indicadores ambientais no brasil

101
TEXTO PARA DISCUSSÃO Nº 403 INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLÓGICOS, DE EFICIÊNCIA E DISTRIBUTIVOS* Ronaldo Seroa da Motta ** Rio de Janeiro, fevereiro de 1996 * O autor gostaria de agradecer os comentários recebidos de José Carlos Libânio, Washington Novaes, Francisca Fagá e Rubens Bom ao termo de referência inicial deste estudo e os de Regina Petti a uma versão preliminar do texto. Aos colegas Peter May e José Cavalcanti agradece os comentários e o acesso aos seus trabalhos ainda em fase preliminar. Eduardo Mendes, Larisa Chermont, Gustavo Gontijo, Adriana Expósito e José Ricardo Brun, da Coordenação de Estudos do Meio Ambiente (Cema) do IPEA, participaram intensamente na elaboração de indicadores e revisão do texto. ** Coordenador do Meioi Ambiente da DIPES/IPEA.

Upload: leandro-letti

Post on 03-Oct-2015

18 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Artigo sobre indicadores ambientais no Brasil

TRANSCRIPT

  • TEXTO PARA DISCUSSO N 403

    INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL:ASPECTOS ECOLGICOS, DEEFICINCIA E DISTRIBUTIVOS*

    Ronaldo Seroa da Motta**

    Rio de Janeiro, fevereiro de 1996

    * O autor gostaria de agradecer os comentrios recebidos de Jos Carlos Libnio,Washington Novaes, Francisca Fag e Rubens Bom ao termo de referncia inicial desteestudo e os de Regina Petti a uma verso preliminar do texto. Aos colegas Peter May eJos Cavalcanti agradece os comentrios e o acesso aos seus trabalhos ainda em fasepreliminar. Eduardo Mendes, Larisa Chermont, Gustavo Gontijo, Adriana Expsito e JosRicardo Brun, da Coordenao de Estudos do Meio Ambiente (Cema) do IPEA,participaram intensamente na elaborao de indicadores e reviso do texto.** Coordenador do Meioi Ambiente da DIPES/IPEA.

  • O IPEA uma fundao pblicavinculada ao Ministrio doPlanejamento e Oramento, cujasfinalidades so: auxiliar o ministro naelaborao e no acompanhamento dapoltica econmica e prover atividadesde pesquisa econmica aplicada nasreas fiscal, financeira, externa e dedesenvolvimento setorial.

    PresidenteFernando Rezende

    DiretoriaClaudio Monteiro ConsideraLus Fernando TironiGustavo Maia GomesMariano de Matos MacedoLuiz Antonio de Souza CordeiroMurilo Lbo

    TEXTO PARA DISCUSSO tem o objetivo de divulgar resultadosde estudos desenvolvidos direta ou indiretamente pelo IPEA,bem como trabalhos considerados de relevncia para disseminaopelo Instituto, para informar profissionais especializados ecolher sugestes.

    ISSN 1415-4765

    SERVIO EDITORIAL

    Rio de Janeiro RJAv. Presidente Antnio Carlos, 51 14 andar CEP 20020-010Telefax: (021) 220-5533E-mail: [email protected]

    Braslia DFSBS Q. 1 Bl. J, Ed. BNDES 10 andar CEP 70076-900Telefax: (061) 315-5314E-mail: [email protected]

    IPEA, 1998 permitida a reproduo deste texto, desde que obrigatoriamente citada a fonte.Reprodues para fins comerciais so rigorosamente proibidas.

  • SUMRIO

    1. INTRODUO ...................................................................................1

    2. ASPECTOS ECONMICOS E DISTRIBUTIVOS DA POLUIO NO BRASIL ........................................................................................42.1. Recurso gua .................................................................................42.2. Poluio Hdrica ..............................................................................52.3. Poluio Atmosfrica ....................................................................32

    3. O PADRO DE USO DOS RECURSOS FLORESTAIS NO BRASIL ......................................................................................413.1. Recursos Florestais.......................................................................413.2. Produo Agropecuria ................................................................523.3. Custos de Uso dos Recursos Florestais .......................................56

    4. RESDUOS SLIDOS E RECICLAGEM .........................................574.1. Resduos Slidos ..........................................................................584.2. Coleta e Disposio de Lixo Urbano .............................................584.3. Reciclagem Industrial ....................................................................63

    5. DEGRADAO DO SOLO ..............................................................655.1. O Recurso Solo.............................................................................655.2. Os Custos de Degradao do Solo...............................................66

    6. APERFEIOANDO A GESTO AMBIENTAL .................................676.1. O Consumo de Capital Natural no Brasil ......................................676.2. A Gesto Ambiental no Brasil .......................................................706.3. Opes de Instrumentos de Gesto Ambiental ............................73

    ANEXOS ..............................................................................................86

    BIBLIOGRAFIA ....................................................................................92

  • RESUMO

    Este texto uma tentativa de apresentar indicadores ambientais que no retratemsomente os aspectos ambientais (degradao e exausto dos usos dos recursosnaturais), mas tambm revelem a dimenso econmica (eficincia alocativa do usodos recursos) e eqitativa (distribuio dos custos e benefcios do uso dosrecursos) das principais questes ambientais do Brasil. O objetivo procurarindicar alguns aspectos que definam uma avaliao do grau de sustentabilidade deuma economia brasileira.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    1

    1. INTRODUO

    Este texto uma tentativa de apresentar indicadores ambientais que no retratemsomente os aspectos ambientais (degradao e exausto dos usos dos recursosnaturais), mas tambm revelem a dimenso econmica (eficincia alocativa do usodos recursos) e eqitativa (distribuio dos custos e benefcios do uso dosrecursos) das principais questes ambientais do Brasil.

    O objetivo procurar indicar alguns aspectos que definam uma avaliao do graude sustentabilidade de uma economia brasileira.

    Crescimento econmico e preservao ambiental so freqentemente consideradosobjetivos antagnicos. Existem evidncias suficientes para comprovar que aindustrializao, a expanso da fronteira agrcola e a urbanizao criam pressessignificativas na base natural de uma economia, seja pela utilizao acelerada derecursos naturais exaurveis nos processos produtivos, seja devido gerao depoluio que degrada a qualidade ambiental. Advoga-se, tambm, com evidnciasigualmente irrefutveis, que as naes, atualmente consideradas as mais ricas,alcanaram nveis satisfatrios de crescimento custa destas perdas ambientais.Portanto, tal padro de crescimento se torna inevitvel para aquelas naes quehoje se encontram ainda em processo de desenvolvimento.

    No entanto, a questo ambiental no deve ser necessariamente entendida dentrodessa contradio. Embora ainda carente de evidncias igualmente fortes, existemargumentos tericos consolidados que permitem refutar as posies extremasacima mencionadas. Esta alternativa tem sido denominada desenvolvimentosustentvel. Nos ltimos anos uma vasta literatura foi elaborada no sentido deconstruir as bases de um crescimento econmico dissociado da degradaoambiental [ver Pearce e Atkinson (1992), Turner (1992), Victor (1991) e Commone Perrings (1992)].

    Dentro de uma perspectiva econmica,1 no cerne deste novo paradigma docrescimento -- desenvolvimento sustentvel -- observam-se dois aspectos:

    a) A escassez dos recursos naturais e a dos servios ambientais2 j se encontramem nveis suficientemente elevados para constituir uma ameaa continuidade dopadro de crescimento at aqui observado.

    b) Isso implica que um novo padro deve ser incentivado atravs doestabelecimento de novos preos relativos destes recursos naturais e serviosambientais dentro de critrios de eficincia e eqidade.

    1Para uma viso mais associada cincia poltica ou sociologia, ver Colby(1990).

    2Servios ambientais referem-se a todos os servios gerados pelo capital naturalque no correspondem ao uso direto do recurso natural na forma de insumo.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    2

    Embora tais aspectos permeiem esta nova literatura e em grande parte as aes dasOrganizaes No-Governamentais (ONG), a dimenso em que estes socolocados diverge em substncia e delimitao. Nos extremos esto duascorrentes: uma que segue o padro de "fraca sustentabilidade", no qual se encontraa hiptese de que existe substituibilidade perfeita entre capital natural e capitalmaterial. Ou seja, existe a possibilidade tecnolgica de crescimento contnuo,desde que parte da renda econmica seja reinvestida de forma a manter o nveltotal de capital -- natural e material -- de uma economia. Desta forma, garante-seuma capacidade produtiva (e de acesso a recursos naturais de consumo direto) ageraes futuras equivalente ao que disponvel gerao presente.3 No outroextremo, situa-se o padro de "forte sustentabilidade", no qual as duas formas decapital no so substituveis e, portanto, o crescimento sustentvel s se daria se onvel do estoque de capital natural fosse mantido constante. Ou seja, como seriammuito restritas as possibilidades tecnolgicas de compensar perdas de capitalnatural por capital material, o bem-estar de geraes futuras somente estariagarantido se o estoque de capital natural fosse mantido intacto.4

    Conforme se observa, o nvel de consumo de capital natural torna-se, assim, umimportante ndice de sustentabilidade.

    Definir as possibilidades de substituio entre capital natural e capital material,isto , nveis de degradao e exausto dos recursos naturais socialmentedesejveis em termos dos respectivos custos e sua distribuio entrecontemporneos e no tempo, torna-se, assim, uma condio bsica na tentativa deseguir trajetrias de sustentabilidade.

    Generalizando, a questo da sustentabilidade se formaliza na capacidade de umaeconomia em realizar investimentos que compensem o seu consumo de capital.

    Esta generalizao torna-se, contudo, sem contedo prtico, para a tomada dedecises em direo a qualquer trajetria de sustentabilidade, se a sociedade no capaz de reconhecer e reorientar os custos ecolgicos, econmicos e distributivosdas possibilidades de substituio entre capital natural (capacidade de gerar bens eservios ambientais) e capital material (capacidade de gerar bens de consumomaterial) resultante do processo de crescimento da renda nacional.

    A contribuio deste estudo neste sentido. Ou seja, analisar indicadores quepossam ajudar a refletir sobre a dimenso destes custos. No se procurar, porconvico, mensurar ou indicar nveis de sustentabilidade, mas sim, e somente,

    3Esta a premissa dos textos seminais de Solow (1978) e Hartwick (1977) sobreeqidade intertemporal na alocao de recursos naturais.

    4Uma hiptese intermediria de sustentabilidade seria aquela em que sedeterminaria que tipo de capital substituvel ou qual o nvel de substituiopossvel.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    3

    trazer indicadores que permitam esclarecer as restries ambientais aocrescimento econmico.

    Aspectos normativos, se houver, aparecero unicamente no ltimo captulo queanalisa sugestes de poltica no debate de opes que semeiam a literatura dotema.

    O objetivo maior deste texto no ser o de apontar os limites do crescimento,mas discutir os limites da sustentabilidade. No entanto, a contribuiooferecida ser muito limitada, por trs razes principais:

    a) primeiro, devido as restries usuais de tempo e recursos financeiros.

    b) segundo, uma anlise ambiental tem que privilegiar o ciclo de vida do produto.Isto , analisar os impactos ambientais na produo dos insumos necessrios parasua transformao at a disposio final do produto final e seus resduos. Talanlise bastante complexa dado que de difcil delimitao a definio do incioe fim deste ciclo, sem comentar as necessidades de informaes para avaliardevidos impactos.

    c) terceiro, a gerao de indicadores ambientais complexa porque as estatsticasambientais no esto ainda sistematizadas como as de demografia e das atividadesprodutivas e muito menos integradas a estes sistemas de informaes. Enquanto,por exemplo, os estudos de distribuio de renda podem contar com o sistema depesquisas domiciliares e os estudos de desempenho econmico com o sistema decontas nacionais, os estudos ambientais tm que se referenciar a diversas fontes dedados e estimativas pontuais no tempo e espao.

