indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO RURAL ESPECIALIZAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO RURAL E AGROECOLOGIA CONVÊNIO UFGRS/PGDR – ASCAR/EMATER-RS INDICADORES PARA AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE EM CONTEXTOS DE DESENVOLVIMENTO RURAL LOCAL CIDONEA MACHADO DEPONTI PORTO ALEGRE 2001

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO RURAL

ESPECIALIZAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO RURAL E AGROECOLOGIA

CONVÊNIO UFGRS/PGDR – ASCAR/EMATER-RS

INDICADORES PARA AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE EM

CONTEXTOS DE DESENVOLVIMENTO RURAL LOCAL

CIDONEA MACHADO DEPONTI

PORTO ALEGRE 2001

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO RURAL

ESPECIALIZAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO RURAL E AGROECOLOGIA

CONVÊNIO UFGRS/PGDR – ASCAR/EMATER-RS

INDICADORES PARA AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE EM

CONTEXTOS DE DESENVOLVIMENTO RURAL LOCAL

Porto Alegre, novembro 2001.

Autora: Cidonea Machado Deponti

Orientador: Dr. Jalcione Almeida

Monografia submetida ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural como quesito parcial à obtenção do grau de especialista em Desenvolvimento Rural e Agroecologia.

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AGRADECIMENTOS

Ao concluir este trabalho, gostaria de agradecer a todos que, de alguma

forma, contribuíram para sua realização.

Em primeiro lugar, à empresa EMATER-RS que me recebeu de braços

abertos, incentivou e concedeu essa oportunidade de crescimento profissional.

Agradeço, ao professor Jalcione Almeida pela orientação e atenção.

A Leonardo Melgarejo pela oportunidade, competência e disposição.

À UFRGS, aos professores e à secretaria pela acolhida e apoio.

Aos colegas da EMATER Gervásio Paulus, Córdula Eckert, em especial

Naira de Azambuja Costa, Romualdo Ferreira e Mariléa Fabião Borralho pela

colaboração, apoio e atenção dispendida.

Aos colegas do curso, pessoas importantes na minha trajetória, pelo

apoio, convivência tão enriquecedora e amizade.

E, finalmente, não menos importante a minha família e ao meu

namorado Thomás Colletto pela atenção, incentivo, apoio irrestrito e amor.

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SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS...................................................................................................vii

LISTA DE TABELAS ....................................................................................................vii

LISTA DE FIGURAS .....................................................................................................vii

RESUMO........................................................................................................................viii

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................1

2 PANORAMA GERAL DO MUNICÍPIO DE CAMAQUÃ-RS ................................7 2.1 Caracterização Agronômica do Município de Camaquã: Localização, Altitude, Solos, Limites, Vegetação, Fauna, Bacias Hidrográficas e Clima....................................................9 2.2 Evolução dos Sistema Agrários...................................................................................11 2.2.1 Sistema Agrário Indígena – até 1750 .........................................................................11 2.2.2 Sistema Agrário do Período Colonial – 1750 a 1900 ..................................................12 2.2.3 Sistema Agrário da Região da Planície Costeira – 1900 a 1950 .................................13 2.2.4 Sistema Agrário da Região da Encosta do Planalto Sul-Rio-Grandense – 1900 a 1950...........................................................................................................................................13 2.2.5 Sistema Agrário Atual da Região da Planície Costeira – A Partir de 1950 .................14 2.2.6 Sistema Agrário Atual da Região da Encosta do Planalto Sul-Rio-Grandense – A Partir de 1950 .....................................................................................................................16 2.3 Caracterização dos Sistemas de Produção..................................................................16 2.3.1 Sistemas de Produção (SP) Praticados pelos Agricultores da Região da Encosta do Planalto ..............................................................................................................................17 2.3.2 Sistema de Produção (SP) Praticados pelos Agricultores da Região da Planície Costeira ..............................................................................................................................22 2.4 Características Atuais Socioeconômicas, Culturais, Ambientais ................................25

3 O DEBATE EM TORNO DA SUSTENTABILIDADE..........................................29 3.1 Significado e Evolução Histórica da Sustentabilidade .................................................30 3.2 Conceitos, Idéias e Características..............................................................................34 3.2.1 Desenvolvimento Sustentável...................................................................................38 3.2.2 Agricultura Sustentável.............................................................................................42 3.2.3 Desenvolvimento Rural Sustentável .........................................................................45 3.3 As principais Correntes sobre a Sustentabilidade.......................................................47

4 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...........................................................................................................55 4.1 Evolução, Definições, Características e Objetivos dos Indicadores............................56 4.2 Alguns Trabalhos sobre Proposição e Metodologias para Identificação de Indicadores...........................................................................................................................................65 4.3 Limites e Potencialidades na Proposição de Indicadores............................................77

Page 5: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

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5 PROPOSIÇÃO E DISCUSSÃO DE INDICADORES PARA AVALIAR A SUSTENTABILIDADE DO DESENVOLVIMENTO RURAL DE CAMAQUÃ-RS..........................................................................................................................................81 5.1 Descritores e Indicadores Econômicos .......................................................................88 5.1.1 Agregação de Valor (Valor Agregado).......................................................................88 5.1.2 Capacidade de Reprodução (Renda Agrícola e Nível de Reprodução Social)...........91 5.1.3 Grau de Endividamento (Relação entre Dívida e Patrimônio)....................................93 5.1.4 Diversidade da Atividade Produtiva (% de Renda Total Obtido por Diferentes Atividades e Produtos do Sistema) ....................................................................................94 5.1.5 Estabilidade de Preço (Variação dos Preços Pagos aos Agricultores) .....................96 5.1.6 Dinâmica Econômica Local (% de Destino da Produção Interno e Externo) .............97 5.2 Descritores e Indicadores Ambientais.........................................................................98 5.2.1 Grau de Biodiversidade (Número de Cultivos, Número de Espécies, Número de Rotação de Cultivos) ..........................................................................................................99 5.2.2 Grau de Dependência de Insumos Externos (% de Insumos Externos à Produção) 100 5.2.3 Contaminação e Degradação do Meio Natural (Água e Solo).................................. 101 5.2.4 Impactos em Outros Sistemas (Destino do Lixo Sólido e Líquido, % de Reciclagem e Reaproveitamento) ........................................................................................................... 103 5.2.5 Proteção do Solo (Relação entre Solo Descoberto e Solo com Cobertura – Viva ou Adubação Verde).............................................................................................................. 104 5.2.6 Unidade de Conservação (% de Área Protegida)..................................................... 105 5.3 Descritores e Indicadores Sociais.............................................................................. 106 5.3.1 Qualidade de Vida (ISMA ou IDH) ............................................................................ 106 5.3.2 Organização (Número de Organizações Existentes e Grau de Autogestão)............ 109 5.3.3 Grau de Concentração Fundiária (Coeficiente de Gini)........................................... 110 5.3.4 Grau de Integração dos Agricultores à Agroindústria (Número de Agricultores Atrelados) ......................................................................................................................... 113 5.4 Descritores e Indicadores Culturais........................................................................... 114 5.4.1 Diversidade Cultural (Número e Tipo de Atividades Culturais) ............................... 114 5.4.2 Participação e Cidadania (Grau de Participação) .................................................... 115 5.4.3 Capacitação e Geração de Conhecimentos (Número, Tipo e Freqüência de Cursos de Capacitação)................................................................................................................ 116 5.4.4 Processos de Educação Permanente e Educação Ambiental (% de Participantes de Eventos Educativos e Número de Eventos Educativos por Ano) ..................................... 117

6 CONCLUSÃO..........................................................................................................119

8 BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................123

ANEXO A – Evolução e diferenciação dos sistemas agrários do município..................... 133

ANEXO B – Indicadores de impacto ambiental e sustentabilidade desenvolvidos pelo programa K2/FAO. ............................................................................................................ 135

ANEXO C – Matriz de indicadores de sustentabilidade ambiental sugeridos pela OECD e UNDP. ............................................................................................................................... 138

ANEXO D – Matriz de indicadores de sustentabilidade ambiental sugeridos pelo Banco Mundial............................................................................................................................. 139

ANEXO E – Exemplo de um conjunto de indicadores de sustentabilidade de agroecossistemas proposto pelo IICA/GTZ. ..................................................................... 141

ANEXO F – Tabela Indicadores de Sustentabilidade propostos pelo FESLM. .................. 143

Page 6: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

vi

ANEXO G – Critérios de diagnóstico e indicadores de sustentabilidade para avaliação de sistemas de manejo de recursos naturais do MESMIS. .................................................... 145

ANEXO H – Indicadores de sustentabilidade levantados por Carvalho (1993). ................ 146

ANEXO I – Indicadores eco-ambientais considerados pelo IAPAR no estudo da microbacia hidrográfica de Mamboré (PR). ......................................................................................... 148

ANEXO J – Indicadores socioeconômicos considerados pelo IAPAR no estudo da microbacia hidrográfica de Mamboré (PR). ...................................................................... 148

ANEXO K – Relação de indicadores potenciais e em fase de monitoramento na microbacia hidrográfica de Taquara Branca (SP) pelo subprojeto “Desenvolvimento de metodologias para definição de indicadores de agroecossistemas com alto uso de agrotóxicos” (Embrapa-CNPMA). ........................................................................................................... 149

ANEXO L – Resumo de indicadores e descritores apresentados por Lopes (2001). ........ 150

ANEXO M – Parâmetros relacionados com a sustentabilidade dos agroecossistemas proposta por Gliessman................................................................................................... 151

APÊNDICE A – Mapa da Metade Sul e Relevo do Município de Camaquã ........................ 152

APÊNDICE B – Fotos da Região ....................................................................................... 153

Page 7: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Resumo das características econômicas, sociais, ambientais e culturais de Camaquã-RS (pontos críticos). ..............................................................86

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Indicadores para avaliar a sustentabilidade em contextos de desenvolvimento rural local: Camaquã-RS. .............................................................. 87

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Visualização gráfica da interação entre padrão, parâmetros e indicadores......................................................................................................................61

FIGURA 2 - Esquema para a definição de indicadores de sustentabilidade para agroecossistemas proposto pelo IICA/GTZ...............................................................67

FIGURA 3 - Metodologia para proposição dos indicadores. ..................................84

Page 8: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

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RESUMO

A partir da década de oitenta, o termo sustentabilidade começa a

aparecer com muita freqüência, tornando-se tema importante no debate social.

A noção de sustentabilidade não é única, há uma multiplicidade de concepções,

às vezes até controvérsias. Apesar da recente variedade de publicações sobre

indicadores de sustentabilidade, poucos são os esforços para tornar operativo o

conceito de sustentabilidade. O presente trabalho objetiva propor e discutir

indicadores para avaliar a sustentabilidade em contextos de desenvolvimento

rural local, tendo como espaço empírico o município de Camaquã-RS. Este

município, atualmente, apresenta dois diferentes sistemas agrários: a Região da

Encosta do Planalto Sul-Rio-Grandense, com relevo acidentado, onde se pratica

o cultivo do fumo integrado à agroindústria, baseado na mão-de-obra familiar; e

a Região da Planície Costeira, com áreas planas onde se cultiva o arroz irrigado.

A proposição de descritores e de indicadores apresentada é direcionada a uma

escala local e objetiva fornecer aos agricultores, extensionistas, pesquisadores e

mediadores sociais informações sobre a realidade na qual atuam e contribuir

para formulação de projetos e de políticas de desenvolvimento. A proposta

baseou-se nos seguintes critérios: compreensão de sustentabilidade; interação

entre as dimensões econômica, social, ambiental e cultural; custo para avaliação

e mensuração dos indicadores; facilidade de mensuração e de compreensão por

parte dos agricultores, extensionistas e mediadores. Ademais, levou-se em

consideração um conjunto de indicadores levantados a partir de 12 propostas

estudadas, formando uma “cesta de opções”, da qual selecionou-se alguns

considerados adequados para avaliar a realidade local. Com base nestes

critérios, conclui-se que os descritores mais apropriados, relacionados à

dimensão econômica, são diversidade da atividade produtiva e capacidade de

reprodução; à dimensão social, são qualidade de vida e grau de concentração

Page 9: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

ix

fundiária; à dimensão cultural, são diversidade cultural, e participação e

cidadania; e à dimensão ambiental, são contaminação e degradação do meio

natural, e unidades de conservação. Conclui-se, também, que o conceito de

sustentabilidade está baseado na premissa de que é necessário refletir de

maneira profunda sobre a relação entre o ambiente natural, a sociedade e a

economia e atuar de maneira sistêmica, interdisciplinar e participativa, olhando o

todo, de modo a avaliar o sistema de forma global e considerando as

características e as interações existentes. Para avaliar contextos de

sustentabilidade, não há um conjunto de indicadores globais adaptáveis a

qualquer realidade, uma vez que os indicadores descrevem um processo

específico e são particulares a esses processos, podendo ser apropriados para

um sistema e impróprios para outro. Não há fórmula ou receita pronta, o que se

exige é um trabalho de análise, interpretação e compreensão do sistema

analisado.

Page 10: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

1

1 INTRODUÇÃO

A sustentabilidade, tema que desperta curiosidade, tem merecido

espaço em livros, revistas e na própria televisão, uma vez que é usado em

discursos políticos e representa uma bandeira de luta de muitas instituições

governamentais e não-governamentais. Mas, afinal, o que significa

sustentabilidade? O que é desenvolvimento sustentável?

Em meados da década de 80, os impactos da agricultura “moderna”,

traduzidos em efeito estufa, desmatamento, chuvas ácidas incitaram o

questionamento sobre o ritmo do crescimento econômico, ou seja, a

humanidade passa a questionar-se em relação a um “desenvolvimento” que

ameaça a sobrevivência e a qualidade de vida no planeta. Neste período, surgiu

o conceito de “sustentabilidade” que passou a ser empregado com freqüência e

assumiu dimensões econômicas e socioambientais, buscando embasar uma

nova forma de desenvolvimento.

A idéia de desenvolver indicadores de sustentabilidade surgiu na

Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente (Rio-92), conforme registra seu

documento final, a Agenda 21. A proposta era definir padrões sustentáveis de

desenvolvimento que considerem aspectos ambientais, econômicos, sociais,

éticos, culturais... Para isso, torna-se necessário definir padrões, parâmetros ou

descritores e indicadores que mensurem, monitorem e avaliem a

sustentabilidade.

A questão central reside na compreensão do que é e como medir

sustentabilidade. Conforme Carvalho (1993), essa expressão exige um

complemento, portanto a questão que segue é: sustentabilidade do quê, onde e

por quê.

A tarefa de identificar parâmetros e estabelecer indicadores de

sustentabilidade é de grande complexidade. Um indicador permite a obtenção

Page 11: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

2

de informações sobre uma dada realidade (Mitchell, 1997), podendo sintetizar

um conjunto complexo de informações e servir como um instrumento de

previsão. No entanto, quando se trata de indicadores de sustentabilidade o

debate está apenas iniciando, pois não há uma fórmula ou receita para avaliar o

que é sustentável.

Apesar da relevância do tema e da grande quantidade de artigos, há

carência de esforços sistemáticos para tornar operativo as características e o

conceito de sustentabilidade. Para que a sustentabilidade não seja um mero

conjunto de necessidades e de aspirações, os seus objetivos devem ser

traduzidos em critérios operacionais.

O presente trabalho objetiva propor e discutir indicadores que avaliem a

sustentabilidade em contextos de desenvolvimento rural local, tendo como

espaço empírico município de Camaquã-RS. Este município situa-se na “Metade

Sul” do estado do Rio Grande do Sul, região de importância socioeconômica e

populacional, mas que apresenta, atualmente, situação de carência social

elevada, índices altos de concentração fundiária e baixo dinamismo econômico.

Conforme o trabalho de Ferreira (2001), o município, atualmente,

apresenta dois diferentes sistemas agrários: um, na Região da Encosta do

Planalto Sul-Rio-Grandense, com relevo acidentado, onde se pratica o cultivo do

fumo integrado à agroindústria, baseado na mão-de-obra familiar; e o outro, na

Região da Planície Costeira, com áreas planas, onde se cultiva o arroz irrigado

em pequenas, médias e grandes propriedades indistintamente, sendo que as

últimas possuem elevada mecanização.

Os recursos solo e água apresentam-se cada vez mais escassos no

município, devido à sua utilização incorreta, e, principalmente, a os padrões

produtivos do arroz e do fumo estarem submetidos ao uso intensivo de

agroquímicos. Ainda, há uma importante concentração fundiária, sendo usual a

prática do arrendamento das terras, levando à transferência de grande parte do

valor agregado. Essas características, dentre outras, desenham o cenário de

tendência à insustentabilidade do município. Diante das considerações,

pergunta-se: Como avaliar a sustentabilidade da região?, Que indicadores, nas

áreas econômica, social, ambiental e cultural, avaliariam a sustentabilidade do

desenvolvimento rural de Camaquã?

Page 12: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

3

Para responder a este questionamento, o presente trabalho pretende:

1) reconstituir, brevemente, através de um panorama histórico a

evolução e a caracterização dos sistemas agrários e de produção, e

as características socioeconômicas, ambientais e culturais atuais de

Camaquã;

2) verificar conceitos, enfoques, contextualização histórica e discussões

atuais sobre sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e

desenvolvimento rural;

3) esclarecer o que são indicadores, o que os caracteriza e quais as

potencialidades e as dificuldades na proposição em um contexto de

sustentabilidade e de desenvolvimento rural;

4) propor e discutir indicadores que avaliem a sustentabilidade da

realidade local.

Nesse sentido, a realização de uma pesquisa que permita selecionar

indicadores de sustentabilidade do desenvolvimento rural, nas áreas social,

econômica, cultural e ambiental para a realidade complexa de Camaquã,

representa uma contribuição ao debate e constitui-se em um importante

instrumento referencial.

Levando em consideração a carência de estudos, discussões e

resultados de pesquisas que tratem de indicadores de sustentabilidade e não

apenas construam listas, sem considerar as interações existentes entre as

diferentes dimensões, e que tratem da diversidade da realidade rural da Metade

Sul do RS, acredita-se relevante e oportuno a realização do presente trabalho.

Para alcançar os objetivos propostos foram utilizados livros, artigos,

revistas, monografias, dissertações e teses sobre o tema, assim como consultas

a fontes de dados secundários obtidos junto ao IBGE, FEE, EMATER-RS,

UFRGS, entre outras.

Assim, para proposição dos indicadores utilizaram-se os seguintes

critérios:

Page 13: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

4

§ cruzamento analítico entre a compreensão de sustentabilidade e a

realidade local (Camaquã-RS);

§ cruzamento analítico da interação e integração entre as diferentes

dimensões: econômica, social, ambiental e cultural;

§ ajuste da análise dos indicadores através de uma lente ou filtro

composta da compreensão de sustentabilidade, das diferentes

dimensões, do custo para avaliação dos indicadores e da facilidade

de mensuração e compreensão por parte dos atores envolvidos;

§ elaboração de uma “cesta” de indicadores formada com base em

doze propostas estudadas, da qual se elegeram os indicadores

considerados mais relevantes para avaliar a sustentabilidade do

processo de desenvolvimento rural, considerando a realidade local.

Este trabalho desenvolve-se em quatro partes, além desta introdução e

da conclusão, nas quais se apresenta o tema e procura-se recorrer a seus

aspectos fundamentais. Na primeira parte, foram reconstituídos, brevemente, de

forma histórica, social, cultural e ambiental, os sistemas agrários e de produção

do município de Camaquã, com o objetivo de construir um panorama geral para

conhecimento da região. Este panorama foi constituído com base na pesquisa

realizada por Ferreira (2001) sobre a evolução e a caracterização dos sistemas

agrários do município. Essa parte do trabalho limita-se à reconstituição de forma

resumida dos sistemas e à apresentação de aspectos atuais da realidade local.

Na segunda parte, realiza-se o levantamento bibliográfico para

contextualizar a sustentabilidade, conhecer suas bases teóricas e evolução

histórica, conceituá-la, caracterizá-la, promover uma discussão sobre as

principais correntes e estabelecer uma compreensão própria sobre o tema.

Na terceira parte, realiza-se um estudo sobre indicadores, procurando

revisar a literatura, conceituar, caracterizar e apresentar alguns trabalhos

referentes à identificação de metodologias para estabelecimento de indicadores.

Ainda, discutem-se os limites e as potencialidades na proposição de

indicadores.

Page 14: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

5

Por fim, a quarta parte destina-se à proposição e discussão de

indicadores que avaliem a sustentabilidade do desenvolvimento rural do

município de Camaquã, procurando conectar as idéias expostas no primeiro

capítulo, que caracterizam a região, com a compreensão de sustentabilidade e a

base teórica dos indicadores.

Page 15: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

6

Page 16: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

7

2 PANORAMA GERAL DO MUNICÍPIO DE CAMAQUÃ-RS

A Metade Sul1, com as charqueadas e com a produção de arroz irrigado,

manteve um destacado dinamismo econômico e social durante o século XIX até

meados do século XX. Esta condição não perdurou com a industrialização

acelerada da parte norte do Estado. A estrutura fundiária, caracterizada pela

concentração de terras nas mãos de poucas famílias, a dificuldade para

implantar indústrias de base, entre outras razões levaram à estagnação

econômica e social da região no final do século XX (Ferreira, 2001)2.

A redução da importância relativa da Metade Sul no contexto da

sociedade gaúcha, desde final do século XIX, constitui-se em um fenômeno

abrangente, manifestando-se em níveis demográficos e econômicos. No que se

refere a demografia, os números evidenciam a redução relativa da população na

Metade Sul. Em 1890 a região concentrava 52,07% da população do estado e

em 1991 apenas 25,19% do total3 (Alonso; Benetti, Bandeira, 1994).

1 A Metade Sul é uma área física que corresponde, aproximadamente, à metade da área do Estado do Rio Grande do Sul. Seus limites ao norte formam uma linha imaginária iniciada pelo limite norte do município de São Borja, a oeste na fronteira com a Argentina, a leste na direção do município de Barra do Ribeiro e ao norte cruzando a Lagoa dos Patos e concluindo com o limite norte dos municípios de Capivari do Sul e Palmares do Sul (Projeto Ufrgs/Fapergs, 2001)(Ver apêndice A). 2 A descrição do meio ambiente do Município de Camaquã bem como a evolução e a caracterização de seus sistemas agrários e de produção têm por base o trabalho desenvolvido por Ferreira (2001). Nesse trabalho, verifica-se, ainda, uma análise ampla e pormenorizada do desenvolvimento rural do município em questão, envolvendo propostas de políticas públicas, englobando, também, a leitura da paisagem, o resgate e a formação histórica do município, a caracterização dos sistemas de cultivo, a tipologia dos produtores e o cálculo de indicadores agroeconômicos. 3 Um entendimento mais adequado das causas dessa redução exige uma análise mais detida, no entanto o presente trabalho visa apenas dar uma compreensão geral da situação da região, por isso esse aspecto não será discutido com maior detalhe. Para maiores informações, ver Alonso, Benetti, Bandeira, 1994.

Page 17: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

8

Especialmente na última década, a Metade Sul apresentou uma

crescente desaceleração econômica se comparada com as demais regiões do

Rio Grande do Sul. Essa região tem demonstrado um fenômeno de

marginalização econômica e social evidenciado pelo Índice de Gini para

pobreza, que variou de 0,726 a 0,847 com relação a 25 municípios no meio

rural. Ainda na região, há uma grande disparidade de formas de agricultura

decorrentes em grande parte da estrutura fundiária. Essas disparidades são

representadas pelo latifúndio, predominante na região desde sua ocupação no

século XVIII, por uma agricultura familiar, instalada no decorrer do século XX, e

finalmente por uma agricultura familiar em assentamentos implantados

recentemente na região. Esse desempenho precário decorre principalmente da

situação da pecuária extensiva, orizicultura e setor agroindustrial (conservas e

carnes), setores produtivos da região que se encontram em crise (Projeto

Ufrgs/Fapergs, 2001)4.

Atualmente, a Metade Sul caracteriza-se por uma região de baixo

dinamismo econômico com uma série de problemas sociais e ambientais. O

município de Camaquã não é exceção a esta situação.

Vários fatores levaram a tal caracterização. Para entender este

processo, faz-se necessário uma análise da região a ser estudada, um resgate

de sua história, o que se faz brevemente neste capítulo, mediante a

apresentação de um panorama geral do município de Camaquã, procurando

destacar suas características, como localização, vegetação, fauna, clima, solos,

bacias hidrográficas, altitude, seus sistemas agrários e de produção, além de

algumas características socioeconômicas, políticas, ambientais e culturais atuais

que são considerados importantes para o conhecimento da região e para a

proposição de indicadores que avaliem o seu desenvolvimento rural.

4 É um projeto desenvolvido por uma equipe interdisciplinar de docentes-pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e coordenado pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) que tem por objetivo principal promover a realização de um conjunto de estudos que identifique claramente os entraves existentes para a transformação socioeconômica e produtiva da região “Metade Sul” do Rio Grande do Sul, incluindo a dimensão ambiental, buscando, assim, contribuir para a concepção e implementação de políticas públicas na região.

Page 18: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

9

2.1 Caracterização Agronômica do Município de Camaquã: Localização,

Altitude, Solos, Limites, Vegetação, Fauna, Bacias Hidrográficas e Clima

Em 1844 foi lançada a pedra fundamental da Capela de São João, em

terreno doado às margens do Arroio Duro, por Ana Gonçalves da Silva

Meirelles, onde se desenvolveu o povoamento. Dez anos depois a Capela foi

elevada à categoria de Freguesia com o nome de São João Batista de Camaquã

e em 19 de abril de 1864 passou à condição de vila e sede do município

(Emater, 1997).

Em 1864, o município de Camaquã possuía uma área de 2.812 km².

Com o passar dos anos, ocorreram emancipações de alguns municípios

ocasionando o desmembramento do território e reduzindo em 40% sua área

territorial. A área total do município, atualmente, é de 1.681,6 km² e sua

densidade populacional 35,09 hab/Km².

O município de Camaquã localizado na Metade Sul do Rio Grande do

Sul está localizado na província geomorfológica5 do escudo Sul-Rio-Grandense,

na região sudeste do Rio Grande do Sul, à margem direita da Lagoas dos Patos

e à margem esquerda do Rio Camaquã, com uma altitude de 38 metros acima

do nível do mar.

Atualmente, Camaquã limita-se ao norte com os municípios de São

Jerônimo, Barão do Triunfo, Cerro Grande do Sul e Sentinela do Sul; ao sul,

com a Lagoa dos Patos e São Lourenço do Sul; ao leste com, Arambaré; e, ao

oeste, com Dom Feliciano, Chuvisca e Cristal. O município é constituído, na sua

maior parte, por rochas graníticas que datam do período primário, a leste por

sua vez apresenta uma superfície arenosa. Essa faixa litorânea data do período

quartenário, estando ainda em processo de acumulação de areia. Estas duas

regiões podem ser identificadas como Região do Planalto Sul-Rio-Grandense

(oeste) e Região da Planície Costeira (leste) (Ferreira, 2001).

5 Geomorfologia é a ciência que estuda as formas de relevo, tendo em vista a origem, a estrutura, a natureza das rochas, o clima da região e as diferentes forças endógenas que, de modo geral, entram como fatores construtores ou destruidores do relevo terrestre (Guerra, 1966).

Page 19: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

10

No município de Camaquã há duas situações antagônicas em relação

ao uso da terra. A região da Encosta do Planalto Sul-Rio-Grandense (zona alta)

apresenta solos rasos e cascalhentos, onde as limitações de água e a

suscetibilidade à erosão definem as atividades agrícolas. Apresenta um relevo

que varia de ondulado a montanhoso com altitudes de 14 a 400 metros, onde

predomam os solos podzóloco, litólico e podzólico vermelho amarelo. A Região

da Planície Costeira (zona baixa) apresenta uma topografia plana que varia de 3

a 14 metros de altitude onde predominam os solos planossolos e aluviais

próximo a Lagoa dos Patos. A região apresenta ampla disponibilidade de água

para irrigar os solos hidromórficos de camadas argilosas impermeáveis (Cunha

et al., 2000).

A vegetação natural que predomina na Encosta do Planalto Sul-Rio-

Grandense é a mata subtropical arbustiva, e podem-se identificar formações de

caponetes isolados nos campos onde prevalecem as espécies vassoura,

aroeira, caporocas, araçá, pitangueira, camboim, goiaba do mato, periquiteira,

cerejeira, talheira, pau-ferro, congonha, canela amarela, canela preta, canela

seibo, pinheiro do mato, tapiá, guajuvira, carvalho, canjerana, cedro, uva mirim,

camboatá, uva, salso, guamirim, tarumã, cambará, murta, erva-mate, batinga,

timbaúva, tubuneira, amaricá (Emater, 1997).

Na Região da Planície Costeira, a vegetação dominante é composta de

gramíneas com restos ocasionais de mata, denominada Formações Pioneiras.

Matas de galeria estão presentes nas margens do rio Camaquã e Arroio Sutil

(Ferreira, 2001). Nos cursos de água, encontra-se um tipo de vegetação com

árvores altas, como cedro, canela, acoita-cavalo e outras (Emater, 1997).

A fauna que existia na região de Camaquã era rica em espécies e em

população. Atualmente, a maioria das espécies encontra-se em extinção,

contudo ainda há as seguintes: capivara, ratão, cutia, paca, tatu, lebre, graxaim,

unambu, tarrã, gavião, gato-do-mato, gambá, veado, jacaré, perdiz, perdigão,

araquã, jacu, marreca, marrecão, maçarico, chimango, pica-pau, anu, joão-de-

barro, bem-te-vi, cardeal, coleiro-do-brejo, sabiá, pomba, ferreirinho, tico-tico,

canário amarelo, beija-flor, urubu, seriema, tucano, tamanduá, bugio, narceja,

caturrita, periquito, garça, pato, biguá, ganso marinho, martim-pescador, quero-

quero, socó, furão, lagarto, periá, cobra, galinhola e macaco (Emater, 1997).

Page 20: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

11

O município é cortado por três grandes bacias hidrográficas: rio

Camaquã, Arroio Duro e Arroio Velhaco. O rio Camaquã situa-se no limite sul do

município e possui como afluentes o Arroio Divisa e Arroio Sutil. No seu curso

inferior, encontram-se matas, galerias, pantanais, e há formação de pequenos

lagos. O Arroio Velhaco encontra-se localizado no limite norte do município.

O clima é do tipo subtropical, com temperatura média anual do mês

mais quente de 23° C e temperatura do mês mais frio variando de 3 a 18° C. As

temperaturas máximas atingem 38,8° C e as mínimas 0,8° C. A precipitação

anual varia de 1.186 a 1.364 mm (Ferreira, 2001).

O município de Camaquã, segundo suas características morfológicas e

transformações históricas, pode ser dividido em duas regiões: Região da

Encosta do Planalto Sul-Rio-Grandense e Região da Planície Costeira,

apresentado seis sistemas agrários6 ao longo de sua evolução.

2.2 Evolução dos Sistema Agrários

Conforme estudo realizado por Ferreira (2001), o município de Camaquã

apresentou seis diferentes sistemas agrários, a saber: Sistema Agrário Indígena,

Sistema Agrário do Período Colonial, Sistema Agrário da Região da Planície

Costeira, Sistema Agrário da Região da Encosta do Planalto Sul-Rio-Grandense,

Sistema Agrário Atual da Região da Planície Costeira e Sistema Agrário Atual da

Região da Encosta do Planalto Sul-Rio-Grandense. (Ver Anexo A).

2.2.1 Sistema Agrário Indígena – até 1750

Antes da chegada dos europeus, o município de Camaquã era habitado

por indígenas arachanes pertencentes ao grupo dos tapes. Esses indígenas

praticavam a pesca, a coleta e a agricultura de queimada. Cultivavam o milho, a

6 Um sistema agrário é um modo de exploração do meio historicamente constituído, um sistema de forças de produção, um sistema técnico adaptado às condições bioclimáticas de um espaço determinado que responde às condições e às determinações sociais do momento (Mazoyer; Roudart, 1997 apud Ferreira, 2001)

Page 21: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

12

mandioca com ferramentas manuais e mão-de-obra familiar, sendo que estes

cultivos destinavam-se ao autoconsumo e ao escambo com outras tribos

indígenas.

Os jesuítas realizavam a extração da erva-mate com a força de trabalho

indígena. Esta atividade pode ter sido a primeira forma de exploração

econômica da região (Ferreira, 2001).

Com a chegada dos açorianos à região, em 1714 começou o extermínio

da população indígena mediante apropriação de suas terras. Após alguns anos,

ocorreu a concessão de sesmarias aos açorianos, com a conseqüente formação

de grandes propriedades de terras, período em que se intensificou a extinção do

povo indígena, e o que ocasionou o surgimento de outro sistema agrário.

2.2.2 Sistema Agrário do Período Colonial – 1750 a 1900

A concessão pela coroa portuguesa de sesmarias permitiu a ocupação

das terras pelos açorianos e a instalação de grandes estâncias que se

localizavam no início da elevação do planalto. Os fazendeiros extraiam a erva-

mate e a madeira. Os agricultores da época praticavam a pecuária, capturando

os animais que se multiplicavam livremente. Além disso, cultivavam o trigo,

utilizando a agricultura de queimada.

Os principais instrumentos de trabalho eram ferramentas manuais e

equipamentos de tração animal. A força de trabalho empregada era a mão-de-

obra familiar, escravos e homens livres.

No século XVIII, as charqueadas industrializaram de forma rudimentar a

carne bovina e essa carne, o couro e a erva-mate constituíram os principais

produtos de exportação da região.

A abolição da escravatura provocou a redução da mão-de-obra,

dificultando a exploração das terras, o que impulsionou os proprietários das

fazendas a adotarem o sistema de arrendamento.

Juntamente com a posse de áreas agrícolas, surgiu o cultivo de arroz

irrigado e, mais tarde, ocorreu a colonização da região por imigrantes alemães,

Page 22: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

13

poloneses e espanhóis com o intuito de ocupar o território, regular a posse e

valorizar as terras devolutas da Encosta do Planalto Sul-Rio-Grandense.

Esses fatos originaram dois sistemas agrários: o Sistema Agrário da

Região da Planície Costeira que surgiu com a introdução do cultivo do arroz e a

melhoria da pecuária extensiva, e o Sistema Agrário da Encosta do Planalto Sul-

Rio-Grandense com uma agricultura do tipo familiar ocupado e explorado por

colonos poloneses, alemães e espanhóis.

2.2.3 Sistema Agrário da Região da Planície Costeira – 1900 a 1950

No início do século XX, a pecuária continuava sendo a principal

atividade econômica, os campos foram cercados e passou-se a praticar um

novo sistema de criação neste período. Os agricultores preocupavam-se com o

melhoramento genético do rebanho introduzindo matrizes, reprodutores de

raças européias e formando cabanhas.

