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RELAÇÃO DE ADVOGADOS (E/OU PROCURADORES) CONSTANTES NESTA PAUTA ÍNDICE DE PESQUISA DA 1ª TURMA RECURSAL ALINE FELLIPE PACHECO SARTÓRIO-66 Allan Titonelli Nunes-69 ANA BEATRIZ LINS BARBOSA-46, 57, 58 ANA PAULA BARRETO MONTEIRO ROTHEN-11, 48, 5 ANDRE COUTINHO DA FONSECA FERNANDES GOMES-41 ANDRÉ PIMENTEL FILHO-64 BRUNO MIRANDA COSTA-9 Carolina Augusta da Rocha Rosado-33, 54 CLEBSON DA SILVEIRA-68 DF030057 - MAYARA AZEVEDO JACUNDA FERREIRA-7 ELZA ELENA BOSSOES ALEGRO OLIVEIRA-31 ESTEVÃO SANTIAGO PIZOL DA SILVA-21 ES002488 - EVERALDO CUCCO-55 ES003418 - LAECIO CARLOS GUIMARAES-14 ES003841 - NELSON DE MEDEIROS TEIXEIRA-20 ES003844 - ANA MARIA DA ROCHA CARVALHO-71 ES004044 - LUIZ GONZAGA FREIRE CARNEIRO-69 ES004208 - JULIO RIBEIRO BRANDAO-24 ES004373 - LISLIE VALERIA CORDEIRO DUTRA-14 ES004770 - MARIA DA CONCEICAO CHAMUN-12 ES004964 - HELDER WILLIAM CORDEIRO DUTRA-14 ES005104 - JOSE ANIBAL GONCALVES JUNIOR-19 ES005195E - NEEMIAS DA SILVA-12 ES005595 - JOAO MIGUEL ARAUJO DOS SANTOS-49 ES006985 - JAMILSON SERRANO PORFIRIO-70 ES007025 - ADENILSON VIANA NERY-18, 41 ES007029 - MARCELO ABELHA RODRIGUES-46 ES007070 - WELITON ROGER ALTOE-16 ES007367 - CHRISTOVAM RAMOS PINTO NETO-21, 8 ES007828 - RONI FURTADO BORGO-8 ES007860 - MARCELO ALVARENGA PINTO-46 ES007962 - ANA IZABEL VIANA GONSALVES-65 ES008288 - BRUNO DALL'ORTO MARQUES-47 ES008522 - EDGARD VALLE DE SOUZA-17 ES008886 - GILBERTO JOSE DE SANTANA JR-56, 57 ES009070 - RODOLPHO RANDOW DE FREITAS-6 ES009141 - UDNO ZANDONADE-1 ES009223 - IZAIAS CORREA BARBOZA JUNIOR-45 ES009846 - WILLIAM FERNANDO MIRANDA-26 ES009874 - CARLO ROMAO-11 ES010117 - JOAO FELIPE DE MELO CALMON HOLLIDAY-21 ES010321 - OLDER VASCO DALBEM DE OLIVEIRA-22 ES010404 - ALEX WERNER ROLKE-34, 59 ES010477 - FABIANO ODILON DE BESSA LURETT-13, 61 ES010485 - CLEBER ALVES TUMOLI-63 ES010751 - MARCELO MATEDI ALVES-35 ES010835 - ALMIR MELQUIADES DA SILVA-13, 61 ES010871 - JOSE ANTONIO NEFFA JUNIOR-47 ES010944 - JOSÉ VICENTE SALLES BARBOSA-58 ES011019 - GUSTAVO LUIZ BUSSULAR-34 ES011117 - NEIMAR ZAVARIZE-37 ES011199 - CAMILLA GOMES DE ALMEIDA-59 ES011323 - RAFAEL LIBARDI COMARELA-37

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RELAÇÃO DE ADVOGADOS (E/OU PROCURADORES) CONSTANTES NESTA PAUTA:

ÍNDICE DE PESQUISA DA 1ª TURMA RECURSAL

ALINE FELLIPE PACHECO SARTÓRIO-66Allan Titonelli Nunes-69ANA BEATRIZ LINS BARBOSA-46, 57, 58ANA PAULA BARRETO MONTEIRO ROTHEN-11, 48, 5ANDRE COUTINHO DA FONSECA FERNANDES GOMES-41ANDRÉ PIMENTEL FILHO-64BRUNO MIRANDA COSTA-9Carolina Augusta da Rocha Rosado-33, 54CLEBSON DA SILVEIRA-68DF030057 - MAYARA AZEVEDO JACUNDA FERREIRA-7ELZA ELENA BOSSOES ALEGRO OLIVEIRA-31ESTEVÃO SANTIAGO PIZOL DA SILVA-21ES002488 - EVERALDO CUCCO-55ES003418 - LAECIO CARLOS GUIMARAES-14ES003841 - NELSON DE MEDEIROS TEIXEIRA-20ES003844 - ANA MARIA DA ROCHA CARVALHO-71ES004044 - LUIZ GONZAGA FREIRE CARNEIRO-69ES004208 - JULIO RIBEIRO BRANDAO-24ES004373 - LISLIE VALERIA CORDEIRO DUTRA-14ES004770 - MARIA DA CONCEICAO CHAMUN-12ES004964 - HELDER WILLIAM CORDEIRO DUTRA-14ES005104 - JOSE ANIBAL GONCALVES JUNIOR-19ES005195E - NEEMIAS DA SILVA-12ES005595 - JOAO MIGUEL ARAUJO DOS SANTOS-49ES006985 - JAMILSON SERRANO PORFIRIO-70ES007025 - ADENILSON VIANA NERY-18, 41ES007029 - MARCELO ABELHA RODRIGUES-46ES007070 - WELITON ROGER ALTOE-16ES007367 - CHRISTOVAM RAMOS PINTO NETO-21, 8ES007828 - RONI FURTADO BORGO-8ES007860 - MARCELO ALVARENGA PINTO-46ES007962 - ANA IZABEL VIANA GONSALVES-65ES008288 - BRUNO DALL'ORTO MARQUES-47ES008522 - EDGARD VALLE DE SOUZA-17ES008886 - GILBERTO JOSE DE SANTANA JR-56, 57ES009070 - RODOLPHO RANDOW DE FREITAS-6ES009141 - UDNO ZANDONADE-1ES009223 - IZAIAS CORREA BARBOZA JUNIOR-45ES009846 - WILLIAM FERNANDO MIRANDA-26ES009874 - CARLO ROMAO-11ES010117 - JOAO FELIPE DE MELO CALMON HOLLIDAY-21ES010321 - OLDER VASCO DALBEM DE OLIVEIRA-22ES010404 - ALEX WERNER ROLKE-34, 59ES010477 - FABIANO ODILON DE BESSA LURETT-13, 61ES010485 - CLEBER ALVES TUMOLI-63ES010751 - MARCELO MATEDI ALVES-35ES010835 - ALMIR MELQUIADES DA SILVA-13, 61ES010871 - JOSE ANTONIO NEFFA JUNIOR-47ES010944 - JOSÉ VICENTE SALLES BARBOSA-58ES011019 - GUSTAVO LUIZ BUSSULAR-34ES011117 - NEIMAR ZAVARIZE-37ES011199 - CAMILLA GOMES DE ALMEIDA-59ES011323 - RAFAEL LIBARDI COMARELA-37

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ES011370 - RAPHAEL MADEIRA ABAD-47ES011373 - DIOGO ASSAD BOECHAT-38ES011444 - FABIANO CARVALHO DE BRITO-37ES011893 - LEONARDO PIZZOL VINHA-35ES012396 - WESLEY CORREA CARVALHO-60ES012399 - GUSTAVO SABAINI DOS SANTOS-44ES012411 - MARCELO CARVALHINHO VIEIRA-12ES012744 - MICHELE ITABAIANA DE CARVALHO PIRES-30ES012916 - MARIA DE FÁTIMA DOMENEGHETTI-62ES012938 - JOSÉ LUCAS GOMES FERNANDES-10ES013239 - ROBERTA BRAGANÇA ZÓBOLI-16ES013330 - PAULO AUGUSTO MARTINS PINHEIRO CHAGAS-9ES013354 - FELIPE RUBIM SEABRA DE MELLO-26ES013392 - VANESSA SOARES JABUR-2ES013758 - VINICIUS DINIZ SANTANA-48, 50ES013765 - SAULO NASCIMENTO COUTINHO-59ES013876 - MARIA NAZARET DE CASTRO BATISTA-59, 63ES014023 - RAUL DIAS BORTOLINI-48, 50ES014129 - LUIZ CARLOS BARRETO-23ES014183 - MARCELO DUARTE FREITAS ASSAD-38ES014598 - DEBORAH MARIA AKEL MAMERI-46ES014648 - Mer Stella Borges Mendonça-59ES014723 - MARIA JOSE VIEIRA GIORISATTO-27ES014806 - kassia ferraz martins arraz-9ES014951 - LUIZA MARTINS DE ASSIS SILVA-38ES015004 - JOYCE DA SILVA PASSOS-2ES015283 - WANESSA ALDRIGUES CANDIDO-7ES015331 - RAFAEL GONÇALVES VASCONCELOS-38ES015482 - ANA CARLA DALBEN AZEREDO CROSCOB-69ES015854 - WALLACE VOTIKOSKE RONCETE-42ES015906 - MYRNA FERNANDES CARNEIRO-46ES016642 - ANDRE DE PAULA ARRAZ-9ES016849 - DANIEL ASSAD GALVÊAS-38ES017096 - RODRIGO DA SILVA OLIVEIRA-37ES017197 - ANDERSON MACOHIN-48, 50ES017328 - MARCELLA FRECHIANI DE CASTRO AVELAR-58ES017409 - RAFAELLA CHRISTINA BENÍCIO-5ES018177 - IGOR GIMENES ALVARENGA DOMINGUES-46ES018185 - LUIZA GOMES LIMA-37ES018446 - GERALDO BENICIO-5ES018483 - LÍVIA NOGUEIRA ALMEIDA-22ES018685 - SUELLEM RIBEIRO BOTON-1ES018956 - MIGUEL SABAINI DOS SANTOS-49ES019221 - AMAURI BRAS CASER-4ES019645 - ALEX SANDRO SALAZAR-22ES019821 - FELIPE CASTRO DE CARVALHO-3ES019846 - Allan Ferreira Bernardo-3ES019862 - CAIO AFONSO CARDOSO-3ES020724 - SILVIA RENATA SEGATTO SANTOS NASCIMENTO-1ES020842 - YURI MESQUITA MAULAES-1ES021038 - CARLOS BERKENBROCK-72ES021164 - SEBASTIANA MATHEUS PESSOA-1ES021497 - LUCIANA DE SOUZA COSTA MENDEL-29EUGENIO CANTARINO NICOLAU-10, 40, 70FRANCISCO VIERA LIMA NETO-26GERONIMO THEML DE MACEDO-56, 65

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GUSTAVO CABRAL VIEIRA-22GUSTAVO HENRIQUE TEIXEIRA DE OLIVEIRA-42Isabela Boechat B. B. de Oliveira-24, 30, 52, 8JOSÉ GUILHERME BARBOSA DE OLIVEIRA-36JOSE NILSO DE LIRIO-30JOSÉ VICENTE SANTIAGO JUNQUEIRA-2, 3, 50, 51JULIANA ALMENARA ANDAKU-68JULIANA BARBOSA ANTUNES-16LIDIANE DA PENHA SEGAL-31, 32, 64LILIAN BERTOLANI DO ESPÍRITO SANTO-72LUCIANA CAMPOS MALAFAIA COSTA-20LUCIANO ANTONIO FIOROT-33, 54MARCELA BRAVIN BASSETTO-19, 38, 7MARCOS ANTONIO BORGES BARBOSA-4Marcos Figueredo Marçal-12, 27, 55MARCOS JOSÉ DE JESUS-6, 64MARGARETH ALVES DE OLIVEIRA-67MG066533 - EFIGENIA CAMILO DA SILVA-40NANCI APARECIDA DOMINGUES CARVALHO-32, 39, 44Paulo Henrique Vaz Fidalgo-61PAULO VICTOR NUNES-15PEDRO GALLO VIEIRA-25PEDRO INOCENCIO BINDA-13RAQUEL MAMEDE DE LIMA-35RICARDO FIGUEIREDO GIORI-28RJ088855 - CARLA XIMENES DE FREITAS-25RJ103883 - BRUNO OLIVEIRA CARDOSO-37RJ144337 - Maico Cezar Baiense Francisco-15RJ173475 - FERNANDA SILVEIRA DOS SANTOS-39RODRIGO BARBOSA DE BARROS-37, 43, 47RODRIGO STEPHAN DE ALMEIDA-18SC013520 - CARLOS BERKENBROCK-36, 51SC015426 - SAYLES RODRIGO SCHUTZ-36, 51, 72SC024692 - RODRIGO FIGUEIREDO-36, 51SIMONE LENGRUBER DARROZ ROSSONI-23, 28, 29, 62THIAGO COSTA BOLZANI-53, 66, 71THIAGO DE ALMEIDA RAUPP-17UBIRATAN CRUZ RODRIGUES-49, 60Vinícius de Lacerda Aleodim Campos-45

1ª Turma RecursalJUIZ(a) FEDERAL DR(a). BOAVENTURA JOAO ANDRADE

Nro. Boletim 2014.000052 DIRETOR(a) DE SECRETARIA LILIA COELHO DE CARVALHO MAT. 10061

24/03/2014Expediente do dia

FICAM INTIMADAS AS PARTES E SEUS ADVOGADOS DOS ATOS ORDINATÓRIOS/INFORMAÇÕES DA SECRETARIANOS AUTOS ABAIXO RELACIONADOS

91001 - RECURSO/SENTENÇA CÍVEL

1 - 0104370-63.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.104370-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ALTAIR BERNARDO DA SILVA(ADVOGADO: ES020724 - SILVIA RENATA SEGATTO SANTOS NASCIMENTO, ES020842 - YURI MESQUITAMAULAES, ES021164 - SEBASTIANA MATHEUS PESSOA.) x CEF-CAIXA ECONOMICA FEDERAL (ADVOGADO:ES018685 - SUELLEM RIBEIRO BOTON, ES009141 - UDNO ZANDONADE.).Processo nº. 0104370-63.2013.4.02.5050/01 – Juízo de Origem: 2º JEF de VitóriaRecorrente: ALTAIR BERNADO DA SILVARecorrida: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF

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Relator Original: Juiz Federal BOAVENTURA JOÃO ANDRADERelator para Acórdão: Juiz Federal IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

RESPONSABILIDADE CIVIL. FILA EM AGÊNCIA BANCÁRIA. ALEGAÇÃO DE EXCESSIVO TEMPO DE ESPERA PORATENDIMENTO. FATO QUE, ISOLADAMENTE, CONFIGURA MERO ABORRECIMENTO NÃO INDENIZÁVEL.1. A parte autora ajuizou ação indenizatória por haver permanecido em fila, aguardando atendimento em agência bancária,por tempo superior àquele previsto em legislação local. Da sentença que julgou o pedido improcedente, o autor interpôsrecurso inominado.2.1. Os Municípios, não os Estados, têm competência para legislar sobre tempo máximo de espera em filas de instituiçõesbancárias.2.2. “Definição do tempo máximo de espera de clientes em filas de instituições bancárias. Competência do Município paralegislar. Assunto de interesse local. Ratificação da jurisprudência firmada por esta Suprema Corte. Existência deRepercussão Geral.” (STF, Pleno, RE 610.221).2.3. “É inconstitucional, por invadir a competência legislativa municipal, a Lei estadual n° 4.223/2003, que disciplina oatendimento ao público e estipula tempo máximo de espera na fila pelos usuários dos serviços bancários das agênciaslocalizadas no estado do Rio de Janeiro” (Súmula 58/TRF2).3. A questão da existência ou não de danos materiais e/ou morais decorrentes de espera excessiva em fila de instituiçãofinanceira é meramente infraconstitucional, sem repercussão geral que autorize o STF a se pronunciar sobre o mérito (ARE687.876).4. “A só invocação de legislação municipal ou estadual que estabelece tempo máximo de espera em fila de banco não ésuficiente para desejar o direito à indenização, pois dirige a sanções administrativas, que podem ser provocadas pelousuário.” (STJ, REsp 1.340.394).5. Em regra, o incômodo causado aos clientes pelo fato de instituição bancária demorar mais a prestar atendimento que oprazo-limite estipulado em lei local configura mero aborrecimento não indenizável, tal como a espera na fila dosupermercado ou em uma agência de atendimento da Previdência Social.Cada agência bancária tem um tamanho e um determinado número máximo de caixas, sendo impossível expandir acapacidade de atendimento além desse limite.Os bancos não têm controle sobre o fluxo extraordinário de clientes em determinados momentos (dia de pagamento deservidores públicos ou de aposentados/pensionistas, dia de vencimento de tributos, etc).Além disso, é notório que as instituições financeiras têm investido menos em contratação de bancários e mais em expansãode serviços online e caixas eletrônicos (a fim de aumentar o horário total de atendimento e de diminuir a necessidade depresença física dos clientes nas agências).6.1. Não se exclui, contudo, a possibilidade de que o conjunto de fatos ocorridos em determinada ocasião caracterizeconstrangimento e resulte em direito a compensação por dano moral: por exemplo, espera de muitas horas poratendimento, caixas eletrônicos inoperantes, indisponibilidade de banheiros, ausência de instalações adequadas parapessoas idosas, portadoras de deficiências ou com a saúde debilitada, atitude grosseira dos funcionários, manifestacondescendência destes com filas desorganizadas ou com pessoas furando a fila, caixas injustificadamente ausentes emmomentos de grande movimento.6.2. “A espera por atendimento em fila de banco quando excessiva ou associada a outros constrangimentos, e reconhecidafaticamente como provocadora de sofrimento moral, enseja condenação por dano moral.” (STJ, REsp 1.218.497).6.3. Preciso o voto do Relator do REsp 1.218.497, Ministro SIDNEI BENETI:“Em muitos casos, sem dúvida, há abuso na judicialização de situações de transtornos comuns do dia a dia, visando àindenização por dano moral (...) Nesse sentido, julgados desta Corte têm assinalado que os aborrecimentos comuns dodia a dia, os contratempos normais e próprios do convívio social não são suficientes a causar danos morais indenizáveis.(...)Mas, o direito à indenização por dano moral, como ofensa a direito de personalidade em casos como o presente podedecorrer de situações fáticas em que se evidencie que o mau atendimento do banco criou sofrimento moral ao consumidorusuário dos serviços bancários.A só espera por atendimento bancário por tempo superior ao previsto na legislação municipal ou estadual (...) não dá direitoa acionar em Juízo para a obtenção de indenização por dano moral, porque essa espécie de legislação, conquantodeclarada constitucional (STJ-RESP 598.183, Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, 1ª Seção, unânime, 8.11.2006, comremessa a vários precedentes, tanto do STJ como do STF), é de natureza administrativa, isto é, dirige-se àresponsabilidade do estabelecimento bancário perante a Administração Pública, que, diante da reclamação do usuário dosserviços ou ex-officio, deve aplicar-lhe as sanções administrativas pertinentes – não surgindo, do só fato da normaçãodessa ordem, direito do usuário à indenização.O direito à indenização por dano moral origina-se de situações fáticas em que realmente haja a criação, peloestabelecimento bancário, de sofrimento além do normal ao consumidor dos serviços bancários, circunstância que éapurável faticamente, à luz das alegações do autor e da contrariedade oferecida pelo acionado.Nesse contexto, é possível afirmar, com segurança, que a espera por atendimento durante tempo desarrazoado constituium dos elementos a serem considerados para aferição do constrangimento moral, mas não o único. Não será o merodesrespeito ao prazo objetivamente estabelecido pela norma municipal que autorizará uma conclusão afirmativa a respeitoda existência de dano moral indenizável. Também há de se levar em conta outros elementos fáticos.”7. Imprescindível que a situação fática causadora do dano esteja detalhadamente descrita na petição inicial e comprovadano curso do processo. Petição inicial que se limita a pedir indenização em razão de demora excessiva em fila de bancoenseja a improcedência de plano do pedido.

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8. No caso concreto, o autor alegou ter aguardado por aproximadamente uma hora e meia para ser atendido em uma dasagências da recorrida (Agência 0880 – Vila Rubim – fl. 11). Esclareceu que se encontrava afastado do trabalhorecuperando-se de uma cirurgia quando necessitou ir até o estabelecimento bancário para pessoalmente receber seubenefício previdenciário, tendo em vista estar desprovido do cartão magnético que viabiliza o saque por terceiro. Argumentaque a demora demasiada em seu atendimento não constituiu mero dissabor cotidiano, mas de situação que fugiu ànormalidade, considerando as condições físicas em que teve que enfrentá-la, e o fato de que havia apenas dois caixasfuncionando (um para o atendimento especial, outro para o atendimento comum).9. O saque do benefício previdenciário só pode ser feito pelo próprio segurado nos caixas, uma vez que ainda não haviarecebido cartão magnético do INSS. A CEF, em sua contestação, não negou os fatos alegados nem apresentou justificativaalguma para que, em horário de movimento intenso, houvesse apenas dois caixas funcionando (não houve alegação – eprova – de falta de alguns funcionários, inoperância momentânea do sistema, etc).10. O valor da indenização por dano imaterial não pode ser insignificante a ponto de não reparar a lesão injustificadamentecausada, tampouco pode ser elevado a ponto de implicar enriquecimento sem causa ou de estimular a vítima a desejar quea situação se repita. Diante de uma hora e trinta de espera injustificada, é suficiente o valor atualizado de R$ 300,00.Precedente da 2ª Turma Recursal do Espírito Santo (recurso inominado 0001848-94.2009.4.02.5050/01, Relator JuizFederal IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI).11. Recurso do autor conhecido e parcialmente provido para condenar a CEF a pagar indenização por dano imaterial novalor atualizado de R$ 300,00, fluindo correção monetária e juros de mora de 1% ao mês a contar da publicação desteacórdão.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal

2 - 0010231-09.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.010231-9/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JOSÉ VICENTE SANTIAGO JUNQUEIRA.) x HERCULES RONCATO(ADVOGADO: ES015004 - JOYCE DA SILVA PASSOS, ES013392 - VANESSA SOARES JABUR.).Processo nº 0010231-09.2012.4.02.5001/01 – Juízo de origem: 1º JEF de VitóriaRecorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRecorrido:HÉRCULES RONCATORelator: Juiz Federal BOAVENTURA JOÃO ANDRADE

VOTO - EMENTARECURSO INOMINADO. PREVIDENCIÁRIO. RMI. RENÚNCIA À APOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO EPOSTERIOR JUBILAMENTO. POSSIBILIDADE. DEVOLUÇÃO DOS VALORES PERCEBIDOS. DESNECESSIDADE.RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.Este recurso inominado foi interposto pelo réu da demanda em primeiro grau às fls. 140-161, em razão de sentença (fls.130-137) que julgou procedente a pretensão autoral de renúncia ao benefício previdenciário de aposentadoria por tempo deserviço; e, como consectário, de concessão de novo benefício da mesma espécie, em razão de o (a) segurado (a) tercontinuado trabalhando e contribuindo para o Regime Geral de Previdência Social – RGPS.

Sustenta o recorrente: a) decadência do pedido, porquanto o benefício previdenciário foi concedido há mais de dez anos; b)constitucionalidade e imperatividade da vedação legal ao emprego das contribuições posteriores à aposentadoria; c) ocontribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenas contribui para o custeio do sistema, não para aobtenção de benefícios; d) ao aposentar-se, o segurado fez uma opção por uma renda menor, mas recebida por maistempo; e) o ato jurídico não pode ser alterado unilateralmente; f) violação ao art. 18, parágrafo 2º, da Lei nº 8.213/1991; g)necessidade de laudo técnico pericial para o agente ruído e a eliminação da especialidade do labor ante a utilização de EPI.Pugna, assim, pela reforma do julgado, julgando-se improcedente o pedido.

Contrarrazões às fls. 129-144.

Pois bem, o prazo decadencial previsto no art. 103 da Lei nº 8.213/1991 aplica-se nas situações em que o segurado visa àrevisão do ato de concessão do benefício previdenciário. A renúncia à aposentadoria já concedida, nos moldes pretendidospelo recorrido, não implica revisão de benefício. Isso porque, trata-se de direito patrimonial disponível e, consequentementenão se submete à decadência para o seu exercício.

A questão em debate importa aferir a viabilidade jurígena de segurado (a) que continuou em atividade remunerada econtribuindo para o RGPS renunciar a benefício previdenciário, com o escopo de, ao tempo de contribuição apurado porocasião de sua concessão, ver acrescido aquele relativo à atividade laborativa – e respectivas contribuições – posterior àjubilação, para assim auferir renda mensal mais vantajosa.

No caso sob exame, cuida-se de benefício de aposentadoria por tempo de serviço (fl. 25), com DIB em 16.10.1991 e rendamensal inicial (RMI) de CR$ 867.866,99. Por sua vez, não há dúvida que, após aposentar-se, o (a) recorrido (a) continuoulaborando, conforme se verifica às fls. 30-31.

A autarquia recorrente rechaça a pretensão autoral com a assertiva de que encontra óbice na teleologia das múltiplasredações do § 2o, do art. 18, da Lei no 8.213/1991 (original, da Lei no 9.032/1995 e da Lei no 9.528/1997), as quaissubmetem o aposentado pelo Regime Geral da Previdência Social – RGPS, que permanecer em atividade nesse regime,ao recolhimento das contribuições previdenciárias pertinentes e, simultaneamente, reduz o rol de benefícios previdenciários

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passíveis de concessão a segurados nessa condição.

No entanto, entendo que os efeitos da regra em comento não afastam, ante a ausência de vedação explícita, apossibilidade de o segurado renunciar à aposentadoria, com o intuito de ver considerado o tempo de contribuiçãosubsequente, na concessão de novo benefício. A renúncia à aposentadoria não resulta, per si, em renúncia ao tempo decontribuição, mas à fruição do direito inteiramente integrado ao patrimônio jurídico do (a) segurado (a).

Ademais, trata-se de regra cuja constitucionalidade está sendo examinada à luz do art. 201 da Constituição da República,nos autos do Recurso Extraordinário no 381.367/RS, relatado pelo Ministro Marco Aurélio, cujo voto foi no sentido de "... lheemprestar alcance consentâneo com a Constituição, ou seja, no sentido de afastar a duplicidade de benefício, porém não onovo cálculo de parcela previdenciária que deva ser satisfeita.", consoante noticiou o Informativo no 600, de 22.9.2010, doSupremo Tribunal Federal, ipsis verbis:

“O Min. Marco Aurélio, relator, proveu o recurso. Consignou, de início, a premissa segundo a qual o trabalhadoraposentado, ao voltar à atividade, seria segurado obrigatório e estaria compelido por lei a contribuir para o custeio daseguridade social. Salientou, no ponto, que o sistema constitucional em vigor viabilizaria o retorno do prestador de serviçoaposentado à atividade. Em seguida, ao aduzir que a previdência social estaria organizada sob o ângulo contributivo e comfiliação obrigatória (CF, art. 201, caput), assentou a constitucionalidade do § 3º do art. 11 da Lei 8.213/91, com a redaçãoconferida pelo art. 3º da Lei 9.032/95 (“§ 3º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social – RGPS que estiverexercendo ou que voltar a exercer atividade abrangida por este Regime é segurado obrigatório em relação a essa atividade,ficando sujeito às contribuições de que trata a Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, para fins de custeio da SeguridadeSocial.”). Assinalou que essa disposição extinguira o denominado pecúlio, o qual possibilitava a devolução dascontribuições implementadas após a aposentadoria. Enfatizou que o segurado teria em patrimônio o direito à satisfação daaposentadoria tal como calculada no ato de jubilação e, ao retornar ao trabalho, voltaria a estar filiado e a contribuir semque pudesse cogitar de restrição sob o ângulo de benefícios. Reputou, dessa forma, que não se coadunaria com o dispostono art. 201 da CF a limitação do § 2º do art. 18 da Lei 8.213/91 que, em última análise, implicaria desequilíbrio na equaçãoditada pela Constituição. Realçou que uma coisa seria concluir-se pela inexistência da dupla aposentadoria. Outra seriaproclamar-se, conforme se verifica no preceito impugnado, que, mesmo havendo a contribuição — como se fosse primeirovínculo com a previdência —, o fenômeno apenas acarretaria o direito ao salário-família e à reabilitação profissional.Reiterou que, além de o texto do examinado dispositivo ensejar restrição ao que estabelecido na Constituição, abalaria afeição sinalagmática e comutativa decorrente da contribuição obrigatória. Em arremate, afirmou que ao trabalhador que,aposentado, retorna à atividade caberia o ônus alusivo à contribuição, devendo-se a ele a contrapartida, os benefíciospróprios, mais precisamente a consideração das novas contribuições para, voltando ao ócio com dignidade, calcular-se,ante o retorno e as novas contribuições e presentes os requisitos legais, o valor a que tem jus sob o ângulo daaposentadoria. Registrou, por fim, que essa conclusão não resultaria na necessidade de se declarar a inconstitucionalidadedo § 2º do art. 18 da Lei 8.213/91, mas de lhe emprestar alcance consentâneo com a Constituição, ou seja, no sentido deafastar a duplicidade de beneficio, porém não o novo cálculo de parcela previdenciária que deva ser satisfeita. Após, pediuvista o Min. Dias Toffoli.” (grifei)

As razões acima explicitadas estão também em consonância, diga-se, com os fundamentos da República, conforme osincisos III (dignidade da pessoa humana) e IV (valores sociais do trabalho e da livre iniciativa) do art. 1o da Constituição, ehomenageia o direito fundamental de segunda geração do inciso XXIV do art. 7o da Constituição (aposentadoria), namedida em que impede que o trabalhador contribuinte, numa perspectiva de efetivo equilíbrio financeiro e atuarial, tenha, navelhice, a chance de receber proventos mais dignos e consentâneos com as necessidades e a fruição conquistada comtoda a vida de trabalho remunerado, em regra, com baixos salários.

Estes aspectos colidem e suplantam, no ponto, a força normativa do próprio princípio da solidariedade, do qual dimana acompreensão que forra o argumento, segundo o qual a contribuição do trabalhador após a aposentadoria atende aoprincípio da universalidade contributiva, para assim assegurar o equilíbrio da Seguridade Social; quando há, por outro lado,que se ter em conta a ausência de melhor ponderação acerca do papel, da proporcionalidade e da razoabilidade de sedeixar penalizar socialmente, ainda mais, o segmento historicamente menos incluído socialmente, sob o ângulo tambémremuneratório, dos aposentados do RGPS.

Não há de se falar também em proibição à relativização do ato jurídico perfeito, visto que este, considerando a flagrantedesigualdade contrária aos segurados, há de contemplar e servir, na contextura e peculiaridade da matéria, é de garantiaatribuída ao trabalhador contribuinte, para assim protegê-lo ante ingerências lesivas do Estado ao seu patrimônio jurídico;de modo que descabe, desta feita, utilizá-lo em prol da autarquia previdenciária, para reduzir direitos subjetivos.

Não se constata, outrossim, contrariedade ao princípio da preservação da fonte de custo da Previdência Social (CR, art.195, §5º) ou ao equilíbrio atuarial do RGPS, uma vez que as contribuições vertidas pelo aposentado que continua atrabalhar têm a mesma base de cálculo dos segurados não aposentados, isto é, levam em conta as mesmas projeçõesentre receitas previdenciárias e dispêndios necessários à manutenção dos benefícios, visando assegurar a higidezeconômico-financeira do sistema.

Outra questão a ser abordada diz com os efeitos do ato de renúncia ao benefício, do que decorre a (não) obrigatoriedadede o segurado devolver o que recebeu a título de proventos.

Nesse ponto, a Turma Nacional de Uniformização perfilhou entendimento de que a renúncia à aposentadoria trata-se de ato

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com eficácia ex tunc, ensejando, desta feita, a devolução dos valores percebidos a título de aposentadoria à qual sepretenda renunciar. Observe-se:

PREVIDENCIÁRIO. DESAPOSENTAÇÃO PARA FINS DE OBTENÇÃO DE NOVO BENEFÍCIO, TAMBÉM NO REGIMEGERAL DE PREVIDÊNCIA, COM UTILIZAÇÃO DO TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO UTILIZADO NO PRIMEIRO.DEVOLUÇÃO DOS VALORES PERCEBIDOS. NECESSIDADE. INCIDENTE IMPROVIDO.1. Esta Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especais Federais sedimentou o entendimentode necessidade de devolução dos valores percebidos a titulo de aposentadoria à qual se pretenda renunciar, para fins deobtenção de novo benefício, no mesmo regime, com observância do tempo utilizado para concessão do primeiro. 2.Incidente improvido. (PEDILEF 200872550094057 PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEIFEDERAL. Relatora JUIZA FEDERAL SIMONE DOS SANTOS LEMOS FERNANDES. DOU 06/05/2011) (grifei)

Na linha do dito alhures, entretanto, não se me afigura a solução mais justa com quem continuou trabalhando e contribuindopara o RGPS após a aposentadoria, sem contrapartida, considerando que: (i) primeiro, caso o que recebeu de proventospor direito, tiver que ser devolvido é como se a renúncia não só o penalizasse, como se a tornasse proibitiva, na medida emque dificilmente se compatibilizaria com a situação sócio-econômica da massa de aposentados, além de seu caráteralimentar e por isso legitimamente não repetível; e (ii) não faria justiça com quem apenas busca uma chance de,trabalhando mais e contribuindo, melhorar – não obstante o fator previdenciário e a tábua da mortalidade – um pouco, seurendimento na velhice contributiva, sinalagmática e comutativa, como sói ocorrer a partir do comando expresso no § 5º, doart. 195, da Constituição da República; o qual restaria, inversa unilateralmente desnaturado, em nome da universalidadecontributiva.

Não destoa desse raciocínio aquele esposado pela Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, quando do julgamentodo REsp 1334488/SC, realizado no dia 08 de maio de 2013 sob o regime de recurso repetitivo (art. 543-C do Código deProcesso Civil e RES. n º. 8/2008-STJ). Confira-se:RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSOREPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. DESAPOSENTAÇÃO E REAPOSENTAÇÃO. RENÚNCIA AAPOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO E POSTERIOR JUBILAMENTO. DEVOLUÇÃO DE VALORES.DESNECESSIDADE.1. Trata-se de Recursos Especiais com intuito, por parte do INSS, de declarar impossibilidade de renúncia a aposentadoriae, por parte do segurado, de dispensa de devolução de valores recebidos de aposentadoria a que pretende abdicar.2. A pretensão do segurado consiste em renunciar à aposentadoria concedida para computar período contributivo utilizado,conjuntamente com os salários de contribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão deposterior e nova aposentação.3. Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seustitulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para aconcessão de novo e posterior jubilamento. Precedentes do STJ.4. Ressalva do entendimento pessoal do Relator quanto à necessidade de devolução dos valores para a reaposentação,conforme votos vencidos proferidos no REsp 1.298.391/RS; nos Agravos Regimentais nos REsps 1.321.667/PR,1.305.351/RS, 1.321.667/PR, 1.323.464/RS, 1.324.193/PR, 1.324.603/RS, 1.325.300/SC, 1.305.738/RS; e no AgRg noAREsp 103.509/PE.5. No caso concreto, o Tribunal de origem reconheceu o direito à desaposentação, mas condicionou posterioraposentadoria ao ressarcimento dos valores recebidos do benefício anterior, razão por que deve ser afastada a imposiçãode devolução.6. Recurso Especial do INSS não provido, e Recurso Especial do segurado provido. Acórdão submetido ao regime do art.543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ.(REsp 1334488/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/05/2013, DJe 14/05/2013).

Nessas condições, conheço do recurso, mas a ele nego provimento.

Sem custas, na forma do art. 4º, inciso I, da Lei nº 9.289, de 4 de julho de 1996. Honorários advocatícios devidos pela parterecorrente, correspondentes a 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, nos moldes do art. 55, segunda parte, daLei nº 9.099/1995 e do art. 1º da Lei nº 10.259/2001.

ACÓRDÃO

Decide a 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Estado do Espírito Santo conhecer dorecurso e a ele negar provimento, na forma da ementa supra integrante do julgado.

Vitória, 19 de março de 2014.

Boaventura João AndradeJuiz Federal – 1º RelatorAssinado eletronicamente

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gabd

3 - 0001971-53.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.001971-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JOSÉ VICENTE SANTIAGO JUNQUEIRA.) x ITAMAR MARIA GOMES DE ABREU(ADVOGADO: ES019846 - Allan Ferreira Bernardo, ES019821 - FELIPE CASTRO DE CARVALHO, ES019862 - CAIOAFONSO CARDOSO.).Processo nº 0001971-53.2013.4.02.5050/01 – Juízo de origem: 1º JEF de VitóriaRecorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRecorrido: ITAMAR MARIA GOMES DE ABREURelator: Juiz Federal BOAVENTURA JOÃO ANDRADE

VOTO - EMENTARECURSO INOMINADO. PREVIDENCIÁRIO. RMI. RENÚNCIA À APOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO EPOSTERIOR JUBILAMENTO. POSSIBILIDADE. DEVOLUÇÃO DOS VALORES PERCEBIDOS. DESNECESSIDADE.RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.Este recurso inominado foi interposto pelo réu da demanda em primeiro grau às fls. 62-82, em razão de sentença (fls.52-59) que julgou procedente a pretensão autoral de renúncia ao benefício previdenciário de aposentadoria por tempo decontribuição; e, como consectário, de concessão de novo benefício da mesma espécie, em razão de o (a) segurado (a) tercontinuado trabalhando e contribuindo para o Regime Geral de Previdência Social – RGPS.

Sustenta o recorrente: a) constitucionalidade e imperatividade da vedação legal ao emprego das contribuições posteriores àaposentadoria; b) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenas contribui para o custeio dosistema, não para a obtenção de benefícios; c) ao aposentar-se, o segurado fez uma opção por uma renda menor, masrecebida por mais tempo; d) o ato jurídico não pode ser alterado unilateralmente; e) violação ao art. 18, parágrafo 2º, da Leinº 8.213/1991. Pugna, assim, pela reforma do julgado, julgando-se improcedente o pedido.

Sem contrarrazões (fl. 87).

A questão em debate importa aferir a viabilidade jurígena de segurado (a) que continuou em atividade remunerada econtribuindo para o RGPS renunciar a benefício previdenciário, com o escopo de, ao tempo de contribuição apurado porocasião de sua concessão, ver acrescido aquele relativo à atividade laborativa – e respectivas contribuições – posterior àjubilação, para assim auferir renda mensal mais vantajosa.

No caso sob exame, cuida-se de benefício de aposentadoria por tempo de contribuição (fl. 20), com DIB em 25.10.2004 erenda mensal inicial (RMI) de R$ 1.405,06. Por sua vez, não há dúvida que, após aposentar-se, o (a) recorrido (a) continuoulaborando, conforme se verifica à fl. 90.

A autarquia recorrente rechaça a pretensão autoral com a assertiva de que encontra óbice na teleologia das múltiplasredações do § 2o, do art. 18, da Lei no 8.213/1991 (original, da Lei no 9.032/1995 e da Lei no 9.528/1997), as quaissubmetem o aposentado pelo Regime Geral da Previdência Social – RGPS, que permanecer em atividade nesse regime,ao recolhimento das contribuições previdenciárias pertinentes e, simultaneamente, reduz o rol de benefícios previdenciáriospassíveis de concessão a segurados nessa condição.

No entanto, entendo que os efeitos da regra em comento não afastam, ante a ausência de vedação explícita, apossibilidade de o segurado renunciar à aposentadoria, com o intuito de ver considerado o tempo de contribuiçãosubsequente, na concessão de novo benefício. A renúncia à aposentadoria não resulta, per si, em renúncia ao tempo de

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contribuição, mas à fruição do direito inteiramente integrado ao patrimônio jurídico do (a) segurado (a).

Ademais, trata-se de regra cuja constitucionalidade está sendo examinada à luz do art. 201 da Constituição da República,nos autos do Recurso Extraordinário no 381.367/RS, relatado pelo Ministro Marco Aurélio, cujo voto foi no sentido de "... lheemprestar alcance consentâneo com a Constituição, ou seja, no sentido de afastar a duplicidade de benefício, porém não onovo cálculo de parcela previdenciária que deva ser satisfeita.", consoante noticiou o Informativo no 600, de 22.9.2010, doSupremo Tribunal Federal, ipsis verbis:

“O Min. Marco Aurélio, relator, proveu o recurso. Consignou, de início, a premissa segundo a qual o trabalhadoraposentado, ao voltar à atividade, seria segurado obrigatório e estaria compelido por lei a contribuir para o custeio daseguridade social. Salientou, no ponto, que o sistema constitucional em vigor viabilizaria o retorno do prestador de serviçoaposentado à atividade. Em seguida, ao aduzir que a previdência social estaria organizada sob o ângulo contributivo e comfiliação obrigatória (CF, art. 201, caput), assentou a constitucionalidade do § 3º do art. 11 da Lei 8.213/91, com a redaçãoconferida pelo art. 3º da Lei 9.032/95 (“§ 3º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social – RGPS que estiverexercendo ou que voltar a exercer atividade abrangida por este Regime é segurado obrigatório em relação a essa atividade,ficando sujeito às contribuições de que trata a Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, para fins de custeio da SeguridadeSocial.”). Assinalou que essa disposição extinguira o denominado pecúlio, o qual possibilitava a devolução dascontribuições implementadas após a aposentadoria. Enfatizou que o segurado teria em patrimônio o direito à satisfação daaposentadoria tal como calculada no ato de jubilação e, ao retornar ao trabalho, voltaria a estar filiado e a contribuir semque pudesse cogitar de restrição sob o ângulo de benefícios. Reputou, dessa forma, que não se coadunaria com o dispostono art. 201 da CF a limitação do § 2º do art. 18 da Lei 8.213/91 que, em última análise, implicaria desequilíbrio na equaçãoditada pela Constituição. Realçou que uma coisa seria concluir-se pela inexistência da dupla aposentadoria. Outra seriaproclamar-se, conforme se verifica no preceito impugnado, que, mesmo havendo a contribuição — como se fosse primeirovínculo com a previdência —, o fenômeno apenas acarretaria o direito ao salário-família e à reabilitação profissional.Reiterou que, além de o texto do examinado dispositivo ensejar restrição ao que estabelecido na Constituição, abalaria afeição sinalagmática e comutativa decorrente da contribuição obrigatória. Em arremate, afirmou que ao trabalhador que,aposentado, retorna à atividade caberia o ônus alusivo à contribuição, devendo-se a ele a contrapartida, os benefíciospróprios, mais precisamente a consideração das novas contribuições para, voltando ao ócio com dignidade, calcular-se,ante o retorno e as novas contribuições e presentes os requisitos legais, o valor a que tem jus sob o ângulo daaposentadoria. Registrou, por fim, que essa conclusão não resultaria na necessidade de se declarar a inconstitucionalidadedo § 2º do art. 18 da Lei 8.213/91, mas de lhe emprestar alcance consentâneo com a Constituição, ou seja, no sentido deafastar a duplicidade de beneficio, porém não o novo cálculo de parcela previdenciária que deva ser satisfeita. Após, pediuvista o Min. Dias Toffoli.” (grifei)

As razões acima explicitadas estão também em consonância, diga-se, com os fundamentos da República, conforme osincisos III (dignidade da pessoa humana) e IV (valores sociais do trabalho e da livre iniciativa) do art. 1o da Constituição, ehomenageia o direito fundamental de segunda geração do inciso XXIV do art. 7o da Constituição (aposentadoria), namedida em que impede que o trabalhador contribuinte, numa perspectiva de efetivo equilíbrio financeiro e atuarial, tenha, navelhice, a chance de receber proventos mais dignos e consentâneos com as necessidades e a fruição conquistada comtoda a vida de trabalho remunerado, em regra, com baixos salários.

Estes aspectos colidem e suplantam, no ponto, a força normativa do próprio princípio da solidariedade, do qual dimana acompreensão que forra o argumento, segundo o qual a contribuição do trabalhador após a aposentadoria atende aoprincípio da universalidade contributiva, para assim assegurar o equilíbrio da Seguridade Social; quando há, por outro lado,que se ter em conta a ausência de melhor ponderação acerca do papel, da proporcionalidade e da razoabilidade de sedeixar penalizar socialmente, ainda mais, o segmento historicamente menos incluído socialmente, sob o ângulo tambémremuneratório, dos aposentados do RGPS.

Não há de se falar também em proibição à relativização do ato jurídico perfeito, visto que este, considerando a flagrantedesigualdade contrária aos segurados, há de contemplar e servir, na contextura e peculiaridade da matéria, é de garantiaatribuída ao trabalhador contribuinte, para assim protegê-lo ante ingerências lesivas do Estado ao seu patrimônio jurídico;de modo que descabe, desta feita, utilizá-lo em prol da autarquia previdenciária, para reduzir direitos subjetivos.

Não se constata, outrossim, contrariedade ao princípio da preservação da fonte de custo da Previdência Social (CR, art.195, §5º) ou ao equilíbrio atuarial do RGPS, uma vez que as contribuições vertidas pelo aposentado que continua atrabalhar têm a mesma base de cálculo dos segurados não aposentados, isto é, levam em conta as mesmas projeçõesentre receitas previdenciárias e dispêndios necessários à manutenção dos benefícios, visando assegurar a higidezeconômico-financeira do sistema.

Outra questão a ser abordada diz com os efeitos do ato de renúncia ao benefício, do que decorre a (não) obrigatoriedadede o segurado devolver o que recebeu a título de proventos.

Nesse ponto, a Turma Nacional de Uniformização perfilhou entendimento de que a renúncia à aposentadoria trata-se de atocom eficácia ex tunc, ensejando, desta feita, a devolução dos valores percebidos a título de aposentadoria à qual sepretenda renunciar. Observe-se:

PREVIDENCIÁRIO. DESAPOSENTAÇÃO PARA FINS DE OBTENÇÃO DE NOVO BENEFÍCIO, TAMBÉM NO REGIMEGERAL DE PREVIDÊNCIA, COM UTILIZAÇÃO DO TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO UTILIZADO NO PRIMEIRO.

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DEVOLUÇÃO DOS VALORES PERCEBIDOS. NECESSIDADE. INCIDENTE IMPROVIDO.1. Esta Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especais Federais sedimentou o entendimentode necessidade de devolução dos valores percebidos a titulo de aposentadoria à qual se pretenda renunciar, para fins deobtenção de novo benefício, no mesmo regime, com observância do tempo utilizado para concessão do primeiro. 2.Incidente improvido. (PEDILEF 200872550094057 PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEIFEDERAL. Relatora JUIZA FEDERAL SIMONE DOS SANTOS LEMOS FERNANDES. DOU 06/05/2011) (grifei)

Na linha do dito alhures, entretanto, não se me afigura a solução mais justa com quem continuou trabalhando e contribuindopara o RGPS após a aposentadoria, sem contrapartida, considerando que: (i) primeiro, caso o que recebeu de proventospor direito, tiver que ser devolvido é como se a renúncia não só o penalizasse, como se a tornasse proibitiva, na medida emque dificilmente se compatibilizaria com a situação sócio-econômica da massa de aposentados, além de seu caráteralimentar e por isso legitimamente não repetível; e (ii) não faria justiça com quem apenas busca uma chance de,trabalhando mais e contribuindo, melhorar – não obstante o fator previdenciário e a tábua da mortalidade – um pouco, seurendimento na velhice contributiva, sinalagmática e comutativa, como sói ocorrer a partir do comando expresso no § 5º, doart. 195, da Constituição da República; o qual restaria, inversa unilateralmente desnaturado, em nome da universalidadecontributiva.

Não destoa desse raciocínio aquele esposado pela Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, quando do julgamentodo REsp 1334488/SC, realizado no dia 08 de maio de 2013 sob o regime de recurso repetitivo (art. 543-C do Código deProcesso Civil e RES. n º. 8/2008-STJ). Confira-se:RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSOREPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. DESAPOSENTAÇÃO E REAPOSENTAÇÃO. RENÚNCIA AAPOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO E POSTERIOR JUBILAMENTO. DEVOLUÇÃO DE VALORES.DESNECESSIDADE.1. Trata-se de Recursos Especiais com intuito, por parte do INSS, de declarar impossibilidade de renúncia a aposentadoriae, por parte do segurado, de dispensa de devolução de valores recebidos de aposentadoria a que pretende abdicar.2. A pretensão do segurado consiste em renunciar à aposentadoria concedida para computar período contributivo utilizado,conjuntamente com os salários de contribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão deposterior e nova aposentação.3. Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seustitulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para aconcessão de novo e posterior jubilamento. Precedentes do STJ.4. Ressalva do entendimento pessoal do Relator quanto à necessidade de devolução dos valores para a reaposentação,conforme votos vencidos proferidos no REsp 1.298.391/RS; nos Agravos Regimentais nos REsps 1.321.667/PR,1.305.351/RS, 1.321.667/PR, 1.323.464/RS, 1.324.193/PR, 1.324.603/RS, 1.325.300/SC, 1.305.738/RS; e no AgRg noAREsp 103.509/PE.5. No caso concreto, o Tribunal de origem reconheceu o direito à desaposentação, mas condicionou posterioraposentadoria ao ressarcimento dos valores recebidos do benefício anterior, razão por que deve ser afastada a imposiçãode devolução.6. Recurso Especial do INSS não provido, e Recurso Especial do segurado provido. Acórdão submetido ao regime do art.543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ.(REsp 1334488/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/05/2013, DJe 14/05/2013).

Nessas condições, conheço do recurso, mas a ele nego provimento.

Sem custas, na forma do art. 4º, inciso I, da Lei nº 9.289, de 4 de julho de 1996. Honorários advocatícios devidos pela parterecorrente, correspondentes a 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, nos moldes do art. 55, segunda parte, daLei nº 9.099/1995 e do art. 1º da Lei nº 10.259/2001.

ACÓRDÃO

Decide a 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Estado do Espírito Santo conhecer dorecurso e a ele negar provimento, na forma da ementa supra integrante do julgado.

Vitória, 19 de março de 2014.

Boaventura João AndradeJuiz Federal – 1º RelatorAssinado eletronicamente

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gabd

4 - 0000211-57.2013.4.02.5054/01 (2013.50.54.000211-4/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: MARCOS ANTONIO BORGES BARBOSA.) x RENATA SIQUEIRA DA SILVA(ADVOGADO: ES019221 - AMAURI BRAS CASER.).Processo nº 0000211-57.2013.4.02.5054/01 – Juízo de origem: 1ª VF ColatinaRecorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRecorrida:RENATA SIQUEIRA DA SILVARelator: Juiz Federal BOAVENTURA JOÃO ANDRADE

VOTO - EMENTARECURSO INOMINADO. PREVIDENCIÁRIO. RMI. RENÚNCIA À APOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO EPOSTERIOR JUBILAMENTO. POSSIBILIDADE. DEVOLUÇÃO DOS VALORES PERCEBIDOS. DESNECESSIDADE.RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.Este recurso inominado foi interposto pelo réu da demanda em primeiro grau às fls. 114-126, em razão de sentença (fls.106-111) que julgou procedente a pretensão autoral de renúncia ao benefício previdenciário de aposentadoria por tempo decontribuição; e, como consectário, de concessão de novo benefício da mesma espécie, em razão de o (a) segurado (a) tercontinuado trabalhando e contribuindo para o Regime Geral de Previdência Social – RGPS.

Sustenta o recorrente: a) constitucionalidade e imperatividade da vedação legal ao emprego das contribuições posteriores àaposentadoria; b) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenas contribui para o custeio dosistema, não para a obtenção de benefícios; c) ao aposentar-se, o segurado fez uma opção por uma renda menor, masrecebida por mais tempo; d) o ato jurídico não pode ser alterado unilateralmente; e) violação ao art. 18, parágrafo 2º, da Leinº 8.213/1991. Pugna, assim, pela reforma do julgado, julgando-se improcedente o pedido.

Contrarrazões às fls. 129-144.

A questão em debate importa aferir a viabilidade jurígena de segurado (a) que continuou em atividade remunerada econtribuindo para o RGPS renunciar a benefício previdenciário, com o escopo de, ao tempo de contribuição apurado porocasião de sua concessão, ver acrescido aquele relativo à atividade laborativa – e respectivas contribuições – posterior àjubilação, para assim auferir renda mensal mais vantajosa.

No caso sob exame, cuida-se de benefício de aposentadoria por tempo de contribuição (fl. 30), com DIB em 08.11.2006 erenda mensal inicial (RMI) de R$ 740,50. Por sua vez, não há dúvida que, após aposentar-se, o (a) recorrido (a) continuoulaborando, conforme se verifica às fls. 43-44.

A autarquia recorrente rechaça a pretensão autoral com a assertiva de que encontra óbice na teleologia das múltiplasredações do § 2o, do art. 18, da Lei no 8.213/1991 (original, da Lei no 9.032/1995 e da Lei no 9.528/1997), as quaissubmetem o aposentado pelo Regime Geral da Previdência Social – RGPS, que permanecer em atividade nesse regime,ao recolhimento das contribuições previdenciárias pertinentes e, simultaneamente, reduz o rol de benefícios previdenciáriospassíveis de concessão a segurados nessa condição.

No entanto, entendo que os efeitos da regra em comento não afastam, ante a ausência de vedação explícita, apossibilidade de o segurado renunciar à aposentadoria, com o intuito de ver considerado o tempo de contribuição

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subsequente, na concessão de novo benefício. A renúncia à aposentadoria não resulta, per si, em renúncia ao tempo decontribuição, mas à fruição do direito inteiramente integrado ao patrimônio jurídico do (a) segurado (a).

Ademais, trata-se de regra cuja constitucionalidade está sendo examinada à luz do art. 201 da Constituição da República,nos autos do Recurso Extraordinário no 381.367/RS, relatado pelo Ministro Marco Aurélio, cujo voto foi no sentido de "... lheemprestar alcance consentâneo com a Constituição, ou seja, no sentido de afastar a duplicidade de benefício, porém não onovo cálculo de parcela previdenciária que deva ser satisfeita.", consoante noticiou o Informativo no 600, de 22.9.2010, doSupremo Tribunal Federal, ipsis verbis:

“O Min. Marco Aurélio, relator, proveu o recurso. Consignou, de início, a premissa segundo a qual o trabalhadoraposentado, ao voltar à atividade, seria segurado obrigatório e estaria compelido por lei a contribuir para o custeio daseguridade social. Salientou, no ponto, que o sistema constitucional em vigor viabilizaria o retorno do prestador de serviçoaposentado à atividade. Em seguida, ao aduzir que a previdência social estaria organizada sob o ângulo contributivo e comfiliação obrigatória (CF, art. 201, caput), assentou a constitucionalidade do § 3º do art. 11 da Lei 8.213/91, com a redaçãoconferida pelo art. 3º da Lei 9.032/95 (“§ 3º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social – RGPS que estiverexercendo ou que voltar a exercer atividade abrangida por este Regime é segurado obrigatório em relação a essa atividade,ficando sujeito às contribuições de que trata a Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, para fins de custeio da SeguridadeSocial.”). Assinalou que essa disposição extinguira o denominado pecúlio, o qual possibilitava a devolução dascontribuições implementadas após a aposentadoria. Enfatizou que o segurado teria em patrimônio o direito à satisfação daaposentadoria tal como calculada no ato de jubilação e, ao retornar ao trabalho, voltaria a estar filiado e a contribuir semque pudesse cogitar de restrição sob o ângulo de benefícios. Reputou, dessa forma, que não se coadunaria com o dispostono art. 201 da CF a limitação do § 2º do art. 18 da Lei 8.213/91 que, em última análise, implicaria desequilíbrio na equaçãoditada pela Constituição. Realçou que uma coisa seria concluir-se pela inexistência da dupla aposentadoria. Outra seriaproclamar-se, conforme se verifica no preceito impugnado, que, mesmo havendo a contribuição — como se fosse primeirovínculo com a previdência —, o fenômeno apenas acarretaria o direito ao salário-família e à reabilitação profissional.Reiterou que, além de o texto do examinado dispositivo ensejar restrição ao que estabelecido na Constituição, abalaria afeição sinalagmática e comutativa decorrente da contribuição obrigatória. Em arremate, afirmou que ao trabalhador que,aposentado, retorna à atividade caberia o ônus alusivo à contribuição, devendo-se a ele a contrapartida, os benefíciospróprios, mais precisamente a consideração das novas contribuições para, voltando ao ócio com dignidade, calcular-se,ante o retorno e as novas contribuições e presentes os requisitos legais, o valor a que tem jus sob o ângulo daaposentadoria. Registrou, por fim, que essa conclusão não resultaria na necessidade de se declarar a inconstitucionalidadedo § 2º do art. 18 da Lei 8.213/91, mas de lhe emprestar alcance consentâneo com a Constituição, ou seja, no sentido deafastar a duplicidade de beneficio, porém não o novo cálculo de parcela previdenciária que deva ser satisfeita. Após, pediuvista o Min. Dias Toffoli.” (grifei)

As razões acima explicitadas estão também em consonância, diga-se, com os fundamentos da República, conforme osincisos III (dignidade da pessoa humana) e IV (valores sociais do trabalho e da livre iniciativa) do art. 1o da Constituição, ehomenageia o direito fundamental de segunda geração do inciso XXIV do art. 7o da Constituição (aposentadoria), namedida em que impede que o trabalhador contribuinte, numa perspectiva de efetivo equilíbrio financeiro e atuarial, tenha, navelhice, a chance de receber proventos mais dignos e consentâneos com as necessidades e a fruição conquistada comtoda a vida de trabalho remunerado, em regra, com baixos salários.

Estes aspectos colidem e suplantam, no ponto, a força normativa do próprio princípio da solidariedade, do qual dimana acompreensão que forra o argumento, segundo o qual a contribuição do trabalhador após a aposentadoria atende aoprincípio da universalidade contributiva, para assim assegurar o equilíbrio da Seguridade Social; quando há, por outro lado,que se ter em conta a ausência de melhor ponderação acerca do papel, da proporcionalidade e da razoabilidade de sedeixar penalizar socialmente, ainda mais, o segmento historicamente menos incluído socialmente, sob o ângulo tambémremuneratório, dos aposentados do RGPS.

Não há de se falar também em proibição à relativização do ato jurídico perfeito, visto que este, considerando a flagrantedesigualdade contrária aos segurados, há de contemplar e servir, na contextura e peculiaridade da matéria, é de garantiaatribuída ao trabalhador contribuinte, para assim protegê-lo ante ingerências lesivas do Estado ao seu patrimônio jurídico;de modo que descabe, desta feita, utilizá-lo em prol da autarquia previdenciária, para reduzir direitos subjetivos.

Não se constata, outrossim, contrariedade ao princípio da preservação da fonte de custo da Previdência Social (CR, art.195, §5º) ou ao equilíbrio atuarial do RGPS, uma vez que as contribuições vertidas pelo aposentado que continua atrabalhar têm a mesma base de cálculo dos segurados não aposentados, isto é, levam em conta as mesmas projeçõesentre receitas previdenciárias e dispêndios necessários à manutenção dos benefícios, visando assegurar a higidezeconômico-financeira do sistema.

Outra questão a ser abordada diz com os efeitos do ato de renúncia ao benefício, do que decorre a (não) obrigatoriedadede o segurado devolver o que recebeu a título de proventos.

Nesse ponto, a Turma Nacional de Uniformização perfilhou entendimento de que a renúncia à aposentadoria trata-se de atocom eficácia ex tunc, ensejando, desta feita, a devolução dos valores percebidos a título de aposentadoria à qual sepretenda renunciar. Observe-se:

PREVIDENCIÁRIO. DESAPOSENTAÇÃO PARA FINS DE OBTENÇÃO DE NOVO BENEFÍCIO, TAMBÉM NO REGIME

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GERAL DE PREVIDÊNCIA, COM UTILIZAÇÃO DO TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO UTILIZADO NO PRIMEIRO.DEVOLUÇÃO DOS VALORES PERCEBIDOS. NECESSIDADE. INCIDENTE IMPROVIDO.1. Esta Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especais Federais sedimentou o entendimentode necessidade de devolução dos valores percebidos a titulo de aposentadoria à qual se pretenda renunciar, para fins deobtenção de novo benefício, no mesmo regime, com observância do tempo utilizado para concessão do primeiro. 2.Incidente improvido. (PEDILEF 200872550094057 PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEIFEDERAL. Relatora JUIZA FEDERAL SIMONE DOS SANTOS LEMOS FERNANDES. DOU 06/05/2011) (grifei)

Na linha do dito alhures, entretanto, não se me afigura a solução mais justa com quem continuou trabalhando e contribuindopara o RGPS após a aposentadoria, sem contrapartida, considerando que: (i) primeiro, caso o que recebeu de proventospor direito, tiver que ser devolvido é como se a renúncia não só o penalizasse, como se a tornasse proibitiva, na medida emque dificilmente se compatibilizaria com a situação sócio-econômica da massa de aposentados, além de seu caráteralimentar e por isso legitimamente não repetível; e (ii) não faria justiça com quem apenas busca uma chance de,trabalhando mais e contribuindo, melhorar – não obstante o fator previdenciário e a tábua da mortalidade – um pouco, seurendimento na velhice contributiva, sinalagmática e comutativa, como sói ocorrer a partir do comando expresso no § 5º, doart. 195, da Constituição da República; o qual restaria, inversa unilateralmente desnaturado, em nome da universalidadecontributiva.

