index [] · a partir dos anos 70, o território brasileiro passa por novas e significativas...

45
http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/consnac/ocupa/procurb/index.htm O Território por Milton Santos com a colaboração de Adriana Bernardes O Brasil é o quinto país do mundo em superfície, com uma área total de 8.547.403,5 km 2 e 175 milhões de habitantes. Com um Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de R$ 1,32 trilhão, em 2002, é a nona economia mundial. É considerado um país continente pelo seu tamanho e diversidade do meio natural, à qual se somou, ao longo da história, uma diversidade étnica e cultural, devida aos aportes de outros continentes. As atuais diferenças regionais do território brasileiro têm ainda um forte componente de dados naturais mas, nas últimas décadas, o elemento central da diferenciação é dado pelo crescente acréscimo de ciência e tecnologia ao território. Durante séculos, o Brasil pôde ser comparado a um arquipélago. As áreas economicamente mais ativas e mais densamente povoadas estavam isoladas umas das outras, comunicando-se apenas por via marítima. O povoamento se concentrava no litoral e ao longo dos rios. Nas áreas mais distantes da costa - o sertão - uma população dispersa se ocupava da criação extensiva de gado e culturas de subsistência. Até meados do século XX, o estímulo para a ocupação econômica vinha, sobretudo, da demanda de produtos para o comércio exterior. A primeira capital, Salvador, foi escolhida em 1549 por sua posição geográfica no "coração" de um país desarticulado. Seu desenvolvimento se deveu à primeira atividade agrícola de peso, a cana-de- açúcar, no Recôncavo Baiano e também na Zona da Mata do Nordeste. Com a exploração do ouro e das pedras preciosas, a partir do século XVIII, novas regiões foram incorporadas à fronteira econômica: os atuais estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. As necessidades de escoamento e de fiscalização da produção mineral deram ao Rio de Janeiro - que se tornou a segunda capital da colônia, em 1763 - as condições de desenvolvimento, ampliadas com a chegada da família real portuguesa, em 1808. O século XIX marca uma nova inflexão no processo de valorização do território, com o desenvolvimento, no Sudeste, da economia cafeeira. Associados a novas condições de transportes e comunicações, como a estrada de ferro, o telégrafo e o cabo submarino, emergem setores comerciais e bancários. Já no início do século XX, há uma relativa integração em torno do Rio de Janeiro e de São Paulo, mas suas relações com as demais regiões do país ainda não são muito freqüentes nem significativas. Com o desenvolvimento da indústria em São Paulo e seus arredores, esta cidade passa a ter um papel central na vida econômica do País, ampliado com o esforço empreendido, desde os anos 50, para equipar o espaço nacional e com a construção de Brasília, a nova capital do País desde 1960. Brasília é um marco no processo de interiorização , que agora se expande em direção do Centro- oeste e da Amazônia. A configuração territorial resultante vai novamente beneficiar São Paulo e a capital do estado firma-se como a metrópole econômica do País.

Upload: truongphuc

Post on 07-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

httpwwwmregovbrcdbrasilitamaratywebportconsnacocupaprocurbindexhtm O Territoacuterio por Milton Santos com a colaboraccedilatildeo de Adriana Bernardes

O Brasil eacute o quinto paiacutes do mundo em superfiacutecie com uma aacuterea total de 85474035 km2 e 175 milhotildees de habitantes Com um Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de R$ 132 trilhatildeo em 2002 eacute a nona economia mundial Eacute considerado um paiacutes continente pelo seu tamanho e diversidade do meio natural agrave qual se somou ao longo da histoacuteria uma diversidade eacutetnica e cultural devida aos aportes de outros continentes

As atuais diferenccedilas regionais do territoacuterio brasileiro tecircm ainda um forte componente de dados naturais mas nas uacuteltimas deacutecadas o elemento central da diferenciaccedilatildeo eacute dado pelo crescente acreacutescimo de ciecircncia e tecnologia ao territoacuterio

Durante seacuteculos o Brasil pocircde ser comparado a um arquipeacutelago As aacutereas economicamente mais ativas e mais densamente povoadas estavam isoladas umas das outras comunicando-se apenas por via mariacutetima O povoamento se concentrava no litoral e ao longo dos rios Nas aacutereas mais distantes da costa - o sertatildeo - uma populaccedilatildeo dispersa se ocupava da criaccedilatildeo extensiva de gado e culturas de subsistecircncia Ateacute meados do seacuteculo XX o estiacutemulo para a ocupaccedilatildeo econocircmica vinha sobretudo da demanda de produtos para o comeacutercio exterior

A primeira capital Salvador foi escolhida em 1549 por sua posiccedilatildeo geograacutefica no coraccedilatildeo de um paiacutes desarticulado Seu desenvolvimento se deveu agrave primeira atividade agriacutecola de peso a cana-de-accediluacutecar no Recocircncavo Baiano e tambeacutem na Zona da Mata do Nordeste

Com a exploraccedilatildeo do ouro e das pedras preciosas a partir do seacuteculo XVIII novas regiotildees foram incorporadas agrave fronteira econocircmica os atuais estados de Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso e Mato Grosso do Sul As necessidades de escoamento e de fiscalizaccedilatildeo da produccedilatildeo mineral deram ao Rio de Janeiro - que se tornou a segunda capital da colocircnia em 1763 - as condiccedilotildees de desenvolvimento ampliadas com a chegada da famiacutelia real portuguesa em 1808

O seacuteculo XIX marca uma nova inflexatildeo no processo de valorizaccedilatildeo do territoacuterio com o desenvolvimento no Sudeste da economia cafeeira Associados a novas condiccedilotildees de transportes e comunicaccedilotildees como a estrada de ferro o teleacutegrafo e o cabo submarino emergem setores comerciais e bancaacuterios Jaacute no iniacutecio do seacuteculo XX haacute uma relativa integraccedilatildeo em torno do Rio de Janeiro e de Satildeo Paulo mas suas relaccedilotildees com as demais regiotildees do paiacutes ainda natildeo satildeo muito frequumlentes nem significativas

Com o desenvolvimento da induacutestria em Satildeo Paulo e seus arredores esta cidade passa a ter um papel central na vida econocircmica do Paiacutes ampliado com o esforccedilo empreendido desde os anos 50 para equipar o espaccedilo nacional e com a construccedilatildeo de Brasiacutelia a nova capital do Paiacutes desde 1960 Brasiacutelia eacute um marco no processo de interiorizaccedilatildeo que agora se expande em direccedilatildeo do Centro-oeste e da Amazocircnia A configuraccedilatildeo territorial resultante vai novamente beneficiar Satildeo Paulo e a capital do estado firma-se como a metroacutepole econocircmica do Paiacutes

A partir dos anos 70 o territoacuterio brasileiro passa por novas e significativas transformaccedilotildees As principais bacias hidrograacuteficas satildeo aproveitadas para a produccedilatildeo de eletricidade Modernizam-se os portos Constroacuteem-se algumas estradas de ferro orientadas para produtos especializados A rede rodoviaacuteria se desenvolve com duas grandes marcas de um lado a construccedilatildeo de autopistas nos principais eixos de circulaccedilatildeo e de outro estradas vicinais sobretudo nas aacutereas de maior densidade econocircmica Instala-se uma rede de telecomunicaccedilotildees que alcanccedila todos os municiacutepios e ao mesmo tempo liga o Paiacutes ao resto do mundo

As condiccedilotildees estavam criadas para um processo sustentado de desenvolvimento econocircmico A induacutestria conhece uma grande diversificaccedilatildeo e inicia sua desconcentraccedilatildeo A agricultura se moderniza no Sul e no Sudeste e em outras regiotildees onde se destacam os estados do Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiaacutes e Bahia A difusatildeo da irrigaccedilatildeo vai permitir ao Nordeste o aproveitamento agriacutecola intensivo de parte de suas terras

Essas transformaccedilotildees satildeo a base de uma nova fase da organizaccedilatildeo do espaccedilo e da urbanizaccedilatildeo fundada numa vida de relaccedilotildees mais extensa e mais intensa Nos primeiros 450 anos de histoacuteria europeacuteia do Brasil o povoamento e a urbanizaccedilatildeo foram praticamente litoracircneos Hoje o Brasil eacute um paiacutes urbanizado com uma taxa de urbanizaccedilatildeo superior a 75 e diversos niacuteveis e tipos de cidades Com a difusatildeo do fenocircmeno urbano em todas as regiotildees pode-se falar desde os anos 70 em urbanizaccedilatildeo do territoacuterio Multiplica-se o nuacutemero de cidades locais onde a populaccedilatildeo encontra resposta agraves suas demandas primaacuterias de consumo material e imaterial como educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo e lazer Criam-se numerosas cidades meacutedias em todos os estados interiorizando seletivamente elementos mais sofisticados da vida contemporacircnea

Ao mesmo tempo o processo de metropolizaccedilatildeo natildeo eacute mais limitado ao Sudeste Se o ritmo de crescimento urbano das cidades com mais de 1 milhatildeo de habitantes diminui o que pode ser associado agrave ideacuteia de desmetropolizaccedilatildeo ao mesmo tempo haacute o surgimento de novas grandes cidades O processo migratoacuterio se intensifica incluindo natildeo apenas um movimento do campo para a cidade mas tambeacutem um ecircxodo urbano cada vez mais acentuado

A regiatildeo concentrada formada pelos estados do Sul e do Sudeste e por parcelas do Centro-oeste reuacutene o essencial da atividade econocircmica do paiacutes mesmo que em todo o territoacuterio em maior ou menor proporccedilatildeo se encontrem sinais de modernizaccedilatildeo Satildeo Paulo manteacutem o seu papel de metroacutepole nacional baseado em sua condiccedilatildeo de centro informacional e natildeo mais como centro industrial

Urbanizaccedilatildeo por Adriana Bernardes

O Brasil conhece o fenocircmeno da urbanizaccedilatildeo propriamente dita somente em meados do seacuteculo XX Ateacute entatildeo a vida urbana resumia-se na maior parte do Paiacutes a funccedilotildees administrativas voltadas a garantir a ordem e coordenar a produccedilatildeo agriacutecola

Apoacutes a deacutecada de 50 como reflexo da industrializaccedilatildeo os nexos econocircmicos e o fator urbano tornam-se correlatos Impotildee-se uma nova loacutegica na organizaccedilatildeo da sociedade brasileira As inovaccedilotildees econocircmicas e sociais satildeo enormes pois associam-se neste contexto agrave revoluccedilatildeo demograacutefica ao ecircxodo rural e agrave integraccedilatildeo do territoacuterio pelos transportes e comunicaccedilotildees Crescem cidades de todos os tipos e com diferentes niacuteveis funcionais Tem iniacutecio o processo de metropolizaccedilatildeo

A nova base econocircmica pautada na induacutestria e no urbano ultrapassa jaacute em meados da deacutecada de 60 a regiatildeo Sudeste Consolida-se a formaccedilatildeo do mercado nacional e um de seus principais pilares eacute exatamente a urbanizaccedilatildeo do territoacuterio e seu respectivo sistema de cidades A evoluccedilatildeo da taxa de urbanizaccedilatildeo no Brasil indica a importacircncia e a velocidade das transformaccedilotildees Em 1950 este iacutendice alcanccedilava 3616 sobre o total da populaccedilatildeo do Paiacutes Em 1970 representava 5680 ou seja mais da metade da populaccedilatildeo e em 1990 chega a 7713 A populaccedilatildeo urbana no Brasil em 1991 - 115700000 de habitantes - se aproximava da populaccedilatildeo total do Paiacutes da deacutecada anterior - 119099000 habitantes em 1980

Na deacutecada de 90 constata-se uma elevaccedilatildeo nas taxas de urbanizaccedilatildeo das diversas regiotildees do Paiacutes O Sudeste pioneiro do moderno sistema urbano brasileiro apresentava em 1996 um iacutendice em torno de 88 seguido pelo Centro-oeste com 81 o Sul com 741 o Nordeste com 606 e por fim o Norte com 578 De modo geral o fenocircmeno eacute significativo e os diferentes iacutendices refletem diferenccedilas qualitativas ligadas agrave forma e ao conteuacutedo da urbanizaccedilatildeo Tal fato eacute resultado do impacto da divisatildeo social e territorial do trabalho que ocorreu ao longo deste seacuteculo de modo diferenciado no territoacuterio No Sudeste e no Sul o desenvolvimento industrial e o dinamismo dos diversos tipos de trabalho asseguraram uma rede urbana mais complexa

Com a expansatildeo recente da moderna economia de serviccedilos de apoio agrave produccedilatildeo surgiu uma nova urbanizaccedilatildeo marcada pela demanda e consequumlente aumento exponencial de trabalho intelectual As cidades de todos os niacuteveis acolhem os novos trabalhos - altamente especializados e qualificados - envolvendo profissionais voltados agrave inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e agrave regulaccedilatildeo mais eficaz da distribuiccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos produtos Justamente estas novas demandas do sistema produtivo eacute que encontram correspondecircncia por sua vez em uma maior demanda de urbanizaccedilatildeo

Haacute uma distribuiccedilatildeo das funccedilotildees produtivas entre as cidades Estas passam a regular atraveacutes do trabalho intelectual natildeo somente a produccedilatildeo urbana mas tambeacutem a produccedilatildeo rural Com a revoluccedilatildeo dos transportes e das telecomunicaccedilotildees paralela agraves novas formas de creacutedito e consumo haacute maior acessibilidade fiacutesica e financeira dos indiviacuteduos A rede urbana tende a diferenciar-se Aprofunda-se a divisatildeo territorial do trabalho no sistema urbano entre cidades locais cidades meacutedias metroacutepoles regionais e metroacutepoles nacionais

Povoamento por Eliza Pinto de Almeida

Os primeiros seacuteculos de ocupaccedilatildeo do territoacuterio brasileiro foram marcados pela presenccedila de nuacutecleos de povoamento dispersos nas aacutereas litoracircneas A partir do seacuteculo XVI no Recocircncavo Baiano e na Zona da Mata nordestina desenvolveu-se a lavoura de cana-de-accediluacutecar que fomentou a formaccedilatildeo de uma rede de cidades desarticuladas tendo como ponto de uniatildeo Salvador a primeira capital da colocircnia O crescimento das exportaccedilotildees de accediluacutecar provocou o deslocamento da pecuaacuteria para o

sertatildeo nordestino cujas boiadas vinham de muito longe para suprir as necessidades dos engenhos Inuacutemeras famiacutelias foram trabalhar como parceiros ou agregados nas sedes das fazendas de gado que acabaram originando as primeiras vilas e cidades dessa regiatildeo Aleacutem de estimular o povoamento do sertatildeo a pecuaacuteria foi responsaacutevel pela difusatildeo da agricultura de subsistecircncia e pelo cultivo do algodatildeo e do fumo Mas este uacuteltimo foi cultivado principalmente no Recocircncavo Baiano servindo como moeda para a compra de escravos vindos do continente africano

As primeiras expediccedilotildees denominadas bandeiras ampliaram os domiacutenios portugueses no seacuteculo XVII com o objetivo de capturar iacutendios e encontrar ouro e pedras preciosas Essas expediccedilotildees alcanccedilaram a foz do rio Amazonas onde foi fundada em 1616 a atual cidade de Beleacutem do Paraacute A descoberta de ouro e pedras preciosas no seacuteculo XVIII nos atuais estados de Minas Gerais Mato Grosso Goiaacutes e Bahia teve como consequumlecircncia o aumento da populaccedilatildeo aleacutem de estimular a abertura de estradas e intensificar as relaccedilotildees com as aacutereas de criaccedilatildeo de gado que eram responsaacuteveis pelo abastecimento de carne e couro nas aacutereas mineradoras Muitas cidades surgiram ligadas a essas atividades e outras ganharam maior importacircncia com a intensificaccedilatildeo do comeacutercio como as cidades portuaacuterias

O seacuteculo XIX abre novas perspectivas de povoamento do territoacuterio brasileiro A abertura dos portos em 1808 intensifica o comeacutercio com as naccedilotildees europeacuteias No iniacutecio desse seacuteculo cresce a procura pelo algodatildeo nos mercados europeus beneficiando a produccedilatildeo nordestina e sobretudo a maranhense graccedilas agrave maior proximidade com esse mercado A prosperidade dessa cultura seraacute interrompida com o fim da guerra de independecircncia norte-americana

Outro produto que comeccedila a ser valorizado na Europa nesse seacuteculo eacute o cafeacute que passa a ser largamente cultivado no estado de Satildeo Paulo A cafeicultura impulsiona a formaccedilatildeo de um mercado assalariado e consumidor e propicia a acumulaccedilatildeo de capitais dando origem ao desenvolvimento industrial especialmente do Centro-sul Essa eacutepoca eacute marcada ainda pelo iniacutecio da mecanizaccedilatildeo do territoacuterio com a instalaccedilatildeo das ferrovias dos teleacutegrafos e das primeiras companhias de navegaccedilatildeo que repercutiram no processo de urbanizaccedilatildeo do Paiacutes Por outro lado os uacuteltimos dececircnios do seacuteculo XIX foram acompanhados pelo boom da exploraccedilatildeo da borracha na regiatildeo amazocircnica atraindo um grande nuacutemero de migrantes nordestinos que fugiam da seca e das dificuldades econocircmicas O sul da Bahia nessa eacutepoca conheceu tambeacutem um raacutepido crescimento econocircmico graccedilas agrave produccedilatildeo de cacau que atraiu migrantes do mesmo estado e de outras aacutereas nordestinas

O poacutes-Segunda Guerra eacute um ponto de inflexatildeo no povoamento do territoacuterio brasileiro As regiotildees Centro-oeste e Amazocircnica satildeo paulatinamente integradas ao conjunto da economia nacional A construccedilatildeo de Brasiacutelia inaugurada em 1960 eacute um marco do processo de interiorizaccedilatildeo As rodovias Transamazocircnica e Cuiabaacute-Santareacutem facilitaram os fluxos migratoacuterios para a regiatildeo Amazocircnica onde projetos de colonizaccedilatildeo foram implantados ao longo das rodovias receacutem-construiacutedas Somado a isso tivemos nessa regiatildeo grandes projetos agropecuaacuterios e minerais que levaram agrave expansatildeo da rede urbana do Paiacutes

Urbanizaccedilatildeo do Territoacuterio por Eliza Pinto de Almeida

Durante seacuteculos a urbanizaccedilatildeo brasileira ocorreu em pontos isolados como verdadeiras ilhas tornando-se generalizada somente a partir do seacuteculo XX Pode-se dizer que Salvador comandou a primeira rede urbana do paiacutes mantendo sua primazia ateacute meados do seacuteculo XVIII quando a capital da colocircnia se transfere para a cidade do Rio de Janeiro As relaccedilotildees entre o litoral e o interior eram fraacutegeis neste periacuteodo O povoamento e as riquezas geradas pela agricultura e a mineraccedilatildeo ensaiaram os primeiros passos rumo ao processo de urbanizaccedilatildeo

Em fins do seacuteculo XIX o Brasil assiste ao crescimento do fenocircmeno de urbanizaccedilatildeo do territoacuterio Satildeo Paulo liacuteder na produccedilatildeo cafeeira inicia a formaccedilatildeo de uma rede de cidades envolvendo os estados do Rio Janeiro e de Minas Gerais

Mas seraacute apenas em meados do seacuteculo XX quando ocorre a unificaccedilatildeo dos meios de transporte e comunicaccedilatildeo que as condiccedilotildees se tornam propiacutecias para uma verdadeira integraccedilatildeo do territoacuterio Modificam-se substancialmente os fluxos econocircmicos e demograacuteficos conferindo um novo valor aos lugares

A partir da deacutecada de 70 ocorre a difusatildeo generalizada das modernizaccedilotildees tanto no campo como na cidade A construccedilatildeo e expansatildeo de estradas de rodagem e a criaccedilatildeo de um moderno sistema de telecomunicaccedilotildees possibilitaram maior fluidez no territoacuterio aleacutem de permitir a unificaccedilatildeo do mercado em escala nacional

Cresce o consumo de bens materiais e imateriais como educaccedilatildeo e sauacutede transformando as funccedilotildees urbanas A rede urbana torna-se mais complexa pois tanto o campo como a cidade respondem agraves novas condiccedilotildees de realizaccedilatildeo da economia contemporacircnea Na atual fase a urbanizaccedilatildeo do territoacuterio tem muacuteltiplas implicaccedilotildees tais como o ritmo de crescimento mais lento das cidades milionaacuterias e concomitante a essa tendecircncia o crescimento das cidades locais e das cidades meacutedias Em 1980 o paiacutes contava com 142 cidades com mais de 100 mil habitantes e em 1991 eram 187 A participaccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira cresce tambeacutem nessas cidades meacutedias elevando-se de 137 em 1970 para 167 em 1991 A densidade econocircmica do territoacuterio leva agrave crescente especializaccedilatildeo das cidades que tecircm um papel cada vez mais ativo no paiacutes

Processo Migratoacuterio por Liacutedia Antongiovanni

O processo migratoacuterio no Brasil apresenta duas grandes marcas Com a colonizaccedilatildeo do paiacutes desde o seacuteculo XVI vieram para caacute europeus e negros africanos Estes uacuteltimos foram trazidos como matildeo-de-obra escrava inicialmente para a cultura da cana-de-accediluacutecar Iacutendios negros africanos e brancos europeus (na sua maioria portugueses e espanhoacuteis) compuseram a ocupaccedilatildeo do Brasil

Na segunda metade do seacuteculo XIX somam-se dois processos que resultam num rearranjo daquele momento inicial a expansatildeo da fronteira econocircmica e um processo gradativo de aboliccedilatildeo da escravidatildeo Ambos convergiam para a decisatildeo dos colonizadores em ampliar a participaccedilatildeo de brancos europeus na formaccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira Este quadro propiciou a vinda de outros

europeus - italianos alematildees austriacuteacos huacutengaros eslavos siacuterios libaneses suiacuteccedilos - que mais tarde se juntam aos asiaacuteticos

A segunda grande marca da migraccedilatildeo brasileira eacute resultado da integraccedilatildeo e modernizaccedilatildeo do territoacuterio e da ampliaccedilatildeo das trocas comerciais e do consumo marcadamente a partir da deacutecada de 1950 Intensifica-se a partir deste momento a urbanizaccedilatildeo e a correlata migraccedilatildeo interna O Brasil ateacute entatildeo um paiacutes agriacutecola vai conhecer neste periacuteodo uma acentuaccedilatildeo do ecircxodo rural levando agrave inversatildeo dos nuacutemeros correspondentes agrave localizaccedilatildeo da populaccedilatildeo de maioria rural em 1940 para maioria urbana em 1970

A industrializaccedilatildeo associada agrave urbanizaccedilatildeo mais intensa no Sudeste acelera esse processo e atrai milhares de pessoas do Nordeste para o Centro-sul em especial nas deacutecadas de 60 e 70 Eacute neste periacuteodo que se inicia o processo de metropolizaccedilatildeocom os anos 60 marcando um significativo ponto de inflexatildeo Na deacutecada de 70 a expansatildeo de novas fronteiras agriacutecolas e econocircmicas na regiatildeo Norte leva ao deslocamento de milhotildees de pessoas para o Centro-oeste e para a Amazocircnia para onde migram nordestinos e mais recentemente os sulistas

Na deacutecada de 90 eacute detectado um processo de desmetropolizaccedilatildeo associado ao ecircxodo urbano isto eacute movimento numeroso de populaccedilatildeo entre cidades de diversos tamanhos e diversas regiotildees A difusatildeo da modernizaccedilatildeo no interior propicia uma migraccedilatildeo para as cidades menores A regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo por exemplo apresenta de 1980 a 1991 um crescimento vegetativo de 10971 e um saldo migratoacuterio de -971 Trata-se para a uacuteltima deacutecada de um salto migratoacuterio negativo para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Um fato novo na histoacuteria da migraccedilatildeo brasileira especialmente nos uacuteltimos anos eacute a saiacuteda crescente de brasileiros para a Europa Ameacuterica do Norte e Japatildeo Migraccedilatildeo essa geralmente associada a descendentes dos imigrantes que aqui chegaram na passagem do seacuteculo

Regiatildeo Concentrada por Maria Laura Silveira

Regiatildeo concentrada eacute a aacuterea onde os acreacutescimos de ciecircncia e tecnologia ao territoacuterio se verificam de modo contiacutenuo Expressatildeo mais intensa do meio teacutecnico-cientiacutefico-informacional essa regiatildeo abrange os estados do Sudeste (Espiacuterito Santo Rio de Janeiro Minas Gerais e Satildeo Paulo) os estados do Sul (Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e dois estados do Centro-oeste (Mato Grosso do Sul e Goiaacutes) tendo como poacutelo as metroacutepoles de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro

Nessa regiatildeo a modernizaccedilatildeo generalizada e a intensa circulaccedilatildeo interna e com outras regiotildees e paiacuteses correspondem a uma marcada divisatildeo territorial do trabalho Sede da agricultura mais moderna do Brasil e do mais expansivo desenvolvimento industrial e financeiro essa aacuterea concentra tambeacutem os niacuteveis superiores dos sistemas de sauacutede educaccedilatildeo lazer e serviccedilos modernos como a publicidade cujas demandas satildeo garantidas pelo consumo dessa grande concentraccedilatildeo produtiva e populacional

As metroacutepoles de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro sediam os escritoacuterios das mais poderosas firmas nacionais e das filiais das empresas globais que tecircm um papel de controle do mercado nacional e de comando do respectivo territoacuterio Eacute em Satildeo Paulo que se elabora e concentra a maior parcela das informaccedilotildees sobre a economia a sociedade e o territoacuterio A acumulaccedilatildeo de atividades intelectuais assegura a essa metroacutepole o predomiacutenio das atividades produtivas de ponta a funccedilatildeo de suporte aos

segmentos modernos da economia do paiacutes e em decorrecircncia um caraacuteter de encruzilhada na expansatildeo do meio teacutecnico-cientiacutefico-informacional Como o territoacuterio deve ser usado hoje com o conhecimento simultacircneo das accedilotildees empreendidas em lugares distantes a sua funccedilatildeo de centro informacional lhe concede uma nova hierarquia no sistema urbano brasileiro

Cidades Locais por Adriana Bernardes

O nuacutemero de cidades locais cresceu rapidamente a partir da deacutecada de 50 passando a ter um importante papel no funcionamento do sistema urbano Hoje este niacutevel na regiatildeo urbana eacute representado por cidades com populaccedilatildeo em torno de 20 mil habitantes

Anteriormente as sedes municipais guardavam praticamente apenas as funccedilotildees religiosas e administrativas voltadas agraves necessidades da vida rural Mas as cidades locais mudaram de conteuacutedo em consonacircncia com as exigecircncias desse periacuteodo histoacuterico Agora as funccedilotildees econocircmicas tecircm maior relevo na vida das cidades locais Integradas ao sistema produtivo do Paiacutes elas passaram a atender agrave crescente demanda por trabalho consumo educaccedilatildeo e lazer que o campo natildeo ofereceria

Com o advento da modernizaccedilatildeo e tecnificaccedilatildeo da agricultura principalmente nas uacuteltimas deacutecadas quando tambeacutem se instalam importantes induacutestrias agriacutecolas as cidades locais especializam-se para atender a determinados tipos de produccedilatildeo que se encontram no seu entorno Constituem sobretudo estoques de novos meios de consumo insumos creacutedito agriacutecola e matildeo-de-obra e satildeo centros de transportes e comunicaccedilotildees Boa parte dos trabalhadores agriacutecolas nas regiotildees mais modernas do Paiacutes vive na cidade onde tambeacutem se encontram novas categorias de profissionais o agrocircnomo o veterinaacuterio e o bancaacuterio entre outros que satildeo necessaacuterios agrave conduccedilatildeo e coordenaccedilatildeo de uma produccedilatildeo baseada no desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Cidades Meacutedias por Adriana Bernardes

Apoacutes a deacutecada de 50 amplia-se o nuacutemero de cidades meacutedias no Brasil em um contexto de redefiniccedilatildeo do porte dos nuacutecleos urbanos Na deacutecada de 90 definiu-se como cidade meacutedia o municiacutepio com populaccedilatildeo em torno de 100 mil habitantes

Satildeo muacuteltiplos os elementos que levam ao crescimento desse niacutevel urbano Entre eles destacam-se a dispersatildeo da induacutestria que ateacute haacute pouco tempo se concentrava em aacutereas metropolitanas a modernizaccedilatildeo do campo a proximidade das induacutestrias agriacutecolas e as novas formas de consumo material e de consumo imaterial Esse fenocircmeno eacute geral mas tem particular expressatildeo na aacuterea mais desenvolvida do Paiacutes Por tratar-se da aacuterea mais densamente urbanizada do territoacuterio nacional tem condiccedilotildees de adaptar-se agraves novas exigecircncias do periacuteodo histoacuterico atual

Graccedilas agraves cidades meacutedias estaacute ocorrendo a redistribuiccedilatildeo das classes meacutedias pelo territoacuterio associada agrave presenccedila de um nuacutemero crescente de letrados indispensaacuteveis aos novos modos de produccedilatildeo a que presidem Com a difusatildeo desde os anos 70 do ensino universitaacuterio no Paiacutes muitas dessas cidades satildeo em certos estados importantes centros de pesquisa

As atuais cidades meacutedias exercem atraccedilatildeo para os fluxos migratoacuterios e algumas delas estatildeo atingindo o estaacutegio sub-metropolitano cuja dimensatildeo iraacute variar segundo as regiotildees

Interiorizaccedilatildeo por Eliza Pinto de Almeida

O Brasil durante trecircs seacuteculos consecutivos teve um povoamento predominantemente litoracircneo A pecuaacuteria no sertatildeo nordestino foi a primeira atividade a impulsionar a ocupaccedilatildeo do interior Em meados do seacuteculo XVIII no que hoje satildeo os estados de Goiaacutes Mato Grosso Bahia e Minas Gerais amplia-se o processo de interiorizaccedilatildeo graccedilas agrave mineraccedilatildeo do ouro e das pedras preciosas Grandes fluxos migratoacuterios deslocam-se para essa aacuterea onde surgem paralelamente numerosas cidades

A extremidade meridional do atual territoacuterio brasileiro foi durante muito tempo disputada por portugueses e espanhoacuteis Somente em princiacutepios do seacuteculo XVIII eacute que essa regiatildeo seraacute incorporada ao territoacuterio brasileiro quando o governo portuguecircs destaca tropas de defesa para a aacuterea Ao mesmo tempo uma corrente de povoadores oriundos de Satildeo Paulo se estabelece no atual estado do Rio Grande do Sul Graccedilas agraves excelentes condiccedilotildees naturais a pecuaacuteria pocircde desenvolver-se plenamente nessa regiatildeo

Frentes pioneiras no seacuteculo XIX efetivaram a ocupaccedilatildeo do interior do estado de Satildeo Paulo Com as ferrovias novas aacutereas satildeo anexadas agrave produccedilatildeo cafeeira e assim muitas cidades nascem ligadas a essa atividade Satildeo Paulo se torna um poacutelo dinacircmico de vastas aacutereas que abrangem os estados do Sul do Paiacutes aleacutem de parcelas de Minas Gerais e Rio de Janeiro

A Amazocircnia teraacute a sua ocupaccedilatildeo consolidada no final do seacuteculo XIX a partir da crescente procura da borracha nos mercados europeus que estimulou a exploraccedilatildeo econocircmica desse produto e acabou desencadeando um intenso fluxo migratoacuterio vindo principalmente do Nordeste

No entanto as relaccedilotildees entre os lugares eram inconstantes natildeo havendo uma integraccedilatildeo entre as diversas regiotildees do Paiacutes A agricultura comercial e a mineraccedilatildeo foram a base do povoamento do territoacuterio brasileiro mas o seu desenvolvimento se deu em subespaccedilos que evoluiacuteam segundo loacutegicas proacuteprias ditadas em grande parte por suas relaccedilotildees com o mundo exterior

Mas seraacute no poacutes-Segunda Guerra com os investimentos em infra-estrutrura que ocorreraacute extensiva e intensamente a ocupaccedilatildeo do territoacuterio brasileiro A construccedilatildeo de Brasiacutelia inaugurada em 1960 eacute um siacutembolo desse processo de interiorizaccedilatildeo Procurou-se promover a integraccedilatildeo do Centro-oeste e da Amazocircnia ao conjunto da economia nacional atraveacutes da implantaccedilatildeo de projetos agropecuaacuterios e da construccedilatildeo de rodovias de integraccedilatildeo nacional Essas medidas intensificaram os fluxos de capitais e as migraccedilotildees para essas regiotildees

Metropolizaccedilatildeo por Adriana Bernardes

Com a industrializaccedilatildeo a mecanizaccedilatildeo da agricultura e o ecircxodo rural algumas cidades brasileiras passaram a acolher enormes contingentes populacionais em busca de emprego e acesso a serviccedilos diversos Ateacute 1960 somente as cidades de Satildeo Paulo e Rio de Janeiro tinham mais de 1 milhatildeo de habitantes e poderiam ser consideradas metroacutepoles A polarizaccedilatildeo de funccedilotildees industriais e

administrativas respectivamente nestes dois centros urbanos atraiacuteram grande parte do fluxo migratoacuterio nacional dos anos 50 e 60

Na deacutecada de 70 o crescimento de grandes cidades ocorre em todas as regiotildees do Paiacutes caracterizando o processo de metropolizaccedilatildeo no Brasil Em 1973 foram criadas oficialmente nove regiotildees metropolitanas ao redor das cidades de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Beleacutem Fortaleza Recife Salvador Belo Horizonte Porto Alegre e Curitiba

Entre 1950 e 1980 a participaccedilatildeo das atuais regiotildees metropolitanas no total da populaccedilatildeo brasileira saltou de 1795 para 2893 iacutendice que se manteve praticamente inalterado no iniacutecio da deacutecada de 90 Aleacutem das regiotildees mencionadas acima existem cidades que polarizam grandes parcelas do contingente populacional urbano e que na praacutetica se caracterizam como regiotildees metropolitanas Satildeo as chamadas cidades milionaacuterias como Brasiacutelia Goiacircnia Manaus Santos e Campinas

Diferenccedilas Regionais por Liacutedia Antongiovanni

O Brasil apresenta os mais variados aspectos naturais que aliados agraves diferentes atividades econocircmicas e aos processos de povoamento e interiorizaccedilatildeo caracterizam sua diversidade regional Com o objetivo de executar um planejamento nacional o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) dividiu o paiacutes em cinco grandes regiotildees Norte (Acre Amapaacute Amazonas Rondocircnia Roraima Paraacute Tocantins) Nordeste (Maranhatildeo Piauiacute Cearaacute Rio Grande do Norte Paraiacuteba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia) Sudeste (Minas Gerais Espiacuterito Santo Rio de Janeiro Satildeo Paulo) Sul (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul) e Centro-oeste (Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiaacutes Distrito Federal)

O Sul e o Sudeste satildeo densamente povoados com destacada atividade agriacutecola industrial e de serviccedilos Estas regiotildees acompanharam as modernizaccedilotildees desde o fim do seacuteculo XIX o que propiciou a urbanizaccedilatildeo e uma vida de relaccedilotildees muito dinacircmicas Mas o Sudeste tem o maior desenvolvimento industrial e de serviccedilos o que lhe garante com a presenccedila de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro um papel de comando da economia nacional

Na regiatildeo Norte comumente chamada de Amazocircnia os traccedilos naturais tecircm grande importacircncia e suas riquezas dominam a vida econocircmica A partir da deacutecada de 70 instalou-se uma agricultura moderna e uma pequena atividade industrial Esta regiatildeo de ocupaccedilatildeo rarefeita (33 habkm2 em 2000) tem atualmente uma nova dinacircmica populacional a do aumento da populaccedilatildeo associado ao fenocircmeno da concentraccedilatildeo urbana

O Nordeste eacute uma regiatildeo de velho povoamento fato que marca ainda hoje suas relaccedilotildees As secas com periacuteodos de longa estiagem satildeo em parte responsaacuteveis por movimentos populacionais desde o seacuteculo XVII Esta regiatildeo apresenta duas grandes porccedilotildees o litoral e o sertatildeo O litoral concentra as cidades as atividades industriais e turiacutesticas No interior onde se encontra o sertatildeo algumas aacutereas de irrigaccedilatildeo permitem uma atividade agriacutecola constante e bastante tecnificada juntamente com a pecuaacuteria e a agricultura extensiva

Durante os seacuteculos XVII e XVIII o Centro-oeste foi alvo de exploraccedilatildeo mineira e paralelamente desenvolveu uma atividade pecuaacuteria que permanece ateacute hoje A partir da deacutecada de 70 os cerrados ateacute entatildeo praticamente vazios puderam ser ocupados modernamente em especial com o cultivo da

soja Na regiatildeo o investimento em rodovias e o processo de urbanizaccedilatildeo a integram ao Sudeste e Sul

Desconcentraccedilatildeo Industrial por Eliza Pinto de Almeida

A aceleraccedilatildeo do processo de industrializaccedilatildeo do Brasil ocorreu no poacutes-Segunda Guerra Mundial A integraccedilatildeo dos meios de transporte e de comunicaccedilatildeo e a unificaccedilatildeo do mercado em escala nacional permitiram que se ampliasse e diversificasse a produccedilatildeo industrial Essa atividade concentra-se na regiatildeo Sudeste do Brasil sobretudo no estado de Satildeo Paulo cuja capital se tornou o maior centro fabril do Paiacutes

A difusatildeo da modernizaccedilatildeo especialmente a partir da deacutecada de 70 modifica os sistemas de transportes e telecomunicaccedilotildees integrando o territoacuterio Por outro lado as mudanccedilas tecnoloacutegicas devidas agrave difusatildeo da informaacutetica e da eletrocircnica permitem um maior controle agrave distacircncia dos processos produtivos Tudo isso favorece a desconcentraccedilatildeo industrial com a instalaccedilatildeo de faacutebricas modernas em diversos pontos do Paiacutes

O estado de Satildeo Paulo na deacutecada 70 respondia por 5842 do valor da produccedilatildeo industrial do paiacutes e em 1990 esse iacutendice passa para 5283 Haacute tambeacutem uma tendecircncia ao crescimento da participaccedilatildeo industrial no interior paulista Fala-se por isso em esvaziamento da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e tambeacutem em desconcentraccedilatildeo industrial

Em 1970 tomando-se este estado como um todo a regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo detinha 7752 do Valor de Transformaccedilatildeo Industrial sendo que em 1990 essa participaccedilatildeo diminui para 5892

Os dados indicam que natildeo eacute mais a funccedilatildeo industrial que assegura a Satildeo Paulo um papel diretor na dinacircmica soacutecio-econocircmica e espacial mas sim o comando das atividades ligadas agrave produccedilatildeo e agrave gestatildeo da informaccedilatildeo que faz agora da metroacutepole paulista um importante centro informacional

Centro Informacional por Adriana Bernardes

Ao longo do seacuteculo XX a capital do estado de Satildeo Paulo se afirma como metroacutepole nacional principalmente pela forccedila de sua induacutestria Mas agora a metroacutepole paulistana se refuncionaliza passando a ser um grande centro urbano produtor de informaccedilotildees Sua primazia natildeo mais adveacutem de sua atividade fabril mas sim de sua capacidade de concentrar atividades de produccedilatildeo coleta classificaccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

Muda a qualidade do papel de comando de Satildeo Paulo sobre a totalidade do territoacuterio brasileiro Enquanto os nuacutemeros da produccedilatildeo e do emprego industrial diminuem aumenta a forccedila metropolitana no Paiacutes e no mundo graccedilas agrave presenccedila de um expressivo e sofisticado setor de serviccedilos Tal setor engloba atividades financeiras de consultoria publicidade marketing e pesquisa entre outras

A nova hierarquia do sistema urbano depende destes fluxos de informaccedilatildeo cujo controle atraveacutes da emissatildeo de mensagens ideacuteias e ordens garante agrave metroacutepole paulistana um papel regulador de um crescente nuacutemero de tarefas dispersas pelo Paiacutes

Sistema Rodoviaacuterio - Autopistas por Marcos Antonio de Moraes Xavier

Ateacute a primeira metade do seacuteculo XX de um modo geral as estradas de rodagem brasileiras representavam pequenos investimentos pontuais Natildeo havia um sistema que cobrisse todo o territoacuterio nacional Tais estradas em sua maioria eram caminhos de terra A constituiccedilatildeo de um sistema rodoviaacuterio nacional criando as ligaccedilotildees inter-regionais necessaacuterias ao processo de integraccedilatildeo ocorre a partir do empenho em equipar o territoacuterio para atender entre outras demandas o desenvolvimento da induacutestria paulista Um marco desta fase foi o Plano Viaacuterio Nacional de 1952 onde as rodovias jaacute aparecem como principal via de transporte

Desde os anos 50 e notadamente a partir dos anos 70 o sistema rodoviaacuterio brasileiro cresce acompanhado pela pavimentaccedilatildeo e duplicaccedilatildeo de rodovias que passam a formar autopistas modernas e raacutepidas Este crescimento destaca-se nas regiotildees Norte (20133) e Centro-oeste (15339) aacutereas onde o povoamento era rarefeito e que neste momento passam a ser aacutereas de avanccedilo do processo de interiorizaccedilatildeo

Atualmente encontramos nas regiotildees Sudeste Nordeste e Sul o maior nuacutemero de rodovias pavimentadas e as maiores densidades do sistema (extensatildeo em quilocircmetros do sistema rodoviaacuterio por 1 mil km2 de aacuterea)

O Brasil e a Economia Mundial Contemporacircnea por Joseacute Tavares de Arauacutejo Jr

Uma caracteriacutestica central do progresso tecnoloacutegico nas uacuteltimas trecircs deacutecadas tem sido o contraste entre o decliacutenio acelerado dos custos de informaccedilatildeo e a relativa estabilidade dos custos de transporte Este contraste vem alimentando as tendecircncias simultacircneas em direccedilatildeo agrave globalizaccedilatildeo de mercados e agrave regionalizaccedilatildeo das estruturas produtivas que marcaram a economia mundial no passado recente Estas tendecircncias por sua vez redefiniram os perfis de inserccedilatildeo internacional das economias domeacutesticas e as prioridades da agenda multilateral de comeacutercio

Os novos padrotildees de concorrecircncia internacional acentuaram a importacircncia da prestaccedilatildeo de serviccedilos da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e do investimento direto no exterior como fontes de sustentaccedilatildeo do desempenho exportador das economias nacionais Tais padrotildees reduziram a eficaacutecia dos instrumentos convencionais de poliacutetica comercial como tarifas quotas e salvaguardas ao mesmo tempo em que introduziram novos temas na agenda multilateral de comeacutercio como o uso de regulamentos domeacutesticos para proteger as induacutestrias da fronteira tecnoloacutegica e as praacuteticas anticompetitivas com dimensatildeo internacional

Do ponto de vista das economias nacionais a busca de eficiecircncia produtiva o estiacutemulo agrave inovaccedilatildeo e a melhoria das condiccedilotildees de inserccedilatildeo internacional das empresas domeacutesticas tornaram-se partes complementares de um desafio comum Para o governo isto implica natildeo apenas a convergecircncia das poliacuteticas industrial tecnoloacutegica e de comeacutercio exterior mas tambeacutem a coerecircncia de tais poliacuteticas com outras accedilotildees do governo nos planos macroeconocircmico e da regulaccedilatildeo das condiccedilotildees de concorrecircncia nos mercados domeacutesticos

Um desafio adicional impliacutecito no cenaacuterio contemporacircneo reside no fato de que a Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) natildeo dispotildee ainda dos instrumentos de regulaccedilatildeo necessaacuterios para lidar com os padrotildees de concorrecircncia em vigor Embora a reuniatildeo ministerial de Doha realizada em novembro de 2001 tenha ratificado o consenso da comunidade internacional quanto agrave necessidade de fortalecer a OMC na praacutetica tal consenso significou apenas que os paiacuteses membros estatildeo comprometidos a levar adiante a rodada de negociaccedilotildees mas natildeo autoriza qualquer previsatildeo otimista quanto aos resultados deste empreendimento no futuro proacuteximo dada a magnitude dos desafios que a OMC enfrenta atualmente

Um tema que bem ilustra as presentes limitaccedilotildees da OMC eacute o de poliacutetica de concorrecircncia que passou a desempenhar um papel central no plano internacional natildeo soacute para combater carteacuteis e fiscalizar a conduta das corporaccedilotildees transnacionais mas sobretudo para regular conflitos advindos da proteccedilatildeo agraves induacutestrias de alta tecnologia O debate sobre essas questotildees na OMC tem sido intenso desde dezembro de 1996 quando foi criado o Grupo de Trabalho sobre a Interaccedilatildeo entre Comeacutercio e Poliacutetica de Concorrecircncia Nos dois anos seguintes cerca de 170 documentos governamentais foram submetidos ao grupo cobrindo uma agenda substantiva que de fato foi bem aleacutem das relaccedilotildees entre comeacutercio e concorrecircncia A despeito da participaccedilatildeo ativa de praticamente todos os membros da OMC que dispotildeem de leis de concorrecircncia esse debate tem sido limitado por dois tipos de restriccedilotildees Por um lado qualquer acordo multilateral sobre regras de concorrecircncia soacute teraacute algum significado na medida em que todos os membros da OMC ou pelo menos sua grande maioria estiverem capacitados a aplicar aquelas normas em seus respectivos territoacuterios Por outro lado a OMC eacute uma instituiccedilatildeo desenhada para lidar essencialmente com atos de governos enquanto que o foco principal da poliacutetica de concorrecircncia eacute a conduta dos agentes econocircmicos

Em suma natildeo eacute provaacutevel que as principais fragilidades da OMC venham a ser superadas no futuro proacuteximo Entretanto a atuaccedilatildeo do Brasil naquele foacuterum durante os anos 90 demonstrou que mesmo assim ndash e sobretudo apoacutes o surto recente de pressotildees protecionistas nos Estados Unidos ndash interessa aos paiacuteses em desenvolvimento promover o sistema multilateral de comeacutercio Casos como EmbraerBombardier e a controveacutersia sobre patentes farmacecircuticas jaacute se tornaram siacutembolos de situaccedilotildees em que estrateacutegias negociadoras bem fundamentadas conseguem preservar interesses nacionais legiacutetimos Aleacutem de conferir maior credibilidade agrave OMC e agraves posiccedilotildees defendidas pelo Brasil nas negociaccedilotildees em curso esses casos tambeacutem se revelaram instrumentais para fomentar o diaacutelogo bilateral com diversos parceiros importantes como Japatildeo China Iacutendia Austraacutelia e Aacutefrica do Sul

Aleacutem de promover a OMC outro toacutepico prioritaacuterio da poliacutetica comercial brasileira eacute a reconstruccedilatildeo do MERCOSUL que tem desempenhado um papel estrateacutegico na defesa dos interesses brasileiros no plano multilateral nas negociaccedilotildees sobre a criaccedilatildeo de uma Aacuterea de Livre Comeacutercio das Ameacutericas (ALCA) e no diaacutelogo com a Uniatildeo Europeacuteia O MERCOSUL eacute importante por razotildees de

geografia econocircmica os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo internacional natildeo constituem anomalias efecircmeras mas foram gerados gradualmente ao longo de vaacuterias deacutecadas em decorrecircncia da dicotomia acima referida entre custos de informaccedilatildeo e de transporte Portanto a menos que os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo venham a ser redefinidos por outra revoluccedilatildeo tecnoloacutegica as metas da integraccedilatildeo regional continuaratildeo a ser prioritaacuterias para o Brasil

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwfazendagovbr httpwwwmdicgovbr httpwwwbndesgovbr httpwww1bcbgovbr httpwwwipeagovbr httpwwwmpogovbr

Mercado de Trabalho por Paulo Machado

A integraccedilatildeo competitiva da economia brasileira agrave economia global e a conquista da estabilidade influenciaram estruturalmente o funcionamento do mercado de trabalho do Paiacutes Foram registradas na deacutecada 1990 e ao longo dos uacuteltimos anos dinacircmicas particularmente relevantes nos quesitos emprego formalidade e renda dos trabalhadores o que exigiu mudanccedilas substantivas na atuaccedilatildeo das instituiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees trabalhistas

A evoluccedilatildeo do emprego pode ser melhor compreendida recorrendo-se aos dados da Pesquisa Mensal de Emprego ndash PMEIBGE visto que sua metodologia obedece a criteacuterios internacionalmente aceitos A taxa de desemprego medida pela PMEIBGE atingiu 76 em 1999 caiu para 71 em 2000 e reduziu-se novamente para 62 em 2001 atingindo entatildeo seu ponto mais baixo nos uacuteltimos quatro anos

Uma primeira anaacutelise dessa trajetoacuteria poderia sugerir que 2001 foi o ano em que o mercado de trabalho brasileiro teve seu melhor desempenho No entanto em 2000 foram criados em termos liacutequidos cerca de 700 mil postos de trabalho enquanto que em 2001 esse resultado atingiu aproximadamente 106 mil Observa-se assim que o desempenho do mercado de trabalho natildeo pode ser avaliado exclusivamente pela trajetoacuteria da taxa de desemprego Igualmente importante eacute medir a capacidade da economia de gerar saldos positivos de postos de trabalho Para corroborar essa situaccedilatildeo entre janeiro e junho de 2002 a PMEIBGE registra um aumento da ordem de cerca de 192 mil postos de trabalho considerando-se apenas as 6 regiotildees metropolitanas pesquisadas (Belo Horizonte Porto Alegre Recife Rio de Janeiro Salvador e Satildeo Paulo) No entanto como a taxa de desemprego resulta do cruzamento entre o nuacutemero de postos gerados e a quantidade de pessoas procurando emprego houve um pequeno crescimento do desemprego no primeiro semestre de 2002 atingindo na meacutedia 72 Essa aparente contradiccedilatildeo se explica pelo fato de que mais pessoas tem-se sentido incentivadas a procurar emprego o que provavelmente reflete expectativas mais favoraacuteveis quanto agrave perspectiva de obtenccedilatildeo de emprego Somente nos seis primeiros meses de

2002 aproximadamente 434 mil pessoas entraram no mercado de trabalho Destas cerca de 262 mil satildeo oriundas do desalento ou seja satildeo trabalhadores que haviam desistido de procurar emprego mas devido ao bom desempenho do mercado de trabalho vislumbraram novamente a chance de ter um emprego

A taxa meacutedia de desemprego dos primeiros seis meses do ano de 2002 carrega uma certa sazonalidade negativa pois trata-se de um periacuteodo tipicamente marcado por taxas mais elevadas Nesse contexto eacute razoaacutevel esperar que a taxa de desemprego recue a partir do terceiro trimestre Vale destacar que a taxa de desemprego brasileira da ordem de 75 em junho ainda eacute a mais baixa da Ameacuterica do Sul e uma das menores da Ameacuterica Latina

Em termos setoriais ao longo da deacutecada de 1990 a induacutestria de transformaccedilatildeo registrou reduccedilatildeo no niacutevel meacutedio de ocupaccedilatildeo experimentando a chamada desindustrializaccedilatildeo do emprego Por sua vez os serviccedilos e o comeacutercio apresentaram as maiores elevaccedilotildees na ocupaccedilatildeo meacutedia expressando um processo ascendente de terceirizaccedilatildeo do emprego Com efeito o mundo do trabalho tem sofrido raacutepidas e radicais transformaccedilotildees por meio da automaccedilatildeo da roboacutetica e da telemaacutetica Trata-se de um processo de substituiccedilatildeo de paradigmas na concepccedilatildeo da estrutura produtiva que se acentua a partir dos anos 80 A crescente automaccedilatildeo da produccedilatildeo processo que se acelerou a partir do iniacutecio da deacutecada de 1970 resultou na reduccedilatildeo da importacircncia do setor secundaacuterio da economia como empregador de matildeo-de-obra A atividade industrial maior geradora de empregos nos anos 70 perdeu essa posiccedilatildeo para o setor de serviccedilos nas deacutecadas de 1980 e 1990 Em 1992 o setor terciaacuterio e a induacutestria de transformaccedilatildeo respondiam respectivamente por 716 e 198 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelio ndash PNADIBGE Em 1998 o setor terciaacuterio abrigava 737 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola e mais da metade da populaccedilatildeo ocupada do Paiacutes enquanto o setor secundaacuterio reduziu sua participaccedilatildeo para 179

Com relaccedilatildeo agrave qualidade dos viacutenculos empregatiacutecios os indicadores mostram-se positivos sob a forma da geraccedilatildeo consistente de postos de trabalho formais entre 1994 e 2002 Conforme dados da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais ndash RAISMTE o nuacutemero de empregados cresceu de 237 milhotildees em 1994 para aproximadamente 268 milhotildees em 2001 Em fins de 2001 portanto havia cerca de 31 milhotildees de pessoas a mais empregadas formalmente quando comparadas agrave mesma data de 1994 O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ndash CAGEDMTE igualmente corrobora a manutenccedilatildeo da trajetoacuteria de recuperaccedilatildeo dos postos de trabalho em 2002 Em junho uacuteltimo o CAGEDMTE registrou a criaccedilatildeo de 133 mil novas vagas o que significa um saldo acumulado de aproximadamente 681 mil postos de trabalho em 2002 Trata-se da melhor performance de toda a seacuterie histoacuterica do CAGEDMTE (iniciado em 1985) quando se compara os primeiros seis meses de 2002 ao mesmo periacuteodo dos anos anteriores Assim de janeiro de 2000 a junho de 2002 registra-se um saldo positivo de 19 milhatildeo de novos postos de trabalho formais

Com relaccedilatildeo agrave renda dos trabalhadores deve-se destacar o crescimento real do salaacuterio miacutenimo entre 1991 e 2002 O salaacuterio miacutenimo apresentou tendecircncia oscilante entre 1990 e 1994 (variando entre os poacutelos extremos representados por R$12865 em 1990 e R$14541 em 1993) assumindo trajetoacuteria continuamente ascendente a partir de 1995 ateacute atingir o valor real de R$18943 em 2002 (meacutedia de janeiro a maio deflacionada pelo INPC a preccedilos de maio de 2002) quando o valor nominal do salaacuterio miacutenimo atingiu R$20000 Por sua vez o rendimento meacutedio real dos ocupados foi de R$68910 na meacutedia do periacuteodo 1990-1994 apresentando crescimento da ordem de 1832 no periacuteodo 1995-2001 quando chega agrave meacutedia de R$81533 A massa de rendimento real tanto para o total dos ocupados quanto para os trabalhadores assalariados (com e sem carteira assinada) cresceu de forma consistente entre 1992 e 1997 com um comportamento oscilante a partir de entatildeo Comparando o periacuteodo 1995-2001 com o periacuteodo anterior 1991-1994 observa-se um crescimento

da massa de renda real meacutedia tanto para o conjunto dos ocupados (2407) quanto para os trabalhadores assalariados (516)

O Governo Federal brasileiro por seu turno empenhado em corrigir as distorccedilotildees inerentes agrave evoluccedilatildeo do mercado de trabalho vem desenvolvendo programas de fomento ao emprego e ao trabalho e de proteccedilatildeo e assistecircncia ao trabalhador contando com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador ndash FAT Seu objetivo eacute criar mecanismos que permitam a melhoria das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade de vida do trabalhador destacando-se as accedilotildees nas aacutereas de qualificaccedilatildeo profissional seguro-desemprego abono salarial geraccedilatildeo de emprego e renda inspeccedilatildeo do trabalho e legislaccedilatildeo trabalhista

Em 1995 o Governo Federal por meio do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego instituiu o Plano Nacional de Qualificaccedilatildeo do Trabalhador ndash PLANFOR visando assegurar a integraccedilatildeo do trabalhador ao mercado de trabalho e promover assim o aumento de sua empregabilidade produtividade e renda Financiado majoritariamente com recursos do FAT o PLANFOR eacute executado de forma descentralizada por instituiccedilotildees de formaccedilatildeo profissional sob responsabilidade das Secretarias Estaduais de Trabalho (em interaccedilatildeo com as Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego ampliando a participaccedilatildeo social e a sintonia com as demandas do setor produtivo) e das Parcerias Nacionais realizadas predominantemente com entidades patronais e associaccedilotildees sindicais O PLANFOR focaliza sua atuaccedilatildeo em populaccedilotildees vulneraacuteveis dotadas de maior dificuldade de acesso a outras alternativas de qualificaccedilatildeo em decorrecircncia de situaccedilotildees de pobreza baixa escolaridade ou discriminaccedilatildeo no mercado de trabalho No periacuteodo 1995-2001 foram qualificadas 153 milhotildees de pessoas com recursos da ordem de R$ 23 bilhotildees

O Seguro-Desemprego constitui uma accedilatildeo de amparo aos trabalhadores demitidos sem justa causa Na deacutecada de 1990 o pagamento do benefiacutecio do seguro-desemprego ajudou a preservar em meacutedia cerca de 13 da renda de salaacuterio do trabalhador formal do setor privado dispensado sem justa causa considerando a remuneraccedilatildeo meacutedia mensal do trabalhador com carteira assinada Entre 1994 e 2001 foram concedidos 354 milhotildees de benefiacutecios com recursos da ordem de R$282 bilhotildees Para o periacuteodo que se estende de 1995 a 2001 tiveram acesso ao programa 442 milhotildees de trabalhadores por ano em meacutedia de um total meacutedio de 45 milhotildees de requerimentos ao custo meacutedio anual de aproximadamente R$ 468 bilhotildees (em R$ de dezembro de 2001) O nuacutemero meacutedio de beneficiaacuterios no periacuteodo supera a meacutedia de beneficiaacuterios do periacuteodo 1990-94 em cerca de 20 Uma das causas do crescimento do volume de segurados eacute a flexibilizaccedilatildeo dos criteacuterios para a sua concessatildeo visto que a partir da segunda metade da deacutecada de 1990 houve reduccedilatildeo do tempo de viacutenculo empregatiacutecio necessaacuterio para o acesso ao benefiacutecio

O Abono Salarial eacute uma iniciativa de assistecircncia ao trabalhador consistindo no pagamento anual de um salaacuterio miacutenimo a trabalhadores dos setores privado e puacuteblico que atendam a determinados requisitos dentre eles a percepccedilatildeo de remuneraccedilatildeo meacutedia mensal natildeo superior a dois salaacuterios miacutenimos no ano de referecircncia Calcula-se que o impacto do abono na renda anual do trabalhador seja em meacutedia de 5 o que corresponde a uma complementaccedilatildeo de renda significativa para esse segmento de trabalhadores de baixa renda No mecircs que eacute pago o benefiacutecio o impacto na renda pode alcanccedilar aproximadamente 70 funcionando como um 14ordm salaacuterio aos trabalhadores de mais baixos salaacuterios No periacuteodo de 1995-2001 foram liberados em meacutedia 54 milhotildees de abonos salariais por ano nuacutemero 23 superior agrave meacutedia do periacuteodo 1990-1994 que consistiu em 44 milhotildees de abonos anuais

O Programa de Geraccedilatildeo de Emprego e Renda ndash PROGER vem-se consolidando como um dos principais instrumentos de que dispotildee o Governo para incrementar a poliacutetica puacuteblica de geraccedilatildeo de

emprego e renda e melhoria da qualidade de vida do trabalhador Sua operacionalizaccedilatildeo ocorre mediante concessatildeo de creacuteditos em condiccedilotildees especiais destinados ao financiamento de atividades produtivas nos setores formal e informal da economia nas aacutereas urbana e rural O PROGER Urbano possui como puacuteblicos-alvo as micro e pequenas empresas cooperativas e associaccedilotildees de produccedilatildeo bem como os profissionais liberais receacutem-formados trabalhadores autocircnomos prestadores de serviccedilo em geral artesatildeos e pequenos e micro negoacutecios familiares O PROGER Rural por sua vez atende prioritariamente aos pequenos produtores rurais de forma individual ou coletiva inclusive agraves atividades pesqueira extrativa vegetal e de aquumlicultura A concessatildeo dos creacuteditos eacute vinculada agrave realizaccedilatildeo de programas de capacitaccedilatildeo teacutecnico-gerencial qualificaccedilatildeo profissional assistecircncia teacutecnica e acompanhamento dos empreendimentos beneficiados As operaccedilotildees de creacutedito tecircm como agentes financeiros os seguintes bancos oficiais Banco do Brasil Banco do Nordeste do Brasil Caixa Econocircmica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social ndash BNDES Entre 1995 e 2001 foram realizadas aproximadamente 860 mil operaccedilotildees totalizando investimentos da ordem de R$69 bilhotildees

A Inspeccedilatildeo do Trabalho volta-se para o combate agrave informalidade agregando agraves accedilotildees tiacutepicas da fiscalizaccedilatildeo do trabalho mecanismos para facilitar a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de trabalhadores nas empresas tais como as mesas de entendimento e o condomiacutenio de empregadores A formalizaccedilatildeo dos contratos de trabalho estende as garantias trabalhistas e previdenciaacuterias aos trabalhadores desamparados do sistema laboral legal A intensificaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo do trabalho contribuiu para a formalizaccedilatildeo de um total de 21 milhotildees de viacutenculos empregatiacutecios inicialmente desprotegidos no periacuteodo de 1996 a 2001

Finalmente o Governo brasileiro apresentou ao longo dos uacuteltimos anos vaacuterias propostas de modernizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista com vistas a adequaacute-la aos novos padrotildees de relaccedilatildeo entre capital e trabalho A tocircnica desse conjunto de propostas eacute o reforccedilo agrave via negocial para a soluccedilatildeo dos conflitos inerentes agraves relaccedilotildees de trabalho Cabe destaque agraves seguintes iniciativas Banco de Horas (sistema de compensaccedilatildeo de horas extras previamente autorizado em convenccedilatildeo ou acordo coletivo que permite agrave empresa adequar as jornadas de trabalho agraves variaccedilotildees sazonais mediante a diminuiccedilatildeo proporcional da jornada em periacuteodos de decliacutenio da demanda) Mesas de Entendimento (mecanismo de fiscalizaccedilatildeo de caraacuteter pedagoacutegico natildeo punitivo buscando regularizar a situaccedilatildeo que suscitou a accedilatildeo fiscal por meio de entendimentos entre a fiscalizaccedilatildeo a empresa e os trabalhadores consubstanciados em um Termo de Compromisso) Condomiacutenio dos Empregadores (uniatildeo de produtores rurais ndash pessoas fiacutesicas com a finalidade de contratar trabalhadores rurais que prestaratildeo serviccedilos exclusivamente para seus condocircminos estimulando a formalizaccedilatildeo dos viacutenculos empregatiacutecios no campo) aleacutem de accedilotildees voltadas para a inserccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia no mercado de trabalho por meio de modalidades como a colocaccedilatildeo seletiva

Essas satildeo as linhas gerais de estruturaccedilatildeo do mercado de trabalho brasileiro e de atuaccedilatildeo do Governo Federal nos uacuteltimos anos Os impactos no mercado de trabalho inerentes ao processo de integraccedilatildeo da economia nacional agrave economia global satildeo consideraacuteveis Nesse contexto o Governo brasileiro ciente dos desafios que lhe satildeo postos estaacute empenhado em criar e manter as condiccedilotildees macroeconocircmicas favoraacuteveis e em implementar as poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo do emprego e da renda necessaacuterias para a construccedilatildeo de um futuro mais proacutespero para todos

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmtbgovbr httpwwwmpasgovbr

Dinacircmica Demograacutefica por Manoel A Costa

A populaccedilatildeo brasileira teve um aumento de 313 milhotildees de pessoas durante os 68 anos que separam a realizaccedilatildeo do primeiro recenseamento em 1872 do quinto em 1940 De acordo com os cinco censos desse periacuteodo a populaccedilatildeo nacional era constituiacuteda de 99 milhotildees em 1872 143 milhotildees em 1890 174 milhotildees em 1900 306 milhotildees em 1920 e finalmente 412 milhotildees em 1940 A partir desse ano e durante os 51 anos seguintes o contingente nacional aumentou pouco mais de 100 milhotildees de pessoas ateacute a data do Censo de 1991 e de acordo com o uacuteltimo censo de 1996 nestes quatro anos houve um acreacutescimo de cerca de 7 milhotildees de pessoas na populaccedilatildeo brasileira

A tabela sobre populaccedilatildeo apresenta alguns indicadores da dinacircmica demograacutefica a partir de 1940 taxas de natalidade de mortalidade de crescimento natural e de crescimento total prevalecentes durante os periacuteodos que separam a realizaccedilatildeo dos levantamentos estatiacutesticos complementando-os com estimativas ateacute os primeiros dez anos do seacuteculo XXI Aleacutem disso a tabela apresenta a evoluccedilatildeo do aumento da populaccedilatildeo e estimativas do nuacutemero de nascidos vivos para cada periacuteodo decenal

O incremento decenal da populaccedilatildeo aumentou significativa e continuamente ateacute os anos 70 apesar de a taxa de crescimento ter comeccedilado a declinar a partir de 1955 Enquanto entre 1940-1950 ocorreu um aumento de 109 milhotildees de habitantes entre 1980-1990 a populaccedilatildeo nacional aumentou em 248 milhotildees embora a taxa meacutedia anual de crescimento tenha se reduzido de 239 aa durante o primeiro periacuteodo para 193 anuais no uacuteltimo Estima-se que ocorreraacute um expressivo aumento populacional da ordem de 21 milhotildees de pessoas durante o uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX e os primeiros dez anos do seacuteculo XXI ainda que a taxa de crescimento continue se reduzindo

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwibgegovbr

A Transiccedilatildeo Demograacuteficapor Manoel A Costa

Nos anos 80 consolidou-se a transiccedilatildeo demograacutefica brasileira Tambeacutem neste periacuteodo registrou-se pela primeira vez na histoacuteria do Brasil um numeroso fluxo emigratoacuterio de matildeo-de-obra Estima-se que um contigente de 13 milhatildeo de brasileiros emigrou para o exterior durante esses anos

A transiccedilatildeo demograacutefica nacional apoacutes um iniacutecio moderado na segunda metade dos anos 60 transcorreu com uma aceleraccedilatildeo crescente durante as duas deacutecadas seguintes por causa da raacutepida reduccedilatildeo da fecundidade e resultou na reduccedilatildeo do crescimento demograacutefico natural da populaccedilatildeo de um ritmo elevado de 299 ao ano entre 1950-1960 praticamente ineacutedito ateacute entatildeo entre populaccedilotildees numerosas para o niacutevel de 193 meacutedios anuais entre 1980-1991

Estima-se que a fecundidade continuaraacute se reduzindo e se aproximaraacute num futuro natildeo muito distante do niacutevel de reposiccedilatildeo de 21 filhos por mulher em idade feacutertil Partindo de uma simulaccedilatildeo com essa perspectiva prevecirc-se que a taxa de crescimento da populaccedilatildeo nacional ficaraacute abaixo de 10 anual a partir de 2015-2020 e abaixo de 05 depois de 2035 Seguindo essa tendecircncia a

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

A partir dos anos 70 o territoacuterio brasileiro passa por novas e significativas transformaccedilotildees As principais bacias hidrograacuteficas satildeo aproveitadas para a produccedilatildeo de eletricidade Modernizam-se os portos Constroacuteem-se algumas estradas de ferro orientadas para produtos especializados A rede rodoviaacuteria se desenvolve com duas grandes marcas de um lado a construccedilatildeo de autopistas nos principais eixos de circulaccedilatildeo e de outro estradas vicinais sobretudo nas aacutereas de maior densidade econocircmica Instala-se uma rede de telecomunicaccedilotildees que alcanccedila todos os municiacutepios e ao mesmo tempo liga o Paiacutes ao resto do mundo

As condiccedilotildees estavam criadas para um processo sustentado de desenvolvimento econocircmico A induacutestria conhece uma grande diversificaccedilatildeo e inicia sua desconcentraccedilatildeo A agricultura se moderniza no Sul e no Sudeste e em outras regiotildees onde se destacam os estados do Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiaacutes e Bahia A difusatildeo da irrigaccedilatildeo vai permitir ao Nordeste o aproveitamento agriacutecola intensivo de parte de suas terras

Essas transformaccedilotildees satildeo a base de uma nova fase da organizaccedilatildeo do espaccedilo e da urbanizaccedilatildeo fundada numa vida de relaccedilotildees mais extensa e mais intensa Nos primeiros 450 anos de histoacuteria europeacuteia do Brasil o povoamento e a urbanizaccedilatildeo foram praticamente litoracircneos Hoje o Brasil eacute um paiacutes urbanizado com uma taxa de urbanizaccedilatildeo superior a 75 e diversos niacuteveis e tipos de cidades Com a difusatildeo do fenocircmeno urbano em todas as regiotildees pode-se falar desde os anos 70 em urbanizaccedilatildeo do territoacuterio Multiplica-se o nuacutemero de cidades locais onde a populaccedilatildeo encontra resposta agraves suas demandas primaacuterias de consumo material e imaterial como educaccedilatildeo sauacutede informaccedilatildeo e lazer Criam-se numerosas cidades meacutedias em todos os estados interiorizando seletivamente elementos mais sofisticados da vida contemporacircnea

Ao mesmo tempo o processo de metropolizaccedilatildeo natildeo eacute mais limitado ao Sudeste Se o ritmo de crescimento urbano das cidades com mais de 1 milhatildeo de habitantes diminui o que pode ser associado agrave ideacuteia de desmetropolizaccedilatildeo ao mesmo tempo haacute o surgimento de novas grandes cidades O processo migratoacuterio se intensifica incluindo natildeo apenas um movimento do campo para a cidade mas tambeacutem um ecircxodo urbano cada vez mais acentuado

A regiatildeo concentrada formada pelos estados do Sul e do Sudeste e por parcelas do Centro-oeste reuacutene o essencial da atividade econocircmica do paiacutes mesmo que em todo o territoacuterio em maior ou menor proporccedilatildeo se encontrem sinais de modernizaccedilatildeo Satildeo Paulo manteacutem o seu papel de metroacutepole nacional baseado em sua condiccedilatildeo de centro informacional e natildeo mais como centro industrial

Urbanizaccedilatildeo por Adriana Bernardes

O Brasil conhece o fenocircmeno da urbanizaccedilatildeo propriamente dita somente em meados do seacuteculo XX Ateacute entatildeo a vida urbana resumia-se na maior parte do Paiacutes a funccedilotildees administrativas voltadas a garantir a ordem e coordenar a produccedilatildeo agriacutecola

Apoacutes a deacutecada de 50 como reflexo da industrializaccedilatildeo os nexos econocircmicos e o fator urbano tornam-se correlatos Impotildee-se uma nova loacutegica na organizaccedilatildeo da sociedade brasileira As inovaccedilotildees econocircmicas e sociais satildeo enormes pois associam-se neste contexto agrave revoluccedilatildeo demograacutefica ao ecircxodo rural e agrave integraccedilatildeo do territoacuterio pelos transportes e comunicaccedilotildees Crescem cidades de todos os tipos e com diferentes niacuteveis funcionais Tem iniacutecio o processo de metropolizaccedilatildeo

A nova base econocircmica pautada na induacutestria e no urbano ultrapassa jaacute em meados da deacutecada de 60 a regiatildeo Sudeste Consolida-se a formaccedilatildeo do mercado nacional e um de seus principais pilares eacute exatamente a urbanizaccedilatildeo do territoacuterio e seu respectivo sistema de cidades A evoluccedilatildeo da taxa de urbanizaccedilatildeo no Brasil indica a importacircncia e a velocidade das transformaccedilotildees Em 1950 este iacutendice alcanccedilava 3616 sobre o total da populaccedilatildeo do Paiacutes Em 1970 representava 5680 ou seja mais da metade da populaccedilatildeo e em 1990 chega a 7713 A populaccedilatildeo urbana no Brasil em 1991 - 115700000 de habitantes - se aproximava da populaccedilatildeo total do Paiacutes da deacutecada anterior - 119099000 habitantes em 1980

Na deacutecada de 90 constata-se uma elevaccedilatildeo nas taxas de urbanizaccedilatildeo das diversas regiotildees do Paiacutes O Sudeste pioneiro do moderno sistema urbano brasileiro apresentava em 1996 um iacutendice em torno de 88 seguido pelo Centro-oeste com 81 o Sul com 741 o Nordeste com 606 e por fim o Norte com 578 De modo geral o fenocircmeno eacute significativo e os diferentes iacutendices refletem diferenccedilas qualitativas ligadas agrave forma e ao conteuacutedo da urbanizaccedilatildeo Tal fato eacute resultado do impacto da divisatildeo social e territorial do trabalho que ocorreu ao longo deste seacuteculo de modo diferenciado no territoacuterio No Sudeste e no Sul o desenvolvimento industrial e o dinamismo dos diversos tipos de trabalho asseguraram uma rede urbana mais complexa

Com a expansatildeo recente da moderna economia de serviccedilos de apoio agrave produccedilatildeo surgiu uma nova urbanizaccedilatildeo marcada pela demanda e consequumlente aumento exponencial de trabalho intelectual As cidades de todos os niacuteveis acolhem os novos trabalhos - altamente especializados e qualificados - envolvendo profissionais voltados agrave inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e agrave regulaccedilatildeo mais eficaz da distribuiccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos produtos Justamente estas novas demandas do sistema produtivo eacute que encontram correspondecircncia por sua vez em uma maior demanda de urbanizaccedilatildeo

Haacute uma distribuiccedilatildeo das funccedilotildees produtivas entre as cidades Estas passam a regular atraveacutes do trabalho intelectual natildeo somente a produccedilatildeo urbana mas tambeacutem a produccedilatildeo rural Com a revoluccedilatildeo dos transportes e das telecomunicaccedilotildees paralela agraves novas formas de creacutedito e consumo haacute maior acessibilidade fiacutesica e financeira dos indiviacuteduos A rede urbana tende a diferenciar-se Aprofunda-se a divisatildeo territorial do trabalho no sistema urbano entre cidades locais cidades meacutedias metroacutepoles regionais e metroacutepoles nacionais

Povoamento por Eliza Pinto de Almeida

Os primeiros seacuteculos de ocupaccedilatildeo do territoacuterio brasileiro foram marcados pela presenccedila de nuacutecleos de povoamento dispersos nas aacutereas litoracircneas A partir do seacuteculo XVI no Recocircncavo Baiano e na Zona da Mata nordestina desenvolveu-se a lavoura de cana-de-accediluacutecar que fomentou a formaccedilatildeo de uma rede de cidades desarticuladas tendo como ponto de uniatildeo Salvador a primeira capital da colocircnia O crescimento das exportaccedilotildees de accediluacutecar provocou o deslocamento da pecuaacuteria para o

sertatildeo nordestino cujas boiadas vinham de muito longe para suprir as necessidades dos engenhos Inuacutemeras famiacutelias foram trabalhar como parceiros ou agregados nas sedes das fazendas de gado que acabaram originando as primeiras vilas e cidades dessa regiatildeo Aleacutem de estimular o povoamento do sertatildeo a pecuaacuteria foi responsaacutevel pela difusatildeo da agricultura de subsistecircncia e pelo cultivo do algodatildeo e do fumo Mas este uacuteltimo foi cultivado principalmente no Recocircncavo Baiano servindo como moeda para a compra de escravos vindos do continente africano

As primeiras expediccedilotildees denominadas bandeiras ampliaram os domiacutenios portugueses no seacuteculo XVII com o objetivo de capturar iacutendios e encontrar ouro e pedras preciosas Essas expediccedilotildees alcanccedilaram a foz do rio Amazonas onde foi fundada em 1616 a atual cidade de Beleacutem do Paraacute A descoberta de ouro e pedras preciosas no seacuteculo XVIII nos atuais estados de Minas Gerais Mato Grosso Goiaacutes e Bahia teve como consequumlecircncia o aumento da populaccedilatildeo aleacutem de estimular a abertura de estradas e intensificar as relaccedilotildees com as aacutereas de criaccedilatildeo de gado que eram responsaacuteveis pelo abastecimento de carne e couro nas aacutereas mineradoras Muitas cidades surgiram ligadas a essas atividades e outras ganharam maior importacircncia com a intensificaccedilatildeo do comeacutercio como as cidades portuaacuterias

O seacuteculo XIX abre novas perspectivas de povoamento do territoacuterio brasileiro A abertura dos portos em 1808 intensifica o comeacutercio com as naccedilotildees europeacuteias No iniacutecio desse seacuteculo cresce a procura pelo algodatildeo nos mercados europeus beneficiando a produccedilatildeo nordestina e sobretudo a maranhense graccedilas agrave maior proximidade com esse mercado A prosperidade dessa cultura seraacute interrompida com o fim da guerra de independecircncia norte-americana

Outro produto que comeccedila a ser valorizado na Europa nesse seacuteculo eacute o cafeacute que passa a ser largamente cultivado no estado de Satildeo Paulo A cafeicultura impulsiona a formaccedilatildeo de um mercado assalariado e consumidor e propicia a acumulaccedilatildeo de capitais dando origem ao desenvolvimento industrial especialmente do Centro-sul Essa eacutepoca eacute marcada ainda pelo iniacutecio da mecanizaccedilatildeo do territoacuterio com a instalaccedilatildeo das ferrovias dos teleacutegrafos e das primeiras companhias de navegaccedilatildeo que repercutiram no processo de urbanizaccedilatildeo do Paiacutes Por outro lado os uacuteltimos dececircnios do seacuteculo XIX foram acompanhados pelo boom da exploraccedilatildeo da borracha na regiatildeo amazocircnica atraindo um grande nuacutemero de migrantes nordestinos que fugiam da seca e das dificuldades econocircmicas O sul da Bahia nessa eacutepoca conheceu tambeacutem um raacutepido crescimento econocircmico graccedilas agrave produccedilatildeo de cacau que atraiu migrantes do mesmo estado e de outras aacutereas nordestinas

O poacutes-Segunda Guerra eacute um ponto de inflexatildeo no povoamento do territoacuterio brasileiro As regiotildees Centro-oeste e Amazocircnica satildeo paulatinamente integradas ao conjunto da economia nacional A construccedilatildeo de Brasiacutelia inaugurada em 1960 eacute um marco do processo de interiorizaccedilatildeo As rodovias Transamazocircnica e Cuiabaacute-Santareacutem facilitaram os fluxos migratoacuterios para a regiatildeo Amazocircnica onde projetos de colonizaccedilatildeo foram implantados ao longo das rodovias receacutem-construiacutedas Somado a isso tivemos nessa regiatildeo grandes projetos agropecuaacuterios e minerais que levaram agrave expansatildeo da rede urbana do Paiacutes

Urbanizaccedilatildeo do Territoacuterio por Eliza Pinto de Almeida

Durante seacuteculos a urbanizaccedilatildeo brasileira ocorreu em pontos isolados como verdadeiras ilhas tornando-se generalizada somente a partir do seacuteculo XX Pode-se dizer que Salvador comandou a primeira rede urbana do paiacutes mantendo sua primazia ateacute meados do seacuteculo XVIII quando a capital da colocircnia se transfere para a cidade do Rio de Janeiro As relaccedilotildees entre o litoral e o interior eram fraacutegeis neste periacuteodo O povoamento e as riquezas geradas pela agricultura e a mineraccedilatildeo ensaiaram os primeiros passos rumo ao processo de urbanizaccedilatildeo

Em fins do seacuteculo XIX o Brasil assiste ao crescimento do fenocircmeno de urbanizaccedilatildeo do territoacuterio Satildeo Paulo liacuteder na produccedilatildeo cafeeira inicia a formaccedilatildeo de uma rede de cidades envolvendo os estados do Rio Janeiro e de Minas Gerais

Mas seraacute apenas em meados do seacuteculo XX quando ocorre a unificaccedilatildeo dos meios de transporte e comunicaccedilatildeo que as condiccedilotildees se tornam propiacutecias para uma verdadeira integraccedilatildeo do territoacuterio Modificam-se substancialmente os fluxos econocircmicos e demograacuteficos conferindo um novo valor aos lugares

A partir da deacutecada de 70 ocorre a difusatildeo generalizada das modernizaccedilotildees tanto no campo como na cidade A construccedilatildeo e expansatildeo de estradas de rodagem e a criaccedilatildeo de um moderno sistema de telecomunicaccedilotildees possibilitaram maior fluidez no territoacuterio aleacutem de permitir a unificaccedilatildeo do mercado em escala nacional

Cresce o consumo de bens materiais e imateriais como educaccedilatildeo e sauacutede transformando as funccedilotildees urbanas A rede urbana torna-se mais complexa pois tanto o campo como a cidade respondem agraves novas condiccedilotildees de realizaccedilatildeo da economia contemporacircnea Na atual fase a urbanizaccedilatildeo do territoacuterio tem muacuteltiplas implicaccedilotildees tais como o ritmo de crescimento mais lento das cidades milionaacuterias e concomitante a essa tendecircncia o crescimento das cidades locais e das cidades meacutedias Em 1980 o paiacutes contava com 142 cidades com mais de 100 mil habitantes e em 1991 eram 187 A participaccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira cresce tambeacutem nessas cidades meacutedias elevando-se de 137 em 1970 para 167 em 1991 A densidade econocircmica do territoacuterio leva agrave crescente especializaccedilatildeo das cidades que tecircm um papel cada vez mais ativo no paiacutes

Processo Migratoacuterio por Liacutedia Antongiovanni

O processo migratoacuterio no Brasil apresenta duas grandes marcas Com a colonizaccedilatildeo do paiacutes desde o seacuteculo XVI vieram para caacute europeus e negros africanos Estes uacuteltimos foram trazidos como matildeo-de-obra escrava inicialmente para a cultura da cana-de-accediluacutecar Iacutendios negros africanos e brancos europeus (na sua maioria portugueses e espanhoacuteis) compuseram a ocupaccedilatildeo do Brasil

Na segunda metade do seacuteculo XIX somam-se dois processos que resultam num rearranjo daquele momento inicial a expansatildeo da fronteira econocircmica e um processo gradativo de aboliccedilatildeo da escravidatildeo Ambos convergiam para a decisatildeo dos colonizadores em ampliar a participaccedilatildeo de brancos europeus na formaccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira Este quadro propiciou a vinda de outros

europeus - italianos alematildees austriacuteacos huacutengaros eslavos siacuterios libaneses suiacuteccedilos - que mais tarde se juntam aos asiaacuteticos

A segunda grande marca da migraccedilatildeo brasileira eacute resultado da integraccedilatildeo e modernizaccedilatildeo do territoacuterio e da ampliaccedilatildeo das trocas comerciais e do consumo marcadamente a partir da deacutecada de 1950 Intensifica-se a partir deste momento a urbanizaccedilatildeo e a correlata migraccedilatildeo interna O Brasil ateacute entatildeo um paiacutes agriacutecola vai conhecer neste periacuteodo uma acentuaccedilatildeo do ecircxodo rural levando agrave inversatildeo dos nuacutemeros correspondentes agrave localizaccedilatildeo da populaccedilatildeo de maioria rural em 1940 para maioria urbana em 1970

A industrializaccedilatildeo associada agrave urbanizaccedilatildeo mais intensa no Sudeste acelera esse processo e atrai milhares de pessoas do Nordeste para o Centro-sul em especial nas deacutecadas de 60 e 70 Eacute neste periacuteodo que se inicia o processo de metropolizaccedilatildeocom os anos 60 marcando um significativo ponto de inflexatildeo Na deacutecada de 70 a expansatildeo de novas fronteiras agriacutecolas e econocircmicas na regiatildeo Norte leva ao deslocamento de milhotildees de pessoas para o Centro-oeste e para a Amazocircnia para onde migram nordestinos e mais recentemente os sulistas

Na deacutecada de 90 eacute detectado um processo de desmetropolizaccedilatildeo associado ao ecircxodo urbano isto eacute movimento numeroso de populaccedilatildeo entre cidades de diversos tamanhos e diversas regiotildees A difusatildeo da modernizaccedilatildeo no interior propicia uma migraccedilatildeo para as cidades menores A regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo por exemplo apresenta de 1980 a 1991 um crescimento vegetativo de 10971 e um saldo migratoacuterio de -971 Trata-se para a uacuteltima deacutecada de um salto migratoacuterio negativo para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Um fato novo na histoacuteria da migraccedilatildeo brasileira especialmente nos uacuteltimos anos eacute a saiacuteda crescente de brasileiros para a Europa Ameacuterica do Norte e Japatildeo Migraccedilatildeo essa geralmente associada a descendentes dos imigrantes que aqui chegaram na passagem do seacuteculo

Regiatildeo Concentrada por Maria Laura Silveira

Regiatildeo concentrada eacute a aacuterea onde os acreacutescimos de ciecircncia e tecnologia ao territoacuterio se verificam de modo contiacutenuo Expressatildeo mais intensa do meio teacutecnico-cientiacutefico-informacional essa regiatildeo abrange os estados do Sudeste (Espiacuterito Santo Rio de Janeiro Minas Gerais e Satildeo Paulo) os estados do Sul (Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e dois estados do Centro-oeste (Mato Grosso do Sul e Goiaacutes) tendo como poacutelo as metroacutepoles de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro

Nessa regiatildeo a modernizaccedilatildeo generalizada e a intensa circulaccedilatildeo interna e com outras regiotildees e paiacuteses correspondem a uma marcada divisatildeo territorial do trabalho Sede da agricultura mais moderna do Brasil e do mais expansivo desenvolvimento industrial e financeiro essa aacuterea concentra tambeacutem os niacuteveis superiores dos sistemas de sauacutede educaccedilatildeo lazer e serviccedilos modernos como a publicidade cujas demandas satildeo garantidas pelo consumo dessa grande concentraccedilatildeo produtiva e populacional