Os capitalistas urbanos que arrendavam terras e os fazendeiros

criadores de gado implementaram as lavouras de arroz irrigado na Região da

Planície Costeira, devido ao solo e à disponibilidade de água adequados a este

tipo de cultivo. Nas lavouras de arroz, as práticas agrícolas eram realizadas com

tração animal e a colheita era feita manualmente com mão-de-obra contratada

principalmente da Região do Planalto.

Na metade do século XX, com a expansão do cultivo do arroz irrigado,

esta atividade tornou-se a principal fonte de renda dos agricultores da região.

2.2.4 Sistema Agrário da Região da Encosta do Planalto Sul-Rio-

Grandense – 1900 a 1950

A Constituição Federal de 1891 ao alterar a lei de imigração modificou o

sistema de colonização, permitindo o povoamento das terras devolutas

localizadas na Região da Encosta do Planalto Sul-Rio-Grandense. Os

agricultores-colonos, inicialmente, praticavam uma agricultura de queimada,

Page 23: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

14

utilizavam mão-de-obra familiar e sistema de tração animal, sendo apenas o

excedente comercializado.

A partir de1950 a produção destinou-se à alimentação da família e das

criações com o cultivo da batata-inglesa, do feijão, do milho e do trigo. Além

dessas lavouras, surgiu o cultivo do linho e da cevada para atender aos

mercados mais distantes. Com o melhoramento da infra-estrutura a

comercialização de produtos agrícolas, produzidos na Região da Encosta do

Planalto, passou a realizar-se também na cidade de Camaquã.

Uma importante fonte de recursos financeiros dos agricultores da região

da Encosta do Planalto provém de seu trabalho na colheita do arroz na Região

da Planície Costeira.

As diferentes formas de exploração do meio ecológico, novas relações

tecnológicas e econômicas deram origem a dois novos sistemas agrários.

2.2.5 Sistema Agrário Atual da Região da Planície Costeira – A Partir de

1950

A partir da metade do século XX realizaram-se investimentos na região,

melhorando as condições de acesso via terrestre ao município e provocando

transformações no meio físico. Ocorreu a construção da BR 2, hoje BR 116,

modificando o sistema de transporte da produção que anteriormente ocorria via

lacustre. Esse fato deslocou as indústrias de beneficiamento de arroz para

próximo a sede do município.

A irrigação da lavoura de arroz, que utilizava água de grandes açudes

de contenção, passou a empregar água fornecida pela Barragem do Arroio

Duro, construída neste período.

A partir da década de 1950, foi crescente a mecanização da agricultura

com a utilização de tratores e colheitadeiras automotrizes. Ocorreu, ainda, a

intensificação do uso de fertilizantes, pesticidas e sementes melhoradas, fatores

que contribuíram para o aumento da área cultivada e do rendimento do arroz

irrigado.

Page 24: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

15

Em rotação com o arroz, cultivou-se a soja de 1970 a 1996,

representando cerca de dois terços do total da soja cultivada no município de

Camaquã. Atualmente, este cultivo não é expressivo, devido à queda dos

preços e à expansão da área de soja no planalto gaúcho.

A pecuária extensiva de cria e corte permaneceu sendo uma importante

atividade, mantendo-se como segunda atividade econômica nestes últimos 50

anos na Região da Planície Costeira, utilizando áreas de resteva da lavoura de

arroz e áreas de pousio. A bovinocultura funciona semelhante a uma poupança,

desempenhando importante função econômica de regular a disponibilidade de

recursos financeiros dos agricultores desta região.

Em 1962, após concluída a drenagem do Banhado do Colégio7, foi

implantado um processo de distribuição de lotes e de concessão dos títulos de

posse da terra (20 a 25 hectares). A reforma agrária ocorreu em 5.000 hectares,

divididos em 256 lotes. Inicialmente, os agricultores cultivavam milho, feijão e

hortaliças, sendo esta última abandonada nas primeiras safras devido à

dificuldade de comercialização.

O sistema de cultivo do arroz adotado pelos assentados do Banhado do

Colégio iniciou com tratos culturais motomecanizados. A elevada fertilidade do

solo propiciou um rápido processo de capitalização dos agricultores, devido ao

reduzido custo, favorecido pela não utilização de fertilizantes. Porém, o contínuo

cultivo do arroz, sem reposição da fertilidade natural, reduziu os níveis de

fertilidade do solo.

Em relação à estrutura fundiária inicial, houve uma mudança

significativa. Encontram-se, atualmente, pequenas áreas pertencentes a um

grande número de pequenos proprietários; e médias propriedades de posse de

um reduzido número de agricultores.

7 O Banhado do Colégio era o local onde o Arroio Duro encerrava seu curso formando um grande pântano de aproximadamente 10 mil hectares (Ferreira, 2001).

Page 25: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

16

2.2.6 Sistema Agrário Atual da Região da Encosta do Planalto Sul-Rio-

Grandense – A Partir de 1950

Nos anos 1950, os agricultores da região da Encosta do Planalto, ainda

praticando a agricultura com tração animal e utilizando mão-de-obra familiar,

abandonaram o cultivo de linho e da cevada. Os investimentos públicos em

estradas proporcionaram a melhor circulação do excedente da produção de

batata-inglesa, feijão e milho.

Instalou-se uma crise agrícola provocando a migração da população

rural para cidade. O fim dos moinhos coloniais e a liberação da mão-de-obra

empregada na lavoura arrozeira, devido à mecanização da colheita, foram fatos

que acentuaram a migração. Neste cenário, surgiu o cultivo comercial do fumo,

absorvendo parte da mão-de-obra da lavoura arrozeira, mudando o modo de

exploração do meio e estabelecendo novas relações de produção.

A indústria fumageira Souza Cruz fomenta o cultivo intensivo (com

utilização de fertilizantes e pesticidas) do fumo de estufa de forma integrada com

o produtor, a montante e a jusante da produção. Ao mesmo tempo que a

fumageira introduz tecnologias, intensifica a produção, promove elevação da

renda, torna os agricultores dependentes e ainda, regula o processo produtivo.

Os agricultores da Região da Encosta do Planalto, somente a partir dos

anos setenta, mecanizaram os estabelecimentos rurais, porém ainda predomina

o sistema de cultivo que utiliza a tração animal.

O cultivo do fumo absorve grande parte da mão-de-obra familiar, por

isso as criações coloniais e os demais cultivos foram reduzidos e praticados com

a finalidade de atender ao consumo familiar. Em alguns casos, os agricultores

dedicam-se exclusivamente ao cultivo do fumo.

2.3 Caracterização dos Sistemas de Produção

Valendo-se de racionalidades socioeconômicas distintas, os agricultores

fazem escolhas diferentes no que se refere aos cultivos, às criações, às

técnicas, às práticas agrícolas e econômicas. Nem todos adotam, portanto, o

Page 26: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

17

mesmo sistema de produção e as mesmas formas de exploração do

ecossistema (FAO/INCRA, 1999).

Para compreensão da lógica empregada pelos agricultores de Camaquã

e sua forma de artificialização do meio, faz-se necessário sistematizar os

sistemas de produção. Segundo trabalho de Ferreira (2001), foram identificados

cinco sistemas de produção8 na Região do Planalto e cinco na Região da

Planície Costeira.

2.3.1 Sistemas de Produção (SP) Praticados pelos Agricultores da Região

da Encosta do Planalto

Os agricultores da Encosta do Planalto, de origem polonesa e alemã,

praticam o cultivo do fumo, como principal atividade econômica, o milho, feijão,

batata, aipim e dedicam-se à criação de suínos e de aves destinadas à

subsistência.

a) SP1 – Fumicultura em Parceria com Sistemas de Cultivo e Criação de

Subsistência.

Este sistema é praticado em unidades produtivas dispersas na Região

da Encosta do Planalto, explorado por agricultores familiares que mantêm

relação de parceria com o dono da terra, dividem com ele as despesas e a

receita do fumo (50%), cultivam cerca de 2,5 a 5,5 hectares. Os cultivos e

criações de subsistência (milho, feijão, horta doméstica, bovinos, aves e suínos)

não fazem parte da parceria, a produção destina-se ao consumo da família. A

mão-de-obra é basicamente familiar, havendo contratação de serviço temporário

por ocasião da colheita do fumo. Predomina a tração animal e são raros os

casos de tração motomecanizada própria.

8 O sistema de produção pode ser definido como uma combinação, no tempo e no espaço, dos recursos disponíveis, com a finalidade de obter produções vegetais e animais. Pode também ser entendido como uma combinação coerente de vários subsistemas produtivos, como por exemplo, os sistemas de cultivo de parcelas de terras, os sistemas de criação de grupos de animais (plantéis) ou parte de grupos de animais e os sistemas de processamento dos produtos agrícolas no estabelecimento rural (Ferreira, 2001).

Page 27: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

18

As companhias fumageiras atuam no sistema integrado, com os

produtores a montante e a jusante fornecendo insumos, assistência técnica e

comprando a produção, induzindo a uma forte dependência desses agricultores.

Salienta-se que o preço obtido pelo fumo depende diretamente da qualidade do

produto, verificada por meio da classificação, e da relação entre agricultores e

companhia fumageira e destas com o mercado.

Segundo Graziano da Silva (1999), essa forma de subordinação se dá

através do financiamento dos insumos e da assistência técnica, criando no

pequeno agricultor uma dependência e forçando-o à adoção de novas

tecnologias. A firma compradora impõe não apenas o preço e as condições de

pagamento, mas também a própria maneira de produzir das unidades

camponesas.

Os agricultores do tipo 1 representam cerca de ¼ dos agricultores

familiares da Região do Planalto, sua renda agrícola é reduzida, permitindo

estimar que estes agricultores encontram dificuldades em permanecer na

atividade e em proporcionar uma renda agrícola suficiente para assegurar a

reprodução social e realizar investimentos na atividade produtiva. Devido aos

fatores citados, os agricultores do tipo 1 devem a médio e a longo prazo,

buscarem maior remuneração da mão-de-obra familiar em atividades não-

agrícolas ou migrar no sentido campo cidade.

b) SP2 – Pequenos e Médios Proprietários e Arrendatários Fumicultores

com Atividade de Subsistência

Neste tipo de sistema, as unidades de produção são explorados por

agricultores rurais proprietários e arrendatários. O SP2 representa a maioria dos

fumicultores do município. Além do fumo, que é a atividade econômica principal,

os agricultores dedicam-se a atividades de cultivo e de criação em pequena

escala destinadas à subsistência. Utilizam basicamente mão-de-obra familiar

com eventual contratação de serviços. As práticas agrícolas são realizadas com

tração animal ou com uso da tração mecânica.

Nas relações entre arrendatários e proprietários, o uso da terra está

vinculado apenas à transferência de recursos do agricultor ao dono da terra,

Page 28: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

19

num valor preestabelecido, sem a participação do proprietário no processo

produtivo e sem ele assumir o risco da atividade.

Aproximadamente 2/3 dos agricultores da região representam este tipo.

Alguns estabelecimentos rurais identificados como médios fumicultores não

dispõem de recursos financeiros para realizar investimentos na atividade

produtiva, e a tendência é que eles abandonem a atividade e migrem para

outros setores da economia em busca de uma melhor remuneração. Em

contrapartida, uma grande parte dos médios fumicultores, que obtém uma

produção de fumo de melhor qualidade, tem alcançado o nível de reprodução

simples e mesmo ampliada, apresentando uma renda elevada e proporcionando

melhor nível de vida à família, além de investimentos nos estabelecimentos

rurais. No entanto, esta situação é instável devido à política de seleção de

produtores de fumo implementada pelas companhias fumageiras, principalmente

através da classificação, tendendo a excluir a médio e longo prazo grande parte

dos agricultores desta atividade.

c) SP3 – Grandes Fumicultores com Atividades de Cultivo e Criação

Destinados à Subsistência

Este sistema de produção é composto de grandes fumicultores, que

dispõem de áreas agrícolas de 24 a 40 hectares de superfície agrícola útil

(SAU). Além do fumo, estes agricultores realizam cultivos e criação destinados à

subsistência, e à comercialização do excedente de milho.

A criação de bovinos é realizada por grande parte dos agricultores com

a finalidade de fornecer leite e carne para consumo familiar e constituindo-se

numa reserva de poupança.

Os grandes fumicultores, por deterem a posse das maiores áreas,

realizam a cultivo do fumo em grande escala (6 a 20 hectares de fumo) e são os

principais beneficiários da política de expansão das companhias fumageiras.

Esses agricultores dispõem de um elevado capital e de uma capacidade de

investimento em tecnologia moderna, favorecendo a elevação da qualidade do

fumo.

Page 29: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

20

As unidades de produção deste tipo proporcionam uma renda elevada e

superam o nível de reprodução simples, portanto podem ser considerados

estáveis. Uma pequena parcela destes agricultores obtém uma renda que

supera o nível de reprodução ampliada e tem possibilidade de reproduzir o

aparelho de produção e realizar investimentos. Os grandes fumicultores são

agricultores que tendem a permanecer na atividade e a buscar um aumento de

escala de produção, incorporando novas áreas agrícolas, seja pelo

arrendamento, seja pela aquisição de terra.

d) SP4 – Produtores de Hortigranjeiros e Feirantes

Os agricultores deste tipo de produção estão estruturados para a

produção de hortigranjeiros, destinados à comercialização através de uma feira

de produtores que ocorre duas vezes por semana e estão organizados em uma

associação denominada ASCAF (Associação Camaquense de Feirantes). Como

o sistema de cultivo é pouco intensivo e fortemente dependente das condições

climáticas resulta em uma produção baixa e de qualidade inferior à oferecida em

mercados concorrentes.

Os filhos dos agricultores, geralmente, tornam-se feirantes, ampliando a

produção e abrindo um novo ponto de comercialização. A divisão da família é a

forma encontrada por estes produtores para aumentar o nível de renda familiar,

melhorar a eficiência da mão-de-obra e do uso da terra.

Esses agricultores em grande parte foram produtores de fumo e buscam

outra atividade agrícola menos insalubre; quando confrontados com situação de

crise, tendem a retornar ao cultivo do fumo.

O sistema de produção baseado em hortigranjeiros apenas permite a

reprodução social destes agricultores e está em processo de estagnação, sendo

incapaz de proporcionar renda suficiente para remunerar os membros da família

e não dispondo de capital próprio para realizar investimentos na atividade

produtiva.

Page 30: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

21

e) SP5 – Fumicultores e Produtores de Leite

Os agricultores desse sistema realizam o cultivo do fumo, principal

atividade econômica, além de outros cultivos e de atividades de criação

destinada à subsistência e à produção de leite.

Somente os agricultores que cultivam área igual ou superior a 3

hectares são considerados capitalizados e ingressam na atividade de produção

de leite. Estes agricultores dispõem de área para implementar esta atividade e

têm a possibilidade de realizar investimentos na aquisição de matrizes.

A produção de leite agrega valor à unidade de produção e proporciona

melhor distribuição da renda durante o ano, reduzindo a forte dependência do

cultivo do fumo.

Ademais, destaca-se a existência de mercado potencial para expansão

da produção de leite no município, pois a Cooperativa Mista Industrial Centro-

Sul Ltda. (COOMAC), localizada em Camaquã, trabalha com 25% da

capacidade instalada.

Esse sistema representa aproximadamente 10% dos agricultores locais

e estão em situação socioeconômica estável, sobretudo os grandes fumicultores

que têm capacidade para realizarem investimentos na expansão da atividade

produtiva.

Na Região da Encosta do Planalto Sul-Rio-Grandense, a intensificação

da agricultura, centrada no cultivo do fumo, absorveu mão-de-obra familiar da

região, ao mesmo tempo em que se abandonou, gradativamente, a produção de

cultivos destinados à alimentação. O cultivo do fumo de forma intensiva se, por

um lado, agregou valor à economia e gerou renda agrícola mais elevada, por

outro lado, gerou empobrecimento do solo que apresentava suscetibilidade à

erosão. Apenas 10,2% dos solos da região da Encosta do Planalto são aptos

para cultivos anuais (Ferreira, 2001; Cunha et al., 2000).

Page 31: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

22

2.3.2 Sistema de Produção (SP) Praticados pelos Agricultores da Região

da Planície Costeira

Os agricultores dessa região colocam em prática sistemas de produção

que se caracterizam por cultivar o arroz irrigado e por realizar a criação

extensiva de bovinos. O arroz representa 16% do total das terras do município.

a) SP6 – Pequenos Arrozeiros Familiares do Banhado do Colégio

Este sistema de produção é praticado por agricultores rurais familiares,

proprietários e arrendatários de estabelecimentos rurais localizados no Banhado

do Colégio. A principal atividade econômica é o arroz irrigado (6 a 11 hectares),

além do arroz, estes agricultores cultivam a soja e o milho em pequena escala.

A bovinocultura extensiva também é produzida em pequena escala,

assegurando o autoconsumo da família em carne, leite e constitui-se em capital

com liquidez (poupança).

O sistema de cultivo de arroz pré-germinado tende a tornar-se, a curto

prazo, o sistema mais empregado, devido à reduzida disponibilidade de área

agrícola e a este tipo de cultivo controlar as principais ervas invasoras.

A reduzida escala de produção é conseqüência de um processo

histórico de fracionamento de áreas agrícolas e a intensificação do cultivo do

arroz na mesma gleba por vários anos.

Mais de 1/3 dos agricultores familiares (38%) são identificados como

pequenos arrozeiros e apresentam um baixo nível de renda, possibilitando

apenas a reprodução social. O que permite concluir que estes agricultores

encontram-se em situação de relativa instabilidade e fragilidade social.

b) SP7 – Médios Arrozeiros

O SP7 é explorado pelos agricultores rurais proprietários e proprietários

arrendatários. A área de arroz cultivada varia de 40 a 104 hectares e

apresentando um nível elevado de mecanização.

Page 32: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

23

A forma de emprego da mão-de-obra é a familiar e a contratada

(contratação de serviços de terceiros permanente). O nível dos recursos

produtivos utilizados (capital e SAU) sugere que os agricultores identificados

como médios arrozeiros praticam um agricultura familiar em transição para a

agricultura empresarial.

Estas unidades de produção são estáveis, obtêm uma renda familiar que

possibilita um nível de vida elevado, e os agricultores pertencentes a este tipo

têm condições de reproduzir o aparelho de produção e de realizarem

investimentos na atividade.

c) SP8 – Arrozeiros Proprietários

Este sistema de produção é praticado por agricultores arrendatários. As

unidades de produção possuem uma SAU de 134 a 434 hectares. Predomina a

mão-de-obra contratada, sendo utilizada de forma mais extensiva.

A principal atividade econômica é o arroz irrigado, em algumas unidades

de produtição foi encontrado o cultivo da soja que é praticado em rotação com o

arroz e a criação extensiva de bovinos de cria em pequena escala ( 4 a 20

cabeças).

O índice de mecanização é alto, os agricultores apresentam lógica

empresarial e têm na busca do lucro o seu principal objetivo. Apresentam

capacidade de realizarem investimentos na expansão da atividade produtiva.

Um dos problemas enfrentados pelos arrozeiros proprietários está

relacionado com a perda de competitividade no mercado internacional e

nacional, devido ao elevado custo de produção pela utilização intensiva de

agroquímicos.

d) SP9 – Arrozeiros Grandes Arrendatários

Os arrozeiros grandes arrendatários têm no cultivo do arroz a principal

atividade, arrendam a totalidade de suas áreas agrícolas com uma SAU de 150

a 350 hectares. A mão-de-obra é basicamente contratada. As terras arrendadas

Page 33: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

24

para o cultivo do arroz são de propriedade, principalmente, de agricultores

criadores de bovinos.

A condição de arrendamento a que estão submetidos e o reduzido nível

dos indicadores de desempenho agroeconômico permite concluir que estes

agricultores encontram-se em situação de instabilidade econômica e são os

primeiros a serem atingidos pelas oscilações do mercado (variações de preços

dos produtos e dos insumos) (Ferreira, 2001). Representando 15% dos

agricultores locais da Região da Planície Costeira e cultivando

aproximadamente 28% da área de arroz, estes agricultores são obrigados a

transferir uma parte considerável do valor agregado produzido na unidade

produtiva para o proprietário da terra arrendada, devido às condições

preestabelecidas para o arrendamento. Esta transferência significa deslocar

grande parte dos recursos gerados na agricultura para outros setores da

economia, provocando a estagnação econômica daquele setor por falta de

investimentos na atividade produtiva.

e) SP10 – Grandes Proprietários

O SP10 representa 2% dos agricultores locais da Região da Planície

Costeira e cultivam 1/5 da área de arroz irrigado desta região. As unidades de

produção dos grandes proprietários é de, aproximadamente, 2300 a 3000

hectares de SAU, onde cultivam o arroz irrigado, a soja, a criação extensiva de

bovinos de cria e recria e com menor ocorrência a criação de ovinos destinados

ao autoconsumo. As unidades de produção apresentam elevada quantidade de

mão-de-obra e alto nível de mecanização.

Os dados permitem concluir que os estabelecimentos do tipo 10

encontram-se em processo de descapitalização, e os agricultores podem não

permanecer nesta atividade agrícola, direcionando seus investimentos para

outro setor da economia.

Os sistemas de produção da Região da Planície Costeira, a partir do

avanço da motomecanização, do emprego de fertilizantes e de sementes

melhoradas, frutos da Revolução Verde, promoveram o aumento da área

cultivada e do rendimento do cultivo do arroz, provocando também o aumento

Page 34: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

25

da degradação física do solo, diminuindo a fertilidade e aumentando o índice de

infestação de pragas, conseqüentemente, exigindo níveis, cada vez mais

elevados de fertilizantes e pesticidas e, assim, promovendo a transferência de

parte do valor agregado gerado para as indústrias de produtos químicos.

A pecuária praticada nas áreas de pousio e de resteva da lavoura

arrozeira proporciona uma rentabilidade inferior à obtida com o arroz, mas

representa liquidez e disponibiliza recursos financeiros para as atividades

agrícolas quando se enfrentam dificuldades econômicas

2.4 Características Atuais Socioeconômicas, Culturais e Ambientais

Cabe destacar alguns dados gerais sobre o município de Camaquã

considerados importantes para a compreensão de sua dinâmica e conhecimento

da realidade da região.

O município de Camaquã, nos anos 1970, apresentava uma população

total de 57.288 habitantes, sendo que 41,1%, urbana e 58,9%, rural. Com o

passar dos anos, esta população total manteve-se estável, apresentado um

pequeno aumento. Em 2000 encontrava-se com 60.368 habitantes, no entanto

com a população urbana equivalente a 77,95% (47.059) e a rural de apenas

22,04% (13.309) (IBGE, 2001). Os dados sobre a população, se analisados de

forma isolada, comprovam o êxodo rural ocorrido nas últimas décadas. Cabe

relembrar que essa situação não deriva somente do êxodo, pois 40% do

território de Camaquã foram desmembrados por emancipação de municípios.

O valor adicional fiscal9 por atividade econômica do município, em 1995,

era oriundo 26,90% da agropecuária; 4,64% da indústria de transformação;

25,89% da indústria de beneficiamento; 16,28% do comércio atacadista; 16,08%

do comércio varejista e 10,18% de serviços (Emater, 1997). Esses dados

demonstram a predominância das atividades ligadas à agropecuária. As

indústrias de transformação e beneficiamento estão diretamente relacionadas

9 “Valor adicionado não abarca todos os itens de produção, especialmente aluguéis, serviços profissionais, lucros financeiros, investimentos públicos e a produção informal ...” (Klering, 1998. p. 66).

Page 35: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

26

com a produção do arroz e do fumo.

O município tem capacidade de armazenamento de cerca de 80.000

toneladas (Emater, 1997). O seu rebanho mais expressivo é o bovino com

75.000 cabeças, seguido do ovino com 10.500 e suíno com 10.000 (IBGE,

1996).

Camaquã tem 75 escolas, incluindo municipais, estaduais e particulares

e uma universidade a Fundasul. Em 1991/92 a taxa de alfabetização era de

83,92% e de escolarização 89,79% (FEE, 1996). No entanto, o Índice Social

Municipal Ampliado10 (ISMA) para a educação11 de Camaquã foi de 0,50 (média

do período de 1991 a 1996). Considerando que quanto mais próximo do valor

um, melhor é a situação do município, pode-se concluir que a situação de

Camaquã é inferior se comparada com outros municípios do Rio Grande do Sul,

classificando-se na posição de 306º num total de 427 municípios analisados.

Com relação à saúde12 e às condições de domicílio e saneamento13, o

ISMA para o período de 1991-96 foi de 0,26 e 0,56, respectivamente. As

condições de domicílio e saneamento, se comparadas com os outros municípios

do Rio Grande do Sul, não são tão inferiores, pois Camaquã ocupa o 105° lugar

na ordem de classificação. No entanto, as condições de saúde do município são

precárias, conforme os dados da FEE (2001). As doenças de maior ocorrência

são hipertensão, cardíacas e de coluna, nos adultos, e respiratórias, cardíacas,

câncer e desnutrição, nas crianças (Emater, 1997).

10 ISMA – índice calculado pela FEE que procura elencar os municípios e as regiões do Estado, segundo suas condições sociais e econômicas. 11 Índice Social Municipal Ampliado (ISMA) no bloco educação, as variáveis utilizadas pela FEE são as seguintes: taxa de reprovação de ensino fundamental, taxa de evasão do ensino fundamental, taxa de atendimento no ensino médio e taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos e mais (FEE, 2001). 12 ISMA para saúde seleciona as seguintes variáveis: unidades ambulatoriais por 1.000 habitantes, leitos hospitalares por 1.000 habitantes, número de médicos por 10.000 habitantes, percentual de crianças nascidas com baixo peso e taxa de mortalidade de menores de cinco anos (FEE, 2001). 13 ISMA para condições de domicílio e saneamento básico são as seguintes: média dos moradores por domicílio, proporção de domicílios urbanos abastecidos com água tratada e proporção de domicílios urbanos com coleta de esgoto cloacal (FEE, 2001).

Page 36: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

27

Com relação à renda14, Camaquã apresenta um ISMA de 0,47,

ocupando o 85° na classificação, estando melhor situado se comparado com os

ISMA saúde, domicílio e saneamento e educação.

Além desses dados, destaca-se que as formas associativas do

município são as seguintes: sete associações comunitárias, seis grupo de

produtores de fumo, oito grupo de jovens, treze grupo de senhoras, três GITEM

(Grupo de Investigação e Troca de Experiências Municipal), três CITE (Clube de

Integração e Troca de Experiência), doze CPM (Círculo de Pais e Mestres -

rural), a cooperativa agrária do Banhado do Colégio Ltda. com noventa e seis

associados e a Cooperativa Mista Agroindustrial Centro Sul com trinta e cinco

produtores de leite.

Além dessa situação localizada na esfera socioeconômica estrutural, há

situações mais específicas de ordem ambiental, como os problemas de

arenização de diversas subáreas, os problemas de manejo de recursos naturais

em torno da região dos lagos e permanentes conflitos de uso e degradação

ambiental nos sistemas costeiros (Projeto Ufrgs/Fapergs, 2001).

Em Camaquã, as bacias hidrográficas vêm sofrendo, nos últimos anos,

perturbações que influenciam na sua regularidade e no desaparecimento das

vertentes, como conseqüência do desmatamento nas coxilhas, determinado

pela pressão do consumo sem a devida reposição. O assoreamento de leitos,

canais e barragens deve-se à prática da agricultura sem proteção do solo

(Emater, 1997).

A poluição urbana deve-se aos esgotos lançados na Lagoa dos Patos

sem tratamento prévio, pelos lixos, doméstico e industrial colocados em

depósitos a céu aberto para posterior aterro, além da emissão de gases de

veículos automotores, indústrias e queimadas. Os resíduos dos engenhos e do

beneficiamento do arroz são despejados no canal do Arroio Duro (Emater,

1997).

14 ISMA renda é composto pelas seguintes variáveis: concentração de renda, proporção da despesa social no orçamento municipal (educação e cultura, habitação e urbanismo, saúde e saneamento e assistência e previdência) e Produto Interno Bruto per capita (FEE, 2001).

Page 37: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

28

De modo geral, os sistemas de cultivos utilizados pelos agricultores

fazem uso de fertilizantes, pesticidas, herbicidas, adubação de manutenção,

provocando poluição ambiental. Ainda há a lavagem dos equipamentos nos

cursos de água, o abandono das embalagens vazias em locais sem proteção e

a contaminação pela aplicação de pesticidas por via aérea em lavouras de arroz

e de soja.

Destaca-se que a Barragem do Arroio Duro abastece a sede de

Camaquã, no entanto, na Região da Encosta do Planalto Sul-Rio-Grandense

pratica-se o cultivo do fumo com produtos químicos que acabam desembocando

no Arroio Duro, provocando a contaminação da água da cidade. As lavouras de

arroz irrigado despejam suas águas, também contaminadas por produtos

químicos, na Lagoa dos Patos.

Os problemas ambientais, supra referidos, decorrem da artificialização

do meio realizada pelos agricultores, a partir das monocultivos do arroz e do

fumo, com repercussões socioeconômicas negativas.

Esse trabalho pretende, com base no panorama aqui traçado, da

compreensão de sustentabilidade, apresentar uma proposta de indicadores que

avaliem o desenvolvimento rural de Camaquã.

Page 38: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

29

3 O DEBATE EM TORNO DA SUSTENTABILIDADE

A partir da década de oitenta, o termo sustentabilidade começa aparecer

com muita freqüência nos discursos políticos, em livros e artigos, na mídia, nos

meios acadêmicos, nas instituições governamentais e não-governamentais,

tornando-se um tema importante no debate social. A noção de sustentabilidade

não é única, ou seja, há uma grande variedade de significados, multiplicidade de

concepções, às vezes até controvérsias, estando muito longe da unidade ou do

consenso, mostrando que é um conceito em disputa (Almeida, 1997; Marzall,

1999).

As discussões sobre sustentabilidade surgem do reconhecimento da

“insustentabilidade” do padrão de desenvolvimento das sociedades

contemporâneas, pois tal padrão levou ao desencadeamento de crises

econômicas, sociais, políticas, culturais e ambientais15. Portanto, o momento

atual é amplamente favorável à discussão e à elaboração de um novo padrão de

desenvolvimento e ao debate acerca da construção de um novo paradigma

desenvolvimentista a partir da noção de sustentabilidade.

Neste capítulo, são traçadas as linhas norteadoras do trabalho, pois a

adoção de uma compreensão explícita sobre sustentabilidade é fundamental

para o processo de identificação, discussão e proposição de indicadores de

sustentabilidade.

15 Para maiores informações, ver em Almeida (2001), Carvalho (1993), Ehlers (1996).

Page 39: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

30

3.1 Significado e Evolução Histórica da Sustentabilidade

Ao estudar um tema, primeiramente, é necessário buscar definições e

significados a seu respeito a fim de clarificar sua análise. Sustentabilidade vem

do latim sustentare que significa suster, suportar, conservar em bom estado,

manter, resistir. Nos dicionários em português, sustentar significa impedir a

ruína, resistir, manter, conservar a mesma posição, suster-se, manter o nível

apropriado. Sustentável é tudo que é capaz de ser suportado, mantido.

Por ambiguo que sea el adjetivo sostenible, su idea clave se basa el la noción de sostenibilidad como característica de un proceso que puede mantenerse indefinidamente. Y su fundamento viene dado por el concepto de equilibrio en relación a las capacidades y las limitaciones existentes (...) (Jiménez Herrero,1996. p. 40 apud Caporal 1998. p. 200).

Em pouco mais de uma década, surgem centenas de conceitos e várias

correntes postulando formas e critérios diferentes de desenvolvimento

sustentável. Decorre disto, um emprego generalizado do termo.

Muito embora o termo sustentabilidade tenha sido empregado a primeira

vez na década de 1980, observa-se que a preocupação com o tema é anterior a

esse período. Na segunda metade da década de 40, surgem os movimentos em

defesa do meio ambiente. Mais precisamente em 1949, acontece a Conferência

Científica das Nações Unidas sobre Conservação e Utilização de Recursos

quando se discutiram o exercício da atividade antrópica sobre os recursos

naturais, a importância da educação e o desenvolvimento integrado de bacias

hidrográficas (Marzall, 1999).

Em 1968, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a

Ciência e a Cultura (UNESCO) organizou a Conferência da Biosfera. No

entanto, o grande marco deste período foi o livro de Rachel Carson, “Silent

Spring”, publicado em 1962, que ressalta a necessidade de uma maior

consciência em relação à questão ambiental, e a cobrança pela tomada de

atitude por parte dos governos, além de lançar uma forte crítica ao padrão

tecnológico usado na agricultura, o exemplo disso e objeto da crítica de seu livro

é o crescente uso de insumos industrializados (agroquímicos). No mesmo

Page 40: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

31

período em que o livro é lançado ocorreram alguns desastres ambientais que

reforçaram e amplificaram os debates.

Em 1971, acontece a Conferência de Founex (Suíça), uma reunião

preparatória à Conferência de Estocolmo (1972). Nela, discutiram-se a

importância de integrar o meio ambiente às estratégias de desenvolvimento, os

impactos das atividades agrícolas sobre o meio ambiente e a existência de uma

simbiose entre a sociedade e a natureza (Foladori; Tommasino, 2000).

Na Conferência de Estocolmo, surge a preocupação com a

contaminação ambiental e evidencia-se a importância de programas de

conservação, sendo lançados alguns princípios, entre eles, que os recursos

naturais devem ser preservados em benefício das gerações presentes e futuras.

Neste mesmo ano, o Clube de Roma publica “Os limites do crescimento”,

constatando que os recursos naturais são limitados e, por isso, a impossibilidade

de crescimento infinito. Segundo os autores, os limites do crescimento no

planeta serão alcançados nos próximos cem anos, porém sendo possível

alcançar a estabilidade econômica e ecológica se congelado o crescimento da

população e do capital industrial (Brüseke, 1995), ou seja, zero de crescimento

econômico e populacional para uma estabilidade econômica e ecológica durável

(Foladori; Tommasino, 2000. p. 52).

Essa tese significa um ataque direto à apologia do crescimento contínuo

da sociedade industrial e uma crítica indireta às teorias de desenvolvimento que

nela se basearam16.

O Relatório Founex e a Declaração de Estocolmo reconheceram a

complexidade e gravidade tanto dos desafios sociais como dos ambientais para

a humanidade e, ainda, transmitiram uma mensagem de esperança sobre a

necessidade e a possibilidade de se projetar e implementar estratégias

ambientalmente adequadas para promover um desenvolvimento

socioeconômico eqüitativo, ou o ecodesenvolvimento (Carvalho, 1993).