Não destoa desse raciocínio aquele esposado pela Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, quando do julgamentodo REsp 1334488/SC, realizado no dia 08 de maio de 2013 sob o regime de recurso repetitivo (art. 543-C do Código deProcesso Civil e RES. n º. 8/2008-STJ). Confira-se:RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSOREPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. DESAPOSENTAÇÃO E REAPOSENTAÇÃO. RENÚNCIA AAPOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO E POSTERIOR JUBILAMENTO. DEVOLUÇÃO DE VALORES.DESNECESSIDADE.1. Trata-se de Recursos Especiais com intuito, por parte do INSS, de declarar impossibilidade de renúncia a aposentadoriae, por parte do segurado, de dispensa de devolução de valores recebidos de aposentadoria a que pretende abdicar.2. A pretensão do segurado consiste em renunciar à aposentadoria concedida para computar período contributivo utilizado,conjuntamente com os salários de contribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão deposterior e nova aposentação.3. Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seustitulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para aconcessão de novo e posterior jubilamento. Precedentes do STJ.4. Ressalva do entendimento pessoal do Relator quanto à necessidade de devolução dos valores para a reaposentação,conforme votos vencidos proferidos no REsp 1.298.391/RS; nos Agravos Regimentais nos REsps 1.321.667/PR,1.305.351/RS, 1.321.667/PR, 1.323.464/RS, 1.324.193/PR, 1.324.603/RS, 1.325.300/SC, 1.305.738/RS; e no AgRg noAREsp 103.509/PE.5. No caso concreto, o Tribunal de origem reconheceu o direito à desaposentação, mas condicionou posterioraposentadoria ao ressarcimento dos valores recebidos do benefício anterior, razão por que deve ser afastada a imposiçãode devolução.6. Recurso Especial do INSS não provido, e Recurso Especial do segurado provido. Acórdão submetido ao regime do art.543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ.(REsp 1334488/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/05/2013, DJe 14/05/2013).

Nessas condições, conheço do recurso, mas a ele nego provimento.

Sem custas, na forma do art. 4º, inciso I, da Lei nº 9.289, de 4 de julho de 1996. Honorários advocatícios devidos pela parterecorrente, correspondentes a 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, nos moldes do art. 55, segunda parte, daLei nº 9.099/1995 e do art. 1º da Lei nº 10.259/2001.

ACÓRDÃO

Decide a 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Estado do Espírito Santo conhecer dorecurso e a ele negar provimento, na forma da ementa supra integrante do julgado.

Vitória, 19 de março de 2014.

Boaventura João AndradeJuiz Federal – 1º RelatorAssinado eletronicamente

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5 - 0000214-58.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.000214-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANA PAULA BARRETO MONTEIRO ROTHEN.) x TEREZINHA SCHIAVONMORGADO (ADVOGADO: ES017409 - RAFAELLA CHRISTINA BENÍCIO, ES018446 - GERALDO BENICIO.).Processo nº 0000214-58.2012.4.02.5050/01 – Juízo de origem: 2º JEF de VitóriaRecorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRecorrida:TEREZINHA SCHIAVON MORGADORelator: Juiz Federal BOAVENTURA JOÃO ANDRADE

VOTO - EMENTARECURSO INOMINADO. PREVIDENCIÁRIO. RMI. RENÚNCIA À APOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO EPOSTERIOR JUBILAMENTO. POSSIBILIDADE. DEVOLUÇÃO DOS VALORES PERCEBIDOS. DESNECESSIDADE.RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.Este recurso inominado foi interposto pelo réu da demanda em primeiro grau às fls. 71-89, em razão de sentença (fls.62-89) que julgou procedente a pretensão autoral de renúncia ao benefício previdenciário de aposentadoria por tempo decontribuição; e, como consectário, de concessão de novo benefício da mesma espécie, em razão de o (a) segurado (a) tercontinuado trabalhando e contribuindo para o Regime Geral de Previdência Social – RGPS.

Sustenta o recorrente: a) constitucionalidade e imperatividade da vedação legal ao emprego das contribuições posteriores àaposentadoria; b) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenas contribui para o custeio dosistema, não para a obtenção de benefícios; c) ao aposentar-se, o segurado fez uma opção por uma renda menor, masrecebida por mais tempo; d) o ato jurídico não pode ser alterado unilateralmente; e) violação ao art. 18, parágrafo 2º, da Leinº 8.213/1991; f) necessidade de laudo técnico pericial para o agente ruído e a eliminação da especialidade do labor ante autilização de EPI. Pugna, assim, pela reforma do julgado, julgando-se improcedente o pedido.

Contrarrazões às fls. 93-99.

A questão em debate importa aferir a viabilidade jurígena de segurado (a) que continuou em atividade remunerada econtribuindo para o RGPS renunciar a benefício previdenciário, com o escopo de, ao tempo de contribuição apurado porocasião de sua concessão, ver acrescido aquele relativo à atividade laborativa – e respectivas contribuições – posterior àjubilação, para assim auferir renda mensal mais vantajosa.

No caso sob exame, cuida-se de benefício de aposentadoria por tempo de contribuição (fl. 21), com DIB em 13.05.2008 erenda mensal inicial (RMI) de R$ 903,92. Por sua vez, não há dúvida que, após aposentar-se, o (a) recorrido (a) continuoulaborando, conforme se verifica à fl. 20.

A autarquia recorrente rechaça a pretensão autoral com a assertiva de que encontra óbice na teleologia das múltiplasredações do § 2o, do art. 18, da Lei no 8.213/1991 (original, da Lei no 9.032/1995 e da Lei no 9.528/1997), as quaissubmetem o aposentado pelo Regime Geral da Previdência Social – RGPS, que permanecer em atividade nesse regime,ao recolhimento das contribuições previdenciárias pertinentes e, simultaneamente, reduz o rol de benefícios previdenciáriospassíveis de concessão a segurados nessa condição.

No entanto, entendo que os efeitos da regra em comento não afastam, ante a ausência de vedação explícita, a

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possibilidade de o segurado renunciar à aposentadoria, com o intuito de ver considerado o tempo de contribuiçãosubsequente, na concessão de novo benefício. A renúncia à aposentadoria não resulta, per si, em renúncia ao tempo decontribuição, mas à fruição do direito inteiramente integrado ao patrimônio jurídico do (a) segurado (a).

Ademais, trata-se de regra cuja constitucionalidade está sendo examinada à luz do art. 201 da Constituição da República,nos autos do Recurso Extraordinário no 381.367/RS, relatado pelo Ministro Marco Aurélio, cujo voto foi no sentido de "... lheemprestar alcance consentâneo com a Constituição, ou seja, no sentido de afastar a duplicidade de benefício, porém não onovo cálculo de parcela previdenciária que deva ser satisfeita.", consoante noticiou o Informativo no 600, de 22.9.2010, doSupremo Tribunal Federal, ipsis verbis:

“O Min. Marco Aurélio, relator, proveu o recurso. Consignou, de início, a premissa segundo a qual o trabalhadoraposentado, ao voltar à atividade, seria segurado obrigatório e estaria compelido por lei a contribuir para o custeio daseguridade social. Salientou, no ponto, que o sistema constitucional em vigor viabilizaria o retorno do prestador de serviçoaposentado à atividade. Em seguida, ao aduzir que a previdência social estaria organizada sob o ângulo contributivo e comfiliação obrigatória (CF, art. 201, caput), assentou a constitucionalidade do § 3º do art. 11 da Lei 8.213/91, com a redaçãoconferida pelo art. 3º da Lei 9.032/95 (“§ 3º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social – RGPS que estiverexercendo ou que voltar a exercer atividade abrangida por este Regime é segurado obrigatório em relação a essa atividade,ficando sujeito às contribuições de que trata a Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, para fins de custeio da SeguridadeSocial.”). Assinalou que essa disposição extinguira o denominado pecúlio, o qual possibilitava a devolução dascontribuições implementadas após a aposentadoria. Enfatizou que o segurado teria em patrimônio o direito à satisfação daaposentadoria tal como calculada no ato de jubilação e, ao retornar ao trabalho, voltaria a estar filiado e a contribuir semque pudesse cogitar de restrição sob o ângulo de benefícios. Reputou, dessa forma, que não se coadunaria com o dispostono art. 201 da CF a limitação do § 2º do art. 18 da Lei 8.213/91 que, em última análise, implicaria desequilíbrio na equaçãoditada pela Constituição. Realçou que uma coisa seria concluir-se pela inexistência da dupla aposentadoria. Outra seriaproclamar-se, conforme se verifica no preceito impugnado, que, mesmo havendo a contribuição — como se fosse primeirovínculo com a previdência —, o fenômeno apenas acarretaria o direito ao salário-família e à reabilitação profissional.Reiterou que, além de o texto do examinado dispositivo ensejar restrição ao que estabelecido na Constituição, abalaria afeição sinalagmática e comutativa decorrente da contribuição obrigatória. Em arremate, afirmou que ao trabalhador que,aposentado, retorna à atividade caberia o ônus alusivo à contribuição, devendo-se a ele a contrapartida, os benefíciospróprios, mais precisamente a consideração das novas contribuições para, voltando ao ócio com dignidade, calcular-se,ante o retorno e as novas contribuições e presentes os requisitos legais, o valor a que tem jus sob o ângulo daaposentadoria. Registrou, por fim, que essa conclusão não resultaria na necessidade de se declarar a inconstitucionalidadedo § 2º do art. 18 da Lei 8.213/91, mas de lhe emprestar alcance consentâneo com a Constituição, ou seja, no sentido deafastar a duplicidade de beneficio, porém não o novo cálculo de parcela previdenciária que deva ser satisfeita. Após, pediuvista o Min. Dias Toffoli.” (grifei)

As razões acima explicitadas estão também em consonância, diga-se, com os fundamentos da República, conforme osincisos III (dignidade da pessoa humana) e IV (valores sociais do trabalho e da livre iniciativa) do art. 1o da Constituição, ehomenageia o direito fundamental de segunda geração do inciso XXIV do art. 7o da Constituição (aposentadoria), namedida em que impede que o trabalhador contribuinte, numa perspectiva de efetivo equilíbrio financeiro e atuarial, tenha, navelhice, a chance de receber proventos mais dignos e consentâneos com as necessidades e a fruição conquistada comtoda a vida de trabalho remunerado, em regra, com baixos salários.

Estes aspectos colidem e suplantam, no ponto, a força normativa do próprio princípio da solidariedade, do qual dimana acompreensão que forra o argumento, segundo o qual a contribuição do trabalhador após a aposentadoria atende aoprincípio da universalidade contributiva, para assim assegurar o equilíbrio da Seguridade Social; quando há, por outro lado,que se ter em conta a ausência de melhor ponderação acerca do papel, da proporcionalidade e da razoabilidade de sedeixar penalizar socialmente, ainda mais, o segmento historicamente menos incluído socialmente, sob o ângulo tambémremuneratório, dos aposentados do RGPS.

Não há de se falar também em proibição à relativização do ato jurídico perfeito, visto que este, considerando a flagrantedesigualdade contrária aos segurados, há de contemplar e servir, na contextura e peculiaridade da matéria, é de garantiaatribuída ao trabalhador contribuinte, para assim protegê-lo ante ingerências lesivas do Estado ao seu patrimônio jurídico;de modo que descabe, desta feita, utilizá-lo em prol da autarquia previdenciária, para reduzir direitos subjetivos.

Não se constata, outrossim, contrariedade ao princípio da preservação da fonte de custo da Previdência Social (CR, art.195, §5º) ou ao equilíbrio atuarial do RGPS, uma vez que as contribuições vertidas pelo aposentado que continua atrabalhar têm a mesma base de cálculo dos segurados não aposentados, isto é, levam em conta as mesmas projeçõesentre receitas previdenciárias e dispêndios necessários à manutenção dos benefícios, visando assegurar a higidezeconômico-financeira do sistema.

Outra questão a ser abordada diz com os efeitos do ato de renúncia ao benefício, do que decorre a (não) obrigatoriedadede o segurado devolver o que recebeu a título de proventos.

Nesse ponto, a Turma Nacional de Uniformização perfilhou entendimento de que a renúncia à aposentadoria trata-se de atocom eficácia ex tunc, ensejando, desta feita, a devolução dos valores percebidos a título de aposentadoria à qual sepretenda renunciar. Observe-se:

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PREVIDENCIÁRIO. DESAPOSENTAÇÃO PARA FINS DE OBTENÇÃO DE NOVO BENEFÍCIO, TAMBÉM NO REGIMEGERAL DE PREVIDÊNCIA, COM UTILIZAÇÃO DO TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO UTILIZADO NO PRIMEIRO.DEVOLUÇÃO DOS VALORES PERCEBIDOS. NECESSIDADE. INCIDENTE IMPROVIDO.1. Esta Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especais Federais sedimentou o entendimentode necessidade de devolução dos valores percebidos a titulo de aposentadoria à qual se pretenda renunciar, para fins deobtenção de novo benefício, no mesmo regime, com observância do tempo utilizado para concessão do primeiro. 2.Incidente improvido. (PEDILEF 200872550094057 PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEIFEDERAL. Relatora JUIZA FEDERAL SIMONE DOS SANTOS LEMOS FERNANDES. DOU 06/05/2011) (grifei)

Na linha do dito alhures, entretanto, não se me afigura a solução mais justa com quem continuou trabalhando e contribuindopara o RGPS após a aposentadoria, sem contrapartida, considerando que: (i) primeiro, caso o que recebeu de proventospor direito, tiver que ser devolvido é como se a renúncia não só o penalizasse, como se a tornasse proibitiva, na medida emque dificilmente se compatibilizaria com a situação sócio-econômica da massa de aposentados, além de seu caráteralimentar e por isso legitimamente não repetível; e (ii) não faria justiça com quem apenas busca uma chance de,trabalhando mais e contribuindo, melhorar – não obstante o fator previdenciário e a tábua da mortalidade – um pouco, seurendimento na velhice contributiva, sinalagmática e comutativa, como sói ocorrer a partir do comando expresso no § 5º, doart. 195, da Constituição da República; o qual restaria, inversa unilateralmente desnaturado, em nome da universalidadecontributiva.

Não destoa desse raciocínio aquele esposado pela Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, quando do julgamentodo REsp 1334488/SC, realizado no dia 08 de maio de 2013 sob o regime de recurso repetitivo (art. 543-C do Código deProcesso Civil e RES. n º. 8/2008-STJ). Confira-se:RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSOREPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. DESAPOSENTAÇÃO E REAPOSENTAÇÃO. RENÚNCIA AAPOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO E POSTERIOR JUBILAMENTO. DEVOLUÇÃO DE VALORES.DESNECESSIDADE.1. Trata-se de Recursos Especiais com intuito, por parte do INSS, de declarar impossibilidade de renúncia a aposentadoriae, por parte do segurado, de dispensa de devolução de valores recebidos de aposentadoria a que pretende abdicar.2. A pretensão do segurado consiste em renunciar à aposentadoria concedida para computar período contributivo utilizado,conjuntamente com os salários de contribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão deposterior e nova aposentação.3. Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seustitulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para aconcessão de novo e posterior jubilamento. Precedentes do STJ.4. Ressalva do entendimento pessoal do Relator quanto à necessidade de devolução dos valores para a reaposentação,conforme votos vencidos proferidos no REsp 1.298.391/RS; nos Agravos Regimentais nos REsps 1.321.667/PR,1.305.351/RS, 1.321.667/PR, 1.323.464/RS, 1.324.193/PR, 1.324.603/RS, 1.325.300/SC, 1.305.738/RS; e no AgRg noAREsp 103.509/PE.5. No caso concreto, o Tribunal de origem reconheceu o direito à desaposentação, mas condicionou posterioraposentadoria ao ressarcimento dos valores recebidos do benefício anterior, razão por que deve ser afastada a imposiçãode devolução.6. Recurso Especial do INSS não provido, e Recurso Especial do segurado provido. Acórdão submetido ao regime do art.543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ.(REsp 1334488/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/05/2013, DJe 14/05/2013).

No que concerne à necessidade de apresentação de laudo técnico há entendimento consolidado pela Turma Nacional deUniformização - TNU quanto à sua prescindibilidade, vez que o Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP é emitido combase no próprio laudo técnico. Nesse sentido, confira-se o julgado que se segue:

INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. AGENTEAGRESSIVO RUÍDO. PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO (PPP). DOCUMENTO ELABORADO COM BASEEM LAUDO PERICIAL. DESNECESSIDADE DE APRESENTAÇÃO CONJUNTA DO LAUDO, SALVO EM CASO DEDÚVIDA JUSTIFICADA. INSTRUÇÕES NORMATIVAS DO INSS N. 84/2002 E 27/2008. HIPÓTESE AUSENTE NOSAUTOS. FORMULÁRIO PREENCHIDO POR PREPOSTO DA EMPRESA. LEI N. 8.213/91, ART. 58, § 1º. AUSÊNCIA DEIRREGULARIDADE. INCIDENTE CONHECIDO E PROVIDO. 1. A parte autora interpôs pedido de uniformização dejurisprudência em face de acórdão proferido pela Turma Recursal da Seção Judiciária Federal do Paraná, que reformou asentença, alegando que não restou comprovada a natureza especial da atividade, pois o formulário PPP não poderia seraceito como prova, pois não há indicação de que foi preenchido com base em laudo, tampouco se encontra assinado porprofissional habilitado – médico ou engenheiro do trabalho. 2. Alega o recorrente que a interpretação adotada pelo acórdãorecorrido diverge de acórdão da 1ª. Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária de Goiás(JEF/GO – 1a. Turma Recursal, Recurso JEF 2007.35.00.706600-2, Relator Juiz Federal Roberto Carlos de Oliveira, Datado Julgamento 29/09/2007, DJ/GO 09/09/2007) e da jurisprudência dominante da Turma Nacional de Uniformização (TNU,PEDILEF 200772590036891, Relator JUIZ FEDERAL RONIVON DE ARAGÃO, Data do Julgamento 17/03/2011, DOU13/05/2011). 3. O recurso foi inadmitido pelo presidente da Turma Recursal de origem sob o fundamento de que o acórdãoapontado como paradigma trata de matéria sem similitude com a versada no acórdão atacado, não havendo prova dadivergência, bem como porque a pretensão do recorrente implicaria reexame de prova, o que é inviável neste incidente. Adecisão foi objeto de agravo. 4. A questão posta a desate diz respeito à possibilidade de reconhecimento do PPP – Perfil

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Profissiográfico Previdenciário - como documento hábil à comprovação do agente agressivo ruído, independentemente daapresentação do laudo técnico. (...) 8. Forçoso reconhecer que a própria Administração Pública, por intermédio de seus atosnormativos internos, a partir de 2003, prevê a desnecessidade de apresentação do laudo técnico, para comprovação daexposição a quaisquer agentes agressivos, inclusive o ruído, desde que seja apresentado o PPP, considerando que odocumento sob exame é emitido com base no próprio laudo técnico, cuja realização continua sendo obrigatória, devendoeste último ser apresentado subsidiariamente em caso de dúvidas a respeito do conteúdo do PPP. 9. Verifica-se, pois, queo acórdão recorrido não logrou êxito em demonstrar dúvida quanto veracidade das informações ali esposadas, limitando-sea afirmar a ausência de indicação de que o documento foi elaborado com base em laudo técnico e de assinatura pormédico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. Embora o documento não esteja assinado por engenheiro dotrabalho, o nome do profissional responsável pelo registro das condições ambientais foi indicado no formulário,presumindo-se, assim, que este foi elaborado com base em laudo técnico. Hipótese em que não se faz necessária aassinatura do técnico, que na verdade é exigência para o LTCAT e não PPP, segundo artigo 58, § 1º da lei n 8.213/91: Art.58. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou àintegridade física considerados para fins de concessão da aposentadoria especial de que trata o artigo anterior será definidapelo Poder Executivo. § 1º A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita medianteformulário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, emitido pela empresa ou seu preposto,com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro desegurança do trabalho nos termos da legislação trabalhista (g.n). 10. Não é cabível exigir-se, dentro da via judicial, mais doque o próprio administrador, sob pretexto de uma pretensa ilegalidade da Instrução Normativa, que, conforme já dito, nãoextrapolou o ditame legal, apenas o aclarou e explicitou, dando a ele contornos mais precisos, e em plena consonância como princípio da eficiência, que deve reger todos os atos da Administração Pública. 11. No mesmo toar já decidiu essa TurmaNacional de Uniformização no Pedido de Uniformização (TNU, PEDIDO 2006.51.63.00.0174-1, Rel. Juiz Federal OtávioHenrique Martins Port, DJ 04/08/2009). 12. Incidente de uniformização provido, restabelecendo-se os efeitos da sentença econdenando-se o INSS ao pagamento de honorários advocatícios, fixados em 10% do valor da condenação, nos termos daSúmula 111 do STJ. (PEDIDO 50379486820124047000, JUIZ FEDERAL ANDRÉ CARVALHO MONTEIRO, DOU31/05/2013 pág. 133/154.)

Noutro vértice, sobre o afastamento ou não da especialidade do serviço em virtude do uso eficaz do equipamento deproteção individual, a posição adotada pelo judiciário, plasmada na Súmula nº 09 da TNU, parece-me a mais avisada.

Nessas condições, conheço do recurso, mas a ele nego provimento.

Sem custas, na forma do art. 4º, inciso I, da Lei nº 9.289, de 4 de julho de 1996. Honorários advocatícios devidos pela parterecorrente, correspondentes a 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, nos moldes do art. 55, segunda parte, daLei nº 9.099/1995 e do art. 1º da Lei nº 10.259/2001.

ACÓRDÃO

Decide a 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Estado do Espírito Santo conhecer dorecurso e a ele negar provimento, na forma da ementa supra integrante do julgado.

Vitória, 19 de março de 2014.

Boaventura João AndradeJuiz Federal – 1º RelatorAssinado eletronicamente

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gabd

6 - 0001081-22.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.001081-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: MARCOS JOSÉ DE JESUS.) x SIVALDO SOARES (ADVOGADO: ES009070 -RODOLPHO RANDOW DE FREITAS.).Processo nº 0001081-22.2010.4.02.5050/01 – Juízo de origem: 1º JEF de VitóriaRecorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRecorrido:SIVALDO SOARESRelator: Juiz Federal BOAVENTURA JOÃO ANDRADE

VOTO - EMENTARECURSO INOMINADO. PREVIDENCIÁRIO. RMI. RENÚNCIA À APOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO EPOSTERIOR JUBILAMENTO. POSSIBILIDADE. DEVOLUÇÃO DOS VALORES PERCEBIDOS. DESNECESSIDADE.RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.Este recurso inominado foi interposto pelo réu da demanda em primeiro grau às fls. 127-142, em razão de sentença (fls.112-124) que julgou procedente a pretensão autoral de renúncia ao benefício previdenciário de aposentadoria por tempo decontribuição; e, como consectário, de concessão de novo benefício da mesma espécie, em razão de o (a) segurado (a) tercontinuado trabalhando e contribuindo para o Regime Geral de Previdência Social – RGPS.

Sustenta o recorrente: a) decadência do pedido, porquanto o benefício previdenciário foi concedido há mais de dez anos; b)constitucionalidade e imperatividade da vedação legal ao emprego das contribuições posteriores à aposentadoria; c) ocontribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenas contribui para o custeio do sistema, não para aobtenção de benefícios; d) ao aposentar-se, o segurado fez uma opção por uma renda menor, mas recebida por maistempo; e) o ato jurídico não pode ser alterado unilateralmente; f) violação ao art. 18, parágrafo 2º, da Lei nº 8.213/1991; g)necessidade de laudo técnico pericial para o agente ruído e a eliminação da especialidade do labor ante a utilização de EPI.Pugna, assim, pela reforma do julgado, julgando-se improcedente o pedido.

Contrarrazões às fls. 147-157.

Pois bem, o prazo decadencial previsto no art. 103 da Lei nº 8.213/1991 aplica-se nas situações em que o segurado visa àrevisão do ato de concessão do benefício previdenciário. A renúncia à aposentadoria já concedida, nos moldes pretendidospelo recorrido, não implica revisão de benefício. Isso porque, trata-se de direito patrimonial disponível e, consequentementenão se submete à decadência para o seu exercício.

A questão em debate importa aferir a viabilidade jurígena de segurado (a) que continuou em atividade remunerada econtribuindo para o RGPS renunciar a benefício previdenciário, com o escopo de, ao tempo de contribuição apurado porocasião de sua concessão, ver acrescido aquele relativo à atividade laborativa – e respectivas contribuições – posterior àjubilação, para assim auferir renda mensal mais vantajosa.

No caso sob exame, cuida-se de benefício de aposentadoria por tempo de contribuição (fl. 52), com DIB em 25.07.2000 erenda mensal inicial (RMI) de R$ 536,19 (fl. 160). Por sua vez, não há dúvida que, após aposentar-se, o (a) recorrido (a)continuou laborando, conforme se verifica às fls. 54-55.

A autarquia recorrente rechaça a pretensão autoral com a assertiva de que encontra óbice na teleologia das múltiplasredações do § 2o, do art. 18, da Lei no 8.213/1991 (original, da Lei no 9.032/1995 e da Lei no 9.528/1997), as quaissubmetem o aposentado pelo Regime Geral da Previdência Social – RGPS, que permanecer em atividade nesse regime,ao recolhimento das contribuições previdenciárias pertinentes e, simultaneamente, reduz o rol de benefícios previdenciáriospassíveis de concessão a segurados nessa condição.

No entanto, entendo que os efeitos da regra em comento não afastam, ante a ausência de vedação explícita, apossibilidade de o segurado renunciar à aposentadoria, com o intuito de ver considerado o tempo de contribuiçãosubsequente, na concessão de novo benefício. A renúncia à aposentadoria não resulta, per si, em renúncia ao tempo decontribuição, mas à fruição do direito inteiramente integrado ao patrimônio jurídico do (a) segurado (a).

Ademais, trata-se de regra cuja constitucionalidade está sendo examinada à luz do art. 201 da Constituição da República,nos autos do Recurso Extraordinário no 381.367/RS, relatado pelo Ministro Marco Aurélio, cujo voto foi no sentido de "... lheemprestar alcance consentâneo com a Constituição, ou seja, no sentido de afastar a duplicidade de benefício, porém não onovo cálculo de parcela previdenciária que deva ser satisfeita.", consoante noticiou o Informativo no 600, de 22.9.2010, doSupremo Tribunal Federal, ipsis verbis:

“O Min. Marco Aurélio, relator, proveu o recurso. Consignou, de início, a premissa segundo a qual o trabalhadoraposentado, ao voltar à atividade, seria segurado obrigatório e estaria compelido por lei a contribuir para o custeio daseguridade social. Salientou, no ponto, que o sistema constitucional em vigor viabilizaria o retorno do prestador de serviçoaposentado à atividade. Em seguida, ao aduzir que a previdência social estaria organizada sob o ângulo contributivo e com

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filiação obrigatória (CF, art. 201, caput), assentou a constitucionalidade do § 3º do art. 11 da Lei 8.213/91, com a redaçãoconferida pelo art. 3º da Lei 9.032/95 (“§ 3º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social – RGPS que estiverexercendo ou que voltar a exercer atividade abrangida por este Regime é segurado obrigatório em relação a essa atividade,ficando sujeito às contribuições de que trata a Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, para fins de custeio da SeguridadeSocial.”). Assinalou que essa disposição extinguira o denominado pecúlio, o qual possibilitava a devolução dascontribuições implementadas após a aposentadoria. Enfatizou que o segurado teria em patrimônio o direito à satisfação daaposentadoria tal como calculada no ato de jubilação e, ao retornar ao trabalho, voltaria a estar filiado e a contribuir semque pudesse cogitar de restrição sob o ângulo de benefícios. Reputou, dessa forma, que não se coadunaria com o dispostono art. 201 da CF a limitação do § 2º do art. 18 da Lei 8.213/91 que, em última análise, implicaria desequilíbrio na equaçãoditada pela Constituição. Realçou que uma coisa seria concluir-se pela inexistência da dupla aposentadoria. Outra seriaproclamar-se, conforme se verifica no preceito impugnado, que, mesmo havendo a contribuição — como se fosse primeirovínculo com a previdência —, o fenômeno apenas acarretaria o direito ao salário-família e à reabilitação profissional.Reiterou que, além de o texto do examinado dispositivo ensejar restrição ao que estabelecido na Constituição, abalaria afeição sinalagmática e comutativa decorrente da contribuição obrigatória. Em arremate, afirmou que ao trabalhador que,aposentado, retorna à atividade caberia o ônus alusivo à contribuição, devendo-se a ele a contrapartida, os benefíciospróprios, mais precisamente a consideração das novas contribuições para, voltando ao ócio com dignidade, calcular-se,ante o retorno e as novas contribuições e presentes os requisitos legais, o valor a que tem jus sob o ângulo daaposentadoria. Registrou, por fim, que essa conclusão não resultaria na necessidade de se declarar a inconstitucionalidadedo § 2º do art. 18 da Lei 8.213/91, mas de lhe emprestar alcance consentâneo com a Constituição, ou seja, no sentido deafastar a duplicidade de beneficio, porém não o novo cálculo de parcela previdenciária que deva ser satisfeita. Após, pediuvista o Min. Dias Toffoli.” (grifei)

As razões acima explicitadas estão também em consonância, diga-se, com os fundamentos da República, conforme osincisos III (dignidade da pessoa humana) e IV (valores sociais do trabalho e da livre iniciativa) do art. 1o da Constituição, ehomenageia o direito fundamental de segunda geração do inciso XXIV do art. 7o da Constituição (aposentadoria), namedida em que impede que o trabalhador contribuinte, numa perspectiva de efetivo equilíbrio financeiro e atuarial, tenha, navelhice, a chance de receber proventos mais dignos e consentâneos com as necessidades e a fruição conquistada comtoda a vida de trabalho remunerado, em regra, com baixos salários.

Estes aspectos colidem e suplantam, no ponto, a força normativa do próprio princípio da solidariedade, do qual dimana acompreensão que forra o argumento, segundo o qual a contribuição do trabalhador após a aposentadoria atende aoprincípio da universalidade contributiva, para assim assegurar o equilíbrio da Seguridade Social; quando há, por outro lado,que se ter em conta a ausência de melhor ponderação acerca do papel, da proporcionalidade e da razoabilidade de sedeixar penalizar socialmente, ainda mais, o segmento historicamente menos incluído socialmente, sob o ângulo tambémremuneratório, dos aposentados do RGPS.

Não há de se falar também em proibição à relativização do ato jurídico perfeito, visto que este, considerando a flagrantedesigualdade contrária aos segurados, há de contemplar e servir, na contextura e peculiaridade da matéria, é de garantiaatribuída ao trabalhador contribuinte, para assim protegê-lo ante ingerências lesivas do Estado ao seu patrimônio jurídico;de modo que descabe, desta feita, utilizá-lo em prol da autarquia previdenciária, para reduzir direitos subjetivos.

Não se constata, outrossim, contrariedade ao princípio da preservação da fonte de custo da Previdência Social (CR, art.195, §5º) ou ao equilíbrio atuarial do RGPS, uma vez que as contribuições vertidas pelo aposentado que continua atrabalhar têm a mesma base de cálculo dos segurados não aposentados, isto é, levam em conta as mesmas projeçõesentre receitas previdenciárias e dispêndios necessários à manutenção dos benefícios, visando assegurar a higidezeconômico-financeira do sistema.

Outra questão a ser abordada diz com os efeitos do ato de renúncia ao benefício, do que decorre a (não) obrigatoriedadede o segurado devolver o que recebeu a título de proventos.

Nesse ponto, a Turma Nacional de Uniformização perfilhou entendimento de que a renúncia à aposentadoria trata-se de atocom eficácia ex tunc, ensejando, desta feita, a devolução dos valores percebidos a título de aposentadoria à qual sepretenda renunciar. Observe-se:

PREVIDENCIÁRIO. DESAPOSENTAÇÃO PARA FINS DE OBTENÇÃO DE NOVO BENEFÍCIO, TAMBÉM NO REGIMEGERAL DE PREVIDÊNCIA, COM UTILIZAÇÃO DO TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO UTILIZADO NO PRIMEIRO.DEVOLUÇÃO DOS VALORES PERCEBIDOS. NECESSIDADE. INCIDENTE IMPROVIDO.1. Esta Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especais Federais sedimentou o entendimentode necessidade de devolução dos valores percebidos a titulo de aposentadoria à qual se pretenda renunciar, para fins deobtenção de novo benefício, no mesmo regime, com observância do tempo utilizado para concessão do primeiro. 2.Incidente improvido. (PEDILEF 200872550094057 PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEIFEDERAL. Relatora JUIZA FEDERAL SIMONE DOS SANTOS LEMOS FERNANDES. DOU 06/05/2011) (grifei)

Na linha do dito alhures, entretanto, não se me afigura a solução mais justa com quem continuou trabalhando e contribuindopara o RGPS após a aposentadoria, sem contrapartida, considerando que: (i) primeiro, caso o que recebeu de proventospor direito, tiver que ser devolvido é como se a renúncia não só o penalizasse, como se a tornasse proibitiva, na medida emque dificilmente se compatibilizaria com a situação sócio-econômica da massa de aposentados, além de seu caráteralimentar e por isso legitimamente não repetível; e (ii) não faria justiça com quem apenas busca uma chance de,

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trabalhando mais e contribuindo, melhorar – não obstante o fator previdenciário e a tábua da mortalidade – um pouco, seurendimento na velhice contributiva, sinalagmática e comutativa, como sói ocorrer a partir do comando expresso no § 5º, doart. 195, da Constituição da República; o qual restaria, inversa unilateralmente desnaturado, em nome da universalidadecontributiva.

Não destoa desse raciocínio aquele esposado pela Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, quando do julgamentodo REsp 1334488/SC, realizado no dia 08 de maio de 2013 sob o regime de recurso repetitivo (art. 543-C do Código deProcesso Civil e RES. n º. 8/2008-STJ). Confira-se:RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSOREPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. DESAPOSENTAÇÃO E REAPOSENTAÇÃO. RENÚNCIA AAPOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO E POSTERIOR JUBILAMENTO. DEVOLUÇÃO DE VALORES.DESNECESSIDADE.1. Trata-se de Recursos Especiais com intuito, por parte do INSS, de declarar impossibilidade de renúncia a aposentadoriae, por parte do segurado, de dispensa de devolução de valores recebidos de aposentadoria a que pretende abdicar.2. A pretensão do segurado consiste em renunciar à aposentadoria concedida para computar período contributivo utilizado,conjuntamente com os salários de contribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão deposterior e nova aposentação.3. Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seustitulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para aconcessão de novo e posterior jubilamento. Precedentes do STJ.4. Ressalva do entendimento pessoal do Relator quanto à necessidade de devolução dos valores para a reaposentação,conforme votos vencidos proferidos no REsp 1.298.391/RS; nos Agravos Regimentais nos REsps 1.321.667/PR,1.305.351/RS, 1.321.667/PR, 1.323.464/RS, 1.324.193/PR, 1.324.603/RS, 1.325.300/SC, 1.305.738/RS; e no AgRg noAREsp 103.509/PE.5. No caso concreto, o Tribunal de origem reconheceu o direito à desaposentação, mas condicionou posterioraposentadoria ao ressarcimento dos valores recebidos do benefício anterior, razão por que deve ser afastada a imposiçãode devolução.6. Recurso Especial do INSS não provido, e Recurso Especial do segurado provido. Acórdão submetido ao regime do art.543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ.(REsp 1334488/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/05/2013, DJe 14/05/2013).

Nessas condições, conheço do recurso, mas a ele nego provimento.

Sem custas, na forma do art. 4º, inciso I, da Lei nº 9.289, de 4 de julho de 1996. Honorários advocatícios devidos pela parterecorrente, correspondentes a 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, nos moldes do art. 55, segunda parte, daLei nº 9.099/1995 e do art. 1º da Lei nº 10.259/2001.

ACÓRDÃO

Decide a 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Estado do Espírito Santo conhecer dorecurso e a ele negar provimento, na forma da ementa supra integrante do julgado.

Vitória, 19 de março de 2014.

Boaventura João AndradeJuiz Federal – 1º RelatorAssinado eletronicamente

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7 - 0009375-45.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.009375-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: MARCELA BRAVIN BASSETTO.) x LUIZ CARLOS DOS SANTOS SOUZA(ADVOGADO: DF030057 - MAYARA AZEVEDO JACUNDA FERREIRA, ES015283 - WANESSA ALDRIGUES CANDIDO.).Processo nº 0009375-45.2012.4.02.5001/01 – Juízo de origem: 1º JEF de VitóriaRecorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRecorrido:LUIZ CARLOS DOS SANTOS SOUZARelator: Juiz Federal BOAVENTURA JOÃO ANDRADE

VOTO - EMENTARECURSO INOMINADO. PREVIDENCIÁRIO. RMI. RENÚNCIA À APOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO EPOSTERIOR JUBILAMENTO. POSSIBILIDADE. DEVOLUÇÃO DOS VALORES PERCEBIDOS. DESNECESSIDADE.RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.Este recurso inominado foi interposto pelo réu da demanda em primeiro grau às fls. 132-148, em razão de sentença (fls.122-129) que julgou procedente a pretensão autoral de renúncia ao benefício previdenciário de aposentadoria por tempo deserviço; e, como consectário, de concessão de novo benefício da mesma espécie, em razão de o (a) segurado (a) tercontinuado trabalhando e contribuindo para o Regime Geral de Previdência Social – RGPS.

Sustenta o recorrente: a) constitucionalidade e imperatividade da vedação legal ao emprego das contribuições posteriores àaposentadoria; b) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenas contribui para o custeio dosistema, não para a obtenção de benefícios; c) ao aposentar-se, o segurado fez uma opção por uma renda menor, masrecebida por mais tempo; d) o ato jurídico não pode ser alterado unilateralmente; e) violação ao art. 18, parágrafo 2º, da Leinº 8.213/1991. Pugna, assim, pela reforma do julgado, julgando-se improcedente o pedido.

Sem contrarrazões (fl. 153).

Embora tenha sido reconhecida a repercussão geral da matéria no bojo do Recurso Extraordinário (RE) nº 710293, noSupremo Tribunal Federal, relatoria do Ministro Luiz Fux, não há óbice processual para o conhecimento e julgamento dorecurso inominado por esta Turma Recursal.

Por certo ocorrerá a seguir a interposição de RE e aí sim – na perspectiva de se ultimar com presteza o processamentonesta TR – a questão irá ser examinada à luz do art. 543-B, § 1º, do Código de Processo Civil e do art. 5º, parágrafo único,inciso II, do Regimento Interno.

Assim sendo, passo à análise e ao voto.

Pois bem, o prazo decadencial previsto no art. 103 da Lei nº 8.213/1991 aplica-se nas situações em que o segurado visa àrevisão do ato de concessão do benefício previdenciário. A renúncia à aposentadoria já concedida, nos moldes pretendidospelo recorrido, não implica revisão de benefício. Isso porque, trata-se de direito patrimonial disponível e, consequentementenão se submete à decadência para o seu exercício.

A questão em debate importa aferir a viabilidade jurígena de segurado (a) que continuou em atividade remunerada econtribuindo para o RGPS renunciar a benefício previdenciário, com o escopo de, ao tempo de contribuição apurado porocasião de sua concessão, ver acrescido aquele relativo à atividade laborativa – e respectivas contribuições – posterior àjubilação, para assim auferir renda mensal mais vantajosa.

No caso sob exame, cuida-se de benefício de aposentadoria por tempo de serviço (fl. 32), com DIB em 14.05.1999 e rendamensal inicial (RMI) de R$ 867,11. Por sua vez, não há dúvida que, após aposentar-se, o (a) recorrido (a) continuoulaborando, conforme se verifica às fls. 36-49.

A autarquia recorrente rechaça a pretensão autoral com a assertiva de que encontra óbice na teleologia das múltiplasredações do § 2o, do art. 18, da Lei no 8.213/1991 (original, da Lei no 9.032/1995 e da Lei no 9.528/1997), as quaissubmetem o aposentado pelo Regime Geral da Previdência Social – RGPS, que permanecer em atividade nesse regime,ao recolhimento das contribuições previdenciárias pertinentes e, simultaneamente, reduz o rol de benefícios previdenciáriospassíveis de concessão a segurados nessa condição.

No entanto, entendo que os efeitos da regra em comento não afastam, ante a ausência de vedação explícita, apossibilidade de o segurado renunciar à aposentadoria, com o intuito de ver considerado o tempo de contribuiçãosubsequente, na concessão de novo benefício. A renúncia à aposentadoria não resulta, per si, em renúncia ao tempo decontribuição, mas à fruição do direito inteiramente integrado ao patrimônio jurídico do (a) segurado (a).

Ademais, trata-se de regra cuja constitucionalidade está sendo examinada à luz do art. 201 da Constituição da República,nos autos do Recurso Extraordinário no 381.367/RS, relatado pelo Ministro Marco Aurélio, cujo voto foi no sentido de "... lheemprestar alcance consentâneo com a Constituição, ou seja, no sentido de afastar a duplicidade de benefício, porém não o

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novo cálculo de parcela previdenciária que deva ser satisfeita.", consoante noticiou o Informativo no 600, de 22.9.2010, doSupremo Tribunal Federal, ipsis verbis:

“O Min. Marco Aurélio, relator, proveu o recurso. Consignou, de início, a premissa segundo a qual o trabalhadoraposentado, ao voltar à atividade, seria segurado obrigatório e estaria compelido por lei a contribuir para o custeio daseguridade social. Salientou, no ponto, que o sistema constitucional em vigor viabilizaria o retorno do prestador de serviçoaposentado à atividade. Em seguida, ao aduzir que a previdência social estaria organizada sob o ângulo contributivo e comfiliação obrigatória (CF, art. 201, caput), assentou a constitucionalidade do § 3º do art. 11 da Lei 8.213/91, com a redaçãoconferida pelo art. 3º da Lei 9.032/95 (“§ 3º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social – RGPS que estiverexercendo ou que voltar a exercer atividade abrangida por este Regime é segurado obrigatório em relação a essa atividade,ficando sujeito às contribuições de que trata a Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, para fins de custeio da SeguridadeSocial.”). Assinalou que essa disposição extinguira o denominado pecúlio, o qual possibilitava a devolução dascontribuições implementadas após a aposentadoria. Enfatizou que o segurado teria em patrimônio o direito à satisfação daaposentadoria tal como calculada no ato de jubilação e, ao retornar ao trabalho, voltaria a estar filiado e a contribuir semque pudesse cogitar de restrição sob o ângulo de benefícios. Reputou, dessa forma, que não se coadunaria com o dispostono art. 201 da CF a limitação do § 2º do art. 18 da Lei 8.213/91 que, em última análise, implicaria desequilíbrio na equaçãoditada pela Constituição. Realçou que uma coisa seria concluir-se pela inexistência da dupla aposentadoria. Outra seriaproclamar-se, conforme se verifica no preceito impugnado, que, mesmo havendo a contribuição — como se fosse primeirovínculo com a previdência —, o fenômeno apenas acarretaria o direito ao salário-família e à reabilitação profissional.Reiterou que, além de o texto do examinado dispositivo ensejar restrição ao que estabelecido na Constituição, abalaria afeição sinalagmática e comutativa decorrente da contribuição obrigatória. Em arremate, afirmou que ao trabalhador que,aposentado, retorna à atividade caberia o ônus alusivo à contribuição, devendo-se a ele a contrapartida, os benefíciospróprios, mais precisamente a consideração das novas contribuições para, voltando ao ócio com dignidade, calcular-se,ante o retorno e as novas contribuições e presentes os requisitos legais, o valor a que tem jus sob o ângulo daaposentadoria. Registrou, por fim, que essa conclusão não resultaria na necessidade de se declarar a inconstitucionalidadedo § 2º do art. 18 da Lei 8.213/91, mas de lhe emprestar alcance consentâneo com a Constituição, ou seja, no sentido deafastar a duplicidade de beneficio, porém não o novo cálculo de parcela previdenciária que deva ser satisfeita. Após, pediuvista o Min. Dias Toffoli.” (grifei)

As razões acima explicitadas estão também em consonância, diga-se, com os fundamentos da República, conforme osincisos III (dignidade da pessoa humana) e IV (valores sociais do trabalho e da livre iniciativa) do art. 1o da Constituição, ehomenageia o direito fundamental de segunda geração do inciso XXIV do art. 7o da Constituição (aposentadoria), namedida em que impede que o trabalhador contribuinte, numa perspectiva de efetivo equilíbrio financeiro e atuarial, tenha, navelhice, a chance de receber proventos mais dignos e consentâneos com as necessidades e a fruição conquistada comtoda a vida de trabalho remunerado, em regra, com baixos salários.

Estes aspectos colidem e suplantam, no ponto, a força normativa do próprio princípio da solidariedade, do qual dimana acompreensão que forra o argumento, segundo o qual a contribuição do trabalhador após a aposentadoria atende aoprincípio da universalidade contributiva, para assim assegurar o equilíbrio da Seguridade Social; quando há, por outro lado,que se ter em conta a ausência de melhor ponderação acerca do papel, da proporcionalidade e da razoabilidade de sedeixar penalizar socialmente, ainda mais, o segmento historicamente menos incluído socialmente, sob o ângulo tambémremuneratório, dos aposentados do RGPS.

Não há de se falar também em proibição à relativização do ato jurídico perfeito, visto que este, considerando a flagrantedesigualdade contrária aos segurados, há de contemplar e servir, na contextura e peculiaridade da matéria, é de garantiaatribuída ao trabalhador contribuinte, para assim protegê-lo ante ingerências lesivas do Estado ao seu patrimônio jurídico;de modo que descabe, desta feita, utilizá-lo em prol da autarquia previdenciária, para reduzir direitos subjetivos.

Não se constata, outrossim, contrariedade ao princípio da preservação da fonte de custo da Previdência Social (CR, art.195, §5º) ou ao equilíbrio atuarial do RGPS, uma vez que as contribuições vertidas pelo aposentado que continua atrabalhar têm a mesma base de cálculo dos segurados não aposentados, isto é, levam em conta as mesmas projeçõesentre receitas previdenciárias e dispêndios necessários à manutenção dos benefícios, visando assegurar a higidezeconômico-financeira do sistema.

Outra questão a ser abordada diz com os efeitos do ato de renúncia ao benefício, do que decorre a (não) obrigatoriedadede o segurado devolver o que recebeu a título de proventos.

Nesse ponto, a Turma Nacional de Uniformização perfilhou entendimento de que a renúncia à aposentadoria trata-se de atocom eficácia ex tunc, ensejando, desta feita, a devolução dos valores percebidos a título de aposentadoria à qual sepretenda renunciar. Observe-se:

PREVIDENCIÁRIO. DESAPOSENTAÇÃO PARA FINS DE OBTENÇÃO DE NOVO BENEFÍCIO, TAMBÉM NO REGIMEGERAL DE PREVIDÊNCIA, COM UTILIZAÇÃO DO TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO UTILIZADO NO PRIMEIRO.DEVOLUÇÃO DOS VALORES PERCEBIDOS. NECESSIDADE. INCIDENTE IMPROVIDO.1. Esta Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especais Federais sedimentou o entendimentode necessidade de devolução dos valores percebidos a titulo de aposentadoria à qual se pretenda renunciar, para fins deobtenção de novo benefício, no mesmo regime, com observância do tempo utilizado para concessão do primeiro. 2.Incidente improvido. (PEDILEF 200872550094057 PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI

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FEDERAL. Relatora JUIZA FEDERAL SIMONE DOS SANTOS LEMOS FERNANDES. DOU 06/05/2011) (grifei)

Na linha do dito alhures, entretanto, não se me afigura a solução mais justa com quem continuou trabalhando e contribuindopara o RGPS após a aposentadoria, sem contrapartida, considerando que: (i) primeiro, caso o que recebeu de proventospor direito, tiver que ser devolvido é como se a renúncia não só o penalizasse, como se a tornasse proibitiva, na medida emque dificilmente se compatibilizaria com a situação sócio-econômica da massa de aposentados, além de seu caráteralimentar e por isso legitimamente não repetível; e (ii) não faria justiça com quem apenas busca uma chance de,trabalhando mais e contribuindo, melhorar – não obstante o fator previdenciário e a tábua da mortalidade – um pouco, seurendimento na velhice contributiva, sinalagmática e comutativa, como sói ocorrer a partir do comando expresso no § 5º, doart. 195, da Constituição da República; o qual restaria, inversa unilateralmente desnaturado, em nome da universalidadecontributiva.

Não destoa desse raciocínio aquele esposado pela Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, quando do julgamentodo REsp 1334488/SC, realizado no dia 08 de maio de 2013 sob o regime de recurso repetitivo (art. 543-C do Código deProcesso Civil e RES. n º. 8/2008-STJ). Confira-se:RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSOREPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. DESAPOSENTAÇÃO E REAPOSENTAÇÃO. RENÚNCIA AAPOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO E POSTERIOR JUBILAMENTO. DEVOLUÇÃO DE VALORES.DESNECESSIDADE.1. Trata-se de Recursos Especiais com intuito, por parte do INSS, de declarar impossibilidade de renúncia a aposentadoriae, por parte do segurado, de dispensa de devolução de valores recebidos de aposentadoria a que pretende abdicar.2. A pretensão do segurado consiste em renunciar à aposentadoria concedida para computar período contributivo utilizado,conjuntamente com os salários de contribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão deposterior e nova aposentação.3. Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seustitulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para aconcessão de novo e posterior jubilamento. Precedentes do STJ.4. Ressalva do entendimento pessoal do Relator quanto à necessidade de devolução dos valores para a reaposentação,conforme votos vencidos proferidos no REsp 1.298.391/RS; nos Agravos Regimentais nos REsps 1.321.667/PR,1.305.351/RS, 1.321.667/PR, 1.323.464/RS, 1.324.193/PR, 1.324.603/RS, 1.325.300/SC, 1.305.738/RS; e no AgRg noAREsp 103.509/PE.5. No caso concreto, o Tribunal de origem reconheceu o direito à desaposentação, mas condicionou posterioraposentadoria ao ressarcimento dos valores recebidos do benefício anterior, razão por que deve ser afastada a imposiçãode devolução.6. Recurso Especial do INSS não provido, e Recurso Especial do segurado provido. Acórdão submetido ao regime do art.543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ.(REsp 1334488/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/05/2013, DJe 14/05/2013).Nessas condições, conheço do recurso, mas a ele nego provimento.

Sem custas, na forma do art. 4º, inciso I, da Lei nº 9.289, de 4 de julho de 1996. Honorários advocatícios devidos pela parterecorrente, correspondentes a 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, nos moldes do art. 55, segunda parte, daLei nº 9.099/1995 e do art. 1º da Lei nº 10.259/2001.

ACÓRDÃO

Decide a 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Estado do Espírito Santo conhecer dorecurso e a ele negar provimento, na forma da ementa supra integrante do julgado.

Vitória, 19 de março de 2014.

Boaventura João AndradeJuiz Federal – 1º RelatorAssinado eletronicamente

gabd

8 - 0104241-11.2013.4.02.5001/01 (2013.50.01.104241-4/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DO

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SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: Isabela Boechat B. B. de Oliveira.) x JOSÉ DOS SANTOS PINTO (ADVOGADO:ES007828 - RONI FURTADO BORGO, ES007367 - CHRISTOVAM RAMOS PINTO NETO.).Processo nº 0104241-11.2013.4.02.5001/01 – Juízo de origem: 1º JEF de VitóriaRecorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRecorrido:JOSÉ DOS SANTOS PINTORelator: Juiz Federal BOAVENTURA JOÃO ANDRADE

VOTO - EMENTARECURSO INOMINADO. PREVIDENCIÁRIO. RMI. RENÚNCIA À APOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO EPOSTERIOR JUBILAMENTO. POSSIBILIDADE. DEVOLUÇÃO DOS VALORES PERCEBIDOS. DESNECESSIDADE.RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.Este recurso inominado foi interposto pelo réu da demanda em primeiro grau às fls. 58-73, em razão de sentença (fls.49-56) que julgou procedente a pretensão autoral de renúncia ao benefício previdenciário de aposentadoria por tempo deserviço; e, como consectário, de concessão de novo benefício da mesma espécie, em razão de o (a) segurado (a) tercontinuado trabalhando e contribuindo para o Regime Geral de Previdência Social – RGPS.

Sustenta o recorrente: a) constitucionalidade e imperatividade da vedação legal ao emprego das contribuições posteriores àaposentadoria; b) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenas contribui para o custeio dosistema, não para a obtenção de benefícios; c) ao aposentar-se, o segurado fez uma opção por uma renda menor, masrecebida por mais tempo; d) o ato jurídico não pode ser alterado unilateralmente; e) violação ao art. 18, parágrafo 2º, da Leinº 8.213/1991. Pugna, assim, pela reforma do julgado, julgando-se improcedente o pedido.

Contrarrazões às fls. 82-92.

A questão em debate importa aferir a viabilidade jurígena de segurado (a) que continuou em atividade remunerada econtribuindo para o RGPS renunciar a benefício previdenciário, com o escopo de, ao tempo de contribuição apurado porocasião de sua concessão, ver acrescido aquele relativo à atividade laborativa – e respectivas contribuições – posterior àjubilação, para assim auferir renda mensal mais vantajosa.

No caso sob exame, cuida-se de benefício de aposentadoria por tempo de serviço (fl. 22), com DIB em 02.10.1997 e rendamensal inicial (RMI) de R$ 228,22. Por sua vez, não há dúvida que, após aposentar-se, o (a) recorrido (a) continuoulaborando, conforme se verifica à fl. 21.

A autarquia recorrente rechaça a pretensão autoral com a assertiva de que encontra óbice na teleologia das múltiplasredações do § 2o, do art. 18, da Lei no 8.213/1991 (original, da Lei no 9.032/1995 e da Lei no 9.528/1997), as quaissubmetem o aposentado pelo Regime Geral da Previdência Social – RGPS, que permanecer em atividade nesse regime,ao recolhimento das contribuições previdenciárias pertinentes e, simultaneamente, reduz o rol de benefícios previdenciáriospassíveis de concessão a segurados nessa condição.

No entanto, entendo que os efeitos da regra em comento não afastam, ante a ausência de vedação explícita, apossibilidade de o segurado renunciar à aposentadoria, com o intuito de ver considerado o tempo de contribuiçãosubsequente, na concessão de novo benefício. A renúncia à aposentadoria não resulta, per si, em renúncia ao tempo decontribuição, mas à fruição do direito inteiramente integrado ao patrimônio jurídico do (a) segurado (a).

Ademais, trata-se de regra cuja constitucionalidade está sendo examinada à luz do art. 201 da Constituição da República,nos autos do Recurso Extraordinário no 381.367/RS, relatado pelo Ministro Marco Aurélio, cujo voto foi no sentido de "... lheemprestar alcance consentâneo com a Constituição, ou seja, no sentido de afastar a duplicidade de benefício, porém não onovo cálculo de parcela previdenciária que deva ser satisfeita.", consoante noticiou o Informativo no 600, de 22.9.2010, doSupremo Tribunal Federal, ipsis verbis:

“O Min. Marco Aurélio, relator, proveu o recurso. Consignou, de início, a premissa segundo a qual o trabalhadoraposentado, ao voltar à atividade, seria segurado obrigatório e estaria compelido por lei a contribuir para o custeio daseguridade social. Salientou, no ponto, que o sistema constitucional em vigor viabilizaria o retorno do prestador de serviçoaposentado à atividade. Em seguida, ao aduzir que a previdência social estaria organizada sob o ângulo contributivo e comfiliação obrigatória (CF, art. 201, caput), assentou a constitucionalidade do § 3º do art. 11 da Lei 8.213/91, com a redaçãoconferida pelo art. 3º da Lei 9.032/95 (“§ 3º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social – RGPS que estiverexercendo ou que voltar a exercer atividade abrangida por este Regime é segurado obrigatório em relação a essa atividade,ficando sujeito às contribuições de que trata a Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, para fins de custeio da SeguridadeSocial.”). Assinalou que essa disposição extinguira o denominado pecúlio, o qual possibilitava a devolução dascontribuições implementadas após a aposentadoria. Enfatizou que o segurado teria em patrimônio o direito à satisfação daaposentadoria tal como calculada no ato de jubilação e, ao retornar ao trabalho, voltaria a estar filiado e a contribuir semque pudesse cogitar de restrição sob o ângulo de benefícios. Reputou, dessa forma, que não se coadunaria com o dispostono art. 201 da CF a limitação do § 2º do art. 18 da Lei 8.213/91 que, em última análise, implicaria desequilíbrio na equaçãoditada pela Constituição. Realçou que uma coisa seria concluir-se pela inexistência da dupla aposentadoria. Outra seriaproclamar-se, conforme se verifica no preceito impugnado, que, mesmo havendo a contribuição — como se fosse primeirovínculo com a previdência —, o fenômeno apenas acarretaria o direito ao salário-família e à reabilitação profissional.Reiterou que, além de o texto do examinado dispositivo ensejar restrição ao que estabelecido na Constituição, abalaria afeição sinalagmática e comutativa decorrente da contribuição obrigatória. Em arremate, afirmou que ao trabalhador que,

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aposentado, retorna à atividade caberia o ônus alusivo à contribuição, devendo-se a ele a contrapartida, os benefíciospróprios, mais precisamente a consideração das novas contribuições para, voltando ao ócio com dignidade, calcular-se,ante o retorno e as novas contribuições e presentes os requisitos legais, o valor a que tem jus sob o ângulo daaposentadoria. Registrou, por fim, que essa conclusão não resultaria na necessidade de se declarar a inconstitucionalidadedo § 2º do art. 18 da Lei 8.213/91, mas de lhe emprestar alcance consentâneo com a Constituição, ou seja, no sentido deafastar a duplicidade de beneficio, porém não o novo cálculo de parcela previdenciária que deva ser satisfeita. Após, pediuvista o Min. Dias Toffoli.” (grifei)

As razões acima explicitadas estão também em consonância, diga-se, com os fundamentos da República, conforme osincisos III (dignidade da pessoa humana) e IV (valores sociais do trabalho e da livre iniciativa) do art. 1o da Constituição, ehomenageia o direito fundamental de segunda geração do inciso XXIV do art. 7o da Constituição (aposentadoria), namedida em que impede que o trabalhador contribuinte, numa perspectiva de efetivo equilíbrio financeiro e atuarial, tenha, navelhice, a chance de receber proventos mais dignos e consentâneos com as necessidades e a fruição conquistada comtoda a vida de trabalho remunerado, em regra, com baixos salários.

Estes aspectos colidem e suplantam, no ponto, a força normativa do próprio princípio da solidariedade, do qual dimana acompreensão que forra o argumento, segundo o qual a contribuição do trabalhador após a aposentadoria atende aoprincípio da universalidade contributiva, para assim assegurar o equilíbrio da Seguridade Social; quando há, por outro lado,que se ter em conta a ausência de melhor ponderação acerca do papel, da proporcionalidade e da razoabilidade de sedeixar penalizar socialmente, ainda mais, o segmento historicamente menos incluído socialmente, sob o ângulo tambémremuneratório, dos aposentados do RGPS.

Não há de se falar também em proibição à relativização do ato jurídico perfeito, visto que este, considerando a flagrantedesigualdade contrária aos segurados, há de contemplar e servir, na contextura e peculiaridade da matéria, é de garantiaatribuída ao trabalhador contribuinte, para assim protegê-lo ante ingerências lesivas do Estado ao seu patrimônio jurídico;de modo que descabe, desta feita, utilizá-lo em prol da autarquia previdenciária, para reduzir direitos subjetivos.

Não se constata, outrossim, contrariedade ao princípio da preservação da fonte de custo da Previdência Social (CR, art.195, §5º) ou ao equilíbrio atuarial do RGPS, uma vez que as contribuições vertidas pelo aposentado que continua atrabalhar têm a mesma base de cálculo dos segurados não aposentados, isto é, levam em conta as mesmas projeçõesentre receitas previdenciárias e dispêndios necessários à manutenção dos benefícios, visando assegurar a higidezeconômico-financeira do sistema.

Outra questão a ser abordada diz com os efeitos do ato de renúncia ao benefício, do que decorre a (não) obrigatoriedadede o segurado devolver o que recebeu a título de proventos.

Nesse ponto, a Turma Nacional de Uniformização perfilhou entendimento de que a renúncia à aposentadoria trata-se de atocom eficácia ex tunc, ensejando, desta feita, a devolução dos valores percebidos a título de aposentadoria à qual sepretenda renunciar. Observe-se:

PREVIDENCIÁRIO. DESAPOSENTAÇÃO PARA FINS DE OBTENÇÃO DE NOVO BENEFÍCIO, TAMBÉM NO REGIMEGERAL DE PREVIDÊNCIA, COM UTILIZAÇÃO DO TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO UTILIZADO NO PRIMEIRO.DEVOLUÇÃO DOS VALORES PERCEBIDOS. NECESSIDADE. INCIDENTE IMPROVIDO.1. Esta Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especais Federais sedimentou o entendimentode necessidade de devolução dos valores percebidos a titulo de aposentadoria à qual se pretenda renunciar, para fins deobtenção de novo benefício, no mesmo regime, com observância do tempo utilizado para concessão do primeiro. 2.Incidente improvido. (PEDILEF 200872550094057 PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEIFEDERAL. Relatora JUIZA FEDERAL SIMONE DOS SANTOS LEMOS FERNANDES. DOU 06/05/2011) (grifei)

Na linha do dito alhures, entretanto, não se me afigura a solução mais justa com quem continuou trabalhando e contribuindopara o RGPS após a aposentadoria, sem contrapartida, considerando que: (i) primeiro, caso o que recebeu de proventospor direito, tiver que ser devolvido é como se a renúncia não só o penalizasse, como se a tornasse proibitiva, na medida emque dificilmente se compatibilizaria com a situação sócio-econômica da massa de aposentados, além de seu caráteralimentar e por isso legitimamente não repetível; e (ii) não faria justiça com quem apenas busca uma chance de,trabalhando mais e contribuindo, melhorar – não obstante o fator previdenciário e a tábua da mortalidade – um pouco, seurendimento na velhice contributiva, sinalagmática e comutativa, como sói ocorrer a partir do comando expresso no § 5º, doart. 195, da Constituição da República; o qual restaria, inversa unilateralmente desnaturado, em nome da universalidadecontributiva.