As metroacutepoles de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro sediam os escritoacuterios das mais poderosas firmas nacionais e das filiais das empresas globais que tecircm um papel de controle do mercado nacional e de comando do respectivo territoacuterio Eacute em Satildeo Paulo que se elabora e concentra a maior parcela das informaccedilotildees sobre a economia a sociedade e o territoacuterio A acumulaccedilatildeo de atividades intelectuais assegura a essa metroacutepole o predomiacutenio das atividades produtivas de ponta a funccedilatildeo de suporte aos

segmentos modernos da economia do paiacutes e em decorrecircncia um caraacuteter de encruzilhada na expansatildeo do meio teacutecnico-cientiacutefico-informacional Como o territoacuterio deve ser usado hoje com o conhecimento simultacircneo das accedilotildees empreendidas em lugares distantes a sua funccedilatildeo de centro informacional lhe concede uma nova hierarquia no sistema urbano brasileiro

Cidades Locais por Adriana Bernardes

O nuacutemero de cidades locais cresceu rapidamente a partir da deacutecada de 50 passando a ter um importante papel no funcionamento do sistema urbano Hoje este niacutevel na regiatildeo urbana eacute representado por cidades com populaccedilatildeo em torno de 20 mil habitantes

Anteriormente as sedes municipais guardavam praticamente apenas as funccedilotildees religiosas e administrativas voltadas agraves necessidades da vida rural Mas as cidades locais mudaram de conteuacutedo em consonacircncia com as exigecircncias desse periacuteodo histoacuterico Agora as funccedilotildees econocircmicas tecircm maior relevo na vida das cidades locais Integradas ao sistema produtivo do Paiacutes elas passaram a atender agrave crescente demanda por trabalho consumo educaccedilatildeo e lazer que o campo natildeo ofereceria

Com o advento da modernizaccedilatildeo e tecnificaccedilatildeo da agricultura principalmente nas uacuteltimas deacutecadas quando tambeacutem se instalam importantes induacutestrias agriacutecolas as cidades locais especializam-se para atender a determinados tipos de produccedilatildeo que se encontram no seu entorno Constituem sobretudo estoques de novos meios de consumo insumos creacutedito agriacutecola e matildeo-de-obra e satildeo centros de transportes e comunicaccedilotildees Boa parte dos trabalhadores agriacutecolas nas regiotildees mais modernas do Paiacutes vive na cidade onde tambeacutem se encontram novas categorias de profissionais o agrocircnomo o veterinaacuterio e o bancaacuterio entre outros que satildeo necessaacuterios agrave conduccedilatildeo e coordenaccedilatildeo de uma produccedilatildeo baseada no desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Cidades Meacutedias por Adriana Bernardes

Apoacutes a deacutecada de 50 amplia-se o nuacutemero de cidades meacutedias no Brasil em um contexto de redefiniccedilatildeo do porte dos nuacutecleos urbanos Na deacutecada de 90 definiu-se como cidade meacutedia o municiacutepio com populaccedilatildeo em torno de 100 mil habitantes

Satildeo muacuteltiplos os elementos que levam ao crescimento desse niacutevel urbano Entre eles destacam-se a dispersatildeo da induacutestria que ateacute haacute pouco tempo se concentrava em aacutereas metropolitanas a modernizaccedilatildeo do campo a proximidade das induacutestrias agriacutecolas e as novas formas de consumo material e de consumo imaterial Esse fenocircmeno eacute geral mas tem particular expressatildeo na aacuterea mais desenvolvida do Paiacutes Por tratar-se da aacuterea mais densamente urbanizada do territoacuterio nacional tem condiccedilotildees de adaptar-se agraves novas exigecircncias do periacuteodo histoacuterico atual

Graccedilas agraves cidades meacutedias estaacute ocorrendo a redistribuiccedilatildeo das classes meacutedias pelo territoacuterio associada agrave presenccedila de um nuacutemero crescente de letrados indispensaacuteveis aos novos modos de produccedilatildeo a que presidem Com a difusatildeo desde os anos 70 do ensino universitaacuterio no Paiacutes muitas dessas cidades satildeo em certos estados importantes centros de pesquisa

As atuais cidades meacutedias exercem atraccedilatildeo para os fluxos migratoacuterios e algumas delas estatildeo atingindo o estaacutegio sub-metropolitano cuja dimensatildeo iraacute variar segundo as regiotildees

Interiorizaccedilatildeo por Eliza Pinto de Almeida

O Brasil durante trecircs seacuteculos consecutivos teve um povoamento predominantemente litoracircneo A pecuaacuteria no sertatildeo nordestino foi a primeira atividade a impulsionar a ocupaccedilatildeo do interior Em meados do seacuteculo XVIII no que hoje satildeo os estados de Goiaacutes Mato Grosso Bahia e Minas Gerais amplia-se o processo de interiorizaccedilatildeo graccedilas agrave mineraccedilatildeo do ouro e das pedras preciosas Grandes fluxos migratoacuterios deslocam-se para essa aacuterea onde surgem paralelamente numerosas cidades

A extremidade meridional do atual territoacuterio brasileiro foi durante muito tempo disputada por portugueses e espanhoacuteis Somente em princiacutepios do seacuteculo XVIII eacute que essa regiatildeo seraacute incorporada ao territoacuterio brasileiro quando o governo portuguecircs destaca tropas de defesa para a aacuterea Ao mesmo tempo uma corrente de povoadores oriundos de Satildeo Paulo se estabelece no atual estado do Rio Grande do Sul Graccedilas agraves excelentes condiccedilotildees naturais a pecuaacuteria pocircde desenvolver-se plenamente nessa regiatildeo

Frentes pioneiras no seacuteculo XIX efetivaram a ocupaccedilatildeo do interior do estado de Satildeo Paulo Com as ferrovias novas aacutereas satildeo anexadas agrave produccedilatildeo cafeeira e assim muitas cidades nascem ligadas a essa atividade Satildeo Paulo se torna um poacutelo dinacircmico de vastas aacutereas que abrangem os estados do Sul do Paiacutes aleacutem de parcelas de Minas Gerais e Rio de Janeiro

A Amazocircnia teraacute a sua ocupaccedilatildeo consolidada no final do seacuteculo XIX a partir da crescente procura da borracha nos mercados europeus que estimulou a exploraccedilatildeo econocircmica desse produto e acabou desencadeando um intenso fluxo migratoacuterio vindo principalmente do Nordeste

No entanto as relaccedilotildees entre os lugares eram inconstantes natildeo havendo uma integraccedilatildeo entre as diversas regiotildees do Paiacutes A agricultura comercial e a mineraccedilatildeo foram a base do povoamento do territoacuterio brasileiro mas o seu desenvolvimento se deu em subespaccedilos que evoluiacuteam segundo loacutegicas proacuteprias ditadas em grande parte por suas relaccedilotildees com o mundo exterior

Mas seraacute no poacutes-Segunda Guerra com os investimentos em infra-estrutrura que ocorreraacute extensiva e intensamente a ocupaccedilatildeo do territoacuterio brasileiro A construccedilatildeo de Brasiacutelia inaugurada em 1960 eacute um siacutembolo desse processo de interiorizaccedilatildeo Procurou-se promover a integraccedilatildeo do Centro-oeste e da Amazocircnia ao conjunto da economia nacional atraveacutes da implantaccedilatildeo de projetos agropecuaacuterios e da construccedilatildeo de rodovias de integraccedilatildeo nacional Essas medidas intensificaram os fluxos de capitais e as migraccedilotildees para essas regiotildees

Metropolizaccedilatildeo por Adriana Bernardes

Com a industrializaccedilatildeo a mecanizaccedilatildeo da agricultura e o ecircxodo rural algumas cidades brasileiras passaram a acolher enormes contingentes populacionais em busca de emprego e acesso a serviccedilos diversos Ateacute 1960 somente as cidades de Satildeo Paulo e Rio de Janeiro tinham mais de 1 milhatildeo de habitantes e poderiam ser consideradas metroacutepoles A polarizaccedilatildeo de funccedilotildees industriais e

administrativas respectivamente nestes dois centros urbanos atraiacuteram grande parte do fluxo migratoacuterio nacional dos anos 50 e 60

Na deacutecada de 70 o crescimento de grandes cidades ocorre em todas as regiotildees do Paiacutes caracterizando o processo de metropolizaccedilatildeo no Brasil Em 1973 foram criadas oficialmente nove regiotildees metropolitanas ao redor das cidades de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Beleacutem Fortaleza Recife Salvador Belo Horizonte Porto Alegre e Curitiba

Entre 1950 e 1980 a participaccedilatildeo das atuais regiotildees metropolitanas no total da populaccedilatildeo brasileira saltou de 1795 para 2893 iacutendice que se manteve praticamente inalterado no iniacutecio da deacutecada de 90 Aleacutem das regiotildees mencionadas acima existem cidades que polarizam grandes parcelas do contingente populacional urbano e que na praacutetica se caracterizam como regiotildees metropolitanas Satildeo as chamadas cidades milionaacuterias como Brasiacutelia Goiacircnia Manaus Santos e Campinas

Diferenccedilas Regionais por Liacutedia Antongiovanni

O Brasil apresenta os mais variados aspectos naturais que aliados agraves diferentes atividades econocircmicas e aos processos de povoamento e interiorizaccedilatildeo caracterizam sua diversidade regional Com o objetivo de executar um planejamento nacional o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) dividiu o paiacutes em cinco grandes regiotildees Norte (Acre Amapaacute Amazonas Rondocircnia Roraima Paraacute Tocantins) Nordeste (Maranhatildeo Piauiacute Cearaacute Rio Grande do Norte Paraiacuteba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia) Sudeste (Minas Gerais Espiacuterito Santo Rio de Janeiro Satildeo Paulo) Sul (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul) e Centro-oeste (Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiaacutes Distrito Federal)

O Sul e o Sudeste satildeo densamente povoados com destacada atividade agriacutecola industrial e de serviccedilos Estas regiotildees acompanharam as modernizaccedilotildees desde o fim do seacuteculo XIX o que propiciou a urbanizaccedilatildeo e uma vida de relaccedilotildees muito dinacircmicas Mas o Sudeste tem o maior desenvolvimento industrial e de serviccedilos o que lhe garante com a presenccedila de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro um papel de comando da economia nacional

Na regiatildeo Norte comumente chamada de Amazocircnia os traccedilos naturais tecircm grande importacircncia e suas riquezas dominam a vida econocircmica A partir da deacutecada de 70 instalou-se uma agricultura moderna e uma pequena atividade industrial Esta regiatildeo de ocupaccedilatildeo rarefeita (33 habkm2 em 2000) tem atualmente uma nova dinacircmica populacional a do aumento da populaccedilatildeo associado ao fenocircmeno da concentraccedilatildeo urbana

O Nordeste eacute uma regiatildeo de velho povoamento fato que marca ainda hoje suas relaccedilotildees As secas com periacuteodos de longa estiagem satildeo em parte responsaacuteveis por movimentos populacionais desde o seacuteculo XVII Esta regiatildeo apresenta duas grandes porccedilotildees o litoral e o sertatildeo O litoral concentra as cidades as atividades industriais e turiacutesticas No interior onde se encontra o sertatildeo algumas aacutereas de irrigaccedilatildeo permitem uma atividade agriacutecola constante e bastante tecnificada juntamente com a pecuaacuteria e a agricultura extensiva

Durante os seacuteculos XVII e XVIII o Centro-oeste foi alvo de exploraccedilatildeo mineira e paralelamente desenvolveu uma atividade pecuaacuteria que permanece ateacute hoje A partir da deacutecada de 70 os cerrados ateacute entatildeo praticamente vazios puderam ser ocupados modernamente em especial com o cultivo da

soja Na regiatildeo o investimento em rodovias e o processo de urbanizaccedilatildeo a integram ao Sudeste e Sul

Desconcentraccedilatildeo Industrial por Eliza Pinto de Almeida

A aceleraccedilatildeo do processo de industrializaccedilatildeo do Brasil ocorreu no poacutes-Segunda Guerra Mundial A integraccedilatildeo dos meios de transporte e de comunicaccedilatildeo e a unificaccedilatildeo do mercado em escala nacional permitiram que se ampliasse e diversificasse a produccedilatildeo industrial Essa atividade concentra-se na regiatildeo Sudeste do Brasil sobretudo no estado de Satildeo Paulo cuja capital se tornou o maior centro fabril do Paiacutes

A difusatildeo da modernizaccedilatildeo especialmente a partir da deacutecada de 70 modifica os sistemas de transportes e telecomunicaccedilotildees integrando o territoacuterio Por outro lado as mudanccedilas tecnoloacutegicas devidas agrave difusatildeo da informaacutetica e da eletrocircnica permitem um maior controle agrave distacircncia dos processos produtivos Tudo isso favorece a desconcentraccedilatildeo industrial com a instalaccedilatildeo de faacutebricas modernas em diversos pontos do Paiacutes

O estado de Satildeo Paulo na deacutecada 70 respondia por 5842 do valor da produccedilatildeo industrial do paiacutes e em 1990 esse iacutendice passa para 5283 Haacute tambeacutem uma tendecircncia ao crescimento da participaccedilatildeo industrial no interior paulista Fala-se por isso em esvaziamento da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e tambeacutem em desconcentraccedilatildeo industrial

Em 1970 tomando-se este estado como um todo a regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo detinha 7752 do Valor de Transformaccedilatildeo Industrial sendo que em 1990 essa participaccedilatildeo diminui para 5892

Os dados indicam que natildeo eacute mais a funccedilatildeo industrial que assegura a Satildeo Paulo um papel diretor na dinacircmica soacutecio-econocircmica e espacial mas sim o comando das atividades ligadas agrave produccedilatildeo e agrave gestatildeo da informaccedilatildeo que faz agora da metroacutepole paulista um importante centro informacional

Centro Informacional por Adriana Bernardes

Ao longo do seacuteculo XX a capital do estado de Satildeo Paulo se afirma como metroacutepole nacional principalmente pela forccedila de sua induacutestria Mas agora a metroacutepole paulistana se refuncionaliza passando a ser um grande centro urbano produtor de informaccedilotildees Sua primazia natildeo mais adveacutem de sua atividade fabril mas sim de sua capacidade de concentrar atividades de produccedilatildeo coleta classificaccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

Muda a qualidade do papel de comando de Satildeo Paulo sobre a totalidade do territoacuterio brasileiro Enquanto os nuacutemeros da produccedilatildeo e do emprego industrial diminuem aumenta a forccedila metropolitana no Paiacutes e no mundo graccedilas agrave presenccedila de um expressivo e sofisticado setor de serviccedilos Tal setor engloba atividades financeiras de consultoria publicidade marketing e pesquisa entre outras

A nova hierarquia do sistema urbano depende destes fluxos de informaccedilatildeo cujo controle atraveacutes da emissatildeo de mensagens ideacuteias e ordens garante agrave metroacutepole paulistana um papel regulador de um crescente nuacutemero de tarefas dispersas pelo Paiacutes

Sistema Rodoviaacuterio - Autopistas por Marcos Antonio de Moraes Xavier

Ateacute a primeira metade do seacuteculo XX de um modo geral as estradas de rodagem brasileiras representavam pequenos investimentos pontuais Natildeo havia um sistema que cobrisse todo o territoacuterio nacional Tais estradas em sua maioria eram caminhos de terra A constituiccedilatildeo de um sistema rodoviaacuterio nacional criando as ligaccedilotildees inter-regionais necessaacuterias ao processo de integraccedilatildeo ocorre a partir do empenho em equipar o territoacuterio para atender entre outras demandas o desenvolvimento da induacutestria paulista Um marco desta fase foi o Plano Viaacuterio Nacional de 1952 onde as rodovias jaacute aparecem como principal via de transporte

Desde os anos 50 e notadamente a partir dos anos 70 o sistema rodoviaacuterio brasileiro cresce acompanhado pela pavimentaccedilatildeo e duplicaccedilatildeo de rodovias que passam a formar autopistas modernas e raacutepidas Este crescimento destaca-se nas regiotildees Norte (20133) e Centro-oeste (15339) aacutereas onde o povoamento era rarefeito e que neste momento passam a ser aacutereas de avanccedilo do processo de interiorizaccedilatildeo

Atualmente encontramos nas regiotildees Sudeste Nordeste e Sul o maior nuacutemero de rodovias pavimentadas e as maiores densidades do sistema (extensatildeo em quilocircmetros do sistema rodoviaacuterio por 1 mil km2 de aacuterea)

O Brasil e a Economia Mundial Contemporacircnea por Joseacute Tavares de Arauacutejo Jr

Uma caracteriacutestica central do progresso tecnoloacutegico nas uacuteltimas trecircs deacutecadas tem sido o contraste entre o decliacutenio acelerado dos custos de informaccedilatildeo e a relativa estabilidade dos custos de transporte Este contraste vem alimentando as tendecircncias simultacircneas em direccedilatildeo agrave globalizaccedilatildeo de mercados e agrave regionalizaccedilatildeo das estruturas produtivas que marcaram a economia mundial no passado recente Estas tendecircncias por sua vez redefiniram os perfis de inserccedilatildeo internacional das economias domeacutesticas e as prioridades da agenda multilateral de comeacutercio

Os novos padrotildees de concorrecircncia internacional acentuaram a importacircncia da prestaccedilatildeo de serviccedilos da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e do investimento direto no exterior como fontes de sustentaccedilatildeo do desempenho exportador das economias nacionais Tais padrotildees reduziram a eficaacutecia dos instrumentos convencionais de poliacutetica comercial como tarifas quotas e salvaguardas ao mesmo tempo em que introduziram novos temas na agenda multilateral de comeacutercio como o uso de regulamentos domeacutesticos para proteger as induacutestrias da fronteira tecnoloacutegica e as praacuteticas anticompetitivas com dimensatildeo internacional

Do ponto de vista das economias nacionais a busca de eficiecircncia produtiva o estiacutemulo agrave inovaccedilatildeo e a melhoria das condiccedilotildees de inserccedilatildeo internacional das empresas domeacutesticas tornaram-se partes complementares de um desafio comum Para o governo isto implica natildeo apenas a convergecircncia das poliacuteticas industrial tecnoloacutegica e de comeacutercio exterior mas tambeacutem a coerecircncia de tais poliacuteticas com outras accedilotildees do governo nos planos macroeconocircmico e da regulaccedilatildeo das condiccedilotildees de concorrecircncia nos mercados domeacutesticos

Um desafio adicional impliacutecito no cenaacuterio contemporacircneo reside no fato de que a Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) natildeo dispotildee ainda dos instrumentos de regulaccedilatildeo necessaacuterios para lidar com os padrotildees de concorrecircncia em vigor Embora a reuniatildeo ministerial de Doha realizada em novembro de 2001 tenha ratificado o consenso da comunidade internacional quanto agrave necessidade de fortalecer a OMC na praacutetica tal consenso significou apenas que os paiacuteses membros estatildeo comprometidos a levar adiante a rodada de negociaccedilotildees mas natildeo autoriza qualquer previsatildeo otimista quanto aos resultados deste empreendimento no futuro proacuteximo dada a magnitude dos desafios que a OMC enfrenta atualmente

Um tema que bem ilustra as presentes limitaccedilotildees da OMC eacute o de poliacutetica de concorrecircncia que passou a desempenhar um papel central no plano internacional natildeo soacute para combater carteacuteis e fiscalizar a conduta das corporaccedilotildees transnacionais mas sobretudo para regular conflitos advindos da proteccedilatildeo agraves induacutestrias de alta tecnologia O debate sobre essas questotildees na OMC tem sido intenso desde dezembro de 1996 quando foi criado o Grupo de Trabalho sobre a Interaccedilatildeo entre Comeacutercio e Poliacutetica de Concorrecircncia Nos dois anos seguintes cerca de 170 documentos governamentais foram submetidos ao grupo cobrindo uma agenda substantiva que de fato foi bem aleacutem das relaccedilotildees entre comeacutercio e concorrecircncia A despeito da participaccedilatildeo ativa de praticamente todos os membros da OMC que dispotildeem de leis de concorrecircncia esse debate tem sido limitado por dois tipos de restriccedilotildees Por um lado qualquer acordo multilateral sobre regras de concorrecircncia soacute teraacute algum significado na medida em que todos os membros da OMC ou pelo menos sua grande maioria estiverem capacitados a aplicar aquelas normas em seus respectivos territoacuterios Por outro lado a OMC eacute uma instituiccedilatildeo desenhada para lidar essencialmente com atos de governos enquanto que o foco principal da poliacutetica de concorrecircncia eacute a conduta dos agentes econocircmicos

Em suma natildeo eacute provaacutevel que as principais fragilidades da OMC venham a ser superadas no futuro proacuteximo Entretanto a atuaccedilatildeo do Brasil naquele foacuterum durante os anos 90 demonstrou que mesmo assim ndash e sobretudo apoacutes o surto recente de pressotildees protecionistas nos Estados Unidos ndash interessa aos paiacuteses em desenvolvimento promover o sistema multilateral de comeacutercio Casos como EmbraerBombardier e a controveacutersia sobre patentes farmacecircuticas jaacute se tornaram siacutembolos de situaccedilotildees em que estrateacutegias negociadoras bem fundamentadas conseguem preservar interesses nacionais legiacutetimos Aleacutem de conferir maior credibilidade agrave OMC e agraves posiccedilotildees defendidas pelo Brasil nas negociaccedilotildees em curso esses casos tambeacutem se revelaram instrumentais para fomentar o diaacutelogo bilateral com diversos parceiros importantes como Japatildeo China Iacutendia Austraacutelia e Aacutefrica do Sul

Aleacutem de promover a OMC outro toacutepico prioritaacuterio da poliacutetica comercial brasileira eacute a reconstruccedilatildeo do MERCOSUL que tem desempenhado um papel estrateacutegico na defesa dos interesses brasileiros no plano multilateral nas negociaccedilotildees sobre a criaccedilatildeo de uma Aacuterea de Livre Comeacutercio das Ameacutericas (ALCA) e no diaacutelogo com a Uniatildeo Europeacuteia O MERCOSUL eacute importante por razotildees de

geografia econocircmica os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo internacional natildeo constituem anomalias efecircmeras mas foram gerados gradualmente ao longo de vaacuterias deacutecadas em decorrecircncia da dicotomia acima referida entre custos de informaccedilatildeo e de transporte Portanto a menos que os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo venham a ser redefinidos por outra revoluccedilatildeo tecnoloacutegica as metas da integraccedilatildeo regional continuaratildeo a ser prioritaacuterias para o Brasil

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwfazendagovbr httpwwwmdicgovbr httpwwwbndesgovbr httpwww1bcbgovbr httpwwwipeagovbr httpwwwmpogovbr

Mercado de Trabalho por Paulo Machado

A integraccedilatildeo competitiva da economia brasileira agrave economia global e a conquista da estabilidade influenciaram estruturalmente o funcionamento do mercado de trabalho do Paiacutes Foram registradas na deacutecada 1990 e ao longo dos uacuteltimos anos dinacircmicas particularmente relevantes nos quesitos emprego formalidade e renda dos trabalhadores o que exigiu mudanccedilas substantivas na atuaccedilatildeo das instituiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees trabalhistas

A evoluccedilatildeo do emprego pode ser melhor compreendida recorrendo-se aos dados da Pesquisa Mensal de Emprego ndash PMEIBGE visto que sua metodologia obedece a criteacuterios internacionalmente aceitos A taxa de desemprego medida pela PMEIBGE atingiu 76 em 1999 caiu para 71 em 2000 e reduziu-se novamente para 62 em 2001 atingindo entatildeo seu ponto mais baixo nos uacuteltimos quatro anos

Uma primeira anaacutelise dessa trajetoacuteria poderia sugerir que 2001 foi o ano em que o mercado de trabalho brasileiro teve seu melhor desempenho No entanto em 2000 foram criados em termos liacutequidos cerca de 700 mil postos de trabalho enquanto que em 2001 esse resultado atingiu aproximadamente 106 mil Observa-se assim que o desempenho do mercado de trabalho natildeo pode ser avaliado exclusivamente pela trajetoacuteria da taxa de desemprego Igualmente importante eacute medir a capacidade da economia de gerar saldos positivos de postos de trabalho Para corroborar essa situaccedilatildeo entre janeiro e junho de 2002 a PMEIBGE registra um aumento da ordem de cerca de 192 mil postos de trabalho considerando-se apenas as 6 regiotildees metropolitanas pesquisadas (Belo Horizonte Porto Alegre Recife Rio de Janeiro Salvador e Satildeo Paulo) No entanto como a taxa de desemprego resulta do cruzamento entre o nuacutemero de postos gerados e a quantidade de pessoas procurando emprego houve um pequeno crescimento do desemprego no primeiro semestre de 2002 atingindo na meacutedia 72 Essa aparente contradiccedilatildeo se explica pelo fato de que mais pessoas tem-se sentido incentivadas a procurar emprego o que provavelmente reflete expectativas mais favoraacuteveis quanto agrave perspectiva de obtenccedilatildeo de emprego Somente nos seis primeiros meses de

2002 aproximadamente 434 mil pessoas entraram no mercado de trabalho Destas cerca de 262 mil satildeo oriundas do desalento ou seja satildeo trabalhadores que haviam desistido de procurar emprego mas devido ao bom desempenho do mercado de trabalho vislumbraram novamente a chance de ter um emprego

A taxa meacutedia de desemprego dos primeiros seis meses do ano de 2002 carrega uma certa sazonalidade negativa pois trata-se de um periacuteodo tipicamente marcado por taxas mais elevadas Nesse contexto eacute razoaacutevel esperar que a taxa de desemprego recue a partir do terceiro trimestre Vale destacar que a taxa de desemprego brasileira da ordem de 75 em junho ainda eacute a mais baixa da Ameacuterica do Sul e uma das menores da Ameacuterica Latina

Em termos setoriais ao longo da deacutecada de 1990 a induacutestria de transformaccedilatildeo registrou reduccedilatildeo no niacutevel meacutedio de ocupaccedilatildeo experimentando a chamada desindustrializaccedilatildeo do emprego Por sua vez os serviccedilos e o comeacutercio apresentaram as maiores elevaccedilotildees na ocupaccedilatildeo meacutedia expressando um processo ascendente de terceirizaccedilatildeo do emprego Com efeito o mundo do trabalho tem sofrido raacutepidas e radicais transformaccedilotildees por meio da automaccedilatildeo da roboacutetica e da telemaacutetica Trata-se de um processo de substituiccedilatildeo de paradigmas na concepccedilatildeo da estrutura produtiva que se acentua a partir dos anos 80 A crescente automaccedilatildeo da produccedilatildeo processo que se acelerou a partir do iniacutecio da deacutecada de 1970 resultou na reduccedilatildeo da importacircncia do setor secundaacuterio da economia como empregador de matildeo-de-obra A atividade industrial maior geradora de empregos nos anos 70 perdeu essa posiccedilatildeo para o setor de serviccedilos nas deacutecadas de 1980 e 1990 Em 1992 o setor terciaacuterio e a induacutestria de transformaccedilatildeo respondiam respectivamente por 716 e 198 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelio ndash PNADIBGE Em 1998 o setor terciaacuterio abrigava 737 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola e mais da metade da populaccedilatildeo ocupada do Paiacutes enquanto o setor secundaacuterio reduziu sua participaccedilatildeo para 179

Com relaccedilatildeo agrave qualidade dos viacutenculos empregatiacutecios os indicadores mostram-se positivos sob a forma da geraccedilatildeo consistente de postos de trabalho formais entre 1994 e 2002 Conforme dados da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais ndash RAISMTE o nuacutemero de empregados cresceu de 237 milhotildees em 1994 para aproximadamente 268 milhotildees em 2001 Em fins de 2001 portanto havia cerca de 31 milhotildees de pessoas a mais empregadas formalmente quando comparadas agrave mesma data de 1994 O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ndash CAGEDMTE igualmente corrobora a manutenccedilatildeo da trajetoacuteria de recuperaccedilatildeo dos postos de trabalho em 2002 Em junho uacuteltimo o CAGEDMTE registrou a criaccedilatildeo de 133 mil novas vagas o que significa um saldo acumulado de aproximadamente 681 mil postos de trabalho em 2002 Trata-se da melhor performance de toda a seacuterie histoacuterica do CAGEDMTE (iniciado em 1985) quando se compara os primeiros seis meses de 2002 ao mesmo periacuteodo dos anos anteriores Assim de janeiro de 2000 a junho de 2002 registra-se um saldo positivo de 19 milhatildeo de novos postos de trabalho formais

Com relaccedilatildeo agrave renda dos trabalhadores deve-se destacar o crescimento real do salaacuterio miacutenimo entre 1991 e 2002 O salaacuterio miacutenimo apresentou tendecircncia oscilante entre 1990 e 1994 (variando entre os poacutelos extremos representados por R$12865 em 1990 e R$14541 em 1993) assumindo trajetoacuteria continuamente ascendente a partir de 1995 ateacute atingir o valor real de R$18943 em 2002 (meacutedia de janeiro a maio deflacionada pelo INPC a preccedilos de maio de 2002) quando o valor nominal do salaacuterio miacutenimo atingiu R$20000 Por sua vez o rendimento meacutedio real dos ocupados foi de R$68910 na meacutedia do periacuteodo 1990-1994 apresentando crescimento da ordem de 1832 no periacuteodo 1995-2001 quando chega agrave meacutedia de R$81533 A massa de rendimento real tanto para o total dos ocupados quanto para os trabalhadores assalariados (com e sem carteira assinada) cresceu de forma consistente entre 1992 e 1997 com um comportamento oscilante a partir de entatildeo Comparando o periacuteodo 1995-2001 com o periacuteodo anterior 1991-1994 observa-se um crescimento

da massa de renda real meacutedia tanto para o conjunto dos ocupados (2407) quanto para os trabalhadores assalariados (516)

O Governo Federal brasileiro por seu turno empenhado em corrigir as distorccedilotildees inerentes agrave evoluccedilatildeo do mercado de trabalho vem desenvolvendo programas de fomento ao emprego e ao trabalho e de proteccedilatildeo e assistecircncia ao trabalhador contando com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador ndash FAT Seu objetivo eacute criar mecanismos que permitam a melhoria das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade de vida do trabalhador destacando-se as accedilotildees nas aacutereas de qualificaccedilatildeo profissional seguro-desemprego abono salarial geraccedilatildeo de emprego e renda inspeccedilatildeo do trabalho e legislaccedilatildeo trabalhista

Em 1995 o Governo Federal por meio do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego instituiu o Plano Nacional de Qualificaccedilatildeo do Trabalhador ndash PLANFOR visando assegurar a integraccedilatildeo do trabalhador ao mercado de trabalho e promover assim o aumento de sua empregabilidade produtividade e renda Financiado majoritariamente com recursos do FAT o PLANFOR eacute executado de forma descentralizada por instituiccedilotildees de formaccedilatildeo profissional sob responsabilidade das Secretarias Estaduais de Trabalho (em interaccedilatildeo com as Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego ampliando a participaccedilatildeo social e a sintonia com as demandas do setor produtivo) e das Parcerias Nacionais realizadas predominantemente com entidades patronais e associaccedilotildees sindicais O PLANFOR focaliza sua atuaccedilatildeo em populaccedilotildees vulneraacuteveis dotadas de maior dificuldade de acesso a outras alternativas de qualificaccedilatildeo em decorrecircncia de situaccedilotildees de pobreza baixa escolaridade ou discriminaccedilatildeo no mercado de trabalho No periacuteodo 1995-2001 foram qualificadas 153 milhotildees de pessoas com recursos da ordem de R$ 23 bilhotildees

O Seguro-Desemprego constitui uma accedilatildeo de amparo aos trabalhadores demitidos sem justa causa Na deacutecada de 1990 o pagamento do benefiacutecio do seguro-desemprego ajudou a preservar em meacutedia cerca de 13 da renda de salaacuterio do trabalhador formal do setor privado dispensado sem justa causa considerando a remuneraccedilatildeo meacutedia mensal do trabalhador com carteira assinada Entre 1994 e 2001 foram concedidos 354 milhotildees de benefiacutecios com recursos da ordem de R$282 bilhotildees Para o periacuteodo que se estende de 1995 a 2001 tiveram acesso ao programa 442 milhotildees de trabalhadores por ano em meacutedia de um total meacutedio de 45 milhotildees de requerimentos ao custo meacutedio anual de aproximadamente R$ 468 bilhotildees (em R$ de dezembro de 2001) O nuacutemero meacutedio de beneficiaacuterios no periacuteodo supera a meacutedia de beneficiaacuterios do periacuteodo 1990-94 em cerca de 20 Uma das causas do crescimento do volume de segurados eacute a flexibilizaccedilatildeo dos criteacuterios para a sua concessatildeo visto que a partir da segunda metade da deacutecada de 1990 houve reduccedilatildeo do tempo de viacutenculo empregatiacutecio necessaacuterio para o acesso ao benefiacutecio

O Abono Salarial eacute uma iniciativa de assistecircncia ao trabalhador consistindo no pagamento anual de um salaacuterio miacutenimo a trabalhadores dos setores privado e puacuteblico que atendam a determinados requisitos dentre eles a percepccedilatildeo de remuneraccedilatildeo meacutedia mensal natildeo superior a dois salaacuterios miacutenimos no ano de referecircncia Calcula-se que o impacto do abono na renda anual do trabalhador seja em meacutedia de 5 o que corresponde a uma complementaccedilatildeo de renda significativa para esse segmento de trabalhadores de baixa renda No mecircs que eacute pago o benefiacutecio o impacto na renda pode alcanccedilar aproximadamente 70 funcionando como um 14ordm salaacuterio aos trabalhadores de mais baixos salaacuterios No periacuteodo de 1995-2001 foram liberados em meacutedia 54 milhotildees de abonos salariais por ano nuacutemero 23 superior agrave meacutedia do periacuteodo 1990-1994 que consistiu em 44 milhotildees de abonos anuais

O Programa de Geraccedilatildeo de Emprego e Renda ndash PROGER vem-se consolidando como um dos principais instrumentos de que dispotildee o Governo para incrementar a poliacutetica puacuteblica de geraccedilatildeo de

emprego e renda e melhoria da qualidade de vida do trabalhador Sua operacionalizaccedilatildeo ocorre mediante concessatildeo de creacuteditos em condiccedilotildees especiais destinados ao financiamento de atividades produtivas nos setores formal e informal da economia nas aacutereas urbana e rural O PROGER Urbano possui como puacuteblicos-alvo as micro e pequenas empresas cooperativas e associaccedilotildees de produccedilatildeo bem como os profissionais liberais receacutem-formados trabalhadores autocircnomos prestadores de serviccedilo em geral artesatildeos e pequenos e micro negoacutecios familiares O PROGER Rural por sua vez atende prioritariamente aos pequenos produtores rurais de forma individual ou coletiva inclusive agraves atividades pesqueira extrativa vegetal e de aquumlicultura A concessatildeo dos creacuteditos eacute vinculada agrave realizaccedilatildeo de programas de capacitaccedilatildeo teacutecnico-gerencial qualificaccedilatildeo profissional assistecircncia teacutecnica e acompanhamento dos empreendimentos beneficiados As operaccedilotildees de creacutedito tecircm como agentes financeiros os seguintes bancos oficiais Banco do Brasil Banco do Nordeste do Brasil Caixa Econocircmica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social ndash BNDES Entre 1995 e 2001 foram realizadas aproximadamente 860 mil operaccedilotildees totalizando investimentos da ordem de R$69 bilhotildees

A Inspeccedilatildeo do Trabalho volta-se para o combate agrave informalidade agregando agraves accedilotildees tiacutepicas da fiscalizaccedilatildeo do trabalho mecanismos para facilitar a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de trabalhadores nas empresas tais como as mesas de entendimento e o condomiacutenio de empregadores A formalizaccedilatildeo dos contratos de trabalho estende as garantias trabalhistas e previdenciaacuterias aos trabalhadores desamparados do sistema laboral legal A intensificaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo do trabalho contribuiu para a formalizaccedilatildeo de um total de 21 milhotildees de viacutenculos empregatiacutecios inicialmente desprotegidos no periacuteodo de 1996 a 2001

Finalmente o Governo brasileiro apresentou ao longo dos uacuteltimos anos vaacuterias propostas de modernizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista com vistas a adequaacute-la aos novos padrotildees de relaccedilatildeo entre capital e trabalho A tocircnica desse conjunto de propostas eacute o reforccedilo agrave via negocial para a soluccedilatildeo dos conflitos inerentes agraves relaccedilotildees de trabalho Cabe destaque agraves seguintes iniciativas Banco de Horas (sistema de compensaccedilatildeo de horas extras previamente autorizado em convenccedilatildeo ou acordo coletivo que permite agrave empresa adequar as jornadas de trabalho agraves variaccedilotildees sazonais mediante a diminuiccedilatildeo proporcional da jornada em periacuteodos de decliacutenio da demanda) Mesas de Entendimento (mecanismo de fiscalizaccedilatildeo de caraacuteter pedagoacutegico natildeo punitivo buscando regularizar a situaccedilatildeo que suscitou a accedilatildeo fiscal por meio de entendimentos entre a fiscalizaccedilatildeo a empresa e os trabalhadores consubstanciados em um Termo de Compromisso) Condomiacutenio dos Empregadores (uniatildeo de produtores rurais ndash pessoas fiacutesicas com a finalidade de contratar trabalhadores rurais que prestaratildeo serviccedilos exclusivamente para seus condocircminos estimulando a formalizaccedilatildeo dos viacutenculos empregatiacutecios no campo) aleacutem de accedilotildees voltadas para a inserccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia no mercado de trabalho por meio de modalidades como a colocaccedilatildeo seletiva

Essas satildeo as linhas gerais de estruturaccedilatildeo do mercado de trabalho brasileiro e de atuaccedilatildeo do Governo Federal nos uacuteltimos anos Os impactos no mercado de trabalho inerentes ao processo de integraccedilatildeo da economia nacional agrave economia global satildeo consideraacuteveis Nesse contexto o Governo brasileiro ciente dos desafios que lhe satildeo postos estaacute empenhado em criar e manter as condiccedilotildees macroeconocircmicas favoraacuteveis e em implementar as poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo do emprego e da renda necessaacuterias para a construccedilatildeo de um futuro mais proacutespero para todos

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmtbgovbr httpwwwmpasgovbr

Dinacircmica Demograacutefica por Manoel A Costa

A populaccedilatildeo brasileira teve um aumento de 313 milhotildees de pessoas durante os 68 anos que separam a realizaccedilatildeo do primeiro recenseamento em 1872 do quinto em 1940 De acordo com os cinco censos desse periacuteodo a populaccedilatildeo nacional era constituiacuteda de 99 milhotildees em 1872 143 milhotildees em 1890 174 milhotildees em 1900 306 milhotildees em 1920 e finalmente 412 milhotildees em 1940 A partir desse ano e durante os 51 anos seguintes o contingente nacional aumentou pouco mais de 100 milhotildees de pessoas ateacute a data do Censo de 1991 e de acordo com o uacuteltimo censo de 1996 nestes quatro anos houve um acreacutescimo de cerca de 7 milhotildees de pessoas na populaccedilatildeo brasileira

A tabela sobre populaccedilatildeo apresenta alguns indicadores da dinacircmica demograacutefica a partir de 1940 taxas de natalidade de mortalidade de crescimento natural e de crescimento total prevalecentes durante os periacuteodos que separam a realizaccedilatildeo dos levantamentos estatiacutesticos complementando-os com estimativas ateacute os primeiros dez anos do seacuteculo XXI Aleacutem disso a tabela apresenta a evoluccedilatildeo do aumento da populaccedilatildeo e estimativas do nuacutemero de nascidos vivos para cada periacuteodo decenal

O incremento decenal da populaccedilatildeo aumentou significativa e continuamente ateacute os anos 70 apesar de a taxa de crescimento ter comeccedilado a declinar a partir de 1955 Enquanto entre 1940-1950 ocorreu um aumento de 109 milhotildees de habitantes entre 1980-1990 a populaccedilatildeo nacional aumentou em 248 milhotildees embora a taxa meacutedia anual de crescimento tenha se reduzido de 239 aa durante o primeiro periacuteodo para 193 anuais no uacuteltimo Estima-se que ocorreraacute um expressivo aumento populacional da ordem de 21 milhotildees de pessoas durante o uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX e os primeiros dez anos do seacuteculo XXI ainda que a taxa de crescimento continue se reduzindo

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwibgegovbr

A Transiccedilatildeo Demograacuteficapor Manoel A Costa

Nos anos 80 consolidou-se a transiccedilatildeo demograacutefica brasileira Tambeacutem neste periacuteodo registrou-se pela primeira vez na histoacuteria do Brasil um numeroso fluxo emigratoacuterio de matildeo-de-obra Estima-se que um contigente de 13 milhatildeo de brasileiros emigrou para o exterior durante esses anos

A transiccedilatildeo demograacutefica nacional apoacutes um iniacutecio moderado na segunda metade dos anos 60 transcorreu com uma aceleraccedilatildeo crescente durante as duas deacutecadas seguintes por causa da raacutepida reduccedilatildeo da fecundidade e resultou na reduccedilatildeo do crescimento demograacutefico natural da populaccedilatildeo de um ritmo elevado de 299 ao ano entre 1950-1960 praticamente ineacutedito ateacute entatildeo entre populaccedilotildees numerosas para o niacutevel de 193 meacutedios anuais entre 1980-1991

Estima-se que a fecundidade continuaraacute se reduzindo e se aproximaraacute num futuro natildeo muito distante do niacutevel de reposiccedilatildeo de 21 filhos por mulher em idade feacutertil Partindo de uma simulaccedilatildeo com essa perspectiva prevecirc-se que a taxa de crescimento da populaccedilatildeo nacional ficaraacute abaixo de 10 anual a partir de 2015-2020 e abaixo de 05 depois de 2035 Seguindo essa tendecircncia a

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

Apoacutes a deacutecada de 50 como reflexo da industrializaccedilatildeo os nexos econocircmicos e o fator urbano tornam-se correlatos Impotildee-se uma nova loacutegica na organizaccedilatildeo da sociedade brasileira As inovaccedilotildees econocircmicas e sociais satildeo enormes pois associam-se neste contexto agrave revoluccedilatildeo demograacutefica ao ecircxodo rural e agrave integraccedilatildeo do territoacuterio pelos transportes e comunicaccedilotildees Crescem cidades de todos os tipos e com diferentes niacuteveis funcionais Tem iniacutecio o processo de metropolizaccedilatildeo

A nova base econocircmica pautada na induacutestria e no urbano ultrapassa jaacute em meados da deacutecada de 60 a regiatildeo Sudeste Consolida-se a formaccedilatildeo do mercado nacional e um de seus principais pilares eacute exatamente a urbanizaccedilatildeo do territoacuterio e seu respectivo sistema de cidades A evoluccedilatildeo da taxa de urbanizaccedilatildeo no Brasil indica a importacircncia e a velocidade das transformaccedilotildees Em 1950 este iacutendice alcanccedilava 3616 sobre o total da populaccedilatildeo do Paiacutes Em 1970 representava 5680 ou seja mais da metade da populaccedilatildeo e em 1990 chega a 7713 A populaccedilatildeo urbana no Brasil em 1991 - 115700000 de habitantes - se aproximava da populaccedilatildeo total do Paiacutes da deacutecada anterior - 119099000 habitantes em 1980

Na deacutecada de 90 constata-se uma elevaccedilatildeo nas taxas de urbanizaccedilatildeo das diversas regiotildees do Paiacutes O Sudeste pioneiro do moderno sistema urbano brasileiro apresentava em 1996 um iacutendice em torno de 88 seguido pelo Centro-oeste com 81 o Sul com 741 o Nordeste com 606 e por fim o Norte com 578 De modo geral o fenocircmeno eacute significativo e os diferentes iacutendices refletem diferenccedilas qualitativas ligadas agrave forma e ao conteuacutedo da urbanizaccedilatildeo Tal fato eacute resultado do impacto da divisatildeo social e territorial do trabalho que ocorreu ao longo deste seacuteculo de modo diferenciado no territoacuterio No Sudeste e no Sul o desenvolvimento industrial e o dinamismo dos diversos tipos de trabalho asseguraram uma rede urbana mais complexa

Com a expansatildeo recente da moderna economia de serviccedilos de apoio agrave produccedilatildeo surgiu uma nova urbanizaccedilatildeo marcada pela demanda e consequumlente aumento exponencial de trabalho intelectual As cidades de todos os niacuteveis acolhem os novos trabalhos - altamente especializados e qualificados - envolvendo profissionais voltados agrave inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e agrave regulaccedilatildeo mais eficaz da distribuiccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos produtos Justamente estas novas demandas do sistema produtivo eacute que encontram correspondecircncia por sua vez em uma maior demanda de urbanizaccedilatildeo

Haacute uma distribuiccedilatildeo das funccedilotildees produtivas entre as cidades Estas passam a regular atraveacutes do trabalho intelectual natildeo somente a produccedilatildeo urbana mas tambeacutem a produccedilatildeo rural Com a revoluccedilatildeo dos transportes e das telecomunicaccedilotildees paralela agraves novas formas de creacutedito e consumo haacute maior acessibilidade fiacutesica e financeira dos indiviacuteduos A rede urbana tende a diferenciar-se Aprofunda-se a divisatildeo territorial do trabalho no sistema urbano entre cidades locais cidades meacutedias metroacutepoles regionais e metroacutepoles nacionais

Povoamento por Eliza Pinto de Almeida

Os primeiros seacuteculos de ocupaccedilatildeo do territoacuterio brasileiro foram marcados pela presenccedila de nuacutecleos de povoamento dispersos nas aacutereas litoracircneas A partir do seacuteculo XVI no Recocircncavo Baiano e na Zona da Mata nordestina desenvolveu-se a lavoura de cana-de-accediluacutecar que fomentou a formaccedilatildeo de uma rede de cidades desarticuladas tendo como ponto de uniatildeo Salvador a primeira capital da colocircnia O crescimento das exportaccedilotildees de accediluacutecar provocou o deslocamento da pecuaacuteria para o

sertatildeo nordestino cujas boiadas vinham de muito longe para suprir as necessidades dos engenhos Inuacutemeras famiacutelias foram trabalhar como parceiros ou agregados nas sedes das fazendas de gado que acabaram originando as primeiras vilas e cidades dessa regiatildeo Aleacutem de estimular o povoamento do sertatildeo a pecuaacuteria foi responsaacutevel pela difusatildeo da agricultura de subsistecircncia e pelo cultivo do algodatildeo e do fumo Mas este uacuteltimo foi cultivado principalmente no Recocircncavo Baiano servindo como moeda para a compra de escravos vindos do continente africano

As primeiras expediccedilotildees denominadas bandeiras ampliaram os domiacutenios portugueses no seacuteculo XVII com o objetivo de capturar iacutendios e encontrar ouro e pedras preciosas Essas expediccedilotildees alcanccedilaram a foz do rio Amazonas onde foi fundada em 1616 a atual cidade de Beleacutem do Paraacute A descoberta de ouro e pedras preciosas no seacuteculo XVIII nos atuais estados de Minas Gerais Mato Grosso Goiaacutes e Bahia teve como consequumlecircncia o aumento da populaccedilatildeo aleacutem de estimular a abertura de estradas e intensificar as relaccedilotildees com as aacutereas de criaccedilatildeo de gado que eram responsaacuteveis pelo abastecimento de carne e couro nas aacutereas mineradoras Muitas cidades surgiram ligadas a essas atividades e outras ganharam maior importacircncia com a intensificaccedilatildeo do comeacutercio como as cidades portuaacuterias

O seacuteculo XIX abre novas perspectivas de povoamento do territoacuterio brasileiro A abertura dos portos em 1808 intensifica o comeacutercio com as naccedilotildees europeacuteias No iniacutecio desse seacuteculo cresce a procura pelo algodatildeo nos mercados europeus beneficiando a produccedilatildeo nordestina e sobretudo a maranhense graccedilas agrave maior proximidade com esse mercado A prosperidade dessa cultura seraacute interrompida com o fim da guerra de independecircncia norte-americana

Outro produto que comeccedila a ser valorizado na Europa nesse seacuteculo eacute o cafeacute que passa a ser largamente cultivado no estado de Satildeo Paulo A cafeicultura impulsiona a formaccedilatildeo de um mercado assalariado e consumidor e propicia a acumulaccedilatildeo de capitais dando origem ao desenvolvimento industrial especialmente do Centro-sul Essa eacutepoca eacute marcada ainda pelo iniacutecio da mecanizaccedilatildeo do territoacuterio com a instalaccedilatildeo das ferrovias dos teleacutegrafos e das primeiras companhias de navegaccedilatildeo que repercutiram no processo de urbanizaccedilatildeo do Paiacutes Por outro lado os uacuteltimos dececircnios do seacuteculo XIX foram acompanhados pelo boom da exploraccedilatildeo da borracha na regiatildeo amazocircnica atraindo um grande nuacutemero de migrantes nordestinos que fugiam da seca e das dificuldades econocircmicas O sul da Bahia nessa eacutepoca conheceu tambeacutem um raacutepido crescimento econocircmico graccedilas agrave produccedilatildeo de cacau que atraiu migrantes do mesmo estado e de outras aacutereas nordestinas

O poacutes-Segunda Guerra eacute um ponto de inflexatildeo no povoamento do territoacuterio brasileiro As regiotildees Centro-oeste e Amazocircnica satildeo paulatinamente integradas ao conjunto da economia nacional A construccedilatildeo de Brasiacutelia inaugurada em 1960 eacute um marco do processo de interiorizaccedilatildeo As rodovias Transamazocircnica e Cuiabaacute-Santareacutem facilitaram os fluxos migratoacuterios para a regiatildeo Amazocircnica onde projetos de colonizaccedilatildeo foram implantados ao longo das rodovias receacutem-construiacutedas Somado a isso tivemos nessa regiatildeo grandes projetos agropecuaacuterios e minerais que levaram agrave expansatildeo da rede urbana do Paiacutes

Urbanizaccedilatildeo do Territoacuterio por Eliza Pinto de Almeida

Durante seacuteculos a urbanizaccedilatildeo brasileira ocorreu em pontos isolados como verdadeiras ilhas tornando-se generalizada somente a partir do seacuteculo XX Pode-se dizer que Salvador comandou a primeira rede urbana do paiacutes mantendo sua primazia ateacute meados do seacuteculo XVIII quando a capital da colocircnia se transfere para a cidade do Rio de Janeiro As relaccedilotildees entre o litoral e o interior eram fraacutegeis neste periacuteodo O povoamento e as riquezas geradas pela agricultura e a mineraccedilatildeo ensaiaram os primeiros passos rumo ao processo de urbanizaccedilatildeo

Em fins do seacuteculo XIX o Brasil assiste ao crescimento do fenocircmeno de urbanizaccedilatildeo do territoacuterio Satildeo Paulo liacuteder na produccedilatildeo cafeeira inicia a formaccedilatildeo de uma rede de cidades envolvendo os estados do Rio Janeiro e de Minas Gerais

Mas seraacute apenas em meados do seacuteculo XX quando ocorre a unificaccedilatildeo dos meios de transporte e comunicaccedilatildeo que as condiccedilotildees se tornam propiacutecias para uma verdadeira integraccedilatildeo do territoacuterio Modificam-se substancialmente os fluxos econocircmicos e demograacuteficos conferindo um novo valor aos lugares

A partir da deacutecada de 70 ocorre a difusatildeo generalizada das modernizaccedilotildees tanto no campo como na cidade A construccedilatildeo e expansatildeo de estradas de rodagem e a criaccedilatildeo de um moderno sistema de telecomunicaccedilotildees possibilitaram maior fluidez no territoacuterio aleacutem de permitir a unificaccedilatildeo do mercado em escala nacional

Cresce o consumo de bens materiais e imateriais como educaccedilatildeo e sauacutede transformando as funccedilotildees urbanas A rede urbana torna-se mais complexa pois tanto o campo como a cidade respondem agraves novas condiccedilotildees de realizaccedilatildeo da economia contemporacircnea Na atual fase a urbanizaccedilatildeo do territoacuterio tem muacuteltiplas implicaccedilotildees tais como o ritmo de crescimento mais lento das cidades milionaacuterias e concomitante a essa tendecircncia o crescimento das cidades locais e das cidades meacutedias Em 1980 o paiacutes contava com 142 cidades com mais de 100 mil habitantes e em 1991 eram 187 A participaccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira cresce tambeacutem nessas cidades meacutedias elevando-se de 137 em 1970 para 167 em 1991 A densidade econocircmica do territoacuterio leva agrave crescente especializaccedilatildeo das cidades que tecircm um papel cada vez mais ativo no paiacutes

Processo Migratoacuterio por Liacutedia Antongiovanni

O processo migratoacuterio no Brasil apresenta duas grandes marcas Com a colonizaccedilatildeo do paiacutes desde o seacuteculo XVI vieram para caacute europeus e negros africanos Estes uacuteltimos foram trazidos como matildeo-de-obra escrava inicialmente para a cultura da cana-de-accediluacutecar Iacutendios negros africanos e brancos europeus (na sua maioria portugueses e espanhoacuteis) compuseram a ocupaccedilatildeo do Brasil

Na segunda metade do seacuteculo XIX somam-se dois processos que resultam num rearranjo daquele momento inicial a expansatildeo da fronteira econocircmica e um processo gradativo de aboliccedilatildeo da escravidatildeo Ambos convergiam para a decisatildeo dos colonizadores em ampliar a participaccedilatildeo de brancos europeus na formaccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira Este quadro propiciou a vinda de outros

europeus - italianos alematildees austriacuteacos huacutengaros eslavos siacuterios libaneses suiacuteccedilos - que mais tarde se juntam aos asiaacuteticos

A segunda grande marca da migraccedilatildeo brasileira eacute resultado da integraccedilatildeo e modernizaccedilatildeo do territoacuterio e da ampliaccedilatildeo das trocas comerciais e do consumo marcadamente a partir da deacutecada de 1950 Intensifica-se a partir deste momento a urbanizaccedilatildeo e a correlata migraccedilatildeo interna O Brasil ateacute entatildeo um paiacutes agriacutecola vai conhecer neste periacuteodo uma acentuaccedilatildeo do ecircxodo rural levando agrave inversatildeo dos nuacutemeros correspondentes agrave localizaccedilatildeo da populaccedilatildeo de maioria rural em 1940 para maioria urbana em 1970

A industrializaccedilatildeo associada agrave urbanizaccedilatildeo mais intensa no Sudeste acelera esse processo e atrai milhares de pessoas do Nordeste para o Centro-sul em especial nas deacutecadas de 60 e 70 Eacute neste periacuteodo que se inicia o processo de metropolizaccedilatildeocom os anos 60 marcando um significativo ponto de inflexatildeo Na deacutecada de 70 a expansatildeo de novas fronteiras agriacutecolas e econocircmicas na regiatildeo Norte leva ao deslocamento de milhotildees de pessoas para o Centro-oeste e para a Amazocircnia para onde migram nordestinos e mais recentemente os sulistas

Na deacutecada de 90 eacute detectado um processo de desmetropolizaccedilatildeo associado ao ecircxodo urbano isto eacute movimento numeroso de populaccedilatildeo entre cidades de diversos tamanhos e diversas regiotildees A difusatildeo da modernizaccedilatildeo no interior propicia uma migraccedilatildeo para as cidades menores A regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo por exemplo apresenta de 1980 a 1991 um crescimento vegetativo de 10971 e um saldo migratoacuterio de -971 Trata-se para a uacuteltima deacutecada de um salto migratoacuterio negativo para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Um fato novo na histoacuteria da migraccedilatildeo brasileira especialmente nos uacuteltimos anos eacute a saiacuteda crescente de brasileiros para a Europa Ameacuterica do Norte e Japatildeo Migraccedilatildeo essa geralmente associada a descendentes dos imigrantes que aqui chegaram na passagem do seacuteculo

Regiatildeo Concentrada por Maria Laura Silveira

Regiatildeo concentrada eacute a aacuterea onde os acreacutescimos de ciecircncia e tecnologia ao territoacuterio se verificam de modo contiacutenuo Expressatildeo mais intensa do meio teacutecnico-cientiacutefico-informacional essa regiatildeo abrange os estados do Sudeste (Espiacuterito Santo Rio de Janeiro Minas Gerais e Satildeo Paulo) os estados do Sul (Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e dois estados do Centro-oeste (Mato Grosso do Sul e Goiaacutes) tendo como poacutelo as metroacutepoles de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro

Nessa regiatildeo a modernizaccedilatildeo generalizada e a intensa circulaccedilatildeo interna e com outras regiotildees e paiacuteses correspondem a uma marcada divisatildeo territorial do trabalho Sede da agricultura mais moderna do Brasil e do mais expansivo desenvolvimento industrial e financeiro essa aacuterea concentra tambeacutem os niacuteveis superiores dos sistemas de sauacutede educaccedilatildeo lazer e serviccedilos modernos como a publicidade cujas demandas satildeo garantidas pelo consumo dessa grande concentraccedilatildeo produtiva e populacional

As metroacutepoles de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro sediam os escritoacuterios das mais poderosas firmas nacionais e das filiais das empresas globais que tecircm um papel de controle do mercado nacional e de comando do respectivo territoacuterio Eacute em Satildeo Paulo que se elabora e concentra a maior parcela das informaccedilotildees sobre a economia a sociedade e o territoacuterio A acumulaccedilatildeo de atividades intelectuais assegura a essa metroacutepole o predomiacutenio das atividades produtivas de ponta a funccedilatildeo de suporte aos

segmentos modernos da economia do paiacutes e em decorrecircncia um caraacuteter de encruzilhada na expansatildeo do meio teacutecnico-cientiacutefico-informacional Como o territoacuterio deve ser usado hoje com o conhecimento simultacircneo das accedilotildees empreendidas em lugares distantes a sua funccedilatildeo de centro informacional lhe concede uma nova hierarquia no sistema urbano brasileiro

Cidades Locais por Adriana Bernardes

O nuacutemero de cidades locais cresceu rapidamente a partir da deacutecada de 50 passando a ter um importante papel no funcionamento do sistema urbano Hoje este niacutevel na regiatildeo urbana eacute representado por cidades com populaccedilatildeo em torno de 20 mil habitantes

Anteriormente as sedes municipais guardavam praticamente apenas as funccedilotildees religiosas e administrativas voltadas agraves necessidades da vida rural Mas as cidades locais mudaram de conteuacutedo em consonacircncia com as exigecircncias desse periacuteodo histoacuterico Agora as funccedilotildees econocircmicas tecircm maior relevo na vida das cidades locais Integradas ao sistema produtivo do Paiacutes elas passaram a atender agrave crescente demanda por trabalho consumo educaccedilatildeo e lazer que o campo natildeo ofereceria

Com o advento da modernizaccedilatildeo e tecnificaccedilatildeo da agricultura principalmente nas uacuteltimas deacutecadas quando tambeacutem se instalam importantes induacutestrias agriacutecolas as cidades locais especializam-se para atender a determinados tipos de produccedilatildeo que se encontram no seu entorno Constituem sobretudo estoques de novos meios de consumo insumos creacutedito agriacutecola e matildeo-de-obra e satildeo centros de transportes e comunicaccedilotildees Boa parte dos trabalhadores agriacutecolas nas regiotildees mais modernas do Paiacutes vive na cidade onde tambeacutem se encontram novas categorias de profissionais o agrocircnomo o veterinaacuterio e o bancaacuterio entre outros que satildeo necessaacuterios agrave conduccedilatildeo e coordenaccedilatildeo de uma produccedilatildeo baseada no desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Cidades Meacutedias por Adriana Bernardes

Apoacutes a deacutecada de 50 amplia-se o nuacutemero de cidades meacutedias no Brasil em um contexto de redefiniccedilatildeo do porte dos nuacutecleos urbanos Na deacutecada de 90 definiu-se como cidade meacutedia o municiacutepio com populaccedilatildeo em torno de 100 mil habitantes

Satildeo muacuteltiplos os elementos que levam ao crescimento desse niacutevel urbano Entre eles destacam-se a dispersatildeo da induacutestria que ateacute haacute pouco tempo se concentrava em aacutereas metropolitanas a modernizaccedilatildeo do campo a proximidade das induacutestrias agriacutecolas e as novas formas de consumo material e de consumo imaterial Esse fenocircmeno eacute geral mas tem particular expressatildeo na aacuterea mais desenvolvida do Paiacutes Por tratar-se da aacuterea mais densamente urbanizada do territoacuterio nacional tem condiccedilotildees de adaptar-se agraves novas exigecircncias do periacuteodo histoacuterico atual

Graccedilas agraves cidades meacutedias estaacute ocorrendo a redistribuiccedilatildeo das classes meacutedias pelo territoacuterio associada agrave presenccedila de um nuacutemero crescente de letrados indispensaacuteveis aos novos modos de produccedilatildeo a que presidem Com a difusatildeo desde os anos 70 do ensino universitaacuterio no Paiacutes muitas dessas cidades satildeo em certos estados importantes centros de pesquisa

As atuais cidades meacutedias exercem atraccedilatildeo para os fluxos migratoacuterios e algumas delas estatildeo atingindo o estaacutegio sub-metropolitano cuja dimensatildeo iraacute variar segundo as regiotildees

Interiorizaccedilatildeo por Eliza Pinto de Almeida

O Brasil durante trecircs seacuteculos consecutivos teve um povoamento predominantemente litoracircneo A pecuaacuteria no sertatildeo nordestino foi a primeira atividade a impulsionar a ocupaccedilatildeo do interior Em meados do seacuteculo XVIII no que hoje satildeo os estados de Goiaacutes Mato Grosso Bahia e Minas Gerais amplia-se o processo de interiorizaccedilatildeo graccedilas agrave mineraccedilatildeo do ouro e das pedras preciosas Grandes fluxos migratoacuterios deslocam-se para essa aacuterea onde surgem paralelamente numerosas cidades

A extremidade meridional do atual territoacuterio brasileiro foi durante muito tempo disputada por portugueses e espanhoacuteis Somente em princiacutepios do seacuteculo XVIII eacute que essa regiatildeo seraacute incorporada ao territoacuterio brasileiro quando o governo portuguecircs destaca tropas de defesa para a aacuterea Ao mesmo tempo uma corrente de povoadores oriundos de Satildeo Paulo se estabelece no atual estado do Rio Grande do Sul Graccedilas agraves excelentes condiccedilotildees naturais a pecuaacuteria pocircde desenvolver-se plenamente nessa regiatildeo

Frentes pioneiras no seacuteculo XIX efetivaram a ocupaccedilatildeo do interior do estado de Satildeo Paulo Com as ferrovias novas aacutereas satildeo anexadas agrave produccedilatildeo cafeeira e assim muitas cidades nascem ligadas a essa atividade Satildeo Paulo se torna um poacutelo dinacircmico de vastas aacutereas que abrangem os estados do Sul do Paiacutes aleacutem de parcelas de Minas Gerais e Rio de Janeiro

A Amazocircnia teraacute a sua ocupaccedilatildeo consolidada no final do seacuteculo XIX a partir da crescente procura da borracha nos mercados europeus que estimulou a exploraccedilatildeo econocircmica desse produto e acabou desencadeando um intenso fluxo migratoacuterio vindo principalmente do Nordeste

No entanto as relaccedilotildees entre os lugares eram inconstantes natildeo havendo uma integraccedilatildeo entre as diversas regiotildees do Paiacutes A agricultura comercial e a mineraccedilatildeo foram a base do povoamento do territoacuterio brasileiro mas o seu desenvolvimento se deu em subespaccedilos que evoluiacuteam segundo loacutegicas proacuteprias ditadas em grande parte por suas relaccedilotildees com o mundo exterior

Mas seraacute no poacutes-Segunda Guerra com os investimentos em infra-estrutrura que ocorreraacute extensiva e intensamente a ocupaccedilatildeo do territoacuterio brasileiro A construccedilatildeo de Brasiacutelia inaugurada em 1960 eacute um siacutembolo desse processo de interiorizaccedilatildeo Procurou-se promover a integraccedilatildeo do Centro-oeste e da Amazocircnia ao conjunto da economia nacional atraveacutes da implantaccedilatildeo de projetos agropecuaacuterios e da construccedilatildeo de rodovias de integraccedilatildeo nacional Essas medidas intensificaram os fluxos de capitais e as migraccedilotildees para essas regiotildees

Metropolizaccedilatildeo por Adriana Bernardes

Com a industrializaccedilatildeo a mecanizaccedilatildeo da agricultura e o ecircxodo rural algumas cidades brasileiras passaram a acolher enormes contingentes populacionais em busca de emprego e acesso a serviccedilos diversos Ateacute 1960 somente as cidades de Satildeo Paulo e Rio de Janeiro tinham mais de 1 milhatildeo de habitantes e poderiam ser consideradas metroacutepoles A polarizaccedilatildeo de funccedilotildees industriais e

administrativas respectivamente nestes dois centros urbanos atraiacuteram grande parte do fluxo migratoacuterio nacional dos anos 50 e 60

Na deacutecada de 70 o crescimento de grandes cidades ocorre em todas as regiotildees do Paiacutes caracterizando o processo de metropolizaccedilatildeo no Brasil Em 1973 foram criadas oficialmente nove regiotildees metropolitanas ao redor das cidades de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Beleacutem Fortaleza Recife Salvador Belo Horizonte Porto Alegre e Curitiba

Entre 1950 e 1980 a participaccedilatildeo das atuais regiotildees metropolitanas no total da populaccedilatildeo brasileira saltou de 1795 para 2893 iacutendice que se manteve praticamente inalterado no iniacutecio da deacutecada de 90 Aleacutem das regiotildees mencionadas acima existem cidades que polarizam grandes parcelas do contingente populacional urbano e que na praacutetica se caracterizam como regiotildees metropolitanas Satildeo as chamadas cidades milionaacuterias como Brasiacutelia Goiacircnia Manaus Santos e Campinas

Diferenccedilas Regionais por Liacutedia Antongiovanni

O Brasil apresenta os mais variados aspectos naturais que aliados agraves diferentes atividades econocircmicas e aos processos de povoamento e interiorizaccedilatildeo caracterizam sua diversidade regional Com o objetivo de executar um planejamento nacional o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) dividiu o paiacutes em cinco grandes regiotildees Norte (Acre Amapaacute Amazonas Rondocircnia Roraima Paraacute Tocantins) Nordeste (Maranhatildeo Piauiacute Cearaacute Rio Grande do Norte Paraiacuteba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia) Sudeste (Minas Gerais Espiacuterito Santo Rio de Janeiro Satildeo Paulo) Sul (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul) e Centro-oeste (Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiaacutes Distrito Federal)

O Sul e o Sudeste satildeo densamente povoados com destacada atividade agriacutecola industrial e de serviccedilos Estas regiotildees acompanharam as modernizaccedilotildees desde o fim do seacuteculo XIX o que propiciou a urbanizaccedilatildeo e uma vida de relaccedilotildees muito dinacircmicas Mas o Sudeste tem o maior desenvolvimento industrial e de serviccedilos o que lhe garante com a presenccedila de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro um papel de comando da economia nacional

Na regiatildeo Norte comumente chamada de Amazocircnia os traccedilos naturais tecircm grande importacircncia e suas riquezas dominam a vida econocircmica A partir da deacutecada de 70 instalou-se uma agricultura moderna e uma pequena atividade industrial Esta regiatildeo de ocupaccedilatildeo rarefeita (33 habkm2 em 2000) tem atualmente uma nova dinacircmica populacional a do aumento da populaccedilatildeo associado ao fenocircmeno da concentraccedilatildeo urbana

O Nordeste eacute uma regiatildeo de velho povoamento fato que marca ainda hoje suas relaccedilotildees As secas com periacuteodos de longa estiagem satildeo em parte responsaacuteveis por movimentos populacionais desde o seacuteculo XVII Esta regiatildeo apresenta duas grandes porccedilotildees o litoral e o sertatildeo O litoral concentra as cidades as atividades industriais e turiacutesticas No interior onde se encontra o sertatildeo algumas aacutereas de irrigaccedilatildeo permitem uma atividade agriacutecola constante e bastante tecnificada juntamente com a pecuaacuteria e a agricultura extensiva

Durante os seacuteculos XVII e XVIII o Centro-oeste foi alvo de exploraccedilatildeo mineira e paralelamente desenvolveu uma atividade pecuaacuteria que permanece ateacute hoje A partir da deacutecada de 70 os cerrados ateacute entatildeo praticamente vazios puderam ser ocupados modernamente em especial com o cultivo da

soja Na regiatildeo o investimento em rodovias e o processo de urbanizaccedilatildeo a integram ao Sudeste e Sul

Desconcentraccedilatildeo Industrial por Eliza Pinto de Almeida

A aceleraccedilatildeo do processo de industrializaccedilatildeo do Brasil ocorreu no poacutes-Segunda Guerra Mundial A integraccedilatildeo dos meios de transporte e de comunicaccedilatildeo e a unificaccedilatildeo do mercado em escala nacional permitiram que se ampliasse e diversificasse a produccedilatildeo industrial Essa atividade concentra-se na regiatildeo Sudeste do Brasil sobretudo no estado de Satildeo Paulo cuja capital se tornou o maior centro fabril do Paiacutes

A difusatildeo da modernizaccedilatildeo especialmente a partir da deacutecada de 70 modifica os sistemas de transportes e telecomunicaccedilotildees integrando o territoacuterio Por outro lado as mudanccedilas tecnoloacutegicas devidas agrave difusatildeo da informaacutetica e da eletrocircnica permitem um maior controle agrave distacircncia dos processos produtivos Tudo isso favorece a desconcentraccedilatildeo industrial com a instalaccedilatildeo de faacutebricas modernas em diversos pontos do Paiacutes

O estado de Satildeo Paulo na deacutecada 70 respondia por 5842 do valor da produccedilatildeo industrial do paiacutes e em 1990 esse iacutendice passa para 5283 Haacute tambeacutem uma tendecircncia ao crescimento da participaccedilatildeo industrial no interior paulista Fala-se por isso em esvaziamento da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e tambeacutem em desconcentraccedilatildeo industrial

Em 1970 tomando-se este estado como um todo a regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo detinha 7752 do Valor de Transformaccedilatildeo Industrial sendo que em 1990 essa participaccedilatildeo diminui para 5892

Os dados indicam que natildeo eacute mais a funccedilatildeo industrial que assegura a Satildeo Paulo um papel diretor na dinacircmica soacutecio-econocircmica e espacial mas sim o comando das atividades ligadas agrave produccedilatildeo e agrave gestatildeo da informaccedilatildeo que faz agora da metroacutepole paulista um importante centro informacional

Centro Informacional por Adriana Bernardes

Ao longo do seacuteculo XX a capital do estado de Satildeo Paulo se afirma como metroacutepole nacional principalmente pela forccedila de sua induacutestria Mas agora a metroacutepole paulistana se refuncionaliza passando a ser um grande centro urbano produtor de informaccedilotildees Sua primazia natildeo mais adveacutem de sua atividade fabril mas sim de sua capacidade de concentrar atividades de produccedilatildeo coleta classificaccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

Muda a qualidade do papel de comando de Satildeo Paulo sobre a totalidade do territoacuterio brasileiro Enquanto os nuacutemeros da produccedilatildeo e do emprego industrial diminuem aumenta a forccedila metropolitana no Paiacutes e no mundo graccedilas agrave presenccedila de um expressivo e sofisticado setor de serviccedilos Tal setor engloba atividades financeiras de consultoria publicidade marketing e pesquisa entre outras

A nova hierarquia do sistema urbano depende destes fluxos de informaccedilatildeo cujo controle atraveacutes da emissatildeo de mensagens ideacuteias e ordens garante agrave metroacutepole paulistana um papel regulador de um crescente nuacutemero de tarefas dispersas pelo Paiacutes

Sistema Rodoviaacuterio - Autopistas por Marcos Antonio de Moraes Xavier

Ateacute a primeira metade do seacuteculo XX de um modo geral as estradas de rodagem brasileiras representavam pequenos investimentos pontuais Natildeo havia um sistema que cobrisse todo o territoacuterio nacional Tais estradas em sua maioria eram caminhos de terra A constituiccedilatildeo de um sistema rodoviaacuterio nacional criando as ligaccedilotildees inter-regionais necessaacuterias ao processo de integraccedilatildeo ocorre a partir do empenho em equipar o territoacuterio para atender entre outras demandas o desenvolvimento da induacutestria paulista Um marco desta fase foi o Plano Viaacuterio Nacional de 1952 onde as rodovias jaacute aparecem como principal via de transporte

Desde os anos 50 e notadamente a partir dos anos 70 o sistema rodoviaacuterio brasileiro cresce acompanhado pela pavimentaccedilatildeo e duplicaccedilatildeo de rodovias que passam a formar autopistas modernas e raacutepidas Este crescimento destaca-se nas regiotildees Norte (20133) e Centro-oeste (15339) aacutereas onde o povoamento era rarefeito e que neste momento passam a ser aacutereas de avanccedilo do processo de interiorizaccedilatildeo

Atualmente encontramos nas regiotildees Sudeste Nordeste e Sul o maior nuacutemero de rodovias pavimentadas e as maiores densidades do sistema (extensatildeo em quilocircmetros do sistema rodoviaacuterio por 1 mil km2 de aacuterea)

O Brasil e a Economia Mundial Contemporacircnea por Joseacute Tavares de Arauacutejo Jr

Uma caracteriacutestica central do progresso tecnoloacutegico nas uacuteltimas trecircs deacutecadas tem sido o contraste entre o decliacutenio acelerado dos custos de informaccedilatildeo e a relativa estabilidade dos custos de transporte Este contraste vem alimentando as tendecircncias simultacircneas em direccedilatildeo agrave globalizaccedilatildeo de mercados e agrave regionalizaccedilatildeo das estruturas produtivas que marcaram a economia mundial no passado recente Estas tendecircncias por sua vez redefiniram os perfis de inserccedilatildeo internacional das economias domeacutesticas e as prioridades da agenda multilateral de comeacutercio

Os novos padrotildees de concorrecircncia internacional acentuaram a importacircncia da prestaccedilatildeo de serviccedilos da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e do investimento direto no exterior como fontes de sustentaccedilatildeo do desempenho exportador das economias nacionais Tais padrotildees reduziram a eficaacutecia dos instrumentos convencionais de poliacutetica comercial como tarifas quotas e salvaguardas ao mesmo tempo em que introduziram novos temas na agenda multilateral de comeacutercio como o uso de regulamentos domeacutesticos para proteger as induacutestrias da fronteira tecnoloacutegica e as praacuteticas anticompetitivas com dimensatildeo internacional

Do ponto de vista das economias nacionais a busca de eficiecircncia produtiva o estiacutemulo agrave inovaccedilatildeo e a melhoria das condiccedilotildees de inserccedilatildeo internacional das empresas domeacutesticas tornaram-se partes complementares de um desafio comum Para o governo isto implica natildeo apenas a convergecircncia das poliacuteticas industrial tecnoloacutegica e de comeacutercio exterior mas tambeacutem a coerecircncia de tais poliacuteticas com outras accedilotildees do governo nos planos macroeconocircmico e da regulaccedilatildeo das condiccedilotildees de concorrecircncia nos mercados domeacutesticos

Um desafio adicional impliacutecito no cenaacuterio contemporacircneo reside no fato de que a Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) natildeo dispotildee ainda dos instrumentos de regulaccedilatildeo necessaacuterios para lidar com os padrotildees de concorrecircncia em vigor Embora a reuniatildeo ministerial de Doha realizada em novembro de 2001 tenha ratificado o consenso da comunidade internacional quanto agrave necessidade de fortalecer a OMC na praacutetica tal consenso significou apenas que os paiacuteses membros estatildeo comprometidos a levar adiante a rodada de negociaccedilotildees mas natildeo autoriza qualquer previsatildeo otimista quanto aos resultados deste empreendimento no futuro proacuteximo dada a magnitude dos desafios que a OMC enfrenta atualmente

Um tema que bem ilustra as presentes limitaccedilotildees da OMC eacute o de poliacutetica de concorrecircncia que passou a desempenhar um papel central no plano internacional natildeo soacute para combater carteacuteis e fiscalizar a conduta das corporaccedilotildees transnacionais mas sobretudo para regular conflitos advindos da proteccedilatildeo agraves induacutestrias de alta tecnologia O debate sobre essas questotildees na OMC tem sido intenso desde dezembro de 1996 quando foi criado o Grupo de Trabalho sobre a Interaccedilatildeo entre Comeacutercio e Poliacutetica de Concorrecircncia Nos dois anos seguintes cerca de 170 documentos governamentais foram submetidos ao grupo cobrindo uma agenda substantiva que de fato foi bem aleacutem das relaccedilotildees entre comeacutercio e concorrecircncia A despeito da participaccedilatildeo ativa de praticamente todos os membros da OMC que dispotildeem de leis de concorrecircncia esse debate tem sido limitado por dois tipos de restriccedilotildees Por um lado qualquer acordo multilateral sobre regras de concorrecircncia soacute teraacute algum significado na medida em que todos os membros da OMC ou pelo menos sua grande maioria estiverem capacitados a aplicar aquelas normas em seus respectivos territoacuterios Por outro lado a OMC eacute uma instituiccedilatildeo desenhada para lidar essencialmente com atos de governos enquanto que o foco principal da poliacutetica de concorrecircncia eacute a conduta dos agentes econocircmicos

Em suma natildeo eacute provaacutevel que as principais fragilidades da OMC venham a ser superadas no futuro proacuteximo Entretanto a atuaccedilatildeo do Brasil naquele foacuterum durante os anos 90 demonstrou que mesmo assim ndash e sobretudo apoacutes o surto recente de pressotildees protecionistas nos Estados Unidos ndash interessa aos paiacuteses em desenvolvimento promover o sistema multilateral de comeacutercio Casos como EmbraerBombardier e a controveacutersia sobre patentes farmacecircuticas jaacute se tornaram siacutembolos de situaccedilotildees em que estrateacutegias negociadoras bem fundamentadas conseguem preservar interesses nacionais legiacutetimos Aleacutem de conferir maior credibilidade agrave OMC e agraves posiccedilotildees defendidas pelo Brasil nas negociaccedilotildees em curso esses casos tambeacutem se revelaram instrumentais para fomentar o diaacutelogo bilateral com diversos parceiros importantes como Japatildeo China Iacutendia Austraacutelia e Aacutefrica do Sul

Aleacutem de promover a OMC outro toacutepico prioritaacuterio da poliacutetica comercial brasileira eacute a reconstruccedilatildeo do MERCOSUL que tem desempenhado um papel estrateacutegico na defesa dos interesses brasileiros no plano multilateral nas negociaccedilotildees sobre a criaccedilatildeo de uma Aacuterea de Livre Comeacutercio das Ameacutericas (ALCA) e no diaacutelogo com a Uniatildeo Europeacuteia O MERCOSUL eacute importante por razotildees de

geografia econocircmica os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo internacional natildeo constituem anomalias efecircmeras mas foram gerados gradualmente ao longo de vaacuterias deacutecadas em decorrecircncia da dicotomia acima referida entre custos de informaccedilatildeo e de transporte Portanto a menos que os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo venham a ser redefinidos por outra revoluccedilatildeo tecnoloacutegica as metas da integraccedilatildeo regional continuaratildeo a ser prioritaacuterias para o Brasil

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwfazendagovbr httpwwwmdicgovbr httpwwwbndesgovbr httpwww1bcbgovbr httpwwwipeagovbr httpwwwmpogovbr

Mercado de Trabalho por Paulo Machado

A integraccedilatildeo competitiva da economia brasileira agrave economia global e a conquista da estabilidade influenciaram estruturalmente o funcionamento do mercado de trabalho do Paiacutes Foram registradas na deacutecada 1990 e ao longo dos uacuteltimos anos dinacircmicas particularmente relevantes nos quesitos emprego formalidade e renda dos trabalhadores o que exigiu mudanccedilas substantivas na atuaccedilatildeo das instituiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees trabalhistas

A evoluccedilatildeo do emprego pode ser melhor compreendida recorrendo-se aos dados da Pesquisa Mensal de Emprego ndash PMEIBGE visto que sua metodologia obedece a criteacuterios internacionalmente aceitos A taxa de desemprego medida pela PMEIBGE atingiu 76 em 1999 caiu para 71 em 2000 e reduziu-se novamente para 62 em 2001 atingindo entatildeo seu ponto mais baixo nos uacuteltimos quatro anos

Uma primeira anaacutelise dessa trajetoacuteria poderia sugerir que 2001 foi o ano em que o mercado de trabalho brasileiro teve seu melhor desempenho No entanto em 2000 foram criados em termos liacutequidos cerca de 700 mil postos de trabalho enquanto que em 2001 esse resultado atingiu aproximadamente 106 mil Observa-se assim que o desempenho do mercado de trabalho natildeo pode ser avaliado exclusivamente pela trajetoacuteria da taxa de desemprego Igualmente importante eacute medir a capacidade da economia de gerar saldos positivos de postos de trabalho Para corroborar essa situaccedilatildeo entre janeiro e junho de 2002 a PMEIBGE registra um aumento da ordem de cerca de 192 mil postos de trabalho considerando-se apenas as 6 regiotildees metropolitanas pesquisadas (Belo Horizonte Porto Alegre Recife Rio de Janeiro Salvador e Satildeo Paulo) No entanto como a taxa de desemprego resulta do cruzamento entre o nuacutemero de postos gerados e a quantidade de pessoas procurando emprego houve um pequeno crescimento do desemprego no primeiro semestre de 2002 atingindo na meacutedia 72 Essa aparente contradiccedilatildeo se explica pelo fato de que mais pessoas tem-se sentido incentivadas a procurar emprego o que provavelmente reflete expectativas mais favoraacuteveis quanto agrave perspectiva de obtenccedilatildeo de emprego Somente nos seis primeiros meses de

2002 aproximadamente 434 mil pessoas entraram no mercado de trabalho Destas cerca de 262 mil satildeo oriundas do desalento ou seja satildeo trabalhadores que haviam desistido de procurar emprego mas devido ao bom desempenho do mercado de trabalho vislumbraram novamente a chance de ter um emprego

A taxa meacutedia de desemprego dos primeiros seis meses do ano de 2002 carrega uma certa sazonalidade negativa pois trata-se de um periacuteodo tipicamente marcado por taxas mais elevadas Nesse contexto eacute razoaacutevel esperar que a taxa de desemprego recue a partir do terceiro trimestre Vale destacar que a taxa de desemprego brasileira da ordem de 75 em junho ainda eacute a mais baixa da Ameacuterica do Sul e uma das menores da Ameacuterica Latina

Em termos setoriais ao longo da deacutecada de 1990 a induacutestria de transformaccedilatildeo registrou reduccedilatildeo no niacutevel meacutedio de ocupaccedilatildeo experimentando a chamada desindustrializaccedilatildeo do emprego Por sua vez os serviccedilos e o comeacutercio apresentaram as maiores elevaccedilotildees na ocupaccedilatildeo meacutedia expressando um processo ascendente de terceirizaccedilatildeo do emprego Com efeito o mundo do trabalho tem sofrido raacutepidas e radicais transformaccedilotildees por meio da automaccedilatildeo da roboacutetica e da telemaacutetica Trata-se de um processo de substituiccedilatildeo de paradigmas na concepccedilatildeo da estrutura produtiva que se acentua a partir dos anos 80 A crescente automaccedilatildeo da produccedilatildeo processo que se acelerou a partir do iniacutecio da deacutecada de 1970 resultou na reduccedilatildeo da importacircncia do setor secundaacuterio da economia como empregador de matildeo-de-obra A atividade industrial maior geradora de empregos nos anos 70 perdeu essa posiccedilatildeo para o setor de serviccedilos nas deacutecadas de 1980 e 1990 Em 1992 o setor terciaacuterio e a induacutestria de transformaccedilatildeo respondiam respectivamente por 716 e 198 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelio ndash PNADIBGE Em 1998 o setor terciaacuterio abrigava 737 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola e mais da metade da populaccedilatildeo ocupada do Paiacutes enquanto o setor secundaacuterio reduziu sua participaccedilatildeo para 179

Com relaccedilatildeo agrave qualidade dos viacutenculos empregatiacutecios os indicadores mostram-se positivos sob a forma da geraccedilatildeo consistente de postos de trabalho formais entre 1994 e 2002 Conforme dados da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais ndash RAISMTE o nuacutemero de empregados cresceu de 237 milhotildees em 1994 para aproximadamente 268 milhotildees em 2001 Em fins de 2001 portanto havia cerca de 31 milhotildees de pessoas a mais empregadas formalmente quando comparadas agrave mesma data de 1994 O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ndash CAGEDMTE igualmente corrobora a manutenccedilatildeo da trajetoacuteria de recuperaccedilatildeo dos postos de trabalho em 2002 Em junho uacuteltimo o CAGEDMTE registrou a criaccedilatildeo de 133 mil novas vagas o que significa um saldo acumulado de aproximadamente 681 mil postos de trabalho em 2002 Trata-se da melhor performance de toda a seacuterie histoacuterica do CAGEDMTE (iniciado em 1985) quando se compara os primeiros seis meses de 2002 ao mesmo periacuteodo dos anos anteriores Assim de janeiro de 2000 a junho de 2002 registra-se um saldo positivo de 19 milhatildeo de novos postos de trabalho formais