16 As Teorias do Desenvolvimento são tratadas na subseção 3.2.3, Desenvolvimento Rural Sustentável.

Page 41: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

32

O conceito de ecodesenvolvimento17 foi utilizado pela primeira vez em

1973 pelo canadense Maurice Strong. Conforme Strong, o termo

ecodesenvolvimento é precursor do termo sustentabilidade. O economista

Ignacy Sachs procurou traçar alguns princípios básicos acerca dessa nova visão

desenvolvimentista que podem ser resumidos da seguinte maneira: “a) a

satisfação das necessidades básicas; b) a solidariedade com as gerações

futuras; c) a participação da população envolvida; d) a preservação dos

recursos naturais e do meio ambiente em geral; e) a elaboração de um sistema

social garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas; e, f)

programas de educação” (Brüseke, 1995. p. 31). Nessa concepção está implícita

uma crítica à sociedade industrial e ao modelo de modernização industrial

(Vargas, 2001).

Em 1974, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

(PNUMA) e a Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e

Desenvolvimento (UNCTAD) realizaram a Conferência de Cocoyok, na qual se

questionou o alto consumo dos países desenvolvidos e se levantaram as

seguintes hipóteses: pobreza gera desequilíbrio demográfico; pobreza gera

degradação e contaminação de recursos; os países desenvolvidos com alto

consumo são responsáveis pelo subdesenvolvimento nos países periféricos.

Também concluiu que “não existe somente um mínimo de recursos necessários

para o bem-estar do indivíduo, existe também um máximo” (Brüseke 1995. p.

32). “A declaração de Cocoyok apresenta um certo otimismo que se baseia na

confiança em um desenvolvimento a partir da mobilização das próprias forças

(self-reliance)” (Brüseke 1995. p. 32).

Em 1975, a Fundação Dag-Hammarskjöld, com a participação de

pesquisadores de 48 países, publicou o relatório acerca da problemática do

desenvolvimento desenfreado e da degradação ecológica daí resultante.

17 “El ecodesarrollo es un estilo de desarrollo que en cada ecoregión, insiste en las soluciones específicas de sus problemas particulares, teniendo en cuenta los datos ecológicos de la misma forma que a los culturales; las necesidades inmediatas como tanbién las de largo plazo (...) sin negar importancia de los intercambios...” Sachs (1996) apud Caporal (1998. p. 224).“O conceito de ecodesenvolvimento levou a um esforço de integração da idéia de sustentabilidade ecológica com aquela de crescimento econômico eqüitativo e sustentável” (Romeiro, 1998. p. 257).

Page 42: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

33

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) publicou,

em 1980, a Estratégia de Conservação Mundial; neste documento há uma

seção intitulada “Em direção ao Desenvolvimento Sustentável”, sendo este o

primeiro encontro a utilizar o termo sustentabilidade (Kirkby et al., 1996 apud

Marzall, 1999. p. 13). Por iniciativa do presidente norte-americano Carter, um

grupo de científicos, liderados por Gerald Barney, publicaram o “Informe Global

2000” no qual se estabelece que o estilo de vida das sociedades desenvolvidas

não é extensivo a todo mundo, pois este seria uma ameaça à sobrevivência da

vida humana no planeta.

Em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

(CMMAD) publicou o Relatório Brundtland, intitulado “Nosso Futuro Comum”.

Esta comissão reuniu-se motivada pela preocupação com a crescente escassez

de recursos naturais e o aumento da miséria no mundo. No relatório, definiu-se

oficialmente o conceito de Desenvolvimento Sustentável que, a partir daí, é

disseminado (Marzall, 1999. p. 14).

Segundo o Relatório Brundtland, desenvolvimento sustentável é aquele

que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das

futuras gerações poderem satisfazer suas próprias necessidades18.

Comparando a discussão dos anos 1970 sobre sustentabilidade com o

Relatório Brundtland, este último mostra maior realismo, pois não propaga a

estratégia de self-reliance nem o crescimento zero. No entanto, não apresenta

críticas à sociedade industrial (Vargas, 2001. p. 222). No texto do relatório há

utilização dos termos crescimento e desenvolvimento com o mesmo significado

e o estabelecimento de uma relação causal entre deterioração ambiental,

crescimento demográfico e pobreza.

18 “Várias medidas para consecução destes objetivos são apresentadas pelo relatório, entre elas: 1) limitação do crescimento populacional; 2) garantia da alimentação a longo prazo; 3) preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; 4) diminuição de energia e uso de fontes energéticas renováveis; 5) produção industrial à base de tecnologias ecologicamente adaptáveis; 6) controle da urbanização; e, 7) satisfação das necessidades básicas das populações mais carentes” (Vargas, 2001. p. 221).

Page 43: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

34

No Rio de Janeiro, em 1992, ocorreu a Rio-92 (Conferência Mundial

sobre o Meio Ambiente e Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente e Desenvolvimento - CNUMAD) que estabeleceu a Agenda 21, como

documento final oficial, e assim, um código de comportamento a ser seguido no

século XXI, e apregoou a necessidade de os países estabeleceram indicadores

de sustentabilidade. Para muitos, foi um grande acontecimento movido pela

preocupação ecológica, para outros, um retrocesso, pois não passou de um

“discurso recheado de boas intenções, porém sem deixar nada de concreto em

termos de algum tipo de política efetiva” (Vargas, 2001. p. 223).

3.2 Conceitos, Idéias e Características

Nesta seção, realiza-se uma compilação de definições de

sustentabilidade para orientar e estabelecer elementos importantes que,

posteriormente, serão indispensáveis para identificar e propor indicadores.

As diferentes definições apresentam propósitos distintos, muitas vezes

sendo usadas para fins diversos. Por isso, primeiramente, destacam-se as

variadas noções de sustentabilidade para que depois se possa finalmente,

desenvolver uma noção própria de sustentabilidade, conforme as pretensões

deste trabalho.

Para Constanza, a sustentabilidade é a relação entre os sistemas

econômicos humanos e os ecológicos, no qual os seres humanos possam viver

sem destruir a complexidade e diversidade dos recursos naturais que dão

suporte a vida:

“La sostenibilidad es una relación entre los sistemas económicos humanos dinámicos y los sistemas ecológicos más grandes, dinámicos, pero con cambios más lentos, en la cual la vida humana pueda continuar indefinidamente, los seres humanos puedan prosperar, y las culturas humanas se puedan desarrollar. Sin embargo, en dicha relación, los efectos de las actividades humanas permanecen dentro de límites, de manera de no destruir la diversidad, complejidad y funciones del sistema ecológico de soporte de la vida” (Constanza et al., 1991 apud Camino; Müller, 1993. p.19).

Page 44: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

35

Conforme Clain (1997), se existe possibilidade de definir

sustentabilidade seria através da manutenção da integridade de um dado

sistema no decorrer do tempo, considerando as suas diferentes dimensões:

econômica, social, ética, político-institucional e ambiental.

A sustentabilidade, segundo Fernandez (1995), é mais do que a simples

conservação da diversidade genético-cultural ao longo do tempo, sendo uma

nova racionalidade que aponta para um processo de complexização da

organização produtiva. É um projeto social, que se opõe às tendências

históricas que têm determinado a uniformização ecológica, cultural e tecnológica

dos povos, e a unificação positivista do conhecimento. É a busca de um novo

conjunto de valores para a sociedade, com uma grande ênfase sociológica, da

eqüidade mais democrática possível, que teria como conseqüência imediata o

respeito ao meio ambiente (Marzall, 1999).

Uma definição de sustentabilidade19 (Maslow, 1970) deveria incluir a

contínua satisfação das necessidades humanas, assim como necessidades de

mais alto nível social e cultural, tais como segurança, liberdade, educação,

emprego e recreação.

De forma ampla, sustentabilidade significa que a atividade econômica

deve suprir as necessidades presentes, sem restringir as opções futuras. Os

recursos necessários para o futuro não devem ser esgotados para satisfazer o

consumo de hoje (Altieri, 2000).

Conforme Gliessman (2000. p. 52), a sustentabilidade é uma versão do

conceito de produção sustentável, “a condição de ser capaz de perpetuamente

colher biomassa de um sistema, porque sua capacidade de se renovar ou ser

renovado não é comprometida”. Como a perpetuidade nunca pode ser

demonstrada no presente, a prova da sustentabilidade permanece sempre no

futuro, fora de alcance. Assim, é impossível se saber com certeza, se uma

determinada prática é, de fato, sustentável ou se um determinado conjunto de

práticas constitui sustentabilidade.

19 Algumas da definições acima foram obtidas no Anexo do trabalho de Camino; Müller (1993) onde são citadas 50 definições; já Pinheiro el al. (1997) falam da identificação de cerca de 70 definições sobre sustentabilidade.

Page 45: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

36

Ainda, segundo Young (1989) apud Camino; Müller (1993),

sustentabilidade é a manutenção da produção no tempo, sem degradação da

base de recursos naturais da qual esta produção é dependente.

Diante da dificuldade em se determinar um conceito único do que seja

sustentabilidade, mostram-se alguns pontos comuns importantes das noções

apresentadas acima, demonstrando que os diferentes autores que escrevem

sobre o tema são assentes às seguintes características:

§ diversidade e complexidade;

§ conservação de recursos naturais;

§ satisfação das necessidades presentes e futuras;

§ manutenção do sistema ao longo do tempo.

Analisando os conceitos, verifica-se que todos, ou a maioria deles,

contribuem ao debate no momento em que acrescentam novos significados,

através de expressões, como sistemas dinâmicos; dimensões econômica,

sociocultural, político-institucional, ética, ambiental; projeto social; novo conjunto

de valores; eqüidade; incerteza.

Segundo Carvalho (1993), “há quatro critérios gerais que podem ser

estabelecidos como necessários e indispensáveis à sustentabilidade, seja do

ponto de vista econômico, social, político, ecológico e institucional:

adaptabilidade, diversidade, incerteza e eqüidade”.

Uma das condições básicas da sustentabilidade é a adaptabilidade; uma

de suas características centrais é a de ser resiliente20, capacidade de ajustes a

impactos. Quanto maior for a diversidade interna, seja ela de espécies, de

etnias, como de elementos econômicos, políticos, sociais, culturais e

institucionais, maior a sustentabilidade, facilitando a maior complexidade e

permitindo a formação de inúmeras interações que promovem um aumento da

capacidade de regeneração ou a sua resiliência (Carvalho, 1993).

20 Resiliência é o processo de retorno ou não de um ecossistema às condições anteriores a uma perturbação.

Page 46: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

37

Quanto maior a diversidade de um sistema biológico e social, maior será

a sua capacidade de adaptação. Se garantida a eqüidade de seus componentes

e se estes forem sujeitos a um número indeterminado de informações, maior a

incerteza. A incerteza resultante da diversidade, eqüidade e adaptabilidade é

condição básica a ser considerada quando da busca de um desenvolvimento

sustentável (Carvalho, 1993).

Entende-se que um conceito de sustentabilidade englobaria as

seguintes características ou atributos.

1) Adaptabilidade – está relacionada com a flexibilidade do sistema,

caracterizada pelas flutuações de suas variáveis, proporcionando

maior sustentabilidade que as atitudes de simples resistência

(Nolasco, 1999. p. 35).

2) Diversidade – é do grau de complexidade de sua rede de relações

que depende a estabilidade de um sistema (Nolasco, 1999. p. 43),

quanto maior a diversidade, tende a maior sustentabilidade.

3) Eqüidade – é entendida como a capacidade do sistema de distribuir

de forma eqüânime, os benefícios, produtos e serviços gerados,

garantindo padrões mínimos de qualidade de vida (Nolasco, 1999. p.

41). A eqüidade apresenta dupla dimensão: intrageracional e

intergeracional. A primeira está relacionada com a disponibilidade de

um sistema mais seguro para a sociedade e a segunda pode ser

definida como a satisfação das necessidades presentes sem

comprometer a capacidade das futuras gerações de garantirem suas

próprias necessidades.

4) Resiliência – é a capacidade do sistema oscilar dentro de limites e

retornar ao seu estado original logo após a ocorrência da

perturbação. Esta resiliência opera dentro de certos limites, se a

magnitude de uma perturbação excede estes limites, o sistema não é

capaz de retornar à condição inicial. Os limites da resiliência são

diferentes para os distintos sistemas (Kageyama, 1989 apud

Carvalho, 1993; Krahenhofer, 2001).

Page 47: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

38

5) Manutenção – é a capacidade de conservação e manutenção do

sistema ao longo do tempo.

6) Interação entre as dimensões – é a inter-relação e integração entre

as diferentes dimensões social, econômica, ambiental e cultural.

Portanto, entende-se por sustentabilidade a manutenção de um sistema

ao longo do tempo, sendo que esta manutenção depende de quanto maior for a

adaptabilidade, a diversidade, a resiliência, a eqüidade do sistema e a interação

entre as diferentes dimensões: econômica, ambiental, social e cultural.

Para Camino; Müller (1993. p. 15), a palavra “sustentabilidade” isolada

carece de sentido, pois “no se relaciona con un esfuerzo o acción determinada o

el uso de un recurso específico”.

Carvalho (1993. p. 8) concorda com a visão dos autores supra citados

quando afirma que “não é possível falar de sustentabilidade apenas, pois essa

expressão exige complemento. Portanto, a questão que segue é:

sustentabilidade do quê, quando, onde e por quê”.

O termo sustentabilidade é usado com freqüência atrelado a

desenvolvimento: um enorme esforço vem sendo realizado em inúmeras

instituições para teorizar e conceituar desenvolvimento sustentável. O resultado

dessa proposta é a multiplicidade de concepções o que demonstra a falta,

ainda, de consenso ou de unidade sobre a questão.

3.2.1 Desenvolvimento Sustentável

Antes de destacarem-se os vários conceitos/idéias sobre

desenvolvimento sustentável, faz-se necessário esclarecer que desenvolvimento

e crescimento são termos que não se confundem21.

Na década de 30, o termo desenvolvimento estava associado à idéia de

crescimento e não se fazia distinção entre desenvolvimento e crescimento

econômico porque o primeiro substituía a noção de progresso. O crescimento

21 Para maiores informações, ver Almeida (2001. p. 18-20).

Page 48: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

39

econômico era visto como condição necessária e suficiente para a prosperidade

e elevação do bem-estar das massas.

No entanto, nos anos 50, diante da crise econômica dos países do

Terceiro Mundo, verificou-se que o progresso não era uma virtude natural e,

sendo assim, a noção de crescimento foi insuficiente para dar conta das

transformações estruturais dos sistemas socioeconômicos, pois preocupava-se

apenas com o aspecto quantitativo (Almeida, 1998).

Já na década de 60, a proposta no Brasil era imitar o processo de

industrialização dos países ricos e avançados, as teorias desenvolvimentistas

inspirando-se nas sociedades ocidentais que propunham modelos para o

mundo.

Alguns autores22 que estudaram o tema na década de 1970 chegaram à

conclusão que o crescimento era uma condição necessária, mas não suficiente

para o progresso. Não somente o crescimento econômico poderia ocorrer

paripassu com a manutenção ou mesmo ampliação da exclusão social, como

também seu desempenho no longo prazo tenderia a ser comprometido pelo

agravamento das desigualdades sociais e da degradação ambiental.

Conforme Constanza et al. (1999), o crescimento econômico com

incremento da quantidade, não é sustentável de forma indefinida em um planeta

com recursos finitos. Estes autores diferenciam crescimento de

desenvolvimento, considerando este último um melhoramento da qualidade de

vida, sem necessariamente causar um aumento na quantidade de recursos

consumidos, sendo assim sustentável e devendo ser um objetivo primário de

política de longo prazo. O crescimento sustentável seria uma impossibilidade,

pois a noção de sustentabilidade é contraditória a um crescimento baseado

apenas na quantidade.

Daly (1991. p. 14) também diferencia crescimento de desenvolvimento.

“Crecer significa aumentar naturalmente el tamaño (...) Desarrollarse significa

expandir o realizar las potencialidades (...) a un estado más pleno, mayor o

mejor”. O crescimento está relacionado, portanto, com o incremento quantitativo

da escala física, enquanto o desenvolvimento é a melhora qualitativa ou o

22 Entre eles, André Gunder Frank que nos anos 1970 estuda o desenvolvimento e centra dura crítica política à posição ocupada por Rostow (Caporal, 1998).

Page 49: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

40

desabrochar de potencialidades. Por isso, o autor afirma que uma economia

pode crescer sem desenvolver ou desenvolver sem crescer e, ainda, ambas as

coisas ou nenhuma delas.

O crescimento econômico não chega a ser desenvolvimento humano23,

pois os governos, as empresas e as instituições seguem os sinais do mercado e

não dão a devida atenção aos sinais do ambiente natural e da sociedade. Isso

leva, freqüentemente, ao desenvolvimento econômico que não é nem eqüitativo

nem sustentável ecológica e economicamente (Weizsaecker, 1990 apud

Camino; Müller, 1993).

A Comissão Mundial do Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD, 1991)

em seu relatório, operacionaliza sua definição sobre desenvolvimento

sustentável baseada na transformação do processo de exploração dos recursos,

do desenvolvimento tecnológico para satisfação das necessidades humanas do

presente e das futuras gerações, destacando a necessidade de uma harmonia e

de limites nas relações entre a sociedade e o meio ambiente:

Em essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas (CMMAD, 1991. p. 49)

Ainda segundo a CMMAD (1991. p. 47-71), para que ocorra um

desenvolvimento sustentável, entre outros objetivos, se requer:

§ a satisfação das necessidades essenciais e a aspiração por uma

melhor qualidade de vida;

§ a minimização dos impactos adversos sobre a qualidade do ar, da

água e de outros elementos naturais, a fim de manter a integridade

do sistema;

§ a busca adequada da justiça econômica e social entre as nações;

23 Desenvolvimento humano é crescimento econômico eqüitativo e sustentável, sendo na realidade um conceito superior e de inclusão (Weizsaecker, 1990 apud Camino; Müller, 1993).

Page 50: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

41

§ a conservação e melhora da base de recursos;

§ a unificação da economia e da ecologia;

§ a inclusão das considerações econômicas e ecológicas no processo

de tomada de decisão;

§ a reorientação da tecnologia e a administração dos riscos;

§ a manutenção de um nível populacional sustentável.

Segundo a FAO (1991), o desenvolvimento sustentável é o manejo e a

conservação da base de recursos naturais com orientação para uma

modificação tecnológica e institucional que assegure a contínua satisfação das

necessidades humanas para as gerações presentes e futuras.

Para Almeida (2001. p. 21), a noção de desenvolvimento sustentável

está relacionada com um novo projeto para a sociedade que garanta no

presente e no futuro a sobrevivência da natureza e da humanidade. Este autor

salienta que, embora este conceito tenha sido intensamente estudado nos

últimos dez anos, “é ainda uma noção genérica e difusa, pouco precisa”.

“O desenvolvimento sustentável diz respeito a uma sociedade ser capaz

de manter, no médio e no longo prazos, um círculo virtuoso de crescimento

econômico e um padrão de vida adequado (...). A sustentabilidade, portanto, é

uma questão multidimensional e intertemporal” (Müller, 2001. p. 130).

Analisando os conceitos estudados, até este momento, verifica-se que a

discussão centra-se na necessidade e/ou possibilidade de conciliar

desenvolvimento econômico e social e preservação da diversidade ambiental,

para satisfação das necessidades das presentes e futuras gerações.

Para ir nesta direção, propugna-se a construção de um novo paradigma

de desenvolvimento, baseado na noção de sustentabilidade e constituindo-se

numa nova possibilidade para as sociedades modernas, que se denomina

desenvolvimento sustentável.

Alguns autores, como, por exemplo, Vargas (2001), entendem esta nova

proposta como uma “nova organização social desenvolvimentista”, com

diferentes dimensões, quais sejam: social, econômica, política, cultural e

ambiental.

Page 51: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

42

Almeida (2001) encontra-se na mesma linha de Vargas, pois afirma que

o desenvolvimento sustentável dá uma idéia de integração sistêmica entre os

diferentes níveis da vida social.

Portanto, destaca-se que a noção de desenvolvimento sustentável está

relacionada com as idéias de um novo projeto social; de atendimento das

necessidades básicas das presentes e das futuras gerações; de preservação

dos recursos naturais; de afirmação de um novo paradigma de desenvolvimento;

de transformação econômica, social, tecnológica, política, ambiental; e de mais

cidadania.

Com todas estas idéias pode-se formar um conceito de desenvolvimento

sustentável: um novo projeto social que promova a transformação econômica,

tecnológica, política, ambiental do atual modelo de desenvolvimento, para que

as necessidades básicas sejam satisfeitas, tanto das presentes como das

futuras gerações, procurando não degradar o meio natural e os recursos

humanos e, assim, apresentar maiores condições de manutenção do sistema ao

longo do tempo.

Além dessas noções sobre desenvolvimento sustentável, cabe aqui

salientar, mesmo brevemente, outras relações da sustentabilidade com a

agricultura e do desenvolvimento rural.

3.2.2 Agricultura Sustentável

A sustentabilidade agrícola, embora de reconhecida importância em

todo mundo, segundo Altieri (2000), tem pouca participação na definição de

políticas econômicas, porque nenhum indicador lhe atribui valor e nenhuma

definição amplamente aceita a descreve. No entanto, quando a sustentabilidade

agrícola é deixada de fora da política econômica, parecem lógicas as distorções

que ameaçam a sustentabilidade.

Na área agrícola, o qualificativo sustentável passou a atrair atenção de

pesquisadores, produtores, profissionais, principalmente a partir de 1987, com o

Relatório Brundtland que disseminou o ideal de um desenvolvimento sustentável

Page 52: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

43

para diferentes setores da sociedade, entre eles a agricultura24. Esse interesse

promoveu o surgimento de uma infinidade de definições sobre o termo,

ensejando, quase todas elas, um novo paradigma tecnológico que não agrida o

meio ambiente (Ehlers, 1996).

Algumas informações são comuns nas definições de agricultura

sustentável, entre elas: a manutenção no longo prazo dos recursos naturais e da

produtividade agrícola; a minimização dos impactos adversos ao meio ambiente;

a busca de retorno econômico adequado aos produtores; a otimização da

produção com um mínimo de insumos externos; a busca da satisfação das

necessidades humanas de alimentos e de renda; e o atendimento das

necessidades sociais das famílias e das comunidades rurais (Ehlers, 1996).

Nos elementos acima citados, pode-se afirmar que há uma clara

preocupação tanto pela conservação dos recursos naturais como pela solução

dos problemas sociais. A agricultura sustentável deve considerar, portanto, além

do aspecto ecológico e do estritamente econômico, a busca da justiça social.

Na América Latina, o Instituto Interamericano de Cooperação para a

Agricultura (IICA), tomando por base uma série de reflexões sobre a agricultura

e desenvolvimento sustentável formulou uma definição, que é a mesma

definição usada por Camino; Müller (1993) em seu estudo sobre indicadores de

sustentabilidade:

A sustentabilidade da agricultura e dos recursos naturais se refere ao uso dos recursos biofísicos, econômicos e sociais segundo sua capacidade, em um espaço geográfico, para mediante tecnologias biofísicas, econômicas, sociais e institucionais, obter bens e serviços diretos e indiretos da agricultura e dos recursos naturais para satisfazer as necessidades das gerações presentes e futuras. O valor presente dos bens e serviços deve representar mais que o valor das externalidades e dos insumos incorporados, melhorando ou pelo menos mantendo de forma indefinida a produtividade futura do ambiente biofísico e social. Além do

24 “O modelo de agricultura moderna instalado na década de 1940, baseado em altas taxas de produtividade proporcionadas pela introdução de máquinas agrícolas, de fertilizantes químicos, de sementes híbridas, de venenos químicos e mais recentemente da biotecnologia gerou impactos negativos ao meio ambiente como destruição dos solos e florestas, contaminação do ar, rios e mares” e ainda problemas de saúde aos produtores devido ao uso de agrotóxicos (Goméz, 2001. p. 108). Esses fatos também desencadearam preocupações relativas à sustentabilidade na agricultura.

Page 53: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

44

mais, o valor presente deve estar eqüitativamente distribuído entre os participantes do processo (Ehlers, 1996. p. 116).

Em 1993, um grupo de organizações não-governamentais

agroambientalistas realizou, em Copenhague, um fórum que, através de seu

tratado, trouxe uma definição de agricultura sustentável, na qual salienta

aspectos como a participação, a eqüidade, e o conhecimento holístico:

Um modelo de organização social e econômica baseado em um desenvolvimento eqüitativo e participativo (...) A agricultura é sustentável quando é ecologicamente equilibrada, economicamente viável, socialmente justa, culturalmente apropriada e; fundamentada em um conhecimento científico holístico ( Ehlers, 1996. p. 117).

Segundo Murilo Flores et al. (1991) apud Almeida; Navarro (1998. p.

48), “no conceito de agricultura sustentável reside a idéia central do uso de

tecnologias adequadas às condições do ambiente (...) O objetivo final é a

garantia que os agroecossistemas sejam produtivos e rentáveis ao longo do

tempo”.

No que se refere à agricultura sustentável, uma das principais

dificuldades da expressão encontra-se no campo científico, pois há um reduzido

acúmulo de conhecimento sobre este tema, carece de uma proposta que

apresente maior legitimidade25.

Outra dificuldade, relaciona-se com a abordagem interdisciplinar da

noção de agricultura sustentável, pois diferentes áreas, como economia,

sociologia, ecologia, agronomia, biologia, deverão apresentar uma compreensão

mais ampla de sistemas agrários e de seus componentes.

Ainda, o incipiente desenvolvimento do enfoque sistêmico26 sobre a

produção agrícola e a timidez das pressões sociais pela salubridade dos

25 Para maiores informações, ver Ehlers (1996) e Almeida (1999). 26 Enfoque sistêmico é uma abordagem global dos problemas ou sistemas, concentrando-se no jogo de interações entre seus elementos (...), permitindo melhor entender e descrever a complexidade organizada (Rosnay,1975 apud Marzall, 1999). O conceito sistêmico exprime em conjunto a unidade, apoiando-se na percepção global (holística) e levando a um ensino pluridisciplinar e a uma visão dinâmica. Para uma visão ampliada sobre esse tema, ver Marzall (1999); Pinheiro (1997); Pinheiro (2000).

Page 54: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

45

alimentos e conservação dos recursos naturais também constituem-se em

dificuldades que protelam o prazo de realização de uma agricultura sustentável .

Por último, estão as preocupações sociais e naturais relativas à

agricultura sustentável, pois verifica-se, quando se trata de agricultura, que

geralmente há maior atenção ao natural em relação ao social. No entanto, não

se pode perder de vista os problemas sociais da agricultura, como a

concentração fundiária, as precárias condições de trabalho, a fome e a miséria,

a concentração de renda, etc.

3.2.3 Desenvolvimento Rural Sustentável

Denomina-se de Desenvolvimento Rural (Guzmán, 2001) aquele

desenvolvimento que não se refere ao conjunto de uma sociedade, mas centra-

se em áreas rurais, objetivando melhorar a qualidade de vida de sua população,

através de processos de participação e de potencialização dos seus recursos.

Segundo Guzmán (2001), até as primeiras décadas do século XX, não

havia nenhuma atuação que se pudesse denominar de desenvolvimento rural27,

salvo o movimento a “ida hacia el pueblo”. Este correspondeu a um intercâmbio

de conhecimentos que permitiram estabelecer um diálogo de igual para igual

entre camponeses e intelectuais. Tal diálogo levou ao que atualmente se

conhece como investigação-ação participativa.

Dentro do marco teórico convencional de desenvolvimento rural, sob a

perspectiva da economia, pode-se destacar quatro grandes orientações: a teoria

das Etapas do Crescimento (Rostow), a teoria do Dualismo Econômico (Lewis);

a teoria da Agricultura de Altos Insumos (Schultz) e a teoria da Mudança

Tecnológica Induzida (Hayami & Ruttan)28.

Walt Whitman Rostow em “The Stages of Economic Grouth”, classificava

as sociedades de acordo com sua posição no processo de crescimento

econômico. Segundo este autor, as sociedades iriam superando diferentes

27 Para esta pesquisa, essas informações são suficientes, maiores detalhes sobre a evolução do Desenvolvimento Rural Sustentável ver Guzmán In Almeida & Navarro (1998. p. 22-27) e Goméz In Becker (2001. p. 97-100). 28 Maiores informações podem ser obtidas em Caporal (1998).

Page 55: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

46

etapas, em determinadas condições, passando de uma sociedade tradicional a

um caminho de maturidade e, por fim, a um alto consumo de massa.

W. Arthur Lewis em seu modelo de economia dual, divide a economia

em modelos estáticos e dinâmicos. Para este autor, o setor moderno aparece

como sendo aquele que se utiliza de energia fóssil, capital reprodutível e a

produtividade marginal do trabalho é superior a zero, sendo considerado o setor

dinâmico. Em tal modelo, a agricultura de subsistência “atrasada” constitui-se

um setor tradicionalmente caracterizado pela utilização de energia de origem

animal, a terra como capital não reprodutível e, nela, os salários são superiores

à produtividade marginal do trabalho, considerada, portanto, estática.

Já a teoria dos Insumos de Alto Rendimento desenvolvida por Theodore

Schultz em seu livro intitulado “Transforming Tradicional Agriculture”, ao

contrário das teorias anteriores, afirmava que os agricultores tradicionais eram

racionais e eficientes na obtenção dos recursos, logo, a continuidade dos

problemas de desenvolvimento agrícola podia ser atribuída às escassas

oportunidade técnicas e às dificuldades econômicas por eles enfrentadas.

Por fim, a Teoria da Mudança Tecnológica Induzida desenvolvida por

Hayami & Ruttan dizia que o desenvolvimento agrícola poderia ser alcançado

através de uma revolução tecnológica institucional induzida. A hipótese central

era que as agências do Estado e a iniciativa privada deveriam orientar suas

atividades de investigação para gerar e difundir tecnologias poupadoras dos

recursos relativamente escassos.

Como se viu, as teorias desenvolvimentistas centravam sua atenção no

crescimento econômico e preconizavam, entre outras coisas, a necessidade de

romper as barreiras que impediam a desvinculação das economias

subdesenvolvidas. O atraso do meio rural, onde se concentrava a maioria da

população, constitui-se em um obstáculo ao progresso, razão pela qual se

estimulavam-se políticas destinadas a impulsionar este setor. Ou seja, a meta

principal era superar as condições de subdesenvolvimento que passaram a

significar a necessidade de difundir crenças, valores, padrões de

comportamento e estratégias econômicas do norte ao sul, dos centros às

periferias (Caporal, 1998).

Page 56: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

47

Este período desenvolvimentista provocou amplo debate a respeito do

tema desenvolvimento rural e promoveu o surgimento, no início dos anos 1970,

de um novo modelo de desenvolvimento, denominado de “Crescimento com

Eqüidade”. Este novo enfoque seria integrado e sistêmico, dando origem ao

desenvolvimento rural como modelo de desenvolvimento e como disciplina

acadêmica (Caporal, 1998; Ferreira, 2001).

O desenvolvimento rural engloba a idéia de se alcançar um

desenvolvimento que não exaura os recursos naturais. Sabe-se que os

ecossistemas naturais têm capacidade limitada de sustentação que, superada,

influenciará na deterioração do próprio ecossistema. O desequilíbrio ecológico

impede o desenvolvimento sustentável e interfere na produção e na própria

subsistência da humanidade.

Para que se efetive o desenvolvimento rural, este deverá estar baseado

na agricultura e na sua articulação com o sistema sociocultural local, como

suporte para a manutenção dos recursos naturais e também deverá apresentar

algumas características, tais como harmonia e equilíbrio; autonomia de gestão e

controle; minimização das externalidades negativas nas atividades produtivas;

manutenção de circuitos curtos; utilização do conhecimento local vinculado aos

sistemas tradicionais do manejo dos recursos naturais; pluriatividade e

complementaridade de rendas (Guzmán, 2001).

3.3 As principais Correntes sobre a Sustentabilidade

A compreensão das principais correntes ou enfoques sobre a

sustentabilidade aparece como uma necessidade concreta na construção do

marco teórico deste trabalho, uma vez que a conexão entre as perspectivas

históricas do município de Camaquã, as concepções sobre o desenvolvimento

sustentável, o desenvolvimento rural e os novos enfoques de sustentabilidade

vão permitir identificar, discutir e propor indicadores de sustentabilidade.

Para atender a este objetivo, na presente seção faz-se um apanhado

pelos principais aspectos que marcam as correntes e os enfoques do

desenvolvimento sustentável, para chegar-se a indicadores de sustentabilidade

Page 57: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

48

que serão o conceito-chave, orientador e determinante, para a proposta de

desenvolvimento rural no município em estudo. Trata-se de tarefa complexa,

pois não há consenso em nível teórico.

Conforme Caporal (1998), o que se observa é que, com o passar do

tempo, inclusive dentro de uma mesma corrente, vão-se introduzindo

modificações sobre os conceitos de sustentabilidade, algumas vezes, como uma

tentativa de superar a expressão de valores ou de preferências políticas

ideológicas e, outras vezes, como forma de torná-los mais operativos,

principalmente quando se referem aos critérios e parâmetros para medir a

sustentabilidade.

A noção de desenvolvimento sustentável abriga uma série heteróclita de concepções e visões de mundo (...). Neste guarda-chuva do desenvolvimento sustentável se abrigam desde críticos das noções de evolucionismo e modernidade a defensores de um ‘capitalismo verde’... Este guarda-chuva também abriga atores ‘alternativos’... (Almeida, 2001. p. 22).

De fato o conceito de sustentabilidade permite ocultações de natureza

ideológica que geram grandes diferenças entre as correntes de pensamento.

Para Puerta (1996) apud Caporal (1998), na atualidade coexistem dois

grandes paradigmas da sustentabilidade: o paradigma do desenvolvimento

sustentável e o paradigma ecossocial29. O primeiro corresponderia ao que o

autor denomina de “matriz do consenso” e reuniria entre seus adeptos correntes

oficiais e organismos internacionais de cooperação, sua orientação econômica

encontrando-se nas bases da Economia do Meio Ambiente. Já o segundo

corresponderia a “matriz do conflito” e estaria sendo construído a partir da noção

de ecologismo popular.

Autores como Daly; Gayo (1995) apud Caporal (1998) afirmam que para

alcançar a sustentabilidade do sistema econômico há necessidade de unificar as

dimensões econômica, social e ecológica. No entanto, tais autores partem do

29 T. Kuhn (1962) foi o físico responsável pela difusão mundial do termo, afirmando que na ciência um paradigma surge toda vez que é difícil envolver novos dados em velhas teorias. Paradigma é um conjunto explicativo em que se encontram teorias, conceitos e categorias, de forma que se possa dizer que o paradigma X constrói uma interpretação Y sobre determinado fenômeno ou processo da realidade social (GOHN, 1997).

Page 58: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

49

princípio que, pelo menos no curto prazo, não é possível alcançar o equilíbrio

entre os três “Es” (ecologia, eqüidade e eficiência econômica). Segundo eles, há

quatro enfoques sobre o desenvolvimento sustentável.