Não destoa desse raciocínio aquele esposado pela Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, quando do julgamentodo REsp 1334488/SC, realizado no dia 08 de maio de 2013 sob o regime de recurso repetitivo (art. 543-C do Código deProcesso Civil e RES. n º. 8/2008-STJ). Confira-se:RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSOREPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. DESAPOSENTAÇÃO E REAPOSENTAÇÃO. RENÚNCIA AAPOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO E POSTERIOR JUBILAMENTO. DEVOLUÇÃO DE VALORES.DESNECESSIDADE.1. Trata-se de Recursos Especiais com intuito, por parte do INSS, de declarar impossibilidade de renúncia a aposentadoriae, por parte do segurado, de dispensa de devolução de valores recebidos de aposentadoria a que pretende abdicar.

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2. A pretensão do segurado consiste em renunciar à aposentadoria concedida para computar período contributivo utilizado,conjuntamente com os salários de contribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão deposterior e nova aposentação.3. Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seustitulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para aconcessão de novo e posterior jubilamento. Precedentes do STJ.4. Ressalva do entendimento pessoal do Relator quanto à necessidade de devolução dos valores para a reaposentação,conforme votos vencidos proferidos no REsp 1.298.391/RS; nos Agravos Regimentais nos REsps 1.321.667/PR,1.305.351/RS, 1.321.667/PR, 1.323.464/RS, 1.324.193/PR, 1.324.603/RS, 1.325.300/SC, 1.305.738/RS; e no AgRg noAREsp 103.509/PE.5. No caso concreto, o Tribunal de origem reconheceu o direito à desaposentação, mas condicionou posterioraposentadoria ao ressarcimento dos valores recebidos do benefício anterior, razão por que deve ser afastada a imposiçãode devolução.6. Recurso Especial do INSS não provido, e Recurso Especial do segurado provido. Acórdão submetido ao regime do art.543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ.(REsp 1334488/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/05/2013, DJe 14/05/2013).

Nessas condições, conheço do recurso, mas a ele nego provimento.

Sem custas, na forma do art. 4º, inciso I, da Lei nº 9.289, de 4 de julho de 1996. Honorários advocatícios devidos pela parterecorrente, correspondentes a 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, nos moldes do art. 55, segunda parte, daLei nº 9.099/1995 e do art. 1º da Lei nº 10.259/2001.

ACÓRDÃO

Decide a 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Estado do Espírito Santo conhecer dorecurso e a ele negar provimento, na forma da ementa supra integrante do julgado.

Vitória, 19 de março de 2014.

Boaventura João AndradeJuiz Federal – 1º RelatorAssinado eletronicamente

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gabd

9 - 0006754-59.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.006754-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: BRUNO MIRANDA COSTA.) x JOSE DE JESUS (ADVOGADO: ES013330 -PAULO AUGUSTO MARTINS PINHEIRO CHAGAS, ES016642 - ANDRE DE PAULA ARRAZ, ES014806 - kassia ferrazmartins arraz.).Processo nº 006754-59.2011.4.02.5050/01 – Juízo de origem: 2º JEF de VitóriaRecorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRecorrido:JOSÉ DE JESUSRelator: Juiz Federal BOAVENTURA JOÃO ANDRADE

VOTO - EMENTARECURSO INOMINADO. PREVIDENCIÁRIO. RMI. RENÚNCIA À APOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO EPOSTERIOR JUBILAMENTO. POSSIBILIDADE. DEVOLUÇÃO DOS VALORES PERCEBIDOS. DESNECESSIDADE.RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.Este recurso inominado foi interposto pelo réu da demanda em primeiro grau às fls. 51-66, em razão de sentença (fls.46-48) que julgou procedente a pretensão autoral de renúncia ao benefício previdenciário de aposentadoria por tempo decontribuição; e, como consectário, de concessão de novo benefício da mesma espécie, em razão de o (a) segurado (a) tercontinuado trabalhando e contribuindo para o Regime Geral de Previdência Social – RGPS.

Sustenta o recorrente: a) constitucionalidade e imperatividade da vedação legal ao emprego das contribuições posteriores àaposentadoria; b) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenas contribui para o custeio dosistema, não para a obtenção de benefícios; c) ao aposentar-se, o segurado fez uma opção por uma renda menor, masrecebida por mais tempo; d) o ato jurídico não pode ser alterado unilateralmente; e) violação ao art. 18, parágrafo 2º, da Leinº 8.213/1991. Pugna, assim, pela reforma do julgado, julgando-se improcedente o pedido.

Contrarrazões às fls. 71-78.

A questão em debate importa aferir a viabilidade jurígena de segurado (a) que continuou em atividade remunerada econtribuindo para o RGPS renunciar a benefício previdenciário, com o escopo de, ao tempo de contribuição apurado porocasião de sua concessão, ver acrescido aquele relativo à atividade laborativa – e respectivas contribuições – posterior àjubilação, para assim auferir renda mensal mais vantajosa.

No caso sob exame, cuida-se de benefício de aposentadoria por tempo de contribuição (fl. 16), com DIB em 18.02.2005 erenda mensal inicial (RMI) de R$ 391,53. Por sua vez, não há dúvida que, após aposentar-se, o (a) recorrido (a) continuoulaborando, conforme se verifica à fl. 14-15.

A autarquia recorrente rechaça a pretensão autoral com a assertiva de que encontra óbice na teleologia das múltiplasredações do § 2o, do art. 18, da Lei no 8.213/1991 (original, da Lei no 9.032/1995 e da Lei no 9.528/1997), as quaissubmetem o aposentado pelo Regime Geral da Previdência Social – RGPS, que permanecer em atividade nesse regime,ao recolhimento das contribuições previdenciárias pertinentes e, simultaneamente, reduz o rol de benefícios previdenciáriospassíveis de concessão a segurados nessa condição.

No entanto, entendo que os efeitos da regra em comento não afastam, ante a ausência de vedação explícita, apossibilidade de o segurado renunciar à aposentadoria, com o intuito de ver considerado o tempo de contribuiçãosubsequente, na concessão de novo benefício. A renúncia à aposentadoria não resulta, per si, em renúncia ao tempo decontribuição, mas à fruição do direito inteiramente integrado ao patrimônio jurídico do (a) segurado (a).

Ademais, trata-se de regra cuja constitucionalidade está sendo examinada à luz do art. 201 da Constituição da República,nos autos do Recurso Extraordinário no 381.367/RS, relatado pelo Ministro Marco Aurélio, cujo voto foi no sentido de "... lheemprestar alcance consentâneo com a Constituição, ou seja, no sentido de afastar a duplicidade de benefício, porém não onovo cálculo de parcela previdenciária que deva ser satisfeita.", consoante noticiou o Informativo no 600, de 22.9.2010, doSupremo Tribunal Federal, ipsis verbis:

“O Min. Marco Aurélio, relator, proveu o recurso. Consignou, de início, a premissa segundo a qual o trabalhadoraposentado, ao voltar à atividade, seria segurado obrigatório e estaria compelido por lei a contribuir para o custeio daseguridade social. Salientou, no ponto, que o sistema constitucional em vigor viabilizaria o retorno do prestador de serviçoaposentado à atividade. Em seguida, ao aduzir que a previdência social estaria organizada sob o ângulo contributivo e comfiliação obrigatória (CF, art. 201, caput), assentou a constitucionalidade do § 3º do art. 11 da Lei 8.213/91, com a redaçãoconferida pelo art. 3º da Lei 9.032/95 (“§ 3º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social – RGPS que estiverexercendo ou que voltar a exercer atividade abrangida por este Regime é segurado obrigatório em relação a essa atividade,ficando sujeito às contribuições de que trata a Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, para fins de custeio da SeguridadeSocial.”). Assinalou que essa disposição extinguira o denominado pecúlio, o qual possibilitava a devolução dascontribuições implementadas após a aposentadoria. Enfatizou que o segurado teria em patrimônio o direito à satisfação daaposentadoria tal como calculada no ato de jubilação e, ao retornar ao trabalho, voltaria a estar filiado e a contribuir semque pudesse cogitar de restrição sob o ângulo de benefícios. Reputou, dessa forma, que não se coadunaria com o dispostono art. 201 da CF a limitação do § 2º do art. 18 da Lei 8.213/91 que, em última análise, implicaria desequilíbrio na equaçãoditada pela Constituição. Realçou que uma coisa seria concluir-se pela inexistência da dupla aposentadoria. Outra seria

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proclamar-se, conforme se verifica no preceito impugnado, que, mesmo havendo a contribuição — como se fosse primeirovínculo com a previdência —, o fenômeno apenas acarretaria o direito ao salário-família e à reabilitação profissional.Reiterou que, além de o texto do examinado dispositivo ensejar restrição ao que estabelecido na Constituição, abalaria afeição sinalagmática e comutativa decorrente da contribuição obrigatória. Em arremate, afirmou que ao trabalhador que,aposentado, retorna à atividade caberia o ônus alusivo à contribuição, devendo-se a ele a contrapartida, os benefíciospróprios, mais precisamente a consideração das novas contribuições para, voltando ao ócio com dignidade, calcular-se,ante o retorno e as novas contribuições e presentes os requisitos legais, o valor a que tem jus sob o ângulo daaposentadoria. Registrou, por fim, que essa conclusão não resultaria na necessidade de se declarar a inconstitucionalidadedo § 2º do art. 18 da Lei 8.213/91, mas de lhe emprestar alcance consentâneo com a Constituição, ou seja, no sentido deafastar a duplicidade de beneficio, porém não o novo cálculo de parcela previdenciária que deva ser satisfeita. Após, pediuvista o Min. Dias Toffoli.” (grifei)

As razões acima explicitadas estão também em consonância, diga-se, com os fundamentos da República, conforme osincisos III (dignidade da pessoa humana) e IV (valores sociais do trabalho e da livre iniciativa) do art. 1o da Constituição, ehomenageia o direito fundamental de segunda geração do inciso XXIV do art. 7o da Constituição (aposentadoria), namedida em que impede que o trabalhador contribuinte, numa perspectiva de efetivo equilíbrio financeiro e atuarial, tenha, navelhice, a chance de receber proventos mais dignos e consentâneos com as necessidades e a fruição conquistada comtoda a vida de trabalho remunerado, em regra, com baixos salários.

Estes aspectos colidem e suplantam, no ponto, a força normativa do próprio princípio da solidariedade, do qual dimana acompreensão que forra o argumento, segundo o qual a contribuição do trabalhador após a aposentadoria atende aoprincípio da universalidade contributiva, para assim assegurar o equilíbrio da Seguridade Social; quando há, por outro lado,que se ter em conta a ausência de melhor ponderação acerca do papel, da proporcionalidade e da razoabilidade de sedeixar penalizar socialmente, ainda mais, o segmento historicamente menos incluído socialmente, sob o ângulo tambémremuneratório, dos aposentados do RGPS.

Não há de se falar também em proibição à relativização do ato jurídico perfeito, visto que este, considerando a flagrantedesigualdade contrária aos segurados, há de contemplar e servir, na contextura e peculiaridade da matéria, é de garantiaatribuída ao trabalhador contribuinte, para assim protegê-lo ante ingerências lesivas do Estado ao seu patrimônio jurídico;de modo que descabe, desta feita, utilizá-lo em prol da autarquia previdenciária, para reduzir direitos subjetivos.

Não se constata, outrossim, contrariedade ao princípio da preservação da fonte de custo da Previdência Social (CR, art.195, §5º) ou ao equilíbrio atuarial do RGPS, uma vez que as contribuições vertidas pelo aposentado que continua atrabalhar têm a mesma base de cálculo dos segurados não aposentados, isto é, levam em conta as mesmas projeçõesentre receitas previdenciárias e dispêndios necessários à manutenção dos benefícios, visando assegurar a higidezeconômico-financeira do sistema.

Outra questão a ser abordada diz com os efeitos do ato de renúncia ao benefício, do que decorre a (não) obrigatoriedadede o segurado devolver o que recebeu a título de proventos.

Nesse ponto, a Turma Nacional de Uniformização perfilhou entendimento de que a renúncia à aposentadoria trata-se de atocom eficácia ex tunc, ensejando, desta feita, a devolução dos valores percebidos a título de aposentadoria à qual sepretenda renunciar. Observe-se:

PREVIDENCIÁRIO. DESAPOSENTAÇÃO PARA FINS DE OBTENÇÃO DE NOVO BENEFÍCIO, TAMBÉM NO REGIMEGERAL DE PREVIDÊNCIA, COM UTILIZAÇÃO DO TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO UTILIZADO NO PRIMEIRO.DEVOLUÇÃO DOS VALORES PERCEBIDOS. NECESSIDADE. INCIDENTE IMPROVIDO.1. Esta Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especais Federais sedimentou o entendimentode necessidade de devolução dos valores percebidos a titulo de aposentadoria à qual se pretenda renunciar, para fins deobtenção de novo benefício, no mesmo regime, com observância do tempo utilizado para concessão do primeiro. 2.Incidente improvido. (PEDILEF 200872550094057 PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEIFEDERAL. Relatora JUIZA FEDERAL SIMONE DOS SANTOS LEMOS FERNANDES. DOU 06/05/2011) (grifei)

Na linha do dito alhures, entretanto, não se me afigura a solução mais justa com quem continuou trabalhando e contribuindopara o RGPS após a aposentadoria, sem contrapartida, considerando que: (i) primeiro, caso o que recebeu de proventospor direito, tiver que ser devolvido é como se a renúncia não só o penalizasse, como se a tornasse proibitiva, na medida emque dificilmente se compatibilizaria com a situação sócio-econômica da massa de aposentados, além de seu caráteralimentar e por isso legitimamente não repetível; e (ii) não faria justiça com quem apenas busca uma chance de,trabalhando mais e contribuindo, melhorar – não obstante o fator previdenciário e a tábua da mortalidade – um pouco, seurendimento na velhice contributiva, sinalagmática e comutativa, como sói ocorrer a partir do comando expresso no § 5º, doart. 195, da Constituição da República; o qual restaria, inversa unilateralmente desnaturado, em nome da universalidadecontributiva.

Não destoa desse raciocínio aquele esposado pela Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, quando do julgamentodo REsp 1334488/SC, realizado no dia 08 de maio de 2013 sob o regime de recurso repetitivo (art. 543-C do Código deProcesso Civil e RES. n º. 8/2008-STJ). Confira-se:RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSOREPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. DESAPOSENTAÇÃO E REAPOSENTAÇÃO. RENÚNCIA A

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APOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO E POSTERIOR JUBILAMENTO. DEVOLUÇÃO DE VALORES.DESNECESSIDADE.1. Trata-se de Recursos Especiais com intuito, por parte do INSS, de declarar impossibilidade de renúncia a aposentadoriae, por parte do segurado, de dispensa de devolução de valores recebidos de aposentadoria a que pretende abdicar.2. A pretensão do segurado consiste em renunciar à aposentadoria concedida para computar período contributivo utilizado,conjuntamente com os salários de contribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão deposterior e nova aposentação.3. Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seustitulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para aconcessão de novo e posterior jubilamento. Precedentes do STJ.4. Ressalva do entendimento pessoal do Relator quanto à necessidade de devolução dos valores para a reaposentação,conforme votos vencidos proferidos no REsp 1.298.391/RS; nos Agravos Regimentais nos REsps 1.321.667/PR,1.305.351/RS, 1.321.667/PR, 1.323.464/RS, 1.324.193/PR, 1.324.603/RS, 1.325.300/SC, 1.305.738/RS; e no AgRg noAREsp 103.509/PE.5. No caso concreto, o Tribunal de origem reconheceu o direito à desaposentação, mas condicionou posterioraposentadoria ao ressarcimento dos valores recebidos do benefício anterior, razão por que deve ser afastada a imposiçãode devolução.6. Recurso Especial do INSS não provido, e Recurso Especial do segurado provido. Acórdão submetido ao regime do art.543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ.(REsp 1334488/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/05/2013, DJe 14/05/2013).

Nessas condições, conheço do recurso, mas a ele nego provimento.

Sem custas, na forma do art. 4º, inciso I, da Lei nº 9.289, de 4 de julho de 1996. Honorários advocatícios devidos pela parterecorrente, correspondentes a 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, nos moldes do art. 55, segunda parte, daLei nº 9.099/1995 e do art. 1º da Lei nº 10.259/2001.

ACÓRDÃO

Decide a 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Estado do Espírito Santo conhecer dorecurso e a ele negar provimento, na forma da ementa supra integrante do julgado.

Vitória, 19 de março de 2014.

Boaventura João AndradeJuiz Federal – 1º RelatorAssinado eletronicamente

gabd

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10 - 0000123-56.2012.4.02.5053/01 (2012.50.53.000123-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) DORA ALVES DOS SANTOS(ADVOGADO: ES012938 - JOSÉ LUCAS GOMES FERNANDES.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: EUGENIO CANTARINO NICOLAU.).Processo nº. 0000123-56.2012.4.02.5053/01Recorrente: DORA ALVES DOS SANTOSRecorrido: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRelator Original: Juiz Federal BOAVENTURA JOÃO ANDRADERelator para Acórdão: Juiz Federal IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

RECURSO INOMINADO. PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA.1. A autora recorre de sentença que julgou improcedente seu pedido de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez.2. A autora, analfabeta, com 61 anos (fl. 11), auxiliar de serviços gerais em escola particular (fl. 14), recebeu auxílio-doençade 01.01.2003 a 20.01.2003; de 10.07.2008 a 20.10.2008; e de 09.03.2011 a 17.08.2011 (fl. 49).3. Exame eletroneuromiográfico (fl. 40) de 08.09.2011 conclui por perda axonal crônica de leve a moderada no território dasraízes C5 e C6 à direita; exame particular de densitometria óssea (fl. 18) de 28.11.2011 conclui pela baixa densidade ósseada autora.or uma classificação de baixa densidade óssea, de acordo com os critérios utilizados pela OMS.4. O perito do juízo, especialista em ortopedia, verificou em 08.08.2012 (fl. 62-64) que “o teste de ruptura do tendão estavanegativo (tendão está machucado, mas não roto)” e que “Esta patologia dificulta a trabalhar com o ombro elevado, mas aautora relata que trabalha com ombros abaixados (varrendo e etc), e para atividades assim encontra-se apta.” (quesito nº 1– fl. 62). Concluiu que a autora “está apto para a atividade exercida” (quesito nº 6 – fl. 63).5. A autora encontra-se empregada na instituição “Centro de Ensino Cachoeirense Darwin LTDA”, no cargo de auxiliar deserviços gerais (fls. 14 e 49), o que foi considerado prova de sua capacidade laborativa.6. É fato que nem toda doença ou moléstia implica incapacidade para o trabalho. Por outro lado, o pagamento deauxílio-doença pelo INSS não é favor, e sim prestação devida para quem contribuiu para o RGPS. Não é exigível que osegurado com significativa limitação funcional e quadro de dor tenha de continuar trabalhando com esforço dobrado –esforço que prejudica a plena recuperação da sua saúde.7. Se é incontroverso que o tendão do membro superior da autora está machucado, que ela tem mais de 60 anos e suafunção depende de alguma força física nos braços (varrer, carregar peso), justifica-se o deferimento do benefício por algunsmeses para a plena recuperação.8. O fato de, diante do indeferimento, haver continuado a trabalhar, contrariamente à recomendação médica, em prejuízo darecuperação plena de sua saúde, com rendimento abaixo da média é fato que não obsta a procedência do pedido.9. Recurso conhecido e parcialmente provido para condenar o INSS a pagar auxílio-doença em favor da autora desde adata do requerimento administrativo, com correção monetária pelo INPC (art. 41-A da Lei 8.213/1991) e, a contar dacitação, com juros de mora na forma do art. 1º-F da Lei 9.494/1997.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal

FICAM INTIMADAS AS PARTES E SEUS ADVOGADOS DOS ATOS ORDINATÓRIOS/INFORMAÇÕES DA SECRETARIANOS AUTOS ABAIXO RELACIONADOS

11 - 0005040-35.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.005040-4/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ROGERIO RAMOS(ADVOGADO: ES009874 - CARLO ROMAO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANAPAULA BARRETO MONTEIRO ROTHEN.).PROCESSO: 0005040-35.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.005040-4/01)ROGÉRIO RAMOS x INSS

VOTO-EMENTA

1. O autor se insurge contra a interrupção prematura do pagamento de auxílio-doença.2. No curso do processo, novo auxílio-doença foi concedido e cessado, e só depois foi realizada a perícia.3. A perícia realizada em 26/05/2011, logo após a cessação do auxílio-doença (16/05/2011), ratificou a conclusão do INSS,no sentido da recuperação da capacidade laborativa (com limitações funcionais definitivas que não resultam emincapacidade e eventualmente podem justificar o recebimento de auxílio-acidente – benefício de que não se cogita nesteprocesso judicial).4. Entretanto, no período de 11/10/2008 e 05/07/2010 (abrangido pelo pedido), o autor não recebeu auxílio-doença nemtrabalhou. Os documentos de fls. 12 e 15, datados em 31/03/09 e 27/04/09, assumem mais relevância que a conclusão daperícia judicial, por serem contemporâneos à alegada incapacidade (a perícia só foi feita dois anos depois), e convincentes,uma vez que (i) o autor, que sempre trabalhou, não teve vínculo laboral nesse período, (ii) o próprio INSS concedeu logo

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depois novo auxílio-doença em 06/07/2010, com fundamento em incapacidade decorrente da mesma origem, e (iii) adoença em questão – neoplasia maligna que implicou a retirada do pulmão esquerdo – é, por sua natureza, de lentaconvalidação.5. Recurso do autor parcialmente provido para condenar o INSS a pagar auxílio-doença de 11/10/2008 e 05/07/2010,corrigido monetariamente pelo INPC (art. 41-A da Lei 8.213/1991) e, a contar da citação, com juros de mora na forma doart. 1º-F da Lei 9.494/1997.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal

FICAM INTIMADAS AS PARTES E SEUS ADVOGADOS DOS ATOS ORDINATÓRIOS/INFORMAÇÕES DA SECRETARIANOS AUTOS ABAIXO RELACIONADOS

12 - 0010082-36.2007.4.02.5050/01 (2007.50.50.010082-4/01) LEILA GOMES ROCHA (ADVOGADO: ES012411 -MARCELO CARVALHINHO VIEIRA, ES005195E - NEEMIAS DA SILVA, ES004770 - MARIA DA CONCEICAO CHAMUN.)x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: Marcos Figueredo Marçal.).RECURSO Nº 0010082-36.2007.4.02.5050/01 (2007.50.50.010082-4/01)RECORRENTE: LEILA GOMES ROCHARECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. COTA DEFINIDA PELA LEI EM VIGOR NA DATA DO ÓBITO.NECESSIDADE DE INCLUSÃO DA OUTRA PENSIONISTA COMO LITISCONSORTE NECESSÁRIA.1. O segurado-instituidor da pensão por morte desde 08.06.1988.Na data, vigia a Lei 3.807/1960, que fixava o valor da pensão por morte em 50% do valor da aposentadoria recebida pelosegurado-instituidor, acrescida de 10% por dependente, até o máximo de cinco (art. 37).A mesma lei previa que, se houvesse ex-esposa em gozo de pensão alimentícia, o valor da sua cota da pensãocorresponderia ao valor da pensão alimentícia (art. 37, § 2º).Com base nisto, a autora, ex-esposa, que era separada e recebia pensão alimentícia de 40% dos vencimentos (fl. 130),passou a receber 40% da pensão por morte e a companheira-viúva, 60%.2. A autora ajuizou ação para condenar o INSS a majorar a sua cota de 40% para 50%.3. No curso do processo, o INSS disse que, administrativamente, em 31.08.2008, reviu o valor global da pensão por morte,e alterou o valor da cota da autora para 50%.4. A sentença julgou procedente em parte o pedido para condenar o INSS a pagar 50% da pensão à autora desde a data doajuizamento da ação (12.09.2007).5. O INSS não interpôs recurso. A autora recorreu, insurgindo-se contra a diminuição global do valor da pensão.Contrarrazões às fls. 103/106.6. O valor da pensão por morte, bem como a definição das cotas que cabem a cada dependente, são elementos regidospela lei vigente na data do óbito do segurado-instituidor. Leis previdenciárias posteriores que majorem ou reduzam o valorda pensão, ou a forma de rateio desta entre os dependentes, não são aplicáveis, conforme decidiu o STF (RE 416.827 e RE415.454).7. Como apenas a parte autora recorreu, não é possível impor reformatio in pejus.8. Entretanto, a majoração da cota de pensão da autora implica, automaticamente, a redução da cota da outra dependentehabilitada, razão pela qual tem-se situação de litisconsórcio passivo necessário. A ausência de citação da outra pensionistaimplica a anulação da sentença, cabendo ao INSS informar à parte autora o endereço atualizado da outra pensionista paraque a autora possa promover a sua citação.9. Recurso conhecido e, de ofício, a Turma Recursal determina a anulação da sentença. Prejudicado o julgamento domérito do recurso.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal Relator – 3ª Relatoria

13 - 0000504-66.2009.4.02.5054/01 (2009.50.54.000504-5/01) INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: PEDRO INOCENCIO BINDA.) x MARIA APARECIDA MARTINS (ADVOGADO: ES010477 - FABIANOODILON DE BESSA LURETT, ES010835 - ALMIR MELQUIADES DA SILVA.).RECURSO DE SENTENÇA Nº 0000504-66.2009.4.02.5054/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSSRECORRIDO: MARIA APARECIDA MARTINSRELATOR: JUIZ FEDERAL DR. IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

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VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. INCLUSÃO INDEVIDA DE DEPENDENTE POR ERRO IMPUTÁVEL AO INSS.PAGAMENTO AOS DEMAIS PENSIONISTAS DO QUE DEIXARAM DE RECEBER EM VIRTUDE DO ERRO DAAUTARQUIA.1. O benefício de pensão por morte instituído pelo segurado foi desdobrado em três cotas: 1/3 para a autora, companheirado de cujus, 1/3 para o filho da companheira, e 1/3 para a viúva, Ana América Gonçalves Ferreira.2. A cota da pensão paga à viúva Ana América Gonçalves Ferreira foi cessada em 01.03.2009 pelo motivo“CONSTATAÇÃO IRREGULAR./ERRO ADM.”. Nada nos autos esclarece o motivo da cessação, que parece ter decorridoda separação de fato sem manutenção de dependência econômica.3. Constatado o erro administrativo, conclui-se que o rateio da pensão em três foi indevido, de modo que, no período de24.09.2007 a 01.03.2009, a autora deveria haver recebido cota de 50%, não de 33,3%.4. A sentença condenou o INSS a pagar à autora a diferença entre o que recebeu e aquilo que efetivamente lhe era devido.5. O INSS, em recurso, sustenta que a manutenção da sentença implicaria pagamento em duplicidade, pois a autora járecebeu parte da pensão devida no período de 24.09.2007 a 01.03.2009. Contrarrazões às fls. 88/93.6. Recurso do INSS provido apenas para aclarar que deve pagar à autora a diferença entre o que ela já recebeu e o que eradevido (16,66% por mês), no período de 24.09.2007 a 01.03.2009, excluído, portanto, o risco de pagamento emduplicidade.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal Relator

14 - 0001317-76.2007.4.02.5050/01 (2007.50.50.001317-4/01) CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DO E.S. -COREN (ADVOGADO: ES003418 - LAECIO CARLOS GUIMARAES.) x CLAUDINEZ MENEZES MERÇON DE CARVALHO(ADVOGADO: ES004373 - LISLIE VALERIA CORDEIRO DUTRA, ES004964 - HELDER WILLIAM CORDEIRO DUTRA.).RECURSO Nº 0001317-76.2007.4.02.5050/01 (2007.50.50.001317-4/01)RECORRENTE: CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DO E.S. - CORENRECORRIDO: CLAUDINEZ MENEZES MERÇON DE CARVALHORELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS. CONSELHO PROFISSIONAL. ENCAMINHAMENTO DE OFÍCIO AOEMPREGADOR DO PROFISSIONAL COMUNICANDO A EXISTÊNCIA DE ANUIDADES EM ATRASO E SOLICITANDO ASUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABALHO. O ENCAMINHAMENTO AO EMPREGADOR DE OFÍCIO COM LISTA DEPROFISSIONAIS COM PENDÊNCIAS OU EM SITUAÇÃO IRREGULAR EM RELAÇÃO AO CONSELHO É EXERCÍCIOREGULAR DE DIREITO. A AUTORA NÃO COMPROVOU QUE A EMPRESA LHE TERIA ENVIADO OFÍCIOADVERTINDO-A A RESPEITO DE SUA SITUAÇÃO IRREGULAR PERANTE O CONSELHO PROFISSIONAL.

1. Em junho/2006, o COREN/ES encaminhou à UNIMED VITÓRIA um ofício informando a instauração de processoadministrativo em face de alguns profissionais de enfermagem que lhe prestavam serviços, determinando o imediatoafastamento de suas atividades (fl. 95) e, logo depois, um segundo ofício determinando à UNIMED que notificasse seuscolaboradores a fim de que efetuassem a regularização das pendências no órgão de fiscalização profissional.2. Em cumprimento à determinação, a UNIMED encaminhou à parte autora ofício, instruindo-a a regularizar imediatamenteseu registro profissional, sob pena de suspensão do contrato de trabalho por exercício ilegal da profissão, ou mesmodemissão por justa causa (fl. 104).3. A parte autora ajuizou ação indenizatória, por violação ao livre exercício profissional (art. 5°, XIII, da CRFB/1998) e aomeio vexatório de cobrança, com violação da sua privacidade, já que o Conselho de Fiscalização Profissional dispõe daexecução fiscal para cobrar seus créditos.4. A sentença julgou procedente o pedido, condenando a ré a pagar indenização no montante de 60 salários mínimos, jáque o empregador ameaçou a parte autora de demissão pelo simples fato de ter anuidades em atraso.5. O COREN/ES, em seu recurso, alega que a autora, técnica em enfermagem, estaria em situação irregular, o que ensejoua instauração de processo ético-administrativo e início de ação judicial. O registro profissional depende da regularidadefiscal para com o Conselho, de modo que não é ilegal nem abusivo o envio de ofícios à empregadora. Suscitou suspeiçãodo magistrado, por ter dado prioridade ao processo, suprimindo fases processuais e exarando sentença com dezoito laudassem exaurimento do conjunto probatório. Contrarrazões às fls. 252-270.6. Nada nos autos evidencia a alegada parcialidade do magistrado prolator da sentença. Não houve prioridade natramitação do processo, ajuizado em 02.03.2007 e sentenciado apenas em 22.08.2011. Houve observância do rito da Lei10.259/2001 – marcado pela celeridade e pela possibilidade de supressão de fases desnecessárias – com plenoatendimento aos princípios do contraditório e da ampla defesa: a AIJ foi realizada, as partes foram intimadas paraesclarecer fatos e propor acordo.7. “A enfermagem e suas atividades auxiliares somente podem ser exercidas por pessoas legalmente habilitadas e inscritasno Conselho Regional de Enfermagem com jurisdição na área onde ocorre o exercício” (art. 2º da Lei 7.498/1986).8. A parte autora não impugnou o valor das anuidades em atraso, questionando tão-somente o modo vexatório decobrança.9. O fato de os Conselhos de Fiscalização Profissional disporem da possibilidade de ajuizar Execução Fiscal não significaque só possam se valer desse meio. A opção pela execução depende da contratação de advogado para acompanhamento

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do processo – com todo o custo que isso inclui – e sabidamente tem alto índice de insucesso. Desde que não apelem parameios vexatórios, os Conselhos podem, para obter seus créditos fiscais, valer-se de cartas dirigidas ao endereçoprofissional ou residencial, notificações extrajudiciais, inscrição dos devedores em cadastros de inadimplentes etc. Cumpreregistrar que a sobrevivência dos Conselhos depende do regular pagamento das anuidades e que, desprovidos de outrasfontes significativas de renda, lhes cabe buscar formas de cobrança simples e baratas.10. O encaminhamento ao empregador de ofício informando que determinado profissional encontra-se em débito de valorespara com o Conselho caracteriza cobrança abusiva, ensejando a ocorrência de dano moral indenizável. Por outro lado, oencaminhamento ao empregador de ofício com lista de todos os profissionais com pendências ou em situação irregular emrelação ao Conselho (e, portanto, em situação irregular quanto ao exercício da profissão) é exercício regular de direito, semexpor a situação individual de cada um dos profissionais.11. No caso concreto, o COREN/ES encaminhou à UNIMED dois ofícios (fls. 94 e 101). No primeiro, informou osprofissionais em dia com as anuidades, aqueles que aderiram a parcelamento (caso da autora) e aqueles em débito, bemcomo requereu a demissão destes últimos. No segundo ofício, informou ter dilatado o prazo para a regularização dasituação fiscal dos profissionais listados no primeiro ofício, exortando a UNIMED a não compactuar com o exercícioirregular da profissão. O nome da autora, todavia, não constava nessa lista de inadimplentes (fls. 102-103), nem nalistagem de fl. 140, datada em 09.06.2006; apenas a listagem de fls. 142-150, datada em 10.05.2006 (anterior), aponta onome da autora em situação irregular.12. A autora sequer provou ter sido notificada pela UNIMED sobre o risco de demissão: o documento de fl. 14 foi endereçoa outro profissional, não à autora. À fl. 94, a UNIMED/ES informa que não localizou, em seus cadastros, a existência decorrespondência remetida à autora nesse sentido.13. Recurso do COREN/ES conhecido e provido para julgar improcedente o pedido da autora.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

15 - 0000492-61.2009.4.02.5051/01 (2009.50.51.000492-0/01) JULIO BAHIENSE (ADVOGADO: RJ144337 - Maico CezarBaiense Francisco.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: PAULO VICTOR NUNES.).RECURSO Nº 0000492-61.2009.4.02.5051/01RECORRENTE: JÚLIO BAHIENSERECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

ASSISTÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA.

I – ASSISTÊNCIA SOCIAL. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. ART. 20, § 3º, DA LEI 8.742/1993. REQUISITO LEGAL DERENDA PER CAPITA INFERIOR A UM QUARTO DO SALÁRIO MÍNIMO. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA x SÚMULA11/TNU E REsp 1.112.557.1. Regulamentando o art. 203, V, da CRFB/1988, o art. 20 da Lei 8.742/1993 estabeleceu os requisitos para a concessão dobenefício assistencial mensal, os quais têm sido objeto de constante aprimoramento legislativo: as alterações forampromovidas pelas Leis 9.720/1998, 10.741/2003, 12.435/2011, e 12.470/2011.2. A exigência de que a renda per capita do núcleo familiar de quem requer benefício assistencial de prestação continuada– tanto o idoso quanto a pessoa portadora de deficiência física – seja inferior a um quarto do salário mínimo vigente é ocritério legal desde 1993.3. A TNU (Súmula 11) e o STJ (3ª Seção, REsp 1.112.557) admitiam, com base no compromisso constitucional com adignidade da pessoa humana, especialmente no que se refere à garantia das condições básicas de subsistência física, quea delimitação por lei do valor da renda familiar per capita não pode, em face da regra do livre convencimento motivado doJuiz (art. 131 do CPC), ser o único meio de prova da condição de miserabilidade.4. Os argumentos da Fazenda Pública em defesa da estrita observância dos critérios estabelecidos em lei para aconcessão do benefício assistencial de prestação continuada são, em síntese, aqueles apresentados por CRISTIANERODRIGUES IWAKURA no artigo “Interferência do Poder Judiciário na política de Assistência Social” (disponível em<http://jus.com.br/artigos/14952>) e sustentados pelo INSS no julgamento do RE 567.985:a) O objetivo imediato do benefício de prestação continuada é atingir a faixa da população que está em situação de miséria(menos de US$ 1.25 por dia, ou US$ 37.50 por mês), objetivo progressivamente atendido pelo critério legal do art. 20, § 3º,da Lei 8.742/1993, e plenamente cumprido desde 2006, quando o valor do salário mínimo brasileiro estabilizou em patamarsuperior a US$ 150.00.b) Seria positivo se o benefício de prestação continuada englobasse a faixa da população em situação de pobreza (menosde US$ 2.00 por dia, ou US$ 60.00 por mês) – e é certo que, desde 2010, o valor do salário mínimo brasileiro encontra-seem patamar superior a US$ 240.00 –, mas a expansão da abrangência do programa tem de ser gradual: seu crescimentodesordenado consumiria volume extraordinário de recursos indisponíveis, em afronta ao art. 195, § 5º, da CRFB/1988.c) Não há progressiva inconstitucionalização do critério definidor dos destinatários do benefício de prestação continuada,muito pelo contrário: se o parâmetro é um percentual (25%) do salário mínimo, e se o valor do salário mínimo, na últimadécada, cresceu sempre em patamar superior aos índices de inflação, isto significa que o programa assistencial é cada vezmais abrangente.d) O critério de renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo não foi derrogado por leis posteriores, pois cada benefícioassistencial tem um foco específico, uma abrangência diferente, e, por isto, os critérios de delimitação dos beneficiários em

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função da renda familiar variam de um para outro: tanto é assim que aquele foi reafirmado expressamente na Lei12.435/2011.e) A Lei Orgânica de Assistência Social é objeto de contínua atualização, uma vez que cabe ao Legislativo, e não oJudiciário, quantificar os recursos existentes e, no exercício de opção eminentemente política, escolher quais necessidadessociais serão priorizadas, mediante critérios uniformes para racionalizar a distribuição de renda.f) A flexibilização do critério objetivo da lei daria aos Juízes de cada Juizado Especial o poder de fixar, por parâmetrospessoais, não uniformes, uma despesa pública contínua sem prévia fonte de custeio, a implicar desequilíbrio no programade distribuição de renda: se uns que não estavam contemplados passam a ganhar, fatalmente outros que estavamcontemplados ficarão excluídos.g) Se os juízes pudessem concretizar, caso a caso, a regra do art. 203, V, da CRFB/1988, independentemente daintermediação da lei ordinária, o benefício de prestação continuada poderia ser concedido desde 1988; no entanto, o STFsempre decidiu que os miseráveis só teriam direito ao benefício a partir da regulamentação trazida pela Lei 8.742/1993.

II – A DECISÃO DO STF NOS RE 567.985 E RE 580.963. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE, SEMNULIDADE, PARA AS REGRAS QUE ESTABELECEM OS REQUISITOS PARA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DEPRESTAÇÃO CONTINUADA. PROIBIÇÃO DA PROTEÇÃO INSUFICIENTE AOS DESTINATÁRIOS DA NORMA DO ART.203, V, DA CRFB/1988. AUTORIZAÇÃO PARA QUE OS MAGISTRADOS, ATENTOS A SITUAÇÕES PARTICULARES,AFERIDAS CASO A CASO, DISTANCIEM-SE DO CRITÉRIO LEGAL.1. No julgamento do RE 567.985, apenas os Ministros RICARDO LEWANDOWSKI e TEORI ZAVASCKI votaram peloprovimento do recurso interposto pelo INSS, com fundamento nos seguintes argumentos:a) A questão já havia sido decidida pelo STF em definitivo (ADIn 1.232, que afirmou a constitucionalidade do art. 20, § 3º,da Lei 8.742/1993);b) Não houve posterior alteração de fato ou do quadro normativo a autorizar a superação do julgado, tanto assim que ocritério objetivo do benefício assistencial de prestação continuada foi reafirmado expressamente pela Lei 12.435/2011;c) Não é possível falar em “interpretação conforme a Constituição”, porque o próprio art. 203, V, da CRFB/1988, em vez defixar critérios para a concessão de benefício assistencial de prestação continuada, determinou que a lei elegesse oscritérios, dentre vários possíveis, tendo em vista as limitações orçamentárias;d) Todos aqueles beneficiados pelo critério objetivo da Lei 8.742/1993 são miseráveis; inconstitucionalidade haveria apenasse o critério da lei contemplasse quem não está em situação de miséria e deixasse alguns destes de fora;e) O fato de a lei eventualmente incorrer em inconstitucionalidade, por omissão, sem nulidade, por não ter previstoexaustivamente todas as hipóteses de miserabilidade, não autoriza os juízes a interferir em políticas públicas traçadas combase na reserva do possível, pois decidiriam em descompasso com o princípio da legalidade e ampliariam benefícios pagospela Seguridade Social sem fonte de custeio (art. 195, § 5º, da CRFB/1988).2. Em posição intermediária, o Ministro LUIS FUX votou no sentido de, sem deixar de afirmar a insuficiência dos critériosatualmente consagrados pela lei para pagamento do benefício assistencial de prestação continuada, afirmar que o STF nãopode atuar como legislador positivo, nem pode autorizar os juízes a fazê-lo: a concretização de políticas públicas demandadinheiro, e este só pode ser arrecadado e gasto nos termos da lei, razão pela qual a intervenção do Judiciário nesses casosdeveria ser mínima. Acenou em direção ao decidido pela Ministra CARMEN LUCIA na Reclamação 3805, no sentido deque a constitucionalidade do critério do art. 20, § 3º, da Lei 8.7421993 não impedia a prolação de decisões pontuais que, afim de atender à mens legis (conferir renda mínima aos miseráveis), concedessem benefício assistência com base emoutros critérios aferidos no caso concreto. Daí porque votou no sentido de conceder prazo para o legislador corrigir asincongruências da lei e autorizou que, até lá, os juízes pudessem conferir ALGUMA FLEXIBILIDADE à regra (mencionou,como exemplo, a renda per capita que excedia o salário mínimo em meros 5%).4. O Ministro MARCO AURÉLIO votou no sentido de que a renda é um critério insuficiente para aferir miserabilidade, e deque a lei tem de ser interpretada à luz do princípio da proibição da proteção deficiente. Em princípio, disse que aconstatação pelo juiz-intérprete de situação de miserabilidade além daquela prevista no art. 20, § 3º, da Lei 8.742/1993 éEXCEPCIONAL e depende da realização de perícia sócio-econômica. Quanto ao parágrafo único do art. 34 da Lei10.741/2003, considerou que a regra só é constitucional diante da análise do caso concreto: assegurar dois saláriosmínimos a título de benefício de prestação continuada a um mesmo grupo familiar pode, em alguns casos, implicarproteção demasiada, incorrendo em inconstitucionalidade. Além disto, há desproporção no fato de a lei reservar um saláriomínimo para os idosos e não fazê-lo para os deficientes físicos, e é para atuar pontualmente, corrigindo estas distorções,que os juízes devem ser autorizados a agir fora dos limites estritos da LOAS. Como pontuado pelo Ministro CELSO DEMELLO, não obstante a reserva do possível, quando a proteção conferida pelo Estado for insuficiente, os juízes têm algumaliberdade de interferir em políticas públicas, a fim de proteger garantias fundamentais, sem que isto viole a separação dospoderes.5. O Ministro GILMAR MENDES, em seu voto, considerou que o acórdão da ADI 1.232 já apontava a inconstitucionalidadepor omissão parcial, ante o déficit de proteção, sem declaração de nulidade, e que houve inconstitucionalização emdecorrência da evolução dos critérios adotados pela jurisprudência e mesmo de outros critérios adotados por lei para aconcessão de outros benefícios assistenciais: o parâmetro mínimo seria de renda per capita inferior a um quarto do saláriomínimo, e o parâmetro máximo de meio salário mínimo. Apontou a incongruência do art. 34 do Estatuto do Idoso, quepermite excluir um benefício de prestação continuada do cômputo da renda familiar, mas não permite a exclusão de outrosbenefícios (aposentadoria), e não estende o mesmo tratamento para os deficientes: afirmou que o legislador tem liberdadede conformação com base em critérios racionais, mas não com base em arbítrio. Diante disto, sustentou que, no espaçoentre um quarto e meio salário mínimo, os juízes teriam margem para decidir conforme o caso concreto.6. Em conclusão, no que diz respeito à aferição da miserabilidade da parte autora e de sua família, o STF, no julgamento doRE 567.985, sem negar valor ao parâmetro legal objetivo de um quarto salário mínimo, considerou que haverá DIVERSASSITUAÇÕES PARTICULARES, A SEREM AFERIDAS CASO A CASO, em que o critério legal confere PROTEÇÃOINSUFICIENTE a alguns dos destinatários da norma do art. 203, V, da CRFB/1988 – razão pela qual declarou a

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inconstitucionalidade do § 3º do art. 20 da Lei 8.742/1993, sem nulidade da norma, permitindo que, por outros critérios, sejaaferida a imperiosa necessidade do autor quanto ao benefício requerido.7. Com amparo no mesmo fundamento de proibição da PROTEÇÃO INSUFICIENTE, o STF, ao julgar, na mesma ocasião,o RE 580.963, declarou a inconstitucionalidade do parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso, sem nulidade da norma.Conseqüentemente, admitiu a interpretação extensiva para abranger também os idosos que recebam aposentadoria oupensão por morte, reservando-lhe um salário mínimo (a parte do benefício que exceder esse montante pode serconsiderada renda dos demais familiares).

III – O ART. 20 DA LEI 8.742/1993 ALUDE À RENDA BRUTA, NÃO À RENDA LÍQUIDA.1. As despesas ordinárias com água, luz, gás, telefone, vestuário, alimentação e remédios, em regra, não podem sercomputadas para verificação da renda familiar per capita, seja porque a lei não alude a “renda líquida”, seja porque oobjetivo do tratamento assistencial aos idosos e pessoas portadoras de deficiência é justamente assegurar-lhes recursosfinanceiros para fazer frente a tais gastos (especialmente medicamentos e tratamentos médicos em geral). Além disto, oart. 196 da CRFB/1988 impõe ao Estado o dever de prestar atendimento médico gratuitamente, razão pela qual não épossível subtrair da renda familiar os gastos com saúde: em caso de omissão do Poder Público, os interessados podemajuizar ação com vistas à obtenção gratuita do tratamento necessário.2. Em casos excepcionalíssimos, despesas excessivas e justificáveis podem ser consideradas para a configuração damiserabilidade, como, por exemplo, quando a longa distância ou dificuldades geográficas impedem o acesso regular dosinteressados a posto de saúde, ou quando o tratamento necessário não é sequer oferecido e integralmente custeado pelarede pública.

IV – APURAÇÃO DE RENDA PER CAPITA DO NÚCLEO FAMILIAR.1. No que diz respeito à configuração do núcleo familiar, para apuração da renda per capita, o art. 20, § 1º, da Lei8.742/1993 já teve três redações diferentes.a) A primeira, abrangente, considerava família "a unidade mononuclear, vivendo sob o mesmo teto, cuja economia émantida pela contribuição de seus integrantes".b) A segunda, atribuída pela Lei 9.720/1998 passou a considerar família, de forma restritiva, "o conjunto de pessoaselencadas no art. 16 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, desde que vivam sob o mesmo teto", isto é: (i) cônjuge oucompanheiro/a, (ii) filho (e enteado) não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido, (iii) pais, (iv)irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido, e (v) menor tutelado.c) A terceira, em vigor, dada pela Lei 12.435/2011, diz que a família, para os fins da concessão do benefício de prestaçãocontinuada, "é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou opadrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto".Desde a última alteração legislativa, não há mais limite de idade para os filhos (e enteados) e irmãos, passando a serrelevante que sejam solteiros. A enumeração dos integrantes da família não foi inovação significativa, mas facilitou apercepção de que não devem ser computados, para nenhum fim (nem para computar a renda nem para divisão da rendaper capita) os tios, os agregados e os irmãos casados (que já eram excluídos, por parte da jurisprudência, por constituíremnúcleo familiar diverso). Os irmãos, filhos e enteados que vivem em união estável não são solteiros e, ademais,constituíram núcleo familiar diverso (ainda que sob o mesmo teto).2. As três redações do art. 20, § 1º, da Lei 8.742/1993 têm, por princípio, a exclusão do cômputo dos parentes queconstituíram novo núcleo familiar (parentes que vivem sob outro teto, filhos casados etc), pois vinculá-los ao sustento donúcleo originário acarretaria ciclo de perpetuação da pobreza, subtraindo da nova célula os recursos financeirosimprescindíveis a garantir oportunidade de ascensão social das gerações futuras.3. A ressalva do art. 203, V, da CRFB/1988 ("nos termos da lei") não implica cheque em branco para o legislador. Haverácasos específicos em que, verificada a existência de um parente de RENDA ELEVADA, mesmo que casado e sem residirsob o mesmo teto, a interpretação literal do art. 20, § 1º, da Lei 8.742/1993 incorreria em inconstitucionalidade porPROTEÇÃO DEMASIADA: a atuação assistencial do Estado não pode nulificar o dever da família de contribuir para amanutenção digna de seus integrantes (arts. 226 a 230 da CRFB/1988). Por mais que o art. 20, § 1º, da Lei 8.742/1993seja norma especial em relação aos arts. 1.695 a 1.697 do Código Civil, não se pode negar de forma absoluta valor a estes,uma vez que concretizam dever de solidariedade familiar imposto pela Constituição (dever cujo descumprimento constitui aúnica hipótese ensejadora de prisão civil por dívida, nos termos do art. 5º, LXVII, da CRFB/1988 e Lei 5.478/1968).

V – O CASO CONCRETO.1. O autor apresentou dois requerimentos, na via administrativa (29.08.2005, fl. 19, e 16.11.2005, fl. 20), indeferidos sobduplo fundamento: (i) renda per capita da família superior a um quarto do salário-mínimo e (ii) ausência de incapacidadepara o trabalho.2. Por ocasião do ajuizamento da ação, o autor apresentou atestado médico datado em 17.12.2003, subscrito porpsiquiatra, atestando a existência de enfermidade psiquiátrica, com alteração de comportamento, e outro, datado em23.12.2004, também subscrito por um psiquiatra (fl. 18), atestando submissão a tratamento para esquizofrenia paranóide.3. O AUTOR, representado por sua irmã (curadora), ESTÁ INTERDITADO JUDICIALMENTE DESDE 19.08.2005 (fls.13-14), o que faz presumir sua incapacidade.4. No curso do processo, foi deferida antecipação de tutela, revogada na sentença de 14/06/2013 que julgou improcedenteo pedido por não comprovação da incapacidade laboral.5. O recorrente sustentou que a primeira perícia descartou a doença psiquiátrica, mas constatou doença neurológica, e asegunda não pode ser aproveitada, diante da manifestação do perito em audiência, razão pela qual requer nova perícia.Afirma que a renda familiar provém do trabalho informal de sua irmã e de seu cunhado, totalizando R$ 450,00, atendendoao requisito da miserabilidade.6. O Relatório Social de fls. 25-26, realizado em 22.05.2009, relata que o autor residia, à época, em uma casa simples, de

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apenas dois quartos e equipada com móveis bem desgastados, com sua irmã (33 anos de idade, renda de R$ 592,00), omarido desta (38 anos de idade, renda de aproximadamente R$ 200,00, como pescador) e os três filhos menores do casal.Na investigação social, ficou consignado que o autor precisa de auxílio de terceiros para as necessidades básicas e faz usocontínuo de medicação que custa em torno de R$ 110,00 mensais.7. Em consulta ao Cadastro Nacional de Informações Sociais – CNIS, vê-se que a irmã do autor está desempregada desdesetembro/2012 e trabalha informalmente como lavadeira de roupas, recebendo R$ 200,00 por mês, enquanto o maridodesta, pescador, recebe cerca de R$ 250,00, o que já evidencia a miserabilidade.8. Entretanto, antes mesmo de setembro/2012, deve-se ter em conta que a irmã, o marido desta e seus três filhos menorescompõem outra entidade familiar diversa da do autor, cuja renda só obstaria o BPC se fosse vultosa – o que não é nemnunca foi. LOGO, O REQUISITO DA MISERABILIDADE ENCONTRA-SE PLENAMENTE ATENDIDO.9. No que diz respeito à incapacidade para o trabalho, o primeiro laudo pericial (fl. 30), realizado em 18.06.2009, por médicopsiquiatra, concluiu que o autor não apresenta doença psiquiátrica, mas neurológica. A segunda perícia, feita por médiconeurologista, em 23.02.2010 (fls. 57-58), diagnosticou doença psiquiátrica e neurológica e concluiu pela incapacidadedefinitiva para o labor. Contudo, considerando a divergência entre os laudos, o Juiz determinou a confrontação entre osperitos em AIJ, quando o perito neurologista não soube justificar a sua conclusão, pois não procedeu a nenhum exame,baseando-se apenas no histórico médico e nos relatos do periciando. Ato contínuo, o pedido foi julgado improcedente, semdar vez a nova perícia.10. A prolação imediata de sentença de improcedência por falha imputável única e exclusivamente ao segundo perito, semque a segunda perícia – requerida e deferida – tenha sido repetida, bastaria para justificar a anulação daquela.11. Há nos autos atestados médicos juntados pelo autor, datados em 16.11.2010 e 07.12.2010 (fls. 73, 74 e 95), afirmandoque ele seria portador de “esquizofrenia paranóide, apresentando quadro psicótico grave; perda do juízo crítico da realidade,do interesse social e do prazer; comprometimento do afeto e distúrbio do comportamento, destacando inclusive que “o autorrepresenta risco para si e para a mãe (com quem residia)” (fl. 74). O autor foi internado em clínica psiquiátrica por duasvezes nos períodos de 01.07.2011 a 23.07.2011 (fl. 78) e de 20.01.2012 a 03.03.2012 (fl. 120).12. Os atestados particulares e os dois períodos de internação, bem como a inexistência de registro no CNIS de exercíciode qualquer tipo de labor em toda a sua vida confirmam a presunção que decorre da interdição decretada pela JustiçaEstadual com base em perícia psiquiátrica e, por isto, dispensam a anulação da sentença para realização de segundaperícia.13. Recurso do autor provido, para condenar o INSS a conceder o benefício assistencial de prestação continuada desde adata do primeiro requerimento, deferindo-se a antecipação da tutela em função do caráter alimentar do BPC (Súmula729/STF). Após o trânsito em julgado, as parcelas atrasadas deverão ser pagas – descontando-se o que já foi pago a títulode antecipação da tutela – com correção monetária e juros de mora na forma do Manual de Cálculos da Justiça Federal.Sem custas e honorários advocatícios, na forma do artigo 55, caput, da Lei 9.099/1995.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

16 - 0002432-61.2009.4.02.5051/01 (2009.50.51.002432-3/01) ROBSON DA SILVA MARQUES (ADVOGADO: ES013239 -ROBERTA BRAGANÇA ZÓBOLI, ES007070 - WELITON ROGER ALTOE.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGUROSOCIAL - INSS (PROCDOR: JULIANA BARBOSA ANTUNES.) x OS MESMOS.RECURSO Nº 0002432-61.2009.4.02.5051/01RECORRENTE: INSS e ROBSON DA SILVA MARQUESRECORRIDOS: OS MESMOSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

ASSISTÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA.

I – ASSISTÊNCIA SOCIAL. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. ART. 20, § 3º, DA LEI 8.742/1993. REQUISITO LEGAL DERENDA PER CAPITA INFERIOR A UM QUARTO DO SALÁRIO MÍNIMO. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA x SÚMULA11/TNU E REsp 1.112.557.1. Regulamentando o art. 203, V, da CRFB/1988, o art. 20 da Lei 8.742/1993 estabeleceu os requisitos para a concessão dobenefício assistencial mensal, os quais têm sido objeto de constante aprimoramento legislativo: as alterações forampromovidas pelas Leis 9.720/1998, 10.741/2003, 12.435/2011, e 12.470/2011.2. A exigência de que a renda per capita do núcleo familiar de quem requer benefício assistencial de prestação continuada– tanto o idoso quanto a pessoa portadora de deficiência física – seja inferior a um quarto do salário mínimo vigente é ocritério legal desde 1993.3. A TNU (Súmula 11) e o STJ (3ª Seção, REsp 1.112.557) admitiam, com base no compromisso constitucional com adignidade da pessoa humana, especialmente no que se refere à garantia das condições básicas de subsistência física, quea delimitação por lei do valor da renda familiar per capita não pode, em face da regra do livre convencimento motivado doJuiz (art. 131 do CPC), ser o único meio de prova da condição de miserabilidade.4. Os argumentos da Fazenda Pública em defesa da estrita observância dos critérios estabelecidos em lei para aconcessão do benefício assistencial de prestação continuada são, em síntese, aqueles apresentados por CRISTIANERODRIGUES IWAKURA no artigo “Interferência do Poder Judiciário na política de Assistência Social” (disponível em<http://jus.com.br/artigos/14952>) e sustentados pelo INSS no julgamento do RE 567.985:a) O objetivo imediato do benefício de prestação continuada é atingir a faixa da população que está em situação de miséria

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(menos de US$ 1.25 por dia, ou US$ 37.50 por mês), objetivo progressivamente atendido pelo critério legal do art. 20, § 3º,da Lei 8.742/1993, e plenamente cumprido desde 2006, quando o valor do salário mínimo brasileiro estabilizou em patamarsuperior a US$ 150.00.b) Seria positivo se o benefício de prestação continuada englobasse a faixa da população em situação de pobreza (menosde US$ 2.00 por dia, ou US$ 60.00 por mês) – e é certo que, desde 2010, o valor do salário mínimo brasileiro encontra-seem patamar superior a US$ 240.00 –, mas a expansão da abrangência do programa tem de ser gradual: seu crescimentodesordenado consumiria volume extraordinário de recursos indisponíveis, em afronta ao art. 195, § 5º, da CRFB/1988.c) Não há progressiva inconstitucionalização do critério definidor dos destinatários do benefício de prestação continuada,muito pelo contrário: se o parâmetro é um percentual (25%) do salário mínimo, e se o valor do salário mínimo, na últimadécada, cresceu sempre em patamar superior aos índices de inflação, isto significa que o programa assistencial é cada vezmais abrangente.d) O critério de renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo não foi derrogado por leis posteriores, pois cada benefícioassistencial tem um foco específico, uma abrangência diferente, e, por isto, os critérios de delimitação dos beneficiários emfunção da renda familiar variam de um para outro: tanto é assim que aquele foi reafirmado expressamente na Lei12.435/2011.e) A Lei Orgânica de Assistência Social é objeto de contínua atualização, uma vez que cabe ao Legislativo, e não oJudiciário, quantificar os recursos existentes e, no exercício de opção eminentemente política, escolher quais necessidadessociais serão priorizadas, mediante critérios uniformes para racionalizar a distribuição de renda.f) A flexibilização do critério objetivo da lei daria aos Juízes de cada Juizado Especial o poder de fixar, por parâmetrospessoais, não uniformes, uma despesa pública contínua sem prévia fonte de custeio, a implicar desequilíbrio no programade distribuição de renda: se uns que não estavam contemplados passam a ganhar, fatalmente outros que estavamcontemplados ficarão excluídos.g) Se os juízes pudessem concretizar, caso a caso, a regra do art. 203, V, da CRFB/1988, independentemente daintermediação da lei ordinária, o benefício de prestação continuada poderia ser concedido desde 1988; no entanto, o STFsempre decidiu que os miseráveis só teriam direito ao benefício a partir da regulamentação trazida pela Lei 8.742/1993.

