Índice de pesquisa da 1ª turma recursal relaÇÃo de ... · garantia de um salário-mínimo...

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RELAÇÃO DE ADVOGADOS (E/OU PROCURADORES) CONSTANTES NESTA PAUTA ÍNDICE DE PESQUISA DA 1ª TURMA RECURSAL ADRIANA ZANDONADE-21 ALCINA MARIA COSTA NOGUEIRA LOPES-4 ALINE FELLIPE PACHECO SARTÓRIO-4 ANA CAROLINE SOUZA DE ALMEIDA ROCHA-2 ANA PAULA BARRETO MONTEIRO ROTHEN-8 ANDRÉ DIAS IRIGON-5 BA034326 - NATALIA SARAIVA SOUSA-11 BRUNO MIRANDA COSTA-41, 45 DF035417 - VIVIANE MONTEIRO-34 DF036024 - IRIS SALDANHA BUENO-34, 37 ERIN LUÍSA LEITE VIEIRA-1 ES003373 - GILDO RIBEIRO DA SILVA-15, 16 ES004770 - MARIA DA CONCEICAO SARLO BORTOLINI CHAMOUN-36, 38 ES005003 - ELIETE BONI BITTENCOURT-11, 14 ES005395 - ADMILSON TEIXEIRA DA SILVA-5 ES006942 - LUÍS FERNANDO NOGUEIRA MOREIRA-36 ES006985 - JAMILSON SERRANO PORFIRIO-7 ES007025 - ADENILSON VIANA NERY-1 ES007962 - ANA IZABEL VIANA GONSALVES-15, 16 ES009734 - DERMEVAL CESAR RIBEIRO-23, 24 ES009962 - CRISTIANO ROSSI CASSARO-28 ES010321 - OLDER VASCO DALBEM DE OLIVEIRA-41 ES010751 - MARCELO MATEDI ALVES-19, 20, 21 ES010800 - MÁIRA DANCOS BARBOSA RIBEIRO-36 ES011373 - DIOGO ASSAD BOECHAT-8 ES011893 - LEONARDO PIZZOL VINHA-19, 20, 21 ES012179 - DANIELLE GOBBI-34, 37 ES012411 - MARCELO CARVALHINHO VIEIRA-36, 38 ES013223 - ALAN ROVETTA DA SILVA-5 ES013258 - VINICIUS BIS LIMA-15, 16 ES013341 - EMILENE ROVETTA DA SILVA-5 ES014859 - KELLY CRISTINA ANDRADE DO ROSARIO-43 ES015331 - RAFAEL GONÇALVES VASCONCELOS-44, 8 ES015618 - MARIA DE LOURDES COIMBRA DE MACEDO-40 ES016350 - LUCAS GAVA FIGUEREDO-29 ES017116 - GERALDO PEREIRA FUNDÃO DOS SANTOS-40 ES017356 - DANIEL FERREIRA BORGES-34, 37 ES017407 - MARCILIO TAVARES DE ALBUQUERQUE FILHO-34, 37 ES017409 - RAFAELLA CHRISTINA BENÍCIO-35, 9 ES017590 - ROGÉRIO FERREIRA BORGES-34, 37 ES017591 - FABIOLA CARVALHO FERREIRA BORGES-34, 37 ES017721 - Miguel Vargas da Fonseca-37 ES018215 - LEONAM MARTINELLI DA FONSECA-9 ES018446 - GERALDO BENICIO-35 ES018662 - GILVERTON LODI GUIMARÃES-26 ES019092 - GABRIEL SCHMIDT DA SILVA-34 ES019221 - AMAURI BRAS CASER-25, 27, 30, 31, 32 ES019645 - ALEX SANDRO SALAZAR-41 ES019660 - APARECIDA KETTLEN COSTA DALFIOR-22 ES019803 - LARISSA CRISTIANI BENÍCIO-35 ES019973 - LUANA BRUGNARA SARNAGLIA-34 ES020468 - EVANDRO JOSE LAGO-17, 18 ES020702 - MARCELI APARECIDA DE JESUS DA SILVA-33, 39, 42, 45

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RELAÇÃO DE ADVOGADOS (E/OU PROCURADORES) CONSTANTES NESTA PAUTA:

ÍNDICE DE PESQUISA DA 1ª TURMA RECURSAL

ADRIANA ZANDONADE-21ALCINA MARIA COSTA NOGUEIRA LOPES-4ALINE FELLIPE PACHECO SARTÓRIO-4ANA CAROLINE SOUZA DE ALMEIDA ROCHA-2ANA PAULA BARRETO MONTEIRO ROTHEN-8ANDRÉ DIAS IRIGON-5BA034326 - NATALIA SARAIVA SOUSA-11BRUNO MIRANDA COSTA-41, 45DF035417 - VIVIANE MONTEIRO-34DF036024 - IRIS SALDANHA BUENO-34, 37ERIN LUÍSA LEITE VIEIRA-1ES003373 - GILDO RIBEIRO DA SILVA-15, 16ES004770 - MARIA DA CONCEICAO SARLO BORTOLINI CHAMOUN-36, 38ES005003 - ELIETE BONI BITTENCOURT-11, 14ES005395 - ADMILSON TEIXEIRA DA SILVA-5ES006942 - LUÍS FERNANDO NOGUEIRA MOREIRA-36ES006985 - JAMILSON SERRANO PORFIRIO-7ES007025 - ADENILSON VIANA NERY-1ES007962 - ANA IZABEL VIANA GONSALVES-15, 16ES009734 - DERMEVAL CESAR RIBEIRO-23, 24ES009962 - CRISTIANO ROSSI CASSARO-28ES010321 - OLDER VASCO DALBEM DE OLIVEIRA-41ES010751 - MARCELO MATEDI ALVES-19, 20, 21ES010800 - MÁIRA DANCOS BARBOSA RIBEIRO-36ES011373 - DIOGO ASSAD BOECHAT-8ES011893 - LEONARDO PIZZOL VINHA-19, 20, 21ES012179 - DANIELLE GOBBI-34, 37ES012411 - MARCELO CARVALHINHO VIEIRA-36, 38ES013223 - ALAN ROVETTA DA SILVA-5ES013258 - VINICIUS BIS LIMA-15, 16ES013341 - EMILENE ROVETTA DA SILVA-5ES014859 - KELLY CRISTINA ANDRADE DO ROSARIO-43ES015331 - RAFAEL GONÇALVES VASCONCELOS-44, 8ES015618 - MARIA DE LOURDES COIMBRA DE MACEDO-40ES016350 - LUCAS GAVA FIGUEREDO-29ES017116 - GERALDO PEREIRA FUNDÃO DOS SANTOS-40ES017356 - DANIEL FERREIRA BORGES-34, 37ES017407 - MARCILIO TAVARES DE ALBUQUERQUE FILHO-34, 37ES017409 - RAFAELLA CHRISTINA BENÍCIO-35, 9ES017590 - ROGÉRIO FERREIRA BORGES-34, 37ES017591 - FABIOLA CARVALHO FERREIRA BORGES-34, 37ES017721 - Miguel Vargas da Fonseca-37ES018215 - LEONAM MARTINELLI DA FONSECA-9ES018446 - GERALDO BENICIO-35ES018662 - GILVERTON LODI GUIMARÃES-26ES019092 - GABRIEL SCHMIDT DA SILVA-34ES019221 - AMAURI BRAS CASER-25, 27, 30, 31, 32ES019645 - ALEX SANDRO SALAZAR-41ES019660 - APARECIDA KETTLEN COSTA DALFIOR-22ES019803 - LARISSA CRISTIANI BENÍCIO-35ES019973 - LUANA BRUGNARA SARNAGLIA-34ES020468 - EVANDRO JOSE LAGO-17, 18ES020702 - MARCELI APARECIDA DE JESUS DA SILVA-33, 39, 42, 45

ES022440 - THIAGO DE SOUZA BARBOSA-43ES035417 - VIVIANE MONTEIRO-37GISELA PAGUNG TOMAZINI-44GUSTAVO CABRAL VIEIRA-9Isabela Boechat B. B. de Oliveira-36, 7JOSÉ GHILHERME BARBOSA DE OLIVEIRA-34JULIANA BARBOSA ANTUNES-40LEONARDO QUEIROZ BRINGHENTI-22LETICIA SILVEIRA B. CORREIA LIMA-2, 24LILIAN BERTOLANI DO ESPÍRITO SANTO-35, 37, 42LUIZ CLÁUDIO SALDANHA SALES-25, 26, 29MARCELA BRAVIN BASSETTO-38, 39MARCOS FIGUEREDO MARÇAL-10MARCUS VINÍCIUS CHAGAS SARAIVA-12, 13MARINA RIBEIRO FLEURY-19MG082289 - LEONARDO PEREIRA REZENDE-6MG124372 - MARCELO SILVA SANT'ANNA-6PEDRO GALLO VIEIRA-11, 14, 15, 16, 17, 18PEDRO INOCENCIO BINDA-27, 28, 30, 31, 32RJ138284 - ALESSANDRA NAVARRO ABREU-34RJ155930 - CARLOS BERKENBROCK-10RJ184452 - LUCIANA PANNAIN PAREIRA-34RODRIGO BARBOSA DE BARROS-20ROSELAINE MOREIRA ALVES-6ROSEMBERG ANTONIO DA SILVA-43SC015426 - SAYLES RODRIGO SCHUTZ-10SHIZUE SOUZA KITAGAWA-3SIMONE LENGRUBER DARROZ ROSSONI-33Vinícius de Lacerda Aleodim Campos-23

1ª Turma RecursalJUIZ(a) FEDERAL DR(a). PABLO COELHO CHARLES GOMES

Nro. Boletim 2015.000051 DIRETOR(a) DE SECRETARIA LILIA COELHO DE CARVALHO MAT. 10061

26/03/2015Expediente do dia

FICAM INTIMADAS AS PARTES E SEUS ADVOGADOS DOS ATOS ORDINATÓRIOS/INFORMAÇÕES DA SECRETARIANOS AUTOS ABAIXO RELACIONADOS

91003 - MANDADO DE SEGURANÇA/ATO JUIZADO ESPECIAL

1 - 0000483-96.2009.4.02.5052/01 (2009.50.52.000483-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) MARIA APARECIDA DOSSANTOS MARTINS E OUTRO (ADVOGADO: ES007025 - ADENILSON VIANA NERY.) x JUIZ FEDERAL DA VARAFEDERAL DE SÃO MATEUS x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ERIN LUÍSA LEITEVIEIRA.).Processo nº 0000483-96.2009.4.02.5052/01 (2009.50.52.000483-7/01)Juízo de Origem: 1ª VF Sao MateusImpetrantes: MARIA APARECIDA DOS SANTOS MARTINS E JORGE SANTOS MARTINSImpetrado: JUIZ FEDERAL DA VARA FEDERAL DE SÃO MATEUSRelator: Juiz Federal FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

EMENTA

MANDADO DE SEGURANÇA. EXECUÇÃO DE SENTENÇA HOMOLOGATÓRIA. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. CARÁTERPERSONALÍSSIMO. SUCESSÃO. POSSIBILIDADE. VERBA JÁ INCORPORADA AO PATRIMÔNIO DO FALECIDO.SEGURANÇA CONCEDIDA.

1. A impetração de mandado de segurança contra decisão judicial interlocutória é juridicamente possível nashipóteses em que ela não possa ser substituída mediante interposição de recurso com efeito suspensivo (enunciado n. 267,da súmula da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, art. 5º, II, da Lei n. 12.016/09). A orientação restritiva, que limita

a admissibilidade da ação constitucional para impugnar decisão judicial se constatada teratologia ou determinaçãoevidentemente discrepante de lei, é abrandada no rito dos Juizados Especiais Federais, tendo-se em vista o não cabimentode recurso contra decisão que não verse sobre tutela cautelar ou antecipada (arts. 4º e 5, da Lei n. 10.259/01).2. O benefício assistencial de prestação continuada corresponde à garantia de um salário-mínimo mensal à pessoacom deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos de idade ou mais que comprovem não possuir meios de provera própria manutenção nem tê-la provida por sua família.3. O art. 23, parágrafo único, do anexo ao Decreto nº 6.214, de 26 de setembro de 2007 (que regulamenta a Lei nº8.742/1993) preconiza que o Benefício de Prestação Continuada é intransferível, não gerando direito à pensão por morteaos herdeiros ou sucessores. Dispõe o parágrafo único que o valor do resíduo não recebido em vida pelo beneficiário serápago aos seus herdeiros ou sucessores, na forma da lei civil.4. Previsão normativa que possibilita o pagamento de parcelas que já haviam sido incorporadas ao patrimônio dode cujus. Inexiste óbice à concessão aos herdeiros dos valores atrasados devidos pelo INSS ao falecido até a data de seuóbito, a despeito do caráter personalíssimo do benefício assistencial.5. Discussão a respeito da incapacidade do beneficiário acobertada pela coisa julgada.6. Concessão da segurança. Determinação para o Juízo de origem dar regular processamento à habilitação dossucessores do falecido, e, via de consequência, prosseguir com a fase de cumprimento de sentença.7. Sem condenação em custas e honorários advocatícios.

RELATÓRIO

MARIA APARECIDA DOS SANTOS MARTINS e JORGE SANTOS MARTINS, qualificados na petição inicial de fls. 01/04,impetram mandado de segurança com requerimento de concessão de liminar, contra decisão proferida pelo Exmo. JuizFederal do Juizado Especial Federal de São Mateus, em 10/05/2011, que indeferiu o pedido de habilitação dos oraimpetrantes nos autos nº 0000483-96.2009.4.02.5052. Os autores requereram o deferimento do pedido de habilitação comfins de liberação do Requisitório de Pequeno Valor, confirmando-se a medida ao final.

02. A ação originária foi ajuizada em 11.05.2009. Em 14.09.2010, o Juízo monocrático homologou o acordoentabulado entre a parte autora da demanda (Jorge Santos Martins Junior) e o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS.O autor da ação faleceu em 23.04.2011 e o benefício de amparo social foi cessado. Os impetrantes, após o evento,peticionaram nos autos originários a fim de proceder à habilitação para fins de recebimento do Requisitório de PequenoValor que ainda não havia sido pago pela autarquia, sendo o requerimento indeferido pelo Juízo a quo sob o fundamento deque o benefício assistencial é de natureza personalíssima, não estando sujeito à sucessão.

03. Em sua decisão, o magistrado argumentou que o acordo celebrado para concessão de benefício assistencialdeve ser interpretado com reservas, considerando que o autor esteve preso e a condição de preso é incompossível com aincapacidade alegada para fins de benemerência estatal. Por fim, ainda destacou que a habilitanda figura nos autos comomera representante do de cujus e não como sua sucessora. Por essas razões, declarou a perda de objeto da execução.

04. A impetrante, após ser intimada da referida decisão, requereu o patrocínio de advogado voluntário, o qual foinomeado nos autos do processo originário. O presente mandamus foi apresentado em 27/07/2011, portanto, dentro doprazo decadencial.

05. Decisão de fls. 48/49 indeferiu a liminar pleiteada, sob o argumento de que o de cujus estava preso, condiçãoinconciliável com a incapacidade alegada.

06. O MM. Juiz impetrado foi comunicado da prolação da decisão de fls. 48/49, conforme Ofício de fl. 50.

07. Intimado, o INSS se manifestou (fls. 56/60) e aduziu que a concessão do benefício assistencial tem por finalidadegarantir a manutenção do próprio beneficiário e não de seus familiares. Sustenta que deferir o pagamento de valoresatrasados, decorrentes da impossibilidade dos próprios impetrantes cumprirem sua obrigação de manter o falecido filho,configuraria evidente ofensa ao princípio do tu quoque, derivado do princípio da boa-fé objetiva.

08. O Ministério Público Federal, às fls. 63/65, lançou parecer no feito favorável à concessão da segurança.

09. É o Relatório.VOTO

10. A impetração de mandado de segurança contra decisão judicial interlocutória é juridicamente possível nashipóteses em que ela não possa ser substituída mediante interposição de recurso com efeito suspensivo (enunciado n. 267,da súmula da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, art. 5º, II, da Lei n. 12.016/09). A orientação restritiva, que limitaa admissibilidade da ação constitucional para impugnar decisão judicial se constatada teratologia ou determinaçãoevidentemente discrepante de lei, é abrandada no rito dos Juizados Especiais Federais, tendo-se em vista o não cabimentode recurso contra decisão que não verse sobre tutela cautelar ou antecipada (arts. 4º e 5, da Lei n. 10.259/01).

11. Contudo, a consideração de tais elementos para a impetração do mandado de segurança deve observar osprincípios da celeridade e da oralidade, uma vez que a referida ação constitucional não deve ser convertida em um novo

recurso de agravo, contra a orientação que guia a disciplina dos Juizados Especiais Federais.

12. Compulsando-se os autos, verifico que a decisão judicial é suscetível de discussão pela via mandamental, umavez que poderá implicar prejuízo irreversível à parte na fase de execução da sentença condenatória, especialmente porquenão seria cabível meio de impugnação alternativo.

13. Em análise do mérito da causa, destaco que o autor da demanda originária – filho falecido dos impetrantes – e oINSS celebraram acordo para que, em síntese, fosse implantado o benefício assistencial de prestação continuada com datade início do benefício em 28/04/2009 e data de início do pagamento em 01/08/2010, devendo o adimplemento das parcelasvencidas ser feito no montante de R$ 5.900,00 (cinco mil e novecentos reais) mediante expedição de RPV. A transação foihomologada por sentença em 14/09/2010.

14. Em 23/04/2011 o beneficiário faleceu (certidão de fl. 39). Ao requerer a habilitação nos autos originários, agenitora do de cujus teve seu pleito indeferido por 03 (três) razões: i) haveria incompatibilidade entre a alegadaincapacidade do autor e sua situação de “preso”; ii) o benefício assistencial é de natureza personalíssima, não estandosujeito à sucessão; iii) a habilitanda figura apenas como representante do autor e não como sua sucessora.

15. Consoante disposição contida no caput do art. 20 da Lei nº 8.742/1993 (Lei Orgânica da Assistência Social –LOAS), com a redação conferida pela Lei nº 12.435/2011, o benefício assistencial de prestação continuada corresponde àgarantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos de idade oumais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem tê-la provida por sua família.

16. Trata-se de garantia constitucional (art. 203, inciso V, da Constituição da República), de caráter personalíssimo eintransmissível causa mortis na forma de pensão a dependentes e/ou sucessores do beneficiário, tendo em vista tratar-sede benefício que visa assegurar a subsistência do próprio beneficiário que não possa provê-la por outros meios. Assim, emcaso de morte do beneficiário, cessará o benefício, conforme art. 21, § 1º, parte final, da Lei nº 8.742 /1993.

17. Todavia, o art. 23, parágrafo único, do anexo ao Decreto nº 6.214, de 26 de setembro de 2007 (que regulamentaa Lei nº 8.742/1993) preconiza que o Benefício de Prestação Continuada é intransferível, não gerando direito à pensão pormorte aos herdeiros ou sucessores. Dispõe o parágrafo único que o valor do resíduo não recebido em vida pelo beneficiárioserá pago aos seus herdeiros ou sucessores, na forma da lei civil.

18. Desse modo, diante da previsão legislativa e tendo em conta que, no feito sob análise, os valores das parcelasatrasadas já haviam sido incorporados ao patrimônio do de cujus, haja vista que o falecimento ocorreu em 23/04/2011 (fl.39), a dizer, após o julgamento definitivo da demanda (trânsito em julgado em 08/11/2010 - fl. 37), inexiste óbice àconcessão aos herdeiros dos valores atrasados devidos pelo INSS ao falecido até a data de seu óbito, a despeito do caráterpersonalíssimo do benefício assistencial.

19. A respeito, a Turma Nacional de Uniformização – TNU já assentou o entendimento de que:

A despeito do caráter personalíssimo do benefício assistencial, há que se reconhecer a possibilidade de pagamento dosatrasados aos sucessores do demandante falecido no curso do processo, porquanto não se poderia premiar o Estado poruma conduta duplamente censurável: I) por não haver concedido o benefício a quem dele necessitava; e II) por não haverjulgado o processo a tempo de propiciar o pagamento dos atrasados ao cidadão inválido. (PEDILEF nº2006.38.00.748812-7 - rel. Juíza Federal JOANA CAROLINA LINS PEREIRA - DJU de 30/01/2009).

20. Registre-se que o referido posicionamento foi reiterado pela TNU no PEDILEF n° 2007.38.00.71.4293-4, derelatoria do MM. Juiz Federal Manoel Rolim Campbell Penna, julgado na sessão dos dias 13 e 14 de setembro de 2010.

21. Por fim, ressalto que o fundamento utilizado pelo Juízo a quo correspondente à incompatibilidade entre acondição de “preso” e o direito ao recebimento do benefício assistencial encontra-se acobertado pela coisa julgada,havendo decisão homologatória do acordo firmado pela autarquia previdenciária e o falecido, não sendo possível aomagistrado, em sede de execução de sentença, rever tal posicionamento. Outrossim, tal premissa, ao ser contrastada como relatório elaborado pela assistente social (fls. 14/17), está equivocada, visto que, conforme relatado, o beneficiário doamparo social foi acometido de meningite que o deixou com baixa acuidade visual severa, motivo pelo qual cumpria suapena em prisão domiciliar.

22. Nessas condições, CONCEDO A SEGURANÇA para determinar ao Juízo de origem que dê regularprocessamento à habilitação dos sucessores do falecido, e, via de consequência, prossiga com a fase de cumprimento desentença.

23. Descabe condenação em custas e honorários advocatícios.

24. Dê-se ciência ao MM Juiz Federal do Juizado Especial Federal de São Mateus, encaminhando-lhe cópia dojulgado.

25. Com o trânsito em julgado e após as anotações pertinentes, dê-se baixa e arquive-se.

26. É o voto.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

91001 - RECURSO/SENTENÇA CÍVEL

2 - 0000050-03.2006.4.02.5051/01 (2006.50.51.000050-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANA CAROLINE SOUZA DE ALMEIDA ROCHA.) x UNIAO FEDERAL (PROCDOR:LETICIA SILVEIRA B. CORREIA LIMA.) x TEOMAR RODRIGUES ALVES.RECURSO Nº 0000050-03.2006.4.02.5051/01RECORRENTES: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS E UNIÃO FEDERALRECORRIDO: TEOMAR RODRIGUES ALVESRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

EMENTA

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. EX-FERROVIÁRIO DA REDE FERROVIÁRIA FEDERAL S.A. – RFFSA.JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA SOBRE VALORES ATRASADOS RECEBIDOS EM RAZÃO DERECLASSIFICAÇÃO EM PLANO DE CARGOS. LEI Nº 8.186/1991. UNIÃO E INSS. LEGITIMIDADE PASSIVA. COISAJULGADA MATERIAL NÃO CONFIGURADA. PRESCRIÇÃO AFASTADA. ART. 1º-F DA LEI 9.494/1997 COM A REDAÇÃODA PELA LEI Nº 11.960/2009. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE PELO STF. ADI´S NºS 4.357/DF E4.425/DF. PENDÊNCIA DE MODULAÇÃO DOS EFEITOS. ORIENTAÇÃO FIRMADA PELO STJ NO RESP 1.270.439.RECURSO DO INSS CONHECIDO E IMPROVIDO. RECURSO DA UNIÃO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.1. Inexistência de coisa julgada material, tendo em vista que o objeto desta demanda cinge-se ao recebimento de juros demora e correção monetária, com reflexos no 13º salário, incidentes sobre valores atrasados pagos administrativamente aoautor em virtude de reclassificação de aposentados e pensionistas da RFFSA em plano de cargos, beneficiados pela Lei nº8.186/1991, o que em nada se confunde com o objeto da Ação Ordinária/Previdenciária nº 0033632-88.1999.4.02.5002,consistente na revisão e complementação de aposentadoria excepcional de anistiado, espécie 58, com pagamento dediferenças devidamente corrigidas até a data do efetivo pagamento.2. De igual modo, não deve ser acolhida a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam do INSS, uma vez que osproventos de aposentadoria dos quais decorrem os valores atrasados recebidos na via administrativa pelo autor, porémalegadamente não corrigidos, são pagos de forma dividida entre o INSS e a UNIÃO, de modo que ambos são parteslegítimas para responderem à pretensão deduzida.3. A questão prejudicial de prescrição quinquenal e de fundo do direito, pretendida tanto pelo INSS e quanto pela UNIÃO,deve ser afastada, porque o pedido consiste no pagamento de juros e correção monetária sobre valor recebidoadministrativamente em 2004 (fl. 16), tendo a demanda sido ajuizada em 12/01/2006, a dizer, dentro do prazo de 05 (cinco)anos previsto no art. 1º do Decreto nº 20.910/1932.4. Ante a pendência de modulação dos efeitos do julgamento das ADI´s nºs 4.357/DF e 4.425/DF, o Superior Tribunal deJustiça – STJ, no julgamento do REsp nº 1.270.439 sob a sistemática do art. 543-C, do Código de Processo Civil, firmoua orientação no sentido de serem aplicáveis às condenações da Fazenda Pública, desde 30/06/2009, os juros de moraestabelecidos no art. 1º-F da Lei 9.494/1997 (exceto nas condenações referentes a questões tributárias, nas quais a SELICé fator de correção monetária e de juros de mora). Vale dizer, até 29/06/2009 os juros de mora serão de 1% (um por cento)a.m. e, a partir de 30/06/2009 incide a regra do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação da Lei nº 11.960/2009. Porsua vez, ante a reconhecida inconstitucionalidade do emprego da TR determinado pelo art. 1º-F da Lei 9.494/1997,entendeu aplicável o IPCA-E como critério geral de correção monetária, mantido o INPC para as condenações referentes aquestões do regime geral de previdência (art. 41-A da Lei 8.213/1991, não aplicável às condenações referentes a questõesassistenciais) e a SELIC para as condenações referentes à questões tributárias. Considerando que a sentença aplicou osjuros de mora nos moldes da orientação firmada pelo STJ no REsp nº 1.270.439, porém determinou a aplicação do INPCcomo índice de correção, merece ser, no ponto, ajustada para fazer incidir o IPCA-E na correção dos valores atrasados aoinvés do INPC, por não se tratar de condenação referente a questões do regime geral de previdência.5. Recurso do INSS conhecido e desprovido. Recurso da UNIÃO conhecido e parcialmente provido.

RELATÓRIO

O INSS e a UNÃO interpõem recursos inominados, às fls. 159/173 e 175/183, respectivamente, contra sentença (fls.155/157) proferida pelo MM. Juiz do Juizado Especial Federal de Cachoeiro de Itapemirim, que julgou procedente o pedidopara condenar o INSS e a UNIÃO a efetuarem o pagamento de correção monetária com base no Índice Nacional de Preçosao Consumidor - INPC e juros moratórios à razão de 0,5% (zero vírgula cinco por cento) ao mês - desde a data da citação,até 30/06/2009 e, a partir de 1º/07/2009, no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança -, sobrediferenças recebidas administrativamente pelo autor em razão de reclassificação em plano de cargos da REDEFERROVIÁRIA FEDERAL S.A. – RFFSA.

02. Em suas razões recursais, sustenta o INSS, preliminarmente: i) ocorrência de coisa julgada material, uma vezque os valores atrasados a que fazia jus o autor já foram pagos devidamente atualizados no bojo da AçãoOrdinária/Previdenciária nº 0033632-88.1999.4.02.5002; e ii) ilegitimidade passiva ad causam daquela AutarquiaPrevidenciária, porquanto a demanda se refere à atualização de verbas decorrentes de benefício de aposentadoria pagodiretamente pelo Tesouro Nacional, nos termos do art. 6º, da Lei nº 8.191/1991. No mérito, aduz: i) configuração deprescrição de fundo de direito, por se tratar de diferenças de reclassificação em plano de cargos e não de prestaçõesperiódicas, de modo que tem lugar a incidência da regra prevista no art. 1º do Decreto nº 20.910/1932; ii) a sentençarecorrida não pode prevalecer, porque o Supremo Tribunal Federal - STF ainda não se pronunciou quanto àmodulação dos efeitos do julgamento das Ações Diretas de Inconstitucionalidade - ADI´s nºs 4.357/DF e 4.425/DF;iii) conforme decisão cautelar proferida pelo Ministro Luiz Fux nos autos da ADI nº 4.357/DF, devem os Tribunais darimediato cumprimento aos pagamentos em curso, segundo a sistemática vigente à época, até que o STF semanifeste sobre a modulação temporal dos efeitos de sua decisão, razão pela qual, por ora, deve ser integralmentemantida a aplicação do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997; iv) o Superior Tribunal de Justiça tem reconhecido ainaplicabilidade da decisão do STF até que se defina o alcance dos efeitos temporais e materiais do julgamentodas ADI´s nºs 4.357/DF e 4.425/DF (REsp nº 1.366.126/MG); v) o STJ, no julgamento do REsp nº 1.205.946/SP, derelatoria do Ministro Benedito Gonçalves, submetido ao rito dos recursos repetitivos, consolidou o entendimento de que oart. 1º-F da Lei nº 9.494/1997 é norma de caráter eminentemente processual que deve ser aplicada indistintamentea todas as demandas judiciais em curso quando de sua entrada em vigor; vi) em recente decisão, o Ministro do STFDias Toffoli concedeu medida liminar na RCL nº 17486 para suspender decisão do STJ proferida no REsp nº 1.418.095/PE- a qual estabeleceu a aplicação IPCA na correção de débitos da União -, por considerá-la afrontosa à decisão doMinistro Luiz Fux na ADI nº 4.357/DF. Requer, assim, a reforma da sentença a fim de que extinto o processo sem resoluçãode mérito em relação ao INSS, ante as preliminares suscitadas. Acaso ultrapassadas, pugna que seja reconhecida aprescrição arguída ou, subsidiariamente, julgado improcedente o pedido ou, ainda, determinado à Autarquia Previdenciáriao repasse da verba disponibilizada pela UNIÃO, observados os prazos prescricionais e a dicção do art. 1º-F da Lei nº9.494/1997 no cômputo dos juros e da correção monetária.

03. Por sua vez, a UNIÃO, em preliminar, suscita ocorrência de coisa julgada material, uma vez que as importânciasa que fazia jus o autor já foram pagas devidamente atualizadas no bojo da Ação Ordinária/Previdenciária nº0033632-88.1999.4.02.5002. No mérito, alega: i) configuração de prescrição nos termos do art. 1º do Decreto nº20.910/1932, tendo em vista que o autor pretende, nesta demanda, obter a correção monetária e juros de mora sobrediferenças correspondentes ao período de janeiro de 1993 a março de 1998; no entanto, somente ajuizou a ação em12/01/2006, a dizer, decorridos mais de 05 (cinco) anos contados da efetiva lesão ao direito tutelado. Não sendo este oentendimento adotado, requer ao menos o reconhecimento da prescrição das parcelas anteriores ao quinquênio queprecedeu o ajuizamento desta ação; ii) de acordo com as informações da Inventariança da antiga RFFSA, as diferençascorrespondentes ao período de janeiro/1993 a março/1998 já foram pagas devidamente atualizadas, consoantedemonstrativos juntados aos autos; iii) ainda não houve pronunciamento definitivo do STF quanto à modulação dos efeitosda decisão proferida nas ADI´s nºs 4.357/DF e 4.425/DF, razão pela qual permanece plenamente aplicável o do art. 1º-Fda Lei nº 9.494/1997; iv) há necessidade de sobrestamento do feito até que o STF defina os efeitos da decisão proferidanas aludidas ADI´s; v) não sendo acolhidas as alegações precedentes, deve ser aplicado o IPCA-E, em substituição doINPC, por ser este o índice constante do Manual de Cálculos da Justiça Federal para as ações condenatórias em geral.Requer a reforma da sentença a fim de que acolhida a preliminar de coisa julgada.

04. Não foram apresentadas contrarrazões em relação a ambos os recursos.

05. É o Relatório.

VOTO

06. Preliminarmente, destaco que o INSS e a UNIÃO arguem a preliminar de existência de coisa julgada material, aoargumento de que os valores atrasados a que fazia jus o autor já foram pagos devidamente atualizados no bojo da AçãoOrdinária/Previdenciária nº 0033632-88.1999.4.02.5002.

07. Contudo, da leitura da inicial depreende-se que o objeto da presente demanda cinge-se ao recebimento de jurosde mora e correção monetária, com reflexos no 13º salário, incidentes sobre valores atrasados pagos administrativamenteao autor em virtude de reclassificação de aposentados e pensionistas da RFFSA em plano de cargos, beneficiados pela Leinº 8.186/1991, o que em nada se confunde com o objeto da Ação Ordinária/Previdenciária nº 0033632-88.1999.4.02.5002,consistente na revisão e complementação de aposentadoria excepcional de anistiado, espécie 58, com pagamento dediferenças devidamente corrigidas até a data do efetivo pagamento, consoante certidão de prevenção e cópia da sentençaàs fls. 21 e 30/34, respectivamente.

08. Por tais razões, rejeito a preliminar arguída.

09. De igual modo não merece ser acolhida a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam arguída pelo INSS, namedida em que os proventos de aposentadoria dos quais decorrem os valores atrasados recebidos na via administrativapelo autor, porém alegadamente não corrigidos, são pagos de forma dividida entre o INSS – a quem compete o pagamentodos valores com base nas regras do Regime Geral de Previdência Social – RGPS – e a UNIÃO, a quem cabe acomplementação referente à diferença entre o valor pago pelo INSS e aquele pago aos ferroviários em atividade, ante aparidade entre ativos e inativos estabelecida na Lei nº 8.186/1991. Logo, tanto o INSS quanto à UNIÃO são partes legítimas

para responderem à pretensão deduzida nesta demanda. Nesse sentido, transcrevo ementa do acórdão prolatado pelo STJno julgamento do AgRg no REsp 1474706/PE (Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 02/10/2014, DJe13/10/2014):PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. EX-FERROVIÁRIO DA RFFSA. DIFERENÇAS VINCULADAS ÀCOMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA. PARIDADE GARANTIDA PELA LEI 8.186/91. INTERESSE DA UNIÃO.COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. PRECEDENTES.1. Na origem, cuida-se de ação ajuizada por ex-ferroviário aposentado da extinta RFFSA, cujos proventos de aposentadoriasão pagos de forma dividida entre o INSS, a quem cabe o pagamento dos valores com base nas regras do RGPS e aUnião, a quem cabe a complementação referente à diferença entre o valor pago pelo INSS e aquele pago aos ferroviáriosem atividade, visto a paridade entre inativos e ativos estabelecida na Lei n. 8.186/91.2. A Primeira Seção do STJ, no julgamento do REsp 1211676/RN, submetido ao regime dos recursos repetitivos (art. 543-Cdo CPC), reiterou jurisprudência no sentido de que os ferroviários admitidos na Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) esuas subsidiárias até 31.10.1969, independentemente do regime, bem como aqueles que se aposentaram até a edição doDecreto-Lei 956/69, têm direito à complementação da aposentadoria prevista na Lei n. 8.186/91, cuja responsabilidade emarcar com tal complementação é da União, de modo a garantir que os valores pagos aos aposentados ou pensionistassejam equivalentes aos valores devidos aos ferroviários da ativa.3. A pretensão suscitada na exordial se volta contra a parcela a que a União está obrigada a adimplir, sob a alegação deque os valores são pagos a destempo, porquanto não observados os dissídios e acordos trabalhistas, os quais garantem oreajuste salarial dos ativos e, consequentemente, refletem no valor da complementação.4. Em decorrência da presença da União no feito e tendo em vista que a pretensão não gira em torno de questãotrabalhista, mas atrela-se à complementação de aposentadoria, a jurisprudência desta Corte já teve a oportunidade dereconhecer que, nestes casos, a competência para julgamento do feito é da Justiça Federal.Agravo regimental provido para conhecer em parte do recurso especial e dar-lhe provimento.