De um lado, estaria o enfoque tecnocrático defendido por aqueles que

acreditam que a tecnologia apresenta capacidade ilimitada de resolver os

problemas como a escassez de recursos naturais. Este grupo subdivide-se em

adeptos da Economia de Fronteira, que defendem a idéia de abundância ou

perfeita possibilidade de substituição entre capital humano e capital natural; e os

adeptos do enfoque Acomodativo ou Economia Ambiental, que pensam que a

substituição não é perfeita e salientam a necessidade de introduzir custos

sociais nas estratégias de desenvolvimento.

De outro lado, estaria o enfoque ecocêntrico que se subdivide em

Ecologia Profunda ou Economia em Estado Estacionário e Enfoque Comunalista

ou Ecodesenvolvimento, o primeiro considerado o grupo mais radical e ambos

acreditando que a insustentabilidade se deve ao tamanho do sistema econômico

atual e à falta de atenção aos princípios da termodinâmica.

Guzmán (1995) apud Caporal (1998) apresenta uma terceira

classificação baseada na presença de duas correntes: o pensamento científico

convencional e o pensamento alternativo que se assemelham às correntes

delineadas por Puerta. A primeira mantém-se na perspectiva do equilíbrio e é

adotada pelo discurso oficial, e a segunda não incorpora somente aspectos

ligados aos recursos naturais, mas também aborda questões relacionadas com

a natureza social do desenvolvimento. A diferença reside apenas no fato de que

Guzmán salienta os recursos naturais e a natureza social do desenvolvimento,

enquanto Puerta apenas destaca a noção de ecologismo popular.

Becker (1993) apud Carvalho (1993) distingue três eixos referenciais

sobre a sustentabilidade: a economicista, com uma visão antropocêntrica, cujo

imperativo é o progresso entendido como crescimento econômico baseado na

exploração de recursos naturais; a ecológica radical, no extremo oposto, com

uma visão biocêntrica, percebendo os humanos sob o ângulo das igualdades

das espécies e postulando a necessidade de impor limites ao crescimento

econômico. Entre estas duas correntes há uma terceira alternativa mais próxima

do estruturalismo, que se constitui numa transição entre os dois extremos a qual

Page 59: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

50

salienta que a resposta à questão ambiental só pode ser dada se inserida no

contexto social da natureza.

Becker (1993) apud Carvalho (1993) ainda destaca três ênfases:

a) a proteção ambiental, que concebe os problemas ambientais como

negativos para o crescimento econômico, e o seu imperativo é

estabelecer taxações para remediar os impactos ambientais;

b) a gestão de recursos, um antropocentrismo relativizado cujo

imperativo é a necessidade de um crescimento verde, a partir do

reconhecimento da degradação dos recursos naturais; e

c) a ecodesenvolvimento, uma concepção ecocêntrica sobre a relação

homem-natureza, que tem como imperativo o ecodesenvolvimento

dos humanos com a natureza, propõe-se não a economizar a

ecologia, mas a ecologizar o sistema social.

Segundo Almeida (2001. p. 22), o debate sobre desenvolvimento

sustentável está polarizado em duas concepções centrais: “de um lado, a idéia

como sendo gestada dentro da esfera da economia” e, de outro, “uma idéia que

tenta quebrar com a hegemonia do discurso econômico”.

Marzall (1999) também interpreta a sustentabilidade baseando-se em

duas linhas que concordam com as idéias de Almeida (2001): uma economicista

ou ainda otimista, e uma pessimista ou alternativa à primeira. A economicista

considera o atual padrão de desenvolvimento vinculado ao objetivo de

crescimento econômico e identifica a natureza com o capital. A segunda linha

considera o padrão de desenvolvimento como gerador de todo o problema,

levantando a necessidade de uma nova epistemologia que determine uma nova

forma de organização social.

No campo da economia, as diferentes correntes também vão-se

enfrentar. Surgem duas correntes ou disciplinas: a Economia do Meio Ambiente

e a Economia Ecológica. A primeira está oferendo a base teórica para as novas

políticas relativas à problemática ambiental, mediante um conjunto de preços,

impostos, taxas, regulamentações e internalização das externalidades. Esta

Page 60: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

51

corrente considera o meio ambiente um bem econômico dotado de valor

monetário. A segunda corrente parte de uma crítica à economia convencional,

pois considera reducionista o paradigma científico dominante. Enfatiza a

necessidade de uma visão coerente com os processos vitais e que esta

incapacidade leva à crescente desintegração das sociedades atuais. Segundo

Naredo (1992) apud Caporal (1998), a economia ecológica é a ciência da gestão

da sustentabilidade.

É necessário abordar a importante contribuição de Escobar (1995) apud

Caporal (1998) que apresenta um diálogo entre três correntes de pensamento: a

liberal, a culturalista e a ecossocialista.

A corrente liberal seria a versão difundida pelo Relatório Brundtland,

destacando que a natureza é composta de recursos que são limitados, enquanto

que os desejos dos homens são ilimitados, de modo que se chegará a

escassez, por isso a necessidade de se estabelecerem preços aos produtos e

serviços da natureza.

O enfoque culturalista opõe-se à corrente liberal, enfatizando a cultura

como instância fundamental da relação humana com a natureza e dirigindo suas

críticas aos que subordinam a natureza à economia. Vê a natureza como um

ente autônomo, fonte de vida não somente material mas também espiritual,

verificando uma continuidade indivisível entre os mundos humano, material e

espiritual (Caporal, 1998).

De modo semelhante, a corrente ecossocialista opõe-se à corrente

liberal, demonstrando interesse pela Economia Política e levantando críticas ao

mercado pela sua incapacidade em solucionar os problemas relacionados à

pobreza e aos desafios ambientais. Para os ecossocialistas, a luta ecológica

implica, necessariamente, lutar contra a pobreza, a exploração e a subordinação

das mulheres (Caporal, 1998).

Caporal (1998) enquadra os distintos enfoques em apenas duas

categorias: a Ecotecnocrática, que trata de manter o sistema capitalista

mediante a conciliação do crescimento econômico e o meio ambiente, sendo

defendida pelo Clube de Roma, Relatório Brundtland, e a Economia do Meio

Ambiente e a Ecossocial que seriam compostas pelas correntes que se opõem

às considerações anteriores, como alternativos, culturalistas e ecossocialistas, e

Page 61: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

52

sua premissa é a busca de novos rumos nas estratégias de desenvolvimento e

na construção de um novo projeto histórico. Este autor fundiu as três correntes

delineadas por Escobar em apenas dois enfoques.

Além dessas correntes sobre sustentabilidade, segundo Foladori;

Tommasino (2000), para ordenar a grande diversidade de concepções, é

necessário estabelecer um agrupamento, ou seja, pode-se reduzir as diversas

posições em três grandes eixos, com os quais os diferentes autores sentir-se-ão

mais ou menos atraídos: aqueles para quem a sustentabilidade é

exclusivamente ecológica ligada à depredação dos recursos, ao aumento da

contaminação e à perda de valores ecológicos, como a diversidade, as

paisagens e o meio ambiente em geral; aqueles para quem a sustentabilidade é

ecológica e social (sustentabilidade social limitada), agregando a

sustentabilidade ao tema da pobreza, considerando de forma estendida a fome,

escassez de habitação, sistema de saúde; e aqueles para quem a

sustentabilidade deve ser realmente social e ecológica em forma de co-evolução

(co-evolução sociedade-natureza), sendo que os problemas sociais podem além

de gerar insustentabilidade por si mesmos também afetar a sustentabilidade

ecológica.

Diante de todas estas correntes ou enfoques da sustentabilidade, o

presente trabalho afina-se às correntes alternativas, mais precisamente,

identifica-se com o enfoque do ecodesenvolvimento, visto que esta corrente

enfatiza três categorias que se consideram, básicas: a eficiência econômica, a

justiça social e a prudência ecológica, além de algumas condições fundamentais

como o conhecimento dos ecossistemas, da cultura e da história dos grupos

sociais; a forma como as pessoas enfrentam seus problemas ao longo do

tempo; a histórica relação dos diferentes grupos sociais entre si e com seu

entorno natural; o pluralismo tecnológico (tecnologias tradicionais e modernas);

e a noção de interdisciplinaridade para estudo das interfaces entre meio natural

e desenvolvimento, ecologia e economia.

Entende-se que este enfoque seria o mais completo, pois atende à

economia, sociedade e ecologia e estaria mais próximo da compreensão sobre

sustentabilidade referida nas seções anteriores, a saber: manutenção de um

sistema ao longo do tempo, sendo que esta manutenção depende de quanto

Page 62: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

53

maior for a adaptabilidade, diversidade, a resiliência, a eqüidade do sistema e a

interação entre as diferentes dimensões econômica, ambiental, social e cultural.

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54

Page 64: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

55

4 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE: UMA REVISÃO

BIBLIOGRÁFICA

A noção de sustentabilidade tornou-se motivadora de muitas idéias e

ideais. Como foi visto no segundo capítulo, a compreensão de seu significado

está ainda longe de consenso e os trabalhos para estabelecimento de

descritores e indicadores de sustentabilidade são recentes e muitas vezes

inconclusos.

A questão central reside na compreensão do que é e de como medir

sustentabilidade (Carvalho, 1993), já que esta, em última instância, é um teste

de tempo, pois a prova da sustentabilidade está sempre no futuro. A tarefa é

identificar e propor indicadores de sustentabilidade que possibilitem verificar a

tendência à sustentabilidade ou à insustentabilidade do sistema ao longo do

tempo:

A sustentabilidade é, em última instância, um teste de tempo, um agroecossistema que continua produtivo por um longo período de tempo sem degradar a sua base de recursos – quer localmente, quer em outros lugares – pode ser dito sustentável. Mas, o que exatamente constitui um longo período de tempo? Como se determina se houve degradação de recursos? E como pode ser desenhado um sistema sustentável, quando a prova da sua sustentabilidade está sempre no futuro? (Gliessman, 2000. p. 565).

Neste capítulo, faz-se uma discussão sobre indicadores de

sustentabilidade, destacando suas definições, características, objetivos,

potencialidades e limites, além de examinarem-se algumas metodologias

desenvolvidas para avaliação e mensuração da sustentabilidade. Procura-se

promover a compreensão necessária para a identificação de indicadores de

sustentabilidade, o que será visto no próximo capítulo.

Page 65: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

56

4.1 Evolução, Definições, Características e Objetivos dos Indicadores

O estabelecimento de indicadores permite a avaliação e o

monitoramento da sustentabilidade que, atualmente, é uma das grandes

preocupações da sociedade de modo geral. Na década de noventa

particularmente, surgiu o interesse no estabelecimento de metodologias que

avaliassem a sustentabilidade por instituições governamentais, não-

governamentais, universidades e institutos de pesquisa30.

A necessidade do desenvolvimento de indicadores que estabeleçam

critérios para avaliar a sustentabilidade é enfatizada a partir da Conferência

Mundial sobre o Meio Ambiente, em 1992, com a elaboração do documento

denominado Agenda 21, especificamente em seu capítulo 40. A proposta é

definir padrões sustentáveis de desenvolvimento que considerem aspectos

ambientais, econômicos, sociais, éticos, culturais... Torna-se necessário,

portanto, definir parâmetros, indicadores e padrões que mensurem, monitorem e

avaliem a sustentabilidade. No entanto, o debate sobre o tema parece estar

apenas iniciando, pois não há uma fórmula ou receita para avaliar o que é

sustentável.

A Rio-92 é o evento de referência, embora já em 1989 a Conferência

Econômica do G-731 tivesse solicitado à OCDE (Organização para Cooperação

e Desenvolvimento Econômico) que estabelecesse indicadores para

fundamentar e nortear processos internacionais. Na Áustria, em 1991, foi

estabelecido o programa de eco-pontos, situado em um programa

agroambiental maior de âmbito nacional, e, na Holanda, neste mesmo ano, foi

desenvolvido um programa de indicadores ambientais que permitia o

monitoramento efetivo das ações de desenvolvimento.

Em 1992, na Suíça, foram desenvolvidas pela Organização Internacional

da Luta Biológica e Integrada experiências-piloto em produção integrada. Na

Alemanha, na Universidade de Bonn, também dentro desta perspectiva, foi

desenvolvido um diagnóstico biótico com o objetivo de avaliar a biodiversidade.

30As informações sobre os trabalhos e os encontros realizados sobre Indicadores de Sustentabilidade desenvolvidos nesta seção foram extraídos do trabalho de Marzall; Almeida (1998) e Marzall (1999).

Page 66: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

57

Em Genebra, em fins de 1993, realizou-se o Encontro sobre Indicadores

Ambientais e de Desenvolvimento Sustentável, e na França, em 1996, um

colóquio internacional com o tema Indicadores de Desenvolvimento Sustentável.

Cabe destacar que em 1994 ocorreu um fórum internacional, denominado

“Conference and Workshop on Indicators of Sustainability”, promovendo o

interesse pelo tema por parte das instituições governamentais e privadas,

organizado por Robert Hart, da Sanrem – CRSP (Sustainable Agriculture and

Natural Resource Management Collaboration Research Program’s)

Outros estudos e iniciativas ocorreram em períodos anteriores aos

acima citados, mas não é possível interpretá-los dentro dos novos conceitos

trazidos pela discussão da sustentabilidade (Marzall, 1999).

Os eventos acima citados são considerados pioneiros na discussão

acerca da definição, avaliação e monitoração de indicadores de

sustentabilidade. A preocupação com a avaliação da sustentabilidade, deriva do

fato de ela permitir alertar para situações de risco; prever situações futuras;

informar e guiar decisões políticas; corrigir eventuais desvios; definir ou

monitorar a sustentabilidade de uma realidade; facilitar o processo de tomada de

decisão; quantificar e simplificar as informações; detectar distúrbios ou desvios

do planejamento; e ajudar a identificar tendências ou ações relevantes (Marzall,

1999; Armani, 2001).

Entretanto, nem todos esses objetivos da avaliação podem ser definidos

pelos indicadores, pois um indicador não vai definir sustentabilidade, apenas é

uma ferramenta que permite verificar, conforme o entendimento de

sustentabilidade, se um sistema é sustentável ou não, a partir da interpretação:

“é o que se determina ser sustentabilidade que vai determinar o que é

importante ser medido, como avaliar e o significado dos valores obtidos”

(Marzall,1999. p. 43).

O indicador sinaliza aspectos relevantes na observação do sistema que,

conforme a interpretação de sustentabilidade de seu idealizador, permitirá

destacar se tal sistema apresenta ou não sustentabilidade.

31 Grupo internacional formado por sete potências industriais, também conhecido como G-7, compreende a Alemanha, Japão, França, Grã Bretanha, Canadá e Estados Unidos.

Page 67: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

58

Mas como mensurar, avaliar e medir a sustentabilidade? Através de

indicadores. Então, o que são indicadores?

O termo origina-se do latim indicare verbo que significa apontar ou

proclamar. Em português, indicador significa que indica, torna patente, revela,

propõe, sugere, expõe, menciona, aconselha, lembra.

Um indicador, segundo Abbot; Guijt (1999), é algo que auxilia a

transmitir um conjunto de informações sobre complexos processos, eventos ou

tendências.

Indicadores são características que ajudam a conseguir respostas

concisas em relação à questão que está sendo monitorada (Krahenhofer, 2001).

Para Hammond et al. (1995) apud Abbot; Guijt (1999), indicadores são

peças de informação que oferecem uma visão clara a respeito de questões mais

amplas tornando-as perceptíveis, mas que não são imediatamente detectáveis.

O “Sustainable Seatle” (1995) apud Abbot; Guijt (1999. p. 40) segue a

mesma linha de Hammond definindo indicadores como “conjuntos de

informações que colocam em destaque o que está acontecendo com um

sistema amplo. São pequenas janelas que permitem vislumbrar a paisagem

toda”.

Segundo Mitchell (1997), um “indicador é uma ferramenta que permite a

obtenção de informações sobre uma dada realidade”.

Já Beaudoux et al. (1993) afirmam que os indicadores servem para

medir e comparar, são ferramentas que auxiliam na tomada de decisões, mas

não são métodos. Os autores ainda destacam que se tem de evitar asfixiar uma

ação com uma sujeição demasiado rígida aos indicadores.

Brenbrook & Groth III (1996) concordam com a visão de Mitchell, e

consideram que um indicador em si é apenas uma medida, não tendo poder de

previsão ou sendo uma medida estatística definitiva, tampouco uma evidência

de causalidade. Para estes autores, os indicadores apenas constatam uma dada

situação.

Um indicador é um instrumento de medição, ele é uma régua ou um

padrão que ajuda a medir, avaliar ou demonstrar variações em alguma

dimensão da realidade. É importante destacar que os indicadores dão

Page 68: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

59

evidências das mudanças ocorridas em um fenômeno, indicando uma situação

ou relação:

Indicadores são parâmetros objetivos e mensuráveis utilizados para operacionalizar conceitos (...) É importante destacar ainda que os Indicadores dão evidências das mudanças ocorridas num fenômeno, mas não são as mudanças propriamente ditas nem são suas causas. Eles são apenas os sintomas das mudanças, funcionando como instrumentos de aproximação para captar processos complexos de mudança. Eles apenas indicam algo – uma situação ou relação – que julgamos ter relação significativa com a evolução do fenômeno em questão variou de determinada forma, o que nos dá indicações valiosas para captar a evolução do processo (Armani, 2000. p. 59 - 61).

Nota-se que há uma certa confusão com os termos indicador, descritor,

parâmetro, variável e padrão.

Carvalho (1993), fala de padrões, parâmetros e indicadores de

sustentabilidade. Para este autor, padrão é um conjunto de medidas que

estabeleceriam restrições ao processo de desenvolvimento, tais restrições

determinariam as condições que deveriam ser dadas ao sistema para que ele se

regenerasse após uma determinada perturbação:

Padrão de sustentabilidade é considerado como as condições em que uma sociedade ou ecossistema deve encontrar para que continue se desenvolvendo de maneira sustentável enquanto sistema aberto, portanto, trocando informações positivas e negativas com o ambiente (Carvalho, 1993. p. 18)

Para se estabelecer um padrão de sustentabilidade de um sistema é

necessário que se conheçam suas leis internas de funcionamento e

desenvolvimento. A sustentabilidade é uma condição intrínseca ao objeto

estudado. O padrão de sustentabilidade definido para um determinado período

constitui um processo, em que os padrões são definidos e redefinidos

sucessivamente em função das mudanças históricas e das propostas para

alcançar o desenvolvimento sustentável (Carvalho, 1993). Lopes concorda com

Carvalho (1993):

Page 69: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

60

Padrão de sustentabilidade é o formato dado a um determinado sistema a partir da influência de uma série de condições, limites ou restrições. Ou seja, o conjunto de condicionamentos internos e externos e a combinação específica que se estabelece entre estes, de forma a configurar um formato padrão de influências ambientais, econômicas, políticas e sociais sobre uma ou mais explorações [sistemas], ainda que com variações temporais e espaciais (Lopes, 2001. p. 42)

Carvalho entende os parâmetros como os balisadores fundamentais de

um processo de medida da sustentabilidade. Esses parâmetros deverão

estabelecer, para um dado período, uma medida de sustentabilidade (ex:

rendimento por pessoa, estoque de capital natural).

Por fim, Carvalho (1993) considera que os indicadores deverão medir e

acompanhar os parâmetros. Os indicadores, quando historicamente calculados,

definirão o padrão de sustentabilidade (ex.: acesso da população aos serviços

públicos, eroditibilidade do solo).

Camino; Müller (1993) identificam elementos, descritores e indicadores.

Definem elemento como uma parte de uma categoria (aspecto de um sistema)

relevante para análise da sustentabilidade. Para cada elemento significativo

escolhem descritores. Os descritores são características significativas dos

elementos que estão de acordo como principais atributos da sustentabilidade.

Para cada descritor definem um ou vários indicadores.

Indicador, para os autores supra citados, é uma medida do efeito da

operação do sistema sobre o descritor (ex.: elementos – seriam os recursos

(água, solo, fauna, vegetação; descritores – qualidade da água, matéria

orgânica, renda da população; indicadores – concentração de nitrogênio e

fósforo na água).

Para Gliessman (2000), parâmetros são características específicas dos

agroecossistemas que constituem peças-chave em seu funcionamento, e os

indicadores são os níveis ou condições em que esses parâmetros devem ser

mantidos para que ocorra um funcionamento sustentável.

Marzall (1999) entende indicador como um instrumento que evidencia as

mudanças que ocorrem em um dado sistema, em função da ação humana.

Padrão como o ideal a ser alcançado, neste caso, a sustentabilidade, e

Page 70: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

61

parâmetros ou descritores como aspectos da realidade que são determinantes

para que o padrão seja atingido, para os descritores deverão ser encontrados

indicadores.

Segundo Kranhenhofer (2001), um padrão representa um conjunto de

valores e/ou situações consideradas ideais ou desejáveis de serem alcançadas.

FIGURA 1 - Visualização gráfica da interação entre padrão, parâmetros e indicadores.

Fonte: Krahenhofer (2001. p. 7)

A partir da figura acima, Krahenhofer (2001) destaca que se tem dois

caminhos: 1) estabelecer a situação desejável, isto é, os padrões e os

indicadores para mensurá-los; 2) identificar aspectos da realidade, isto é, os

parâmetros e os indicadores para mensurá-los.

Para o autor acima, se a opção for a partir dos padrões, ocorrerá a

proposição à sociedade de uma alternativa de intervenção na realidade com

base em um modelo previamente definido. Se a opção for a partir de

parâmetros, então a sociedade identifica os aspectos da realidade que pretende

mudar, determinando a intervenção, objetivando um novo padrão, considerando

ideal ou desejado.

CONDIÇÕES IDEAIS A SEREM

ALCANÇADAS

CONDIÇÕES DA

REALIDADE

PADRÃO PARÂMETRO

INDICADORES

MEDIDAS DAS CONDIÇÕES

Page 71: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

62

No presente estudo, entende-se indicador como um instrumento que

permite a avaliação de um sistema e que determina o nível ou a condição em

que este sistema deve ser mantido para que seja sustentável. Os indicadores

são utilizados para operacionalizar conceitos e definir padrões - a

sustentabilidade. Por descritor, consideram-se as características significativas e

importantes para o funcionamento do sistema que permitirão alcançar o padrão.

Definida a sustentabilidade, descritores são características fixas que não variam,

enquanto os indicadores são variáveis que permitem monitorar um determinado

sistema.

Os indicadores são como “sinalizadores na estrada” que ajudam a

entender o lugar onde se está, para que lado se está indo e quanto falta para se

chegar ao destino final.

Conforme Camino; Müller (1993), não é possível o desenvolvimento de

um indicador global, por isso é necessário buscar no tempo a evolução da

sustentabilidade dos sistemas. Não há indicadores universais, pois estes podem

variar segundo o problema ou objetivo da análise. Ainda segundo estes autores,

os indicadores devem ser robustos e não exaustivos, ou seja, robustos no

sentido de cumprirem com as condições descritas, serem sensíveis e

apresentarem condições de mensuração, e não exaustivos referindo-se apenas

ao sistema sob análise e considerando os custos e complicações relativas a um

monitoramento de um conjunto muito extenso de indicadores.

Gliessman (2000) também salienta que, para cada parâmetro, há um

tipo ideal de condição ou qualidade necessária para o funcionamento

sustentável do sistema e, assim, cada sistema deve ser estudado

separadamente, gerando conjuntos próprios de indicadores de sustentabilidade.

Há diferença entre uma informação numérica e um indicador. O

indicador descreve um processo específico ou um processo de controle, por

isso eles são particulares aos processos que fazem parte, sendo apropriados

para um sistema e inapropriados para outros, não existindo uma lista de

indicadores universais (Masera; Astier; Lopez-Ridaura et al., 2000).

Bouni (1996) apud Marzall (1999), concorda com Gliessman destacando

que a sustentabilidade é determinada por um conjunto de fatores (econômicos,

sociais, ambientais, entre outros) que devem ser contemplados. Dessa forma,

Page 72: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

63

ao se avaliar a sustentabilidade, deve-se usar sempre um conjunto de

indicadores.

Como observado, não parece adequado o estabelecimento de um único

conjunto de indicadores para avaliar qualquer sistema, porque os indicadores

serão diferentes segundo o entendimento de sustentabilidade e conforme os

parâmetros e descritores definidos: “a clara definição do que é sustentabilidade

irá estabelecer o processo de interpretação dos resultados obtidos com a leitura

do indicador”. A sustentabilidade de um sistema é estabelecida através da

evolução e modificação ao longo do tempo de um conjunto de indicadores

individuais. Um único conjunto não pode fornecer informações para todas as

realidades (Marzall, 1999. p. 45).

Em 1996, em Bellagio (Itália), aconteceu uma conferência internacional

reunindo pesquisadores de cinco continentes com o objetivo de desenvolver

princípios para guiar programas de desenvolvimento de indicadores de

sustentabilidade, (IISD, 1997). Foram definidos os seguintes princípios:

§ visão e objetivos direcionados (em função do entendimento do que

seria desenvolvimento sustentável);

§ perspectiva holística (enfoque sistêmico);

§ elementos essenciais (deve necessariamente considerar eqüidade

inter e intrageracional, condições ecológicas, condições econômicas

necessárias para o bem-estar da população);

§ objetivos adequados (considerando a escala temporal e espacial em

questão e contextualizando historicamente);

§ praticidade (quanto ao número de indicadores considerados,

facilidade de acesso aos dados, custo da avaliação);

§ abertura (determinação de métodos acessíveis a todos, baseados

em valores claros e explícitos);

§ comunicação efetiva (voltando para o usuário da informação);

§ ampla participação (de técnicos, pesquisadores, políticos e

população local);

Page 73: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

64

§ suscetíveis de monitoramento contínuo (possibilitando repetibilidade

de medidas, ajustando-se a mudanças); e

§ capacidade institucional.

Além desses princípios, Camino; Müller (1993. p. 49-50), Masera; Astier;

Lopez-Ridaura (2000. p. 47) e Marzall (1999. p. 38-39) destacam algumas

outras características importantes na definição dos indicadores, as quais foram

agrupadas para facilitar a obervação. Assim os indicadores devem:

§ ser significativos quanto à sustentabilidade do sistema;

§ ser relevantes politicamente, ter validade e objetividade;

§ ter coerência e serem sensíveis a mudanças no tempo e no sistema;

§ ser centrados em aspectos práticos e claros, fáceis de entender e

com o fim de facilitar a participação da população local no processo

de mensuração;

§ permitir enfoque integrado, dando informações condensadas sobre

vários aspectos do sistema;

§ permitir a modelização, a recoleta de informações não deverá ser

custosa, nem difícil;

§ ser de fácil mensuração e baseados em informação facilmente

disponível;

§ ser preferencialmente aplicáveis a vários sistemas;

§ ser consistentes e ter alto grau de robustez;

§ ter a forma de expressão dirigida e significativa para o usuário;

§ ter participação ampla;

§ ter relação com outros indicadores, permitindo a interação entre eles.

Analisando a extensa lista acima sobre as características inerentes aos

indicadores, evidencia-se a dificuldade de construir uma proposição. Identificar

Page 74: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

65

indicadores que contemplem esse rol de características é, portanto, tarefa difícil

e complexa.

4.2 Alguns Trabalhos sobre Proposição e Metodologias para Identificação

de Indicadores

Nesta seção, apresentam-se e comentam-se alguns trabalhos referentes

ao desenvolvimento de indicadores e algumas metodologias para avaliar a

sustentabilidade. Esta apresentação limita-se àqueles que se consideram mais

relevantes para o desenvolvimento e proposição de indicadores que avaliem a

sustentabilidade em um contexto de desenvolvimento rural local32.

Dentre as iniciativas internacionais, destaca-se a Organização das

Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), com a proposta

denominada K2, que objetiva servir de ferramenta, em nível nacional e regional,

para elaboradores e analistas de políticas públicas e de projetos. O documento

apresenta uma estrutura teórica sobre sustentabilidade e indicadores, sendo

que a definição de sustentabilidade é verificada a partir da sustentabilidade forte

e fraca. A metodologia do programa baseia-se em doze módulos a partir dos

quais são elaborados os indicadores, a saber: demografia; macroeconomia;

demanda e oferta; análise da cadeia comercial; política de preços; investimento;

trabalho; nutrição; produção vegetal; produção animal; produção florestal; e

recursos da terra.

A análise da sustentabilidade ocorre a partir da comparação dos

módulos com o que se assume ser sustentabilidade forte ou fraca dos

elementos-chave do setor rural (Marzall, 1999).

Esta metodologia pode ser usada de forma independente para preparar

cenários de planejamento e desenvolvimento agrícola em escala nacional e em

comunidade. A análise é multicriterial e sensitiva (Marzall, 1999) (Ver Anexo B).

32 Salienta-se que as informações e comentários sobre as propostas metodológicas e trabalhos sobre o desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade, exceto o MESMIS (2000), DEPHI, FESLM, Carvalho, Gliessman, Lopes e IICA, foram obtidas na dissertação de mestrado de Kátia Marzall, portanto, para maiores detalhes, ver Marzall (1999).

Page 75: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

66

Outra iniciativa internacional é a estrutura de análise (PSR) - Pressão,

Estado e Resposta - desenvolvida pela OCDE, sendo atualmente a estrutura

mais adotada por órgãos internacionais, como O World Resources Institute

(WRI), a (FAO), Banco Mundial e (UNDP).

A proposta define um sistema de indicadores de pressão, estado e

resposta através de respostas a algumas perguntas-chave:

§ Indicadores de pressão: (estresses provocados pela atividade

humana sobre o meio) - por que está acontecendo?

§ Indicadores de estado: (mudanças ou tendências nas condições

físicas e/ou biológicas) - o que está acontecendo ao ambiente ou

recursos naturais?

§ Indicadores de resposta: (medidas políticas adotadas quanto aos

problemas diagnosticados) – o que está sendo feito quanto a isso?

A partir da base de indicadores desenvolvida pela OCDE e Banco

Mundial, outros organismos desenvolveram seu próprio conjunto de indicadores

de acordo com suas necessidades.

A estrutura PSR é clara e permite através das perguntas determinar os

pontos que exigem uma maior preocupação por parte dos pesquisadores e

investigadores e a sua escala é ampla, compreendendo as esferas

internacional, regional e nacional (Ver Anexo C e D).

O IICA (Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura),

juntamente com Camino; Müller (1993), desenvolveram uma proposta com o

objetivo de definir indicadores específicos para casos concretos e de

desenvolver uma metodologia geral que permita a definição de indicadores para

qualquer sistema que se analise.

Os autores derivam os indicadores a partir de uma extensa revisão

bibliográfica sobre o conceito de sustentabilidade e suas diferentes variantes.

Definem quatro categorias de análise: a) a base de recursos do sistema; b) a

operação do sistema propriamente; c) outros recursos exógenos ao sistema

(entradas e saídas); d) a operação de outros sistemas exógenos (de entrada e

Page 76: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

67

saída). A metodologia é baseada na determinação do sistema em análise; na

identificação das categorias de análise; na definição de descritores e na

definição de indicadores33.

Camino; Müller (1993) indicam alguns passos para definir um conjunto

de indicadores que podem ser observados na figura abaixo:

FIGURA 2 - Esquema para a definição de indicadores de sustentabilidade para agroecossistemas proposto pelo IICA/GTZ.

Fonte: Camino; Müller (1993).

33 A definição de categoria de análise, elementos das categorias, descritores e indicadores, segundo o entendimento de Camino; Müller, podem ser obtidos na seção 4.1 deste trabalho.

DEFINIÇÃO DO SISTEMA A SER ANALISADO

IDENTIFICAÇÃO DE CATEGORIAS SIGNIFICATIVAS

IDENTIFICAÇÃO DE ELEMENTOS SIGNIFICATIVOS EM CADA CATEGORIA

IDENTIFICAÇÃO E SELEÇÃO DE INDICADORES

DEFINIÇÃO E OBTENÇÃO DE INDICADORES

ANÁLISE DE INDICADORES

PROCEDIMENTO DE MONITORAMENTO

Page 77: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

68

Ainda, Camino; Müller (1993) salientam a necessidade de se ter um

conjunto de indicadores, porque um único indicador daria uma visão parcial do

sistema analisado.

A proposta do IICA elaborado por Camino, Müller (1993) é bastante

consistente mas não se enquadra dentro do enfoque sistêmico, porque

considera a lógica linear e avalia o problema pela causa e efeito, não

observando a interação entre os elementos do sistema (Marzall, 1999). Apesar

de os autores destacarem a necessidade de avaliação e monitoramento do

sistema, não se preocupam com o caráter interdisciplinar e participativo (Ver

Anexo E).

O Marco de Avaliação do Manejo Sustentável de Terras (FESLM),

elaborado pela FAO, constitui-se em um dos mais importantes esforços em

escala internacional dirigido para avaliar a sustentabilidade. A proposta

apresenta uma estratégia de análise integral dos sistemas de manejo, incluindo

os aspectos econômicos e sociais que determinam seu comportamento, no

entanto apresenta um viés ambiental. A metodologia sugere cinco passos ou

níveis: produtividade, segurança, conservação, viabilidade e aceitabilidade. Os

primeiros dois níveis estão orientados para a definição e caracterização do

sistema que se pretende analisar, nos seguintes três níveis identificam-se os

fatores que afetam a sustentabilidade do sistema, assim como os critérios que

se usam para analisá-los, e finalmente definem-se os indicadores que serão

monitorados ( Masera; Astier;López-Ridaura, 2001).

A proposta também apresenta quatro categorias de indicadores para

manejo sustentável do solo: físico, agronômico, econômico e social. Salienta a

necessidade de uma coleção de indicadores para descrever as diferentes

dimensões do manejo sustentável do solo, devido à complexidade dos temas

que afetam e controlam este manejo. Para serem efetivos, os indicadores

devem ser elaborados para refletirem os usos do solo, as práticas ambientais e

de manejo do solo, o clima e o mercado, serem potencialmente mais sensíveis

às mudanças de condições ambientais, terem ampla aplicação e potencial de

fornecer a menor variabilidade de medida (Ver Anexo F).

A metodologia Delphi é uma técnica utilizada na análise de problemas

complexos, que necessitam da participação de diversos especialistas, visando

Page 78: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

69

identificar fatores que influenciarão o futuro, através do somatório e nivelamento

de informações qualificadas.

“(...) não é um levantamento estatístico de opiniões de uma população, e

sim uma consulta a um grupo seleto de especialistas que (...) procura chegar a

opiniões conjuntas sobre questões complexas” (Gomes et al., 1992. p. 9).

A técnica é aplicada através de questionários que circulam entre os

especialistas durante um determinado período de forma continuada. A partir da

segunda rodada, os participantes passam a receber uma síntese das respostas

dos demais. “A experiência demonstra que, após duas ou três rodadas, as

opiniões apresentam padrões convergentes, indicando presença de uma ou

mais escolas de pensamento” (Welty, 1971 apud Melgarejo, 2000. p. 389).

Assim, através de aproximações sucessivas buscam-se as opiniões conjuntas,

sobre questões complexas.