II – A DECISÃO DO STF NOS RE 567.985 E RE 580.963. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE, SEMNULIDADE, PARA AS REGRAS QUE ESTABELECEM OS REQUISITOS PARA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DEPRESTAÇÃO CONTINUADA. PROIBIÇÃO DA PROTEÇÃO INSUFICIENTE AOS DESTINATÁRIOS DA NORMA DO ART.203, V, DA CRFB/1988. AUTORIZAÇÃO PARA QUE OS MAGISTRADOS, ATENTOS A SITUAÇÕES PARTICULARES,AFERIDAS CASO A CASO, DISTANCIEM-SE DO CRITÉRIO LEGAL.1. No julgamento do RE 567.985, apenas os Ministros RICARDO LEWANDOWSKI e TEORI ZAVASCKI votaram peloprovimento do recurso interposto pelo INSS, com fundamento nos seguintes argumentos:a) A questão já havia sido decidida pelo STF em definitivo (ADIn 1.232, que afirmou a constitucionalidade do art. 20, § 3º,da Lei 8.742/1993);b) Não houve posterior alteração de fato ou do quadro normativo a autorizar a superação do julgado, tanto assim que ocritério objetivo do benefício assistencial de prestação continuada foi reafirmado expressamente pela Lei 12.435/2011;c) Não é possível falar em “interpretação conforme a Constituição”, porque o próprio art. 203, V, da CRFB/1988, em vez defixar critérios para a concessão de benefício assistencial de prestação continuada, determinou que a lei elegesse oscritérios, dentre vários possíveis, tendo em vista as limitações orçamentárias;d) Todos aqueles beneficiados pelo critério objetivo da Lei 8.742/1993 são miseráveis; inconstitucionalidade haveria apenasse o critério da lei contemplasse quem não está em situação de miséria e deixasse alguns destes de fora;e) O fato de a lei eventualmente incorrer em inconstitucionalidade, por omissão, sem nulidade, por não ter previstoexaustivamente todas as hipóteses de miserabilidade, não autoriza os juízes a interferir em políticas públicas traçadas combase na reserva do possível, pois decidiriam em descompasso com o princípio da legalidade e ampliariam benefícios pagospela Seguridade Social sem fonte de custeio (art. 195, § 5º, da CRFB/1988).2. Em posição intermediária, o Ministro LUIS FUX votou no sentido de, sem deixar de afirmar a insuficiência dos critériosatualmente consagrados pela lei para pagamento do benefício assistencial de prestação continuada, afirmar que o STF nãopode atuar como legislador positivo, nem pode autorizar os juízes a fazê-lo: a concretização de políticas públicas demandadinheiro, e este só pode ser arrecadado e gasto nos termos da lei, razão pela qual a intervenção do Judiciário nesses casosdeveria ser mínima. Acenou em direção ao decidido pela Ministra CARMEN LUCIA na Reclamação 3805, no sentido deque a constitucionalidade do critério do art. 20, § 3º, da Lei 8.7421993 não impedia a prolação de decisões pontuais que, afim de atender à mens legis (conferir renda mínima aos miseráveis), concedessem benefício assistência com base emoutros critérios aferidos no caso concreto. Daí porque votou no sentido de conceder prazo para o legislador corrigir asincongruências da lei e autorizou que, até lá, os juízes pudessem conferir ALGUMA FLEXIBILIDADE à regra (mencionou,como exemplo, a renda per capita que excedia o salário mínimo em meros 5%).4. O Ministro MARCO AURÉLIO votou no sentido de que a renda é um critério insuficiente para aferir miserabilidade, e deque a lei tem de ser interpretada à luz do princípio da proibição da proteção deficiente. Em princípio, disse que aconstatação pelo juiz-intérprete de situação de miserabilidade além daquela prevista no art. 20, § 3º, da Lei 8.742/1993 éEXCEPCIONAL e depende da realização de perícia sócio-econômica. Quanto ao parágrafo único do art. 34 da Lei10.741/2003, considerou que a regra só é constitucional diante da análise do caso concreto: assegurar dois saláriosmínimos a título de benefício de prestação continuada a um mesmo grupo familiar pode, em alguns casos, implicarproteção demasiada, incorrendo em inconstitucionalidade. Além disto, há desproporção no fato de a lei reservar um saláriomínimo para os idosos e não fazê-lo para os deficientes físicos, e é para atuar pontualmente, corrigindo estas distorções,que os juízes devem ser autorizados a agir fora dos limites estritos da LOAS. Como pontuado pelo Ministro CELSO DEMELLO, não obstante a reserva do possível, quando a proteção conferida pelo Estado for insuficiente, os juízes têm algumaliberdade de interferir em políticas públicas, a fim de proteger garantias fundamentais, sem que isto viole a separação dospoderes.

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5. O Ministro GILMAR MENDES, em seu voto, considerou que o acórdão da ADI 1.232 já apontava a inconstitucionalidadepor omissão parcial, ante o deficit de proteção, sem declaração de nulidade, e que houve inconstitucionalização emdecorrência da evolução dos critérios adotados pela jurisprudência e mesmo de outros critérios adotados por lei para aconcessão de outros benefícios assistenciais: o parâmetro mínimo seria de renda per capita inferior a um quarto do saláriomínimo, e o parâmetro máximo de meio salário mínimo. Apontou a incongruência do art. 34 do Estatuto do Idoso, quepermite excluir um benefício de prestação continuada do cômputo da renda familiar, mas não permite a exclusão de outrosbenefícios (aposentadoria), e não estende o mesmo tratamento para os deficientes: afirmou que o legislador tem liberdadede conformação com base em critérios racionais, mas não com base em arbítrio. Diante disto, sustentou que, no espaçoentre um quarto e meio salário mínimo, os juízes teriam margem para decidir conforme o caso concreto.6. Em conclusão, no que diz respeito à aferição da miserabilidade da parte autora e de sua família, o STF, no julgamento doRE 567.985, sem negar valor ao parâmetro legal objetivo de um quarto salário mínimo, considerou que haverá DIVERSASSITUAÇÕES PARTICULARES, A SEREM AFERIDAS CASO A CASO, em que o critério legal confere PROTEÇÃOINSUFICIENTE a alguns dos destinatários da norma do art. 203, V, da CRFB/1988 – razão pela qual declarou ainconstitucionalidade do § 3º do art. 20 da Lei 8.742/1993, sem nulidade da norma, permitindo que, por outros critérios, sejaaferida a imperiosa necessidade do autor quanto ao benefício requerido.7. Com amparo no mesmo fundamento de proibição da PROTEÇÃO INSUFICIENTE, o STF, ao julgar, na mesma ocasião,o RE 580.963, declarou a inconstitucionalidade do parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso, sem nulidade da norma.Conseqüentemente, admitiu a interpretação extensiva para abranger também os idosos que recebam aposentadoria oupensão por morte, reservando-lhe um salário mínimo (a parte do benefício que exceder esse montante pode serconsiderada renda dos demais familiares).

III – O ART. 20 DA LEI 8.742/1993 ALUDE À RENDA BRUTA, NÃO À RENDA LÍQUIDA.1. As despesas ordinárias com água, luz, gás, telefone, vestuário, alimentação e remédios, em regra, não podem sercomputadas para verificação da renda familiar per capita, seja porque a lei não alude a “renda líquida”, seja porque oobjetivo do tratamento assistencial aos idosos e pessoas portadoras de deficiência é justamente assegurar-lhes recursosfinanceiros para fazer frente a tais gastos (especialmente medicamentos e tratamentos médicos em geral). Além disto, oart. 196 da CRFB/1988 impõe ao Estado o dever de prestar atendimento médico gratuitamente, razão pela qual não épossível subtrair da renda familiar os gastos com saúde: em caso de omissão do Poder Público, os interessados podemajuizar ação com vistas à obtenção gratuita do tratamento necessário.2. Em casos excepcionalíssimos, despesas excessivas e justificáveis podem ser consideradas para a configuração damiserabilidade, como, por exemplo, quando a longa distância ou dificuldades geográficas impedem o acesso regular dosinteressados a posto de saúde, ou quando o tratamento necessário não é sequer oferecido e integralmente custeado pelarede pública.

IV – APURAÇÃO DE RENDA PER CAPITA DO NÚCLEO FAMILIAR.1. No que diz respeito à configuração do núcleo familiar, para apuração da renda per capita, o art. 20, § 1º, da Lei8.742/1993 já teve três redações diferentes.a) A primeira, abrangente, considerava família "a unidade mononuclear, vivendo sob o mesmo teto, cuja economia émantida pela contribuição de seus integrantes".b) A segunda, atribuída pela Lei 9.720/1998 passou a considerar família, de forma restritiva, "o conjunto de pessoaselencadas no art. 16 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, desde que vivam sob o mesmo teto", isto é: (i) cônjuge oucompanheiro/a, (ii) filho (e enteado) não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido, (iii) pais, (iv)irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido, e (v) menor tutelado.c) A terceira, em vigor, dada pela Lei 12.435/2011, diz que a família, para os fins da concessão do benefício de prestaçãocontinuada, "é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou opadrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto".Desde a última alteração legislativa, não há mais limite de idade para os filhos (e enteados) e irmãos, passando a serrelevante que sejam solteiros. A enumeração dos integrantes da família não foi inovação significativa, mas facilitou apercepção de que não devem ser computados, para nenhum fim (nem para computar a renda nem para divisão da rendaper capita) os tios, os agregados e os irmãos casados (que já eram excluídos, por parte da jurisprudência, por constituíremnúcleo familiar diverso). Os irmãos, filhos e enteados que vivem em união estável não são solteiros e, ademais,constituíram núcleo familiar diverso (ainda que sob o mesmo teto).2. As três redações do art. 20, § 1º, da Lei 8.742/1993 têm, por princípio, a exclusão do cômputo dos parentes queconstituíram novo núcleo familiar (parentes que vivem sob outro teto, filhos casados etc), pois vinculá-los ao sustento donúcleo originário acarretaria ciclo de perpetuação da pobreza, subtraindo da nova célula os recursos financeirosimprescindíveis a garantir oportunidade de ascensão social das gerações futuras.3. A ressalva do art. 203, V, da CRFB/1988 ("nos termos da lei") não implica cheque em branco para o legislador. Haverácasos específicos em que, verificada a existência de um parente de RENDA ELEVADA, mesmo que casado e sem residirsob o mesmo teto, a interpretação literal do art. 20, § 1º, da Lei 8.742/1993 incorreria em inconstitucionalidade porPROTEÇÃO DEMASIADA: a atuação assistencial do Estado não pode nulificar o dever da família de contribuir para amanutenção digna de seus integrantes (arts. 226 a 230 da CRFB/1988). Por mais que o art. 20, § 1º, da Lei 8.742/1993seja norma especial em relação aos arts. 1.695 a 1.697 do Código Civil, não se pode negar de forma absoluta valor a estes,uma vez que concretizam dever de solidariedade familiar imposto pela Constituição (dever cujo descumprimento constitui aúnica hipótese ensejadora de prisão civil por dívida, nos termos do art. 5º, LXVII, da CRFB/1988 e Lei 5.478/1968).

V – O CASO CONCRETO.1. Autor e réu recorreram da sentença de fls. 65-71, que julgou parcialmente procedente o pedido para condenar o INSS apagar benefício assistencial de prestação contínua.

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O INSS sustentou que o requisito de miserabilidade não foi atendido, destacando que o salário do pai do autor implica rendaper capita superior a um quarto do salário-mínimo. A título de prequestionamento, suscitou violação aos arts. 2°, 44, 194,parágrafo único, II, 195, § 5°, e 203, V, da CRFB/1988, bem como ao art. 20, §§ 2° e 3° da Lei 8.742/1993 e art. 34,parágrafo único, da Lei 10.741/2003.O autor, por sua vez, alega que a DIB deve retroagir ao momento do requerimento administrativo, uma vez que, à época, jápreenchia todos os requisitos para usufruir o benefício pleiteado.2. O requerimento administrativo foi indeferido porque a renda familiar estaria acima do limite legal (fl. 25).O Relatório Social de fls. 54-59, realizado em 19.03.2010, relata que o autor residia, à época, com seu pai ROBSONNOGUEIRA MARQUES (33 anos de idade, agropecuarista, renda de R$ 522,00) e sua mãe (42 anos de idade), e que afamília viveria em estado de vulnerabilidade social. Os vínculos do pai do autor correspondem ao período de 06.04.2004 a05.11.2011 e desde 01.08.2013, sempre com remuneração de um salário mínimo.3. É incontroverso que, entre 06.11.2011 e 30.07.2013, enquanto o pai do autor esteve desempregado, a renda da famíliaestava abaixo do limite legal para recebimento de BPC. Entretanto, mesmo entre a data do requerimento (28.01.2009) e05.11.2011, e de 01.08.2013 em diante, a renda per capita de um terço do salário mínimo autoriza o recebimento dobenefício, pois o autor depende de medicamentos de alto custo não disponibilizados pelo ente público, utiliza fraldasdescartáveis e precisa se locomover de ônibus para o centro urbano constantemente para tratamento médico.4. Recurso da parte autora provido para retroagir a DIB à data do requerimento administrativo. Recurso do INSSdesprovido, condenando-o ao pagamento de honorários de 10% sobre o valor da causa.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

17 - 0000226-08.2008.4.02.5052/02 (2008.50.52.000226-5/02) INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: THIAGO DE ALMEIDA RAUPP.) x VERA LUCIA RAIDIMA (ADVOGADO: ES008522 - EDGARD VALLE DESOUZA.).RECURSO Nº 0000226-08.2008.4.02.5052/02RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSSRECORRIDO: VERA LÚCIA RAIDIMARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. TRABALHADORA RURAL. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. AUXÍLIO-DOENÇA.1. O INSS recorreu da sentença que o condenou a conceder à autora aposentadoria por invalidez. O recorrente sustentaque a autora se encontra incapacitada apenas para atividades que exijam esforço físico, consoante relatos da períciajudicial de fls. 38-43. Contrarrazões às fls. 158-189.2. A recorrida, trabalhadora rural, atualmente com 38 anos de idade, alega não possuir capacidade para exercer suasatividades laborais por seqüela de cirurgia realizada após diagnóstico de câncer de mama, encontrando-se ainda emtratamento oncológico. Nunca gozou auxílio-doença. A aposentadoria por invalidez foi concedida na sentença com DIB em03/08/2007 (data do requerimento administrativo).3. A primeira perícia realizada em 26.11.2008, conforme fl. 33, atestou que a autora tem seqüelas em razão de cirurgiatardia de quadrandectomia esquerda realizada em 10.07.2007, que, todavia, não induziriam à incapacidade laborativa. Asegunda perícia judicial, por sua vez, realizada em 19.02.2009, constatou que a autora, em 18.06.2007, foi acometida decâncer de mama à direita e que, em razão disso, estaria total e definitivamente incapaz para exercer as suas atividadeslaborais habituais. Assim consignou o expert: “A autora era trabalhadora braçal polivalente, lidava com exposição solarexcessiva e trabalho braçal que exige força física e resistência. Com as cirurgias realizadas, ela teve o músculo peitoraldireito retirado, além da mama direita e toda estrutura linfática relacionada à mama. Além da diminuição de força nomembro superior direito, pela ressecção muscular, há uma predisposição para edemas no membro superior, devido àsdificuldades do retorno linfático. Atividades que exigem força podem provocar este edema. Além disso, o trabalho rural podefavorecer, com uma maior freqüência, ferimento se infecções no membro superior direito, complicando ainda mais o quadroclínico da autora. Por esses motivos, a autora está incapaz para as atividades de origem”. O perito fixou a data de início daincapacidade em 10.07.2007.4. O laudo médico particular acostado à fl. 15, emitido em 10.07.2007, atesta que a autora seria portadora de neoplasiamaligna e que estaria em tratamento oncológico por cinco anos. O outro laudo médico particular acostado à fl. 34, emitidoem 26.08.2008, por seu turno, constata que a autora, em razão da moléstia e do tratamento oncológico, apresentava deficitfuncional e motor do braço e ombro direito.5. Com base no laudo médico, e na demora inerente à recuperação da cirurgia e do tratamento oncológico, admite-se quehavia situação de incapacidade de longa duração – até 10.07.2012 – mas não necessariamente definitiva.6. O perito atestou a força muscular diminuída e com limitação de alguns movimentos do membro superior direito, tendodificuldade até para realizar atividade doméstica básica, como varrer a casa (fl. 38). O perito judicial foi bem claro aodeclarar que haveria uma predisposição para edemas no membro superior, devido às dificuldades do retorno linfático e queas atividades que exigem força podem provocar esses edemas. É fato que a consolidação da lesão implicará reduçãopermanente da capacidade laborativa da parte autora, fato que pode ensejar a percepção, mediante requerimento, deauxílio-acidente após eventual cessação do benefício, o que não significa que haja incapacidade total e permanente.7. Por mais que a redução da força física nos braços diminua as oportunidades de labor rural, a aposentadoria por invalidezde pessoa com menos de 40 anos é medida excepcional que não se justifica quando os laudos médicos não afirmam aincapacidade total e definitiva.

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8. Ao longo do último semestre, os julgados desta Primeira Turma Recursal, por não reconhecimento de incapacidade totale definitiva, deixaram de deferir aposentadoria por invalidez e, em alguns casos, deixaram de reconhecer mesmo direito àprorrogação de auxílio-doença a seguradas urbanas de mesma faixa etária ou superior – faxineiras, zeladoras, cozinheiras.Por questão de coerência, não é justo que estas seguradas – todas com histórico contributivo mais significativo que aquelede trabalhadora rural – sejam tratadas com mais rigor, por mera suposição de que o trabalho de uma cozinheira ou de umafaxineira seria menos extenuante que a atividade agrícola.9. Recurso do INSS provido em parte para que seja condenado a pagar auxílio-doença – e não aposentadoria por invalidez– desde 03/08/2007, cabendo-lhe aferir, na via administrativa, o estado atual de saúde da autora. Em caso de eventualcessação do pagamento do benefício, a autarquia deverá antes avaliar se é caso de readaptação bem como o cabimentoou não de auxílio-acidente. Isenção de custas. Sem condenação em honorários advocatícios, ante o provimento parcial dorecurso.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator

18 - 0000327-16.2006.4.02.5052/01 (2006.50.52.000327-3/01) INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: RODRIGO STEPHAN DE ALMEIDA.) x SHIRLENE AGUILAR MONTEIRO (REPRESENTADA PORROSIMEIRE AGUILAR) (ADVOGADO: ES007025 - ADENILSON VIANA NERY.).RECURSO Nº 0000327-16.2006.4.02.5052/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO NACIONAL - INSSRECORRIDO: SHIRLENE AGUILAR MONTEIRORELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

ASSISTÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA.I – ASSISTÊNCIA SOCIAL. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. ART. 20, § 3º, DA LEI 8.742/1993. REQUISITO LEGAL DERENDA PER CAPITA INFERIOR A UM QUARTO DO SALÁRIO MÍNIMO. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA x SÚMULA11/TNU E REsp 1.112.557.1. Regulamentando o art. 203, V, da CRFB/1988, o art. 20 da Lei 8.742/1993 estabeleceu os requisitos para a concessão dobenefício assistencial mensal, os quais têm sido objeto de constante aprimoramento legislativo: as alterações forampromovidas pelas Leis 9.720/1998, 10.741/2003, 12.435/2011, e 12.470/2011.2. A exigência de que a renda per capita do núcleo familiar de quem requer benefício assistencial de prestação continuada– tanto o idoso quanto a pessoa portadora de deficiência física – seja inferior a um quarto do salário mínimo vigente é ocritério legal desde 1993.3. A TNU (Súmula 11) e o STJ (3ª Seção, REsp 1.112.557) admitiam, com base no compromisso constitucional com adignidade da pessoa humana, especialmente no que se refere à garantia das condições básicas de subsistência física, quea delimitação por lei do valor da renda familiar per capita não pode, em face da regra do livre convencimento motivado doJuiz (art. 131 do CPC), ser o único meio de prova da condição de miserabilidade.4. Os argumentos da Fazenda Pública em defesa da estrita observância dos critérios estabelecidos em lei para aconcessão do benefício assistencial de prestação continuada são, em síntese, aqueles apresentados por CRISTIANERODRIGUES IWAKURA no artigo “Interferência do Poder Judiciário na política de Assistência Social” (disponível em<http://jus.com.br/artigos/14952>) e sustentados pelo INSS no julgamento do RE 567.985:a) O objetivo imediato do benefício de prestação continuada é atingir a faixa da população que está em situação de miséria(menos de US$ 1.25 por dia, ou US$ 37.50 por mês), objetivo progressivamente atendido pelo critério legal do art. 20, § 3º,da Lei 8.742/1993, e plenamente cumprido desde 2006, quando o valor do salário mínimo brasileiro estabilizou em patamarsuperior a US$ 150.00.b) Seria positivo se o benefício de prestação continuada englobasse a faixa da população em situação de pobreza (menosde US$ 2.00 por dia, ou US$ 60.00 por mês) – e é certo que, desde 2010, o valor do salário mínimo brasileiro encontra-seem patamar superior a US$ 240.00 –, mas a expansão da abrangência do programa tem de ser gradual: seu crescimentodesordenado consumiria volume extraordinário de recursos indisponíveis, em afronta ao art. 195, § 5º, da CRFB/1988.c) Não há progressiva inconstitucionalização do critério definidor dos destinatários do benefício de prestação continuada,muito pelo contrário: se o parâmetro é um percentual (25%) do salário mínimo, e se o valor do salário mínimo, na últimadécada, cresceu sempre em patamar superior aos índices de inflação, isto significa que o programa assistencial é cada vezmais abrangente.d) O critério de renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo não foi derrogado por leis posteriores, pois cada benefícioassistencial tem um foco específico, uma abrangência diferente, e, por isto, os critérios de delimitação dos beneficiários emfunção da renda familiar variam de um para outro: tanto é assim que aquele foi reafirmado expressamente na Lei12.435/2011.e) A Lei Orgânica de Assistência Social é objeto de contínua atualização, uma vez que cabe ao Legislativo, e não oJudiciário, quantificar os recursos existentes e, no exercício de opção eminentemente política, escolher quais necessidadessociais serão priorizadas, mediante critérios uniformes para racionalizar a distribuição de renda.f) A flexibilização do critério objetivo da lei daria aos Juízes de cada Juizado Especial o poder de fixar, por parâmetrospessoais, não uniformes, uma despesa pública contínua sem prévia fonte de custeio, a implicar desequilíbrio no programade distribuição de renda: se uns que não estavam contemplados passam a ganhar, fatalmente outros que estavamcontemplados ficarão excluídos.g) Se os juízes pudessem concretizar, caso a caso, a regra do art. 203, V, da CRFB/1988, independentemente da

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intermediação da lei ordinária, o benefício de prestação continuada poderia ser concedido desde 1988; no entanto, o STFsempre decidiu que os miseráveis só teriam direito ao benefício a partir da regulamentação trazida pela Lei 8.742/1993.II – A DECISÃO DO STF NOS RE 567.985 E RE 580.963. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE, SEMNULIDADE, PARA AS REGRAS QUE ESTABELECEM OS REQUISITOS PARA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DEPRESTAÇÃO CONTINUADA. PROIBIÇÃO DA PROTEÇÃO INSUFICIENTE AOS DESTINATÁRIOS DA NORMA DO ART.203, V, DA CRFB/1988. AUTORIZAÇÃO PARA QUE OS MAGISTRADOS, ATENTOS A SITUAÇÕES PARTICULARES,AFERIDAS CASO A CASO, DISTANCIEM-SE DO CRITÉRIO LEGAL.1. No julgamento do RE 567.985, apenas os Ministros RICARDO LEWANDOWSKI e TEORI ZAVASCKI votaram peloprovimento do recurso interposto pelo INSS, com fundamento nos seguintes argumentos:a) A questão já havia sido decidida pelo STF em definitivo (ADIn 1.232, que afirmou a constitucionalidade do art. 20, § 3º,da Lei 8.742/1993);b) Não houve posterior alteração de fato ou do quadro normativo a autorizar a superação do julgado, tanto assim que ocritério objetivo do benefício assistencial de prestação continuada foi reafirmado expressamente pela Lei 12.435/2011;c) Não é possível falar em “interpretação conforme a Constituição”, porque o próprio art. 203, V, da CRFB/1988, em vez defixar critérios para a concessão de benefício assistencial de prestação continuada, determinou que a lei elegesse oscritérios, dentre vários possíveis, tendo em vista as limitações orçamentárias;d) Todos aqueles beneficiados pelo critério objetivo da Lei 8.742/1993 são miseráveis; inconstitucionalidade haveria apenasse o critério da lei contemplasse quem não está em situação de miséria e deixasse alguns destes de fora;e) O fato de a lei eventualmente incorrer em inconstitucionalidade, por omissão, sem nulidade, por não ter previstoexaustivamente todas as hipóteses de miserabilidade, não autoriza os juízes a interferir em políticas públicas traçadas combase na reserva do possível, pois decidiriam em descompasso com o princípio da legalidade e ampliariam benefícios pagospela Seguridade Social sem fonte de custeio (art. 195, § 5º, da CRFB/1988).2. Em posição intermediária, o Ministro LUIS FUX votou no sentido de, sem deixar de afirmar a insuficiência dos critériosatualmente consagrados pela lei para pagamento do benefício assistencial de prestação continuada, afirmar que o STF nãopode atuar como legislador positivo, nem pode autorizar os juízes a fazê-lo: a concretização de políticas públicas demandadinheiro, e este só pode ser arrecadado e gasto nos termos da lei, razão pela qual a intervenção do Judiciário nesses casosdeveria ser mínima. Acenou em direção ao decidido pela Ministra CARMEN LUCIA na Reclamação 3805, no sentido deque a constitucionalidade do critério do art. 20, § 3º, da Lei 8.7421993 não impedia a prolação de decisões pontuais que, afim de atender à mens legis (conferir renda mínima aos miseráveis), concedessem benefício assistência com base emoutros critérios aferidos no caso concreto. Daí porque votou no sentido de conceder prazo para o legislador corrigir asincongruências da lei e autorizou que, até lá, os juízes pudessem conferir ALGUMA FLEXIBILIDADE à regra (mencionou,como exemplo, a renda per capita que excedia o salário mínimo em meros 5%).4. O Ministro MARCO AURÉLIO votou no sentido de que a renda é um critério insuficiente para aferir miserabilidade, e deque a lei tem de ser interpretada à luz do princípio da proibição da proteção deficiente. Em princípio, disse que aconstatação pelo juiz-intérprete de situação de miserabilidade além daquela prevista no art. 20, § 3º, da Lei 8.742/1993 éEXCEPCIONAL e depende da realização de perícia sócio-econômica. Quanto ao parágrafo único do art. 34 da Lei10.741/2003, considerou que a regra só é constitucional diante da análise do caso concreto: assegurar dois saláriosmínimos a título de benefício de prestação continuada a um mesmo grupo familiar pode, em alguns casos, implicarproteção demasiada, incorrendo em inconstitucionalidade. Além disto, há desproporção no fato de a lei reservar um saláriomínimo para os idosos e não fazê-lo para os deficientes físicos, e é para atuar pontualmente, corrigindo estas distorções,que os juízes devem ser autorizados a agir fora dos limites estritos da LOAS. Como pontuado pelo Ministro CELSO DEMELLO, não obstante a reserva do possível, quando a proteção conferida pelo Estado for insuficiente, os juízes têm algumaliberdade de interferir em políticas públicas, a fim de proteger garantias fundamentais, sem que isto viole a separação dospoderes.5. O Ministro GILMAR MENDES, em seu voto, considerou que o acórdão da ADI 1.232 já apontava a inconstitucionalidadepor omissão parcial, ante o déficit de proteção, sem declaração de nulidade, e que houve inconstitucionalização emdecorrência da evolução dos critérios adotados pela jurisprudência e mesmo de outros critérios adotados por lei para aconcessão de outros benefícios assistenciais: o parâmetro mínimo seria de renda per capita inferior a um quarto do saláriomínimo, e o parâmetro máximo de meio salário mínimo. Apontou a incongruência do art. 34 do Estatuto do Idoso, quepermite excluir um benefício de prestação continuada do cômputo da renda familiar, mas não permite a exclusão de outrosbenefícios (aposentadoria), e não estende o mesmo tratamento para os deficientes: afirmou que o legislador tem liberdadede conformação com base em critérios racionais, mas não com base em arbítrio. Diante disto, sustentou que, no espaçoentre um quarto e meio salário mínimo, os juízes teriam margem para decidir conforme o caso concreto.6. Em conclusão, no que diz respeito à aferição da miserabilidade da parte autora e de sua família, o STF, no julgamento doRE 567.985, sem negar valor ao parâmetro legal objetivo de um quarto salário mínimo, considerou que haverá DIVERSASSITUAÇÕES PARTICULARES, A SEREM AFERIDAS CASO A CASO, em que o critério legal confere PROTEÇÃOINSUFICIENTE a alguns dos destinatários da norma do art. 203, V, da CRFB/1988 – razão pela qual declarou ainconstitucionalidade do § 3º do art. 20 da Lei 8.742/1993, sem nulidade da norma, permitindo que, por outros critérios, sejaaferida a imperiosa necessidade do autor quanto ao benefício requerido.7. Com amparo no mesmo fundamento de proibição da PROTEÇÃO INSUFICIENTE, o STF, ao julgar, na mesma ocasião,o RE 580.963, declarou a inconstitucionalidade do parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso, sem nulidade da norma.Conseqüentemente, admitiu a interpretação extensiva para abranger também os idosos que recebam aposentadoria oupensão por morte, reservando-lhe um salário mínimo (a parte do benefício que exceder esse montante pode serconsiderada renda dos demais familiares).III – O ART. 20 DA LEI 8.742/1993 ALUDE À RENDA BRUTA, NÃO À RENDA LÍQUIDA.1. As despesas ordinárias com água, luz, gás, telefone, vestuário, alimentação e remédios, em regra, não podem sercomputadas para verificação da renda familiar per capita, seja porque a lei não alude a “renda líquida”, seja porque oobjetivo do tratamento assistencial aos idosos e pessoas portadoras de deficiência é justamente assegurar-lhes recursos

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financeiros para fazer frente a tais gastos (especialmente medicamentos e tratamentos médicos em geral). Além disto, oart. 196 da CRFB/1988 impõe ao Estado o dever de prestar atendimento médico gratuitamente, razão pela qual não épossível subtrair da renda familiar os gastos com saúde: em caso de omissão do Poder Público, os interessados podemajuizar ação com vistas à obtenção gratuita do tratamento necessário.2. Em casos excepcionalíssimos, despesas excessivas e justificáveis podem ser consideradas para a configuração damiserabilidade, como, por exemplo, quando a longa distância ou dificuldades geográficas impedem o acesso regular dosinteressados a posto de saúde, ou quando o tratamento necessário não é sequer oferecido e integralmente custeado pelarede pública.IV – APURAÇÃO DE RENDA PER CAPITA DO NÚCLEO FAMILIAR.1. No que diz respeito à configuração do núcleo familiar, para apuração da renda per capita, o art. 20, § 1º, da Lei8.742/1993 já teve três redações diferentes.a) A primeira, abrangente, considerava família "a unidade mononuclear, vivendo sob o mesmo teto, cuja economia émantida pela contribuição de seus integrantes".b) A segunda, atribuída pela Lei 9.720/1998 passou a considerar família, de forma restritiva, "o conjunto de pessoaselencadas no art. 16 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, desde que vivam sob o mesmo teto", isto é: (i) cônjuge oucompanheiro/a, (ii) filho (e enteado) não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido, (iii) pais, (iv)irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido, e (v) menor tutelado.c) A terceira, em vigor, dada pela Lei 12.435/2011, diz que a família, para os fins da concessão do benefício de prestaçãocontinuada, "é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou opadrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto".Desde a última alteração legislativa, não há mais limite de idade para os filhos (e enteados) e irmãos, passando a serrelevante que sejam solteiros. A enumeração dos integrantes da família não foi inovação significativa, mas facilitou apercepção de que não devem ser computados, para nenhum fim (nem para computar a renda nem para divisão da rendaper capita) os tios, os agregados e os irmãos casados (que já eram excluídos, por parte da jurisprudência, por constituíremnúcleo familiar diverso). Os irmãos, filhos e enteados que vivem em união estável não são solteiros e, ademais,constituíram núcleo familiar diverso (ainda que sob o mesmo teto).2. As três redações do art. 20, § 1º, da Lei 8.742/1993 têm, por princípio, a exclusão do cômputo dos parentes queconstituíram novo núcleo familiar (parentes que vivem sob outro teto, filhos casados etc), pois vinculá-los ao sustento donúcleo originário acarretaria ciclo de perpetuação da pobreza, subtraindo da nova célula os recursos financeirosimprescindíveis a garantir oportunidade de ascensão social das gerações futuras.3. A ressalva do art. 203, V, da CRFB/1988 ("nos termos da lei") não implica cheque em branco para o legislador. Haverácasos específicos em que, verificada a existência de um parente de RENDA ELEVADA, mesmo que casado e sem residirsob o mesmo teto, a interpretação literal do art. 20, § 1º, da Lei 8.742/1993 incorreria em inconstitucionalidade porPROTEÇÃO DEMASIADA: a atuação assistencial do Estado não pode nulificar o dever da família de contribuir para amanutenção digna de seus integrantes (arts. 226 a 230 da CRFB/1988). Por mais que o art. 20, § 1º, da Lei 8.742/1993seja norma especial em relação aos arts. 1.695 a 1.697 do Código Civil, não se pode negar de forma absoluta valor a estes,uma vez que concretizam dever de solidariedade familiar imposto pela Constituição (dever cujo descumprimento constitui aúnica hipótese ensejadora de prisão civil por dívida, nos termos do art. 5º, LXVII, da CRFB/1988 e Lei 5.478/1968).V – O CASO CONCRETO.1. O INSS recorreu da sentença de fls. 65-71 que o condenou a pagar benefício assistencial de prestação contínua à parteautora.O recorrente sustentou que o requisito de miserabilidade não foi atendido, destacando que a renda do irmão da autora deveser considerada para fins de composição do núcleo familiar.A título de prequestionamento, suscitou violação aos arts. 2°, 44, 194, parágrafo único, II, 195, § 5°, e 203, V, daCRFB/1988, bem como ao art. 20, §§ 2° e 3° da Lei 8.742/1993.Contrarrazões às fls. 93-94.2. O Relatório Social de fls. 29-32, realizado em 02.11.2008, revela que a autora residia, à época, com o seu pai LUIZANTÔNIO LEITE MONTEIRO (atualmente com 44 anos de idade), a sua mãe ROSIMEIRE AGUILAR (atualmente com 37anos de idade), e seus irmãos LUIZ CARLOS AGUILAR MONTEIRO (atualmente com 22 anos de idade), REGINAAGUILAR MONTEIRO (atualmente com 21 anos de idade) e RAPHAELE AGUILAR MONTEIRO (atualmente com 17 anos).Consignou a assistente social que a renda familiar provém do trabalho do pai (um salário mínimo mensal) e do benefícioassistencial de prestação continuada recebido pelo irmão LUIZ CARLOS (um salário mínimo mensal).A investigação social também consignou que dois dos irmãos da parte autora também apresentavam deficiência mental emotora.3. A família tem seis integrantes, e três dos quatro filhos têm deficiência mental e motora. Neste contexto, os doissalários-mínimos recebidos (salário do pai e BPC do irmão LUIZ CARLOS) fazem com que a renda per capita seja de umterço do salário-mínimo.4. A concessão de um novo BPC para a parte autora elevaria a renda da família para três salários-mínimos, ou renda percapita de meio salário mínimo. Esta medida estaria dentro do limite expressamente admitido no voto do Ministro GILMARMENDES e se justificaria com base em extensão da regra do parágrafo único do art. 34 da Lei 10.741/2003 para beneficiarnão só os idosos como também – de igual forma – os deficientes.5. A sentença e este acórdão se amparam nos fundamentos adotados pelo STF (RE 567.985 e RE 580.963), razão pelaqual não ocorre violação aos arts. 2º, 44, 194, parágrafo único, II, 195, § 5°, 203, V, da CRFB/1988, nos termos dainterpretação que lhes foi conferida pela Suprema Corte.6. Recurso do INSS desprovido. Sem custas (art. 4º, I, da Lei 9.289/1996). Condenação do recorrente ao pagamento dehonorários advocatícios de 10% sobre o valor do principal.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

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Juiz Federal – 3º Juiz Relator

19 - 0001344-93.2006.4.02.5050/02 (2006.50.50.001344-3/02) INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOSRECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS - IBAMA (PROCDOR: MARCELA BRAVIN BASSETTO.) x THAÍS GUIMARÃESBADARÓ E OUTRO (ADVOGADO: ES005104 - JOSE ANIBAL GONCALVES JUNIOR.).RECURSO Nº 0001344-93.2006.4.02.5050/02 (2006.50.50.001344-3/02)RECORRENTE: IBAMARECORRIDO: THAÍS GUIMARÃES BADARÓRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

GUARDA DE ANIMAL SILVESTRE. INTERPRETAÇÃO DA NORMA AMBIENTAL. PARTICULARIDADE DO CASOCONCRETO.1. Em 17/02/2006, o IBAMA expediu o Termo de Apreensão e Depósito 384048 (Série C) de papagaio chauá. Em15/03/2006, foi ajuizada ação visando a manter a guarda da ave.A sentença julgou procedente o pedido, mantendo a autora na posse e guarda do papagaio, independentemente dosrequisitos para enquadramento como “mantenedora da fauna”.Em recurso, o IBAMA argüiu a incompetência do JEF para a anulação de ato administrativo e, no mérito, sustenta que alegislação condiciona a manutenção de espécimes silvestres em cativeiro ao registro de criador e à apresentação dedocumentação concernente à origem do animal.Sem contrarrazões.I – COMPETÊNCIA DO JEF. ART. 3º, § 1º, III, DA LEI 10.259/2001.1. A vedação do art. 3º, § 1º, III, da Lei 10.259/2001 se dirige aos pleitos de anulação de atos concretos, específicos e decaráter individual: não se aplica aos casos em que a procedência do pedido apenas implique a desconsideração, por viareflexa, de ato administrativo geral e abstrato (norma administrativa).2. A autora requereu, em 2003, a regularização da posse da ave, sem obter resposta do IBAMA. Mesmo que não hajapleno cumprimento dos requisitos para enquadramento como “mantenedora da fauna”, vê-se que a autora não manteve aposse da ave em segredo e buscou, como leiga, obter orientação do IBAMA a respeito da regularização da situação.3. O pedido visa a dar efeito positivo ao requerimento formulado em 2003 e só por via indireta tende à anulação do atoadministrativo de apreensão. Além disto, uma vez que o ato impugnado não fez menção ao requerimento de regularizaçãoda posse formalizado três anos antes, e não avaliou as peculiaridades do caso concreto (longo tempo de manutenção dopapagaio em cativeiro, dificuldade – com risco de vida – de reinserção da ave em seu habitat natural), limitando-se adeterminar a apreensão por não cumprimento dos requisitos legais, não tem a concretude exigida para excluir acompetência do JEF.II – PROTEÇÃO À FAUNA. MANUTENÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES EM CATIVEIRO. PROBLEMA CULTURAL.1. Para assegurar a efetividade do direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, incumbe ao PoderPúblico proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade (art. 225, § 1º, VII, da CRFB/1988).2. Em regra, “Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente forado cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são propriedades doEstado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha” (art. 1º da Lei 5.197/1967). Entretanto,nos termos do art. 9º da Lei 5.197/1967, observados os requisitos legais, “poderão ser capturados e mantidos em cativeiro,espécimes da fauna silvestre”.3. O art. 29 da Lei 9.605/1998 reputa crime a conduta de ter em cativeiro animal silvestre, enquanto o § 2º estatui que, “Nocaso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando ascircunstâncias, deixar de aplicar a pena”. A mesma conduta constitui infração administrativa, na forma dos arts. 70-72 daLei 9.605/1998, infração à qual se aplica, por analogia, a regra do art. 29, § 2º (art. 24, § 4º, do Decreto 6.514/2008). Emcaso de entrega espontânea do animal silvestre, mesmo ameaçado de extinção, a autoridade administrativa está autorizadaa não impor sanção (art. 24, § 5º, do Decreto 6.514/2008).4. Em caso de captura ilegal, impõe-se ao IBAMA a apreensão para posterior libertação do animal em seu habitat ouentrega a jardins zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas, desde que fiquem sob a responsabilidade de técnicoshabilitados (art. 25 da Lei 9.605/1998).5. O art. 29, § 2º, da Lei 9.605/1998 e o art. 24, §§ 4º e 5º, do Decreto 6.514/2008 evidenciam o reconhecimento pelolegislador de triste problema cultural, qual seja, o mau hábito de manter animais silvestres em cativeiro doméstico.Prudente é a concessão, pela lei, ao administrador – e ao juiz – de, observadas as peculiaridades de cada caso, paraminorar ou afastar sanções.III – O CASO CONCRETO.1. O papagaio chauá é ave ameaçada de extinção.2. A família da autora apenas possui este único papagaio, não havendo indícios de comércio de animais.3. Não houve maus tratos, e sim relação afetiva com a ave.4. A autora, que tinha doze anos de idade na data de ajuizamento da ação (2006), já convivia com o papagaio há mais decinco anos. O laudo de fl. 15, datado em 06.03.2006, atesta que a autora Thays Guimarães Badaró passou a apresentarquadro de ansiedade e de transtornos somatoformes, em razão da ausência do animal de estimação.5. A autora requereu, em 2003, a regularização da posse da ave, sem obter resposta do órgão federal, o que evidencia suaintenção de não se manter na clandestinidade.6. O longo tempo de convivência da autora com a ave, a relação de dependência emocional daquela em relação a esta,

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bem como a demora para o julgamento deste recurso recomendam a manutenção da sentença pelos seus própriosfundamentos – não sem censura à nocividade do ato para a fauna e para a própria plenitude de vida da ave.7. Recurso do IBAMA desprovido.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

20 - 0000883-50.2008.4.02.5051/01 (2008.50.51.000883-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: LUCIANA CAMPOS MALAFAIA COSTA.) x LEILSON DOS SANTOS (ADVOGADO:ES003841 - NELSON DE MEDEIROS TEIXEIRA.).RECURSO Nº 0000883-50.2008.4.02.5051/01 (2008.50.51.000883-0/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: LEILSON DOS SANTOSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

APOSENTADORIA ESPECIAL. CÔMPUTO DE TEMPO COMO ESPECIAL.

I – ENQUADRAMENTO DE CATEGORIA PROFISSIONAL NO ROL DOS DECRETOS 53.831/1964 e 83.080/1979.1. O art. 31 da Lei 3.807/60 dispunha que “A aposentadoria especial será concedida ao segurado que (...) tenha trabalhadodurante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco anos) pelo menos, conforme a atividade profissional, em serviços que,para esse efeito, forem considerados penosos, insalubres ou perigosos, por Decreto do Poder Executivo”.2. As atividades reconhecidas como insalubres, perigosas ou penosas podiam ser enquadradas em três categorias comtratamentos distintos:i) As atividades expressamente constantes do extenso rol dos Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979 (posteriormentesubstituídos pelo Decreto 2.172/1997) conferiam direito à contagem do tempo como especial mediante simplesenquadramento da categoria profissional (registrada na CTPS), independentemente da apresentação de qualquer laudo.ii) As atividades não elencadas nos decretos poderiam ser computadas como especiais mediante prova consistente – cujoônus recaia sobre o segurado (Súmula 198/TFR: “Atendidos os demais requisitos, é devida a aposentadoria especial, seperícia judicial constata que a atividade exercida pelo segurado é perigosa, insalubre ou penosa, mesmo não inscrita emregulamento.”).iii) Especificamente quanto ao agente agressivo “ruído”, a legislação sempre exigiu a comprovação da exposição do agentemediante formulário próprio (DSS-8030 ou SB-40).3. “Para reconhecimento de condição especial de trabalho antes de 29/4/1995, a exposição a agentes nocivos à saúde ou àintegridade física não precisa ocorrer de forma permanente” (Súmula 49/TNU).

II – LEIS 9.032/1995 E 9.528/1997.1. A Lei 9.032, publicada em 29/04/1995, ao acrescentar os §§ 4º e 5º ao art. 57 da Lei 8.213/1991, modificou radicalmentea sistemática de aposentadoria com contagem de tempo especial até então existente: (i) a aposentadoria por categoriaprofissional deixou de existir, (ii) o trabalho exercido sob condições que prejudicassem a saúde ou a integridade física sópoderia ser computado como especial se fosse não ocasional e nem intermitente, e, consequentemente, (iii) a efetivaexposição aos agentes nocivos deve ser demonstrada.2. Mesmo após a edição da Lei 9.032/1995, os Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979 foram mantidos em vigor pelo art. 152da Lei 8.213/91 (hoje revogado), até que fossem integralmente regulamentados os art. 57 e 58. A regulamentação só veioocorrer em 05/03/1997, em virtude da edição do Decreto 2.172, que, em regra, deixou de prever a periculosidade comofator para contagem especial do tempo de serviço.3. A partir da MP 1.523, de 11/10/1996, convertida na Lei 9.528/1997, o art. 58, § 1º, da Lei 8.213/1991 foi alterado de modoque a contagem do tempo de serviço especial passou a depender de comprovação de exposição efetiva medianteformulário emitido pelo empregador, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médicodo trabalho, na forma estabelecida pelo INSS.4. Em síntese, até 28/04/1995, o aproveitamento do tempo como especial era, em regra, consequência da categoriaprofissional do segurado (exceto para o agente “ruído”). De 29/04/1995 em diante, passou a depender de prova daexposição habitual e permanente a agentes nocivos à saúde ou à integridade física, e desde 11/10/1996, passou adepender de laudo técnico na forma do art. 58, § 1º, da Lei 8.213/1991 (STJ, 5ª Turma, REsp 497.174 e 6ª Turma, AgRg noREsp 1.066.847; STF, 2ª Turma, RE 392.559).5. A caracterização e a comprovação do tempo de atividade sob condições especiais obedecerá ao disposto na legislaçãoem vigor na época da prestação do serviço (art. 70, §1º, do Decreto 3048/1999).

III – RUÍDO. DECIBÉIS. TEMPUS REGIT ACTUM (STJ, PET 9.059) x CRITÉRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO DE APURAÇÃODA INSALUBRIDADE.1. Com relação ao trabalho exercido após a Medida Provisória 1.523, de 11/10/1996 (convertida na Lei 9.528/1997), osegurado deve comprovar a exposição efetiva mediante formulário emitido pela empresa, com base em laudo técnico decondições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho, na forma estabelecida pelo INSS (STJ, 2ª Turma, REsp422.616).2. O Decreto 53.831/1964 (item 1.1.6) fixou em 80 db o limite de exposição a ruídos, mantido até 05/03/1997 (art. 173, I, daInstrução Normativa INSS/DC 57, de 10/10/2001, c/c Decreto 2.172, de 05/03/1997); a partir de 05/03/1997, apenas as

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atividades exercidas com ruídos superiores a 90 db seriam consideradas especiais, e, a partir de 18/11/2003, de 85 db(Súmula 29/AGU).3. Em 28/08/2013, o STJ (1ª Seção, Pet 9.059) decidiu, com fundamento na regra tempus regit actum, contra a orientaçãofirmada na Súmula 32/TNU, segundo a qual a previsão de 85 db retroagiria a 05/03/1997. Isto não obstante, esta TurmaRecursal insiste no acerto do Enunciado 20 do Fórum Regional de Direito Previdenciário da Justiça Federal da 2a Região(FOREPREV): “O tempo de trabalho laborado com exposição a ruído excessivo, para fins de conversão em comum, deveser considerado com base no nível superior a 80 decibéis, na vigência do Decreto 53.831/64 (1.1.6) até 05/03/97. Após, adespeito da previsão contida no Decreto 2.172/97, adveio o Decreto 4.882/03 que estabeleceu o nível de 85 decibéis, emrazão de aperfeiçoamento das normas e técnicas de aferição, de modo que não seria razoável conferir tratamentodiferenciado no período anterior à sua vigência.” É que nocividade não depende apenas de normas, e sim, em essência, defatores científicos. Se a norma mais recente considera que 85 db são suficientes a prejudicar a saúde dos trabalhadores, opatamar anterior, de 90 db, deve ser descartado.

IV – EPI – EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL. A REDUÇÃO OU NEUTRALIZAÇÃO DO AGENTE NOCIVOPODE DESCARACTERIZAR A ESPECIALIDADE DO TEMPO POSTERIOR À LEI 9.732/1998, SALVO QUANTO AOAGENTE “RUÍDO” (SÚMULA 9/TNU).1. Somente a partir da Lei 9.732, de 13/12/1998, o art. 58 da Lei 8.213/1991 passou a exigir que do laudo técnico constassemenção expressa à utilização de equipamentos individuais ou coletivos de proteção, preceituando, ainda, que a redução ouneutralização do agente nocivo deve ser considerada para fins de concessão da aposentadoria especial.2. Logo, para as atividades exercidas antes de 13/12/1998, “A utilização de equipamentos de proteção individual portrabalhadores expostos a agentes nocivos não descaracteriza a especialidade da atividade” (TNU, recurso2002.50.50.001890-3/ES).3. Especificamente quanto ao RUÍDO, “Ainda que o EPI elimine a insalubridade, no caso de exposição a ruído, nãodescaracteriza o tempo de serviço especial prestado” (Súmula 9/TNU), orientação jurisprudencial que não tem sua eficáciatemporal limitada até a edição do Decreto 4.882/2003, como consignou a TNU nos processos 2006.72.95.013023-8 e2008.72.54.006111-0, pois o ruído afeta não só o sistema auditivo, exercendo efeito negativos sobre o corpo inteiro mesmocom o emprego de equipamentos de proteção.

V – POSSIBILIDADE DE CONVERSÃO DE TEMPO ESPECIAL EM COMUM MESMO APÓS 1998 (RESP 1.151.363). ALEI 9.711/1998 NÃO MANTEVE O TEXTO DA MP 1.663 QUE PRETENDIA REVOGAR O § 5º DO ART. 57 DA LEI8.213/1991.1. “Permanece a possibilidade de conversão do tempo de serviço exercido em atividades especiais para comum após 1998,pois a partir da última reedição da MP n. 1.663, parcialmente convertida na Lei 9.711/1998, a norma tornou-se definitivasem a parte do texto que revogava o referido § 5º do art. 57 da Lei n. 8.213/1991” (STJ, 3ª Seção, REsp 1.151.363). Poristo, a Súmula 16/TNU foi revogada, e agora a TNU admite a conversão mesmo após 1998 (PEDILEF50123629320124047108).2. Esta Turma Recursal adota a orientação majoritária consagrada pelo Enunciado 21 do Fórum Regional de DireitoPrevidenciário da Justiça Federal da 2a Região (FOREPREV): “Independentemente da edição do Decreto 4.827/2003, asregras de conversão de tempo de atividade especial em comum aplicam-se ao trabalho prestado, mesmo que posterior a28/05/98, sendo passíveis de revisão administrativa as decisões em sentido contrário”.3. A conversão do tempo deve ser feita nos moldes do art. 64 do Decreto 611/1992:

Art. 64. O tempo de serviço exercido alternadamente em atividade comum e atividade profissional sob condições especiaisque sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectivaconversão, aplicada a tabela de conversão seguinte, para efeito de concessão de qualquer benefício:

ATIVIDADE A CONVERTER Multiplicadores

Para 15Para 20Para 25Para 30 (Mulher)Para 35 (Homem)

De 15 Anos1,001,331,672,002,33

De 20 Anos

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0,751,001,251,501,75

De 25 Anos0,600,801,001,201,40

De 30 Anos (Mulher)0,500,670,831,001,17

De 35 Anos (Homem)0,430,570,710,861,00

VI – O CASO CONCRETO.1. A sentença de fls. 110-115 julgou procedente o pedido de aposentadoria especial.2. O INSS, em recurso, sustenta que houve coisa julgada no tocante à contagem de tempo de trabalho em condiçõesespeciais, pois o mesmo período já foi apreciado em outra demanda. Sustenta que o laudo técnico é extemporâneo, que oautor não somou 25 trabalhados em atividade especial, e que o uso de EPI neutraliza o agente nocivo.Contrarrazões às fls.148-150.3. Só há coisa julgada diante de identidade de partes, pedido e causa de pedir. No processo 2006.50.51.001522-9/01, oautor teve negado o pedido de aposentadoria especial porque não haveria completado o tempo mínimo de vinte e cincoanos de atividade sob condições nocivas à saúde (fl. 142). Entre a primeira demanda e esta ação, o autor trabalhou pormais dois anos, preenchendo o requisito temporal que não detinha à época da primeira ação – de modo que não seconfigurou a coisa julgada.4. Os Perfis Profissiográficos Previdenciários (PPPs) de fls. 23-28 atestam que, nos períodos de 04.06.1973 a 22.12.1973,de 24.06.1974 a 17.10.1974, de 25.06.1975 a 13.12.1975, de 23.07.1977 a 04.12.1978, 23.05.1984 a 15.12.1986, de02.02.1987 a 14.02.1990 e de 16.04.1991 a 18.05.2006, a exposição ao agente “ruído”. O documento de fl. 20 revela que oautor, de 16.04.1991 a 28.01.2008, exerceu o cargo de caldeireiro na empresa USINA PAINEIRAS S/A. O autor estevesujeito à exposição sonora de forma habitual e permanente na intensidade de 101,0 dB. Considerando que o limite máximoadmitido em todo o histórico normativo nunca foi inferior a 90 dB, tem-se o enquadramento da atividade desenvolvida nosperíodos indicados como especial. Somando-se tal tempo, verifica-se que o autor laborou por mais de vinte e cinco anosem condição especial.5. O autor comprovou idônea e cabalmente, portanto, ter laborado por mais de vinte e cinco anos em atividade consideradacomo especial, sob exposição a ruído, inclusive durante o período de 1998 a 2008 (fl. 20).7. A extemporaneidade dos formulários e laudos técnicos não afasta a validade de suas conclusões, mesmo porque aevolução tecnológica propicia condições ambientais menos agressivas à saúde do trabalhador do que aquelas vivenciadasà época da execução dos serviços. De resto, o fato de o empregador não haver se desincumbido regularmente de seudever, sem ter sido fiscalizado e sancionado pelo INSS (art. 133 da Lei 8.213/1991) não pode ser invocado em desfavor doempregado.8. O uso de equipamento de proteção individual (EPI), ainda que elimine a insalubridade, no caso de exposição a ruído, nãodescaracteriza o tempo de serviço especial prestado (Súmula 09 da TNU).8. Recurso do INSS desprovido. Condenação do recorrente vencido ao pagamento de honorários advocatícios arbitradosem 10% sobre o valor da condenação (art. 55, caput, da Lei 9.099/1995).

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

21 - 0005981-19.2008.4.02.5050/01 (2008.50.50.005981-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) JOAO GERALDORODRIGUES (ADVOGADO: ES010117 - JOAO FELIPE DE MELO CALMON HOLLIDAY, ES007367 - CHRISTOVAMRAMOS PINTO NETO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ESTEVÃO SANTIAGOPIZOL DA SILVA.).RECURSO Nº 0005981-19.2008.4.02.5050/01 (2008.50.50.005981-6/01)RECORRENTE: JOAO GERALDO RODRIGUES

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RECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

APOSENTADORIA ESPECIAL. CÔMPUTO DE TEMPO COMO ESPECIAL.

I – ENQUADRAMENTO DE CATEGORIA PROFISSIONAL NO ROL DOS DECRETOS 53.831/1964 e 83.080/1979.1. O art. 31 da Lei 3.807/60 dispunha que “A aposentadoria especial será concedida ao segurado que (...) tenha trabalhadodurante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco anos) pelo menos, conforme a atividade profissional, em serviços que,para esse efeito, forem considerados penosos, insalubres ou perigosos, por Decreto do Poder Executivo”.2. As atividades reconhecidas como insalubres, perigosas ou penosas podiam ser enquadradas em três categorias comtratamentos distintos:i) As atividades expressamente constantes do extenso rol dos Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979 (posteriormentesubstituídos pelo Decreto 2.172/1997) conferiam direito à contagem do tempo como especial mediante simplesenquadramento da categoria profissional (registrada na CTPS), independentemente da apresentação de qualquer laudo.ii) As atividades não elencadas nos decretos poderiam ser computadas como especiais mediante prova consistente – cujoônus recaia sobre o segurado (Súmula 198/TFR: “Atendidos os demais requisitos, é devida a aposentadoria especial, seperícia judicial constata que a atividade exercida pelo segurado é perigosa, insalubre ou penosa, mesmo não inscrita emregulamento.”).iii) Especificamente quanto ao agente agressivo “ruído”, a legislação sempre exigiu a comprovação da exposição do agentemediante formulário próprio (DSS-8030 ou SB-40).3. “Para reconhecimento de condição especial de trabalho antes de 29/4/1995, a exposição a agentes nocivos à saúde ou àintegridade física não precisa ocorrer de forma permanente” (Súmula 49/TNU).

II – LEIS 9.032/1995 E 9.528/1997.1. A Lei 9.032, publicada em 29/04/1995, ao acrescentar os §§ 4º e 5º ao art. 57 da Lei 8.213/1991, modificou radicalmentea sistemática de aposentadoria com contagem de tempo especial até então existente: (i) a aposentadoria por categoriaprofissional deixou de existir, (ii) o trabalho exercido sob condições que prejudicassem a saúde ou a integridade física sópoderia ser computado como especial se fosse não ocasional e nem intermitente, e, consequentemente, (iii) a efetivaexposição aos agentes nocivos deve ser demonstrada.2. Mesmo após a edição da Lei 9.032/1995, os Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979 foram mantidos em vigor pelo art. 152da Lei 8.213/91 (hoje revogado), até que fossem integralmente regulamentados os art. 57 e 58. A regulamentação só veioocorrer em 05/03/1997, em virtude da edição do Decreto 2.172, que, em regra, deixou de prever a periculosidade comofator para contagem especial do tempo de serviço.3. A partir da MP 1.523, de 11/10/1996, convertida na Lei 9.528/1997, o art. 58, § 1º, da Lei 8.213/1991 foi alterado de modoque a contagem do tempo de serviço especial passou a depender de comprovação de exposição efetiva medianteformulário emitido pelo empregador, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médicodo trabalho, na forma estabelecida pelo INSS.4. Em síntese, até 28/04/1995, o aproveitamento do tempo como especial era, em regra, consequência da categoriaprofissional do segurado (exceto para o agente “ruído”). De 29/04/1995 em diante, passou a depender de prova daexposição habitual e permanente a agentes nocivos à saúde ou à integridade física, e desde 11/10/1996, passou adepender de laudo técnico na forma do art. 58, § 1º, da Lei 8.213/1991 (STJ, 5ª Turma, REsp 497.174 e 6ª Turma, AgRg noREsp 1.066.847; STF, 2ª Turma, RE 392.559).5. A caracterização e a comprovação do tempo de atividade sob condições especiais obedecerá ao disposto na legislaçãoem vigor na época da prestação do serviço (art. 70, §1º, do Decreto 3048/1999).

III – EMENDA CONSTITUCIONAL 47/2005. ART. 40, § 4º x ART. 201, § 1º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.ATIVIDADES PERIGOSAS OU DE RISCO CONTINUAM A JUSTIFICAR O CÔMPUTO DE TEMPO ESPECIAL NÃOAPENAS PARA SERVIDORES PÚBLICOS COMO TAMBÉM PARA OS SEGURADOS DO REGIME GERAL DEPREVIDÊNCIA SOCIAL. TNU (PEDILEF 50136301820124047001) x STJ (REsp 1.306.113). ELETRICIDADE.1. A Emenda Constitucional 20/1998 proibiu “a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão deaposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos de atividades exercidas sobcondições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física” (art. 201, § 1º, da CRFB/1988), e a EmendaConstitucional 47/2005 acrescentou a possibilidade de concessão diferenciada aos segurados portadores de deficiência.Para os servidores públicos, o texto original da Constituição previa tratamento diferenciado no caso de exercício deatividades consideradas penosas, insalubres ou perigosas; a Emenda Constitucional 20/1998 alterou o art. 40, § 4º, pararessalvar apenas “os casos de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridadefísica”; por fim, a Emenda Constitucional 47/2005, atribuindo nova redação ao art. 40, § 4º, proibiu “a adoção de requisitos ecritérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo,ressalvados, nos termos definidos em leis complementares, os casos de servidores: I portadores de deficiência; II queexerçam atividades de risco; III cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou aintegridade física.”.2. Desde a edição do Decreto 2.172, de 05/03/1997, não há previsão em regulamento da periculosidade como fator queautorize a contagem especial do tempo de serviço.3. O INSS defende a tese de que, desde o Decreto 2.172/1997, ou ao menos desde a EC 20/1998, não há suporte legal econstitucional para o cômputo de atividades perigosas como especiais.

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4. O STJ, no REsp 1.306.113, submetido ao regime de recursos repetitivos, decidiu que as atividades nocivas à saúderelacionadas nas normas regulamentadoras são meramente exemplificativas, podendo o caráter especial do trabalho serreconhecido em outras atividades – como a exposição a “eletricidade” (superior a 250 volts) – desde que permanentes, nãoocasionais e nem intermitentes, mesmo depois da edição do Decreto 2.172/1997.5. A TNU (PEDILEF 50136301820124047001), interpretando o decidido pelo STJ no REsp 1.306.113, considerou que, nãoobstante a ausência de previsão no Decreto 2.172/1997 e na Constituição da República da periculosidade para o RGPS, acontagem de tempo de serviço especial pelo risco é possível desde que haja previsão expressa em lei. Afirmou que, nocaso de que tratou o precedente do STJ (eletricidade), a previsão estava na Lei 7.369/1985 – até a sua revogação pela Lei12.740/2012; contudo, para a atividade de “transporte de combustível”, por ausência de previsão em lei, não admitiu ocômputo especial.6. Há consenso entre o STJ e a TNU no sentido de que a ausência de previsão constitucional não obsta o reconhecimentode atividades perigosas como especiais. A TNU condiciona o reconhecimento à previsão específica em lei. O STJ, deforma mais ampla, considerou possível reconhecer como especial “o labor que a técnica médica e a legislação correlataconsideram como prejudiciais ao obreiro, desde que o trabalho seja permanente, não ocasional, nem intermitente, emcondições especiais”.7. A regra do art. 201, § 1º, da Constituição condiciona o reconhecimento de qualquer atividade como especial à previsãoem lei complementar (ou em lei ordinária – ou decreto regulamentador – anterior à EC 20/1998), a amparar a tese fixadapela TNU. A ausência de previsão legal para o cômputo especial de agente manifestamente nocivo à saúde podeconfigurar afronta à Constituição por proteção deficiente, a justificar o suprimento judicial da lacuna com base em dados datécnica médica. Este raciocínio, contudo, não pode ser aplicado aos casos de mera periculosidade, pois, como aConstituição não impõe o tratamento diferenciado às atividades de risco, a matéria depende da discricionariedade doLegislador.