Com relaccedilatildeo agrave renda dos trabalhadores deve-se destacar o crescimento real do salaacuterio miacutenimo entre 1991 e 2002 O salaacuterio miacutenimo apresentou tendecircncia oscilante entre 1990 e 1994 (variando entre os poacutelos extremos representados por R$12865 em 1990 e R$14541 em 1993) assumindo trajetoacuteria continuamente ascendente a partir de 1995 ateacute atingir o valor real de R$18943 em 2002 (meacutedia de janeiro a maio deflacionada pelo INPC a preccedilos de maio de 2002) quando o valor nominal do salaacuterio miacutenimo atingiu R$20000 Por sua vez o rendimento meacutedio real dos ocupados foi de R$68910 na meacutedia do periacuteodo 1990-1994 apresentando crescimento da ordem de 1832 no periacuteodo 1995-2001 quando chega agrave meacutedia de R$81533 A massa de rendimento real tanto para o total dos ocupados quanto para os trabalhadores assalariados (com e sem carteira assinada) cresceu de forma consistente entre 1992 e 1997 com um comportamento oscilante a partir de entatildeo Comparando o periacuteodo 1995-2001 com o periacuteodo anterior 1991-1994 observa-se um crescimento

da massa de renda real meacutedia tanto para o conjunto dos ocupados (2407) quanto para os trabalhadores assalariados (516)

O Governo Federal brasileiro por seu turno empenhado em corrigir as distorccedilotildees inerentes agrave evoluccedilatildeo do mercado de trabalho vem desenvolvendo programas de fomento ao emprego e ao trabalho e de proteccedilatildeo e assistecircncia ao trabalhador contando com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador ndash FAT Seu objetivo eacute criar mecanismos que permitam a melhoria das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade de vida do trabalhador destacando-se as accedilotildees nas aacutereas de qualificaccedilatildeo profissional seguro-desemprego abono salarial geraccedilatildeo de emprego e renda inspeccedilatildeo do trabalho e legislaccedilatildeo trabalhista

Em 1995 o Governo Federal por meio do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego instituiu o Plano Nacional de Qualificaccedilatildeo do Trabalhador ndash PLANFOR visando assegurar a integraccedilatildeo do trabalhador ao mercado de trabalho e promover assim o aumento de sua empregabilidade produtividade e renda Financiado majoritariamente com recursos do FAT o PLANFOR eacute executado de forma descentralizada por instituiccedilotildees de formaccedilatildeo profissional sob responsabilidade das Secretarias Estaduais de Trabalho (em interaccedilatildeo com as Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego ampliando a participaccedilatildeo social e a sintonia com as demandas do setor produtivo) e das Parcerias Nacionais realizadas predominantemente com entidades patronais e associaccedilotildees sindicais O PLANFOR focaliza sua atuaccedilatildeo em populaccedilotildees vulneraacuteveis dotadas de maior dificuldade de acesso a outras alternativas de qualificaccedilatildeo em decorrecircncia de situaccedilotildees de pobreza baixa escolaridade ou discriminaccedilatildeo no mercado de trabalho No periacuteodo 1995-2001 foram qualificadas 153 milhotildees de pessoas com recursos da ordem de R$ 23 bilhotildees

O Seguro-Desemprego constitui uma accedilatildeo de amparo aos trabalhadores demitidos sem justa causa Na deacutecada de 1990 o pagamento do benefiacutecio do seguro-desemprego ajudou a preservar em meacutedia cerca de 13 da renda de salaacuterio do trabalhador formal do setor privado dispensado sem justa causa considerando a remuneraccedilatildeo meacutedia mensal do trabalhador com carteira assinada Entre 1994 e 2001 foram concedidos 354 milhotildees de benefiacutecios com recursos da ordem de R$282 bilhotildees Para o periacuteodo que se estende de 1995 a 2001 tiveram acesso ao programa 442 milhotildees de trabalhadores por ano em meacutedia de um total meacutedio de 45 milhotildees de requerimentos ao custo meacutedio anual de aproximadamente R$ 468 bilhotildees (em R$ de dezembro de 2001) O nuacutemero meacutedio de beneficiaacuterios no periacuteodo supera a meacutedia de beneficiaacuterios do periacuteodo 1990-94 em cerca de 20 Uma das causas do crescimento do volume de segurados eacute a flexibilizaccedilatildeo dos criteacuterios para a sua concessatildeo visto que a partir da segunda metade da deacutecada de 1990 houve reduccedilatildeo do tempo de viacutenculo empregatiacutecio necessaacuterio para o acesso ao benefiacutecio

O Abono Salarial eacute uma iniciativa de assistecircncia ao trabalhador consistindo no pagamento anual de um salaacuterio miacutenimo a trabalhadores dos setores privado e puacuteblico que atendam a determinados requisitos dentre eles a percepccedilatildeo de remuneraccedilatildeo meacutedia mensal natildeo superior a dois salaacuterios miacutenimos no ano de referecircncia Calcula-se que o impacto do abono na renda anual do trabalhador seja em meacutedia de 5 o que corresponde a uma complementaccedilatildeo de renda significativa para esse segmento de trabalhadores de baixa renda No mecircs que eacute pago o benefiacutecio o impacto na renda pode alcanccedilar aproximadamente 70 funcionando como um 14ordm salaacuterio aos trabalhadores de mais baixos salaacuterios No periacuteodo de 1995-2001 foram liberados em meacutedia 54 milhotildees de abonos salariais por ano nuacutemero 23 superior agrave meacutedia do periacuteodo 1990-1994 que consistiu em 44 milhotildees de abonos anuais

O Programa de Geraccedilatildeo de Emprego e Renda ndash PROGER vem-se consolidando como um dos principais instrumentos de que dispotildee o Governo para incrementar a poliacutetica puacuteblica de geraccedilatildeo de

emprego e renda e melhoria da qualidade de vida do trabalhador Sua operacionalizaccedilatildeo ocorre mediante concessatildeo de creacuteditos em condiccedilotildees especiais destinados ao financiamento de atividades produtivas nos setores formal e informal da economia nas aacutereas urbana e rural O PROGER Urbano possui como puacuteblicos-alvo as micro e pequenas empresas cooperativas e associaccedilotildees de produccedilatildeo bem como os profissionais liberais receacutem-formados trabalhadores autocircnomos prestadores de serviccedilo em geral artesatildeos e pequenos e micro negoacutecios familiares O PROGER Rural por sua vez atende prioritariamente aos pequenos produtores rurais de forma individual ou coletiva inclusive agraves atividades pesqueira extrativa vegetal e de aquumlicultura A concessatildeo dos creacuteditos eacute vinculada agrave realizaccedilatildeo de programas de capacitaccedilatildeo teacutecnico-gerencial qualificaccedilatildeo profissional assistecircncia teacutecnica e acompanhamento dos empreendimentos beneficiados As operaccedilotildees de creacutedito tecircm como agentes financeiros os seguintes bancos oficiais Banco do Brasil Banco do Nordeste do Brasil Caixa Econocircmica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social ndash BNDES Entre 1995 e 2001 foram realizadas aproximadamente 860 mil operaccedilotildees totalizando investimentos da ordem de R$69 bilhotildees

A Inspeccedilatildeo do Trabalho volta-se para o combate agrave informalidade agregando agraves accedilotildees tiacutepicas da fiscalizaccedilatildeo do trabalho mecanismos para facilitar a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de trabalhadores nas empresas tais como as mesas de entendimento e o condomiacutenio de empregadores A formalizaccedilatildeo dos contratos de trabalho estende as garantias trabalhistas e previdenciaacuterias aos trabalhadores desamparados do sistema laboral legal A intensificaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo do trabalho contribuiu para a formalizaccedilatildeo de um total de 21 milhotildees de viacutenculos empregatiacutecios inicialmente desprotegidos no periacuteodo de 1996 a 2001

Finalmente o Governo brasileiro apresentou ao longo dos uacuteltimos anos vaacuterias propostas de modernizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista com vistas a adequaacute-la aos novos padrotildees de relaccedilatildeo entre capital e trabalho A tocircnica desse conjunto de propostas eacute o reforccedilo agrave via negocial para a soluccedilatildeo dos conflitos inerentes agraves relaccedilotildees de trabalho Cabe destaque agraves seguintes iniciativas Banco de Horas (sistema de compensaccedilatildeo de horas extras previamente autorizado em convenccedilatildeo ou acordo coletivo que permite agrave empresa adequar as jornadas de trabalho agraves variaccedilotildees sazonais mediante a diminuiccedilatildeo proporcional da jornada em periacuteodos de decliacutenio da demanda) Mesas de Entendimento (mecanismo de fiscalizaccedilatildeo de caraacuteter pedagoacutegico natildeo punitivo buscando regularizar a situaccedilatildeo que suscitou a accedilatildeo fiscal por meio de entendimentos entre a fiscalizaccedilatildeo a empresa e os trabalhadores consubstanciados em um Termo de Compromisso) Condomiacutenio dos Empregadores (uniatildeo de produtores rurais ndash pessoas fiacutesicas com a finalidade de contratar trabalhadores rurais que prestaratildeo serviccedilos exclusivamente para seus condocircminos estimulando a formalizaccedilatildeo dos viacutenculos empregatiacutecios no campo) aleacutem de accedilotildees voltadas para a inserccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia no mercado de trabalho por meio de modalidades como a colocaccedilatildeo seletiva

Essas satildeo as linhas gerais de estruturaccedilatildeo do mercado de trabalho brasileiro e de atuaccedilatildeo do Governo Federal nos uacuteltimos anos Os impactos no mercado de trabalho inerentes ao processo de integraccedilatildeo da economia nacional agrave economia global satildeo consideraacuteveis Nesse contexto o Governo brasileiro ciente dos desafios que lhe satildeo postos estaacute empenhado em criar e manter as condiccedilotildees macroeconocircmicas favoraacuteveis e em implementar as poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo do emprego e da renda necessaacuterias para a construccedilatildeo de um futuro mais proacutespero para todos

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmtbgovbr httpwwwmpasgovbr

Dinacircmica Demograacutefica por Manoel A Costa

A populaccedilatildeo brasileira teve um aumento de 313 milhotildees de pessoas durante os 68 anos que separam a realizaccedilatildeo do primeiro recenseamento em 1872 do quinto em 1940 De acordo com os cinco censos desse periacuteodo a populaccedilatildeo nacional era constituiacuteda de 99 milhotildees em 1872 143 milhotildees em 1890 174 milhotildees em 1900 306 milhotildees em 1920 e finalmente 412 milhotildees em 1940 A partir desse ano e durante os 51 anos seguintes o contingente nacional aumentou pouco mais de 100 milhotildees de pessoas ateacute a data do Censo de 1991 e de acordo com o uacuteltimo censo de 1996 nestes quatro anos houve um acreacutescimo de cerca de 7 milhotildees de pessoas na populaccedilatildeo brasileira

A tabela sobre populaccedilatildeo apresenta alguns indicadores da dinacircmica demograacutefica a partir de 1940 taxas de natalidade de mortalidade de crescimento natural e de crescimento total prevalecentes durante os periacuteodos que separam a realizaccedilatildeo dos levantamentos estatiacutesticos complementando-os com estimativas ateacute os primeiros dez anos do seacuteculo XXI Aleacutem disso a tabela apresenta a evoluccedilatildeo do aumento da populaccedilatildeo e estimativas do nuacutemero de nascidos vivos para cada periacuteodo decenal

O incremento decenal da populaccedilatildeo aumentou significativa e continuamente ateacute os anos 70 apesar de a taxa de crescimento ter comeccedilado a declinar a partir de 1955 Enquanto entre 1940-1950 ocorreu um aumento de 109 milhotildees de habitantes entre 1980-1990 a populaccedilatildeo nacional aumentou em 248 milhotildees embora a taxa meacutedia anual de crescimento tenha se reduzido de 239 aa durante o primeiro periacuteodo para 193 anuais no uacuteltimo Estima-se que ocorreraacute um expressivo aumento populacional da ordem de 21 milhotildees de pessoas durante o uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX e os primeiros dez anos do seacuteculo XXI ainda que a taxa de crescimento continue se reduzindo

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwibgegovbr

A Transiccedilatildeo Demograacuteficapor Manoel A Costa

Nos anos 80 consolidou-se a transiccedilatildeo demograacutefica brasileira Tambeacutem neste periacuteodo registrou-se pela primeira vez na histoacuteria do Brasil um numeroso fluxo emigratoacuterio de matildeo-de-obra Estima-se que um contigente de 13 milhatildeo de brasileiros emigrou para o exterior durante esses anos

A transiccedilatildeo demograacutefica nacional apoacutes um iniacutecio moderado na segunda metade dos anos 60 transcorreu com uma aceleraccedilatildeo crescente durante as duas deacutecadas seguintes por causa da raacutepida reduccedilatildeo da fecundidade e resultou na reduccedilatildeo do crescimento demograacutefico natural da populaccedilatildeo de um ritmo elevado de 299 ao ano entre 1950-1960 praticamente ineacutedito ateacute entatildeo entre populaccedilotildees numerosas para o niacutevel de 193 meacutedios anuais entre 1980-1991

Estima-se que a fecundidade continuaraacute se reduzindo e se aproximaraacute num futuro natildeo muito distante do niacutevel de reposiccedilatildeo de 21 filhos por mulher em idade feacutertil Partindo de uma simulaccedilatildeo com essa perspectiva prevecirc-se que a taxa de crescimento da populaccedilatildeo nacional ficaraacute abaixo de 10 anual a partir de 2015-2020 e abaixo de 05 depois de 2035 Seguindo essa tendecircncia a

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

sertatildeo nordestino cujas boiadas vinham de muito longe para suprir as necessidades dos engenhos Inuacutemeras famiacutelias foram trabalhar como parceiros ou agregados nas sedes das fazendas de gado que acabaram originando as primeiras vilas e cidades dessa regiatildeo Aleacutem de estimular o povoamento do sertatildeo a pecuaacuteria foi responsaacutevel pela difusatildeo da agricultura de subsistecircncia e pelo cultivo do algodatildeo e do fumo Mas este uacuteltimo foi cultivado principalmente no Recocircncavo Baiano servindo como moeda para a compra de escravos vindos do continente africano

As primeiras expediccedilotildees denominadas bandeiras ampliaram os domiacutenios portugueses no seacuteculo XVII com o objetivo de capturar iacutendios e encontrar ouro e pedras preciosas Essas expediccedilotildees alcanccedilaram a foz do rio Amazonas onde foi fundada em 1616 a atual cidade de Beleacutem do Paraacute A descoberta de ouro e pedras preciosas no seacuteculo XVIII nos atuais estados de Minas Gerais Mato Grosso Goiaacutes e Bahia teve como consequumlecircncia o aumento da populaccedilatildeo aleacutem de estimular a abertura de estradas e intensificar as relaccedilotildees com as aacutereas de criaccedilatildeo de gado que eram responsaacuteveis pelo abastecimento de carne e couro nas aacutereas mineradoras Muitas cidades surgiram ligadas a essas atividades e outras ganharam maior importacircncia com a intensificaccedilatildeo do comeacutercio como as cidades portuaacuterias

O seacuteculo XIX abre novas perspectivas de povoamento do territoacuterio brasileiro A abertura dos portos em 1808 intensifica o comeacutercio com as naccedilotildees europeacuteias No iniacutecio desse seacuteculo cresce a procura pelo algodatildeo nos mercados europeus beneficiando a produccedilatildeo nordestina e sobretudo a maranhense graccedilas agrave maior proximidade com esse mercado A prosperidade dessa cultura seraacute interrompida com o fim da guerra de independecircncia norte-americana

Outro produto que comeccedila a ser valorizado na Europa nesse seacuteculo eacute o cafeacute que passa a ser largamente cultivado no estado de Satildeo Paulo A cafeicultura impulsiona a formaccedilatildeo de um mercado assalariado e consumidor e propicia a acumulaccedilatildeo de capitais dando origem ao desenvolvimento industrial especialmente do Centro-sul Essa eacutepoca eacute marcada ainda pelo iniacutecio da mecanizaccedilatildeo do territoacuterio com a instalaccedilatildeo das ferrovias dos teleacutegrafos e das primeiras companhias de navegaccedilatildeo que repercutiram no processo de urbanizaccedilatildeo do Paiacutes Por outro lado os uacuteltimos dececircnios do seacuteculo XIX foram acompanhados pelo boom da exploraccedilatildeo da borracha na regiatildeo amazocircnica atraindo um grande nuacutemero de migrantes nordestinos que fugiam da seca e das dificuldades econocircmicas O sul da Bahia nessa eacutepoca conheceu tambeacutem um raacutepido crescimento econocircmico graccedilas agrave produccedilatildeo de cacau que atraiu migrantes do mesmo estado e de outras aacutereas nordestinas

O poacutes-Segunda Guerra eacute um ponto de inflexatildeo no povoamento do territoacuterio brasileiro As regiotildees Centro-oeste e Amazocircnica satildeo paulatinamente integradas ao conjunto da economia nacional A construccedilatildeo de Brasiacutelia inaugurada em 1960 eacute um marco do processo de interiorizaccedilatildeo As rodovias Transamazocircnica e Cuiabaacute-Santareacutem facilitaram os fluxos migratoacuterios para a regiatildeo Amazocircnica onde projetos de colonizaccedilatildeo foram implantados ao longo das rodovias receacutem-construiacutedas Somado a isso tivemos nessa regiatildeo grandes projetos agropecuaacuterios e minerais que levaram agrave expansatildeo da rede urbana do Paiacutes

Urbanizaccedilatildeo do Territoacuterio por Eliza Pinto de Almeida

Durante seacuteculos a urbanizaccedilatildeo brasileira ocorreu em pontos isolados como verdadeiras ilhas tornando-se generalizada somente a partir do seacuteculo XX Pode-se dizer que Salvador comandou a primeira rede urbana do paiacutes mantendo sua primazia ateacute meados do seacuteculo XVIII quando a capital da colocircnia se transfere para a cidade do Rio de Janeiro As relaccedilotildees entre o litoral e o interior eram fraacutegeis neste periacuteodo O povoamento e as riquezas geradas pela agricultura e a mineraccedilatildeo ensaiaram os primeiros passos rumo ao processo de urbanizaccedilatildeo

Em fins do seacuteculo XIX o Brasil assiste ao crescimento do fenocircmeno de urbanizaccedilatildeo do territoacuterio Satildeo Paulo liacuteder na produccedilatildeo cafeeira inicia a formaccedilatildeo de uma rede de cidades envolvendo os estados do Rio Janeiro e de Minas Gerais

Mas seraacute apenas em meados do seacuteculo XX quando ocorre a unificaccedilatildeo dos meios de transporte e comunicaccedilatildeo que as condiccedilotildees se tornam propiacutecias para uma verdadeira integraccedilatildeo do territoacuterio Modificam-se substancialmente os fluxos econocircmicos e demograacuteficos conferindo um novo valor aos lugares

A partir da deacutecada de 70 ocorre a difusatildeo generalizada das modernizaccedilotildees tanto no campo como na cidade A construccedilatildeo e expansatildeo de estradas de rodagem e a criaccedilatildeo de um moderno sistema de telecomunicaccedilotildees possibilitaram maior fluidez no territoacuterio aleacutem de permitir a unificaccedilatildeo do mercado em escala nacional

Cresce o consumo de bens materiais e imateriais como educaccedilatildeo e sauacutede transformando as funccedilotildees urbanas A rede urbana torna-se mais complexa pois tanto o campo como a cidade respondem agraves novas condiccedilotildees de realizaccedilatildeo da economia contemporacircnea Na atual fase a urbanizaccedilatildeo do territoacuterio tem muacuteltiplas implicaccedilotildees tais como o ritmo de crescimento mais lento das cidades milionaacuterias e concomitante a essa tendecircncia o crescimento das cidades locais e das cidades meacutedias Em 1980 o paiacutes contava com 142 cidades com mais de 100 mil habitantes e em 1991 eram 187 A participaccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira cresce tambeacutem nessas cidades meacutedias elevando-se de 137 em 1970 para 167 em 1991 A densidade econocircmica do territoacuterio leva agrave crescente especializaccedilatildeo das cidades que tecircm um papel cada vez mais ativo no paiacutes

Processo Migratoacuterio por Liacutedia Antongiovanni

O processo migratoacuterio no Brasil apresenta duas grandes marcas Com a colonizaccedilatildeo do paiacutes desde o seacuteculo XVI vieram para caacute europeus e negros africanos Estes uacuteltimos foram trazidos como matildeo-de-obra escrava inicialmente para a cultura da cana-de-accediluacutecar Iacutendios negros africanos e brancos europeus (na sua maioria portugueses e espanhoacuteis) compuseram a ocupaccedilatildeo do Brasil

Na segunda metade do seacuteculo XIX somam-se dois processos que resultam num rearranjo daquele momento inicial a expansatildeo da fronteira econocircmica e um processo gradativo de aboliccedilatildeo da escravidatildeo Ambos convergiam para a decisatildeo dos colonizadores em ampliar a participaccedilatildeo de brancos europeus na formaccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira Este quadro propiciou a vinda de outros

europeus - italianos alematildees austriacuteacos huacutengaros eslavos siacuterios libaneses suiacuteccedilos - que mais tarde se juntam aos asiaacuteticos

A segunda grande marca da migraccedilatildeo brasileira eacute resultado da integraccedilatildeo e modernizaccedilatildeo do territoacuterio e da ampliaccedilatildeo das trocas comerciais e do consumo marcadamente a partir da deacutecada de 1950 Intensifica-se a partir deste momento a urbanizaccedilatildeo e a correlata migraccedilatildeo interna O Brasil ateacute entatildeo um paiacutes agriacutecola vai conhecer neste periacuteodo uma acentuaccedilatildeo do ecircxodo rural levando agrave inversatildeo dos nuacutemeros correspondentes agrave localizaccedilatildeo da populaccedilatildeo de maioria rural em 1940 para maioria urbana em 1970

A industrializaccedilatildeo associada agrave urbanizaccedilatildeo mais intensa no Sudeste acelera esse processo e atrai milhares de pessoas do Nordeste para o Centro-sul em especial nas deacutecadas de 60 e 70 Eacute neste periacuteodo que se inicia o processo de metropolizaccedilatildeocom os anos 60 marcando um significativo ponto de inflexatildeo Na deacutecada de 70 a expansatildeo de novas fronteiras agriacutecolas e econocircmicas na regiatildeo Norte leva ao deslocamento de milhotildees de pessoas para o Centro-oeste e para a Amazocircnia para onde migram nordestinos e mais recentemente os sulistas

Na deacutecada de 90 eacute detectado um processo de desmetropolizaccedilatildeo associado ao ecircxodo urbano isto eacute movimento numeroso de populaccedilatildeo entre cidades de diversos tamanhos e diversas regiotildees A difusatildeo da modernizaccedilatildeo no interior propicia uma migraccedilatildeo para as cidades menores A regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo por exemplo apresenta de 1980 a 1991 um crescimento vegetativo de 10971 e um saldo migratoacuterio de -971 Trata-se para a uacuteltima deacutecada de um salto migratoacuterio negativo para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Um fato novo na histoacuteria da migraccedilatildeo brasileira especialmente nos uacuteltimos anos eacute a saiacuteda crescente de brasileiros para a Europa Ameacuterica do Norte e Japatildeo Migraccedilatildeo essa geralmente associada a descendentes dos imigrantes que aqui chegaram na passagem do seacuteculo

Regiatildeo Concentrada por Maria Laura Silveira

Regiatildeo concentrada eacute a aacuterea onde os acreacutescimos de ciecircncia e tecnologia ao territoacuterio se verificam de modo contiacutenuo Expressatildeo mais intensa do meio teacutecnico-cientiacutefico-informacional essa regiatildeo abrange os estados do Sudeste (Espiacuterito Santo Rio de Janeiro Minas Gerais e Satildeo Paulo) os estados do Sul (Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e dois estados do Centro-oeste (Mato Grosso do Sul e Goiaacutes) tendo como poacutelo as metroacutepoles de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro

Nessa regiatildeo a modernizaccedilatildeo generalizada e a intensa circulaccedilatildeo interna e com outras regiotildees e paiacuteses correspondem a uma marcada divisatildeo territorial do trabalho Sede da agricultura mais moderna do Brasil e do mais expansivo desenvolvimento industrial e financeiro essa aacuterea concentra tambeacutem os niacuteveis superiores dos sistemas de sauacutede educaccedilatildeo lazer e serviccedilos modernos como a publicidade cujas demandas satildeo garantidas pelo consumo dessa grande concentraccedilatildeo produtiva e populacional

As metroacutepoles de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro sediam os escritoacuterios das mais poderosas firmas nacionais e das filiais das empresas globais que tecircm um papel de controle do mercado nacional e de comando do respectivo territoacuterio Eacute em Satildeo Paulo que se elabora e concentra a maior parcela das informaccedilotildees sobre a economia a sociedade e o territoacuterio A acumulaccedilatildeo de atividades intelectuais assegura a essa metroacutepole o predomiacutenio das atividades produtivas de ponta a funccedilatildeo de suporte aos

segmentos modernos da economia do paiacutes e em decorrecircncia um caraacuteter de encruzilhada na expansatildeo do meio teacutecnico-cientiacutefico-informacional Como o territoacuterio deve ser usado hoje com o conhecimento simultacircneo das accedilotildees empreendidas em lugares distantes a sua funccedilatildeo de centro informacional lhe concede uma nova hierarquia no sistema urbano brasileiro

Cidades Locais por Adriana Bernardes

O nuacutemero de cidades locais cresceu rapidamente a partir da deacutecada de 50 passando a ter um importante papel no funcionamento do sistema urbano Hoje este niacutevel na regiatildeo urbana eacute representado por cidades com populaccedilatildeo em torno de 20 mil habitantes

Anteriormente as sedes municipais guardavam praticamente apenas as funccedilotildees religiosas e administrativas voltadas agraves necessidades da vida rural Mas as cidades locais mudaram de conteuacutedo em consonacircncia com as exigecircncias desse periacuteodo histoacuterico Agora as funccedilotildees econocircmicas tecircm maior relevo na vida das cidades locais Integradas ao sistema produtivo do Paiacutes elas passaram a atender agrave crescente demanda por trabalho consumo educaccedilatildeo e lazer que o campo natildeo ofereceria

Com o advento da modernizaccedilatildeo e tecnificaccedilatildeo da agricultura principalmente nas uacuteltimas deacutecadas quando tambeacutem se instalam importantes induacutestrias agriacutecolas as cidades locais especializam-se para atender a determinados tipos de produccedilatildeo que se encontram no seu entorno Constituem sobretudo estoques de novos meios de consumo insumos creacutedito agriacutecola e matildeo-de-obra e satildeo centros de transportes e comunicaccedilotildees Boa parte dos trabalhadores agriacutecolas nas regiotildees mais modernas do Paiacutes vive na cidade onde tambeacutem se encontram novas categorias de profissionais o agrocircnomo o veterinaacuterio e o bancaacuterio entre outros que satildeo necessaacuterios agrave conduccedilatildeo e coordenaccedilatildeo de uma produccedilatildeo baseada no desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Cidades Meacutedias por Adriana Bernardes

Apoacutes a deacutecada de 50 amplia-se o nuacutemero de cidades meacutedias no Brasil em um contexto de redefiniccedilatildeo do porte dos nuacutecleos urbanos Na deacutecada de 90 definiu-se como cidade meacutedia o municiacutepio com populaccedilatildeo em torno de 100 mil habitantes

Satildeo muacuteltiplos os elementos que levam ao crescimento desse niacutevel urbano Entre eles destacam-se a dispersatildeo da induacutestria que ateacute haacute pouco tempo se concentrava em aacutereas metropolitanas a modernizaccedilatildeo do campo a proximidade das induacutestrias agriacutecolas e as novas formas de consumo material e de consumo imaterial Esse fenocircmeno eacute geral mas tem particular expressatildeo na aacuterea mais desenvolvida do Paiacutes Por tratar-se da aacuterea mais densamente urbanizada do territoacuterio nacional tem condiccedilotildees de adaptar-se agraves novas exigecircncias do periacuteodo histoacuterico atual

Graccedilas agraves cidades meacutedias estaacute ocorrendo a redistribuiccedilatildeo das classes meacutedias pelo territoacuterio associada agrave presenccedila de um nuacutemero crescente de letrados indispensaacuteveis aos novos modos de produccedilatildeo a que presidem Com a difusatildeo desde os anos 70 do ensino universitaacuterio no Paiacutes muitas dessas cidades satildeo em certos estados importantes centros de pesquisa

As atuais cidades meacutedias exercem atraccedilatildeo para os fluxos migratoacuterios e algumas delas estatildeo atingindo o estaacutegio sub-metropolitano cuja dimensatildeo iraacute variar segundo as regiotildees

Interiorizaccedilatildeo por Eliza Pinto de Almeida

O Brasil durante trecircs seacuteculos consecutivos teve um povoamento predominantemente litoracircneo A pecuaacuteria no sertatildeo nordestino foi a primeira atividade a impulsionar a ocupaccedilatildeo do interior Em meados do seacuteculo XVIII no que hoje satildeo os estados de Goiaacutes Mato Grosso Bahia e Minas Gerais amplia-se o processo de interiorizaccedilatildeo graccedilas agrave mineraccedilatildeo do ouro e das pedras preciosas Grandes fluxos migratoacuterios deslocam-se para essa aacuterea onde surgem paralelamente numerosas cidades

A extremidade meridional do atual territoacuterio brasileiro foi durante muito tempo disputada por portugueses e espanhoacuteis Somente em princiacutepios do seacuteculo XVIII eacute que essa regiatildeo seraacute incorporada ao territoacuterio brasileiro quando o governo portuguecircs destaca tropas de defesa para a aacuterea Ao mesmo tempo uma corrente de povoadores oriundos de Satildeo Paulo se estabelece no atual estado do Rio Grande do Sul Graccedilas agraves excelentes condiccedilotildees naturais a pecuaacuteria pocircde desenvolver-se plenamente nessa regiatildeo

Frentes pioneiras no seacuteculo XIX efetivaram a ocupaccedilatildeo do interior do estado de Satildeo Paulo Com as ferrovias novas aacutereas satildeo anexadas agrave produccedilatildeo cafeeira e assim muitas cidades nascem ligadas a essa atividade Satildeo Paulo se torna um poacutelo dinacircmico de vastas aacutereas que abrangem os estados do Sul do Paiacutes aleacutem de parcelas de Minas Gerais e Rio de Janeiro

A Amazocircnia teraacute a sua ocupaccedilatildeo consolidada no final do seacuteculo XIX a partir da crescente procura da borracha nos mercados europeus que estimulou a exploraccedilatildeo econocircmica desse produto e acabou desencadeando um intenso fluxo migratoacuterio vindo principalmente do Nordeste

No entanto as relaccedilotildees entre os lugares eram inconstantes natildeo havendo uma integraccedilatildeo entre as diversas regiotildees do Paiacutes A agricultura comercial e a mineraccedilatildeo foram a base do povoamento do territoacuterio brasileiro mas o seu desenvolvimento se deu em subespaccedilos que evoluiacuteam segundo loacutegicas proacuteprias ditadas em grande parte por suas relaccedilotildees com o mundo exterior

Mas seraacute no poacutes-Segunda Guerra com os investimentos em infra-estrutrura que ocorreraacute extensiva e intensamente a ocupaccedilatildeo do territoacuterio brasileiro A construccedilatildeo de Brasiacutelia inaugurada em 1960 eacute um siacutembolo desse processo de interiorizaccedilatildeo Procurou-se promover a integraccedilatildeo do Centro-oeste e da Amazocircnia ao conjunto da economia nacional atraveacutes da implantaccedilatildeo de projetos agropecuaacuterios e da construccedilatildeo de rodovias de integraccedilatildeo nacional Essas medidas intensificaram os fluxos de capitais e as migraccedilotildees para essas regiotildees

Metropolizaccedilatildeo por Adriana Bernardes

Com a industrializaccedilatildeo a mecanizaccedilatildeo da agricultura e o ecircxodo rural algumas cidades brasileiras passaram a acolher enormes contingentes populacionais em busca de emprego e acesso a serviccedilos diversos Ateacute 1960 somente as cidades de Satildeo Paulo e Rio de Janeiro tinham mais de 1 milhatildeo de habitantes e poderiam ser consideradas metroacutepoles A polarizaccedilatildeo de funccedilotildees industriais e

administrativas respectivamente nestes dois centros urbanos atraiacuteram grande parte do fluxo migratoacuterio nacional dos anos 50 e 60

Na deacutecada de 70 o crescimento de grandes cidades ocorre em todas as regiotildees do Paiacutes caracterizando o processo de metropolizaccedilatildeo no Brasil Em 1973 foram criadas oficialmente nove regiotildees metropolitanas ao redor das cidades de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Beleacutem Fortaleza Recife Salvador Belo Horizonte Porto Alegre e Curitiba

Entre 1950 e 1980 a participaccedilatildeo das atuais regiotildees metropolitanas no total da populaccedilatildeo brasileira saltou de 1795 para 2893 iacutendice que se manteve praticamente inalterado no iniacutecio da deacutecada de 90 Aleacutem das regiotildees mencionadas acima existem cidades que polarizam grandes parcelas do contingente populacional urbano e que na praacutetica se caracterizam como regiotildees metropolitanas Satildeo as chamadas cidades milionaacuterias como Brasiacutelia Goiacircnia Manaus Santos e Campinas

Diferenccedilas Regionais por Liacutedia Antongiovanni

O Brasil apresenta os mais variados aspectos naturais que aliados agraves diferentes atividades econocircmicas e aos processos de povoamento e interiorizaccedilatildeo caracterizam sua diversidade regional Com o objetivo de executar um planejamento nacional o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) dividiu o paiacutes em cinco grandes regiotildees Norte (Acre Amapaacute Amazonas Rondocircnia Roraima Paraacute Tocantins) Nordeste (Maranhatildeo Piauiacute Cearaacute Rio Grande do Norte Paraiacuteba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia) Sudeste (Minas Gerais Espiacuterito Santo Rio de Janeiro Satildeo Paulo) Sul (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul) e Centro-oeste (Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiaacutes Distrito Federal)

O Sul e o Sudeste satildeo densamente povoados com destacada atividade agriacutecola industrial e de serviccedilos Estas regiotildees acompanharam as modernizaccedilotildees desde o fim do seacuteculo XIX o que propiciou a urbanizaccedilatildeo e uma vida de relaccedilotildees muito dinacircmicas Mas o Sudeste tem o maior desenvolvimento industrial e de serviccedilos o que lhe garante com a presenccedila de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro um papel de comando da economia nacional

Na regiatildeo Norte comumente chamada de Amazocircnia os traccedilos naturais tecircm grande importacircncia e suas riquezas dominam a vida econocircmica A partir da deacutecada de 70 instalou-se uma agricultura moderna e uma pequena atividade industrial Esta regiatildeo de ocupaccedilatildeo rarefeita (33 habkm2 em 2000) tem atualmente uma nova dinacircmica populacional a do aumento da populaccedilatildeo associado ao fenocircmeno da concentraccedilatildeo urbana

O Nordeste eacute uma regiatildeo de velho povoamento fato que marca ainda hoje suas relaccedilotildees As secas com periacuteodos de longa estiagem satildeo em parte responsaacuteveis por movimentos populacionais desde o seacuteculo XVII Esta regiatildeo apresenta duas grandes porccedilotildees o litoral e o sertatildeo O litoral concentra as cidades as atividades industriais e turiacutesticas No interior onde se encontra o sertatildeo algumas aacutereas de irrigaccedilatildeo permitem uma atividade agriacutecola constante e bastante tecnificada juntamente com a pecuaacuteria e a agricultura extensiva

Durante os seacuteculos XVII e XVIII o Centro-oeste foi alvo de exploraccedilatildeo mineira e paralelamente desenvolveu uma atividade pecuaacuteria que permanece ateacute hoje A partir da deacutecada de 70 os cerrados ateacute entatildeo praticamente vazios puderam ser ocupados modernamente em especial com o cultivo da

soja Na regiatildeo o investimento em rodovias e o processo de urbanizaccedilatildeo a integram ao Sudeste e Sul

Desconcentraccedilatildeo Industrial por Eliza Pinto de Almeida

A aceleraccedilatildeo do processo de industrializaccedilatildeo do Brasil ocorreu no poacutes-Segunda Guerra Mundial A integraccedilatildeo dos meios de transporte e de comunicaccedilatildeo e a unificaccedilatildeo do mercado em escala nacional permitiram que se ampliasse e diversificasse a produccedilatildeo industrial Essa atividade concentra-se na regiatildeo Sudeste do Brasil sobretudo no estado de Satildeo Paulo cuja capital se tornou o maior centro fabril do Paiacutes

A difusatildeo da modernizaccedilatildeo especialmente a partir da deacutecada de 70 modifica os sistemas de transportes e telecomunicaccedilotildees integrando o territoacuterio Por outro lado as mudanccedilas tecnoloacutegicas devidas agrave difusatildeo da informaacutetica e da eletrocircnica permitem um maior controle agrave distacircncia dos processos produtivos Tudo isso favorece a desconcentraccedilatildeo industrial com a instalaccedilatildeo de faacutebricas modernas em diversos pontos do Paiacutes

O estado de Satildeo Paulo na deacutecada 70 respondia por 5842 do valor da produccedilatildeo industrial do paiacutes e em 1990 esse iacutendice passa para 5283 Haacute tambeacutem uma tendecircncia ao crescimento da participaccedilatildeo industrial no interior paulista Fala-se por isso em esvaziamento da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e tambeacutem em desconcentraccedilatildeo industrial

Em 1970 tomando-se este estado como um todo a regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo detinha 7752 do Valor de Transformaccedilatildeo Industrial sendo que em 1990 essa participaccedilatildeo diminui para 5892

Os dados indicam que natildeo eacute mais a funccedilatildeo industrial que assegura a Satildeo Paulo um papel diretor na dinacircmica soacutecio-econocircmica e espacial mas sim o comando das atividades ligadas agrave produccedilatildeo e agrave gestatildeo da informaccedilatildeo que faz agora da metroacutepole paulista um importante centro informacional

Centro Informacional por Adriana Bernardes

Ao longo do seacuteculo XX a capital do estado de Satildeo Paulo se afirma como metroacutepole nacional principalmente pela forccedila de sua induacutestria Mas agora a metroacutepole paulistana se refuncionaliza passando a ser um grande centro urbano produtor de informaccedilotildees Sua primazia natildeo mais adveacutem de sua atividade fabril mas sim de sua capacidade de concentrar atividades de produccedilatildeo coleta classificaccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

Muda a qualidade do papel de comando de Satildeo Paulo sobre a totalidade do territoacuterio brasileiro Enquanto os nuacutemeros da produccedilatildeo e do emprego industrial diminuem aumenta a forccedila metropolitana no Paiacutes e no mundo graccedilas agrave presenccedila de um expressivo e sofisticado setor de serviccedilos Tal setor engloba atividades financeiras de consultoria publicidade marketing e pesquisa entre outras

A nova hierarquia do sistema urbano depende destes fluxos de informaccedilatildeo cujo controle atraveacutes da emissatildeo de mensagens ideacuteias e ordens garante agrave metroacutepole paulistana um papel regulador de um crescente nuacutemero de tarefas dispersas pelo Paiacutes

Sistema Rodoviaacuterio - Autopistas por Marcos Antonio de Moraes Xavier

Ateacute a primeira metade do seacuteculo XX de um modo geral as estradas de rodagem brasileiras representavam pequenos investimentos pontuais Natildeo havia um sistema que cobrisse todo o territoacuterio nacional Tais estradas em sua maioria eram caminhos de terra A constituiccedilatildeo de um sistema rodoviaacuterio nacional criando as ligaccedilotildees inter-regionais necessaacuterias ao processo de integraccedilatildeo ocorre a partir do empenho em equipar o territoacuterio para atender entre outras demandas o desenvolvimento da induacutestria paulista Um marco desta fase foi o Plano Viaacuterio Nacional de 1952 onde as rodovias jaacute aparecem como principal via de transporte

Desde os anos 50 e notadamente a partir dos anos 70 o sistema rodoviaacuterio brasileiro cresce acompanhado pela pavimentaccedilatildeo e duplicaccedilatildeo de rodovias que passam a formar autopistas modernas e raacutepidas Este crescimento destaca-se nas regiotildees Norte (20133) e Centro-oeste (15339) aacutereas onde o povoamento era rarefeito e que neste momento passam a ser aacutereas de avanccedilo do processo de interiorizaccedilatildeo

Atualmente encontramos nas regiotildees Sudeste Nordeste e Sul o maior nuacutemero de rodovias pavimentadas e as maiores densidades do sistema (extensatildeo em quilocircmetros do sistema rodoviaacuterio por 1 mil km2 de aacuterea)

O Brasil e a Economia Mundial Contemporacircnea por Joseacute Tavares de Arauacutejo Jr

Uma caracteriacutestica central do progresso tecnoloacutegico nas uacuteltimas trecircs deacutecadas tem sido o contraste entre o decliacutenio acelerado dos custos de informaccedilatildeo e a relativa estabilidade dos custos de transporte Este contraste vem alimentando as tendecircncias simultacircneas em direccedilatildeo agrave globalizaccedilatildeo de mercados e agrave regionalizaccedilatildeo das estruturas produtivas que marcaram a economia mundial no passado recente Estas tendecircncias por sua vez redefiniram os perfis de inserccedilatildeo internacional das economias domeacutesticas e as prioridades da agenda multilateral de comeacutercio

Os novos padrotildees de concorrecircncia internacional acentuaram a importacircncia da prestaccedilatildeo de serviccedilos da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e do investimento direto no exterior como fontes de sustentaccedilatildeo do desempenho exportador das economias nacionais Tais padrotildees reduziram a eficaacutecia dos instrumentos convencionais de poliacutetica comercial como tarifas quotas e salvaguardas ao mesmo tempo em que introduziram novos temas na agenda multilateral de comeacutercio como o uso de regulamentos domeacutesticos para proteger as induacutestrias da fronteira tecnoloacutegica e as praacuteticas anticompetitivas com dimensatildeo internacional

Do ponto de vista das economias nacionais a busca de eficiecircncia produtiva o estiacutemulo agrave inovaccedilatildeo e a melhoria das condiccedilotildees de inserccedilatildeo internacional das empresas domeacutesticas tornaram-se partes complementares de um desafio comum Para o governo isto implica natildeo apenas a convergecircncia das poliacuteticas industrial tecnoloacutegica e de comeacutercio exterior mas tambeacutem a coerecircncia de tais poliacuteticas com outras accedilotildees do governo nos planos macroeconocircmico e da regulaccedilatildeo das condiccedilotildees de concorrecircncia nos mercados domeacutesticos

Um desafio adicional impliacutecito no cenaacuterio contemporacircneo reside no fato de que a Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) natildeo dispotildee ainda dos instrumentos de regulaccedilatildeo necessaacuterios para lidar com os padrotildees de concorrecircncia em vigor Embora a reuniatildeo ministerial de Doha realizada em novembro de 2001 tenha ratificado o consenso da comunidade internacional quanto agrave necessidade de fortalecer a OMC na praacutetica tal consenso significou apenas que os paiacuteses membros estatildeo comprometidos a levar adiante a rodada de negociaccedilotildees mas natildeo autoriza qualquer previsatildeo otimista quanto aos resultados deste empreendimento no futuro proacuteximo dada a magnitude dos desafios que a OMC enfrenta atualmente

Um tema que bem ilustra as presentes limitaccedilotildees da OMC eacute o de poliacutetica de concorrecircncia que passou a desempenhar um papel central no plano internacional natildeo soacute para combater carteacuteis e fiscalizar a conduta das corporaccedilotildees transnacionais mas sobretudo para regular conflitos advindos da proteccedilatildeo agraves induacutestrias de alta tecnologia O debate sobre essas questotildees na OMC tem sido intenso desde dezembro de 1996 quando foi criado o Grupo de Trabalho sobre a Interaccedilatildeo entre Comeacutercio e Poliacutetica de Concorrecircncia Nos dois anos seguintes cerca de 170 documentos governamentais foram submetidos ao grupo cobrindo uma agenda substantiva que de fato foi bem aleacutem das relaccedilotildees entre comeacutercio e concorrecircncia A despeito da participaccedilatildeo ativa de praticamente todos os membros da OMC que dispotildeem de leis de concorrecircncia esse debate tem sido limitado por dois tipos de restriccedilotildees Por um lado qualquer acordo multilateral sobre regras de concorrecircncia soacute teraacute algum significado na medida em que todos os membros da OMC ou pelo menos sua grande maioria estiverem capacitados a aplicar aquelas normas em seus respectivos territoacuterios Por outro lado a OMC eacute uma instituiccedilatildeo desenhada para lidar essencialmente com atos de governos enquanto que o foco principal da poliacutetica de concorrecircncia eacute a conduta dos agentes econocircmicos

Em suma natildeo eacute provaacutevel que as principais fragilidades da OMC venham a ser superadas no futuro proacuteximo Entretanto a atuaccedilatildeo do Brasil naquele foacuterum durante os anos 90 demonstrou que mesmo assim ndash e sobretudo apoacutes o surto recente de pressotildees protecionistas nos Estados Unidos ndash interessa aos paiacuteses em desenvolvimento promover o sistema multilateral de comeacutercio Casos como EmbraerBombardier e a controveacutersia sobre patentes farmacecircuticas jaacute se tornaram siacutembolos de situaccedilotildees em que estrateacutegias negociadoras bem fundamentadas conseguem preservar interesses nacionais legiacutetimos Aleacutem de conferir maior credibilidade agrave OMC e agraves posiccedilotildees defendidas pelo Brasil nas negociaccedilotildees em curso esses casos tambeacutem se revelaram instrumentais para fomentar o diaacutelogo bilateral com diversos parceiros importantes como Japatildeo China Iacutendia Austraacutelia e Aacutefrica do Sul

Aleacutem de promover a OMC outro toacutepico prioritaacuterio da poliacutetica comercial brasileira eacute a reconstruccedilatildeo do MERCOSUL que tem desempenhado um papel estrateacutegico na defesa dos interesses brasileiros no plano multilateral nas negociaccedilotildees sobre a criaccedilatildeo de uma Aacuterea de Livre Comeacutercio das Ameacutericas (ALCA) e no diaacutelogo com a Uniatildeo Europeacuteia O MERCOSUL eacute importante por razotildees de

geografia econocircmica os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo internacional natildeo constituem anomalias efecircmeras mas foram gerados gradualmente ao longo de vaacuterias deacutecadas em decorrecircncia da dicotomia acima referida entre custos de informaccedilatildeo e de transporte Portanto a menos que os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo venham a ser redefinidos por outra revoluccedilatildeo tecnoloacutegica as metas da integraccedilatildeo regional continuaratildeo a ser prioritaacuterias para o Brasil

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwfazendagovbr httpwwwmdicgovbr httpwwwbndesgovbr httpwww1bcbgovbr httpwwwipeagovbr httpwwwmpogovbr

Mercado de Trabalho por Paulo Machado

A integraccedilatildeo competitiva da economia brasileira agrave economia global e a conquista da estabilidade influenciaram estruturalmente o funcionamento do mercado de trabalho do Paiacutes Foram registradas na deacutecada 1990 e ao longo dos uacuteltimos anos dinacircmicas particularmente relevantes nos quesitos emprego formalidade e renda dos trabalhadores o que exigiu mudanccedilas substantivas na atuaccedilatildeo das instituiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees trabalhistas

A evoluccedilatildeo do emprego pode ser melhor compreendida recorrendo-se aos dados da Pesquisa Mensal de Emprego ndash PMEIBGE visto que sua metodologia obedece a criteacuterios internacionalmente aceitos A taxa de desemprego medida pela PMEIBGE atingiu 76 em 1999 caiu para 71 em 2000 e reduziu-se novamente para 62 em 2001 atingindo entatildeo seu ponto mais baixo nos uacuteltimos quatro anos

Uma primeira anaacutelise dessa trajetoacuteria poderia sugerir que 2001 foi o ano em que o mercado de trabalho brasileiro teve seu melhor desempenho No entanto em 2000 foram criados em termos liacutequidos cerca de 700 mil postos de trabalho enquanto que em 2001 esse resultado atingiu aproximadamente 106 mil Observa-se assim que o desempenho do mercado de trabalho natildeo pode ser avaliado exclusivamente pela trajetoacuteria da taxa de desemprego Igualmente importante eacute medir a capacidade da economia de gerar saldos positivos de postos de trabalho Para corroborar essa situaccedilatildeo entre janeiro e junho de 2002 a PMEIBGE registra um aumento da ordem de cerca de 192 mil postos de trabalho considerando-se apenas as 6 regiotildees metropolitanas pesquisadas (Belo Horizonte Porto Alegre Recife Rio de Janeiro Salvador e Satildeo Paulo) No entanto como a taxa de desemprego resulta do cruzamento entre o nuacutemero de postos gerados e a quantidade de pessoas procurando emprego houve um pequeno crescimento do desemprego no primeiro semestre de 2002 atingindo na meacutedia 72 Essa aparente contradiccedilatildeo se explica pelo fato de que mais pessoas tem-se sentido incentivadas a procurar emprego o que provavelmente reflete expectativas mais favoraacuteveis quanto agrave perspectiva de obtenccedilatildeo de emprego Somente nos seis primeiros meses de

2002 aproximadamente 434 mil pessoas entraram no mercado de trabalho Destas cerca de 262 mil satildeo oriundas do desalento ou seja satildeo trabalhadores que haviam desistido de procurar emprego mas devido ao bom desempenho do mercado de trabalho vislumbraram novamente a chance de ter um emprego

A taxa meacutedia de desemprego dos primeiros seis meses do ano de 2002 carrega uma certa sazonalidade negativa pois trata-se de um periacuteodo tipicamente marcado por taxas mais elevadas Nesse contexto eacute razoaacutevel esperar que a taxa de desemprego recue a partir do terceiro trimestre Vale destacar que a taxa de desemprego brasileira da ordem de 75 em junho ainda eacute a mais baixa da Ameacuterica do Sul e uma das menores da Ameacuterica Latina

Em termos setoriais ao longo da deacutecada de 1990 a induacutestria de transformaccedilatildeo registrou reduccedilatildeo no niacutevel meacutedio de ocupaccedilatildeo experimentando a chamada desindustrializaccedilatildeo do emprego Por sua vez os serviccedilos e o comeacutercio apresentaram as maiores elevaccedilotildees na ocupaccedilatildeo meacutedia expressando um processo ascendente de terceirizaccedilatildeo do emprego Com efeito o mundo do trabalho tem sofrido raacutepidas e radicais transformaccedilotildees por meio da automaccedilatildeo da roboacutetica e da telemaacutetica Trata-se de um processo de substituiccedilatildeo de paradigmas na concepccedilatildeo da estrutura produtiva que se acentua a partir dos anos 80 A crescente automaccedilatildeo da produccedilatildeo processo que se acelerou a partir do iniacutecio da deacutecada de 1970 resultou na reduccedilatildeo da importacircncia do setor secundaacuterio da economia como empregador de matildeo-de-obra A atividade industrial maior geradora de empregos nos anos 70 perdeu essa posiccedilatildeo para o setor de serviccedilos nas deacutecadas de 1980 e 1990 Em 1992 o setor terciaacuterio e a induacutestria de transformaccedilatildeo respondiam respectivamente por 716 e 198 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelio ndash PNADIBGE Em 1998 o setor terciaacuterio abrigava 737 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola e mais da metade da populaccedilatildeo ocupada do Paiacutes enquanto o setor secundaacuterio reduziu sua participaccedilatildeo para 179

Com relaccedilatildeo agrave qualidade dos viacutenculos empregatiacutecios os indicadores mostram-se positivos sob a forma da geraccedilatildeo consistente de postos de trabalho formais entre 1994 e 2002 Conforme dados da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais ndash RAISMTE o nuacutemero de empregados cresceu de 237 milhotildees em 1994 para aproximadamente 268 milhotildees em 2001 Em fins de 2001 portanto havia cerca de 31 milhotildees de pessoas a mais empregadas formalmente quando comparadas agrave mesma data de 1994 O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ndash CAGEDMTE igualmente corrobora a manutenccedilatildeo da trajetoacuteria de recuperaccedilatildeo dos postos de trabalho em 2002 Em junho uacuteltimo o CAGEDMTE registrou a criaccedilatildeo de 133 mil novas vagas o que significa um saldo acumulado de aproximadamente 681 mil postos de trabalho em 2002 Trata-se da melhor performance de toda a seacuterie histoacuterica do CAGEDMTE (iniciado em 1985) quando se compara os primeiros seis meses de 2002 ao mesmo periacuteodo dos anos anteriores Assim de janeiro de 2000 a junho de 2002 registra-se um saldo positivo de 19 milhatildeo de novos postos de trabalho formais

Com relaccedilatildeo agrave renda dos trabalhadores deve-se destacar o crescimento real do salaacuterio miacutenimo entre 1991 e 2002 O salaacuterio miacutenimo apresentou tendecircncia oscilante entre 1990 e 1994 (variando entre os poacutelos extremos representados por R$12865 em 1990 e R$14541 em 1993) assumindo trajetoacuteria continuamente ascendente a partir de 1995 ateacute atingir o valor real de R$18943 em 2002 (meacutedia de janeiro a maio deflacionada pelo INPC a preccedilos de maio de 2002) quando o valor nominal do salaacuterio miacutenimo atingiu R$20000 Por sua vez o rendimento meacutedio real dos ocupados foi de R$68910 na meacutedia do periacuteodo 1990-1994 apresentando crescimento da ordem de 1832 no periacuteodo 1995-2001 quando chega agrave meacutedia de R$81533 A massa de rendimento real tanto para o total dos ocupados quanto para os trabalhadores assalariados (com e sem carteira assinada) cresceu de forma consistente entre 1992 e 1997 com um comportamento oscilante a partir de entatildeo Comparando o periacuteodo 1995-2001 com o periacuteodo anterior 1991-1994 observa-se um crescimento

da massa de renda real meacutedia tanto para o conjunto dos ocupados (2407) quanto para os trabalhadores assalariados (516)

O Governo Federal brasileiro por seu turno empenhado em corrigir as distorccedilotildees inerentes agrave evoluccedilatildeo do mercado de trabalho vem desenvolvendo programas de fomento ao emprego e ao trabalho e de proteccedilatildeo e assistecircncia ao trabalhador contando com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador ndash FAT Seu objetivo eacute criar mecanismos que permitam a melhoria das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade de vida do trabalhador destacando-se as accedilotildees nas aacutereas de qualificaccedilatildeo profissional seguro-desemprego abono salarial geraccedilatildeo de emprego e renda inspeccedilatildeo do trabalho e legislaccedilatildeo trabalhista

Em 1995 o Governo Federal por meio do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego instituiu o Plano Nacional de Qualificaccedilatildeo do Trabalhador ndash PLANFOR visando assegurar a integraccedilatildeo do trabalhador ao mercado de trabalho e promover assim o aumento de sua empregabilidade produtividade e renda Financiado majoritariamente com recursos do FAT o PLANFOR eacute executado de forma descentralizada por instituiccedilotildees de formaccedilatildeo profissional sob responsabilidade das Secretarias Estaduais de Trabalho (em interaccedilatildeo com as Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego ampliando a participaccedilatildeo social e a sintonia com as demandas do setor produtivo) e das Parcerias Nacionais realizadas predominantemente com entidades patronais e associaccedilotildees sindicais O PLANFOR focaliza sua atuaccedilatildeo em populaccedilotildees vulneraacuteveis dotadas de maior dificuldade de acesso a outras alternativas de qualificaccedilatildeo em decorrecircncia de situaccedilotildees de pobreza baixa escolaridade ou discriminaccedilatildeo no mercado de trabalho No periacuteodo 1995-2001 foram qualificadas 153 milhotildees de pessoas com recursos da ordem de R$ 23 bilhotildees

O Seguro-Desemprego constitui uma accedilatildeo de amparo aos trabalhadores demitidos sem justa causa Na deacutecada de 1990 o pagamento do benefiacutecio do seguro-desemprego ajudou a preservar em meacutedia cerca de 13 da renda de salaacuterio do trabalhador formal do setor privado dispensado sem justa causa considerando a remuneraccedilatildeo meacutedia mensal do trabalhador com carteira assinada Entre 1994 e 2001 foram concedidos 354 milhotildees de benefiacutecios com recursos da ordem de R$282 bilhotildees Para o periacuteodo que se estende de 1995 a 2001 tiveram acesso ao programa 442 milhotildees de trabalhadores por ano em meacutedia de um total meacutedio de 45 milhotildees de requerimentos ao custo meacutedio anual de aproximadamente R$ 468 bilhotildees (em R$ de dezembro de 2001) O nuacutemero meacutedio de beneficiaacuterios no periacuteodo supera a meacutedia de beneficiaacuterios do periacuteodo 1990-94 em cerca de 20 Uma das causas do crescimento do volume de segurados eacute a flexibilizaccedilatildeo dos criteacuterios para a sua concessatildeo visto que a partir da segunda metade da deacutecada de 1990 houve reduccedilatildeo do tempo de viacutenculo empregatiacutecio necessaacuterio para o acesso ao benefiacutecio

O Abono Salarial eacute uma iniciativa de assistecircncia ao trabalhador consistindo no pagamento anual de um salaacuterio miacutenimo a trabalhadores dos setores privado e puacuteblico que atendam a determinados requisitos dentre eles a percepccedilatildeo de remuneraccedilatildeo meacutedia mensal natildeo superior a dois salaacuterios miacutenimos no ano de referecircncia Calcula-se que o impacto do abono na renda anual do trabalhador seja em meacutedia de 5 o que corresponde a uma complementaccedilatildeo de renda significativa para esse segmento de trabalhadores de baixa renda No mecircs que eacute pago o benefiacutecio o impacto na renda pode alcanccedilar aproximadamente 70 funcionando como um 14ordm salaacuterio aos trabalhadores de mais baixos salaacuterios No periacuteodo de 1995-2001 foram liberados em meacutedia 54 milhotildees de abonos salariais por ano nuacutemero 23 superior agrave meacutedia do periacuteodo 1990-1994 que consistiu em 44 milhotildees de abonos anuais

O Programa de Geraccedilatildeo de Emprego e Renda ndash PROGER vem-se consolidando como um dos principais instrumentos de que dispotildee o Governo para incrementar a poliacutetica puacuteblica de geraccedilatildeo de

emprego e renda e melhoria da qualidade de vida do trabalhador Sua operacionalizaccedilatildeo ocorre mediante concessatildeo de creacuteditos em condiccedilotildees especiais destinados ao financiamento de atividades produtivas nos setores formal e informal da economia nas aacutereas urbana e rural O PROGER Urbano possui como puacuteblicos-alvo as micro e pequenas empresas cooperativas e associaccedilotildees de produccedilatildeo bem como os profissionais liberais receacutem-formados trabalhadores autocircnomos prestadores de serviccedilo em geral artesatildeos e pequenos e micro negoacutecios familiares O PROGER Rural por sua vez atende prioritariamente aos pequenos produtores rurais de forma individual ou coletiva inclusive agraves atividades pesqueira extrativa vegetal e de aquumlicultura A concessatildeo dos creacuteditos eacute vinculada agrave realizaccedilatildeo de programas de capacitaccedilatildeo teacutecnico-gerencial qualificaccedilatildeo profissional assistecircncia teacutecnica e acompanhamento dos empreendimentos beneficiados As operaccedilotildees de creacutedito tecircm como agentes financeiros os seguintes bancos oficiais Banco do Brasil Banco do Nordeste do Brasil Caixa Econocircmica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social ndash BNDES Entre 1995 e 2001 foram realizadas aproximadamente 860 mil operaccedilotildees totalizando investimentos da ordem de R$69 bilhotildees

A Inspeccedilatildeo do Trabalho volta-se para o combate agrave informalidade agregando agraves accedilotildees tiacutepicas da fiscalizaccedilatildeo do trabalho mecanismos para facilitar a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de trabalhadores nas empresas tais como as mesas de entendimento e o condomiacutenio de empregadores A formalizaccedilatildeo dos contratos de trabalho estende as garantias trabalhistas e previdenciaacuterias aos trabalhadores desamparados do sistema laboral legal A intensificaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo do trabalho contribuiu para a formalizaccedilatildeo de um total de 21 milhotildees de viacutenculos empregatiacutecios inicialmente desprotegidos no periacuteodo de 1996 a 2001

Finalmente o Governo brasileiro apresentou ao longo dos uacuteltimos anos vaacuterias propostas de modernizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista com vistas a adequaacute-la aos novos padrotildees de relaccedilatildeo entre capital e trabalho A tocircnica desse conjunto de propostas eacute o reforccedilo agrave via negocial para a soluccedilatildeo dos conflitos inerentes agraves relaccedilotildees de trabalho Cabe destaque agraves seguintes iniciativas Banco de Horas (sistema de compensaccedilatildeo de horas extras previamente autorizado em convenccedilatildeo ou acordo coletivo que permite agrave empresa adequar as jornadas de trabalho agraves variaccedilotildees sazonais mediante a diminuiccedilatildeo proporcional da jornada em periacuteodos de decliacutenio da demanda) Mesas de Entendimento (mecanismo de fiscalizaccedilatildeo de caraacuteter pedagoacutegico natildeo punitivo buscando regularizar a situaccedilatildeo que suscitou a accedilatildeo fiscal por meio de entendimentos entre a fiscalizaccedilatildeo a empresa e os trabalhadores consubstanciados em um Termo de Compromisso) Condomiacutenio dos Empregadores (uniatildeo de produtores rurais ndash pessoas fiacutesicas com a finalidade de contratar trabalhadores rurais que prestaratildeo serviccedilos exclusivamente para seus condocircminos estimulando a formalizaccedilatildeo dos viacutenculos empregatiacutecios no campo) aleacutem de accedilotildees voltadas para a inserccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia no mercado de trabalho por meio de modalidades como a colocaccedilatildeo seletiva

Essas satildeo as linhas gerais de estruturaccedilatildeo do mercado de trabalho brasileiro e de atuaccedilatildeo do Governo Federal nos uacuteltimos anos Os impactos no mercado de trabalho inerentes ao processo de integraccedilatildeo da economia nacional agrave economia global satildeo consideraacuteveis Nesse contexto o Governo brasileiro ciente dos desafios que lhe satildeo postos estaacute empenhado em criar e manter as condiccedilotildees macroeconocircmicas favoraacuteveis e em implementar as poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo do emprego e da renda necessaacuterias para a construccedilatildeo de um futuro mais proacutespero para todos

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmtbgovbr httpwwwmpasgovbr

Dinacircmica Demograacutefica por Manoel A Costa

A populaccedilatildeo brasileira teve um aumento de 313 milhotildees de pessoas durante os 68 anos que separam a realizaccedilatildeo do primeiro recenseamento em 1872 do quinto em 1940 De acordo com os cinco censos desse periacuteodo a populaccedilatildeo nacional era constituiacuteda de 99 milhotildees em 1872 143 milhotildees em 1890 174 milhotildees em 1900 306 milhotildees em 1920 e finalmente 412 milhotildees em 1940 A partir desse ano e durante os 51 anos seguintes o contingente nacional aumentou pouco mais de 100 milhotildees de pessoas ateacute a data do Censo de 1991 e de acordo com o uacuteltimo censo de 1996 nestes quatro anos houve um acreacutescimo de cerca de 7 milhotildees de pessoas na populaccedilatildeo brasileira

A tabela sobre populaccedilatildeo apresenta alguns indicadores da dinacircmica demograacutefica a partir de 1940 taxas de natalidade de mortalidade de crescimento natural e de crescimento total prevalecentes durante os periacuteodos que separam a realizaccedilatildeo dos levantamentos estatiacutesticos complementando-os com estimativas ateacute os primeiros dez anos do seacuteculo XXI Aleacutem disso a tabela apresenta a evoluccedilatildeo do aumento da populaccedilatildeo e estimativas do nuacutemero de nascidos vivos para cada periacuteodo decenal

O incremento decenal da populaccedilatildeo aumentou significativa e continuamente ateacute os anos 70 apesar de a taxa de crescimento ter comeccedilado a declinar a partir de 1955 Enquanto entre 1940-1950 ocorreu um aumento de 109 milhotildees de habitantes entre 1980-1990 a populaccedilatildeo nacional aumentou em 248 milhotildees embora a taxa meacutedia anual de crescimento tenha se reduzido de 239 aa durante o primeiro periacuteodo para 193 anuais no uacuteltimo Estima-se que ocorreraacute um expressivo aumento populacional da ordem de 21 milhotildees de pessoas durante o uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX e os primeiros dez anos do seacuteculo XXI ainda que a taxa de crescimento continue se reduzindo

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwibgegovbr

A Transiccedilatildeo Demograacuteficapor Manoel A Costa

Nos anos 80 consolidou-se a transiccedilatildeo demograacutefica brasileira Tambeacutem neste periacuteodo registrou-se pela primeira vez na histoacuteria do Brasil um numeroso fluxo emigratoacuterio de matildeo-de-obra Estima-se que um contigente de 13 milhatildeo de brasileiros emigrou para o exterior durante esses anos

A transiccedilatildeo demograacutefica nacional apoacutes um iniacutecio moderado na segunda metade dos anos 60 transcorreu com uma aceleraccedilatildeo crescente durante as duas deacutecadas seguintes por causa da raacutepida reduccedilatildeo da fecundidade e resultou na reduccedilatildeo do crescimento demograacutefico natural da populaccedilatildeo de um ritmo elevado de 299 ao ano entre 1950-1960 praticamente ineacutedito ateacute entatildeo entre populaccedilotildees numerosas para o niacutevel de 193 meacutedios anuais entre 1980-1991

Estima-se que a fecundidade continuaraacute se reduzindo e se aproximaraacute num futuro natildeo muito distante do niacutevel de reposiccedilatildeo de 21 filhos por mulher em idade feacutertil Partindo de uma simulaccedilatildeo com essa perspectiva prevecirc-se que a taxa de crescimento da populaccedilatildeo nacional ficaraacute abaixo de 10 anual a partir de 2015-2020 e abaixo de 05 depois de 2035 Seguindo essa tendecircncia a

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

Urbanizaccedilatildeo do Territoacuterio por Eliza Pinto de Almeida

Durante seacuteculos a urbanizaccedilatildeo brasileira ocorreu em pontos isolados como verdadeiras ilhas tornando-se generalizada somente a partir do seacuteculo XX Pode-se dizer que Salvador comandou a primeira rede urbana do paiacutes mantendo sua primazia ateacute meados do seacuteculo XVIII quando a capital da colocircnia se transfere para a cidade do Rio de Janeiro As relaccedilotildees entre o litoral e o interior eram fraacutegeis neste periacuteodo O povoamento e as riquezas geradas pela agricultura e a mineraccedilatildeo ensaiaram os primeiros passos rumo ao processo de urbanizaccedilatildeo

Em fins do seacuteculo XIX o Brasil assiste ao crescimento do fenocircmeno de urbanizaccedilatildeo do territoacuterio Satildeo Paulo liacuteder na produccedilatildeo cafeeira inicia a formaccedilatildeo de uma rede de cidades envolvendo os estados do Rio Janeiro e de Minas Gerais

Mas seraacute apenas em meados do seacuteculo XX quando ocorre a unificaccedilatildeo dos meios de transporte e comunicaccedilatildeo que as condiccedilotildees se tornam propiacutecias para uma verdadeira integraccedilatildeo do territoacuterio Modificam-se substancialmente os fluxos econocircmicos e demograacuteficos conferindo um novo valor aos lugares

A partir da deacutecada de 70 ocorre a difusatildeo generalizada das modernizaccedilotildees tanto no campo como na cidade A construccedilatildeo e expansatildeo de estradas de rodagem e a criaccedilatildeo de um moderno sistema de telecomunicaccedilotildees possibilitaram maior fluidez no territoacuterio aleacutem de permitir a unificaccedilatildeo do mercado em escala nacional

Cresce o consumo de bens materiais e imateriais como educaccedilatildeo e sauacutede transformando as funccedilotildees urbanas A rede urbana torna-se mais complexa pois tanto o campo como a cidade respondem agraves novas condiccedilotildees de realizaccedilatildeo da economia contemporacircnea Na atual fase a urbanizaccedilatildeo do territoacuterio tem muacuteltiplas implicaccedilotildees tais como o ritmo de crescimento mais lento das cidades milionaacuterias e concomitante a essa tendecircncia o crescimento das cidades locais e das cidades meacutedias Em 1980 o paiacutes contava com 142 cidades com mais de 100 mil habitantes e em 1991 eram 187 A participaccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira cresce tambeacutem nessas cidades meacutedias elevando-se de 137 em 1970 para 167 em 1991 A densidade econocircmica do territoacuterio leva agrave crescente especializaccedilatildeo das cidades que tecircm um papel cada vez mais ativo no paiacutes

Processo Migratoacuterio por Liacutedia Antongiovanni

O processo migratoacuterio no Brasil apresenta duas grandes marcas Com a colonizaccedilatildeo do paiacutes desde o seacuteculo XVI vieram para caacute europeus e negros africanos Estes uacuteltimos foram trazidos como matildeo-de-obra escrava inicialmente para a cultura da cana-de-accediluacutecar Iacutendios negros africanos e brancos europeus (na sua maioria portugueses e espanhoacuteis) compuseram a ocupaccedilatildeo do Brasil

Na segunda metade do seacuteculo XIX somam-se dois processos que resultam num rearranjo daquele momento inicial a expansatildeo da fronteira econocircmica e um processo gradativo de aboliccedilatildeo da escravidatildeo Ambos convergiam para a decisatildeo dos colonizadores em ampliar a participaccedilatildeo de brancos europeus na formaccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira Este quadro propiciou a vinda de outros

europeus - italianos alematildees austriacuteacos huacutengaros eslavos siacuterios libaneses suiacuteccedilos - que mais tarde se juntam aos asiaacuteticos

A segunda grande marca da migraccedilatildeo brasileira eacute resultado da integraccedilatildeo e modernizaccedilatildeo do territoacuterio e da ampliaccedilatildeo das trocas comerciais e do consumo marcadamente a partir da deacutecada de 1950 Intensifica-se a partir deste momento a urbanizaccedilatildeo e a correlata migraccedilatildeo interna O Brasil ateacute entatildeo um paiacutes agriacutecola vai conhecer neste periacuteodo uma acentuaccedilatildeo do ecircxodo rural levando agrave inversatildeo dos nuacutemeros correspondentes agrave localizaccedilatildeo da populaccedilatildeo de maioria rural em 1940 para maioria urbana em 1970

A industrializaccedilatildeo associada agrave urbanizaccedilatildeo mais intensa no Sudeste acelera esse processo e atrai milhares de pessoas do Nordeste para o Centro-sul em especial nas deacutecadas de 60 e 70 Eacute neste periacuteodo que se inicia o processo de metropolizaccedilatildeocom os anos 60 marcando um significativo ponto de inflexatildeo Na deacutecada de 70 a expansatildeo de novas fronteiras agriacutecolas e econocircmicas na regiatildeo Norte leva ao deslocamento de milhotildees de pessoas para o Centro-oeste e para a Amazocircnia para onde migram nordestinos e mais recentemente os sulistas

Na deacutecada de 90 eacute detectado um processo de desmetropolizaccedilatildeo associado ao ecircxodo urbano isto eacute movimento numeroso de populaccedilatildeo entre cidades de diversos tamanhos e diversas regiotildees A difusatildeo da modernizaccedilatildeo no interior propicia uma migraccedilatildeo para as cidades menores A regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo por exemplo apresenta de 1980 a 1991 um crescimento vegetativo de 10971 e um saldo migratoacuterio de -971 Trata-se para a uacuteltima deacutecada de um salto migratoacuterio negativo para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Um fato novo na histoacuteria da migraccedilatildeo brasileira especialmente nos uacuteltimos anos eacute a saiacuteda crescente de brasileiros para a Europa Ameacuterica do Norte e Japatildeo Migraccedilatildeo essa geralmente associada a descendentes dos imigrantes que aqui chegaram na passagem do seacuteculo

Regiatildeo Concentrada por Maria Laura Silveira

Regiatildeo concentrada eacute a aacuterea onde os acreacutescimos de ciecircncia e tecnologia ao territoacuterio se verificam de modo contiacutenuo Expressatildeo mais intensa do meio teacutecnico-cientiacutefico-informacional essa regiatildeo abrange os estados do Sudeste (Espiacuterito Santo Rio de Janeiro Minas Gerais e Satildeo Paulo) os estados do Sul (Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e dois estados do Centro-oeste (Mato Grosso do Sul e Goiaacutes) tendo como poacutelo as metroacutepoles de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro

Nessa regiatildeo a modernizaccedilatildeo generalizada e a intensa circulaccedilatildeo interna e com outras regiotildees e paiacuteses correspondem a uma marcada divisatildeo territorial do trabalho Sede da agricultura mais moderna do Brasil e do mais expansivo desenvolvimento industrial e financeiro essa aacuterea concentra tambeacutem os niacuteveis superiores dos sistemas de sauacutede educaccedilatildeo lazer e serviccedilos modernos como a publicidade cujas demandas satildeo garantidas pelo consumo dessa grande concentraccedilatildeo produtiva e populacional

As metroacutepoles de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro sediam os escritoacuterios das mais poderosas firmas nacionais e das filiais das empresas globais que tecircm um papel de controle do mercado nacional e de comando do respectivo territoacuterio Eacute em Satildeo Paulo que se elabora e concentra a maior parcela das informaccedilotildees sobre a economia a sociedade e o territoacuterio A acumulaccedilatildeo de atividades intelectuais assegura a essa metroacutepole o predomiacutenio das atividades produtivas de ponta a funccedilatildeo de suporte aos

segmentos modernos da economia do paiacutes e em decorrecircncia um caraacuteter de encruzilhada na expansatildeo do meio teacutecnico-cientiacutefico-informacional Como o territoacuterio deve ser usado hoje com o conhecimento simultacircneo das accedilotildees empreendidas em lugares distantes a sua funccedilatildeo de centro informacional lhe concede uma nova hierarquia no sistema urbano brasileiro

Cidades Locais por Adriana Bernardes

O nuacutemero de cidades locais cresceu rapidamente a partir da deacutecada de 50 passando a ter um importante papel no funcionamento do sistema urbano Hoje este niacutevel na regiatildeo urbana eacute representado por cidades com populaccedilatildeo em torno de 20 mil habitantes

Anteriormente as sedes municipais guardavam praticamente apenas as funccedilotildees religiosas e administrativas voltadas agraves necessidades da vida rural Mas as cidades locais mudaram de conteuacutedo em consonacircncia com as exigecircncias desse periacuteodo histoacuterico Agora as funccedilotildees econocircmicas tecircm maior relevo na vida das cidades locais Integradas ao sistema produtivo do Paiacutes elas passaram a atender agrave crescente demanda por trabalho consumo educaccedilatildeo e lazer que o campo natildeo ofereceria

Com o advento da modernizaccedilatildeo e tecnificaccedilatildeo da agricultura principalmente nas uacuteltimas deacutecadas quando tambeacutem se instalam importantes induacutestrias agriacutecolas as cidades locais especializam-se para atender a determinados tipos de produccedilatildeo que se encontram no seu entorno Constituem sobretudo estoques de novos meios de consumo insumos creacutedito agriacutecola e matildeo-de-obra e satildeo centros de transportes e comunicaccedilotildees Boa parte dos trabalhadores agriacutecolas nas regiotildees mais modernas do Paiacutes vive na cidade onde tambeacutem se encontram novas categorias de profissionais o agrocircnomo o veterinaacuterio e o bancaacuterio entre outros que satildeo necessaacuterios agrave conduccedilatildeo e coordenaccedilatildeo de uma produccedilatildeo baseada no desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Cidades Meacutedias por Adriana Bernardes

Apoacutes a deacutecada de 50 amplia-se o nuacutemero de cidades meacutedias no Brasil em um contexto de redefiniccedilatildeo do porte dos nuacutecleos urbanos Na deacutecada de 90 definiu-se como cidade meacutedia o municiacutepio com populaccedilatildeo em torno de 100 mil habitantes

Satildeo muacuteltiplos os elementos que levam ao crescimento desse niacutevel urbano Entre eles destacam-se a dispersatildeo da induacutestria que ateacute haacute pouco tempo se concentrava em aacutereas metropolitanas a modernizaccedilatildeo do campo a proximidade das induacutestrias agriacutecolas e as novas formas de consumo material e de consumo imaterial Esse fenocircmeno eacute geral mas tem particular expressatildeo na aacuterea mais desenvolvida do Paiacutes Por tratar-se da aacuterea mais densamente urbanizada do territoacuterio nacional tem condiccedilotildees de adaptar-se agraves novas exigecircncias do periacuteodo histoacuterico atual

Graccedilas agraves cidades meacutedias estaacute ocorrendo a redistribuiccedilatildeo das classes meacutedias pelo territoacuterio associada agrave presenccedila de um nuacutemero crescente de letrados indispensaacuteveis aos novos modos de produccedilatildeo a que presidem Com a difusatildeo desde os anos 70 do ensino universitaacuterio no Paiacutes muitas dessas cidades satildeo em certos estados importantes centros de pesquisa

As atuais cidades meacutedias exercem atraccedilatildeo para os fluxos migratoacuterios e algumas delas estatildeo atingindo o estaacutegio sub-metropolitano cuja dimensatildeo iraacute variar segundo as regiotildees

Interiorizaccedilatildeo por Eliza Pinto de Almeida

O Brasil durante trecircs seacuteculos consecutivos teve um povoamento predominantemente litoracircneo A pecuaacuteria no sertatildeo nordestino foi a primeira atividade a impulsionar a ocupaccedilatildeo do interior Em meados do seacuteculo XVIII no que hoje satildeo os estados de Goiaacutes Mato Grosso Bahia e Minas Gerais amplia-se o processo de interiorizaccedilatildeo graccedilas agrave mineraccedilatildeo do ouro e das pedras preciosas Grandes fluxos migratoacuterios deslocam-se para essa aacuterea onde surgem paralelamente numerosas cidades

A extremidade meridional do atual territoacuterio brasileiro foi durante muito tempo disputada por portugueses e espanhoacuteis Somente em princiacutepios do seacuteculo XVIII eacute que essa regiatildeo seraacute incorporada ao territoacuterio brasileiro quando o governo portuguecircs destaca tropas de defesa para a aacuterea Ao mesmo tempo uma corrente de povoadores oriundos de Satildeo Paulo se estabelece no atual estado do Rio Grande do Sul Graccedilas agraves excelentes condiccedilotildees naturais a pecuaacuteria pocircde desenvolver-se plenamente nessa regiatildeo

Frentes pioneiras no seacuteculo XIX efetivaram a ocupaccedilatildeo do interior do estado de Satildeo Paulo Com as ferrovias novas aacutereas satildeo anexadas agrave produccedilatildeo cafeeira e assim muitas cidades nascem ligadas a essa atividade Satildeo Paulo se torna um poacutelo dinacircmico de vastas aacutereas que abrangem os estados do Sul do Paiacutes aleacutem de parcelas de Minas Gerais e Rio de Janeiro

A Amazocircnia teraacute a sua ocupaccedilatildeo consolidada no final do seacuteculo XIX a partir da crescente procura da borracha nos mercados europeus que estimulou a exploraccedilatildeo econocircmica desse produto e acabou desencadeando um intenso fluxo migratoacuterio vindo principalmente do Nordeste

No entanto as relaccedilotildees entre os lugares eram inconstantes natildeo havendo uma integraccedilatildeo entre as diversas regiotildees do Paiacutes A agricultura comercial e a mineraccedilatildeo foram a base do povoamento do territoacuterio brasileiro mas o seu desenvolvimento se deu em subespaccedilos que evoluiacuteam segundo loacutegicas proacuteprias ditadas em grande parte por suas relaccedilotildees com o mundo exterior

Mas seraacute no poacutes-Segunda Guerra com os investimentos em infra-estrutrura que ocorreraacute extensiva e intensamente a ocupaccedilatildeo do territoacuterio brasileiro A construccedilatildeo de Brasiacutelia inaugurada em 1960 eacute um siacutembolo desse processo de interiorizaccedilatildeo Procurou-se promover a integraccedilatildeo do Centro-oeste e da Amazocircnia ao conjunto da economia nacional atraveacutes da implantaccedilatildeo de projetos agropecuaacuterios e da construccedilatildeo de rodovias de integraccedilatildeo nacional Essas medidas intensificaram os fluxos de capitais e as migraccedilotildees para essas regiotildees

Metropolizaccedilatildeo por Adriana Bernardes

Com a industrializaccedilatildeo a mecanizaccedilatildeo da agricultura e o ecircxodo rural algumas cidades brasileiras passaram a acolher enormes contingentes populacionais em busca de emprego e acesso a serviccedilos diversos Ateacute 1960 somente as cidades de Satildeo Paulo e Rio de Janeiro tinham mais de 1 milhatildeo de habitantes e poderiam ser consideradas metroacutepoles A polarizaccedilatildeo de funccedilotildees industriais e

administrativas respectivamente nestes dois centros urbanos atraiacuteram grande parte do fluxo migratoacuterio nacional dos anos 50 e 60

Na deacutecada de 70 o crescimento de grandes cidades ocorre em todas as regiotildees do Paiacutes caracterizando o processo de metropolizaccedilatildeo no Brasil Em 1973 foram criadas oficialmente nove regiotildees metropolitanas ao redor das cidades de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Beleacutem Fortaleza Recife Salvador Belo Horizonte Porto Alegre e Curitiba

Entre 1950 e 1980 a participaccedilatildeo das atuais regiotildees metropolitanas no total da populaccedilatildeo brasileira saltou de 1795 para 2893 iacutendice que se manteve praticamente inalterado no iniacutecio da deacutecada de 90 Aleacutem das regiotildees mencionadas acima existem cidades que polarizam grandes parcelas do contingente populacional urbano e que na praacutetica se caracterizam como regiotildees metropolitanas Satildeo as chamadas cidades milionaacuterias como Brasiacutelia Goiacircnia Manaus Santos e Campinas

Diferenccedilas Regionais por Liacutedia Antongiovanni

O Brasil apresenta os mais variados aspectos naturais que aliados agraves diferentes atividades econocircmicas e aos processos de povoamento e interiorizaccedilatildeo caracterizam sua diversidade regional Com o objetivo de executar um planejamento nacional o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) dividiu o paiacutes em cinco grandes regiotildees Norte (Acre Amapaacute Amazonas Rondocircnia Roraima Paraacute Tocantins) Nordeste (Maranhatildeo Piauiacute Cearaacute Rio Grande do Norte Paraiacuteba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia) Sudeste (Minas Gerais Espiacuterito Santo Rio de Janeiro Satildeo Paulo) Sul (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul) e Centro-oeste (Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiaacutes Distrito Federal)

O Sul e o Sudeste satildeo densamente povoados com destacada atividade agriacutecola industrial e de serviccedilos Estas regiotildees acompanharam as modernizaccedilotildees desde o fim do seacuteculo XIX o que propiciou a urbanizaccedilatildeo e uma vida de relaccedilotildees muito dinacircmicas Mas o Sudeste tem o maior desenvolvimento industrial e de serviccedilos o que lhe garante com a presenccedila de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro um papel de comando da economia nacional

Na regiatildeo Norte comumente chamada de Amazocircnia os traccedilos naturais tecircm grande importacircncia e suas riquezas dominam a vida econocircmica A partir da deacutecada de 70 instalou-se uma agricultura moderna e uma pequena atividade industrial Esta regiatildeo de ocupaccedilatildeo rarefeita (33 habkm2 em 2000) tem atualmente uma nova dinacircmica populacional a do aumento da populaccedilatildeo associado ao fenocircmeno da concentraccedilatildeo urbana

O Nordeste eacute uma regiatildeo de velho povoamento fato que marca ainda hoje suas relaccedilotildees As secas com periacuteodos de longa estiagem satildeo em parte responsaacuteveis por movimentos populacionais desde o seacuteculo XVII Esta regiatildeo apresenta duas grandes porccedilotildees o litoral e o sertatildeo O litoral concentra as cidades as atividades industriais e turiacutesticas No interior onde se encontra o sertatildeo algumas aacutereas de irrigaccedilatildeo permitem uma atividade agriacutecola constante e bastante tecnificada juntamente com a pecuaacuteria e a agricultura extensiva

Durante os seacuteculos XVII e XVIII o Centro-oeste foi alvo de exploraccedilatildeo mineira e paralelamente desenvolveu uma atividade pecuaacuteria que permanece ateacute hoje A partir da deacutecada de 70 os cerrados ateacute entatildeo praticamente vazios puderam ser ocupados modernamente em especial com o cultivo da

soja Na regiatildeo o investimento em rodovias e o processo de urbanizaccedilatildeo a integram ao Sudeste e Sul

Desconcentraccedilatildeo Industrial por Eliza Pinto de Almeida

A aceleraccedilatildeo do processo de industrializaccedilatildeo do Brasil ocorreu no poacutes-Segunda Guerra Mundial A integraccedilatildeo dos meios de transporte e de comunicaccedilatildeo e a unificaccedilatildeo do mercado em escala nacional permitiram que se ampliasse e diversificasse a produccedilatildeo industrial Essa atividade concentra-se na regiatildeo Sudeste do Brasil sobretudo no estado de Satildeo Paulo cuja capital se tornou o maior centro fabril do Paiacutes

A difusatildeo da modernizaccedilatildeo especialmente a partir da deacutecada de 70 modifica os sistemas de transportes e telecomunicaccedilotildees integrando o territoacuterio Por outro lado as mudanccedilas tecnoloacutegicas devidas agrave difusatildeo da informaacutetica e da eletrocircnica permitem um maior controle agrave distacircncia dos processos produtivos Tudo isso favorece a desconcentraccedilatildeo industrial com a instalaccedilatildeo de faacutebricas modernas em diversos pontos do Paiacutes

O estado de Satildeo Paulo na deacutecada 70 respondia por 5842 do valor da produccedilatildeo industrial do paiacutes e em 1990 esse iacutendice passa para 5283 Haacute tambeacutem uma tendecircncia ao crescimento da participaccedilatildeo industrial no interior paulista Fala-se por isso em esvaziamento da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e tambeacutem em desconcentraccedilatildeo industrial

