo apoio foi dado àEstação Experimental de Vitória de San-to Antão, na região que abastece Recifecom hortaliças folhosas.

Com a criação da EMBRAPA em1974, a pesquisa em olericultura teve umnovo impulso face à determinação dadiretoria da empresa, em 1976, de que aUEPAE de Brasília, se dedicasse exclu-sivamente à pesquisa de hortaliças.Além de alocar uma equipemultidisciplinar de doze pesquisadores,foi dado início à construção de novoslaboratórios e às necessárias mudançasna infra-estrutura do campo experimen-tal de 100 hectares. Em 1981, esta uni-dade foi elevada a categoria de CentroNacional, denominado então de CentroNacional de Pesquisa de Hortaliças, ten-do atualmente 50 pesquisadores.

A pesquisa em hortaliças recebeutambém o forte impacto da SegundaGuerra Mundial, ocorrida entre 1939 e1945, quando o bloqueio marítimo dooceano Atlântico pelos submarinos daspotências combatentes, cortou o víncu-lo de abastecimento do Brasil com se-mentes de hortaliças que na época eramprovenientes da França, Holanda e Por-tugal. Os olericultores, pressionadospela falta de sementes das espéciesbienais, passaram a colher as sementesdas plantas que aqui floresciam, mes-mo sem a vernalização normal do climaeuropeu, necessária à produção doshormônios de florescimento deste gru-pos de hortaliças. Abriu-se assim umnovo campo de pesquisa e de melhora-mento genético dessas espécies, surgin-do, em São Paulo, as cultivares “Lou-co”, de repolho, e Teresópolis ePiracicaba Precoce, de couve-flor.

A produção comercial de sementes

COUTO, F.A.D´A. A sociedade de olericultura do Brasil e o desenvolvimento da pesquisa em hortaliça.

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215Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

de hortaliças no Brasil começou então adespertar interesse. A produção de se-mentes certificada de cebola foi organi-zada no Rio Grande do Sul em 1950 pelaSecretaria da Agricultura daquele Esta-do. Todavia a criação de empresas deprodução de sementes do setor de em-balagens específicas para conservaçãoda qualidade das sementes tais comoHorticeres, Isla e Agroflora, só veio aacontecer em 1970.

A Sociedade de Olericultura do Bra-sil, através de seus congressos anuais,espelha bem o crescimento da pesquisaem olericultura desde a sua fundação.Os quinze trabalhos apresentados em1961 (Tabela 1) passaram já a 58 em1971, sendo 369 em 1996. Com a difi-culdade de se discutirem todas estaspesquisas em um só congresso, os tra-balhos são atualmente publicados comantecedência em forma de resumos eapresentados em painéis para discussãopormenorizada entre os interessadosnaquele assunto específico.

As espécies de hortaliças cobertaspor trabalhos científicos também cres-ceu de nove em 1961 para 32 em 1996,mostrando claramente o incremento daspesquisas e a importância crescente dasespécies (Tabela 1).

A espécie mais pesquisada entre1961 e 1996 foi o tomate, sempre pre-sente de maneira marcante em todos oscongressos. A tabela 2 mostra este cres-cimento, tendo sido apresentados em1996, 77 trabalhos em tomate. A batata

Tabela 1. Número de trabalhos de pesquisa e número de espécies de hortaliças apre-sentados nos congressos da SOB de 1961, 1971, 1981, 1991 e 1996. Manaus, 1997.

Ano Trabalho de Pesquisa (No.) Espécies de Hortaliças (No.)

1961 15 9 1971 58 19

1981 97 20

1991 200 20 1996 369 32

Tabela 2. Número de trabalhos de pesquisa apresentados nas dez hortaliças mais trabalhadas. Manaus, 1997.

odonAossergnoC

seicépsE

etamoT atataB ecaflA brucuC ohlA sacissárB oãtnemiP atnemiP ecoDatataB alobeC

1691 1 1 0 0 0 2 0 0 4 1

1701 8 4 5 6 2 5 7 0 3 2

1891 81 9 2 01 11 8 5 0 4 4

1991 62 51 21 12 61 11 6 7 21 61

6991 77 83 13 62 42 71 11 61 42 01

é a segunda hortaliça mais pesquisada,com muita ênfase em tecnologia de pro-dução de tubérculos para consumo epara produção de batata-semente. A al-face vem em terceiro em preferência depesquisa, predominando trabalhos emnovas cultivares, tecnologia de produ-ção e de controle a doenças. Classifica-das em grupos, as cucurbitáceas ocupamo quarto lugar em número de trabalhosde pesquisa, sendo pepino, melão e me-lancia as hortaliças mais trabalhadas. Oalho ocupa o quinto lugar entre as hor-taliças mais estudadas, com domíniopara as áreas de tecnologia de produ-ção, fisiologia vegetal e produção desementes botânicas. Entre as Brássicas,colocadas em sexto lugar em número detrabalhos apresentados em 1996, desta-cam-se o repolho e a couve-flor, nasáreas de tecnologia de produção e me-lhoramento genético visando novos hí-bridos comerciais. No grupo pimentõese pimentas destacam-se os trabalhos empimentão visando o melhoramento ge-

nético na área de híbridos comerciais eresistência a doenças. A batata-doce éuma raiz que vem despertando a aten-ção dos pesquisadores nesta década,pelo seu enorme potencial de produçãoe pelo aumento de consumo in natura edas possibilidades de industrialização eexportação. No grupo composto pelacebola e cebolinha, destacam-se os tra-balhos em cebola nas áreas de genéti-ca, fitopatologia e tecnologia de pro-dução. A décima hortaliça maispesquisada é a cenoura, com trabalhosde melhoramento, fitopatologia etecnologia de produção.

Devem ser também ressaltados ostrabalhos feito pela Diretoria da SOB nofinal da década de 70 com agremiaçõescongêneres de países vizinhos, enrique-cendo o intercâmbio técnico e receben-do sempre companheiros da Argentina,Uruguai e Paraguai, além de outros paí-ses vizinhos, que aqui vem apresentarseus trabalhos e trocar experiências.

COUTO, F.J.D´A. A sociedade de olericultura do Brasil e o desenvolvimento da pesquisa em hortaliça.

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216 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

REGINA, S.M. A SOB e a extensão rural no Brasil. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, p. 216-223, 1997. Palestra. Suplemento.

A SOB e a extensão rural no Brasil.The Brazilian Society of Vegetable Science - SOB - and the rural extensionin Brazil.

Sérgio Mário ReginaEPAMIG/SEAPA - MG, Comitê da Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Verde, C. Postal 515, 30.180-902 Belo Horizonte - MG.

Palavras-chave: aspectos históricos, ensino, pesquisa, assistência técnica, crédito, política agrícola, comercialização, sementes,irrigação, melhoramento, recursos hídricos, ambiente.Keywords: historic aspects, teaching, research, technical assistance, funding, agricultural policies, trade, irrigation, seeds, breeding,water resources, environment.

INTRODUÇÃO

Desde 1992, após minha apo-sentadoria na ACAR/EMATER- MG, mais de 35

anos de dedicação extensionista, 33,5anos à olericultura, tenho dedicado meusesforços à recuperação e preservação derecursos hídricos. Já em 1985, quandocomecei a presidir o primeiro Comitêde Sub-Bacia Hidrográfica criado noBrasil, já começava a dar mais atençãoaos problemas de quantidade e qualida-de das águas do Rio Verde e a estudaras poluições hídricas industriais e agro-industriais, da falta do saneamento,minerárias e agrossilvopastoris.

Muito tranqüilo por ter deixado ahorticultura mineira em boas mãos, desucessores organizados, competentes egenerosos, sempre integrados com oensino, a pesquisa e o abastecimento,acompanho orgulhoso os seus bons re-sultados, mesmo na conjuntura atualmuito ingrata e preocupante às empre-sas estaduais e federais. As tabelas 1 a10, elaboradas pelo Engenheiro Agrô-nomo M.Sc. Luiz Gomes Correia, co-ordenador estadual de olericultura daEMATER-MG, documentam a formidá-vel evolução da produção mineira dehortaliças. Não tenho no entanto, mes-mo tendo solicitado à ASBRAER, in-formações sobre as empresas associa-das de Assistência Técnica e ExtensãoRural, conhecimentos sobre seus traba-lhos e resultados atuais.

Melhor portanto, historiar, elogiar eagradecer desde o meu “start” olerícolano cinturão verde de Belo Horizonte, até

as atuais pregações sobre as águas, nasSub-Bacias Hidrográficas do alto/médioRio Grande, formador da Bacia Platina,as colaborações cronicamente genero-sas que a SOB e eu tivemos dosextensionistas rurais mineiros e brasi-leiros, em nossos eventos, arremetidase peregrinações. Destacar cronologica-mente essas fases, fatos e atores, mes-mo incorrendo em riscos deinvoluntárias omissões, é a minha no-bre missão de extensionista e historia-dor dessas epopéias da SOB. e da ex-tensão rural em muitos estados e terri-tórios do Brasil. Esses são a seguir osmarcos de recordações.