IV – EPI – EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL. A REDUÇÃO OU NEUTRALIZAÇÃO DO AGENTE NOCIVOPODE DESCARACTERIZAR A ESPECIALIDADE DO TEMPO POSTERIOR À LEI 9.732/1998, SALVO QUANTO AOAGENTE “RUÍDO” (SÚMULA 9/TNU).1. Somente a partir da Lei 9.732, de 13/12/1998, o art. 58 da Lei 8.213/1991 passou a exigir que do laudo técnico constassemenção expressa à utilização de equipamentos individuais ou coletivos de proteção, preceituando, ainda, que a redução ouneutralização do agente nocivo deve ser considerada para fins de concessão da aposentadoria especial.2. Logo, para as atividades exercidas antes de 13/12/1998, “A utilização de equipamentos de proteção individual portrabalhadores expostos a agentes nocivos não descaracteriza a especialidade da atividade” (TNU, recurso2002.50.50.001890-3/ES).3. Especificamente quanto ao RUÍDO, “Ainda que o EPI elimine a insalubridade, no caso de exposição a ruído, nãodescaracteriza o tempo de serviço especial prestado” (Súmula 9/TNU), orientação jurisprudencial que não tem sua eficáciatemporal limitada até a edição do Decreto 4.882/2003, como consignou a TNU nos processos 2006.72.95.013023-8 e2008.72.54.006111-0, pois o ruído afeta não só o sistema auditivo, exercendo efeito negativos sobre o corpo inteiro mesmocom o emprego de equipamentos de proteção.

V – POSSIBILIDADE DE CONVERSÃO DE TEMPO ESPECIAL EM COMUM MESMO APÓS 1998 (RESP 1.151.363). ALEI 9.711/1998 NÃO MANTEVE O TEXTO DA MP 1.663 QUE PRETENDIA REVOGAR O § 5º DO ART. 57 DA LEI8.213/1991.1. “Permanece a possibilidade de conversão do tempo de serviço exercido em atividades especiais para comum após 1998,pois a partir da última reedição da MP n. 1.663, parcialmente convertida na Lei 9.711/1998, a norma tornou-se definitivasem a parte do texto que revogava o referido § 5º do art. 57 da Lei n. 8.213/1991” (STJ, 3ª Seção, REsp 1.151.363). Poristo, a Súmula 16/TNU foi revogada, e agora a TNU admite a conversão mesmo após 1998 (PEDILEF50123629320124047108).2. Esta Turma Recursal adota a orientação majoritária consagrada pelo Enunciado 21 do Fórum Regional de DireitoPrevidenciário da Justiça Federal da 2a Região (FOREPREV): “Independentemente da edição do Decreto 4.827/2003, asregras de conversão de tempo de atividade especial em comum aplicam-se ao trabalho prestado, mesmo que posterior a28/05/98, sendo passíveis de revisão administrativa as decisões em sentido contrário”.3. A conversão do tempo deve ser feita nos moldes do art. 64 do Decreto 611/1992:

Art. 64. O tempo de serviço exercido alternadamente em atividade comum e atividade profissional sob condições especiaisque sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectivaconversão, aplicada a tabela de conversão seguinte, para efeito de concessão de qualquer benefício:

ATIVIDADE A CONVERTER Multiplicadores

Para 15Para 20Para 25Para 30 (Mulher)

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Para 35 (Homem)

De 15 Anos1,001,331,672,002,33

De 20 Anos0,751,001,251,501,75

De 25 Anos0,600,801,001,201,40

De 30 Anos (Mulher)0,500,670,831,001,17

De 35 Anos (Homem)0,430,570,710,861,00

VI – O CASO CONCRETO.1. A sentença de fl. 149 julgou improcedente o pedido de aposentadoria, pois, quanto ao período de 13/04/1981 a14/11/2011, apesar de constatar que o autor realmente trabalhou exposto a eletricidade, agente nocivo listado no código1.1.8 do Anexo do Decreto 53.831/1964, não teria sido comprovada a exposição a tensão elétrica superior a 250 volts.2. O recurso do autor sustenta (fls. 165/171) haver sido comprovado o tempo de serviço com exposição a tensão elétricaacima de 250 volts, com base no PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário) juntado aos autos após prolação da sentença,invocando a aplicação do art. 397 do CPC. Dessa forma, postula pelo enquadramento do período de 13/04/1981 a14/11/2001 como tempo de atividade especial, para que seja concedida a aposentadoria por tempo de contribuição comproventos integrais.Contrarrazões às fls.176/181.3. As profissões de eletricistas, cabistas, montadores e outras devem ser consideradas atividade especial, porenquadramento de categoria profissional (Decreto 53.831/1964, código 2.1.1, e Decreto 83.080/1979, anexo II, código2.1.1), cuja sujeição a agentes nocivos é presumida até a Lei 9.032/1995.4. A partir de 28/04/1995, a legislação exige laudo e formulários com comprovação de sujeição a tensões superiores a 250volts.5. No caso dos autos, o autor exerceu a atividade de auxiliar técnico de telecomunicações, sujeito ao agente eletricidade,em empresa de telecomunicações. O Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP de fl. 156 informa a sujeição a cargas"acima de 250 volts". A perícia subscrita por perito da Justiça do Trabalho em processo trabalhista que deferiu o direito aoadicional de periculosidade confirmou que o reclamante executava suas tarefas próximo a redes elétricas com exposiçãosuperior a 250 volts (Quesito 03 – fls. 58/59).6. MESMO QUE APENAS SE CONSIDERE ESPECIAL O PERÍODO APENAS ATÉ 05/03/1997, o autor teria temposuficiente para fazer jus à aposentadoria comum integral desde o requerimento administrativo:

PeríodoModoTotal NormalSomatório

26/01/76 a 20/02/77Normal

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1a 0m 25d1a 0m 25d

03/03/77 a 05/08/79Normal2a 5m 3d2a 5m 3d

15/04/80 a 17/01/81Normal0a 9m 3d0a 9m 3d

27/03/81 a 10/04/81Normal0a 0m 14d0a 0m 14d

13/04/81 a 05/03/97Especial15a 10m 23d22a 3m 2d

06/03/97 a 14/11/01Normal4a 8m 9d4a 8m 9d

11/03/02 a 31/05/03Normal1a 2m 20d1a 2m 20d

02/06/03 a 25/03/08Normal4a 9m 24d4a 9m 24d

TOTAL37a 3m 10d

7. Computado o período de 1981 a 14/11/2011, o autor tinha, já na data do requerimento administrativo (25/03/2008), maisde 25 anos de atividade especial, fazendo jus à aposentadoria especial.8. Recurso do autor conhecido e provido para reconhecer o período de 13/04/1981 a 14/11/2011 como especial e paracondenar o INSS a conceder aposentadoria especial desde 25/03/2008, deferindo-se tutela antecipada, ante o caráteralimentar do benefício (Súmula 729/STF). Após o trânsito em julgado, o INSS deverá pagar as diferenças devidas desde25/03/2008, com correção monetária pelo INPC (art. 41-A da Lei 8.213/1991) e juros de mora desde a citação na forma daredação dada ao art. 1º-F da Lei 9.4949/1997 pela Lei 11.960/2009.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3ª Juiz Relator

22 - 0003143-06.2008.4.02.5050/01 (2008.50.50.003143-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) JAIME SOUZA ALVES(ADVOGADO: ES010321 - OLDER VASCO DALBEM DE OLIVEIRA, ES018483 - LÍVIA NOGUEIRA ALMEIDA, ES019645 -ALEX SANDRO SALAZAR.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: GUSTAVO CABRALVIEIRA.).RECURSO DE SENTENÇA Nº 0003143-06.2008.4.02.5050/01 (2008.50.50.003143-0/01)RECORRENTE: JAIME SOUZA ALVESRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

APOSENTADORIA ESPECIAL. CÔMPUTO DE TEMPO COMO ESPECIAL.

I – ENQUADRAMENTO DE CATEGORIA PROFISSIONAL NO ROL DOS DECRETOS 53.831/1964 e 83.080/1979.

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1. O art. 31 da Lei 3.807/60 dispunha que “A aposentadoria especial será concedida ao segurado que (...) tenha trabalhadodurante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco anos) pelo menos, conforme a atividade profissional, em serviços que,para esse efeito, forem considerados penosos, insalubres ou perigosos, por Decreto do Poder Executivo”.2. As atividades reconhecidas como insalubres, perigosas ou penosas podiam ser enquadradas em três categorias comtratamentos distintos:i) As atividades expressamente constantes do extenso rol dos Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979 (posteriormentesubstituídos pelo Decreto 2.172/1997) conferiam direito à contagem do tempo como especial mediante simplesenquadramento da categoria profissional (registrada na CTPS), independentemente da apresentação de qualquer laudo.ii) As atividades não elencadas nos decretos poderiam ser computadas como especiais mediante prova consistente – cujoônus recaia sobre o segurado (Súmula 198/TFR: “Atendidos os demais requisitos, é devida a aposentadoria especial, seperícia judicial constata que a atividade exercida pelo segurado é perigosa, insalubre ou penosa, mesmo não inscrita emregulamento.”).iii) Especificamente quanto ao agente agressivo “ruído”, a legislação sempre exigiu a comprovação da exposição do agentemediante formulário próprio (DSS-8030 ou SB-40).3. “Para reconhecimento de condição especial de trabalho antes de 29/4/1995, a exposição a agentes nocivos à saúde ou àintegridade física não precisa ocorrer de forma permanente” (Súmula 49/TNU).

II – LEIS 9.032/1995 E 9.528/1997.1. A Lei 9.032, publicada em 29/04/1995, ao acrescentar os §§ 4º e 5º ao art. 57 da Lei 8.213/1991, modificou radicalmentea sistemática de aposentadoria com contagem de tempo especial até então existente: (i) a aposentadoria por categoriaprofissional deixou de existir, (ii) o trabalho exercido sob condições que prejudicassem a saúde ou a integridade física sópoderia ser computado como especial se fosse não ocasional e nem intermitente, e, consequentemente, (iii) a efetivaexposição aos agentes nocivos deve ser demonstrada.2. Mesmo após a edição da Lei 9.032/1995, os Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979 foram mantidos em vigor pelo art. 152da Lei 8.213/91 (hoje revogado), até que fossem integralmente regulamentados os art. 57 e 58. A regulamentação só veioocorrer em 05/03/1997, em virtude da edição do Decreto 2.172, que, em regra, deixou de prever a periculosidade comofator para contagem especial do tempo de serviço.3. A partir da MP 1.523, de 11/10/1996, convertida na Lei 9.528/1997, o art. 58, § 1º, da Lei 8.213/1991 foi alterado de modoque a contagem do tempo de serviço especial passou a depender de comprovação de exposição efetiva medianteformulário emitido pelo empregador, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médicodo trabalho, na forma estabelecida pelo INSS.4. Em síntese, até 28/04/1995, o aproveitamento do tempo como especial era, em regra, consequência da categoriaprofissional do segurado (exceto para o agente “ruído”). De 29/04/1995 em diante, passou a depender de prova daexposição habitual e permanente a agentes nocivos à saúde ou à integridade física, e desde 11/10/1996, passou adepender de laudo técnico na forma do art. 58, § 1º, da Lei 8.213/1991 (STJ, 5ª Turma, REsp 497.174 e 6ª Turma, AgRg noREsp 1.066.847; STF, 2ª Turma, RE 392.559).5. A caracterização e a comprovação do tempo de atividade sob condições especiais obedecerá ao disposto na legislaçãoem vigor na época da prestação do serviço (art. 70, §1º, do Decreto 3048/1999).

III – RUÍDO. DECIBÉIS. TEMPUS REGIT ACTUM (STJ, PET 9.059) x CRITÉRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO DE APURAÇÃODA INSALUBRIDADE.1. Com relação ao trabalho exercido após a Medida Provisória 1.523, de 11/10/1996 (convertida na Lei 9.528/1997), osegurado deve comprovar a exposição efetiva mediante formulário emitido pela empresa, com base em laudo técnico decondições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho, na forma estabelecida pelo INSS (STJ, 2ª Turma, REsp422.616).2. O Decreto 53.831/1964 (item 1.1.6) fixou em 80 db o limite de exposição a ruídos, mantido até 05/03/1997 (art. 173, I, daInstrução Normativa INSS/DC 57, de 10/10/2001, c/c Decreto 2.172, de 05/03/1997); a partir de 05/03/1997, apenas asatividades exercidas com ruídos superiores a 90 db seriam consideradas especiais, e, a partir de 18/11/2003, de 85 db(Súmula 29/AGU).3. Em 28/08/2013, o STJ (1ª Seção, Pet 9.059) decidiu, com fundamento na regra tempus regit actum, contra a orientaçãofirmada na Súmula 32/TNU, segundo a qual a previsão de 85 db retroagiria a 05/03/1997. Isto não obstante, esta TurmaRecursal insiste no acerto do Enunciado 20 do Fórum Regional de Direito Previdenciário da Justiça Federal da 2a Região(FOREPREV): “O tempo de trabalho laborado com exposição a ruído excessivo, para fins de conversão em comum, deveser considerado com base no nível superior a 80 decibéis, na vigência do Decreto 53.831/64 (1.1.6) até 05/03/97. Após, adespeito da previsão contida no Decreto 2.172/97, adveio o Decreto 4.882/03 que estabeleceu o nível de 85 decibéis, emrazão de aperfeiçoamento das normas e técnicas de aferição, de modo que não seria razoável conferir tratamentodiferenciado no período anterior à sua vigência.” É que nocividade não depende apenas de normas, e sim, em essência, defatores científicos. Se a norma mais recente considera que 85 db são suficientes a prejudicar a saúde dos trabalhadores, opatamar anterior, de 90 db, deve ser descartado.

IV – EPI – EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL. A REDUÇÃO OU NEUTRALIZAÇÃO DO AGENTE NOCIVOPODE DESCARACTERIZAR A ESPECIALIDADE DO TEMPO POSTERIOR À LEI 9.732/1998, SALVO QUANTO AOAGENTE “RUÍDO” (SÚMULA 9/TNU).1. Somente a partir da Lei 9.732, de 13/12/1998, o art. 58 da Lei 8.213/1991 passou a exigir que do laudo técnico constassemenção expressa à utilização de equipamentos individuais ou coletivos de proteção, preceituando, ainda, que a redução ouneutralização do agente nocivo deve ser considerada para fins de concessão da aposentadoria especial.2. Logo, para as atividades exercidas antes de 13/12/1998, “A utilização de equipamentos de proteção individual portrabalhadores expostos a agentes nocivos não descaracteriza a especialidade da atividade” (TNU, recurso

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2002.50.50.001890-3/ES).3. Especificamente quanto ao RUÍDO, “Ainda que o EPI elimine a insalubridade, no caso de exposição a ruído, nãodescaracteriza o tempo de serviço especial prestado” (Súmula 9/TNU), orientação jurisprudencial que não tem sua eficáciatemporal limitada até a edição do Decreto 4.882/2003, como consignou a TNU nos processos 2006.72.95.013023-8 e2008.72.54.006111-0, pois o ruído afeta não só o sistema auditivo, exercendo efeito negativos sobre o corpo inteiro mesmocom o emprego de equipamentos de proteção.

V – POSSIBILIDADE DE CONVERSÃO DE TEMPO ESPECIAL EM COMUM MESMO APÓS 1998 (RESP 1.151.363). ALEI 9.711/1998 NÃO MANTEVE O TEXTO DA MP 1.663 QUE PRETENDIA REVOGAR O § 5º DO ART. 57 DA LEI8.213/1991.1. “Permanece a possibilidade de conversão do tempo de serviço exercido em atividades especiais para comum após 1998,pois a partir da última reedição da MP n. 1.663, parcialmente convertida na Lei 9.711/1998, a norma tornou-se definitivasem a parte do texto que revogava o referido § 5º do art. 57 da Lei n. 8.213/1991” (STJ, 3ª Seção, REsp 1.151.363). Poristo, a Súmula 16/TNU foi revogada, e agora a TNU admite a conversão mesmo após 1998 (PEDILEF50123629320124047108).2. Esta Turma Recursal adota a orientação majoritária consagrada pelo Enunciado 21 do Fórum Regional de DireitoPrevidenciário da Justiça Federal da 2a Região (FOREPREV): “Independentemente da edição do Decreto 4.827/2003, asregras de conversão de tempo de atividade especial em comum aplicam-se ao trabalho prestado, mesmo que posterior a28/05/98, sendo passíveis de revisão administrativa as decisões em sentido contrário”.3. A conversão do tempo deve ser feita nos moldes do art. 64 do Decreto 611/1992:

Art. 64. O tempo de serviço exercido alternadamente em atividade comum e atividade profissional sob condições especiaisque sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectivaconversão, aplicada a tabela de conversão seguinte, para efeito de concessão de qualquer benefício:

ATIVIDADE A CONVERTER Multiplicadores

Para 15Para 20Para 25Para 30 (Mulher)Para 35 (Homem)

De 15 Anos1,001,331,672,002,33

De 20 Anos0,751,001,251,501,75

De 25 Anos0,600,801,001,201,40

De 30 Anos (Mulher)0,500,670,831,001,17

De 35 Anos (Homem)

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0,430,570,710,861,00

VI – O CASO CONCRETO.1. Ajuizada a ação, a sentença de fls. 200-206 julgou parcialmente procedente o pedido para autorizar a averbação dosperíodos de 02.04.1979 a 09.03.1981, 01.04.1982 a 01.10.1987 e 01.01.1988 a 25.03.1988 como especiais, mas a soma dotempo de trabalho/contribuição é insuficiente para que o autor faça jus à aposentadoria. O INSS não recorreu.2. O autor recorreu, sustentando que sempre laborou sob condição especial de trabalho e que, portanto, os períodos de01.08.1977 a 23.09.1977; 19.03.1981 a 03.09.1981; 01.05.1988 a 15.02.1990; 07.07.1990 a 30.08.1992; 08.01.1993 a16.05.2008 também deveriam haver sido aproveitados pela sentença e, somados ao tempo comum na qualidade detrabalhador rural (18.08.1973 a 01.06.1977), seriam suficientes à obtenção de aposentadoria na data do requerimentoadministrativo (07.03.2008).Contrarrazões às fls. 218-219.3. O autor é mecânico, profissão anotada em todos os seus vínculos na CTPS, notoriamente com manipulação constante(habitual e permanente, não ocasional nem intermitente) de óleos e graxas, com enquadramento no item 1.2.11 do Decreto83.080/1979 – além da presunção de que, em oficinas mecânicas, sempre há exposição ao ruído dos motores deautomóveis.4. O fato de, nos períodos de 01.08.1977 a 23.09.1977 e de 19.03.1981 a 03.09.1981, não haver documento algumatestando as condições laborais, ou de os documentos de fls. 40-43, referentes aos períodos de 01.05.1988 a 15.02.1990 ede 07.07.1990 a 30.08.1992 não se basearem em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médicodo trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho não obsta o reconhecimento do tempo especial, por enquadramentoem categoria profissional.5. Os documentos de fls. 44-48 e 148-150, referentes ao período de 08.01.1993 a 07.03.2008, também não respeitaramessa formalidade. Isto não obstante, eles têm valor probatório suficiente até 11.10.1996.6. De 11.10.1996 a 07.03.2008, há a necessidade de formulário emitido pelo empregador, com base em laudo técnico decondições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho, na forma estabelecida pelo INSS.7. Desde a petição inicial, o autor esclarece que não tem como compelir o empregador a atender à exigência da legislaçãoprevidenciária, sendo do INSS esse dever.8. Diante de documento de informação sobre atividades com exposições a agentes agressivos que contenham defeitosformais (no caso, falta de laudo ambiental subscrito por médico do trabalho), há que se considerar que, ao mesmo tempoem que o art. 333, I, do CPC impõe ao autor o ÔNUS da prova do fato constitutivo do seu direito, a legislação – tanto atrabalhista, sob o aspecto da segurança no trabalho, quanto a previdenciária, sob o aspecto do cômputo do tempo comoespecial – impõem ao empregador o DEVER de aferir a intensidade do ruído e demais agentes agressivos presentes noambiente, sob a fiscalização de órgãos governamentais. Como admitir, então, que o descumprimento reiterado dessesdeveres – sem que o INSS tenha fiscalizado e imposto a multa referida no art. 133 da Lei 8.213/1991 – resulte pura esimplesmente na improcedência do pedido da parte autora?Em caso de desconsideração do valor probante do documento apresentado, impunha-se a reabertura da instânciaprobatória, a fim de que o empregador fosse instado a apresentar toda a documentação disponível quanto ao período, e afim de permitir que o autor pudesse produzir novas provas, inclusive testemunhal.No caso concreto, porém, tendo em vista que o autor é mecânico desde 1977, e tendo em vista que a documentaçãotrazida quanto ao período questionado traz informações críveis quanto ao ambiente de uma oficina mecânica (exposição ahidrocarbonetos e ruído superior a 85 dB), considero que a presunção milita em favor do acerto das informações dodocumento.9. Recurso do autor provido para condenar o INSS a computar como especiais, além dos períodos já reconhecidos nasentença (02.04.1979 a 09.03.1981, 01.04.1982 a 01.10.1987 e 01.01.1988 a 25.03.1988), aqueles ora reconhecidos(01.08.1977 a 23.09.1977; 19.03.1981 a 03.09.1981; 01.05.1988 a 15.02.1990; 07.07.1990 a 30.08.1992; 08.01.1993 a16.05.2008), e somando-os ao período rural de 18.08.1973 a 01.06.1977. Caso o tempo resultante seja suficiente para aobtenção de aposentadoria especial ou por tempo de contribuição na data do requerimento administrativo, o INSS deveráconceder e pagar os atrasados, com correção e juros na forma do Manual de Cálculos da Justiça Federal.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal Relator

23 - 0007426-72.2008.4.02.5050/01 (2008.50.50.007426-0/01) ALBERTO PONTES ARAUJO (ADVOGADO: ES014129 -LUIZ CARLOS BARRETO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: SIMONE LENGRUBERDARROZ ROSSONI.) x OS MESMOS.RECURSO DE SENTENÇA N.º 0007426-72.2008.4.02.5050/01RECORRENTES: INSS e ALBERTO PONTES ARAUJORECORRIDOS: OS MESMOSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

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APOSENTADORIA ESPECIAL. CÔMPUTO DE TEMPO COMO ESPECIAL.

I – ENQUADRAMENTO DE CATEGORIA PROFISSIONAL NO ROL DOS DECRETOS 53.831/1964 e 83.080/1979.1. O art. 31 da Lei 3.807/60 dispunha que “A aposentadoria especial será concedida ao segurado que (...) tenha trabalhadodurante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco anos) pelo menos, conforme a atividade profissional, em serviços que,para esse efeito, forem considerados penosos, insalubres ou perigosos, por Decreto do Poder Executivo”.2. As atividades reconhecidas como insalubres, perigosas ou penosas podiam ser enquadradas em três categorias comtratamentos distintos:i) As atividades expressamente constantes do extenso rol dos Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979 (posteriormentesubstituídos pelo Decreto 2.172/1997) conferiam direito à contagem do tempo como especial mediante simplesenquadramento da categoria profissional (registrada na CTPS), independentemente da apresentação de qualquer laudo.ii) As atividades não elencadas nos decretos poderiam ser computadas como especiais mediante prova consistente – cujoônus recaia sobre o segurado (Súmula 198/TFR: “Atendidos os demais requisitos, é devida a aposentadoria especial, seperícia judicial constata que a atividade exercida pelo segurado é perigosa, insalubre ou penosa, mesmo não inscrita emregulamento.”).iii) Especificamente quanto ao agente agressivo “ruído”, a legislação sempre exigiu a comprovação da exposição do agentemediante formulário próprio (DSS-8030 ou SB-40).3. “Para reconhecimento de condição especial de trabalho antes de 29/4/1995, a exposição a agentes nocivos à saúde ou àintegridade física não precisa ocorrer de forma permanente” (Súmula 49/TNU).

II – LEIS 9.032/1995 E 9.528/1997.1. A Lei 9.032, publicada em 29/04/1995, ao acrescentar os §§ 4º e 5º ao art. 57 da Lei 8.213/1991, modificou radicalmentea sistemática de aposentadoria com contagem de tempo especial até então existente: (i) a aposentadoria por categoriaprofissional deixou de existir, (ii) o trabalho exercido sob condições que prejudicassem a saúde ou a integridade física sópoderia ser computado como especial se fosse não ocasional e nem intermitente, e, consequentemente, (iii) a efetivaexposição aos agentes nocivos deve ser demonstrada.2. Mesmo após a edição da Lei 9.032/1995, os Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979 foram mantidos em vigor pelo art. 152da Lei 8.213/91 (hoje revogado), até que fossem integralmente regulamentados os art. 57 e 58. A regulamentação só veioocorrer em 05/03/1997, em virtude da edição do Decreto 2.172, que, em regra, deixou de prever a periculosidade comofator para contagem especial do tempo de serviço.3. A partir da MP 1.523, de 11/10/1996, convertida na Lei 9.528/1997, o art. 58, § 1º, da Lei 8.213/1991 foi alterado de modoque a contagem do tempo de serviço especial passou a depender de comprovação de exposição efetiva medianteformulário emitido pelo empregador, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médicodo trabalho, na forma estabelecida pelo INSS.4. Em síntese, até 28/04/1995, o aproveitamento do tempo como especial era, em regra, consequência da categoriaprofissional do segurado (exceto para o agente “ruído”). De 29/04/1995 em diante, passou a depender de prova daexposição habitual e permanente a agentes nocivos à saúde ou à integridade física, e desde 11/10/1996, passou adepender de laudo técnico na forma do art. 58, § 1º, da Lei 8.213/1991 (STJ, 5ª Turma, REsp 497.174 e 6ª Turma, AgRg noREsp 1.066.847; STF, 2ª Turma, RE 392.559).5. A caracterização e a comprovação do tempo de atividade sob condições especiais obedecerá ao disposto na legislaçãoem vigor na época da prestação do serviço (art. 70, §1º, do Decreto 3048/1999).

III – EMENDA CONSTITUCIONAL 47/2005. ART. 40, § 4º x ART. 201, § 1º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.ATIVIDADES PERIGOSAS OU DE RISCO CONTINUAM A JUSTIFICAR O CÔMPUTO DE TEMPO ESPECIAL NÃOAPENAS PARA SERVIDORES PÚBLICOS COMO TAMBÉM PARA OS SEGURADOS DO REGIME GERAL DEPREVIDÊNCIA SOCIAL. TNU (PEDILEF 50136301820124047001) x STJ (REsp 1.306.113). ELETRICIDADE.TRANSPORTE DE COMBUSTÍVEIS.1. A Emenda Constitucional 20/1998 proibiu “a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão deaposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos de atividades exercidas sobcondições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física” (art. 201, § 1º, da CRFB/1988), e a EmendaConstitucional 47/2005 acrescentou a possibilidade de concessão diferenciada aos segurados portadores de deficiência.Para os servidores públicos, o texto original da Constituição previa tratamento diferenciado no caso de exercício deatividades consideradas penosas, insalubres ou perigosas; a Emenda Constitucional 20/1998 alterou o art. 40, § 4º, pararessalvar apenas “os casos de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridadefísica”; por fim, a Emenda Constitucional 47/2005, atribuindo nova redação ao art. 40, § 4º, proibiu “a adoção de requisitos ecritérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo,ressalvados, nos termos definidos em leis complementares, os casos de servidores: I portadores de deficiência; II queexerçam atividades de risco; III cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou aintegridade física.”.2. Desde a edição do Decreto 2.172, de 05/03/1997, não há previsão em regulamento da periculosidade como fator queautorize a contagem especial do tempo de serviço.3. O INSS defende a tese de que, desde o Decreto 2.172/1997, ou ao menos desde a EC 20/1998, não há suporte legal econstitucional para o cômputo de atividades perigosas como especiais.4. O STJ, no REsp 1.306.113, submetido ao regime de recursos repetitivos, decidiu que as atividades nocivas à saúderelacionadas nas normas regulamentadoras são meramente exemplificativas, podendo o caráter especial do trabalho serreconhecido em outras atividades – como a exposição a “eletricidade” (superior a 250 volts) – desde que permanentes, nãoocasionais e nem intermitentes, mesmo depois da edição do Decreto 2.172/1997.5. A TNU (PEDILEF 50136301820124047001), interpretando o decidido pelo STJ no REsp 1.306.113, considerou que, não

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obstante a ausência de previsão no Decreto 2.172/1997 e na Constituição da República da periculosidade para o RGPS, acontagem de tempo de serviço especial pelo risco é possível desde que haja previsão expressa em lei. Afirmou que, nocaso de que tratou o precedente do STJ (eletricidade), a previsão estava na Lei 7.369/1985 – até a sua revogação pela Lei12.740/2012; contudo, para a atividade de “transporte de combustível”, por ausência de previsão em lei, não admitiu ocômputo especial.6. Há consenso entre o STJ e a TNU no sentido de que a ausência de previsão constitucional não obsta o reconhecimentode atividades perigosas como especiais. A TNU condiciona o reconhecimento à previsão específica em lei. O STJ, deforma mais ampla, considerou possível reconhecer como especial “o labor que a técnica médica e a legislação correlataconsideram como prejudiciais ao obreiro, desde que o trabalho seja permanente, não ocasional, nem intermitente, emcondições especiais”.7. A regra do art. 201, § 1º, da Constituição condiciona o reconhecimento de qualquer atividade como especial à previsãoem lei complementar (ou em lei ordinária – ou decreto regulamentador – anterior à EC 20/1998), a amparar a tese fixadapela TNU. A ausência de previsão legal para o cômputo especial de agente manifestamente nocivo à saúde podeconfigurar afronta à Constituição por proteção deficiente, a justificar o suprimento judicial da lacuna com base em dados datécnica médica. Este raciocínio, contudo, não pode ser aplicado aos casos de mera periculosidade, pois, como aConstituição não impõe o tratamento diferenciado às atividades de risco, a matéria depende da discricionariedade doLegislador.

IV – RUÍDO. DECIBÉIS. TEMPUS REGIT ACTUM (STJ, PET 9.059) x CRITÉRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO DE APURAÇÃODA INSALUBRIDADE.1. Com relação ao trabalho exercido após a Medida Provisória 1.523, de 11/10/1996 (convertida na Lei 9.528/1997), osegurado deve comprovar a exposição efetiva mediante formulário emitido pela empresa, com base em laudo técnico decondições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho, na forma estabelecida pelo INSS (STJ, 2ª Turma, REsp422.616).2. O Decreto 53.831/1964 (item 1.1.6) fixou em 80 db o limite de exposição a ruídos, mantido até 05/03/1997 (art. 173, I, daInstrução Normativa INSS/DC 57, de 10/10/2001, c/c Decreto 2.172, de 05/03/1997); a partir de 05/03/1997, apenas asatividades exercidas com ruídos superiores a 90 db seriam consideradas especiais, e, a partir de 18/11/2003, de 85 db(Súmula 29/AGU).3. Em 28/08/2013, o STJ (1ª Seção, Pet 9.059) decidiu, com fundamento na regra tempus regit actum, contra a orientaçãofirmada na Súmula 32/TNU, segundo a qual a previsão de 85 db retroagiria a 05/03/1997. Isto não obstante, esta TurmaRecursal insiste no acerto do Enunciado 20 do Fórum Regional de Direito Previdenciário da Justiça Federal da 2a Região(FOREPREV): “O tempo de trabalho laborado com exposição a ruído excessivo, para fins de conversão em comum, deveser considerado com base no nível superior a 80 decibéis, na vigência do Decreto 53.831/64 (1.1.6) até 05/03/97. Após, adespeito da previsão contida no Decreto 2.172/97, adveio o Decreto 4.882/03 que estabeleceu o nível de 85 decibéis, emrazão de aperfeiçoamento das normas e técnicas de aferição, de modo que não seria razoável conferir tratamentodiferenciado no período anterior à sua vigência.” É que nocividade não depende apenas de normas, e sim, em essência, defatores científicos. Se a norma mais recente considera que 85 db são suficientes a prejudicar a saúde dos trabalhadores, opatamar anterior, de 90 db, deve ser descartado.

V – EPI – EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL. A REDUÇÃO OU NEUTRALIZAÇÃO DO AGENTE NOCIVOPODE DESCARACTERIZAR A ESPECIALIDADE DO TEMPO POSTERIOR À LEI 9.732/1998, SALVO QUANTO AOAGENTE “RUÍDO” (SÚMULA 9/TNU).1. Somente a partir da Lei 9.732, de 13/12/1998, o art. 58 da Lei 8.213/1991 passou a exigir que do laudo técnico constassemenção expressa à utilização de equipamentos individuais ou coletivos de proteção, preceituando, ainda, que a redução ouneutralização do agente nocivo deve ser considerada para fins de concessão da aposentadoria especial.2. Logo, para as atividades exercidas antes de 13/12/1998, “A utilização de equipamentos de proteção individual portrabalhadores expostos a agentes nocivos não descaracteriza a especialidade da atividade” (TNU, recurso2002.50.50.001890-3/ES).3. Especificamente quanto ao RUÍDO, “Ainda que o EPI elimine a insalubridade, no caso de exposição a ruído, nãodescaracteriza o tempo de serviço especial prestado” (Súmula 9/TNU), orientação jurisprudencial que não tem sua eficáciatemporal limitada até a edição do Decreto 4.882/2003, como consignou a TNU nos processos 2006.72.95.013023-8 e2008.72.54.006111-0, pois o ruído afeta não só o sistema auditivo, exercendo efeito negativos sobre o corpo inteiro mesmocom o emprego de equipamentos de proteção.

VI – POSSIBILIDADE DE CONVERSÃO DE TEMPO ESPECIAL EM COMUM MESMO APÓS 1998 (RESP 1.151.363). ALEI 9.711/1998 NÃO MANTEVE O TEXTO DA MP 1.663 QUE PRETENDIA REVOGAR O § 5º DO ART. 57 DA LEI8.213/1991.1. “Permanece a possibilidade de conversão do tempo de serviço exercido em atividades especiais para comum após 1998,pois a partir da última reedição da MP n. 1.663, parcialmente convertida na Lei 9.711/1998, a norma tornou-se definitivasem a parte do texto que revogava o referido § 5º do art. 57 da Lei n. 8.213/1991” (STJ, 3ª Seção, REsp 1.151.363). Poristo, a Súmula 16/TNU foi revogada, e agora a TNU admite a conversão mesmo após 1998 (PEDILEF50123629320124047108).2. Esta Turma Recursal adota a orientação majoritária consagrada pelo Enunciado 21 do Fórum Regional de DireitoPrevidenciário da Justiça Federal da 2a Região (FOREPREV): “Independentemente da edição do Decreto 4.827/2003, asregras de conversão de tempo de atividade especial em comum aplicam-se ao trabalho prestado, mesmo que posterior a28/05/98, sendo passíveis de revisão administrativa as decisões em sentido contrário”.3. A conversão do tempo deve ser feita nos moldes do art. 64 do Decreto 611/1992:

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Art. 64. O tempo de serviço exercido alternadamente em atividade comum e atividade profissional sob condições especiaisque sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectivaconversão, aplicada a tabela de conversão seguinte, para efeito de concessão de qualquer benefício:

ATIVIDADE A CONVERTER Multiplicadores

Para 15Para 20Para 25Para 30 (Mulher)Para 35 (Homem)

De 15 Anos1,001,331,672,002,33

De 20 Anos0,751,001,251,501,75

De 25 Anos0,600,801,001,201,40

De 30 Anos (Mulher)0,500,670,831,001,17

De 35 Anos (Homem)0,430,570,710,861,00

VII – O CASO CONCRETO.1. A sentença de fls. 152/157 julgou parcialmente procedente o pedido do autor para reconhecer como tempo trabalhadoem condições especiais o período de 01/11/1980 a 20/10/1981, 11/08/1987 a 01/11/1989, 01/03/1990 a 01/07/1991,04/07/1991 a 29/04/1995 e 20/08/2008 a 15/09/2010 mediante o uso do fator 1,4.2. O INSS, em recurso (fls. 159/163), sustenta não ter sido demonstrada a exposição do autor a ruídos acima do limite detolerância. Diz que o laudo técnico elaborado pela BRASINITAS – Empresa de Saneamento e Comércio Ltda. revelainconsistências, e teria sido confeccionado em desacordo com a IN 57/2001. Sustenta que o período de 20/08/2008 a15/09/2010 é posterior ao requerimento administrativo, e a sentença seria extra petita neste ponto.3. O autor, em recurso adesivo (fls. 167/172), sustenta que desde 01/07/1977 até 15/09/2010 exerceu atividades emexposição a agentes nocivos e que, em 19/08/2008, data de entrada do requerimento administrativo, já somava 28 anos, 05meses e 29 dias de trabalho em condições especiais. Afirma que requereu ao juiz fosse oficiado tanto à AtrevidaTransportes Ltda. como a Transportes Paganini Ltda. para que fornecessem o PPP do autor, bem como o Laudo deTécnico de Condições Ambientais do Trabalho (LTCAT), e o Juiz não apreciou o requerimento nem deferiu prova pericial.Contrarrazões às fls. 176/181.

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4. As informações prestadas pela Transportes Paganini Ltda. (fl. 98) foram consideradas como prova de trabalho emcondições especiais, razão pela qual a não apreciação da impugnação ao PPP não trouxe prejuízo ao autor.5. A impugnação (fls. 55/58) feita pelo autor ao PPP emitido pela Atrevida Transportes Ltda. (fl. 19) dizia respeito àexposição do autor a Gás Liquefeito de Petróleo no período posterior a 24/3/1998. No entanto, o documento já basta paracomprovar que o autor trabalhava transportando GLP, o que não o beneficia, por ser atividade perigosa – e não nociva –,na linha do precedente firmado pela TNU no PEDILEF 50136301820124047001 (vide item III.5).6. O recurso do INSS questiona o laudo técnico elaborado pela sociedade empresária Brasinitas – Empresa deSaneamento e Comércio Ltda., mas não há nos autos documento algum emitido por tal empresa, implicando o nãoconhecimento do recurso nesta parte.7. Foi comprovado que os períodos compreendidos entre 01/11/1980 e 20/10/1981, 11/08/1987 e 01/11/1989, 01/03/1990 e01/07/1991 são especiais por enquadramento na categoria profissional (código 2.4.4 do Quadro anexo ao Decreto53.831/1964: Transportes rodoviário – Motoristas e cobradores de ônibus; Motoristas e ajudantes de caminhão; código 2.4.2do Anexo II do Decreto 83.080/1979: Transporte Urbano e Rodoviário – Motorista de ônibus e de caminhões de cargas).Quanto ao período de trabalho iniciado em 04/07/1991, a proteção por enquadramento da categoria profissional estende-setão-somente até 28/04/1995, e não até 29/04/1995.8. O reconhecimento como especial do período de 20/08/2008 a 15/09/2010 (data de emissão do PPP – fl. 93) não é extrapetita, pois os fatos posteriores ao ajuizamento podem ser considerados – já que a pendência do processo judicial obsta oacesso do autor à via administrativa para discutir os mesmos fatos. Durante tal período, o autor continuou trabalhando namesma empresa e nas mesmas condições que, segundo o documento de fl. 145, foram suficientes para enquadrá-lo comoespecial. De qualquer forma, a aposentadoria só será devida desde a data de entrada do requerimento caso o tempo deserviço/contribuição acumulado seja suficiente, não se computando, para tanto, o tempo posterior.9. Recurso do INSS provido em parte mínima, para excluir o dia 29/04/1995 do cômputo como especial. Recurso adesivodo autor desprovido, sem condenação em honorários ante a gratuidade de justiça.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal Relator

24 - 0001577-80.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.001577-4/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: Isabela Boechat B. B. de Oliveira.) x ROBECY ARAÚJO GOMES (ADVOGADO:ES004208 - JULIO RIBEIRO BRANDAO.) x OS MESMOS.RECURSO Nº 0001577-80.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.001577-4/01)RECORRENTES: ROBECY ARAÚJO GOMES e INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDOS: OS MESMOSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA E CONVERSÃO EM APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. PERÍCIA JUDICIALATESTA A CAPACIDADE LABORAL. LAUDO MÉDICO PARTICULAR APONTA A EXISTÊNCIA DE DOENÇA GRAVE(NEOPLASIA PROSTÁTICA) E TRATAMENTO MÉDICO RIGOROSO. AS CONDIÇÕES PESSOAIS DO AUTOR SÃOFAVORÁVEIS AO GOZO DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO PLEITEADO. ART. 436 DO CPC.1. Na via administrativa, o INSS indeferiu requerimento de auxílio-doença formalizado pelo autor em 16.01.2012, uma vezque os peritos da Previdência não constataram incapacidade laboral (fl. 09).2. O autor ajuizou ação pedindo a condenação do INSS ao pagamento de auxílio-doença e, depois, de aposentadoria porinvalidez. A sentença de fls. 88-89 julgou improcedente o pedido de auxílio-doença e a sua conversão em aposentadoriapor invalidez.3. O INSS recorreu (fls. 92-105), para, com amparo no art. 115 da Lei 8.213/1991, cobrar a restituição das parcelas deauxílio-doença pagas por força de tutela antecipada.Entretanto, no caso concreto, valor algum foi pago ao autor a título de antecipação de tutela, razão pela qual nada há arestituir.Recurso do INSS não conhecido por ausência de interesse.4. O autor recorreu (fls. 111-114), sustentando que a perícia judicial atestou que doença estaria sob controle à medida quehouvesse tratamento médico e que, considerando que está submetido a quimioterapia, não teria condições de exercer assuas atividades laborais, destacando também que a incapacidade laborativa parcial se converte em total e definitiva ante ascondições pessoais desfavoráveis à reabilitação profissional.5. O Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS) informa que o autor teve os seguintes períodos contributivos:10.05.1976 a 08.02.1977; 20.10.1978 a 14.04.1979; 07.03.1979 a 30.06.1980; 07.11.1983 a 02.02.1987; 16.06.1988 a01.02.1989; 05.11.1992 a 06.12.1993; 15.03.1994 a 11.07.1994; 01.11.1994 a 26.01.1995; 01.03.1996 a 21.06.1996;01.08.1996 a 31.05.1999; 01.06.1997 a 12/1997; 21.03.2001 a 16.09.2002; 22.08.2003 a 22.10.2003; 02.12.2003 a01.03.2004; 01.09.2008 a 30.10.2008; 01.12.2008 a 06.08.2009; 03.01.2011 a 06.07.2011; 16.01.2012 a 16.01.2012;09.04.2012 a 07.07.2012.6. O sistema PLENUS revela que o autor apenas esteve em gozo de auxílio-doença de 22.08.2003 a 22.10.2003 e de02.12.2003 a 01.03.2004.7. Conforme documentos de fls. 14 e 16 (datados em 22.08.2003 e 09.09.2003), o autor, em razão diagnóstico de neoplasiade próstata, foi submetido a intervenção cirúrgica.O exame de fl. 13 (datado em 07.03.2008) evidencia lesões na coluna tóraco-lombar (múltiplas metástases ósseas).O laudo médico de fl. 15 (datado em 20.12.2011), atesta ainda a existência da moléstia.

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O documento médico de fl. 21 (datado em 18.08.2011) informa que, de 27.05.2011 a 12.07.2011, o autor teve de sesubmeter a tratamento clínico.8. A perícia judicial de fls. 43-45 (realizada em 10.07.2012) concluiu que, embora o autor seja portador de neoplasia depróstata e tenha lesão na coluna tóraco-lombar (metástases ósseas), a incapacidade para o trabalho parcial existiria deforma parcial – apesar de não verificar sintomas da moléstia – mas destacou a necessidade de avaliar exames maisrecentes (RX da coluna e tomografia computadorizada), considerando que o exame de fl. 13 era de 2008.O autor apresentou novo exame (fls. 71-73), e o perito atestou que o quadro se mantinha inalterado desde o exameanterior, sem evidência de metástases.O autor apresentou laudo médico recente à fl. 83 (datado em 06.06.2013), atestando que ele estaria ainda em tratamentode câncer de próstata, com uso de medicação, sem previsão de término do tratamento médico, destacando o médico que aneoplasia seria avançada em estádio IV.Em resposta aos quesitos complementares, o perito apresentou novo laudo à fl. 87, no qual afirmou que o tratamentomédico e a medicação não comprometeriam o exercício das atividades laborais habituais – o que levou o juiz a julgar opedido improcedente.9. O juiz, ao proferir a sentença, não está adstrito exclusivamente ao resultado do laudo pericial, podendo valer-se dosdemais elementos de prova existentes nos autos para formar sua convicção (art. 436 do CPC).O autor, hoje com 62 anos, é portador de neoplasia de próstata e foi submetido a cirurgia em 2003, estando desde entãoem tratamento oncológico. A perícia judicial concluiu pela capacidade laboral do autor com base na doença existente emsua coluna tóraco-lombar, não havendo análise pericial sob o ponto de vista do tratamento do câncer em si. O laudo médicode fl. 83, datado em 06.06.2013, atesta que a neoplasia está avançada, em estágio IV e que ele, em razão disso,submete-se a tratamento médico com análogos do LHRH (terapia hormonal).10. A análise das condições pessoais do autor revela que ele possui idade avançada, baixo grau de escolaridade e já reuniuexpressivo tempo de trabalho contributivo, com primeiro vínculo empregatício em 1976. Associando tais elementos ao fatode que ele é portador de doença grave (neoplasia prostática), submetido a rigoroso tratamento médico, é improvável o seureingresso no mercado de trabalho em qualquer atividade compatível com sua limitação funcional. Impossibilidade dereabilitação profissional no caso, considerando as condições individuais do segurado. Conclui-se, portanto, que o autor fazjus à concessão de auxílio-doença e sua conversão em aposentadoria por invalidez.11. Recurso do autor conhecido e provido, para condenar o INSS a conceder auxílio-doença desde a data do requerimentoadministrativo (16.01.2012) e, em substituição, aposentadoria por invalidez desde a data do laudo médico de fl. 83(06.06.2013). Deferimento de antecipação dos efeitos da tutela com base em toda a fundamentação de fato e de direitolançada neste voto e do caráter alimentar do benefício pleiteado (Súmula 729/STF). As parcelas vencidas deverão sercorrigidas monetariamente pelo INPC (art. 41-A da Lei 8.213/1991) e, desde a citação, juros de mora na forma da redaçãoatual do art. 1º-F da Lei 9.494/1997. Sem custas e honorários advocatícios, na forma do artigo 55, caput, da Lei 9.099/1995.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

25 - 0001115-26.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.001115-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) UNIAO FEDERAL(PROCDOR: PEDRO GALLO VIEIRA.) x MARCUS VINICIUS SARAQUINO VINHOSA (ADVOGADO: RJ088855 - CARLAXIMENES DE FREITAS.).RECURSO Nº 0001115-26.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.001115-0/01)RECORRENTE: UNIÃO FEDERALRECORRIDO: MARCUS VINICIUS SARAQUINO VINHOSARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

ADMINISTRATIVO. PAGAMENTO DE AJUDA DE CUSTO. REMOÇÃO DE ADVOGADO DA UNIÃO A PEDIDO.INTERESSE DO SERVIÇO.1. O autor, Advogado da União, inscreveu-se no concurso de remoção promovido pelo Edital 7/2009 e foi removido do DFpara o Espírito Santo. Na via administrativa, a União Federal recusou o pagamento da ajuda de custo, com fundamento noart. 10 do Edital, sustentando a inaplicabilidade da norma do art. 53 da Lei 8.112/1990.2. Ajuizada ação indenizatória, o pedido foi julgado procedente para condenar a União Federal ao pagamento de ajuda decusto. A União, em recurso, suscita a incompetência do JEF para a anulação do art. 10 do Edital, e, no mérito, insiste que aremoção a pedido não caracteriza interesse do serviço.3. A vedação do art. 3º, § 1º, III, da Lei 10.259/2001 se dirige aos pleitos de anulação de atos concretos, específicos e decaráter individual: não se aplica aos casos em que a procedência do pedido apenas implique a desconsideração, por viareflexa, de ato administrativo geral e abstrato (norma administrativa).4. A norma do art. 10 do Edital 7/2009 comporta duas leituras possíveis. A primeira, feita pela sentença, exclui apenas acobertura, pela União, das despesas referentes à participação no certamente, não o pagamento da ajuda de custo em si,razão pela qual não haveria que se falar em anulação de ato administrativo para julgar procedente o pedido. A segunda,sustentada pela ré, exclui a ajuda de custa, por interpretar restritivamente o art. 53 da Lei 8.112/1990. Neste caso, aprocedência do pedido dependeria da desconsideração de cláusula genérica do Edital para fazer prevalecer o texto da leiordinária – o que não esbarra no óbice do art. 3º, § 1º, III, da Lei 10.259/2001. Preliminar de incompetência rejeitada.5. No mérito, com a ressalva da orientação pessoal do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, no sentido deque a previsão de pagamento de ajuda de custo se restringe, nos termos do art. 53 da Lei 8.112/1990, aos casos deremoção por interesse do serviço, sem abranger os casos de remoção a pedido (por interesse pessoal), deve prevalecer a

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orientação firmada pela sentença, porque amparada em farta jurisprudência do STJ e da TNU (PEDILEF05057003520094058300), a considerar que o interesse pessoal do requerente não exclui o interesse público daAdministração de ter as vagas providas.6. Recurso da União desprovido. Sem condenação em custas. Condenação ao pagamento de honorários de 10% sobre ovalor da condenação.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

26 - 0007451-85.2008.4.02.5050/01 (2008.50.50.007451-9/01) SOLANGE APARECIDA MARQUES SIQUEIRA(ADVOGADO: ES013354 - FELIPE RUBIM SEABRA DE MELLO, ES009846 - WILLIAM FERNANDO MIRANDA.) xUNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO - UFES (PROCDOR: FRANCISCO VIERA LIMA NETO.).RECURSO DE SENTENÇA N.º 0007451-85.2008.4.02.5050/01RECORRENTE: SOLANGE APARECIDA MARQUES SIQUEIRARECORRIDO: UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO - UFESRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. FALTA DE PROVA ORAL. OFENSA AO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL.INOCORRÊNCIA. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE NOS JUIZADOS ESPECIAIS. POSSIBILIDADE.RESPONSABILIDADE CIVIL. FATOR RH. EXAME INCORRETO. DANO MORAL. INOCORRÊNCIA.1. A autora ajuizou ação com pedido de indenização por danos morais. Alegou que estava grávida quando se submeteu aexame de tipagem sanguínea e fator RH no Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes – HUCAM da UFES.Embora fosse portadora de fator RH positivo, o resultado do exame concluiu que seu fator era negativo, indicandodivergência com o fator RH do pai de seu filho, o que teria causado forte angústia pelos problemas de saúde a que onascituro estaria exposto, bem como fez com que tomasse medicação para tentar minimizar as conseqüências dessadivergência de RH.2. O Juiz prolatou sentença de improcedência logo após a juntada da contestação, o que, segundo a recorrente, implicariaafronta ao devido processo legal, por supressão da prova oral.Entretanto, o rito da Lei 10.259/2001 é marcado pela celeridade, e a designação de AIJ pode ser dispensada quandodesnecessária.A autora não indicou, em sua petição inicial, qualquer pessoa que deveria ser ouvida como testemunha. O depoimento daprópria autora não foi requerido pela ré.3. O que ocorre é que a petição inicial, apesar de longa, é genérica, ao dissertar sobre dano moral sem dedicar mais do quealgumas poucas linhas a narrar os fatos que constituem a causa de pedir. Ora, a prova a ser produzida se presta acomprovar os fatos detalhados na petição inicial, não a suprir vícios desta e esmiuçar os fatos. Se os detalhes não constamda petição inicial, elaborada por advogado, não há muito o que provar – já que pouco foi alegado.Não houve, portanto, violação a garantia fundamental do processo no caso concreto.4. Como esclarecido em contestação, a autora e o nascituro só estariam expostos a risco de eritoblastose fetal se aprimeira já houvesse tido um primeiro filho com RH positivo (ou entrado em contato, por transfusão de sangue com sangueRH positivo).5. A informação anotada pela autora à fl. 23 alerta para o risco de erros no resultado do RH e para a necessidade derepetição.6. Não obstante o erro cometido pelo HUCAM, o medo e a angústia decorrentes da desinformação não se justificam, comoconcluiu a sentença, porque eles poderiam ter sido afastados por qualquer médico a que fosse feita pergunta a respeito.7. Recurso desprovido. Sem condenação em custas e honorários, ante a gratuidade de justiça.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal Relator

27 - 0006749-08.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.006749-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: Marcos Figueredo Marçal.) x HELENA DAVOLI TOLEDO (ADVOGADO: ES014723- MARIA JOSE VIEIRA GIORISATTO.).RECURSO Nº 0006749-08.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.006749-0/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: HELENA DAVOLI TOLEDORELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. DESCONTOS EFETUADOS INDEVIDAMENTE SOBRE O BENEFÍCIO DA RECORRIDA.RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO INSS.1. A autora recebe pensão por morte de trabalhador rural desde 13/06/1989. Desde 2004, o INSS passou a descontarmensalmente da pensão um percentual a título de “Consignação CONTAG” (fls. 2; 11/28). Em 17/04/2008, a autora

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formulou requerimento administrativo de exclusão da consignação, sendo que, a partir da competência abril/2008, o INSScessou os descontos mensais, mas comunicou à autora que os valores já descontados só poderiam ser devolvidos pelaprópria CONTAG (fl. 33).2. A sentença condenou o INSS e a CONTAG, solidariamente, a restituírem os valores indevidamente descontados de seubenefício previdenciário. O INSS sustenta que não cometeu ato ilícito, pois apenas efetuou o lançamento das informaçõesque lhe foram passadas pela CONTAG.3. Nos termos do art. 6º da Lei 10.820/2003, que dispõe sobre a autorização do desconto de prestações em folha depagamento, e a Instrução Normativa INSS/PRES 28, de 16/05/2008, que regulamenta a matéria, o INSS tem a obrigação desomente proceder aos descontos de empréstimos caso haja autorização expressa do titular do benefício. Contudo, nenhumdos réus comprovou que a recorrida tivesse autorizado o lançamento dos descontos impugnados. Assim, a autarquiaprevidenciária não pode se eximir de sua responsabilidade, que, no caso em tela, é solidária (art. 264 do Código Civil).Responsabilidade objetiva do INSS pelos atos praticados por seus agentes em desacordo com a lei (art. 37, § 6º, daConstituição da República).4. Recurso do INSS desprovido. Condenação do recorrente vencido ao pagamento de honorários advocatícios, fixados em10% da condenação, nos termos do artigo 55, caput da Lei 9.099/1995.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

28 - 0000252-89.2011.4.02.5055/01 (2011.50.55.000252-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: SIMONE LENGRUBER DARROZ ROSSONI.) x ERNESTINA ROSA DE SOUZA(DEF.PUB: RICARDO FIGUEIREDO GIORI.).RECURSO Nº 0000252-89.2011.4.02.5055/01 (2011.50.55.000252-7/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ERNESTINA ROSA DE SOUZARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

ASSISTÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DE PRESTAÇÃO CONTINUADA. ART. 20, § 3º, DA LEI 8.742/1993.APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 34, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 10.741/2003. RECONHECIMENTO PELO STF DAINCONSTITUCIONALIDADE, POR PROTEÇÃO INSUFICIENTE DOS NECESSITADOS, DAS REGRAS EM QUESTÃO(RE 567.985 e RE 580.963). HABILITAÇÃO NA FORMA DO ART. 112 DA LEI 8.213/1991. FIXAÇÃO DA DIB NA DER.1. A sentença julgou procedente o pedido de concessão do benefício assistencial de prestação continuada em favor daautora deficiente. O INSS, em recurso, alegou que a aplicação do parágrafo único do art. 34 da Lei 10.741/2003 é restrita àpercepção de benefício assistencial concedido a idosos de uma mesma família, não autorizando interpretação ampliativapara abranger outros benefícios previdenciários. A parte autora recorreu para que a DIB fosse alterada para corresponder àdata da cessação do benefício 103.843.187-2, pois já naquela ocasião preenchia os requisitos do benefício.2. A jurisprudência amplamente majoritária das Turmas Recursais considerava que o critério do art. 20, § 3º, da Lei8.742/1993 não era absoluto para a aferição da miserabilidade da família, assim como conferia interpretação extensiva aoparágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso (Enunciado 46 das Turmas Recursais do Espírito Santo). Esta orientaçãofoi consolidada pelo próprio STF, que reconheceu incidentalmente a inconstitucionalidade das regras em questão, porproteção insuficiente aos idosos e aos portadores de deficiências (RE 567.985 e RE 580.963), permitindo,conseqüentemente, a aferição de miserabilidade com outros parâmetros, por livre apreciação fundamentada da prova.3. O recurso interposto pelo INSS se limita a alegar a constitucionalidade e a aplicação literal das regras tidas porinconstitucionais pelo STF, e, por isto, a ele se NEGA PROVIMENTO. Como não houve impugnação expressa à valoraçãofeita pela sentença quanto às provas e aos fatos do caso concreto, a matéria não foi devolvida à apreciação da TurmaRecursal, cujo julgamento está adstrito à causa de pedir recursal. Condenação do INSS ao pagamento de honoráriosadvocatícios de 10% sobre o principal.4. Quanto ao recurso da parte autora, as condições que ensejam o deferimento do benefício já estavam presentes à épocada cessação indevida do benefício assistencial que recebia (103.843.187-2). Recurso da autora provido para retroagir aDIB a esse momento (cessação do NB 103.843.187-2), observada a prescrição qüinqüenal.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

29 - 0001512-85.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.001512-9/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: SIMONE LENGRUBER DARROZ ROSSONI.) x IDE BARROZO DEVASCONCELOS (ADVOGADO: ES021497 - LUCIANA DE SOUZA COSTA MENDEL.).RECURSO Nº 0001512-85.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.001512-9/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: IDE BARROZO DE VASCONCELOSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

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PREVIDENCIÁRIO. SALÁRIO-MATERNIDADE. LEGITIMIDADE PASSIVA DO INSS DEVIDO À NATUREZAPREVIDENCIÁRIA DAS VERBAS REQUERIDAS. VÍNCULO EMPREGATÍCIO COMPROVADO NO PERÍODO DE03.09.2007 A 04.01.2011. MANUTENÇÃO DA QUALIDADE DE SEGURADA À ÉPOCA DO PARTO.1. O INSS indeferiu requerimento de auxílio-maternidade, por considerar que a autora, na ocasião do nascimento de suafilha, em 20.09.2011, havia perdido a qualidade de segurada.2. Em processo judicial, a sentença julgou procedente o pedido de concessão de auxílio-maternidade, por considerar que aautora provou vínculo de emprego até 04.01.2011 (reconhecido por sentença trabalhista) e manteve a qualidade desegurada.3. O INSS, em recurso, suscitou sua ilegitimidade passiva (afirmando que é do empregador, não da autarquia, o dever depagar o auxílio-maternidade) e, no mérito, alegou que o desaparecimento da empregadora sem pagar o auxílio-maternidadenão transfere o dever para o ente público. Sustentou, ainda, que a testemunha declarou conhecer os fatos declarados porter trabalhado com a autora, mas não comprovou haver laborado para a mesma empregadora no mesmo período.Contrarrazões às fls. 88-93.4. O auxílio-maternidade é prestação previdenciária a ser pago, nos termos da Lei 10.710/2003, diretamente peloempregador, mediante compensação com as contribuições previdenciárias devidas pela empresa – disto decorrendo que éo INSS o real devedor da prestação. Se o empregador não se desincumbiu do dever, este pode ser cobrado do INSS.Preliminar de ilegitimidade rejeitada.5. A autora gozou auxílio-doença de 01.04.2009 a 31.05.2010, o que faz presumir sua qualidade de segurada nesseperíodo, mantida pelo menos até julho/2011.6. Sentença da Justiça do Trabalho reconheceu vínculo da autora com a WORLD GLASS COMÉRCIO DE VIDROS LTDA,de 03.09.2007 a 04.01.2011, posteriormente anotado na CTPS. O INSS não pode questionar a força probante datestemunha, pois a prova já foi valorada pela sentença. Quando a filha da autora nasceu em 20.09.2011, esta ainda tinha aqualidade de segurada.7. Recurso do INSS conhecido e desprovido. Condenação do recorrente vencido ao pagamento de honorários advocatíciosarbitrados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

30 - 0006269-93.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.006269-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) MINISTÉRIO PÚBLICOFEDERAL (PROCDOR: JOSE NILSO DE LIRIO.) x JOILTON XAVIER DE NOVAIS (ADVOGADO: ES012744 - MICHELEITABAIANA DE CARVALHO PIRES.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: IsabelaBoechat B. B. de Oliveira.).RECURSO Nº 0006269-93.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.006269-0/01)RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALRECORRIDO: JOILTON XAVIER DE NOVAISRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA E CONVERSÃO EM APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. ACORDO JUDICIAL.AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. NÃO HOUVE DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZO AOINTERESSE DO INCAPAZ.1. O Ministério Público Federal interpôs recurso da fl. 80, que homologou o acordo realizado pelas partes litigantes, nosentido de implementar o auxílio-doença, com DIB em 18.03.2011, e a sua conversão em aposentadoria por invalidez apartir de 07.10.2011, com o pagamento de 90% das parcelas em atrasado referentes aos benefícios. Alega o recorrenteque não foi intimado para intervir no feito, pleiteando a nulidade da sentença. Contrarrazões apresentadas pelo autor às fls.91-93.2. O caso dos autos impunha, nos termos da lei, a intervenção do MPF, formalidade que não foi observada. Entretanto,sem alegação de prejuízo para as partes ou para o interesse público, não se justifica a anulação da sentença homologatóriade acordo.3. Recurso do MPF conhecido e desprovido. Sem a condenação em custas e honorários advocatícios, na forma da lei.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

31 - 0007437-96.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.007437-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ELZA ELENA BOSSOES ALEGRO OLIVEIRA.) x JACINTO SIQUEIRA (DEF.PUB:LIDIANE DA PENHA SEGAL.).RECURSO Nº 0007437-96.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.007437-3/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: JACINTO SIQUEIRARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

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VOTO-EMENTA

ADMINISTRATIVO. PAGAMENTO INDEVIDO. RECEBIMENTO DE BOA-FÉ. PONDERAÇÃO ENTRE A VEDAÇÃO AOENRIQUECIMENTO ILÍCITO E O PRINCÍPIO DA CONFIANÇA NOS ATOS PRATICADOS PELA ADMINISTRAÇÃOPÚBLICA. REPETIBILIDADE COM REGRA (ART. 46 DA LEI 8.112/1990), IRREPETIBILIDADE COMO EXCEÇÃO.1. O INSS recorreu da sentença que julgou procedente o pedido da parte autora no sentido de obstar a devolução devalores pagos indevidamente e recebidos de boa-fé.2. Em atenção ao princípio da legalidade, inscrito no caput do art. 37 da Constituição, a Administração Pública pode e deveinvalidar seus próprios atos, quando praticados em desconformidade com a lei (Súmula 473/STF e art. 53 da Lei 9.784/99).Deve, também, tanto quanto possível, buscar reverter as conseqüências já consumadas desses atos.3. A restituição de valores pagos indevidamente pela Administração tem amparo, dentre outros, nos art. 46 da Lei8.112/1990 e 115 da Lei 8.213/1991. O fundamento da restituição não reside na boa ou na má-fé de quem recebeu quantiaindevida, e sim no princípio da vedação ao enriquecimento sem causa e na regra do art. 138 do Código Civil, segundo aqual os atos praticados por erro são anuláveis.4. Quem recebe quantia indevida de má-fé pratica ato ilícito, devendo restituir imediatamente os valores corrigidos e comjuros de mora, além de sujeitar-se a eventuais sanções previstas na legislação cível e criminal. Quem recebe quantiaindevida de boa-fé também não pode enriquecer sem causa válida: em atenção ao princípio da confiança legítima nos atosda Administração, deve restituir os valores corrigidos (i) sem juros de mora, (ii) de forma parcelada (salvo no caso do art.46, § 2º, da Lei 8.112/1990), e (iii) em percentual entre 10 e 30% da sua remuneração/proventos, a fim de que suasubsistência digna não seja prejudicada.5. A Súmula 106 do TCU (“O julgamento pela ilegalidade das concessões de reforma, aposentadoria e pensão, não implicapor si só a obrigatoriedade de reposição das importâncias já recebidas de boa-fé, até a data da decisão pelo órgãocompetente.”) não consagra a irrepetibilidade como regra, limitando-se a dizer que o pagamento de vantagem ilegal nãoimplica automaticamente o dever de restituir, devendo o órgão competente realizar previamente outras ponderações.6. As hipóteses excepcionais que podem autorizar a declaração de irrepetibilidade são:i) Pagamento feito pela Administração em conformidade com determinada interpretação da lei que posteriormente tenhasido reinterpretada (Súmula 34 da AGU: “Não estão sujeitos à repetição os valores recebidos de boa-fé pelo servidorpúblico, em decorrência de errônea ou inadequada interpretação da lei por parte da Administração Pública.”);ii) Restituição que resulte em dano significativo para o administrado (mesmo o desconto de 10% mensais fará com que ovalor líquido da remuneração fique em patamar manifestamente insuficiente); eiii) Consumação do prazo decadencial de cinco anos (art. 54 da Lei 9.784/1999).7. Na mesma linha, o STF, apesar de não ter reconhecido repercussão geral à matéria (AI 841.473), pronunciou-se sobre otema no exercício de sua competência originária (MS 25.641), concluindo que a reposição ao erário dos valoresindevidamente pagos a servidores por erro da Administração só pode ser dispensada quando presentes cumulativamenteos seguintes requisitos:i) presença de boa-fé do servidor;ii) ausência, por parte do servidor, de influência ou interferência para a concessão da vantagem impugnada;iii) existência de dúvida plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma infringida, no momento da ediçãodo ato que autorizou o pagamento da vantagem impugnada; eiv) interpretação razoável, embora errônea, da lei pela Administração.8. Em síntese, não basta a boa-fé subjetiva, sendo imprescindível a verificação da boa-fé objetiva: pagamentosmanifestamente ilegais descaracterizam a boa-fé objetiva e devem ser restituídos ao Erário. Orientação adotada pelo STJ(AgRg no REsp 1263.480) e pelo TRF da 2ª Região (AC 201050010021797, APELRE 200951010119967 e APELRE200951010256521).9. No caso dos autos, o autor era beneficiário de aposentadoria por invalidez desde 01/01/1995.Em revisão administrativa realizada em 2007, o INSS apurou que o autor voltou ao mercado de trabalho, exercendoatividade laborativa nos períodos de 30/05/2001 a 31/12/2002, 22/05/2003 a 31/12/2003, 02/01/2004 a 31/12/2004 e18/03/2005 a 31/05/2005, conforme informações do Município de Cariacica.Desta feita, a autarquia reputou indevido o recebimento do benefício por incapacidade desde 30/05/2001, apresentandocálculos dos valores considerados como recebidos indevidamente pelo autor, os quais somaram, no período de maio de2001 a maio de 2005, R$ 18.616,76 (dezoito mil, seiscentos e dezesseis reais e setenta e seis centavos).Em análise dos parâmetros fixados acima, conclui-se que (i) é duvidoso afirmar que o segurado estava de boa-fé, nãoobstante seu baixo grau de instrução, e que (ii) o que interessa é que a regra é a devolução de quantias recebidas emdesconformidade com a lei, exigindo-se, para a configuração da exceção (irrepetibilidade), BOA FÉ OBJETIVAMENTECONSIDERADA, o que manifestamente não se verifica quando alguém afirma ser inválido e retoma o trabalho.10. Recurso do INSS provido para julgar improcedente o pedido do autor. Sem condenação em custas e honoráriosadvocatícios, tendo em vista o provimento do recurso (art. 55, Lei 9.099/1995).