O ponto essencial da técnica consiste na eliminação de comunicações

entre os indivíduos escolhidos e nos “feed-backs” sumarizados que cada um

deles recebe, quanto às opiniões (não identificadas) dos demais (Melgarejo,

2000).

Em situações em que são muitos os critérios, é possível trabalhar com

previsão holística, solicitando aos especialistas avaliação do fenômeno em sua

integralidade (Wright et al., 1994 apud Melgarejo, 2000).

A técnica Delphi é uma metodologia que não é apenas utilizada no

estabelecimento e seleção de indicadores. É um método participativo que

permite a obtenção de opiniões a partir de grupo de especialistas escolhidos

sobre questões complexas. Contudo apresenta-se como uma técnica

interessante para identificação de parâmetros e definição de indicadores, porque

possibilita uma previsão holística e a observação da compreensão do tema por

parte dos especialistas.

Page 79: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

70

O Marco para a Avaliação de Sistemas de Manejo de Recursos Naturais

incorporando Indicadores de Sustentabilidade (MESMIS) é um marco

metodológico que objetiva avaliar a sustentabilidade de diferentes sistemas de

manejo34 de recursos naturais em uma escala local. O projeto é um esforço

multiinstitucional coordenado pelo Grupo Interdisciplinar de Tecnologia Rural

Apropriada (GIRA), desde 1995, em colaboração com outros centros de

investigação.

O conceito de sustentabilidade da proposta é definido a partir de cinco

atributos: produtividade; estabilidade, confiabilidade e resiliência; adaptabilidade;

eqüidade; e autodependência (autogestão).

A avaliação da sustentabilidade somente é válida para sistemas

específicos, em um determinado lugar geográfico, e sob determinado contexto

social e político e com uma escala espacial e temporal determinada, devendo

ocorrer de maneira comparativa ou relativa, ou seja, comparar a evolução de um

sistema através do tempo (comparação longitudinal) ou comparar,

simultaneamente, um ou mais sistemas de manejo alternativo ou inovador com

um sistema de referência (comparação transversal).

Segundo os autores do MESMIS, a avaliação da sustentabilidade é um

processo cíclico e uma atividade participativa que requer uma equipe de

trabalho interdisciplinar. A equipe de avaliação deverá fazer uso de técnicas

participativas com os produtores, técnicos, investigadores e demais indivíduos

envolvidos.

34 “Um sistema pode ser definido como um conjunto ou coleção de coisas, unidas ou relacionadas entre si de tal maneira que formam e atuam como uma unidade, uma entidade ou um todo” (Hart, 1985 apud Masera; Astier; López-Ridaura, 2000). Manejo implica uma intervenção humana. E sistema de manejo são ecossistemas naturais que são artificializados e transformados pelo homem mediante processos para obter produtos animais, agrícolas e florestais (Masera; ; Astier; López-Ridaura, 2000. p. 33).

Page 80: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

71

A metodologia da proposta prevê um ciclo de avaliação que compreende

os seguintes elementos ou passos: 1) determinação do objeto de estudo; 2)

determinação de pontos críticos35; 3) seleção de indicadores36 (dimensões

econômica, ambiental e social (inclui aspectos culturais e políticos); 4)

mensuração e monitoramento; 5) apresentação e integração dos resultados; e

6) conclusão e recomendações.

Para seleção dos indicadores são propostas as seguintes cinco fases

metodológicas:

§ identificam-se os atributos da sustentabilidade;

§ definem-se os pontos críticos do sistema;

§ define-se uma série de critérios de diagnóstico que permitem avaliar

os pontos críticos do sistema;

§ deriva-se uma lista de indicadores para cada critério. Esse

procedimento assegura à existência de um vínculo entre indicadores,

critérios de diagnóstico, pontos críticos e atributos de sustentabilidade.

§ selecionam-se da lista geral de indicadores aqueles que serão usados

e constituirão o conjunto de indicadores estratégicos.

Segundo Masera; Astier; López-Ridaura (2000), a integração dos

resultados é o momento-chave no ciclo de avaliação, pois é uma fase de

diferenciação centrada na recompilação de dados para cada indicador e de

síntese da informação. Entre as técnicas utilizadas para apresentação e

integração dos resultados, os autores apresentam preferência por técnicas

mistas que combinam informação gráfica e numérica, através do método

”ameba” (diagrama radial). Após este passo, parte-se para as conclusões e

recomendações, etapa que representa o momento de recapitular os resultados

35 Pontos críticos são aspectos ou processo que limitam ou fortalecem a capacidade dos sistemas para se sustentar no tempo (Masera; ; Astier; López-Ridaura, 2000. p. 40) 36 O autor fala de critérios de diagnóstico e indicadores, sendo que os primeiros descrevem os atributos da sustentabilidade, representado um nível de análise mais detalhado que os atributos, embora mais geral que os indicadores. Verifica-se que critérios de diagnóstico poderiam ser denominados de descritores.

Page 81: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

72

da análise com o fim de emitir um juízo de valor para dizer como se comparam

entre si os distintos sistemas quanto a sua sustentabilidade. Os autores ainda

salientam que a avaliação do processo deverá ser permanente, apresentando

ciclos de avaliação.

A metodologia MESMIS apresenta-se como uma das mais completas,

se comparada com as demais estudadas nesta seção. Ela parte da definição do

objeto de análise, seleciona indicadores, realiza a avaliação e o monitoramento

e, ainda, recomenda mudanças e ajustes quando necessário.

Destaca-se que a base do MESMIS está assentada na comparação

entre sistemas, sem definir isoladamente o que é sustentável ou insustentável,

pois salienta que é impossível obter uma medida absoluta de sustentabilidade,

por isso faz uso de juízo do tipo “este sistema é mais (ou menos) sustentável de

que este outro” (Masera; Astier; López-Ridaura, 2000. p. 36).

Os autores apresentam uma metodologia para seleção de indicadores e

enfatiza o caráter interdisciplinar e participativo em sentido amplo, ou seja, de

produtores, técnicos, investigadores e envolvidos no processo (Ver Anexo G).

Das iniciativas brasileiras sobre indicadores de sustentabilidade, pode-

se citar Carvalho (1993) com o trabalho denominado “Padrões de

sustentabilidade: uma medida para o desenvolvimento sustentável”, no qual

propõe a definição de padrões de sustentabilidade definidos a partir da

quantificação e qualificação. Estes parâmetros são elementos balizadores dos

processos de sustentabilidade da vida social e da natureza, a mensuração e o

acompanhamento destes parâmetros é realizada por indicadores. A definição de

sustentabilidade incorpora as seguintes características: adaptabilidade,

diversidade, eqüidade e incerteza.

A lista de indicadores desenvolvida por Carvalho (1993) é extensa e

apesar de o autor explicar cada um dos indicadores escolhidos, alguns deles

não são facilmente medidos e de entendimento imediato. O próprio autor

salienta, no documento, a ausência de suficiente fundamentação teórica, e a

gama de áreas de conhecimento que a sustentabilidade contempla, sugerindo

que estudos subsequentes devem ser elaborados em conjunto com

especialistas por área, visando obter maior consistência técnico-científica na

determinação dos indicadores.

Page 82: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

73

Carvalho (1993) destaca também que o trabalho apresenta uma

sugestão de indicadores, definidos como “ caminhos para reflexão” que poderão

propiciar estudos e pesquisas especializadas posteriormente (Ver Anexo H).

O Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) também apresenta uma

proposta para avaliar a sustentabilidade, denominada “Desenvolvimento rural e

sustentável: um estudo de caso na microbacia hidrográfica Água Grande e

Córrego do Pensamento, Mamboré - PR”, com objetivos de detectar os limites

em que os sistemas de produção entram em colapso até a situação onde

acontece reprodução indefinida pela conservação e manutenção dos recursos

naturais. A metodologia utilizada é baseada na caracterização geral da região

avaliada, descrição do projeto de desenvolvimento, antes e depois, e

determinação de indicadores. A definição de sustentabilidade é derivada com

base em uma síntese de produtividade, estabilidade e eqüidade.

O estudo realizado pelo IAPAR é bastante consistente na definição de

indicadores ambientais, embora eles não sejam facilmente medidos. Outra

característica interessante é o fato de a análise centrar-se em uma determinada

região e com um conjunto específico de indicadores (Ver Anexo I e J).

A EMBRAPA/CNPMA, em 1996, desenvolveu uma proposta

denominada “Desenvolvimento de metodologias para a definição de indicadores

de agroecossistemas”, tendo por objetivo desenvolver metodologias de

avaliação de indicadores para agroecossistemas estabelecidos em condições de

agricultura tropical e subtropical. Para isso, organizou quatro subprojetos em

microbacias com características distintas: Microbacia de Taquara Branca,

Sumaré, SP; Panataminho e Divisa Iraí de Minas, MG; Ribeirão do Meio II,

Carlópolis, PR; e, Ecossistema da Mata Atlântica, no Estado da Bahia.

A proposta avalia a sustentabilidade em três dimensões: ecológica,

econômica e social. Estabelecendo as seguintes etapas: a) definição de regiões

representativas; b) DRR (Diagnóstico Rural Rápido) - informações secundárias e

visitas; c) operacionalização, considerando a produtividade, estabilidade,

elasticidade e eqüidade; d) avaliação a partir de duas categorias: recursos

(estoque) e funcionamento (fluxo); e) ordenação de descritores e indicadores. A

estrutura adotada pelo programa é a mesma desenvolvida pelo IICA.

Page 83: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

74

Embora o trabalho conclusivo sobre indicadores, realizado pela

Embrapa, não tenha sido publicado, a proposta levanta diversos pontos, que

talvez não sejam relevantes enquanto indicadores, propõe a análise química do

solo, que é questionada como um indicador, e, ainda, os diversos conjuntos de

indicadores apresentam pouco aplicabilidade (Marzall, 1999) (Ver Anexo K).

Lopes (2001) apresenta uma proposta metodológica para avaliar a

sustentabilidade de sistemas agroflorestais. Seu trabalho é realizado na região

que compreende os vales dos rios Caí e Taquari, no Rio Grande do Sul. A

proposta parte da compreensão sobre sustentabilidade, seleção de indicadores

e composição de um índice de sustentabilidade.

A proposição metodológica de Lopes (2001) é baseada em trabalhos

anteriores, os quais utilizam semelhantes metodologias para seleção de

indicadores e gráficos tipo radar, em particular, os trabalhos de Calório (1997),

Sanchez; Palomino (1988), Camino; Müller (1993), Carvalho (1993), Redclift

(1993), Fernandez (1995), Bouni (1996), Clain (1997) e Marzall (1999).

O método do autor, compreende os seguinte procedimentos: 1)

caracterização geral da região e da área de estudo; 2) caracterização da

estrutura e funcionamento dos estabelecimentos e sistemas de produção; 3)

plotagem dos gráficos tipo radar, a partir da valoração dos aspectos qualitativos

relacionados às práticas produtivas, econômicas, ambientais e organizacionais

de cada exploração estudada; 4) cálculo dos índices de sustentabilidade, a partir

da média harmômica dos valores médios (padronizados) registrados por

indicador; 5) classificação das propriedades ou explorações em grupos por

sistemas agroflorestais e arranjos institucionais para análise comparativa; 6)

análise comparativa a partir dos índices e padrões de sustentabilidade

apresentados pelas explorações, procurando realçar aspectos determinantes

dos níveis/padrões de sustentabilidade verificados.

Os indicadores escolhidos por Lopes (2001) para análise situam-se em

quatro diferentes dimensões da sustentabilidade, a saber; técnico-produtiva,

organizacional, ambiental e econômica.

O trabalho realizado por Lopes (2001) pode ser considerado como uma

grande iniciativa, porque, além de selecionar indicadores, lança uma proposição

metodológica, mediante a união de várias metodologias e aplica-a na prática

Page 84: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

75

numa região específica, além de interpretar os resultados alcançados. O

trabalho define sua compreensão por sustentabilidade e ressalta a necessidade

da interdisciplinaridade.

Outra característica importante, que deve ser ressaltada, é que este

trabalho demonstrou que o maior obstáculo a ser vencido está relacionado com

a interpretação dos resultados, porque está vinculada às outras opções: a

compreensão de sustentabilidade, a seleção dos indicadores que intrisicamente

carregam juízo de valor (Ver Anexo L).

Além dessas propostas, ressalta-se o trabalho desenvolvido por

Gliessman (2000), no qual o autor apresenta contextos de sustentabilidade.

Glisessman afirma que é impossível saber com certeza se uma determinada

prática constitui sustentabilidade, contudo é possível demonstrar se uma prática

está se afastando da sustentabilidade. Para isso, é necessário aprender a partir

de sistemas sustentáveis existentes.

“A chave para a sustentabilidade é encontrar um meio termo entre as

duas coisas – um sistema que emite a estrutura e função de ecossistemas37

naturais, e ainda assim, produza uma colheita para uso humano” (Gliessman,

2000, p. 566). Quanto maior a similaridade entre um sistema e um

agroecossitema38, maior a possibilidade de que o agroecossistema seja

sustentável.

Segundo o autor, estabelecer uma distinção entre os sistemas que estão

degradando e aqueles que não estão, não é fácil, porque há uma multiplicidade

de parâmetros ecológicos que em interação determinam a sustentabilidade, no

entanto estudá-los de forma isolada ou analisar apenas alguns deles pode

mostrar-se enganador, porque às vezes os ganhos em uma dimensão poderão

compensar perdas em outra. Esse fato, ressalta a importância do uso de uma

base holística para o desenho e manejo de sistemas agrícolas sustentáveis, ou

seja, a necessidade de olhar para o todo, que também significa a adoção da

abordagem sistêmica.

37 “Ecossistema pode ser definido como um sistema funcional de relações complementares entre organismos vivos e seu ambiente, delimitado por fronteiras escolhidas arbitrariamente, as quais, no espaço e no tempo, parecem um equilíbrio dinâmico, porém estável” (Gliessman, 200. p. 61). 38 “Agroecossistema é um local de produção agrícola – uma propriedade, por exemplo – compreendido como um ecossistema” (Gliessman, 2000. p. 61).

Page 85: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

76

Gliessman (2000) apresenta um quadro com um conjunto de parâmetros

ecológicos que podem ser monitorados, de forma a avaliar o movimento de

aproximação ou afastamento em relação à sustentabilidade. Os parâmetros são

listados no Anexo M39. Além desses parâmetros destacados, o autor seleciona

alguns aspectos sociais e ecológicos importantes na busca da sustentabilidade

de agroecossistemas.

O autor ainda discute a necessidade de estabelecer um sistema de

referência que torne possível medir e quantificar a sustentabilidade. Os

produtores precisam ser capazes de avaliar um sistema, verificando a que

distância ele está da sustentabilidade; quais os aspectos menos sustentáveis; o

que está levando à insustentabilidade; como pode mover-se na direção de um

funcionamento sustentável; e como monitorá-lo por um bom tempo.

Para Gliessman (2000), um dos maiores desafios é aprender como

monitorar os impactos de um indicador sobre o outro e a interação entre eles,

sendo capaz de analisar os impactos imediatos e futuros, focalizando

alternativas ou soluções para os problemas existentes.

O trabalho de Gliessman (2000) apresenta grande consistência, porque

parte do estudo e da descrição de cada parâmetro, salientando o enfoque

sistêmico, o caráter interdisciplinar e a participação do produtor, constituindo-se

numa análise das dimensões econômica, ambiental, social e cultural. Além de

enfatizar programas de monitoramento centrados no produtor. No entanto, o

autor não define nem propõe indicadores e, ainda, dentre o parâmetros

selecionados, muitos são de difícil mensuração e entendimento.

Analisando as propostas para estabelecimento de indicadores, de modo

geral, pode-se afirmar que a preocupação com a mensuração da

sustentabilidade foi enfatizada a partir da Agenda 21, quando, principalmente,

agentes governamentais e pesquisadores buscam desenvolver propostas que

objetivam a elaboração, a avaliação, o monitoramento de políticas públicas em

escalas nacionais. No entanto, são poucos os trabalhos voltados para a

comunidade e/ou a propriedade rural (Marzall, 1999).

39 As explicações relativas ao papel de cada parâmetro podem ser encontradas nos capítulos do seu livro, onde cada fator é discutido (Gliessman, 2000, seção II, p.85-338).

Page 86: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

77

Com o passar dos anos, iniciativas voltadas a uma região, comunidade

ou propriedade rural começaram a aparecer, como, por exemplo, os trabalhos

de Lopes, o Mesmis, Embrapa, Iapar e Gliessman.

Até aquele momento, poucos trabalhos expunham sua compreensão

sobre sustentabilidade, definição que está diretamente relacionada com a

interpretação dos indicadores e sua preocupação com o quesito avaliação e

monitoramento e o significado de cada indicador.

A atenção ao enfoque holístico, interesse nas interações e a

interdisciplinaridade começaram a ser prioridades nas propostas metodológicas,

superando, em alguns casos, a análise das diferentes dimensões da

sustentabilidade sem promover a interação entre elas.

Algumas propostas, como Gliessman, Lopes e Mesmis, enfatizam a

participação efetiva do agricultor, procurando entender seus padrões culturais,

sua lógica de tomada de decisão e seus valores.

As maiores dificuldades encontradas nas propostas metodológicas de

identificação de indicadores centram-se na interpretação dos resultados, pois

estes estão vinculados ao entendimento de sustentabilidade, que é subjetivo e

não apresenta consenso, o que permite a conclusão de sustentável na visão de

uns e insustentável na visão de outros.

Um sistema que se apresenta como mais sustentável com determinada

combinação de indicadores pode com outra combinação, ser considerado como

tendo menor sustentabilidade. Conforme os indicadores escolhidos, os

resultados poderão ser invertidos quase que completamente (Lopes, 2001).

4.3 Limites e Potencialidades na Proposição de Indicadores

Propor indicadores de sustentabilidade é uma tarefa árdua e complexa

por diversos fatores. Em primeiro lugar, pode-se destacar a existência de

poucos trabalhos que tratem de proposição e de metodologias, embora haja

uma infinidade de autores estudando ou analisando a sustentabilidade. Talvez

isso ocorra devido aos variados e diferentes entendimentos sobre o tema e a

possibilidade de ocultações de natureza ideológica, o que permite a apropriação

Page 87: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

78

do termo por diferentes segmentos da sociedade, ao mesmo tempo promovendo

dificuldade de consenso.

O próprio conceito de desenvolvimento sustentável criado pela CMMAD

gera dúvidas sobre a diferença entre o que é sustentável e o que não é; sobre a

definição dos limites biológicos; sobre o estabelecimento de prioridades; sobre o

gerenciamento das incertezas; sobre a administração de conflitos. Além de a

definição ser incompleta, visto que a caracterização da sustentabilidade deve

envolver suas diferentes modalidades: econômica, social, ambiental e político-

cultural (Graziano da Silva, 1999).

O entendimento sobre sustentabilidade exerce influência direta na

definição e na interpretação dos indicadores. É o que se determina por

sustentabilidade que vai determinar o que é importante ser medido, avaliado e o

significado dos valores obtidos (Marzall, 1999).

Embora não seja fácil medir a sustentação de um sistema,

principalmente, tendo em vista os dados convencionais não aprenderem

aspectos relevantes para o desenvolvimento sustentável (Marzall, 1999), a

necessidade de avaliação da sustentabilidade é premente, pois a avaliação

permitirá monitorar a sustentabilidade de uma realidade, facilitar o processo de

tomada de decisão, evidenciar eventuais modificações necessárias, entre outras

características já citadas anteriormente (Marzall, 1999; Krahenhofer, 2001).

A mensuração da sustentabilidade através de procedimentos

metodológicos e definição de indicadores apresenta insegurança por parte de

seus idealizadores, criadores e pesquisadores, uma vez que a aplicação de um

conjunto de indicadores com uma determinada metodologia em um sistema

específico pode ser definida como sustentável, enquanto a aplicação da mesma

metodologia, no entanto, com outro conjunto de indicadores pode ser definida

como insustentável. Ou seja, a aplicação de metodologias, que avaliem a

sustentabilidade de um sistema, pode tornar-se uma verdadeira “caixinha de

surpresas”. Destaca-se ainda a dificuldade de hierarquizar os indicadores e de

explicar as causas das mudanças ocorridas, estas muitas vezes tornam-se um

exercício especulativo e subjetivo, já que os valores, perspectivas e preferências

são inerentes ao processo de proposição de indicadores, isso também leva a

uma grande vulnerabilidade nos estudos.

Page 88: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

79

A natureza multidimensional da sustentabilidade promove uma

variedade de informações e a necessidade de um estudo interdisciplinar,

sistêmico e holístico, para não se correr o risco de simplificar a análise e

prejudicar a compreensão das interações do sistema.

O caráter interdisciplinar favorece uma maior compreensão da

sustentabilidade, porque profissionais de diferentes áreas têm a oportunidade de

interagirem. A cooperação entre esses profissionais e a abertura para a

participação dos agricultores, evidenciando e internalizando a diversidade de

pensamento, elevam as expectativas em direção a um desenvolvimento

verdadeiramente sustentável.

Um grande leque de opções abre-se em relação à sustentabilidade,

contudo a aplicação prática das metodologias ainda é uma incógnita; consenso

também não existe e questiona-se se um dia existirá, se o debate permanecerá,

será esquecido ou encarnará outros enfoques.

Entretanto, salienta-se que a busca pela avaliação da sustentabilidade já

produziu bons frutos, como o caráter interdisciplinar; o enfoque holístico; o

entendimento mais amplo e consistente de desenvolvimento rural; a ênfase na

complexidade e interação dos sistemas; a compreensão multidimensional.

O desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade que permitam a

monitoração promoverá uma solução para inúmeros problemas socioculturais,

econômicos, políticos e ambientais que levaram à insustentabilidade dos

sistemas e, apesar das diferentes concepções sobre a sustentabilidade e de

seu reflexo na identificação dos indicadores e metodologias, o atual debate

constitui-se num grande avanço na determinação da tendência dos sistema à

sustentabilidade ou à insustentabilidade.

A observação da sustentabilidade a partir de tendências é um aspecto

importante e uma potencialidade para proposição de indicadores, pois o sistema

tende a sustentável ou tende a insustentável, não é possível definir

sustentabilidade com base apenas no processo produtivo em si, há necessidade

de olhar o contexto global em que se encontra e considerar a interação entre as

diferentes modalidades econômica, social, ambiental e cultural.

O contexto deve ser caracterizado e as iniciativas de sustentabilidade

devem ser adaptadas às necessidades, pois o que é sustentável isoladamente

Page 89: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

80

pode não sê-lo quando sujeito a fortes interferências externas. “A

sustentabilidade deve ser vista como um conceito universal e não negociável no

que se refere aos objetivos, mas sem um modelo ou critérios únicos, ela pode

ser alcançada por meio de muitos caminhos, com etapas, setores e estágios de

desenvolvimento” (Campanhola; Graziano da Silva, 2000. p. 23).

Em suma, as características sobre sustentabilidade irão oscilar dentro

de limites específicos, tendendo para um lado ou para outro conforme as

circunstâncias, perturbações e condições gerais do sistema.

Page 90: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

81

5 PROPOSIÇÃO E DISCUSSÃO DE INDICADORES PARA

AVALIAR A SUSTENTABILIDADE DO DESENVOLVIMENTO

RURAL DE CAMAQUÃ-RS

Apesar da grande debate e das recentes publicações sobre o tema em

torno da sustentabilidade, do desenvolvimento rural sustentável e da definição

de indicadores de sustentabilidade, há poucos esforços sistemáticos e

consistentes para tornar operativo o conceito e princípios gerais da

sustentabilidade, poucos são os esforços que combinam rigor teórico e

aplicabilidade prática (Masera; Astier; López-Ridaura, 2000).

Tal dificuldade deriva da necessidade indispensável de uma discussão

sobre o significado do termo e suas características. Tornar operativo o conceito

de sustentabilidade implica esforço teórico, certa dose de pragmatismo, esforço

interdisciplinar, integrador, consideração de aspectos ambientais, econômicos,

sociais, culturais entre outros. “Hacer operativo el concepto de sustentabilidad

involucra entonces entender e incorporar la pluralidad de preferencias,

prioridades y percepciones en los objetivos de lo que se sostener” (Masera;

Astier; López-Ridaura 2000. p. 14).

Para operacionalizar o conceito de sustentabilidade e assim poder

avaliá-lo, exige-se a identificação de indicadores, o que na prática não é fácil

como, por vezes, sugere a literatura. Os indicadores precisam ser propostos,

adaptados e discutidos.

Alguns autores sugerem métodos para identificação ou obtenção de

indicadores. Masera; Astier; López-Ridaura (2000) destacam que os indicadores

ambientais poderão ser obtidos mediante uma extensa revisão bibliográfica

sobre características ambientais regionais, mensurações diretas com métodos

de amostra e estabelecimento de aparatos de mensuração fixos nas

Page 91: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

82

propriedades dos agricultores. Para obtenção de indicadores socioeconômicos,

sugerem revisão bilbiográfica sobre as características socioeconômicas

regionais, levantamento de propriedades familiares pela comunidade ou

organização, e entrevistas abertas semi-estruturadas com agricultores-chave na

comunidade, através de métodos de investigação participativa e propostas de

diagnóstico rural rápido.

Já Torquebiau (1989) apud Camino; Müller (1993) define normas para

definição de indicadores, a saber: a) interpretação do significado do indicador; b)

definir o que, como e quando medir; c) definir os insumos requeridos para o

cálculo; d) estabelecer as limitações do indicador; e) interpretar os resultados

dos valores do indicador, considerando as limitações que apresenta.

Abbot; Guijt (1999) sugerem o uso da sigla SMART, formada pelas

seguintes palavras-chave: simplicidade, mensuração, atração, relevância e

temporalidade que ajudam na previsão do bom funcionamento do indicador.

Esses mesmos autores sugerem um conjunto de critérios usados para avaliar

um indicador: validade, mensuração, verificação, oportunidade, simplicidade,

relevância, sensibilidade, pontualidade e boa relação custo/benefício.

Neste trabalho, a proposição de indicadores para avaliação da

sustentabilidade em contextos de desenvolvimento rural local partiu da

superação de alguns níveis ou passos considerados necessários.

Inicialmente, traçou-se um panorama geral do município. Logo depois,

desenvolveu-se uma discussão em torno da noção de sustentabilidade e de

desenvolvimento rural sustentável, conceituando-os e caracterizando-os e,

finalmente, fez-se uma revisão de literatura sobre indicadores.

Nesta parte do estudo, cabe estabelecer o elo de ligação entre os

capítulos, ou seja, para proposição de indicadores, faz-se necessário o

entendimento de sustentabilidade e seus atributos. Assim, para proposição dos

indicadores, realizaram-se os seguintes passos:

§ cruzamento analítico entre a compreensão de sustentabilidade e a

realidade local, neste caso, o município de Camaquã;

§ cruzamento analítico da interação entre as diferentes dimensões:

econômica, social, ambiental e cultural;

Page 92: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

83

§ ajuste da operação mediante um “filtro” ou “lente40” levando em

consideração: a) a compreensão de sustentabilidade, em que o

entendimento próprio do tema e as características intrínsecas

consideradas direcionam a discussão e a proposição dos

indicadores; b) as dimensões econômica, social, ambiental e cultural

eleitas para o estudo e consideradas as mais importantes, dentre

várias outras; c) o custo para avaliação e mensuração dos

indicadores, observando-se o quanto é despendido para obtenção

das informações e cálculo do indicador, pois, das doze propostas

estudadas, a maioria delas não leva isso em consideração, algumas

chegando a serem inviáveis financeiramente, formando um conjunto

de indicadores dificilmente agregáveis e quantificáveis; d) a

facilidade de mensuração e de compreensão por parte dos

agricultores, extensionistas e mediadores sociais, pois a mensuração

do indicador depende da sua compreensão. A proposição de

indicadores para Camaquã-RS procura considerar todos esses

aspectos, constituindo-se em proposta prática, voltada para a

realidade local.

§ determinação de uma “cesta” de indicadores que correspondem ao

conjunto de indicadores levantados a partir das doze propostas

apresentadas, na seção 4.2. Dos indicadores dessa cesta

selecionaram-se aqueles considerados adequados para avaliar a

sustentabilidade em contextos de desenvolvimento rural local.

40 Usou-se este termo como objetivo de destacar os limites da observação e da proposição dos indicadores. Lente no sentido de ajustar a compreensão a partir de determinados pressupostos.

Page 93: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

84

FIGURA 3 - Metodologia para proposição dos indicadores.

Antes da tabela dos indicadores propostos, cabe relembrar o conceito

de sustentabilidade e seus atributos que marcam suas características

intrínsecas. Entende-se por sustentabilidade a manutenção de um sistema ao

longo do tempo, sendo que esta manutenção depende de quanto maior for a

adaptabilidade, a diversidade, a resiliência, a eqüidade do sistema e a interação

entre as diferentes dimensões: econômica, ambiental, social e cultural. A noção

de sustentabilidade englobaria as seguintes características ou atributos:

adaptabilidade, diversidade, eqüidade, resiliência, manutenção do sistema ao

longo do tempo e interação entre as diferentes dimensões.

Por desenvolvimento sustentável entende-se um novo projeto social que

promova a transformação econômica, tecnológica, política e ambiental do atual

modelo de desenvolvimento, para que as necessidades básicas sejam

satisfeitas, tanto das presentes como das futuras gerações, procurando não

degradar os recursos naturais e, assim, apresentar maiores condições de

manutenção ao longo do tempo. Para que se efetive o desenvolvimento rural de

CAMAQUÃ – RS

SUSTENTABILIDADE

ATRIBUTOS

DIMENSÕES

DIVERSIDADE

ADAPTABILIDADE

EQÜIDADE

RESILIÊNCIA

MANUTENÇÃO AO LONGO TEMPO

ECONÔMICA SOCIAL CULTURAL AMBIENTAL

IND

ICA

DO

RE

S D

E S

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TE

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AB

ILID

AD

E

Page 94: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

85

forma sustentável, este deverá estar baseado na agricultura e na sua articulação

com ao sistema sociocultural local.

Cabe destacar e relembrar que por indicadores se entende os

instrumentos que permitem avaliar um sistema, determinar o nível ou condição

em que este deve ser mantido para que seja sustentável. Portanto, são variáveis

que permitem monitorar um determinado sistema. Já os descritores são

características significativas e importantes para o funcionamento do sistema que

permitirão alcançar o padrão, entendido como a sustentabilidade. Portanto, os

descritores possuem características que não variam.

A proposta de descritores e de indicadores, abaixo apresentada, é

direcionada a uma escala local, visto que objetiva avaliar a sustentabilidade do

desenvolvimento rural de Camaquã, fornecer aos agricultores da região,

extensionistas, pesquisadores e mediadores sociais, informações sobre a

realidade na qual atuam, contribuir para que eles formulem projetos e políticas

de desenvolvimento.

O objetivo aqui é organizar e dar início a proposição de indicadores para

região e não esgotar a discussão sobre sustentabilidade, servindo como ponto

de partida para um trabalho que busque avaliar e mensurar a sustentabilidade a

partir do desenvolvimento de uma metodologia de aplicação prática.

Ainda, antes da tabela dos indicadores, cabe relembrar características

importantes sobre Camaquã, vistas no primeiro capítulo. Esse esforço permite

identificar e hierarquizar os problemas sociais, econômicos, ambientais e

culturais que a região e os agricultores vêm enfrentando, possibilitando também

o delineamento das tendências de sua evolução.

Page 95: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

86

QUADRO 1 - Resumo das características econômicas, sociais, ambientais e culturais de Camaquã-RS (pontos críticos).

ECONÔMICA SOCIAL AMBIENTAL CULTURAL

Concentração fundiária Integração com fumageiras

Monocultivo (arroz e fumo) e pecuária extensiva

Cursos de capacitação dos agricultores

Reduzida diversidade de atividades agrícolas

Formas associativas (existentes, mas amortecidas)

Contaminação da água da cidade

Programas de educação ambiental

Descapitalização dos produtores (término da vida útil dos equipamentos, sem reposição)

Nível de organização dos agricultores

Uso de insumos químicos

Atividades culturais

Agropecuária – atividade predominante (concentração no setor)

Saúde precária Arenização, desaparecimento de vertentes e assoreamento dos rios

Poucas manifestações artísticas e grupos folclóricos (exceto tradições gaúchas)

Pecuária (reserva de poupança)

Domicílio e saneamento razoáveis

Poluição urbana (lixo doméstico, industrial) e emissão de gases (veículos, indústrias)

Arrendamento – transferência de valor agregado

Educação – baixo nível Extinção de espécies (flora e fauna)

Endividamento dos produtores (questionado)

Poucas opções de lazer e recreação

Dependência de insumos externos (matriz de produção de fumo e arroz)

Instabilidade de preços obtidos – caso do fumo (classificação)

Agrotóxico via aérea

Agricultura sem proteção do solo

Page 96: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

87

TABELA 1 - Indicadores para avaliar a sustentabilidade em contextos de desenvolvimento rural local: Camaquã-RS.

D E S C R I T O R E S I N D I C A D O R E S

D I M E N S Ã O E C O N Ô M I C A

Agregação de valor Valor agregado

Capacidade de reprodução Renda Agrícola Nível de reprodução social

Grau de endividamento Relação entre dívida e patrimônio

Diversidade da atividade produtiva % de renda total obtido em diferentes atividades e produtos do sistema

Estabilidade dos preços Variação dos preços pagos aos produtores

Dinâmica econômica local % de produção total destinado ao local e % de destino externo

D I M E N S Ã O S O C I A L

Qualidade de vida (Alimentação, moradia, educação, saúde, esperança de vida, cultura e lazer) - IDH ou ISMA

Organização N° de associações, nº cooperativas, nº de núcleos organizados e grau de autogestão

Grau de concentração fundiária Coeficiente de Gini

Integração à agroindústria Nº de agricultores integrados à agroindústria

D I M E N S Ã O C U L T U R A L

Diversidade cultural Nº de museus, grupos de danças folclóricas, artes plásticas e esportes, % da população envolvida em projetos de cunho cultural

Participação e cidadania Nº de famílias que participam de núcleos e grupos organizados, % de agricultores nos conselhos municipais e câmara de vereadores, existência de processos de formação de liderança.

Capacitação e conhecimento Nº, tipo e freqüência de cursos de capacitação

Processos de educação permanente/ educação ambiental

% de participantes de eventos, nº de eventos educativos

D I M E N S Ã O A M B I E N T A L

Grau de biodiversidade N° de cultivos, nº rotação de cultivos, n° de espécies

Grau de dependência de insumos externos % de insumos externos na produção

Contaminação e degradação dos recursos naturais (água e solo)

% de área erodida

nível de agroquímicos na água e no solo (t/ha)

Impactos em outros sistemas Destino dos esgotos líquidos e sólidos % de reciclagem e reaproveitamento

Proteção do solo Relação entre o solo descoberto e o solo com cobertura (viva ou adubação verde)

Unidades de Conservação % de área protegida

Page 97: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

88

5.1 Descritores e Indicadores Econômicos

A dimensão econômica na avaliação da sustentabilidade de um sistema

é muito importante porque permite avaliar o processo de capitalização ou de

descapitalização dos agricultores, bem como identificar a lógica econômica das

atividades e práticas agrícolas empregadas. Ademais, a dimensão econômica

verifica as relações de produção, distribuição, acumulação e consumo dos bens.