Em 1970 tomando-se este estado como um todo a regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo detinha 7752 do Valor de Transformaccedilatildeo Industrial sendo que em 1990 essa participaccedilatildeo diminui para 5892

Os dados indicam que natildeo eacute mais a funccedilatildeo industrial que assegura a Satildeo Paulo um papel diretor na dinacircmica soacutecio-econocircmica e espacial mas sim o comando das atividades ligadas agrave produccedilatildeo e agrave gestatildeo da informaccedilatildeo que faz agora da metroacutepole paulista um importante centro informacional

Centro Informacional por Adriana Bernardes

Ao longo do seacuteculo XX a capital do estado de Satildeo Paulo se afirma como metroacutepole nacional principalmente pela forccedila de sua induacutestria Mas agora a metroacutepole paulistana se refuncionaliza passando a ser um grande centro urbano produtor de informaccedilotildees Sua primazia natildeo mais adveacutem de sua atividade fabril mas sim de sua capacidade de concentrar atividades de produccedilatildeo coleta classificaccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

Muda a qualidade do papel de comando de Satildeo Paulo sobre a totalidade do territoacuterio brasileiro Enquanto os nuacutemeros da produccedilatildeo e do emprego industrial diminuem aumenta a forccedila metropolitana no Paiacutes e no mundo graccedilas agrave presenccedila de um expressivo e sofisticado setor de serviccedilos Tal setor engloba atividades financeiras de consultoria publicidade marketing e pesquisa entre outras

A nova hierarquia do sistema urbano depende destes fluxos de informaccedilatildeo cujo controle atraveacutes da emissatildeo de mensagens ideacuteias e ordens garante agrave metroacutepole paulistana um papel regulador de um crescente nuacutemero de tarefas dispersas pelo Paiacutes

Sistema Rodoviaacuterio - Autopistas por Marcos Antonio de Moraes Xavier

Ateacute a primeira metade do seacuteculo XX de um modo geral as estradas de rodagem brasileiras representavam pequenos investimentos pontuais Natildeo havia um sistema que cobrisse todo o territoacuterio nacional Tais estradas em sua maioria eram caminhos de terra A constituiccedilatildeo de um sistema rodoviaacuterio nacional criando as ligaccedilotildees inter-regionais necessaacuterias ao processo de integraccedilatildeo ocorre a partir do empenho em equipar o territoacuterio para atender entre outras demandas o desenvolvimento da induacutestria paulista Um marco desta fase foi o Plano Viaacuterio Nacional de 1952 onde as rodovias jaacute aparecem como principal via de transporte

Desde os anos 50 e notadamente a partir dos anos 70 o sistema rodoviaacuterio brasileiro cresce acompanhado pela pavimentaccedilatildeo e duplicaccedilatildeo de rodovias que passam a formar autopistas modernas e raacutepidas Este crescimento destaca-se nas regiotildees Norte (20133) e Centro-oeste (15339) aacutereas onde o povoamento era rarefeito e que neste momento passam a ser aacutereas de avanccedilo do processo de interiorizaccedilatildeo

Atualmente encontramos nas regiotildees Sudeste Nordeste e Sul o maior nuacutemero de rodovias pavimentadas e as maiores densidades do sistema (extensatildeo em quilocircmetros do sistema rodoviaacuterio por 1 mil km2 de aacuterea)

O Brasil e a Economia Mundial Contemporacircnea por Joseacute Tavares de Arauacutejo Jr

Uma caracteriacutestica central do progresso tecnoloacutegico nas uacuteltimas trecircs deacutecadas tem sido o contraste entre o decliacutenio acelerado dos custos de informaccedilatildeo e a relativa estabilidade dos custos de transporte Este contraste vem alimentando as tendecircncias simultacircneas em direccedilatildeo agrave globalizaccedilatildeo de mercados e agrave regionalizaccedilatildeo das estruturas produtivas que marcaram a economia mundial no passado recente Estas tendecircncias por sua vez redefiniram os perfis de inserccedilatildeo internacional das economias domeacutesticas e as prioridades da agenda multilateral de comeacutercio

Os novos padrotildees de concorrecircncia internacional acentuaram a importacircncia da prestaccedilatildeo de serviccedilos da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e do investimento direto no exterior como fontes de sustentaccedilatildeo do desempenho exportador das economias nacionais Tais padrotildees reduziram a eficaacutecia dos instrumentos convencionais de poliacutetica comercial como tarifas quotas e salvaguardas ao mesmo tempo em que introduziram novos temas na agenda multilateral de comeacutercio como o uso de regulamentos domeacutesticos para proteger as induacutestrias da fronteira tecnoloacutegica e as praacuteticas anticompetitivas com dimensatildeo internacional

Do ponto de vista das economias nacionais a busca de eficiecircncia produtiva o estiacutemulo agrave inovaccedilatildeo e a melhoria das condiccedilotildees de inserccedilatildeo internacional das empresas domeacutesticas tornaram-se partes complementares de um desafio comum Para o governo isto implica natildeo apenas a convergecircncia das poliacuteticas industrial tecnoloacutegica e de comeacutercio exterior mas tambeacutem a coerecircncia de tais poliacuteticas com outras accedilotildees do governo nos planos macroeconocircmico e da regulaccedilatildeo das condiccedilotildees de concorrecircncia nos mercados domeacutesticos

Um desafio adicional impliacutecito no cenaacuterio contemporacircneo reside no fato de que a Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) natildeo dispotildee ainda dos instrumentos de regulaccedilatildeo necessaacuterios para lidar com os padrotildees de concorrecircncia em vigor Embora a reuniatildeo ministerial de Doha realizada em novembro de 2001 tenha ratificado o consenso da comunidade internacional quanto agrave necessidade de fortalecer a OMC na praacutetica tal consenso significou apenas que os paiacuteses membros estatildeo comprometidos a levar adiante a rodada de negociaccedilotildees mas natildeo autoriza qualquer previsatildeo otimista quanto aos resultados deste empreendimento no futuro proacuteximo dada a magnitude dos desafios que a OMC enfrenta atualmente

Um tema que bem ilustra as presentes limitaccedilotildees da OMC eacute o de poliacutetica de concorrecircncia que passou a desempenhar um papel central no plano internacional natildeo soacute para combater carteacuteis e fiscalizar a conduta das corporaccedilotildees transnacionais mas sobretudo para regular conflitos advindos da proteccedilatildeo agraves induacutestrias de alta tecnologia O debate sobre essas questotildees na OMC tem sido intenso desde dezembro de 1996 quando foi criado o Grupo de Trabalho sobre a Interaccedilatildeo entre Comeacutercio e Poliacutetica de Concorrecircncia Nos dois anos seguintes cerca de 170 documentos governamentais foram submetidos ao grupo cobrindo uma agenda substantiva que de fato foi bem aleacutem das relaccedilotildees entre comeacutercio e concorrecircncia A despeito da participaccedilatildeo ativa de praticamente todos os membros da OMC que dispotildeem de leis de concorrecircncia esse debate tem sido limitado por dois tipos de restriccedilotildees Por um lado qualquer acordo multilateral sobre regras de concorrecircncia soacute teraacute algum significado na medida em que todos os membros da OMC ou pelo menos sua grande maioria estiverem capacitados a aplicar aquelas normas em seus respectivos territoacuterios Por outro lado a OMC eacute uma instituiccedilatildeo desenhada para lidar essencialmente com atos de governos enquanto que o foco principal da poliacutetica de concorrecircncia eacute a conduta dos agentes econocircmicos

Em suma natildeo eacute provaacutevel que as principais fragilidades da OMC venham a ser superadas no futuro proacuteximo Entretanto a atuaccedilatildeo do Brasil naquele foacuterum durante os anos 90 demonstrou que mesmo assim ndash e sobretudo apoacutes o surto recente de pressotildees protecionistas nos Estados Unidos ndash interessa aos paiacuteses em desenvolvimento promover o sistema multilateral de comeacutercio Casos como EmbraerBombardier e a controveacutersia sobre patentes farmacecircuticas jaacute se tornaram siacutembolos de situaccedilotildees em que estrateacutegias negociadoras bem fundamentadas conseguem preservar interesses nacionais legiacutetimos Aleacutem de conferir maior credibilidade agrave OMC e agraves posiccedilotildees defendidas pelo Brasil nas negociaccedilotildees em curso esses casos tambeacutem se revelaram instrumentais para fomentar o diaacutelogo bilateral com diversos parceiros importantes como Japatildeo China Iacutendia Austraacutelia e Aacutefrica do Sul

Aleacutem de promover a OMC outro toacutepico prioritaacuterio da poliacutetica comercial brasileira eacute a reconstruccedilatildeo do MERCOSUL que tem desempenhado um papel estrateacutegico na defesa dos interesses brasileiros no plano multilateral nas negociaccedilotildees sobre a criaccedilatildeo de uma Aacuterea de Livre Comeacutercio das Ameacutericas (ALCA) e no diaacutelogo com a Uniatildeo Europeacuteia O MERCOSUL eacute importante por razotildees de

geografia econocircmica os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo internacional natildeo constituem anomalias efecircmeras mas foram gerados gradualmente ao longo de vaacuterias deacutecadas em decorrecircncia da dicotomia acima referida entre custos de informaccedilatildeo e de transporte Portanto a menos que os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo venham a ser redefinidos por outra revoluccedilatildeo tecnoloacutegica as metas da integraccedilatildeo regional continuaratildeo a ser prioritaacuterias para o Brasil

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwfazendagovbr httpwwwmdicgovbr httpwwwbndesgovbr httpwww1bcbgovbr httpwwwipeagovbr httpwwwmpogovbr

Mercado de Trabalho por Paulo Machado

A integraccedilatildeo competitiva da economia brasileira agrave economia global e a conquista da estabilidade influenciaram estruturalmente o funcionamento do mercado de trabalho do Paiacutes Foram registradas na deacutecada 1990 e ao longo dos uacuteltimos anos dinacircmicas particularmente relevantes nos quesitos emprego formalidade e renda dos trabalhadores o que exigiu mudanccedilas substantivas na atuaccedilatildeo das instituiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees trabalhistas

A evoluccedilatildeo do emprego pode ser melhor compreendida recorrendo-se aos dados da Pesquisa Mensal de Emprego ndash PMEIBGE visto que sua metodologia obedece a criteacuterios internacionalmente aceitos A taxa de desemprego medida pela PMEIBGE atingiu 76 em 1999 caiu para 71 em 2000 e reduziu-se novamente para 62 em 2001 atingindo entatildeo seu ponto mais baixo nos uacuteltimos quatro anos

Uma primeira anaacutelise dessa trajetoacuteria poderia sugerir que 2001 foi o ano em que o mercado de trabalho brasileiro teve seu melhor desempenho No entanto em 2000 foram criados em termos liacutequidos cerca de 700 mil postos de trabalho enquanto que em 2001 esse resultado atingiu aproximadamente 106 mil Observa-se assim que o desempenho do mercado de trabalho natildeo pode ser avaliado exclusivamente pela trajetoacuteria da taxa de desemprego Igualmente importante eacute medir a capacidade da economia de gerar saldos positivos de postos de trabalho Para corroborar essa situaccedilatildeo entre janeiro e junho de 2002 a PMEIBGE registra um aumento da ordem de cerca de 192 mil postos de trabalho considerando-se apenas as 6 regiotildees metropolitanas pesquisadas (Belo Horizonte Porto Alegre Recife Rio de Janeiro Salvador e Satildeo Paulo) No entanto como a taxa de desemprego resulta do cruzamento entre o nuacutemero de postos gerados e a quantidade de pessoas procurando emprego houve um pequeno crescimento do desemprego no primeiro semestre de 2002 atingindo na meacutedia 72 Essa aparente contradiccedilatildeo se explica pelo fato de que mais pessoas tem-se sentido incentivadas a procurar emprego o que provavelmente reflete expectativas mais favoraacuteveis quanto agrave perspectiva de obtenccedilatildeo de emprego Somente nos seis primeiros meses de

2002 aproximadamente 434 mil pessoas entraram no mercado de trabalho Destas cerca de 262 mil satildeo oriundas do desalento ou seja satildeo trabalhadores que haviam desistido de procurar emprego mas devido ao bom desempenho do mercado de trabalho vislumbraram novamente a chance de ter um emprego

A taxa meacutedia de desemprego dos primeiros seis meses do ano de 2002 carrega uma certa sazonalidade negativa pois trata-se de um periacuteodo tipicamente marcado por taxas mais elevadas Nesse contexto eacute razoaacutevel esperar que a taxa de desemprego recue a partir do terceiro trimestre Vale destacar que a taxa de desemprego brasileira da ordem de 75 em junho ainda eacute a mais baixa da Ameacuterica do Sul e uma das menores da Ameacuterica Latina

Em termos setoriais ao longo da deacutecada de 1990 a induacutestria de transformaccedilatildeo registrou reduccedilatildeo no niacutevel meacutedio de ocupaccedilatildeo experimentando a chamada desindustrializaccedilatildeo do emprego Por sua vez os serviccedilos e o comeacutercio apresentaram as maiores elevaccedilotildees na ocupaccedilatildeo meacutedia expressando um processo ascendente de terceirizaccedilatildeo do emprego Com efeito o mundo do trabalho tem sofrido raacutepidas e radicais transformaccedilotildees por meio da automaccedilatildeo da roboacutetica e da telemaacutetica Trata-se de um processo de substituiccedilatildeo de paradigmas na concepccedilatildeo da estrutura produtiva que se acentua a partir dos anos 80 A crescente automaccedilatildeo da produccedilatildeo processo que se acelerou a partir do iniacutecio da deacutecada de 1970 resultou na reduccedilatildeo da importacircncia do setor secundaacuterio da economia como empregador de matildeo-de-obra A atividade industrial maior geradora de empregos nos anos 70 perdeu essa posiccedilatildeo para o setor de serviccedilos nas deacutecadas de 1980 e 1990 Em 1992 o setor terciaacuterio e a induacutestria de transformaccedilatildeo respondiam respectivamente por 716 e 198 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelio ndash PNADIBGE Em 1998 o setor terciaacuterio abrigava 737 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola e mais da metade da populaccedilatildeo ocupada do Paiacutes enquanto o setor secundaacuterio reduziu sua participaccedilatildeo para 179

Com relaccedilatildeo agrave qualidade dos viacutenculos empregatiacutecios os indicadores mostram-se positivos sob a forma da geraccedilatildeo consistente de postos de trabalho formais entre 1994 e 2002 Conforme dados da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais ndash RAISMTE o nuacutemero de empregados cresceu de 237 milhotildees em 1994 para aproximadamente 268 milhotildees em 2001 Em fins de 2001 portanto havia cerca de 31 milhotildees de pessoas a mais empregadas formalmente quando comparadas agrave mesma data de 1994 O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ndash CAGEDMTE igualmente corrobora a manutenccedilatildeo da trajetoacuteria de recuperaccedilatildeo dos postos de trabalho em 2002 Em junho uacuteltimo o CAGEDMTE registrou a criaccedilatildeo de 133 mil novas vagas o que significa um saldo acumulado de aproximadamente 681 mil postos de trabalho em 2002 Trata-se da melhor performance de toda a seacuterie histoacuterica do CAGEDMTE (iniciado em 1985) quando se compara os primeiros seis meses de 2002 ao mesmo periacuteodo dos anos anteriores Assim de janeiro de 2000 a junho de 2002 registra-se um saldo positivo de 19 milhatildeo de novos postos de trabalho formais

Com relaccedilatildeo agrave renda dos trabalhadores deve-se destacar o crescimento real do salaacuterio miacutenimo entre 1991 e 2002 O salaacuterio miacutenimo apresentou tendecircncia oscilante entre 1990 e 1994 (variando entre os poacutelos extremos representados por R$12865 em 1990 e R$14541 em 1993) assumindo trajetoacuteria continuamente ascendente a partir de 1995 ateacute atingir o valor real de R$18943 em 2002 (meacutedia de janeiro a maio deflacionada pelo INPC a preccedilos de maio de 2002) quando o valor nominal do salaacuterio miacutenimo atingiu R$20000 Por sua vez o rendimento meacutedio real dos ocupados foi de R$68910 na meacutedia do periacuteodo 1990-1994 apresentando crescimento da ordem de 1832 no periacuteodo 1995-2001 quando chega agrave meacutedia de R$81533 A massa de rendimento real tanto para o total dos ocupados quanto para os trabalhadores assalariados (com e sem carteira assinada) cresceu de forma consistente entre 1992 e 1997 com um comportamento oscilante a partir de entatildeo Comparando o periacuteodo 1995-2001 com o periacuteodo anterior 1991-1994 observa-se um crescimento

da massa de renda real meacutedia tanto para o conjunto dos ocupados (2407) quanto para os trabalhadores assalariados (516)

O Governo Federal brasileiro por seu turno empenhado em corrigir as distorccedilotildees inerentes agrave evoluccedilatildeo do mercado de trabalho vem desenvolvendo programas de fomento ao emprego e ao trabalho e de proteccedilatildeo e assistecircncia ao trabalhador contando com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador ndash FAT Seu objetivo eacute criar mecanismos que permitam a melhoria das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade de vida do trabalhador destacando-se as accedilotildees nas aacutereas de qualificaccedilatildeo profissional seguro-desemprego abono salarial geraccedilatildeo de emprego e renda inspeccedilatildeo do trabalho e legislaccedilatildeo trabalhista

Em 1995 o Governo Federal por meio do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego instituiu o Plano Nacional de Qualificaccedilatildeo do Trabalhador ndash PLANFOR visando assegurar a integraccedilatildeo do trabalhador ao mercado de trabalho e promover assim o aumento de sua empregabilidade produtividade e renda Financiado majoritariamente com recursos do FAT o PLANFOR eacute executado de forma descentralizada por instituiccedilotildees de formaccedilatildeo profissional sob responsabilidade das Secretarias Estaduais de Trabalho (em interaccedilatildeo com as Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego ampliando a participaccedilatildeo social e a sintonia com as demandas do setor produtivo) e das Parcerias Nacionais realizadas predominantemente com entidades patronais e associaccedilotildees sindicais O PLANFOR focaliza sua atuaccedilatildeo em populaccedilotildees vulneraacuteveis dotadas de maior dificuldade de acesso a outras alternativas de qualificaccedilatildeo em decorrecircncia de situaccedilotildees de pobreza baixa escolaridade ou discriminaccedilatildeo no mercado de trabalho No periacuteodo 1995-2001 foram qualificadas 153 milhotildees de pessoas com recursos da ordem de R$ 23 bilhotildees

O Seguro-Desemprego constitui uma accedilatildeo de amparo aos trabalhadores demitidos sem justa causa Na deacutecada de 1990 o pagamento do benefiacutecio do seguro-desemprego ajudou a preservar em meacutedia cerca de 13 da renda de salaacuterio do trabalhador formal do setor privado dispensado sem justa causa considerando a remuneraccedilatildeo meacutedia mensal do trabalhador com carteira assinada Entre 1994 e 2001 foram concedidos 354 milhotildees de benefiacutecios com recursos da ordem de R$282 bilhotildees Para o periacuteodo que se estende de 1995 a 2001 tiveram acesso ao programa 442 milhotildees de trabalhadores por ano em meacutedia de um total meacutedio de 45 milhotildees de requerimentos ao custo meacutedio anual de aproximadamente R$ 468 bilhotildees (em R$ de dezembro de 2001) O nuacutemero meacutedio de beneficiaacuterios no periacuteodo supera a meacutedia de beneficiaacuterios do periacuteodo 1990-94 em cerca de 20 Uma das causas do crescimento do volume de segurados eacute a flexibilizaccedilatildeo dos criteacuterios para a sua concessatildeo visto que a partir da segunda metade da deacutecada de 1990 houve reduccedilatildeo do tempo de viacutenculo empregatiacutecio necessaacuterio para o acesso ao benefiacutecio

O Abono Salarial eacute uma iniciativa de assistecircncia ao trabalhador consistindo no pagamento anual de um salaacuterio miacutenimo a trabalhadores dos setores privado e puacuteblico que atendam a determinados requisitos dentre eles a percepccedilatildeo de remuneraccedilatildeo meacutedia mensal natildeo superior a dois salaacuterios miacutenimos no ano de referecircncia Calcula-se que o impacto do abono na renda anual do trabalhador seja em meacutedia de 5 o que corresponde a uma complementaccedilatildeo de renda significativa para esse segmento de trabalhadores de baixa renda No mecircs que eacute pago o benefiacutecio o impacto na renda pode alcanccedilar aproximadamente 70 funcionando como um 14ordm salaacuterio aos trabalhadores de mais baixos salaacuterios No periacuteodo de 1995-2001 foram liberados em meacutedia 54 milhotildees de abonos salariais por ano nuacutemero 23 superior agrave meacutedia do periacuteodo 1990-1994 que consistiu em 44 milhotildees de abonos anuais

O Programa de Geraccedilatildeo de Emprego e Renda ndash PROGER vem-se consolidando como um dos principais instrumentos de que dispotildee o Governo para incrementar a poliacutetica puacuteblica de geraccedilatildeo de

emprego e renda e melhoria da qualidade de vida do trabalhador Sua operacionalizaccedilatildeo ocorre mediante concessatildeo de creacuteditos em condiccedilotildees especiais destinados ao financiamento de atividades produtivas nos setores formal e informal da economia nas aacutereas urbana e rural O PROGER Urbano possui como puacuteblicos-alvo as micro e pequenas empresas cooperativas e associaccedilotildees de produccedilatildeo bem como os profissionais liberais receacutem-formados trabalhadores autocircnomos prestadores de serviccedilo em geral artesatildeos e pequenos e micro negoacutecios familiares O PROGER Rural por sua vez atende prioritariamente aos pequenos produtores rurais de forma individual ou coletiva inclusive agraves atividades pesqueira extrativa vegetal e de aquumlicultura A concessatildeo dos creacuteditos eacute vinculada agrave realizaccedilatildeo de programas de capacitaccedilatildeo teacutecnico-gerencial qualificaccedilatildeo profissional assistecircncia teacutecnica e acompanhamento dos empreendimentos beneficiados As operaccedilotildees de creacutedito tecircm como agentes financeiros os seguintes bancos oficiais Banco do Brasil Banco do Nordeste do Brasil Caixa Econocircmica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social ndash BNDES Entre 1995 e 2001 foram realizadas aproximadamente 860 mil operaccedilotildees totalizando investimentos da ordem de R$69 bilhotildees

A Inspeccedilatildeo do Trabalho volta-se para o combate agrave informalidade agregando agraves accedilotildees tiacutepicas da fiscalizaccedilatildeo do trabalho mecanismos para facilitar a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de trabalhadores nas empresas tais como as mesas de entendimento e o condomiacutenio de empregadores A formalizaccedilatildeo dos contratos de trabalho estende as garantias trabalhistas e previdenciaacuterias aos trabalhadores desamparados do sistema laboral legal A intensificaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo do trabalho contribuiu para a formalizaccedilatildeo de um total de 21 milhotildees de viacutenculos empregatiacutecios inicialmente desprotegidos no periacuteodo de 1996 a 2001

Finalmente o Governo brasileiro apresentou ao longo dos uacuteltimos anos vaacuterias propostas de modernizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista com vistas a adequaacute-la aos novos padrotildees de relaccedilatildeo entre capital e trabalho A tocircnica desse conjunto de propostas eacute o reforccedilo agrave via negocial para a soluccedilatildeo dos conflitos inerentes agraves relaccedilotildees de trabalho Cabe destaque agraves seguintes iniciativas Banco de Horas (sistema de compensaccedilatildeo de horas extras previamente autorizado em convenccedilatildeo ou acordo coletivo que permite agrave empresa adequar as jornadas de trabalho agraves variaccedilotildees sazonais mediante a diminuiccedilatildeo proporcional da jornada em periacuteodos de decliacutenio da demanda) Mesas de Entendimento (mecanismo de fiscalizaccedilatildeo de caraacuteter pedagoacutegico natildeo punitivo buscando regularizar a situaccedilatildeo que suscitou a accedilatildeo fiscal por meio de entendimentos entre a fiscalizaccedilatildeo a empresa e os trabalhadores consubstanciados em um Termo de Compromisso) Condomiacutenio dos Empregadores (uniatildeo de produtores rurais ndash pessoas fiacutesicas com a finalidade de contratar trabalhadores rurais que prestaratildeo serviccedilos exclusivamente para seus condocircminos estimulando a formalizaccedilatildeo dos viacutenculos empregatiacutecios no campo) aleacutem de accedilotildees voltadas para a inserccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia no mercado de trabalho por meio de modalidades como a colocaccedilatildeo seletiva

Essas satildeo as linhas gerais de estruturaccedilatildeo do mercado de trabalho brasileiro e de atuaccedilatildeo do Governo Federal nos uacuteltimos anos Os impactos no mercado de trabalho inerentes ao processo de integraccedilatildeo da economia nacional agrave economia global satildeo consideraacuteveis Nesse contexto o Governo brasileiro ciente dos desafios que lhe satildeo postos estaacute empenhado em criar e manter as condiccedilotildees macroeconocircmicas favoraacuteveis e em implementar as poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo do emprego e da renda necessaacuterias para a construccedilatildeo de um futuro mais proacutespero para todos

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmtbgovbr httpwwwmpasgovbr

Dinacircmica Demograacutefica por Manoel A Costa

A populaccedilatildeo brasileira teve um aumento de 313 milhotildees de pessoas durante os 68 anos que separam a realizaccedilatildeo do primeiro recenseamento em 1872 do quinto em 1940 De acordo com os cinco censos desse periacuteodo a populaccedilatildeo nacional era constituiacuteda de 99 milhotildees em 1872 143 milhotildees em 1890 174 milhotildees em 1900 306 milhotildees em 1920 e finalmente 412 milhotildees em 1940 A partir desse ano e durante os 51 anos seguintes o contingente nacional aumentou pouco mais de 100 milhotildees de pessoas ateacute a data do Censo de 1991 e de acordo com o uacuteltimo censo de 1996 nestes quatro anos houve um acreacutescimo de cerca de 7 milhotildees de pessoas na populaccedilatildeo brasileira

A tabela sobre populaccedilatildeo apresenta alguns indicadores da dinacircmica demograacutefica a partir de 1940 taxas de natalidade de mortalidade de crescimento natural e de crescimento total prevalecentes durante os periacuteodos que separam a realizaccedilatildeo dos levantamentos estatiacutesticos complementando-os com estimativas ateacute os primeiros dez anos do seacuteculo XXI Aleacutem disso a tabela apresenta a evoluccedilatildeo do aumento da populaccedilatildeo e estimativas do nuacutemero de nascidos vivos para cada periacuteodo decenal

O incremento decenal da populaccedilatildeo aumentou significativa e continuamente ateacute os anos 70 apesar de a taxa de crescimento ter comeccedilado a declinar a partir de 1955 Enquanto entre 1940-1950 ocorreu um aumento de 109 milhotildees de habitantes entre 1980-1990 a populaccedilatildeo nacional aumentou em 248 milhotildees embora a taxa meacutedia anual de crescimento tenha se reduzido de 239 aa durante o primeiro periacuteodo para 193 anuais no uacuteltimo Estima-se que ocorreraacute um expressivo aumento populacional da ordem de 21 milhotildees de pessoas durante o uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX e os primeiros dez anos do seacuteculo XXI ainda que a taxa de crescimento continue se reduzindo

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwibgegovbr

A Transiccedilatildeo Demograacuteficapor Manoel A Costa

Nos anos 80 consolidou-se a transiccedilatildeo demograacutefica brasileira Tambeacutem neste periacuteodo registrou-se pela primeira vez na histoacuteria do Brasil um numeroso fluxo emigratoacuterio de matildeo-de-obra Estima-se que um contigente de 13 milhatildeo de brasileiros emigrou para o exterior durante esses anos

A transiccedilatildeo demograacutefica nacional apoacutes um iniacutecio moderado na segunda metade dos anos 60 transcorreu com uma aceleraccedilatildeo crescente durante as duas deacutecadas seguintes por causa da raacutepida reduccedilatildeo da fecundidade e resultou na reduccedilatildeo do crescimento demograacutefico natural da populaccedilatildeo de um ritmo elevado de 299 ao ano entre 1950-1960 praticamente ineacutedito ateacute entatildeo entre populaccedilotildees numerosas para o niacutevel de 193 meacutedios anuais entre 1980-1991

Estima-se que a fecundidade continuaraacute se reduzindo e se aproximaraacute num futuro natildeo muito distante do niacutevel de reposiccedilatildeo de 21 filhos por mulher em idade feacutertil Partindo de uma simulaccedilatildeo com essa perspectiva prevecirc-se que a taxa de crescimento da populaccedilatildeo nacional ficaraacute abaixo de 10 anual a partir de 2015-2020 e abaixo de 05 depois de 2035 Seguindo essa tendecircncia a

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

europeus - italianos alematildees austriacuteacos huacutengaros eslavos siacuterios libaneses suiacuteccedilos - que mais tarde se juntam aos asiaacuteticos

A segunda grande marca da migraccedilatildeo brasileira eacute resultado da integraccedilatildeo e modernizaccedilatildeo do territoacuterio e da ampliaccedilatildeo das trocas comerciais e do consumo marcadamente a partir da deacutecada de 1950 Intensifica-se a partir deste momento a urbanizaccedilatildeo e a correlata migraccedilatildeo interna O Brasil ateacute entatildeo um paiacutes agriacutecola vai conhecer neste periacuteodo uma acentuaccedilatildeo do ecircxodo rural levando agrave inversatildeo dos nuacutemeros correspondentes agrave localizaccedilatildeo da populaccedilatildeo de maioria rural em 1940 para maioria urbana em 1970

A industrializaccedilatildeo associada agrave urbanizaccedilatildeo mais intensa no Sudeste acelera esse processo e atrai milhares de pessoas do Nordeste para o Centro-sul em especial nas deacutecadas de 60 e 70 Eacute neste periacuteodo que se inicia o processo de metropolizaccedilatildeocom os anos 60 marcando um significativo ponto de inflexatildeo Na deacutecada de 70 a expansatildeo de novas fronteiras agriacutecolas e econocircmicas na regiatildeo Norte leva ao deslocamento de milhotildees de pessoas para o Centro-oeste e para a Amazocircnia para onde migram nordestinos e mais recentemente os sulistas

Na deacutecada de 90 eacute detectado um processo de desmetropolizaccedilatildeo associado ao ecircxodo urbano isto eacute movimento numeroso de populaccedilatildeo entre cidades de diversos tamanhos e diversas regiotildees A difusatildeo da modernizaccedilatildeo no interior propicia uma migraccedilatildeo para as cidades menores A regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo por exemplo apresenta de 1980 a 1991 um crescimento vegetativo de 10971 e um saldo migratoacuterio de -971 Trata-se para a uacuteltima deacutecada de um salto migratoacuterio negativo para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Um fato novo na histoacuteria da migraccedilatildeo brasileira especialmente nos uacuteltimos anos eacute a saiacuteda crescente de brasileiros para a Europa Ameacuterica do Norte e Japatildeo Migraccedilatildeo essa geralmente associada a descendentes dos imigrantes que aqui chegaram na passagem do seacuteculo

Regiatildeo Concentrada por Maria Laura Silveira

Regiatildeo concentrada eacute a aacuterea onde os acreacutescimos de ciecircncia e tecnologia ao territoacuterio se verificam de modo contiacutenuo Expressatildeo mais intensa do meio teacutecnico-cientiacutefico-informacional essa regiatildeo abrange os estados do Sudeste (Espiacuterito Santo Rio de Janeiro Minas Gerais e Satildeo Paulo) os estados do Sul (Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e dois estados do Centro-oeste (Mato Grosso do Sul e Goiaacutes) tendo como poacutelo as metroacutepoles de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro

Nessa regiatildeo a modernizaccedilatildeo generalizada e a intensa circulaccedilatildeo interna e com outras regiotildees e paiacuteses correspondem a uma marcada divisatildeo territorial do trabalho Sede da agricultura mais moderna do Brasil e do mais expansivo desenvolvimento industrial e financeiro essa aacuterea concentra tambeacutem os niacuteveis superiores dos sistemas de sauacutede educaccedilatildeo lazer e serviccedilos modernos como a publicidade cujas demandas satildeo garantidas pelo consumo dessa grande concentraccedilatildeo produtiva e populacional

As metroacutepoles de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro sediam os escritoacuterios das mais poderosas firmas nacionais e das filiais das empresas globais que tecircm um papel de controle do mercado nacional e de comando do respectivo territoacuterio Eacute em Satildeo Paulo que se elabora e concentra a maior parcela das informaccedilotildees sobre a economia a sociedade e o territoacuterio A acumulaccedilatildeo de atividades intelectuais assegura a essa metroacutepole o predomiacutenio das atividades produtivas de ponta a funccedilatildeo de suporte aos

segmentos modernos da economia do paiacutes e em decorrecircncia um caraacuteter de encruzilhada na expansatildeo do meio teacutecnico-cientiacutefico-informacional Como o territoacuterio deve ser usado hoje com o conhecimento simultacircneo das accedilotildees empreendidas em lugares distantes a sua funccedilatildeo de centro informacional lhe concede uma nova hierarquia no sistema urbano brasileiro

Cidades Locais por Adriana Bernardes

O nuacutemero de cidades locais cresceu rapidamente a partir da deacutecada de 50 passando a ter um importante papel no funcionamento do sistema urbano Hoje este niacutevel na regiatildeo urbana eacute representado por cidades com populaccedilatildeo em torno de 20 mil habitantes

Anteriormente as sedes municipais guardavam praticamente apenas as funccedilotildees religiosas e administrativas voltadas agraves necessidades da vida rural Mas as cidades locais mudaram de conteuacutedo em consonacircncia com as exigecircncias desse periacuteodo histoacuterico Agora as funccedilotildees econocircmicas tecircm maior relevo na vida das cidades locais Integradas ao sistema produtivo do Paiacutes elas passaram a atender agrave crescente demanda por trabalho consumo educaccedilatildeo e lazer que o campo natildeo ofereceria

Com o advento da modernizaccedilatildeo e tecnificaccedilatildeo da agricultura principalmente nas uacuteltimas deacutecadas quando tambeacutem se instalam importantes induacutestrias agriacutecolas as cidades locais especializam-se para atender a determinados tipos de produccedilatildeo que se encontram no seu entorno Constituem sobretudo estoques de novos meios de consumo insumos creacutedito agriacutecola e matildeo-de-obra e satildeo centros de transportes e comunicaccedilotildees Boa parte dos trabalhadores agriacutecolas nas regiotildees mais modernas do Paiacutes vive na cidade onde tambeacutem se encontram novas categorias de profissionais o agrocircnomo o veterinaacuterio e o bancaacuterio entre outros que satildeo necessaacuterios agrave conduccedilatildeo e coordenaccedilatildeo de uma produccedilatildeo baseada no desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Cidades Meacutedias por Adriana Bernardes

Apoacutes a deacutecada de 50 amplia-se o nuacutemero de cidades meacutedias no Brasil em um contexto de redefiniccedilatildeo do porte dos nuacutecleos urbanos Na deacutecada de 90 definiu-se como cidade meacutedia o municiacutepio com populaccedilatildeo em torno de 100 mil habitantes

Satildeo muacuteltiplos os elementos que levam ao crescimento desse niacutevel urbano Entre eles destacam-se a dispersatildeo da induacutestria que ateacute haacute pouco tempo se concentrava em aacutereas metropolitanas a modernizaccedilatildeo do campo a proximidade das induacutestrias agriacutecolas e as novas formas de consumo material e de consumo imaterial Esse fenocircmeno eacute geral mas tem particular expressatildeo na aacuterea mais desenvolvida do Paiacutes Por tratar-se da aacuterea mais densamente urbanizada do territoacuterio nacional tem condiccedilotildees de adaptar-se agraves novas exigecircncias do periacuteodo histoacuterico atual

Graccedilas agraves cidades meacutedias estaacute ocorrendo a redistribuiccedilatildeo das classes meacutedias pelo territoacuterio associada agrave presenccedila de um nuacutemero crescente de letrados indispensaacuteveis aos novos modos de produccedilatildeo a que presidem Com a difusatildeo desde os anos 70 do ensino universitaacuterio no Paiacutes muitas dessas cidades satildeo em certos estados importantes centros de pesquisa

As atuais cidades meacutedias exercem atraccedilatildeo para os fluxos migratoacuterios e algumas delas estatildeo atingindo o estaacutegio sub-metropolitano cuja dimensatildeo iraacute variar segundo as regiotildees

Interiorizaccedilatildeo por Eliza Pinto de Almeida

O Brasil durante trecircs seacuteculos consecutivos teve um povoamento predominantemente litoracircneo A pecuaacuteria no sertatildeo nordestino foi a primeira atividade a impulsionar a ocupaccedilatildeo do interior Em meados do seacuteculo XVIII no que hoje satildeo os estados de Goiaacutes Mato Grosso Bahia e Minas Gerais amplia-se o processo de interiorizaccedilatildeo graccedilas agrave mineraccedilatildeo do ouro e das pedras preciosas Grandes fluxos migratoacuterios deslocam-se para essa aacuterea onde surgem paralelamente numerosas cidades

A extremidade meridional do atual territoacuterio brasileiro foi durante muito tempo disputada por portugueses e espanhoacuteis Somente em princiacutepios do seacuteculo XVIII eacute que essa regiatildeo seraacute incorporada ao territoacuterio brasileiro quando o governo portuguecircs destaca tropas de defesa para a aacuterea Ao mesmo tempo uma corrente de povoadores oriundos de Satildeo Paulo se estabelece no atual estado do Rio Grande do Sul Graccedilas agraves excelentes condiccedilotildees naturais a pecuaacuteria pocircde desenvolver-se plenamente nessa regiatildeo

Frentes pioneiras no seacuteculo XIX efetivaram a ocupaccedilatildeo do interior do estado de Satildeo Paulo Com as ferrovias novas aacutereas satildeo anexadas agrave produccedilatildeo cafeeira e assim muitas cidades nascem ligadas a essa atividade Satildeo Paulo se torna um poacutelo dinacircmico de vastas aacutereas que abrangem os estados do Sul do Paiacutes aleacutem de parcelas de Minas Gerais e Rio de Janeiro

A Amazocircnia teraacute a sua ocupaccedilatildeo consolidada no final do seacuteculo XIX a partir da crescente procura da borracha nos mercados europeus que estimulou a exploraccedilatildeo econocircmica desse produto e acabou desencadeando um intenso fluxo migratoacuterio vindo principalmente do Nordeste

No entanto as relaccedilotildees entre os lugares eram inconstantes natildeo havendo uma integraccedilatildeo entre as diversas regiotildees do Paiacutes A agricultura comercial e a mineraccedilatildeo foram a base do povoamento do territoacuterio brasileiro mas o seu desenvolvimento se deu em subespaccedilos que evoluiacuteam segundo loacutegicas proacuteprias ditadas em grande parte por suas relaccedilotildees com o mundo exterior

Mas seraacute no poacutes-Segunda Guerra com os investimentos em infra-estrutrura que ocorreraacute extensiva e intensamente a ocupaccedilatildeo do territoacuterio brasileiro A construccedilatildeo de Brasiacutelia inaugurada em 1960 eacute um siacutembolo desse processo de interiorizaccedilatildeo Procurou-se promover a integraccedilatildeo do Centro-oeste e da Amazocircnia ao conjunto da economia nacional atraveacutes da implantaccedilatildeo de projetos agropecuaacuterios e da construccedilatildeo de rodovias de integraccedilatildeo nacional Essas medidas intensificaram os fluxos de capitais e as migraccedilotildees para essas regiotildees

Metropolizaccedilatildeo por Adriana Bernardes

Com a industrializaccedilatildeo a mecanizaccedilatildeo da agricultura e o ecircxodo rural algumas cidades brasileiras passaram a acolher enormes contingentes populacionais em busca de emprego e acesso a serviccedilos diversos Ateacute 1960 somente as cidades de Satildeo Paulo e Rio de Janeiro tinham mais de 1 milhatildeo de habitantes e poderiam ser consideradas metroacutepoles A polarizaccedilatildeo de funccedilotildees industriais e

administrativas respectivamente nestes dois centros urbanos atraiacuteram grande parte do fluxo migratoacuterio nacional dos anos 50 e 60

Na deacutecada de 70 o crescimento de grandes cidades ocorre em todas as regiotildees do Paiacutes caracterizando o processo de metropolizaccedilatildeo no Brasil Em 1973 foram criadas oficialmente nove regiotildees metropolitanas ao redor das cidades de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Beleacutem Fortaleza Recife Salvador Belo Horizonte Porto Alegre e Curitiba

Entre 1950 e 1980 a participaccedilatildeo das atuais regiotildees metropolitanas no total da populaccedilatildeo brasileira saltou de 1795 para 2893 iacutendice que se manteve praticamente inalterado no iniacutecio da deacutecada de 90 Aleacutem das regiotildees mencionadas acima existem cidades que polarizam grandes parcelas do contingente populacional urbano e que na praacutetica se caracterizam como regiotildees metropolitanas Satildeo as chamadas cidades milionaacuterias como Brasiacutelia Goiacircnia Manaus Santos e Campinas

Diferenccedilas Regionais por Liacutedia Antongiovanni

O Brasil apresenta os mais variados aspectos naturais que aliados agraves diferentes atividades econocircmicas e aos processos de povoamento e interiorizaccedilatildeo caracterizam sua diversidade regional Com o objetivo de executar um planejamento nacional o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) dividiu o paiacutes em cinco grandes regiotildees Norte (Acre Amapaacute Amazonas Rondocircnia Roraima Paraacute Tocantins) Nordeste (Maranhatildeo Piauiacute Cearaacute Rio Grande do Norte Paraiacuteba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia) Sudeste (Minas Gerais Espiacuterito Santo Rio de Janeiro Satildeo Paulo) Sul (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul) e Centro-oeste (Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiaacutes Distrito Federal)

O Sul e o Sudeste satildeo densamente povoados com destacada atividade agriacutecola industrial e de serviccedilos Estas regiotildees acompanharam as modernizaccedilotildees desde o fim do seacuteculo XIX o que propiciou a urbanizaccedilatildeo e uma vida de relaccedilotildees muito dinacircmicas Mas o Sudeste tem o maior desenvolvimento industrial e de serviccedilos o que lhe garante com a presenccedila de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro um papel de comando da economia nacional

Na regiatildeo Norte comumente chamada de Amazocircnia os traccedilos naturais tecircm grande importacircncia e suas riquezas dominam a vida econocircmica A partir da deacutecada de 70 instalou-se uma agricultura moderna e uma pequena atividade industrial Esta regiatildeo de ocupaccedilatildeo rarefeita (33 habkm2 em 2000) tem atualmente uma nova dinacircmica populacional a do aumento da populaccedilatildeo associado ao fenocircmeno da concentraccedilatildeo urbana

O Nordeste eacute uma regiatildeo de velho povoamento fato que marca ainda hoje suas relaccedilotildees As secas com periacuteodos de longa estiagem satildeo em parte responsaacuteveis por movimentos populacionais desde o seacuteculo XVII Esta regiatildeo apresenta duas grandes porccedilotildees o litoral e o sertatildeo O litoral concentra as cidades as atividades industriais e turiacutesticas No interior onde se encontra o sertatildeo algumas aacutereas de irrigaccedilatildeo permitem uma atividade agriacutecola constante e bastante tecnificada juntamente com a pecuaacuteria e a agricultura extensiva

Durante os seacuteculos XVII e XVIII o Centro-oeste foi alvo de exploraccedilatildeo mineira e paralelamente desenvolveu uma atividade pecuaacuteria que permanece ateacute hoje A partir da deacutecada de 70 os cerrados ateacute entatildeo praticamente vazios puderam ser ocupados modernamente em especial com o cultivo da

soja Na regiatildeo o investimento em rodovias e o processo de urbanizaccedilatildeo a integram ao Sudeste e Sul

Desconcentraccedilatildeo Industrial por Eliza Pinto de Almeida

A aceleraccedilatildeo do processo de industrializaccedilatildeo do Brasil ocorreu no poacutes-Segunda Guerra Mundial A integraccedilatildeo dos meios de transporte e de comunicaccedilatildeo e a unificaccedilatildeo do mercado em escala nacional permitiram que se ampliasse e diversificasse a produccedilatildeo industrial Essa atividade concentra-se na regiatildeo Sudeste do Brasil sobretudo no estado de Satildeo Paulo cuja capital se tornou o maior centro fabril do Paiacutes

A difusatildeo da modernizaccedilatildeo especialmente a partir da deacutecada de 70 modifica os sistemas de transportes e telecomunicaccedilotildees integrando o territoacuterio Por outro lado as mudanccedilas tecnoloacutegicas devidas agrave difusatildeo da informaacutetica e da eletrocircnica permitem um maior controle agrave distacircncia dos processos produtivos Tudo isso favorece a desconcentraccedilatildeo industrial com a instalaccedilatildeo de faacutebricas modernas em diversos pontos do Paiacutes

O estado de Satildeo Paulo na deacutecada 70 respondia por 5842 do valor da produccedilatildeo industrial do paiacutes e em 1990 esse iacutendice passa para 5283 Haacute tambeacutem uma tendecircncia ao crescimento da participaccedilatildeo industrial no interior paulista Fala-se por isso em esvaziamento da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e tambeacutem em desconcentraccedilatildeo industrial

Em 1970 tomando-se este estado como um todo a regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo detinha 7752 do Valor de Transformaccedilatildeo Industrial sendo que em 1990 essa participaccedilatildeo diminui para 5892

Os dados indicam que natildeo eacute mais a funccedilatildeo industrial que assegura a Satildeo Paulo um papel diretor na dinacircmica soacutecio-econocircmica e espacial mas sim o comando das atividades ligadas agrave produccedilatildeo e agrave gestatildeo da informaccedilatildeo que faz agora da metroacutepole paulista um importante centro informacional

Centro Informacional por Adriana Bernardes

Ao longo do seacuteculo XX a capital do estado de Satildeo Paulo se afirma como metroacutepole nacional principalmente pela forccedila de sua induacutestria Mas agora a metroacutepole paulistana se refuncionaliza passando a ser um grande centro urbano produtor de informaccedilotildees Sua primazia natildeo mais adveacutem de sua atividade fabril mas sim de sua capacidade de concentrar atividades de produccedilatildeo coleta classificaccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

Muda a qualidade do papel de comando de Satildeo Paulo sobre a totalidade do territoacuterio brasileiro Enquanto os nuacutemeros da produccedilatildeo e do emprego industrial diminuem aumenta a forccedila metropolitana no Paiacutes e no mundo graccedilas agrave presenccedila de um expressivo e sofisticado setor de serviccedilos Tal setor engloba atividades financeiras de consultoria publicidade marketing e pesquisa entre outras

A nova hierarquia do sistema urbano depende destes fluxos de informaccedilatildeo cujo controle atraveacutes da emissatildeo de mensagens ideacuteias e ordens garante agrave metroacutepole paulistana um papel regulador de um crescente nuacutemero de tarefas dispersas pelo Paiacutes

Sistema Rodoviaacuterio - Autopistas por Marcos Antonio de Moraes Xavier

Ateacute a primeira metade do seacuteculo XX de um modo geral as estradas de rodagem brasileiras representavam pequenos investimentos pontuais Natildeo havia um sistema que cobrisse todo o territoacuterio nacional Tais estradas em sua maioria eram caminhos de terra A constituiccedilatildeo de um sistema rodoviaacuterio nacional criando as ligaccedilotildees inter-regionais necessaacuterias ao processo de integraccedilatildeo ocorre a partir do empenho em equipar o territoacuterio para atender entre outras demandas o desenvolvimento da induacutestria paulista Um marco desta fase foi o Plano Viaacuterio Nacional de 1952 onde as rodovias jaacute aparecem como principal via de transporte

Desde os anos 50 e notadamente a partir dos anos 70 o sistema rodoviaacuterio brasileiro cresce acompanhado pela pavimentaccedilatildeo e duplicaccedilatildeo de rodovias que passam a formar autopistas modernas e raacutepidas Este crescimento destaca-se nas regiotildees Norte (20133) e Centro-oeste (15339) aacutereas onde o povoamento era rarefeito e que neste momento passam a ser aacutereas de avanccedilo do processo de interiorizaccedilatildeo

Atualmente encontramos nas regiotildees Sudeste Nordeste e Sul o maior nuacutemero de rodovias pavimentadas e as maiores densidades do sistema (extensatildeo em quilocircmetros do sistema rodoviaacuterio por 1 mil km2 de aacuterea)

O Brasil e a Economia Mundial Contemporacircnea por Joseacute Tavares de Arauacutejo Jr

Uma caracteriacutestica central do progresso tecnoloacutegico nas uacuteltimas trecircs deacutecadas tem sido o contraste entre o decliacutenio acelerado dos custos de informaccedilatildeo e a relativa estabilidade dos custos de transporte Este contraste vem alimentando as tendecircncias simultacircneas em direccedilatildeo agrave globalizaccedilatildeo de mercados e agrave regionalizaccedilatildeo das estruturas produtivas que marcaram a economia mundial no passado recente Estas tendecircncias por sua vez redefiniram os perfis de inserccedilatildeo internacional das economias domeacutesticas e as prioridades da agenda multilateral de comeacutercio

Os novos padrotildees de concorrecircncia internacional acentuaram a importacircncia da prestaccedilatildeo de serviccedilos da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e do investimento direto no exterior como fontes de sustentaccedilatildeo do desempenho exportador das economias nacionais Tais padrotildees reduziram a eficaacutecia dos instrumentos convencionais de poliacutetica comercial como tarifas quotas e salvaguardas ao mesmo tempo em que introduziram novos temas na agenda multilateral de comeacutercio como o uso de regulamentos domeacutesticos para proteger as induacutestrias da fronteira tecnoloacutegica e as praacuteticas anticompetitivas com dimensatildeo internacional

Do ponto de vista das economias nacionais a busca de eficiecircncia produtiva o estiacutemulo agrave inovaccedilatildeo e a melhoria das condiccedilotildees de inserccedilatildeo internacional das empresas domeacutesticas tornaram-se partes complementares de um desafio comum Para o governo isto implica natildeo apenas a convergecircncia das poliacuteticas industrial tecnoloacutegica e de comeacutercio exterior mas tambeacutem a coerecircncia de tais poliacuteticas com outras accedilotildees do governo nos planos macroeconocircmico e da regulaccedilatildeo das condiccedilotildees de concorrecircncia nos mercados domeacutesticos

Um desafio adicional impliacutecito no cenaacuterio contemporacircneo reside no fato de que a Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) natildeo dispotildee ainda dos instrumentos de regulaccedilatildeo necessaacuterios para lidar com os padrotildees de concorrecircncia em vigor Embora a reuniatildeo ministerial de Doha realizada em novembro de 2001 tenha ratificado o consenso da comunidade internacional quanto agrave necessidade de fortalecer a OMC na praacutetica tal consenso significou apenas que os paiacuteses membros estatildeo comprometidos a levar adiante a rodada de negociaccedilotildees mas natildeo autoriza qualquer previsatildeo otimista quanto aos resultados deste empreendimento no futuro proacuteximo dada a magnitude dos desafios que a OMC enfrenta atualmente

Um tema que bem ilustra as presentes limitaccedilotildees da OMC eacute o de poliacutetica de concorrecircncia que passou a desempenhar um papel central no plano internacional natildeo soacute para combater carteacuteis e fiscalizar a conduta das corporaccedilotildees transnacionais mas sobretudo para regular conflitos advindos da proteccedilatildeo agraves induacutestrias de alta tecnologia O debate sobre essas questotildees na OMC tem sido intenso desde dezembro de 1996 quando foi criado o Grupo de Trabalho sobre a Interaccedilatildeo entre Comeacutercio e Poliacutetica de Concorrecircncia Nos dois anos seguintes cerca de 170 documentos governamentais foram submetidos ao grupo cobrindo uma agenda substantiva que de fato foi bem aleacutem das relaccedilotildees entre comeacutercio e concorrecircncia A despeito da participaccedilatildeo ativa de praticamente todos os membros da OMC que dispotildeem de leis de concorrecircncia esse debate tem sido limitado por dois tipos de restriccedilotildees Por um lado qualquer acordo multilateral sobre regras de concorrecircncia soacute teraacute algum significado na medida em que todos os membros da OMC ou pelo menos sua grande maioria estiverem capacitados a aplicar aquelas normas em seus respectivos territoacuterios Por outro lado a OMC eacute uma instituiccedilatildeo desenhada para lidar essencialmente com atos de governos enquanto que o foco principal da poliacutetica de concorrecircncia eacute a conduta dos agentes econocircmicos

Em suma natildeo eacute provaacutevel que as principais fragilidades da OMC venham a ser superadas no futuro proacuteximo Entretanto a atuaccedilatildeo do Brasil naquele foacuterum durante os anos 90 demonstrou que mesmo assim ndash e sobretudo apoacutes o surto recente de pressotildees protecionistas nos Estados Unidos ndash interessa aos paiacuteses em desenvolvimento promover o sistema multilateral de comeacutercio Casos como EmbraerBombardier e a controveacutersia sobre patentes farmacecircuticas jaacute se tornaram siacutembolos de situaccedilotildees em que estrateacutegias negociadoras bem fundamentadas conseguem preservar interesses nacionais legiacutetimos Aleacutem de conferir maior credibilidade agrave OMC e agraves posiccedilotildees defendidas pelo Brasil nas negociaccedilotildees em curso esses casos tambeacutem se revelaram instrumentais para fomentar o diaacutelogo bilateral com diversos parceiros importantes como Japatildeo China Iacutendia Austraacutelia e Aacutefrica do Sul

Aleacutem de promover a OMC outro toacutepico prioritaacuterio da poliacutetica comercial brasileira eacute a reconstruccedilatildeo do MERCOSUL que tem desempenhado um papel estrateacutegico na defesa dos interesses brasileiros no plano multilateral nas negociaccedilotildees sobre a criaccedilatildeo de uma Aacuterea de Livre Comeacutercio das Ameacutericas (ALCA) e no diaacutelogo com a Uniatildeo Europeacuteia O MERCOSUL eacute importante por razotildees de

geografia econocircmica os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo internacional natildeo constituem anomalias efecircmeras mas foram gerados gradualmente ao longo de vaacuterias deacutecadas em decorrecircncia da dicotomia acima referida entre custos de informaccedilatildeo e de transporte Portanto a menos que os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo venham a ser redefinidos por outra revoluccedilatildeo tecnoloacutegica as metas da integraccedilatildeo regional continuaratildeo a ser prioritaacuterias para o Brasil

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwfazendagovbr httpwwwmdicgovbr httpwwwbndesgovbr httpwww1bcbgovbr httpwwwipeagovbr httpwwwmpogovbr

Mercado de Trabalho por Paulo Machado

A integraccedilatildeo competitiva da economia brasileira agrave economia global e a conquista da estabilidade influenciaram estruturalmente o funcionamento do mercado de trabalho do Paiacutes Foram registradas na deacutecada 1990 e ao longo dos uacuteltimos anos dinacircmicas particularmente relevantes nos quesitos emprego formalidade e renda dos trabalhadores o que exigiu mudanccedilas substantivas na atuaccedilatildeo das instituiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees trabalhistas

A evoluccedilatildeo do emprego pode ser melhor compreendida recorrendo-se aos dados da Pesquisa Mensal de Emprego ndash PMEIBGE visto que sua metodologia obedece a criteacuterios internacionalmente aceitos A taxa de desemprego medida pela PMEIBGE atingiu 76 em 1999 caiu para 71 em 2000 e reduziu-se novamente para 62 em 2001 atingindo entatildeo seu ponto mais baixo nos uacuteltimos quatro anos

Uma primeira anaacutelise dessa trajetoacuteria poderia sugerir que 2001 foi o ano em que o mercado de trabalho brasileiro teve seu melhor desempenho No entanto em 2000 foram criados em termos liacutequidos cerca de 700 mil postos de trabalho enquanto que em 2001 esse resultado atingiu aproximadamente 106 mil Observa-se assim que o desempenho do mercado de trabalho natildeo pode ser avaliado exclusivamente pela trajetoacuteria da taxa de desemprego Igualmente importante eacute medir a capacidade da economia de gerar saldos positivos de postos de trabalho Para corroborar essa situaccedilatildeo entre janeiro e junho de 2002 a PMEIBGE registra um aumento da ordem de cerca de 192 mil postos de trabalho considerando-se apenas as 6 regiotildees metropolitanas pesquisadas (Belo Horizonte Porto Alegre Recife Rio de Janeiro Salvador e Satildeo Paulo) No entanto como a taxa de desemprego resulta do cruzamento entre o nuacutemero de postos gerados e a quantidade de pessoas procurando emprego houve um pequeno crescimento do desemprego no primeiro semestre de 2002 atingindo na meacutedia 72 Essa aparente contradiccedilatildeo se explica pelo fato de que mais pessoas tem-se sentido incentivadas a procurar emprego o que provavelmente reflete expectativas mais favoraacuteveis quanto agrave perspectiva de obtenccedilatildeo de emprego Somente nos seis primeiros meses de

2002 aproximadamente 434 mil pessoas entraram no mercado de trabalho Destas cerca de 262 mil satildeo oriundas do desalento ou seja satildeo trabalhadores que haviam desistido de procurar emprego mas devido ao bom desempenho do mercado de trabalho vislumbraram novamente a chance de ter um emprego

A taxa meacutedia de desemprego dos primeiros seis meses do ano de 2002 carrega uma certa sazonalidade negativa pois trata-se de um periacuteodo tipicamente marcado por taxas mais elevadas Nesse contexto eacute razoaacutevel esperar que a taxa de desemprego recue a partir do terceiro trimestre Vale destacar que a taxa de desemprego brasileira da ordem de 75 em junho ainda eacute a mais baixa da Ameacuterica do Sul e uma das menores da Ameacuterica Latina

Em termos setoriais ao longo da deacutecada de 1990 a induacutestria de transformaccedilatildeo registrou reduccedilatildeo no niacutevel meacutedio de ocupaccedilatildeo experimentando a chamada desindustrializaccedilatildeo do emprego Por sua vez os serviccedilos e o comeacutercio apresentaram as maiores elevaccedilotildees na ocupaccedilatildeo meacutedia expressando um processo ascendente de terceirizaccedilatildeo do emprego Com efeito o mundo do trabalho tem sofrido raacutepidas e radicais transformaccedilotildees por meio da automaccedilatildeo da roboacutetica e da telemaacutetica Trata-se de um processo de substituiccedilatildeo de paradigmas na concepccedilatildeo da estrutura produtiva que se acentua a partir dos anos 80 A crescente automaccedilatildeo da produccedilatildeo processo que se acelerou a partir do iniacutecio da deacutecada de 1970 resultou na reduccedilatildeo da importacircncia do setor secundaacuterio da economia como empregador de matildeo-de-obra A atividade industrial maior geradora de empregos nos anos 70 perdeu essa posiccedilatildeo para o setor de serviccedilos nas deacutecadas de 1980 e 1990 Em 1992 o setor terciaacuterio e a induacutestria de transformaccedilatildeo respondiam respectivamente por 716 e 198 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelio ndash PNADIBGE Em 1998 o setor terciaacuterio abrigava 737 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola e mais da metade da populaccedilatildeo ocupada do Paiacutes enquanto o setor secundaacuterio reduziu sua participaccedilatildeo para 179

Com relaccedilatildeo agrave qualidade dos viacutenculos empregatiacutecios os indicadores mostram-se positivos sob a forma da geraccedilatildeo consistente de postos de trabalho formais entre 1994 e 2002 Conforme dados da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais ndash RAISMTE o nuacutemero de empregados cresceu de 237 milhotildees em 1994 para aproximadamente 268 milhotildees em 2001 Em fins de 2001 portanto havia cerca de 31 milhotildees de pessoas a mais empregadas formalmente quando comparadas agrave mesma data de 1994 O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ndash CAGEDMTE igualmente corrobora a manutenccedilatildeo da trajetoacuteria de recuperaccedilatildeo dos postos de trabalho em 2002 Em junho uacuteltimo o CAGEDMTE registrou a criaccedilatildeo de 133 mil novas vagas o que significa um saldo acumulado de aproximadamente 681 mil postos de trabalho em 2002 Trata-se da melhor performance de toda a seacuterie histoacuterica do CAGEDMTE (iniciado em 1985) quando se compara os primeiros seis meses de 2002 ao mesmo periacuteodo dos anos anteriores Assim de janeiro de 2000 a junho de 2002 registra-se um saldo positivo de 19 milhatildeo de novos postos de trabalho formais

Com relaccedilatildeo agrave renda dos trabalhadores deve-se destacar o crescimento real do salaacuterio miacutenimo entre 1991 e 2002 O salaacuterio miacutenimo apresentou tendecircncia oscilante entre 1990 e 1994 (variando entre os poacutelos extremos representados por R$12865 em 1990 e R$14541 em 1993) assumindo trajetoacuteria continuamente ascendente a partir de 1995 ateacute atingir o valor real de R$18943 em 2002 (meacutedia de janeiro a maio deflacionada pelo INPC a preccedilos de maio de 2002) quando o valor nominal do salaacuterio miacutenimo atingiu R$20000 Por sua vez o rendimento meacutedio real dos ocupados foi de R$68910 na meacutedia do periacuteodo 1990-1994 apresentando crescimento da ordem de 1832 no periacuteodo 1995-2001 quando chega agrave meacutedia de R$81533 A massa de rendimento real tanto para o total dos ocupados quanto para os trabalhadores assalariados (com e sem carteira assinada) cresceu de forma consistente entre 1992 e 1997 com um comportamento oscilante a partir de entatildeo Comparando o periacuteodo 1995-2001 com o periacuteodo anterior 1991-1994 observa-se um crescimento

da massa de renda real meacutedia tanto para o conjunto dos ocupados (2407) quanto para os trabalhadores assalariados (516)

O Governo Federal brasileiro por seu turno empenhado em corrigir as distorccedilotildees inerentes agrave evoluccedilatildeo do mercado de trabalho vem desenvolvendo programas de fomento ao emprego e ao trabalho e de proteccedilatildeo e assistecircncia ao trabalhador contando com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador ndash FAT Seu objetivo eacute criar mecanismos que permitam a melhoria das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade de vida do trabalhador destacando-se as accedilotildees nas aacutereas de qualificaccedilatildeo profissional seguro-desemprego abono salarial geraccedilatildeo de emprego e renda inspeccedilatildeo do trabalho e legislaccedilatildeo trabalhista

Em 1995 o Governo Federal por meio do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego instituiu o Plano Nacional de Qualificaccedilatildeo do Trabalhador ndash PLANFOR visando assegurar a integraccedilatildeo do trabalhador ao mercado de trabalho e promover assim o aumento de sua empregabilidade produtividade e renda Financiado majoritariamente com recursos do FAT o PLANFOR eacute executado de forma descentralizada por instituiccedilotildees de formaccedilatildeo profissional sob responsabilidade das Secretarias Estaduais de Trabalho (em interaccedilatildeo com as Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego ampliando a participaccedilatildeo social e a sintonia com as demandas do setor produtivo) e das Parcerias Nacionais realizadas predominantemente com entidades patronais e associaccedilotildees sindicais O PLANFOR focaliza sua atuaccedilatildeo em populaccedilotildees vulneraacuteveis dotadas de maior dificuldade de acesso a outras alternativas de qualificaccedilatildeo em decorrecircncia de situaccedilotildees de pobreza baixa escolaridade ou discriminaccedilatildeo no mercado de trabalho No periacuteodo 1995-2001 foram qualificadas 153 milhotildees de pessoas com recursos da ordem de R$ 23 bilhotildees

O Seguro-Desemprego constitui uma accedilatildeo de amparo aos trabalhadores demitidos sem justa causa Na deacutecada de 1990 o pagamento do benefiacutecio do seguro-desemprego ajudou a preservar em meacutedia cerca de 13 da renda de salaacuterio do trabalhador formal do setor privado dispensado sem justa causa considerando a remuneraccedilatildeo meacutedia mensal do trabalhador com carteira assinada Entre 1994 e 2001 foram concedidos 354 milhotildees de benefiacutecios com recursos da ordem de R$282 bilhotildees Para o periacuteodo que se estende de 1995 a 2001 tiveram acesso ao programa 442 milhotildees de trabalhadores por ano em meacutedia de um total meacutedio de 45 milhotildees de requerimentos ao custo meacutedio anual de aproximadamente R$ 468 bilhotildees (em R$ de dezembro de 2001) O nuacutemero meacutedio de beneficiaacuterios no periacuteodo supera a meacutedia de beneficiaacuterios do periacuteodo 1990-94 em cerca de 20 Uma das causas do crescimento do volume de segurados eacute a flexibilizaccedilatildeo dos criteacuterios para a sua concessatildeo visto que a partir da segunda metade da deacutecada de 1990 houve reduccedilatildeo do tempo de viacutenculo empregatiacutecio necessaacuterio para o acesso ao benefiacutecio

O Abono Salarial eacute uma iniciativa de assistecircncia ao trabalhador consistindo no pagamento anual de um salaacuterio miacutenimo a trabalhadores dos setores privado e puacuteblico que atendam a determinados requisitos dentre eles a percepccedilatildeo de remuneraccedilatildeo meacutedia mensal natildeo superior a dois salaacuterios miacutenimos no ano de referecircncia Calcula-se que o impacto do abono na renda anual do trabalhador seja em meacutedia de 5 o que corresponde a uma complementaccedilatildeo de renda significativa para esse segmento de trabalhadores de baixa renda No mecircs que eacute pago o benefiacutecio o impacto na renda pode alcanccedilar aproximadamente 70 funcionando como um 14ordm salaacuterio aos trabalhadores de mais baixos salaacuterios No periacuteodo de 1995-2001 foram liberados em meacutedia 54 milhotildees de abonos salariais por ano nuacutemero 23 superior agrave meacutedia do periacuteodo 1990-1994 que consistiu em 44 milhotildees de abonos anuais

O Programa de Geraccedilatildeo de Emprego e Renda ndash PROGER vem-se consolidando como um dos principais instrumentos de que dispotildee o Governo para incrementar a poliacutetica puacuteblica de geraccedilatildeo de

emprego e renda e melhoria da qualidade de vida do trabalhador Sua operacionalizaccedilatildeo ocorre mediante concessatildeo de creacuteditos em condiccedilotildees especiais destinados ao financiamento de atividades produtivas nos setores formal e informal da economia nas aacutereas urbana e rural O PROGER Urbano possui como puacuteblicos-alvo as micro e pequenas empresas cooperativas e associaccedilotildees de produccedilatildeo bem como os profissionais liberais receacutem-formados trabalhadores autocircnomos prestadores de serviccedilo em geral artesatildeos e pequenos e micro negoacutecios familiares O PROGER Rural por sua vez atende prioritariamente aos pequenos produtores rurais de forma individual ou coletiva inclusive agraves atividades pesqueira extrativa vegetal e de aquumlicultura A concessatildeo dos creacuteditos eacute vinculada agrave realizaccedilatildeo de programas de capacitaccedilatildeo teacutecnico-gerencial qualificaccedilatildeo profissional assistecircncia teacutecnica e acompanhamento dos empreendimentos beneficiados As operaccedilotildees de creacutedito tecircm como agentes financeiros os seguintes bancos oficiais Banco do Brasil Banco do Nordeste do Brasil Caixa Econocircmica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social ndash BNDES Entre 1995 e 2001 foram realizadas aproximadamente 860 mil operaccedilotildees totalizando investimentos da ordem de R$69 bilhotildees

A Inspeccedilatildeo do Trabalho volta-se para o combate agrave informalidade agregando agraves accedilotildees tiacutepicas da fiscalizaccedilatildeo do trabalho mecanismos para facilitar a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de trabalhadores nas empresas tais como as mesas de entendimento e o condomiacutenio de empregadores A formalizaccedilatildeo dos contratos de trabalho estende as garantias trabalhistas e previdenciaacuterias aos trabalhadores desamparados do sistema laboral legal A intensificaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo do trabalho contribuiu para a formalizaccedilatildeo de um total de 21 milhotildees de viacutenculos empregatiacutecios inicialmente desprotegidos no periacuteodo de 1996 a 2001

Finalmente o Governo brasileiro apresentou ao longo dos uacuteltimos anos vaacuterias propostas de modernizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista com vistas a adequaacute-la aos novos padrotildees de relaccedilatildeo entre capital e trabalho A tocircnica desse conjunto de propostas eacute o reforccedilo agrave via negocial para a soluccedilatildeo dos conflitos inerentes agraves relaccedilotildees de trabalho Cabe destaque agraves seguintes iniciativas Banco de Horas (sistema de compensaccedilatildeo de horas extras previamente autorizado em convenccedilatildeo ou acordo coletivo que permite agrave empresa adequar as jornadas de trabalho agraves variaccedilotildees sazonais mediante a diminuiccedilatildeo proporcional da jornada em periacuteodos de decliacutenio da demanda) Mesas de Entendimento (mecanismo de fiscalizaccedilatildeo de caraacuteter pedagoacutegico natildeo punitivo buscando regularizar a situaccedilatildeo que suscitou a accedilatildeo fiscal por meio de entendimentos entre a fiscalizaccedilatildeo a empresa e os trabalhadores consubstanciados em um Termo de Compromisso) Condomiacutenio dos Empregadores (uniatildeo de produtores rurais ndash pessoas fiacutesicas com a finalidade de contratar trabalhadores rurais que prestaratildeo serviccedilos exclusivamente para seus condocircminos estimulando a formalizaccedilatildeo dos viacutenculos empregatiacutecios no campo) aleacutem de accedilotildees voltadas para a inserccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia no mercado de trabalho por meio de modalidades como a colocaccedilatildeo seletiva

Essas satildeo as linhas gerais de estruturaccedilatildeo do mercado de trabalho brasileiro e de atuaccedilatildeo do Governo Federal nos uacuteltimos anos Os impactos no mercado de trabalho inerentes ao processo de integraccedilatildeo da economia nacional agrave economia global satildeo consideraacuteveis Nesse contexto o Governo brasileiro ciente dos desafios que lhe satildeo postos estaacute empenhado em criar e manter as condiccedilotildees macroeconocircmicas favoraacuteveis e em implementar as poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo do emprego e da renda necessaacuterias para a construccedilatildeo de um futuro mais proacutespero para todos

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmtbgovbr httpwwwmpasgovbr

Dinacircmica Demograacutefica por Manoel A Costa

A populaccedilatildeo brasileira teve um aumento de 313 milhotildees de pessoas durante os 68 anos que separam a realizaccedilatildeo do primeiro recenseamento em 1872 do quinto em 1940 De acordo com os cinco censos desse periacuteodo a populaccedilatildeo nacional era constituiacuteda de 99 milhotildees em 1872 143 milhotildees em 1890 174 milhotildees em 1900 306 milhotildees em 1920 e finalmente 412 milhotildees em 1940 A partir desse ano e durante os 51 anos seguintes o contingente nacional aumentou pouco mais de 100 milhotildees de pessoas ateacute a data do Censo de 1991 e de acordo com o uacuteltimo censo de 1996 nestes quatro anos houve um acreacutescimo de cerca de 7 milhotildees de pessoas na populaccedilatildeo brasileira

A tabela sobre populaccedilatildeo apresenta alguns indicadores da dinacircmica demograacutefica a partir de 1940 taxas de natalidade de mortalidade de crescimento natural e de crescimento total prevalecentes durante os periacuteodos que separam a realizaccedilatildeo dos levantamentos estatiacutesticos complementando-os com estimativas ateacute os primeiros dez anos do seacuteculo XXI Aleacutem disso a tabela apresenta a evoluccedilatildeo do aumento da populaccedilatildeo e estimativas do nuacutemero de nascidos vivos para cada periacuteodo decenal

O incremento decenal da populaccedilatildeo aumentou significativa e continuamente ateacute os anos 70 apesar de a taxa de crescimento ter comeccedilado a declinar a partir de 1955 Enquanto entre 1940-1950 ocorreu um aumento de 109 milhotildees de habitantes entre 1980-1990 a populaccedilatildeo nacional aumentou em 248 milhotildees embora a taxa meacutedia anual de crescimento tenha se reduzido de 239 aa durante o primeiro periacuteodo para 193 anuais no uacuteltimo Estima-se que ocorreraacute um expressivo aumento populacional da ordem de 21 milhotildees de pessoas durante o uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX e os primeiros dez anos do seacuteculo XXI ainda que a taxa de crescimento continue se reduzindo

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwibgegovbr

A Transiccedilatildeo Demograacuteficapor Manoel A Costa

Nos anos 80 consolidou-se a transiccedilatildeo demograacutefica brasileira Tambeacutem neste periacuteodo registrou-se pela primeira vez na histoacuteria do Brasil um numeroso fluxo emigratoacuterio de matildeo-de-obra Estima-se que um contigente de 13 milhatildeo de brasileiros emigrou para o exterior durante esses anos

A transiccedilatildeo demograacutefica nacional apoacutes um iniacutecio moderado na segunda metade dos anos 60 transcorreu com uma aceleraccedilatildeo crescente durante as duas deacutecadas seguintes por causa da raacutepida reduccedilatildeo da fecundidade e resultou na reduccedilatildeo do crescimento demograacutefico natural da populaccedilatildeo de um ritmo elevado de 299 ao ano entre 1950-1960 praticamente ineacutedito ateacute entatildeo entre populaccedilotildees numerosas para o niacutevel de 193 meacutedios anuais entre 1980-1991

Estima-se que a fecundidade continuaraacute se reduzindo e se aproximaraacute num futuro natildeo muito distante do niacutevel de reposiccedilatildeo de 21 filhos por mulher em idade feacutertil Partindo de uma simulaccedilatildeo com essa perspectiva prevecirc-se que a taxa de crescimento da populaccedilatildeo nacional ficaraacute abaixo de 10 anual a partir de 2015-2020 e abaixo de 05 depois de 2035 Seguindo essa tendecircncia a

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

segmentos modernos da economia do paiacutes e em decorrecircncia um caraacuteter de encruzilhada na expansatildeo do meio teacutecnico-cientiacutefico-informacional Como o territoacuterio deve ser usado hoje com o conhecimento simultacircneo das accedilotildees empreendidas em lugares distantes a sua funccedilatildeo de centro informacional lhe concede uma nova hierarquia no sistema urbano brasileiro

Cidades Locais por Adriana Bernardes

O nuacutemero de cidades locais cresceu rapidamente a partir da deacutecada de 50 passando a ter um importante papel no funcionamento do sistema urbano Hoje este niacutevel na regiatildeo urbana eacute representado por cidades com populaccedilatildeo em torno de 20 mil habitantes

Anteriormente as sedes municipais guardavam praticamente apenas as funccedilotildees religiosas e administrativas voltadas agraves necessidades da vida rural Mas as cidades locais mudaram de conteuacutedo em consonacircncia com as exigecircncias desse periacuteodo histoacuterico Agora as funccedilotildees econocircmicas tecircm maior relevo na vida das cidades locais Integradas ao sistema produtivo do Paiacutes elas passaram a atender agrave crescente demanda por trabalho consumo educaccedilatildeo e lazer que o campo natildeo ofereceria

Com o advento da modernizaccedilatildeo e tecnificaccedilatildeo da agricultura principalmente nas uacuteltimas deacutecadas quando tambeacutem se instalam importantes induacutestrias agriacutecolas as cidades locais especializam-se para atender a determinados tipos de produccedilatildeo que se encontram no seu entorno Constituem sobretudo estoques de novos meios de consumo insumos creacutedito agriacutecola e matildeo-de-obra e satildeo centros de transportes e comunicaccedilotildees Boa parte dos trabalhadores agriacutecolas nas regiotildees mais modernas do Paiacutes vive na cidade onde tambeacutem se encontram novas categorias de profissionais o agrocircnomo o veterinaacuterio e o bancaacuterio entre outros que satildeo necessaacuterios agrave conduccedilatildeo e coordenaccedilatildeo de uma produccedilatildeo baseada no desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Cidades Meacutedias por Adriana Bernardes

Apoacutes a deacutecada de 50 amplia-se o nuacutemero de cidades meacutedias no Brasil em um contexto de redefiniccedilatildeo do porte dos nuacutecleos urbanos Na deacutecada de 90 definiu-se como cidade meacutedia o municiacutepio com populaccedilatildeo em torno de 100 mil habitantes

Satildeo muacuteltiplos os elementos que levam ao crescimento desse niacutevel urbano Entre eles destacam-se a dispersatildeo da induacutestria que ateacute haacute pouco tempo se concentrava em aacutereas metropolitanas a modernizaccedilatildeo do campo a proximidade das induacutestrias agriacutecolas e as novas formas de consumo material e de consumo imaterial Esse fenocircmeno eacute geral mas tem particular expressatildeo na aacuterea mais desenvolvida do Paiacutes Por tratar-se da aacuterea mais densamente urbanizada do territoacuterio nacional tem condiccedilotildees de adaptar-se agraves novas exigecircncias do periacuteodo histoacuterico atual

Graccedilas agraves cidades meacutedias estaacute ocorrendo a redistribuiccedilatildeo das classes meacutedias pelo territoacuterio associada agrave presenccedila de um nuacutemero crescente de letrados indispensaacuteveis aos novos modos de produccedilatildeo a que presidem Com a difusatildeo desde os anos 70 do ensino universitaacuterio no Paiacutes muitas dessas cidades satildeo em certos estados importantes centros de pesquisa

As atuais cidades meacutedias exercem atraccedilatildeo para os fluxos migratoacuterios e algumas delas estatildeo atingindo o estaacutegio sub-metropolitano cuja dimensatildeo iraacute variar segundo as regiotildees

Interiorizaccedilatildeo por Eliza Pinto de Almeida

O Brasil durante trecircs seacuteculos consecutivos teve um povoamento predominantemente litoracircneo A pecuaacuteria no sertatildeo nordestino foi a primeira atividade a impulsionar a ocupaccedilatildeo do interior Em meados do seacuteculo XVIII no que hoje satildeo os estados de Goiaacutes Mato Grosso Bahia e Minas Gerais amplia-se o processo de interiorizaccedilatildeo graccedilas agrave mineraccedilatildeo do ouro e das pedras preciosas Grandes fluxos migratoacuterios deslocam-se para essa aacuterea onde surgem paralelamente numerosas cidades

A extremidade meridional do atual territoacuterio brasileiro foi durante muito tempo disputada por portugueses e espanhoacuteis Somente em princiacutepios do seacuteculo XVIII eacute que essa regiatildeo seraacute incorporada ao territoacuterio brasileiro quando o governo portuguecircs destaca tropas de defesa para a aacuterea Ao mesmo tempo uma corrente de povoadores oriundos de Satildeo Paulo se estabelece no atual estado do Rio Grande do Sul Graccedilas agraves excelentes condiccedilotildees naturais a pecuaacuteria pocircde desenvolver-se plenamente nessa regiatildeo

Frentes pioneiras no seacuteculo XIX efetivaram a ocupaccedilatildeo do interior do estado de Satildeo Paulo Com as ferrovias novas aacutereas satildeo anexadas agrave produccedilatildeo cafeeira e assim muitas cidades nascem ligadas a essa atividade Satildeo Paulo se torna um poacutelo dinacircmico de vastas aacutereas que abrangem os estados do Sul do Paiacutes aleacutem de parcelas de Minas Gerais e Rio de Janeiro

A Amazocircnia teraacute a sua ocupaccedilatildeo consolidada no final do seacuteculo XIX a partir da crescente procura da borracha nos mercados europeus que estimulou a exploraccedilatildeo econocircmica desse produto e acabou desencadeando um intenso fluxo migratoacuterio vindo principalmente do Nordeste

No entanto as relaccedilotildees entre os lugares eram inconstantes natildeo havendo uma integraccedilatildeo entre as diversas regiotildees do Paiacutes A agricultura comercial e a mineraccedilatildeo foram a base do povoamento do territoacuterio brasileiro mas o seu desenvolvimento se deu em subespaccedilos que evoluiacuteam segundo loacutegicas proacuteprias ditadas em grande parte por suas relaccedilotildees com o mundo exterior

Mas seraacute no poacutes-Segunda Guerra com os investimentos em infra-estrutrura que ocorreraacute extensiva e intensamente a ocupaccedilatildeo do territoacuterio brasileiro A construccedilatildeo de Brasiacutelia inaugurada em 1960 eacute um siacutembolo desse processo de interiorizaccedilatildeo Procurou-se promover a integraccedilatildeo do Centro-oeste e da Amazocircnia ao conjunto da economia nacional atraveacutes da implantaccedilatildeo de projetos agropecuaacuterios e da construccedilatildeo de rodovias de integraccedilatildeo nacional Essas medidas intensificaram os fluxos de capitais e as migraccedilotildees para essas regiotildees

Metropolizaccedilatildeo por Adriana Bernardes

Com a industrializaccedilatildeo a mecanizaccedilatildeo da agricultura e o ecircxodo rural algumas cidades brasileiras passaram a acolher enormes contingentes populacionais em busca de emprego e acesso a serviccedilos diversos Ateacute 1960 somente as cidades de Satildeo Paulo e Rio de Janeiro tinham mais de 1 milhatildeo de habitantes e poderiam ser consideradas metroacutepoles A polarizaccedilatildeo de funccedilotildees industriais e

administrativas respectivamente nestes dois centros urbanos atraiacuteram grande parte do fluxo migratoacuterio nacional dos anos 50 e 60

Na deacutecada de 70 o crescimento de grandes cidades ocorre em todas as regiotildees do Paiacutes caracterizando o processo de metropolizaccedilatildeo no Brasil Em 1973 foram criadas oficialmente nove regiotildees metropolitanas ao redor das cidades de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Beleacutem Fortaleza Recife Salvador Belo Horizonte Porto Alegre e Curitiba

Entre 1950 e 1980 a participaccedilatildeo das atuais regiotildees metropolitanas no total da populaccedilatildeo brasileira saltou de 1795 para 2893 iacutendice que se manteve praticamente inalterado no iniacutecio da deacutecada de 90 Aleacutem das regiotildees mencionadas acima existem cidades que polarizam grandes parcelas do contingente populacional urbano e que na praacutetica se caracterizam como regiotildees metropolitanas Satildeo as chamadas cidades milionaacuterias como Brasiacutelia Goiacircnia Manaus Santos e Campinas

Diferenccedilas Regionais por Liacutedia Antongiovanni

O Brasil apresenta os mais variados aspectos naturais que aliados agraves diferentes atividades econocircmicas e aos processos de povoamento e interiorizaccedilatildeo caracterizam sua diversidade regional Com o objetivo de executar um planejamento nacional o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) dividiu o paiacutes em cinco grandes regiotildees Norte (Acre Amapaacute Amazonas Rondocircnia Roraima Paraacute Tocantins) Nordeste (Maranhatildeo Piauiacute Cearaacute Rio Grande do Norte Paraiacuteba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia) Sudeste (Minas Gerais Espiacuterito Santo Rio de Janeiro Satildeo Paulo) Sul (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul) e Centro-oeste (Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiaacutes Distrito Federal)

O Sul e o Sudeste satildeo densamente povoados com destacada atividade agriacutecola industrial e de serviccedilos Estas regiotildees acompanharam as modernizaccedilotildees desde o fim do seacuteculo XIX o que propiciou a urbanizaccedilatildeo e uma vida de relaccedilotildees muito dinacircmicas Mas o Sudeste tem o maior desenvolvimento industrial e de serviccedilos o que lhe garante com a presenccedila de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro um papel de comando da economia nacional

Na regiatildeo Norte comumente chamada de Amazocircnia os traccedilos naturais tecircm grande importacircncia e suas riquezas dominam a vida econocircmica A partir da deacutecada de 70 instalou-se uma agricultura moderna e uma pequena atividade industrial Esta regiatildeo de ocupaccedilatildeo rarefeita (33 habkm2 em 2000) tem atualmente uma nova dinacircmica populacional a do aumento da populaccedilatildeo associado ao fenocircmeno da concentraccedilatildeo urbana

O Nordeste eacute uma regiatildeo de velho povoamento fato que marca ainda hoje suas relaccedilotildees As secas com periacuteodos de longa estiagem satildeo em parte responsaacuteveis por movimentos populacionais desde o seacuteculo XVII Esta regiatildeo apresenta duas grandes porccedilotildees o litoral e o sertatildeo O litoral concentra as cidades as atividades industriais e turiacutesticas No interior onde se encontra o sertatildeo algumas aacutereas de irrigaccedilatildeo permitem uma atividade agriacutecola constante e bastante tecnificada juntamente com a pecuaacuteria e a agricultura extensiva

Durante os seacuteculos XVII e XVIII o Centro-oeste foi alvo de exploraccedilatildeo mineira e paralelamente desenvolveu uma atividade pecuaacuteria que permanece ateacute hoje A partir da deacutecada de 70 os cerrados ateacute entatildeo praticamente vazios puderam ser ocupados modernamente em especial com o cultivo da

soja Na regiatildeo o investimento em rodovias e o processo de urbanizaccedilatildeo a integram ao Sudeste e Sul

Desconcentraccedilatildeo Industrial por Eliza Pinto de Almeida

A aceleraccedilatildeo do processo de industrializaccedilatildeo do Brasil ocorreu no poacutes-Segunda Guerra Mundial A integraccedilatildeo dos meios de transporte e de comunicaccedilatildeo e a unificaccedilatildeo do mercado em escala nacional permitiram que se ampliasse e diversificasse a produccedilatildeo industrial Essa atividade concentra-se na regiatildeo Sudeste do Brasil sobretudo no estado de Satildeo Paulo cuja capital se tornou o maior centro fabril do Paiacutes