10. No mesmo sentido, o acórdão proferido pelo E. Tribunal Regional Federal da 2ª Região – TRF2:ADMINISTRATIVO. EX-FERROVIÁRIO. COMPLEMENTAÇÃO DE PENSÃO. UNIÃO FEDERAL E INSS. LEGITIMIDADEPASSIVA. LEI 8.168/91. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FAZENDA PÚBLICA. ART. 20, § 4° DO CPC. JUROS ECORREÇÃO MONETÁRIA. ART. 1° - F DA LEI 9.494/97. REMESSA NECESSÁRIA E RECURSOS DE APELAÇÃOPARCIALMENTE PROVIDOS. O Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que a União Federal, por serresponsável pela complementação da aposentadoria dos ferroviários, nos termos do artigo 2º da Lei n. 8.186/1991, possuilegitimidade, juntamente com o INSS, para figurar no polo passivo do feito. Nos termos do Decreto-Lei 956/69, osferroviários que se aposentaram antes de 1º de novembro de 1969 têm direito à complementação de proventos, sendocerto que tal direito se estende aos benefícios de pensão por eles instituídos. Posteriormente, o benefício em questão foiestendido pela Lei 10.478/02 a todos os ferroviários admitidos até 21/05/91 pela Rede Ferroviária Federal S.A. O art. 2° daLei nº 8.186/91 prevê que se receba a remuneração do cargo correspondente ao que o segurado teria se estivesse na ativa,com a respectiva gratificação adicional por tempo de serviço, bem como o reajustamento deste valor nos mesmos prazos econdições em que for reajustada a remuneração do ferroviário em atividade. Tendo em vista que o instituidor da pensãoingressou no quadro da RFFSA em 20.04.1945 (fl. 27), a autora faz jus à incorporação de tais diferenças em seu benefício,devendo as rés serem condenadas, ainda, ao pagamento das parcelas vencidas, desde janeiro de 2007, em observância àprescrição quinquenal prevista no art. 1° do Decreto n. 20.910/92. Nas hipóteses previstas no art. 20, §4º,do Código deProcesso Civil a fixação da verba honorária não está adstrita aos limites percentuais de 10% e 20%. Trazendo essesparâmetros para o caso concreto, observando a complexidade da presente causa, bem como a celeridade do provimentojurisdicional, o percentual de 5% sobre o valor da condenação é razoável e está em perfeita consonância com o dispositivoacima citado. A atualização monetária deve ser calculada com base na Tabela de Cálculos do Conselho da Justiça Federale os juros de mora devem incidir, desde a citação, à razão de 0,5% (meio por cento) ao mês por força do que determinava oartigo 1º-F da Lei nº 9.494/97, na redação que lhe era dada pela Medida Provisória nº 2.180-35/2001; a partir de 30/06/2009,data da entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, os juros de mora devem observar os índices oficiais de remuneraçãobásica e juros aplicados aos depósitos em caderneta de poupança na forma do artigo 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a

�redação dada pela Lei nº11.960/2009. Remessa necessária e recursos de apelação parcialmente providos. (APELRE201251010104380, Desembargador Federal ALUISIO GONCALVES DE CASTRO MENDES, TRF2 - QUINTA TURMAESPECIALIZADA, E-DJF2R - Data::15/10/2014.)

11. Rejeito, portanto, a preliminar de ilegitimidade passiva do INSS.

12. A questão prejudicial de prescrição quinquenal e de fundo do direito, pretendida pelo INSS e pela UNIÃO, nãomerece ser acatada, visto que a pretensão autoral consiste no pagamento de juros e correção monetária sobre valorrecebido administrativamente em 2004 (fl. 16), tendo a demanda sido ajuizada em 12/01/2006, a dizer, dentro do prazo de05 (cinco) anos previsto no art. 1º do Decreto nº 20.910/1932, razão pela qual não há falar em prescrição a fulminar apretensão.

13. Rejeito a alegação de prescrição.

14. Passo ao exame do mérito recursal.

15. Insurgem-se o INSS e a UNIÃO quanto à aplicação dos juros de mora e da correção monetária na formaestabelecida na sentença. Aduzem a plena aplicabilidade do art. 1º-F, da Lei nº 9.494/1997, com a redação do art. 5º da Lei

nº 11.960/2009, diante do julgamento pelo STF das ADIs nº 4.357/DF e 4.425/DF, em razão da possibilidade de modulaçãotemporal de seus efeitos.

16. Pugna a UNIÃO, subsidiariamente, pelo sobrestamento do feito até que o STF defina os efeitos da decisãoproferida nas aludidas ADI´s ou, ainda, pela aplicação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo Especial –IPCA-E ao invés do Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC, por ser aquele o índice constante do Manual deCálculos da Justiça Federal para as ações condenatórias em geral.

17. Não há razão para sobrestar o feito. Conquanto o Supremo Tribunal Federal não tenha concluído o julgamentosobre a modulação temporal dos acórdãos prolatados nas aludidas ADIs, destaco que a Corte em reiterados julgados,afirmou que o efeito da decisão, que declara a inconstitucionalidade ou a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal,inicia-se com a publicação da ata da sessão de julgamento (cf. Rcl 2.576/SC, Pleno, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 20.08.2004;AgRg na Rcl 3.473/DF, Pleno, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 09.12.2005; AgRg no RE 693.321/MG, Segunda Turma, Rel.Min. Joaquim Barbosa, DJE 20.09.2012). A invalidade da lei ou do ato normativo, por ser vício originário, pode serexcepcionalmente protraída por decisão de dois terços dos Ministros da Corte (art. 27, da Lei n. 9.868/99), o que ainda restapendente de julgamento na presente hipótese. A despeito disso, para dirimir incerteza quanto ao regime de pagamento deprecatórios, o Supremo Tribunal Federal determinou cautelarmente que houvesse a manutenção do regramento anterior.

18. De outra parte, embora o posicionamento acatado pelo Pleno da Corte não tenha especificado os índices aserem aplicados para atualização monetária dos créditos, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp nº1.270.439/PR (Primeira Seção, Rel. Min. Castro Meira, DJE 02.08.2013), no regime do art. 543-C, do Código de ProcessoCivil, firmou a orientação no sentido de serem aplicáveis às condenações da Fazenda Pública, desde 30/06/2009, os jurosde mora estabelecidos no art. 1º-F da Lei 9.494/1997 (exceto nas condenações referentes a questões tributárias, nas quaisa SELIC é fator de correção monetária e de juros de mora). Vale dizer, até 29/06/2009 os juros de mora serão de 1% (umpor cento) a.m. e, a partir de 30/06/2009 incide a regra do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação da Lei nº11.960/2009. No que concerne à correção monetária, ante a reconhecida inconstitucionalidade do emprego da TRdeterminado pelo art. 1º-F da Lei 9.494/1997, entendeu aplicável o IPCA-E como índice de atualização monetária para ascondenações arcadas pela Fazenda Pública, quando inexistir regra especial em sentido diverso, mantido o INPC para ascondenações referentes a questões do regime geral de previdência (art. 41-A da Lei 8.213/1991, não aplicável àscondenações referentes a questões assistenciais) e a SELIC para as condenações referentes questões tributárias.

19. Nessas condições, merece ser ajustada a sentença tão somente no que tange ao índice de correção monetáriaaplicável, de modo a determinar a incidência do IPCA-E em substituição do INPC, por não se tratar de condenaçãoreferente a questões do regime geral de previdência.

20. Ante o exposto, i) conheço o recurso interposto pelo INSS e nego-lhe provimento. Sem custas, na forma do art.4º, inciso I, da Lei nº 9.289/1996. Honorários, todavia, devidos, fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor dacondenação, com base no art. 55, da Lei nº 9.099/1995 conjugado com o art. 1º da Lei nº 10.259/2001; e ii) conheço orecurso interposto pela UNIÃO e dou-lhe parcial provimento apenas para determinar a incidência IPCA-E como índice decorreção de monetária aplicável às verbas atrasadas recebidas administrativamente pelo autor. Sem condenação aopagamento de custas e honorários advocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n. 9.099/95.

21. Certificado o trânsito em julgado, baixem os autos ao Juizado de origem.

22. É como voto.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

3 - 0002306-48.2008.4.02.5050/01 (2008.50.50.002306-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: SHIZUE SOUZA KITAGAWA.) x MARLENE SANTOS ROHR.Processo nº 0002306-48.2008.4.02.5050/01 (2008.50.50.002306-8/01)Juízo de Origem: 2º Juizado Especial - ESRecorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRecorrido: MARLENE SANTOS ROHRRelator: Juiz Federal FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO-EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. SERVIDOR. GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO. GDASS. TERMOS INICIAL E FINAL.AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DE TERMO FINAL PARA A PARIDADE. FIXAÇÃO DA GRATIFICAÇÃO EM PONTOS E NÃOEM PERCENTUAL. EMBARGOS CONHECIDOS E PROVIDOS.

Cuida-se de embargos de declaração, opostos pelo INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, contra oacórdão de fls. 138/140, que negou provimento ao recurso inominado do embargante. O embargante alega que: i) o

acórdão foi omisso ao não apreciar o fato de que a autora nunca recebeu a Gratificação de Desempenho denominadaGDAP; ii) há omissão em relação ao marco inicial do pagamento da GDASS, considerando que tal Gratificação apenaspassou a ser paga à autora em maio de 2004; iii) há omissão em relação ao termo final do pagamento da GDASS; e iv)houve equívoco na fixação da Gratificação em “pontos”, sendo que o correto seria fixar o pagamento em “percentuais”.Requer seja dado provimento aos embargos.

2. Verificada a tempestividade do recurso e presentes os demais pressupostos de sua admissibilidade, conheço osEmbargos de Declaração e passo à análise do seu mérito.

3. Em relação à ausência de recebimento da GDAP (Gratificação de Desempenho de Atividade Previdenciária) porparte da recorrida, verifico que o acórdão foi omisso. Consoante as fichas financeiras juntadas aos autos nas fls. 32/47, nãohouve recebimento desta rubrica, motivo pelo qual não há se falar em paridade com os servidores ativos.

4. No que tange ao termo inicial fixado na sentença (dezembro de 2003), verifico que este é anterior ao pedido daautora (abril de 2004), motivo pelo qual o termo inicial deve ser modificado para que possa coincidir com o limite objetivo dalide.

5. Em relação ao termo final da paridade com os servidores ativos, verifico que a sentença dispôs nos seguintestermos: c) de março de 2007 até a data da conclusão dos efeitos jurídicos do primeiro ciclo de avaliação de desempenhosinstitucional e individual realizada conforme as regras originais, no limite de 30 (trinta) pontos e, d) da data susbsequente àda conclusão dos efeitos jurídicos do primeiro ciclo de avaliação supra referido em diante, no limite de 80 (oitenta) pontos.

Quanto a tal questionamento, verifico que não houve fixação de termo final para o pagamento da gratificação nos moldespagos aos servidores ativos. Ademais, há erro material na sentença ao aplicar 30 (trinta) pontos a partir de março de 2007 e80 (oitenta) pontos apenas a partir da conclusão dos efeitos jurídicos do primeiro ciclo de avaliação de desempenho. Aconclusão do ciclo de avaliação – e a respectiva data de divulgação do resultado – faz cessar a paridade com os servidoresativos, e não a inaugura. A fixação correta dos pontos deve ocorrer nos seguintes moldes: “a partir de 1o de março de 2007até 29 de fevereiro de 2008 e até que sejam regulamentados os critérios e procedimentos de aferição das avaliações dedesempenho individual e institucional, e processados os resultados da 1a (primeira) avaliação de desempenho, para fins deatribuição da GDASS, o valor devido de pagamento mensal por servidor ativo será de 80 (oitenta) pontos, observados osrespectivos níveis e classes”.

Esclareça-se assim, por oportuno, que o termo final da pontuação paritária entre servidores ativos e inativos deve cessar nadata da divulgação do resultado do ciclo de avaliação (frise-se: a divulgação da data do resultado, e não a data do início daavaliação), devendo ser paga no valor equivalente a 80 (oitenta) pontos desde 01/03/2007.

6. Por fim, verifico ter sido contraditório o acórdão em relação à pontuação estabelecida para o pagamento daGDASS, que deve ser feita em “percentual” e não em “pontos”, motivo pelo qual deve ser corrigido o equívoco. De fato, aantiga redação da MP 146/2003 dispunha que o pagamento da GDASS seria feito no valor correspondente a 60% (sessentapor cento) de seus valores máximos, e não a 60 (sessenta) pontos. O mesmo ocorre em relação à MP 199/2004. Dessemodo, deve a sentença ser alterada nesse pormenor, para que, nos parágrafos que fixam a condenação nos períodosreferentes a tais atos normativos, onde conste a expressão “60 (sessenta) pontos”, faça-se constar “60 % (sessenta porcento)”. Em apoio a esse entendimento, transcrevo ementa do acórdão prolatado pelo Pleno do Supremo Tribunal Federalem julgamento do RE 662.406/AL (Rel. Min. Teori Zavascki, DJE 13.02.2015):DIREITO ADMINISTRATIVO. GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DE ATIVIDADE TÉCNICA DE FISCALIZAÇÃOAGROPECUÁRIA - GDATFA. TERMO FINAL DO DIREITO À PARIDADE REMUNERATÓRIA ENTRE SERVIDORESATIVOS E INATIVOS. DATA DA REALIZAÇÃO DA AVALIAÇÃO DO PRIMEIRO CICLO.1. O termo inicial do pagamento diferenciado das gratificações de desempenho entre servidores ativos e inativos é o dadata da homologação do resultado das avaliações, após a conclusão do primeiro ciclo de avaliações, não podendo aAdministração retroagir os efeitos financeiros a data anterior.2. É ilegítima, portanto, nesse ponto, a Portaria MAPA 1.031/2010, que retroagiu os efeitos financeiros da Gratificação deDesempenho de Atividade Técnica de Fiscalização Agropecuária - GDAFTA ao início do ciclo avaliativo.3. Recurso extraordinário conhecido e não provido.

7. Dessa forma, conheço dos embargos de declaração opostos pelo INSS e a eles dou provimento a fim dereformar a sentença recorrida para afastar a condenação da autarquia ao pagamento da Gratificação GDAP; fixar o termoinicial em abril de 2004; fixar o termo final na data da divulgação do resultado do primeiro ciclo de avaliação e para substituira expressão “pontos” constante do dispositivo da sentença para “por cento”, conforme supra fundamentado.

8. É como voto.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

4 - 0004117-09.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.004117-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) AQUILINA DE BARROSPADILHA (DEF.PUB: ALINE FELLIPE PACHECO SARTÓRIO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: ALCINA MARIA COSTA NOGUEIRA LOPES.).

RECURSO Nº 0004117-09.2009.4.02.5050/01RECORRENTE: AQUILINA DE BARROS PADILHARECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS PREVISTOS NO ARTIGO 535 DO CPC. RECURSOCONHECIDO E DESPROVIDO.

AQUILINA DE BARROS PADILHA interpõe recurso de Embargos de Declaração, às fls. 87/89, contra acórdão proferido àsfls. 81/83 ao argumento de existência de omissão. Para tanto, sustenta a ausência de apreciação de teses ventiladas norecurso inominado, tais como a ocorrência de erro exclusivo da autarquia previdenciária na fiscalização do benefício, bemcomo a boa-fé da parte da recorrente na sua percepção, sopesado o seu grau de instrução. Justifica serem cabíveis osembargos ante o direito fundamental ao irrestrito acesso à prestação jurisdicional consagrado no art. 5º, inciso XXXV, daConstituição da República de 1988, e à fundamentação completa das decisões judiciais, nos termos do art. 93, inciso IX, daConstituição da República de 1988.

02. Verificada a tempestividade do recurso e presentes os demais pressupostos de sua admissibilidade, conheço osEmbargos de Declaração e passo à análise do seu mérito.

03. Da leitura do acórdão ora guerreado, verifica-se que houve a análise adequada e escorreita dos fatos efundamentos jurídicos e dos requerimentos formulados, não sendo admissível, mediante a interposição de recurso deEmbargos de Declaração, novo julgamento da causa motivado pela irresignação de uma das partes em face doposicionamento esposado pelo colegiado. Aos Embargos de Declaração não é cabível o empréstimo de efeitos infringentespara rediscutir questão analisada pela decisão atacada. (STJ, EDRESP 668.686-SP, Quarta Turma, Rel. Min. JorgeScartezzini, DJ 20.03.2006):EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS -PROCEDÊNCIA - APELAÇÃO - ATRIBUIÇÃO DE EFEITO APENAS DEVOLUTIVO - ART. 520, IV, DO CPC - RECURSOINTERPOSTO CONTRA SENTENÇA QUE DECIDIU PROCESSO CAUTELAR - OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO OUOMISSÃO - INEXISTÊNCIA - FATO NOVO - REJULGAMENTO DA LIDE - INVIABILIDADE - CUMPRIMENTO DO OFÍCIOJURISDICIONAL - EMBARGOS REJEITADOS.1 - Não há que se falar em omissão quanto a questão não suscitada, embora já ocorrida, antes do julgamento apontadocomo omisso. E nem de obscuridade ou contradição quando o recurso é julgado de acordo com o constante em seus autos.2 - Inexistente qualquer hipótese legal de cabimento recursal (art. 535 do CPC), configura-se inviável a pretensão aorejulgamento da lide, porquanto, nos termos do art. 463 do CPC, extensivo aos Tribunais pátrios, uma vez publicado oacórdão, o Colegiado cumpre a prestação jurisdicional, alterável tão-somente diante da ocorrência de erros materiais ou deobscuridade, contradição e omissão, hipóteses justificadoras da oposição de embargos de declaração. Ademais, não cabea apreciação de fato novo em sede de embargos de declaração (cf. EDcl no RMS nº 11.542/MA, Rel. Ministra ELIANACALMON, DJ de 12.2.2001).3 - Acertadamente solucionada a lide quando do provimento do recurso especial e ausente qualquer vício no aresto ajustificar a interposição dos aclaratórios, caracterizam-se como inadmissíveis, perfazendo-se inviável atribuir-lhes efeitosinfringentes com relação ao decisum embargado, ora mantido por seus próprios fundamentos.4 - Embargos de declaração rejeitados.

04. Ressalto que o julgador não está obrigado a analisar explicitamente cada um dos argumentos, teses e teoriasaduzidas pelas partes, bastando que resolva fundamentadamente a lide (STJ, RESP 927.216/RS, Segunda Turma, Rel.Ministra Eliana Calmon, DJ 13/08/2007).

05. No caso em apreço, o acórdão embargado é claro ao sustentar que a obrigação de reposição ao erário devalores recebidos indevidamente dos cofres públicos é decorrente dos princípios da supremacia e da indisponibilidade dointeresse público, a fim de se evitar o enriquecimento sem causa do indivíduo em detrimento da coletividade. No recursosob análise, é nítido que o recebimento do benefício foi indevido, porquanto incompatível a percepção do benefício deaposentadoria por tempo de contribuição após o óbito do beneficiário, cabe ao INSS realizar os descontos. Ademais,enfatizo o entendimento prevalente no âmbito desta Turma Recursal no sentido de mitigar o caráter irrepetível da verbaalimentar, considerando possível – analisada caso a caso - a devolução ao erário, tendo a Autarquia o poder-dever derealizar os descontos de valores que se processaram indevidamente.

05. Posto isso, conheço os Embargos de Declaração e, no mérito, nego-lhes provimento.

06. Certificado o trânsito em julgado, baixem os autos à origem.

07. É como voto.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

5 - 0001247-17.2011.4.02.5051/02 (2011.50.51.001247-9/02) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANDRÉ DIAS IRIGON.) x PAULO AFFONSO DE MIRANDA (ADVOGADO:ES005395 - ADMILSON TEIXEIRA DA SILVA, ES013341 - EMILENE ROVETTA DA SILVA, ES013223 - ALAN ROVETTADA SILVA.).PROCESSO Nº 0001247-17.2011.4.02.5051/02 (2011.50.51.001247-9/02)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: PAULO AFFONSO DE MIRANDARELATOR: JUIZ FEDERAL FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. TESE DA DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS RECEBIDAS A TÍTULO DE ANTECIPAÇÃODE TUTELA JÁ APRECIADA NA DECISÃO EMBARGADA. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO E CONTRADIÇÃO. RESSALVADE ENTENDIMENTO PESSOAL. EMBARGOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS.

INSS interpõe recurso de Embargos de Declaração, às fls. 263/269, contra acórdão proferido às fls. 258/260 ao argumentode existência de omissão e contradição. Para tanto, sustenta que o percebimento de auxílio-doença não ocorreu por forçada existência de incapacidade laboral, mas pela concessão de tutela antecipada, de maneira que o julgador não poderiaconcluir que “a concessão da aposentadoria por invalidez logicamente decorreu da progressão e do agravamento do quadroclínico que o levou a perceber o auxílio-doença durante três anos”. Afirma que o Superior Tribunal de Justiça entende que édevido o ressarcimento da verba em tal hipótese. Requer o provimento do recurso, de modo a sanar as falhas apontadas,inclusive para fins de prequestionamento.

02. Verificada a tempestividade do recurso e presentes os demais pressupostos de sua admissibilidade, conheço osEmbargos de Declaração e passo à análise do seu mérito.

03. Inicialmente saliento que o recurso inominado do INSS referia-se exclusivamente à devolução de parcelasrecebidas a título de antecipação de tutela e que as argumentações do embargante foram afastadas pelo ilustre relator doacórdão. Diante disso, não há como ser reconhecida omissão na análise do tema, visto que este foi o ponto centraldiscutido. Por sua vez, também não verifico a presença de contradição. A afirmação do relator no sentido de que haveriaboa-fé no recebimento do auxílio-doença e que tal fato seria decorrência lógica da concessão administrativa posterior deaposentadoria por invalidez não denota qualquer contradição. Pelo contrário, essa foi a base do entendimento por elefirmado.

04. Em que pese meu entendimento pessoal no sentido de ser devida a restituição de parcelas pagas a título deantecipação de tutela, considerando a precariedade no seu recebimento, verifico que, neste momento processual, não cabemais a rediscussão das teses ventiladas no recurso inominado, estando preclusa, para este relator, a análise de matériasque já foram deliberadas pelo Colegiado, por não existir qualquer vício que enseje o provimento dos Embargos deDeclaração interpostos, de acordo com o art. 535, do Código de Processo Civil.

05. Posto isso, conheço os Embargos de Declaração e, no mérito, nego-lhes provimento, tendo em vista a ausênciados vícios apontados pelo embargante em sua peça recursal.

06. É como voto.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

6 - 0003839-97.2012.4.02.5051/01 (2012.50.51.003839-4/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) UNIAO FEDERAL (PROCDOR:ROSELAINE MOREIRA ALVES.) x HUGO ALBERTO RUIZ (ADVOGADO: MG124372 - MARCELO SILVA SANT'ANNA,MG082289 - LEONARDO PEREIRA REZENDE.).RECURSO Nº 0003839-97.2012.4.02.5051/01RECORRENTE: UNIÃO FEDERALRECORRIDO: HUGO ALBERTO RUIZRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO TRIBUTÁRIO. DIREITO ADMINISTRATIVO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. NÃO-INCIDÊNCIA SOBRETERÇO CONSTITUCIONAL DE FÉRIAS. RECURSO DA UNIÃO CONHECIDO E DESPROVIDO.

1. UNIÃO interpõe recurso inominado contra sentença que julgou procedente o pedido para condená-la a excluir o adicionalde férias da base de cálculo da contribuição para o custeio da previdência social dos servidores públicos ativos e inativos,bem como a restituir à parte autora os valores descontados indevidamente, respeitada a prescrição qüinqüenal. Arecorrente sustenta que: i) impõe-se o sobrestamento do feito, ante a repercussão geral da matéria reconhecida pelo

Supremo Tribunal Federal – STF no RE nº 593.068, pendente de julgamento; ii) o terço de férias dos servidores públicosfederais não foi excluído da base de cálculo da contribuição previdenciária a ser recolhida por eles (art. 4º, §1º, I a IX, daLei n. 10.887/2004); iii) o art. 40, caput, da Constituição da República de 1988, com a redação dada pela EmendaConstitucional n. 41/2003, dispõe que o regime próprio de previdência dos servidores públicos tem caráter contributivo esolidário, razão por que o financiamento da previdência não está condicionado a uma contrapartida de prestaçõesespecíficas ou proporcionais em favor do contribuinte; e iv) as contribuições previdenciárias pagas pelos servidores públicosnão visam apenas ao custeio de suas respectivas aposentadorias, mas também dos demais benefícios previstos pelo art.185, da Lei n. 8.112/90.2. A parte autora ofereceu contrarrazões, às fls. 66/77, nas quais requer o desprovimento do recurso.3. Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço o recurso e passo à análise do seu mérito.4. Inicialmente, assinalo que o reconhecimento de repercussão geral, no RE 593.068, não tem o condão de impedir ojulgamento de recurso inominado que verse sobre a mesma questão afeta ao julgamento do Supremo Tribunal Federal. Oartigo 543-B, § 1º, do Código de Processo Civil, determina o sobrestamento dos recursos extraordinários cuja matéria sejaobjeto de repercussão geral, razão por que os demais recursos seguem o seu processamento, conforme previsão legal.5. O regime de previdência próprio do servidor público é balizado pelo seu caráter contributivo e solidário, sendo mantidopor contribuições arcadas pelo ente público e pelos servidores, ativos e inativos, com o intuito de manter seu equilíbriofinanceiro e atuarial (art. 40, caput, da Constituição da República de 1988, com a redação conferida pela EmendaConstitucional n. 41/2003). O conteúdo jurídico do princípio da solidariedade e a não adoção de um regime de capitalizaçãoimplicam a ausência de retribuição necessária entre as contribuições recolhidas pelo servidor e os benefíciosprevidenciários por ele auferidos. Portanto, ainda que o terço constitucional de férias não componha as remunerações quese somam para formação da média aritmética usada para apurar a renda mensal dos proventos a serem pagos ao servidoraposentado, ou da pensão a ser recebida pelos seus dependentes, inexiste proibição constitucional a essa exação, ante ocaráter solidário do regime. Ademais, por não ter natureza indenizatória, o terço de férias não poderia ser excluído da basede cálculo da remuneração, por uma interpretação com resultado extensivo da redação originária do art. 4º,§1º, da Lei n.10.887/2004.6. Contudo, a jurisprudência Supremo Tribunal Federal, em reiterados julgados (cf. AgR no AI 772.880/MG, Primeira Turma,Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJE 18.06.2009; AgR no AI 710.361/MG, Primeira Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJE08.05.2009; AgR no RE 587.941/SC, Segunda Turma, Rel. Min. Celso de Mello, DJE 20.11.2088; AgR no AI 603.537/DF,Segunda Turma, Rel. Min. Eros Grau, DJ 30.03.2007, p. 92), decidiu que as contribuições previdenciárias não podem incidirsobre parcelas indenizatórias ou que não se incorporem à remuneração do servidor, o que passou a embasar oentendimento de que a contribuição previdenciária sobre o terço de férias seria contrária ao caráter contributivo do regime.7. Nesse sentido, a Lei n. 12.688/2012 deu nova redação ao art. 4º, §1º, X, da Lei n. 10.887/2004, a fim de excluir oadicional de férias da base de cálculo da contribuição previdenciária paga pelo servidor público.8. Inteligência do enunciado n. 39, da súmula da jurisprudência das Turmas Recursais da Seção Judiciária do EspíritoSanto (“Não incide contribuição previdenciária sobre o terço constitucional de férias ou quaisquer outras parcelas nãoincorporáveis ao salário do servidor público”).9. Ante o exposto, conheço o recurso e nego-lhe provimento. Sem custas (art. 4º, I, da Lei n. 9.289/96). Honoráriosadvocatícios devidos pela parte recorrente, correspondentes a 10% sobre o valor da condenação (art. 55 da Lei nº9.099/95).10. Certificado o trânsito em julgado, baixem os autos ao Juizado de origem.11. É como voto.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

7 - 0003989-81.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.003989-4/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: Isabela Boechat B. B. de Oliveira.) x GILSON NUNES DE VARGAS (ADVOGADO:ES006985 - JAMILSON SERRANO PORFIRIO.).PROCESSO Nº 0003989-81.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.003989-4/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: GILSON NUNES DE VARGASRELATOR: JUIZ FEDERAL FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS PREVISTOS NO ARTIGO 535 DO CPC.PREQUESTIONAMENTO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. BASE DE CÁLCULO. CONDENAÇÃO INEXISTENTE.RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.

INSS interpõe recurso de Embargos de Declaração, às fls. 239/248, contra acórdão proferido às fls. 235/236, que deuparcial provimento ao recurso da autarquia, ao argumento de existência de omissão e contradição. Sustenta, para tanto,para fins de prequestionamento, que o índice adotado no Manual de Cálculos da Justiça Federal (INPC) contraria a formade atualização monetária prevista pelo art. 1º-F, da Lei nº 9.494/97, que permanece vigente enquanto o Supremo TribunalFederal não se pronunciar sobre a modulação temporal dos efeitos dos acórdãos prolatados em julgamento das ADIs 4357e 4425. Alega, ainda, ausência de manifestação acerca da incidência do enunciado n. 111, da súmula da jurisprudência

dominante do Superior Tribunal de Justiça.

02. Verificada a tempestividade do recurso e presentes os demais pressupostos de sua admissibilidade, conheço osEmbargos de Declaração e passo à análise do seu mérito.

03. Em relação à sistemática de cálculo dos consectários legais, verifica-se, da leitura do acórdão ora guerreado, quehouve a análise adequada e escorreita dos fatos e fundamentos jurídicos e dos requerimentos formulados, não sendoadmissível, mediante a interposição de recurso de Embargos de Declaração, novo julgamento motivado pela irresignaçãode uma das partes em face do posicionamento esposado pelo colegiado. Aos Embargos de Declaração não é cabível oempréstimo de efeitos infringentes para rediscutir questão analisada pela decisão atacada. (STJ, EDRESP 668.686-SP,Quarta Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJ 20.03.2006):EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS -PROCEDÊNCIA - APELAÇÃO - ATRIBUIÇÃO DE EFEITO APENAS DEVOLUTIVO - ART. 520, IV, DO CPC - RECURSOINTERPOSTO CONTRA SENTENÇA QUE DECIDIU PROCESSO CAUTELAR - OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO OUOMISSÃO - INEXISTÊNCIA - FATO NOVO - REJULGAMENTO DA LIDE - INVIABILIDADE - CUMPRIMENTO DO OFÍCIOJURISDICIONAL - EMBARGOS REJEITADOS.1 - Não há que se falar em omissão quanto a questão não suscitada, embora já ocorrida, antes do julgamento apontadocomo omisso. E nem de obscuridade ou contradição quando o recurso é julgado de acordo com o constante em seus autos.2 - Inexistente qualquer hipótese legal de cabimento recursal (art. 535 do CPC), configura-se inviável a pretensão aorejulgamento da lide, porquanto, nos termos do art. 463 do CPC, extensivo aos Tribunais pátrios, uma vez publicado oacórdão, o Colegiado cumpre a prestação jurisdicional, alterável tão-somente diante da ocorrência de erros materiais ou deobscuridade, contradição e omissão, hipóteses justificadoras da oposição de embargos de declaração. Ademais, não cabea apreciação de fato novo em sede de embargos de declaração (cf. EDcl no RMS nº 11.542/MA, Rel. Ministra ELIANACALMON, DJ de 12.2.2001).3 - Acertadamente solucionada a lide quando do provimento do recurso especial e ausente qualquer vício no aresto ajustificar a interposição dos aclaratórios, caracterizam-se como inadmissíveis, perfazendo-se inviável atribuir-lhes efeitosinfringentes com relação ao decisum embargado, ora mantido por seus próprios fundamentos.4 - Embargos de declaração rejeitados.

04. Ressalto que o julgador não está obrigado a analisar explicitamente cada um dos argumentos, teses e teoriasaduzidas pelas partes, bastando que resolva fundamentadamente a lide (STJ, RESP 927.216/RS, Segunda Turma, Rel.Ministra Eliana Calmon, DJ 13/08/2007). Ademais, a admissão de recurso extraordinário não está condicionada à referênciaexplícita ao dispositivo constitucional que embasou o acórdão recorrido, bastando – tal como ocorreu na presente hipótese– que a interpretação da norma constitucional discutida tenha lastreado a convicção adotada pelo magistrado. Nessesentido, transcrevo ementa do acórdão prolatado pelo Supremo Tribunal Federal em julgamento do RE 361.341 Ed/PI(Primeira Turma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 01.04.2005, p. 36):1. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental.2. Delegados de Polícia de carreira e Delegados bacharéis em direito: vencimentos: isonomia: inadmissibilidade deequiparação por decisão judicial, com base no art. 39, § 1º, CF, redação original, sob o fundamento de identidade deatribuições: incidência da Súmula 339: precedentes.3. Recurso extraordinário: o requisito do prequestionamento não reclama menção expressa ao dispositivo constitucionalpertinente à questão de que efetivamente se ocupou o acórdão recorrido.

05. Passo ao exame da alegada ausência de manifestação sobre a incidência, ou não, do enunciado nº 111, dasúmula da jurisprudência do STJ (“Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre as prestaçõesvencidas após a sentença”).

06. O acórdão de fls. 235/236 deu parcial provimento ao recurso inominado e não condenou a autarquia aopagamento de honorários advocatícios. Descabe, dessa forma, a alegação do INSS em relação ao enunciado n. 111, dasúmula da jurisprudência do STJ.

07. Posto isso, conheço os Embargos de Declaração interpostos pelo INSS e, no mérito, nego-lhes provimento.

08. Certificado o trânsito em julgado, baixem os autos à origem.

09. É como voto.

FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator DesignadoAssinado eletronicamente

8 - 0006275-66.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.006275-9/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ELY SOARES DE SOUZA(ADVOGADO: ES015331 - RAFAEL GONÇALVES VASCONCELOS, ES011373 - DIOGO ASSAD BOECHAT.) xINSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANA PAULA BARRETO MONTEIRO ROTHEN.).RECURSO Nº 0006275-66.2011.4.02.5050/01RECORRENTE: ELY SOARES DE SOUZARECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

RELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO. ADEQUAÇÃO AO TETO ESTABELECIDO PELA EMENDACONSTITUCIONAL N. 41/2003. PRECEDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, FIRMADO SOB A SISTEMÁTICADA REPERCUSSÃO GERAL. INAPLICABILIDADE. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA PARTE AUTORA QUE NÃORESTOU LIMITADO AO TETO VIGENTE POR OCASIÃO DA SUA CONCESSÃO. RECURSO CONHECIDO EDESPROVIDO.1. O Supremo Tribunal Federal, sob a sistemática da repercussão geral, decidiu que “não ofende o ato jurídico perfeito aaplicação imediata do art. 14 da Emenda Constitucional n. 20/1998 e do art. 5º da Emenda Constitucional n. 41/2003 aosbenefícios previdenciários limitados a teto do regime geral de previdência estabelecido antes da vigência dessas normas,de modo a que passem a observar o novo teto constitucional” (RE 564354, Pleno, Rel.Min. Cármen Lúcia, DJE 14/02/2011).2. No presente recurso, a questão controversa cinge-se à incidência do novo teto no cálculo da renda mensal deaposentadoria por tempo de serviço (NB 103126696-1 –fl. 05), que deu origem à pensão por morte (NB 110779246-8 – fl.06) recebida pela parte autora. Conforme revelam os documentos acostados aos autos, a renda mensal do benefícioprevidenciário cuja revisão se postula não restou limitada ao teto vigente por ocasião da sua concessão, o que tornainaplicável, no vertente caso, o referido precedente do Supremo Tribunal Federal.3. Desta feita, ainda que se trate de benefício concedido em momento anterior à promulgação das mencionadas emendasconstitucionais, a parte autora não faz jus à revisão da respectiva renda mensal. Pretender o contrário implicaria impor oreajustamento automático de todos os benefícios previdenciários vigentes, apenas em razão do advento de novos limitesmáximos para o valor do salário de benefício, o que não encontra respaldo no ordenamento jurídico. Precedentes.4. Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem condenação em custas e honorários advocatícios, tendo em vistao deferimento da gratuidade de justiça, na forma do art. 12 da Lei nº 1.060/50.

RELATÓRIO

ELY SOARES DE SOUZA interpõe recurso inominado, às fls. 48/52, contra sentença de fls. 45/46, proferida pela MMª.Juíza do 2º Juizado Especial Federal da Seção Judiciária do Espírito Santo, que julgou improcedente o pedido paracondenar o INSS a revisar a renda mensal do benefício de pensão por morte recebida pela parte autora, de acordo com osnovos tetos estabelecidos pelas Emendas Constitucionais n. 20/1998 e 41/2003, e a pagar as diferenças vencidas.

02. A recorrente alega que para saber se possui ou não direito à pleiteada revisão, é necessário considerar osvalores atualizados do seu benefício. Em razão disto, colacionou aos autos a Carta de Concessão com os valores atuais eque devem ser considerados, os quais confirmam a necessidade/viabilidade de aplicação desta correção no benefício darecorrente, sendo este de pensão, ou seja, observa dos dados do benefício originário. Pugna pelo provimento do recurso,com a reforma da sentença, para que seja julgado procedente o pedido inicial. Subsidiariamente, requer a anulação dasentença recorrida, para que determinada a remessa dos autos ao Juizado de origem, a fim de que o INSS cumpra adeterminação contida no despacho inicial, apresentando todo o processo administrativo que ensejou a aposentadoria darecorrente, e/ou que traga aos autos a carta de concessão e memória de cálculos devidamente atualizados.

03. O INSS ofereceu contrarrazões às fls. 65/68, nas quais requer o desprovimento do recurso, uma vez que o autor nãotrouxe aos autos elementos suficientes que pudessem servir de suporte à comprovação do direito invocado.

04. É o Relatório.

VOTO

05. Preenchidos os requisitos de admissibilidade, conheço o recurso inominado e passo ao exame do seu mérito.

06. Compulsando os autos, verifico que a renda mensal do benefício previdenciário originário (aposentadoria portempo de serviço - NB 103126696-1) não restou limitada ao teto vigente por ocasião da sua concessão, conformedemonstra carta de concessão de fl. 05, na medida em que, quando da concessão do benefício originário (19/06/1996 – fl.05), o valor do salário-de-benefício não foi limitado ao teto máximo, visto que, embora devidamente corrigido, nãoultrapassou o valor do teto – que era de R$ 957,56.