    A necessidade de sistematizao das estatsticas ambientais e sua conciliao comoutros sistemas tambm requisito bsico de sustentabilidade. Dessa forma, aanlise das questes ambientais foi certamente limitada e dirigida de acordo com adisponibilidade de informaes estatsticas. Todavia, o leitor poder ter a certezaque se procurou privilegiar as questes ambientais que so consideradas maisurgentes por especialistas, rgos governamentais, entidades ambientalistas e deinteresse da opinio pblica. As omisses na seleo de indicadores e aslimitaes das anlises, entretanto, no passaro despercebidas e estudos futurostentaro corrigir estas lacunas.

    Assim sendo, na Seo 2 discute-se a questo da poluio, particularmente a deorigem domstica e industrial. A Seo 3 apresenta uma anlise do padro de usodo solo florestal em termos de desmatamento e explorao de recursos florestais.A coleta, disposio e reciclagem dos resduos slidos so temas especficos daSeo 4. A Seo 5 analisa alguns aspectos da degradao do solo devido satividades agrcolas. E, finalmente, na Seo 6, discutem-se opes de polticaambiental e econmica que poderiam induzir a economia brasileira a trajetriasmais sustentveis de crescimento.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    4

    Pelas mesmas razes de disponibilidade de dados, alguns temas e suas anlisesganharam espao editorial maior. Livre de dvidas que tal fato no est associado importncia do tema.

    Nos temas associados degradao, a anlise das questes econmica edistributiva foi concentrada nas questes intratemporais devido aos seus efeitosimediatos entre contemporneos. Para os recursos naturais em processo deexausto, a questo distributiva intertemporal prevaleceu de forma a refletir atransferncia desses recursos para geraes futuras.

    Vale mencionar que o anexo estatstico apresenta todos os indicadores bsicos,isto , estimados por levantamentos sistemticos, disponveis em nvel de estado.Outros indicadores obtidos de estudos especficos constam somente do textoanaltico.

    Este texto, contudo, por questes de densidade de informaes e para facilidade deinterpretao do leitor, concentrou-se mais nas informaes em nvel de granderegies sempre que a anlise estadual no foi considerada essencial para acompreenso dos fatos.

    2. ASPECTOS ECONMICOS E DISTRIBUTIVOS DA POLUIO NO BRASIL

    Esta seo apresenta indicadores ambientais que refletem a dimenso econmica edistributiva da poluio hdrica e atmosfrica no Brasil, com suas principais fontese impactos. Em seguida, procura discutir alguns indicadores econmicos doscustos destes impactos e os seus possveis efeitos distributivos intratemporais.5

    2.1. Recurso gua

    A gua um dos recursos naturais de uso mais intensivo e diversificado pelohomem. Entre os usos mais comuns, pode-se citar sua utilizao paradessedentao humana e de animais, irrigao, criao de espcies aquticas,gerao de energia, insumo industrial, higiene pessoal e ambiental, transporte,lazer, composio de paisagens e diluio de efluentes industriais e dejetosorgnicos (inclusive os humanos).

    Cada uma dessas possveis formas de utilizao da gua demanda um padro dequantidade e qualidade diferenciado, que normalmente no compatvel com aqualidade da gua devolvida aps seu uso para um determinado fim. Com isso, adespeito de sua capacidade natural de renovao em um horizonte de temporelativamente curto (se comparado ao de outros recursos naturais), a inexistnciade esforos no sentido de controlar e recuperar a gua utilizada pela ao humana

    5Embora importante, no foram consideradas neste estudo as questes de poluiorelacionadas insalubridade dos locais de trabalho.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    5

    pode comprometer, temporria ou definitivamente, outras possveis aplicaesdeste recurso.

    Antes de avaliar os efeitos da poluio do uso do recurso gua, vale discutir suadisponibilidade e a distribuio dos seus principais usos.

    A Tabela 1 mostra estimativas de consumo apresentadas em Barth (1991) edisponibilidade de gua no Brasil e a relao entre ambas que determina o balanohdrico. Verifica-se imediatamente que existe um balano bastante favorvel nopas de 0,65. Em termos regionais as diferenas so significativas.

    Enquanto na regio Norte este balano de 0,01, nas regies mais desenvolvidas epopulosas o balano 5 a 8 vezes maior que a mdia nacional. Tal cenrio propcio para conflitos de usos localizados em bacias nas quais h grandesconcentraes de atividades econmicas e de populao, como o caso dasregies metropolitanas de So Paulo e Rio de Janeiro. O balano favorvel daregio Centro-Oeste superavaliado considerando a fragilidade hidrolgica doPantanal.

    Os dados da Tabela 1 indicam tambm que quase 60% do consumo de gua nopas so destinados irrigao. Nas regies Nordeste, Sudeste e Sul, onde obalano hdrico mais desfavorvel, este percentual , respectivamente, de 69,9,40,8 e 80,9. Os percentuais nestas regies para os outros usos da gua seequivalem. Isto confirma a potencialidade da irrigao de gerar conflitos emdiversas bacias onde maior a concentrao do uso da gua.

    2.2. Poluio Hdrica

    Associada ao uso que altera o volume disponvel do recurso, a descarga de guaque retorna ao meio com qualidade alterada, na forma de poluio, resulta emcustos ambientais que geralmente no so internalizados nas decises de uso dorecurso.

    As principais fontes de poluio hdrica so originrias do setor produtivo(indstria, servios e agropecuria) e das famlias em termos de esgoto e guaspluviais.

    Os principais poluentes so as matrias orgnicas e as matrias inorgnicas (porexemplo, metais pesados, fenis, componentes nitrogenados e fosfatados e outrascargas txicas de origem qumica).

    As matrias orgnicas geradas tanto pelas famlias quanto pelo setor produtivo,alm da sua contribuio para a reduo de oxignio dissolvido na gua, que afetaa fauna e a flora aquticas, podem indicar a concentrao de coliformes e outrosagentes patognicos que causam a incidncia de doenas nas populaes humanasvia contato direto ou contaminao de produtos agrcolas.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    6

    Tabela 1Disponibilidade e Estimativas de Consumo Hdrico no Brasil

    Disponi- Consumo Balano

    Regio bilidade (1) Urbano Industrial Irrigao Total (%)

    m/s m/s (%)* m/s (%)* m/s (%)* m/s (2) (2/1)

    Norte 121.847 9,3 58,13 4,0 25,00 2,7 16,88 16,0 0,01

    Nordeste 5.900 42,9 17,32 31,6 12,76 173,2 69,92 247,7 4,20

    Centro Oeste 27.842 16,1 34,62 5,8 12,47 24,6 52,90 46,5 0,17

    Sudeste 10.589 144,7 29,26 148,3 29,98 201,6 40,76 494,6 4,67

    Sul 11.578 42,0 11,93 25,4 7,21 284,8 80,86 352,2 3,04

    Brasil 177.757 255,1 22,05 215,0 18,58 686,9 59,37 1.157,0 0,65

    *Percentagem sobre o total do consumo da regio.Fonte: Barth (1991).

    Concentraes elevadas de matrias inorgnicas podem ser tambm prejudiciais vida aqutica e humana. Os rejeitos de metais pesados e outras cargas txicas dasatividades industriais e o run-off urbano apresentam geralmente toxicidade comefeitos cumulativos e de conseqncias desastrosas na sade humana e animal. Ospoluentes nitrogenados e fosfatados dos fertilizantes e do esgoto urbano, atravsda eutrofizao, e, principalmente, as cargas qumicas dos pesticidas e herbicidasliberadas pela agropecuria, tornam-se uma forma de degradao de difcilrecuperao.

    Adicionalmente, observa-se um processo acelerado de deposio de sedimentonos meios hdricos pelo uso inadequado do solo (por exemplo, desmatamento,agricultura de vrzea e minerao) nas reas marginais dos rios que afetam adisponibilidade do recurso alm de afetar sua qualidade. Entre os efeitos maisnegativos citam-se as incidncias de cheias, perda de navegabilidade e danos smatas ciliares.6

    Dessa forma, tais processos de degradao da qualidade das guas restringem oacesso gua potvel, s atividades produtivas e recreacionais e prpriapreservao da biodiversidade.

    A recuperao dessa qualidade somente possvel atravs de investimentosvultosos em controle de poluio que, conseqentemente, elevam os custos de usodo recurso hdrico com efeitos distributivos significativos.

    6Um efeito tambm bastante conhecido da sedimentao o desgaste nacapacidade de turbinagem nas usinas hidreltricas.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    7

    Certamente as camadas mais pobres da populao sero as mais afetadas namedida em que seu nvel de renda no permite habitar as reas urbanas maisvalorizadas com melhor infra-estrutura de saneamento e qualidade ambiental oumesmo despender gastos para evitar ou mitigar os efeitos negativos dadegradao. Portanto, estas camadas esto mais expostas ao contato e contgio dasguas poludas.

    Conforme ser analisado, so os mais pobres que, por falta de saneamento, geramuma parte significativa da poluio hdrica urbana e, ao mesmo tempo, so os quemais sofrem com esta degradao.

    As informaes sobre qualidade das guas so muito precrias dadas a dimensodo Territrio Nacional e a reduzida capacidade institucional de monitoramento.ndices de qualidade de gua so elaborados em alguns estados brasileiros paraalgumas bacias hidrogrficas, mananciais subterrneos e regies costeiras.7 Estesndices quase sempre incluem somente indicadores de matria orgnica esedimentos (por exemplo, demanda por oxignio, coliformes e turbidez). Assim,uma anlise destes ndices ser evitada na medida em que revelariam apenasaspectos pontuais e localizados sem permitir resultados conclusivos.8

    Nesta seo sero, ento, discutidos as fontes de poluio hdrica, seus efeitoseconmicos e distributivos em termos de sade humana e os respectivos custos decontrole que a sociedade deveria incorrer para evitar esta forma de degradao.

    2.2.1. As Fontes de Poluio Hdrica no Brasil

    No caso de matrias orgnicas, um estudo recente [ver Mendes(1994)] estima aparticipao das principais fontes de poluio hdrica no Brasil, conformeapresentado na Tabela 2. As estimativas referem-se ao ano de 1988 devido adisponibilidade de dados para todo o pas, principalmente, os da indstria e detratamento de esgoto urbano,ser possvel, somente neste perodo.9

    As estimativas apresentadas nas seis primeiras colunas da Tabela 2 so deemisses que potencialmente seriam geradas sem qualquer prtica decontrole(carga potencial) pelos efluentes industriais e agropecurios, esgotosurbano e rural e run-off agrcola. Nas colunas seguintes da Tabela 2 estimou-setambm a carga residual que gerada aps a introduo de prticas decontrole(carga remanescente) para os efluentes industriais e o esgoto urbano. Para

    7A Resoluo Conama 20 de 18/06/86 estabelece critrios para classificao dasguas no Territrio Nacional.

    8Estes ndices podem ser encontrados em publicaes de rgos federais decontrole ambiental ou de gesto dos recursos hdricos. Para uma anlise dos casosde So Paulo, Rio de Janeiro e Paran, ver Seroa da Motta et alii. (1993).9Estes dados foram obtidos de Pronacop(1989) e IBGE(1992). Ver detalhesmetodolgicos e de base de dados em Mendes (1994).

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    8

    as outras fontes no foi possvel realizar estimativas desta carga remanescentedevido ausncia de informaes ou tcnicas adequadas de estimao.

    Estas estimativas revelam que potencialmente o setor agropecurio (incluindo oesgoto rural) representa mais de 40% das emisses de carga orgnica nos meioshdricos brasileiros.10 As variaes regionais refletem o grau de atividade do setor.

    possvel afirmar que em ambos os casos o nvel de controle da poluio naagropecuria est determinado, principalmente, pela percolao do solo eraramente, devido a razes tecnolgicas e sua disperso espacial, por controledireto nas fontes. Dessa forma, de esperar que suas emisses remanescentessejam igualmente elevadas.