A difusatildeo da modernizaccedilatildeo especialmente a partir da deacutecada de 70 modifica os sistemas de transportes e telecomunicaccedilotildees integrando o territoacuterio Por outro lado as mudanccedilas tecnoloacutegicas devidas agrave difusatildeo da informaacutetica e da eletrocircnica permitem um maior controle agrave distacircncia dos processos produtivos Tudo isso favorece a desconcentraccedilatildeo industrial com a instalaccedilatildeo de faacutebricas modernas em diversos pontos do Paiacutes

O estado de Satildeo Paulo na deacutecada 70 respondia por 5842 do valor da produccedilatildeo industrial do paiacutes e em 1990 esse iacutendice passa para 5283 Haacute tambeacutem uma tendecircncia ao crescimento da participaccedilatildeo industrial no interior paulista Fala-se por isso em esvaziamento da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e tambeacutem em desconcentraccedilatildeo industrial

Em 1970 tomando-se este estado como um todo a regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo detinha 7752 do Valor de Transformaccedilatildeo Industrial sendo que em 1990 essa participaccedilatildeo diminui para 5892

Os dados indicam que natildeo eacute mais a funccedilatildeo industrial que assegura a Satildeo Paulo um papel diretor na dinacircmica soacutecio-econocircmica e espacial mas sim o comando das atividades ligadas agrave produccedilatildeo e agrave gestatildeo da informaccedilatildeo que faz agora da metroacutepole paulista um importante centro informacional

Centro Informacional por Adriana Bernardes

Ao longo do seacuteculo XX a capital do estado de Satildeo Paulo se afirma como metroacutepole nacional principalmente pela forccedila de sua induacutestria Mas agora a metroacutepole paulistana se refuncionaliza passando a ser um grande centro urbano produtor de informaccedilotildees Sua primazia natildeo mais adveacutem de sua atividade fabril mas sim de sua capacidade de concentrar atividades de produccedilatildeo coleta classificaccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

Muda a qualidade do papel de comando de Satildeo Paulo sobre a totalidade do territoacuterio brasileiro Enquanto os nuacutemeros da produccedilatildeo e do emprego industrial diminuem aumenta a forccedila metropolitana no Paiacutes e no mundo graccedilas agrave presenccedila de um expressivo e sofisticado setor de serviccedilos Tal setor engloba atividades financeiras de consultoria publicidade marketing e pesquisa entre outras

A nova hierarquia do sistema urbano depende destes fluxos de informaccedilatildeo cujo controle atraveacutes da emissatildeo de mensagens ideacuteias e ordens garante agrave metroacutepole paulistana um papel regulador de um crescente nuacutemero de tarefas dispersas pelo Paiacutes

Sistema Rodoviaacuterio - Autopistas por Marcos Antonio de Moraes Xavier

Ateacute a primeira metade do seacuteculo XX de um modo geral as estradas de rodagem brasileiras representavam pequenos investimentos pontuais Natildeo havia um sistema que cobrisse todo o territoacuterio nacional Tais estradas em sua maioria eram caminhos de terra A constituiccedilatildeo de um sistema rodoviaacuterio nacional criando as ligaccedilotildees inter-regionais necessaacuterias ao processo de integraccedilatildeo ocorre a partir do empenho em equipar o territoacuterio para atender entre outras demandas o desenvolvimento da induacutestria paulista Um marco desta fase foi o Plano Viaacuterio Nacional de 1952 onde as rodovias jaacute aparecem como principal via de transporte

Desde os anos 50 e notadamente a partir dos anos 70 o sistema rodoviaacuterio brasileiro cresce acompanhado pela pavimentaccedilatildeo e duplicaccedilatildeo de rodovias que passam a formar autopistas modernas e raacutepidas Este crescimento destaca-se nas regiotildees Norte (20133) e Centro-oeste (15339) aacutereas onde o povoamento era rarefeito e que neste momento passam a ser aacutereas de avanccedilo do processo de interiorizaccedilatildeo

Atualmente encontramos nas regiotildees Sudeste Nordeste e Sul o maior nuacutemero de rodovias pavimentadas e as maiores densidades do sistema (extensatildeo em quilocircmetros do sistema rodoviaacuterio por 1 mil km2 de aacuterea)

O Brasil e a Economia Mundial Contemporacircnea por Joseacute Tavares de Arauacutejo Jr

Uma caracteriacutestica central do progresso tecnoloacutegico nas uacuteltimas trecircs deacutecadas tem sido o contraste entre o decliacutenio acelerado dos custos de informaccedilatildeo e a relativa estabilidade dos custos de transporte Este contraste vem alimentando as tendecircncias simultacircneas em direccedilatildeo agrave globalizaccedilatildeo de mercados e agrave regionalizaccedilatildeo das estruturas produtivas que marcaram a economia mundial no passado recente Estas tendecircncias por sua vez redefiniram os perfis de inserccedilatildeo internacional das economias domeacutesticas e as prioridades da agenda multilateral de comeacutercio

Os novos padrotildees de concorrecircncia internacional acentuaram a importacircncia da prestaccedilatildeo de serviccedilos da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e do investimento direto no exterior como fontes de sustentaccedilatildeo do desempenho exportador das economias nacionais Tais padrotildees reduziram a eficaacutecia dos instrumentos convencionais de poliacutetica comercial como tarifas quotas e salvaguardas ao mesmo tempo em que introduziram novos temas na agenda multilateral de comeacutercio como o uso de regulamentos domeacutesticos para proteger as induacutestrias da fronteira tecnoloacutegica e as praacuteticas anticompetitivas com dimensatildeo internacional

Do ponto de vista das economias nacionais a busca de eficiecircncia produtiva o estiacutemulo agrave inovaccedilatildeo e a melhoria das condiccedilotildees de inserccedilatildeo internacional das empresas domeacutesticas tornaram-se partes complementares de um desafio comum Para o governo isto implica natildeo apenas a convergecircncia das poliacuteticas industrial tecnoloacutegica e de comeacutercio exterior mas tambeacutem a coerecircncia de tais poliacuteticas com outras accedilotildees do governo nos planos macroeconocircmico e da regulaccedilatildeo das condiccedilotildees de concorrecircncia nos mercados domeacutesticos

Um desafio adicional impliacutecito no cenaacuterio contemporacircneo reside no fato de que a Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) natildeo dispotildee ainda dos instrumentos de regulaccedilatildeo necessaacuterios para lidar com os padrotildees de concorrecircncia em vigor Embora a reuniatildeo ministerial de Doha realizada em novembro de 2001 tenha ratificado o consenso da comunidade internacional quanto agrave necessidade de fortalecer a OMC na praacutetica tal consenso significou apenas que os paiacuteses membros estatildeo comprometidos a levar adiante a rodada de negociaccedilotildees mas natildeo autoriza qualquer previsatildeo otimista quanto aos resultados deste empreendimento no futuro proacuteximo dada a magnitude dos desafios que a OMC enfrenta atualmente

Um tema que bem ilustra as presentes limitaccedilotildees da OMC eacute o de poliacutetica de concorrecircncia que passou a desempenhar um papel central no plano internacional natildeo soacute para combater carteacuteis e fiscalizar a conduta das corporaccedilotildees transnacionais mas sobretudo para regular conflitos advindos da proteccedilatildeo agraves induacutestrias de alta tecnologia O debate sobre essas questotildees na OMC tem sido intenso desde dezembro de 1996 quando foi criado o Grupo de Trabalho sobre a Interaccedilatildeo entre Comeacutercio e Poliacutetica de Concorrecircncia Nos dois anos seguintes cerca de 170 documentos governamentais foram submetidos ao grupo cobrindo uma agenda substantiva que de fato foi bem aleacutem das relaccedilotildees entre comeacutercio e concorrecircncia A despeito da participaccedilatildeo ativa de praticamente todos os membros da OMC que dispotildeem de leis de concorrecircncia esse debate tem sido limitado por dois tipos de restriccedilotildees Por um lado qualquer acordo multilateral sobre regras de concorrecircncia soacute teraacute algum significado na medida em que todos os membros da OMC ou pelo menos sua grande maioria estiverem capacitados a aplicar aquelas normas em seus respectivos territoacuterios Por outro lado a OMC eacute uma instituiccedilatildeo desenhada para lidar essencialmente com atos de governos enquanto que o foco principal da poliacutetica de concorrecircncia eacute a conduta dos agentes econocircmicos

Em suma natildeo eacute provaacutevel que as principais fragilidades da OMC venham a ser superadas no futuro proacuteximo Entretanto a atuaccedilatildeo do Brasil naquele foacuterum durante os anos 90 demonstrou que mesmo assim ndash e sobretudo apoacutes o surto recente de pressotildees protecionistas nos Estados Unidos ndash interessa aos paiacuteses em desenvolvimento promover o sistema multilateral de comeacutercio Casos como EmbraerBombardier e a controveacutersia sobre patentes farmacecircuticas jaacute se tornaram siacutembolos de situaccedilotildees em que estrateacutegias negociadoras bem fundamentadas conseguem preservar interesses nacionais legiacutetimos Aleacutem de conferir maior credibilidade agrave OMC e agraves posiccedilotildees defendidas pelo Brasil nas negociaccedilotildees em curso esses casos tambeacutem se revelaram instrumentais para fomentar o diaacutelogo bilateral com diversos parceiros importantes como Japatildeo China Iacutendia Austraacutelia e Aacutefrica do Sul

Aleacutem de promover a OMC outro toacutepico prioritaacuterio da poliacutetica comercial brasileira eacute a reconstruccedilatildeo do MERCOSUL que tem desempenhado um papel estrateacutegico na defesa dos interesses brasileiros no plano multilateral nas negociaccedilotildees sobre a criaccedilatildeo de uma Aacuterea de Livre Comeacutercio das Ameacutericas (ALCA) e no diaacutelogo com a Uniatildeo Europeacuteia O MERCOSUL eacute importante por razotildees de

geografia econocircmica os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo internacional natildeo constituem anomalias efecircmeras mas foram gerados gradualmente ao longo de vaacuterias deacutecadas em decorrecircncia da dicotomia acima referida entre custos de informaccedilatildeo e de transporte Portanto a menos que os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo venham a ser redefinidos por outra revoluccedilatildeo tecnoloacutegica as metas da integraccedilatildeo regional continuaratildeo a ser prioritaacuterias para o Brasil

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwfazendagovbr httpwwwmdicgovbr httpwwwbndesgovbr httpwww1bcbgovbr httpwwwipeagovbr httpwwwmpogovbr

Mercado de Trabalho por Paulo Machado

A integraccedilatildeo competitiva da economia brasileira agrave economia global e a conquista da estabilidade influenciaram estruturalmente o funcionamento do mercado de trabalho do Paiacutes Foram registradas na deacutecada 1990 e ao longo dos uacuteltimos anos dinacircmicas particularmente relevantes nos quesitos emprego formalidade e renda dos trabalhadores o que exigiu mudanccedilas substantivas na atuaccedilatildeo das instituiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees trabalhistas

A evoluccedilatildeo do emprego pode ser melhor compreendida recorrendo-se aos dados da Pesquisa Mensal de Emprego ndash PMEIBGE visto que sua metodologia obedece a criteacuterios internacionalmente aceitos A taxa de desemprego medida pela PMEIBGE atingiu 76 em 1999 caiu para 71 em 2000 e reduziu-se novamente para 62 em 2001 atingindo entatildeo seu ponto mais baixo nos uacuteltimos quatro anos

Uma primeira anaacutelise dessa trajetoacuteria poderia sugerir que 2001 foi o ano em que o mercado de trabalho brasileiro teve seu melhor desempenho No entanto em 2000 foram criados em termos liacutequidos cerca de 700 mil postos de trabalho enquanto que em 2001 esse resultado atingiu aproximadamente 106 mil Observa-se assim que o desempenho do mercado de trabalho natildeo pode ser avaliado exclusivamente pela trajetoacuteria da taxa de desemprego Igualmente importante eacute medir a capacidade da economia de gerar saldos positivos de postos de trabalho Para corroborar essa situaccedilatildeo entre janeiro e junho de 2002 a PMEIBGE registra um aumento da ordem de cerca de 192 mil postos de trabalho considerando-se apenas as 6 regiotildees metropolitanas pesquisadas (Belo Horizonte Porto Alegre Recife Rio de Janeiro Salvador e Satildeo Paulo) No entanto como a taxa de desemprego resulta do cruzamento entre o nuacutemero de postos gerados e a quantidade de pessoas procurando emprego houve um pequeno crescimento do desemprego no primeiro semestre de 2002 atingindo na meacutedia 72 Essa aparente contradiccedilatildeo se explica pelo fato de que mais pessoas tem-se sentido incentivadas a procurar emprego o que provavelmente reflete expectativas mais favoraacuteveis quanto agrave perspectiva de obtenccedilatildeo de emprego Somente nos seis primeiros meses de

2002 aproximadamente 434 mil pessoas entraram no mercado de trabalho Destas cerca de 262 mil satildeo oriundas do desalento ou seja satildeo trabalhadores que haviam desistido de procurar emprego mas devido ao bom desempenho do mercado de trabalho vislumbraram novamente a chance de ter um emprego

A taxa meacutedia de desemprego dos primeiros seis meses do ano de 2002 carrega uma certa sazonalidade negativa pois trata-se de um periacuteodo tipicamente marcado por taxas mais elevadas Nesse contexto eacute razoaacutevel esperar que a taxa de desemprego recue a partir do terceiro trimestre Vale destacar que a taxa de desemprego brasileira da ordem de 75 em junho ainda eacute a mais baixa da Ameacuterica do Sul e uma das menores da Ameacuterica Latina

Em termos setoriais ao longo da deacutecada de 1990 a induacutestria de transformaccedilatildeo registrou reduccedilatildeo no niacutevel meacutedio de ocupaccedilatildeo experimentando a chamada desindustrializaccedilatildeo do emprego Por sua vez os serviccedilos e o comeacutercio apresentaram as maiores elevaccedilotildees na ocupaccedilatildeo meacutedia expressando um processo ascendente de terceirizaccedilatildeo do emprego Com efeito o mundo do trabalho tem sofrido raacutepidas e radicais transformaccedilotildees por meio da automaccedilatildeo da roboacutetica e da telemaacutetica Trata-se de um processo de substituiccedilatildeo de paradigmas na concepccedilatildeo da estrutura produtiva que se acentua a partir dos anos 80 A crescente automaccedilatildeo da produccedilatildeo processo que se acelerou a partir do iniacutecio da deacutecada de 1970 resultou na reduccedilatildeo da importacircncia do setor secundaacuterio da economia como empregador de matildeo-de-obra A atividade industrial maior geradora de empregos nos anos 70 perdeu essa posiccedilatildeo para o setor de serviccedilos nas deacutecadas de 1980 e 1990 Em 1992 o setor terciaacuterio e a induacutestria de transformaccedilatildeo respondiam respectivamente por 716 e 198 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelio ndash PNADIBGE Em 1998 o setor terciaacuterio abrigava 737 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola e mais da metade da populaccedilatildeo ocupada do Paiacutes enquanto o setor secundaacuterio reduziu sua participaccedilatildeo para 179

Com relaccedilatildeo agrave qualidade dos viacutenculos empregatiacutecios os indicadores mostram-se positivos sob a forma da geraccedilatildeo consistente de postos de trabalho formais entre 1994 e 2002 Conforme dados da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais ndash RAISMTE o nuacutemero de empregados cresceu de 237 milhotildees em 1994 para aproximadamente 268 milhotildees em 2001 Em fins de 2001 portanto havia cerca de 31 milhotildees de pessoas a mais empregadas formalmente quando comparadas agrave mesma data de 1994 O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ndash CAGEDMTE igualmente corrobora a manutenccedilatildeo da trajetoacuteria de recuperaccedilatildeo dos postos de trabalho em 2002 Em junho uacuteltimo o CAGEDMTE registrou a criaccedilatildeo de 133 mil novas vagas o que significa um saldo acumulado de aproximadamente 681 mil postos de trabalho em 2002 Trata-se da melhor performance de toda a seacuterie histoacuterica do CAGEDMTE (iniciado em 1985) quando se compara os primeiros seis meses de 2002 ao mesmo periacuteodo dos anos anteriores Assim de janeiro de 2000 a junho de 2002 registra-se um saldo positivo de 19 milhatildeo de novos postos de trabalho formais

Com relaccedilatildeo agrave renda dos trabalhadores deve-se destacar o crescimento real do salaacuterio miacutenimo entre 1991 e 2002 O salaacuterio miacutenimo apresentou tendecircncia oscilante entre 1990 e 1994 (variando entre os poacutelos extremos representados por R$12865 em 1990 e R$14541 em 1993) assumindo trajetoacuteria continuamente ascendente a partir de 1995 ateacute atingir o valor real de R$18943 em 2002 (meacutedia de janeiro a maio deflacionada pelo INPC a preccedilos de maio de 2002) quando o valor nominal do salaacuterio miacutenimo atingiu R$20000 Por sua vez o rendimento meacutedio real dos ocupados foi de R$68910 na meacutedia do periacuteodo 1990-1994 apresentando crescimento da ordem de 1832 no periacuteodo 1995-2001 quando chega agrave meacutedia de R$81533 A massa de rendimento real tanto para o total dos ocupados quanto para os trabalhadores assalariados (com e sem carteira assinada) cresceu de forma consistente entre 1992 e 1997 com um comportamento oscilante a partir de entatildeo Comparando o periacuteodo 1995-2001 com o periacuteodo anterior 1991-1994 observa-se um crescimento

da massa de renda real meacutedia tanto para o conjunto dos ocupados (2407) quanto para os trabalhadores assalariados (516)

O Governo Federal brasileiro por seu turno empenhado em corrigir as distorccedilotildees inerentes agrave evoluccedilatildeo do mercado de trabalho vem desenvolvendo programas de fomento ao emprego e ao trabalho e de proteccedilatildeo e assistecircncia ao trabalhador contando com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador ndash FAT Seu objetivo eacute criar mecanismos que permitam a melhoria das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade de vida do trabalhador destacando-se as accedilotildees nas aacutereas de qualificaccedilatildeo profissional seguro-desemprego abono salarial geraccedilatildeo de emprego e renda inspeccedilatildeo do trabalho e legislaccedilatildeo trabalhista

Em 1995 o Governo Federal por meio do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego instituiu o Plano Nacional de Qualificaccedilatildeo do Trabalhador ndash PLANFOR visando assegurar a integraccedilatildeo do trabalhador ao mercado de trabalho e promover assim o aumento de sua empregabilidade produtividade e renda Financiado majoritariamente com recursos do FAT o PLANFOR eacute executado de forma descentralizada por instituiccedilotildees de formaccedilatildeo profissional sob responsabilidade das Secretarias Estaduais de Trabalho (em interaccedilatildeo com as Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego ampliando a participaccedilatildeo social e a sintonia com as demandas do setor produtivo) e das Parcerias Nacionais realizadas predominantemente com entidades patronais e associaccedilotildees sindicais O PLANFOR focaliza sua atuaccedilatildeo em populaccedilotildees vulneraacuteveis dotadas de maior dificuldade de acesso a outras alternativas de qualificaccedilatildeo em decorrecircncia de situaccedilotildees de pobreza baixa escolaridade ou discriminaccedilatildeo no mercado de trabalho No periacuteodo 1995-2001 foram qualificadas 153 milhotildees de pessoas com recursos da ordem de R$ 23 bilhotildees

O Seguro-Desemprego constitui uma accedilatildeo de amparo aos trabalhadores demitidos sem justa causa Na deacutecada de 1990 o pagamento do benefiacutecio do seguro-desemprego ajudou a preservar em meacutedia cerca de 13 da renda de salaacuterio do trabalhador formal do setor privado dispensado sem justa causa considerando a remuneraccedilatildeo meacutedia mensal do trabalhador com carteira assinada Entre 1994 e 2001 foram concedidos 354 milhotildees de benefiacutecios com recursos da ordem de R$282 bilhotildees Para o periacuteodo que se estende de 1995 a 2001 tiveram acesso ao programa 442 milhotildees de trabalhadores por ano em meacutedia de um total meacutedio de 45 milhotildees de requerimentos ao custo meacutedio anual de aproximadamente R$ 468 bilhotildees (em R$ de dezembro de 2001) O nuacutemero meacutedio de beneficiaacuterios no periacuteodo supera a meacutedia de beneficiaacuterios do periacuteodo 1990-94 em cerca de 20 Uma das causas do crescimento do volume de segurados eacute a flexibilizaccedilatildeo dos criteacuterios para a sua concessatildeo visto que a partir da segunda metade da deacutecada de 1990 houve reduccedilatildeo do tempo de viacutenculo empregatiacutecio necessaacuterio para o acesso ao benefiacutecio

O Abono Salarial eacute uma iniciativa de assistecircncia ao trabalhador consistindo no pagamento anual de um salaacuterio miacutenimo a trabalhadores dos setores privado e puacuteblico que atendam a determinados requisitos dentre eles a percepccedilatildeo de remuneraccedilatildeo meacutedia mensal natildeo superior a dois salaacuterios miacutenimos no ano de referecircncia Calcula-se que o impacto do abono na renda anual do trabalhador seja em meacutedia de 5 o que corresponde a uma complementaccedilatildeo de renda significativa para esse segmento de trabalhadores de baixa renda No mecircs que eacute pago o benefiacutecio o impacto na renda pode alcanccedilar aproximadamente 70 funcionando como um 14ordm salaacuterio aos trabalhadores de mais baixos salaacuterios No periacuteodo de 1995-2001 foram liberados em meacutedia 54 milhotildees de abonos salariais por ano nuacutemero 23 superior agrave meacutedia do periacuteodo 1990-1994 que consistiu em 44 milhotildees de abonos anuais

O Programa de Geraccedilatildeo de Emprego e Renda ndash PROGER vem-se consolidando como um dos principais instrumentos de que dispotildee o Governo para incrementar a poliacutetica puacuteblica de geraccedilatildeo de

emprego e renda e melhoria da qualidade de vida do trabalhador Sua operacionalizaccedilatildeo ocorre mediante concessatildeo de creacuteditos em condiccedilotildees especiais destinados ao financiamento de atividades produtivas nos setores formal e informal da economia nas aacutereas urbana e rural O PROGER Urbano possui como puacuteblicos-alvo as micro e pequenas empresas cooperativas e associaccedilotildees de produccedilatildeo bem como os profissionais liberais receacutem-formados trabalhadores autocircnomos prestadores de serviccedilo em geral artesatildeos e pequenos e micro negoacutecios familiares O PROGER Rural por sua vez atende prioritariamente aos pequenos produtores rurais de forma individual ou coletiva inclusive agraves atividades pesqueira extrativa vegetal e de aquumlicultura A concessatildeo dos creacuteditos eacute vinculada agrave realizaccedilatildeo de programas de capacitaccedilatildeo teacutecnico-gerencial qualificaccedilatildeo profissional assistecircncia teacutecnica e acompanhamento dos empreendimentos beneficiados As operaccedilotildees de creacutedito tecircm como agentes financeiros os seguintes bancos oficiais Banco do Brasil Banco do Nordeste do Brasil Caixa Econocircmica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social ndash BNDES Entre 1995 e 2001 foram realizadas aproximadamente 860 mil operaccedilotildees totalizando investimentos da ordem de R$69 bilhotildees

A Inspeccedilatildeo do Trabalho volta-se para o combate agrave informalidade agregando agraves accedilotildees tiacutepicas da fiscalizaccedilatildeo do trabalho mecanismos para facilitar a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de trabalhadores nas empresas tais como as mesas de entendimento e o condomiacutenio de empregadores A formalizaccedilatildeo dos contratos de trabalho estende as garantias trabalhistas e previdenciaacuterias aos trabalhadores desamparados do sistema laboral legal A intensificaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo do trabalho contribuiu para a formalizaccedilatildeo de um total de 21 milhotildees de viacutenculos empregatiacutecios inicialmente desprotegidos no periacuteodo de 1996 a 2001

Finalmente o Governo brasileiro apresentou ao longo dos uacuteltimos anos vaacuterias propostas de modernizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista com vistas a adequaacute-la aos novos padrotildees de relaccedilatildeo entre capital e trabalho A tocircnica desse conjunto de propostas eacute o reforccedilo agrave via negocial para a soluccedilatildeo dos conflitos inerentes agraves relaccedilotildees de trabalho Cabe destaque agraves seguintes iniciativas Banco de Horas (sistema de compensaccedilatildeo de horas extras previamente autorizado em convenccedilatildeo ou acordo coletivo que permite agrave empresa adequar as jornadas de trabalho agraves variaccedilotildees sazonais mediante a diminuiccedilatildeo proporcional da jornada em periacuteodos de decliacutenio da demanda) Mesas de Entendimento (mecanismo de fiscalizaccedilatildeo de caraacuteter pedagoacutegico natildeo punitivo buscando regularizar a situaccedilatildeo que suscitou a accedilatildeo fiscal por meio de entendimentos entre a fiscalizaccedilatildeo a empresa e os trabalhadores consubstanciados em um Termo de Compromisso) Condomiacutenio dos Empregadores (uniatildeo de produtores rurais ndash pessoas fiacutesicas com a finalidade de contratar trabalhadores rurais que prestaratildeo serviccedilos exclusivamente para seus condocircminos estimulando a formalizaccedilatildeo dos viacutenculos empregatiacutecios no campo) aleacutem de accedilotildees voltadas para a inserccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia no mercado de trabalho por meio de modalidades como a colocaccedilatildeo seletiva

Essas satildeo as linhas gerais de estruturaccedilatildeo do mercado de trabalho brasileiro e de atuaccedilatildeo do Governo Federal nos uacuteltimos anos Os impactos no mercado de trabalho inerentes ao processo de integraccedilatildeo da economia nacional agrave economia global satildeo consideraacuteveis Nesse contexto o Governo brasileiro ciente dos desafios que lhe satildeo postos estaacute empenhado em criar e manter as condiccedilotildees macroeconocircmicas favoraacuteveis e em implementar as poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo do emprego e da renda necessaacuterias para a construccedilatildeo de um futuro mais proacutespero para todos

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmtbgovbr httpwwwmpasgovbr

Dinacircmica Demograacutefica por Manoel A Costa

A populaccedilatildeo brasileira teve um aumento de 313 milhotildees de pessoas durante os 68 anos que separam a realizaccedilatildeo do primeiro recenseamento em 1872 do quinto em 1940 De acordo com os cinco censos desse periacuteodo a populaccedilatildeo nacional era constituiacuteda de 99 milhotildees em 1872 143 milhotildees em 1890 174 milhotildees em 1900 306 milhotildees em 1920 e finalmente 412 milhotildees em 1940 A partir desse ano e durante os 51 anos seguintes o contingente nacional aumentou pouco mais de 100 milhotildees de pessoas ateacute a data do Censo de 1991 e de acordo com o uacuteltimo censo de 1996 nestes quatro anos houve um acreacutescimo de cerca de 7 milhotildees de pessoas na populaccedilatildeo brasileira

A tabela sobre populaccedilatildeo apresenta alguns indicadores da dinacircmica demograacutefica a partir de 1940 taxas de natalidade de mortalidade de crescimento natural e de crescimento total prevalecentes durante os periacuteodos que separam a realizaccedilatildeo dos levantamentos estatiacutesticos complementando-os com estimativas ateacute os primeiros dez anos do seacuteculo XXI Aleacutem disso a tabela apresenta a evoluccedilatildeo do aumento da populaccedilatildeo e estimativas do nuacutemero de nascidos vivos para cada periacuteodo decenal

O incremento decenal da populaccedilatildeo aumentou significativa e continuamente ateacute os anos 70 apesar de a taxa de crescimento ter comeccedilado a declinar a partir de 1955 Enquanto entre 1940-1950 ocorreu um aumento de 109 milhotildees de habitantes entre 1980-1990 a populaccedilatildeo nacional aumentou em 248 milhotildees embora a taxa meacutedia anual de crescimento tenha se reduzido de 239 aa durante o primeiro periacuteodo para 193 anuais no uacuteltimo Estima-se que ocorreraacute um expressivo aumento populacional da ordem de 21 milhotildees de pessoas durante o uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX e os primeiros dez anos do seacuteculo XXI ainda que a taxa de crescimento continue se reduzindo

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwibgegovbr

A Transiccedilatildeo Demograacuteficapor Manoel A Costa

Nos anos 80 consolidou-se a transiccedilatildeo demograacutefica brasileira Tambeacutem neste periacuteodo registrou-se pela primeira vez na histoacuteria do Brasil um numeroso fluxo emigratoacuterio de matildeo-de-obra Estima-se que um contigente de 13 milhatildeo de brasileiros emigrou para o exterior durante esses anos

A transiccedilatildeo demograacutefica nacional apoacutes um iniacutecio moderado na segunda metade dos anos 60 transcorreu com uma aceleraccedilatildeo crescente durante as duas deacutecadas seguintes por causa da raacutepida reduccedilatildeo da fecundidade e resultou na reduccedilatildeo do crescimento demograacutefico natural da populaccedilatildeo de um ritmo elevado de 299 ao ano entre 1950-1960 praticamente ineacutedito ateacute entatildeo entre populaccedilotildees numerosas para o niacutevel de 193 meacutedios anuais entre 1980-1991

Estima-se que a fecundidade continuaraacute se reduzindo e se aproximaraacute num futuro natildeo muito distante do niacutevel de reposiccedilatildeo de 21 filhos por mulher em idade feacutertil Partindo de uma simulaccedilatildeo com essa perspectiva prevecirc-se que a taxa de crescimento da populaccedilatildeo nacional ficaraacute abaixo de 10 anual a partir de 2015-2020 e abaixo de 05 depois de 2035 Seguindo essa tendecircncia a

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

Interiorizaccedilatildeo por Eliza Pinto de Almeida

O Brasil durante trecircs seacuteculos consecutivos teve um povoamento predominantemente litoracircneo A pecuaacuteria no sertatildeo nordestino foi a primeira atividade a impulsionar a ocupaccedilatildeo do interior Em meados do seacuteculo XVIII no que hoje satildeo os estados de Goiaacutes Mato Grosso Bahia e Minas Gerais amplia-se o processo de interiorizaccedilatildeo graccedilas agrave mineraccedilatildeo do ouro e das pedras preciosas Grandes fluxos migratoacuterios deslocam-se para essa aacuterea onde surgem paralelamente numerosas cidades

A extremidade meridional do atual territoacuterio brasileiro foi durante muito tempo disputada por portugueses e espanhoacuteis Somente em princiacutepios do seacuteculo XVIII eacute que essa regiatildeo seraacute incorporada ao territoacuterio brasileiro quando o governo portuguecircs destaca tropas de defesa para a aacuterea Ao mesmo tempo uma corrente de povoadores oriundos de Satildeo Paulo se estabelece no atual estado do Rio Grande do Sul Graccedilas agraves excelentes condiccedilotildees naturais a pecuaacuteria pocircde desenvolver-se plenamente nessa regiatildeo

Frentes pioneiras no seacuteculo XIX efetivaram a ocupaccedilatildeo do interior do estado de Satildeo Paulo Com as ferrovias novas aacutereas satildeo anexadas agrave produccedilatildeo cafeeira e assim muitas cidades nascem ligadas a essa atividade Satildeo Paulo se torna um poacutelo dinacircmico de vastas aacutereas que abrangem os estados do Sul do Paiacutes aleacutem de parcelas de Minas Gerais e Rio de Janeiro

A Amazocircnia teraacute a sua ocupaccedilatildeo consolidada no final do seacuteculo XIX a partir da crescente procura da borracha nos mercados europeus que estimulou a exploraccedilatildeo econocircmica desse produto e acabou desencadeando um intenso fluxo migratoacuterio vindo principalmente do Nordeste

No entanto as relaccedilotildees entre os lugares eram inconstantes natildeo havendo uma integraccedilatildeo entre as diversas regiotildees do Paiacutes A agricultura comercial e a mineraccedilatildeo foram a base do povoamento do territoacuterio brasileiro mas o seu desenvolvimento se deu em subespaccedilos que evoluiacuteam segundo loacutegicas proacuteprias ditadas em grande parte por suas relaccedilotildees com o mundo exterior

Mas seraacute no poacutes-Segunda Guerra com os investimentos em infra-estrutrura que ocorreraacute extensiva e intensamente a ocupaccedilatildeo do territoacuterio brasileiro A construccedilatildeo de Brasiacutelia inaugurada em 1960 eacute um siacutembolo desse processo de interiorizaccedilatildeo Procurou-se promover a integraccedilatildeo do Centro-oeste e da Amazocircnia ao conjunto da economia nacional atraveacutes da implantaccedilatildeo de projetos agropecuaacuterios e da construccedilatildeo de rodovias de integraccedilatildeo nacional Essas medidas intensificaram os fluxos de capitais e as migraccedilotildees para essas regiotildees

Metropolizaccedilatildeo por Adriana Bernardes

Com a industrializaccedilatildeo a mecanizaccedilatildeo da agricultura e o ecircxodo rural algumas cidades brasileiras passaram a acolher enormes contingentes populacionais em busca de emprego e acesso a serviccedilos diversos Ateacute 1960 somente as cidades de Satildeo Paulo e Rio de Janeiro tinham mais de 1 milhatildeo de habitantes e poderiam ser consideradas metroacutepoles A polarizaccedilatildeo de funccedilotildees industriais e

administrativas respectivamente nestes dois centros urbanos atraiacuteram grande parte do fluxo migratoacuterio nacional dos anos 50 e 60

Na deacutecada de 70 o crescimento de grandes cidades ocorre em todas as regiotildees do Paiacutes caracterizando o processo de metropolizaccedilatildeo no Brasil Em 1973 foram criadas oficialmente nove regiotildees metropolitanas ao redor das cidades de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Beleacutem Fortaleza Recife Salvador Belo Horizonte Porto Alegre e Curitiba

Entre 1950 e 1980 a participaccedilatildeo das atuais regiotildees metropolitanas no total da populaccedilatildeo brasileira saltou de 1795 para 2893 iacutendice que se manteve praticamente inalterado no iniacutecio da deacutecada de 90 Aleacutem das regiotildees mencionadas acima existem cidades que polarizam grandes parcelas do contingente populacional urbano e que na praacutetica se caracterizam como regiotildees metropolitanas Satildeo as chamadas cidades milionaacuterias como Brasiacutelia Goiacircnia Manaus Santos e Campinas

Diferenccedilas Regionais por Liacutedia Antongiovanni

O Brasil apresenta os mais variados aspectos naturais que aliados agraves diferentes atividades econocircmicas e aos processos de povoamento e interiorizaccedilatildeo caracterizam sua diversidade regional Com o objetivo de executar um planejamento nacional o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) dividiu o paiacutes em cinco grandes regiotildees Norte (Acre Amapaacute Amazonas Rondocircnia Roraima Paraacute Tocantins) Nordeste (Maranhatildeo Piauiacute Cearaacute Rio Grande do Norte Paraiacuteba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia) Sudeste (Minas Gerais Espiacuterito Santo Rio de Janeiro Satildeo Paulo) Sul (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul) e Centro-oeste (Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiaacutes Distrito Federal)

O Sul e o Sudeste satildeo densamente povoados com destacada atividade agriacutecola industrial e de serviccedilos Estas regiotildees acompanharam as modernizaccedilotildees desde o fim do seacuteculo XIX o que propiciou a urbanizaccedilatildeo e uma vida de relaccedilotildees muito dinacircmicas Mas o Sudeste tem o maior desenvolvimento industrial e de serviccedilos o que lhe garante com a presenccedila de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro um papel de comando da economia nacional

Na regiatildeo Norte comumente chamada de Amazocircnia os traccedilos naturais tecircm grande importacircncia e suas riquezas dominam a vida econocircmica A partir da deacutecada de 70 instalou-se uma agricultura moderna e uma pequena atividade industrial Esta regiatildeo de ocupaccedilatildeo rarefeita (33 habkm2 em 2000) tem atualmente uma nova dinacircmica populacional a do aumento da populaccedilatildeo associado ao fenocircmeno da concentraccedilatildeo urbana

O Nordeste eacute uma regiatildeo de velho povoamento fato que marca ainda hoje suas relaccedilotildees As secas com periacuteodos de longa estiagem satildeo em parte responsaacuteveis por movimentos populacionais desde o seacuteculo XVII Esta regiatildeo apresenta duas grandes porccedilotildees o litoral e o sertatildeo O litoral concentra as cidades as atividades industriais e turiacutesticas No interior onde se encontra o sertatildeo algumas aacutereas de irrigaccedilatildeo permitem uma atividade agriacutecola constante e bastante tecnificada juntamente com a pecuaacuteria e a agricultura extensiva

Durante os seacuteculos XVII e XVIII o Centro-oeste foi alvo de exploraccedilatildeo mineira e paralelamente desenvolveu uma atividade pecuaacuteria que permanece ateacute hoje A partir da deacutecada de 70 os cerrados ateacute entatildeo praticamente vazios puderam ser ocupados modernamente em especial com o cultivo da

soja Na regiatildeo o investimento em rodovias e o processo de urbanizaccedilatildeo a integram ao Sudeste e Sul

Desconcentraccedilatildeo Industrial por Eliza Pinto de Almeida

A aceleraccedilatildeo do processo de industrializaccedilatildeo do Brasil ocorreu no poacutes-Segunda Guerra Mundial A integraccedilatildeo dos meios de transporte e de comunicaccedilatildeo e a unificaccedilatildeo do mercado em escala nacional permitiram que se ampliasse e diversificasse a produccedilatildeo industrial Essa atividade concentra-se na regiatildeo Sudeste do Brasil sobretudo no estado de Satildeo Paulo cuja capital se tornou o maior centro fabril do Paiacutes

A difusatildeo da modernizaccedilatildeo especialmente a partir da deacutecada de 70 modifica os sistemas de transportes e telecomunicaccedilotildees integrando o territoacuterio Por outro lado as mudanccedilas tecnoloacutegicas devidas agrave difusatildeo da informaacutetica e da eletrocircnica permitem um maior controle agrave distacircncia dos processos produtivos Tudo isso favorece a desconcentraccedilatildeo industrial com a instalaccedilatildeo de faacutebricas modernas em diversos pontos do Paiacutes

O estado de Satildeo Paulo na deacutecada 70 respondia por 5842 do valor da produccedilatildeo industrial do paiacutes e em 1990 esse iacutendice passa para 5283 Haacute tambeacutem uma tendecircncia ao crescimento da participaccedilatildeo industrial no interior paulista Fala-se por isso em esvaziamento da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e tambeacutem em desconcentraccedilatildeo industrial

Em 1970 tomando-se este estado como um todo a regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo detinha 7752 do Valor de Transformaccedilatildeo Industrial sendo que em 1990 essa participaccedilatildeo diminui para 5892

Os dados indicam que natildeo eacute mais a funccedilatildeo industrial que assegura a Satildeo Paulo um papel diretor na dinacircmica soacutecio-econocircmica e espacial mas sim o comando das atividades ligadas agrave produccedilatildeo e agrave gestatildeo da informaccedilatildeo que faz agora da metroacutepole paulista um importante centro informacional

Centro Informacional por Adriana Bernardes

Ao longo do seacuteculo XX a capital do estado de Satildeo Paulo se afirma como metroacutepole nacional principalmente pela forccedila de sua induacutestria Mas agora a metroacutepole paulistana se refuncionaliza passando a ser um grande centro urbano produtor de informaccedilotildees Sua primazia natildeo mais adveacutem de sua atividade fabril mas sim de sua capacidade de concentrar atividades de produccedilatildeo coleta classificaccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

Muda a qualidade do papel de comando de Satildeo Paulo sobre a totalidade do territoacuterio brasileiro Enquanto os nuacutemeros da produccedilatildeo e do emprego industrial diminuem aumenta a forccedila metropolitana no Paiacutes e no mundo graccedilas agrave presenccedila de um expressivo e sofisticado setor de serviccedilos Tal setor engloba atividades financeiras de consultoria publicidade marketing e pesquisa entre outras

A nova hierarquia do sistema urbano depende destes fluxos de informaccedilatildeo cujo controle atraveacutes da emissatildeo de mensagens ideacuteias e ordens garante agrave metroacutepole paulistana um papel regulador de um crescente nuacutemero de tarefas dispersas pelo Paiacutes

Sistema Rodoviaacuterio - Autopistas por Marcos Antonio de Moraes Xavier

Ateacute a primeira metade do seacuteculo XX de um modo geral as estradas de rodagem brasileiras representavam pequenos investimentos pontuais Natildeo havia um sistema que cobrisse todo o territoacuterio nacional Tais estradas em sua maioria eram caminhos de terra A constituiccedilatildeo de um sistema rodoviaacuterio nacional criando as ligaccedilotildees inter-regionais necessaacuterias ao processo de integraccedilatildeo ocorre a partir do empenho em equipar o territoacuterio para atender entre outras demandas o desenvolvimento da induacutestria paulista Um marco desta fase foi o Plano Viaacuterio Nacional de 1952 onde as rodovias jaacute aparecem como principal via de transporte

Desde os anos 50 e notadamente a partir dos anos 70 o sistema rodoviaacuterio brasileiro cresce acompanhado pela pavimentaccedilatildeo e duplicaccedilatildeo de rodovias que passam a formar autopistas modernas e raacutepidas Este crescimento destaca-se nas regiotildees Norte (20133) e Centro-oeste (15339) aacutereas onde o povoamento era rarefeito e que neste momento passam a ser aacutereas de avanccedilo do processo de interiorizaccedilatildeo

Atualmente encontramos nas regiotildees Sudeste Nordeste e Sul o maior nuacutemero de rodovias pavimentadas e as maiores densidades do sistema (extensatildeo em quilocircmetros do sistema rodoviaacuterio por 1 mil km2 de aacuterea)

O Brasil e a Economia Mundial Contemporacircnea por Joseacute Tavares de Arauacutejo Jr

Uma caracteriacutestica central do progresso tecnoloacutegico nas uacuteltimas trecircs deacutecadas tem sido o contraste entre o decliacutenio acelerado dos custos de informaccedilatildeo e a relativa estabilidade dos custos de transporte Este contraste vem alimentando as tendecircncias simultacircneas em direccedilatildeo agrave globalizaccedilatildeo de mercados e agrave regionalizaccedilatildeo das estruturas produtivas que marcaram a economia mundial no passado recente Estas tendecircncias por sua vez redefiniram os perfis de inserccedilatildeo internacional das economias domeacutesticas e as prioridades da agenda multilateral de comeacutercio

Os novos padrotildees de concorrecircncia internacional acentuaram a importacircncia da prestaccedilatildeo de serviccedilos da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e do investimento direto no exterior como fontes de sustentaccedilatildeo do desempenho exportador das economias nacionais Tais padrotildees reduziram a eficaacutecia dos instrumentos convencionais de poliacutetica comercial como tarifas quotas e salvaguardas ao mesmo tempo em que introduziram novos temas na agenda multilateral de comeacutercio como o uso de regulamentos domeacutesticos para proteger as induacutestrias da fronteira tecnoloacutegica e as praacuteticas anticompetitivas com dimensatildeo internacional

Do ponto de vista das economias nacionais a busca de eficiecircncia produtiva o estiacutemulo agrave inovaccedilatildeo e a melhoria das condiccedilotildees de inserccedilatildeo internacional das empresas domeacutesticas tornaram-se partes complementares de um desafio comum Para o governo isto implica natildeo apenas a convergecircncia das poliacuteticas industrial tecnoloacutegica e de comeacutercio exterior mas tambeacutem a coerecircncia de tais poliacuteticas com outras accedilotildees do governo nos planos macroeconocircmico e da regulaccedilatildeo das condiccedilotildees de concorrecircncia nos mercados domeacutesticos

Um desafio adicional impliacutecito no cenaacuterio contemporacircneo reside no fato de que a Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) natildeo dispotildee ainda dos instrumentos de regulaccedilatildeo necessaacuterios para lidar com os padrotildees de concorrecircncia em vigor Embora a reuniatildeo ministerial de Doha realizada em novembro de 2001 tenha ratificado o consenso da comunidade internacional quanto agrave necessidade de fortalecer a OMC na praacutetica tal consenso significou apenas que os paiacuteses membros estatildeo comprometidos a levar adiante a rodada de negociaccedilotildees mas natildeo autoriza qualquer previsatildeo otimista quanto aos resultados deste empreendimento no futuro proacuteximo dada a magnitude dos desafios que a OMC enfrenta atualmente

Um tema que bem ilustra as presentes limitaccedilotildees da OMC eacute o de poliacutetica de concorrecircncia que passou a desempenhar um papel central no plano internacional natildeo soacute para combater carteacuteis e fiscalizar a conduta das corporaccedilotildees transnacionais mas sobretudo para regular conflitos advindos da proteccedilatildeo agraves induacutestrias de alta tecnologia O debate sobre essas questotildees na OMC tem sido intenso desde dezembro de 1996 quando foi criado o Grupo de Trabalho sobre a Interaccedilatildeo entre Comeacutercio e Poliacutetica de Concorrecircncia Nos dois anos seguintes cerca de 170 documentos governamentais foram submetidos ao grupo cobrindo uma agenda substantiva que de fato foi bem aleacutem das relaccedilotildees entre comeacutercio e concorrecircncia A despeito da participaccedilatildeo ativa de praticamente todos os membros da OMC que dispotildeem de leis de concorrecircncia esse debate tem sido limitado por dois tipos de restriccedilotildees Por um lado qualquer acordo multilateral sobre regras de concorrecircncia soacute teraacute algum significado na medida em que todos os membros da OMC ou pelo menos sua grande maioria estiverem capacitados a aplicar aquelas normas em seus respectivos territoacuterios Por outro lado a OMC eacute uma instituiccedilatildeo desenhada para lidar essencialmente com atos de governos enquanto que o foco principal da poliacutetica de concorrecircncia eacute a conduta dos agentes econocircmicos

Em suma natildeo eacute provaacutevel que as principais fragilidades da OMC venham a ser superadas no futuro proacuteximo Entretanto a atuaccedilatildeo do Brasil naquele foacuterum durante os anos 90 demonstrou que mesmo assim ndash e sobretudo apoacutes o surto recente de pressotildees protecionistas nos Estados Unidos ndash interessa aos paiacuteses em desenvolvimento promover o sistema multilateral de comeacutercio Casos como EmbraerBombardier e a controveacutersia sobre patentes farmacecircuticas jaacute se tornaram siacutembolos de situaccedilotildees em que estrateacutegias negociadoras bem fundamentadas conseguem preservar interesses nacionais legiacutetimos Aleacutem de conferir maior credibilidade agrave OMC e agraves posiccedilotildees defendidas pelo Brasil nas negociaccedilotildees em curso esses casos tambeacutem se revelaram instrumentais para fomentar o diaacutelogo bilateral com diversos parceiros importantes como Japatildeo China Iacutendia Austraacutelia e Aacutefrica do Sul

Aleacutem de promover a OMC outro toacutepico prioritaacuterio da poliacutetica comercial brasileira eacute a reconstruccedilatildeo do MERCOSUL que tem desempenhado um papel estrateacutegico na defesa dos interesses brasileiros no plano multilateral nas negociaccedilotildees sobre a criaccedilatildeo de uma Aacuterea de Livre Comeacutercio das Ameacutericas (ALCA) e no diaacutelogo com a Uniatildeo Europeacuteia O MERCOSUL eacute importante por razotildees de

geografia econocircmica os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo internacional natildeo constituem anomalias efecircmeras mas foram gerados gradualmente ao longo de vaacuterias deacutecadas em decorrecircncia da dicotomia acima referida entre custos de informaccedilatildeo e de transporte Portanto a menos que os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo venham a ser redefinidos por outra revoluccedilatildeo tecnoloacutegica as metas da integraccedilatildeo regional continuaratildeo a ser prioritaacuterias para o Brasil

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwfazendagovbr httpwwwmdicgovbr httpwwwbndesgovbr httpwww1bcbgovbr httpwwwipeagovbr httpwwwmpogovbr

Mercado de Trabalho por Paulo Machado

A integraccedilatildeo competitiva da economia brasileira agrave economia global e a conquista da estabilidade influenciaram estruturalmente o funcionamento do mercado de trabalho do Paiacutes Foram registradas na deacutecada 1990 e ao longo dos uacuteltimos anos dinacircmicas particularmente relevantes nos quesitos emprego formalidade e renda dos trabalhadores o que exigiu mudanccedilas substantivas na atuaccedilatildeo das instituiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees trabalhistas

A evoluccedilatildeo do emprego pode ser melhor compreendida recorrendo-se aos dados da Pesquisa Mensal de Emprego ndash PMEIBGE visto que sua metodologia obedece a criteacuterios internacionalmente aceitos A taxa de desemprego medida pela PMEIBGE atingiu 76 em 1999 caiu para 71 em 2000 e reduziu-se novamente para 62 em 2001 atingindo entatildeo seu ponto mais baixo nos uacuteltimos quatro anos

Uma primeira anaacutelise dessa trajetoacuteria poderia sugerir que 2001 foi o ano em que o mercado de trabalho brasileiro teve seu melhor desempenho No entanto em 2000 foram criados em termos liacutequidos cerca de 700 mil postos de trabalho enquanto que em 2001 esse resultado atingiu aproximadamente 106 mil Observa-se assim que o desempenho do mercado de trabalho natildeo pode ser avaliado exclusivamente pela trajetoacuteria da taxa de desemprego Igualmente importante eacute medir a capacidade da economia de gerar saldos positivos de postos de trabalho Para corroborar essa situaccedilatildeo entre janeiro e junho de 2002 a PMEIBGE registra um aumento da ordem de cerca de 192 mil postos de trabalho considerando-se apenas as 6 regiotildees metropolitanas pesquisadas (Belo Horizonte Porto Alegre Recife Rio de Janeiro Salvador e Satildeo Paulo) No entanto como a taxa de desemprego resulta do cruzamento entre o nuacutemero de postos gerados e a quantidade de pessoas procurando emprego houve um pequeno crescimento do desemprego no primeiro semestre de 2002 atingindo na meacutedia 72 Essa aparente contradiccedilatildeo se explica pelo fato de que mais pessoas tem-se sentido incentivadas a procurar emprego o que provavelmente reflete expectativas mais favoraacuteveis quanto agrave perspectiva de obtenccedilatildeo de emprego Somente nos seis primeiros meses de

2002 aproximadamente 434 mil pessoas entraram no mercado de trabalho Destas cerca de 262 mil satildeo oriundas do desalento ou seja satildeo trabalhadores que haviam desistido de procurar emprego mas devido ao bom desempenho do mercado de trabalho vislumbraram novamente a chance de ter um emprego

A taxa meacutedia de desemprego dos primeiros seis meses do ano de 2002 carrega uma certa sazonalidade negativa pois trata-se de um periacuteodo tipicamente marcado por taxas mais elevadas Nesse contexto eacute razoaacutevel esperar que a taxa de desemprego recue a partir do terceiro trimestre Vale destacar que a taxa de desemprego brasileira da ordem de 75 em junho ainda eacute a mais baixa da Ameacuterica do Sul e uma das menores da Ameacuterica Latina

Em termos setoriais ao longo da deacutecada de 1990 a induacutestria de transformaccedilatildeo registrou reduccedilatildeo no niacutevel meacutedio de ocupaccedilatildeo experimentando a chamada desindustrializaccedilatildeo do emprego Por sua vez os serviccedilos e o comeacutercio apresentaram as maiores elevaccedilotildees na ocupaccedilatildeo meacutedia expressando um processo ascendente de terceirizaccedilatildeo do emprego Com efeito o mundo do trabalho tem sofrido raacutepidas e radicais transformaccedilotildees por meio da automaccedilatildeo da roboacutetica e da telemaacutetica Trata-se de um processo de substituiccedilatildeo de paradigmas na concepccedilatildeo da estrutura produtiva que se acentua a partir dos anos 80 A crescente automaccedilatildeo da produccedilatildeo processo que se acelerou a partir do iniacutecio da deacutecada de 1970 resultou na reduccedilatildeo da importacircncia do setor secundaacuterio da economia como empregador de matildeo-de-obra A atividade industrial maior geradora de empregos nos anos 70 perdeu essa posiccedilatildeo para o setor de serviccedilos nas deacutecadas de 1980 e 1990 Em 1992 o setor terciaacuterio e a induacutestria de transformaccedilatildeo respondiam respectivamente por 716 e 198 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelio ndash PNADIBGE Em 1998 o setor terciaacuterio abrigava 737 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola e mais da metade da populaccedilatildeo ocupada do Paiacutes enquanto o setor secundaacuterio reduziu sua participaccedilatildeo para 179

Com relaccedilatildeo agrave qualidade dos viacutenculos empregatiacutecios os indicadores mostram-se positivos sob a forma da geraccedilatildeo consistente de postos de trabalho formais entre 1994 e 2002 Conforme dados da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais ndash RAISMTE o nuacutemero de empregados cresceu de 237 milhotildees em 1994 para aproximadamente 268 milhotildees em 2001 Em fins de 2001 portanto havia cerca de 31 milhotildees de pessoas a mais empregadas formalmente quando comparadas agrave mesma data de 1994 O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ndash CAGEDMTE igualmente corrobora a manutenccedilatildeo da trajetoacuteria de recuperaccedilatildeo dos postos de trabalho em 2002 Em junho uacuteltimo o CAGEDMTE registrou a criaccedilatildeo de 133 mil novas vagas o que significa um saldo acumulado de aproximadamente 681 mil postos de trabalho em 2002 Trata-se da melhor performance de toda a seacuterie histoacuterica do CAGEDMTE (iniciado em 1985) quando se compara os primeiros seis meses de 2002 ao mesmo periacuteodo dos anos anteriores Assim de janeiro de 2000 a junho de 2002 registra-se um saldo positivo de 19 milhatildeo de novos postos de trabalho formais

Com relaccedilatildeo agrave renda dos trabalhadores deve-se destacar o crescimento real do salaacuterio miacutenimo entre 1991 e 2002 O salaacuterio miacutenimo apresentou tendecircncia oscilante entre 1990 e 1994 (variando entre os poacutelos extremos representados por R$12865 em 1990 e R$14541 em 1993) assumindo trajetoacuteria continuamente ascendente a partir de 1995 ateacute atingir o valor real de R$18943 em 2002 (meacutedia de janeiro a maio deflacionada pelo INPC a preccedilos de maio de 2002) quando o valor nominal do salaacuterio miacutenimo atingiu R$20000 Por sua vez o rendimento meacutedio real dos ocupados foi de R$68910 na meacutedia do periacuteodo 1990-1994 apresentando crescimento da ordem de 1832 no periacuteodo 1995-2001 quando chega agrave meacutedia de R$81533 A massa de rendimento real tanto para o total dos ocupados quanto para os trabalhadores assalariados (com e sem carteira assinada) cresceu de forma consistente entre 1992 e 1997 com um comportamento oscilante a partir de entatildeo Comparando o periacuteodo 1995-2001 com o periacuteodo anterior 1991-1994 observa-se um crescimento

da massa de renda real meacutedia tanto para o conjunto dos ocupados (2407) quanto para os trabalhadores assalariados (516)

O Governo Federal brasileiro por seu turno empenhado em corrigir as distorccedilotildees inerentes agrave evoluccedilatildeo do mercado de trabalho vem desenvolvendo programas de fomento ao emprego e ao trabalho e de proteccedilatildeo e assistecircncia ao trabalhador contando com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador ndash FAT Seu objetivo eacute criar mecanismos que permitam a melhoria das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade de vida do trabalhador destacando-se as accedilotildees nas aacutereas de qualificaccedilatildeo profissional seguro-desemprego abono salarial geraccedilatildeo de emprego e renda inspeccedilatildeo do trabalho e legislaccedilatildeo trabalhista

Em 1995 o Governo Federal por meio do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego instituiu o Plano Nacional de Qualificaccedilatildeo do Trabalhador ndash PLANFOR visando assegurar a integraccedilatildeo do trabalhador ao mercado de trabalho e promover assim o aumento de sua empregabilidade produtividade e renda Financiado majoritariamente com recursos do FAT o PLANFOR eacute executado de forma descentralizada por instituiccedilotildees de formaccedilatildeo profissional sob responsabilidade das Secretarias Estaduais de Trabalho (em interaccedilatildeo com as Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego ampliando a participaccedilatildeo social e a sintonia com as demandas do setor produtivo) e das Parcerias Nacionais realizadas predominantemente com entidades patronais e associaccedilotildees sindicais O PLANFOR focaliza sua atuaccedilatildeo em populaccedilotildees vulneraacuteveis dotadas de maior dificuldade de acesso a outras alternativas de qualificaccedilatildeo em decorrecircncia de situaccedilotildees de pobreza baixa escolaridade ou discriminaccedilatildeo no mercado de trabalho No periacuteodo 1995-2001 foram qualificadas 153 milhotildees de pessoas com recursos da ordem de R$ 23 bilhotildees

O Seguro-Desemprego constitui uma accedilatildeo de amparo aos trabalhadores demitidos sem justa causa Na deacutecada de 1990 o pagamento do benefiacutecio do seguro-desemprego ajudou a preservar em meacutedia cerca de 13 da renda de salaacuterio do trabalhador formal do setor privado dispensado sem justa causa considerando a remuneraccedilatildeo meacutedia mensal do trabalhador com carteira assinada Entre 1994 e 2001 foram concedidos 354 milhotildees de benefiacutecios com recursos da ordem de R$282 bilhotildees Para o periacuteodo que se estende de 1995 a 2001 tiveram acesso ao programa 442 milhotildees de trabalhadores por ano em meacutedia de um total meacutedio de 45 milhotildees de requerimentos ao custo meacutedio anual de aproximadamente R$ 468 bilhotildees (em R$ de dezembro de 2001) O nuacutemero meacutedio de beneficiaacuterios no periacuteodo supera a meacutedia de beneficiaacuterios do periacuteodo 1990-94 em cerca de 20 Uma das causas do crescimento do volume de segurados eacute a flexibilizaccedilatildeo dos criteacuterios para a sua concessatildeo visto que a partir da segunda metade da deacutecada de 1990 houve reduccedilatildeo do tempo de viacutenculo empregatiacutecio necessaacuterio para o acesso ao benefiacutecio

O Abono Salarial eacute uma iniciativa de assistecircncia ao trabalhador consistindo no pagamento anual de um salaacuterio miacutenimo a trabalhadores dos setores privado e puacuteblico que atendam a determinados requisitos dentre eles a percepccedilatildeo de remuneraccedilatildeo meacutedia mensal natildeo superior a dois salaacuterios miacutenimos no ano de referecircncia Calcula-se que o impacto do abono na renda anual do trabalhador seja em meacutedia de 5 o que corresponde a uma complementaccedilatildeo de renda significativa para esse segmento de trabalhadores de baixa renda No mecircs que eacute pago o benefiacutecio o impacto na renda pode alcanccedilar aproximadamente 70 funcionando como um 14ordm salaacuterio aos trabalhadores de mais baixos salaacuterios No periacuteodo de 1995-2001 foram liberados em meacutedia 54 milhotildees de abonos salariais por ano nuacutemero 23 superior agrave meacutedia do periacuteodo 1990-1994 que consistiu em 44 milhotildees de abonos anuais

O Programa de Geraccedilatildeo de Emprego e Renda ndash PROGER vem-se consolidando como um dos principais instrumentos de que dispotildee o Governo para incrementar a poliacutetica puacuteblica de geraccedilatildeo de

emprego e renda e melhoria da qualidade de vida do trabalhador Sua operacionalizaccedilatildeo ocorre mediante concessatildeo de creacuteditos em condiccedilotildees especiais destinados ao financiamento de atividades produtivas nos setores formal e informal da economia nas aacutereas urbana e rural O PROGER Urbano possui como puacuteblicos-alvo as micro e pequenas empresas cooperativas e associaccedilotildees de produccedilatildeo bem como os profissionais liberais receacutem-formados trabalhadores autocircnomos prestadores de serviccedilo em geral artesatildeos e pequenos e micro negoacutecios familiares O PROGER Rural por sua vez atende prioritariamente aos pequenos produtores rurais de forma individual ou coletiva inclusive agraves atividades pesqueira extrativa vegetal e de aquumlicultura A concessatildeo dos creacuteditos eacute vinculada agrave realizaccedilatildeo de programas de capacitaccedilatildeo teacutecnico-gerencial qualificaccedilatildeo profissional assistecircncia teacutecnica e acompanhamento dos empreendimentos beneficiados As operaccedilotildees de creacutedito tecircm como agentes financeiros os seguintes bancos oficiais Banco do Brasil Banco do Nordeste do Brasil Caixa Econocircmica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social ndash BNDES Entre 1995 e 2001 foram realizadas aproximadamente 860 mil operaccedilotildees totalizando investimentos da ordem de R$69 bilhotildees

A Inspeccedilatildeo do Trabalho volta-se para o combate agrave informalidade agregando agraves accedilotildees tiacutepicas da fiscalizaccedilatildeo do trabalho mecanismos para facilitar a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de trabalhadores nas empresas tais como as mesas de entendimento e o condomiacutenio de empregadores A formalizaccedilatildeo dos contratos de trabalho estende as garantias trabalhistas e previdenciaacuterias aos trabalhadores desamparados do sistema laboral legal A intensificaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo do trabalho contribuiu para a formalizaccedilatildeo de um total de 21 milhotildees de viacutenculos empregatiacutecios inicialmente desprotegidos no periacuteodo de 1996 a 2001

Finalmente o Governo brasileiro apresentou ao longo dos uacuteltimos anos vaacuterias propostas de modernizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista com vistas a adequaacute-la aos novos padrotildees de relaccedilatildeo entre capital e trabalho A tocircnica desse conjunto de propostas eacute o reforccedilo agrave via negocial para a soluccedilatildeo dos conflitos inerentes agraves relaccedilotildees de trabalho Cabe destaque agraves seguintes iniciativas Banco de Horas (sistema de compensaccedilatildeo de horas extras previamente autorizado em convenccedilatildeo ou acordo coletivo que permite agrave empresa adequar as jornadas de trabalho agraves variaccedilotildees sazonais mediante a diminuiccedilatildeo proporcional da jornada em periacuteodos de decliacutenio da demanda) Mesas de Entendimento (mecanismo de fiscalizaccedilatildeo de caraacuteter pedagoacutegico natildeo punitivo buscando regularizar a situaccedilatildeo que suscitou a accedilatildeo fiscal por meio de entendimentos entre a fiscalizaccedilatildeo a empresa e os trabalhadores consubstanciados em um Termo de Compromisso) Condomiacutenio dos Empregadores (uniatildeo de produtores rurais ndash pessoas fiacutesicas com a finalidade de contratar trabalhadores rurais que prestaratildeo serviccedilos exclusivamente para seus condocircminos estimulando a formalizaccedilatildeo dos viacutenculos empregatiacutecios no campo) aleacutem de accedilotildees voltadas para a inserccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia no mercado de trabalho por meio de modalidades como a colocaccedilatildeo seletiva

Essas satildeo as linhas gerais de estruturaccedilatildeo do mercado de trabalho brasileiro e de atuaccedilatildeo do Governo Federal nos uacuteltimos anos Os impactos no mercado de trabalho inerentes ao processo de integraccedilatildeo da economia nacional agrave economia global satildeo consideraacuteveis Nesse contexto o Governo brasileiro ciente dos desafios que lhe satildeo postos estaacute empenhado em criar e manter as condiccedilotildees macroeconocircmicas favoraacuteveis e em implementar as poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo do emprego e da renda necessaacuterias para a construccedilatildeo de um futuro mais proacutespero para todos

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmtbgovbr httpwwwmpasgovbr

Dinacircmica Demograacutefica por Manoel A Costa

A populaccedilatildeo brasileira teve um aumento de 313 milhotildees de pessoas durante os 68 anos que separam a realizaccedilatildeo do primeiro recenseamento em 1872 do quinto em 1940 De acordo com os cinco censos desse periacuteodo a populaccedilatildeo nacional era constituiacuteda de 99 milhotildees em 1872 143 milhotildees em 1890 174 milhotildees em 1900 306 milhotildees em 1920 e finalmente 412 milhotildees em 1940 A partir desse ano e durante os 51 anos seguintes o contingente nacional aumentou pouco mais de 100 milhotildees de pessoas ateacute a data do Censo de 1991 e de acordo com o uacuteltimo censo de 1996 nestes quatro anos houve um acreacutescimo de cerca de 7 milhotildees de pessoas na populaccedilatildeo brasileira

A tabela sobre populaccedilatildeo apresenta alguns indicadores da dinacircmica demograacutefica a partir de 1940 taxas de natalidade de mortalidade de crescimento natural e de crescimento total prevalecentes durante os periacuteodos que separam a realizaccedilatildeo dos levantamentos estatiacutesticos complementando-os com estimativas ateacute os primeiros dez anos do seacuteculo XXI Aleacutem disso a tabela apresenta a evoluccedilatildeo do aumento da populaccedilatildeo e estimativas do nuacutemero de nascidos vivos para cada periacuteodo decenal

O incremento decenal da populaccedilatildeo aumentou significativa e continuamente ateacute os anos 70 apesar de a taxa de crescimento ter comeccedilado a declinar a partir de 1955 Enquanto entre 1940-1950 ocorreu um aumento de 109 milhotildees de habitantes entre 1980-1990 a populaccedilatildeo nacional aumentou em 248 milhotildees embora a taxa meacutedia anual de crescimento tenha se reduzido de 239 aa durante o primeiro periacuteodo para 193 anuais no uacuteltimo Estima-se que ocorreraacute um expressivo aumento populacional da ordem de 21 milhotildees de pessoas durante o uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX e os primeiros dez anos do seacuteculo XXI ainda que a taxa de crescimento continue se reduzindo

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwibgegovbr

A Transiccedilatildeo Demograacuteficapor Manoel A Costa

Nos anos 80 consolidou-se a transiccedilatildeo demograacutefica brasileira Tambeacutem neste periacuteodo registrou-se pela primeira vez na histoacuteria do Brasil um numeroso fluxo emigratoacuterio de matildeo-de-obra Estima-se que um contigente de 13 milhatildeo de brasileiros emigrou para o exterior durante esses anos

A transiccedilatildeo demograacutefica nacional apoacutes um iniacutecio moderado na segunda metade dos anos 60 transcorreu com uma aceleraccedilatildeo crescente durante as duas deacutecadas seguintes por causa da raacutepida reduccedilatildeo da fecundidade e resultou na reduccedilatildeo do crescimento demograacutefico natural da populaccedilatildeo de um ritmo elevado de 299 ao ano entre 1950-1960 praticamente ineacutedito ateacute entatildeo entre populaccedilotildees numerosas para o niacutevel de 193 meacutedios anuais entre 1980-1991

Estima-se que a fecundidade continuaraacute se reduzindo e se aproximaraacute num futuro natildeo muito distante do niacutevel de reposiccedilatildeo de 21 filhos por mulher em idade feacutertil Partindo de uma simulaccedilatildeo com essa perspectiva prevecirc-se que a taxa de crescimento da populaccedilatildeo nacional ficaraacute abaixo de 10 anual a partir de 2015-2020 e abaixo de 05 depois de 2035 Seguindo essa tendecircncia a

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

administrativas respectivamente nestes dois centros urbanos atraiacuteram grande parte do fluxo migratoacuterio nacional dos anos 50 e 60

Na deacutecada de 70 o crescimento de grandes cidades ocorre em todas as regiotildees do Paiacutes caracterizando o processo de metropolizaccedilatildeo no Brasil Em 1973 foram criadas oficialmente nove regiotildees metropolitanas ao redor das cidades de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Beleacutem Fortaleza Recife Salvador Belo Horizonte Porto Alegre e Curitiba

Entre 1950 e 1980 a participaccedilatildeo das atuais regiotildees metropolitanas no total da populaccedilatildeo brasileira saltou de 1795 para 2893 iacutendice que se manteve praticamente inalterado no iniacutecio da deacutecada de 90 Aleacutem das regiotildees mencionadas acima existem cidades que polarizam grandes parcelas do contingente populacional urbano e que na praacutetica se caracterizam como regiotildees metropolitanas Satildeo as chamadas cidades milionaacuterias como Brasiacutelia Goiacircnia Manaus Santos e Campinas

Diferenccedilas Regionais por Liacutedia Antongiovanni

O Brasil apresenta os mais variados aspectos naturais que aliados agraves diferentes atividades econocircmicas e aos processos de povoamento e interiorizaccedilatildeo caracterizam sua diversidade regional Com o objetivo de executar um planejamento nacional o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) dividiu o paiacutes em cinco grandes regiotildees Norte (Acre Amapaacute Amazonas Rondocircnia Roraima Paraacute Tocantins) Nordeste (Maranhatildeo Piauiacute Cearaacute Rio Grande do Norte Paraiacuteba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia) Sudeste (Minas Gerais Espiacuterito Santo Rio de Janeiro Satildeo Paulo) Sul (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul) e Centro-oeste (Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiaacutes Distrito Federal)

O Sul e o Sudeste satildeo densamente povoados com destacada atividade agriacutecola industrial e de serviccedilos Estas regiotildees acompanharam as modernizaccedilotildees desde o fim do seacuteculo XIX o que propiciou a urbanizaccedilatildeo e uma vida de relaccedilotildees muito dinacircmicas Mas o Sudeste tem o maior desenvolvimento industrial e de serviccedilos o que lhe garante com a presenccedila de Satildeo Paulo e do Rio de Janeiro um papel de comando da economia nacional

Na regiatildeo Norte comumente chamada de Amazocircnia os traccedilos naturais tecircm grande importacircncia e suas riquezas dominam a vida econocircmica A partir da deacutecada de 70 instalou-se uma agricultura moderna e uma pequena atividade industrial Esta regiatildeo de ocupaccedilatildeo rarefeita (33 habkm2 em 2000) tem atualmente uma nova dinacircmica populacional a do aumento da populaccedilatildeo associado ao fenocircmeno da concentraccedilatildeo urbana

O Nordeste eacute uma regiatildeo de velho povoamento fato que marca ainda hoje suas relaccedilotildees As secas com periacuteodos de longa estiagem satildeo em parte responsaacuteveis por movimentos populacionais desde o seacuteculo XVII Esta regiatildeo apresenta duas grandes porccedilotildees o litoral e o sertatildeo O litoral concentra as cidades as atividades industriais e turiacutesticas No interior onde se encontra o sertatildeo algumas aacutereas de irrigaccedilatildeo permitem uma atividade agriacutecola constante e bastante tecnificada juntamente com a pecuaacuteria e a agricultura extensiva

Durante os seacuteculos XVII e XVIII o Centro-oeste foi alvo de exploraccedilatildeo mineira e paralelamente desenvolveu uma atividade pecuaacuteria que permanece ateacute hoje A partir da deacutecada de 70 os cerrados ateacute entatildeo praticamente vazios puderam ser ocupados modernamente em especial com o cultivo da

soja Na regiatildeo o investimento em rodovias e o processo de urbanizaccedilatildeo a integram ao Sudeste e Sul

Desconcentraccedilatildeo Industrial por Eliza Pinto de Almeida

A aceleraccedilatildeo do processo de industrializaccedilatildeo do Brasil ocorreu no poacutes-Segunda Guerra Mundial A integraccedilatildeo dos meios de transporte e de comunicaccedilatildeo e a unificaccedilatildeo do mercado em escala nacional permitiram que se ampliasse e diversificasse a produccedilatildeo industrial Essa atividade concentra-se na regiatildeo Sudeste do Brasil sobretudo no estado de Satildeo Paulo cuja capital se tornou o maior centro fabril do Paiacutes

A difusatildeo da modernizaccedilatildeo especialmente a partir da deacutecada de 70 modifica os sistemas de transportes e telecomunicaccedilotildees integrando o territoacuterio Por outro lado as mudanccedilas tecnoloacutegicas devidas agrave difusatildeo da informaacutetica e da eletrocircnica permitem um maior controle agrave distacircncia dos processos produtivos Tudo isso favorece a desconcentraccedilatildeo industrial com a instalaccedilatildeo de faacutebricas modernas em diversos pontos do Paiacutes

O estado de Satildeo Paulo na deacutecada 70 respondia por 5842 do valor da produccedilatildeo industrial do paiacutes e em 1990 esse iacutendice passa para 5283 Haacute tambeacutem uma tendecircncia ao crescimento da participaccedilatildeo industrial no interior paulista Fala-se por isso em esvaziamento da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e tambeacutem em desconcentraccedilatildeo industrial

Em 1970 tomando-se este estado como um todo a regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo detinha 7752 do Valor de Transformaccedilatildeo Industrial sendo que em 1990 essa participaccedilatildeo diminui para 5892

Os dados indicam que natildeo eacute mais a funccedilatildeo industrial que assegura a Satildeo Paulo um papel diretor na dinacircmica soacutecio-econocircmica e espacial mas sim o comando das atividades ligadas agrave produccedilatildeo e agrave gestatildeo da informaccedilatildeo que faz agora da metroacutepole paulista um importante centro informacional

Centro Informacional por Adriana Bernardes

Ao longo do seacuteculo XX a capital do estado de Satildeo Paulo se afirma como metroacutepole nacional principalmente pela forccedila de sua induacutestria Mas agora a metroacutepole paulistana se refuncionaliza passando a ser um grande centro urbano produtor de informaccedilotildees Sua primazia natildeo mais adveacutem de sua atividade fabril mas sim de sua capacidade de concentrar atividades de produccedilatildeo coleta classificaccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

Muda a qualidade do papel de comando de Satildeo Paulo sobre a totalidade do territoacuterio brasileiro Enquanto os nuacutemeros da produccedilatildeo e do emprego industrial diminuem aumenta a forccedila metropolitana no Paiacutes e no mundo graccedilas agrave presenccedila de um expressivo e sofisticado setor de serviccedilos Tal setor engloba atividades financeiras de consultoria publicidade marketing e pesquisa entre outras

A nova hierarquia do sistema urbano depende destes fluxos de informaccedilatildeo cujo controle atraveacutes da emissatildeo de mensagens ideacuteias e ordens garante agrave metroacutepole paulistana um papel regulador de um crescente nuacutemero de tarefas dispersas pelo Paiacutes

Sistema Rodoviaacuterio - Autopistas por Marcos Antonio de Moraes Xavier

Ateacute a primeira metade do seacuteculo XX de um modo geral as estradas de rodagem brasileiras representavam pequenos investimentos pontuais Natildeo havia um sistema que cobrisse todo o territoacuterio nacional Tais estradas em sua maioria eram caminhos de terra A constituiccedilatildeo de um sistema rodoviaacuterio nacional criando as ligaccedilotildees inter-regionais necessaacuterias ao processo de integraccedilatildeo ocorre a partir do empenho em equipar o territoacuterio para atender entre outras demandas o desenvolvimento da induacutestria paulista Um marco desta fase foi o Plano Viaacuterio Nacional de 1952 onde as rodovias jaacute aparecem como principal via de transporte

Desde os anos 50 e notadamente a partir dos anos 70 o sistema rodoviaacuterio brasileiro cresce acompanhado pela pavimentaccedilatildeo e duplicaccedilatildeo de rodovias que passam a formar autopistas modernas e raacutepidas Este crescimento destaca-se nas regiotildees Norte (20133) e Centro-oeste (15339) aacutereas onde o povoamento era rarefeito e que neste momento passam a ser aacutereas de avanccedilo do processo de interiorizaccedilatildeo

Atualmente encontramos nas regiotildees Sudeste Nordeste e Sul o maior nuacutemero de rodovias pavimentadas e as maiores densidades do sistema (extensatildeo em quilocircmetros do sistema rodoviaacuterio por 1 mil km2 de aacuterea)

O Brasil e a Economia Mundial Contemporacircnea por Joseacute Tavares de Arauacutejo Jr

Uma caracteriacutestica central do progresso tecnoloacutegico nas uacuteltimas trecircs deacutecadas tem sido o contraste entre o decliacutenio acelerado dos custos de informaccedilatildeo e a relativa estabilidade dos custos de transporte Este contraste vem alimentando as tendecircncias simultacircneas em direccedilatildeo agrave globalizaccedilatildeo de mercados e agrave regionalizaccedilatildeo das estruturas produtivas que marcaram a economia mundial no passado recente Estas tendecircncias por sua vez redefiniram os perfis de inserccedilatildeo internacional das economias domeacutesticas e as prioridades da agenda multilateral de comeacutercio

Os novos padrotildees de concorrecircncia internacional acentuaram a importacircncia da prestaccedilatildeo de serviccedilos da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e do investimento direto no exterior como fontes de sustentaccedilatildeo do desempenho exportador das economias nacionais Tais padrotildees reduziram a eficaacutecia dos instrumentos convencionais de poliacutetica comercial como tarifas quotas e salvaguardas ao mesmo tempo em que introduziram novos temas na agenda multilateral de comeacutercio como o uso de regulamentos domeacutesticos para proteger as induacutestrias da fronteira tecnoloacutegica e as praacuteticas anticompetitivas com dimensatildeo internacional

Do ponto de vista das economias nacionais a busca de eficiecircncia produtiva o estiacutemulo agrave inovaccedilatildeo e a melhoria das condiccedilotildees de inserccedilatildeo internacional das empresas domeacutesticas tornaram-se partes complementares de um desafio comum Para o governo isto implica natildeo apenas a convergecircncia das poliacuteticas industrial tecnoloacutegica e de comeacutercio exterior mas tambeacutem a coerecircncia de tais poliacuteticas com outras accedilotildees do governo nos planos macroeconocircmico e da regulaccedilatildeo das condiccedilotildees de concorrecircncia nos mercados domeacutesticos

Um desafio adicional impliacutecito no cenaacuterio contemporacircneo reside no fato de que a Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) natildeo dispotildee ainda dos instrumentos de regulaccedilatildeo necessaacuterios para lidar com os padrotildees de concorrecircncia em vigor Embora a reuniatildeo ministerial de Doha realizada em novembro de 2001 tenha ratificado o consenso da comunidade internacional quanto agrave necessidade de fortalecer a OMC na praacutetica tal consenso significou apenas que os paiacuteses membros estatildeo comprometidos a levar adiante a rodada de negociaccedilotildees mas natildeo autoriza qualquer previsatildeo otimista quanto aos resultados deste empreendimento no futuro proacuteximo dada a magnitude dos desafios que a OMC enfrenta atualmente

Um tema que bem ilustra as presentes limitaccedilotildees da OMC eacute o de poliacutetica de concorrecircncia que passou a desempenhar um papel central no plano internacional natildeo soacute para combater carteacuteis e fiscalizar a conduta das corporaccedilotildees transnacionais mas sobretudo para regular conflitos advindos da proteccedilatildeo agraves induacutestrias de alta tecnologia O debate sobre essas questotildees na OMC tem sido intenso desde dezembro de 1996 quando foi criado o Grupo de Trabalho sobre a Interaccedilatildeo entre Comeacutercio e Poliacutetica de Concorrecircncia Nos dois anos seguintes cerca de 170 documentos governamentais foram submetidos ao grupo cobrindo uma agenda substantiva que de fato foi bem aleacutem das relaccedilotildees entre comeacutercio e concorrecircncia A despeito da participaccedilatildeo ativa de praticamente todos os membros da OMC que dispotildeem de leis de concorrecircncia esse debate tem sido limitado por dois tipos de restriccedilotildees Por um lado qualquer acordo multilateral sobre regras de concorrecircncia soacute teraacute algum significado na medida em que todos os membros da OMC ou pelo menos sua grande maioria estiverem capacitados a aplicar aquelas normas em seus respectivos territoacuterios Por outro lado a OMC eacute uma instituiccedilatildeo desenhada para lidar essencialmente com atos de governos enquanto que o foco principal da poliacutetica de concorrecircncia eacute a conduta dos agentes econocircmicos

Em suma natildeo eacute provaacutevel que as principais fragilidades da OMC venham a ser superadas no futuro proacuteximo Entretanto a atuaccedilatildeo do Brasil naquele foacuterum durante os anos 90 demonstrou que mesmo assim ndash e sobretudo apoacutes o surto recente de pressotildees protecionistas nos Estados Unidos ndash interessa aos paiacuteses em desenvolvimento promover o sistema multilateral de comeacutercio Casos como EmbraerBombardier e a controveacutersia sobre patentes farmacecircuticas jaacute se tornaram siacutembolos de situaccedilotildees em que estrateacutegias negociadoras bem fundamentadas conseguem preservar interesses nacionais legiacutetimos Aleacutem de conferir maior credibilidade agrave OMC e agraves posiccedilotildees defendidas pelo Brasil nas negociaccedilotildees em curso esses casos tambeacutem se revelaram instrumentais para fomentar o diaacutelogo bilateral com diversos parceiros importantes como Japatildeo China Iacutendia Austraacutelia e Aacutefrica do Sul

Aleacutem de promover a OMC outro toacutepico prioritaacuterio da poliacutetica comercial brasileira eacute a reconstruccedilatildeo do MERCOSUL que tem desempenhado um papel estrateacutegico na defesa dos interesses brasileiros no plano multilateral nas negociaccedilotildees sobre a criaccedilatildeo de uma Aacuterea de Livre Comeacutercio das Ameacutericas (ALCA) e no diaacutelogo com a Uniatildeo Europeacuteia O MERCOSUL eacute importante por razotildees de

geografia econocircmica os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo internacional natildeo constituem anomalias efecircmeras mas foram gerados gradualmente ao longo de vaacuterias deacutecadas em decorrecircncia da dicotomia acima referida entre custos de informaccedilatildeo e de transporte Portanto a menos que os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo venham a ser redefinidos por outra revoluccedilatildeo tecnoloacutegica as metas da integraccedilatildeo regional continuaratildeo a ser prioritaacuterias para o Brasil

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwfazendagovbr httpwwwmdicgovbr httpwwwbndesgovbr httpwww1bcbgovbr httpwwwipeagovbr httpwwwmpogovbr

Mercado de Trabalho por Paulo Machado

A integraccedilatildeo competitiva da economia brasileira agrave economia global e a conquista da estabilidade influenciaram estruturalmente o funcionamento do mercado de trabalho do Paiacutes Foram registradas na deacutecada 1990 e ao longo dos uacuteltimos anos dinacircmicas particularmente relevantes nos quesitos emprego formalidade e renda dos trabalhadores o que exigiu mudanccedilas substantivas na atuaccedilatildeo das instituiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees trabalhistas

A evoluccedilatildeo do emprego pode ser melhor compreendida recorrendo-se aos dados da Pesquisa Mensal de Emprego ndash PMEIBGE visto que sua metodologia obedece a criteacuterios internacionalmente aceitos A taxa de desemprego medida pela PMEIBGE atingiu 76 em 1999 caiu para 71 em 2000 e reduziu-se novamente para 62 em 2001 atingindo entatildeo seu ponto mais baixo nos uacuteltimos quatro anos

Uma primeira anaacutelise dessa trajetoacuteria poderia sugerir que 2001 foi o ano em que o mercado de trabalho brasileiro teve seu melhor desempenho No entanto em 2000 foram criados em termos liacutequidos cerca de 700 mil postos de trabalho enquanto que em 2001 esse resultado atingiu aproximadamente 106 mil Observa-se assim que o desempenho do mercado de trabalho natildeo pode ser avaliado exclusivamente pela trajetoacuteria da taxa de desemprego Igualmente importante eacute medir a capacidade da economia de gerar saldos positivos de postos de trabalho Para corroborar essa situaccedilatildeo entre janeiro e junho de 2002 a PMEIBGE registra um aumento da ordem de cerca de 192 mil postos de trabalho considerando-se apenas as 6 regiotildees metropolitanas pesquisadas (Belo Horizonte Porto Alegre Recife Rio de Janeiro Salvador e Satildeo Paulo) No entanto como a taxa de desemprego resulta do cruzamento entre o nuacutemero de postos gerados e a quantidade de pessoas procurando emprego houve um pequeno crescimento do desemprego no primeiro semestre de 2002 atingindo na meacutedia 72 Essa aparente contradiccedilatildeo se explica pelo fato de que mais pessoas tem-se sentido incentivadas a procurar emprego o que provavelmente reflete expectativas mais favoraacuteveis quanto agrave perspectiva de obtenccedilatildeo de emprego Somente nos seis primeiros meses de

2002 aproximadamente 434 mil pessoas entraram no mercado de trabalho Destas cerca de 262 mil satildeo oriundas do desalento ou seja satildeo trabalhadores que haviam desistido de procurar emprego mas devido ao bom desempenho do mercado de trabalho vislumbraram novamente a chance de ter um emprego

A taxa meacutedia de desemprego dos primeiros seis meses do ano de 2002 carrega uma certa sazonalidade negativa pois trata-se de um periacuteodo tipicamente marcado por taxas mais elevadas Nesse contexto eacute razoaacutevel esperar que a taxa de desemprego recue a partir do terceiro trimestre Vale destacar que a taxa de desemprego brasileira da ordem de 75 em junho ainda eacute a mais baixa da Ameacuterica do Sul e uma das menores da Ameacuterica Latina