07. Acerca do precedente firmado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE 564.354 (Pleno, Rel. Min.Cármen Lúcia, DJE 14/02/2011), sob a sistemática da repercussão geral (art. 543-B do Código de Processo Civil), friso queo benefício originário (aposentadoria especial) não se enquadra nos parâmetros definidos naquele julgado. O SupremoTribunal Federal decidiu que a elevação dos limites máximos dos benefícios previdenciários, concedidos no Regime Geralda Previdência Social, deveriam ser ajustados aos novos patamares definidos pelas Emendas Constitucionais ns. 20/1998 e41/2003. Contudo, sublinho que a aposentadoria especial não sofreu limitação ao teto vigente por ocasião da sua

concessão. A propósito, transcrevo a ementa do acórdão referido:DIREITOS CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO. ALTERAÇÃO NO TETO DOSBENEFÍCIOS DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA. REFLEXOS NOS BENEFÍCIOS CONCEDIDOS ANTES DAALTERAÇÃO. EMENDAS CONSTITUCIONAIS N. 20/1998 E 41/2003. DIREITO INTERTEMPORAL: ATO JURÍDICOPERFEITO. NECESSIDADE DE INTERPRETAÇÃO DA LEI INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE OFENSA AOPRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DAS LEIS. RECURSO EXTRAORDINÁRIO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Hápelo menos duas situações jurídicas em que a atuação do Supremo Tribunal Federal como guardião da Constituição daRepública demanda interpretação da legislação infraconstitucional: a primeira respeita ao exercício do controle deconstitucionalidade das normas, pois não se declara a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei sem antesentendê-la; a segunda, que se dá na espécie, decorre da garantia constitucional da proteção ao ato jurídico perfeito contralei superveniente, pois a solução de controvérsia sob essa perspectiva pressupõe sejam interpretadas as leis postas emconflito e determinados os seus alcances para se dizer da existência ou ausência da retroatividade constitucionalmentevedada. 2. Não ofende o ato jurídico perfeito a aplicação imediata do art. 14 da Emenda Constitucional n. 20/1998 e do art.5º da Emenda Constitucional n. 41/2003 aos benefícios previdenciários limitados a teto do regime geral de previdênciaestabelecido antes da vigência dessas normas, de modo a que passem a observar o novo teto constitucional. 3. Negado

�provimento ao recurso extraordinário. (original sem grifos).

08. Desta feita, ainda que se trate de benefício concedido em momento anterior à promulgação das mencionadasemendas constitucionais, a parte autora não faz jus à revisão da respectiva renda mensal. Pretender o contrário implicariaimpor o reajustamento automático de todos os benefícios previdenciários vigentes, apenas em razão do advento de novoslimites máximos para o valor do salário de benefício, o que não encontra respaldo no ordenamento jurídico. No mesmosentido, confiram-se os seguintes julgados:CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO. REAJUSTAMENTO. ALTERAÇÃO NO TETO.BENEFÍCIOS CONCEDIDOS ANTES DAS ALTERAÇÕES INTRODUZIDAS PELAS EMENDAS CONSTITUCIONAIS NS.20/1998 E 41/2003. INTERPRETAÇÃO DA NORMA. LIMITES DE APLICABILIDADE DA REVISÃO ADMINISTRATIVA.DESCABIMENTO DA REVISÃO EM RELAÇÃO AOS SEGURADOS QUE NÃO TIVERAM BENEFÍCIO LIMITADO AOTETO. 1. No julgamento do RE n. 564.354/SE, o pleno do egrégio Supremo Tribunal Federal (Relatora Min. Carmem Lúcia,julgamento 08/09/2010) decidiu pela aplicação dos tetos previstos nas Emendas Constitucionais ns. 20/98 e 41/2003 aosbenefícios concedidos em datas anteriores. 2. Tal prerrogativa se estende exclusivamente àqueles que sofreramredução/limite ao teto do INSS no ato da concessão, consoante se extrai de recentes julgados no Superior Tribunal deJustiça. 3. O benefício em análise não foi limitado ao teto no momento de sua concessão, consoante se extrai dadocumentação acostada aos autos. 4. Custas ex lege. Condenada a parte autora no pagamento de honorários desucumbência fixados em R$ 1.500,00. 5. Apelação do INSS e remessa oficial, tida por interposta, providas para,

�reformando a sentença, julgar improcedente o pedido autoral. (TRF da 1ª Região, AC 286688520114013700, Rel. JuizFederal Lino Osvaldo Serra Sousa Segundo, e-DJF1 14/10/2014, p. 307) (original sem grifos).

PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO. ARTIGO 557 DO CPC. REAJUSTE DE BENEFÍCIO.- O art. 557 doCPC contribui para agilizar o andamento dos recursos nos tribunais, impedindo interposições procrastinatórias e valorizandoas decisões emanadas das cortes superiores e a jurisprudência sumulada.- Ao Poder Judiciário não foi conferido o poder demodificar critérios de reajustamento eleitos pelo legislador, substituindo-os por outros que entenda mais adequados pararepor as perdas geradas pela inflação, sob pena de ingerência indevida de um Poder na esfera do outro. Precedentes.- Aequivalência pretendida entre o salário-de-contribuição e salário-de-benefício não encontra amparo legal, pois os benefíciosprevidenciários devem ser reajustados de acordo com as regras previstas na Lei nº 8.213/91 e legislação posterior.- Osefeitos do julgamento do RE 564354/SE, realizado na forma do artigo 543-B do Código de Processo Civil, não se aplicam aocaso em julgamento, uma vez que o benefício da parte autora não foi limitado ao teto do salário-de-contribuição.- Agravo a

�que se nega provimento. (TRF da 3ª Região, AC 00126485120094036119, Rel. Des. Fed. Therezinha Cazerta, e-DJF305/05/2014) (original sem grifos).

09. Ante o exposto, conheço o recurso e nego-lhe provimento. Sem condenação em custas e honoráriosadvocatícios, tendo em vista o deferimento da gratuidade de justiça, na forma do art. 12 da Lei nº 1060/50 (fl. 45).

10. Certificado o trânsito em julgado, baixem os autos ao Juizado de origem.

11. É como voto.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

9 - 0006888-86.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.006888-9/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) WILSON FELIX DEFIGUEIREDO (ADVOGADO: ES018215 - LEONAM MARTINELLI DA FONSECA, ES017409 - RAFAELLA CHRISTINABENÍCIO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: GUSTAVO CABRAL VIEIRA.).RECURSO Nº 0006888-86.2011.4.02.5050/01RECORRENTE: WILSON FELIX DE FIGUEIREDORECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO. ADEQUAÇÃO AO TETO ESTABELECIDO PELA EMENDACONSTITUCIONAL N. 41/2003. PRECEDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, FIRMADO SOB A SISTEMÁTICADA REPERCUSSÃO GERAL. INAPLICABILIDADE. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA PARTE AUTORA QUE NÃORESTOU LIMITADO AO TETO VIGENTE POR OCASIÃO DA SUA CONCESSÃO. RECURSO CONHECIDO EDESPROVIDO.1. O Supremo Tribunal Federal, sob a sistemática da repercussão geral, decidiu que “não ofende o ato jurídico perfeito aaplicação imediata do art. 14 da Emenda Constitucional n. 20/1998 e do art. 5º da Emenda Constitucional n. 41/2003 aosbenefícios previdenciários limitados a teto do regime geral de previdência estabelecido antes da vigência dessas normas,de modo a que passem a observar o novo teto constitucional” (RE 564354, Pelno, Rel.Min. Cármen Lúcia, DJE 14/02/2011).2. No presente recurso, a questão controversa cinge-se à incidência do novo teto no cálculo da renda mensal deaposentadoria por tempo de serviço. Conforme revelam os documentos acostados aos autos, a renda mensal do benefícioprevidenciário cuja revisão se postula, não restou limitada ao teto vigente por ocasião da sua concessão, o que tornainaplicável, no vertente caso, o referido precedente do Supremo Tribunal Federal.3. Desta feita, ainda que se trate de benefício concedido em momento anterior à promulgação das mencionadas emendasconstitucionais (a dizer, em 26/08/1998 - fl. 13), o autor não faz jus à revisão da respectiva renda mensal. Pretender ocontrário implicaria impor o reajustamento automático de todos os benefícios previdenciários vigentes, apenas em razão doadvento de novos limites máximos para o valor do salário de benefício, o que não encontra respaldo no ordenamentojurídico. Precedentes.4. Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem condenação em custas e honorários advocatícios, tendo em vistao deferimento da gratuidade de justiça, na forma do art. 12 da Lei nº 1.060/50.

RELATÓRIO

WILSON FELIX DE FIGUEIREDO interpõe recurso inominado, às fls. 41/47, contra sentença de fls. 32/37, proferida peloMM. Juiz do 1º Juizado Especial Federal de Serra, que julgou improcedente o pedido para condenar o INSS a revisar arenda mensal da aposentadoria do autor, de acordo com os valores máximos estabelecidos pelas Emendas Constitucionaisn. 20/1998 e 41/2003, e a pagar as diferenças vencidas, desde a DIB, e vincendas, decorrentes da revisão pleiteada.

02. O recorrente alega que, apesar de a média de seus 36 (trinta e seis) últimos salários-de-contribuição ter sidosuperior ao teto, prevaleceu o valor deste, que em 1998 era de R$ 1.081,50 (um mil, oitenta e um reais e cinquentacentavos). Pugna pelo provimento do recurso, a fim de que determinada a readequação do seu benefício previdenciário, porter se aposentado antes das Emendas Constitucionais n. 20/1998 e 41/2003, que reajustaram o valor do teto dos benefíciose, ainda, por sempre ter contribuído acima do limite máximo, considerando o valor de sua remuneração.

03. O INSS ofereceu contrarrazões às fls. 53/54, nas quais requer o desprovimento do recurso, para que mantida asentença por seus próprios fundamentos.

04. É o Relatório.VOTO

05. Preenchidos os requisitos de admissibilidade, conheço o recurso inominado e passo ao exame do seu mérito.

06. Compulsando os autos, verifico que a renda mensal do benefício previdenciário do autor não restou limitada aoteto vigente por ocasião da sua concessão, conforme carta de concessão de fl. 13. A propósito, transcrevo o seguintetrecho da sentença (fls. 32/37):

“Passando à análise do caso concreto, denota-se, a partir dos documentos que guarnecem a inicial, que não há diferençasa serem calculadas. Isso porque, quando da concessão do benefício da parte autora, em 26/08/1998, o valor do salário debenefício não foi limitado ao teto máximo (fl. 13). Assim, devidamente corrigido, não ultrapassou o valor do teto - R$1.081,50 - no ano de 1998”.

07. Observo que o recorrente não logrou êxito em infirmar os fundamentos do julgado confrontado, que esclareceusuficientemente o motivo pelo qual ele não faz jus à pretendida revisão.

08. Acerca do precedente firmado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE 564.354 (Pleno, Rel. Min.Cármen Lúcia, DJE 14/02/2011), sob a sistemática da repercussão geral (art. 543-B do Código de Processo Civil), invocadona causa de pedir recursal, saliento que o benefício previdenciário em questão não se enquadra nos parâmetros definidosnaquele julgado. O Supremo Tribunal Federal decidiu que a elevação dos limites máximos dos benefícios previdenciários,concedidos no Regime Geral da Previdência Social, deveriam ser ajustados aos novos patamares definidos pelas EmendasConstitucionais ns. 20/1998 e 41/2003. Contudo, sublinho que aposentadoria por tempo de serviço (NB nº 110529329-4)recebida pelo autor não sofreu a limitação ao teto vigente por ocasião da sua concessão. A propósito, transcrevo a ementado acórdão referido:DIREITOS CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO. ALTERAÇÃO NO TETO DOSBENEFÍCIOS DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA. REFLEXOS NOS BENEFÍCIOS CONCEDIDOS ANTES DAALTERAÇÃO. EMENDAS CONSTITUCIONAIS N. 20/1998 E 41/2003. DIREITO INTERTEMPORAL: ATO JURÍDICO

PERFEITO. NECESSIDADE DE INTERPRETAÇÃO DA LEI INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE OFENSA AOPRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DAS LEIS. RECURSO EXTRAORDINÁRIO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Hápelo menos duas situações jurídicas em que a atuação do Supremo Tribunal Federal como guardião da Constituição daRepública demanda interpretação da legislação infraconstitucional: a primeira respeita ao exercício do controle deconstitucionalidade das normas, pois não se declara a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei sem antesentendê-la; a segunda, que se dá na espécie, decorre da garantia constitucional da proteção ao ato jurídico perfeito contralei superveniente, pois a solução de controvérsia sob essa perspectiva pressupõe sejam interpretadas as leis postas emconflito e determinados os seus alcances para se dizer da existência ou ausência da retroatividade constitucionalmentevedada. 2. Não ofende o ato jurídico perfeito a aplicação imediata do art. 14 da Emenda Constitucional n. 20/1998 e do art.5º da Emenda Constitucional n. 41/2003 aos benefícios previdenciários limitados a teto do regime geral de previdênciaestabelecido antes da vigência dessas normas, de modo a que passem a observar o novo teto constitucional. 3. Negado

�provimento ao recurso extraordinário. (original sem grifos).

09. Desta feita, ainda que se trate de benefício concedido em momento anterior à promulgação das mencionadasemendas constitucionais, o autor não faz jus à revisão da respectiva renda mensal. Pretender o contrário implicaria impor oreajustamento automático de todos os benefícios previdenciários vigentes, apenas em razão do advento de novos limitesmáximos para o valor do salário de benefício, o que não encontra respaldo no ordenamento jurídico. No mesmo sentido,confiram-se os seguintes julgados:CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO. REAJUSTAMENTO. ALTERAÇÃO NO TETO.BENEFÍCIOS CONCEDIDOS ANTES DAS ALTERAÇÕES INTRODUZIDAS PELAS EMENDAS CONSTITUCIONAIS NS.20/1998 E 41/2003. INTERPRETAÇÃO DA NORMA. LIMITES DE APLICABILIDADE DA REVISÃO ADMINISTRATIVA.DESCABIMENTO DA REVISÃO EM RELAÇÃO AOS SEGURADOS QUE NÃO TIVERAM BENEFÍCIO LIMITADO AOTETO. 1. No julgamento do RE n. 564.354/SE, o pleno do egrégio Supremo Tribunal Federal (Relatora Min. Carmem Lúcia,julgamento 08/09/2010) decidiu pela aplicação dos tetos previstos nas Emendas Constitucionais ns. 20/98 e 41/2003 aosbenefícios concedidos em datas anteriores. 2. Tal prerrogativa se estende exclusivamente àqueles que sofreramredução/limite ao teto do INSS no ato da concessão, consoante se extrai de recentes julgados no Superior Tribunal deJustiça. 3. O benefício em análise não foi limitado ao teto no momento de sua concessão, consoante se extrai dadocumentação acostada aos autos. 4. Custas ex lege. Condenada a parte autora no pagamento de honorários desucumbência fixados em R$ 1.500,00. 5. Apelação do INSS e remessa oficial, tida por interposta, providas para,

�reformando a sentença, julgar improcedente o pedido autoral. (TRF da 1ª Região, AC 286688520114013700, Rel. JuizFederal Lino Osvaldo Serra Sousa Segundo, e-DJF1 14/10/2014, p. 307) (original sem grifos).

PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO. ARTIGO 557 DO CPC. REAJUSTE DE BENEFÍCIO.- O art. 557 doCPC contribui para agilizar o andamento dos recursos nos tribunais, impedindo interposições procrastinatórias e valorizandoas decisões emanadas das cortes superiores e a jurisprudência sumulada.- Ao Poder Judiciário não foi conferido o poder demodificar critérios de reajustamento eleitos pelo legislador, substituindo-os por outros que entenda mais adequados pararepor as perdas geradas pela inflação, sob pena de ingerência indevida de um Poder na esfera do outro. Precedentes.- Aequivalência pretendida entre o salário-de-contribuição e salário-de-benefício não encontra amparo legal, pois os benefíciosprevidenciários devem ser reajustados de acordo com as regras previstas na Lei nº 8.213/91 e legislação posterior.- Osefeitos do julgamento do RE 564354/SE, realizado na forma do artigo 543-B do Código de Processo Civil, não se aplicam aocaso em julgamento, uma vez que o benefício da parte autora não foi limitado ao teto do salário-de-contribuição.- Agravo a

�que se nega provimento. (TRF da 3ª Região, AC 00126485120094036119, Rel. Des. Fed. Therezinha Cazerta, e-DJF305/05/2014) (original sem grifos).

10. Ante o exposto, conheço o recurso e nego-lhe provimento. Sem condenação em custas e honoráriosadvocatícios, tendo em vista o deferimento da gratuidade de justiça, na forma do art. 12 da Lei nº 1060/50 (fl. 26).

11. Certificado o trânsito em julgado, baixem os autos ao Juizado de origem.

12. É como voto.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

10 - 0100863-31.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.100863-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ADILSON JOSE FURIERI(ADVOGADO: SC015426 - SAYLES RODRIGO SCHUTZ, RJ155930 - CARLOS BERKENBROCK.) x INSTITUTONACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: MARCOS FIGUEREDO MARÇAL.).PROCESSO Nº 0100863-31.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.100863-7/01)RECORRENTE: ADILSON JOSE FURIERIRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PREQUESTIONAMENTO. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA. ENTENDIMENTO DO

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PRESCRIÇÃO. MEMORANDO CIRCULAR CONJUNTO N. 21/DIRBEN/PFEINSS.EMBARGOS CONHECIDOS E PARCIALMENTE PROVIDOS.

INSS interpõe recurso de Embargos de Declaração, às fls. 54/63, contra acórdão proferido às fls. 48/51, que deuprovimento ao recurso da parte autora, ao argumento de existência de omissão. Sustenta, para tanto, para fins deprequestionamento, que não houve qualquer declaração de inconstitucionalidade da sistemática de juros legaisdeterminados pelo art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pelo art. 5º da Lei nº 11.960/2009, nas ADI’s 4.357 e4.425, mas sim do índice de correção monetária dos precatórios. Alega, ainda, que todas as parcelas atrasadas foramfulminadas pela prescrição, eis que o benefício cessou em 10/07/2004 e o ajuizamento da presente ação apenas deu-se em12/12/2012.

02. Verificada a tempestividade do recurso e presentes os demais pressupostos de sua admissibilidade, conheço osEmbargos de Declaração e passo à análise do seu mérito.

03. O acórdão guerreado aplicou, às parcelas vencidas, juros de mora de um por cento ao mês, a partir da citação enão estabeleceu índice de correção monetária.

04. �O Plenário do Supremo Tribunal Federal – STF, em decisão tomada em Ações Diretas de Inconstitucionalidade ,declarou a inconstitucionalidade parcial do § 12 do art. 100 da Constituição da República, no que diz respeito à expressão“índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança”, bem como do inciso II do § 1º e do § 16, ambos do art.97 do ADCT; e, por arrastamento, do art. 5º da Lei nº 11.960/2009, o qual prevê a aplicação do índice oficial da cadernetade poupança para efeito de correção monetária e de juros de mora nas condenações impostas à Fazenda Pública.Ressaltou-se, naquele julgamento, que a atualização monetária deve corresponder ao índice de desvalorização da moeda,no fim de certo período, e que o aludido índice introduzido pela Emenda Constitucional nº 62/2009 não reflete a perda dopoder aquisitivo da moeda.

05. �Posteriormente, o Superior Tribunal de Justiça – STJ, por ocasião do julgamento do REsp. 1.270.439/PR , emsede de recurso repetitivo, entendeu que, a partir da declaração de inconstitucionalidade parcial do art. 5º da Lei nº11.960/2009: (a) a correção monetária das dívidas fazendárias deve observar índices que reflitam a inflação acumulada doperíodo, a ela não se aplicando os índices de remuneração básica da caderneta de poupança; e (b) os juros moratóriosserão equivalentes aos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicáveis à caderneta de poupança, exceto quandoa dívida ostentar natureza tributária, para as quais prevalecerão as regras específicas.

06. Em relação ao índice de correção monetária, destaco que o Supremo Tribunal Federal, em reiterados julgados,afirmou que o efeito da decisão, que declara a inconstitucionalidade ou a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal,inicia-se com a publicação da ata da sessão de julgamento (cf. Rcl 2.576/SC, Pleno, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 20.08.2004;AgRg na Rcl 3.473/DF, Pleno, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 09.12.2005; AgRg no RE 693.321/MG, Segunda Turma, Rel.Min. Joaquim Barbosa, DJE 20.09.2012). A invalidade da lei ou do ato normativo, por ser vício originário, pode serexcepcionalmente protraída por decisão de dois terços dos Ministros da Corte (art. 27, da Lei nº 9.868/99), o que aindaresta pendente de julgamento na presente hipótese. A despeito disso, para dirimir incerteza quanto ao regime depagamento de precatórios, o Supremo Tribunal Federal determinou cautelarmente que houvesse a manutenção doregramento anterior. Embora o posicionamento acatado pelo Pleno da Corte não tenha especificado os índices a seremaplicados para atualização monetária dos créditos, reputo prevalecer a legislação específica para a matéria que, napresente hipótese, define o INPC como índice de atualização dos benefícios previdenciários (art. 41-A, da Lei n. 8.213/91),conforme orientação perfilhada pelo Superior Tribunal de Justiça (cf. AgRg no RESP 1.417.699/SC, Segunda Turma, Rel.Min. Humberto Martins, DJE 03.02.2014; AgRg no Ag no RESP 208.324/RS, Segunda Turma, Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 09.12.2013).

07. Merece reforma, portanto, o acórdão de fls. 48/51, para que, em relação aos juros de mora aplicados, hajaincidência da Lei nº 9.494/97, com as alterações promovidas pela Lei nº 11.960/2009, com aplicação desde a data dacitação. O índice de correção monetária, por sua vez, será o INPC.

08. Passo a analisar a incidência da prescrição em relação às parcelas vencidas. A Turma Nacional deUniformização dos Juizados Especiais Federais definiu que o prazo prescricional do exercício do direito à revisão da RendaMensal Inicial (RMI) dos benefícios previdenciários pelo artigo 29, inciso II, da Lei nº 8.213/91, tem por marco inicial oMemorando-Circular Conjunto n. 21/DIRBEN/PFEINSS, de 15 de abril de 2010, uma vez que o ato administrativoreconheceu publicamente a ilegalidade do cálculo efetivado pela Administração e, assim sendo, importou em renúncia tácitapor parte do INSS aos prazos prescricionais em curso, que voltaram a fluir integralmente a partir da publicação do referidoMemorando e não pela metade (art. 9º, do Decreto n. 20.910/32), pois a Administração Pública não praticou atoincompatível com o interesse de saldar a dívida (cf. TNU, PEDILEF 00129588520084036315, Rel. Juiz Federal GláucioFerreira Maciel Gonçalves, DOU 14.03.2014, PP. 154/159; STJ, RESP 1.270.439/PR, Primeira Seção, Rel. Min. CastroMeira, DJE 02.08.2013).

09. A Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais também consolidou o entendimento deque, até cinco anos após a publicação do Memorando-Circular Conjunto n. 21/DIRBEN/PFEINSS, de 15 de abril de 2010, épossível requerer a revisão da renda mensal inicial, administrativa ou judicialmente, com a retroação dos efeitos financeirosa contar da data de concessão do benefício (cf. TNU, PEDILEF 50000472320134047100, Rel. Juiz Federal Bruno LeonardoCâmara Carrá, DOU 16.05.2014, PP. 125/165).

10. No presente caso, a demanda foi ajuizada em 12/12/2012 (fl. 21), antes do decurso do prazo prescricional de 05(anos) contados da publicação do referido Memorando-Circular. Portanto, não haveria que se falar em prescrição dasparcelas vencidas e os efeitos financeiros da revisão retroagem à data de concessão do benefício.

11. Posto isso, conheço os Embargos de Declaração interpostos pelo INSS e, no mérito, dou-lhes parcial provimento,apenas para determinar que o acórdão seja reformado e passe a constar a seguinte sistemática para os consectárioslegais: as parcelas vencidas serão atualizadas monetariamente pelo INPC e serão acrescidas de juros moratórios nostermos do art. 1º-F, da Lei nº 9.494/97, com as alterações promovidas pela Lei nº 11.960/09.

12. Certificado o trânsito em julgado, baixem os autos à origem.

13. É como voto.(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

11 - 0005771-26.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.005771-9/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) VICENTE PAULO EFFQUEM(ADVOGADO: BA034326 - NATALIA SARAIVA SOUSA, ES005003 - ELIETE BONI BITTENCOURT.) x UNIAO FEDERAL(PROCDOR: PEDRO GALLO VIEIRA.).RECURSO Nº 0005771-26.2012.4.02.5050/01RECORRENTE: VICENTE PAULO EFFQUEMRECORRIDA: UNIÃO FEDERALRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. GDPGPE – GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DO PLANO GERALDE CARGOS DO PODER EXECUTIVO. GRATIFICAÇÃO PRO LABORE FACIENDO. INFRAÇÃO AO PRINCÍPIO DAISONOMIA. RECURSO DA PARTE AUTORA CONHECIDO E PROVIDO.1. A parte autora interpõe recurso inominado contra sentença que julgou improcedente pedido para condenar a UNIÃO apagar-lhe mensalmente a diferença entre os valores recebidos pelos servidores em atividade e os inativos relacionados àGDPGPE – Gratificação de Desempenho do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo, até que seja iniciada a avaliaçãodo desempenho dos servidores ativos, bem como as parcelas vencidas sob esse título, atualizadas monetariamente eacrescidas de juros moratórios. Sustenta que o pagamento de valores distintos viola o princípio da isonomia, tal comoveiculado na Súmula Vinculante n. 20, do Supremo Tribunal Federal; o art. 40, §8º, da Constituição da República de 1988; eo art. 189, da Lei n. 8.112/90.2. Em suas contrarrazões, a UNIÃO alega a inexistência de paridade entre servidores ativos e inativos, pois o art. 7º-A, §6º,da Lei n. 11.357/2006, dispõe que a primeira avaliação de desempenho produzirá efeitos a partir de 1º de janeiro de 2009,bem como que o pagamento efetuado antes desse exame será objeto de compensação, o que confirmaria a natureza daverba como gratificação pro labore faciendo. Nesse sentido, afirma que o Decreto n. 7.133/2010 definiu os critérios deavaliação da GDPGPE (art. 1º, I), o que gerou a subsequente edição de portarias nas quais foram estabelecidas as metasde desempenho individual e institucional dos servidores em atividade. Por fim, aduz que a extensão pretendida pela parteautora não poderia ser feita pelo Poder Judiciário, sob o risco de infração ao disposto pelos arts. 2º, 37, 61, §1º, II, alínea ‘a’,e 169, §1º, I, da Constituição da República de 1988, nos termos do enunciado n. 339, da súmula da jurisprudência do STF.3. Preenchidos os requisitos de admissibilidade, inclusive no que concerne ao preparo recursal (fl. 89), conheço o recursoinominado e passo à análise do seu mérito.4. A Medida Provisória n. 431/2008, posteriormente convertida na Lei n. 11.784/2008, acrescentou o art. 7º-A à Lei n.11.357/2006, para instituir a GDPGPE - Gratificação de Desempenho do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo,calculada numa faixa de pontuação variável de 30 a 100, apurada a partir dos resultados obtidos nas avaliações dodesempenho institucional e individual do servidor. O art. 7º-A, §7º, dispõe que, até a regulamentação da GDPGPE e aobtenção dos resultados da primeira avaliação institucional e individual, os servidores inseridos no Plano Geral de Cargosdo Poder Executivo perceberão a GDPGPE no “valor correspondente a 80% (oitenta por cento) de seu valor máximo,observada a classe e o padrão do servidor”. Contudo, o §6º, do mesmo dispositivo legal, preconiza que “o resultado daprimeira avaliação gera efeitos financeiros a partir de 1º de janeiro de 2009, devendo ser compensadas eventuaisdiferenças pagas a maior ou a menor”.5. A parte autora afirma que a disciplina legal da GDPGPE para os aposentados e pensionistas é contrária ao princípio daisonomia (arts. 5º, caput, 40, §8º, da Constituição da República de 1988), porque prevê que o pagamento dela ocorrerá empatamares distintos daqueles utilizados para cálculo da verba recebida por seus homólogos em atividade (art. 7º-A, §4º, daLei 11.357/2006, com a redação dada pela Lei n. 11.784/2008)6. Embora o Supremo Tribunal Federal tenha declarado a inconstitucionalidade de gratificação de desempenho paga, comvalores distintos, a servidores em atividade e a aposentados ou pensionistas que faziam jus à paridade, enquanto nãorealizada a avaliação prevista em lei (Súmula Vinculante n. 20), observo que o tratamento desigual não resta configurado napresente hipótese, uma vez que o exame do cumprimento das metas institucional e individual do servidor ativo terá efeitoretroativo que repercutirá no montante recebido a título de GDPGPE, a qual será compensada nas parcelas vincendas,caso haja uma avaliação que resulte numa pontuação maior, ou menor, a 80. Em obediência a tal determinação, foi editadoo Decreto n. 7.133/2010, cujo art. 1º, I, estabeleceu os critérios de avaliação dos servidores em atividade, tendo sidoposteriormente publicadas portarias para especificação dos elementos a serem observados na fixação de metas

institucionais e individuais. Portanto, confirmada a natureza de gratificação pro labore faciendo, não há infração ao previstono art. 40, §8º, da Constituição da República de 1988; e no art. 189, da Lei n. 8.112/90.7. Em apoio a esse entendimento, anoto os seguintes julgados do STJ: EDcl no ARESP 429.853/PE (Segunda Turma, Rel.Min. Herman Benjamin, DJE 27.03.2014); AgRg no ARESP 302.738/CE (Segunda Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJE04.09.2013); RESP 1.368.150/PE (Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJE 25.04.2013).8. Não obstante tal fundamentação, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento do RE 631.389/CE (Pleno, Rel. Min. MarcoAurélio, DJE 02.06.2014) no regime de repercussão geral, decidiu que a GDPGPE, no percentual de 80 pontos, é extensívelaos servidores inativos e pensionistas, enquanto não adotadas as medidas para avaliação de desempenho dos servidoresem atividade, não tendo bastando, para tanto, a edição do Decreto n. 7.133/2010. Na presente hipótese, a parte autoraintegra o quadro dos servidores do Ministério das Comunicações (fls. 15/22), no qual a avaliação de desempenho aludidafoi divulgada em 02/07/2010, data da publicação da Portaria n. 612.9. As parcelas vencidas deverão ser atualizadas monetariamente com base no IPCA/IBGE. A propósito, destaco que o art.1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/2009, disciplinava a atualização monetária e a incidência dejuros moratórios a todas as condenações pecuniárias impostas à Fazenda Pública. O Supremo Tribunal Federal, nojulgamento das ADI 4.357/DF e 4.425/DF (Rel. p/acórdão Min. Luiz Fux, j. 14.03.2013, DJE 18.12.2013) declarou ainconstitucionalidade parcial, sem redução do texto, da expressão “independentemente da sua natureza”, contida no art.100, § 12º, da Constituição da República de 1988, incluído pela Emenda Constitucional n. 62/09, para determinar que,quanto aos precatórios de natureza tributária, fossem aplicados os mesmos juros de mora incidentes sobre todo e qualquercrédito tributário, o que, por conseguinte, acarretaria a inconstitucionalidade do art. 1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redaçãodada pela Lei n. 11.960/09, por infringir o princípio da isonomia ao incorrer no mesmo vício. No julgamento das ADI4.357/DF e 4.425/DF (Rel. p/acórdão Min. Luiz Fux, j. 14.03.2013, DJE 18.12.2013), o referido dispositivo legal também foideclarado inconstitucional, no que atine à extensão do índice utilizado para correção dos depósitos feitos em cadernetas depoupança à atualização monetária dos débitos a serem pagos por precatórios, por violação ao direito de propriedade (art.5º, XXIII, da Constituição da República de 1988), uma vez que tal indexador seria incapaz de preservar o valor real docrédito a ser pago sob esse regime.10. Embora o Supremo Tribunal Federal não tenha concluído o julgamento sobre a modulação temporal dos acórdãosprolatados nas aludidas ADIs, destaco que a Corte em reiterados julgados, afirmou que o efeito da decisão, que declara ainconstitucionalidade ou a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal, inicia-se com a publicação da ata da sessãode julgamento (cf. Rcl 2.576/SC, Pleno, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 20.08.2004; AgRg na Rcl 3.473/DF, Pleno, Rel. Min.Carlos Velloso, DJ 09.12.2005; AgRg no RE 693.321/MG, Segunda Turma, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJE 20.09.2012). Ainvalidade da lei ou do ato normativo, por ser vício originário, pode ser excepcionalmente protraída por decisão de doisterços dos Ministros da Corte (art. 27, da Lei n. 9.868/99), o que ainda resta pendente de julgamento na presente hipótese.A despeito disso, para dirimir incerteza quanto ao regime de pagamento de precatórios, o Supremo Tribunal Federaldeterminou cautelarmente que houvesse a manutenção do regramento anterior. Embora o posicionamento acatado peloPleno da Corte não tenha especificado os índices a serem aplicados para atualização monetária dos créditos, o SuperiorTribunal de Justiça, no julgamento do RESP 1.270.439/PR (Primeira Seção, Rel. Min. Castro Meira, DJE 02.08.2013), noregime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, entendeu aplicável o IPCA/IBGE como índice de atualização monetáriapara as condenações arcadas pela Fazenda Pública, quando inexistir regra especial em sentido diverso.11. Recurso conhecido e provido para condenar a UNIÃO a pagar a GDPGPE no valor correspondente a 80 pontos até odia anterior a 02/07/2010 ou à primeira avaliação dos servidores da carreira que a parte autora integra. O pagamento dasdiferenças devidas deverá sofrer atualização monetária pela incidência do IPCA/IBGE da data em que houve o vencimentodas parcelas até a apuração do cálculo final que deverá embasar a expedição do requisitório de pagamento. Os juros demora deverão ser computados de acordo com o disposto pelo art. 1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redação dada pela Lei n.11.960/2009. Sem condenação ao pagamento de custas e honorários advocatícios, nos termos do art. 55, da Lei n.9.099/95.12. É como voto.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

12 - 0006452-25.2014.4.02.5050/01 (2014.50.50.006452-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) UNIAO FEDERAL(PROCDOR: MARCUS VINÍCIUS CHAGAS SARAIVA.) x CARLA BIAGIONI PEREIRA PIRES.RECURSO Nº 0006452-25.2014.4.02.5050/01RECORRENTE: UNIÃO FEDERALRECORRIDA: CARLA BIAGIONI PEREIRA PIRESRELATOR: JUIZ FEDERAL FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS PREVISTOS NO ARTIGO 535 DO CPC. INOVAÇÃORECURSAL. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

UNIÃO interpõe recurso de Embargos de Declaração, às fls. 53/56, contra acórdão proferido às fls. 47/51 ao argumento deexistência de contradição no tocante à pretensão de natureza condenatória, isto é, de repetição dos valorescorrespondentes à contribuição previdenciária retida sobre o valor pago a título de adicional de treinamento. Sustenta que aalteração promovida pela Resolução nº 307/2014 no art. 28 da Resolução 126/2010 tem efeitos prospectivos, incidindo

apenas sobre situações que venham a ocorrer a partir de sua entrada em vigor. Destarte, em relação à pretensãocondenatória, deveria prevalecer a orientação firmada no item nº 05 do acórdão embargado, de modo a se considerarirrepetíveis os valores retidos, a título de contribuição previdenciária incidente sobre adicional de treinamento, em dataanterior à entrada em vigor da Resolução nº 307/2014.

02. Verificada a tempestividade do recurso e presentes os demais pressupostos de sua admissibilidade, conheço osEmbargos de Declaração e passo à análise do seu mérito.

03. De início, destaco que a contradição é vício a ser corrigido pelos embargos de declaração caso no julgadoexistam “proposições entre si inconciliáveis” (José Carlos Barbosa Moreira. Comentários ao Código de Processo Civil. Vol.V. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 548). No acórdão recorrido, não identifico a existência de premissascontraditórias entre si, ou conclusões que divirjam da fundamentação expendida.

04. Ao revés, de sua leitura observa-se houve a análise adequada e escorreita dos fatos e fundamentos jurídicos edos requerimentos formulados, não sendo admissível, mediante a interposição de recurso de Embargos de Declaração,novo julgamento da causa motivado pela irresignação de uma das partes em face do posicionamento esposado pelocolegiado. Aos Embargos de Declaração não é cabível o empréstimo de efeitos infringentes para rediscutir questãoanalisada pela decisão atacada. (STJ, EDRESP 668.686-SP, Quarta Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJ 20.03.2006):EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS -PROCEDÊNCIA - APELAÇÃO - ATRIBUIÇÃO DE EFEITO APENAS DEVOLUTIVO - ART. 520, IV, DO CPC - RECURSOINTERPOSTO CONTRA SENTENÇA QUE DECIDIU PROCESSO CAUTELAR - OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO OUOMISSÃO - INEXISTÊNCIA - FATO NOVO - REJULGAMENTO DA LIDE - INVIABILIDADE - CUMPRIMENTO DO OFÍCIOJURISDICIONAL - EMBARGOS REJEITADOS.1 - Não há que se falar em omissão quanto a questão não suscitada, embora já ocorrida, antes do julgamento apontadocomo omisso. E nem de obscuridade ou contradição quando o recurso é julgado de acordo com o constante em seus autos.2 - Inexistente qualquer hipótese legal de cabimento recursal (art. 535 do CPC), configura-se inviável a pretensão aorejulgamento da lide, porquanto, nos termos do art. 463 do CPC, extensivo aos Tribunais pátrios, uma vez publicado oacórdão, o Colegiado cumpre a prestação jurisdicional, alterável tão-somente diante da ocorrência de erros materiais ou deobscuridade, contradição e omissão, hipóteses justificadoras da oposição de embargos de declaração. Ademais, não cabea apreciação de fato novo em sede de embargos de declaração (cf. EDcl no RMS nº 11.542/MA, Rel. Ministra ELIANACALMON, DJ de 12.2.2001).3 - Acertadamente solucionada a lide quando do provimento do recurso especial e ausente qualquer vício no aresto ajustificar a interposição dos aclaratórios, caracterizam-se como inadmissíveis, perfazendo-se inviável atribuir-lhes efeitosinfringentes com relação ao decisum embargado, ora mantido por seus próprios fundamentos.4 - Embargos de declaração rejeitados.