    Tabela 2Estimativas de Carga Potencial de Matria Orgnica nos Recursos Hdricos no Brasil - 1988

    (% das emisses totais)Regio Carga Potencial Carga Remanescente

    Inds-tria

    EsgotoUrbano

    EsgotoRural

    Pecuria Run-Off

    Total Inds-tria

    EsgotoUrbano

    Total

    Norte 1.9 7.9 7,5 27,5 55,1 100,0 20,9 79,1 100,0Nordeste 11,2 11,0 8,1 33,4 36,3 100,0 26,5 73,5 100,0Centro-Oeste 3.9 5.2 1,4 49,6 39,9 100,0 32,1 67,9 100,0Sudeste 21,7 17,4 2,5 32,0 26,4 100,0 22,6 77,4 100,0Sul 14,7 8.9 3,6 39,9 32,9 100,0 46,0 54,0 100,0

    Brasil 15,5 12,6 4,1 35,5 32,4 100,0 28,0 72,0 100,0

    Obs: Regio Sudeste (RJ, SP, MG, ES), Regio Sul (RS, PR, SC), Regio Centro-Oeste (GO),Regio Nordeste (BA, CE, MA, PE), Regio Norte (PA).Fonte: Mendes, 1994.

    Outra fonte potencialmente importante o run-off urbano que corresponde a maisde 30 % do total da carga potencial. As variaes regionais so determinadas pelasintensidades de concentrao urbana, nvel de coleta e formas de disposio delixo e ndice pluviomtrico. Tambm este tipo de carga, geralmente por questestecnolgicas e espaciais, pouco controlado na fonte, ainda que seja uma fonteimportante de poluio hdrica urbana com conseqncias econmicas edistributivas significativas.

    Embora as cargas potencialmente geradas da indstria e do esgoto domsticosejam, somadas, inferiores a 30% do total estimado, sua concentrao espaciallhes atribui um significado de importncia para o controle ambiental que afeta os

    10Note-se que estas estimativas referem-se somente a carga orgnica. O run-offagrcola , conforme j salientado, gera tambm emisses de nitrogenados efosfatados e resduos de difusivos e herbicidas.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    9

    grandes centros urbanos.11 Alm de serem emisses pontuais que permitemconstante monitoramento, o seu controle tecnologicamente avanado e derelativa facilidade operacional.

    Em termos percentuais, as cargas potenciais da indstria e do esgoto urbano soequivalentes em termos nacionais. Entretanto, observando a Tabela 2, a cargaorgnica remanescente da indstria menos da metade gerada pelo esgoto urbano.Tal fato evidencia que o controle dos efluentes industriais, representado pelo nvelde tratamento, est muito acima daquele praticado no esgoto urbano. Entretanto,conforme j assinalado e que ser analisado detalhadamente mais adiante, otratamento do esgoto urbano apenas um aspecto da importncia ambiental eeconmica desta fonte de poluio. O acesso aos servios de saneamento (guapotvel e coleta de esgoto e lixo) tambm apresenta importantes impactosdistributivos.

    Para as fontes de carga inorgnica no existe ainda estimativas adequadas, excetoas relativas a metal pesado na indstria que sero analisadas na subseo seguinte.

    Entretanto, em relao a estes poluentes, possvel afirmar que: a) dada aintensidade de uso de insumos qumicos na agricultura brasileira seu carreamentoafeta tanto os corpos dguas superficiais como subterrneos em termos denitrogenados, fosfatados e cargas qumicas txicas e b) as emisses de metaispesados e fenis podem ocorrer com intensidade no run-off urbano devido existncia de descarga direta (e ilegal) de produtos qumicos (por exemplo,atividades protticas, de galvanizao e de troca de leo automotivo) na redepluvial.

    2.2.2. A Poluio Hdrica na Indstria Brasileira

    Estudo recente de Mendes (1994), utilizando metodologia proposta inicialmenteem Seroa da Motta et alii(1993),12 apresenta indicadores que permitem analisar odesempenho do controle da poluio hdrica da indstria brasileira por setor eunidade da Federao.

    Estimou-se o nvel de controle ou remoo de carga orgnica e de metais pesadospor setor e estado como a relao entre carga potencial (carga emitida sem

    11Este problema pode tambm ser verificado nas emisses agropecurias emdiversas regies do pas onde tais atividades so intensas e concentradas.Entretanto, os dados disponveis no permitem uma anlise mais detalhada destaquesto.

    12Em Seroa da Motta et alii (1993) estes indicadores so tambm estimados. Asestimativas de Mendes (1994) so realizadas com uma base de dados revisada eampliada.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    10

    qualquer prtica de controle) e carga remanescente (carga residual aps introduode procedimentos e equipamentos de controle).

    Dividindo as medidas de cargas pelo PIB do estado ou setor, estimaram-seindicadores de intensidade de poluio potencial e remanescente que representama capacidade de gerao de poluio por unidade de produto industrial.

    Os dados utilizados referem-se ao nico levantamento nacional de cargaspoluidoras industriais realizado para a avaliao do Programa Nacional deControle da Poluio Industrial (Pronacop) e referem-se a uma pesquisaconduzida em 1988 junto aos cadastros dos diversos rgos ambientais estaduais.Estes dados esto agregados a partir da classificao de atividades industriais dosCensos Econmicos do IBGE a dois dgitos,13 a saber:

    cdigoIBGE

    gnero da indstria

    11 Metalurgia

    12 Mecnica

    14 Material de Transportes

    15 Madeira

    17 Papel e Papelo

    19 Couros e Peles, Artigos para Viagem

    20 Qumica

    21 Produtos Farmacuticos e Veterinrios

    22 Perfumaria, Sabes e Velas

    24 Txtil

    26 Produtos Alimentares

    27 Bebidas

    Os dados sobre nveis de emisso do Pronacop esto disponveis somente paradoze estados brasileiros: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Esprito Santo, Rio Grandedo Sul, Paran, Santa Catarina, Gois, Bahia, Pernambuco, Cear, Maranho ePar.

    Incluram-se os dados relativos ao Estado de So Paulo que foram fornecidosdiretamente pelo seu rgo ambiental -- a Companhia de Tecnologia deSaneamento Ambiental (Cetesb).

    13Vale observar que a classificao do IBGE refere-se a estabelecimentos deprodutos homogneos e no a estabelecimentos com o mesmo produto principalcomo classifica o cadastro ambiental. Entretanto, a dois dgitos tal divergncia noafeta significativamente as comparaes realizadas. Para uma discusso desta basede dados, ver Seroa da Motta et alli (1993) e Mendes (1994).

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    11

    Ambas as bases de dados fornecem informaes sobre a atividade principal e as decargas potenciais e remanescentes de carga orgnica (medidas em DBO --Demanda Bioqumica de Oxignio) e metais pesados dos principaisestabelecimentos da indstria de transformao, constantes dos cadastros dosrgos ambientais estaduais.

    Nvel de Controle Setorial

    A Tabela 3 demonstra que o nvel mdio de remoo de matria orgnica deorigem industrial para o pas como um todo de 73,06% e de metais pesados51,66%.

    Os setores com o melhor desempenho de controle de matria orgnica --metalurgia (11) e qumica (20) -- apresentam nveis de controle de 96,6 e 81,4%,respectivamente. Todos os outros setores apresentam nveis de controle abaixo damdia nacional. As indstrias de papel e celulose (17), junto com as de material detransporte (14), bebidas (27), alimentos (26), madeira (15) e couro (19) possuemnveis de remoo variando de 52,2 a 65,4%. Em seguida, com nveis mais baixos,esto os setores txtil (24), perfumaria, sabes e velas (22) e farmacutica (21),que controlam as emisses orgnicas em 38,2, 34,7 e 34,6%, respectivamente. Omenor grau de controle, 18,3%, aparece na indstria mecnica (12).

    Tabela 3Nveis Setoriais de Remoo e Intensidade da Poluio Hdrica Industrial no Brasil - 1988

    Carga Orgnica Metais Pesados

    NR IP (g/US$) IR (g/US$) NR IP (g/US$) IR (g/US$)

    11 96,6% 27 105,11 27 40,98 17 88,84% 19 1,84 11 0,8520 81,4% 20 86,85 19 21,69 14 62,26% 11 1,73 19 0,76

    Brazil 73,1% 19 45,36 20 16,15 24 62,06% Brazil 0,32 Brazil 0,1517 65,4% 17 37,35 17 12,91 19 58,94% 12 0,16 12 0,0714 63,8% 26 27,96 26 11,31 12 58,68% 14 0,13 14 0,0527 61,0% Brazil 27,62 15 8,82 Brazil 51,66% 20 0,03 20 0,0326 59,5% 15 19,83 Brazil 7,44 11 50,57% 24 0,00 24 0,0015 55,5% 24 7,11 22 4,58 20 18,25% 17 0,00 17 0,0019 52,2% 22 7,02 24 4,4024 38,2% 21 2,25 21 1,4722 34,7% 11 1,12 12 0,6021 34,6% 12 0,73 14 0,1812 18,3% 14 0,49 11 0,04

    Fonte: Mendes (1988).Notas: (a) Ver texto para definies dos indicadores.(b) Os valores 0,00 so arredondamentos.NR - Nvel de remoo.IP - Intensidade de poluio potencial.IR - Intensidade de poluio remanescente.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    12

    No Grfico 1 evidencia-se que os setores com maior carga orgnica potencial (17,20, 26 e 27), apesar de apresentarem elevados nveis de controle, so tambmaqueles com maior carga remanescente. A qumica, por exemplo, controla mais de80% da carga potencial e ainda assim possui a carga remanescente mais alta. Estesinidicadores revelam, assim, que o controle ambiental est dirigido a estes setoresmais poluidores.

    A Tabela 3 tambm aponta para uma possvel correlao positiva entre oindicador de intensidade potencial de poluio e o indicador de remoo. Ossetores com intensidades de poluio baixa -- 24, 22, 21 e 12 -- possuem nveis decontrole bastante reduzidos e aqueles com intensidades altas tm um controle maiselevado. Nos setores com alta intensidade potencial, destaca-se a qumica (20)com um nvel de controle de 81,21%. A metalurgia (11) uma exceo, poismesmo apresentando uma baixa intensidade potencial, atinge um controle de96,6%.

    Esta correlao parece indicar que o controle ambiental tem sido eficaz em reduzira intensidade de poluio orgnica da indstria. Os dados da Tabela 3 comprovama reduo nacional da intensidade de poluio de 27,7 ao nvel potencial para 8,8ao nvel remanescente, embora exista uma ordenao setorial semelhante entre osdois indicadores de intensidade.

    No caso dos metais pesados, observa-se na Tabela 3 que o nvel de controle depoluio por metal pesado relativamente homogneo entre setores e situa-se emtorno da mdia nacional de 51,7%. As indstrias de papel e celulose (17) e aqumica (20) so as nicas que se distanciam da mdia com nveis de controle de88,8 e 18,3%, respectivamente.

    Entretanto, os indicadores do Grfico 2 revelam que a metalurgia (11),responsvel por grande parte da carga poluidora, no apresenta o nvel decontrole mais elevado. Os demais setores apresentam cargas, tanto potenciaiscomo remanescentes, muito abaixo da metalurgia e um maior nvel de controle,exceto pela qumica(20).

    A intensidade de poluio por metal pesado na indstria como um todo reduziu-sede 0,32 em termos potenciais para uma remanescente 0,15. Esta reduo deaproximadamente 50% foi inferior observada para carga orgnica, em torno de75%.