Em termos setoriais ao longo da deacutecada de 1990 a induacutestria de transformaccedilatildeo registrou reduccedilatildeo no niacutevel meacutedio de ocupaccedilatildeo experimentando a chamada desindustrializaccedilatildeo do emprego Por sua vez os serviccedilos e o comeacutercio apresentaram as maiores elevaccedilotildees na ocupaccedilatildeo meacutedia expressando um processo ascendente de terceirizaccedilatildeo do emprego Com efeito o mundo do trabalho tem sofrido raacutepidas e radicais transformaccedilotildees por meio da automaccedilatildeo da roboacutetica e da telemaacutetica Trata-se de um processo de substituiccedilatildeo de paradigmas na concepccedilatildeo da estrutura produtiva que se acentua a partir dos anos 80 A crescente automaccedilatildeo da produccedilatildeo processo que se acelerou a partir do iniacutecio da deacutecada de 1970 resultou na reduccedilatildeo da importacircncia do setor secundaacuterio da economia como empregador de matildeo-de-obra A atividade industrial maior geradora de empregos nos anos 70 perdeu essa posiccedilatildeo para o setor de serviccedilos nas deacutecadas de 1980 e 1990 Em 1992 o setor terciaacuterio e a induacutestria de transformaccedilatildeo respondiam respectivamente por 716 e 198 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelio ndash PNADIBGE Em 1998 o setor terciaacuterio abrigava 737 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola e mais da metade da populaccedilatildeo ocupada do Paiacutes enquanto o setor secundaacuterio reduziu sua participaccedilatildeo para 179

Com relaccedilatildeo agrave qualidade dos viacutenculos empregatiacutecios os indicadores mostram-se positivos sob a forma da geraccedilatildeo consistente de postos de trabalho formais entre 1994 e 2002 Conforme dados da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais ndash RAISMTE o nuacutemero de empregados cresceu de 237 milhotildees em 1994 para aproximadamente 268 milhotildees em 2001 Em fins de 2001 portanto havia cerca de 31 milhotildees de pessoas a mais empregadas formalmente quando comparadas agrave mesma data de 1994 O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ndash CAGEDMTE igualmente corrobora a manutenccedilatildeo da trajetoacuteria de recuperaccedilatildeo dos postos de trabalho em 2002 Em junho uacuteltimo o CAGEDMTE registrou a criaccedilatildeo de 133 mil novas vagas o que significa um saldo acumulado de aproximadamente 681 mil postos de trabalho em 2002 Trata-se da melhor performance de toda a seacuterie histoacuterica do CAGEDMTE (iniciado em 1985) quando se compara os primeiros seis meses de 2002 ao mesmo periacuteodo dos anos anteriores Assim de janeiro de 2000 a junho de 2002 registra-se um saldo positivo de 19 milhatildeo de novos postos de trabalho formais

Com relaccedilatildeo agrave renda dos trabalhadores deve-se destacar o crescimento real do salaacuterio miacutenimo entre 1991 e 2002 O salaacuterio miacutenimo apresentou tendecircncia oscilante entre 1990 e 1994 (variando entre os poacutelos extremos representados por R$12865 em 1990 e R$14541 em 1993) assumindo trajetoacuteria continuamente ascendente a partir de 1995 ateacute atingir o valor real de R$18943 em 2002 (meacutedia de janeiro a maio deflacionada pelo INPC a preccedilos de maio de 2002) quando o valor nominal do salaacuterio miacutenimo atingiu R$20000 Por sua vez o rendimento meacutedio real dos ocupados foi de R$68910 na meacutedia do periacuteodo 1990-1994 apresentando crescimento da ordem de 1832 no periacuteodo 1995-2001 quando chega agrave meacutedia de R$81533 A massa de rendimento real tanto para o total dos ocupados quanto para os trabalhadores assalariados (com e sem carteira assinada) cresceu de forma consistente entre 1992 e 1997 com um comportamento oscilante a partir de entatildeo Comparando o periacuteodo 1995-2001 com o periacuteodo anterior 1991-1994 observa-se um crescimento

da massa de renda real meacutedia tanto para o conjunto dos ocupados (2407) quanto para os trabalhadores assalariados (516)

O Governo Federal brasileiro por seu turno empenhado em corrigir as distorccedilotildees inerentes agrave evoluccedilatildeo do mercado de trabalho vem desenvolvendo programas de fomento ao emprego e ao trabalho e de proteccedilatildeo e assistecircncia ao trabalhador contando com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador ndash FAT Seu objetivo eacute criar mecanismos que permitam a melhoria das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade de vida do trabalhador destacando-se as accedilotildees nas aacutereas de qualificaccedilatildeo profissional seguro-desemprego abono salarial geraccedilatildeo de emprego e renda inspeccedilatildeo do trabalho e legislaccedilatildeo trabalhista

Em 1995 o Governo Federal por meio do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego instituiu o Plano Nacional de Qualificaccedilatildeo do Trabalhador ndash PLANFOR visando assegurar a integraccedilatildeo do trabalhador ao mercado de trabalho e promover assim o aumento de sua empregabilidade produtividade e renda Financiado majoritariamente com recursos do FAT o PLANFOR eacute executado de forma descentralizada por instituiccedilotildees de formaccedilatildeo profissional sob responsabilidade das Secretarias Estaduais de Trabalho (em interaccedilatildeo com as Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego ampliando a participaccedilatildeo social e a sintonia com as demandas do setor produtivo) e das Parcerias Nacionais realizadas predominantemente com entidades patronais e associaccedilotildees sindicais O PLANFOR focaliza sua atuaccedilatildeo em populaccedilotildees vulneraacuteveis dotadas de maior dificuldade de acesso a outras alternativas de qualificaccedilatildeo em decorrecircncia de situaccedilotildees de pobreza baixa escolaridade ou discriminaccedilatildeo no mercado de trabalho No periacuteodo 1995-2001 foram qualificadas 153 milhotildees de pessoas com recursos da ordem de R$ 23 bilhotildees

O Seguro-Desemprego constitui uma accedilatildeo de amparo aos trabalhadores demitidos sem justa causa Na deacutecada de 1990 o pagamento do benefiacutecio do seguro-desemprego ajudou a preservar em meacutedia cerca de 13 da renda de salaacuterio do trabalhador formal do setor privado dispensado sem justa causa considerando a remuneraccedilatildeo meacutedia mensal do trabalhador com carteira assinada Entre 1994 e 2001 foram concedidos 354 milhotildees de benefiacutecios com recursos da ordem de R$282 bilhotildees Para o periacuteodo que se estende de 1995 a 2001 tiveram acesso ao programa 442 milhotildees de trabalhadores por ano em meacutedia de um total meacutedio de 45 milhotildees de requerimentos ao custo meacutedio anual de aproximadamente R$ 468 bilhotildees (em R$ de dezembro de 2001) O nuacutemero meacutedio de beneficiaacuterios no periacuteodo supera a meacutedia de beneficiaacuterios do periacuteodo 1990-94 em cerca de 20 Uma das causas do crescimento do volume de segurados eacute a flexibilizaccedilatildeo dos criteacuterios para a sua concessatildeo visto que a partir da segunda metade da deacutecada de 1990 houve reduccedilatildeo do tempo de viacutenculo empregatiacutecio necessaacuterio para o acesso ao benefiacutecio

O Abono Salarial eacute uma iniciativa de assistecircncia ao trabalhador consistindo no pagamento anual de um salaacuterio miacutenimo a trabalhadores dos setores privado e puacuteblico que atendam a determinados requisitos dentre eles a percepccedilatildeo de remuneraccedilatildeo meacutedia mensal natildeo superior a dois salaacuterios miacutenimos no ano de referecircncia Calcula-se que o impacto do abono na renda anual do trabalhador seja em meacutedia de 5 o que corresponde a uma complementaccedilatildeo de renda significativa para esse segmento de trabalhadores de baixa renda No mecircs que eacute pago o benefiacutecio o impacto na renda pode alcanccedilar aproximadamente 70 funcionando como um 14ordm salaacuterio aos trabalhadores de mais baixos salaacuterios No periacuteodo de 1995-2001 foram liberados em meacutedia 54 milhotildees de abonos salariais por ano nuacutemero 23 superior agrave meacutedia do periacuteodo 1990-1994 que consistiu em 44 milhotildees de abonos anuais

O Programa de Geraccedilatildeo de Emprego e Renda ndash PROGER vem-se consolidando como um dos principais instrumentos de que dispotildee o Governo para incrementar a poliacutetica puacuteblica de geraccedilatildeo de

emprego e renda e melhoria da qualidade de vida do trabalhador Sua operacionalizaccedilatildeo ocorre mediante concessatildeo de creacuteditos em condiccedilotildees especiais destinados ao financiamento de atividades produtivas nos setores formal e informal da economia nas aacutereas urbana e rural O PROGER Urbano possui como puacuteblicos-alvo as micro e pequenas empresas cooperativas e associaccedilotildees de produccedilatildeo bem como os profissionais liberais receacutem-formados trabalhadores autocircnomos prestadores de serviccedilo em geral artesatildeos e pequenos e micro negoacutecios familiares O PROGER Rural por sua vez atende prioritariamente aos pequenos produtores rurais de forma individual ou coletiva inclusive agraves atividades pesqueira extrativa vegetal e de aquumlicultura A concessatildeo dos creacuteditos eacute vinculada agrave realizaccedilatildeo de programas de capacitaccedilatildeo teacutecnico-gerencial qualificaccedilatildeo profissional assistecircncia teacutecnica e acompanhamento dos empreendimentos beneficiados As operaccedilotildees de creacutedito tecircm como agentes financeiros os seguintes bancos oficiais Banco do Brasil Banco do Nordeste do Brasil Caixa Econocircmica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social ndash BNDES Entre 1995 e 2001 foram realizadas aproximadamente 860 mil operaccedilotildees totalizando investimentos da ordem de R$69 bilhotildees

A Inspeccedilatildeo do Trabalho volta-se para o combate agrave informalidade agregando agraves accedilotildees tiacutepicas da fiscalizaccedilatildeo do trabalho mecanismos para facilitar a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de trabalhadores nas empresas tais como as mesas de entendimento e o condomiacutenio de empregadores A formalizaccedilatildeo dos contratos de trabalho estende as garantias trabalhistas e previdenciaacuterias aos trabalhadores desamparados do sistema laboral legal A intensificaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo do trabalho contribuiu para a formalizaccedilatildeo de um total de 21 milhotildees de viacutenculos empregatiacutecios inicialmente desprotegidos no periacuteodo de 1996 a 2001

Finalmente o Governo brasileiro apresentou ao longo dos uacuteltimos anos vaacuterias propostas de modernizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista com vistas a adequaacute-la aos novos padrotildees de relaccedilatildeo entre capital e trabalho A tocircnica desse conjunto de propostas eacute o reforccedilo agrave via negocial para a soluccedilatildeo dos conflitos inerentes agraves relaccedilotildees de trabalho Cabe destaque agraves seguintes iniciativas Banco de Horas (sistema de compensaccedilatildeo de horas extras previamente autorizado em convenccedilatildeo ou acordo coletivo que permite agrave empresa adequar as jornadas de trabalho agraves variaccedilotildees sazonais mediante a diminuiccedilatildeo proporcional da jornada em periacuteodos de decliacutenio da demanda) Mesas de Entendimento (mecanismo de fiscalizaccedilatildeo de caraacuteter pedagoacutegico natildeo punitivo buscando regularizar a situaccedilatildeo que suscitou a accedilatildeo fiscal por meio de entendimentos entre a fiscalizaccedilatildeo a empresa e os trabalhadores consubstanciados em um Termo de Compromisso) Condomiacutenio dos Empregadores (uniatildeo de produtores rurais ndash pessoas fiacutesicas com a finalidade de contratar trabalhadores rurais que prestaratildeo serviccedilos exclusivamente para seus condocircminos estimulando a formalizaccedilatildeo dos viacutenculos empregatiacutecios no campo) aleacutem de accedilotildees voltadas para a inserccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia no mercado de trabalho por meio de modalidades como a colocaccedilatildeo seletiva

Essas satildeo as linhas gerais de estruturaccedilatildeo do mercado de trabalho brasileiro e de atuaccedilatildeo do Governo Federal nos uacuteltimos anos Os impactos no mercado de trabalho inerentes ao processo de integraccedilatildeo da economia nacional agrave economia global satildeo consideraacuteveis Nesse contexto o Governo brasileiro ciente dos desafios que lhe satildeo postos estaacute empenhado em criar e manter as condiccedilotildees macroeconocircmicas favoraacuteveis e em implementar as poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo do emprego e da renda necessaacuterias para a construccedilatildeo de um futuro mais proacutespero para todos

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmtbgovbr httpwwwmpasgovbr

Dinacircmica Demograacutefica por Manoel A Costa

A populaccedilatildeo brasileira teve um aumento de 313 milhotildees de pessoas durante os 68 anos que separam a realizaccedilatildeo do primeiro recenseamento em 1872 do quinto em 1940 De acordo com os cinco censos desse periacuteodo a populaccedilatildeo nacional era constituiacuteda de 99 milhotildees em 1872 143 milhotildees em 1890 174 milhotildees em 1900 306 milhotildees em 1920 e finalmente 412 milhotildees em 1940 A partir desse ano e durante os 51 anos seguintes o contingente nacional aumentou pouco mais de 100 milhotildees de pessoas ateacute a data do Censo de 1991 e de acordo com o uacuteltimo censo de 1996 nestes quatro anos houve um acreacutescimo de cerca de 7 milhotildees de pessoas na populaccedilatildeo brasileira

A tabela sobre populaccedilatildeo apresenta alguns indicadores da dinacircmica demograacutefica a partir de 1940 taxas de natalidade de mortalidade de crescimento natural e de crescimento total prevalecentes durante os periacuteodos que separam a realizaccedilatildeo dos levantamentos estatiacutesticos complementando-os com estimativas ateacute os primeiros dez anos do seacuteculo XXI Aleacutem disso a tabela apresenta a evoluccedilatildeo do aumento da populaccedilatildeo e estimativas do nuacutemero de nascidos vivos para cada periacuteodo decenal

O incremento decenal da populaccedilatildeo aumentou significativa e continuamente ateacute os anos 70 apesar de a taxa de crescimento ter comeccedilado a declinar a partir de 1955 Enquanto entre 1940-1950 ocorreu um aumento de 109 milhotildees de habitantes entre 1980-1990 a populaccedilatildeo nacional aumentou em 248 milhotildees embora a taxa meacutedia anual de crescimento tenha se reduzido de 239 aa durante o primeiro periacuteodo para 193 anuais no uacuteltimo Estima-se que ocorreraacute um expressivo aumento populacional da ordem de 21 milhotildees de pessoas durante o uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX e os primeiros dez anos do seacuteculo XXI ainda que a taxa de crescimento continue se reduzindo

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwibgegovbr

A Transiccedilatildeo Demograacuteficapor Manoel A Costa

Nos anos 80 consolidou-se a transiccedilatildeo demograacutefica brasileira Tambeacutem neste periacuteodo registrou-se pela primeira vez na histoacuteria do Brasil um numeroso fluxo emigratoacuterio de matildeo-de-obra Estima-se que um contigente de 13 milhatildeo de brasileiros emigrou para o exterior durante esses anos

A transiccedilatildeo demograacutefica nacional apoacutes um iniacutecio moderado na segunda metade dos anos 60 transcorreu com uma aceleraccedilatildeo crescente durante as duas deacutecadas seguintes por causa da raacutepida reduccedilatildeo da fecundidade e resultou na reduccedilatildeo do crescimento demograacutefico natural da populaccedilatildeo de um ritmo elevado de 299 ao ano entre 1950-1960 praticamente ineacutedito ateacute entatildeo entre populaccedilotildees numerosas para o niacutevel de 193 meacutedios anuais entre 1980-1991

Estima-se que a fecundidade continuaraacute se reduzindo e se aproximaraacute num futuro natildeo muito distante do niacutevel de reposiccedilatildeo de 21 filhos por mulher em idade feacutertil Partindo de uma simulaccedilatildeo com essa perspectiva prevecirc-se que a taxa de crescimento da populaccedilatildeo nacional ficaraacute abaixo de 10 anual a partir de 2015-2020 e abaixo de 05 depois de 2035 Seguindo essa tendecircncia a

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

soja Na regiatildeo o investimento em rodovias e o processo de urbanizaccedilatildeo a integram ao Sudeste e Sul

Desconcentraccedilatildeo Industrial por Eliza Pinto de Almeida

A aceleraccedilatildeo do processo de industrializaccedilatildeo do Brasil ocorreu no poacutes-Segunda Guerra Mundial A integraccedilatildeo dos meios de transporte e de comunicaccedilatildeo e a unificaccedilatildeo do mercado em escala nacional permitiram que se ampliasse e diversificasse a produccedilatildeo industrial Essa atividade concentra-se na regiatildeo Sudeste do Brasil sobretudo no estado de Satildeo Paulo cuja capital se tornou o maior centro fabril do Paiacutes

A difusatildeo da modernizaccedilatildeo especialmente a partir da deacutecada de 70 modifica os sistemas de transportes e telecomunicaccedilotildees integrando o territoacuterio Por outro lado as mudanccedilas tecnoloacutegicas devidas agrave difusatildeo da informaacutetica e da eletrocircnica permitem um maior controle agrave distacircncia dos processos produtivos Tudo isso favorece a desconcentraccedilatildeo industrial com a instalaccedilatildeo de faacutebricas modernas em diversos pontos do Paiacutes

O estado de Satildeo Paulo na deacutecada 70 respondia por 5842 do valor da produccedilatildeo industrial do paiacutes e em 1990 esse iacutendice passa para 5283 Haacute tambeacutem uma tendecircncia ao crescimento da participaccedilatildeo industrial no interior paulista Fala-se por isso em esvaziamento da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e tambeacutem em desconcentraccedilatildeo industrial

Em 1970 tomando-se este estado como um todo a regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo detinha 7752 do Valor de Transformaccedilatildeo Industrial sendo que em 1990 essa participaccedilatildeo diminui para 5892

Os dados indicam que natildeo eacute mais a funccedilatildeo industrial que assegura a Satildeo Paulo um papel diretor na dinacircmica soacutecio-econocircmica e espacial mas sim o comando das atividades ligadas agrave produccedilatildeo e agrave gestatildeo da informaccedilatildeo que faz agora da metroacutepole paulista um importante centro informacional

Centro Informacional por Adriana Bernardes

Ao longo do seacuteculo XX a capital do estado de Satildeo Paulo se afirma como metroacutepole nacional principalmente pela forccedila de sua induacutestria Mas agora a metroacutepole paulistana se refuncionaliza passando a ser um grande centro urbano produtor de informaccedilotildees Sua primazia natildeo mais adveacutem de sua atividade fabril mas sim de sua capacidade de concentrar atividades de produccedilatildeo coleta classificaccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de informaccedilotildees

Muda a qualidade do papel de comando de Satildeo Paulo sobre a totalidade do territoacuterio brasileiro Enquanto os nuacutemeros da produccedilatildeo e do emprego industrial diminuem aumenta a forccedila metropolitana no Paiacutes e no mundo graccedilas agrave presenccedila de um expressivo e sofisticado setor de serviccedilos Tal setor engloba atividades financeiras de consultoria publicidade marketing e pesquisa entre outras

A nova hierarquia do sistema urbano depende destes fluxos de informaccedilatildeo cujo controle atraveacutes da emissatildeo de mensagens ideacuteias e ordens garante agrave metroacutepole paulistana um papel regulador de um crescente nuacutemero de tarefas dispersas pelo Paiacutes

Sistema Rodoviaacuterio - Autopistas por Marcos Antonio de Moraes Xavier

Ateacute a primeira metade do seacuteculo XX de um modo geral as estradas de rodagem brasileiras representavam pequenos investimentos pontuais Natildeo havia um sistema que cobrisse todo o territoacuterio nacional Tais estradas em sua maioria eram caminhos de terra A constituiccedilatildeo de um sistema rodoviaacuterio nacional criando as ligaccedilotildees inter-regionais necessaacuterias ao processo de integraccedilatildeo ocorre a partir do empenho em equipar o territoacuterio para atender entre outras demandas o desenvolvimento da induacutestria paulista Um marco desta fase foi o Plano Viaacuterio Nacional de 1952 onde as rodovias jaacute aparecem como principal via de transporte

Desde os anos 50 e notadamente a partir dos anos 70 o sistema rodoviaacuterio brasileiro cresce acompanhado pela pavimentaccedilatildeo e duplicaccedilatildeo de rodovias que passam a formar autopistas modernas e raacutepidas Este crescimento destaca-se nas regiotildees Norte (20133) e Centro-oeste (15339) aacutereas onde o povoamento era rarefeito e que neste momento passam a ser aacutereas de avanccedilo do processo de interiorizaccedilatildeo

Atualmente encontramos nas regiotildees Sudeste Nordeste e Sul o maior nuacutemero de rodovias pavimentadas e as maiores densidades do sistema (extensatildeo em quilocircmetros do sistema rodoviaacuterio por 1 mil km2 de aacuterea)

O Brasil e a Economia Mundial Contemporacircnea por Joseacute Tavares de Arauacutejo Jr

Uma caracteriacutestica central do progresso tecnoloacutegico nas uacuteltimas trecircs deacutecadas tem sido o contraste entre o decliacutenio acelerado dos custos de informaccedilatildeo e a relativa estabilidade dos custos de transporte Este contraste vem alimentando as tendecircncias simultacircneas em direccedilatildeo agrave globalizaccedilatildeo de mercados e agrave regionalizaccedilatildeo das estruturas produtivas que marcaram a economia mundial no passado recente Estas tendecircncias por sua vez redefiniram os perfis de inserccedilatildeo internacional das economias domeacutesticas e as prioridades da agenda multilateral de comeacutercio

Os novos padrotildees de concorrecircncia internacional acentuaram a importacircncia da prestaccedilatildeo de serviccedilos da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e do investimento direto no exterior como fontes de sustentaccedilatildeo do desempenho exportador das economias nacionais Tais padrotildees reduziram a eficaacutecia dos instrumentos convencionais de poliacutetica comercial como tarifas quotas e salvaguardas ao mesmo tempo em que introduziram novos temas na agenda multilateral de comeacutercio como o uso de regulamentos domeacutesticos para proteger as induacutestrias da fronteira tecnoloacutegica e as praacuteticas anticompetitivas com dimensatildeo internacional

Do ponto de vista das economias nacionais a busca de eficiecircncia produtiva o estiacutemulo agrave inovaccedilatildeo e a melhoria das condiccedilotildees de inserccedilatildeo internacional das empresas domeacutesticas tornaram-se partes complementares de um desafio comum Para o governo isto implica natildeo apenas a convergecircncia das poliacuteticas industrial tecnoloacutegica e de comeacutercio exterior mas tambeacutem a coerecircncia de tais poliacuteticas com outras accedilotildees do governo nos planos macroeconocircmico e da regulaccedilatildeo das condiccedilotildees de concorrecircncia nos mercados domeacutesticos

Um desafio adicional impliacutecito no cenaacuterio contemporacircneo reside no fato de que a Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) natildeo dispotildee ainda dos instrumentos de regulaccedilatildeo necessaacuterios para lidar com os padrotildees de concorrecircncia em vigor Embora a reuniatildeo ministerial de Doha realizada em novembro de 2001 tenha ratificado o consenso da comunidade internacional quanto agrave necessidade de fortalecer a OMC na praacutetica tal consenso significou apenas que os paiacuteses membros estatildeo comprometidos a levar adiante a rodada de negociaccedilotildees mas natildeo autoriza qualquer previsatildeo otimista quanto aos resultados deste empreendimento no futuro proacuteximo dada a magnitude dos desafios que a OMC enfrenta atualmente

Um tema que bem ilustra as presentes limitaccedilotildees da OMC eacute o de poliacutetica de concorrecircncia que passou a desempenhar um papel central no plano internacional natildeo soacute para combater carteacuteis e fiscalizar a conduta das corporaccedilotildees transnacionais mas sobretudo para regular conflitos advindos da proteccedilatildeo agraves induacutestrias de alta tecnologia O debate sobre essas questotildees na OMC tem sido intenso desde dezembro de 1996 quando foi criado o Grupo de Trabalho sobre a Interaccedilatildeo entre Comeacutercio e Poliacutetica de Concorrecircncia Nos dois anos seguintes cerca de 170 documentos governamentais foram submetidos ao grupo cobrindo uma agenda substantiva que de fato foi bem aleacutem das relaccedilotildees entre comeacutercio e concorrecircncia A despeito da participaccedilatildeo ativa de praticamente todos os membros da OMC que dispotildeem de leis de concorrecircncia esse debate tem sido limitado por dois tipos de restriccedilotildees Por um lado qualquer acordo multilateral sobre regras de concorrecircncia soacute teraacute algum significado na medida em que todos os membros da OMC ou pelo menos sua grande maioria estiverem capacitados a aplicar aquelas normas em seus respectivos territoacuterios Por outro lado a OMC eacute uma instituiccedilatildeo desenhada para lidar essencialmente com atos de governos enquanto que o foco principal da poliacutetica de concorrecircncia eacute a conduta dos agentes econocircmicos

Em suma natildeo eacute provaacutevel que as principais fragilidades da OMC venham a ser superadas no futuro proacuteximo Entretanto a atuaccedilatildeo do Brasil naquele foacuterum durante os anos 90 demonstrou que mesmo assim ndash e sobretudo apoacutes o surto recente de pressotildees protecionistas nos Estados Unidos ndash interessa aos paiacuteses em desenvolvimento promover o sistema multilateral de comeacutercio Casos como EmbraerBombardier e a controveacutersia sobre patentes farmacecircuticas jaacute se tornaram siacutembolos de situaccedilotildees em que estrateacutegias negociadoras bem fundamentadas conseguem preservar interesses nacionais legiacutetimos Aleacutem de conferir maior credibilidade agrave OMC e agraves posiccedilotildees defendidas pelo Brasil nas negociaccedilotildees em curso esses casos tambeacutem se revelaram instrumentais para fomentar o diaacutelogo bilateral com diversos parceiros importantes como Japatildeo China Iacutendia Austraacutelia e Aacutefrica do Sul

Aleacutem de promover a OMC outro toacutepico prioritaacuterio da poliacutetica comercial brasileira eacute a reconstruccedilatildeo do MERCOSUL que tem desempenhado um papel estrateacutegico na defesa dos interesses brasileiros no plano multilateral nas negociaccedilotildees sobre a criaccedilatildeo de uma Aacuterea de Livre Comeacutercio das Ameacutericas (ALCA) e no diaacutelogo com a Uniatildeo Europeacuteia O MERCOSUL eacute importante por razotildees de

geografia econocircmica os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo internacional natildeo constituem anomalias efecircmeras mas foram gerados gradualmente ao longo de vaacuterias deacutecadas em decorrecircncia da dicotomia acima referida entre custos de informaccedilatildeo e de transporte Portanto a menos que os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo venham a ser redefinidos por outra revoluccedilatildeo tecnoloacutegica as metas da integraccedilatildeo regional continuaratildeo a ser prioritaacuterias para o Brasil

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwfazendagovbr httpwwwmdicgovbr httpwwwbndesgovbr httpwww1bcbgovbr httpwwwipeagovbr httpwwwmpogovbr

Mercado de Trabalho por Paulo Machado

A integraccedilatildeo competitiva da economia brasileira agrave economia global e a conquista da estabilidade influenciaram estruturalmente o funcionamento do mercado de trabalho do Paiacutes Foram registradas na deacutecada 1990 e ao longo dos uacuteltimos anos dinacircmicas particularmente relevantes nos quesitos emprego formalidade e renda dos trabalhadores o que exigiu mudanccedilas substantivas na atuaccedilatildeo das instituiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees trabalhistas

A evoluccedilatildeo do emprego pode ser melhor compreendida recorrendo-se aos dados da Pesquisa Mensal de Emprego ndash PMEIBGE visto que sua metodologia obedece a criteacuterios internacionalmente aceitos A taxa de desemprego medida pela PMEIBGE atingiu 76 em 1999 caiu para 71 em 2000 e reduziu-se novamente para 62 em 2001 atingindo entatildeo seu ponto mais baixo nos uacuteltimos quatro anos

Uma primeira anaacutelise dessa trajetoacuteria poderia sugerir que 2001 foi o ano em que o mercado de trabalho brasileiro teve seu melhor desempenho No entanto em 2000 foram criados em termos liacutequidos cerca de 700 mil postos de trabalho enquanto que em 2001 esse resultado atingiu aproximadamente 106 mil Observa-se assim que o desempenho do mercado de trabalho natildeo pode ser avaliado exclusivamente pela trajetoacuteria da taxa de desemprego Igualmente importante eacute medir a capacidade da economia de gerar saldos positivos de postos de trabalho Para corroborar essa situaccedilatildeo entre janeiro e junho de 2002 a PMEIBGE registra um aumento da ordem de cerca de 192 mil postos de trabalho considerando-se apenas as 6 regiotildees metropolitanas pesquisadas (Belo Horizonte Porto Alegre Recife Rio de Janeiro Salvador e Satildeo Paulo) No entanto como a taxa de desemprego resulta do cruzamento entre o nuacutemero de postos gerados e a quantidade de pessoas procurando emprego houve um pequeno crescimento do desemprego no primeiro semestre de 2002 atingindo na meacutedia 72 Essa aparente contradiccedilatildeo se explica pelo fato de que mais pessoas tem-se sentido incentivadas a procurar emprego o que provavelmente reflete expectativas mais favoraacuteveis quanto agrave perspectiva de obtenccedilatildeo de emprego Somente nos seis primeiros meses de

2002 aproximadamente 434 mil pessoas entraram no mercado de trabalho Destas cerca de 262 mil satildeo oriundas do desalento ou seja satildeo trabalhadores que haviam desistido de procurar emprego mas devido ao bom desempenho do mercado de trabalho vislumbraram novamente a chance de ter um emprego

A taxa meacutedia de desemprego dos primeiros seis meses do ano de 2002 carrega uma certa sazonalidade negativa pois trata-se de um periacuteodo tipicamente marcado por taxas mais elevadas Nesse contexto eacute razoaacutevel esperar que a taxa de desemprego recue a partir do terceiro trimestre Vale destacar que a taxa de desemprego brasileira da ordem de 75 em junho ainda eacute a mais baixa da Ameacuterica do Sul e uma das menores da Ameacuterica Latina

Em termos setoriais ao longo da deacutecada de 1990 a induacutestria de transformaccedilatildeo registrou reduccedilatildeo no niacutevel meacutedio de ocupaccedilatildeo experimentando a chamada desindustrializaccedilatildeo do emprego Por sua vez os serviccedilos e o comeacutercio apresentaram as maiores elevaccedilotildees na ocupaccedilatildeo meacutedia expressando um processo ascendente de terceirizaccedilatildeo do emprego Com efeito o mundo do trabalho tem sofrido raacutepidas e radicais transformaccedilotildees por meio da automaccedilatildeo da roboacutetica e da telemaacutetica Trata-se de um processo de substituiccedilatildeo de paradigmas na concepccedilatildeo da estrutura produtiva que se acentua a partir dos anos 80 A crescente automaccedilatildeo da produccedilatildeo processo que se acelerou a partir do iniacutecio da deacutecada de 1970 resultou na reduccedilatildeo da importacircncia do setor secundaacuterio da economia como empregador de matildeo-de-obra A atividade industrial maior geradora de empregos nos anos 70 perdeu essa posiccedilatildeo para o setor de serviccedilos nas deacutecadas de 1980 e 1990 Em 1992 o setor terciaacuterio e a induacutestria de transformaccedilatildeo respondiam respectivamente por 716 e 198 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelio ndash PNADIBGE Em 1998 o setor terciaacuterio abrigava 737 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola e mais da metade da populaccedilatildeo ocupada do Paiacutes enquanto o setor secundaacuterio reduziu sua participaccedilatildeo para 179

Com relaccedilatildeo agrave qualidade dos viacutenculos empregatiacutecios os indicadores mostram-se positivos sob a forma da geraccedilatildeo consistente de postos de trabalho formais entre 1994 e 2002 Conforme dados da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais ndash RAISMTE o nuacutemero de empregados cresceu de 237 milhotildees em 1994 para aproximadamente 268 milhotildees em 2001 Em fins de 2001 portanto havia cerca de 31 milhotildees de pessoas a mais empregadas formalmente quando comparadas agrave mesma data de 1994 O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ndash CAGEDMTE igualmente corrobora a manutenccedilatildeo da trajetoacuteria de recuperaccedilatildeo dos postos de trabalho em 2002 Em junho uacuteltimo o CAGEDMTE registrou a criaccedilatildeo de 133 mil novas vagas o que significa um saldo acumulado de aproximadamente 681 mil postos de trabalho em 2002 Trata-se da melhor performance de toda a seacuterie histoacuterica do CAGEDMTE (iniciado em 1985) quando se compara os primeiros seis meses de 2002 ao mesmo periacuteodo dos anos anteriores Assim de janeiro de 2000 a junho de 2002 registra-se um saldo positivo de 19 milhatildeo de novos postos de trabalho formais

Com relaccedilatildeo agrave renda dos trabalhadores deve-se destacar o crescimento real do salaacuterio miacutenimo entre 1991 e 2002 O salaacuterio miacutenimo apresentou tendecircncia oscilante entre 1990 e 1994 (variando entre os poacutelos extremos representados por R$12865 em 1990 e R$14541 em 1993) assumindo trajetoacuteria continuamente ascendente a partir de 1995 ateacute atingir o valor real de R$18943 em 2002 (meacutedia de janeiro a maio deflacionada pelo INPC a preccedilos de maio de 2002) quando o valor nominal do salaacuterio miacutenimo atingiu R$20000 Por sua vez o rendimento meacutedio real dos ocupados foi de R$68910 na meacutedia do periacuteodo 1990-1994 apresentando crescimento da ordem de 1832 no periacuteodo 1995-2001 quando chega agrave meacutedia de R$81533 A massa de rendimento real tanto para o total dos ocupados quanto para os trabalhadores assalariados (com e sem carteira assinada) cresceu de forma consistente entre 1992 e 1997 com um comportamento oscilante a partir de entatildeo Comparando o periacuteodo 1995-2001 com o periacuteodo anterior 1991-1994 observa-se um crescimento

da massa de renda real meacutedia tanto para o conjunto dos ocupados (2407) quanto para os trabalhadores assalariados (516)

O Governo Federal brasileiro por seu turno empenhado em corrigir as distorccedilotildees inerentes agrave evoluccedilatildeo do mercado de trabalho vem desenvolvendo programas de fomento ao emprego e ao trabalho e de proteccedilatildeo e assistecircncia ao trabalhador contando com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador ndash FAT Seu objetivo eacute criar mecanismos que permitam a melhoria das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade de vida do trabalhador destacando-se as accedilotildees nas aacutereas de qualificaccedilatildeo profissional seguro-desemprego abono salarial geraccedilatildeo de emprego e renda inspeccedilatildeo do trabalho e legislaccedilatildeo trabalhista

Em 1995 o Governo Federal por meio do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego instituiu o Plano Nacional de Qualificaccedilatildeo do Trabalhador ndash PLANFOR visando assegurar a integraccedilatildeo do trabalhador ao mercado de trabalho e promover assim o aumento de sua empregabilidade produtividade e renda Financiado majoritariamente com recursos do FAT o PLANFOR eacute executado de forma descentralizada por instituiccedilotildees de formaccedilatildeo profissional sob responsabilidade das Secretarias Estaduais de Trabalho (em interaccedilatildeo com as Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego ampliando a participaccedilatildeo social e a sintonia com as demandas do setor produtivo) e das Parcerias Nacionais realizadas predominantemente com entidades patronais e associaccedilotildees sindicais O PLANFOR focaliza sua atuaccedilatildeo em populaccedilotildees vulneraacuteveis dotadas de maior dificuldade de acesso a outras alternativas de qualificaccedilatildeo em decorrecircncia de situaccedilotildees de pobreza baixa escolaridade ou discriminaccedilatildeo no mercado de trabalho No periacuteodo 1995-2001 foram qualificadas 153 milhotildees de pessoas com recursos da ordem de R$ 23 bilhotildees

O Seguro-Desemprego constitui uma accedilatildeo de amparo aos trabalhadores demitidos sem justa causa Na deacutecada de 1990 o pagamento do benefiacutecio do seguro-desemprego ajudou a preservar em meacutedia cerca de 13 da renda de salaacuterio do trabalhador formal do setor privado dispensado sem justa causa considerando a remuneraccedilatildeo meacutedia mensal do trabalhador com carteira assinada Entre 1994 e 2001 foram concedidos 354 milhotildees de benefiacutecios com recursos da ordem de R$282 bilhotildees Para o periacuteodo que se estende de 1995 a 2001 tiveram acesso ao programa 442 milhotildees de trabalhadores por ano em meacutedia de um total meacutedio de 45 milhotildees de requerimentos ao custo meacutedio anual de aproximadamente R$ 468 bilhotildees (em R$ de dezembro de 2001) O nuacutemero meacutedio de beneficiaacuterios no periacuteodo supera a meacutedia de beneficiaacuterios do periacuteodo 1990-94 em cerca de 20 Uma das causas do crescimento do volume de segurados eacute a flexibilizaccedilatildeo dos criteacuterios para a sua concessatildeo visto que a partir da segunda metade da deacutecada de 1990 houve reduccedilatildeo do tempo de viacutenculo empregatiacutecio necessaacuterio para o acesso ao benefiacutecio

O Abono Salarial eacute uma iniciativa de assistecircncia ao trabalhador consistindo no pagamento anual de um salaacuterio miacutenimo a trabalhadores dos setores privado e puacuteblico que atendam a determinados requisitos dentre eles a percepccedilatildeo de remuneraccedilatildeo meacutedia mensal natildeo superior a dois salaacuterios miacutenimos no ano de referecircncia Calcula-se que o impacto do abono na renda anual do trabalhador seja em meacutedia de 5 o que corresponde a uma complementaccedilatildeo de renda significativa para esse segmento de trabalhadores de baixa renda No mecircs que eacute pago o benefiacutecio o impacto na renda pode alcanccedilar aproximadamente 70 funcionando como um 14ordm salaacuterio aos trabalhadores de mais baixos salaacuterios No periacuteodo de 1995-2001 foram liberados em meacutedia 54 milhotildees de abonos salariais por ano nuacutemero 23 superior agrave meacutedia do periacuteodo 1990-1994 que consistiu em 44 milhotildees de abonos anuais

O Programa de Geraccedilatildeo de Emprego e Renda ndash PROGER vem-se consolidando como um dos principais instrumentos de que dispotildee o Governo para incrementar a poliacutetica puacuteblica de geraccedilatildeo de

emprego e renda e melhoria da qualidade de vida do trabalhador Sua operacionalizaccedilatildeo ocorre mediante concessatildeo de creacuteditos em condiccedilotildees especiais destinados ao financiamento de atividades produtivas nos setores formal e informal da economia nas aacutereas urbana e rural O PROGER Urbano possui como puacuteblicos-alvo as micro e pequenas empresas cooperativas e associaccedilotildees de produccedilatildeo bem como os profissionais liberais receacutem-formados trabalhadores autocircnomos prestadores de serviccedilo em geral artesatildeos e pequenos e micro negoacutecios familiares O PROGER Rural por sua vez atende prioritariamente aos pequenos produtores rurais de forma individual ou coletiva inclusive agraves atividades pesqueira extrativa vegetal e de aquumlicultura A concessatildeo dos creacuteditos eacute vinculada agrave realizaccedilatildeo de programas de capacitaccedilatildeo teacutecnico-gerencial qualificaccedilatildeo profissional assistecircncia teacutecnica e acompanhamento dos empreendimentos beneficiados As operaccedilotildees de creacutedito tecircm como agentes financeiros os seguintes bancos oficiais Banco do Brasil Banco do Nordeste do Brasil Caixa Econocircmica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social ndash BNDES Entre 1995 e 2001 foram realizadas aproximadamente 860 mil operaccedilotildees totalizando investimentos da ordem de R$69 bilhotildees

A Inspeccedilatildeo do Trabalho volta-se para o combate agrave informalidade agregando agraves accedilotildees tiacutepicas da fiscalizaccedilatildeo do trabalho mecanismos para facilitar a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de trabalhadores nas empresas tais como as mesas de entendimento e o condomiacutenio de empregadores A formalizaccedilatildeo dos contratos de trabalho estende as garantias trabalhistas e previdenciaacuterias aos trabalhadores desamparados do sistema laboral legal A intensificaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo do trabalho contribuiu para a formalizaccedilatildeo de um total de 21 milhotildees de viacutenculos empregatiacutecios inicialmente desprotegidos no periacuteodo de 1996 a 2001

Finalmente o Governo brasileiro apresentou ao longo dos uacuteltimos anos vaacuterias propostas de modernizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista com vistas a adequaacute-la aos novos padrotildees de relaccedilatildeo entre capital e trabalho A tocircnica desse conjunto de propostas eacute o reforccedilo agrave via negocial para a soluccedilatildeo dos conflitos inerentes agraves relaccedilotildees de trabalho Cabe destaque agraves seguintes iniciativas Banco de Horas (sistema de compensaccedilatildeo de horas extras previamente autorizado em convenccedilatildeo ou acordo coletivo que permite agrave empresa adequar as jornadas de trabalho agraves variaccedilotildees sazonais mediante a diminuiccedilatildeo proporcional da jornada em periacuteodos de decliacutenio da demanda) Mesas de Entendimento (mecanismo de fiscalizaccedilatildeo de caraacuteter pedagoacutegico natildeo punitivo buscando regularizar a situaccedilatildeo que suscitou a accedilatildeo fiscal por meio de entendimentos entre a fiscalizaccedilatildeo a empresa e os trabalhadores consubstanciados em um Termo de Compromisso) Condomiacutenio dos Empregadores (uniatildeo de produtores rurais ndash pessoas fiacutesicas com a finalidade de contratar trabalhadores rurais que prestaratildeo serviccedilos exclusivamente para seus condocircminos estimulando a formalizaccedilatildeo dos viacutenculos empregatiacutecios no campo) aleacutem de accedilotildees voltadas para a inserccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia no mercado de trabalho por meio de modalidades como a colocaccedilatildeo seletiva

Essas satildeo as linhas gerais de estruturaccedilatildeo do mercado de trabalho brasileiro e de atuaccedilatildeo do Governo Federal nos uacuteltimos anos Os impactos no mercado de trabalho inerentes ao processo de integraccedilatildeo da economia nacional agrave economia global satildeo consideraacuteveis Nesse contexto o Governo brasileiro ciente dos desafios que lhe satildeo postos estaacute empenhado em criar e manter as condiccedilotildees macroeconocircmicas favoraacuteveis e em implementar as poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo do emprego e da renda necessaacuterias para a construccedilatildeo de um futuro mais proacutespero para todos

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmtbgovbr httpwwwmpasgovbr

Dinacircmica Demograacutefica por Manoel A Costa

A populaccedilatildeo brasileira teve um aumento de 313 milhotildees de pessoas durante os 68 anos que separam a realizaccedilatildeo do primeiro recenseamento em 1872 do quinto em 1940 De acordo com os cinco censos desse periacuteodo a populaccedilatildeo nacional era constituiacuteda de 99 milhotildees em 1872 143 milhotildees em 1890 174 milhotildees em 1900 306 milhotildees em 1920 e finalmente 412 milhotildees em 1940 A partir desse ano e durante os 51 anos seguintes o contingente nacional aumentou pouco mais de 100 milhotildees de pessoas ateacute a data do Censo de 1991 e de acordo com o uacuteltimo censo de 1996 nestes quatro anos houve um acreacutescimo de cerca de 7 milhotildees de pessoas na populaccedilatildeo brasileira

A tabela sobre populaccedilatildeo apresenta alguns indicadores da dinacircmica demograacutefica a partir de 1940 taxas de natalidade de mortalidade de crescimento natural e de crescimento total prevalecentes durante os periacuteodos que separam a realizaccedilatildeo dos levantamentos estatiacutesticos complementando-os com estimativas ateacute os primeiros dez anos do seacuteculo XXI Aleacutem disso a tabela apresenta a evoluccedilatildeo do aumento da populaccedilatildeo e estimativas do nuacutemero de nascidos vivos para cada periacuteodo decenal

O incremento decenal da populaccedilatildeo aumentou significativa e continuamente ateacute os anos 70 apesar de a taxa de crescimento ter comeccedilado a declinar a partir de 1955 Enquanto entre 1940-1950 ocorreu um aumento de 109 milhotildees de habitantes entre 1980-1990 a populaccedilatildeo nacional aumentou em 248 milhotildees embora a taxa meacutedia anual de crescimento tenha se reduzido de 239 aa durante o primeiro periacuteodo para 193 anuais no uacuteltimo Estima-se que ocorreraacute um expressivo aumento populacional da ordem de 21 milhotildees de pessoas durante o uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX e os primeiros dez anos do seacuteculo XXI ainda que a taxa de crescimento continue se reduzindo

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwibgegovbr

A Transiccedilatildeo Demograacuteficapor Manoel A Costa

Nos anos 80 consolidou-se a transiccedilatildeo demograacutefica brasileira Tambeacutem neste periacuteodo registrou-se pela primeira vez na histoacuteria do Brasil um numeroso fluxo emigratoacuterio de matildeo-de-obra Estima-se que um contigente de 13 milhatildeo de brasileiros emigrou para o exterior durante esses anos

A transiccedilatildeo demograacutefica nacional apoacutes um iniacutecio moderado na segunda metade dos anos 60 transcorreu com uma aceleraccedilatildeo crescente durante as duas deacutecadas seguintes por causa da raacutepida reduccedilatildeo da fecundidade e resultou na reduccedilatildeo do crescimento demograacutefico natural da populaccedilatildeo de um ritmo elevado de 299 ao ano entre 1950-1960 praticamente ineacutedito ateacute entatildeo entre populaccedilotildees numerosas para o niacutevel de 193 meacutedios anuais entre 1980-1991

Estima-se que a fecundidade continuaraacute se reduzindo e se aproximaraacute num futuro natildeo muito distante do niacutevel de reposiccedilatildeo de 21 filhos por mulher em idade feacutertil Partindo de uma simulaccedilatildeo com essa perspectiva prevecirc-se que a taxa de crescimento da populaccedilatildeo nacional ficaraacute abaixo de 10 anual a partir de 2015-2020 e abaixo de 05 depois de 2035 Seguindo essa tendecircncia a

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

Sistema Rodoviaacuterio - Autopistas por Marcos Antonio de Moraes Xavier

Ateacute a primeira metade do seacuteculo XX de um modo geral as estradas de rodagem brasileiras representavam pequenos investimentos pontuais Natildeo havia um sistema que cobrisse todo o territoacuterio nacional Tais estradas em sua maioria eram caminhos de terra A constituiccedilatildeo de um sistema rodoviaacuterio nacional criando as ligaccedilotildees inter-regionais necessaacuterias ao processo de integraccedilatildeo ocorre a partir do empenho em equipar o territoacuterio para atender entre outras demandas o desenvolvimento da induacutestria paulista Um marco desta fase foi o Plano Viaacuterio Nacional de 1952 onde as rodovias jaacute aparecem como principal via de transporte

Desde os anos 50 e notadamente a partir dos anos 70 o sistema rodoviaacuterio brasileiro cresce acompanhado pela pavimentaccedilatildeo e duplicaccedilatildeo de rodovias que passam a formar autopistas modernas e raacutepidas Este crescimento destaca-se nas regiotildees Norte (20133) e Centro-oeste (15339) aacutereas onde o povoamento era rarefeito e que neste momento passam a ser aacutereas de avanccedilo do processo de interiorizaccedilatildeo

Atualmente encontramos nas regiotildees Sudeste Nordeste e Sul o maior nuacutemero de rodovias pavimentadas e as maiores densidades do sistema (extensatildeo em quilocircmetros do sistema rodoviaacuterio por 1 mil km2 de aacuterea)

O Brasil e a Economia Mundial Contemporacircnea por Joseacute Tavares de Arauacutejo Jr

Uma caracteriacutestica central do progresso tecnoloacutegico nas uacuteltimas trecircs deacutecadas tem sido o contraste entre o decliacutenio acelerado dos custos de informaccedilatildeo e a relativa estabilidade dos custos de transporte Este contraste vem alimentando as tendecircncias simultacircneas em direccedilatildeo agrave globalizaccedilatildeo de mercados e agrave regionalizaccedilatildeo das estruturas produtivas que marcaram a economia mundial no passado recente Estas tendecircncias por sua vez redefiniram os perfis de inserccedilatildeo internacional das economias domeacutesticas e as prioridades da agenda multilateral de comeacutercio

Os novos padrotildees de concorrecircncia internacional acentuaram a importacircncia da prestaccedilatildeo de serviccedilos da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e do investimento direto no exterior como fontes de sustentaccedilatildeo do desempenho exportador das economias nacionais Tais padrotildees reduziram a eficaacutecia dos instrumentos convencionais de poliacutetica comercial como tarifas quotas e salvaguardas ao mesmo tempo em que introduziram novos temas na agenda multilateral de comeacutercio como o uso de regulamentos domeacutesticos para proteger as induacutestrias da fronteira tecnoloacutegica e as praacuteticas anticompetitivas com dimensatildeo internacional

Do ponto de vista das economias nacionais a busca de eficiecircncia produtiva o estiacutemulo agrave inovaccedilatildeo e a melhoria das condiccedilotildees de inserccedilatildeo internacional das empresas domeacutesticas tornaram-se partes complementares de um desafio comum Para o governo isto implica natildeo apenas a convergecircncia das poliacuteticas industrial tecnoloacutegica e de comeacutercio exterior mas tambeacutem a coerecircncia de tais poliacuteticas com outras accedilotildees do governo nos planos macroeconocircmico e da regulaccedilatildeo das condiccedilotildees de concorrecircncia nos mercados domeacutesticos

Um desafio adicional impliacutecito no cenaacuterio contemporacircneo reside no fato de que a Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) natildeo dispotildee ainda dos instrumentos de regulaccedilatildeo necessaacuterios para lidar com os padrotildees de concorrecircncia em vigor Embora a reuniatildeo ministerial de Doha realizada em novembro de 2001 tenha ratificado o consenso da comunidade internacional quanto agrave necessidade de fortalecer a OMC na praacutetica tal consenso significou apenas que os paiacuteses membros estatildeo comprometidos a levar adiante a rodada de negociaccedilotildees mas natildeo autoriza qualquer previsatildeo otimista quanto aos resultados deste empreendimento no futuro proacuteximo dada a magnitude dos desafios que a OMC enfrenta atualmente

Um tema que bem ilustra as presentes limitaccedilotildees da OMC eacute o de poliacutetica de concorrecircncia que passou a desempenhar um papel central no plano internacional natildeo soacute para combater carteacuteis e fiscalizar a conduta das corporaccedilotildees transnacionais mas sobretudo para regular conflitos advindos da proteccedilatildeo agraves induacutestrias de alta tecnologia O debate sobre essas questotildees na OMC tem sido intenso desde dezembro de 1996 quando foi criado o Grupo de Trabalho sobre a Interaccedilatildeo entre Comeacutercio e Poliacutetica de Concorrecircncia Nos dois anos seguintes cerca de 170 documentos governamentais foram submetidos ao grupo cobrindo uma agenda substantiva que de fato foi bem aleacutem das relaccedilotildees entre comeacutercio e concorrecircncia A despeito da participaccedilatildeo ativa de praticamente todos os membros da OMC que dispotildeem de leis de concorrecircncia esse debate tem sido limitado por dois tipos de restriccedilotildees Por um lado qualquer acordo multilateral sobre regras de concorrecircncia soacute teraacute algum significado na medida em que todos os membros da OMC ou pelo menos sua grande maioria estiverem capacitados a aplicar aquelas normas em seus respectivos territoacuterios Por outro lado a OMC eacute uma instituiccedilatildeo desenhada para lidar essencialmente com atos de governos enquanto que o foco principal da poliacutetica de concorrecircncia eacute a conduta dos agentes econocircmicos

Em suma natildeo eacute provaacutevel que as principais fragilidades da OMC venham a ser superadas no futuro proacuteximo Entretanto a atuaccedilatildeo do Brasil naquele foacuterum durante os anos 90 demonstrou que mesmo assim ndash e sobretudo apoacutes o surto recente de pressotildees protecionistas nos Estados Unidos ndash interessa aos paiacuteses em desenvolvimento promover o sistema multilateral de comeacutercio Casos como EmbraerBombardier e a controveacutersia sobre patentes farmacecircuticas jaacute se tornaram siacutembolos de situaccedilotildees em que estrateacutegias negociadoras bem fundamentadas conseguem preservar interesses nacionais legiacutetimos Aleacutem de conferir maior credibilidade agrave OMC e agraves posiccedilotildees defendidas pelo Brasil nas negociaccedilotildees em curso esses casos tambeacutem se revelaram instrumentais para fomentar o diaacutelogo bilateral com diversos parceiros importantes como Japatildeo China Iacutendia Austraacutelia e Aacutefrica do Sul

Aleacutem de promover a OMC outro toacutepico prioritaacuterio da poliacutetica comercial brasileira eacute a reconstruccedilatildeo do MERCOSUL que tem desempenhado um papel estrateacutegico na defesa dos interesses brasileiros no plano multilateral nas negociaccedilotildees sobre a criaccedilatildeo de uma Aacuterea de Livre Comeacutercio das Ameacutericas (ALCA) e no diaacutelogo com a Uniatildeo Europeacuteia O MERCOSUL eacute importante por razotildees de

geografia econocircmica os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo internacional natildeo constituem anomalias efecircmeras mas foram gerados gradualmente ao longo de vaacuterias deacutecadas em decorrecircncia da dicotomia acima referida entre custos de informaccedilatildeo e de transporte Portanto a menos que os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo venham a ser redefinidos por outra revoluccedilatildeo tecnoloacutegica as metas da integraccedilatildeo regional continuaratildeo a ser prioritaacuterias para o Brasil

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwfazendagovbr httpwwwmdicgovbr httpwwwbndesgovbr httpwww1bcbgovbr httpwwwipeagovbr httpwwwmpogovbr

Mercado de Trabalho por Paulo Machado

A integraccedilatildeo competitiva da economia brasileira agrave economia global e a conquista da estabilidade influenciaram estruturalmente o funcionamento do mercado de trabalho do Paiacutes Foram registradas na deacutecada 1990 e ao longo dos uacuteltimos anos dinacircmicas particularmente relevantes nos quesitos emprego formalidade e renda dos trabalhadores o que exigiu mudanccedilas substantivas na atuaccedilatildeo das instituiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees trabalhistas

A evoluccedilatildeo do emprego pode ser melhor compreendida recorrendo-se aos dados da Pesquisa Mensal de Emprego ndash PMEIBGE visto que sua metodologia obedece a criteacuterios internacionalmente aceitos A taxa de desemprego medida pela PMEIBGE atingiu 76 em 1999 caiu para 71 em 2000 e reduziu-se novamente para 62 em 2001 atingindo entatildeo seu ponto mais baixo nos uacuteltimos quatro anos

Uma primeira anaacutelise dessa trajetoacuteria poderia sugerir que 2001 foi o ano em que o mercado de trabalho brasileiro teve seu melhor desempenho No entanto em 2000 foram criados em termos liacutequidos cerca de 700 mil postos de trabalho enquanto que em 2001 esse resultado atingiu aproximadamente 106 mil Observa-se assim que o desempenho do mercado de trabalho natildeo pode ser avaliado exclusivamente pela trajetoacuteria da taxa de desemprego Igualmente importante eacute medir a capacidade da economia de gerar saldos positivos de postos de trabalho Para corroborar essa situaccedilatildeo entre janeiro e junho de 2002 a PMEIBGE registra um aumento da ordem de cerca de 192 mil postos de trabalho considerando-se apenas as 6 regiotildees metropolitanas pesquisadas (Belo Horizonte Porto Alegre Recife Rio de Janeiro Salvador e Satildeo Paulo) No entanto como a taxa de desemprego resulta do cruzamento entre o nuacutemero de postos gerados e a quantidade de pessoas procurando emprego houve um pequeno crescimento do desemprego no primeiro semestre de 2002 atingindo na meacutedia 72 Essa aparente contradiccedilatildeo se explica pelo fato de que mais pessoas tem-se sentido incentivadas a procurar emprego o que provavelmente reflete expectativas mais favoraacuteveis quanto agrave perspectiva de obtenccedilatildeo de emprego Somente nos seis primeiros meses de

2002 aproximadamente 434 mil pessoas entraram no mercado de trabalho Destas cerca de 262 mil satildeo oriundas do desalento ou seja satildeo trabalhadores que haviam desistido de procurar emprego mas devido ao bom desempenho do mercado de trabalho vislumbraram novamente a chance de ter um emprego

A taxa meacutedia de desemprego dos primeiros seis meses do ano de 2002 carrega uma certa sazonalidade negativa pois trata-se de um periacuteodo tipicamente marcado por taxas mais elevadas Nesse contexto eacute razoaacutevel esperar que a taxa de desemprego recue a partir do terceiro trimestre Vale destacar que a taxa de desemprego brasileira da ordem de 75 em junho ainda eacute a mais baixa da Ameacuterica do Sul e uma das menores da Ameacuterica Latina

Em termos setoriais ao longo da deacutecada de 1990 a induacutestria de transformaccedilatildeo registrou reduccedilatildeo no niacutevel meacutedio de ocupaccedilatildeo experimentando a chamada desindustrializaccedilatildeo do emprego Por sua vez os serviccedilos e o comeacutercio apresentaram as maiores elevaccedilotildees na ocupaccedilatildeo meacutedia expressando um processo ascendente de terceirizaccedilatildeo do emprego Com efeito o mundo do trabalho tem sofrido raacutepidas e radicais transformaccedilotildees por meio da automaccedilatildeo da roboacutetica e da telemaacutetica Trata-se de um processo de substituiccedilatildeo de paradigmas na concepccedilatildeo da estrutura produtiva que se acentua a partir dos anos 80 A crescente automaccedilatildeo da produccedilatildeo processo que se acelerou a partir do iniacutecio da deacutecada de 1970 resultou na reduccedilatildeo da importacircncia do setor secundaacuterio da economia como empregador de matildeo-de-obra A atividade industrial maior geradora de empregos nos anos 70 perdeu essa posiccedilatildeo para o setor de serviccedilos nas deacutecadas de 1980 e 1990 Em 1992 o setor terciaacuterio e a induacutestria de transformaccedilatildeo respondiam respectivamente por 716 e 198 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelio ndash PNADIBGE Em 1998 o setor terciaacuterio abrigava 737 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola e mais da metade da populaccedilatildeo ocupada do Paiacutes enquanto o setor secundaacuterio reduziu sua participaccedilatildeo para 179

Com relaccedilatildeo agrave qualidade dos viacutenculos empregatiacutecios os indicadores mostram-se positivos sob a forma da geraccedilatildeo consistente de postos de trabalho formais entre 1994 e 2002 Conforme dados da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais ndash RAISMTE o nuacutemero de empregados cresceu de 237 milhotildees em 1994 para aproximadamente 268 milhotildees em 2001 Em fins de 2001 portanto havia cerca de 31 milhotildees de pessoas a mais empregadas formalmente quando comparadas agrave mesma data de 1994 O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ndash CAGEDMTE igualmente corrobora a manutenccedilatildeo da trajetoacuteria de recuperaccedilatildeo dos postos de trabalho em 2002 Em junho uacuteltimo o CAGEDMTE registrou a criaccedilatildeo de 133 mil novas vagas o que significa um saldo acumulado de aproximadamente 681 mil postos de trabalho em 2002 Trata-se da melhor performance de toda a seacuterie histoacuterica do CAGEDMTE (iniciado em 1985) quando se compara os primeiros seis meses de 2002 ao mesmo periacuteodo dos anos anteriores Assim de janeiro de 2000 a junho de 2002 registra-se um saldo positivo de 19 milhatildeo de novos postos de trabalho formais

Com relaccedilatildeo agrave renda dos trabalhadores deve-se destacar o crescimento real do salaacuterio miacutenimo entre 1991 e 2002 O salaacuterio miacutenimo apresentou tendecircncia oscilante entre 1990 e 1994 (variando entre os poacutelos extremos representados por R$12865 em 1990 e R$14541 em 1993) assumindo trajetoacuteria continuamente ascendente a partir de 1995 ateacute atingir o valor real de R$18943 em 2002 (meacutedia de janeiro a maio deflacionada pelo INPC a preccedilos de maio de 2002) quando o valor nominal do salaacuterio miacutenimo atingiu R$20000 Por sua vez o rendimento meacutedio real dos ocupados foi de R$68910 na meacutedia do periacuteodo 1990-1994 apresentando crescimento da ordem de 1832 no periacuteodo 1995-2001 quando chega agrave meacutedia de R$81533 A massa de rendimento real tanto para o total dos ocupados quanto para os trabalhadores assalariados (com e sem carteira assinada) cresceu de forma consistente entre 1992 e 1997 com um comportamento oscilante a partir de entatildeo Comparando o periacuteodo 1995-2001 com o periacuteodo anterior 1991-1994 observa-se um crescimento

da massa de renda real meacutedia tanto para o conjunto dos ocupados (2407) quanto para os trabalhadores assalariados (516)

O Governo Federal brasileiro por seu turno empenhado em corrigir as distorccedilotildees inerentes agrave evoluccedilatildeo do mercado de trabalho vem desenvolvendo programas de fomento ao emprego e ao trabalho e de proteccedilatildeo e assistecircncia ao trabalhador contando com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador ndash FAT Seu objetivo eacute criar mecanismos que permitam a melhoria das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade de vida do trabalhador destacando-se as accedilotildees nas aacutereas de qualificaccedilatildeo profissional seguro-desemprego abono salarial geraccedilatildeo de emprego e renda inspeccedilatildeo do trabalho e legislaccedilatildeo trabalhista

Em 1995 o Governo Federal por meio do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego instituiu o Plano Nacional de Qualificaccedilatildeo do Trabalhador ndash PLANFOR visando assegurar a integraccedilatildeo do trabalhador ao mercado de trabalho e promover assim o aumento de sua empregabilidade produtividade e renda Financiado majoritariamente com recursos do FAT o PLANFOR eacute executado de forma descentralizada por instituiccedilotildees de formaccedilatildeo profissional sob responsabilidade das Secretarias Estaduais de Trabalho (em interaccedilatildeo com as Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego ampliando a participaccedilatildeo social e a sintonia com as demandas do setor produtivo) e das Parcerias Nacionais realizadas predominantemente com entidades patronais e associaccedilotildees sindicais O PLANFOR focaliza sua atuaccedilatildeo em populaccedilotildees vulneraacuteveis dotadas de maior dificuldade de acesso a outras alternativas de qualificaccedilatildeo em decorrecircncia de situaccedilotildees de pobreza baixa escolaridade ou discriminaccedilatildeo no mercado de trabalho No periacuteodo 1995-2001 foram qualificadas 153 milhotildees de pessoas com recursos da ordem de R$ 23 bilhotildees

O Seguro-Desemprego constitui uma accedilatildeo de amparo aos trabalhadores demitidos sem justa causa Na deacutecada de 1990 o pagamento do benefiacutecio do seguro-desemprego ajudou a preservar em meacutedia cerca de 13 da renda de salaacuterio do trabalhador formal do setor privado dispensado sem justa causa considerando a remuneraccedilatildeo meacutedia mensal do trabalhador com carteira assinada Entre 1994 e 2001 foram concedidos 354 milhotildees de benefiacutecios com recursos da ordem de R$282 bilhotildees Para o periacuteodo que se estende de 1995 a 2001 tiveram acesso ao programa 442 milhotildees de trabalhadores por ano em meacutedia de um total meacutedio de 45 milhotildees de requerimentos ao custo meacutedio anual de aproximadamente R$ 468 bilhotildees (em R$ de dezembro de 2001) O nuacutemero meacutedio de beneficiaacuterios no periacuteodo supera a meacutedia de beneficiaacuterios do periacuteodo 1990-94 em cerca de 20 Uma das causas do crescimento do volume de segurados eacute a flexibilizaccedilatildeo dos criteacuterios para a sua concessatildeo visto que a partir da segunda metade da deacutecada de 1990 houve reduccedilatildeo do tempo de viacutenculo empregatiacutecio necessaacuterio para o acesso ao benefiacutecio

O Abono Salarial eacute uma iniciativa de assistecircncia ao trabalhador consistindo no pagamento anual de um salaacuterio miacutenimo a trabalhadores dos setores privado e puacuteblico que atendam a determinados requisitos dentre eles a percepccedilatildeo de remuneraccedilatildeo meacutedia mensal natildeo superior a dois salaacuterios miacutenimos no ano de referecircncia Calcula-se que o impacto do abono na renda anual do trabalhador seja em meacutedia de 5 o que corresponde a uma complementaccedilatildeo de renda significativa para esse segmento de trabalhadores de baixa renda No mecircs que eacute pago o benefiacutecio o impacto na renda pode alcanccedilar aproximadamente 70 funcionando como um 14ordm salaacuterio aos trabalhadores de mais baixos salaacuterios No periacuteodo de 1995-2001 foram liberados em meacutedia 54 milhotildees de abonos salariais por ano nuacutemero 23 superior agrave meacutedia do periacuteodo 1990-1994 que consistiu em 44 milhotildees de abonos anuais

O Programa de Geraccedilatildeo de Emprego e Renda ndash PROGER vem-se consolidando como um dos principais instrumentos de que dispotildee o Governo para incrementar a poliacutetica puacuteblica de geraccedilatildeo de

emprego e renda e melhoria da qualidade de vida do trabalhador Sua operacionalizaccedilatildeo ocorre mediante concessatildeo de creacuteditos em condiccedilotildees especiais destinados ao financiamento de atividades produtivas nos setores formal e informal da economia nas aacutereas urbana e rural O PROGER Urbano possui como puacuteblicos-alvo as micro e pequenas empresas cooperativas e associaccedilotildees de produccedilatildeo bem como os profissionais liberais receacutem-formados trabalhadores autocircnomos prestadores de serviccedilo em geral artesatildeos e pequenos e micro negoacutecios familiares O PROGER Rural por sua vez atende prioritariamente aos pequenos produtores rurais de forma individual ou coletiva inclusive agraves atividades pesqueira extrativa vegetal e de aquumlicultura A concessatildeo dos creacuteditos eacute vinculada agrave realizaccedilatildeo de programas de capacitaccedilatildeo teacutecnico-gerencial qualificaccedilatildeo profissional assistecircncia teacutecnica e acompanhamento dos empreendimentos beneficiados As operaccedilotildees de creacutedito tecircm como agentes financeiros os seguintes bancos oficiais Banco do Brasil Banco do Nordeste do Brasil Caixa Econocircmica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social ndash BNDES Entre 1995 e 2001 foram realizadas aproximadamente 860 mil operaccedilotildees totalizando investimentos da ordem de R$69 bilhotildees

A Inspeccedilatildeo do Trabalho volta-se para o combate agrave informalidade agregando agraves accedilotildees tiacutepicas da fiscalizaccedilatildeo do trabalho mecanismos para facilitar a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de trabalhadores nas empresas tais como as mesas de entendimento e o condomiacutenio de empregadores A formalizaccedilatildeo dos contratos de trabalho estende as garantias trabalhistas e previdenciaacuterias aos trabalhadores desamparados do sistema laboral legal A intensificaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo do trabalho contribuiu para a formalizaccedilatildeo de um total de 21 milhotildees de viacutenculos empregatiacutecios inicialmente desprotegidos no periacuteodo de 1996 a 2001

Finalmente o Governo brasileiro apresentou ao longo dos uacuteltimos anos vaacuterias propostas de modernizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista com vistas a adequaacute-la aos novos padrotildees de relaccedilatildeo entre capital e trabalho A tocircnica desse conjunto de propostas eacute o reforccedilo agrave via negocial para a soluccedilatildeo dos conflitos inerentes agraves relaccedilotildees de trabalho Cabe destaque agraves seguintes iniciativas Banco de Horas (sistema de compensaccedilatildeo de horas extras previamente autorizado em convenccedilatildeo ou acordo coletivo que permite agrave empresa adequar as jornadas de trabalho agraves variaccedilotildees sazonais mediante a diminuiccedilatildeo proporcional da jornada em periacuteodos de decliacutenio da demanda) Mesas de Entendimento (mecanismo de fiscalizaccedilatildeo de caraacuteter pedagoacutegico natildeo punitivo buscando regularizar a situaccedilatildeo que suscitou a accedilatildeo fiscal por meio de entendimentos entre a fiscalizaccedilatildeo a empresa e os trabalhadores consubstanciados em um Termo de Compromisso) Condomiacutenio dos Empregadores (uniatildeo de produtores rurais ndash pessoas fiacutesicas com a finalidade de contratar trabalhadores rurais que prestaratildeo serviccedilos exclusivamente para seus condocircminos estimulando a formalizaccedilatildeo dos viacutenculos empregatiacutecios no campo) aleacutem de accedilotildees voltadas para a inserccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia no mercado de trabalho por meio de modalidades como a colocaccedilatildeo seletiva

Essas satildeo as linhas gerais de estruturaccedilatildeo do mercado de trabalho brasileiro e de atuaccedilatildeo do Governo Federal nos uacuteltimos anos Os impactos no mercado de trabalho inerentes ao processo de integraccedilatildeo da economia nacional agrave economia global satildeo consideraacuteveis Nesse contexto o Governo brasileiro ciente dos desafios que lhe satildeo postos estaacute empenhado em criar e manter as condiccedilotildees macroeconocircmicas favoraacuteveis e em implementar as poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo do emprego e da renda necessaacuterias para a construccedilatildeo de um futuro mais proacutespero para todos

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmtbgovbr httpwwwmpasgovbr

Dinacircmica Demograacutefica por Manoel A Costa

A populaccedilatildeo brasileira teve um aumento de 313 milhotildees de pessoas durante os 68 anos que separam a realizaccedilatildeo do primeiro recenseamento em 1872 do quinto em 1940 De acordo com os cinco censos desse periacuteodo a populaccedilatildeo nacional era constituiacuteda de 99 milhotildees em 1872 143 milhotildees em 1890 174 milhotildees em 1900 306 milhotildees em 1920 e finalmente 412 milhotildees em 1940 A partir desse ano e durante os 51 anos seguintes o contingente nacional aumentou pouco mais de 100 milhotildees de pessoas ateacute a data do Censo de 1991 e de acordo com o uacuteltimo censo de 1996 nestes quatro anos houve um acreacutescimo de cerca de 7 milhotildees de pessoas na populaccedilatildeo brasileira

A tabela sobre populaccedilatildeo apresenta alguns indicadores da dinacircmica demograacutefica a partir de 1940 taxas de natalidade de mortalidade de crescimento natural e de crescimento total prevalecentes durante os periacuteodos que separam a realizaccedilatildeo dos levantamentos estatiacutesticos complementando-os com estimativas ateacute os primeiros dez anos do seacuteculo XXI Aleacutem disso a tabela apresenta a evoluccedilatildeo do aumento da populaccedilatildeo e estimativas do nuacutemero de nascidos vivos para cada periacuteodo decenal

O incremento decenal da populaccedilatildeo aumentou significativa e continuamente ateacute os anos 70 apesar de a taxa de crescimento ter comeccedilado a declinar a partir de 1955 Enquanto entre 1940-1950 ocorreu um aumento de 109 milhotildees de habitantes entre 1980-1990 a populaccedilatildeo nacional aumentou em 248 milhotildees embora a taxa meacutedia anual de crescimento tenha se reduzido de 239 aa durante o primeiro periacuteodo para 193 anuais no uacuteltimo Estima-se que ocorreraacute um expressivo aumento populacional da ordem de 21 milhotildees de pessoas durante o uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX e os primeiros dez anos do seacuteculo XXI ainda que a taxa de crescimento continue se reduzindo

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwibgegovbr

A Transiccedilatildeo Demograacuteficapor Manoel A Costa

Nos anos 80 consolidou-se a transiccedilatildeo demograacutefica brasileira Tambeacutem neste periacuteodo registrou-se pela primeira vez na histoacuteria do Brasil um numeroso fluxo emigratoacuterio de matildeo-de-obra Estima-se que um contigente de 13 milhatildeo de brasileiros emigrou para o exterior durante esses anos

A transiccedilatildeo demograacutefica nacional apoacutes um iniacutecio moderado na segunda metade dos anos 60 transcorreu com uma aceleraccedilatildeo crescente durante as duas deacutecadas seguintes por causa da raacutepida reduccedilatildeo da fecundidade e resultou na reduccedilatildeo do crescimento demograacutefico natural da populaccedilatildeo de um ritmo elevado de 299 ao ano entre 1950-1960 praticamente ineacutedito ateacute entatildeo entre populaccedilotildees numerosas para o niacutevel de 193 meacutedios anuais entre 1980-1991

Estima-se que a fecundidade continuaraacute se reduzindo e se aproximaraacute num futuro natildeo muito distante do niacutevel de reposiccedilatildeo de 21 filhos por mulher em idade feacutertil Partindo de uma simulaccedilatildeo com essa perspectiva prevecirc-se que a taxa de crescimento da populaccedilatildeo nacional ficaraacute abaixo de 10 anual a partir de 2015-2020 e abaixo de 05 depois de 2035 Seguindo essa tendecircncia a

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

Do ponto de vista das economias nacionais a busca de eficiecircncia produtiva o estiacutemulo agrave inovaccedilatildeo e a melhoria das condiccedilotildees de inserccedilatildeo internacional das empresas domeacutesticas tornaram-se partes complementares de um desafio comum Para o governo isto implica natildeo apenas a convergecircncia das poliacuteticas industrial tecnoloacutegica e de comeacutercio exterior mas tambeacutem a coerecircncia de tais poliacuteticas com outras accedilotildees do governo nos planos macroeconocircmico e da regulaccedilatildeo das condiccedilotildees de concorrecircncia nos mercados domeacutesticos

Um desafio adicional impliacutecito no cenaacuterio contemporacircneo reside no fato de que a Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) natildeo dispotildee ainda dos instrumentos de regulaccedilatildeo necessaacuterios para lidar com os padrotildees de concorrecircncia em vigor Embora a reuniatildeo ministerial de Doha realizada em novembro de 2001 tenha ratificado o consenso da comunidade internacional quanto agrave necessidade de fortalecer a OMC na praacutetica tal consenso significou apenas que os paiacuteses membros estatildeo comprometidos a levar adiante a rodada de negociaccedilotildees mas natildeo autoriza qualquer previsatildeo otimista quanto aos resultados deste empreendimento no futuro proacuteximo dada a magnitude dos desafios que a OMC enfrenta atualmente

Um tema que bem ilustra as presentes limitaccedilotildees da OMC eacute o de poliacutetica de concorrecircncia que passou a desempenhar um papel central no plano internacional natildeo soacute para combater carteacuteis e fiscalizar a conduta das corporaccedilotildees transnacionais mas sobretudo para regular conflitos advindos da proteccedilatildeo agraves induacutestrias de alta tecnologia O debate sobre essas questotildees na OMC tem sido intenso desde dezembro de 1996 quando foi criado o Grupo de Trabalho sobre a Interaccedilatildeo entre Comeacutercio e Poliacutetica de Concorrecircncia Nos dois anos seguintes cerca de 170 documentos governamentais foram submetidos ao grupo cobrindo uma agenda substantiva que de fato foi bem aleacutem das relaccedilotildees entre comeacutercio e concorrecircncia A despeito da participaccedilatildeo ativa de praticamente todos os membros da OMC que dispotildeem de leis de concorrecircncia esse debate tem sido limitado por dois tipos de restriccedilotildees Por um lado qualquer acordo multilateral sobre regras de concorrecircncia soacute teraacute algum significado na medida em que todos os membros da OMC ou pelo menos sua grande maioria estiverem capacitados a aplicar aquelas normas em seus respectivos territoacuterios Por outro lado a OMC eacute uma instituiccedilatildeo desenhada para lidar essencialmente com atos de governos enquanto que o foco principal da poliacutetica de concorrecircncia eacute a conduta dos agentes econocircmicos

Em suma natildeo eacute provaacutevel que as principais fragilidades da OMC venham a ser superadas no futuro proacuteximo Entretanto a atuaccedilatildeo do Brasil naquele foacuterum durante os anos 90 demonstrou que mesmo assim ndash e sobretudo apoacutes o surto recente de pressotildees protecionistas nos Estados Unidos ndash interessa aos paiacuteses em desenvolvimento promover o sistema multilateral de comeacutercio Casos como EmbraerBombardier e a controveacutersia sobre patentes farmacecircuticas jaacute se tornaram siacutembolos de situaccedilotildees em que estrateacutegias negociadoras bem fundamentadas conseguem preservar interesses nacionais legiacutetimos Aleacutem de conferir maior credibilidade agrave OMC e agraves posiccedilotildees defendidas pelo Brasil nas negociaccedilotildees em curso esses casos tambeacutem se revelaram instrumentais para fomentar o diaacutelogo bilateral com diversos parceiros importantes como Japatildeo China Iacutendia Austraacutelia e Aacutefrica do Sul

Aleacutem de promover a OMC outro toacutepico prioritaacuterio da poliacutetica comercial brasileira eacute a reconstruccedilatildeo do MERCOSUL que tem desempenhado um papel estrateacutegico na defesa dos interesses brasileiros no plano multilateral nas negociaccedilotildees sobre a criaccedilatildeo de uma Aacuterea de Livre Comeacutercio das Ameacutericas (ALCA) e no diaacutelogo com a Uniatildeo Europeacuteia O MERCOSUL eacute importante por razotildees de

geografia econocircmica os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo internacional natildeo constituem anomalias efecircmeras mas foram gerados gradualmente ao longo de vaacuterias deacutecadas em decorrecircncia da dicotomia acima referida entre custos de informaccedilatildeo e de transporte Portanto a menos que os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo venham a ser redefinidos por outra revoluccedilatildeo tecnoloacutegica as metas da integraccedilatildeo regional continuaratildeo a ser prioritaacuterias para o Brasil

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwfazendagovbr httpwwwmdicgovbr httpwwwbndesgovbr httpwww1bcbgovbr httpwwwipeagovbr httpwwwmpogovbr

Mercado de Trabalho por Paulo Machado

A integraccedilatildeo competitiva da economia brasileira agrave economia global e a conquista da estabilidade influenciaram estruturalmente o funcionamento do mercado de trabalho do Paiacutes Foram registradas na deacutecada 1990 e ao longo dos uacuteltimos anos dinacircmicas particularmente relevantes nos quesitos emprego formalidade e renda dos trabalhadores o que exigiu mudanccedilas substantivas na atuaccedilatildeo das instituiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees trabalhistas

A evoluccedilatildeo do emprego pode ser melhor compreendida recorrendo-se aos dados da Pesquisa Mensal de Emprego ndash PMEIBGE visto que sua metodologia obedece a criteacuterios internacionalmente aceitos A taxa de desemprego medida pela PMEIBGE atingiu 76 em 1999 caiu para 71 em 2000 e reduziu-se novamente para 62 em 2001 atingindo entatildeo seu ponto mais baixo nos uacuteltimos quatro anos

Uma primeira anaacutelise dessa trajetoacuteria poderia sugerir que 2001 foi o ano em que o mercado de trabalho brasileiro teve seu melhor desempenho No entanto em 2000 foram criados em termos liacutequidos cerca de 700 mil postos de trabalho enquanto que em 2001 esse resultado atingiu aproximadamente 106 mil Observa-se assim que o desempenho do mercado de trabalho natildeo pode ser avaliado exclusivamente pela trajetoacuteria da taxa de desemprego Igualmente importante eacute medir a capacidade da economia de gerar saldos positivos de postos de trabalho Para corroborar essa situaccedilatildeo entre janeiro e junho de 2002 a PMEIBGE registra um aumento da ordem de cerca de 192 mil postos de trabalho considerando-se apenas as 6 regiotildees metropolitanas pesquisadas (Belo Horizonte Porto Alegre Recife Rio de Janeiro Salvador e Satildeo Paulo) No entanto como a taxa de desemprego resulta do cruzamento entre o nuacutemero de postos gerados e a quantidade de pessoas procurando emprego houve um pequeno crescimento do desemprego no primeiro semestre de 2002 atingindo na meacutedia 72 Essa aparente contradiccedilatildeo se explica pelo fato de que mais pessoas tem-se sentido incentivadas a procurar emprego o que provavelmente reflete expectativas mais favoraacuteveis quanto agrave perspectiva de obtenccedilatildeo de emprego Somente nos seis primeiros meses de

2002 aproximadamente 434 mil pessoas entraram no mercado de trabalho Destas cerca de 262 mil satildeo oriundas do desalento ou seja satildeo trabalhadores que haviam desistido de procurar emprego mas devido ao bom desempenho do mercado de trabalho vislumbraram novamente a chance de ter um emprego

A taxa meacutedia de desemprego dos primeiros seis meses do ano de 2002 carrega uma certa sazonalidade negativa pois trata-se de um periacuteodo tipicamente marcado por taxas mais elevadas Nesse contexto eacute razoaacutevel esperar que a taxa de desemprego recue a partir do terceiro trimestre Vale destacar que a taxa de desemprego brasileira da ordem de 75 em junho ainda eacute a mais baixa da Ameacuterica do Sul e uma das menores da Ameacuterica Latina

Em termos setoriais ao longo da deacutecada de 1990 a induacutestria de transformaccedilatildeo registrou reduccedilatildeo no niacutevel meacutedio de ocupaccedilatildeo experimentando a chamada desindustrializaccedilatildeo do emprego Por sua vez os serviccedilos e o comeacutercio apresentaram as maiores elevaccedilotildees na ocupaccedilatildeo meacutedia expressando um processo ascendente de terceirizaccedilatildeo do emprego Com efeito o mundo do trabalho tem sofrido raacutepidas e radicais transformaccedilotildees por meio da automaccedilatildeo da roboacutetica e da telemaacutetica Trata-se de um processo de substituiccedilatildeo de paradigmas na concepccedilatildeo da estrutura produtiva que se acentua a partir dos anos 80 A crescente automaccedilatildeo da produccedilatildeo processo que se acelerou a partir do iniacutecio da deacutecada de 1970 resultou na reduccedilatildeo da importacircncia do setor secundaacuterio da economia como empregador de matildeo-de-obra A atividade industrial maior geradora de empregos nos anos 70 perdeu essa posiccedilatildeo para o setor de serviccedilos nas deacutecadas de 1980 e 1990 Em 1992 o setor terciaacuterio e a induacutestria de transformaccedilatildeo respondiam respectivamente por 716 e 198 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelio ndash PNADIBGE Em 1998 o setor terciaacuterio abrigava 737 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola e mais da metade da populaccedilatildeo ocupada do Paiacutes enquanto o setor secundaacuterio reduziu sua participaccedilatildeo para 179

Com relaccedilatildeo agrave qualidade dos viacutenculos empregatiacutecios os indicadores mostram-se positivos sob a forma da geraccedilatildeo consistente de postos de trabalho formais entre 1994 e 2002 Conforme dados da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais ndash RAISMTE o nuacutemero de empregados cresceu de 237 milhotildees em 1994 para aproximadamente 268 milhotildees em 2001 Em fins de 2001 portanto havia cerca de 31 milhotildees de pessoas a mais empregadas formalmente quando comparadas agrave mesma data de 1994 O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ndash CAGEDMTE igualmente corrobora a manutenccedilatildeo da trajetoacuteria de recuperaccedilatildeo dos postos de trabalho em 2002 Em junho uacuteltimo o CAGEDMTE registrou a criaccedilatildeo de 133 mil novas vagas o que significa um saldo acumulado de aproximadamente 681 mil postos de trabalho em 2002 Trata-se da melhor performance de toda a seacuterie histoacuterica do CAGEDMTE (iniciado em 1985) quando se compara os primeiros seis meses de 2002 ao mesmo periacuteodo dos anos anteriores Assim de janeiro de 2000 a junho de 2002 registra-se um saldo positivo de 19 milhatildeo de novos postos de trabalho formais

Com relaccedilatildeo agrave renda dos trabalhadores deve-se destacar o crescimento real do salaacuterio miacutenimo entre 1991 e 2002 O salaacuterio miacutenimo apresentou tendecircncia oscilante entre 1990 e 1994 (variando entre os poacutelos extremos representados por R$12865 em 1990 e R$14541 em 1993) assumindo trajetoacuteria continuamente ascendente a partir de 1995 ateacute atingir o valor real de R$18943 em 2002 (meacutedia de janeiro a maio deflacionada pelo INPC a preccedilos de maio de 2002) quando o valor nominal do salaacuterio miacutenimo atingiu R$20000 Por sua vez o rendimento meacutedio real dos ocupados foi de R$68910 na meacutedia do periacuteodo 1990-1994 apresentando crescimento da ordem de 1832 no periacuteodo 1995-2001 quando chega agrave meacutedia de R$81533 A massa de rendimento real tanto para o total dos ocupados quanto para os trabalhadores assalariados (com e sem carteira assinada) cresceu de forma consistente entre 1992 e 1997 com um comportamento oscilante a partir de entatildeo Comparando o periacuteodo 1995-2001 com o periacuteodo anterior 1991-1994 observa-se um crescimento

da massa de renda real meacutedia tanto para o conjunto dos ocupados (2407) quanto para os trabalhadores assalariados (516)

O Governo Federal brasileiro por seu turno empenhado em corrigir as distorccedilotildees inerentes agrave evoluccedilatildeo do mercado de trabalho vem desenvolvendo programas de fomento ao emprego e ao trabalho e de proteccedilatildeo e assistecircncia ao trabalhador contando com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador ndash FAT Seu objetivo eacute criar mecanismos que permitam a melhoria das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade de vida do trabalhador destacando-se as accedilotildees nas aacutereas de qualificaccedilatildeo profissional seguro-desemprego abono salarial geraccedilatildeo de emprego e renda inspeccedilatildeo do trabalho e legislaccedilatildeo trabalhista