ESALQ

Professor Salim Simão, as primei-ras aulas. Instituto de Genética, o sau-doso Professor Marcílio Dias, as suasvisitas orientadoras ao Barreiro (cebolaroxa e macho-esterilidade), as suas cons-tantes remessas de sementes de cultiva-res de verão para avaliações. O Dr.Hiroshi Ikuta, em Mogi das Cruzes, comremessas e orientações para berinjelashíbridas e brássicas. Com o colega CiroPaulino da Costa, o prosseguimento re-gular e amistoso dos lançamentos decultivares para avaliação, das visitas, dasexcursões e dos treinamentos deextensionistas de Minas e do Brasil.

BARREIRO, A GRANDEESCOLA

A primeira reforma agrária racional-mente programada e assistida, no gover-no de João Pinheiro, para olericultores

austríacos, italianos, portugueses e bra-sileiros, que durante 60 anos, ocupandoáreas irrigadas e de cerrado da ex-fazen-da Vargem Grande (Mannesmann), ebancas do Mercado Central, responsa-bilizaram-se pelo abastecimento dasprincipais olerícolas (mormente as nãotransportáveis na época) da grande BeloHorizonte e da capital mineira, agoracentenária e abrigando a ALCA, o En-contro e Fórum das Américas.Extensionistas como eu, muitos profes-sores e pesquisadores de olericultura,direta e indiretamente muito aprenderamcom os produtores dessa “escola”olerícola. Herdeiros dos primeiros pro-prietários realmente assentados e dosseus empregados, influenciaram comopioneiros a olericultura de outrasregiões do estado, levando consigo asimpatia pela extensão rural, que os em-balou posteriormente com o Crédito Ru-ral Supervisionado e Orientado e com aobjetiva assistência técnica que fluíaintegrada e sistêmica com o ensino e apesquisa de Minas e de São Paulo. AMinas-Caixa do Mercado Central e oBanco do Brasil da rua Espírito Santoforam agentes financeiros pioneiros evaliosos no crédito olerícola. Os primei-ros orçamentos, posteriormente os sis-temas e os manuais de produçãoolerícola abrangendo de início só o alho,batata, cebola, tomate e “horta”, alcan-çaram todas as principais olerícolas, fru-tos, raízes, tubérculos, rizomas,folhosas, herbáceas e condimentares. Aextensão rural mineira é sem dúvida pio-neira no crédito rural amplo, dirigido asdiversas espécies olerícolas, frutícolase florícolas, quando provou ao Bancodo Brasil e à Minas-Caixa as produtivi-dades comerciais e as altas rendas empequenas áreas olerícolas.

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217Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

sotudorPlisarB siareGsaniM )%(oãçapicitraP

)liM$SU(rolaV )tliM(oãçudorP )liM$SU(rolaV )tliM(oãçudorPoaoãçalermeGM

)$SU(lisarB

saturF 00,085.365.9 06,878.13 00,002.064 00,435.1 19,01

ajoS 95,490.803.4 40,017.22 28,775.212 06,021.1 39,4

ohliM 63,355.848.3 14,254.72 89,758.235 79,008.3 58,31

saçilatroH 00,000.002.2 00,000.01 00,000.042 00,002.1 19,01

racúça-ed-anaC 52,844.190.2 38,316.442 06,006.431 67,247.51 44,6

acsacmezorrA 61,524.980.2 14,478.9 87,822.941 42,507 41,7

ococmeéfaC 44,107.970.1 88,600.2 62,535.126 72,551.1 75,75

acoidnaM 53,820.448 44,371.41 18,297.06 78,020.1 02,7

oãjieF 58,156.887 26,223.1 01,598.512 70,263 83,72

Tabela 1. Produção e valor, em nível de produtor, dos principais produtos agrícolas do Brasil e de Minas Gerais, 1993.

Fonte: EMATER-MG. CORREIA, L.G.

Tabela 2. Importância da olericultura Brasileira, 1990.

)ah(adatnalpaerÁ lim415

)t(oãçudorP seõhlim3,8

).on(soteridsogerpmE seõhlim7,2

oãçudorpadotsuC seõhlib1,2

)$SU(ojeravonoãçazilaicremocedrolaV seõhlib2,4

)$SU(soicógenedemulovodlatoT seõhlib3,6

Fonte: EMATER-MG. CORREIA, L.G.

Tabela 3. Produção de hortaliças por região do Brasil, 1992.

oãigeR )t(oãçudorP %

etseduS 023.830.4 09,83

luS 478.385.2 09,42

etsedroN 815.899.1 03,91

etseO-ortneC 765.799 16,9

etroN 085.635 71,5

latoT 305.583.01 00,001

Fonte: Horticultura Brasileira, Brasília, v. 11, n. 2, nov. 1993.

FOMENTO E EXTENSÃORURAL

A meu ver não podem estar separa-dos. Os Postos Agropecuários do Mi-nistério da Agricultura foram valiosos

parceiros da Extensão Rural na vendafinanciada de motobombas, tubulações,mangueiras, crivos e aspersores, arados,grades e sulcadores de tração animal,outros equipamentos e ferramentas, decorretivos, fertilizantes e defensivos e naprestação de serviços de mecanização.

ELETRIFICAÇÃO RURAL EIRRIGAÇÃO

As equipes extensionistas de doisescritórios locais da ACAR de MinasGerais (Belo Horizonte e PedroLeopoldo) prestaram colaboração pio-neira à CEMIG (engenheiros Luiz Cláu-dio Magalhães, Evandro Barbosa e JoséLeão), na eletrificação rural deJustinópolis, Areias de Cima, Areais deBaixo, Cipriano, Angicos, Várzea dosLopes e Ignácia de Carvalho, sedes decomunidades rurais, escolas, residênci-as e energia para irrigação, picadeiras,desintegradores e ensiladeiras. AERMIG valeu-se dessas experiênciaspara expandir-se em Minas Gerais. Ocolega extensionista da época, engenhei-ro agrônomo Édimo Soares Martins,também sócio fundador da SOB foi oprimeiro profissional de ciências agrá-rias contratado pela CEMIG. A irriga-ção olerícola através de motobombaselétricas, a óleo e a gasolina, reservató-rios a montante, tubulações, manguei-ras, crivos e aspersores foi introduçãopioneira da extensão rural.

UNIVERSIDADE RURAL(FEDERAL) DE VIÇOSA

Antes de 1960, quando foi realiza-do o Curso Intensivo de Hortaliças, a

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218 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

sodatsE )t(oãçudorP %

oluaPoãS 018.397.1 72,71

siareGsaniM 672.992.1 25,21

ánaraP 102.750.1 1,01

luSodednarGoiR 246.968 73,8

aihaB 770.567 73,7

orienaJedoiR 770.237 50,7

anirataCatnaS 130.756 33,6

sáioG 035.156 72,6

abíaraP 650.065 93,5

ercA 029.644 03,4

ocubmanreP 605.514 00,4

íuaiP 636.032 12,2

otnaSotirípsE 751.312 50,2

ossorGotaM 082.891 19,1

etroNodednarGoiR 671.841 34,1

laredeFotirtsiD 161.511 11,1

áraeC 051.37 07,0

áraP 980.86 66,0

epigreS 355.63 53,0

luSodossorGotaM 695.23 13,0

sanozamA 832.91 81,0

oãhnaraM 084.1 20,0

ápamA 946 10,0

amiaroR 512 00,0

latoT 305.583.01 00,001

Tabela 4. Produção brasileira de hortaliças, 1992.

Fonte: Horticultura Brasileira, Brasília, v. 11, n. 2, nov. 1993.

sesíaP )gk(omusnoC

aiéroC 0,081

ailátI 0,251

oãpaJ 0,031

*lisarB 0,86

luSeortneC 0,08

etsedroNeetroN 0,05

Tabela 5. Consumo per capita de hortaliças.