    Entretanto, comparando-se os resultados do Grfico 2 e da Tabela 1 percebe-seque, conforme indicado no caso de carga orgnica, os indicadores setoriais deintensidade potencial e remanescente para metais pesados tambm mantm umaordenao setorial semelhante. Os setores de maior intensidade -- 11, 12, e 19 --so aqueles que igualmente possuem as maiores cargas de metal pesado.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    13

    GRFICO 1

    NVEIS REGIONAIS DE EMISSO DE MAT RIA ORGNICA NOS EFLUENTES INDUSTRIAIS NO BRASIL-1988

    96,6% 18,3% 63,8% 55,5%65,4%

    52,2%

    81,4%

    34,70% 34,7% 38,2%

    59,60%

    61,0%

    0

    200000

    400000

    600000

    800000

    1000000

    1200000

    1400000

    1600000

    11 12 14 15 17 19 20 21 22 24 26 27

    SETORES IBGE

    CA

    RG

    A D

    E M

    AT

    R

    IA

    OR

    G

    NIC

    A [

    1000

    ton/

    ano]

    POTENCIAL

    REMANESCENTE

    NOTAS: (i) Ver conceitos e classificao no texto(ii) Os percentuais acima da coluna referem-se ao nvel de

    remooFONTE: MENDES (1994)

    GRFICO 2

    NVEIS REGIONAIS DE EMISSO DE METAIS PESADOS NOS EFLUENTES INDUSTRIAIS NO BRASIL-1988

    50,6%

    58,7%62,3%

    88,8%58,9%

    18,2% 62,1%0

    2000400060008000

    10000120001400016000180002000022000

    11 12 14 15 17 19 20 21 22 24 26 27

    SETORES IBGE

    CA

    RG

    A D

    E M

    ET

    AIS

    PE

    SA

    DO

    S

    [100

    0ton

    /ano

    ]

    POTENCIAL

    REMANESCENTE

    NOTAS: (i) Ver conceitos e classificao no texto (ii) Os percentuais acima da coluna referem-se ao nvel de

    remooFONTE: MENDES (1994)

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    14

    O indicador de intensidade poluidora remanescente pode ser utilizado como umindicador de eficincia ambiental. Portanto, constata-se que a indstriametalrgica, alm de apresentar as maiores cargas, a que mais lana metaispesados por unidade de receita gerada na atividade produtiva.

    Em suma, analisando os indicadores de intensidade remanescente de poluioorgnica e de metais pesados na indstria brasileira, percebe-se que estesacompanham a ordenao setorial dos indicadores de intensidade potencial, ouseja, os setores com alta intensidade potencial mantm-se, em termos relativos,com elevada intensidade remanescente. Desta forma, apesar de o controleambiental da poluio hdrica na indstria se concentrar nos maiores poluidores enaqueles setores com maior intensidade potencial, o resultado final sugere que aintensidade de poluio industrial, embora reduzida, ainda se deve aos setorespotencialmente poluidores.

    Assim sendo, a expanso econmica destes setores, mantendo-se o nvel decontrole observado, conduz a uma estrutura produtiva com alta intensidade depoluio.

    Nvel de Controle Regional

    A Tabela 4 indica que So Paulo, o estado mais industrializado, apresenta o maiornvel de remoo de carga orgnica em torno de 93%. Todavia, os indicadoresdesta tabela no confirmam uma forte correlao entre grau de industrializao envel de remoo. Bahia, Pernambuco e Paran apresentam nveis de controle decarga orgnica em torno da mdia nacional de 73,1%. Maranho, Rio de Janeiro,Esprito Santo e Rio Grande do Sul controlam as emisses orgnicas em 68,9,51,4, 50,4 e 47%, respectivamente. Gois controla 38,4%, enquanto Minas Gerais,Santa Catarina e Cear atingem nveis de controle entre 24,2 e 29,1%. Com omenor controle, 13,7%, surge o Par.

    No Grfico 3, apesar dos resultados para So Paulo e Par, a correlao entre acarga potencial orgnica e o nvel de controle no to evidente em outros estadoscomo, por exemplo, Minas Gerais ou Bahia.

    O mesmo se observa no controle de metais pesados, conforme mostram a Tabela 4e o Grfico 4. Embora Rio de Janeiro e So Paulo sejam os estados queapresentam maior carga poluidora destes metais, no se constata uma correlaosignificativa entre nvel de carga e nvel de remoo.

    Outra semelhana observada para os metais pesados com o padro de controle dematria orgnica por estados se revela na fraca associao entre o nvel deremoo e o nvel de industrializao nos estados.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    15

    Tabela 4Nveis Regionais de Remoo e Intensidade da Poluio Hdrica Industrial no Brasil - 1988

    Carga Orgnica Metais Pesados

    NR IP (g/US$) IR (g/US$) NR IP (g/US$) IR (g/US$)

    SP 93,4% MA 204,14 MA 63,40 MA 87,8% RJ 1,19 PE 0,65BA 75,7% PE 171,60 GO 60,85 GO 79,2% PE 0,66 RJ 0,44PE 75,2% GO 98,70 PE 42,49 BA 67,3% ES 0,64 MG 0,41PR 74,9% PR 70,81 CE 28,73 SP 63,6% MG 0,42 ES 0,38

    Brasil 73,1% CE 37,90 PA 24,29 RJ 62,8% Brasil 0,32 CE 0,27MA 68,9% ES 35,91 MG 21,40 RS 56,6% BA 0,30 Brasil 0,15RJ 51,4% MG 30,19 SC 17,85 Brasil 51,7% CE 0,28 PR 0,12ES 50,4% PA 28,15 ES 17,81 ES 40,4% RS 0,25 RS 0,11RS 47,0% Brasil 27,62 PR 17,78 PA 35,7% SP 0,18 BA 0,10GO 38,4% SC 23,89 RS 8,16 PR 29,3% PR 0,17 SP 0,07MG 29,1% SP 22,63 Brasil 7,44 SC 16,5% GO 0,07 SC 0,04SC 25,3% RS 15,40 RJ 5,07 MG 2,9% SC 0,05 GO 0,02CE 24,2% BA 15,09 BA 3,67 PE 2,0% MA 0,02 MA 0,00PA 13,7% RJ 10,43 SP 1,49 CE 1,0% PA 0,00 PA 0,00

    NOTAS: (i) Ver texto para definies dos indicadores. (ii) Os valores 0,00 so arredondamentos.NR- Nvel de remoo.IP- Intensidade de poluio potencial.IR- Intensidade de poluio remanescente.FONTE: Mendes (1988).

    Notas: a) Ver conceitos e classificao no texto.b) Os percentuais acima da coluna referem-se ao nvel de remoo.Fonte: Mendes (1994).

    GRFICO 3

    NVEIS REGIONAIS DE EMISSO DE CARGA ORGNICA NOS EFLUENTESINDUSTRIAIS NO BRASIL - 1988

    74,9%

    75,2%

    68,9%38,4%50,4%24,2%75,7%

    29,1%

    13,7%51,4% 47,0% 25,3%

    93,4%

    0100000200000300000400000500000600000700000800000900000

    10000001100000

    BA CE ES GO MA MG PA PE PR RJ RS SC SP

    ESTADOS

    CA

    RG

    A O

    RG

    N

    ICA

    [ton

    /ano

    ]

    POTENCIAL

    REMANESCENTE

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    16

    Notas: a) Ver conceitos e classificao no texto.b) Os percentuais acima da coluna referem-se ao nvel de remoo.Fonte: Mendes (1994).

    Conforme diagnosticado na avaliao setorial, a ordenao dos estados em termosde intensidade potencial e remanescente no se altera significativamente. Ou seja,mantida a expanso espacial atual da indstria, no se observaria uma reduo daintensidade de poluio do setor.

    As Necessidades de Investimento em Controle

    Para atender a metas maiores de controle, o setor industrial requer investimentosna sua estrutura produtiva. Estes abrangeriam gastos em converso para processos

    GRFICO 4

    NVEIS REGIONAIS DE EMISSO DE METAIS PESADOS NOS EFLUENTESINDUSTRIAIS NO BRASIL - 1988

    67,3%1,0%

    40,4%79,2% 87,8%

    2,9%

    35,7%2,0% 29,3%

    62,8%

    56,6%

    16,5%

    63,6%

    0

    1000

    2000

    3000

    4000

    5000

    6000

    7000

    8000

    9000

    10000

    BA CE ES GO MA MG PA PE PR RJ RS SC SP

    ESTADOS

    CA

    RG

    A D

    E M

    ET

    AIS

    PE

    SA

    DO

    S[to

    n/an

    o]

    POTENCIAL

    REMANESCENTE

    GRFICO 3

    NVEIS REGIONAIS DE EMISSO DE CARGA ORGNICA NOS EFLUENTESINDUSTRIAIS NO BRASIL - 1988

    74,9%

    75,2%

    68,9%38,4%50,4%24,2%75,7%

    29,1%

    13,7%51,4% 47,0% 25,3%

    93,4%

    0100000200000300000400000500000600000700000800000900000

    10000001100000

    BA CE ES GO MA MG PA PE PR RJ RS SC SP

    ESTADOS

    CA

    RG

    A O

    RG

    N

    ICA

    [ton

    /ano

    ]

    POTENCIAL

    REMANESCENTE

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    17

    de produo mais limpos e/ou obras e instalao de equipamentos para reduo dacarga poluidora emitida.14

    Os gastos em converso de processo so de difcil estimao quando se trata deconverter o estoque de capital j existente. Sua adoo tende a ser mais ampla naexpanso do processo produtivo.

    Dessa forma, somente gastos em obras e equipamentos de controle sero aquiconsiderados nas estimativas das necessidades de investimento em controle dapoluio hdrica do setor.

    O custo total de remoo de poluentes hdricos industriais por planta industrial estimado a partir do produto entre as cargas a serem removidas e o custo unitriode remoo de poluentes, conforme inicialmente apresentado em Seroa da Motta(1994) e atualizado posteriormente em Mendes (1994).

    As medidas de carga por fonte poluidora so as mesmas utilizadas nas estimativasde carga potencial e remanescente da subseo anterior.

    Os dados sobre custos unitrios de tratamento foram obtidos de estimativas decustos internacionais em Jantzen (1993). Neste trabalho so apresentadasseqncias de tecnologia de tratamento adequadas para os diversos setores daindstria, com os respectivos custos analisados de controle de carga orgnica emetais pesados com base em preos internacionais. Estes custos representamcustos de investimentos unitrios analisados, taxa de 12%, para um perodo dedepreciao de 25 anos, e tambm custos operacionais.

    A adoo de preos internacionais pode significar vieses nos clculos realizados.Todavia, de se esperar que a mdio prazo os custos domsticos se aproximemdos custos internacionais, principalmente porque so empresas multinacionais quedominam este setor.

    Os custos de tratamento so dados por faixas de volume de efluentes a seremtratados, o que permitiu reduzir os problemas relacionados com economias deescala.Os valores dos custos unitrios variam com a eficincia da tecnologia detratamento empregado. Assim, adotaram-se trs cenrios: 50 e 75% de remoomnima e individual e de quase 100% no qual as tecnologias mais avanadas soadotadas.

    Os resultados da Tabela 5 indicam que a indstria como um todo teria quecomprometer aproximadamente 1% do seu PIB para atingir um nvel de 50% decontrole da sua poluio potencial em cada setor. Este percentual de gastos seeleva em mais ou menos 0,25 para atingir a meta de 75 e dobra para 2,08 se 100

    14Est aqui admitindo-se que a introduo de tcnicas de gerenciamento parareduo de resduos teria efeito limitado no total da carga do setor.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    18

    (utilizando a melhor tecnologia disponvel). Ou seja, a indstria brasileira deveriaaumentar de 1 a 2% a sua formao bruta de capital para evitar as perdasambientais devidas a sua poluio hdrica.