05. Outrossim, a discussão relacionada à eficácia prospectiva da alteração promovida pela Resolução nº 307/2014não modifica os fundamentos do julgado, tendo-se em vista que a compreensão de que houve o reconhecimentoadministrativo do pedido não pode ter delimitada sua extensão temporal.

06. Posto isso, conheço os Embargos de Declaração e, no mérito, nego-lhes provimento.

07. Certificado o trânsito em julgado, baixem os autos à origem.

08. É como voto.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

concerne à eficácia prospectiva da alteração promovida pela Resolução nº 307/2014

13 - 0006674-90.2014.4.02.5050/01 (2014.50.50.006674-2/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) UNIAO FEDERAL(PROCDOR: MARCUS VINÍCIUS CHAGAS SARAIVA.) x ANADELIA VIANA SOUZA.RECURSO Nº 0006674-90.2014.4.02.5050/01RECORRENTE: UNIÃO FEDERALRECORRIDA: ANADELIA VIANA SOUZARELATOR: JUIZ FEDERAL FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS PREVISTOS NO ARTIGO 535 DO CPC. INOVAÇÃORECURSAL. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

UNIÃO interpõe recurso de Embargos de Declaração, às fls. 59/62, contra acórdão proferido às fls. 53/57 ao argumento deexistência de contradição no tocante à pretensão de natureza condenatória, isto é, de repetição dos valorescorrespondentes à contribuição previdenciária retida sobre o valor pago a título de adicional de treinamento. Sustenta que aalteração promovida pela Resolução nº 307/2014 no art. 28 da Resolução 126/2010 tem efeitos prospectivos, incidindoapenas sobre situações que venham a ocorrer a partir de sua entrada em vigor. Destarte, em relação à pretensãocondenatória, deveria prevalecer a orientação firmada no item nº 05 do acórdão embargado, de modo a se considerarirrepetíveis os valores retidos, a título de contribuição previdenciária incidente sobre adicional de treinamento, em dataanterior à entrada em vigor da Resolução nº 307/2014.

02. Verificada a tempestividade do recurso e presentes os demais pressupostos de sua admissibilidade, conheço osEmbargos de Declaração e passo à análise do seu mérito.

03. De início, destaco que a contradição é vício a ser corrigido pelos embargos de declaração caso no julgadoexistam “proposições entre si inconciliáveis” (José Carlos Barbosa Moreira. Comentários ao Código de Processo Civil. Vol.V. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 548). No acórdão recorrido, não identifico a existência de premissascontraditórias entre si, ou conclusões que divirjam da fundamentação expendida.

04. Ao revés, de sua leitura observa-se houve a análise adequada e escorreita dos fatos e fundamentos jurídicos edos requerimentos formulados, não sendo admissível, mediante a interposição de recurso de Embargos de Declaração,novo julgamento da causa motivado pela irresignação de uma das partes em face do posicionamento esposado pelocolegiado. Aos Embargos de Declaração não é cabível o empréstimo de efeitos infringentes para rediscutir questãoanalisada pela decisão atacada. (STJ, EDRESP 668.686-SP, Quarta Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJ 20.03.2006):EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS -PROCEDÊNCIA - APELAÇÃO - ATRIBUIÇÃO DE EFEITO APENAS DEVOLUTIVO - ART. 520, IV, DO CPC - RECURSOINTERPOSTO CONTRA SENTENÇA QUE DECIDIU PROCESSO CAUTELAR - OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO OUOMISSÃO - INEXISTÊNCIA - FATO NOVO - REJULGAMENTO DA LIDE - INVIABILIDADE - CUMPRIMENTO DO OFÍCIOJURISDICIONAL - EMBARGOS REJEITADOS.1 - Não há que se falar em omissão quanto a questão não suscitada, embora já ocorrida, antes do julgamento apontadocomo omisso. E nem de obscuridade ou contradição quando o recurso é julgado de acordo com o constante em seus autos.2 - Inexistente qualquer hipótese legal de cabimento recursal (art. 535 do CPC), configura-se inviável a pretensão aorejulgamento da lide, porquanto, nos termos do art. 463 do CPC, extensivo aos Tribunais pátrios, uma vez publicado oacórdão, o Colegiado cumpre a prestação jurisdicional, alterável tão-somente diante da ocorrência de erros materiais ou deobscuridade, contradição e omissão, hipóteses justificadoras da oposição de embargos de declaração. Ademais, não cabea apreciação de fato novo em sede de embargos de declaração (cf. EDcl no RMS nº 11.542/MA, Rel. Ministra ELIANACALMON, DJ de 12.2.2001).3 - Acertadamente solucionada a lide quando do provimento do recurso especial e ausente qualquer vício no aresto ajustificar a interposição dos aclaratórios, caracterizam-se como inadmissíveis, perfazendo-se inviável atribuir-lhes efeitosinfringentes com relação ao decisum embargado, ora mantido por seus próprios fundamentos.4 - Embargos de declaração rejeitados.

05. Outrossim, a discussão relacionada à eficácia prospectiva da alteração promovida pela Resolução nº 307/2014não modifica os fundamentos do julgado, tendo-se em vista que a compreensão de que houve o reconhecimentoadministrativo do pedido não pode ter delimitada sua extensão temporal.

06. Posto isso, conheço os Embargos de Declaração e, no mérito, nego-lhes provimento.

07. Certificado o trânsito em julgado, baixem os autos à origem.

08. É como voto.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

14 - 0100735-74.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.100735-2/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) DARCY FERREIRA DE FARIA(ADVOGADO: ES005003 - ELIETE BONI BITTENCOURT.) x UNIAO FEDERAL (PROCDOR: PEDRO GALLO VIEIRA.).RECURSO Nº 0100735-74.2013.4.02.5050/01RECORRENTE: DARCY FERREIRA DE FARIARECORRIDA: UNIÃO FEDERALRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. GDPGPE – GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DO PLANO GERALDE CARGOS DO PODER EXECUTIVO. GRATIFICAÇÃO PRO LABORE FACIENDO. INFRAÇÃO AO PRINCÍPIO DAISONOMIA. RECURSO DA PARTE AUTORA CONHECIDO E PROVIDO.1. A parte autora interpõe recurso inominado contra sentença que julgou improcedente pedido para condenar a UNIÃO apagar-lhe mensalmente a diferença entre os valores recebidos pelos servidores em atividade e os inativos relacionados àGDPGPE – Gratificação de Desempenho do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo, até que seja iniciada a avaliaçãodo desempenho dos servidores ativos, bem como as parcelas vencidas sob esse título, atualizadas monetariamente eacrescidas de juros moratórios. Sustenta que o pagamento de valores distintos viola o princípio da isonomia, tal comoveiculado na Súmula Vinculante n. 20, do Supremo Tribunal Federal; o art. 40, §8º, da Constituição da República de 1988; eo art. 189, da Lei n. 8.112/90.2. Em suas contrarrazões, a UNIÃO alega a inexistência de paridade entre servidores ativos e inativos, pois o art. 7º-A, §6º,da Lei n. 11.357/2006, dispõe que a primeira avaliação de desempenho produzirá efeitos a partir de 1º de janeiro de 2009,bem como que o pagamento efetuado antes desse exame será objeto de compensação, o que confirmaria a natureza daverba como gratificação pro labore faciendo. Nesse sentido, afirma que o Decreto n. 7.133/2010 definiu os critérios deavaliação da GDPGPE (art. 1º, I), o que gerou a subsequente edição de portarias nas quais foram estabelecidas as metasde desempenho individual e institucional dos servidores em atividade. Por fim, aduz que a extensão pretendida pela parteautora não poderia ser feita pelo Poder Judiciário, sob o risco de infração ao disposto pelos arts. 2º, 37, 61, §1º, II, alínea ‘a’,e 169, §1º, I, da Constituição da República de 1988, nos termos do enunciado n. 339, da súmula da jurisprudência do STF.3. Preenchidos os requisitos de admissibilidade, inclusive no que concerne ao preparo recursal (fls. 74 e 92), conheço orecurso inominado e passo à análise do seu mérito.4. A Medida Provisória n. 431/2008, posteriormente convertida na Lei n. 11.784/2008, acrescentou o art. 7º-A à Lei n.11.357/2006, para instituir a GDPGPE - Gratificação de Desempenho do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo,calculada numa faixa de pontuação variável de 30 a 100, apurada a partir dos resultados obtidos nas avaliações dodesempenho institucional e individual do servidor. O art. 7º-A, §7º, dispõe que, até a regulamentação da GDPGPE e aobtenção dos resultados da primeira avaliação institucional e individual, os servidores inseridos no Plano Geral de Cargosdo Poder Executivo perceberão a GDPGPE no “valor correspondente a 80% (oitenta por cento) de seu valor máximo,observada a classe e o padrão do servidor”. Contudo, o §6º, do mesmo dispositivo legal, preconiza que “o resultado daprimeira avaliação gera efeitos financeiros a partir de 1º de janeiro de 2009, devendo ser compensadas eventuaisdiferenças pagas a maior ou a menor”.5. A parte autora afirma que a disciplina legal da GDPGPE para os aposentados e pensionistas é contrária ao princípio daisonomia (arts. 5º, caput, 40, §8º, da Constituição da República de 1988), porque prevê que o pagamento dela ocorrerá empatamares distintos daqueles utilizados para cálculo da verba recebida por seus homólogos em atividade (art. 7º-A, §4º, daLei 11.357/2006, com a redação dada pela Lei n. 11.784/2008)6. Embora o Supremo Tribunal Federal tenha declarado a inconstitucionalidade de gratificação de desempenho paga, comvalores distintos, a servidores em atividade e a aposentados ou pensionistas que faziam jus à paridade, enquanto nãorealizada a avaliação prevista em lei (Súmula Vinculante n. 20), observo que o tratamento desigual não resta configurado napresente hipótese, uma vez que o exame do cumprimento das metas institucional e individual do servidor ativo terá efeitoretroativo que repercutirá no montante recebido a título de GDPGPE, a qual será compensada nas parcelas vincendas,caso haja uma avaliação que resulte numa pontuação maior, ou menor, a 80. Em obediência a tal determinação, foi editadoo Decreto n. 7.133/2010, cujo art. 1º, I, estabeleceu os critérios de avaliação dos servidores em atividade, tendo sidoposteriormente publicadas portarias para especificação dos elementos a serem observados na fixação de metasinstitucionais e individuais. Portanto, confirmada a natureza de gratificação pro labore faciendo, não há infração ao previstono art. 40, §8º, da Constituição da República de 1988; e no art. 189, da Lei n. 8.112/90.7. Em apoio a esse entendimento, anoto os seguintes julgados do STJ: EDcl no ARESP 429.853/PE (Segunda Turma, Rel.Min. Herman Benjamin, DJE 27.03.2014); AgRg no ARESP 302.738/CE (Segunda Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJE04.09.2013); RESP 1.368.150/PE (Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJE 25.04.2013).8. Não obstante tal fundamentação, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento do RE 631.389/CE (Pleno, Rel. Min. MarcoAurélio, DJE 02.06.2014) no regime de repercussão geral, decidiu que a GDPGPE, no percentual de 80 pontos, é extensívelaos servidores inativos e pensionistas, enquanto não adotadas as medidas para avaliação de desempenho dos servidoresem atividade, não tendo bastando, para tanto, a edição do Decreto n. 7.133/2010. Na presente hipótese, a parte autoraintegra o quadro dos servidores do Ministério das Comunicações (fl. 26), no qual a avaliação de desempenho aludida foidivulgada em 02/07/2010, data da publicação da Portaria n. 612.9. As parcelas vencidas deverão ser atualizadas monetariamente com base no IPCA/IBGE. A propósito, destaco que o art.1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/2009, disciplinava a atualização monetária e a incidência dejuros moratórios a todas as condenações pecuniárias impostas à Fazenda Pública. O Supremo Tribunal Federal, nojulgamento das ADI 4.357/DF e 4.425/DF (Rel. p/acórdão Min. Luiz Fux, j. 14.03.2013, DJE 18.12.2013) declarou ainconstitucionalidade parcial, sem redução do texto, da expressão “independentemente da sua natureza”, contida no art.100, § 12º, da Constituição da República de 1988, incluído pela Emenda Constitucional n. 62/09, para determinar que,quanto aos precatórios de natureza tributária, fossem aplicados os mesmos juros de mora incidentes sobre todo e qualquercrédito tributário, o que, por conseguinte, acarretaria a inconstitucionalidade do art. 1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redaçãodada pela Lei n. 11.960/09, por infringir o princípio da isonomia ao incorrer no mesmo vício. No julgamento das ADI4.357/DF e 4.425/DF (Rel. p/acórdão Min. Luiz Fux, j. 14.03.2013, DJE 18.12.2013), o referido dispositivo legal também foideclarado inconstitucional, no que atine à extensão do índice utilizado para correção dos depósitos feitos em cadernetas depoupança à atualização monetária dos débitos a serem pagos por precatórios, por violação ao direito de propriedade (art.5º, XXIII, da Constituição da República de 1988), uma vez que tal indexador seria incapaz de preservar o valor real do

crédito a ser pago sob esse regime.10. Embora o Supremo Tribunal Federal não tenha concluído o julgamento sobre a modulação temporal dos acórdãosprolatados nas aludidas ADIs, destaco que a Corte em reiterados julgados, afirmou que o efeito da decisão, que declara ainconstitucionalidade ou a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal, inicia-se com a publicação da ata da sessãode julgamento (cf. Rcl 2.576/SC, Pleno, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 20.08.2004; AgRg na Rcl 3.473/DF, Pleno, Rel. Min.Carlos Velloso, DJ 09.12.2005; AgRg no RE 693.321/MG, Segunda Turma, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJE 20.09.2012). Ainvalidade da lei ou do ato normativo, por ser vício originário, pode ser excepcionalmente protraída por decisão de doisterços dos Ministros da Corte (art. 27, da Lei n. 9.868/99), o que ainda resta pendente de julgamento na presente hipótese.A despeito disso, para dirimir incerteza quanto ao regime de pagamento de precatórios, o Supremo Tribunal Federaldeterminou cautelarmente que houvesse a manutenção do regramento anterior. Embora o posicionamento acatado peloPleno da Corte não tenha especificado os índices a serem aplicados para atualização monetária dos créditos, o SuperiorTribunal de Justiça, no julgamento do RESP 1.270.439/PR (Primeira Seção, Rel. Min. Castro Meira, DJE 02.08.2013), noregime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, entendeu aplicável o IPCA/IBGE como índice de atualização monetáriapara as condenações arcadas pela Fazenda Pública, quando inexistir regra especial em sentido diverso.11. Recurso conhecido e provido para condenar a UNIÃO a pagar a GDPGPE no valor correspondente a 80 pontos até odia anterior a 02/07/2010 ou à primeira avaliação dos servidores da carreira que a parte autora integra. O pagamento dasdiferenças devidas deverá sofrer atualização monetária pela incidência do IPCA/IBGE da data em que houve o vencimentodas parcelas até a apuração do cálculo final que deverá embasar a expedição do requisitório de pagamento. Os juros demora deverão ser computados de acordo com o disposto pelo art. 1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redação dada pela Lei n.11.960/2009. Sem condenação ao pagamento de custas e honorários advocatícios, nos termos do art. 55, da Lei n.9.099/95.12. É como voto.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

15 - 0003146-16.2012.4.02.5051/01 (2012.50.51.003146-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ANA MARIA DE ALMEIDATRINDADE (ADVOGADO: ES007962 - ANA IZABEL VIANA GONSALVES, ES003373 - GILDO RIBEIRO DA SILVA,ES013258 - VINICIUS BIS LIMA.) x UNIAO FEDERAL (PROCDOR: PEDRO GALLO VIEIRA.).RECURSO Nº 0003146-16.2012.4.02.5051/01RECORRENTE: ANA MARIA DE ALMEIDA TRINDADERECORRIDA: UNIÃO FEDERALRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. GDPGPE – GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DO PLANO GERALDE CARGOS DO PODER EXECUTIVO. GRATIFICAÇÃO PRO LABORE FACIENDO. INFRAÇÃO AO PRINCÍPIO DAISONOMIA. RECURSO DA PARTE AUTORA CONHECIDO E PROVIDO.1. A parte autora interpõe recurso inominado contra sentença que julgou improcedente pedido para condenar a UNIÃO apagar-lhe mensalmente a diferença entre os valores recebidos pelos servidores em atividade e os inativos relacionados àGDPGPE – Gratificação de Desempenho do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo, até que seja iniciada a avaliaçãodo desempenho dos servidores ativos, bem como as parcelas vencidas sob esse título, atualizadas monetariamente eacrescidas de juros moratórios. Sustenta que o pagamento de valores distintos viola o princípio da isonomia, tal comoveiculado na Súmula Vinculante n. 20, do Supremo Tribunal Federal; o art. 40, §8º, da Constituição da República de 1988; eo art. 189, da Lei n. 8.112/90.2. Em suas contrarrazões, a UNIÃO alega a inexistência de paridade entre servidores ativos e inativos, pois o art. 7º-A, §6º,da Lei n. 11.357/2006, dispõe que a primeira avaliação de desempenho produzirá efeitos a partir de 1º de janeiro de 2009,bem como que o pagamento efetuado antes desse exame será objeto de compensação, o que confirmaria a natureza daverba como gratificação pro labore faciendo. Nesse sentido, afirma que o Decreto n. 7.133/2010 definiu os critérios deavaliação da GDPGPE (art. 1º, I), o que gerou a subsequente edição de portarias nas quais foram estabelecidas as metasde desempenho individual e institucional dos servidores em atividade. Por fim, aduz que a extensão pretendida pela parteautora não poderia ser feita pelo Poder Judiciário, sob o risco de infração ao disposto pelos arts. 2º, 37, 61, §1º, II, alínea ‘a’,e 169, §1º, I, da Constituição da República de 1988, nos termos do enunciado n. 339, da súmula da jurisprudência do STF.3. Preenchidos os requisitos de admissibilidade, conheço o recurso inominado e passo à análise do seu mérito.4. A Medida Provisória n. 431/2008, posteriormente convertida na Lei n. 11.784/2008, acrescentou o art. 7º-A à Lei n.11.357/2006, para instituir a GDPGPE - Gratificação de Desempenho do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo,calculada numa faixa de pontuação variável de 30 a 100, apurada a partir dos resultados obtidos nas avaliações dodesempenho institucional e individual do servidor. O art. 7º-A, §7º, dispõe que, até a regulamentação da GDPGPE e aobtenção dos resultados da primeira avaliação institucional e individual, os servidores inseridos no Plano Geral de Cargosdo Poder Executivo perceberão a GDPGPE no “valor correspondente a 80% (oitenta por cento) de seu valor máximo,observada a classe e o padrão do servidor”. Contudo, o §6º, do mesmo dispositivo legal, preconiza que “o resultado daprimeira avaliação gera efeitos financeiros a partir de 1º de janeiro de 2009, devendo ser compensadas eventuaisdiferenças pagas a maior ou a menor”.5. A parte autora afirma que a disciplina legal da GDPGPE para os aposentados e pensionistas é contrária ao princípio daisonomia (arts. 5º, caput, 40, §8º, da Constituição da República de 1988), porque prevê que o pagamento dela ocorrerá empatamares distintos daqueles utilizados para cálculo da verba recebida por seus homólogos em atividade (art. 7º-A, §4º, da

Lei 11.357/2006, com a redação dada pela Lei n. 11.784/2008)6. Embora o Supremo Tribunal Federal tenha declarado a inconstitucionalidade de gratificação de desempenho paga, comvalores distintos, a servidores em atividade e a aposentados ou pensionistas que faziam jus à paridade, enquanto nãorealizada a avaliação prevista em lei (Súmula Vinculante n. 20), observo que o tratamento desigual não resta configurado napresente hipótese, uma vez que o exame do cumprimento das metas institucional e individual do servidor ativo terá efeitoretroativo que repercutirá no montante recebido a título de GDPGPE, a qual será compensada nas parcelas vincendas,caso haja uma avaliação que resulte numa pontuação maior, ou menor, a 80. Em obediência a tal determinação, foi editadoo Decreto n. 7.133/2010, cujo art. 1º, I, estabeleceu os critérios de avaliação dos servidores em atividade, tendo sidoposteriormente publicadas portarias para especificação dos elementos a serem observados na fixação de metasinstitucionais e individuais. Portanto, confirmada a natureza de gratificação pro labore faciendo, não há infração ao previstono art. 40, §8º, da Constituição da República de 1988; e no art. 189, da Lei n. 8.112/90.7. Em apoio a esse entendimento, anoto os seguintes julgados do STJ: EDcl no ARESP 429.853/PE (Segunda Turma, Rel.Min. Herman Benjamin, DJE 27.03.2014); AgRg no ARESP 302.738/CE (Segunda Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJE04.09.2013); RESP 1.368.150/PE (Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJE 25.04.2013).8. Não obstante tal fundamentação, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento do RE 631.389/CE (Pleno, Rel. Min. MarcoAurélio, DJE 02.06.2014) no regime de repercussão geral, decidiu que a GDPGPE, no percentual de 80 pontos, é extensívelaos servidores inativos e pensionistas, enquanto não adotadas as medidas para avaliação de desempenho dos servidoresem atividade, não tendo bastando, para tanto, a edição do Decreto n. 7.133/2010. Na presente hipótese, a parte autoraintegra o quadro dos servidores do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (fl. 13), no qual a avaliação dedesempenho aludida foi divulgada em 23/12/2010, data da publicação da Portaria n. 1213.9. As parcelas vencidas deverão ser atualizadas monetariamente com base no IPCA/IBGE. A propósito, destaco que o art.1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/2009, disciplinava a atualização monetária e a incidência dejuros moratórios a todas as condenações pecuniárias impostas à Fazenda Pública. O Supremo Tribunal Federal, nojulgamento das ADI 4.357/DF e 4.425/DF (Rel. p/acórdão Min. Luiz Fux, j. 14.03.2013, DJE 18.12.2013) declarou ainconstitucionalidade parcial, sem redução do texto, da expressão “independentemente da sua natureza”, contida no art.100, § 12º, da Constituição da República de 1988, incluído pela Emenda Constitucional n. 62/09, para determinar que,quanto aos precatórios de natureza tributária, fossem aplicados os mesmos juros de mora incidentes sobre todo e qualquercrédito tributário, o que, por conseguinte, acarretaria a inconstitucionalidade do art. 1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redaçãodada pela Lei n. 11.960/09, por infringir o princípio da isonomia ao incorrer no mesmo vício. No julgamento das ADI4.357/DF e 4.425/DF (Rel. p/acórdão Min. Luiz Fux, j. 14.03.2013, DJE 18.12.2013), o referido dispositivo legal também foideclarado inconstitucional, no que atine à extensão do índice utilizado para correção dos depósitos feitos em cadernetas depoupança à atualização monetária dos débitos a serem pagos por precatórios, por violação ao direito de propriedade (art.5º, XXIII, da Constituição da República de 1988), uma vez que tal indexador seria incapaz de preservar o valor real docrédito a ser pago sob esse regime.10. Embora o Supremo Tribunal Federal não tenha concluído o julgamento sobre a modulação temporal dos acórdãosprolatados nas aludidas ADIs, destaco que a Corte em reiterados julgados, afirmou que o efeito da decisão, que declara ainconstitucionalidade ou a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal, inicia-se com a publicação da ata da sessãode julgamento (cf. Rcl 2.576/SC, Pleno, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 20.08.2004; AgRg na Rcl 3.473/DF, Pleno, Rel. Min.Carlos Velloso, DJ 09.12.2005; AgRg no RE 693.321/MG, Segunda Turma, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJE 20.09.2012). Ainvalidade da lei ou do ato normativo, por ser vício originário, pode ser excepcionalmente protraída por decisão de doisterços dos Ministros da Corte (art. 27, da Lei n. 9.868/99), o que ainda resta pendente de julgamento na presente hipótese.A despeito disso, para dirimir incerteza quanto ao regime de pagamento de precatórios, o Supremo Tribunal Federaldeterminou cautelarmente que houvesse a manutenção do regramento anterior. Embora o posicionamento acatado peloPleno da Corte não tenha especificado os índices a serem aplicados para atualização monetária dos créditos, o SuperiorTribunal de Justiça, no julgamento do RESP 1.270.439/PR (Primeira Seção, Rel. Min. Castro Meira, DJE 02.08.2013), noregime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, entendeu aplicável o IPCA/IBGE como índice de atualização monetáriapara as condenações arcadas pela Fazenda Pública, quando inexistir regra especial em sentido diverso.11. Recurso conhecido e provido para condenar a UNIÃO a pagar a GDPGPE no valor correspondente a 80 pontos até odia anterior a 23/12/2010. O pagamento das diferenças devidas deverá sofrer atualização monetária pela incidência doIPCA/IBGE da data em que houve o vencimento das parcelas até a apuração do cálculo final que deverá embasar aexpedição do requisitório de pagamento. Os juros de mora deverão ser computados de acordo com o disposto pelo art.1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/2009. Sem condenação ao pagamento de custas ehonorários advocatícios, nos termos do art. 55, da Lei n. 9.099/95.12. É como voto.(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

16 - 0103475-93.2013.4.02.5053/01 (2013.50.53.103475-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ADEMARIO DE ALMEIDA(ADVOGADO: ES007962 - ANA IZABEL VIANA GONSALVES, ES003373 - GILDO RIBEIRO DA SILVA, ES013258 -VINICIUS BIS LIMA.) x UNIAO FEDERAL (PROCDOR: PEDRO GALLO VIEIRA.).RECURSO Nº 0103475-93.2013.4.02.5053/01RECORRENTE: ADEMARIO DE ALMEIDARECORRIDA: UNIÃO FEDERALRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. GDPGPE – GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DO PLANO GERALDE CARGOS DO PODER EXECUTIVO. GRATIFICAÇÃO PRO LABORE FACIENDO. INFRAÇÃO AO PRINCÍPIO DAISONOMIA. RECURSO DA PARTE AUTORA CONHECIDO E PROVIDO.1. A parte autora interpõe recurso inominado contra sentença que julgou improcedente pedido para condenar a UNIÃO apagar-lhe mensalmente a diferença entre os valores recebidos pelos servidores em atividade e os inativos relacionados àGDPGPE – Gratificação de Desempenho do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo, até que seja iniciada a avaliaçãodo desempenho dos servidores ativos, bem como as parcelas vencidas sob esse título, atualizadas monetariamente eacrescidas de juros moratórios. Sustenta que o pagamento de valores distintos viola o princípio da isonomia, tal comoveiculado na Súmula Vinculante n. 20, do Supremo Tribunal Federal; o art. 40, §8º, da Constituição da República de 1988; eo art. 189, da Lei n. 8.112/90.2. A UNIÃO não apresentou contrarrazões, apesar de intimada (fl. 47).3. Preenchidos os requisitos de admissibilidade, conheço o recurso inominado e passo à análise do seu mérito.4. A Medida Provisória n. 431/2008, posteriormente convertida na Lei n. 11.784/2008, acrescentou o art. 7º-A à Lei n.11.357/2006, para instituir a GDPGPE - Gratificação de Desempenho do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo,calculada numa faixa de pontuação variável de 30 a 100, apurada a partir dos resultados obtidos nas avaliações dodesempenho institucional e individual do servidor. O art. 7º-A, §7º, dispõe que, até a regulamentação da GDPGPE e aobtenção dos resultados da primeira avaliação institucional e individual, os servidores inseridos no Plano Geral de Cargosdo Poder Executivo perceberão a GDPGPE no “valor correspondente a 80% (oitenta por cento) de seu valor máximo,observada a classe e o padrão do servidor”. Contudo, o §6º, do mesmo dispositivo legal, preconiza que “o resultado daprimeira avaliação gera efeitos financeiros a partir de 1º de janeiro de 2009, devendo ser compensadas eventuaisdiferenças pagas a maior ou a menor”.5. A parte autora afirma que a disciplina legal da GDPGPE para os aposentados e pensionistas é contrária ao princípio daisonomia (arts. 5º, caput, 40, §8º, da Constituição da República de 1988), porque prevê que o pagamento dela ocorrerá empatamares distintos daqueles utilizados para cálculo da verba recebida por seus homólogos em atividade (art. 7º-A, §4º, daLei 11.357/2006, com a redação dada pela Lei n. 11.784/2008)6. Embora o Supremo Tribunal Federal tenha declarado a inconstitucionalidade de gratificação de desempenho paga, comvalores distintos, a servidores em atividade e a aposentados ou pensionistas que faziam jus à paridade, enquanto nãorealizada a avaliação prevista em lei (Súmula Vinculante n. 20), observo que o tratamento desigual não resta configurado napresente hipótese, uma vez que o exame do cumprimento das metas institucional e individual do servidor ativo terá efeitoretroativo que repercutirá no montante recebido a título de GDPGPE, a qual será compensada nas parcelas vincendas,caso haja uma avaliação que resulte numa pontuação maior, ou menor, a 80. Em obediência a tal determinação, foi editadoo Decreto n. 7.133/2010, cujo art. 1º, I, estabeleceu os critérios de avaliação dos servidores em atividade, tendo sidoposteriormente publicadas portarias para especificação dos elementos a serem observados na fixação de metasinstitucionais e individuais. Portanto, confirmada a natureza de gratificação pro labore faciendo, não há infração ao previstono art. 40, §8º, da Constituição da República de 1988; e no art. 189, da Lei n. 8.112/90.7. Em apoio a esse entendimento, anoto os seguintes julgados do STJ: EDcl no ARESP 429.853/PE (Segunda Turma, Rel.Min. Herman Benjamin, DJE 27.03.2014); AgRg no ARESP 302.738/CE (Segunda Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJE04.09.2013); RESP 1.368.150/PE (Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJE 25.04.2013).8. Não obstante tal fundamentação, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento do RE 631.389/CE (Pleno, Rel. Min. MarcoAurélio, DJE 02.06.2014) no regime de repercussão geral, decidiu que a GDPGPE, no percentual de 80 pontos, é extensívelaos servidores inativos e pensionistas, enquanto não adotadas as medidas para avaliação de desempenho dos servidoresem atividade, não tendo bastando, para tanto, a edição do Decreto n. 7.133/2010. Na presente hipótese, a parte autoraintegra o quadro dos servidores do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (fl. 14), no qual a avaliação dedesempenho aludida foi divulgada em 23/12/2010, data da publicação da Portaria n. 1213.9. As parcelas vencidas deverão ser atualizadas monetariamente com base no IPCA/IBGE. A propósito, destaco que o art.1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/2009, disciplinava a atualização monetária e a incidência dejuros moratórios a todas as condenações pecuniárias impostas à Fazenda Pública. O Supremo Tribunal Federal, nojulgamento das ADI 4.357/DF e 4.425/DF (Rel. p/acórdão Min. Luiz Fux, j. 14.03.2013, DJE 18.12.2013) declarou ainconstitucionalidade parcial, sem redução do texto, da expressão “independentemente da sua natureza”, contida no art.100, § 12º, da Constituição da República de 1988, incluído pela Emenda Constitucional n. 62/09, para determinar que,quanto aos precatórios de natureza tributária, fossem aplicados os mesmos juros de mora incidentes sobre todo e qualquercrédito tributário, o que, por conseguinte, acarretaria a inconstitucionalidade do art. 1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redaçãodada pela Lei n. 11.960/09, por infringir o princípio da isonomia ao incorrer no mesmo vício. No julgamento das ADI4.357/DF e 4.425/DF (Rel. p/acórdão Min. Luiz Fux, j. 14.03.2013, DJE 18.12.2013), o referido dispositivo legal também foideclarado inconstitucional, no que atine à extensão do índice utilizado para correção dos depósitos feitos em cadernetas depoupança à atualização monetária dos débitos a serem pagos por precatórios, por violação ao direito de propriedade (art.5º, XXIII, da Constituição da República de 1988), uma vez que tal indexador seria incapaz de preservar o valor real docrédito a ser pago sob esse regime.10. Embora o Supremo Tribunal Federal não tenha concluído o julgamento sobre a modulação temporal dos acórdãosprolatados nas aludidas ADIs, destaco que a Corte em reiterados julgados, afirmou que o efeito da decisão, que declara ainconstitucionalidade ou a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal, inicia-se com a publicação da ata da sessãode julgamento (cf. Rcl 2.576/SC, Pleno, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 20.08.2004; AgRg na Rcl 3.473/DF, Pleno, Rel. Min.Carlos Velloso, DJ 09.12.2005; AgRg no RE 693.321/MG, Segunda Turma, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJE 20.09.2012). Ainvalidade da lei ou do ato normativo, por ser vício originário, pode ser excepcionalmente protraída por decisão de doisterços dos Ministros da Corte (art. 27, da Lei n. 9.868/99), o que ainda resta pendente de julgamento na presente hipótese.A despeito disso, para dirimir incerteza quanto ao regime de pagamento de precatórios, o Supremo Tribunal Federal

determinou cautelarmente que houvesse a manutenção do regramento anterior. Embora o posicionamento acatado peloPleno da Corte não tenha especificado os índices a serem aplicados para atualização monetária dos créditos, o SuperiorTribunal de Justiça, no julgamento do RESP 1.270.439/PR (Primeira Seção, Rel. Min. Castro Meira, DJE 02.08.2013), noregime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, entendeu aplicável o IPCA/IBGE como índice de atualização monetáriapara as condenações arcadas pela Fazenda Pública, quando inexistir regra especial em sentido diverso.11. Recurso conhecido e provido para condenar a UNIÃO a pagar a GDPGPE no valor correspondente a 80 pontos até odia anterior a 23/12/2010. O pagamento das diferenças devidas deverá sofrer atualização monetária pela incidência doIPCA/IBGE da data em que houve o vencimento das parcelas até a apuração do cálculo final que deverá embasar aexpedição do requisitório de pagamento. Os juros de mora deverão ser computados de acordo com o disposto pelo art.1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/2009. Sem condenação ao pagamento de custas ehonorários advocatícios, nos termos do art. 55, da Lei n. 9.099/95.12. É como voto.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