*ANDEF

extensão rural olerícola só atuava emáreas concentradas de batata no Sul deMinas, cebola na Zona da Mata, alhono Sul de Minas e Metalúrgica e tomateem municípios maiores. Trabalhandointensamente em hortaliças, mas aindadedicando muito tempo à produção lei-teira, dois extensionistas mineiros(sediados em Pedro Leopoldo e em BeloHorizonte) foram indicados para parti-ciparem do Curso “Embrião” da SOB.A partir dele, cresce a integração comViçosa nas Semanas de Fazendeiros eposteriormente de Hortigranjeiros daEMAF, sugeridas pela extensão rural.Em 1964, fui indicado para o Curso depós-graduação em Fitotecnia Olerícolana UFV. Acredito que tenha sido o pri-meiro extensionista de Minas e quiçá doBrasil a fazer pós-graduação emfitotecnia. Durante o curso cresce o rit-mo dos cursos para extensionistas ehorticultores e iniciam-se os “raides”nos ABCT Olerícola, no ABC Frutícola,nas principais concentrações produtoras,em Viçosa e em Florestal. As equipesde professores lideradas pelos professo-res Flávio A. D’A. Couto e OttoAndersen extravasam a Universidade deViçosa em todo o Estado de Minas Ge-rais e em outros estados, com o impres-cindível apoio e participação dosextensionistas mineiros. O professorFernando Filgueira passa a coordenar oseventos integrados de ensino, pesquisa,extensão e abastecimento. Essaintegração propicia a elaboração e di-vulgação de 19 sistemas de produção dehortaliças e frutas legitimados por pro-dutores e lideranças. Os extensionistase produtores mineiros são muito gratosaos professores Flávio Couto e sua equi-pe: Akira Misubuti, Joenes Peluzio,Pedro Henrique Monnerat, José Fran-cisco da Silva, Roberto Ferreira da Sil-va, Vicente W.D. Casali Joaquim Joeldo Vale Rodrigues e Sebastião B. No-gueira; Otto Andersen e sua equipe:Rubens Pinheiro, José Maurício Fortese Ivo Manica. Os Coordenadores Esta-duais de Fitossanidade, Salazar Ferreirade Azevedo, de corretivos e fertilizan-tes José Martins de Oliveira e de irriga-ção Abílio José Antunes, mesmo antesde ingressarem na EMATER-MG, pres-taram suas competentes colaborações atodos os Eventos integrados.

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219Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

COORDENADORIAS E LO-CAIS EXCLUSIVOS

O crescimento da extensão ruralolerícola passou a demandar coordena-dores estaduais e regionais. Como pri-meiro coordenador estadual dehorticultura, após conclusão do curso depós-graduação, preferi ter locais exclu-sivos de horticultura (hortaliças, frutase flores), mesmo em municípios ondepredominavam monoculturas e criaçõesde gado de leite e corte, para, entre eles,selecionar os futuros coordenadores.Muitos extensionistas locais exclusivosprestam hoje relevantes serviços ao en-sino, pesquisa e extensão em Minas eno Brasil. A EMATER-MG modificousua estrutura para nove superintendên-cias regionais; tem coordenadores espe-cíficos para olericultura, fruticultura efloricultura; chegou a ter 38 coordena-dores regionais. Hoje conta com dois co-ordenadores estaduais, quatorze coorde-nadores regionais e no mínimo um téc-nico, engenheiro agrônomo ou técnicoagrícola, em cada município atendido,com tempo parcial e total em alguns.

IPEACO- CNPH - PIPAEMG

Nessa época desenvolve-se tambémprofícua integração da extensão ruralcom o Instituto de Pesquisa Agrope-cuárias do Centro-Oeste, com os pes-quisadores João Alves de Menezes So-brinho (alho, sobretudo) e Lúcio RoscoeCardinalli (abacaxi e citros). Com atransferência do IPEACO para o Cen-tro Nacional de Milho e Sorgo e com acriação do CNPH em Brasília, chefiadoinicialmente pelo Professor FlávioCouto, a integração da extensãoolerícola mineira liga-se também àBrasília desde a inauguração do CNPH,prestigiada por todos os extensionistase representantes dos produtores das prin-cipais concentrações olerícolas do país.Em Minas intensificam-se os intercâm-bios com o PIPAEMG atual EPAMIG,assegurados pela pesquisadora e dele-gada da SOB Maria Helena TabimMascarenhas. Também nessa época odinâmico Luís Jorge da GamaWanderley traz para Minas Gerais eBrasil, o valor das séries e das equipes

seõigeR )tlim(emuloV )%(oãçapicitraP

etroN 283.68 5,1

etsedroN 447.836 9,11

etseO-ortneC 509.864 6,8

etseduS 061.164.3 0,56

luS 677.996 0,31

lisarB 769.453.5 0,001

Tabela 6. Oferta de olerícolas nas CEASAs do Brasil, 1990

Fonte: EMATER-MG.

Tabela 7. Evolução da olericultura mineira no período 1974-1996.

sonA ).on(soipícinuMaerÁ)ah(

)t(oãçudorPmocserotudorP).on(oãçiteper

4791 642 138.83 098.716 000.53

4891 053 773.84 359.688 478.74

0991 083 062.55 110.721.1

1991 - 628.45 593.881.1

2991 - 864.06 748.843.1 000.57

3991 - 422.95 993.023.1

4991 - 776.56 337.364.1

5991 - 453.07 809.436.1

6991 004 007.17 398.870.2 000.08

Fonte: EMATER-MG, CORREIA, L.G.

do IPA. A presença do incansávelextensionista da CATI, NozomuMakishima, no CNPH e na presidênciada SOB destaca nossa Sociedade nasintegrações do CNPH com o Brasil, atra-vés da extensão rural olerícola. O escri-tório da articulação e difusão daEMATER-DF instalado no seio e âmbi-to do CNPH evidenciava que aintegração e a difusão são muito maiseficazes quando toda a empresa, repre-sentada por uma de suas unidades, trans-fere-se para os Centros, Institutos e Fa-zendas Experimentais. Não basta trans-ferir somente a pessoa física e profissio-nal de um difusor.

SEMANAS DOSHORTIGRANJEIROS EM

FLORESTAL - RAIDES

As semanas dos hortigranjeiros so-licitadas e estimuladas pelosextensionistas olerícolas mineiros sãopreciosos eventos de transferências de

tecnologia. Os professores WellingtonAbranches Viana, Joaquim Joel do ValeRodrigues, José Lino da Silva e NelsonMarciano integram-se à pesquisa e aoensino superior, equipes dos Professo-res Flávio Couto e Otto Andersen, pararealização de Seminários e dos“Raides”, cursos práticos ministradosnas regiões produtoras, às vésperas dasimplantações das lavouras, para melho-rar os sistemas de produção e as produ-tividades comerciais.

PLANOS NACIONAISDE PRODUÇÃO E

ABASTECIMENTO DE ALHO,BATATA, CEBOLA, TOMATESE MAÇÃS ( DUAS VERSÕES

DE 1978 A 1982)

Iniciaram-se depois das fases de es-tudos e do PROHORT, 1976-1977, nasalçadas dos escritórios locais de exten-são rural para subirem e descerem nos

REGINA, S.M. A SOB e a extensão rural no Brasil.

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220 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

escalões micro e macro regionais, esta-duais e federais. Sempre prezaram asintegrações de produtores, cooperativas,associações, empresários, comércio, in-dústria, abastecimento, crédito rural,políticas de preços mínimos, valoresbásicos de custeio - VBC, de emprésti-mos e aquisições do governo federal -EGF e AGF. Deram ao país os melho-res exemplos de políticas agrícolas pore para produtos e não para as “saladasmistas” complexas e medíocres de po-líticas improvisadas. De 1979 a 1981 osPlanos Nacionais e as Comissões Téc-nicas de Batata-Semente, de Sementesde Cebola e de Sementes de Hortaliçasproporcionaram ao Brasil uma econo-mia acumulada de 220 milhões de dóla-res, reduzindo importações, engrande-cendo as produções nacionais e a parti-cipação de nossas cultivares e de nos-sos produtos no mercado interno.

COMISSÕES TÉCNICAS DEBATATA-SEMENTE, SEMEN-TES DE CEBOLA E SEMEN-

TES DE HORTALIÇAS

Essas comissões terminaram com aorgia de cultivares importadas e seusreflexos funestos na organização dassafras nacionais. Foram básicas na su-cessão solidária das safras regionais.Reduziram as importações “incestuo-sas” de batata, permitindo um maiornúmero de multiplicações de materialimportado e que só fossem consumidasas gerações avançadas. Os ensaios Na-cionais, Regionais e Estaduais, de Pri-meira Avaliação e de Competição deCultivares poderiam ainda ter sido me-lhor aproveitados. A inspeção das pro-duções e a fiscalização do comércio, quemuito cresceram na época, são aindainsuficientes no espaço e no tempo. OCoordenador Nacional de Sementes eMudas, engenheiro agrônomo JoséMárcio de Moura e Silva e seus assisten-tes Moacyr Pompeu Memoria e GeorgeAugusto de Almeida sempre acolherame apoiaram as sugestões e colaboraçõesdos extensionistas, pesquisadores, profes-sores e certificadores para as programa-ções nacionais da produção ecomercialização de sementes e mudas.