    Tabela 5Custos Anuais dos Investimentos Necessrios para Controle da Poluio Hdrica na IndstriaBrasileira - 1988

    Setor Nvel de Remoo da Carga Potencial (% do PIB do Setor)50% 75% 100%

    Alimentos 0,13% 0,14% 0,29%Bebidas 0,26% 0,29% 0,61%Couros e Peles 5,01% 5,96% 16,01%Farmacutica 0,03% 0,03% 0,06%Madeira 1,00% 1,06% 1,37%Material Transportes 0,20% 0,32% 0,68%Mecnica 0,10% 0,34% 0,73%Metalrgica 5,30% 6,18% 8,99%Papel e Celulose 0,16% 0,18% 0,55%Perf. Sabes e Velas 0,11% 0,11% 0,24%Qumica 0,39% 0,57% 1,19%Txtil 0,48% 0,53% 0,74%Total 1,02% 1,26% 2,08%Fontes: Sera da Motta, 1993 e Mendes, 1994.

    Conforme pode ser observado, os custos de controle so crescentes,principalmente no ltimo quartil analisado. Isto se deve reconhecidaexponencialidade dos custos de controle e tambm pelo fato, j analisadoanteriormente, que o setor j pratica um nvel de controle mdio de carga orgnicaprximo de 75%. A significncia da magnitude destes custos de difcil avaliaoem termos da indstria como um todo. Entretanto, possvel discutir algunsaspectos:

    a) Estes percentuais so estimativas mdias para os setores, que por sua vezapresentam alto grau de agregao. Uma anlise da distribuio destes percentuaisentre os subsetores e as firmas dentro destes revela desvios padro significativos.15

    Ou seja, tais percentuais podem ser bastante elevados em alguns subsetores efirmas.

    b) Embora uma anlise de relaes intersetoriais e de ciclo de vida dos produtosfosse mais adequada,16 as magnitudes dos custos estimados dos setores de

    15Estas anlises ainda esto em elaborao na Coordenao de EstudosAmbientais (Cema) do IPEA e a densidade dos resultados preliminares nopermitiria uma apresentao objetiva.

    16O estudo de relaes intersetoriais com base nestes coeficientes de intensidadetambm est em elaborao na Cema/IPEA.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    19

    demanda final que refletem a parte preponderante da cesta de consumo dascamadas mais pobres -- como, por exemplo, alimentos, bebidas, farmacuticos,sabes e velas e txtil -- so bem inferiores a 1%. Portanto, estes resultadosindicariam que um controle mais restrito da poluio hdrica industrial no gerariaefeitos distributivos significativos diretos.

    c) Somente os setores de couros e peles e o metalrgico apresentam percentuais decustos muito altos, variando de 5 a 16, que certamente resultam em restries deinvestimentos para melhorar seu desempenho ambiental. Sendo importantessetores de insumos industriais, sua participao no ciclo do produto dos setoresconsumidores poderia resultar em impactos distributivos negativos.

    2.2.3. O Esgoto Urbano

    Esta seo discute o tratamento do esgoto urbano que, conforme apontado naTabela 2, se situa como uma das principais fontes de poluio hdrica orgnica.

    O acesso a servios de saneamento na rea rural ainda incipiente e cominformaes imprecisas. Em 1990, estimativas da cobertura do servio de redegeral de abastecimento de gua situavam-se em 16% e de coleta de esgoto emtorno de 5%.

    Esta preferncia pelo urbano nos investimentos de saneamento justifica-se pelaampliao dos efeitos ambientais negativos que as concentraes urbanas tendema gerar sem a adequada proviso destes servios. Isto no significa a inexistnciadestes problemas ambientais derivados da carncia de saneamento no setor rural,mas que apenas sua magnitude de menor escala e suas solues podem seralcanadas com alternativas tecnolgicas diferenciadas.

    Tratamento de Esgoto

    A Tabela 6 apresenta os percentuais de tratamento do esgoto urbano por estaesde tratamento ligadas rede de coleta e por fossas spticas em relao ao volumetotal gerado e ao volume total coletado por rede geral no pas. O percentual dovolume coletado que tratado foi obtido da Pesquisa Nacional de SaneamentoBsico e refere-se a dados das empresas de saneamento de 1989.

    Estes percentuais, todavia, no diferenciam a eficincia do tratamento adotado,que em grande parte se realiza em nvel primrio, cuja eficincia muito baixa.17

    Vale observar, entretanto, que o lanamento de efluentes por emissriossubmarinos, no includo nestes indicadores por ausncia de informaesadequadas, pode tambm representar um tipo de disposio adequado sob o ponto

    17O clculo dos percentuais da Tabela 2 considera estimativas destes nveis deeficincia.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    20

    de vista sanitrio e ambiental. Este tipo de tratamento no muito representativono total, mas pode ser significativo em algumas cidades costeiras.

    Os percentuais para esgoto gerado que tratado foram estimados multiplicando ospercentuais de tratamento pelos percentuais de cobertura populacional do serviode coleta de esgoto obtido da Pesquisa por Amostras de Domiclio do IBGE para oano de 1990. Isto , admitiu-se que a cobertura de tratamento em 1988 foi mantidaem 1990 para compensar a inadequao do nvel de tratamento existente.

    Observa-se na Tabela 6 que a mdia nacional de tratamento do total de esgotogerado realizado por estaes de tratamento muito baixa, sendo inferior a 10%.As variaes regionais indicam que a regio Sudeste apresenta o maior percentualcom 14,4, seguida das regies Sul e Centro-Oeste com aproximadamente 8 e 7,respectivamente, e as regies Nordeste e Norte com percentuais, respectivamente,de 3,7 e 1,4.

    Somente alguns estados apresentam nveis de tratamento significativos. Entre elesesto Rio de Janeiro (29,3%), Distrito Federal (23,6%), Paran (18,1%), SoPaulo (14,6%), e Esprito Santo (9,8%). Os outros estados apresentam nveisinferiores a 5% e em muitos casos, principalmente no Norte e Nordeste, menoresque 1%.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    21

    Tabela 6Nveis de tratamento de esgoto urbano no brasil - 1990

    NVEL DE TRATAMENTO DO ESGOTO (%)

    DO TOTAL GERADO

    GRADES REGIES EUNIDADES DAFEDERAO

    POR ESTAES DETRATAMENTO (1)

    POR FOSSASPTICA (2)

    TOTAL(1)+(2)

    DO TOTALCOLETADO*

    Brasil 9,9 18,6 28,5 19,9

    Regio Norte 1,4 41,8 43,2 15,2

    Rondnia 0,0 54,7 54,7 0,0 Acre 0,6 10,9 11,5 2,2 Amazonas 1,0 39,4 40,3 5,8 Roraima 0,0 54,8 54,8 0,0 Par 1,1 42,5 43,6 23,3 Amap 1,8 43,5 45,3 26,1

    Regio Nordeste 3,7 19,6 23,3 16,5

    Maranho 0,1 23,0 23,1 1,6 Piau 0,8 34,5 35,3 47,2 Cear 3,3 52,4 55,7 41,2 Rio Grande do Norte 0,3 25,0 25,3 2,3 Paraba 4,9 11,8 16,7 14,2 Pernambuco 4,5 2,8 7,3 14,8 Alagoas 5,2 4,9 10,1 59,0 Sergipe 5,7 9,6 15,3 27,0 Bahia 2,8 15,2 18,0 8,1

    Regio Centro-Oeste 8,3 4,4 12,7 20,8

    Mato Grosso do Sul 0,0 0,0 8,5 Mato Grosso 0,3 9,2 9,5 1,9 Gois 4,8 0,4 5,2 15,2 Distrito Federal 23,6 5,9 29,5 26,3

    Regio Sudeste 14,4 10,1 24,5 19,4

    Minas Gerais 0,7 0,2 0,9 1,0 Espirito Santo 9,8 8,4 18,2 15,1 Rio de Janeiro 29,3 28,3 57,7 53,3 So Paulo 14,6 6,2 20,7 17,7

    Regio Sul 6,5 46,9 53,4 27,1

    Paran 18,1 25,1 43,2 57,4 Santa Catarina 0,5 78,3 78,7 11,8 Rio Grande do Sul 4,1 55,1 59,2 16,3

    Fontes: Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico, 1989, IBGE.Pesquisa Nacional de Amostra por Domiclios, 1990, IBGE.*Relativos a 1989.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    22

    Incluindo fossas spticas como uma forma de tratamento, a mdia nacional seeleva para 28,5% e a distribuio regional se altera radicalmente. As regies Sul eNorte, onde tal prtica mais adotada, passam a ser as que apresentam nveis detratamento mais elevados. Nas regies Sudeste e Nordeste os percentuais situam-se em torno da mdia nacional, enquanto na regio Centro-Oeste de apenas12,7%.

    Vale observar tambm que a construo de fossas spticas resulta de decises degastos privados e depende, em ltima instncia, da capacidade de financiamentodo seu construtor. J no caso da rede de coleta e tratamento, o setor pblico quefinancia o servio de forma coletiva e com ganhos de escala. Quase sempre aadoo de fossas representa uma alternativa ao uso de redes de coleta, seja pormotivos tcnicos ou pelo alto custo das redes.

    Os percentuais que apenas refletem o tratamento do esgoto coletado indicam queapenas 20% do volume coletado recebem algum tipo de tratamento.

    Como veremos a seguir, os aspectos econmicos e distributivos do nvel detratamento de esgoto devem ser analisados dentro de um contexto mais amplo emque se considere o acesso aos servios de saneamento.

    O Acesso aos Servios de Saneamento Urbano

    At ento considerou-se somente o tratamento final do esgoto urbano. Todavia, adeteriorao da qualidade ambiental urbana deve ser tambm mensurada pelaproporo e distribuio do acesso da populao aos servios de saneamento.

    A Tabela 7 apresenta os percentuais da populao brasileira urbana, por regio eclasse de renda,18 que nos seus domiclios tinham acesso aos servios de redegeral de abastecimento de gua19 e esgotamento sanitrio (rede de coleta de esgotoou sistema de fossa sptica). As informaes disponveis permitiram uma anliseconsistente para a dcada de 80.

    18Renda familiar estimada na poca da pesquisa sem ajustes para o poder decompra do salrio mnimo.

    19Um indicador aceitvel de acesso gua potvel, embora nem sempre aqualidade oferecida nas redes adequada como tambm outras formas deabastecimento como fontes e poos podem, de acordo com o grau decontaminao local, garantir potabilidade. Na impossibilidade de ajustar estesindicadores, optou-se pelas estatsticas de rede geral (com e sem canalizaointerna nos domiclios) que tendem na sua maioria a garantir nveis de controleadequados.