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

32 - 0006424-96.2010.4.02.5050/02 (2010.50.50.006424-7/02) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: NANCI APARECIDA DOMINGUES CARVALHO.) x MARIA JOSE DA SILVA(DEF.PUB: LIDIANE DA PENHA SEGAL.).RECURSO Nº 0006424-96.2010.4.02.5050/02 (2010.50.50.006424-7/02)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: MARIA JOSE DA SILVARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

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VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. DESCONTO DE BENEFÍCIO PAGO INDEVIDAMENTE. ART. 115, II DA LEI 8.213/1991. APLICAÇÃOSOMENTE AO MESMO SEGURADO QUE RECEBEU O BENEFÍCIO INDEVIDAMENTE.1. O INSS recorreu da sentença que julgou procedente o pedido do autor para obstar o desconto na pensão por morte. Orecorrente sustenta que os princípios constitucionais que regem a Administração Pública e a norma que prevê a vedação aoenriquecimento sem causa devem prevalecer sobre a alegada boa-fé da autora, bem como sobre a natureza alimentar daprestação indevidamente recebida. Contrarrazões às fls. 130/139.2. A autorização de desconto prevista no art. 115, II da Lei 8.213/1991 aplica-se somente ao mesmo segurado que recebeuo benefício indevidamente, sob pena de o dependente ser responsabilizado por dívida de outrem (TRF4, AMS199804010593473).3. No caso concreto, o marido da autora era o titular do benefício que o INSS alega ter sido pago indevidamente (AmparoSocial ao Idoso). A autora é dependente do segurado falecido e recebe pensão por morte. Por esses motivos, não pode serobrigada a restituir prestações relativas a benefício de que não era titular. Sentença mantida por fundamento diverso.4. O INSS é livre para apurar o valor pago indevidamente ao falecido e ajuizar ação de conhecimento visando condenar osherdeiros a indenizá-lo, até as forças da herança, mas não está autorizado a descontar parte da pensão por morte paga àesposa do de cujus.5. Recurso do INSS desprovido. Isenção de custas. Sem condenação em honorários advocatícios, nos termos da Súmula421 do STJ.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

33 - 0001424-47.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.001424-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: Carolina Augusta da Rocha Rosado.) x PAULO ARNALDO SCHOROEPPER(DEF.PUB: LUCIANO ANTONIO FIOROT.).RECURSO Nº 0001424-47.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.001424-1/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: PAULO ARNALDO SCHOROEPPERRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

ADMINISTRATIVO. PAGAMENTO INDEVIDO. RECEBIMENTO DE BOA-FÉ. PONDERAÇÃO ENTRE A VEDAÇÃO AOENRIQUECIMENTO ILÍCITO E O PRINCÍPIO DA CONFIANÇA NOS ATOS PRATICADOS PELA ADMINISTRAÇÃOPÚBLICA. REPETIBILIDADE COM REGRA (ART. 46 DA LEI 8.112/1990), IRREPETIBILIDADE COMO EXCEÇÃO.1. O INSS recorreu da sentença que julgou procedente o pedido da parte autora no sentido de obstar a devolução devalores pagos indevidamente e recebidos de boa-fé.2. Em atenção ao princípio da legalidade, inscrito no caput do art. 37 da Constituição, a Administração Pública pode e deveinvalidar seus próprios atos, quando praticados em desconformidade com a lei (Súmula 473/STF e art. 53 da Lei 9.784/99).Deve, também, tanto quanto possível, buscar reverter as conseqüências já consumadas desses atos.3. A restituição de valores pagos indevidamente pela Administração tem amparo, dentre outros, nos art. 46 da Lei8.112/1990 e 115 da Lei 8.213/1991. O fundamento da restituição não reside na boa ou na má-fé de quem recebeu quantiaindevida, e sim no princípio da vedação ao enriquecimento sem causa e na regra do art. 138 do Código Civil, segundo aqual os atos praticados por erro são anuláveis.4. Quem recebe quantia indevida de má-fé pratica ato ilícito, devendo restituir imediatamente os valores corrigidos e comjuros de mora, além de sujeitar-se a eventuais sanções previstas na legislação cível e criminal. Quem recebe quantiaindevida de boa-fé também não pode enriquecer sem causa válida: em atenção ao princípio da confiança legítima nos atosda Administração, deve restituir os valores corrigidos (i) sem juros de mora, (ii) de forma parcelada (salvo no caso do art.46, § 2º, da Lei 8.112/1990), e (iii) em percentual entre 10 e 30% da sua remuneração/proventos, a fim de que suasubsistência digna não seja prejudicada.5. A Súmula 106 do TCU (“O julgamento pela ilegalidade das concessões de reforma, aposentadoria e pensão, não implicapor si só a obrigatoriedade de reposição das importâncias já recebidas de boa-fé, até a data da decisão pelo órgãocompetente.”) não consagra a irrepetibilidade como regra, limitando-se a dizer que o pagamento de vantagem ilegal nãoimplica automaticamente o dever de restituir, devendo o órgão competente realizar previamente outras ponderações.6. As hipóteses excepcionais que podem autorizar a declaração de irrepetibilidade são:i) Pagamento feito pela Administração em conformidade com determinada interpretação da lei que posteriormente tenhasido reinterpretada (Súmula 34 da AGU: “Não estão sujeitos à repetição os valores recebidos de boa-fé pelo servidorpúblico, em decorrência de errônea ou inadequada interpretação da lei por parte da Administração Pública.”);ii) Restituição que resulte em dano significativo para o administrado (mesmo o desconto de 10% mensais fará com que ovalor líquido da remuneração fique em patamar manifestamente insuficiente); eiii) Consumação do prazo decadencial de cinco anos (art. 54 da Lei 9.784/1999).7. Na mesma linha, o STF, apesar de não ter reconhecido repercussão geral à matéria (AI 841.473), pronunciou-se sobre otema no exercício de sua competência originária (MS 25.641), concluindo que a reposição ao erário dos valoresindevidamente pagos a servidores por erro da Administração só pode ser dispensada quando presentes cumulativamente

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os seguintes requisitos:i) presença de boa-fé do servidor;ii) ausência, por parte do servidor, de influência ou interferência para a concessão da vantagem impugnada;iii) existência de dúvida plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma infringida, no momento da ediçãodo ato que autorizou o pagamento da vantagem impugnada; eiv) interpretação razoável, embora errônea, da lei pela Administração.8. Em síntese, não basta a boa-fé subjetiva, sendo imprescindível a verificação da boa-fé objetiva: pagamentosmanifestamente ilegais descaracterizam a boa-fé objetiva e devem ser restituídos ao Erário. Orientação adotada pelo STJ(AgRg no REsp 1263.480) e pelo TRF da 2ª Região (AC 201050010021797, APELRE 200951010119967 e APELRE200951010256521).9. No caso dos autos, o autor é beneficiário de aposentadoria por tempo de contribuição desde 21/09/1998 e do benefíciode auxílio-suplementar desde 30/03/1988. O INSS, em revisão administrativa, verificou, em 03/2012, que os benefícios sãoinacumuláveis e passou a cobrar do recorrido dívida estimada em R$ 8.219,20 (fl.8), referentes aos cinco anos queantecederam a decisão administrativa.A inacumulabidade dos referidos benefícios é reconhecida pela jurisprudência do STJ e da TNU, conforme destacado nasentença.Por outro lado, não há dúvidas de que o autor agiu de boa-fé quando do recebimento dos benefícios pagos indevidamentepelo INSS, que não observou o recebimento do auxílio-suplementar quando da concessão da aposentadoria por tempo decontribuição. Também não houve influência ou interferência do segurado para a concessão da vantagem impugnada.De resto, desde a Lei 9.784/1999, começou a fluir prazo decadencial de cinco anos, majorado para dez pela Lei10.839/2004 que acrescentou o art. 103-A na Lei 8.213/1991, consumado em 2009. Se é assim, o INSS não pode reaver oque pagou indevidamente.10. Recurso do INSS desprovido. Sem custas. Condenação do recorrente vencido ao pagamento de honoráriosadvocatícios, fixados em 10% (dez por cento) da condenação, nos termos do artigo 55, caput da Lei n. 9.099/1995.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

34 - 0003122-56.2010.4.02.5051/01 (2010.50.51.003122-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) JOSE ORLINDO DEOLIVEIRA (ADVOGADO: ES011019 - GUSTAVO LUIZ BUSSULAR.) x CEF-CAIXA ECONOMICA FEDERAL (ADVOGADO:ES010404 - ALEX WERNER ROLKE.).RECURSO Nº 0003122-56.2010.4.02.5051/01 (2010.50.51.003122-6/01)RECORRENTE: JOSE ORLINDO DE OLIVEIRARECORRIDO: CAIXA ECONÔMICA FEDERALRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

FGTS. JUROS PROGRESSIVOS.1. A autora interpôs recurso da sentença que julgou improcedente sua pretensão de receber diferenças devidas a título dejuros progressivos incidentes sobre o saldo de conta vinculada ao FGTS. Em suas razões, pede a anulação da sentençaporque a lide foi julgada antecipadamente, apesar da necessidade de instrução probatória, e porque o juízo a quo nãoapreciou o pedido referente ao período de 01.01.1967 a 01.01.1978.2. O art. 333, I, do CPC atribui à parte autora o ônus de provar o fato constitutivo de seu direito, que, no caso, seria aremuneração a menor das suas contas de FGTS. Os arts. 37, caput, da CRFB/1988 e 11 da Lei 10.259/2001 impõem aosentes públicos a apresentação em juízo de todas as provas que estão em seu poder, como decorrência dos princípios dapublicidade e da cooperação dos entes públicos para a consecução do Interesse Público primário. Isto não implica, contudo,a inversão do ônus da prova: se a parte ré não tiver documentos suficientes, cabe ao autor demonstrar que houve violaçãoao seu direito.3. O STJ firmou jurisprudência, em matéria de expurgos inflacionários em contas do FGTS, no sentido de impor à CEF aapresentação dos extratos analíticos, inclusive daqueles anteriores a 1992, para fins de liquidação, sob pena de estarautorizado o arbitramento (REsp 1.108.034). A orientação se justifica porque, nessa matéria, a violação ao direito dosfundistas era fato notório, a autorizar a procedência do pedido em função da simples comprovação de existência de contacom saldo positivo no período. Em matéria de juros progressivos, entretanto, a ausência nos autos de documento que dêsuporte mínimo à alegação de que as contas de FGTS não foram remuneradas corretamente deve implicar a extinção semapreciação do mérito, por ausência de demonstração do interesse de agir, uma vez que não se pode presumir odescumprimento da lei pelos bancos que geriam fundo público.4. A extinção do processo sem resolução do mérito só está autorizada após a exaustão dos esforços razoáveis paraelucidar a verdade real. Por outro lado, se a CEF juntar informações extraídas do seu sistema de gestão do FGTS,informando que os juros progressivos foram aplicados corretamente, presume-se verdadeira a informação, a justificar aimprocedência do pedido.5. No caso concreto, constam dos autos o número do PASEP da parte autora e a informação de que o BANESTES S.A.geria a conta de FGTS do vínculo informado na petição inicial. Logo, pode-se concluir que os únicos extratos localizadospela CEF são aqueles juntados às fls. 51/54, e entre eles não consta qualquer documento referente ao período de01.01.1967 a 01.01.1978.6. A jurisprudência do STJ sujeita a pretensão de haver diferenças quanto ao FGTS ao prazo prescricional de trinta anos.Ajuizada a ação em 17.12.2010, a pretensão referente ao período anterior a 17.12.1980 encontra-se prescrita.

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7. Recurso desprovido. Sem condenação em custas e honorários, ante a gratuidade de justiça deferida à fl. 37.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

35 - 0004276-78.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.004276-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) FERNANDO FELIX DONASCIMENTO (ADVOGADO: ES011893 - LEONARDO PIZZOL VINHA, ES010751 - MARCELO MATEDI ALVES.) xINSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: RAQUEL MAMEDE DE LIMA.).RECURSO Nº 0004276-78.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.004276-1/01)RECORRENTE: FERNANDO FELIX DO NASCIMENTORECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO. GDASS – GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DEATIVIDADE DO SEGURO SOCIAL. EXTENSÃO A APOSENTADOS E PENSIONISTAS ATÉ QUE EFETIVAMENTEOCORRA A INDIVIDUALIZAÇÃO DO PAGAMENTO EM FUNÇÃO DA PRODUTIVIDADE DE CADA SERVIDOR.1. A Gratificação de Desempenho de Atividade do Seguro Social (GDASS) foi instituída pela MP 146/2003 (convertida naLei 10.855/2004). A MP 359/2007 (convertida na Lei 11.501/2007) alterou a redação do art. 11 da Lei 10.855/2004 eestabeleceu que a GDASS deveria ser concedida no limite máximo de 100 pontos e mínimo de 30, dos quais 20decorreriam da avaliação de desempenho individual e 80, dos resultados da avaliação de desempenho institucional.2. O § 11 do art. 11 da Lei 10.855/2004 estabeleceu que a partir de 01.03.2007 até 29.02.2008, e até que fosseregulamentada a forma de avaliação do desempenho individual e institucional, a GDASS seria paga em valorcorrespondente a 80 pontos, evidenciando o caráter geral da gratificação, que só assumiria seus contornos de pessoalidadea partir da avaliação do exercício laboral.3. Conforme precedente do STF (RE 631.880), correta a extensão dos 80 pontos aos aposentados e pensionistas, comfundamento na paridade constante da redação original do art. 40, § 8º, da CRFB/1988.4. Os critérios e procedimentos específicos de desempenho individual e institucional para os servidores do INSS foramestabelecidos por meio da IN 38/INSS/PRES/2009.5. O termo inicial da extensão, por paridade, é 01.03.2007, por força do § 11 do art. 11 da Lei 10.855/2004.6. O termo final da extensão é 30.11.2009, data da efetiva implantação dos resultados do 1º ciclo de avaliação (TRF5,APELREEX 20098300008435101).7. Recurso da parte autora conhecido e provido para condenar o INSS ao pagamento das diferenças da GDASS, no valorde 80 pontos, no período de 01.03.2007 a 30.11.2009, mantida, no resto, a sentença. Sem condenação em custas ehonorários, ante o provimento do recurso (art. 55, caput, da Lei 9.099/1995).

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3ª Relator

36 - 0102015-80.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.102015-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) RICARDO MARQUES(ADVOGADO: SC013520 - CARLOS BERKENBROCK, SC024692 - RODRIGO FIGUEIREDO, SC015426 - SAYLESRODRIGO SCHUTZ.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JOSÉ GUILHERMEBARBOSA DE OLIVEIRA.).RECURSO Nº 0102015-80.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.102015-0/01)RECORRENTE: RICARDO MARQUESRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. NOVOS TETOS INSTITUÍDOS PELAS EMENDASCONSTITUCIONAIS 20/1998 E 41/2003. BENEFÍCIO NÃO LIMITADO AO TETO DO RGPS: IMPROCEDÊNCIA DOPEDIDO.I – INAPLICABILIDADE DO ART. 103 DA LEI 8.213/1991 (DECADÊNCIA).1. “O pedido de revisão para a adequação do valor do benefício previdenciário aos tetos estabelecidos pelas EC 20/98 e41/03 constitui pretensão de reajuste de Renda Mensal e não de revisão de RMI (Renda Mensal Inicial), pelo que não seaplica o prazo decadencial de 10 anos do artigo 103 da Lei 8213, mas apenas o prazo prescricional das parcelas”(Enunciado 66 das Turmas Recursais do Rio de Janeiro).II – APLICABILIDADE IMEDIATA DOS NOVOS TETOS.1.“É cabível a revisão de benefício previdenciário para resgatar eventual diferença entre a média do salário-de-contribuiçãoe o valor do salário-de-benefício que, porventura, não tenha sido recuperada no primeiro reajustamento do benefícioprevidenciário, na forma das Leis 8870/94 e 8880/94, até o limite do novo teto (EC 20/98 e 41/03), sendo indispensável aelaboração de cálculos para a solução da lide” (Enunciado 67 das Turmas Recursais do Rio de Janeiro); “Para o cálculo darenda mensal inicial dos benefícios previdenciários cuja renda mensal inicial tenha sido limitada ao teto, em havendo

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alteração desse limite, tal como foi feito pelas Emendas Constitucionais 20/1998 e 41/2003, cumpre ter presente o novoparâmetro fixado, observados os cálculos primitivos. Assim, a limitação do benefício ao teto será feita somente para fins depagamento, mantendo-se o valor histórico para fins de incidência dos reajustes” (Súmula 17 das Turmas Recursais do RioGrande do Sul).2. O STF decidiu pela plena aplicabilidade dos novos limites estabelecidos pela ECs 20/1998 e 41/2003 aos benefíciosprevidenciários concedidos anteriormente ao advento das alterações constitucionais, sem que isto implique violação algumaao ato jurídico perfeito: trata-se de mera majoração do teto, e não de alteração da RMI (RE 564.354).III – CASO CONCRETO: RMI DO BENEFÍCIO NÃO LIMITADA AO TETO VIGENTE NO MOMENTO DA CONCESSÃO.1. As informações sobre o benefício (fl. 15/19) demonstram que a RMI do benefício da parte autora, de R$ 1.754,79, nãosofreu limitação pelo teto vigente no momento da concessão, que era de R$ 1.869,34 (Portaria MPAS 727/2003).2. O art. 21, § 3º, da Lei 8.880/1994, só se aplica quando a média apurada superar o teto do salário de contribuição vigenteno início do benefício. A média apurada para o autor foi de R$ 1.754,79 e o teto do salário de contribuição vigente em01.10.2003 (data de início do benefício) era de R$ 1.869,34.3. Recurso do autor conhecido e desprovido. Sem condenação em custas e honorários advocatícios, ante o deferimento dobenefício da Assistência Judiciária Gratuita.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

37 - 0000699-91.2008.4.02.5052/01 (2008.50.52.000699-4/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) JACIMAR ZANELATO(ADVOGADO: ES011444 - FABIANO CARVALHO DE BRITO, RJ103883 - BRUNO OLIVEIRA CARDOSO, ES018185 -LUIZA GOMES LIMA, ES011323 - RAFAEL LIBARDI COMARELA, ES017096 - RODRIGO DA SILVA OLIVEIRA, ES011117- NEIMAR ZAVARIZE.) x UNIAO FEDERAL (PROCDOR: RODRIGO BARBOSA DE BARROS.).RECURSO Nº 0000699-91.2008.4.02.5052/01 (2008.50.52.000699-4/01)RECORRENTE: JACIMAR ZANELATORECORRIDO: UNIÃO FEDERALRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO. QUEM SAI DO PAÍS PORTANDO BEM IMPORTADO COMO BAGAGEMTEM O ÔNUS DE COMPROVAR O FATO, MEDIANTE DECLARAÇÃO DE SAÍDA TEMPORÁRIA (DST), PARA EVITARINCIDÊNCIA DE IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO NO ATO DO REINGRESSO (ART. 4º, II, A, DA IN SRF 117/1998 E ART. 6ºDA IN SRF 120/1998). A NOTA FISCAL DEVE INDIVIDUALIZAR O PRODUTO ADQUIRIDO.1. O autor alega haver viajado para a Argentina portando notebook de fabricação estrangeira adquirido regularmente noBrasil. Por não haver preenchido a Declaração de Saída Temporária, no momento do reingresso ao país, houve cobrançade imposto de importação. O autor tentou comprovar a aquisição anterior do bem, mas a alegação não foi aceita, uma vezque a nota fiscal apresentada não especificava o número de série do aparelho.2. Ajuizada ação com pedido de restituição do tributo pago e de indenização por danos morais, os pedidos foram julgadosimprocedentes. O autor recorreu, alegando não ser sua obrigação comprovar informação que não precisa constarobrigatoriamente da nota fiscal. Contrarrazões às fls. 78-82.3. Nos termos do art. 4º, II, a, da IN SRF 117/1998 e do art. 6º da IN SRF 120/1998 (atualmente revogados, substituídospela IN RFB 1.059/2010), quem sai do país portando bem importado como bagagem tem o ônus de comprovar o fato,mediante Declaração de Saída Temporária (DST), para evitar incidência de imposto de importação no ato do reingresso. Oautor admite não haver preenchido a DST.3. O art. 339 do Decreto 4.544/2002 (revogado pelo Decreto 7.212/2010) dispunha que a nota fiscal deveria conter, além deoutros atributos, a descrição dos produtos, compreendendo nome, marca, tipo, modelo, série, espécie, qualidade e demaiselementos que permitam a sua perfeita identificação (inciso IV, alínea b). Isto não obstante, a nota fiscal apresentada,identificando corretamente o comprador e o modelo do aparelho, basta para gerar convencimento a respeito de que o bemfoi adquirido no Brasil, não no exterior.4. Como o autor não preencheu a DST nem apresentou nota fiscal com número de série, o comportamento dos agentes daReceita Federal não pode ser considerado ilícito ou abusivo, razão pela qual é improcedente o pedido de indenização pordanos morais.5. Recurso parcialmente provido para condenar a União Federal a restituir ao autor o valor pago a título de imposto deimportação, atualizado pela SELIC desde a data do pagamento indevido. Sem custas nem honorários, ante o provimentoparcial do recurso.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

38 - 0004203-09.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.004203-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: MARCELA BRAVIN BASSETTO.) x ILZA MARIA CAETANO MOSCON(ADVOGADO: ES016849 - DANIEL ASSAD GALVÊAS, ES011373 - DIOGO ASSAD BOECHAT, ES014183 - MARCELODUARTE FREITAS ASSAD, ES014951 - LUIZA MARTINS DE ASSIS SILVA, ES015331 - RAFAEL GONÇALVESVASCONCELOS.).RECURSO Nº 0004203-09.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.004203-7/01)

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RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ILZA MARIA CAETANO MOSCONRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RMI. PENSÃO POR MORTE. APLICAÇÃO DOS NOVOS TETOS INSTITUÍDOS PELASECS 20/1998 E 41/2003.1. A autora opôs embargos de declaração em face do acórdão que deu provimento ao recurso de sentença interposto peloINSS. Alega a embargante que o pleito deveria ser analisado com base no benefício originário (aposentadoria do autor dapensão por morte), o que, segundo ela, não foi observado pelo julgado embargado, configurando-se assim omissão ou atémesmo erro material.2. A sentença julgou procedente o pedido da autora, condenando o INSS a revisar o benefício previdenciário (aposentadoriapor tempo de contribuição concedida a Jacir Cloves Moscon em 21.11.1989), para apurar nova renda mensal para aaposentadoria em questão, calculada com base no novo teto previdenciário fixado. O acórdão embargado, por sua vez,julgou procedente o recurso de sentença interposto pela autarquia federal, sob a alegação de que as informações de fl. 10demonstrariam que a RMI do benefício da autora (pensão por morte com início de vigência em 24.03.1998) não teria sofridolimitação pelo teto vigente no momento da concessão.3. Embora a pensão por morte da autora seja derivada da aposentadoria por tempo de contribuição, trata-se de benefíciosautônomos. Após a concessão da pensão, não mais se leva em consideração o benefício do instituidor, já cessado desde oóbito. Além disso, a própria autora pugnou, na inicial, pela revisão da pensão por morte (e não da aposentadoria) com basenos novos tetos instituídos pelas ECs 20/1998 e 41/2003.4. Embargos de declaração rejeitados.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

39 - 0104346-35.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.104346-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) JARBAS ROCHA DONASCIMENTO (ADVOGADO: RJ173475 - FERNANDA SILVEIRA DOS SANTOS.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGUROSOCIAL - INSS (PROCDOR: NANCI APARECIDA DOMINGUES CARVALHO.).RECURSO Nº 0104346-35.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.104346-0/01)RECORRENTE: JARBAS ROCHA DO NASCIMENTORECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PREVIDENCIÁRIO. O ACÓRDÃO SE PRONUNCIOU A RESPEITO DAAPLICABILIDADE DOS NOVOS LIMITES ESTABELECIDOS PELAS ECS 20/1998 E 41/2003.1. O autor opôs embargos de declaração do acórdão que negou provimento ao seu recurso de sentença. O embargantealega que o julgado teria sido omisso, ao deixar de se manifestar sobre o pedido de produção de prova pericial, o que,segundo ele, seria imprescindível para o julgamento da causa. Alega também omissão a respeito da análise da situaçãofática, no que concerne à existência de limitação ao teto do benefício em 06/1992 e não na RMI. Na oportunidade, requer amanifestação a respeito da ofensa aos arts. 130, 333, I, e 420, I e II, todos do CPC.2. O autor ajuizou a ação pugnando pela revisão da renda mensal inicial do seu benefício, com a utilização dos novos tetosestabelecidos pelas EC 20/98 e 41/03 como parâmetro de limitação do salário-de-benefício. A sentença pronunciou adecadência extinguindo o feito na forma do art. 269, IV, do CPC.3. O acórdão, por sua vez, afastou a decadência. Quanto ao mérito propriamente dito, reconheceu, consoante orientaçãofirmada pelo STF, que os novos limites estabelecidos pelas ECs 20/1998 e 41/2003 são plenamente aplicáveis aosbenefícios previdenciários concedidos anteriormente ao advento das alterações constitucionais, sem que isto impliqueviolação alguma ao ato jurídico perfeito, por tratar-se de mera majoração do teto, e não de alteração da RMI (RE 564.354).Entretanto, julgou improcedente o pedido do autor ante as informações sobre o benefício (fl. 26), que demonstram que aRMI do benefício, de NCz$ 3.187,92, não sofreu limitação pelo teto vigente no momento da concessão, que era de NCz$4.673,75 (Portaria MPAS 4.547/1989).4. Em processo em que a matéria em exame não depende de apreciação técnica, torna-se prescindível a produção deprova pericial e, portanto, inocorre violação aos arts. 130, 333, I, e 420, I e II, todos do CPC. A tese esposada no acórdão éno sentido de que só a limitação da RMI ao teto enseja a aplicação dos novos tetos.5. Embargos de declaração rejeitados.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

40 - 0000137-06.2013.4.02.5053/01 (2013.50.53.000137-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) MARIA DOS ANJOS LUCAS(ADVOGADO: MG066533 - EFIGENIA CAMILO DA SILVA.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: EUGENIO CANTARINO NICOLAU.).

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RECURSO Nº 0000137-06.2013.4.02.5053/01 (2013.50.53.000137-0/01)RECORRENTE: MARIA DOS ANJOS LUCASRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PREVIDENCIÁRIO. O ACÓRDÃO APRECIOU O PEDIDO À LUZ DA CAUSA DE PEDIR.A RMI DO BENEFÍCIO DA AUTORA NÃO SOFREU LIMITAÇÃO PELO TETO VIGENTE NO MOMENTO DACONCESSÃO. OMISSÃO INEXISTENTE.1. A autora interpôs embargos de declaração do acórdão que negou provimento ao seu recurso da sentença. Alega aembargante que o julgado embargado estaria eivado de omissão, por não tratar da causa de pedir (sistemática de reajustesdos benefícios previdenciários, especificamente a aplicação do critério pro rata determinada pelas emendas constitucionais,que deixou de ser observada em junho/1999 e em maio/2004).2. A autora ajuizou ação requerendo a revisão do ato de concessão do benefício de pensão por morte, alegando abuso depoder regulamentar, do Ministério da Previdência Social, com a edição da Portaria 5.188, de 06.06.1999, que contrariou aregra inserta na EC 20/1998, e do Decreto 5.061, de 30.04.2004, que contrariou a regra inserta na EC 41/2003.A sentença extinguiu o feito, pronunciando a decadência (art. 269, IV, do CPC).O acórdão embargado afastou a decadência. Quanto ao mérito propriamente dito, afirmou, consoante orientação fixadapelo STF, que os novos limites estabelecidos pela ECs 20/1998 e 41/2003 são plenamente aplicáveis aos benefíciosprevidenciários concedidos anteriormente ao advento das alterações constitucionais, sem que isto implique violação algumaao ato jurídico perfeito, por tratar-se de mera majoração do teto, e não de alteração da RMI (RE 564.354). Entretanto,negou provimento ao recurso, ante a Carta de Concessão (fl. 25) que demonstra que a RMI do benefício da parte autora, deCz$ 15.168,93, não sofreu limitação pelo teto vigente no momento da concessão, que era de Cz$ 24.960.00 (Portaria MPAS4.008/1987). O acórdão, portanto, apreciou o pedido à luz da causa de pedir.3. Embargos de declaração rejeitados.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

41 - 0000863-22.2009.4.02.5052/01 (2009.50.52.000863-6/01) INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: ANDRE COUTINHO DA FONSECA FERNANDES GOMES.) x ANA MARIA DA SILVA (ADVOGADO:ES007025 - ADENILSON VIANA NERY.).RECURSO DE SENTENÇA N.º 0000863-22.2009.4.02.5052/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ANA MARTIA DA SILVARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

ASSISTÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA.

I – ASSISTÊNCIA SOCIAL. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. ART. 20, § 3º, DA LEI 8.742/1993. REQUISITO LEGAL DERENDA PER CAPITA INFERIOR A UM QUARTO DO SALÁRIO MÍNIMO. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA x SÚMULA11/TNU E REsp 1.112.557.1. Regulamentando o art. 203, V, da CRFB/1988, o art. 20 da Lei 8.742/1993 estabeleceu os requisitos para a concessão dobenefício assistencial mensal, os quais têm sido objeto de constante aprimoramento legislativo: as alterações forampromovidas pelas Leis 9.720/1998, 10.741/2003, 12.435/2011, e 12.470/2011.2. A exigência de que a renda per capita do núcleo familiar de quem requer benefício assistencial de prestação continuada– tanto o idoso quanto a pessoa portadora de deficiência física – seja inferior a um quarto do salário mínimo vigente é ocritério legal desde 1993.3. A TNU (Súmula 11) e o STJ (3ª Seção, REsp 1.112.557) admitiam, com base no compromisso constitucional com adignidade da pessoa humana, especialmente no que se refere à garantia das condições básicas de subsistência física, quea delimitação por lei do valor da renda familiar per capita não pode, em face da regra do livre convencimento motivado doJuiz (art. 131 do CPC), ser o único meio de prova da condição de miserabilidade.4. Os argumentos da Fazenda Pública em defesa da estrita observância dos critérios estabelecidos em lei para aconcessão do benefício assistencial de prestação continuada são, em síntese, aqueles apresentados por CRISTIANERODRIGUES IWAKURA no artigo “Interferência do Poder Judiciário na política de Assistência Social” (disponível em<http://jus.com.br/artigos/14952>) e sustentados pelo INSS no julgamento do RE 567.985:a) O objetivo imediato do benefício de prestação continuada é atingir a faixa da população que está em situação de miséria(menos de US$ 1.25 por dia, ou US$ 37.50 por mês), objetivo progressivamente atendido pelo critério legal do art. 20, § 3º,da Lei 8.742/1993, e plenamente cumprido desde 2006, quando o valor do salário mínimo brasileiro estabilizou em patamarsuperior a US$ 150.00.b) Seria positivo se o benefício de prestação continuada englobasse a faixa da população em situação de pobreza (menosde US$ 2.00 por dia, ou US$ 60.00 por mês) – e é certo que, desde 2010, o valor do salário mínimo brasileiro encontra-seem patamar superior a US$ 240.00 –, mas a expansão da abrangência do programa tem de ser gradual: seu crescimentodesordenado consumiria volume extraordinário de recursos indisponíveis, em afronta ao art. 195, § 5º, da CRFB/1988.

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c) Não há progressiva inconstitucionalização do critério definidor dos destinatários do benefício de prestação continuada,muito pelo contrário: se o parâmetro é um percentual (25%) do salário mínimo, e se o valor do salário mínimo, na últimadécada, cresceu sempre em patamar superior aos índices de inflação, isto significa que o programa assistencial é cada vezmais abrangente.d) O critério de renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo não foi derrogado por leis posteriores, pois cada benefícioassistencial tem um foco específico, uma abrangência diferente, e, por isto, os critérios de delimitação dos beneficiários emfunção da renda familiar variam de um para outro: tanto é assim que aquele foi reafirmado expressamente na Lei12.435/2011.e) A Lei Orgânica de Assistência Social é objeto de contínua atualização, uma vez que cabe ao Legislativo, e não oJudiciário, quantificar os recursos existentes e, no exercício de opção eminentemente política, escolher quais necessidadessociais serão priorizadas, mediante critérios uniformes para racionalizar a distribuição de renda.f) A flexibilização do critério objetivo da lei daria aos Juízes de cada Juizado Especial o poder de fixar, por parâmetrospessoais, não uniformes, uma despesa pública contínua sem prévia fonte de custeio, a implicar desequilíbrio no programade distribuição de renda: se uns que não estavam contemplados passam a ganhar, fatalmente outros que estavamcontemplados ficarão excluídos.g) Se os juízes pudessem concretizar, caso a caso, a regra do art. 203, V, da CRFB/1988, independentemente daintermediação da lei ordinária, o benefício de prestação continuada poderia ser concedido desde 1988; no entanto, o STFsempre decidiu que os miseráveis só teriam direito ao benefício a partir da regulamentação trazida pela Lei 8.742/1993.

II – A DECISÃO DO STF NOS RE 567.985 E RE 580.963. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE, SEMNULIDADE, PARA AS REGRAS QUE ESTABELECEM OS REQUISITOS PARA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DEPRESTAÇÃO CONTINUADA. PROIBIÇÃO DA PROTEÇÃO INSUFICIENTE AOS DESTINATÁRIOS DA NORMA DO ART.203, V, DA CRFB/1988. AUTORIZAÇÃO PARA QUE OS MAGISTRADOS, ATENTOS A SITUAÇÕES PARTICULARES,AFERIDAS CASO A CASO, DISTANCIEM-SE DO CRITÉRIO LEGAL.1. No julgamento do RE 567.985, apenas os Ministros RICARDO LEWANDOWSKI e TEORI ZAVASCKI votaram peloprovimento do recurso interposto pelo INSS, com fundamento nos seguintes argumentos:a) A questão já havia sido decidida pelo STF em definitivo (ADIn 1.232, que afirmou a constitucionalidade do art. 20, § 3º,da Lei 8.742/1993);b) Não houve posterior alteração de fato ou do quadro normativo a autorizar a superação do julgado, tanto assim que ocritério objetivo do benefício assistencial de prestação continuada foi reafirmado expressamente pela Lei 12.435/2011;c) Não é possível falar em “interpretação conforme a Constituição”, porque o próprio art. 203, V, da CRFB/1988, em vez defixar critérios para a concessão de benefício assistencial de prestação continuada, determinou que a lei elegesse oscritérios, dentre vários possíveis, tendo em vista as limitações orçamentárias;d) Todos aqueles beneficiados pelo critério objetivo da Lei 8.742/1993 são miseráveis; inconstitucionalidade haveria apenasse o critério da lei contemplasse quem não está em situação de miséria e deixasse alguns destes de fora;e) O fato de a lei eventualmente incorrer em inconstitucionalidade, por omissão, sem nulidade, por não ter previstoexaustivamente todas as hipóteses de miserabilidade, não autoriza os juízes a interferir em políticas públicas traçadas combase na reserva do possível, pois decidiriam em descompasso com o princípio da legalidade e ampliariam benefícios pagospela Seguridade Social sem fonte de custeio (art. 195, § 5º, da CRFB/1988).2. Em posição intermediária, o Ministro LUIS FUX votou no sentido de, sem deixar de afirmar a insuficiência dos critériosatualmente consagrados pela lei para pagamento do benefício assistencial de prestação continuada, afirmar que o STF nãopode atuar como legislador positivo, nem pode autorizar os juízes a fazê-lo: a concretização de políticas públicas demandadinheiro, e este só pode ser arrecadado e gasto nos termos da lei, razão pela qual a intervenção do Judiciário nesses casosdeveria ser mínima. Acenou em direção ao decidido pela Ministra CARMEN LUCIA na Reclamação 3805, no sentido deque a constitucionalidade do critério do art. 20, § 3º, da Lei 8.7421993 não impedia a prolação de decisões pontuais que, afim de atender à mens legis (conferir renda mínima aos miseráveis), concedessem benefício assistência com base emoutros critérios aferidos no caso concreto. Daí porque votou no sentido de conceder prazo para o legislador corrigir asincongruências da lei e autorizou que, até lá, os juízes pudessem conferir ALGUMA FLEXIBILIDADE à regra (mencionou,como exemplo, a renda per capita que excedia o salário mínimo em meros 5%).4. O Ministro MARCO AURÉLIO votou no sentido de que a renda é um critério insuficiente para aferir miserabilidade, e deque a lei tem de ser interpretada à luz do princípio da proibição da proteção deficiente. Em princípio, disse que aconstatação pelo juiz-intérprete de situação de miserabilidade além daquela prevista no art. 20, § 3º, da Lei 8.742/1993 éEXCEPCIONAL e depende da realização de perícia sócio-econômica. Quanto ao parágrafo único do art. 34 da Lei10.741/2003, considerou que a regra só é constitucional diante da análise do caso concreto: assegurar dois saláriosmínimos a título de benefício de prestação continuada a um mesmo grupo familiar pode, em alguns casos, implicarproteção demasiada, incorrendo em inconstitucionalidade. Além disto, há desproporção no fato de a lei reservar um saláriomínimo para os idosos e não fazê-lo para os deficientes físicos, e é para atuar pontualmente, corrigindo estas distorções,que os juízes devem ser autorizados a agir fora dos limites estritos da LOAS. Como pontuado pelo Ministro CELSO DEMELLO, não obstante a reserva do possível, quando a proteção conferida pelo Estado for insuficiente, os juízes têm algumaliberdade de interferir em políticas públicas, a fim de proteger garantias fundamentais, sem que isto viole a separação dospoderes.5. O Ministro GILMAR MENDES, em seu voto, considerou que o acórdão da ADI 1.232 já apontava a inconstitucionalidadepor omissão parcial, ante o déficit de proteção, sem declaração de nulidade, e que houve inconstitucionalização emdecorrência da evolução dos critérios adotados pela jurisprudência e mesmo de outros critérios adotados por lei para aconcessão de outros benefícios assistenciais: o parâmetro mínimo seria de renda per capita inferior a um quarto do saláriomínimo, e o parâmetro máximo de meio salário mínimo. Apontou a incongruência do art. 34 do Estatuto do Idoso, quepermite excluir um benefício de prestação continuada do cômputo da renda familiar, mas não permite a exclusão de outrosbenefícios (aposentadoria), e não estende o mesmo tratamento para os deficientes: afirmou que o legislador tem liberdade

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de conformação com base em critérios racionais, mas não com base em arbítrio. Diante disto, sustentou que, no espaçoentre um quarto e meio salário mínimo, os juízes teriam margem para decidir conforme o caso concreto.6. Em conclusão, no que diz respeito à aferição da miserabilidade da parte autora e de sua família, o STF, no julgamento doRE 567.985, sem negar valor ao parâmetro legal objetivo de um quarto salário mínimo, considerou que haverá DIVERSASSITUAÇÕES PARTICULARES, A SEREM AFERIDAS CASO A CASO, em que o critério legal confere PROTEÇÃOINSUFICIENTE a alguns dos destinatários da norma do art. 203, V, da CRFB/1988 – razão pela qual declarou ainconstitucionalidade do § 3º do art. 20 da Lei 8.742/1993, sem nulidade da norma, permitindo que, por outros critérios, sejaaferida a imperiosa necessidade do autor quanto ao benefício requerido.7. Com amparo no mesmo fundamento de proibição da PROTEÇÃO INSUFICIENTE, o STF, ao julgar, na mesma ocasião,o RE 580.963, declarou a inconstitucionalidade do parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso, sem nulidade da norma.Conseqüentemente, admitiu a interpretação extensiva para abranger também os idosos que recebam aposentadoria oupensão por morte, reservando-lhe um salário mínimo (a parte do benefício que exceder esse montante pode serconsiderada renda dos demais familiares).

III – O ART. 20 DA LEI 8.742/1993 ALUDE À RENDA BRUTA, NÃO À RENDA LÍQUIDA.1. As despesas ordinárias com água, luz, gás, telefone, vestuário, alimentação e remédios, em regra, não podem sercomputadas para verificação da renda familiar per capita, seja porque a lei não alude a “renda líquida”, seja porque oobjetivo do tratamento assistencial aos idosos e pessoas portadoras de deficiência é justamente assegurar-lhes recursosfinanceiros para fazer frente a tais gastos (especialmente medicamentos e tratamentos médicos em geral). Além disto, oart. 196 da CRFB/1988 impõe ao Estado o dever de prestar atendimento médico gratuitamente, razão pela qual não épossível subtrair da renda familiar os gastos com saúde: em caso de omissão do Poder Público, os interessados podemajuizar ação com vistas à obtenção gratuita do tratamento necessário.2. Em casos excepcionalíssimos, despesas excessivas e justificáveis podem ser consideradas para a configuração damiserabilidade, como, por exemplo, quando a longa distância ou dificuldades geográficas impedem o acesso regular dosinteressados a posto de saúde, ou quando o tratamento necessário não é sequer oferecido e integralmente custeado pelarede pública.

IV – APURAÇÃO DE RENDA PER CAPITA DO NÚCLEO FAMILIAR.1. No que diz respeito à configuração do núcleo familiar, para apuração da renda per capita, o art. 20, § 1º, da Lei8.742/1993 já teve três redações diferentes.a) A primeira, abrangente, considerava família "a unidade mononuclear, vivendo sob o mesmo teto, cuja economia émantida pela contribuição de seus integrantes".b) A segunda, atribuída pela Lei 9.720/1998 passou a considerar família, de forma restritiva, "o conjunto de pessoaselencadas no art. 16 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, desde que vivam sob o mesmo teto", isto é: (i) cônjuge oucompanheiro/a, (ii) filho (e enteado) não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido, (iii) pais, (iv)irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido, e (v) menor tutelado.c) A terceira, em vigor, dada pela Lei 12.435/2011, diz que a família, para os fins da concessão do benefício de prestaçãocontinuada, "é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou opadrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto".Desde a última alteração legislativa, não há mais limite de idade para os filhos (e enteados) e irmãos, passando a serrelevante que sejam solteiros. A enumeração dos integrantes da família não foi inovação significativa, mas facilitou apercepção de que não devem ser computados, para nenhum fim (nem para computar a renda nem para divisão da rendaper capita) os tios, os agregados e os irmãos casados (que já eram excluídos, por parte da jurisprudência, por constituíremnúcleo familiar diverso). Os irmãos, filhos e enteados que vivem em união estável não são solteiros e, ademais,constituíram núcleo familiar diverso (ainda que sob o mesmo teto).2. As três redações do art. 20, § 1º, da Lei 8.742/1993 têm, por princípio, a exclusão do cômputo dos parentes queconstituíram novo núcleo familiar (parentes que vivem sob outro teto, filhos casados etc), pois vinculá-los ao sustento donúcleo originário acarretaria ciclo de perpetuação da pobreza, subtraindo da nova célula os recursos financeirosimprescindíveis a garantir oportunidade de ascensão social das gerações futuras.3. A ressalva do art. 203, V, da CRFB/1988 ("nos termos da lei") não implica cheque em branco para o legislador. Haverácasos específicos em que, verificada a existência de um parente de RENDA ELEVADA, mesmo que casado e sem residirsob o mesmo teto, a interpretação literal do art. 20, § 1º, da Lei 8.742/1993 incorreria em inconstitucionalidade porPROTEÇÃO DEMASIADA: a atuação assistencial do Estado não pode nulificar o dever da família de contribuir para amanutenção digna de seus integrantes (arts. 226 a 230 da CRFB/1988). Por mais que o art. 20, § 1º, da Lei 8.742/1993seja norma especial em relação aos arts. 1.695 a 1.697 do Código Civil, não se pode negar de forma absoluta valor a estes,uma vez que concretizam dever de solidariedade familiar imposto pela Constituição (dever cujo descumprimento constitui aúnica hipótese ensejadora de prisão civil por dívida, nos termos do art. 5º, LXVII, da CRFB/1988 e Lei 5.478/1968).

V – O CASO CONCRETO.1. A sentença julgou procedente o pedido de concessão do benefício assistencial de prestação continuada em favor daautora idosa.O INSS, em recurso, alegou ausência de interesse de agir devido à falta de uma pretensão resistida atual, na medida emque o último requerimento administrativo negada data de 19/08/2004; no mérito, defendeu a interpretação literal doparágrafo único do art. 34 da Lei 10.741/2003.A autora recorreu para que a DIB retroagisse à data do requerimento administrativo.2. O prévio requerimento administrativo, bem como a manifestação da Administração Pública contrária à pretensão daautora, são, em regra, elementos indispensáveis à caracterização do interesse processual de agir. No entanto,considerando que a atividade do INSS é vinculada à lei, e sabendo que a autarquia necessariamente indeferiria o benefício

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requerido pela autora – uma vez que não admite a interpretação extensiva do parágrafo único do art. 34 da Lei 10.741/2003– tem-se de antemão caracterizada a resistência à pretensão, a autorizar o imediato ajuizamento de ação perante o PoderJudiciário.3. O recurso interposto pelo INSS se limita a alegar a constitucionalidade e a aplicação literal das regras tidas porinconstitucionais pelo STF, sem apreciar a valoração feita pela sentença quanto às provas e aos fatos do caso concreto,matéria que, portanto, não foi devolvida à apreciação da Turma Recursal, cujo julgamento está adstrito à causa de pedirrecursal. Recurso do INSS desprovido, com a condenação do INSS ao pagamento de honorários de 10% sobre o valor dacausa.5. As condições que ensejam o deferimento do benefício já estavam presentes à época do requerimento administrativo.Recurso da autora provido, para retroagir a DIB à DER (19/08/2004 – fl. 10), respeitada a prescrição qüinqüenal. Isenção decustas.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator

42 - 0001538-49.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.001538-9/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) UNIAO FEDERAL(PROCDOR: GUSTAVO HENRIQUE TEIXEIRA DE OLIVEIRA.) x ADMILSON ANTONIO RAMIRES (ADVOGADO:ES015854 - WALLACE VOTIKOSKE RONCETE.).RECURSO Nº 0001538-49.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.001538-9/01)RECORRENTE: UNIÃO FEDERALRECORRIDO: ADMILSON ANTONIO RAMIRESRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

TRIBUTÁRIO. TERÇO ADICIONAL DE FÉRIAS GOZADAS. NATUREZA REMUNERATÓRIA, NÃO INDENIZATÓRIA.JURISPRUDÊNCIA MAJORITÁRIA NO SENTIDO DA NÃO-INCIDÊNCIA DE CONTRIBUIÇÃO SOCIAL.I – INEXISTÊNCIA DE CONTRARRAZÕESReputam-se inexistentes as contrarrazões apresentadas por advogado sem procuração nos autos (art. 37, parágrafo único,do CPC). Intimado três vezes, o subscritor das contrarrazões de fls. 67/78 não juntou procuração outorgada pelo recorrido.II – LEGITIMIDADE PASSIVA E INTERESSE DE AGIR.1. A contribuição social dos servidores públicos federais tem fundamento de validade nos arts. 40, caput, 149, caput, e 195,II, da CRFB/1988, disto decorrendo que o sujeito ativo da obrigação tributária é a União Federal, a qual detém legitimidadepara figurar no pólo passivo de ações que impugnam a incidência do referido tributo.2. A entidade a que o servidor está vinculado é mera responsável tributária pela retenção da contribuição, cujo valor éintegralmente repassado para a União, de modo que aquela não detém legitimidade para ser destinatária do pedido derepetição do indébito (sem prejuízo de que possa, facultativamente, ser mantida no pólo passivo, de modo a facilitar ocumprimento de ordem judicial de não-retenção). Precedentes do STJ (AGARESP 199.169 e AGRESP 1.134.972).3. O interesse de agir do contribuinte decorre do fato de o tributo já haver sido retido e pago, justificando o pedido judicial derepetição do indébito (legitimidade passiva exclusiva da União), e de que, sem ordem judicial, continuará sendo retido eexigido (legitimidade passiva da União, facultada a inclusão no pólo passivo do ente ao qual o servidor está vinculado).III – NATUREZA REMUNERATÓRIA DO TERÇO ADICIONAL DE FÉRIAS GOZADAS.1. O terço de férias gozadas (arts. 7º, XVII, e 39, § 3º, da CRFB/1988) tem natureza remuneratória, reconhecida pelo STJ(RESP 1.010.509), pela TNU (PEDILEF 0504449-56.2012.4.05.8500) e pelo STF (RE 210.211).2. Os precedentes do STF que afastam a incidência de contribuição social sobre o terço adicional de férias gozadas (AI712.880, AI 730.315, AI 727.958 e AI 603.537) não afirmam que a parcela teria natureza indenizatória: adotam porfundamento a necessidade de equilíbrio atuarial e de correlação entre a fonte de custeio e os benefícios devidos,concluindo pela impossibilidade de computar na base de cálculo parcelas que não se incorporam à remuneração e,portanto, não integrarão futuro benefício previdenciário (interpretação do art. 195, § 5º, contrario sensu, e 201, § 11º, daCRFB/1988).IV – POSIÇÃO PESSOAL DO RELATOR (JUIZ FEDERAL IORIO D’ALESSANDRI): INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃOSOCIAL.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 visa à proteção da integridade do sistema previdenciário, não do segurado, e, portanto,não comporta interpretação a contrario sensu.2. A validade da instituição ou da majoração de contribuição social depende, como qualquer tributo, de causa jurídica válida,e, portanto, demanda, em contrapartida, incremento no regime previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010),mas não necessariamente resultará em aumento dos benefícios e serviços a que cada segurado fará jus, pois cabe à lei, naforma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar se e como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para amanutenção e expansão do sistema como um todo, e não para provisionar fundos única e exclusivamente em favor docontribuinte (STF, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).3. O terço adicional é parcela remuneratória paga com regularidade (por ocasião do gozo das férias anuais) e, emconformidade com o art. 201, § 11, da CRFB/1988, está sujeito à incidência da contribuição social. Precedente do STF: RE210.211.V – JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE: NÃO-INCIDÊNCIA DE CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O TERÇO ADICIONAL DEFÉRIAS GOZADAS.1. Os acórdãos mais recentes do STF afastam a incidência de contribuição social sobre o terço adicional de férias gozadas(AI 712.880, AI 730.315, AI 727.958 e AI 603.537), com fundamento a necessidade de equilíbrio atuarial e de correlação

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entre a fonte de custeio e os benefícios devidos, concluindo pela impossibilidade de computar na base de cálculo parcelasque não se incorporam à remuneração e, portanto, não integrarão futuro benefício previdenciário (interpretação do art. 195,§ 5º, contrario sensu, e 201, § 11º, da CRFB/1988).2. O STJ (Pet 7.296) e a TNU (PEDILEF 2007.83.00518998-1) acompanham a orientação firmada pelo STF.3. Em respeito à uniformização da jurisprudência, com a ressalva da posição pessoal do Relator, as Turmas Recursais deVitória acompanham os precedentes do STF quanto à fundamentação e quanto à conclusão.VI – CORREÇÃO E JUROS: SELIC.1. Por força do art. 39 da Lei 9.250/1995 e sem afronta ao art. 167, parágrafo único, do CTN, desde 01.01.1996, a SELIC éo critério de atualização para os casos de repetição dos tributos federais, a incidir desde a data do recolhimento indevido(STJ, RESP 1.111.189).2. A SELIC não pode ser cumulada com qualquer outro índice, seja de atualização monetária, seja de juros, porque jáabrange, a um só tempo, o índice de inflação do período e a taxa de juros real.3. Por ser norma específica para o Direito Tributário, a Lei 9.250/1995 se sobrepõe à redação original do art. 1º-F da Lei9.494/1997, mesmo que o contribuinte seja servidor público.4. A redação atribuída ao art. 1º-F da Lei 9.494/1997 pelo art. 5º da Lei 11.960/2009 não se aplica aos casos de repetiçãode indébito porque foi reputada inconstitucional, com determinação expressa de que se dê continuidade ao uso da SELIC(STF, ADI 4.357).VII – Recurso da União Federal conhecido e desprovido. Ré isenta de custas (art. 4º, I, da Lei 9.289/1996). Semcondenação da recorrente vencida ao pagamento de honorários de sucumbência, pois a parte recorrida não constituiuadvogado (Súmula 14 das Turmas Recursais da 3ª Região).

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

43 - 0000915-82.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.000915-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) UNIAO FEDERAL(PROCDOR: RODRIGO BARBOSA DE BARROS.) x NELCIENE APARECIDA LIPPAUS MANGA.RECURSO Nº 0000915-82.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.000915-8/01)RECORRENTE: UNIÃO FEDERALRECORRIDO: NELCIENE APARECIDA LIPPAUS MANGARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. SERVIDOR PÚBLICO. AUSÊNCIA DE LEI ORDINÁRIA A AUTORIZAR ACOBRANÇA.I – COMPETÊNCIA DO JEF PARA ANULAR ATO ADMINISTRATIVO DE NATUREZA TRIBUTÁRIA.1. O art. 3º, § 1º, III, da Lei 10.259/2001 autoriza o pedido de anulação de ato administrativo de lançamento fiscal.II – SENTENÇA EM CONFORMIDADE COM OS ARTS. 128, 459 E 460 DO CPC.1. Se a parte autora pediu a repetição do indébito, não é extra petita a sentença que, valendo-se de fundamentação jurídicadiversa da ventilada na petição inicial, condenou a parte ré a operar a restituição mediante pagamento de indenização pordanos materiais.III – INOCORRÊNCIA DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO (ARTS. 47 DO CPC E 119 DO CTN).1. A relação jurídica tributária questionada diz respeito apenas à União Federal como sujeito ativo e aos servidores públicoscomo sujeitos passivos.2. As pessoas jurídicas de direito privado (confederação, central sindical, federação e sindicato), como destinatárias de 90%do produto da arrecadação, mantêm uma relação acessória com a União, sem integrar a relação tributária, razão pela qualnão se configura hipótese de litisconsórcio necessário.3. As entidades sindicais teriam interesse jurídico em figurar como assistentes (art. 50 do CPC), não fosse a vedaçãoexpressa (de constitucionalidade duvidosa) do art. 10 da Lei 9.099/1995 c/c art. 1º da Lei 10.259/2001.4. Registro do entendimento do Juiz Federal Dr. Boaventura João Andrade, no sentido da necessidade de formação delitisconsórcio.IV – LEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO PARA RESPONDER PELA TOTALIDADE DAS CONTRIBUIÇÕES.1. O ente público arrecadou a totalidade da contribuição sindical, sendo indiferente que tenha repassado 90% do produtopara a confederação, a central sindical, a federação e o sindicato, retendo apenas 10% na Conta Especial Emprego eSalário: caso a relação tributária de que trata o art. 119 do CTN seja invalidada, a União Federal deverá ressarcirintegralmente o servidor público – sem prejuízo de, em ação autônoma, buscar reaver o que repassou às entidadesprivadas.2. Não há como aplicar ao caso, por absoluta falta de similaridade, a orientação firmada pelo STJ (RESP 874.759) e pelaTNU (PEDILEF 2006.70.58001396-4) quanto à ilegitimidade da União para figurar no pólo passivo de ações de repetição deindébito de Imposto de Renda devido por servidores públicos estaduais ou municipais: primeiro, porque Estado e Município,pessoas de direito público, são os titulares da competência para exigir o imposto sobre a renda, segundo porque é a própriaConstituição da República (arts. 157, I, e 158, I), e não mera lei ordinária, que lhes destina o produto da arrecadação.V – SENTENÇA LÍQUIDA (ARTS. 38, PARÁGRAFO ÚNICO, E 52, I, DA LEI 9.099/1995).1. A sentença/acórdão que contenha os parâmetros de elaboração dos cálculos do valor devido ao autor (p. ex., restituiçãodos “valores descontados nos contracheques de período determinado”) atende de forma suficiente a regra dos art. 38,parágrafo único, e 52, I, da Lei 9.099/1995, ainda que não aponte valor certo, ao qual se chegará mediante meros cálculos apartir da documentação de que a parte ré dispõe.