17 - 0102985-80.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.102985-2/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) DJALMA ROCHA(ADVOGADO: ES020468 - EVANDRO JOSE LAGO.) x UNIAO FEDERAL (PROCDOR: PEDRO GALLO VIEIRA.).RECURSO Nº 0102985-80.2013.4.02.5050/01RECORRENTE: DJALMA ROCHARECORRIDA: UNIÃO FEDERALRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. GDPGPE – GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DO PLANO GERALDE CARGOS DO PODER EXECUTIVO. GRATIFICAÇÃO PRO LABORE FACIENDO. INFRAÇÃO AO PRINCÍPIO DAISONOMIA. RECURSO DA PARTE AUTORA CONHECIDO E PROVIDO.1. A parte autora interpõe recurso inominado contra sentença que julgou improcedente pedido para condenar a UNIÃO apagar-lhe mensalmente a diferença entre os valores recebidos pelos servidores em atividade e os inativos relacionados àGDPGPE – Gratificação de Desempenho do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo, até que seja iniciada a avaliaçãodo desempenho dos servidores ativos, bem como as parcelas vencidas sob esse título, atualizadas monetariamente eacrescidas de juros moratórios. Sustenta que o pagamento de valores distintos viola o princípio da isonomia, tal comoveiculado na Súmula Vinculante n. 20, do Supremo Tribunal Federal; o art. 40, §8º, da Constituição da República de 1988; eo art. 189, da Lei n. 8.112/90.2. Em suas contrarrazões, a UNIÃO alega a inexistência de paridade entre servidores ativos e inativos, pois o art. 7º-A, §6º,da Lei n. 11.357/2006, dispõe que a primeira avaliação de desempenho produzirá efeitos a partir de 1º de janeiro de 2009,bem como que o pagamento efetuado antes desse exame será objeto de compensação, o que confirmaria a natureza daverba como gratificação pro labore faciendo. Nesse sentido, afirma que o Decreto n. 7.133/2010 definiu os critérios deavaliação da GDPGPE (art. 1º, I), o que gerou a subsequente edição de portarias nas quais foram estabelecidas as metasde desempenho individual e institucional dos servidores em atividade. Por fim, aduz que a extensão pretendida pela parteautora não poderia ser feita pelo Poder Judiciário, sob o risco de infração ao disposto pelos arts. 2º, 37, 61, §1º, II, alínea ‘a’,e 169, §1º, I, da Constituição da República de 1988, nos termos do enunciado n. 339, da súmula da jurisprudência do STF.3. Preenchidos os requisitos de admissibilidade, conheço o recurso inominado e passo à análise do seu mérito.4. A Medida Provisória n. 431/2008, posteriormente convertida na Lei n. 11.784/2008, acrescentou o art. 7º-A à Lei n.11.357/2006, para instituir a GDPGPE - Gratificação de Desempenho do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo,calculada numa faixa de pontuação variável de 30 a 100, apurada a partir dos resultados obtidos nas avaliações dodesempenho institucional e individual do servidor. O art. 7º-A, §7º, dispõe que, até a regulamentação da GDPGPE e aobtenção dos resultados da primeira avaliação institucional e individual, os servidores inseridos no Plano Geral de Cargosdo Poder Executivo perceberão a GDPGPE no “valor correspondente a 80% (oitenta por cento) de seu valor máximo,observada a classe e o padrão do servidor”. Contudo, o §6º, do mesmo dispositivo legal, preconiza que “o resultado daprimeira avaliação gera efeitos financeiros a partir de 1º de janeiro de 2009, devendo ser compensadas eventuaisdiferenças pagas a maior ou a menor”.5. A parte autora afirma que a disciplina legal da GDPGPE para os aposentados e pensionistas é contrária ao princípio daisonomia (arts. 5º, caput, 40, §8º, da Constituição da República de 1988), porque prevê que o pagamento dela ocorrerá empatamares distintos daqueles utilizados para cálculo da verba recebida por seus homólogos em atividade (art. 7º-A, §4º, daLei 11.357/2006, com a redação dada pela Lei n. 11.784/2008)6. Embora o Supremo Tribunal Federal tenha declarado a inconstitucionalidade de gratificação de desempenho paga, comvalores distintos, a servidores em atividade e a aposentados ou pensionistas que faziam jus à paridade, enquanto nãorealizada a avaliação prevista em lei (Súmula Vinculante n. 20), observo que o tratamento desigual não resta configurado napresente hipótese, uma vez que o exame do cumprimento das metas institucional e individual do servidor ativo terá efeitoretroativo que repercutirá no montante recebido a título de GDPGPE, a qual será compensada nas parcelas vincendas,caso haja uma avaliação que resulte numa pontuação maior, ou menor, a 80. Em obediência a tal determinação, foi editadoo Decreto n. 7.133/2010, cujo art. 1º, I, estabeleceu os critérios de avaliação dos servidores em atividade, tendo sidoposteriormente publicadas portarias para especificação dos elementos a serem observados na fixação de metasinstitucionais e individuais. Portanto, confirmada a natureza de gratificação pro labore faciendo, não há infração ao previsto

no art. 40, §8º, da Constituição da República de 1988; e no art. 189, da Lei n. 8.112/90.7. Em apoio a esse entendimento, anoto os seguintes julgados do STJ: EDcl no ARESP 429.853/PE (Segunda Turma, Rel.Min. Herman Benjamin, DJE 27.03.2014); AgRg no ARESP 302.738/CE (Segunda Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJE04.09.2013); RESP 1.368.150/PE (Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJE 25.04.2013).8. Não obstante tal fundamentação, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento do RE 631.389/CE (Pleno, Rel. Min. MarcoAurélio, DJE 02.06.2014) no regime de repercussão geral, decidiu que a GDPGPE, no percentual de 80 pontos, é extensívelaos servidores inativos e pensionistas, enquanto não adotadas as medidas para avaliação de desempenho dos servidoresem atividade, não tendo bastando, para tanto, a edição do Decreto n. 7.133/2010. Na presente hipótese, a parte autoraintegra o quadro dos servidores do Ministério dos Transportes (fls. 18/19), no qual a avaliação de desempenho aludida foidivulgada em 29/10/2010, data da publicação da Portaria n. 2592.9. As parcelas vencidas deverão ser atualizadas monetariamente com base no IPCA/IBGE. A propósito, destaco que o art.1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/2009, disciplinava a atualização monetária e a incidência dejuros moratórios a todas as condenações pecuniárias impostas à Fazenda Pública. O Supremo Tribunal Federal, nojulgamento das ADI 4.357/DF e 4.425/DF (Rel. p/acórdão Min. Luiz Fux, j. 14.03.2013, DJE 18.12.2013) declarou ainconstitucionalidade parcial, sem redução do texto, da expressão “independentemente da sua natureza”, contida no art.100, § 12º, da Constituição da República de 1988, incluído pela Emenda Constitucional n. 62/09, para determinar que,quanto aos precatórios de natureza tributária, fossem aplicados os mesmos juros de mora incidentes sobre todo e qualquercrédito tributário, o que, por conseguinte, acarretaria a inconstitucionalidade do art. 1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redaçãodada pela Lei n. 11.960/09, por infringir o princípio da isonomia ao incorrer no mesmo vício. No julgamento das ADI4.357/DF e 4.425/DF (Rel. p/acórdão Min. Luiz Fux, j. 14.03.2013, DJE 18.12.2013), o referido dispositivo legal também foideclarado inconstitucional, no que atine à extensão do índice utilizado para correção dos depósitos feitos em cadernetas depoupança à atualização monetária dos débitos a serem pagos por precatórios, por violação ao direito de propriedade (art.5º, XXIII, da Constituição da República de 1988), uma vez que tal indexador seria incapaz de preservar o valor real docrédito a ser pago sob esse regime.10. Embora o Supremo Tribunal Federal não tenha concluído o julgamento sobre a modulação temporal dos acórdãosprolatados nas aludidas ADIs, destaco que a Corte em reiterados julgados, afirmou que o efeito da decisão, que declara ainconstitucionalidade ou a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal, inicia-se com a publicação da ata da sessãode julgamento (cf. Rcl 2.576/SC, Pleno, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 20.08.2004; AgRg na Rcl 3.473/DF, Pleno, Rel. Min.Carlos Velloso, DJ 09.12.2005; AgRg no RE 693.321/MG, Segunda Turma, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJE 20.09.2012). Ainvalidade da lei ou do ato normativo, por ser vício originário, pode ser excepcionalmente protraída por decisão de doisterços dos Ministros da Corte (art. 27, da Lei n. 9.868/99), o que ainda resta pendente de julgamento na presente hipótese.A despeito disso, para dirimir incerteza quanto ao regime de pagamento de precatórios, o Supremo Tribunal Federaldeterminou cautelarmente que houvesse a manutenção do regramento anterior. Embora o posicionamento acatado peloPleno da Corte não tenha especificado os índices a serem aplicados para atualização monetária dos créditos, o SuperiorTribunal de Justiça, no julgamento do RESP 1.270.439/PR (Primeira Seção, Rel. Min. Castro Meira, DJE 02.08.2013), noregime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, entendeu aplicável o IPCA/IBGE como índice de atualização monetáriapara as condenações arcadas pela Fazenda Pública, quando inexistir regra especial em sentido diverso.11. Recurso conhecido e provido para condenar a UNIÃO a pagar a GDPGPE no valor correspondente a 80 pontos até odia anterior a 29/10/2010. O pagamento das diferenças devidas deverá sofrer atualização monetária pela incidência doIPCA/IBGE da data em que houve o vencimento das parcelas até a apuração do cálculo final que deverá embasar aexpedição do requisitório de pagamento. Os juros de mora deverão ser computados de acordo com o disposto pelo art.1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/2009. Sem condenação ao pagamento de custas ehonorários advocatícios, nos termos do art. 55, da Lei n. 9.099/95.12. É como voto.(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

18 - 0101603-52.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.101603-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) THELMO CARVALHO DEALMEIDA (ADVOGADO: ES020468 - EVANDRO JOSE LAGO.) x UNIAO FEDERAL (PROCDOR: PEDRO GALLOVIEIRA.).RECURSO Nº 0101603-52.2013.4.02.5050/01RECORRENTE: THELMO CARVALHO DE ALMEIDARECORRIDA: UNIÃO FEDERALRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. GDPGPE – GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DO PLANO GERALDE CARGOS DO PODER EXECUTIVO. GRATIFICAÇÃO PRO LABORE FACIENDO. INFRAÇÃO AO PRINCÍPIO DAISONOMIA. RECURSO DA PARTE AUTORA CONHECIDO E PROVIDO.1. A parte autora interpõe recurso inominado contra sentença que julgou improcedente pedido para condenar a UNIÃO apagar-lhe mensalmente a diferença entre os valores recebidos pelos servidores em atividade e os inativos relacionados àGDPGPE – Gratificação de Desempenho do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo, até que seja iniciada a avaliaçãodo desempenho dos servidores ativos, bem como as parcelas vencidas sob esse título, atualizadas monetariamente eacrescidas de juros moratórios. Sustenta que o pagamento de valores distintos viola o princípio da isonomia, tal comoveiculado na Súmula Vinculante n. 20, do Supremo Tribunal Federal; o art. 40, §8º, da Constituição da República de 1988; e

o art. 189, da Lei n. 8.112/90.2. Em suas contrarrazões, a UNIÃO alega a inexistência de paridade entre servidores ativos e inativos, pois o art. 7º-A, §6º,da Lei n. 11.357/2006, dispõe que a primeira avaliação de desempenho produzirá efeitos a partir de 1º de janeiro de 2009,bem como que o pagamento efetuado antes desse exame será objeto de compensação, o que confirmaria a natureza daverba como gratificação pro labore faciendo. Nesse sentido, afirma que o Decreto n. 7.133/2010 definiu os critérios deavaliação da GDPGPE (art. 1º, I), o que gerou a subsequente edição de portarias nas quais foram estabelecidas as metasde desempenho individual e institucional dos servidores em atividade. Por fim, aduz que a extensão pretendida pela parteautora não poderia ser feita pelo Poder Judiciário, sob o risco de infração ao disposto pelos arts. 2º, 37, 61, §1º, II, alínea ‘a’,e 169, §1º, I, da Constituição da República de 1988, nos termos do enunciado n. 339, da súmula da jurisprudência do STF.3. Preenchidos os requisitos de admissibilidade, conheço o recurso inominado e passo à análise do seu mérito.4. A Medida Provisória n. 431/2008, posteriormente convertida na Lei n. 11.784/2008, acrescentou o art. 7º-A à Lei n.11.357/2006, para instituir a GDPGPE - Gratificação de Desempenho do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo,calculada numa faixa de pontuação variável de 30 a 100, apurada a partir dos resultados obtidos nas avaliações dodesempenho institucional e individual do servidor. O art. 7º-A, §7º, dispõe que, até a regulamentação da GDPGPE e aobtenção dos resultados da primeira avaliação institucional e individual, os servidores inseridos no Plano Geral de Cargosdo Poder Executivo perceberão a GDPGPE no “valor correspondente a 80% (oitenta por cento) de seu valor máximo,observada a classe e o padrão do servidor”. Contudo, o §6º, do mesmo dispositivo legal, preconiza que “o resultado daprimeira avaliação gera efeitos financeiros a partir de 1º de janeiro de 2009, devendo ser compensadas eventuaisdiferenças pagas a maior ou a menor”.5. A parte autora afirma que a disciplina legal da GDPGPE para os aposentados e pensionistas é contrária ao princípio daisonomia (arts. 5º, caput, 40, §8º, da Constituição da República de 1988), porque prevê que o pagamento dela ocorrerá empatamares distintos daqueles utilizados para cálculo da verba recebida por seus homólogos em atividade (art. 7º-A, §4º, daLei 11.357/2006, com a redação dada pela Lei n. 11.784/2008)6. Embora o Supremo Tribunal Federal tenha declarado a inconstitucionalidade de gratificação de desempenho paga, comvalores distintos, a servidores em atividade e a aposentados ou pensionistas que faziam jus à paridade, enquanto nãorealizada a avaliação prevista em lei (Súmula Vinculante n. 20), observo que o tratamento desigual não resta configurado napresente hipótese, uma vez que o exame do cumprimento das metas institucional e individual do servidor ativo terá efeitoretroativo que repercutirá no montante recebido a título de GDPGPE, a qual será compensada nas parcelas vincendas,caso haja uma avaliação que resulte numa pontuação maior, ou menor, a 80. Em obediência a tal determinação, foi editadoo Decreto n. 7.133/2010, cujo art. 1º, I, estabeleceu os critérios de avaliação dos servidores em atividade, tendo sidoposteriormente publicadas portarias para especificação dos elementos a serem observados na fixação de metasinstitucionais e individuais. Portanto, confirmada a natureza de gratificação pro labore faciendo, não há infração ao previstono art. 40, §8º, da Constituição da República de 1988; e no art. 189, da Lei n. 8.112/90.7. Em apoio a esse entendimento, anoto os seguintes julgados do STJ: EDcl no ARESP 429.853/PE (Segunda Turma, Rel.Min. Herman Benjamin, DJE 27.03.2014); AgRg no ARESP 302.738/CE (Segunda Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJE04.09.2013); RESP 1.368.150/PE (Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJE 25.04.2013).8. Não obstante tal fundamentação, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento do RE 631.389/CE (Pleno, Rel. Min. MarcoAurélio, DJE 02.06.2014) no regime de repercussão geral, decidiu que a GDPGPE, no percentual de 80 pontos, é extensívelaos servidores inativos e pensionistas, enquanto não adotadas as medidas para avaliação de desempenho dos servidoresem atividade, não tendo bastando, para tanto, a edição do Decreto n. 7.133/2010. Na presente hipótese, a parte autoraintegra o quadro dos servidores do Ministério dos Transportes (fls. 16/17), no qual a avaliação de desempenho aludida foidivulgada em 29/10/2010, data da publicação da Portaria n. 2592.9. As parcelas vencidas deverão ser atualizadas monetariamente com base no IPCA/IBGE. A propósito, destaco que o art.1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/2009, disciplinava a atualização monetária e a incidência dejuros moratórios a todas as condenações pecuniárias impostas à Fazenda Pública. O Supremo Tribunal Federal, nojulgamento das ADI 4.357/DF e 4.425/DF (Rel. p/acórdão Min. Luiz Fux, j. 14.03.2013, DJE 18.12.2013) declarou ainconstitucionalidade parcial, sem redução do texto, da expressão “independentemente da sua natureza”, contida no art.100, § 12º, da Constituição da República de 1988, incluído pela Emenda Constitucional n. 62/09, para determinar que,quanto aos precatórios de natureza tributária, fossem aplicados os mesmos juros de mora incidentes sobre todo e qualquercrédito tributário, o que, por conseguinte, acarretaria a inconstitucionalidade do art. 1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redaçãodada pela Lei n. 11.960/09, por infringir o princípio da isonomia ao incorrer no mesmo vício. No julgamento das ADI4.357/DF e 4.425/DF (Rel. p/acórdão Min. Luiz Fux, j. 14.03.2013, DJE 18.12.2013), o referido dispositivo legal também foideclarado inconstitucional, no que atine à extensão do índice utilizado para correção dos depósitos feitos em cadernetas depoupança à atualização monetária dos débitos a serem pagos por precatórios, por violação ao direito de propriedade (art.5º, XXIII, da Constituição da República de 1988), uma vez que tal indexador seria incapaz de preservar o valor real docrédito a ser pago sob esse regime.10. Embora o Supremo Tribunal Federal não tenha concluído o julgamento sobre a modulação temporal dos acórdãosprolatados nas aludidas ADIs, destaco que a Corte em reiterados julgados, afirmou que o efeito da decisão, que declara ainconstitucionalidade ou a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal, inicia-se com a publicação da ata da sessãode julgamento (cf. Rcl 2.576/SC, Pleno, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 20.08.2004; AgRg na Rcl 3.473/DF, Pleno, Rel. Min.Carlos Velloso, DJ 09.12.2005; AgRg no RE 693.321/MG, Segunda Turma, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJE 20.09.2012). Ainvalidade da lei ou do ato normativo, por ser vício originário, pode ser excepcionalmente protraída por decisão de doisterços dos Ministros da Corte (art. 27, da Lei n. 9.868/99), o que ainda resta pendente de julgamento na presente hipótese.A despeito disso, para dirimir incerteza quanto ao regime de pagamento de precatórios, o Supremo Tribunal Federaldeterminou cautelarmente que houvesse a manutenção do regramento anterior. Embora o posicionamento acatado peloPleno da Corte não tenha especificado os índices a serem aplicados para atualização monetária dos créditos, o SuperiorTribunal de Justiça, no julgamento do RESP 1.270.439/PR (Primeira Seção, Rel. Min. Castro Meira, DJE 02.08.2013), noregime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, entendeu aplicável o IPCA/IBGE como índice de atualização monetária

para as condenações arcadas pela Fazenda Pública, quando inexistir regra especial em sentido diverso.11. Recurso conhecido e provido para condenar a UNIÃO a pagar a GDPGPE no valor correspondente a 80 pontos até odia anterior a 29/10/2010. O pagamento das diferenças devidas deverá sofrer atualização monetária pela incidência doIPCA/IBGE da data em que houve o vencimento das parcelas até a apuração do cálculo final que deverá embasar aexpedição do requisitório de pagamento. Os juros de mora deverão ser computados de acordo com o disposto pelo art.1º-F, da Lei n. 9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/2009. Sem condenação ao pagamento de custas ehonorários advocatícios, nos termos do art. 55, da Lei n. 9.099/95.12. É como voto.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

19 - 0007461-27.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.007461-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) UNIAO FEDERAL(PROCDOR: MARINA RIBEIRO FLEURY.) x LUCIA MARIA FREITAS DE ASSIS (ADVOGADO: ES010751 - MARCELOMATEDI ALVES, ES011893 - LEONARDO PIZZOL VINHA.).RECURSO Nº 0007461-27.2011.4.02.5050/01RECORRENTE: UNIÃO FEDERALRECORRIDA: LUCIA MARIA FREITAS DE ASSISRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTADIREITO TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. ABONO DE PERMANÊNCIA. NATUREZA REMUNERATÓRIA. RECURSODA UNIÃO CONHECIDO E PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA.1. A UNIÃO interpõe recurso inominado, às fls. 43/51, contra sentença que julgou procedentes os pedidos para declarar ainexistência de relação-jurídica tributária a autorizar a incidência de imposto de renda sobre a verba recebida a título deabono de permanência, bem como para condená-la a restituir os valores do tributo indevidamente recolhido, observada aprescrição quinquenal. Em suas razões, a recorrente sustenta que o abono de permanência é adicional de naturezaremuneratória, tendo em vista que a postergação da aposentadoria não configura perda patrimonial. Assevera que oimposto de renda é informado pelos princípios da generalidade, universalidade e progressividade (art. 153, III e § 2º, I, daConstituição da República de 1988) e que, de acordo com o princípio da universalidade, devem sofrer incidência do referidoimposto as rendas e os proventos de qualquer natureza, independentemente da denominação que se dê aos mesmos. Porrenda entenda-se o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos, restando a definição de proventos porexclusão, ou seja, todos os demais acréscimos que não se enquadrarem como produzidos pelo capital, pelo trabalho, oupela conjugação de ambos (art. 146, III, ‘a’, da Constituição da República de 1988, c/c art. 43, do Código TributárioNacional). Noutro ponto, aduz que, embora o art. 4º, da Lei nº 10.887/2004 não tenha previsto a incidência da contribuiçãoprevidenciária sobre o abono de permanência, esta vedação não pode ser interpretada de forma extensiva para afastar aincidência do Imposto de Renda.2. A parte autora apresentou contrarrazões (fls. 55/59), nas quais requer o desprovimento do recurso, uma vez que o abonode permanência, previsto no art. 40, §19, da Constituição da República de 1988 é verba de natureza indenizatória, pois visacompensar ou indenizar o servidor público que adia o seu pedido de aposentadoria a bem do serviço público, deixando degozar de merecido repouso.3. Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço o recurso e passo à análise do seu mérito.4. O art. 153, III, da Constituição da República de 1988, estabelece a competência da União para instituir imposto sobre“renda e proventos de qualquer natureza”. O legislador infraconstitucional definiu no art. 43, caput, do Código TributárioNacional, que a hipótese de incidência da norma jurídica tributária estaria relacionada à “aquisição da disponibilidadeeconômica ou jurídica de renda, “assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos” (inciso I),ou de proventos de qualquer natureza, “assim entendidos os acréscimos patrimoniais” não subsumidos no conceito derenda.5. O art. 3º, §1º, da Emenda Constitucional n. 41/03, dispõe que o servidor público que tenha preenchido as condições paraaposentar-se com trinta anos de contribuição, se homem, e vinte e cinco anos de contribuição, se mulher, e opte porpermanecer em atividade fará jus a um abono de permanência, equivalente ao valor de sua contribuição previdenciária atécompletar as exigências para sua aposentadoria compulsória. O pagamento do referido abono visa à manutenção daremuneração recebida pelo servidor, sem que sobre ela haja o desconto indevido de contribuição previdenciária, uma vezque o sujeito passivo já teria preenchido os requisitos exigidos para concessão de aposentadoria voluntária. Portanto, opagamento do abono de permanência não tem natureza indenizatória, valendo destacar que os vencimentos totais doservidor são acrescidos mediante a compensação operada entre a verba e o desconto que seja feito da contribuiçãoprevidenciária. Nesse sentido, posicionou-se a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP1.192.556/PE (Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJE 06.09.2010), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil.6. Ante o exposto, conheço o recurso e dou-lhe provimento. Sem condenação ao pagamento de custas e honoráriosadvocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n. 9.099/95.7. Certificado o trânsito, baixem os autos ao Juizado de origem.8. É como voto.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

Juiz Federal – Relator Designado

20 - 0008289-23.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.008289-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ALZIRA DE ALMEIDA(ADVOGADO: ES011893 - LEONARDO PIZZOL VINHA, ES010751 - MARCELO MATEDI ALVES.) x UNIAO FEDERAL(PROCDOR: RODRIGO BARBOSA DE BARROS.).RECURSO Nº 0008289-23.2011.4.02.5050/01RECORRENTE: ALZIRA DE ALMEIDARECORRIDA: UNIÃO FEDERALRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTADIREITO TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. ABONO DE PERMANÊNCIA. NATUREZA REMUNERATÓRIA. RECURSODA PARTE AUTORA CONHECIDO E DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.1. A parte autora interpõe recurso inominado, às fls. 56/61, contra sentença que julgou improcedentes os pedidos paradeclarar a inexistência de relação-jurídica tributária a autorizar a incidência de imposto de renda sobre a verba recebida atítulo de abono de permanência, bem como para condenar a UNIÃO a restituir os valores do tributo indevidamenterecolhidos. Em suas razões recursais, sustenta que o abono de permanência, previsto no art. 40, §19, da Constituição daRepública de 1988 é verba de natureza indenizatória, pois visa compensar ou indenizar o servidor público que adia o seupedido de aposentadoria a bem do serviço público, deixando de gozar de merecido repouso.2. A UNIÃO apresentou contrarrazões (fls. 66/71), nas quais requer o desprovimento do recurso, uma vez que o abono depermanência é adicional de natureza remuneratória, tendo-se em vista que a postergação da aposentadoria não configuraperda patrimonial. Caso não acolhido o pedido de desprovimento, pugna seja expressamente esclarecido o modo pelo qualse dará a devolução do suposto indébito visto que, uma vez já efetuada a Declaração de Ajuste Anual, o valor a serrestituído certamente não corresponde ao meramente retido.3. Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço o recurso e passo à análise do seu mérito.4. O art. 153, III, da Constituição da República de 1988, estabelece a competência da União para instituir imposto sobre“renda e proventos de qualquer natureza”. O legislador infraconstitucional definiu no art. 43, caput, do Código TributárioNacional, que a hipótese de incidência da norma jurídica tributária estaria relacionada à “aquisição da disponibilidadeeconômica ou jurídica de renda, “assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos” (inciso I),ou de proventos de qualquer natureza, “assim entendidos os acréscimos patrimoniais” não subsumidos no conceito derenda.5. O art. 3º, §1º, da Emenda Constitucional n. 41/03, dispõe que o servidor público que tenha preenchido as condições paraaposentar-se com trinta anos de contribuição, se homem, e vinte e cinco anos de contribuição, se mulher, e opte porpermanecer em atividade fará jus a um abono de permanência, equivalente ao valor de sua contribuição previdenciária atécompletar as exigências para sua aposentadoria compulsória. O pagamento do referido abono visa à manutenção daremuneração recebida pelo servidor, sem que sobre ela haja o desconto indevido de contribuição previdenciária, uma vezque o sujeito passivo já teria preenchido os requisitos exigidos para concessão de aposentadoria voluntária. Portanto, opagamento do abono de permanência não tem natureza indenizatória, valendo destacar que os vencimentos totais doservidor são acrescidos mediante a compensação operada entre a verba e o desconto que seja feito da contribuiçãoprevidenciária. Nesse sentido, posicionou-se a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP1.192.556/PE (Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJE 06.09.2010), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil.6. Ante o exposto, conheço o recurso e nego-lhe provimento. Deixo de condenar a recorrente ao pagamento de custas ehonorários advocatícios, em razão do benefício de gratuidade de justiça que ora defiro (fl. 18), de acordo com o art. 12, daLei n. 1.060/50. 7. Certificado o trânsito, baixem os autos ao Juizado de origem.8. É como voto.(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

21 - 0000645-29.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.000645-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) MARIA DO CARMOMARTINELLI (ADVOGADO: ES011893 - LEONARDO PIZZOL VINHA, ES010751 - MARCELO MATEDI ALVES.) x UNIAOFEDERAL (PROCDOR: ADRIANA ZANDONADE.).RECURSO Nº 0000645-29.2011.4.02.5050/01RECORRENTE: MARIA DO CARMO MARTINELLIRECORRIDA: UNIÃO FEDERALRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. ABONO DE PERMANÊNCIA. NATUREZA REMUNERATÓRIA. RECURSODA PARTE AUTORA CONHECIDO E DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.1. A parte autora interpõe recurso inominado, às fls. 24/29, contra sentença que julgou improcedentes os pedidos paradeclarar a inexistência de relação-jurídica tributária a autorizar a incidência de imposto de renda sobre a verba recebida atítulo de abono de permanência, bem como para condenar a UNIÃO a restituir os valores do tributo indevidamenterecolhidos.2. Em suas razões recursais, sustenta que o abono de permanência, previsto no art. 40, §19, da Constituição da Repúblicade 1988 é verba de natureza indenizatória, pois visa compensar ou indenizar o servidor público que adia o seu pedido de

aposentadoria a bem do serviço público, deixando de gozar de merecido repouso.3. Registre-se: a sentença recorrida reconheceu a ilegitimidade passiva ad causam do INSS, por considerar tratar-se deautarquia pagadora da verba, na medida em que, seja para acolher o pleito autoral, seja para desacolhê-lo, a matéria não éde sua incumbência. Não obstante, à conta dos critérios informadores do Juizado Especial Federal (art. 2º da Lei nº9.099/1995), de par com o regramento expresso nos arts. 5º e 6º da mesma Lei, conjugados com o art. 1º da Lei nº10.259/2001, considerou inteiramente inadequada e contrária a esses preceitos a extinção do feito sem resolução de méritoou determinação de correção do polo passivo para a inclusão da União a fim de ensejar formalmente nova resposta,substancialmente, porém, – mudando-se o que deve ser mudado – no mesmo sentido.4. Devidamente intimado da r. sentença, o INSS, à fl. 34 informou não possuir interesse recursal, ante o reconhecimento desua ilegitimidade passiva e consequente exclusão da lide. Requereu a intimação da UNIÃO, por meio da Procuradoria daFazenda Nacional, para responder ao recurso.5. A UNIÃO apresentou contrarrazões (fls. 39/49), nas quais aduz restar prescrita a restituição de qualquer valor recolhidohá mais de cinco anos contados do ajuizamento da ação, ocorrido no dia 23 de maio de 2011 (fl. 01). Assevera inaplicávelao caso a tese da prescrição decenal, por ter sido a demanda ajuizada após 08/06/2005, a dizer, quando já vigia o prazoprescricional previsto no art. 3º da Lei Complementar n.º 118/2005 (STF, Tribunal Pleno, RE n.º 566621/RS (RepercussãoGeral), Min. Ellen Gracie, julgado em 04.08.2011, maioria de votos). No mérito, pugna pelo desprovimento do recurso, umavez que o abono de permanência é adicional de natureza remuneratória, tendo-se em vista que a postergação daaposentadoria não configura perda patrimonial.6. Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço o recurso e passo à análise do seu mérito.7. O art. 153, III, da Constituição da República de 1988, estabelece a competência da União para instituir imposto sobre“renda e proventos de qualquer natureza”. O legislador infraconstitucional definiu no art. 43, caput, do Código TributárioNacional, que a hipótese de incidência da norma jurídica tributária estaria relacionada à “aquisição da disponibilidadeeconômica ou jurídica de renda, “assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos” (inciso I),ou de proventos de qualquer natureza, “assim entendidos os acréscimos patrimoniais” não subsumidos no conceito derenda.8. O art. 3º, §1º, da Emenda Constitucional n. 41/03, dispõe que o servidor público que tenha preenchido as condições paraaposentar-se com trinta anos de contribuição, se homem, e vinte e cinco anos de contribuição, se mulher, e opte porpermanecer em atividade fará jus a um abono de permanência, equivalente ao valor de sua contribuição previdenciária atécompletar as exigências para sua aposentadoria compulsória. O pagamento do referido abono visa à manutenção daremuneração recebida pelo servidor, sem que sobre ela haja o desconto indevido de contribuição previdenciária, uma vezque o sujeito passivo já teria preenchido os requisitos exigidos para concessão de aposentadoria voluntária. Portanto, opagamento do abono de permanência não tem natureza indenizatória, valendo destacar que os vencimentos totais doservidor são acrescidos mediante a compensação operada entre a verba e o desconto que seja feito da contribuiçãoprevidenciária. Nesse sentido, posicionou-se a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP1.192.556/PE (Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJE 06.09.2010), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil.9. Ante o exposto, conheço o recurso e nego-lhe provimento. Deixo de condenar a recorrente ao pagamento de custas ehonorários advocatícios, em razão do benefício de gratuidade de justiça que ora defiro (fl. 21), de acordo com o art. 12, daLei n. 1.060/50. 10. Certificado o trânsito, baixem os autos ao Juizado de origem.11. É como voto.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

22 - 0101100-31.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.101100-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) VICTOR ANDRE DA CUNHALAU (ADVOGADO: ES019660 - APARECIDA KETTLEN COSTA DALFIOR.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGUROSOCIAL - INSS (PROCDOR: LEONARDO QUEIROZ BRINGHENTI.).RECURSO Nº 0101100-31.2013.4.02.5050/01RECORRENTE: VICTOR ANDRE DA CUNHA LAURECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO. TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO.IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO DE EQUIPARAÇÃO.1. Trata-se de recurso interposto pela parte autora em face da sentença que julgou improcedente o pedido de majoração dovalor pago a título de auxílio-alimentação, a fim de equiparar ao recebido pelo Tribunal de Contas da União.2. Deixo de acolher a arguição de inadequação do meio de impugnação apresentado pela parte autora, uma vez que reputotratar-se de erro material a designação do recurso inominado como recurso de apelação, bem como a menção de que oórgão responsável pelo seu julgamento seria o Tribunal Regional Federal da 2ª Região. De igual modo, afasto a preliminarde ilegitimidade passiva, uma vez que o autor é servidor do INSS, o qual detém personalidade jurídica própria e, porconseguinte, arcará com a obrigação eventualmente imposta, caso o pedido seja julgado procedente. Rejeitadas aspreliminares suscitadas, passo à análise do mérito do recurso.3. A fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema remuneratório observará a natureza, o graude responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira, os requisitos para a investidura, e aspeculiaridades dos cargos, vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito deremuneração de pessoal do serviço públicos (arts. 37, XIII, e 39, §1º, da Constituição da República de 1988).

4. A aplicação do princípio da isonomia, no âmbito da Administração Pública, exige que a identidade fática entre assituações jurídicas comparadas observe as ressalvas constitucionalmente admitidas ao tratamento a ser dado às carreirase cargos dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário (art. 5º, caput, e 37, caput, da Constituição da República de 1988).5. O Tribunal de Contas da União tem suas atribuições previstas na Seção IX, do Capítulo dedicado ao Poder Legislativo (I),do Título reservado à organização dos poderes da federação (IV). Como órgão incluído na estrutura do Poder Legislativo,cabe-lhe prestar auxílio ao Congresso Nacional no controle externo contábil, financeiro e orçamentário da União e dasentidades da Administração direta e indireta (arts. 71 a 73, da Constituição da República de 1988).6. A separação dos orçamentos fiscais dos Poderes da União na lei orçamentária anual (art. 165, 5º, I) indica que eventualdisparidade entre o valor das gratificações e verbas indenizatórias, pagas aos servidores que os integrem, não caracterizaviolação ao princípio da isonomia, ressalvada a regra que fixa que os vencimentos dos cargos dos Poderes Legislativo eJudiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Executivo (art. 37, XII, da Constituição da República de 1988). Talhipótese não resta configurada nos presentes autos, uma vez que o auxílio-alimentação é verba de natureza indenizatória,(art. 22, da Lei 8.460/92, STF, RE 318.684-RS, Primeira Turma, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 09.11.2011), o que o exclui danorma que fixa a remuneração devida pelo trabalho do servidor do Poder Executivo como patamar máximo entre cargoscom iguais atribuições.7. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é contrária à possibilidade de decisão judicial equiparar o valor doauxílio-alimentação pago aos servidores de diferentes Poderes (enunciado n. 339, da súmula da jurisprudência do STF;AgRg no RE 804.768-BA, Segunda Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 03.06.2014)8. Precedente da Turma Nacional de Uniformização-TNU, que ao julgar o Incidente de Uniformização representativo dacontrovérsia (PEDILEF 0502844-72.2012.4.05.8501, Rel. Juiz Federal Rogério Moreira Alves, DOU 14.06.2013) deuprovimento ao recurso da União para afastar o pagamento das diferenças do auxílio-alimentação dos servidores da JustiçaFederal de 1º e 2º Graus em equiparação aos Tribunais Superiores. 8. Recurso da parte autora conhecido e desprovido.Sem condenação em custas e honorários advocatícios, tendo em vista o deferimento da gratuidade de justiça, na forma doart. 12 da Lei nº 1060/50 (fl. 45).

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

23 - 0002009-33.2011.4.02.5051/01 (2011.50.51.002009-9/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) RICARDO LUIZ MENEGUSSI(ADVOGADO: ES009734 - DERMEVAL CESAR RIBEIRO.) x INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DABIODIVERSIDADE - ICMBIO (PROCDOR: Vinícius de Lacerda Aleodim Campos.).RECURSO Nº 0002009-33.2011.4.02.5051/01RECORRENTE: RICARDO LUIZ MENEGUSSIRECORRIDO: INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE - ICMBIORELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO. TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO.IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO DE EQUIPARAÇÃO.1. Trata-se de recurso interposto pela parte autora em face da sentença que julgou improcedente o pedido de majoração dovalor pago a título de auxílio-alimentação, a fim de equiparar ao recebido pelo Tribunal de Contas da União.2. A fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema remuneratório observará a natureza, o graude responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira, os requisitos para a investidura, e aspeculiaridades dos cargos, vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito deremuneração de pessoal do serviço públicos (arts. 37, XIII, e 39, §1º, da Constituição da República de 1988).3. A aplicação do princípio da isonomia, no âmbito da Administração Pública, exige que a identidade fática entre assituações jurídicas comparadas observe as ressalvas constitucionalmente admitidas ao tratamento a ser dado às carreirase cargos dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário (art. 5º, caput, e 37, caput, da Constituição da República de 1988).4. O Tribunal de Contas da União tem suas atribuições previstas na Seção IX, do Capítulo dedicado ao Poder Legislativo (I),do Título reservado à organização dos poderes da federação (IV). Como órgão incluído na estrutura do Poder Legislativo,cabe-lhe prestar auxílio ao Congresso Nacional no controle externo contábil, financeiro e orçamentário da União e dasentidades da Administração direta e indireta (arts. 71 a 73, da Constituição da República de 1988).5. A separação dos orçamentos fiscais dos Poderes da União na lei orçamentária anual (art. 165, 5º, I) indica que eventualdisparidade entre o valor das gratificações e verbas indenizatórias, pagas aos servidores que os integrem, não caracterizaviolação ao princípio da isonomia, ressalvada a regra que fixa que os vencimentos dos cargos dos Poderes Legislativo eJudiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Executivo (art. 37, XII, da Constituição da República de 1988). Talhipótese não resta configurada nos presentes autos, uma vez que o auxílio-alimentação é verba de natureza indenizatória,(art. 22, da Lei 8.460/92, STF, RE 318.684-RS, Primeira Turma, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 09.11.2011), o que o exclui danorma que fixa a remuneração devida pelo trabalho do servidor do Poder Executivo como patamar máximo entre cargoscom iguais atribuições.6. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é contrária à possibilidade de decisão judicial equiparar o valor doauxílio-alimentação pago aos servidores de diferentes Poderes (enunciado n. 339, da súmula da jurisprudência do STF;AgRg no RE 804.768-BA, Segunda Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 03.06.2014)7. Precedente da Turma Nacional de Uniformização-TNU, que ao julgar o Incidente de Uniformização representativo dacontrovérsia (PEDILEF 0502844-72.2012.4.05.8501, Rel. Juiz Federal Rogério Moreira Alves, DOU 14.06.2013) deuprovimento ao recurso da União para afastar o pagamento das diferenças do auxílio-alimentação dos servidores da Justiça

Federal de 1º e 2º Graus em equiparação aos Tribunais Superiores. 8. Recurso da parte autora conhecido e desprovido.Sem condenação em custas e honorários advocatícios, tendo em vista o deferimento da gratuidade de justiça, na forma doart. 12 da Lei nº 1060/50 (fl. 16).