Em 1995 o Governo Federal por meio do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego instituiu o Plano Nacional de Qualificaccedilatildeo do Trabalhador ndash PLANFOR visando assegurar a integraccedilatildeo do trabalhador ao mercado de trabalho e promover assim o aumento de sua empregabilidade produtividade e renda Financiado majoritariamente com recursos do FAT o PLANFOR eacute executado de forma descentralizada por instituiccedilotildees de formaccedilatildeo profissional sob responsabilidade das Secretarias Estaduais de Trabalho (em interaccedilatildeo com as Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego ampliando a participaccedilatildeo social e a sintonia com as demandas do setor produtivo) e das Parcerias Nacionais realizadas predominantemente com entidades patronais e associaccedilotildees sindicais O PLANFOR focaliza sua atuaccedilatildeo em populaccedilotildees vulneraacuteveis dotadas de maior dificuldade de acesso a outras alternativas de qualificaccedilatildeo em decorrecircncia de situaccedilotildees de pobreza baixa escolaridade ou discriminaccedilatildeo no mercado de trabalho No periacuteodo 1995-2001 foram qualificadas 153 milhotildees de pessoas com recursos da ordem de R$ 23 bilhotildees

O Seguro-Desemprego constitui uma accedilatildeo de amparo aos trabalhadores demitidos sem justa causa Na deacutecada de 1990 o pagamento do benefiacutecio do seguro-desemprego ajudou a preservar em meacutedia cerca de 13 da renda de salaacuterio do trabalhador formal do setor privado dispensado sem justa causa considerando a remuneraccedilatildeo meacutedia mensal do trabalhador com carteira assinada Entre 1994 e 2001 foram concedidos 354 milhotildees de benefiacutecios com recursos da ordem de R$282 bilhotildees Para o periacuteodo que se estende de 1995 a 2001 tiveram acesso ao programa 442 milhotildees de trabalhadores por ano em meacutedia de um total meacutedio de 45 milhotildees de requerimentos ao custo meacutedio anual de aproximadamente R$ 468 bilhotildees (em R$ de dezembro de 2001) O nuacutemero meacutedio de beneficiaacuterios no periacuteodo supera a meacutedia de beneficiaacuterios do periacuteodo 1990-94 em cerca de 20 Uma das causas do crescimento do volume de segurados eacute a flexibilizaccedilatildeo dos criteacuterios para a sua concessatildeo visto que a partir da segunda metade da deacutecada de 1990 houve reduccedilatildeo do tempo de viacutenculo empregatiacutecio necessaacuterio para o acesso ao benefiacutecio

O Abono Salarial eacute uma iniciativa de assistecircncia ao trabalhador consistindo no pagamento anual de um salaacuterio miacutenimo a trabalhadores dos setores privado e puacuteblico que atendam a determinados requisitos dentre eles a percepccedilatildeo de remuneraccedilatildeo meacutedia mensal natildeo superior a dois salaacuterios miacutenimos no ano de referecircncia Calcula-se que o impacto do abono na renda anual do trabalhador seja em meacutedia de 5 o que corresponde a uma complementaccedilatildeo de renda significativa para esse segmento de trabalhadores de baixa renda No mecircs que eacute pago o benefiacutecio o impacto na renda pode alcanccedilar aproximadamente 70 funcionando como um 14ordm salaacuterio aos trabalhadores de mais baixos salaacuterios No periacuteodo de 1995-2001 foram liberados em meacutedia 54 milhotildees de abonos salariais por ano nuacutemero 23 superior agrave meacutedia do periacuteodo 1990-1994 que consistiu em 44 milhotildees de abonos anuais

O Programa de Geraccedilatildeo de Emprego e Renda ndash PROGER vem-se consolidando como um dos principais instrumentos de que dispotildee o Governo para incrementar a poliacutetica puacuteblica de geraccedilatildeo de

emprego e renda e melhoria da qualidade de vida do trabalhador Sua operacionalizaccedilatildeo ocorre mediante concessatildeo de creacuteditos em condiccedilotildees especiais destinados ao financiamento de atividades produtivas nos setores formal e informal da economia nas aacutereas urbana e rural O PROGER Urbano possui como puacuteblicos-alvo as micro e pequenas empresas cooperativas e associaccedilotildees de produccedilatildeo bem como os profissionais liberais receacutem-formados trabalhadores autocircnomos prestadores de serviccedilo em geral artesatildeos e pequenos e micro negoacutecios familiares O PROGER Rural por sua vez atende prioritariamente aos pequenos produtores rurais de forma individual ou coletiva inclusive agraves atividades pesqueira extrativa vegetal e de aquumlicultura A concessatildeo dos creacuteditos eacute vinculada agrave realizaccedilatildeo de programas de capacitaccedilatildeo teacutecnico-gerencial qualificaccedilatildeo profissional assistecircncia teacutecnica e acompanhamento dos empreendimentos beneficiados As operaccedilotildees de creacutedito tecircm como agentes financeiros os seguintes bancos oficiais Banco do Brasil Banco do Nordeste do Brasil Caixa Econocircmica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social ndash BNDES Entre 1995 e 2001 foram realizadas aproximadamente 860 mil operaccedilotildees totalizando investimentos da ordem de R$69 bilhotildees

A Inspeccedilatildeo do Trabalho volta-se para o combate agrave informalidade agregando agraves accedilotildees tiacutepicas da fiscalizaccedilatildeo do trabalho mecanismos para facilitar a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de trabalhadores nas empresas tais como as mesas de entendimento e o condomiacutenio de empregadores A formalizaccedilatildeo dos contratos de trabalho estende as garantias trabalhistas e previdenciaacuterias aos trabalhadores desamparados do sistema laboral legal A intensificaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo do trabalho contribuiu para a formalizaccedilatildeo de um total de 21 milhotildees de viacutenculos empregatiacutecios inicialmente desprotegidos no periacuteodo de 1996 a 2001

Finalmente o Governo brasileiro apresentou ao longo dos uacuteltimos anos vaacuterias propostas de modernizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista com vistas a adequaacute-la aos novos padrotildees de relaccedilatildeo entre capital e trabalho A tocircnica desse conjunto de propostas eacute o reforccedilo agrave via negocial para a soluccedilatildeo dos conflitos inerentes agraves relaccedilotildees de trabalho Cabe destaque agraves seguintes iniciativas Banco de Horas (sistema de compensaccedilatildeo de horas extras previamente autorizado em convenccedilatildeo ou acordo coletivo que permite agrave empresa adequar as jornadas de trabalho agraves variaccedilotildees sazonais mediante a diminuiccedilatildeo proporcional da jornada em periacuteodos de decliacutenio da demanda) Mesas de Entendimento (mecanismo de fiscalizaccedilatildeo de caraacuteter pedagoacutegico natildeo punitivo buscando regularizar a situaccedilatildeo que suscitou a accedilatildeo fiscal por meio de entendimentos entre a fiscalizaccedilatildeo a empresa e os trabalhadores consubstanciados em um Termo de Compromisso) Condomiacutenio dos Empregadores (uniatildeo de produtores rurais ndash pessoas fiacutesicas com a finalidade de contratar trabalhadores rurais que prestaratildeo serviccedilos exclusivamente para seus condocircminos estimulando a formalizaccedilatildeo dos viacutenculos empregatiacutecios no campo) aleacutem de accedilotildees voltadas para a inserccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia no mercado de trabalho por meio de modalidades como a colocaccedilatildeo seletiva

Essas satildeo as linhas gerais de estruturaccedilatildeo do mercado de trabalho brasileiro e de atuaccedilatildeo do Governo Federal nos uacuteltimos anos Os impactos no mercado de trabalho inerentes ao processo de integraccedilatildeo da economia nacional agrave economia global satildeo consideraacuteveis Nesse contexto o Governo brasileiro ciente dos desafios que lhe satildeo postos estaacute empenhado em criar e manter as condiccedilotildees macroeconocircmicas favoraacuteveis e em implementar as poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo do emprego e da renda necessaacuterias para a construccedilatildeo de um futuro mais proacutespero para todos

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmtbgovbr httpwwwmpasgovbr

Dinacircmica Demograacutefica por Manoel A Costa

A populaccedilatildeo brasileira teve um aumento de 313 milhotildees de pessoas durante os 68 anos que separam a realizaccedilatildeo do primeiro recenseamento em 1872 do quinto em 1940 De acordo com os cinco censos desse periacuteodo a populaccedilatildeo nacional era constituiacuteda de 99 milhotildees em 1872 143 milhotildees em 1890 174 milhotildees em 1900 306 milhotildees em 1920 e finalmente 412 milhotildees em 1940 A partir desse ano e durante os 51 anos seguintes o contingente nacional aumentou pouco mais de 100 milhotildees de pessoas ateacute a data do Censo de 1991 e de acordo com o uacuteltimo censo de 1996 nestes quatro anos houve um acreacutescimo de cerca de 7 milhotildees de pessoas na populaccedilatildeo brasileira

A tabela sobre populaccedilatildeo apresenta alguns indicadores da dinacircmica demograacutefica a partir de 1940 taxas de natalidade de mortalidade de crescimento natural e de crescimento total prevalecentes durante os periacuteodos que separam a realizaccedilatildeo dos levantamentos estatiacutesticos complementando-os com estimativas ateacute os primeiros dez anos do seacuteculo XXI Aleacutem disso a tabela apresenta a evoluccedilatildeo do aumento da populaccedilatildeo e estimativas do nuacutemero de nascidos vivos para cada periacuteodo decenal

O incremento decenal da populaccedilatildeo aumentou significativa e continuamente ateacute os anos 70 apesar de a taxa de crescimento ter comeccedilado a declinar a partir de 1955 Enquanto entre 1940-1950 ocorreu um aumento de 109 milhotildees de habitantes entre 1980-1990 a populaccedilatildeo nacional aumentou em 248 milhotildees embora a taxa meacutedia anual de crescimento tenha se reduzido de 239 aa durante o primeiro periacuteodo para 193 anuais no uacuteltimo Estima-se que ocorreraacute um expressivo aumento populacional da ordem de 21 milhotildees de pessoas durante o uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX e os primeiros dez anos do seacuteculo XXI ainda que a taxa de crescimento continue se reduzindo

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwibgegovbr

A Transiccedilatildeo Demograacuteficapor Manoel A Costa

Nos anos 80 consolidou-se a transiccedilatildeo demograacutefica brasileira Tambeacutem neste periacuteodo registrou-se pela primeira vez na histoacuteria do Brasil um numeroso fluxo emigratoacuterio de matildeo-de-obra Estima-se que um contigente de 13 milhatildeo de brasileiros emigrou para o exterior durante esses anos

A transiccedilatildeo demograacutefica nacional apoacutes um iniacutecio moderado na segunda metade dos anos 60 transcorreu com uma aceleraccedilatildeo crescente durante as duas deacutecadas seguintes por causa da raacutepida reduccedilatildeo da fecundidade e resultou na reduccedilatildeo do crescimento demograacutefico natural da populaccedilatildeo de um ritmo elevado de 299 ao ano entre 1950-1960 praticamente ineacutedito ateacute entatildeo entre populaccedilotildees numerosas para o niacutevel de 193 meacutedios anuais entre 1980-1991

Estima-se que a fecundidade continuaraacute se reduzindo e se aproximaraacute num futuro natildeo muito distante do niacutevel de reposiccedilatildeo de 21 filhos por mulher em idade feacutertil Partindo de uma simulaccedilatildeo com essa perspectiva prevecirc-se que a taxa de crescimento da populaccedilatildeo nacional ficaraacute abaixo de 10 anual a partir de 2015-2020 e abaixo de 05 depois de 2035 Seguindo essa tendecircncia a

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

geografia econocircmica os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo internacional natildeo constituem anomalias efecircmeras mas foram gerados gradualmente ao longo de vaacuterias deacutecadas em decorrecircncia da dicotomia acima referida entre custos de informaccedilatildeo e de transporte Portanto a menos que os padrotildees contemporacircneos de competiccedilatildeo venham a ser redefinidos por outra revoluccedilatildeo tecnoloacutegica as metas da integraccedilatildeo regional continuaratildeo a ser prioritaacuterias para o Brasil

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwfazendagovbr httpwwwmdicgovbr httpwwwbndesgovbr httpwww1bcbgovbr httpwwwipeagovbr httpwwwmpogovbr

Mercado de Trabalho por Paulo Machado

A integraccedilatildeo competitiva da economia brasileira agrave economia global e a conquista da estabilidade influenciaram estruturalmente o funcionamento do mercado de trabalho do Paiacutes Foram registradas na deacutecada 1990 e ao longo dos uacuteltimos anos dinacircmicas particularmente relevantes nos quesitos emprego formalidade e renda dos trabalhadores o que exigiu mudanccedilas substantivas na atuaccedilatildeo das instituiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees trabalhistas

A evoluccedilatildeo do emprego pode ser melhor compreendida recorrendo-se aos dados da Pesquisa Mensal de Emprego ndash PMEIBGE visto que sua metodologia obedece a criteacuterios internacionalmente aceitos A taxa de desemprego medida pela PMEIBGE atingiu 76 em 1999 caiu para 71 em 2000 e reduziu-se novamente para 62 em 2001 atingindo entatildeo seu ponto mais baixo nos uacuteltimos quatro anos

Uma primeira anaacutelise dessa trajetoacuteria poderia sugerir que 2001 foi o ano em que o mercado de trabalho brasileiro teve seu melhor desempenho No entanto em 2000 foram criados em termos liacutequidos cerca de 700 mil postos de trabalho enquanto que em 2001 esse resultado atingiu aproximadamente 106 mil Observa-se assim que o desempenho do mercado de trabalho natildeo pode ser avaliado exclusivamente pela trajetoacuteria da taxa de desemprego Igualmente importante eacute medir a capacidade da economia de gerar saldos positivos de postos de trabalho Para corroborar essa situaccedilatildeo entre janeiro e junho de 2002 a PMEIBGE registra um aumento da ordem de cerca de 192 mil postos de trabalho considerando-se apenas as 6 regiotildees metropolitanas pesquisadas (Belo Horizonte Porto Alegre Recife Rio de Janeiro Salvador e Satildeo Paulo) No entanto como a taxa de desemprego resulta do cruzamento entre o nuacutemero de postos gerados e a quantidade de pessoas procurando emprego houve um pequeno crescimento do desemprego no primeiro semestre de 2002 atingindo na meacutedia 72 Essa aparente contradiccedilatildeo se explica pelo fato de que mais pessoas tem-se sentido incentivadas a procurar emprego o que provavelmente reflete expectativas mais favoraacuteveis quanto agrave perspectiva de obtenccedilatildeo de emprego Somente nos seis primeiros meses de

2002 aproximadamente 434 mil pessoas entraram no mercado de trabalho Destas cerca de 262 mil satildeo oriundas do desalento ou seja satildeo trabalhadores que haviam desistido de procurar emprego mas devido ao bom desempenho do mercado de trabalho vislumbraram novamente a chance de ter um emprego

A taxa meacutedia de desemprego dos primeiros seis meses do ano de 2002 carrega uma certa sazonalidade negativa pois trata-se de um periacuteodo tipicamente marcado por taxas mais elevadas Nesse contexto eacute razoaacutevel esperar que a taxa de desemprego recue a partir do terceiro trimestre Vale destacar que a taxa de desemprego brasileira da ordem de 75 em junho ainda eacute a mais baixa da Ameacuterica do Sul e uma das menores da Ameacuterica Latina

Em termos setoriais ao longo da deacutecada de 1990 a induacutestria de transformaccedilatildeo registrou reduccedilatildeo no niacutevel meacutedio de ocupaccedilatildeo experimentando a chamada desindustrializaccedilatildeo do emprego Por sua vez os serviccedilos e o comeacutercio apresentaram as maiores elevaccedilotildees na ocupaccedilatildeo meacutedia expressando um processo ascendente de terceirizaccedilatildeo do emprego Com efeito o mundo do trabalho tem sofrido raacutepidas e radicais transformaccedilotildees por meio da automaccedilatildeo da roboacutetica e da telemaacutetica Trata-se de um processo de substituiccedilatildeo de paradigmas na concepccedilatildeo da estrutura produtiva que se acentua a partir dos anos 80 A crescente automaccedilatildeo da produccedilatildeo processo que se acelerou a partir do iniacutecio da deacutecada de 1970 resultou na reduccedilatildeo da importacircncia do setor secundaacuterio da economia como empregador de matildeo-de-obra A atividade industrial maior geradora de empregos nos anos 70 perdeu essa posiccedilatildeo para o setor de serviccedilos nas deacutecadas de 1980 e 1990 Em 1992 o setor terciaacuterio e a induacutestria de transformaccedilatildeo respondiam respectivamente por 716 e 198 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelio ndash PNADIBGE Em 1998 o setor terciaacuterio abrigava 737 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola e mais da metade da populaccedilatildeo ocupada do Paiacutes enquanto o setor secundaacuterio reduziu sua participaccedilatildeo para 179

Com relaccedilatildeo agrave qualidade dos viacutenculos empregatiacutecios os indicadores mostram-se positivos sob a forma da geraccedilatildeo consistente de postos de trabalho formais entre 1994 e 2002 Conforme dados da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais ndash RAISMTE o nuacutemero de empregados cresceu de 237 milhotildees em 1994 para aproximadamente 268 milhotildees em 2001 Em fins de 2001 portanto havia cerca de 31 milhotildees de pessoas a mais empregadas formalmente quando comparadas agrave mesma data de 1994 O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ndash CAGEDMTE igualmente corrobora a manutenccedilatildeo da trajetoacuteria de recuperaccedilatildeo dos postos de trabalho em 2002 Em junho uacuteltimo o CAGEDMTE registrou a criaccedilatildeo de 133 mil novas vagas o que significa um saldo acumulado de aproximadamente 681 mil postos de trabalho em 2002 Trata-se da melhor performance de toda a seacuterie histoacuterica do CAGEDMTE (iniciado em 1985) quando se compara os primeiros seis meses de 2002 ao mesmo periacuteodo dos anos anteriores Assim de janeiro de 2000 a junho de 2002 registra-se um saldo positivo de 19 milhatildeo de novos postos de trabalho formais

Com relaccedilatildeo agrave renda dos trabalhadores deve-se destacar o crescimento real do salaacuterio miacutenimo entre 1991 e 2002 O salaacuterio miacutenimo apresentou tendecircncia oscilante entre 1990 e 1994 (variando entre os poacutelos extremos representados por R$12865 em 1990 e R$14541 em 1993) assumindo trajetoacuteria continuamente ascendente a partir de 1995 ateacute atingir o valor real de R$18943 em 2002 (meacutedia de janeiro a maio deflacionada pelo INPC a preccedilos de maio de 2002) quando o valor nominal do salaacuterio miacutenimo atingiu R$20000 Por sua vez o rendimento meacutedio real dos ocupados foi de R$68910 na meacutedia do periacuteodo 1990-1994 apresentando crescimento da ordem de 1832 no periacuteodo 1995-2001 quando chega agrave meacutedia de R$81533 A massa de rendimento real tanto para o total dos ocupados quanto para os trabalhadores assalariados (com e sem carteira assinada) cresceu de forma consistente entre 1992 e 1997 com um comportamento oscilante a partir de entatildeo Comparando o periacuteodo 1995-2001 com o periacuteodo anterior 1991-1994 observa-se um crescimento

da massa de renda real meacutedia tanto para o conjunto dos ocupados (2407) quanto para os trabalhadores assalariados (516)

O Governo Federal brasileiro por seu turno empenhado em corrigir as distorccedilotildees inerentes agrave evoluccedilatildeo do mercado de trabalho vem desenvolvendo programas de fomento ao emprego e ao trabalho e de proteccedilatildeo e assistecircncia ao trabalhador contando com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador ndash FAT Seu objetivo eacute criar mecanismos que permitam a melhoria das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade de vida do trabalhador destacando-se as accedilotildees nas aacutereas de qualificaccedilatildeo profissional seguro-desemprego abono salarial geraccedilatildeo de emprego e renda inspeccedilatildeo do trabalho e legislaccedilatildeo trabalhista

Em 1995 o Governo Federal por meio do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego instituiu o Plano Nacional de Qualificaccedilatildeo do Trabalhador ndash PLANFOR visando assegurar a integraccedilatildeo do trabalhador ao mercado de trabalho e promover assim o aumento de sua empregabilidade produtividade e renda Financiado majoritariamente com recursos do FAT o PLANFOR eacute executado de forma descentralizada por instituiccedilotildees de formaccedilatildeo profissional sob responsabilidade das Secretarias Estaduais de Trabalho (em interaccedilatildeo com as Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego ampliando a participaccedilatildeo social e a sintonia com as demandas do setor produtivo) e das Parcerias Nacionais realizadas predominantemente com entidades patronais e associaccedilotildees sindicais O PLANFOR focaliza sua atuaccedilatildeo em populaccedilotildees vulneraacuteveis dotadas de maior dificuldade de acesso a outras alternativas de qualificaccedilatildeo em decorrecircncia de situaccedilotildees de pobreza baixa escolaridade ou discriminaccedilatildeo no mercado de trabalho No periacuteodo 1995-2001 foram qualificadas 153 milhotildees de pessoas com recursos da ordem de R$ 23 bilhotildees

O Seguro-Desemprego constitui uma accedilatildeo de amparo aos trabalhadores demitidos sem justa causa Na deacutecada de 1990 o pagamento do benefiacutecio do seguro-desemprego ajudou a preservar em meacutedia cerca de 13 da renda de salaacuterio do trabalhador formal do setor privado dispensado sem justa causa considerando a remuneraccedilatildeo meacutedia mensal do trabalhador com carteira assinada Entre 1994 e 2001 foram concedidos 354 milhotildees de benefiacutecios com recursos da ordem de R$282 bilhotildees Para o periacuteodo que se estende de 1995 a 2001 tiveram acesso ao programa 442 milhotildees de trabalhadores por ano em meacutedia de um total meacutedio de 45 milhotildees de requerimentos ao custo meacutedio anual de aproximadamente R$ 468 bilhotildees (em R$ de dezembro de 2001) O nuacutemero meacutedio de beneficiaacuterios no periacuteodo supera a meacutedia de beneficiaacuterios do periacuteodo 1990-94 em cerca de 20 Uma das causas do crescimento do volume de segurados eacute a flexibilizaccedilatildeo dos criteacuterios para a sua concessatildeo visto que a partir da segunda metade da deacutecada de 1990 houve reduccedilatildeo do tempo de viacutenculo empregatiacutecio necessaacuterio para o acesso ao benefiacutecio

O Abono Salarial eacute uma iniciativa de assistecircncia ao trabalhador consistindo no pagamento anual de um salaacuterio miacutenimo a trabalhadores dos setores privado e puacuteblico que atendam a determinados requisitos dentre eles a percepccedilatildeo de remuneraccedilatildeo meacutedia mensal natildeo superior a dois salaacuterios miacutenimos no ano de referecircncia Calcula-se que o impacto do abono na renda anual do trabalhador seja em meacutedia de 5 o que corresponde a uma complementaccedilatildeo de renda significativa para esse segmento de trabalhadores de baixa renda No mecircs que eacute pago o benefiacutecio o impacto na renda pode alcanccedilar aproximadamente 70 funcionando como um 14ordm salaacuterio aos trabalhadores de mais baixos salaacuterios No periacuteodo de 1995-2001 foram liberados em meacutedia 54 milhotildees de abonos salariais por ano nuacutemero 23 superior agrave meacutedia do periacuteodo 1990-1994 que consistiu em 44 milhotildees de abonos anuais

O Programa de Geraccedilatildeo de Emprego e Renda ndash PROGER vem-se consolidando como um dos principais instrumentos de que dispotildee o Governo para incrementar a poliacutetica puacuteblica de geraccedilatildeo de

emprego e renda e melhoria da qualidade de vida do trabalhador Sua operacionalizaccedilatildeo ocorre mediante concessatildeo de creacuteditos em condiccedilotildees especiais destinados ao financiamento de atividades produtivas nos setores formal e informal da economia nas aacutereas urbana e rural O PROGER Urbano possui como puacuteblicos-alvo as micro e pequenas empresas cooperativas e associaccedilotildees de produccedilatildeo bem como os profissionais liberais receacutem-formados trabalhadores autocircnomos prestadores de serviccedilo em geral artesatildeos e pequenos e micro negoacutecios familiares O PROGER Rural por sua vez atende prioritariamente aos pequenos produtores rurais de forma individual ou coletiva inclusive agraves atividades pesqueira extrativa vegetal e de aquumlicultura A concessatildeo dos creacuteditos eacute vinculada agrave realizaccedilatildeo de programas de capacitaccedilatildeo teacutecnico-gerencial qualificaccedilatildeo profissional assistecircncia teacutecnica e acompanhamento dos empreendimentos beneficiados As operaccedilotildees de creacutedito tecircm como agentes financeiros os seguintes bancos oficiais Banco do Brasil Banco do Nordeste do Brasil Caixa Econocircmica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social ndash BNDES Entre 1995 e 2001 foram realizadas aproximadamente 860 mil operaccedilotildees totalizando investimentos da ordem de R$69 bilhotildees

A Inspeccedilatildeo do Trabalho volta-se para o combate agrave informalidade agregando agraves accedilotildees tiacutepicas da fiscalizaccedilatildeo do trabalho mecanismos para facilitar a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de trabalhadores nas empresas tais como as mesas de entendimento e o condomiacutenio de empregadores A formalizaccedilatildeo dos contratos de trabalho estende as garantias trabalhistas e previdenciaacuterias aos trabalhadores desamparados do sistema laboral legal A intensificaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo do trabalho contribuiu para a formalizaccedilatildeo de um total de 21 milhotildees de viacutenculos empregatiacutecios inicialmente desprotegidos no periacuteodo de 1996 a 2001

Finalmente o Governo brasileiro apresentou ao longo dos uacuteltimos anos vaacuterias propostas de modernizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista com vistas a adequaacute-la aos novos padrotildees de relaccedilatildeo entre capital e trabalho A tocircnica desse conjunto de propostas eacute o reforccedilo agrave via negocial para a soluccedilatildeo dos conflitos inerentes agraves relaccedilotildees de trabalho Cabe destaque agraves seguintes iniciativas Banco de Horas (sistema de compensaccedilatildeo de horas extras previamente autorizado em convenccedilatildeo ou acordo coletivo que permite agrave empresa adequar as jornadas de trabalho agraves variaccedilotildees sazonais mediante a diminuiccedilatildeo proporcional da jornada em periacuteodos de decliacutenio da demanda) Mesas de Entendimento (mecanismo de fiscalizaccedilatildeo de caraacuteter pedagoacutegico natildeo punitivo buscando regularizar a situaccedilatildeo que suscitou a accedilatildeo fiscal por meio de entendimentos entre a fiscalizaccedilatildeo a empresa e os trabalhadores consubstanciados em um Termo de Compromisso) Condomiacutenio dos Empregadores (uniatildeo de produtores rurais ndash pessoas fiacutesicas com a finalidade de contratar trabalhadores rurais que prestaratildeo serviccedilos exclusivamente para seus condocircminos estimulando a formalizaccedilatildeo dos viacutenculos empregatiacutecios no campo) aleacutem de accedilotildees voltadas para a inserccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia no mercado de trabalho por meio de modalidades como a colocaccedilatildeo seletiva

Essas satildeo as linhas gerais de estruturaccedilatildeo do mercado de trabalho brasileiro e de atuaccedilatildeo do Governo Federal nos uacuteltimos anos Os impactos no mercado de trabalho inerentes ao processo de integraccedilatildeo da economia nacional agrave economia global satildeo consideraacuteveis Nesse contexto o Governo brasileiro ciente dos desafios que lhe satildeo postos estaacute empenhado em criar e manter as condiccedilotildees macroeconocircmicas favoraacuteveis e em implementar as poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo do emprego e da renda necessaacuterias para a construccedilatildeo de um futuro mais proacutespero para todos

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmtbgovbr httpwwwmpasgovbr

Dinacircmica Demograacutefica por Manoel A Costa

A populaccedilatildeo brasileira teve um aumento de 313 milhotildees de pessoas durante os 68 anos que separam a realizaccedilatildeo do primeiro recenseamento em 1872 do quinto em 1940 De acordo com os cinco censos desse periacuteodo a populaccedilatildeo nacional era constituiacuteda de 99 milhotildees em 1872 143 milhotildees em 1890 174 milhotildees em 1900 306 milhotildees em 1920 e finalmente 412 milhotildees em 1940 A partir desse ano e durante os 51 anos seguintes o contingente nacional aumentou pouco mais de 100 milhotildees de pessoas ateacute a data do Censo de 1991 e de acordo com o uacuteltimo censo de 1996 nestes quatro anos houve um acreacutescimo de cerca de 7 milhotildees de pessoas na populaccedilatildeo brasileira

A tabela sobre populaccedilatildeo apresenta alguns indicadores da dinacircmica demograacutefica a partir de 1940 taxas de natalidade de mortalidade de crescimento natural e de crescimento total prevalecentes durante os periacuteodos que separam a realizaccedilatildeo dos levantamentos estatiacutesticos complementando-os com estimativas ateacute os primeiros dez anos do seacuteculo XXI Aleacutem disso a tabela apresenta a evoluccedilatildeo do aumento da populaccedilatildeo e estimativas do nuacutemero de nascidos vivos para cada periacuteodo decenal

O incremento decenal da populaccedilatildeo aumentou significativa e continuamente ateacute os anos 70 apesar de a taxa de crescimento ter comeccedilado a declinar a partir de 1955 Enquanto entre 1940-1950 ocorreu um aumento de 109 milhotildees de habitantes entre 1980-1990 a populaccedilatildeo nacional aumentou em 248 milhotildees embora a taxa meacutedia anual de crescimento tenha se reduzido de 239 aa durante o primeiro periacuteodo para 193 anuais no uacuteltimo Estima-se que ocorreraacute um expressivo aumento populacional da ordem de 21 milhotildees de pessoas durante o uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX e os primeiros dez anos do seacuteculo XXI ainda que a taxa de crescimento continue se reduzindo

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwibgegovbr

A Transiccedilatildeo Demograacuteficapor Manoel A Costa

Nos anos 80 consolidou-se a transiccedilatildeo demograacutefica brasileira Tambeacutem neste periacuteodo registrou-se pela primeira vez na histoacuteria do Brasil um numeroso fluxo emigratoacuterio de matildeo-de-obra Estima-se que um contigente de 13 milhatildeo de brasileiros emigrou para o exterior durante esses anos

A transiccedilatildeo demograacutefica nacional apoacutes um iniacutecio moderado na segunda metade dos anos 60 transcorreu com uma aceleraccedilatildeo crescente durante as duas deacutecadas seguintes por causa da raacutepida reduccedilatildeo da fecundidade e resultou na reduccedilatildeo do crescimento demograacutefico natural da populaccedilatildeo de um ritmo elevado de 299 ao ano entre 1950-1960 praticamente ineacutedito ateacute entatildeo entre populaccedilotildees numerosas para o niacutevel de 193 meacutedios anuais entre 1980-1991

Estima-se que a fecundidade continuaraacute se reduzindo e se aproximaraacute num futuro natildeo muito distante do niacutevel de reposiccedilatildeo de 21 filhos por mulher em idade feacutertil Partindo de uma simulaccedilatildeo com essa perspectiva prevecirc-se que a taxa de crescimento da populaccedilatildeo nacional ficaraacute abaixo de 10 anual a partir de 2015-2020 e abaixo de 05 depois de 2035 Seguindo essa tendecircncia a

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

2002 aproximadamente 434 mil pessoas entraram no mercado de trabalho Destas cerca de 262 mil satildeo oriundas do desalento ou seja satildeo trabalhadores que haviam desistido de procurar emprego mas devido ao bom desempenho do mercado de trabalho vislumbraram novamente a chance de ter um emprego

A taxa meacutedia de desemprego dos primeiros seis meses do ano de 2002 carrega uma certa sazonalidade negativa pois trata-se de um periacuteodo tipicamente marcado por taxas mais elevadas Nesse contexto eacute razoaacutevel esperar que a taxa de desemprego recue a partir do terceiro trimestre Vale destacar que a taxa de desemprego brasileira da ordem de 75 em junho ainda eacute a mais baixa da Ameacuterica do Sul e uma das menores da Ameacuterica Latina

Em termos setoriais ao longo da deacutecada de 1990 a induacutestria de transformaccedilatildeo registrou reduccedilatildeo no niacutevel meacutedio de ocupaccedilatildeo experimentando a chamada desindustrializaccedilatildeo do emprego Por sua vez os serviccedilos e o comeacutercio apresentaram as maiores elevaccedilotildees na ocupaccedilatildeo meacutedia expressando um processo ascendente de terceirizaccedilatildeo do emprego Com efeito o mundo do trabalho tem sofrido raacutepidas e radicais transformaccedilotildees por meio da automaccedilatildeo da roboacutetica e da telemaacutetica Trata-se de um processo de substituiccedilatildeo de paradigmas na concepccedilatildeo da estrutura produtiva que se acentua a partir dos anos 80 A crescente automaccedilatildeo da produccedilatildeo processo que se acelerou a partir do iniacutecio da deacutecada de 1970 resultou na reduccedilatildeo da importacircncia do setor secundaacuterio da economia como empregador de matildeo-de-obra A atividade industrial maior geradora de empregos nos anos 70 perdeu essa posiccedilatildeo para o setor de serviccedilos nas deacutecadas de 1980 e 1990 Em 1992 o setor terciaacuterio e a induacutestria de transformaccedilatildeo respondiam respectivamente por 716 e 198 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelio ndash PNADIBGE Em 1998 o setor terciaacuterio abrigava 737 da ocupaccedilatildeo natildeo-agriacutecola e mais da metade da populaccedilatildeo ocupada do Paiacutes enquanto o setor secundaacuterio reduziu sua participaccedilatildeo para 179

Com relaccedilatildeo agrave qualidade dos viacutenculos empregatiacutecios os indicadores mostram-se positivos sob a forma da geraccedilatildeo consistente de postos de trabalho formais entre 1994 e 2002 Conforme dados da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais ndash RAISMTE o nuacutemero de empregados cresceu de 237 milhotildees em 1994 para aproximadamente 268 milhotildees em 2001 Em fins de 2001 portanto havia cerca de 31 milhotildees de pessoas a mais empregadas formalmente quando comparadas agrave mesma data de 1994 O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ndash CAGEDMTE igualmente corrobora a manutenccedilatildeo da trajetoacuteria de recuperaccedilatildeo dos postos de trabalho em 2002 Em junho uacuteltimo o CAGEDMTE registrou a criaccedilatildeo de 133 mil novas vagas o que significa um saldo acumulado de aproximadamente 681 mil postos de trabalho em 2002 Trata-se da melhor performance de toda a seacuterie histoacuterica do CAGEDMTE (iniciado em 1985) quando se compara os primeiros seis meses de 2002 ao mesmo periacuteodo dos anos anteriores Assim de janeiro de 2000 a junho de 2002 registra-se um saldo positivo de 19 milhatildeo de novos postos de trabalho formais

Com relaccedilatildeo agrave renda dos trabalhadores deve-se destacar o crescimento real do salaacuterio miacutenimo entre 1991 e 2002 O salaacuterio miacutenimo apresentou tendecircncia oscilante entre 1990 e 1994 (variando entre os poacutelos extremos representados por R$12865 em 1990 e R$14541 em 1993) assumindo trajetoacuteria continuamente ascendente a partir de 1995 ateacute atingir o valor real de R$18943 em 2002 (meacutedia de janeiro a maio deflacionada pelo INPC a preccedilos de maio de 2002) quando o valor nominal do salaacuterio miacutenimo atingiu R$20000 Por sua vez o rendimento meacutedio real dos ocupados foi de R$68910 na meacutedia do periacuteodo 1990-1994 apresentando crescimento da ordem de 1832 no periacuteodo 1995-2001 quando chega agrave meacutedia de R$81533 A massa de rendimento real tanto para o total dos ocupados quanto para os trabalhadores assalariados (com e sem carteira assinada) cresceu de forma consistente entre 1992 e 1997 com um comportamento oscilante a partir de entatildeo Comparando o periacuteodo 1995-2001 com o periacuteodo anterior 1991-1994 observa-se um crescimento

da massa de renda real meacutedia tanto para o conjunto dos ocupados (2407) quanto para os trabalhadores assalariados (516)

O Governo Federal brasileiro por seu turno empenhado em corrigir as distorccedilotildees inerentes agrave evoluccedilatildeo do mercado de trabalho vem desenvolvendo programas de fomento ao emprego e ao trabalho e de proteccedilatildeo e assistecircncia ao trabalhador contando com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador ndash FAT Seu objetivo eacute criar mecanismos que permitam a melhoria das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade de vida do trabalhador destacando-se as accedilotildees nas aacutereas de qualificaccedilatildeo profissional seguro-desemprego abono salarial geraccedilatildeo de emprego e renda inspeccedilatildeo do trabalho e legislaccedilatildeo trabalhista

Em 1995 o Governo Federal por meio do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego instituiu o Plano Nacional de Qualificaccedilatildeo do Trabalhador ndash PLANFOR visando assegurar a integraccedilatildeo do trabalhador ao mercado de trabalho e promover assim o aumento de sua empregabilidade produtividade e renda Financiado majoritariamente com recursos do FAT o PLANFOR eacute executado de forma descentralizada por instituiccedilotildees de formaccedilatildeo profissional sob responsabilidade das Secretarias Estaduais de Trabalho (em interaccedilatildeo com as Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego ampliando a participaccedilatildeo social e a sintonia com as demandas do setor produtivo) e das Parcerias Nacionais realizadas predominantemente com entidades patronais e associaccedilotildees sindicais O PLANFOR focaliza sua atuaccedilatildeo em populaccedilotildees vulneraacuteveis dotadas de maior dificuldade de acesso a outras alternativas de qualificaccedilatildeo em decorrecircncia de situaccedilotildees de pobreza baixa escolaridade ou discriminaccedilatildeo no mercado de trabalho No periacuteodo 1995-2001 foram qualificadas 153 milhotildees de pessoas com recursos da ordem de R$ 23 bilhotildees

O Seguro-Desemprego constitui uma accedilatildeo de amparo aos trabalhadores demitidos sem justa causa Na deacutecada de 1990 o pagamento do benefiacutecio do seguro-desemprego ajudou a preservar em meacutedia cerca de 13 da renda de salaacuterio do trabalhador formal do setor privado dispensado sem justa causa considerando a remuneraccedilatildeo meacutedia mensal do trabalhador com carteira assinada Entre 1994 e 2001 foram concedidos 354 milhotildees de benefiacutecios com recursos da ordem de R$282 bilhotildees Para o periacuteodo que se estende de 1995 a 2001 tiveram acesso ao programa 442 milhotildees de trabalhadores por ano em meacutedia de um total meacutedio de 45 milhotildees de requerimentos ao custo meacutedio anual de aproximadamente R$ 468 bilhotildees (em R$ de dezembro de 2001) O nuacutemero meacutedio de beneficiaacuterios no periacuteodo supera a meacutedia de beneficiaacuterios do periacuteodo 1990-94 em cerca de 20 Uma das causas do crescimento do volume de segurados eacute a flexibilizaccedilatildeo dos criteacuterios para a sua concessatildeo visto que a partir da segunda metade da deacutecada de 1990 houve reduccedilatildeo do tempo de viacutenculo empregatiacutecio necessaacuterio para o acesso ao benefiacutecio

O Abono Salarial eacute uma iniciativa de assistecircncia ao trabalhador consistindo no pagamento anual de um salaacuterio miacutenimo a trabalhadores dos setores privado e puacuteblico que atendam a determinados requisitos dentre eles a percepccedilatildeo de remuneraccedilatildeo meacutedia mensal natildeo superior a dois salaacuterios miacutenimos no ano de referecircncia Calcula-se que o impacto do abono na renda anual do trabalhador seja em meacutedia de 5 o que corresponde a uma complementaccedilatildeo de renda significativa para esse segmento de trabalhadores de baixa renda No mecircs que eacute pago o benefiacutecio o impacto na renda pode alcanccedilar aproximadamente 70 funcionando como um 14ordm salaacuterio aos trabalhadores de mais baixos salaacuterios No periacuteodo de 1995-2001 foram liberados em meacutedia 54 milhotildees de abonos salariais por ano nuacutemero 23 superior agrave meacutedia do periacuteodo 1990-1994 que consistiu em 44 milhotildees de abonos anuais

O Programa de Geraccedilatildeo de Emprego e Renda ndash PROGER vem-se consolidando como um dos principais instrumentos de que dispotildee o Governo para incrementar a poliacutetica puacuteblica de geraccedilatildeo de

emprego e renda e melhoria da qualidade de vida do trabalhador Sua operacionalizaccedilatildeo ocorre mediante concessatildeo de creacuteditos em condiccedilotildees especiais destinados ao financiamento de atividades produtivas nos setores formal e informal da economia nas aacutereas urbana e rural O PROGER Urbano possui como puacuteblicos-alvo as micro e pequenas empresas cooperativas e associaccedilotildees de produccedilatildeo bem como os profissionais liberais receacutem-formados trabalhadores autocircnomos prestadores de serviccedilo em geral artesatildeos e pequenos e micro negoacutecios familiares O PROGER Rural por sua vez atende prioritariamente aos pequenos produtores rurais de forma individual ou coletiva inclusive agraves atividades pesqueira extrativa vegetal e de aquumlicultura A concessatildeo dos creacuteditos eacute vinculada agrave realizaccedilatildeo de programas de capacitaccedilatildeo teacutecnico-gerencial qualificaccedilatildeo profissional assistecircncia teacutecnica e acompanhamento dos empreendimentos beneficiados As operaccedilotildees de creacutedito tecircm como agentes financeiros os seguintes bancos oficiais Banco do Brasil Banco do Nordeste do Brasil Caixa Econocircmica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social ndash BNDES Entre 1995 e 2001 foram realizadas aproximadamente 860 mil operaccedilotildees totalizando investimentos da ordem de R$69 bilhotildees

A Inspeccedilatildeo do Trabalho volta-se para o combate agrave informalidade agregando agraves accedilotildees tiacutepicas da fiscalizaccedilatildeo do trabalho mecanismos para facilitar a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de trabalhadores nas empresas tais como as mesas de entendimento e o condomiacutenio de empregadores A formalizaccedilatildeo dos contratos de trabalho estende as garantias trabalhistas e previdenciaacuterias aos trabalhadores desamparados do sistema laboral legal A intensificaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo do trabalho contribuiu para a formalizaccedilatildeo de um total de 21 milhotildees de viacutenculos empregatiacutecios inicialmente desprotegidos no periacuteodo de 1996 a 2001

Finalmente o Governo brasileiro apresentou ao longo dos uacuteltimos anos vaacuterias propostas de modernizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista com vistas a adequaacute-la aos novos padrotildees de relaccedilatildeo entre capital e trabalho A tocircnica desse conjunto de propostas eacute o reforccedilo agrave via negocial para a soluccedilatildeo dos conflitos inerentes agraves relaccedilotildees de trabalho Cabe destaque agraves seguintes iniciativas Banco de Horas (sistema de compensaccedilatildeo de horas extras previamente autorizado em convenccedilatildeo ou acordo coletivo que permite agrave empresa adequar as jornadas de trabalho agraves variaccedilotildees sazonais mediante a diminuiccedilatildeo proporcional da jornada em periacuteodos de decliacutenio da demanda) Mesas de Entendimento (mecanismo de fiscalizaccedilatildeo de caraacuteter pedagoacutegico natildeo punitivo buscando regularizar a situaccedilatildeo que suscitou a accedilatildeo fiscal por meio de entendimentos entre a fiscalizaccedilatildeo a empresa e os trabalhadores consubstanciados em um Termo de Compromisso) Condomiacutenio dos Empregadores (uniatildeo de produtores rurais ndash pessoas fiacutesicas com a finalidade de contratar trabalhadores rurais que prestaratildeo serviccedilos exclusivamente para seus condocircminos estimulando a formalizaccedilatildeo dos viacutenculos empregatiacutecios no campo) aleacutem de accedilotildees voltadas para a inserccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia no mercado de trabalho por meio de modalidades como a colocaccedilatildeo seletiva

Essas satildeo as linhas gerais de estruturaccedilatildeo do mercado de trabalho brasileiro e de atuaccedilatildeo do Governo Federal nos uacuteltimos anos Os impactos no mercado de trabalho inerentes ao processo de integraccedilatildeo da economia nacional agrave economia global satildeo consideraacuteveis Nesse contexto o Governo brasileiro ciente dos desafios que lhe satildeo postos estaacute empenhado em criar e manter as condiccedilotildees macroeconocircmicas favoraacuteveis e em implementar as poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo do emprego e da renda necessaacuterias para a construccedilatildeo de um futuro mais proacutespero para todos

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmtbgovbr httpwwwmpasgovbr

Dinacircmica Demograacutefica por Manoel A Costa

A populaccedilatildeo brasileira teve um aumento de 313 milhotildees de pessoas durante os 68 anos que separam a realizaccedilatildeo do primeiro recenseamento em 1872 do quinto em 1940 De acordo com os cinco censos desse periacuteodo a populaccedilatildeo nacional era constituiacuteda de 99 milhotildees em 1872 143 milhotildees em 1890 174 milhotildees em 1900 306 milhotildees em 1920 e finalmente 412 milhotildees em 1940 A partir desse ano e durante os 51 anos seguintes o contingente nacional aumentou pouco mais de 100 milhotildees de pessoas ateacute a data do Censo de 1991 e de acordo com o uacuteltimo censo de 1996 nestes quatro anos houve um acreacutescimo de cerca de 7 milhotildees de pessoas na populaccedilatildeo brasileira

A tabela sobre populaccedilatildeo apresenta alguns indicadores da dinacircmica demograacutefica a partir de 1940 taxas de natalidade de mortalidade de crescimento natural e de crescimento total prevalecentes durante os periacuteodos que separam a realizaccedilatildeo dos levantamentos estatiacutesticos complementando-os com estimativas ateacute os primeiros dez anos do seacuteculo XXI Aleacutem disso a tabela apresenta a evoluccedilatildeo do aumento da populaccedilatildeo e estimativas do nuacutemero de nascidos vivos para cada periacuteodo decenal

O incremento decenal da populaccedilatildeo aumentou significativa e continuamente ateacute os anos 70 apesar de a taxa de crescimento ter comeccedilado a declinar a partir de 1955 Enquanto entre 1940-1950 ocorreu um aumento de 109 milhotildees de habitantes entre 1980-1990 a populaccedilatildeo nacional aumentou em 248 milhotildees embora a taxa meacutedia anual de crescimento tenha se reduzido de 239 aa durante o primeiro periacuteodo para 193 anuais no uacuteltimo Estima-se que ocorreraacute um expressivo aumento populacional da ordem de 21 milhotildees de pessoas durante o uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX e os primeiros dez anos do seacuteculo XXI ainda que a taxa de crescimento continue se reduzindo

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwibgegovbr

A Transiccedilatildeo Demograacuteficapor Manoel A Costa

Nos anos 80 consolidou-se a transiccedilatildeo demograacutefica brasileira Tambeacutem neste periacuteodo registrou-se pela primeira vez na histoacuteria do Brasil um numeroso fluxo emigratoacuterio de matildeo-de-obra Estima-se que um contigente de 13 milhatildeo de brasileiros emigrou para o exterior durante esses anos

A transiccedilatildeo demograacutefica nacional apoacutes um iniacutecio moderado na segunda metade dos anos 60 transcorreu com uma aceleraccedilatildeo crescente durante as duas deacutecadas seguintes por causa da raacutepida reduccedilatildeo da fecundidade e resultou na reduccedilatildeo do crescimento demograacutefico natural da populaccedilatildeo de um ritmo elevado de 299 ao ano entre 1950-1960 praticamente ineacutedito ateacute entatildeo entre populaccedilotildees numerosas para o niacutevel de 193 meacutedios anuais entre 1980-1991

Estima-se que a fecundidade continuaraacute se reduzindo e se aproximaraacute num futuro natildeo muito distante do niacutevel de reposiccedilatildeo de 21 filhos por mulher em idade feacutertil Partindo de uma simulaccedilatildeo com essa perspectiva prevecirc-se que a taxa de crescimento da populaccedilatildeo nacional ficaraacute abaixo de 10 anual a partir de 2015-2020 e abaixo de 05 depois de 2035 Seguindo essa tendecircncia a

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

da massa de renda real meacutedia tanto para o conjunto dos ocupados (2407) quanto para os trabalhadores assalariados (516)

O Governo Federal brasileiro por seu turno empenhado em corrigir as distorccedilotildees inerentes agrave evoluccedilatildeo do mercado de trabalho vem desenvolvendo programas de fomento ao emprego e ao trabalho e de proteccedilatildeo e assistecircncia ao trabalhador contando com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador ndash FAT Seu objetivo eacute criar mecanismos que permitam a melhoria das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade de vida do trabalhador destacando-se as accedilotildees nas aacutereas de qualificaccedilatildeo profissional seguro-desemprego abono salarial geraccedilatildeo de emprego e renda inspeccedilatildeo do trabalho e legislaccedilatildeo trabalhista

Em 1995 o Governo Federal por meio do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego instituiu o Plano Nacional de Qualificaccedilatildeo do Trabalhador ndash PLANFOR visando assegurar a integraccedilatildeo do trabalhador ao mercado de trabalho e promover assim o aumento de sua empregabilidade produtividade e renda Financiado majoritariamente com recursos do FAT o PLANFOR eacute executado de forma descentralizada por instituiccedilotildees de formaccedilatildeo profissional sob responsabilidade das Secretarias Estaduais de Trabalho (em interaccedilatildeo com as Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego ampliando a participaccedilatildeo social e a sintonia com as demandas do setor produtivo) e das Parcerias Nacionais realizadas predominantemente com entidades patronais e associaccedilotildees sindicais O PLANFOR focaliza sua atuaccedilatildeo em populaccedilotildees vulneraacuteveis dotadas de maior dificuldade de acesso a outras alternativas de qualificaccedilatildeo em decorrecircncia de situaccedilotildees de pobreza baixa escolaridade ou discriminaccedilatildeo no mercado de trabalho No periacuteodo 1995-2001 foram qualificadas 153 milhotildees de pessoas com recursos da ordem de R$ 23 bilhotildees

O Seguro-Desemprego constitui uma accedilatildeo de amparo aos trabalhadores demitidos sem justa causa Na deacutecada de 1990 o pagamento do benefiacutecio do seguro-desemprego ajudou a preservar em meacutedia cerca de 13 da renda de salaacuterio do trabalhador formal do setor privado dispensado sem justa causa considerando a remuneraccedilatildeo meacutedia mensal do trabalhador com carteira assinada Entre 1994 e 2001 foram concedidos 354 milhotildees de benefiacutecios com recursos da ordem de R$282 bilhotildees Para o periacuteodo que se estende de 1995 a 2001 tiveram acesso ao programa 442 milhotildees de trabalhadores por ano em meacutedia de um total meacutedio de 45 milhotildees de requerimentos ao custo meacutedio anual de aproximadamente R$ 468 bilhotildees (em R$ de dezembro de 2001) O nuacutemero meacutedio de beneficiaacuterios no periacuteodo supera a meacutedia de beneficiaacuterios do periacuteodo 1990-94 em cerca de 20 Uma das causas do crescimento do volume de segurados eacute a flexibilizaccedilatildeo dos criteacuterios para a sua concessatildeo visto que a partir da segunda metade da deacutecada de 1990 houve reduccedilatildeo do tempo de viacutenculo empregatiacutecio necessaacuterio para o acesso ao benefiacutecio

O Abono Salarial eacute uma iniciativa de assistecircncia ao trabalhador consistindo no pagamento anual de um salaacuterio miacutenimo a trabalhadores dos setores privado e puacuteblico que atendam a determinados requisitos dentre eles a percepccedilatildeo de remuneraccedilatildeo meacutedia mensal natildeo superior a dois salaacuterios miacutenimos no ano de referecircncia Calcula-se que o impacto do abono na renda anual do trabalhador seja em meacutedia de 5 o que corresponde a uma complementaccedilatildeo de renda significativa para esse segmento de trabalhadores de baixa renda No mecircs que eacute pago o benefiacutecio o impacto na renda pode alcanccedilar aproximadamente 70 funcionando como um 14ordm salaacuterio aos trabalhadores de mais baixos salaacuterios No periacuteodo de 1995-2001 foram liberados em meacutedia 54 milhotildees de abonos salariais por ano nuacutemero 23 superior agrave meacutedia do periacuteodo 1990-1994 que consistiu em 44 milhotildees de abonos anuais

O Programa de Geraccedilatildeo de Emprego e Renda ndash PROGER vem-se consolidando como um dos principais instrumentos de que dispotildee o Governo para incrementar a poliacutetica puacuteblica de geraccedilatildeo de

emprego e renda e melhoria da qualidade de vida do trabalhador Sua operacionalizaccedilatildeo ocorre mediante concessatildeo de creacuteditos em condiccedilotildees especiais destinados ao financiamento de atividades produtivas nos setores formal e informal da economia nas aacutereas urbana e rural O PROGER Urbano possui como puacuteblicos-alvo as micro e pequenas empresas cooperativas e associaccedilotildees de produccedilatildeo bem como os profissionais liberais receacutem-formados trabalhadores autocircnomos prestadores de serviccedilo em geral artesatildeos e pequenos e micro negoacutecios familiares O PROGER Rural por sua vez atende prioritariamente aos pequenos produtores rurais de forma individual ou coletiva inclusive agraves atividades pesqueira extrativa vegetal e de aquumlicultura A concessatildeo dos creacuteditos eacute vinculada agrave realizaccedilatildeo de programas de capacitaccedilatildeo teacutecnico-gerencial qualificaccedilatildeo profissional assistecircncia teacutecnica e acompanhamento dos empreendimentos beneficiados As operaccedilotildees de creacutedito tecircm como agentes financeiros os seguintes bancos oficiais Banco do Brasil Banco do Nordeste do Brasil Caixa Econocircmica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social ndash BNDES Entre 1995 e 2001 foram realizadas aproximadamente 860 mil operaccedilotildees totalizando investimentos da ordem de R$69 bilhotildees

A Inspeccedilatildeo do Trabalho volta-se para o combate agrave informalidade agregando agraves accedilotildees tiacutepicas da fiscalizaccedilatildeo do trabalho mecanismos para facilitar a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de trabalhadores nas empresas tais como as mesas de entendimento e o condomiacutenio de empregadores A formalizaccedilatildeo dos contratos de trabalho estende as garantias trabalhistas e previdenciaacuterias aos trabalhadores desamparados do sistema laboral legal A intensificaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo do trabalho contribuiu para a formalizaccedilatildeo de um total de 21 milhotildees de viacutenculos empregatiacutecios inicialmente desprotegidos no periacuteodo de 1996 a 2001

Finalmente o Governo brasileiro apresentou ao longo dos uacuteltimos anos vaacuterias propostas de modernizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista com vistas a adequaacute-la aos novos padrotildees de relaccedilatildeo entre capital e trabalho A tocircnica desse conjunto de propostas eacute o reforccedilo agrave via negocial para a soluccedilatildeo dos conflitos inerentes agraves relaccedilotildees de trabalho Cabe destaque agraves seguintes iniciativas Banco de Horas (sistema de compensaccedilatildeo de horas extras previamente autorizado em convenccedilatildeo ou acordo coletivo que permite agrave empresa adequar as jornadas de trabalho agraves variaccedilotildees sazonais mediante a diminuiccedilatildeo proporcional da jornada em periacuteodos de decliacutenio da demanda) Mesas de Entendimento (mecanismo de fiscalizaccedilatildeo de caraacuteter pedagoacutegico natildeo punitivo buscando regularizar a situaccedilatildeo que suscitou a accedilatildeo fiscal por meio de entendimentos entre a fiscalizaccedilatildeo a empresa e os trabalhadores consubstanciados em um Termo de Compromisso) Condomiacutenio dos Empregadores (uniatildeo de produtores rurais ndash pessoas fiacutesicas com a finalidade de contratar trabalhadores rurais que prestaratildeo serviccedilos exclusivamente para seus condocircminos estimulando a formalizaccedilatildeo dos viacutenculos empregatiacutecios no campo) aleacutem de accedilotildees voltadas para a inserccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia no mercado de trabalho por meio de modalidades como a colocaccedilatildeo seletiva

Essas satildeo as linhas gerais de estruturaccedilatildeo do mercado de trabalho brasileiro e de atuaccedilatildeo do Governo Federal nos uacuteltimos anos Os impactos no mercado de trabalho inerentes ao processo de integraccedilatildeo da economia nacional agrave economia global satildeo consideraacuteveis Nesse contexto o Governo brasileiro ciente dos desafios que lhe satildeo postos estaacute empenhado em criar e manter as condiccedilotildees macroeconocircmicas favoraacuteveis e em implementar as poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo do emprego e da renda necessaacuterias para a construccedilatildeo de um futuro mais proacutespero para todos

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmtbgovbr httpwwwmpasgovbr

Dinacircmica Demograacutefica por Manoel A Costa

A populaccedilatildeo brasileira teve um aumento de 313 milhotildees de pessoas durante os 68 anos que separam a realizaccedilatildeo do primeiro recenseamento em 1872 do quinto em 1940 De acordo com os cinco censos desse periacuteodo a populaccedilatildeo nacional era constituiacuteda de 99 milhotildees em 1872 143 milhotildees em 1890 174 milhotildees em 1900 306 milhotildees em 1920 e finalmente 412 milhotildees em 1940 A partir desse ano e durante os 51 anos seguintes o contingente nacional aumentou pouco mais de 100 milhotildees de pessoas ateacute a data do Censo de 1991 e de acordo com o uacuteltimo censo de 1996 nestes quatro anos houve um acreacutescimo de cerca de 7 milhotildees de pessoas na populaccedilatildeo brasileira

A tabela sobre populaccedilatildeo apresenta alguns indicadores da dinacircmica demograacutefica a partir de 1940 taxas de natalidade de mortalidade de crescimento natural e de crescimento total prevalecentes durante os periacuteodos que separam a realizaccedilatildeo dos levantamentos estatiacutesticos complementando-os com estimativas ateacute os primeiros dez anos do seacuteculo XXI Aleacutem disso a tabela apresenta a evoluccedilatildeo do aumento da populaccedilatildeo e estimativas do nuacutemero de nascidos vivos para cada periacuteodo decenal

O incremento decenal da populaccedilatildeo aumentou significativa e continuamente ateacute os anos 70 apesar de a taxa de crescimento ter comeccedilado a declinar a partir de 1955 Enquanto entre 1940-1950 ocorreu um aumento de 109 milhotildees de habitantes entre 1980-1990 a populaccedilatildeo nacional aumentou em 248 milhotildees embora a taxa meacutedia anual de crescimento tenha se reduzido de 239 aa durante o primeiro periacuteodo para 193 anuais no uacuteltimo Estima-se que ocorreraacute um expressivo aumento populacional da ordem de 21 milhotildees de pessoas durante o uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX e os primeiros dez anos do seacuteculo XXI ainda que a taxa de crescimento continue se reduzindo

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwibgegovbr

A Transiccedilatildeo Demograacuteficapor Manoel A Costa

Nos anos 80 consolidou-se a transiccedilatildeo demograacutefica brasileira Tambeacutem neste periacuteodo registrou-se pela primeira vez na histoacuteria do Brasil um numeroso fluxo emigratoacuterio de matildeo-de-obra Estima-se que um contigente de 13 milhatildeo de brasileiros emigrou para o exterior durante esses anos

A transiccedilatildeo demograacutefica nacional apoacutes um iniacutecio moderado na segunda metade dos anos 60 transcorreu com uma aceleraccedilatildeo crescente durante as duas deacutecadas seguintes por causa da raacutepida reduccedilatildeo da fecundidade e resultou na reduccedilatildeo do crescimento demograacutefico natural da populaccedilatildeo de um ritmo elevado de 299 ao ano entre 1950-1960 praticamente ineacutedito ateacute entatildeo entre populaccedilotildees numerosas para o niacutevel de 193 meacutedios anuais entre 1980-1991

Estima-se que a fecundidade continuaraacute se reduzindo e se aproximaraacute num futuro natildeo muito distante do niacutevel de reposiccedilatildeo de 21 filhos por mulher em idade feacutertil Partindo de uma simulaccedilatildeo com essa perspectiva prevecirc-se que a taxa de crescimento da populaccedilatildeo nacional ficaraacute abaixo de 10 anual a partir de 2015-2020 e abaixo de 05 depois de 2035 Seguindo essa tendecircncia a

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

emprego e renda e melhoria da qualidade de vida do trabalhador Sua operacionalizaccedilatildeo ocorre mediante concessatildeo de creacuteditos em condiccedilotildees especiais destinados ao financiamento de atividades produtivas nos setores formal e informal da economia nas aacutereas urbana e rural O PROGER Urbano possui como puacuteblicos-alvo as micro e pequenas empresas cooperativas e associaccedilotildees de produccedilatildeo bem como os profissionais liberais receacutem-formados trabalhadores autocircnomos prestadores de serviccedilo em geral artesatildeos e pequenos e micro negoacutecios familiares O PROGER Rural por sua vez atende prioritariamente aos pequenos produtores rurais de forma individual ou coletiva inclusive agraves atividades pesqueira extrativa vegetal e de aquumlicultura A concessatildeo dos creacuteditos eacute vinculada agrave realizaccedilatildeo de programas de capacitaccedilatildeo teacutecnico-gerencial qualificaccedilatildeo profissional assistecircncia teacutecnica e acompanhamento dos empreendimentos beneficiados As operaccedilotildees de creacutedito tecircm como agentes financeiros os seguintes bancos oficiais Banco do Brasil Banco do Nordeste do Brasil Caixa Econocircmica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social ndash BNDES Entre 1995 e 2001 foram realizadas aproximadamente 860 mil operaccedilotildees totalizando investimentos da ordem de R$69 bilhotildees

A Inspeccedilatildeo do Trabalho volta-se para o combate agrave informalidade agregando agraves accedilotildees tiacutepicas da fiscalizaccedilatildeo do trabalho mecanismos para facilitar a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de trabalhadores nas empresas tais como as mesas de entendimento e o condomiacutenio de empregadores A formalizaccedilatildeo dos contratos de trabalho estende as garantias trabalhistas e previdenciaacuterias aos trabalhadores desamparados do sistema laboral legal A intensificaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo do trabalho contribuiu para a formalizaccedilatildeo de um total de 21 milhotildees de viacutenculos empregatiacutecios inicialmente desprotegidos no periacuteodo de 1996 a 2001

Finalmente o Governo brasileiro apresentou ao longo dos uacuteltimos anos vaacuterias propostas de modernizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista com vistas a adequaacute-la aos novos padrotildees de relaccedilatildeo entre capital e trabalho A tocircnica desse conjunto de propostas eacute o reforccedilo agrave via negocial para a soluccedilatildeo dos conflitos inerentes agraves relaccedilotildees de trabalho Cabe destaque agraves seguintes iniciativas Banco de Horas (sistema de compensaccedilatildeo de horas extras previamente autorizado em convenccedilatildeo ou acordo coletivo que permite agrave empresa adequar as jornadas de trabalho agraves variaccedilotildees sazonais mediante a diminuiccedilatildeo proporcional da jornada em periacuteodos de decliacutenio da demanda) Mesas de Entendimento (mecanismo de fiscalizaccedilatildeo de caraacuteter pedagoacutegico natildeo punitivo buscando regularizar a situaccedilatildeo que suscitou a accedilatildeo fiscal por meio de entendimentos entre a fiscalizaccedilatildeo a empresa e os trabalhadores consubstanciados em um Termo de Compromisso) Condomiacutenio dos Empregadores (uniatildeo de produtores rurais ndash pessoas fiacutesicas com a finalidade de contratar trabalhadores rurais que prestaratildeo serviccedilos exclusivamente para seus condocircminos estimulando a formalizaccedilatildeo dos viacutenculos empregatiacutecios no campo) aleacutem de accedilotildees voltadas para a inserccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia no mercado de trabalho por meio de modalidades como a colocaccedilatildeo seletiva

Essas satildeo as linhas gerais de estruturaccedilatildeo do mercado de trabalho brasileiro e de atuaccedilatildeo do Governo Federal nos uacuteltimos anos Os impactos no mercado de trabalho inerentes ao processo de integraccedilatildeo da economia nacional agrave economia global satildeo consideraacuteveis Nesse contexto o Governo brasileiro ciente dos desafios que lhe satildeo postos estaacute empenhado em criar e manter as condiccedilotildees macroeconocircmicas favoraacuteveis e em implementar as poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo do emprego e da renda necessaacuterias para a construccedilatildeo de um futuro mais proacutespero para todos

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmtbgovbr httpwwwmpasgovbr

Dinacircmica Demograacutefica por Manoel A Costa

A populaccedilatildeo brasileira teve um aumento de 313 milhotildees de pessoas durante os 68 anos que separam a realizaccedilatildeo do primeiro recenseamento em 1872 do quinto em 1940 De acordo com os cinco censos desse periacuteodo a populaccedilatildeo nacional era constituiacuteda de 99 milhotildees em 1872 143 milhotildees em 1890 174 milhotildees em 1900 306 milhotildees em 1920 e finalmente 412 milhotildees em 1940 A partir desse ano e durante os 51 anos seguintes o contingente nacional aumentou pouco mais de 100 milhotildees de pessoas ateacute a data do Censo de 1991 e de acordo com o uacuteltimo censo de 1996 nestes quatro anos houve um acreacutescimo de cerca de 7 milhotildees de pessoas na populaccedilatildeo brasileira

A tabela sobre populaccedilatildeo apresenta alguns indicadores da dinacircmica demograacutefica a partir de 1940 taxas de natalidade de mortalidade de crescimento natural e de crescimento total prevalecentes durante os periacuteodos que separam a realizaccedilatildeo dos levantamentos estatiacutesticos complementando-os com estimativas ateacute os primeiros dez anos do seacuteculo XXI Aleacutem disso a tabela apresenta a evoluccedilatildeo do aumento da populaccedilatildeo e estimativas do nuacutemero de nascidos vivos para cada periacuteodo decenal

O incremento decenal da populaccedilatildeo aumentou significativa e continuamente ateacute os anos 70 apesar de a taxa de crescimento ter comeccedilado a declinar a partir de 1955 Enquanto entre 1940-1950 ocorreu um aumento de 109 milhotildees de habitantes entre 1980-1990 a populaccedilatildeo nacional aumentou em 248 milhotildees embora a taxa meacutedia anual de crescimento tenha se reduzido de 239 aa durante o primeiro periacuteodo para 193 anuais no uacuteltimo Estima-se que ocorreraacute um expressivo aumento populacional da ordem de 21 milhotildees de pessoas durante o uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX e os primeiros dez anos do seacuteculo XXI ainda que a taxa de crescimento continue se reduzindo

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwibgegovbr

A Transiccedilatildeo Demograacuteficapor Manoel A Costa

Nos anos 80 consolidou-se a transiccedilatildeo demograacutefica brasileira Tambeacutem neste periacuteodo registrou-se pela primeira vez na histoacuteria do Brasil um numeroso fluxo emigratoacuterio de matildeo-de-obra Estima-se que um contigente de 13 milhatildeo de brasileiros emigrou para o exterior durante esses anos

A transiccedilatildeo demograacutefica nacional apoacutes um iniacutecio moderado na segunda metade dos anos 60 transcorreu com uma aceleraccedilatildeo crescente durante as duas deacutecadas seguintes por causa da raacutepida reduccedilatildeo da fecundidade e resultou na reduccedilatildeo do crescimento demograacutefico natural da populaccedilatildeo de um ritmo elevado de 299 ao ano entre 1950-1960 praticamente ineacutedito ateacute entatildeo entre populaccedilotildees numerosas para o niacutevel de 193 meacutedios anuais entre 1980-1991

Estima-se que a fecundidade continuaraacute se reduzindo e se aproximaraacute num futuro natildeo muito distante do niacutevel de reposiccedilatildeo de 21 filhos por mulher em idade feacutertil Partindo de uma simulaccedilatildeo com essa perspectiva prevecirc-se que a taxa de crescimento da populaccedilatildeo nacional ficaraacute abaixo de 10 anual a partir de 2015-2020 e abaixo de 05 depois de 2035 Seguindo essa tendecircncia a

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

Dinacircmica Demograacutefica por Manoel A Costa

A populaccedilatildeo brasileira teve um aumento de 313 milhotildees de pessoas durante os 68 anos que separam a realizaccedilatildeo do primeiro recenseamento em 1872 do quinto em 1940 De acordo com os cinco censos desse periacuteodo a populaccedilatildeo nacional era constituiacuteda de 99 milhotildees em 1872 143 milhotildees em 1890 174 milhotildees em 1900 306 milhotildees em 1920 e finalmente 412 milhotildees em 1940 A partir desse ano e durante os 51 anos seguintes o contingente nacional aumentou pouco mais de 100 milhotildees de pessoas ateacute a data do Censo de 1991 e de acordo com o uacuteltimo censo de 1996 nestes quatro anos houve um acreacutescimo de cerca de 7 milhotildees de pessoas na populaccedilatildeo brasileira

A tabela sobre populaccedilatildeo apresenta alguns indicadores da dinacircmica demograacutefica a partir de 1940 taxas de natalidade de mortalidade de crescimento natural e de crescimento total prevalecentes durante os periacuteodos que separam a realizaccedilatildeo dos levantamentos estatiacutesticos complementando-os com estimativas ateacute os primeiros dez anos do seacuteculo XXI Aleacutem disso a tabela apresenta a evoluccedilatildeo do aumento da populaccedilatildeo e estimativas do nuacutemero de nascidos vivos para cada periacuteodo decenal

O incremento decenal da populaccedilatildeo aumentou significativa e continuamente ateacute os anos 70 apesar de a taxa de crescimento ter comeccedilado a declinar a partir de 1955 Enquanto entre 1940-1950 ocorreu um aumento de 109 milhotildees de habitantes entre 1980-1990 a populaccedilatildeo nacional aumentou em 248 milhotildees embora a taxa meacutedia anual de crescimento tenha se reduzido de 239 aa durante o primeiro periacuteodo para 193 anuais no uacuteltimo Estima-se que ocorreraacute um expressivo aumento populacional da ordem de 21 milhotildees de pessoas durante o uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX e os primeiros dez anos do seacuteculo XXI ainda que a taxa de crescimento continue se reduzindo

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwibgegovbr

A Transiccedilatildeo Demograacuteficapor Manoel A Costa

Nos anos 80 consolidou-se a transiccedilatildeo demograacutefica brasileira Tambeacutem neste periacuteodo registrou-se pela primeira vez na histoacuteria do Brasil um numeroso fluxo emigratoacuterio de matildeo-de-obra Estima-se que um contigente de 13 milhatildeo de brasileiros emigrou para o exterior durante esses anos

A transiccedilatildeo demograacutefica nacional apoacutes um iniacutecio moderado na segunda metade dos anos 60 transcorreu com uma aceleraccedilatildeo crescente durante as duas deacutecadas seguintes por causa da raacutepida reduccedilatildeo da fecundidade e resultou na reduccedilatildeo do crescimento demograacutefico natural da populaccedilatildeo de um ritmo elevado de 299 ao ano entre 1950-1960 praticamente ineacutedito ateacute entatildeo entre populaccedilotildees numerosas para o niacutevel de 193 meacutedios anuais entre 1980-1991

Estima-se que a fecundidade continuaraacute se reduzindo e se aproximaraacute num futuro natildeo muito distante do niacutevel de reposiccedilatildeo de 21 filhos por mulher em idade feacutertil Partindo de uma simulaccedilatildeo com essa perspectiva prevecirc-se que a taxa de crescimento da populaccedilatildeo nacional ficaraacute abaixo de 10 anual a partir de 2015-2020 e abaixo de 05 depois de 2035 Seguindo essa tendecircncia a

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

populaccedilatildeo se aproximaraacute de um estado pseudo-estacionaacuterio nos anos proacuteximos a 2090 com um contingente entre 240 e 250 milhotildees de pessoas

O elevado ritmo de crescimento natural da populaccedilatildeo nas deacutecadas de 50 e 60 deveu-se ao raacutepido decliacutenio da taxa bruta de mortalidade entre 1945 e 1955 enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve-se praticamente estaacutevel Nos 20 anos seguintes ocorreu o contraacuterio a natalidade diminuiu em 341 e a mortalidade se manteve quase estaacutevel iniciando o fechamento do hiato entre as duas variaacuteveis

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de nascidos vivos e a populaccedilatildeo continuou declinando entre 1985 e 1995 com um ritmo ainda maior do que o observado na deacutecada anterior A partir desse periacuteodo a reduccedilatildeo dessa proporccedilatildeo deveraacute se arrefecer fazendo a natalidade tender gradualmente para a estabilidade em torno de 13 por mil

A tabela sobre populaccedilatildeo mostra que a taxa de natalidade declinou de 408 por mil para 269 por mil entre 1965 e 1985 reduccedilatildeo que pode ser considerada expressiva tendo-se em conta a inexistecircncia de qualquer accedilatildeo governamental tanto na aacuterea geral das poliacuteticas populacionais como especificamente na aacuterea do planejamento familiar Projeta-se esse indicador em torno de 187 nascidos vivos por mil habitantes entre 2000 e 2010 resultando numa reduccedilatildeo ainda marcante de 305 entre 1985 e 2005 poreacutem menor do que a reduccedilatildeo de 341 observada nos 20 anos anteriores

Confirmando-se essa hipoacutetese a natalidade meacutedia nos primeiros dez anos do proacuteximo seacuteculo teraacute se reduzido a menos da metade do seu valor 40 anos antes embora o niacutevel de 187 por mil estimado ainda constitua um patamar elevado se comparado aos padrotildees observados nos paiacuteses que jaacute completaram a transiccedilatildeo demograacutefica

O nuacutemero de nascidos vivos apresentou-se crescente ateacute o periacuteodo de 1970-1980 quando comeccedilou um decliacutenio que se prenuncia apenas moderado ateacute 2010 apesar da acentuada reduccedilatildeo da natalidade durante o mesmo periacuteodo Estima-se que esse nuacutemero evoluiu de 206 milhotildees na deacutecada de 1940-1950 ateacute um maacuteximo que se manteve praticamente estaacutevel pouco acima de 35 milhotildees durante os dois uacuteltimos dececircnios Entre 2000 e 2010 o nuacutemero de nascidos seraacute praticamente igual ao observado entre 1990 e 2000 totalizando nos 20 anos pouco mais de 65 milhotildees de novas crianccedilas cujos sobreviventes constituiratildeo o contingente com menos de 20 anos de idade em 2010 Isto significa que o efeito da diminuiccedilatildeo do ritmo de crescimento demograacutefico eacute praticamente irrelevante na evoluccedilatildeo das demandas de serviccedilos para crianccedilas e jovens durante os proacuteximos 20 anos embora ocorra uma reduccedilatildeo dessa pressatildeo em termos relativos

Ainda natildeo haacute estudos integralmente aceitos para explicar os fatores determinantes do raacutepido decliacutenio da natalidade e do fechamento do hiato demograacutefico no Brasil Entretanto admite-se que entre os principais fatores estatildeo a acelerada urbanizaccedilatildeo a industrializaccedilatildeo e a expansatildeo dos meios de comunicaccedilotildees e de transportes que facilitaram a transmissatildeo e a adoccedilatildeo de novas normas e condutas reprodutivas Contudo a invenccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo da piacutelula anticoncepcional o surgimento dos movimentos privados de planejamento familiar e as discussotildees acerca do papel das mulheres na sociedade contribuiacuteram decisivamente para o rompimento de tabus para mudanccedilas no comportamento reprodutivo popularizando tanto o uso do anovulatoacuterio oral como o uso do aborto e o da esterilizaccedilatildeo

Esses uacuteltimos meacutetodos tecircm sido amplamente utilizados pelas mulheres brasileiras diante da indisponibilidade ou do desconhecimento sobre o uso correto da piacutelula ou de outros meacutetodos de

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

planejamento familiar Com isso o Brasil se inclui entre os paiacuteses de maior prevalecircncia de abortos e esterilizaccedilotildees embora sejam ilegais Resultados de pesquisas realizadas em meados da deacutecada de 80 permitiram estimar que o nuacutemero anual de abortos ultrapassa a casa de 1 milhatildeo e que aproximadamente um terccedilo de todas as mulheres em uniatildeo estaacutevel que recorreram a algum procedimento para controlar o processo reprodutivo lanccedilaram matildeo da esterilizaccedilatildeo

Urbanizaccedilatildeo por Manoel A Costa

De forma simultacircnea e relacionada com a transiccedilatildeo demograacutefica o Paiacutes experimentou um intenso processo de urbanizaccedilatildeo e metropolizaccedilatildeo acompanhado por raacutepida expansatildeo da rede urbana A taxa de urbanizaccedilatildeo aumentou de 31 em 1940 para 75 em 1990 e se estima que alcance 87 no ano 2010 e se estabilize ao redor de 93 a partir da metade do seacuteculo XXI

A populaccedilatildeo urbana quase decuplicou nos 51 anos posteriores ao Censo de 1940 ao passar de 128 milhotildees de pessoas para 111 milhotildees enquanto a populaccedilatildeo rural contou com um modesto aumento de apenas pouco mais de 7 milhotildees durante o mesmo periacuteodo ao aumentar de 283 milhotildees em 1940 para 358 milhotildees em 1991 Os cenaacuterios para o futuro sinalizam que a populaccedilatildeo urbana continuaraacute aumentando enquanto a populaccedilatildeo rural deveraacute apresentar alguma reduccedilatildeo antes de manter-se estaacutevel em torno de 20 a 25 milhotildees de pessoas Extrapolaccedilotildees das tendecircncias observadas desde meados dos anos 60 sugerem que haveraacute um crescente aumento da parcela populacional residindo nas nove regiotildees metropolitanas do Paiacutes mas essa expansatildeo teraacute um ritmo bem menor do que o observado ateacute recentemente O contingente metropolitano em 1991 era constituiacutedo de 427 milhotildees de pessoas ou 385 da populaccedilatildeo urbana total O comportamento futuro desse contingente dependeraacute essencialmente da evoluccedilatildeo da populaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo

Os fluxos migratoacuterios devem diminuir conforme avance a transiccedilatildeo demograacutefica cabendo esperar que diminuam expressivamente as correntes migratoacuterias para a Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo A Regiatildeo Metropolitana do Rio de Janeiro perdeu poder de atraccedilatildeo desde a transferecircncia da capital para Brasiacutelia e vem crescendo apenas num ritmo vegetativo baixo correspondente a um estaacutegio avanccedilado de transiccedilatildeo e proacuteximo de um ponto de estacionalizaccedilatildeo As demais regiotildees metropolitanas no entanto deveratildeo continuar atraindo correntes migratoacuterias

Diante das dificuldades para construir cenaacuterios futuros para essas regiotildees por causa da falta de informaccedilotildees pode-se apenas especular que o contingente agrupado nas nove regiotildees metropolitanas deveraacute ficar em torno de no maacuteximo 64 milhotildees de pessoas no ano 2010 na hipoacutetese de que diminuam acentuadamente os movimentos em direccedilatildeo a Satildeo Paulo Esse contingente representaraacute aproximadamente 40 da populaccedilatildeo urbana total projetada para o mesmo ano Confirmando-se essa perspectiva pode-se admitir que a populaccedilatildeo residindo em cidades de porte meacutedio natildeo pertencentes agraves regiotildees metropolitanas deveraacute aumentar a participaccedilatildeo relativa na populaccedilatildeo total e urbana

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

Saneamento Baacutesico por Marta T S Arretche

A provisatildeo puacuteblica de serviccedilos de saneamento baacutesico em grande escala comeccedilou no Brasil apenas nos anos 70 quando o Paiacutes passou a ser predominantemente urbano com 56 dos 93 milhotildees de habitantes vivendo nas cidades A urbanizaccedilatildeo havia se acelerado nos anos 60 crescendo a taxas de 52 ao ano Entre as deacutecadas de 60 e 70 mais de 20 milhotildees de pessoas haviam trocado o campo pela cidade e apenas 118 milhotildees - 126 dos habitantes - contavam com serviccedilos puacuteblicos de abastecimento de aacutegua e 6 milhotildees - 64 - dispunham de sistemas de esgotamento sanitaacuterio concentrados precariamente nas cidades de maior porte

Ateacute a deacutecada de 70 a responsabilidade pela oferta de serviccedilos era municipal existindo basicamente empresas municipais de aacuteguas e esgotos com estruturas administrativas e financeiras inteiramente distintas entre si Isto implicava obviamente uma oferta insuficiente de serviccedilos Ao mesmo tempo natildeo existiam instituiccedilotildees (oacutergatildeos recursos financeiros planejamento) para ampliar essa oferta na escala necessaacuteria dados os iacutendices de crescimento populacional e de urbanizaccedilatildeo

Para enfrentar as demandas foi criado em 1968 e implementado no iniacutecio dos anos 70 o Sistema Nacional de Saneamento integrado pelo Plano Nacional de Saneamento (Planasa) pelo Banco Nacional da Habitaccedilatildeo (BNH) pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo (FGTS) principal fonte de recursos do Planasa e pelas companhias estaduais de saneamento entatildeo criadas

O Planasa foi a primeira iniciativa do governo federal no setor Sua implementaccedilatildeo viabilizou-se com os recursos do FGTS O BNH foi o gestor do FGTS e por extensatildeo da poliacutetica nacional de desenvolvimento urbano ateacute 1986 quando este oacutergatildeo foi extinto A partir de entatildeo a poliacutetica nacional de saneamento esteve a cargo de diversos oacutergatildeos encarregados da gestatildeo urbana

Com o Planasa foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Baacutesico (CESBs) em cada um dos estados da federaccedilatildeo Ateacute 1985 apenas estas empresas puacuteblicas podiam obter financiamentos junto ao BNH para instalaccedilatildeo de sistemas de aacutegua e esgoto em regime de monopoacutelio sendo responsaacuteveis pela construccedilatildeo operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das operaccedilotildees Para que as CESBs pudessem operar em seus respectivos estados foi necessaacuteria a concessatildeo municipal para a exploraccedilatildeo dos serviccedilos atraveacutes de contratos de longo prazo porque a Constituiccedilatildeo jaacute estabelecia que o poder da concessatildeo dos serviccedilos puacuteblicos de saneamento pertence ao municiacutepio

O comportamento favoraacutevel da economia a abrangecircncia do sistema montado o volume de recursos destinados ao setor a praacutetica de subsiacutedios cruzados no interior das companhias estaduais e os empreacutestimos a taxas de juros subsidiadas permitiram uma expressiva expansatildeo dos serviccedilos Em 1980 a populaccedilatildeo atendida pelo Planasa com os serviccedilos de abastecimento de aacutegua era de cerca de 50 milhotildees de pessoas ou 42 da populaccedilatildeo total entatildeo de 119 milhotildees de pessoas Os serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio do Planasa cobriam cerca de 175 milhotildees de pessoas Em 1990 quando a populaccedilatildeo total era de 1468 milhotildees os serviccedilos de aacutegua do Planasa (vale dizer das companhias estaduais de saneamento) atendiam cerca de 83 milhotildees e os de esgoto 29 milhotildees de pessoas

Esta expansatildeo da cobertura ocorreu de modo desigual Foram privilegiados os investimentos em aacutegua pois estes representam menores custos e propiciam retornos mais raacutepidos atraveacutes de tarifas

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

Aleacutem disto embora tenha ocorrido uma significativa expansatildeo dos serviccedilos em todo o territoacuterio nacional o Planasa privilegiou as regiotildees mais ricas do Sul e Sudeste do Paiacutes e a maior parte dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e nestas nos segmentos populacionais de maior renda

Nem todos os municiacutepios aderiram ao Planasa Alguns se mantiveram efetivamente autocircnomos operando com empresas municipais isto eacute com o controle acionaacuterio do municiacutepio e a administraccedilatildeo municipal responsabilizando-se integralmente pelo serviccedilo atraveacutes de um oacutergatildeo da administraccedilatildeo direta ou de uma entidade autocircnoma Cerca de 20 dos municiacutepios do Paiacutes adotam este tipo de gestatildeo concentrados sobretudo na regiatildeo Sudeste particularmente em Minas Gerais e Satildeo Paulo

Outros municiacutepios mantiveram uma autonomia parcial mantendo-se conveniados a um oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede a atual Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (FNS) Operam de acordo com o modelo de saneamento implantado pelo Serviccedilo Especial de Sauacutede Puacuteblica criado haacute mais de 40 anos Os serviccedilos satildeo operados por uma autarquia municipal com autonomia administrativa teacutecnica e financeira poreacutem administrados com marcada influecircncia da FNS cujas funccedilotildees abrangem de administraccedilatildeo a assistecircncia teacutecnica Em 1993 cerca de 6 dos municiacutepios brasileiros adotavam este sistema em 625 localidades Estes estatildeo concentrados basicamente na regiatildeo Nordeste

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo determina qualquer modalidade preferencial de prestaccedilatildeo de serviccedilos Segundo a Carta a implementaccedilatildeo de programas eacute de competecircncia de qualquer um dos niacuteveis da federaccedilatildeo ainda que submetidos a diretrizes gerais emanadas pela Uniatildeo Por outro lado a partir dos anos 90 sob o impulso dos processos de reforma do Estado uma grande reestruturaccedilatildeo vem ocorrendo na engenharia administrativa dos serviccedilos de saneamento baacutesico no Brasil modificando significativamente a estrutura institucional que havia sido montada sob o Planasa