  • Tabela 7Proporo da Populao Urbana com Acesso aos Servios de Saneamento por Regio e Nvel de Renda Familiar (%)

    Regies Nvel de Abastecimento de gua por Rede Esgotamento SanitrioRenda Geral - Canalizao Interna e Externa Rede Geral Fossa Sptica Total

    1981 1990 1990-1981 1981 1990 1990-1981 1981 1990 1990-1981 1981 1990 1990-1981Norte

    0-1 SM 43,8 61,1 17,3 1,8 3,3 1,5 8,5 17,0 8,5 10,3 20,2 10,01-2 SM 57,1 69,9 12,8 1,9 2,9 1,0 9,6 20,3 10,7 11,5 23,2 11,72-5 SM 69,8 77,3 7,5 5,5 4,1 -1,5 19,6 29,9 10,3 25,2 34,0 8,8>5 SM 83,3 86,4 3,1 19,0 13,0 -5,9 37,1 52,5 15,4 56,1 65,5 9,4Total 71,6 81,5 9,9 9,8 9,2 -0,6 24,1 41,8 17,8 33,9 51,0 17,1

    Nordeste0-1 SM 45,0 61,8 16,9 1,7 9,5 7,8 6,0 8,8 2,8 7,7 18,3 10,61-2 SM 53,5 69,2 15,8 3,1 11,8 8,6 11,1 13,7 2,6 14,2 25,4 11,22-5 SM 67,6 81,6 14,0 6,8 17,6 10,8 20,0 17,6 -2,4 26,8 35,2 8,4>5 SM 87,5 92,1 4,6 20,7 36,3 15,6 39,2 27,8 -11,4 59,9 64,2 4,3Total 65,3 81,0 15,7 8,4 22,4 14,0 20,1 19,6 -0,5 28,5 42,0 13,5

    Centro-Oeste0-1 SM 40,2 62,6 22,4 5,0 13,1 8,1 3,0 1,3 -1,7 8,0 14,3 6,41-2 SM 48,3 71,4 23,1 5,3 17,9 12,6 5,7 4,2 -1,5 11,0 22,1 11,12-5 SM 58,5 77,3 18,8 10,6 24,2 13,6 9,1 3,8 -5,3 19,7 28,0 8,3>5 SM 77,3 88,3 11,0 34,4 51,6 17,2 10,1 4,9 -5,1 44,4 56,5 12,1Total 62,2 83,0 20,9 17,8 39,8 22,1 8,4 4,4 -4,0 26,2 44,3 18,1

    Sudeste0-1 SM 66,4 86,1 19,7 30,1 54,5 24,4 8,4 7,7 -0,7 38,5 62,2 23,71-2 SM 72,1 87,6 15,5 36,2 53,8 17,6 9,5 11,2 1,7 45,7 65,0 19,32-5 SM 83,0 91,9 9,0 49,2 61,3 12,1 13,4 13,7 0,3 62,6 75,0 12,4>5 SM 94,6 97,1 2,5 73,5 82,4 9,0 11,1 8,6 -2,5 84,6 91,0 6,5Total 86,5 94,8 8,2 58,4 74,1 15,7 11,7 10,1 -1,5 70,0 84,2 14,2

  • Regies Nvel de Abastecimento de gua por Rede Esgotamento SanitrioRenda Geral - Canalizao Interna e Externa Rede Geral Fossa Sptica Total

    1981 1990 1990-1981 1981 1990 1990-1981 1981 1990 1990-1981 1981 1990 1990-1981Sul

    0-1 SM 60,2 84,5 24,2 4,2 11,3 7,0 13,4 21,3 7,9 17,6 32,5 14,91-2 SM 66,5 89,7 23,2 6,5 11,2 4,6 20,9 30,8 9,9 27,4 41,9 14,52-5 SM 76,0 89,7 13,8 11,4 15,0 3,6 33,5 44,0 10,5 45,0 59,0 14,0>5 SM 87,9 95,7 7,8 26,8 31,0 4,2 48,6 51,9 3,2 75,5 82,9 7,4Total 78,8 93,1 14,3 16,6 24,0 7,4 37,0 46,9 9,9 53,6 71,0 17,3

    Brasil - Total0-1 SM 52,6 71,3 18,7 10,9 23,2 12,3 7,3 9,5 2,3 18,2 32,7 14,51-2 SM 62,2 78,3 16,1 16,7 26,7 10,0 11,2 14,5 3,3 28,0 41,3 13,32-5 SM 76,3 87,1 10,9 29,7 37,6 7,9 17,9 19,3 1,4 47,6 56,8 9,3>5 SM 91,3 95,0 3,7 55,4 62,5 7,1 21,1 19,7 -1,4 76,5 82,2 5,7Total 78,4 90,0 11,5 36,6 49,9 13,3 17,4 18,6 1,2 54,0 68,5 14,4

    Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios 1981 e 1990.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    24

    Observando a Tabela 7, nota-se que, em 1990, o servio de rede de abastecimentode gua, representando acessibilidade gua potvel, atingiu 90% da populaourbana brasileira. Esta cobertura indicou uma expanso total de 11,5% na dcada.As regies Sudeste e Sul apresentam cobertura do servio gua acima da mdianacional, enquanto nas outras regies menos desenvolvidas economicamente ospercentuais situam-se pouco acima de 80%. Por outro lado, foi nestas regies demenor cobertura, exceto na regio Norte, que presenciou-se um crescimento nadcada superior mdia nacional.

    Os estados com menor cobertura dos servios urbanos de gua em 1990 so oCear (59,9%) e Rondnia (64,9%). Todos os outros esto com cobertura acimade 70%. Os maiores nveis de cobertura, acima de 95%, encontram-se em MinasGerais (95,5%), Esprito Santo (95,6%), Rio Grande do Sul (95,9%), DistritoFederal (97%), So Paulo (97,6%) e Roraima (99,1%).

    Por classe de renda, classificada por nvel de salrio mnimo(SM), observa-setambm na Tabela 7 que a proporo da populao mais pobre, com renda de 0 a 5SM, est bastante abaixo da mdia nacional de 90%. No caso das classes de 0-1SM este percentual de apenas 71,3, enquanto na classe acima de 5 SM a mdia de 95%. Estas discrepncias so mais acentuadas nas regies menosdesenvolvidas.

    Analisando a taxa de expanso na dcada, a expanso do servio de gua nasclasses de renda de 0-1 foi, contudo, bastante superior mdia nacional de 11,5%nas classes at dois salrios mnimos (SM), um pouco abaixo nas classes de 2-5SM e de apenas 3,7% nas classes acima de 5 SM. Este padro observa-se tambmna expanso intra-regional. Tais indicadores evidenciam que os investimentos emservios de gua foram efetivamente orientados para as classes de renda maisbaixa.

    O acesso aos servios de esgotamento sanitrio (rede geral de esgoto e fossasptica) permite o afastamento do esgoto in natura das proximidades dodomiclio, mitigando os efeitos negativos do contato direto com estes efluentes, etambm apresenta comportamento muito semelhante ao do abastecimento de gua.A cobertura deste servio no pas em 1990 de 68,5% em comparao a 54% em1981.

    No caso do esgotamento sanitrio, a cobertura regional ainda mais diferenciada.As regies Sudeste e Sul apresentam percentuais de 84,2 e 71, enquanto as outrasregies situam-se entre 51 e 42.

    A expanso dos servios de esgotamento, semelhana do servio defornecimento de gua, tambm se concentra nas classes de renda mais pobres. Amdia nacional de 14,4% ligeiramente superada pela expanso das classes derenda de 0-1 SM, enquanto as classes de 1-2 SM se situam em 13,3%. As outrasclasses, 2-5 SM e maior que 5 SM, apresentam, respectivamente, expanso de 9,3e 5,7%. Este padro observado em todas as regies, exceto na Centro-Oeste

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    25

    onde as classes acima de 5 SM tiveram a maior expanso, apesar de o mesmoocorrer em menor magnitude nas classes de 1-2 SM.

    O servio de rede geral de esgoto representa isoladamente 49,9% no total decobertura, enquanto fossa sptica apenas 18,6%. Sendo a expanso da rederesultado direto dos investimentos pblicos, possvel constatar que a expansoda rede de esgotamento, semelhana do caso da rede de gua, foi dirigida aossegmentos de baixa renda ao longo da dcada de 80.

    Destacam-se com cobertura de rede geral de esgoto acima da mdia nacional osEstados do Rio de Janeiro (55%), Esprito Santo (65%) Minas Gerais (75,4%),So Paulo (82,5%) Distrito Federal (89,6%). Os nveis mais baixos de cobertura,menor que 5%, encontram-se em Santa Catarina (3,9%), Piau (1,8%) e Par(4,9%).

    Entretanto, a influncia da disponibilidade de fossa sptica na expanso do serviode esgotamento significativa nas regies Sul e Norte onde, alm da maior adoodesta prtica, presenciou-se uma expanso positiva e elevada na dcada. Na regioSul, a expanso das fossas de 9,9% supera a de 7,4% da rede geral e tambmorientada em nvel nacional para os mais pobres.

    Na regio Norte a expanso da rede somente se observa nas classes mais baixas derenda em contraste com a expanso de fossas de quase 18%, particularmentelocalizada nas classes mais altas. A expanso das fossas nas outras regies, poroutro lado, apresenta uma ligeira reduo na cobertura. Ou seja, persiste o padrode investimentos pblicos em rede de esgoto dirigido s classes de renda maisbaixas.

    Entretanto, observando o Grfico 5, no qual a distribuio da populao comacesso aos servios de saneamento apresentada por nvel de renda, nota-se que aconcentrao dos servios de saneamento de gua e esgoto, a despeito daexpanso dirigida aos pobres ao longo da dcada de 80, ainda est fortementeconcentrada nas classes de renda mais altas, em particular naquelas comrendimento superior a 5 SM.

    Alm do mais, observa-se no Grfico 5 que todas as classes de renda, exceto amais alta acima de 5 SM, tiveram sua participao reduzida no total da populaoservida ao final da dcada e apresentaram variaes de participao negativas ouprximas a zero. Este padro, observado em todas as classes mais baixas de renda,reduz significativamente os vieses que poderiam existir nos dados domiciliaresdestes servios que pudessem representar uma estratgia de sobrevivncia dosmais pobres de sempre ocuparem reas de baixa cobertura sanitria. Na presenade vieses significativos, seria de se esperar que as classes intermedirias tivessemsua participao relativa menos alterada. Justamente o oposto se observa noGrfico 5.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    26

    Obs.: Os valores sobre as colunas referem-se variao entre os anos de 81 a 90.

    Em suma, a oferta dos servios de saneamento foi historicamente de tal formaorientada para as classes mais altas que mesmo o padro de investimentospblicos adotado na ltima dcada, com forte orientao para os mais pobres, nofoi sequer capaz de alterar a participao relativa de qualquer classe de rendarepresentativa destes mais pobres ao acesso a estes servios.

    Estas evidncias sugerem que os mais pobres so aqueles que esto mais alijadosdo sistema de saneamento e, portanto, impelidos a gerar volumes maiores deefluentes e, ao mesmo tempo, mais expostos aos efeitos negativos destadegradao.

    As Necessidades de Investimentos em Saneamento Urbano

    No objetivo de estimar as necessidades de investimentos em saneamento urbano,adotaram-se as estimativas de custos da tecnologia de saneamento convencionalutilizada no pas. Certamente, trata-se de valores contestveis devido s inmerasoportunidades de oferecer alternativas menos custosas em comunidades onde aescala dos projetos convencionais se revela antieconmica.

    Devido dificuldade de se selecionar estas alternativas e os locais da suaadequao, e pelo fato de admitir-se que as mesmas venham a ser numerosas emquantidade de projetos mas menos expressivas em volume de servio, optou-sepor manter nos clculos realizados as estimativas de custos convencionais.

    GRFICO 5DISTRIBUIO DA POPULAO URBANA COM ACESSO AOS SERVIOS DE SANEAMENTO POR

    NVEL DE RENDA FAMILIAR (%) - BRASIL

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    0-1 SM 1-2 SM 2-5 SM >5 SM 0-1 SM 1-2 SM 2-5 SM >5 SM 0-1 SM 1-2 SM 2-5 SM >5 SM 0-1 SM 1-2 SM 2-5 SM >5 SM 0-1 SM 1-2 SM 2-5 SM >5 SM

    1981

    1990

    -1

    -3.8

    -8.6

    12.7

    0.1-1.8

    -8.7

    9.8

    -0.5

    -2.3

    -8.6

    11.2

    -0.1

    -2.1

    -9.1

    10.8

    -0.6

    -2.8

    Abastecimento -Rede Geral

    Esgoto - Rede Geral Esgoto - Fossa Sptica Esgoto - Total Lixo Coletado

    -8.6

    11.6

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    27

    Todavia, a magnitude dos valores finais estimados vis--vis as restries de rendada populao alvo indicar que estas solues de baixo custo devem serperseguidas e incentivadas.