otudorP )ah(aerÁ )t(oãçudorP

asenopaJarobóbA 5,359.2 922.03

sarobóbA 2,652 348.2

aninemahnirbobA 3,780.1 614.81

ecaflA 4,424 117.9

*ohlA 0,792.2 791.01

oãriemlA 5,55 338

ecod-atataB 8,943 007.6

*atataB 0,503.63 899.808

alejnireB 0,211 011.3

abarreteB 5,308 578.61

solocórB 7,06 000.1

áraC 6,701 006.2

*alobeC 0,151.1 222.81

aruoneC 2,844.3 526.621

uhcuhC 6,822 073.61

evuoC 5,52 886

rolf-evuoC 6,604 510.01

)airtsúdni(ahlivrE 0,003.1 006.2

avaf-ed-oãjieF 1,82 01

megav-ed-oãjieF 7,217 735.8

emahnI 2,068 748.993

óliJ 1,695 942.91

)asem(acoidnaM 6,926.1 938.32

aslas-ahniuqoidnaM 2,362.1 995.21

exixaM 5,14 716

aicnaleM 2,448 826.12

oãleM 0,03 054

edrev-ohliM 8,442.2 224.43

agnaroM 0,66 718

ognaroM 3,907 605.91

onipeP 0,234 553.01

atnemiP 6,15 323

onier-od-atnemiP 0,32 541

oãtnemiP 3,466.1 505.54

obaiuQ 5,094.1 115.81

etenabaR 0,2 02

ohlopeR 1,304.1 263.46

aslaS 5,051 387.3

*etamoT 0,170.6 817.603

sartuO 3,41 816.1

latoT 4,007.17 98.870.2

Tabela 8. Produção e área plantada em Minas Gerais com hortaliças, por produto,1996.

Fonte: EMATER-MG. CORREIA, L.C.;

* FIBE

REGINA, S.M. A SOB e a extensão rural no Brasil.

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221Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

ABRASEM, AGROCERES,AGROFLORA E ASGROW.

Das cavalheirescas, diplomáticas evaliosas colaborações técnicas epessoais dos diretores e profissionaisdessas associações e empresas, muito sevaleram os extensionistas em seus even-tos, arremetidas e aprimoramentos. JeanC. Verrier da ABRASEM, JoséViggiano Netto, Álvaro Aurélio deMacedo, Yedo Carrijo, Walter IssaoBanja, Ruy Medina e Renato Gonçal-ves, da Agroceres, Paulo Tarcísio DellaVecchia e Nelson Choiti Tagiri, daAgroflora, e Martinho Alencar, MárcioNascimento e Paulo César Tavares, daAsgrow, são nomes marcados no desen-volvimento e gratidão da olericulturabrasileira. Os melhoristas olerícolas sãovalores proeminentes da SOB.

CEPAS - COMISSÕES ESTA-DUAIS DE PLANEJAMENTO

AGRÍCOLA

A integração das CEPA, com as ci-fras das regiões produtoras, bemalcançadas pela extensão rural, são im-prescindíveis ao planejamento agrícolada produção. Só assim puderam serdimensionadas na quantidade, no tem-po e no espaço as importações, exclusi-vamente complementares, sem frustra-ções aos nossos produtores com as im-portações hoje suplementares, subsidia-das e “escancaradas”. Só os acompanha-mentos conjunturais permitem asconjecturas e os acertos em políticas deprodução e de importação, que não le-sem a sociedade quando imprimemdéficits crônicos e crescentes da balan-ça comercial.

ENCONTROS NACIONAIS DEPRODUÇÃO E ABASTECI-MENTO. I E II MOBRAN .

SAGASP

Feiras e festas dos produtos/carros-chefes da olericultura nacional precede-ram a idealização e a realização regulardos Encontros Nacionais de Produção eAbastecimento de alho, batata, cebola ede maçãs. Esses Encontros que suce-dem-se com outros nomes, tiveram sem-

Tabela 9. Incremento da produtividade média de algumas olerícolas em MinasGerais no período 1970- 1996

sotudorP0791

)ah/gk(6991

)ah/gk(otnemercnI

)%(

ohlA 714.2 934.4 481

atataB 943.8 382.22 762

aruoneC 793.91 227.63 981

ahlivrE 842.1 000.2 061

óliJ 189.31 292.23 132

oãtnemiP 128.21 243.72 312

ohlopeR 809.72 178.54 461

etamoT 451.31 225.05 483

Tabela 10. Planejamento estratégico da EMATER-MG para implementar aolericultura.

Fonte: EMATER-MG, CORREIA, L.G.

seõçAesovitejbO

asiuqsepeonisne,laruroãsnetxeertneoãçargetnI

asiuqsepedoãçamargorparapsortnocnE·

socincétedotnemaniertarapsortnocnE·

HPNComocacincétoãçarepoocedoinêvnoC·

rodimusnocoarapedadilauqmocsotudorP

edadilauqmocacincétaicnêtsissA·

socixótorgaedoterrocosU·

augáadedadilauQ·

edadivitudorp/aigoloncetedoãsufiD·

oãçudorpedotsucodoãçudeR

laicnetopednargedseõigermearutlucireloadotnemercnI

saniMedetroN·

abíanaraPotlAeorieniMolugnâirT·

oãçudorpansadrepedoãçudeR

lapicinumelanoigerotnemicetsabA

soriejnaritrohserotudorpedervil-arieF·

anamedàlaugiuoroiamatrefO·

atipacrepomusnocoaovitnecnI

atroh-órP·

ramop-órP·

alocse-oipádraC·

pre o apoio de extensionistas nas coor-denações, atração de público estratégi-co e ocupação de mídia. Os grandeseventos de alho que sucederam as festasmunicipais, regionais e estaduais deGouveia, Francisco Sá, Capim Branco,

Ouro Fino, Inconfidentes e Novo Cru-zeiro, em Minas Gerais, de Curitibanos,em Santa Catarina, e de Inhumas,Nerópolis e Nova Veneza, em Goiás,foram as Mobran, mostras brasileiras dealhos nacionais realizadas em Gouveia

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222 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

e São Paulo (Bolsa de Cereais), com oapoio dedicado dos atacadistas AlgirdasA. Balsevicius, Ítalo Tucci, Vicente LaPastina, José Arnone Filho (cebola) eTelmo Cortês, diretores, associados etécnicos do Sindicato dos Atacadistas deGêneros Alimentícios do Estado de SãoPaulo. Os extensionistas dos municípi-os produtores articularam minhas pere-grinações e asseguraram a presença deprodutores e produções concorrentes detodas as cultivares utilizadas no Brasil.

DENAR E DIAST DO BANCODO BRASIL

Foram também importantíssimas asintegrações em Brasília e nos estadosprodutores, dos extensionistas rurais daolericultura com os diretores técnicos efuncionários do Departamento de Nor-mas e Assuntos Rurais e da Divisão deAssessoria Técnica do Banco do Brasil.Os sistemas de produção mais transparen-tes permitiram planilhas de custos e deprodutividades melhor estimadas, impres-cindíveis para as publicações oportunasdas Políticas de Valores Básicos de Cus-teio e de Preços Mínimos. MoacyrMontella, engenheiros agrônomos Afon-so Avelar, Antônio Moretti e Celso Mellode Azevedo são nomes que merecem gra-tidão e respeito da agricultura nacional etambém de nossa olericultura.

INSTITUTO AGRONÔMICODE CAMPINAS, INSTITUTOBIOLÓGICO DE SÃO PAULOE CATI - COORDENADORIADE ASSISTÊNCIA TÉCNICA

INTEGRAL

Das três ilustres instituiçõespaulistas, grandes contribuições não sóà olericultura de dois estados vizinhos eirmãos, soldados por um “esalquiano”mineiro, mas a todos os estados brasi-leiros. De Santos Costa, Olympio Pra-do, Olavo J. Book, José Botter Bernardi,Humberto Campos, Hilário Miranda aHiroshi Nagai, muita gratidão davirologia, abóboras e morangas nacio-nais, dos ensaios de cebolas, alface equiabo, das cultivares nacionais de ba-tata, das alfaces, dos pimentões e toma-tes melhorados. De Conrradi Campacci

e Pedro Pigatti a Puga, a dedicação aosensaios de fungicidas e da detecção deresíduos. Dos colegas de científico e daESALQ, Carlos Adalberto CarvalhoDias e João Cabrera, a fidalguia, a éticaextensionista e o coleguismo sempresolidário, bem representados na CATI,DIRA e Casas de Agricultura do estadode São Paulo.

SINAC, COBAL, CEAGESP,CAC - COOPERATIVA AGRÍ-COLA DE COTIA, CEASAS E

ARTICULADORES DECOMERCIALIZAÇÃO

O CEAGESP e a COTIA foram es-colas de comercialização e abastecimen-to hortigranjeiro para os extensionistasrurais olerícolas e para os articuladoresde comercialização de CEASAS e Mer-cados de Produtores de todo o Brasil.De suas atuações e experiências nasce-ram as melhores diretrizes para o SINAC- Sistema Nacional de Centrais de Abas-tecimento - e para CEASAS, Mercadosde Produtores, bem aproveitados peloilustre extensionista Mário Ramos Vilela.