No caso das companhias estaduais natildeo haacute um padratildeo uacutenico de reforma Os governos estaduais tecircm adotado estrateacutegias diferentes para ampliar a capacidade de oferta de serviccedilos Alguns governos estaduais como o do Rio de Janeiro e o do Espiacuterito Santo vecircm tentando privatizar suas concessionaacuterias vendendo seus ativos a um operador privado e subconcedendo os direitos de operaccedilatildeo dos serviccedilos Outros estados como o Mato Grosso do Sul devolveram a operaccedilatildeo dos serviccedilos agraves prefeituras municipais estrateacutegia que no limite implicaraacute a extinccedilatildeo da operadora estadual Outros estados ainda como Satildeo Paulo Paranaacute e Cearaacute tomaram uma seacuterie de medidas para fortalecer sua empresa estadual Neste caso as companhias reestruturaram seus padrotildees de operaccedilatildeo para manter e ampliar seus mercados melhorando sua eficiecircncia Esta estrateacutegia compreendeu inclusive diversificar as fontes de recursos abrindo o capital da empresa para investidores privados bem como subconcedendo a gestatildeo de sistemas locais operadores privados

Entre os municiacutepios tambeacutem haacute casos de privatizaccedilatildeo das empresas municipais via concessatildeo dos serviccedilos a uma operadora privada e venda dos ativos das companhias Esta tendecircncia eacute particularmente forte nos municiacutepios de meacutedio porte do estado de Satildeo Paulo

Atualmente a gestatildeo da poliacutetica federal de saneamento baacutesico estaacute sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano ligada diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica A gestatildeo financeira dos recursos do FGTS eacute de responsabilidade da Caixa Econocircmica Federal (CEF) sob fiscalizaccedilatildeo e controle do Conselho Curador do FGTS (CCFGTS)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

httpwwwcefgovbr httpwwwplanaltogovbrSEDUSeduhtm

Induacutestria por Wilson Suzigan

A industrializaccedilatildeo brasileira teve seu apogeu entre fins da deacutecada de 70 e iniacutecio dos anos 80 Substituindo importaccedilotildees e atendendo a uma crescente demanda interna sob o amparo de poliacuteticas industriais fortemente protecionistas a induacutestria chegou a gerar mais de um terccedilo do PIB em 1980 com as atividades extrativas minerais e de transformaccedilatildeo industrial

A partir de 1981 a induacutestria iniciou um longo periacuteodo de estagnaccedilatildeo que duraria ateacute 1992-93 conforme indica tabela iacutendices de PIB e produccedilatildeo industrial A crise internacional deflagrada pela elevaccedilatildeo dos preccedilos do petroacuteleo e dos juros no mercado internacional bem como erros na conduccedilatildeo da poliacutetica econocircmica interna em 1980 acarretou forte desequiliacutebrio no balanccedilo de pagamentos e aceleraccedilatildeo da inflaccedilatildeo A necessidade de promover o ajuste das contas externas e de controlar a inflaccedilatildeo passou a integrar o primeiro plano na agenda da poliacutetica econocircmica afastando as preocupaccedilotildees com o longo prazo particularmente com o desenvolvimento industrial pelo resto da deacutecada de 1980 Algumas tentativas de definir uma poliacutetica industrial entre 1985 e 1988 fracassaram e a Nova Poliacutetica Industrial (de 1988) foi apenas parcialmente implementada Somente algumas poliacuteticas setoriais como a Poliacutetica Nacional de Informaacutetica e programas de investimento em induacutestrias exportadoras (como celulose por exemplo) foram implementados

Em 1990 apoacutes dez anos de estagnaccedilatildeo a induacutestria de transformaccedilatildeo jaacute havia perdido quase cinco pontos percentuais de participaccedilatildeo no PIB Com seacuterios problemas de defasagem tecnoloacutegica meacutetodos gerenciais e formas organizacionais ultrapassadas e ineficiecircncias quase generalizadas em termos de custos produtividade e qualidade a induacutestria teve de defrontar-se com a abertura da economia Esta abertura mudou radicalmente o ambiente econocircmico submetendo a induacutestria a fortes pressotildees competitivas Ocorreu entatildeo um amplo processo de reestruturaccedilatildeo industrial envolvendo fusotildees e incorporaccedilotildees abandono de segmentos produtivos (principalmente os de tecnologia mais avanccedilada) aumento do coeficiente de insumos importados racionalizaccedilatildeo do processo produtivo (terceirizaccedilatildeo automaccedilatildeo) com reduccedilatildeo do emprego programas de qualidade e produtividade etc

Hoje a induacutestria (extrativa mineral e de transformaccedilatildeo) responde por menos de um quarto do PIB Sua estrutura estaacute fortemente concentrada nas velhas induacutestrias pesadas (accedilo produtos metaluacutergicos maacutequinas e equipamentos mecacircnicos eleacutetricos e de comunicaccedilotildees veiacuteculos) quiacutemicapetroquiacutemica alimentos e bebidas tecircxteis confecccedilotildees e calccedilados e celulosepapel Em conjunto essas induacutestrias respondem por mais de 80 do produto industrial Muito ainda haacute por desenvolver nas induacutestrias representativas das novas tecnologias tais como eletrocircnica materiais avanccedilados e biotecnologia e suas aplicaccedilotildees nas outras induacutestrias

A induacutestria brasileira atual apresenta alguns aspectos virtuosos tais como grande potencial de expansatildeo no mercado interno crescente coeficiente de exportaccedilatildeo forte avanccedilo nos niacuteveis de produtividade significativa melhoria da qualidade (atestada por grande nuacutemero de empresas com certificaccedilatildeo ISO 9000 e outras) e maior capacidade de competiccedilatildeo (ou seja menos dependecircncia de

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

proteccedilatildeo e fomento) Entretanto seu crescimento segue sujeito a restriccedilotildees de ordens externa e fiscal

O controle da inflaccedilatildeo amparado numa acircncora cambial a partir do Plano Real gerou uma sobrevalorizaccedilatildeo da taxa de cacircmbio que num ambiente de abertura comercial redundou em intenso e crescente desequiliacutebrio das contas externas A balanccedila comercial tornou-se largamente deficitaacuteria a partir de 1995 e o Brasil acumulou um volume expressivo de passivos externos

Para financiar este desequiliacutebrio o Paiacutes passou a depender da entrada maciccedila de capitais estrangeiros que soacute foi possiacutevel atraveacutes de uma poliacutetica de juros internos elevados As contrapartidas da manutenccedilatildeo dos juros altos por vaacuterios anos tecircm sido (1) o aprofundamento do desequiliacutebrio fiscal do setor puacuteblico e (2) o baixo ritmo de crescimento econocircmico (no periacuteodo de 1995 a 1998 a produccedilatildeo industrial brasileira cresceu apenas 12 ao ano)

A desvalorizaccedilatildeo cambial promovida no iniacutecio de 1999 ajuda a atenuar esta restriccedilatildeo externa ao crescimento da economia mas ainda natildeo eacute suficiente para eliminar a necessidade de captaccedilatildeo de volume expressivo de capital estrangeiro para financiar o elevado estoque de passivos externos herdados do processo de estabilizaccedilatildeo via acircncora cambial Assim o Brasil ainda natildeo pode prescindir de juros elevados o que segue prejudicando o desempenho do setor industrial Ademais os constrangimentos diplomaacuteticos de se imporem barreiras tarifaacuterias aos produtos estrangeiros vecircm exigindo a contenccedilatildeo da demanda interna como forma de reduzir o ritmo de crescimento das importaccedilotildees e de controlar o deacuteficit da balanccedila comercial

Do lado fiscal as metas de desempenho estabelecidas no final de 1998 no acordo de financiamento externo com o FMI determinaram cortes significativos de gastos do governo que emperram a execuccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento econocircmico

Aleacutem dessas restriccedilotildees macroeconocircmicas ao crescimento a induacutestria ainda enfrenta vaacuterios problemas que geram externalidades negativas entre os quais infra-estrutura fiacutesica deficiente e com custos elevados infra-estrutura de ciecircncia e tecnologia debilitada e com quase nenhuma interaccedilatildeo com o setor produtivo pouco esforccedilo proacuteprio de PampD (Pesquisa e Desenvolvimento) por parte das empresas privadas forccedila de trabalho pouco qualificada e com precaacuterias condiccedilotildees institucionais de suporte grupos econocircmicos de pequeno porte e sem sinergias produtivas sobretudo nas novas tecnologias etc

Estes satildeo problemas sobre os quais ainda resta muito por fazer embora jaacute se venha avanccedilando por meio de privatizaccedilatildeo desregulaccedilatildeo concessotildees parcerias entre setor puacuteblico e empresas privadas fusotildees alianccedilas tecnoloacutegicas e cooperaccedilatildeo entre empresas e destas com universidades institutos e centros de pesquisa Estas accedilotildees entretanto juntamente com a administraccedilatildeo das poliacuteticas de comeacutercio exterior financiamento incentivos e outras carecem de coordenaccedilatildeo de uma poliacutetica industrial A definiccedilatildeo de tal poliacutetica vem sendo objeto de estudos e discussotildees no acircmbito do governo federal Entretanto vaacuterias medidas de poliacutetica industrial vecircm sendo tomadas tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais e ateacute municipais Essas medidas visam proteger temporariamente algumas induacutestrias por meio de novos aumentos de aliacutequotas aduaneiras ou quotas de importaccedilatildeo (veiacuteculos eletrocircnicos de consumo calccedilados tecidos e brinquedos entre outros) reduccedilatildeo de encargos fiscais sobre exportaccedilatildeo incentivos fiscais e outros estiacutemulos a investimentos setoriais (principalmente montadoras de veiacuteculos) e regulamentaccedilatildeo de defesa contra praacuteticas desleais de comeacutercio Tudo isso deve evidentemente conformar-se agraves regras internacionais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC)

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

Informaccedilotildees complementares podem ser obtidas em sites como os seguintes

httpwwwmdicgovbr

O Desafio Social por Marcelo Neri

A evoluccedilatildeo das praacuteticas sociais pode ser descrita atraveacutes da conquista de algumas propriedades desejaacuteveis como foco durabilidade e eficiecircncia econocircmica Isto eacute uma renovada tentativa de que os recursos cheguem aos mais necessitados e que provoquem mudanccedilas sustentaacuteveis em suas vidas A sustentabilidade passa pelo ataque agraves causas da pobreza e que as accedilotildees natildeo distorccedilam em excesso incentivos ao trabalho pagamento de impostos poupanccedila etc A trajetoacuteria das poliacuteticas sociais praticadas no Brasil vis a vis outras partes do mundo pode grosso modo ser descrita atraveacutes de algumas fases

O nosso ponto de partida eacute o processo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees uma estrateacutegia de cunho mais econocircmico do que social Aleacutem de erguer proteccedilotildees tarifaacuterias agrave induacutestria nascente havia a concessatildeo generalizada de subsiacutedios a serviccedilos puacuteblicos e bens de consumo cuja principal beneficiaacuteria era a classe meacutedia Como exemplo a concessatildeo de vantagens aos produtores de bens de consumo duraacuteveis o modelo de creacutedito imobiliaacuterio do BNH etc Esta estrateacutegia aumentava o poder de compra da forccedila de trabalho sem impactar os custos das firmas O modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees foi a seu tempo acompanhado de um forte processo de industrializaccedilatildeo e crescimento Nesse periacuteodo o Brasil deixou de ser um paiacutes atrasado e injusto para se tornar um paiacutes menos atrasado mas igualmente injusto

O periacuteodo seguinte foi marcado pelas perdas de dinamismo econocircmico e no campo da desigualdade Em diversos paiacuteses houveram tentativas pontuais de focalizar as accedilotildees puacuteblicas atraveacutes do direcionamento de poliacuteticas compensatoacuterias Eacute nessa eacutepoca quando a anaacutelise dos perfis e mapas de pobreza assumem um lugar de destaque na identificaccedilatildeo de segmentos carentes como alvos prioritaacuterios dos programas sociais No Brasil a partir de meados dos anos 80 proliferaram programas como de distribuiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios como o de cestas baacutesicas leite etc caracterizados pelo curto-prazismo clientelista pela falta de avaliaccedilatildeo do seu foco de accedilatildeo e pela falta de confianccedila na capacidade de escolha dos pobres

Na mesma eacutepoca foram aplicados diversos programas de reformas estruturais em diversos paiacuteses motivados por uma crescente busca de eficiecircncia atraveacutes do desmantelamento do conjunto de barreiras tarifaacuterias retirada do estado de algumas aacutereas natildeo essenciais etc A pergunta que se tornou constante nas intervenccedilotildees eacute que falha de mercado elas procuravam corrigir No Brasil vivemos uma espeacutecie de contra-reforma com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 que fixava uma seacuterie de direitos sem especificar fontes de financiamento ou se preocupar com os impactos exercidos sobre os incentivos econocircmicos As medidas adotadas se inserem na tradiccedilatildeo legalista brasileira onde as conquistas satildeo fixadas por decreto desprezando restriccedilotildees orccedilamentaacuterias e objetivos de indiviacuteduos e instituiccedilotildees As heranccedilas positivas deixadas pela chamada constituiccedilatildeo cidadatilde foi a universalizaccedilatildeo da previdecircncia rural e a descentralizaccedilatildeo das accedilotildees sociais

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

O Brasil adotou mais tardiamente que outros paiacuteses latino americanos programas de ajustamento econocircmico (contra-contra-reformas) Uma terceira geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais buscava amortecer os efeitos sociais imediatos dos ajustes empreendidos As redes de proteccedilatildeo social brasileiras tipicamente miram nos segmentos formais da economia atraveacutes de programas de demissatildeo voluntaacuteria seguro-desemprego etc Uma das poucas tentativas de suavizar o padratildeo de vida dos genuinamente pobres foram programas de frentes de trabalho face agrave recorrente seca nordestina

A fase atual eacute caracterizada por poliacuteticas compensatoacuterias focadas na linha daquelas adotadas anteriormente mas com a preocupaccedilatildeo de distorcer os incentivos em direccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital humano como no caso dos programas bolsa-escola e bolsa-alimentaccedilatildeo receacutem-generalizados no paiacutes a comeccedilar pelos municiacutepios mais pobres Estas poliacuteticas combinam foco velocidade e durabilidade mas que natildeo podem ser consideradas em si como o modelo de desenvolvimento social A pergunta que se coloca quais seriam os elementos desejaacuteveis da proacutexima geraccedilatildeo de poliacuteticas sociais brasileiras Esta eacute a busca deste trabalho

Antes temos de decidir se andamos para frente ou para traacutes Isto eacute inovar ou retroceder Por exemplo o desenvolvimento econocircmico tem sido historicamente discutido no Brasil de maneira dissociada de aspectos sociais Precisamos buscar integraccedilatildeo ampla da poliacutetica social com questotildees macroeconocircmicas como a restriccedilotildees externa e fiscal e a proacutepria agenda de reformas estruturais (abertura previdecircncia etc) A questatildeo natildeo eacute incentivar aspectos sociais em detrimento dos aspectos econocircmicos mas conferir aos primeiros atenccedilatildeo comparaacutevel agravequela dada aos uacuteltimos A sustentabilidade social soacute pode ser construiacuteda se os fundamentos econocircmicos forem soacutelidos e vice-versa Neste ponto as literaturas do crescimento econocircmico e dos determinantes da distribuiccedilatildeo de renda concordam que a acumulaccedilatildeo de capital humano eacute fundamental

Este processo passa natildeo soacute pela mobilizaccedilatildeo interna da comunidade como pela capacidade de governos articular com as aspiraccedilotildees da comunidade e dos seus membros Os bons resultados sociais natildeo satildeo baixados por decreto mas satildeo construiacutedos em conjunto pelos diversos atores sociais atuando a partir de interesses proacuteprios Cabe ao estado atuar no tecido social como provedor de motivaccedilotildees corretas para que accedilotildees proveitosas sejam tomadas individualmente como faz o programa bolsa-escola

A direccedilatildeo das melhores accedilotildees passa pelo diagnoacutestico das carecircncias e potencialidades da populaccedilatildeo nos diversos recantos do paiacutes o qual tambeacutem envolve formidaacuteveis problemas informacionais O novo modelo de gestatildeo social se complexifica com a descentralizaccedilatildeo promovida pela Constituiccedilatildeo de 1988 No Projeto Alvorada os municiacutepios com menores IDH tecircm prioridade no acesso aos recursos dos programas Mas e a renovaccedilatildeo e realocaccedilatildeo de recursos nos anos subsequumlentes Uma ideacuteia seria impor incentivos como premiar aqueles municiacutepios inicialmente selecionados que apresentem o melhor desempenho em termos de avanccedilo de indicadores sociais Seria uma forma do estado potencializar o retorno social de seu portfoacutelio de poliacuteticas

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

Siacutentese

Propriedades desejaacuteveis das accedilotildees

i Foco ii Velocidade

iii Sustentabilidade

Princiacutepios a serem perseguidos

i Integraccedilatildeo entre poliacuteticas macroeconocircmicas e sociais ii Abordagem participativa com incentivos corretos

iii Avaliaccedilatildeo de desempenho a partir de monitoramento e fixaccedilatildeo de metas sociais

Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Embora sejam tradicionais os programas puacuteblicos dirigidos aos grupos carentes da populaccedilatildeo apenas na uacuteltima vintena de anos pode-se identificar no Paiacutes uma poliacutetica nacional de assistecircncia social minimamente dotada de objetivos recursos e densidade institucional Aacuterea fraacutegil do sistema de proteccedilatildeo social os programas assistenciais foram sistematicamente prisioneiros do ciacuterculo vicioso da carecircncia de recursos e do mau desempenho Neste sentido o gasto com programas dirigidos agrave populaccedilatildeo carente foi sempre modesto mal se aproximando a 1 do PIB nos melhores anos Mas foi sobretudo a sua ineficaacutecia que o caracterizou jaacute que envolveu sempre descontinuidades e principalmente distorccedilotildees de direcionamento atingindo proporcionalmente menos as pessoas mais necessitadas

Em tempos recentes a poliacutetica de assistecircncia social vem sendo desafiada por interessantes mudanccedilas de concepccedilatildeo e desenho que embora lentas e insuficientes indicam ainda assim a possibilidade de que seja mais eficaz na consecuccedilatildeo do seu objetivo uacuteltimo o de contribuir para a reduccedilatildeo dos altos graus de desigualdade social com que o Paiacutes convive

No plano legal a Constituiccedilatildeo de 1988 e a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) de 1993 definiram a assistecircncia social como poliacutetica voltada para a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes a integraccedilatildeo no mercado de trabalho a reabilitaccedilatildeo e integraccedilatildeo de pessoas portadoras de deficiecircncias Entendida como uma poliacutetica natildeo contributiva que se realiza atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade deve pautar-se pelos princiacutepios da universalidade da cobertura e do atendimento e da seletividade e distributividade na prestaccedilatildeo dos benefiacutecios e serviccedilos

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

A amplitude da poliacutetica tal como definida pelos textos legais guarda certa coerecircncia com a evoluccedilatildeo que se observa e natildeo apenas no Brasil nas concepccedilotildees tanto quanto nas formas atraveacutes das quais operam os programas assistenciais Assim de uma visatildeo vaga da poliacutetica como um modo de acudir os pobres atraveacutes da accedilatildeo assistencial emergencial e benevolente do Estado ou da filantropia o conceito tende hoje a estar associado a um conjunto de accedilotildees puacuteblicas que deve garantir o exerciacutecio dos direitos sociais baacutesicos do cidadatildeo o direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave moradia e - especialmente para as crianccedilas e adolescentes - o direito ao desenvolvimento integral

Coerentemente com aquela evoluccedilatildeo a poliacutetica social passou a referir-se a uma gama bastante ampla e diversificada de programas - universais e contiacutenuos alguns emergenciais focalizados e temporaacuterios outros - voltados para combater ou atenuar as vaacuterias formas da exclusatildeo social Tal como no caso dos estados e dos municiacutepios tambeacutem os programas federais de assistecircncia social dirigem-se a um puacuteblico heterogecircneo e segmentado o universo a que se dirigem envolve diferentes situaccedilotildees de carecircncia e vulnerabilidade social tais como insuficiecircncia de renda grupos etaacuterios que demandam maior proteccedilatildeo localizaccedilatildeo territorial adversa ou na combinaccedilatildeo dessas condiccedilotildees as situaccedilotildees graves de pobreza e miserabilidade

Entre os grupos-alvo prioritaacuterios destacam-se as crianccedilas e adolescentes mas satildeo tambeacutem importantes outros criteacuterios de seletividade e focalizaccedilatildeo como a tradicional ecircnfase nas regiotildees mais pobres a priorizaccedilatildeo de municiacutepios com mais alta incidecircncia de pobreza - como ocorre no atual programa de combate agrave pobreza do governo federal o Programa Comunidade Solidaacuteria - ou enfim a introduccedilatildeo de programas seletivos no interior dos programas universais de modo a melhorar o desempenho dos grupos mais carentes como eacute o caso dos programas de reforccedilo da educaccedilatildeo fundamental do MEC ou o dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede do Ministeacuterio da Sauacutede O desempenho dos programas estaacute diretamente relacionado com o seu desenho institucional e as transformaccedilotildees recentes que aiacute vecircm ocorrendo

Reestruturaccedilatildeo da Assistecircncia Social por Socircnia Miriam Draibe

Desde o final da deacutecada de 80 e na esteira da descentralizaccedilatildeo fiscal o Paiacutes viu florescerem iniciativas e inovaccedilotildees no desenho institucional da assistecircncia social principalmente por parte dos municiacutepios Um bom indicador do processo foi a elevaccedilatildeo do gasto social nos municiacutepios e o atendimento mais integrado das famiacutelias pobres eacute um dos resultados mais frequumlentes dessa modalidade de descentralizaccedilatildeo A experiecircncia eacute ainda modesta e incipiente mas as prefeituras os conselhos municipais e as entidades locais vecircm ampliando seu aprendizado institucional em programas de distribuiccedilatildeo de alimentos medicamentos transporte social de enfermos etc Eacute principalmente com relaccedilatildeo agraves crianccedilas e adolescentes carentes que parece ampliar-se a responsabilidade social das prefeituras atraveacutes de programas como o controle da desnutriccedilatildeo infantil a provisatildeo de creches a implantaccedilatildeo de centros poliesportivos e mais recentemente atraveacutes de programas de garantia de renda miacutenima familiar vinculados ao melhor desempenho escolar dos filhos

Sauacutede Indicadores baacutesicos e poliacuteticas governamentaispor Andreacute Cezar Medici

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

Ao longo dos uacuteltimos 50 anos os indicadores de sauacutede no Brasil registraram grandes progressos A esperanccedila de vida meacutedia do brasileiro aumentou consideravelmente As taxas de mortalidade infantil embora ainda sejam altas no contexto mundial e latino-americano satildeo quase quatro vezes menores que as vigentes no iniacutecio dos anos 40

A estrutura de morbidade e o perfil de mortalidade sofreram substanciais transformaccedilotildees As principais causas de morte antes centradas nas chamadas doenccedilas transmissiacuteveis hoje com a urbanizaccedilatildeo acelerada encontram-se entre as enfermidades crocircnico-degenerativas (problemas cardiovasculares e neoplasmas) e nas causas externas como os acidentes e homiciacutedios ambos provocados em grande parte pelo cotidiano das grandes cidades

Isto natildeo significa que as enfermidades transmissiacuteveis tenham desaparecido Elas continuam existindo ainda que concentradas em determinados bolsotildees de pobreza rural e em grande medida associadas aos fluxos migratoacuterios notadamente nas regiotildees Nordeste Norte e Centro-oeste O Nordeste por exemplo ainda apresenta altas taxas de mortalidade infantil sobretudo em funccedilatildeo do baixo estado nutricional de boa parte de crianccedilas e receacutem-nascidos O retorno de endemias antes erradicadas como a coacutelera e o surgimento de novas como a Aids marcam novas caracteriacutesticas de nosso perfil de doenccedilas exigindo novas formas de accedilatildeo preventiva do governo

Apesar dos progressos registrados o Brasil ainda apresenta diferenccedilas regionais em seus indicadores de sauacutede Regiotildees como o Nordeste satildeo portadoras de padrotildees de enfermidade muito proacuteximos dos paiacuteses mais atrasados da Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina Jaacute os Estados do Sul Sudeste e o Distrito Federal em que pese a heterogeneidade interna de seus indicadores mantecircm condiccedilotildees de sauacutede similares agraves de muitos paiacuteses desenvolvidos

A estrutura do sistema de sauacutede no Brasil mudou muito nos uacuteltimos 30 anos Ateacute os anos 60 havia uma divisatildeo de trabalho entre o Ministeacuterio da Sauacutede e os antigos Institutos de Aposentadoria e Pensotildees (IAPs) O primeiro cuidava da sauacutede coletiva da logiacutestica de distribuiccedilatildeo de vacinas e da assistecircncia meacutedica mais elementar agrave populaccedilatildeo de baixa renda das regiotildees onde o governo natildeo poderia oferecer um serviccedilo de melhor qualidade e hotelaria Jaacute os IAPs voltavam-se para o atendimento meacutedico aos trabalhadores inseridos em algumas categorias profissionais e suas famiacutelias cobertos pela proteccedilatildeo previdenciaacuteria

A partir dos anos 60 iniciou-se uma forte tendecircncia agrave expansatildeo de cobertura do sistema de sauacutede em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo brasileira Em 1967 os antigos IAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) com a incorporaccedilatildeo para efeito de assistecircncia meacutedica de todos os trabalhadores com carteira de trabalho assinada aleacutem dos autocircnomos que desejassem contribuir para a previdecircncia social

Em 1976 foi criado o Instituto Nacional de Assistecircncia Meacutedica da Previdecircncia Social (Inamps) como oacutergatildeo responsaacutevel por toda a assistecircncia meacutedica agrave populaccedilatildeo dependente de trabalhadores formais Ao longo dos anos 70 e 80 ampliaram-se os segmentos populacionais natildeo-contribuintes incorporados ao sistema de sauacutede como os rurais e os indigentes bem como estrateacutegias de descentralizaccedilatildeo acopladas aos programas de expansatildeo de cobertura

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

A Constituiccedilatildeo de 1988 instituiu o Sistema Uacutenido de Sauacutede (SUS) que passou a ter como meta a cobertura universal de toda a populaccedilatildeo brasileira nos moldes dos tradicionais sistemas de proteccedilatildeo social existentes nos paiacuteses europeus que adotaram a via do welfare state

A trajetoacuteria do sistema de sauacutede no Brasil natildeo deixou de evidenciar no entanto alguns problemas baacutesicos que ainda precisam ser resolvidos O financiamento do setor sauacutede no Paiacutes tem sido insuficiente para cobrir os propoacutesitos de universalizaccedilatildeo integralidade e equidade No Paiacutes gasta-se pouco e mal com sauacutede uma vez que boa parte do esforccedilo financeiro do setor natildeo tem sido canalizado para os segmentos mais carentes da populaccedilatildeo Dessa forma ainda satildeo grandes o deacuteficit e as brechas de cobertura do sistema de sauacutede brasileiro

No iniacutecio dos anos 90 ocorreu uma forte crise institucional e financeira do setor sauacutede no Brasil trazendo como corolaacuterio uma queda da qualidade e da cobertura do sistema puacuteblico Com isso acentuou-se a tendecircncia para que o SUS passasse a ser na praacutetica um sistema voltado ao atendimento dos grupos sociais de menor renda uma vez que as classes de meacutedia e alta renda podiam contar com os chamados sistemas privados de medicina supletiva que se expandiram a taxas bastante elevadas Hoje esses sistemas cobrem cerca de 35 milhotildees de pessoas notadamente trabalhadores inseridos nas empresas de maior porte e famiacutelias de classes meacutedia e alta

Apesar de ser um sistema de sauacutede financiado em sua maior parte pelo setor puacuteblico atraveacutes de um sistema de pagamento prospectivo chamado AIH a estrutura de oferta dos serviccedilos de sauacutede no Brasil eacute hegemonicamente privada Grande parte dos estabelecimentos hospitalares e dos leitos pertencem ao setor privado cabendo ao setor puacuteblico a responsabilidade dos estabelecimentos ambulatoriais (postos e centros de sauacutede) especialmente nas regiotildees mais pobres do Paiacutes

O Brasil conta tambeacutem com uma estrutura de recursos humanos em sauacutede em forte expansatildeo Pode-se dizer que o nuacutemero de profissionais dessa aacuterea se expandiu consideravelmente nos uacuteltimos anos mas a composiccedilatildeo das equipes de sauacutede ainda eacute inadequada na medida que se centra no meacutedico e no atendente de enfermagem este sem formaccedilatildeo baacutesica Torna-se necessaacuterio aumentar a interdisciplinariedade das equipes de sauacutede e ampliar na composiccedilatildeo interna destas o peso de categorias indispensaacuteveis como os profissionais habilitados de enfermagem tanto de niacutevel superior como meacutedio

Em seus primeiros anos de vigecircncia o SUS natildeo apresentou resultados satisfatoacuterios Natildeo foi por outro motivo que o sistema recebeu reformas implantadas progressivamente pelo Ministeacuterio da Sauacutede As reformas apontam cada vez mais para a descentralizaccedilatildeo com aumento da autonomia dos Estados e Municiacutepios na montagem de estruturas de prestaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede adequadas a cada realidade

As mudanccedilas tambeacutem apontam para a necessidade de definir prioridades de sauacutede que permitam equacionar os grandes problemas da populaccedilatildeo ao lado da implantaccedilatildeo de sistemas de informaccedilatildeo que tornem mais transparentes os resultados obtidos e os gastos necessaacuterios para alcanccedilaacute-los Boa parte dos hospitais puacuteblicos e privados no Brasil carecem de sistemas de informaccedilatildeo que permitam obter dados financeiros e contaacutebeis sobre custos dos principais procedimentos

As reformas ainda devem estar baseadas em novos mecanismos de administraccedilatildeo e gerenciamento que permitam maior autonomia aos hospitais e redes de serviccedilos de sauacutede na gestatildeo de pessoal e na organizaccedilatildeo da oferta para suprir as necessidades de cada regiatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

O Ministeacuterio da Sauacutede e o governo federal - em parceria com os Estados e Municiacutepios - encontram-se em permanente busca de novas definiccedilotildees que permitam ao sistema de sauacutede brasileiro ganhar mais eficiecircncia e alcanccedilar os objetivos de cobertura e equidade O principal desafio eacute administrar adequadamente os escassos recursos disponiacuteveis para que possam suprir necessidades e carecircncias especialmente dos segmentos mais pobres da populaccedilatildeo

Welfare State no Brasil por Andreacute Cezar Medici

O universalismo eacute a forma de poliacutetica social que nasce e se desenvolve com a ampliaccedilatildeo do conceito de cidadania com o fim dos governos totalitaacuterios da Europa Ocidental (nazismo fascismo etc) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e secundariamente das correntes euro-comunistas com base na concepccedilatildeo de que existem direitos sociais indissociaacuteveis agrave existecircncia de qualquer cidadatildeo Com ela nasce o conceito de Welfare State ou Estado de Bem Estar Social

Segundo esta concepccedilatildeo todo o indiviacuteduo teria o direito desde seu nascimento a um conjunto de bens e serviccedilos que deveriam ser fornecidos diretamente atraveacutes do Estado ou indiretamente mediante seu poder de regulamentaccedilatildeo sobre a sociedade civil Esses direitos iriam desde a cobertura de sauacutede e educaccedilatildeo em todos os niacuteveis ateacute o auxiacutelio ao desempregado agrave garantia de uma renda miacutenima recursos adicionais para sustentaccedilatildeo dos filhos etc

Ao longo dos anos 70 e 80 o Estado brasileiro busca organizar um arremedo de welfare state na tentativa de satisfazer algumas demandas da populaccedilatildeo desprotegida A criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo (INAN) do Funrural e posteriormente das Accedilotildees Integradas de Sauacutede (AIS) do SUDS do SUS dos mecanismos de seguro-desemprego satildeo exemplos claros dessa marcha rumo agrave universalizaccedilatildeo dos direitos sociais

Mas o modelo de desenvolvimento econocircmico e a base de sustentaccedilatildeo financeira das poliacuteticas sociais no Brasil tecircm sido organizados de forma incompatiacutevel com os ideais de universalizaccedilatildeo Como corolaacuterio tem-se uma universalizaccedilatildeo que na praacutetica eacute excludente Em outras palavras a poliacutetica social brasileira aleacutem de ser insuficiente para cobrir as necessidades da populaccedilatildeo de mais baixa renda natildeo somente em termos de quantidade mas tambeacutem de qualidade exclui na praacutetica os segmentos de alta e meacutedia renda fator distintivo do tipo de universalismo que se implantou na maioria dos paiacuteses europeus na fase aacuteurea do Welfare State Estes fazem o uso cada vez mais frequumlente dos sistemas privados autocircnomos seja no campo da sauacutede seja no campo das entidades (abertas ou fechadas) de previdecircncia privada

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o ideaacuterio da universalizaccedilatildeo das poliacuteticas sociais no Brasil numa fase onde as condiccedilotildees econocircmicas para chegar a um universalismo de fato se tornavam cada vez mais precaacuterias Sendo assim crise econocircmica crise nas financcedilas puacuteblicas e direitos constitucionais adquiridos passam a ser desde meados dos anos 90 um dos conflitos a serem enfrentados numa eventual reforma do Estado A crise do Welfare State no Brasil chegou antes que ele pudesse ser de fato implantado em sua plenitude

O grande dilema do universalismo dos paiacuteses europeus a partir da crise dos anos 70 consistia em manter uma poliacutetica social igual para iguais num contexto de aumento da heterogeneidade social Tal condiccedilatildeo soacute foi possiacutevel em funccedilatildeo do alto grau de homogeneidade conquistado atraveacutes de

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

poliacuteticas de rendas e poliacuteticas sociais desenvolvidas sob a eacutegide do conceito de cidadania nos anos 50 e 60

No Brasil a desigualdade social eacute de grandes proporccedilotildees Dados de 1991 mostram que cerca de 307 das famiacutelias brasileiras recebiam renda total inferior a dois salaacuterios miacutenimos No Nordeste essa proporccedilatildeo atingia 53 Os 10 mais ricos no Brasil abarcavam 517 da renda enquanto os 10 mais pobres ficavam somente com 07 Cerca de 494 das pessoas ocupadas natildeo contribuiacuteam para nenhum instituto de previdecircncia social

Reforma Agraacuteria por Miguel Rossetto

Uma Nova Realidade Fundiaacuteria para o Brasil

A construccedilatildeo coletiva de um Paiacutes mais justo democraacutetico e igualitaacuterio Esse eacute o desafio que move o governo Lula a implantar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil capaz de diminuir as imensas desigualdades sociais e econocircmicas que retratam uma naccedilatildeo com alto padratildeo de concentraccedilatildeo de renda da propriedade do conhecimento da justiccedila e de tantos outros pontos fundamentais para o exerciacutecio pleno da cidadania

Esse enorme desafio encontra importacircncia estrateacutegica no campo A agricultura familiar possui um grande espaccedilo de contribuiccedilatildeo agrave geraccedilatildeo de emprego e renda o que expressa a necessidade de uma nova realidade fundiaacuteria para o Brasil concentrada no fortalecimento da agricultura familiar e recuperaccedilatildeo dos assentamentos da reforma agraacuteria Essa natildeo eacute uma visatildeo inoacutecua Estaacute calcada tanto na expressatildeo social como no desempenho econocircmico da pequena propriedade

A agricultura familiar responde hoje por 38 do valor bruto da produccedilatildeo agropecuaacuteria do Brasil 84 dos estabelecimentos rurais e por 77 da matildeo-de-obra do campo Produz 84 da mandioca 67 do feijatildeo 58 dos suiacutenos 54 da bovinocultura de leite 49 do milho 46 do trigo 40 de aves e ovos e 31 do arroz que chegam agrave mesa dos brasileiros Cerca de 80 dos municiacutepios do Paiacutes satildeo essencialmente rurais abrangendo 50 milhotildees de pessoas

O expressivo universo agraacuterio brasileiro tem sofrido os efeitos da macroeconomia e o abandono de poliacuteticas puacuteblicas nos uacuteltimos anos Somente entre 1999 e 2001 53 milhotildees de pessoas abandonaram o campo de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) O Instituto tambeacutem aponta o fechamento de 941 mil estabelecimentos rurais entre 1985 e 1996 sendo 96 deles com aacuterea inferior a 100 hectares Por outro lado a concentraccedilatildeo fundiaacuteria aumentou no Paiacutes O Brasil dispotildee de um padratildeo de concentraccedilatildeo de terras inigualaacutevel no mundo Apenas 1 do total de propriedades rurais possui 45 da aacuterea agriacutecola Satildeo grandes propriedades com mais de 1000 hectares Esse processo de falecircncia e abandono da pequena propriedade soacute contribuiu para o aumento da miseacuteria e da exclusatildeo social nos grandes centros urbanos

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

A despeito da falta de creacutedito assistecircncia teacutecnica e apoio agrave comercializaccedilatildeo a pequena propriedade tem apresentado um aproveitamento meacutedio da terra de R$ 10400 por hectareano contra R$ 4400 da agricultura patronal Entre 1989 e 1999 a agricultura familiar aumentou sua produccedilatildeo em 379 contra 260 da grande agricultura Enquanto a agricultura patronal produz 61 do PIB agriacutecola tambeacutem consome 73 do creacutedito rural puacuteblico ao passo que a pequena agricultura tem acesso a apenas 25 do creacutedito disponiacutevel para produzir quase 40 da renda agriacutecola do Paiacutes Isso significa dizer que a agricultura patronal tem sido mais subsidiada do que a pequena propriedade que eacute tida como o modelo que mais necessita de transferecircncia de recursos puacuteblicos para sobreviver

Esses dados corroboram a intenccedilatildeo do atual governo de promover um novo modelo de desenvolvimento para o campo descentralizado com preservaccedilatildeo e equiliacutebrio ambiental Accedilatildeo que caminha lado a lado com o programa de seguranccedila alimentar Fome Zero que o governo estaacute implantando O objetivo eacute fazer com que a pequena agricultura e os assentados da reforma agraacuteria garantam o aumento da produccedilatildeo de alimentos para atender o consumo estimulado pelo Programa O Fome Zero deveraacute beneficiar 44 milhotildees de pessoas com uma renda miacutenima para a compra de alimentos nos proacuteximos quatro anos contribuindo para a eliminaccedilatildeo da fome que atinge milhotildees de brasileiros e brasileiras e envergonha o Paiacutes

A ideacuteia de superaccedilatildeo da fome eacute acompanhada de uma seacuterie de accedilotildees de estiacutemulo agrave produccedilatildeo e garantia de renda como ampliaccedilatildeo do creacutedito agriacutecola e fundiaacuterio renegociaccedilatildeo de diacutevidas dos pequenos produtores seguro-safra criaccedilatildeo de um sistema nacional de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural investimentos em infra-estrutura e apoio agrave comercializaccedilatildeo aleacutem de mecanismos que garantam renda aos produtores como compra puacuteblica de alimentos preccedilo miacutenimo e estoque regulador A ideacuteia eacute adquirir junto agrave agricultura familiar boa parte dos alimentos destinados aos programas sociais do governo principalmente no que se refere a culturas como arroz feijatildeo milho trigo e mandioca Esse eacute um grande diferencial Nos uacuteltimos anos o governo federal vinha aplicando a loacutegica do mercado direcionando suas compras pelo preccedilo mesmo que isso significasse importar alimentos

Essas accedilotildees visam garantir natildeo soacute o abastecimento interno do Paiacutes como reverter um padratildeo de abandono encontrado principalmente nos assentamentos da reforma agraacuteria O passivo fundiaacuterio herdado pelo governo Lula eacute enorme principalmente no que se refere agrave infra-estrutura dos assentamentos Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (Incra) aponta que das mais de 500 mil famiacutelias assentadas entre 1995 e 2002 90 natildeo tecircm abastecimento de aacutegua 80 natildeo possuem energia eleacutetrica e acesso a estradas 57 natildeo tiveram disponibilizado o creacutedito para habitaccedilatildeo e 53 natildeo tiveram qualquer tipo de assistecircncia teacutecnica Mesmo assim eacute possiacutevel encontrar inuacutemeras experiecircncias positivas e vencedoras de reforma agraacuteria Experiecircncias de produccedilatildeo de geraccedilatildeo de renda e qualidade de vida conquistadas com o trabalho e perseveranccedila das famiacutelias assentadas

Um padratildeo vitorioso de reforma agraacuteria natildeo tem fim no acesso agrave terra mas apenas o comeccedilo Eacute preciso disponibilizar aos assentamentos as condiccedilotildees necessaacuterias agrave produccedilatildeo e auto-suficiecircncia por meio de accedilotildees planejadas e coordenadas O modelo de reforma agraacuteria que o governo Lula estaacute implantando eacute tradutor de uma ideacuteia de desenvolvimento regional capaz de garantir renda infra-estrutura bem como um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias agrave qualidade de vida das famiacutelias assentadas como educaccedilatildeo cultura e sauacutede Direitos fundamentais de quem produz e contribui para o desenvolvimento do Paiacutes

O governo Lula tem pautado sua atuaccedilatildeo pelo diaacutelogo e transparecircncia Uma nova realidade fundiaacuteria soacute poderaacute ser atingida coletivamente numa accedilatildeo integrada entre Uniatildeo estados

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

municiacutepios movimentos sociais e sindicais bem como com todos os segmentos ligados ao campo como forma de potencializar os mecanismos e instrumentos voltados agrave pequena agricultura O Paiacutes natildeo convive mais com a ideacuteia de terras ociosas Eacute preciso produzir crescer gerar emprego e renda para atender agrave expectativa de milhotildees de brasileiros e brasileiras por uma vida melhor Soacute assim o Brasil seraacute verdadeiramente um Paiacutes de todos

Poliacuteticas Fundiaacuterias Regionais por Francisco Graziano

A desapropriaccedilatildeo dos latifuacutendios deve ser defendida ao mesmo tempo em que se deve buscar outros mecanismos de accedilatildeo puacuteblica que possam contribuir para a democratizaccedilatildeo da posse da terra e para a melhoria das condiccedilotildees de vida seja dos homens do campo seja daqueles que dependem de sua produccedilatildeo baacutesica dos alimentos

Nessa busca de soluccedilotildees mais amplas eacute decisivo entender que a agricultura brasileira apresenta-se com enorme diversidade tanto econocircmica quanto espacialmente exigindo medidas adequadas e pertinentes para cada situaccedilatildeo em foco Eacute um terriacutevel equiacutevoco propor a mesma poliacutetica para as vaacuterias partes do Paiacutes como se houvesse homogeneidade de situaccedilotildees no campo

Nos estados do Sul no Sudeste e em parte do Centro-Oeste a agricultura estaacute relativamente capitalizada modernizada baseada em paracircmetros tecnoloacutegicos avanccedilados sendo difiacutecil imaginar que nessas regiotildees de agricultura desenvolvida apenas uma poliacutetica de desapropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de terras seja eficaz para reduzir os niacuteveis de desigualdade da renda ou para atacar a miseacuteria e a pobreza aiacute existentes

Onde o capitalismo estaacute avanccedilado sendo a produccedilatildeo agropecuaacuteria conduzida por verdadeiras empresas rurais os problemas baacutesicos dos trabalhadores advecircm do mercado de trabalho da luta por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e emprego Assim as demandas trabalhistas satildeo mais relevantes para a maioria dos trabalhadores do que a luta pela terra A fiscalizaccedilatildeo do uso de produtos agrotoacutexicos a defesa da aposentadoria digna o transporte com seguranccedila satildeo todas questotildees pertinentes dentro daquilo que caracteriza o mundo do trabalho

A proletarizaccedilatildeo dos trabalhadores no campo com sua consequumlente mudanccedila para as cidades resultando nos conhecidos boacuteias-frias ou volantes exige novas formas de poliacutetica fundiaacuteria ligadas agraves questotildees trabalhistas e agrave melhoria das condiccedilotildees de vida dos trabalhadores rurais

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

V Coloquio Internacional de Geocriacutetica La vivienda y la construccioacuten del espacio social de la ciudad Barcelona 26 a 30 de mayo de 2003

EXCLUSAtildeO SOCIAL E CRESCIMENTO DAS CIDADES MEacuteDIAS BRASILEIRAS[]

Edemir de Carvalho

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Mariacutelia

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras (Resumo)

No Brasil a globalizaccedilatildeo tem aprofundado as dimensotildees da desigualdade social criando processos que podemos denominar de exclusatildeo social Esses processos estatildeo acompanhados de uma urbanizaccedilatildeo cuja importacircncia na compreensatildeo das transformaccedilotildees recentes bem como na elaboraccedilatildeo de alternativas aos problemas contemporacircneos eacute decisiva A recente urbanizaccedilatildeo brasileira tem evidenciado duas dimensotildees desses processos mais gerais um processo global impondo padrotildees de consumo e um outro processo local reproduzindo a desigualdade social com novos conteuacutedos A expansatildeo das cidades meacutedias tem revelado muito mais do que a simples expansatildeo das desigualdades ou da exclusatildeo social evidencia uma descontinuidade na experiecircncia social da vida cotidiana Portanto para analisar desde o ato baacutesico de morar ao mais amplo do conviver na cidade sugere a fundaccedilatildeo de novos paradigmas

Palavras chave globalizaccedilatildeo exclusatildeo social cidades meacutedias urbanizaccedilatildeo

Social exclusion and growth of Brazilian medium sized cities (Abstract)

In Brazil globalization has made the dimensions of social inequality more profound creating processes which we can denominate social exclusion These processes are accompanied by urbanization of which the importance in the understanding of the recent transformations as well as the elaboration of alternatives to contemporary problems is decisive The recent Brazilian urbanization has evidenced two dimensions of these more general processes the global one imposing standards of consumption and local one reproducing the social inequality with new contents The expansion of the average cities has disclosed much more of that the simple expansion of the inequalities or the social exclusion evidences a discontinuity in the social experience of the daily allied to those processes Therefore to analyze since the basic act to live to amplest of coexisting in the city it demands the foundation of new paradigms

Key words globalization social exclusion medium sized cities urbanization

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

Exclusatildeo social e globalizaccedilatildeo na Ameacuterica Latina

O escopo deste trabalho eacute destacar e analisar dois aspectos importantes e articulados agrave exclusatildeo social tendo como cenaacuterio mais recente a expansatildeo e consolidaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo caracterizado pelo crescimento das cidades meacutedias

O primeiro aspecto diz respeito agrave globalizaccedilatildeo que a partir dos anos 90 imprimiu novas questotildees ao habitar urbano trazendo consigo uma gama de novidades agraves tradicionais questotildees sociais urbanas O segundo aspecto destacado estaacute relacionado aos problemas sociais decorrentes desses processos mais gerais que emprestam agrave exclusatildeo social ineacuteditas formas e conteuacutedos

Quando articulamos a exclusatildeo social a globalizaccedilatildeo e o crescimento das cidades meacutedias avanccedilamos na apreensatildeo dos novos conteuacutedos da exclusatildeo social na medida em que rompemos as fronteiras conceituais metropolitanas desde que natildeo se limite agraves anaacutelises agrave mera questatildeo da expansatildeo quantitativa das cidades meacutedias Portanto o tripeacute exclusatildeo social globalizaccedilatildeo e as cidades meacutedias podem fornecer excelentes estrateacutegias para o entendimento das questotildees sociais urbanas

O fenocircmeno da globalizaccedilatildeo trouxe importantes consequumlecircncias para a Ameacuterica Latina se considerarmos os novos conteuacutedos propostos para este processo Na deacutecada de 1970 houve uma profunda transformaccedilatildeo em escala mundial nas estruturas da sociedade moderna traduzindo antigos processos histoacutericos em novos e complexos significados para as conjunturas contemporacircneas Este fenocircmeno tem provocado efeitos cada vez mais concentradores e excludentes no que se refere agraves riquezas e ao poder cuja consequumlecircncia eacute a ruptura com as tradicionais teorias de modernizaccedilatildeo ou desenvolvimentistas como propotildee Oliveira paralelamente desencadeou-se uma revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica baseada na informaccedilatildeo e na automaccedilatildeo dos processos produtivos Os avanccedilos das telecomunicaccedilotildees e da computaccedilatildeo estatildeo permitindo transferecircncias praticamente instantacircneas de vultuosos recursos especulativos de um centro financeiro a outro A formaccedilatildeo desse mercado financeiro global criou as condiccedilotildees para uma desterritorializaccedilatildeo crescente do capital Um capital que circula completamente desenvolto pelas economias nacionais derrubando fronteiras e influenciando as poliacuteticas econocircmicas e nacionais [1]

Podemos observar que a expansatildeo da globalizaccedilatildeo ocorre nos dececircnios dos anos 90 de maneira bastante acelerada devido o grande avanccedilo tecnoloacutegico ao que se refere principalmente agrave aacuterea das comunicaccedilotildees nas induacutestrias de transformaccedilatildeo (reguladas pela automaccedilatildeo) Hoje com o advento dos sistemas de transmissatildeo de dados e informaccedilotildees atraveacutes da internet eacute possiacutevel sabermos o que estaacute ocorrendo de forma simultacircnea qualquer tipo de atividade seja de ordem econocircmica poliacutetica ou social ateacute mesmo os acontecimentos sem relevacircncia do mundo do planeta

O globalismo a despeito das caracteriacutesticas ou adaptaccedilotildees locais diz respeito a uma realidade social econocircmica poliacutetica e cultural articulada em acircmbito propriamente planetaacuterio [2] Essa realidade multifacetada e fragmentada tambeacutem se impotildee pela urbanizaccedilatildeo acelerada e concentrada em metroacutepoles e em circunstacircncias mais recentes nas cidades meacutedias Este acontecimento certamente colocaraacute a cidade meacutedia no centro das discussotildees sobre as principais questotildees que envolvem as sociedades latino-americanas

Os efeitos da globalizaccedilatildeo tendem a homogeneizar os espaccedilos nacionais diferenciando-se em cada naccedilatildeo regiatildeo e ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas locais ou seja as condiccedilotildees histoacutericas e estruturais dos diferentes paiacuteses e cidades - pesam na configuraccedilatildeo das desigualdades soacutecio-espaciais nos viacutenculos e relaccedilotildees de sociabilidade como as associativas de segregaccedilatildeo eou diferenciaccedilatildeo

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

Assiste-se na Ameacuterica do Sul processos paradoxais ao mesmo tempo em que incorporamos alta tecnologia com a complexidade do setor eletrocircnico abrangendo desde a produccedilatildeo de bens de capital de elevada precisatildeo agrave microeletrocircnica eletrocircnica de consumo informatizaccedilatildeo e automaccedilatildeo de serviccedilos vemos em contrapartida a fragilizaccedilatildeo das suas economias tornando ainda mais vulneraacuteveis significativos segmentos sociais que acabam sendo empurrados para as periferias urbanas das grandes metroacutepoles e mais recentemente para as chamadas cidades meacutedias

Segundo Zicardi o crescimento das grandes e meacutedias cidades Latino-americanas eacute hoje bastante distinto daquele observado nos anos 60 la dinaacutemica poblacional en Ameacuterica Latina es muy diferente A principio de los noventa se estimaba que la poblacioacuten urbana en Ameacuterica Latina era del orden del 70 del total sin embargo el ritmo del crecimiento urbano tiende a bajar en la uacuteltima deacutecada ya que mientras entre 1965 y 1980 la tasa de crecimiento urbano fue de 39 entre 1980 y 1990 fue del 3 (Gilbert Alan 1993 pp 42-43) Esto es consecuencia de la caiacuteda de las tasas de fertilidad y la disminucioacuten del crecimiento natural En el aacuterea existen tasas de fecundidad medias relativamente uniformes y es Ameacuterica Central la zona que registra el mayor descenso ya que en los noventa pasoacute de 45 a 34[3]

Iacute Catalatilde desenvolve uma consideraccedilatildeo muito proacutexima daquela de Ziccardi Estas raacutepidas cifras nos dan uma primera imprecioacuten de la magnitud de los cacircmbios que experimentan latildes ciudades latinoamericanas em el meacutedio siglo comprendido entre 1960 y 2010 Un tiempo que ademaacutes ve el abandono del modelo de desarrolloestadoceacutentrico y su substitucioacuten por un modelo nuevo auacuten dominado por la agenda neoliberal todo ello en el contexto de un cambio de entorno caracterizado por la revolucioacuten tecnoloacutegica la economia y la globalizacioacuten[4]

O pesadelo de teacutecnicos governamentais e urbanistas de modo geral satildeo as intensas desigualdades provocadas por um padratildeo de urbanizaccedilatildeo que estimula um crescimento urbano em total desajuste com a capacidade de absorccedilatildeo da matildeo-de-obra que aflui para as cidades

Ricas cidades pobres pois nelas paradoxalmente foi gerado o crescimento de muitos paiacuteses bem como a proacutepria pobreza e miseacuteria A vulnerabilidade social privilegia os grupos que na sociedade estatildeo mais expostos para privaccedilotildees as mulheres as crianccedilas os anciatildeos indiacutegenas que se identificam como grupos vulneraacuteveis exigindo atendimento prioritaacuterio [5]

Nessas condiccedilotildees a exclusatildeo social emerge como fenocircmeno amplo e diversificado cuja definiccedilatildeo passa pela constataccedilatildeo de que em 1995 35 da populaccedilatildeo do Caribe e Ameacuterica Latina viviam abaixo da linha da pobreza impondo uma seacuterie de privaccedilotildees aos indiviacuteduos natildeo permitindo que esses indiviacuteduos possuam condiccedilotildees pra satisfazer suas necessidades materiais baacutesicas

Ateacute o momento seacutec XXI o que assistimos cotidianamente eacute o aumento das desigualdades segundo renova disparidades e cria novas desigualdades o que eacute devido agrave violecircncia dos seus processos fundadores todos praticamente indiferentes agraves realidades locais A aplicaccedilatildeo brutal de princiacutepios gerais a situaccedilotildees tatildeo diversas eacute criadora de desordem

Sem duacutevida na Ameacuterica Latina a principal questatildeo continua sendo a imensa desigualdade social em que este continente sempre esteve mergulhado cujo sustentaacuteculo reside na crocircnica pobreza Nessa segunda metade do seacuteculo passado a pobreza transfere-se para a cidade natildeo pela migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para a cidade mas pelo empobrecimento provocado pelas constantes transferecircncias de riqueza para grupos sociais mais ricos principalmente no Brasil

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

Os pobres satildeo excluiacutedos do processo produtivo natildeo tecircm sequer conhecimento dos seus direitos e deveres natildeo possuem seguranccedila e tambeacutem natildeo tecircm sua proacutepria identidade e satildeo indiviacuteduos totalmente sem espaccedilo no poder fato que estaacute extremamente ligado ao acesso agraves informaccedilotildees e aos financiamentos agrave visibilidade e a forccedila poliacutetica Existe em nossa sociedade uma barreira cultural que impede com que os pobres os quais satildeo considerados sem cultura e ignorantes escutem e possam enxergar e serem ouvidos

As novas desigualdades natildeo se reduzem apenas agrave questatildeo econocircmica mas ela se apresenta multidimensional articulando agrave exclusatildeo social tendo como resultado uma urbanizaccedilatildeo cujo crescimento urbano tem reproduzido nas cidades meacutedias contradiccedilotildees de difiacutecil soluccedilatildeo

Quando falamos de pobreza estamos falando de desigualdade e certamente nos referindo agrave questatildeo da exclusatildeo social O termo exclusatildeo social surgiu na deacutecada de 60 mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser intensamente utilizado integrando discursos oficiais para designar as novas feiccedilotildees da pobreza nos uacuteltimos anosA expressatildeo por ser relativamente recente estaacute longe de ser uniacutevoca e estaacute sempre relacionada agraves concepccedilotildees de cidadania e integraccedilatildeo social Normalmente eacute empregado para designar a forma de apropriaccedilatildeo dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econocircmico ou o processo de distanciamento do acircmbito dos direitos em especial dos direitos humanos

Globalizaccedilatildeo e exclusatildeo social no Brasil

Hoje no Brasil falar da exclusatildeo social tornou-se natural para abordar uma seacuterie de temas e problemas O conceito mais conhecido e utilizado na Franccedila recoloca algumas das questotildees abordadas no tema de underclass sem os pressupostos teoacutericos e as consequumlecircncias deste uacuteltimo de inspiraccedilatildeo e uso estadunidense Autores como Sassen (1998)cedil Castells (1995 1997) e Harvey (1998) mais recentemente tecircm discutido a respeito das cidades globais ou duais tendo a classe como referecircncia principal na medida em que reflete sobre o que falta por comparaccedilatildeo com a classe operaacuteria aos pobres que natildeo tecircm emprego regular vivem em guetos fazem parte de famiacutelias desagregadas estatildeo submetidos agrave dependecircncia de drogas iliacutecitas e tecircm vizinhanccedilas com altas taxas de criminalidade e de baixiacutessima qualidade de vida

Os fenocircmenos pelo visto natildeo estatildeo isolados compartilham das causas e consequumlecircncias da mesma fonte geradora uma cidadania no miacutenimo esquizofrecircnica jaacute que natildeo consegue ser extensiva a todos cidadatildeos que ora se mostra democraacutetica ora discriminadora

Tomar a exclusatildeo social como eixo articulador das diversas questotildees decorrentes das desigualdades sociais eacute reconhecer a iacutentima imbricaccedilatildeo das precaacuterias condiccedilotildees de vida de amplos segmentos sociaisJaacute natildeo eacute mais possiacutevel compreender ou tentar discutir isoladamente qualquer problema social principalmente quando o que estaacute em questatildeo satildeo os limites da sociedade contemporacircnea especialmente quando observamos os complexos processos sociais na sociedade brasileira

Por conseguinte podemos adotar o conceito de qualidade de vida que mais se aproxima da discussatildeo acima elaborada ou seja aquele jaacute indicado em outro texto como a qualidade e a democratizaccedilatildeo dos acessos agraves condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do homem da natureza e do meio ambiente [6] Assim o desenvolvimento humano para que possa ser a possibilidade de todos os cidadatildeos de uma sociedade melhor desenvolverem seus potenciais com menor grau possiacutevel de privaccedilatildeo e sofrimento e da possibilidade da sociedade usufruir coletivamente do mais alto grau da capacidade humana[7]

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

Isto soacute pode ser alcanccedilado por qualquer sociedade se tomarmos em consideraccedilatildeo a ideacuteia de equumlidade a partir do que nos sugere Sposati o reconhecimento e a efetivaccedilatildeo com igualdade dos direitos da populaccedilatildeo sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenccedilas que conformam os diversos segmentos que a compotildeem [8]

O conceito guarda proximidades teoacutericas importantes com as teorias desenvolvidas na Ameacuterica Latina a respeito do mercado informal e da marginalidade vinculando sobretudo o econocircmico ao social Uma das consequumlecircncias dessas contradiccedilotildees sociais e territoriais eacute a violecircncia e a inseguranccedila cuja existecircncia ou explicaccedilatildeo na Ameacuterica Latina natildeo estaacute subordinada apenas e exclusivamente com a incapacidade das poliacutecias em controlar os crimes mas devem ser associadas tambeacutem pela ausecircncia de poliacuteticas sociais urbanas mais eficazes

Para Ribeiro e Santos o futuro das cidades brasileiras vai depender dos desdobramentos da crise econocircmica pela qual passa o Brasil nestas uacuteltimas deacutecadas bem como das soluccedilotildees poliacuteticas e de gestatildeo puacuteblicas que forem encontradas para a adaptaccedilatildeo de cada cidade a esse novo modelo de gestatildeo vai depender de vaacuterias caracteriacutesticas e condicionantes entre os quais os decorrentes do sistema poliacutetico local Nada indica que tais mudanccedilas signifiquem melhoria da qualidade de vida e maior justiccedila social O desafio estaacute em buscar modelos de poliacuteticas que combinem agraves novas exigecircncias da economia urbana globalizada a regulaccedilatildeo puacuteblica da produccedilatildeo da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusatildeo social [9]

Dentro desse quadro de exigecircncias e demandas sociais eacute necessaacuterio respondermos uma questatildeo vital para o futuro das cidades Cabe pergundariquestqueacute es lo que caracteriza a las cuestioacutenes sociales de la ciudad del fin de milenio [10]

Dados oficiais mostram que mais de 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ou seja 29 da populaccedilatildeo vivem com menos de US$ l por dia o que significa mais que toda a populaccedilatildeo do Canadaacute Fala-se em apartheid social quando sequer descrever a situaccedilatildeo daqueles que vivem na miseacuteria Pois satildeo 14 milhotildees de pessoas natildeo sabem ler nem escrever como tambeacutem as aacutereas mais pobres do Brasil ainda satildeo as zonas rurais o crescimento urbano desordenado implicou numa grande concentraccedilatildeo de famiacutelias pobres vivendo em favelas de cidades como o Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Este quadro eacute preocupante quando observamos que 80 dos brasileiros vivem hoje em aacutereas urbanas

A pergunta que sempre resta eacute apenas circunstanciar a exclusatildeo social no seu ciacuterculo das desigualdades sempre pautado na loacutegica da acumulaccedilatildeo do desenvolvimento contemporacircneo do capitalismo obteremos a resposta mais aproximada dessa realidade que se apresenta fragmentada e fugidia Certamente a resposta para este tipo de questatildeo exige sacrifiacutecios de velhas posturas teoacutericas e epistemoloacutegicas contudo sem descartaacute-las totalmente tornando-se necessaacuteria adicionar outros paracircmetros Dentre estes paracircmetros por exemplo eacute intentar uma conexatildeo entre as novas formas de sociabilidade e a exclusatildeo social

Exclusatildeo social e crescimento das cidades meacutedias brasileiras

Nesses uacuteltimos trinta anos a sociedade brasileira vem se transformando sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo impondo em todas as dimensotildees da sua vida cotidiano que alguns autores denomina de fragmentaccedilatildeo social ou descontinuidade da experiecircncia social [11] A sugestatildeo aqui subentendida reside na mudanccedila do olhar sobre a exclusatildeo social ou seja sem perder os

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

processos mais gerais da geraccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da exclusatildeo social deve-se articulaacute-la aos novos conteuacutedos da proacutepria exclusatildeo como eacute a redefiniccedilatildeo da sociabilidade nessa sociedade globalizada

A articulaccedilatildeo entre as abordagens mais gerais aos recantos mais iacutentimos da sociedade como o da sociabilidade vai exigir que se faccedila emergir o real mais fenomecircnico revelador inconteste das desigualdades para posteriormente adentrarmos no interior das novas conexotildees como aquelas possiacuteveis com a sociabilidade Este paracircmetro eacute adequado para esquadrinhar uma primeira aproximaccedilatildeo das novas condiccedilotildees da realidade social brasileira

No Brasil esse quadro fenomecircnico de mudanccedilas profundas principalmente em relaccedilatildeo agraves cidades expotildee um cenaacuterio extremamente revelador em diversos aspectos Assistiu-se ateacute 1970 uma concentraccedilatildeo populacional nas aacutereas metropolitanas impondo um padratildeo de urbanizaccedilatildeo altamente concentrador tanto economicamente quanto demograficamente

Nas deacutecadas seguintes o efeito da concentraccedilatildeo metropolitana continuou mas foi interposto pelo crescimento das cidades meacutedias brasileiras ou seja induzindo para um tipo de urbanizaccedilatildeo com uma desconcentraccedilatildeo-concentrada[12] ou desmetropolizaccedilatildeo [13] Mais recentemente na deacutecada dos anos 90 as cidades meacutedias cresceram pouco mais de 7 (sete) milhotildees de habitantes que em termos absolutos estes nuacutemeros aproximam-se do crescimento das cidades com mais de 500 mil habitantes ( ver tabela 1)

Ainda que consideraacutessemos o crescimento relativo negativo das metroacutepoles ao contraacuterio de alguns pesquisadores natildeo houve uma demetropolizaccedilatildeo nestes uacuteltimos 30 (trinta) anos pois se considerarmos que em 1970 o Brasil possuiacutea apenas duas metroacutepoles com populaccedilatildeo acima de 2 (dois) milhotildees de habitantes passando para 5 (cinco) metroacutepoles no ano 2000 Enquanto que as cidades meacutedias no mesmo periacuteodo passaram de 40 para 194 cidades meacutedias respectivamente Sendo que no ano 2000 as cidades meacutedias concentravam uma 2723 da populaccedilatildeo brasileira contra 17 apresentados pelas cidades acima de 500 mil habitantes e 1623 das metroacutepoles (ver tabela 1) Estes dados sugerem uma distribuiccedilatildeo populacional menos concentrada ou seja observamos que o processo de urbanizaccedilatildeo imprimiu uma desconcentraccedilatildeo-concentrada

Tabela 1 Classe de tamanho da populaccedilatildeo das aacutereas urbanas nuacutemero de aacutereas urbanas populaccedilatildeo urbana residente e taxa percentualpopulaccedilatildeo urbana - Brasil - 19702000

1970 1991 2000

Classe de Aacutereas Urbanas(1000 habitantes)

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereasurbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

deaacuterea urbana

Nuacutemero de aacutereas urbanas

Populaccedilatildeo (1000 habitantes)

de aacuterea urbana

Menos de 20 3574 13849 2617 3736 21471 1930 4074 18493 1340 Entre 20100 226 9062 1712 598 25164 2260 1262 36031 2612 Entre 100500 40 6697 1177 133 27114 2440 194 37573 2723 Entre 5002000 8 8363 1581 20 18262 1650 26 23454 1700 Acima de 2000 2 14935 2823 4 18980 1710 5 22403 1623 TotalBrasil 3850 52906 100 4491 110991 100 5561 137954 100

Fonte IBGE Censos Demograacuteficos 1970 1991 e 2000

Em grande parte o incremento populacional nas cidades meacutedias deve-se em grande parte ao crescimento de centros intermediaacuterios pertencentes agraves Regiotildees Metropolitanas Assim o anuacutencio de um ritmo mais elevado de crescimento do conjunto de cidades meacutedias muitas vezes por incluir as metropolitanas natildeo deve ser diretamente associado ao processo de desconcentraccedilatildeo populacionalEm que pese esta afirmaccedilatildeo as cidades de porte meacutedio apresentam-se em todas as

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

Regiotildees do Brasil indicando a desconcentraccedilatildeo depois da deacutecada dos anos 80 mesmo em Regiotildees onde era caracteristicamente de predominacircncia de populaccedilatildeo rural

Concomitante ao crescimento das cidades meacutedias no periacuteodo de 19951997 exatamente um ano antes e outro depois da implantaccedilatildeo do Plano Real observa-se que a exclusatildeo social no tange a proporccedilatildeo de pobres se estabilizava nesses anos em um patamar muito proacuteximo apesar de os efeitos da reduccedilatildeo da pobreza terem se difundido amplamente natildeo se verifica atualmente uma alteraccedilatildeo significativa da sua reparticcedilatildeo entre as aacutereas metropolitanas urbana e rural em relaccedilatildeo a 1993 A participaccedilatildeo das metroacutepoles no nuacutemero de pobres no Brasil que se reduziu de iniacutecio voltou a aumentar enquanto a participaccedilatildeo das aacutereas urbanas natildeo-metropolitanas apresentou movimento oposto A participaccedilatildeo dos pobres rurais aumentou apenas levemente parecendo ter esgotado a tendecircncia de forte reduccedilatildeo que caracterizou o iniacutecio da deacutecada [14]

Martine (1994) para definir esse processo de urbanizaccedilatildeo propotildee o termo contrametropolizaccedilatildeo [15] cuja primeira consequumlecircncia eacute que haacute uma urbanizaccedilatildeo do mundo pois no contexto de um espaccedilo-tempo transformado pelas tecnologias de accedilatildeo a distacircncia surge a cidade-mundo e nesse tempo natildeo eacute partilhado pelos diferentes grupos de pessoas Assim como haacute uma geografia social poderiacuteamos falar tambeacutem de uma cronologia socialou como denominamos assincronias urbanas[16]

A exclusatildeo social obviamente se expande juntamente com o processo de crescimento das cidades meacutedias levando consigo todas as contradiccedilotildees e conflitos inerentes agraves desigualdades sociais que datildeo sustentaccedilatildeo agrave exclusatildeo Esta constataccedilatildeo teria pouco efeito significativo visto que estariacuteamos nos referindo aos aspectos quantitativos mais aparentes destes processos no entanto a exclusatildeo social apresenta-se de modo peculiar nesta contextualizaccedilatildeo isto eacute haacute peculiaridades na exclusatildeo social tal como ela se manifesta coincidentemente nestes uacuteltimos 20 (vinte) anos

Eacute dentro desse processo recente de urbanizaccedilatildeo entre 19702000 que as cidades meacutedias cresceram em quantidade e em tamanho principalmente os centro urbanos entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) mil O resultado mais aparente desse processo foi uma distribuiccedilatildeo populacional mais equacircnime no territoacuterio nacional Esta fenomenologia urbana trouxe uma seacuterie de consequumlecircncias na constituiccedilatildeo das questotildees sociais urbanas principalmente pela inserccedilatildeo de novas e ineacuteditas formas de sociabilidade que permeiam todas as esferas da sociedade desde a forma de planejar do habitar e da utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

As transformaccedilotildees ocorridas na constituiccedilatildeo da rede urbana brasileira como consequumlecircncia do crescimento das cidades meacutedias natildeo soacute apontam para o mercado ou para as novas exigecircncias ou demandas sociais urbanas mas principalmente adentram e redefinem conceitualmente os espaccedilos puacuteblicos bem como datildeo novos conteuacutedos aos lugares enquanto definidores da eficaacutecia das relaccedilotildees sociais Provavelmente o lugar mais iacutentimo dessas transformaccedilotildees eacute a habitaccedilatildeo

Toda uma parafernalha tecnoloacutegica domeacutestica se impotildee como necessaacuteria invadindo este espaccedilo iacutentimo e privado que eacute a habitaccedilatildeo Pois a partir de 2001 89 (41 milhotildees) dos domiciacutelios possuiacuteam televisatildeo 126 (6 milhotildees) tinham microcomputador85 (40 mulhotildees) tinham geladeira e 59 (27 milhotildees) tinham telefone Esta massa disseminada de inuacutemeros eletrodomeacutesticos e outros bens eletrocircnicos transformaram radicalmente o modo de vida como tambeacutem a sociabilidade marcada por originais espaccedilos e tempos intrinsicamente urbanos

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

Eacute nesta perspectiva que as cidades meacutedias ganham importacircncia para a compreensatildeo das questotildees urbanas brasileiras ou seja aquilo que era visiacutevel nas metroacutepoles a fragmentaccedilatildeo de todas as dimensotildees da vida social

Para aleacutem da anaacutelise metropolitana sobre a exclusatildeo social com o crescimento das cidades meacutedias brasileiras fica sugerido que natildeo basta apenas reproduzi-las tal qual acontece nas metroacutepoles Pois o rompimento das fronteiras conceituais metropolitanas a urbanizaccedilatildeo brasileira a partir dos anos 70 interioriza e expande para todos os recantos urbanos um novo padratildeo de urbanizaccedilatildeo agora tambeacutem centrado nas cidades meacutedias e consubstanciado por uma produccedilatildeo e um consumo globalizado todavia sem deixar de levar em conta as especificidades da sociedade brasileira

A que se considerar que a muacuteltipla fenomenologia da exclusatildeo social natildeo se reduz simplesmente aos dados de caracterizaccedilatildeo da exclusatildeo jaacute que eles satildeo conhecidos pela disponibilidade de dados estatiacutesticos importantes que vatildeo desde os mecanismos seletivos do mercado da habitaccedilatildeo popular ateacute a distribuiccedilatildeo espacial da renda da pobreza percorrendo uma familiar topografia urbana da desigualdade Eacute nesta insistecircncia dos estudos da exclusatildeo social que deve ser extrapolado propondo-a em novos termos ou seja rompendo com uma conceituaccedilatildeo que a aproxime das ideacuteias sobre marginalidade social

O recente crescimento das cidades meacutedias brasileiras oportuniza atraveacutes de um universo empiacuterico privilegiado a possibilidade de visualizar para aleacutem da morfologia social que a apreensatildeo da exclusatildeo social nos impotildee Dito de outra forma se a escala da urbanizaccedilatildeo distribui a populaccedilatildeo concentrada nas cidades meacutedias e nas metroacutepoles de imediato isto nos remete agraves demandas de comeacutercio e serviccedilos necessaacuterios nesta escala de urbanizaccedilatildeo

Tal qual as metroacutepoles as cidades meacutedias tambeacutem passam a construir tempos e espaccedilos metropolitanos e consequumlentemente a reproduzir em outra escala os mesmos problemas das metroacutepoles Para aleacutem dessa reproduccedilatildeo esse crescimento das cidades meacutedias atesta a tendecircncia dessa nova urbanizaccedilatildeo em tornar indiferenciados os espaccedilos metropolitanos e das cidades meacutedias

Alguns textos[17] elaborados nos anos 90 jaacute apontavam para os processos socio-espaciais revelados a partir das categorias de espaccedilo-tempo especialmente aqueles gerados nas metroacutepoles O que se colocaeacute que as cidades meacutedias passaram a compartilhar do mesmo espaccedilo-tempo e como consequumlecircncia a exclusatildeo social apresenta novas caracteriacutesticas particularmente no que tange agraves sociabilidades estabelecidas dentro desta contextualizaccedilatildeo

O que haacute de novo na urbanizaccedilatildeo brasileira

Se os processos mais gerais de produccedilatildeo da exclusatildeo social e da profunda desigualdade social como sua consequumlecircncia mais ampla sempre satildeo referenciados agrave expansatildeo do capitalismo e particularmente na sua loacutegica de acumulaccedilatildeo cuja caracteriacutestica estaacute na constante expropriaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo das classes subalternas entatildeo como explicar as caracteriacutesticas peculiares da exclusatildeo social sem incorrer em explicaccedilotildees velhas e seguras contudo sem dar conta do que haacute de novo

O novo estaacute no fato de que natildeo haacute mais como apreender a realidade a partir de uma totalidade tal como pensaacutevamos que isto era possiacutevel Pois o rompimento de uma visatildeo unificada do mundo cuja insistecircncia em tomaacute-lo como uma totalidade Esse rompimento leva-nos agrave fragmentaccedilatildeo da experiecircncia ou seja no imediato da vida social na sua superficialidade dada a impossibilidade de perceber ou apreendecirc-la em todas as suas conexotildees O que resta satildeo eventos desconexos cujos

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

conteuacutedos estatildeo reduzidos agraves imagens planas ou numa sucessatildeo de imagens fiacutelmicas como se expressaria Jameson[18]

O novo estaacute em primeiro lugar no que conceitualmente poderiacuteamos denominar de metropolizaccedilatildeo do espaccedilo urbano brasileiro desde o iniacutecio da deacutecada passada esta metropolizaccedilatildeo soacute pode ser identificada se tomarmos como pressuposto a fragmentaccedilatildeo da experiecircncia social e consequumlentemente da sociabilidade e do espaccedilo urbano Eleita esta premissa resta estabelecer os nexos entre os novos espaccedilos-tempo metropolitanos agora fragmentados e a exclusatildeo social

Certamente haveraacute a necessidade de estabelecer paracircmetros mais adequados para conceituar o urbano - a cidade e a metroacutepole - assim como reconhecer que a fragmentaccedilatildeo natildeo eacute apenas espacial poupando as sociabilidades O que aqui se propotildee eacute o entendimento de uma sociedade que natildeo mais comporta uma cidade ou uma metroacutepole instituiacuteda de uma aurea onde afruiccedilatildeo da experiecircncia social da ideacuteia de um planejamento que tomava o espaccedilo como instrumento de dominaccedilatildeo do tempo e consequumlentemente do controle obediente agrave loacutegica de acumulaccedilatildeo fordista fazendo da cidade e da metroacutepole uma fantasmagoria ordenada e ideologizada [19]

Eacute sob estas ineacuteditas condiccedilotildees do fazer e do conviver no urbano que devemos apreender a exclusatildeo social ou seja torna-se necessaacuterio reorientar a anaacutelise e evitar explicaccedilotildees que datildeo novas roupagens agraves antigas estrateacutegias da acumulaccedilatildeo do capital no interior das metroacutepoles ou das cidades Portanto quando se adiciona a ideacuteia de fragmentaccedilatildeo ela estaacute correlacionada agrave experiecircncia social que jaacute natildeo daacute mais conta de estabelecer os mesmos nexos anteriormente estabelecidos

Assim se os espaccedilos urbanos se apresentam fragmentados porque previamente as relaccedilotildees sociais jaacute estatildeo fragmentadas Neste sentido a exclusatildeo social estaraacute permeada pela fragmentaccedilatildeo especialmente quando consideramos os meios de comunicaccedilatildeo e as tecnologias que imprimem velocidade aos espaccedilos-tempos urbanos

Consideraccedilotildees para aleacutem da fenomenologia do crescimento das cidades meacutedias

O processo de industrializaccedilatildeo implantado a partir dos anos 40 produziu um espaccedilo urbano em consonacircncia agraves exigecircncias de produccedilatildeo em massa das condiccedilotildees gerais necessaacuterias agrave reproduccedilatildeo dos trabalhadores urbanos Tiveram iniacutecio as poliacuteticas habitacionais no final daquela deacutecada articulando o capital imobiliaacuterio e a produccedilatildeo em massa de habitaccedilotildees populares formando imensas periferias nas deacutecadas seguintes nas grandes cidades brasileiras

Ateacute os anos 70 predominou um padratildeo de urbanizaccedilatildeo perifeacuterico centrado na expansatildeo demograacutefica e territorial das grandes cidades e das Regiotildees Metropolitanas cujo efeito maior foi uma clara especializaccedilatildeo do espaccedilo urbano concomitantemente agrave segregaccedilatildeo espacial

A partir dessa deacutecada (1970) entra em crise esse modelo de urbanizaccedilatildeo experimentado entre 1940 e 1970 gerando uma enorme esforccedilo para o estabelecimento de condiccedilotildees para a formulaccedilatildeo de alternativas de planejamento urbano como uma tentativa de domar ou controlar a urbanizaccedilatildeo particularmente no tange ao ordenamento urbano e no controle das precaacuterias periferias

Nessas uacuteltimas deacutecadas o processo de urbanizaccedilatildeo brasileiro adquire uma caracteriacutestica de expansatildeo que altera o modelo altamente concentrador nas metroacutepoles para expandir em nuacutemero e tamanho as cidades meacutedias

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

A exclusatildeo social revela de forma conclusiva as diversas formas e modos pelos quais a exclusatildeo se daacute superando uma concepccedilatildeo que a confundia com pobreza absoluta Eacute neste aspecto que este artigo procurar apontar alguns pontos importantes sugeridos pelo crescimento das cidades meacutedias Dentre estes pontos destacam-se a impossibilidade de apreendermos a exclusatildeo social se natildeo buscarmos os novos nexos que podem ser estabelecidos entre as novas formas de sociabilidade que atravessam as fronteiras entre a segregaccedilatildeo espacial e a social

Se o espaccedilo revela-se altamente segregado igualmente ele se propotildee de forma fragmentada rompendo antigos mitos construiacutedos pelo urbanismo no seacuteculo XIX Em outras palavras uma sociedade imbuiacuteda do mito da modernidade mas que a realizaccedilatildeo desse mito dificilmente aconteceraacute visto que a sociedade jaacute natildeo consegue estabelecer seus antigos nexos

Quando pensamos que a sociabilidade se constituiu na modernidade atraveacutes do seu quotidiano aflorando no imediato da vida social temporal e espacialmente concatenada agraves centralidades subterracircneas da sociedade em outras palavras ela se confundiu com a vida quotidiana ganhando importacircncia nos dias de hoje se articulada aos processos de exclusatildeo social

Eacute de influecircncia fundamental na sociabilidade as transformaccedilotildees em curso especialmente agravequelas que dizem respeito agrave passagem de uma sociedade de tipo produtivista ou produtiva em uma sociedade onde a comunicaccedilatildeo ganha a mesma significacircncia que o social ou seja uma forte tendecircncia ao destronamento dos valores de tipo poliacutetico e econocircmico e de base produtiva para uma sociedade regulada por valores comunicativos Satildeo poucas chances do sujeito emergir e de orientar a execuccedilatildeo de projetos A bem da verdade os projetos perdem a razatildeo da sua existecircncia dado que a experiecircncia social se apresenta descontiacutenua

A exclusatildeo social eacute sem duacutevida uma das questotildees que dificilmente a sociedade capitalista poderaacute superaacute-la pois como parte constitutiva do processo de acumulaccedilatildeo capitalista ela se realiza enquanto contradiccedilatildeo contudo a exclusatildeo social se vecirc revestida de novos conteuacutedos gerados pelas novas formas de sociabilidade que lhe emprestam caracteriacutesticas ateacute entatildeo ineacuteditas Enfim a cidade ou a metroacutepole enquanto espaccedilos indiferenciados e de lugares especiais da concretizaccedilatildeo das relaccedilotildees colocam a exclusatildeo em novos termos

Notas

[] Financiado por la Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo - FAOESP

[1]Oliveira 1999 p 8

[2]Ianni 1992 p 65

[3] Ziccardi 1998a p 6

[4] Caacutetala 2000 p 6

[5] Ziccardi 1998a p11

[6] Sposati 1996 p 71

[7]Idem p 89

[8] Idem p 105

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

[9] Ribeiro e Santos Jr 1994 p 15

[10] Ziccardi 1998 p 4

[11]Carvalho 1998 p 111

[12] Andrade e Serra 1998 p5

[13] Santos 1996 p 23

[14] Rocha 1998 10

[15] Martine 1994 p 13

[16] Veacuteras 2001p 9

[17] Carvalho 1998 Castells 2000 Harvey 1993 Jameson 1989 Santos 1996

[18] Jameson 1989

[19]Os exemplos mais concretos e triunfantes disto satildeo os shopping-centers

Bibliografia

ANDRADE Thompson A e SERRA Rodrigo V O recente desempenho das cidades meacutedias no crescimento populacional urbano brasileiro Texto para discussatildeo nordm 554 Rio de Janeiro IPEA 1998

ANDRADE Thompson A e alli Fluxos migratoacuterios nas cidades meacutedias e Regiotildees Metropolitanas brasileiras a experiecircncia do periacuteodo198096Texto para discussatildeo nordm 747 Rio de Janeiro IPEA 2000

BRASIL Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Getatildeo Evoluccedilatildeo recente das condiccedilotildees e das poliacuteticas sociais no Brasil Brasiacutelia IPEA 2001

CARVALHO Edemir Crise urbana e Habitaccedilatildeo Popular em Campinas 1870 - 1956 dissertaccedilatildeo de mestrado Defendida no IFCH - UNICAMP 1991

CARVALHO Edemir A sociabilidade fragmentada na metroacutepole contemporacircnea Tese de doutorado FCL - Unesp - Campus de Araraquara 1998

CASTELLS M La ciudad informal tecnologias de informacion reestructuracioacuten econoacutemica y el proceso urbano-regional Madrid Alianza Editorial 1995

CASTELLS M A sociedade em rede Vol 1 2 e 3 Satildeo Paulo Atica 2000

GARCIacuteA CN (coord) Cultura y comunicacioacuten en la Ciudad de Meacutexico Grijalbo Meacutexico UAM 1998b 2 v

HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1993

IANNI O A sociedade global Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1992

Iacute CAacuteTALA JP Las ciudades latinoamericanas en el umbral de una nueva eacutepocaCongreso de la Union Iberoamericana de MunicipalistasMunicipio y Globalizacioacuten Granda-Baeza 6 Granda-Baeza 2000 Granda-Baeza 2000p250

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003

JAMESON Frederic Il Postmoderno o la logica culturale del tardo capitalismo Trad Stefano VelottiMilano Garzanti 1989

MARTINE G A redistribuiccedilatildeo espacial da populaccedilatildeo brasileira durante a deacutecada de 80 Texto para Discussatildeo 329 Rio de Janeiro IPEA jan 1994

OLIVEIRA FAM Apresentaccedilatildeo In OLIVEIRA FAM (org) Globalizaccedilatildeo regionalizaccedilatildeo e nacionalismo Satildeo Paulo Editora Unesp 1999

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesitica Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios siacutentese de Indicadores 2001 IBGE Departamento de Empregos e Rendimento - Rio de Janeiro IBGE 2002

RIBEIRO LCQ SANTOS JR OA Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1994

ROCHA Sonia Pobreza e desigualdade no Brasil o esgotamento dos efeitos distributivos do Plano Real Texto para discussatildeo nordm 721 Rio de Janeiro IPEA 1998

SANTOS M A natureza do espaccedilo teacutecnica e tempo razatildeo e emoccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996

SASSEN S Ciudades en la economiacutea global enfoques teoacutericos y metodoloacutegicos EURE 1998 vol 24 nordm 71 p 5-25

SPOSATI A Mapa da exclusatildeoinclusatildeo social no municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Educ 1996

VEacuteRAS MPB Tempo e espaccedilo na metroacutepole Breves reflexotildees sobre assincronias urbanas In Satildeo Paulo em perspectiva 15(1) 2001 p 52-62

VEacuteRAS MPB (org) Por uma sociologia da exclusatildeo social o debate com Serge Paugam Satildeo Paulo Educ 1999

ZICCARDI A Gobiernos locales entre globalizacioacuten y ciudadaniacutea (reflexiones sobre las transformaciones recientes en el DF In CALVA JL AGUILAR A (coord) Desarrollo regional y urbano tendencias y alternativas Meacutexico DF CIIH Instituto de Geografiacutea - UNAM 1995a v1

ZICCARDI A La ciudad capital hacia una gobernabilidad democraacutetica In MUNtildeOZ Humberto (coord) La sociedad mexicana frente al tercer milenio Meacutexico UNAM 1998

copy Copyright Edemir de Carvalho 2003 copy Copyright V Coloquio Internacional de Geocriacutetica 2003