    Conforme j discutido, uma aproximao das necessidades de investimentos emsaneamento urbano consiste nos gastos da expanso dos servios de rede geral degua e de coleta e tratamento de esgoto populao que ainda no tem acesso aestes servios. Estes gastos foram calculados pelo produto entre populao no-atendida e custos de investimentos por habitante para o ano de 1990.20

    O tratamento de esgoto pode ser realizado com distintos graus de eficincia. Otratamento primrio consiste em combinaes de operaes fsicas e qumicas quetm como objetivo a eliminao de slidos suspensos, coloidais, volteis e graxas,bem como a remoo de odores e a desinfeco das guas residuais. O tratamentosecundrio/tercirio compreende adicionalmente processos biolgicos queconvertem a matria orgnica em slidos sedimentveis, que podem sereliminados em tanques de sedimentao. J as fossas spticas so tanquessubterrneos onde a digesto dos slidos faz-se anaerobiamente e que podem sercomparadas a um tratamento secundrio quando as condies de permeabilidadedo solo e as solues de depsito da sua depurao so satisfatrias.

    Para estimar os investimentos totais necessrios para que atendam a toda apopulao urbana com servio adequado de gua e esgoto, foram utilizados trstipos de custos de investimento por habitante:

    . custo de abastecimento de gua = US$100/hab;

    . custo de coleta de esgoto = US$ 120/hab;

    . custo de tratamento primrio de esgoto = US$ 32,50/hab;

    . custo de tratamento secundrio/tercirio adicional ao primrio = US$ 97,50/hab.

    Estes custos foram obtidos de Bio (1991) e Seroa da Motta et alii (1994) com basenos custos de obras de saneamento realizadas no Brasil.

    Observe-se que a capacidade de assimilao de certos recursos hdricos pode sersuficientemente elevada para que os danos ambientais sejam reduzidos e, portanto,no se justificaria economicamente um tratamento mais sofisticado. Por outrolado, optar por tratamento secundrio/tercirio em todos os casos asseguraria queestes danos fossem praticamente eliminados.

    20No objetivo de evitar as estimativas de populao superavaliadas da PNAD de1990, as estimativas de populao para 1990 foram obtidas de Rocha(1995) queusa dados do Censo Demogrfico de 1991 ajustados com as ponderaes daPNAD de 1990. Neste caso, optou-se por admitir toda a populao das regiesmetropolitanas como urbana. Os percentuais de cobertura dos servios desaneamento so aqueles discutidos nas subsees anteriores para o ano de 1995.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    28

    O custo total de investimentos foi ento calculado em dois cenrios:

    O Cenrio I, no qual toda populao 100% coberta com todos os servios. Nocaso de esgoto, o tratamento secundrio oferecido para todos, exceto quelescujos domiclios j possuem fossa sptica.

    No Cenrio II, a cobertura do tratamento de esgoto reduzida. Nesse caso, otratamento secundrio abrange somente 50% da populao ainda no servida. Emambos os cenrios admitiu-se que o nvel de tratamento de esgoto j oferecido adequado.

    Os resultados da Tabela 8 indicam que a necessidade de investimentos no setor desaneamento estaria na ordem de US$ 11,5 bilhes ( a preos de 1990) no CenrioII, em que o tratamento de esgoto urbano secundrio cobre somente metade dapopulao no servida em 1990. Este montante, no Cenrio I, elevaria-se paraUS$ 15,3 bilhes, caso toda a populao no servida fosse provida destetratamento mais eficiente.

    Tabela 8Necessidades de Investimentos em Saneamento Urbano no Brasil - 1990

    (US$)Regies Rede Geral Coleta Tratamento de Esgoto Total

    de gua de Esgoto Cenrio I Cenrio II Cenrio I Cenrio II

    Norte 95.896.212 304.794.445 382.791.053 239.244.408 783.481.710 639.935.065

    Nordeste 481.091.172 1.762.312.925 2.524.478.829 1.577.799.268 4.767.882.926 3.821.203.365

    Centro Oeste 135.607.147 534.132.621 905.562.623 565.976.639 1.575.302.391 1.235.716.408

    Sudeste 282.167.512 1.028.826.158 5.327.124.396 3.329.452.748 6.638.118.066 4.640.446.417

    Sul 111.659.533 565.094.332 980.052.226 612.532.642 1.656.806.091 1.289.286.506

    Brasil - Total 1.089.265.820 4.117.424.800 10.119.050.286 6.324.406.429 15.325.740.906 11.531.097.049

    Custo AnualBrasil*

    143.783.088 543.500.074 1.335.714.638 834.821.649 2.022.997.800 1.522.104.810

    *Taxa de desconto igual a 12%, mais custo de manuteno equivalente a 10% do custo anual, vidatil de 50 anos.Fonte: Dados populacionais - Rocha (1995) e Servios de saneamento - PNAD 1990.Notas: Cenrio I - tratamento secundrio de esgoto a 100% da populao no atendida. Cenrio II - tratamento secundrio de esgoto a 50% da populao no atendida.

    Utilizando uma taxa de anualizao destes investimento de 12% a.a.,considerando uma vida til superior a 50 anos e um custo de operao emanuteno conservador de 10% sobre os gastos analisados, os gastos totaisanuais para a proviso de servios adequados de saneamento urbano socalculados e apresentados na ltima linha da Tabela 7 para o pas como um todo.Os valores variariam de US$ 1,5 a US$ 2,0 bilhes a.a..

    Os valores da Tabela 8 indicam do que a sociedade brasileira deveria disporanualmente para prover os servios de saneamento urbano em cada cenrio

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    29

    desenvolvido. Estes montantes representariam, considerando todos os serviosanalisados, menos de 1% do consumo das famlias medido nas Contas Nacionaisem 1990.

    Embora estes percentuais possam representar uma magnitude pouco expressiva noseu agregado, podem, contudo, devido ao elevado nvel de concentrao da rendanacional, adquirir dimenses significantes quando se tratar de proviso s famliasmais pobres cuja capacidade de pagamento por estes servios bastante reduzida.Nesta perspectiva, na ausncia de programas ambiciosos de saneamento comtarifas efetivamente progressivas, de se esperar que tais investimentos emsaneamento tendam a aumentar ainda por muito tempo a participao relativa dasclasses mais ricas.

    Custos de Sade Associados Poluio Hdrica

    Uma dimenso mais precisa dos efeitos negativos da carncia de servios desaneamento se revela quando se analisa a correlao entre esta carncia deservios de saneamento e a incidncia de doenas de veiculao hdrica.

    A Tabela 9 apresenta os casos de bitos por doenas gastrointestinais e outrasaltamente associadas ao contato e contgio com gua poluda. As infecesintestinais representam mais de 95% dos casos21 e atingiram majoritariamente72% em 1989, ou seja, crianas menores de 1 ano de idade. As crianas entre 1 e14 anos representaram no mesmo ano 10,4% dos casos, enquanto as maiores de 14anos, 17,6%.

    Embora os dados disponveis no permitam verificar a distribuio por rendadestes casos de bitos, plenamente reconhecido na literatura sobre sanitarismo[ver Martines et alii (1994)] que a mortalidade destas doenas ocorremajoritariamente nos segmentos mais pobres da populao. Estes, conforme visto,esto mais expostos ao contato com gua contaminada e no contam tambm comadequados servios mdico-ambulatorais, sem mencionar os baixos nveis dehigiene pessoal decorrentes das condies de pobreza.

    21Dados mais recentes indicariam maior incidncia de clera no verificada aindaem 1989.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    30

    Tabela 9Casos de bitos por Doenas de Veiculao Hdrica no Brasil - 1981/1989

    Nmero de bitos (%do total)Infeces Gastro-intestinais Outras*

    Idade 1981 1989 1981 1989Menos de1ano 28,606 13,598 87 19

    (81.8) (72.0) (9.4) (2.9)Entre 1 e 14 anos 3,908 1,963 44 21

    (11.2) (10.4) (4.8) (3.2)Mais de 14 anos 2,439 3,330 793 608

    (7.0) (17.6) (85.8) (93.8)Fonte: Ministrio da Sade.*Clera, febre Tifide, poliomielite, amebase, esquistossomose e shiguelose.

    Entretanto, a mesma Tabela 9 indica que o nmero de bitos destas doenasdeclinou drasticamente na ltima dcada, principalmente as doenasgastrointestinais entre as crianas.

    Um estudo recente [ver Seroa da Motta (1995a e b)] estimou, para diversasclasses de renda das famlias brasileiras, uma funo de correlao entre o acessoaos servios de saneamento urbano e a reduo da incidncia de casos demortalidade infantil por doenas de veiculao hdrica (as indicadas na Tabela 8)no perodo 1981/89 para os 25 estados brasileiros.

    O mtodo estatstico de correlao adotado foi um modelo probabilstico queassocia a probabilidade de um bito ocorrer com a probabilidade de uma crianaestar habitando um domiclio coberto por um servio de saneamento.

    Os resultados estatsticos encontrados confirmam que o nvel de renda familiar uma varivel importante para a correlao entre estas doenas e a proviso deservios de saneamento.

    Conforme apresentado na Tabela 10, em termos quantitativos, o estudo revela quese reduziriam de 6,1% as mortes de crianas ocorridas na populao pobrebrasileira (famlias com renda menor que 5 SM) caso o acesso desta populao aosservios de saneamento crescesse em 1%. Os percentuais de reduo de casos paracoleta e tratamento seriam, respectivamente, 1,6 e 2,1.

    A mesma tabela indica que a oferta de gua potvel ainda constitui um servio demaior impacto para reduo destes bitos infantis com probabilidade de reduode casos de 2,5%. A probabilidade associada ao tratamento de esgoto de 2,1%,prxima da gua e superando a de coleta de esgoto (1,6%), pode ser explicadapela sua importncia em eliminar a possibilidade de contaminao das guas e,tambm, por seu baixo ndice de cobertura vis--vis os observados nos outrosservios.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    31

    Tabela 10Efeitos do aumento de 1% da populao com acesso a Servios de saneamento no brasil - 1989

    Servios (1)gua

    PotvelColeta deEsgoto

    Tratamento deEsgoto

    Todos os TrsServios

    Nmero de Casos debitos Infantis Reduzidos

    (2)(% dos casos totais)

    463(2.5)

    298(1.6)

    395(2.1)

    1.133(6.1)

    (1) Cada servio sendo expandido sem alteraes nos outros, exceto na ltima colunaonde os trs so expandidos igualmente.(2) bitos associados com doenas de veiculao hdrica.(3) Investimento total necessrio para aumentar de 1% a populao com acessoao servio dividido pelo nmero de bitos reduzidos.Fonte: Sera da Motta (1995 e 1995a)

    O mesmo estudo calcula qual seria o custo anual de uma vida salva, dividindo osgastos em investimento necessrios para ampliar o acesso de cada servio desaneamento a 1% da populao no atendida pelo nmero de vidas que seriamprobabilisticamente salvas.

    Dividindo os custos anuais estimados segundo os mesmos procedimentossemelhantes aos adotados na seo anterior para o caso de expanso em 1% dostrs servios de saneamento urbano em 1989 pelo nmero de vidas salvas daTabela 10, possvel calcular o custo de uma vida salva por inverses emsaneamento urbano. Isto , o custo associado probabilidade de salvar uma vidapela expanso do servio de saneamento.

    Considerando os trs servios juntos, este custo anual em saneamento para salvaruma vida seria de aproximadamente US$16,000. Ou seja, quase quatro vezes arenda per capita brasileira. Tal magnitude revela claramente o dilema distributivoda questo do saneamento no Brasil: as camadas mais pobres no possuem acapacidade de renda para financiar estes custos e com isso sofrem quase queintegralmente, em termos de sade, os efeitos da inadequao destes servios.