Os produtos hortigranjeiros, sanguearterial das CEASAS e dos Mercadosde Produtores, foram canalizados emsua maioria pelos extensionistas rurais,com trânsito e prestígio nos cinturõesverdes e nas concentrações produtoras.Os extensionistas e pesquisadoresYoshihico Horino, Nozomu Makishimae o articulador Arcângelo ViscontiBrunhara ensejaram a maioria dos even-tos de aprimoramento profissional dosextensionistas hortícolas nas áreas decomercialização e abastecimentohortigranjeiro. Em Minas Gerais, nasequipes da CEASA-MG chefiadas pe-los técnicos Gilson Neves e RomeuDiniz, são ainda valiosos os trabalhosde assistência técnica e extensão ruralna produção e comercialização de pro-dutos hortigranjeiros.

HORTIAMA

A pesquisa, Dr. Hiroshi Noda, doINPA, Dr. Simon Cheng, da UEPAE deBelém (CPATU), e Dra. Maria Urbana,da UEPAE Rio Branco, o ensino, pro-fessores Benito Calzzavara e Álvaro

Pantoja, e os extensionistas dasEMATER dos estados e territórios doAmazonas, Pará, Acre, Rondônia,Roraima e Amapá permitiram que de-pois de visitas, cursos e encontros regio-nais fosse elaborada a primeira versãodo Hortiama, primeiro programa de di-retrizes e estratégias de horticultura paraa Amazônia, apresentado no México, emVera Cruz, em Seminário de Agricultu-ra do Trópico Úmido, apoiado pela FAOe pelo CRESCIDATH. Como membroda Comissão Técnica de Pesquisas deHortaliças, Frutas e Mandioca daEMBRAPA, pude perceber com satisfa-ção que o crescimento quantitativo e qua-litativo dos projetos e subprojetos de pes-quisa da Amazônia resultaram de algunscoerentes embalos do Hortiama. O ilus-tre sócio da SOB e meu parceiro nogerenciamento de planos nacionais, oengenheiro agrônomo Tarcísio da SilvaSiqueira muito colaborou no preparo eelaboração do Hortiama.

CURSOS DE PÓS GRADUA-ÇÃO DA UFV, CURSO DEESPECIALIZAÇÃO EMBORGO A MOZZANO

As “bisagitais” de integração com apesquisa e o ensino são fundamentaispara o desempenho de coordenadoresestaduais e regionais da extensão rural.O aprimoramento profissional abre por-tas para quem leva e para quem traz co-nhecimentos.

O Curso de Extensão e Desenvolvi-mento Rural patrocinado pela OEA eGoverno Italiano, em Borgo a Mozzano,para representantes dos países da Amé-rica Latina, foi de muita utilidade parameu desempenho principalmente nasáreas de comunicação e ocupação demídia, em prol de minha classe, profis-são e de meus públicos na EMATER-MG e na EPAMIG, onde atualmentepresto serviços na Área Ambiental e dosRecursos Hídricos.

RECUPERAÇÃO E PRESER-VAÇÃO DE RECURSOS

HÍDRICOS

O apoio capilar que sempre encon-trei nas Unidades de Extensão Rural eatualmente nos escalões da EPAMIG e

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223Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

nos CODEMAS - Conselhos Munici-pais de Defesa do Meio-Ambiente demeu estado e de meu país, permitiramque realizasse como Presidente do Co-mitê da Sub-Bacia Hidrográfica do RioVerde (o primeiro criado no país):

· Sete Seminários Anuais de Ba-cia Hidrográfica, realizados em caráterde rodízio nos municípios do Alto, Mé-dio e Baixo Rio Verde (São Lourenço,Varginha, Itanhandu, Cambuquira, TrêsCorações, Baependi, Elói Mendes), commovimentações municipais e regionaisque acontecem de março a outubro emdiversos eventos de Ciclagem em Edu-cação Ambiental e Preservação de Re-cursos Naturais.

· O Primeiro Dia Estadual de Sub-Bacias Hidrográficas realizado em EloiMendes em 1995.

· O primeiro Seminário de Trata-mento de Esgotos Urbanos para muni-cípios fluminenses, mineiros e paulistasda Bacia do Rio Grande, em São Lou-renço, 1992.

· O primeiro Seminário de Coleta,Destinação e Reciclagem de Lixo Urba-no Doméstico para os mesmos municí-pios, em Três Corações , em 1993.

· Duas Jornadas Regionais de Di-reito e Legislação Ambiental, emCambuquira e Varginha.

· Dois Encontros Ecológicosregionais realizados em Cambuquirapara todo o Sul de Minas.

· 16 treinamentos para ciclagemde profissionais de ciências agrárias doSistema Operacional de Agricultura,Pecuária e Abastecimento em Recupe-ração e Preservação de RecursosHídricos, em municípios pólos do esta-do de Minas Gerais.

· Campanha Estadual de Separa-ção e Reciclagem de Óleos e Graxas.

· Campanha Estadual de CriaçãoOficial de Áreas de PreservaçãoAmbiental às montantes de captação e/ou aduções de água em mananciais deconsumo e desenvolvimento social.

SACAP - SISTEMAS ALTER-NATIVOS,

CONSERVACIONISTAS EAMBIENTAIS DE PRODUÇÃO

A integração crônica e fecunda doensino, pesquisa e extensão rural, legi-

timada pelos nossos produtores, poderáainda ensejar à sociedade brasileira aelaboração, a divulgação e a adoção dosSACAP.

Agricultura e ciências agrárias, sem-pre olhadas como vitimadorasambientais, devem destacar também assuas posições de vítimas das poluiçõesindustriais, da falta do saneamento bá-sico e minerarias e, mais ainda, suasposições de aliadas, quando suastecnologias de exposição de glebas àradiações ultravioletas, de calagens (ele-vações de pH) e de adubações orgâni-cas propiciam degradações e reduçõesde meias vidas dos ingredientes ativosdos agroquímicos e dos resíduos demetais pesados, nos solos e nas águas.Essas nobres funções e as tecnologiaspoupadoras de insumos, de serviçosviolentadores e de energia, e tambémrecuperadoras e preservadoras de recur-sos naturais, sobretudo da água, engran-decerão as nossas profissões e os nos-sos clientes.

“ O agricultor, além de alimentos,fibras e energia, pode produzir/reciclar água farta e pura para con-sumo e desenvolvimento social”.

MAKISHIMA, N. Difusão de tecnologias para a produção de hortaliças pelas instituições oficiais de pesquisa científica. Horticultura Brasileira, Brasília, v.15, p. 223-226, 1997. Palestra. Suplemento.

Difusão de tecnologias para a produção de hortaliças pelas instituiçõesoficiais de pesquisa científica.Diffusion of technology for vegetable production technology by the officialinstitutions of scientific research.

Nozomu MakishimaEmbrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70.359-970 Brasília - DF.

Palavras-chave: assistência técnica, extensão rural, histórico, acervo bibliográfico.Keywords: technical assistance, rural extension, historical, bibliographic base.

INTRODUÇÃO

Em todas as atividades desen-volvidas pelo homem comfins de retorno econômico,

quer sejam para a produção ecomercialização de bens ou prestação deserviços, a aplicação de tecnologias em

diferentes níveis representa a diferençaentre alta e baixa produtividade, boa emá qualidade do bem ou serviço refletin-do-se, consequentemente, nacompetitividade e rentabilidade. A produ-ção de hortaliças não foge a esta regra.

Um diagnóstico desta atividade noBrasil permite verificar que a grandemaioria dos produtores aplicam um bom

nível de tecnologias, como uso de se-mentes selecionadas, cultivares, inclu-sive híbridos, melhor adaptados às con-dições locais, uso racional de corretivos,fertilizantes e outros insumos, preparodo produto para comercialização. Noentanto, encontramos também produto-res utilizando sistemas empíricos decultivo de um lado e, de outro, aqueles

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224 Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

que conduzem suas culturas com altonível tecnológico sob diferentes siste-mas de proteção e de hidroponia.

Estes desníveis são conseqüênciasdo grau de conhecimentos tecnológicosdos produtores, maior ou menor interes-se em ampliar seus conhecimentos,maior ou menor acesso às informações,maior ou menor dificuldades na dispo-nibilidade dos insumos. Também é re-sultante de maior ou menor eficiênciadas atividades de difusão das institui-ções que geram os conhecimentos etecnologias e das instituições que tempor função prestar assistência técnicaaos produtores.