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2. No sistema dos Juizados Especiais Federais, ao contrário do que ocorre nos Juizados Cíveis, a maioria dos pedidosenvolve obrigações de trato sucessivo, justificando-se a postergação dos cálculos para o momento imediatamente anteriorao do pagamento.3. A entidade pública ré tem o dever de apresentar toda a documentação necessária à elaboração dos cálculos (art. 11 daLei 10.259/2001), sendo-lhe recomendado – e não imposto – que os elabore.VI – CONTRIBUIÇÃO CONFEDERATIVA (ART. 8º, IV, DA CRFB/1988) x CONTRIBUIÇÃO SINDICAL (ART. 149 DACRFB/1988).1. A contribuição confederativa decorre de decisão tomada em Assembléia Geral, não de lei, e só é devida(compulsoriamente, independentemente de autorização) por aqueles que, voluntariamente, filiarem-se ao sindicato,inclusive servidores públicos (art. 240, “c”, da Lei 8.112/1990) (STF, ADIn 962 e RE 199019).2. A contribuição sindical ostenta natureza tributária, porque compulsória mesmo para os não-filiados ao sindicato,dependendo de lei em sentido formal para a sua instituição (STF, RE 198092).VII – EXTENSÃO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL INSTITUÍDA PELOS ARTS. 578 A 591 DA CLT.1. Os arts. 578 a 591 da CLT foram recepcionados como suporte válido para a cobrança da contribuição sindicalcompulsória quanto aos empregados celetistas.2. O art. 7º, “c”, da CLT expressamente diz que, salvo determinação expressa, seus preceitos não se aplicam aosservidores públicos, de modo que falta lei formal autorizando a cobrança, vício que não é sanado pela Instrução Normativa01/2008 do Ministério do Trabalho e menos ainda por uso de analogia, vedado em matéria de imposição tributária (art. 108,§ 1º, do CTN).3. Correto o Parecer PGFN/CAT 1069/2009, aprovado pelo Procurador-Geral da Fazenda Nacional, no sentido daimpossibilidade de cobrar contribuição sindical – espécie do gênero “tributo” – de servidores públicos estatutários, por faltade suporte em lei em sentido estrito (art. 150, I, da CRFB/1988).4. Registro do entendimento do Juiz Federal Dr. Boaventura João Andrade, no sentido da suficiência das normas previstasna CLT para amparar a cobrança da contribuição sindical.VIII – Recurso da União Federal conhecido e desprovido. Ré isenta de custas (art. 4º, I, da Lei 9.289/1996). Semcondenação da recorrente vencida ao pagamento de honorários de sucumbência, pois a parte recorrida não constituiuadvogado (Súmula 14 das Turmas Recursais da 3ª Região).

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

44 - 0000829-73.2011.4.02.5053/01 (2011.50.53.000829-9/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) OLGA CALDARA PAYER(ADVOGADO: ES012399 - GUSTAVO SABAINI DOS SANTOS.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: NANCI APARECIDA DOMINGUES CARVALHO.).RECURSO DE SENTENÇA Nº 0000829-73.2011.4.02.5053/01RECORRENTE: OLGA CALDARA PAYERRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA RURAL POR IDADE. AUSÊNCIA DE REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO.FALTA DE INTERESSE DE AGIR.1. Não há lide configurada se não houver requerimento administrativo apreciado e rejeitado pelo INSS. É inadmissível quetoda e qualquer postulação dirigida à Administração Pública possa ser levada, de imediato, ao Poder Judiciário, sem préviopronunciamento da autoridade competente do Poder Executivo.2. No caso concreto, a autora requereu aposentadoria por idade de trabalhador rural ao INSS no distante ano de 1992,indeferida porque ela possuía empregados em sua propriedade rural.3. A ação foi ajuizada em 09/09/2011. Após o decurso de dezenove anos – e outros dois e meio até a prolação de sentençae o julgamento deste recurso – houve fatos novos que alteraram as circunstâncias fáticas sobre as quais o INSS semanifestara. Impõe-se, então, a prévia submissão da questão à autarquia previdenciária.4. Recurso desprovido. Sem condenação em custas e honorários, em razão da gratuidade de justiça.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal Relator

45 - 0000709-07.2009.4.02.5051/01 (2009.50.51.000709-0/01) INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: Vinícius de Lacerda Aleodim Campos.) x JOSE JORGE MOLINA (ADVOGADO: ES009223 - IZAIAS CORREABARBOZA JUNIOR.).RECURSO Nº 0000709-07.2009.4.02.5051/01 (2009.50.51.000709-0/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: JOSE JORGE MOLINARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

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PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. IRSM DE FEVEREIRO DE 1994. BENEFÍCIOCONCEDIDO APÓS 01.03.1994. DECADÊNCIA.1. O INSS recorreu da sentença que o condenou a rever a RMI da aposentadoria da autora, com base no IRSM do mês defevereiro de 1994, invocando a consumação da decadência do art. 103 da Lei 8.213/1991. Contrarrazões às fls. 57/64.2. Em favor da imediata aplicação do art. 103 da Lei 8.2131991, a jurisprudência do STJ (RESP 1.309.529) e da TRU da 2ªRegião (Súmula 8: “Em 01.08.2007 operou-se a decadência das ações que visem à revisão de ato concessório de benefícioprevidenciário instituído anteriormente a 28.06.1997, data de edição da MP nº 1.523-9, que deu nova redação ao art. 103 daLei nº 8.213/91.”).3. O STF, em outubro de 2013, ao julgar o RE 626.489, concluiu, em acórdão unânime, pela plena constitucionalidade doart. 103 da Lei 8.213/1991, bem como pela sua incidência imediata, sem violação alguma ao art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988:EMENTA: DIREITO PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL (RGPS). REVISÃO DO ATO DECONCESSÃO DE BENEFÍCIO. DECADÊNCIA.1. O direito à previdência social constitui direito fundamental e, uma vez implementados os pressupostos de sua aquisição,não deve ser afetado pelo decurso do tempo. Como consequência, inexiste prazo decadencial para a concessão inicial dobenefício previdenciário.2. É legítima, todavia, a instituição de prazo decadencial de dez anos para a revisão de benefício já concedido, comfundamento no princípio da segurança jurídica, no interesse em evitar a eternização dos litígios e na busca de equilíbriofinanceiro e atuarial para o sistema previdenciário.3. O prazo decadencial de dez anos, instituído pela Medida Provisória 1.523, de 28.06.1997, tem como termo inicial o dia 1ºde agosto de 1997, por força de disposição nela expressamente prevista. Tal regra incide, inclusive, sobre benefíciosconcedidos anteriormente, sem que isso importe em retroatividade vedada pela Constituição.4. Inexiste direito adquirido a regime jurídico não sujeito a decadência.4. A edição da Lei 10.999/2004 não constitui reconhecimento da pretensão da parte autora nem marco interruptivo do prazodecadencial: a lei condiciona a revisão e o pagamento de atrasados à assinatura de acordo, o que não foi feito pela parteautora. Precedentes desta Primeira Turma Recursal.5. Concedida a aposentadoria antes de 1997 e ajuizada a demanda em 30/03/2009, o direito à revisão foi fulminado peladecadência.6. Recurso do INSS provido para extinguir o processo com base no art. 269, IV, do CPC. Isenção de custas. Semcondenação em honorários advocatícios, ante o provimento do recurso.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator

46 - 0000881-63.2011.4.02.5055/01 (2011.50.55.000881-5/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) UNIAO FEDERAL(PROCDOR: ANA BEATRIZ LINS BARBOSA.) x ESTADO DO ESPÍRITO SANTO (ADVOGADO: ES018177 - IGORGIMENES ALVARENGA DOMINGUES.) x MUNICÍPIO DA SERRA (ADVOGADO: ES007860 - MARCELO ALVARENGAPINTO.) x FERNANDO MACHADO (ADVOGADO: ES007029 - MARCELO ABELHA RODRIGUES, ES015906 - MYRNAFERNANDES CARNEIRO, ES014598 - DEBORAH MARIA AKEL MAMERI.).RECURSO Nº 0000881-63.2011.4.02.5055/01 (2011.50.55.000881-5/01)RECORRENTE: UNIÃO FEDERALRECORRIDO: FERNANDO MACHADORELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

CONSTITUCIONAL. DIREITO À SAÚDE. CONCESSÃO DE MEDICAMENTO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERALPARA PROCESSAR E JULGAR O FEITO POR FORÇA DO ART. 109, I, DA CRFB/1988. LEGITIMIDADE PASSIVA DOSTRÊS ENTES DA FEDERAÇÃO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ESTABELECIDA NA CRFB/1988 E PELA LEI8.080/1990. COMPROVAÇÃO ANUAL DO USO DO MEDICAMENTO.1. A UNIÃO interpôs recurso da sentença (fls. 137-152), que julgou procedente o pedido do autor, condenando a UNIÃO, oESTADO DO ESPÍRITO SANTO e o MUNICÍPIO DE SERRA/ES a conceder-lhe o medicamento denominado detemozolamida, em quantidade e período que necessitar fazer o uso do remédio, conforme prescrição médica. Alega aFazenda Pública Federal que é parte ilegítima e que a Justiça Federal seria incompetente para processar e julgar o feito.Aduz, em síntese, que não compete ao Poder Judiciário avocar para si a condição de administrador, passando a ditar, sema observância dos planos e previsões orçamentárias, como o administrador deveria aplicar os valores arrecadados,destacando ainda que a Administração Pública se subordina ao princípio da legalidade e que, na colisão de direitos,prevalece a saúde coletivamente considerada e a garantia de implementação de políticas públicas mínimas,verdadeiramente indispensáveis aos cidadãos. Subsidiariamente, requer que a parte autora informe periodicamente a suasituação de saúde, através de laudos de profissionais vinculados ao SUS, sob pena de suspensão do fornecimento damedicação. Às fls. 160-170, o MUNICÍPIO DE SERRA/ES também interpôs recurso, alegando ilegitimidade para figurar nopolo passivo da ação e ausência de responsabilidade municipal no fornecimento de medicamentos de alto custo. OESTADO DO ESPÍRITO SANTO, por sua vez, renunciou ao direito de recorrer da sentença (fl. 172). Contrarrazões às fls.192-199.2. A parte autora ajuizou ação em face dos três entes da Federação, embora seja facultativo o litisconsórcio passivo entreUnião, Estado e Município. Isso porque, no caso, há competência solidária para realização do direito à saúde. Por se tratarde obrigação solidária, é possível exigir-se a prestação de qualquer um ou de todos os entes federativos.A competência cível da Justiça Federal é definida ratione personae, sendo irrelevante a natureza da controvérsia posta à

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apreciação. Por isso, quando presente um dos entes relacionados no art. 109, I, da CRFB/1988, a competência seráda Justiça Federal.3. É legítima a União para ocupar o polo passivo das ações em que se pleiteia a concessão de medicamentos e tratamentode saúde, como também o ente municipal (no caso, o MUNICÍPIO DE SERRA/ES), pois a Constituição Federal é expressaao determinar que a saúde é dever do Estado, não excluindo dessa responsabilidade qualquer de seus entes, na forma doart. 196 da CRFB/1988 e do art. 9° da Lei 8.080/1990. A jurisprudência do e. Supremo Tribunal Federal é pacífica nosentido de serem legitimados os entes da Federação para responder pelo fornecimento de medicamentos e tratamentomédico pelo Sistema Único de Saúde (AI 418.320; RE 259.415; e RE 271286-AgR).4. O autor pleiteou que o Sistema Único de Saúde lhe fornecesse medicamento que se mostrou indispensável aotratamento de um tumor caracterizado como oligostrocitoma anaplástico (WHO 2007 GRAU III), conforme prescriçãomédica de fls. 31 e 35.5. É dever do Estado, em todas as suas instâncias (municipal, estadual e federal), propiciar atendimento adequado emtermos de saúde a todos os cidadãos, especialmente àqueles sem condições financeiras de custear o tratamento de suasenfermidades. O art. 196 da CRFB/1988 garantiu a todos os cidadãos o direito à saúde, impondo a todos os entesfederativos o dever de preservá-la mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e deoutros agravos e visem, ainda, ao acesso universal e igualitário de todos às ações e serviços adequados à promoção,proteção e recuperação da saúde. A Lei 8.080/1990, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção erecuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, determina que o Estado devegarantir a saúde a todos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) que possui, dentre suas diversas atribuições, acompetência de formular política de medicamentos, a fim de proporcionar tal assistência de forma integral e adequada. Oart. 2° desse diploma legal assenta que A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover ascondições indispensáveis ao seu pleno exercício. O art. 7º, inciso II, por sua vez, estabelece que a assistência à saúde deveser proporcionada por um conjunto articulado e contínuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos,exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade.6. O E. Supremo Tribunal Federal, em hipótese semelhante ao presente caso, ressaltou que o direito público subjetivo àsaúde representa prerrogativa jurídica indisponível assegurada à generalidade das pessoas pela própria CRFB/1988 (art.196). Traduz bem jurídico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de maneira responsável, o PoderPúblico, a quem incumbe formular – e implementar – políticas sociais e econômicas idôneas que visem a garantir, aoscidadãos, inclusive àqueles portadores do vírus HIV, o acesso universal e igualitário à assistência farmacêutica emédico-hospitalar (RE 27186/RS).7. Inexiste violação do princípio da legalidade esculpido no art. 37 da CRFB/1988, uma vez que a própria cartaconstitucional, em seu art. 196, acolhe a pretensão do autor. É certo que, em casos em que a efetivação da tutelaconcedida está relacionada à preservação da saúde do indivíduo, a ponderação das normas constitucionais deve privilegiara proteção do bem maior que é a vida.8. Se de um lado é possível admitir a necessidade de obediência a eventuais restrições impostas pela lei orçamentária, deoutro, devem ser garantidos o direito à vida e à saúde, pois decorrem de preceitos constitucionais. Entrando em conflito odogma da separação de poderes e o direito fundamental de proteção à vida e considerando as regras especiais deinterpretação do texto constitucional, forçoso considerar que há valores que se sobrepõem a outros. Fica patente que o bemjurídico de maior relevância a ser tutelado é a vida, que está assegurado no artigo 5º, caput, da CRFB/1988.9. É razoável que a parte autora comprove periodicamente (a cada ano) a necessidade do uso do medicamento pleiteado,atualizando o receituário médico perante os requeridos, sob pena de suspensão do fornecimento da medicação.10. Ambos os recursos conhecidos e provido parcialmente o recurso da UNIÃO, para determinar que o autor, anualmente,comprove a necessidade do uso do medicamento pleiteado, atualizando o receituário médico perante o ente público. Semcustas, na forma da lei. Sem a condenação da UNIÃO em honorários advocatícios (Enunciado 97 do FONAJEF).

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

47 - 0002392-82.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.002392-9/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) SEBASTIAO ANDRE(ADVOGADO: ES011370 - RAPHAEL MADEIRA ABAD, ES010871 - JOSE ANTONIO NEFFA JUNIOR, ES008288 -BRUNO DALL'ORTO MARQUES.) x UNIAO FEDERAL (PROCDOR: RODRIGO BARBOSA DE BARROS.).RECURSO Nº 0002392-82.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.002392-9/01)RECORRENTE: SEBASTIAO ANDRERECORRIDO: UNIÃO FEDERALRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. TRABALHADOR PORTUÁRIO AVULSO. ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE FÉRIASNÃO GOZADAS. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DE QUE NÃO HOUVE O GOZO EM PERÍODO DE UM ANO.ÔNUS DA PROVA DO TRABALHADOR AVULSO.1. O autor interpôs recurso da sentença que julgou improcedente seu pedido de declaração de inexigibilidade de imposto derenda sobre férias não gozadas de trabalhador portuário avulso, bem como de restituição dos valores já recolhidos a essetítulo. Em suas razões, alega que, durante toda a relação de trabalho, não fez uso do período de férias, o qual foi convertidoem pecúnia a título de indenização – valor sobre o qual incidiu o imposto de renda impugnado.2. Conforme recente orientação da TNU, o pagamento de férias ao portuário avulso só assumirá caráter indenizatório naexcepcional hipótese de ele se desincumbir do ônus de comprovar que, ao longo de um ano, por falha do OGMO ou do

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respectivo Sindicato, trabalhou todos os meses, sem conseguir usufruir de 30 dias de descanso:TRIBUTÁRIO – É EXCEPCIONAL A NATUREZA INDENIZATÓRIA DAS FÉRIAS DE TRABALHADOR AVULSO, QUE SEPRESUME AS GOZE ANUALMENTE – A ESPECIFICIDADE DA LIBERDADE DE ATUAÇÃO DO TRABALHADORAVULSO, QUE SE COLOCA PARA TRABALHAR, NÃO DESCARACTERIZA, POR SI SÓ, A NATUREZA INDENIZATÓRIADO PAGAMENTO DE FÉRIAS, SE COMPROVADO QUE NÃO HOUVE O GOZO EM PERÍODO DE UM ANO – ÔNUS DAPROVA DO TRABALHADOR AVULSO – PROVA NÃO PRODUZIDA – PEDILEF CONHECIDO E IMPROVIDO(TNU, PEDILEF 00315794320104013300, Relator p/ acórdão Juiz Luiz Cláudio Flores da Cunha, DOU de 12/04/2013)3. No caso presente, o autor ajuizou a demanda sem produzir qualquer prova dos fatos que alegou e mesmo após ter sidointimado para tentar obter, no OGMO, a documentação mencionada na petição inicial, deixou transcorrer o prazo sem semanifestar. Dessa forma, não se desincumbiu do ônus da prova (art. 333, I, do CPC), o que conduz à improcedência de suapretensão.4. Recurso conhecido e desprovido. Condenação do recorrente vencido ao pagamento de custas e honoráriossucumbenciais de R$ 300,00, nos termos do art. 55, caput, da Lei 9.099/1995.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

48 - 0004538-28.2011.4.02.5050/02 (2011.50.50.004538-5/02) (PROCESSO ELETRÔNICO) MARCOS ANTONIO BATISTABISPO (ADVOGADO: ES013758 - VINICIUS DINIZ SANTANA, ES017197 - ANDERSON MACOHIN, ES014023 - RAULDIAS BORTOLINI.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANA PAULA BARRETOMONTEIRO ROTHEN.).RECURSO Nº 0004538-28.2011.4.02.5050/02 (2011.50.50.004538-5/02)RECORRENTE: MARCOS ANTONIO BATISTA BISPORECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. COMPETÊNCIA. DOMICÍLIO DO AUTOR.1. A autora ajuizou a presente ação em 10/07/2011, perante um dos Juizados Especiais de Vitória, em data posterior àinstalação da Vara Federal da Serra, que ocorreu em 15/12/2010 (Ato 505, de 20 de dezembro de 2010, do TribunalRegional Federal da 2ª Região).2. A competência absoluta do Juizado Especial Federal decorre do art. 3º, § 3º, da Lei nº 10.259/2001.3. A Lei 10.259/2001 não consagra o domicílio da parte autora como critério absoluto de competência, de modo que a regrado art. 3º, § 3º, deve ser conjugada com os critérios de COMPETÊNCIA DE FORO do art. 4º da Lei 9.099/1995 e do CPC.4. O foro corresponde à Seção Judiciária, que, no caso concreto, é a do Espírito Santo.5. Estabelecida a competência da Seção Judiciária, a COMPETÊNCIA DE JUÍZO é fixada por ato normativo do TribunalRegional Federal, que subdividiu a seção para distribuir de forma equânime os feitos pelas diversas varas federais, deforma a tornar efetiva a prestação jurisdicional. Atende-se, assim, a um imperativo de ordem pública, que não pode sermodificado ao livre alvedrio da conveniência dos demandantes: o critério é territorial-funcional e, portanto, absoluto.6. Pelo critério adotado pelo TRF da 2ª Região, prestigia-se a competência funcional absoluta do Juizado da localidadeonde o autor tem domicílio.7. Por mais que nem sempre se possa adotar a solução radical preconizada pelo art. 51 da Lei 9.099/1995 (extinção semapreciação do mérito) para os processos dos Juizados Especiais Federais, no caso concreto, em que a extinção se deuapenas 19 dias após o ajuizamento, a sentença deve ser mantida.8. Recurso desprovido. Sem condenação em custas e honorários, ante a gratuidade de justiça.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

49 - 0000338-03.2010.4.02.5053/02 (2010.50.53.000338-8/02) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: UBIRATAN CRUZ RODRIGUES.) x ANTONIA DA COSTA ORGINO (ADVOGADO:ES018956 - MIGUEL SABAINI DOS SANTOS, ES005595 - JOAO MIGUEL ARAUJO DOS SANTOS.).RECURSO Nº 0000338-03.2010.4.02.5053/02 (2010.50.53.000338-8/02)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ANTONIA DA COSTA ORGINORELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE PROVAS SUFICIENTES PARA A DECISÃO DA CAUSA. NECESSIDADE DEINSTRUÇÃO PROBATÓRIA.1. O INSS interpôs recurso contra a sentença de fls. 136/138 que julgou procedentes os pedidos da autora de concessão dobenefício de pensão por morte e de pagamento de parcelas atrasadas. Em suas razões, alega que a autora não ostenta aqualidade de dependente do segurado falecido. Contrarrazões às fls. 147/151.

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2. Na exposição dos fundamentos de fato que geraram sua convicção, percebe-se que o juízo a quo descuidou-se doexame dos fatos alegados e provados no processo. A autora casou-se com o instituidor do benefício em 1952 (fl. 11).Contudo, o INSS demonstrou que, em perícia social realizada em 2001 (fls. 66/68), a autora afirmou que estava separadade fato de seu marido havia aproximadamente sete anos (desde 1994, portanto), sem alusão ao recebimento de pensãoalimentícia. À fl. 12, verifica-se que o segurado faleceu em 2008. Apesar disso, não houve produção de prova acerca deeventual reconciliação do casal. Tampouco houve comprovação de dependência econômica da autora em relação ao seumarido, o que se mostra relevante para o exame do mérito caso tenha permanecido separada de fato.3. Por ausência de provas, impõe-se a anulação da sentença e a imediata cessação do pagamento da pensão, a fim de queseja reaberta a instrução probatória.4. Recurso do INSS provido para determinar a anulação da sentença.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

50 - 0002071-76.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.002071-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ANTONIO JOSE DOSSANTOS (ADVOGADO: ES013758 - VINICIUS DINIZ SANTANA, ES017197 - ANDERSON MACOHIN, ES014023 - RAULDIAS BORTOLINI.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JOSÉ VICENTE SANTIAGOJUNQUEIRA.).RECURSO Nº 0002071-76.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.002071-6/01)RECORRENTE: ANTONIO JOSE DOS SANTOSRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. SENTENÇA DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº2320-59.2012.403.6183. INTERESSE DE AGIR. ART. 515, § 3º, DO CPC. ENUNCIADO 47 DAS TURMAS RECURSAISDO ESPÍRITO SANTO. PEDIDO PROCEDENTE QUANTO AO INCISO II E IMPROCEDENTE QUANTO AO § 5º, TODOSDO ART. 29 DA LEI 8.213/1991.A parte autora recorreu de sentença que extinguiu o processo, sem a resolução do mérito, com fundamento em inexistênciade interesse de agir, uma vez que, por acordo firmado em ação civil pública, o INSS comprometeu-se à revisãoadministrativa dos benefícios de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, e julgou improcedente o pedido de revisão darenda mensal inicial da aposentadoria por invalidez com base no art. 29, § 5º, da Lei 8.213/1991.I – CRONOGRAMA DE PAGAMENTO ESTABELECIDO NA AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183:EXISTÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR.1. O Memorando-Circular Conjunto 21/DIRBEN/PFEINSS, de 15/04/2010, e o Memorando-Circular 28/INSS/DIRBEN, de17/09/2010, apontavam em direção à pronta satisfação da pretensão dos segurados e pensionistas referente ao art. 29, II,da Lei 8.213/1991 na via administrativa, de modo que lhes faltava interesse processual para agir em juízo. A diretriz contidanos dois Memorandos foi superada pela homologação judicial de acordo na Ação Civil Pública 2320-59.2012.403.6183,instituindo escalonamento de até dez anos para a revisão dos benefícios e pagamento dos atrasados. Consequentemente,se alguém pleitear a revisão referente ao art. 29, II, da Lei 8.213/1991 na via administrativa, o INSS necessariamenteresponderá que o pleito será atendido conforme o cronograma homologado: a depender da idade do requerente, domontante a receber, e da (in)existência de urgência, o pagamento poderá ocorrer apenas em 2022.2. Em regra, a sentença proferida em Ação Civil Pública, seja de procedência, seja de improcedência, faz coisa julgada ergaomnes, exceto se a improcedência decorrer de falta de provas (art. 16 da Lei 7.347/1985). Entretanto, em se tratando dedireitos individuais homogêneos, a sentença em ação coletiva (mesmo em matéria não relativa a Direito do Consumidor)apenas fará coisa julgada erga omnes no caso de procedência do pedido (art. 103, III, da Lei 8.078/1990 c/c art. 21 da Lei7.347/1985), excluída, portanto, a transação. Por mais razoável que seja o cronograma de pagamento estabelecido emacordo firmado entre o MPF e o INSS, aqueles que se sentirem prejudicados não estão a ele vinculados.3. Absolutamente dispensável o prévio requerimento administrativo, uma vez que o INSS indeferirá o pleito de revisão epagamento imediatos. Evidente o interesse de agir em juízo, para obter a revisão do benefício e o imediato pagamento dasdiferenças sem sujeição ao cronograma estabelecido em Ação Civil Pública.II – ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991: PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.1. O INSS foi citado e apresentou contestação: o feito está maduro para que a Turma Recursal o julgue.2. O autor apontou a não observância pelo INSS da regra do art. 29, II, da Lei 8.213/1991 (que determina o aproveitamentode 80% dos maiores salários-de-contribuição, com a desconsideração dos 20% menores) no cálculo da RMI de seubenefício.3. O art. 3º da Lei 9.876/1999 (“Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação destaLei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social, nocálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de1994, observado o disposto nos incisos I e II do § 6º, do art. 29, da Lei nº 8.213/91, com a redação dada por esta Lei.”) éregra de transição para os segurados já filiados ao RGPS à época de sua entrada em vigor, a determinar, para a apuraçãodo cálculo do salário-de-benefício, seja considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, 80% de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho/94, observado odisposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei 8.213/1991. Assim, apurada a mencionada média, deveria incidir umdivisor, correspondente a um percentual (nunca inferior a 60%) sobre o número de meses compreendidos entre julho/94 e a

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data do requerimento.4. O Enunciado 47 das Turmas Recursais do Espírito Santo consagra orientação no sentido de que, para a aposentadoriapor invalidez e para o auxílio-doença concedidos na vigência da Lei 9.876/1999, o salário-de-benefício deve ser apuradocom base na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% do períodocontributivo, independentemente da data de filiação do segurado e do número de contribuições mensais no períodocontributivo, frisando que é ilegal o art. 32, § 20, do Decreto 3.048/1999, acrescentado pelo Decreto 5.545/2005.5. Logo, são passíveis de revisão todos os benefícios por incapacidade e pensões derivadas destes, assim como asprecedidas, com DIB a partir de 29/11/1999, em que, no Período Básico de Cálculo, tenham sido considerados 100% dossalários-de-contribuição. Verificado que, no caso concreto, o benefício do autor tem PBC de 100%, sem que tenham sidodesprezados os 20% menores salários, é evidente o prejuízo ao beneficiário, disto decorrendo o interesse de agir.6. A edição do Memorando 21/DIRBEN/PFE/INSS, de 15/04/2010 importou interrupção do curso do prazo prescricional(sem renúncia à prescrição já consumada), nos termos do art. 202, VI do Código Civil, pois a Administração Públicareconheceu publicamente a ilegalidade do cálculo adotado. Ajuizada a ação dentro do prazo de dois anos e meio (isto é,até 15/10/2012), apenas estará prescrita a pretensão de haver as parcelas anteriores ao quinquênio que antecedeu aedição do Memorando.III – ART. 29, § 5º, DA LEI 8.213/1991: IMPROCEDÊNCIA.1. O STF decidiu, em recurso submetido à sistemática da repercussão geral, que o art. 29, § 5º, da Lei 8.213/1991 éaplicável somente nos casos em que o auxílio-doença, dentro do período básico de cálculo de futuro benefício, tenha sidoauferido de forma intercalada com períodos de atividade normal, não se concedendo igual amparo ao segurado que estejaem gozo de auxílio-doença no interregno imediatamente anterior à concessão da aposentadoria por invalidez. A CorteConstitucional considerou que o art. 55, II, da Lei 8.213/1991 apenas admite o cômputo do período de gozo deauxílio-doença como tempo de serviço quando intercalado (RE 583.834).2. É improcedente o pedido da parte autora, uma vez que não pode computar, no cálculo de sua aposentadoria porinvalidez, o período imediatamente anterior em que esteve em gozo de auxílio-doença.IV – Recurso da parte autora conhecido e provido em parte para:1. Julgar improcedente o pedido fundado no art. 29, § 5º, da Lei 8.213/1991 (art. 269, I, do CPC); e2. Julgar procedente o pedido fundado no art. 29, II, da Lei 8.213/1991 (art. 269, I, do CPC), a fim de CONDENAR O INSSa (i) rever o valor das Rendas Mensais Iniciais do benefício em questão, apurando novos salários-de-benefício calculadoscom base na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo operíodo contributivo, e considerando no cálculo da aposentadoria por invalidez o reflexo da revisão da RMI doauxílio-doença, bem como a (ii) pagar à parte autora, respeitada a prescrição qüinqüenal a contar da edição do Memorando21, as respectivas diferenças, com correção monetária pelo INPC (art. 41-A da Lei 8.213/1991, em razão dainconstitucionalidade do art. 1º-F da Lei 9.494/1997 com redação dada pelo art. 5º da Lei 11.960/2009 na ADIn 4.357)desde o momento em que deveriam ter sido pagas, e, a contar da citação, juros de mora na forma do art. 1º-F da Lei9.494/1997 pelo art. 5º da Lei 11.960/2009.Uma vez que o INSS precisará recalcular a RMI da parte autora, os cálculos dos valores devidos a título de atrasados sópoderão ser feitos após o cumprimento da obrigação de fazer, razão pela qual a autarquia poderá apurar as diferençasdevidas, optando entre o pagamento administrativo e o pagamento por RPV/precatório.Réu isento de custas (art. 4º, I, da Lei 9.289/1996). Sem condenação em honorários advocatícios, já que não houveinterposição de recurso pelo INSS (art. 55 da Lei 9.099/1995).

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

51 - 0100546-96.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.100546-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) AGUINALDO MILANEZI(ADVOGADO: SC013520 - CARLOS BERKENBROCK, SC024692 - RODRIGO FIGUEIREDO, SC015426 - SAYLESRODRIGO SCHUTZ.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JOSÉ VICENTE SANTIAGOJUNQUEIRA.).RECURSO Nº 0100546-96.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.100546-0/01)RECORRENTE: AGUINALDO MILANEZIRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RMI. FATOR PREVIDENCIÁRIO. APLICAÇÃO DO ART. 29, I, DA LEI 8.213/1991.1. O autor interpôs recurso da sentença que julgou improcedente sua pretensão de revisão de benefício previdenciáriofundada na aplicação exclusiva do art. 29, I da Lei 8.213/1991 no cálculo da RMI. Pede, ainda, que seja afastada aincidência da regra de transição prevista no art. 5º da Lei 9.876/1999, por resultar em RMI menos vantajosa do que aqueladecorrente da aplicação integral do fator previdenciário. Alega, por fim, violação ao art. 5º, XXXVI, da CRFB. Contrarrazõesàs fls. 63/66.2. A Lei 9.876/1999 fixou novas regras para o cálculo do salário de benefício dos segurados filiados ao RGPS antes de29.11.1999 e que não houvessem cumprido os requisitos para a concessão de benefício antes dessa data. Segundo o art.5º da lei, o fator previdenciário, previsto no art. 29 da Lei 8.213/1991, deveria ser aplicado de forma progressiva, incidindosobre 1/60 da média aritmética dos salários de contribuição, por mês que se seguir à publicação da Lei 9.876/1999,cumulativa e sucessivamente, até completar 60/60 da referida média.3. O autor filiou-se ao RGPS antes de 29.11.1999 e requereu a concessão de aposentadoria por tempo de contribuição em

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07.07.2003. A equação constante da memória de cálculo do benefício (fl. 17) demonstra que o INSS observou a regraestabelecida no art. 5º da Lei 9.876/1999, fazendo incidir o fator previdenciário sobre fração da média aritmética dossalários de contribuição.4. Ao contrário do alegado pelo autor, não houve preterição de um benefício mais vantajoso por outro menos vantajoso.Tampouco houve violação ao art. 5º, XXXVI, da CRFB, pois o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seuselementos essenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição(STF, RE 415.454), mas não tem direito à imutabilidade de todo o regime jurídico atinente ao benefício (STF, 1ª Turma, RE278.718).5. Recurso do autor conhecido e desprovido. Sem condenação em custas nem honorários, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

52 - 0003605-84.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.003605-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: Isabela Boechat B. B. de Oliveira.) x ELIETE DE JESUS SILVA GOMES DOSSANTOS.RECURSO Nº 0003605-84.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.003605-8/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ELIETE DE JESUS SILVA GOMES DOS SANTOSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. SENTENÇA DAAÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183. INTERESSE DE AGIR. ART. 515, § 3º, DO CPC. ENUNCIADO 47 DASTURMAS RECURSAIS DO ESPÍRITO SANTO. PEDIDO PROCEDENTE.I – CRONOGRAMA DE PAGAMENTO ESTABELECIDO NA AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183:EXISTÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR.1. O Memorando-Circular Conjunto 21/DIRBEN/PFEINSS, de 15/04/2010, e o Memorando-Circular 28/INSS/DIRBEN, de17/09/2010, apontavam em direção à pronta satisfação da pretensão dos segurados e pensionistas referente ao art. 29, II,da Lei 8.213/1991 na via administrativa, de modo que lhes faltava interesse processual para agir em juízo. A diretriz contidanos dois Memorandos foi superada pela homologação judicial de acordo na Ação Civil Pública 2320-59.2012.403.6183,instituindo escalonamento de até dez anos para a revisão dos benefícios e pagamento dos atrasados. Conseqüentemente,se alguém pleitear a revisão referente ao art. 29, II, da Lei 8.213/1991 na via administrativa, o INSS necessariamenteresponderá que o pleito será atendido conforme o cronograma homologado: a depender da idade do requerente, domontante a receber, e da (in)existência de urgência, o pagamento poderá ocorrer apenas em 2022.2. Em regra, a sentença proferida em Ação Civil Pública, seja de procedência, seja de improcedência, faz coisa julgada ergaomnes, exceto se a improcedência decorrer de falta de provas (art. 16 da Lei 7.347/1985). Entretanto, em se tratando dedireitos individuais homogêneos, a sentença em ação coletiva (mesmo em matéria não relativa a Direito do Consumidor)apenas fará coisa julgada erga omnes no caso de procedência do pedido (art. 103, III, da Lei 8.078/1990 c/c art. 21 da Lei7.347/1985), excluída, portanto, a transação. Por mais razoável que seja o cronograma de pagamento estabelecido emacordo firmado entre o MPF e o INSS, aqueles que se sentirem prejudicados não estão a ele vinculados.3. Absolutamente dispensável o prévio requerimento administrativo, uma vez que o INSS indeferirá o pleito de revisão epagamento imediatos. Evidente o interesse de agir em juízo, para obter a revisão do benefício e o imediato pagamento dasdiferenças sem sujeição ao cronograma estabelecido em Ação Civil Pública, sem que isso configure ofensa aos arts. 5º,XXXV, e 250 da CRFB; arts. 103 e 104 da Lei 8.078/1990 c/c art. 543-C do CPC; art. 127 da CRFB c/c art. 21 da Lei7.347/1985 e arts. 81, III, e 82 da Lei 8.078/1990 e arts. 3º e 267, VI, do CPC.II – ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.1. O art. 3º da Lei 9.876/1999 (“Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação destaLei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social, nocálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de1994, observado o disposto nos incisos I e II do § 6º, do art. 29, da Lei nº 8.213/91, com a redação dada por esta Lei.”) éregra de transição para os segurados já filiados ao RGPS à época de sua entrada em vigor, a determinar, para a apuraçãodo cálculo do salário-de-benefício, seja considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, 80% de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho/94, observado odisposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei 8.213/1991. Assim, apurada a mencionada média, deveria incidir umdivisor, correspondente a um percentual (nunca inferior a 60%) sobre o número de meses compreendidos entre julho/94 e adata do requerimento.2. O Enunciado 47 das Turmas Recursais do Espírito Santo consagra orientação no sentido de que, para a aposentadoriapor invalidez e para o auxílio-doença concedidos na vigência da Lei 9.876/1999, o salário-de-benefício deve ser apuradocom base na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% do períodocontributivo, independentemente da data de filiação do segurado e do número de contribuições mensais no períodocontributivo, frisando que é ilegal o art. 32, § 20, do Decreto 3.048/1999, acrescentado pelo Decreto 5.545/2005.3. Logo, são passíveis de revisão todos os benefícios por incapacidade e pensões derivadas destes, assim como asprecedidas, com DIB a partir de 29/11/1999, em que, no Período Básico de Cálculo, tenham sido considerados 100% dos

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salários-de-contribuição. Verificado que, no caso concreto, o benefício do autor tem PBC de 100%, sem que tenham sidodesprezados os 20% menores salários, é evidente o prejuízo ao beneficiário, disto decorrendo o interesse de agir.4. A edição do Memorando 21/DIRBEN/PFE/INSS, de 15/04/2010 importou interrupção do curso do prazo prescricional(sem renúncia à prescrição já consumada), nos termos do art. 202, VI do Código Civil, pois a Administração Públicareconheceu publicamente a ilegalidade do cálculo adotado. Ajuizada a ação dentro do prazo de dois anos e meio (isto é, até15/10/2012), apenas estará prescrita a pretensão de haver as parcelas anteriores ao quinquênio que antecedeu a edição doMemorando. Entretanto, proposta a ação em 10/09/2013, estão prescritas as parcelas anteriores a 10/09/2008.III – CORREÇÃO E JUROS1. A redação original do art. 1º-F da Lei 9.494/1997 (artigo incluído pela MP 2.180-35/2001) fixava juros de mora de 0,5% aomês “nas condenações impostas à Fazenda Pública para pagamento de verbas remuneratórias devidas a servidores eempregados públicos”, sem incidência, portanto, em condenações referentes a questões tributárias, previdenciárias,assistenciais e de responsabilidade civil. O art. 5º da Lei 11.960/2009 deu nova redação ao art. 1º-F de modo que, em todae qualquer condenação imposta à Fazenda Pública, “para fins de atualização monetária, remuneração do capital ecompensação da mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneraçãobásica e juros aplicados à caderneta de poupança”.2. Por ocasião do julgamento da ADI 4.357, o STF declarou a inconstitucionalidade material da nova regra, quanto à adoçãoda TR como índice de correção monetária. Aplicável, portanto, o INPC para a correção monetária (art. 41-A da Lei8.213/1991).3. Devem ser adotados os juros do art. 1º-F da Lei 9.494/1997 com redação dada pelo art. 5º da Lei 11.960/2009.IV – Recurso do INSS conhecido e provido em parte, para declarar prescrita a pretensão condenatória quanto às parcelasanteriores a 10/09/2008 e para determinar a incidência dos juros de mora do art. 1º-F da Lei 9.494/1997. Sem condenaçãoem custas e honorários, em razão do provimento parcial de seu recurso.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

53 - 0003983-40.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.003983-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: THIAGO COSTA BOLZANI.) x JOSIAS DA SILVA.RECURSO Nº 0003983-40.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.003983-7/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: JOSIAS DA SILVARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. PRESCRIÇÃO.I - PRESCRIÇÃO1. A edição do Memorando 21/DIRBEN/PFE/INSS, de 15/04/2010 importou interrupção do curso do prazo prescricional(sem renúncia à prescrição já consumada), nos termos do art. 202, VI do Código Civil, pois a Administração Públicareconheceu publicamente a ilegalidade do cálculo adotado. Ajuizada a ação dentro do prazo de dois anos e meio (isto é, até15/10/2012), apenas estaria prescrita a pretensão de haver as parcelas anteriores ao quinquênio que antecedeu a ediçãodo Memorando. Entretanto, proposta a ação em 18/10/2013, encontra-se prescrita a pretensão de receber as parcelasanteriores a 15/10/2008.2. Se o autor não se submete aos efeitos da sentença da ACP, não pode se beneficiar da interrupção da prescriçãodecorrente da ação coletiva: quem ajuíza ação individual abre mão dos efeitos positivos e negativos da ACP.II – APLICAÇÃO DA LEI 9.494/19971. A redação original do art. 1º-F da Lei 9.494/1997 (artigo incluído pela MP 2.180-35/2001) fixava juros de mora de 0,5% aomês “nas condenações impostas à Fazenda Pública para pagamento de verbas remuneratórias devidas a servidores eempregados públicos”, sem incidência, portanto, em condenações referentes a questões tributárias, previdenciárias,assistenciais e de responsabilidade civil. O art. 5º da Lei 11.960/2009 deu nova redação ao art. 1º-F de modo que, em todae qualquer condenação imposta à Fazenda Pública, “para fins de atualização monetária, remuneração do capital ecompensação da mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneraçãobásica e juros aplicados à caderneta de poupança”.2. Por ocasião do julgamento da ADI 4.357, o STF declarou a inconstitucionalidade material da nova regra, quanto à adoçãoda TR como índice de correção monetária. Aplicável, portanto, o INPC para a correção monetária (art. 41-A da Lei8.213/1991).3. A sentença determinou a adoção dos juros do art. 1º-F da Lei 9.494/1997 com redação dada pelo art. 5º da Lei11.960/2009.III – Recurso do INSS provido em parte para declarar a prescrição da pretensão do autor de receber as parcelas anterioresa 15/10/2008. Sem condenação em custas nem em honorários sucumbenciais, ante o provimento parcial do recurso(Enunciado 97 do FONAJEF).

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

54 - 0001391-91.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.001391-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) GILCELIA NERES DOS

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SANTOS (DEF.PUB: LUCIANO ANTONIO FIOROT.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR:Carolina Augusta da Rocha Rosado.).RECURSO Nº 0001391-91.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.001391-8/01)RECORRENTE: GILCELIA NERES DOS SANTOSRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. CONVERSÃO DO AUXÍLIO-DOENÇA EM APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. CONSTATAÇÃO DEINCAPACIDADE LABORAL TEMPORÁRIA PELA PERÍCIA JUDICIAL. OS LAUDOS MÉDICOS PARTICULARES SÃODIVERGENTES QUANTO AO ESTADO DE INCAPACIDADE LABORAL DEFINITIVO. NÃO ESTÁ DESCARTADA APOSSIBILIDADE DE REABILITAÇÃO PROFISSIONAL. AS CONDIÇÕES PESSOAIS DA AUTORA NÃO SÃOFAVORÁVEIS AO GOZO DO BENEFÍCIO.1. A autora interpôs recurso da sentença de fls. 62-63, que julgou parcialmente procedente o seu pedido, restabelecendo oauxílio-doença desde a cessação em 14.06.2011. Em razões de recurso (fls. 66-75), a recorrente sustenta que, associandoas doenças que a acometem e as suas condições pessoais, tais como idade, baixo grau de instrução e a restritaqualificação profissional, estaria evidenciada a incapacidade total e permanente para o exercício de toda e qualqueratividade laboral. Destaca que o laudo pericial, embora tenha atestado a incapacidade laborativa temporária, concluiu queela não poderia pegar peso e subir e descer escadas, ao passo que o laudo complementar afirmou que o quadro clínicoteria se agravado nos últimos doze meses mesmo submetendo-se a tratamento adequado. Além disso, acrescentou que ajurisprudência da TNU aponta que a incapacidade para o labor não pode ser feita apenas sob o ponto de vista médico, mastambém social. Sem contrarrazões.2. O laudo médico de fls. 16-18, datado em 17.09.2009, sugere o afastamento da autora do trabalho por períodoindeterminado para fins de repouso, tratamento, reabilitação e realização de novos exames, ante o risco de piora ouagravamento do quadro clínico. Às fls. 13-15, o laudo médico, datado em 11.06.2010, destacou que a recorrente nãoapresentava possibilidade de cura e, portanto, incapacitada para o trabalho, sugerindo o afastamento de suas atividadesprofissionais por período indeterminado, com a finalidade de repouso, tratamento, reabilitação, espera de cirurgia, ante orisco de piora ou agravamento do quadro clínico. Por sua vez, o laudo médico de fls. 09-12, datado em 10.06.2011, afirmaque a autoria estaria inapta para o trabalho definitivamente, por apresentar doença degenerativa, progressiva e incurável,sugerindo inclusive a aposentadoria por invalidez. Ressalta-se que os laudos médicos supracitados foram confeccionadospor médico especialista em ortopedia e traumatologia.3. A perícia judicial de fl. 34, realizada no dia 13.10.2011, atestou que a recorrente é portadora de hérnia lombar e que, nomomento do exame pericial, não possuiria aptidão física e mental para exercer sua atividade habitual de faxineira decondomínio, ante a limitação funcional para andar, pegar peso, subir e descer escadas. Informou o perito que a dataestimada de início da incapacidade para o trabalho seria superior a 12 meses, baseando-se em anamnese e nos examesapresentados quando da realização da inspeção médica. Concluiu assim que ela estaria incapacitada temporariamentepara o trabalho, necessitando, para recuperação total ou parcial de sua capacidade laborativa, de fisioterapia e repouso. Emresposta às indagações do INSS, a perícia judicial à fl. 59 esclareceu que o atual estado clínico da recorrente seria queixade dor lombar irradiando para membros inferiores com sinal de Lasegue, atrofia muscular lombar e escoliose antálgica, queestaria evoluindo com piora do quadro clínico há pelo menos doze meses, mesmo com a realização de tratamentoadequado. Acrescentou também que a evolução da enfermidade seria normal, considerando o lapso temporal entre a datado afastamento do trabalho e a data dos exames que embasaram o laudo pericial, e ainda que não haveria, à época,tratamento eficaz para a doença. Com base no laudo pericial e vislumbrando a possibilidade de reabilitação profissional, asentença negou o pedido de conversão do auxílio-doença em aposentadoria por invalidez.4. Segundo os dados do CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais), a recorrente, que atualmente possui 41 anos deidade, manteve vínculo empregatício formal pelo período de 03.07.2008 a 10/2009, totalizando pouco mais que um ano detempo de contribuição. Em consulta ao sistema PLENUS, a autora está gozando auxílio-doença desde 23.07.2009, o qualfoi cessado pela autarquia previdenciária em 14.06.2011 e reativado judicialmente com efeitos retroativos desde acessação.5. Embora o conjunto probatório tenha atestado que a autora estaria incapacitada para o exercício de suas atividadeslaborais habituais, os laudos médicos particulares são divergentes quando ao estado de incapacidade laborativa definitivo.Além disso, a autora, não obstante o fato de ter baixo grau de instrução e qualificação profissional restrita, não possui idadeavançada, sem contar que reuniu pouco tempo de trabalho contributivo. Os elementos dos autos não descartam, portanto, apossibilidade de reabilitação profissional, sendo assim, por ora, inviável a concessão do benefício previsto no art. 42 da Lei8.213/1991 (A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência exigida, será devida aosegurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para oexercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição).6. Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas e honorários advocatícios, ante o deferimento do benefícioda assistência judiciária gratuita.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

55 - 0001361-27.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.001361-4/01) INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: Marcos Figueredo Marçal.) x ITAMAR OASKI (ADVOGADO: ES002488 - EVERALDO CUCCO.).RECURSO Nº 0001361-27.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.001361-4/01)

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RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ITAMAR OASKIRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. IRSM DE FEVEREIRO DE 1994. DECADÊNCIA.1. O INSS interpôs recurso contra a sentença que julgou procedente o pedido da parte autora para condená-lo aopagamento de valores atrasados relativos à revisão prévia de benefício com base no IRSM de fevereiro de 1994. Alega queo direito de revisão teria sido alcançado pela decadência em 01.08.2007 e que a ação foi ajuizada somente em 06.02.2009.Contrarrazões às fls. 70/72.2. A sentença partiu da premissa de que a Lei 10.999/2004 constituiu reconhecimento, pela Administração Pública, dailegalidade do cálculo adotado na atualização dos salários de contribuição dos benefícios concedidos após março de 1994,de modo que o termo inicial do prazo de decadência seria a data de entrada em vigor da lei.3. “O marco inicial de fluência do prazo não foi reaberto pela superveniência da Lei 10.999/2004, até porque esta nãoconsubstanciou reconhecimento de pedido algum: nos termos expressos do seu art. 2º, o crédito de eventuais diferençasdependia de manifestação expressa do segurado/pensionista, a ser apresentada até a data-limite” (1ª Turma Recursal doEspírito Santo, Recurso Inominado 0002229-68.2010.4.02.5050/01).4. Recurso do INSS provido para pronunciar a decadência do direito à revisão. Isenção de custas. Sem condenação emhonorários, ante o provimento do recurso.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator

56 - 0005412-47.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.005412-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) UNIAO FEDERAL(PROCDOR: GERONIMO THEML DE MACEDO.) x ALZIRA DE FATIMA FERREIRA DE SOUZA (ADVOGADO: ES008886- GILBERTO JOSE DE SANTANA JR.).RECURSO Nº 0005412-47.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.005412-6/01)RECORRENTE: UNIÃO FEDERALRECORRIDO: ALZIRA DE FATIMA FERREIRA DE SOUZARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CARREIRA DA POLÍCIA FEDERAL. PROGRESSÃO FUNCIONAL.1. A União Federal interpôs recurso da sentença que declarou o direito da autora à progressão funcional e a seus efeitosfinanceiros desde a data de preenchimento dos requisitos legais para ascensão na carreira, e que a condenou aopagamento das parcelas atrasadas referentes à diferença entre as remunerações das classes no período de 02.06.2007 a29.02.2008. Em suas razões, argui a preliminar de incompetência absoluta e, no mérito, alega que a autora não faz jus àprogressão funcional e que a procedência de seu pedido implicaria ofensa ao princípio da separação dos poderes e àSúmula 339 do STF. Contrarrazões às fls. 62/68.I – PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA1. A autora não pretende anular ou cancelar ato administrativo. Pretende que lhe seja assegurado o direito à progressãofuncional e ao gozo de seus efeitos financeiros a partir da data em que reuniu as condições exigidas para tanto. Afastada aalegação de incompetência dos Juizados Especiais Federais, uma vez que não há violação ao art. 3º, III, da Lei10.259/2001.II – MÉRITO1. A TNU já se posicionou acerca do tema sob exame adotando o entendimento de que a imposição de data única parainício dos efeitos financeiros da progressão funcional, prevista no art. 5º do Decreto 2.565/1998, viola o princípio daisonomia. Além disso, acolheu a tese de que os efeitos financeiros da progressão funcional da carreira de Policial Federaliniciam-se a partir da data de preenchimento dos requisitos legais (PEDILEF 05019994820094058500).2. Não há ofensa ao princípio da separação dos poderes (art. 2º da CRFB/1988) nem inobservância à Súmula 339 do STF,pois o provimento jurisdicional limitou-se a aplicar o princípio da isonomia à legislação em vigor para assegurar o direito daautora à progressão funcional e a seus efeitos financeiros.3. No caso presente, em 02.06.1977, a autora tomou posse e entrou em exercício no cargo de Agente de Polícia Federal,Segunda Classe. Em 02.06.2002, progrediu da Segunda para a Primeira Classe, mas com efeitos financeiros a partir de01.03.2003. Em 02.06.2007, progrediu da Primeira Classe para a Classe Especial, com efeitos financeiros a partir de01.03.2008. Isso significa dizer que embora a autora tenha cumprido as condições exigidas para progredir funcionalmenteem 02.06.2002 e 02.06.2007, os efeitos financeiros decorrentes de sua ascensão na carreira entraram em vigor somente apartir de 1º de março dos anos subseqüentes, nos termos do art. 5º do Decreto 2.562/1998 (revogado pelo Decreto7.014/2009), o que contraria o entendimento firmado pela TNU.III - Recurso da União Federal conhecido e desprovido. Sem custas. Condenação da recorrente vencida ao pagamento dehonorários sucumbenciais de 10% sobre o valor da condenação (art. 55, caput, da Lei 9.099/1995).

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

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57 - 0005928-67.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.005928-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) UNIAO FEDERAL(PROCDOR: ANA BEATRIZ LINS BARBOSA.) x CARLOS HENRIQUE GONCALVES GOMES (ADVOGADO: ES008886 -GILBERTO JOSE DE SANTANA JR.).RECURSO Nº 0005928-67.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.005928-8/01)RECORRENTE: UNIÃO FEDERALRECORRIDO: CARLOS HENRIQUE GONCALVES GOMESRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CARREIRA DA POLÍCIA FEDERAL. PROGRESSÃO FUNCIONAL.PRESCRIÇÃO.1. A União Federal interpôs recurso da sentença que declarou o direito do autor à progressão funcional e a seus efeitosfinanceiros desde a data de preenchimento dos requisitos legais para ascensão na carreira, e que condenou o entefederativo ao pagamento de parcelas atrasadas. Em suas razões, argui a preliminar de incompetência absoluta e aprejudicial de prescrição. No mérito, alega que o autor não faz jus à progressão funcional e que a procedência de seupedido implicaria ofensa ao princípio da separação dos poderes e à Súmula 339 do STF. Contrarrazões às fls. 66/72.2. A sentença recorrida revela a existência de erro material, pois tomou em consideração fatos diversos daqueles narradosna petição inicial. Contudo, tendo em vista que adotou como fundamento jurídico tese acolhida pela TNU e que a causaencontra-se em condições de imediato julgamento, os princípios da instrumentalidade e da celeridade autorizam aapreciação do recurso.I – PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA1. O autor não pretende anular ou cancelar ato administrativo. Pretende que lhe seja assegurado o direito à progressãofuncional e ao gozo de seus efeitos financeiros a partir da data em que reuniu as condições exigidas para tanto. Afastada aalegação de incompetência dos Juizados Especiais Federais, uma vez que não há violação ao art. 3º, III, da Lei10.259/2001.II – PRESCRIÇÃO1. O art. 1º do Decreto 20.910/1932 prevê a prescrição qüinqüenal da pretensão de qualquer natureza contra a FazendaPública. A pretensão do autor de receber as parcelas atrasadas referentes à diferença entre a remuneração que lhe foipaga e aquela correspondente à da progressão para a Classe Especial, compreendidas no período de 01.01.1998 a29.02.1998, encontra-se alcançada pela prescrição, haja vista que a ação foi ajuizada em 18.11.2010, mais de 12 anosapós a violação de seu direito.2. A pretensão de que seja reconhecido o direito do autor à progressão funcional desde a data de preenchimento dosrequisitos legais para ascensão na carreira, por ser declaratória, não se sujeita à prescrição – a qual só fulmina a pretensãoquanto aos efeitos financeiros.III – MÉRITO1. A TNU já se posicionou acerca do tema sob exame adotando o entendimento de que a imposição de data única parainício dos efeitos financeiros da progressão funcional, prevista no art. 5º do Decreto 2.565/1998, viola o princípio daisonomia. Além disso, acolheu a tese de que os efeitos financeiros da progressão funcional da carreira de Policial Federaliniciam-se a partir da data de preenchimento dos requisitos legais (PEDILEF 05019994820094058500).2. Não há ofensa ao princípio da separação dos poderes (art. 2º da CRFB/1988) nem inobservância à Súmula 339 do STF,pois o provimento jurisdicional limitou-se a aplicar o princípio da isonomia à legislação em vigor para assegurar o direito daautor à progressão funcional e a seus efeitos financeiros.3. No caso presente, em 10.01.1986, o autor tomou posse e entrou em exercício no cargo de Agente de Polícia Federal,Segunda Classe, padrão I. Em 01.01.1998, progrediu para a Classe Especial, com efeitos financeiros a partir de01.03.1998. Isso significa dizer que embora o autor tenha cumprido as condições exigidas para progredir funcionalmenteem 01.01.1998, os efeitos financeiros decorrentes de sua ascensão na carreira entraram em vigor somente a partir de01.03.1998, nos termos do art. 5º do Decreto 2.562/1998 (revogado pelo Decreto 7.014/2009), o que contraria oentendimento firmado pela TNU.IV - Recurso da União Federal conhecido e provido em parte. Reconhecido o erro material e considerando que a causaencontra-se madura para julgamento, declaro o direito do autor à progressão funcional desde a data de preenchimento dosrequisitos legais para ascensão na carreira (01.01.1998). Entretanto, está prescrita a pretensão de recebimento de parcelasatrasadas referentes à diferença entre a remuneração que lhe foi paga e aquela correspondente à da progressão para aClasse Especial, compreendidas no período de 01.01.1998 a 29.02.1998. Sem custas nem honorários, ante o provimentoparcial do recurso (art. 55, caput, da Lei 9.099/1995).