A análise da sustentabilidade através de indicadores econômicos deve

servir de instrumento auxiliar, como um indicativo de aspectos parciais, pois a

tendência à sustentabilidade (ou insustentabilidade) de um sistema depende da

interação entre as diferentes dimensões.

5.1.1 Agregação de Valor (Valor Agregado)

Constatou-se em Camaquã a predominância da atividade agrícola e a

dependência dos demais setores da economia a essa atividade. Contudo, nas

unidades de produção ocorre apenas a produção dos cultivos, enquanto o

beneficiamento e a industrialização que, na maioria das vezes, são realizados

fora da unidade produtiva.

A partir da transformação da produção, agrega-se valor aos produtos.

Se o agricultor conseguir agregar trabalho a sua produção dentro da unidade

produtiva, e se esta agregação ocorrer a partir da utilização de insumos internos

isto significará vantagens para o agricultor, conseqüentemente elevará sua

renda e reduzirá a dependência de agentes externos (intermediários), além de

este processo promover uma distribuição mais eqüitativa dos benefícios do

processo produtivo. Este fato poderá, ainda, fomentar a organização dos

agricultores e o desenvolvimento de formas associativas.

A agregação de valor na propriedade favorecerá a diversificação da

produção, podendo até criar novos empregos, manter os agricultores no campo

a partir do fortalecimento da unidade produtiva e da maior autonomia do

agricultor. Se a transformação da produção considerar métodos alternativos

(orgânicos, ecológicos) de modo geral, a agregação de valor estará relacionada

Page 98: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

89

à preservação do ambiente natural. Assim, pode-se verificar a inter-relação que

este descritor da dimensão econômica tem com a esfera social e ambiental.

No processo produtivo, quando se acrescenta trabalho aos insumos e

ao capital fixo, gera-se riqueza, o valor agregado (VA) correspondendo ao

produto bruto (PB) menos o consumo intermediário (CI) e a depreciação (D).

VA = PB – CI – D

A valoração da totalidade do que é produzido é denominado produto

bruto, que corresponde ao valor total do que é produzido, seja para venda, seja

para o consumo da família. Na determinação do PB, considera-se o valor

recebido pelos agricultores e, na avaliação da produção consumida pela família

(autoconsumo), utiliza-se o preço de mercado, ou seja, o preço pago pelos

agricultores por aquele produto no mercado local (Ferreira, 2001).

Para mensurar o PB deve-se considerar: produtos oriundos dos cultivos,

dos pomares, das hortas, das criações e do extrativismo, lenha, objetos de

artesanato, prestação de serviços (quando a prestação de serviços envolve

equipamentos utilizados no sistema de produção – máquinas e implementos,

tração animal, etc. – a receita daí obtida também deve ser incluída), a

transformação do produto agropecuário, através de agroindústrias (geléias,

doces, frutas secas, embutidos, laticínios, mel, vinhos, sucos...) produzidos na

unidade de produção para o uso da família ou para a venda (INCRA/ FAO,

1999).

Ressalta-se que a produção obtida na unidade agrícola e destinada ao

consumo dos animais e dos cultivos não compõe o PB. Esses são, de um lado,

receita de uma atividade e, de outro, insumos de uma segunda exploração da

unidade de produção. Portanto, a contabilização como receita e como CI se

anula (Ferreira, 2001).

Para mensurar o CI, deve-se considerar: consumo em sementes,

fertilizantes, pesticidas agrícolas, adubos, alimentação animal, medicamentos

veterinários, combustível, energia (elétrica e vegetal – lenha), manutenção (de

máquinas e equipamentos, instalações e benfeitorias). Se o agricultor contratar

serviços de terceiros, como aluguel de máquinas e equipamentos, avião

Page 99: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

90

agrícola, serviço topográfico, assistência técnica, estes devem ser considerados

na análise, porque esses custos correspondem a bens e serviços transformados

no processo produtivo (Ferreira, 2001); (INCRA/ FAO, 1999).

Do ponto de vista social, um valor agregado maior significa um melhor

aproveitamento dos recursos disponíveis, ainda que, por vezes, do ponto de

vista ambiental, possa haver um maior impacto na atividade considerada.

O agricultor ainda utiliza o capital fixo, constituído de máquinas,

construções, equipamentos, implementos agrícolas, veículos de transporte,

instalações, reservatório de água. Embora esses bens não sejam inteiramente

consumidos no processo, eles são parcialmente transformados, pois sofrem

desgaste e perdem valor anualmente. Então, a depreciação do capital fixo deve

ser também considerada (Ferreira, 2001; INCRA/FAO, 1999). A fórmula geral

para o cálculo da depreciação é:

D = (Vi – Vf)/n

D = depreciação

Vi = valor de compra do bem (valor inicial)

Vf = valor final do bem (valor de venda ou residual no final da vida útil)

n = tempo (em anos) de utilização do bem no sistema

O cálculo do valor agregado deverá ser coletado todos os anos para

verificar sua evolução ao longo do tempo. Deve-se, contudo, utilizar preços

constantes, ou seja, para verificar a agregação real não se pode utilizar preços

correntes, pois estes trazem embutido a inflação do período, enquanto os

preços constantes descontam a inflação e demonstram o crescimento real da

variável analisada, neste caso o valor agregado.

A escolha da agregação de valor como descritor da dimensão

econômica está relacionada à realidade local e à compreensão da

sustentabilidade. Esse descritor permite verificar a produção total, o valor do

consumo intermediário e o seu resultado demonstra o quanto se agregou valor à

produção e o aproveitamento dos recursos disponíveis, mantida a estabilidade,

resultará em um baixo impacto no meio natural.

Page 100: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

91

O indicador valor agregado é de fácil mensuração e compreensão e de

baixo custo. Sua obtenção poderá ocorrer pelo cálculo de sua fórmula por

extensionistas ou pesquisadores, mediante informações obtidas através de

entrevistas junto aos agricultores.

5.1.2 Capacidade de Reprodução (Renda Agrícola e Nível de Reprodução

Social)

A manutenção de um sistema ao longo do tempo depende, entre outras

características, de sua capacidade de reprodução.

Em Camaquã, a maioria dos sistemas de produção estudados apresenta

baixa renda agrícola, não havendo possibilidade de realização de investimentos

na unidade produtiva, e em alguns casos esta renda não assegura um nível de

reprodução simples41, gerando uma situação instável e de fragilidade social.

A proposição do descritor capacidade de reprodução e dos indicadores

renda agrícola e nível de reprodução social estão intimamente relacionados à

realidade local acima descrita.

O descritor capacidade de reprodução constitui-se em uma boa forma

de avaliar a capacidade de reprodução da unidade de produção ao longo do

tempo. Representa parte do valor agregado líquido que permanece com o

agricultor para remunerar o trabalho familiar e realizar investimentos (Ferreira,

2001). A observação deste indicador permite verificar a descapitalização ou a

capitalização dos agricultores.

Vários agentes participam direta ou indiretamente do processo

produtivo, sendo parte do VA destinada a esses agentes. A distribuição do valor

agregado considera os seguintes itens: valor pago ao proprietário da terra

(arrendamento), juros, seguro agrícola, impostos e taxas, mão-de-obra

contratada, fixa ou temporária e subsídios (Ferreira, 2001; INCRA/ FAO, 1999).

A parte do valor agregado que fica com o agricultor após essa repartição é a

renda agrícola.

41 Nível de reprodução social mede a renda mínima necessária para reprodução do agricultor ao longo do tempo (Ferreira, 2001.p. 42).

Page 101: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

92

RA = VA – Tc – I – J- Rt + Sb

RA = renda agrícola

VA = valor agregado

Tc = mão-de-obra contratada

I = impostos

J = juros

Rt = renda da terra (arrendamento)

Sb = subsídios

O indicador renda agrícola permite verificar a viabilidade econômica da

atividade, estando relacionado com a manutenção da atividade ao longo do

tempo. Através da RA é possível verificar a existência ou não de eqüidade entre

os agricultores, a racionalidade econômica e a proporção da repartição das

riquezas geradas no processo produtivo.

Do nível de renda do agricultor, depende sua reprodução, a necessidade

ou não de adaptação ou reconversão de atividade, a modificação ou a

manutenção da forma de produzir.

Outro indicador que analisa a capacidade de reprodução da unidade de

produção, medindo a renda mínima necessária para reprodução do agricultor ao

longo do tempo, é o nível de reprodução social. Este nível deve garantir um

mínimo de renda para alimentação, habitação, saúde e educação do agricultor

(Ferreira, 2001). Se o rendimento não é suficiente para reprodução das

condições materiais de vida, não é sustentável, pois não satisfaz as suas

necessidades.

Abaixo do patamar simples de reprodução, é provável que o agricultor

disponha de fontes externas de renda (venda de mão-de-obra) ou esteja na

iminência de abandonar a produção em busca de outras ocupações – caso de

alguns fumicultores da Região da Encosta do Planalto Sul-Rio-Grandense.

O nível de reprodução pode ser obtido da seguinte maneira:

Page 102: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

93

NRS = X x UTH, onde X = eqüivale ao valor monetário necessário de renda para

alimentação, habitação, saúde e educação (pode-se mensurar em

salários mínimos).

UTH = unidade de trabalho homem: esta unidade mede a força de

trabalho dos diversos tipos de trabalhadores na unidade de

produção agrícola (por idade e tempo disponível). Uma UTH

corresponde a 300 dias de 8 horas de trabalho de um homem

com idade de 18 a 59 anos.

Para verificar se a unidade de produção atinge o NRS, basta compará-lo

com a seguinte fórmula: RT/UTH. Esta fórmula mede a rentabilidade (ou

remuneração) do trabalho obtida na unidade produtiva ou fora dela.

A renda total é igual à renda agrícola mais a renda de outras atividades:

RT = RA + ROA

Os indicadores propostos são significativos quanto à sustentabilidade do

sistema, sensíveis à mudança no tempo, fáceis de entender, apresentam

relação com outros indicadores e promovem para sua mensuração a

participação da comunidade local. Para sua obtenção, é necessário a coleta de

informações a partir de entrevistas com os agricultores.

5.1.3 Grau de Endividamento (Relação entre Dívida e Patrimônio)

Este descritor mede a capacidade de saldar os compromissos no curto e

no longo prazo, estando relacionado à resiliência econômica, ou seja, à

capacidade do sistema retornar à sua posição original após uma perturbação de

ordem financeira. O endividamento não permite a manutenção nem a

reprodução do sistema ao longo do tempo.

Page 103: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

94

A escolha deste descritor como representante da dimensão econômica

deve-se a presente descapitalização dos produtores da Região da Planície

Costeira de Camaquã. Apesar de não se comprovar o endividamento dos

agricultores, a pecuária na maioria dos casos é utilizada como reserva de

poupança com liquidez imediata, e verifica-se também que os equipamentos das

unidades de produção encontram-se no término de sua vida útil sem previsão de

reposição.

A aproximação do sistema à sustentabilidade pressupõe adaptabilidade,

resiliência, estabilidade, manutenção, atributos que se tornam distantes de

sistemas que apresentam endividamento. Sugere-se o grau de endividamento

como descritor econômico pela relação intrínseca com a realidade local e a

compreensão de sustentabilidade.

Ademais, este descritor apresenta interações com o valor agregado, a

renda agrícola e o nível de reprodução social.

O indicador pode ser obtido através da relação entre a dívida (D) e o

patrimônio (K): D/K. O valor total das dívidas pode ser coletado junto a

instituições bancárias e creditícias e o patrimônio a partir de pesquisa e

levantamento através de entrevistas com os agricultores.

5.1.4 Diversidade da Atividade Produtiva (% de Renda Total Obtido por

Diferentes Atividades e Produtos do Sistema)

No município de Camaquã, a especialização na atividade primária é

uma característica saliente e persistente, podendo ser verificada na evolução e

na diferenciação dos sistemas agrários, acontecendo, ao longo dos anos, tanto

na Região da Planície Costeira, com o cultivo do arroz irrigado e a pecuária

extensiva, quanto na Região da Encosta do Planalto Sul-Rio-Grandense, com o

cultivo do fumo e alguns cultivos de subsistência como o feijão, o milho e a

criação de aves e suínos. Salienta-se que essa escassa diversificação do setor

agrícola pode ser explicada, em parte, pela inadequação das terras da região

para lavoura, devido à existência de solos cascalhentos e suscetíveis à erosão

na, Região da Encosta do Planalto.

Page 104: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

95

O latifúndio pode ter favorecido a especialização na atividade primária,

devido à difusão de um comportamento conservador, caracterizado pela pouca

disposição para enfrentar riscos inerentes à busca de novas alternativas de

exploração no município de Camaquã (Alonso; Benetti; Bandeira; 1994).

A diversificação da atividade produtiva tende a aproximar o sistema da

sustentabilidade, pois está relacionada aos seguintes atributos: resiliência,

diversidade, adaptabilidade e eqüidade. Um sistema diversificado apresenta

maior complexidade, o que leva a uma maior estabilidade, facilidade de

adaptação e de resiliência, pois a distribuição dos investimentos em variadas

atividades permite a redução do risco contra adversidades, reduzindo também a

perda, caso uma das atividades encontre problemas durante o processo

produtivo. A redução do risco e de eventuais perdas garantem a manutenção do

padrão de vida do agricultor.

A diversificação da atividade permite a agregação de valor dentro da

unidade de produção, promovendo a verticalização da produção e o aumento da

renda, permitindo ainda a redução da dependência de agentes externos

(intermediários) e consequentemente promovendo a autonomia, a autogestão

dos agricultores e acarretando reflexos nas esferas econômica e social.

Se a diversificação ocorrer a partir de processos de agroindustrialização,

poderão formar-se associações de cooperação entre os agricultores,

favorecendo a união e a promoção de uma cultura comunitária, gerando reflexos

culturais, o que, no caso de Camaquã, revelar-se-ia interessante, devido ao

amortecimento atual das organizações existentes. E ainda, se os processos de

transformação utilizarem métodos ou práticas ecológicas, o impacto ambiental

das práticas atuais, intensivas em agroquímicos, seria amenizado.

Diante dessa realidade, o descritor econômico diversificação da

atividade produtiva demonstra-se relevante para avaliação da sustentabilidade

local, devido às interações com as diferentes modalidades, com os atributos da

sustentabilidade e com outros indicadores, como o valor agregado, a renda

agrícola e o destino da produção.

A partir da agroindustrialização de alguns produtos pelos agricultores,

poderá desenvolver-se um mercado consumidor interno, estabelecendo-se uma

dinâmica interna, e assim reduzindo a dependência das agroindústrias

Page 105: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

96

fumageiras, no caso do fumo, e do preço do mercado internacional, no caso do

arroz.

É interessante destacar as atividades complementares, como o trabalho

assalariado fora da propriedade, prestação de serviço, de máquinas e de

animais aos vizinhos, atividades comerciais, turismo rural, a transformação do

produto agropecuário através de agroindústrias. O rural não é sinônimo de

agrícola, sendo necessário entender que tais espaços podem se constituir em

trunfos para o desenvolvimento local (VEIGA, 2000).

Para mensurar o indicador, é necessário verificar o percentual de renda

total obtida em diferentes atividades e produtos do sistema. Pode-se utilizar a

fórmula RT = RA + ROA, desagregando o percentual obtido em cada atividade.

A obtenção do indicador ocorre a partir de entrevista junto aos

agricultores.

5.1.5 Estabilidade de Preço (Variação dos Preços Pagos aos Agricultores)

Em Camaquã, conforme já destacado, cultiva-se, basicamente, o arroz,

na Região da Planície Costeira, e o fumo, na Encosta do Planalto Sul-Rio-

Grandense. O preço do arroz depende do preço deste produto no mercado

nacional e internacional, e a atual crise dos arrozeiros também afeta os

agricultores de Camaquã. No caso do fumo, o preço é estabelecido pelas

agroindústrias fumageiras a partir da qualidade do produto, verificada por

classificação. O mercado caracteriza-se por um oligopsônio e, assim, mesmo

quando vários pequenos produtores fornecem o produto, os preços são

determinados por poucas e grandes empresas. Verifica-se, então, a grande

dependência de agentes externos na determinação dos preços desses produtos

cultivados no município.

A estabilidade dos preços é uma característica da qual depende a

sustentabilidade de um sistema, uma vez que esta representa segurança ao

agricultor para manutenção das atividades e realização de investimentos na

unidade de produção. A estabilidade está relacionada com a permanência da

produção ao longo do tempo, mesmo diante de perturbações, ou seja, a

Page 106: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

97

estabilidade favorece a resiliência. Diante da estabilidade dos preços, o

agricultor vê reduzida sua vulnerabilidade e fragilidade, podendo realizar o

planejamento produtivo e assim promover impactos positivos nas esferas

econômica e social. Ademais, este descritor está relacionado com outros

indicadores como valor agregado e renda agrícola.

Diante da realidade local e do impacto da estabilidade na

sustentabilidade do sistema, sugere-se como descritor econômico a estabilidade

do preço e como indicador a variação dos preços pagos aos agricultores. Este

indicador é de baixo custo e de fácil mensuração e compreensão, podendo ser

obtido junto a instituições de assistência técnica e extensão rural, FEE, IBGE

mediante de levantamento de série histórica.

5.1.6 Dinâmica Econômica Local (% de Destino da Produção Interno e

Externo)

Em Camaquã tanto o cultivo do fumo quanto do arroz estão voltados

para atender, principalmente, a mercados externos. O fumo, com destino às

agroindústrias fumageiras e o arroz, após o beneficiamento, para atender ao

mercado regional e nacional.

O monocultivo, geralmente, favorece o desenvolvimento de atividades

como as acima destacadas, ou seja, não há espaço para promoção e

surgimento de uma dinâmica econômica local, bem como a produção de cultivos

localmente adaptados e relativamente independentes de fatores econômicos

externos.

O estabelecimento de uma dinâmica econômica local parte da

valorização do espaço local, este “não apenas [com] uma conotação física, mas

[representando] um conjunto de relações econômicas, sociais e culturais que

lhes conferem características individuais que diferenciam um local do outro”

(Camponhola; Graziano da Silva, 2000. p. 11). Essa dinâmica promove o

respeito às peculiaridades regionais, às dimensões física, econômica, social e

cultural, considerando, portanto, os preceitos do desenvolvimento sustentável.

Page 107: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

98

A possibilidade de produção destinada ao consumo local com um

público definido e cativo promove maior segurança ao agricultor para produção

e investimentos na atividade produtiva, pois, assim, o agricultor vê reduzida sua

fragilidade e dependência de agentes externos.

O desenvolvimento de uma dinâmica econômica local pode levar ao

estabelecimento de associações, a implantação de práticas ecológicas a partir

de processos de produção, a formação e difusão de uma cultura de valorização

local e a conscientização da importância de iniciativas que valorizem esse

aspecto.

Considerando a relevância de atividades locais para a sustentabilidade

do sistema, sugere-se o descritor dinâmica econômica local como representante

da dimensão econômica, e como indicador o percentual de produção com

destino local e o percentual de produção com destino externo, constituindo-se

em um indicador de fácil mensuração, sensível a mudanças e significativo

quanto à sustentabilidade.

Para obtenção dos descritores e indicadores é necessário realizar

entrevistas com os agricultores e buscar informações sobre produção e destino

da produção em instituições de extensão rural, pesquisa agropecuária, IBGE,

entre outras.

5.2 Descritores e Indicadores Ambientais

A dimensão ambiental está relacionada com tudo que cerca os seres

vivos e as coisas: “os limites ambientais refletem a capacidade de suporte

ecológico e a capacidade regenerativa dos sistemas e recursos naturais”

(Hueting; Reijinders, 1998 apud Camponhola; Graziano da Silva, 2000. p. 22). O

que é sustentável em um lugar ou local específico, em determinado período de

tempo e em certo estágio de desenvolvimento, não necessariamente será

sustentável em outro.

Page 108: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

99

5.2.1 Grau de Biodiversidade (Número de Cultivos, Número de Espécies,

Número de Rotação de Cultivos)

Em Camaquã, conforme a seção 2.1, verifica-se a extinção de espécies

da fauna e da flora. Também observou-se, na evolução dos sistemas agrários, o

reduzido número de cultivos e de criações, o monocultivo com a utilização de

agroquímicos e a pouca utilização de consórcios e rotação de cultivos,

caracterizando os sistemas de produção da região.

Conforme Gliessman (2000), a diversidade é simultaneamente um

produto, uma medida e uma base da complexidade de um sistema, por isso é de

sua habilidade manter um funcionamento sustentável. A diversidade é

importante por várias razões, entre elas: à medida que a diversidade aumenta,

também aumentam as oportunidades para a coexistência e interferências

benéficas entre as espécies; o aumento da diversidade freqüentemente permite

melhor eficiência no uso de recursos; a diversidade reduz o risco para o

agricultor, especialmente em áreas com condições ambientais imprevisíveis (se

um cultivo não for bem-sucedido, a renda dos outros pode compensá-lo).

Como já visto, a diversidade é uma característica importante da

sustentabilidade, pois está relacionada com a complexidade do sistema. Quanto

maior a complexidade, maior a estabilidade e facilidade de adaptação, devido à

maior flexibilidade. Quanto mais simples o sistema, menor a sua diversidade e,

portanto, menor a sua capacidade de adaptação face às perturbações.

A diversidade protege o solo contra o esgotamento de nutrientes e, se

utilizada a partir do desenvolvimento de técnicas menos agressivas ao meio

natural, reduz o risco de erosão e de assoreamento. A diversidade de cultivos

permite a manutenção das espécies e a redução da incidência de pragas,

consequentemente, diminuindo a necessidade de utilização de agroquímicos e,

assim, permitindo redução de custo e risco na atividade, apresentado impactos

na dimensão econômica.

Em um sistema complexo e diversificado, os desafios que se

apresentam aos agricultores podem ser enfrentados através do manejo de

componentes e suas interações, tornando a adição de insumos externos quase

desnecessária.

Page 109: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

100

Diante da realidade de Camaquã, considerando que a manutenção da

sustentabilidade de um sistema depende da sua diversidade, sugere-se o

descritor ambiental grau de biodiversidade. Para sua mensuração, os

indicadores número de cultivos ou em rotação, número de policultivos, número

de espécies e variedades manejadas podem ser obtidos a partir da observação

da unidade de produção e entrevista com o agricultor, constituindo-se em um

indicador de fácil obtenção, compreensão e de baixo custo para mensuração.

5.2.2 Grau de Dependência de Insumos Externos (% de Insumos Externos

à Produção)

A agricultura alcançou altos rendimentos, principalmente pelo aumento

do uso de insumos agrícolas. No entanto, estas práticas tornam o sistema

dependente de insumos externos. À medida que o trabalho intensivo e o

monocultivo degradam o solo, a fertilidade depende do aporte de mais

fertilizantes e outros nutrientes.

Em Camaquã, a partir dos anos de 1950, iniciou-se o uso intensivo de

agroquímicos nas lavouras de fumo e de arroz. No caso do arroz irrigado, o

problema é mais agudo, pois grande quantidade de fertilizantes e agrotóxicos

aplicados nas lavouras termina em rios e na Lagoa dos Patos, causando

eutrofização42.

Os agrotóxicos aplicados regularmente em grandes quantidades via

aérea são facilmente espalhados além de seus alvos, matando diretamente

insetos benéficos e envenenando agricultores. Além disso, o custo desses

insumos é uma variável sobre a qual os agricultores não têm controle, pois elas

acompanham os aumentos do custo do petróleo.

42 A eutrofização é um processo de enriquecimento de nutrientes em um ecossistema ou agroecossistema (ecossistema manejado pelo homem com a finalidade de produzir alimentos ou fibras). Essa concentração de nutrientes pode assumir efeitos negativos, como é o caso da eutrofização das águas, nas quais é freqüente a concentração de nutrientes lixiviados ou transportados pelo processo de erosão em lagos. Alguns desses nutrientes podem ser tóxicos ou nocivos à saúde animal ou humana, como os nitratos e fosfitos. No caso de um solo eutrófico, este é sempre rico em menierais e possui pH alcalino.

Page 110: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

101

Essa prática degrada o ambiente, conduz ao declínio da biodiversidade,

perturba o equilíbrio natural e compromete a base de recursos naturais da qual

os seres humanos dependem – a agricultura.

Quanto maior a dependência de insumos externos, maior a

vulnerabilidade do agricultor, maiores são os custos de produção, devido à

utilização de agroquímicos e, conseqüentemente, menor renda e menor

autogestão. Quando o agricultor utiliza recursos locais e internos à propriedade,

tende a maior sustentabilidade e independência produtiva.

A dependência de insumos externos não é sustentável. Os recursos

naturais dos quais muitos insumos derivam não são renováveis, suas reservas

são finitas, e essa dependência deixa os agricultores vulneráveis a falta de

fornecimento, flutuações de mercado e aumento de preço.

O descritor grau de dependência de insumos externos objetiva indicar a

maior ou menor artificialidade do sistema. Quanto maior a dependência de

insumos externos, menor é a tendência à sustentabilidade do sistema pela

perda relativa de sua autonomia. Para sua mensuração, sugere-se o indicador

percentual de insumos externos à produção, que é dado pela relação entre o

consumo intermediário e a produção total. Este é facilmente obtido, pois pode

ser calculado a partir de entrevista com o agricultor ou pela fórmula do VA,

constituindo-se em um indicador relevante para avaliação da sustentabilidade

ambiental e apresentando interações com as dimensões econômica e social.

5.2.3 Contaminação e Degradação do Meio Natural (Água e Solo)

O cultivo do arroz irrigado na Planície Costeira surgiu após a posse das

áreas agrícolas pela concessão das sesmarias. A partir da Revolução Verde,

obteve-se aumento de rendimento e de área cultivada, mas a utilização de

agroquímicos e a mecanização da lavoura promoveram o aumento da

degradação do solo, a diminuição da fertilidade e o aumento da infestação por

pragas, gerando um círculo vicioso: uso de agroquímicos, aumento de pragas,

aumento do uso de agroquímicos e, consequentemente, transferência de parte

do valor agregado para as indústrias produtoras destes insumos.

Page 111: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

102

O fim dos moinhos coloniais e a liberação da mão-de-obra da lavoura de

arroz pela mecanização acentuaram a migração, e, neste cenário, surgiu o

cultivo do fumo na Encosta do Planalto Sul-Rio-Grandense. A intensificação do

cultivo do fumo, atrelada às agroindústrias fumageiras, absorveu a mão-de-obra

familiar, levando grande parte dos agricultores a abandonarem a produção

destinada à alimentação se, por um lado, esta prática agregou valor à economia

e gerou renda agrícola; por outro, empobreceu o solo e contaminou as águas.

A preservação e conservação do meio natural é uma característica

necessária à existência de sustentabilidade em um sistema e à manutenção

deste ao longo do tempo.

A degradação do solo e a contaminação da água podem ocorrer por

vários motivos, entre eles, o uso de agroquímicos, responsável por problemas

como erosão, assoreamento e a própria contaminação do meio natural, como no

caso de Camaquã.

A resiliência de um sistema é afetada pela contaminação, pois sua

capacidade de retorno ou resposta a uma perturbação é prejudicada e reduzida.

A diversidade sofre alterações, reduzindo a adaptação, a complexidade e a

estabilidade do sistema. A contaminação apresenta repercussões econômicas,

devido ao aumento do custo de produção pelo uso intensivo de agroquímicos, e

sociais, relacionadas ao forte impacto na saúde dos agricultores e dos

consumidores.

Dada a realidade local e o impacto do uso intensivo de agroquímicos,

para verificar a sustentabilidade das práticas acima descritas, sugere-se o

indicador percentual de área erodida, obtido a partir da relação entre a área

erodida e a área total, e os indicadores nível de agroquímicos na água e no solo

que permitem verificar o grau de contaminação do meio natural pelo uso destes

insumos.

A obtenção dos dois últimos indicadores necessita de uma análise em

laboratório. No entanto, salienta-se que estes são os únicos indicadores que

necessitam deste tipo de estudo especializado, portanto, não desfazendo o

compromisso inicial da proposição de indicadores com baixos custos para

mensuração.

Page 112: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

103

5.2.4 Impactos em Outros Sistemas (Destino do Lixo Sólido e Líquido, %

de Reciclagem e Reaproveitamento)

As técnicas e práticas agrícolas utilizadas em Camaquã permitiram o

aumento da produtividade dos cultivos, mas degradaram o meio natural (solos,

reservas de água, biodiversidade) e criaram dependência de combustíveis

fósseis não renováveis.

O uso de agrotóxicos promoveu uma intensa seleção natural de

resistência a populações de pragas, forçando a aplicação de quantidades cada

vez maiores destes insumos.

Ademais, grande quantidade desses produtos termina em rios (lavagem

de equipamentos nos cursos de água), barragens (Arroio Duro) e lagoas (Lagoa

dos Patos). Alguns componentes podem ser lixiviados para águas subterrâneas,

usadas para consumo humano, provocando danos significativos à saúde.

Além destes fatos, em Camaquã há também poluição urbana pelos

esgotos lançados na Lagoa dos Patos, pelos lixos colocados a céu aberto e

pelos resíduos dos engenhos de beneficiamento do arroz despejados no canais

hídricos.

Conforme os fatos expostos, há um grande impacto negativo das

práticas realizadas em Camaquã em outros sistemas. A sustentabilidade deve

ser analisada a partir de contextos e estudada e verificada para sistemas

específicos. No entanto, o caminho, a direção, a aproximação do sistema à

sustentabilidade implica determinadas características que devem impedir um

reflexo negativo em outros sistemas, ou seja, os contextos de sustentabilidade

estão relacionados com um sistema específico, mas a sustentabilidade exige o

enfoque holístico, a visão do todo, o global e a interação entre as diferentes

dimensões e sistemas.

Para o caso estudado, além da redução de sua sustentabilidade, ocorre

um reflexo na sustentabilidade de outros sistemas. Devido a essas

características, sugere-se o descritor impactos em outros sistemas como

representante da dimensão ambiental. O indicador é o destino dos resíduos

líquidos (esgoto) em sanga, vala, fossa negra, rede pública e o destino dos

resíduos sólidos (lixo) em valas, queima, enterro ou recolhimento público

Page 113: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

104

(Lopes, 2001). Outro indicador interessante é o percentual de reciclagem e de

reaproveitamento (compostagem). Para obtenção dos indicadores é necessário

entrevista com o agricultor e levantamento de informações na prefeitura,

secretaria municipal e instituições como IBGE, FEE, etc.

5.2.5 Proteção do Solo (Relação entre Solo Descoberto e Solo com

Cobertura – Viva ou Adubação Verde)

No município de Camaquã, a forma de cultivo do arroz e do fumo tende

a degradar a qualidade do solo. A matéria orgânica é reduzida, como resultado

da falta de cobertura, levando à redução da fertilidade e degradação de sua

estrutura. A associação de práticas, como o monocultivo, a aplicação de

fertilizantes e herbicidas e o controle químico de pragas, acentua a erosão e o

empobrecimento do solo.

A prática de proteção do solo com base em cultivos de cobertura é um

método para aumentar a diversidade dos sistemas. O cultivo de cobertura é

aquele plantado em uma área para cobrir o solo normalmente entre ciclos dos

cultivos. As coberturas são espécies de plantas, predominantemente gramíneas

ou leguminosas, plantadas solteiras ou mescladas, com o objetivo de cobrir o

solo em um período ou durante o ano todo. Quando os plantios de cobertura são

incorporados ao solo, a matéria orgânica adicionada é chamada de adubo

verde, quando são cultivados diretamente em associação com outros cultivos,

são chamadas cobertura viva (Gliessman, 2000).

A proteção do solo garante maior sustentabilidade ao sistema, estando

relacionada com a estabilidade, a adaptabilidade e a manutenção da

produtividade ao longo do tempo.

Os cultivos de cobertura apresentam benefícios à estrutura do solo

(menor erosão, redução da compactação, melhora da infiltração da água); à

fertilidade do solo (aumento da matéria orgânica, prevenção à lixiviação;

retenção de nutrientes); e ao combate de organismos-pragas (inibição de ervas

adventícias, aumento da presença de organismos benéficos, supressão de

Page 114: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

105

organismos-pragas). Quando os cultivos de cobertura cumprem com esses

papéis, há menor necessidade de interferência humana e insumos externos.

Considerando a relevância da diversidade e da adaptabilidade do

sistema para existência da sustentabilidade, e verificando os impactos positivos

de práticas de proteção do solo para a sustentabilidade do sistema, sugere-se

esse descritor para a dimensão ambiental. Seu indicador é a relação entre o

solo descoberto e o solo com cobertura (viva ou adubação verde). Este é um

indicador prático, de fácil acesso às informações, de baixo custo para avaliação

e de inter-relação com outros indicadores, como o grau de biodiversidade, o

grau de dependência de insumos externos. Para obtê-los, é necessário

entrevista com o agricultor e observação da unidade de produção.

5.2.6 Unidade de Conservação (% de Área Protegida)

Como foi observado, em Camaquã há problemas de ordem ambiental

decorrentes do manejo do meio natural, levando à degradação do ambiente.

Verifica-se uma fraca consciência ecológica e de processos de educação

ambiental.

A escolha do descritor unidades de conservação está intimamente

relacionada aos fatos acima descritos, pois se acredita que as unidades de

conservação43 são instrumentos fundamentais para a preservação e

conservação de ecossistemas naturais, sendo lugares de grande beleza,

oportunidade de pesquisa, educação ambiental, lazer e turismo ecológico. A

possilbilidade de proteger áreas naturais e formar grupos de usuários ou

43 Ucs – o termo contemporâneo unidades de conservação apareceu pela primeira vez na década de 70 no Plano de Sistemas de Unidades de Conservação, antes o que existiam eram reservas e parques nacionais. Desde então, o objetivo das Ucs tem sido o de manter os recursos naturais em seu estado original, para usufruto das gerações atuais e futuras. As Ucs podem ser de uso direto, nas quais é proibida qualquer forma de exploração dos recursos naturais: os parques nacionais, as reservas biológicas, as estações ecológicas, os monumentos naturais e os refúgios da vida silvestre; ou de uso direto, nas quais a exploração e o aproveitamento econômico direto são permitidos, de forma planejada e regulamentada, como reservas extrativistas, as áreas de proteção ambiental (APAs), as florestas nacionais e as reservas de fauna (Lobo, 2000. p. 63).

Page 115: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

106

visitantes promove a compreensão dos valores ecológicos e a disposição de

defendê-los (Lobo, 2000).