GERAÇÃO DOS CONHECI-MENTOS E TECNOLOGIAS

As diferentes tecnologias hoje lar-gamente empregadas pelos produtoresde hortaliças foram geradas por elesmesmos, pelas instituições de ensino epesquisa, pelas empresas de produçãode insumos, máquinas e equipamentose cooperativas agrícolas.

São exemplos de tecnologias gera-das pelo agricultor: os marcadores deespaçamentos, sulcadores parasemeação, o uso da lata perfurada parasemeação, o copinho de jornal para pro-dução de mudas. Até a década de 60muitas cultivares plantadas tinham sidoresultado de trabalhos de seleção con-duzidos pelos agricultores que, para suaidentificação, denominavam-nas comseus próprios nomes. São exemplos des-tes materiais o tomate Kadá e o pimen-tão Ikeda, ainda hoje plantados. Astecnologias geradas pelos agricultoreseram difundidas pelas equipes técnicas dascooperativas agrícolas a que pertenciam.

A partir da década de 50 verificou-se um aumento no número de agriculto-res que passaram a se dedicar à produ-ção de hortaliças, além da ampliação dasáreas cultivadas, expansão das frontei-ras agrícolas, implantação de políticasgovernamentais de incentivo ou fomen-to à produção de hortaliças (cinturõesverdes) e assim, a atividade além de as-sumir importância econômica, passou ademandar informações técnicas. Estesfatos levaram algumas instituições deensino, como a Escola Superior de

Agricultura “Luiz de Queiroz”, emPiracicaba (SP), a Escola de Agronomiade Viçosa (MG), a Escola de Agricultu-ra “Eliseu Maciel”, em Pelotas (RS), eoutras de pesquisa, como Instituto Agro-nômico de Campinas (SP), Instituto dePesquisas Agropecuárias do Sul, emPelotas (RS), o Instituto de PesquisasAgropecuárias de Pernambuco, a dedi-carem maiores esforços no ensino daolericultura e na execução de pesquisaem hortaliças.

Por sua vez, as cooperativas agríco-las, como a Cotia, Sul-Brasil, Bandei-rantes, Mogi das Cruzes, atualmenteextintas, que congregavam a maioria dosprodutores de hortaliças, instalaram assuas próprias estações experimentais eformaram equipes de técnicos para pres-tarem assistência a seus cooperados. Aomesmo tempo surgiram empresas desementes como Agroflora, Agroceres,Isla, Asgrow, Topseed que tambémmontaram suas unidades de pesquisa,objetivando a obtenção de cultivarespara comercialização de sementes.

Em 1973 foi criada a Empresa Bra-sileira de Pesquisa Agropecuária -Embrapa - com seus diversos Centrosde Pesquisas e Unidades de Pesquisa deÂmbito Estadual, com o objetivo de rea-lizar pesquisa nos diversos produtosagropecuários de importância econômi-ca local, regional ou nacional. Por suavez diversos estados da federação pas-saram a transformar seus institutos depesquisa em empresas estaduais de pes-quisa ou a criarem tais empresas. Sãoexemplos a Empresa de PesquisaAgropecuária de Minas Gerais -EPAMIG, a Empresa de PesquisaAgropecuária de Goiás - EMGOPA,hoje incorporada à EMATER-GO, aEmpresa de Pesquisa Agropecuária deSanta Catarina - EMPASC, atualmenteassociada à EMATER-SC, com a deno-minação de EPAGRI e muitas outras. OMato Grosso do Sul foi o primeiro esta-do a criar uma empresa com as ativida-des de pesquisa já unificada com as deassistência técnica e extensão rural, como nome de Empresa de PesquisaAgropecuária e Assistência Técnica eExtensão Rural - EMPAER-MS. Em1981 a Embrapa transformou a UEPAE-DF em Centro Nacional de Pesquisa deHortaliças.

Todos estes acontecimentos resulta-ram em um maior contingente de técni-cos envolvidos ou interessados emolericultura, a ponto de possibilitar aformação da Sociedade de Olericulturado Brasil que promove, anualmente, oCongresso Brasileiro de Olericultura -CBO, reunindo centenas de participan-tes de todo o país. Estes fatos tambémaumentaram significativamente a gera-ção de conhecimentos e tecnologias emolericultura, facilmente comprovávelpelos eventos que acontecem anualmen-te no país, principalmente o CBO ondesão apresentados em média 250 resumosde trabalhos de pesquisa com hortaliças.Se considerarmos que cada resumo con-tém, no mínimo, um conhecimento ouuma tecnologia, são mais de 200 conhe-cimentos ou tecnologias geradas anual-mente. Deve-se lembrar ainda que re-sultados de pesquisa com hortaliças emnúmero significativo são apresentadosem outros eventos científicos como, porexemplo, os congressos de entomologia,fitopatologia e solos.

Cada instituição de ensino ou pes-quisa dispõe, em sua biblioteca, de umacervo de informações sobre conheci-mentos e tecnologias em diversas for-mas de documentos (teses, revistas cien-tíficas, boletins técnicos, materiais dedivulgação). Como exemplo citamos osdados relativos à biblioteca da EmbrapaHortaliças, em Brasília que reúne 688teses de mestrado, 226 de doutorado, 13de cátedra, 19 de livre docência e 64 tra-balhos de graduação, além de 2073 ar-tigos científicos de periódicos na formade separatas e 373 folhetos. Uma análi-se rápida de tais documentos mostra quealgumas espécies foram objeto de pes-quisa com maior freqüência. São os ca-sos do tomate, com 163 publicações,batata, com 144, cebola, com 87 e alho,com 81. Um outro tipo de levantamen-to bibliográfico relativo à produçãocientífica nas instituições de pesquisa éapresentado nas tabelas de 1 a 5. Istoindica que existe um acervo imenso deinformações sobre hortaliças abrangen-do os vários segmentos do sistema deprodução. No entanto, verifica-se que osprodutores continuam enfrentando osmais variados problemas fitotécnicos efitossanitários no cultivo das hortaliçase os extensionistas também carecem de

MAKISHIMA, N. Difusão de tecnologias para a produção de hortaliças pelas instituições oficiais de pesquisa científica.

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225Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

maior disponibilidade de informaçõespara atender às demandas que recebemdos agricultores.

DIFUSÃO E TRANSFERÊN-CIA DE CONHECIMENTOS E

TECNOLOGIAS

Até a criação da Embrapa, em 1973,e empresas estaduais de pesquisa, osconhecimentos e tecnologias geradosnas instituições de pesquisa e ensinoeram divulgados em eventos técnico-científicos e publicados em revistascientíficas das instituições ou socieda-des científicas específicas de cada área.Como tais revistas e publicações só fi-cavam disponíveis em bibliotecas daprópria instituição, de modo geral oacesso a essas informações por parte daassistência técnica ou dos extensionistasera bastante difícil.

Na década de 50 foi introduzido noBrasil, através de Minas Gerais, o ser-viço de extensão rural que paulatina-mente foi estendido aos demais estadoscom a criação das Associação de Crédi-to e Assistência Rural - ACAR,posteriormente transformadas em Em-presas de Assistência Técnica e Exten-são Rural - EMATER. Tais empresastêm por objetivo levar ao agricultor astecnologias de produção agropecuáriavisando o seu desenvolvimento. Assim,criou-se, via extensão rural, o elo de li-gação entre a pesquisa e a produção,com o objetivo de promover a difusão ea transferência de tecnologias para o sis-tema produtivo agropecuário. AEmbrapa e as empresas estaduais depesquisa agropecuária também dispõemde suas respectivas áreas de difusão etransferência de tecnologias para facili-tar o acesso aos conhecimentos,tecnologias, produtos e serviços pelosextensionistas, produtores e outros in-teressados. Vários tipos de publicações,sempre com a finalidade de alcançar osmais diferentes públicos (Tabela 4), sãoproduzidos pelas áreas de difusão etransferência de tecnologia. Além depublicações, outros veículos de divul-gação têm sido utilizados, tais comoprogramas de rádio, televisão, fitas devídeo, jornais e revistas especializadasem agricultura/pecuá-ria, bem como re-alização de cursos, palestras, dias de

Fonte: Horticultura Brasileira, v. 3, n. 1; v. 10, n. 1; v. 11, n. 1; v. 12, n. 1; v. 13, n. 1; v. 14, n. 1.

Tabela 1. Resumos apresentados em Congressos Brasileiros de Olericultura de1985 e 1993 a 1996. Brasília, Embrapa Hortaliças, 1997.