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

24 - 0001299-42.2013.4.02.5051/01 (2013.50.51.001299-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ARIOMAR MACIEL BRETAS(ADVOGADO: ES009734 - DERMEVAL CESAR RIBEIRO.) x UNIAO FEDERAL (PROCDOR: LETICIA SILVEIRA B.CORREIA LIMA.).RECURSO Nº 0001299-42.2013.4.02.5051/01RECORRENTE: ARIOMAR MACIEL BRETASRECORRIDA: UNIÃO FEDERALRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO. TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO.IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO DE EQUIPARAÇÃO.1. Trata-se de recurso interposto pela parte autora em face da sentença que julgou improcedente o pedido de majoração dovalor pago a título de auxílio-alimentação, a fim de equiparar ao recebido pelo Tribunal de Contas da União.2. A fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema remuneratório observará a natureza, o graude responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira, os requisitos para a investidura, e aspeculiaridades dos cargos, vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito deremuneração de pessoal do serviço públicos (arts. 37, XIII, e 39, §1º, da Constituição da República de 1988).3. A aplicação do princípio da isonomia, no âmbito da Administração Pública, exige que a identidade fática entre assituações jurídicas comparadas observe as ressalvas constitucionalmente admitidas ao tratamento a ser dado às carreirase cargos dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário (art. 5º, caput, e 37, caput, da Constituição da República de 1988).4. O Tribunal de Contas da União tem suas atribuições previstas na Seção IX, do Capítulo dedicado ao Poder Legislativo (I),do Título reservado à organização dos poderes da federação (IV). Como órgão incluído na estrutura do Poder Legislativo,cabe-lhe prestar auxílio ao Congresso Nacional no controle externo contábil, financeiro e orçamentário da União e dasentidades da Administração direta e indireta (arts. 71 a 73, da Constituição da República de 1988).5. A separação dos orçamentos fiscais dos Poderes da União na lei orçamentária anual (art. 165, 5º, I) indica que eventualdisparidade entre o valor das gratificações e verbas indenizatórias, pagas aos servidores que os integrem, não caracterizaviolação ao princípio da isonomia, ressalvada a regra que fixa que os vencimentos dos cargos dos Poderes Legislativo eJudiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Executivo (art. 37, XII, da Constituição da República de 1988). Talhipótese não resta configurada nos presentes autos, uma vez que o auxílio-alimentação é verba de natureza indenizatória,(art. 22, da Lei 8.460/92, STF, RE 318.684-RS, Primeira Turma, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 09.11.2011), o que o exclui danorma que fixa a remuneração devida pelo trabalho do servidor do Poder Executivo como patamar máximo entre cargoscom iguais atribuições.6. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é contrária à possibilidade de decisão judicial equiparar o valor doauxílio-alimentação pago aos servidores de diferentes Poderes (enunciado n. 339, da súmula da jurisprudência do STF;AgRg no RE 804.768-BA, Segunda Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 03.06.2014)7. Precedente da Turma Nacional de Uniformização-TNU, que ao julgar o Incidente de Uniformização representativo dacontrovérsia (PEDILEF 0502844-72.2012.4.05.8501, Rel. Juiz Federal Rogério Moreira Alves, DOU 14.06.2013) deuprovimento ao recurso da União para afastar o pagamento das diferenças do auxílio-alimentação dos servidores da JustiçaFederal de 1º e 2º Graus em equiparação aos Tribunais Superiores. 8. Recurso da parte autora conhecido e desprovido.Sem condenação em custas e honorários advocatícios, tendo em vista o deferimento da gratuidade de justiça, na forma doart. 12 da Lei nº 1060/50 (fl. 49).

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

25 - 0000090-29.2013.4.02.5054/01 (2013.50.54.000090-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: LUIZ CLÁUDIO SALDANHA SALES.) x JORGE FIRMINO DE ASSIS (ADVOGADO:ES019221 - AMAURI BRAS CASER.).RECURSO Nº 0000090-29.2013.4.02.5054/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: JORGE FIRMINO DE ASSISRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR E

RECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DO INSS CONHECIDO EPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE. TUTELA ANTECIPADA REVOGADA.

1. O INSS interpõe recurso inominado contra sentença que julgou procedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante oacréscimo de período em que a parte autora continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a autarquia previdenciária sustenta: i) a vedação ao emprego de contribuições posteriores àaposentadoria tem amparo no art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, e no princípio da solidariedade (arts. 194, V, VI, e 195, daConstituição da República de 1988); ii) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenascontribui para o custeio do sistema sem fazer jus à obtenção de aposentadoria; iii) a renúncia unilateral à aposentadoriaconcedida anteriormente infringiria a proteção ao ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da Constituição da República de 1988)e se oporia à opção anterior de requerer benefício com menor tempo de contribuição e renda mensal inferior; iv) a renúnciaà aposentadoria deveria ser aceita somente se houvesse a restituição dos valores que já foram pagos ao segurado, a essetítulo, pelo INSS a fim de que não haja infração ao disposto pelos arts. 11, §3º, e 12, §4º, da Lei n. 8.212/91; v) o julgamentodo pedido compromete o equilíbrio financeiro-atuarial da Seguridade Social (art. 195, §5º, c/c art. 201, caput, daConstituição da República de 1988); e vi) a atualização monetária deve observar a regra prevista pelo art. 1º-F, da Lei n.9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/09, ante a pendência de modulação dos efeitos do julgamento pelo STFdas ADI´s nºs 4.357/DF e 4.425/DF.3. A parte autora apresentou contrarrazões às fls. 197/226, pugnando pela manutenção da sentença em todos os seustermos.4. Inicialmente, assinalo que o reconhecimento de repercussão geral, no RE 661.256, não tem o condão de impedir ojulgamento de recurso inominado que verse sobre a mesma questão afeta ao julgamento do Supremo Tribunal Federal. Oartigo 543-B, § 1º, do Código de Processo Civil, que determina o sobrestamento dos recursos extraordinários cuja matériaseja objeto de repercussão geral, razão por que os demais recursos seguem o seu processamento, conforme previsãolegal.5. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.6. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).7. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.8. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.9. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimento

de valores com tal objetivo.10. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”11. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.12. Nessas condições, não assiste razão à parte autora em seu pleito. Destaco que a revogação da antecipação dos efeitosda tutela caracteriza-se como consectário lógico do julgado que dá provimento ao recurso da parte ré para julgarimprocedente o pedido. Com efeito, não se pode cogitar da subsistência da tutela antecipada, ante a sua natureza precáriae a ausência de autonomia em relação ao resultado final do julgamento (art. 273, §§4º e 5º, do Código de Processo Civil).13. Saliento minha convicção pessoal de que a parte, que recebe valores por força de tutela judicial carente de eficáciadefinitiva, tem ciência da possibilidade de reversão do título e, por conseguinte, assume os riscos inerentes à situaçãojurídica criada. A precariedade dos pagamentos assim efetuados implica o dever de devolução das verbas recebidas emdecorrência de tutela provisória, ainda que concedida em sentença suscetível de ser atacada por recurso despido de efeitosuspensivo, por não ser legítimo impor ao réu diminuição patrimonial baseada em suporte fático-jurídico que não se mostresuficiente para o julgamento definitivo de procedência do pedido e consequente confirmação da decisão anterior. Esseposicionamento foi acatado em julgados do Superior Tribunal de Justiça, conforme demonstra ementa do acórdão prolatadono julgamento do REsp 1384418/SC (Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 12/06/2013, DJe30/08/2013), abaixo transcrita:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.RECEBIMENTO VIA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA POSTERIORMENTE REVOGADA. DEVOLUÇÃO. REALINHAMENTOJURISPRUDENCIAL. HIPÓTESE ANÁLOGA. SERVIDOR PÚBLICO. CRITÉRIOS. CARÁTER ALIMENTAR E BOA-FÉOBJETIVA. NATUREZA PRECÁRIA DA DECISÃO.RESSARCIMENTO DEVIDO. DESCONTO EM FOLHA. PARÂMETROS.1. Trata-se, na hipótese, de constatar se há o dever de o segurado da Previdência Social devolver valores de benefícioprevidenciário recebidos por força de antecipação de tutela (art. 273 do CPC) posteriormente revogada.2. Historicamente, a jurisprudência do STJ fundamenta-se no princípio da irrepetibilidade dos alimentos para isentar ossegurados do RGPS de restituir valores obtidos por antecipação de tutela que posteriormente é revogada.3. Essa construção derivou da aplicação do citado princípio em Ações Rescisórias julgadas procedentes para cassardecisão rescindenda que concedeu benefício previdenciário, que, por conseguinte, adveio da construção pretoriana acercada prestação alimentícia do direito de família. A propósito: REsp 728.728/RS, Rel. Ministro José Arnaldo da Fonseca, QuintaTurma, DJ 9.5.2005.4. Já a jurisprudência que cuida da devolução de valores percebidos indevidamente por servidores públicos evoluiu paraconsiderar não apenas o caráter alimentar da verba, mas também a boa-fé objetiva envolvida in casu.5. O elemento que evidencia a boa-fé objetiva no caso é a "legítima confiança ou justificada expectativa, que o beneficiárioadquire, de que valores recebidos são legais e de que integraram em definitivo o seu patrimônio" (AgRg no REsp1.263.480/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 9.9.2011, grifei). Na mesma linha quanto à imposiçãode devolução de valores relativos a servidor público: AgRg no AREsp 40.007/SC, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki,Primeira Turma, DJe 16.4.2012; EDcl nos EDcl no REsp 1.241.909/SC, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, PrimeiraTurma, DJe 15.9.2011;AgRg no REsp 1.332.763/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 28.8.2012; AgRg no REsp 639.544/PR,Rel. Ministra Alderita Ramos de Oliveira (Desembargador Convocada do TJ/PE), Sexta Turma, DJe 29.4.2013; AgRg noREsp 1.177.349/ES, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJe 1º.8.2012; AgRg no RMS 23.746/SC, Rel. Ministro JorgeMussi, Quinta Turma, DJe 14.3.2011.6. Tal compreensão foi validada pela Primeira Seção em julgado sob o rito do art. 543-C do CPC, em situação na qual sedebateu a devolução de valores pagos por erro administrativo: "quando a Administração Pública interpreta erroneamenteuma lei, resultando em pagamento indevido ao servidor, cria-se uma falsa expectativa de que os valores recebidos sãolegais e definitivos, impedindo, assim, que ocorra desconto dos mesmos, ante a boa-fé do servidor público." (REsp

1.244.182/PB, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 19.10.2012, grifei).7. Não há dúvida de que os provimentos oriundos de antecipação de tutela (art. 273 do CPC) preenchem o requisito daboa-fé subjetiva, isto é, enquanto o segurado os obteve existia legitimidade jurídica, apesar de precária.8. Do ponto de vista objetivo, por sua vez, inviável falar na percepção, pelo segurado, da definitividade do pagamentorecebido via tutela antecipatória, não havendo o titular do direito precário como pressupor a incorporação irreversível daverba ao seu patrimônio.9. Segundo o art. 3º da LINDB, "ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece", o que induz à premissade que o caráter precário das decisões judiciais liminares é de conhecimento inescusável (art. 273 do CPC).10. Dentro de uma escala axiológica, mostra-se desproporcional o Poder Judiciário desautorizar a reposição do principal aoErário em situações como a dos autos, enquanto se permite que o próprio segurado tome empréstimos e consignedescontos em folha pagando, além do principal, juros remuneratórios a instituições financeiras.11. À luz do princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF) e considerando o dever do segurado de devolveros valores obtidos por força de antecipação de tutela posteriormente revogada, devem ser observados os seguintesparâmetros para o ressarcimento: a) a execução de sentença declaratória do direito deverá ser promovida; b) liquidado eincontroverso o crédito executado, o INSS poderá fazer o desconto em folha de até 10% da remuneração dos benefíciosprevidenciários em manutenção até a satisfação do crédito, adotado por simetria com o percentual aplicado aos servidorespúblicos (art. 46, § 1º, da Lei 8.213/1991.12. Recurso Especial provido.

14. Portanto, deve ocorrer a restituição dos valores recebidos a título de nova aposentadoria concedida na sentença.

15. Ante o exposto, conheço o recurso e dou-lhe provimento para julgar improcedentes os pedidos formulados pelaparte autora, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil. Sem condenação ao pagamento de custas ehonorários advocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n. 9.099/95. Por consequência, revogo a tutela antecipadaconcedida e autorizo a restituição ao INSS dos valores recebidos pela parte autora enquanto vigeu a antecipação dosefeitos da tutela. Sem condenação ao pagamento de custas e honorários advocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n.9.099/95.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

26 - 0102496-94.2014.4.02.5054/01 (2014.50.54.102496-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: LUIZ CLÁUDIO SALDANHA SALES.) x JOACILA FRAGA DA SILVA (ADVOGADO:ES018662 - GILVERTON LODI GUIMARÃES.).RECURSO Nº 0102496-94.2014.4.02.5054/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDA: JOACILA FRAGA DA SILVARELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DO INSS CONHECIDO EPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE. TUTELA ANTECIPADA REVOGADA.

1. O INSS interpõe recurso inominado contra sentença que julgou procedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por idade e concessão de nova aposentadoria, mediante o acréscimo de período em que aparte autora continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a autarquia previdenciária sustenta: i) a vedação ao emprego de contribuições posteriores àaposentadoria tem amparo no art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, e no princípio da solidariedade (arts. 194, V, VI, e 195, daConstituição da República de 1988); ii) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenascontribui para o custeio do sistema sem fazer jus à obtenção de aposentadoria; iii) a renúncia unilateral à aposentadoriaconcedida anteriormente infringiria a proteção ao ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da Constituição da República de 1988)e se oporia à opção anterior de requerer benefício com menor tempo de contribuição e renda mensal inferior; iv) a renúnciaà aposentadoria deveria ser aceita somente se houvesse a restituição dos valores que já foram pagos ao segurado, a essetítulo, pelo INSS a fim de que não haja infração ao disposto pelos arts. 11, §3º, e 12, §4º, da Lei n. 8.212/91; v) o julgamentodo pedido compromete o equilíbrio financeiro-atuarial da Seguridade Social (art. 195, §5º, c/c art. 201, caput, daConstituição da República de 1988); e vi) a atualização monetária deve observar a regra prevista pelo art. 1º-F, da Lei n.9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/09, ante a pendência de modulação dos efeitos do julgamento pelo STFdas ADI´s nºs 4.357/DF e 4.425/DF.3. A parte autora apresentou contrarrazões às fls. 138/144, pugnando pela manutenção da sentença em todos os seustermos.4. Inicialmente, assinalo que o reconhecimento de repercussão geral, no RE 661.256, não tem o condão de impedir ojulgamento de recurso inominado que verse sobre a mesma questão afeta ao julgamento do Supremo Tribunal Federal. Oartigo 543-B, § 1º, do Código de Processo Civil, que determina o sobrestamento dos recursos extraordinários cuja matériaseja objeto de repercussão geral, razão por que os demais recursos seguem o seu processamento, conforme previsão

legal.5. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.6. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).7. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.8. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.9. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.10. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”11. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento na

sua disciplina constitucional.12. Nessas condições, não assiste razão à parte autora em seu pleito. Destaco que a revogação da antecipação dos efeitosda tutela caracteriza-se como consectário lógico do julgado que dá provimento ao recurso da parte ré para julgarimprocedente o pedido. Com efeito, não se pode cogitar da subsistência da tutela antecipada, ante a sua natureza precáriae a ausência de autonomia em relação ao resultado final do julgamento (art. 273, §§4º e 5º, do Código de Processo Civil).13. Saliento minha convicção pessoal de que a parte, que recebe valores por força de tutela judicial carente de eficáciadefinitiva, tem ciência da possibilidade de reversão do título e, por conseguinte, assume os riscos inerentes à situaçãojurídica criada. A precariedade dos pagamentos assim efetuados implica o dever de devolução das verbas recebidas emdecorrência de tutela provisória, ainda que concedida em sentença suscetível de ser atacada por recurso despido de efeitosuspensivo, por não ser legítimo impor ao réu diminuição patrimonial baseada em suporte fático-jurídico que não se mostresuficiente para o julgamento definitivo de procedência do pedido e consequente confirmação da decisão anterior. Esseposicionamento foi acatado em julgados do Superior Tribunal de Justiça, conforme demonstra ementa do acórdão prolatadono julgamento do REsp 1384418/SC (Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 12/06/2013, DJe30/08/2013), abaixo transcrita:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.RECEBIMENTO VIA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA POSTERIORMENTE REVOGADA. DEVOLUÇÃO. REALINHAMENTOJURISPRUDENCIAL. HIPÓTESE ANÁLOGA. SERVIDOR PÚBLICO. CRITÉRIOS. CARÁTER ALIMENTAR E BOA-FÉOBJETIVA. NATUREZA PRECÁRIA DA DECISÃO.RESSARCIMENTO DEVIDO. DESCONTO EM FOLHA. PARÂMETROS.1. Trata-se, na hipótese, de constatar se há o dever de o segurado da Previdência Social devolver valores de benefícioprevidenciário recebidos por força de antecipação de tutela (art. 273 do CPC) posteriormente revogada.2. Historicamente, a jurisprudência do STJ fundamenta-se no princípio da irrepetibilidade dos alimentos para isentar ossegurados do RGPS de restituir valores obtidos por antecipação de tutela que posteriormente é revogada.3. Essa construção derivou da aplicação do citado princípio em Ações Rescisórias julgadas procedentes para cassardecisão rescindenda que concedeu benefício previdenciário, que, por conseguinte, adveio da construção pretoriana acercada prestação alimentícia do direito de família. A propósito: REsp 728.728/RS, Rel. Ministro José Arnaldo da Fonseca, QuintaTurma, DJ 9.5.2005.4. Já a jurisprudência que cuida da devolução de valores percebidos indevidamente por servidores públicos evoluiu paraconsiderar não apenas o caráter alimentar da verba, mas também a boa-fé objetiva envolvida in casu.5. O elemento que evidencia a boa-fé objetiva no caso é a "legítima confiança ou justificada expectativa, que o beneficiárioadquire, de que valores recebidos são legais e de que integraram em definitivo o seu patrimônio" (AgRg no REsp1.263.480/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 9.9.2011, grifei). Na mesma linha quanto à imposiçãode devolução de valores relativos a servidor público: AgRg no AREsp 40.007/SC, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki,Primeira Turma, DJe 16.4.2012; EDcl nos EDcl no REsp 1.241.909/SC, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, PrimeiraTurma, DJe 15.9.2011;AgRg no REsp 1.332.763/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 28.8.2012; AgRg no REsp 639.544/PR,Rel. Ministra Alderita Ramos de Oliveira (Desembargador Convocada do TJ/PE), Sexta Turma, DJe 29.4.2013; AgRg noREsp 1.177.349/ES, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJe 1º.8.2012; AgRg no RMS 23.746/SC, Rel. Ministro JorgeMussi, Quinta Turma, DJe 14.3.2011.6. Tal compreensão foi validada pela Primeira Seção em julgado sob o rito do art. 543-C do CPC, em situação na qual sedebateu a devolução de valores pagos por erro administrativo: "quando a Administração Pública interpreta erroneamenteuma lei, resultando em pagamento indevido ao servidor, cria-se uma falsa expectativa de que os valores recebidos sãolegais e definitivos, impedindo, assim, que ocorra desconto dos mesmos, ante a boa-fé do servidor público." (REsp1.244.182/PB, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 19.10.2012, grifei).7. Não há dúvida de que os provimentos oriundos de antecipação de tutela (art. 273 do CPC) preenchem o requisito daboa-fé subjetiva, isto é, enquanto o segurado os obteve existia legitimidade jurídica, apesar de precária.8. Do ponto de vista objetivo, por sua vez, inviável falar na percepção, pelo segurado, da definitividade do pagamentorecebido via tutela antecipatória, não havendo o titular do direito precário como pressupor a incorporação irreversível daverba ao seu patrimônio.9. Segundo o art. 3º da LINDB, "ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece", o que induz à premissade que o caráter precário das decisões judiciais liminares é de conhecimento inescusável (art. 273 do CPC).10. Dentro de uma escala axiológica, mostra-se desproporcional o Poder Judiciário desautorizar a reposição do principal aoErário em situações como a dos autos, enquanto se permite que o próprio segurado tome empréstimos e consignedescontos em folha pagando, além do principal, juros remuneratórios a instituições financeiras.11. À luz do princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF) e considerando o dever do segurado de devolveros valores obtidos por força de antecipação de tutela posteriormente revogada, devem ser observados os seguintesparâmetros para o ressarcimento: a) a execução de sentença declaratória do direito deverá ser promovida; b) liquidado eincontroverso o crédito executado, o INSS poderá fazer o desconto em folha de até 10% da remuneração dos benefíciosprevidenciários em manutenção até a satisfação do crédito, adotado por simetria com o percentual aplicado aos servidorespúblicos (art. 46, § 1º, da Lei 8.213/1991.12. Recurso Especial provido.

14. Portanto, deve ocorrer a restituição dos valores recebidos a título de nova aposentadoria concedida na sentença.15. Ante o exposto, conheço o recurso e dou-lhe provimento para julgar improcedentes os pedidos formulados pelaparte autora, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil. Sem condenação ao pagamento de custas ehonorários advocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n. 9.099/95. Por consequência, revogo a tutela antecipadaconcedida e autorizo a restituição ao INSS dos valores recebidos pela parte autora enquanto vigeu a antecipação dos

efeitos da tutela. Sem condenação ao pagamento de custas e honorários advocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n.9.099/95.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

27 - 0107494-08.2014.4.02.5054/01 (2014.50.54.107494-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: PEDRO INOCENCIO BINDA.) x DIMAS MONDONI (ADVOGADO: ES019221 -AMAURI BRAS CASER.).RECURSO Nº 0107494-08.2014.4.02.5054/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: DIMAS MONDONIRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DO INSS CONHECIDO EPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE. TUTELA ANTECIPADA REVOGADA.

1. O INSS interpõe recurso inominado contra sentença que julgou procedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante oacréscimo de período em que a parte autora continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a autarquia previdenciária sustenta: i) a vedação ao emprego de contribuições posteriores àaposentadoria tem amparo no art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, e no princípio da solidariedade (arts. 194, V, VI, e 195, daConstituição da República de 1988); ii) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenascontribui para o custeio do sistema sem fazer jus à obtenção de aposentadoria; iii) a renúncia unilateral à aposentadoriaconcedida anteriormente infringiria a proteção ao ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da Constituição da República de 1988)e se oporia à opção anterior de requerer benefício com menor tempo de contribuição e renda mensal inferior; iv) a renúnciaà aposentadoria deveria ser aceita somente se houvesse a restituição dos valores que já foram pagos ao segurado, a essetítulo, pelo INSS a fim de que não haja infração ao disposto pelos arts. 11, §3º, e 12, §4º, da Lei n. 8.212/91; v) o julgamentodo pedido compromete o equilíbrio financeiro-atuarial da Seguridade Social (art. 195, §5º, c/c art. 201, caput, daConstituição da República de 1988); e vi) a atualização monetária deve observar a regra prevista pelo art. 1º-F, da Lei n.9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/09, ante a pendência de modulação dos efeitos do julgamento pelo STFdas ADI´s nºs 4.357/DF e 4.425/DF.3. A parte autora apresentou contrarrazões às fls. 125/145, pugnando pela manutenção da sentença em todos os seustermos.4. Inicialmente, assinalo que o reconhecimento de repercussão geral, no RE 661.256, não tem o condão de impedir ojulgamento de recurso inominado que verse sobre a mesma questão afeta ao julgamento do Supremo Tribunal Federal. Oartigo 543-B, § 1º, do Código de Processo Civil, que determina o sobrestamento dos recursos extraordinários cuja matériaseja objeto de repercussão geral, razão por que os demais recursos seguem o seu processamento, conforme previsãolegal.5. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.6. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).7. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.8. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdão

prolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.9. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.10. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”11. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.12. Nessas condições, não assiste razão à parte autora em seu pleito. Destaco que a revogação da antecipação dos efeitosda tutela caracteriza-se como consectário lógico do julgado que dá provimento ao recurso da parte ré para julgarimprocedente o pedido. Com efeito, não se pode cogitar da subsistência da tutela antecipada, ante a sua natureza precáriae a ausência de autonomia em relação ao resultado final do julgamento (art. 273, §§4º e 5º, do Código de Processo Civil).13. Saliento minha convicção pessoal de que a parte, que recebe valores por força de tutela judicial carente de eficáciadefinitiva, tem ciência da possibilidade de reversão do título e, por conseguinte, assume os riscos inerentes à situaçãojurídica criada. A precariedade dos pagamentos assim efetuados implica o dever de devolução das verbas recebidas emdecorrência de tutela provisória, ainda que concedida em sentença suscetível de ser atacada por recurso despido de efeitosuspensivo, por não ser legítimo impor ao réu diminuição patrimonial baseada em suporte fático-jurídico que não se mostresuficiente para o julgamento definitivo de procedência do pedido e consequente confirmação da decisão anterior. Esseposicionamento foi acatado em julgados do Superior Tribunal de Justiça, conforme demonstra ementa do acórdão prolatadono julgamento do REsp 1384418/SC (Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 12/06/2013, DJe30/08/2013), abaixo transcrita:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.RECEBIMENTO VIA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA POSTERIORMENTE REVOGADA. DEVOLUÇÃO. REALINHAMENTOJURISPRUDENCIAL. HIPÓTESE ANÁLOGA. SERVIDOR PÚBLICO. CRITÉRIOS. CARÁTER ALIMENTAR E BOA-FÉOBJETIVA. NATUREZA PRECÁRIA DA DECISÃO.RESSARCIMENTO DEVIDO. DESCONTO EM FOLHA. PARÂMETROS.1. Trata-se, na hipótese, de constatar se há o dever de o segurado da Previdência Social devolver valores de benefícioprevidenciário recebidos por força de antecipação de tutela (art. 273 do CPC) posteriormente revogada.2. Historicamente, a jurisprudência do STJ fundamenta-se no princípio da irrepetibilidade dos alimentos para isentar ossegurados do RGPS de restituir valores obtidos por antecipação de tutela que posteriormente é revogada.3. Essa construção derivou da aplicação do citado princípio em Ações Rescisórias julgadas procedentes para cassar

decisão rescindenda que concedeu benefício previdenciário, que, por conseguinte, adveio da construção pretoriana acercada prestação alimentícia do direito de família. A propósito: REsp 728.728/RS, Rel. Ministro José Arnaldo da Fonseca, QuintaTurma, DJ 9.5.2005.4. Já a jurisprudência que cuida da devolução de valores percebidos indevidamente por servidores públicos evoluiu paraconsiderar não apenas o caráter alimentar da verba, mas também a boa-fé objetiva envolvida in casu.5. O elemento que evidencia a boa-fé objetiva no caso é a "legítima confiança ou justificada expectativa, que o beneficiárioadquire, de que valores recebidos são legais e de que integraram em definitivo o seu patrimônio" (AgRg no REsp1.263.480/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 9.9.2011, grifei). Na mesma linha quanto à imposiçãode devolução de valores relativos a servidor público: AgRg no AREsp 40.007/SC, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki,Primeira Turma, DJe 16.4.2012; EDcl nos EDcl no REsp 1.241.909/SC, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, PrimeiraTurma, DJe 15.9.2011;AgRg no REsp 1.332.763/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 28.8.2012; AgRg no REsp 639.544/PR,Rel. Ministra Alderita Ramos de Oliveira (Desembargador Convocada do TJ/PE), Sexta Turma, DJe 29.4.2013; AgRg noREsp 1.177.349/ES, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJe 1º.8.2012; AgRg no RMS 23.746/SC, Rel. Ministro JorgeMussi, Quinta Turma, DJe 14.3.2011.6. Tal compreensão foi validada pela Primeira Seção em julgado sob o rito do art. 543-C do CPC, em situação na qual sedebateu a devolução de valores pagos por erro administrativo: "quando a Administração Pública interpreta erroneamenteuma lei, resultando em pagamento indevido ao servidor, cria-se uma falsa expectativa de que os valores recebidos sãolegais e definitivos, impedindo, assim, que ocorra desconto dos mesmos, ante a boa-fé do servidor público." (REsp1.244.182/PB, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 19.10.2012, grifei).7. Não há dúvida de que os provimentos oriundos de antecipação de tutela (art. 273 do CPC) preenchem o requisito daboa-fé subjetiva, isto é, enquanto o segurado os obteve existia legitimidade jurídica, apesar de precária.8. Do ponto de vista objetivo, por sua vez, inviável falar na percepção, pelo segurado, da definitividade do pagamentorecebido via tutela antecipatória, não havendo o titular do direito precário como pressupor a incorporação irreversível daverba ao seu patrimônio.9. Segundo o art. 3º da LINDB, "ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece", o que induz à premissade que o caráter precário das decisões judiciais liminares é de conhecimento inescusável (art. 273 do CPC).10. Dentro de uma escala axiológica, mostra-se desproporcional o Poder Judiciário desautorizar a reposição do principal aoErário em situações como a dos autos, enquanto se permite que o próprio segurado tome empréstimos e consignedescontos em folha pagando, além do principal, juros remuneratórios a instituições financeiras.11. À luz do princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF) e considerando o dever do segurado de devolveros valores obtidos por força de antecipação de tutela posteriormente revogada, devem ser observados os seguintesparâmetros para o ressarcimento: a) a execução de sentença declaratória do direito deverá ser promovida; b) liquidado eincontroverso o crédito executado, o INSS poderá fazer o desconto em folha de até 10% da remuneração dos benefíciosprevidenciários em manutenção até a satisfação do crédito, adotado por simetria com o percentual aplicado aos servidorespúblicos (art. 46, § 1º, da Lei 8.213/1991.12. Recurso Especial provido.

14. Portanto, deve ocorrer a restituição dos valores recebidos a título de nova aposentadoria concedida na sentença.

15. Ante o exposto, conheço o recurso e dou-lhe provimento para julgar improcedentes os pedidos formulados pelaparte autora, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil. Sem condenação ao pagamento de custas ehonorários advocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n. 9.099/95. Por consequência, revogo a tutela antecipadaconcedida e autorizo a restituição ao INSS dos valores recebidos pela parte autora enquanto vigeu a antecipação dosefeitos da tutela. Sem condenação ao pagamento de custas e honorários advocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n.9.099/95.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

28 - 0107802-44.2014.4.02.5054/01 (2014.50.54.107802-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: PEDRO INOCENCIO BINDA.) x LEDA SILVA DE ALMEIDA (ADVOGADO:ES009962 - CRISTIANO ROSSI CASSARO.).RECURSO Nº 0107802-44.2014.4.02.5054/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDA: LEDA SILVA DE ALMEIDARELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DO INSS CONHECIDO EPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE. TUTELA ANTECIPADA REVOGADA.

1. O INSS interpõe recurso inominado contra sentença que julgou procedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante o

acréscimo de período em que a parte autora continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a autarquia previdenciária sustenta: i) a vedação ao emprego de contribuições posteriores àaposentadoria tem amparo no art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, e no princípio da solidariedade (arts. 194, V, VI, e 195, daConstituição da República de 1988); ii) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenascontribui para o custeio do sistema sem fazer jus à obtenção de aposentadoria; iii) a renúncia unilateral à aposentadoriaconcedida anteriormente infringiria a proteção ao ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da Constituição da República de 1988)e se oporia à opção anterior de requerer benefício com menor tempo de contribuição e renda mensal inferior; iv) a renúnciaà aposentadoria deveria ser aceita somente se houvesse a restituição dos valores que já foram pagos ao segurado, a essetítulo, pelo INSS a fim de que não haja infração ao disposto pelos arts. 11, §3º, e 12, §4º, da Lei n. 8.212/91; v) o julgamentodo pedido compromete o equilíbrio financeiro-atuarial da Seguridade Social (art. 195, §5º, c/c art. 201, caput, daConstituição da República de 1988); e vi) a atualização monetária deve observar a regra prevista pelo art. 1º-F, da Lei n.9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/09, ante a pendência de modulação dos efeitos do julgamento pelo STFdas ADI´s nºs 4.357/DF e 4.425/DF.3. A parte autora apresentou contrarrazões às fls. 120/126, pugnando pela manutenção da sentença em todos os seustermos.4. Inicialmente, assinalo que o reconhecimento de repercussão geral, no RE 661.256, não tem o condão de impedir ojulgamento de recurso inominado que verse sobre a mesma questão afeta ao julgamento do Supremo Tribunal Federal. Oartigo 543-B, § 1º, do Código de Processo Civil, que determina o sobrestamento dos recursos extraordinários cuja matériaseja objeto de repercussão geral, razão por que os demais recursos seguem o seu processamento, conforme previsãolegal.5. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.6. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).7. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.8. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.9. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.10. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexiste

direito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”11. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.12. Nessas condições, não assiste razão à parte autora em seu pleito. Destaco que a revogação da antecipação dos efeitosda tutela caracteriza-se como consectário lógico do julgado que dá provimento ao recurso da parte ré para julgarimprocedente o pedido. Com efeito, não se pode cogitar da subsistência da tutela antecipada, ante a sua natureza precáriae a ausência de autonomia em relação ao resultado final do julgamento (art. 273, §§4º e 5º, do Código de Processo Civil).13. Saliento minha convicção pessoal de que a parte, que recebe valores por força de tutela judicial carente de eficáciadefinitiva, tem ciência da possibilidade de reversão do título e, por conseguinte, assume os riscos inerentes à situaçãojurídica criada. A precariedade dos pagamentos assim efetuados implica o dever de devolução das verbas recebidas emdecorrência de tutela provisória, ainda que concedida em sentença suscetível de ser atacada por recurso despido de efeitosuspensivo, por não ser legítimo impor ao réu diminuição patrimonial baseada em suporte fático-jurídico que não se mostresuficiente para o julgamento definitivo de procedência do pedido e consequente confirmação da decisão anterior. Esseposicionamento foi acatado em julgados do Superior Tribunal de Justiça, conforme demonstra ementa do acórdão prolatadono julgamento do REsp 1384418/SC (Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 12/06/2013, DJe30/08/2013), abaixo transcrita:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.RECEBIMENTO VIA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA POSTERIORMENTE REVOGADA. DEVOLUÇÃO. REALINHAMENTOJURISPRUDENCIAL. HIPÓTESE ANÁLOGA. SERVIDOR PÚBLICO. CRITÉRIOS. CARÁTER ALIMENTAR E BOA-FÉOBJETIVA. NATUREZA PRECÁRIA DA DECISÃO.RESSARCIMENTO DEVIDO. DESCONTO EM FOLHA. PARÂMETROS.1. Trata-se, na hipótese, de constatar se há o dever de o segurado da Previdência Social devolver valores de benefícioprevidenciário recebidos por força de antecipação de tutela (art. 273 do CPC) posteriormente revogada.2. Historicamente, a jurisprudência do STJ fundamenta-se no princípio da irrepetibilidade dos alimentos para isentar ossegurados do RGPS de restituir valores obtidos por antecipação de tutela que posteriormente é revogada.3. Essa construção derivou da aplicação do citado princípio em Ações Rescisórias julgadas procedentes para cassardecisão rescindenda que concedeu benefício previdenciário, que, por conseguinte, adveio da construção pretoriana acercada prestação alimentícia do direito de família. A propósito: REsp 728.728/RS, Rel. Ministro José Arnaldo da Fonseca, QuintaTurma, DJ 9.5.2005.4. Já a jurisprudência que cuida da devolução de valores percebidos indevidamente por servidores públicos evoluiu paraconsiderar não apenas o caráter alimentar da verba, mas também a boa-fé objetiva envolvida in casu.5. O elemento que evidencia a boa-fé objetiva no caso é a "legítima confiança ou justificada expectativa, que o beneficiárioadquire, de que valores recebidos são legais e de que integraram em definitivo o seu patrimônio" (AgRg no REsp1.263.480/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 9.9.2011, grifei). Na mesma linha quanto à imposiçãode devolução de valores relativos a servidor público: AgRg no AREsp 40.007/SC, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki,Primeira Turma, DJe 16.4.2012; EDcl nos EDcl no REsp 1.241.909/SC, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, PrimeiraTurma, DJe 15.9.2011;AgRg no REsp 1.332.763/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 28.8.2012; AgRg no REsp 639.544/PR,Rel. Ministra Alderita Ramos de Oliveira (Desembargador Convocada do TJ/PE), Sexta Turma, DJe 29.4.2013; AgRg noREsp 1.177.349/ES, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJe 1º.8.2012; AgRg no RMS 23.746/SC, Rel. Ministro JorgeMussi, Quinta Turma, DJe 14.3.2011.6. Tal compreensão foi validada pela Primeira Seção em julgado sob o rito do art. 543-C do CPC, em situação na qual sedebateu a devolução de valores pagos por erro administrativo: "quando a Administração Pública interpreta erroneamenteuma lei, resultando em pagamento indevido ao servidor, cria-se uma falsa expectativa de que os valores recebidos sãolegais e definitivos, impedindo, assim, que ocorra desconto dos mesmos, ante a boa-fé do servidor público." (REsp1.244.182/PB, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 19.10.2012, grifei).7. Não há dúvida de que os provimentos oriundos de antecipação de tutela (art. 273 do CPC) preenchem o requisito daboa-fé subjetiva, isto é, enquanto o segurado os obteve existia legitimidade jurídica, apesar de precária.8. Do ponto de vista objetivo, por sua vez, inviável falar na percepção, pelo segurado, da definitividade do pagamentorecebido via tutela antecipatória, não havendo o titular do direito precário como pressupor a incorporação irreversível da

verba ao seu patrimônio.9. Segundo o art. 3º da LINDB, "ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece", o que induz à premissade que o caráter precário das decisões judiciais liminares é de conhecimento inescusável (art. 273 do CPC).10. Dentro de uma escala axiológica, mostra-se desproporcional o Poder Judiciário desautorizar a reposição do principal aoErário em situações como a dos autos, enquanto se permite que o próprio segurado tome empréstimos e consignedescontos em folha pagando, além do principal, juros remuneratórios a instituições financeiras.11. À luz do princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF) e considerando o dever do segurado de devolveros valores obtidos por força de antecipação de tutela posteriormente revogada, devem ser observados os seguintesparâmetros para o ressarcimento: a) a execução de sentença declaratória do direito deverá ser promovida; b) liquidado eincontroverso o crédito executado, o INSS poderá fazer o desconto em folha de até 10% da remuneração dos benefíciosprevidenciários em manutenção até a satisfação do crédito, adotado por simetria com o percentual aplicado aos servidorespúblicos (art. 46, § 1º, da Lei 8.213/1991.12. Recurso Especial provido.