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

58 - 0000096-53.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.000096-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) EDUARDO LIRIO COUTINHO(ADVOGADO: ES010944 - JOSÉ VICENTE SALLES BARBOSA, ES017328 - MARCELLA FRECHIANI DE CASTROAVELAR.) x UNIAO FEDERAL (PROCDOR: ANA BEATRIZ LINS BARBOSA.).RECURSO Nº 0000096-53.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.000096-8/01)RECORRENTE: EDUARDO LIRIO COUTINHORECORRIDO: UNIÃO FEDERAL

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RELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CHEFES DE CARTÓRIO ELETORAL. ZONA ELEITORAL DO INTERIOR.FUNÇÃO GRATIFICADA. EQUIPARAÇÃO COM A CAPITAL. PRINCÍPIO DA ISONOMIA.1. A fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema remuneratório observará a natureza, o graude responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira, os requisitos para a investidura, e aspeculiaridades dos cargos (art. 39, § 1º, da CRFB/1988).2. O art. 1º da Lei 10.842/2004 estabelece a diferenciação de nível de função comissionada entre os chefes de cartórioseleitorais do interior e da capital com base no conjunto de características da zona eleitoral.3. A função de chefe de cartório, embora encerre atribuições idênticas independentemente de a chefia ser exercida nointerior ou na capital, é cumprida em realidades fáticas diversas, cuja complexidade depende do número de eleitores e dovolume de trabalho. O discrímen feito pela norma é razoável e encontra fundamento no art. 39, § 1º, I da CRFB/1988, semque haja ofensa ao princípio da isonomia.4. Havendo exercício de funções com atribuições idênticas, o estabelecimento de diferenciação arbitrária por ato normativocomportaria controle de legalidade pelo Poder Judiciário, com extensão das vantagens injustamente negadas, sem invasãoà competência do Poder Legislativo e, portanto, sem afronta à orientação firmada na Súmula 339/STF, pois nem mesmorazões de ordem orçamentária permitiriam o tratamento desigual na fixação de parcela indenizatória (arts. 5º e 39, acontrario sensu, da CRFB/1988).5. No caso presente, como o autor exerceu a função de chefia de cartório eleitoral do interior (36ª Zona Eleitoral -Pancas/ES), não faz jus à pretendida equiparação à remuneração legalmente reservada aos chefes de cartórios eleitoraisda capital.6. Recurso do autor conhecido e desprovido. Condenação do recorrente vencido ao pagamento de custas e de honoráriossucumbenciais de R$ 300,00, nos termos do art. 55 da Lei 9.099/1995.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

59 - 0001976-46.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.001976-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) KAZUAKI OTSUKA(ADVOGADO: ES013765 - SAULO NASCIMENTO COUTINHO, ES014648 - Mer Stella Borges Mendonça, ES011199 -CAMILLA GOMES DE ALMEIDA, ES013876 - MARIA NAZARET DE CASTRO BATISTA.) x CEF-CAIXA ECONOMICAFEDERAL (ADVOGADO: ES010404 - ALEX WERNER ROLKE.).RECURSO DE SENTENÇA Nº 0001976-46.2011.4.02.5050/01RECORRENTE: KAZUAKI OTSUKARECORRIDO(A): CAIXA ECONÔMICA FEDERALRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

FGTS. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. EXECUÇÃO DE SENTENÇA DE ACP PROFERIDA NA SEÇÃO JUDICIÁRIA DOESPÍRITO SANTO. AUTOR DOMICILIADO EM OUTRO ESTADO. DEPÓSITOS DE FGTS FEITOS EM AGÊNCIA DOESPÍRITO SANTO. COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS DE VITÓRIA.1. A parte autora, domiciliada em Campinas/SP, ajuizou ação visando compelir a CEF a recompor o saldo de sua conta deFGTS com os expurgos inflacionários de janeiro/1989 e abril/1990, a título de execução de sentença da ACP 95.0001119-0da 4ª Vara Federal de Vitória/ES. A sentença extinguiu a execução por considerar afrontada a regra de competênciaterritorial do art. 4º, III, da Lei 9.099/1995. Dessa sentença, recorreu a parte autora.2. O Poder Judiciário tem o dever de prestar jurisdição de forma eficiente (art. 5o, XXXV, da Constituição) e em temporazoável (art. 5o, LXXVIII, da Constituição). As Varas da Justiça Federal são distribuídas, à medida em que são criadas,por critérios funcionais, o que ficou expresso, após a Emenda Constitucional 45, no art. 93, XIII, da Constituição: “o númerode juízes na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva demanda judicial e à respectiva população”. A expansão daJustiça Federal (com ênfase na interiorização) tem, sim, o escopo de facilitar o acesso do jurisdicionado ao Judiciário, masos critérios de localização das Varas ao longo do País também têm em vista a distribuição equânime dos processos, deforma a tornar efetiva a prestação jurisdicional. Admitir que o autor possa escolher litigar em Seções Judiciárias nãorelacionadas, de forma alguma, ao domicílio das partes ou aos eventos de que trata o processo, violaria o critério funcionalde alocação dos recursos humanos e financeiros da Justiça Federal (art. 93, XIII, da CRFB/1988).3. É ver que o art. 109, § 2º, da Constituição, para facilitar o acesso à Justiça nas ações contra a União, abre um leque deopções (“As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor,naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no DistritoFederal”). O STF, no entanto, no RE 451.907, deu interpretação restritiva a tal dispositivo, para excluir a possibilidade deaforamento de ação tributária no Distrito Federal sempre que houver Vara Federal na localidade da sede da parte autora, nointuito de conferir a maior concretude possível ao princípio do juiz natural. Inclusive, posteriormente, o STJ valeu-se domesmo entendimento para as ações tributárias contra o INSS (REsp 509.294).4. A permissão do art. 100, IV, do CPC para acesso ao domicílio do réu deve guardar pertinência com a filial ondeestabeleceu-se a relação jurídica controvertida (regra da alínea ‘b’), e não qualquer filial ou mesmo a sede (regra da alínea‘a’), sob pena de, nas ações contra a CEF, sobrecarregar uma Seção Judiciária em detrimento das demais e dificultar a

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defesa da ré.5. A CEF possui representação jurídica em todo o Brasil. Isto não autoriza as pessoas a escolherem livre e abusivamente oajuizamento em qualquer Estado, quando isto não favorecer a instrução do processo e ainda dificultar a defesa da ré.6. No caso concreto, porém, apesar de o autor atualmente residir em Campinas/SP, teve toda a sua vida laboral no EspíritoSanto, Estado no qual se encontra a sua conta de FGTS. Some-se a isto o fato de que se trata de execução de sentençade ACP proferida no Espírito Santo, de modo que o Sindicato que o assiste em juízo terá a sua atuação facilitada sepromover todas as execuções na mesma Seção Judiciária, sem pulverizar os ajuizamentos. Logo, o ajuizamento daexecução em um dos JEFs de Vitória não constitui exercício abusivo de direito e está de acordo com o critério do art. 100,IV, do CPC.7. Recurso provido para, reformando a sentença terminativa, determinar o prosseguimento da execução em face da CEF.Sem custas nem honorários, ante o provimento do recurso.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal Relator

60 - 0000358-57.2011.4.02.5053/01 (2011.50.53.000358-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: UBIRATAN CRUZ RODRIGUES.) x SANTANA DO NASCIMENTO GONÇALVES(ADVOGADO: ES012396 - WESLEY CORREA CARVALHO.).RECURSO DE SENTENÇA E AGRAVO INTERNO Nº. 0000358-57.2011.4.02.5053/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO(A): SANTANA DO NASCIMENTO GONÇALVESRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

I – DECISÃO MONOCRÁTICA QUE JULGOU O RECURSO INOMINADO INTEMPESTIVO. AGRAVO. ERRO NACONTAGEM DO PRAZO.1. O INSS interpôs agravo (fls. 107/121) da decisão (fl. 103) que negou seguimento ao recurso inominado por motivo deintempestividade.2. De fato, o INSS, conforme regulamentação do processo eletrônico, deve ser intimado via remessa eletrônica dos autosvirtuais, o que ocorreu, segundo os dados de movimentação do processo, em 09/08/2011. É tempestivo, portanto, orecurso protocolizado em 24/08/2011.3. Agravo provido para, reconhecida a tempestividade, admitir o recurso inominado.II – PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA RURAL POR IDADE. SEGURADO ESPECIAL. INÍCIO DE PROVA MATERIALCORROBORADO POR PROVA TESTEMUNHAL. LABOR EXERCIDO EM REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR.1. O INSS recorreu da sentença de fls. 86/89, que julgou procedente o pedido autoral de concessão de aposentadoria ruralpor idade. O recorrente sustenta que o marido da autora exerceu atividade urbana, a descaracterizar o exercício deatividade rural em regime de economia familiar, ressaltando que o autora reside atualmente em meio urbano. Ademais,sustenta o recorrente que o tamanho da propriedade (33 km2) não tem o condão de garantir a subsistência de uma família.Por fim, argumenta que, como ainda não houve antecipação de tutela nos autos, a DIP deve ser fixada após o trânsito emjulgado. Contrarrazões às fls.99/101.2. Consoante a Súmula 6/TNU, a comprovação da condição de rurícola pode ser feita por certidão de casamento ou outrodocumento que evidencie a condição de trabalhador rural do cônjuge, uma vez que tais documentos constituem iníciorazoável de prova material. Para a comprovação da atividade rural, a título de início de prova material, a autora juntou aosautos os seguintes documentos: i) certidão de casamento com o registro da profissão do marido como lavrador, realizadoem 1977 (fls.13); ii) formal de partilha (fls. 16/30); iii) declaração do INCRA fls. 31/34); iv) entrevista rural, realizada em24/11/2010, onde a autora afirma ser trabalhadora rural.3. A prova testemunhal produzida nos autos confirmou que a recorrida sempre trabalhou no campo, com o auxílio de seumarido. Diante disso, reputo que os documentos colacionados aos autos, quando analisados conjuntamente à provatestemunhal, proporcionam a satisfatória caracterização da recorrida como segurada especial. Aliás, é prescindível que oinício de prova material seja contemporâneo de todo o período controvertido, desde que a prova testemunhal estenda a suaeficácia probatória. A Súmula 14/TNU, nesse sentido, permite a ampliação dos efeitos probatórios da prova material pelaprova testemunhal, salvo em caso de contradição, imprecisão ou inconsistência entre os depoimentos colhidos e osdocumentos presentes nos autos. Está comprovado o exercício de atividade rural por tempo equivalente ao período decarência do benefício.4. No que tange ao fato do esposo da autora ter exercido labor urbano, destaco que a TNU tem decidido que o regime deeconomia familiar somente restará descaracterizado se a renda obtida com a atividade urbana ou com o benefício derivadodo labor urbano for suficiente para a manutenção da família, de modo a tornar dispensável a atividade rural, ou, noutrostermos, se a renda auferida com a atividade rural não for indispensável à manutenção da família (Súmula 41/TNU). Nessepasso, entendo que a aposentadoria percebida pelo marido da autora não prejudica o reconhecimento da qualidade desegurada especial, já que além de seu marido perceber parcos rendimentos, restou assente pelas testemunhas que aautora sobrevivia do trabalho rurícola.5. Preenchido o requisito da idade e comprovado tempo de exercício de atividade rural pelo período exigido em lei (art. 142da Lei 8.213/1991), resta concluir que a recorrida faz jus à concessão do benefício de aposentadoria por idade.6. Tutela antecipada deferida por ocasião do julgamento colegiado, com a conseqüente revisão da DIP (sem prejuízo damanutenção da DIB fixada na sentença).7. Recurso do INSS provido em parte mínima apenas para retificar a DIP. Sem condenação em custas e em honorários.

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IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal Relator

61 - 0000468-24.2009.4.02.5054/01 (2009.50.54.000468-5/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) MARLENE DE OLIVEIRAALVES (ADVOGADO: ES010835 - ALMIR MELQUIADES DA SILVA, ES010477 - FABIANO ODILON DE BESSA LURETT.)x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: Paulo Henrique Vaz Fidalgo.).RECURSO DE SENTENÇA Nº. 0000468-24.2009.4.02.5054/01RECORRENTE: MARLENE ODILON DE BESSA LURETTRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA RURAL POR IDADE. SEGURADO ESPECIAL. DESCARACTERIZAÇÃO DOREGIME DE ECONOMIA FAMILIAR. PREPONDERÂNCIA DA ATIVIDADE URBANA EXERCIDA PELO CÔNJUGE DAAUTORA.1. A autora recorreu da sentença que julgou improcedente o pedido de aposentadoria rural por idade. O ponto controvertidonos autos diz respeito ao fato de o marido da parte autora ter exercido atividade urbana nos períodos de 01/11/1991 a30/04/1993, de 01/02/1994 a 31/05/1997 (dois vínculos concomitantes) e de 01/04/1998 até os dias atuais, o quedescaracterizaria a atividade rural em regime de economia familiar, retirando da autora a qualidade de segurada especial doRGPS. A autora sustenta que a renda auferida por seu marido era insuficiente para a manutenção da família, de modo queo labor rural existia e era imprescindível.2. O desempenho de atividade urbana por um membro do grupo familiar não constitui, por si só, óbice à demonstração dacondição de segurado especial por outro componente da família, desde que a renda advinda da agricultura sejaindispensável ao sustento do lar (STJ, 5ª Turma, AGRESP 200900104700, TNU, PEDILEF 200783025015224). Nestesentido, o próprio art. 11, § 9º, III, da Lei 8.213/1991 permite que o segurado especial trabalhe como empregado, noperíodo do defeso ou entressafra, por 120 dias durante o ano.3. Não obstante os indícios de efetivo labor rural por parte da autora, a renda auferida por seu esposo, principal fonte demanutenção das despesas do lar, decorria de atividade preponderantemente urbana, a descaracterizar a agricultura emregime de economia familiar, o que obsta o deferimento do benefício previdenciário de aposentadoria rural por idade. Omarido da autora encontra-se atualmente com vínculo empregatício urbano de mais de 11 anos, percebendo renda cujovalor é superior ao salário mínimo (aproximadamente 1,5 salário mínimo no primeiro semestre de 2009).4. A prova testemunhal colhida em audiência (CD-R de áudio), em cotejo com os documentos colacionados aos autos, nãose revelaram suficientes a atestar, de maneira peremptória, a indispensabilidade do labor rural exercido pela autora. Pelocontrário, as testemunhas foram uníssonas em afirmar que a renda do trabalho rural não era suficiente à família, razão pelaqual o marido da autora passou a trabalhar e residir em centro urbano. Logo, o trabalho no campo perdeu seu caráter deessencialidade na renda da família (tratando-se de mera complementação), ressaltando-se que o benefício em comentovisa resguardar àqueles pequenos agricultores que por toda a vida tentaram retirar da terra o seu sustento.5. Recurso conhecido e desprovido. Sem condenação em custas e honorários advocatícios, ante o deferimento deassistência judiciária gratuita.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

62 - 0004586-55.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.004586-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: SIMONE LENGRUBER DARROZ ROSSONI.) x YEDDA PEDROSA DE ARAGAO(ADVOGADO: ES012916 - MARIA DE FÁTIMA DOMENEGHETTI.).RECURSO Nº 0004586-55.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.004586-0/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: YEDDA PEDROSA DE ARAGAORELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL. REVISÃO DE PENSÃO POR MORTE DERIVADA DE APOSENTADORIA.I – Trata-se de agravo regimental interposto pelo INSS contra a decisão que, por não reconhecer a consumação dadecadência do direito à revisão da RMI, negou provimento ao recurso inominado interposto pela autarquia federal.O marido da autora aposentou-se em 05.08.1982. Seu óbito deu-se em outubro de 2006, data em que foi instituída apensão por morte. Por isto, o INSS sustenta que o prazo decadencial para rever a RMI da aposentadoria encerrou-se emjunho de 2007, e que a concessão da pensão por morte toma por base aquela mesma RMI: logo, não haveria reabertura doprazo para discussão do valor do benefício. Requer manifestação expressa sobre a incidência do art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. Suscita a omissão do acórdão a respeito da decadência do direito de revisão quanto ao emprego da ORTN.II – Em voto vencido no recurso inominado 0003924-91.2009.4.02.5050/01, o Juiz Federal IORIO SIQUEIRAD’ALESSANDRI FORTI consignou orientação favorável à tese do INSS, nos seguintes termos:“1. O art. 103 da Lei 8.213/1991, ao instituir prazo extintivo do direito potestativo do titular de provocar, administrativa oujudicialmente, a revisão do valor estabelecido no ato da concessão para a RMI de seu benefício, comporta interpretação

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restritiva.2. A instituição de pensão por morte a um dependente pressupõe o óbito de um segurado, não que este (segurado) tenhase aposentado (e, caso aposentado, a pensão só será paga ao dependente após a cessação da aposentadoria em razão doóbito do titular). Ou seja, a pensão por morte pode, eventualmente, ser derivada da aposentadoria, sem que isto caracterizerelação de acessoriedade ou lhe retire a existência autônoma.3. Conforme o art. 75 da Lei 8.213/1991, se o segurado não estava aposentado, a pensão por morte instituída a partir desua morte corresponderá ao valor da aposentadoria “a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data deseu falecimento”; se o segurado recebia aposentadoria em vida, o parâmetro para quantificação da pensão por morte é de“cem por cento do valor da aposentadoria que o segurado recebia”. Sem negar autonomia à pensão por morte, e semtransformá-la em acessório, a lei expressamente vincula o valor da pensão por morte derivada de aposentadoria à RMIdeste benefício.4. Caso o prazo decadencial tenha se consumado para o segurado, a RMI de sua aposentadoria não pode mais ser revista.O óbito do segurado não dá ao dependente titular de pensão por morte o direito de, a pretexto de pedir a revisão do valor doseu benefício, provocar a alteração da RMI da aposentadoria, quando, por força da decadência, tal questão já foidefinitivamente estabilizada. Orientação adotada pelas quatro Turmas Recursais do Rio de Janeiro.”III – A decisão recorrida reconheceu a plena aplicabilidade do prazo decadencial instituído pelo art. 103 da Lei 8.213/1991,bem como sua incidência imediata aos benefícios anteriormente concedidos, razão pela qual se encontra em perfeitaconsonância com a orientação firmada pelo STF (RE 626.489), sem violação alguma ao art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988. Aquestão controvertida diz respeito única e exclusivamente à interpretação do art. 103 da Lei 8.213/1991, questãoinfraconstitucional que não enseja violação, direta ou indireta, à Constituição da República.IV – Em respeito à orientação firmada pelo colegiado, nega-se provimento ao agravo interposto pelo INSS (com ressalva daposição pessoal do Relator) para fazer prevalecer o entendimento de que “a pensão por morte e o benefício previdenciáriodo qual deriva são, de fato, benefícios atrelados por força do critério de cálculo de ambos, tão-somente. Mas são benefíciosautônomos, titularizados por pessoas diversas que, de forma independente, possuem o direito de requerer a revisão decada um deles, ainda que através de sucessores (pois a pensão por morte pressupõe, logicamente, o falecimento de seuinstituidor), sendo que o prazo decadencial de revisão da pensão começa fluir a partir da data da concessão.” (TNU,PEDILEF 2008.50.51.001325-4).

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

63 - 0005006-94.2008.4.02.5050/01 (2008.50.50.005006-0/01) RENATA FERREIRA BORBA (ADVOGADO: ES013876 -MARIA NAZARET DE CASTRO BATISTA.) x CEF-CAIXA ECONOMICA FEDERAL (ADVOGADO: ES010485 - CLEBERALVES TUMOLI.) x OS MESMOS.RECURSO DE SENTENÇA Nº 0005006-94.2008.4.02.5050/01RECORRENTES: RENATA FERREIRA BORBA e CEFRECORRIDOS: OS MESMOSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

FIES – FINANCIAMENTO ESTUDANTIL. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS ANTES DA MP 517, DE 30/12/2010.IMPOSSIBILIDADE.1. Ambas as partes recorreram da sentença de fls. 160/169, que julgou parcialmente procedente a pretensão da autora paracondenar a CEF a excluir a capitalização trimestral de juros incidente sobre o saldo devedor do contrato de financiamentoestudantil n° 06.0880.185.0003527-90, bem como a restituir as quantias indevidamente pagas em função da capitalizaçãode juros.2. A autora pediu a reforma da sentença a fim de que seja excluída a capitalização de juros decorrente da utilização daTabela Price e que sejam aplicados juros simples à taxa de 9% ao ano. Pede, também, repetição do indébito relativa àsquantias pagas indevidamente a título de juros capitalizados. Contrarrazões às fls. 214/221.A CEF pediu a reforma da sentença, a fim de que seja admitida a capitalização de juros. Contrarrazões às fls. 209/212.3. A adoção da Tabela Price, por si só, não configura ilegalidade (TRF da 3ª Região, 2ª Turma, AC00275134420064036100, Relator DF Cotrim Guimarães, e-DJF3 de 20/06/2013), nem a adoção da taxa de juros de 9%,com base na Lei 10.260/2001.4. Quanto aos juros capitalizados, sua cobrança em contrato de financiamento estudantil depende da existência deautorização expressa por norma específica, que apenas surgiu com a MP 517, de 30/12/2010 (STJ, REsp 1.155.684).Logo, a capitalização de juros prevista na cláusula 11 do contrato (fl. 74), celebrado em 16/05/2001, é ilegal. No contrato daautora, devem incidir juros simples no percentual previsto no contrato e no art. 6º da Resolução BACEN 2.647, de22/09/1999, ou seja, 9% ao ano.5. A CEF deve restituir à autora o que esta pagou a título de juros capitalizados, de forma simples (art. 876 do Código Civil),sem incidência do Código de Defesa do Consumidor a contrato regido por lei especial, conforme determinado na sentençarecorrida.6. Recursos da autora e da CEF desprovidos. Sentença mantida pelos próprios fundamentos. Honorários de sucumbênciacompensados.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal Relator

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64 - 0000816-49.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.000816-2/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: MARCOS JOSÉ DE JESUS.) x MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (PROCDOR:ANDRÉ PIMENTEL FILHO.) x LUIZ FERNANDO DA SILVA NASCIMENTO (DEF.PUB: LIDIANE DA PENHA SEGAL.).RECURSO Nº 0000816-49.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.000816-2/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: LUIZ FERNANDO DA SILVA NASCIMENTORELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. ASSISTÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DE PRESTAÇÃO CONTINUADA (LEI8.742/1993). RENDA MENSAL FAMILIAR SUPERIOR AO LIMITE LEGAL (1/4 DO SALÁRIO MÍNIMO). ESTADO DEMISERABILIDADE DEMONSTRADO PELA INVESTIGAÇÃO SOCIAL. O CRITÉRIO DO ART. 20, § 3°, DA LEI 8.742/1993NÃO É ABSOLUTO PARA AFERIÇÃO DA MISERABILIDADE DA FAMÍLIA, PODENDO SER FEITA COM OUTROSPARÂMETROS, POR LIVRE APRECIAÇÃO FUNDAMENTADA DA PROVA.1. O INSS e o MPF interpuserem recurso da sentença de fls. 132-135, que julgou procedente o pedido de restabelecimentode beneficio assistencial de prestação contínua. Irresignada, a autarquia federal alega que a renda familiar per capitaexcederia ao limite legal de ¼ do salário mínimo. Alega, também, que os irmãos do autor tiveram remuneração empraticamente todo o ano de 2011 e que um deles inclusive perceberia auxílio-doença, o que deve ser considerado para finsde composição da renda familiar. Por sua vez, o MPF alega que, além de a renda familiar ultrapassar o limite legal, houveequívoco ao considerarem-se os gastos familiares mensais como dedutíveis da renda per capita.2. O autor gozou o benefício assistencial de prestação contínua de 25.04.2003 a 09.06.2010, quando o INSS cessou opagamento sob a alegação de que a renda familiar per capita ultrapassava o limite legal, ou seja, seria superior a ¼ dosalário mínimo.3. O relatório social de fls. 88-92, datado em 31.03.2012, relata que o grupo familiar, no caso, é formado por cinco pessoas(o autor, a sua genitora e mais três irmãos, um deles menor de idade), sendo a única renda da família aquela auferida pelamãe, no valor de R$ 964,82 (fl. 65), complementada pelo numerário creditado pelo Programa Bolsa Família do GovernoFederal, no valor de R$ 32,00, uma vez que os dois irmãos maiores (Daniel da Silva Nascimento, 26 anos de idade, eDhebora Crystina Silva Pereira, 18 anos de idade) se encontravam desempregados. Consignou a investigação social que oautor, portador de paralisia cerebral, foi adotado por Fedelcina da Silva Nascimento, de 56 anos de idade, quandorecém-nascido, após ser resgatado no lixão próximo a sua casa, e que, em razão das seqüelas de maus tratos após onascimento, vive hoje sob auxílio de terceiros, restrito ao leito ou ao uso de cadeira de rodas. Consignou ainda que a casaonde o núcleo familiar reside é própria, possui seis cômodos e está inacabada, sem janelas, portas, piso, reboco e pintura,e que a mobília está em estado precário, estando localizada em um bairro de periferia no qual prevalecem famílias de baixarenda. Quanto às despesas familiares, a assistente social destacou que, além daquelas comuns como água e luz, sãogastos R$ 130,00 com medicamentos e R$ 300,00 com o pagamento de um cuidador, que se encarrega em auxiliar o autordurante a jornada de trabalho de sua genitora. Além disso, a mãe do autor fora obrigada a contrair empréstimo bancáriopara custear dívida de seu outro filho dependente químico. Com base em tais elementos, a sentença concedeu o benefícioassistencial de prestação contínua ora questionado tanto pelo INSS como pelo Parquet.4. A jurisprudência amplamente majoritária das Turmas Recursais considerava que o critério do art. 20, § 3º, da Lei8.742/1993 não era absoluto para a aferição da miserabilidade da família, assim como conferia interpretação extensiva aoparágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso (Enunciado 46 das Turmas Recursais do Espírito Santo). Esta orientação foiconsolidada pelo próprio STF, que reconheceu incidentalmente a inconstitucionalidade das regras em questão, por proteçãoinsuficiente aos idosos e aos portadores de deficiências (RE 567.985 e RE 580.963), permitindo, conseqüentemente, aaferição de miserabilidade com outros parâmetros, por livre apreciação fundamentada da prova. No caso, embora a rendafamiliar per capita ultrapasse o limite legal, os elementos dos autos demonstram que o autor necessita de uso constante demedicamentos, fraldas descartáveis e de auxílio de terceiros, sendo as suas despesas pessoais capazes de absorvergrande parte da renda auferida por sua genitora, comprometendo a existência digna do próprio autor e de seus familiares.Além disso, o relatório social revelou que o autor vive em estado de vulnerabilidade, acomodado em um leito ou em umacadeira de rodas, residindo em uma casa com péssimas condições de moradia.5. Em consulta ao Cadastro Nacional de Informações Socais (CNIS), verifica-se que o irmão do autor DANIEL DA SILVANASCIMENTO teve último vínculo empregatício no período de 16.05.2013 a 13.08.2013 e a sua irmã DHEBORACRYSTINA PEREIRA DA SILVA no período de 01.10.2012 a 24.12.2012. Em consulta ao sistema PLENUS, vê-se que oprimeiro gozou auxílio-doença no período de 04.08.2012 a 30.04.2012 e a segunda gozou auxílio-doença de 01.10.2012 a29.12.2012 e atualmente goza salário-maternidade (21.09.2013 a 18.01.2014). Não obstante, a redação atualizada da Lei8.742, de 07.12.1993, contempla como núcleo familiar o requerente, cônjuge ou companheiro, os pais, e na ausência de umdeles, a madrasta ou padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivamsob o mesmo teto (art. 20, § 1º), de forma que não pode ser computada a renda de familiares que constituíram nova família.Assim, em princípio, os filhos que constituíram família, que tem dever de sustento de sua prole, estão desobrigados dodever de sustento imposto pelo artigo 229 da CRFB/1988. Não pode, portanto, o benefício usufruído pela irmã do autor, atítulo de salário-maternidade, ser computado no valor da renda familiar.6. O autor, na data da cessação do benefício assistencial de prestação contínua em 09.06.2010, mantinha os requisitosnecessários para tanto, tendo em vista que a incapacidade laboral e a hipossuficiência financeira (estado de miserabilidade)já estavam presentes em tal época.7. Ambos os recursos conhecidos e desprovidos. Sem custas (art. 4º, I, da Lei 9.289/1996). Condenação do INSS aopagamento de honorários advocatícios ao recorrido fixados em 10% da condenação (art. 55, caput, da Lei 9.099/1995).

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IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

65 - 0001165-88.2008.4.02.5051/01 (2008.50.51.001165-8/01) UNIAO FEDERAL (PROCDOR: GERONIMO THEML DEMACEDO.) x AECIO FLAVIO NEVES (ADVOGADO: ES007962 - ANA IZABEL VIANA GONSALVES.).RECURSO Nº 0001165-88.2008.4.02.5051/01 (2008.50.51.001165-8/01)RECORRENTE: UNIÃO FEDERALRECORRIDO: AECIO FLAVIO NEVESRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO. GDATFA – GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DEATIVIDADE TÉCNICA DE FISCALIZAÇÃO AGROPECUÁRIA.1. A União interpôs recurso da sentença que a condenou ao pagamento de Gratificação de Desempenho de Atividade deFiscalização Agropecuária (GDAFA) ao autor. Em suas razões, alega a nulidade da sentença por julgamento ultra petita, aimpossibilidade de estender aos inativos gratificação de natureza pessoal, a inexistência de violação ao princípio daisonomia, e a necessidade de observância dos princípios da legalidade, da separação dos poderes e da previsãoorçamentária. Contrarrazões as fls. 111/114.2. A GDAFA foi instituída pela revogada MP 2.229-43, de 06.09.2001 e era devida aos ocupantes dos cargos da Carreira deFiscal Federal Agropecuário.3. O autor é servidor público federal aposentado como Agente de Atividades Agropecuárias, cargo efetivo de nível médio, erecebe a Gratificação de Desempenho de Atividade Técnica de Fiscalização Agropecuária (GDATFA), correspondente àsua categoria (fl. 18).4. O STJ tem entendimento pacífico de que o pedido deve ser interpretado pelo método lógico-sistemático (AGRESP200300286254). Apesar da equivocidade da exposição dos fatos e da formulação do pedido, a leitura da petição inicial e oexame da prova documental permitem concluir que a pretensão do autor refere-se à GDATFA, e não à GDAFA.5. O erro de julgamento na sentença que condenou a União a pagar a GDAFA ao autor, embora autorize a anulação dasentença, não torna necessária a remessa dos autos ao Juizado Especial de origem para nova apreciação do mérito, umavez que a causa versa matéria exclusivamente de direito e está em condições de imediato julgamento (art. 515, § 3º, doCPC).6. Sobre o tema controvertido, o STJ já decidiu (RESP 200400571336) que, com relação aos servidores aposentados epensionistas, a GDATFA deve ser paga da seguinte forma: a) no período entre a edição da Lei 10.484/2002 e a edição doDecreto 5.008/2004, a gratificação deve ser paga no valor correspondente a 40 pontos; b) após a edição do Decreto5.008/2004, a gratificação deve ser paga conforme o art. 5º da Lei 10.484/2002.6. A pretensão de recebimento das parcelas vencidas antes de 23.07.2003 encontra-se prescrita (art. 1º do Decreto20.910/1932 e Súmula 85 do STJ).7. Recurso da União conhecido e em parte provido apenas para anular a sentença.8. Aplicação do art. 515, § 3º, do CPC para julgar procedente a pretensão autoral e condenar a União ao pagamento daGDATFA ao autor, observada a prescrição quinquenal, nos seguintes termos: a) no período entre a edição da Lei10.484/2002 e a edição do Decreto 5.008/2004, a gratificação deve ser paga no valor correspondente a 40 pontos; b) apósa edição do Decreto 5.008/2004, a gratificação deve ser paga conforme o art. 5º da Lei 10.484/2002. Incidência de juros demora, desde a citação, nos termos do art. 1º-F da Lei 9.494/1997. Correção monetária pelos índices oficiais, desde a dataem que devida cada parcela.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

66 - 0000293-76.2008.4.02.5050/01 (2008.50.50.000293-4/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: THIAGO COSTA BOLZANI.) x MAYCON DE CARVALHO MEIRELES E OUTRO(DEF.PUB: ALINE FELLIPE PACHECO SARTÓRIO.).RECURSO Nº 0000293-76.2008.4.02.5050/01 (2008.50.50.000293-4/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDOS: MAYCON DE CARVALHO MEIRELES e MAYARA DE CARVALHO MEIRELESRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

ASSISTÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DE PRESTAÇÃO CONTINUADA. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVADO ART. 34, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 10.741/2003. POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO A AMBOSOS AUTORES. A CORREÇÃO MONETÁRIA DEVE SER CALCULADA DESDE A DATA EM QUE DEVIDA CADAPARCELA. AS ALTERAÇÕES DO ART. 5º DA LEI 11.960/2009 FORAM REPUTADAS INCONSTITUCIONAIS. JUROS DEMORA FIXADOS A PARTIR DA DATA DA CITAÇÃO.1. O INSS recorreu da sentença de fls. 200-202 que o condenou a conceder benefício assistencial de prestação contínuaaos autores. Alega o recorrente que os juros de mora devem incidir a partir da citação e devem ser fixados em 0,5% ao

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mês, bem como a correção monetária deve ser fixada a partir do ajuizamento da ação e a atualização feita nos termos daLei 11.960/2009. Aduz ainda que o benefício deve ser concedido a apenas um dos autores por ser a renda incompatível epela impossibilidade de aplicação analógica do art. 34, parágrafo único, do Estatuto do Idoso ao caso em comento, por setratar de crianças, e não de idosos. Contrarrazões às fls. 225-236.2. Os autores alegam que são portadores de grave doença cardíaca congênita (tarquicardia ventricular polimórficacatecolaminérgica) e que, em razão do estado de miserabilidade em que se encontram, são legitimados a usufruir obenefício assistencial de prestação contínua. A sentença, adotando o parecer do Ministério Público Federal, concedeu obenefício pleiteado a ambos os autores, por aplicação analógica do art. 34, parágrafo único, da Lei 10.741/2003.3. O Relatório Social de fls. 86-92, datado em 28.08.2009, afirma que os autores (Maycon de Carvalho Meireles e Mayarade Carvalho Meireles, à época com 14 e 11 anos de idade, respectivamente) residiriam apenas com a sua genitora (àépoca com 33 anos de idade) em imóvel alugado e que a renda familiar seria proveniente de um benefício de um saláriomínimo (à época no valor de R$ 465,00), concedido pela Prefeitura Municipal de Cariacica (município em que residiam) atodo munícipe portador de doença congênita degenerativa e carente de recursos financeiros ou com renda per capitainferior a um salário mínimo. Relata que a mãe dos autores, desempregada, não teria possibilidade de trabalhar, em razãodos cuidados diários exigidos pela doença sofrida pelos recorridos. Foi constatado ainda que a família vive em estado devulnerabilidade social. Em consulta ao Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS), verifica-se que a genitora daautora, Rosalina Vieira de Carvalho, participou da Previdência Social, como contribuinte individual, de 01/1994 a 03/1995, egozou benefício de 24.12.1994 a 23.04.1995.4. A jurisprudência amplamente majoritária das Turmas Recursais considerava que o critério do art. 20, § 3º, da Lei8.742/1993 não era absoluto para a aferição da miserabilidade da família, assim como conferia interpretação extensiva aoparágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso (Enunciado 46 das Turmas Recursais do Espírito Santo). Esta orientação foiconsolidada pelo próprio STF, que reconheceu incidentalmente a inconstitucionalidade das regras em questão, por proteçãoinsuficiente aos idosos e aos portadores de deficiências (RE 567.985 e RE 580.963), permitindo, conseqüentemente, aaferição de miserabilidade pelo juiz com outros parâmetros, por livre apreciação fundamentada da prova.5. O benefício assistencial de prestação continuada recebido por um dos autores não pode ser computado para fins decálculo da renda mensal familiar, uma vez que ambos são comprovadamente deficientes. Sendo assim, não há que se falarem cumulação de benefícios e ultrapassagem do valor exigido (art. 20, § 3°, da Lei 8.742/1993), pois, em atenção àinterpretação extensiva ao parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso, que inclui os portadores de deficiência, obenefício recebido por um será desconsiderado para cômputo da renda familiar.6. A redação original do art. 1º-F da Lei 9.494/1997 apenas se aplicava às condenações da Fazenda Pública em questõesreferentes a servidores e empregados públicos, não abrangendo questões assistenciais.7. Em 26/06/2013, a Primeira Seção do STJ decidiu, no REsp 1.270.439 (submetido à sistemática dos recursos repetitivos),que a declaração de inconstitucionalidade do art. 5º da Lei 11.960/2009 pelo STF na ADI 4.357 se referiu apenas àutilização da TR como critério de correção monetária, permanecendo eficaz a redação atual do art. 1º-F da Lei 9.494/2009em relação aos juros de mora (exceto para as dívidas de natureza tributária). O Tribunal fixou que, diante dainconstitucionalidade da TR, as condenações da Fazenda Pública deveriam ser corrigidas, em regra, pelo IPCA-E, salvo aexistência de leis específicas (por exemplo, SELIC para as dívidas tributárias).8. Recurso do INSS provido em parte para, mantendo a condenação, com correção monetária desde quando devida cadaparcela pelo IPCA-E, determinar que os juros de mora fluirão desde a citação (29/01/2009) a 1% ao mês até 29/06/2009 e,a partir de 30/06/2009, serão computados na forma da redação atribuída ao art. 1º-F da Lei 9.494/1997 pelo art. 5º da Lei11.960/2009, devendo observar, no mais, o Manual de Cálculos da Justiça Federal. Diante do provimento parcial dorecurso, não é devida a condenação da autarquia ao pagamento de honorários (Enunciado 97 do FONAJEF).

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

67 - 0005472-59.2006.4.02.5050/02 (2006.50.50.005472-0/02) UNIAO FEDERAL (PROCDOR: MARGARETH ALVES DEOLIVEIRA.) x MARIA DA PENHA RIBEIRO DOS SANTOS.RECURSO Nº 0005472-59.2006.4.02.5050/02 (2006.50.50.005472-0/02)RECORRENTE: UNIÃO FEDERALRECORRIDO: MARIA DA PENHA RIBEIRO DOS SANTOSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

TRIBUTÁRIO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. RESTITUIÇÃO DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS PAGAS PORERRO. PRAZO DE CINCO ANOS PARA AJUIZAMENTO DA AÇÃO. PRESCRIÇÃO CONSUMADA.1. A União Federal interpôs recurso da sentença de fls. 101-102 que a condenou a restituir, à autora, os valores pagos atítulo de contribuição previdenciária. Em suas razões recursais de fls. 143-146, a recorrente alega que os valores a seremrestituídos se encontram fulminados pela prescrição qüinqüenal. A autora alegou que, enquanto se encontravaincapacitada para o trabalho e recebendo auxílio-doença durante os meses de fevereiro a junho/2001, permaneceucontribuindo para a Previdência Social nos meses de março, abril, maio e junho/2001. A sentença julgou procedente opedido do autor, condenando a UNIÃO a devolver os valores indevidamente recolhidos à Previdência Social.2. O STF decidiu pela incidência do prazo prescricional de cinco anos previsto no art. 3º da LC 118/2005 em todas as açõesajuizadas após o decurso da vacatio legis (RE 566.621), como é o caso da presente, ajuizada em 16/11/2006. Logo, estáprescrita a pretensão de repetição dos valores pagos fora do qüinqüênio que antecedeu a propositura da demanda.3. Como o último pagamento data de junho/2001, ajuizada a ação em novembro/2006, a pretensão está totalmente

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fulminada pela prescrição.4. Recurso da União provido para extinguir o processo com fundamento no art. 269, IV, do CPC.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRO FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

68 - 0006646-98.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.006646-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) DEPARTAMENTO NACIONALDE INFRA-ESTRUTURA DE TRANSPORTES - DNIT (PROCDOR: CLEBSON DA SILVEIRA.) x UNIAO FEDERAL(PROCDOR: JULIANA ALMENARA ANDAKU.) x VALDOMIRO ELEOTERIO DA SILVA.RECURSO DE SENTENÇA N.º 0006646-98.2009.4.02.5050/01RECORRENTE: UNIÃO FEDERAL E DNITRECORRIDO: VALDOMIRO ELEOTERIO DA SILVARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

TRIBUTÁRIO. TERÇO ADICIONAL DE FÉRIAS GOZADAS. NATUREZA REMUNERATÓRIA, NÃO INDENIZATÓRIA.JURISPRUDÊNCIA MAJORITÁRIA NO SENTIDO DA NÃO-INCIDÊNCIA DE CONTRIBUIÇÃO SOCIAL.

Recurso interposto pela União Federal e pelo DNIT de sentença de procedência do pedido.

I – LEGITIMIDADE PASSIVA E INTERESSE DE AGIR.1. A contribuição social dos servidores públicos federais tem fundamento de validade nos arts. 40, caput, 149, caput, e 195,II, da CRFB/1988, disto decorrendo que o sujeito ativo da obrigação tributária é a União Federal, a qual detém legitimidadepara figurar no pólo passivo de ações que impugnam a incidência do referido tributo.2. A entidade a que o servidor está vinculado é mera responsável tributária pela retenção da contribuição, cujo valor éintegralmente repassado para a União, de modo que aquela não detém legitimidade para ser destinatária do pedido derepetição do indébito (sem prejuízo de que possa, facultativamente, ser mantida no pólo passivo, de modo a facilitar ocumprimento de ordem judicial de não-retenção). Precedentes do STJ (AGARESP 199.169 e AGRESP 1.134.972).3. O interesse de agir do contribuinte decorre do fato de o tributo já haver sido retido e pago, justificando o pedido judicial derepetição do indébito (legitimidade passiva exclusiva da União), e de que, sem ordem judicial, continuará sendo retido eexigido (legitimidade passiva da União, facultada a inclusão no pólo passivo do ente ao qual o servidor está vinculado).4. Como a contribuição social em tela não vem sendo cobrada desde 2011, nada justifica a permanência do DNIT no pólopassivo.

II – NATUREZA REMUNERATÓRIA DO TERÇO ADICIONAL DE FÉRIAS GOZADAS.1. O terço de férias gozadas (arts. 7º, XVII, e 39, § 3º, da CRFB/1988) tem natureza remuneratória, reconhecida pelo STJ(RESP 1.010.509), pela TNU (PEDILEF 0504449-56.2012.4.05.8500) e pelo STF (RE 210.211).2. Os precedentes do STF que afastam a incidência de contribuição social sobre o terço adicional de férias gozadas (AI712.880, AI 730.315, AI 727.958 e AI 603.537) não afirmam que a parcela teria natureza indenizatória: adotam porfundamento a necessidade de equilíbrio atuarial e de correlação entre a fonte de custeio e os benefícios devidos,concluindo pela impossibilidade de computar na base de cálculo parcelas que não se incorporam à remuneração e,portanto, não integrarão futuro benefício previdenciário (interpretação do art. 195, § 5º, contrario sensu, e 201, § 11º, daCRFB/1988).

III – POSIÇÃO PESSOAL DO RELATOR (JUIZ FEDERAL IORIO D’ALESSANDRI): INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃOSOCIAL.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 visa à proteção da integridade do sistema previdenciário, não do segurado, e, portanto,não comporta interpretação a contrario sensu.2. A validade da instituição ou da majoração de contribuição social depende, como qualquer tributo, de causa jurídica válida,e, portanto, demanda, em contrapartida, incremento no regime previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010),mas não necessariamente resultará em aumento dos benefícios e serviços a que cada segurado fará jus, pois cabe à lei, naforma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar se e como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para amanutenção e expansão do sistema como um todo, e não para provisionar fundos única e exclusivamente em favor docontribuinte (STF, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).3. O terço adicional é parcela remuneratória paga com regularidade (por ocasião do gozo das férias anuais) e, emconformidade com o art. 201, § 11, da CRFB/1988, está sujeito à incidência da contribuição social. Precedente do STF: RE210.211.

IV – JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE: NÃO-INCIDÊNCIA DE CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O TERÇO ADICIONALDE FÉRIAS GOZADAS.1. Os acórdãos mais recentes do STF afastam a incidência de contribuição social sobre o terço adicional de férias gozadas(AI 712.880, AI 730.315, AI 727.958 e AI 603.537), com fundamento a necessidade de equilíbrio atuarial e de correlaçãoentre a fonte de custeio e os benefícios devidos, concluindo pela impossibilidade de computar na base de cálculo parcelasque não se incorporam à remuneração e, portanto, não integrarão futuro benefício previdenciário (interpretação do art. 195,§ 5º, contrario sensu, e 201, § 11º, da CRFB/1988).2. O STJ (Pet 7.296) e a TNU (PEDILEF 2007.83.00518998-1) acompanham a orientação firmada pelo STF.

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3. Em respeito à uniformização da jurisprudência, com a ressalva da posição pessoal do Relator, as Turmas Recursais deVitória acompanham os precedentes do STF quanto à fundamentação e quanto à conclusão.

V – Recurso da União Federal desprovido, sem condenação em honorários, pois o autor não constituiu advogado nemapresentou contrarrazões.. Recurso do DNIT provido para, em razão de sua ilegitimidade passiva, excluí-lo da relaçãoprocessual.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal

69 - 0001401-43.2008.4.02.5050/01 (2008.50.50.001401-8/01) INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: Allan Titonelli Nunes.) x JOSE DAS GRACAS RODRIGUES CALDEIRA (ADVOGADO: ES015482 - ANACARLA DALBEN AZEREDO CROSCOB, ES004044 - LUIZ GONZAGA FREIRE CARNEIRO.).RECURSO DE SENTENÇA N.º 0001401-43.2008.4.02.5050/01RECORRENTE: UNIÃO FEDERALRECORRIDO: JOSÉ DAS GRAÇAS RODRIGUES CALDEIRARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS RECOLHIDAS EM CUMPRIMENTO DE SENTENÇATRABALHISTA. RESTITUIÇÃO DOS VALORES INDEVIDAMENTE PAGOS. PRELIMINARES DE INCOMPETÊNCIAABSOLUTA E COISA JULGADA AFASTADAS. SALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO. TETO. RESTITUIÇÃO DEVIDA.1. Cuida-se de recurso inominado interposto pela União Federal em face da sentença de fls. 64/65, que a condenou arestituir ao autor o valor de R$ 17.678,98, recolhidos a título de contribuição para a seguridade social do montante por elerecebido em face de reclamação trabalhista (adicional de risco portuário).A recorrente alega, preliminarmente, a ocorrência de coisa julgada, por ter a Justiça do Trabalho determinado orecolhimento de contribuição previdenciária, bem como a incompetência do JEF para rejulgar questão tratada em sentençatrabalhista. No mérito, limitou-se a sustentar que o autor não comprovou o fato constitutivo do seu direito. Contrarrazões àsfls. 79/81.2. Ambas as preliminares devem ser rejeitadas, pois o STJ tem diversos precedentes no sentido da possibilidade de aJustiça Federal decidir a respeito da repetição de indébito referente a contribuições previdenciárias quando o recolhimentodecorreu de comando genérico em sentença trabalhista que não apreciou as peculiaridades tributárias do caso concreto:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA ENTRE JUSTIÇA FEDERAL E TRABALHISTA. CONTRIBUIÇÕESPREVIDENCIÁRIAS RECOLHIDAS EM CUMPRIMENTO DE SENTENÇA TRABALHISTA. RESTITUIÇÃO DOS VALORESINDEVIDAMENTE PAGOS. ARTIGO 114 CF/88. INAPLICABILIDADE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.Com as alterações do art. 114 da CF/88, introduzidas pela Emenda Constitucional nº 45/04, ampliou-se a competência daJustiça do trabalho, cabendo-lhe, inclusive, executar, de ofício, as "contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, eseus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir".Todavia, não se inclui na competência da Justiça Trabalhista processar e julgar ação de repetição de indébito tributáriomovida contra o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, ainda que o pagamento alegadamente indevido tenha sidoefetuado como decorrência de sentença trabalhista.Compete à Justiça Federal processar e julgar a causa em que figurar a União, suas autarquias ou empresa pública federalna condição de autora, ré, assistente ou opoente (CF, art. 109, I ).Conflito conhecido e declarada a competência do Juízo Federal do Juizado Especial Federal Previdenciário da SubseçãoJudiciária de Campo Grande - MS, o suscitado.(STJ, 1ª Seção, CC 98476/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. em 26/11/2008)

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL E TRABALHISTA. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL.RESTITUIÇÃO DE VALOR SUPOSTAMENTE PAGO A MAIOR EM CUMPRIMENTO DE SENTENÇA TRABALHISTA.ART. 114, VIII, DA CONSTITUIÇÃO. INAPLICABILIDADE. INSS. PÓLO PASSIVO. ART. 109, I, DA LEI MAIOR. JUSTIÇAFEDERAL. COMPETÊNCIA.De acordo com a redação dada pela Emenda Constitucional 45/04, o inciso VIII do art. 114 da Carta Magna confere àJustiça do Trabalho a competência para executar de ofício as contribuições sociais resultantes das sentenças que proferir.Se a demanda proposta pelo empregado objetiva a devolução de contribuições previdenciárias supostamente recolhidas amaior pelo empregador quando do cumprimento da sentença, o caso é de repetição de indébito tributário, não se aplicandoo art. 114, VIII, da Carta Magna. Precedente da Seção: CC 53.793/GO, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 10.04.06.Por figurar no pólo passivo da demanda entidade autárquica da União – o INSS –, a competência para processar o feito éda Justiça Federal, nos termos do art. 109, inciso I, da Lei Maior.Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal, o suscitado.(STJ, 1ª Seção, CC 56946/GO, Rel. Min. Castro Meira, j. em 08/08/2007)

3. Quanto ao mérito, as contribuições previdenciárias têm como limite o teto do salário-de-contribuição, não incidindo otributo sobre as quantias que ultrapassarem esse patamar. Assim, demonstrado que foram recolhidas contribuições emvalores superiores ao teto fixado em lei, configurado está o pagamento indevido e o direito à restituição:4. Recurso da União conhecido e desprovido. Sem custas, nos termos do art. 4º, I, da Lei 9.289/1996. Condenação da

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recorrente ao pagamento de honorários advocatícios, arbitrados em 10% sobre o valor da condenação, nos termos doartigo 55, caput, da Lei 9.099/1995.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

70 - 0000041-59.2011.4.02.5053/01 (2011.50.53.000041-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: EUGENIO CANTARINO NICOLAU.) x ANA PARANHOS STIEG (ADVOGADO:ES006985 - JAMILSON SERRANO PORFIRIO.).RECURSO Nº 0000041-59.2011.4.02.5053/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ANA PARANHOS STIEGRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. CONSTATAÇÃO DE INCAPACIDADE LABORAL TOTAL EDEFINITIVA PARA ATIVIDADE PROFISSIONAL HABITUAL. IMPOSSIBILIDADE DE REABILITAÇÃO PROFISSIONAL.CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS AO GOZO DO BENEFÍCIO.1. O INSS interpôs recurso da sentença de fls. 62-64 que o condenou a conceder aposentadoria por invalidez a partir daperícia judicial em 20.06.2011. Em razões de recurso (fls. 65-69), o recorrente sustentou que: i) conforme o laudo pericial, aautora não estaria incapacitada para o exercício de qualquer atividade laborativa que demandasse esforço físico esobrecarga nos joelhos; ii) ela pode exercer atividades manuais, de escritório ou funções que exijam pouca mobilidade, asquais não necessitam de esforço físico relevante; iii) a idade avançada da autora não seria risco social coberto pelosbenefícios relacionados à incapacidade laborativa, existindo para ampará-la, por esse motivo, o benefício de aposentadoriapor idade, que requer requisitos próprios; iv) a baixa instrução da autora também não pode ensejar a concessão debenefício previdenciário, devendo ser combatida com programas adequados, que não são de responsabilidade daSeguridade Social. Contrarrazões às fls. 76-79.2. Segundo os dados do CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais), a autora, que possui hoje 60 anos de idade,manteve vínculos empregatícios formais pelos períodos de 01.04.1989 a 02/1998 e de 01.09.1998 a 03/2008, totalizandoaproximadamente 19 anos de tempo de trabalho contributivo. Em consulta ao sistema PLENUS, verifica-se que ela gozouauxílio-doença no período de 14.03.2008 a 19.06.2011. Atualmente, a autora está recebendo aposentadoria por invalidezconcedida em sede de tutela antecipada desde 20.06.2011.3. O laudo médico de fl. 13, datado em 18.10.2010, atesta que a autora, por ser portadora de osteoartrose dos joelhos, nãoteria condições de realizar as suas funções laborais à época. O laudo pericial de fls. 38-41, por sua vez, atestou que aautora possui artrose nos joelhos, de origem degenerativa, e evolução lenta e progressiva, causando dor e limitação para asatividades com esforço físico e sobrecarga nos joelhos, o que, segundo o perito, gera a incapacidade total e definitiva paraa atividade laborativa habitual. Concluiu, portanto, ser a incapacidade para o trabalho, no caso, parcial em relação àsatividades que não necessitam de esforço físico e sobrecarga nos joelhos, sinalizando que a autora poderia ser reabilitadapara desempenhar outras funções. Com base em tais elementos e considerando as condições pessoais da autora, asentença concedeu aposentadoria por invalidez.4. A análise das condições pessoais da autora revela que ela possui 60 anos de idade, baixo grau de escolaridade esempre trabalhou como servente, daí a restrita qualificação profissional. Associando tais elementos ao fato de que ela éportadora de doença degenerativa nos joelhos, que a impede de desempenhar a sua atividade laboral habitual, quenecessita de esforço físico, é improvável o seu reingresso no mercado de trabalho em qualquer atividade compatível comsua limitação funcional. Impossibilidade de reabilitação profissional no caso, considerando as condições individuais dasegurada. Conclui-se, portanto, que a autora faz jus à concessão de aposentadoria por invalidez.5. Recurso do INSS conhecido e desprovido. Sem custas (art. 4º, I, da Lei 9.289/1996). Condenação do recorrente vencidoao pagamento de honorários advocatícios, arbitrados em 10% sobre o valor da condenação, nos termos do artigo 55,caput, da Lei 9.099/1995.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

71 - 0016513-05.2008.4.02.5001/01 (2008.50.01.016513-2/01) TEREZA CRISTINA RANGEL SILVEIRA (ADVOGADO:ES003844 - ANA MARIA DA ROCHA CARVALHO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR:THIAGO COSTA BOLZANI.).RECURSO Nº 0016513-05.2008.4.02.5001/01 (2008.50.01.016513-2/01)RECORRENTE: TEREZA CRISTINA RANGEL SILVEIRARECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RMI. DECADÊNCIA. PENSÃO POR MORTE. CÁLCULO DO SALÁRIO DEBENEFÍCIO.

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1. A autora interpôs recurso da sentença que julgou improcedente seu pedido de revisão de RMI. Em suas razões, alegaque o INSS concedeu o benefício de pensão por morte com base nos registros do CNIS, e não nos dados constantes daCTPS do segurado falecido. Tal fato fez com que a RMI do benefício fosse fixada em um salário mínimo, valor que sustentaser menor do que aquele a que faria jus se obedecidos os parâmetros de cálculo previstos na Lei 8.213/1991.2. Em contrarrazões, o INSS argui a prejudicial de decadência, uma vez que o benefício foi concedido em 09.01.1998 e aautora ajuizou a demanda em 18.06.2008.I – DECADÊNCIA1. O art. 220 do CPC estabelece que o disposto no art. 219 do CPC se aplica a todos os prazos extintivos. O prazodecadencial é um prazo extintivo e, por isso, considera-se exercido o direito e afastada a decadência quando a ação forproposta tempestivamente, ainda que em juízo incompetente (RESP 90164). O benefício da autora foi concedido em 1998 eem 2007 a autora ajuizou a ação tombada sob o nº 0007821-98.2007.4.02.5050 com objeto idêntico ao desta demanda, demodo que não houve inércia de sua parte. O fato de o juízo que se declarou incompetente ter extinguido o processo aoinvés de remetê-lo para o juízo que entendia competente (art. 113, § 2º, do CPC) não pode prejudicar a autora, que agiucom diligência.II – MÉRITO

�1. A lei aplicável à concessão de pensão previdenciária por morte é aquela vigente na data do óbito do segurado (Súmula340 do STJ).2. O segurado faleceu em 09.01.1998, data em que vigia o art. 75 (com a redação dada pela Lei 9.528/1997), o art. 29 (emsua redação original) e o art. 35, todos da Lei 8.213/1991.3. Segundo as regras em vigor na data do óbito, o valor mensal da pensão por morte equivaleria ao valor do benefíciocorrespondente à aposentadoria por invalidez a que o segurado tivesse direito se estivesse aposentado. No cálculo dosalário de benefício deveria ser levada em conta a média aritmética simples dos últimos 36 salários de contribuição dosmeses imediatamente anteriores ao do afastamento da atividade ou da data de entrada do requerimento, apurados emperíodo não superior a 48 meses. Na hipótese em que não fosse possível comprovar o valor dos salários de contribuição noperíodo básico de cálculo, o benefício seria concedido em seu valor mínimo, podendo a renda ser recalculada mediante aapresentação de prova dos salários de contribuição.4. A consulta ao CNIS e a cópia da CTPS do segurado não demonstram a existência de salários de contribuição no períodode 48 meses imediatamente anterior à data do óbito. Excluindo-se o salário de contribuição do mês do óbito, o último saláriode contribuição do segurado data de novembro de 1989. Nesse caso, o salário de benefício deve ser fixado no valormínimo, que corresponde a um salário mínimo.IV – Recurso conhecido e desprovido. Sem condenação em custas e honorários sucumbenciais, ante o benefício daAssistência Judiciária Gratuita, que ora defiro à autora.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

72 - 0103960-05.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.103960-2/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ROBERTO DO NASCIMENTO(ADVOGADO: SC015426 - SAYLES RODRIGO SCHUTZ, ES021038 - CARLOS BERKENBROCK.) x INSTITUTONACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: LILIAN BERTOLANI DO ESPÍRITO SANTO.).RECURSO Nº 0103960-05.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.103960-2/01)RECORRENTE: ROBERTO DO NASCIMENTORECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

VOTO-EMENTA

DECADÊNCIA PARA PLEITEAR A REVISÃO DA RMI. INCIDÊNCIA SOBRE OS BENEFÍCIOS JÁ EXISTENTES.AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO A DIREITO ADQUIRIDO OU A ATO JURÍDICO PERFEITO.1. Na redação original da Lei 8.213/1991, o art. 103 enunciava que “Sem prejuízo do direito ao benefício, prescreve em 5(cinco) anos o direito às prestações não pagas nem reclamadas na época própria, resguardados os direitos dos menoresdependentes, dos incapazes ou dos ausentes”: a lei não contemplava, para os benefícios do regime geral, a figura da“prescrição de fundo de direito”.2. A Medida Provisória 1.523-9, de 27.06.1997, alterou o art. 103 da Lei 8.213/1991 para instituir o prazo decadencial de dezanos para a revisão do ato de concessão de benefício previdenciário, a contar do dia primeiro do mês seguinte ao dorecebimento da primeira prestação ou, quando for o caso, do dia em que tomar conhecimento da decisão de indeferimento. Para os benefícios já existentes, considera-se a data do primeiro pagamento posterior à publicação da MP (14.07.1997, cf.art. 41, § 4º, da Lei 8.213/1991): o prazo decadencial começou a fluir em 01.08.1997.3. A garantia do art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988 não veda a incidência de novos prazos de prescrição ou de decadência àsrelações já em curso, desde que sua fluência comece da lei que os instituiu, sem o cômputo do período pretérito (STF,ADI-MC 1.715 e RE 21.341). O segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementos essenciais, observe alei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição (STF, RE 415.454), mas não temdireito à imutabilidade de todo o regime jurídico atinente ao benefício (STF, 1ª Turma, RE 278.718), especialmente prazosprescricionais e decadenciais, que não integram o conteúdo do direito à prestação previdenciária.4. A Medida Provisória 1.663-15, de 22.10.1998, convertida na Lei 9.711/1998, reduziu o prazo decadencial de dez paracinco anos. Segundo a clássica lição de ANTÔNIO LUIZ DA CÂMARA LEAL, “Estabelecendo a nova lei um prazo maiscurto de prescrição, essa começará a correr da data da nova lei, salvo se a prescrição iniciada na vigência da lei antigaviesse a completar-se em menos tempo, segundo essa lei, que, nesse caso continuaria a regê-la, relativamente ao prazo”.

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O primeiro pagamento posterior à MP deu-ocorreu em 13.11.1998, de modo que o prazo decadencial começou a fluir em01.12.1998 e se consumaria em 01.12.2003.5. Antes da consumação do prazo de cinco anos, a Medida Provisória 138, de 19.11.2003, convertida na Lei 10.839/2004,restabeleceu o prazo decadencial de dez anos.6. Restabelecido o prazo de decadência de dez anos, o termo inicial de sua fluência não continua sendo 01.12.1998,voltando a ser 01.08.1997, pois a norma prevê como termo inicial o primeiro dia do mês seguinte ao primeiro pagamentofeito após a concessão do benefício, sendo vedado apenas o aproveitamento do tempo em que a lei não previa prazodecadencial algum (TNU, PEDILEF 200871610029645). Logo, para todos os benefícios concedidos até junho de 1997, odireto de instar o INSS, seja pela via administrativa, seja pela via judicial, a revisar ou recalcular o valor da Renda MensalInicial (RMI) está extinto desde 01.08.2007.7. É fato que, com a edição da Medida Provisória 1.663-15, o prazo decadencial transcorrido antes de 01.12.1998 haviasido descartado, mas apenas para prestigiar o princípio da não-surpresa, em situação específica na qual o prazodecadencial foi reduzido de dez para cinco anos. A partir do momento em que o prazo de dez anos foi retomado, admite-seo aproveitamento do primeiro termo inicial sem ferir, no caso, o ideal da segurança jurídica (porque dessa interpretaçãoextrai-se a conclusão de que, quando publicada a Medida Provisória 138/2003, os aposentados e pensionistas tinham umprazo residual de três anos e nove meses antes da consumação da decadência do direito de provocar a revisão da RMI deseus benefícios).8. Neste sentido, a jurisprudência do STJ (RESP 1.309.529) e da TRU da 2ª Região (Súmula 8: “Em 01.08.2007 operou-sea decadência das ações que visem à revisão de ato concessório de benefício previdenciário instituído anteriormente a28.06.1997, data de edição da MP nº 1.523-9, que deu nova redação ao art. 103 da Lei nº 8.213/91.”).9. O STF, em outubro de 2013, ao julgar o RE 626.489, concluiu, em acórdão unânime, pela plena constitucionalidade doart. 103 da Lei 8.213/1991, bem como pela sua incidência imediata, sem violação alguma ao art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988:EMENTA: DIREITO PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL (RGPS). REVISÃO DO ATO DECONCESSÃO DE BENEFÍCIO. DECADÊNCIA.1. O direito à previdência social constitui direito fundamental e, uma vez implementados os pressupostos de sua aquisição,não deve ser afetado pelo decurso do tempo. Como consequência, inexiste prazo decadencial para a concessão inicial dobenefício previdenciário.2. É legítima, todavia, a instituição de prazo decadencial de dez anos para a revisão de benefício já concedido, comfundamento no princípio da segurança jurídica, no interesse em evitar a eternização dos litígios e na busca de equilíbriofinanceiro e atuarial para o sistema previdenciário.3. O prazo decadencial de dez anos, instituído pela Medida Provisória 1.523, de 28.06.1997, tem como termo inicial o dia 1ºde agosto de 1997, por força de disposição nela expressamente prevista. Tal regra incide, inclusive, sobre benefíciosconcedidos anteriormente, sem que isso importe em retroatividade vedada pela Constituição.4. Inexiste direito adquirido a regime jurídico não sujeito a decadência.10. O prazo decadencial se restringe, nos termos da lei, aos casos em que o benefício foi concedido, não incidindo noscasos de requerimento indeferido, nem quando o segurado/pensionista se insurge contra os critérios de atualização daprestação mensal.11. No caso concreto, o direito de rever a RMI do benefício da parte autora, que não é menor, incapaz nem ausente (art. 79da Lei 8.213/1991) foi alcançado pela decadência em 01.08.2007, já que o benefício foi concedido em 12.03.1991. Comoexiste uma relação de prejudicialidade entre o pedido de revisão da RMI e o de adequação do valor do benefícioprevidenciário aos tetos estabelecidos pelas EC 20/98 e 41/03, a rejeição do anterior acarreta a perda de objeto do pedidoposterior.12. Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

Anular a sentença e julgar prejudicado o recursoTotal 1 : Dar parcial provimentoTotal 13 : Dar provimentoTotal 12 : Dar provimento ao rec. do autor e negar o do réuTotal 4 : Dar provimento ao rec. do réu e negar o do autorTotal 1 : Negar provimentoTotal 38 : Rejeitar os embargosTotal 3 :