    Por outro lado, outro estudo [ver Seroa da Motta et alii (1994)] calcula os gastoshospitalares do Inamps22 mais a produo sacrificada do trabalhador vitimado emrelao a estas doena em torno de US$ 20,000 por caso de bito. Ou seja, asimples comparao de gastos de sade com seus respectivos custos de controle

    22Gastos com internaes obtidos da base de dados Sintese/Inamps/Dataprev. VerSeroa da Motta et alii (1994) para uma anlise destes dados e uma verso menossofisticada dos custos de sade associados poluio hdrica.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    32

    via saneamento indica que, alm do aspecto distributivo, a proviso de servios desaneamento pode apresentar justificativas de eficincia econmica.

    2.3. Poluio Atmosfrica

    A qualidade do ar tem se tornado um dos principais temas de preocupaoambiental nos grandes centros urbanos.

    As fontes antrpicas de poluio atmosfrica so bastante conhecidas. O Quadro 1discrimina estas fontes e seus principais poluentes. Seus efeitos afetamprincipalmente a sade humana. Todavia, tambm se observam impactosnegativos no processo vegetativo das plantas, na corroso de materiais e na sadede animais.

    As emisses cumulativas de outros gases atmosfricos, tais como metano, dixidode carbono(CO2), clorofluorcarbonos (CFCs), podem gerar mudanas climticasfuturas significativas no planeta, embora sem afetar no momento a sade humana.Tais gases no sero aqui discutidos por no se tratar de uma questo de soluounicamente brasileira. Todavia, no se poderia negar sua importncia distributivaentre naes.23

    O grau de concentrao de um poluente emitido depende da sua interao com aatmosfera, que se realiza por diluio e por reaes qumicas. Este processo deinterao, est, assim, sujeito a variaes relativas s condies climticas emeteorolgicas.

    2.3.1. As Fontes de Poluio Atmosfrica no Brasil

    Somente o Estado de So Paulo mantm uma rede integrada e automtica demonitoramento do ar com medies de diversos poluentes para a regioMetropolitana de So Paulo (RMSP) e Cubato.24

    23Isto quer dizer que as solues globais tm um contedo distributivosignificativo [ver, por exemplo, Parikh (1984) e Rose(1994)].

    24Pontos de monitoramento so tambm encontrados em outros 18 municpios doestado, mas sem apresentar informaes suficientes para critrios mnimos derepresentatividade.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    33

    Quadro 1Principais Fontes de Poluio do Ar e Principais Poluentes

    FONTES POLUENTES

    COMBUSTO Material ParticuladoDixido de Enxofre e Trixido de EnxofreMonxido de Carbono, Hidrocarbonetos eOxidos de Nitrognio

    FONTES PROCESSO INDUSTRIAL Material Particulado (fumos, poeiras,nvoas)Gases - SO2, SO3, HCL, Hidrocarbonetos,Mercaptanas, HF, H2S, NOX

    ESTACIONRIAS QUEIMA DE RESDUOSLIDO

    Material ParticuladoGases - SO2, SO3, HCL, NOX

    OUTROS Hidrocarbonetos, Material Particulado

    FONTES MVEIS VECULOSGASOLINA/DIESELLCOOL, AVIES,MOTOCICLETAS, BARCOSLOCOMOTIVAS, ETC.

    Material Particulado, Monxido deCarbono, xidos de Enxofrexidos de Nitrognio, Hidrocarbonetos,Aldedoscidos Orgnicos

    FONTES NATURAIS Material Particulado - PoeirasGases - SO2, H2S, CO, NO, NO2,Hidrocarbonetos

    REAES QUMICAS NA ATMOSFERAEx: Hidrocarbonetos + xidos de

    Nitrognio (luz solar)

    Poluentes Secundrios - O3, Aldedos,cidos Orgnicos, NitratosOrgnicos, Aerossol Fotoqumico, etc.

    Fonte: CETESB (1992).

    O Estado do Rio de Janeiro, embora pioneiro nas atividades de monitoramento nacidade na regio Metropolitana do Rio de Janeiro, sofreu descontinuamento demensuraes ao longo da dcada de 80, exceto no caso de medidas dosparticulados (PI). Este tambm foi o caso do Estado de Minas Gerais.Recentemente, estes estados esto reiniciando e modernizando suas atividades demonitoramento.

    Outras unidades da Federao, como Rio Grande do Sul, Paran e Pernambuco,tambm acabam de iniciar suas redes de monitoramento.

    A anlise aqui apresentada, ento, ser preponderantemente baseada nasinformaes consolidadas pela Cetesb.

    A Tabela 11 apresenta a participao de cada fonte de poluio urbana estimadana RMSP para 1990.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    34

    Tabela 11Contribuio Relativa das Fontes para os Problemas de Poluio do Ar na Regio Metropolitanade So Paulo - 1990

    (%)FONTES POLUENTES

    CO HC NOx SOx PARTCULAS (1)

    Veculos pesados 16 15 73 60 27Veculos leves 78 74 19 4 13Indstria 3 5 7 36 10Queima de lixo 3 6 1 0 0Ressuspenso de partculas 0 0 0 0 25Aerossois secundrios 0 0 0 0 25TOTAL 100 100 100 100 100

    Fonte: CETESB, Relatrio de qualidade do ar no Estado de So Paulo, 1991.(1) = Contribuio conforme estudo de modelo receptor para partculas inalveis. Contribuio dosveculos (40%) foi rateada entre veculos a gasolina e diesel de acordo com os dados de emissodisponveis.CO - monxido de carbono.HC - hidro carboneto.NOx - xido de nitrognio.

    Observa-se nesta tabela que os veculos automotivos so as principais fontes depoluentes atmosfricos. Estes contribuem com mais de 90% nos casos de CO, HCe NOx, 64% no SOx e 40% nos particulados (PI).

    Os veculos leves contribuem quase cinco vezes mais que os veculos pesados emCO e HC, mas quatro vezes menos em NOx, 15 vezes menos em SOx e menosque a metade em particulados.

    Entretanto, considerando a emisso por passageiro transportado, certamente otransporte coletivo representa uma emisso per capita extremamente superior aotransporte individual.

    A indstria, exceto para os gases sulfurados, contribui com menos de 10% naemisso de outros poluentes. No caso de CO e HC sua contribuio igual daqueima de lixo. Todavia, a poluio atmosfrica industrial no pode serconsiderada sem importncia. Locais de alta concentrao industrial e condiesatmosfricas de diluio desfavorveis podem gerar nveis de concentrao depoluentes extremamente elevados com efeitos negativos desastrosos. Um exemploamplamente citado a cidade de Cubato (O Vale da Morte) onde at medidasde evacuao da populao foram necessrias. A despeito de uma campanhaagressiva de controle de poluio industrial, esta cidade ainda apresenta nveis deconcentrao de poluentes bastante acima, por exemplo, da RMSP.

    Entre os poluentes analisados, so as partculas inalveis (com menos de 10micromilmetros de dimetro) que mais afetam as condies respiratrias dapopulao de forma acumulativa e prolongada, por se reterem nos pulmes.Exposies prolongadas a xidos de enxofre podem agravar tambm as doenas

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    35

    respiratrias e cardiovasculares. O monxido de carbono, embora sem efeitoacumulativo, pode gerar mal-estar diminuindo reflexos e acuidade visual.

    Os xidos de nitrognio em reao com os hidrocarbonetos formam por reaofotoqumica o gs oznio (O3) que, alm de irritao ocular, tambm agravadoenas respiratrias. A presena constante de NOx nos pulmes pode ser umagente cancergeno.

    2.3.2. Indicadores de Concentrao da Poluio Atmosfrica

    Os Grficos 6 a 8 apresentam medidas mensais de concentrao de poluentesatmosfricos para diversos pontos de monitoramento nas regies Metropolitanasde So Paulo (RMSP) e Rio de Janeiro (RMRJ).

    No caso da RMSP, estas medidas so disponveis para particulados e dixido deenxofre , enquanto a nica srie atualizada disponvel na RMRJ se refere aparticulados com alguns perodos sem mensurao.

    Nestas tabelas esto indicados os padres legais de qualidade do ar25 queprocuram garantir o mnimo efeito nocivo da poluio na sade humana, fauna eflora e materiais.26

    Observa-se no Grfico 6 que a concentrao de dixido de enxofre na RMSP temdeclinado acentuadamente, se situando, a partir de 1984, abaixo do padro legal.Tal tendncia se explica em decorrncia do controle e afastamento das indstriaspoluidoras.

    Em termos de particulados, observa-se uma tendncia oposta tanto na RMSP e naRMRJ, conforme mostram, respectivamente, os Grficos 7 e 8.

    No caso da RMSP, as estaes selecionadas indicam uma tendncia semelhante dequase estabilidade de concentrao ao longo da dcada, com concentraesbastante acima do padro legal.

    Na RMRJ, esta estabilidade somente se verifica em alguns pontos demonitoramento, enquanto outros apresentam tendncia crescente deconcentraes. Em todos os pontos selecionados os padres mnimos foramultrapassados.

    25Resoluo Conama 03 de 28/06/90.

    26Embora sejam internacionalmente aceitos, devido incerteza dos efeitos destespoluentes, principalmente na sade humana, tais nveis so muitas vezescontestados.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    36

    No objetivo de oferecer uma viso mais completa da qualidade do ar, a Tabela 12apresenta dados da distribuio diria das medidas do ndice de qualidade do ar(IQA) na RMSP em termos de nmeros de dias em que estes ndices soclassificados como bom, regular e inadequado nos diversos pontos demonitora- mento. O IQA um ndice composto de funo linear segmentada, combase nas concentraes de todos os poluentes medido pela Cetesb.27

    27Ver Cetesb (1992) para uma descrio detalhada do IQA.

    GRFICO 6

    Medidas de Concentrao de Dixido de Enxofre (SO2) em Estaes da Regio Metropolitana de So Paulo

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992

    Ano

    Con

    c.

    Cerq.Csar

    Jabaquara

    Mooca

    S

    PADRO

    FONTE: Cetesb (1992)

    GRFICO 7

    Medidas de Concentrao de Particulados (MP10) em Estaes da Regio Metropolitana de So Paulo

    0102030405060708090

    100110120130140150160

    1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992

    Ano

    Con

    c.

    Cerq.Csar

    Jabaquara

    Mooca

    S

    PADRO

    FONTE; Cetesb ( 1992 )

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    37

    GRFICO 8

    Medidas de Concentrao de Particulados (PM10) em Estaes da Regio Metropolitana do Rio de Janeiro

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    01/12/81

    29/11/82

    27/11/83

    24/11/84

    22/11/85

    20/11/86

    18/11/87

    15/11/88

    13/11/89

    11/11/90

    09/11/91

    06/11/92

    04/11/93

    02/11/94

    Ms / Ano

    Con

    c.

    Copacabana

    Inhama

    Bonsucesso

    S.J.Meriti

    Iraj

    S.CristvoPADRO

    FONTE: Feema

    Observa-se na Tabela 12 que a qualidade do ar varia substancialmente entre osdiversos pontos de monitoramento.28 . possvel verificar, contudo, que apenasseis dos 23 pontos de monitoramento indicam que o IQA era bom na metade dosdias analisados. Em dois casos o IQA era inadequado em mais de 30% dos dias eem outros quatro o percentual era superior a 10%.

    28Esta a razo principal para no apresentar ndices de concentrao da poluiodo ar no anexo estatstico.

  • INDICADORES AMBIENTAIS NO BRASIL: ASPECTOS ECOLGICOS, DE EFICINCIA E DISTRIBUTIVOS

    38

    Tabela 12Distribuio Diria do ndice Geral de Qualidade do Ar na Regio Metropolitana de So Paulo

    NVEIS DO NDICEESTAO BOM REGULAR INADEQUADO*

    FREQ % FREQ % FREQ %P. D. Pedro II 58 16,4 266 75,4 29 8,2Santana 21 12,8 137 83,5 6 3,