14. Portanto, deve ocorrer a restituição dos valores recebidos a título de nova aposentadoria concedida na sentença.15. Ante o exposto, conheço o recurso e dou-lhe provimento para julgar improcedentes os pedidos formulados pelaparte autora, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil. Sem condenação ao pagamento de custas ehonorários advocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n. 9.099/95. Por consequência, revogo a tutela antecipadaconcedida e autorizo a restituição ao INSS dos valores recebidos pela parte autora enquanto vigeu a antecipação dosefeitos da tutela. Sem condenação ao pagamento de custas e honorários advocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n.9.099/95.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

29 - 0106950-20.2014.4.02.5054/01 (2014.50.54.106950-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: LUIZ CLÁUDIO SALDANHA SALES.) x JOSÉ FRANCISCO MAFRA (ADVOGADO:ES016350 - LUCAS GAVA FIGUEREDO.).RECURSO Nº 0106950-20.2014.4.02.5054/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: JOSÉ FRANCISCO MAFRARELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DO INSS CONHECIDO EPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE. TUTELA ANTECIPADA REVOGADA.

1. O INSS interpõe recurso inominado contra sentença que julgou procedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante oacréscimo de período em que a parte autora continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a autarquia previdenciária sustenta: i) a vedação ao emprego de contribuições posteriores àaposentadoria tem amparo no art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, e no princípio da solidariedade (arts. 194, V, VI, e 195, daConstituição da República de 1988); ii) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenascontribui para o custeio do sistema sem fazer jus à obtenção de aposentadoria; iii) a renúncia unilateral à aposentadoriaconcedida anteriormente infringiria a proteção ao ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da Constituição da República de 1988)e se oporia à opção anterior de requerer benefício com menor tempo de contribuição e renda mensal inferior; iv) a renúnciaà aposentadoria deveria ser aceita somente se houvesse a restituição dos valores que já foram pagos ao segurado, a essetítulo, pelo INSS a fim de que não haja infração ao disposto pelos arts. 11, §3º, e 12, §4º, da Lei n. 8.212/91; v) o julgamentodo pedido compromete o equilíbrio financeiro-atuarial da Seguridade Social (art. 195, §5º, c/c art. 201, caput, daConstituição da República de 1988); e vi) a atualização monetária deve observar a regra prevista pelo art. 1º-F, da Lei n.9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/09, ante a pendência de modulação dos efeitos do julgamento pelo STFdas ADI´s nºs 4.357/DF e 4.425/DF.3. A parte autora apresentou contrarrazões às fls. 106/124, pugnando pela manutenção da sentença em todos os seustermos.4. Inicialmente, assinalo que o reconhecimento de repercussão geral, no RE 661.256, não tem o condão de impedir ojulgamento de recurso inominado que verse sobre a mesma questão afeta ao julgamento do Supremo Tribunal Federal. Oartigo 543-B, § 1º, do Código de Processo Civil, que determina o sobrestamento dos recursos extraordinários cuja matériaseja objeto de repercussão geral, razão por que os demais recursos seguem o seu processamento, conforme previsãolegal.5. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,

prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.6. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).7. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.8. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.9. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.10. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”11. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.12. Nessas condições, não assiste razão à parte autora em seu pleito. Destaco que a revogação da antecipação dos efeitosda tutela caracteriza-se como consectário lógico do julgado que dá provimento ao recurso da parte ré para julgarimprocedente o pedido. Com efeito, não se pode cogitar da subsistência da tutela antecipada, ante a sua natureza precáriae a ausência de autonomia em relação ao resultado final do julgamento (art. 273, §§4º e 5º, do Código de Processo Civil).13. Saliento minha convicção pessoal de que a parte, que recebe valores por força de tutela judicial carente de eficácia

definitiva, tem ciência da possibilidade de reversão do título e, por conseguinte, assume os riscos inerentes à situaçãojurídica criada. A precariedade dos pagamentos assim efetuados implica o dever de devolução das verbas recebidas emdecorrência de tutela provisória, ainda que concedida em sentença suscetível de ser atacada por recurso despido de efeitosuspensivo, por não ser legítimo impor ao réu diminuição patrimonial baseada em suporte fático-jurídico que não se mostresuficiente para o julgamento definitivo de procedência do pedido e consequente confirmação da decisão anterior. Esseposicionamento foi acatado em julgados do Superior Tribunal de Justiça, conforme demonstra ementa do acórdão prolatadono julgamento do REsp 1384418/SC (Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 12/06/2013, DJe30/08/2013), abaixo transcrita:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.RECEBIMENTO VIA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA POSTERIORMENTE REVOGADA. DEVOLUÇÃO. REALINHAMENTOJURISPRUDENCIAL. HIPÓTESE ANÁLOGA. SERVIDOR PÚBLICO. CRITÉRIOS. CARÁTER ALIMENTAR E BOA-FÉOBJETIVA. NATUREZA PRECÁRIA DA DECISÃO.RESSARCIMENTO DEVIDO. DESCONTO EM FOLHA. PARÂMETROS.1. Trata-se, na hipótese, de constatar se há o dever de o segurado da Previdência Social devolver valores de benefícioprevidenciário recebidos por força de antecipação de tutela (art. 273 do CPC) posteriormente revogada.2. Historicamente, a jurisprudência do STJ fundamenta-se no princípio da irrepetibilidade dos alimentos para isentar ossegurados do RGPS de restituir valores obtidos por antecipação de tutela que posteriormente é revogada.3. Essa construção derivou da aplicação do citado princípio em Ações Rescisórias julgadas procedentes para cassardecisão rescindenda que concedeu benefício previdenciário, que, por conseguinte, adveio da construção pretoriana acercada prestação alimentícia do direito de família. A propósito: REsp 728.728/RS, Rel. Ministro José Arnaldo da Fonseca, QuintaTurma, DJ 9.5.2005.4. Já a jurisprudência que cuida da devolução de valores percebidos indevidamente por servidores públicos evoluiu paraconsiderar não apenas o caráter alimentar da verba, mas também a boa-fé objetiva envolvida in casu.5. O elemento que evidencia a boa-fé objetiva no caso é a "legítima confiança ou justificada expectativa, que o beneficiárioadquire, de que valores recebidos são legais e de que integraram em definitivo o seu patrimônio" (AgRg no REsp1.263.480/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 9.9.2011, grifei). Na mesma linha quanto à imposiçãode devolução de valores relativos a servidor público: AgRg no AREsp 40.007/SC, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki,Primeira Turma, DJe 16.4.2012; EDcl nos EDcl no REsp 1.241.909/SC, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, PrimeiraTurma, DJe 15.9.2011;AgRg no REsp 1.332.763/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 28.8.2012; AgRg no REsp 639.544/PR,Rel. Ministra Alderita Ramos de Oliveira (Desembargador Convocada do TJ/PE), Sexta Turma, DJe 29.4.2013; AgRg noREsp 1.177.349/ES, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJe 1º.8.2012; AgRg no RMS 23.746/SC, Rel. Ministro JorgeMussi, Quinta Turma, DJe 14.3.2011.6. Tal compreensão foi validada pela Primeira Seção em julgado sob o rito do art. 543-C do CPC, em situação na qual sedebateu a devolução de valores pagos por erro administrativo: "quando a Administração Pública interpreta erroneamenteuma lei, resultando em pagamento indevido ao servidor, cria-se uma falsa expectativa de que os valores recebidos sãolegais e definitivos, impedindo, assim, que ocorra desconto dos mesmos, ante a boa-fé do servidor público." (REsp1.244.182/PB, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 19.10.2012, grifei).7. Não há dúvida de que os provimentos oriundos de antecipação de tutela (art. 273 do CPC) preenchem o requisito daboa-fé subjetiva, isto é, enquanto o segurado os obteve existia legitimidade jurídica, apesar de precária.8. Do ponto de vista objetivo, por sua vez, inviável falar na percepção, pelo segurado, da definitividade do pagamentorecebido via tutela antecipatória, não havendo o titular do direito precário como pressupor a incorporação irreversível daverba ao seu patrimônio.9. Segundo o art. 3º da LINDB, "ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece", o que induz à premissade que o caráter precário das decisões judiciais liminares é de conhecimento inescusável (art. 273 do CPC).10. Dentro de uma escala axiológica, mostra-se desproporcional o Poder Judiciário desautorizar a reposição do principal aoErário em situações como a dos autos, enquanto se permite que o próprio segurado tome empréstimos e consignedescontos em folha pagando, além do principal, juros remuneratórios a instituições financeiras.11. À luz do princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF) e considerando o dever do segurado de devolveros valores obtidos por força de antecipação de tutela posteriormente revogada, devem ser observados os seguintesparâmetros para o ressarcimento: a) a execução de sentença declaratória do direito deverá ser promovida; b) liquidado eincontroverso o crédito executado, o INSS poderá fazer o desconto em folha de até 10% da remuneração dos benefíciosprevidenciários em manutenção até a satisfação do crédito, adotado por simetria com o percentual aplicado aos servidorespúblicos (art. 46, § 1º, da Lei 8.213/1991.12. Recurso Especial provido.

14. Portanto, deve ocorrer a restituição dos valores recebidos a título de nova aposentadoria concedida na sentença.15. Ante o exposto, conheço o recurso e dou-lhe provimento para julgar improcedentes os pedidos formulados pelaparte autora, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil. Sem condenação ao pagamento de custas ehonorários advocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n. 9.099/95. Por consequência, revogo a tutela antecipadaconcedida e autorizo a restituição ao INSS dos valores recebidos pela parte autora enquanto vigeu a antecipação dosefeitos da tutela. Sem condenação ao pagamento de custas e honorários advocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n.9.099/95.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

30 - 0109815-16.2014.4.02.5054/01 (2014.50.54.109815-4/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: PEDRO INOCENCIO BINDA.) x BENJAMIN CARLOS FILHO (ADVOGADO:ES019221 - AMAURI BRAS CASER.).RECURSO Nº 0109815-16.2014.4.02.5054/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: BENJAMIN CARLOS FILHORELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DO INSS CONHECIDO EPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE. TUTELA ANTECIPADA REVOGADA.

1. O INSS interpõe recurso inominado contra sentença que julgou procedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante oacréscimo de período em que a parte autora continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a autarquia previdenciária sustenta: i) a vedação ao emprego de contribuições posteriores àaposentadoria tem amparo no art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, e no princípio da solidariedade (arts. 194, V, VI, e 195, daConstituição da República de 1988); ii) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenascontribui para o custeio do sistema sem fazer jus à obtenção de aposentadoria; iii) a renúncia unilateral à aposentadoriaconcedida anteriormente infringiria a proteção ao ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da Constituição da República de 1988)e se oporia à opção anterior de requerer benefício com menor tempo de contribuição e renda mensal inferior; iv) a renúnciaà aposentadoria deveria ser aceita somente se houvesse a restituição dos valores que já foram pagos ao segurado, a essetítulo, pelo INSS a fim de que não haja infração ao disposto pelos arts. 11, §3º, e 12, §4º, da Lei n. 8.212/91; v) o julgamentodo pedido compromete o equilíbrio financeiro-atuarial da Seguridade Social (art. 195, §5º, c/c art. 201, caput, daConstituição da República de 1988); e vi) a atualização monetária deve observar a regra prevista pelo art. 1º-F, da Lei n.9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/09, ante a pendência de modulação dos efeitos do julgamento pelo STFdas ADI´s nºs 4.357/DF e 4.425/DF.3. A parte autora apresentou contrarrazões às fls. 145/165, pugnando pela manutenção da sentença em todos os seustermos.4. Inicialmente, assinalo que o reconhecimento de repercussão geral, no RE 661.256, não tem o condão de impedir ojulgamento de recurso inominado que verse sobre a mesma questão afeta ao julgamento do Supremo Tribunal Federal. Oartigo 543-B, § 1º, do Código de Processo Civil, que determina o sobrestamento dos recursos extraordinários cuja matériaseja objeto de repercussão geral, razão por que os demais recursos seguem o seu processamento, conforme previsãolegal.5. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.6. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).7. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.8. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.

9. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.10. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”11. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.12. Nessas condições, não assiste razão à parte autora em seu pleito. Destaco que a revogação da antecipação dos efeitosda tutela caracteriza-se como consectário lógico do julgado que dá provimento ao recurso da parte ré para julgarimprocedente o pedido. Com efeito, não se pode cogitar da subsistência da tutela antecipada, ante a sua natureza precáriae a ausência de autonomia em relação ao resultado final do julgamento (art. 273, §§4º e 5º, do Código de Processo Civil).13. Saliento minha convicção pessoal de que a parte, que recebe valores por força de tutela judicial carente de eficáciadefinitiva, tem ciência da possibilidade de reversão do título e, por conseguinte, assume os riscos inerentes à situaçãojurídica criada. A precariedade dos pagamentos assim efetuados implica o dever de devolução das verbas recebidas emdecorrência de tutela provisória, ainda que concedida em sentença suscetível de ser atacada por recurso despido de efeitosuspensivo, por não ser legítimo impor ao réu diminuição patrimonial baseada em suporte fático-jurídico que não se mostresuficiente para o julgamento definitivo de procedência do pedido e consequente confirmação da decisão anterior. Esseposicionamento foi acatado em julgados do Superior Tribunal de Justiça, conforme demonstra ementa do acórdão prolatadono julgamento do REsp 1384418/SC (Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 12/06/2013, DJe30/08/2013), abaixo transcrita:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.RECEBIMENTO VIA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA POSTERIORMENTE REVOGADA. DEVOLUÇÃO. REALINHAMENTOJURISPRUDENCIAL. HIPÓTESE ANÁLOGA. SERVIDOR PÚBLICO. CRITÉRIOS. CARÁTER ALIMENTAR E BOA-FÉOBJETIVA. NATUREZA PRECÁRIA DA DECISÃO.RESSARCIMENTO DEVIDO. DESCONTO EM FOLHA. PARÂMETROS.1. Trata-se, na hipótese, de constatar se há o dever de o segurado da Previdência Social devolver valores de benefícioprevidenciário recebidos por força de antecipação de tutela (art. 273 do CPC) posteriormente revogada.2. Historicamente, a jurisprudência do STJ fundamenta-se no princípio da irrepetibilidade dos alimentos para isentar ossegurados do RGPS de restituir valores obtidos por antecipação de tutela que posteriormente é revogada.3. Essa construção derivou da aplicação do citado princípio em Ações Rescisórias julgadas procedentes para cassardecisão rescindenda que concedeu benefício previdenciário, que, por conseguinte, adveio da construção pretoriana acercada prestação alimentícia do direito de família. A propósito: REsp 728.728/RS, Rel. Ministro José Arnaldo da Fonseca, QuintaTurma, DJ 9.5.2005.4. Já a jurisprudência que cuida da devolução de valores percebidos indevidamente por servidores públicos evoluiu paraconsiderar não apenas o caráter alimentar da verba, mas também a boa-fé objetiva envolvida in casu.5. O elemento que evidencia a boa-fé objetiva no caso é a "legítima confiança ou justificada expectativa, que o beneficiário

adquire, de que valores recebidos são legais e de que integraram em definitivo o seu patrimônio" (AgRg no REsp1.263.480/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 9.9.2011, grifei). Na mesma linha quanto à imposiçãode devolução de valores relativos a servidor público: AgRg no AREsp 40.007/SC, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki,Primeira Turma, DJe 16.4.2012; EDcl nos EDcl no REsp 1.241.909/SC, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, PrimeiraTurma, DJe 15.9.2011;AgRg no REsp 1.332.763/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 28.8.2012; AgRg no REsp 639.544/PR,Rel. Ministra Alderita Ramos de Oliveira (Desembargador Convocada do TJ/PE), Sexta Turma, DJe 29.4.2013; AgRg noREsp 1.177.349/ES, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJe 1º.8.2012; AgRg no RMS 23.746/SC, Rel. Ministro JorgeMussi, Quinta Turma, DJe 14.3.2011.6. Tal compreensão foi validada pela Primeira Seção em julgado sob o rito do art. 543-C do CPC, em situação na qual sedebateu a devolução de valores pagos por erro administrativo: "quando a Administração Pública interpreta erroneamenteuma lei, resultando em pagamento indevido ao servidor, cria-se uma falsa expectativa de que os valores recebidos sãolegais e definitivos, impedindo, assim, que ocorra desconto dos mesmos, ante a boa-fé do servidor público." (REsp1.244.182/PB, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 19.10.2012, grifei).7. Não há dúvida de que os provimentos oriundos de antecipação de tutela (art. 273 do CPC) preenchem o requisito daboa-fé subjetiva, isto é, enquanto o segurado os obteve existia legitimidade jurídica, apesar de precária.8. Do ponto de vista objetivo, por sua vez, inviável falar na percepção, pelo segurado, da definitividade do pagamentorecebido via tutela antecipatória, não havendo o titular do direito precário como pressupor a incorporação irreversível daverba ao seu patrimônio.9. Segundo o art. 3º da LINDB, "ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece", o que induz à premissade que o caráter precário das decisões judiciais liminares é de conhecimento inescusável (art. 273 do CPC).10. Dentro de uma escala axiológica, mostra-se desproporcional o Poder Judiciário desautorizar a reposição do principal aoErário em situações como a dos autos, enquanto se permite que o próprio segurado tome empréstimos e consignedescontos em folha pagando, além do principal, juros remuneratórios a instituições financeiras.11. À luz do princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF) e considerando o dever do segurado de devolveros valores obtidos por força de antecipação de tutela posteriormente revogada, devem ser observados os seguintesparâmetros para o ressarcimento: a) a execução de sentença declaratória do direito deverá ser promovida; b) liquidado eincontroverso o crédito executado, o INSS poderá fazer o desconto em folha de até 10% da remuneração dos benefíciosprevidenciários em manutenção até a satisfação do crédito, adotado por simetria com o percentual aplicado aos servidorespúblicos (art. 46, § 1º, da Lei 8.213/1991.12. Recurso Especial provido.

14. Portanto, deve ocorrer a restituição dos valores recebidos a título de nova aposentadoria concedida na sentença.

15. Ante o exposto, conheço o recurso e dou-lhe provimento para julgar improcedentes os pedidos formulados pelaparte autora, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil. Sem condenação ao pagamento de custas ehonorários advocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n. 9.099/95. Por consequência, revogo a tutela antecipadaconcedida e autorizo a restituição ao INSS dos valores recebidos pela parte autora enquanto vigeu a antecipação dosefeitos da tutela. Sem condenação ao pagamento de custas e honorários advocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n.9.099/95.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

31 - 0107723-65.2014.4.02.5054/01 (2014.50.54.107723-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: PEDRO INOCENCIO BINDA.) x ALDECIR ROQUE TOREZANI (ADVOGADO:ES019221 - AMAURI BRAS CASER.).RECURSO Nº 0107723-65.2014.4.02.5054/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ALDECIR ROQUE TOREZANIRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DO INSS CONHECIDO EPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE. TUTELA ANTECIPADA REVOGADA.

1. O INSS interpõe recurso inominado contra sentença que julgou procedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante oacréscimo de período em que a parte autora continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a autarquia previdenciária sustenta: i) a vedação ao emprego de contribuições posteriores àaposentadoria tem amparo no art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, e no princípio da solidariedade (arts. 194, V, VI, e 195, daConstituição da República de 1988); ii) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenascontribui para o custeio do sistema sem fazer jus à obtenção de aposentadoria; iii) a renúncia unilateral à aposentadoriaconcedida anteriormente infringiria a proteção ao ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da Constituição da República de 1988)

e se oporia à opção anterior de requerer benefício com menor tempo de contribuição e renda mensal inferior; iv) a renúnciaà aposentadoria deveria ser aceita somente se houvesse a restituição dos valores que já foram pagos ao segurado, a essetítulo, pelo INSS a fim de que não haja infração ao disposto pelos arts. 11, §3º, e 12, §4º, da Lei n. 8.212/91; v) o julgamentodo pedido compromete o equilíbrio financeiro-atuarial da Seguridade Social (art. 195, §5º, c/c art. 201, caput, daConstituição da República de 1988); e vi) a atualização monetária deve observar a regra prevista pelo art. 1º-F, da Lei n.9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/09, ante a pendência de modulação dos efeitos do julgamento pelo STFdas ADI´s nºs 4.357/DF e 4.425/DF.3. A parte autora apresentou contrarrazões às fls. 128/148, pugnando pela manutenção da sentença em todos os seustermos.4. Inicialmente, assinalo que o reconhecimento de repercussão geral, no RE 661.256, não tem o condão de impedir ojulgamento de recurso inominado que verse sobre a mesma questão afeta ao julgamento do Supremo Tribunal Federal. Oartigo 543-B, § 1º, do Código de Processo Civil, que determina o sobrestamento dos recursos extraordinários cuja matériaseja objeto de repercussão geral, razão por que os demais recursos seguem o seu processamento, conforme previsãolegal.5. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.6. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).7. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.8. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.9. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.10. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:

“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”11. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.12. Nessas condições, não assiste razão à parte autora em seu pleito. Destaco que a revogação da antecipação dos efeitosda tutela caracteriza-se como consectário lógico do julgado que dá provimento ao recurso da parte ré para julgarimprocedente o pedido. Com efeito, não se pode cogitar da subsistência da tutela antecipada, ante a sua natureza precáriae a ausência de autonomia em relação ao resultado final do julgamento (art. 273, §§4º e 5º, do Código de Processo Civil).13. Saliento minha convicção pessoal de que a parte, que recebe valores por força de tutela judicial carente de eficáciadefinitiva, tem ciência da possibilidade de reversão do título e, por conseguinte, assume os riscos inerentes à situaçãojurídica criada. A precariedade dos pagamentos assim efetuados implica o dever de devolução das verbas recebidas emdecorrência de tutela provisória, ainda que concedida em sentença suscetível de ser atacada por recurso despido de efeitosuspensivo, por não ser legítimo impor ao réu diminuição patrimonial baseada em suporte fático-jurídico que não se mostresuficiente para o julgamento definitivo de procedência do pedido e consequente confirmação da decisão anterior. Esseposicionamento foi acatado em julgados do Superior Tribunal de Justiça, conforme demonstra ementa do acórdão prolatadono julgamento do REsp 1384418/SC (Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 12/06/2013, DJe30/08/2013), abaixo transcrita:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.RECEBIMENTO VIA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA POSTERIORMENTE REVOGADA. DEVOLUÇÃO. REALINHAMENTOJURISPRUDENCIAL. HIPÓTESE ANÁLOGA. SERVIDOR PÚBLICO. CRITÉRIOS. CARÁTER ALIMENTAR E BOA-FÉOBJETIVA. NATUREZA PRECÁRIA DA DECISÃO.RESSARCIMENTO DEVIDO. DESCONTO EM FOLHA. PARÂMETROS.1. Trata-se, na hipótese, de constatar se há o dever de o segurado da Previdência Social devolver valores de benefícioprevidenciário recebidos por força de antecipação de tutela (art. 273 do CPC) posteriormente revogada.2. Historicamente, a jurisprudência do STJ fundamenta-se no princípio da irrepetibilidade dos alimentos para isentar ossegurados do RGPS de restituir valores obtidos por antecipação de tutela que posteriormente é revogada.3. Essa construção derivou da aplicação do citado princípio em Ações Rescisórias julgadas procedentes para cassardecisão rescindenda que concedeu benefício previdenciário, que, por conseguinte, adveio da construção pretoriana acercada prestação alimentícia do direito de família. A propósito: REsp 728.728/RS, Rel. Ministro José Arnaldo da Fonseca, QuintaTurma, DJ 9.5.2005.4. Já a jurisprudência que cuida da devolução de valores percebidos indevidamente por servidores públicos evoluiu paraconsiderar não apenas o caráter alimentar da verba, mas também a boa-fé objetiva envolvida in casu.5. O elemento que evidencia a boa-fé objetiva no caso é a "legítima confiança ou justificada expectativa, que o beneficiárioadquire, de que valores recebidos são legais e de que integraram em definitivo o seu patrimônio" (AgRg no REsp1.263.480/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 9.9.2011, grifei). Na mesma linha quanto à imposiçãode devolução de valores relativos a servidor público: AgRg no AREsp 40.007/SC, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki,Primeira Turma, DJe 16.4.2012; EDcl nos EDcl no REsp 1.241.909/SC, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, PrimeiraTurma, DJe 15.9.2011;AgRg no REsp 1.332.763/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 28.8.2012; AgRg no REsp 639.544/PR,Rel. Ministra Alderita Ramos de Oliveira (Desembargador Convocada do TJ/PE), Sexta Turma, DJe 29.4.2013; AgRg noREsp 1.177.349/ES, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJe 1º.8.2012; AgRg no RMS 23.746/SC, Rel. Ministro JorgeMussi, Quinta Turma, DJe 14.3.2011.6. Tal compreensão foi validada pela Primeira Seção em julgado sob o rito do art. 543-C do CPC, em situação na qual sedebateu a devolução de valores pagos por erro administrativo: "quando a Administração Pública interpreta erroneamenteuma lei, resultando em pagamento indevido ao servidor, cria-se uma falsa expectativa de que os valores recebidos sãolegais e definitivos, impedindo, assim, que ocorra desconto dos mesmos, ante a boa-fé do servidor público." (REsp1.244.182/PB, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 19.10.2012, grifei).7. Não há dúvida de que os provimentos oriundos de antecipação de tutela (art. 273 do CPC) preenchem o requisito daboa-fé subjetiva, isto é, enquanto o segurado os obteve existia legitimidade jurídica, apesar de precária.8. Do ponto de vista objetivo, por sua vez, inviável falar na percepção, pelo segurado, da definitividade do pagamentorecebido via tutela antecipatória, não havendo o titular do direito precário como pressupor a incorporação irreversível daverba ao seu patrimônio.9. Segundo o art. 3º da LINDB, "ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece", o que induz à premissade que o caráter precário das decisões judiciais liminares é de conhecimento inescusável (art. 273 do CPC).10. Dentro de uma escala axiológica, mostra-se desproporcional o Poder Judiciário desautorizar a reposição do principal aoErário em situações como a dos autos, enquanto se permite que o próprio segurado tome empréstimos e consignedescontos em folha pagando, além do principal, juros remuneratórios a instituições financeiras.

11. À luz do princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF) e considerando o dever do segurado de devolveros valores obtidos por força de antecipação de tutela posteriormente revogada, devem ser observados os seguintesparâmetros para o ressarcimento: a) a execução de sentença declaratória do direito deverá ser promovida; b) liquidado eincontroverso o crédito executado, o INSS poderá fazer o desconto em folha de até 10% da remuneração dos benefíciosprevidenciários em manutenção até a satisfação do crédito, adotado por simetria com o percentual aplicado aos servidorespúblicos (art. 46, § 1º, da Lei 8.213/1991.12. Recurso Especial provido.

14. Portanto, deve ocorrer a restituição dos valores recebidos a título de nova aposentadoria concedida na sentença.

15. Ante o exposto, conheço o recurso e dou-lhe provimento para julgar improcedentes os pedidos formulados pelaparte autora, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil. Sem condenação ao pagamento de custas ehonorários advocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n. 9.099/95. Por consequência, revogo a tutela antecipadaconcedida e autorizo a restituição ao INSS dos valores recebidos pela parte autora enquanto vigeu a antecipação dosefeitos da tutela. Sem condenação ao pagamento de custas e honorários advocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n.9.099/95.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

32 - 0106255-66.2014.4.02.5054/01 (2014.50.54.106255-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: PEDRO INOCENCIO BINDA.) x LUIZ GONÇALVES (ADVOGADO: ES019221 -AMAURI BRAS CASER.).RECURSO Nº 0106255-66.2014.4.02.5054/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: LUIZ GONÇALVESRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DO INSS CONHECIDO EPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE. TUTELA ANTECIPADA REVOGADA.

1. O INSS interpõe recurso inominado contra sentença que julgou procedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante oacréscimo de período em que a parte autora continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a autarquia previdenciária sustenta: i) a vedação ao emprego de contribuições posteriores àaposentadoria tem amparo no art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, e no princípio da solidariedade (arts. 194, V, VI, e 195, daConstituição da República de 1988); ii) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenascontribui para o custeio do sistema sem fazer jus à obtenção de aposentadoria; iii) a renúncia unilateral à aposentadoriaconcedida anteriormente infringiria a proteção ao ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da Constituição da República de 1988)e se oporia à opção anterior de requerer benefício com menor tempo de contribuição e renda mensal inferior; iv) a renúnciaà aposentadoria deveria ser aceita somente se houvesse a restituição dos valores que já foram pagos ao segurado, a essetítulo, pelo INSS a fim de que não haja infração ao disposto pelos arts. 11, §3º, e 12, §4º, da Lei n. 8.212/91; v) o julgamentodo pedido compromete o equilíbrio financeiro-atuarial da Seguridade Social (art. 195, §5º, c/c art. 201, caput, daConstituição da República de 1988); e vi) a atualização monetária deve observar a regra prevista pelo art. 1º-F, da Lei n.9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/09, ante a pendência de modulação dos efeitos do julgamento pelo STFdas ADI´s nºs 4.357/DF e 4.425/DF.3. A parte autora apresentou contrarrazões às fls. 144/164, pugnando pela manutenção da sentença em todos os seustermos.4. Inicialmente, assinalo que o reconhecimento de repercussão geral, no RE 661.256, não tem o condão de impedir ojulgamento de recurso inominado que verse sobre a mesma questão afeta ao julgamento do Supremo Tribunal Federal. Oartigo 543-B, § 1º, do Código de Processo Civil, que determina o sobrestamento dos recursos extraordinários cuja matériaseja objeto de repercussão geral, razão por que os demais recursos seguem o seu processamento, conforme previsãolegal.5. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.6. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuições

pagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).7. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.8. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.9. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.10. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”11. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.12. Nessas condições, não assiste razão à parte autora em seu pleito. Destaco que a revogação da antecipação dos efeitosda tutela caracteriza-se como consectário lógico do julgado que dá provimento ao recurso da parte ré para julgarimprocedente o pedido. Com efeito, não se pode cogitar da subsistência da tutela antecipada, ante a sua natureza precáriae a ausência de autonomia em relação ao resultado final do julgamento (art. 273, §§4º e 5º, do Código de Processo Civil).13. Saliento minha convicção pessoal de que a parte, que recebe valores por força de tutela judicial carente de eficáciadefinitiva, tem ciência da possibilidade de reversão do título e, por conseguinte, assume os riscos inerentes à situaçãojurídica criada. A precariedade dos pagamentos assim efetuados implica o dever de devolução das verbas recebidas emdecorrência de tutela provisória, ainda que concedida em sentença suscetível de ser atacada por recurso despido de efeitosuspensivo, por não ser legítimo impor ao réu diminuição patrimonial baseada em suporte fático-jurídico que não se mostresuficiente para o julgamento definitivo de procedência do pedido e consequente confirmação da decisão anterior. Esse

posicionamento foi acatado em julgados do Superior Tribunal de Justiça, conforme demonstra ementa do acórdão prolatadono julgamento do REsp 1384418/SC (Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 12/06/2013, DJe30/08/2013), abaixo transcrita:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.RECEBIMENTO VIA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA POSTERIORMENTE REVOGADA. DEVOLUÇÃO. REALINHAMENTOJURISPRUDENCIAL. HIPÓTESE ANÁLOGA. SERVIDOR PÚBLICO. CRITÉRIOS. CARÁTER ALIMENTAR E BOA-FÉOBJETIVA. NATUREZA PRECÁRIA DA DECISÃO.RESSARCIMENTO DEVIDO. DESCONTO EM FOLHA. PARÂMETROS.1. Trata-se, na hipótese, de constatar se há o dever de o segurado da Previdência Social devolver valores de benefícioprevidenciário recebidos por força de antecipação de tutela (art. 273 do CPC) posteriormente revogada.2. Historicamente, a jurisprudência do STJ fundamenta-se no princípio da irrepetibilidade dos alimentos para isentar ossegurados do RGPS de restituir valores obtidos por antecipação de tutela que posteriormente é revogada.3. Essa construção derivou da aplicação do citado princípio em Ações Rescisórias julgadas procedentes para cassardecisão rescindenda que concedeu benefício previdenciário, que, por conseguinte, adveio da construção pretoriana acercada prestação alimentícia do direito de família. A propósito: REsp 728.728/RS, Rel. Ministro José Arnaldo da Fonseca, QuintaTurma, DJ 9.5.2005.4. Já a jurisprudência que cuida da devolução de valores percebidos indevidamente por servidores públicos evoluiu paraconsiderar não apenas o caráter alimentar da verba, mas também a boa-fé objetiva envolvida in casu.5. O elemento que evidencia a boa-fé objetiva no caso é a "legítima confiança ou justificada expectativa, que o beneficiárioadquire, de que valores recebidos são legais e de que integraram em definitivo o seu patrimônio" (AgRg no REsp1.263.480/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 9.9.2011, grifei). Na mesma linha quanto à imposiçãode devolução de valores relativos a servidor público: AgRg no AREsp 40.007/SC, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki,Primeira Turma, DJe 16.4.2012; EDcl nos EDcl no REsp 1.241.909/SC, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, PrimeiraTurma, DJe 15.9.2011;AgRg no REsp 1.332.763/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 28.8.2012; AgRg no REsp 639.544/PR,Rel. Ministra Alderita Ramos de Oliveira (Desembargador Convocada do TJ/PE), Sexta Turma, DJe 29.4.2013; AgRg noREsp 1.177.349/ES, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJe 1º.8.2012; AgRg no RMS 23.746/SC, Rel. Ministro JorgeMussi, Quinta Turma, DJe 14.3.2011.6. Tal compreensão foi validada pela Primeira Seção em julgado sob o rito do art. 543-C do CPC, em situação na qual sedebateu a devolução de valores pagos por erro administrativo: "quando a Administração Pública interpreta erroneamenteuma lei, resultando em pagamento indevido ao servidor, cria-se uma falsa expectativa de que os valores recebidos sãolegais e definitivos, impedindo, assim, que ocorra desconto dos mesmos, ante a boa-fé do servidor público." (REsp1.244.182/PB, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 19.10.2012, grifei).7. Não há dúvida de que os provimentos oriundos de antecipação de tutela (art. 273 do CPC) preenchem o requisito daboa-fé subjetiva, isto é, enquanto o segurado os obteve existia legitimidade jurídica, apesar de precária.8. Do ponto de vista objetivo, por sua vez, inviável falar na percepção, pelo segurado, da definitividade do pagamentorecebido via tutela antecipatória, não havendo o titular do direito precário como pressupor a incorporação irreversível daverba ao seu patrimônio.9. Segundo o art. 3º da LINDB, "ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece", o que induz à premissade que o caráter precário das decisões judiciais liminares é de conhecimento inescusável (art. 273 do CPC).10. Dentro de uma escala axiológica, mostra-se desproporcional o Poder Judiciário desautorizar a reposição do principal aoErário em situações como a dos autos, enquanto se permite que o próprio segurado tome empréstimos e consignedescontos em folha pagando, além do principal, juros remuneratórios a instituições financeiras.11. À luz do princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF) e considerando o dever do segurado de devolveros valores obtidos por força de antecipação de tutela posteriormente revogada, devem ser observados os seguintesparâmetros para o ressarcimento: a) a execução de sentença declaratória do direito deverá ser promovida; b) liquidado eincontroverso o crédito executado, o INSS poderá fazer o desconto em folha de até 10% da remuneração dos benefíciosprevidenciários em manutenção até a satisfação do crédito, adotado por simetria com o percentual aplicado aos servidorespúblicos (art. 46, § 1º, da Lei 8.213/1991.12. Recurso Especial provido.

14. Portanto, deve ocorrer a restituição dos valores recebidos a título de nova aposentadoria concedida na sentença.

15. Ante o exposto, conheço o recurso e dou-lhe provimento para julgar improcedentes os pedidos formulados pelaparte autora, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil. Sem condenação ao pagamento de custas ehonorários advocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n. 9.099/95. Por consequência, revogo a tutela antecipadaconcedida e autorizo a restituição ao INSS dos valores recebidos pela parte autora enquanto vigeu a antecipação dosefeitos da tutela. Sem condenação ao pagamento de custas e honorários advocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n.9.099/95.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

33 - 0113672-82.2014.4.02.5050/01 (2014.50.50.113672-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: SIMONE LENGRUBER DARROZ ROSSONI.) x MARIA ORLANDA VENANCIO(ADVOGADO: ES020702 - MARCELI APARECIDA DE JESUS DA SILVA.).