A proteção à natureza ocorrerá a partir da sensibilização, que acontece

à medida que se experimenta o odor das árvores, das flores, o poder da

natureza e que se estabelece uma relação íntima entre o homem e a natureza.

As unidades de conservação estão relacionadas à sustentabilidade pela

interação entre as dimensões e pela manutenção do sistema ao longo do tempo.

A partir deste tipo de iniciativa, poderá ocorrer uma transformação

cultural, no sentido de conscientização dos adultos e aproximação dos jovens à

natureza, vendo esta não como fonte de recursos, mas como parte dela.

O estabelecimento desta relação homem-natureza é uma das formas de

levar o sistema à sustentabilidade. Devido a este impacto positivo, sugerem-se

as unidades de conservação como descritor ambiental e o percentual de área

protegida como seu indicador.

Para obtenção deste indicador, é necessário entrevista com os

agricultores e coleta de dados em instituição de caráter ambiental, como, por

exemplo, a FEPAM.

5.3 Descritores e Indicadores Sociais

Os indicadores sociais são menos trabalhados na literatura se

comparados aos indicadores econômicos e ambientais. No entanto, não devem

ser considerados menos importantes. A dificuldade de mensuração decorre da

tendência a serem qualitativos e difíceis de definir com certa precisão.

5.3.1 Qualidade de Vida (ISMA ou IDH)

Em Camaquã, a partir da Revolução Verde, ocorreu o uso intensivo de

agroquímicos, tanto na Região da Planície Costeira com o cultivo do arroz,

quanto na Região da Encosta do Planalto com o cultivo do fumo. Essa utilização

de forma intensiva tem implicações na saúde dos agricultores e dos

Page 116: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

107

consumidores pela contaminação do ar, devido à utilização de pesticidas via

aérea em algumas lavouras da Planície Costeira; pela água, da Barragem do

Arroio Duro que abastece a sede de Camaquã, devido ao cultivo do fumo com

agroquímicos na Encosta do Planalto. Quando o agricultor é contaminado pela

prática da aplicação intensiva de agroquímicos, dependendo do grau de sua

contaminação, pode ocorrer o aparecimento de doenças cancerígenas,

respiratórias, cardíacas e intoxicações.

Ainda no município, há problemas de esgotos líquidos e sólidos e lixo

industrial e doméstico jogados a céu aberto, gerando impactos em outros

sistemas. Além desses problemas de ordem ambiental, relacionados com

aspectos sociais (saúde e saneamento), o município de Camaquã, apesar de

possuir 75 escolas e em 1992 apresentar uma taxa de alfabetização em torno

de 85%, atualmente, apresenta, segundo a FEE, um ISMA para educação de

0,50 demonstrando-se baixo, se comparado com os demais municípios do Rio

Grande do Sul.

Embora seu ISMA com relação à renda seja razoável (0,47), ocupando a

85º classificação deste índice para o total de 427 municípios analisados no Rio

Grande do Sul, não há muitas opções de lazer e de recreação no município,

centrando-se em jogos de futebol nos finais de semana e há poucas

manifestações de cunho cultural, exceto as relacionadas à tradição gaúcha.

Sugere-se o descritor qualidade de vida para avaliar a sustentabilidade,

devido às interações que este descritor promove entre as dimensões

econômica, social e cultural, permitindo mensurar as condições dos agricultores

relacionadas à saúde, à educação, ao saneamento básico, à alimentação e à

cultura e lazer, avaliando o padrão da população local e o acesso da população

a tais condições.

A qualidade de vida apresenta-se, no entanto, como um conceito

controverso, devido à variedade de entendimentos sobre esta noção,

aparecendo diversas compreensões dentro de um mesmo grupo social.

Destaca-se que a maioria delas engloba os seguintes aspectos: nutrição, saúde,

escolaridade, esperança de vida, moradia, lazer e renda.

Neste caso, o descritor de qualidade de vida visa estimar o impacto do

sistema nas condições físicas dos agricultores e dos envolvidos no processo

Page 117: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

108

produtivo. Uma forma fácil de mensuração é através do ISMA (Índice Social

Municipal Ampliado), calculado pela FEE, que levanta informações sobre

domicílio e saneamento básico, saúde, educação e renda; ou através do IDH

(Índice de Desenvolvimento Humano) calculado em nível nacional e estadual,

que levanta informações sobre educação, esperança de vida e PIB per capita.

Em alguns casos, torna-se interessante calcular cada uma das variáveis

que permitem estimar a qualidade de vida em separado, devido a características

relevantes existentes em alguns municípios. Para Camaquã, a qualidade de vida

pode ser calculada a partir do levantamento das seguintes informações:

a) saúde – índice de exposição a agroquímicos (% de pessoas

contaminadas); índice de doenças; taxa de mortalidade infantil; % de

crianças abaixo do peso; número de unidades ambulatoriais; número

de médicos para cada 10.000 habitantes; ações voltadas à

prevenção de doenças, % de jovens com problemas com drogas e

alcoolismo;

b) moradia – % de famílias com energia elétrica; % de famílias com

abastecimento de água; % de famílias com saneamento básico

(coleta de esgoto cloacal);

c) alimentação – % de desnutridos; % de autoabastecimento;

d) educação – taxa de analfabetismo para maiores de 15 anos; taxa de

reprovação dos alunos; grau de escolaridade;

e) cultura e lazer – % de renda destinada ao lazer; atividades de

valorização e resgate da cultura local; atividades recreativas e

esportivas;

Essas informações podem ser obtidas em postos de saúde, hospitais,

escolas, prefeituras, IBGE, instituições afins e através de entrevista com os

agricultores.

Page 118: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

109

5.3.2 Organização (Número de Organizações Existentes e Grau de

Autogestão)

Este descritor está relacionado à autogestão local, ao grau de

permanência e a capacidade de adaptação a mudanças das organizações

existentes.

A organização é um descritor intrinsecamente relacionado à participação

social e ao “empoderamento44” dos agricultores, porque, por meio das

organizações, aumentam as possibilidades de crédito, de escala de produção,

de poder de negociação, barganha e reivindicação e diminuem os riscos das

atividades, pois os compromissos são coletivos. A participação do agricultor

promove maior interação, compreensão da realidade e formação de opinião.

Às vezes, os agricultores não têm total autonomia de decisão sobre a

gestão dos recursos e das atividades produtivas. Em alguns casos, as decisões

são compartilhadas ou dependem de negociações. Em Camaquã, por exemplo,

nas parcerias, algumas decisões são tomadas pelo proprietário, outras vezes,

pelos parceiros; os produtores integrados às fumageiras adotam as normas

estabelecidas pelas agroindústrias; alguns financiamentos só estão disponíveis

para associações ou para cooperativas, nas quais os critérios de decisão

escapam à esfera familiar.

44 De uma perspectiva sociológica, a expressão empoderamento refere-se ao processo crescente de protagonismo individual e coletivo dos atores e grupos sociais, resultando em uma apropriação de conhecimento e exercício efetivo de cidadania por parte dos envolvidos. No âmbito do desenvolvimento rural, esse processo se reflete na efetiva participação dos agricultores e suas organizações em espaços de discussão e decisão, de caráter não apenas consultivo, mas também deliberativo, como é o caso de muitos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Agropecuário e de Fóruns Regionais de Desenvolvimento. Sob esse enfoque, ainda que possa vir a influenciar estruturas formais de poder, o empoderamento surge da consciência dos indivíduos do seu próprio poder (saber que sabem e que podem), que se potencializa em ações sociais coletivas.

Page 119: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

110

A observação dos critérios de decisão torna-se relevante para

sustentabilidade do sistema, pois esta também depende do desenvolvimento de

atores sociais. Como indicadores da organização sugerem-se: número de

associações, número de núcleos organizados, número de cooperativas,

existência de regras ou sanções nas decisões coletivas e o grau de autogestão

e de decisão familiar destas estruturas. Um indicador que verifique o grau de

autonomia dos agricultores em suas decisões e avalie a sua participação no

processo decisório representa avaliar a atuação desses agricultores como

cidadãos.

Os descritores e indicadores podem ser obtidos através de entrevista

com o agricultor. Para verificar a autogestão, devido à sua característica

qualitativa, é necessário observação e acompanhamento de encontros ou

reuniões de algumas organizações.

5.3.3 Grau de Concentração Fundiária (Coeficiente de Gini)

O município de Camaquã apresenta uma tendência histórica à

concentração fundiária, fruto da concessão das sesmarias pela coroa

portuguesa, o que permitiu aos açorianos a ocupação do território com a

instalação de grandes estâncias. Como as sesmarias eram concedidas a

militares por suas conquistas, ocorreu a concentração das terras nas mãos de

poucas famílias. Atualmente, metade da área do município, compreendida no

estrato de 500 a 5000 hectares, representa apenas 2,27% do número total dos

estabelecimentos rurais (Emater, 1997).

A concentração fundiária não promove a eqüidade, entendendo essa

característica como fundamental à sustentabilidade, no sentido de que o sistema

para se manter ao longo do tempo deverá distribuir seus benefícios, produtos ou

serviços de forma eqüâmime entre seus componentes. A concentração de terras

não leva à sustentabilidade, visto que poucos são os beneficiários, poucos são

os proprietários de grandes extensões de terras. Ademais, a concentração

favorece o monocultivo: como exemplo, tem-se a Região da Planície Costeira de

Camaquã, com o cultivo do arroz irrigado, onde grandes unidades de produção

Page 120: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

111

praticam o monocultivo em grande escala, gerando conseqüências como a

degradação do solo, o uso intensivo de agroquímicos e a perda da diversidade.

Tanto a degradação do solo como o uso de agrotóxicos estão relacionados à

perda da diversidade, pois, quando se utiliza apenas um cultivo, sem consórcio

ou rotação com outros cultivos e proteção de solo, exaurem-se as condições

físicas do solo, devido ao monocultivo não repor nutrientes que, com o consórcio

ou a rotação, seriam possíveis de reposição, levando, assim, à redução da

diversidade. Esta diversidade reduzida favorece o aparecimento de ervas

adventícias e pragas, forçando a utilização dos agroquímicos. A perda da

diversidade acarreta conseqüências maiores ao sistema, devido à redução de

sua complexidade e estabilidade.

Essas conseqüências demonstram a interação entre as dimensões, pois

a concentração fundiária, um descritor social, tem implicância nas dimensões

ambiental (degradação, perda da diversidade) e econômica (uso de

agroquímicos – transferência de parte do valor agregado às indústrias

produtoras desses insumos). Salienta-se, ainda, a questão cultural pela relação

entre o latifúndio e a racionalidade dos agentes envolvidos no processo

produtivo. Em Camaquã, a garantia, mesmo em momentos de crise, de

rendimentos suficientes para a manutenção de um padrão de vida relativamente

elevado fornecido pelas grandes estâncias, disseminou uma cultura empresarial

conservadora no meio rural e, assim, promoveu a especialização na atividade

agrícola ( Alonso, Benetti, Bandeira, 1994).

As grandes estâncias também levaram ao arrendamento em Camaquã,

pois a abolição da escravatura reduziu a mão-de-obra, gerando dificuldades de

os proprietários explorarem as grandes extensões de terra. Esse fato, somado

ao fracionamento das glebas pela sucessão, através da herança, promoveu a

adoção do arrendamento capitalista (renda da terra) como uma alternativa

segura e isenta de riscos.

O arrendamento provoca impactos econômicos negativos pela

transferência de grande parte do valor agregado no processo produtivo para o

proprietário de terras. No caso da utilização de agroquímicos, há transferência

do valor agregado para as indústrias produtoras desses insumos.

Page 121: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

112

Ainda, o arrendamento também está inter-relacionado com a questão

ambiental, na qual Goméz (2001. p. 110) salienta: “observa-se que morar fora

da propriedade, ter trabalho de meio-período externo ou arrendar a terra

trabalhada são variáveis que influenciam a adoção de práticas agrícolas não-

sustentáveis”. Ou seja, o arrendamento não favorece a formação de uma

consciência para utilização de práticas ecológicas.

Diante dessa realidade, e tendo em vista o impacto da concentração

sobre a sustentabilidade, infere-se ser necessária a utilização do grau de

concentração fundiária como descritor da dimensão social. Ademais, esse

decritor relacionado com a dimensão econômica, cultural e ambiental.

Para verificar o grau de concentração, sugere-se o coeficiente de Gini

por ser um coeficiente usual e de fácil mensuração e compreensão.

O coeficiente de Gini mede as concentrações aplicadas na propriedade

fundiária. O coeficiente de Gini é medido pela relação e ou pela fórmula geral:

n

G = 1 - ∑∑ (Yi + Yi + 1) ( Xi – Xi – 1) i = 1

Xi = Percentagem acumulada da população (proprietários de terras)

até o estrato i;

Yi = Percentagem acumulada da área, até o estrato i;

n = Número de estratos de área.

Os valores do coeficiente de Gini variam, portanto, entre 0 e 1. Quanto

mais próximo de 1,0 for o coeficiente, maior será a concentração na distribuição

de qualquer variável, acontecendo o contrário à medida que esse coeficiente se

aproxima de zero.

Para o cálculo do coeficiente de Gini, é necessário os dados da fórmula,

os quais poderão ser obtidos através de pesquisa em empresas como a Emater-

Page 122: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

113

RS, por meio dos diagnósticos municipais, portanto, sendo necessário apenas o

cálculo pelo extensionista ou pesquisador.

5.3.4 Grau de Integração dos Agricultores à Agroindústria (Número de

Agricultores Atrelados)

Em Camaquã, a integração à agroindústria ocorre no caso do cultivo do

fumo, em que a produção está atrelada as fumageiras a montante e a jusante e

os agricultores estão subordinados através do financiamento dos insumos e da

assistência técnica. As fumageiras impõem não apenas o preço, mas as

condições de pagamento e a forma de produção.

As relações de articulação ocorrem a partir de um mercado

monopsônio45 ou de um oligopsônio46 fortemente concentrado. O caso do fumo

ilustra um oligopsônio em que uma empresa controla o mercado (Graziano da

Silva, 2001).

A integração dos produtores às agroindústrias provoca a forte

dependência, a perda de sua liberdade produtiva e de sua flexibilidade, devido

ao total atrelamento do agricultor à empresa.

A forma de produção é baseada no uso intensivo de agroquímicos com

conseqüências econômicas, relacionadas ao custo de produção; sociais,

relacionadas à saúde dos agricultores; e ambientais, relativas à degradação do

solo, desmatamento e à contaminação da água.

O compromisso assumido pelos agricultores com as fumageiras impede

a adoção de outras práticas que não aquelas ditadas pela empresa, e, apesar

de apresentar uma determinada garantia em termos de compra da produção e

45 Estrutura de mercado em que existe apenas um comprador de uma mercadoria (em geral), matéria-prima ou produto primário. Neste caso, mesmo quando vários produtores fornecem o produto, os preços não são determinados pelos vendedores, mas pelo único comprador (Sandroni, 1994). 46 Tipo de estrutura de mercado em que poucas empresas, de grande porte, são as compradoras de determinada matéria-prima ou produto primário. Pode existir duas formas: a) um mercado comprador muito concentrado, com poucas e grandes empresas que negociam com muitos pequenos produtores; b) um mercado consumidor concentrado e um mercado vendedor também concentrado, com poucos e grandes produtores (Sandroni, 1994).

Page 123: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

114

preço, essa prática engessa a produção e autogestão do agricultor, gerando

cada vez mais dependência.

Devido aos fatos acima descritos, sugere-se o grau de integração como

descritor social, e o número de agricultores atrelados como o indicador. A

obtenção desse indicador poderá ocorrer através do levantamento do número

de agricultores atrelados a agroindústrias (integração) através de pesquisa junto

às fumageiras e entrevista com os agricultores.

5.4 Descritores e Indicadores Culturais

A dimensão cultural abrange o complexo padrão de comportamento,

crenças, manifestações artísticas e intelectuais transmitidas coletivamente e

típicas de uma sociedade (cultura).

5.4.1 Diversidade Cultural (Número e Tipo de Atividades Culturais)

Esse descritor está relacionado com o potencial de adaptabilidade frente

a perturbações, verifica a resiliência e auxilia na compreensão das tendências à

degradação social e pessoal. A valorização das atividades culturais, as

manifestações artísticas e folclóricas representam uma forma de cultivar

tradições e costumes e de compreender as atitudes e gestos praticados no

ambiente local, promovendo, assim, a sustentabilidade. O conhecimento

transmitido de geração a geração dentro de determinados grupos sociais é um

meio de agregar novos conhecimentos e experiências, favorecendo o aumento

da diversidade de atividades e de práticas.

Esse indicador ganha importância, principalmente, quando se destaca o

fato de o município de Camaquã apresentar uma tendência à perda da

identidade cultural, ocorrendo poucas manifestações de cunho cultural,

concentrando-se naquelas, já citadas, relacionadas à tradição gaúcha.

A diversidade cultural e a sua manutenção ao longo do tempo é

expressão da riqueza de saberes de um povo, o conhecimento das raízes

Page 124: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

115

históricas permite maior compreensão dos fatos atuais e incita à maior

valorização local. A pluralidade cultural pode favorecer as relações sociais e

fortalecer a cultura.

Como indicador, sugerem-se o número de museus de história natural, o

número de grupos de danças folclóricas, artes plásticas e esportes, o número de

produção literária e musical local e o percentual da população que participa de

projetos ou atividades de cunho cultural.

O indicador caracteriza-se por fácil mensuração, monitoramento,

compreensão e reflete o atributo diversidade da sustentabilidade. A mensuração

pode ocorrer a partir de entrevistas com os agricultores e pessoas-chave dentro

da comunidade. Também podem-se buscar dados na Secretaria de Cultura do

município.

5.4.2 Participação e Cidadania (Grau de Participação)

Em Camaquã existem algumas formas associativas e organizações,

mas segundo a Emater (1997) estão, atualmente, amortecidas, verificando-se,

assim, uma pequena participação dos agricultores.

Por participação, entende-se o grau de envolvimento dos atores sociais

na tomada de decisão, sua lógica e racionalidade, sendo uma das

características-chave para a existência de interação entre as diferentes

dimensões da sustentabilidade. Através da participação, ocorre o

desenvolvimento político dos agricultores, de sua capacidade de negociação

com o Estado, instituições e forças políticas relevantes. Portanto, considera-se a

participação a chave da autogestão.

Em Camaquã, no caso do cultivo do fumo atrelado às agroindústrais

fumageiras, devido à integração a montante e a jusante da produção, ocorre

uma subordinação do agricultor à fumageira, sendo que esta influencia muitas

vezes a forma de produção e as decisões dos agricultores.

A participação pode levar ao aumento da eficiência de um sistema

quando as pessoas concordam e assumem posições ativas na implementação

das decisões, tendo por objetivo a mobilização para ações coletivas,

Page 125: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

116

fortalecimento e construção de alternativas relacionadas às necessidades dos

integrantes do processo.

A participação permite que os agricultores estejam a par dos

acontecimentos, favorece o seu “empoderamento”, promove correção de rumos

quando necessário, incita a formação de organizações, desenvolve a construção

de planos de ação e formação conjunta respeitando sua dinâmica de ação social

coletiva.

A relação desse descritor com a sustentabilidade ocorre principalmente

pelo impacto que este descritor social apresenta na interação com as dimensões

cultural, econômica e ambiental, uma vez que qualquer iniciativa que busque a

sustentabilidade necessita do desenvolvimento de práticas participativas, já que

somente através do envolvimento do agricultor na comunidade, é possível o

formação de consciência. Os agricultores são os atores sociais no processo de

desenvolvimento rural local, por isso sua participação é condição primordial ao

alcance de sistemas sustentáveis.

O indicador grau de participação pode ser mensurado a partir do

levantamento do número de famílias que participam de núcleos ou grupos

organizados, do percentual de agricultores nas câmara de vereadores, nos

conselhos municipais e da existência de processos de formação de lideranças.

5.4.3 Capacitação e Geração de Conhecimentos (Número, Tipo e

Freqüência de Cursos de Capacitação)

O descritor cultural capacitação e geração de conhecimento inclui

aspectos relacionados à capacitação dos produtores e a outros mecanismos

que fortaleçam os processos de aprendizagem, encaminhados a aumentar as

possibilidades de inovação e adaptação a mudanças, estando relacionado à

adaptabilidade do sistema, característica da sustentabilidade.

No entanto, essa capacitação enfatiza o conhecimento local,

compreendendo que as comunidades desenvolvem um tipo de conhecimento

próprio, derivado de suas experimentações, segundo suas necessidades

históricas e modos de vida específicos (Caporal, 1998).

Page 126: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

117

Essa capacitação não se fundamenta em uma imposição ou

doutrinação, mas está alicerçada no processo de construção e de participação

coletiva, procurando integrar a capacitação teórica ao conhecimento prático dos

agricultores, pois essa fusão e a valorização do saber local fortalecem o

agricultor e promovem maior poder para reivindicações.

Em Camaquã, verificou-se pequena a atuação das associações e

organizações, e suas práticas agrícolas promovem a degradação ambiental.

Cursos de capacitação para os agricultores do município poderiam promover o

despertar de práticas tradicionais menos agressivas ao meio natural que foram

abandonadas, a utilização de práticas alternativas, o conhecimento de opções

que gerem maior sustentabilidade, a consciência ecológica, a formação de

núcleos coletivos e solidários e a valorização da cultura local.

Dada esta realidade, sugere-se o descritor capacitação e geração de

conhecimentos como representante da dimensão cultural e como indicador o

número, o tipo e a freqüência de cursos de capacitação, mecanismos de difusão

do conhecimento (transferência de conhecimento entre os próprios produtores).

O descritor e os indicadores podem ser obtido a partir de entrevistas

com o agricultor e pesquisa a instituições de extensão rural (Emater) e

secretaria de agricultura municipais, sendo um indicador que obedece às

características gerais dos indicadores e tende a longo prazo apresentar

resultados que garantam maior sustentabilidade ao sistema.

5.4.4 Processos de Educação Permanente e Educação Ambiental (% de

Participantes de Eventos Educativos e Número de Eventos Educativos por

Ano)

Com relação à educação ambiental, os processos de educação estão

inter-relacionados com as unidades de conservação (descritor ambiental), no

sentido de que não dá para contar apenas com cartazes, camisetas e educação

ambiental dentro da sala de aula para formar pessoas que apóiem e que se

sintam dedicados à natureza. Há necessidade de estabelecer uma relação

Page 127: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

118

íntima entre o homem e a natureza que se poderá iniciar a partir de visitas às

unidades de conservação.

A educação ambiental poderá estabelecer um conjunto de elementos

que seriam capazes de compor um processo através do qual o ser humano

pudesse perceber, de forma nítida, clara e reflexiva, os mecanismos sociais,

políticos e econômicos, preparando-os para o exercício pleno, responsável e

consciente dos seus direitos como cidadão em busca de sua qualidade de vida

(Lobo, 2000).

Os processos de educação permanente tendem a gerar ou despertar a

consciência sobre os problemas e a incitar, algumas vezes, à ação. A educação

ambiental provoca maior interesse pessoal no que diz respeito à integridade

ecológica. Contudo, esse descritor não se restringe à dimensão ambiental,

estando também relacionado à educação sexual, ao uso de drogas e ao

alcoolismo, principalmente, quando relacionado a um município como Camaquã

com poucas opções de lazer e com problemas de perda de identidade cultural.

Diante da realidade local, da relevância da interação entre as diferentes

dimensões e da sustentabilidade de um sistema depender destas interações

para sua manutenção ao longo do tempo, sugere-se o descritor processos de

educação permanente.

Para avaliação, sugerem-se os indicadores percentual de participantes

em eventos educativos e o número de eventos ocorridos durante o ano,

indicadores caracterizados pelo baixo custo, relação com a sustentabilidade e

fácil mensuração. Estes indicadores poderão ser obtidos por meio de entrevista

com o agricultor ou através de levantamento na prefeitura ou secretarias

municipais.

Page 128: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

119

6 CONCLUSÃO

O conceito de sustentabilidade baseia-se na premissa de que é

necessário atuar de maneira sistêmica, interdisciplinar e participativa e refletir de

maneira profunda sobre a relação entre o ambiente natural, a sociedade e a

economia.

Para avaliar a sustentabilidade de Camaquã-RS, utilizou-se um conjunto

de indicadores, ou seja, instrumentos ou variáveis que permitem monitorar um

sistema, estando intimamente relacionados com a realidade local e objetivando

verificar o movimento de aproximação ou afastamento em relação à

sustentabilidade. A obtenção desse conjunto tomou por base uma “cesta de

opções”, formada a partir do estudo de doze propostas.

Constatou-se que, em sua maioria, as propostas da referida “cesta” não

levam em consideração aspectos como o custo, a dificuldade de mensuração e

compreensão e a participação dos agricultores. Tendo isso em vista, a

proposição formulada neste trabalho preocupou-se em incluir tais aspectos.

Além disso, os estudos sobre o tema geralmente elegem indicadores

sem explicá-los, o que não ocorre na proposta aqui apresentada, pois esta

implicou muito mais do que construir uma lista, na medida em que originou um

conjunto consistente de indicadores, acarretando uma inovação na forma de se

enfrentar o problema.

Quanto à metodologia utilizada, esta mostrou-se satisfatória à realização

dos objetivos pretendidos, pois permitiu uma proposição de acordo com o

entendimento de desenvolvimento rural sustentável, e intimamente relacionada

à realidade local, à evolução no tempo da sustentabilidade do município, ao

baixo custo, à interação entre as dimensões econômica, social, cultural e

ambiental, à praticidade quanto ao número de indicadores, à facilidade de

acesso às informações, à suscetibilidade ao monitoramento contínuo e à

Page 129: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

120

participação de técnicos, extensionistas, pesquisadores e, principalmente, do

agricultor local no processo de mensuração.

A partir dessa metodologia, concluiu-se que os descritores e os

indicadores mais apropriados, relacionados à dimensão econômica, são

diversidade da atividade produtiva (percentual de renda total obtido por

diferentes atividades e produtos do sistema) e capacidade de reprodução (renda

agrícola); à dimensão social, são qualidade de vida (ISMA) e grau de

concentração fundiária (coeficiente de Gini); à dimensão cultural, são

diversidade cultural (número e tipo de atividades culturais) e participação e

cidadania (grau de participação); e à dimensão ambiental, são contaminação e

degradação do meio natural (nível de contaminação da água e de solo) e

unidades de conservação (percentual de área protegida).

Ao se aprofundar no tema, observou-se a existência de alguns aspectos

- que não foram incorporados ao trabalho em virtude de este já se encontrar em

fase conclusiva -, a saber o atributo autonomia, a dimensão política e a

participação dos agricultores na proposição dos indicadores. Tais aspectos

poderão servir de contribuição para trabalhos futuros.

A autonomia, quando relacionada ao sistema, é entendida como a

capacidade interna de disponibilizar os fluxos necessários para a produção, e,

quando relacionada ao agricultor, é entendida como a autogestão e a

independência na tomada de decisão, esta última contemplada parcialmente

neste trabalho pela dimensão social.

A dimensão política, embora parcialmente contemplada na dimensão

social, merece ser avaliada e mensurada através de indicadores específicos,

uma vez que a sustentabilidade de um sistema também depende desta

dimensão.

Quanto à participação dos agricultores, sugere-se que esta ocorra na

fase de proposição dos indicadores e não somente na de mensuração, pois os

agricultores locais possuem conhecimentos e experiências que permitem

estabelecer prioridades e orientações relevantes para ações de

desenvolvimento rural sustentável.

Constatou-se que não há um conjunto de indicadores globais adaptáveis

a qualquer realidade, pois os indicadores descrevem um processo específico e

Page 130: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

121

são particulares a esses processos, podendo ser apropriados para um sistema e

impróprios para outros.

O estudo para proposição de indicadores baseado em uma realidade

local constitui uma contribuição, pois destaca a necessidade de conhecer o

município, suas características econômicas, sociais, culturais e ambientais, a

evolução de seus sistemas agrários para, só então, propor indicadores que

avaliem sua sustentabilidade, diferentemente do que ocorre na maioria dos

estudos, em que se estabelece um conjunto genérico utilizado para avaliação de

vários sistemas.

Entende-se que a lógica para o estabelecimento de indicadores seria

contrária ao que usualmente é realizado, ou seja, é necessário partir do local, do

sistema, da compreensão de sustentabilidade e da interação entre estes

aspectos para propor indicadores. Somente após a realização desta tarefa e a

interpretação dos resultados obtidos, pode-se pensar em propor indicadores que

poderão ser mensurados e monitorados e que avaliem o local em contexto de

desenvolvimento rural.

Portanto, não há fórmula ou receita pronta, exige-se um trabalho de

análise, interpretação e compreensão do sistema para proposição de

indicadores. Uma equipe interdisciplinar com enfoque holístico e a participação

do agricultor, valorizando seu conhecimento, é o caminho menos árduo para

realização desta tarefa.

O desenvolvimento de indicadores que permitam compreender os limites

e as potencialidades de um sistema é um desafio que merece dedicação,

constante interpretação, tempo e sucessivas aproximações. Como todo

exercício conceitual, deve estar em permanente construção, particularmente em

um tema tão amplo, polêmico e complexo como o relacionado à

sustentabilidade.

Por fim, destaca-se a existência de alguns elementos identificados que

requerem um tratamento mais profundo. Especificamente, é necessário

aprofundar a discussão nos seguintes aspectos.

Page 131: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

122

1. Na integração e inter-relação dos indicadores – há necessidade de

buscar formas de melhor integrar os aspectos ambientais,

socieconômicos e político-culturais, cabendo verificar que os

indicadores não respondem a áreas específicas de caráter disciplinar,

mas a propriedades ou atributos fundamentais do sistema, como a

eqüidade, a adaptabilidade, a resiliência, a diversidade e a

manutenção ao longo do tempo.

2. Na avaliação da sustentabilidade a partir de uma metodologia

operativa – todo o esforço realizado neste trabalho esteve

relacionado com a compreensão de sustentabilidade, de suas

características ou atributos, de indicadores e com a proposição e

discussão de um conjunto de indicadores que atendesse à realidade

de Camaquã. No entanto, este trabalho constitui-se em uma primeira

etapa, pois faz-se necessário desenvolver ou adaptar uma

metodologia operativa e realizar a aplicação desta metodologia no

município para verificar sua sustentabilidade.

3. Na incorporação do processo na formulação de políticas

públicas – esse aspecto refere-se ao desenvolvimento de técnicas

participativas para a incorporação das perspectivas e prioridades dos

diferentes agentes ou atores envolvidos no processo. O aspecto

participativo merece ser enfatizado, pois é de grande importância na

viabilização de sistemas sustentáveis. A participação dos diferentes

atores envolvidos facilita o diálogo entre pesquisadores, técnicos e

agricultores, promovendo o desenvolvimento de um trabalho em

equipe e, assim, garantindo maiores chances de sucesso, pois um

indivíduo, em particular, não contempla todos os aspectos de um

sistema.

Page 132: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

123

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Page 141: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

132

Page 142: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

133

ANEXO A – Evolução e diferenciação dos sistemas agrários do município.

SISTEMAS AGRÁRIOS

CARACTERIZAÇÃO

SISTEMA AGRÁRIO INDÍGENA

Coleta e agricultura

Até 1750

SISTEMA AGRÁRIO DO PERÍODO COLONIAL

Sesmarias, pecuária de

captura e atividade extrativa

1750 – 1900

SISTEMA AGRÁRIO DA REGIÃO COSTEIRA

Pecuária extensiva e agricultura comercial

do arroz irrigado

1900 – 1950

Exploração do ecossistema natural e do ecossistema cultivado

Região Costeira e Região da Encosta do Planato: coleta e agricultura

Lagoa, rio e arroios: pesca artesanal

Região Costeira: pecuária extensiva

Região da Encosta do Planato: extração de madeira e erva-mate

Região Costeira: pecuária extensiva e cultura do arroz irrigado

Meios de Produção

Plantas, culturas, instrumentos, equipamentos, força de trabalho

Milho, mandioca

Ferramentas manuais

Mão-de-obra familiar

Erva-mate, bovinos, charque e trigo.

Equipamentos de tração animal e manuais.

Mão-de-obra familiar e escrava.

Bovinos, ovinos, arroz, culturas e criações coloniais.

Equipamentos de tração animal e manual.

Mão-de-obra familiar e contratada.

Modo de artificialização do meio Agricultura de queimada Agricultura de queimada

e pousio

Agricultura de pousio.

Início da utilização de fertilizantes químicos.

Divisão social do trabalho Tribo Proprietário, escravos e

homens livres

Proprietário (família) e trabalhadores contratados

Relações de troca Escambo.

Autoconsumo.

Comercialização e exportação da erva-mate, charque e trigo.

Autoconsumo

Costeira: contratação de trabalho (mão-de-obra da Serra)

Excedente agrícola Trocas entre grupos indígenas

Charque, trigo e erva-mate via Lagoa dos Patos.

Erva-mate via terrestre pela Serra dos Hervaes.

Carne, lã, couro, arroz

Transição para o Sistema Agrário seguinte

Extermínio da população indígena.

Concessão das sesmarias e ocupação das terras pelos açorianos.

Ocupação da Serra através da colonização alemã, polones e espanhola.

Cultivo do arroz irrigado.

Fim da indústria do charque.

Abolição da escravatura.

Revolução verde.

Melhoria das vias de acesso terrestre.

Drenagem do Banhado do Colégio e construção da Barragem do Arroio Duro.

continua...

Page 143: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

134

...continuação

SISTEMAS AGRÁRIOS

CARACTERIZAÇÃO

SISTEMA AGRÁRIO DA REGIÃO DA ENCOSTA DO PLANALTO SUL-

RIO-GRANDESE

Agricultura colonial

1900 - 1950

SISTEMA AGRÁRIO ATUAL DA REGIÃO

COSTEIRA

Agricultura comercial do arroz irrigado e pecuária extensiva

A partir de 1950

SISTEMA AGRÁRIO ATUAL DA ENCOSTA DO PLANALTO SUL-

RIO-GRANDENSE

Agricultura comercial do fumo

A partir de 1950

Exploração do ecossistema natural e do ecossistema cultivado

Região da Encosta do Planato: agricultura culturas do milho, feijão, batata- inglesa, trigo, cevada, linho; criação de aves e suínos.

Região Costeira: agricultura cultura do arroz e da soja e pecuária extensiva.

Região da Encosta do Planalto: cultura do fumo, e redução das culturas do milho, feijão e da criação aves e suínos.

Meios de Produção

plantas, culturas, instrumentos, equipamentos, força de trabalho

Milho, trigo, feijão batata- inglesa, cevada, linho e criação aves e suínos.

Equipamentos de tração animal e manual.

Mão-de-obra familiar.

Arroz, bovinos, soja.

Equipamentos motomecanizados.

Mão-de-obra contratada.

Fumo, milho, feijão produtos coloniais.