Tabela 2. Publicações técnico-científicas por espécie no período 1980/92. Brasília,Embrapa Hortaliças, 1997.

sonA seicépsEed.oN somuseRed.oN

5891 73 922

3991 22 372

4991 52 832

5991 72 662

6991 22 423

7991 62 352

eicépsE No. eicépsE No. eicépsE No.

etamoT 574 ognaroM 06 ecod-ohliM 52

atataB 693 arobóbA 65 alejnireB 52

ohlA 513 ohlopeR 55 abarreteB 81

saçilatroH 172 sortuO 34 ograpsA 81

aruoneC 791 oãleM 04 uhcuhC 81

alobeC 671 obaiuQ 63 emahnI 71

ahlivrE 041 megav-ed-oãjieF 53 aicnaleM 61

oãtnemiP 331 ecaflA 33 sacissárB 41

ecod-atataB 101 rolf-evuoC 23 sahlitneL 41

onipeP 67 ahniuqoidnaM 23 óliJ 31

Fonte: Lima, M.F.B.F.; Pereira, W. Horticultura Brasileira, v.13, n. 1, maio 1995.

Tabela 3. Principais instituições de pesquisa envolvidas na produção técnico-cien-tífica sobre hortaliças 1980/92. Brasília, Embrapa Hortaliças, 1997.

oãçiutitsnI N o seõçacilbuPed.No serodasiuqsePed.

)39/29(

saçilatroHaparbmE 954.1 84

IRGAPE 133 52

ORGASEP 442 6

odarepmeTamilCaparbmE 261 71

GIMAPE 451 42

APACME 431 61

AEI 45 9

odirÁ-imeSaparbmE 74 11

OG-RETAME 24 2

APNI 03 7

CAI 52 9

RAPAI 42 7

sorietsoCsorielubaTaparbmE 22 3

soloSaparbmE 12 5

sartuO 461 68

latoT 319.2 572

Fonte: Lima, M.F.B.F.; Pereira, W. Horticultura Brasileira, v.13, n. 1, maio 1995.

MAKISHIMA, N. Difusão de tecnologias para a produção de hortaliças pelas instituições oficiais de pesquisa científica.

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campo e promoção e participação emcongressos, seminários, feiras e expo-sições.

ANÁLISE E CONCLUSÕES

Existe nas instituições de pesquisa eensino um grande acervo de conheci-mentos, informações e tecnologias, re-presentado por diversos tipos de docu-mentos. A identificação dos mesmosdepende do grau de interesse de quemos consulta. Deve ser missãoprimordial das instituições de pesquisae ensino promover o desenvolvimentoeconômico, social e cultural da socie-dade como um todo. E esse desenvolvi-mento é conseqüência da utilização cor-reta, racional e inteligente dos conheci-mentos, informações e tecnologias.

Assim, o desenvolvimento da pro-dução de hortaliças no Brasil dependedo nível de geração de conhecimentos,informações e tecnologias e do grau deutilização dos mesmos. Para tanto é ne-cessário que haja maior interesse porparte das instituições de pesquisa e en-sino em divulgarem os resultados obti-dos nos trabalhos de investigação cien-tífica que realizam. Por outro lado, cabeàs instituições de assistência técnica eextensão rural demandarem informa-ções às instituições de ensino e pesqui-sa e repassarem essas informações aosprodutores. Por seu lado, os produtorestambém precisam e devem demandar àsinstituições de assistência técnica ou atémesmo às de pesquisa e ensino quemelhorem os níveis tecnológicos de suasatividades.

Tabela 5. Acervo dos principais documentos sobre hortaliças da biblioteca daEmbrapa Hortaliças. Brasília, Embrapa Hortaliças, 1997.

Tabela 4. Principais tipos de publicações produzidas pelas instituições de pesquisano período 1980/92. Brasília, Embrapa Hortaliças, 1997.

Fonte: Lima, M.F.B.F.; Pereira, W. Horticultura Brasileira, v.13, n. 1, maio 1995.

opiT oremúN

sossergnocarapomuseR 565.1

socidóireparapsogitrA 267

ocincéTodacinumoC 001

sartselaP 86

sianA 95

orviledolutípaC 25

sniteloB 94

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sianrojarapsogitrA 83

acincéTralucriC 73

oirótaleR 03

sacincéTseõçurtsnI 52

sotnemucoD 42

otnemadnameasiuqseP 32

sotehloF 22

oãçudorpedsametsiS 01

sorviL 6

sortuO 7

latoT 319.2

otnemucoD oremúN

odartseMedseseT 886

odarotuoDedseseT 622

ardetáCedseseT 21

aicnêcoDerviLedseseT 91

oãçaudargedohlabarT 46

)satarapes(socidóirepedsogitrA 370.2

sotehloF 373

MAKISHIMA, N. Difusão de tecnologias para a produção de hortaliças pelas instituições oficiais de pesquisa científica.

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227Hortic. bras., v. 15, 1997, Suplemento.

STEINDORF, R.H. Contribuição da extensão rural para o desenvolvimento da olericultura no Brasil. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, p. 227-229,1997. Palestra. Suplemento.

Contribuição da extensão rural para o desenvolvimento da olericulturano Brasil.Contributions of the rural extension for the development of horticulture inBrazil.

Rodolfo H. SteindorfEMATER - PR.

Palavras-chave: aspectos históricos, difusão de tecnologias, comercialização, planejamento de produção, preços, recursos humanos,estatísticas.Keywords: historical aspects, diffusion of technology, trade, supply plans, prices, human resources, figures.

Iniciamos na extensão rural em1963, em um período ainda deverdadeira “catequese” dos agri-

cultores para melhorarem tecnologias naagricultura de um modo geral.Olericultura era um termo totalmentedesconhecido entre os agricultores, mes-mo para aqueles que já se dedicavam aocultivo de hortaliças na maioria dos es-tados brasileiros. As exceções provavel-mente ficaram com São Paulo, Rio deJaneiro, Minas Gerais, Pernambuco eRio Grande do Sul. As hortaliçasconsumidas no meio urbano limitavam-se principalmente a alfaces, couves, re-polho, chuchu, tomate, batatinha, alho,cebola, pepino e abóboras. No meio ru-ral incluíram-se a batata-doce e a man-dioca, também cultivadas principalmen-te para a alimentação animal. O conhe-cimento das vantagens da utilização dashortaliças na alimentação humana, comouma das principais fontes de vitaminase sais minerais para o normal desempe-nho do corpo era quase nulo no meiodas populações urbanas e rurais. Tam-bém nenhuma ênfase se dava ao assun-to nos currículos do ensino básico. Ohábito de consumo de hortaliças no Bra-sil foi trazido principalmente pelas fa-mílias de imigrantes de origem européia,inicialmente, e mais tarde nipônica.

O serviço de Extensão Rural no paísteve seus primórdios na década de 50,mas segundo nossas observações, osprimeiros movimentos mais organiza-dos para um apoio decisivo ao desen-volvimento da olericultura nasceu noinício da década de 60, com a realiza-

ção de cursos especializados para pro-fissionais voltados para a olericultura,envolvendo pesquisadores, professorese extensionistas rurais. Resultante des-sa aproximação entre os profissionaisdas diferentes especialidades iniciaramas discussões sobre a importância daolericultura e seu desenvolvimento naslinhas básicas de pesquisa, ensino pro-fissional e difusão das tecnologias re-comendadas aos produtores de hortali-ças nos estados de São Paulo, Rio deJaneiro, Minas Gerais, Pernambuco eRio Grande do Sul. Paralelamente a essetrabalho e buscando facilitar o intercâm-bio entre os profissionais dedicados àolericultura, fundou-se a Sociedade deOlericultura do Brasil - SOB, em Viço-sa (MG), no ano de 1961, com a partici-pação de aproximadamente três dezenasde profissionais do ramo.

A participação da Extensão Rural nodesenvolvimento da olericultura no Bra-sil, em nossa opinião, tem seus funda-mentos na criação do hábito de consu-mo de hortaliças, visando equilibrar ocardápio alimentar em suas peculiarida-des básicas - proteínas, hidratos de car-bono, gorduras, sais minerais e vitami-nas, tendo nas hortaliças a fonte naturale sadia para suprir, com maior ênfase,os últimos dois componentes da cadeiaalimentar acima referida. Esse mérito,deve ser creditado às economistas do-mésticas que, no seu trabalho persisten-te, souberam levar às donas-de-casa asmaneiras mais aceitas para o preparo dosalimentos, em suas formas naturais, ela-boradas ou transformadas.

Na metodologia do extensionistarural visando orientar os agricultores emsuas visitas, reuniões técnicas e práti-cas, nas unidades de observação, de-monstrativas ou de resultados são trata-das as tecnologias recomendadas paracada situação e época. No início, com aexistência e demanda de poucasespécies e disponibilidade limitada decultivares, o extensionista tinha seucampo de atuação voltado para os as-pectos de melhoria das condições dosolo, população desejável e os cuidadoscom controle de doenças e combate aspragas, sem grandes preocupações combeneficiamento e comercialização daprodução. Com a melhoria do conheci-mento da população em geral sobre aimportância das hortaliças na alimenta-ção, bem como de redução no custo daalimentação, através da utilização deprodutos da época, passou-se a maioroferta de produtos, ainda de maneiradesorganizada, tanto no aspecto dacomercialização como da qualificaçãodos produtos. A qualificação dos pro-dutos passou então a ser uma necessi-dade para regularizar a comercializaçãoe atender às necessidades da população,agora já mais exigente.