RECURSO Nº 0113672-82.2014.4.02.5050/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDA: MARIA ORLANDA VENANCIORELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DO INSS CONHECIDO EPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE.

1. O INSS interpõe recurso inominado contra sentença que julgou procedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante oacréscimo de período em que a parte autora continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a autarquia previdenciária sustenta: i) a vedação ao emprego de contribuições posteriores àaposentadoria tem amparo no art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, e no princípio da solidariedade (arts. 194, V, VI, e 195, daConstituição da República de 1988); ii) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenascontribui para o custeio do sistema sem fazer jus à obtenção de aposentadoria; iii) a renúncia unilateral à aposentadoriaconcedida anteriormente infringiria a proteção ao ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da Constituição da República de 1988)e se oporia à opção anterior de requerer benefício com menor tempo de contribuição e renda mensal inferior; iv) a renúnciaà aposentadoria deveria ser aceita somente se houvesse a restituição dos valores que já foram pagos ao segurado, a essetítulo, pelo INSS a fim de que não haja infração ao disposto pelos arts. 11, §3º, e 12, §4º, da Lei n. 8.212/91; v) o julgamentodo pedido compromete o equilíbrio financeiro-atuarial da Seguridade Social (art. 195, §5º, c/c art. 201, caput, daConstituição da República de 1988); e vi) a atualização monetária deve observar a regra prevista pelo art. 1º-F, da Lei n.9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/09, ante a pendência de modulação dos efeitos do julgamento pelo STFdas ADI´s nºs 4.357/DF e 4.425/DF.3. A parte autora não apresentou contrarrazões (fl. 95).4. Inicialmente, assinalo que o reconhecimento de repercussão geral, no RE 661.256, não tem o condão de impedir ojulgamento de recurso inominado que verse sobre a mesma questão afeta ao julgamento do Supremo Tribunal Federal. Oartigo 543-B, § 1º, do Código de Processo Civil, que determina o sobrestamento dos recursos extraordinários cuja matériaseja objeto de repercussão geral, razão por que os demais recursos seguem o seu processamento, conforme previsãolegal.5. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.6. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).7. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.8. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.9. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, da

Constituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.10. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”11. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.12. Ante o exposto, conheço o recurso e dou-lhe provimento para julgar improcedentes os pedidos formulados pela parteautora, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil. Sem condenação ao pagamento de custas e honoráriosadvocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n. 9.099/95.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

34 - 0114230-54.2014.4.02.5050/01 (2014.50.50.114230-2/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JOSÉ GHILHERME BARBOSA DE OLIVEIRA.) x EDELUSS JAIRO RODRIGUESDE ALMEIDA (ADVOGADO: ES017590 - ROGÉRIO FERREIRA BORGES, ES017591 - FABIOLA CARVALHO FERREIRABORGES, ES017356 - DANIEL FERREIRA BORGES, ES017407 - MARCILIO TAVARES DE ALBUQUERQUE FILHO,ES012179 - DANIELLE GOBBI, RJ184452 - LUCIANA PANNAIN PAREIRA, ES019092 - GABRIEL SCHMIDT DA SILVA,ES019973 - LUANA BRUGNARA SARNAGLIA, DF036024 - IRIS SALDANHA BUENO, DF035417 - VIVIANE MONTEIRO,RJ138284 - ALESSANDRA NAVARRO ABREU.).RECURSO Nº 0114230-54.2014.4.02.5050/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: EDELUSS JAIRO RODRIGUES DE ALMEIDARELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DO INSS CONHECIDO EPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE.

1. O INSS interpõe recurso inominado contra sentença que julgou procedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante oacréscimo de período em que a parte autora continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a autarquia previdenciária sustenta: i) a vedação ao emprego de contribuições posteriores àaposentadoria tem amparo no art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, e no princípio da solidariedade (arts. 194, V, VI, e 195, daConstituição da República de 1988); ii) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenascontribui para o custeio do sistema sem fazer jus à obtenção de aposentadoria; iii) a renúncia unilateral à aposentadoriaconcedida anteriormente infringiria a proteção ao ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da Constituição da República de 1988)

e se oporia à opção anterior de requerer benefício com menor tempo de contribuição e renda mensal inferior; iv) a renúnciaà aposentadoria deveria ser aceita somente se houvesse a restituição dos valores que já foram pagos ao segurado, a essetítulo, pelo INSS a fim de que não haja infração ao disposto pelos arts. 11, §3º, e 12, §4º, da Lei n. 8.212/91; E v) ojulgamento do pedido compromete o equilíbrio financeiro-atuarial da Seguridade Social (art. 195, §5º, c/c art. 201, caput, daConstituição da República de 1988).3. A parte autora apresentou contrarrazões às fls. 216/229, pugnando pela manutenção da sentença em todos os seustermos.4. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.5. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).6. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.7. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.8. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.9. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”10. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condições

fáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.11. Ante o exposto, conheço o recurso e dou-lhe provimento para julgar improcedentes os pedidos formulados pela parteautora, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil. Sem condenação ao pagamento de custas e honoráriosadvocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n. 9.099/95.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

35 - 0006672-23.2014.4.02.5050/01 (2014.50.50.006672-9/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: LILIAN BERTOLANI DO ESPÍRITO SANTO.) x MARIA DA GRAÇA SILVAPEREIRA COSTA (ADVOGADO: ES018446 - GERALDO BENICIO, ES017409 - RAFAELLA CHRISTINA BENÍCIO,ES019803 - LARISSA CRISTIANI BENÍCIO.).RECURSO Nº 0006672-23.2014.4.02.5050/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDA: MARIA DA GRAÇA SILVA PEREIRA COSTARELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DO INSS CONHECIDO EPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE.

1. O INSS interpõe recurso inominado contra sentença que julgou procedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por idade e concessão de nova aposentadoria, mediante o acréscimo de período em que aparte autora continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a autarquia previdenciária sustenta: i) a vedação ao emprego de contribuições posteriores àaposentadoria tem amparo no art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, e no princípio da solidariedade (arts. 194, V, VI, e 195, daConstituição da República de 1988); ii) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenascontribui para o custeio do sistema sem fazer jus à obtenção de aposentadoria; iii) a renúncia unilateral à aposentadoriaconcedida anteriormente infringiria a proteção ao ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da Constituição da República de 1988)e se oporia à opção anterior de requerer benefício com menor tempo de contribuição e renda mensal inferior; iv) a renúnciaà aposentadoria deveria ser aceita somente se houvesse a restituição dos valores que já foram pagos ao segurado, a essetítulo, pelo INSS a fim de que não haja infração ao disposto pelos arts. 11, §3º, e 12, §4º, da Lei n. 8.212/91; v) o julgamentodo pedido compromete o equilíbrio financeiro-atuarial da Seguridade Social (art. 195, §5º, c/c art. 201, caput, daConstituição da República de 1988); e vi) a atualização monetária deve observar a regra prevista pelo art. 1º-F, da Lei n.9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/09, ante a pendência de modulação dos efeitos do julgamento pelo STFdas ADI´s nºs 4.357/DF e 4.425/DF.3. A parte autora apresentou contrarrazões às fls. 106/109, pugnando pela manutenção da sentença em todos os seustermos.4. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.5. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).6. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido de

aposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.7. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.8. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.9. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”10. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.11. Ante o exposto, conheço o recurso e dou-lhe provimento para julgar improcedentes os pedidos formulados pela parteautora, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil. Sem condenação ao pagamento de custas e honoráriosadvocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n. 9.099/95.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

36 - 0110365-73.2014.4.02.5001/01 (2014.50.01.110365-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: Isabela Boechat B. B. de Oliveira.) x GERALDO ALVES CIPRIANI (ADVOGADO:ES006942 - LUÍS FERNANDO NOGUEIRA MOREIRA, ES012411 - MARCELO CARVALHINHO VIEIRA, ES010800 -MÁIRA DANCOS BARBOSA RIBEIRO, ES004770 - MARIA DA CONCEICAO SARLO BORTOLINI CHAMOUN.).RECURSO Nº 0110365-73.2014.4.02.5001/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: GERALDO ALVES CIPRIANIRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DO INSS CONHECIDO EPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE.

1. O INSS interpõe recurso inominado contra sentença que julgou procedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de serviço e concessão de nova aposentadoria, mediante o acréscimo de período emque a parte autora continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a autarquia previdenciária sustenta: i) a vedação ao emprego de contribuições posteriores àaposentadoria tem amparo no art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, e no princípio da solidariedade (arts. 194, V, VI, e 195, daConstituição da República de 1988); ii) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenascontribui para o custeio do sistema sem fazer jus à obtenção de aposentadoria; iii) a renúncia unilateral à aposentadoriaconcedida anteriormente infringiria a proteção ao ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da Constituição da República de 1988)e se oporia à opção anterior de requerer benefício com menor tempo de contribuição e renda mensal inferior; iv) a renúnciaà aposentadoria deveria ser aceita somente se houvesse a restituição dos valores que já foram pagos ao segurado, a essetítulo, pelo INSS a fim de que não haja infração ao disposto pelos arts. 11, §3º, e 12, §4º, da Lei n. 8.212/91; v) o julgamentodo pedido compromete o equilíbrio financeiro-atuarial da Seguridade Social (art. 195, §5º, c/c art. 201, caput, daConstituição da República de 1988); e vi) a atualização monetária deve observar a regra prevista pelo art. 1º-F, da Lei n.9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/09, ante a pendência de modulação dos efeitos do julgamento pelo STFdas ADI´s nºs 4.357/DF e 4.425/DF.3. A parte autora apresentou contrarrazões às fls. 77/80, pugnando pela manutenção da sentença em todos os seustermos.4. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.5. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).6. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.7. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.8. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.9. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ

18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”10. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.11. Ante o exposto, conheço o recurso e dou-lhe provimento para julgar improcedentes os pedidos formulados pela parteautora, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil. Sem condenação ao pagamento de custas e honoráriosadvocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n. 9.099/95.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

37 - 0000037-89.2015.4.02.5050/01 (2015.50.50.000037-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: LILIAN BERTOLANI DO ESPÍRITO SANTO.) x ANA LÚCIA POUBEL BATAL(ADVOGADO: ES017590 - ROGÉRIO FERREIRA BORGES, ES017407 - MARCILIO TAVARES DE ALBUQUERQUEFILHO, ES017356 - DANIEL FERREIRA BORGES, ES035417 - VIVIANE MONTEIRO, ES017721 - Miguel Vargas daFonseca, ES012179 - DANIELLE GOBBI, DF036024 - IRIS SALDANHA BUENO, ES017591 - FABIOLA CARVALHOFERREIRA BORGES.).RECURSO Nº 0000037-89.2015.4.02.5050/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDA: ANA LÚCIA POUBEL BATALRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DO INSS CONHECIDO EPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE.

1. O INSS interpõe recurso inominado contra sentença que julgou procedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante oacréscimo de período em que a parte autora continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a autarquia previdenciária sustenta: i) a vedação ao emprego de contribuições posteriores àaposentadoria tem amparo no art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, e no princípio da solidariedade (arts. 194, V, VI, e 195, daConstituição da República de 1988); ii) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenascontribui para o custeio do sistema sem fazer jus à obtenção de aposentadoria; iii) a renúncia unilateral à aposentadoriaconcedida anteriormente infringiria a proteção ao ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da Constituição da República de 1988)e se oporia à opção anterior de requerer benefício com menor tempo de contribuição e renda mensal inferior; iv) a renúnciaà aposentadoria deveria ser aceita somente se houvesse a restituição dos valores que já foram pagos ao segurado, a essetítulo, pelo INSS a fim de que não haja infração ao disposto pelos arts. 11, §3º, e 12, §4º, da Lei n. 8.212/91; v) o julgamentodo pedido compromete o equilíbrio financeiro-atuarial da Seguridade Social (art. 195, §5º, c/c art. 201, caput, daConstituição da República de 1988); e vi) a atualização monetária deve observar a regra prevista pelo art. 1º-F, da Lei n.9.494/97, com a redação dada pela Lei n. 11.960/09, ante a pendência de modulação dos efeitos do julgamento pelo STFdas ADI´s nºs 4.357/DF e 4.425/DF.3. A parte autora apresentou contrarrazões às fls. 213/225, pugnando pela manutenção da sentença em todos os seustermos.4. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,

DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.5. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).6. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.7. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.8. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.9. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”10. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.11. Ante o exposto, conheço o recurso e dou-lhe provimento para julgar improcedentes os pedidos formulados pela parte

autora, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil. Sem condenação ao pagamento de custas e honoráriosadvocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n. 9.099/95.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

38 - 0115103-54.2014.4.02.5050/01 (2014.50.50.115103-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: MARCELA BRAVIN BASSETTO.) x JORGE AUGUSTO MOREIRA DOS SANTOS(ADVOGADO: ES012411 - MARCELO CARVALHINHO VIEIRA, ES004770 - MARIA DA CONCEICAO SARLO BORTOLINICHAMOUN.).RECURSO Nº 0115103-54.2014.4.02.5050/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: JORGE AUGUSTO MOREIRA DOS SANTOSRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DO INSS CONHECIDO EPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE.

1. O INSS interpõe recurso inominado contra sentença que julgou procedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante oacréscimo de período em que a parte autora continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a autarquia previdenciária sustenta: i) a vedação ao emprego de contribuições posteriores àaposentadoria tem amparo no art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, e no princípio da solidariedade (arts. 194, V, VI, e 195, daConstituição da República de 1988); ii) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenascontribui para o custeio do sistema sem fazer jus à obtenção de aposentadoria; iii) a renúncia unilateral à aposentadoriaconcedida anteriormente infringiria a proteção ao ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da Constituição da República de 1988)e se oporia à opção anterior de requerer benefício com menor tempo de contribuição e renda mensal inferior; iv) a renúnciaà aposentadoria deveria ser aceita somente se houvesse a restituição dos valores que já foram pagos ao segurado, a essetítulo, pelo INSS a fim de que não haja infração ao disposto pelos arts. 11, §3º, e 12, §4º, da Lei n. 8.212/91; v) o julgamentodo pedido compromete o equilíbrio financeiro-atuarial da Seguridade Social (art. 195, §5º, c/c art. 201, caput, daConstituição da República de 1988).3. A parte autora apresentou contrarrazões às fls. 91/93, nas quais pugna pela manutenção da sentença em todos os seustermos.4. Inicialmente, assinalo que o reconhecimento de repercussão geral, no RE 661.256, não tem o condão de impedir ojulgamento de recurso inominado que verse sobre a mesma questão afeta ao julgamento do Supremo Tribunal Federal. Oartigo 543-B, § 1º, do Código de Processo Civil, que determina o sobrestamento dos recursos extraordinários cuja matériaseja objeto de repercussão geral, razão por que os demais recursos seguem o seu processamento, conforme previsãolegal.5. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.6. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).7. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.8. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.

Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.9. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.10. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”11. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.12. Ante o exposto, conheço o recurso e dou-lhe provimento para julgar improcedentes os pedidos formulados pela parteautora, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil. Sem condenação ao pagamento de custas e honoráriosadvocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n. 9.099/95.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

39 - 0114070-29.2014.4.02.5050/01 (2014.50.50.114070-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: MARCELA BRAVIN BASSETTO.) x CARLOS LUIZ GUIMARÃES (ADVOGADO:ES020702 - MARCELI APARECIDA DE JESUS DA SILVA.).RECURSO Nº 0114070-29.2014.4.02.5050/01RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: CARLOS LUIZ GUIMARÃESRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DO INSS CONHECIDO EPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE.

1. O INSS interpõe recurso inominado contra sentença que julgou procedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante o

acréscimo de período em que a parte autora continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a autarquia previdenciária sustenta: i) a vedação ao emprego de contribuições posteriores àaposentadoria tem amparo no art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, e no princípio da solidariedade (arts. 194, V, VI, e 195, daConstituição da República de 1988); ii) o contribuinte em gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenascontribui para o custeio do sistema sem fazer jus à obtenção de aposentadoria; iii) a renúncia unilateral à aposentadoriaconcedida anteriormente infringiria a proteção ao ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da Constituição da República de 1988)e se oporia à opção anterior de requerer benefício com menor tempo de contribuição e renda mensal inferior; iv) a renúnciaà aposentadoria deveria ser aceita somente se houvesse a restituição dos valores que já foram pagos ao segurado, a essetítulo, pelo INSS a fim de que não haja infração ao disposto pelos arts. 11, §3º, e 12, §4º, da Lei n. 8.212/91; v) o julgamentodo pedido compromete o equilíbrio financeiro-atuarial da Seguridade Social (art. 195, §5º, c/c art. 201, caput, daConstituição da República de 1988).3. A parte autora apresentou contrarrazões às fls. 106/116, nas quais pugna pela manutenção da sentença em todos osseus termos.4. Inicialmente, assinalo que o reconhecimento de repercussão geral, no RE 661.256, não tem o condão de impedir ojulgamento de recurso inominado que verse sobre a mesma questão afeta ao julgamento do Supremo Tribunal Federal. Oartigo 543-B, § 1º, do Código de Processo Civil, que determina o sobrestamento dos recursos extraordinários cuja matériaseja objeto de repercussão geral, razão por que os demais recursos seguem o seu processamento, conforme previsãolegal.5. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.6. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).7. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.8. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.9. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.10. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que é

terreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”11. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.12. Ante o exposto, conheço o recurso e dou-lhe provimento para julgar improcedentes os pedidos formulados pela parteautora, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil. Sem condenação ao pagamento de custas e honoráriosadvocatícios, de acordo com o art. 55, da Lei n. 9.099/95.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

40 - 0000822-79.2014.4.02.5052/01 (2014.50.52.000822-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ALVARO VIANNA SILVARES(ADVOGADO: ES017116 - GERALDO PEREIRA FUNDÃO DOS SANTOS, ES015618 - MARIA DE LOURDES COIMBRADE MACEDO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JULIANA BARBOSA ANTUNES.).RECURSO Nº 0000822-79.2014.4.02.5052/01RECORRENTE: ALVARO VIANNA SILVARESRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DA PARTE AUTORACONHECIDO E DESPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE.

1. A parte autora interpõe recurso inominado contra sentença que julgou improcedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante oacréscimo de período em que ela continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a parte autora sustenta: i) não há previsão legal para o ato de “desaposentação”, tampouco hánorma legal que vede a sua concessão; e ii) resta assentado no âmbito do Superior Tribunal de Justiça – STJ e da TurmaNacional de Uniformização –TNU o entendimento de ser cabível a desaposentação, sem qualquer devolução de valoresrecebidos pelo segurado.3. O INSS apresentou contrarrazões às fls. 77/109, nas quais pugna pela manutenção da sentença com base nas seguintesrazões: i) a vedação ao emprego de contribuições posteriores à aposentadoria tem amparo no art. 18, §2º, da Lei n.8.213/91, e no princípio da solidariedade (arts. 194, V, VI, e 195, da Constituição da República de 1988); ii) o contribuinteem gozo de aposentadoria pertence a uma espécie que apenas contribui para o custeio do sistema sem fazer jus àobtenção de aposentadoria; iii) a renúncia unilateral à aposentadoria concedida anteriormente infringiria a proteção ao atojurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da Constituição da República de 1988) e se oporia à opção anterior de requerer benefíciocom menor tempo de contribuição e renda mensal inferior; iv) a renúncia, tal como pretendida, implica ofensa aos princípiosda segurança jurídica e da legalidade estrita dos atos administrativos (art. 5º, inciso II, e art. 37, caput, da Constituição daRepública de 1988); v) a renúncia à aposentadoria deveria ser aceita somente se houvesse a restituição dos valores que jáforam pagos ao segurado, a esse título, pelo INSS a fim de que não haja infração ao disposto pelos arts. 11, §3º, e 12, §4º,da Lei n. 8.212/91; e vi) o julgamento do pedido compromete o equilíbrio financeiro-atuarial da Seguridade Social (art. 195,§5º, c/c art. 201, caput, da Constituição da República de 1988).4. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.

5. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).6. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.7. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.8. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.9. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”10. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.11. Ante o exposto, conheço o recurso e nego-lhe provimento. Sem condenação ao pagamento de custas e honoráriosadvocatícios, tendo em vista o deferimento da gratuidade de justiça, na forma do art. 12, da Lei nº 1.060/50 (fl. 15).

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

41 - 0110904-86.2014.4.02.5050/01 (2014.50.50.110904-9/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) GEORGE OLIVEIRA DASILVA (ADVOGADO: ES019645 - ALEX SANDRO SALAZAR, ES010321 - OLDER VASCO DALBEM DE OLIVEIRA.) xINSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: BRUNO MIRANDA COSTA.).RECURSO Nº 0110904-86.2014.4.02.5050/01RECORRENTE: GEORGE OLIVEIRA DA SILVARECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DA PARTE AUTORACONHECIDO E DESPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE.

1. A parte autora interpõe recurso inominado contra sentença que julgou improcedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante oacréscimo de período em que ela continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a parte autora sustenta: i) não há previsão legal para o ato de “desaposentação”, tampouco hánorma legal que vede a sua concessão; ii) o benefício previdenciário é um direito patrimonial disponível do segurado e nãohá óbice à reutilização do seu tempo de serviço, uma vez que o referido tempo resta caracterizado como direito adquirido dosegurado em face do INSS; iii) a 1ª Seção do STJ, julgando recurso especial submetido à sistemática dos recursosrepetitivos (artigo 543-C do CPC), fixou o entendimento no sentido de que há direito à desaposentação e nova aposentaçãoindependentemente da restituição dos valores antes recebidos a título de aposentadoria (REsp nº 1.334.488/SC, DJE de14/05/2013) e, iv) na sessão realizada no dia 8/10/2014, o Ministro do STF, Luís Roberto Barroso, relator do RecursoExtraordinário (RE) 661256, que discute a desaposentação, votou pelo provimento parcial do recurso no sentido deconsiderar válido o instituto da desaposentação. Requer o provimento do recurso, a fim de julgar procedente a pretensãoautoral.3. O INSS apresentou contrarrazões às fls. 157, reiterando os termos da contestação.4. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.5. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).6. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.7. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.8. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social e

intergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.9. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”10. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.11. Ante o exposto, conheço o recurso e nego-lhe provimento. Sem condenação ao pagamento de custas e honoráriosadvocatícios, tendo em vista o deferimento da gratuidade de justiça, na forma do art. 12, da Lei nº 1.060/50 (fl. 88).

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

42 - 0116256-25.2014.4.02.5050/01 (2014.50.50.116256-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) NELSON ROSA(ADVOGADO: ES020702 - MARCELI APARECIDA DE JESUS DA SILVA.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGUROSOCIAL - INSS (PROCDOR: LILIAN BERTOLANI DO ESPÍRITO SANTO.).RECURSO Nº 0116256-25.2014.4.02.5050/01RECORRENTE: NELSON ROSARECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DA PARTE AUTORACONHECIDO E DESPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE.

1. A parte autora interpõe recurso inominado contra sentença que julgou improcedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante oacréscimo de período em que ela continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a parte autora sustenta: i) o art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91 não veda expressamente a“desaposentação”; ii) não há previsão legal para o ato de “desaposentação”, tampouco há norma legal que vede a suaconcessão; iii) o benefício previdenciário é um direito patrimonial disponível do segurado e não há óbice à reutilização doseu tempo de serviço, uma vez que o referido tempo resta caracterizado como direito adquirido do segurado em face doINSS; iv) não há que se falar em violação aos princípios do ato jurídico perfeito e do direito adquirido, preceitos que nãodevem ser invocados para provocar desvantagem para o segurado sem motivo de ordem pública relevante; v) taisprincípios não podem ser utilizados como impeditivos ao livre exercício de um direito; e vi) não cabe devolução de quaisquervalores já recebidos a título de aposentadoria anterior, por se tratar de verba de caráter alimentar e porque não houveirregularidade em sua concessão.3. O INSS apresentou contrarrazões às fls. 118/120.4. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “os

benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.5. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).6. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.7. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.8. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.9. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”10. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.11. Ante o exposto, conheço o recurso e nego-lhe provimento. Sem condenação ao pagamento de custas e honoráriosadvocatícios, tendo em vista o deferimento da gratuidade de justiça, na forma do art. 12, da Lei nº 1.060/50 (fl. 60).

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)

FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

43 - 0116012-96.2014.4.02.5050/01 (2014.50.50.116012-2/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) DENILTON GONCALVES(ADVOGADO: ES022440 - THIAGO DE SOUZA BARBOSA, ES014859 - KELLY CRISTINA ANDRADE DO ROSARIO.) xINSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ROSEMBERG ANTONIO DA SILVA.).RECURSO Nº 0116012-96.2014.4.02.5050/01RECORRENTE: DENILTON GONCALVESRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DA PARTE AUTORACONHECIDO E DESPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE.

1. A parte autora interpõe recurso inominado contra sentença que julgou improcedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante oacréscimo de período em que ela continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a parte autora sustenta: i) o benefício previdenciário é um direito patrimonial disponível dosegurado e não há óbice à reutilização do seu tempo de serviço, uma vez que o referido tempo resta caracterizado comodireito adquirido do segurado em face do INSS; ii) não há que se falar em ofensa ao princípio do equilíbrio atuarial dosistema, tendo em vista que as cotizações posteriores à aquisição do benefício são atuarialmente imprevistas, não sendolevadas em consideração para a fixação dos requisitos de elegibilidade do benefício; iii) a renúncia à aposentadoria não trazprejuízo para a autarquia previdenciária; iv) não há que se falar em violação aos princípios do ato jurídico perfeito e dodireito adquirido, preceitos que não devem ser invocados para provocar desvantagem para o segurado sem motivo deordem pública relevante; v) tais princípios não podem ser utilizados como impeditivos ao livre exercício de um direito; e vi)não cabe devolução de quaisquer valores já recebidos a título de aposentadoria anterior, por se tratar de verba de caráteralimentar e porque não houve irregularidade em sua concessão.3. O INSS apresentou contrarrazões às fls. 105/122.4. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.5. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).6. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.7. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.8. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, da

Constituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.9. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”10. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.11. Ante o exposto, conheço o recurso e nego-lhe provimento. Sem condenação ao pagamento de custas e honoráriosadvocatícios, tendo em vista o deferimento da gratuidade de justiça, na forma do art. 12, da Lei nº 1.060/50 (fl. 39).

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

44 - 0007170-22.2014.4.02.5050/01 (2014.50.50.007170-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) JEONICIO RANGEL(ADVOGADO: ES015331 - RAFAEL GONÇALVES VASCONCELOS.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL -INSS (PROCDOR: GISELA PAGUNG TOMAZINI.).RECURSO Nº 0007170-22.2014.4.02.5050/01RECORRENTE: JEONICIO RANGELRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DA PARTE AUTORACONHECIDO E DESPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE.

1. A parte autora interpõe recurso inominado contra sentença que julgou improcedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante oacréscimo de período em que ela continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. . Em suas razões recursais, a parte autora pugna pelo recebimento do presente recurso no duplo efeito, em razão doreconhecimento de repercussão geral no RE n. 661.256. No mérito sustenta: i) o benefício previdenciário é um direitopatrimonial disponível do segurado e não há óbice à reutilização do seu tempo de serviço, uma vez que o referido temporesta caracterizado como direito adquirido do segurado em face do INSS; ii) resta consolidado no âmbito do SuperiorTribunal de Justiça – STJ e da maioria dos tribunais regionais federais o entendimento pela possibilidade dadesaposentação, sem qualquer devolução de valores recebidos pelo segurado.3. O INSS apresentou contrarrazões às fls. 102/108.4. Inicialmente, assinalo que o reconhecimento de repercussão geral, no RE 661.256, não tem o condão de impedir ojulgamento de recurso inominado que verse sobre a mesma questão afeta ao julgamento do Supremo Tribunal Federal. O

artigo 543-B, § 1º, do Código de Processo Civil, que determina o sobrestamento dos recursos extraordinários cuja matériaseja objeto de repercussão geral, razão por que os demais recursos seguem o seu processamento, conforme previsãolegal.5. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.6. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).7. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.8. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar quetais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.9. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.10. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”11. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse ato

unilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.12. Ante o exposto, conheço o recurso e nego-lhe provimento. Sem condenação ao pagamento de custas e honoráriosadvocatícios, tendo em vista o deferimento da gratuidade de justiça, na forma do art. 12, da Lei nº 1.060/50 (fl. 45).

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

45 - 0116426-94.2014.4.02.5050/01 (2014.50.50.116426-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) MARIA DOS SANTOS(ADVOGADO: ES020702 - MARCELI APARECIDA DE JESUS DA SILVA.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGUROSOCIAL - INSS (PROCDOR: BRUNO MIRANDA COSTA.).RECURSO Nº 0116426-94.2014.4.02.5050/01RECORRENTE: MARIA DOS SANTOSRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA

VOTO/EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PEDIDO PARA CONCESSÃO DENOVO BENEFÍCIO COM O APROVEITAMENTO DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO CONTINUOU A TRABALHAR ERECOLHER CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. “DESAPOSENTAÇÃO”. RECURSO DA PARTE AUTORACONHECIDO E DESPROVIDO. PEDIDO IMPROCEDENTE.

1. A parte autora interpõe recurso inominado contra sentença que julgou improcedentes os pedidos para desconstituição debenefício de aposentadoria por tempo de contribuição e concessão de novo benefício de igual espécie, mediante oacréscimo de período em que ela continuou a trabalhar e a recolher contribuições previdenciárias.2. Em suas razões recursais, a parte autora sustenta: i) não há previsão legal para o ato de “desaposentação”, tampouco hánorma legal que vede a sua concessão; ii) o benefício previdenciário é um direito patrimonial disponível do segurado e nãohá óbice à reutilização do seu tempo de serviço, uma vez que o referido tempo resta caracterizado como direito adquirido dosegurado em face do INSS; iii) não há que se falar em ofensa ao princípio do equilíbrio atuarial do sistema, tendo em vistaque as cotizações posteriores à aquisição do benefício são atuarialmente imprevistas, não sendo levadas em consideraçãopara a fixação dos requisitos de elegibilidade do benefício; iv) a renúncia à aposentadoria não traz prejuízo para aautarquia previdenciária; v) não há que se falar em violação aos princípios do ato jurídico perfeito e do direito adquirido,preceitos que não devem ser invocados para provocar desvantagem para o segurado sem motivo de ordem públicarelevante; vi) tais princípios não podem ser utilizados como impeditivos ao livre exercício de um direito; e vii) não cabedevolução de quaisquer valores já recebidos a título de aposentadoria anterior, por se tratar de verba de caráter alimentar eporque não houve irregularidade em sua concessão.3. O INSS, em sede de contrarrazões, reiterou os termos da contestação (fl. 123).4. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.334.488/SC (Rel. Min. Herman Benjamin,DJE 14.05.2013), no regime do art. 543-C, do Código de Processo Civil, decidiu que: i) o segurado tem direito a renunciar àaposentadoria anteriormente concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários decontribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação; e ii) “osbenefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares,prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessãode novo e posterior jubilamento”.5. Na fundamentação adotada no acórdão referido, observou-se que os arts. 18, §2º; 81, II; e 82, da Lei n. 8.213/91,dispunham originalmente que o aposentado, que continuasse a trabalhar e a contribuir para o Regime da PrevidênciaSocial, teria direito à reabilitação profissional, auxílio-acidente e ao pecúlio, o qual corresponderia ao total das contribuiçõespagas após sua aposentadoria a serem pagas em parcela única. As Leis ns. 9.032/95 e 9.527/97 suprimiram o pecúlio edeixaram expresso que as contribuições vertidas pelo segurado, já aposentado, seriam destinadas ao custeio daSeguridade Social (art. 11, §3º, da Lei n. 8.213/91), não fazendo ele jus a prestação alguma da Previdência Social emdecorrência do exercício dessa atividade posterior, ressalvados o salário-família e a reabilitação profissional enquantoestivesse empregado (art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, com a redação dada pela Lei n. 9.527/97).6. Em âmbito infralegal, o art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, dispôs, em seu caput (redação dada pelo Decreto n.3.265/99), que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas no Regime Geral da PrevidênciaSocial são “irreversíveis e irrenunciáveis”. O parágrafo único, do art. 181-B, do Decreto n. 3.048/99, consoante asalterações promovidas pelo Decreto n. 4.729/03, também prevê que “o segurado pode desistir do seu pedido deaposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes do recebimento doprimeiro pagamento do benefício, ou de sacar o respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou Programa deIntegração Social, ou até trinta dias da data do processamento do benefício, prevalecendo o que ocorrer primeiro”.7. A ausência de dispositivo legal que proibisse a renúncia à aposentadoria anterior e a compreensão de que o direito aobenefício é de natureza disponível, podendo o segurado deixar de exercê-lo ao seu alvedrio, deram suporte ao acórdãoprolatado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia aludido.Entretanto, a resolução das questões infraconstitucionais relacionadas à causa não dirimem os questionamentosconstitucionais relacionados à renúncia ao benefício de aposentadoria para que haja aproveitamento das contribuiçõesvertidas pelo segurado, que continuou a trabalhar, com o intuito de obter benefício mais vantajoso, valendo destacar que

tais questões pendem de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no RE 661.256, recebido no regime de repercussãogeral.8. Com efeito, observo que a Seguridade Social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta (art. 195,caput, da Constituição da República de 1988), o que infirma a existência de um sistema contributivo rígido, ante a ausênciade uma correspondência imediata entre as contribuições vertidas e os benefícios a que os segurados façam jus. A receitadestinada ao sistema pretende contemplar os gastos incorridos com o propósito de assegurar a sua “universalidade decobertura e atendimento” e a “seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços” (art. 194, I e III, daConstituição da República de 1988). Esses traços compõem o conteúdo jurídico do princípio da solidariedade (art. 3º, III, daConstituição da República de 1988), cujo objetivo supõe que as prestações estatais devem “chegar àquelas pessoas que seencontram numa situação mais débil, mais desfavorecida e mais desvantajosa” (Gregorio Peces-Barba Martinez. Leccionesde derechos fundamentales. Madrid: Dykison, 2004, p. 178) o que, no direito previdenciário, alia-se à “participação social eintergeracional do ônus financeiro de sustento do sistema” e à adoção de elementos próprios à noção de repartição(Simone Barbisan Fortes, Leandro Paulsen. Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência esaúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 48), o que se verifica nas hipóteses em que os benefícios pagos sãosuperiores às contribuições vertidas pelo segurado ou mesmo são recebidos sem que tenha ocorrido qualquer recolhimentode valores com tal objetivo.9. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento da ADI 3.128/DF (Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJ18.02.2005, p. 4), na qual se discutia a constitucionalidade do art. 4º, caput, da Emenda Constitucional n. 41/03, queinstituiu contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentadoria dos servidores públicos e as pensões devidas aosseus dependentes, reiterou que o regime da previdência social não tem natureza jurídica contratual, motivo por que inexistedireito a exigir que haja um sinalagma entre as contribuições vertidas e o rendimento mensal do benefício, uma vez que acontribuição previdenciária é “um tributo predestinado ao custeio da atuação do Estado na área da previdência social, que éterreno privilegiado de transcendentes interesses públicos ou coletivos”. O Min. Cezar Peluso, após destacar que o art. 3º,da Constituição da República de 1988, enuncia que, entre os objetivos fundamentais da República, estão a construção deuma “sociedade, livre, justa e solidária” (inciso I), a erradicação da pobreza, da marginalização e a redução dasdesigualdades sociais e regionais (inciso III), assinalou que:“A previdência social, como conjunto de prestações sociais (art. 7º, XXIV), exerce relevante papel no cumprimento dessesobjetivos e, nos claros termos do art. 195, caput, deve ser financiada por toda a sociedade, de forma equitativa (art. 194, §único, V). De modo que, quando o sujeito passivo paga a contribuição previdenciária, não está apenas subvencionando, emparte, a própria aposentadoria, senão concorrendo também, como membro da sociedade, para a alimentação do sistema,só cuja subsistência, aliás, permitirá que, preenchidas as condições, venha a receber proventos vitalícios ao aposentar-se.”10. A essa fundamentação, acrescento que, presentes os requisitos legais, cabe ao segurado, que continua a trabalhar, adefinição do tempo em que exercerá o seu direito à aposentadoria. O exercício desse direito, sob determinadas condiçõesfáticas, terá repercussão econômica, cuja aceitação depende da avaliação feita pelo segurado que pode sopesar seuinteresse em postergar a data de aposentação para que aufira benefício em valor maior. Contudo, feita a escolha edeclarada a vontade favorável ao recebimento da aposentadoria, há formação de ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, daConstituição da República de 1988), cujo proveito pecuniário pode ser renunciado pelo titular do direito, desde que esse atounilateral não venha a causar diminuição patrimonial futura à administração pública. Entendimento diverso implicaria suporque o Regime Geral da Previdência Social opera como um sistema de capitalização, o que não encontra embasamento nasua disciplina constitucional.11. Ante o exposto, conheço o recurso e nego-lhe provimento. Sem condenação ao pagamento de custas e honoráriosadvocatícios, tendo em vista o deferimento da gratuidade de justiça, na forma do art. 12, da Lei nº 1.060/50 (fl. 120).

(ASSINADO ELETRONICAMENTE)FÁBIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRAJuiz Federal – Relator Designado

Dar parcial provimentoTotal 2 : Dar provimentoTotal 24 : Negar provimentoTotal 14 : Rejeitar os embargosTotal 5 :