Equipamentos de tração ani-mal e mecânica, mão-de-obra familiar e contratada.

Modo de artificialização do meio

Agricultura de queimada, pousio.

Agricultura de pousio e rotação de culturas. Intensificação do uso de fertilizantes e agrotóxicos.

Agricultura de pousio e rota-ção de culturas. Intensificação do uso de fertilizantes e agrotóxicos.

Divisão social do trabalho Familiar

Proprietário e trabalhadores contratados

Familiar e trabalhadores contratados

Relações de troca

Autoconsumo com grande intensidade.

Com o comércio do interior da Serra: produtos coloniais, insumos e bens de consumo para família cevada, linho e trigo.

Autoconsumo é reduzido.

Contratação de mão-de-obra.

Autoconsumo diminui.

Forte integração com a indústria fumageira.

Excedente agrícola Produtos coloniais, cevada e linho

Arroz, bovinos de corte, soja

Fumo, milho, feijão, trigo

Transição para o Sistema Agrário seguinte

Melhoria das vias de acesso terrestre.

Liberação da mão-de-obra da Serra ocupada na colheita do arroz.

Abandono do cultivo do linho e cevada.

Fim dos moinhos coloniais.

Êxodo rural.

Surgimento da cultura do fumo de estufa.

Fonte: Ferreira (2000), dados da pesquisa 1999 a 2000.

Page 144: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

135

ANEXO B – Indicadores de impacto ambiental e sustentabilidade desenvolvidos pelo programa K2/FAO.

M Ó D U L O S I N D I C A D O R E S

M Ó D U L O D E P R O D U Ç Ã O V E G E T A L

– Área cultivada/capita

– Área com culturas alimentares/área com cultivos não alimentares

– Adequação para culturas específicas

– Adequação para agricultura não irrigada

– Áreas marginais para a agricultura

– Adequação para irrigação

– Área potencial para agricultura florestada

– Área potencial para agricultura protegida

– Risco de seca

– % alimento produzido em áreas com alto risco de seca

RE C U R S O S

– Risco de erosão

– Fertilizantes usados/ área

– Fertilizantes usados pelas maiores culturas

– Pesticida usado por área

I N S U M O S

– Quantidade total de água usada na irrigação pela cultura

– Produção por área

– Colheita por cultura

– Renda por hectare

– Erosão (ton./ha/ano) (perda da camada superficial do solo)

– Vida útil do solo

– Perda de solo tolerável/perda atual

– Requerimentos de proteção ao solo

– Produtividade perdida por erosão

P R O D U T O S

– Balanço de nutrientes

M Ó D U L O D E P R O D U Ç Ã O A N I M A L

Área de pastagens

Biomassa das pastagens

Densidade de pastejo em relação à capacidade de carga

Adequação para áreas de campo e produção de pastagens

Adequação para sistemas de criação específicos

Condições das pastagens

R E C U R S O S

Risco de seca

Demanda hídrica I N S U M O S

Quantidade total de forragem produzida pelas pastagens

Produção de alimento por área e unidade animal

Produção de energia por área e unidade animal

P R O D U Ç Ã O Taxa de erosão

continua...

Page 145: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

136

...continuação

M Ó D U L O S I N D I C A D O R E S

M Ó D U L O D E P R O D U Ç Ã O V E G E T A L

– Área e volume de recurso florestal

– Área e volume de recurso florestal/capita

– Área em floresta natural/área florestal total

– % área com reflorestamentos industriais

– % recursos ambientais (cursos de água, biodiversidade)

– Área de reflorestamentos

– % de área florestal protegida

– Cobertura florestal original/cobertura atual

R E C U R S O S

– Adequação para produção de madeira combustível

– Produção total de madeira

– Produção de combustível e carvão

– Produção de madeira industrial

– Valor de produtos florestais não-lenhosos/ produtos lenhosos

– Renda/ha de área florestal

– Proteção de cursos d’água

– Degradação florestal

– Reflorestamento

– Desmatamento

P R O D U Ç Ã O

– Taxa de erosão

M Ó D U L O D E R E C U R S O S T E R R A E Á G U A

– Área/capita

– Área urbana

– Área protegida

– % de cada bioma protegido

– Área de banhados

– Área de banhados/capita

– Produtividade potencial da área

– Área sem impedimentos físicos e químicos

T E R R A

– Taxa e estado da erosão

– Recursos hídricos renováveis internos anuais

– Recursos hídricos renováveis internos anuais/capita

– Retiradas anuais

– Retiradas anuais/capita

– Retirada total como % dos recursos hídricos

– Retirada setorial

– Retirada setorial como % dos recursos disponíveis

– Fluxo de água sazonal

Á G U A

– Qualidade da água

continua...

Page 146: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

137

...continuação

M Ó D U L O S I N D I C A D O R E S

M Ó D U L O D E P R O D U Ç Ã O P E S Q U E I R A

– Área de lençois de água doce

– Comprimento da área costeira – Zona econômicas exclusivas

– Comprimento e área de recifes de corais

– Comprimento e área de mangues – Aquacultura potencial

R E C U R S O

– Pressões costeiras

– Tamanho da embarcação – Esforço de pesca

– Nº de pessoas empregadas na pesca comercial

I N S U M O S

– Nº de pessoas empregadas na pesca artesanal

– Total de pesca marinha

– Total de pesca em águas interiores

– Total de produção em aquacultura – Captura em relação à produtividade máxima sustentável

– Valor da captura pesqueira

– Valor da produção em aquacultura

P R O D U Ç Ã O

– Destruição e degradação de ecossistemas costeiros (recifes, mangues, sargaço)

Fonte: Tschirley (1994) apud Marzall (1999).

Page 147: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

138

ANEXO C – Matriz de indicadores de sustentabilidade ambiental sugeridos pela OECD e UNDP.

A S P E C T O S P R E S S Ã O E S T A D O R E S P O S T A

– Mudança climática – Emissões de gases de efeito estufa

– Concentrações – Intensidade energética; medidas ambientais

– Diminuição da camada de ozônio

– Emissões (halocarbonos); produção

– Concentrações (cloro); coluna de ozônio

– Assinatura de protocolos; recuperação de CFC; contribuições financeiras

– Eutroficação – Emissões (N, P na água e no solo)

– Concentrações (N, P, BOD1)

– Tratamentos; investimentos/custos

– Acidificação – Emissões (SOx, NOx, NH3)

– Deposição; concentração

– Investimentos; termos de compromisso

– Contaminação tóxica

– Emissões (POC2, metais pesados)

– Concentrações (POC, metais pesados)

– Recuperação de lixo tóxico; investimentos/custos

– Qualidade ambiental urbana

– Emissões ( NOx, SOx)

– Concentrações (NOx, SOx)

– Gastos; política de transportes

– Biodiversidade – Conversão da terra; fragmentação da terra

– Abundância de espécies/áreas virgens

– Áreas protegidas

– Lixo – Geração de lixo (municipal, industrial, agrícola)

– Qualidade do solo e água subterrânea

– Taxa de coleta; investimentos/custos de reciclagem

– Recursos hídricos – Intensidade de demanda/uso (doméstico, industrial, agrícola)

– Demanda/oferta; qualidade

– Gastos; preço da água; políticas de racionamento

– Recursos florestais – Intensidade de uso – Área de florestas degradadas; uso/crescimento

– Área de florestas protegidas

– Recursos pesqueiros

– Captura de peixes – Estoques – Cotas

– Degradação do solo – Mudanças no uso do solo

– Perda da camada superficial

– Reabilitação/ proteção

– Zonas oceânicas, costeiras

– Emissões, vazamentos de óleo; deposições

– Qualidade da água – Manejo da zona costeira; proteção dos oceanos

Índice Ambiental Índice de Pressão Índice de Estado Índice de Resposta

1 BOD: Demanda Bioquímica de Oxigênio (Biochemical Oxigen Demand). 2 POC: Particulate Orgânic Carbon. Fonte: Oecd & Unep apud Hammond et al, 1995 (Marzall, 1999).

Page 148: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

139

ANEXO D – Matriz de indicadores de sustentabilidade ambiental sugeridos pelo Banco Mundial.

A S P E C T O S P R E S S Ã O E S T A D O R E S P O S T A

I N D I C A D O R E S D E F O N T E

1. Agricultura Valor agregado/produção bruta

Área cultivada como % de riqueza

Termos de comércio rural/urbano

a. Qualidade do solo Degradação do solo antropicamente induzida

Classes climáticas e limitações do solo

b. Outro — — —

2. Floresta Mudança no uso do solo Área, volume distribuição; valor da floresta

Entradas/saídas, principais usuários; taxas de reciclagem

3. Recursos Marinhos Contaminantes; demanda de peixe como alimento

Estoque de espécies marinhas

% cobertura de protocolos e convenções internacionais

4. Água Intensidade de uso Acessibilidade à população

Medidas de eficiência hídrica

5. Recursos Subsolo Taxas de extração Recursos subsolo como % da riqueza

Balanço material/NNP1

a. Combustíveis fósseis axas de extração Reservas (proven) Subsídios para energias alternativas

b. Metais e minerais Taxas de extração Reservas (proven) Entradas/saídas; principais usuários; taxas de reciclagem

I N D I C A D O R E S D E D E P Ó S I T O O U P O L U I Ç Ã O

1. Mudança Climática

a. Gases de efeito estufa

Emissões de CO2 Concentração de gases efeito. Estufa na atmosfera

Eficiência energética de NNP

b. Ozônio estratosférico Consumo aparente de CFCs

Concentração atmosférica de CFCs

% cobertura de protocolos e convenções internacionais

2. Acidificação Emissões SOx, NOx Concentrações de pH, SOx, Nox em precipitação

Gastos com diminuição da poluição

3. Eutroficação Uso de PO4 e NO2 BOD, P e N em rios % lixo/tratamento

4. Toxificação Geração de lixo tóxico/carregamento

Concentração de chumbo, cádmio etc. em rios

% petróleo sem chumbo

continua...

Page 149: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

140

...continuação

A S P E C T O S P R E S S Ã O E S T A D O R E S P O S T A

I N D I C A D O R E S D E S U P O R T E V I T A L

1. Biodiversidade Mudança no uso da área

Habitat/recurso natural2 Áreas protegidas como % das ameaçadas

2. Oceanos Espécies ameaçadas, extintas % total

— —

3. Áreas especiais (ex: banhados)

— — —

I N D I C A D O R E S D E I M P A C T O H U M A N O

1. Saúde Incidência de doenças Expectativa de vida ao nascer

% NNP gastos com saúde

a. Qualidade da água — Oxigênio dissolvido, coliformes fecais

Acesso a água limpa

b. Qualidade do ar Demanda energética Concentração de partículas, SO2 etc.

2. Segurança e qualidade alimentar

— — —

3. Habitações urbanas Densidade populacional — % NNP gastos com habitação

4. Lixo Geração de lixo industrial, municipal

Acúmulo Gastos com coleta e tratamento; taxas de reciclagem

5. Desastres naturais — — —

1 NNP: Net National Product. 2 No original, habitat/nr. Interpretação livre de nr como Natural Resource. Fonte: Banco Mundial, apud Hammond et al, 1995 (Marzall, 1999).

Page 150: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

141

ANEXO E – Exemplo de um conjunto de indicadores de sustentabilidade de agroecossistemas proposto pelo IICA/GTZ.

SISTEMA CATEGORIA ELEMENTO DESCRITOR INDICADORES VARIÁVEIS QUE SE RELACIONAM

B A C I A D O R I O X Y

Recursos endógenos

Água Quantidade – Fluxo mensal (m3/seg)

– Recursos, produtividade, tempo

– Relação irrigação desenho/irrigação real

– Recursos, produção, tempo, capacidade de carga

Exógenos Qualidade – Oxigênio dissolvido (g/m3)

– Recursos, tempo, capacidade de carga

Confiabilidade – Nível de volume de água mínimo

– Recursos, capacidade de carga, produtividade, tempo

Acesso – % de propriedade com acesso à água

– Variáveis sociais, recursos, tempo

Solo Erosão – % da área erodida – Recursos, tempo

– Erosão média (t/ha/ano)

– Recursos, tempo

– Erosão efetiva/ gravidade específica

– Recursos, tempo, capacidade de carga

Disponibilidade – Índice de Gini – Recursos tempo, var. sociais

– Tamanho médio da propriedade

– Recursos tempo, var. sociais, capacidade de carga

Qualidade – Razão de utilização (ha capacidade de uso/ha uso atual.

– Recursos, distribuição e acesso, tempo

– Superfície em uso confl itivo

– Recursos, tempo, var. sociais, distribuição e acesso

Operação do sistema

Rendimento técnico

Produtividade – Rendimento de milho (t/ha)

– Recursos, produtividade

Período de pousio

– Relação de anos de pousio/anos de cultivo

– Recursos, tecnologia, produtividade, distribuição e acesso

TERRAS DE

CULTIVO

– Relação pousio/descanso e população

– Tempo, capacidade de carga, população, necessidades

continua...

Page 151: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

142

...continuação

SISTEMA CATEGORIA ELEMENTO DESCRITOR INDICADORES VARIÁVEIS QUE SE RELACIONAM

B A C I A D O R I O X Y

Recursos Vegetação Cobertura – % área florestal coberta por floresta

– Recurso, tempo

– % de cobertura floresta total

– Recurso, tempo

– % de cobertura de mata fechada

– Recurso, tempo

– Superfície de mata fechada/habitante

– Recurso, tempo, população

Diversidade – Média de espécies (ha)

– Recurso, tempo

Vida selvagem Habitat – Relação de espécies armazenadas/sp. Totais

– Recurso, tempo

População – Nº de espécies – Recurso, tempo

– População aproximada

– Recurso, tempo

Áreas únicas Acesso – % de área aberta ao público

– População, recurso, tempo, variáveis sociais, distribuição e acesso aos recursos.

Importância – Nº áreas similares – Recursos

– % da superfície na categoria

– Recurso

Operação do sistema

Rendimento técnico

Áreas abertas – % vegetação arbórea

– Recurso, tecnologia

Produtividade – Crescimento (m3/ha/ano) em plantações

– Recurso, tecnologia, produção produtividade

– Crescimento (m3/ha/ano) em bosques naturais

– Recurso, tecnologia, produção produtividade

Rendimento social

Controle local – Nº e % de ONGs participando da gestão

– Acesso aos recursos, variáveis sociais, tempo, população, tempo, acesso, var. sociais

BOSQUES

– Nº de participantes na gestão

– Acesso aos recursos, variáveis sociais, tempo, população, tempo, acesso, var. sociais

Fonte: Camino; Müller, 1993.

Page 152: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

143

ANEXO F – Tabela Indicadores de Sustentabilidade propostos pelo FESLM.

INDICADORES FÍSICOS UNIDADE DE MEDIDA

Flexibilidade física do solo Relação Solo descoberto x cobertura vegetal -

Nutrientes Ppm ou g/l Índice de Erosão Tonelada/hectare

Salinização do solo Hectare Matéria Orgânica do solo Vários

Densidade do Solo G/m³ Capacidade de troca de cátions Meq/100 g de solo

Ph - Condutibilidade elétrica Micro-ohms/cm

Resíduos sólidos e trubidez Kg/l Demanda biológica de oxigênio e atividade bacteriana - Problemas de drenagens -

Quantidade de água m³ Quantidade de sol Pessoas/hectare

Profundidade máxima das raízes Cm Indicadores visuais de qualidade Vários

Compactação Relação Distribuição de tamanho de partículas -

Profundidade da camada de água m

INDICADORES AGRONÔMICOS UNIDADE DE MEDIDA

Intensidade da colheita Média ou relação Manutenção de terras em pousio para controle de ervas daninhas Relação

Umidade do solo Ha ou relação Lavoura com controle de erva daninha -

Quebra-vento Km/km² Controle de salinidade Relação

Rotação de cultura - Balanço de nutrientes Relação

Influência de cultura (sobre degradação do solo) Relação Saúde da planta Vários Variação do rendimento -

Manejo de nutrientes Relação Reabilitação de terras degradadas Ha

Uso de fertilizantes % ou Kg/ha Área melhorada Ha

Manejo de pragas Relação Conservação da umidade do solo -

Aumento da matéria orgânica no solo Relação Utilização de calcário Relação

Área colhida com cereal Ha Produção de cereal por produtor T/ produtor

Tamanho do estabelecimento Ha

continua...

Page 153: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

144

...continuação

INDICADORES ECONÔMICOS UNIDADE DE MEDIDA

Margem bruta $/ha

Lucro bruto $/há

Margem líquido $/há

Lucratividade Relação

Endividamento $

Perda de rendimento pela erosão $/há ou $/t solo

Suporte Governamental %

Contabilização dos recursos $/há

Resiliência econômica Tempo

Tipo de estabelecimento -

Produtos florestais Relação

Rendimento da colheita T/há

Eficiência opercional Relação

Uso eficiente do capital Relação

Remuneração do trabalho Relação

Retorno do capital Relação

Retorno da administração Relação

Despesa $/há ou $/t

Custo por unidade de área $/há ou $/t

INDICADORES SOCIAIS UNIDADE DE MEDIDA

Uso marginal da terra Há

Conservação da lavoura Relação

Práticas de conservação Relação

Suporte governamental %

Perda pela urbanização Há

Avaliação do meio $/há

Manejo de terras úmidas Há

Fonte: FESLM – Departamento de Agricultura do Canadá. (http://res2.agr.gc.ca/ecorc/program3/pub/indicat/overview.htm)

Page 154: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

145

ANEXO G – Critérios de diagnóstico e indicadores de sustentabilidade para avaliação de sistemas de manejo de recursos naturais do MESMIS.

ATRIBUTO CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO

INDICADORES ÁREAS DE AVALIAÇÃO

Rendimento, eficiência energética A

Produtividade Eficiência Relação custo/benefício, investimento

(em dinheiro e em trabalho); produtividade do trabalho; renda

E

Espécies manejadas e presentes; policultivos e rotações A

Número de cultivos; grau de integração na produção e comercialização

E

Diversidade

Número de etnias envolvidas no manejo de recursos S

Qualidade do solo e da água A Relação entre entradas e saídas de nutrientes críticos A

Número de variedades crioulas utilizadas A

Conservação de recursos

Capacidade de poupança E Incidência de pragas e enfermidades A

Fragilidade do sistema Tendência e variação dos rendimentos E

Distribuição de riscos Acesso a créditos, seguros e outros mecanismos E

Qualidade de vida Índices de qualidade de vida S Capacitação e formação dos integrantes S Fortalecimento do

processo de aprendijagem Adaptações locais aos sistemas

propostos S

Evolução do número de produtores por sistema S

Estabilidade, Resiliência e

Confiabilidade

Capacidade de mudança e inovação Geração de conhecimentos e práticas S Distribuição de custos e benefícios

Número de beneficiários segundo etnias, gênero e grupo social S

Eqüidade Evolução do emprego Demanda ou desplazamiento de

trabalho E

Participação Implicação dos beneficiários nas distintas fases do projeto S

Grau de dependência de insumos externos críticos A Autosuficiência Nível de autofinanciamento E Reconhecimento dos direitos de propriedade (individuais ou coletivos) S

Uso de conhecimentos e habilidade locais S Controle

Poder de decisão sobre aspectos críticos do funcionamento do sistema S

Autodependência

(autogestão)

Organização Tipo, estrutura, processo de tomada de decisões S

Nota: A tabela apresenta um esquema muito geral de indicadores com fins ilustrativos. Não são todos os indicadores necessariamente relevantes para qualquer sistema de manejo, assim mesmo, podem existir indicadores importantes para projetos específicos não incluídos na tabela. Como se discute no texto, existem três áreas de avaliação que devem ser exploradas: ambiental (A), econômica (E) e social (S). Fonte: Masera; Astier; López-Ridaura (2000,.p. 46)

Page 155: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

146

ANEXO H – Indicadores de sustentabilidade levantados por Carvalho (1993).

DIMENSÃO PARÂMETROS GLOBAIS INDICADORES

Rendimento por pessoa § Avaliação direta – Renda

– Acesso a serviços públicos § Avaliação indireta – Auto-consumo – Manutenção de um determinado estoque

populacional Atendimento da pauta alimentar culturalmente estabelecida * – Controle sobre seu território

– Acesso a serviços culturais** – Garantia da identidade cultural do povo

e/ou grupo indígena

Desenvolvimento Humano

Diversidade cultural

– Interação com grupos externos Estoque de capital natural – Inventários (florestas, solos, leitos de água

doce) Capacidade de regeneração do estoque de capital natural (resiliência):

– Biomassa sustentada por unidade de energia

– Cadeias alimentares – Matéria orgânica total – Elementos nutritivos inorgânicos – Diversidade de espécies (variedade) – Diversidade de espécies (eqüitabilidade) – Diversidade bioquímica – Ciclos biológicos – Ciclos minerais – Papel dos decompositores na regeneração

de elementos nutritivos – Simbiose interna – Conservação de elementos nutritivos

§ Florestas

– Estabilidade – Cobertura – Fertilidade (teor de C = matéria orgânica) – Salinização – Acidez – Erodibilidade – Poluição química

§ Solos

– Desertificação § Poluição:

– fluentes domésticos – Efluentes industriais – Erosão dos solos – Contaminação por produtos químicos

de origem em atividades minerárias – Contaminação por produtos químicos

de origem em atividades agropecuárias § Predação:

– Pesca – Caça

§ Balanço de oxigênio e estratificação térmica § Fatores de trofia (nutrientes, luz e

biomassabiota (abundância e diversidade)

Recursos Naturais Renováveis

§ Leitos de água doce

§ Níveis de contaminação (metais pesados e outros)

continua...

Page 156: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

147

...continuação

DIMENSÃO PARÂMETROS GLOBAIS INDICADORES

– Estoque do recurso Recursos Naturais

Não Renováveis – Alternativa de

substituibilidade industrial do recurso

Dependência de insumos externos ao sistema

– Balanço dos insumos gerados internamente e os importados pelo agroecossistema (não pelo estabelecimento) ***

– Biomassa sustentada por unidade de energia

– Cadeias alimentares – Matéria orgânica total – Elementos nutritivos inorgânicos – Diversidade de espécies-variedade – Diversidade bioquímica – Ciclos biológicos – Ciclos minerais – Papel dos decompositores na regeneração

dos elementos nutritivos – Simbiose interna

Agroecossistemas

Diversidade (complexidade) biológica do sistema

– Estabilidade – Descentralização espacial Descentralização – Participação da sociedade civil – Pessoal efetivamente capacitado

Instituições Governamentais Especialização

– Elenco de especialistas por unidade descentralizada

Observações: * Parâmetro para populações indígenas, em substituição ao rendimento por pessoa. ** Exemplos de indicadores de sustentabilidade da diversidade cultural, para um município do norte do

Mato Grosso: disciplina educação ambiental no curriculo de todas as escolas; museus de história natural; ecoturismo, unidades de conservação e projetos de preservação desenvolvidos pela comunidade; vivência com povos indígenas; grupos de dança, artes plásticas, esportes, etc, em ação efetiva; produção literária, musical, etc; ONGs ativas; participação da população nos projetos de interesse coletivo; etc.

*** Insumos adquiridos: sementes, mudas, sêmen/óvulo; nutrientes; produtos para o controle de fauna e flora; água (irrigação).

Construída por K. Marzall a partir de Carvalho, 1993.

Page 157: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

148

ANEXO I – Indicadores eco-ambientais considerados pelo IAPAR no estudo da microbacia hidrográfica de Mamboré (PR).

RECURSOS DESCRITOR INDICADOR

Cobertura Vegetal

Uso atual vs uso ideal Nota de discrepância de uso

– Espessura do horizonte A

– Cor do horizonte A Erosão

– Análise granulométrica do horizonte A

Estrutura – Localização, extensão e grau de compactação da camada adensada

– Análise química dos solos

Solo

Fertilidade – Produtividade vs adição de nutrientes

Descarga de sólidos – Concentração de sedimentos vs pluviometria Água

Contaminação – Análise quantitativa de agroquímicos

Fonte: Fuentes Llanillo et al., 1993 apud Marzall, 1999. ANEXO J – Indicadores socioeconômicos considerados pelo IAPAR no

estudo da microbacia hidrográfica de Mamboré (PR).

RECURSOS DESCRITOR INDICADOR

Produtividade da terra Kg/ha das principais culturas

Produtividade do trabalho Margem bruta por equivalente-homem

Produtividade do capital Margem bruta

Mudança de categoria social

Econômicos

Acumulação Aumento de capital

Índice de Gini

Área média Acesso à terra

% excluídos

Escolaridade dos filhos

Sociais

Nível de vida Mortalidade infantil

Fonte: Fuentes Llanillo et al., 1993 apud Marzall, 1999.

Page 158: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

149

ANEXO K – Relação de indicadores potenciais e em fase de monitoramento na microbacia hidrográfica de Taquara Branca (SP) pelo subprojeto “Desenvolvimento de metodologias para definição de indicadores de agroecossistemas com alto uso de agrotóxicos” (Embrapa-CNPMA).

ELEMENTO DESCRITOR INDICADOR

R E C U R S O S – tonelada de solo perdido/ano

Erosão – Espessura horizonte A – Análise química

Fertilidade – Produtividade/tempo

Biodiversidade

– Nº espécies de plantas/área – Microfauna de solo – Mesofauna de solo – Espécies e nº de microrganismos/área

Acesso – Índice de Gini

SOLO

Disponibilidade – Área arável/total

Qualidade/contaminação – Agrotóxicos (ppm) – Metais pesados (ppm) – Coliformes fecais nº/ml

Disponibilidade/irrigação – Volume de água do açude/área irrigada

Qualidade/eutrofização – Nitrato, fosfato, amônia, pH, N total, cations,

clorofila, transparência, turbidez, C orgânico, macrófitas

Acesso – Nº propriedades banhadas por cursos de água

Assoreamento (reservatórios) – Profundidade média, volume útil do

reservatório/sólidos em suspensão

ÁGUA

Disponibilidade/uso doméstico – Nº poços abertos/nº de poços secos – nível de água x tempo

Armazenagem – Toneladas – Sacas/litro

Benfeitorias – Tipo e valor estimado CAPITAL FÍSICO (infra-estrutura)

Máquinas e equipamentos – Número e tipo Acesso à educação – Escolaridade Condições de moradia – Tipo de moradia

Composição da força de trabalho – Nº e tipo de trabalhador ocupado por categoria social

Acumulação – Mudança de categoria social Organização do trabalho – Familiar ou contratante de mão-de-obra

Composição da renda – Vive da produção – Subsistência – Outra fonte de renda

Nível de vida/saúde

– Nº de intoxicações – Nº de indivíduos atendidos – Nº de internações – % de trabalhadores contaminados (agrotóxicos) – Mortalidade infantil

CAPITAL HUMANO

Consciência ecológica – Adoção de práticas conservacionistas

F L U X O Mão-de-obra incorporada – Homem/dia

Especialização do trabalho – Mão-de-obra especializada/mão-de-obra não qualificada

Grau de diversificação das atividades – Atividades/propriedade

MANEJO TÉCNICO

Adoção de novas tecnologias – Nº de novas tecnologias adotadas Capacidade de carga animal – Nº de animais/área RENDIMENTO

TÉCNICO Capacidade produtiva – Variação da produtividade ao longo do tempo

Sazonalidade das receitas – Fontes de receitas/durante o ano MANEJO SOCIOECONÔMICO Acesso a financiamento – Nº de agricultores com acesso a crédito

bancário Nível de renda – Renda/família Acumulação – Aumento no nº de bens

RENDIMENTO SOCIOECONÔMICO Valores culturais – Adoção ou manutenção de valores culturais

Fonte: Embrapa [1996?] apud Marzall (1999).

Page 159: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

150

ANEXO L – Resumo de indicadores e descritores apresentados por Lopes (2001).

I N D I C A D O R E S D E S C R I T O R E S

A. Manejo do sistema de produção

– Por que opta por um sistema de produção de base florestal?

– Por que utilizar um sistema agroflorestal?

– Qual o tipo de conhecimento disponível/necessário para manejo do SAF ?

– Nível de capacitação ou cursos para manejo do SAF.

– Disponibilidade, forma e freqüência com que recebe Assistência Técnica

B. Produtividade da terra – Produtividade da Terra

C. Produtividade do trabalho – Produtividade do Trabalho

D. Resiliência econômica

– Saídas possíveis em caso crítico de frustração ou colapso de safra

– Práticas ou ações utilizadas como garantia contra adversidades climáticas e/ou político-econômicas

E. Relações com os mercados – Venda da produção

– Aquisição de insumos externos à propriedade

– Procedência dos Alimentos

F. Renda líquida – Renda Líquida

G. Qualidade do solo (visão do agricultor)

– Qualidade média atribuída pelo agricultor ao solo

– Fatores de análise ou critérios (citados) com que o agricultor analisa essa qualidade

– Práticas de Conservação de solo utilizadas

H. Impactos em outros sistemas – Destino dos Resíduos Líquidos (Esgoto)

– Destino dos Resíduos Sólidos (Lixo)

I. Tomada de decisões na propriedade

– Objetivos perseguidos

– Forma de tomada de decisão

– Nível do debate (maior grau de instrução entre os envolvidos na tomada de decisão)

J. Participação comunitária e institucional

– Nível de participação geral nas instituições da comunidade

– Benefícios obtidos nessa participação comunitária

– Distribuição dos benefícios gerados pela instituição-chave (igualitária entre todos os produtores ou não ?)

– Freqüência anual com que os produtores/associados são chamados para reuniões pela instituição-chave e por outras relacionadas ao arranjo institucional envolvido

– Número médio de agricultores ou associados presentes a essas reuniões

– Assuntos mais freqüentemente tratados nessas reuniões

– Forma de tomada de decisões no grupo / instituição-chave

Fonte: Lopes (2001).

Page 160: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

151

ANEXO M – Parâmetros relacionados com a sustentabilidade dos agroecossistemas proposta por Gliessman

A) CARACTERÍSTICAS DO RECURSO SOLO

A longo prazo a) profundidade do solo, especialmente a profundidade da camada superior e do horizonte orgânico b) percentual e qualidade da matéria orgânica na camada superior do solo c) densidade bruta e outras medidas de compactação na profundidade do pé de arado d) taxas de infiltração e percolação de água e) níveis de salinidade e de minerais f) capacidade de troca de cátions e Ph g) relações de níveis de nutrientes, particularmente C: N A curto prazo h) taxas anuais de erosão i) eficiência de absorção de nutrientes j) disponibilidade e fontes de nutrientes essenciais

B) FATORES HIDROGEOLÓGICOS Eficiência do uso de água na unidade de produção agrícola a) taxas de infiltração de água proveniente de irrigação ou precipitação b) capacidade de retenção da umidade do solo c) taxas de perdas por erosão d) quantidade de encharcamento, especialmente na zona de raízes e) capacidade de drenagem f) distribuição da umidade do solo em relação às necessidades das plantas g) Fluxo de água de superfície h) sedimentação de cursos de água e banhados próximos i) níveis e transporte de agrotóxicos j) efetividade dos sistemas de conservação na redução de fontes de poluição difusa Qualidade da água subterrânea k) movimento de água para baixo, no perfil de solo l) lixiviação de nutrientes, especialmente nitratos m) lixiviação de agrotóxicos e outros contaminantes

C) FATORES BIÓTICOS No solo a) biomassa microbiana total no solo b) taxas de cilcagem da biomassa c) diversidade de microorganismos do solo d) taxas de cilcagem de nutrientes em relação à atividade microbiana e) quantidades de nutrientes ou biomassa armazandos em diferentes partes do agroecossistema f) equilíbiro entre microorganismos benéficos e patogênios g) estrutura e função da rizosfera Acima do solo h) diversidade e abundância de população de pragas i) grau de resistência a agrotóxicos j) diversidade e abundância de inimigos naturais e benéficos k) diversidade e sobreposição de nichos l) durabilidade das estratégias de controle m) diversidade e abundância de plantas e animais naturais

D) CARACTERÍSTICAS EM NÍVEL DE ECOSSISTEMA a) Produção anual b) componentes do processo de produção c) diversidade: estrutural, funcional, vertical, horizontal, temporal d) estabilidade e resistência à mudança e) resiliência e capacidade de se recuperar de pertubações f) intensidade do uso e origem dos insumos externos g) fontes energéticas e eficiência no uso de energia h) taxas/eficiência da ciclagem de nutrientes i) taxas de crescimento da população j) complexidade e interações de comunidade

E) ECONOMIA ECOLÓGICA (LUCRATIVIDADE DA UNIDADE DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA) a) custos e retorno por unidade de produção b) taxa de investimento em bens de capital e conservação c) montante de débito e taxas de juros d) variância de retornos econômicos no tempo e) dependência de insumos subsidiados ou preços de suporte f) retorno líquido relativo obtido por práticas e investimentos ecologicamente baseados g) externalidade e custos resultantes de práticas agrícolas utilizadas h) estabilidade da renda e diversidade das práticas agrícolas

F) O AMBIENTE SOCIAL E CULTURAL a) eqüidade de retorno ao produtor, trabalhador agrícola e consumidor b) autonomia e nível de dependência em relação a forças externas c) auto-suficiência e o uso de recursos locais d) justiça social, especialmente entre culturas diferentes e entre gerações e) eqüidade de envolvimento no processo de produção

Fonte: Gliessman (2000. p. 584-585).

Page 161: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

152

APÊNDICE A – Mapa da Metade Sul e Relevo do Município de Camaquã

Fonte: Carta de Solos do Rio Grande do Sul – Divisão de Geografia e Cartografia/Secretaria da Agricultura, 1980, (FERREIRA, 2001).

Page 162: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

153

APÊNDICE B – Fotos da Região

FOTO 1 – Relevo Predominante do Terço Superior da Região da Serra do Sudeste

FOTO 2 – Vista Aérea do Relevo Característico da Região Costeira

Foto da Pesquisa, 1999 a 2000 (FERREIRA, 2001).

Foto da AUD, 1997 (FERREIRA, 2001).

Obs.: Embaixo, observa-se a BR 116, no sentido da esquerda para direita Porto Alegre – Pelotas.

Page 163: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

154

FOTO 3 – Colheita do Fumo em Estabelecimento Rural da Região da Serra

FOTO 4 – Transporte a Tração Animal (carroça) do Fumo Cultivado na Região da Serra

Foto da Pesquisa, 1999 a 2000 (FERREIRA, 2001.

Foto da Pesquisa, 1999 a 2000 (FERREIRA, 2001).

Page 164: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

155

FOTO 5 – Operação de Aplicação de Uréia em Lavoura de Arroz Irrigado da Região Costeira

FOTO 6 – Colheita da Cultura do Arroz Irrigado em Lavoura da Região Costeira

Foto da Pesquisa, 1999 a 2000 (FERREIRA, 2001).

Foto da EMATER/RS, 1998 (FERREIRA, 2001).

Page 165: indicadores para avaliação da sustentabilidade em contextos de

156