Nesse momento a Extensão Ruralparticipa juntamente com o Ministérioda Agricultura, Secretarias de Estado daAgricultura e Organizações de Produ-tores para implantar uma regulamenta-ção específica para as principais espé-cies, estabelecendo requisitos mínimospara a qualidade dos produtos a seremofertados à população. Paralelamente

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são estudadas e criadas embalagens quese adaptem melhor às exigências detransporte, conservação da qualidade ecomercialização. Com a implantação daCEAGESP (SP) e das CEASA’s ou ou-tros mecanismos para regulamentaçãoda comercialização nos demais estados,a extensão rural passou a participarcomo parceria no processo, orientandoos produtores de hortigranjeiros sobreo fornecimento de produtos para essasorganizações, bem como, sobre como teruma participação efetivas nas mesmas.

A produção programada de hortali-ças tornou-se um aspecto fundamentalpara a extensão rural com objetivo deregularizar a oferta de produtos à popu-lação consumidora e manter o equilíbriode preços. Infelizmente o desenvolvimen-to dos indivíduos estava longe do idealpara que se pudesse ter uma produçãoadequada a atender as necessidades deforma regular durante o ano todo. Persis-te o ingresso de aventureiros quando sevislumbram bons preços próxima safra.

Lembramos aqui os programas deprodução e abastecimento desenvolvi-dos inicialmente em Minas Gerais eposteriormente levados ao Ministério daAgricultura através do EngenheiroAgrônomo Sérgio Mário Regina, entãocoordenador estadual de olericultura daEMATER-MG. Esses programas naépoca buscavam à regularização da pro-dução e da oferta de alho, cebola, batatae tomate, atendendo a demanda dos prin-cipais centros consumidores do Brasil,sem desagradáveis congestionamentosde excessos e aviltamento de preços.Aqui também voltamos a lamentar adescontinuidade de apoio do Ministérioda Agricultura para manter a coordena-ção de programas dessa natureza.

Na olericultura desenvolvida emambientes protegidos, comumente cha-mada de plasticultura, inicialmente comapoio de Poliolefinas, subsidiária daPetrobrás, e posteriormente daPetroquímica Triunfo, a extensão ruraldos estados de São Paulo, Rio Grandedo Sul, Santa Catarina e Paraná desen-volveram significativo trabalho. Essatecnologia avançou antes mesmo de seterem resultados nacionais ou estaduaisde pesquisa, levando sucesso e, também,insucesso aos pioneiros que aderiram àtecnologia e ensinando informalmente

a produtores e extensionistas rurais.Muito empirismo ocorreu, principal-mente na montagem das estruturas mo-delo capela de 500 m2, desconsiderandoa resistência dos materiais empregadose os efeitos das condições ambientais,principalmente ventos. O engajamentoposterior da pesquisa, a nível federal -Centro Nacional de Pesquisa de Horta-liças - e estadual, hoje já dá suporte parao treinamento de profissionais e produ-tores que utilizam a tecnologia, possi-bilitando o correto emprego do plásticoem túneis baixos e altos, estufas de di-versas modalidades, cobertura morta,reservatório de água e canais.

Tecnologias mais especializadas,como o cultivo de cogumelos, a agri-cultura orgânica, a biodinâmica, aminhocultura e a hidroponia são frentesde trabalho cobradas por grupos de pro-dutores ou organizações que visam oatendimento de comunidades seletas epara as quais a extensão rural tambémse preocupa em dar atendimento, emcaráter não prioritário, pois sua atençãoprimeira é dirigida aos produtores debaixa renda.

EVENTOS EMOLERICULTURA

· A extensão rural participa demodo expressivo na organização dosprodutores, visando a comercializaçãoem feiras municipais e regionais de seusprodutos, tanto na forma in natura,quanto beneficiados ou transformados,objetivando sempre melhorar sua con-dição econômico-financeira, para re-compensar seus esforços.

· Organização de concursos deprodutividade, utilizados para motivaros produtores a demonstrarem sua ca-pacidade de aperfeiçoamentotecnológico e obtenção de resultadoseconomicamente viáveis.

· Organização e participação emencontros, simpósios e seminários, vi-sando a discussão de tecnologias, a tro-ca de informações e experiências, bemou mal sucedidas, que venham coope-rar com o desenvolvimento das explo-rações agrícola de cada um.

· Organização e participação emexcursões técnicas que reunam produ-tores com objetivos similares para tro-

ca de experiências com outros produto-res ou com entidades oficiais e particu-lares que detenham informações de in-teresse do grupo.

PUBLICAÇÕES

Em todos os estados onde a exten-são rural assiste a produtores de hortali-ças, em todos os períodos, foram elabo-rados folders, folhetos, slides, vídeoseducativos e manuais técnicos que au-xiliam os extensionistas a realizarem aassistência técnica com a qualidade e aoportunidade recomendadas. A grandemaioria das publicações mais antigas sedirigiam a como instalar a horta casei-ra, uma vez que havia necessidade decriar o hábito de consumir hortaliças.

EQUIPE DE ASSISTÊNCIATÉCNICA

Em todos os estados de expressãoeconômica em olericultura, a extensãorural já treinou suas assessorias técni-cas a nível de mestrado e/ou especiali-zação, a fim de facilitar o treinamento ereciclagem dos profissionais que atuama nível de produtor.

A situação atual da Olericultura noBrasil poder ser vista na Tabela 1, queapresenta a área, produção, valores e aforça de trabalho existentes no país.Alguns estados não acolheram nossopedido de informação e, a título de ilus-tração, utilizamos dados publicados narevista oficial da SOB, Horticultura Bra-sileira, v. 11, n. 2, novembro de 1993,em trabalho realizado pelo engenheiroagrônomo Iniberto Hamerschimidt, daEMATER-PR. Para os estados que for-neceram a informação, comparando-seos dados atualizados àqueles publicadospor Hamerschimidt, verificamos quehouve evolução da área plantada e pro-dução variável de 30 a 50 %, o que po-deria ser também assumido os demaisestados, que deixaram de encaminharseus dados.

AGRADECIMENTOS

Foi com satisfação que recebemos opedido da Comissão Organizadora do37o. CBO e procuramos traduzir da me-

STEINDORF, R.H. Contribuição da extensão rural para o desenvolvimento da olericultura no Brasil.

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Tabela 1. Área, produção, valor da produção e profissionais envolvidos em extensão rural, em olericultura, no Brasil.

* Informações atualizadas para o ano agrícola 1995/1996.

lhor forma a contribuição da ExtensãoRural para o desenvolvimento daOlericultura Brasileira. Lamentamos, noentanto, que essa contribuição estejagradativamente se encerrando face à

odatsE )ah(aerÁ )t(oãçudorP )$SU(rolaVsianoissiforP

sodivlovne

ercA 029.644 00,002.705.17 -

ápamA - 646 00,063.301 -

sanozamA - 832.91 00,080.870.3 -

*aihaB 144.53 737.207 00,029.734.211 23

*áraeC 611.2 782.211 00,029.569.71 21

laredeFotirtsiD - 161.511 00,067.524.81 -

*otnaSotirípsE - 010.671 00,006.161.82 01

*sáioG 343.71 113.732 00,067.969.73 91

*oãhnaraM 537 845.03 00,086.788.4 -

ossorGotaM - 082.891 00,008.427.13 -

*luSodossorGotaM 989.2 - - 94

*siareGsaniM 007.17 398.870.2 00,088.226.233 041

abíaraP - 650.065 00,069.806.98 -

*ánaraP 846.58 377.793.1 00,086.346.322 81

áraP - 980.86 00,041.498.01 -

ocubmanreP - 605.514 00,069.084.66 -

íuaiP - 636.032 00,067.109.63 -

orienaJedoiR - 770.567 00,023.214.221 -

etroNodednarGoiR - 671.841 00,061.807.32 -

luSodednarGoiR - 246.968 00,027.241.931 -

amiaroR - 512 00,004.43 -

anirataCatnaS - 130.756 00,069.421.501 -

*oluaPoãS 583.721 824.709.3 00,000.797.315 004

epigreS - 355.63 00,084.848.5 -

desestruturação do serviço em todo opaís, com a redução das estruturas detrabalho nas Empresas Estaduais e aextinção da Coordenação Nacional nogoverno Collor de Mello. Infelizmente,

nossos agricultores ainda não seconcientizaram do seu potencial paralutar pelos seus direitos, expressos naConstituições Nacional e Estaduais.

STEINDORF, R.H. Contribuição da extensão rural para o desenvolvimento da olericultura no Brasil.

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